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Embora seja comum apresentarmos as teses de defesa como as adotadas pelos advogados
criminalistas, não se pode duvidar que, por vezes, a atuação do profissional é acusar (crimes de
ação penal privada ou mesmo atuando como assistente do ministério público nos crimes de ação
penal pública). A acusação preocupa-se em provar os elementos do crime (fato típico, fato
antijurídico e agente culpável), em zelar pela regularidade do rito processual (evitando-se assim
alegações de nulidade) e em prevenir a extinção da punibilidade (acelerando o andamento da
ação e evitando o desaparecimento de provas). A defesa, por outro lado, deve ser exercida com
a máxima técnica e, nesse sentido, deve observar se há qualquer causa de exclusão dos
elementos do crime, nulidades processuais ou hipóteses de extinção da punibilidade. A tabela
em anexo enumera, de forma organizada, 55 teses de defesa criminal (principais).
Voluntariedade é o domínio da mente sobre o corpo. Se você está sentado, nesse instante, lendo
esse manual, então é porque sua mente controla seu corpo (inclusive seus olhos) e é possível
ficar assim, quieto, simplesmente lendo... Isso se chama voluntariedade. Obseve que
voluntariedade não é sinônimo de vontade. É possível fazer algo mesmo sem vontade, tal como
tomar um remédio amargo para ficar curado de uma doença. Trata-se, nesse exemplo, de uma
conduta voluntária (mente controla o corpo para levar o remédio à boca), mas realizado sem
vontade (sem prazer, sem divertimento imediato).
quase um jogo adolescente). O agente que mata alguém pensando ser um animal de caça não
tem dolo de homicídio (erro de tipo essencial); aquele que mantém relação sexual com menor
de 14 anos pensando ser maior não tem dolo de estupro de vulnerável (erro de tipo essencial);
aquele que mata Pedro pensando ser João tem dolo de homicídio equivocando-se apenas sobre
a pessoa da vítima (erro de tipo acidental); aquele que atira na esposa e depois enterra,
pensando ter causado a morte pelo disparo, mas provocando a morte por asfixia, tem dolo de
homicídio errando apenas quando mo modo (erro de tipo acidental), aquele que furta bijuterias
pensando serem diamantes tem dolo de furto, sendo que o erro recai sobre o objeto furtado
(erro de tipo acidental) e assim por diante.
Importante destacar que apenas a coação moral está expressamente prevista em Lei (CP, art. 22
e 65, III, c). A coação física é criação doutrinária, unicamente doutrinária. Os sujeitos da coação
são: coator (quem exerce a coação); coato (quem sofre a coação) e a vítima (quem sofre a
conduta criminosa praticada pelo coato). Na coação irresistível o coato não responde por nada;
na coação moral resistível, o coato responde pela conduta criminosa praticada contra a vítima,
mas tem direito a uma atenuante penal.
Observe, portanto, que apenas a obediência à ordem de superior hierárquico perfeita é que é
capaz de exclui a culpabilidade; a imperfeita serve apenas para diminuir a pena. Destaque-se,
ainda, que se nenhum dos elementos estiverem presentes, não há que se falar no instituto da
O.O.S.H, devendo o agente responder pelo delito e pela pena correspondente caso não seja
possível apresentar nenhuma outra tese de defesa.
30. INCOMPETÊNCIA
A jurisdição tem limite na competência e fundamento no Princípio Constitucional do Juiz Natural
(CF, art. 5º, LIII), sendo que os atos de juiz incompetente podem gerar nulidade. A incompetência
absoluta (ratione materiae e ratione personae) pode ser arguida a qualquer tempo e grau de
jurisdição. A chamada incompetência relativa (ratione loci) tem momento oportuno para ser
alegada, mas poderá ser reconhecida de ofício pelo juiz até a sentença, eis que, no processo
penal, vigora o entendimento que a competência territorial também é matéria de ordem
pública. Sobre o tema, importante a leitura do art. 567 do Código de Processo Penal: “a
incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for
declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente”. Boa parte da doutrina entenda que o
dispositivo citado só pode ser aplicado no caso de incompetência relativa.
Quanto aos crimes plurissubjetivos, a jurisprudência tem entendido que não é necessário a
narrativa pormenorizada de cada agente na prática criminosa, podendo tais circunstâncias
serem esclarecidas durante a instrução processual. Todavia, é fundamental que a denúncia
descreva o liame subjetivo que interliga cada um dos concorrentes na prática criminosa.
35. AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÕES NECESSÁRIAS
O réu tem o direito de ser citado regularmente. Se ausente ou irregular a citação, o processo é
nulo, pois prejudicada a ampla defesa em sua face de autodefesa. A nova redação do art. 360
do CPP determinou que mesmo o réu preso deve ser citado pessoalmente. O advogado, da
mesma forma, deve ser intimado para que tome ciência e participe do processo, dando assim
impulso à regular marcha processual.
37. ANISTIA
É hipótese de clemência dada pelo Poder Legislativo através de Lei. Crimes hediondos e
equiparados não admitem anistia. É possível a concessão da anistia em qualquer fase do
processo e mesmo durante a execução penal ou na fase pré-processual (inquérito policial). A
anistia tem efeitos ex tunc¸ ou seja, o beneficiado pela Lei de Anistia não é considerado primário
caso venha a praticar outro crime, ainda que seja o mesmo crime pelo qual foi anistiado.
38. GRAÇA
Também é hipótese de clemência, só que concedida pelo Poder Executivo. Para alguns autores,
a graça é também chamada de indulto individual. Tem natureza singular, beneficiando um
condenado ou um pequeno grupo de condenados, individualizados um a um. É concedido pelo
Presidente da República através de decreto e só se admite após o trânsito em julgado da
sentença condenatória, ou seja, só cabe “graça” na fase da execução penal. Ao contrário da
anistia, tem efeitos ex nunc, ou seja, o agente beneficiado pela graça será considerado
reincidente caso venha a praticar novo delito após a concessão do benefício. Também não pode
ser usada nos crimes hediondos e nos equiparados.
39. INDULTO
Também conhecido como “graça coletiva”, é causa de extinção da punibilidade concedida pelo
Presidente da República através de Decreto. Diferencia-se da graça (ou indulto individual)
porque é concedido para grupo de pessoas que preenchem determinados requisitos expressos
no decreto de indulto, sem qualquer individualização “um a um”. O indulto poderá ser parcial
ou total. Se for total, é causa de extinção da punibilidade; se parcial, servirá apenas para diminuir
a pena. O indulto parcial é chamado de comutação da pena. Aproxima-se da graça, eis que só
pode ser concedido após o trânsito em julgado da sentença condenatória e tem efeitos ex nunc,
não afastando a reincidência.
O perdão aceito não gera reincidência. Poderá ser proposto pelo próprio querelante ou por
procurador (advogado) com poderes especiais (procuração com poderes expressos para a
concessão do perdão); poderá ser aceito diretamente pelo querelado ou por procurador com
poderes especiais para aceitação. Poderá ocorrer dentro do processo (através de petição ou em
audiência) ou fora. Havendo aceitação fora do processo, ela poderá ocorrer de forma tácita ou
expressa. Se tácita, admite-se todos os meios de prova válidos em direito para demonstrar
comportamento incompatível com o desejo de continuar a ação penal; se escrita, deverá ser
assinada pelo querelante e pelo querelado ou por seus procuradores com poderes especiais
para isso. Conforme o Código Penal, não configura perdão tácito o recebimento de indenização
correspondente ao fato crime objeto da ação penal privada.
42. RENÚNCIA
Fruto do princípio da oportunidade, a renúncia é causa de extinção da punibilidade que afeta
apenas os crimes de ação penal privada ordinária. Propor a queixa-crime não é obrigação da
vítima, é faculdade. Querendo, oferta; não querendo, renuncia. Portanto, só cabe o instituto da
renúncia antes do início da ação penal. Uma vez iniciada a ação penal, o instituto aplicável é o
perdão do ofendido (vide item anterior).
A renúncia poderá ser expressa ou tácita: a primeira se prova mediante documento escrito e
assinado pelo querelante ou por procurador com poderes especiais; a segunda admite todos os
meios de provas lícitos. Em razão do princípio da indivisibilidade aplicável aos crimes de ação
penal privada, a renúncia dada a um dos querelados a todos beneficia, independentemente de
aceitação. Trata-se, como se vê, de instituto com natureza unilateral, entrementes, não é
necessário que a parte beneficiada pela renúncia aceite-a.
