MEDIAÇÃO
autora
PROFª. Dra LAILA MARIA DOMITH VICENTE
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
isbn: 978-85-5548-560-2.
A negociação 16
A conciliação 17
Heterocomposições 18
Arbitragem 19
Jurisdição estatal 19
Comunicação não-violenta 25
Transformação do conflito 37
Territórios e espaços do conflito: a espiral negativa 37
Tipos de mediandos 39
Mediando vítima 39
Mediando agressivo 39
Mediando fechado ou evitativo 40
Mediando controlador 40
E o que os mediandos esperam do mediador? 40
3. O mediador e a mediação 45
O que é ser um mediador? 46
Qualquer pessoa pode ser mediadora? 47
Funções do mediador 50
Formação do mediador 52
Escolas de mediação 59
Escola linear, satisfativa ou de Harvard 60
Escola transformativa ou transformadora 61
Escola circular narrativa de Sara Cobb 62
A ressignificação 69
A recontextualização 71
História alternativa 72
Revalorização e reconhecimento 74
A negociação assistida 75
Outras técnicas 76
A escuta ativa 76
O presente livro didático é uma parte importante dos estudos que o/a levarão
à prática eficaz e responsável em Mediação de Conflitos. Em meio a relações com
cada vez mais animosidade, poder pensar formas melhores e mais éticas de resolver
os conflitos se mostra essencial e urgente.
O nosso livro parte de uma proposta crítica e ética dos conflitos e das formas
de resolvê-los, pois entendemos que estamos em uma sociedade permeada por
relações de poder e que um mediador tem que ter isso em mente se quiser atuar
de maneira isonômica.
Os estudos da Teoria do Processo de Mediação estão inseridos nos conhe-
cimentos necessários para que o futuro tecnólogo possa exercer essa prática no
âmbito judicial ou em outros contextos.
O livro está dividido em cinco capítulos.
No primeiro capítulo iremos estudar o contexto da mediação, como ela aparece
com grande importância dentro do movimento de Acesso à Justiça, quais são os seus
objetivos e as suas diferenças frente às outras formas de resolução de conflitos. Também,
ainda no primeiro capítulo, estudaremos os princípios da mediação de conflitos.
O segundo capítulo abordará os estudos do conflito. O que é e o que pode ser
um conflito. Partiremos do seguinte questionamento: são os conflitos inevitáveis?
A resposta é sim. A partir daí nos questionaremos: todo conflito é ruim ou destru-
tivo? Para esta pergunta a resposta é não. A mediação, portanto, será o instrumen-
to que torna possível trabalhar os conflitos para que eles deixem de ser destrutivos
e passem a ser construtivos. Tudo isso, é claro, garantindo a autonomia das pessoas
envolvidas, característica principal da mediação de conflitos.
O terceiro e o quarto capítulos vão se destinar basicamente a pensar de forma
detalhada a estrutura, as técnicas e a atuação do mediador na resolução de conflitos.
Por fim, o último capítulo nos aproximará do encontro entre a mediação e
o judiciário, e, para finalizar o nosso estudo, trabalharemos a ética do processo
de mediação.
Desejamos a vocês um feliz e produtivo estudo, e, futuramente, ótimas práti-
cas de mediação de conflitos.
Bons estudos!
7
1
Por um novo
paradigma na
resolução de
conflitos sociais
Por um novo paradigma na resolução de
conflitos sociais
OBJETIVOS
• Compreender o contexto do surgimento da mediação como um importante instrumento na
Resolução Adequada dos Conflitos;
• Entender o que é a mediação;
• Diferenciar a mediação de outras formas de resolução de conflitos;
• Conhecer os princípios da mediação e algumas de suas teorias.
capítulo 1 • 10
noite, como toda mudança social ela tem uma história e é esta história que agora,
brevemente, iremos abordar.
AUTORES
Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz foi um militar e estrategista do Reino da Prussia que,
em seu livro “Da Guerra” diz que “A guerra é a política continuada por outros meios.”.
Michel Foucault filósofo francês e historiador da subjetividade, nasceu na França, em
1926, e faleceu em 1984. Possui uma produção filosófica e histórica muito elogiada em di-
versas áreas. Apenas a título de exemplo, alguns livros de destaque: Vigiar e Punir, A História
da Loucura, a História da Sexualidade, os Ditos e Escritos, além de seus cursos publicados.
CONCEITOS
Paradigma Adversarial é aquele que entende que na resolução de um conflito estamos
sempre entre adversários e que ao final teremos um vencedor e um vencido. Geralmente tal
paradigma é baseado nas relações judiciais em que um juiz diz às partes quem tem a razão
(vencedor) e quem está errado ou é o culpado(vencido).
Paradigma Consensual ou Coexistencial é o princípio de que em uma controvérsia
sempre é possível chegar a um consenso em que, mesmo que as pessoas não saiam plena-
mente felizes, pois geralmente de um conflito surge de um problema comum na vida, saiam
satisfeitas com o desfecho da situação, ou seja, estaremos diante de vencedor e vencedor.
capítulo 1 • 11
onda se voltou a garantir o que foi denominado de interesses coletivos ou difusos
que são aqueles que atingem um grupo homogêneo ou mesmo heterogêneo de
pessoas. Tais interesses fugiam àqueles típicos judiciais que eram basicamente uma
pessoa contra outra e o Estado-Juiz ao centro para definir a quem convinha a ra-
zão. Os direitos coletivos e difusos podem se referir tanto a direitos como os dos
consumidores em que um grupo de pessoas pode ser lesado por um mesmo produ-
tor, fornecedor, vendedor ou prestador de serviços, como a interesses difusos que
atingem um grupo heterogêneo de pessoas, como o direito a ter um ar saudável
sem o excesso de poluição em uma cidade.
Entretanto, para os nossos estudos a terceira onda denominada por Capeletti
é a que mais interessa. Ela se refere a efetividade do acesso à justiça, um acesso
à Justiça justa. Também no Brasil, o conceito de acesso à justiça é reconfigurado
e isso principalmente a partir da Constituição Federal de 1988, pretendendo
deixar de ser o simples fato de se ter um acesso a uma decisão judicial – o simples
fato de se ter acesso formal ao Judiciário – para se referir ao acesso à uma decisão
justa, que leve em consideração as características do Direito a ser tutelado, as ca-
racterísticas do conflito e as melhores vias para resolvê-lo. Para isso, deve-se levar
em consideração as características das partes em disputa, inclusive a desigualdade
entre elas, para que possam estar em pé de igualdade no momento de resolver as
desavenças. Dizemos que isto é ter acesso a Igualdade Material, ou em outras pa-
lavras podemos usar o antigo conceito de Aristóteles: “tratar igualmente os iguais
e desigualmente os desiguais na exata medida da sua desigualdade”.
Portanto, compreendeu-se que o Judiciário deveria ser um Sistema
Multiportas, em que para cada diferente conflito haverá uma porta adequada a
atendê-lo. O mesmo se dará para cada sujeito – mais ou menos necessitado – ha-
verá uma porta adequada a atender as suas necessidades, e da mesma forma, para
cada direito a ser buscado haverá uma porta satisfatória a contemplá-lo.
A Constituição de 1988 (Art. 5º XXXV) ampliou o âmbito do Acesso à Justiça,
entretanto, na legislação infraconstitucional o Sistema Multiportas somente foi im-
plementado nas últimas décadas, em que tivemos as formas chamadas de alterna-
tivas de resolução de conflitos cada vez mais presentes na legislação. Podemos citar
tais alterações legislativas desde a Lei da Arbitragem, passando pela Resolução 125/
CNJ de 2010, até as recentes Lei da Mediação (13140/2015) e do novo Código de
Processo Civil (13.105/2015) que trazem os institutos da conciliação e da mediação
para dentro do processo civil, deixando, portanto, de serem mecanismos “extrajudi-
ciais” de conflitos, sendo levados para dentro do próprio mecanismo judicial.
capítulo 1 • 12
A Mediação é uma delas. Considerada uma das formas mais eficazes de reso-
lução efetiva de determinados conflitos. Principalmente aqueles que se referem às
relações prolongadas que são aquelas que se perpetuam após solução judicial dada.
Dentro deste âmbito podemos exemplificar as relações familiares ou as relações de
condomínios. Vamos pensar juntos/juntas dois exemplos e ao final deste capítulo
será apresentada uma possível resolução adequada para estes conflitos:
EXEMPLOS
Exemplo 1:
Relações Parentais: uma disputa judicial pela guarda de um filho pequeno.
Jonas e Carmem mantiveram um relacionamento feliz e harmônico por 8 anos e desta
união tiveram uma filha, a Eduarda, que neste momento completava 5 anos. Após tantos anos
de relacionamento saudável eles começaram a se desentender, principalmente por conta da
educação da filha: enquanto Jonas acreditava que a menina deveria dançar ballet e estudar em
uma escola de padres, Carmen compreendia o desejo da filha de fazer esportes e lutas, assim
como preferia uma educação construtivista, em uma escola que ensinasse valores como a so-
lidariedade, a liberdade de escolhas, a generosidade e o respeito às fases do desenvolvimento
da criança. Tantos desentendimentos os levaram à separação e a questão da guarda da filha
desde o início foi o maior desentendimento no processo do divórcio. Foi estabelecida a guarda
compartilhada e a partir de agora, já sem um relacionamento conjugal, Carmem e Jonas pre-
cisam manter a relação parental sem prejuízos para a criança.
Exemplo 2:
Relações de Vizinhança: infiltração no banheiro
Elioberto mudou-se a trabalho para a cidade do Rio de Janeiro em maio de 2017 e, após
um longo dia de mudanças, recém estabelecido em seu apartamento no bairro da Glória,
resolve dormir uma noite de sono tranquilo. Entretanto às 3h da manhã foi surpreendido por
um estrondo na cozinha de seu pequeno apartamento quarto e sala, e quando foi até lá, ainda
sonolento, para verificar o que havia ocorrido, percebeu que parte do gesso do teto da cozinha
estava no chão. Ainda sem saber se estava dormindo ou acordado, outro forte barulho é es-
cutado quando todo o teto vem abaixo. Dirigiu-se na mesma hora à portaria do prédio que in-
terfonou para o seu vizinho do andar de cima, porém este se recusou a atender. Assim, seguiu
por uma semana sem que o vizinho quisesse ao menos escutar o ocorrido, dizendo de pronto
que não era sua responsabilidade o ocorrido no apartamento de outra pessoa.
capítulo 1 • 13
Resolução dos Exemplos 1 e 2:
Em ambos os casos percebemos que tratam-se de relações prolongadas de convivência.
Ainda que eles resolvam a questão que os levou a buscar a solução hétero ou auto composi-
tiva, não será possível deixar de ter uma relação, seja por conta da relação parental: Carmen
e Jonas continuarão sendo pais da criança, ou pela relação de condomínio: a não ser que se
mude, Erioberto continuará tendo contato com seu vizinho de cima, seja no elevador, seja na
garagem, seja nas reuniões de condomínio ou nos arredores do prédio.
Neste sentido a mediação se apresenta como a Resolução mais adequada para os conflitos
citados, uma vez que o intuito dela é estabelecer uma comunicação não violenta entre as partes,
fazer com que elas possam se olhar e dialogar, chegando juntas ao melhor entendimento para a
situação, fazendo com que a situação deixe de ter como regra final um vencedor e um vencido.
AUTOR
Mauro Capeletti é um jurista italiano que desenvolveu, trazendo diversas áreas de conhe-
cimento ao Direito, o conceito de Acesso à Justiça, descrevendo a história deste movimento
a partir de uma perspectiva crítica.
