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das convidadas começou a falar sobre a situação das mulheres na política eno mundo e, mais
especificamente, sobre as mulheres negras. Dentre as tantas palavras,oportunamente, colocadas e
bem ditas – que me traia a sensação calorosa de estar nolugar certo e na hora certa fruindo
aquelas refle!"es – pude guardar algo que não ter uma transcrição devidamente condiente com o
que foi dito, mas que essencialmentefalava o seguinte $se voc% saiu do beco, tenha orgulho do
beco, enalteça o beco e leve o beco para onde voc% for. & beco fa parte da sua hist'ria e foi o
povo do beco que, dealguma forma, te impulsionou a chegar aonde voc% chegou ou alme(a
ir).*embro que s' pensava no quanto eu gostaria que as milhares de pessoas dos becosmundo afora
sentissem a import+ncia de se valoriarem e valoriarem suas hist'rias daimport+ncia de
erguerem suas cabeças e seguirem firmes, e em pa com as suasconsci%ncias, porque o fato de
morarem onde moram ou da condição social na qualestão, ou estiveram, inseridas não tem que ser o
fator determinante de suas vidas, ha(avista que tem muita gente bem nascida e aprumada nas
riqueas vitalícias da roda dafortuna e que vivem aí, entrando e saindo de listas interminveis de
corrupção.-as, como nem tudo possível e neste momento s' posso falar por mim, sigo levandoo
meu beco comigo e tentando compreender o que ele tem a dier e a pontuar na vidados que
convivem ao meu redor, afinal, nesse mundo tão grande, curioosamente,e!istem hist'rias de beco
muito parecidas para se ouvir e contar./oi assim que esta fortalea de mulher, vulgo 0ngela Davis,
chegou chegando1 -'satisfação22 3uanto ao livro, bom, temos 45 capítulos a versar sobre temas que
perpassam pelo legado da escravidão 6 perspectiva de obsolesc%ncia das tarefasdomsticas,
alm de necessrios, e atemporais, t'picos sobre a origem dos direitos dasmulheres, sufrgio
feminino, estupro, racismo e uma srie de outras demandas que nos parecem beeeem atuais.
&bviamente que nem tudo ser pontuado porque, alm deespantar voc%s, certamente, eu não
daria conta de bancar os direitos autorais, então, isso.
O sistema escravista defnia o povo negro como propriedade. Já queas mulheres eram vistas, não
menos que os homens, como unidadesde trabalho lucrativas,
para os proprietários de escravos elas poderiam ser desprovidas de gênero
. […] Tal qual a maioria dosescravos, a maior parte das escravas trabalhava na lavoura. mboranos
estados locali!ados na "ronteira entre o #orte e o $ul dos stados%nidos uma quantidade
signifcativa de escravas reali!asse trabalhosdom&sticos, as escravas do e'tremo $ul ( o verdadeiro
n)cleo doescravismo (
eram predominantemente trabalhadorasagrícolas
. […]
Mas as mulheres também sofriam de formadiferente, porque eram vítimas de abuso sexual e
outrosmaus-tratos bárbaros que só poderiam ser inigidos a elas
. * postura dos senhores em rela+ão s escravas era regida pelaconveni-ncia quando era
lucrativo e'plorá/las como se "ossemhomens, eram vistas como desprovidas de g-nero0 mas, quando
podiam ser e'ploradas, punidas e reprimidas de modo cab1veis
apenas s mulheres, elas eram redu!idas e'clusivamente suacondi+ão de "-meas 23*45$, 6789,
p. 8:/8;<.
7e pelas tuas veias corre sangue e se voc% não tem um coração de pedra, possivelmente,se pegar
largando umas de desgraças s' de raiva. 8 provvel, ainda, que alardeieoutras tantas s' pra
suportar o peso da adrenalina que desembocou no teu coração, tãologo foi possível compreender o
significado de estar numa posição cruel dedesigualdade.7e voc% ainda não caiu na real, então pu!a
na mem'ria algumas cenas do filme
86 *nos de scravidão
e aí começaremos a entender que a questão da viol%ncia deg%nero não est e!clusivamente
ligada a uma vagina, mas sim 6 e!pressão do feminino,e muito desta proposição pode ser observada
no tambm infinitesimal n9mero deagress"es aos ga:s, 6s mulheres trans, 6s bi!as e a tod;s aquel;s
que e!pressam a suafeminilidade. <or sinal, no filme, voc% lembra de ter visto algum homem ser
espancadoe tambm estuprado tal qual acontecia com as mulheres=<ois, a cultura do estupro est
tão impregnada, tão arraigada, que não precisamosrecorrer 6 escravidão para aludir aos casos de
viol%ncia, basta ligar a televisão queconstataremos, >&D& 70?>& D@0, recortes desta realidade,
quer se(a ela de viol%nciae!plícita Avide os diversos estuprosB, quer se(a de viol%ncia moral eCou
institucionalAlembremos, por e!emplo, de um certo deputad& que declarou a uma das deputadas
da+mara que ela $não merecia nem ser estuprada) porque a considerava feia adiante, emmeio 6