43. PEREMPÇÃO
É a última das causas extintivas da punibilidade aplicável apenas aos crimes de ação penal
privada ordinária. Conforme o art. 60 do Código de Processo Penal considerar-se perempta a
ação (1) quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos; (2) quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade,
não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias,
qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36 do CPP; (3) quando
o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que
deva estar presente; (4) quando o querelante deixar de formular o pedido de condenação nas
alegações finais; e (5) quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar
sucessor. Uma vez declaração à extinção da punibilidade pela perempção, não poderá o
querelante propor nova ação penal, tal como ocorre com outros ramos do Direito. Extinta a
punibilidade, resta proibida a revisão criminal in pejus.
Resumo dos itens 41, 42 e 43:
44. PRESCRIÇÃO
A prescrição é um dos temas mais odiados pelos graduandos em Direito. Não deveria, pois, é
tema fácil, ainda mais após a extinção da chamada “prescrição da pretensão punitiva retroativa”
e, por conseguinte, da prescrição virtual (ou antecipada). Tudo na vida prescreve, pois tudo tem
um tempo lógico e racional para ser exercitado. Até mesmo o ódio prescreve e, por vezes, o
amor também. Todavia, artificialmente, a CF/88 considera como imprescritível o delito de
racismo (art. 5º, XLII) e as ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV).
Praticado o crime, surge para o Estado o direito de julgar, de decidir sobre a culpa ou a inocência
de alguém. Chama-se a isso de “direito de punir” ou de jus puniendi, que representa a pretensão
punitiva; uma vez condenado, o Estado traz para si outro direito: o de fazer valer suas
condenações, impondo a condenação. Esse novo direito representa a pretensão executória.
Ambas as pretensões prescrevem (prescrição da pretensão punitiva – PPP – e prescrição da
pretensão executória – PPE, respectivamente). A tabela abaixo ilustra o tema:
A prescrição da pretensão punitiva admite duas modalidades ou espécies: a ordinária e a
intercorrente. A primeira é calculada da data do crime (via de regra 1) até a data da sentença
condenatória transitada em julgado para a acusação (respeitados os marcos interruptivos 2); a
segunda se faz presente apenas durante o julgamento dos recursos exclusivos da defesa. Duas
observações são necessárias: (1) quando se inicia a contagem do prazo prescricional e de que
forma; e (2) quais os marcos interruptivos da prescrição da pretensão punitiva ordinária. Vamos
por partes.
(1). Versa o art. 111 do Código Penal que a prescrição, antes de transitar em julgado a sentença
final, começa a correr: I - do dia em que o crime se consumou; II - no caso de tentativa, do dia
em que cessou a atividade criminosa; III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
permanência; IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro
civil, da data em que o fato se tornou conhecido; e V - nos crimes contra a dignidade sexual de
crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a
vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.
Merece atenção especial o inciso V do art. 111 do CP tendo em vista a sua recente inclusão no
Código Penal (maio de 2012). A modificação visa impedir a prescrição de crimes sexuais
praticados contra crianças e adolescentes que apenas revelaram seu interesse de ver
processado o agente após a maioridade.
(2). Por outro lado, afirma o art. 117 do diploma penal que o curso da prescrição interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II - pela pronúncia; III - pela decisão confirmatória
da pronúncia; IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V - pelo
início ou continuação do cumprimento da pena; e VI - pela reincidência. Desataque-se que a
sentença absolutória recorrível não interrompe o prazo prescricional. Uma vez interrompido o
curso do prazo prescricional, a contagem é reiniciada “do zero”, salvo na hipótese do inciso V,
em que o prazo prescrição deverá ser recalculado pelo tempo que resta a cumprir da pena.
A base de cálculo de cada espécie de prescrição está apontada no gráfico acima. Uma vez
conhecido a base de cálculo, basta procurar o prazo prescricional na tabela constante do art.
109 do CP. Vejamos um exemplo: quais os prazos prescricionais para um crime de furto simples
(art. 155), em que o agente foi condenado definitivamente a pena de 01 ano de reclusão,
cumpriu 05 meses e fugiu, estando atualmente foragido?