CONCEITO
Sistema Multiportas é o entendimento que um Poder Judiciário justo deve possuir
um sistema multiportas em que para cada diferente conflito haverá uma porta adequada a
atendê-lo. O mesmo se dará para cada sujeito – mais ou menos necessitado – haverá uma
porta adequada a atender as suas necessidades, e da mesma forma, para cada direito a ser
buscado haverá uma porta satisfatória a contemplá-lo.
capítulo 1 • 14
mediador é chamado de facilitador) o diálogo entre as partes, irá facilitar a percepção
por elas de seus reais interesses, e das controvérsias que podem ser solucionáveis de
forma prática, alcançando, assim, uma pacificação da situação. Marshall Rosenberg
denominou este desígnio do mediador de “comunicação não violenta”, então, de
maneira didática, podemos dizer que o ofício do mediador é estabelecer uma comu-
nicação não violenta entre as partes. Neste tipo de atuação não pode haver um tem-
po pré-estabelecido, sendo a sessão de mediação prolongada pelo tempo necessário,
podendo ser dividida em sessões posteriores, até atingir sua finalidade.
CONCEITO
Mediação é um processo de resolução de conflitos em que uma pessoa não envolvida
(chamamos de “terceiro não envolvido”) atua, por meio das técnicas de mediação, para facili-
tar a comunicação entre as partes conflitantes.
AUTOR
Marshal Rosenberg é criador do conceito e da técnica de mediação denominada “Co-
municação Não-Violenta”. Fundou, em 1984, na Califórnia, o Center for Nonviolent Comu-
nication (CNV) que se tornou uma organização internacional de treinamento de pessoas
habilitadas na CNV em mais de trinta países, incluindo o Brasil.
Objetivos da mediação
capítulo 1 • 15
Qual a diferença da mediação para outras formas de resolução de conflitos?
COMENTÁRIO
Segundo o Manual de Mediação Judicial do Conselho Nacional de Justiça (AZEVEDO,
2015) o termo RADs também é utilizado como Resoluções Adequadas ou Amigáveis de
Conflitos no lugar do termo Apropriadas, sendo as três formas consideradas corretas.
A negociação
capítulo 1 • 16
casa podem negociar entre eles quais os dias assistirão novela ou futebol, sem que
isso seja motivo para divórcio ou brigas conjugais. Todas estas situações podem ser
consideradas como negociações, em que a principal característica é a não intervenção
de nenhuma pessoa além das próprias envolvidas no conflito.
Por outro lado, a mediação é denominada negociação assistida, pois na media-
ção as próprias partes chegarão a resolução de suas disputas, entretanto possuem a
assistência de um terceiro não envolvido no conflito, um facilitador, que tornará
possível o diálogo entre as partes que assim chegarão ao acordo por si mesmas. Por
este motivo tanto a mediação quanto a negociação são considerados métodos de
resolução de conflitos autocompositivos, pois as próprias partes chegam a solução
de suas controvérsias.
CONCEITOS
Negociação é a resolução de um conflito pelas próprias partes que em comum acordo
estabelecem a melhor forma de lidar com alguma situação.
Métodos Autocompositivos de conflitos são aqueles em que as próprias partes che-
gam a sua resolução final, ainda que com a assistência do mediador ou do conciliador.
Métodos Heterocompositivos são aqueles em que um terceiro não envolvido e impar-
cial define a resolução de uma controvérsia de forma impositiva não dependendo das partes
aceitarem ou não a resolução proferida.
A conciliação
capítulo 1 • 17
o que é indiferente para o conciliador. A regra da mediação de que não se deve
ter um tempo determinado ou número máximo de sessões não cabe para a con-
ciliação que muitas vezes faz parte do funcionamento judicial, como é o caso dos
Juizados Especiais Cíveis, que possuem uma pauta de audiências, com um tempo
determinado para cada uma delas.
Por suas características a conciliação é bem aplicada para a resolução de ques-
tões simples de caráter patrimonial e que não se refiram a relacionamentos pro-
longados que prosseguiriam após o término da sessão, como são os exemplos já
citados de relações familiares ou mesmo de condomínios. Situações como estas
que são melhores resolvidas pela mediação que trata também da própria relação e
comunicação entre as pessoas.
A conciliação pode ser estabelecida por um conciliador predestinado a função,
mas também pode ser realizada por outros sujeitos, como o Juiz, por exemplo, que
pode a qualquer tempo do processo promover a conciliação.
CONCEITO
Chamamos de “Termos do Acordo” o documento que será ao final assinado pelas par-
tes e que contém as obrigações assumidas por cada uma delas na sessão de conciliação.
COMENTÁRIO
Nos Juizados Especiais Cíveis, regidos pela Lei 9.099/95, temos as audiências de con-
ciliação que obrigatoriamente ocorrerão previamente às Audiências com os Juízes/Juízas
denominadas de Audiências de Instrução e Julgamento.
Heterocomposições
capítulo 1 • 18
Arbitragem
CURIOSIDADE
Você pode estar se perguntando como a decisão arbitral vai ser imposta a uma das par-
tes caso esta não cumpra o determinado pelo Árbitro, certo? Então, a decisão arbitral gera
o que denominamos de título executivo judicial e, caso não cumprida, a pessoa prejudicada
deve levar ao judiciário que não entrará no mérito já decidido pelo Árbitro e coercitivamente
irá cumprir o que ficou decidido.
Jurisdição estatal
capítulo 1 • 19
de resolução para determinados conflitos, entretanto, pode ser trágica para outros,
apenas perpetuando conflitos ao invés de resolvê-los. O Sistema Multiportas serve
para abrir as possibilidades, diversificando as maneiras de solucionar as controvér-
sias da vida, com um leque amplo de portas podemos escolher ou ser orientados
àquela que melhor se abrirá a solucionar e restaurar nossas relações sociais.
Organograma das formas de resolução de conflitos
Métodos Métodos
Heterocompositivos Autocompositivos
capítulo 1 • 20
“A Justiça precisa ser vivida, e não simplesmente realizada por outros e notificada a
nós. Quando alguém simplesmente nos informa que foi feita a justiça e que agora a
vítima irá para casa e o ofensor para a cadeia, isto não dá a sensação de justiça. (...)
Não é suficiente que haja justiça, é preciso vivenciar a justiça.” (ZEHR, 2008, p. 191-2)
CONCEITO
Justiça Restaurativa é uma forma de resolução de conflitos no âmbito penal que pre-
tende pensar a situação-problema (um diferente nome dado ao que costumamos a chamar
de crime) a partir do dano causado, e principalmente a partir do sofrimento da vítima, que,
por meio do encontro, do diálogo e da mediação visa restaurar a situação social levando em
consideração a vítima, mas também o agente e a comunidade.
CURIOSIDADE
Existe em andamento na Câmara dos Deputados, desde 2006, o Projeto de Lei
7006/2006 que visa regulamentar os procedimentos da Justiça Restaurativa e torná-la mais
aplicável a diversos âmbitos da Justiça Criminal, entretanto, passados mais de dez anos o
projeto de lei não foi levado à votação.
MULTIMÍDIA
O filme As Neves de Kilimanjaro nos traz uma interessante perspectiva crítica às formas
de resolução de conflitos no âmbito penal. Sem uma observação cuidadosa da situação-pro-
blemática, muitas vezes a resolução penal perpetua conflitos e traumas. O filme supracitado
traz outras possibilidades.
Ficha Técnica: Nome: As Neves do Kilimanjaro. Direção: Robert Guédiguian. Nacionalidade:
França. Tempo de Duração: 1h 47m. Ano de Lançamento: 2012. Sinopse retirada do Google Fil-
mes: Michel, desempregado, vive feliz com a mulher. Uma noite, ladrões entram na sua casa e os
capítulo 1 • 21
agridem fisicamente. Eles ficam profundamente chocados. Seu desespero é ainda maior quanto
descobrem que o mandante é um ex-colega de Michel. Disponível em: <https://www.google.
com.br/search?q=as+neves+do+kilimanjaro&oq=as+neves&aqs=chrome.1.69i57j0l5.2829j-
0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8>. Acesso em: 27 de novembro de 2017.
O princípio da liberdade das partes se refere ao fato de que ninguém poderá ser
obrigado a participar de uma sessão de mediação, ela deve ser sempre realizada de
forma livre e voluntária. Isso pode ser facilmente compreendido quando levamos
em consideração as características da mediação. Esta necessita da predisposição das
partes para aceitarem a intervenção empática do mediador com vias a “preparar o
terreno” para que seja possível a comunicação e a resolução pacífica dos conflito
pelas próprias pessoas envolvidas, conforme já conversamos anteriormente.
Além da voluntariedade, ou seja, da liberdade por parte das pessoas em esco-
lherem participar deste método de resolução de conflitos, os envolvidos devem
ter a liberdade para tomarem as decisões e estabelecerem as bases da resolução da
controvérsia. Tal liberdade tem que ser plena, tanto no que tange ao entendimento
da situação – por isso as pessoas envolvidas devem ter plena capacidade civil –
quanto ao fato de não sofrerem nenhum tipo de coação tanto por parte do outro
mediando e muito menos por parte do mediador.
A Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça expressamente se
refere ao princípio da liberdade das partes, dentre outros, em seu Anexo III que
trata do Código de Ética dos Mediadores:
Art. 2º- II - Autonomia da vontade - dever de respeitar os diferentes pontos de vista
dos envolvidos, assegurando-lhes que cheguem a uma decisão voluntária e não coerciti-
va, com liberdade para tomar as próprias decisões durante ou ao final do processo e de
interrompê-lo a qualquer momento.
capítulo 1 • 22
O princípio da não competitividade
Cabe às partes, sempre, a decisão final sobre a resolução da controvérsia levada à me-
diação. Esta decisão deve sempre ser tomada de forma livre de qualquer tipo de coação
e ao conciliador cabe apenas estabelecer a comunicação cordial e não violenta entre elas.
O princípio da imparcialidade
Concordamos com Fernanda Tartuce (2015, p.202) quando ela diz que o
princípio da imparcialidade “representa a equidistância e ausência de comprome-
timento do mediador em relação aos envolvidos no conflito”. Ou em outras pala-
vras: o mediador não deve ter qualquer interesse direto ou indireto na resolução da
controvérsia, nem no que se refere ao objeto em disputa, nem no que se refere às
partes que não devem ter nenhum tipo de envolvimento prévio com o mediador.
O princípio da imparcialidade também abrange a ausência de julgamentos,
preconceitos e opiniões morais sobre o assunto em questão na controvérsia, ou
seja, o mediador não deve deixar que seus valores e conceitos pessoais venham à
tona no momento de sua atuação.
Mais uma vez nos remeteremos à Resolução do CNJ em seu Anexo III para
frisar o que apontamos aqui:
Art. 1º - São princípios fundamentais que regem a atuação de conciliadores e mediado-
res judiciais: confidencialidade, decisão informada, competência, imparcialidade, indepen-
dência e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes, empoderamento e validação.
IV - Imparcialidade - dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou
preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado
capítulo 1 • 23
do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais aceitando
qualquer espécie de favor ou presente.
O mediador deve ser alguém a quem as partes possam falar abertamente de suas
questões, portanto, um dos princípios fundamentais é o da confidencialidade em
que tudo o que for dito para o mediador em uma mediação deve permanecer ali.
