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Diretor Técnico: Octavio Augusto Camargo Conceição
Diretor Administrativo: Nóra Angela Gundlach Kraemer
CENTROS
Estudos Econômicos e Sociais: Sônia Rejane Unikowski Teruchkin
Pesquisa de Emprego e Desemprego: Roberto da Silva Wiltgen
Informações Estatísticas: Adalberto Alves Maia Neto
Informática: Luciano Zanuz
Editoração: Valesca Casa Nova Nonnig
Recursos: Alfredo Crestani
É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são proibidas.
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Resumo
O objetivo deste artigo é o de analisar o comportamento das exportações do Rio Grande do Sul em
2008. Nele mostra-se que os elevados preços das commodities agrícolas, pelo menos até meados do
ano, foram os principais responsáveis pelo bom desempenho das vendas externas do complexo soja,
principalmente farelo e óleo, das carnes, especialmente a de aves, e dos cereais, como o arroz.
Também como resultado dos preços das commodities, cresceram bastante as exportações de tratores
e demais máquinas agrícolas. O estudo apresenta ainda uma análise da pauta exportadora do Rio
Grande do Sul entre 1989 e 2008 ressaltando a perda da participação relativa dos produtos intensivos
em trabalho e o aumento da participação daqueles intensivos em recursos naturais.
Abstract
This paper has the purpose analyze the exports behavior in Brazilian state of Rio Grande do Sul in
2008. In it is shown that the high prices of the agricultural commodities, at least even middle of this
year, they were the main responsible for the good performance of the foreign trade of the soy complex,
mainly bran and oil, of the meats, especially the one of the poultries, and of the cereals, as the rice.
Also as a result of the high prices of the commodities, there was a great growth in the exports of
tractors and other agricultural machines. The study still presents an analysis of the group of the exports
in Rio Grande do Sul between 1989 and 2008 standing out the relative participation loss of the labour
intensive products and the increase of the participation of the natural resources intensive products.
Introdução
As exportações gaúchas alcançaram em 2008 o valor de US$ 18,5 bilhões, com um incremento
de aproximadamente 22,9% sobre o ano anterior e um desempenho semelhante ao do Brasil como
um todo, onde as vendas externas atingiram US$197,9 bilhões e tiveram um aumento de 23,2% entre
1 o
os dois períodos considerados . O valor exportado pelo Rio Grande do Sul o colocou em 4 lugar no
ranking nacional, atrás de São Paulo (US$ 57,7 bilhões) Minas Gerais (US$ 24,4 bilhões) e Rio de
* O autor agradece as colegas Beky Macadar, Sonia Teruchkin e Teresinha Bello pelos comentários e sugestões
e aos estagiários Gustavo Carneiro e Paula Pavinatto Alves pelo apoio técnico na elaboração dos dados.
1
Os dados apresentados neste texto, quando não citada nominalmente a fonte, foram obtidos ou elaborados a
partir do Sistema Alice do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
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Janeiro (US$18,7 bilhões). Os maiores compradores da produção originária do Estado foram a União
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Européia (19% do total), os Estados Unidos (13%), a China (10%) e a Argentina (9%) .
O valor exportado pelo Estado, que representou um recorde em termos nominais, pode ser
considerado como um bom desempenho, uma vez que o crescimento esperado, em dólares, para o
comércio internacional em 2008 é de 22,8% (Evolução...,2009). É possível até que a essa taxa de
crescimento seja de fato menor dada a desaceleração da economia mundial nos últimos meses do
ano. De qualquer forma, mesmo que esta previsão venha a confirmar-se o Rio Grande do Sul – e o
Brasil – terão, grosso modo, mantido suas participações no comercio mundial de bens. Por outro lado,
é importante ficar claro que esse resultado obtido pelo Estado não significa necessariamente um
crescimento na lucratividade dos exportadores. Isto por pelo menos dois motivos, quais sejam, o
processo de valorização do real, que só foi invertido nos últimos meses do ano, e o expressivo
crescimento do preço de alguns componentes dos custos de produção – por exemplo, o preço dos
insumos para o cultivo de soja e o preço do milho para a alimentação de aves e suínos.
