Você está na página 1de 6

Vislumbrando o pessoal: reconstruindo traços

de vida individual. HOBBS, Catherine. In:


Correntes atuais do pensamento arquivístico.
Editora UFMG: Belo Horizonte, 2017.

- Arquivos pessoais: formados a partir de


necessidades, desejos e preferências de seus
titulares, antes de dar entrada em uma
instituição arquivística.
- O arquivista precisa, muitas vezes, contar com
a rede de histórias familiares para a revelação
do arquivo.
-Embora considerado elemento secundário
pela teoria (mais interessada em documentos
de governo ou de organizações) os arquivos
pessoais se tornaram tema de análise nos
últimos anos.

Contexto histórico e debate teórico em torno


do arquivo pessoal

-Século 20: expansão e crescimento de


instituições de recolhimento de papeis
pessoais.
- A teoria tradicional havia ignorado os
documentos não governamentais. Autores de
primeira hora, como Schellenberg, defendiam
que o conceito de arquivo já era uma
referência a documento estatal. Tais
documentos deveriam ser medidos “de acordo
com seu valor probatório e informativo”. Para
Jenkinson “arquivos são documentos que
fizeram parte de uma transação oficial e foram
preservados para fins de referência oficial”.

Menosprezo pelos arquivos pessoais. Esses
autores “não entendiam os arquivos pessoais
e os privados como arquivos propriamente
ditos”.

-Os debates que seguem, de 1976 aos anos


2000, tratam desde a distinção entre arquivos
pessoais e públicos até o aprofundamento da
importância dos arquivos pessoais no trabalho
doa arquivista. Percebe-se que o debate
contemporâneo passou a valorizar o arquivo
pessoal como objeto de trabalho. (Powell,
Hurley, Cunninghan, Cox, Mckennish, Dever,
Harris, pollard e Hobbs).

“o debate sobre o arquivo pessoal colocou


muitos conceitos em uso na teoria arquivística
contemporânea como um todo, entre os quais
citamos o interesse pelo arranjo, a
preocupação com os documentos eletrônicos,
estratégias de recolhimento pós-custódias e
teorias da avaliação”.

No debate contemporâneo: parece haver um


consenso sobre a natureza arquivística do
arquivo pessoal e, pelo menos duas
abordagens: 1) aplicação da técnica de
tratamento utilizada com os arquivos de
instituições (depende da transacionalidade do
documento e do conceito de prova); 2) defesa
de novas explorações e afastamento desses
métodos ( enfoque do que não é admitido
pelo ponto de vista do probatório, ou seja: o
comportamento anômalo na organização de
documentos e presença do selvagem no
arquivo pessoal).
Alinhando- nos na direção do arquivo pessoal
- a questão da liberdade de formação e
organização

-A maneira de organizar arquivos institucionais


não encontrará seu análogo direto no arquivo
pessoal.
“Os arquivistas frequentemente parecem
privilegiar as funções públicas do titular,
particularmente quando realizam avaliações e
descrições, em lugar de enfatizar a sua
biografia como um todo: a vida completa que
criou o arquivo completo”.

Encontrar o traço da vida e não a prova

Conceito I
Interação entre o pessoal e o profissional
O exemplo da escritora Carol Shields: a
documentação pessoal interfere no uso
público: o cotidiano observado refletido na
obra literária (a fotografia que mostra a autora
cortando o cordão umbilical do neto apresenta
ressonâncias nas primeiras cenas de seu
romance Diário de Pedra, em que ela descreve
‘ a tolice agitada do nascimento’).
Conceito 2
Documentação a partir da experiência

-O documento de si

-As criações de documentos sem intenção de


se criar algo memorável, mas que podem
assumir novos significados.
“se nos concentrarmos sobre como a
documentação é ligada e parte da experiência
dos criadores (em vez de fontes de provas
dessas mesmas experiências) chegaremos ao
um sentido mais completo e holístico de como
e porque se criam e preservam documentos”

Ex: notas de suicídio (a angústia na letra); o


fundo de Borson (desgaste dos cadernos
construindo uma narrativa; anotações feitas
em rascunhos construindo uma narrativa);
marcas feitas em cartas construindo uma
narrativa, etc

Conceito 3:Relação com a documentação


“se quisermos observar mais traços do
contexto pessoal da documentação, é preciso
conhecer o máximo possível sobre a intenção e
os pensamentos do seu produtor acerca do
trabalho de documentar”.

Conceito 4: organização documental fluida e


pessoal

-Os espaços de organização (paralelos entre a


arquivística e a arqueologia)

“O arranjo do arquivo pessoal é cheio de


significados, porque se trata de um
componente físico e intelectual capaz de
demonstrar pensamentos e ações”.
- Narrativas na desordem
Ex: o fundo de Bowering

Você também pode gostar