sexo/gênero/desejo"
Problemas de gênero:
Feminismo e subversão da identidade.
(1ª Ed. 1990)
JUDITH BUTLER
• Butler completou seus estudos
na Bennington College e na
Universidade de Yale, onde
estudou filosofia. Em 1984
terminou seu doutoramento,
dedicado à obra de Hegel. Foi
professora visitante em diversas
instituições da Europa e dos
Estados Unidos.
• Os seus trabalhos são
abrangentes, ela traz
contribuições desde diversas
áreas: Filosofia, Ética, Teoria
Política, Literatura Comparada.
• É reconhecida pelos seus aportes
para os estudos Queer, assim
como nos debates pós-
estruturalistas (ainda que ela não
se identifique nessa categoria).
1. ‘Mulheres’ como o sujeito do feminismo
1.1. Problemas na política representacional do feminismo, em que mesmo a
substituição do termo "mulher" por "mulheres" não é capaz de incluir as múltiplas
identidades.
1.3. Por outro lado, o abandono de uma política representacional não convém, uma
vez que o feminismo precisa se inserir na luta política, no embate direto com as
instituições hegemônicas do poder.
"Se alguém 'é' uma mulher, isso certamente não é tudo o que esse alguém
é; o termo não logra ser exaustivo, não porque os traços predefinidos de
gênero da 'pessoa' transcendam a parafernália específica de seu gênero,
mas porque o gênero nem sempre se constituiu de maneira coerente ou
consistente nos diferentes contextos históricos, e porque o gênero
estabelece interseções com modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais
e regionais de identidades discursivamente constituídas". (p. 20)
Para encarar esse desafio, Butler sugere que o ponto de partida seja o
presente histórico. relembrando a definição de Marx. É no presente
histórico que a política representacional pode ser pensada. Essa
iniciativa historiciza as relações humanas, compreende o gênero
não apenas como uma construção discursiva, mas também como
produto histórico, além de questionar as estruturas jurídicas
contemporâneas excludentes.
2. A ordem compulsória do sexo/gênero/desejo
2.1. Butler questiona os conceitos de sexo/gênero em que o sexo faz
parte de uma realidade biológica, portanto pré-discursiva, e o gênero é
a "interpretação cultural do sexo". Para ela, essa distinção é utópica, já
que o sexo biológico - legitimado pela ciência - também é cultural e
socialmente significado.
Inteligibilidade: coerência.
"Se o caráter imutável do sexo é contestável, talvez o
próprio construto chamado "sexo" seja tão culturalmente
construído quanto o gênero; a rigor, talvez o sexo sempre
tenha sido o gênero, de tal forma que a distinção entre
sexo e gênero revela-se absolutamente nenhuma". (p. 25)
3.2. Ao mesmo tempo, tanto sexo quanto gênero possuem historicidade, que
se manifesta por meio da tradição e do imaginário social.
4.3. Por outro lado, incluir classe, raça, geração, regionalidade e sexualidade de
forma acrítica à categoria "mulheres" pode incorrer em um risco : de adicionar um
mero apêndice à narrativa histórica, sem grandes mudanças estruturais.
“la performatividad no es un acto único, sino una repetición y un ritual que consigue su efecto a través de su
naturalización en el contexto de un cuerpo, entendido, hasta cierto punto; como una duración temporal
sostenida culturalmente“. (Prefácio da Ed. 1999. p. 17).
5.4. Da mesma forma, outras análises propõem-se universais, como a de Monique Wittig, que
considera a lésbica um terceiro gênero, único fora da economia falocêntrica. Estaria nas mãos da
lésbica a mudança da política sexual. Pensam o ‘ser’ (ontologia) como universalizante,
ideal, distante do gênero o como atributo.
6. Linguagem, poder e estratégias de
deslocamento.
6.1. Para Butler, Wittig representa uma posição ambígua na continuidade das teorias sobre
sujeito. Ao mesmo tempo em que parece contestar a metafísica da substância, a autora mantém
o sujeito por trás da ação, delineando uma "construção performativa do gênero". (p. 49)
6.2. Entre Irigaray e Wittig existe um importante ponto de divergência: para a primeira, a saída da
marca do gênero seria a formulação de uma outra linguagem. Para a segunda, a linguagem é
um instrumento que, por si só, não é estruturalmente misógino. (Mas, para Butler a linguagem
não é uma entidade distante da realidade. A Linguagem é também o seu uso).
6.3. Para Wittig, ainda, a heterossexualidade compulsória tem origem no incesto como tabu,
onde ocorre a divisão entre os gêneros (Lacan). Para ela, o feminino é também uma ausência não
representável, e essa exclusão abre a possibilidade de questionamento ao sistema hegemônico.
6.4. Wittig difere de Foucault por acreditar que existiria uma essencialidade pré social do sujeito,
anterior ao seu gênero, e essa identidade sobreviveria fora da lei. Para Foucault, mesmo as
identidades subversivas não estão livres da lei. Lei e identidade são construídas de forma
concomitante.
6.5. Se mesmo os sujeitos subversivos e desviantes não estão livres da lei, como desmantelar o
machismo das estruturas de poder? Butler responde: "Se as ficções reguladoras do sexo e do
gênero são, elas próprias, lugares de significado multiplamente contestado, então a própria
multiplicidade de sua construção oferece a possibilidade de uma ruptura de sua postulação
unívoca". (p. 58)
"Para Foucault, essas proibições são invariável e
inopinadamente produtivas, no sentido de que
'o sujeito' que supostamente é fundado e
produzido nelas e por meio delas não tem
acesso a uma sexualidade que esteja, em algum
sentido, 'fora', 'antes' ou 'depois' do próprio
poder". (p. 54)
“Como seria habitar um corpo abjetado do
mundo generificado e sexualizado? ... claro que
isso é uma piada” (Ricardo Marinelli).