Complexo Soja
As exportações gaúchas do complexo soja em 2008 atingiram US$ 3,0 bilhões, o que significou
um crescimento nominal da ordem de 17 % frente ao ano anterior (tabela 1). Esse resultado se deveu
exclusivamente ao excelente comportamento dos preços, que aumentaram em 56% e, assim, mais
que compensaram a queda no volume, de 25%. Essa produção foi direcionada basicamente para a
China (44%) e para a União Européia (24%). Quando se desagregam os dados do complexo soja,
observa-se que os grãos tiveram um desempenho bem modesto, pois o volume comercializado caiu
36% e a receita em dólares só superou a do ano anterior (em 1%) porque os preços evoluíram 58%.
Já o farelo e o óleo tiveram comportamentos semelhantes: a variação do valor foi de cerca de 46% em
cada um, resultado este “puxado” pela evolução dos preços, crescimento de 47 % no caso do farelo e
de 49 % no caso do óleo, uma vez que o volume comercializado caiu em 1% e 2%, respectivamente.
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Cabem aqui duas observações: a) Como a União Européia se relaciona comercialmente com o resto do mundo
como se fosse um único país, assim ela será tratada neste texto. Por razões opostas, Hong Kong, que pertence
à China, será considerada como uma nação independente. Vide a respeito nota 4; b) No total das exportações
do Rio Grande do Sul está incluída a venda da plataforma marítima P-53 construída pela empresa Quip S.A. na
cidade de Rio Grande e enviada posteriormente para a Petrobrás na Bacia de Campos. Essa transação, no
valor de US$ 862 milhões, foi oficializada sob um regime especial de exportação, denominado REPETRO, e
computada como uma venda gaúcha para os Estados Unidos. Se esse valor fosse subtraído da pauta
exportadora do Estado, esta atingiria em 2008 a cifra de US$ 17,6 bilhões, com crescimento nominal de 17,2%
sobre o ano anterior. Também nesse cenário, os maiores compradores de produtos do Rio Grande do Sul
seriam a União Européia, com 20% do total, a China com 11% e os Estados Unidos e a Argentina, com 9%
cada um.
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Os maiores compradores de grãos foram a China (58%) e a União Européia (21%), de farelo a União
Européia (50%) e a Austrália (14%) e de óleo novamente a China (56%), agora secundada, de longe,
pelo Irã (12%).
Na safra 2007-2008, o Rio Grande do Sul colheu 7,6 milhões de toneladas de soja. Este volume,
embora tenha sido o terceiro da história, ficou cerca de 22% abaixo do registrado no ano-safra
anterior. Por isto, o Estado não pôde aproveitar ainda mais o ótimo comportamento dos preços dessa
oleaginosa, que se mantiverem em patamares elevadíssimos durante pelo menos até julho, quando
atingiram o recorde histórico: US$ 16,58 o bushel – equivalente a 27,2 quilos – na bolsa de Chicago.
O comportamento dos preços da soja e seus derivados foi resultado de uma conjugação de
fatores, dentre eles: a crescente demanda por alimentos devido à expansão econômica mundial,
principalmente nos países emergentes, cujo exemplo mais notável é o caso da China que nos
próximos dez anos deverá incorporar 300 milhões de pessoas à sua classe média (Mendes, 2008); o
aumento dos custos, como o dos fertilizantes e o dos transportes, em função do preço do petróleo; a
utilização de grãos para a produção de biocombustíveis, como, por exemplo, o milho para a produção
de etanol nos Estados Unidos; e, por fim, mas não menos importante, a especulação financeira na
Bolsa de Chicago.
Este último ponto merece um “parágrafo à parte”. Nos últimos anos, com os juros baixos e/ou
declinantes nos Estados Unidos, Europa e Japão, os agentes financeiros, em especial os dos grandes
fundos de investimento, passaram a buscar outras fontes de aplicação que não os fundos de renda
fixa lastreados no Tesouro desses países. No início da crise imobiliária nos Estados Unidos e ainda
sem uma idéia muito clara da intensidade da mesma, esses investidores continuaram na busca de
mais rentabilidade por meio da diversificação de seus ativos. Daí a aplicação nos mercados futuros de
commodities agrícolas, cujas análises de mercado apontavam para uma relativa escassez de oferta
no médio e longo prazo. Em 2007, por exemplo, a bolsa de Chicago negociou 4,3 bilhões de
toneladas de soja, ao passo que, neste mesmo ano, a produção física mundial dessa oleaginosa
alcançou 220 milhões de toneladas (Risco..., 2008.). Mesmo após a reversão dessa tendência altista,
a partir de agosto/setembro de 2008 quando a crise financeira passou a contaminar a economia real,
os preços das commodities, de modo geral, ainda mantiveram-se em patamares superiores a seus
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valores históricos .
