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Secretaria de Estado da

Educação da Paraíba – SEE-PB

Professor de Educação Básica 3


(comum a todos)

Língua Portuguesa
Compreensão e interpretação de textos. .........................................................................................................................1
Tipologia textual. .................................................................................................................................................................2
Ortografia oficial. .................................................................................................................................................................9
Acentuação gráfica. .......................................................................................................................................................... 13
Emprego das classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição e
conjunção: emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem. ....................................................... 14
Emprego do sinal indicativo de crase. .......................................................................................................................... 40
Sintaxe da oração e do período. ..................................................................................................................................... 42
Emprego dos sinais de Pontuação. ................................................................................................................................ 52
Concordância nominal e verbal. .................................................................................................................................... 53
Regência nominal e verbal. ............................................................................................................................................. 56
Significação das palavras. ............................................................................................................................................... 59
Redação de correspondências oficiais. ......................................................................................................................... 61
Coexistência das regras ortográficas atuais com o Novo Acordo Ortográfico. ...................................................... 70
Reescritura de frases. ...................................................................................................................................................... 72
Função social da linguagem. ........................................................................................................................................... 76
Relação entre a linguagem verbal e as outras linguagens. ........................................................................................ 78
Variação linguística. ......................................................................................................................................................... 81
Mecanismos de organização textual: coesão e coerência. ......................................................................................... 84
Semântica. .......................................................................................................................................................................... 88
Figuras de linguagem. ...................................................................................................................................................... 88

Legislação Básica em Educação


Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional atualizada, LDB, Lei nº 9.394/1996. .............................................1
Lei nº 10.639/2003 - Cultura Afro – Brasileira. .......................................................................................................... 15
PROVA BRASIL. FUNDEB (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica). IDEB (Índice de
Desenvolvimento Educacional). ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). ....................................................... 15
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. ........................................................................................... 20
Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Médio.... ................................................................................................ 45
Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. ....................................................................................... 54
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. .............................................................. 56
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. .............................................................................................................. 82

Conhecimentos Pedagógicos
Gestão Escolar. .....................................................................................................................................................................1
Conselho Escolar. Conselho de Classe. .............................................................................................................................5
Projeto Político-Pedagógico da Escola. ......................................................................................................................... 15
Planejamento e Plano Escolar/Ensino. ......................................................................................................................... 18

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Formação Continuada. ..................................................................................................................................................... 22
Educação Inclusiva: Fundamentos, Políticas e Práticas Escolares. ......................................................................... 27
Educação e Sociedade. ..................................................................................................................................................... 30
O Papel da Didática na formação do Professor: saberes e competências. .............................................................. 43
Tendências pedagógicas e as abordagens de ensino. ................................................................................................ 51
Currículo escolar e a construção do conhecimento. ................................................................................................... 57
Interdisciplinaridade no ensino. .................................................................................................................................... 64
Questões atuais de seleção e organização do conhecimento escolar. ..................................................................... 68
Métodos de ensino: enfoque teórico e metodológico. ............................................................................................... 78

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LÍNGUA PORTUGUESA

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APOSTILAS OPÇÃO
Não saber interpretar corretamente um texto pode gerar
inúmeros problemas, afetando não só o desenvolvimento
profissional, mas também o desenvolvimento pessoal. O mundo
moderno cobra de nós inúmeras competências, uma delas é a
proficiência na língua, e isso não se refere apenas a uma boa
comunicação verbal, mas também à capacidade de entender
aquilo que está sendo lido. O analfabetismo funcional está
Compreensão e interpretação de relacionado com a dificuldade de decifrar as entrelinhas do
textos. código, pois a leitura mecânica é bem diferente da leitura
interpretativa, aquela que fazemos ao estabelecer analogias e
criar inferências. Para que você não sofra mais com a análise de
textos, elaboramos algumas dicas para você seguir e tirar suas
Interpretação de Texto
dúvidas.
Uma interpretação de texto competente depende de
A leitura é o meio mais importante para chegarmos ao
inúmeros fatores, mas nem por isso deixaremos de contemplar
conhecimento, portanto, precisamos aprender a ler e não
alguns que se fazem essenciais para esse exercício. Muitas vezes,
apenas “passar os olhos sobre algum texto”. Ler, na verdade,
apressados, descuidamo-nos das minúcias presentes em um
é dar sentido à vida e ao mundo, é dominar a riqueza de
texto, achamos que apenas uma leitura já se faz suficiente, o que
qualquer texto, seja literário, informativo, persuasivo, narrativo,
não é verdade. Interpretar demanda paciência e, por isso, sempre
possibilidades que se misturam e as tornam infinitas. É preciso,
releia, pois uma segunda leitura pode apresentar aspectos
para uma boa leitura, exercitar-se na arte de pensar, de captar
surpreendentes que não foram observados anteriormente.
ideias, de investigar as palavras… Para isso, devemos entender,
Para auxiliar na busca de sentidos do texto, você pode também
primeiro, algumas definições importantes:
retirar dele os tópicos frasais presentes em cada parágrafo,
isso certamente auxiliará na apreensão do conteúdo exposto.
Texto
Lembre-se de que os parágrafos não estão organizados, pelo
O texto (do latim textum: tecido) é uma unidade básica de
menos em um bom texto, de maneira aleatória, se estão no lugar
organização e transmissão de ideias, conceitos e informações de
que estão, é porque ali se fazem necessários, estabelecendo
modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um quadro, um
uma relação hierárquica do pensamento defendido, retomando
símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma novela de
ideias supracitadas ou apresentando novos conceitos.
televisão também são formas textuais.
Para finalizar, concentre-se nas ideias que de fato foram
explicitadas pelo autor: os textos argumentativos não costumam
Interlocutor
conceder espaço para divagações ou hipóteses, supostamente
É a pessoa a quem o texto se dirige.
contidas nas entrelinhas. Devemos nos ater às ideias do autor,
isso não quer dizer que você precise ficar preso na superfície
Texto-modelo
do texto, mas é fundamental que não criemos, à revelia do
“Não é preciso muito para sentir ciúme. Bastam três – você,
autor, suposições vagas e inespecíficas. Quem lê com cuidado
uma pessoa amada e uma intrusa. Por isso todo mundo sente.
certamente incorre menos no risco de tornar-se um analfabeto
Se sua amiga disser que não, está mentindo ou se enganando.
funcional e ler com atenção é um exercício que deve ser
Quem agüenta ver o namorado conversando todo animado com
praticado à exaustão, assim como uma técnica, que fará de nós
outra menina sem sentir uma pontinha de não-sei-o-quê? (…)
leitores proficientes e sagazes. Agora que você já conhece nossas
É normal você querer o máximo de atenção do seu namorado,
dicas, desejamos a você uma boa leitura e bons estudos!
das suas amigas, dos seus pais. Eles são a parte mais importante
Fonte: http://portugues.uol.com.br/redacao/dicas-para-uma-boa-
da sua vida.”
interpretacao-texto.html
(Revista Capricho)
Questões
Modelo de Perguntas
1) Considerando o texto-modelo, é possível identificar quem
O uso da bicicleta no Brasil
é o seu interlocutor preferencial?
Um leitor jovem.
A utilização da bicicleta como meio de locomoção no Brasil
ainda conta com poucos adeptos, em comparação com países
2) Quais são as informações (explícitas ou não) que permitem
como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos quais a bicicleta
a você identificar o interlocutor preferencial do texto?
é um dos principais veículos nas ruas. Apesar disso, cada vez
Do contexto podemos extrair indícios do interlocutor
mais pessoas começam a acreditar que a bicicleta é, numa
preferencial do texto: uma jovem adolescente, que pode ser
comparação entre todos os meios de transporte, um dos que
acometida pelo ciúme. Observa-se ainda , que a revista Capricho
oferecem mais vantagens.
tem como público-alvo preferencial: meninas adolescentes.
A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicletas
A linguagem informal típica dos adolescentes.
e a outros veículos que, por lei, devem andar na via e jamais
na calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são todos
09 DICAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
considerados veículos, com direito de circulação pelas ruas e
01) Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do
prioridade sobre os automotores.
assunto;
Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à bicicleta
02) Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a
no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade, pois as bikes
leitura;
não emitem gases nocivos ao ambiente, não consomem petróleo
03) Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo
e produzem muito menos sucata de metais, plásticos e borracha;
menos duas vezes;
a diminuição dos congestionamentos por excesso de veículos
04) Inferir;
motorizados, que atingem principalmente as grandes cidades; o
05) Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
favorecimento da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito
06) Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do
bom; e a economia no combustível, na manutenção, no seguro e,
autor;
claro, nos impostos.
07) Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor
No Brasil, está sendo implantado o sistema de
compreensão;
compartilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por exemplo,
08) Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada
o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da Prefeitura, em
questão;
parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA, com quase um
09) O autor defende ideias e você deve percebê-las;
ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São Paulo, Santos,
Fonte: http://portuguesemfoco.com/09-dicas-para-melhorar-a-
Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo país aderirem a
interpretacao-de-textos-em-provas/
esse sistema, mais duas capitais já estão com o projeto pronto

Língua Portuguesa 1
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APOSTILAS OPÇÃO
em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do compartilhamento é Considerando a relação entre o título e a imagem, é correto
semelhante em todas as cidades. Em Porto Alegre, os usuários concluir que um dos temas diretamente explorados no cartum é
devem fazer um cadastro pelo site. O valor do passe mensal é (A) o aumento da circulação de ciclistas nas vias públicas.
R$ 10 e o do passe diário, R$ 5, podendo-se utilizar o sistema (B) a má qualidade da pavimentação em algumas ruas.
durante todo o dia, das 6h às 22h, nas duas modalidades. Em (C) a arbitrariedade na definição dos valores das multas.
todas as cidades que já aderiram ao projeto, as bicicletas estão (D) o número excessivo de automóveis nas ruas.
espalhadas em pontos estratégicos. (E) o uso de novas tecnologias no transporte público.
A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção
não está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda não Respostas
sabem que a bicicleta já é considerada um meio de transporte, 1. (B) / 2. (A) / 3. (D)
ou desconhecem as leis que abrangem a bike. Na confusão de
um trânsito caótico numa cidade grande, carros, motocicletas,
ônibus e, agora, bicicletas, misturam-se, causando, muitas vezes, Tipologia textual.
discussões e acidentes que poderiam ser evitados.
Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. A
verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles estão Tipos Textuais
totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. Por isso
é tão importante usar capacete e outros itens de segurança. A Para escrever um texto, necessitamos de técnicas que
maior parte dos motoristas de carros, ônibus, motocicletas e implicam no domínio de capacidades linguísticas. Temos dois
caminhões desconhece as leis que abrangem os direitos dos momentos: o de formular pensamentos (o que se quer dizer)
ciclistas. Mas muitos ciclistas também ignoram seus direitos e o de expressá-los por escrito (o escrever propriamente dito).
e deveres. Alguém que resolve integrar a bike ao seu estilo de Fazer um texto, seja ele de que tipo for, não significa apenas
vida e usá-la como meio de locomoção precisa compreender escrever de forma correta, mas sim, organizar ideias sobre
que deverá gastar com alguns apetrechos necessários para determinado assunto.
E para expressarmos por escrito, existem alguns modelos de
poder trafegar. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, expressão escrita: Descrição – Narração – Dissertação.
as bicicletas devem, obrigatoriamente, ser equipadas com
campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos Descrição
pedais, além de espelho retrovisor do lado esquerdo.
(Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. Adaptado) Expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma
visão;
01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como meio de É um tipo de texto figurativo;
locomoção nas metrópoles brasileiras
(A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra Retrato de pessoas, ambientes, objetos;
devido à falta de regulamentação. Predomínio de atributos;
(B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido
incentivado em várias cidades. Uso de verbos de ligação;
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela Frequente emprego de metáforas, comparações e outras
maioria dos moradores. figuras de linguagem;
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com os
demais meios de transporte. Tem como resultado a imagem física ou psicológica.
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade
arriscada e pouco salutar. Narração
Expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta
02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos
antes, durante e depois dos acontecimentos (geralmente);
objetivos centrais do texto é
(A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do É um tipo de texto sequencial;
ciclista.
Relato de fatos;
(B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta é
mais seguro do que dirigir um carro. Presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo;
(C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bicicleta
Apresentação de um conflito;
no Brasil.
(D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como meio de Uso de verbos de ação;
locomoção se consolidou no Brasil.
Geralmente, é mesclada de descrições;
(E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista deve
dar prioridade ao pedestre. O diálogo direto é frequente.

03. Considere o cartum de Evandro Alves. Dissertação


Afogado no Trânsito
Expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa;
É um tipo de texto argumentativo.
Defesa de um argumento:
a) apresentação de uma tese que será defendida,
b) desenvolvimento ou argumentação,
c) fechamento;
Predomínio da linguagem objetiva;
Prevalece a denotação.

Carta
Esse é um tipo de texto que se caracteriza por envolver um
remetente e um destinatário;
(http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br) É normalmente escrita em primeira pessoa, e sempre visa um
tipo de leitor;

Língua Portuguesa 2
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APOSTILAS OPÇÃO
- A descrição pode ser considerada um dos elementos
É necessário que se utilize uma linguagem adequada com
constitutivos da dissertação e da argumentação;
o tipo de destinatário e que durante a carta não se perca a
- é impossível separar narração de descrição;
visão daquele para quem o texto está sendo escrito.
- O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas sim a
capacidade de observação que deve revelar aquele que a realiza;
Descrição
- Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo:
“(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo
É a representação com palavras de um objeto, lugar, situação
desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea
ou coisa, onde procuramos mostrar os traços mais particulares
e fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que
ou individuais do que se descreve. É qualquer elemento que seja
parecem conformados expressamente para esposas da multidão
apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras, em
(...)” (Raul Pompéia – O Ateneu);
imagens.
- Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não
Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma pessoa
existe relação de anterioridade e posterioridade entre seus
ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição. Não
enunciados;
é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista do
- Devem-se evitar os verbos e, se isso não for possível, que
observador varia de acordo com seu grau de percepção. Dessa
se usem então as formas nominais, o presente e o pretério
forma, o que será importante ser analisado para um, não será
imperfeito do indicativo, dando-se sempre preferência aos
para outro.
verbos que indiquem estado ou fenômeno.
A vivência de quem descreve também influencia na hora de
- Todavia deve predominar o emprego das comparações, dos
transmitir a impressão alcançada sobre determinado objeto,
adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto.
pessoa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento.
A característica fundamental de um texto descritivo é essa
Exemplos:
inexistência de progressão temporal. Pode-se apresentar, numa
(I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. Mas
descrição, até mesmo ação ou movimento, desde que eles sejam
a penumbra dos ramos cobria o atalho.
sempre simultâneos, não indicando progressão de uma situação
Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores,
anterior para outra posterior. Tanto é que uma das marcas
pequenas surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado
linguísticas da descrição é o predomínio de verbos no presente
pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o
ou no pretérito imperfeito do indicativo: o primeiro expressa
meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de
concomitância em relação ao momento da fala; o segundo, em
abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.”
relação a um marco temporal pretérito instalado no texto.
(extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice Lispector)
Para transformar uma descrição numa narração, bastaria
introduzir um enunciado que indicasse a passagem de um
(II) Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole,
estado anterior para um posterior. No caso do texto II inicial,
aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em
para transformá-lo em narração, bastaria dizer: Reunia a isso
reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinquenta
grande medo do pai. Mais tarde, Iibertou-se desse medo...
minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o
cérebro. Reunia a isso grande medo ao pai. Era uma criança fina,
Características Linguísticas:
pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola
O enunciado narrativo, por ter a representação de
depois do pai e retiravase antes. O mestre era mais severo com
um acontecimento, fazer-transformador, é marcado pela
ele do que conosco.
temporalidade, na relação situação inicial e situação final,
enquanto que o enunciado descritivo, não tendo transformação,
(Machado de Assis. “Conto de escola”. Contos. 3ed. São
é atemporal.
Paulo, Ática, 1974, págs. 3132.)
Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintático-
semânticas encontradas no texto que vão facilitar a compreensão:
Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do professor da
- Predominância de verbos de estado, situação ou indicadores
escola que o escritor frequentava.
de propriedades, atitudes, qualidades, usados principalmente
Deve-se notar:
no presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver,
- que todas as frases expõem ocorrências simultâneas (ao
situar-se, existir, ficar).
mesmo tempo que gastava duas horas para reter aquilo que os
- Ênfase na adjetivação para melhor caracterizar o que é
outros levavam trinta ou cinquenta minutos, Raimundo tinha
descrito;
grande medo ao pai);
- Emprego de figuras (metáforas, metonímias, comparações,
- por isso, não existe uma ocorrência que possa ser
sinestesias).
considerada cronologicamente anterior a outra do ponto de
- Uso de advérbios de localização espacial.
vista do relato (no nível dos acontecimentos, entrar na escola é
cronologicamente anterior a retirar-se dela; no nível do relato,
Recursos:
porém, a ordem dessas duas ocorrências é indiferente: o que o
- Usar impressões cromáticas (cores) e sensações térmicas.
escritor quer é explicitar uma característica do menino, e não
Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do
traçar a cronologia de suas ações);
sol.
- ainda que se fale de ações (como entrava, retirava-se), todas
- Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas,
elas estão no pretérito imperfeito, que indica concomitância em
concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu
relação a um marco temporal instalado no texto (no caso, o ano
sereno, uma pureza de cristal.
de 1840, em que o escritor frequentava a escola da Rua da Costa)
- As sensações de movimento e cor embelezam o poder da
e, portanto, não denota nenhuma transformação de estado;
natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparente
- se invertêssemos a sequência dos enunciados, não
que deslumbrava e enlouquecia qualquer um.
correríamos o risco de alterar nenhuma relação cronológica
- A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do
poderíamos mesmo colocar o últímo período em primeiro lugar
texto. Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal,
e ler o texto do fim para o começo: O mestre era mais severo com
muito crente.
ele do que conosco. Entrava na escola depois do pai e retirava-se
antes...
A descrição pode ser apresentada sob duas formas:
Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a passagem
Características:
são apresentadas como realmente são, concretamente. Ex: “Sua
- Ao fazer a descrição enumeramos características,
altura é 1,85m. Seu peso, 70 kg. Aparência atlética, ombros largos,
comparações e inúmeros elementos sensoriais;
pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos negros e lisos”.
- As personagens podem ser caracterizadas física e
Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exemplo:
psicologicamente, ou pelas ações;
“ A casa velha era enorme, toda em largura, com porta central

Língua Portuguesa 3
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APOSTILAS OPÇÃO
que se alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas de Descrição de objetos constituídos por várias partes:
guilhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique barreado, - Introdução: observações de caráter geral referentes à
dentro de uma estrutura de cantos e apoios de madeira-de-lei. procedência ou localização do objeto descrito.
Telhado de quatro águas. Pintada de roxo-claro. Devia ser mais - Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das
velha que Juiz de Fora, provavelmente sede de alguma fazenda partes que compõem o objeto, associados à explicação de como
que tivesse ficado, capricho da sorte, na linha de passagem da as partes se agrupam para formar o todo.
variante do Caminho Novo que veio a ser a Rua Principal, depois - Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo
a Rua Direita – sobre a qual ela se punha um pouco de esguelha (externamente) formato, dimensões, material, peso, textura, cor
e fugindo ligeiramente do alinhamento (...).” (Pedro Nava – Baú e brilho.
de Ossos) - Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto em
Descrição Subjetiva: quando há maior participação da sua totalidade.
emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são
transfigurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar Descrição de ambientes:
ou expressar seus sentimentos. Ex: “Nas ocasiões de aparato é - Introdução: comentário de caráter geral.
que se podia tomar pulso ao homem. Não só as condecorações - Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global do
gritavam-lhe no peito como uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade e
Aristarco todo era um anúncio; os gestos, calmos, soberanos, aroma (se houver).
calmos, eram de um rei...” (“O Ateneu”, Raul Pompéia) - Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a objetos
“(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, esculturas ou
esperança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par- quaisquer outros objetos.
de-frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando - Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no
por lei, de sobregoverno.” ambiente.
(Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)
Descrição de paisagens:
Os efeitos de sentido criados pela disposição dos elementos - Introdução: comentário sobre sua localização ou qualquer
descritivos: outra referência de caráter geral.
Como se disse anteriormente, do ponto de vista da progressão - Desenvolvimento: observação do plano de fundo
temporal, a ordem dos enunciados na descrição é indiferente, (explicação do que se vê ao longe).
uma vez que eles indicam propriedades ou características que - Desenvolvimento: observação dos elementos mais
ocorrem simultaneamente. No entanto, ela não é indiferente do próximos do observador explicação detalhada dos elementos
ponto de vista dos efeitos de sentido: descrever de cima para que compõem a paisagem, de acordo com determinada ordem.
baixo ou viceversa, do detalhe para o todo ou do todo para o - Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acerca
detalhe cria efeitos de sentido distintos. da impressão que a paisagem causa em quem a contempla.
Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, de
Bocage: Descrição de pessoas (I):
Magro, de olhos azuis, carão moreno, - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer
bem servido de pés, meão de altura, aspecto de caráter geral.
triste de facha, o mesmo de figura, - Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor
nariz alto no meio, e não pequeno. da pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas).
- Desenvolvimento: características psicológicas
Incapaz de assistir num só terreno, (personalidade, temperamento, caráter, preferências,
mais propenso ao furor do que à ternura; inclinações, postura, objetivos).
bebendo em níveas mãos por taça escura - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
de zelos infernais letal veneno. geral.

Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão,1968, pág. 497. Descrição de pessoas (II):
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer
O poeta descreve-se das características físicas para as aspecto de caráter geral.
características morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria - Desenvolvimento: análise das características físicas,
o mesmo, pois as características físicas perderiam qualquer associadas às características psicológicas (1ª parte).
relevo. - Desenvolvimento: análise das características físicas,
O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a associadas às características psicológicas (2ª parte).
visualizar uma cena. É como traçar com palavras o retrato de - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
um objeto, lugar, pessoa etc., apontando suas características geral.
exteriores, facilmente identificáveis (descrição objetiva), ou
suas características psicológicas e até emocionais (descrição A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma
subjetiva). estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam.
Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjetivos, Porque toda técnica descritiva implica contemplação e
também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendizado apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descrever,
desta técnica, sugere-se que o concursando, após escrever seu precisa possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o pintor
texto, sublinhe todos os substantivos, acrescentando antes ou capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma
depois deste um adjetivo ou uma locução adjetiva. descrição focaliza cenas ou imagens, conforme o permita sua
sensibilidade.
Descrição de objetos constituídos de uma só parte:
- Introdução: observações de caráter geral referentes à Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não-
procedência ou localização do objeto descrito. literária ou literária. Na descrição não-literária, há maior
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) formato (comparação preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular.
com figuras geométricas e com objetos semelhantes); dimensões Por ser objetiva, há predominância da denotação.
(largura, comprimento, altura, diâmetro etc.)
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) material, peso, cor/ Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é
brilho, textura. um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto descrever aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os
como um todo. compõem, para descrever experiências, processos, etc.

Língua Portuguesa 4
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APOSTILAS OPÇÃO
Exemplo: Elementos Estruturais (I):
Folheto de propaganda de carro - Enredo: desenrolar dos acontecimentos.
Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir - Personagens: são seres que se movimentam, se relacionam
o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando e dão lugar à trama que se estabelece na ação. Revelam-se por
tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat meio de características físicas ou psicológicas. Os personagens
Variant possuem direção hidráulica e ar condicionado de podem ser lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais
elevada capacidade, proporcionando a climatização perfeita do (trabalhador, estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o
ambiente. medroso, o tímido, o avarento etc.), heróis ou antiheróis,
Porta-malas - O compartimento de bagagens possui protagonistas ou antagonistas.
capacidade de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500 - Narrador: é quem conta a história.
litros, com o encosto do banco traseiro rebaixado. - Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico.
Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em - Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o
plástico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para tempo convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tempo
evitar a deformação em caso de colisão. interior, subjetivo.

Textos descritivos literários: Na descrição literária Elementos Estruturais (II):


predomina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de Personagens Quem? Protagonista/Antagonista
associações conotativas que podem ser exploradas a partir de Acontecimento O quê? Fato
descrições de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes; Tempo Quando? Época em que ocorreu o fato
situações e coisas. Vale lembrar que textos descritivos também Espaço Onde? Lugar onde ocorreu o fato
podem ocorrer tanto em prosa como em verso. Modo Como? De que forma ocorreu o fato
Causa Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fato
Narração Resultado - previsível ou imprevisível.
Final - Fechado ou Aberto.
A Narração é um tipo de texto que relata uma história real,
fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se
apresenta personagens que atuam em um tempo e em um de tal forma, que não é possível compreendê-los isoladamente,
espaço, organizados por uma narração feita por um narrador. como simples exemplos de uma narração. Há uma relação
É uma série de fatos situados em um espaço e no tempo, de implicação mútua entre eles, para garantir coerência e
tendo mudança de um estado para outro, segundo relações verossimilhança à história narrada.
de sequencialidade e causalidade, e não simultâneos como na Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão,
descrição. Expressa as relações entre os indivíduos, os conflitos e obrigatoriamente sempre presentes no discurso, exceto as
as ligações afetivas entre esses indivíduos e o mundo, utilizando personagens ou o fato a ser narrado.
situações que contêm essa vivência.
Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), Existem três tipos de foco narrativo:
o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e
com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração - Narrador-personagem: é aquele que conta a história na
predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de ações; qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem ao
assim sendo, a maioria dos verbos que compõem esse tipo de mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa.
texto são os verbos de ação. O conjunto de ações que compõem - Narrador-observador: é aquele que conta a história como
o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor, a
texto recebe o nome de enredo. história é contada em 3ª pessoa.
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas - Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o enredo
personagens, que são justamente as pessoas envolvidas e as personagens, revelando seus pensamentos e sentimentos
no episódio que está sendo contado. As personagens são íntimos. Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, aparece
identificadas (nomeadas) no texto narrativo pelos substantivos misturada com pensamentos dos personagens (discurso
próprios. indireto livre).
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem
querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar)  as ações do Estrutura:
enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre - Apresentação: é a parte do texto em que são apresentados
uma ação ou ações  é chamado de espaço, representado no texto alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da
pelos advérbios de lugar. história, como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá.
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer - Complicação: é a parte do texto em que se inicia
“quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da propriamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem,
narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através conduzindo ao clímax.
dos tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de - Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu
tempo. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele momento crítico, tornando o desfecho inevitável.
que indica ao leitor “como” o fato narrado aconteceu. - Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações
A história contada, por isso, passa por uma introdução dos personagens.
(parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo
desenvolvimento do enredo (é a história propriamente dita, Tipos de Personagens:
o meio, o “miolo” da narrativa, também chamada de trama) Os personagens têm muita importância na construção de um
e termina com a conclusão da história (é o final ou epílogo). texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser principais ou
Aquele que conta a história é o narrador,  que pode ser pessoal secundários, conforme o papel que desempenham no enredo,
(narra em 1ª pessoa: Eu) ou impessoal (narra em 3ª pessoa: podem ser apresentados direta ou indiretamente.
Ele). A apresentação direta acontece quando o personagem
Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos aparece de forma clara no texto, retratando suas características
de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos físicas e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando
substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes os personagens aparecem aos poucos e o leitor vai construindo
do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas a sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir de
pelos verbos, formando uma rede: a própria história contada. suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai fazendo.
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a
história. - Em 1ª pessoa:
Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a
história e é o protagonista.

Língua Portuguesa 5
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APOSTILAS OPÇÃO
Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acreditar, Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre
eu estava lá e vi. pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear
da temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no
- Em 3ª pessoa: romance machadiano Memórias póstumas de Brás Cubas,
quando o narrador começa contando sua morte para em
Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pessoa. seguida relatar sua vida, a sequência temporal foi modificada.
Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da leitura, as relações
sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo: de anterioridade e de posterioridade.
Resumindo: na narração, as três características explicadas
acima (transformação de situações, figuratividade e relações
Tipos de Discurso: de anterioridade e posterioridade entre os episódios relatados)
Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente devem estar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só
para o personagem, sem a sua interferência. uma ou duas dessas características não é uma narração.
Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem
diz, sem lhe passar diretamente a palavra. Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto
Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do narrativo:
personagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente - Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que
recente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX. aconteceu, quando e onde.
- Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos
Sequência Narrativa: personagens.
- Desenvolvimento: detalhes do fato.
Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias: - Conclusão: consequências do fato.
uma coordenase a outra, uma implica a outra, uma subordinase
a outra. Caracterização Formal:
A narrativa típica tem quatro mudanças de situação: Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto
- uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um narrativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade,
dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo); porquanto a criação e o colorido do contexto estão em função
- uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma da individualidade e do estilo do narrador. Dependendo do
competência para fazer algo); enfoque do redator, a narração terá diversas abordagens. Assim
- uma em que a personagem executa aquilo que queria ou é de grande importância saber se o relato é feito em primeira
devia fazer (é a mudança principal da narrativa); pessoa ou terceira pessoa. No primeiro caso, há a participação
- uma em que se constata que uma transformação se deu e do narrador; segundo, há uma inferência do último através da
em que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens onipresença e onisciência.
(geralmente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos
maus). acontecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo
o aspecto linear e constituindo o que se denomina “flashback”.
Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se O narrador que usa essa técnica (característica comum no
pressupõem logicamente. Com efeito, quando se constata a cinema moderno) demonstra maior criatividade e originalidade,
realização de uma mudança é porque ela se verificou, e ela podendo observar as ações ziguezagueando no tempo e no
efetuase porque quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazêla. espaço.
Tomemos, por exemplo, o ato de comprar um apartamento:
quando se assina a escritura, realizase o ato de compra; para Exemplo - Personagens
isso, é necessário poder (ter dinheiro) e querer ou dever
comprar (respectivamente, querer deixar de pagar aluguel ou “Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr.
ter necessidade de mudar, por ter sido despejado, por exemplo). Amâncio não viu a mulher chegar.
Algumas mudanças são necessárias para que outras se Não quer que se carpa o quintal, moço?
deem. Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face
bambu ou outro instrumento para derrubála. Para ter um carro, escalavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do
é preciso antes conseguir o dinheiro. passado, os olhos).”
(Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre: Mercado
Narrativa e Narração Aberto, p. 5O)

Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade Exemplo - Espaço


é um componente narrativo que pode existir em textos que
não são narrações. A narrativa é a transformação de situações. Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redondeza
Por exemplo, quando se diz “Depois da abolição, incentivouse escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de algum rio. Não
a imigração de europeus”, temos um texto dissertativo, que, havia, em todo o caso, como negarlhe a insipidez.”
no entanto, apresenta um componente narrativo, pois contém
uma mudança de situação: do não incentivo ao incentivo da (Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto
imigração européia. Alegre: Movimento, 1981, p. 51)
Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto,
o que é narração? Exemplo - Tempo
A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três características:
- é um conjunto de transformações de situação (o texto de “Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembrase: a
Manuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preenche mulher lhe pediu que a chamasse cedo.”
essa condição);
- é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e fatos (Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4)
concretos (o texto “Porquinho-daíndia» preenche também esse
requisito); Tipologia da Narrativa Ficcional:
- as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal - Romance
que, entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e - Conto
posterioridade (no texto “Porquinhodaíndia» o fato de ganhar - Crônica
o animal é anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por - Fábula
sua vez é anterior ao de o menino leválo para a sala, que por seu - Lenda
turno é anterior ao de o porquinhoda-índia voltar ao fogão). - Parábola

Língua Portuguesa 6
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APOSTILAS OPÇÃO
- Anedota - Contestação: contestar uma ideia ou uma situação. Ex: “É
- Poema Épico importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é a
solução no combate à insegurança.”
Tipologia da Narrativa NãoFiccional: - Características: caracterização de espaços ou aspectos.
- Memorialismo - Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex:
- Notícias “Em 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com
- Relatos televisores. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de
- História da Civilização aparelhos receptores instalados do mundo). Ao todo, existem
no país 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas) e
Apresentação da Narrativa: 2.624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebidos).
- visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em (...)”
quadrinhos) e desenhos. - Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
- auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos. - Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto do
- audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas. texto. Ex: “A principal característica do déspota encontra-se no
fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das regras
Dissertação que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu poder,
escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusivamente de
A dissertação é uma exposição, discussão ou interpretação sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.”
de uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar algum tema. - Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que
Pressupõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio, compõem o texto.
clareza, coerência, objetividade na exposição, um planejamento - Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz a
de trabalho e uma habilidade de expressão. pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo
É em função da capacidade crítica que se questionam futebol não é uma prova de alienação?”
pontos da realidade social, histórica e psicológica do mundo - Suspense: alguma informação que faça aumentar a
e dos semelhantes. Vemos também, que a dissertação no seu curiosidade do leitor.
significado diz respeito a um tipo de texto em que a exposição - Comparação: social e geográfica.
de uma ideia, através de argumentos, é feita com a finalidade - Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à
de desenvolver um conteúdo científico, doutrinário ou artístico. distância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo
Observe-se que: das massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades
- o texto é temático, pois analisa e interpreta a realidade que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira
com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem doença do século...”
particular e do que faz para chegar a ser primeiroministro, mas - Narração: narrar um fato.
do homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder);
- existe mudança de situação no texto (por exemplo, a Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial,
mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte de forma organizada e progressiva. É a parte maior e mais
no momento em que se tornam primeirosministros); importante do texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas:
- a progressão temporal dos enunciados não tem importância, - Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com
pois o que importa é a relação de implicação (clamar contra a este tipo de abordagem.
corrupção da corte implica ser corrupto depois da nomeação - Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a ideia
para primeiroministro). principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a definição.
- Comparação: estabelecer analogias, confrontar situações
Características: distintas.
- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é - Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta pontos
temático; favoráveis e desfavoráveis.
- como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação; - Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou
- ao contrário do texto narrativo, nele as relações de descrever uma cena.
anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm maior - Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados estatísticos.
importância o que importa são suas relações lógicas: analogia, - Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para
pertinência, causalidade, coexistência, correspondência, prováveis resultados.
implicação, etc. - Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de apresentar questionamento e reflexão.
redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem - Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos,
características próprias a cada tipo de texto. valores, juízos.
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento - Causa e Consequência: estruturar o texto através dos
/ Conclusão. porquês de uma determinada situação.
- Oposição: abordar um assunto de forma dialética.
Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresenta a - Exemplificação: dar exemplos.
ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento.
Tipos: Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fechamento
- Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discutidos. integrado de tudo que se argumentou. Para ela convergem todas
Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que as ideias anteriormente desenvolvidas.
olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...” - Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese.
- Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um - Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um
fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de
dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que quem lê.
a década colecionou, agravou vários dos históricos problemas
sociais do país. Entre eles, a violência, principalmente a urbana, 1º Parágrafo – Introdução
cuja escalada tem sido facilmente identificada pela população A. Tema: Desemprego no Brasil.
brasileira.” Contextualização: decorrência de um processo histórico
- Proposição: o autor explicita seus objetivos. problemático.
- Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma
coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer 2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento
se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano!
Faça parte desse time de vencedores desde a escolha desse B. Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que
momento! remetem a uma análise do tema em questão.

Língua Portuguesa 7
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APOSTILAS OPÇÃO
C. Argumento 2: Considerações a respeito de outro dado da necessário à afirmação estabelecida na frase nuclear. Pode-se
realidade. enumerar, seguindo-se os critérios de importância, preferência,
D. Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade de classificação ou aleatoriamente.
quem propõe soluções. Exemplo:
E. Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição.
1- O adolescente moderno está se tornando obeso por várias
7º Parágrafo: Conclusão causas: alimentação inadequada, falta de exercícios sistemáticos
F. Uma possível solução é apresentada. e demasiada permanência diante de computadores e aparelhos
G. O texto conclui que desigualdade não se casa com de Televisão.
modernidade.
2- Devido à expansão das igrejas evangélicas, é grande o
É bom lembrarmos que é praticamente impossível opinar número de emissoras que dedicam parte da sua programação à
sobre o que não se conhece. A leitura de bons textos é um dos veiculação de programas religiosos de crenças variadas.
recursos que permite uma segurança maior no momento de
dissertar sobre algum assunto. Debater e pesquisar são atitudes 3-
que favorecem o senso crítico, essencial no desenvolvimento de - A Santa Missa em seu lar.
um texto dissertativo. - Terço Bizantino.
- Despertar da Fé.
Ainda temos: - Palavra de Vida.
Tema: compreende o assunto proposto para discussão, o - Igreja da Graça no Lar.
assunto que vai ser abordado.
Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo 4-
discutido. - Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o governo
Argumentação: é um conjunto de procedimentos brasileiro diante de tantos desmatamentos, desequilíbrios
linguísticos com os quais a pessoa que escreve sustenta suas sociológicos e poluição.
opiniões, de forma a torná-las aceitáveis pelo leitor. É fornecer - Existem várias razões que levam um homem a enveredar
argumentos, ou seja, razões a favor ou contra uma determinada pelos caminhos do crime.
tese. - A gravidez na adolescência é um problema seríssimo,
porque pode trazer muitas consequências indesejáveis.
Estes assuntos serão vistos com mais afinco posteriormente. - O lazer é uma necessidade do cidadão para a sua
sobrevivência no mundo atual e vários são os tipos de lazer.
Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são: - O Novo Código Nacional de trânsito divide as faltas em
- toda dissertação é uma demonstração, daí a necessidade de várias categorias.
pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação;
- em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao tema; Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver através
- a coerência é tida como regra de ouro da dissertação; da comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e
- impõem-se sempre o raciocínio lógico; apresenta-lhes a semelhança ou dessemelhança.
- a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer Exemplo:
ambiguidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração
do que se quer expor. Deve ser clara, precisa, natural, original, “A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade; a
nobre, correta gramaticalmente. O discurso deve ser impessoal velhice, pelo contrário, é dominada por um vago e persistente
(evitar-se o uso da primeira pessoa). sentimento de dor, porque já estamos nos convencendo de que a
felicidade é uma ilusão, que só o sofrimento é real”.
O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar: (Arthur Schopenhauer)
uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou
mais frases que explicitem tal ideia. Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes,
Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada encontra no seu desenvolvimento um segmento causal (fato
(ideia central) porque oculta os problemas sociais realmente motivador) e, em outras situações, um segmento indicando
graves. (ideia secundária)”. consequências (fatos decorrentes).
Vejamos:
Ideia central: A poluição atmosférica deve ser combatida Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos marcam
urgentemente. temporal e espacialmente a evolução de ideias, processos.

Desenvolvimento: A poluição atmosférica deve ser Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se
combatida urgentemente, pois a alta concentração de elementos conceituar, exemplificar e aclarar as ideias para torná-las mais
tóxicos põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo compreensíveis.
daquelas que sofrem de problemas respiratórios: Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue proveniente do
coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão umbilical e na
- A propaganda intensiva de cigarros e bebidas tem levado ligação entre os pulmões e o coração, todas as artérias contém
muita gente ao vício. sangue vermelho-vivo, recém-oxigenado. Na artéria pulmonar,
- A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação porém, corre sangue venoso, mais escuro e desoxigenado, que o
criados pelo homem. coração remete para os pulmões para receber oxigênio e liberar
- A violência tem aumentado assustadoramente nas cidades gás carbônico”.
e hoje parece claro que esse problema não pode ser resolvido
apenas pela polícia. Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, deve
- O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise delimitar-se o tema que será desenvolvido e que poderá ser
atualmente. enfocado sob diversos aspectos. Se, por exemplo, o tema é a
- O problema dos sem-terra preocupa cada vez mais a questão indígena, ela poderá ser desenvolvida a partir das
sociedade brasileira. seguintes ideias:
- A violência contra os povos indígenas é uma constante na
O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras: história do Brasil.
- O surgimento de várias entidades de defesa das populações
Enumeração: Caracteriza-se pela exposição de uma série de indígenas.
coisas, uma a uma. Presta-se bem à indicação de características, - A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio
funções, processos, situações, sempre oferecendo o complemento brasileiro.

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APOSTILAS OPÇÃO
- A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena. Exemplos: Kuwait, kuwaitiano.

Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, deve c) Em siglas, símbolos, e mesmo em palavras adotadas como
fazer a estruturação do texto. unidades de medida de curso internacional.
Exemplos: K (Potássio), W (West), kg (quilograma), km
A estrutura do texto dissertativo constitui-se de: (quilômetro), Watt.

Introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvolvida Emprego de X e Ch


(geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do texto, por Emprega-se o X:
isso é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção para dois 1) Após um ditongo.
itens básicos: os objetivos do texto e o plano do desenvolvimento. Exemplos: caixa, frouxo, peixe
Contém a proposição do tema, seus limites, ângulo de análise e a Exceção: recauchutar e seus derivados
hipótese ou a tese a ser defendida.
Desenvolvimento: exposição de elementos que vão 2) Após a sílaba inicial “en”.
fundamentar a ideia principal que pode vir especificada Exemplos: enxame, enxada, enxaqueca
através da argumentação, de pormenores, da ilustração, da Exceção: palavras iniciadas por “ch” que recebem o prefixo
causa e da consequência, das definições, dos dados estatísticos, “en-”
da ordenação cronológica, da interrogação e da citação. No Exemplos: encharcar (de charco), enchiqueirar (de chiqueiro),
desenvolvimento são usados tantos parágrafos quantos encher e seus derivados (enchente, enchimento, preencher...)
forem necessários para a completa exposição da ideia. E esses
parágrafos podem ser estruturados das cinco maneiras expostas 3) Após a sílaba inicial “me-”.
acima. Exemplos: mexer, mexerica, mexicano, mexilhão
Conclusão: é a retomada da ideia principal, que agora deve Exceção: mecha
aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que já
foi fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação 4) Em vocábulos de origem indígena ou africana e nas palavras
(um parágrafo). Deve, pois, conter de forma sintética, o inglesas aportuguesadas.
objetivo proposto na instrução, a confirmação da hipótese Exemplos: abacaxi, xavante, orixá, xará, xerife, xampu
ou da tese, acrescida da argumentação básica empregada no
desenvolvimento. 5) Nas seguintes palavras:
bexiga, bruxa, coaxar, faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, puxar,
rixa, oxalá, praxe, roxo, vexame, xadrez, xarope, xaxim, xícara, xale,
Ortografia oficial. xingar, etc.

Emprega-se o dígrafo Ch:


Ortografia 1) Nos seguintes vocábulos:
bochecha, bucha, cachimbo, chalé, charque, chimarrão,
A ortografia se caracteriza por estabelecer padrões para a chuchu, chute, cochilo, debochar, fachada, fantoche, ficha, flecha,
forma escrita das palavras. Essa escrita está relacionada tanto mochila, pechincha, salsicha, tchau, etc.
a critérios etimológicos (ligados à origem das palavras) quanto
fonológicos (ligados aos fonemas representados). É importante Para representar o fonema /j/ na forma escrita, a grafia
compreender que a ortografia é fruto de uma convenção. A considerada correta é aquela que ocorre de acordo com a origem
forma de grafar as palavras é produto de acordos ortográficos da palavra. Veja os exemplos:
que envolvem os diversos países em que a língua portuguesa é gesso: Origina-se do grego gypsos
oficial. A melhor maneira de treinar a ortografia é ler, escrever e jipe: Origina-se do inglês jeep.
consultar o dicionário sempre que houver dúvida.
Emprega-se o G:
O Alfabeto 1) Nos substantivos terminados em -agem, -igem, -ugem
O alfabeto da língua portuguesa é formado por 26 letras. Cada Exemplos: barragem, miragem, viagem, origem, ferrugem
letra apresenta uma forma minúscula e outra maiúscula. Veja: Exceção: pajem
a A (á) b B (bê)
c C (cê) d D (dê) 2) Nas palavras terminadas em -ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio
e E (é) f F (efe) Exemplos: estágio, privilégio, prestígio, relógio, refúgio
g G (gê ou guê) h H (agá)
i I (i) j J (jota) 3) Nas palavras derivadas de outras que se grafam com g
k K (cá) l L (ele) Exemplos: engessar (de gesso), massagista (de massagem),
m M (eme) n N (ene) vertiginoso (de vertigem)
o O (ó) p P (pê)
q Q (quê) r R (erre) 4) Nos seguintes vocábulos:
s S (esse) t T (tê) algema, auge, bege, estrangeiro, geada, gengiva, gibi, gilete,
u U (u) v V (vê) hegemonia, herege, megera, monge, rabugento, vagem.
w W (dáblio) x X (xis)
y Y (ípsilon) z Z (zê) Emprega-se o J:
1) Nas formas dos verbos terminados em -jar ou -jear
Observação: emprega-se também o ç, que representa o Exemplos:
fonema /s/ diante das letras: a, o, e u em determinadas palavras. arranjar: arranjo, arranje, arranjem
despejar: despejo, despeje, despejem
Emprego das letras K, W e Y gorjear: gorjeie, gorjeiam, gorjeando
Utilizam-se nos seguintes casos: enferrujar: enferruje, enferrujem
a) Em antropônimos originários de outras línguas e seus viajar: viajo, viaje, viajem
derivados.
Exemplos: Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Taylor, 2) Nas palavras de origem tupi, africana, árabe ou exótica
taylorista. Exemplos: biju, jiboia, canjica, pajé, jerico, manjericão, Moji

b) Em topônimos originários de outras línguas e seus 3) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam j
derivados. Exemplos:

Língua Portuguesa 9
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APOSTILAS OPÇÃO
laranja- laranjeira loja- lojista lisonja - 4) Nos derivados em -zal, -zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita
lisonjeador nojo- nojeira Exemplos:
cereja- cerejeira varejo- varejista rijo- enrijecer cafezal, cafezeiro, cafezinho, arvorezinha, cãozito, avezita
jeito- ajeitar
5) Nos seguintes vocábulos:
4) Nos seguintes vocábulos: azar, azeite, azedo, amizade, buzina, bazar, catequizar, chafariz,
berinjela, cafajeste, jeca, jegue, majestade, jeito, jejum, laje, cicatriz, coalizão, cuscuz, proeza, vizinho, xadrez, verniz, etc.
traje, pegajento
6) Nos vocábulos homófonos, estabelecendo distinção no
Emprego das Letras S e Z contraste entre o S e o Z
Emprega-se o S: Exemplos:
1) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam s no cozer (cozinhar) e coser (costurar)
radical prezar( ter em consideração) e presar (prender)
traz (forma do verbo trazer) e trás (parte posterior)
Exemplos:
análise- analisar catálise- catalisador Observação: em muitas palavras, a letra X soa como Z. Veja os
casa- casinha, casebre liso- alisar exemplos:
exame exato exausto exemplo existir exótico
2) Nos sufixos -ês e -esa, ao indicarem nacionalidade, título inexorável
ou origem
Exemplos: Emprego de S, Ç, X e dos Dígrafos Sc, Sç, Ss, Xc, Xs
burguês- burguesa inglês- inglesa Existem diversas formas para a representação do fonema /S/.
chinês- chinesa milanês- milanesa Observe:

3) Nos sufixos formadores de adjetivos -ense, -oso e -osa Emprega-se o S:


Exemplos: Nos substantivos derivados de verbos terminados em
catarinense gostoso- gostosa amoroso- amorosa “andir”,”ender”, “verter” e “pelir”
palmeirense gasoso- gasosa teimoso- teimosa Exemplos:
expandir- expansão pretender- pretensão verter-
4) Nos sufixos gregos -ese, -isa, -osa versão expelir- expulsão
Exemplos: estender- extensão suspender- suspensão
catequese, diocese, poetisa, profetisa, sacerdotisa, glicose, converter - conversão repelir- repulsão
metamorfose, virose
Emprega-se Ç:
5) Após ditongos Nos substantivos derivados dos verbos “ter” e “torcer”
Exemplos: Exemplos:
coisa, pouso, lousa, náusea ater- atenção torcer- torção
deter- detenção distorcer-distorção
6) Nas formas dos verbos pôr e querer, bem como em seus manter- manutenção contorcer- contorção
derivados
Exemplos: Emprega-se o X:
pus, pôs, pusemos, puseram, pusera, pusesse, puséssemos Em alguns casos, a letra X soa como Ss
quis, quisemos, quiseram, quiser, quisera, quiséssemos Exemplos:
repus, repusera, repusesse, repuséssemos auxílio, expectativa, experto, extroversão, sexta, sintaxe, texto,
trouxe
7) Nos seguintes nomes próprios personativos:
Baltasar, Heloísa, Inês, Isabel, Luís, Luísa, Resende, Sousa, Emprega-se Sc:
Teresa, Teresinha, Tomás Nos termos eruditos
Exemplos:
8) Nos seguintes vocábulos: acréscimo, ascensorista, consciência, descender, discente,
abuso, asilo, através, aviso, besouro, brasa, cortesia, fascículo, fascínio, imprescindível, miscigenação, miscível,
decisão,despesa, empresa, freguesia, fusível, maisena, mesada, plebiscito, rescisão, seiscentos, transcender, etc.
paisagem, paraíso, pêsames, presépio, presídio, querosene,
raposa, surpresa, tesoura, usura, vaso, vigésimo, visita, etc. Emprega-se Sç:
Na conjugação de alguns verbos
Emprega-se o Z: Exemplos:
1) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam z no nascer- nasço, nasça
radical crescer- cresço, cresça
Exemplos: descer- desço, desça
deslize- deslizar razão- razoável vazio- esvaziar
raiz- enraizar cruz-cruzeiro Emprega-se Ss:
Nos substantivos derivados de verbos terminados em “gredir”,
2) Nos sufixos -ez, -eza, ao formarem substantivos abstratos a “mitir”, “ceder” e “cutir”
partir de adjetivos Exemplos:
Exemplos: agredir- agressão demitir- demissão ceder- cessão
inválido- invalidez limpo-limpeza macio- maciez discutir- discussão
rígido- rigidez progredir- progressão t r a n s m i t i r - t r a n s m i s s ã o
frio- frieza nobre- nobreza pobre-pobreza surdo- exceder- excesso repercutir- repercussão
surdez
Emprega-se o Xc e o Xs:
3) Nos sufixos -izar, ao formar verbos e -ização, ao formar
substantivos Em dígrafos que soam como Ss
Exemplos: Exemplos:
civilizar- civilização hospitalizar- hospitalização exceção, excêntrico, excedente, excepcional, exsudar
colonizar- colonização realizar- realização

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APOSTILAS OPÇÃO
Observações sobre o uso da letra X Exemplos: ah!, ih!, eh!, oh!, hem?, hum!, etc.
1) O X pode representar os seguintes fonemas:
/ch/ - xarope, vexame 4) Em compostos unidos por hífen, no início do segundo
elemento, se etimológico
/cs/ - axila, nexo Exemplos: anti-higiênico, pré-histórico, super-homem, etc.

/z/ - exame, exílio Observações:


1) No substantivo Bahia, o “h” sobrevive por tradição. Note que
/ss/ - máximo, próximo nos substantivos derivados como baiano, baianada ou baianinha
ele não é utilizado.
/s/ - texto, extenso
2) Os vocábulos erva, Espanha e inverno não possuem a
2) Não soa nos grupos internos -xce- e -xci- letra “h” na sua composição. No entanto, seus derivados eruditos
Exemplos: excelente, excitar sempre são grafados com h. Veja:
herbívoro, hispânico, hibernal.
Emprego das letras E e I
Na língua falada, a distinção entre as vogais átonas /e/ e /i / Emprego das Iniciais Maiúsculas e Minúsculas
pode não ser nítida. Observe: 1) Utiliza-se inicial maiúscula:
a) No começo de um período, verso ou citação direta.
Exemplos:
Emprega-se o E: Disse o Padre Antonio Vieira: “Estar com Cristo em qualquer
1) Em sílabas finais dos verbos terminados em -oar, -uar lugar, ainda que seja no inferno, é estar no Paraíso.”
Exemplos:
magoar - magoe, magoes “Auriverde pendão de minha terra,
continuar- continue, continues Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que à luz do sol encerra
2) Em palavras formadas com o prefixo ante- (antes, anterior) As promessas divinas da Esperança…”
Exemplos: antebraço, antecipar (Castro Alves)

3) Nos seguintes vocábulos: Observações:


cadeado, confete, disenteria, empecilho, irrequieto, mexerico, - No início dos versos que não abrem período, é facultativo o
orquídea, etc. uso da letra maiúscula.

Emprega-se o I : Por Exemplo:


1) Em sílabas finais dos verbos terminados em -air, -oer, -uir “Aqui, sim, no meu cantinho,
Exemplos: vendo rir-me o candeeiro,
cair- cai gozo o bem de estar sozinho
doer- dói e esquecer o mundo inteiro.”
influir- influi
- Depois de dois pontos, não se tratando de citação direta, usa-
2) Em palavras formadas com o prefixo anti- (contra) se letra minúscula.
Exemplos: Por Exemplo:
Anticristo, antitetânico “Chegam os magos do Oriente, com suas dádivas: ouro,
incenso, mirra.” (Manuel Bandeira)
3) Nos seguintes vocábulos:
aborígine, artimanha, chefiar, digladiar, penicilina, privilégio, b) Nos antropônimos, reais ou fictícios.
etc. Exemplos:
Pedro Silva, Cinderela, D. Quixote.
Emprego das letras O e U
Emprega-se o O/U: c) Nos topônimos, reais ou fictícios.
A oposição o/u é responsável pela diferença de significado de Exemplos:
algumas palavras. Veja os exemplos: Rio de Janeiro, Rússia, Macondo.
comprimento (extensão) e cumprimento (saudação,
realização) d) Nos nomes mitológicos.
soar (emitir som) e suar (transpirar) Exemplos:
Dionísio, Netuno.
Grafam-se com a letra O: bolacha, bússola, costume,
moleque. e) Nos nomes de festas e festividades.
Exemplos:
Grafam-se com a letra U: camundongo, jabuti, Manuel, tábua Natal, Páscoa, Ramadã.

Emprego da letra H f) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais.


Esta letra, em início ou fim de palavras, não tem valor fonético. Exemplos:
Conservou-se apenas como símbolo, por força da etimologia e ONU, Sr., V. Ex.ª.
da tradição escrita. A palavra hoje, por exemplo, grafa-se desta
forma devido a sua origem na forma latina hodie. g) Nos nomes que designam altos conceitos religiosos,
políticos ou nacionalistas.
Emprega-se o H: Exemplos:
1) Inicial, quando etimológico Igreja (Católica, Apostólica, Romana), Estado, Nação, Pátria,
Exemplos: hábito, hesitar, homologar, Horácio União, etc.

2) Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh, nh Observação: esses nomes escrevem-se com inicial minúscula
Exemplos: flecha, telha, companhia quando são empregados em sentido geral ou indeterminado.
Exemplo:
3) Final e inicial, em certas interjeições Todos amam sua pátria.

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APOSTILAS OPÇÃO
Emprego FACULTATIVO de letra maiúscula: Exemplos:
a) Nos nomes de logradouros públicos, templos e edifícios.
Exemplos: Você ainda tem coragem de
Rua da Liberdade ou rua da Liberdade Final de
Por perguntar por quê?
Igreja do Rosário ou igreja do Rosário frases e seguidos
Quê
Edifício Azevedo ou edifício Azevedo de pontuação
Você não vai? Por quê?
2) Utiliza-se inicial minúscula: Não sei por quê!
a) Em todos os vocábulos da língua, nos usos correntes.
Exemplos: Exemplos:
carro, flor, boneca, menino, porta, etc.
Conjunção
A situação agravou-se
que indica
b) Nos nomes de meses, estações do ano e dias da semana. porque ninguém reclamou.
explicação ou
Exemplos:
causa
janeiro, julho, dezembro, etc. Ninguém mais o espera,
segunda, sexta, domingo, etc. Porque porque ele sempre se atrasa.
primavera, verão, outono, inverno
Conjunção de
Exemplos:
Finalidade –
c) Nos pontos cardeais.
equivale a “para
Exemplos: Não julgues porque não te
que”, “a fim de
Percorri o país de norte a sul e de leste a oeste. julguem.
que”.
Estes são os pontos colaterais: nordeste, noroeste, sudeste,
sudoeste. Função de
Exemplos:
substantivo
Observação: quando empregados em sua forma absoluta, os – vem
Não é fácil encontrar o
pontos cardeais são grafados com letra maiúscula. acompanhado
Porquê porquê de toda confusão.
Exemplos: de artigo ou
Nordeste (região do Brasil) pronome
Dê-me um porquê de sua
Ocidente (europeu)
saída.
Oriente (asiático)

Lembre-se: 1. Por que (pergunta)


Depois de dois-pontos, não se tratando de citação direta, usa- 2. Porque (resposta)
se letra minúscula. 3. Por quê (fim de frase: motivo)
Exemplo: 4. O Porquê (substantivo)
“Chegam os magos do Oriente, com suas dádivas: ouro,
incenso, mirra.” (Manuel Bandeira)
Emprego de outras palavras
Emprego FACULTATIVO de letra minúscula:
a) Nos vocábulos que compõem uma citação bibliográfica. Senão: equivale a “caso contrário”, “a não ser”: Não fazia coisa
Exemplos: nenhuma senão criticar.
Crime e Castigo ou Crime e castigo Se não: equivale a “se por acaso não”, em orações adverbiais
Grande Sertão: Veredas ou Grande sertão: veredas condicionais: Se não houver homens honestos, o país não sairá
Em Busca do Tempo Perdido ou Em busca do tempo perdido desta situação crítica.
b) Nas formas de tratamento e reverência, bem como em Tampouco: advérbio, equivale a “também não”: Não
nomes sagrados e que designam crenças religiosas.
Exemplos: compareceu, tampouco apresentou qualquer justificativa.
Governador Mário Covas ou governador Mário Covas Tão pouco: advérbio de intensidade: Encontramo-nos tão
Papa João Paulo II ou papa João Paulo II pouco esta semana.
Excelentíssimo Senhor Reitor ou excelentíssimo senhor reitor
Santa Maria ou santa Maria. Trás ou Atrás = indicam lugar, são advérbios.
Traz - do verbo trazer.
c) Nos nomes que designam domínios de saber, cursos e
disciplinas. Vultoso: volumoso: Fizemos um trabalho vultoso aqui.
Exemplos: Vultuoso: atacado de congestão no rosto: Sua face está
Português ou português
Línguas e Literaturas Modernas ou línguas e literaturas vultuosa e deformada.
modernas Questões
História do Brasil ou história do Brasil
Arquitetura ou arquitetura 01. Que mexer o esqueleto é bom para a saúde já virou
até sabedoria popular. Agora, estudo levanta hipóteses sobre
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/ ........................ praticar atividade física..........................benefícios
fono24.php para a totalidade do corpo. Os resultados podem levar a novas
Emprego do Porquê terapias para reabilitar músculos contundidos ou mesmo para
Orações .......................... e restaurar a perda muscular que ocorre com o
Interrogativas Exemplo: avanço da idade.
(Ciência Hoje, março de 2012)
(pode ser Por que devemos nos
substituído por: preocupar com o meio As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e
respectivamente, com:
Por por qual motivo, ambiente?
(A) porque … trás … previnir
Que por qual razão)
(B) porque … traz … previnir
Exemplo: (C) porquê … tras … previnir
Equivalendo (D) por que … traz … prevenir
a “pelo qual” Os motivos por que não (E) por quê … tráz … prevenir
respondeu são desconhecidos.

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APOSTILAS OPÇÃO
02. Assinale a opção que completa corretamente as lacunas “Sei que não vai dar em nada, seus segredos sei de cor”.
da frase abaixo: Não sei o _____ ela está com os olhos vermelhos,
talvez seja _____ chorou. Os monossílabos em destaque classificam-se como tônicos;
(A) porquê / porque; os demais, como átonos (que, em, de).
(B) por que / porque;
(C) porque / por que; Os Acentos Gráficos
(D) porquê / por quê;
(E) por que / por quê. acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a”, “i”, “u” e
sobre o “e” do grupo “em” - indica que estas letras representam
03. as vogais tônicas de palavras como Amapá, caí, público, parabéns.
Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre aberto. 
Ex.: herói – médico – céu(ditongos abertos)

acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”, “e” e


“o” indica, além da tonicidade, timbre fechado:
Ex.: tâmara – Atlântico – pêssego – supôs

acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com


artigos e pronomes.
Ex.: à – às – àquelas – àqueles
Considerando a ortografia e a acentuação da norma-
padrão da língua portuguesa, as lacunas estão, correta e trema (¨) – De acordo com a nova regra, foi totalmente
respectivamente, preenchidas por: abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado em palavras
(A) mal ... por que ... intuíto derivadas de nomes próprios estrangeiros.
(B) mau ... por que ... intuito Ex.: mülleriano (de Müller)
(C) mau ... porque ... intuíto
(D) mal ... porque ... intuito til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vogais
(E) mal ... por quê ... intuito nasais.
Ex.: coração – melão – órgão – ímã
Respostas Regras fundamentais:
01. D/02. B/03. D
Palavras oxítonas:
Acentuação gráfica. Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”, “o”,
“em”, seguidas ou não do plural(s):
Pará – café(s) – cipó(s) – armazém(s)
Acentuação Essa regra também é aplicada aos seguintes casos:
A acentuação é um dos requisitos que perfazem as regras Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, seguidos
estabelecidas pela Gramática Normativa. Esta se compõe de ou não de “s”.
algumas particularidades, às quais devemos estar atentos, Ex.: pá – pé – dó – há
procurando estabelecer uma relação de familiaridade e,
consequentemente, colocando-as em prática na linguagem Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, seguidas
escrita. de lo, la, los, las.
respeitá-lo – percebê-lo – compô-lo
Regras básicas – Acentuação tônica
A acentuação tônica implica na intensidade com que são Paroxítonas:
pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá de Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
forma mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica. As - i, is
demais, como são pronunciadas com menos intensidade, são táxi – lápis – júri
denominadas de átonas. - us, um, uns
De acordo com a tonicidade, as palavras são classificadas vírus – álbuns – fórum
como: - l, n, r, x, ps
automóvel – elétron - cadáver – tórax – fórceps
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a - ã, ãs, ão, ãos
última sílaba. ímã – ímãs – órfão – órgãos
Ex.: café – coração – cajá – atum – caju – papel
- Dica: Memorize a palavra LINURXÃO. Para quê? Repare que
Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica se essa palavra apresenta as terminações das paroxítonas que são
evidencia na penúltima sílaba. acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM =fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim
Ex.: útil – tórax – táxi – leque – retrato – passível ficará mais fácil a memorização!
Proparoxítonas - São aquelas em que a sílaba tônica se - ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou não de “s”.
evidencia na antepenúltima sílaba.
Ex.: lâmpada – câmara – tímpano – médico – ônibus água – pônei – mágoa – jóquei
Como podemos observar, mediante todos os exemplos Regras especiais:
mencionados, os vocábulos possuem mais de uma sílaba, mas
em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente: Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” ( ditongos abertos),
são os chamados monossílabos, que, quando pronunciados, que antes eram acentuados, perderam o acento de acordo com
apresentam certa diferenciação quanto à intensidade. a nova regra, mas desde que estejam em palavras paroxítonas.
Tal diferenciação só é percebida quando os pronunciamos Cuidado: Se os ditongos abertos estiverem em uma
em uma dada sequência de palavras. Assim como podemos palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu) ainda são
observar no exemplo a seguir: acentuados. Mas caso não forem ditongos perdem o acento.

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APOSTILAS OPÇÃO
Ex.: ele retém – eles retêm
ele convém – eles convêm
Antes Agora
assembléia assembleia
Não se acentuam mais as palavras homógrafas que antes
idéia ideia
eram acentuadas para diferenciá-las de outras semelhantes
jibóia jiboia
(regra do acento diferencial). Apenas em algumas exceções,
apóia (verbo apoiar) apoia
como:
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acompanhados
A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do
ou não de “s”, haverá acento:
pretérito perfeito do modo indicativo) ainda continua
Ex.: saída – faísca – baú – país – Luís
sendo acentuada para diferenciar-se de pode (terceira
pessoa do singular do presente do indicativo). Ex:
Observação importante:
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando hiato
Ela pode fazer isso agora.
quando vierem depois de ditongo: Ex.:
Elvis não pôde participar porque sua mão não deixou...
Antes Agora
O mesmo ocorreu com o verbo pôr para diferenciar da
bocaiúva bocaiuva
preposição por.
feiúra feiura
- Quando, na frase, der para substituir o “por” por “colocar”,
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi abolido.
então estaremos trabalhando com um verbo, portanto: “pôr”;
Ex.:
nos outros casos, “por” preposição. Ex:
Antes Agora
Faço isso por você.
crêem creem
Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
vôo voo
Questões
- Agora memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos que,
no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais acento
01. “Cadáver” é paroxítona, pois:
como antes: CRER, DAR, LER e VER.
A) Tem a última sílaba como tônica.
B) Tem a penúltima sílaba como tônica.
Repare:
C) Tem a antepenúltima sílaba como tônica.
1-) O menino crê em você
D) Não tem sílaba tônica.
Os meninos creem em você.
2-) Elza lê bem!
02. Assinale a alternativa correta.
Todas leem bem!
A palavra faliu contém um:
3-) Espero que ele dê o recado à sala.
A) hiato
Esperamos que os dados deem efeito!
B) dígrafo
4-) Rubens vê tudo!
C) ditongo decrescente
Eles veem tudo!
D) ditongo crescente
- Cuidado! Há o verbo vir:
03. Em “O resultado da experiência foi, literalmente,
Ele vem à tarde!
aterrador.” a palavra destacada encontra-se acentuada pelo
Eles vêm à tarde!
mesmo motivo que:
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quando
A) túnel
seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z:
B) voluntário
C) até
Ra-ul, ru-im, con-tri-bu-in-te, sa-ir, ju-iz
D) insólito
E) rótulos
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se estiverem
Respostas
seguidas do dígrafo nh:
1-B / 2-C / 3-B
ra-i-nha, ven-to-i-nha.

Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem Emprego das classes de
precedidas de vogal idêntica: palavras: substantivo, adjetivo,
xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba numeral, pronome, verbo,
advérbio, preposição e
As formas verbais que possuíam o acento tônico na raiz, com
“u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i” não conjunção: emprego e sentido
serão mais acentuadas. Ex.: que imprimem às relações que
estabelecem.
Antes Depois
apazigúe (apaziguar) apazigue
argúi (arguir) argui
Classes de Palavras
Acentuam-se os verbos pertencentes à terceira pessoa do
Artigo
plural de:
Artigo é a palavra que, vindo antes de um substantivo, indica
ele tem – eles têm
se ele está sendo empregado de maneira definida ou indefinida.
ele vem – eles vêm (verbo vir)
Além disso, o artigo indica, ao mesmo tempo, o gênero e o
número dos substantivos.
A regra prevalece também para os verbos conter, obter, reter,
deter, abster. 
Classificação dos Artigos
ele contém – eles contêm
Artigos Definidos: determinam os substantivos de maneira
ele obtém – eles obtêm
precisa: o, a, os, as. Por exemplo: Eu matei o animal.

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APOSTILAS OPÇÃO
Artigos Indefinidos:  determinam os substantivos - Não se deve usar artigo antes das palavras casa (no sentido
de maneira vaga:  um, uma, uns, umas. Por exemplo: Eu de lar, moradia) e terra (no sentido de chão firme), a menos que
matei um animal. venham especificadas.
Eles estavam em casa.
Combinação dos Artigos Eles estavam na casa dos amigos.
É muito presente a combinação dos artigos definidos e Os marinheiros permaneceram em terra.
indefinidos com preposições. Este quadro apresenta a forma Os marinheiros permanecem na terra dos anões.
assumida por essas combinações:
- Não se emprega artigo antes dos pronomes de tratamento,
Preposições Artigos com exceção de senhor(a), senhorita e dona.
- o, os Vossa excelência resolverá os problemas de Sua Senhoria.
a ao, aos - Não se une com preposição o artigo que faz parte do nome
de do, dos de revistas, jornais, obras literárias.
Li a notícia em O Estado de S. Paulo.
em no, nos
por (per) pelo, pelos Morfossintaxe
a, as um, uns uma, umas Para definir o que é artigo é preciso mencionar suas relações
à, às - - com o substantivo. Assim, nas orações da língua portuguesa,
o artigo exerce a função de adjunto adnominal do substantivo
da, das dum, duns duma, dumas a que se refere. Tal função independe da função exercida pelo
na, nas num, nuns numa, numas substantivo:
pela, pelas - - A existência é uma poesia.
Uma existência é a poesia.
- As formas à e às indicam a fusão da preposição  a com o
artigo definido a. Essa fusão de vogais idênticas é conhecida Questões
por crase.
01. Determine o caso em que o artigo tem valor qualificativo:
Constatemos as circunstâncias em que os artigos se A) Estes são os candidatos que lhe falei.
manifestam: B) Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.
C) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho.
- Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do numeral D) Os problemas que o afligem não me deixam descuidado.
“ambos”: E) Muito é a procura; pouca é a oferta.
Ambos os garotos decidiram participar das olimpíadas.
02. Em qual dos casos o artigo denota familiaridade?
- Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso do A) O Amazonas é um rio imenso.
artigo, outros não: B) D. Manuel, o Venturoso, era bastante esperto.
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... C) O Antônio comunicou-se com o João.
D) O professor João Ribeiro está doente.
- Quando indicado no singular, o artigo definido pode indicar E) Os Lusíadas são um poema épico
toda uma espécie:
O trabalho dignifica o homem. 03.Assinale a alternativa em que o uso do artigo está
substantivando uma palavra.
- No caso de nomes próprios personativos, denotando a ideia A) A liberdade vai marcar a poesia social de Castro Alves.
de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso do artigo: B) Leitor perspicaz é aquele que consegue ler as entrelinhas.
O Pedro é o xodó da família. C) A navalha ia e vinha no couro esticado.
D) Haroldo ficou encantado com o andar de bailado de Joana.
- No caso de os nomes próprios personativos estarem no E) Bárbara dirigia os olhos para a lua encantada.
plural, são determinados pelo uso do artigo:
Os Maias, os Incas, Os Astecas... Respostas
1-B / 2-C / 3-D
- Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) para
conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (o artigo), o Substantivo
pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) Tudo o que existe é ser e cada ser tem um nome. Substantivo é
Toda classe possui alunos interessados e desinteressados. a classe gramatical de palavras variáveis, as quais denominam
(qualquer classe) os seres. Além de objetos, pessoas e fenômenos, os substantivos
também nomeiam:
- Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é facultativo: -lugares: Alemanha, Porto Alegre...
Adoro o meu vestido longo. Adoro meu vestido longo. -sentimentos: raiva, amor...
- A utilização do artigo indefinido pode indicar uma ideia de -estados: alegria, tristeza...
aproximação numérica: -qualidades: honestidade, sinceridade...
O máximo que ele deve ter é uns vinte anos. -ações: corrida, pescaria...
- O artigo também é usado para substantivar palavras Morfossintaxe do substantivo
oriundas de outras classes gramaticais:
Não sei o porquê de tudo isso. Nas orações de língua portuguesa, o substantivo em geral
exerce funções diretamente relacionadas com o verbo: atua
- Nunca deve ser usado artigo depois do pronome relativo como núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto
cujo (e flexões). direto ou indireto) e do agente da passiva. Pode ainda funcionar
Este é o homem cujo amigo desapareceu. como núcleo do complemento nominal ou do aposto, como
Este é o autor cuja obra conheço. núcleo do predicativo do sujeito ou do objeto ou como núcleo
do vocativo. Também encontramos substantivos como núcleos

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APOSTILAS OPÇÃO
de adjuntos adnominais e de adjuntos adverbiais - quando essas (enxame) para designar um conjunto de seres da mesma espécie
funções são desempenhadas por grupos de palavras.  (abelhas).
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Classificação dos Substantivos
Substantivo Coletivo:  é o substantivo comum que, mesmo
1-  Substantivos Comuns e Próprios estando no singular, designa um conjunto de seres da mesma
Observe a definição: espécie.
Formação dos Substantivos
s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas casas e edifícios, Substantivos Simples e Compostos
dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a sede de município
é cidade). 2. O centro de uma cidade (em oposição aos bairros). Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a terra.

Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas e O substantivo chuva é formado por um único elemento ou
edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada  cidade. radical. É um substantivo simples.
Isso significa que a palavra cidade é um substantivo comum. Substantivo Simples:  é aquele formado por um único
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de uma elemento.
mesma espécie de forma genérica. Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja agora:
cidade, menino, homem, mulher, país, cachorro. O substantivo guarda-chuva é formado por dois elementos
(guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Estamos voando para Barcelona. Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou mais
elementos.
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da espécie Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
cidade. Esse substantivo é  próprio. Substantivo Próprio:  é  
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de forma Substantivos Primitivos e Derivados
particular. Meu limão meu limoeiro,
meu pé de jacarandá...
Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
O substantivo limão é primitivo, pois não se originou de
2 - Substantivos Concretos e Abstratos nenhum outro dentro de língua portuguesa.
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de nenhuma
LÂMPADA MALA outra palavra da própria língua portuguesa.
O substantivo limoeiro é derivado, pois se originou a partir
Os substantivos lâmpada e mala  designam seres com da palavra limão.
existência própria, que são independentes de outros seres. São Substantivo Derivado:  é aquele que se origina de outra
assim, substantivos concretos. palavra.
Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que existe,
independentemente de outros seres. Flexão dos substantivos
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variável
quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por exemplo,
Obs.: os substantivos concretos designam seres do mundo pode sofrer variações para indicar:
real e do mundo imaginário. Plural: meninos
Feminino: menina
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, Brasília, Aumentativo: meninão
etc. Diminutivo: menininho
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantasma, etc.
  Flexão de Gênero
Observe agora: Gênero  é a propriedade que as palavras têm de indicar
sexo real ou fictício dos seres. Na língua portuguesa,
Beleza exposta há dois gêneros:  masculino  e  feminino. Pertencem ao
Jovens atrizes veteranas destacam-se pelo visual. gênero masculino os substantivos que podem vir precedidos dos
artigos o, os, um, uns. Veja estes títulos de filmes:
O substantivo beleza designa uma qualidade. O velho e o mar
Substantivo Abstrato:  é aquele que designa seres que Um Natal inesquecível
dependem de outros para se manifestar ou existir. Os reis da praia
Pense bem: a beleza não existe por si só, não pode ser  
observada. Só podemos observar a beleza numa pessoa ou coisa Pertencem ao gênero feminino os substantivos que podem
que seja bela. A beleza depende de outro ser para se manifestar. vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
Portanto, a palavra beleza é um substantivo abstrato. A história sem fim
Os substantivos abstratos designam estados, qualidades, Uma cidade sem passado
ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser abstraídos, As tartarugas ninjas
e sem os quais não podem existir.
vida (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
(sentimento).  
Substantivos Biformes (= duas formas):  ao indicar nomes
3 - Substantivos Coletivos de seres vivos, geralmente o gênero da palavra está relacionado
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra ao sexo do ser, havendo, portanto, duas formas, uma para o
abelha, mais outra abelha. masculino e outra para o feminino. Observe: gato – gata, homem
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
Substantivos Uniformes: são aqueles que apresentam uma
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi necessário única forma, que serve tanto para o masculino quanto para o
repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, mais outra feminino. Classificam-se em:
abelha... - Epicenos: têm um só gênero e nomeiam bichos.
No segundo caso, utilizaram-se duas palavras no plural. a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré
No terceiro caso, empregou-se um substantivo no singular fêmea.

