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09/11/2018 A confusão eleitoral americana | Blog do Helio Gurovitz | G1

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MUNDO
BLOG DO HELIO GUROVITZ

A confusão eleitoral americana


Quem reclama do TSE por aqui deveria dar uma olhada na barafunda de regras e
sistemas que atrasam e prejudicam os resultados das eleições nos Estados Unidos

Por Helio Gurovitz


09/11/2018 07h34 · Atualizado há uma hora

Mesários começam a contagem dos votos em Boulder, Colorado — Foto: Marc Piscotty/Getty Images/AFP

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Quem reclama das urnas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aqui no Brasil deveria
prestar atenção à confusão da apuração nas eleições dos EUA. Nosso sistema está
longe de perfeito (mais sobre isso aqui), mas o Brasil consegue toda eleição, num
período inferior a 12 horas, aquilo que os Estados Unidos levam semanas para
saber: resultados corretos e incontestáveis para todas as disputas.

Tecnicamente, as duas eleições são bastante semelhantes. Embora os números


o ciais ainda não estejam fechados, dos 237 milhões de cidadãos habilitados a votar
nos Estados Unidos, algo como 114 milhões votaram. Aqui, dos 147 milhões de
eleitores, 107 milhões votaram no primeiro turno, quase 105 milhões no segundo.
Eleitorados comparáveis em países de dimensões comparáveis.

Juridicamente, porém, as duas eleições não poderiam ser mais distintas. A lei
americana confere aos estados o poder de decidir as regras da eleição, como
realizar a votação e como apurar os votos. O resultado é uma profusão de métodos
distintos e sistemas incompatíveis. Há voto em papel, voto pelo correio, máquinas
de votação que imprimem o voto, máquinas que não imprimem, métodos
suscetíveis a toda sorte de manipulação e atrasos.

Até agora, três dias depois de fechadas as urnas, os americanos desconhecem a


extensão da maioria democrata na Câmara e da republicana no Senado. Provável
que desconheçam ainda por semanas. A situação de algumas apurações revela que
tipo de problema impede a transparência e a agilidade:

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· Na Flórida, depois do asco das eleições do ano 2000 – em que George W. Bush
levou o estado graças a um voto na Suprema Corte –, a legislação local exige
recontagem dos votos caso a diferença entre os candidatos seja inferior a 0,25
ponto percentual. À medida que votos continuam a chegar pelo correio, a
distância entre o republicano Rick Scott e o democrata Bill Nelson na disputa ao
Senado caiu a 0,18 ponto percentual, menos de 15 mil votos. Depois que o
democrata Andrew Gillum reconhecera a derrota para o republicano Ron
DeSantis na eleição para governador, a diferença caiu abaixo de meio ponto
(está em 0,4, pouco mais 36 mil votos). Gillum emitiu então comunicado em
que deixa aberta a possibilidade de pedir recontagem. No condado de Broward,
área tradicionalmente democrata, foram somados 24 mil votos a menos para o
Senado que para governador, o su ciente para alterar qualquer resultado. Ao
mesmo tempo, tanto as eleições para comissário de agricultura quanto para
secretário de nanças registraram mais votos que para senador. Ninguém sabe
esclarecer o mistério.

· Na Geórgia, a legislação exige que o governador seja eleito por maioria absoluta
dos votos (50% mais um). O republicano Brian Kemp somou 50,3% do total,
diferença pouco acima de 63 mil votos. Mas a campanha da adversária Stacey
Abrams insiste que, quando todos os votos forem contados, essa proporção
poderá cair abaixo de 50%. Ela se recusa a reconhecer a derrota.

· O Mississipi, outro estado que exige mais de 50% dos votos para declarar um
candidato vitorioso, realizará o segundo turno da eleição para uma das vagas do
Senado no próximo dia 27.

· Na eleição para o senado do Arizona, a democrata Kyrsten Sinema ultrapassou a


republicana Martha McSally à medida que chegavam votos de regiões mais
afastadas e lidera por uma diferença de 0,5 ponto percentual, ou menos de
10 mil votos. Autoridades informaram ontem que a contagem manual dos 600
mil votos que faltavam seria atualizada uma vez por dia até o resultado.

· Na Califórnia, a eleição para a Câmara ainda está inde nida em ao menos cinco
distritos, qua aguardam a chegada de votos pelo correio. A lei californiana obriga
a contar todo voto com o carimbo postal da data da eleição. A contagem ainda
pode levar semanas. O mesmo vale para alguns distritos do estado de
Washington.

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· O segundo distrito do Maine adotou um sistema de votação em que o eleitor


aponta na cédula os candidatos por ordem de preferência. Se nenhum deles
somar mais da metade dos votos, os votos do último colocado são redistribuídos
ao segundo candidato escolhido por todos os eleitores. O procedimento se
repete até que alguém consiga mais de 50%. Com 95% dos votos contados, o
republicano Bruce Poliquin tinha 46,2%, ante 45,5% do democrata Jared Golden.

· A contagem manual ainda prossegue em distritos mais competitivos nos estados


de Nova Jersey, Minnesota, Nova York, Novo México, Texas e Utah. Há algo como
13 corridas para a Câmara inde nidas.

Por causa de todas essa inde nição, a representação democrata na Câmara poderá
variar de 230 a até 238 deputados, a diferença entre uma vitória modesta e uma
lavada. No Senado, os republicanos podem tanto manter a maioria atual de 51 a 49
cadeiras (uma vitória acanhada), quanto ampliá-la para 54 a 46 (outra avassaladora).

Não é só na legislação e na di culdade de apuração que os Estados Unidos perdem


para o Brasil. Em termos de segurança, a situação das urnas americanas também é
bem mais preocupante que a brasileira.

Em março, o Congresso destinou US$ 380 milhões para resguardar a segurança dos
sistemas de votação. Apenas 13 dos 50 Estados a rmaram que usariam os recursos
federais em novas urnas eletrônicas, de acordo com um levantamento divulgado
em julho pelo Político.

Pelo menos 22 a rmavam não ter planos de trocar as máquinas, entre eles os 5 que
promovem, como o Brasil, votação exclusivamente digital (Louisiana, Delaware,
Geórgia, Nova Jersey e Carolina do Sul). A maioria adota sistemas mistos. Um
levantamento da Reuters em 2016 revelou que um quarto dos americanos vive em
áreas sem registro físico do voto.

O Departamento de Segurança Interna (DHS) mostrou que hackers russos tentaram


invadir sistemas eleitorais nos 50 Estados americanos. Em seu último indiciamento,
o procurador especial Robert Mueller detalhou a tentativa de furtar os dados de 500
mil eleitores num deles (ele não citou o nome, mas a imprensa especula que seja
Illinois).

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A confusão abre margem para que o presidente Donald Trump fale em fraude a
cada resultado que o desagrade, ainda que quantidade de violações comprovadas
seja ín ma. No Brasil, apesar de partidários de Jair Bolsonaro terem insistido nessa
tese ao longo da campanha eleitoral, a situação é outra. Com todas as de ciências
que nosso sistema possa apresentar, o TSE nunca registrou caso de fraude. E, em
menos de 12 horas, o país conhece todos os vencedores para todos os cargos.

— Foto: Arte/G1

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