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PROJETO

CULTIMAR
O Projeto Cultimar foi criado em 2005 pelo
Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambi-
entais (GIA), da Universidade Federal do Paraná 1
(UFPR). O Cultimar acredita na geração de ren-
da para as comunidades da região litorânea do
estado do Paraná, por meio do investimento em
ações de valorização da cultura local, da con-
servação do meio ambiente, da educação, do
turismo, da produção de organismos marinhos,
da capacitação técnica e do aperfeiçoamento
profissional nos seus mais variados níveis.
Para desenvolver suas ações, o Cultimar tra-
balhar em parceria com diferentes instituições,
entre elas a Secretaria Municipal de Educação
de Guaratuba (Paraná), colaboradora do pre-
sente produto, o CD “A Floresta dos Sonhos”.
Conheça um pouco mais essa ideia, navegue
em nosso site, entre em contato conosco (www.
cultimar.org.br).

a floresta dos sonhos: Construindo Ideias na Educação Ambiental Biorregionalista


agradecimentos
Agradecemos às comunidades do município
de Guaratuba, em especial aos professores,
alunos e familiares que compartilharam in-
formações, lendas, contos e ilustrações ao
qual esse material faz menção. Agradecemos
também à Secretaria Municipal de Educação
de Guaratuba e aos professores participantes
das oficinas de Educação Biorregionalista do
2
Projeto Cultimar pela parceria para reali-
zação desse trabalho.
,~
Apresentacao
A cultura da região de Guaratuba possui importantes
expressões e manifestações populares que ainda se rela-
cionam com a maneira pela qual as comunidades con-
stroem e utilizam seus espaços de vida. Os ambientes
naturais estão profundamente ligados à vida e à cultura
da gente dessa região. Trabalhar a educação formal a
partir da valorização desses espaços é também um meio
para se manter viva essa cultura. 3
É nesse ambiente que o Projeto Cultimar vem trabalhan-
do com Oficinas de Educação Ambiental para professores
da rede municipal de ensino de Guaratuba, embasadas
em ações de Revitalização Cultural. Mais que a discussão
e aplicação da cultural local no processo de educação, o
Cultimar propõe a discussão do biorregionalismo. O bior-
regionalismo envolve tanto a conservação do ambiente
como da cultura das comunidades envolvidas.
Este material pretende, portanto, valorizar os saberes
regionais, a partir de uma fábula chamada “Floresta dos
Sonhos”. Essa narrativa mescla personagens da comu-
nidade com lendas e histórias que muito têm a contar
sobre a realidade da região. O objetivo principal do CD
é criar um ambiente lúdico para que os professores pos-
sam trabalhar com os alunos a partir dessa contação de
história, músicas e dicas pedagógicas.
Venha fazer parte dessa brincadeira e mergulhe na “Flo-
resta dos Sonhos”!

a floresta dos sonhos: Construindo Ideias na Educação Ambiental Biorregionalista


A FLORESTA
DOS SONHOS
Relaxe... deixe-se levar pelas asas da sua imaginação...
Sinta-se leve como a pluma da garça branca, para que
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possa, por um momento, desligar-se desse mundo e viajar
na Floresta dos Sonhos, um lugar onde tudo era encan-
tado. Onde as aves do céu cantavam para amansar out-
ros bichos, onde as cristalinas cachoeiras deslizavam para
acariciar as pedras. Tudo era lindo e perfeito!
Na Floresta dos Sonhos, não havia defeito do qual se pu-
desse reclamar.
Lembro-me de certa personalidade que lá existia. Já tin-
ha vivido alguns séculos e, de todas as árvores, era a maior
e a mais antiga, ela cuidava de todas as outras árvores e
de todas as outras plantas, e dizia:
Elas são todas minhas filhas!
Quando chegava a luz do dia, aos primeiros raios de sol,
a Mãe Árvore se abria ao vento para que, por entre seus
próprios braços, pudesse sentir o calor.
Os filhotes de animais também brincavam livres, saltita-
vam com as borboletas, com os sapos, com os peixes, com
as lagartas e com as salamandras. Ao entardecer, saltita-
vam com grilos, batiam as asas
como se fossem abelhas fare-
jando o néctar e os passarinhos
voavam com eles, cantando e
colorindo o céu. Quando anoite-
cia, vinham os vagalumes que
voavam por entre as flores, ilu-
minando o mais lindo jardim...
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O ar era o mar
e o sol era o amor
que aquece nossos corações.
O sol conversava com a floresta
logo de manhã. Com uma voz
solene de encantamento,
ele falava da aventura
diária da vida...
Mas foi num dia assim que
um ar empoeirado e quente,
com cheiro de coisas quei-
mando, invadiu a floresta.
As flores se recolheram. Crianças filhotes
logo voltaram para suas tocas.
Os animais assustados se esconderam e um
silêncio supremo se fez! Até o anoitecer,
nada se ouviu se não os tremores de terra.
A terra tremeu.