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APOSTILAS OPÇÃO
- Sobrecomuns: têm um só gênero e nomeiam pessoas. Outros substantivos sobrecomuns:
a criança, a testemunha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa
o indivíduo. criatura.
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O
- Comuns de Dois Gêneros: indicam o sexo das pessoas por cônjuge de Marcela faleceu
meio do artigo.
o colega e a colega, o doente e a doente, o artista e a artista. Comuns de Dois Gêneros:
Saiba que:
- Substantivos de origem grega terminados em ema ou oma, Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
são masculinos. Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
o axioma, o fonema, o poema, o sistema, o sintoma, o teorema. É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma vez
- Existem certos substantivos que, variando de gênero, que a palavra motorista é um substantivo uniforme. O restante
variam em seu significado. da notícia informa-nos de que se trata de um homem.
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora) o A distinção de gênero pode ser feita através da análise do
capital (dinheiro) e a capital (cidade) artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substantivo.
o colega - a colega
Formação do Feminino dos Substantivos Biformes um jovem - uma jovem
a) Regra geral: troca-se a terminação -o por -a. artista famoso - artista famosa
aluno - aluna
- A palavra personagem é usada indistintamente nos dois
b) Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao gêneros.
masculino. a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
freguês - freguesa preferência pelo masculino:
O menino descobriu nas nuvens os personagens dos contos de
c) Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino de três carochinha.
formas: b) Com referência a mulher, deve-se preferir o feminino:
- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa O problema está nas mulheres de mais idade, que não aceitam
- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã a personagem.
- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona Não cheguei assim, nem era minha intenção, a criar uma
personagem.
Exceções: barão – baronesa ladrão- ladra sultão - sultana - Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte.
d) Substantivos terminados em -or:
- acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora Observe o gênero dos substantivos seguintes:
- troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
Masculinos
e) Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: o tapa
cônsul - consulesa abade - abadessa poeta - poetisa o eclipse
duque - duquesa conde - condessa profeta - profetisa o lança-perfume
o dó (pena)
f) Substantivos que formam o feminino trocando o -e final o sanduíche
por -a: o clarinete
elefante - elefanta o champanha
o sósia
g) Substantivos que têm radicais diferentes no masculino e o maracajá
no feminino: o clã
bode – cabra boi - vaca o hosana
o herpes
h) Substantivos que formam o feminino de maneira especial, o pijama
isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
czar – czarina réu - ré Femininos
a dinamite
Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes a áspide
a derme
- Epicenos: a hélice
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros. a alcíone
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso ocorre a filoxera
porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma para indicar a clâmide
o masculino e o feminino. a omoplata
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma para a cataplasma
designar os dois sexos. Esses substantivos são chamados de a pane
epicenos. No caso dos epicenos, quando houver a necessidade a mascote
de especificar o sexo, utilizam-se palavras macho e fêmea. a gênese
A cobra macho picou o marinheiro. a entorse
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. a libido

Sobrecomuns: - São geralmente masculinos os substantivos de origem


grega terminados em -ma:
Entregue as crianças à natureza. o grama (peso)
A palavra crianças refere-se tanto a seres do sexo masculino, o quilograma
quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem o artigo nem o plasma
um possível adjetivo permitem identificar o sexo dos seres a que o apostema
se refere a palavra. Veja: o diagrama
A criança chorona chamava-se João. o epigrama
A criança chorona chamava-se Maria. o telefonema

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APOSTILAS OPÇÃO
o estratagema o nascente (lado onde nasce o Sol)
o dilema a nascente (a fonte)
o teorema
o apotegma Flexão de Número do Substantivo
o trema
o eczema Em português, há dois números gramaticais: o singular, que
o edema indica um ser ou um grupo de seres, e
o magma o plural, que indica mais de um ser ou grupo de seres. A
característica do plural é o “s” final.
Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
Plural dos Substantivos Simples
Gênero dos Nomes de Cidades:
a) Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e “n”
Com raras exceções, nomes de cidades são femininos. fazem o plural pelo acréscimo de “s”.
A histórica Ouro Preto. pai – pais ímã - ímãs hífen - hifens (sem acento, no
A dinâmica São Paulo. plural).
A acolhedora Porto Alegre. Exceção: cânon - cânones.
Uma Londres imensa e triste.
b) Os substantivos terminados em “m” fazem o plural em
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre. “ns”.
homem - homens.
Gênero e Significação:
c) Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural
Muitos substantivos têm uma significação no masculino e pelo acréscimo de “es”.
outra no feminino. revólver – revólveres raiz - raízes
Observe: Atenção: O plural de caráter é caracteres.

o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os d) Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-se
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à frente no plural, trocando o “l” por “is”.
de um bloco carnavalesco, manejando um bastão) quintal - quintais caracol – caracóis hotel - hotéis
a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou Exceções: mal e males, cônsul e cônsules.
proibição de trânsito)
e) Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de duas
o cabeça (chefe) maneiras:
a cabeça (parte do corpo) - Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
o cisma (separação religiosa, dissidência) Obs.: a palavra réptil pode formar seu plural de duas
a cisma (ato de cismar, desconfiança) maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).

o cinza (a cor cinzenta) f) Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de duas


a cinza (resíduos de combustão) maneiras:
- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o acréscimo
o capital (dinheiro) de “es”: ás – ases / retrós - retroses
a capital (cidade) - Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam invariáveis:
o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
o coma (perda dos sentidos)
a coma (cabeleira) g) Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural de três
maneiras.
o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro) - substituindo o -ão por -ões: ação - ações
a coral (cobra venenosa) - substituindo o -ão por -ães: cão - cães
- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
o crisma (óleo sagrado, usado na administração da crisma e h) Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: o
de outros sacramentos) látex - os látex.
a crisma (sacramento da confirmação)
Plural dos Substantivos Compostos
o cura (pároco) A formação do plural dos substantivos compostos depende
a cura (ato de curar) da forma como são grafados, do tipo de palavras que formam
o composto e da relação que estabelecem entre si. Aqueles que
o estepe (pneu sobressalente) são grafados sem hífen comportam-se como os substantivos
a estepe (vasta planície de vegetação) simples:
aguardente e aguardentes girassol e girassóis
o guia (pessoa que guia outras) pontapé e pontapés malmequer e malmequeres
a guia (documento, pena grande das asas das aves)
O plural dos substantivos compostos cujos elementos são
o grama (unidade de peso) ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e discussões.
a grama (relva) Algumas orientações são dadas a seguir:

o caixa (funcionário da caixa) a) Flexionam-se os dois elementos, quando formados de:


a caixa (recipiente, setor de pagamentos) substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-perfeitos
o lente (professor) adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens
a lente (vidro de aumento) numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras

o moral (ânimo) b) Flexiona-se somente o segundo elemento, quando


a moral (honestidade, bons costumes, ética) formados de:

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APOSTILAS OPÇÃO
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas os jipes os esportes
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e alto- as toaletes os bibelôs
falantes os garçons os réquiens
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos
Observe o exemplo:
c) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando Este jogador faz gols toda vez que joga.
formados de: O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
substantivo + preposição clara + substantivo = água-de-
colônia e águas-de-colônia Plural com Mudança de Timbre
substantivo + preposição oculta + substantivo = cavalo-
vapor e cavalos-vapor Certos substantivos formam o plural com mudança de
substantivo + substantivo que funciona como determinante timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato fonético
do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do termo chamado metafonia (plural metafônico).
anterior.
palavra-chave - palavras-chave
bomba-relógio - bombas-relógio Singular Plural Singular Plural
notícia-bomba - notícias-bomba corpo (ô) corpos (ó) osso (ô) ossos (ó)
homem-rã - homens-rã esforço esforços ovo ovos
fogo fogos poço poços
d) Permanecem invariáveis, quando formados de: forno fornos porto portos
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora fosso fossos posto postos
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os saca-rolhas imposto impostos rogo rogos
olho olhos tijolo tijolos
e) Casos Especiais
o louva-a-deus e os louva-a-deus
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bolsos,
o bem-te-vi e os bem-te-vis
esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
o bem-me-quer e os bem-me-queres
Obs.: distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
o joão-ninguém e os joões-ninguém.
molho (ó) = feixe (molho de lenha).
Plural das Palavras Substantivadas
Particularidades sobre o Número dos Substantivos
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras classes
a) Há substantivos que só se usam no singular:
gramaticais usadas como substantivo, apresentam, no plural, as
o sul, o norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
flexões próprias dos substantivos.
Pese bem os prós e os contras.
b) Outros só no plural:
O aluno errou na prova dos noves.
as núpcias, os víveres, os pêsames, as espadas/os paus
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
(naipes de baralho), as fezes.
Obs.: numerais substantivados terminados em “s” ou “z” não
variam no plural.
c) Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do singular:
Nas provas mensais consegui muitos seis e alguns dez.
bem (virtude) e bens (riquezas)
honra (probidade, bom nome) e honras (homenagem,
Plural dos Diminutivos
títulos)
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final e
d) Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas com
acrescenta-se o sufixo diminutivo.
sentido de plural:
pãe(s) + zinhos = pãezinhos
Aqui morreu muito negro.
animai(s) + zinhos = animaizinhos
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
botõe(s) + zinhos = botõezinhos
improvisadas.
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
farói(s) + zinhos = faroizinhos
Flexão de Grau do Substantivo
tren(s) + zinhos = trenzinhos
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir as
colhere(s) + zinhas = colherezinhas
variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
flore(s) + zinhas = florezinhas
mão(s) + zinhas = mãozinhas
- Grau Normal - Indica um ser de tamanho considerado
papéi(s) + zinhos = papeizinhos
normal. Por exemplo: casa
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
funi(s) + zinhos = funizinhos
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho do ser.
pé(s) + zitos = pezitos
Classifica-se em:
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adjetivo que
Plural dos Nomes Próprios Personativos
indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas sempre
aumento. Por exemplo: casarão.
que a terminação preste-se à flexão.
Os Napoleões também são derrotados.
- Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho do ser.
As Raquéis e Esteres.
Pode ser:
Plural dos Substantivos Estrangeiros
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo que
indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser escritos
como na língua original, acrescentando -se “s” (exceto quando
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
terminam em “s” ou “z”).
diminuição. Por exemplo: casinha.
os shows os shorts os jazz
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acordo com
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php
as regras de nossa língua:
os clubes os chopes

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APOSTILAS OPÇÃO
Questões Bélgica belgo- / Por exemplo: Acampamentos belgo-
franceses
01. A flexão de número do termo “preços-sombra” também
ocorre com o plural de China sino- / Por exemplo: Acordos sino-japoneses
(A) reco-reco.
Espanha hispano- / Por exemplo: Mercado hispano-
(B) guarda-costa.
português
(C) guarda-noturno.
(D) célula-tronco. Europa euro- / Por exemplo: Negociações euro-
(E) sem-vergonha. americanas
França franco- ou galo- / Por exemplo: Reuniões
02. Assinale a alternativa cujas palavras se apresentam
franco-italianas
flexionadas de acordo com a norma-padrão.
(A) Os tabeliãos devem preparar o documento. Grécia greco- / Por exemplo: Filmes greco-romanos
(B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.
Inglaterra anglo- / Por exemplo: Letras anglo-
(C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local.
portuguesas
(D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos.
(E) Cuidado com os degrais, que são perigosos! Itália ítalo- / Por exemplo: Sociedade ítalo-
portuguesa
03. Indique a alternativa em que a flexão do substantivo está
Japão nipo- / Por exemplo: Associações nipo-
errada:
brasileiras
A) Catalães.
B) Cidadãos. Portugal luso- / Por exemplo: Acordos luso-brasileiros
C) Vulcães.
D) Corrimões. Flexão dos adjetivos
Respostas
1-D / 2-D / 3-C O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Adjetivo Gênero dos Adjetivos

Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem
característica do ser e se relaciona com o substantivo. (masculino e feminino). De forma semelhante aos substantivos,
Ao analisarmos a palavra bondoso, por exemplo, percebemos classificam-se em: 
que, além de expressar uma qualidade, ela pode ser colocada ao Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e
lado de um substantivo: homem bondoso, moça bondosa, pessoa outra para o feminino.
bondosa.
Já com a palavra bondade, embora expresse uma qualidade, Por exemplo: ativo e ativa, mau e má, judeu e judia.
não acontece o mesmo; não faz sentido dizer: homem bondade,
moça bondade, pessoa bondade.  Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino
Bondade, portanto, não é adjetivo, mas substantivo. somente o último elemento.
Por exemplo: o moço norte-americano, a moça norte-
Morfossintaxe do Adjetivo: americana. 
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro
de uma oração) relativas aos substantivos, atuando como adjunto Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como
adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto). para o feminino. Por exemplo: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no
Adjetivo Pátrio feminino. Por exemplo: conflito político-social e desavença
Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe político-social.
alguns deles:
Estados e cidades brasileiros: Número dos Adjetivos
Plural dos adjetivos simples
Os adjetivos simples flexionam-se no plural de acordo com
Alagoas alagoano
as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substantivos
Amapá amapaense simples.
Por exemplo:
Aracaju aracajuano ou aracajuense
mau e maus
Amazonas amazonense ou baré feliz e felizes
ruim e ruins
Belo Horizonte belo-horizontino
boa e boas
Brasília brasiliense
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função
Cabo Frio cabo-friense
de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que estiver
Campinas campineiro ou campinense qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo,
ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra  cinza  é
Adjetivo Pátrio Composto  originalmente um substantivo; porém, se estiver qualificando
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, então, invariável.
elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita. Logo: camisas cinza, ternos cinza.
Observe alguns exemplos: Veja outros exemplos:

Motos vinho (mas: motos verdes)


África afro- / Por exemplo: Cultura afro-americana Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Alemanha germano- ou teuto- / Por exemplo: Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).
Competições teuto-inglesas
Adjetivo Composto
América américo- / Por exemplo: Companhia É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente,
américo-africana esses elementos são ligados por hífen. Apenas o último elemento

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APOSTILAS OPÇÃO
concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam Sou menos passivo (do) que tolerante.
na forma masculina, singular. Caso um dos elementos que
formam o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado, Superlativo
todo o adjetivo composto ficará invariável. Por exemplo:  a
palavra rosa é originalmente um substantivo, porém, se estiver O superlativo expressa qualidades num grau muito
qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Caso se elevado ou em grau máximo. O grau superlativo pode ser
ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo composto; absoluto ou relativo e apresenta as seguintes modalidades:
como é um substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro Superlativo Absoluto:  ocorre quando a qualidade de um
ficará invariável. Por exemplo: ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apresenta-se
nas formas:
Camisas rosa-claro. Analítica: a intensificação se faz com o auxílio de palavras
Ternos rosa-claro. que dão ideia de intensidade (advérbios). Por exemplo: O
Olhos verde-claros. secretário é muito inteligente.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar. Sintética: a intensificação se faz por meio do acréscimo de
Telhados marrom-café e paredes verde-claras. sufixos.
Por exemplo:
Observe O secretário é inteligentíssimo.
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer adjetivo
composto iniciado por cor-de-... são sempre invariáveis. Observe alguns superlativos sintéticos: 
- O adjetivo composto pele-vermelha têm os dois elementos
flexionados.
benéfico beneficentíssimo
Grau do Adjetivo bom boníssimo ou ótimo

Os adjetivos flexionam-se em grau para indicar a comum comuníssimo


intensidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: cruel crudelíssimo
o comparativo e o superlativo.
difícil dificílimo
Comparativo doce dulcíssimo

Nesse grau, comparam-se a mesma característica fácil facílimo


atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais características fiel fidelíssimo
atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igualdade,
de superioridade ou de inferioridade. Observe os exemplos Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de um ser
abaixo: é intensificada em relação a um conjunto de seres. Essa relação
pode ser:
1) Sou tão alto como você.  = Comparativo de Igualdade De Superioridade: Clara é a mais bela da sala.
No comparativo de igualdade, o segundo termo da De Inferioridade: Clara é a menos bela da sala.
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou quão.
Note bem:
2) Sou  mais alto  (do) que  você.  = Comparativo de 1)  O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Superioridade Analítico dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, etc.,
No comparativo de superioridade analítico, entre os dois antepostos ao adjetivo.
substantivos comparados, um tem qualidade superior. A forma é 2)  O superlativo absoluto sintético apresenta-se sob duas
analítica porque pedimos auxílio a “mais...do que” ou “mais...que”. formas : uma erudita, de origem latina, outra popular, de origem
vernácula. A forma erudita é constituída pelo radical do adjetivo
3) O Sol é  maior (do) que  a Terra.  = Comparativo de latino +  um dos sufixos -íssimo, -imo ou érrimo. Por exemplo:
Superioridade Sintético fidelíssimo, facílimo, paupérrimo.
A forma popular é constituída do radical do adjetivo
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de português + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. 3) Em vez dos superlativos normais seriíssimo, precariíssimo,
necessariíssimo, preferem-se, na linguagem atual, as formas
São eles: seríssimo, precaríssimo, necessaríssimo, sem o desagradável
bom-melhor hiato i-í.
pequeno-menor
mau-pior Questões
alto-superior
grande-maior 01. Leia o texto a seguir.
baixo-inferior
Violência epidêmica
Observe que: 
a) As formas menor e pior são comparativos de superioridade, A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora
pois equivalem a mais pequeno e mais mau, respectivamente. possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes
b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas sociais, é nos bairros pobres que ela adquire características
(melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações feitas epidêmicas.
entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se usar A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades
as formas analíticas mais bom, mais mau, mais grande e mais de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes
pequeno. centros urbanos e se dissemina pelo interior.
Por exemplo: Pedro é maior do que Paulo - Comparação de As estratégias que as sociedades adotam para combater a
dois elementos. violência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito
Pedro é  mais grande  que pequeno -  comparação de duas pouco no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços
qualidades de um mesmo elemento. ocorridos no campo das infecções, câncer, diabetes e outras
enfermidades.
4) Sou  menos alto  (do) que  você.  = Comparativo de A agressividade impulsiva é consequência de perturbações
Inferioridade nos mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências

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APOSTILAS OPÇÃO
agressivas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas Pronome
que os tornam despreparados para lidar com as frustrações de
seus desejos. Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou a ele
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que se refere, ou ainda, que acompanha o nome qualificando-o de
tiveram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao alguma forma.
desenvolvimento psicológico pleno. A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus sonhos!
A revisão de estudos científicos permite identificar três [substituição do nome]
fatores principais na formação das personalidades com maior
inclinação ao comportamento violento: A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bonita!
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, [referência ao nome]
humilhadas ou desprezadas nos primeiros anos de vida.
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes Essa moça morava nos meus sonhos!
transmitiram valores sociais altruísticos, formação moral e não [qualificação do nome]
lhes impuseram limites de disciplina. Grande parte dos pronomes não possuem significados
3) Associação com grupos de jovens portadores de fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro de
comportamento antissocial. um contexto, o qual nos permite recuperar a referência exata
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças daquilo que está sendo colocado por meio dos pronomes no
que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à ato da comunicação. Com exceção dos pronomes interrogativos
falta de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, e indefinidos, os demais pronomes têm por função principal
esses fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta a apontar para as pessoas do discurso ou a elas se relacionar,
violência crescente nas cidades. indicando-lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a dessa característica, os pronomes apresentam uma forma
resposta do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o específica para cada pessoa do discurso.
criminoso fica impedido de delinquir apenas enquanto estiver
preso. Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
Ao sair, estará mais pobre, terá rompido laços familiares [minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala]
e sociais e dificilmente encontrará quem lhe dê emprego. Ao
mesmo tempo, na prisão, terá criado novas amizades e conexões Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
mais sólidas com o mundo do crime. [tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se fala]
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda.
Obrigados a optar por uma repressão policial mais ativa, A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
aumentaremos o número de prisioneiros. As cadeias continuarão [dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem se fala]
superlotadas.
Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
criminalidade e tratar os que ingressaram nela. variáveis  em gênero (masculino ou feminino) e em número
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência através
Precisamos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os do pronome seja coerente em termos de gênero e número
policiais a executar sua função com dignidade, criar leis que (fenômeno da concordância) com o seu objeto, mesmo quando
acabem com a impunidade dos criminosos bem-sucedidos e este se apresenta ausente no enunciado.
construir cadeias novas para substituir as velhas.
Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas Fala-se de Roberta. Ele  quer participar do desfile
preventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão da nossa escola neste ano.
capazes de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los [nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância
na sociedade por meio da educação formal de bom nível, das adequada]
práticas esportivas e da oportunidade de desenvolvimento [neste: pronome que determina “ano” = concordância
artístico. adequada]
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concordância
(Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado) inadequada]

Em – características epidêmicas –, o adjetivo epidêmicas Existem seis tipos de pronomes:  pessoais, possessivos,
corresponde a – características de epidemias. demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
Assinale a alternativa em que, da mesma forma, o adjetivo
em destaque corresponde, corretamente, à expressão indicada. Pronomes Pessoais
A) água fluvial – água da chuva.
B) produção aurífera – produção de ouro. São aqueles que substituem os substantivos, indicando
C) vida rupestre – vida do campo. diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve
D) notícias brasileiras – notícias de Brasília. assume os pronomes “eu” ou “nós”, usa os pronomes “tu”, “vós”,
E) costela bovina – costela de porco. “você” ou “vocês” para designar a quem se dirige e “ele”, “ela”,
“eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa ou às pessoas de
02.Não se pluraliza os adjetivos compostos abaixo, exceto: quem fala.
A) azul-celeste Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções
B) azul-pavão que exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do caso
C) surda-muda oblíquo.
D) branco-gelo
Pronome Reto
03.Assinale a única alternativa em que os adjetivos não
estão no grau superlativo absoluto sintético: Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sentença,
A) Arquimilionário/ ultraconservador; exerce a função de sujeito ou predicativo do sujeito.
B) Supremo/ ínfimo; Nós lhe ofertamos flores.
C) Superamigo/ paupérrimo;
D) Muito amigo/ Bastante pobre Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero
(apenas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a principal
Respostas flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o
1-B / 2-C / 3-D quadro dos pronomes retos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular: eu

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- 2ª pessoa do singular: tu Atenção:
- 3ª pessoa do singular: ele, ela Os pronomes o, os, a, as assumem formas especiais depois
- 1ª pessoa do plural: nós de certas terminações verbais. Quando o verbo termina em -z,
- 2ª pessoa do plural: vós -s ou -r, o pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo
- 3ª pessoa do plural: eles, elas tempo que a terminação verbal é suprimida.
Por exemplo: fiz + o = fi-lo
Atenção: esses pronomes não costumam ser usados como fazei + o = fazei-os
complementos verbais na língua-padrão. Frases como “Vi dizer + a = dizê-la
ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu até aqui”,
comuns na língua oral cotidiana, devem ser evitadas na língua Quando o verbo termina em som nasal, o pronome assume
formal escrita ou falada. Na língua formal, devem ser usados os as formas no, nos, na, nas. Por exemplo:
pronomes oblíquos correspondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a viram + o: viram-no
na praça”, “Trouxeram-me até aqui”. repõe + os = repõe-nos
Obs.: frequentemente observamos a  omissão  do pronome retém + a: retém-na
reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias formas tem + as = tem-nas
verbais marcam, através de suas desinências, as pessoas do
verbo indicadas pelo pronome reto. Pronome Oblíquo Tônico
Fizemos boa viagem. (Nós)
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre
Pronome Oblíquo precedidos por preposições, em geral as preposições a, para, de
e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença, de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica forte.
exerce a função de complemento verbal (objeto direto ou  O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim
indireto) ou complemento nominal. configurado:

Ofertaram-nos flores. (objeto indireto) - 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo


Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante - 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica a função - 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela
diversa que eles desempenham na oração: pronome reto marca - 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento da - 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
oração. - 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos. Observe que as únicas formas próprias do pronome tônico
são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As demais
Pronome Oblíquo Átono repetem a forma do pronome pessoal do caso reto.
- As preposições essenciais introduzem sempre pronomes
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos
precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica  fraca. contextos interlocutivos que exigem o uso da língua formal, os
Ele me deu um presente. pronomes costumam ser usados desta forma:
Não há mais nada entre mim e ti.
O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configurado: Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
- 1ª pessoa do singular (eu): me Não há nenhuma acusação contra mim.
- 2ª pessoa do singular (tu): te Não vá sem mim.
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
- 1ª pessoa do plural (nós): nos Atenção:
- 2ª pessoa do plural (vós): vos Há construções em que a preposição, apesar de surgir
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes anteposta a um pronome, serve para introduzir uma oração cujo
verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter sujeito
Observações: expresso; se esse sujeito for um pronome, deverá ser do caso
O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se reto.
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união entre o
pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por acompanhar Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
diretamente uma preposição, o pronome “lhe” exerce sempre a Não vá sem eu mandar.
função de objeto indireto na oração.
- A combinação da preposição  “com” e alguns pronomes
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
diretos como objetos indiretos. conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como frequentemente exercem a função de  adjunto adverbial de
objetos diretos. companhia.
Ele carregava o documento consigo.
Saiba que:
Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combinar-se - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas por “com
com os pronomes o, os, a, as, dando origem a formas como mo, nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais são reforçados
mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; no-lo, no-los, no- por palavras como outros, mesmos, próprios, todos, ambos ou
la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Observe o uso dessas formas algum numeral.
nos exemplos que seguem:
Você terá de viajar com nós todos.
Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias.
- Trouxeste o pacote? - Não contaram a novidade a Ele disse que iria com nós três.
vocês?
- Sim, entreguei-to ainda há - Não, no-la contaram. Pronome Reflexivo
pouco.
São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcionem
No português do Brasil, essas combinações não são usadas; como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito da oração.
até mesmo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.  Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo

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verbo. pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os
O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado: pronomes oblíquos empregados em relação a eles devem ficar
na 3ª pessoa.
- 1ª pessoa do singular (eu): me, mim. Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promessas,
Eu não me vanglorio disso. para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
c) Uniformidade de Tratamento:  quando escrevemos ou
- 2ª pessoa do singular (tu): te, ti. nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do
Assim tu te prejudicas. texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim,
Conhece a ti mesmo. por exemplo, se começamos a chamar alguém de “você”, não
poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo. na terceira pessoa.
Guilherme já se preparou. Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus
Ela deu a si um presente. cabelos. (errado)
Antônio conversou consigo mesmo. Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos seus
cabelos. (correto)
- 1ª pessoa do plural (nós): nos. Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus
Lavamo-nos no rio. cabelos. (correto)

- 2ª pessoa do plural (vós): vos. Pronomes Possessivos


Vós vos beneficiastes com a esta conquista. São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
(possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coisa
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. possuída).
Eles se conheceram. Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do singular)
Elas deram a si um dia de folga.
Observe o quadro:
A Segunda Pessoa Indireta
Número Pessoa Pronome
A chamada segunda pessoa indireta manifesta-se quando singular primeira meu(s), minha(s)
utilizamos pronomes que, apesar de indicarem nosso
interlocutor ( portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na singular segunda teu(s), tua(s)
terceira pessoa. É o caso dos chamados pronomes de tratamento, singular terceira seu(s), sua(s)
que podem ser observados no quadro seguinte:
plural primeira nosso(s), nossa(s)
Pronomes de Tratamento plural segunda vosso(s), vossa(s)

Vossa Alteza V. A. príncipes, duques plural terceira seu(s), sua(s)


Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais
Vossa Reverendíssima V. Revma.(s) sacerdotes e bispos Note que: A forma do possessivo depende da pessoa
Vossa Excelência V. Ex.ª (s) altas autoridades e gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam com
oficiais-generais o objeto possuído.
Vossa Magnificência V. Mag.ª (s) reitores de Ele trouxe seu apoio e sua contribuição naquele momento
universidades difícil.
Vossa Majestade V. M. reis e rainhas
Vossa Majestade Imperial V. M. I. Imperadores Observações:
Vossa Santidade V. S. Papa
Vossa Senhoria V. S.ª (s) tratamento 1 - A forma “seu” não é um possessivo quando resultar da
cerimonioso alteração fonética da palavra senhor.
Vossa Onipotência V. O. Deus - Muito obrigado, seu José.

Também são pronomes de tratamento o senhor, a 2 - Os pronomes possessivos nem sempre indicam posse.
senhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados Podem ter outros empregos, como:
no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento a) indicar afetividade.
familiar. Você e vocês são largamente empregados no português - Não faça isso, minha filha.
do Brasil; em algumas regiões, a forma  tu  é de uso frequente; b) indicar cálculo aproximado.
em outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito à Ele já deve ter seus 40 anos.
linguagem litúrgica, ultraformal ou literária. c) atribuir valor indefinido ao substantivo.
Marisa tem lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
Observações:
a) Vossa Excelência X Sua Excelência:  os pronomes de 3- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, o
tratamento que possuem “Vossa (s)”  são empregados em pronome possessivo fica na 3ª pessoa.
relação à pessoa com quem falamos. Vossa Excelência trouxe sua mensagem?
Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este
encontro. 4- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo
Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da pessoa. concorda com o mais próximo.
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelência, o Trouxe-me seus livros e anotações.
Senhor Presidente da República, agiu com propriedade.
5- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblíquos
- Os pronomes de tratamento representam uma forma átonos assumem valor de possessivo.
indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao Vou seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos.)
tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado Pronomes Demonstrativos
supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
b)  3ª pessoa:  embora os pronomes de tratamento dirijam- Os pronomes demonstrativos são utilizados para explicitar a
se à  2ª pessoa, toda a concordância deve ser feita com a 3ª posição de uma certa palavra em relação a outras ou ao contexto.

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APOSTILAS OPÇÃO
Essa relação pode ocorrer em termos de espaço, no tempo ou aquele casado, solteiro este. [ou então: este solteiro, aquele casado]
discurso. e) O pronome demonstrativo tal pode ter conotação irônica.
A menina foi a tal que ameaçou o professor?
No espaço: f) Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em com
Compro este carro (aqui). O pronome este indica que o carro pronome demonstrativo:  àquele, àquela, deste, desta, disso,
está perto da pessoa que fala. nisso, no, etc.
Compro esse carro (aí). O pronome  esse  indica que o carro Não acreditei no que estava vendo. (no = naquilo)
está perto da pessoa com quem falo, ou afastado da pessoa que
fala. Pronomes Indefinidos
Compro aquele carro (lá). O pronome aquele diz que o carro
está afastado da pessoa que fala e daquela com quem falo. São palavras que se referem à terceira pessoa do discurso,
  dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quantidade
Atenção:  em situações de fala direta (tanto ao vivo quanto indeterminada.
por meio de correspondência, que é uma modalidade escrita de Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
fala), são particularmente importantes o este e o esse - o primeiro plantadas.
localiza os seres em relação ao emissor; o segundo, em relação Não é difícil perceber que  “alguém”  indica uma pessoa
ao destinatário. Trocá-los pode causar ambiguidade. de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser humano
Dirijo-me a essa universidade com o objetivo de solicitar que seguramente existe, mas cuja identidade é desconhecida ou
informações sobre o concurso vestibular. (trata-se da universidade não se quer revelar. 
destinatária).
Reafirmamos a disposição  desta  universidade em participar Classificam-se em:
no próximo Encontro de Jovens. (trata-se da universidade que
envia a mensagem). - Pronomes Indefinidos Substantivos:  assumem o lugar
do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase. São
No tempo: eles:  algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, ninguém,
Este ano está sendo bom para nós. O pronome este se refere outrem, quem, tudo.
ao ano presente. Algo o incomoda?
Esse ano que passou foi razoável. O pronome esse se refere a Quem avisa amigo é.
um passado próximo.
Aquele ano foi terrível para todos. O pronome aquele está se - Pronomes Indefinidos Adjetivos:  qualificam um ser
referindo a um passado distante. expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade
  aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s).
- Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou Cada povo tem seus costumes.
invariáveis, observe: Certas pessoas exercem várias profissões.

Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s). Note que: Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora
Invariáveis: isto, isso, aquilo. pronomes indefinidos adjetivos:
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
- Também aparecem como pronomes demonstrativos: demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e puderem nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo. quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.) tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
Essa rua não é a que te indiquei. (Esta rua não é aquela que
te indiquei.) Menos palavras e mais ações.
- mesmo(s), mesma(s): Alguns se contentam pouco.
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
- próprio(s), própria(s): Os pronomes indefinidos podem ser divididos
Os próprios alunos resolveram o problema. em variáveis e invariáveis. Observe:

- semelhante(s): Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário, tanto,


Não compre semelhante livro. outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca, vária,
- tal, tais: tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer, alguns, nenhuns,
Tal era a solução para o problema. todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos, algumas,
nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quantas.
Note que: Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, algo,
cada.
a)  Não raro os demonstrativos aparecem na frase, em
construções redundantes, com finalidade expressiva, para São  locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um,
salientar algum termo anterior. Por exemplo: qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja quem for,
Manuela, essa é que dera em cheio casando com o José Afonso. seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo), tal e qual, tal ou
Desfrutar das belezas brasileiras, isso é que é sorte! qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
b)  O pronome demonstrativo neutro  ou  pode representar Cada um escolheu o vinho desejado.
um termo ou o conteúdo de uma oração inteira, caso em que
aparece, geralmente, como objeto direto, predicativo ou aposto. Indefinidos Sistemáticos
O casamento seria um desastre. Todos o pressentiam.
c)  Para evitar a repetição de um verbo anteriormente Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
expresso, é comum empregar-se, em tais casos, o verbo fazer, percebemos que existem alguns grupos que criam oposição
chamado, então, verbo vicário (= que substitui, que faz as vezes de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm sentido
de). afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm sentido negativo;
Ninguém teve coragem de falar antes que ela o fizesse. todo/tudo,  que indicam uma totalidade afirmativa, e  nenhum/
d)  Em frases como a seguinte,  este  se refere à pessoa nada, que indicam uma totalidade negativa; alguém/ninguém,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em primeiro que se referem à pessoa, e  algo/nada, que se referem à coisa;
lugar. certo, que particulariza, e qualquer, que generaliza.
O referido deputado e o Dr. Alcides eram amigos íntimos; Essas oposições de sentido são muito importantes na

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APOSTILAS OPÇÃO
construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas Emprestei tantos quantos foram necessários.
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumentos (antecedente)
expostos. Observe nas frases seguintes a força que os pronomes
indefinidos destacados imprimem às afirmações de que fazem Ele fez tudo quanto havia falado.
parte: (antecedente)
Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
prático. f)  O pronome  “quem” se refere a pessoas e vem sempre
Certas  pessoas conseguem perceber sutilezas: não são precedido de preposição.
pessoas quaisquer.
É um professor a quem muito devemos.
Pronomes Relativos (preposição)

São aqueles que representam nomes já mencionados g)  “Onde”, como pronome relativo, sempre possui
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem as antecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar.
orações subordinadas adjetivas. A casa onde morava foi assaltada.
O racismo é um sistema  que  afirma a superioridade de um
grupo racial sobre outros. h) Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = que.
oração subordinada adjetiva). Sinto saudades da época em que (quando) morávamos no
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” e exterior.
introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra “sistema”
é antecedente do pronome relativo que. i) Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:
O antecedente do pronome relativo pode ser o pronome - como (= pelo qual)
demonstrativo o, a, os, as. Não me parece correto o modo como você agiu semana
Não sei o que você está querendo dizer. passada.
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem - quando (= em que)
expresso. Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.
Quem casa, quer casa.
j)  Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
Observe: numa só frase.
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os quais, O futebol é um esporte.
cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, quantas. O povo gosta muito deste esporte.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde. O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

Note que: k)  Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode


a)  O pronome  “que”  é o relativo de mais largo emprego, ocorrer a elipse do relativo “que”.
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser substituído A sala estava cheia de gente que conversava, (que) ria,
por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for (que) fumava.
um substantivo.
Pronomes Interrogativos
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual) São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais) ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, referem-
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais) se à 3ª pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes
interrogativos: que, quem, qual (e variações), quanto (e variações).
b)  O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
pronomes relativos: por isso, são utilizados didaticamente para Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço.
verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que podem ter Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas
várias classificações) são pronomes relativos. Todos eles são preferes.
usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte quantos
ou depois de determinadas preposições: passageiros desembarcaram.

Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o Sobre os pronomes:


qual me deixou encantado. (O uso de “que”, neste caso, geraria
ambiguidade.) O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de
sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo quando
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas desempenha função de complemento. Vamos entender,
dúvidas? (Não se poderia usar “que” depois de sobre.) primeiramente, como o pronome pessoal surge na frase e que
função exerce. Observe as orações:
c) O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se 1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
refere a uma oração. 2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia ajudá-
lo.
Não chegou a ser padre, mas deixou de ser poeta, que era a
sua vocação natural. Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso reto.
d) O pronome “cujo” não concorda com o seu antecedente, Já na segunda oração, observamos o pronome “lhe” exercendo
mas com o consequente. Equivale a do qual, da qual, dos quais, função de complemento, e, consequentemente, é do caso oblíquo.
das quais. Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso,
o pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para a
Este é o caderno cujas folhas estão rasgadas. segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se devia
(antecedente) (consequente) ajudar.... Ajudar quem? Você (lhe).
Importante: Em observação à segunda oração, o emprego do
e) “Quanto” é pronome relativo quando tem por antecedente pronome oblíquo “lhe” é justificado antes do verbo intransitivo
um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo: “ajudar” porque o pronome oblíquo pode estar antes, depois ou
entre locução verbal, caso o verbo principal (no caso “ajudar”)

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estiver no infinitivo ou gerúndio. estabelece entre algumas palavras do texto e os elementos a que
Eu desejo lhe perguntar algo. se referem.
Eu estou perguntando-lhe algo. I. No segmento que nascem, a palavra que se refere a
amizades.
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos: II. O segmento elos fracos retoma o segmento uma forma
os primeiros não são precedidos de preposição, diferentemente superficial de amizade.
dos segundos que são sempre precedidos de preposição. III. Na frase Nós não nos conhecemos, o pronome Nós refere-
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu se aos pronomes eu e você.
estava fazendo.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que Quais estão corretas?
eu estava fazendo. (A) Apenas I.
(B) Apenas II.
Questões (C) Apenas III.
(D) Apenas I e II.
01. Observe as sentenças abaixo. (E) I, II e III.
I. Esta é a professora de cuja aula todos os alunos gostam.
II. Aquela é a garota com cuja atitude discordei - tornamo- 03. Observe a charge a seguir.
nos inimigas desde aquele episódio.
III. A criança cuja a família não compareceu ficou inconsolável.

O pronome ‘cuja’ foi empregado de acordo com a norma


culta da língua portuguesa em:
(A) apenas uma das sentenças
(B) apenas duas das sentenças.
(C) nenhuma das sentenças.
(D) todas as sentenças.

02. Um estudo feito pela Universidade de Michigan constatou


que o que mais se faz no Facebook, depois de interagir com
amigos, é olhar os perfis de pessoas que acabamos de conhecer.
Se você gostar do perfil, adicionará aquela pessoa, e estará
formado um vínculo. No final, todo mundo vira amigo de todo
mundo. Mas, não é bem assim. As redes sociais têm o poder de Em relação à charge acima, assinale a afirmativa inadequada.
transformar os chamados elos latentes (pessoas que frequentam (A) A fala do personagem é uma modificação intencional de
o mesmo ambiente social, mas não são suas amigas) em elos uma fala de Cristo.
fracos – uma forma superficial de amizade. Pois é, por mais (B) As duas ocorrências do pronome “eles” referem-se a
que existam exceções _______qualquer regra, todos os estudos pessoas distintas.
mostram que amizades geradas com a ajuda da Internet são (C) A crítica da charge se dirige às autoridades políticas no
mais fracas, sim, do que aquelas que nascem e se desenvolvem poder.
fora dela. (D) A posição dos braços do personagem na charge repete a
Isso não é inteiramente ruim. Os seus amigos do peito de Cristo na cruz.
geralmente são parecidos com você: pertencem ao mesmo (E) Os elementos imagísticos da charge estão distribuídos de
mundo e gostam das mesmas coisas. Os elos fracos, não. Eles forma equilibrada.
transitam por grupos diferentes do seu e, por isso, podem lhe Respostas
apresentar novas pessoas e ampliar seus horizontes – gerando 01. A\02. E\03. B
uma renovação de ideias que faz bem a todos os relacionamentos,
inclusive às amizades antigas. O problema é que a maioria das Verbo
redes na Internet é simétrica: se você quiser ter acesso às
informações de uma pessoa ou mesmo falar reservadamente com Verbo  é a classe de palavras que se flexiona em pessoa,
ela, é obrigado a pedir a amizade dela. Como é meio grosseiro número, tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros
dizer “não” ________ alguém que você conhece, todo mundo acaba processos: ação (correr); estado (ficar); fenômeno (chover);
adicionando todo mundo. E isso vai levando ________ banalização ocorrência (nascer); desejo (querer).
do conceito de amizade. O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não os seus
É verdade. Mas, com a chegada de sítios como o Twitter, ficou possíveis significados. Observe que palavras como corrida,
diferente. Esse tipo de sítio é uma rede social completamente chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo ao de alguns
assimétrica. E isso faz com que as redes de “seguidores” e verbos mencionados acima; não apresentam, porém, todas as
“seguidos” de alguém possam se comunicar de maneira muito possibilidades de flexão que esses verbos possuem.
mais fluida. Ao estudar a sua própria rede no Twitter, o sociólogo
Nicholas Christakis, da Universidade de Harvard, percebeu Estrutura das Formas Verbais
que seus amigos tinham começado a se comunicar entre si
independentemente da mediação dele. Pessoas cujo único ponto Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode
em comum era o próprio Christakis acabaram ficando amigas. apresentar os seguintes elementos:
No Twitter, eu posso me interessar pelo que você tem a dizer e
começar a te seguir. Nós não nos conhecemos. a)  Radical:  é a parte invariável, que expressa o significado
Mas você saberá quando eu o retuitar ou mencionar seu essencial do verbo. Por exemplo:
nome no sítio, e poderá falar comigo. Meus seguidores também fal-ei; fal-ava; fal-am. (radical fal-)
podem se interessar pelos seus tuítes e começar a seguir você.
Em suma, nós continuaremos não nos conhecendo, mas as b) Tema: é o radical seguido da vogal temática que indica a
pessoas que estão ________ nossa volta podem virar amigas entre conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: fala-r
si.
Adaptado de: COSTA, C. C.. Disponível em: São três as conjugações:
<http://super.abril.com.br/cotidiano/como-internet- 1ª - Vogal Temática - A - (falar)
estamudando-amizade-619645.shtml>. 2ª - Vogal Temática - E - (vender)
3ª - Vogal Temática - I - (partir)
Considere as seguintes afirmações sobre a relação que se

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APOSTILAS OPÇÃO
c) Desinência modo-temporal: é o elemento que designa o classificar o sujeito como  hipotético, tornando-se, tais verbos,
tempo e o modo do verbo. então, pessoais.
Por exemplo: 4. o verbo deu + para da língua popular, equivalente de “ser
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo.) possível”. Por exemplo:
falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.) Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uns trocados?
d)  Desinência número-pessoal:  é o elemento que designa
a pessoa do discurso ( 1ª, 2ª ou 3ª) e o número (singular ou - Unipessoais:  são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se
plural). apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural.
falamos (indica a 1ª pessoa do plural.) A fruta amadureceu.
falavam (indica a 3ª pessoa do plural.) As frutas amadureceram.

Observação:  o verbo pôr, assim como seus derivados Obs.: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos
(compor, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, pois a pessoais na linguagem figurada:
forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver Teu irmão amadureceu bastante.
desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas formas do Entre os unipessoais estão os verbos que significam vozes de
verbo: põe, pões, põem, etc. animais; eis alguns:
bramar: tigre
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas bramir: crocodilo
cacarejar: galinha
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura dos coaxar: sapo
verbos com o conceito de acentuação tônica, percebemos com cricrilar: grilo
facilidade que nas formas rizotônicas, o acento tônico cai no
radical do verbo: opino, aprendam,  nutro, por exemplo. Nas Os principais verbos unipessoais são:
formas arrizotônicas, o acento tônico não cai no radical, mas sim 1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer,
na terminação verbal: opinei, aprenderão, nutriríamos. ser (preciso, necessário, etc.).
Cumpre  trabalharmos bastante. (Sujeito:  trabalharmos
Classificação dos Verbos bastante.)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover.)
Classificam-se em: É preciso que chova. (Sujeito: que chova.)
a) Regulares:  são aqueles que possuem as desinências 2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da
normais de sua conjugação e cuja flexão não provoca alterações conjunção que.
no radical.
Faz  dez anos que deixei de fumar. (Sujeito:  que deixei de
Por exemplo: canto     cantei      cantarei     cantava      cantasse fumar.)
b) Irregulares:  são aqueles cuja flexão provoca alterações Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não vejo Cláudia.
no radical ou nas desinências. (Sujeito: que não vejo Cláudia)
Por exemplo: faço     fiz      farei     fizesse Obs.: todos os sujeitos apontados são oracionais.
c) Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação
completa. Classificam-se em impessoais, unipessoais e pessoais. - Pessoais:  não apresentam algumas flexões por motivos
morfológicos ou eufônicos. Por exemplo:
- Impessoais: são os verbos que não têm sujeito. verbo falir. Este verbo teria como formas do presente do
Normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os indicativo falo, fales, fale, idênticas às do verbo falar - o que
principais verbos impessoais são: provavelmente causaria problemas de interpretação em certos
a)  haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se contextos.
ou fazer (em orações temporais). verbo computar. Este verbo teria como formas do presente do
Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam) indicativo computo, computas, computa - formas de sonoridade
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) considerada ofensiva por alguns ouvidos gramaticais. Essas
Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão) razões muitas vezes não impedem o uso efetivo de formas
Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz) verbais repudiadas por alguns gramáticos: exemplo disso é
o próprio verbo computar, que, com o desenvolvimento e a
b) fazer, ser e estar (quando indicam tempo) popularização da informática, tem sido conjugado em todos os
Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil. tempos, modos e pessoas.
Era primavera quando a conheci.
Estava frio naquele dia. d) Abundantes:  são aqueles que possuem mais de uma
forma com o mesmo valor. Geralmente, esse fenômeno costuma
c) Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza ocorrer no particípio, em que, além das formas regulares
são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer, terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci mal- curtas (particípio irregular). Observe:
humorado”, usa-se o verbo  “amanhecer”  em sentido figurado.
Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido figurado,
deixa de ser impessoal para ser pessoal. Infinitivo Particípio regular Particípio irregular
Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos) Anexar Anexado Anexo
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
Dispersar Dispersado Disperso
d) São impessoais, ainda: Eleger Elegido Eleito
1. o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo.
Ex.: Já passa das seis. Envolver Envolvido Envolto
2. os verbos  bastar  e  chegar, seguidos da preposição  de, Imprimir Imprimido Impresso
indicando suficiência. Ex.: 
Basta de tolices. Chega de blasfêmias. Matar Matado Morto
3. os verbos  estar  e  ficar  em orações tais como  Está bem, Morrer Morrido Morto
Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal,  sem referência
a sujeito expresso anteriormente. Podemos, ainda, nesse caso, Pegar Pegado Pego

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APOSTILAS OPÇÃO
Particípio: sido
Soltar Soltado Solto
Infinitivo Pessoal : ser eu, seres tu, ser ele, sermos
e) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical
nós, serdes vós, serem eles.
em sua conjugação.
Por exemplo: 
ESTAR - Modo Indicativo

Ir Pôr Ser Saber Presente: eu estou, tu estás, ele está, nós estamos, vós estais,
eles estão.
vou ponho sou sei
Pretérito Imperfeito: eu estava, tu estavas, ele estava, nós
vais pus és sabes estávamos, vós estáveis, eles estavam.
ides pôs fui soube Pretérito Perfeito Simples: eu estive, tu estiveste, ele
fui punha foste saiba esteve, nós estivemos, vós estivestes, eles estiveram.
foste seja Pretérito Perfeito Composto: tenho estado.
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu estivera, tu
f) Auxiliares estiveras, ele estivera, nós estivéramos, vós estivéreis, eles
São aqueles que entram na formação dos tempos estiveram.
compostos e das locuções verbais. O verbo principal, quando Pretérito Mais-que-perfeito Composto: tinha estado
acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das formas Futuro do Presente Simples: eu estarei, tu estarás, ele
nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio. estará, nós estaremos, vós estareis, eles estarão.
                         Futuro do Presente Composto: terei estado.
  Vou                       espantar           as          moscas. Futuro do Pretérito Simples: eu estaria, tu estarias, ele
(verbo auxiliar)       (verbo principal no infinitivo) estaria, nós estaríamos, vós estaríeis, eles estariam.
Futuro do Pretérito Composto: teria estado.
Está                    chegando            a         hora     do    debate.
(verbo auxiliar)      (verbo principal no gerúndio)                  ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo
                   
Obs.: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e Presente: que eu esteja, que tu estejas, que ele esteja, que
haver. nós estejamos, que vós estejais, que eles estejam.
Pretérito Imperfeito: se eu estivesse, se tu estivesses, se
Conjugação dos Verbos Auxiliares ele estivesse, se nós estivéssemos, se vós estivésseis, se eles
estivessem.
SER - Modo Indicativo Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse estado
Futuro Simples: quando eu estiver, quando tu estiveres,
Presente: eu sou, tu és, ele é, nós somos, vós sois, eles são. quando ele estiver, quando nós estivermos, quando vós
Pretérito Imperfeito: eu era, tu eras, ele era, nós éramos, estiverdes, quando eles estiverem.
vós éreis, eles eram. Futuro Composto: Tiver estado.
Pretérito Perfeito Simples: eu fui, tu foste, ele foi, nós
fomos, vós fostes, eles foram. Imperativo Afirmativo: está tu, esteja ele, estejamos nós,
Pretérito Perfeito Composto: tenho sido. estai vós, estejam eles.
Mais-que-perfeito simples: eu fora, tu foras, ele fora, nós Imperativo Negativo: não estejas tu, não esteja ele, não
fôramos, vós fôreis, eles foram. estejamos nós, não estejais vós, não estejam eles.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tinha sido. Infinitivo Pessoal: por estar eu, por estares tu, por estar ele,
Futuro do Pretérito simples: eu seria, tu serias, ele seria, por estarmos nós, por estardes vós, por estarem eles.
nós seríamos, vós seríeis, eles seriam.
Futuro do Pretérito Composto: terei sido. Formas Nominais
Futuro do Presente: eu serei, tu serás, ele será, nós seremos, Infinitivo: estar
vós sereis, eles serão. Gerúndio: estando
Futuro do Pretérito Composto: Teria sido. Particípio: estado

SER - Modo Subjuntivo ESTAR - Formas Nominais

Presente: que eu seja, que tu sejas, que ele seja, que nós Infinitivo Impessoal: estar
sejamos, que vós sejais, que eles sejam. Infinitivo Pessoal: estar, estares, estar, estarmos, estardes,
Pretérito Imperfeito: se eu fosse, se tu fosses, se ele fosse, estarem.
se nós fôssemos, se vós fôsseis, se eles fossem. Gerúndio: estando
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse sido. Particípio: estado
Futuro Simples: quando eu for, quando tu fores, quando ele
for, quando nós formos, quando vós fordes, quando eles forem. HAVER - Modo Indicativo
Futuro Composto: tiver sido.
Presente: eu hei, tu hás, ele há, nós havemos, vós haveis, eles
SER - Modo Imperativo hão.
Pretérito Imperfeito: eu havia, tu havias, ele havia, nós
Imperativo Afirmativo: sê tu, seja ele, sejamos nós, sede havíamos, vós havíeis, eles haviam.
vós, sejam eles. Pretérito Perfeito Simples: eu houve, tu houveste, ele
Imperativo Negativo: não sejas tu, não seja ele, não sejamos houve, nós houvemos, vós houvestes, eles houveram.
nós, não sejais vós, não sejam eles. Pretérito Perfeito Composto: tenho havido.
Infinitivo Pessoal: por ser eu, por seres tu, por ser ele, por Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu houvera, tu
sermos nós, por serdes vós, por serem eles. houveras, ele houvera, nós houvéramos, vós houvéreis, eles
houveram.
SER - Formas Nominais Pretérito Mais-que-Prefeito Composto: tinha havido.
Futuro do Presente Simples: eu haverei, tu haverás, ele
Formas Nominais haverá, nós haveremos, vós havereis, eles haverão.
Infinitivo: ser Futuro do Presente Composto: terei havido.
Gerúndio: sendo Futuro do Pretérito Simples: eu haveria, tu haverias, ele

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APOSTILAS OPÇÃO
haveria, nós haveríamos, vós haveríeis, eles haveriam. acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no próprio
Futuro do Pretérito Composto: teria havido. sentido do verbo (reflexivos essenciais). Veja:
- 1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os
HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos: abster-se,
ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos
Modo Subjuntivo verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já está implícita
Presente: que eu haja, que tu hajas, que ele haja, que nós no radical do verbo. Por exemplo:
hajamos, que vós hajais, que eles hajam. Arrependi-me de ter estado lá.
Pretérito Imperfeito: se eu houvesse, se tu houvesses, se A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem
ele houvesse, se nós houvéssemos, se vós houvésseis, se eles um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mesma,
houvessem. pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse havido. pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante do
Futuro Simples: quando eu houver, quando tu houveres, verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-
quando ele houver, quando nós houvermos, quando vós se que o pronome apenas serve de reforço da ideia reflexiva
houverdes, quando eles houverem. expressa pelo radical do próprio verbo.  
Futuro Composto: tiver havido. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e
respectivos pronomes): 
Modo Imperativo Eu me arrependo 
Imperativo Afirmativo: haja ele, hajamos nós, havei vós, Tu te arrependes 
hajam eles. Ele se arrepende 
Imperativo Negativo: não hajas tu, não haja ele, não Nós nos arrependemos 
hajamos nós, não hajais vós, não hajam eles. Vós vos arrependeis 
Infinitivo Pessoal: por haver eu, por haveres tu, por haver Eles se arrependem
ele, por havermos nós, por haverdes vós, por haverem eles.
 - 2. Acidentais:  são aqueles verbos transitivos diretos em que
HAVER - Formas Nominais a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto representado por
pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito
Infinitivo Impessoal: haver, haveres, haver, havermos, faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em geral, os verbos
haverdes, haverem. transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser
Infinitivo Pessoal: haver conjugados com os pronomes mencionados, formando o que se
Gerúndio: havendo chama voz reflexiva. Por exemplo: Maria se penteava.
Particípio: havido A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode
ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo:  Maria
TER - Modo Indicativo penteou-me.
 
Presente: eu tenho, tu tens, ele tem, nós temos, vós tendes, Observações:
eles têm. 1- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes
Pretérito Imperfeito: eu tinha, tu tinhas, ele tinha, nós oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
tínhamos, vós tínheis, eles tinham. sintática.
Pretérito Perfeito Simples: eu tive, tu tiveste, ele teve, nós 2- Há verbos que também são acompanhados de pronomes
tivemos, vós tivestes, eles tiveram. oblíquos átonos, mas que não são essencialmente pronominais,
Pretérito Perfeito Composto: tenho tido. são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes,
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu tivera, tu tiveras, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do sujeito,
ele tivera, nós tivéramos, vós tivéreis, eles tiveram. exercem funções sintáticas.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tinha tido. Por exemplo:
Futuro do Presente Simples: eu terei, tu terás, ele terá, nós Eu me feri. = Eu(sujeito) - 1ª pessoa do singular me (objeto
teremos, vós tereis, eles terão. direto) - 1ª pessoa do singular
Futuro do Presente: terei tido.
Futuro do Pretérito Simples: eu teria, tu terias, ele teria, Modos Verbais
nós teríamos, vós teríeis, eles teriam.
Futuro do Pretérito composto: teria tido. Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo
verbo na expressão de um fato. Em Português, existem três
TER - Modo Subjuntivo e Imperativo modos: 
Indicativo - indica uma certeza, uma realidade. Por exemplo:
Modo Subjuntivo Eu sempre estudo.
Presente: que eu tenha, que tu tenhas, que ele tenha, que Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade. Por
nós tenhamos, que vós tenhais, que eles tenham. exemplo: Talvez eu estude amanhã.
Pretérito Imperfeito: se eu tivesse, se tu tivesses, se ele Imperativo  - indica uma ordem, um pedido. Por
tivesse, se nós tivéssemos, se vós tivésseis, se eles tivessem. exemplo: Estuda agora, menino.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse tido.
Futuro: quando eu tiver, quando tu tiveres, quando ele tiver, Formas Nominais
quando nós tivermos, quando vós tiverdes, quando eles tiverem.
Futuro Composto: tiver tido. Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas
que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
Modo Imperativo advérbio), sendo por isso denominadas  formas nominais.
Imperativo Afirmativo: tem tu, tenha ele, tenhamos nós, Observe: 
tende vós, tenham eles. - a) Infinitivo Impessoal:  exprime a significação do verbo
Imperativo Negativo: não tenhas tu, não tenha ele, não de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de
tenhamos nós, não tenhais vós, não tenham eles. substantivo. Por exemplo: Viver é lutar. (= vida é luta)
Infinitivo Pessoal: por ter eu, por teres tu, por ter ele, por É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
termos nós, por terdes vós, por terem eles. O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente
(forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
g) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com É preciso ler este livro. Era preciso ter lido este livro.
os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na mesma b) Infinitivo Pessoal:  é o infinitivo relacionado às três
pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais pessoas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não

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APOSTILAS OPÇÃO
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; - Pretérito Imperfeito  -  Expressa um fato passado, mas
nas demais, flexiona- -se da seguinte maneira: posterior a outro já ocorrido. Por exemplo: Eu esperava que
ele vencesse o jogo.
2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres(tu)
1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.:termos (nós) Obs.: o pretérito imperfeito é também usado nas construções
2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.:terdes (vós) em que se expressa a ideia de condição ou desejo. Por exemplo:
3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.:terem (eles) Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.
- Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato totalmente
Por exemplo: terminado num momento passado. Por exemplo: Embora tenha
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação. estudado bastante, não passou no teste.
- Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que pode
- c) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou ocorrer num momento futuro em relação ao atual. Por exemplo:
advérbio. Por exemplo:  Quando ele vier à loja, levará as encomendas.
Saindo  de casa, encontrei alguns amigos. (função de Obs.: o futuro do presente é também usado em frases que
advérbio) indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se ele vier à loja,
Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função adjetivo) levará as encomendas.
Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso; - Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato posterior
na forma composta, uma ação concluída. Por exemplo: ao momento atual mas já terminado antes de outro fato
Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro. futuro. Por exemplo:  Quando ele  tiver saído do hospital, nós o
Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro. visitaremos.

- d) Particípio:  quando não é empregado na formação dos Presente do Indicativo


tempos compostos, o particípio indica geralmente o resultado
de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e 1ª conjugação/2ª conjugação/3ª conjugação / Desinência
grau. Por exemplo: pessoal
Terminados os exames, os candidatos saíram. CANTAR VENDER PARTIR
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma cantO vendO partO O
relação temporal, assume verdadeiramente a função de adjetivo cantaS vendeS parteS S
(adjetivo verbal). Por exemplo: canta vende parte -
Ela foi a aluna escolhida para representar a escola. cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
Tempos Verbais cantaM vendeM parteM M

Tomando-se como referência o momento em que se fala, Pretérito Perfeito do Indicativo


a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.
Veja: 1ª conjugação/2ª conjugação/3ª conjugação/Desinência
pessoal
1. Tempos do Indicativo CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
- Presente  - Expressa um fato atual. Por exemplo: cantaSTE vendeSTE partISTE STE
Eu estudo neste colégio. cantoU vendeU partiU U
- Pretérito Imperfeito  - Expressa um fato ocorrido num cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
momento anterior ao atual, mas que não foi completamente cantaSTES vendeSTES partISTES STES
terminado. Por exemplo: Ele  estudava  as lições quando foi cantaRAM vendeRAM partiRAM AM
interrompido.
- Pretérito Perfeito (simples)  -  Expressa um fato ocorrido Pretérito mais-que-perfeito
num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado.
Por exemplo: Ele estudou as lições ontem à noite. 1ª conj. / 2ª conj. / 3ª conj. /Desin. Temp. /Desin. Pess.
- Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato que teve 1ª/2ª e 3ª conj.
início no passado e que pode se prolongar até o momento atual. CANTAR VENDER PARTIR - -
Por exemplo: Tenho estudado muito para os exames. cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
- Pretérito-Mais-Que-Perfeito - Expressa um fato ocorrido cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
antes de outro fato já terminado. Por exemplo: Ele já  tinha cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
estudado  as lições quando os amigos chegaram. (forma cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
composta) Ele já estudara as lições quando os amigos chegaram. cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
(forma simples) cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M
- Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que deve
ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual. Pretérito Imperfeito do Indicativo
Por exemplo:  Ele estudará as lições amanhã.
- Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato que deve 1ª conjugação / 2ª conjugação / 3ª conjugação
ocorrer posteriormente a um momento atual, mas já terminado CANTAR VENDER PARTIR
antes de outro fato futuro. Por exemplo: Antes de bater o sinal, cantAVA vendIA partIA
os alunos já terão terminado o teste. cantAVAS vendIAS partAS
- Futuro do Pretérito (simples) - Enuncia um fato que pode CantAVA vendIA partIA
ocorrer posteriormente a um determinado fato passado. Por cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
exemplo: Se eu tivesse dinheiro, viajaria nas férias. cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
- Futuro do Pretérito (composto)  -  Enuncia um fato que cantAVAM vendIAM partIAM
poderia ter ocorrido posteriormente a um determinado fato
passado. Por exemplo:  Se eu tivesse ganho esse dinheiro, teria Futuro do Presente do Indicativo
viajado nas férias.
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
2. Tempos do Subjuntivo CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento cantar ás vender ás partir ás
atual. Por exemplo: É conveniente que estudes para o exame. cantar á vender á partir á

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APOSTILAS OPÇÃO
cantar emos vender emos partir emos Pres. do Indicativo Imperativo Afirm. Pres. do Subjuntivo
cantar eis vender eis partir eis Eu canto --- Que eu cante
cantar ão vender ão partir ão Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Futuro do Pretérito do Indicativo Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem
CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA Imperativo Negativo
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS negação às formas do presente do subjuntivo.
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo
Que eu cante ---
Presente do Subjuntivo Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a Que nós cantemos Não cantemos nós
desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do Que vós canteis Não canteis vós
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou Que eles cantem Não cantem eles
pela desinência -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação).
Observações:
1ª conj./2ª conj./3ª conju./Des.Temp./Des.temp./Des. pess
1ª conj. 2ª/3ª conj. - No modo imperativo não faz sentido usar na 3ª pessoa
CANTAR VENDER PARTIR (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
cantE vendA partA E A Ø ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se
cantES vendAS partAS E A S fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
cantE vendA partA E A Ø - O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu),
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS sede (vós).
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M Infinitivo Impessoal

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a
desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, Infinitivo Pessoal
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse
tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de número 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
e pessoa correspondente. CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. Des. temporal Desin. pessoal cantarES venderES partirES
1ª /2ª e 3ª conj. cantar vender partir
CANTAR VENDER PARTIR cantarMOS venderMOS partirMOS
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø cantarDES venderDES partirDES
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S cantarEM venderEM partirEM
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíssemos SSE MOS Questões
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSE vendeSSEM partiSSEM SSE M 01. Considere o trecho a seguir. É comum que objetos
___ esquecidos em locais públicos. Mas muitos transtornos
Futuro do Subjuntivo poderiam ser evitados se as pessoas ______ a atenção voltada
para seus pertences, conservando-os junto ao corpo. Assinale a
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas
-STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obtendo- do texto.
se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a (A) sejam … mantesse
desinência temporal -R mais a desinência de número e pessoa (B) sejam … mantivessem
correspondente. (C) sejam … mantém
(D) seja … mantivessem
1ª conj. / 2ª conj. / 3ª conj. / Des. temp. /Desin. pess. (E) seja … mantêm
1ª /2ª e 3ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR 02. Na frase –… os níveis de pessoas sem emprego estão
cantaR vendeR partiR Ø apresentando quedas sucessivas de 2005 para cá. –, a locução
cantaRES vendeRES partiRES R ES verbal em destaque expressa ação
cantaR vendeR partiR R Ø (A) concluída.
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS (B) atemporal.
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES (C) contínua.
cantaREM vendeREM PartiREM R EM (D) hipotética.
(E) futura.
Imperativo
03. (Escrevente TJ SP Vunesp) Sem querer estereotipar,
Imperativo Afirmativo mas já estereotipando: trata--se de um ser cujas interações sociais
Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente terminam, 99% das vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”.
do indicativo a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda pessoa do Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, (A) considerar ao acaso, sem premeditação.
sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:  (B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido dela.

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APOSTILAS OPÇÃO
(C) adotar como referência de qualidade. de exclusão: Apenas, exclusivamente, salvo, senão, somente,
(D) julgar de acordo com normas legais. simplesmente, só, unicamente
(E) classificar segundo ideias preconcebidas. de inclusão: Ainda, até, mesmo, inclusivamente, também
de ordem: Depois, primeiramente, ultimamente
Respostas de designação: Eis
1-B / 2-C / 3-E de interrogação: onde?(lugar), como?(modo),
quando?(tempo), por quê?(causa), quanto?(preço e intensidade),
Advérbio para quê?(finalidade)

O  advérbio, assim como muitas outras palavras existentes Locução adverbial 


na Língua Portuguesa, advém de outras línguas. Assim sendo, É reunião de duas ou mais palavras com valor de advérbio.
tal qual o adjetivo, o prefixo “ad-” indica a ideia de proximidade, Exemplo:
contiguidade. Carlos saiu às pressas. (indicando modo)
Maria saiu à tarde. (indicando tempo)
Essa proximidade faz referência ao processo verbal, no
sentido de caracterizá-lo, ou seja, indicando as circunstâncias Há locuções adverbiais que possuem advérbios
em que esse processo se desenvolve.  correspondentes.
Exemplo:
O advérbio relaciona-se aos verbos da língua, no sentido de Carlos saiu às pressas. = Carlos saiu apressadamente.
caracterizar os processos expressos por ele. Contudo, ele não
é modificador exclusivo desta classe (verbos), pois também Apenas os advérbios de intensidade, de lugar e de modo são
modifica o  adjetivo e até outro advérbio. Seguem alguns flexionados, sendo que os demais são todos invariáveis. A única
exemplos: flexão propriamente dita que existe na categoria dos advérbios
é a de grau:
Para quem se diz  distantemente alheio  a esse assunto,
você está até bem informado.
Superlativo:  aumenta a intensidade. Exemplos: longe
Temos o advérbio “distantemente” que modifica o adjetivo - longíssimo, pouco - pouquíssimo, inconstitucionalmente -
alheio, representando uma qualidade, característica. inconstitucionalissimamente, etc;
Diminutivo: diminui a intensidade.
O artista canta muito mal. Exemplos: perto - pertinho, pouco - pouquinho, devagar -
devagarinho, 
Nesse caso, o advérbio de intensidade “muito” modifica outro Questões
advérbio de modo – “mal”. Em ambos os exemplos pudemos
verificar que se tratava de somente uma palavra funcionando 01. Leia os quadrinhos para responder a questão.
como advérbio. No entanto, ele pode estar demarcado por
mais de uma palavra, que mesmo assim não deixará de ocupar
tal função. Temos aí o que chamamos de  locução adverbial,
representada por algumas expressões, tais como: às vezes, sem
dúvida, frente a frente, de modo algum, entre outras.

Mediante tais postulados, afirma-se que, dependendo das


circunstâncias expressas pelos advérbios, eles se classificam em
distintas categorias, uma vez expressas por:    
de modo: Bem, mal, assim, depressa, devagar, às pressas, às
claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse
jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado
a lado, a pé, de cor, em vão, e a maior parte dos que terminam
em -mente: calmamente, tristemente, propositadamente,
pacientemente, amorosamente, docemente, escandalosamente,
bondosamente, generosamente
de intensidade: Muito, demais, pouco, tão, menos, em
excesso, bastante, pouco, mais, menos, demasiado, quanto, quão,
tanto, que(equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de
muito, por completo.
de tempo: Hoje, logo, primeiro, ontem, tarde outrora,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim,
afinal, breve, constantemente, entrementes, imediatamente,
primeiramente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes,
à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de
quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos,
em breve, hoje em dia (Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano. Português. Volume
de lugar: Aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás, Único)
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo, aonde,
longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora, No primeiro e segundo quadrinhos, estão em destaque dois
alhures, nenhures, aquém, embaixo, externamente, a distância, advérbios: AÍ e ainda.
à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, Considerando que advérbio é a palavra que modifica
ao lado, em volta um verbo, um outro advérbio ou um adjetivo, expressando
de negação  : Não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de a circunstância em que determinado fato ocorre, assinale
forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum a alternativa que classifica, correta e respectivamente, as
de dúvida: Acaso, porventura, possivelmente, circunstâncias expressas por eles.
provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe A) Lugar e negação.
de afirmação: Sim, certamente, realmente, decerto, B) Lugar e tempo.
efetivamente, certo, decididamente, realmente, deveras, C) Modo e afirmação.
indubitavelmente D) Tempo e tempo.

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APOSTILAS OPÇÃO
E) Intensidade e dúvida. Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida
02. Leia o texto a seguir. prática. Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma
ponta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental, mesmo
Impunidade é motor de nova onda de agressões para quem não pretende ser engenheiro ou seguir carreiras
técnicas.
Repetidos episódios de violência têm sido noticiados nas Como sobreviver à era do crédito farto sem saber calcular as
últimas semanas. Dois que chamam a atenção, pela banalidade armadilhas que uma taxa de juros pode esconder? Hoje, é difícil
com que foram cometidos, estão gerando ainda uma série de até posicionar-se de forma racional sobre políticas públicas sem
repercussões. assimilar toda a numeralha que idealmente as informa.
Em Natal, um garoto de 19 anos quebrou o braço da Conhecimentos rudimentares de estatística são pré-requisito
estudante de direito R.D., 19, em plena balada, porque ela teria para compreender as novas pesquisas que trazem informações
recusado um beijo. O suposto agressor já responde a uma ação relevantes para nossa saúde e bem-estar.
penal, por agressão, movida por sua ex-mulher. A matemática está no centro de algumas das mais intrigantes
No mesmo final de semana, dois amigos que saíam de uma especulações cosmológicas da atualidade. Se as equações da
boate em São Paulo também foram atacados por dois jovens mecânica quântica indicam que existem universos paralelos,
que estavam na mesma balada, e um dos agredidos teve a perna isso basta para que acreditemos neles? Ou, no rastro de Eugene
fraturada. Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem Wigner, podemos nos perguntar por que a matemática é tão
sucesso, de duas garotas que eram amigas dos rapazes que eficaz para exprimir as leis da física.
saíam da boate. Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não Releia os trechos apresentados a seguir.
passou de um engano e que o rapaz teria fraturado a perna ao - Aqueles que não simpatizavam muito com Pitágoras
cair no chão. podiam simplesmente escolher carreiras nas quais os números
Curiosamente, também é possível achar um blog que diz não encontravam muito espaço... (1.º parágrafo)
que R.D., em Natal, foi quem atacou o jovem e que seu braço se - Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma
quebrou ao cair no chão. ponta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental...(3.º
Em ambos os casos, as câmeras dos estabelecimentos parágrafo)
felizmente comprovam os acontecimentos, e testemunhas vão
ajudar a polícia na investigação. Os advérbios em destaque nos trechos expressam, correta e
O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se respectivamente, circunstâncias de
quebrando por aí ao cair no chão, não é mesmo? As agressões A) afirmação e de intensidade.
devem ser rigorosamente apuradas e, se houver culpados, que B) modo e de tempo.
eles sejam julgados e condenados. C) modo e de lugar.
A impunidade é um dos motores da onda de violência que D) lugar e de tempo.
temos visto. O machismo e o preconceito são outros. O perfil E) intensidade e de negação.
impulsivo de alguns jovens (amplificado pela bebida e por
outras substâncias) completa o mecanismo que gera agressões. Respostas
Sem interferir nesses elementos, a situação não vai mudar. 1-B / 2-C / 3-B
Maior rigor da justiça, educação para a convivência com o outro,
aumento da tolerância à própria frustração e melhor controle Preposição
sobre os impulsos (é normal levar um “não”, gente!) são alguns
dos caminhos. Preposição  é uma palavra invariável que serve para ligar
(Jairo Bouer, Folha de S.Paulo, 24.10.2011. Adaptado) termos ou orações. Quando esta ligação acontece, normalmente
há uma subordinação do segundo termo em relação ao
Assinale a alternativa cuja expressão em destaque apresenta primeiro. As preposições são muito importantes na estrutura
circunstância adverbial de modo. da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores
A) Repetidos episódios de violência (...) estão gerando ainda semânticos indispensáveis para a compreensão do texto.
uma série de repercussões.
B) ...quebrou o braço da estudante de direito R. D., 19, em Tipos de Preposição
plena balada…
C) Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem 1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente
sucesso, de duas amigas… como preposições.
D) Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não passou A, ante, perante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre,
de um engano... para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
E) O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se
quebrando por aí… 2.  Preposições acidentais: palavras de outras  classes
gramaticais que podem atuar como preposições.
03. Leia o texto a seguir. Como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão,
visto.
Cultura matemática
Hélio Schwartsman 3.  Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo
como uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas.
SÃO PAULO – Saiu mais um estudo mostrando que o ensino Abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de
de matemática no Brasil não anda bem. A pergunta é: podemos acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de,
viver sem dominar o básico da matemática? Durante muito graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por
tempo, a resposta foi sim. Aqueles que não simpatizavam muito trás de.
com Pitágoras podiam simplesmente escolher carreiras nas
quais os números não encontravam muito espaço, como direito, A preposição, como já foi dito, é invariável. No entanto pode
jornalismo, as humanidades e até a medicina de antigamente. unir-se a outras palavras e assim estabelecer concordância em
Como observa Steven Pinker, ainda hoje, nos meios gênero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela
universitários, é considerado aceitável que um intelectual se
vanglorie de ter passado raspando em física e de ignorar o beabá Vale ressaltar que essa concordância não é característica da
da estatística. Mas ai de quem admitir nunca ter lido Joyce ou preposição, mas das palavras às quais ela se une.
dizer que não gosta de Mozart. Sobre ele recairão olhares tão
recriminadores quanto sobre o sujeito que assoa o nariz na Esse processo de junção de uma preposição com outra
manga da camisa. palavra pode se dar a partir de dois processos:

Língua Portuguesa 34
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APOSTILAS OPÇÃO
1. Combinação: A preposição não sofre alteração. Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém. /
preposição a + artigos definidos o, os Creio que a conhecemos melhor que ninguém.
a + o = ao
preposição a + advérbio onde 2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio das
a + onde = aonde preposições:
Destino = Irei para casa.
2. Contração: Quando a preposição sofre alteração. Modo = Chegou em casa aos gritos.
Lugar = Vou ficar em casa;
Preposição + Artigos Assunto = Escrevi um artigo sobre adolescência.
De + o(s) = do(s) Tempo = A prova vai começar em dois minutos.
De + a(s) = da(s) Causa = Ela faleceu de derrame cerebral.
De + um = dum Fim ou finalidade = Vou ao médico para começar o
De + uns = duns tratamento.
De + uma = duma Instrumento = Escreveu a lápis.
De + umas = dumas Posse = Não posso doar as roupas da mamãe.
Em + o(s) = no(s) Autoria = Esse livro de Machado de Assis é muito bom.
Em + a(s) = na(s) Companhia = Estarei com ele amanhã.
Em + um = num Matéria = Farei um cartão de papel reciclado.
Em + uma = numa Meio = Nós vamos fazer um passeio de barco.
Em + uns = nuns Origem = Nós somos do Nordeste, e você?
Em + umas = numas Conteúdo = Quebrei dois frascos de perfume.
A + à(s) = à(s) Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
Por + o = pelo(s) Preço = Essa roupa sai por R$ 50 à vista.
Por + a = pela(s)
Questões
Preposição + Pronomes
De + ele(s) = dele(s) 01. Leia o texto a seguir.
De + ela(s) = dela(s)
De + este(s) = deste(s) “Xadrez que liberta”: estratégia, concentração e reeducação
De + esta(s) = desta(s)
De + esse(s) = desse(s) João Carlos de Souza Luiz cumpre pena há três anos e dois
De + essa(s) = dessa(s) meses por assalto. Fransley Lapavani Silva está há sete anos
De + aquele(s) = daquele(s) preso por homicídio. Os dois têm 30 anos. Além dos muros,
De + aquela(s) = daquela(s) grades, cadeados e detectores de metal, eles têm outros pontos
De + isto = disto em comum: tabuleiros e peças de xadrez.
De + isso = disso O jogo, que eles aprenderam na cadeia, além de uma válvula
De + aquilo = daquilo de escape para as horas de tédio, tornou-se uma metáfora para o
De + aqui = daqui que pretendem fazer quando estiverem em liberdade.
De + aí = daí “Quando você vai jogar uma partida de xadrez, tem que pensar
De + ali = dali duas, três vezes antes. Se você movimenta uma peça errada,
De + outro = doutro(s) pode perder uma peça de muito valor ou tomar um xeque-mate,
De + outra = doutra(s) instantaneamente. Se eu for para a rua e movimentar a peça
Em + este(s) = neste(s) errada, eu posso perder uma peça muito importante na minha
Em + esta(s) = nesta(s) vida, como eu perdi três anos na cadeia. Mas, na rua, o problema
Em + esse(s) = nesse(s) maior é tomar o xeque-mate”, afirma João Carlos.
Em + aquele(s) = naquele(s) O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos
Em + aquela(s) = naquela(s) em 22 unidades prisionais do Espírito Santo. É o projeto “Xadrez
Em + isto = nisto que liberta”. Duas vezes por semana, os presos podem praticar
Em + isso = nisso a atividade sob a orientação de servidores da Secretaria de
Em + aquilo = naquilo Estado da Justiça (Sejus). Na próxima sexta-feira, será realizado
A + aquele(s) = àquele(s) o primeiro torneio fora dos presídios desde que o projeto foi
A + aquela(s) = àquela(s) implantado. Vinte e oito internos de 14 unidades participam da
A + aquilo = àquilo disputa, inclusive João Carlos e Fransley, que diz que a vitória
não é o mais importante.
Dicas sobre preposição “Só de chegar até aqui já estou muito feliz, porque eu não
esperava. A vitória não é tudo. Eu espero alcançar outras coisas
1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal devido ao xadrez, como ser olhado com outros olhos, como
oblíquo e artigo. Como distingui-los? estou sendo olhado de forma diferente aqui no presídio devido
ao bom comportamento”.
- Caso o “a” seja um artigo, virá precedendo a um substantivo. Segundo a coordenadora do projeto, Francyany Cândido
Ele servirá para determiná-lo como um substantivo singular Venturin, o “Xadrez que liberta” tem provocado boas mudanças
e feminino. no comportamento dos presos. “Tem surtido um efeito positivo
A dona da casa não quis nos atender. por eles se tornarem uma referência positiva dentro da unidade,
Como posso fazer a Joana concordar comigo? já que cumprem melhor as regras, respeitam o próximo e
pensam melhor nas suas ações, refletem antes de tomar uma
- Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois atitude”.
termos e estabelece relação de subordinação entre eles. Embora a Sejus não monitore os egressos que ganham a
Cheguei a sua casa ontem pela manhã. liberdade, para saber se mantêm o hábito do xadrez, João Carlos
Não queria, mas vou ter que ir à outra cidade para procurar já faz planos. “Eu incentivo não só os colegas, mas também
um tratamento adequado. minha família. Sou casado e tenho três filhos. Já passei para a
minha família: xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo
- Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/ vai ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar”.
ou a função de um substantivo. “Medidas de promoção de educação e que possibilitem que o
Temos Maria como parte da família. / A temos como parte egresso saia melhor do que entrou são muito importantes. Nós
da família não temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil. O preso

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APOSTILAS OPÇÃO
tem data para entrar e data para sair, então ele tem que sair ou termos de uma mesma oração. Logo, a palavra  “e” está
sem retornar para o crime”, analisa o presidente do Conselho ligando termos de uma mesma oração.
Estadual de Direitos Humanos, Bruno Alves de Souza Toledo.
(Disponível em: www.inapbrasil.com.br/en/noticias/xadrez-que- Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações
liberta-estrategia-concentracao-e-reeducacao/6/noticias. Adaptado) ou dois termos semelhantes de uma mesma oração.

