º 17
SEPARATA
Inovação de Práticas na Formação
ISSN2182-7532
EDITORIAL
D&F
C
om a presente edição da revista Dirigir&Formar pro- Na verdade, estas competições desempenham um papel im-
curámos promover o debate em torno de dois aspetos portante na mudança da perceção que pais e educadores,
que consideramos fundamentais e que mantêm toda mas também os governos, têm das vias profissionalizantes.
a atualidade ao nível da formação profissional: por um lado, Aliás, a Declaração da Juventude, discutida e aprovada por
a inovação nas práticas pedagógicas em contextos de for- 300 jovens oriundos de diferentes países e regiões do Mun-
mação e como estas influenciam todo o processo formativo do, numa iniciativa organizada paralelemente à competição
e os seus principais atores, formandos e formadores, e, por WorldSkills 2017 em Abu Dhabi, demonstra bem a perceção
outro lado, mostrar que a formação profissional pode ser dos jovens sobre o ensino e a formação profissional e a sua
uma primeira opção e não uma solução de recurso a consi- visão do futuro em torno de seis áreas de reflexão: Inovação,
derar no prosseguimento de estudos. Felicidade e Tolerância, Economia Verde, Cidadania Global, In-
O pretexto para esta reflexão foi dado pela realização da 44.ª dústria 4.0 e Empreendedorismo.
edição do WorldSkills que decorreu recentemente em Abu Na Separata o leitor poderá ainda ficar a conhecer uma nova
Dhabi, de 15 a 18 de outubro, que juntou cerca de 1300 jo- abordagem baseada em resultados de aprendizagem. São
vens, de 59 países e regiões membros da WorldSkills, e que disso exemplo os projetos LEARN-IT e MAKE IT, desenvol-
durante cerca de uma semana demonstraram as suas com- vidos pelo CENFIM e pelo CFP Médio Tejo do IEFP, I.P., que
petências em 51 profissões a concurso. têm como pano de fundo a inovação pedagógica e didática
Com efeito, os Campeonatos das Profissões, além de cons- através da utilização de ferramentas e espaços de aprendi-
tituírem uma ferramenta muito eficaz para a promoção da zagens inovadores, adequados aos ritmos individuais e às
educação e da formação profissional, são também um forte competências a desenvolver.
dinamizador de intercâmbio cientifico, tecnológico, social e Esperamos que este número da revista Dirigir&Formar pos-
cultural entre os formandos, operadores de formação, em- sa ser mais um contributo para a valorização do ensino pro-
presas e demais entidades envolvidas aos diferentes níveis fissional e para o reconhecimento da importância da apren-
na organização e realização dos campeonatos. dizagem ao longo da vida!
Como refere David Hoey, CEO da WorldSkills Internacional,
«... a visão dos jovens que competem no WorldSkills e se António Valadas da Silva
destacam nas profissões que escolheram é um catalisador Presidente do Conselho Diretivo do IEFP, I.P.
para que outros apostem também nas suas carreiras».
Por outro lado, conforme sublinha Paulo Feliciano, vice-pre-
sidente do Conselho Diretivo do IEFP e delegado oficial do
WorldSkills Portugal, «... os campeonatos têm vindo a afirmar-
-se como um espaço de referência e de medida da qualidade
do impacto do Sistema de Formação Profissional e essa é
uma dinâmica que importa reforçar».
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 1
ÍNDICE
1 TEMA DE CAPA 3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS
04 A iniciativa da OIT para o futuro do trabalho TEMAS DE FORMAÇÃO
| Heinz Koller 54 A aprendizagem é algo que tem de estar sempre
08 O futuro das profissões | David Hoey a acontecer | Rita Vieira
11 WorldSkills, uma montra do sistema de formação 58 Jovens NEET. Uma prioridade | Vitor Moura Pinheiro
profissional | Rita Vieira 62 Ferramentas on-line para jovens | Fernando Ferreira
16 O caminho certo para a vitória | António Caldeira
21 Campeonatos das profissões. Um modelo
de referência | Dário Pinto
29 A joia dourada | João Godinho Soares
SKILLS
37 SkillsPortugal – campeonato das profissões
| Carlos Fonseca
46 WorldSkills – ciclos que se cruzam com jovens
de excelência | Sandra Sousa Bernardo
A pedagogização de novas 34
«profissões de sonho» nos
horizontes juvenis
2 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
FICHA
TÉCNICA
N.°17
5
PROPRIETÁRIO/EDITOR
DIVULGAÇÃO IEFP - Instituto do Emprego
e Formação Profissional, I.P.
Rua de Xabregas, 52 - 1949-003 Lisboa
BREVES
70 Tome nota | Nuno Gama Oliveira Pinto DIRETOR Paulo Feliciano
72 Sabia que | Nuno Gama Oliveira Pinto RESPONSÁVEL EDITORIAL
Maria Fernanda Gonçalves
COORDENADORA Lídia Spencer Branco
CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA
Adélia Costa, Ana Cláudia Valente, António
José de Almeida, Conceição Matos, Fernando
Moreira da Silva, João Palmeiro, Luís
Alcoforado, Nuno Gama de Oliveira Pinto,
Paulo Feliciano, Pedro Guilherme
REVISÃO Laurinda Brandão
REDAÇÃO Gabinete de Comunicação
e Relações Externas
A REVISTA DO IEFP Dirigir & Formar N.º 17
Revista DIRIGIR&FORMAR
outubro-dezembro 2017 // 3€
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 3
1 TEMA DE CAPA
A INICIATIVA
DA OIT PARA
O FUTURO DO
TRABALHO
HEINZ KOLLER, DIRETOR REGIONAL DA OIT
(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO)
PARA A EUROPA E ÁSIA CENTRAL
OPTICREATIVE
E
xiste em todo o mundo um elevado grau de conscien- derável da população continua a trabalhar em situação de
cialização das pessoas em relação às grandes mu- extrema pobreza, em particular em países com baixo rendi-
danças que afetam a sua vida profissional diária. Hoje mento. Novos tipos de contratos e formas atípicas de tra-
em dia prevalece um sentimento geral de que os modelos balho estão a proliferar em todos os países, criando novos
anteriores deixaram de funcionar e precisam de ser atuali- tipos de discriminação e vulnerabilidade. Os sistemas de
zados ou adaptados. Isto ocorre num momento de cresci- proteção social muitas vezes não conseguem responder a
mento económico ainda lento e desigual em muitos países, essas mudanças profundas e garantir níveis adequados de
tensões persistentes a nível global e regional e mudanças proteção.
rápidas no mundo. Os ambientes nos quais o trabalho se realiza também se
Provavelmente essas mudanças irão manter-se e poten- encontram em fase de rápidas mudanças. Por outro lado,
cialmente intensificar-se. Todos questionam a eficácia um equilíbrio desadequado entre a esfera privada e a pro-
do direito do trabalho e das instituições do mercado de fissional modifica o nosso modo de viver. Os desafios tam-
trabalho, bem como o real alcance da proteção social e bém provêm de mudanças climáticas como ondas de calor,
do funcionamento dos sistemas de relações industriais. emissões de Co2, inundações e secas e a contínua degra-
Impulsionado por mudanças tecnológicas e demográficas dação da água e da segurança alimentar.
maciças e contínuas, o mundo do trabalho encontra-se Na resposta a estes desafios, os decisores políticos devem
numa encruzilhada. A globalização nem sempre beneficiou abordar várias questões simultaneamente: a necessida-
todos de modo semelhante e as desigualdades ainda são de de assegurar caminhos com vista ao desenvolvimento
muito significativas em todo o mundo. Uma parte consi- económico com base no emprego; a intensificação de uma
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1
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 5
1 TEMA DE CAPA
O nosso futuro também será moldado pelas nossas ações • O segundo diálogo tem como tema a criação de empre-
e decisões. A OIT está profundamente consciente da ne- gos dignos para todos. Os aspetos qualitativos e quanti-
cessidade de analisar e compreender todas as implicações tativos dos empregos são uma preocupação primordial
de tais mudanças no mundo do trabalho para os governos, considerando que existem cerca de 40 milhões de jo-
empregadores e trabalhadores, e para as empresas e so- vens que entram no mercado de trabalho. Este diálogo
ciedades. Por essa razão, e tendo em vista o seu centená- analisa a interação de inovações tecnológicas, trans-
rio em 2019, a organização decidiu, em 2013, lançar sete formações estruturais, desenvolvimento económico e
iniciativas centenárias1, incluindo a Iniciativa do Futuro do mudança social e como esses processos interligados
Trabalho. Tal longevidade torna a OIT única no sistema mul- devem moldar o futuro do trabalho, particularmente em
tilateral. relação ao compromisso político de longa data com vista
Hoje, após um século de convulsões políticas e mudanças ao pleno emprego. Embora as abordagens tradicionais
radicais, a OIT e a sua estrutura tripartida encontram-se ao nível da política económica e do emprego se mante-
bem posicionadas para se envolverem nestas reflexões nham relevantes, é também considerado o papel dos
com o objetivo de tornar a organização e os seus consti- governos, dos parceiros sociais e de outros grupos na
tuintes plenamente preparados para enfrentarem com su- orientação e definição deste processo para a próxima
cesso os desafios do século xxi. geração.
A primeira fase da Iniciativa do Futuro do Trabalho ocorreu
a nível nacional em 2016 e 2017. Tomou a forma de diá- • A organização do trabalho e da produção constitui o
logos nacionais amplos sobre o futuro do trabalho, realiza- terceiro diálogo. Novas formas de produção, particular-
dos com a participação de governos, organizações de tra- mente as que se baseiam em mudanças tecnológicas,
balhadores e empregadores, universidades e, em alguns como a gig economy e as cadeias de abastecimento
casos, ONG e outros membros da sociedade. Foram 168 globais, podem levar a uma maior eficiência empresarial
os Estados-membros (de um total de 187 Estados-mem- e flexibilidade para os trabalhadores. Contudo, podem
bros da OIT) que apoiaram a iniciativa e, até agora, cerca de também gerar novas e diferentes formas de trabalho
115 países participaram num diálogo tripartido nacional ou precário tendo consequências notórias para as políti-
supranacional. Portugal é um excelente exemplo de forte cas destinadas a promover a justiça social, bem como
apoio à iniciativa e o Ministério do Trabalho, Solidariedade para as instituições estabelecidas e os sistemas de
e Segurança Social organizou, no âmbito do seu próprio proteção social. Este diálogo examina as mudanças no
centenário, uma Conferência Internacional e tripartida na modo como as empresas trabalham, incluindo as impli-
qual participaram o diretor-geral da OIT, o primeiro-ministro cações para a nossa compreensão atual do que significa
português e os parceiros sociais (19 de outubro de 2016). ser empregador e empregado. Discute novas formas de
O relatório nacional que lhe está associado foi publicado e relação de emprego e em que medida essa relação con-
constitui um contributo importante para os próximos pas- tinuará a ser o foco de muitas das proteções das quais
sos da iniciativa. os trabalhadores beneficiam atualmente.
Os diálogos nacionais foram, em geral, estruturados em tor-
no dos quatro diálogos propostos pelo diretor-geral da OIT • Finalmente, o quarto diálogo sobre governação do mun-
no seu Relatório apresentado à Conferência Internacional do do trabalho examina o modo como as sociedades
do Trabalho de 2015, i.e., trabalho e sociedade, empregos podem responder à erosão do quadro regulamentar es-
dignos para todos, organização do trabalho e da produção e tabelecido, em particular se precisamos de estruturas
governação do trabalho. de governação novas ou diferentes para regular efetiva-
mente o trabalho. Também examina iniciativas que revi-
• O primeiro diálogo incide sobre o lugar do trabalho nas talizem as normas e instituições existentes e/ou criem
nossas sociedades. As transformações no mundo do novas formas de regulamentação que podem ajudar a
trabalho têm perturbado a ligação convencional entre enfrentar os desafios de governação presentes e futu-
o trabalho e a sociedade, com resultados incertos. Ten- ros, ao mesmo tempo que analisa as iniciativas interna-
do este aspeto em consideração, este diálogo analisa o cionais e nacionais e destaca aquelas que fortalecem o
modo como as sociedades irão gerir estas possibilida- tripartismo.
des contrastantes bem como o seu impacto num mundo
de indivíduos cujas diferenças de género, idade, educa- 1
A Iniciativa do Futuro do Trabalho, a Iniciativa do Fim da Pobreza, a
ção, situação migratória, recursos financeiros e muitas Iniciativa das Mulheres no Trabalho, a Iniciativa Verde, a Iniciativa das
outras características representam enormes desafios. Normas, a Iniciativa das Empresas e a Iniciativa de Governação.
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A iniciativa da OIT para o futuro do trabalho
1
A segunda fase da iniciativa teve início recentemente com o valor atribuídos ao trabalho? Quais são os empregos do
o lançamento da Comissão Global de Alto Nível sobre o futuro e de onde virão? Qual será o papel e as responsa-
Futuro do Trabalho, em Genebra a 21 de agosto de 2017. bilidades dos governos, empregadores e trabalhadores?