Para tanto a legislação traz consequências para o mediador que viole o dever
de confidencialidade. O Código de Processo Civil/2015 em seu Art. 173 prevê a
exclusão do mediador do cadastro de conciliadores e mediadores. Da mesma for-
ma, a declaração judicial que violar a confidencialidade do processo de mediação
é considerada prova ilícita em um processo judicial, ou seja, não tem validade.
O Anexo III da Resolução 125 do CNJ assim descreve o princípio da
confidencialidade:
Art.1º (...)
I - Confidencialidade - dever de manter sigilo sobre todas as informações obtidas
na sessão, salvo autorização expressa das partes, violação à ordem pública ou às leis
capítulo 1 • 24
vigentes, não podendo ser testemunha do caso, nem atuar como advogado dos envolvi-
dos, em qualquer hipótese.
Princípio da consensualidade
A solução final alcançada para por fim a uma controvérsia deve sempre ser ba-
seada no consenso entre as partes, ou seja, no acordo mútuo entre elas, na decisão
conjunta e satisfação de ambas com o resultado.
ATENÇÃO
Princípios da Mediação
Comunicação não-violenta
capítulo 1 • 25
expressar honestamente o sentimento e o pedido que pode resolvê-lo. Traremos
um exemplo do próprio livro de Marshall (2006, p. 25):
Uma mãe poderia expressar essas três coisas ao filho adolescente dizendo: Roberto,
quando eu vejo duas bolas de meias sujas debaixo da mesinha e mais três perto da
TV, fico irritada, porque preciso de mais ordem no espaço que usamos em comum. Ela
imediatamente continuaria com o quarto componente – pedido bem específico: você
poderia colocar as suas meias no seu quarto ou na lavadora?” Esse componente enfo-
ca o que estamos querendo da outra pessoa para enriquecer a nossa vida ou torná-la
mais maravilhosa.
MULTIMÍDIA
Para conhecer mais sobre a CNV – Comunicação Não Violenta indicamos o vídeo dispo-
nível no youtube, em que é apresentado um Curso ministrado por Marshall Rosenberg.
<https://www.youtube.com/watch?v=DgAsthY2KNA&list=PLiFg9s20-IeG-
fo73Ylk5QGjjtjcpnwrW9>.
ATIVIDADE
01. O que são as RADs? Cite e descreva cada um deles dizendo ao final aquela que pode
ser considerada como instrumento da Justiça Restaurativa.
REFLEXÃO
No presente capítulo conhecemos o contexto da mediação, onde ela se insere, como
se deu o seu estabelecimento como um método importante dentro das RADs – Resoluções
Adequadas de Conflitos. É importante que façamos uma reflexão sobre o papel do Direito
e das diversas formas de Resolução de Conflitos na sociedade para, assim, entendermos a
grande importância da mediação. Para que servem as RADs? Acreditamos que seja para a
capítulo 1 • 26
pacificação social, vivemos socialmente em uma rede de inter-relações e é importante que
cada uma destas relações se sustentem de forma saudável, pois se a rede estiver furada e
cada vez mais a rasgarmos, ao invés de remendarmos os laços desfeitos, a nossa rede social
só pode tender a afundar. Portanto, cuidemos das nossas relações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, André Gomma (Org.) Manual de Mediação Judicial, 6ª ed. Ministério da Justiça: CNJ,
2015.
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988.
FOUCAULT. Michel. Em Defesa da Sociedade: Curso no Collège de France. São Paulo: Martins
Fontes, 2002
ROSENBERG, Marshall B. Comunicação Não-Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos
interpessoais. 4ª ed. São Paulo: Ágora, 2006.
TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. 2ª ed. São Paulo: editora método, 2015.
ZEHR, Howard. Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça: Justiça Restaurativa.
Tradução de Tônia Van Acker. São Paulo: Palas Athena, 2008.
capítulo 1 • 27
capítulo 1 • 28
2
Estudos sobre
o conflito e o
processo de
mediação
Estudos sobre o conflito e o processo de
mediação
Agora que já você já aprendeu que, além do Judiciário, existem diversas manei-
ras de resolver um conflito e que, nem sempre, o Sistema Judicial é a melhor ma-
neira de fazê-lo, avançaremos um pouco mais para conversarmos sobre as técnicas
a serem aplicadas a cada caso. Mas antes devemos responder um questionamento
simples que é: o que é um conflito? Conflito, disputa, lide, controvérsia, briga, são
todos sinônimos? Propomos um exercício: o que vem a sua mente quando você
pensa em um conflito? Raiva, desentendimento, briga, violência. O conflito em si
é algo negativo? Todos os conflitos sempre estarão vinculados a estes sentimentos?
Seria possível um conflito que se caracterizasse como uma oportunidade? Por onde
se deslocam estes espaços do conflito? É sobre estas perguntas que iremos pensar e
responder no presente capítulo.
OBJETIVOS
• Compreender a interdependência dos seres humanos;
• Compreender como os conflitos são inerentes e compõem as sociedades;
• Entender a diferença entre conflito e disputa;
• Conhecer a Nova Teoria do Conflito;
• Diferenciar conflitos produtivos e destrutivos;
• Estudar os sujeitos do processo de mediação;
• Conhecer os tipos de mediandos.
Os conflitos
capítulo 2 • 30
for abandonado em algum espaço isolado, ele não irá sobreviver por muito tempo,
ele só sobreviverá se for cuidado por alguém. Somos interdependentes, ou seja,
dependemos uns dos outros e em verdade, para irmos mais longe, somos, dentre
todos os animais, um dos que mais depende de outro ser da mesma espécie.
Portanto, se estamos fadados a viver juntos, algumas consequências podem ser
propostas: coabitamos um mundo com seres diversos, dependemos uns dos outros,
necessitamos – por nossa característica primordial de interdependência – viver em
sociedade e somos diferentes. Ainda que estejamos em um mesmo país, possuímos
culturas diversas, vivemos de maneiras diferentes, e isso pode ser observado desde
aspectos financeiros, religiosos, profissionais até aqueles ligados ao gênero, à orien-
tação sexual, à raça, aos meios sociais. Possuímos diversas sociedades dentro de uma
sociedade e é importante que seja assim, é interessante para o crescimento individual
e social. O movimento que tentou uniformizar a sociedade e acreditou cegamente
que isso era para um “bem universal” se chamou nazismo e as consequências dele
são de conhecimento geral: o genocídio de 11 milhões de pessoas, dentre judeus,
homossexuais, ciganos, pessoas com transtornos físicos e mentais, e qualquer um
que fosse diferente daqueles que, naquele momento estavam no poder.
A filósofa Judith Butler (2017), aprendendo com a história, nos traz o concei-
to de Coabitação Plural: a necessidade de habitarmos junto com o que nos é dife-
rente, o mundo que nos foi dado a viver. O conceito demonstra a importância de
entendermos que não podemos escolher as pessoas ou os tipos de pessoas que vão
coabitar o mundo ao nosso lado. Devemos lutar por uma democracia radical, em
que todas as pessoas, todas as minorias, todas as diferenças, não sofram nenhum
tipo de violência ou discriminação por serem quem elas são.
Além das diferenças, sobre as quais refletimos anteriormente, vivemos em um
mundo e em uma cultura com limitados bens e com ilimitada produção de desejo
por estes bens. Assim, as pessoas desejam as coisas, e quando as conseguem, cada
vez mais desejam outras coisas que nem sempre estão disponíveis para elas.
Assim, se constrói o terreno para o conflito se configurar como uma disputa
por espaço, por ideias, por modos de ser e estar no mundo, os conflitos também
podem se caracterizar como disputas por bens, entre outras formas de litígio.
Os conflitos fazem parte da vida em sociedade, conforme podemos facilmente
apreender das premissas anteriores. Ou seja, 1) somos interdependentes – o ser
humano só sobrevive em sociedade; 2) a diversidade também é essencial a nós; 3)
possuímos desejo ilimitado e bens limitados; logo, a junção destas três premissas
faz com que seja natural que haja conflitos.
capítulo 2 • 31
Mas como podemos definir um conflito? Podemos nos remeter à conceituação
de Fernanda Tartuce (2015, p. 04) “Conflito é uma crise na interação humana”.
Que pode ser levada a cabo por intolerâncias frente a diferentes formas de viver
culminando em formas diversas de violência, por disputas por bens que são limi-
tados em uma sociedade em que a produção de desejos é ilimitada, mas também
por diversos outros motivos, como mudanças, insatisfações pessoais entre outras.
Portanto, um conflito é uma crise na interação das pessoas, um embate de
vontades, de desejos ou de pretensões.
MULTIMÍDIA
O filme “O Enigma de Kaspar Hauser” pode nos ajudar a visualizar a situação da ne-
cessidade de sociabilidade do ser humano. O filme trata da história de um rapaz que tem seus
primeiros contatos com outras pessoas aos dezesseis anos, pois ele viveu enclausurado em
uma torre até então, sendo alimentado por meio de uma pequena passagem, sem nenhum
contato com outro ser humano. Kaspar Hauser não tem capacidade de fazer nenhum dos
gestos de sociabilidade perante os quais reconhecemos um ser humano, como por exemplo,
a linguagem, a posição ereta do corpo, o movimento dos polegares, ou mesmo para deter-
minadas formas cognitivas – como a abstração, por exemplo – entre outras. Trata-se de um
filme importantíssimo. Assistam!
Ficha Técnica:
Nome Original: Jeder für sich und Gott gegen alle
Ano: 1974
Direção: Werner Herzog
Duração: 109 minuto
País de Origem: Alemanha
Disponível legendado em: <www.youtube.com/watch?v=geug75xNoAo>.
CURIOSIDADE
A história verídica de Victor de Aveyron também é muito interessante para pensarmos a
necessidade dos seres humanos de viverem em sociedade. Victor foi encontrado aos onze ou
doze anos por caçadores na floresta de Aveyron na França e se acredita que ele só sobreviveu
por ter crescido com lobos em uma matilha. O fato é que em nada o garoto se parecia com
capítulo 2 • 32
um ser humano e sim com os lobos que conviveu: grunhia, não se portava ereto, não possuía
nenhum cuidado humano com a assepsia, não reconhecia a sua imagem. Após ser encontra-
do, o garoto foi enviado ao hospital psiquiátrico e o famoso médico Pinel o diagnosticou com
demência. Entretanto, o psiquiatra Jean Marc Gastard Itard levou a cabo sua tese e conseguiu
comprovar que ele não havia tido o seu desenvolvimento infantil entre outros seres humanos.
LEITURA
Sobre a história de Victor de Aveyron sugerimos o texto:
PEREIRA, Tatiane Marina dos Anjos. GALUCH, Maria Teresinha Bellanda. O Garoto Sel-
vagem: a importância das relações sociais e da educação no processo de desenvolvimento
humano. Revista Perspectiva. Vol.30, n2, 2012.
MULTIMÍDIA
E o filme:
Nome: O Garoto Selvagem. Nome Original: L'Enfant Sauvage. Ano: 1970 Direção:
François Truffaut. País de Origem: França.
CONCEITOS
Psicologia do Desenvolvimento é a área da psicologia que estuda os processos e as
etapas por que passa uma pessoa desde o seu nascimento até se tornar um adulto. Alguns
psicólogos ainda prosseguem o estudo do desenvolvimento desde o nascimento até a morte.
Podemos citar alguns nomes como: Jean Piaget, Lev Vygotsky, Erik Eriksson.