No trecho –... xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo Morfossintaxe da Conjunção
vai ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar.– o
termo em destaque expressa relação de As conjunções, a exemplo das preposições, não exercem
A) espaço, como em – Nosso diretor foi até Brasília para falar propriamente uma função sintática: são conectivos.
do projeto “Xadrez que liberta”.
B) inclusão, como em – O xadrez mudou até o nosso modo Classificação - Conjunções Coordenativas- Conjunções
de falar. Subordinativas
C) finalidade, como em – Precisamos treinar até junho para
termos mais chances de vencer o torneio de xadrez. Conjunções coordenativas
D) movimento, como em – Só de chegar até aqui já estou Dividem-se em:
muito feliz, porque eu não esperava.
E) tempo, como em – Até o ano que vem, pretendo conseguir - ADITIVAS: expressam a ideia de adição, soma.
a revisão da minha pena. Ex. Gosto de cantar e de dançar.
Principais conjunções aditivas: e, nem, não só...mas também,
02. Considere o trecho a seguir. não só...como também.
O metrô paulistano, ________quem a banda recebe apoio,
garante o espaço para ensaios e os equipamentos; e a estabilidade - ADVERSATIVAS: Expressam ideias contrárias, de oposição,
no emprego, vantagem________ que muitos trabalhadores sonham, de compensação.
é o que leva os integrantes do grupo a permanecerem na Ex. Estudei, mas não entendi nada.
instituição. Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo,
todavia, no entanto, entretanto.
As preposições que preenchem o trecho, correta,
respectivamente e de acordo com a norma-padrão, são: - ALTERNATIVAS: Expressam ideia de alternância.
A) a ...com Ou você sai do telefone ou eu vendo o aparelho.
B) de ...com Principais conjunções alternativas: Ou...ou, ora...ora, quer...
C) de ...a quer, já...já.
D) com ...a
E) para ...de - CONCLUSIVAS: Servem para dar conclusões às orações. Ex.
Estudei muito, por isso mereço passar.
03. Assinale a alternativa cuja preposição em destaque Principais conjunções conclusivas: logo, por isso, pois
expressa ideia de finalidade. (depois do verbo), portanto, por conseguinte, assim.
A) Além disso, aumenta a punição administrativa, de R$
957,70 para R$ 1.915,40. - EXPLICATIVAS: Explicam, dão um motivo ou razão. Ex. É
B) ... o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que melhor colocar o casaco porque está fazendo muito frio lá fora.
o bafômetro e o exame de sangue eram obrigatórios para Principais conjunções explicativas: que, porque, pois (antes
comprovar o crime. do verbo), porquanto.
C) “... Ele é encaminhado para a delegacia para o perito fazer
o exame clínico”... Conjunções subordinativas
D) Já para o juiz criminal de São Paulo, Fábio Munhoz - CAUSAIS
Soares, um dos que devem julgar casos envolvendo pessoas Principais conjunções causais: porque, visto que, já que, uma
embriagadas ao volante, a mudança “é um avanço”. vez que, como (= porque).
E) Para advogados, a lei aumenta o poder da autoridade Ele não fez o trabalho porque não tem livro.
policial de dizer quem está embriagado...
- COMPARATIVAS
Respostas Principais conjunções comparativas: que, do que, tão...como,
1-B / 2-B / 3-B mais...do que, menos...do que.
Ela fala mais que um papagaio.
Conjunção
- CONCESSIVAS
Conjunção  é a palavra invariável que liga duas orações ou Principais conjunções concessivas: embora, ainda que,
dois termos semelhantes de uma mesma oração. Por exemplo: mesmo que, apesar de, se bem que.
Indicam uma concessão, admitem uma contradição, um fato
A menina segurou a boneca e mostrou quando viu as inesperado. Traz em si uma ideia de “apesar de”.
amiguinhas.
Deste exemplo podem ser retiradas três informações: Embora estivesse cansada, fui ao shopping. (= apesar de estar
cansada)
1-) segurou a boneca 2-) a menina mostrou 3-) viu as Apesar de ter chovido fui ao cinema.
amiguinhas
- CONFORMATIVAS
Cada informação está estruturada em torno de um verbo: Principais conjunções conformativas: como, segundo,
segurou, mostrou, viu. Assim, há nessa frase três orações: conforme, consoante
1ª oração: A menina segurou a boneca 2ª oração: e  mostrou Cada um colhe conforme semeia.
3ª oração: quando viu as amiguinhas. Expressam uma ideia de acordo, concordância, conformidade.
A segunda oração liga-se à primeira por meio do “e”, e a
terceira oração liga-se à segunda por meio do “quando”. As - CONSECUTIVAS
palavras “e” e “quando” ligam, portanto, orações. Expressam uma ideia de consequência.
Principais conjunções consecutivas: que (após “tal”, “tanto”,
Observe: Gosto de natação e de futebol. “tão”, “tamanho”).
Nessa frase as expressões de natação, de futebol são partes Falou tanto que ficou rouco.

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APOSTILAS OPÇÃO
- FINAIS concerto selecionadas. Agora, as gravações levam a mensagem
Expressam ideia de finalidade, objetivo. de Beethoven aos confins do planeta, convocando a multidão
Todos trabalham para que possam sobreviver. saudada na “Ode à alegria”: “Abracem-se, milhões!”. Glenn Gould,
Principais conjunções finais: para que, a fim de que, porque depois de afastar-se das apresentações ao vivo em 1964, previu
(=para que), que dentro de um século o concerto público desapareceria no éter
eletrônico, com grande efeito benéfico sobre a cultura musical.
- PROPORCIONAIS (Adaptado de Alex Ross. Escuta só. Tradução Pedro Maia
Principais conjunções proporcionais: à medida que, quanto Soares. São Paulo, Cia. das Letras, 2010, p. 76-77)
mais, ao passo que, à proporção que.
À medida que as horas passavam, mais sono ele tinha. No entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos,
ou até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós.
- TEMPORAIS
Principais conjunções temporais: quando, enquanto, logo Considerando-se o contexto, é INCORRETO afirmar que o
que. elemento grifado pode ser substituído por:
Quando eu sair, vou passar na locadora. A) Porém.
B) Contudo.
Importante: C) Todavia.
D) Entretanto.
Diferença entre orações causais e explicativas E) Conquanto.

Quando estudamos Orações Subordinadas Adverbiais (OSA) 02. Observando as ocorrências da palavra “como” em –
e Coordenadas Sindéticas (CS), geralmente nos deparamos Como fomos programados para ver o mundo como um lugar
com a dúvida de como distinguir uma oração causal de uma ameaçador… – é correto afirmar que se trata de conjunção
explicativa. Veja os exemplos: (A) comparativa nas duas ocorrências.
(B) conformativa nas duas ocorrências.
1º) Na frase “Não atravesse a rua, porque você pode ser (C) comparativa na primeira ocorrência.
atropelado”: (D) causal na segunda ocorrência.
a) Temos uma CS Explicativa, que indica uma justificativa ou (E) causal na primeira ocorrência.
uma explicação do fato expresso na oração anterior.
b) As orações são coordenadas e, por isso, independentes 03. Leia o texto a seguir.
uma da outra. Neste caso, há uma pausa entre as orações que
vêm marcadas por vírgula. Participação
Não atravesse a rua. Você pode ser atropelado.
b) Outra dica é, quando a oração que antecede a OC (Oração Num belo poema, intitulado “Traduzir-se”, Ferreira Gullar
Coordenada) vier com verbo no modo imperativo, ela será aborda o tema de uma divisão muito presente em cada um de
explicativa. nós: a que ocorre entre o nosso mundo interior e a nossa atuação
Façam silêncio, que estou falando. (façam= verbo imperativo) junto aos outros, nosso papel na ordem coletiva. A divisão não é
simples: costuma-se ver como antagônicas essas duas “partes”
2º) Na frase “Precisavam enterrar os mortos em outra cidade de nós, nas quais nos dividimos. De fato, em quantos momentos
porque não havia cemitério no local.” da nossa vida precisamos escolher entre o atendimento de um
a) Temos uma OSA Causal, já que a oração subordinada interesse pessoal e o cumprimento de um dever ético? Como poeta
(parte destacada) mostra a causa da ação expressa pelo e militante político, Ferreira Gullar deixou-se atrair tanto pela
verbo da oração principal. Outra forma de reconhecê- expressão das paixões mais íntimas quanto pela atuação de um
la é colocá-la no início do período, introduzida pela convicto socialista. Em seu poema, o diálogo entre as duas partes
conjunção como - o que não ocorre com a CS Explicativa. é desenvolvido de modo a nos fazer pensar que são incompatíveis.
Como não havia cemitério no local, precisavam enterrar os mortos
em outra cidade. Mas no último momento do poema deparamo-nos com esta
b) As orações são subordinadas e, por isso, totalmente estrofe:
dependentes uma da outra. “Traduzir uma parte na outra parte − que é uma questão de
vida ou morte − será arte?”
Questões O poeta levanta a possibilidade da “tradução” de uma parte
na outra, ou seja, da interação de ambas, numa espécie de
01. Leia o texto a seguir. espelhamento. Isso ocorreria quando o indivíduo conciliasse
A música alcançou uma onipresença avassaladora em nosso verdadeiramente a instância pessoal e os interesses de uma
mundo: milhões de horas de sua história estão disponíveis em comunidade; quando deixasse de haver contradição entre a razão
disco; rios de melodia digital correm na internet; aparelhos particular e a coletiva. Pergunta-se o poeta se não seria arte esse
de mp3 com 40 mil canções podem ser colocados no bolso. No tipo de integração. Realmente, com muita frequência a arte se
entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos, ou mostra capaz de expressar tanto nossa subjetividade como nossa
até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós. identidade social.
Ela se tornou um meio radicalmente virtual, uma arte sem Nesse sentido, traduzir uma parte na outra parte significaria
rosto. Quando caminhamos pela cidade num dia comum, nossos vencer a parcialidade e chegar a uma autêntica participação,
ouvidos registram música em quase todos os momentos − pedaços de sentido altamente político. O poema de Gullar deixa-nos essa
de hip-hop vazando dos fones de ouvido de adolescentes no metrô, hipótese provocadora, formulada com um ar de convicção.
o sinal do celular de um advogado tocando a “Ode à alegria”, de (Belarmino Tavares, inédito)
Beethoven −, mas quase nada disso será resultado imediato de
um trabalho físico de mãos ou vozes humanas, como se dava no Os seguintes fatos, referidos no texto, travam entre si uma
passado. relação de causa e efeito:
Desde que Edison inventou o cilindro fonográfico, em1877, A) ser poeta e militante político / confronto entre
existe gente que avalia o que a gravação fez em favor e desfavor subjetividade e atuação social
da arte da música. Inevitavelmente, a conversa descambou para B) ser poeta e militante político / divisão permanente em
os extremos retóricos. No campo oposto ao dos que diziam que a cada um de nós
tecnologia acabaria com a música estão os utópicos, que alegam C) ser movido pelas paixões / esposar teses socialistas
que a tecnologia não aprisionou a música, mas libertou-a, levando D) fazer arte / obliterar uma questão de vida ou morte
a arte da elite às massas. Antes de Edison, diziam os utópicos, E) participar ativamente da política / formular hipóteses
as sinfonias de Beethoven só podiam ser ouvidas em salas de com ar de convicção

Língua Portuguesa 37
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APOSTILAS OPÇÃO
Respostas Oh! Que bom te encontrar. (ideia de alegria)
1-E / 2-E / 3-A
Classificação das Interjeições
Interjeição
Comumente, as interjeições expressam sentido de:
- Advertência: Cuidado!, Devagar!, Calma!, Sentido!,
Interjeição  é a palavra invariável que exprime emoções,
Atenção!, Olha!, Alerta!
sensações, estados de espírito, ou que procura agir sobre o
- Afugentamento: Fora!, Passa!, Rua!, Xô!
interlocutor, levando-o a adotar certo comportamento sem que,
- Alegria ou Satisfação: Oh!, Ah!,Eh!, Oba!, Viva!
para isso, seja necessário fazer uso de estruturas linguísticas
- Alívio: Arre!, Uf!, Ufa! Ah!
mais elaboradas. Observe o exemplo:
- Animação ou Estímulo: Vamos!, Força!, Coragem!, Eia!,
Droga! Preste atenção quando eu estou falando!
Ânimo!, Adiante!, Firme!, Toca!
No exemplo acima, o interlocutor está muito bravo. Toda sua
- Aplauso ou Aprovação: Bravo!, Bis!, Apoiado!, Viva!, Boa!
raiva se traduz numa palavra: Droga!
- Concordância: Claro!, Sim!, Pois não!, Tá!, Hã-hã!
Ele poderia ter dito: - Estou com muita raiva de você! Mas usou
- Repulsa ou Desaprovação: Credo!, Irra!, Ih!, Livra!, Safa!,
simplesmente uma palavra. Ele empregou a interjeição Droga!
Fora!, Abaixo!, Francamente!, Xi!, Chega!, Basta!, Ora!
As sentenças da língua costumam se organizar de forma
- Desejo ou Intenção: Oh!, Pudera!, Tomara!, Oxalá!
lógica: há uma sintaxe que estrutura seus elementos e os distribui
- Desculpa: Perdão!
em posições adequadas a cada um deles. As interjeições, por
- Dor ou Tristeza: Ai!, Ui!, Ai de mim!, Que pena!, Ah!, Oh!,
outro lado, são uma espécie de “palavra-frase”, ou seja, há uma
Eh!
ideia expressa por uma palavra (ou um conjunto de palavras -
- Dúvida ou Incredulidade: Qual!, Qual o quê!, Hum!, Epa!,
locução interjetiva) que poderia ser colocada em termos de uma
Ora!
sentença.
- Espanto ou Admiração: Oh!, Ah!, Uai!, Puxa!, Céus!, Quê!,
Veja os exemplos:
Caramba!, Opa!, Virgem!, Vixe!, Nossa!, Hem?!, Hein?, Cruz!, Putz!
Bravo! Bis!
- Impaciência ou Contrariedade: Hum!, Hem!, Irra!, Raios!,
bravo  e  bis: interjeição / sentença (sugestão): «Foi muito
Diabo!, Puxa!, Pô!, Ora!
bom! Repitam!»
- Pedido de Auxílio: Socorro!, Aqui!, Piedade!
Ai! Ai! Ai! Machuquei meu pé...
- Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!, Viva!,
ai: interjeição / sentença (sugestão): “Isso está doendo!” ou
Adeus!, Olá!, Alô!, Ei!, Tchau!, Ô, Ó, Psiu!, Socorro!, Valha-me,
“Estou com dor!”
Deus!
- Silêncio: Psiu!, Bico!, Silêncio!
A interjeição é um recurso da linguagem afetiva, em que
- Terror ou Medo: Credo!, Cruzes!, Uh!, Ui!, Oh!
não há uma ideia organizada de maneira lógica, como são as
sentenças da língua, mas sim a manifestação de um suspiro, Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis, isto é,
um estado da alma decorrente de uma situação particular, um não sofrem variação em gênero, número e grau como os nomes,
momento ou um contexto específico. Exemplos: nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e voz como os
Ah, como eu queria voltar a ser criança! verbos. No entanto, em uso específico, algumas interjeições
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição sofrem variação em grau. Deve-se ter claro, neste caso, que
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! não se trata de um processo natural dessa classe de palavra,
hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.
O significado das interjeições está vinculado à maneira
Locução Interjetiva
como elas são proferidas. Desse modo, o tom da fala é que dita
o sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto de
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
enunciação. Exemplos:
expressão com sentido de interjeição. Por exemplo
Psiu!
Ora bolas!
contexto:  alguém pronunciando essa expressão na rua;
Quem me dera!
significado da interjeição (sugestão):  “Estou te chamando! Ei,
Virgem Maria!
espere!”
Meu Deus!
Psiu!
Ai de mim!
contexto:  alguém pronunciando essa expressão em um
Valha-me Deus!
hospital; significado da interjeição (sugestão):  “Por favor, faça
Graças a Deus!
silêncio!”
Alto lá!
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
Muito bem!
puxa: interjeição; tom da fala: euforia
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
Observações:
puxa: interjeição; tom da fala: decepção
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. Por
As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
exemplo:
a)  Sintetizar uma frase  exclamativa, exprimindo alegria,
Ué! = Eu não esperava por essa!
tristeza, dor, etc.
Perdão! = Peço-lhe que me desculpe.
Você faz o que no Brasil?
Eu? Eu negocio com madeiras.
2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é o seu
Ah, deve ser muito interessante.
tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes gramaticais
b) Sintetizar uma frase apelativa
podem aparecer como interjeições.
Cuidado! Saia da minha frente.
Viva! Basta! (Verbos)
As interjeições podem ser formadas por:
Fora! Francamente! (Advérbios)
a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô.
b) palavras: Oba!, Olá!, Claro!
3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-frase”
c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!, Ora
porque sozinha pode constituir uma mensagem.
bolas!
Socorro!
A ideia expressa pela interjeição depende muitas vezes
Ajudem-me! 
da entonação com que é pronunciada; por isso, pode ocorrer que
Silêncio!
uma interjeição tenha mais de um sentido. Por exemplo:
Fique quieto!
Oh! Que surpresa desagradável! (ideia de contrariedade)

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APOSTILAS OPÇÃO
4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imitativas, 45.520 = quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte.
que exprimem ruídos e vozes.
Pum! Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Flexão dos numerais
Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-quá!, etc.
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/uma,
5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com a sua dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/duzentas em
homônima  “oh!”, que exprime admiração, alegria, tristeza, etc. diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatrocentas, etc.
Faz-se uma pausa depois do” oh!” exclamativo e não a fazemos Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam em número:
depois do “ó” vocativo. milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais são invariáveis.

“Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!» (Olavo Bilac)  Os numerais ordinais variam em gênero e número:
Oh! a jornada negra!» (Olavo Bilac) primeiro segundo milésimo
primeira segunda milésima
6) Na linguagem afetiva, certas interjeições, originadas primeiros segundos milésimos
de palavras de outras classes, podem aparecer flexionadas no primeiras segundas milésimas
diminutivo ou no superlativo.
Calminha! Adeusinho! Obrigadinho! Os numerais multiplicativos são invariáveis quando atuam
Interjeições, leitura e produção de textos em funções substantivas:
Fizeram o dobro do esforço e conseguiram o triplo de produção.
Usadas com muita frequência na língua falada informal, Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
quando empregadas na língua escrita, as interjeições costumam flexionam-se em gênero e número:
conferir-lhe certo tom inconfundível de coloquialidade. Além Teve de tomar doses triplas do medicamento.
disso, elas podem muitas vezes indicar traços pessoais do falante Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e número.
- como a escassez de vocabulário, o temperamento agressivo ou Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/duas terças
dócil, até mesmo a origem geográfica. É nos textos narrativos - partes
particularmente nos diálogos - que comumente se faz uso Os numerais coletivos flexionam-se em número. Veja: uma
das interjeições com o objetivo de caracterizar personagens dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
e, também, graças à sua natureza sintética, agilizar as falas. É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos
Natureza sintética e conteúdo mais emocional do que numerais, traduzindo afetividade ou especialização de sentido.
racional fazem das interjeições presença constante nos textos É o que ocorre em frases como:
publicitários. “Me empresta duzentinho...”
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/ É artigo de primeiríssima qualidade!
morf89.php O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda
Numeral divisão de futebol)

Numeral é a palavra que indica os seres em termos Emprego dos Numerais


numéricos, isto é, que atribui quantidade aos seres ou os situa
em determinada sequência. *Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em
Os quatro últimos ingressos foram vendidos há pouco. que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até décimo e a
[quatro: numeral = atributo numérico de “ingresso”] partir daí os cardinais, desde que o numeral venha depois do
Eu quero café duplo, e você? substantivo:
[duplo: numeral = atributo numérico de “café”] Ordinais Cardinais
A primeira pessoa da fila pode entrar, por favor! João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
[primeira: numeral = situa o ser “pessoa” na sequência de D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
“fila”] Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
os números indicam em relação aos seres. Assim, quando a
expressão é colocada em números (1, 1°, 1/3, etc.) não se trata *Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal
de numerais, mas sim de algarismos. até nono e o cardinal de dez em diante:
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
ideia expressa pelos números, existem mais algumas palavras Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
consideradas numerais porque denotam quantidade, proporção
ou ordenação. São alguns exemplos: década, dúzia, par, *Ambos/ambas são considerados numerais. Significam “um
ambos(as), novena. e outro”, “os dois” (ou “uma e outra”, “as duas”) e são largamente
empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez
Classificação dos Numerais referência.
Cardinais: indicam contagem, medida. É o número básico: Pedro e João parecem ter finalmente percebido a importância
um, dois, cem mil, etc. da solidariedade. Ambos agora participam das atividades
Ordinais: indicam a ordem ou lugar do ser numa série dada: comunitárias de seu bairro.
primeiro, segundo, centésimo, etc.
Fracionários: indicam parte de um inteiro, ou seja, a divisão Obs.: a forma “ambos os dois” é considerada enfática.
dos seres: meio, terço, dois quintos, etc. Atualmente, seu uso indica afetação, artificialismo.
Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação dos
seres, indicando quantas vezes a quantidade foi aumentada: Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários
dobro, triplo, quíntuplo, etc. um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
Leitura dos Numerais três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
Separando os números em centenas, de trás para frente, cinco quinto quíntuplo quinto
obtêm-se conjuntos numéricos, em forma de centenas e, no seis sexto sêxtuplo sexto
início, também de dezenas ou unidades. Entre esses conjuntos sete sétimo sétuplo sétimo
usa-se vírgula; as unidades ligam-se pela conjunção “e”. oito oitavo óctuplo oitavo
1.203.726 = um milhão, duzentos e três mil, setecentos e vinte nove nono nônuplo nono
e seis. dez décimo décuplo décimo

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APOSTILAS OPÇÃO
onze décimo primeiro - onze avos e nomes que exigem a preposição  “a”. Aprender a usar a
doze décimo segundo - doze avos crase, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência
treze décimo terceiro - treze avos simultânea de uma preposição e um artigo ou pronome. 
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos Observe:
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos Vou a + a igreja.
dezessete décimo sétimo - dezessete avos Vou à igreja.
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos No exemplo acima, temos a ocorrência da
vinte vigésimo - vinte avos preposição  “a”,  exigida pelo verbo  ir (ir a algum lugar) e a
trinta trigésimo - trinta avos ocorrência do artigo “a” que está determinando o substantivo
quarenta quadragésimo - quarenta avos feminino igreja. Quando ocorre esse encontro das duas vogais e
cinquenta quinquagésimo - cinquenta avos elas se unem, a união delas é indicada pelo acento grave. Observe
sessenta sexagésimo - sessenta avos os outros exemplos:
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos Conheço a aluna.
noventa nonagésimo - noventa avos Refiro-me à aluna.
cem centésimo cêntuplo centésimo No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer
duzentos ducentésimo - ducentésimo algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode
trezentos trecentésimo - trecentésimo ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo (referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição  “a”.
quinhentos quingentésimo - quingentésimo Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo feminino e admita o artigo feminino “a” ou um dos pronomes já
setecentos septingentésimo - septingentésimo especificados.
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo Veja os principais casos em que a crase NÃO ocorre:
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo 1-) diante de substantivos masculinos:
milhão milionésimo - milionésimo Andamos a cavalo.
bilhão bilionésimo - bilionésimo Fomos a pé.

Questões 2-) diante de  verbos no infinitivo:


A criança começou a falar.
01.Na frase “Nessa carteira só há duas notas de cinco reais” Ela não tem nada a dizer.
temos exemplos de numerais:
A) ordinais; Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos
B) cardinais; exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.
C) fracionários;
D) romanos; 3-) diante da maioria dos pronomes e das expressões de
E) Nenhuma das alternativas. tratamento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona:
Diga a ela que não estarei em casa amanhã.
02.Aponte a alternativa em que os numerais estão bem Entreguei a todos os documentos necessários.
empregados. Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem.
A) Ao papa Paulo Seis sucedeu João Paulo Primeiro.
B) Após o parágrafo nono virá o parágrafo décimo. Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes
C) Depois do capítulo sexto, li o capitulo décimo primeiro. podem ser identificados pelo método: troque a palavra feminina
D) Antes do artigo dez vem o artigo nono. por uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao,
E) O artigo vigésimo segundo foi revogado. ocorrerá crase. Por exemplo:

03. Os ordinais referentes aos números 80, 300, 700 e 90 Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.)
são, respectivamente Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao senhor.)
A) octagésimo, trecentésimo, septingentésirno, Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao próprio
nongentésimo Cláudio para sair mais cedo.)
B) octogésimo, trecentésimo, septingentésimo, nonagésimo
C) octingentésimo, tricentésimo, septuagésimo, nonagésimo 4-) diante de numerais cardinais:
D) octogésimo, tricentésimo, septuagésimo, nongentésimo Chegou a duzentos o número de feridos
Daqui a uma semana começa o campeonato.
Respostas
1-B / 2-D / 3-B Casos em que a crase SEMPRE ocorre:

Emprego do sinal indicativo de 1-) diante de palavras femininas:


crase. Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
Sempre vamos à praia no verão.
Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
Crase Sou grata à população.
Fumar é prejudicial à saúde.
A palavra crase é de origem grega e significa «fusão», Este aparelho é posterior à invenção do telefone.
«mistura». Na língua portuguesa, é o nome que se dá à «junção»
de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da 2-) diante da palavra “moda”, com o sentido de “à moda de”
preposição “a” com o artigo feminino “a” (s), com o “a” inicial dos (mesmo que a expressão moda de fique subentendida):
pronomes aquele(s), aquela (s), aquilo e com o “a” do relativo a O jogador fez um gol à (moda de) Pelé. 
qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para Usava sapatos à (moda de) Luís XV.
indicar a crase. O uso apropriado do acento grave depende da Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho.
compreensão da fusão das duas vogais. É fundamental também, O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.
para o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos

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APOSTILAS OPÇÃO
3-) na indicação de horas: Não obedecerei àquele sujeito.
Acordei às sete horas da manhã.
Elas chegaram às dez horas. Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais
Foram dormir à meia-noite.
A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as
4-) em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes
que participam palavras femininas. Por exemplo: exigir a preposição  «a»,  haverá crase. É possível detectar a
ocorrência da crase nesses casos utilizando a substituição do
à tarde às ocultas às pressas à medida que termo regido feminino por um termo regido masculino. 
à noite às claras às escondidas à força Por exemplo:
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
à vontade à beça à larga à escuta O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade
às avessas à revelia à exceção de à imitação de
Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase.
à esquerda às turras às vezes à chave Veja outros exemplos:
à direita à procura à deriva à toa São normas às quais todos os alunos devem obedecer.
Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
à proporção Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam
à luz à sombra de à frente de
que responder nenhuma das questões.
à A sessão à qual assisti estava vazia.
semelhança às ordens à beira de
de Crase com o Pronome Demonstrativo “a”

Crase diante de Nomes de Lugar A ocorrência da crase com o pronome


demonstrativo “a” também pode ser detectada através da
Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do substituição do termo regente feminino por um termo regido
artigo “a”. Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que masculino. 
diante deles haverá crase, desde que o termo regente exija a Veja:
preposição “a”. Para saber se um nome de lugar admite ou não Minha revolta é ligada à do meu país.
a anteposição do artigo feminino “a”, deve-se substituir o termo Meu luto é ligado ao do meu país.
regente por um verbo que peça a preposição  “de”  ou  “em”. A As orações são semelhantes às de antes.
ocorrência da contração  “da”  ou  “na”  prova que esse nome de Os exemplos são semelhantes aos de antes.
lugar aceita o artigo e, por isso, haverá crase. Suas perguntas são superiores às dele.
Por exemplo: Seus argumentos são superiores aos dele.
Vou  à  França. (Vim  da [de+a] França. Estou  na [em+a] Sua blusa é idêntica à de minha colega.
França.) Seu casaco é idêntico ao de minha colega.
Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)
Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália) A Palavra Distância
Vou  a  Porto Alegre. (Vim  de Porto Alegre. Estou em Porto
Alegre.)  Se a palavra  distância  estiver especificada, determinada, a
crase deve ocorrer.
- Minha dica: use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou A Por exemplo:
volto DE, crase PRA QUÊ?” Sua casa fica  à  distância de 100 Km daqui. (A palavra está
Ex: Vou a Campinas. = Volto de Campinas. determinada)
Vou à praia. = Volto da praia. Todos devem ficar  à  distância de 50 metros do palco. (A
palavra está especificada.)
- ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado,
ocorrerá crase. Veja: Se a palavra  distância  não estiver especificada, a
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = crase não pode ocorrer. 
mesmo que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” Por exemplo:
Irei à Salvador de Jorge Amado. Os militares ficaram a distância.
Gostava de fotografar a distância.
Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele (s), Ensinou a distância.
Aquela (s), Aquilo Dizem que aquele médico cura a distância.
Reconheci o menino a distância.
Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo
regente exigir a preposição “a”. Por exemplo: Observação: por motivo de clareza, para evitar ambiguidade,
pode-se usar a crase.
Refiro-me a + aquele atentado. Veja:
Preposição Pronome Gostava de fotografar à distância.
Ensinou à distância.
Refiro-me àquele atentado. Dizem que aquele médico cura à distância.

O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA
indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição,
portanto, ocorre a crase. Observe este outro exemplo: 1-) diante de nomes próprios femininos:
Observação: é facultativo o uso da crase diante de nomes
Aluguei aquela casa. próprios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:
Paula é muito bonita. Laura é minha amiga.
O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não exige A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.
preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso.
Veja outros exemplos: Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo
Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho. feminino diante de nomes próprios femininos, então podemos
Quero agradecer àqueles que me socorreram. escrever as frases abaixo das seguintes formas:
Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai.

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APOSTILAS OPÇÃO
Entreguei o cartão a Paula. Entreguei o cartão a Respostas
Roberto. 1-B / 2-A / 3-B
Entreguei o cartão à Paula. Entreguei o cartão ao
Roberto.
Sintaxe da oração e do período.
2-) diante de pronome possessivo feminino:
Observação: é facultativo o uso da crase diante de
pronomes possessivos femininos porque é facultativo o uso do Oração
artigo. Observe:
Minha avó tem setenta anos. Minha irmã está Oração: é todo enunciado linguístico dotado de sentido,
esperando por você. porém há, necessariamente, a presença do verbo. A oração
A minha avó tem setenta anos. A minha irmã está encerra uma frase (ou segmento de frase), várias frases ou um
esperando por você. período, completando um pensamento e concluindo o enunciado
através de ponto final, interrogação, exclamação e, em alguns
Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de casos, através de reticências.
pronomes possessivos femininos, então podemos escrever as Em toda oração há um verbo ou locução verbal (às vezes
frases abaixo das seguintes formas: elípticos). Não têm estrutura sintática, portanto não são orações,
não podem ser analisadas sintaticamente frases como:
Cedi o lugar a minha avó. Cedi o lugar a meu avô.
Cedi o lugar à minha avó. Cedi o lugar ao meu avô. Socorro!
Com licença!
3-) depois da preposição até: Que rapaz impertinente!
Fui até a praia. ou Fui até à praia. Muito riso, pouco siso.
Acompanhe-o até a porta. ou Acompanhe-o até à porta.
A palestra vai até as cinco horas da tarde. ou Na oração as palavras estão relacionadas entre si, como
A palestra vai até às cinco horas da tarde. partes de um conjunto harmônico: elas formam os termos
ou as unidades sintáticas da oração. Cada termo da oração
Questões desempenha uma função sintática. Geralmente apresentam dois
grupos de palavras: um grupo sobre o qual se declara alguma
01. No Brasil, as discussões sobre drogas parecem limitar- coisa (o sujeito), e um grupo que apresenta uma declaração (o
se ______aspectos jurídicos ou policiais. É como se suas únicas predicado), e, excepcionalmente, só o predicado. Exemplo:
consequências estivessem em legalismos, tecnicalidades
e estatísticas criminais. Raro ler ____respeito envolvendo A menina banhou-se na cachoeira.
questões de saúde pública como programas de esclarecimento A menina – sujeito
e prevenção, de tratamento para dependentes e de reintegração banhou-se na cachoeira – predicado
desses____ vida. Quantos de nós sabemos o nome de um médico Choveu durante a noite. (a oração toda predicado)
ou clínica ____quem tentar encaminhar um drogado da nossa
própria família? O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo em
número e pessoa. É normalmente o «ser de quem se declara
(Ruy Castro, Da nossa própria família. Folha de S.Paulo, algo», «o tema do que se vai comunicar».
17.09.2012. Adaptado) O predicado é a parte da oração que contém “a informação
nova para o ouvinte”. Normalmente, ele se refere ao sujeito,
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito.
respectivamente, com:
(A) aos … à … a … a Observe: O amor é eterno. O tema, o ser de quem se declara
(B) aos … a … à … a algo, o sujeito, é “O amor”. A declaração referente a “o amor”, ou
(C) a … a … à … à seja, o predicado, é «é eterno».
(D) à … à … à … à
(E) a … a … a … a Já na frase: Os rapazes jogam futebol. O sujeito é “Os rapazes”,
que identificamos por ser o termo que concorda em número e
02. Leia o texto a seguir. pessoa com o verbo “jogam”. O predicado é “jogam futebol”.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu
______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do Núcleo de um termo é a palavra principal (geralmente um
procedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu- substantivo, pronome ou verbo), que encerra a essência de
lhe ______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o sua significação. Nos exemplos seguintes, as palavras amigo e
que fez. revestiu são o núcleo do sujeito e do predicado, respectivamente:
(Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio de “O amigo retardatário do presidente prepara-se para
Janeiro: Globo, 1997, p. 6) desembarcar.” (Aníbal Machado)
A avezinha revestiu o interior do ninho com macias plumas.
Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na
ordem dada: Os termos da oração da língua portuguesa são classificados
A) à – a – a em três grandes níveis:
B) a – a – à - Termos Essenciais da Oração: Sujeito e Predicado.
C) à – a – à
D) à – à – a - Termos Integrantes da Oração: Complemento Nominal e
E) a – à – à Complementos Verbais (Objeto Direto, Objeto indireto e Agente
da Passiva).
03 “Nesta oportunidade, volto ___ referir-me ___ problemas já
expostos ___ V. Sª ___ alguns dias”. - Termos Acessórios da Oração: Adjunto Adnominal,
a) à - àqueles - a - há  Adjunto Adverbial, Aposto e Vocativo.
b) a - àqueles - a - há 
c) a - aqueles - à - a  Termos Essenciais da Oração: São dois os termos essenciais
d) à - àqueles - a - a  (ou fundamentais) da oração: sujeito e predicado. Exemplos:
e) a - aqueles - à - há

Língua Portuguesa 42
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APOSTILAS OPÇÃO
O sino era grande.
Sujeito Predicado
Ela tem uma educação fina.
Pobreza não é vileza. Vossa Excelência agiu com imparcialidade.
Isto não me agrada.
Os sertanistas capturavam os índios.
Um vento áspero sacudia as árvores. O núcleo (isto é, a palavra base) do sujeito é, pois, um
substantivo ou pronome. Em torno do núcleo podem aparecer
Sujeito: é equivocado dizer que o sujeito é aquele que pratica palavras secundárias (artigos, adjetivos, locuções adjetivas, etc.).
uma ação ou é aquele (ou aquilo) do qual se diz alguma coisa. Ao Exemplo: “Todos os ligeiros rumores da mata tinham uma
fazer tal afirmação estamos considerando o aspecto semântico voz para a selvagem filha do sertão.” (José de Alencar)
do sujeito (agente de uma ação) ou o seu aspecto estilístico
(o tópico da sentença). Já que o sujeito é depreendido de uma O sujeito pode ser:
análise sintática, vamos restringir a definição apenas ao seu
papel sintático na sentença: aquele que estabelece concordância Simples: quando tem um só núcleo: As rosas têm espinhos;
com o núcleo do predicado. Quando se trata de predicado verbal, “Um bando de galinhas-d’angola atravessa a rua em fila indiana.”
o núcleo é sempre um verbo; sendo um predicado nominal, o Composto: quando tem mais de um núcleo: “O burro e o
núcleo é sempre um nome. Então têm por características básicas: cavalo nadavam ao lado da canoa.”
- estabelecer concordância com o núcleo do predicado; Expresso: quando está explícito, enunciado: Eu viajarei
- apresentar-se como elemento determinante em relação ao amanhã.
predicado; Oculto (ou elíptico): quando está implícito, isto é, quando
- constituir-se de um substantivo, ou pronome substantivo não está expresso, mas se deduz do contexto: Viajarei amanhã.
ou, ainda, qualquer palavra substantivada. (sujeito: eu, que se deduz da desinência do verbo); “Um soldado
saltou para a calçada e aproximou-se.” (o sujeito, soldado, está
Exemplo: expresso na primeira oração e elíptico na segunda: e (ele)
aproximou-se.); Crianças, guardem os brinquedos. (sujeito:
A padaria está fechada hoje. vocês)
está fechada hoje: predicado nominal Agente: se faz a ação expressa pelo verbo da voz ativa: O Nilo
fechada: nome adjetivo = núcleo do predicado fertiliza o Egito.
a padaria: sujeito Paciente: quando sofre ou recebe os efeitos da ação expressa
padaria: núcleo do sujeito - nome feminino singular pelo verbo passivo: O criminoso é atormentado pelo remorso;
Muitos sertanistas foram mortos pelos índios; Construíram-se
No interior de uma sentença, o sujeito é o termo determinante, açudes. (= Açudes foram construídos.)
ao passo que o predicado é o termo determinado. Essa posição Agente e Paciente: quando o sujeito realiza a ação expressa
de determinante do sujeito em relação ao predicado adquire por um verbo reflexivo e ele mesmo sofre ou recebe os efeitos
sentido com o fato de ser possível, na língua portuguesa, uma dessa ação: O operário feriu-se durante o trabalho; Regina
sentença sem sujeito, mas nunca uma sentença sem predicado. trancou-se no quarto.
Exemplo: Indeterminado: quando não se indica o agente da ação
verbal: Atropelaram uma senhora na esquina. (Quem atropelou
As formigas invadiram minha casa. a senhora? Não se diz, não se sabe quem a atropelou.); Come-se
as formigas: sujeito = termo determinante bem naquele restaurante.
invadiram minha casa: predicado = termo determinado
Há formigas na minha casa. Observações:
há formigas na minha casa: predicado = termo determinado - Não confundir sujeito indeterminado com sujeito oculto.
sujeito: inexistente - Sujeito formado por pronome indefinido não é
indeterminado, mas expresso: Alguém me ensinará o caminho.
O sujeito sempre se manifesta em termos de sintagma Ninguém lhe telefonou.
nominal, isto é, seu núcleo é sempre um nome. Quando esse - Assinala-se a indeterminação do sujeito usando-se o
nome se refere a objetos das primeira e segunda pessoas, o verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a qualquer agente
sujeito é representado por um pronome pessoal do caso reto (eu, já expresso nas orações anteriores: Na rua olhavam-no com
tu, ele, etc.). Se o sujeito se refere a um objeto da terceira pessoa, admiração; “Bateram palmas no portãozinho da frente.”; “De
sua representação pode ser feita através de um substantivo, de qualquer modo, foi uma judiação matarem a moça.”
um pronome substantivo ou de qualquer conjunto de palavras, - Assinala-se a indeterminação do sujeito com um verbo
cujo núcleo funcione, na sentença, como um substantivo. ativo na 3ª pessoa do singular, acompanhado do pronome se. O
Exemplos: pronome se, neste caso, é índice de indeterminação do sujeito.
Eu acompanho você até o guichê. Pode ser omitido junto de infinitivos.
eu: sujeito = pronome pessoal de primeira pessoa Aqui vive-se bem.
Vocês disseram alguma coisa? Devagar se vai ao longe.
vocês: sujeito = pronome pessoal de segunda pessoa Quando se é jovem, a memória é mais vivaz.
Marcos tem um fã-clube no seu bairro. Trata-se de fenômenos que nem a ciência sabe explicar.
Marcos: sujeito = substantivo próprio
Ninguém entra na sala agora. - Assinala-se a indeterminação do sujeito deixando-se o
ninguém: sujeito = pronome substantivo verbo no infinitivo impessoal: Era penoso carregar aqueles
O andar deve ser uma atividade diária. fardos enormes; É triste assistir a estas cenas repulsivas.
o andar: sujeito = núcleo: verbo substantivado nessa oração
Normalmente, o sujeito antecede o predicado; todavia, a
Além dessas formas, o sujeito também pode se constituir posposição do sujeito ao verbo é fato corriqueiro em nossa
de uma oração inteira. Nesse caso, a oração recebe o nome de língua.
oração substantiva subjetiva: Exemplos:
É fácil este problema!
É difícil optar por esse ou aquele doce... Vão-se os anéis, fiquem os dedos.
É difícil: oração principal “Breve desapareceram os dois guerreiros entre as árvores.”
optar por esse ou aquele doce: oração substantiva subjetiva (José de Alencar)

O sujeito é constituído por um substantivo ou pronome, ou Sem Sujeito: constituem a enunciação pura e absoluta de um
por uma palavra ou expressão substantivada. Exemplos: fato, através do predicado; o conteúdo verbal não é atribuído a

Língua Portuguesa 43
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APOSTILAS OPÇÃO
nenhum ser. São construídas com os verbos impessoais, na 3ª constituem a nova informação sobre o sujeito. De qualquer
pessoa do singular: Havia ratos no porão; Choveu durante o jogo. forma, esses complementos do verbo não interferem na tipologia
Observação: São verbos impessoais: Haver (nos sentidos do predicado.
de existir, acontecer, realizar-se, decorrer), Fazer, passar, ser Entretanto, é muito comum a elipse (ou omissão) do verbo,
e estar, com referência ao tempo e Chover, ventar, nevar, gear, quando este puder ser facilmente subentendido, em geral por
relampejar, amanhecer, anoitecer e outros que exprimem estar expresso ou implícito na oração anterior. Exemplos:
fenômenos meteorológicos.
“A fraqueza de Pilatos é enorme, a ferocidade dos algozes
Predicado: assim como o sujeito, o predicado é um inexcedível.” (Machado de Assis) (Está subentendido o verbo é
segmento extraído da estrutura interna das orações ou das depois de algozes)
frases, sendo, por isso, fruto de uma análise sintática. Nesse “Mas o sal está no Norte, o peixe, no Sul” (Paulo Moreira da
sentido, o predicado é sintaticamente o segmento linguístico Silva) (Subentende-se o verbo está depois de peixe)
que estabelece concordância com outro termo essencial “A cidade parecia mais alegre; o povo, mais contente.” (Povina
da oração, o sujeito, sendo este o termo determinante (ou Cavalcante) (isto é: o povo parecia mais contente)
subordinado) e o predicado o termo determinado (ou principal).
Não se trata, portanto, de definir o predicado como “aquilo Chama-se predicação verbal o modo pelo qual o verbo
que se diz do sujeito” como fazem certas gramáticas da língua forma o predicado.
portuguesa, mas sim estabelecer a importância do fenômeno Há verbos que, por natureza, tem sentido completo,
da concordância entre esses dois termos essenciais da oração. podendo, por si mesmos, constituir o predicado: são os verbos
Então têm por características básicas: apresentar-se como de predicação completa denominados intransitivos. Exemplo:
elemento determinado em relação ao sujeito; apontar um
atributo ou acrescentar nova informação ao sujeito. As flores murcharam.
Os animais correm.
Exemplo: As folhas caem.

Carolina conhece os índios da Amazônia. Outros verbos há, pelo contrário, que para integrarem
sujeito: Carolina = termo determinante o predicado necessitam de outros termos: são os verbos de
predicado: conhece os índios da Amazônia = termo predicação incompleta, denominados transitivos. Exemplos:
determinado
João puxou a rede.
Nesses exemplos podemos observar que a concordância é “Não invejo os ricos, nem aspiro à riqueza.” (Oto Lara
estabelecida entre algumas poucas palavras dos dois termos Resende)
essenciais. No primeiro exemplo, entre “Carolina” e “conhece”; “Não simpatizava com as pessoas investidas no poder.”
no segundo exemplo, entre “nós” e “fazemos”. Isso se dá porque (Camilo Castelo Branco)
a concordância é centrada nas palavras que são núcleos, isto
é, que são responsáveis pela principal informação naquele Observe que, sem os seus complementos, os verbos puxou,
segmento. No predicado o núcleo pode ser de dois tipos: um invejo, aspiro, etc., não transmitiriam informações completas:
nome, quase sempre um atributo que se refere ao sujeito da puxou o quê? Não invejo a quem? Não aspiro a quê?
oração, ou um verbo (ou locução verbal). No primeiro caso, Os verbos de predicação completa denominam-se
temos um predicado nominal (seu núcleo significativo é um intransitivos e os de predicação incompleta, transitivos. Os
nome, substantivo, adjetivo, pronome, ligado ao sujeito por verbos transitivos subdividem-se em: transitivos diretos,
um verbo de ligação) e no segundo um predicado verbal (seu transitivos indiretos e transitivos diretos e indiretos
núcleo é um verbo, seguido, ou não, de complemento(s) ou (bitransitivos).
termos acessórios). Quando, num mesmo segmento o nome e o Além dos verbos transitivos e intransitivos, quem encerram
verbo são de igual importância, ambos constituem o núcleo do uma noção definida, um conteúdo significativo, existem os de
predicado e resultam no tipo de predicado verbo-nominal (tem ligação, verbos que entram na formação do predicado nominal,
dois núcleos significativos: um verbo e um nome). Exemplos: relacionando o predicativo com o sujeito.
Quanto à predicação classificam-se, pois os verbos em:
Minha empregada é desastrada. Intransitivos: são os que não precisam de complemento,
predicado: é desastrada pois têm sentido completo.
núcleo do predicado: desastrada = atributo do sujeito “Três contos bastavam, insistiu ele.” (Machado de Assis)
tipo de predicado: nominal “Os guerreiros Tabajaras dormem.” (José de Alencar)
“A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.”
O núcleo do predicado nominal chama-se predicativo (Marquês de Maricá)
do sujeito, porque atribui ao sujeito uma qualidade ou
característica. Os verbos de ligação (ser, estar, parecer, etc.) Observações: Os verbos intransitivos podem vir
funcionam como um elo entre o sujeito e o predicado. acompanhados de um adjunto adverbial e mesmo de um
predicativo (qualidade, características): Fui cedo; Passeamos
A empreiteira demoliu nosso antigo prédio. pela cidade; Cheguei atrasado; Entrei em casa aborrecido.
predicado: demoliu nosso antigo prédio As orações formadas com verbos intransitivos não podem
núcleo do predicado: demoliu = nova informação sobre o “transitar” (= passar) para a voz passiva. Verbos intransitivos
sujeito passam, ocasionalmente, a transitivos quando construídos com
tipo de predicado: verbal o objeto direto ou indireto.
- “Inutilmente a minha alma o chora!” (Cabral do Nascimento)
Os manifestantes desciam a rua desesperados. - “Depois me deitei e dormi um sono pesado.” (Luís Jardim)
predicado: desciam a rua desesperados - “Morrerás morte vil da mão de um forte.” (Gonçalves Dias)
núcleos do predicado: desciam = nova informação sobre o - “Inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo
sujeito; desesperados = atributo do sujeito que já morreu...” (Ciro dos Anjos)
tipo de predicado: verbo-nominal
Alguns verbos essencialmente intransitivos: anoitecer,
Nos predicados verbais e verbo-nominais o verbo é crescer, brilhar, ir, agir, sair, nascer, latir, rir, tremer, brincar,
responsável também por definir os tipos de elementos que chegar, vir, mentir, suar, adoecer, etc.
aparecerão no segmento. Em alguns casos o verbo sozinho basta
para compor o predicado (verbo intransitivo). Em outros casos Transitivos Diretos: são os que pedem um objeto direto, isto
é necessário um complemento que, juntamente com o verbo, é, um complemento sem preposição. Pertencem a esse grupo:

Língua Portuguesa 44
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APOSTILAS OPÇÃO
julgar, chamar, nomear, eleger, proclamar, designar, considerar, A água está fria.
declarar, adotar, ter, fazer, etc. Exemplos: O moço anda (=está) triste.
Comprei um terreno e construí a casa. A Lua parecia um disco.
“Trabalho honesto produz riqueza honrada.” (Marquês de
Maricá) Observações: Os verbos de ligação não servem apenas de
“Então, solenemente Maria acendia a lâmpada de sábado.” anexo, mas exprimem ainda os diversos aspectos sob os quais
(Guedes de Amorim) se considera a qualidade atribuída ao sujeito. O verbo ser, por
exemplo, traduz aspecto permanente e o verbo estar, aspecto
Dentre os verbos transitivos diretos merecem destaque os transitório: Ele é doente. (aspecto permanente); Ele está doente.
que formam o predicado verbo nominal e se constrói com o (aspecto transitório). Muito desses verbos passam à categoria
complemento acompanhado de predicativo. Exemplos: dos intransitivos em frases como: Era =existia) uma vez uma
Consideramos o caso extraordinário. princesa.; Eu não estava em casa.; Fiquei à sombra.; Anda com
Inês trazia as mãos sempre limpas. dificuldades.; Parece que vai chover.
O povo chamava-os de anarquistas.
Julgo Marcelo incapaz disso. Os verbos, relativamente à predicação, não têm classificação
fixa, imutável. Conforme a regência e o sentido que apresentam
Observações: Os verbos transitivos diretos, em geral, podem na frase, podem pertencer ora a um grupo, ora a outro. Exemplos:
ser usados também na voz passiva; Outra característica desses O homem anda. (intransitivo)
verbos é a de poderem receber como objeto direto, os pronomes O homem anda triste. (de ligação)
o, a, os, as: convido-o, encontro-os, incomodo-a, conheço-as; Os
verbos transitivos diretos podem ser construídos acidentalmente O cego não vê. (intransitivo)
com preposição, a qual lhes acrescenta novo matiz semântico: O cego não vê o obstáculo. (transitivo direto)
arrancar da espada; puxar da faca; pegar de uma ferramenta;
tomar do lápis; cumprir com o dever; Alguns verbos transitivos Não dei com a chave do enigma. (transitivo indireto)
diretos: abençoar, achar, colher, avisar, abraçar, comprar, Os pais dão conselhos aos filhos. (transitivo direto e indireto)
castigar, contrariar, convidar, desculpar, dizer, estimar, elogiar,
entristecer, encontrar, ferir, imitar, levar, perseguir, prejudicar, Predicativo: Há o predicativo do sujeito e o predicativo do
receber, saldar, socorrer, ter, unir, ver, etc. objeto.

Transitivos Indiretos: são os que reclamam um Predicativo do Sujeito: é o termo que exprime um atributo,
complemento regido de preposição, chamado objeto indireto. um estado ou modo de ser do sujeito, ao qual se prende por um
Exemplos: verbo de ligação, no predicado nominal. Exemplos:
“Ninguém perdoa ao quarentão que se apaixona por uma A bandeira é o símbolo da Pátria.
adolescente.” (Ciro dos Anjos) A mesa era de mármore.
“Populares assistiam à cena aparentemente apáticos e
neutros.” (Érico Veríssimo) Além desse tipo de predicativo, outro existe que entra na
“Lúcio não atinava com essa mudança instantânea.” (José constituição do predicado verbo-nominal. Exemplos:
Américo) O trem chegou atrasado. (=O trem chegou e estava
“Do que eu mais gostava era do tempo do retiro espiritual.” atrasado.)
(José Geraldo Vieira) O menino abriu a porta ansioso.
Todos partiram alegres.
Observações: Entre os verbos transitivos indiretos importa
distinguir os que se constroem com os pronomes objetivos lhe, Observações: O predicativo subjetivo às vezes está
lhes. Em geral são verbos que exigem a preposição a: agradar-lhe, preposicionado; Pode o predicativo preceder o sujeito e até
agradeço-lhe, apraz-lhe, bate-lhe, desagrada-lhe, desobedecem- mesmo ao verbo: São horríveis essas coisas!; Que linda
lhe, etc. Entre os verbos transitivos indiretos importa distinguir estava Amélia!; Completamente feliz ninguém é.; Raros são os
os que não admitem para objeto indireto as formas oblíquas verdadeiros líderes.; Quem são esses homens?; Lentos e tristes,
lhe, lhes, construindo-se com os pronomes retos precedidos de os retirantes iam passando.; Novo ainda, eu não entendia certas
preposição: aludir a ele, anuir a ele, assistir a ela, atentar nele, coisas.; Onde está a criança que fui?
depender dele, investir contra ele, não ligar para ele, etc. Predicativo do Objeto: é o termo que se refere ao objeto de
Em princípio, verbos transitivos indiretos não comportam um verbo transitivo. Exemplos:
a forma passiva. Excetuam-se pagar, perdoar, obedecer, e O juiz declarou o réu inocente.
pouco mais, usados também como transitivos diretos: João O povo elegeu-o deputado.
paga (perdoa, obedece) o médico. O médico é pago (perdoado,
obedecido) por João. Há verbos transitivos indiretos, como Observações: O predicativo objetivo, como vemos dos
atirar, investir, contentar-se, etc., que admitem mais de uma exemplos acima, às vezes vem regido de preposição. Esta, em
preposição, sem mudança de sentido. Outros mudam de sentido certos casos, é facultativa; O predicativo objetivo geralmente
com a troca da preposição, como nestes exemplos: Trate de sua se refere ao objeto direto. Excepcionalmente, pode referir-se
vida. (tratar=cuidar). É desagradável tratar com gente grosseira. ao objeto indireto do verbo chamar. Chamavam-lhe poeta;
(tratar=lidar). Verbos como aspirar, assistir, dispor, servir, etc., Podemos antepor o predicativo a seu objeto: O advogado
variam de significação conforme sejam usados como transitivos considerava indiscutíveis os direitos da herdeira.; Julgo
diretos ou indiretos. inoportuna essa viagem.; “E até embriagado o vi muitas
vezes.”; “Tinha estendida a seus pés uma planta rústica da
Transitivos Diretos e Indiretos: são os que se usam com cidade.”; “Sentia ainda muito abertos os ferimentos que aquele
dois objetos: um direto, outro indireto, concomitantemente. choque com o mundo me causara.”
Exemplos:
No inverno, Dona Cléia dava roupas aos pobres. Termos Integrantes da Oração
A empresa fornece comida aos trabalhadores.
Oferecemos flores à noiva. Chamam-se termos integrantes da oração os que completam
Ceda o lugar aos mais velhos. a significação transitiva dos verbos e nomes. Integram (inteiram,
completam) o sentido da oração, sendo por isso indispensável à
De Ligação: Os que ligam ao sujeito uma palavra ou compreensão do enunciado. São os seguintes:
expressão chamada predicativo. Esses verbos, entram na - Complemento Verbais (Objeto Direto e Objeto Indireto);
formação do predicado nominal. Exemplos: - Complemento Nominal;
A Terra é móvel. - Agente da Passiva.

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APOSTILAS OPÇÃO
Objeto Direto: é o complemento dos verbos de predicação - Sendo objeto direto o numeral ambos(as): “O aguaceiro
incompleta, não regido, normalmente, de preposição. Exemplos: caiu, molhou a ambos.”; “Se eu previsse que os matava a
As plantas purificaram o ar. ambos...”.
“Nunca mais ele arpoara um peixe-boi.” (Ferreira Castro) - Com certos pronomes indefinidos, sobretudo referentes a
Procurei o livro, mas não o encontrei. pessoas: Se todos são teus irmãos, por que amas a uns e odeias a
Ninguém me visitou. outros?; Aumente a sua felicidade, tornando felizes também aos
outros.; A quantos a vida ilude!.
O objeto direto tem as seguintes características: - Em certas construções enfáticas, como puxar (ou arrancar)
- Completa a significação dos verbos transitivos diretos; da espada, pegar da pena, cumprir com o dever, atirar com os
- Normalmente, não vem regido de preposição; livros sobre a mesa, etc.: “Arrancam das espadas de aço fino...”;
- Traduz o ser sobre o qual recai a ação expressa por um “Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou
verbo ativo: Caim matou Abel. da linha, enfiou a linha na agulha e entrou a coser.”; “Imagina-se
- Torna-se sujeito da oração na voz passiva: Abel foi morto a consternação de Itaguaí, quando soube do caso.”
por Caim.
Observações: Nos quatro primeiros casos estudados a
O objeto direto pode ser constituído: preposição é de rigor, nos cinco outros, facultativa; A substituição
- Por um substantivo ou expressão substantivada: O lavrador do objeto direto preposicionado pelo pronome oblíquo átono,
cultiva a terra.; Unimos o útil ao agradável. quando possível, se faz com as formas o(s), a(s) e não lhe,
- Pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos: lhes: amar a Deus (amá-lo); convencer ao amigo (convencê-
Espero-o na estação.; Estimo-os muito.; Sílvia olhou-se ao lo); O objeto direto preposicionado, é obvio, só ocorre com
espelho.; Não me convidas?; Ela nos chama.; Avisamo-lo a verbo transitivo direto; Podem resumir-se em três as razões
tempo.; Procuram-na em toda parte.; Meu Deus, eu vos amo.; ou finalidades do emprego do objeto direto preposicionado:
“Marchei resolutamente para a maluca e intimei-a a ficar a clareza da frase; a harmonia da frase; a ênfase ou a força da
quieta.”; “Vós haveis de crescer, perder-vos-ei de vista.” expressão.
- Por qualquer pronome substantivo: Não vi ninguém na
loja.; A árvore que plantei floresceu. (que: objeto direto de Objeto Direto Pleonástico: Quando queremos dar destaque
plantei); Onde foi que você achou isso? Quando vira as folhas do ou ênfase à ideia contida no objeto direto, colocamo-lo no
livro, ela o faz com cuidado.; “Que teria o homem percebido nos início da frase e depois o repetimos ou reforçamos por meio do
meus escritos?” pronome oblíquo. A esse objeto repetido sob forma pronominal
chama-se pleonástico, enfático ou redundante. Exemplos:
Frequentemente transitivam-se verbos intransitivos, dando- O dinheiro, Jaime o trazia escondido nas mangas da camisa.
se-lhes por objeto direto uma palavra cognata ou da mesma O bem, muitos o louvam, mas poucos o seguem.
esfera semântica: “Seus cavalos, ela os montava em pelo.” (Jorge Amado)
“Viveu José Joaquim Alves vida tranquila e patriarcal.”
(Vivaldo Coaraci) Objeto Indireto: É o complemento verbal regido de
“Pela primeira vez chorou o choro da tristeza.” (Aníbal preposição necessária e sem valor circunstancial. Representa,
Machado) ordinariamente, o ser a que se destina ou se refere à ação verbal:
“Nenhum de nós pelejou a batalha de Salamina.” (Machado “Nunca desobedeci a meu pai”. O objeto indireto completa a
de Assis) significação dos verbos:
Em tais construções é de rigor que o objeto venha
acompanhado de um adjunto. - Transitivos Indiretos: Assisti ao jogo; Assistimos à missa e
à festa; Aludiu ao fato; Aspiro a uma vida calma.
Objeto Direto Preposicionado: Há casos em que o objeto - Transitivos Diretos e Indiretos (na voz ativa ou passiva):
direto, isto é, o complemento de verbos transitivos diretos, vem Dou graças a Deus; Ceda o lugar aos mais velhos; Dedicou sua
precedido de preposição, geralmente a preposição a. Isto ocorre vida aos doentes e aos pobres; Disse-lhe a verdade. (Disse a
principalmente: verdade ao moço.)
- Quando o objeto direto é um pronome pessoal tônico:
Deste modo, prejudicas a ti e a ela.; “Mas dona Carolina amava O objeto indireto pode ainda acompanhar verbos de outras
mais a ele do que aos outros filhos.”; “Pareceu-me que Roberto categorias, os quais, no caso, são considerados acidentalmente
hostilizava antes a mim do que à ideia.”; “Ricardina lastimava o transitivos indiretos: A bom entendedor meia palavra basta;
seu amigo como a si própria.”; “Amava-a tanto como a nós”. Sobram-lhe qualidades e recursos. (lhe=a ele); Isto não lhe
- Quando o objeto é o pronome relativo quem: “Pedro convém; A proposta pareceu-lhe aceitável.
Severiano tinha um filho a quem idolatrava.”; “Abraçou a todos;
deu um beijo em Adelaide, a quem felicitou pelo desenvolvimento Observações: Há verbos que podem construir-se com dois
das suas graças.”; “Agora sabia que podia manobrar com ele, com objetos indiretos, regidos de preposições diferentes: Rogue a
aquele homem a quem na realidade também temia, como todos Deus por nós.; Ela queixou-se de mim a seu pai.; Pedirei para
ali”. ti a meu senhor um rico presente; Não confundir o objeto direto
- Quando precisamos assegurar a clareza da frase, evitando com o complemento nominal nem com o adjunto adverbial; Em
que o objeto direto seja tomado como sujeito, impedindo frases como “Para mim tudo eram alegrias”, “Para ele nada é
construções ambíguas: Convence, enfim, ao pai o filho amado.; impossível”, os pronomes em destaque podem ser considerados
“Vence o mal ao remédio.”; “Tratava-me sem cerimônia, como a adjuntos adverbiais.
um irmão.”; A qual delas iria homenagear o cavaleiro? O objeto indireto é sempre regido de preposição, expressa
- Em expressões de reciprocidade, para garantir a clareza e a ou implícita. A preposição está implícita nos pronomes objetivos
eufonia da frase: “Os tigres despedaçam-se uns aos outros.”; “As indiretos (átonos) me, te, se, lhe, nos, vos, lhes. Exemplos:
companheiras convidavam-se umas às outras.”; “Era o abraço de Obedece-me. (=Obedece a mim.); Isto te pertence. (=Isto
duas criaturas que só tinham uma à outra”. pertence a ti.); Rogo-lhe que fique. (=Rogo a você...); Peço-
- Com nomes próprios ou comuns, referentes a pessoas, vos isto. (=Peço isto a vós.). Nos demais casos a preposição é
principalmente na expressão dos sentimentos ou por amor da expressa, como característica do objeto indireto: Recorro a
eufonia da frase: Judas traiu a Cristo.; Amemos a Deus sobre Deus.; Dê isto a (ou para) ele.; Contenta-se com pouco.; Ele
todas as coisas. “Provavelmente, enganavam é a Pedro.”; “O só pensa em si.; Esperei por ti.; Falou contra nós.; Conto com
estrangeiro foi quem ofendeu a Tupã”. você.; Não preciso disto.; O filme a que assisti agradou ao
- Em construções enfáticas, nas quais antecipamos o objeto público.; Assisti ao desenrolar da luta.; A coisa de que mais
direto para dar-lhe realce: A você é que não enganam!; Ao gosto é pescar.; A pessoa a quem me refiro você a conhece.; Os
médico, confessor e letrado nunca enganes.; “A este confrade obstáculos contra os quais luto são muitos.; As pessoas com
conheço desde os seus mais tenros anos”. quem conto são poucas.

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APOSTILAS OPÇÃO
Como atestam os exemplos acima, o objeto indireto é mundo, as ruas, um rapaz; Pelos pronomes adjetivos: nosso tio,
representado pelos substantivos (ou expressões substantivas) este lugar, pouco sal, muitas rãs, país cuja história conheço,
ou pelos pronomes. As preposições que o ligam ao verbo são: a, que rua?; Pelos numerais: dois pés, quinto ano, capítulo sexto;
com, contra, de, em, para e por. Pelas locuções ou expressões adjetivas que exprimem qualidade,
posse, origem, fim ou outra especificação:
Objeto Indireto Pleonástico: à semelhança do objeto direto, - presente de rei (=régio): qualidade
o objeto indireto pode vir repetido ou reforçado, por ênfase. - livro do mestre, as mãos dele: posse, pertença
Exemplos: “A mim o que me deu foi pena.”; “Que me importa - água da fonte, filho de fazendeiros: origem
a mim o destino de uma mulher tísica...? “E, aos brigões, - fio de aço, casa de madeira: matéria
incapazes de se moverem, basta-lhes xingarem-se a distância.” - casa de ensino, aulas de inglês: fim, especialidade

Complemento Nominal: é o termo complementar reclamado Observações: Não confundir o adjunto adnominal formado
pela significação transitiva, incompleta, de certos substantivos, por locução adjetiva com complemento nominal. Este representa
adjetivos e advérbios. Vem sempre regido de preposição. o alvo da ação expressa por um nome transitivo: a eleição do
Exemplos: A defesa da pátria; Assistência às aulas; “O ódio ao presidente, aviso de perigo, declaração de guerra, empréstimo
mal é amor do bem, e a ira contra o mal, entusiasmo divino.”; de dinheiro, plantio de árvores, colheita de trigo, destruidor
“Ah, não fosse ele surdo à minha voz!” de matas, descoberta de petróleo, amor ao próximo, etc. O
adjunto adnominal formado por locução adjetiva representa
Observações: O complemento nominal representa o o agente da ação, ou a origem, pertença, qualidade de alguém
recebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um ou de alguma coisa: o discurso do presidente, aviso de amigo,
nome: amor a Deus, a condenação da violência, o medo de declaração do ministro, empréstimo do banco, a casa do
assaltos, a remessa de cartas, útil ao homem, compositor fazendeiro, folhas de árvores, farinha de trigo, beleza das
de músicas, etc. É regido pelas mesmas preposições usadas matas, cheiro de petróleo, amor de mãe.
no objeto indireto. Difere deste apenas porque, em vez de
complementar verbos, complementa nomes (substantivos, Adjunto adverbial: É o termo que exprime uma circunstância
adjetivos) e alguns advérbios em –mente. Os nomes que (de tempo, lugar, modo, etc.) ou, em outras palavras, que modifica
requerem complemento nominal correspondem, geralmente, a o sentido de um verbo, adjetivo ou advérbio. Exemplo: “Meninas
verbos de mesmo radical: amor ao próximo, amar o próximo; numa tarde brincavam de roda na praça”. O adjunto adverbial
perdão das injúrias, perdoar as injúrias; obediente aos pais, é expresso: Pelos advérbios: Cheguei cedo.; Ande devagar.;
obedecer aos pais; regresso à pátria, regressar à pátria; etc. Maria é mais alta.; Não durma ao volante.; Moramos aqui.;
Ele fala bem, fala corretamente.; Volte bem depressa.; Talvez
Agente da Passiva: é o complemento de um verbo na voz esteja enganado.; Pelas locuções ou expressões adverbiais: Às
passiva. Representa o ser que pratica a ação expressa pelo verbo vezes viajava de trem.; Compreendo sem esforço.; Saí com meu
passivo. Vem regido comumente pela preposição por, e menos pai.; Júlio reside em Niterói.; Errei por distração.; Escureceu
frequentemente pela preposição de: Alfredo é estimado pelos de repente.
colegas; A cidade estava cercada pelo exército romano; “Era
conhecida de todo mundo a fama de suas riquezas.” Observações: Pode ocorrer a elipse da preposição antes
de adjuntos adverbiais de tempo e modo: Aquela noite, não
O agente da passiva pode ser expresso pelos substantivos ou dormi. (=Naquela noite...); Domingo que vem não sairei. (=No
pelos pronomes: domingo...); Ouvidos atentos, aproximei-me da porta. (=De
As flores são umedecidas pelo orvalho. ouvidos atentos...); Os adjuntos adverbiais classificam-se de
A carta foi cuidadosamente corrigida por mim. acordo com as circunstâncias que exprimem: adjunto adverbial
de lugar, modo, tempo, intensidade, causa, companhia, meio,
O agente da passiva corresponde ao sujeito da oração na voz assunto, negação, etc. É importante saber distinguir adjunto
ativa: adverbial de adjunto adnominal, de objeto indireto e de
A rainha era chamada pela multidão. (voz passiva) complemento nominal: sair do mar (ad.adv.); água do mar (adj.
A multidão aclamava a rainha. (voz ativa) adn.); gosta do mar (obj.indir.); ter medo do mar (compl.nom.).
Ele será acompanhado por ti. (voz passiva)
Aposto: É uma palavra ou expressão que explica ou esclarece,
Observações: desenvolve ou resume outro termo da oração. Exemplos:
Frase de forma passiva analítica sem complemento agente D. Pedro II, imperador do Brasil, foi um monarca sábio.
expresso, ao passar para a ativa, terá sujeito indeterminado “Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência.”
e o verbo na 3ª pessoa do plural: Ele foi expulso da cidade. (Carlos Drummond de Andrade)
(Expulsaram-no da cidade.); As florestas são devastadas.
(Devastam as florestas.); Na passiva pronominal não se declara O núcleo do aposto é um substantivo ou um pronome
o agente: Nas ruas assobiavam-se as canções dele pelos substantivo:
pedestres. (errado); Nas ruas eram assobiadas as canções dele Foram os dois, ele e ela.
pelos pedestres. (certo); Assobiavam-se as canções dele nas Só não tenho um retrato: o de minha irmã.
ruas. (certo)
O aposto não pode ser formado por adjetivos. Nas frases
Termos Acessórios da Oração seguintes, por exemplo, não há aposto, mas predicativo do
sujeito:
Termos acessórios são os que desempenham na oração Audaciosos, os dois surfistas atiraram-se às ondas.
uma função secundária, qual seja a de caracterizar um ser, As borboletas, leves e graciosas, esvoaçavam num balé de
determinar os substantivos, exprimir alguma circunstância. São cores.
três os termos acessórios da oração: adjunto adnominal, adjunto
adverbial e aposto. Os apostos, em geral, destacam-se por pausas, indicadas, na
escrita, por vírgulas, dois pontos ou travessões. Não havendo
Adjunto adnominal: É o termo que caracteriza ou determina pausa, não haverá vírgula, como nestes exemplos:
os substantivos. Exemplo: Meu irmão veste roupas vistosas. Minha irmã Beatriz; o escritor João Ribeiro; o romance Tóia;
(Meu determina o substantivo irmão: é um adjunto adnominal o rio Amazonas; a Rua Osvaldo Cruz; o Colégio Tiradentes, etc.
– vistosas caracteriza o substantivo roupas: é também adjunto “Onde estariam os descendentes de Amaro vaqueiro?”
adnominal). (Graciliano Ramos)
O adjunto adnominal pode ser expresso: Pelos adjetivos: O aposto pode preceder o termo a que se refere, o qual, às
água fresca, terras férteis, animal feroz; Pelos artigos: o vezes, está elíptico. Exemplos:

Língua Portuguesa 47
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APOSTILAS OPÇÃO
Rapaz impulsivo, Mário não se conteve. (A) “Quem faz um poema abre uma janela.” (Mário Quintana)
Mensageira da ideia, a palavra é a mais bela expressão da (B) “Toda gente que eu conheço e que fala comigo / Nunca
alma humana. teve um ato ridículo / Nunca sofreu enxovalho (...)” (Fernando
Pessoa)
O aposto, às vezes, refere-se a toda uma oração. Exemplos: (C) “Quando Ismália enlouqueceu / Pôs-se na torre a sonhar
Nuvens escuras borravam os espaços silenciosos, sinal de / Viu uma lua no céu, / Viu uma lua no mar.” (Alphonsus de
tempestade iminente. Guimarães)
O espaço é incomensurável, fato que me deixa atônito. (D) “Mas, quando responderam a Nhô Augusto: ‘– É a
jagunçada de seu Joãozinho Bem-Bem, que está descendo para
Um aposto pode referir-se a outro aposto: a Bahia.’ – ele, de alegre, não se pôde conter.” (Guimarães Rosa)
“Serafim Gonçalves casou-se com Lígia Tavares, filha do
velho coronel Tavares, senhor de engenho.” (Ledo Ivo) Respostas
01. D\02. C\03. D
O aposto pode vir precedido das expressões explicativas isto
é, a saber, ou da preposição acidental como: Período

Dois países sul-americanos, isto é, a Bolívia e o Paraguai, Período: Toda frase com uma ou mais orações constitui um
não são banhados pelo mar. período, que se encerra com ponto de exclamação, ponto de
Este escritor, como romancista, nunca foi superado. interrogação ou com reticências.
O período é simples quando só traz uma oração, chamada
O aposto que se refere a objeto indireto, complemento absoluta; o período é composto quando traz mais de uma
nominal ou adjunto adverbial vem precedido de preposição: oração. Exemplo: Pegou fogo no prédio. (Período simples, oração
absoluta.); Quero que você aprenda. (Período composto.)
O rei perdoou aos dois: ao fidalgo e ao criado.
“Acho que adoeci disso, de beleza, da intensidade das Existe uma maneira prática de saber quantas orações há
coisas.” (Raquel Jardim) num período: é contar os verbos ou locuções verbais. Num
De cobras, morcegos, bichos, de tudo ela tinha medo. período haverá tantas orações quantos forem os verbos ou as
locuções verbais nele existentes. Exemplos:
Vocativo: (do latim vocare = chamar) é o termo (nome, título, Pegou fogo no prédio. (um verbo, uma oração)
apelido) usado para chamar ou interpelar a pessoa, o animal ou Quero que você aprenda. (dois verbos, duas orações)
a coisa personificada a que nos dirigimos: Está pegando fogo no prédio. (uma locução verbal, uma
oração)
“Elesbão? Ó Elesbão! Venha ajudar-nos, por favor!” (Maria Deves estudar para poderes vencer na vida. (duas locuções
de Lourdes Teixeira) verbais, duas orações)
“A ordem, meus amigos, é a base do governo.” (Machado de
Assis) Há três tipos de período composto: por coordenação, por
“Correi, correi, ó lágrimas saudosas!” (Fagundes Varela) subordinação e por coordenação e subordinação ao mesmo
tempo (também chamada de misto).
Observação: Profere-se o vocativo com entoação exclamativa.
Na escrita é separado por vírgula(s). No exemplo inicial, os Período Composto por Coordenação – Orações
pontos interrogativo e exclamativo indicam um chamado alto e Coordenadas
prolongado. O vocativo se refere sempre à 2ª pessoa do discurso,
que pode ser uma pessoa, um animal, uma coisa real ou entidade Considere, por exemplo, este período composto:
abstrata personificada. Podemos antepor-lhe uma interjeição de Passeamos pela praia, / brincamos, / recordamos os tempos
apelo (ó, olá, eh!): de infância.
1ª oração: Passeamos pela praia
“Tem compaixão de nós , ó Cristo!” (Alexandre Herculano) 2ª oração: brincamos
“Ó Dr. Nogueira, mande-me cá o Padilha, amanhã!” 3ª oração: recordamos os tempos de infância
(Graciliano Ramos) As três orações que compõem esse período têm sentido
“Esconde-te, ó sol de maio, ó alegria do mundo!” (Camilo próprio e não mantêm entre si nenhuma dependência sintática:
Castelo Branco) elas são independentes. Há entre elas, é claro, uma relação de
O vocativo é um tempo à parte. Não pertence à estrutura da sentido, mas, como já dissemos, uma não depende da outra
oração, por isso não se anexa ao sujeito nem ao predicado. sintaticamente.
As orações independentes de um período são chamadas
Questões de orações coordenadas (OC), e o período formado só de
orações coordenadas é chamado de período composto por
01. O termo em destaque é adjunto adverbial de intensidade coordenação.
em: As orações coordenadas são classificadas em assindéticas e
(A) pode aprender e assimilar MUITA coisa sindéticas.
(B) enfrentamos MUITAS novidades
(C) precisa de um parceiro com MUITO caráter - As orações coordenadas são assindéticas (OCA) quando
(D) não gostam de mulheres MUITO inteligentes não vêm introduzidas por conjunção. Exemplo:
(E) assumimos MUITO conflito e confusão Os torcedores gritaram, / sofreram, / vibraram.
OCA OCA OCA
02. Assinale a alternativa correta: “para todos os males, há
dois remédios: o tempo e o silêncio”, os termos grifados são “Inclinei-me, apanhei o embrulho e segui.” (Machado de
respectivamente: Assis)
(A) sujeito – objeto direto; “A noite avança, há uma paz profunda na casa deserta.”
(B) sujeito – aposto; (Antônio Olavo Pereira)
(C) objeto direto – aposto; “O ferro mata apenas; o ouro infama, avilta, desonra.”
(D) objeto direto – objeto direto; (Coelho Neto)
(E) objeto direto – complemento nominal.
- As orações coordenadas são sindéticas (OCS) quando vêm
03. Assinale a alternativa em que o termo destacado é objeto introduzidas por conjunção coordenativa. Exemplo:
indireto. O homem saiu do carro / e entrou na casa.