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Todos estavam apreensivos, mesmo assim, não foi fácil se-
gurar o nosso amigo sagui, que, já de manhã bem cedinho,
foi lá perto conferir, mas tanta era sua demora que lá re-
solvemos ir.
E todos se reuniram à noite.
Coro de personagens da Floresta
- Escutem! Escutem! Eram homens e máquinas, a lua es-
6 tava no céu... mas brilho nela não se via!
E sobre uma pequena fogueira estava o pobre sagui.
Coro de personagens da Floresta
- Ai meu Deus! Que crueldade! O que iremos fazer?

A tristeza pairava sobre a floresta que sempre se viu em


festa e hoje chora de dor!
Um a um foram para suas tocas.
Nesta noite, o sono foi como um suspiro... quem pode dor-
mir teve pesadelos...
O tamanduá, assustado, sonhou com uma floresta errada
onde todos os animais eram maltratados e os pássaros
viviam em gaiolas, cantando para não chorar, pois só
podiam olhar para o mundo no qual os proibiram de
voar.
O sol nem raiava no céu e a toca da Senhora Anta já
estava lotada, todos estavam reunidos lá.
Foi então que, numa grota, o espírito da revolta se
acendeu no coração. 7
Coro de personagens da Floresta
- Vamos enfrentá-los!
-Não seremos iguais a eles?
-Enfrentá-los é impossível!
- Nós não somos guerreiros, somos apenas herdeiros de
nosso lindo habitat!
- Temos que agir ou fugir, mas aonde iremos?

Toc! Toc! Toc!


De repente, o ar faltava ninguém se movimentava.
Foi quando a porta se abriu e quem tinha medo, caiu.
Alguns apareceram desprotegidos, outros estavam até
feridos. Ninguém precisou perguntar, pois era só relem-
brar, que o mal pode vir com o progresso de quem só
quer o sucesso, para muito dinheiro ganhar.

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Coro de personagens da Floresta
- Mas contem o que aconteceu! Então o que se passou?
Bugiu
- Foram eles! Prometeram uma terra melhor, no en-
tanto não respeitaram meu povo e estão acabando
com o nosso habitat.
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A cada dia, um sumia... Para onde ia? Ninguém sa-
bia...
E assim, os animais caminhavam com medo pela flo-
resta. E foi numa destas caminhadas, por entre os
gemidos das árvores, que algo inesperado aconteceu...
Viram uma criança, filhote de homem,
correndo assustado na floresta,
gritando:
menino
- Meu Deus ,estão quei-
mando a floresta! Estão
matando as árvores! Os
bichos vão perder suas
casas! Preciso falar com
alguém!!!
- Senhor! Pre-
cisa me ouvir.
madeireiro
- Saia daqui! Você é muito pequeno para o trabalho.
menino
- Não senhor, não estou procurando trabalho.
madeireiro
- Se não está procurando trabalho, está me dando tra- 9
balho! Saia daqui já!

Todos estavam tristes. Alguns até perderam a esperança


de ver uma mudança.
Coro de personagens da Floresta
Não podemos desanimar vamos tentar novamente...

O filhote de homem corria desarvorado pela floresta. Ao


ronco de uma máquina muito barulhenta uma grande ár-
vore desabou do céu...
No chão, um pequeno grupo de animais não sabia o que
fazer. No momento de angústia, e também de astúcia,
foram logo socorrer a criança machucada e apagada pela
árvore que desabou lá do céu.
O menino carregaram, no que virá, nem pensaram. O chão
com folhas cobriram e ali, o anjinho deitaram. Foi quando,
como magia, de onde, ninguém sabia, um milagre aconte-
ceu. Um perfume gostoso, um cheiro de planta do mato...
e Petanguá apareceu.

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Petanguá era um duende que vivia lá den-
tro da mata. Petanguá sempre ajudava o bom
coração de quem precisava.
petanguá
- Não se assustem, nem desviem seu pensar.
petanguá
-Batam palmas para o céu!
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Cada animal sua pata batia e como chuva de
papel, uma fada apareceu...
Era a fada Cunha Porã, uma fada poderosa! Ela, com seu
dedinho, tocou o rosto do menininho. E um suspiro de
esperança estremeceu a criança.
O duende, curioso, meio ranzinza, zangozo, ressabiado
ficou. E o menino, ele logo interrogou.
petanguá
- Qual é o seu nome menino? Como veio parar aqui?
O menino assustado, não sabia ponderar, se o que via
era verdade ou se estava a sonhar. Com seu corpo ainda
frágil, mal podia caminhar.
No raiar da luz do dia, no fim do brilho da noite, um
milhão de borboletas o levaram a voar e deixaram,
bem quietinho, num lugar calmo e quentinho, o
menino a descansar.
As flores que soltavam suas pétalas começavam a
migrar, transformavam-se em borboletas e no céu
iam morar, procuravam com tristeza
um outro novo habitat.
Foi um dos trabalhadores que viu o
menino e o levou, carregando-o nos braços
ao seu pai o entregou.
E o pai perguntava, angustiado:
pai
- Onde estava? Procuramos você por toda esta floresta, 11
onde estava?
menino
-Estive com os moradores da floresta, papai!
-Com quem?
-Com as árvores e com os animais! Eles estão tristes!
Pai, você tem que parar com isto.
-Do que você está falando meu filho? Você deve estar
doente, vou mandá-lo ao médico.