Coabitação plural de Judith Butler é a necessidade de habitarmos juntos o mundo que
nos foi dado a viver. O conceito demonstra a importância de entendermos que não podemos
escolher as pessoas ou os tipos de pessoas que vão coabitar o mundo ao nosso lado. Deve-
mos lutar por uma democracia radical, em que todas as pessoas, todas as minorias, todas as
diferenças, não sofram nenhum tipo de violência ou discriminação por serem quem elas são.
capítulo 2 • 33
AUTOR
Judith Butler é uma filósofa estadunidense que desenvolveu diversos conceitos impor-
tantes e foi reconhecida por seus Estudo de Gênero, mas também por seus estudos de
Filosofia Política e Ética.
Conflitos e Disputas
CONCEITO
Segundo Francesco Carneluti (2000) a lide é um conflito de interesses qualificado por
uma pretensão resistida em Juízo.
capítulo 2 • 34
A nova teoria do conflito
COMENTÁRIO
Segundo o dicionário Michaelis conflito pode ser definido como:
con·fli·to
sm
1. Falta de entendimento grave ou oposição violenta entre duas ou mais partes.
2. Encontro violento entre dois ou mais corpos; choque, colisão.
3. Discussão veemente ou acalorada; altercação.
capítulo 2 • 35
4. Encontro de coisas que se opõem ou divergem.
5. Luta armada entre potências ou nações; guerra.
6. Conforme a teoria behaviorista, estado provocado pela coexistência de dois estímu-
los que desencadeiam reações que se excluem mutuamente.
7. No drama, elemento determinante da ação que consiste na oposição de forças entre
duas ou mais personagens ou, às vezes, entre o protagonista e as forças da natureza.
COMENTÁRIO
No Manual de Mediação do CNJ (Azevedo, 2015, p. 49 -52) na parte em que é estudada
a Teoria do Conflito são apresentados os seguintes quadros que representam os sentimen-
tos e sensações que se distinguem quando estamos frente a conflitos destrutivos ou confli-
tos construtivos. Pelo valor didático reproduzimos tais quadros:
BRIGA ENTENDIMENTO
DISPUTA SOLUÇÃO
AGRESSÃO COMPREENSÃO
TRISTEZA FELICIDADE
VIOLÊNCIA AFETO
RAIVA CRESCIMENTO
PERDA GANHO
PROCESSO APROXIMAÇÃO
TRANSPIRAÇÃO MODERAÇÃO
TAQUICARDIA EQUILÍBRIO
RUBORIZAÇÃO NATURALIDADE
IRRITAÇÃO COMPREENSÃO
capítulo 2 • 36
CONFLITOS DESTRUTIVOS CONFLITOS CONSTRUTIVOS
RAIVA SIMPATIA
HOSTILIDADE AMABILIDADE
Transformação do conflito
capítulo 2 • 37
Se em um dia de congestionamento, determinado motorista sente-se ofendido ao ser
cortado por outro motorista, sua resposta inicial consiste em pressionar intensamente
a buzina do seu veículo. O outro motorista responde também buzinando e com algum
gesto descortês. O primeiro motorista continua a buzinar e responde ao gesto com um
ainda mais agressivo. O segundo, por sua vez, abaixa a janela e insulta o primeiro. Este,
gritando, responde que o outro motorista deveria parar o carro e “agir como um homem”.
Este, por sua vez, joga uma garrafa de água no outro veículo. Ao pararem os carros em
um semáforo, o motorista cujo veículo foi atingido pela garrafa de água sai de seu carro
e chuta a carroceria do outro automóvel. Nota-se que o conflito desenvolveu-se em uma
espiral de agravamento progressivo das condutas conflituosas. (Azevedo, 2015, p.54)
capítulo 2 • 38
ATENÇÃO
Toda classificação é uma tentativa de compreensão, mas ela nunca pode ser entendida
de forma rígida, muito menos quando se tratar do comportamento das pessoas. Portanto,
um mediando que se comporte de maneira expansiva em um momento, em outro posterior,
dependendo do assunto, pode se tornar fechado. Da mesma forma, um mediando agressivo,
na mesma sessão, pode se comportar como vítima, enquanto que outro que em um momento
se mostrou como vítima venha a se tornar o controlador da situação.
Dado este importante alerta vamos conhecer algumas típicas formas de com-
portamento dos mediandos nas sessões de mediação.
Tipos de mediandos
Mediando vítima
Mediando agressivo
capítulo 2 • 39
O mediando agressivo pode demonstrar a sua agressividade de modo muito
disfarçado, situação que dificulta ainda mais a atuação do mediador. A intimi-
dação pode não estar nos gestos ou na fala do mediando, e sim em sua situação
de vantagem frente a outra parte, vantagem esta que pode ser ter relação com a
situação social, financeira, com as desigualdades de gênero e raça, idade, ou com
alguma posição que se refira especificamente à relação entre eles.
O mediador, portanto, deve estar sempre atento a estas situações, é o seu papel
ético intervir e proporcionar uma relação igualitária entre as partes, pois, diferente do
que se poderia almejar em uma conciliação, na mediação a busca é pela relação social
justa e pacífica, e não especificamente por um acordo. Abordaremos situações como
estas no último capítulo quando formos falar da Ética no Processo da Mediação.
Mediando controlador
capítulo 2 • 40
mediandos esperam do mediador aquilo que Christopher Moore (1998) denomi-
nou de Rapport, e que se refere à harmonia, à comunicação, à conexão e à confor-
midade entre as pessoas presentes na sessão.
Ou seja, os mediandos esperam do mediador que este possa construir um
ambiente favorável à composição, que se sintam acolhidos e confortáveis, sem se
sentirem pressionados por nenhum dos lados, e que possam confiar no mediador
e no procedimento que estarão se dispondo a iniciar.
ESTUDO DE CASO
Leia atentamente o caso a seguir:
A partir do caso retirado do livro de Fiorelli (2008, p. 169), continue a descrever a atua-
ção do mediador apresentando a forma que você considere adequada para a mediar a situa-
ção e identifique os tipos de mediandos envolvidos.
Resolução:
O mediador deve, do início ao fim da sessão, estabelecer uma igualdade material entre
as partes, desenvolvendo um comportamento ativo no sentido de não permitir que a relação
opressiva prevaleça no momento da mediação. Deve orientar e intervir, harmonizando a re-
lação e abrindo espaço para uma comunicação não violenta. É possível dizer que Jerônimo
se trata de um mediando agressivo, enquanto Iracema pode demonstrar um comportamento
fechado ou evitativo se a relação não for horizontalizada.
capítulo 2 • 41
REFLEXÃO
Compreendemos com a leitura do presente capítulo que os seres humanos são interde-
pendentes, ou seja, que desde que nascem dependem da presença e do cuidado de outro
ser humano para que sobreviva e se desenvolva, podendo, assim tornar-se um adulto. O
fato de necessitarmos viver em sociedade, o que equivale a estar sempre junto a outro ser
humano, aliado ao fato que somos sujeitos de desejos e que estes desejos podem encontrar
resistência face ao desejo de outro ser humano, faz com que seja natural que haja conflitos.
Os conflitos fazem parte das relações humanas. Mas eles não são naturalmente destrutivos,
existem conflitos construtivos também, que nos fazem crescer, reatar laços e sentimentos
desfeitos. Existe um aspecto ético importante nesta afirmação. Não podemos banalizar o
mal (caráter destrutivo dos conflitos) porque entendemos que os conflitos fazem parte das
relações. Devemos coabitar pluralmente a sociedade, juntos àqueles que são diferentes, não
podemos escolher com quem coabitamos o mundo, levando ao extermínio o diferente. A
mediação é a melhor forma para coabitarmos respeitando a diferença e transformando os
conflitos, apresentando-os em sua forma positiva e construtiva
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, André Gomma (Org.) Manual de Mediação Judicial, 6ª ed. Ministério da Justiça: CNJ,
2015.
BUTLER, Judith. Caminhos Divergentes. São Paulo: Boitempo Editorial, 2017.
CARNELUTTI, Francesco. Sistema de Direito Processual Civil. São Paulo: Editora Classic Books,
2000.
DINAMARCO, Cândido Rangel ; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo ; GRINOVER, Ada Pellegrini .
Teoria geral do processo. 30. ed. São Paulo: Malheiros Ed., 2014.
FIORELLI José Osmir. FIORELI, Maria Rosa. MALHADAS, Marcos Julio Olivé Junior. Mediação e
Solução de Conflitos: teorias e práticas. São Paulo: Editora Atlas S.A , 2008.
MOORE, Cristopher W. O Processo de Mediação: estratégias práticas para a solução de conflitos. 2
ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
OLIVEIRA, Artur Coimbra. Para A Verificação da Eficácia de uma Mediação Transformadora. In Estudos
de Arbitragem, Mediação e Negociação . AZEVEDO, André Gomma (Org.). Disponível em: <http://
www.arcos.org.br/livros/estudos-de-arbitragem-mediacao-e-negociacao-vol4/parte-iv-doutrina-
artigos-dos-pesquisadores/para-a-verificacao-da-eficacia-de-uma-mediacao-transformadora>.
capítulo 2 • 42
Acesso em: 01 de dezembro de 2017.
TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. 2ª ed. São Paulo: editora método, 2015.
Dicionário Michaelis. Pesquisa da palavra Conflito. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/conflito/ Acesso em: 01 de dezembro de 2017.
capítulo 2 • 43
capítulo 2 • 44
3
O mediador e a
mediação
O mediador e a mediação
“O trabalho dela é resolver briga e desentendimento, eu vou conversar com a
mediadora de conflitos” Foi com essa frase que Jô Soares iniciou o seu programa de
entrevistas no dia em que convidou a mediadora Gabriela Asmar para explicar um
pouco a pergunta que irá nos guiar nesta primeira parte do terceiro capítulo: o que
é ser um mediador? Qualquer pessoa pode ser mediadora? Estudaremos também as
funções e como deve ser a formação de um mediador. Para na segunda parte deste
capítulo iniciarmos o estudo da estrutura do processo de mediação, estudarmos quais
são as etapas necessárias e quais são os modelos e as escolas clássicas de mediação.
OBJETIVOS
• Conhecer a figura do mediador;
• Analisar as etapas da mediação;
• Saber como é estruturada a formação de mediadores;
• Pensar sobre a comediação e a mediação comunitária;
• Conhecer os modelos clássicos de mediação.
capítulo 3 • 46
Qualquer pessoa pode ser mediadora?
A regra é que qualquer pessoa que tenha a confiança das partes pode ser
mediadora do conflito. Entretanto, se estamos falando de mediação judicial a as-
sertiva muda de figura.
A Lei da Mediação (13.140/2015), que iremos estudar com mais calma no
capítulo cinco deste livro, nos traz a regra de que para ser mediadora a pessoa
deve ser capaz civilmente, graduada há pelo menos dois anos em curso superior
reconhecido pelo MEC, e deve ter feito a capacitação em escola ou instituição
de formação de mediadores reconhecida pelo Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrados – ENFAM, observados os requisitos mínimos
exigidos pelo Ministério da Justiça e Conselho Nacional de Justiça.
COMENTÁRIO
O artigo 11 da Lei 13.140/2015 – Lei da Mediação – nos traz os requisitos necessários
para ser um mediador judicial:
Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo menos
dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educa-
ção e que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, re-
conhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM
ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional
de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça.
capítulo 3 • 47
consonância com seus valores pessoais ou religiosos. Mas quando falamos em neu-
tralidade devemos afastar termos como indiferente, asséptico ou estático. Pois o
mediador deve conhecer o contexto social em que os demandantes se situam,
e atuar positivamente pela igualdade material entre eles e sempre se atentar às
possíveis violações de direitos entre as partes mediandas. Nesse sentido, podemos
utilizar o termo mediador multiparcial.