A Comissão Global possui 28 membros, todos indivíduos Finalmente, em que sociedade queremos viver?
de reconhecido mérito e com um percurso pessoal e uma Na verdade, os desafios para chegarmos a um modelo so-
visão extraordinários. Representam um equilíbrio de re- cial estável aumentaram ainda mais em muitas partes do
giões geográficas e experiências, com igual participação de mundo. A crescente desigualdade e insegurança de ren-
mulheres e homens. A Comissão Global é copresidida por dimento são sintomas de desequilíbrios e fraturas que
Ameenah Gurib-Fakim, Presidente da Maurícia, e por Ste- desestabilizaram alguns dos valores fundamentais das so-
fan Löfven, primeiro-ministro da Suécia. A Comissão Global ciedades atuais. Tais desequilíbrios também influenciam
funcionará durante um período de doze a dezoito meses e a legitimidade das instituições políticas e a estabilidade.
deverá apresentar um relatório acerca do modo como a OIT Para alcançar um novo equilíbrio e um modelo estável e
continuará a desempenhar o seu mandato de justiça so- equitativo na maioria dos países, é necessário um quadro
cial no século xxi. Entre outros aspetos, a Comissão Global institucional efetivo e um compromisso entre preocupa-
trabalhará com base nos resultados de todos os diálogos ções económicas e sociais.
nacionais e regionais sobre o Futuro do Trabalho que ocor- Chegou, portanto, o tempo de toda esta reflexão, que não
reram em 2016 e 2017. A terceira e última fase da iniciativa cabe apenas à OIT mas a todos os trabalhadores e cida-
terá lugar em 2019 com as celebrações do centenário a ní- dãos, bem como a todos stakeholders a nível nacional e
vel nacional e internacional. Além disso, a Comissão Global internacional. Em última análise, o debate sobre o Futuro
elaborará o seu relatório e recomendações sobre o Futuro do Trabalho centra-se acima de tudo na justiça social e no
do Trabalho, que submeterá à Conferência Internacional do ser humano – conforme estabelecido na Declaração de
Trabalho do Centenário da OIT. Filadélfia da OIT (1944), segundo a qual «todos os seres
Nesta fase, ainda há mais perguntas do que respostas. Em humanos têm o direito de prosseguir o bem-estar material
todos os países de todo o mundo, as preocupações com e o seu desenvolvimento espiritual em condições de liber-
o mundo do trabalho do amanhã são semelhantes. Todos dade e dignidade, de segurança económica e igualdade de
nós colocamos as mesmas questões: qual será o lugar e oportunidades». •
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 7
1 TEMA DE CAPA
O futuro das
profissões
DAVID HOEY, CEO DA WORLDSKILLS INTERNACIONAL.
TRADUÇÃO: SANDRA BERNARDO
WORLDSKILLS
E
m outubro de 2017, os melhores jovens profissionais
do mundo tomaram conta de um palco global para
concorrer na 44.ª edição do Campeonato do Mundo
das Profissões. WorldSkills Abu Dhabi 2017 foi um microcos-
mo do cenário de competências globais, onde as economias
estabelecidas se cruzaram com economias emergentes e as
profissões com séculos de história se tornaram a base das A WorldSkills, como uma plataforma global de excelência,
profissões do futuro. está empenhada em garantir que todos os jovens têm opor-
Enquadrado pela evolução do panorama económico do Mé- tunidades de desenvolver as suas competências indepen-
dio Oriente, pela primeira vez a WorldSkills Abu Dhabi 2017 dentemente da raça, género ou nacionalidade. Os membros
viu 1300 jovens de 59 países e regiões membros da World- da WorldSkills incluem os países maiores e mais ricos do
Skills mostrarem as suas competências em 51 profissões. mundo (as vinte maiores economias e as cinco nações mais
O evento reuniu mais de 100 mil jovens de todos os Emi- populosas), representando estes membros dois terços da
rados Árabes Unidos para explorarem as oportunidades de população mundial.
carreira que estão à sua disposição. Acreditamos que os Campeonatos das Profissões são uma
No centro do movimento WorldSkills encontramos a am- das ferramentas mais eficazes para promover a educação
bição incomparável da juventude. Ambição para seguir as e formação profissional. Esta matéria nunca foi mais rele-
suas paixões e aperfeiçoar as suas competências. Ambição vante ou mais complexa do que agora. Numa era de acesso
para avançar nas suas carreiras e nas suas perspetivas de universal à informação, há oportunidades aparentemente
futuro. Ambição para promover as comunidades e as nações ilimitadas para a promoção dos sistemas de educação e for-
que representam. mação profissional junto de um público mais vasto do que
A grande diferença entre os concorrentes que participaram nunca, inclusive diretamente junto dos jovens.
em milhares de competições locais, nacionais e regionais da No entanto, perante alguns dos enormes desafios que esta
WorldSkills por todo o mundo nos dois anos que antecede- área enfrenta, os campeonatos permanecem para muitos
ram a WorldSkills Abu Dhabi 2017 e os jovens que enfrentam como um complemento ou algo que se remete para discus-
níveis elevados de desemprego, é a oportunidade que os pri- são futura, em vez de se constituírem como uma preocupa-
meiros tiveram. ção central.
No ano passado, as taxas globais de desemprego jovem Contudo, este é um grave erro. Continua a ser uma necessi-
aumentaram pela primeira vez em três anos, com a OIT – dade absoluta para todos nós falar em educação e formação
Organização Internacional do Trabalho a estimar uma per- profissional e em competências, em tudo o que fazemos e
centagem de 13,1%. Este valor corresponde a 71 milhões a tempo inteiro. A ideia «a universidade é que é uma boa
de jovens sem trabalho. Em algumas regiões, como a Ásia, opção, a formação profissional nem por isso» é penetran-
incluindo o Médio Oriente e o Norte de África, a proporção de te e corrosiva e, com exceção para um pequeno conjunto de
jovens sem trabalho é ainda maior. economias, ainda não há «paridade de estima» entre for-
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1 TEMA DE CAPA
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1
ENTREVISTA
Worldskills
Uma montra
do sistema
de formação
profissional
RITA VIEIRA, JORNALISTA
IEFP, I.P.
Q
uase sete décadas depois da primeira participação excelência. Em termos globais, o percurso foi muito posi-
portuguesa num Campeonato de Profissões, o ba- tivo. Podemos fazer uma retrospetiva em três dimensões:
lanço não podia ser mais positivo. Ao longo destes a da participação, a da organização e a da dimensão insti-
anos estiveram em prova 718 jovens nacionais, tendo Por- tucional. No que diz respeito à participação, o número de
tugal conseguido obter 287 medalhas. formandos tem vindo a aumentar, assim como o número e
Quanto ao futuro, sublinha o vice-presidente do Instituto de a natureza das entidades formadoras envolvidas. Além dos
Emprego e Formação Profissional (IEFP, I.P.), esse passa Centros de Formação de Gestão Direta do IEFP, I.P. e dos
por dar a conhecer o papel da formação profissional na pre- Centros de Gestão Participada, tem aumentado o número
paração de quadros técnicos qualificados. Segundo Paulo de Escolas Profissionais e de Escolas Secundárias, da rede
Feliciano, é essencial que os jovens a entendam como uma pública, que participam. Esta participação tem sido acom-
primeira via para a sua qualificação e inserção no mercado panhada de bons resultados do ponto de vista competitivo;
de trabalho. os nossos formandos têm ganho algumas medalhas nas
competições internacionais, o que também é importante.
Revista Dirigir&Formar: Este ano faz 67 anos que Portugal Depois, há uma dimensão organizativa, que também evo-
participou pela primeira vez num Campeonato das Profis- luiu muito positivamente. A organização dos campeonatos
sões. Que balanço pode fazer destes campeonatos? está muito profissionalizada. Cada campeonato nacio-
Paulo Feliciano: Os Campeonatos das Profissões remon- nal que se organiza tem uma dimensão muito grande do
tam a 1950, quando se disputaram os primeiros campeo- ponto de vista logístico, e aí houve um progresso também
natos entre Portugal e Espanha. Enquanto membro fun- relevante. Por exemplo, Portugal organizou, em 2007, o
dador e permanente da WorldSkills, Portugal é, assim, o EuroSkills, um evento europeu com uma dimensão muito
país com mais experiência a nível mundial. Ao longo da sua significativa. Depois, há uma dimensão institucional que
história contou com a participação de 718 jovens profissio- tem a ver com o impacto dos campeonatos no Sistema de
nais e obteve 287 prémios: 45 medalhas de ouro, 76 me- Formação Profissional. Eu acho que, progressivamente,
dalhas de prata, 67 medalhas de bronze e 99 medalhas de os campeonatos se têm afirmado como um espaço de re-
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1 TEMA DE CAPA
Equipa EuroSkills
Gotemburgo 2016
Equipa WorldSkills
Abu Dhabi 2017
ferência e de medida da qualidade do impacto do Sistema do reforço, do ajustamento das competências que desen-
de Formação Profissional, e essa é uma dinâmica que nós volvemos, do investimento na qualificação dos espaços
queremos reforçar. formativos, dos equipamentos que utilizamos, dos referen-
ciais de formação que são utilizados. Portanto, têm esta
D&F: Na sua opinião, estas competições, desde as regio- dupla função: servem para medir os resultados alcançados
nais à mundial, são uma excelente oportunidade para va- e para definir as metas a atingir.
lorizar o Sistema de Formação Profissional mas também
para definir metas e objetivos que promovam o desenvol- D&F: Considera que o facto de se trabalhar em parceria
vimento das vias profissionalizantes no nosso país... com os melhores formadores do mundo e de termos os for-
P.F.: As competições podem ser uma montra do que o Sis- mandos a competir com os melhores jovens profissionais
tema de Formação Profissional faz: dão a conhecer as com- permite posicionarmo-nos face a determinados padrões
petências que são desenvolvidas no sistema, a exigência de qualidade, exigência e inovação que, de outro modo,
de cada uma dessas profissões, que é muito maior do que não seria possível...
comummente se pode imaginar, e além disso são também P.F.: Em primeiro lugar, a principal parceria que devemos
uma maneira de medirmos a capacidade de resposta ao ní- destacar é a parceria com as empresas e o mercado de tra-
vel da eficácia da formação e dos resultados formativos. No balho, ou seja, aquilo que é medido nos campeonatos, os
fundo, são um barómetro do investimento e da qualidade desempenhos que são postos à prova são desempenhos
de resposta do sistema mas são também, no contexto das muito regulados pelas necessidades sentidas pelas em-
competições a nível europeu, um barómetro daquilo que presas e, de alguma forma, impostas pelo próprio mercado
são as metas que pretendemos atingir do ponto de vista de trabalho. Portanto, na organização dos Campeonatos
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WorldSkills, uma montra do sistema de formação profissional 1
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 13
1 TEMA DE CAPA
14 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
WorldSkills, uma montra do sistema de formação profissional 1
Participada – centros que são geridos em modelo partilha- vestido na sua divulgação, tivemos uma sessão pública de
do entre o Instituto de Emprego e o setor associativo, em- lançamento do novo ciclo de competição, que decorreu no
presarial e sindical – são centros que também são muito Porto, onde apresentámos a plataforma onde serão feitas
apoiados pelas empresas, por via das contribuições para as inscrições no próximo ciclo de competições.
a Segurança Social. O próprio orçamento do Instituto tam- Depois, gostaríamos que, do ponto de vista logístico e or-
bém o é. ganizativo, os Campeonatos de Beja também fossem uma
Naturalmente que este compromisso é fundamental para referência. Este ano procurámos começar mais atempa-
que o Sistema de Formação tenha recursos e meios. Ago- damente o planeamento destes campeonatos e as coisas
ra, há uma dimensão de participação das empresas que estão a correr bem.
não se resume à questão financeira e eu acho que há um Gostávamos que os campeonatos, decorrendo em Beja, re-
espaço muito grande de reforço, que é precisamente na presentassem esta dimensão mais integrada do Sistema
gestão do próprio Sistema de Formação, no sentido de de Formação Profissional, ou seja, os campeonatos vão ter
definir as prioridades estratégicas, desenvolver instru- lugar em Beja mas nós queremos que tenham uma visibili-
mentos, participar na concessão destes instrumentos, dade regional e nacional, nomeadamente através ciclos de
disponibilizar recursos para a formação, ou seja, há todo conferências, seminários, workshops e ateliers de forma-
um espaço de participação que, apesar de ter uma ex- ção de formadores em todo o Alentejo, para conseguirmos
pressão financeira, não significa a realização de transfe- um efeito de maior mobilização dos atores do Sistema de
rências diretas, e esta é uma dimensão que pode, e deve, Formação Profissional. Isto é muito importante e é uma li-
ser aprofundada. nha de inovação deste novo ciclo.