Andando entre os trabalhadores de seu pai, seu coração


tremia. O lamento das árvores jogadas pelo chão ele ouvia.
menino
-Meu pai, nesta floresta existem animais com filhotes
e as árvores estão vivas.
pai
- Meu filho, isto é o progresso, o país tem que crescer,
são só arvores e animais!

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A semente na terra brota e no coração a revolta do menino
que ouvia a natureza falar. Mesmo assim, as máquinas não
paravam. A cada dia se apressavam as árvores a derrubar.
Os animais, encurralados, eram obrigados a abandonar o
seu lar. Aquele mundo de alegria, as aves do céu, as plantas
da terra e os peixes do mar, duendes e fadas, crianças a
brincar. Tudo isso agora é só um sonho, o sonho mais lindo
12 que se possa sonhar!
Anoiteceu num silêncio e, naquela noite, nem a coruja
cantou. A lua esteve atrás das árvores e o sol demorou a
chegar. Não podia acreditar no que a lua lhe contou.

Coro de personagens da Floresta


- Acordem estamos atrasados.

Ao som de muitos lamentos, a destruição começou.


A terra tremeu, a lua até se escondeu no céu.
A árvore mais antiga e mais velha da floresta começou a
chorar por ver a sua casa se transformar!
E lá no centro da floresta, todo mundo reunido, num refú-
gio derradeiro, vendo o fogo começar.
O Menino que corria, no seu peito agora ardia um desejo
de mudar...
Seu pai estava cego, não podia ponderar, se o que via era ver-
dade ou se estava a sonhar.
Quando o sol apareceu, o mundo estremeceu. Uma enorme
algazarra na floresta explodiu...
Um mutirão de crianças, de todo e qualquer lugar, corria com
o menino para o fogo apagar. Lá no céu se encantou uma chuva
muito linda. E um belo arco-íris como nunca se formou, e fez
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das gotas da chuva uma chuva de sementes.
Os grilos cantaram forte naquela noite. O sol apareceu grande
naquela manhã. Os bichos acordaram cedo...
Um barulho de trombeta: um homem grande e peludo, com
um saco onde traz de tudo. Um barulho de tormenta, e o bater
das ferramentas que do mal ele pegou. O espírito da floresta,
o menino convocou.
Era o pai do mato que anda pela floresta e da mata quer cuidar,
quando é tempo de “dar cria”, ele toca pra avisar
que na mata tem filhote e é preciso respeitar.
E um canto no ar explode...
Esse canto tão bonito, só sereia para cantar, Piragui vive no
mar e nos rios do lagamar. Uma antiga lenda índia veio a nós
para lembrar do cuidado e do respeito que devemos praticar.

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E um grito veio do mangue...
Pode ser o Bradador, com seu canto de socó. Ou então
a Velha do Mangue, com seu canto de dar dó. Pode ser
o Caraquexé, anunciando um presságio. Todos cuidam
lá do mangue, todos cuidam do estuário.
Sundara, a coruja da noite, quando canta, é um
aviso. A Rasga Mortalha, quando berra, anuncia
14 a má sorte que virá assombrar a Terra se a
natureza acabar.
Mas o tempo é de esperança e também de
consciência...
O mutirão das crianças já não mais se ame-
drontava. A magia da esperança e a vontade
das crianças fizeram do mundo de algazarra um
mundo de fantasia.
Então amanheceu. O sol falou descansado naquela
manhã. A Mãe Árvore novamente abriu seus braços e
se esquentou com os raios de sol. Naquela
manhã, todos acordaram diferentes. Os an-
imais da floresta e os homens do mato,
os barcos de pesca e os peixes do mar.
Ao ver tudo aquilo acontecendo, o
beija-flor voou bem alto, mais alto
que a árvore mais valta, e anunciou
aos céus que no mundo ainda há esperança e que
enquanto houver uma criança, o sonho não vai
acabar.
As aves mais distintas povoaram o céu de
cor. O Guará voltou para casa e tingiu o céu
de vermelho. A Saíra Sete Cores fez do céu
o arco-íris. O Martin Pescador voltou para a
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pesca e ajudava os pescadores. O gavião que
se escondia, agora vigiava o dia. A coruja
voltou ao canto e vigiava a luz da noite.
Nesse clima de amizade, em um dia de
esperança, surge uma nova consciência para
aprendermos, todos juntos, a construir tudo de
novo. A floresta continua em festa: homens do
mato, peixes do mar, árvores da floresta, ouçam
esse cantar.
Vem da alma das crianças, detentoras da esper-
ança, à floresta destruída vamos juntos retornar. A
semente da esperança na terra vamos plantar, para
brotar mais consciência e com respeito vamos usar.
Saber que dentro do peito a vida precisa de ar.
Um choro forte se ouviu... a terra tremeu. O sol
brilhou mais forte naquela manhã! Uma nova criança
nasceu.