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APOSTILAS OPÇÃO
OCA OCS “A mim ninguém engana, que não nasci ontem.” (Érico
Veríssimo)
As orações coordenadas sindéticas são classificadas de Questões
acordo com o sentido expresso pelas conjunções coordenativas
que as introduzem. Pode ser: 01. Relacione as orações coordenadas por meio de
conjunções:
- Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não só... (A) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões surgiram.
mas também, não só... mas ainda. (B) Não durma sem cobertor. A noite está fria.
Saí da escola / e fui à lanchonete. (C) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los.
OCA OCS Aditiva   
02. Em: “... ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção das ondas...” a partícula como expressa uma ideia de:
que expressa idéia de acréscimo ou adição com referência à (A) causa
oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa aditiva. (B) explicação
(C) conclusão
A doença vem a cavalo e volta a pé. (D) proporção
As pessoas não se mexiam nem falavam. (E) comparação
“Não só findaram as queixas contra o alienista, mas até  
nenhum ressentimento ficou dos atos que ele praticara.” 03. “Entrando na faculdade, procurarei emprego”, oração
(Machado de Assis) sublinhada pode indicar uma ideia de:
- Orações coordenadas sindéticas adversativas: mas, (A) concessão
porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto. (B) oposição
(C) condição
Estudei bastante / mas não passei no teste. (D) lugar
OCA OCS Adversativa (E) consequência
Respostas
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção
que expressa idéia de oposição à oração anterior, ou seja, por 01.
uma conjunção coordenativa adversativa. Ouviu-se o som da bateria e os primeiros foliões surgiram.
Não durma sem cobertor, pois a noite está fria.
A espada vence, mas não convence. Quero desculpar-me, mas consigo encontrá-los.
“É dura a vida, mas aceitam-na.” (Cecília Meireles)  
02. E\03. C
- Orações coordenadas sindéticas conclusivas: portanto,
por isso, pois, logo. Período Composto por Subordinação

Ele me ajudou muito, / portanto merece minha gratidão. Observe os termos destacados em cada uma destas orações:
OCA OCS Conclusiva Vi uma cena triste. (adjunto adnominal)
Todos querem sua participação. (objeto direto)
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção Não pude sair por causa da chuva. (adjunto adverbial de
que expressa ideia de conclusão de um fato enunciado na oração causa)
anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa conclusiva.
Veja, agora, como podemos transformar esses termos em
Vives mentindo; logo, não mereces fé. orações com a mesma função sintática:
Ele é teu pai: respeita-lhe, pois, a vontade. Vi uma cena / que me entristeceu. (oração subordinada
com função de adjunto adnominal)
- Orações coordenadas sindéticas alternativas: ou,ou... ou, Todos querem / que você participe. (oração subordinada
ora... ora, seja... seja, quer... quer. com função de objeto direto)
Não pude sair / porque estava chovendo. (oração
Seja mais educado / ou retire-se da reunião! subordinada com função de adjunto adverbial de causa)
OCA OCS Alternativa
Em todos esses períodos, a segunda oração exerce uma
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma certa função sintática em relação à primeira, sendo, portanto,
conjunção que estabelece uma relação de alternância ou escolha subordinada a ela. Quando um período é constituído de pelo
com referência à oração anterior, ou seja, por uma conjunção menos um conjunto de duas orações em que uma delas (a
coordenativa alternativa. subordinada) depende sintaticamente da outra (principal), ele
é classificado como período composto por subordinação. As
Venha agora ou perderá a vez. orações subordinadas são classificadas de acordo com a função
“Jacinta não vinha à sala, ou retirava-se logo.” (Machado de que exercem: adverbiais, substantivas e adjetivas.
Assis)
“Em aviação, tudo precisa ser bem feito ou custará preço Orações Subordinadas Adverbiais
muito caro.” (Renato Inácio da Silva)
“A louca ora o acariciava, ora o rasgava freneticamente.” As orações subordinadas adverbiais (OSA) são aquelas
(Luís Jardim) que exercem a função de adjunto adverbial da oração principal
(OP). São classificadas de acordo com a conjunção subordinativa
- Orações coordenadas sindéticas explicativas: que, que as introduz:
porque, pois, porquanto.
Vamos andar depressa / que estamos atrasados. - Causais: Expressam a causa do fato enunciado na oração
OCA OCS Explicativa principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que,
Observe que a 2ª oração é introduzida por uma conjunção visto que.
que expressa ideia de explicação, de justificativa em relação Não fui à escola / porque fiquei doente.
à oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa OP OSA Causal
explicativa.
O tambor soa porque é oco.
Leve-lhe uma lembrança, que ela aniversaria amanhã. Como não me atendessem, repreendi-os severamente.

Língua Portuguesa 49
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APOSTILAS OPÇÃO
Como ele estava armado, ninguém ousou reagir. “A fumaça era tanta que eu mal podia abrir os olhos.” (José
“Faltou à reunião, visto que esteve doente.” (Arlindo de J. Veiga)
Sousa) De tal sorte a cidade crescera que não a reconhecia mais.
As notícias de casa eram boas, de maneira que pude
- Condicionais: Expressam hipóteses ou condição para a prolongar minha viagem.
ocorrência do que foi enunciado na principal. Conjunções: se,
contanto que, a menos que, a não ser que, desde que. - Comparativas: Expressam ideia de comparação com
Irei à sua casa / se não chover. referência à oração principal. Conjunções: como, assim como,
OP OSA Condicional tal como, (tão)... como, tanto como, tal qual, que (combinado com
menos ou mais).
Deus só nos perdoará se perdoarmos aos nossos Ela é bonita / como a mãe.
ofensores. OP OSA Comparativa
Se o conhecesses, não o condenarias.
“Que diria o pai se soubesse disso?” (Carlos Drummond de A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro.”
Andrade) (Marquês de Maricá)
A cápsula do satélite será recuperada, caso a experiência Ela o atraía irresistivelmente, como o imã atrai o ferro.
tenha êxito. Os retirantes deixaram a cidade tão pobres como vieram.
- Concessivas: Expressam ideia ou fato contrário ao da Como a flor se abre ao Sol, assim minha alma se abriu à luz
oração principal, sem, no entanto, impedir sua realização. daquele olhar.
Conjunções: embora, ainda que, apesar de, se bem que, por mais
que, mesmo que. Obs.: As orações comparativas nem sempre apresentam
Ela saiu à noite / embora estivesse doente. claramente o verbo, como no exemplo acima, em que está
OP OSA Concessiva subentendido o verbo ser (como a mãe é).
Admirava-o muito, embora (ou conquanto ou posto que - Proporcionais: Expressam uma ideia que se relaciona
ou se bem que) não o conhecesse pessoalmente. proporcionalmente ao que foi enunciado na principal.
Embora não possuísse informações seguras, ainda assim Conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto
arriscou uma opinião. mais, quanto menos.
Cumpriremos nosso dever, ainda que (ou mesmo quando Quanto mais reclamava / menos atenção recebia.
ou ainda quando ou mesmo que) todos nos critiquem. OSA Proporcional OP
Por mais que gritasse, não me ouviram.
À medida que se vive, mais se aprende.
- Conformativas: Expressam a conformidade de um fato À proporção que avançávamos, as casas iam rareando.
com outro. Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo. O valor do salário, ao passo que os preços sobem, vai
O trabalho foi feito / conforme havíamos planejado. diminuindo.
OP OSA Conformativa
Orações Subordinadas Substantivas
O homem age conforme pensa.
Relatei os fatos como (ou conforme) os ouvi. As orações subordinadas substantivas (OSS) são aquelas
Como diz o povo, tristezas não pagam dívidas. que, num período, exercem funções sintáticas próprias de
O jornal, como sabemos, é um grande veículo de informação. substantivos, geralmente são introduzidas pelas conjunções
integrantes que e se. Elas podem ser:
- Temporais: Acrescentam uma circunstância de tempo ao
que foi expresso na oração principal. Conjunções: quando, assim - Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: É
que, logo que, enquanto, sempre que, depois que, mal (=assim que). aquela que exerce a função de objeto direto do verbo da oração
Ele saiu da sala / assim que eu cheguei. principal. Observe: O grupo quer a sua ajuda. (objeto direto)
OP OSA Temporal O grupo quer / que você ajude.
OP OSS Objetiva Direta
Formiga, quando quer se perder, cria asas.
“Lá pelas sete da noite, quando escurecia, as casas se O mestre exigia que todos estivessem presentes. (= O
esvaziam.” (Carlos Povina Cavalcânti) mestre exigia a presença de todos.)
“Quando os tiranos caem, os povos se levantam.” (Marquês Mariana esperou que o marido voltasse.
de Maricá) Ninguém pode dizer: Desta água não beberei.
Enquanto foi rico, todos o procuravam. O fiscal verificou se tudo estava em ordem.
- Finais: Expressam a finalidade ou o objetivo do que foi
enunciado na oração principal. Conjunções: para que, a fim de - Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: É
que, porque (=para que), que. aquela que exerce a função de objeto indireto do verbo da oração
Abri a porta do salão / para que todos pudessem entrar. principal. Observe: Necessito de sua ajuda. (objeto indireto)
OP OSA Final Necessito / de que você me ajude.
OP OSS Objetiva Indireta
“O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos.”
(Marquês de Maricá) Não me oponho a que você viaje. (= Não me oponho à sua
Aproximei-me dele a fim de que me ouvisse melhor. viagem.)
“Fiz-lhe sinal que se calasse.” (Machado de Assis) (que = Aconselha-o a que trabalhe mais.
para que) Daremos o prêmio a quem o merecer.
“Instara muito comigo não deixasse de frequentar as Lembre-se de que a vida é breve.
recepções da mulher.” (Machado de Assis) (não deixasse =
para que não deixasse) - Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: É aquela
que exerce a função de sujeito do verbo da oração principal.
- Consecutivas: Expressam a consequência do que foi Observe: É importante sua colaboração. (sujeito)
enunciado na oração principal. Conjunções: porque, que, como (= É importante / que você colabore.
porque), pois que, visto que. OP OSS Subjetiva
A chuva foi tão forte / que inundou a cidade.
OP OSA Consecutiva A oração subjetiva geralmente vem:
- depois de um verbo de ligação + predicativo, em construções
Fazia tanto frio que meus dedos estavam endurecidos. do tipo é bom, é útil, é certo, é conveniente, etc. Ex.: É certo que

Língua Portuguesa 50
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APOSTILAS OPÇÃO
ele voltará amanhã. As orações subordinadas adjetivas são sempre introduzidas
- depois de expressões na voz passiva, como sabe-se, conta- por um pronome relativo (que , qual, cujo, quem, etc.) e podem
se, diz-se, etc. Ex.: Sabe-se que ele saiu da cidade. ser classificadas em:
- depois de verbos como convir, cumprir, constar, urgir,
ocorrer, quando empregados na 3ª pessoa do singular e seguidos - Subordinadas Adjetivas Restritivas: São restritivas
das conjunções que ou se. Ex.: Convém que todos participem quando restringem ou especificam o sentido da palavra a que se
da reunião. referem. Exemplo:
O público aplaudiu o cantor / que ganhou o 1º lugar.
É necessário que você colabore. (= Sua colaboração é OP OSA Restritiva
necessária.)
Parece que a situação melhorou. Nesse exemplo, a oração que ganhou o 1º lugar especifica
Aconteceu que não o encontrei em casa. o sentido do substantivo cantor, indicando que o público não
Importa que saibas isso bem. aplaudiu qualquer cantor mas sim aquele que ganhou o 1º lugar.

- Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal: Pedra que rola não cria limo.
É aquela que exerce a função de complemento nominal de um Os animais que se alimentam de carne chamam-se
termo da oração principal. Observe: Estou convencido de sua carnívoros.
inocência. (complemento nominal) Rubem Braga é um dos cronistas que mais belas páginas
Estou convencido / de que ele é inocente. escreveram.
OP OSS Completiva Nominal “Há saudades que a gente nunca esquece.” (Olegário
Mariano)
Sou favorável a que o prendam. (= Sou favorável à prisão - Subordinadas Adjetivas Explicativas: São explicativas
dele.) quando apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se
Estava ansioso por que voltasses. referem, esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem
Sê grato a quem te ensina. restringi-lo ou especificá-lo. Exemplo:
“Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão cedo.” O escritor Jorge Amado, / que mora na Bahia, / lançou um
(Graciliano Ramos) novo livro.
OP OSA Explicativa OP
- Oração Subordinada Substantiva Predicativa: É aquela
que exerce a função de predicativo do sujeito da oração principal, Deus, que é nosso pai, nos salvará.
vindo sempre depois do verbo ser. Observe: O importante é sua Valério, que nasceu rico, acabou na miséria.
felicidade. (predicativo) Ele tem amor às plantas, que cultiva com carinho.
O importante é / que você seja feliz. Alguém, que passe por ali à noite, poderá ser assaltado.
OP OSS Predicativa
Orações Reduzidas
Seu receio era que chovesse. (Seu receio era a chuva.) Observe que as orações subordinadas eram sempre
Minha esperança era que ele desistisse. introduzidas por uma conjunção ou pronome relativo e
Meu maior desejo agora é que me deixem em paz. apresentavam o verbo numa forma do indicativo ou do
Não sou quem você pensa. subjuntivo. Além desse tipo de orações subordinadas há outras
que se apresentam com o verbo numa das formas nominais
- Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela (infinitivo, gerúndio e particípio). Exemplos:
que exerce a função de aposto de um termo da oração principal.
Observe: Ele tinha um sonho: a união de todos em benefício - Ao entrar nas escola, encontrei o professor de inglês.
do país. (aposto) (infinitivo)
Ele tinha um sonho / que todos se unissem em benefício do - Precisando de ajuda, telefone-me. (gerúndio)
país. - Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário.
OP OSS Apositiva (particípio)

Só desejo uma coisa: que vivam felizes. (Só desejo uma As orações subordinadas que apresentam o verbo numa das
coisa: a sua felicidade) formas nominais são chamadas de reduzidas.
Só lhe peço isto: honre o nosso nome. Para classificar a oração que está sob a forma reduzida,
“Talvez o que eu houvesse sentido fosse o presságio disto: de devemos procurar desenvolvê-la do seguinte modo: colocamos
que virias a morrer...” (Osmã Lins) a conjunção ou o pronome relativo adequado ao sentido e
“Mas diga-me uma cousa, essa proposta traz algum motivo passamos o verbo para uma forma do indicativo ou subjuntivo,
oculto?” (Machado de Assis) conforme o caso. A oração reduzida terá a mesma classificação
As orações apositivas vêm geralmente antecedidas de dois- da oração desenvolvida.
pontos. Podem vir, também, entre vírgulas, intercaladas à oração
principal. Exemplo: Seu desejo, que o filho recuperasse a Ao entrar na escola, encontrei o professor de inglês.
saúde, tornou-se realidade. Quando entrei na escola, / encontrei o professor de inglês.
OSA Temporal
Observação: Além das conjunções integrantes que e se, Ao entrar na escola: oração subordinada adverbial temporal,
as orações substantivas podem ser introduzidas por outros reduzida de infinitivo.
conectivos, tais como quando, como, quanto, etc. Exemplos:
Não sei quando ele chegou. Precisando de ajuda, telefone-me.
Diga-me como resolver esse problema. Se precisar de ajuda, / telefone-me.
OSA Condicional
Orações Subordinadas Adjetivas Precisando de ajuda: oração subordinada adverbial
condicional, reduzida de gerúndio.
As orações subordinadas Adjetivas (OSA) exercem
a função de adjunto adnominal de algum termo da oração Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário.
principal. Observe como podemos transformar um adjunto Assim que acabou o treino, / os jogadores foram para o
adnominal em oração subordinada adjetiva: vestiário.
Desejamos uma paz duradoura. (adjunto adnominal) OSA Temporal
Desejamos uma paz / que dure. (oração subordinada Acabado o treino: oração subordinada adverbial temporal,
adjetiva) reduzida de particípio.

Língua Portuguesa 51
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APOSTILAS OPÇÃO
Observações:
Emprego dos sinais de
- Há orações reduzidas que permitem mais de um tipo de Pontuação.
desenvolvimento. Há casos também de orações reduzidas
fixas, isto é, orações reduzidas que não são passíveis de
desenvolvimento. Exemplo: Tenho vontade de visitar essa Pontuação
cidade.
- O infinitivo, o gerúndio e o particípio não constituem Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem
orações reduzidas quando fazem parte de uma locução verbal. para compor a coesão e a coerência textual além de ressaltar
Exemplos: especificidades semânticas e pragmáticas. Vejamos as principais
Preciso terminar este exercício. funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo uso da língua
Ele está jantando na sala. portuguesa.
Essa casa foi construída por meu pai.
- Uma oração coordenada também pode vir sob a forma Ponto
reduzida. Exemplo: 1- Indica o término do discurso ou de parte dele.
O homem fechou a porta, saindo depressa de casa. - Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em que
O homem fechou a porta e saiu depressa de casa. (oração se encontra.
coordenada sindética aditiva) - Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite.
Saindo depressa de casa: oração coordenada reduzida de
gerúndio. - Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava.
Qual é a diferença entre as orações coordenadas explicativas
e as orações subordinadas causais, já que ambas podem ser 2- Usa-se nas abreviações - V. Exª. - Sr.
iniciadas por que e porque? Às vezes não é fácil estabelecer a
diferença entre explicativas e causais, mas como o próprio nome Ponto e Vírgula ( ; )
indica, as causais sempre trazem a causa de algo que se revela na 1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma
oração principal, que traz o efeito. importância.
Note-se também que há pausa (vírgula, na escrita) entre -  “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão pelo pão
a oração explicativa e a precedente e que esta é, muitas vezes, a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; os de
imperativa, o que não acontece com a oração adverbial causal. nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
Essa noção de causa e efeito não existe no período composto por
coordenação. Exemplo: Rosa chorou porque levou uma surra. 2- Separa partes de frases que já estão separadas por
Está claro que a oração iniciada pela conjunção é causal, visto vírgulas.
que a surra foi sem dúvida a causa do choro, que é efeito. - Alguns quiseram verão, praia e calor; outros montanhas, frio
Rosa chorou, porque seus olhos estão vermelhos. O e cobertor.
período agora é composto por coordenação, pois a oração
iniciada pela conjunção traz a explicação daquilo que se revelou 3- Separa itens de uma enumeração, exposição de motivos,
na coordena anterior. Não existe aí relação de causa e efeito: o decreto de lei, etc.
fato de os olhos de Elisa estarem vermelhos não é causa de ela - Ir ao supermercado;
ter chorado. - Pegar as crianças na escola;
Ela fala / como falaria / se entendesse do assunto. - Caminhada na praia;
OP OSA Comparativa OSA Condicional - Reunião com amigos.

Questões Dois pontos


1- Antes de uma citação
01. Na frase: “Maria do Carmo tinha a certeza de que estava - Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:
para ser mãe”, a oração destacada é:
(A) subordinada substantiva objetiva indireta 2- Antes de um aposto
(B) subordinada substantiva completiva nominal - Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à tarde
(C) subordinada substantiva predicativa e calor à noite.
(D) coordenada sindética conclusiva
(E) coordenada sindética explicativa 3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
- Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a
02. “Na ‘Partida Monção’, não há uma atitude inventada. rotina de sempre.
Há reconstituição de uma cena como ela devia ter sido na
realidade.” A oração sublinhada é: 4- Em frases de estilo direto
(A) adverbial conformativa  Maria perguntou:
(B) adjetiva - Por que você não toma uma decisão?
(C) adverbial consecutiva
(D) adverbial proporcional Ponto de Exclamação
(E) adverbial causal 1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto,
súplica, etc.
03.“Esses produtos podem ser encontrados nos - Sim! Claro que eu quero me casar com você!
supermercados com rótulos como ‘sênior’ e com características
adaptadas às dificuldades para mastigar e para engolir dos 2- Depois de interjeições ou vocativos
mais velhos, e preparados para se encaixar em seus hábitos de - Ai! Que susto!
consumo”. O segmento “para se encaixar” pode ter sua forma - João! Há quanto tempo!
verbal reduzida adequadamente desenvolvida em
(A) para se encaixarem. Ponto de Interrogação
(B) para seu encaixotamento. Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
(C) para que se encaixassem. “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)
(D) para que se encaixem. Reticências
(E) para que se encaixariam. 1- Indica que palavras foram suprimidas.
- Comprei lápis, canetas, cadernos...
Respostas
01. B\02. A\03. D 2- Indica interrupção violenta da frase.

Língua Portuguesa 52
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APOSTILAS OPÇÃO
“- Não... quero dizer... é verdad... Ah!” (C) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou
3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse
- Este mal... pega doutor? ajudar a revelar quem era a sua dona.
(D) Diante da testemunha, o homem, abriu a bolsa e, embora
4- Indica que o sentido vai além do que foi dito experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou
- Deixa, depois, o coração falar... a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse
ajudar a revelar quem era a sua dona.
Vírgula (E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora,
Não se usa vírgula experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou
*separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse
diretamente entre si: ajudar a revelar quem era a sua dona.

a) entre sujeito e predicado. 02. Assinale a opção em que está corretamente indicada a
Todos os alunos da sala    foram advertidos.  ordem dos sinais de pontuação que devem preencher as lacunas
Sujeito                            predicado da frase abaixo:
“Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas devem
b) entre o verbo e seus objetos. ser consideradas ____ uma é a contribuição teórica que o trabalho
O trabalho custou            sacrifício             aos realizadores.  oferece ___ a outra é o valor prático que possa ter.
             V.T.D.I.              O.D.                      O.I. A) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula
B) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula;
c) entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto C) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
adnominal. D) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
A surpreendente reação do governo contra os sonegadores E) ponto e vírgula, vírgula, vírgula.
despertou reações entre os empresários.
adj. adnominal nome adj. adn. complemento nominal 03. Os sinais de pontuação estão empregados corretamente
em:
Usa-se a vírgula: A) Duas explicações, do treinamento para consultores
- Para marcar intercalação: iniciantes receberam destaque, o conceito de PPD e a construção
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abundância, de tabelas Price; mas por outro lado, faltou falar das metas de
vem caindo de preço. vendas associadas aos dois temas.
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão B) Duas explicações do treinamento para consultores
produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos. iniciantes receberam destaque: o conceito de PPD e a construção
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indústrias de tabelas Price; mas, por outro lado, faltou falar das metas de
não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não querem abrir vendas associadas aos dois temas.
mão dos lucros altos. C) Duas explicações do treinamento para consultores
iniciantes receberam destaque; o conceito de PPD e a construção
- Para marcar inversão: de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas de
a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração): vendas associadas aos dois temas.
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fechadas. D) Duas explicações do treinamento para consultores
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos iniciantes, receberam destaque: o conceito de PPD e a construção
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma. de tabelas Price, mas, por outro lado, faltou falar das metas de
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de maio vendas associadas aos dois temas.
de 1982. E) Duas explicações, do treinamento para consultores
iniciantes, receberam destaque; o conceito de PPD e a construção
- Para separar entre si elementos coordenados (dispostos de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas, de
em enumeração): vendas associadas aos dois temas.
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais. Resposta
1-C 2-C 3-B
- Para marcar elipse (omissão) do verbo:
Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.
Concordância nominal e verbal.
- Para isolar:

- o aposto: Concordância Verbal


São Paulo, considerada a metrópole brasileira, possui um
trânsito caótico. Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos
referindo à relação de dependência estabelecida entre um termo
- o vocativo: e outro mediante um contexto oracional. Desta feita, os agentes
Ora, Thiago, não diga bobagem. principais desse processo são representados pelo sujeito, que no
caso funciona como subordinante; e o verbo, o qual desempenha
Questões a função de subordinado. 
Dessa forma, temos que a concordância verbal caracteriza-
01. Assinale a alternativa em que a pontuação está se pela adaptação do verbo, tendo em vista os quesitos “número
corretamente empregada, de acordo com a norma-padrão da e pessoa” em relação ao sujeito. Exemplificando, temos: O aluno
língua portuguesa. chegou
(A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, Temos que o verbo apresenta-se na terceira pessoa do
experimentasse, a sensação de violar uma intimidade, procurou singular, pois faz referência a um sujeito, assim também expresso
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse (ele).  Como poderíamos também dizer: os alunos chegaram
ajudar a revelar quem era a sua dona. atrasados.
(B) Diante, da testemunha o homem abriu a bolsa e, embora Temos aí o que podemos chamar de princípio básico.
experimentasse a sensação, de violar uma intimidade, procurou Contudo, a intenção a que se presta o artigo em evidência é
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse eleger as principais ocorrências voltadas para os casos de sujeito
ajudar a revelar quem era a sua dona. simples e para os de sujeito composto. Dessa forma, vejamos: 

Língua Portuguesa 53
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APOSTILAS OPÇÃO
Casos referentes a sujeito simples - Em casos em que o numeral estiver acompanhado de
1) Em caso de sujeito simples, o verbo concorda com o determinantes no plural, o verbo permanecerá no plural: Os
núcleo em número e pessoa: O aluno chegou atrasado.  50% dos funcionários apoiaram a decisão da diretoria. 

2) Nos casos referentes a sujeito representado por 11) Nos casos em que o sujeito estiver representado por
substantivo coletivo, o verbo permanece na terceira pessoa do pronomes de tratamento, o verbo deverá ser empregado na terceira
singular:  A multidão, apavorada, saiu aos gritos. pessoa do singular ou do plural:  Vossas Majestades gostaram das
Observação: homenagens. Vossa Majestade agradeceu o convite.  
- No caso de o coletivo aparecer seguido de adjunto adnominal
no plural, o verbo permanecerá no singular ou poderá ir para o 12) Casos relativos a sujeito representado por substantivo
plural: Uma multidão de pessoas saiu aos gritos. próprio no plural se encontram relacionados a alguns aspectos
Uma multidão de pessoas saíram aos gritos. que os determinam:
- Diante de nomes de obras no plural, seguidos do verbo ser,
3) Quando o sujeito é representado por expressões partitivas, este permanece no singular, contanto que o predicativo também
representadas por “a maioria de, a maior parte de, a metade de, esteja no singular:  Memórias póstumas de Brás Cubas  é  uma
uma porção de, entre outras”, o verbo tanto pode concordar criação de Machado de Assis.   
com o núcleo dessas expressões quanto com o substantivo - Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo também
que a segue: A  maioria  dos alunos  resolveu  ficar.   A maioria permanece no plural: Os  Estados Unidos  são  uma potência
dos alunos resolveram ficar. mundial.
- Casos em que o artigo figura no singular ou em que ele nem
4) No caso de o sujeito ser representado por expressões aparece, o verbo permanece no singular:  Estados Unidos é uma
aproximativas, representadas por “cerca de, perto de”, o verbo potência mundial. 
concorda com o substantivo determinado por elas: Cerca de
vinte candidatos se inscreveram no concurso de piadas. Casos referentes a sujeito composto

5) Em casos em que o sujeito é representado pela expressão 1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas
“mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais de gramaticais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, estando
um candidato se inscreveu no concurso de piadas.   relacionado a dois pressupostos básicos:
Observação: - Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as
- No caso da referida expressão aparecer repetida ou demais: Eu, tu e ele faremos um lindo passeio.
associada a um verbo que exprime reciprocidade, o verbo, - Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá
necessariamente, deverá permanecer no plural: Mais de um flexionar na 2ª ou na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos.
aluno, mais de um professor contribuíram na campanha de Tu e ele são primos.
doação de alimentos. 
Mais de um formando se abraçaram durante as solenidades 2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer anteposto
de formatura.  ao verbo, este permanecerá no plural: O pai e seus dois
filhos compareceram ao evento.  
6) Quando o sujeito for composto da expressão “um dos
que”, o verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi  um dos 3) No caso em que o sujeito aparecer posposto ao verbo, este
que atuaram na Copa América. poderá concordar com o núcleo mais próximo ou permanecer
no plural: Compareceram  ao evento  o pai e seus dois filhos.
7) Em casos relativos à concordância com locuções Compareceu ao evento o pai e seus dois filhos.
pronominais, representadas por “algum de nós, qual de vós,
quais de vós, alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário nos 4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com
atermos a duas questões básicas: mais de um núcleo, o verbo deverá permanecer no singular:
- No caso de o primeiro pronome estar expresso no plural, Meu esposo e grande companheiro merece toda a felicidade do
o verbo poderá com ele concordar, como poderá também mundo.
concordar com o pronome pessoal: Alguns de nós o receberemos.
/ Alguns de nós o receberão. 5) Casos relativos a sujeito composto de palavras sinônimas
- Quando o primeiro pronome da locução estiver expresso ou ordenado por elementos em gradação, o verbo poderá
no singular, o verbo permanecerá, também, no singular:  Algum permanecer no singular ou ir para o plural: Minha vitória,
de nós o receberá.   minha conquista, minha premiação são frutos de meu esforço.
/ Minha vitória, minha conquista, minha premiação é fruto de
8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo pronome meu esforço.
“quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do singular Questões
ou poderá concordar com o antecedente desse pronome:   
Fomos nós  quem  contou  toda a verdade para ela. / Fomos 01. A concordância realizou-se adequadamente em qual
nós quem contamos toda a verdade para ela. alternativa?
(A) Os Estados Unidos é considerado, hoje, a maior potência
9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela palavra econômica do planeta, mas há quem aposte que a China, em
“que”, o verbo deverá concordar com o termo que antecede essa breve, o ultrapassará.
palavra: Nesta empresa somos nós que tomamos as decisões. / (B) Em razão das fortes chuvas haverão muitos candidatos
Em casa sou eu que decido tudo.    que chegarão atrasados, tenho certeza disso.
(C) Naquela barraca vendem-se tapiocas fresquinhas, pode
10) No caso de o sujeito aparecer representado por comê-las sem receio!
expressões que indicam porcentagens, o verbo concordará com o (D) A multidão gritaram quando a cantora apareceu na
numeral ou com o substantivo a que se refere essa porcentagem:    janela do hotel!
50% dos funcionários aprovaram a decisão da diretoria. / 50%
do eleitorado apoiou a decisão. 02. “Se os cachorros correm livremente, por que eu não
Observações: posso fazer isso também?”, pergunta Bob Dylan em “New
- Caso o verbo aparecer anteposto à expressão de Morning”. Bob Dylan verbaliza um anseio sentido por todos
porcentagem, esse deverá concordar com o numeral: Aprovaram nós, humanos supersocializados: o anseio de nos livrarmos
a decisão da diretoria 50% dos funcionários.      de todos os constrangimentos artificiais decorrentes do fato
- Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no singular: de vivermos em uma sociedade civilizada em que às vezes nos
1% dos funcionários não aprovou a decisão da diretoria.   sentimos presos a uma correia. Um conjunto cultural de regras

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tácitas e inibições está sempre governando as nossas interações Casos especiais: Veremos alguns casos que fogem à regra
cotidianas com os outros. geral mostrada acima.
Uma das razões pelas quais os cachorros nos atraem é o fato
de eles serem tão desinibidos e livres. Parece que eles jogam a) Um adjetivo após vários substantivos
com as suas próprias regras, com a sua própria lógica interna. 1 - Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o plural
Eles vivem em um universo paralelo e diferente do nosso - um ou concorda com o substantivo mais próximo.
universo que lhes concede liberdade de espírito e paixão pela - Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
vida enormemente atraentes para nós. Um cachorro latindo ao - Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui.
vento ou uivando durante a noite faz agitar-se dentro de nós
alguma coisa que também quer se expressar. 2 - Substantivos de gêneros diferentes: vai para o
Os cachorros são uma constante fonte de diversão para plural masculino ou concorda com o substantivo mais próximo.
nós porque não prestam atenção as nossas convenções sociais. - Ela tem pai e mãe louros.
Metem o nariz onde não são convidados, pulam para cima - Ela tem pai e mãe loura.
do sofá, devoram alegremente a comida que cai da mesa. Os
cachorros raramente se refreiam quando querem fazer alguma 3 - Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoriamente
coisa. Eles não compartilham conosco as nossas inibições. Suas para o plural.
emoções estão ã flor da pele e eles as manifestam sempre que - O homem e o menino estavam perdidos.
as sentem. - O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.
(Adaptado de Matt Weistein e Luke Barber. Cão que
late não morde. Trad. de Cristina Cupertino. S.Paulo: Francis, b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos
2005. p 250) 1 - Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais
próximo.
A frase em que se respeitam as normas de concordância Comi delicioso almoço e sobremesa.
verbal é: Provei deliciosa fruta e suco.
(A) Deve haver muitas razões pelas quais os cachorros nos 2 - Adjetivo anteposto funcionando como predicativo:
atraem. concorda com o mais próximo ou vai para o plural.
(B) Várias razões haveriam pelas quais os cachorros nos Estavam feridos o pai e os filhos.
atraem. Estava ferido o pai e os filhos.
(C) Caberiam notar as muitas razões pelas quais os cachorros
nos atraem. c) Um substantivo e mais de um adjetivo
(D) Há de ser diversas as razões pelas quais os cachorros nos 1- antecede todos os adjetivos com um artigo.
atraem. Falava fluentemente a língua inglesa e a espanhola.
(E) Existe mesmo muitas razões pelas quais os cachorros 2- coloca o substantivo no plural.
nos atraem. Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola.

03. Uma pergunta d) Pronomes de tratamento


1 - sempre concordam com a 3ª pessoa.
Frequentemente cabe aos detentores de cargos de Vossa Santidade esteve no Brasil.
responsabilidade tomar decisões difíceis, de graves
consequências. Haveria algum critério básico, essencial, para e) Anexo, incluso, próprio, obrigado
amparar tais escolhas? Antonio Gramsci, notável pensador 1 - Concordam com o substantivo a que se referem.
e político italiano, propôs que se pergunte, antes de tomar a As cartas estão anexas.
decisão: - Quem sofrerá? A bebida está inclusa.
Para um humanista, a dor humana é sempre prioridade a se Precisamos de nomes próprios.
considerar. Obrigado, disse o rapaz.
(Salvador Nicola, inédito)
f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)
O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se no 1 - Após essas expressões o substantivo fica sempre no
singular para preencher adequadamente a lacuna da frase: singular e o adjetivo no plural.
(A) A nenhuma de nossas escolhas ...... (poder) deixar de Renato advogou um e outro caso fáceis.
corresponder nossos valores éticos mais rigorosos. Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe.
(B) Não se ...... (poupar) os que governam de refletir sobre o
peso de suas mais graves decisões. g) É bom, é necessário, é proibido
(C) Aos governantes mais responsáveis não ...... (ocorrer) 1- Essas expressões não variam se o sujeito não vier
tomar decisões sem medir suas consequências. precedido de artigo ou outro determinante.
(D) A toda decisão tomada precipitadamente ...... (costumar) Canja é bom. / A canja é boa.
sobrevir consequências imprevistas e injustas. É necessário sua presença. / É necessária a sua presença.
(E) Diante de uma escolha, ...... (ganhar) prioridade, É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A entrada
recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor é proibida.
humana.
Respostas h) Muito, pouco, caro
01. C\02. A\03. C 1- Como adjetivos: seguem a regra geral.
Comi muitas frutas durante a viagem.
Concordância Nominal Pouco arroz é suficiente para mim.
Os sapatos estavam caros.
Concordância nominal é que o ajuste que fazemos aos
demais termos da oração para que concordem em gênero e 2- Como advérbios: são invariáveis.
número com o substantivo. Teremos que alterar, portanto, o Comi muito durante a viagem.
artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome. Além disso, temos Pouco lutei, por isso perdi a batalha.
também o verbo, que se flexionará à sua maneira. Comprei caro os sapatos.

Regra geral: O artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome i) Mesmo, bastante


concordam em gênero e número com o substantivo. 1- Como advérbios: invariáveis
- A pequena criança é uma gracinha. Preciso mesmo da sua ajuda.
- O garoto que encontrei era muito gentil e simpático. Fiquei bastante contente com a proposta de emprego.

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2- Como pronomes: seguem a regra geral.
Seus argumentos foram bastantes para me convencer.
Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou. Regência nominal e verbal.

j) Menos, alerta
1- Em todas as ocasiões são invariáveis. Regência Verbal e Nominal
Preciso de menos comida para perder peso.
Estamos alerta para com suas chamadas. Dá-se o nome de regência à relação de subordinação que
ocorre entre um verbo (ou um nome) e seus complementos.
k) Tal Qual Ocupa-se em estabelecer relações entre as palavras, criando
1- “Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda com o frases não ambíguas, que expressem efetivamente o sentido
consequente. desejado, que sejam corretas e claras.
As garotas são vaidosas tais qual a tia.
Os pais vieram fantasiados tais quais os filhos. Regência Verbal

l) Possível Termo Regente:  VERBO


1- Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “melhor”
ou “pior”, acompanha o artigo que precede as expressões. A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre
A mais possível das alternativas é a que você expôs. os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e
Os melhores cargos possíveis estão neste setor da empresa. objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais).
As piores situações possíveis são encontradas nas favelas da O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa
cidade. capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de
conhecermos as diversas significações que um verbo pode
m) Meio assumir com a simples mudança ou retirada de uma preposição. 
1- Como advérbio: invariável. Observe:
Estou meio (um pouco) insegura. A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar.
2- Como numeral: segue a regra geral. A mãe agrada ao filho. -> agradar significa “causar agrado ou
Comi meia (metade) laranja pela manhã. prazer”, satisfazer.

n) Só Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de


1- apenas, somente (advérbio): invariável. “agradar a alguém”.
Só consegui comprar uma passagem.
2- sozinho (adjetivo): variável. Saiba que:
Estiveram sós durante horas. O conhecimento do uso adequado das preposições é um
dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e
Questões também nominal). As preposições são capazes de modificar
completamente o sentido do que se está sendo dito. Veja os
01. Indique o uso INCORRETO da concordância verbal ou exemplos:
nominal: Cheguei ao metrô.
(A) Será descontada em folha sua contribuição sindical. Cheguei no metrô.
(B) Na última reunião, ficou acordado que se realizariam
encontros semanais com os diversos interessados no assunto. No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo
(C) Alguma solução é necessária, e logo! caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração “Cheguei
(D) Embora tenha ficado demonstrado cabalmente a no metrô”, popularmente usada a fim de indicar o lugar a que se
ocorrência de simulação na transferência do imóvel, o pedido vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é
não pode prosperar. muito comum existirem divergências entre a regência coloquial,
(E) A liberdade comercial da colônia, somada ao fato de D. cotidiana de alguns verbos, e a regência culta.
João VI ter também elevado sua colônia americana à condição de
Reino Unido a Portugal e Algarves, possibilitou ao Brasil obter Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de
certa autonomia econômica. acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, não é
um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes
02. Aponte a alternativa em que NÃO ocorre silepse (de formas em frases distintas.
gênero, número ou pessoa):
(A) “A gente é feito daquele tipo de talento capaz de fazer a Verbos Intransitivos
diferença.” Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
(B) Todos sabemos que a solução não é fácil. importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
(C) Essa gente trabalhadora merecia mais, pois acordam às aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
cinco horas para chegar ao trabalho às oito da manhã. a) Chegar, Ir
(D) Todos os brasileiros sabem que esse problema vem de Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adverbiais
longe... de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
(E) Senhor diretor, espero que Vossa Senhoria seja mais indicar destino ou direção são: a, para.
compreensivo. Fui ao teatro.
      Adjunto Adverbial de Lugar
03. A concordância nominal está INCORRETA em:
(A) A mídia julgou desnecessária a campanha e o Ricardo foi para a Espanha.
envolvimento da empresa.                   Adjunto Adverbial de Lugar
(B) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa b) Comparecer
desnecessária. O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
(C) A mídia julgou desnecessário o envolvimento da empresa por em ou a.
e a campanha. Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o último
(D) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa jogo.
desnecessárias.
Verbos Transitivos Diretos
Respostas Os verbos transitivos diretos são complementados por
01. D\02. D\03. B objetos diretos. Isso significa que  não  exigem preposição  para

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o estabelecimento da relação de regência. Ao empregar esses Cristo ensina que é preciso perdoar     o pecado        ao pecador.
verbos, devemos lembrar que os pronomes oblíquos o, a, os,                                                                  Obj. Direto       Objeto Indireto
as atuam como objetos diretos. Esses pronomes podem assumir Paguei      o débito        ao cobrador.
as formas lo, los, la, las (após formas verbais terminadas em -r,                Objeto Direto      Objeto Indireto
-s ou -z) ou no, na, nos, nas (após formas verbais terminadas em
sons nasais), enquanto  lhe e lhes são, quando complementos - O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com
verbais, objetos indiretos. particular cuidado. Observe:
São verbos transitivos diretos, dentre outros: abandonar, Agradeci o presente. / Agradeci-o.
abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, admirar, Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, castigar, Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
condenar, conhecer, conservar,convidar, defender, eleger, estimar, Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar, proteger, respeitar, Paguei minhas contas. / Paguei-as.
socorrer, suportar, ver, visitar. Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente como o
verbo amar: Informar
Amo aquele rapaz. / Amo-o. - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
Amo aquela moça. / Amo-a. indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
Amam aquele rapaz. / Amam-no. Informe os novos preços aos clientes.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
preços)
Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos para - Na utilização de pronomes como complementos,  veja as
indicar posse (caso em que atuam como adjuntos adnominais). construções:
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto) Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira) Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou sobre
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor) eles)
Obs.: a mesma regência do verbo  informar é usada  para os
Verbos Transitivos Indiretos seguintes:  avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
Os verbos transitivos indiretos são complementados por
objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exigem uma Comparar
preposição  para o estabelecimento da relação de regência. Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
Os pronomes pessoais do caso oblíquo de terceira pessoa que preposições  “a”  ou  “com” para introduzir o complemento
podem atuar como objetos indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para indireto.
substituir pessoas. Não se utilizam os pronomes o, os, a, as como Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma criança.
complementos de verbos transitivos indiretos. Com os objetos
indiretos que não representam pessoas, usam-se pronomes Pedir
oblíquos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na forma
pronomes átonos lhe, lhes.  de oração subordinada substantiva) e indireto de pessoa.
Pedi-lhe                 favores.
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: Objeto Indireto    Objeto Direto
a) Consistir - Tem complemento introduzido pela                                      
preposição “em”. Pedi-lhe                     que mantivesse em silêncio.
A modernidade verdadeira consiste em direitos iguais para Objeto Indireto           Oração Subordinada Substantiva
todos.                                                            Objetiva Direta
b) Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complementos
introduzidos pela preposição “a”. Saiba que:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. 1) A construção  “pedir para”,  muito comum na linguagem
Eles desobedeceram às leis do trânsito. cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta. No
c) Responder - Tem complemento introduzido pela entanto, é considerada correta quando a palavra licença estiver
preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a subentendida.
quem” ou “ao que” se responde. Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
Respondi ao meu patrão. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz uma
Respondemos às perguntas. oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo (para
Respondeu-lhe à altura. ir entregar-lhe os catálogos em casa).
Obs.:  o verbo  responder, apesar de transitivo indireto 2) A construção  “dizer para”,  também muito usada
quando exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva popularmente, é igualmente considerada incorreta.
analítica. Veja:
O questionário foi respondido corretamente. Preferir
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente. Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto
d) Simpatizar e  Antipatizar - Possuem seus complementos indireto introduzido pela preposição “a”. Por Exemplo:
introduzidos pela preposição “com”. Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
Antipatizo com aquela apresentadora. Prefiro trem a ônibus.
Simpatizo com os que condenam os políticos que governam Obs.: na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem
para uma minoria privilegiada. termos intensificadores, tais como:  muito, antes, mil vezes, um
milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo existente
Verbos Transitivos Diretos e Indiretos no próprio verbo (pre).
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompanhados
de um objeto direto e um indireto. Merecem destaque, nesse Mudança de Transitividade versus Mudança de
grupo: Significado

Agradecer, Perdoar e Pagar Há verbos que, de acordo com a mudança de transitividade,


São verbos que apresentam objeto direto apresentam mudança de significado. O conhecimento das
relacionado a coisas e objeto indireto relacionado a pessoas. diferentes regências desses verbos é um recurso linguístico
Veja os exemplos: muito importante, pois além de permitir a correta interpretação
Agradeço    aos ouvintes         a audiência. de passagens escritas, oferece possibilidades expressivas a
                   Objeto Indireto      Objeto Direto quem fala ou escreve. Dentre os principais, estão:

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AGRADAR Obs.: a Gramática Normativa condena as construções que
1) Agradar é transitivo direto no sentido de fazer carinhos, atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por pessoa.
acariciar. Observe o exemplo abaixo:
Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada Custei para entender o problema. 
quando o revê. Forma correta: Custou-me entender o problema.
Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. / Cláudia
não perde oportunidade de agradá-lo. IMPLICAR
1) Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
2) Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agrado
a, satisfazer, ser agradável a.  Rege complemento introduzido a) dar a entender, fazer supor, pressupor
pela preposição “a”. Suas atitudes implicavam um firme propósito.
O cantor não agradou aos presentes.
O cantor não lhes agradou. b)  Ter como consequência, trazer como consequência,
acarretar, provocar
ASPIRAR Liberdade de escolha implica amadurecimento político de um
1) Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar povo.
(o ar), inalar.
Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) 2) Como transitivo direto e indireto, significa comprometer,
envolver
2)  Aspirar  é transitivo indireto no sentido de  desejar, ter Implicaram aquele jornalista em questões econômicas.
como ambição.
Aspirávamos a melhores condições de vida. (Aspirávamos a Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
elas) indireto e rege com preposição “com”.
Obs.: como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pessoa, Implicava com quem não trabalhasse arduamente.
mas coisa, não se usam as formas pronominais átonas “lhe”
e “lhes” e sim as formas tônicas “a ele (s)”, “ a ela (s)”.  Veja o PROCEDER
exemplo: 1)  Proceder  é intransitivo no sentido de  ser decisivo,
Aspiravam a uma existência melhor. (= Aspiravam a ela) ter cabimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se,
agir.  Nessa segunda acepção, vem sempre acompanhado de
ASSISTIR adjunto adverbial de modo.
1)  Assistir  é transitivo direto no sentido de  ajudar, prestar As afirmações da testemunha procediam, não havia como
assistência a, auxiliar. Por Exemplo: refutá-las.
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. Você procede muito mal.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
2) Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição”
2) Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presenciar, de”) e  fazer, executar  (rege complemento introduzido pela
estar presente, caber, pertencer. preposição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
Exemplos: Procedeu-se aos exames.
Assistimos ao documentário. O delegado procederá ao inquérito.
Não assisti às últimas sessões.
Essa lei assiste ao inquilino. QUERER
Obs.: no sentido de  morar, residir,  o verbo  “assistir”  é 1)  Querer  é transitivo direto no sentido de  desejar, ter
intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de lugar vontade de, cobiçar.
introduzido pela preposição “em”. Querem melhor atendimento.
Assistimos numa conturbada cidade. Queremos um país melhor.

CHAMAR 2)  Querer  é transitivo indireto no sentido de  ter afeição,


1)  Chamar  é transitivo direto no sentido de  convocar, estimar, amar.
solicitar a atenção ou a presença de. Quero muito aos meus amigos.
Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá-la. Ele quer bem à linda menina.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. Despede-se o filho que muito lhe quer.

2)  Chamar  no sentido de  denominar, apelidar  pode VISAR


apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo 1)  Como transitivo direto, apresenta os sentidos de  mirar,
preposicionado ou não. fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
A torcida chamou o jogador mercenário. O homem visou o alvo.
A torcida chamou ao jogador mercenário. O gerente não quis visar o cheque.
A torcida chamou o jogador de mercenário. 2)  No sentido de  ter em vista, ter como meta, ter como
A torcida chamou ao jogador de mercenário. objetivo, é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social.
CUSTAR Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
1) Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor público.
ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial. Questões
Frutas e verduras não deveriam custar muito.
01. Todas as alternativas estão corretas quanto ao emprego
2) No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo ou correto da regência do verbo, EXCETO:
transitivo indireto. (A) Faço entrega em domicílio.
Muito custa          viver tão longe da família. (B) Eles assistem o espetáculo.
            Verbo   Oração Subordinada Substantiva Subjetiva  (C) João gosta de frutas.
       Intransitivo                       Reduzida de Infinitivo (D) Ana reside em São Paulo.
(E) Pedro aspira ao cargo de chefe.
Custa-me (a mim)  crer que tomou realmente aquela atitude.
        Objeto                 Oração Subordinada Substantiva Subjetiva  02. Assinale a opção em que o verbo chamar é empregado
        Indireto                                     Reduzida de Infinitivo com o mesmo sentido que apresenta em __ “No dia em que o

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chamaram de Ubirajara, Quaresma ficou reservado, taciturno e Prejudicial a
mudo”: Apto a, para
(A) pelos seus feitos, chamaram-lhe o salvador da pátria; Favorável a
(B) bateram à porta, chamando Rodrigo; Prestes a
(C) naquele momento difícil, chamou por Deus e pelo Diabo; Ávido de
(D) o chefe chamou-os para um diálogo franco; Generoso com
(E) mandou chamar o médico com urgência. Propício a
Benéfico a
03. A regência verbal está correta na alternativa: Grato a, por
(A) Ela quer namorar com o meu irmão. Próximo a
(B) Perdi a hora da entrevista porque fui à pé. Capaz de, para
(C) Não pude fazer a prova do concurso porque era de menor. Hábil em
(D) É preferível ir a pé a ir de carro. Relacionado com
Compatível com
Respostas Habituado a
01. B\02. A\03. D Relativo a
Contemporâneo a, de
Regência Nominal Idêntico a
   
É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, Advérbios
adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa Longe de Perto de
relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo
da regência nominal, é preciso levar em conta que vários nomes Obs.: os advérbios terminados em  -mente tendem a seguir
apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
derivam. Conhecer o regime de um verbo significa, nesses casos, paralelamente a; relativa a; relativamente a.
conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Verbo  obedecer  e os nomes correspondentes: todos regem
complementos introduzidos pela preposição «a”.Veja: Questões

Obedecer a algo/ a alguém. 01. Assinale a alternativa em que a preposição “a” não deva


Obediente a algo/ a alguém. ser empregada, de acordo com a regência nominal.
(A) A confiança é necessária ____ qualquer relacionamento.
Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados (B) Os pais de Pâmela estão alheios ____ qualquer decisão.
da preposição ou preposições que os regem. Observe-os (C) Sirlene tem horror ____ aves.
atentamente e procure, sempre que possível, associar esses (D) O diretor está ávido ____ melhores metas.
nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece. (E) É inegável que a tecnologia ficou acessível ____ toda
população.
Substantivos
Admiração a, por 02. Quanto a amigos, prefiro João.....Paulo,.....quem sinto......
Devoção a, para, com, por simpatia.
Medo a, de (A) a, por, menos
Aversão a, para, por (B) do que, por, menos
Doutor em (C) a, para, menos
Obediência a (D) do que, com, menos
Atentado a, contra (E) do que, para, menos
Dúvida acerca de, em, sobre
Ojeriza a, por 03. Assinale a opção em que todos adjetivos podem ser
Bacharel em seguidos pela mesma preposição:
Horror a (A) ávido, bom, inconsequente
Proeminência sobre (B) indigno, odioso, perito
Capacidade de, para (C) leal, limpo, oneroso
Impaciência com (D) orgulhoso, rico, sedento
Respeito a, com, para com, por (E) oposto, pálido, sábio

Adjetivos Respostas
Acessível a 01. D\02. A\03. D
Diferente de
Necessário a
Acostumado a, com Significação das palavras.
Entendido em
Nocivo a
Afável com, para com
Equivalente a Significação das palavras
Paralelo a
Agradável a Na língua portuguesa, uma PALAVRA (do latim parabola, que
Escasso de por sua vez deriva do grego parabolé) pode ser definida como
Parco em, de sendo um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente
Alheio a, de com a ideia associada a este conjunto.
Essencial a, para
Passível de Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado.
Análogo a Exemplo:
Fácil de - Alfabeto, abecedário.
Preferível a - Brado, grito, clamor.
Ansioso de, para, por - Extinguir, apagar, abolir, suprimir.
Fanático por - Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial.

Língua Portuguesa 59
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APOSTILAS OPÇÃO
Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo - Cedo (verbo), cedo (advérbio).
pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).
sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).
matizes de significação e certas propriedades que o escritor não - Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, - Alude (avalancha), alude (verbo aludir).
aqueles, mais restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios
da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, pertencem Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na
à esfera da linguagem culta, literária, científica ou poética pronúncia: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente,
(orador e tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo). tetânico e titânico, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, séptico, prescrever e proscrever, descrição e discrição, infligir
em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos: (aplicar) e infringir (transgredir), osso e ouço, sede (vontade
- Adversário e antagonista. de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimento,
- Translúcido e diáfano. deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente,
- Semicírculo e hemiciclo. divergir, adiar), ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto,
- Contraveneno e antídoto. corrigir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e
- Moral e ética. vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).
- Colóquio e diálogo.
- Transformação e metamorfose. Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação.
- Oposição e antítese. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos:
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinonímia, - Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as
palavra que também designa o emprego de sinônimos. plantas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de
gado.
Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos: - Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó.
- Ordem e anarquia. - Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu
- Soberba e humildade. do palato.
- Louvar e censurar. Podemos citar ainda, como exemplos de palavras
- Mal e bem. polissêmicas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido têm dezenas de acepções.
oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/
antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/ Sentido Próprio e Figurado das Palavras
implícito, ativo/inativo, esperar/desesperar, comunista/ Pela própria definição acima destacada podemos perceber
anticomunista, simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial. que a palavra é composta por duas partes, uma delas relacionada
a sua forma escrita e os seus sons (denominada significante) e a
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às outra relacionada ao que ela (palavra) expressa, ao conceito que
vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos: ela traz (denominada significado).
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). Em relação ao seu SIGNIFICADO as palavras subdividem-se
- Aço (substantivo) e asso (verbo). assim:
Só o contexto é que determina a significação dos homônimos. - Sentido Próprio - é o sentido literal, ou seja, o sentido comum
A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é que costumamos dar a uma palavra.
considerada uma deficiência dos idiomas. - Sentido Figurado -  é o sentido  “simbólico”,  “figurado”, que
O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto podemos dar a uma palavra.
fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: Vamos analisar a palavra  cobra utilizada em diferentes
contextos:
Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes 1. A cobra picou o menino. (cobra = tipo de réptil peçonhento)
no timbre ou na intensidade das vogais. 2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradável, que
- Rego (substantivo) e rego (verbo). adota condutas pouco apreciáveis)
- Colher (verbo) e colher (substantivo). 3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhece muito
- Jogo (substantivo) e jogo (verbo). sobre alguma coisa, “expert”)
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo). No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido comum
- Para (verbo parar) e para (preposição). (ou literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado em sentido
- Providência (substantivo) e providencia (verbo). figurado.
- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo). Podemos então concluir que um mesmo significante (parte
- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de concreta) pode ter vários significados (conceitos).
per+o).
Fonte:
Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/oficial-de-justica-tjm-
diferentes na escrita. sp/lingua-portuguesa-sentido-proprio-e-figurado-das-palavras.html
- Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir).
- Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar). Denotação e Conotação
- Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de - Denotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
consertar). seu significado primitivo e original, com o sentido do dicionário;
- Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar). usada de modo automatizado; linguagem comum. Veja este
- Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar). exemplo:
- Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar). Cortaram as asas da ave para que não voasse mais.
- Censo (recenseamento) e senso (juízo).
- Cerrar (fechar) e serrar (cortar). Aqui a palavra em destaque é utilizada em seu sentido
- Paço (palácio) e passo (andar). próprio, comum, usual, literal.
- Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo). - DICA - Procure associar Denotação com Dicionário: trata-
- Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar = se de definição literal, quando o termo é utilizado em seu sentido
anular). dicionarístico.
- Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão - Conotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
(tempo de uma reunião ou espetáculo). seu significado secundário, com o sentido amplo (ou simbólico);
usada de modo criativo, figurado, numa linguagem rica e
Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia. expressiva. Veja este exemplo:
- Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).

Língua Portuguesa 60
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APOSTILAS OPÇÃO
Seria aconselhável cortar as asas deste menino, antes que velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e
seja tarde mais. mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.
Já neste caso o termo (asas) é empregado de forma figurada,
fazendo alusão à ideia de restrição e/ou controle de ações; (CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos.
disciplina, limitação de conduta e comportamento. Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.)

Questões Em qual das alternativas abaixo NÃO há um par de sinônimos?


a) Armistício – destruição
01. McLuhan já alertava que a aldeia global resultante das b) Claudicante – manco
mídias eletrônicas não implica necessariamente harmonia, c) Reveses – infortúnios
implica, sim, que cada participante das novas mídias terá um d) Fealdade – feiura
envolvimento gigantesco na vida dos demais membros, que terá e) Opilados – desnutridos
a chance de meter o bedelho onde bem quiser e fazer o uso que
quiser das informações que conseguir. A aclamada transparência 03. Atento ao emprego dos Homônimos, analise as palavras
da coisa pública carrega consigo o risco de fim da privacidade sublinhadas e identifique a alternativa CORRETA: 
e a superexposição de nossas pequenas ou grandes fraquezas a) Ainda vivemos no Brasil a  descriminação  racial. Isso é
morais ao julgamento da comunidade de que escolhemos crime! 
participar. b) Com a crise política, a renúncia já parecia eminente.
Não faz sentido falar de dia e noite das redes sociais, apenas c) Descobertas as manobras fiscais, os políticos irão
em número de atualizações nas páginas e na capacidade dos agora expiar seus crimes. 
usuários de distinguir essas variações como relevantes no d) Em todos os momentos, para agir corretamente, é preciso
conjunto virtualmente infinito das possibilidades das redes. Para o bom censo. 
achar o fio de Ariadne no labirinto das redes sociais, os usuários e) Prefiro macarronada com molho, mas sem  estrato de
precisam ter a habilidade de identificar e estimar parâmetros, tomate. 
aprender a extrair informações relevantes de um conjunto finito
de observações e reconhecer a organização geral da rede de que 04. Assinale a alternativa em que as palavras podem servir
participam. de exemplos de parônimos:
O fluxo de informação que percorre as artérias das redes a) Cavaleiro (Homem a cavalo) – Cavalheiro (Homem gentil).
sociais é um poderoso fármaco viciante. Um dos neologismos b) São (sadio) – São (Forma reduzida de Santo).
recentes vinculados à dependência cada vez maior dos jovens c) Acento (sinal gráfico) – Assento (superfície onde se senta).
a esses dispositivos é a “nomobofobia” (ou “pavor de ficar sem d) Nenhuma das alternativas.
conexão no telefone celular”), descrito como a ansiedade e o
sentimento de pânico experimentados por um número crescente 05. Na língua portuguesa, há muitas palavras parecidas,
de pessoas quando acaba a bateria do dispositivo móvel ou seja no modo de falar ou no de escrever. A palavra sessão, por
quando ficam sem conexão com a Internet. Essa informação, exemplo, assemelha-se às palavras cessão e seção, mas cada
como toda nova droga, ao embotar a razão e abrir os poros da uma apresenta sentido diferente. Esse caso, mesmo som, grafias
sensibilidade, pode tanto ser um remédio quanto um veneno diferentes, denomina-se homônimo homófono. Assinale a
para o espírito. alternativa em que todas as palavras se encontram nesse caso.
(Vinicius Romanini, Tudo azul no universo das redes. a) taxa, cesta, assento
Revista USP, no 92. Adaptado) b) conserto, pleito, ótico
c) cheque, descrição, manga
As expressões destacadas nos trechos –  meter o bedelho d) serrar, ratificar, emergir
/ estimar  parâmetros / embotar a razão – têm sinônimos
adequados respectivamente em: Respostas
a) procurar / gostar de / ilustrar 01. B\02. A\03. C\04. A\05. A
b) imiscuir-se / avaliar / enfraquecer
c) interferir / propor / embrutecer Redação de correspondências
d) intrometer-se / prezar / esclarecer
e) contrapor-se / consolidar / iluminar oficiais.

02. A entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os


combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam- Redação Oficial
se; comoviam-se. O arraial, in extremis, punhalhes adiante,
naquele armistício transitório, uma legião desarmada, Conceito
mutilada faminta e claudicante, num assalto mais duro que o
das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela Entende-se por Redação Oficial o conjunto de normas e
gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres práticas que devem reger a emissão dos atos normativos e
bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os comunicações do poder público, entre seus diversos organismos
rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos ou nas relações dos órgãos públicos com as entidades e os
em tiras não encobriam lanhos, escaras e escalavros – a vitória cidadãos.
tão longamente apetecida decaía de súbito. Repugnava aquele A Redação Oficial inscreve-se na confluência de dois
triunfo. Envergonhava. Era, com efeito, contraproducente universos distintos: a forma rege-se pelas ciências da linguagem
compensação a tão luxuosos gastos de combates, de reveses e de (morfologia, sintaxe, semântica, estilística etc.); o conteúdo
milhares de vidas, o apresamento daquela caqueirada humana – submete-se aos princípios jurídico administrativos impostos à
do mesmo passo angulhenta e sinistra, entre trágica e imunda, União, aos Estados e aos Municípios, nas esferas dos poderes
passando-lhes pelos olhos, num longo enxurro de carcaças e Executivo, Legislativo e Judiciário.
molambos... Pertencente ao campo da linguagem escrita, a Redação
Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender Oficial deve ter as qualidades e características exigidas do texto
uma arma, nem um peito resfolegante de campeador domado: escrito destinado à comunicação impessoal, objetiva, clara,
mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, correta e eficaz.
moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma Por ser “oficial”, expressão verbal dos atos do poder público,
fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris essa modalidade de redação ou de texto subordina-se aos
desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos princípios constitucionais e administrativos aplicáveis a todos
aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando; os atos da administração pública, conforme estabelece o artigo
crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de 37 da Constituição Federal:

Língua Portuguesa 61
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APOSTILAS OPÇÃO
“A administração pública direta e indireta de qualquer dos - Ambiguidade: Duplo sentido não intencional. Ex.:
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios O desconhecido faloume de sua mãe. (Mãe de quem? Do
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, desconhecido? Do interlocutor?)
moralidade, publicidade e eficiência ( ... )”.
- Cacófato: Som desagradável, resultante da junção de duas
A forma e o conteúdo da Redação Oficial devem convergir ou mais palavras da cadeia da frase. Ex.: Darei um prêmio por
na produção dos textos dessa natureza, razão pela qual, muitas cada eleitor que votar em mim (por cada e porcada).
vezes, não há como separar uma do outro. Indicamse, a seguir,
alguns pressupostos de como devem ser redigidos os textos - Pleonasmo: Informação desnecessariamente redundante.
oficiais. Exemplos: As pessoas pobres, que não têm dinheiro, vivem na
miséria; Os moralistas, que se preocupam com a moral, vivem
Padrão culto do idioma vigiando as outras pessoas.
A Redação Oficial supõe, como receptor, um operador
A redação oficial deve observar o padrão culto do idioma linguístico dotado de um repertório vocabular e de uma
quanto ao léxico (seleção vocabular), à sintaxe (estrutura articulação verbal minimamente compatíveis com o registro
gramatical das orações) e à morfologia (ortografia, acentuação médio da linguagem. Nesse sentido, deve ser um texto neutro,
gráfica etc.). sem facilitações que intentem suprir as deficiências cognitivas
Por padrão culto do idioma devese entender a língua de leitores precariamente alfabetizados.
referendada pelos bons gramáticos e pelo uso nas situações Como exceção, citam-se as campanhas e comunicados
formais de comunicação. Devem-se excluir da Redação Oficial destinados a públicos específicos, que fazem uma aproximação
a erudição minuciosa e os preciosismos vocabulares que criam com o registro linguístico do público alvo. Mas esse é um campo
entraves inúteis à compreensão do significado. Não faz sentido que refoge aos objetivos deste material, para se inserir nos
usar “perfunctório” em lugar de “superficial” ou “doesto” em vez domínios e técnicas da propaganda e da persuasão.
de “acusação” ou “calúnia”. São descabidos também as citações Se o texto oficial não pode e não deve baixar ao nível de
em língua estrangeira e os latinismos, tão ao gosto da linguagem compreensão de leitores precariamente equipados quanto
forense. Os manuais de Redação Oficial, que vários órgãos têm à linguagem, fica evidente o falo de que a alfabetização e
feito publicar, são unânimes em desaconselhar a utilização de a capacidade de apreensão de enunciados são condições
certas formas sacramentais, protocolares e de anacronismos inerentes à cidadania. Ninguém é verdadeiramente cidadão se
que ainda se leem em documentos oficiais, como: “No dia 20 não consegue ler e compreender o que leu. O domínio do idioma
de maio, do ano de 2011 do nascimento de Nosso Senhor Jesus é equipamento indispensável à vida em sociedade.
Cristo”, que permanecem nos registros cartorários antigos.
Não cabem também, nos textos oficiais, coloquialismos, Impessoalidade e Objetividade
neologismos, regionalismos, bordões da fala e da linguagem Ainda que possam ser subscritos por um ente público
oral, bem como as abreviações e imagens sígnicas comuns na (funcionário, servidor etc.), os textos oficiais são expressão do
comunicação eletrônica. poder público e é em nome dele que o emissor se comunica,
Diferentemente dos textos escolares, epistolares, sempre nos termos da lei e sobre atos nela fundamentados.
jornalísticos ou artísticos, a Redação Oficial não visa ao efeito Não cabe na Redação Oficial, portanto, a presença do “eu”
estético nem à originalidade. Ao contrário, impõe uniformidade, enunciador, de suas impressões subjetivas, sentimentos ou
sobriedade, clareza, objetividade, no sentido de se obter a maior opiniões. Mesmo quando o agente público manifesta-se em
compreensão possível com o mínimo de recursos expressivos primeira pessoa, em formas verbais comuns como: declaro,
necessários. Portarias lavradas sob forma poética, sentenças e resolvo, determino, nomeio, exonero etc., é nos termos da lei que
despachos escritos em versos rimados pertencem ao “folclore” ele o faz e é em função do cargo que exerce que se identifica e se
jurídico administrativo e são práticas inaceitáveis nos textos manifesta.
oficiais. São também inaceitáveis nos textos oficiais os vícios O que interessa é aquilo que se comunica, é o conteúdo,
de linguagem, provocados por descuido ou ignorância, que o objeto da informação. A impessoalidade contribui para
constituem desvios das normas da língua padrão. Enumeram- a necessária padronização, reduzindo a variabilidade da
se, a seguir, alguns desses vícios: linguagem a certos padrões, sem o que cada texto seria suscetível
de inúmeras interpretações.
- Barbarismos: São desvios: Por isso, a Redação Oficial não admite adjetivação. O
- da ortografia: “advinhar” em vez de adivinhar; “excessão” adjetivo, ao qualificar, exprime opinião e evidencia um juízo
em vez de exceção. de valor pessoal do emissor. São inaceitáveis também a
- da pronúncia: “rúbrica” em vez de rubrica. pontuação expressiva, que amplia a significação (! ... ), ou o
- da morfologia: “interviu” em vez de interveio. emprego de interjeições (Oh! Ah!), que funcionam como índices
- da semântica: desapercebido (sem recursos) em vez de do envolvimento emocional do redator com aquilo que está
despercebido (não percebido, sem ser notado). escrevendo.
- pela utilização de estrangeirismos: galicismo (do francês): Se nos trabalhos artísticos, jornalísticos e escolares o estilo
“miseenscène” em vez de encenação; anglicismo (do inglês): individual é estimulado e serve como diferencial das qualidades
“delivery” em vez de entrega em domicílio. autorais, a função pública impõe a despersonalização do sujeito,
do agente público que emite a comunicação. São inadmissíveis,
- Arcaísmos: Utilização de palavras ou expressões portanto, as marcas individualizadoras, as ousadias estilísticas,
anacrônicas, fora de uso. Ex.: “asinha” em vez de ligeira, depressa. a linguagem metafórica ou a elíptica e alusiva. A Redação Oficial
prima pela denotação, pela sintaxe clara e pela economia
- Neologismos: Palavras novas que, apesar de formadas de vocabular, ainda que essa regularidade imponha certa
acordo com o sistema morfológico da língua, ainda não foram “monotonia burocrática” ao discurso.
incorporadas pelo idioma. Ex.: “imexível” em vez de imóvel, que Reafirma-se que a intermediação entre o emissor e o
não se pode mexer; “talqualmente” em vez de igualmente. receptor nas Redações Oficiais é o código linguístico, dentro do
padrão culto do idioma; uma linguagem “neutra”, referendada
- Solecismos: São os erros de sintaxe e podem ser: pelas gramáticas, dicionários e pelo uso em situações formais,
- de concordância: “sobrou” muitas vagas em vez de acima das diferenças individuais, regionais, de classes sociais e
sobraram. de níveis de escolaridade.
- de regência: os comerciantes visam apenas “o lucro” em
vez de ao lucro. Formalidade e Padronização
- de colocação: “não tratava-se” de um problema sério em As comunicações oficiais impõem um tratamento polido
vez de não se tratava. e respeitoso. Na tradição iberoamericana, afeita a títulos e a
tratamentos reverentes, a autoridade pública revela sua posição

Língua Portuguesa 62
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APOSTILAS OPÇÃO
hierárquica por meio de formas e de pronomes de tratamento Pronomes de Tratamento
sacramentais. “Excelentíssimo”, “Ilustríssimo”, “Meritíssimo”,
“Reverendíssimo” são vocativos que, em algumas instâncias do A regra diz que toda comunicação oficial deve ser formal
poder, tornaramse inevitáveis. Entenda-se que essa solenidade e polida, isto é, ajustada não apenas às normas gramaticais,
tem por consideração o cargo, a função pública, e não a pessoa como também às normas de educação e cortesia. Para isso, é
de seu exercente. fundamental o emprego de pronomes de tratamento, que devem
Vale lembrar que os pronomes de tratamento são ser utilizados de forma correta, de acordo com o destinatário e
obrigatoriamente regidos pela terceira pessoa. São erros muito as regras gramaticais.
comuns construções como “Vossa Excelência sois bondoso(a)”; Embora os pronomes de tratamento se refiram à segunda
o correto é “Vossa Excelência é bondoso(a)”. pessoa (Vossa Excelência, Vossa Senhoria), a concordância é
A utilização da segunda pessoa do plural (vós), com que feita em terceira pessoa.
os textos oficiais procuravam revestir-se de um tom solene e Concordância verbal:
cerimonioso no passado, é hoje incomum, anacrônica e pedante, Vossa Senhoria falou muito bem.
salvo em algumas peças oratórias envolvendo tribunais ou Vossa Excelência vai esclarecer o tema.
juizes, herdeiras, no Brasil, da tradição retórica de Rui Barbosa Vossa Majestade sabe que respeitamos sua opinião.
e seus seguidores.
Outro aspecto das formalidades requeridas na Redação Concordância pronominal:
Oficial é a necessidade prática de padronização dos expedientes.
Assim, as prescrições quanto à diagramação, espaçamento, Pronomes de tratamento concordam com pronomes
caracteres tipográficos etc., os modelos inevitáveis de ofício, possessivos na terceira pessoa.
requerimento, memorando, aviso e outros, além de facilitar a Vossa Excelência escolheu seu candidato. (e não “vosso...”).
legibilidade, servem para agilizar o andamento burocrático, os
despachos e o arquivamento. Concordância nominal:
É também por essa razão que quase todos os órgãos públicos
editam manuais com os modelos dos expedientes que integram Os adjetivos devem concordar com o sexo da pessoa a que se
sua rotina burocrática. A Presidência da República, a Câmara refere o pronome de tratamento.
dos Deputados, o Senado, os Tribunais Superiores, enfim, os Vossa Excelência ficou confuso. (para homem)
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário têm os próprios ritos Vossa Excelência ficou confusa. (para mulher)
na elaboração dos textos e documentos que lhes são pertinentes. Vossa Senhoria está ocupado. (para homem)
Vossa Senhoria está ocupada. (para mulher)
Concisão e Clareza Sua Excelência - de quem se fala (ele/ela).
Vossa Excelência - com quem se fala (você)
Houve um tempo em que escrever bem era escrever “difícil”.
Períodos longos, subordinações sucessivas, vocábulos raros, Emprego dos Pronomes de Tratamento
inversões sintáticas, adjetivação intensiva, enumerações,
gradações, repetições enfáticas já foram considerados virtudes As normas a seguir fazem parte do Manual de Redação da
estilísticas. Atualmente, a velocidade que se impõe a tudo o que Presidência da República.
se faz, inclusive ao escrever e ao ler, tornou esses recursos quase Vossa Excelência: É o tratamento empregado para as
sempre obsoletos. Hoje, a concisão, a economia vocabular, a seguintes autoridades:
precisão lexical, ou seja, a eficácia do discurso, são pressupostos
não só da Redação Oficial, mas da própria literatura. Basta - Do Poder Executivo - Presidente da República; Vice-
observar o estilo “enxuto” de Graciliano Ramos, de Carios presidente da República; Ministros de Estado; Governadores
Drummond de Andrade, de João Cabral de Melo Neto, de Dalton e vicegovernadores de Estado e do Distrito Federal; Oficiais
Trevisan, mestres da linguagem altamente concentrada. generais das Forças Armadas; Embaixadores; Secretários
Não têm mais sentido os imensos “prolegômenos” e executivos de Ministérios e demais ocupantes de cargos
“exórdios” que se repetiam como ladainhas nos textos oficiais, de natureza especial; Secretários de Estado dos Governos
como o exemplo risível e caricato que segue: Estaduais; Prefeitos Municipais.
“Preliminarmente, antes de mais nada, indispensável se faz - Do Poder Legislativo - Deputados Federais e Senadores;
que nos valhamos do ensejo para congratularmo-nos com Vossa Ministro do Tribunal de Contas da União; Deputados Estaduais
Excelência pela oportunidade da medida proposta à apreciação e Distritais; Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais;
de seus nobres pares. Mas, quem sou eu, humilde servidor público, Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.
para abordar questões de tamanha complexidade, a respeito das - Do Poder Judiciário - Ministros dos Tribunais Superiores;
quais divergem os hermeneutas e exegetas. Membros de Tribunais; Juizes; Auditores da Justiça Militar.
Entrementes, numa análise ainda que perfunctória das causas
primeiras, que fundamentaram a proposição tempestivamente Vocativos
encaminhada por Vossa Excelência, indispensável se faz uma
abordagem preliminar dos antecedentes imediatos, posto que O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas
estes antecedentes necessariamente antecedem os consequentes”. aos chefes de poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo
Observe que absolutamente nada foi dito ou informado. respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente da República;
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional;
As Comunicações Oficiais Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal.
As demais autoridades devem ser tratadas com o vocativo
A redação das comunicações oficiais obedece a preceitos de Senhor ou Senhora, seguido do respectivo cargo: Senhor Senador
objetividade, concisão, clareza, impessoalidade, formalidade, / Senhora Senadora; Senhor Juiz/ Senhora Juiza; Senhor Ministro
padronização e correção gramatical. / Senhora Ministra; Senhor Governador / Senhora Governadora.
Além dessas, há outras características comuns à comunicação
oficial, como o emprego de pronomes de tratamento, o tipo Endereçamento
de fecho (encerramento) de uma correspondência e a forma
de identificação do signatário, conforme define o Manual de De acordo com o Manual de Redação da Presidência, no
Redação da Presidência da República. Outros órgãos e instituições envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às
do poder público também possuem manual de redação próprio, autoridades tratadas por Vossa Excelência, deve ter a seguinte
como a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, o Ministério forma:
das Relações Exteriores, diversos governos estaduais, órgãos do A Sua Excelência o Senhor
Judiciário etc. Fulano de Tal
Ministro de Estado da Justiça

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APOSTILAS OPÇÃO
70064900 Brasília. DF “Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas
a autoridades estrangeiras, que atenderem a rito e tradição
A Sua Excelência o Senhor próprios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do
Senador Fulano de Tal Ministério das Relações Exteriores”, diz o Manual de Redação da
Senado Federal Presidência da República.
70165900 Brasília. DF A utilização dos fechos “Respeitosamente” e “Atenciosamente”
é recomendada para os mesmos casos pelo Manual de Redação
A Sua Excelência o Senhor da Câmara dos Deputados e por outros manuais oficiais. Já os
Fulano de Tal fechos para as cartas particulares ou informais ficam a critério
Juiz de Direito da l0ª Vara Cível do remetente, com preferência para a expressão “Cordialmente”,
Rua ABC, nº 123 para encerrar a correspondência de forma polida e sucinta.
01010000 São Paulo. SP
Identificação do Signatário
Conforme o Manual de Redação da Presidência, “em
comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento Conforme o Manual de Redação da Presidência do República,
digníssimo (DD) às autoridades na lista anterior. A dignidade é com exceção das comunicações assinadas pelo presidente da
pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público, sendo República, em todas as comunicações oficiais devem constar
desnecessária sua repetida evocação”. o nome e o cargo da autoridade que as expede, abaixo de sua
assinatura. A forma da identificação deve ser a seguinte:
Vossa Senhoria: É o pronome de tratamento empregado para
as demais autoridades e para particulares. O vocativo adequado (espaço para assinatura)
é: Senhor Fulano de Tal / Senhora Fulana de Tal. Nome
Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República
No envelope, deve constar do endereçamento:
Ao Senhor (espaço para assinatura)
Fulano de Tal Nome
Rua ABC, nº 123 Ministro de Estado da Justiça
70123-000 – Curitiba.PR “Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assinatura
em página isolada do expediente. Transfira para essa página ao
Conforme o Manual de Redação da Presidência, em menos a última frase anterior ao fecho”, alerta o Manual.
comunicações oficiais “fica dispensado o emprego do superlativo
Ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento Padrões e Modelos
de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o uso do
pronome de tratamento Senhor. O Padrão Ofício
O Manual também esclarece que “doutor não é forma de O Manual de Redação da Presidência da República lista três
tratamento, e sim título acadêmico”. Por isso, recomenda-se tipos de expediente que, embora tenham finalidades diferentes,
empregá-lo apenas em comunicações dirigidas a pessoas que possuem formas semelhantes: Ofício, Aviso e Memorando. A
tenham concluído curso de doutorado. No entanto, ressalva-se diagramação proposta para esses expedientes é denominada
que “é costume designar por doutor os bacharéis, especialmente padrão ofício.
os bacharéis em Direito e em Medicina”. O Ofício, o Aviso e o Memorando devem conter as seguintes
Vossa Magnificência: É o pronome de tratamento dirigido a partes:
reitores de universidade. Correspondelhe o vocativo: Magnífico - Tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão
Reitor. que o expede. Exemplos:
Vossa Santidade: É o pronome de tratamento empregado em Of. 123/2002-MME
comunicações dirigidas ao Papa. O vocativo correspondente é: Aviso 123/2002-SG
Santíssimo Padre. Mem. 123/2002-MF
Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima: São os - Local e data. Devem vir por extenso com alinhamento à
pronomes empregados em comunicações dirigidas a cardeais. direita. Exemplo:
Os vocativos correspondentes são: Eminentíssimo Senhor Brasília, 20 de maio de 2011
Cardeal, ou Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal.
Nas comunicações oficiais para as demais autoridades - Assunto. Resumo do teor do documento. Exemplos:
eclesiásticas são usados: Vossa Excelência Reverendíssima (para Assunto: Produtividade do órgão em 2010.
arcebispos e bispos); Vossa Reverendíssima ou Vossa Senhoria Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores.
Reverendíssima (para monsenhores, cônegos e superiores
religiosos); Vossa Reverência (para sacerdotes, clérigos e demais - Destinatário. O nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida
religiosos). a comunicação. No caso do ofício, deve ser incluído também o
endereço.
Fechos para Comunicações - Texto. Nos casos em que não for de mero encaminhamento
de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura:
De acordo com o Manual da Presidência, o fecho das
comunicações oficiais “possui, além da finalidade óbvia de Introdução: que se confunde com o parágrafo de abertura,
arrematar o texto, a de saudar o destinatário”, ou seja, o fecho na qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação.
é a maneira de quem expede a comunicação despedir-se de seu Evite o uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o prazer de”,
destinatário. “Cumpre-me informar que”,empregue a forma direta;
Até 1991, quando foi publicada a primeira edição do atual
Manual de Redação da Presidência da República, havia 15 padrões Desenvolvimento: no qual o assunto é detalhado; se o texto
de fechos para comunicações oficiais. O Manual simplificou a contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser
lista e reduziu-os a apenas dois para todas as modalidades de tratadas em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à
comunicação oficial. São eles: exposição;

Respeitosamente: para autoridades superiores, inclusive o Conclusão: em que é reafirmada ou simplesmente


presidente da República. reapresentada a posição recomendada sobre o assunto.
Atenciosamente: para autoridades de mesma hierarquia ou Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos
de hierarquia inferior. casos em que estes estejam organizados em itens ou títulos e
subtítulos.

