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“Um termo menos olímpico como resiliência ou resistência ao estresse, se fazia necessário”
A resiliência ou resistência ao estresse é relativa, que suas bases são tanto constitucionais
como ambientais, e que o grau de resistência não tem uma quantidade fixa, e sim, varia de
acordo com as circunstâncias
Resiliência refere-se a uma “habilidade de superar adversidades, o que não significa que o
indivíduo saia da crise ileso, como implica o termo invulnerabilidade”
Martineau sumariza que os principais traços vistos como características fixas da resiliência,
que formam um consenso na opinião de diversos autores são: sociabilidade, criatividade na
resolução de problemas e um senso de autonomia e de proposta.
Os fatores que discriminaram o grupo “resiliente”, tanto nas pesquisas de 1982 como na de
1986, incluíam: temperamento das crianças/jovens (percebidos como afetivos e receptivos);
melhor desenvolvimento intelectual; maior nível de autoestima; maior grau de autocontrole;
famílias menos numerosas; menor incidência de conflitos nas famílias
Rutter (1987) define resiliência como uma “variação individual em resposta ao risco”, e afirma
“que os mesmos estressores podem ser experienciados de maneira diferente por diferentes
pessoas”. De acordo com esse autor, a resiliência “não pode ser vista como um atributo fixo
do indivíduo”, e “se as circunstâncias mudam, a resiliência se altera”
“O termo refere-se ao fenômeno de superação de estresse e adversidades” (p. 119), e
categoricamente afirma que “resiliência não constitui uma característica ou traço individual”
Segundo os autores mencionados, há uma “confusão” entre Processo e Traço nos estudos,
em decorrência do ocasional uso do termo “criança resiliente” por pesquisadores que, na
verdade, são adeptos de uma visão dinâmica da resiliência, ou seja, processual. Luthar e cols.
(2000) reiteram que o termo “criança resiliente”, empregado por muitos autores, não se refere
a atributos pessoais, mas sim à pressuposição de condições de resiliência, a saber: a) a
presença de fatores de risco ao bem-estar da criança, e b) a adaptação positiva da criança,
apesar das adversidades
PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO
4.Flexibilidade
• Capacidade para mudanças: reformulação, reorganização e adaptação
• Estabilidade: sentido de continuidade e rotinas
5.Coesão
• Apoio mútuo, colaboração e compromisso
• Respeito às diferenças, necessidades e limites individuais
• Forte liderança: prover, proteger e guiar crianças e membros vulneráveis
• Busca de reconciliação e reunião em casos de relacionamentos problemáticos
6.Recursos sociais e econômicos
• Mobilização da família extensa e da rede de apoio social
• Construção de uma rede de trabalho comunitário: família trabalhando junto
• Construção de segurança financeira: equilíbrio entre trabalho e exigências familiares
PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO
7.Clareza
• Mensagens claras e consistentes (palavras e ações)
• Esclarecimentos de informações ambíguas
8.Expressões emocionais “abertas”
• Sentimentos variados são compartilhados (felicidade e dor; esperança e medo)
• Empatia nas relações: tolerância das diferenças
• Responsabilidade pelos próprios sentimentos e comportamentos, sem busca do “culpado”
• Interações prazerosas e bem-humoradas
9.Colaboração na solução de problemas
• Identificação de problemas, estressores, opções
• “Explosão de ideias” com criatividade
• Tomada de decisões compartilhada: negociação, reciprocidade e justiça
• Foco nos objetivos: dar passos concretos; aprender através dos erros
• Postura proativa: prevenção de problemas, resolução de crises, preparação para futuros desafios
RESILIÊNCIA NO HOSPITAL
Rutter (1993), fazem uma crítica à tendência limitante do estudo baseado no sofrimento,
afirmando que apesar da Psicologia procurar entender como os indivíduos sobrevivem em
situações de adversidade, muito pouco se sabe sobre como pessoas normais se desenvolvem
em condições mais saudáveis
Eles defendem a idéia de que o trabalho de prevenção deve criar uma nova ciência da força
humana, na qual a missão será entender e aprender como promover virtudes, como coragem,
otimismo, habilidades interpessoais, entre outras
A resiliência, neste sentido, refere-se a processos que operam na presença do risco para
produzir características saudáveis, e não para evitar ou eliminar fatores de risco
Não existe, por conseguinte, uma quantidade fixa de processos de resiliência em um indivíduo,
e sim, que o modo saudável de enfrentar crises pode variar de acordo com as circunstâncias
O conceito de risco está diretamente relacionado com eventos negativos de vida, que, quando
presentes, aumentam a probabilidade de o indivíduo apresentar problemas (Yunes &
Szymanski, 2001). Ao se encontrar diante de adversidades, muitas vezes causadoras de
estresse ou trauma, o indivíduo se torna suscetível à vulnerabilidade e ao desequilíbrio. No
entanto, esses eventos negativos podem também, em certos momentos, permitir uma
reorganização da vida e vontade de seguir em frente.