FIM
a floresta dos sonhos: Construindo Ideias na Educação Ambiental Biorregionalista

musicas

16
~ ÁRVORE
A MAE
A floresta é a casa da Mãe Árvore
E ela é a mãe de todas as outras
Todas suas filhas têm um nome diferente
Cada uma delas está tão viva quanto a gente

Tem Tucum, tem Jussara e Araçá


Seribeira, Arueira e Jerivá 17
Embiú, Copiúva e o Araribá
Todas elas são filhas da mesma mãe

Oh Mãe, oh Mãe!
Todas elas são filhas da mesma mãe.

A Caxeta, a Canela, o Caeté


Guapuruvu, Guandum e Cipó Imbé
Guamirim, Guaricana, o Canoé
Todas elas são filhas da mesma mãe

Oh Mãe, oh Mãe!
Todas elas são filhas da mesma mãe.

Canapuba, Embaúba, Cambuí


Massaranduva tem Bacupari
Tem Brejaúva, também Guanandi
Todas elas são filhas da mesma mãe

Oh Mãe, oh Mãe!
Todas elas são filhas da mesma mãe.

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~ DA CRIANÇADA
MUTIRAO
Meu amigo vem comigo, conhecer o mutirão
onde a criançada e os bichos são tratados como irmãos.
Todos juntos trabalhando por um mesmo ideal:
replantar a floresta que hoje em dia anda mal.

A natureza, nossa mãe, hoje vive maltratada


por pessoas que não ligam que ela esteja condenada
18 O lari lai lai.
Tem veneno em nossa água e muito lixo pelo chão,
a sufocam com fumaça e ainda podam o coração
O lari lai ali.
Mas ainda há esperança, outros dias já virão,
pois enquanto houver criança, não desistiremos não!
O lari lai ali.

A floresta vai lutar, e com ela seus amigos


quem estiver do lado dela, pode vir cantar comigo.

Meu amigo vem comigo, conhecer o mutirão


onde a criançada e os bichos são tratados como irmãos.
Todos juntos trabalhando por um mesmo ideal:
replantar a floresta que hoje em dia anda mal.
LENDAS
CAIÇARAS
Ele vive lá no mato
Ele cuida da floresta
Do mato é o pai, Oh Pai do Mato
É o protetor das matas
Das plantas, dos animais
Do mato é o pai, Oh Pai do Mato

Quem é que cuida lá do Mato?


É o Pai do Mato, é o Pai do Mato

Ela é uma linda índia


que se entregou ao mar
Piragui na areia... sereia
Ela cuida dos peixinhos
Dos siris e caranguejos
Piragui na areia... sereia

Quem que cuida lá do Mar?


Piragüi Sereia

Dá pra ouvir lá de bem longe


cantando a coruja da noite
Sundara, sundara
quando pia Rasga mortalha
O seu canto é um aviso
O anuncio que trás má sorte
Sundara, sundara
quando pia Rasga mortalha

Quem que berra lá no mangue?


A velha, a Sundara e o Bradador!

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DICAS

PEDAGOGICAS
O CD “A Floresta dos Sonhos” traz uma série de sugestões de ativi-
dades que têm o objetivo de incentivar a continuidade do trabalho
de revitalização da cultura caiçara e da educação ambiental biorre-
gionalista em sua comunidade. Você, professor, também pode propor
20
ideias de atividades mais indicadas para sua escola, pois está inserido
nesse universo. Este material está aberto para isso: para que cada
professor enriqueça seu trabalho com a cultura da sua comunidade.
Sinta-se a vontade para usá-lo da melhor maneira que encontrar...

INICIANDO O TRABALHO
Para começar essa experiência lúdica, é recomendável que você,
professor, crie em sala de aula uma atmosfera apropriada. Organize
um espaço que proporcione calma, com poucos elementos que pos-
sam desviar a atenção dos alunos. Em seguida, acomode-os confor-
tavelmente sentados em roda ou deitados em colchonetes, iniciando
o trabalho com algum exercício de relaxamento. A voz do professor
pode ser guia para que os alunos, de olhos fechados, prestem aten-
ção em sua respiração. Eles podem imaginar uma floresta onde tudo é
possível, desde a conversa entre os animais até a existência de seres
mágicos. Peça para que, ao longo da história, eles imaginem os de-
talhes desse cenário, a paisagem desde o amanhecer até o anoitecer,
as cores e formas das plantas, os diferentes tipos de animais, os rios,
o céu, o solo, o cheiro e os sons da mata e também as características
dos personagens.
A proposta é que, em sala, a turma então escute a fábula “Floresta
dos Sonhos”, para depois pensar em trabalhar as atividades que se
seguem.
Depois de ouvida a narrativa, os professores podem trabalhar o
texto transcrito nesse material. Quem sabe agora, com cópias do
texto nas mãos, a turma não gostará de escutar mais uma vez a
fábula? Além disso, cada música pode também ser trabalhada em
sua forma textual e poética. Vamos a essas dicas complementa-
res!