O delito de furto tem pena mínima de 01 e máxima de 04 anos, abstratamente considerado,
conforme preceito secundário do art. 155 do Código Penal. Portanto, a prescrição da pretensão
punitiva ordinária (PPPO) terá como base de cálculo 04 anos (máximo da pena em abstrato), o
que implica em afirmar que a prescrição ordinária será de 08 anos (prescrição correspondente
a base de cálculo igual a 04 anos, conforme art. 109 do CP); a prescrição da pretensão punitiva
intercorrente (para julgar os recursos da defesa), terá como base de cálculo 01 ano (pena
concretamente fixada) o que implica em prazo prescricional de 04 anos (conforme tabela); o
prazo que o Estado brasileiro tem para executar a pena total de 01 ano – prescrição da pretensão
executória do total da pena imposta – tem por base de cálculo também 01 ano (pena
concretamente fixada), logo, a prescrição também será de 04 anos. Finalmente, tendo o agente
cumprido 05 meses e restando a cumprir 07 meses, a prescrição da pretensão executória do que
resta a cumprir da pena será de 03 anos, para tanto se considerando a base de cálculo de 07
meses e a tabela de prazos prescricionais constantes na Lei.
Importante destacar que os prazos prescricionais podem sofrer diminuição pela metade,
conforme seja o delito praticado por pessoas maior ou igual a 18 anos e menor que 21 anos na
data do fato ou por pessoa maior que setenta anos da data da sentença. Os prazos da prescrição
da pretensão executória (apenas esses) podem sofrer aumento em um terço se o agente for
reincidente (específico ou não).
A pena restritiva de direitos prescreve no mesmo prazo da pena privativa de liberdade que foi
substituída e as penas de multa segue a regra do art. 114 do Código Penal (02 anos, se única;
conforme a privativa de liberdade, se conjunta).
45. DECADÊNCIA
O instituto da decadência é bem mais simples que o da prescrição. Em princípio porque a
decadência não pode ser interrompida e nem suspensa (ao contrário da prescrição). Além disso,
o prazo decadencial é de 06 meses (fixos), não se ampliando em razão da reincidência e nem
diminuindo em razão da idade do agente. O cômputo do prazo decadencial (bem como do
prescricional) é realizado a partir do dia do começo, ou seja, se o prazo se iniciou no dia 20 de
janeiro de 2012, terminará no dia 19 de julho de 2012.
A decadência é aplicável aos crimes de ação penal privada ordinária (exclusiva e personalíssima)
e aos crimes de ação penal pública condicionada à representação. Na verdade, o que decai é o
direito de oferecer queixa-crime (ação privada) e/ou de oferecer representação (ação
condicionada). A instauração de inquérito policial não interrompe o prazo decadencial.
46. RETRATAÇÃO
A retratação não pode ser confundida com “pedido de desculpas”. Quem pede desculpas pede
alguma coisa, sendo que a parte oposto concorda ou não com pedido, podendo ou não aceitá-
lo. Essa lógica não se aplica ao instituto da retratação que é ato unilateral, ou seja, depende
unicamente da vontade de quem se retrata e não da vontade daquele para quem a retratação
é dada.
No Código Penal, apenas três crimes admitem retratação como tese defensiva (causa de
extinção da punibilidade): calúnia (CP, art. 138), difamação (CP, art. 139) e o delito de falso
testemunho (CP, art. 342). Observe-se, portanto, que os delitos de injúria e desacato não
admitem o instituto em estudo. A retratação só tem validade jurídica, se e somente se, houver
sido concedida antes da sentença condenatória correspondente ao crime de calúnia e difamação
e antes da prolatação da sentença no processo em que as inverdades foram ditas, no caso de
falso testemunho. Por derradeiro, cumpre destacar que a retratação é ato voluntário do agente,
não tendo efeito se houver sido extraída por coação.
Por derradeiro, cumpre destacar que alguns crimes não admitem tentativa. Para facilitar, basta
imaginar que a aprovação na OAB o tornará um rei e que, quando isso acontecer (e apenas
quando isso acontecer) você poderá tomar uma cervejinha com seus amigos. A verdade é que,
por hora, “cchoup é coisa de rei”, senão vejamos:
Caso o resultado do aumento proporcional da pena em 1/6 a 1/2 resulte em montante maior do
que aquele que seria encontrado pela “soma simples das penas”, deverá o magistrado deixar de
aplicar o sistema da exasperação e aplicar o sistema do cúmulo material. Nessa hipótese, fala-
se em “concurso material benéfico”. Sobre concurso de pessoas, vide o gráfico na próxima
página.