Por fim, gostávamos que esta dimensão de planeamento
D&F: Que expectativas tem relativamente aos campeona- pudesse ter retorno do ponto de vista do sucesso competi-
tos nacionais que vão decorrer no próximo ano em Beja? tivo, e foi por essa razão que antecipámos um pouco a data
P.F.: Temos grandes expectativas. Em primeiro lugar, te- da realização dos campeonatos nacionais, para depois ter-
mos a expectativa de que exista uma participação cada mos um intervalo maior de tempo, até à realização do cam-
vez maior, que haja mais formandos, mais escolas, mais peonato europeu, que permita uma melhor preparação dos
Centros de Formação envolvidos. Por essa razão, temos in- jovens concorrentes. •
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 15
1 TEMA DE CAPA
O CAMINHO
CERTO PARA
A VITÓRIA
16 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
O caminho certo para a vitória 1
O
ensino e formação profissionais (EFP) desempe- permitam ultrapassar as situações problema que surgem
nham um papel relevante nos diferentes sistemas em qualquer competição. É também nesta fase que é re-
educativos europeus uma vez que contribuem de- levante prever qual a disponibilidade futura para se envol-
cisivamente para a empregabilidade e para o crescimento verem em preparações específicas, nomeadamente as que
económico, ao mesmo tempo que podem responder a de- irão decorrer numa fase posterior à conclusão do percurso
safios sociais amplos e complexos, promovendo a coesão formativo.
social. Não é de estranhar que, em 2010, os ministros res-
ponsáveis pelo ensino e formação tenham chegado a acor- NÃO DEIXAR PERDER O FOCO
do sobre a implementação de uma estratégia de coopera- Após a fase inicial de apuramento para o campeonato na-
ção europeia para dez anos, visando melhorar a qualidade cional, importa que os concorrentes não percam o foco.
e atratividade do EFP plasmada no designado Comunicado Como comparação facilmente entendível basta pensar no
de Bruges. No entanto, a abordagem política no EFP tem que se passa no futebol, em que o gozo de férias induz a
sido afetada por ciclos de maior ou menor aposta, indepen- perca de forma, mesmo nos jogadores de topo. Para isso é
dentemente dos partidos que estão no poder, o que não forçoso que exista uma disponibilidade adequada e um en-
tem permitido a sua afirmação de forma contínua, sendo volvimento que ultrapasse a rotina, sendo o envolvimento
atualmente objeto de uma inquestionável valorização. dos familiares de enorme importância como forma de vali-
Mas existe alguma relação entre esta realidade e a prepa- dação de uma abordagem que pode envolver situações de
ração de campeões? A resposta é claramente positiva uma primeira ausência de casa de forma autónoma ou a primei-
vez que, além de alargar o campo de recrutamento, todos ra viagem de avião.
os atores deste processo passam a sentir que fazem parte Nesta fase também é relevante o apoio de profissionais da
de algo que envolve primeiras opções de vida e não são um área da psicologia para identificarem o perfil dos concorren-
recurso a percursos escolares menos bem-sucedidos. Pro- tes e fornecer-lhes um apoio personalizado, que lhes permita
va disso são os testemunhos aqui deixados por alguns dos diminuir ou ultrapassar aspetos menos adequados e poten-
concorrentes ao Campeonato Mundial das Profissões – Abu ciar os mais positivos para a participação em competição.
Dhabi 2017. Mas quais os pontos-chave para encontrar e
preparar potenciais campeões? AS COMPETÊNCIAS ADQUIRIDAS EM CONTEXTO
DE EFP NÃO SÃO SUFICIENTES?
AS DIFERENÇAS COM OUTRAS COMPETIÇÕES As competências adquiridas têm de ser entendidas como
O percurso de alguém que pretenda atingir um nível de de- o início de um percurso profissional que carecerá sempre
sempenho elevado começa numa fase inicial da vida, como de uma aprendizagem ao longo da vida, sob pena de rapi-
é o caso das diferentes modalidades desportivas. Ou seja, damente se tornarem desajustadas das necessidades do
Cristiano Ronaldo no futebol, Patrícia Mamona no triplo sal- mercado de trabalho. Além disso, as mesmas competên-
to ou Fernando Pimenta em canoagem, dificilmente teriam cias podem ser exercidas a diferentes níveis de desempe-
atingido o sucesso se tivessem feito uma opção tardia. nho, o que exige treino específico e continuado.
Já no caso dos Campeonatos das Profissões, para se tor-
nar um campeão é necessário que se adquiram primeiro as SOU CAMPEÃO NACIONAL. E AGORA?
competências inerentes a determinada profissão, nomea- Como em qualquer atividade, níveis mais elevados impli-
damente através da frequência de percursos formativos, o cam maiores responsabilidades. Assim, para a participação
que raramente acontecerá antes dos 16 anos. nas fases internacionais há que reforçar a abordagem an-
teriormente referida e definir um plano de preparação ade-
TUDO COMEÇA POR UM BOM INÍCIO quado, sendo nuclear que a sua operacionalização ocorra
Em cada novo ciclo de participação nos Campeonatos das isenta de percalços e o mais profissionalmente possível.
Profissões, para além dos critérios formais de elegibilidade, Neste campo tem de existir um balanço entre o máximo de
é essencial uma divulgação adequada do que é expectável, investimento que é possível alocar e o que ocorre em ou-
uma vez que as exigências afetam a vida pessoal dos en- tros países, em que não é anormal existirem períodos de
volvidos. preparação superiores a um ano em regime de dedicação
A juntar à motivação responsável, às competências técni- exclusiva. No entanto, tratando-se de competições as vi-
cas e ao domínio do inglês, há que identificar nos candi- tórias dependem da conjugação de múltiplos fatores, mas
datos as características pessoais diferenciadoras, como a uma coisa é certa: se se der o melhor, cada concorrente já
autoconfiança, resistência à frustração e ao stress, capa- se tornou um campeão e o país vai contar com um profis-
cidade de manter compromissos e atingir metas que lhes sional de excelência. •
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 17
1 TEMA DE CAPA
GUIÃO DA ENTREVISTA
As questões colocadas foram iguais para
todos:
• Como foi o seu percurso enquanto
formando?
• Que importância têm estes este desafio e fui frequentar o curso de formação profissio-
campeonatos para o seu nal de Manutenção Industrial.
desenvolvimento pessoal e profissional? Após a conclusão do curso foi-me proposta a participação
• As competências que obteve nestes num concurso no CENFIM Skills, em que concorri na área
campeonatos estão ajustadas à de Eletromecânica Industrial e fiquei em primeiro, o que me
realidade das empresas? permitiu participar no campeonato nacional, na mesma
• Que importância têm os WorldSkills para área, onde obtive a medalha de ouro. Fui depois ao cam-
a entrada no mercado de trabalho? peonato europeu, em 2016, que decorreu em Gotemburgo,
• Este curso foi a sua primeira escolha? fiquei em segundo lugar e obtive a medalha de melhor da
• Aconselharia estes cursos profissionais nação!
a outros jovens? Estes campeonatos têm muita importância para o nosso
desenvolvimento pessoal e profissional porque, além dos
conhecimentos e das competências novas que adquirimos,
ganhamos experiência de vida, conhecemos outras pessoas
com os mesmos objetivos que nós e começamos a saber
JOSÉ PEREIRA estar, a ter uma outra postura. Quando estamos em com-
O meu pai também trabalha nesta área e eu, durante as petições temos de aprender a controlar os nervos, temos
férias escolares, ia sempre ajudá-lo e comecei a ganhar de ter capacidade para nos concentrarmos, ultrapassar as
gosto por «mexer» nos fios e nas peças. Esse gosto dificuldades que podem surgir e conseguirmos dar o nosso
levou-me a procurar uma escola onde conseguisse melhor.
desenvolver as minhas Estamos num mundo cada vez mais desenvolvido e, a nível
capacidades teóricas e industrial, os métodos de trabalho
práticas naquela área, e e o tipo de máquinas estão em
foi assim que encontrei o constante evolução. Dantes as
CENFIM. Resolvi infor- máquinas tinham quadros enor-
IDADE 18 anos
mar-me sobre a escola. PROFISSÃO Contr mes, agora temos um quadro
olo Industrial
O CENFIM fica na Trofa ENTIDADE CENFIM pequenino e um autómato que
, Trofa
e eu moro a cerca de 27 NACIONAL Meda
lha de Ouro controla a máquina toda e eu
quilómetros de distância, EUROPEU Medalha tenho a parte da eletrificação e
de Prata e
em Vizela, mas com um Me lhor da Nação da automação, que é a progra-
pouco de sacrifício iniciei mação do autómato. Por isso, as
JOSÉ PEREIRA
18 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
O caminho certo para a vitória 1
IDADE 22 anos
PROFISSÃO Meca
trónica
Automóvel
ENTIDADE CEPRA,
Pedrouços
da lha de Ouro
NACIONAL Me
PE U Me da lha de Prata
EURO
RA
ADMÁRIO FERREI
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 19
1 TEMA DE CAPA
BRUNO DIAS
Comecei o curso com 16 anos, no Centro de Formação da
Pedrulha, em Coimbra. Fiz um estágio de 2500 horas na
IDADE 22 anos Climábitus e fiquei a trabalhar na empresa. Está a ser uma
PROFISSÃO Tecn experiência muito boa. Tenho conseguido trabalhar e tam-
ologias da Moda
ENTIDADE MODA
TEX bém treinar para os campeonatos. Agora, tenho estado só
NACIONAL Meda
lha de Ouro a treinar porque a empresa facilitou.
Participei nos campeonatos, pela primeira vez, aqui no
Porto. Depois, participei em Coimbra, o objetivo era ganhar e
JOANA QUEIRÓ consegui. A seguir fui ao europeu, onde correu relativamen-
S
te bem, e agora vamos ver o que irá acontecer no mundial.
Esta foi a minha primeira opção. O meu pai já trabalha nesta
dade da Beira Interior (Covilhã), mas quando área há muitos anos e eu sempre o quis seguir. Quando aca-
me fui inscrever e pagar as primeiras propinas percebi bei o 9.º ano, decidi tirar o Curso de Formação Profissional
que não era, de todo, aquilo que pretendia. Eu queria um de Refrigeração e Climatização.
curso que me oferecesse desde a parte mais teórica à A participação nos campeonatos é uma mais-valia para o
parte de atelier, onde eu pudesse passar tudo aquilo que desenvolvimento pessoal e profissional, porque nos ajudam
tinha na mente para o papel e para os tecidos, e isso não a lidar e saber trabalhar com muita pressão, muita respon-
iria acontecer naquele curso. Depois de falar com várias sabilidade, e permitem-nos obter mais competências.
pessoas descobri a MODATEX, fiz a inscrição, fui fazer um A participação nestes campeonatos facilita a entrada
workshop de verão de Iniciação ao Desenho de Moda, no mercado de trabalho. Têm muita importância. Neste
fiz o projeto, fui selecionada para ir à entrevista e fui momento, somos os maiores do país. Os meus patrões
chamada para entrar no curso. E estou muito feliz. orgulham-se muito daquilo que eu já consegui nos vários
Em comparação com os meus colegas que nunca parti- campeonatos. Se uma pessoa souber que área quer seguir,
ciparam num campeonato, tenho muito maior agilidade são uma boa escolha. •
do que eles ao nível da confeção e modelação.
As competências que adquiri são muito importantes,
permitiram-me colocar os meus objetivos num patamar
acima, fazem com que puxe ainda mais por mim para
testar os meus limites, para saber até onde consigo ir.
Já tenho algumas propostas de trabalho em vista.
À partida, como esta bagagem que já levo, com o cur- IDADE 20 anos
PROFISSÃO Refrig
eração
rículo que fui desenvolvendo, não terei dificuldades em
entrar no mercado de trabalho. e Climatização
ENTIDADE CEFP,
Coimbra
Acho que os jovens se devem informar muito bem antes
NACIO NA L Me da lha de Ouro
de optarem entre ir para a universidade ou para um cur- EUROPEU Concorr
ente
so de formação profissional. Essa foi a minha maior falha
quando terminei o 12.º ano. Sem dúvida de que os cursos
de formação profissional, hoje em dia, já não são o que
BRUNO DIAS
eram, são muito mais avançados. As pessoas já não vão
para um curso profissional porque não gostam de estu-
dar ou não querem ir para a universidade. Portugal está
a investir cada vez mais nos cursos profissionais. Ainda
está um bocadinho aquém de outros países mas está no
bom caminho, a começar pelos campeonatos.