IDEIAS DE ATIVIDADES EM
SALA DE AULA OU NA ESCOLA
TRABALHANDO COM A FÁBULA “FLORESTA DOS SONHOS”
Trabalhe o texto tirando todas as possíveis dúvidas dos alunos
em relação à história ouvida. Uma boa forma de iniciar o tra-
balho é reconhecendo o meio onde se passa a narrativa e quem
são os personagens envolvidos.
É interessante também trabalhar as dúvidas em relação ao vo-
cabulário das crianças, construindo um dicionário a partir dessa
fábula e das letras das músicas. Esse dicionário pode trazer pa-
lavras novas e também temas ambientais que surgirem ao longo
da discussão, para que os diferentes conceitos sejam trabalhados
de acordo com a faixa etária, enriquecendo, assim, o vocabu-
lário dos alunos.
O significado de algumas palavras de origem indígena que
aparecem no material também pode ser explorado. Mutirão, por
exemplo, deriva do tupi mutiró ou mutirõ; é um costume indígena
que se associou aos costumes locais. Também pode ser chamado
de pexirão, puxirão, pixirão, pixirunga pixurum, mutiró e metirão, e
significa uma forma de trabalho coletivo associado à cultura caiçara.

a floresta dos sonhos: Construindo Ideias na Educação Ambiental Biorregionalista


É atrelado às atividades rurais e de pesca e tem relações com os elos
religiosos da comunidade.
Se as crianças forem muito pequenas e estiverem aprendendo a
escrever, selecione algumas palavras chave para que elas possam
aprender mais sobre cada assunto. Isso pode ser feito por meio de
atividades como caça-palavras (com nomes das árvores e animais de
cada estação), ou as crianças podem escolher alguns personagens
para desenhar e dar nome.
22
Para se familiarizar ainda mais com a narrativa, trabalhe com o im-
aginário das crianças. Monte, por exemplo, um jogo de adivinhação,
para que elas se acostumem com o texto: adivinhe (ou desenhe) quem
é o personagem mais peludo da história? Quem são os animais com
penas? Quem são os mamíferos? Quais máquinas aparecem? O que era
mais colorido na “Floresta dos Sonhos”? E outras perguntas que forem
surgindo...
Trabalhe também com o sentimento das crianças a partir da fábula.
O que é uma fábula? Peça para que elas façam um desenho da “Flores-
ta dos Sonhos”, do cenário, dos personagens, dos animais, das plantas
e da parte que elas mais gostaram. Sugerimos que criem grupos para
que uns possam explicar aos outros as suas ilustrações.
Outra forma de trabalhar com imagens é utilizar as ilustrações
da capa do próprio material: peça para que as crianças procurem os
diferentes elementos contidos nas ilustrações, os animais, as plantas,
as figuras das lendas, entre outros. Outra possibilidade é trabalhar
com a construção de histórias em quadrinhos, a partir das quais as
crianças podem desenhar e criar diálogos entre os personagens.
Se quiser trabalhar por um período maior, construa uma peça de
teatro para ser apresentada aos pais e ao restante da escola. Vocês
podem construir fantoches ou figurinos dos personagens e do cenário.
Aproveite materiais já utilizados, sucatas, tecidos, etc. Não se es-
queça de convidar o Cultimar para assistir!
Outra ideia é construir personagens diferentes e histórias relacio-
nadas com a temática ambiental. Quais animais e plantas os alunos
se identificam e gostariam de trabalhar?
As crianças também podem se divertir imitando os sons da “Flo-
resta dos Sonhos”. Trabalhe com os diferentes sons dos animais, das
23
plantas, da água, dos seres míticos. Estenda essa brincadeira trabal-
hando com mímica e adivinhações, como “Que bicho sou eu?”.
Também pode ser interessante trabalhar com os hábitos dos ani-
mais: onde e como eles vivem? Procure saber o que os bichos comem,
como dormem, suas pegadas, a relação deles com as plantas e com
os outros animais.
A partir disso as crianças já estarão bastante familiarizadas com a
temática da fábula. Aposte agora no trabalho com as músicas.


Trabalhando com as musicas
Para trabalhar com as músicas, proponha uma roda com os alunos,
prestando atenção para que todos estejam à vontade para ouvi-las
e para que possam compreender o que está sendo comunicado por
meio de suas letras, de suas características rítmicas e melódicas.
Sugerimos que coloque as músicas para as crianças escutarem, em
um primeiro momento com elas sentadas ao chão. Depois, com as
crianças já em pé, tentem marcar o tempo da música com palmas
ou com os pés, aprendendo a cantar suas letras. Quando terminada a
diversão, proponha, ainda em roda, uma conversa sobre o que apren-

