IMPACTOS SOBRE A
SOCIEDADE
Autora
Maquiel Duarte Vidal
Organização
Elisabeth Penzlien Tafner
Meike Marly Schubert
Sonia Adriana Weege
Tatiana Milani Odorizzi
Reitor da UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch
Diagramação e Capa
Letícia Vitorino Jorge
Revisão
Joice Carneiro Werlang
José Roberto Rodrigues
Tecnologias e seus Impactos sobre a Sociedade 1
Ementa
1 INTRODUÇÃO
Desta forma, convido você a discutir ciência sob diferentes óticas, analisar definições
e pensamentos acerca da tecnologia e algumas formas de interpretar a sociedade.
2 CIÊNCIA
Entender eventos, situações ou fatos novos é sempre uma tarefa fácil para você?
Se fosse designado para a incrível tarefa de defender um determinado episódio, como você
procederia? Essas indagações fazem-se necessárias para que ampliemos nossos horizontes
sobre o fato de que as pessoas constroem formas próprias para compreender a realidade, seja
observando pelo viés cultural, histórico, geográfico, ambiental, enfim.
A mitologia, a arte, a religião e até mesmo a ciência são observadas quando o foco é
explicar as situações que cercam os seres humanos. Você, com certeza, já deve ter ouvido
sobre Isaac Newton! Não se recorda? E sobre Isaac Newton e a história da maçã que caiu
sobre sua cabeça, originando assim a teoria da gravidade? Ficou mais fácil, não? Pois bem,
é desta forma que a sociedade explica situações do cotidiano: apoiando-se em diferentes
pensamentos para defender o que acontece ao seu redor.
isso, princípios, regulamentos e normas. De qualquer maneira, tais conflitos são indissociáveis
da epistemologia e da política, uma vez que ocorre a tentativa de autoridade de uma ciência
sobre a outra. Desta forma, a realidade é comumente explicada pela ciência.
Severino (2007, p. 102) nos diz que um método científico pode ser “um conjunto de
procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que permitem o acesso às relações causais
constantes entre os fenômenos”. Já para Omnés (1996, p. 272), é “um conjunto de regras
práticas que permitem garantir a qualidade da correspondência entre a representação científica
e a realidade”.
Nessa mesma perspectiva, Omnés (1996) também propõe que o método deve cumprir
ainda algumas etapas que visam diminuir a distância entre a cientificidade do conhecimento e
a proposta de explicação do mesmo, que seriam:
3 TECNOLOGIA
Por mais simplificadas que sejam estas três conceituações, elas permitem a análise
inicial acerca da discussão sobre tecnologia.
NOT
A!
Sobre isso há de se destacar uma situação relevante nas questões
tecnológicas, no âmbito de país, a capacidade de produção de tecnologia
também diferencia os países desenvolvidos dos em desenvolvimento.
Você consegue perceber, nessa explanação inicial, a ação do ser humano em tudo o
que se refere à tecnologia? Normalmente, quando se fala nesse assunto, logo se pensa em
tecnologia de ponta, sondas espaciais, nanotecnologia, enfim; porém, a própria transformação
das peles de animais em roupas, dos elementos da natureza em utensílios domésticos, o uso
do fogo, entre outros ao longo da história, são exemplos de tecnologia. E, sim, a tecnologia
está presente desde muito cedo na vida do ser humano.
Pode-se perceber que a técnica está tão enraizada entre a natureza e o ser humano
que, para Santos (2006), é quase impossível separá-la, pois o homem já não se vê mais sem
o uso de tecnologia, que facilita, medeia e auxilia em muitos processos. Talvez possa surgir
aí um fator de preocupação: substituição (em demasia) dos elementos naturais por processos
artificiais. Fica a deixa para você pesquisar e analisar o que se apresenta de prós e contras
nessas questões.
Agora, partimos para a análise do último item sobre tecnologia, este pode ser traduzido
como tecnocracia, ou seja, o uso do conhecimento científico nos demais meios, porém, com
a divulgação exclusiva a partir do que a ciência e a técnica propõem como resultado. Neste
último, tal ação elimina as demais análises feitas a partir da concepção política, ideológica
e social, o que, por sua vez, pode causar o determinismo tecnológico. Não se esqueça, tais
ações terão reflexo direto nas questões relacionadas à sobreposição das ciências humanas
às ciências da natureza.
Pelo que foi apresentado nesta breve explanação, pode-se perceber que as ações são
interligadas e que agem como reação em cadeia. Nesse processo, faz-se necessário entender
a sociedade como agente integrante e mediador de todos esses processos.
4 SOCIEDADE
Pode-se perceber que cada autor defende uma linha de pensamento, ora específica, ora
compartilhada por outro autor, porém, divergentes; no entanto, nas propostas de conceituação
sobre sociedade, cada um nas suas perspectivas defende seus pontos de vista. Vejamos, por
exemplo, Comte, em cuja teoria fez uso de leis e métodos das ciências naturais, entendendo a
sociedade como um grande organismo vivo, interligado e interdependente. O principal conceito
defendido por Comte era de que a sociedade evoluía apenas em uma direção, ou seja, sua
postura frente às mudanças era conservadora. Com base nesta teoria surgiram outras, nesta
mesma linha de pensamento, denominadas como Neopositivismo.