MULTIMÍDIA
A Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem no Brasil disponibilizou um vídeo muito in-
teressante em que explica o procedimento e simula a mediação de um conflito. Para assisti-lo
acesse ao link: <https://www.youtube.com/watch?v=Kr13qBAPA9k>.
Trecho do Programa do Jô com a entrevista de Gabriela Asmar pode ser visto no link:
<https://www.youtube.com/watch?v=Fg3U77otJpI>
capítulo 3 • 48
2. Quem são nossos usuários externos?
Nossos usuários externos são todos aqueles que entram em contato conosco
para ter suas disputas resolvidas. Isso inclui partes, advogados, estagiários e outros.
3. Quem são nossos usuários internos?
Nossos usuários internos são todos aqueles com quem trabalhamos e que nos
ajudam em nossas mediações e outros serviços que proporcionamos.
4. Quais são as necessidades mais prováveis de nossos usuários?
O desejo de nossos usuários de ter acesso a um serviço de mediação que seja
absolutamente imparcial, confidencial, de baixo custo, que os ajude a entender
todos os problemas e explorar soluções construindo confiança e possivelmente
chegando a um acordo.
5. Como deve um mediador se comportar para satisfazer tais necessidades?
Deve: capacitar as partes para estabelecer o processo que desejem; estabelecer
confiança; agir e ouvir com empatia; se comportar de maneira imparcial e livre de
julgamentos; passar informações às partes usando de linguagem neutra; convocar
reuniões privadas quando necessário; saber como superar impasses na mediação;
conduzir o processo em um ritmo que não deixe as partes se sentindo com pressa
ou desejando que o mediador ande mais rápido; saber como redigir um acordo
tecnicamente correto; trabalhar de forma polida com as partes e com a equipe;
usar corretamente da linguagem corporal; notar quando aumenta a tensão e evitar
que o conflito ganhe maiores proporções.
6. Como deve ser o processo de mediação para satisfazer as necessidades dos
usuários?
Deve: ser absolutamente imparcial; ser confidencial; capacitar as partes de
modo que possam decidir outras regras da mediação; ser orientado para a resolu-
ção; ser conduzido em uma sala organizada, limpa e confortável; ser conduzido de
maneira polida e cordial; possuir várias fases distintas como a declaração inicial,
coleta de fatos, reuniões privadas, reuniões conjuntas e declarações formais.
7. Como podemos controlar a mediação de modo a garantir que esteja satis-
fazendo as necessidades de nossos usuários?
Podemos: consultar nossos usuários durante e depois da mediação; e aplicar
questionários após as mediações.
capítulo 3 • 49
Funções do mediador
Acolhimento
Organização
Informação e esclarecimento
capítulo 3 • 50
Administração das participações
Tal função se refere à necessidade de não deixar as partes partirem para espirais
negativas do conflito, tampouco transferirem ao mediador aspectos negativos da lide.
Segundo Fiorelli(2008) a sintonia emocional possibilita identificar aspectos
emocionais dos envolvidos, e perceber aquelas emoções que devem ser explicitadas
para que seja possível liberar energia psíquica para a resolução do conflito.
capítulo 3 • 51
Desenvolvimento de soluções cooperadas
Por fim, uma finalidade essencial da mediação é colaborar para que as pessoas
envolvidas possam chegar a acordos que sejam satisfatórios e o mediador deve ser
um facilitador para que isso aconteça.
Formação do mediador
Seleção
capítulo 3 • 52
Capacitação técnica
COMENTÁRIO
O Manual de Mediação Judicial do CNJ (Azevedo, 2015) propõe que dentre as metodo-
logias de ensino do curso de formação estejam as seguintes:
• Exposições teóricas sobre diversos tópicos relacionados à teoria do conflito, teoria de nego-
ciação, habilidades comunicativas, habilidades perceptivas e cognitivas, processo de tomada de
decisões, habilidades analíticas, questões éticas específicas para a mediação entre outros;
• Exercícios de análise de conflitos para desenvolver a capacidade para compreender as
causas e a dinâmica das disputas;
• Simulações de negociação para ensinar a dinâmica e os procedimentos de comunicação
e persuasão;
• Demonstrações em vídeo ou em teatralizações de mediação por treinadores para exempli-
ficar abordagens e habilidades;
• Sessões de planejamento de estratégia para mostrar como as intervenções são planejadas
e implementadas;
• Sessões de demonstrações e prática sobre o processo das reuniões privadas;
• Apresentações de estudo de caso por instrutores e iniciantes para explorar a
dinâmica da
análise do conflito e sua resolução;
• Apresentações e sessões simuladas de exercícios de comediação.
Observação
capítulo 3 • 53
Supervisão
Após o início das atividades, além das avaliações recorrentes por parte dos
instrutores do curso de formação, o mediador deverá também ser avaliado pelos
usuários por meio de resposta em fichas de avaliação.
capítulo 3 • 54
(...)
§ 3o Sempre que recomendável, haverá a designação de mais de um mediador
ou conciliador.
Entretanto, existe uma prática em que a comediação é utilizada de forma priori-
tária, que são os casos de conflitos comunitários ou coletivos. A nossa cultura indivi-
dualista, e politicamente liberal, faz com que nos venha a mente conflitos entre duas
pessoas, sempre que pensamos em mediação ou mesmo resoluções judiciais. Porém,
conforme já conversamos no primeiro capítulo deste livro, o movimento por Acesso
à Justiça, que abriu as portas para a mediação como um método importante de re-
solução dos conflitos, em sua terceira e mais sofisticada onda nos traz a necessidade
de protegermos os direitos coletivos e difusos e solucionarmos os conflitos referentes
a eles. Assim é que perguntamos a você: é possível a mediação de um conflito que se
refira aos direitos coletivos e difusos? Ou para dizermos de outro modo: é possível
resolvermos os problemas comunitários por meio da mediação?
A resposta é sim. E esta se mostra a melhor forma possível. Para que isso fique
claro, traremos o estudo de um caso real ocorrido em Minas Gerais e mediado pela
equipe do PMC – Programa de Mediação de Conflitos da Secretaria de Defesa
Social do Estado de Minas Gerais . O Caso da Rua Miramar. (CTC, 2011)
capítulo 3 • 55
PMC para solucionar uma questão que envolvia um serviço de saneamento bá-
sico administrado pela SSB-MG (Serviço de Saneamento Básico Minas Gerais).
A partir daí o Grupo Multidisciplinar de Mediação de Conflitos começou a sua
atuação dentro dos parâmetros da mediação de conflitos, buscando e ouvindo os
setores do serviço público e colocando em contato as pessoas da comunidade e os
representantes do serviço que aquelas visavam solucionar.
Esta mediação comunitária passou pelas etapas que a seguir começaremos a
estudar: pré mediação, abertura, relato das histórias, resumo, pauta de trabalho,
esclarecimento das controvérsias e resolução de questões, todas elas dentro da es-
pecificidade de uma resolução de um conflito comunitário.
Não iremos detalhar cada uma das etapas que podem ser lidas no livro
“Programa Mediação de Conflitos: uma experiência de mediação comunitária no
contexto das políticas públicas.” (2011) disponível em: <http://www.institutoelo.
org.br/site/files/publications/732b97393c88308cb2d84dc9c406c1cb.pdf>.
Entretanto, apontaremos para o fato de que a equipe de mediação após rece-
ber a líder comunitária, convocou os demais moradores da região, para ouvi-los
e confirmar o interesse coletivo na resolução da questão, se dirigiu aos órgãos
públicos responsáveis pelo serviço público que não estava sendo prestado adequa-
damente, e depois os reuniu para o encaminhamento das soluções, compartilhada
entre a comunidade e o serviço público e mediada pela equipe.
Voltaremos a seguir, agora com um pouco mais de discussões técnicas, para des-
crevermos a estrutura do processo de mediação. Esclareceremos as suas dúvidas so-
bre como é desenvolvida a dinâmica da mediação. Quais são as etapas e como se dá
a preparação? Ao final conheceremos os modelos clássicos de mediação de conflitos.
A dinâmica da mediação
capítulo 3 • 56
Pré-meditação
Abertura
Resumo
Pauta de trabalho
Esclarecimento de
Controvérsia
Resolução de questões
Pré-mediação
capítulo 3 • 57
buscam este tipo de procedimento. Também faz parte da pré-mediação a escuta
ativa da demanda e dos motivos do conflito. Também na pré-mediação é comum
que as partes encontrem com o mediador separadamente, e de forma privada, para
que seja disponibilizado um espaço de confiança e transparência.
Abertura
capítulo 3 • 58
Resumo
Resolução de Questões
Escolas de mediação
capítulo 3 • 59
Iniciaremos agora o estudo de algumas Escolas Clássicas da Mediação, apre-
sentando as diferenças entre elas. De forma didática e geral, as escolas diferenciam-
se segundo os seguintes objetivos:
ESCOLAS OBJETIVOS
Escola de Harvard Atingir e formalizar o acordo entre as partes
Escola Transformativa Transformar e tratar a relação entre as partes
Escola Circular Narrativa de Sara Cobb Atingir o acordo e transformar a relação
capítulo 3 • 60
• Focar em Interesses e não em Posições
Em muitas disputas as partes deixam de agir em virtude de um interesse e co-
meçam a agir para defender a sua posição, e o fato de que se está certo no conflito.
No livro “Como Chegar ao Sim” Fisher e Ury (2005) exemplificam com a situação
de dois homens em uma biblioteca que discutem sobre se a janela deve permanecer
aberta ou fechada. Depois de um tempo de discussão, aproxima-se deles a bibliote-
cária que ao saber o motivo da discussão lhes pergunta o porquê do posicionamento
de cada um: um quer a janela aberta e o outro a quer fechada. O primeiro justifica
a sua pretensão dizendo que quer que entre algum ar fresco, enquanto o segundo a
justifica dizendo que quer manter a janela fechada para evitar a corrente de ar. Ao
escutá-los a bibliotecária imediatamente se dirige a um aposento interno e abre intei-
ramente a janela deixando entrar um ar puro e evitando a corrente de ar.
• Inventar Opções de Ganho Mútuo
O exemplo anterior serve também para a presente diretriz, uma vez que ao
abrir a janela do interior a bibliotecária atendeu o interesse de ambos que desisti-
ram do conflito.
• Insistência em critérios objetivos
Apontar critérios objetivos que não se vinculem às questões pessoais de cada
mediando também é uma das formas de se facilitar uma negociação, para isso, po-
de-se utilizar tabelas comerciais, padrões médios de mercado, entre outros critérios
que valham para todas as pessoas.
capítulo 3 • 61
das demais formas de resolução de conflitos, como a conciliação e a negociação, a
Mediação Transformativa tem como objetivo primordial a transformação da qua-
lidade da interação das partes em conflito, ou seja, mudar de fato, e para melhor,
a qualidade das relações humanas envolvidas na mediação. Transformar a relação,
fazer do conflito uma situação construtiva para as partes envolvidas e para a so-
ciedade, esse é o fundamento da mediação segundo a Escola Transformativa. O
termo transformação se refere à mudança no caráter destrutivo do conflito, para
que este possa se apresentar em seu caráter construtivo
Nesse sentido, todo o esforço dos mediadores deve se voltar para a mudança na
forma da relação e do conflito, e nunca como um esforço cego por um acordo. Para
uma mediação transformativa chegar ou não a um acordo deve ser irrelevante, quando
o que se espera de fato é que as partes em mediação possam estabelecer um diálogo
e criarem formas construtivas de convivência. Assim, os mediadores transformativos
abrem os espaços para a interação entre as partes, não controlam em nenhuma medida
o processo, e facilitam a expressão das emoções das partes envolvidas.