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deram com as músicas (tema da música, características musicais
como ritmo, melodia e instrumentos utilizados).
Sobre a música “A Mãe Árvore”, pensem nos seguintes temas in-
teressantes: quais instrumentos de madeira são utilizados na música?
Que outros instrumentos musicais de madeira os alunos conhecem?
Quais ritmos esses instrumentos tocam? Complemente essa ideia
saindo de sala de aula para ouvir os sons da natureza, da mata, do
mar, das folhas, do vento, e de tudo que acharem interessante.
24
Essa música também apresenta 24 nomes diferentes de árvores
da Mata Atlântica. Essa é uma ótima temática para sala de aula: as
árvores podem ser listadas e apresentadas para que os alunos iden-
tifiquem quais já conhecem. Eles podem listar quais ainda não con-
hecem para perguntar em casa para seus familiares ou para fazerem
uma pesquisa. Construa um mural com essas árvores, colocando uma
figura de cada uma, o tipo de folhas, os frutos, a importância das
árvores para os homens e para os animais, e também se elas são usa-
das para algum fim comercial, para construção de casas e objetos na
sua comunidade, etc. Trabalhe juntamente com a atividade citada
no item a seguir: “Atividades na comunidade”.
Para complementar o trabalho com essa música, procure as plan-
tas de ambientes especiais existentes na sua região, como o mangue
e a restinga.
Sobre a música “Mutirão”: procurar sinônimos para a pala-
vra mutirão. Faça essa busca com seus alunos no dicionário e en-
tre os moradores de sua comunidade. Compare as expressões que
aparecem nas duas pesquisas e investigue os dicionários que incor-
porem a linguagem popular. Discuta com a classe. Existe ainda hoje
na sua comunidade esse espaço de troca entre as pessoas? Em que
situação as pessoas se reuniam ou ainda se reúnem com essa proposta
de mutirão?
Vamos fazer um mutirão na escola? Convide seus alunos para pen-
sarem um lugar adequado para fazerem uma ação coletiva, como
uma horta, um canteiro, uma limpeza, uma pintura. Sugira que cada
um traga um pouco de material necessário de casa. Peça também
para que tragam uma fruta de casa e ao final da atividade, façam uma
salada de frutas compartilhada para comemorarem essa realização.
25
Após ouvirem e se divertirem com a música “Lendas”, reconte
ou peça para os alunos dizerem o que sabem das lendas do “Pai do
Mato”; “Piragui”, “O Bradador”, etc. Peça para que eles escrevam ou
desenhem como poderiam ajudar esses seres míticos no cuidado com
o ambiente. A região onde vocês moram é uma área ambientalmente
importante, formada por áreas de mangue, de mata e toda a porção
marinha e estuarina. Discuta com a classe as razões que levaram essa
região a ser protegida por leis ambientais. O que vocês acham des-
sas medidas de proteção? Trabalhe com seus alunos o seguinte tema:
como as leis ambientais influenciam no seu dia-a-dia e da sua família?
Reflita com as crianças por que essas leis ambientais são necessárias
atualmente e se alguma coisa nessas leis poderia mudar.
Trabalhe também a relação dessas leis com os temas que surgiram
na letra da música “Mutirão”: tem veneno em nossa água (poluição
aquática, uso de agrotóxicos, óleos, etc.) e muito lixo pelo chão (co-
leta, triagem e reciclagem, destino do lixo e consumo), a sufocam
com fumaça (poluição do ar), entre outros.
Para finalizar esse trabalho, monte um calendário que mostre em
que época as lendas e as leis mais aparecem e quais elementos da
natureza elas protegem.

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Atividades na comunidade
Faça com as crianças um levantamento sobre os animais e
as plantas da sua comunidade. Na sala de aula, organize as in-
formações desse exercício: elabore um mural com o nome das
espécies mais vistas antigamente e aquelas presentes até hoje.
A partir desses dados, reflita sobre a situação da natureza na
região e sobre as ações e os compromissos de cada indivíduo
com a água, com os animais, com a vegetação. Será que seus
26 alunos se sentem parte desse mutirão de crianças que a fábula
fala?
Ligue essa atividade acima com a atividade da música “A Mãe
Árvore”: os alunos podem perguntar aos familiares mais antigos
quais árvores citadas na música eles conhecem para que pos-
sam ajudar o aluno a identificá-las no meio (caso possível) e/ou
registrá-las com desenhos. Será que esses familiares conhecem
alguma lenda ou conto que fale de alguma dessas árvores?
Sugira uma pesquisa sobre as formas mais sustentáveis de
“uso” dos recursos naturais. Na sua comunidade, quais são as
formas mais usadas de plantação, pesca, retirada de madeira,
minerais? Organizem as informações. Faça um mural com as cri-
anças e discuta com elas sobre o que surgiu, pontos positivos e
pontos negativos dessa pesquisa.
Sugerimos também que se continue um levantamento sobre
outras histórias presentes na sua comunidade. Colher depoimen-
tos de pessoas antigas é valorizar os conhecimentos tradicionais,
o saber do povo, as formas de ver o mundo que revelam as in-
fluências culturais que formam nossa identidade.
Outra pesquisa interessante de fazer na comunidade é sobre
plantas medicinais: alguém ainda as utiliza na comunidade?
Quais poderiam fazer parte de uma horta na escola?
Ao trabalhar fora da sala de aula aproveite para observar
com seus alunos a localização da escola e as questões do
entorno (pontos positivos e negativos): diferentes tipos de
poluição quem afetam a comunidade, a responsabilidade e o
papel de cada cidadão, entre outros temas.
Outra sugestão é organizar feiras de meio ambiente na es-
cola, abrindo para a participação dos pais e da comunidade. 27

