Você está na página 1de 2

Acórdão 21/11/2012.

Tribunal da Relação de Lisboa

O acórdão em questão prende-se essencialmente com duas questões principais: o


contracto de trabalho face ao contrato de prestação de serviços e a aplicação da lei no tempo
nos contratos de trabalho.
Contrato de trabalho vs. Contrato de prestação de serviços
O contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se obriga a prestar a outra a sua
atividade, intelectual ou manual, sob a autoridade e direta desta e mediante retribuição.
O contrato de prestação de serviço é aquele em que uma das partes se obriga a
proporcionar a outra o resultado da sua atividade, com ou sem retribuição.
- A distinção entre contrato de trabalho e contrato de prestação de serviço assenta em
dois elementos essenciais: no objeto do contrato (prestação de atividade no primeiro; obtenção
de um resultado no segundo); e no tipo de relacionamento entre as partes (subordinação
jurídica no primeiro; autonomia no segundo).
Todavia, e porque a distinção entre os dois tipos contratuais assume, em certas
situações da vida real, grande complexidade, é comum o recurso ao chamado método da
presunção (12º CT), constituindo indícios de subordinação a vinculação a um horário de
trabalho, a execução da prestação em local pelo empregador, a existência de controlo externo
do modo de prestação, a obediência a ordens, a sujeição à disciplina da empresa, a modalidade
da retribuição, a propriedade dos instrumentos de trabalho e a observância dos regimes fiscais
e de segurança social próprios do trabalho por conta de outrem.
Aplicação da lei no tempo
As leis laborais são sujeitas aos critérios gerais de aplicação da lei no tempo a que se
referem os artigos 12 e 13 do código civil.
Assim em princípio a norma laboral só dispõe para o futuro não sendo retractivas.
Abrangem consequentemente apenas os factos futuros e não aqueles que já ocorreram antes
da vigência.
Admite se, no entanto, que o legislador dote a lei de eficácia retractiva. Nesse caso
presume se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a
regular. Em relação á aplicação da lei no tempo, o artigo 12º2 estabelece no entanto uma
distinção consoante a lei disponha sobre condições de validade substancial ou formal de
quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, caso em que só visa os casos novos ou pretende antes
atingir o conteúdo de certas relações jurídicas abstraindo dos factos que lhe deram origem, caso
em que a lei abrange as próprias relações jurídicas já constituídas que subsistam à data da sua
entrada em vigor. Ora, embora a regra geral sobre a aplicação no tempo das leis relativas a
contratos seja a de que a o contrato se rege pela lei vigente ao tempo da sua celebração, a
verdade é que a maior parte das normas laborais pretendem estabelecer uma disciplina das
condições de trabalho com abstração do facto que lhes deu origem, pelo que são normalmente
aplicáveis aos contratos de trabalho existentes a data da sua entrada em vigor.
O próprio artigo 7.º da lei de aprovação de revisão do Código do Trabalho de 2009 refere
o seguinte:
Aplicação no tempo
1 - Sem prejuízo do disposto no presente artigo e nos seguintes, ficam sujeitos ao regime
do Código do Trabalho aprovado pela presente lei os contratos de trabalho e os instrumentos
de regulamentação coletiva de trabalho celebrados ou adotados antes da entrada em vigor da
referida lei, salvo quanto a condições de validade e a efeitos de factos ou situações totalmente
passadas anteriormente àquele momento.
Assim sendo e concluindo, indo ao encontro da decisão proferida pelo tribunal a
empregadora incorreu numa contraordenação pois efetivamente no caso em apreço temos o
exercício de uma atividade que aparentemente se parece autónoma, mas possui características
de um contracto de trabalho e que em última instância possam ter ocorrido prejuízos para a
trabalhadora.

Você também pode gostar