No Brasil temos uma linha especial de mediação transformadora que foi enca-
beçada por Luis Alberto Warat, em Santa Catarina.
capítulo 3 • 62
AUTOR
Warat foi um professor do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina e
um de seus primordiais estudos se referiu ao Oficio do Mediador. Podemos dizer que Warat fez
ao seu modo, e ao modo tupiniquim, a Escola Transformativa no Brasil. Ele a denominou de Es-
cola hedonista-cidadã e o que Warat priorizava fundamentalmente em uma resolução de confli-
tos era a outridade, a empatia e o prazer de transformar relações de forma sensível e com amor.
MULTIMÍDIA
Café Filosófico com Warat:
<https://www.youtube.com/watch?v=QH8hHV0GRZQ> (parte 1);
<https://www.youtube.com/watch?v=1ucH4aGcQZA> (parte 2).
CONCEITO
Alienação Parental: Trata-se da alienação reiterada da presença de um dos genitores
pelo outro, criando um desligamento dos vínculos afetivos em relação ao filho.
MULTIMÍDIA
Um filme muito interessante pode nos aproximar da situação do Caso da Rua Miramar,
ele se chama Saneamento Básico que além de nos ajudar a compreender a questão estu-
dada, tenho certeza que também será responsável por umas boas risadas.
Ficha Técnica:
Nome Original: Saneamento Básico
Diretor: Jorge Furtado
Ano de Lançamento: 2007
capítulo 3 • 63
REFLEXÃO
Dentre as formas de mediação de conflitos que conhecemos até aqui, a mediação comu-
nitária é a forma que mais se aproxima de uma democracia participativa e em sintonia com
os princípios constitucionais que são os pilares da Constituição Federal de 1988. É muito
importante o movimento que, conforme aprenderemos no capítulo cinco, traz para dentro do
Judiciário o processo de mediação. Entretanto, quando pensamos em mediação ainda pare-
ce que estamos presos a modos individualistas de resolução de conflitos, devemos levar ain-
da mais a prática da mediação para políticas públicas como o relatado caso da Rua Miramar.
ATIVIDADES
01. Com base nos estudos desenvolvidos até aqui responda: o mediador é alguém que tra-
balha para resolver briga e desentendimento?
02. Escolha uma das Escolas de Mediação aprendidas neste capítulo e construa uma situa-
ção de conflito simulando a mediação com base na técnica escolhida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, André Gomma (Org.) Manual de Mediação Judicial, 6ª ed. Ministério da Justiça: CNJ, 2015.
CTC, Comissão Técnica de Conceitos do Programa Mediação de Conflitos. Programa Mediação
de Conflitos: uma experiência de mediação comunitária no contexto das políticas públicas. Belo
Horizonte: Arraes Editores, 2011. Disponível em: <http://www.institutoelo.org.br/site/files/
publications/732b97393c88308cb2d84dc9c406c1cb.pdf>. Acesso em: 03 de dezembro de 2017.
FIORELLI José Osmir. FIORELI, Maria Rosa. MALHADAS, Marcos Julio Olivé Junior. Mediação e
Solução de Conflitos: teorias e práticas. São Paulo: Editora Atlas S.A , 2008.
FISHER, Roger. URY, Willian. PATTON, Bruce. Como Chegar ao Sim: negociação de acordos sem
concessões. 2ªed. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 2005.
FOLGER, Joseph P. La Mediación Transformativa: preservación del potencial único de la mediación
en situaciones de disputas. Revista de mediación. Año 1. Nº 2. Octubre 2008.
capítulo 3 • 64
VEZZULLA, Juan Carlos. Mediação de Conflitos: a questão coletiva. In Programa Mediação
de Conflitos: uma experiencia de mediação comunitária no contexto das políticas públicas. Belo
Horizonte: Arraes Editores, 2011. Disponível em: <http://www.institutoelo.org.br/site/files/
publications/732b97393c88308cb2d84dc9c406c1cb.pdf>. Acesso em: 03 de dezembro de 2017.
WARAT, Luis. Alberto. O Ofício do Mediador. Florianópolis: Habitus, 2001.
Entrevista da Gabriela Asmar ao Jô Sorares disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=Fg3U77otJpI>. Acesso em: 03 de dezembro de 2017.
capítulo 3 • 65
capítulo 3 • 66
4
Técnicas para
a mediação de
conflitos
Técnicas para a mediação de conflitos
Iniciaremos no presente capítulo o nosso percurso pelas técnicas de mediação
de conflitos. Faremos uma apresentação de algumas delas e dos princípios a elas vin-
culados que podem qualificar a atuação do mediador. Algumas destas técnicas estão
relacionadas às Escolas de Mediação que estudamos. Entenderemos como é possível
para o mediador colaborar para que as partes possam ressignificar um conflito em
suas vidas, ou seja, dar outro significado e valor para o fato, afastando ressentimen-
tos e construindo histórias alternativas. Neste mesmo processo pode ser postulada a
oportunidade das pessoas se empoderarem e reconhecerem o outro em sua humani-
dade. Também iremos entender como é dada a utilização de técnicas de negociação
dentro da mediação. Por fim, vamos conhecer as técnicas utilizadas em diferentes
momentos da mediação e as formas de construção e redação dos acordos.
OBJETIVOS
• Entender o que é e como pode se dar a ressignificação dos conflitos;
• Conhecer algumas técnicas da mediação de conflitos: histórias alternativas; revalorização
e reconhecimento, negociação assistida;
• Conhecer algumas técnicas para abordar diferentes momentos da mediação;
• Aprender a construir e redigir acordos.
Muito se diz das técnicas e instrumentos da mediação, que elas são como uma cai-
xa de ferramentas, que no momento em que o mediador necessita de determinada téc-
nica, ele, munido de diversas delas, a lança para solucionar um problema, assim como
fazemos com a chave de fenda ou a fita métrica, a depender da nossa necessidade.
É uma metáfora interessante, pois o mediador deve conhecer diversas técnicas para
poder usar e escolher a que melhor convir ao momento. Entretanto, estamos de acordo
com Folger (2008) quando ele nos aponta que toda ferramenta tem um propósito, ou seja,
toda técnica deve ter um propósito e ser utilizada em virtude dele e não aleatoriamente.
É neste sentido que vamos apresentar algumas técnicas de mediação de
conflitos, formuladas por pensadores importantes na área da mediação, mas
capítulo 4 • 68
apresentaremos também o pensamento que a formulou, o contexto e o estilo de
mediação a que ela esteja vinculada e os propósitos a que elas servem.
A ressignificação
capítulo 4 • 69
as noites para seus filhos. Para ela existia a seguinte situação: era a sua obrigação
materna cozinhar todos os dias para o marido e para os filhos. Um certo dia ela
decide que não vai mais cozinhar. Esperava a resistência dos filhos e o que ouviu
foi: estou muito aliviado, mãe, não aguentava mais jantar e sempre lhe ouvir re-
clamar, e poderia ter dito ainda: além disso, agora me sinto mais livre por poder ir
jantar com a minha namorada.
O exemplo nos mostra que quando ressignificamos uma situação, abrimos a
possibilidade para as outra pessoas envolvidas o fazerem também. E algumas vezes
isso nos faz sair de círculos viciosos que não trazem satisfação a mais ninguém.
Para ilustrar o que dissemos até aqui sobre ressignificação, vamos pegar em-
prestado um desenho da Psicologia da Gestalt:
CONEXÃO
Para ter acesso à reportagem completa e às fotos retiradas pela família acesse o link:
<https://www.hiper.fm/casal-divorciado-junta-se-todos-os-anos-para-tirar-fotos-de-familia-
com-o-filho/?ref=maisfm>.
capítulo 4 • 70
CONCEITOS
Parentalidade se refere ao fato de duas pessoas serem pais e/ou mães. A conjugalida-
de (o fato de serem cônjuges) pode ter fim, entretanto, a parentalidade não termina nunca, a
não ser em casos excepcionais de perda do poder familiar.
A Psicologia da Gestalt é a denominada de “Psicologia das Formas” e estuda, de forma
geral, as sensações e percepções humanas.
A recontextualização
Sempre que for retransmitir às partes uma informação que foi trazida por elas ao pro-
cesso, o mediador deve se preocupar em apresentar estes dados em uma perspectiva
nova, mais clara e compreensível, com enfoque prospectivo, voltado às soluções, fil-
trando os componentes negativos que eventualmente possam conter, com o objetivo
de encaixar essa informação no processo de modo construtivo.
MULTIMÍDIA
Bem me quer, mal me quer. Este é um filme muito interessante que nos mostra a neces-
sidade de vermos uma mesma situação por outro ponto de vista.
capítulo 4 • 71
Ficha técnica:
Nome Original: À la folie... pas du tout
Ano de Lançamento: 2003
Direção: Laetitia Colombani
Pelo mesmo motivo também indicamos uma comédia italiana que se chama “O Monstro”.
Ficha Técnica:
Nome Original: Il Mostro
Ano de Lançamento: 1994
Direção: Roberto Benigni
LEITURA
O Papalagui é a história de um índio que no contato com a civilização ocidental nos traz
um olhar bastante peculiar sobre nós mesmos. Dentro dos nossos estudos, pode nos ajudar a
compreender a necessidade de nos abrirmos ao olhar do outro, de nos des-ensimesmarmos
(sairmos do “si mesmo”), exercitarmos a empatia e a outridade, o que muitas vezes será a
melhor forma de resolvermos nossos conflitos e, consequentemente, lidarmos com as técni-
cas de mediação.
TUIAVII. O Papalagui. 4a Ed. Rio de Janeiro: Marco Zero, s/d.
História alternativa
Nossas identidades são construídas de muitas histórias e estas histórias estão cons-
tantemente mudando. (Mandelbaum, 2011, p.340 )
capítulo 4 • 72
ela nos ensina que fatos da vida como “ser ou não uma boa motorista” faz parte de
histórias que lembramos e outras que esquecemos. Segundo ela uma história é feita
de 1) uma seleção de acontecimentos ligados ao fato e escolhidos em detrimentos de
outros; 2) uma encadeação lógica e temporal destes fatos narrados.
Se colocarmos neste encadeamento aquela baliza em uma vaga apertada, o
fato de sempre dar passagem aos pedestres, não incorrer em multas de velocidade,
parar nos sinais de trânsito, podemos não dar prioridade àquele pequeno esbar-
rão no estacionamento. “Ao escrever aquela história, precisei selecionar eventos,
para mim importantes, que se encaixaram naquele enredo específico e dominante.
Quanto mais eventos são selecionados e reunidos ao vento dominante, mais rique-
za e consistência a história ganha.” (Mandelbaum, 2011, p.340 )
Assim é que os estudos sobre a narrativa como técnica de mediação de con-
flitos dividem as nossas histórias, de forma didática, em história dominante e
história alternativa. A história dominante é aquela que encadeada de determinada
maneira nos constitui primordialmente e influencia diretamente a nossa forma de
ser e estar nas relações sociais. Entretanto, ambas geram efeitos em nós, e, muitas
vezes, basta que possamos abrir espaço para uma delas se apropriar e prevalecer.
Para ressignificar um conflito, muitas vezes, basta apostarmos na história al-
ternativa. E, assim, se permite que a questão pendente, e que esteja gerando o
ressentimento nas partes, deixe de ter importância. “Em termos práticos, o me-
diador, principalmente através de perguntas, leva os mediandos à reflexão sobre as
suas histórias, destacando momentos extraordinários em que o problema não teve
influência, ou teve influência mínima” (Mandelbaum, 2011, p.324).