Atividades para as
diferentes disciplinas
Geografia
Procure explorar elementos do texto relacionados a difer-
entes cenários. Relacione com os ambientes conhecidos pelas
crianças, indicando os nomes dos rios e dos acidentes ge-
ográficos, por exemplo. Se esse local for próximo a uma área
urbana ou rural com comunidades, indique como se chega
nesse local, quais seus moradores.
Aproveite as saídas da escola para trabalhar com con-
fecção de mapas sobre a comunidade ou explorar os mapas
já existentes do seu município.

Matemática
Trabalhe com os elementos naturais para discutir a ideias
de conjuntos: utilize sementes ou plantas locais para tra-
balhos com unidade, dezena, dobro e metade, por exemplo.

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Forme conjuntos de folhas, animais e árvores frutíferas. Tra-
balhe conceitos das operações nesses conjuntos e aplique as
unidades kg e L, por exemplo, falando sobre transformação de
recursos (árvore em papel, água para fabricação de utensílios
e alimentos).
Também é possível trabalhar com as diferentes formas ge-
ométricas, imaginando as formas encontradas nessa floresta:
28
tocas dos animais, tamanho e forma das árvores, entre outros.

Ciências
Retome a atividade já citada sobre os hábitos dos animais,
pensando agora em trabalhar com a cadeia alimentar, época de
reprodução (e lendas relacionadas).
É interessante abordar a temática da água em sala de aula:
benefícios do seu uso e problemas relacionados, o ciclo da água,
noções sobre importância de nascentes, rios, lagoas, praias,
mangue e mata ciliar.
Outras ideias de temas relacionados: o Sol, a Terra e a Água
como partes dos processos de existência da vida e a represen-
tação das partes das plantas e suas funções.

Português
Aproveite o trabalho com a fábula para inserir temas como
coletivo, construção de textos continuados, resumos, inter-
pretação da história, leitura de temas ambientais (ressaltando
problemas municipais e estaduais).
Faça uma redação sobre a flora e a fauna da região. Pesquisem
notícias e entrevistas envolvendo as questões ambientais para
colaborar com esse trabalho.
Você pode ainda utilizar partes das músicas citadas nesse
material para construir poemas e rimas. Por exemplo:

“Natureza nossa mãe hoje vive maltratada


por pessoas que não ligam que ela esteja condenada
29
Tem veneno em nossa água e muito lixo pelo chão
a sufocam com fumaça e podam seu coração”

A construção poética e rítmica desta parte da música é in-


spirada no repente nordestino, trata-se de uma redondilha
de 7 sílabas. Proponha que os alunos escrevam uma redon-
dilha de 7 sílabas com temas ambientais, contando 4 versos
de 7 sílabas (A-A-B-B):

O primeiro é rima A
O segundo também A
O terceiro é rima B
O quarto também B
Artes
Procure trazer instrumentos que apareçam na fábula para
o trabalho em sala de aula e crie instrumentos com mate-
riais reaproveitados que possam reproduzir sons semelhan-
tes aos escutados ao longo da narrativa.
Resgate o trabalho com imagens, desenhos, teatro, inter-
pretação musical.

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Seguem algumas lendas citadas na
~ da Fábula para auxiliar
contaçAo
no trabalho em sala de aula

A LENDA DE PIRAGUI
30 Em uma antiga lenda,
Nhãnderu, deus dos índios
guarani, havia prometido
paraísos guardados a seus
filhos caçulas. Em um deter-
minado momento, então, esses
guaranis, que viviam no interior,
começaram a andar em direção ao
oceano, guiados pela crença que de
que se caminhassem para onde o sol
nasce, encontrariam a terra sem mal.
Andaram durante muito tempo, até
que chegaram ao litoral, e lá, bem perto
do mar, enfim avistaram as ilhas cerca-
das pelo oceano. Entenderam que afinal
tinham chegado ao paraíso. Assim, em-
briagados pela fé que estimulava a possi-
bilidade do cumprimento de uma promessa
divina, os escolhidos começaram a travessia.
Passaram por Jacutinga (Ilha da Cotinga), por Ieretã (Ilha do
Mel) e, quando estavam indo à Ilha de Superagüi (Ju Piragüi),
foram apanhados por uma tempestade. Uma mulher já bem
velha e por isso muito fraca, não suportou as provações da
travessia, seu corpo foi “comprado” pelo mal e o mar a levou.
Piragüi, como era chamada, ficou então temida pela redon-
deza. Ela aparecia nos rios e não gostava que as pessoas desre-
speitassem o mar.
Um dia um homem estava tentando pescar e não conseguia 31
pegar nada, quando, revoltado, resolveu fazer cocô na água
do rio para provocar Piragüi. Ela apareceu, bateu na bunda do
pescador e disse: “Por que você está fazendo isso?”. O homem
então reclamou da falta de peixeszv. E Piragüi fez uma propos-
ta a ele: “Tenho observado a aldeia onde mora e vi que sua
mulher está grávida. Vamos fazer assim: eu lhe dou agora to-
dos os peixes que você puder levar e quando seu filho nascer,
você o dará para mim.”
O homem chegou em casa com muitos, mas muitos peixes
e disse à sua mulher: “Já pesquei tanto neste rio que nunca
mais quero pescar por lá de novo”. E nunca mais voltou! Mas
seu filho cresceu e um dia foi pescar. Quando entrou no rio,
Piragüi, que não havia se esquecido do trato, estava lá, esper-
ando por ele. Então, ela o enrolou com seus longos cabelos e
o levou para o fundo do mar. Os pais do rapaz o procuraram
por todos os lugares e não o encontraram. Foi quando seu pai,
apavorado, lembrou-se do antigo acordo: ele tinha trocado o
seu próprio filho com Piragüi.