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Quando se tratar de mero encaminhamento de documentos, mesma hierarquia, ao passo que o ofício é expedido para e pelas
a estrutura deve ser a seguinte: demais autoridades. Ambos têm como finalidade o tratamento
de assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública
Introdução: deve iniciar com referência ao expediente que entre si e, no caso do ofício, também com particulares.
solicitou o encaminhamento. Se a remessa do documento não Quanto a sua forma, Aviso e Ofício seguem o modelo
tiver sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o
da comunicação, que é encaminhar, indicando a seguir os dados destinatário, seguido de vírgula. Exemplos:
completos do documento encaminhado (tipo, data, origem ou
signatário, e assunto de que trata), e a razão pela qual está sendo Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
encaminhado, segundo a seguinte fórmula: Senhora Ministra,
“Em resposta ao Aviso nº 112, de 10 de fevereiro de 2011, Senhor Chefe de Gabinete,
encaminho, anexa, cópia do Ofício nº 34, de 3 de abril de 2010, do
Departamento Geral de Administração, que trata da requisição do Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as
servidor Fulano de Tal.” seguintes informações do remetente:
ou - nome do órgão ou setor;
“Encaminho, para exame e pronunciamento, a anexa cópia do - endereço postal;
telegrama nº 112, de 11 de fevereiro de 2011, do Presidente da - telefone e endereço de correio eletrônico.
Confederação Nacional de Agricultura, a respeito de projeto de
modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste.” Memorando ou Comunicação Interna

Desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer O Memorando é a modalidade de comunicação entre


algum comentário a respeito do documento que encaminha, unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem estar
poderá acrescentar parágrafos de desenvolvimento; em caso hierarquicamente em mesmo nível ou em nível diferente. Trata-
contrário, não há parágrafos de desenvolvimento em aviso ou se, portanto, de uma forma de comunicação eminentemente
ofício de mero encaminhamento. interna.
- Fecho. Pode ter caráter meramente administrativo, ou ser
- Assinatura. empregado para a exposição de projetos, ideias, diretrizes etc. a
- Identificação do Signatário serem adotados por determinado setor do serviço público.
Sua característica principal é a agilidade. A tramitação do
Forma de Diagramação memorando em qualquer órgão deve pautar-se pela rapidez
Os documentos do padrão ofício devem obedecer à seguinte e pela simplicidade de procedimentos burocráticos. Para
forma de apresentação: evitar desnecessário aumento do número de comunicações,
- deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de corpo os despachos ao memorando devem ser dados no próprio
12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas de rodapé; documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação.
- para símbolos não existentes na fonte Times New Roman, Esse procedimento permite formar uma espécie de processo
poder-se-ão utilizar as fontes symbol e Wíngdings; simplificado, assegurando maior transparência a tomada de
- é obrigatório constar a partir da segunda página o número decisões, e permitindo que se historie o andamento da matéria
da página; tratada no memorando.
- os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do
impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as margens padrão ofício, com a diferença de que seu destinatário deve ser
esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas páginas mencionado pelo cargo que ocupa. Exemplos:
pares (“margem espelho”);
- o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração
distância da margem esquerda; Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos.
- o campo destinado à margem lateral esquerda terá, no
mínimo 3,0 cm de largura; Exposição de Motivos
- o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5 cm;
- deve ser utilizado espaçamento simples entre as linhas e de É o expediente dirigido ao presidente da República ou ao
6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor de texto utilizado vice-presidente para:
não comportar tal recurso, de uma linha em branco; - informá-lo de determinado assunto;
- não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sublinhado, - propor alguma medida; ou
letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou - submeter a sua consideração projeto de ato normativo.
qualquer outra forma de formatação que afete a elegância e a Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente
sobriedade do documento; da República por um Ministro de Estado. Nos casos em que o
- a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em assunto tratado envolva mais de um Ministério, a exposição de
papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas para motivos deverá ser assinada por todos os Ministros envolvidos,
gráficos e ilustrações; sendo, por essa razão, chamada de interministerial.
- todos os tipos de documento do padrão ofício devem ser Formalmente a exposição de motivos tem a apresentação
impressos em papel de tamanho A4, ou seja, 29,7 x 21,0 cm; do padrão ofício. De acordo com sua finalidade, apresenta duas
- deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de arquivo formas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter
Rich Text nos documentos de texto; exclusivamente informativo e outra para a que proponha alguma
- dentro do possível, todos os documentos elaborados devem medida ou submeta projeto de ato normativo.
ter o arquivo de texto preservado para consulta posterior ou No primeiro caso, o da exposição de motivos que
aproveitamento de trechos para casos análogos; simplesmente leva algum assunto ao conhecimento do
- para facilitar a localização, os nomes dos arquivos devem Presidente da República, sua estrutura segue o modelo antes
ser formados da seguinte maneira: tipo do documento + número referido para o padrão ofício.
do documento + palavras chave do conteúdo. Exemplo: Já a exposição de motivos que submeta à consideração
do Presidente da República a sugestão de alguma medida a
“Of. 123 relatório produtividade ano 2010” ser adotada ou a que lhe apresente projeto de ato normativo,
embora sigam também a estrutura do padrão ofício, além de
Aviso e Ofício (Comunicação Externa) outros comentários julgados pertinentes por seu autor, devem,
obrigatoriamente, apontar:
São modalidades de comunicação oficial praticamente - na introdução: o problema que está a reclamar a adoção
idênticas. A única diferença entre eles é que o aviso é expedido da medida ou do ato normativo proposto;
exclusivamente por Ministros de Estado, para autoridades de

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- no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida ou formulário de anexo à exposição de motivos. Ressalte-se que:
aquele ato normativo o ideal para se solucionar o problema, e - a síntese do parecer do órgão de assessoramento jurídico
eventuais alternativas existentes para equacioná-lo; não dispensa o encaminhamento do parecer completo;
- na conclusão, novamente, qual medida deve ser tomada, - o tamanho dos campos do anexo à exposição de motivos
ou qual ato normativo deve ser editado para solucionar o pode ser alterado de acordo com a maior ou menor extensão dos
problema. comentários a serem alí incluídos.

Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à exposição Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente que
de motivos, devidamente preenchido, de acordo com o seguinte a atenção aos requisitos básicos da Redação Oficial (clareza,
modelo previsto no Anexo II do Decreto nº 4.1760, de 28 de concisão, impessoalidade, formalidade, padronização e uso do
março de 2010. padrão culto de linguagem) deve ser redobrada. A exposição de
Anexo à exposição de motivos do (indicar nome do Ministério motivos é a principal modalidade de comunicação dirigida ao
ou órgão equivalente) nº ______, de ____ de ______________ de 201_. Presidente da República pelos Ministros. Além disso, pode, em
- Síntese do problema ou da situação que reclama certos casos, ser encaminhada cópia ao Congresso Nacional ou
providências; ao Poder Judiciário ou, ainda, ser publicada no Diário Oficial da
- Soluções e providências contidas no ato normativo ou na União, no todo ou em parte.
medida proposta;
- Alternativas existentes às medidas propostas. Mencionar: Mensagem
- se há outro projeto do Executivo sobre a matéria;
- se há projetos sobre a matéria no Legislativo; É o instrumento de comunicação oficial entre os Chefes dos
- outras possibilidades de resolução do problema. Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas pelo
- Custos. Mencionar: Chefe do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar
- se a despesa decorrente da medida está prevista na lei sobre fato da Administração Pública; expor o plano de governo
orçamentária anual; se não, quais as alternativas para custeá-la; por ocasião da abertura de sessão legislativa; submeter ao
- se a despesa decorrente da medida está prevista na lei Congresso Nacional matérias que dependem de deliberação
orçamentária anual; se não, quais as alternativas para custeá-la; de suas Casas; apresentar veto; enfim, fazer e agradecer
- valor a ser despendido em moeda corrente; comunicações de tudo quanto seja de interesse dos poderes
- Razões que justificam a urgência (a ser preenchido somente públicos e da Nação.
se o ato proposto for medida provisória ou projeto de lei que Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos
deva tramitar em regime de urgência). Mencionar: Ministérios à Presidência da República, a cujas assessorias
- se o problema configura calamidade pública; caberá a redação final.
- por que é indispensável a vigência imediata; As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Congresso
- se se trata de problema cuja causa ou agravamento não Nacional têm as seguintes finalidades:
tenham sido previstos;
- se se trata de desenvolvimento extraordinário de situação - Encaminhamento de projeto de lei ordinária,
já prevista. complementar ou financeira: Os projetos de lei ordinária ou
- Impacto sobre o meio ambiente (somente que o ato ou complementar são enviados em regime normal (Constituição,
medida proposta possa vir a tê-lo) art. 61) ou de urgência (Constituição, art. 64, §§ 1º a 4º). Cabe
- Alterações propostas. Texto atual, Texto proposto; lembrar que o projeto pode ser encaminhado sob o regime
- Síntese do parecer do órgão jurídico. normal e mais tarde ser objeto de nova mensagem, com
solicitação de urgência.
Com base em avaliação do ato normativo ou da medida Em ambos os casos, a mensagem se dirige aos Membros do
proposa à luz das questões levantadas no item 10.4.3. Congresso Nacional, mas é encaminhada com aviso do Chefe da
A falta ou insuficiência das informações prestadas pode Casa Civil da Presidência da República ao Primeiro Secretário
acarretar, a critério da Subchefia para Assuntos Jurídicos da da Câmara dos Deputados, para que tenha início sua tramitação
Casa Civil, a devolução do projeto de ato normativo para que se (Constituição, art. 64, caput).
complete o exame ou se reformule a proposta. Quanto aos projetos de lei financeira (que compreendem
O preenchimento obrigatório do anexo para as exposições plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais e
de motivos que proponham a adoção de alguma medida ou a créditos adicionais), as mensagens de encaminhamento dirigem-
edição de ato normativo tem como finalidade: se aos membros do Congresso Nacional, e os respectivos avisos
- permitir a adequada reflexão sobre o problema que se são endereçados ao Primeiro Secretário do Senado Federal.
busca resolver; A razão é que o art. 166 da Constituição impõe a deliberação
- ensejar mais profunda avaliação das diversas causas do congressual sobre as leis financeiras em sessão conjunta, mais
problema e dos defeitos que pode ter a adoção da medida ou a precisamente, “na forma do regimento comum”. E à frente da
edição do ato, em consonância com as questões que devem ser Mesa do Congresso Nacional está o Presidente do Senado Federal
analisadas na elaboração de proposições normativas no âmbito (Constituição, art. 57, § 5º), que comanda as sessões conjuntas.
do Poder Executivo (v. 10.4.3.) As mensagens aqui tratadas coroam o processo desenvolvido
- conferir perfeita transparência aos atos propostos. no âmbito do Poder Executivo, que abrange minucioso exame
técnico, jurídico e econômico-financeiro das matérias objeto das
Dessa forma, ao atender às questões que devem ser analisadas proposições por elas encaminhadas.
na elaboração de atos normativos no âmbito do Poder Executivo, Tais exames materializam-se em pareceres dos diversos
o texto da exposição de motivos e seu anexo complementam-se órgãos interessados no assunto das proposições, entre eles o
e formam um todo coeso: no anexo, encontramos uma avaliação da Advocacia Geral da União. Mas, na origem das propostas, as
profunda e direta de toda a situação que está a reclamar a análises necessárias constam da exposição de motivos do órgão
adoção de certa providência ou a edição de um ato normativo; o onde se geraram, exposição que acompanhará, por cópia, a
problema a ser enfrentado e suas causas; a solução que se propõe, mensagem de encaminhamento ao Congresso.
seus efeitos e seus custos; e as alternativas existentes. O texto da
exposição de motivos fica, assim, reservado à demonstração da - Encaminhamento de medida provisória: Para dar
necessidade da providência proposta: por que deve ser adotada cumprimento ao disposto no art. 62 da Constituição, o Presidente
e como resolverá o problema. da República encaminha mensagem ao Congresso, dirigida a
Nos casos em que o ato proposto for questão de pessoal seus membros, com aviso para o Primeiro Secretário do Senado
(nomeação, promoção, ascenção, transferência, readaptação, Federal, juntando cópia da medida provisória, autenticada pela
reversão, aproveitamento, reintegração, recondução, Coordenação de Documentação da Presidência da República.
remoção, exoneração, demissão, dispensa, disponibilidade,
aposentadoria), não é necessário o encaminhamento do

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- Indicação de autoridades: As mensagens que submetem - pedido de autorização para operações financeiras externas
ao Senado Federal a indicação de pessoas para ocuparem (Constituição, art. 52, V); e outros.
determinados cargos (magistrados dos Tribunais Superiores,
Ministros do TCU, Presidentes e diretores do Banco Central, Entre as mensagens menos comuns estão as de:
Procurador Geral da República, Chefes de Missão Diplomática - convocação extraordinária do Congresso Nacional
etc.) têm em vista que a Constituição, no seu art. 52, incisos III (Constituição, art. 57, § 6º);
e IV, atribui àquela Casa do Congresso Nacional competência - pedido de autorização para exonerar o Procurador Geral da
privativa para aprovar a indicação. O currículum vitae do República (art. 52, XI, e 128, § 2º);
indicado, devidamente assinado, acompanha a mensagem. - pedido de autorização para declarar guerra e decretar
mobilização nacional (Constituição, art. 84, XIX);
- Pedido de autorização para o presidente ou o vice- - pedido de autorização ou referendo para celebrara paz
presidente da República se ausentarem do País por mais (Constituição, art. 84, XX);
de 15 dias: Trata-se de exigência constitucional (Constituição, - justificativa para decretação do estado de defesa ou de sua
art. 49, III, e 83), e a autorização é da competência privativa do prorrogação (Constituição, art. 136, § 4º);
Congresso Nacional. - pedido de autorização para decretar o estado de sítio
O presidente da República, tradicionalmente, por cortesia, (Constituição, art. 137);
quando a ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz uma - relato das medidas praticadas na vigência do estado de
comunicação a cada Casa do Congresso, enviando-lhes sítio ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo único);
mensagens idênticas. - proposta de modificação de projetas de leis financeiras
(Constituição, art. 166, § 5º);
- Encaminhamento de atos de concessão e renovação de - pedido de autorização para utilizar recursos que ficarem
concessão de emissoras de rádio e TV: A obrigação de submeter sem despesas correspondentes, em decorrência de veto, emenda
tais atos à apreciação do Congresso Nacional consta no inciso ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual (Constituição,
XII do artigo 49 da Constituição. Somente produzirão efeitos art. 166, § 8º);
legais a outorga ou renovação da concessão após deliberação do - pedido de autorização para alienar ou conceder terras
Congresso Nacional (Constituição, art. 223, § 3º). Descabe pedir públicas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art. 188,
na mensagem a urgência prevista no art. 64 da Constituição, § 1º); etc.
porquanto o § 1º do art. 223 já define o prazo da tramitação.
Além do ato de outorga ou renovação, acompanha a As mensagens contêm:
mensagem o correspondente processo administrativo. - a indicação do tipo de expediente e de seu número,
horizontalmente, no início da margem esquerda:
- Encaminhamento das contas referentes ao exercício
anterior: O Presidente da República tem o prazo de sessenta Mensagem nº
dias após a abertura da sessão legislativa para enviar ao
Congresso Nacional as contas referentes ao exercício anterior - vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o
(Constituição, art. 84, XXIV), para exame e parecer da Comissão cargo do destinatário, horizontalmente, no início da margem
Mista permanente (Constituição, art. 166, § 1º), sob pena esquerda:
de a Câmara dos Deputados realizar a tomada de contas
(Constituição, art. 51, II), em procedimento disciplinado no art. Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal,
215 do seu Regimento Interno.
- o texto, iniciando a 2 cm do vocativo;
- Mensagem de abertura da sessão legislativa: Ela deve - o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do texto, e
conter o plano de governo, exposição sobre a situação do País e horizontalmente fazendo coincidir seu final com a margem
solicitação de providências que julgar necessárias (Constituição, direita. A mensagem, como os demais atos assinados pelo
art. 84, XI). Presidente da República, não traz identificação de seu signatário.
O portador da mensagem é o Chefe da Casa Civil da
Presidência da República. Esta mensagem difere das demais Telegrama
porque vai encadernada e é distribuída a todos os congressistas
em forma de livro. Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar
os procedimentos burocráticos, passa a receber o título de
- Comunicação de sanção (com restituição de autógrafos): telegrama toda comunicação oficial expedida por meio de
Esta mensagem é dirigida aos membros do Congresso Nacional, telegrafia, telex etc. Por se tratar de forma de comunicação
encaminhada por Aviso ao Primeiro Secretário da Casa onde se dispendiosa aos cofres públicos e tecnologicamente superada,
originaram os autógrafos. Nela se informa o número que tomou a deve restringir-se o uso do telegrama apenas àquelas situações
lei e se restituem dois exemplares dos três autógrafos recebidos, que não seja possível o uso de correio eletrônico ou fax e que
nos quais o Presidente da República terá aposto o despacho de a urgência justifique sua utilização e, também em razão de seu
sanção. custo elevado, esta forma de comunicação deve pautar-se pela
concisão.
- Comunicação de veto: Dirigida ao Presidente do Senado Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e a
Federal (Constituição, art. 66, § 1º), a mensagem informa sobre estrutura dos formulários disponíveis nas agências dos Correios
a decisão de vetar, se o veto é parcial, quais as disposições e em seu sítio na Internet.
vetadas, e as razões do veto. Seu texto vai publicado na íntegra
no Diário Oficial da União, ao contrário das demais mensagens, Fax
cuja publicação se restringe à notícia do seu envio ao Poder
Legislativo. O fax (forma abreviada já consagrada de facsímile) é uma
forma de comunicação que está sendo menos usada devido ao
- Outras mensagens: Também são remetidas ao Legislativo desenvolvimento da Internet. É utilizado para a transmissão de
com regular frequência mensagens com: mensagens urgentes e para o envio antecipado de documentos,
- encaminhamento de atos internacionais que acarretam de cujo conhecimento há premência, quando não há condições
encargos ou compromissos gravosos (Constituição, art. 49, I); de envio do documento por meio eletrônico. Quando necessário
- pedido de estabelecimento de alíquolas aplicáveis o original, ele segue posteriormente pela via e na forma de praxe.
às operações e prestações interestaduais e de exportação Se necessário o arquivamento, deve-se fazê-lo com cópia
(Constituição, art. 155, § 2º, IV); xerox do fax e não com o próprio fax, cujo papel, em certos
- proposta de fixação de limites globais para o montante da modelos, se deteriora rapidamente.
dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI);

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APOSTILAS OPÇÃO
Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a Carta
estrutura que lhes são inerentes. É conveniente o envio,
juntamente com o documento principal, de folha de rosto, isto É a forma de correspondência emitida por particular,
é, de pequeno formulário com os dados de identificação da ou autoridade com objetivo particular, não se confundindo
mensagem a ser enviada. com o memorando (correspondência interna) ou o ofício
(correspondência externa), nos quais a autoridade que assina
Correio Eletrônico expressa uma opinião ou dá uma informação não sua, mas, sim,
do órgão pelo qual responde. Em grande parte dos casos da
O correio eletrônico (“email”), por seu baixo custo e correspondência enviada por deputados, deve-se usar a carta,
celeridade, transformou-se na principal forma de comunicação não o memorando ou ofício, por estar o parlamentar emitindo
para transmissão de documentos. parecer, opinião ou informação de sua responsabilidade, e não
Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é especificamente da Câmara dos Deputados. O parlamentar
sua flexibilidade. Assim, não interessa definir forma rígida para deverá assinar memorando ou ofício apenas como titular de
sua estrutura. Entretanto, deve-se evitar o uso de linguagem função oficial específica (presidente de comissão ou membro da
incompatível com uma comunicação oficial. Mesa, por exemplo). Estrutura:
O campo assunto do formulário de correio eletrônico
mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a organização - Local e data.
documental tanto do destinatário quanto do remetente. - Endereçamento, com forma de tratamento, destinatário,
Para os arquivos anexados à mensagem deve ser utilizado, cargo e endereço.
preferencialmente, o formato Rich Text. A mensagem que - Vocativo.
encaminha algum arquivo deve trazer informações mínimas - Texto.
sobre seu conteúdo. - Fecho.
Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de - Assinatura: nome e, quando necessário, função ou cargo.
confirmação de leitura. Caso não seja disponível, deve constar
da mensagem pedido de confirmação de recebimento. Se o gabinete usar cartas com frequência, poderá numerá-
Nos termos da legislação em vigor, para que a mensagem las. Nesse caso, a numeração poderá apoiar-se no padrão básico
de correio eletrônico tenha valor documental, isto é, para que de diagramação.
possa ser aceita como documento original, é necessário existir O fecho da carta segue, em geral, o padrão da correspondência
certificação digital que ateste a identidade do remetente, na oficial, mas outros fechos podem ser usados, a exemplo de
forma estabelecida em lei. “Cordialmente”, quando se deseja indicar relação de proximidade
ou igualdade de posição entre os correspondentes.
Apostila
Declaração
É o aditamento que se faz a um documento com o objetivo
de retificação, atualização, esclarecimento ou fixar vantagens, É o documento em que se informa, sob responsabilidade,
evitando-se assim a expedição de um novo título ou documento. algo sobre pessoa ou acontecimento. Estrutura:
Estrutura: - Título: DECLARAÇÃO, centralizado.
- Título: APOSTILA, centralizado. - Texto: exposição do fato ou situação declarada, com
- Texto: exposição sucinta da retificação, esclarecimento, finalidade, nome do interessado em destaque (em maiúsculas) e
atualização ou fixação da vantagem, com a menção, se for o caso, sua relação com a Câmara nos casos mais formais.
onde o documento foi publicado. - Local e data.
- Local e data. - Assinatura: nome da pessoa que declara e, no caso de
- Assinatura: nome e função ou cargo da autoridade que autoridade, função ou cargo.
constatou a necessidade de efetuar a apostila. A declaração documenta uma informação prestada por
Não deve receber numeração, sendo que, em caso de autoridade ou particular. No caso de autoridade, a comprovação
documento arquivado, a apostila deve ser feita abaixo dos textos do fato ou o conhecimento da situação declarada deve serem
ou no verso do documento. razão do cargo que ocupa ou da função que exerce.
Em caso de publicação do ato administrativo originário, Declarações que possuam características específicas podem
a apostila deve ser publicada com a menção expressa do ato, receber uma qualificação, a exemplo da “declaração funcional”.
número, dia, página e no mesmo meio de comunicação oficial no
qual o ato administrativo foi originalmente publicado, a fim de Despacho
que se preserve a data de validade.
É o pronunciamento de autoridade administrativa em
ATA petição que lhe é dirigida, ou ato relativo ao andamento do
processo. Pode ter caráter decisório ou apenas de expediente.
É o instrumento utilizado para o registro expositivo dos fatos Estrutura:
e deliberações ocorridos em uma reunião, sessão ou assembleia. - Nome do órgão principal e secundário.
Estrutura: - Número do processo.
- Título ATA. Em se tratando de atas elaboradas - Data.
sequencialmente, indicar o respectivo número da reunião ou - Texto.
sessão, em caixa alta. - Assinatura e função ou cargo da autoridade.
- Texto, incluindo: Preâmbulo registro da situação espacial O despacho pode constituir-se de uma palavra, de uma
e temporal e participantes; Registro dos assuntos abordados e expressão ou de um texto mais longo.
de suas decisões, com indicação das personalidades envolvidas,
se for o caso; Fecho termo de encerramento com indicação, Ordem de Serviço
se necessário, do redator, do horário de encerramento, de
convocação de nova reunião etc. É o instrumento que encerra orientações detalhadas e/ou
A ATA será assinada e/ou rubricada portodos os presentes pontuais para a execução de serviços por órgãos subordinados
à reunião ou apenas pelo presidente e relator, dependendo das da Administração. Estrutura:
exigências regimentais do órgão. - Título: ORDEM DE SERVIÇO, numeração e data.
A fim de se evitarem rasuras nas atas manuscritas, deve-se, - Preâmbulo e fundamentação: denominação da autoridade
em caso de erro, utilizar o termo “digo”, seguido da informação que expede o ato (em maiúsculas) e citação da legislação
correta a ser registrada. No caso de omissão de informações ou pertinente ou por força das prerrogativas do cargo, seguida da
de erros constatados após a redação, usa-se a expressão “Em palavra “resolve”.
tempo” ao final da ATA, com o registro das informações corretas.

Língua Portuguesa 68
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APOSTILAS OPÇÃO
- Texto: desenvolvimento do assunto, que pode ser dividido Quanto à elaboração de Relatório de Atividades, deve-se
em itens, incisos, alíneas etc. atentar para os seguintes procedimentos:
- Assinatura: nome da autoridade competente e indicação da - abster-se de transcrever a competência formal das unidades
função. administrativas já descritas nas normas internas;
A Ordem de Serviço se assemelha à Portaria, porém possui - relatar apenas as principais atividades do órgão;
caráter mais específico e detalhista. Objetiva, essencialmente, a - evitar o detalhamento excessivo das tarefas executadas
otimização e a racionalização de serviços. pelas unidades administrativas que lhe são subordinadas;
- priorizar a apresentação de dados agregados, grandes metas
Parecer realizadas e problemas abrangentes que foram solucionados;
- destacar propostas que não puderam ser concretizadas,
É a opinião fundamentada, emitida em nome pessoal ou de identificando as causas e indicando as prioridades para os
órgão administrativo, sobre tema que lhe haja sido submetido próximos anos;
para análise e competente pronunciamento. Visa fornecer - gerar um relatório final consolidado, limitado, se possível,
subsídios para tomada de decisão. Estrutura: ao máximo de dez páginas para o conjunto da Diretoria,
- Número de ordem (quando necessário). Departamento ou unidade equivalente.
- Número do processo de origem.
- Ementa (resumo do assunto). Requerimento (Petição)
- Texto, compreendendo: Histórico ou relatório (introdução);
Parecer (desenvolvimento com razões e justificativas); Fecho É o instrumento por meio do qual o interessado requer
opinativo (conclusão). a uma autoridade administrativa um direito do qual se julga
- Local e data. detentor. Estrutura:
- Assinatura, nome e função ou cargo do parecerista. - Vocativo, cargo ou função (e nome do destinatário), ou seja,
Além do Parecer Administrativo, acima conceituado, existe o da autoridade competente.
Parecer Legislativo, que é uma proposição, e, como tal, definido - Texto incluindo: Preâmbulo, contendo nome do requerente
no art. 126 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. (grafado em letras maiúsculas) e respectiva qualificação:
O desenvolvimento do parecer pode ser dividido em tantos nacionalidade, estado civil, profissão, documento de identidade,
itens (e estes intitulados) quantos bastem ao parecerista para idade (se maior de 60 anos, para fins de preferência na
o fim de melhor organizar o assunto, imprimindo-lhe clareza e tramitação do processo, segundo a Lei 10.741/03), e domicílio
didatismo. (caso o requerente seja servidor da Câmara dos Deputados,
precedendo à qualificação civil deve ser colocado o número
Portaria do registro funcional e a lotação); Exposição do pedido, de
preferência indicando os fundamentos legais do requerimento
É o ato administrativo pelo qual a autoridade estabelece e os elementos probatórios de natureza fática.
regras, baixa instruções para aplicação de leis ou trata da
organização e do funcionamento de serviços dentro de sua - Fecho: “Nestes termos, Pede deferimento”.
esfera de competência. Estrutura: - Local e data.
- Título: PORTARIA, numeração e data. - Assinatura e, se for o caso de servidor, função ou cargo.
- Ementa: síntese do assunto.
- Preâmbulo e fundamentação: denominação da autoridade Quando mais de uma pessoa fizer uma solicitação,
que expede o ato e citação da legislação pertinente, seguida da reivindicação ou manifestação, o documento utilizado será um
palavra “resolve”. abaixoassinado, com estrutura semelhante à do requerimento,
- Texto: desenvolvimento do assunto, que pode ser dividido devendo haver identificação das assinaturas.
em artigos, parágrafos, incisos, alíneas e itens.
- Assinatura: nome da autoridade competente e indicação do A Constituição Federal assegura a todos, independentemente
cargo. do pagamento de taxas, o direito de petição aos Poderes
Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso
Certas portarias contêm considerandos, com as razões que de poder (art. 51, XXXIV, “a”), sendo que o exercício desse direito
justificam o ato. Neste caso, a palavra “resolve” vem depois deles. se instrumentaliza por meio de requerimento. No que concerne
A ementa justifica-se em portarias de natureza normativa. especificamente aos servidores públicos, a lei que institui o
Em portarias de matéria rotineira, como nos casos de Regime único estabelece que o requerimento deve ser dirigido
nomeação e exoneração, por exemplo, suprime-se a ementa. à autoridade competente para decidi-lo e encaminhado por
intermédio daquela a que estiver imediatamente subordinado o
Relatório requerente (Lei nº 8.112/90, art. 105).

É o relato exposilivo, detalhado ou não, do funcionamento Protocolo


de uma instituição, do exercício de atividades ou acerca do
desenvolvimento de serviços específicos num determinado O  registro de protocolo (ou simplesmente “o  protocolo“)
período. Estrutura: é o livro (ou, mais atualmente, o suporte informático) em que
- Título RELATÓRIO ou RELATÓRIO DE... são transcritos progressivamente os documentos e os atos
- Texto registro em tópicos das principais atividades em entrada e em saída de um sujeito ou entidade (público ou
desenvolvidas, podendo ser indicados os resultados parciais e privado). Este registro, se obedecerem a normas legais, têm fé
totais, com destaque, se for o caso, para os aspectos positivos pública, ou seja, tem valor probatório em casos de controvérsia
e negativos do período abrangido. O cronograma de trabalho a jurídica.
ser desenvolvido, os quadros, os dados estatísticos e as tabelas O termo protocolo tem um significado bastante amplo,
poderão ser apresentados como anexos. identificando-se diretamente com o próprio procedimento. Por
- Local e data. extensão de sentido, “protocolo” significa também um  trâmite
- Assinatura e função ou cargo do(s) funcionário(s) a ser seguido para alcançar determinado objetivo (“seguir o
relator(es). protocolo”).
No caso de Relatório de Viagem, aconselha-se registrar A gestão do protocolo é normalmente confiada a uma
uma descrição sucinta da participação do servidor no evento repartição determinada, que recebe o material documentário
(seminário, curso, missão oficial e outras), indicando o período do sujeito que o produz em saída e em entrada e os anota num
e o trecho compreendido. Sempre que possível, o Relatório de registro (atualmente em programas informáticos), atruibuindo-
Viagem deverá ser elaborado com vistas ao aproveitamento lhes um número e também uma posição de arquivo de acordo
efetivo das informações tratadas no evento para os trabalhos com suas características.
legislativos e administrativos da Casa.

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APOSTILAS OPÇÃO
O registro tem quatro elementos necessários e obrigatórios: (E) O fecho deverá caracterizar-se pela polidez, como por
- Número progressivo. exemplo: Agradeço a V. Sª. a atenção dispensada.
- Data de recebimento ou de saída.
- Remetente ou destinatário. 05. Haveria coerência com as ideias do texto e respeitaria
- Regesto, ou seja, breve resumo do conteúdo da as normas de redação de documentos oficiais se o texto
correspondência. apresentado fosse incluído como parágrafo inicial em um ofício
Questões complementado pelo parágrafo final e os fechos apresentados
a seguir.
01. Analise:
1. Atendendo à solicitação contida no expediente acima Solicita-se, portanto, a divulgação desses dados junto aos
referido, vimos encaminhar a V. Sª. as informações referentes ao órgãos competentes.
andamento dos serviços sob responsabilidade deste setor.
2. Esclarecemos que estão sendo tomadas todas as medidas Atenciosamente,
necessárias para o cumprimento dos prazos estipulados e o
atingimento das metas estabelecidas. Pedro Santos
A redação do documento acima indica tratar-se Pedro Santos
(A) do encaminhamento de uma ata. Secretário do Conselho
(B) do início de um requerimento.
(C) de trecho do corpo de um ofício. Respostas
(D) da introdução de um relatório. 01-C / 02-B / 03-C / 04-E / 05-C (correta)
(E) do fecho de um memorando.
Coexistência das regras
02. A redação inteiramente apropriada e correta de um
documento oficial é: ortográficas atuais com o Novo
(A) Estamos encaminhando à Vossa Senhoria algumas Acordo Ortográfico.
reivindicações, e esperamos poder estar sendo recebidos em
vosso gabinete para discutir nossos problemas salariais.
(B) O texto ora aprovado em sessão extraordinária prevê a Novo Acordo Ortográfico
redistribuição de pessoal especializado em serviços gerais para
os departamentos que foram recentemente criados. Falar sobre o novo acordo ortográfico implica saber que em
(C) Estou encaminhando a presença de V. Sª. este jovem, termos históricos já se fizeram várias tentativas de unificação da
muito inteligente e esperto, que lhe vai resolver os problemas ortografia da língua portuguesa, sendo que a primeira data de
do sistema de informatização de seu gabinete. 1911, que culminou em Portugal na primeira grande reforma.
(D) Quando se procurou resolver os problemas de pessoal Depois existiram várias tentativas, sendo a mais importante a
aqui neste departamento, faltaram um número grande de de 1990 que é a que está por trás de todo o celeuma levantado
servidores para os andamentos do serviço. atualmente sobre esta questão.
(E) Do nosso ponto de vista pessoal, fica difícil vos informar Seguindo o disposto numa reunião da Comunidade dos
de quais providências vão ser tomadas para resolver essa Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada em Julho de
confusão que foi criado pelos manifestantes. 2004 em São Tomé e Príncipe, ficou decidido que para o novo
acordo ortográfico entrar em vigor, bastaria que três países o
03. A frase cuja redação está inteiramente correta e ratificassem. O Brasil em Outubro de 2004, Cabo Verde em Abril
apropriada para uma correspondência oficial é: de 2005 e São Tomé em Novembro de 2006 ratificaram o acordo,
(A) É com muito prazer que encaminho à V. Exª. Os estando assim cumprido o disposto nessa reunião da CPLP. Em
convites para a reunião de gala deste Conselho, em que se Portugal, este acordo ortográfico foi ratificado pelo governo a 6
fará homenagens a todos os ilustres membros dessa diretoria, de Março de 2008, faltando a aprovação no Parlamento ou pelo
importantíssima na execução dos nossos serviços. Presidente da República.
(B) Por determinação hoje de nosso Excelentíssimo Chefe do
Setor, nos dirigimos a todos os de vosso gabinete, para informar O novo Acordo Ortográfico entrou em vigor em Janeiro de
de que as medidas de austeridade recomendadas por V. Sa. já 2009, mas a implementação obedecerá ao período de transição de
está sendo tomadas, para evitar-se os atrasos dos prazos. 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2015, durante o qual
(C) Estamos encaminhando a V. Sa. os resultados a que coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a nova
chegaram nossos analistas sobre as condições de funcionamento norma estabelecida.
deste setor, bem como as providências a serem tomadas No Brasil 0,5% das palavras sofrerão modificações, em
para a consecução dos serviços e o cumprimento dos prazos Portugal e nos restantes dos países lusófonos, as mudanças
estipulados. afetarão cerca de 2.600 palavras, ou seja, 1,6% do vocabulário
(D) As ordens expressas a todos os funcionários é de que se total.
possa estar tomando as medidas mais do que importantes para
tornar nosso departamento mais eficiente, na agilização dos Mudanças
trâmites legais dos documentos que passam por aqui.
(E) Peço com todo o respeito a V. Exª., que tomeis Alfabeto
providências cabíveis para vir novos funcionários para esse Nova Regra: O alfabeto agora é formado por 26 letras
nosso setor, que se encontra em condições difíceis de agilizar Regra Antiga: O ‘k’, ‘w’ e ‘y’ não eram consideradas letras do
todos os documentos que precisamos enviar. nosso alfabeto.
Como Será: Essas letras serão usadas em siglas, símbolos,
04. A respeito dos padrões de redação de um ofício, é nomes próprios, palavras estrangeiras e seus derivados.
INCORRETO afirmar que: Exemplos: km, watt, Byron, byroniano
(A) Deve conter o número do expediente, seguido da sigla do
órgão que o expede. Trema
(B) Deve conter, no início, com alinhamento à direita, o local Nova Regra: Não existe mais o trema em língua portuguesa.
de onde é expedido e a data em que foi assinado. Apenas em casos de nomes próprios e seus derivados, por
(C) Deverá constar, resumidamente, o teor do assunto do exemplo: Müller, mülleriano
documento. Regra Antiga: agüentar, conseqüência, cinqüenta, qüinqüênio,
(D) O texto deve ser redigido em linguagem clara e direta, frqüência, freqüente, eloqüência, eloqüente, argüição, delinqüir,
respeitando-se a formalidade que deve haver nos expedientes pingüim, tranqüilo, lingüiça
oficiais. Como Será: aguentar, consequência, cinquenta, quinquênio,

Língua Portuguesa 70
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APOSTILAS OPÇÃO
frequência, frequente, eloquência, eloquente, arguição, delinquir, hiper-requintado, hiper-requisitado, inter-racial, inter-regional,
pinguim, tranquilo, linguiça. inter-relação, super-racional, super-realista, super-resistente
etc.
Acentuação Nova Regra: O hífen não é mais utilizado em palavras
Nova Regra: Ditongos abertos (ei, oi) não são mais formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal
acentuados em palavras paroxítonas + palavras iniciadas por outra vogal
Regra Antiga: assembléia, platéia, idéia, colméia, boléia, Regra Antiga: auto-afirmação, auto-ajuda, auto-
panacéia, Coréia, hebréia, bóia, paranóia, jibóia, apóio, heróico, aprendizagem, auto-escola, auto-estrada, auto-instrução,
paranóico contra-exemplo, contra-indicação, contra-ordem, extra-escolar,
Como Será: assembleia, plateia, ideia, colmeia, boleia, extra-oficial, infra-estrutura, intra-ocular, intra-uterino, neo-
panaceia, Coreia, hebreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, heroico, expressionista, neo-imperialista, semi-aberto, semi-árido, semi-
paranóico automático, semi-embriagado, semi-obscuridade, supra-ocular,
ultra-elevado
Observações: Como Será: autoafirmação, autoajuda, autoaprendizagem,
- nos ditongos abertos de palavras oxítonas e monossílabas o autoescola, autoestrada, autoinstrução, contraexemplo,
acento continua: herói, constrói, dói, anéis, papéis. contraindicação, contraordem, extraescolar, extraoficial,
- o acento no ditongo aberto ‘eu’ continua: chapéu, véu, céu, infraestrutura, intraocular, intrauterino, neoexpressionista,
ilhéu. neoimperialista, semiaberto, semiautomático, semiárido,
Nova Regra: O hiato ‘oo’ não é mais acentuado semiembriagado, semiobscuridade, supraocular, ultraelevado.
Regra Antiga: enjôo, vôo, corôo, perdôo, côo, môo, abençôo,
povôo Observações:
Como Será: enjoo, voo, coroo, perdoo, coo, moo, abençoo, - esta nova regra vai uniformizar algumas exceções já
povôo existentes antes: antiaéreo, antiamericano, socioeconômico etc.
- esta regra não se encaixa quando a palavra seguinte iniciar
Nova Regra: O hiato ‘ee’ não é mais acentuado por ‘h’: anti-herói, anti-higiênico, extra-humano, semi-herbáceo
Regra Antiga: crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, relêem, etc.
revêem
Como Será: creem, deem, leem, veem, descreem, releem, Nova Regra: Agora utiliza-se hífen quando a palavra é
revêem formada por um prefixo (ou falso prefixo) terminado em vogal +
palavra iniciada pela mesma vogal.
Nova Regra: Não existe mais o acento diferencial em palavras Regra Antiga: antiibérico, antiinflamatório, antiinflacionário,
homógrafas antiimperialista, arquiinimigo, arquiirmandade, microondas,
Regra Antiga: pára (verbo), péla (substantivo e verbo), microônibus, microorgânico
pêlo (substantivo), pêra (substantivo), péra (substantivo), pólo Como Será: anti-ibérico, anti-inflamatório, anti-inflacionário,
(substantivo) anti-imperialista, arqui-inimigo, arqui-irmandade, micro-ondas,
Como Será: para (verbo), pela (substantivo e verbo), pelo micro-ônibus, micro-orgânico
(substantivo), pera (substantivo), pera (substantivo), polo
(substantivo) Observações:
- esta regra foi alterada por conta da regra anterior: prefixo
Observação: termina com vogal + palavra inicia com vogal diferente = não
- o acento diferencial ainda permanece no verbo ‘poder’ (3ª tem hífen; prefixo termina com vogal + palavra inicia com
pessoa do Pretérito Perfeito do Indicativo - ‘pôde’) e no verbo mesma vogal = com hífen
‘pôr’ para diferenciar da preposição ‘por’ - uma exceção é o prefixo ‘co’. Mesmo se a outra palavra
Nova Regra: Não se acentua mais a letra ‘u’ nas formas inicia-se com a vogal ‘o’, não utliza-se hífen.
verbais rizotônicas, quando precedido de ‘g’ ou ‘q’ e antes de ‘e’
ou ‘i’ (gue, que, gui, qui) Nova Regra: Não usamos mais hífen em compostos que, pelo
Regra Antiga: argúi, apazigúe, averigúe, enxagúe, uso, perdeu-se a noção de composição
enxagúemos, obliqúe Regra Antiga: manda-chuva, pára-quedas, pára-quedista,
Como Será: argui, apazigue,averigue, enxague, ensaguemos, pára-lama, pára-brisa, pára-choque, pára-vento
obliqúe Como Será: mandachuva, paraquedas, paraquedista,
Nova Regra: Não se acentua mais ‘i’ e ‘u’ tônicos em paralama, parabrisa, parachoque, paravento
paroxítonas quando precedidos de ditongo Observação:
Regra Antiga: baiúca, boiúna, cheiínho, saiínha, feiúra, feiúme - o uso do hífen permanece em palavras compostas que não
Como Será: baiuca, boiuna, cheiinho, saiinha, feiura, feiume contêm elemento de ligação e constiui unidade sintagmática e
semântica, mantendo o acento próprio, bem como naquelas que
Hífen designam espécies botânicas e zoológicas: ano-luz, azul-escuro,
Nova Regra: O hífen não é mais utilizado em palavras médico-cirurgião, conta-gotas, guarda-chuva, segunda-feira,
formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal tenente-coronel, beija-flor, couve-flor, erva-doce, mal-me-quer,
+ palavras iniciadas por ‘r’ ou ‘s’, sendo que essas devem ser bem-te-vi etc.
dobradas
Regra Antiga: ante-sala, ante-sacristia, auto-retrato, anti- O uso do hífen permanece
social, anti-rugas, arqui-romântico, arqui-rivalidae, auto- - Em palavras formadas por prefixos ‘ex’, ‘vice’, ‘soto’: ex-
regulamentação, auto-sugestão, contra-senso, contra-regra, marido, vice-presidente, soto-mestre
contra-senha, extra-regimento, extra-sístole, extra-seco, infra- - Em palavras formadas por prefixos ‘circum’ e ‘pan’ +
som, ultra-sonografia, semi-real, semi-sintético, supra-renal, palavras iniciadas em vogal, M ou N: pan-americano, circum-
supra-sensível navegação
Como Será: antessala, antessacristia, autorretrato, - Em palavras formadas com prefixos ‘pré’, ‘pró’ e ‘pós’
antissocial, antirrugas, arquirromântico, arquirrivalidade, + palavras que tem significado próprio: pré-natal, pró-
autorregulamentação, contrassenha, extrarregimento, desarmamento, pós-graduação
extrassístole, extrasseco, infrassom, inrarrenal, ultrarromântico, - Em palavras formadas pelas palavras ‘além’, ‘aquém’,
ultrassonografia, suprarrenal, suprassensível ‘recém’, ‘sem’: além-mar, além-fronteiras, aquém-oceano, recém-
nascidos, recém-casados, sem-número, sem-teto
Observação:
- em prefixos terminados por ‘r’, permanece o hífen se a Não existe mais hífen
palavra seguinte for iniciada pela mesma letra: hiper-realista, - Em locuções de qualquer tipo (substantivas, adjetivas,

Língua Portuguesa 71
Apostila Digital Licenciada para MICHAEL ERMESON ARAUJO DA SILVA - profemichael@hotmail.com (Proibida a Revenda)
APOSTILAS OPÇÃO
pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais): grão imastigável, de quebrar dente. Vale dizer, contudo, que essa
cão de guarda, fim de semana, café com leite, pão de mel, sala de reescrita não deve se dar somente no âmbito de corrigir aqueles
jantar, cartão de visita, cor de vinho, à vontade, abaixo de, acerca possíveis erros... digamos assim... gramaticais. Importantes eles?
de etc. Sim, sem dúvida alguma, mas não são tudo. Cumpre afirmar que
Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais- a reescrita deve ir além, haja vista que nos permite reconhecer
que-perfeito, pé-de-meia, ao-deus-dará, à queima-roupa. aquelas “falhas” que certamente seriam reconhecidas por
outra pessoa, sobretudo em se tratando do “teor”, da “essência”
Consoantes não pronunciadas. Fora do Brasil foram discursiva.
eliminadas as consoantes não pronunciadas: Tendo em vista que a coesão representa um dos principais
- ação, didático, ótimo, batismo em vez de acção, didáctico, aspectos na produção textual, muitas vezes, mediante a leitura
óptimo, baptismo daquilo que escrevemos, constatamos que os parágrafos não se
encontram assim tão harmoniosamente ligados como deveriam.
Grafia Dupla: de forma a contemplar as diferenças fonéticas Às vezes, uma conjunção ali, um advérbio acolá e um pronome
existentes, aceitam-se duplas grafias em algumas palavras: adiante não se encontram bem distribuídos. Outras vezes,
António/Antônio, facto/fato, secção/seção. percebemos uma quebra de simetria (revelada pela falta de
paralelismo), em que uma ideia poderia ter sido expressa de
outra forma.
Assim, de modo a constatar como esse aspecto assimétrico
Reescritura de frases.
se manifesta na prática, analise o seguinte enunciado:
A leitura é importante, necessária, útil e traz benefícios a
todo emissor que deseja aprimorar ainda mais a competência
Reescritura de Frases discursiva.
Inferimos que com o uso de “traz benefícios” houve uma
Antes de discorrermos acerca de um assunto tão importante, quebra de simetria dos adjetivos explicitados (importante,
convidamos você, caro (a) usuário (a), a se enlevar mediante as necessária, útil...). Não que isso seja considerado uma falha de
palavras do grandioso mestre de nossas letras, João Cabral de grande extensão, mas a ideia ficaria mais clara se outro adjetivo
Melo Neto, que, por meio de uma metalinguagem, cumpre bem tivesse sido utilizado, justamente para acompanhar o raciocínio
seu trabalho de lidar com as palavras e deixar claro para nós, antes firmado, ou seja:
leitores, quão grandioso e magnífico é o exercício da escrita. A leitura é importante, necessária, útil e benéfica a todo
Voltemo-nos a elas, portanto: emissor que deseja aprimorar ainda mais a competência
discursiva.
Catar feijão Outro aspecto, não menos importante, materializa-se pela
“abundância” de orações intercaladas, as quais corroboram
1. para a extensão da ideia, fazendo com que o interlocutor perca
Catar feijão se limita com escrever: o “fio da meada” e passe a não entender mais o que se afirma
joga-se os grãos na água do alguidar no início da oração. Dessa forma, para que fique um pouco mais
e as palavras na folha de papel; claro, analisemos o parágrafo que segue, revelando ser um bom
e depois, joga-se fora o que boiar. exemplo da ocorrência em questão:
Certo, toda palavra boiará no papel, A leitura, esse importante instrumento – o qual o torna
água congelada, por chumbo seu verbo: mais culto, mais apto a expressar seus pensamentos –, pois
pois para catar esse feijão, soprar nele, amplia significativamente seu vocabulário, contribui para o
e jogar fora o leve e oco, palha e eco. aperfeiçoamento da escrita.
Tudo aquilo que se afirma acerca da eficácia da leitura, ainda
2. que relevante, tornou extensa e cansativa a ideia abordada.
Ora, nesse catar feijão entra um risco: Dessa forma, retificando a oração, poderíamos obter como
o de que entre os grãos pesados entre essencial somente estes dizeres, os quais seguem expressos:
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente. A leitura contribui para o aperfeiçoamento da escrita.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo: Mediante os pressupostos aqui elencados, acreditamos ter
obstrui a leitura fluviante, flutual, contribuído de forma significativa para que você aprimore ainda
açula a atenção, isca-a como o risco. mais suas habilidades no que tange à construção textual. E que,
por meio da reescrita de suas ideias, possa ser hábil em jogar
Poema intitulado “Catar feijão”, parte constituinte do livro fora o leve o oco, assim mesmo como ressalta nosso grande
“Educação pela pedra”, publicado em 1965. mestre, e reelabore seu discurso pautando-se na concretude das
palavras, tornando-as claras, precisas, objetivas.
A comparação ora estabelecida parece casar perfeitamente
diante daquele momento em que as ideias são elencadas. No Fonte: http://portugues.uol.com.br/redacao/reescrita-
entanto, é preciso ser hábil para escolher palavra por palavra, textual.html
de modo a fazer com que o discurso (as orações, os períodos, os
parágrafos) torne-se claro e preciso, atendendo às expectativas ATITUDES NÃO RECOMENDADAS
de nosso interlocutor. Dessa forma, como aqueles grãos que
boiam fora, desnecessários por sinal, algumas palavras também
parecem não se encaixar, pois por um motivo ou outro acabam EXPRESSÕES USO RECOMENDADO
escapando aos nossos olhos. CONDENÁVEIS
O porquê de escaparem? É simples, haja vista que nesse A nível de / Ao nível Em nível, No nível
momento essa habilidade antes mencionada entra em ação e, em
meio a esse ínterim, conhecimentos de toda ordem parecem se Face a / Frente a Ante, Diante, Em face de, Em
relacionar, sejam eles de ordem ortográfica, semântica, sintática vista de, Perante
e, sobretudo, aqueles indispensáveis a todo bom redator: o Onde (Quando não Em que, Na qual, Nas quais, No
conhecimento de mundo. exprime lugar) qual, Nos quais
Dada essa manifestação, é impossível não abordar um
procedimento, tão útil quanto necessário: a reescrita textual. Sob um ponto de vista De um ponto de vista
Acredite que, por meio dele, você, enquanto emissor, encontrará Sob um prisma Por (ou através de) um prisma
os grãos pesados entre um grão qualquer, pedra ou indigesto, um

Língua Portuguesa 72
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APOSTILAS OPÇÃO
- “Ainda brincava de boneca quando conheci Davi, piloto de
Em função de Em virtude de, Por causa de,
cart, moreno, 20 anos, com olhos cor de mel. “Tudo começou na-
Em consequência de, Por, Em
quele baile de quinze anos”, “... é aos dezoito anos que se começa
razão de
a procurar o caminho do amanhã e encontrar as perspectiva que
nos acompanham para sempre na estrada da vida”.
Expressões não recomendadas Você pode ter conhecimento do vocabulário e das regras
- a partir de (a não ser com valor temporal). gramaticais e, assim, construir um texto sem erros. Entretanto,
Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se se você reproduz sem nenhuma crítica ou reflexão expressões
de... gastas, vulgarizadas pelo uso contínuo. A boa qualidade do texto
fica comprometida.
- através de (para exprimir “meio” ou instrumento). - Tema: Para você, as experiências genéticas de clonagem
Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, põem em xeque todos os conceitos humanos sobre Deus e a
segundo... vida? “Bem a clonagem não é tudo, mas na vida tudo tem o seu
valor e os homens a todo momento necessitam de descobrir todos
- devido a. os mistérios da vida que nos cerca a todo instante”.
Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa É de extrema importância seguir o que foi proposto no tema.
de. Antes de começar o texto leia atentamente todos os elementos
que o examinador apresentou. Esquematize as ideias e perceba
- dito. se não há falta de correspondência entre o tema proposto e o
Opção: citado, mencionado. texto criado.

- enquanto. - “Uma biópsia do tumor retirado do fígado do meu primo (...)


Opção: ao passo que. mostrou que ele não era maligno”.
Esta frase está ambígua. Não se sabe se o pronome ele refere-
- inclusive (a não ser quando significa incluindo-se). -se ao fígado ou ao primo. Para se evitar a ambiguidade, deve-se
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. observar se a relação entre cada palavra do texto está correta.

- no sentido de, com vistas a. - “Ele me tratava como uma criança, mas eu era apenas uma
Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista. criança”.
Problema com o uso do conectivo “mas”. O conectivo mas indi-
- pois (no início da oração). ca uma circunstância de oposição, de ideia contrária a. Portanto,
Opção: já que, porque, uma vez que, visto que. a relação adversativa introduzida pelo “mas” no fragmento aci-
ma produz uma ideia absurda.
- principalmente.
Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em - “Entretanto, como já diziam os sábios: depois da tempestade
particular. sempre vem a bonança. Após longo suplício, meu coração apazi-
guava as tormentas e a sensatez me mostrava que só estaríamos
Expressões que demandam atenção separadas carnalmente”.
- acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se Não utilize provérbios ou ditos populares. Eles empobrecem
- aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, a redação e fazem parecer que o autor não tem criatividade ao
aceito lançar mão de formas já gastas pelo uso frequente.
- acendido, aceso (formas similares) – idem
- à custa de – e não às custas de - “Todos os deputados são corruptos”.
- à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, Evite pensamentos radicais. É recomendável não generali-
conforme zar e evitar, assim, posições extremistas.
- na medida em que – tendo em vista que, uma vez que
- a meu ver – e não ao meu ver - “Bem, acho que - você sabe - não é fácil dizer essas coisas.
- a ponto de – e não ao ponto de Olhe, acho que ele não vai concordar com a decisão que você to-
- a posteriori, a priori – não tem valor temporal mou, quero dizer, os fatos levam você a isso, mas você sabe - todos
- em termos de – modismo; evitar sabem - ele pensa diferente. É bom a gente pensar como vai fazer
- enquanto que – o que é redundância para, enfim, para ele entender a decisão”.
- entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a O ato de escrever é diferente do ato de falar. O texto escrito
- implicar em – a regência é direta (sem em) não deve apresentar marcas de oralidade.
- ir de encontro a – chocar-se com
- ir ao encontro de – concordar com - “Mal cheiro”, “mau-humorado”.
- se não, senão – quando se pode substituir por caso não, Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom
separado; quando não se pode, junto cheiro), mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau hu-
- todo mundo – todos mor, mal-intencionado, mau jeito, mal-estar.
- todo o mundo – o mundo inteiro
- não pagamento = hífen somente quando o segundo termo - “Fazem” cinco anos.
for substantivo Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. /
- este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.
presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando)
- esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte - “Houveram” muitos acidentes.
(tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do Haver, como existir, também é invariável: Houve muitos
presente, ou distante ao já mencionado e a ênfase). acidentes. / Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos
iguais.
Erros Comuns
- Para “mim” fazer.
- “Hoje ao receber alguns presentes no qual completo vinte Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fa-
anos tenho muitas novidades para contar”. zer, para eu dizer, para eu trazer.
Uso inadequado do pronome relativo. Ele provoca falta de
coesão, pois não consegue perceber a que antecedente ele se re- - Entre “eu” e você.
fere, portanto nada conecta e produz relação absurda. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: Entre mim e você. /
Entre eles e ti.

Língua Portuguesa 73
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APOSTILAS OPÇÃO
- “Há” dez anos “atrás”. Veja outras confusões desse tipo: O “fuzil” (fusível) queimou.
Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos / Casa “germinada” (geminada), “ciclo” (círculo) vicioso, “cabe-
ou dez anos atrás. çário” (cabeçalho).

- “Entrar dentro”. - Não sabiam «aonde» ele estava.


Problema de redundância. O certo seria: entrar em. O certo: Não sabiam onde ele estava.
Veja outras redundâncias: Sair fora ou para fora, elo de liga- Aonde se usa com verbos de movimento, apenas: Não sei
ção, monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do aonde ele quer chegar. / Aonde vamos?
falecido.
- “Obrigado”, disse a moça.
- Vai assistir “o” jogo hoje. Obrigado concorda com a pessoa: “Obrigada”, disse a moça. /
Assistir como presenciar exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, Obrigado pela atenção. / Muito obrigados por tudo.
à sessão.
Outros verbos com a: A medida não agradou (desagradou) - Ela era “meia” louca.
à população. / Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio
Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à amiga.
carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes.
- “Fica” você comigo.
- Preferia ir “do que” ficar. Fica é imperativo do pronome tu. Para a 3.ª pessoa, o certo
Prefere-se sempre uma coisa a outra: Preferia ir a ficar. É é fique: Fique você comigo. / Venha pra Caixa você também. /
preferível segue a mesma norma: É preferível lutar a morrer Chegue aqui.
sem glória.
- A questão não tem nada «haver» com você.
- Não há regra sem “excessão”. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver.
O certo é exceção. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você.
Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma
correta: “paralizar” (paralisar), “beneficiente” (beneficente), - Vou “emprestar” dele.
“xuxu” (chuchu), “previlégio” (privilégio), “vultuoso” (vultoso), Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: Vou pegar
“cincoenta” (cinquenta), “zuar” (zoar), “frustado” (frustrado), o livro emprestado. Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu
“calcáreo” (calcário), “advinhar” (adivinhar), “benvindo” (bem- irmão.
-vindo), “ascenção” (ascensão), “pixar” (pichar), “impecilho” Repare nesta concordância: Pediu emprestadas duas malas.
(empecilho), “envólucro” (invólucro).
- Ele foi um dos que “chegou” antes.
- Comprei “ele” para você. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que
Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. As- chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um
sim: Comprei-o para você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos dos que sempre vibravam com a vitória.
entrar, viu-a, mandou-me.
- “Cerca de 18” pessoas o saudaram. Cerca de indica arredon-
- “Aluga-se” casas. damento e não pode aparecer com números exatos: Cerca de 20
O verbo concorda com o sujeito: Alugam-se casas. / Fazem- pessoas o saudaram.
-se consertos. / É assim que se evitam acidentes. / Compram-se
terrenos. / Procuram-se empregados. - Tinha “chego” atrasado.
“Chego” não existe. O certo: Tinha chegado atrasado.
- Chegou “em” São Paulo.
Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a São Pau- - Queria namorar “com” o colega.
lo. / Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo. O com não existe: Queria namorar o colega.

- Todos somos “cidadões”. - O processo deu entrada “junto ao” STF.


O plural de cidadão é cidadãos. Veja outros: caracteres (de Processo dá entrada no STF
caráter), juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres.
- As pessoas “esperavam-o”.
- A última “seção” de cinema. Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os
Seção significa divisão, repartição, e sessão equivale a tempo e as tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no.
de uma reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, se- / Dão-nos, convidam-na, põe-nos, impõem-nos.
ção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de pancadas, ses-
são do Congresso. - Vocês “fariam-lhe” um favor?
Não se usa pronome átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) de-
- Vendeu “uma” grama de ouro. pois de futuro do presente, futuro do pretérito (antigo condicio-
Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro, vitami- nal) ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um
na C de dois gramas. favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca “imporá-
-se”). / Os amigos nos darão (e não “darão-nos”) um presente. /
- “Porisso”. Tendo-me formado (e nunca tendo “formado-me”).
Duas palavras, por isso, como de repente e a partir de
- Chegou “a” duas horas e partirá daqui “há” cinco minutos.
- Não viu “qualquer” risco. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime dis-
Deve-se usar “nenhum”, e não “qualquer. tância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Che-
Não viu nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / gou há (faz) duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco
Nunca promoveu nenhuma confusão. minutos. / O atirador estava a (distância) pouco menos de 12
metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias.
- A feira “inicia” amanhã.
Alguma coisa se inicia, se inaugura: A feira inicia-se (inaugu- - Estávamos “em” quatro à mesa.
ra-se) amanhã. O “em” não existe: Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis.
/ Ficamos cinco na sala.
- O peixe tem muito “espinho”.
Peixe tem espinha. - Sentou “na” mesa para comer.

Língua Portuguesa 74
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APOSTILAS OPÇÃO
Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o cer- - O homem “possue” muitos bens.
to: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, O certo: O homem possui muitos bens. Verbos em uir só têm
ao computador. a terminação ui: Inclui, atribui, polui. Verbos em uar é que admi-
- Ficou contente “por causa que” ninguém se feriu. tem ue: Continue, recue, atue, atenue.
A locução não existe. Use porque: Ficou contente porque nin-
guém se feriu. - A tese “onde”.
Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. /
- O time empatou “em” 2 a 2. Veja o jardim onde as crianças brincam. Nos demais casos, use
A preposição é “por”: O time empatou por 2 a 2. Repare que em que: A tese em que ele defende essa ideia. / O livro em que...
ele ganha por e perde por. Da mesma forma: empate por. / A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que...

- Não queria que “receiassem” a sua companhia. - Já “foi comunicado” da decisão.


O i não existe: Não queria que receassem a sua companhia. Uma decisão é comunicada, mas ninguém “é comunicado”
Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só exis- de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado)
te i quando o acento cai no e que precede a terminação ear: re- da decisão. Outra forma errada: A diretoria “comunicou” os em-
ceiem, passeias, enfeiam). pregados da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a
decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos empre-
- Eles “tem” razão. gados.
No plural, têm é com acento. Tem é a forma do singular. O
mesmo ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; - A modelo “pousou” o dia todo.
ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante,
etc.
- Acordos “políticos-partidários”. Nos adjetivos compostos,
só o último elemento varia: acordos político-partidários. Ou- - Espero que “viagem” hoje.
tros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, medidas econômico- Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma ver-
-financeiras, partidos social-democratas. bal é viajem (de viajar).
Evite também “comprimentar” alguém: de cumprimento
- Andou por “todo” país. (saudação), só pode resultar cumprimentar. Comprimento é ex-
Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país tensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concreti-
(pelo país inteiro). / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi zado).
demitida.
Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada - O pai “sequer” foi avisado.
homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi
avisado. / Partiu sem sequer nos avisar.
- “Todos” amigos o elogiavam.
No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era - O fato passou “desapercebido”.
difícil apontar todas as contradições do texto. Na verdade, o fato passou despercebido, não foi notado. De-
sapercebido significa desprevenido.
- Ela “mesmo” arrumou a sala.
“Mesmo” é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala. / - “Haja visto” seu empenho...
As vítimas mesmas recorreram à polícia.

- Chamei-o e “o mesmo” não atendeu. A expressão é “haja vista” e não varia: Haja vista seu empe-
Não se pode empregar o mesmo no lugar de pronome ou nho. / Haja vista seus esforços. / Haja vista suas críticas.
substantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários pú-
blicos reuniram-se hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos - A moça “que ele gosta”.
servidores (e não “dos mesmos”). Quem gosta, gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta

- Vou sair “essa” noite. - É hora “dele” chegar.


É este que designa o tempo no qual se está o objeto próximo:
Esta noite, esta semana (a semana em que se está), este dia, este Não se deve fazer a contração da preposição com artigo ou
jornal (o jornal que estou lendo), este século (o século 20). pronome, nos casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar.
/ Apesar de o amigo tê-lo convidado. / Depois de esses fatos te-
- A temperatura chegou a 0 “graus”. Zero indica singular sem- rem ocorrido.
pre: Zero grau, zero-quilômetro, zero hora.
- A festa começa às 8 “hrs.”.
- Comeu frango “ao invés de” peixe.
Em vez de indica substituição: Comeu frango em vez de pei- As abreviaturas do sistema métrico decimal não têm plural
xe. nem ponto. Assim: 8 h, 2 km (e não “kms.”), 5 m, 10 kg.
Ao invés de significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar,
saiu. - “Dado” os índices das pesquisas...
A concordância é normal: Dados os índices das pesquisas... /
- Se eu “ver” você por aí... Dado o resultado... / Dadas as suas ideias...
O certo é: Se eu vir, revir, previr. Da mesma forma: Se eu vier
(de vir); se eu tiver (de ter); se ele puser (de pôr); se ele fizer (de - Ficou “sobre” a mira do assaltante.
fazer); se nós dissermos (de dizer). Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltan-
te. / Escondeu-se sob a cama.
- Evite que a bomba “expluda”. Explodir só tem as pessoas em
que depois do “d” vêm “e” e “i”: Explode, explodiram, etc. Portan- Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: Estava sobre
to, não escreva nem fale “exploda” ou “expluda”, o telhado. / Falou sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o
piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém traz
- Disse o que “quiz”. alguma coisa e alguém vai para trás.
Não existe z, mas apenas s, nas pessoas de querer e pôr: Quis,
quisesse, quiseram, quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, - “Ao meu ver”. Não existe artigo nessas expressões: A meu
puséssemos. ver, a seu ver, a nosso ver.

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APOSTILAS OPÇÃO
espertalhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos
atemorizados, que se deixam conduzir sem questionar.
Função social da linguagem. Emprega-se a expressão função conativa da linguagem
quando esta é usada para interferir no comportamento das
pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma sugestão. A
Funções da Linguagem palavra conativo é proveniente de um verbo latino (conari) que
significa “esforçar-se” (para obter algo).
Quando se pergunta a alguém para que serve a linguagem,
a resposta mais comum é que ela serve para comunicar. Isso A linguagem serve para expressar a subjetividade: Função
está correto. No entanto, comunicar não é apenas transmitir Emotiva.
informações. É também exprimir emoções, dar ordens, falar
apenas para não haver silêncio. Para que serve a linguagem? “Eu fico possesso com isso!”

A linguagem serve para informar: Função Referencial. Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação
com alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetivamos
“Estados Unidos invadem o Iraque” e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções.
Exprimimos a revolta e a alegria, sussurramos palavras de
Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos sobre um amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, desdém,
acontecimento do mundo. desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas vezes, falamos para
Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na memória, exprimir poder ou para afirmarmo-nos socialmente. Durante o
transmitimos esses conhecimentos a outras pessoas, ficamos governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, ouvíamos
sabendo de experiências bem-sucedidas, somos prevenidos certos políticos dizerem “A intenção do Fernando é levar o
contra as tentativas mal sucedidas de fazer alguma coisa. Graças país à prosperidade” ou “O Fernando tem mudado o país”. Essa
à linguagem, um ser humano recebe de outro conhecimentos, maneira informal de se referirem ao presidente era, na verdade,
aperfeiçoa-os e transmite-os. uma maneira de insinuarem intimidade com ele e, portanto,
Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender de exprimirem a importância que lhes seria atribuída pela
ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria proximidade com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas
língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como aprendemos que fizemos para afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar
desde as mais banais informações do dia a dia até as teorias nossa valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual
científicas, as expressões artísticas e os sistemas filosóficos mais ou nossa competência na conquista amorosa.
avançados. Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz
A função informativa da linguagem tem importância central que empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não
na vida das pessoas, consideradas individualmente ou como raro inconscientemente.
grupo social. Para cada indivíduo, ela permite conhecer o mundo; Emprega-se a expressão função emotiva para designar a
para o grupo social, possibilita o acúmulo de conhecimentos utilização da linguagem para a manifestação do enunciador, isto
e a transferência de experiências. Por meio dessa função, a é, daquele que fala.
linguagem modela o intelecto.
É a função informativa que permite a realização do trabalho A linguagem serve para criar e manter laços sociais: Função
coletivo. Operar bem essa função da linguagem possibilita que Fática.
cada indivíduo continue sempre a aprender.
A função informativa costuma ser chamada também de __Que calorão, hein?
função referencial, pois seu principal propósito é fazer com __Também, tem chovido tão pouco.
que as palavras revelem da maneira mais clara possível as coisas __Acho que este ano tem feito mais calor do que nos outros.
ou os eventos a que fazem referência. __Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor.

A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram num
Função Conativa. elevador e devem manter uma conversa nos poucos instantes
em que estão juntas. Falam para nada dizer, apenas porque o
“Vem pra Caixa você também.” silêncio poderia ser constrangedor ou parecer hostil.
Quando estamos num grupo, numa festa, não podemos
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros. Nessas
aumentar o número de correntistas da Caixa Econômica Federal. ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso, quando não se
Para persuadir o público alvo da propaganda a adotar esse tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se histórias que todos
comportamento, formulou-se um convite com uma linguagem conhecem, contam-se anedotas velhas. A linguagem, nesse caso,
bastante coloquial, usando, por exemplo, a forma vem, de não tem nenhuma função que não seja manter os laços sociais.
segunda pessoa do imperativo, em lugar de venha, forma de Quando encontramos alguém e lhe perguntamos “Tudo bem?”,
terceira pessoa prescrita pela norma culta quando se usa você. em geral não queremos, de fato, saber se nosso interlocutor está
Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer bem, se está doente, se está com problemas. A fórmula é uma
determinadas coisas, a crer em determinadas ideias, a sentir maneira de estabelecer um vínculo social.
determinadas emoções, a ter determinados estados de alma Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja entre
(amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode-se dizer que alunos de uma escola, entre torcedores de um time de futebol
ela modela atitudes, convicções, sentimentos, emoções, paixões. ou entre os habitantes de um país. Não importa que as pessoas
Quem ouve desavisada e reiteradamente a palavra “negro”, não entendam bem o significado da letra do Hino Nacional, pois
pronunciada em tom desdenhoso, aprende a ter sentimentos ele não tem função informativa: o importante é que, ao cantá-lo,
racistas; se a todo momento nos dizem, num tom pejorativo, sentimo-nos participantes da comunidade de brasileiros.
“Isso é coisa de mulher”, aprendemos os preconceitos contra a Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão função
mulher. fática para indicar a utilização da linguagem para estabelecer ou
Não se interfere no comportamento das pessoas apenas manter aberta a comunicação entre um falante e seu interlocutor.
com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influenciam
de maneira bastante sutil, com tentações e seduções, como A linguagem serve para falar sobre a própria linguagem:
os anúncios publicitários que nos dizem como seremos bem Função Metalinguística.
sucedidos, atraentes e charmosos se usarmos determinadas
marcas, se consumirmos certos produtos. Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um
Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos, substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; “Estou usando
que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto o termo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegante usar

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APOSTILAS OPÇÃO
palavrões”, não estamos falando de acontecimentos do mundo, Quando se usam recursos da própria língua para acrescentar
mas estamos tecendo comentários sobre a própria linguagem. É sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se que estamos
o que chama função metalinguística. A atividade metalinguística usando a linguagem em sua função poética.
é inseparável da fala. Falamos sobre o mundo exterior e o
mundo interior e ao mesmo tempo, fazemos comentários sobre Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-
a nossa fala e a dos outros. Quando afirmamos como diz o se necessário o estudo dos elementos da comunicação.
outro, estamos comentando o que declaramos: é um modo de Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era desenvolvido
esclarecer que não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial de maneira “sistematizada” (alguém pergunta - alguém espera
como a que estamos enunciando; inversamente, podemos usar ouvir a pergunta, daí responde, enquanto outro escuta em
a metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo de silêncio, etc). Exemplo:
dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Parodiando o
padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica, vou dizer que
“peixes se pescam, homens é que se não podem pescar”. ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
Emissor emite, codifica a mensagem
A linguagem serve para criar outros universos.
Receptor recebe, decodifica a mensagem
A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala também Mensagem conteúdo transmitido pelo emissor
do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos mundos,
outras realidades. Essa é a grande função da arte: mostrar que conjunto de signos usado na transmissão e
Código
outros modos de ser são possíveis, que outros universos podem recepção da mensagem
existir. O filme de Woody Allen “A rosa púrpura do Cairo” (1985) Referente contexto relacionado a emissor e receptor
mostra isso de maneira bem expressiva. Nele, conta-se a história
de uma mulher que, para consolar-se do cotidiano sofrido e Canal meio pelo qual circula a mensagem
dos maus-tratos infligidos pelo marido, refugia-se no cinema, Porém, com recentes estudos linguísticos, tal teoria sofreu
assistindo inúmeras vezes a um filme de amor em que a vida certa modificação, pois, chegou-se a conclusão de que ao se
é glamorosa, e o galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai tratar da parole (sentido individual da língua), entende-se que
da tela e ambos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa é um veículo democrático (observe a função fática), assim,
outra realidade, os homens são gentis, a vida não é monótona, o admite-se um novo formato de locução, ou, interlocução (diálogo
amor nunca diminui e assim por diante. interativo):
A linguagem serve como fonte de prazer: Função Poética.

Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido e os sons Locutor quem fala (e responde)
são formas de tornar a linguagem um lugar de prazer. Divertimo- Locutário quem ouve e responde
nos com eles. Manipulamos as palavras para delas extrairmos
satisfação. Interlocução diálogo
Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”, diz
“Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a frase shakespeariana As respostas, dos “interlocutores” podem ser gestuais, faciais
“To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emílio de Menezes, etc. por isso a mudança (aprimoração) na teoria.
quando soube que uma mulher muito gorda se sentara no banco As atitudes e reações dos comunicantes são também
de um ônibus e este quebrara, fez o seguinte trocadilho: “É a referentes e exercem influência sobre a comunicação
primeira vez que vejo um banco quebrar por excesso de fundos”.
A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel comprido Lembramo-nos:
para sentar-se” e “casa bancária”. Também está empregado em
dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e “capital”, “dinheiro”. - Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no “eu”
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diversas, do emissor, é carregada de subjetividade. Ligada a esta função
com significados diferentes, nesta frase do deputado Virgílio está, por norma, a poesia lírica.
Guimarães: - Função apelativa (imperativa): com este tipo de
mensagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de que
“ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu este assuma determinado comportamento; há frequente
continência para os militares, bateu palmas para o Collor e quer uso do vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é
bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata uma dor de frequentemente usada por oradores e agentes de publicidade.
consciência e bata em retirada.” - Função metalinguística: função usada quando a língua
(Folha de S. Paulo) explica a própria linguagem (exemplo: quando, na análise de
um texto, investigamos os seus aspectos morfo-sintáticos e/ou
Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitariamente semânticos).
ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada para informar, - Função informativa (ou referencial): função usada
para influenciar, para manter os laços sociais, etc. No segundo, quando o emissor informa objetivamente o receptor de uma
para produzir um efeito prazeroso de descoberta de sentidos. realidade, ou acontecimento.
Em função estética, o mais importante é como se diz, pois o - Função fática: pretende conseguir e manter a atenção
sentido também é criado pelo ritmo, pelo arranjo dos sons, pela dos interlocutores, muito usada em discursos políticos e textos
disposição das palavras, etc. publicitários (centra-se no canal de comunicação).
Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de - Função poética: embeleza, enriquecendo a mensagem com
Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/, /k/, figuras de estilo, palavras belas, expressivas, ritmos agradáveis,
/b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos: etc.