Deve-se ressaltar, no entanto, que esse ganho dos preços em dólares não se transferiu na íntegra
para os produtores de soja, uma vez que, além do referido aumento dos custos de produção, na maior
parte do ano o real manteve-se valorizado, reduzindo as receitas em moeda nacional. Por fim, para
2009 existe toda uma expectativa sobre o comportamento da demanda em função da desaceleração
das principais economias do mundo. Além disso, os produtores estão tendo dificuldade em financiar
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Um estudo da FAO divulgado em meados de 2008 dizia que, da alta recente dos preços dos alimentos, 30% era
devido à especulação financeira. Dada a quantidade de variáveis que interferem na formação desses preços,
fica difícil dimensionar a participação de cada uma. Mas, a se julgar pelos preços da soja em meados e no final
de 2008, pode-se inferir que a especulação “embutida” nos preços dessa oleaginosa era de cerca de 40%
(Brixius, 2008).
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sua próxima safra dada a restrição de crédito que se aprofundou no segundo semestre de 2008.
Também as condições climáticas no início do plantio não têm favorecido os sojicultores. Por essas
razões, dificilmente as exportações do complexo soja em 2009 alcançarão a marca do ano anterior.
Carnes
As exportações gaúchas de carnes e miudezas comestíveis (in natura, ou seja, frescas,
refrigeradas e congeladas) alcançaram US$ 2,2 bilhões em 2008 (tabela 1). Se forem consideradas
também as preparações de carne (carne industrializada, posições 1601 e 1602 da NCM) o total passa
para US$ 2,5 bilhões. Do total da carne in natura comercializada no exterior pelo Rio Grande do Sul, a
carne de aves – basicamente carne de frango – representou cerca de 60% do total, seguida pela
carne suína, que alcançou 30%. Essa produção foi vendida principalmente para a Rússia (31%)
Arábia Saudita (10%) e União Européia (9%).
Carne de aves
O setor exportador da avicultura gaúcha continuou em 2008 uma recuperação já iniciada no ano
anterior, depois da crise de 2006 quando a gripe aviária na Europa e na Ásia e o aparecimento da
doença de Newcastle no Estado provocaram uma queda expressiva nas vendas externas de aves. Em
2008, a receita com a comercialização desse produto no exterior alcançou US$1,29 bilhão, um
resultado 41% superior ao de 2007. Os preços subiram 25% e o volume 12%. Os principais
compradores foram a Arábia Saudita (17% do total, principalmente frango inteiro) e o Japão (12 % do
total, principalmente frango em pedaços, isto é, cortes).
Ao longo de 2008, a maior preocupação dos exportadores de frango foi o crescimento do preço do
milho, principal formador do custo de produção na avicultura. Isto, associado à valorização do real até
meados do ano, retirou grande parte da lucratividade advinda do aumento do preço em dólares.
Quando a crise internacional se intensificou, ainda num primeiro momento cresceram as vendas
externas de frangos. Na verdade, de frangos inteiros, direcionados principalmente aos países árabes,
apesar da queda do preço do petróleo. Nesse período, a desvalorização do real tornou mais
competitivo o produto brasileiro e disso se aproveitaram os exportadores de frango para expandir
mercados ao redor do mundo (Esteves,2008). Para o Oriente Médio, por exemplo, onde se
concentram pelo menos três grandes importadores (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e
Coveite) entre setembro e novembro de 2008 as exportações de frangos inteiros apresentaram um
crescimento de 84% frente a igual período do ano anterior. Já na exportação de frangos em pedaços,
mais direcionada aos países desenvolvidos, a retração da demanda foi imediata, sendo a
comercialização externa praticamente a mesma entre setembro e novembro de 2008 e o mesmo
período do ano anterior. Como o Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango e, portanto,
formador de preços nesse mercado, as associações representativas dos produtores chegaram ao final
do ano pedindo aos seus liderados uma redução na produção com o intuito de segurar a queda dos
preços (Freio..., 2008). Ainda no final do ano uma noticia alvissareira: a China abriu o mercado para o
produto brasileiro. Na verdade, parte da produção exportada pelo Brasil para Hong Kong era
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redirecionada à China . Agora, no entanto, existe uma abertura efetiva, o que amplia sobremaneira as
possibilidades de novos negócios.
Quanto ao ano de 2009, os avicultores gaúchos, como todos os produtores, estão apreensivos.