As novas histórias podem possibilitar o sentimento de dignidade para as pes-
soas envolvidas e, assim, abrir espaço para a resolução do conflito.
MULTIMÍDIA
Para compreendermos a força do uso de variadas formas de contar e recontar uma história,
indicamos o maravilhoso filme do documentarista brasileiro Eduardo Coutinho, “Jogo de Cena”.
Ficha Técnica:
Nome Original: Jogo de Cena
Ano de Lançamento: 2007
Direção: Eduardo Coutinho
capítulo 4 • 73
CONCEITO
Entre as práticas narrativas temos em especial o que foi chamado de Conversas de Exter-
nalização. Ela foi introduzida por Michel White nas Terapias Familiares na década de 1980 (Man-
delbaum, 2011) e ela visa, por meio da narrativa, externalizar e enfraquecer diversas relações de
poder que são sociais e, a partir daí, perceber que o conflito, e sua resolução, partem da percep-
ção destas relações que se vinculam a gênero, raça, classe social, orientação sexual, entre outras.
Revalorização e reconhecimento
capítulo 4 • 74
responsabilizar pelas consequências (empoderamento), quanto para ir mais além
de suas próprias perspectivas e se abrir aos demais. Portanto, para reconhecer o
outro em sua diferença e singularidade (reconhecimento) e assim solucionar os
difíceis desafios criados pelo conflito (Folger, 2008).
Portanto, a revalorização se refere ao olhar do mediando para si, para com-
preender o seu valor, para não deixar que o conflito acabe por macular a imagem que
ele traz dele mesmo, resgatando e estimulando a autoconfiança. O que chamamos
atualmente de empoderamento. Enquanto o reconhecimento se refere ao outro e
a como cada uma das partes conflitantes pode conseguir compreender as diferenças
e desejos alheios, para criar a empatia que pode levá-las à harmonia e à resolução do
conflito.
A negociação assistida
capítulo 4 • 75
Outras técnicas
A escuta ativa
A mediação não deve ter como objetivo a realização de acordos, mas sim a
harmonização da relação conflituosa e, em última instância, a paz social.
Entretanto, o acordo é uma consequência recorrente dos processos de media-
ção, uma vez que as partes desejam formalizar os parâmetros do que foi resolvido.
capítulo 4 • 76
Fiorelli (2008) nos traz algumas orientações para a elaboração e formalização
de um acordo que prospere: as partes devem estar cientes de forma clara e precisa
de tudo o que ficar estabelecido.
Para tanto, o autor sugere que sejam respondidas as seguintes questões antes
de ser levado a termo o acordo:
1. O que será feito (atividades e providências)?
2. Foram contempladas todas as exigências?
3. Quem fará cada ação estabelecida?
4. Quando cada ação será levada a efeito? Com que frequência?
5. As ações se sustentam ao longo do tempo? O acordo terá durabilidade?
6. Onde cada ação será realizada?
7. Por que cada uma das ações será realizada?
8. Como as ações acontecerão? Estarão todos os recursos disponíveis? Elas são
exequíveis? Há praticidade?
9. Quem pagará? Quando, quanto e onde?
Muitas de tais perguntas, inclusive, devem estar respondidas nos próprios ter-
mos do acordo que deverá ser redigido logo após o fechamento das questões, e em
linguagem clara, precisa, concisa e correta.
Por fim, o mediador redige o acordo e o lê em voz alta, momento em que as
partes darão expressamente o consentimento e assinarão em três vias – uma para
cada parte e outra para o Mediador/Câmara de Mediação/Juízo.
São elementos fundamentais de qualquer acordo redigido: nome completo e
identificação dos mediandos e do mediador, os termos do acordo celebrado, local,
hora e data, além das assinaturas dos presentes, inclusive dos advogados.
REFLEXÃO
A lição da ressignificação – entender que uma mesma história pode ser transformada
subjetivamente e deixar de gerar sofrimento – deve servir aos mediandos. Para que estes
deixem de insistir em uma espiral destrutiva do conflito e passem a relações construtivas,
em que a superação da mágoa possa fazer com que todos os envolvidos saiam ganhando ao
final da resolução. Entretanto, também para o mediador, é importante conhecer “o perigo da
história única” para que ele não se deixe levar por um dos lados, para que consiga manter
a sua função de facilitador na relação conflituosa. Conseguir enxergar diversas perspectivas
e histórias alternativas é fundamental para todos os envolvidos, mediandos e mediadores.
capítulo 4 • 77
MULTIMÍDIA
Vídeo essencial para pensarmos as relações de poder (colonialismo, gênero e raça), em
meio às discussões sobre narrativas e história alternativa, é o “Perigo da História Única” da
Chimamanda Adichie para o TED. Vídeo disponível no youtube: <https://www.youtube.com/
watch?v=qDovHZVdyVQ>.
ATIVIDADES
01. Agora o(a) aluno(a) deve colocar em prática os aprendizados adquiridos no presente capítulo,
para tanto deverá propor uma situação de ressignificação de um conflito que, ao final, deverá ser
resolvido pelas partes em mediação e, por fim, ser redigido a termo um acordo sobre a situação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, André Gomma (Org.) Manual de Mediação Judicial, 6ª ed. Ministério da Justiça: CNJ, 2015.
FIORELLI José Osmir. FIORELI, Maria Rosa. MALHADAS, Marcos Julio Olivé Junior. Mediação e
Solução de Conflitos: teorias e práticas. São Paulo: Editora Atlas S.A , 2008.
FOLGER, Joseph P. La Mediación Transformativa: preservación del potencial único de la mediación
en situaciones de disputas. Revista de mediación. Año 1. Nº 2. Octubre 2008.
HIPERFM. “Casal Divorciado junta-se todos os anos para tirar fotos de família com o filho”.
Disponível em: <https://www.hiper.fm/casal-divorciado-junta-se-todos-os-anos-para-tirar-fotos-de-
familia-com-o-filho/?ref=maisfm>. Acesso em: 12 de dezembro de 2017.
MANDELBAUM, Helena Gurfinkel (org.). Mediação Judicial: teoria na prática e prática na teoria. São
Paulo: Primavera Editorial, 2011.
MOORE, Cristopher W. O Processo de Mediação: estratégias práticas para a solução de conflitos. 2
ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
ROSENBERG, Marshall B. Comunicação Não-Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos
interpessoais. 4ª ed. São Paulo: Ágora, 2006.
TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. 2ª ed. São Paulo: editora método, 2015.
TUIAVII. O Papalagui. 4a Ed. Rio de Janeiro: Marco Zero, s/d.
capítulo 4 • 78
5
A mediação e o
Poder Judiciário
A mediação e o Poder Judiciário
Nosso último capítulo irá tratar de um tema muito importante e que certa-
mente veio nos acompanhando até aqui: trataremos especificamente do encontro
entre a Mediação de Conflitos e o Poder Judiciário. Iremos pensar juntos quais são
os encontros e desencontros, vantagens e desvantagens entre eles. Vamos conhecer
também o movimento que em 2015 criou as leis que formalmente trouxeram a
mediação para dentro do Poder Judiciário. E para terminar o nosso livro, o último
tema, mas decididamente não o menos importante: a ética no processo de media-
ção. Como seria uma atuação ética do mediador? Quais são as suas responsabili-
dades? E assim fechamos este primeiro estudo sobre o Ofício do Mediador. Espero
que todos tenham aproveitado o percurso até aqui e que sigam nos estudos e na
arte desta tão bonita prática que é a mediação de conflitos.
OBJETIVOS
• Conhecer os marcos legais da mediação no Brasil;
• Estudar a lei 13.140/2015 (Lei da Mediação) e a lei 13.105/2015 (Novo Código de Pro-
cesso Civil) no que se refere à mediação;
• Comparar a mediação e o processo judicial;
• Estudar os aspectos éticos do mediador e as suas responsabilidades.
capítulo 5 • 80
do próprio Judiciário alguma oportunidade para resolver as suas pendências por
meio dos métodos consensuais de resolução de conflitos.
Tal cenário começa a mudar em 2015 com a consolidação legal da Mediação
tanto no Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), quanto em legislação
própria, a Lei da Mediação (Lei 13.140/2015). Vamos, agora, fazer uma rápida
passagem para conhecer um pouco das leis e dos projetos que visavam a abertura
de espaço no Judiciário para as vias consensuais.
CONCEITO
Jurisdição Estatal é o nome dado ao processo em que, em um conflito, as pessoas en-
volvidas abrem mão de sua autonomia e são substituídas pelo Estado/Juiz que decidirá por
elas, dizendo a norma aplicável ao caso concreto, a forma de encaminhar a solução, e tendo
o poder coercitivo para impor a sua decisão.
ATENÇÃO
Uma Resolução não é uma lei, e sim um ato normativo que tem o condão apenas de
orientar e explicar determinados assuntos e não de impor condutas.
capítulo 5 • 81
A resolução 125 do CNJ está composta da seguinte forma:
capítulo 5 • 82
Após a criação da Resolução em 2010, podemos delimitar dois percursos legislativos
que tiveram como consequência a aprovação de importantes leis que estabelecem a media-
ção no Direito brasileiro, são elas o Novo Código de Processo Civil e a Lei da Mediação e
passaremos a abordá-las agora.
COMENTÁRIO
A resolução 125 foi contemplada com duas emendas, uma em 2013 e outra em 2016,
esta visava estabelecer ainda maior sintonia com o Novo Código de Processo Civil e a Lei de
Mediação que entraram em vigor em 2015.
LEITURA
Para ter acesso à Resolução completa do CNJ basta acessar o site: <http://www.cnj.jus.
br/busca-atos-adm?documento=2579>.
capítulo 5 • 83
com mediadores indicados pelo Juízo, ou escolhidos livremente pelas partes, mas
ainda dentro do processo (Art. 168).
A mediação extrajudicial, aquela que ocorre fora do processo judicial, conta
com maior liberdade para estabelecer seus procedimentos, que ficam por conta das
Câmaras de Mediação ou do mediador autônomo. Tem, logicamente, o dever de
seguir os parâmetros éticos, e as disposições que se encontram na Lei da Mediação.
COMENTÁRIO
O Art. 168 do NCPC/2015 assim se refere:
Art. 168. As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador ou a
câmara privada de conciliação e de mediação.
§ 1o O conciliador ou mediador escolhido pelas partes poderá ou não estar cadastrado
no tribunal.
§ 2o Inexistindo acordo quanto à escolha do mediador ou conciliador, haverá distribuição
entre aqueles cadastrados no registro do tribunal, observada a respectiva formação.
§ 3o Sempre que recomendável, haverá a designação de mais de um mediador ou conciliador.
capítulo 5 • 84
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo an-
terior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses
em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identi-
ficar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos. (grifo nosso)
COMENTÁRIO
Devemos tomar cuidado com a interpretação do texto da lei no que se refere ao “sucesso ou
insucesso” da atividade do mediador, a efetividade, informação que deve constar em seu cadastro.
O sucesso de uma mediação não pode ser aferido com base nos parâmetros judiciais ou mesmo
conciliatórios. A mediação é uma atividade que visa a harmonia e o restabelecimento da comuni-
cação entre as partes e não necessariamente um acordo ou a resolução apenas formal do litígio.
É prevista ainda a possibilidade de criação de quadro próprio e permanente de mediado-
res que seriam convocados por concurso público de provas e títulos. A iniciativa seria muito
desejável, uma vez que, já estando nos Tribunais, os mediadores seriam inteiramente acessí-
veis, além de evitar a precarização de tão importante ofício. Caso não haja quadro próprio e
permanente de mediadores é prevista no Art.169 a remuneração pelos serviços prestados,
entretanto, é aberta a possibilidade do serviço voluntário de mediação.