E o bosque estala, move-se, estremece... Também podemos pensar que as primeiras falas conscientes
Da cavalgada o estrépito que aumenta da raça humana ocorreu quando os sons emitidos evoluiram
Perde-se após no centro da montanha... para o que podemos reconhecer como “interjeições”. As
primeiras ferramentas da fala humana.
Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed.
Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássicos. A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo que mais
profundamente distingue o homem dos outros animais.
Observe-se que a maior concentração de sons oclusivos Podemos considerar que o desenvolvimento desta função
ocorre no segundo verso, quando se afirma que o barulho dos cerebral ocorre em estreita ligação com a bipedia e a libertação
cavalos aumenta. da mão, que permitiram o aumento do volume do cérebro, a par

Língua Portuguesa 77
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APOSTILAS OPÇÃO
do desenvolvimento de órgãos fonadores e da mímica facial. MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas.
Devido a estas capacidades, para além da linguagem falada São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
e escrita, o homem, aprendendo pela observação de animais,
desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos surdos em Predomina nesse texto a função da linguagem que se
diferentes países, não só para melhorar a comunicação entre constitui
surdos, mas também para utilizar em situações especiais, (A) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista.
como no teatro e entre navios ou pessoas e não animais que (B) nos elementos que servem de inspiração ao cronista.
se encontram fora do alcance do ouvido, mas que se podem (C) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica.
observar entre si. (D) no papel da vida do cronista no processo de escrita da
crônica.
Questões (E) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de
01. uma crônica.
Alô, alô, Marciano
Aqui quem fala é da Terra 04. Sempre que há comunicação há uma intenção, o que
Pra variar, estamos em guerra determina que a linguagem varie, assumindo funções. A
Você não imagina a loucura função da linguagem predominante no texto com a respectiva
O ser humano tá na maior fissura porque característica está expressa em:
Tá cada vez mais down o high society [...] (A) referencial – presença de termos científicos e técnicos
(B) expressiva – predominância da 1ª pessoa do singular
LEE, Rita. CARVALHO, Roberto de. Disponível em: http://www. (C) fática – uso de cumprimentos e saudações
vagalume.com.br/ Acesso em: 30 mar. 2014. (D) apelativa – emprego de verbos flexionados no imperativo

Os dois primeiros versos do texto fazem referência à função Respostas


da linguagem cujo objetivo dos emissores é apenas estabelecer 01. (E) / 02. (B) / 03. (E) / 04. (D)
ou manter contato de comunicação com seus receptores. Nesses
versos, a linguagem está empregada em função Relação entre a linguagem
(A) expressiva.
(B) apelativa.
verbal e as outras linguagens.
(C) referencial.
(D) poética.
(E) fática. Linguagem

02. O que é linguagem? É o uso da língua como forma de


SONETO DE MAIO expressão e comunicação entre as pessoas. Agora, a linguagem
(Vinícius de Moraes) não é somente um conjunto de palavras faladas ou escritas,
mas também de gestos e imagens. Afinal, não nos comunicamos
Suavemente Maio se insinua apenas pela fala ou escrita, não é verdade?
Por entre os véus de Abril, o mês cruel No cotidiano, sem percebermos usamos frequentemente a
E lava o ar de anil, alegra a rua linguagem verbal, quando por algum motivo em especial não a
Alumbra os astros e aproxima o céu. utilizamos, então poderemos usar a linguagem não verbal.
Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel Linguagem verbal é uso da escrita ou da fala como meio de
E em seu leito de plumas fica nua comunicação.
A destilar seu luminoso mel. Linguagem não-verbal é o uso de imagens, figuras,
Raia a aurora tão tímida e tão frágil desenhos, símbolos, dança, tom de voz, postura corporal, pintura,
Que através do seu corpo transparente música, mímica, escultura e gestos como meio de comunicação.
Dir-se-ia poder-se ver o rosto A linguagem não-verbal pode ser até percebida nos animais,
Carregado de inveja e de presságio quando um cachorro balança a cauda quer dizer que está feliz
Dos irmãos Junho e Julho, friamente ou coloca a cauda entre as pernas medo, tristeza.
Preparando as catástrofes de Agosto... Dentro do contexto temos a simbologia que é uma forma
Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br de comunicação não-verbal. Exemplos: sinalização de trânsito,
semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar a
Em um poema, é possível afirmar que a função de linguagem atenção ou exprimir uma mensagem.
está centrada na: É muito interessante observar que para manter uma
(A) Função fática. comunicação não é preciso usar a fala e sim utilizar uma
(B) Função emotiva ou expressiva. linguagem, seja, verbal ou não-verbal.
(C) Função conativa ou apelativa. Linguagem mista é o uso simultâneo da linguagem verbal e
(D) Função denotativa ou referencial. da linguagem não-verbal, usando palavras escritas e figuras ao
mesmo tempo.
03. O exercício da crônica Então, a linguagem pode ser verbalizada, e daí vem a analogia
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como ao verbo. Você já tentou se pronunciar sem utilizar o verbo? Se
faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é não, tente, e verá que é impossível se ter algo fundamentado e
levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar coerente! Assim, a linguagem verbal é que se utiliza de palavras
dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa quando se fala ou quando se escreve.
fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, olha através A linguagem pode ser não verbal, ao contrário da verbal,
da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, não se utiliza do vocábulo, das palavras para se comunicar. O
de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, objetivo, neste caso, não é de expor verbalmente o que se quer
em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um dizer ou o que se está pensando, mas se utilizar de outros meios
sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em comunicativos, como: placas, figuras, gestos, objetos, cores, ou
torno e esperar que, através de um processo associativo, surja- seja, dos signos visuais.
lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida
emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em Vejamos: um texto narrativo, uma carta, o diálogo, uma
última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou televisionado,
bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o um bilhete? Linguagem verbal!
inesperado.

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APOSTILAS OPÇÃO
Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida de futebol,
o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma dança, o aviso de “não
fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a identificação de “feminino” e
“masculino” através de figuras na porta do banheiro, as placas de
trânsito? Linguagem não verbal!
A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao mesmo
tempo, como nos casos das charges, cartoons e anúncios
publicitários.

Observe alguns exemplos:

Semáforo com sinal amarelo advertindo “atenção”.

Fontes: http://brasilescola.uol.com.br/redacao/linguagem.htm
http://www.infoescola.com/comunicacao/linguagem-verbal-e-
nao-verbal/

Questões

01.

Cartão vermelho – denúncia de falta grave no futebol.

Charge do autor Tacho – exemplo de linguagem verbal


(óxente, polo norte 2100) e não verbal (imagem: sol, cactus,
pinguim). Através da linguagem não verbal, o artista gráfico polonês Pawla
Kuczynskiego aborda a triste realidade do trabalho infantil

O artista gráfico polonês Pawla Kuczynskiego nasceu em


1976 e recebeu diversos prêmios por suas ilustrações. Nessa
obra, ao abordar o trabalho infantil, Kuczynskiego usa sua arte
para
a) difundir a origem de marcantes diferenças sociais.
b) estabelecer uma postura proativa da sociedade.
c) provocar a reflexão sobre essa realidade.
d) propor alternativas para solucionar esse problema.
e) retratar como a questão é enfrentada em vários países do
Placas de trânsito – à frente “proibido andar de bicicleta”, mundo.
atrás “quebra-molas”.
02.

Símbolo que se coloca na porta para indicar “sanitário


masculino”.

A linguagem não verbal pode produzir efeitos interessantes,


dispensando assim o uso da palavra. Cartum de Caulos, disponível em
www.caulos.com

Imagem indicativa de “silêncio”.

Língua Portuguesa 79
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APOSTILAS OPÇÃO
O cartum faz uma crítica social. A figura destacada está em Língua Falada e Língua Escrita
oposição às outras e representa a
a) opressão das minorias sociais. Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois
b) carência de recursos tecnológicos. meios de comunicação distintos. A escrita representa um estágio
c) falta de liberdade de expressão. posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea,
d) defesa da qualificação profissional. abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade.
e) reação ao controle do pensamento coletivo. Além disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes
por mímicas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é
03. apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema
mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo
fisionômico, as mímicas e o tom de voz do falante.
No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa,
mas existem usos diferentes da língua devido a diversos fatores.
Dentre eles, destacam-se:

Fatores regionais: é possível notar a diferença do português


falado por um habitante da região nordeste e outro da região
sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há
variações no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por
exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão
que vive na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior
do estado.

Fatores culturais: o grau de escolarização e a formação


cultural de um indivíduo também são fatores que colaboram
para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada
utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve
acesso à escola.

Fatores contextuais: nosso modo de falar varia de acordo


com a situação em que nos encontramos: quando conversamos
com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se
estivéssemos discursando em uma solenidade de formatura.

Fatores profissionais: o exercício de algumas atividades


requer o domínio de certas formas de língua chamadas
línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas
formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico
de engenheiros, químicos, profissionais da área de direito e da
informática, biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas.

Fatores naturais: o uso da língua pelos falantes sofre


Ao aliar linguagem verbal e não verbal, o cartunista constrói um influência de fatores naturais, como idade e sexo. Uma criança
interessante texto com elementos da intertextualidade não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí falar-
se em linguagem infantil e linguagem adulta.
Sobre o cartum de Caulos, assinale a proposição correta:
I. A linguagem verbal é desnecessária para o entendimento Fala
do texto;
II. Linguagem verbal e não verbal são necessárias para a É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato
construção dos sentidos pretendidos pelo cartunista; individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, pode
III. O cartunista estabelece uma relação de intertextualidade escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu
com o poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto,
Andrade; sua personalidade, o ambiente sociocultural em que vive,
IV. O cartum é uma crítica ao poema de Carlos Drummond etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande
de Andrade, já que o cartunista considera o poeta pouco prático. diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada indivíduo,
a) Apenas I está correta. além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros
b) II e III estão corretas. falam; é por isso que somos capazes de dialogar com pessoas
c) I e IV estão corretas. dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre a
d) II e IV estão corretas. linguagem delas seja exatamente como a nossa.

04. Sobre as linguagens verbal e não verbal, estão corretas, Níveis da fala
exceto:
a) a linguagem não verbal é composta por signos sonoros ou Devido ao caráter individual da fala, é possível observar
visuais, como placas, imagens, vídeos etc. alguns níveis:
b) a linguagem verbal diz respeito aos signos que são
formados por palavras. Eles podem ser sinais visuais e sonoros. Nível coloquial-popular: é a fala que a maioria das pessoas
c) a linguagem verbal, por dispor de elementos linguísticos utiliza no seu dia a dia, principalmente em situações informais.
concretos, pode ser considerada superior à linguagem não Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utiizá-lo, não nos
verbal. preocupamos em saber se falamos de acordo ou não com as
d) linguagem verbal e não verbal são importantes, e o sucesso regras formais estabelecidas pela língua.
na comunicação depende delas, ou seja, quando um interlocutor
recebe e compreende uma mensagem adequadamente. Nível formal-culto: é o nível da fala normalmente utilizado
pelas pessoas em situações formais. Caracteriza-se por um
Respostas cuidado maior com o vocabulário e pela obediência às regras
01. (C)\02. (E)\03. (B)\04. (C) gramaticais estabelecidas pela língua.

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Diferenças existentes entre a língua falada e a escrita – Desgosto eu tenho, pra que negar?... “
(Pedra Bonita, de José Lins do Rego)
Língua Falada:
Registros da língua escrita
Palavra sonora;
Requer a presença dos interlocutores; Além dos dois grandes níveis – língua culta e língua
Ganha em vivacidade; coloquial –, os registros escritos são tão distintos quanto as
É espontânea e imediata; necessidades humanas de comunicação. Destacam-se, entre
Uso de palavras-curinga, de frases feitas; outros, os registros jornalísticos, jurídicos, científicos, literários
É repetitiva e redundante; e epistolares.
O contexto extralinguístico é importante;
A expressividade permite prescindir de certas regras; Fontes: http://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman4.
A informação é permeada de subjetividade e influenciada php
pela presença do interlocutor. http://www.vestibular1.com.br/redacao/red020.htm

Recursos: signos acústicos e extralinguísticos, gestos,


entorno físico e psíquico
Variação linguística.
Língua Escrita:

Palavra gráfica Variação Linguística


É mais objetiva.
É possível esquecer o interlocutor “Há uma grande diferença se fala um deus ou um herói; se
É mais sintética. um velho amadurecido ou um jovem impetuoso na flor da idade;
A redundância é um recurso estilístico se uma matrona autoritária ou uma dedicada; se um mercador
Comunicação unilateral. errante ou um lavrador de pequeno campo fértil (...)”
Ganha em permanência
Mais correção na elaboração das frases. Todas as pessoas que falam uma determinada língua
Evita a improvisação conhecem as estruturas gerais, básicas, de funcionamento
Pobreza de recursos não-linguísticos; uso de letras, sinais de podem sofrer variações devido à influência de inúmeros fatores.
pontuação Tais variações, que às vezes são pouco perceptíveis e outras vezes
É mais precisa e elaborada. bastante evidentes, recebem o nome genérico de variedades ou
Ausência de cacoetes linguísticos e vulgarismos variações linguísticas.
O contexto extralinguístico tem menos influência Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os
seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-
Registros da língua falada se que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o
mesmo significado dentro de um mesmo contexto. Suponham-
Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou padrão se, por exemplo, os dois enunciados a seguir:
e a coloquial ou popular. A linguagem coloquial também aparece
nas gírias, na linguagem familiar, na linguagem vulgar e nos Veio me visitar um amigo que eu morei na casa dele faz
regionalismos e dialetos. tempo.
Essas variações são explicadas por vários fatores: Veio visitar-me um amigo em cuja casa eu morei há anos.
Diversidade de situações em que se encontra o falante: uma Qualquer falante do português reconhecerá que os dois
solenidade ou uma festa entre amigos. enunciados pertencem ao seu idioma e têm o mesmo sentido,
Grau de instrução do falante e também do ouvinte. mas também que há diferenças. Pode dizer, por exemplo, que o
Grupo a que pertence o falante. Este é um fator determinante segundo é de uma pessoa mais “estudada”.
na formação da gíria. Isso é prova de que, ainda que intuitivamente e sem saber
Localização geográfica: há muitas diferenças entre o falar de dar grandes explicações, as pessoas têm noção de que existem
um nordestino e o de um gaúcho, por exemplo. Essas diferenças muitas maneiras de falar a mesma língua. É o que os teóricos
constituem os regionalismos e os dialetos. chamam de variações linguísticas.
As variações que distinguem uma variante de outra se
Atenção: o dialeto é a variedade regional de uma língua. manifestam em quatro planos distintos, a saber: fônico,
Quando as diferenças regionais não são suficientes para morfológico, sintático e lexical.
constituir um dialeto, utiliza-se os termos regionalismos ou
falares para designá-las. E as pichações têm características da Variações Fônicas
linguagem falada.
São as que ocorrem no modo de pronunciar os sons
A língua falada como recurso literário constituintes da palavra. Os exemplos de variação fônica são
abundantes e, ao lado do vocabulário, constituem os domínios
A transcrição da língua falada é um recurso cada vez mais em que se percebe com mais nitidez a diferença entre uma
explorado pela literatura graças à vivacidade que confere ao variante e outra. Entre esses casos, podemos citar:
texto. - a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem
Observe, no trecho seguinte, algumas das características da oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô.
língua falada, tais como o uso de gírias e de expressões populares - o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me
e regionais; incorreções gramaticais (erros na conjugação verbal alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica,
e colocação de pronomes) e repetições: hoje frequentes na fala caipira.
- a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava,
Exemplo: marelo (amarelo), margoso (amargoso), características na
“– Menino, eu nada disto sei dizer. A outro eu não falava, mas linguagem oral coloquial.
a ti eu digo. Eu não sei que gosto tem esse bicho de mulher. Eu - a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis
vi Aparício se pegando nas danças, andar por aí atrás das outras, (Petrópolis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas
contar histórias de namoro. E eu nada. Pensei que fosse doença, típicas de pessoas de baixa condição social.
e quem sabe não é? Cantador assim como eu, Bentinho, é mesmo - A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das
que novilho capado. Tenho desgosto. A voz de Domício era de regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande
quem falava para se confessar: do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem

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caipira): quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, a lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no
farór, farol. Brasil chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil,
- deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar, em Portugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se
estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa condição social. diz pequeno almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que
chamamos de suéter, malha, camiseta.
Variações Morfológicas
Designações das Variantes Lexicais:
São as que ocorrem nas formas constituintes da palavra.
Nesse domínio, as diferenças entre as variantes não são - Arcaísmo: diz-se de palavras que já caíram de uso e, por
tão numerosas quanto as de natureza fônica, mas não são isso, denunciam uma linguagem já ultrapassada e envelhecida.
desprezíveis. Como exemplos, podemos citar: É o caso de reclame, em vez de anúncio publicitário; na década
- o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar de 60, o rapaz chamava a namorada de broto (hoje se diz gatinha
o superlativo de adjetivos, recurso muito característico da ou forma semelhante), e um homem bonito era um pão; na
linguagem jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de linguagem antiga, médico era designado pelo nome físico; um
humaníssimo), uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima), um bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante
carro hiperpossante (em vez de possantíssimo). usava-se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era
- a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos supimpa.
regulares: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se
ele ver (vir) o recado, quando ele repor (repuser). - Neologismo: é o contrário do arcaísmo. Trata-se de palavras
- a conjugação de verbos regulares pelo modelo de recém-criadas, muitas das quais mal ou nem entraram para os
irregulares: vareia (varia), negoceia (negocia). dicionários. A moderna linguagem da computação tem vários
- uso de substantivos masculinos como femininos ou vice- exemplos, como escanear, deletar, printar; outros exemplos
versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha extraídos da tecnologia moderna são mixar (fazer a combinação
(o champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal de sons), robotizar, robotização.
(da cal).
- a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e - Estrangeirismo: trata-se do emprego de palavras
adjetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os emprestadas de outra língua, que ainda não foram
livro indicado, as noite fria, os caso mais comum. aportuguesadas, preservando a forma de origem. Nesse caso,
- o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero há muitas expressões latinas, sobretudo da linguagem jurídica,
que o Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas tais como: habeas-corpus (literalmente, “tenhas o corpo” ou,
eleições; Se eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso facto (“pelo
é possível que ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu. próprio fato de”, “por isso mesmo”), ipsis litteris (textualmente,
“com as mesmas letras”), grosso modo (“de modo grosseiro”,
Variações Sintáticas “impreciso”), sic (“assim, como está escrito”), data venia (“com
sua permissão”).
Dizem respeito às correlações entre as palavras da frase. No As palavras de origem inglesas são inúmeras: insight
domínio da sintaxe, como no da morfologia, não são tantas as (compreensão repentina de algo, uma percepção súbita), feeling
diferenças entre uma variante e outra. Como exemplo, podemos (“sensibilidade”, capacidade de percepção), briefing (conjunto
citar: de informações básicas), jingle (mensagem publicitária em
- o uso de pronomes do caso reto com outra função que não forma de música).
a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não Do francês, hoje são poucos os estrangeirismos que ainda não
irão sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em se aportuguesaram, mas há ocorrências: hors-concours (“fora
vez de ti) e ele. de concurso”, sem concorrer a prêmios), tête-à-tête (palestra
- o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez particular entre duas pessoas), esprit de corps (“espírito de
de “o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem. corpo”, corporativismo), menu (cardápio), à la carte (cardápio
- a ausência da preposição adequada antes do pronome “à escolha do freguês”), physique du rôle (aparência adequada à
relativo em função de complemento verbal: são pessoas que (em caracterização de um personagem).
vez de: de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez
de a que) eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu - Jargão: é o vocabulário típico de um campo profissional
mais confio. como a medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo.
- a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome No jargão médico temos uso tópico (para remédios que não
“que” no início da frase mais a combinação da preposição “de” devem ser ingeridos), apneia (interrupção da respiração), AVC
com o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a ou acidente vascular cerebral (derrame cerebral). No jargão
família dele (em vez de cuja família eu já conhecia). jornalístico chama-se de gralha, pastel ou caco o erro tipográfico
- a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando como a troca ou inversão de uma letra. A palavra lide é o nome
se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com que se dá à abertura de uma notícia ou reportagem, onde se
você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) apresenta sucintamente o assunto ou se destaca o fato essencial.
voz me irrita. Quando o lide é muito prolixo, é chamado de nariz-de-cera. Furo
- ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles é notícia dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso,
chegou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou foi uma barriga. Entre os jornalistas é comum o uso do verbo
naquela semana muitos alunos; Comentou-se os episódios. repercutir como transitivo direto: __ Vá lá repercutir a notícia
de renúncia! (esse uso é considerado errado pela gramática
Variações Léxicas normativa).

É o conjunto de palavras de uma língua. As variantes - Gíria: é o vocabulário especial de um grupo que não
do plano do léxico, como as do plano fônico, são muito deseja ser entendido por outros grupos ou que pretende marcar
numerosas e caracterizam com nitidez uma variante em sua identidade por meio da linguagem. Existe a gíria de grupos
confronto com outra. Eis alguns, entre múltiplos exemplos marginalizados, de grupos jovens e de segmentos sociais de
possíveis de citar: contestação, sobretudo quando falam de atividades proibidas. A
- a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito lista de gírias é numerosíssima em qualquer língua: ralado (no
para formar o grau superlativo dos adjetivos, características da sentido de afetado por algum prejuízo ou má-sorte), ir pro brejo
linguagem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior (ser malsucedido, fracassar, prejudicar-se irremediavelmente),
difícil; Esse amigo é um carinha maior esforçado. cara ou cabra (indivíduo, pessoa), bicha (homossexual
- as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às masculino), levar um lero (conversar).
vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado

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APOSTILAS OPÇÃO
- Preciosismo: diz-se que é preciosista um léxico “__ Mas você tem medo dele... [de um feiticeiro chamado
excessivamente erudito, muito raro, afetado: Escoimar (em vez Mangolô!].
de corrigir); procrastinar (em vez de adiar); discrepar (em vez __ Há-de-o!... Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Não
de discordar); cinesíforo (em vez de motorista); obnubilar (em faço, porque não paga a pena... De primeiro, quando eu era moço,
vez de obscurecer ou embaçar); conúbio (em vez de casamento); isso sim!... Já fui gente. Para ganhar aposta, já fui, de noite, foras
chufa (em vez de caçoada, troça). d’hora, em cemitério... (...). Quando a gente é novo, gosta de fazer
bonito, gosta de se comparecer. Hoje, não, estou percurando é
- Vulgarismo: é o contrário do preciosismo, ou seja, o uso de sossego...”
um léxico vulgar, rasteiro, obsceno, grosseiro. É o caso de quem
diz, por exemplo, de saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou - Histórica: as línguas não são estáticas, fixas, imutáveis.
(em vez de se deu mal, arruinou-se), feder (em vez de cheirar Elas se alteram com o passar do tempo e com o uso. Muda a
mal), ranho (em vez de muco, secreção do nariz). forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o sentido delas.
Essas alterações recebem o nome de variações históricas.
Tipos de Variação Os dois textos a seguir são de Carlos Drummond de Andrade.
Neles, o escritor, meio em tom de brincadeira, mostra como a
Não tem sido fácil para os estudiosos encontrar para as língua vai mudando com o tempo. No texto I, ele fala das palavras
variantes linguísticas um sistema de classificação que seja de antigamente e, no texto II, fala das palavras de hoje.
simples e, ao mesmo tempo, capaz de dar conta de todas as
diferenças que caracterizam os múltiplos modos de falar dentro Texto I
de uma comunidade linguística. O principal problema é que
os critérios adotados, muitas vezes, se superpõem, em vez de Antigamente
atuarem isoladamente.
As variações mais importantes, para o interesse do concurso Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram
público, são os seguintes: todas mimosas e prendadas. Não fazia anos; completavam
primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo
- Sócio-Cultural: Esse tipo de variação pode ser percebido rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam
com certa facilidade. Por exemplo, alguém diz a seguinte frase: longos meses debaixo do balaio. E se levantam tábua, o remédio
era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os
“Tá na cara que eles não teve peito de encará os ladrão.” (frase mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a
1) fresca; e também tomava cautela de não apanhar sereno. Os mais
jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo,
Que tipo de pessoa comumente fala dessa maneira? Vamos chupando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano;
caracterizá-la, por exemplo, pela sua profissão: um advogado? os quais, de pouco siso, se metiam em camisas de onze varas, e até
Um trabalhador braçal de construção civil? Um médico? Um em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’agua.
garimpeiro? Um repórter de televisão? (...) Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos
E quem usaria a frase abaixo? queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão
em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana.
“Obviamente faltou-lhe coragem para enfrentar os ladrões.” A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe
(frase 2) faziam quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso.
Sem dúvida, associamos à frase 1 os falantes pertencentes Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo encapetados;
a grupos sociais economicamente mais pobres. Pessoas que, chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não:
muitas vezes, não frequentaram nem a escola primária, ou, verdadeiros cromos, umas teteias.
quando muito, fizeram-no em condições não adequadas. (...) Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os
Por outro lado, a frase 2 é mais comum aos falantes que meninos, lombrigas; asthma os gatos, os homens portavam
tiveram possibilidades sócio-econômicas melhores e puderam, ceroulas, bortinas a capa de goma (...). Não havia fotógrafos, mas
por isso, ter um contato mais duradouro com a escola, com a retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.
leitura, com pessoas de um nível cultural mais elevado e, dessa Mas tudo isso era antigamente, isto é, doutora.
forma, “aperfeiçoaram” o seu modo de utilização da língua.
Convém ficar claro, no entanto, que a diferenciação feita Texto II
acima está bastante simplificada, uma vez que há diversos
outros fatores que interferem na maneira como o falante escolhe Entre Palavras
as palavras e constrói as frases. Por exemplo, a situação de uso
da língua: um advogado, num tribunal de júri, jamais usaria a Entre coisas e palavras – principalmente entre palavras –
expressão “tá na cara”, mas isso não significa que ele não possa circulamos. A maioria delas não figura nos dicionários de há trinta
usá-la numa situação informal (conversando com alguns amigos, anos, ou figura com outras acepções. A todo momento impõe-se
por exemplo). tornar conhecimento de novas palavras e combinações.
Da comparação entre as frases 1 e 2, podemos concluir que Você que me lê, preste atenção. Não deixe passar nenhuma
as condições sociais influem no modo de falar dos indivíduos, palavra ou locução atual, pelo seu ouvido, sem registrá-la.
gerando, assim, certas variações na maneira de usar uma mesma Amanhã, pode precisar dela. E cuidado ao conversar com seu avô;
língua. A elas damos o nome de variações sócio-culturais. talvez ele não entenda o que você diz.
O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Vemaguet, a
- Geográfica: é, no Brasil, bastante grande e pode ser chacrete, o linóleo, o nylon, o nycron, o ditafone, a informática, a
facilmente notada. Ela se caracteriza pelo acento linguístico, que dublagem, o sinteco, o telex... Existiam em 1940?
é o conjunto das qualidades fisiológicas do som (altura, timbre, Ponha aí o computador, os anticoncepcionais, os mísseis, a
intensidade), por isso é uma variante cujas marcas se notam motoneta, a Velo-Solex, o biquíni, o módulo lunar, o antibiótico, o
principalmente na pronúncia. Ao conjunto das características enfarte, a acupuntura, a biônica, o acrílico, o ta legal, a apartheid,
da pronúncia de uma determinada região dá-se o nome de o som pop, as estruturas e a infraestrutura.
sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque gaúcho Não esqueça também (seria imperdoável) o Terceiro Mundo,
etc. A variação geográfica, além de ocorrer na pronúncia, pode a descapitalização, o desenvolvimento, o unissex, o bandeirinha, o
também ser percebida no vocabulário, em certas estruturas de mass media, o Ibope, a renda per capita, a mixagem.
frases e nos sentidos diferentes que algumas palavras podem Só? Não. Tem seu lugar ao sol a metalinguagem, o
assumir em diferentes regiões do país. servomecanismo, as algias, a coca-cola, o superego, a Futurologia,
Leia, como exemplo de variação geográfica, o trecho abaixo, a homeostasia, a Adecif, a Transamazônica, a Sudene, o Incra, a
em que Guimarães Rosa, no conto “São Marcos”, recria a fala de Unesco, o Isop, a Oea, e a ONU.
um típico sertanejo do centro-norte de Minas:

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APOSTILAS OPÇÃO
Estão reclamando, porque não citei a conotação, o nem com a continuidade das ideias, nem com a escolha das
conglomerado, a diagramação, o ideologema, o idioleto, o ICM, palavras. Para exemplificar o estilo formal, eis um trecho
a IBM, o falou, as operações triangulares, o zoom, e a guitarra da gravação de uma aula de português de uma professora
elétrica. universitária do Rio de Janeiro, transcrito do livro de Dinah
Olhe aí na fila – quem? Embreagem, defasagem, barra tensora, Callou. A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro. As
vela de ignição, engarrafamento, Detran, poliéster, filhotes de pausas são marcadas com reticências.
bonificação, letra imobiliária, conservacionismo, carnet da girafa,
poluição. o que está ocorrendo com nossos alunos é uma fragmentação
Fundos de investimento, e daí? Também os de incentivos do ensino... ou seja... ele perde a noção do todo... e fica com uma
fiscais. Knon-how. Barbeador elétrico de noventa microrranhuras. série... de aspectos teóricos... isolados... que ele não sabe vincular
Fenolite, Baquelite, LP e compacto. Alimentos super congelados. a realidade nenhuma de seu idioma... isto é válido também para
Viagens pelo crediário, Circuito fechado de TV Rodoviária. Argh! a faculdade de letras... ou seja... né? há uma série... de conceitos
Pow! Click! teóricos... que têm nomes bonitos e sofisticados... mas que... na
Não havia nada disso no Jornal do tempo de Venceslau Brás, ou hora de serem empregados... deixam muito a desejar...
mesmo, de Washington Luís. Algumas coisas começam a aparecer
sob Getúlio Vargas. Hoje estão ali na esquina, para consumo geral. Nota-se que, por tratar-se de exposição oral, não há o grau
A enumeração caótica não é uma invenção crítica de Leo Spitzer. de formalidade e planejamento típico do texto escrito, mas trata-
Está aí, na vida de todos os dias. Entre palavras circulamos, se de um estilo bem mais formal e vigiado que o da menina ao
vivemos, morremos, e palavras somos, finalmente, mas com que telefone.
significado?
(Carlos Drummond de Andrade, Poesia e prosa, Mecanismos de organização
Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1988)
textual: coesão e coerência.
- De Situação: aquelas que são provocadas pelas alterações
das circunstâncias em que se desenrola o ato de comunicação.
Um modo de falar compatível com determinada situação é Coerência e Coesão
incompatível com outra:
Não basta conhecer o conteúdo das partes de um trabalho:
Ô mano, ta difícil de te entendê. introdução, desenvolvimento e conclusão. Além de saber o que
se deve (e o que não se deve) escrever em cada parte constituinte
Esse modo de dizer, que é adequado a um diálogo em situação do texto, é preciso saber escrever obedecendo às normas de
informal, não tem cabimento se o interlocutor é o professor em coerência e coesão. Antes de tudo, é necessário definir os termos:
situação de aula. coerência diz respeito à articulação do texto, à compatibilidade
Assim, um único indivíduo não fala de maneira uniforme das ideias, à lógica do raciocínio, a seu conteúdo. Coesão refere
em todas as circunstâncias, excetuados alguns falantes da - se à expressão linguística, ao nível gramatical, às estruturas
linguagem culta, que servem invariavelmente de uma linguagem frasais e ao emprego do vocabulário.
formal, sendo, por isso mesmo, considerados excessivamente Coerência e coesão relacionamse com o processo de
formais ou afetados. produção e compreensão do texto, a coesão contribui para
São muitos os fatores de situação que interferem na fala de a coerência, mas nem sempre um texto coerente apresenta
um indivíduo, tais como o tema sobre o qual ele discorre (em coesão. Pode ocorrer que o texto sem coerência apresente
princípio ninguém fala da morte ou de suas crenças religiosas coesão, ou que um texto tenha coesão sem coerência. Em outras
como falaria de um jogo de futebol ou de uma briga que tenha palavras: um texto pode ser gramaticalmente bem construído,
presenciado), o ambiente físico em que se dá um diálogo (num com frases bem estruturadas, vocabulário correto, mas
templo não se usa a mesma linguagem que numa sauna), o grau apresentar ideias disparatadas, sem nexo, sem uma sequência
de intimidade entre os falantes (com um superior, a linguagem lógica: há coesão, mas não coerência. Por outro lado, um texto
é uma, com um colega de mesmo nível, é outra), o grau de pode apresentar ideias coerentes e bem encadeadas, sem que no
comprometimento que a fala implica para o falante (num plano da expressão, as estruturas frasais sejam gramaticalmente
depoimento para um juiz no fórum escolhem-se as palavras, aceitáveis: há coerência, mas não coesão.
num relato de uma conquista amorosa para um colega fala-se Na obra de Oswald de Andrade, por exemplo, encontramse
com menos preocupação). textos coerentes sem coesão, ou textos coesos, mas sem coerência.
As variações de acordo com a situação costumam ser Em Carlos Drummond de Andrade, há inúmeros exemplos de
chamadas de níveis de fala ou, simplesmente, variações de estilo textos coerentes, sem coesão gramatical no plano sintático. A
e são classificadas em duas grandes divisões: linguagem literária admite essas liberdades, o que não vem ao
- Estilo Formal: aquele em que é alto o grau de reflexão sobre caso, pois na linguagem acadêmica, referencial, a obediência às
o que se diz, bem como o estado de atenção e vigilância. É na normas de coerência e coesão são obrigatórias. Ainda assim,
linguagem escrita, em geral, que o grau de formalidade é mais para melhor esclarecimento do assunto, apresentamse exemplos
tenso. de coerência sem coesão e coesão sem coerência:
- Estilo Informal (ou coloquial): aquele em que se fala com
despreocupação e espontaneidade, em que o grau de reflexão “Cidadezinha Qualquer”
sobre o que se diz é mínimo. É na linguagem oral íntima e
familiar que esse estilo melhor se manifesta. Casas entre bananeiras
Como exemplo de estilo coloquial vem a seguir um pequeno mulheres entre laranjeiras
trecho da gravação de uma conversa telefônica entre duas pomar amor cantar:
universitárias paulistanas de classe média, transcrito do livro
Tempos Linguísticos, de Fernando Tarallo. As reticências Um homem vai devagar
indicam as pausas. Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar
Eu não sei tem dia... depende do meu estado de espírito, tem
dia que minha voz... mais ta assim, sabe? taquara rachada? Fica Devagar.. as janelas olham.
assim aquela voz baixa. Outro dia eu fui lê um artigo, lê?! Um Eta vida besta, meu Deus.”
menino lá que faiz pós-graduação na, na GV, ele me, nóis ficamo (Andrade, 1973, p. 67)
até duas hora da manhã ele me explicando toda a matéria de
economia, das nove da noite. Apesar da aparente falta de nexo, percebe - se nitidamente
a descrição de uma cidadezinha do interior: a paisagem rural,
Como se pode notar, não há preocupação com a pronúncia o estilo de vida sossegado, o hábito de bisbilhotar, de vigiar

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APOSTILAS OPÇÃO
das janelas tudo o que se passa lá fora. No plano sintático, a Coesão
primeira estrofe contém apenas frases ou sintagmas nomi¬nais
(cantar pode ser verbo ou substantivo os meu cantares = as - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
minhas canções); as demais, não apresentam coesão uma frase - situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
não se relaciona com outra, mas, pela forma de apresentação, - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
colaboram para a coerência do texto. componentes do texto;
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das
“Do outro lado da parede” frases.

Meu laço de botina. Coerência e coesão são responsáveis pela inteligibilidade ou


Recebi a tua comunicação, escrita do beiral da viragem compreensão do texto. Um texto bem redigido tem parágrafos
sempieterna. Foi um tiro no alvo do coração, se bem que ele já bem estruturados e articulados pelo encadeamento das ideias
esteja treinado. neles contidas. As estruturas frasais devem ser coerentes
A culpa de tudo quem temna é esse bandido desse coronel do e gramaticalmente corretas, no que respeita à sintaxe. O
Exército Brasileiro que nos inflicitou. vocabulário precisa ser adequado e essa adequação só se
Reflete antes de te matares! Reflete Joaninha. Principalmente consegue pelo conhecimento dos significados possíveis de
se ainda é tempo! És uma tarada. cada palavra. Talvez os erros mais comuns de redaçao sejam
Quando te conheci, Chez Hippolyte querias falecer dia e noite. devidos à impropriedade do vocabulário e ao mau emprego
Enfim, adeus. dos conectivos (conjunções, que têm por função ligar uma frase
Nunca te esquecerei. Never more! Como dizem os corvos.” ou período a outro). Eis alguns exemplos de impropriedade do
João da Slavonia vocabulário, colhidos em redações sobre censura e os meios de
(Andrade, O., 1971, p. 201202) comunicação e outras.

Embora as frases sejam sintaticamente coesas, nota - se que, “Nosso direito é frisado na Constituição.”
neste texto, não há coerência, não se observa uma linha lógica Nosso direito é assegurado pela Constituição.
de raciocínio na expressão das ideias. Percebese vagamente “Estabelecer os limites as quais a programação deveria estar
que a personagem João Slavonia teria recebido uma mensagem exposta.”
de Joaninha (Recebi a tua comunicação), ameaçando cometer Estabelecer os limites aos quais a programação deveria
suicídio (Reflete antes de te matares!). A última frase contém estar sujeita.
uma alusão ao poema “O corvo”, de Edgar Alan Poe.
“A censura deveria punir as notícias sensacionalistas.”
A respeito das relações entre coerência e coesão, Guimarães A censura deveria proibir (ou coibir) as notícias
diz: sensacionalistas ou punir os meios de comunicação que
veiculam tais notícias.
“O exposto autorizanos a seguinte conclusão: ainda que
distinguiveis (a coesão diz respeito aos modos de interconexão “Retomada das rédeas da programação.”
dos componentes textuais, a coerência refere - se aos modos como Retomada das rédeas dos meios de comunicação, no que diz
os elementos subjacentes à superfície textual tecem a rede do respeito a programação.
sentido), trata - se de dois aspectos de um mesmo fenômeno a
coesão funcionando como efeito da coerência, ambas cúmplices “Os meios de comunicação estão sendo apelativos,
no processamento da articulação do texto.” vulgarizando e deteriorando indivíduos.”
Os meios de comunicação estão recorrendo a expedientes
A coerência textual subjaz ao texto e é responsável pela grosseiros vulgarizando o nível dos programas e desrespeitando
hierarquização dos elementos textuais, ou seja, ela tem origem os telespectadores.
nas estruturas profundas, no conhecimento do mundo de
cada pessoa, aliada à competência linguística, que permitirá a “A discussão deste assunto é inerente à sociedade.”
expressão das ideias percebidas e organizadas, no processo A discussão deste assunto é tarefa da sociedade (compete à
de codificação referido na página... Deduz - se daí que é difícil, sociedade).
senão impossível, ensinar coerência textual, intimamente
ligada à visão de mundo, à origem das ideias no pensamento. A “Na verdade, daquele autor eles pegaram apenas a
coesão, porém, refere - se à expressão linguística, aos processos nomenclatura...”
sintáticos e gramaticais do texto. Na verdade, daquele autor eles adotaram (utilizaram)
apenas a nomenclatura...
O seguinte resumo caracteriza coerência e coesão:
“A ordem e forma de apresentação dos elementos das
Coerência: rede de sintonia entre as partes e o todo de um referências bibliográficas são mostradas na NBR 6023 da ABNT”
texto. Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada (são regulamentadas pela NBR 6023 da ABNT).
relação semântica, que se manifesta na compatibilidade entre as O emprego de vocabulário inadequado prejudica muitas
ideias. (Na linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma vezes a compreensão das ideias. É importante, ao redigir,
coisa bate com outra”). empregar palavras cujo significado seja conhecido pelo
Coesão: conjunto de elementos posicionados ao longo do enunciador, e cujo emprego faça parte de seus conhecimentos
texto, numa linha de sequência e com os quais se estabelece um linguísticos. Muitas vezes, quem redige conhece o significado de
vínculo ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via determinada palavra, mas não sabe empregála adequadamente,
gramática, fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do isso ocorre frequentemente com o emprego dos conectivos
vocabulário, tem-se a coesão lexical. (preposições e conjunções). Não basta saber que as preposições
ligam nomes ou sintagmas nominais no interior das frases e
Coerência que as conjunções ligam frases dentro do período; é necessário
empregar adequadamente tanto umas como outras. É bem
- assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto; verdade que, na maioria das vezes, o emprego inadequado dos
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão conectivos remete aos problemas de regência verbal e nominal.
conceitual;
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, Exemplos:
com o aspecto global do texto; “Coação aos meios de comunicação” tem o sentido de atuar
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases. contra os meios de comunicação; os meios de comunicação sofrem
a ação verbal, são coagidos.

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APOSTILAS OPÇÃO
“Coação dos meios de comunicação” significa que os meios de “Dentro do envelope havia apenas um papel em branco onde
comunicação é que exercem a ação de coagir. atribui muitos significados”: havia apenas um papel em branco
ao qual atribui muitos significados (onde significa lugar no qual).
“Estar inteirada com os fatos” significa participação,
interação. “Havia recebido um envelope em meu nome e que não portava
“Estar inteirada dos fatos” significa ter conhecimento dos destinatário, apesar que em seu conteúdo havia uma folha em
fatos, estar informada. branco. ( .. )”
Não se emprega apesar que, mas apesar de. E mais: apesar de
“Ir de encontro” significa divergir, não concordar. não ligar corretamente as duas frases, não faz sentido, as frases
“Ir ao encontro” quer dizer concordar. deveriam ser coordenadas por e: não portava destinatário e em
seu interior havia uma folha ou: havia recebido um envelope em
“Ameaça de liberdade de expressão e transmissão de ideias” meu nome, que não portava destinatário, cujo conteúdo era uma
significa a liberdade não é ameaça; folha em branco.
“Ameaça à liberdade de expressão e transmissão de ideias”,
isto é, a liberdade fica ameaçada. Essas e outras frases foram observadas em redações, quando
foi proposto o seguinte tema:
“A princípio” indica um fato anterior (A princípio, ela aceitava
as desculpas que Mário lhe dava, mas depois deixou de acreditar “Imagine a seguinte situação:
nele). hoje você está completando dezoito anos.
“Em princípio” indica um fato de certeza provisória (Em Nesta data, você recebe pelo correio uma folha de papel em
princípio, faremos a reunião na quartafeira quer dizer que a branco, num envelope em seu nome, sem indicação do remetente.
reunião será na quarta-feira, se todos concordarem, se houver Além disso, você ganha de presente um retrato seu e um disco.
possibilidade, porém admite a ideia de mudar a data). Reflita sobre essa situação.
“Por princípio” indica crença ou convicção (Por princípio, sou
contra o racismo). A partir da reflexão feita, redija um texto em prosa, sem
ultrapassar o espaço reservado para redação no caderno de
Quanto à regência verbal, convém sempre consultar um respostas.”
dicionário de verbos e regimes, pois muitos verbos admitem
duas ou três regências diferentes; cada uma, porém, tem um Como de costume, muito se comentou, até nos jornais da
significado específico. Lembrese, a propósito, de que as dúvidas época, a falta de coerência, as frases sem clareza, pelo mau
sobre o emprego da crase decorrem do fato de considerar - se emprego dos conectivos, como as seguintes:
crase como sinal de acentuação apenas, quando o problema
refere - se à regencia nominal e verbal. “Primeiramente achei gozado aqueles dois presentes, pois
Exemplos: concluo que nunca deveria esquecer minha infância.”
Há falta de nexo entre as duas frases, pois uma não é
O verbo assistir admite duas regências: conclusão da outra, nem ao menos estão relacionadas e gozado
assistir o/a (transitivo direto) significa dar ou prestar deveria ser substituído por engraçado ou estranho.
assistência (O médico assiste o doente):
Assistir ao (transitivo indireto): ser espectador (Assisti ao “A folha pode estar amarrada num cesto de lixo mas o disco
jogo da seleção). repete sempre a mesma música.”
A primeira frase não tem sentido e a segunda não se
Inteirar o/a (transitivo direto) significa completar (Inteirei o relaciona com a primeira. O conectivo “mas” deveria sugerir
dinheiro do presente). ideia de oposição, o que não ocorre no exemplo anterior. Não se
Inteirar do (transitivo direto e indireto), significa informar percebe relação entre “o disco repete sempre a mesma música” e
alguém de..., tomar ou dar conhecimento de algo para alguém a primeira frase.
(Quero inteirála dos fatos ocorridos...).
“Mas, ao abrir a porta, era apenas o correio no qual viera
Pedir o (transitivo direto) significa solicitar, pleitear (Pedi o trazerme uma encomenda.”
jornal do dia). Observase o emprego de no qual por o qual, melhor ainda
Pedir que contém uma ordem (A professora pediu que ficaria que, simplesmente: era apenas o correio que viera
fizessem silêncio). trazerme uma encomenda.
Pedir para pedir permissão (Pediu para sair da classe);
significa também pedir em favor de alguém (A Diretora pediu Por outro lado, não mereceram comentários nem apareceram
ajuda para os alunos carentes) em favor dos alunos, pedir algo nos jornais boas redações como a que se segue:
a alguém (para si): (Pediu ao colega para ajudá - lo); pode
significar ainda exigir, reclamar (Os professores pedem aumento “A vida hoje me cumprimentou, mandoume minha fotografia
de salário). de garoto, com olhos em expectativa admirando o mundo. Este
mundo sem respostas para os meus dezoito anos. Mundo carta
O mau emprego dos pronomes relativos também pode levar sem remetente, carta interrogativa para moço que aguarda o
à falta de coesão gramatical. Frequentemente, empregase no futuro, saboreando o fruto do amanhã.
qual ou ao qual em lugar do que, com prejuízo da clareza do Recebi um disco, também, cuja música tem a sonoridade de
texto; outras vezes, o emprego é desnecessário ou inadequado. passos marchando para o futuro, ao som de melodias de cirandas
Barbosa e Amaral (colaboradora) apresentam os seguintes esquecidas do meninomoço de outrora, e do moçohomem de hoje,
exemplos: que completa dezoito anos.
Sou agora a certeza de uma resposta à carta sem remetente
“Pela manhã o carteiro chegou com um envelope para mim que me comunica a vida. Vejo, na fotografia de mim mesmo, o
no qual estava sem remetente”. (Chegou com um envelope que (o homem que enfrentará a vida, que colherá com seu amor à luta e
qual) estava sem remetente). com seu espírito ambicioso, os frutos do destino.
E a música dos passosfuturos na cadência do menino que
“Encontrei apenas belas palavras o qual não duvido da deixou de ser, está o ritmo da vitória sobre as dificuldades, a minha
sensibilidade...” consagração futura do homem, que vencerá o destino e será uma
Encontrei belas palavras e não duvido da sensibilidade delas afirmação dentro da sociedade.” C. G.
(palavras cheias de sensibilidade).
Exemplo de: (Fonseca, 1981, p. 178)

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APOSTILAS OPÇÃO
Para evitar a falta de coerência e coesão na articulação das 2. (TJ-PA - MÉDICO PSIQUIATRA - VUNESP - 2014). Leia o
frases, aconselhase levar em conta as seguintes sugestões para trecho do primeiro parágrafo para responder à questão.
o emprego correto dos articuladores sintáticos (conjunções,
preposições, locuções prepositivas e locuções conjuntivas). Meu amigo lusitano, Diniz, está traduzindo para o francês
Para dar ideia de oposição ou contradição, a articulação meus dois primeiros romances, Os Éguas e Moscow. Temos
sintática se faz por meio de conjunções adversativas: mas, porém, trocado e-mails muito interessantes, por conta de palavras e
todavia, contudo, no entanto, entretanto (nunca no entretanto). gírias comuns no meu Pará e absolutamente sem sentido para
Podem também ser empregadas as conjunções concessivas e ele. Às vezes é bem difícil explicar, como na cena em que alguém
locuções prepositivas para introduzir a ideia de oposição aliada empina papagaio e corta o adversário “no gasgo”.
à concessão: embora, ou muito embora, apesar de, ainda que,
conquanto, posto que, a despeito de, não obstante. Os termos muito e bem, em destaque, atribuem aos termos
A articulação sintática de causa pode ser feita por meio aos quais se subordinam sentido de:
de conjunções e locuções conjuntivas: pois, porque, como, por (A) comparação.
isso que, visto que, uma vez que, já que. Também podem ser (B) intensidade.
empregadas as preposições e locuções prepositivas: por, por (C) igualdade.
causa de, em vista de, em virtude de, devido a, em consequência (D) dúvida.
de, por motivo de, por razões de. (E) quantidade.
O principal articulador sintático de condição é o “se”: Se o
time ganhar esse jogo, será campeão. Podese também expressar 3. (TJ-PA - MÉDICO PSIQUIATRA - VUNESP - 2014).
condição pelo emprego dos conectivos: caso, contanto que, desde Assinale a alternativa em que a seguinte passagem – Mas o
que, a menos que, a não ser que. vento foi mais ágil e o papel se perdeu. (terceiro parágrafo) –
O emprego da preposição “para” é a maneira mais comum de está reescrita com o acréscimo de um termo que estabelece uma
expressar finalidade. “É necessário baixar as taxas de juros para relação de conclusão, consequência, entre as orações.
que a economia se estabilize” ou para a economia se estabilizar. (A) mas o vento foi mais ágil e, contudo, o papel se perdeu.
“Teresa vai estudar bastante para fazer boa prova.” Há outros (B) mas o vento foi mais ágil e, assim, o papel se perdeu.
articuladores que expressam finalidade: afim de, com o propósito (C) mas o vento foi mais ágil e, todavia, o papel se perdeu
de, na finalidade de, com a intenção de, com o objetivo de, com o (D) mas o vento foi mais ágil e, entretanto, o papel se perdeu.
fito de, com o intuito de. (E) mas o vento foi mais ágil e, porém, o papel se perdeu.
A ideia de conclusão pode ser introduzida por meio dos
articuladores: assim, desse modo, então, logo, portanto, pois, por 4. (PREFEITURA DE PAULISTA/PE – RECEPCIONISTA –
isso, por conseguinte, de modo que, em vista disso. Para introduzir UPENET/2014). Observe o fragmento de texto abaixo:
mais um argumento a favor de determinada conclusão “Mas o que fazer quando o conteúdo não é lembrado
empregase ainda. Os articuladores, aliás, além do mais, além justamente na hora da prova?”
disso, além de tudo, introduzem um argumento decisivo, cabal, Sobre ele, analise as afirmativas abaixo:
apresentado como um acréscimo, para justificar de forma
incontestável o argumento contrário. I. O termo “Mas” é classificado como conjunção subordinativa
Para introduzir esclarecimentos, retificações ou e, nesse contexto, pode ser substituído por “desde que”.
desenvolvimento do que foi dito empregamse os articuladores: II. Classifica-se o termo “quando” como conjunção
isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras. A conjunção subordinativa que exprime circunstância temporal.
aditiva “e” anuncia não a repetição, mas o desenvolvimento do III. Acentua-se o “u” tônico do hiato existente na palavra
discurso, pois acrescenta uma informação nova, um dado novo, “conteúdo”.
e se não acrescentar nada, é pura repetição e deve ser evitada. IV. Os termos “conteúdo”, “hora” e “prova” são palavras
Alguns articuladores servem para estabelecer uma gradação invariáveis, classificadas como substantivos.
entre os correspondentes de determinada escala. No alto dessa Está CORRETO apenas o que se afirma em:
escala achamse: mesmo, até, até mesmo; outros situamse no (A) I e III.
plano mais baixo: ao menos, pelo menos, no mínimo. (B) II e IV.
(C) I e IV.
Questões (D) II e III.
(E) I e II.
1. (CONAB - CONTABILIDADE - IADES - 2014). Assinale
a alternativa que preserva as relações morfossintáticas e 5. (PREFEITURA DE OSASCO/SP - MOTORISTA DE
semânticas do período “Diante de sua rápida adaptação ao AMBULÂNCIA – FGV/2014).
solo e ao clima, o produto adquiriu importância no mercado,
transformando-se em um dos principais itens de exportação, Dificuldades no combate à dengue
desde o Império até os dias atuais.” (linhas de 3 a 6).
(A) Em face de sua rápida adaptação ao solo e ao clima, o A epidemia da dengue tem feito estragos na cidade de São
produto adquiriu importância no mercado, porém transformou- Paulo. Só este ano, já foram registrados cerca de 15 mil casos da
se em um dos principais itens de exportação, desde o Império doença, segundo dados da Prefeitura.
até os dias atuais. As subprefeituras e a Vigilância Sanitária dizem que existe
(B) O produto, em virtude de sua rápida adaptação ao solo um protocolo para identificar os focos de reprodução do
e ao clima, adquiriu importância no mercado e transformou-se mosquito transmissor, depois que uma pessoa é infectada. Mas
em um dos principais itens de exportação, desde o Império até quando alguém fica doente e avisa as autoridades, não é bem
os dias atuais. isso que acontece.
(C) O produto, por sua rápida adaptação ao solo e ao clima, (Saúde Uol).
adquiriu importância no mercado, todavia, desde o Império até “Só este ano...” O ano a que a reportagem se refere é o ano
os dias atuais, transformou-se, consequentemente, em um dos (A) em que apareceu a dengue pela primeira vez.
principais itens de exportação. (B) em que o texto foi produzido.
(D) Face sua rápida adaptação ao solo e ao clima, o produto (C) em que o leitor vai ler a reportagem.
adquiriu importância no mercado, e, conquanto, transformou-se (D) em que a dengue foi extinta na cidade de São Paulo.
em um dos principais itens de exportação, desde o Império até (E) em que começaram a ser registrados os casos da doença.
os dias atuais.
(E) O produto transformou-se, desde o Império até os dias Respostas
atuais, em um dos principais itens de exportação por que sua 1. (B)
adaptação ao solo e ao clima foi rápida. O item que reproduz o enunciado de maneira adequada é: O
produto, em virtude de sua rápida adaptação ao solo e ao clima,

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APOSTILAS OPÇÃO
adquiriu importância no mercado e transformou-se em um dos por conectivos comparativos explícitos – feito, assim como,
principais itens de exportação, desde o Império até os dias atuais. tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem – e alguns verbos –
parecer, assemelhar-se e outros.
2. (B)
Muito interessantes / bem difícil = ambos os advérbios Exemplos: “Amou daquela vez como se fosse máquina.
mantêm relação com adjetivos, dando-lhes noção de intensidade. Beijou sua mulher como se fosse lógico.

3. (B) Metáfora: Ocorre metáfora quando um termo substitui


Nas alternativas A, C, D e E são apresentadas conjunções outro através de uma relação de semelhança resultante da
adversativas – que nos dão ideia contrária à apresentada subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser
anteriormente; já na B, temos uma conjunção conclusiva (assim). entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo
não está expresso, mas subentendido.
4. (D)
I. O termo “Mas” é classificado como conjunção subordinativa Exemplo: “Supondo o espírito humano uma vasta concha, o
= é conjunção coordenativa adversativa meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão.”
II. Classifica-se o termo “quando” como conjunção
subordinativa que exprime circunstância temporal = correta Metonímia: Ocorre metonímia quando há substituição de
III. Acentua-se o “u” tônico do hiato existente na palavra uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de
“conteúdo” = correta semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação
IV. “Os termos “conteúdo”, “hora” e “prova” são palavras mútua. Tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva,
invariáveis, classificadas como substantivos = são substantivos, real, realizando-se de inúmeros modos:
mas variáveis (conteúdos, horas e provas. Lembrando que
“prova” e “provas” podem ser verbo: Ele prova todos os doces! - A causa pelo efeito e vice-versa:
Tu provas também?)
“E assim o operário ia
5. (B) Com suor e com cimento*
O ano em questão corresponde ao ano em que foi feita a Erguendo uma casa aqui
matéria. Adiante um apartamento.”
*Com trabalho.

Semântica. - O lugar de origem ou de produção pelo produto:

Comprei uma garrafa do legítimo porto*.


*O vinho da cidade do Porto.
Caro (a) leitor (a), esse assunto já foi abordado no tópico de
“Significação das palavras”. - O autor pela obra:

Ela parecia ler Jorge Amado*.


Figuras de linguagem. *A obra de Jorge Amado.
- O abstrato pelo concreto e vice-versa:

Não devemos contar com o seu coração*.


Figuras de Linguagem *Sentimento, sensibilidade.

As figuras de linguagem ou de estilo, de acordo com Renan Sinédoque: Ocorre sinédoque quando há substituição de
Bardine, são empregadas para valorizar o texto, tornando um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido
a linguagem mais expressiva. É um recurso linguístico para usual da palavra numa relação quantitativa. Encontramos
expressar experiências comuns de formas diferentes, conferindo sinédoque nos seguintes casos:
originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso.
- O todo pela parte e vice-versa:
As figuras revelam muito da sensibilidade de quem as
produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor. A “A cidade inteira (1) viu assombrada, de queixo caído, o
palavra empregada em sentido figurado, não-denotativo, passa pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos (2) de seu cavalo.”
a pertencer a outro campo de significação, mais amplo e criativo. *1 O povo. 2 Parte das patas.

As figuras de linguagem classificam-se em: - O singular pelo plural e vice-versa:


1) figuras de palavra;
2) figuras de harmonia; O paulista (3) é tímido; o carioca (4), atrevido.
3) figuras de pensamento; *3 Todos os paulistas. 4 Todos os cariocas.
4) figuras de construção ou sintaxe.
- O indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum):
1) FIGURAS DE PALAVRA
As figuras de palavra são figuras de linguagem que consistem Para os artistas ele foi um mecenas (5).
no emprego de um termo com sentido diferente daquele *5 Protetor.
convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito
mais expressivo na comunicação. Modernamente, a metonímia engloba a sinédoque.

São figuras de palavras: Catacrese: A catacrese é um tipo de especial de metáfora,


a) comparação e) catacrese “é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente
b) metáfora f) sinestesia nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca.
c) metonímia g) antonomásia É a metáfora tornada hábito lingüístico, já fora do âmbito
d) sinédoque h) alegoria estilístico.” (Othon M. Garcia)
Exemplos: folhas de livro, pele de tomate, dente de alho,
Comparação: Ocorre comparação quando se estabelece montar em burro, céu da boca, cabeça de prego, mão de direção,
aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados ventre da terra, asa da xícara, sacar dinheiro no banco.

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APOSTILAS OPÇÃO
Sinestesia: A sinestesia consiste na fusão de sensações Onomatopeia: Ocorre quando uma palavra ou conjunto de
diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser palavras imita um ruído ou som.
físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas
(subjetivas). Exemplo: “O silêncio fresco despenca das árvores.
Veio de longe, das planícies altas,
Exemplo: “A minha primeira recordação é um muro velho, no Dos cerrados onde o guaxe passe rápido…
quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco Vvvvvvvv… passou.”
e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação
visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase irreal.” (Augusto 3) FIGURAS DE PENSAMENTO
Meyer)
As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se
Antonomásia: Ocorre antonomásia quando designamos referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico.
uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a
distingue. São figuras de linguagem de pensamento:

Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, a) antítese d) apóstrofe g) paradoxo


alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, b) eufemismo e) gradação h) hipérbole
especificativo etc.) do nome próprio. c) ironia f) prosopopéia i) perífrase

Exemplos: Antítese: Ocorre antítese quando há aproximação de


“E ao rabi simples(1), que a igualdade prega, palavras ou expressões de sentidos opostos.
Rasga e enlameia a túnica inconsútil;
*1 Cristo Exemplo: “Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições
Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos
O poeta dos escravos (= Castro Alves) almejam o bem, e nos trazem o mal.” (Rui Barbosa)
O Dante Negro (= Cruz e Souza)
O Corso (= Napoleão) Apóstrofe: Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma
pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente
Alegoria: A alegoria é uma acumulação de metáforas ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é
referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que utilizada para dar ênfase à expressão.
consiste em expressar uma situação global por meio de outra
que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas Exemplo: “Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?”
as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é (Castro Alves)
comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos – um
referencial e outro metafórico. Paradoxo: Ocorre paradoxo não apenas na aproximação
de palavras de sentido oposto, mas também na de idéias que
Exemplo: “A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade
e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos enunciada com aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é
comprimários, quando não são o soprano e o contralto que outra designação para paradoxo.
lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos
comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a Exemplo: “Amor é fogo que arde sem se ver;
orquestra é excelente… (Machado de Assis) É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
2) FIGURAS DE HARMONIA É dor que desatina sem doer;” (Camões)

Chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos Eufemismo: Ocorre eufemismo quando uma palavra ou
produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como
quando se procura “imitar”sons produzidos por coisas ou seres. penosa, desagradável ou chocante.

As figuras de linguagem de harmonia ou de som são: Ex:“E pela paz derradeira(1) que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague” (Chico Buarque)
a) aliteração c) assonância *1 paz derradeira: morte
b) paronomásia d) onomatopéia
Gradação: Ocorre gradação quando há uma seqüência de
Aliteração: Ocorre aliteração quando há repetição da palavras que intensificam uma mesma idéia.
mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em
posição inicial da palavra. Exemplo: “Aqui… além… mais longe por onde eu movo o
passo.” (Castro Alves)
Exemplo: “Toda gente homenageia Januária na janela.”
Hipérbole: Ocorre hipérbole quando há exagero de uma
Assonância: Ocorre assonância quando há repetição da idéia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de
mesma vogal ao longo de um verso ou poema. impacto.

Exemplo: “Sou Ana, da cama Exemplo: “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo
da cana, fulana, bacana Bilac)
Sou Ana de Amsterdam.”
Ironia: Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação,
Paronomásia: Ocorre paronomásia quando há reprodução pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as
de sons semelhantes em palavras de significados diferentes. palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa
ou sarcástica.
Exemplo: “Berro pelo aterro pelo desterro
berro por seu berro pelo seu erro Exemplo: “Moça linda, bem tratada,
quero que você ganhe que você me apanhe três séculos de família,
sou o seu bezerro gritando mamãe.” burra como uma porta:
um amor.” (Mário de Andrade)

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Prosopopéia: Ocorre prosopopéia (ou animização ou Exemplo: “Depois o areal extenso…
personificação) quando se atribui movimento, ação, fala, Depois o oceano de pó…
sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a Depois no horizonte imenso
seres inanimados ou imaginários. Desertos… desertos só…” (Castro Alves)

Também a atribuição de características humanas a seres Pleonasmo: Ocorre pleonasmo quando há repetição da
animados constitui prosopopéia o que é comum nas fábulas mesma ideia, isto é, redundância de significado.
e nos apólogos, como este exemplo de Mário de Quintana: “O
peixinho (…) silencioso e levemente melancólico…” a) Pleonasmo literário: É o uso de palavras redundantes para
reforçar uma ideia, tanto do ponto de vista semântico quanto
Exemplos: “… os rios vão carregando as queixas do caminho.” do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico,
(Raul Bopp) enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.

Um frio inteligente (…) percorria o jardim…” (Clarice Exemplo: “Iam vinte anos desde aquele dia
Lispector) Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quando em visão com os da saudade via.” (Alberto
Perífrase: Ocorre perífrase quando se cria um torneio de de Oliveira)
palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou
situação que não se quer nomear. “Ó mar salgado, quando do teu sal
São lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa)
Exemplo: “Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil b) Pleonasmo vicioso: É o desdobramento de ideias que
Cidade maravilhosa já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas.
Coração do meu Brasil.” (André Filho) Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de
reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do
4) FIGURAS DE SINTAXE sentido real das palavras.

As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a Exemplos: subir para cima, entrar para dentro, repetir de
desvios em relação à concordância entre os termos da oração, novo, ouvir com os ouvidos, hemorragia de sangue, monopólio
sua ordem, possíveis repetições ou omissões. exclusivo, breve alocução, principal protagonista
Elas podem ser construídas por:
a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma; Polissíndeto: Ocorre polissíndeto quando há repetição
b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto; enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage; a norma gramatical ( geralmente a conjunção e). É um recurso
d) ruptura: anacoluto; que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.
e) concordância ideológica: silepse.
Exemplo: “Vão chegando as burguesinhas pobres,
Portanto, são figuras de linguagem de construção ou sintaxe: e as criadas das burguesinhas ricas
a) assíndeto e) elipse i) zeugma e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.”
b) anáfora f) pleonasmo j) polissíndeto (Manuel Bandeira)
c) anástrofe g) hiperbato l) sínquise
d) hipálage h) anacoluto m) silepse Anástrofe: Ocorre anástrofe quando há uma simples
inversão de palavras vizinhas (determinante / determinado).
Assíndeto: Ocorre assíndeto quando orações ou palavras
deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem Exemplo: “Tão leve estou (1) que nem sombra tenho.” (Mário
justapostas ou separadas por vírgulas. Quintana)
*1 Estou tão leve…
Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por
exigência das pausas rítmicas (vírgulas). Hipérbato: Ocorre hipérbato quando há uma inversão
completa de membros da frase.
Exemplo: “Não nos movemos, as mãos é que se estenderam
pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, Exemplo: “Passeiam à tarde, as belas na Avenida. ” 1 (Carlos
fundindo-se.” (Machado de Assis) Drummond de Andrade)
*1 As belas passeiam na Avenida à tarde.
Elipse: Ocorre elipse quando omitimos um termo ou
oração que facilmente podemos identificar ou subentender no Sínquise: Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta
contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.
preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e
dinamismo. Exemplo: “A grita se alevanta ao Céu, da gente. ” 1 (Camões)
*1 A grita da gente se alevanta ao Céu.
Exemplo: “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias
coloridas.” Hipálage: Ocorre hipálage quando há inversão da posição do
1 Elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de adjetivo: uma qualidade que pertence a uma objeto é atribuída a
sandálias…) outro, na mesma frase.

Zeugma: Ocorre zeugma quando um termo já expresso na Exemplo: “… as lojas loquazes dos barbeiros.” 2 (Eça de
frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição. Queiros)
*2 … as lojas dos barbeiros loquazes.
Exemplo: “Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários
dos Felipes.” 1 Anacoluto: Ocorre anacoluto quando há interrupção
1 Zeugma do verbo: “e foram assassinados…” do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a
seqüência lógica. A construção do período deixa um ou mais
Anáfora: Ocorre anáfora quando há repetição intencional de termos – que não apresentam função sintática definida –
palavras no início de um período, frase ou verso. desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa
sensível.

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APOSTILAS OPÇÃO
Exemplo: “Essas empregadas de hoje, não se pode confiar (A) O equilíbrio ou desequilíbrio depende do ambiente
nelas.” (Alcântara Machado) familiar.
(B) Temos medo de sair às ruas.
Silepse: Ocorre silepse quando a concordância não é feita (C) Nestes dias começamos a ter medo também dentro dos
com as palavras, mas com a ideia a elas associada. shoppings.
(D) Somos esse novelo de dons.
a) Silepse de gênero: Ocorre quando há discordância entre (E) As notícias da imprensa nos dão medo em geral.
os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).
Exemplo: “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.” 05. No verso “Essa dor doeu mais forte”, pode-se perceber a
(Guimarães Rosa) presença de uma figura de linguagem denominada:
(A) ironia
b) Silepse de número: Ocorre quando há discordância (B) pleonasmo
envolvendo o número gramatical (singular ou plural). (C) comparação
Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam.” (Mário (D) metonímia
Barreto)
Respostas
c) Silepse de pessoa: Ocorre quando há discordância entre o 01. D\02. D\03. B\04. D\05. B
sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve
se inclui no sujeito enunciado.
Exemplo: “Na noite seguinte estávamos reunidas algumas
pessoas.” (Machado de Assis)
Anotações
Questões

01. Ao dizer que os shoppings são “cidades”, o autor do texto


faz uso de um tipo de linguagem figurada denominada
(A) metonímia.
(B) eufemismo.
(C) hipérbole.
(D) metáfora.
(E) catacrese.

02. Identifique a figura de linguagem presente na tira


seguinte:

(A) metonímia
(B) prosopopeia
(C) hipérbole
(D) eufemismo
(E) onomatopeia

03.
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto.

O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de


linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira,
horário do dia em que o calor é mais intenso, a temperatura
do asfalto, medida com um termômetro de contato, chegou a
65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local alcançasse
aproximadamente 90 ºC.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso em:
22 jan. 2014.

O texto cita que o dito popular “está tão quente que dá para
fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de linguagem. O
autor do texto refere-se a qual figura de linguagem?
(A) Eufemismo.
(B) Hipérbole.
(C) Paradoxo.
(D) Metonímia.
(E) Hipérbato.

04. A linguagem por meio da qual interagimos no nosso


dia a dia pode revestir-se de nuances as mais diversas: pode
apresentar-se em sentido literal, figurado, metafórico. A opção
em cujo trecho utilizou-se linguagem metafórica é

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LEGISLAÇÃO BÁSICA EM
EDUCAÇÃO

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APOSTILAS OPÇÃO

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)


aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte
forma:
a) pré-escola;
b) ensino fundamental;
c) ensino médio;
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco)
anos de idade;
Lei de Diretrizes e Base da III - atendimento educacional especializado gratuito aos
educandos com deficiência, transtornos globais do
Educação Nacional atualizada, desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
LDB, Lei nº 9.394/1996. transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e
médio para todos os que não os concluíram na idade própria;
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o condições do educando;
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
adultos, com características e modalidades adequadas às suas
TÍTULO I necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem
Da Educação trabalhadores as condições de acesso e permanência na
escola;
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no educação básica, por meio de programas suplementares de
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos material didático-escolar, transporte, alimentação e
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas assistência à saúde;
manifestações culturais. IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
instituições próprias. ensino-aprendizagem.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino
trabalho e à prática social. fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a
partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
TÍTULO II
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 5° O acesso à educação básica obrigatória é direito
público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada cidadãos, associação comunitária, organização sindical,
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua § 1o O poder público, na esfera de sua competência
qualificação para o trabalho. federativa, deverá:
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes idade escolar, bem como os jovens e adultos que não
princípios: concluíram a educação básica;
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na II - fazer-lhes a chamada pública;
escola; III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a escola.
cultura, o pensamento, a arte e o saber; § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório,
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais
V - coexistência de instituições públicas e privadas de níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades
ensino; constitucionais e legais.
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos § 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
oficiais; artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na
VII - valorização do profissional da educação escolar; hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.
Lei e da legislação dos sistemas de ensino; § 4º Comprovada a negligência da autoridade competente
IX - garantia de padrão de qualidade; para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela
X - valorização da experiência extraescolar; ser imputada por crime de responsabilidade.
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as § 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de
práticas sociais. ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. aos diferentes níveis de ensino, independentemente da
escolarização anterior.
TÍTULO III
Do Direito à Educação e do Dever de Educar Art. 6° É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula
das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública de idade.
será efetivado mediante a garantia de:

Legislação Básica em Educação 1


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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
seguintes condições: oficiais dos seus sistemas de ensino;
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na
do respectivo sistema de ensino; oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a
II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo
pelo Poder Público; com a população a ser atendida e os recursos financeiros
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;
previsto no art. 213 da Constituição Federal. III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em
consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação,
TÍTULO IV integrando e coordenando as suas ações e as dos seus
Da Organização da Educação Nacional Municípios;
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Municípios organizarão, em regime de colaboração, os educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
respectivos sistemas de ensino. ensino;
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de V - baixar normas complementares para o seu sistema de
educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e ensino;
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
relação às demais instâncias educacionais. prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
nos termos desta Lei. VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
estadual.
Art. 9º A União incumbir-se-á de: Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração competências referentes aos Estados e aos Municípios.
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
Territórios; oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao e planos educacionais da União e dos Estados;
Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à III - baixar normas complementares para o seu sistema de
escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva ensino;
e supletiva; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito estabelecimentos do seu sistema de ensino;
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e,
educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas
assegurar formação básica comum; plenamente as necessidades de sua área de competência e com
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do
para identificação, cadastramento e atendimento, na educação ensino.
básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) municipal.
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por
educação; se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele
VI - assegurar processo nacional de avaliação do um sistema único de educação básica.
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior,
em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e incumbência de:
pós-graduação; I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
instituições de educação superior, com a cooperação dos financeiros;
sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula
ensino; estabelecidas;
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de docente;
educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor
ensino. rendimento;
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando
Nacional de Educação, com funções normativas e de processos de integração da sociedade com a escola;
supervisão e atividade permanente, criado por lei. VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a
União terá acesso a todos os dados e informações necessários frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a
de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais. execução da proposta pedagógica da escola;
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que competente da Comarca e ao respectivo representante do
mantenham instituições de educação superior. Ministério Público a relação dos alunos que apresentem
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: percentual permitido em lei.