Ao mesmo tempo em que se perguntam sobre a profundidade e a extensão da crise internacional, têm
a esperança de, ao menos, repetir o resultado de 2008, pois acreditam que o gasto com alimentação
é o ultimo corte que o consumidor faz no seu orçamento.
Carne suína
As vendas externas de carne suína – fresca, refrigerada e congelada – atingiram, em 2008, o
valor de US$ 682 milhões. Esse resultado superou em 7% o do ano anterior e deveu-se
exclusivamente ao comportamento dos preços que subiram 34% e mais que compensaram a queda
de 21% no volume embarcado. Como soe acontecer, a Rússia foi quase o único mercado comprador,
absorvendo 88% das exportações de carne suína. Seguiram-na, de longe, Hong Kong com 4% e a
Argentina com 3%.
A ótima evolução nos preços da carne suína deveu-se a uma demanda relativamente aquecida
até meados do ano e, principalmente, ao crescimento vertiginoso nos preços do milho e da soja,
utilizados como matérias-primas na ração dos suínos. A partir de agosto, houve mercados que
postergaram suas importações na esperança de uma queda mais acentuada do real frente ao dólar.
Decisiva, no entanto, foi a retração da demanda que, via de regra, esteve associada à falta de crédito
disponível por parte dos importadores, como foi o caso da Rússia.
Para 2009, como não poderia deixar de ser, a apreensão domina os exportadores de carne suína.
A esperança reside no aumento da competitividade externa, devido à queda no preço do milho e à
desvalorização cambial, além da possibilidade de abertura para o País de dois novos grandes
mercados que vêm sendo “trabalhados” há muito tempo: o do Japão e o da China (Exportador...,
2008).
Carne bovina
As vendas externas de carne bovina in natura – fresca, refrigerada e congelada – apresentaram
um crescimento de 15% em 2008 frente ao ano anterior. Foram US$ 110 milhões contra US$ 96
milhões. O crescimento da receita se deveu à elevação dos preços, de 39%, uma vez que o volume
se retraiu em 17%. Os principais mercados compradores desse produto foram a Rússia, com 18% do
total, o Chile com 12% e Hong Kong com 9% . O preço da carne bovina no mercado externo seguiu a
alta generalizada das commodities, enquanto a queda no volume embarcado resultou da escassez de
animais para abate, cujas causas foram, segundo o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do
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Hong Kong é uma região administrativa especial da República Popular da China. Possui alto nível de
autonomia, inclusive no que diz respeito à sua política comercial. Apenas a defesa nacional e as relações
diplomáticas são de responsabilidade do governo central de Pequim.
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Rio Grande do Sul – Sicadergs – a seca de 2004 e 2005, o aumento do abate de matrizes em 2006 e
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a exportação de gado em pé nos últimos anos ( Nunes, 2008) .
Em relação a 2009, além de uma expectativa favorável quanto ao crescimento da oferta estadual
de animais para o abate, pelo menos um representante da indústria frigorífica mostrou-se otimista
também em relação à demanda externa, afirmando que o câmbio desvalorizado aumenta a
competitividade brasileira e, devido à crise mundial, “o que deve diminuir é o consumo de bens
duráveis, não de alimentos” (Esteves 2, 2008).
Fumo
As vendas externas de fumo (e seus sucedâneos manufaturados) do Rio Grande do Sul em 2008
atingiram US$ 2,0 bilhões o que significou uma elevação de 20% sobre o ano anterior (tabela 1). Esse
desempenho foi “puxado” exclusivamente pelo comportamento do preço médio desse produto que
superou em 25% o do ano anterior, pois o volume exportado teve redução de 4%. Os maiores
mercados no exterior foram a União Européia que adquiriu 35% , seguida pela China e os Estados
Unidos que importaram, respectivamente, 18% e 13% da exportação gaúcha de fumo.
O Rio Grande do Sul manteve em 2008 sua tradição de grande exportador de fumo. Do Estado
saíram 70% das exportações nacionais do produto, sendo que o Brasil é atualmente o segundo maior
produtor e o maior exportador mundial de tabaco. O desempenho do preço médio acima referido
aconteceu graças aos baixos estoques mundiais e à qualidade do fumo aqui produzido. Apesar das
campanhas coordenadas pela ONU através da Organização Mundial da Saúde - OMS contra os
malefícios do cigarro acredita-se que apenas daqui a cinco anos o consumo mundial começará a
reduzir. Por isso – e também porque o Brasil é signatário de um acordo na OMS sobre o controle do
tabaco no mundo –, o Ministério de Desenvolvimento Agrário mantém um programa que visa a
substituição dessa cultura na agricultura familiar dos três estados do Sul, os grandes produtores. No
entanto, existem enormes dificuldades na expansão desse programa porque a cultura do fumo tem se
mostrado muito mais rentável frente a outras alternativas, além do que, pela produção dar-se em
sistema de integração com a indústria processadora, existe a garantia da comercialização da safra
(Fumo..., 2008).
