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8/9/2018 A recusa da Misericórdia | Frithjof Schuon

A recusa da Misericórdia

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Mais um extrato de Schuon, complementando o do post anterior, ao qual se segue imediatamente no texto de
origem:

Já se disse que o homem moderno perdeu o senso do pecado; podemos explicitar de que se trata sublinhando
o fato de que ele não mais tem o sentimento de sua pequenez ou que ele é insensível a todas as violações que
a decadência de sua natureza provoca – em suma, que ele se tornou insensível a ponto de estar contente com
si mesmo e de não ter mais nenhuma consciência da ambiguidade de sua condição. A sombra vazia dessa
consciência ele chama de “angústia”, e ele odeia todos aqueles que, tendo tal consciência e aceitando as
consequências positivas que ela implica, escapam da “angústia” e por isso mesmo da “revolta”; esses dois
complexos, ele os quereria universais, porque está na natureza do homem não querer se perder sozinho.

A responsabilidade pode ser total, mas não absoluta; é o que explica a intervenção da Misericórdia celeste;
esta basta amplamente para satisfazer o argumento de nossa fragilidade. Há um ponto em que o homem é
sempre inteiramente responsável: é a recusa da Misericórdia; e essa recusa, eco longínquo do orgulho de
Lúcifer, é o que provoca o mais certamente a queda nos estados infernais. De resto, o que nos julga é nossa
norma que trazemos em nós mesmos, e que é uma imagem do cosmo inteiro e ao mesmo tempo do Espírito
divino que irradia em seu centro; o ímpio crê que basta fechar os olhos para lhe escapar, que basta fazer de
conta que não é homem, em suma, viver abaixo de si mesmo; ele quer ignorar que ser homem é passar pela
porta estreita, e ele recusa a Misericórdia que quer lhe abrir a passagem.

(Frithjof Schuon, Trésors du Bouddhisme, p. 64 e 65, Nataraj, França, 1997.)

https://fschuon.net/2015/04/13/633/ 1/1

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