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Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacio (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bonfitto, Matteo O ator-compositor : as aces fisicas como eixo : de Stanislévski a Barba / Matteo Bonfitto. Sao Paulo : Perspectiva, 2011. 3. reimpr. da 2. ed. de 2006 Bibliografia. ISBN 978-85-273-0284-5 1. Arte dramatica 2. Teatro - Histéria e cr I. Titulo. 02-0454 : cD Indices para catdlogo sistemitico: 1. Ages fisicas : Teatro : Artes da representacio 7: 2* edicao ~ 3+ reimpressio Direitos reservados a EDITORA PERSPECTIVA S.A. Ay. Brigadeiro Luis Anténio, 3025 01401-000 Sao Paulo SP Brasil ‘Telefax: (011) 3885-8388 www.editoraperspectiva.com.br 16 © ATOR.COMPOSITOR Grotévski, desta forma, revé a agi fisica a partir do reconheci- ‘mento de um novo percurso do impulso no corpo do ator e da cone- xdo necesséria existente entre impulso e a dinimica tensdo/relaxa- mento. Outro aspecto, assinalado pelo diretor polonés, refere-se a relagdo entre ‘agdo fisica’ e “atividade’ (© que precisamos imediatamente entender & 0 que as ages fisicas ‘no slo’ Por exemplo: limpar 0 chio, lavar pratos,... Elas no sio ages fisicas, elas sio atividades. (...) Mas uma atividade pode ‘tornar-se’ ago fisica, Por exemplo, alguém entre vocés me faz uma pergunta que me causa embarago (como normal- mente acontece), entio, eu busco ganhar tempo. Eu comeco, assim, a preparar © ‘meu cachimbo. Agora minha atividade se tora uma agdo fisica, porque ela agora € minha arma: ‘sim, eu estou realmente muito ocupado, eu preciso preparar meu cachimbo, limpé-lo, acendé-lo, para depois responder a sua pergunta..."" Neste caso, portanto, uma ‘atividade” pode tornar-se ‘agi fisica’ na medida em que esta iltima adquire uma fungio sfgnica, ou seja, na medida em que se torna um ‘signo’. 2.2.8. Eugenio Barba: Os Principios Interculturais e a Subpartitura Eugenio Barba, diretor do Odin Teatret ¢ fundador da ISTA (International School of Theatre Anthropology), elaborando seus co- nhecimentos teatrais a partir de sua experiencia pragmitica — seu con- tato com Grot6vski, suas viagens ao Oriente, seu trabalho no Odin e na ISTA ~ busca sistematizé-los em uma disciplina: a Antropologia Tea- tral. Ele assim a define: Antropologia Teatral € o estudo do comportamento cénico pré-expressivo que esté na base dos diferentes géneros, estilos, paptis e das tradigbes pessoais ou cole- tivas!™, fe ainda] A Antropologia Teatral indica um novo campo de investigacio: © estudo do comportamento pré-expressivo do ser humano em situagiio de repre- sentagdo organizada!™, Propondo-a dessa forma, a Antropologia Teatral pode entiio exa- minar as situagdes de representaco presentes em qualquer cultura. Ap6s anos de observagio, pesquisas de campo ¢ reflexaio pritica feita ‘com mestres-atores ocidentais e orientais na ISTA, Eugenio Barba re- 128. Conferéneia feita por Grot6vski em Santarcangelo, Itélia, 1988; em T. Richards, op. cit. pp. 74-75. 129. E, Barba, La Canoa di Carta. Trattato di Antropologia Teatrale, Bologna, Il Mulino, 1993, p. 23 130. Idem, p. 24. |A.AGHO FISICA COMO ELEMENTO ESTRUTURANTE, n conhece internamente ao nivel pré-expressivo"', “prinefpios-que- retomam”, presentes no trabalho do ator em diferentes culturas, que dilatam a sua presenga € criam o “corpo-em-vida’, responsdvel pela manutengao da atengao do espectador. s princfpios-que-retornam, que definem o campo da pré-expres- sividade, se aplicados ao corpo do ator, produzem tensdes fisicas pré- expressivas que geram a presenga e um corpo-em-vida. De acordo com Barba, os princfpios-que-retornam sao: equilibrio precdrio, ou equili- brio dindmico ou equilfbrio de luxo (Barba utiliza as trés possibilida- des); a danga das oposigaes; a incoeréncia coerente e a virtude da omissao; 0 principio de equivaléncia. Equiltbrio precério Como dito anteriormente, as observagdes feitas por Barba so fruto de sua experiéncia pragmética, de um contato direto com atores orientais e ocidentais. Nesse caso, ele utiliza 0 conceito de equiltbrio instdvel de Decroux, ou seja, um elemento que, se alterado em diregao a instabilidade, uma instabilidade controlada, pode gerar tenses dife- renciadas no corpo, as quais passam a ser “fscas” que tornam o corpo vivo”. “A vida do ator, de fato, se funda sobre uma alteragdo de equilibrio”'™. Os “pés-que-lambem”(suriashi) do N6, os movimentos, amplificados de Decroux, as posigdes de base do Balé..., levam o corpo a encontrar um novo equilfbrio que constréi as tensdes responsiveis pela presenca dilatada do ator. A danca das oposigoes Por danga das oposigdes Barba entende as infinitas possibilidades de construgdo no corpo de tensdes de forgas contrapostas. Tais ten- sdes podem acontecer em diferentes niveis: no percurso das agdes — como na Opera de Pequim, em que 0 inicio da agdo deve seguir a diregdo oposta a sua finalizagao; em diferentes posigdes corporais como no Teatro de Bali, com as posiges keras manis; € em proce: mentos como a busca pelo desconforto, de Decroux ~ sua bissola utilizada para verificar se uma ago esta sendo executada corretamente. 131. Barba faz uma divisdo entre téenica cotidiana ~ que ¢ regida pela “lei do 1minimo esforgo", técnica virmosistica ~ que se limita & demonstrago de habilida- es, ¢ téenica extra-cotidiana — caracterizada pelo “excesso de energia” e por um comportamento reconstruido pelo ator. A pré-expressividade esté relacionada as técnicas extra-cotidianas que geram 0 “corpo-em vida” e dilatam a presenga do ator. Mesmo nio chegando a uma sistematizagdo sobre seus elementos constitutivos, Meierhold com a “pré-interpretacio” jé havia colacado os pressu- postos da pré-expressividade. 132. E, Batba, La Canoa di Carta, op. cit, p. 34

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