Calçados
As exportações gaúchas de calçados – capítulo 2, da NCM, Calçados, polainas e artefatos
semelhantes e suas partes – continuaram em queda ao longo de 2008. A receita obtida nesse ano foi
de US1,21 bilhão e como no ano anterior havia atingido US$ 1,29 bilhão, verificou-se uma queda de
6% (tabela 1). Da receita desse agregado em 2008, 46% foram obtidos em vendas para a União
Européia, 28% para os Estados Unidos e 5% para a Argentina.
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Em 2008 as exportações gaúchas de gado em pé, contabilizadas na posição 0102 da NCM, foram cerca de
16000 animais gerando uma receita de US$ 8 milhões. Ao longo do ano foi constante o embate entre os donos
de frigoríficos e os ruralistas, com os primeiros reclamando das vendas ao exterior de gado em pé e os últimos
afirmando que a quantidade de animais vivos embarcada era muito pequena quando comparada ao total dos
animais disponível para abate (Esteves 1, 2008)
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Para 2009, em que pese a anunciada retração econômica internacional, a indústria calçadista
conta a seu favor com a desvalorização do real que, se permanecer, poderá permitir uma redução do
preço do produto em dólares, o que aumentaria sua competitividade externa.
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A Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação – Agrishow é o maior evento do gênero da América
Latina e vem sendo realizada anualmente, desde 1994, na cidade de Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo.
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O outro motivo, este pelo lado da demanda, é conjuntural. Observe-se que, apesar da indústria
de tratores e demais máquinas agrícolas ter obtido um relativo sucesso na diversificação de
mercados, os grandes compradores desses produtos ainda são os países da América Latina, em
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especial os da América do Sul , devido a questões de logística, como, por exemplo, o custo do
transporte. Afora isso, em 2008, embalados pelo comportamento mundial dos preços das commodities
em geral, esses países ganharam renda para adquirir nossas mercadorias.Ademais, pela quantidade
de recursos que obtiveram no exterior, boa parte deles teve, pelo menos até setembro, uma
valorização de suas moedas nacionais frente ao dólar norte-americano, o que compensou a
valorização do real e manteve competitivos os produtos oriundos do Brasil (Olmos, 2008).
Em 2009 é provável que os fatores conjunturais que ajudaram no bom desempenho das
exportações de tratores e demais máquinas e aparelhos agrícolas atuem no sentido inverso. Isto
porque os preços das commodities deverão estar num patamar bem mais baixo e a fuga de recursos
financeiros dos países em desenvolvimento, se mantida, acarretará a continuidade da desvalorização
de suas moedas registrada nos últimos meses de 2008.
Produtos Petroquímicos
A quase totalidade das exportações gaúchas do capítulo “Plásticos e suas obras” advêm das
resinas produzidas no Pólo Petroquímico de Triunfo. Esse capítulo, o 39 da NCM, teve em 2008 uma
receita de US$ 818 milhões, ou seja, um decréscimo de quase 9% quando comparado ao ano
anterior, onde a receita havia alcançado US$ 894 milhões. Os principais compradores foram a
Argentina, com 39% do total, a União Européia com 21% e o Chile com 9%. Como soe acontecer,
enquanto região, os países da América do Sul foram os maiores responsáveis pelas compras desses
produtos, alcançando 68% do total. Por outro lado, os polímeros de etileno foram as mercadorias mais
comercializadas do capítulo, representando 69% do total, atingindo em 2008 uma receita da ordem de
US$ 565 milhões, um desempenho 12% inferior ao do ano de 2007. Entre esses dois períodos o preço
médio dos polímeros de etileno teve uma alta de 17% mas isto se mostrou insuficiente para garantir
um comportamento positivo do valor, uma vez que o volume comercializado teve uma queda de 25%.