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
estabelecimento de ensino; jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem fins
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; representantes da comunidade;
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
de menor rendimento; jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, específicas e ao disposto no inciso anterior;
além de participar integralmente dos períodos dedicados ao IV - filantrópicas, na forma da lei.
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola TÍTULO V
com as famílias e a comunidade. Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da CAPÍTULO I


gestão democrática do ensino público na educação básica, de Da Composição dos Níveis Escolares
acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes
princípios: Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
I - participação dos profissionais da educação na I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
elaboração do projeto pedagógico da escola; fundamental e ensino médio;
II - participação das comunidades escolar e local em II - educação superior.
conselhos escolares ou equivalentes.
CAPÍTULO II
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades DA EDUCAÇÃO BÁSICA
escolares públicas de educação básica que os integram Seção I
progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa Das Disposições Gerais
e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito
financeiro público. Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver
o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para
I - as instituições de ensino mantidas pela União; progredir no trabalho e em estudos posteriores.
II - as instituições de educação superior criadas e mantidas
pela iniciativa privada; Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries
III - os órgãos federais de educação. anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de
períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade,
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
Federal compreendem: organização, sempre que o interesse do processo de
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, aprendizagem assim o recomendar.
pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
II - as instituições de educação superior mantidas pelo quando se tratar de transferências entre estabelecimentos
Poder Público municipal; situados no País e no exterior, tendo como base as normas
III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas curriculares gerais.
e mantidas pela iniciativa privada; § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
respectivamente. critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de o número de horas letivas previsto nesta Lei.
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
integram seu sistema de ensino. Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem: I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas
educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar,
II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;
pela iniciativa privada; (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
III – os órgãos municipais de educação. II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis a) por promoção, para alunos que cursaram, com
classificam-se nas seguintes categorias administrativas: aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, b) por transferência, para candidatos procedentes de
mantidas e administradas pelo Poder Público; outras escolas;
II - privadas, assim entendidas as mantidas e c) independentemente de escolarização anterior, mediante
administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito avaliação feita pela escola, que defina o grau de
privado. desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua
inscrição na série ou etapa adequada, conforme
Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão regulamentação do respectivo sistema de ensino;
nas seguintes categorias: (Regulamento) III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular
I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que por série, o regimento escolar pode admitir formas de
são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou progressão parcial, desde que preservada a sequência do
jurídicas de direito privado que não apresentem as currículo, observadas as normas do respectivo sistema de
características dos incisos abaixo; ensino;

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APOSTILAS OPÇÃO

IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro
de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento de 1969;
na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou V – (Vetado)
outros componentes curriculares; VI – que tenha prole.
V - a verificação do rendimento escolar observará os § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
seguintes critérios: contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os africana e europeia.
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de § 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto
eventuais provas finais; ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com 13.415, de 2017)
atraso escolar; § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries linguagens que constituirão o componente curricular de que
mediante verificação do aprendizado; trata o § 2º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; 2016).
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de § 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério
preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela
de ensino em seus regimentos; Lei nº 13.415, de 2017)
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, § 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá
conforme o disposto no seu regimento e nas normas do componente curricular complementar integrado à proposta
respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para mínimo, 2 (duas) horas mensais.
aprovação; § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos prevenção de todas as formas de violência contra a criança e
escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou ao adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos
certificados de conclusão de cursos, com as especificações currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo
cabíveis. como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do da Criança e do Adolescente), observada a produção e
caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino distribuição de material didático adequado.
médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular
mil horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e
2017. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do Art. 26.A- Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
art. 4º. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o
estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo
responsáveis alcançar relação adequada entre o número de incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais caracterizam a formação da população brasileira, a partir
do estabelecimento. desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas
vista das condições disponíveis e das características regionais no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o
e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas
neste artigo. contribuições nas áreas social, econômica e política,
pertinentes à história do Brasil.
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, educação artística e de literatura e história brasileiras.
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e dos educandos. Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social,
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem
realidade social e política, especialmente do Brasil. comum e à ordem democrática;
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões II - consideração das condições de escolaridade dos alunos
regionais, constituirá componente curricular obrigatório da em cada estabelecimento;
educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) III - orientação para o trabalho;
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas
escola, é componente curricular obrigatório da educação desportivas não-formais.
básica, sendo sua prática facultativa ao aluno:
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis Art. 28. Na oferta de educação básica para a população
horas; rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações
II – maior de trinta anos de idade; necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em de cada região, especialmente:
situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às
reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;

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II - organização escolar própria, incluindo adequação do § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a
climáticas; utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. aprendizagem.
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino
indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do a distância utilizado como complementação da aprendizagem
órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que ou em situações emergenciais.
considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá,
Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças
manifestação da comunidade escolar. e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13
de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
Seção II Adolescente, observada a produção e distribuição de material
Da Educação Infantil didático adequado.
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação como tema transversal nos currículos do ensino fundamental.
básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina
família e da comunidade. dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
Art. 30. A educação infantil será oferecida em: religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os
três anos de idade; procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
anos de idade. admissão dos professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil,
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a
as seguintes regras comuns: definição dos conteúdos do ensino religioso.
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá
mesmo para o acesso ao ensino fundamental; pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula,
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, sendo progressivamente ampliado o período de permanência
distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho na escola.
educacional; § 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada § 2º O ensino fundamental será ministrado
integral; progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas
IV - controle de frequência pela instituição de educação de ensino.
pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por
cento) do total de horas; Seção IV
V - expedição de documentação que permita atestar os Do Ensino Médio
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica,
Seção III com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
Do Ensino Fundamental I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de prosseguimento de estudos;
9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
cidadão, mediante: se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo aperfeiçoamento posteriores;
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do III - o aprimoramento do educando como pessoa humana,
cálculo; incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema intelectual e do pensamento crítico;
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se IV - a compreensão dos fundamentos científico-
fundamenta a sociedade; tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, com a prática, no ensino de cada disciplina.
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
formação de atitudes e valores; Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas
assenta a vida social. seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415,
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino de 2017)
fundamental em ciclos. I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular 13.415, de 2017)
por série podem adotar no ensino fundamental o regime de II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo 13.415, de 2017)
de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído pela
sistema de ensino. Lei nº 13.415, de 2017)

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IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela Lei § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser
nº 13.415, de 2017) composto itinerário formativo integrado, que se traduz na
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o composição de componentes curriculares da Base Nacional
caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos,
estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser considerando os incisos I a V do caput. (Redação dada pela Lei
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, nº 13.415, de 2017)
ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino
educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o
13.415, de 2017) caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação
obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às com ênfase técnica e profissional considerará: (Incluído pela
comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas Lei nº 13.415, de 2017)
línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem
preferencialmente o espanhol, de acordo com a profissional; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos II - a possibilidade de concessão de certificados
sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) intermediários de qualificação para o trabalho, quando a
§ 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base formação for estruturada e organizada em etapas com
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e terminalidade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de § 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao
acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela inciso V do caput, em áreas que não constem do Catálogo
Lei nº 13.415, de 2017) Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
§ 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conselho
esperados para o ensino médio, que serão referência nos Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção no
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos,
Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) contados da data de oferta inicial da formação. (Incluído pela
§ 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a Lei nº 13.415, de 2017)
formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho § 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se
voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou
formação nos aspectos físicos, cognitivos e sócio emocionais. em parceria com outras instituições, deverá ser aprovada
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) previamente pelo Conselho Estadual de Educação,
§ 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
avaliação processual e formativa serão organizados nas redes certificada pelos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº
de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas 13.415, de 2017)
orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de § 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) ao prosseguimento dos estudos em nível superior ou em
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que outros cursos ou formações para os quais a conclusão do
presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº 13.415, ensino médio seja etapa obrigatória. (Incluído pela Lei nº
de 2017) 13.415, de 2017)
II - conhecimento das formas contemporâneas de § 10. Além das formas de organização previstas no art. 23,
linguagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) o ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o
sistema de créditos com terminalidade específica. (Incluído
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela pela Lei nº 13.415, de 2017)
Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, § 11. Para efeito de cumprimento das exigências
que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto reconhecer competências e firmar convênios com instituições
local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: de educação a distância com notório reconhecimento,
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído pela
I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei nº Lei nº 13.415, de 2017)
13.415, de 2017) I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de
II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei 2017)
nº 13.415, de 2017) II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação dada experiência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela
pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada III - atividades de educação técnica oferecidas em outras
pela Lei nº 13.415, de 2017) instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº
V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
13.415, de 2017) IV - cursos oferecidos por centros ou programas
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e das ocupacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
respectivas competências e habilidades será feita de acordo V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais
com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído pela
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º Revogado pela Lei nº 11.741/08

Legislação Básica em Educação 6


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§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos
escolha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na
previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,
consideradas as características do alunado, seus interesses,
Seção IV-A condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a
permanência do trabalhador na escola, mediante ações
Art. 36.A- Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste integradas e complementares entre si.
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões preferencialmente, com a educação profissional, na forma do
técnicas. regulamento.
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e,
facultativamente, a habilitação profissional poderão ser Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio supletivos, que compreenderão a base nacional comum do
ou em cooperação com instituições especializadas em currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em
educação profissional. caráter regular.
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
Art. 36.B- A educação profissional técnica de nível médio I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os
será desenvolvida nas seguintes formas: maiores de quinze anos;
I - articulada com o ensino médio; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha de dezoito anos.
concluído o ensino médio. § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos
médio deverá observar: mediante exames.
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes CAPÍTULO III
curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
de Educação; Da Educação Profissional e Tecnológica
II - as normas complementares dos respectivos sistemas de
ensino; Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se
de seu projeto pedagógico. aos diferentes níveis e modalidades de educação e às
dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.
Art. 36.C- A educação profissional técnica de nível médio § 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica
articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, poderão ser organizados por eixos tecnológicos,
será desenvolvida de forma: possibilitando a construção de diferentes itinerários
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído formativos, observadas as normas do respectivo sistema e
o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a nível de ensino.
conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível § 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os
médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se seguintes cursos:
matrícula única para cada aluno; I – de formação inicial e continuada ou qualificação
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino profissional;
médio ou já o estejam cursando, efetuando-se matrículas II – de educação profissional técnica de nível médio;
distintas para cada curso, e podendo ocorrer: III – de educação profissional tecnológica de graduação e
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as pós-graduação.
oportunidades educacionais disponíveis; § 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne
oportunidades educacionais disponíveis; a objetivos, características e duração, de acordo com as
c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho
de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao Nacional de Educação.
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em
Art. 36.D- Os diplomas de cursos de educação profissional articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias
técnica de nível médio, quando registrados, terão validade de educação continuada, em instituições especializadas ou no
nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na ambiente de trabalho.
educação superior.
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional Art. 41. O conhecimento adquirido na educação
técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante e profissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser
subsequente, quando estruturados e organizados em etapas objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados prosseguimento ou conclusão de estudos.
de qualificação para o trabalho após a conclusão, com Art. 42. As instituições de educação profissional e
aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
qualificação para o trabalho. especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à
capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível
Seção V de escolaridade.
Da Educação de Jovens e Adultos CAPÍTULO IV
Da Educação Superior
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
ensino fundamental e médio na idade própria. I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
espírito científico e do pensamento reflexivo;

Legislação Básica em Educação 7


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APOSTILAS OPÇÃO

II - formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem
e para a participação no desenvolvimento da sociedade como o credenciamento de instituições de educação superior,
brasileira, e colaborar na sua formação contínua; terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente,
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação após processo regular de avaliação.
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este
desenvolver o entendimento do homem e do meio em que artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o
vive; caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, na instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da
científicos e técnicos que constituem patrimônio da autonomia, ou em descredenciamento.
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
publicações ou de outras formas de comunicação; responsável por sua manutenção acompanhará o processo de
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários,
cultural e profissional e possibilitar a correspondente para a superação das deficiências.
concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo § 3º No caso de instituição privada, além das sanções
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do previstas no § 1o, o processo de reavaliação poderá resultar
conhecimento de cada geração; também em redução de vagas autorizadas, suspensão
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo temporária de novos ingressos e de oferta de cursos. (Incluído
presente, em particular os nacionais e regionais, prestar pela Medida Provisória nº 785, de 2017)
serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta § 4º É facultado ao Ministério da Educação, mediante
uma relação de reciprocidade; procedimento específico e com a aquiescência da instituição
VII - promover a extensão, aberta à participação da de ensino, com vistas a resguardar o interesse dos estudantes,
população, visando à difusão das conquistas e benefícios comutar as penalidades previstas nos § 1o e § 3o em outras
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e medidas, desde que adequadas para a superação das
tecnológica geradas na instituição. deficiências e irregularidades constatadas. (Incluído pela
VIII - atuar em favor da universalização e do Medida Provisória nº 785, de 2017)
aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a
capacitação de profissionais, a realização de pesquisas Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular,
pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de
que aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos
13.174, de 2015) exames finais, quando houver.
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes de
Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos cada período letivo, os programas dos cursos e demais
e programas: componentes curriculares, sua duração, requisitos,
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios
níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições,
requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primeiras
que tenham concluído o ensino médio ou equivalente; formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº 13.168,
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham de 2015).
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido I - em página específica na internet no sítio eletrônico
classificados em processo seletivo; oficial da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte:
III - de pós-graduação, compreendendo programas de (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
mestrado e doutorado, cursos de especialização, a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como
aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168, de
em cursos de graduação e que atendam às exigências das 2015)
instituições de ensino; b) a página principal da instituição de ensino superior, bem
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a
requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de forma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma
ensino. finalidade, deve conter a ligação desta com a página específica
§ 1º Os resultados do processo seletivo referido no inciso prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
II do caput deste artigo serão tornados públicos pelas c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio
instituições de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação eletrônico, deve criar página específica para divulgação das
da relação nominal dos classificados, a respectiva ordem de informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº 13.168,
classificação, bem como do cronograma das chamadas para de 2015)
matrícula, de acordo com os critérios para preenchimento das d) a página específica deve conter a data completa de sua
vagas constantes do respectivo edital. última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições II - em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino
públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao superior, por meio de ligação para a página referida no inciso
candidato que comprove ter renda familiar inferior a dez I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
salários mínimos, ou ao de menor renda familiar, quando mais III - em local visível da instituição de ensino superior e de
de um candidato preencher o critério inicial. (Incluído pela Lei fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
nº 13.184, de 2015) IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido,
as competências e as habilidades definidas na Base Nacional observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) a) caso o curso mantenha disciplinas com duração
diferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela
Art. 45. A educação superior será ministrada em lei nº 13.168, de 2015)
instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início
variados graus de abrangência ou especialização. das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)

Legislação Básica em Educação 8


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c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo I - produção intelectual institucionalizada mediante o
docente até o início das aulas, os alunos devem ser estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes,
comunicados sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e
de 2015) nacional;
V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela lei II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação
nº 13.168, de 2015) acadêmica de mestrado ou doutorado;
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de III - um terço do corpo docente em regime de tempo
ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) integral.
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular Parágrafo único. É facultada a criação de universidades
de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela especializadas por campo do saber.
lei nº 13.168, de 2015)
c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às
cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes
curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação atribuições:
profissional do docente e o tempo de casa do docente, de forma I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e
total, contínua ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168, programas de educação superior previstos nesta Lei,
de 2015) obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento respectivo sistema de ensino;
nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros II - fixar os currículos dos seus cursos e programas,
instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca observadas as diretrizes gerais pertinentes;
examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa
seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino. científica, produção artística e atividades de extensão;
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade
salvo nos programas de educação a distância. institucional e as exigências do seu meio;
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, no V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em
período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de consonância com as normas gerais atinentes;
qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
oferta noturna nas instituições públicas, garantida a VII - firmar contratos, acordos e convênios;
necessária previsão orçamentária. VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, geral, bem como administrar rendimentos conforme
quando registrados, terão validade nacional como prova da dispositivos institucionais;
formação recebida por seu titular. IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos
elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições estatutos;
não-universitárias serão registrados em universidades X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. cooperação financeira resultante de convênios com entidades
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por públicas e privadas.
universidades estrangeiras serão revalidados por Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático-
universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e científica das universidades, caberá aos seus colegiados de
área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários
de reciprocidade ou equiparação. disponíveis, sobre:
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos II - ampliação e diminuição de vagas;
por universidades que possuam cursos de pós-graduação III - elaboração da programação dos cursos;
reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e IV - programação das pesquisas e das atividades de
em nível equivalente ou superior. extensão;
V - contratação e dispensa de professores;
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a VI - planos de carreira docente.
transferência de alunos regulares, para cursos afins, na
hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo. Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para
forma da lei. atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e
financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus planos
Art. 50. As instituições de educação superior, quando da de carreira e do regime jurídico do seu pessoal.
ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições
cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade asseguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas
de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio. poderão:
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e
Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas administrativo, assim como um plano de cargos e salários,
como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos
seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos disponíveis;
desses critérios sobre a orientação do ensino médio, II - elaborar o regulamento de seu pessoal em
articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas de conformidade com as normas gerais concernentes;
ensino. III - aprovar e executar planos, programas e projetos de
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
Art. 52. As universidades são instituições geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de Poder mantenedor;
nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento)

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V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou
peculiaridades de organização e funcionamento; psicomotora;
VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
aprovação do Poder competente, para aquisição de bens suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino
imóveis, instalações e equipamentos; regular.
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro
necessárias ao seu bom desempenho. nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser matriculados na educação básica e na educação superior, a fim
estendidas a instituições que comprovem alta qualificação de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao
para o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado.
realizada pelo Poder Público. (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)

Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e estabelecerão critérios de caracterização das instituições
desenvolvimento das instituições de educação superior por ela privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
mantidas. exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
financeiro pelo Poder Público.
Art. 56. As instituições públicas de educação superior Parágrafo único. O poder público adotará, como
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos
existência de órgãos colegiados deliberativos, de que educandos com deficiência, transtornos globais do
participarão os segmentos da comunidade institucional, local desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na
e regional. própria rede pública regular de ensino, independentemente
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão do apoio às instituições previstas neste artigo.
setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e
comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e TÍTULO VI
modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha Dos Profissionais da Educação
de dirigentes.
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido
professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de formados em cursos reconhecidos, são:
aulas. I – professores habilitados em nível médio ou superior
para a docência na educação infantil e nos ensinos
CAPÍTULO V fundamental e médio;
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL II – trabalhadores em educação portadores de diploma de
pedagogia, com habilitação em administração, planejamento,
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com
desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas;
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim.
altas habilidades ou superdotação. IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de
especializado, na escola regular, para atender às áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
peculiaridades da clientela de educação especial. atestados por titulação específica ou prática de ensino em
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente
condições específicas dos alunos, não for possível a sua para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei
integração nas classes comuns de ensino regular. nº 13.415, de 2017)
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do V - profissionais graduados que tenham feito
Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a complementação pedagógica, conforme disposto pelo
educação infantil. Conselho Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415,
de 2017)
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e Parágrafo único. A formação dos profissionais da
altas habilidades ou superdotação: educação, de modo a atender às especificidades do exercício
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes
organização específicos, para atender às suas necessidades; etapas e modalidades da educação básica, terá como
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem fundamentos:
atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, I – a presença de sólida formação básica, que propicie o
em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas
menor tempo o programa escolar para os superdotados; competências de trabalho;
III - professores com especialização adequada em nível II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
médio ou superior, para atendimento especializado, bem como supervisionados e capacitação em serviço;
professores do ensino regular capacitados para a integração III – o aproveitamento da formação e experiências
desses educandos nas classes comuns; anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação
adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura
no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos plena, admitida, como formação mínima para o exercício do
oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do

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ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na I - cursos formadores de profissionais para a educação
modalidade normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de básica, inclusive o curso normal superior, destinado à
2017) formação de docentes para a educação infantil e para as
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, primeiras séries do ensino fundamental;
em regime de colaboração, deverão promover a formação II - programas de formação pedagógica para portadores de
inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à
magistério. educação básica;
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos III - programas de educação continuada para os
profissionais de magistério poderão utilizar recursos e profissionais de educação dos diversos níveis.
tecnologias de educação a distância.
§ 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará Art. 64. A formação de profissionais de educação para
preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo administração, planejamento, inspeção, supervisão e
uso de recursos e tecnologias de educação a distância. orientação educacional para a educação básica, será feita em
§ 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-
adotarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta
em cursos de formação de docentes em nível superior para formação, a base comum nacional.
atuar na educação básica pública.
§ 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios Art. 65. A formação docente, exceto para a educação
incentivarão a formação de profissionais do magistério para superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas
atuar na educação básica pública mediante programa horas.
institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes
matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena, Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
nas instituições de educação superior. superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente
§ 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota em programas de mestrado e doutorado.
mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por
médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de universidade com curso de doutorado em área afim, poderá
graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho suprir a exigência de título acadêmico.
Nacional de Educação - CNE.
§ 7o (Vetado). Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização
§ 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos
terão por referência a Base Nacional Comum termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério
Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) público:
I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas
Art. 62. A- A formação dos profissionais a que se refere o e títulos;
inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive
técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo com licenciamento periódico remunerado para esse fim;
habilitações tecnológicas. III - piso salarial profissional;
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para IV - progressão funcional baseada na titulação ou
os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou habilitação, e na avaliação do desempenho;
em instituições de educação básica e superior, incluindo V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
cursos de educação profissional, cursos superiores de incluído na carga de trabalho;
graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. VI - condições adequadas de trabalho.
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas de profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos
educação básica a cursos superiores de pedagogia e termos das normas de cada sistema de ensino.
licenciatura será efetivado por meio de processo seletivo § 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no §
diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) 8o do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas
funções de magistério as exercidas por professores e
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput especialistas em educação no desempenho de atividades
deste artigo os professores das redes públicas municipais, educativas, quando exercidas em estabelecimento de
estaduais e federal que ingressaram por concurso público, educação básica em seus diversos níveis e modalidades,
tenham pelo menos três anos de exercício da profissão e não incluídas, além do exercício da docência, as de direção de
sejam portadores de diploma de graduação. (Incluído pela Lei unidade escolar e as de coordenação e assessoramento
nº 13.478, de 2017) pedagógico.
§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao
§ 2º As instituições de ensino responsáveis pela oferta de Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos
cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão critérios públicos para provimento de cargos dos profissionais da
adicionais de seleção sempre que acorrerem aos certames educação.
interessados em número superior ao de vagas disponíveis
para os respectivos cursos. (Incluído pela Lei nº 13.478, de TÍTULO VII
2017) Dos Recursos financeiros

§ 3º Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os
definidos em regulamento pelas universidades, terão originários de:
prioridade de ingresso os professores que optarem por cursos I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do
de licenciatura em matemática, física, química, biologia e Distrito Federal e dos Municípios;
língua portuguesa. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) II - receita de transferências constitucionais e outras
transferências;
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: III - receita do salário-educação e de outras contribuições
sociais;

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IV - receita de incentivos fiscais; II - subvenção a instituições públicas ou privadas de


V - outros recursos previstos em lei. caráter assistencial, desportivo ou cultural;
III - formação de quadros especiais para a administração
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte IV - programas suplementares de alimentação, assistência
e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras
Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de formas de assistência social;
impostos, compreendidas as transferências constitucionais, na V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
manutenção e desenvolvimento do ensino público. beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação,
União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou quando em desvio de função ou em atividade alheia à
pelos Estados aos respectivos Municípios, não será manutenção e desenvolvimento do ensino.
considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
receita do governo que a transferir. Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos
mencionadas neste artigo as operações de crédito por balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que se
antecipação de receita orçamentária de impostos. refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão,
mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita prioritariamente, na prestação de contas de recursos públicos,
estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o o cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição
caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais, Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
com base no eventual excesso de arrecadação. Transitórias e na legislação concernente.
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as
efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito
percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de
a cada trimestre do exercício financeiro. oportunidades educacionais para o ensino fundamental,
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios assegurar ensino de qualidade.
ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela educação, Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo
observados os seguintes prazos: será calculado pela União ao final de cada ano, com validade
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada para o ano subsequente, considerando variações regionais no
mês, até o vigésimo dia; custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino.
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo
dia de cada mês, até o trigésimo dia; Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente,
de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente. as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção qualidade de ensino.
monetária e à responsabilização civil e criminal das § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula
autoridades competentes. de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e
a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e Federal ou do Município em favor da manutenção e do
desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas desenvolvimento do ensino.
à consecução dos objetivos básicos das instituições § 2º A capacidade de atendimento de cada governo será
educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se definida pela razão entre os recursos de uso
destinam a: constitucionalmente obrigatório na manutenção e
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo
demais profissionais da educação; ao padrão mínimo de qualidade.
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a
instalações e equipamentos necessários ao ensino; União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos
ensino; que efetivamente frequentam a escola.
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
expansão do ensino; Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua
V - realização de atividades-meio necessárias ao responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V
funcionamento dos sistemas de ensino; do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade de
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas atendimento.
públicas e privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos
VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei,
de programas de transporte escolar. sem prejuízo de outras prescrições legais.

Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de confessionais ou filantrópicas que:
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam
não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela
ou à sua expansão; de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;

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III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra § 2º A União regulamentará os requisitos para a realização
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder de exames e registro de diploma relativos a cursos de
Público, no caso de encerramento de suas atividades; educação a distância.
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos § 3º As normas para produção, controle e avaliação de
recebidos. programas de educação a distância e a autorização para sua
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino,
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma podendo haver cooperação e integração entre os diferentes
da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, sistemas.
quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede § 4º A educação a distância gozará de tratamento
pública de domicílio do educando, ficando o Poder Público diferenciado, que incluirá:
obrigado a investir prioritariamente na expansão da sua rede I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais
local. de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão de comunicação que sejam explorados mediante autorização,
poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive concessão ou permissão do poder público;
mediante bolsas de estudo. II - concessão de canais com finalidades exclusivamente
educativas;
TÍTULO VIII III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
Das Disposições Gerais Público, pelos concessionários de canais comerciais.

Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições
das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições
índios, desenvolverá programas integrados de ensino e desta Lei.
pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e
intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos: Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal
recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de sobre a matéria.
suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e
ciências; Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas
às informações, conhecimentos técnicos e científicos da fixadas pelos sistemas de ensino.
sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-
índias. Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de
sistemas de ensino no provimento da educação intercultural acordo com seu rendimento e seu plano de estudos.
às comunidades indígenas, desenvolvendo programas
integrados de ensino e pesquisa. Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das própria poderá exigir a abertura de concurso público de
comunidades indígenas. provas e títulos para cargo de docente de instituição pública
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos de ensino que estiver sendo ocupado por professor não
Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos: concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do Ato
de cada comunidade indígena; das Disposições Constitucionais Transitórias.
II - manter programas de formação de pessoal
especializado, destinado à educação escolar nas comunidades Art. 86. As instituições de educação superior constituídas
indígenas; como universidades integrar-se-ão, também, na sua condição
III - desenvolver currículos e programas específicos, neles de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e
incluindo os conteúdos culturais correspondentes às Tecnologia, nos termos da legislação específica.
respectivas comunidades;
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático TÍTULO IX
específico e diferenciado. Das Disposições Transitórias
§ 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo de
outras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á, Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um
nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de ano a partir da publicação desta Lei.
ensino e de assistência estudantil, assim como de estímulo à § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação
pesquisa e desenvolvimento de programas especiais. desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano
Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos
Art. 79-A. (Vetado) seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre
Educação para Todos.
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de § 2º (Revogado)
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. § 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e,
supletivamente, a União, devem:
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a I - (Revogado)
veiculação de programas de ensino a distância, em todos os a) (Revogado)
níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. b) (Revogado)
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e c) (Revogado)
regime especiais, será oferecida por instituições II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e
especificamente credenciadas pela União. adultos insuficientemente escolarizados;

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III - realizar programas de capacitação para todos os (A) Os diplomas de cursos de educação profissional técnica
professores em exercício, utilizando também, para isto, os de nível médio, quando registrados, terão validade nacional e
recursos da educação a distância; habilitarão ao prosseguimento de estudos na educação
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino superior.
fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação (B) Os diplomas de cursos superiores reconhecidos,
do rendimento escolar. quando registrados, terão validade nacional como prova da
§ 4º (Revogado) formação recebida por seu titular.
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a (C) Os diplomas de graduação expedidos por
progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino universidades estrangeiras serão revalidados por
fundamental para o regime de escolas de tempo integral. universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos de reciprocidade ou equiparação.
seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art. (D) Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos
212 da Constituição Federal e dispositivos legais pertinentes por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos
pelos governos beneficiados. por universidades que possuam cursos de pós-graduação
reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e
Art. 87.A- (Vetado). em nível equivalente ou superior.
(E) Os diplomas expedidos pelas universidades e aqueles
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os conferidos por instituições não-universitárias serão
Municípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino registrados pelo Conselho Nacional de Educação.
às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir
da data de sua publicação. 03. (INSS- Analista Pedagogia- FUNRIO) Segundo o
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos artigo 24 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos 9394 de 1996, em seu inciso VI, o controle de frequência dos
respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes alunos ficará a cargo da
estabelecidos. (A) secretaria de ensino municipal, conforme o disposto no
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o seu regimento, e exigida a frequência mínima de setenta e
disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. cinco por cento do total de horas letivas para aprovação.
(B) secretaria de ensino estadual, conforme o disposto no
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham seu regulamento, e exigida a frequência mínima de setenta e
a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da cinco por cento do total de horas letivas para aprovação.
publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de (C) escola, conforme o disposto no seu regimento e nas
ensino. normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime para aprovação.
anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo (D) escola, conforme o disposto no seu regimento, e exigida
Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste, a frequência mínima de oitenta e cinco por cento do total de
pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a horas letivas para aprovação.
autonomia universitária. (E) secretaria de educação básica do MEC, conforme o
disposto em regimento federal, e exigida a frequência mínima
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. de oitenta e cinco por cento do total de horas letivas para
aprovação.
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de
20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968, 04. (Secretaria de Estado da Educação do Distrito
não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de Federal - SEDF – Professor da Educação Básica –
1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs CESPE/2017) Tendo como referência a legislação educacional
5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de brasileira e do DF, julgue o item a seguir. A educação do campo
1982, e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e é um ramo da educação básica cujo objetivo é profissionalizar
quaisquer outras disposições em contrário. os trabalhadores rurais.
(A) Certo
Questões (B) Errado

01. (SEDUC –AM- Pedagogo- FGV) As opções a seguir 05. (IFB - Professor – Português – IFB/2017) No que
apresentam destaques da Lei nº 9394/96, à exceção de uma. concerne aos níveis e modalidades de educação e ensino,
Assinale-a. previstos na Lei nº 9394/96, pode-se afirmar que:
(A) Flexibilidade do currículo – permite a incorporação de (A) A educação básica é formada pela educação infantil e
disciplinas considerando o contexto e a clientela. pelo ensino fundamental.
(B) Educação Artística e Ensino Religioso – disciplinas (B) A educação escolar compõe-se de educação básica,
obrigatórias no Ensino Básico. média e superior.
(C) Jornada escolar no Ensino Fundamental – pelo menos (C) A escola poderá reclassificar os alunos tendo como
quatro horas em sala de aula. base as normas curriculares gerais.
(D) Educação Profissional – constitui um curso (D) A educação básica tem a finalidade de desenvolver o
independente do Ensino Médio. educando para o exercício da cidadania, sendo a educação
(E) Educação organizada em dois níveis – Educação Básica média e média técnica meios para progressão no trabalho e em
e Educação Superior. estudos posteriores.
(E) O calendário escolar do ensino básico deve ser
02. (IF-SP- Professor- Biologia- IF-SP/2015) Segundo a obedecido em todo o território nacional, com a previsão de
Lei nº 9394, de 1996, a respeito do tema “diplomas", é dois ciclos de férias escolares, em julho e em janeiro.
incorreto afirmar que:

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Respostas d) Inclui a educação infantil na educação básica e


reconhece que o profissional que atua nessa etapa é professor.
01. B / 02. E / 03. C / 04. B / 05. C e) Institui a modalidade educação especial e torna
obrigatório o atendimento especializado na escola regular
para atender às peculiaridades da clientela de educação
Lei nº 10.639/2003 - Cultura especial.
Afro – Brasileira. 02. (Prefeitura de Guarapuava/PR – Professor do 1º ao
5º Ano do Ensino Fundamental – EXATUS) Em
cumprimento a lei sobre História e Cultura Afro-Brasileira,
LEI Nº 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003 esta, decreta-se que se inclua o dia 20 de novembro no
calendário escolar como sendo uma data comemorativa. O que
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que se comemora nessa data?
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para (A) Dia Nacional da Consciência Negra.
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a (B) Dia Internacional da Consciência Negra.
obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro- (C) Feriado Municipal destinado a Consciência Negra.
Brasileira", e dá outras providências. (D) Feriado Estadual Paranaense destinado a Consciência
Negra.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Respostas
Art. 1º A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a 01. A / 02. A
vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino
sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
PROVA BRASIL. FUNDEB (Fundo
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste Nacional de Desenvolvimento da
artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a Educação Básica). IDEB (Índice de
luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro Desenvolvimento Educacional).
na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição ENEM (Exame Nacional do Ensino
do povo negro nas áreas social, econômica e política
pertinentes à História do Brasil. Médio).
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-
Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo
escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Sistemas de Avaliação da Educação no Brasil 1
Literatura e História Brasileiras.
§ 3º (VETADO)" Se há uma política que avançou no Brasil, nos últimos anos,
"Art. 79-A. (VETADO)" foi a implantação dos sistemas de avaliação educacional. Neste
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de período, inúmeras iniciativas deram forma a um robusto e
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’." eficiente sistema de avaliação em todos os níveis e
modalidades de ensino, consolidando uma efetiva política de
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. avaliação educacional. Considerada hoje uma das mais
abrangentes e eficientes do mundo, a política de avaliação
Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182º da Independência e 115º engloba diferentes programas, tais como o Sistema
da República.
Nacional de Avaliação da Educação Básica – Saeb, o Exame
Referências: Nacional do Ensino Médio – Enem, o Exame Nacional de
Cursos – ENC, conhecido como Provão e, posteriormente,
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. substituído pelo Exame Nacional de Desempenho do
Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e Ensino Superior – Enade, o Exame Nacional de Certificação
bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras de Jovens e Adultos – Enceja, o Sistema Nacional de
providências. Avaliação do Ensino Superior – Sinaes, a Prova Brasil e o
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb. Em
Questões conjunto, estes sistemas, ao lado da Avaliação da Pós-
Graduação da Capes – o mais antigo sistema de avaliação
01. (UFPR – Técnico em Assuntos Educacionais – NC- do país no setor educação –, configuram um
UFPR/2017) Assinale a alternativa que corresponde a
macrossistema de avaliação da qualidade da educação
mudanças que a Lei 10.639/2003 trouxe à LDB 9.394/96.
brasileira.
a) Torna obrigatório, no ensino fundamental e médio, da
rede pública e privada, o ensino da história e da cultura afro-
brasileira e institui o dia nacional da consciência negra. Paralelamente aos sistemas nacionais, vários Estados e
b) Torna obrigatória a matrícula das crianças com 6 anos municípios também organizaram sistemas locais e regionais
de idade no ensino fundamental e amplia o ensino de avaliação das aprendizagens. Todas essas iniciativas
fundamental para nove anos. indicam a progressiva institucionalização da avaliação como
c) Torna obrigatória a educação de 4 a 17 anos e estipula mecanismo importante para subsidiar o processo de
que a alfabetização das crianças deve ocorrer até o terceiro formulação e monitoramento de políticas públicas
ano no ensino fundamental. responsáveis e transparentes que devem nortear o

1 CASTRO, M.H.G. Sistemas de avaliação da educação no Brasil: avanços e

novos desafios. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, Fundação Seade, 2009.

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aprimoramento de ações de melhoria da aprendizagem. Mais A progressiva universalização do acesso e a ampliação do


do que isso, a institucionalização da avaliação educacional no número de anos de estudo modificaram esta situação. Os
Brasil é hoje, sem dúvida, instrumento fundamental do novos alunos, em geral oriundos de famílias pobres e mais
processo de prestação de contas à sociedade e de vulneráveis, chegam ao sistema educativo em desvantagem
enriquecimento do debate público sobre os desafios da em termos de acesso a bens culturais e manejo da linguagem
educação no país. São constantes os editoriais de jornais e oral e escrita.
revistas, mais importantes do país, dedicados ao tema da
avaliação e seus resultados. Matérias em jornais, diários de TV Neste contexto, a equivalência entre anos de estudo e
mostram semanalmente boas práticas de escolas e municípios, acesso ao conhecimento e domínio das competências básicas
com base nos resultados das avaliações. nem sempre se concretiza. É verdade que a maior
permanência nos sistemas educativos traz alguns benefícios,
A experiência internacional, assim como a brasileira, mas não necessariamente significa que os cidadãos estão
mostra que as ações mais eficazes para a melhoria da aprendendo e incorporando os conhecimentos e competências
qualidade do ensino são aquelas focadas na aprendizagem e na necessários para o seu desenvolvimento profissional e
escola. A realização de avaliações em larga escala como forma pessoal.
de conhecer melhor a dinâmica dos processos e resultados dos
sistemas educacionais tem se tornado uma constante em Além disso, a democratização da educação acarretou
países de diferentes culturas e distintas orientações também uma forte massificação do acesso à profissão docente,
ideológicas de governo. Prova disso é a existência de sistemas a qual infelizmente não foi acompanhada por mecanismos
nacionais de avaliação em 19 países da América Latina e sua para garantir sua adequação à nova realidade e a qualidade da
crescente participação nas avaliações internacionais, como o formação inicial oferecida pelas instituições formadoras. Em
Programme for International Student Assessment – Pisa e o geral, a agenda de reformas educativas não priorizou, como
Trends in International Mathematics and Science Study – deveria, a reformulação dos programas de formação inicial e
TIMMS, ao lado de países da União Europeia, América do Norte, em serviço dos professores e tampouco desenvolveu
Ásia e África. Além disso, verifica-se crescente tendência ao mecanismos de certificação docente e/ou de controle da
desenvolvimento de sistemas subnacionais em todo o mundo, qualidade dos cursos oferecidos.
como ocorre no Brasil.
Neste quadro, o desenvolvimento de sistemas de
Como destacam Ferrer e Arregui, esta convergência em informação e avaliação transformou-se em peça-chave dos
torno das avaliações “estandardizadas” é derivada de visões, processos de reformas educacionais, que tiveram lugar em
perspectivas e interesses distintos quanto ao papel dos diversos países, principalmente a partir de meados da década
sistemas educativos: melhorar as economias nacionais, de 1980. Com a finalidade de subsidiar ações de melhoria da
estabelecendo vínculos mais fortes entre escolarização, qualidade, as avaliações passaram a dar maior visibilidade e
emprego, produtividade e mercado; melhorar os resultados de transparência a aspectos centrais do processo de
aprendizados relacionados às competências e habilidades aprendizagem:
exigidas pelo mercado de trabalho; obter um controle mais - O que os alunos estão aprendendo? Em que medida, os
amplo dos sistemas educativos nacionais sobre os conteúdos resultados obtidos correspondem ao que se espera deles ao
curriculares e a avaliação; reduzir os custos dos governos na final dos diferentes ciclos ou níveis de aprendizagem?
educação; e ampliar a contribuição da comunidade para a - Quais os fatores que melhor explicam os resultados
educação por meio de sua participação na tomada de decisões positivos ou negativos da educação? Quais os efeitos da
escolares. Estas tendências vêm sendo incorporadas a novas repetência? Ou do processo de alfabetização nas séries
formas de administração e gestão que defendem a necessidade iniciais? Ou de aspectos como salários, carreira e formação dos
de melhorar a eficiência dos sistemas educativos e de fomentar professores? Em que medida o envolvimento dos pais nas
a responsabilidade social e profissional pelos resultados da atividades escolares dos filhos incide sobre os resultados?
educação. - Qual é o grau de equidade observado nos resultados da
aprendizagem? Como as desigualdades sociais, econômicas e
Independente dos motivos que levam à criação de sistemas culturais de uma dada sociedade incidem sobre as
de avaliação, parece haver concordância quanto ao seu oportunidades de aprendizagem?
importante papel como instrumento de melhoria da qualidade.
Como os resultados da educação não são diretamente Que características escolares diminuem o impacto do nível
observáveis nem imediatos, dada a heterogeneidade do corpo socioeconômico nos resultados da aprendizagem? Em suma,
docente e da situação socioeconômica familiar dos alunos, só é um sistema nacional de avaliação em larga escala pode
possível obter uma visão geral do desempenho dos sistemas prover informações estratégicas para aprofundar o
educacionais mediante uma avaliação externa em larga escala. debate sobre a situação educacional de um país e mostrar
o que os alunos estão aprendendo, ou o que deveriam ter
Até recentemente, media-se a qualidade de um sistema aprendido, em relação aos conteúdos e habilidades
educativo com base nos indicadores de acesso e permanência básicas estabelecidos no currículo. Como os currículos
na escola, tais como matrícula, cobertura, repetência, evasão, geralmente são muito extensos, a elaboração de provas
anos de estudo, etc. O acesso à educação formal era limitado e nacionais obriga a definir quais as aprendizagens devem ser
a população com menos recursos estava praticamente consideradas fundamentais e asseguradas a todos os alunos. O
excluída do sistema, quando muito permanecia alguns anos na mesmo se aplica às avaliações internacionais que permitem
escola. O acesso e a permanência no sistema eram comparações entre os países ou regiões.
considerados sinônimos de aquisição de conhecimento e das
competências básicas. Mas, se é verdade que o Brasil avançou na montagem e
consolidação dos sistemas de avaliação, é também verdade

Legislação Básica em Educação 16


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que ainda não aprendemos a usar, de modo eficiente, os conhecer as características da escola, do diretor, do professor,
resultados das avaliações para melhorar a escola, a sala de da turma e dos alunos que participam da avaliação.
aula, a formação de professores.
Este, aliás, é um dos grandes desafios das políticas As informações coletadas pelo Saeb são sigilosas. Assim,
educacionais, sem o qual o objetivo principal da política de quando ocorre a divulgação dos resultados da avaliação,
avaliação perde sentido para os principais protagonistas da alunos, professores, diretores e escolas que integram a
educação: alunos e professores. amostra não são identificados. Desde 1995, o Saeb é aplicado
regularmente a cada dois anos, seguindo a mesma métrica ou
Os sistemas de avaliações educacionais no Brasil- escala de proficiência.
Quais são? Todos os Estados brasileiros participam da avaliação
amostral, o que permite comparar resultados ao longo do
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – tempo entre os Estados, entre escolas públicas estaduais e
Saeb municipais, entre escolas públicas e particulares de cada
unidade da federação.
O Saeb é uma avaliação de desempenho acadêmico e
de fatores associados ao rendimento escolar, realizada a O principal objetivo do Saeb é avaliar os sistemas de
cada dois anos, em larga escala, aplicada em amostras de ensino e oferecer subsídios para o aprimoramento das
escolas e alunos de 5ª e 9ª anos do ensino fundamental e políticas educacionais, sendo para tanto, fundamentais as
de 3ª série do ensino médio, representativas de todas as análises sobre os fatores associados à aprendizagem, de
Unidades da Federação, redes de ensino e regiões do país. modo a identificar o que os alunos são capazes de fazer e
quais os fatores que dificultam a aprendizagem. Entre os
Trata-se de um importante subsídio para o monitoramento fatores externos à escola, destacam-se: grau de escolaridade
das políticas gerais de desenvolvimento educacional. Com dos pais; acesso a livros e bens culturais; situação
base nas informações coletadas por este sistema, o MEC e as socioeconômica familiar; carreira e formação inicial dos
secretarias estaduais e municipais de Educação devem definir professores; etc.
ações voltadas para a correção das distorções e debilidades
identificadas, de modo a orientar seu apoio técnico e Entre os fatores internos à escola e aos sistemas de ensino,
financeiro para o crescimento das oportunidades ressaltam-se: gestão da escola e clima propício à
educacionais, da eficiência e da qualidade do sistema aprendizagem; efeitos da repetência; formação continuada e
educacional brasileiro, em seus diferentes níveis. em serviço dos professores; tempo de permanência na escola;
uso do tempo em sala de aula; acesso à educação infantil;
A partir de 1995, iniciou-se o processo de construção das materiais didáticos de qualidade; hábitos de estudo; lição de
Escalas Comuns de Proficiência, ou definição de métricas, que casa; participação dos pais; entre outros.
são interpretadas em termos do que os alunos conhecem,
compreendem e são capazes de fazer, com base nos resultados Um dos principais resultados do Saeb, nestes anos, foi
do seu desempenho. demonstrar os efeitos perversos da repetência e da distorção
A utilização das escalas comuns permite a comparação de idade-série no processo de aprendizagem. Alunos repetentes,
resultados entre diferentes séries, por disciplina e de ano para com dois anos ou mais de atraso escolar, em geral apresentam
ano. Para tanto, são utilizadas provas elaboradas com um desempenho médio bem abaixo daquele observado para
grande número de itens, abrangendo as competências e alunos que cursam a série adequada à sua idade. Com base nas
habilidades requeridas ao final de cada ciclo de aprendizagem. evidências apontadas, muitos Estados e municípios
Os itens são distribuídos em diferentes cadernos de provas, o desencadearam programas de aceleração da aprendizagem,
que permite uma ampla cobertura dos conteúdos, combate à repetência, implantação de ciclos de aprendizagem,
competências e habilidades (com seus diferentes graus de uma série de iniciativas que começam a apresentar resultados
complexidade), em todas as séries avaliadas. concretos especialmente nas séries iniciais. Pesquisas sobre o
Saeb mostraram também que o tempo de permanência dos
Os itens das provas são elaborados com base na Matriz de alunos na escola é fator relevante para melhorar o
Referência Curricular do Saeb, que, a partir de uma ampla desempenho dos alunos. Naercio Menezes mostra que uma
consulta nacional sobre os currículos estaduais, livros hora a mais de aula por dia pode ampliar, em média, cerca de
didáticos usados pelos professores e conteúdos praticados nas oito pontos no desempenho dos estudantes.
escolas brasileiras dos ensinos fundamental e médio, Evidências como essas ajudam a tomada de decisões pelos
estabelece as competências e habilidades que os alunos sabem gestores sem “achismos” e permitem que as escolhas de
e são capazes de fazer ao final das séries e ciclos avaliados. políticas orientem-se progressivamente para ações mais
Essas matrizes incorporam as diretrizes dos Parâmetros efetivas, embora nem sempre tenham a visibilidade política
Curriculares Nacionais – PCNs, a reflexão de professores, almejada pelos governantes.
pesquisadores e especialistas sobre cada área objeto da
avaliação. Um bom exemplo é o uso de computadores nas escolas.
Pesquisas nacionais e internacionais indicam que a simples
Para coletar dados e produzir informações sobre o existência de computadores nas escolas não se traduz em
desempenho do aluno e os fatores a ele associados, bem como melhoria de desempenho, embora o acesso a computadores e
a respeito das condições em que ocorre o processo ensino e Internet sejam muito valorizados pela sociedade e tenham alto
aprendizagem, o Saeb utiliza procedimentos metodológicos de impacto político. Obviamente, dotar as escolas de
pesquisa formais e científicos, que garantem sua computadores, melhorar o acesso à Internet e capacitar
confiabilidade. A cada levantamento, além das provas, são professores e alunos para o uso da informática são ações
também utilizados questionários contextuais que permitem importantes para promover a inclusão digital e democratizar

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informações indispensáveis para entender o mundo que nos aplicação, o exame contou com um número modesto de 157
cerca. Resta saber como o uso dos computadores poderá de mil inscritos e 115 mil participantes.
fato fazer diferença na aprendizagem. Em sua 11ª edição, em 2008, o Enem já alcançava mais de
4 milhões de inscritos e 2,9 milhões de participantes.
Exame Nacional do Ensino Médio – Enem
A grande expansão do número de candidatos ao Enem, teve
O Enem é um exame de caráter voluntário, implantado pelo início em 2000, quando várias universidades, entre elas a USP
MEC em 1998, que avalia o desempenho individual do aluno e a Unicamp, passaram a considerar a nota da prova como
ao término do ensino médio, visando aferir o desenvolvimento critério de acesso ao ensino superior. A popularização
das competências e habilidades necessárias ao exercício pleno definitiva do Enem veio em 2004, quando o Ministério da
da cidadania. Educação instituiu o Programa Universidade para Todos –
A prova, interdisciplinar e contextualizada, é composta por ProUni e vinculou a concessão de bolsas em instituições de
uma redação e uma parte objetiva. Em 2017 contará com uma ensino superior privadas à nota obtida no exame. Além de
prova de 180 questões, elaborada a partir de conteúdos representar uma possibilidade concreta de bolsa (integral ou
referentes às disciplinas cursadas durante todo o Ensino parcial) do ProUni, o Enem passou a significar também a
Médio. Elas deverão ser divididas em quatro grandes grupos: possibilidade de uma vaga em várias instituições de ensino
Linguagens, Códigos e suas tecnologias, Matemática e suas superior do país, entre elas as universidades públicas. Cerca de
tecnologias, Ciências da Natureza e suas tecnologias e Ciências 500 instituições de ensino superior já utilizam em 2009 os
Humanas e suas tecnologias, cada caderno com 45 questões. resultados do exame em seus processos seletivos, seja de
Cada participante do Enem recebe o Boletim Individual de forma complementar ou substitutiva.
Resultados, contendo duas notas: uma para a parte objetiva da
prova e outra para a redação, além de uma interpretação dos Prova Brasil
resultados obtidos para cada uma das competências avaliadas
nas duas partes da prova. Os resultados individuais são Criada em 2005, a Prova Brasil objetiva oferecer a todas as
sigilosos. escolas públicas brasileiras uma avaliação mais detalhada de
seu desempenho, em complemento à avaliação já feita pelo
As escolas que tiveram mais de 90% de seus alunos da Saeb. De caráter censitário, a Prova Brasil avalia todos os
terceira série do ensino médio presentes ao exame podem estudantes da rede pública urbana de ensino, de 5ª e 9ª anos
solicitar um boletim com a média do conjunto de seus do ensino fundamental, com foco em língua portuguesa e
estudantes. Este boletim informa, ainda, a nota média do país, matemática.
possibilitando uma comparação dos resultados. Também Seus resultados são divulgados amplamente a todos os
estão entre os objetivos do Enem: Estados e municípios do país, com boletins divulgados a cada
- conferir ao cidadão parâmetro para autoavaliação, com uma das escolas participantes. Em sua primeira edição, foram
vistas à continuidade de sua formação e inserção no mercado avaliados 3,3 milhões de alunos de 42 mil escolas públicas
de trabalho; urbanas. Em 2007, foram 4,5 milhões de alunos avaliados em
- criar referência nacional para os egressos de qualquer 45 mil escolas públicas de todo o país.
das modalidades do ensino médio;
- fornecer subsídios às diferentes modalidades de acesso à Uma vez que as metodologias da Prova Brasil e do Saeb são
educação superior; as mesmas, elas passaram a ser operacionalizadas em
- constituir-se em modalidade de acesso a cursos conjunto, desde 2007. Como são avaliações complementares,
profissionalizantes pós-médio. uma não implicará a extinção da outra. O aspecto mais
relevante da Prova Brasil é oferecer a todas as escolas
A prova do Enem tem como base a seguinte matriz de participantes um diagnóstico consistente sobre o
competências especialmente definida para o exame: desempenho de seus alunos, usando a mesma métrica de
- demonstrar domínio básico da norma culta da língua avaliação do Saeb. Os resultados são comparáveis e
portuguesa e do uso das diferentes linguagens: matemática, permitem que a escola identifique suas potencialidades e
artística, científica, entre outras; fragilidades em relação ao desempenho de seu município,
- construir e aplicar conceitos das várias áreas do Estado, ou em relação ao país. Embora a Prova Brasil seja um
conhecimento para compreensão de fenômenos naturais, de importante instrumento de apoio à escola para aprimorar seu
processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e projeto pedagógico e rever práticas didáticas ineficazes, ainda
das manifestações artísticas; são tímidas as iniciativas de uso dos seus resultados para
- selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e melhorar a sala de aula e a formação em serviço dos
informações representados de diferentes formas, para professores.
enfrentar situações-problema segundo uma visão crítica, com
vistas à tomada de decisões; A maioria das escolas não sabe como melhorar seus
- organizar informações e conhecimentos disponíveis em resultados, os sistemas de ensino enfrentam dificuldades
situações concretas, para a construção de argumentações técnicas para apoiar pedagogicamente suas escolas e os pais
consistentes; ainda não entenderam o significado da prova.
- recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola Em geral, a maioria dos municípios não dispõe de
para elaboração de propostas de intervenção solidária na capacidade institucional e competência técnica para dar vida e
realidade, considerando a diversidade sociocultural como finalidade à Prova Brasil. Este é, sem dúvida, o grande desafio
inerente à condição humana no tempo e no espaço. para melhorar a qualidade.

O Enem é realizado anualmente, com aplicação Cabe ao MEC estabelecer padrões ou expectativas de
descentralizada das provas. Em 1998, seu primeiro ano de aprendizagem nacionais. Cabe aos Estados reforçar o regime

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de colaboração com seus municípios e firmar um sério Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
compromisso entre os níveis de governo, com foco na Magistério - Fundef, que vigorou de 1998 a 2006.
definição de uma base curricular comum de âmbito estadual,
que contemple os padrões básicos nacionais, além de É um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito
organizar um sistema efetivo de capacitação de professores e estadual (um fundo por estado e Distrito Federal, num total de
produção de materiais didáticos de apoio que ajudem a vinte e sete fundos), formado, na quase totalidade, por
superar os problemas de aprendizagem identificados na Prova recursos provenientes dos impostos e transferências dos
Brasil. estados, Distrito Federal e municípios, vinculados à educação
por força do disposto no art. 212 da Constituição Federal. Além
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb desses recursos, ainda compõe o Fundeb, a título de
complementação, uma parcela de recursos federais, sempre
Em abril de 2007, o Instituto Nacional de Estudos e que, no âmbito de cada Estado, seu valor por aluno não
Pesquisas Educacionais lançou o Ideb, indicador sintético que alcançar o mínimo definido nacionalmente.
permite definir metas e acompanhar a qualidade do ensino Independentemente da origem, todo o recurso gerado é
básico no país, fornecendo informações sobre o desempenho redistribuído para aplicação exclusiva na educação básica.
de cada uma das escolas brasileiras de educação básica. O Ideb
reúne num só indicador dois conceitos importantes para a Com vigência estabelecida para o período 2007-2020, sua
qualidade da educação: fluxo escolar e desempenho dos alunos implantação começou em 1º de janeiro de 2007, sendo
nas avaliações. Seu cálculo baseia-se nos dados de aprovação plenamente concluída em 2009, quando o total de alunos
escolar, apurados no Censo Escolar, e nas médias de matriculados na rede pública foi considerado na distribuição
desempenho obtidas nas avaliações nacionais: o Saeb, para as dos recursos e o percentual de contribuição dos estados,
unidades da federação e o país; e a Prova Brasil, para os Distrito Federal e municípios para a formação do Fundo
municípios. O novo indicador considera dois fatores que atingiu o patamar de 20%.
interferem na qualidade da educação: as taxas de aprovação, O aporte de recursos do governo federal ao Fundeb, de R$
aferidas pelo Censo Escolar; e as médias de desempenho 2 bilhões em 2007, aumentou para R$ 3,2 bilhões em 2008, R$
medidas pelo Saeb e pela Prova Brasil. A combinação entre 5,1 bilhões em 2009 e, a partir de 2010, passou a ser no valor
fluxo e aprendizagem resulta em uma média que varia de 0 a correspondente a 10% da contribuição total dos estados e
10. As metas são diferenciadas para cada Unidade da municípios de todo o país.
Federação, por município e por escola, para as duas fases do
ensino fundamental (1° à 4° e 5° à 9° anos) e para o ensino Os investimentos realizados pelos governos dos Estados,
médio, apresentadas bienalmente de 2005 a 2021. Distrito Federal e Municípios e o cumprimento dos limites
legais da aplicação dos recursos do Fundeb são monitorados
O Ideb também é importante por ser condutor de política por meio das informações declaradas no Sistema de
pública em prol da qualidade da educação. É a ferramenta para Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope),
acompanhamento das metas de qualidade do Plano de disponível no sítio do FNDE.
Desenvolvimento da Educação (PDE) para a educação
básica, que tem estabelecido, como meta, que em 2022 o Ideb Questões
do Brasil seja 6,0 – média que corresponde a um sistema
educacional de qualidade comparável a dos países 01. (IF-SP- Técnico em Assuntos Educacionais- IF-SP)
desenvolvidos. Foi criado, em 2007, para medir a qualidade de cada escola e
de cada rede de ensino. O indicador é calculado com base no
A relevância do Ideb pode ser atribuída a dois fatores. O desempenho do estudante em avaliações nacionais e em taxas
desenho do indicador evita que os sistemas de ensino de aprovação. O texto se refere ao:
direcionem suas ações para um dos seus componentes, ou seja, (A) INEP.
uma escola que reprova sistematicamente, fazendo que muitos (B) Prova Brasil.
alunos abandonem os estudos antes de completar a educação (C) SAIEB.
fundamental, não é desejável mesmo que os poucos alunos (D) EDUCACENSO.
sobreviventes tenham bom desempenho nas provas nacionais. (E) IDEB.
Também não é desejável uma escola que aprova em massa,
sem dar atenção à qualidade da aprendizagem de seus alunos, 02. (IF-Baiano- Assistente Social- FCM/2017) O Índice
pois não adianta alcançar taxas elevadas de conclusão dos de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é um
ensinos fundamental e médio, se os alunos aprendem pouco na indicador que mede a qualidade do aprendizado nacional. Os
escola. Este é o sentido do Ideb: evitar o aumento da aprovação dois componentes utilizados para calcular o IDEB são
sem que os alunos aprendam e evitar que as escolas reprovem (A) a taxa de desigualdade educacional / a média da taxa
em massa, excluindo alunos com desempenho insuficiente e de rendimento escolar.
selecionando os melhores para elevar as notas na prova. (B) a taxa de analfabetismo de pessoas com 10 anos ou
mais / a taxa de reprovação na educação básica.
FUNDEB (C) a taxa de distorção idade-série / a média da nota anual
dos alunos de Língua Portuguesa e de Matemática.
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação (D) a taxa de abandono escolar / a média de alunos nas
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – turmas das disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática.
Fundeb foi criado pela Emenda Constitucional nº 53/2006 e (E) a taxa de aprovação / as médias de desempenho nos
regulamentado pela Lei nº 11.494/2007 e pelo Decreto nº exames da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação
6.253/2007, em substituição ao Fundo de Manutenção e Básica (SAEB).

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03. (FUB- Técnico em Assuntos Educacionais- CESPE) consequência dessas discussões, sua organização e
Acerca das políticas de avaliação educacional, julgue os itens funcionamento têm sido objeto de mudanças na busca da
seguintes. O ENEM é uma das etapas do SINAES. melhoria da qualidade. Propostas têm sido feitas na forma de
( ) Certo ( ) Errado leis, de decretos e de portarias ministeriais e visam, desde a
inclusão de novas disciplinas e conteúdos, até a alteração da
Respostas forma de financiamento. Constituem-se exemplos dessas
alterações legislativas a criação do FUNDEB e a ampliação da
obrigatoriedade de escolarização, resultante da Emenda
01. E / 02. E / 03. Errado
Constitucional no 59, de novembro de 2009.
A demanda provocada por essas mudanças na legislação,
por si só, já indica a necessidade de atualização das Diretrizes
Diretrizes Curriculares Nacionais Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Parecer
paraMINISTÉRIO
o Ensino DA EDUCAÇÃO
Médio. CNE/CEB no 15/98 e Resolução CNE/CEB nº 3/98), além de se
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO identificarem outros motivos que reforçam essa necessidade.
A elaboração de novas Diretrizes Curriculares Nacionais
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio para o Ensino Médio se faz necessária, também, em virtude das
novas exigências educacionais decorrentes da aceleração da
PARECER CNE/CEB Nº: 5/2011 produção de conhecimentos, da ampliação do acesso às
informações, da criação de novos meios de comunicação, das
1. Introdução alterações do mundo do trabalho, e das mudanças de interesse
dos adolescentes e jovens, sujeitos dessa etapa educacional.
O Brasil vive, nos últimos anos, um processo de Nos dias atuais, a inquietação das “juventudes” que
desenvolvimento que se reflete em taxas ascendentes de buscam a escola e o trabalho resulta mais evidente do que no
crescimento econômico tendo o aumento do Produto Interno passado. O aprendizado dos conhecimentos escolares tem
Bruto ultrapassado a casa dos 7%, em 2010. Este processo de significados diferentes conforme a realidade do estudante.
crescimento tem sido acompanhado de programas e medidas Vários movimentos sinalizam no sentido de que a escola
de redistribuição de renda que o retroalimentam. Evidenciam- precisa ser repensada para responder aos desafios colocados
se, porém, novas demandas para a sustentação deste ciclo de pelos jovens.
desenvolvimento vigente no País. A educação, sem dúvida, está Para responder a esses desafios, é preciso, além da
no centro desta questão. reorganização curricular e da formulação de diretrizes
O crescimento da economia e novas legislações, como o filosóficas e sociológicas para essa etapa de ensino, reconhecer
Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), a as reais condições dos recursos humanos, materiais e
Emenda Constitucional nº 59/2009 – que extinguiu a financeiros das redes escolares públicas em nosso país, que
Desvinculação das Receitas da União (DRU) – e dispôs sobre ainda não atendem na sua totalidade às condições ideais.
outras medidas, têm permitido ao País aumentar o volume de É preciso que além de reconhecimento esse processo seja
recursos destinados à Educação. acompanhado da efetiva ampliação do acesso ao Ensino Médio
Tais iniciativas, nas quais o Conselho Nacional de Educação e de medidas que articulem a formação inicial dos professores
(CNE) tem tido destacada participação, visam criar condições com as necessidades do processo ensino-aprendizagem,
para que se possa avançar nas políticas educacionais ofereçam subsídios reais e o apoio de uma eficiente política de
brasileiras, com vistas à melhoria da qualidade do ensino, à formação continuada para seus professores – tanto a oferecida
formação e valorização dos profissionais da educação e à fora dos locais de trabalho como as previstas no interior das
inclusão social. escolas como parte integrante da jornada de trabalho – e
Para alcançar o pleno desenvolvimento, o Brasil precisa dotem as escolas da infraestrutura necessária ao
investir fortemente na ampliação de sua capacidade desenvolvimento de suas atividades educacionais.
tecnológica e na formação de profissionais de nível médio e No sentido geral, da forma como está organizado na
superior. Hoje, vários setores industriais e de serviços não se maioria das escolas, o Ensino Médio não dá conta de todas as
expandem na intensidade e ritmos adequados ao novo papel suas atribuições definidas na Lei de Diretrizes e Bases da
que o Brasil desempenha no cenário mundial, por se Educação Nacional (LDB). O trabalho “Melhores Práticas em
ressentirem da falta desses profissionais. Sem uma sólida Escolas de Ensino Médio no Brasil” (BID, 2010) mostrou,
expansão do Ensino Médio com qualidade, por outro lado, não entretanto, que é possível identificar, nos Estados da
se conseguirá que nossas universidades e centros tecnológicos Federação, escolas públicas que desenvolvem excelentes
atinjam o grau de excelência necessário para que o País dê o trabalhos.
grande salto para o futuro. Com a promulgação da Lei nº 9.394/96 (LDB), o Ensino
Tendo em vista que a função precípua da educação, de um Médio passou a ser configurado com uma identidade própria,
modo geral, e do Ensino Médio – última etapa da Educação como etapa final de um mesmo nível da educação, que é a
Básica – em particular, vai além da formação profissional, e Educação Básica, e teve assegurada a possibilidade de se
atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos articular, até de forma integrada em um mesmo curso, com a
jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir profissionalização, pois o artigo 36-A prevê que “o Ensino
seus horizontes e dotá-los de autonomia intelectual, Médio, atendida a formação geral do educando, poderá
assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente prepará-lo para o exercício de profissões técnicas”.
acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos, No Brasil, nos últimos 20 anos, houve uma ampliação do
sem perder de vista que a educação também é, em grande acesso dos adolescentes e jovens ao Ensino Médio, a qual
medida, uma chave para o exercício dos demais direitos trouxe para as escolas públicas um novo contingente de
sociais. estudantes, de modo geral jovens filhos das classes
É nesse contexto que o Ensino Médio tem ocupado, nos trabalhadoras. Os sistemas de ensino passam a atender novos
últimos anos, um papel de destaque nas discussões sobre jovens com características diferenciadas da escola
educação brasileira, pois sua estrutura, seus conteúdos, bem tradicionalmente organizada. Situação semelhante acontece
como suas condições atuais, estão longe de atender às com o aumento da demanda do Ensino Médio no campo, cujo
necessidades dos estudantes, tanto nos aspectos da formação atendimento induz a novos procedimentos no sentido de
para a cidadania como para o mundo do trabalho. Como

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promover a permanência dos mesmos na escola, evitando a Para levar adiante todas as ideias preconizadas na LDB, a
evasão e diminuindo as taxas de reprovação. educação no Ensino Médio deve possibilitar aos adolescentes,
Apesar das ações desenvolvidas pelos governos estaduais jovens e adultos trabalhadores acesso a conhecimentos que
e pelo Ministério da Educação, os sistemas de ensino ainda não permitam a compreensão das diferentes formas de explicar o
alcançaram as mudanças necessárias para alterar a percepção mundo, seus fenômenos naturais, sua organização social e
de conhecimento do seu contexto educativo e ainda não seus processos produtivos.
estabeleceram um projeto organizativo que atenda às novas O debate sobre a atualização das Diretrizes Curriculares
demandas que buscam o Ensino Médio. Atualmente mais de Nacionais para o Ensino Médio deve, portanto, considerar
50% dos jovens de 15 a 17 anos ainda não atingiram esta etapa importantes temáticas, como o financiamento e a qualidade da
da Educação Básica e milhões de jovens com mais de 18 anos Educação Básica, a formação e o perfil dos docentes para o
e adultos não concluíram o Ensino Médio, configurando uma Ensino Médio e a relação com a Educação Profissional, de
grande dívida da sociedade com esta população. forma a reconhecer diferentes caminhos de atendimento aos
De acordo com o documento “Síntese dos Indicadores variados anseios das “juventudes” e da sociedade.
Sociais do IBGE: uma análise das condições de vida da É sabido que a questão do atendimento das demandas das
população brasileira” (IBGE, 2010), constata-se que a taxa de “juventudes” vai além da atividade da escola, mas entende-se
frequência bruta às escolas dos adolescentes de 15 a 17 anos é que uma parte significativa desse objetivo pode ser alcançada
de 85,2%. Já a taxa de escolarização líquida dos mesmos por meio da transformação do currículo escolar e do projeto
adolescentes (de 15 a 17 anos) é de 50,9%. Isso significa dizer político-pedagógico.
que metade dos adolescentes de 15 a 17 anos ainda não está A atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o
matriculada no Ensino Médio. No Nordeste a taxa de Ensino Médio deve contemplar as recentes mudanças da
escolaridade líquida é ainda inferior, ficando em 39,1%. A legislação, dar uma nova dinâmica ao processo educativo
proporção de pessoas de 18 a 24 anos de idade, dessa etapa educacional, retomar a discussão sobre as formas
economicamente ativas, com mais de 11 anos de estudos é de de organização dos saberes e reforçar o valor da construção do
15,2% e a proporção de analfabetos nessa mesma amostra projeto político-pedagógico das escolas, de modo a permitir
atinge a casa de 4,6%. diferentes formas de oferta e de organização, mantida uma
Especificamente em relação ao Ensino Médio, o número de unidade nacional, sempre tendo em vista a qualidade do
estudantes da etapa é, atualmente, da ordem de 8,3 milhões. A ensino.
taxa de aprovação no Ensino Médio brasileiro é de 72,6%, Para tratar especificamente da atualização das Diretrizes
enquanto as taxas de reprovação e de abandono são, Curriculares Nacionais para o Ensino Médio foi criada, em
respectivamente, de 13,1% e de 14,3% (INEP, 2009). Observe- janeiro de 2010, pela Portaria CNE/CEB nº 1/2010,
se que essas taxas diferem de região para região e entre as recomposta pela Portaria CNE/CEB nº 2/2010, a Comissão
zonas urbana e rural. Há também uma diferença significativa constituída na Câmara de Educação Básica (CEB) do CNE,
entre as escolas privadas e públicas. formada pelos Conselheiros Adeum Sauer (presidente), José
Em resposta a esses desafios que permanecem, algumas Fernandes de Lima (relator), Mozart Neves Ramos, Francisco
políticas, diretrizes e ações do governo federal foram Aparecido Cordão e Rita Gomes do Nascimento.
desenvolvidas com a proposta de estruturar um cenário de Registre-se, por oportuno, que o Conselho Nacional de
possibilidades que sinalizam para uma efetiva política pública Educação, no cumprimento do que determina o art. 7º da Lei
nacional para a Educação Básica, comprometida com as nº 9.131/95 (que altera dispositivos da Lei nº 4.024, de 20 de
múltiplas necessidades sociais e culturais da população dezembro de 1961), vinha trabalhando na atualização das
brasileira. Nesse sentido, situam-se a aprovação e implantação várias Diretrizes Curriculares Nacionais. Além da elaboração
do FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formulação e das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
implementação do Plano de Desenvolvimento da Educação Básica, já foram atualizadas, entre outras, as Diretrizes para a
(PDE), e a consolidação do Sistema de Avaliação da Educação Educação Infantil, para o Ensino Fundamental e para a
Básica (SAEB), do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e Educação de Jovens e Adultos.
do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). No Em agosto de 2010, a Secretaria de Educação Básica do
âmbito deste Conselho, destacam-se as Diretrizes Curriculares Ministério da Educação (SEB/MEC) encaminhou ao CNE uma
Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº sugestão de resolução feita por especialistas daquela
7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e o processo de Secretaria e outros contratados especificamente para
elaboração deste Parecer, de atualização das Diretrizes elaboração do referido documento. Juntamente com a
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. proposta de resolução, a SEB encaminhou outros documentos
O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), para subsidiar as discussões, além de disponibilizar técnicos
concretizado por Estados e Municípios, por meio da para acompanhamento dos trabalhos, dentre os quais cumpre
estruturação da adesão ao Plano de Metas Compromisso destacar o Diretor de Concepções e Orientações Curriculares
Todos pela Educação e respectivos Planos de Ações para a Educação Básica, Carlos Artexes Simões, e a
Articuladas (PAR), conduz à revisão das políticas públicas de Coordenadora Geral do Ensino Médio, Maria Eveline Pinheiro
educação e potencializa a articulação de programas e ações Villar de Queiroz, bem como o consultor Bahij Amin Aur.
educacionais de governo. A proposta foi encaminhada aos membros do Fórum dos
A concepção de uma educação sistêmica expressa no PDE, Coordenadores do Ensino Médio que apresentaram, além das
ao valorizar conjuntamente os níveis e modalidades sugestões das Secretarias Estaduais de Educação, um
educacionais, possibilita ações articuladas na organização dos documento coletivo discutido na reunião do Fórum, realizada
sistemas de ensino. Significa compreender o ciclo educacional em Natal, RN, em 1º de setembro de 2010. Em seguida, a
de modo integral, promovendo a articulação entre as políticas mesma proposta foi submetida à apreciação de especialistas
orientadas para cada nível, etapa e modalidade de ensino e, que deram suas sugestões na reunião conjunta com os
também, a coordenação entre os instrumentos disponíveis de membros da Comissão Especial da CEB e da Secretaria de
política pública. Visão sistêmica implica, portanto, reconhecer Educação Básica do MEC, realizada nas dependências do CNE,
as conexões intrínsecas entre Educação Básica e Educação em 17 de setembro de 2010.
Superior; entre formação humana, científica, cultural e No dia 4 de outubro de 2010, a sugestão de resolução
profissionalização e, a partir dessas conexões, implementar destas Diretrizes foi discutida em audiência pública convocada
políticas de educação que se reforcem reciprocamente. pela Câmara de Educação Básica e realizada no CNE e contou
com a participação de mais de 100 pessoas, entre educadores

Legislação Básica em Educação 21


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e representantes de entidades. Destaque-se que o mesmo anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da
documento foi enviado ao Conselho Nacional de Secretários de Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os
Educação (CONSED) que, por sua vez, o encaminhou para as recursos destinados a manutenção e ao desenvolvimento do
Secretarias Estaduais de Educação. ensino;
Foram recebidas diversas contribuições individuais e de XII – a homologação das Diretrizes Curriculares Nacionais
associações, dentre as quais se destaca o documento enviado Gerais para a Educação Básica;
pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em XIV – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 8/2010, que
Educação (ANPEd). estabelece normas para aplicação do inciso IX do art. 4º da Lei
Em 16 de fevereiro de 2011, o relator participou da nº 9.394/96 (LDB), que trata dos padrões mínimos de
reunião do CONSED com os Secretários Estaduais de Educação, qualidade de ensino para a Educação Básica pública;
para informar sobre o andamento dos trabalhos de elaboração XV – iniciativas relevantes, tanto na esfera federal,
destas Diretrizes e solicitar a contribuição dos mesmos. sobretudo com o Programa Ensino Médio Inovador do MEC,
É importante considerar que este parecer está sendo como na esfera estadual e, mesmo, na municipal;
elaborado na vigência de um quadro de mudanças e propostas XVI – a consolidação de sistemas nacionais de avaliação,
que afetam todo o sistema educacional e, particularmente, o como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e o
Ensino Médio, dentre as quais se destacam os seguintes Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM);
exemplos: XVII – a reformulação do ENEM e sua utilização nos
processos seletivos das Instituições de Educação Superior,
I – os resultados da Conferência Nacional da Educação visando democratizar as oportunidades de acesso a esse nível
Básica (2008); de ensino, potencialmente induzindo a reestruturação dos
II – os 14 anos transcorridos de vigência da LDB e as currículos do Ensino Médio;
inúmeras alterações nela introduzidas por várias leis, bem XVIII – a criação do Índice de Desenvolvimento da
como a edição de outras que repercutem nos currículos da Educação Básica (IDEB) para medir a qualidade de cada escola
Educação Básica, notadamente no do Ensino Médio; e de cada rede de ensino, com base no desempenho do
III – a aprovação do Fundo de Manutenção e estudante em avaliações do INEP e em taxas de aprovação;
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos XIX – a instituição do Programa Nacional de Direitos
Profissionais da Educação Básica (FUNDEB), regulado pela Lei humanos (PNDH), o qual indica a implementação do Plano
nº 11.494/2007, que fixa percentual de recursos a todas as Nacional de Educação em Direitos humanos (PNEDH).
etapas e modalidades da Educação Básica; XX – o envio ao Congresso Nacional do Projeto de Lei que
IV – a criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da trata do novo Plano Nacional de Educação para o período de
Educação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de 2011-2020.
Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação
(CAPES/MEC); É expectativa que estas diretrizes possam se constituir
V – a formulação, aprovação e implantação das medidas num documento orientador dos sistemas de ensino e das
expressas na Lei nº 11.738/2008, que regulamenta o piso escolas e que possam oferecer aos professores indicativos
salarial profissional nacional para os profissionais do para a estruturação de um currículo para o Ensino Médio que
magistério público da Educação Básica; atenda as expectativas de uma escola de qualidade que garanta
VI – a implantação do Programa Nacional do Livro Didático o acesso, a permanência e o sucesso no processo de
para o Ensino Médio (PNLEM); aprendizagem e constituição da cidadania.
VII – a instituição da política nacional de formação de Desse modo, o grande desafio deste parecer consiste na
profissionais do magistério da Educação Básica; incorporação das grandes mudanças em curso na sociedade
VIII – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da contemporânea, nas políticas educacionais brasileiras e em
Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que fixam as Diretrizes constituir um documento que sugira procedimentos que
Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos permitam a revisão do trabalho das escolas e dos sistemas de
Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública; ensino, no sentido de garantir o direito à educação, o acesso, a
IX – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2010 e da permanência e o sucesso dos estudantes, com a melhoria da
Resolução CNE/CEB nº 5/2010, que fixam as Diretrizes qualidade da educação para todos.
Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos
Funcionários da Educação Básica pública; 2. Direito à educação
X – o final da vigência do Plano Nacional de Educação
(PNE), bem como a mobilização em torno da nova proposta do 2.1 Educação como direito social
PNE para o período 2011-2020;
XI – as recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo A educação, por meio da escolarização, consolidou-se nas
CNE, expressas no documento “Subsídios para Elaboração do sociedades modernas como um direito social, ainda que não
PNE: Considerações Iniciais. Desafios para a Construção do tenha sido universalizada. Concebida como forma de socializar
PNE”; as pessoas de acordo com valores e padrões culturais e ético-
XII – a realização da Conferência Nacional de Educação morais da sociedade e como meio de difundir de forma
(CONAE), com tema central “Construindo um Sistema Nacional sistemática os conhecimentos científicos construídos pela
Articulado de Educação: Plano Nacional de Educação: suas humanidade, a educação escolar reflete um direito e
Diretrizes e Estratégias de Ação”, visando à construção do PNE representa componente necessário para o exercício da
2011- 2020; cidadania e para as práticas sociais.
XII – a relevante alteração na Constituição, pela No Brasil, constituem-se importantes instrumentos
promulgação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que, normativos relativos à educação, além da própria Constituição
entre suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória e da República Federativa do Brasil de 1988 e da Lei nº 9.394/96
gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua oferta (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), também a Lei
gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade nº 10.172/2001 (Plano Nacional de Educação para 2001-
própria, assegura o atendimento ao estudante, em todas as 2010), embora já tenha chegado ao final de seus dez anos de
etapas da Educação Básica, mediante programas vigência.
suplementares de material didático-escolar, transporte, No tocante à Constituição Federal, lembra-se a importante
alimentação e assistência à saúde, bem como reduz, alteração promovida pela Emenda Constitucional nº 59/2009,

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que assegura Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos IX – Formar 50% dos professores da Educação Básica
17 anos de idade, o que significa que, regularizado o fluxo em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos
escolar no Ensino Fundamental, o Ensino Médio também formação continuada em sua área de atuação.
estará incluído na faixa de obrigatoriedade, constituindo-se X – Valorizar o magistério público da Educação Básica
em direito público subjetivo. a fim de aproximar o rendi- mento médio do profissional do
Na LDB, destaca-se que o inciso VI do art. 10 determina que magistério com mais de onze anos de escolaridade do
os Estados incumbir- se-ão de “assegurar o Ensino rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade
Fundamental e oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a equivalente.
todos que o demandarem. XI – Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de
O PNE 2001-2010 apresentou diagnóstico e estabeleceu planos de carreira para os pro- fissionais do magistério em
diretrizes, objetivos e metas para todos os níveis e todos os sistemas de ensino.
modalidades de ensino, para a formação e a valorização do XII – Garantir, mediante lei específica aprovada no
magistério e para o financiamento e a gestão da educação. Para âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a
o Ensino Médio, estabeleceu a meta de atender 100% da nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a
população de 15 a 17 anos até 2011, e Diretrizes para o Ensino critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da
Médio, que constituíam pressupostos para serem comunidade escolar.
considerados na definição de uma política pública para essa XIII – Ampliar progressivamente o investimento público
etapa. em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do
Desde 2007, o Ministério da Educação, vem Produto Interno Bruto (PIB) do país.
implementando o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE), como uma estratégia complementar ao PNE no que se 2.2 Educação com qualidade social
refere ao seu caráter executivo e de posição política de
governo. Com prioridade na Educação Básica de qualidade, o O conceito de qualidade da educação é uma construção
PDE assume uma concepção sistêmica da educação e o histórica que assume diferentes significados em tempos e
compromisso explícito com o atendimento aos grupos espaços diversos e tem relação com os lugares de onde falam
discriminados pela desigualdade educacional. Além disso, os sujeitos, os grupos sociais a que pertencem, os interesses.
propõe envolver todos, pais, estudantes, professores e Conforme argumenta Campos (2008), para os movimentos
gestores, em iniciativas que busquem o sucesso e a sociais que reivindicavam a qualidade da educação entre os
permanência na escola. anos 70 e 80, ela estava muito presa às condições básicas de
Para a implementação dessas medidas, o PDE adotou como funcionamento das escolas, porque seus participantes, pouco
orientação estratégica a mobilização dos agentes públicos e da escolarizados, tinham dificuldade de perceber as nuanças dos
sociedade em geral, com vistas à adesão ao Plano de Metas projetos educativos que as instituições de ensino
Compromisso Todos pela Educação, a ser viabilizado mediante desenvolviam. Na década de 90, sob o argumento de que o
programas e ações de assistência técnica e financeira aos Brasil investia muito na educação, porém gastava mal,
Estados e Municípios. prevaleceram preocupações com a eficácia e a eficiência das
O Projeto de Lei que cria o novo PNE estabelece 20 metas escolas, e a atenção voltou-se, predominantemente, para os
a serem alcançadas pelo país de 2011 a 2020. As metas resultados por elas obtidos quanto ao rendimento dos
voltadas diretamente ou que têm relação com o Ensino Médio estudantes. A qualidade priorizada somente nesses termos
são: pode, contudo, deixar em segundo plano a superação das
desigualdades educacionais.
I – Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para Outro conceito de qualidade passa, entretanto, a ser
toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa gestado por movimentos de renovação pedagógica,
líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%, nesta faixa movimentos sociais, de profissionais e por grupos políticos: o
etária. da qualidade social da educação. Ela está associada às
II – Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o mobilizações pelo direito à educação, à exigência de
atendimento escolar aos estudantes com deficiência, participação e de democratização e comprometida com a
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superação das desigualdades e injustiças.
superdotação na rede regular de ensino. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a
III – Oferecer educação em tempo integral em 50% das Ciência e a Cultura (UNESCO), ao entender que a qualidade da
escolas públicas de Educação Básica. educação é também uma questão de direitos humanos,
IV – Atingir as médias nacionais para o IDEB já previstas defende conceito semelhante (2008). Para além da eficácia e
no Plano de Desenvolvi- mento da Educação (PDE). da eficiência, advoga que a educação de qualidade, como um
V – Elevar a escolaridade média da população de 18 a direito fundamental, deve ser antes de tudo relevante,
24 anos de modo a alcançar o mínimo de 12 anos de estudo pertinente e equitativa. A relevância reporta-se à promoção de
para as populações do campo, da região de menor escolaridade aprendizagens significativas do ponto de vista das exigências
no país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a sociais e de desenvolvimento pessoal. A pertinência refere-se
escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à à possibilidade de atender às necessidades e às características
redução da desigualdade educacional. dos estudantes de diversos contextos sociais e culturais e com
VI – Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas da diferentes capacidades e interesses.
Educação de Jovens e Adultos na forma integrada à Educação A educação escolar, comprometida com a igualdade de
Profissional nos anos finais do Ensino Fundamental e no acesso ao conhecimento a todos e especialmente empenhada
Ensino Médio. em garantir esse acesso aos grupos da população em
VII – Duplicar as matrículas da Educação Profissional desvantagem na sociedade, é uma educação com qualidade
Técnica de Nível Médio, assegurando a qualidade da oferta. social e contribui para dirimir as desigualdades
VIII – Garantir, em regime de colaboração entre a União, historicamente produzidas, assegurando, assim, o ingresso, a
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, que todos os permanência e o sucesso de todos na escola, com a
professores da Educação Básica possuam formação específica consequente redução da evasão, da retenção e das distorções
de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de de idade-ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução
conheci- mento em que atuam. CNE/CEB n° 4/2010, que definem as Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica).