No caso dos mediadores serem advogados, estes estarão impedidos de atuar nos Juízos
em que estejam cadastrados e exerçam a função.
capítulo 5 • 85
A lei em seu Art. 168 traz ainda a possibilidade de as partes escolherem o mediador ou
a câmara privada de mediação, ocasião em que não será necessário que o profissional esteja
cadastrado perante o Tribunal. Entretanto, caso não haja consenso entre as partes o Juiz
deverá indicar um mediador cadastrado no Tribunal.
A lei da mediação
capítulo 5 • 86
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio alternativo de solução de contro-
vérsias entre particulares e sobre a composição de conflitos no âmbito da Administra-
ção Pública.
capítulo 5 • 87
Conforme o próprio NCPC/2015 nos traz, a mediação está indicada para os con-
flitos que incidam nas relações em que as pessoas já se conhecem, relações estas que
denominamos de continuadas. Logo no capítulo 1 do presente livro, assim como no
capítulo 2, discorremos suficientemente sobre as vantagens da mediação nestas situa-
ções, inclusive com os Exemplos 1 e 2 que foram objetos de reflexão do primeiro capí-
tulo. Remetemo-nos a eles para frisar as vantagens da mediação, que, de forma geral,
podemos exemplificar: a harmonização social, o tratamento da comunicação entre as
partes, a busca pela comunicação não violenta e pela transformação do conflito, que
pode estar em uma espiral destrutiva, para um conflito construtivo que, por fim, pode
até reatar a relação entre as partes e contribuir para o crescimento pessoal delas.
O Processo Judicial será indicado em algumas situações também. Conforme
falamos no primeiro capítulo, o ideal é que tenhamos o sistema multiportas, em que
diversas formas de resolução de conflitos se mostrem disponíveis e que as pessoas
que necessitem sejam direcionadas a elas. O processo judicial será indicado, por
exemplo, para casos em que a hipossuficiência não seja manejável, ou equilibrável
por meio da mediação, como pode ser o caso de uma relação trabalhista em que a
diferença de posições é inerente à situação. Em casos como este, muitas vezes apenas
a imposição da Jurisdição poderá trazer a isonomia e a justiça às partes. Também em
relações interpessoais, tais situações podem se mostrar presentes, em certos casos de
violência, excetuando os esforços da Justiça Restaurativa, e em todas as situações em
que a convivência harmônica se torne impossível, na manutenção de formas violen-
tas de se relacionar e na impossibilidade, após sucessivas tentativas, da mediação do
conflito. Percebemos, portanto, que a Jurisdição, afinal, se mostra como a última
razão do Estado para a resolução de conflitos e não mais como a primeira ou a única.
MULTIMÍDIA
A série da advogada Alicia Florick nos traz boas cenas no Tribunal, entretanto, em sua sexta
e sétima temporadas, ela também nos presenteia com boas cenas de sessões de Mediação. Vale
a pena assistir nos horários de descanso. Todas as temporadas estão disponíveis na rede Netflix.
Ficha técnica:
Nome Original: The Good Wife
Estréia: 2009
Número de Temporadas: 7
Número de episódios: 156
capítulo 5 • 88
A ética no processo da mediação
CONCEITO
Violência Estrutural é aquela em que a própria estrutura da sociedade faz com que
determinado grupo social sofra com a retirada de direitos e com a discriminação social por
serem quem são. Um exemplo histórico no Brasil foi com relação àquelas pessoas conside-
radas com transtornos mentais. Até a chamada desmanicomialização, com a atuação do mo-
vimento antimanicomial, retiravam-se todos os direitos das pessoas que eram consideradas
capítulo 5 • 89
fora da suposta normalidade, delas eram retirados o direito à liberdade, à integridade física
e psíquica, direito à identidade e em última instância até o direito à vida, é só verificarmos os
números de mortes de pessoas nos manicômios neste período histórico no Brasil.
Responsabilidades do mediador
capítulo 5 • 90
também estabelece o que denomina de regras que devem reger o procedimento, quais
sejam: informação, autonomia da vontade, ausência da obrigação do resultado, des-
vinculação da profissão de origem, compreensão quanto à conciliação e à mediação.
De forma geral, além dos princípios e regras de conduta, o Código de Ética
formalizado na Resolução 125 prevê as responsabilidades e sanções aos media-
dores, quanto ao dever de confidencialidade e quanto ao impedimento e prevê
também as regras de qualificação e cadastro nos Tribunais.
ESTUDO DE CASO
Jeferson Callado é um dos mediadores judiciais mais antigos cadastrados no Tribunal de
Justiça do Mato Grosso do Sul. Em suas atuações, Callado sempre se mostrou muito bem
articulado, além de solícito, persistente e determinado na orientação dos mediandos e na
busca pela solução dos conflitos. Ele quase nunca falha na resolução dos casos e já virou
uma questão de honra para ele sair do Tribunal com ao menos dois acordos formulados.
Porém, hoje não foi um dia de sorte para Callado, já passava de 17 horas e, em virtude de ter
em mãos casos de resolução muito difícil, desentendimentos que já se arrastavam há anos,
não foi possível nenhum acordo. Era seu último processo e ele resolve tentar de todas as
formas entabular uma resolução formal. O caso tratava-se de uma dívida antiga de um rapaz
muito humilde que informalmente fazia a jardinagem da casa de um grande proprietário de
terra no interior do estado. O rapaz humilde e semi-analfabeto pegou emprestado 200 reais
e não conseguiu pagar. O credor propunha ao rapaz que este prestasse serviço contínuo por
um ano sem remuneração em troca do perdão da dívida. O rapaz humilde e amedrontado
por estar no meio judicial aceita tal acordo hercúleo e Jefferson Callado redige satisfeito os
termos da resolução da mediação. Neste sentido questiona-se: o nosso mediador experiente
atuou de forma ética? Analise e avalie a atuação de Jefferson Callado.
Resolução:
O mediador nunca deve visar o acordo no momento da resolução dos conflitos. O obje-
tivo da mediação é o estabelecimento da comunicação não violenta entre as partes, sendo
irrelevante para ele pôr termo formal ou não ao conflito. Neste caso agrava-se a situação
em virtude do aspecto ético. Em face do desequilíbrio da relação e da injustiça manifesta
da proposta do acordo, o mediador tem o dever de intervir, balancear as partes e amenizar o
sentimento de apreensão por parte do mediando vulnerável.
capítulo 5 • 91
REFLEXÃO
O mediador nunca deve buscar o acordo a qualquer custo. Apesar de a mediação, muitas
vezes, aparecer como uma solução para a morosidade e o atravancamento do Poder Judi-
ciário, ela não deve se prestar a este papel. Conforme citação de Humberto Dalla Bernadino
Pinho (2011, p.225) “a mediação é um trabalho artesanal, e cada caso é único”. Podemos
pensar que a conciliação pode se prestar a este papel de desafogar o Judiciário, uma vez que
ela é prioritariamente indicada para os casos em que as partes não têm uma relação prévia.
A mediação definitivamente não. Ela deve, por fim, nos ajudar a harmonizar o convívio social,
trazer desfechos construtivos para os conflitos sociais e possibilitar que as pessoas coabitem
o mundo de forma plural e sem violência. Este é o maior ofício do mediador.
LEITURA
Reproduziremos aqui a íntegra do Anexo III da Resolução 125 do CNJ:
ANEXO III
CÓDIGO DE ÉTICA DE CONCILIADORES E MEDIADORES JUDICIAIS
INTRODUÇÃO
capítulo 5 • 92
II - Decisão informada - dever de manter o jurisdicionado plenamente informado quanto
aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido;
III - Competência - dever de possuir qualificação que o habilite à atuação judicial, com
capacitação na forma desta Resolução, observada a reciclagem periódica obrigatória para
formação continuada;
IV - Imparcialidade - dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou precon-
ceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado do trabalho,
compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais aceitando qualquer espécie
de favor ou presente;
V - Independência e autonomia - dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer
pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão
se ausentes as condições necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo
dever de redigir acordo ilegal ou inexequível;
VI - Respeito à ordem pública e às leis vigentes - dever de velar para que eventual acordo
entre os envolvidos não viole a ordem pública, nem contrarie as leis vigentes;
VII - Empoderamento - dever de estimular os interessados a aprenderem a me-
lhor resolverem seus conflitos futuros em função da experiência de justiça vivenciada
na autocomposição;
VIII - Validação - dever de estimular os interessados perceberem-se reciprocamente
como serem humanos merecedores de atenção e respeito.
capítulo 5 • 93
IV - Desvinculação da profissão de origem - dever de esclarecer aos envolvidos que
atuam desvinculados de sua profissão de origem, informando que, caso seja necessária
orientação ou aconselhamento afetos a qualquer área do conhecimento poderá ser con-
vocado para a sessão o profissional respectivo, desde que com o consentimento de todos;
V - Compreensão quanto à conciliação e à mediação - Dever de assegurar que os envol-
vidos, ao chegarem a um acordo, compreendam perfeitamente suas disposições, que devem
ser exequíveis, gerando o comprometimento com seu cumprimento.
capítulo 5 • 94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, André Gomma (Org.) Manual de Mediação Judicial, 6ª ed. Ministério da Justiça: CNJ, 2015.
FIORELLI José Osmir. FIORELI, Maria Rosa. MALHADAS, Marcos Julio Olivé Junior. Mediação e
Solução de Conflitos: teorias e práticas. São Paulo: Editora Atlas S.A , 2008.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 3: o cuidado de si. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1985.
MORAES, Vinicius. POWELL, Baden. Samba da Bênção. LP Kalendoscópio Elenco SE nº2, 1965.
MOORE, Cristopher W. O Processo de Mediação: estratégias práticas para a solução de conflitos. 2
ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. O Novo CPC e a Mediação: reflexões e ponderações. Revista
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dezembro de 2017.
PINHO, Humberto Dalla Bernardina de [organizador]. Teoria Geral da Mediação à luz do Projeto de
Lei e do Direito Comparado, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
GABARITO
Capítulo 1
01. RADs é a sigla referente a Resolução Adequada de Conflitos, também podendo ser
conhecida como Resolução Amigável de Conflitos e ela se refere ao conjunto que abarca a
Mediação, a Conciliação, a Negociação e a Arbitragem. O instrumento de resolução adequa-
da utilizado na Justiça Restaurativa é a Mediação.
Capítulo 3
02. O mediador não trabalha para resolver briga e desentendimento, a não ser de forma
indireta. O trabalho do mediador é estabelecer harmonia e comunicação entre as partes con-
flitantes, para que elas possam resolver, por elas mesmas, a briga e o desentendimento delas.
03. O aluno inicialmente deve construir uma situação hipotética de conflito, como por exem-
plo, uma situação de divórcio, de briga entre condôminos, ou a partilha de herança. Isto feito,
deverá escolher uma das três Escolas de mediação apresentadas: A Escola de Harvard, a
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Escola Transformativa ou a Escola Narrativa e com base na dinâmica de uma delas exempli-
ficar a atuação de um mediador vinculado a esta Escola.
Capítulo 4
01. O aluno deverá propor uma situação em que as partes consigam visualizar de outra for-
ma o conflito em que se encontram e ressiginificá-lo. No texto do capítulo temos dois exem-
plos no item 2. Após isso, o aluno irá, com base nas orientações do item 8, redigir um acordo.
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