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Sem saber o que fazer, levou o caso a um grande Pajé.
O Pajé mandou construir uma casa de reza no local onde
viram o rapaz pela última vez. Cantaram e dançaram por
três dias inteiros chamando por Piragüi. No final do ter-
ceiro dia, Piragüi apareceu, dançando e cantando. Ela
trazia o rapaz enrolado em seus longos cabelos. Piragui
dançou e bebeu a cachaça que lhe foi oferecida durante
a noite inteira, e quando estava amanhecendo o dia, ela
32 acabou adormecendo embriagada. O rapaz aproveitou-se
e se desenrolou de seus cabelos e quando Piragüi acordou
não tinham mais nada a fazer a não ser voltar sozinha para
o rio.

A LENDA DO PAI DO MATO


O Pai do Mato é um homem assustador, de cabelos e bar-
ba compridos. Carrega um saco cheio de ferramentas, que
fazem barulho quando ele se desloca pelas matas, assu-
stando as pessoas que entram nas florestas sem respeitar
seus habitantes. Dessa forma, o Pai do Mato é um protetor
das matas e dos animais.
O Pai do Mato é filho da Caapora, que em tupi significa
caa (mato) pora (fera). Dizem os mais velhos que a Caa-
pora antes de morrer engravidou uma índia e que ela deu
à luz a um menino que ainda criancinha foi para o mato e
nunca mais voltou. O Pai do Mato também
é um personagem muito temido e res-
peitado por mateiros, caçadores e to-
dos aqueles que se aventuram mata
adentro.
Quando está bravo, o Pai do Mato
derruba árvores, faz barulhos,
assusta... Dizem os mais velhos
que quando ele se irrita não 33
adianta entrar no mato para
caçar, pois ele agita os ani-
mais, todos os bichos ficam
bravos.
Esta lenda tem um sentido
muito claro: o Pai do Mato
guarda a floresta, impõe re-
gras inquebrantáveis àqueles
que se aventuram a entrar
na mata sem respeitar suas
leis. Os caçadores eram os
principais responsáveis pela
manutenção dessa crença,
que tinha como objetivo
manter as pessoas afastadas
das matas, de onde tiravam
o sustento da família.

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A SUNDARA
A Sundara é uma coruja pequena,
com a face branca e olhos pretos grandes.
Para o caiçara, a Sundara é aviso de coisa
ruim, mau agouro. Ela é também conhecida
como “rasga mortalha” devido ao seu som
parecido ao de um pano rasgando. Quando
a Sundara passa rasgando, as pessoas se
benzem. Se a Sundara pousar em cima da
casa, dizem para logo enxotar. Mas tem que
ter cuidado nessa hora, para que ela não se
assuste e comece a rasgar, pois se isso acon-
tecer tem que benzer a casa e desenhar uma
cruz de carvão na porta.
O GALO DE DEUS
O beija-flor é o menor de todos os passarinhos e é exatamente
ele quem ensina a primeira lição sobre a atividade da caça na
cultura caiçara. Para o caiçara, o beija flor é o galo de Deus.
Ninguém pode matá-lo. Se uma criança matar um beija-flor,
Deus fica muito irritado e vai castigar o infrator malvado, man- 35
dando uma tempestade de trovoada. E é desta forma que as
regras para a atividade da caça começam a ser introduzidas
nessa região.

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Outras lendas citadas na história podem ser encontradas no site
www.cultimar.org.br ou nos materiais entregues durante as oficinas
de Educação Ambiental Biorregionalista realizadas pelo Projeto Cul-
timar.
Qualquer curiosidade, entrem em contato com Karin (karin@culti-
mar.com.br) ou Manuela (leladreyer@yahoo.com.br). Enviem também
fotos ou contem-nos suas experiências de trabalho com esse material.

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