A resiliência, neste contexto, seria a capacidade de um indivíduo lidar com a doença, aceitando
suas limitações, colaborando com aderência ao tratamento, readaptando-se e sobrevivendo
de forma positiva
Este novo olhar humanizado permite perceber que o paciente, ao chegar ao hospital, traz
consigo, além da doença, sua história de vida. Portanto, segundo Camon (2003), é pertinente
reafirmar que o agravamento de determinados processos da hospitalização pode acabar se
dando mais no imaginário do paciente
Para preservar o ego de situações que ameacem sua integridade, o paciente pode recorrer a
mecanismos de defesa, como a negação, regressão e isolamento, não raro comprometendo
sua relação com o tratamento e até mesmo agravando seu estado clínico
Uma doença nunca é a mesma para diferentes pessoas; ela não é única em suas
manifestações e igualmente provoca reações singulares em cada paciente, que também é
diferente e único
A boa interação com a equipe, que se mostrou bastante interessada no caso, também pode
ter auxiliado positivamente na esperança para sair deste momento de crise
O atendimento psicológico contínuo durante toda a internação também pode ser percebido
como importante suporte para a paciente reagir à doença. A prática da psicologia no hospital
tem mostrado que os pacientes reagem de modo favorável a esta proposta de intervenção,
reconhecendo-a como necessária para sua reestruturação emocional. Assim, pode-se
observar que, durante o processo de internação, o olhar orgânico por si só não é suficiente
MORTE
Para o ser humano, o ato de morrer, além de um fenômeno biológico natural, contém
intrinsecamente uma dimensão simbólica
William Osler, na sua publicação de 1904, A study of death, são abordados os aspectos físicos
e psicológicos da morte com o objetivo de minimizar o sofrimento das pessoas no processo de
morte
Para o homem ocidental moderno, a morte passou a ser sinônimo de fracasso, impotência e
vergonha. Tenta-se vencê-la a qualquer custo e, quando tal êxito não é atingido, ela é
escondida e negada
Nem sempre foi assim. Durante muitos séculos, por toda a Idade Média europeia, a morte era
entendida com naturalidade, fazendo parte do ambiente doméstico. Os mortos não eram
considerados, como hoje, presenças inoportunas, em completa oposição à vida
Emerge o ser humano individualizado que permitiu ao indivíduo pensar e sentir em si mesmo
como um ser autônomo
Tal condição é especialmente verdadeira entre as classes trabalhadoras, para quem a saúde
identifica-se com a produtividade do corpo, e a doença como uma interrupção nesta
produtividade, com a consequente ameaça à subsistência. Para as classes mais altas, a saúde
pode ser percebida como capacidade de consumir e usufruir do prazer proporcionado pelo
corpo
Isso porque os profissionais – que lidam cotidianamente com a morte – não estão preparados
para lidar com o indivíduo em sua plenitude enquanto ser humano dotado de emoções e
valores. Baseada no paradigma positivista, a formação e atuação de profissionais na área da
saúde tendem a lidar com a doença e a morte do ponto de vista estritamente técnico
O saber da equipe de saúde, voltado exclusivamente para soluções técnicas, exige uma atitude
de negação da morte, na medida em que fornece poder ao profissional da saúde e ameniza o
sentimento de impotência. Nesse sentido, o investimento nos recursos tecnológicos torna-se
uma alternativa de prolongamento da vida do paciente para evitar não só o contato com a
morte, mas a comunicação com a família e os sentimentos mais profundos do paciente
Por muitos séculos, a morte obedecia a um ritual que envolvia tanto a pessoa que ia morrer
(que pressentia o seu fim), como parentes e amigos
O que era vivenciado como um evento familiar passou a ser objeto de vergonha, proibição e
repugnância
A doença também é um tipo de morte. Atualmente, ela é vista como fraqueza e punição, tendo
em vista a interrupção à produção. De qualquer forma, a doença coloca o indivíduo em contato
com sua fragilidade e finitude;
A ciência e morte: para entender o foco que a sociedade ocidental moderna projeta sobre a morte
é interessante trazer à tona o princípio histórico e cultural a ele subjacente, através do
desenvolvimento da ciência moderna e, em seu interior, do paradigma científico hegemônico, o
positivismo mecanicista.
O modelo de ciência hegemônico em nossos dias teve origem no século XVII com Descartes,
um filósofo que visualizou um método de ciência com princípios fundamentais baseado na
estrutura matemática.
A explicação da ciência sobre a morte (ou sobre o não ser) está situada na perspectiva
biologicista do modelo biomédico, ou seja, “a morte consiste, simplesmente, na paralisação
total da máquina-corpo” (Capra, 1982, p. 138). Assim, profissionais de saúde são formados
para lidar tecnicamente com os fenômenos da doença e da morte. Ou seja, o profissional é
formado para curar a doença, combater a morte; e não para lidar com a pessoa doente
Cuidado paliativo: Uma perspectiva que surge como uma alternativa a esse modelo é a
abordagem dos cuidados paliativos. Diferentemente do paradigma de cura da ciência médica, os
cuidados paliativos valorizam a qualidade de vida do paciente e, por isso, têm como princípio
fundamental o cuidado integral e o respeito à autonomia do paciente em relação ao processo de
morrer.
O cuidado paliativo é uma abordagem que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de
pacientes e familiares no enfrentamento de problemas relacionados a doenças terminais. Isso
é feito através da prevenção e do alívio do sofrimento pelo diagnóstico precoce, avaliação e
tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais
Os cuidados paliativos têm como objetivo, de acordo com a OMS: (1) promover o alívio da dor
e outros sintomas de angústia; (2) afirmar a vida e considerar a morte como um processo
natural; (3) não apressar nem postergar a morte; (4) integrar os aspectos espirituais e
psicológicos no cuidado do paciente; (5) oferecer um sistema de suporte que ajude o paciente
a viver ativamente tanto quanto possível até sua morte; (6) oferecer um sistema de suporte
para ajudar no enfrentamento da família durante a doença do paciente e (7) utilizar uma equipe
profissional para identificar as necessidades dos pacientes e de suas famílias, incluindo a
elaboração do luto
“O bem-estar global e a dignidade do doente crônico e terminal e sua possibilidade de não ser
expropriado do momento final de sua vida, mas de viver a própria morte”
BIOÉTICA