20 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
1
CAMPEONATOS
DAS PROFISSÕES
UM MODELO DE
REFERÊNCIA
DÁRIO PINTO, COORDENADOR DE FORMAÇÃO DO CENFIM, CENTRO DE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL DA INDÚSTRIA METALÚRGICA E METALOMECÂNICA. TESTEMUNHOS
DOS FORMADORES SÃO DA AUTORIA DE RITA VIEIRA, JORNALISTA
H
á mais de vinte anos tive o primeiro contacto com ser júri permite-nos perceber, entre os nossos pares, para
o movimento relacionado com os Campeonatos das os que querem evoluir, que existem outras formas de le-
Profissões, no tempo em que se denominavam Con- cionar, que existem diferentes tipos de formandos. Nem
cursos. Já nessa altura, ainda eu era formando no CENFIM – sempre o melhor formando é o que tem as características
Núcleo do Porto, percebi que esta era uma forma extrema- ideais para a competição. Pode até ser um excelente for-
mente interessante de comprovar o nível de conhecimento mando, que será um dia um profissional de referência na
que cada formando adquire na formação, assim como para indústria, mas se não conseguir lidar com a pressão provo-
aferir da qualidade da mesma. Deste modo, os Campeona- cada pela complexidade da prova, pelo limite de tempo ou
tos das Profissões afirmaram-se como uma excelente fer- pelo ambiente em redor, de nada servirá a sua prestação,
ramenta de benchmarking para as diferentes entidades de ficando apenas um sentimento de frustração tanto para o
ensino e formação profissional. júri como para o concorrente. Nesta altura, para justificar
Anos mais tarde, já como formador, iniciei o trajeto como o desempenho, existe uma tendência para desvalorizar a
preparador de formandos para este tipo de competição. Es- competição ou para desenvolver uma engenharia conspi-
tes campeonatos, por terem uma estrutura evolutiva, per- rativa.
mitem testar o conhecimento dos formandos por etapas à Para os que atingem patamares mais altos, a participação
medida que a complexidade das provas aumenta, desde o nesta competição traduz o reconhecimento do trabalho
campeonato regional, passando pelo campeonato nacio- árduo de preparação durante meses ou até mesmo anos.
nal, EuroSkills e WorldSkills, sendo este último o campeo- Estes concorrentes são extremamente assediados pelas
nato de referência. empresas e hoje já existe uma procura de empresas multi-
Quando iniciámos esta atividade, antes de participar no nacionais por profissionais que tenham no seu curriculum
campeonato propriamente dito, no início do ciclo de cerca este tipo de experiência.
de dois a três anos, sentimos uma segurança aparente de Desde a primeira experiência, na perspetiva do expert, júri,
que os nossos formandos são os melhores que existem. jurado ou avaliador, tudo nomes que identificam a pessoa
Este conceito confirma-se ou desvanece-se logo no início que acompanha o concorrente nesta competição e figura
da primeira competição, onde podemos verificar o nível de de destaque no processo de avaliação e funcionamento
determinados concorrentes que se tornam uma referência da competição, que percebemos que os campeonatos, na
e patamar a atingir. generalidade, são uma ferramenta excecional para a aqui-
Graças aos Campeonatos das Profissões e à maturidade sição de conhecimento e para verificar o que de melhor se
que estes atingiram na sua organização, o privilégio de se faz a nível internacional. Com todo este envolvimento, reu-
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 21
1 TEMA DE CAPA
22 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
Campeonatos das profissões. Um modelo de referência 1
WORLDSKILLS PORTUGAL
Desde 2004 – Presidente do júri de todos os campeonatos nacio-
nais e regionais, na profissão de Desenho Industrial CAD
WORLDSKILLS
2017 – Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos – WORLDSKILLS Skill
Competition Manager in Mechanical Engineering CAD
2015 – São Paulo, Brasil – WORLDSKILLS Chief Expert in Mechani-
cal Engineering Design CAD
2013 – Leipzig, Alemanha – WORLDSKILLS Chief Expert in
Mechanical Engineering Design CAD
2011 – Londres, Reino Unido – WORLDSKILLS Chief
Expert in Mechanical Engineering Design CAD
2009 – Calgary, Canadá – WORLDSKILLS Chief
dard Specifications, através da recolha mundial Expert in Mechanical Engineering Design CAD
de informação sobre o perfil do profissional de 2007 – Shizuoka, Japão – WORLDSKILLS Chief
cada uma das profissões a concurso e quais as Expert in Mechanical Engineering Design CAD
competências a validar durante a prova. 2005 – Helsínquia, Finlândia – WORLDSKILLS
Existe uma grande preocupação sobre a constan- Expert in Mechanical Engineering Design CAD
te atualização dos descritivos técnicos, documento 2003 – St. Gallen, Suíça – WORLDSKILLS Expert
que define todas as competências a serem testadas in Mechanical Engineering Design CAD
durante a prova em que 80% dos júris têm que concordar
com as alterações, mas sempre em contacto direto com a EUROSKILLS
indústria e as suas melhores práticas. A cada competição 2016 – Gotemburgo, Suécia – EUROSKILLS Chief Expert in
são identificadas várias empresas e técnicos especializa- Mechanical Engineering Design CAD
dos em cada área, do mundo inteiro, para que manifestem 2014 – Lille, França – EUROSKILLS Chief Expert in Mechanical
a sua opinião acerca do conteúdo do descritivo técnico e Engineering Design CAD and CNC Milling
assim proponham sugestões de melhoria. Se temos este 2012 – Spa Francorchamps, Bélgica – EUROSKILLS Chief Expert
feedback das empresas que traduz as suas necessidades in Mechanical Engineering Design CAD and CNC Milling
sobre o perfil e conhecimento técnico do profissional a 2010 – Lisboa, Portugal – EUROSKILLS Chief Expert in Mechanical
contratar, torna-se evidente que a adaptação destes perfis Engineering Design CAD
internacionais aos nacionais é pertinente e necessária. 2012 – São Paulo – Brasil – AMERICASKILLS Chief Expert in Me-
Muito graças aos campeonatos, as entidades que tutelam chanical Engineering Design CAD
a formação, os centros de formação e algumas empresas 2010 – Rio de Janeiro – Brasil – AMERICASKILLS Chief Expert in
tomaram consciência de que existe uma referência na- Mechanical Engineering Design CAD
cional, a WorldSkills Portugal, e uma outra internacional, a Várias participações em competições nacionais de outros países,
WorldSkills, onde podem ir beber informação, transpor para como o Brasil e a Rússia, como Chief Expert ou como consultor.
o nosso sistema o que de melhor se faz internacionalmen- Presidente do júri de todas as profissões a concurso nas quatro
te. Informação testada e validada. edições do CENFIMSkills (competição interna do CENFIM).
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 23
1 TEMA DE CAPA
24 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
Campeonatos das profissões. Um modelo de referência 1
observação da consciencialização por parte de grandes utilizada, dos conteúdos dos perfis e referenciais, assim
marcas internacionais que alteraram a sua estratégia co- como dos métodos pedagógicos aplicados no nosso siste-
mercial. Um exemplo é o caso da Autodesk, que há alguns ma de formação. Este conhecimento privilegiado sobre os
anos, no que à formação/ensino dizia respeito, focava-se demais sistemas utilizados pelos diferentes países tem-
no ensino superior. Hoje tem como um dos seus focos a for- -nos permitido adaptar e evoluir. Deste modo, os campeo-
mação profissional pré-universitária. Todo o seu software é natos influenciam inequivocamente a dinâmica da forma-
grátis para estudantes e professores, pois perceberam que ção profissional e os próprios formadores, através dos con-
estes «levam consigo» o seu software para as universida- tactos que estabelecem e da perceção das experiências
des e para a indústria. Outras empresas também o têm fei- formativas de outros países, que acabam por se tornar um
to, como a Siemens, a Samsung, a L’Oréal e a Mitutoyo, que elemento dinamizador e disseminador dessas inovações,
contactam as entidades de formação e os organizadores quer sejam de índole pedagógica, tecnológica, organiza-
dos campeonatos para disponibilizarem os seus serviços cional ou outras. Toda esta dinâmica leva a que já sejamos
e produtos para o desenvolvimento destas competições, procurados por jovens com o objetivo de um dia poderem
tornando-se, deste modo, não só patrocinadores mas tam- representar o seu país num campeonato e que sejamos
bém parceiros na formação. cada vez mais rigorosos na seleção de formadores para a
A participação neste tipo de competições, com especial formação, do mesmo modo que o somos para a seleção dos
destaque para o WorldSkills, tem sido um motor particular- júris que participam nos campeonatos. Ser júri é um estatu-
mente importante para o desenvolvimento da tecnologia to que se conquista pela competência. •
Como foi o seu percurso enquanto formador? experiências novas. Fico a saber o que de melhor se faz lá
O meu percurso é diferente de muitos dos meus colegas, fora e tento trazer isso cá para dentro, para as salas de aula
porque eu fui formando de um curso profissional. Fui o me- onde dou formação.
lhor aluno da minha turma e, como na altura havia a neces-
sidade de incorporar um novo formador para a parte mais Estes campeonatos são uma alavanca para dinamizar o
técnica e prática, fizeram-me um convite e foi assim que co- sistema de formação profissional?
mecei como formador. Posteriormente, realizei toda a forma- Eu acho que eles são a alavanca. Se há um ponto-chave é
ção exigida para ser formador, função que exerço há cerca este (o dos campeonatos), porque aqui as pessoas respon-
de dez anos. sáveis por cada uma das provas trazem do estrangeiro aqui-
lo que de melhor se faz em cada uma das profissões. Isto
Que importância têm os WorldSkills para o seu desenvolvi- é o ex-líbris da formação e é o coroar, para muitos destes
mento pessoal e profissional? formandos, de todo o percurso formativo que fizeram. Con-
São fundamentais para o meu desenvolvimento porque a seguirem chegar aqui e sagrarem-se campeões regionais,
troca de experiências, a aprendizagem e aquilo que consigo nacionais, não é o que mais interessa... chegarem aqui já é
aprender quando acaba mais um campeonato são sempre importante.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 25
1 TEMA DE CAPA
Estes campeonatos são fundamentais também para se que tenho falado com os jovens a quem dou formação, para
(re)construírem e adaptarem novos referenciais de compe- muitos deles foi uma primeira escolha.
tências e novas metas. Isto porque há áreas formativas nas
quais o que fazemos em Portugal está muito bem, na crista Como se formam campeões?
da onda, mas há outras onde necessitamos de evoluir. Muitas horas de trabalho, empenho e dedicação. Doutra for-
ma, é impossível.
Esta é também uma forma de a formação profissional se
adaptar cada vez mais à realidade das empresas? Em alguns países, os centros de formação são financia-
Certo, é verdade que o tecido empresarial em Portugal não dos pelas empresas. Acha que esse modelo faz sentido em
está totalmente adaptado àquilo que se faz no estrangeiro. Portugal?
Ainda temos algumas lacunas nessa área. No entanto, se Faz, mas não numa fase inicial. Numa fase inicial deve man-
continuarmos a seguir este percurso vamos formar melho- ter-se como está hoje, de alguma maneira financiada, mas
res formandos e, consequentemente, as empresas também ainda sem ter o cunho da empresa porque há muitos jovens
vão receber melhores técnicos. Trata-se de potenciar a for- que não continuam os seus estudos devido a dificuldades fi-
mação profissional e por essa via a competitividade das em- nanceiras. Nós costumamos dizer que o ensino básico é até
presas. ao 9.º ano, mas não. Há uma parte técnica que, para quem
vem para estes cursos, também é básica, toda a gente a
Acha que estes cursos de formação profissional podem co- deve ter. Depois é que começa aquela parte em que cada um
meçar a ser uma primeira escolha para os jovens? se especializa numa área específica e, aí sim, faz sentido a
Eu acho que já são, pelo menos para mim foram. E daquilo parceria com as empresas.
ENTREVISTA
Como foi o seu percurso enquanto formadora? mais-valias, quer na maneira de ser quer na maneira de
Eu entrei, em 1991, no Instituto de Emprego e Formação Pro- trabalhar. Cada participação num mundial é sempre motivo
fissional (IEFP, I.P) como formador de Serralharia Mecânica. para adquirir mais conhecimentos, novas tecnologias, novos
Uma das componentes da Polimecânica é a Serralharia Me- materiais e, principalmente, novos processos de execução
cânica, além da automação e da parte elétrica. Participei nos do trabalho.
campeonatos pela primeira vez em 1992, pouco tempo de-
pois de ter entrado no Instituto. Comecei por participar nos Estes campeonatos são uma alavanca para a dinamização
campeonatos regionais e nacionais e, em 1999, entrei nos do sistema de formação profissional?
mundiais. Desde essa altura sou jurado dos campeonatos Os campeonatos são o corolário da formação profissional.
mundiais. Já tenho um longo percurso nesta área. Portanto, podem dar aos jovens uma maior motivação, um
maior empenho e uma maior dedicação. E pode ser bastante
Que importância têm os WorldSkills para o seu desenvolvi- aliciante fazer uma carreira na formação profissional e de-
mento pessoal e profissional? pois participar num campeonato mundial. Tanto quanto sei,
Em termos de desenvolvimento pessoal, é extremamente os jovens que têm participado estão todos no mercado de
enriquecedor porque nós trabalhamos com pessoas de ou- trabalho ou a trabalhar por conta própria. Conseguiram vin-
tros países, de outros continentes, que nos trazem sempre gar na vida.
26 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
Campeonatos das profissões. Um modelo de referência 1
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 27
1 TEMA DE CAPA
ENTREVISTA
Como foi o seu percurso enquanto formadora? mas também porque estes contribuem, internamente, para
Eu, tal como a Joana Queirós (entrevistada nesta edição da o desenvolvimento da formação profissional. É aí que os jo-
revista no artigo «O caminho certo para a vitória»), também vens conseguem mostrar aquilo que valem. Os campeona-
fui formanda no curso de formação profissional do CITEX, tos de formação profissional deviam ser alvo de divulgação
onde fiz o curso de Modelista de Vestuário. Mais tarde fui idêntica à que é feita quando se trata de campeonatos de
para o CIVEC, em Lisboa, onde comecei como formadora na desporto e que vão às centenas de pessoas para o aeroporto
área da modelagem. Sou formadora há trinta anos. Já parti- esperar os atletas; também estes jovens formandos estão
cipei em vários campeonatos nacionais, europeus e quatro a promover o nosso país e a contribuir com o seu esforço
campeonatos mundiais. E estou bastante satisfeita com os formativo para o desenvolvimento e o reconhecimento de
resultados. Nos campeonatos europeus já conquistámos Portugal.
uma medalha de ouro, uma medalha de prata e, também,
uma medalha de excelência num campeonato mundial. Esta é também uma forma de a formação profissional se
adaptar cada vez mais à realidade das empresas?
