O acórdão em questão prende-se essencialmente com duas questões principais: o
contracto de trabalho face ao contrato de prestação de serviços e a aplicação da lei no tempo nos contratos de trabalho. Contrato de trabalho vs. Contrato de prestação de serviços O contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se obriga a prestar a outra a sua atividade, intelectual ou manual, sob a autoridade e direta desta e mediante retribuição. O contrato de prestação de serviço é aquele em que uma das partes se obriga a proporcionar a outra o resultado da sua atividade, com ou sem retribuição. - A distinção entre contrato de trabalho e contrato de prestação de serviço assenta em dois elementos essenciais: no objeto do contrato (prestação de atividade no primeiro; obtenção de um resultado no segundo); e no tipo de relacionamento entre as partes (subordinação jurídica no primeiro; autonomia no segundo). Todavia, e porque a distinção entre os dois tipos contratuais assume, em certas situações da vida real, grande complexidade, é comum o recurso ao chamado método da presunção (12º CT), constituindo indícios de subordinação a vinculação a um horário de trabalho, a execução da prestação em local pelo empregador, a existência de controlo externo do modo de prestação, a obediência a ordens, a sujeição à disciplina da empresa, a modalidade da retribuição, a propriedade dos instrumentos de trabalho e a observância dos regimes fiscais e de segurança social próprios do trabalho por conta de outrem. Aplicação da lei no tempo As leis laborais são sujeitas aos critérios gerais de aplicação da lei no tempo a que se referem os artigos 12 e 13 do código civil. Assim em princípio a norma laboral só dispõe para o futuro não sendo retractivas. Abrangem consequentemente apenas os factos futuros e não aqueles que já ocorreram antes da vigência. Admite se, no entanto, que o legislador dote a lei de eficácia retractiva. Nesse caso presume se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular. Em relação á aplicação da lei no tempo, o artigo 12º2 estabelece no entanto uma distinção consoante a lei disponha sobre condições de validade substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, caso em que só visa os casos novos ou pretende antes atingir o conteúdo de certas relações jurídicas abstraindo dos factos que lhe deram origem, caso em que a lei abrange as próprias relações jurídicas já constituídas que subsistam à data da sua entrada em vigor. Ora, embora a regra geral sobre a aplicação no tempo das leis relativas a contratos seja a de que a o contrato se rege pela lei vigente ao tempo da sua celebração, a verdade é que a maior parte das normas laborais pretendem estabelecer uma disciplina das condições de trabalho com abstração do facto que lhes deu origem, pelo que são normalmente aplicáveis aos contratos de trabalho existentes a data da sua entrada em vigor. O próprio artigo 7.º da lei de aprovação de revisão do Código do Trabalho de 2009 refere o seguinte: Aplicação no tempo 1 - Sem prejuízo do disposto no presente artigo e nos seguintes, ficam sujeitos ao regime do Código do Trabalho aprovado pela presente lei os contratos de trabalho e os instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho celebrados ou adotados antes da entrada em vigor da referida lei, salvo quanto a condições de validade e a efeitos de factos ou situações totalmente passadas anteriormente àquele momento. Assim sendo e concluindo, indo ao encontro da decisão proferida pelo tribunal a empregadora incorreu numa contraordenação pois efetivamente no caso em apreço temos o exercício de uma atividade que aparentemente se parece autónoma, mas possui características de um contracto de trabalho e que em última instância possam ter ocorrido prejuízos para a trabalhadora.