Dado o peso relativo desses polímeros no total do capítulo 39, aqui também a ordem dos maiores
compradores é a mesma e a sua participação no total muito próxima ao verificado no agregado –
Argentina, com 40% , União Européia com 25% e Chile com 11%.
Foram basicamente duas as causas do desempenho negativo dos produtos petroquímicos
exportados pelo Estado: a alta do preço do petróleo, que obrigou os produtores de resinas
petroquímicas a elevarem seus preços e significou uma perda de competitividade do produto gaúcho,
e, entre abril e maio, uma parada programada da Copesul, a central de matérias-primas do Pólo
Petroquímico de Triunfo, que reduziu a oferta dessas mercadorias refletindo-se em toda a cadeia
produtiva.
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Em 2008 os países da América do Sul responderam por 53% do total da receita obtida com as vendas externas
de tratores pelo Rio Grande do Sul e com 76% da receita com as vendas das demais máquinas agrícolas.
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Cabe registrar que nessa área a grande novidade do ano foi a confirmação de que a Braskem, a
maior produtora de resinas termoplásticas da América Latina, deverá implantar no Estado uma
unidade industrial com capacidade de produção anual de 200 mil toneladas de eteno e polietileno
verde e com previsão de entrar em funcionamento no final de 2010. Obtido a partir do etanol da
cana-de-açúcar, o chamado “plástico verde”, apesar de não ser biodegradável, tem vantagem
ecológica porque no período de vegetação da cana a planta absorve gás carbônico da atmosfera,
colaborando assim para a redução do efeito estufa (Klein, 2008). Existe uma ótima expectativa de
demanda para esse produto, principalmente por parte das grandes multinacionais de alimentos e itens
de cuidado pessoal, interessadas na utilização desse material em suas embalagens, associando
assim seus produtos ao ecologicamente correto. Por isso, a Braskem acredita que estará colocando
no mercado externo, principalmente nos países desenvolvidos, 70% de sua produção anual (Bens...,
2008).
Cereais
Dentre os principais produtos exportados pelo Estado em 2008 a melhor performance, sem
dúvida, veio da comercialização dos cereais. Embora não movimente valores próximos aos do
complexo soja ou das carnes, os recursos obtidos com a venda de, basicamente, arroz, trigo e milho
alcançaram US$ 583 milhões, o que significou um crescimento de 277% sobre o ano anterior.
Aumentou tanto o preço médio, em 78%, quanto o volume embarcado, em 112%.
Dos cereais, o melhor desempenho veio através do arroz, cuja exportação alcançou 50% do total
do capítulo. Nesse cereal, a variação nominal do valor alcançou 500%, tendo o preço médio subido
133% e volume 157%. Os maiores compradores foram Benin, Cuba e Senegal com, respectivamente,
24%,16% e 14%. Cabe ressaltar que a África – exclusive Oriente Médio – respondeu por 55% das
aquisições do arroz gaúcho e os países do Caribe por cerca de 20%.
Uma conjugação de fatores explica esse desempenho nas vendas externas de arroz. Pelo lado da
oferta nada poderia ter sido melhor: a safra gaúcha alcançou 7,5 milhões de toneladas, recorde de
produção e de produtividade, tendo esta atingido 7 mil quilos por hectare. Pelo lado da demanda, o
mercado externo desse cereal teve um comportamento semelhante ao de outras commodities
agrícolas, embora com algumas peculiaridades que viabilizaram um crescimento ainda mais
espetacular de seus preços. Primeiro houve uma redução da área plantada com esse cereal, em
benefício de outros produtos que servem também para a produção de biocombustíveis, como a soja, o
milho e a palma (Esteves3, 2008). Com isso os preços subiram. E como o arroz é a ração básica na
alimentação humana de diversos países asiáticos – também os maiores produtores e exportadores
mundiais –, houve uma série de protestos nesses países. Para conter os protestos, governos de
países como a Tailândia, a Índia e o Vietnã, impuseram restrições às vendas externas de arroz o que,
a nível internacional, implicou numa escassez relativa do produto e numa nova alta dos preços. Dessa
conjuntura se aproveitaram os produtores do Rio Grande do Sul – responsáveis por mais de 90% das
exportações brasileiras –, para colocar seu produto no exterior, ampliando alguns mercados e
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conquistando outros. Registre-se, por fim, que o Estado exportou majoritariamente arroz beneficiado,
com maior valor agregado e melhor preço no mercado internacional (Conforme...,2008).
portanto, dados referentes a vinte anos. Por outro lado, num trabalho de 2007, divulgado pelo BNDES,
Fernando Puga agrega as exportações brasileiras em quatro grandes setores, intensivos em (a)
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Recursos Naturais, (b) Trabalho, (c) Escala e (d) Tecnologia Diferenciada e Baseada em Ciência .