Que importância têm os WorldSkills para o seu desenvolvi- Trabalha-se para isso. Há um grande esforço do IEFP, I.P. para
mento pessoal e profissional? o desenvolvimento dos programas e conteúdos formativos e
É um orgulho chegar até aqui porque não é fácil chegar a um estamos sempre a fazer reajustes na formação que é minis-
campeonato mundial, é um esforço muito grande, tanto para trada para que isso aconteça.
os jurados como para os concorrentes. É lógico que é muito
gratificante conquistarmos uma medalha porque se trata de Em alguns países os centros de formação são financiados
vermos o nosso esforço reconhecido. São muitas horas de pelas empresas. Acha que esse modelo faz sentido em
trabalho, de preparação, e é uma mais-valia. Podemos até Portugal?
nem ganhar qualquer medalha, mas só o facto de se chegar Se calhar faria todo o sentido e também era uma forma de
a um campeonato mundial e se conseguir concretizar a pro- as empresas irem buscar as pessoas certas aos lugares
va na íntegra já é muito bom. Conseguimos ver que a nossa certos. Por vezes já acontece. Quando acabam a formação,
formação é boa e que, a nível mundial, não ficamos aquém os jovens vão para os estágios e, muitas vezes, conseguem
de países que achamos muito mais desenvolvidos do que ficar na empresa que os acolhe. Há uma empregabilidade
nós. bastante acentuada.
28 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
1
A joia dourada
JOÃO GODINHO SOARES, ENGENHEIRO OPTICREATIVE
JAIME
Numa cidade do Norte de Portugal, Jaime caminhava pela o fim do mundo! Estão a ver agora, o meu André... Nas ará-
rua, já perto de casa, quando sentiu o telemóvel vibrar. bias, canudo!»
Meteu nervosamente a mão no bolso das calças de ganga, Era assim que Jaime contava aos colegas as aventuras em
praguejando com os bolsos apertados! Quando finalmente que se tinha metido o filho, que escolheu seguir a profissão
conseguiu tirar o aparelho para fora, já este cantava a ple- do pai, ourives. Lá na empresa já estavam de olho nele. Em
nos pulmões. Deslizou o dedo rapidamente sobre o vidro. breve seriam também colegas.
– Estou! André? «Não é para me gabar... mas o meu André... tem muito jeito
– Olá pai. para a profissão. Faz coisas lindas! E perfeitas! Por isso é
– Filho! Então? Só agora? Está tudo bem? que o escolheram. E lá foi ele!»
– Tá tudo. Só agora é que pude... Não se cansava de falar do filho. Os colegas davam-lhe pal-
– Diz lá! Como foi? madas nas costas, de parabéns, e estavam sempre a per-
– Foi duro... foi difícil... O tempo é pouco... guntar quando se sabia o resultado...
– Mas... foi assim tão mau? Como está a peça? «Calma, a prova ainda vai a meio. O André disse que estava
– Acho que está bem... mas não sei se consigo acabá-la. a correr bem. Logo, já devo saber mais...»
– Calma! Ainda tens um dia... Vais ver que consegues, ca- O que Jaime não esperava, ao atender o telemóvel, era ou-
rago! vir o filho tão hesitante. Era ele a fazer-se modesto..., pen-
– Mesmo assim... não sei, vamos ver... sou. Tinha a certeza de que o filho ia «... levar aquilo com
Separados por seis mil e tal quilómetros, Jaime esperara uma perna às costas!» Ainda assim, só podia encorajá-lo.
toda a tarde ansiosamente por notícias do filho que, como – Ó André! Tu sabes! Tu és melhor do que eu! Vais ver que
tinha feito questão de contar aos colegas do emprego, corre tudo bem!
«... estava a concorrer no uarlsquils, ou lá como é que aqui- – Oxalá. Dizes à mãe?
lo se chama agora! Num daqueles países do petróleo, lá – Sim, claro. De resto, está tudo bem?...
para as arábias, o..., o... abudabi!» A conversa terminou segundos depois. Sim que «... isto
«No meu tempo chamavam-se Olimpíadas do Trabalho. Eu do ruming é fogo!», como ele dizia. Por isso também não
cheguei a ir a Amesterdão, em 1991! Aquilo para mim já era estranhou que o filho não ligasse à mãe. Voltou a meter o
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 29
1 TEMA DE CAPA
telemóvel no bolso, a custo (mais uma praga...), e apressou um pulo. Mais trabalho, mais treino, mais esforço, com o
o passo para contar à mulher o telefonema do filho. total apoio dos pais e a dedicação do formador, que sem-
pre o acompanhou. E ganhou outra vez! Por isso estava ali,
ANDRÉ do outro lado do mundo, a competir por uma medalha no
Apesar de estar entre mais de mil e trezentos jovens, pro- WorldSkills de Abu Dhabi.
venientes de seis dezenas de países e regiões do planeta, O ambiente que encontrou, logo à chegada, fez aumentar
André sentia-se só. No enorme pavilhão do Centro Nacional nele a exaltação de pertencer a uma seleção nacional. Sem
de Exposições de Abu Dhabi, debruçado sobre a sua ban- dúvida que a aventura em que se metera era muito estimu-
cada de trabalho, bem no meio do setor onde decorriam lante, como lhe tinha prometido o formador. Uma verdadei-
as provas de Joalharia, parecia indiferente ao reboliço que ra prova de resistência que o preparava para os desafios
sentia a poucos metros dele. A sua cabeça fervilhava por profissionais que se avizinhavam... e não só!
entre memórias e pensamentos, que teimavam em distraí- André ia assim discorrendo, enquanto trabalhava a peça,
-lo do trabalho. Não é que estivesse a correr mal. O pai tinha quando, sem aviso, o seu instinto o fez despertar abrupta-
razão. Ele era capaz. Mas o ambiente e o peso da respon- mente. Mas, o que era aquilo?!
sabilidade de estar a representar o país – coisa que o pai André olhou perplexo para a soldadura que tinha acabado
repisara abundantemente enquanto lhe contava pela cen- de fazer. Estava a ficar empenada! Depressa! Era preciso
tésima vez a sua honrosa participação nas Olimpíadas do corrigir! A partir daquele momento o mundo de André redu-
Trabalho, em Amesterdão, já lá iam 26 anos – puxavam-no ziu-se ao tamanho da peça que tinha à sua frente. Tudo o
para trás. Ou seria Ingrid? que o rodeava desapareceu, incluindo Ingrid.
Na bancada de trabalho situada mesmo à sua frente, Ingrid
era a concorrente da Suécia. Loura, linda. Sorrira para ele ANDRÉ E OS PAIS
duas vezes! Na ampla sala do aeroporto, um casal na casa dos quarenta
Não. Não podia ser assim. Zangado consigo mesmo, desviou e tais anos olhava, com um ar sério, para a porta por onde
pela milésima vez o olhar da rapariga e fitou a peça que es- iam saindo os passageiros que chegavam. A determinado
tava a trabalhar. Estava quase acabada. Antes dos ajustes e momento, sobressaltaram-se quase em simultâneo. «Lá
limpeza final só faltava soldar as duas partes que a forma- está ele!» Acenaram e caminharam em direção ao filho.
vam. Uma operação difícil e que só os melhores conseguem André dirigiu-se-lhes de imediato, com um esboço de sorri-
realizar de modo a que fique sem defeito. Ele era um deles. so nos lábios. Nem os amplos sorrisos de ambos e os abra-
Um pequeno ruído à sua direita fê-lo voltar a cabeça. Era ços e beijos que se seguiram lhe alteraram a expressão.
Yuri, o concorrente russo. Era bom, o tipo. Muito bom. A mãe foi a primeira a notar.
E estava mais adiantado do que ele, o sacana. Apesar de o – Então, filho, que cara é essa?
rapaz ter um ar jovial e amável, não simpatizava com ele. Já – Desculpem...
o vira a meter conversa com Ingrid e não gostou dos ares de Foi a vez de o pai perguntar:
intimidade do outro... – O quê, filho?
Voltou a tomar atenção ao que fazia. Olhou para o relógio. – Não ganhei...
O tempo fugia! «Carago! Não vou falhar tão perto do fim!», A mãe ia falar, mas olhou para o marido e esperou. Jaime
pensou. Nem queria imaginar o desgosto que iria dar aos voltou a abraçar o filho e disse, enquanto soltava o abraço:
pais se não conseguisse um bom resultado. – Ganhaste, sim. Ganhaste o nosso orgulho. Estiveste mui-
Pela sua mente desfilou todo o caminho que o tinha leva- to bem, André. Chegaste onde muito poucos chegam. Um
do ali, desde o dia em que o formador do curso de Técni- erro? Só os loucos não cometem erros...
co de Ourivesaria, da Formação em Aprendizagem que ele De seguida, a mãe abraçou o filho e beijou-o como só as
frequentava em Gondomar, lhe veio com a conversa de o mães sabem.
preparar para o campeonato regional. Ele nem sabia o que – O que importa é que estiveste lá. És um homem das ará-
isso era, mas depois de o formador lhe explicar percebeu bias!
que os campeonatos são uma forma muito estimulante de No autocarro que os levaria de regresso a casa, André re-
valorização pessoal e uma excelente janela de oportunida- cuperara totalmente o sorriso. Levou quase toda a viagem
de para um futuro profissional compensador. Anuiu. a descrever, com todos os pormenores, os dias intensos
Foram muitas semanas de trabalho, sempre a praticar. que viveu. Mais tarde, já em casa, surpreendeu-se quando
Desenhou e leu desenhos de peças, escolheu e cortou ma- o pai lhe segredou ao ouvido, de modo a que a mulher não
teriais, fez montagens, fundiu, moldou, soldou, etc., etc. o ouvisse:
Ganhou. Daí a ir ao campeonato nacional, em Coimbra, foi – Então... e a sueca, carago? •
30 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES
Nome do artigo 2
REFERENCIAIS DE
COMPETÊNCIAS DIGITAIS:
UMA ANÁLISE
ANTÓNIO DIAS DE FIGUEIREDO,
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA FCTUC
OPTICREATIVE
F
ala-se hoje muito de competências por oposição a Digitais para os Cidadãos (DigComp), lançado pela Comis-
conhecimentos. Por um lado, porque já não se recru- são Europeia em 2013. Este referencial, que se encontra
ta tendo em conta o que os profissionais estudaram, em 2017 na versão DigComp 2.1,1 desdobra-se em cinco
mas sim o que são capazes de fazer, o que é muito distin- grandes áreas de competências: literacia da informação
to. Por outro lado, porque muitas das competências hoje e dos dados, comunicação e colaboração, criação de con-
mais procuradas não se relacionam com conhecimen- teúdos, segurança, resolução de problemas. Para cada
tos, mas com atitudes e valores: curiosidade, iniciativa, uma destas áreas, o DigComp 2.1 distingue competên-
persistência, adaptabilidade, resistência à frustração, cias específicas, num total de 21, e discrimina oito pata-
liderança, empatia, sentido de grupo. Ao contrário dos co- mares de proficiência. Estes patamares, que se inspiram
nhecimentos, que incidem sobre domínios de saber espe- na taxonomia de Bloom e no Quadro Europeu de Qualifica-
cíficos, as competências são hoje definidas como sendo: ções (EQF), exprimem o nível de desafio cognitivo, o grau
transversais, cobrindo mais do que domínio; multidimen- de complexidade e a autonomia associados às tarefas a
sionais, incorporando saberes, aptidões, atitudes e valo- realizar.
res; e indutoras de comportamentos de ordem superior A combinação das 21 competências com os oito patama-
quando aplicadas à resolução de problemas complexos res de proficiência dá origem a 8 x 21 = 168 descritores
ou com elevada incerteza. Dito isto, importa esclarecer de sucesso na satisfação dos objetivos da aprendizagem,
que a atual popularidade da formação para competên- que as empresas e instituições de formação podem usar
cias não reduz em nada a importância da formação para no desenvolvimento dos seus materiais, na conceção de
conhecimentos. Ambas são necessárias, em situações instrumentos de avaliação, no apoio à orientação das car-
distintas, e importa não confundir umas com as outras. reiras e no reforço ao enquadramento dos trabalhadores
O domínio do digital é particularmente sensível nesta ma- nas suas tarefas. O referencial inclui ainda exemplos de
téria porque algumas atividades, como a comunicação de aplicação para os diversos descritores.