Por outro lado, Spengler entendia que a sociedade evoluía em ciclos que se encerravam
em grandes períodos, citando como exemplos as sociedades babilônica, egípcia, romana.
Marx, por sua vez, defendia a ideia de que a sociedade, como capitalista, começara a
dividir as classes sociais e tal divisão proporcionava observar a evolução da sociedade num
viés de produtividade e capitalismo.
Husserl tinha grande preocupação com a essência dos objetos e não com o materialismo.
Desta forma, considerava mais importante a experiência da consciência do que os demais
fatores materiais ou ideias.
Michel Foucault defendia a ideia de que o saber estava fortemente ligado ao poder,
e propunha uma genealogia para analisar a sociedade com a ideia de que o saber estaria
presente nas relações humanas e nas instituições disciplinadoras.
Assim, diversas são as teorias acerca da evolução da sociedade, que não se encerram e
tampouco foram todas apresentadas, mas que permitem dar-nos base para analisar, no contexto
da sociedade atual, a implicação da sociedade nas práticas atuais. Acertadamente, podemos
inferir que nenhum fator até aqui estudado age sozinho ou de maneira isolada, é no conjunto
da obra que a sociedade evolui, a ciência melhora e a tecnologia se adapta. (BAZZO, 2010)
Já vimos a definição de tecnocracia, pela qual a ciência passa a ter razão sobre
tudo e todos. Pois bem, esta visão apresenta um modelo de progresso linear, pelo qual o
desenvolvimento social é apenas consequência do desenvolvimento proposto pela ciência,
que, por sua vez, geraria o desenvolvimento tecnológico e, somente então, chegaria no
desenvolvimento social.
Como fora visto, mais precisamente após a II Guerra Mundial, a parceria entre ciência e
tecnologia passou por profundas mudanças, principalmente por começar a levar em conta o bem-
estar social. O primeiro avanço foi no sentindo de considerar o desenvolvimento tecnológico um
dos impulsionadores do progresso. A ciência, de certa maneira, também passou por mudanças,
ganhando a cada período maior importância. Passemos, agora, a analisar algumas reações
entre a parceria da ciência, da tecnologia e da sociedade, que se deu após essas grandes
adequações e modificações.
Sob a nova ótica de formação, agora com o criticismo social, ciência e tecnologia passam
a ter uma conotação diferente e menos isolada. Para isso, convido-o para analisarmos, juntos,
duas interpretações, baseadas nos filósofos Wiebe Bijker e Milton Santos.
Ao debater o tema CTS, procuramos trazer para a conversa a contribuição dos seguintes
pesquisadores: Wiebe Bijker e Milton Santos.
Milton Santos traz à luz a discussão do meio ambiente e sua relação com CTS. Aborda
questões como o espaço e a sucessão de relacionamento entre o homem e a natureza, bem
como, a da organização humana. Desta forma, faz uma interessante análise sobre a divisão
do espaço geográfico. Para entender melhor, trazemos um trecho do texto “A natureza do
espaço”, que trata sobre as considerações do autor sobre meio natural, meio técnico e meio
técnico-científico-informacional.
O meio natural
Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza aquelas suas partes
ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da vida, valorizando, diferentemente,
segundo os lugares e as culturas, essas condições naturais que constituíam a base material
da existência do grupo.
Esse meio natural generalizado era utilizado pelo homem sem grandes transformações.
As técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas da natureza, com a qual se relacionavam
sem outra mediação.
O que alguns consideram como período pré-técnico exclui uma definição restritiva. As
transformações impostas às coisas naturais já eram técnicas, entre as quais a domesticação
de plantas e animais aparece como um momento marcante: o homem mudando a Natureza,
impondo-lhe leis. A isso também se chama técnica.
Nesse período, os sistemas técnicos não tinham existência autônoma. [...]. A harmonia
socioespacial assim estabelecida era, desse modo, respeitosa da natureza herdada, no
processo de criação de uma nova natureza. Produzindo-a, a sociedade territorial produzia,
também, uma série de comportamentos, cuja razão é a preservação e a continuidade do meio
de vida. Exemplo disso são, entre outros, o pousio, a rotação de terras, a agricultura itinerante,
que constituem, ao mesmo tempo, regras sociais e regras territoriais, tendentes a conciliar o
uso e a “conservação” da natureza: para que ela possa ser outra vez utilizada. Esses sistemas
técnicos sem objetos técnicos não eram, pois, agressivos, pelo fato de serem indissolúveis
em relação à Natureza que, em sua operação, ajudavam a reconstituir.