sessão do impeachment da <residenta Dilma, este senhor e!alta a figura de umcoronel acusado de
torturas durante a ditadura militar e, como se não bastasse todo orepert'rio bai!o e vil,
constantemente notabiliado por suas posturas preconceituosas,mis'ginas e homof'bicasB. E
repito, >&D&7 &7 D@07 7& ?&>@@0D&7 07&7DE F@&*G?@0 DE HG?EI&.0 /EJ-
@J?@J*@JD0JDE tem um poder tal que atrai todo tipo de sentimento – do amor 6repulsa, da
ternura ao 'dio, da divindade 6 monstruosidade J, mas te pergunto, do qu%que feita a naturea
desses homens que agridem barbaramente=, porque nem osanimais conseguem ser tão
despreíveis. 0demais, para alm do 'dio e do preconceito6s quest"es de g%nero, reiteramos a
força inequívoca das relaç"es de poder e a suadesembocadura direta na, bem estabelecida, cultura
machista.0cho que não custa perguntar como voc%s estão a criar seus filhos e filhas, n=
=uando a aboli+ão do tráfco internacional de mão de obra escravacome+ou a amea+ar a e'pansão da
>ovem e crescente ind)stria doalgodão,
a classe proprietária de escravos foi forada a contar com a reprodu!o natural como o método
mais seguro pararepor e ampliar a popula!o de escravas e escravosdomésticos
. ?or isso, a capacidade reprodutiva das escravas passoua ser valori!ada. #as d&cadas que
precederam a @uerra Aivil,
asmulheres negras passaram a ser cada ve" mais avaliadas emfun!o de sua fertilidade #ou da falta
dela$% aquela com potencial para ter de", do"e, cator"e ou mais &lhos eracobiada como um
verdadeiro tesouro
. Bas isso não signifcaque, como mães, as mulheres negras go!assem de uma condi+ão
mais respeitável do que a que tinham como trabalhadoras. *e'alta+ão ideolCgica da maternidade
( tão popular no s&culo D5D (não se estendia s escravas. #a verdade, aos olhos de seus
proprietários, elas não eram realmente mães0 eram apenasinstrumentos que garantiam a amplia+ão
da "or+a de trabalhoescrava. las eram EreprodutorasF ( animais cu>o valor monetário podia ser
calculado com precisão a partir de sua capacidade de semultiplicar.
'ma ve" que as escravas eram classi&cadas como(reprodutoras), e n!o como (m!es), suas crianas
poderiamser vendidas e enviadas para longe, como be"erros separadosdas vacas
23*45$, 6789, p. 8;/67<.
7e os homens eram lucrativos, as mulheres poderiam ser triplamente lucrativas, afinal,trabalhavam
tal qual os homens nas plantaç"es, seus filhos lhes eram usurpados paracompor as futuras linhas de
frente no mane(o da en!ada e ainda eram violentadas emutiladas a belJpraer, pelos senhorios e
pelos capataes, sem que lei alguma lhesimputasse quaisquer penalidade.E ainda h quem não
reconheça a e!ist%ncia de uma dívida hist'rica, ainda h quemabra a boca pra dier que os
sistemas de cotas não deveria e!istir e ainda h quem abra a boca pra falar merdas do tipo racismo
reverso1 E, bom, ha(a paci%ncia para entabular qualquer conversa com quem não consegue
compreender o significado das viol%ncias,das e!clus"es e da perpetuação famigerada dos abusos de
poder.0cima lhes perguntei como estão a criar seus filhos e filhas, certo= Então, precisosaber
at que ponto a educação diria de mães e pais, dentro de casa mesmo, temservido para levantar
debates que precisam ir alm das paredes das escolas, e que não e nem deve ser encarada como
dever 9nico e e!clusivo dos educadores. 8 preciso saber at que ponto as mães e pais ainda t%m
perpetuado, ainda que inconscientemente, aeducação que alheia e oprime uma filha em detrimento
do filho. 8 preciso saber at que ponto estamos a passar a mão pela cabeça e a fechar os olhos para
os casos de preconceitos, para o racismo e para a viol%ncia que começa dentro de casa. 8
precisosaber at que ponto estamos ensinando ;s noss;s filh;s a não refletirem e, logo, anão se
envolverem com as causas que verdadeiramente importam, inclusive, paraassumirmos a nossa
parcela de culpa em estarmos tão afundados na merda política,econKmica, estrutural e moral que
vivenciamos ho(e neste país.
*s observa+Ges a seguir, relativas "un+ão do estupro durante a@uerra do 4ietnã, tamb&m
podem ser aplicadas escravidão E#o4ietnã, o comando militar dos stados %nidos tornou o
estuproHsocialmente aceitávelI0 de "ato, era uma pol1tica não escrita, masclaraF. *o encora>ar
>ovens soldados a estuprar mulheres vietnamitas2s ve!es, eram orientados a ErevistarF mulheres
Ecom o p-nisF<,"or>ou/se uma arma de terrorismo pol1tico de massa. %ma ve! que asmulheres
vietnamitas se notabili!avam por suas contribui+Gesheroicas luta de liberta+ão de seu povo, a
retalia+ão militar especialmente destinada a elas era o estupro. *inda que difcilmenteestivessem
imunes viol-ncia inigida aos homens, elas eram