alto nível ou a produção de conteúdos culturais, exigem
sólidas competências transversais e multidimensionais, OS DESAFIOS DA OPERACIONALIZAÇÃO
mas outras atividades exigem fortes conhecimentos ver- A principal limitação da generalidade dos referenciais
ticais em domínios específicos como, por exemplo, o da internacionais de competências é que tendem a ficar-se
programação em Python para a análise de dados. Infeliz- pela apresentação de taxonomias, esquecendo que estas
mente, os atuais referenciais de competências digitais de nada valem se não forem enquadradas por orgânicas
não contribuem para a clarificação desta distinção. O pre- que facilitem a sua operacionalização e transformação
sente texto apresenta o referencial europeu de compe- em práticas inovadoras e de mudança. A inovação em
tências digitais, analisando-o de seguida como o objetivo educação e formação depende de três componentes-
de debater estas questões. -chave: pessoas, instituições e pedagogias. No entanto,
da panóplia de quadros internacionais de competências
O REFERENCIAL EUROPEU para o século xxi construídos nas últimas décadas, ape-
DE COMPETÊNCIAS DIGITAIS nas o referencial norte-americano da Partnership for 21st
A transformação da educação e da formação na União Century Learning inclui, mesmo assim de forma limitada,
Europeia face aos desafios da era digital tem vindo a ser mecanismos e materiais que têm em conta essa opera-
posta em prática no âmbito do Quadro de Competências cionalização.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 31
2 DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES
A inovação em educação
e formação depende de
três componentes-chave:
pessoas, instituições e
pedagogias
32 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
Referenciais de competências digitais:
Nome uma
doanálise
artigo 2
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 33
2 DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES
A PEDAGOGIZAÇÃO
DE NOVAS «PROFISSÕES
DE SONHO» NOS
HORIZONTES JUVENIS
VITOR SÉRGIO FERREIRA, SOCIÓLOGO, INVESTIGADOR NO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA OPTICREATIVE
C
ontava-me o Caetano que, depois de tentar fazer consumos juvenis, também têm vindo a integrar as op-
duas licenciaturas (uma em Produção Animal, outra ções e expectativas profissionais de um número cada vez
em Veterinária) e desistindo de ambas, acabou por maior de jovens, facto que tem merecido a minha atenção
se inscrever no Curso Profissional de Cozinha da Associa- enquanto investigador. São, efetivamente, atividades hoje
ção de Cozinheiros Profissionais de Portugal: «Parei para desenvolvidas por muitos jovens devido ao seu potencial
pensar um bocadinho e disse assim: “Eu vou fazer aquilo de de profissionalização, não apenas pelo valor que lhes atri-
que gosto. Já estou farto de andar a fazer aquilo de que não buem como possíveis meios de subsistência mas tam-
gosto.” [...] Nem toda a gente tem de ter um curso superior, bém, e sobretudo, pelo valor que lhes reconhecem como
nem toda a gente tem de ter um mestrado. Isso não inte- meios de existência.
ressa! As pessoas têm é de ser felizes naquilo que fazem. Quer isto dizer que são atividades movidas pela crença so-
E têm de se sentir bem com aquilo que fazem! E eu tenho cial de que através do seu exercício se pode vir a ser alguém,
prazer em vir para aqui. Não me custa todos os dias acordar proporcionando ao jovem um sentimento de protagonismo
às sete da manhã e vir para aqui!» e de existência singular enquanto indivíduo e trabalhador
Com efeito, se anteriormente as tradicionais profissões de muito difícil de obter através dos trabalhos atualmente
sonho envolviam a mediação seletiva do ensino superior – disponíveis para a força de trabalho juvenil. Trata-se de um
tais como as de médico, advogado, arquiteto ou engenhei- desejo de escapar ao vazio de uma subsistência anónima e
ro, por exemplo –, hoje em dia existem novas profissões anódina, de fuga a uma condição de inexistência no mun-
de sonho que já não são exclusivamente associadas a car- do correspondente à condição atual do jovem enquanto
reiras certificadas por um diploma universitário. No atual trabalhador, normalmente percebido como mais um entre
contexto de descrença de que um grau académico venha muitos, ainda não experientes, colocados nos bastidores
a cumprir sonhos de segurança, estabilidade, emprego, es- da cena social, zonas mais marginais, subterrâneas e in-
tatuto e mobilidade social, em articulação com o contexto tersticiais do mercado de trabalho, e deixados à mercê de
de insegurança e incerteza que se faz sentir no mercado caminhos e mecanismos de inserção laboral que os sub-
de trabalho, as promessas académicas competem com as metem à invisibilidade do subemprego, do desemprego ou
promessas mediadas por outros contextos sociais, como do emprego desolador e não promissor.
as culturas juvenis, os media e as culturas de celebridade. Tal acontece na medida em que, embora não sejam no-
É o caso das promessas sociais que envolvem atualmen- vas, essas ocupações têm sido objeto de importantes
te algumas atividades que tenho investigado – como DJ, processos de reconfiguração social e simbólica, conside-
jogador de futebol, cozinheiro, modelo ou tatuador,1 entre rando quer as mudanças nos perfis sociais dos jovens que
muitas outras, como graffiter, surfista, cantor, músico, atraem, mais elevados, quer a promoção do seu valor no
youtuber, etc... Se estas atividades são conhecidas so- mercado das profissões e dos significados nestas investi-
bretudo por se desenvolverem na esfera dos lazeres e dos dos. Em Portugal, até recentemente, jogar futebol ou cozi-
34 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
A pedagogização de novas «profissões de sonho» nos horizontes juvenis 2
nhar eram apenas modestos métiers, pouco promissores, de progressão lineares e claramente demarcados, de que
tendencialmente desenvolvidos por quem não tinha gran- os caminhos de inserção e desenvolvimento profissional
de sucesso na sua trajetória escolar; e as atividades de DJ são cada vez mais aleatórios, caóticos e labirínticos, e de
ou de tatuador, por exemplo, eram revestidas de uma aura que o futuro é cada vez mais incerto, arriscado e em aberto,
de suspeição e marginalidade. Hoje, contudo, essas ocupa- cada vez mais jovens manifestam-se dispostos a explorar
ções são envoltas numa retórica mediática de «sonho», o potencial de empregabilidade das suas práticas de lazer
socialmente amplificada em inúmeros reality shows diaria- e prazer de todos os dias, paixões que integram habilidades
mente transmitidos em canais generalistas e temáticos de aprendidas informalmente, por brincadeira.
televisão, filmes, revistas de teor variado e redes sociais, e Com efeito, o envolvimento dos jovens nas atividades que
que alimenta as aspirações e as expectativas profissionais estudei começa frequentemente desde tenra idade, no
de cada vez mais jovens. Esses dispositivos mediáticos contexto de experiências lúdicas entre amigos e/ou entre
constroem idealizações que reforçam um imaginário de familiares, «brincadeiras» com o simples objetivo recrea-
glamour, sucesso e amplo reconhecimento social sobre os tivo de ocupar o tempo livre ou de expressar identidades
seus protagonistas, em geral celebridades bem-sucedidas, através do consumo e/ou da prática: jogar à bola na rua, pôr
detentoras de um estilo de vida cosmopolita, cool, moder- discos em festas de amigos e familiares, cozinhar uma re-
no, estruturado em torno de atividades onde o trabalho se feição para amigos ou familiares, o prazer de tratar do seu
mescla com prazeres de vária ordem: não apenas o prazer corpo e do seu visual. No decorrer destas brincadeiras vão-
intrínseco de praticar, a tempo inteiro, a atividade de que -se aprendendo, exercitando e acumulando determinados
mais se gosta, mas também gratificações extrínsecas que saberes práticos ou saberes-fazer: em sentido muito lato,
daí poderão decorrer, como fama, dinheiro, viagens, etc. refiro-me ao conhecimento experiencial exigido para jogar
Neste contexto, conscientes de que existem menos pos- com uma bola, para posar para uma foto ou caminhar numa
sibilidades de ter uma carreira profissional com estádios passarela, para cozinhar uma refeição, fazer um desenho
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 35
2 DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES
36 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
DOSSIER | SKILLS 2
SKILLSPORTUGAL
Campeonato das profissões
CARLOS FONSECA, COORDENADOR DO NÚCLEO WORLDSKILLS
PORTUGAL, DELEGADO TÉCNICO DE PORTUGAL NA WORLDSKILLS
INTERNACIONAL E WORLDSKILLS EUROPA
RECURSOS HUMANOS
O PRESIDENTE DO JÚRI
O presidente do júri é um técnico altamente qualificado de
reconhecida experiência na área profissional, com expe-
riência relevante de participação em vários campeonatos
nas suas fases locais, regionais, nacionais e internacio-
nais, sendo sujeito a um rigoroso plano de formação di-
ligenciado pela WorldSkills Portugal, considerando temá-
ticas de análise de funções, balanço de competências,
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 37
2 DOSSIER | SKILLS
OS CHEFES DE OFICINA
Elemento igualmente focal na organização das provas, é
um técnico qualificado na profissão em apreço, nomeado
pela organização local do campeonato, a quem cabe a res-
ponsabilidade da preparação, montagem (de acordo com
o layout aprovado) e desmontagem do espaço oficinal,
instalações, máquinas, ferramentas, ligações elétricas
e de todos os itens especiais listados nas «Prescrições
Técnicas da Profissão».
Garante que o local da competição fica conforme as
prescrições técnicas, as normas de saúde, segurança e
higiene, acessos, locais de trabalho e de passagem devi-
damente identificados, assim como os meios de proteção
adequados à profissão pela qual é responsável, garantin-
do que os meios de socorro e emergência se encontram
acessíveis. Promove, ainda, a adaptação ao posto traba-
lho por parte dos concorrentes, dando todas as explica-
ções necessárias e o treino de adaptação às máquinas
sempre que necessário.
OS VOLUNTÁRIOS
Os voluntários têm um papel fundamental no suporte
logístico do evento. Desenvolvem apoio ao secretariado
do evento, ao secretariado da competição, às equipas
de jurados e à organização logística, nomeadamente no
acolhimento e operacionalização das visitas guiadas dos
milhares de visitantes. Mas também ao nível dos eventos
paralelos desempenham um papel importante, quer na
cerimónia de abertura ou de encerramento, quer ainda
nos seminários e workshops técnicos que normalmente
têm lugar no decurso do Campeonato das Profissões.
OS TEAM LEADERS
Participar num evento de tal dimensão impõe desafios
aos jovens participantes. Cabe aos team leaders acompa-
nharem em permanência os concorrentes, assegurando o
cumprimento dos horários do programa, designadamente
refeições e deslocações para os locais de estadia.
Face aos níveis de stress a que muitos dos jovens ficam
sujeitos por força do ambiente competitivo, o team leader
tem ainda um papel fundamental de motivação junto dos
jovens.
38 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
SKILLSPORTUGAL – campeonato das profissões 2
OS PATROCINADORES
As empresas patrocinadoras do WorldSkills Portugal apre-
sentam um papel fundamental para o sucesso do evento.
Estes apoios consubstanciam-se em apoio técnico, atra-
vés da cedência de know-how, máquinas, ferramentas,
fatos de trabalho, consumíveis ou mesmo formação para
jurados e concorrentes em equipamentos de vanguarda.
O EDIFÍCIO TÉCNICO
O edifício técnico dos Campeonatos das Profissões com-
preende, além do regulamento, o programa do evento, os
descritivos técnicos, as prescrições de segurança, as pro-
vas, as listas de infraestruturas e as grelhas de avaliação.
O PROGRAMA DO EVENTO
É a partir do programa que se definem todos os pormeno-
res de organização do evento, designadamente logística
de montagem do evento, receção de jurados e de concor-
rentes, cerimónia de abertura, competições e planos de
visita, planos de refeições e de transportes, períodos de
avaliação, cerimónia de encerramento e logística de des-
montagem do evento.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 39
2 DOSSIER | SKILLS
OS DESCRITIVOS TÉCNICOS
São o instrumento de harmonização das condições técni-
cas de desenvolvimento do Campeonato das Profissões
a nível local, regional e nacional, constituindo-se como
um guia para a organização e participação dos jovens e
formadores nos campeonatos e para a própria qualidade
do campeonato e da formação profissional desenvolvida
pelos diversos operadores de formação.
Enquadram para cada profissão em apreço: i) Referencial
de competências; ii) Referencial de avaliação de desem-
penho; iii) Estrutura da prova; iv) Requisitos de seguran-
ça; v) Gestão da competição; vi) Organização da competi-
ção (infraestruturas, materiais genéricos, equipamentos,
ferramentas e matérias-primas, layout-tipo do espaço da
competição e fatores de sustentabilidade e de promoção/
divulgação da profissão).
Os descritivos técnicos para o Campeonato Nacional
das Profissões, SkillsPortugal, Beja – Alentejo 2018, es-
tão disponíveis no site da WorldSkills Portugal: https://
worldskillsportugal.iefp.pt/o-que-fazemos/campeo-
nato-nacional/ciclo-20172019-de-beja-a-kazan/ciclo-
20172019-campeonato-nacional-beja-2018/descriti-
vos-tecnicos/
O REGULAMENTO DE SEGURANÇA
O Campeonato das Profissões é um desafio em termos
de saúde e segurança no trabalho devido à complexidade
da sua organização e à emoção que acompanha o referi-
do campeonato, ao ambiente de competição envolvendo
máquinas e ferramentas, assim como a exigência e o li-
mite de tempo para o desenvolvimento dos projetos e a
avaliação correspondente das performances individuais
e coletivas.
A WorldSkills Portugal tem como objetivo comum a criação
de uma ação preventiva e de uma cultura de segurança no
Campeonato das Profissões com a visão – zero acidentes,
pelo que o Regulamento de Segurança, de aplicação obri-
gatória, visa a adoção dos procedimentos de prevenção
de acidentes na fase de preparação, montagem, desen-
volvimento e desmontagem do evento. O Regulamento de
Segurança para o Campeonato Nacional das Profissões,
SkillsPortugal, Beja – Alentejo 2018, está disponível no
site da WorldSkills Portugal: https://worldskillsportugal.
iefp.pt/wp-content/uploads/2017/09/Regulamento-de-
seguran%C3%A7a.pdf
40 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
SKILLSPORTUGAL – campeonato das profissões 2
AS PROVAS
As provas desenvolvidas no âmbito da WorldSkills Portu-
gal desenvolvem-se a partir do descritivo técnico e são
acompanhadas por uma grelha de avaliação de natureza
objetiva. As provas são obrigatoriamente testadas a prio-
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 41
2 DOSSIER | SKILLS
O LAYOUT DA COMPETIÇÃO
Trata-se do plano de engenharia e de arquitetura dos es-
paços que acomodarão as competições por uma das 40
áreas profissionais. Além da organização dos espaços,
outros aspetos associados à visibilidade e promoção,
bem como segurança e procedimentos de emergência,
são levados em consideração.