O meio técnico
O período técnico vê a emergência do espaço mecanizado. Os objetos que formam o
meio não são, apenas, objetos culturais; eles são culturais e técnicos ao mesmo tempo. Quanto
ao espaço, o componente material é crescentemente formado do “natural” e do “artificial”.
Mas, o número e a qualidade de artefatos variam. As áreas, os espaços, as regiões, os países
passam a se distinguir em função da extensão e da densidade da substituição, neles, dos
objetos naturais e dos objetos culturais, por objetos técnicos.
Os objetos técnicos, maquínicos, juntam à razão natural sua própria razão, uma lógica
instrumental que desafia as lógicas naturais, criando, nos lugares atingidos, mistos ou híbridos
conflitivos. Os objetos técnicos e o espaço maquinizado são lócus de ações “superiores”,
graças à sua superposição triunfante às forças naturais. Tais ações são, também, consideradas
superiores pela crença de que ao homem atribuem novos poderes, o maior é a prerrogativa de
enfrentar a Natureza, natural ou já socializada, vinda do período anterior, com instrumentos que
já não são prolongamento do seu corpo, mas que representam prolongamentos do território,
verdadeiras próteses. Utilizando novos materiais e transgredindo a distância, o homem começa
a fabricar um tempo novo, no trabalho, no intercâmbio, no lar. Os tempos sociais tendem a se
superpor e contrapor aos tempos naturais. [...].
O meio técnico-científico-informacional
O terceiro período começa praticamente após a Segunda Guerra Mundial, e sua
firmação, incluindo os países de terceiro mundo, vai realmente dar-se nos anos 70. É a fase
a que R. Richta (1968) chamou de período técnico-científico, e que se distingue dos anteriores
pelo fato da profunda interação da ciência e da técnica, a tal ponto que certos autores preferem
falar de tecnociência para realçar a inseparabilidade atual dos dois conceitos e das duas práticas.
Essa união entre técnica e ciência vai dar-se sob a égide do mercado. E o mercado,
graças exatamente à ciência e à técnica, torna-se um mercado global. A ideia de ciência, a
ideia de tecnologia e a ideia de mercado global devem ser encaradas conjuntamente, e desse
modo podem oferecer uma nova interpretação à questão ecológica, já que as mudanças que
ocorrem na natureza também se subordinam a essa lógica.
Após esta leitura, você conseguiu identificar os aspectos importantes da relação entre
CTS que Milton Santos aborda? Como você pôde ver, essa questão é analisada na perspectiva
de que as relações foram sendo estabelecidas ao longo do tempo e de maneira dialética. O
autor destaca questões que merecem ser reanalisadas, como: a necessidade de determinar
as características do mundo atual (como modernidade, pós-modernidade e globalização),
assim como a história das relações entre CTS. Outro ponto que merece ser revisitado são as
relações entre CTS em uma lógica de mercado, ou seja, buscar reflexões sobre o sistema
Diante de tal agenda, propõe o uso de alguns conceitos básicos e operacionais, postos
inclusive à prova nos vários estudos de caso que realizou, dentre os quais se destacam os de
grupos sociais relevantes, estrutura tecnológica (“technological frame”), flexibilidade interpretativa
(“interpretative flexibility”) e estabilização ou fechamento (“closure”).
propriedades intrínsecas, as quais seriam responsáveis por seu sucesso ou o seu fracasso, seus
“impactos” positivos ou negativos. Em outras palavras, o não reconhecimento da importância
desse processo é que leva à crença equivocada do determinismo da técnica. Assim é que
tudo, numa tecnologia dada, do seu planejamento a seu uso, estaria sujeito a variáveis sociais,
e portanto, estaria aberto à análise sociológica. No entanto, pode-se perguntar: ao se adotar
essa perspectiva não se corre o risco de se cair num reducionismo social? Não, respondem
os pesquisadores identificados com a mesma. O reconhecimento da existência de estruturas
tecnológicas evitaria esse risco: na medida em que as mesmas influenciam a ação dos diferentes
grupos sociais relevantes, essas estruturas seriam justamente as pontes que ligam tecnologia e
sociedade, levando à constituição de conjuntos sociotécnicos (BIJKER, 1995).
Após esta leitura, você pode traçar os principais pontos elencados pelo autor?
A partir das colocações proporcionadas pelos dois autores é possível elencar pontos
que merecem ser revistos, como, por exemplo, a forma com que as comunicações de massa
são disponibilizadas e utilizadas pela sociedade, assim como a importância da tecnologia no
cotidiano e a dependência tecnológica.
Uma importante observação precisa ser feita sobre esse ponto: deve-se cuidar para que
os avanços tecnológicos não venham a causar o determinismo tecnológico, o que ocasionaria
o mesmo pensamento de que a ciência e a tecnologia são neutras. Nesse momento, o que se
deve buscar é usar a tecnologia como ferramenta e não como base.
Referências bibliográficas
SANTOS, José Luiz dos. 1949 – O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2006.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo:
Cortez, 2007.