Utilizando os dados do MDIC e a classificação proposta por Puga agruparam-se as exportações
gaúchas, de 1989 a 2008, conforme o gráfico1. Nesse agregado consideraram-se, ano a ano, os vinte
principais capítulos da pauta exportadora gaúcha, que representaram, em média, cerca de 90% do
total. Assim, por exemplo, os capítulos do complexo soja, fumo e carnes, dentre outros, foram
classificados em recursos naturais, os de calçados, couros e móveis em trabalho, os de plásticos,
borracha e veículos em escala e os de máquinas e aparelhos elétricos e de armas e munições em
tecnologia diferenciada.
A visualização do gráfico 1 permite diversas ilações. Pelo menos uma salta aos olhos: o caminho
inverso que tomaram os produtos intensivos em recursos naturais daqueles intensivos em trabalho a
partir do ano 2000. Neste ano, os primeiros representaram 35,5% da pauta, ao passo que os
segundos tiveram uma participação de 35,8 %. Já em 2008, os produtos intensivos em recursos
naturais alcançaram 55% de participação contra 12% dos intensivos em trabalho. O desempenho
destes últimos reflete basicamente dois grandes obstáculos: a concorrência asiática – chinesa,
vietnamita, etc., cuja mão-de-obra é muito mais barata que a brasileira e que a gaúcha em particular –
, e a valorização do real nos últimos anos que reduziu a competitividade dos produtos gaúchos em
vários mercados, em especial o dos Estados Unidos. Já um conjunto de fatores viabilizou o
crescimento das exportações dos produtos intensivos em recursos naturais, apesar da valorização
cambial. Dentre esses fatores tem-se o aumento da demanda mundial por proteínas animal e vegetal,
fruto do crescimento dos países emergentes, a utilização de produtos agrícolas para a produção de
combustíveis e a especulação financeira internacional que, na falta de melhores opções, elevou as
aplicações no mercado futuro de commodities agrícolas.
8
Esses setores foram assim discriminados, de acordo com suas especializações: (a) Recursos Naturais:
agropecuária, extração mineral, petróleo e álcool (inclusive refino),alimentos e bebidas, madeira, papel e
celulose e produtos de minerais não metálicos; (b)Trabalho: têxtil, vestuário, couro e calçados, produtos de
metal e móveis/jóias/indústrias diversas; (c) Escala: química, borracha e plástico, metalurgia e veículos
automotores; (d) Tecnologia Diferenciada e Baseada em Ciência: máquinas e equipamentos, máquinas de
escritório e informática, aparelhos elétricos, material eletrônico e comunicações, instrumentos médicos e
ópticos, aviação/ferroviário/embarcações/motos (Vide Puga, 2007).
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Recursos Naturais Trabalho Escala Tecnologia
Fonte: MDIC/ SECEX/ Sistema Alice
Considerações Finais
O elevado preço das commodities agrícolas, pelo menos até o mês de julho, foi o maior
responsável pela boa performance das exportações gaúchas ao longo de 2008. Na esteira desse
movimento o Estado apresentou ótimos desempenhos nas receitas externas do complexo soja (mais
nos de farelo e óleo), de carnes (principalmente de aves, mas também de suínos) e de cereais (arroz,
em especial). Também como resultado do preço das commodities agrícolas em nível mundial,
cresceram as exportações do Rio Grande do Sul de tratores e demais máquinas agrícolas. O fumo,
apesar de toda a campanha contra o seu consumo, também apresentou um aumento significativo de
receita. Por outro lado, tiveram um desempenho modesto, quando não negativo, os petroquímicos e
os produtos intensivos no fator trabalho, como calçados, móveis e couros.
O estudo da pauta exportadora gaúcha entre 1989 e 2008 mostrou um descolamento nas
trajetórias dos produtos intensivos em recursos naturais daqueles intensivos em trabalho a partir do
início deste século. Enquanto os primeiros ganhavam espaço nas exportações, os últimos,
basicamente calçados, caíam aceleradamente em termos de participação relativa.