INFRAESTRUTURAS DE SUPORTE
A infraestrutura de suporte à organização de um evento
desta envergadura necessita de acondicionar cerca de
8000 m2 de espaços oficinais, nos quais se desenvol-
vem as provas de acordo com os requisitos internacio-
nalmente estabelecidos.
Como elementos críticos necessários ao estabeleci-
mento de uma infraestrutura que permita acomodar um
Campeonato das Profissões, salienta-se a necessidade
de definir os layouts da competição, as instalações es-
peciais, os equipamentos, ferramentas e materiais e a
sinalética.
AS INSTALAÇÕES ESPECIAIS
Cada uma das 40 profissões tem diferentes especificida-
des em matéria de potência elétrica, iluminação, redes
águas, esgotos, ar comprimido, renovação de ar, teleco-
municações, rede de dados, sendo necessário um projeto
de engenharia específico para atender a cada uma das
necessidades de cada profissão.
42 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
SKILLSPORTUGAL – campeonato das profissões 2
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 43
2 DOSSIER | SKILLS
44 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
SKILLSPORTUGAL – campeonato das profissões 2
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 45
2 DOSSIER | SKILLS
WORLDSKILLS
Ciclos que se cruzam
com jovens de excelência
SANDRA SOUSA BERNARDO, TÉCNICA SUPERIOR ASSESSORA
(MARKETING E COMUNICAÇÃO DA WORLDSKILLS PORTUGAL), IEFP, I.P.
46 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
2
O
movimento WorldSkills está em franco desenvol- mem um papel de relevo procurando dar destaque a pro-
vimento, tendo sofrido recentemente um rápido fissões emergentes e que se constituem como uma mais-
crescimento: novos membros, novos projetos, -valia para o crescimento económico da região. Chama-se,
novos parceiros. Nunca antes se verificou um interesse assim, a atenção para aquelas profissões que, não sendo
tão profundo pelos valores que a WorldSkills promove e ainda objeto de muita procura por parte dos jovens, são
defende, desde o setor da indústria passando pelos go- identificadas pelos empregadores como estando em fran-
vernos, economistas, meios de comunicação social e so- ca expansão e com necessidade de mão-de-obra qualifi-
ciedade em geral. cada. É também nesta dimensão de ajustamento entre a
As competências estão no núcleo da ação da WorldSkills e procura e a oferta de emprego que a WorldSkills dá cartas.
estas moldam as pessoas e as sociedades, constituindo- Apesar do crescimento verificado nos últimos anos, tendo
-se como um pilar fundamental para a vida em todas as o número de concorrentes duplicado de cerca de 200 em
suas dimensões. «Tudo, desde as casas em que vivemos 2012, no Campeonato Nacional de Faro, para quase 400
até às sociedades que criamos, é o resultado das com- no Campeonato Nacional de Coimbra em 2016, verifica-se
petências. Estas permitem que os indivíduos cresçam e ainda a necessidade de apostar na promoção e divulga-
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 47
2 DOSSIER | SKILLS
48 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
WORLDSKILLS – ciclos que se cruzam com jovens de excelência 2
«As competências
são a moeda global
do século xxi»
Angel Gurria, secretário-geral da OCDE
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 49
2 DOSSIER | SKILLS
«A WorldSkills
Internacional é a voz
coletiva para a excelência
das qualificações e para
o desenvolvimento de
carreiras profissionais,
tecnológicas e orientadas
para bens e serviços
transacionáveis em todo
o mundo. Aumentamos
a consciencialização,
entre os jovens, os
pais, os educadores
e os empregadores,
de que o nosso futuro
depende de um sistema
eficaz de competências
e qualificações. Hoje,
a WorldSkills, e os
seus países membros,
representa mais do que
essas competências e
qualificações, num trabalho
conjunto de preparação
do capital humano para as
profissões do futuro»
WorldSkills Internacional
50 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
WORLDSKILLS – ciclos que se cruzam com jovens
Nome
de excelência
do artigo 2
José Pedro Pereira Eletromecânica Industrial CENFIM – Trofa Medalha de Prata e Medalha de
Melhor da Nação Excelência
Bruno Baixinho concorrente não participou
Robótica Móvel ATEC – Academia de Formação
Daniel Salgueiro concorrente não participou
João Paiva não participou concorrente
Robótica Móvel ATEC – Academia de Formação
Miguel Magro não participou concorrente
Nuno Mateus Marcenaria CENCAL concorrente não participou
IEFP – Serviço de Formação Profissional de
Eduardo Neves Cabeleireiro concorrente não participou
Tomar
IEFP – Centro de Emprego e Formação
Suzana Dias Esteticismo concorrente não participou
Profissional da Guarda
Ticiana Valente concorrente não participou
Tecnologias da Moda MODATEX – Porto
Joana Queirós concorrente
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 51
2 DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES
eficácia da formação profissional ministrada com o obje- fissional. São projetos que, na sua generalidade, e por força
tivo de, subsequentemente, induzir fatores de crescente da sua natureza, envolvem um conjunto de parceiros que,
qualidade, inovação e criatividade nos processos de ensi- de forma articulada, sustentam a amplitude, investimento
no-aprendizagem. e abrangência de uma edição, ultrapassando deste modo,
Quando falamos dos campeonatos nacionais, e indepen- no tempo, o calendário de um campeonato e concorrendo
dentemente da região em que estes decorrem, a World- para os objetivos estratégicos da WorldSkills Portugal.
Skills Portugal procura que as repercussões sejam o mais Procura-se, em síntese, e paralelamente com os objetivos
globais possível. O investimento que é feito por todos os já referidos, promover confiança, credibilidade e reconhe-
intervenientes assim o exige. Não obstante, importa ter cimento social junto dos agentes económicos, patrocina-
presente que um campeonato pode, e deve, constituir-se dores, educadores, familiares dos jovens e junto do públi-
como um forte impulso à (re)qualificação de recursos do co mais difícil – os jovens.
local onde o mesmo se realiza, pelo que, além da projeção No ciclo que se concluiu com o Campeonato do Mundo das
nacional que se confere às várias edições, haverá sempre Profissões, WorldSkills Abu Dhabi 2018, no passado mês
uma dimensão local/regional muito significativa na qual de outubro de 2017, a WorldSkills Portugal contou, na fase
se aposta, numa lógica de combate à centralização e de nacional, com 386 concorrentes em 43 profissões. Em
promoção da discussão de estratégias de desenvolvi- cada profissão, um júri especializado avaliou as compe-
mento territorial. tências técnicas dos concorrentes, a sua capacidade de
É neste contexto que, além da competição, são promovi- planeamento e organização das tarefas, o rigor profissio-
dos eventos, atividades e produtos que, direta ou indireta- nal, a gestão do tempo e o autocontrolo competitivo e, no
mente, visam, em simultaneidade ou complementaridade, final, atribuiu 139 medalhas aos melhores classificados.
divulgar os campeonatos e subsequentemente o seu obje- Destes, 50 concorrentes obtiveram medalhas de ouro.
tivo principal – promover a excelência da qualificação pro- E foi aqui que se começou a criar uma nova equipa de cam-
52 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
WORLDSKILLS – ciclos que se cruzam com jovens
Nome
de excelência
do artigo 2
«Inspirar as gerações
mais novas a atingir o seu
potencial máximo»
WorldSkills Internacional
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 53
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO
ENTREVISTA
A aprendizagem é algo
que tem de estar sempre
a acontecer
RITA VIEIRA, JORNALISTA RITA VIEIRA
54 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
3
“A aprendizagem é
algo que tem de estar
sempre a acontecer, tem
de estar no nosso ADN,
tem de ser incutida, tem de
estar dentro de nós.
A aprendizagem é, de facto,
para a vida. Não pode ser
apenas um chavão”
apenas as empresas a dar formação, também temos de ser agilidade e flexibilidade para dar oportunidade de desenvol-
nós próprios a ir à procura. As novas gerações já têm muito vimento às pessoas, de «tocarem» diferentes instrumen-
mais este espírito, esta vontade de aprender, de ter expe- tos.
riências porque já perceberam isso. Portanto, para sermos
mais competitivos temos de nos esforçar para sabermos D&F: Que importância atribui à gestão de equipas numa or-
mais. Aquela máxima «saber não ocupa lugar» é mesmo ganização? Qual o papel da formação profissional?
verdade. I.H.: Para mim, a inteligência coletiva é muito importante.
A liderança coletiva. A formação assume-se como um pilar
D&F: A formação profissional pode desempenhar um papel fundamental e estruturante para a progressão e o cresci-
fundamental? mento dessas equipas.
I.H.: Muito importante. A conjugação entre a educação e a
formação, entre as escolas e os centros de formação pro- D&F: Qual a importância de um plano de formação na ges-
fissional, é muito importante. Eu sempre fui defensora des- tão de RH? Como se estrutura?
ta conjugação. I.H.: Hoje em dia, as pessoas precisam imenso de experiên-
cias. A velocidade a que as coisas acontecem é tão grande
D&F: Alguém disse que um bom gestor de RH tem de que precisam de sentir apoio e que, se algo acontecer, es-
«gostar de pessoas». Um gestor de RH que não gosta de tão preparadas. Mesmo os jovens que acham que nada lhes
pessoas é como um chefe que não gosta de comida. Quer vai acontecer, estão sempre à procura de imensas forma-
comentar? Qual é, na sua opinião, o papel do gestor de RH ções, imensas experiências.
numa organização? O plano de formação é importante pois sem este não há
I.H.:Temos de ser apaixonados pelo que fazemos na vida. um foco nem uma direção. Estrutura-se em função de uma
E se trabalhamos com pessoas, tal como o chefe trabalha visão, de uma ambição, de um desejo e de uma estratégia
com comida, é bom que se goste. O papel do gestor é cada bem definida, articulada com os recursos de que a empresa
vez mais o de ser alguém transformador, como um maes- possa dispor. Isto não quer dizer que depois esse plano de
tro que consegue fazer com que os diversos instrumentos formação global não se possa ajustar à medida das neces-
estejam em harmonia no tempo perfeito. É esse o segredo. sidades pontuais que vão surgindo, porque há uma coisa
Conseguir de um modo subtil, discreto (porque o palco é que é muito importante que é o acompanhamento, o men-
dos músicos), ser capaz de transformar carreiras, permitir toring, o coaching, que se vai podendo fazer a cada pessoa.
diferentes experiências e, sobretudo nos dias de hoje, ter
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 55
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE GESTÃO
D&F: Da sua experiência, que balanço faz da qualificação ensino superior, o que permite que a entrada no mercado
inicial para jovens existente no nosso país? O que falta ain- de trabalho seja facilitada. Os alunos praticam muito mais
da fazer? e têm um contacto muito mais próximo com as empresas
I.H.: Da minha experiência, a qualificação inicial é crucial e, sobretudo, com a realidade. São estas boas práticas que
não só para os jovens como para as empresas e para o vemos noutros países e que algumas escolas já estão a im-
próprio país. Primeiro, é necessário que haja um esclareci- plementar no nosso país.
mento acerca da importância da mesma, desmistificando a
ideia que existe à volta destas formações e do valor destes D&F: Considera que a formação na área das competências
jovens. Além disso, e não menos importante, há um longo transversais deve ser a grande aposta? Acha que a quali-
caminho a percorrer para a dignificação das profissões. ficação inicial de jovens pode ganhar com parcerias entre
Em Portugal há imensas profissões de que todos falamos as empresas e os centros de formação profissional e/ou as
porque precisamos, valorizamos porque pagamos um valor escolas profissionais, nomeadamente na definição de per-
elevado por serem escassas, mas em que medida reconhe- fis de competências, dos conteúdos programáticos e dos
cemos verdadeiramente esses profissionais? Lembro-me estágios curriculares?
que quando comecei a trabalhar havia os chamados cursos I.H.: As parcerias entre as empresas e as escolas profissio-
técnico-profissionais, depois deixou de haver e achei uma nais são imprescindíveis. As empresas evoluem e as profis-
pena que tivessem terminado. Primeiro porque nem todas sões também, pelo que há um ganho enorme nas parcerias
as pessoas têm de tirar uma licenciatura, depois porque há que se estabelecem. Sinto-me uma privilegiada por ter uma
muitas que têm imenso talento para fazerem formações excelente relação com boas escolas, nomeadamente com
mais técnicas e essas pessoas são precisas. as Escolas de Turismo de Portugal e com a Universidade
Hoje em dia, por exemplo, as Escolas de Turismo de Portu- Europeia. O Turismo de Portugal tem sido um parceiro im-
gal, que são ótimas, têm uma boa preparação inicial para portantíssimo para as Pousadas de Portugal.
os jovens. Nós temos muitos alunos que vêm estagiar con- Acho que a área das competências transversais é uma área
nosco que têm essa qualificação inicial e alguns acabam onde também podemos evoluir. Independentemente do
por ficar cá a trabalhar. setor de atividade, hoje em dia o grau de exigência é tão
grande que é inconcebível estarmos numa organização e
D&F: Sente que a preparação dos alunos é boa? não sabermos um bocadinho de cada coisa.
I.H.: Os que vêm de algumas escolas sim, de outras, nem Seria inconcebível que eu, por exemplo, enquanto diretora
tanto. Mas o problema não é só das escolas. Nós, no gru- de Recursos Humanos, estivesse numa organização e não
po Pestana, temos vindo a trabalhar em conjunto com as percebesse nada da área financeira ou da área de negócio.
escolas para que haja uma aproximação maior entre a rea- Algo que, se calhar, há vinte anos seria perfeitamente acei-
lidade empresarial e a educativa. Temos alguns colabora- tável.
dores que dão aulas nas escolas e outros que são tutores
de alguns alunos, o que lhes permite fazerem a parte prá- D&F: A formação profissional é ainda, muitas vezes, vista
tica aqui nas Pousadas de Portugal, e recebemos também pelos jovens como uma segunda opção. Acha que, a curto
cerca de mil alunos por ano para estagiarem connosco. prazo, poderá ser encarada como uma primeira via?
Neste momento, temos parcerias com muitas escolas de I.H.: Provavelmente, temos de desmistificar primeiro al-
Hotelaria e Turismo de Portugal com o objetivo de melhorar guns mitos à volta destas ideias. Acho que sim, a formação
esse trabalho, além de protocolos com o Ministério da Edu- profissional tem de começar a ser encarada como uma pri-
cação e com o Ministério da Economia. Portanto, tem vindo meira via e há países onde isso já acontece, onde já há essa
a ser feito um trabalho muito intenso porque acreditamos cultura, e eu vejo-o de uma forma muito positiva. Considero
que algo tem e pode ser feito. Mas há escolas fantásticas o saber-fazer necessário e muito dignificante. Hoje em dia,
e muitas pessoas neste país empenhadas em colaborar e passámos do oito para o oitenta; ainda há pouco tempo di-
fazer mais e melhor e que partilham dos nossos valores. ficilmente se acedia ao ensino superior, e neste momento
Por exemplo, nas Pousadas de Portugal recebemos alunos ainda há quem não perceba a importância da profissionali-
da Escola de Hotelaria e Turismo de Portugal, dos cursos zação. Temos ainda muitos desafios pela frente! Ainda te-
de formação On-The-Job que foram especialmente conce- mos um longo caminho a percorrer no sentido da mudança
bidos para qualificar jovens com conhecimentos concretos de mentalidades.
da nossa realidade e das exigências funcionais e operacio-
nais da profissão que vão abraçar. Em França, esta forma- D&F: Está, neste momento, a decorrer o Campeonato do
ção em alternância é algo muito comum e estende-se ao Mundo das Profissões, WorldSkills Abu Dhabi 2017.2 Portu-
56 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
A aprendizagem é algo que tem de estar sempre a acontecer 3
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 57
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO
JOVENS NEET.
UMA PRIORIDADE
VITOR MOURA PINHEIRO, DIRETOR-EXECUTIVO GARANTIA JOVEM
OPTICREATIVE
A
pesar da evolução positiva dos últimos anos a alcançar níveis elevados de emprego, de produtividade e
União Europeia defronta-se ainda com uma eleva- de coesão social.
da taxa de desemprego juvenil, situação que acar- A Comissão Europeia (CE) propôs, neste contexto, vários
reta graves consequências sociais e económicas para os objetivos a alcançar em 2020 por via daquela estratégia,
jovens afetados, as suas famílias, os seus países e a Eu- sendo oportuno destacar quatro deles:
ropa no seu todo. • 75% da população com idade compreendida entre 20 e
Portugal chegou a ter, no início de 2013, mais de 42% de 64 anos deverá estar empregada.
taxa de desemprego jovem, estando agora nos 24,2% (da- • 3% do PIB da UE deverá ser investido em investigação e
dos do terceiro trimestre de 2017 – INE). No âmbito da desenvolvimento.
iniciativa Europa 2020, a criação de emprego foi assumi- • A taxa de abandono escolar precoce deverá ser inferior
da como uma das prioridades da estratégia para um cres- a 10%.
cimento inteligente, sustentável e inclusivo, consideran- • Pelo menos 40% da geração mais jovem deverá dispor
do-se que a nova agenda deverá contribuir para permitir de um diploma de ensino superior.
58 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
3
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 59
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO
60 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
Jovens NEET. Uma prioridade 3
• Doença e incapacidade.
• Responsabilidades familiares.
O projeto Corpo Europeu • Jovens desencorajados.
de Solidariedade, • Outros inativos.
recentemente lançado Foi ainda identificado um grupo de jovens (desemprega-
dos não registados) que procura ativamente emprego
pela Comissão Europeia, mas não está registado no serviço público de emprego.
permitirá a um maior Este grupo faz também parte da estratégia elaborada.
número de jovens É feita uma análise às políticas de apoio existentes e suge-
rem-se pistas para colmatar eventuais lacunas identifica-
participar num amplo das em função, também, dos grupos atrás identificados.
leque de atividades de Um dos pontos fortes na operacionalização da estratégia
solidariedade quer através elaborada por Portugal com a OIT é a rede de 1500 parcei-
ros para sinalização e registo dos jovens e que têm como
de voluntariado, quer de papel identificar e envolver os jovens que mais «afasta-
aquisição de experiência dos do sistema».
profissional na ajuda da Como já se referiu, o elemento proximidade destes par-
ceiros potencia a confiança destes jovens que é, muitas
resolução de situações vezes, o elemento que pode fazer a diferença para concre-
difíceis em toda a Europa tizar o apoio que lhes é proposto.
A Rede de Sinalização e Registo: aberta a todos os que
possam ter um contributo a dar relativamente à mobili-
zação dos jovens a nível local, podendo integrar organi-
zações como IPSS, ONG, juntas de freguesia, associações
tégia (2017-2018) será direcionada para: melhorar o juvenis, etc. (entidades com disseminação a nível de todo
programa de apoio dos serviços através das parcerias já o território continental).
estabelecidas, expandir a gama de serviços e programas A Rede de Orientação e Atendimento: inclui os parceiros
disponíveis e acompanhar projetos-piloto de serviços e com um papel relevante nestas funções como os serviços
programas para a implementação, ao nível local, de per- de emprego e formação profissional do IEFP, I.P, os Cen-
cursos que respondam às necessidades dos grupos de tros Qualifica, as Lojas Ponto Já ou os Gabinetes de Inser-
jovens mais desfavorecidos. A segunda fase da estra- ção Profissional.
tégia (2019-2020) será baseada nas práticas e lições A Rede de Parceiros Nucleares: integra todos os parceiros
retiradas da implementação das atividades da primeira que operacionalizam medidas e programas para onde os
fase e servirá para: procurar criar condições para expan- jovens são encaminhados para obterem uma resposta de
dir o apoio individualizado e personalizar os percursos e emprego, estágio, educação ou formação.
reformar as disposições institucionais e os mecanismos Todos estes parceiros estão ligados por uma plataforma
de coordenação para melhorar a disponibilização de ser- informática comum para facilitar a articulação e até per-
viços integrados. ceber o que aconteceu aos jovens que foram encaminha-
O documento em causa realiza uma análise da situação dos para respostas concretas.
destes jovens desencorajados e mais afastados do siste- Coordenação Nacional GJ – função atribuída ao IEFP, I.P, a
ma. Recorrendo a várias fontes, entre os quais microda- quem compete dinamizar as redes e gerir a plataforma in-
dos do INE e Eurostat, peritos da OIT elaboraram um levan- formática e as necessidades de formação/informação dos
tamento quando à distribuição geográfica destes jovens, parceiros em função dos níveis de responsabilidade. •
os seus níveis de ensino, bem como a sua situação e as
razões que os levam ao afastamento do mercado de tra-
balho e do sistema de ensino. No fundo, procurou traçar-
-se um perfil destes jovens NEET em Portugal.
Os grupos identificados como mais particulares e a se- Para mais informações
rem avaliados com perspetivas diferentes são: sobre a Garantia Jovem:
• Desempregados de curta duração. https://www.garantiajovem.pt/
• Desempregados de longa duração.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 61
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO
Ferramentas on-line
para jovens
FERNANDO FERREIRA, ENGENHEIRO INFORMÁTICO FERNANDO FERREIRA; OPTICREATIVE
O AMBIENTE GRÁFICO
Para iniciar o trabalho no Canva, aceda à Internet e ao web-
site www.canva.com.
O acesso pode ser feito de diversas formas, como usar a con- CRIAR UM DESIGN
ta de Facebook, o Google ou um e-mail. Se optar pela opção A variedade de sugestões de design é imensa e está orga-
«e-mail», preencha o ecrã de registo. nizada por várias temáticas, como: posts de redes sociais,
documentos, blogues e eBooks, materiais de marketing
eventos e anúncios. Iremos aqui explorar o projeto «Capa
para Facebook», o qual permitirá demonstrar a maior parte
dos comandos do Canva.
62 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
Ferramentas on-line para todos 3
Botão Layouts
Aqui pode optar por um dos layouts apresentados, algo que
deve fazer antes de inserir imagens ou escrever, pois ao acio-
nar um layout perde todos os objetos inseridos na página.
Botão Texto
Botão Pesquisar Insira texto na forma acabada de criar no passo anterior.
Aqui escreva o seu termo para pesquisa e defina o local onde Para isso, basta selecionar e arrastar para o local desejado.
procurar: todos, fotos ou ilustrações. Aí pode escrever o texto e definir algumas opções:
Opte por uma das imagens apresentadas e arraste-a para a Botão Fundo
zona de trabalho: Explore os fundos vendo o efeito, para confirmar se está de
• Usando o rato, pode redimensionar e rodar a imagem. acordo com os seus gostos. Existem fundos com cores, pa-
• No canto superior esquerdo do ecrã possui um ícone que drões e imagens.
lhe permite mudar as cores:
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 63
3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO
OUTRAS OPÇÕES
Se desejar criar outras versões do projeto, por exemplo para
apresentar no seu trabalho ou escola, para seleção, pode op- CONCLUSÃO
tar pelo botão «Copiar esta página», ficando com uma dupli-
cação onde poderá proceder a algumas alterações. Se vai criar projetos para fins As ferramentas de design do
comerciais, e para que lhe Canva são muito fáceis de
seja possível usar elementos usar. Só precisa, na maior
premium, ou seja, elementos parte dos casos, de arrastar e
avançados do Canva, terá de largar. A nossa biblioteca tem
adquirir uma licença, o que milhares de layouts profissio-
lhe é explicado aquando do nais e mais de um milhão de
download do projeto. imagens, gráficos e ilustra-
No Canva o utilizador pode ções à sua escolha.
editar e guardar o seu design Contamos, num futuro artigo,
Para gravar o trabalho tem de recorrer ao comando «Fichei- as vezes que desejar. Sempre voltar ao Canva para explorar
ro/Guardar». Para gerar um ficheiro, tem várias opções: par- que criar um novo design este mais algumas das suas po-
tilhar, download. irá aparecer na secção «Os tencialidades.
meus designs» da sua página Bom trabalho!
inicial do Canva.
64 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
EUROPA EM NOTÍCIAS 4
ESTRATÉGIA DA UE
PARA A JUVENTUDE
– PRÓXIMOS PASSOS!
ANA MARIA NOGUEIRA, ANA.NOGUEIRA@EP.EUROPA.EU OPTICREATIVE
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 65
4 EUROPA EM NOTÍCIAS
66 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
Estratégia da UE para a juventude – próximos passos! 4
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 67
4 EUROPA EM NOTÍCIAS
EUROFLASH
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO (UAB), INVESTIGADOR, CONSULTOR OPTICREATIVE
SÉNIOR (CEI/ISCTE-IUL; EUROPE DIRECT)
68 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
4
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 69
5 DIVULGAÇÃO | BREVES
TOME NOTA
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO (UAB), INVESTIGADOR, CONSULTOR OPTICREATIVE
SÉNIOR (CEI/ISCTE-IUL; EUROPE DIRECT)
NOVO QUADRO EUROPEU PARA Para avaliar a qualidade e a eficácia de um programa de apren-
A QUALIDADE E A EFICÁCIA DA dizagem, o quadro propõe sete critérios relativos à aprendiza-
APRENDIZAGEM gem e às condições de trabalho:
70 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
5
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 71
5 DIVULGAÇÃO | BREVES
SABIA QUE
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO (UAB), INVESTIGADOR, CONSULTOR OPTICREATIVE
SÉNIOR (CEI/ISCTE-IUL; EUROPE DIRECT)
72 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
A certificação como Parceiro de Excelência para a Aprendizagem é um reconhecimento
atribuído às entidades que, no âmbito dos Cursos de Aprendizagem, desenvolvem uma
formação prática em contexto de trabalho de elevada qualidade. Assim, o IEFP dá relevo a
quem mais e melhor contribui para a formação e empregabilidade dos jovens portugueses.
Venha fazer parte da Rede e tornar-se também num Parceiro de Excelência.