Em 2009 seguramente não teremos a mesma taxa de crescimento conseguida pelas exportações
gaúchas em 2008. É provável que sequer tenhamos uma taxa positiva, tendo em vista a inevitável
desaceleração da economia mundial a partir da crise financeira originada nos Estados Unidos. Por
outro lado, se a desvalorização do real for mantida aumentará a competitividade dos produtos
nacionais. Mas, pergunta-se, haverá demanda? Sem dúvida, a resposta a essa e outras questões vai
depender da capacidade de propagação, da intensidade e da duração da atual crise econômica
mundial.
16
Tabela 1
1
Valor, variação de valor, do volume , do preço médio e principais mercados das exportações do RS - 2008 (em US$ milhões)
Cód.NCM2 Produto Valor 2008 Valor 2007 Var. valor Var. volume Var. Preço médio Principais mercados
1201, 2304 e 1507 a. Complexo soja 2.976 2.536 17,4 -24,8 56,1 China (44%), UE (24%), Coréia do Sul (5%)
1201 Grão 1.618 1.606 0,7 -36,1 57,7 China (58%), UE (21%), Tailândia (6%)
2304 Farelo 681 468 45,8 -1,0 47,2 UE (50%), Austrália (14%), Indonésia (12%)
1507 Óleo 676 462 46,3 -1,9 49,2 China (56%), Irã (13%), Índia (11%)
02 b. Carnes 2.240 1.747 28,2 3,0 24,5 Rússia (31%), Arábia Saudita (10%), UE(9%)
0207 Aves 1.294 921 40,5 12,2 25,2 Arábia Saudita (17%), Japão (12%) Emirados Arabes
0203 Suína 682 639 6,8 -20,5 34,3 Rússia (88%), Hong Kong (4%), Argentina (3%)
0201 e 0202 Bovina 110 96 15,1 -17,1 38,9 Rússia (18%), Chile (11%), Hong Kong (9%)
24 c. Fumo 2.008 1.674 20,0 -3,9 24,8 UE (35%), China (18%), EUA (13%)
87 d. Veículos e suas partes 1.345 1.178 14,1 25,8 -9,3 Argentina (20%), México (12%), Chile (10%)
8701 Tratores 495 400 23,7 13,9 8,6 Argentina (25%), México (15%), EUA (7%)
64 e. Calçados 1.208 1.291 -6,4 -25,4 25,4 UE (46%), EUA (28%), Argentina (5%)
6403 Couro natural 962 1.037 -7,2 -27,5 28,0 UE (49%), EUA (32%), Canadá (3%)
6401 e 6402 Plástico ou borracha 97 108 -10,5 -18,9 10,3 Argentina (24%), EUA (11%), Venezuela (9%)
84 f. Máquinas 1.165 951 22,6 14,5 7,1 Argentina (21%), EUA (11%), Paraguai (10%)
Máquinas e aparelhos
8432 a 8437 Argentina (35%), Paraguai (23%), Venezuela (6%)
agrícolas 387 283 36,4 20,5 13,1
39 g. Plásticos e suas obras 818 894 -8,5 -22,8 18,5 Argentina (39%), UE (21%), Chile (9%)
3901 Polímeros de etileno 565 643 -12,1 -25,1 17,3 Argentina (40%), UE (25%), Chile (11%)
10 h. Cereais 583 154 277,3 111,7 78,3 Paquistão (14%), Benin (12%), Cuba (8%)
1006 Arroz 291 48 500,1 157,2 133,3 Benin (24%), Cuba (16%), Senegal (14%)
1001 Trigo 204 29 599,8 527,8 11,5 Paquistão (40%), Marrocos (16%), Vietnã (11%)
Tabela 1 cont.
1
Valor, variação de valor, do preço médio e do volume e principais mercados das exportações do RS - 2008 (em US$ milhões)
Cód.NCM Produto Valor 2008 Valor 2007 Var. Val Var. Vol Var. pm Principais mercados
1005 Milho 87 76 13,6 -12,4 29,7 UE (85%), Paraguai (8%), Coréia do Sul (6%)
29 i. Produtos Químicos 550 437 25,8 3,0 22,1 UE (36%), Argentina (28%), EUA (24%)
41 j. Couros 509 530 -3,9 -18,9 18,5 UE (29%), Hong Kong (14%), China (14%)
27 k. Combustíveis minerais 675 587 14,9 -14,4 34,3 Paraguai (27%), EUA (21%), Argentina (19%)
94 l. Móveis 316 307 2,9 -13,6 19,1 UE (22%), Argentina (12%), Venezuela (9%)
Referências
0
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