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Exige-se, pois, problematizar o desenho organizacional da III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
instituição escolar que não tem conseguido responder às aprendizagem, e na avaliação das aprendizagens como
singularidades dos sujeitos que a compõem. Torna-se instrumento de contínua progressão dos estudantes;
inadiável trazer para o debate os princípios e as práticas de um IV – inter-relação entre organização do currículo, do
processo de inclusão social que garanta o acesso e considere a trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do professor,
diversidade humana, social, cultural e econômica dos grupos tendo como foco a aprendizagem do estudante;
historicamente excluídos. V – compatibilidade entre a proposta curricular e a
Para que se conquiste a inclusão social, a educação escolar infraestrutura, entendida como espaço formativo dotado de
deve fundamentar-se na ética e nos valores da liberdade, efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
justiça social, pluralidade, solidariedade e sustentabilidade, acessibilidade;
cuja finalidade é o pleno desenvolvimento de seus sujeitos, nas VI – integração dos profissionais da educação, dos
dimensões individual e social de cidadãos conscientes de seus estudantes, das famílias e dos agentes da comunidade
direitos e deveres, compromissados com a transformação interessados na educação;
social. Diante dessa concepção de educação, a escola é uma VII – valorização dos profissionais da educação, com
organização temporal, que deve ser menos rígida, segmentada programa de formação continuada, critérios de acesso,
e uniforme, a fim de que os estudantes, indistintamente, permanência, remuneração compatível com a jornada de
possam adequar seus tempos de aprendizagens de modo trabalho definida no projeto político-pedagógico;
menos homogêneo e idealizado. VIII – realização de parceria com órgãos, tais como os de
A escola, face às exigências da Educação Básica, precisa ser assistência social, desenvolvimento e direitos humanos,
reinventada, ou seja, priorizar processos capazes de gerar cidadania, trabalho, ciência e tecnologia, lazer, esporte,
sujeitos inventivos, participativos, cooperativos, preparados turismo, cultura e arte, saúde, meio ambiente;
para diversificadas inserções sociais, políticas, culturais, IX – preparação dos profissionais da educação, gestores,
laborais e, ao mesmo tempo, capazes de intervir e professores, especialistas, técnicos, monitores e outros.
problematizar as formas de produção e de vida. A escola tem,
diante de si, o desafio de sua própria recriação, pois tudo que A qualidade social da educação brasileira é uma conquista
a ela se refere constitui-se como invenção: os rituais escolares a ser construída coletivamente de forma negociada, pois
são invenções de um determinado contexto sociocultural em significa algo que se concretiza a partir da qualidade da relação
movimento. entre todos os sujeitos que nela atuam direta e indiretamente.
A qualidade na escola exige o compromisso de todos os Significa compreender que a educação é um processo de
sujeitos do processo educativo para: produção e socialização da cultura da vida, no qual se
constroem, se mantêm e se transformam conhecimentos e
I – a ampliação da visão política expressa por meio de valores. Produzir e socializar a cultura inclui garantir a
habilidades inovadoras, fundamentadas na capacidade para presença dos sujeitos das aprendizagens na escola. Assim, a
aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e pela qualidade social da educação escolar supõe encontrar
estética; alternativas políticas, administrativas e pedagógicas que
II – a responsabilidade social, princípio educacional que garantam o acesso, a permanência e o sucesso do indivíduo no
norteia o conjunto de sujeitos comprometidos com o projeto sistema escolar, não apenas pela redução da evasão, da
que definem e assumem como expressão e busca da qualidade repetência e da distorção idade- ano/série, mas também pelo
da escola, fruto do empenho de todos. aprendizado efetivo.

Construir a qualidade social pressupõe conhecimento dos 3. O Ensino Médio no Brasil


interesses sociais da comunidade escolar para que seja
possível educar e cuidar mediante interação efetivada entre Em uma perspectiva histórica (UNESCO, 2009), verifica-se
princípios e finalidades educacionais, objetivos, que foi a reforma educacional conhecida pelo nome do
conhecimentos e concepções curriculares. Isso abarca mais Ministro Francisco Campos, que regulamentou e organizou o
que o exercício político-pedagógico que se viabiliza mediante ensino secundário, além do ensino profissional e comercial
atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa. Ou seja, (Decreto nº 18.890/31) que estabeleceu a modernização do
efetiva-se não apenas mediante participação de todos os ensino secundário nacional.
sujeitos da escola – estudante, professor, técnico, funcionário, Apesar de modernizadora, essa reforma não rompeu com
coordenador – mas também, mediante aquisição e utilização a tradição de uma educação voltada para as elites e setores
adequada dos objetos e espaços (laboratórios, equipamentos, emergentes da classe média, pois foi concebida para conduzir
mobiliário, salas-ambiente, biblioteca, videoteca, ateliê, seus estudantes para o ingresso nos cursos superiores.
oficina, área para práticas esportivas e culturais, entre outros) Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, foi
requeridos para responder ao projeto político-pedagógico instituído o conjunto das Leis Orgânicas da Educação Nacional,
pactuado, vinculados às condições/disponibilidades mínimas que configuraram a denominada Reforma Capanema:
para se instaurar a primazia da aquisição e do a) Lei orgânica do ensino secundário, de 1942;
desenvolvimento de hábitos investigatórios para construção b) Lei orgânica do ensino comercial, de 1943;
do conhecimento. c) Leis orgânicas do ensino primário, de 1946.
A escola de qualidade social adota como centralidade o
diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o que Nas leis orgânicas firmou-se o objetivo do ensino
pressupõe, sem dúvida, atendimento a requisitos tais como: secundário de formar as elites condutoras do país, a par do
ensino profissional, este mais voltado para as necessidades
I – revisão das referências conceituais quanto aos emergentes da economia industrial e da sociedade urbana.
diferentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços Nessa reforma, o ensino secundário mantinha dois ciclos:
sociais na escola e fora dela; o primeiro correspondia ao curso ginasial, com duração de 4
II – consideração sobre a inclusão, a valorização das anos, destinado a fundamentos; o segundo correspondia aos
diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade cursos clássico e científico, com duração de 3 anos, com o
cultural, resgatando e respeitando os direitos humanos, objetivo de consolidar a educação ministrada no ginasial. O
individuais e coletivos e as várias manifestações de cada ensino secundário, de um lado, e o ensino profissional, de
comunidade;

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outro, não se comunicavam nem propiciavam circulação de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; e
estudos, o que veio a ocorrer na década seguinte. Ciências Humanas e suas Tecnologias.
Em 1950, a equivalência entre os estudos acadêmicos e os Mesmo considerando o tratamento dado ao trabalho
profissionais foi uma mudança decisiva, comunicando os dois didático-pedagógico, com as possibilidades de organização do
tipos de ensino. A Lei Federal nº 1.076/50 permitiu que Ensino Médio, tem-se a percepção que tal discussão não
concluintes de cursos profissionais ingressassem em cursos chegou às escolas, mantendo-se atenção extrema no
superiores, desde que comprovassem nível de conhecimento tratamento de conteúdos sem a articulação com o contexto do
indispensável à realização dos aludidos estudos. Na década estudante e com os demais componentes das áreas de
seguinte, sobreveio a plena equivalência entre os cursos, com conhecimento e sem aproximar-se das finalidades propostas
a equiparação, para todos os efeitos, do ensino profissional ao para a etapa de ensino, constantes na LDB. Foi observado em
ensino propedêutico, efetivada pela primeira Lei de Diretrizes estudo promovido pela UNESCO, que incluiu estudos de caso
e Bases da Educação Nacional (Lei nº 4.024/61). em dois Estados, que os ditames legais e normativos e as
Novo momento decisivo ocorreu dez anos depois, com a concepções teóricas, mesmo quando assumidas pelos órgãos
promulgação da Lei nº 5.692/71, que reformou a Lei nº centrais de uma Secretaria Estadual de Educação, têm fraca
4.024/61, no que se refere ao, então, ensino de 1º e de 2º graus. ressonância nas escolas e, até, pouca ou nenhuma, na atuação
Note-se que ocorreu aqui uma transposição do antigo ginasial, dos professores (UNESCO, 2009).
até então considerado como fase inicial do ensino secundário, O Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e a Resolução CNE/CEB nº
para constituir-se na fase final do 1o grau de oito anos. Para o 4/2010, que definem as Diretrizes Curriculares Nacionais
2º grau (correspondente ao atual Ensino Médio), a Gerais para Educação Básica, especificamente quanto ao
profissionalização torna-se obrigatória, supostamente para Ensino Médio, reiteram que é etapa final do processo
eliminar o dualismo entre uma formação clássica e científica, formativo da Educação Básica e indicam que deve ter uma base
preparadora para os estudos superiores e, outra, profissional unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades
(industrial, comercial e agrícola), além do Curso Normal, diversas.
destinado à formação de professores para a primeira fase do A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em uma
1o grau. A implantação generalizada da habilitação lógica que se dirige, predominantemente, aos jovens,
profissional trouxe, entre seus efeitos, sobretudo para o ensino considerando suas singularidades, que se situam em um
público, a perda de identidade que o 2º grau passara a ter, seja tempo determinado. Os sistemas educativos devem prever
a propedêutica para o ensino superior, seja a de terminalidade currículos flexíveis, com diferentes alternativas, para que os
profissional. Passada uma década, foi editada a Lei nº jovens tenham a oportunidade de escolher o percurso
7.044/82, tornando facultativa essa profissionalização no 2º formativo que atenda seus interesses, necessidades e
grau. aspirações, para que se assegure a permanência dos jovens na
O mais novo momento decisivo veio com a atual lei de escola, com proveito, até a conclusão da Educação Básica.
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei Federal Pesquisas realizadas com estudantes mostram a
nº 9.394/96, que ainda vem recebendo sucessivas alterações e necessidade de essa etapa educacional adotar procedimentos
acréscimos. A LDB define o Ensino Médio como uma etapa do que guardem maior relação com o projeto de vida dos
nível denominado Educação Básica, constituído pela Educação estudantes como forma de ampliação da permanência e do
Infantil, pelo Ensino Fundamental e pelo Ensino Médio, sendo sucesso dos mesmos na escola.
esta sua etapa final. Estas Diretrizes orientam-se no sentido do oferecimento
Das alterações ocorridas na LDB, destacam-se, aqui, as de uma formação humana integral, evitando a orientação
trazidas pela Lei nº 11.741/2008, a qual redimensionou, limitada da preparação para o vestibular e patrocinando um
institucionalizou e integrou as ações da Educação Profissional sonho de futuro para todos os estudantes do Ensino Médio.
Técnica de Nível Médio, da Educação de Jovens e Adultos e da Esta orientação visa à construção de um Ensino Médio que
Educação Profissional e Tecnológica. Foram alterados os apresente uma unidade e que possa atender a diversidade
artigos 37, 39, 41 e 42, e acrescido o Capítulo II do Título V com mediante o oferecimento de diferentes formas de organização
a Seção IV-A, denominada “Da Educação Profissional Técnica curricular, o fortalecimento do projeto político pedagógico e a
de Nível Médio”, e com os artigos 36-A, 36-B, 36-C e 36-D. Esta criação das condições para a necessária discussão sobre a
lei incorporou o essencial do Decreto nº 5.154/2004, organização do trabalho pedagógico.
sobretudo, revalorizando a possibilidade do Ensino Médio
integrado com a Educação Profissional Técnica, 4. Os sujeitos/estudantes do Ensino Médio
contrariamente ao que o Decreto nº 2.208/97 anteriormente
havia disposto. 4.1 As juventudes
A LDB define como finalidades do Ensino Médio a
preparação para a continuidade dos estudos, a preparação Os estudantes do Ensino Médio são predominantemente
básica para o trabalho e o exercício da cidadania. Determina, adolescentes e jovens. Segundo o Conselho Nacional de
ainda, uma base nacional comum e uma parte diversificada Juventude (CONJUVE), são considerados jovens os sujeitos
para a organização do currículo escolar. com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos, ainda que a
Na sequência, foram formuladas as Diretrizes Curriculares noção de juventude não possa ser reduzida a um recorte etário
Nacionais para o Ensino Médio, em 1998, que destacam que as (Brasil, 2006). Em consonância com o CONJUVE, esta proposta
ações administrativas e pedagógicas dos sistemas de ensino e de atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o
das escolas devem ser coerentes com princípios estéticos, Ensino Médio concebe a juventude como condição sócio-
políticos e éticos, abrangendo a estética da sensibilidade, a histórico-cultural de uma categoria de sujeitos que necessita
política da igualdade e a ética da identidade. Afirmam que as ser considerada em suas múltiplas dimensões, com
propostas pedagógicas devem ser orientadas por especificidades próprias que não estão restritas às dimensões
competências básicas, conteúdos e formas de tratamento dos biológica e etária, mas que se encontram articuladas com uma
conteúdos previstos pelas finalidades do Ensino Médio. Os multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais,
princípios pedagógicos da identidade, diversidade e produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes.
autonomia, da interdisciplinaridade e da contextualização são Entender o jovem do Ensino Médio dessa forma significa
adotados como estruturadores dos currículos. A base nacional superar uma noção homogeneizante e naturalizada desse
comum organiza-se, a partir de então, em três áreas de estudante, passando a percebê-lo como sujeito com valores,
conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; comportamentos, visões de mundo, interesses e necessidades

Legislação Básica em Educação 25


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singulares. Além disso, deve-se também aceitar a existência de demonstram os comportamentos juvenis, preservam
pontos em comum que permitam tratá-lo como uma categoria autonomia relativa quanto a essa ordem.
social. Destacam-se sua ansiedade em relação ao futuro, sua Segundo Dayrell, a juventude é “parte de um processo mais
necessidade de se fazer ouvir e sua valorização da amplo de constituição de sujeitos, mas que tem especificidades
sociabilidade. Além das vivências próprias da juventude, o que marcam a vida de cada um. A juventude constitui um
jovem está inserido em processos que questionam e momento determinado, mas não se reduz a uma passagem; ela
promovem sua preparação para assumir o papel de adulto, assume uma importância em si mesma. Todo esse processo é
tanto no plano profissional quanto no social e no familiar. influenciado pelo meio social concreto no qual se desenvolve e
Pesquisas sugerem que, muito frequentemente, a pela qualidade das trocas que este proporciona”. (2003).
juventude é entendida como uma condição de transitoriedade, Zibas, ao analisar as relações entre juventude e oferta
uma fase de transição para a vida adulta (Dayrell, 2003). Com educacional observa que a ampliação do acesso ao Ensino
isso, nega-se a importância das ações de seu presente, Médio, nos últimos 15 anos, não veio acompanhada de
produzindo-se um entendimento de que sua educação deva políticas capazes de dar sustentação com qualidade a essa
ser pensada com base nesse “vir a ser”. Reduzem-se, assim, as ampliação. Entre 1995 e 2005, os sistemas de ensino estaduais
possibilidades de se fazer da escola um espaço de formação receberam mais de 4 milhões de jovens no Ensino Médio,
para a vida hoje vivida, o que pode acabar relegando-a a uma totalizando uma população escolar de 9 milhões de indivíduos
obrigação enfadonha. (2009).
Muitos jovens, principalmente os oriundos de famílias É diante de um público juvenil extremamente diverso, que
pobres, vivenciam uma relação paradoxal com a escola. Ao traz para dentro da escola as contradições de uma sociedade
mesmo tempo em que reconhecem seu papel fundamental no que avança na inclusão educacional sem transformar a
que se refere à empregabilidade, não conseguem atribuir-lhe estrutura social desigual – mantendo acesso precário à saúde,
um sentido imediato (Sposito, 2005). Vivem ansiosos por uma ao transporte, à cultura e lazer, e ao trabalho – que o novo
escola que lhes proporcione chances mínimas de trabalho e Ensino Médio se forja. As desigualdades sociais passam a
que se relacione com suas experiências presentes. tencionar a instituição escolar e a produzir novos conflitos
Além de uma etapa marcada pela transitoriedade, outra (idem).
forma recorrente de representar a juventude é vê-la como um Segundo Dayrell (2009), o censo de 2000 informa que
tempo de liberdade, de experimentação e irresponsabilidade 47,6% dos jovens da Região Sudeste de 15 a 17 anos
(Dayrell, 2003). Essas duas maneiras de representar a frequentavam o Ensino Médio; no Nordeste apenas 19,9%; e a
juventude – como um “vir a ser” e como um tempo de liberdade média nacional era de 35,7%. O autor assinala, com base em
– mostram-se distantes da realidade da maioria dos jovens dados do IPEA (2008), que há uma frequência líquida no
brasileiros. Para esses, o trabalho não se situa no futuro, já Sul/Sudeste de 58%, contra 33,3% no Norte/Nordeste. Em
fazendo parte de suas preocupações presentes. Uma pesquisa que pese essa presença ser expressivamente maior na Região
realizada com jovens de várias regiões brasileiras, moradores Sul do país, observa-se um quadro reiterado de desistência da
de zonas urbanas de cidades pequenas e capitais, bem como da escola também nessa região. Esse quadro parece se
zona rural, constatou que 60% dos entrevistados intensificar no Ensino Médio, devido à existência de forte
frequentavam escolas. Contudo, 75% deles já estavam tensão na relação dos jovens com a escola (Correia e Matos,
inseridos ou buscando inserção no mundo do trabalho 2001; Dayrell, 2007; Krawczyk, 2009 apud Dayrell, 2009).
(Sposito, 2005). Ou seja, o mundo do trabalho parece estar Dentre os fatores relevantes a se considerar está a relação
mais presente na vida desses sujeitos do que a escola. entre juventude, escola e trabalho. Ainda que não se parta, a
Muitos jovens abandonam a escola ao conseguir emprego, priori, de que haja uma linearidade entre permanência na
alegando falta de tempo. Todavia, é possível que, se os jovens escola e inserção no emprego, as relações entre escolarização,
atribuíssem um sentido mais vivo e uma maior importância à formação profissional e geração de independência financeira
sua escolarização, uma parcela maior continuasse por meio do ingresso no mundo do trabalho vêm sendo
frequentando as aulas, mesmo depois de empregados. tensionadas e reconfiguradas conforme sinalizam estudos
O desencaixe entre a escola e os jovens não deve ser visto acerca do emprego e do desemprego juvenil.
como decorrente, nem de uma suposta incompetência da O Brasil vive hoje um novo ciclo de desenvolvimento
instituição, nem de um suposto desinteresse dos estudantes. calcado na distribuição de renda que visa à inclusão de um
As análises se tornam produtivas à medida que enfoquem a grande contingente de pessoas no mercado consumidor.
relação entre os sujeitos e a escola no âmbito de um quadro A sustentação desse ciclo e o estabelecimento de novos
mais amplo, considerando as transformações sociais em curso. patamares de desenvolvimento requerem um aporte de
Essas transformações estão produzindo sujeitos com estilos trabalhadores qualificados em todos os níveis, o que implica
de vida, valores e práticas sociais que os tornam muito na reestruturação da escola com vistas à introdução de novos
distintos das gerações anteriores (Dayrell, 2007). Entender tal conteúdos e de novas metodologias de ensino capazes de
processo de transformação é relevante para a compreensão promover a oferta de uma formação integral.
das dificuldades hoje constatadas nas relações entre os jovens Os jovens, atentos aos destinos do País, percebem essas
e a escola. modificações e criam novas expectativas em relação às
Possivelmente, um dos aspectos indispensáveis a essas possibilidades de inserção no mundo do trabalho e em relação
análises é a compreensão da constituição da juventude. A ao papel da escola nos seus projetos de vida.
formação dos indivíduos é hoje atravessada por um número Diante do exposto, torna-se premente que as escolas, ao
crescente de elementos. Se antes ela se produzia, desenvolverem seus projetos político-pedagógicos, se
dominantemente, no espaço circunscrito pela família, pela debrucem sobre questões que permitam ressignificar a
escola e pela igreja, em meio a uma razoável homogeneidade instituição escolar diante de uma possível fragilização que essa
de valores, muitas outras instituições, hoje, participam desse instituição venha sofrendo, quando se trata do público alvo do
jogo, apresentando formas de ser e de viver heterogêneas. Ensino Médio, considerando, ainda, a necessidade de
A identidade juvenil é determinada para além de uma acolhimento de um sujeito que possui, dentre outras, as
idade biológica ou psicológica, mas situa-se em processo de características apontadas anteriormente. Assim, sugerem-se
contínua transformação individual e coletiva, a partir do que questões como:
se reconhece que o sujeito do Ensino Médio é constituído e Que características sócio-econômico-culturais possuem os
constituinte da ordem social, ao mesmo tempo em que, como jovens que frequentam as escolas de Ensino Médio?

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Que representações a escola, seus professores e dirigentes culturais e, como tal, esperam que a escola cumpra o papel de
fazem dos estudantes? supridora dessas condições. Não raras vezes, a escola noturna
A escola conhece seus estudantes? é vista por esses estudantes trabalhadores como um locus
Quais os pontos de proximidade e distanciamento entre os privilegiado de socialização.
sujeitos das escolas (estudantes e professores Os que estudam e trabalham, em geral, enfrentam
particularmente)? dificuldades para conciliar as duas tarefas. Todos têm
Quais sentidos e significados esses jovens têm atribuído à consciência de que as escolas noturnas convivem com maiores
experiência escolar? dificuldades do que as do período diurno e isso é um fator de
Que relações se podem observar entre jovens, escola e desestímulo.
sociabilidade? Segundo Arroyo (1986, in Togni e Carvalho, 2008), ao
Quais experiências os jovens constroem fora do espaço tratar do “aluno (estudante)- trabalhador”, estamos nos
escolar? referindo a um trabalhador que estuda, ou seja, jovens que,
Como os jovens interagem com a diversidade? antes de serem estudantes, são trabalhadores e que “dessa
Que representações fazem diante de situações que têm diferenciação, não deveria decorrer qualquer interpretação
sido alvo de preconceito? que indique uma valorização diferente, por parte dos
Em que medida a cultura escolar instituída compõe uma estudantes, da escolarização, mas sim, especificidades nas
referência simbólica que se distancia/aproxima das relações estabelecidas na escola” (Oliveira e Sousa, 2008).
expectativas dos estudantes? Desse modo, o enfrentamento das necessidades detectadas
Que elementos da cultura juvenil são derivados da no ensino noturno passa, inicialmente, pelo reconhecimento
experiência escolar e contribuem para conferir identidade(s) da diversidade que caracteriza a escola e o corpo discente do
ao jovem da contemporaneidade? ensino noturno para, em seguida, adequar seus procedimentos
Que articulações existem entre os interesses pessoais, aos projetos definidos para a mesma.
projetos de vida e experiência escolar? A própria Constituição Federal, no inciso VI do art. 208,
Que relações se estabelecem entre esses planos e as determina, de forma especial, a garantia da oferta do ensino
experiências vividas na escola? noturno regular adequado às condições do educando. A LDB,
Em que medida os sentidos atribuídos à experiência no inciso VI do art. 4º, reitera este mandamento como dever
escolar motivam os jovens a elaborar projetos de futuro? do Estado.
Que expectativas são explicitadas pelos jovens diante da Ainda a LDB, no § 2º do art. 23, prescreve que o calendário
relação escola e trabalho? escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive
Que aspectos precisariam mudar na escola tendo em vista climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de
oferecer condições de incentivo ao retorno e à permanência ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas
para os que a abandonaram? previsto.
Considerando, portanto, a situação e as circunstâncias de
Viabilizar as condições para que tais questões pautem as vida dos estudantes trabalhadores do Ensino Médio noturno,
formulações dos gestores e professores na discussão do seu cabe indicar e possibilitar formas de oferta e organização que
cotidiano pode permitir novas formas de organizar a proposta sejam adequadas às condições desses educandos, de modo a
de trabalho da escola na definição de seu projeto político- permitir seu efetivo acesso, permanência e sucesso nos
pedagógico. estudos desta etapa da Educação Básica. É óbice evidente a
carga horária diária, a qual, se igual à do curso diurno, não é
4.2 Os estudantes do Ensino Médio noturno adequada para o estudante trabalhador, que já cumpriu longa
jornada laboral. Este problema é agravado em cidades
O Ensino Médio noturno tem estado ausente do conjunto maiores, nas quais as distâncias e os deslocamentos do local de
de medidas acenadas para a melhoria da Educação Básica. trabalho para a escola e desta para a morada impõe acréscimo
Estas Diretrizes definem que todas as escolas com Ensino de sacrifício, levando a atraso e perda de tempos escolares.
Médio, independentemente do horário de funcionamento, Essa sobrecarga de horas no período noturno torna-se, sem
sejam locais de incentivo, desafios, construção do dúvida, causa de desestímulo e aproveitamento precário que
conhecimento e transformação social. leva a uma deficiente formação e/ou à reprovação, além da
Para que esse objetivo seja alcançado, é necessário ter em retenção por faltas além do limite legal e, no limite, de
mente as especificidades dos estudantes que compõem a abandono dos estudos.
escola noturna, com suas características próprias. Nesse sentido, com base no preceito constitucional e da
Em primeiro lugar, cabe destacar que a maioria dos LDB, e respeitados os mínimos previstos de duração e carga
estudantes do ensino noturno são adolescentes e jovens. Uma horária total, o projeto pedagógico deve atender com
parte está dando continuidade aos estudos, sem interrupção, qualidade a singularidade destes sujeitos.
mesmo que já tenha tido alguma reprovação. Outra parte, no
entanto, está retornando aos estudos depois de haver 4.3 Os estudantes de Educação de Jovens e Adultos
interrompido em determinado momento. (EJA)
Levantamentos específicos mostram que os estudantes do
ensino noturno diferenciam- se dos estudantes do ensino O inciso I do art. 208 da Constituição Federal determina
diurno, pois estes últimos têm o estudo como principal que o dever do Estado para com a educação é efetivado
atividade/interesse, enquanto os do noturno são, na sua mediante a garantia da Educação Básica obrigatória e gratuita
maioria, trabalhadores antes de serem estudantes. Do ponto dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada, inclusive, sua oferta
de vista das expectativas destes estudantes, uns objetivam gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso na idade
prosseguir os estudos ingressando no ensino superior, própria.
enquanto outros pretendem manter ou retomar sua dedicação A LDB, no inciso VII do art. 4º, determina a oferta de
ao trabalho. educação escolar regular para jovens e adultos, com
O fato de muitos terem retornado aos estudos depois de tê- características e modalidades adequadas às suas necessidades
los abandonado, é um atestado de que acreditam no valor da e disponibilidades, garantindo-se, aos que forem
escolarização como uma forma de buscar melhores dias e um trabalhadores, as condições de acesso e permanência na
futuro melhor. Em geral são estudantes que, não tendo escola. O art. 37 traduz os fundamentos da EJA, ao atribuir ao
condição econômica favorável, não têm acesso aos bens poder público a responsabilidade de estimular e viabilizar o

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acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante função de suas especificidades requer normas e ordenamentos
ações integradas e complementares entre si e mediante oferta jurídicos próprios em respeito aos diferentes povos, como
de cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, que não puderam afirmado no Parecer CNE/CEB nº 14/99: “Na estruturação e
efetuar os estudos na idade regular, proporcionando-lhes no funcionamento das escolas indígenas é reconhecida sua
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as condição de escolas com normas e ordenamento jurídico
características do alunado, seus interesses, condições de vida próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando à
e de trabalho, mediante cursos e exames. Esta valorização plena das culturas dos povos indígenas e a
responsabilidade deve ser prevista pelos sistemas educativos afirmação e manutenção de sua diversidade étnica”.
e por eles deve ser assumida, no âmbito da atuação de cada A escola indígena, portanto, visando cumprir sua
sistema, observado o regime de colaboração e da ação especificidade, alicerçada em princípios comunitários,
redistributiva, definidos legalmente. bilíngues e/ou multilíngues e interculturais, requer formação
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e específica de seu quadro docente, observados os princípios
Jovens e Adultos estão expressas na Resolução CNE/CEB nº constitucionais, a base nacional comum e os princípios que
1/2000, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº 11/2000, orientam a Educação Básica brasileira (artigos 5º, 9º, 10, 11, e
sendo que o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução inciso VIII do art. 4º da LDB), como destacado no Parecer
CNE/CEB nº 3/2010 instituem Diretrizes Operacionais para a CNE/CEB nº 7/2010, de Diretrizes Curriculares Nacionais
Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos aspectos relativos à Gerais para a Educação Básica.
duração dos cursos e idade mínima para ingresso nos cursos A educação ofertada à população rural no Brasil tem sido
de EJA; idade mínima e certificação nos exames de EJA; e objeto de estudos e de reivindicações de organizações sociais
Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da há muito tempo. O art. 28 da LDB estabelece o direito dos
Educação a Distância. Indicam, igualmente, que mantém os povos do campo a uma oferta de ensino adequada à sua
princípios, objetivos e diretrizes formulados no Parecer diversidade sociocultural. É, pois, a partir dos parâmetros
CNE/CEB nº 11/2000. político-pedagógicos próprios que se busca refletir sobre a
Sendo os jovens e adultos que estudam na EJA, no geral Educação do Campo. As Diretrizes Operacionais para a
trabalhadores, cabem as considerações anteriores sobre os Educação Básica nas Escolas do Campo estão orientadas pelo
estudantes do Ensino Médio noturno, uma vez que esta Parecer CNE/CEB nº 36/2001, pela Resolução CNE/CEB nº
modalidade é, majoritariamente, oferecida nesse período. 1/2002, pelo Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e pela Resolução
Assim, deve especificar uma organização curricular e CNE/CEB nº 2/2008.
metodológica que pode incluir ampliação da duração do curso, Esta modalidade da Educação Básica e, portanto, do Ensino
com redução da carga horária diária e da anual, garantindo o Médio, está prevista no art. 28 da LDB, definindo, para
mínimo total de 1.200 horas. atendimento da população do campo, adaptações necessárias
A aproximação entre a EJA – Ensino Médio – e a Educação às peculiaridades da vida rural e de cada região, com
Profissional, materializa- se, sobretudo, no Programa Nacional orientações referentes a conteúdos curriculares e
de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA), dos estudantes da zona rural; organização escolar própria,
instituído pelo Decreto nº 5.840/2006. A proposta pedagógica incluindo adequação do calendário escolar as fases do ciclo
do PROEJA alia direitos fundamentais de jovens e adultos, agrícola e as condições climáticas; e adequação à natureza do
educação e trabalho. É também fundamentada no conceito de trabalho na zona rural. As propostas pedagógicas das escolas
educação continuada, na valorização das experiências do do campo com oferta de Ensino Médio devem, portanto, ter
indivíduo e na formação de qualidade pressuposta nos marcos flexibilidade para contemplar a diversidade do meio, em seus
da educação integral. múltiplos aspectos, observados os princípios constitucionais,
a base nacional comum e os princípios que orientam a
4.4 Os estudantes indígenas, do campo e quilombolas Educação Básica brasileira.
Especificidades próprias, similarmente, tem a educação
O Ensino Médio, assim como as demais etapas da Educação destinada aos quilombolas, desenvolvida em unidades
Básica, assume diferentes modalidades quando destinadas a educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo
contingentes da população com características diversificadas, pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural
como é, principalmente, o caso dos povos indígenas, do campo de cada comunidade e formação específica de seu quadro
e quilombolas. docente. A Câmara de Educação Básica do CNE instituiu
O art. 78 da LDB se detém na oferta da Educação Escolar Comissão para a elaboração de Diretrizes Curriculares
Indígena. Da confluência dos princípios e direitos desta específicas para esta modalidade.
educação, traduzidos no respeito à sociodiversidade; na
interculturalidade; no direito de uso de suas línguas maternas 4.5 Os estudantes da Educação Especial
e de processos próprios de aprendizagem, na articulação entre
os saberes indígenas e os conhecimentos técnico- científicos Como modalidade transversal a todos os níveis, etapas e
com os princípios da formação integral, visando à atuação modalidades de ensino a Educação Especial deve estar
cidadã no mundo do trabalho, da sustentabilidade prevista no projeto político-pedagógico da instituição de
socioambiental e do respeito à diversidade dos sujeitos, surge ensino.
a possibilidade de uma educação indígena que possa O Ensino Médio de pessoas com deficiência, transtornos
contribuir para a reflexão e construção de alternativas de globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
gerenciamento autônomo de seus territórios, de sustentação superdotação segue, pois, os princípios e orientações
econômica, de segurança alimentar, de saúde, de atendimento expressos nos atos normativos da Educação Especial, o que
às necessidades cotidianas, entre outros. implica assegurar igualdade de condições para o acesso e
Esta modalidade tem Diretrizes próprias instituídas pela permanência na escola e o atendimento educacional
Resolução CNE/CEB nº 3/99, que fixou Diretrizes Nacionais especializado na rede regular de ensino.
para o Funcionamento das Escolas Indígenas, com base no Conforme expresso no texto da Convenção sobre os
Parecer CNE/CEB nº 14/99, A escola desta modalidade tem Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo
uma realidade singular, inscrita na territorialidade, em Facultativo, “a deficiência é um conceito em evolução”,
processos de afirmação de identidades étnicas, produção e resultante “da interação entre pessoas com deficiência e as
(re)significação de crenças, línguas e tradições culturais. Em barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a

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plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em qualquer fenômeno que sempre existiu como força natural só
igualdade de oportunidades com as demais pessoas”. se constitui em conhecimento quando o ser humano dela se
Considerando o “respeito pela dignidade inerente, a apropria tornando-a força produtiva para si. Por exemplo, a
autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as descarga elétrica, os raios, a eletricidade estática como
próprias escolhas” e o entendimento da diversidade dos fenômenos naturais sempre existiu, mas não são
educandos com necessidades educacionais especiais, as conhecimentos enquanto o ser humano não se apropria desses
instituições de ensino não podem restringir o acesso ao Ensino fenômenos conceitualmente, formulando teorias que
Médio por motivo de deficiência. Tal discriminação “configura potencializam o avanço das forças produtivas.
violação da dignidade e do valor inerentes ao ser humano”. A ciência, portanto, que pode ser conceituada como
Cabe assim às instituições de ensino garantir a conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos
transversalidade das ações da Educação Especial no Ensino socialmente ao longo da história, na busca da compreensão e
Médio, assim como promover a quebra de barreiras físicas, de transformação da natureza e da sociedade, se expressa na
comunicação e de informação que possam restringir a forma de conceitos representativos das relações de forças
participação e a aprendizagem dos educandos. determinadas e apreendidas da realidade. O conhecimento de
Nesse sentido, faz-se necessário organizar processos de uma seção da realidade concreta ou a realidade concreta
avaliação adequados às singularidades dos educandos, tematizada constitui os campos da ciência, que são as
incluindo as possibilidades de dilatamento de prazo para disciplinas científicas. Conhecimentos assim produzidos e
conclusão da formação e complementação do atendimento. legitimados socialmente ao longo da história são resultados de
Para o atendimento desses objetivos, devem as escolas um processo empreendido pela humanidade na busca da
definir formas inclusivas de atendimento de seus estudantes, compreensão e transformação dos fenômenos naturais e
devendo os sistemas de ensino dar o necessário apoio para a sociais. Nesse sentido, a ciência conforma conceitos e métodos
implantação de salas de recursos multifuncionais; a formação cuja objetividade permite a transmissão para diferentes
continuada de professores para o atendimento educacional gerações, ao mesmo tempo em que podem ser questionados e
especializado e a formação de gestores, educadores e demais superados historicamente, no movimento permanente de
profissionais da escola para a educação inclusiva; a adequação construção de novos conhecimentos.
arquitetônica de prédios escolares e a elaboração, produção e A extensão das capacidades humanas, mediante a
distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade, apropriação de conhecimentos como força produtiva, sintetiza
bem como a estruturação de núcleos de acessibilidade com o conceito de tecnologia aqui expresso. Pode ser conceituada
vistas à implementação e à integração das diferentes ações como transformação da ciência em força produtiva ou
institucionais de inclusão de forma a prover condições para o mediação do conhecimento científico e a produção, marcada
desenvolvimento acadêmico dos educandos, propiciando sua desde sua origem pelas relações sociais que a levaram a ser
plena e efetiva participação e inclusão na sociedade. produzida. O desenvolvimento da tecnologia visa à satisfação
de necessidades que a humanidade se coloca, o que nos leva a
5. Pressupostos e fundamentos para um Ensino Médio perceber que a tecnologia é uma extensão das capacidades
de qualidade social humanas. A partir do nascimento da ciência moderna, pode-se
definir a tecnologia, então, como mediação entre
5.1 Trabalho, ciência, tecnologia e cultura: dimensões conhecimento científico (apreensão e desvelamento do real) e
da formação humana produção (intervenção no real).
Entende-se cultura como o resultado do esforço coletivo
O trabalho é conceituado, na sua perspectiva ontológica de tendo em vista conservar a vida humana e consolidar uma
transformação da natureza, como realização inerente ao ser organização produtiva da sociedade, do qual resulta a
humano e como mediação no processo de produção da sua produção de expressões materiais, símbolos, representações e
existência. Essa dimensão do trabalho é, assim, o ponto de significados que correspondem a valores éticos e estéticos que
partida para a produção de conhecimentos e de cultura pelos orientam as normas de conduta de uma sociedade.
grupos sociais. Por essa perspectiva, a cultura deve ser compreendida no
O caráter teleológico da intervenção humana sobre o meio seu sentido mais ampliado possível, ou seja, como a articulação
material, isto é, a capacidade de ter consciência de suas entre o conjunto de representações e comportamentos e o
necessidades e de projetar meios para satisfazê-las, diferencia processo dinâmico de socialização, constituindo o modo de
o ser humano dos outros animais, uma vez que estes não vida de uma população determina- da.
distinguem a sua atividade vital de si mesmos, enquanto o Uma formação integral, portanto, não somente possibilita
homem faz da sua atividade vital um objeto de sua vontade e o acesso a conhecimentos científicos, mas também promove a
consciência. Os animais podem reproduzir, mas o fazem reflexão crítica sobre os padrões culturais que se constituem
somente para si mesmos; o homem reproduz toda a natureza, normas de conduta de um grupo social, assim como a
porém de modo transformador, o que tanto lhe atesta quanto apropriação de referências e tendências que se manifestam em
lhe confere liberdade e universalidade. Desta forma, produz tempos e espaços históricos, os quais expressam concepções,
conhecimentos que, sistematizados sob o crivo social e por um problemas, crises e potenciais de uma sociedade, que se vê
processo histórico, constitui a ciência. traduzida e/ou questionada nas suas manifestações.
Nesses termos, compreende-se o conhecimento como uma Assim, evidencia-se a unicidade entre as dimensões
produção do pensamento pela qual se apreende e se científico-tecnológico-cultural, a partir da compreensão do
representam as relações que constituem e estruturam a trabalho em seu sentido ontológico.
realidade. Apreender e determinar essas relações exige um O princípio da unidade entre pensamento e ação é
método, que parte do concreto empírico – forma como a correlato à busca intencional da convergência entre teoria e
realidade se manifesta – e, mediante uma determinação mais prática na ação humana. A relação entre teoria e prática se
precisa através da análise, chega a relações gerais que são impõe, assim, não apenas como princípio metodológico
determinantes do fenômeno estudado. A compreensão do real inerente ao ato de planejar as ações, mas, fundamentalmente,
como totalidade exige que se conheçam as partes e as relações como princípio epistemológico, isto é, princípio orientador do
entre elas, o que nos leva a constituir seções tematizadas da modo como se compreende a ação humana de conhecer uma
realidade. Quando essas relações são “arrancadas” de seu determinada realidade e intervir sobre ela no sentido de
contexto originário e ordenadas, tem-se a teoria. A teoria, transformá-la.
então, é o real elevado ao plano do pensamento. Sendo assim,

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A unidade entre pensamento e ação está na base da O aumento exponencial da geração de conhecimentos tem,
capacidade humana de produzir sua existência. É na atividade também, como consequência que a instituição escolar deixa de
orientada pela mediação entre pensamento e ação que se ser o único centro de geração de informações. A ela se juntam
produzem as mais diversas práticas que compõem a produção outras instituições, movimentos e ações culturais, públicas e
de nossa vida material e imaterial: o trabalho, a ciência, a privadas, além da importância que vão adquirindo na
tecnologia e a cultura. sociedade os meios de comunicação como criadores e
Por essa razão trabalho, ciência, tecnologia e cultura são portadores de informação e de conteúdos desenvolvidos fora
instituídos como base da proposta e do desenvolvimento do âmbito escolar.
curricular no Ensino Médio de modo a inserir o contexto Apesar da importância que ganham esses novos
escolar no diálogo permanente com a necessidade de mecanismos de aquisição de informações, é importante
compreensão de que estes campos não se produzem destacar que informação não pode ser confundida com
independentemente da sociedade, e possuem a marca da sua conhecimento. O fato dessas novas tecnologias se
condição histórico- cultural. aproximarem da escola, onde os alunos, às vezes, chegam com
muitas informações, reforça o papel dos professores no
5.2 Trabalho como princípio educativo tocante às formas de sistematização dos conteúdos e de
estabelecimento de valores.
A concepção do trabalho como princípio educativo é a base Uma consequência imediata da sociedade de informação é
para a organização e desenvolvimento curricular em seus que a sobrevivência nesse ambiente requer o aprendizado
objetivos, conteúdos e métodos. contínuo ao longo de toda a vida. Esse novo modo de ser
Considerar o trabalho como princípio educativo equivale a requer que o aluno, para além de adquirir determinadas
dizer que o ser humano é produtor de sua realidade e, por isto, informações e desenvolver habilidades para realizar certas
dela se apropria e pode transformá-la. Equivale a dizer, ainda, tarefas, deve aprender a aprender, para continuar
que é sujeito de sua história e de sua realidade. Em síntese, o aprendendo.
trabalho é a primeira mediação entre o homem e a realidade Essas novas exigências requerem um novo
material e social. comportamento dos professores que devem deixar de ser
O trabalho também se constitui como prática econômica transmissores de conhecimentos para serem mediadores,
porque garante a existência, produzindo riquezas e facilitadores da aquisição de conhecimentos; devem estimular
satisfazendo necessidades. Na base da construção de um a realização de pesquisas, a produção de conhecimentos e o
projeto de formação está a compreensão do trabalho no seu trabalho em grupo. Essa transformação necessária pode ser
duplo sentido – ontológico e histórico. traduzida pela adoção da pesquisa como princípio pedagógico.
Pelo primeiro sentido, o trabalho é princípio educativo à É necessário que a pesquisa como princípio pedagógico
medida que proporciona a compreensão do processo histórico esteja presente em toda a educação escolar dos que
de produção científica e tecnológica, como conhecimentos vivem/viverão do próprio trabalho. Ela instiga o estudante no
desenvolvidos e apropriados socialmente para a sentido da curiosidade em direção ao mundo que o cerca, gera
transformação das condições naturais da vida e a ampliação inquietude, possibilitando que o estudante possa ser
das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos. protagonista na busca de informações e de saberes, quer sejam
O trabalho, no sentido ontológico, é princípio e organiza a base do senso comum, escolares ou científicos.
unitária do Ensino Médio. Essa atitude de inquietação diante da realidade
Pelo segundo sentido, o trabalho é princípio educativo na potencializada pela pesquisa, quando despertada no Ensino
medida em que coloca exigências específicas para o processo Médio, contribui para que o sujeito possa, individual e
educacional, visando à participação direta dos membros da coletivamente, formular questões de investigação e buscar
sociedade no trabalho socialmente produtivo. Com este respostas em um processo autônomo de (re)construção de
sentido, conquanto também organize a base unitária, conhecimentos. Nesse sentido, a relevância não está no
fundamenta e justifica a formação específica para o exercício fornecimento pelo docente de informações, as quais, na
de profissões, estas entendidas como forma contratual atualidade, são encontradas, no mais das vezes e de forma
socialmente reconhecida, do processo de compra e venda da ampla e diversificada, fora das aulas e, mesmo, da escola. O
força de trabalho. Como razão da formação específica, o relevante é o desenvolvimento da capacidade de pesquisa,
trabalho aqui se configura também como contexto. para que os estudantes busquem e (re)construam
Do ponto de vista organizacional, essa relação deve conhecimentos.
integrar em um mesmo currículo a formação plena do A pesquisa escolar, motivada e orientada pelos
educando, possibilitando construções intelectuais mais professores, implica na identificação de uma dúvida ou
complexas; a apropriação de conceitos necessários para a problema, na seleção de informações de fontes confiáveis, na
intervenção consciente na realidade e a compreensão do interpretação e elaboração dessas informações e na
processo histórico de construção do conhecimento. organização e relato sobre o conhecimento adquirido.
Muito além do conhecimento e da utilização de
5.3 Pesquisa como princípio pedagógico equipamentos e materiais, a prática de pesquisa propicia o
desenvolvimento da atitude científica, o que significa
A produção acelerada de conhecimentos, característica contribuir, entre outros aspectos, para o desenvolvimento de
deste novo século, traz para as escolas o desafio de fazer com condições de, ao longo da vida, interpretar, analisar, criticar,
que esses novos conhecimentos sejam socializados de modo a refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender, buscar soluções e
promover a elevação do nível geral de educação da população. propor alternativas, potencializadas pela investigação e pela
O impacto das novas tecnologias sobre as escolas afeta tanto responsabilidade ética assumida diante das questões políticas,
os meios a serem utilizados nas instituições educativas, quanto sociais, culturais e econômicas.
os elementos do processo educativo, tais como a valorização A pesquisa, associada ao desenvolvimento de projetos
da ideia da instituição escolar como centro do conhecimento; contextualizados e interdisciplinares/articuladores de
a transformação das infraestruturas; a modificação dos papeis saberes, ganha maior significado para os estudantes. Se a
do professor e do aluno; a influência sobre os modelos de pesquisa e os projetos objetivarem, também, conhecimentos
organização e gestão; o surgimento de novas figuras e para atuação na comunidade, terão maior relevância, além de
instituições no contexto educativo; e a influência sobre seu forte sentido ético-social.
metodologias, estratégias e instrumentos de avaliação.

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É fundamental que a pesquisa esteja orientada por esse indivisibilidade e da interdependência dos direitos e da
sentido ético, de modo a potencializar uma concepção de reparação de todas as suas violações.
investigação científica que motiva e orienta projetos de ação Em um contexto democrático, nos diversos níveis, etapas e
visando à melhoria da coletividade e ao bem comum. modalidades, é imprescindível propiciar espaços educativos
A pesquisa, como princípio pedagógico, pode, assim, em que a cultura de direitos humanos perpasse todas as
propiciar a participação do estudante tanto na prática práticas desenvolvidas no ambiente escolar, tais como o
pedagógica quanto colaborar para o relacionamento entre a currículo, a formação inicial e continuada dos profissionais da
escola e a comunidade. educação, o projeto político-pedagógico, os materiais didático-
pedagógicos, o modelo de gestão, e a avaliação, conforme
5.4 Direitos humanos como princípio norteador indica o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
(PNEDH). É nesse sentido que a implementação deste Plano é
As escolas, assim como outras instituições sociais, têm um prescrita pelo Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH
papel fundamental a desempenhar na garantia do respeito aos 3), instituído pelo Decreto nº 7.037/2009.
direitos humanos. Para isso, a escola tem um papel fundamental, devendo a
Este respeito constitui irrevogável princípio nacional, pois Educação em direitos humanos ser norteadora da Educação
nossa Constituição, já no seu preâmbulo, declara a instituição Básica e, portanto, do Ensino Médio.
de um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o 5.5 Sustentabilidade ambiental como meta universal
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem O compromisso com a qualidade da educação no século
preconceitos. Entre os princípios fundamentais do país, XXI, em momento marcado pela ocorrência de diversos
consagra o fundamento da dignidade da pessoa humana; os desastres ambientais, amplia a necessidade dos educadores de
objetivos de construir uma sociedade livre, justa e solidária, de compreender a complexa multicausalidade da crise ambiental
garantir o desenvolvimento nacional, de erradicar a pobreza e contemporânea e de contribuir para a prevenção de seus
a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e efeitos deletérios e para o enfrentamento das mudanças
regionais, e de promover o bem de todos, sem preconceitos de socioambientais globais. Esta necessidade e decorrentes
origem, etnia, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de preocupações são universais.
discriminação; além de consagrar o princípio da prevalência Tais questões despertam o interesse das juventudes de
dos direitos humanos nas suas relações internacionais. A todos os meios sociais, culturais, étnicos e econômicos, pois
Constituição estabelece, ainda, os direitos e garantias apontam para uma cidadania responsável com a construção de
fundamentais, afirmando, discriminadamente, os direitos e um presente e um futuro sustentáveis, sadios e socialmente
deveres individuais e coletivos. justos. No Ensino Médio há, portanto, condições para se criar
Após sua promulgação em 1988, novos textos legais, uma educação cidadã, responsável, crítica e participativa, que
documentos, programas e projetos vêm materializando a possibilita a tomada de decisões transformadoras a partir do
defesa e promoção dos direitos humanos. São exemplos os meio ambiente no qual as pessoas se inserem, em um processo
Programas Nacional5, Estaduais e Municipais de Direitos educacional que supera a dissociação sociedade/natureza.
Humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o No contexto internacional é significativa a atuação da
Estatuto do Idoso, a Convenção Internacional sobre os Direitos Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é
das Pessoas com Deficiência (que tem status constitucional), protagonista destacado. Ressalta-se, nesse âmbito, o Tratado
as leis de combate à discriminação racial e à tortura, bem como de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
as recomendações das Conferências Nacionais de Direitos Responsabilidade Global, 1992, elaborado na Conferência das
Humanos. Estas iniciativas e medidas são fundamentadas em Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-
vários instrumentos internacionais dos quais o Brasil é 92). Esse documento enfatiza a Educação Ambiental como
signatário, sob a inspiração da Declaração Universal de instrumento de transformação social e política, comprometido
Direitos Humanos, de 1948. com a mudança social, rompendo com o modelo
Compreender a relação indissociável entre democracia e desenvolvimentista e inaugurando o paradigma de sociedades
respeito aos direitos humanos implica no compromisso do sustentáveis.
Estado brasileiro, no campo cultural e educacional, de Na Cúpula do Milênio, promovida em setembro de 2000
promover seu aprendizado em todos os níveis e modalidades pela ONU, 189 países, incluindo o Brasil, estabeleceram os
de ensino. Os direitos humanos na educação encontram-se Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), com o
presentes como princípio internacional, não só nas Resoluções compromisso de colocar em prática ações para que sejam
da ONU acerca da Década da Educação em direitos humanos, alcançados até 2015. Um dos objetivos é o de Qualidade de
como no Programa Mundial de Educação em Direitos Vida e Respeito ao Meio Ambiente, visando inserir os
Humanos. Conclama-se a responsabilidade coletiva de todos princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e nos
os países a dar centralidade à Educação em direitos humanos programas nacionais, e reverter a perda de recursos
na legislação geral e específica, na estrutura da política e ambientais.
planos educacionais, e nas diretrizes e programas de educação. A mesma ONU instituiu o período de 2005 a 2014 como a
Educar para os direitos humanos, como parte do direito à Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável,
educação, significa fomentar processos que contribuam para a indicando uma nova identidade para a Educação, como
construção da cidadania, do conhecimento dos direitos condição indispensável para a sustentabilidade, promovendo
fundamentais, do respeito à pluralidade e à diversidade de o cuidado com a comunidade de vida, a integridade dos
nacionalidade, etnia, gênero, classe social, cultura, crença ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social e de
religiosa, orientação sexual e opção política, ou qualquer outra gênero, o diálogo para a convivência e a paz.
diferença, combatendo e eliminando toda forma de Estas preocupações universais têm crescente repercussão
discriminação. no Brasil, que, institucionalmente, possui um Ministério
Os direitos humanos, como princípio que norteia o específico no Governo Federal, secundado por Secretarias e
desenvolvimento de competências, com conhecimentos e órgãos nos Estados e em Municípios.
atitudes de afirmação dos sujeitos de direitos e de respeito aos No contexto nacional, a Educação Ambiental está
demais, desenvolvem a capacidade de ações e reflexões amparada pela Constituição Federal e pela Lei nº 9.795/99,
próprias para a promoção e proteção da universalidade, da que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política

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Nacional de Educação Ambiental (PNEA), bem como pela cognitivos, Henry Wallon, e apreender, a partir dele, essa
legislação dos demais entes federativos. A PNEA entende por natureza multidimensional implicada nas relações de ensinar
esta educação os processos por meio dos quais o indivíduo e a e aprender. Segundo Wallon (apud Silva, 2005), para que a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, aprendizagem ocorra, um conjunto de condições necessita
habilidades, atitudes e competências voltadas para a estar satis- feito: a emoção, a imitação, a motricidade e o socius,
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, isto é, a condição da interação social. Esses quatro elementos,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. marcados por uma estreita interdependência, geram a
Entre os objetivos fundamentais da Educação Ambiental, estão possibilidade de que cada um de nós possa se apropriar dos
o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio elementos culturais, objeto de nossa formação. Na ausência de
ambiente em suas múltiplas e complexas relações, e o qualquer um deles, esse processo ocorre de forma limitada.
incentivo à participação individual e coletiva, permanente e Do mesmo modo, assim como a dimensão emocional-
responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, afetiva foi, historicamente, trata- da de modo periférico, a
entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um dimensão físico-corpórea também não tem merecido a
valor inseparável do exercício da cidadania. E preceitua que atenção necessária. Aceita, geralmente, como atributo de um
ela é componente essencial e permanente da educação terreno específico – o da Educação Física Es- colar – raramente
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em se têm disseminadas compreensões mais abrangentes que nos
todos os níveis e modalidades do processo educativo, seja permitam entender que o crescimento intelectual e afetivo não
formal ou não formal. Na educação formal e, portanto, também se realizam sem um corpo, e que, enquanto uma das dimensões
no Ensino Médio, deve ser desenvolvida como uma prática do humano, tem sua concepção demarcada histórico
educativa integrada, contínua e permanente sem que constitua culturalmente. Desse modo, ao educador é imprescindível
componente curricular específico. tomar o educando nas suas múltiplas dimensões – intelectual,
social, física e emocional – e situá-las no âmbito do contexto
6. Desafios do Ensino Médio sociocultural em que educador e educando estão inseridos.
Tomar o educando em suas múltiplas dimensões tem como
É preciso reconhecer que a escola se constitui no principal finalidade realizar uma educação que o conduza à autonomia,
espaço de acesso ao conhecimento sistematizado, tal como ele intelectual e moral.
foi produzido pela humanidade ao longo dos anos. Assegurar Para o Ensino Médio, reconhecidos seu caráter de
essa possibilidade, garantindo a oferta de educação de integrante da Educação Básica e seu necessário
qualidade para toda a população, é crucial para que a asseguramento de oferta para todos, a própria LDB aponta
possibilidade da transformação social seja concretizada. Neste para a possibilidade de ofertar distintas modalidades de
sentido, a educação escolar, embora não tenha autonomia organização, inclusive a formação técnica, com o intuito de
para, por si mesma, mudar a sociedade, é importante tratar diferentemente os desiguais, conforme seus interesses e
estratégia de transformação, uma vez que a inclusão na necessidades, para que possam ser iguais do ponto de vista dos
sociedade contemporânea não se dá sem o domínio de direitos.
determinados conhecimentos que devem ser assegurados a Desse modo, dentre os grandes desafios do Ensino Médio,
todos. está o de organizar formas de enfrentar a diferença de
Com a perspectiva de um imenso contingente de qualidade reinante nos diversos sistemas educacionais,
adolescentes, jovens e adultos que se diferenciam por garantindo uma escola de qualidade para todos. Além disso,
condições de existência e perspectivas de futuro desiguais, é também é desafio indicar alternativas de organização
que o Ensino Médio deve trabalhar. Está em jogo a recriação curricular que, com flexibilidade, deem conta do atendimento
da escola que, embora não possa por si só resolver as das diversidades dos sujeitos.
desigualdades sociais, pode ampliar as condições de inclusão
social, ao possibilitar o acesso à ciência, à tecnologia, à cultura 6.1 Função do Ensino Médio no marco legal
e ao trabalho.
O desenvolvimento científico e tecnológico acelerado A Lei nº 9.394/96 (LDB), define que a educação escolar
impõe à escola um novo posicionamento de vivência e brasileira está constituída em dois níveis: Educação Básica
convivência com os conhecimentos capaz de acompanhar sua (formada pela Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o
produção acelerada. A apropriação de conhecimentos Ensino Médio) e Educação Superior. A Educação Básica tem
científicos se efetiva por práticas experimentais, com por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a
contextualização que relacione os conhecimentos com a vida, formação comum indispensável para o exercício da cidadania
em oposição a metodologias pouco ou nada ativas e sem e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
significado para os estudantes. Estas metodologias posteriores.
estabelecem relação expositiva e transmissivista que não Cury considera o conceito de Educação Básica definido na
coloca os estudantes em situação de vida real, de fazer, de LDB um conceito novo e esclarece:
elaborar. Por outro lado, tecnologias da informação e
comunicação modificaram e continuam modificando o A Educação Básica é um conceito mais do que inovador para
comportamento das pessoas e essas mudanças devem ser um país que por séculos, negou, de modo elitista e seletivo, a seus
incorporadas e processadas pela escola para evitar uma nova cidadãos o direito ao conhecimento pela ação sistemática da
forma de exclusão, a digital. organização escolar.
De acordo com Silva (2005), privilegiar a dimensão Resulta daí que a Educação Infantil é a base da Educação
cognitiva não pode secundarizar outras dimensões da Básica, o Ensino Fundamental é o seu tronco e o Ensino Médio é
formação, como, por exemplo, as dimensões física, social e seu acabamento, e é de uma visão do todo como base que se pode
afetiva. Des- se modo, pensar uma educação escolar capaz de ter uma visão consequente das partes.
realizar a educação em sua plenitude, implica em refletir sobre A Educação Básica torna-se, dentro do art. 4º da LDB, um
as práticas pedagógicas já consolidadas e problematizá-las no direito do cidadão à educação e um dever do Estado em atendê-
sentido de produzir a incorporação das múltiplas dimensões lo mediante oferta qualificada. E tal o é por ser indispensável,
de realização do humano como uma das grandes finalidades da como direito social, a participação ativa e crítica do sujeito, dos
escolarização básica. grupos a que ele pertença, na definição de uma sociedade justa
Como fundamento dessa necessidade podemos recorrer, e democrática. (CURY, 2007, 171-2)
por exemplo, a um dos grandes pensadores dos processos

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A LDB estabelece, portanto, que o Ensino Médio é etapa intelectual e do pensamento crítico;
que completa a Educação Básica (art. 35), definindo-a como a IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
conclusão de um período de escolarização de caráter geral. dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática,
Trata-se de reconhecê-lo como parte de um nível de no ensino de cada disciplina.
escolarização que tem por finalidade o desenvolvimento do
indivíduo, assegurando-lhe a formação comum indispensável Estas finalidades legais do Ensino Médio definem a
para o exercício da cidadania, fornecendo-lhe os meios para identidade da escola no âmbito de quatro indissociáveis
progredir no trabalho e em estudos posteriores (art. 22). funções, a saber:
Segundo Saviani, a educação integral do homem, a qual deve I – consolidação dos conhecimentos anteriormente
cobrir todo o período da Educação Básica que vai do adquiridos;
nascimento, com as creches, passa pela Educação Infantil, o II – preparação do cidadão para o trabalho;
Ensino Fundamental e se completa com a conclusão do Ensino III – implementação da autonomia intelectual e da
Médio por volta dos dezessete anos, é uma educação de caráter formação ética; e
desinteressado que, além do conhecimento da natureza e da IV – compreensão da relação teoria e prática.
cultura envolve as formas estéticas, a apreciação das coisas e
das pessoas pelo que elas são em si mesmas, sem outro A escola de Ensino Médio, com essa identidade legalmente
objetivo senão o de relacionar-se com elas. (Saviani, 2000). delineada, deve levantar questões, dúvidas e críticas com
Ainda, segundo Cury, do ponto de vista legal, o Ensino relação ao que a instituição persegue, com maior ou menor
Médio não é nem porta para a Educação Superior e nem chave ênfase.
para o mercado de trabalho, embora seja requisito tanto para As finalidades educativas constituem um marco de
a graduação superior quanto para a profissionalização técnica. referência para fixar prioridades, refletir e desenvolver ações
No contexto desta temática, consideram-se, na LDB, os em torno delas. Elas contribuem para a configuração da
artigos 2º e 35. Um explicita os deveres, os princípios e os fins identidade da escola no lugar da homogeneização, da
da educação brasileira; o outro trata das finalidades do Ensino uniformização. Kuenzer (2000) chama a atenção para as
Médio. finalidades e os objetivos do Ensino Médio, que se resumem
(...) no compromisso de educar o jovem para participar política
Diz o art. 2º: e produtivamente do mundo das relações sociais concretas com
comportamento ético e compromisso político, através do
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos desenvolvimento da autonomia intelectual e da autonomia
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, moral.
tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu A escola persegue finalidades. É importante ressaltar que
preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho. os profissionais da educação precisam ter clareza das
finalidades propostas pela legislação. Para tanto, há
Este artigo possibilita-nos afirmar que a finalidade da necessidade de refletir sobre a ação educativa que a escola
educação é de tríplice natureza: desenvolve com base nas finalidades e os objetivos que ela
I – o pleno desenvolvimento do educando deve ser voltado define. Uma das principais tarefas da escola ao longo do
para uma concepção teórico-educacional que leve em conta as processo de elaboração do seu projeto político-pedagógico é o
dimensões: intelectual, afetiva, física, ética, estética, política, trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educativa.
social e profissional; O projeto político-pedagógico exige essa reflexão, assim
II - o preparo para o exercício da cidadania centrado na como a explicitação de seu papel social, e a definição dos
condição básica de ser sujeito histórico, social e cultural; caminhos a serem percorridos e das ações a serem
sujeito de direitos e deveres; desencadeadas por todos os envolvidos com o processo
III - a qualificação para o trabalho fundamentada na escolar.
perspectiva de educação como um processo articulado entre
ciência, tecnologia, cultura e trabalho. 6.2 Identidade e diversificação no Ensino Médio

O Ensino Médio corporifica a concepção de trabalho e Um dos principais desafios da educação consiste no
cidadania como base para a formação, configurando-se estabelecimento do significado do Ensino Médio, que, em sua
enquanto Educação Básica. A formação geral do estudante em representação social e realidade, ainda não respondeu aos
torno dos fundamentos científico-tecnológicos, assim como objetivos que possam superar a visão dualista de que é mera
sua qualificação para o trabalho, sustentam-se nos princípios passagem para a Educação Superior ou para a inserção na vida
estéticos, éticos e políticos que inspiram a Constituição econômico-produtiva. Esta superação significa uma formação
Federal e a LDB. Nesse sentido, não é possível compreender a integral que cumpra as múltiplas finalidades da Educação
tríplice intencionalidade expressa na legislação de forma Básica e, em especial, do Ensino Médio, completando a
fragmentada e estanque. São finalidades que se entrecruzam escolaridade comum necessária a todos os cidadãos. Busca-se
umas nas outras, fornecendo para a escola o horizonte da ação uma escola que não se limite ao interesse imediato, pragmático
pedagógica, quando se vislumbram, também, as finalidades do e utilitário, mas, sim, uma formação com base unitária,
Ensino Médio explicitadas no art. 35, da LDB: viabilizando a apropriação do conhecimento e
desenvolvimento de métodos que permitam a organização do
Art. 35 O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, com pensamento e das formas de compreensão das relações sociais
duração mínima de três anos, terá como finalidade: e produtivas, que articule trabalho, ciência, tecnologia e
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos cultura na perspectiva da emancipação humana.
adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o Frente a esse quadro, é necessário dar visibilidade ao
prosseguimento de estudos; Ensino Médio no sentido da superação daquela dupla
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do representação histórica persistente na educação brasileira.
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de Nessa perspectiva, a última etapa da Educação Básica precisa
se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou assumir, dentro de seus objetivos, o compromisso de atender,
aperfeiçoamento posteriores; verdadeiramente, a todos e com qualidade, a diversidade
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana nacional com sua heterogeneidade cultural, de considerar os
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia anseios das diversas juventudes formadas por adolescentes e

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jovens que acorrem à escola e que são sujeitos concretos com mundo do trabalho. Em outras palavras, a vida na escola e o
suas múltiplas necessidades. trabalho do professor tornam-se cada vez mais complexos.
Isso implica compreender a necessidade de adotar Como consequência, é necessário repensar a formação dos
diferentes formas de organização desta etapa de ensino e, professores para que possam enfrentar as novas e
sobretudo, estabelecer princípios para a formação do diversificadas tarefas que lhes são confiadas na sala de aula e
adolescente, do jovem e, também, da expressiva fração de além dela.
população adulta com escolaridade básica incompleta. Uma questão a ser discutida é a função docente e a
A definição da identidade do Ensino Médio como etapa concepção de formação que deve ser adotada nos cursos de
conclusiva da Educação Básica precisa ser iniciada mediante licenciatura. De um lado, há a defesa de uma concepção de
um projeto que, conquanto seja unitário em seus princípios e formação centrada no “fazer” enfatizando a formação prática
objetivos, desenvolva possibilidades formativas com desse profissional e, de outro, há quem defenda uma
itinerários diversificados que contemplem as múltiplas concepção centrada na “formação teórica” onde é enfatizada,
necessidades socioculturais e econômicas dos estudantes, sobretudo, a importância da ampla formação do professor.
reconhecendo-os como sujeitos de direitos no momento em A LDB, no Parágrafo único do art. 61, preconiza a
que cursam esse ensino. associação entre teorias e práticas ao estabelecê-la entre os
As instituições escolares devem avaliar as várias fundamentos da formação dos profissionais da educação, para
possibilidades de organização do Ensino Médio, garantindo a atender às especificidades do exercício das suas atividades,
simultaneidade das dimensões trabalho, ciência, tecnologia e bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades
cultura e contemplando as necessidades, anseios e aspirações da Educação Básica.
dos sujeitos e as perspectivas da realidade da escola e do seu As diretrizes indicadas no I Plano Nacional de Educação
meio. 2001-2010 deram uma ideia da amplitude das qualidades
esperadas dos professores:
6.3 Ensino Médio e profissionalização
I – sólida formação teórica nos conteúdos específicos a
A identidade do Ensino Médio se define na superação do serem ensinados na Educação Básica, bem como nos
dualismo entre propedêutico e profissional. Importa que se conteúdos especificamente pedagógicos;
configure um modelo que ganhe uma identidade unitária para II – ampla formação cultural;
esta etapa e que assuma formas diversas e contextualizadas da III – atividade docente como foco formativo;
realidade brasileira. IV – contato com realidade escolar desde o início até o
No referente à profissionalização, a LDB, modificada pela final do curso, integrando a teoria à prática pedagógica;
Lei nº 11.741/2008, prevê formas de articulação entre o V – pesquisa como princípio formativo;
Ensino Médio e a Educação Profissional: a articulada VI – domínio das novas tecnologias de comunicação e da
(integrada ou concomitante) e a subsequente, atribuindo a informação e capacidade para integrá-las à prática do
decisão de adoção às redes e instituições escolares. magistério;
A profissionalização nesta etapa da Educação Básica é uma VII – análise dos temas atuais da sociedade, da cultura e da
das formas possíveis de diversificação, que atende a economia;
contingência de milhares de jovens que têm o acesso ao VIII – inclusão das questões de gênero e da etnia nos
trabalho como uma perspectiva mais imediata. programas de formação;
Parte desses jovens, por interesse ou vocação, almejam a IX – trabalho coletivo interdisciplinar;
profissionalização neste nível, seja para exercício profissional, X – vivência, durante o curso, de formas de gestão
seja para conexão vertical em estudos posteriores de nível democrática do ensino;
superior. XI – desenvolvimento do compromisso social e político do
Outra parte, no entanto, a necessita para prematuramente magistério;
buscar um emprego ou atuar em diferentes formas de XII – conhecimento e aplicação das Diretrizes Curriculares
atividades econômicas que gerem subsistência. Esta Nacionais dos níveis e modalidades da Educação Básica.
profissionalização no Ensino Médio responde a uma condição
social e histórica em que os jovens trabalhadores precisam O CNE, em fins de 2001, definiu orientações gerais para
obter uma profissão qualificada já no nível médio. todos os cursos de formação de professores do país, pelo
Entretanto, se a preparação profissional no Ensino Médio Parecer CNE/CP nº 9/2001, com alteração dada pelo Parecer
é uma imposição da realidade destes jovens, representando CNE/CP nº 27/2001. Após homologação destes, foi editada a
importante alternativa de organização, não pode se constituir Resolução CNE/CP nº 1/2002 que institui Diretrizes
em modelo hegemônico ou única vertente para o Ensino Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da
Médio, pois ela é uma opção para os que, por uma ou outra Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de
razão, a desejarem ou necessitarem. graduação plena.
O Ensino Médio tem compromissos com todos os jovens. Em 2008, considerando a persistência da notória carência
Por isso, é preciso que a escola pública construa propostas por professores com formação específica, o MEC propôs o
pedagógicas sobre uma base unitária necessariamente para Programa Emergencial de Segunda Licenciatura para
todos, mas que possibilite situações de aprendizagem variadas Professores da Educação Básica Pública, com o objetivo de
e significativas, com ou sem profissionalização com ele enfrentar uma demanda já existente de professores
diretamente articulada. licenciados, mas que atuam em componentes curriculares
distintos de sua formação inicial. O CNE, por meio do Parecer
6.4 Formação e condição docente CNE/CP nº 8/2008 e da Resolução CNE/CP nº 1/2009,
estabeleceu Diretrizes Operacionais para a implantação desse
A perspectiva da educação como um direito e como um Programa, a ser coordenado pelo MEC em regime de
processo formativo contínuo e permanente, além das novas colaboração com os sistemas de ensino e realizado por
determinações com vistas a atender novas orientações instituições públicas de Educação Superior.
educacionais, amplia as tarefas dos profissionais da educação, A implantação de uma política efetiva de formação de
no que diz respeito às suas práticas. Exige-se do professor que docentes para o Ensino Médio constitui-se um grande desafio.
ele seja capaz de articular os diferentes saberes escolares à Um caminho para efetivação dessa política pública foi
prática social e ao desenvolvimento de competências para o sinalizado no Decreto no 6.755/2009, que estabelece os

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seguintes objetivos para a Política Nacional de Formação de Destaque-se, por fim, que a discussão sobre a formação de
Professores: professores não pode ser dissociada da valorização
profissional, tanto no que diz respeito a uma remuneração
I – promover a melhoria da qualidade da Educação Básica mais digna, quanto à promoção da adequação e melhoria das
pública; condições de trabalho desses profissionais.
II – apoiar a oferta e a expansão de cursos de formação
inicial e continuada a profissionais do magistério pelas 6.5 Gestão democrática
instituições públicas de Educação Superior;
III – promover a equalização nacional das oportunidades O currículo da Educação Básica e, portanto, do Ensino
de formação inicial e continuada dos professores do Médio, exige a estruturação de um projeto educativo coerente,
magistério em instituições públicas de Educação Superior; articulado e integrado de acordo com os modos de ser e de se
IV – identificar e suprir a necessidade das redes e sistemas desenvolver dos estudantes nos diferentes contextos sociais.
públicos de ensino por formação inicial e continuada de Ciclos, séries, módulos e outras formas de organização a que
profissionais do magistério; se refere a LDB são compreendidos como tempos e espaços
V – promover a valorização do docente, mediante ações de interdependentes e articulados entre si ao longo dos anos de
formação inicial e continuada que estimulem o ingresso, a duração dessa etapa educacional.
permanência e a progressão na carreira; Ao empenhar-se em garantir aos estudantes uma educação
VI – ampliar o número de docentes atuantes na Educação de qualidade, todas as atividades da escola e a sua gestão
Básica pública que tenham sido licenciados em instituições devem estar articuladas para esse propósito. O processo de
públicas de ensino superior, preferencialmente na modalidade organização das turmas de estudantes, a distribuição de
presencial; turmas por professor, as decisões sobre o currículo, a escolha
VII – ampliar as oportunidades de formação para o dos livros didáticos, a ocupação do espaço, a definição dos
atendimento das políticas de Educação Especial, Alfabetização horários e outras tarefas administrativas e/ou pedagógicas
e Educação de Jovens e Adultos, Educação Indígena, Educação precisam priorizar o atendimento dos interesses e
do Campo e de populações em situação de risco e necessidades dos estudantes, e a gestão democrática é um dos
vulnerabilidade social; fatores decisivos para assegurar a todos eles o direito ao
VIII – promover a formação de professores na conhecimento.
perspectiva da educação integral, dos direitos humanos, da O projeto político-pedagógico da escola traduz a proposta
sustentabilidade ambiental e das relações étnico-raciais, com educativa construída pela comunidade escolar no exercício de
vistas à construção de ambiente escolar inclusivo e sua autonomia, com base no diagnóstico dos estudantes e nos
cooperativo; recursos humanos e materiais disponíveis, sem perder de vista
IX – promover a atualização teórico-metodológica nos as orientações curriculares nacionais e as orientações dos
processos de formação dos profissionais do magistério, respectivos sistemas de ensino. É muito importante que haja
inclusive no que se refere ao uso das tecnologias de uma ampla participação dos profissionais da escola, da família,
comunicação e informação nos processos educativos; dos estudantes e da comunidade local na definição das
X – promover a integração da Educação Básica com a orientações imprimidas nos processos educativos. Este
formação inicial docente, assim como reforçar a formação projeto deve ser apoiado por um processo contínuo de
continuada como prática escolar regular que responda às avaliação que permita corrigir os rumos e incentivar as boas
características culturais e sociais regionais. práticas.
Diferentemente da ideia de texto burocrático, como muitas
O Projeto de Lei que propõe o II Plano Nacional de vezes ocorre nas escolas, o projeto político-pedagógico é o
Educação, para o decênio 2011- 2020, prevê, entre suas instrumento facilitador da gestão democrática. Quando a
diretrizes, a valorização dos profissionais da educação, o que escola não discute o seu projeto político-pedagógico ou o faz
inclui o fortalecimento da formação inicial e continuada dos apenas de uma forma burocrática, os professores
docentes. Destacam-se metas que dizem respeito diretamente desenvolvem trabalhos isolados que, em geral, têm baixa
à essa valorização: eficiência.
O desenvolvimento de todo o processo democrático
Meta 15 Garantir, em regime de colaboração entre a União, depende, em muito, dos gestores dos sistemas, das redes e de
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, que todos os cada escola, aos quais cabe criar as condições e estimular sua
professores da Educação Básica possuam formação específica efetivação, o que implica em que sejam escolhidos e
de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de designados atendendo a critérios técnicos de mérito e de
conhecimento em que atuam. desempenho e à participação da comunidade escolar.
Meta 16 Formar 50% dos professores da Educação Básica Cabe lembrar que a gestão democrática do ensino público
em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos é um dos princípios em que se baseia o ensino, conforme
formação continuada em sua área de atuação. Meta 17 determina o inciso VIII do art. 3º da LDB, completado pelo seu
Valorizar o magistério público da Educação Básica a fim de art. 14:
aproximar o rendimento médio do profissional do magistério
com mais de onze anos de escolaridade do rendimento médio Art. 3º (...)
dos demais profissionais com escolaridade equivalente. VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta
Meta 18 Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de Lei e da legislação dos sistemas de ensino.
planos de carreira para os profissionais do magistério em
todos os sistemas de ensino. Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
democrática do ensino público na Educação Básica, de acordo
Levar adiante uma política nacional de formação e com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
condição docente pode ser considerado um grande desafio na I – participação dos profissionais da educação na
medida em que tal perspectiva implica a priorização da elaboração do projeto pedagógico da escola;
educação e formação de professores como política pública de II – participação das comunidades escolar e local em
Estado, superando, desse modo, a redução desse debate às conselhos escolares ou equivalentes.
diferentes iniciativas governamentais nem sempre
convergentes.

Legislação Básica em Educação 35


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APOSTILAS OPÇÃO

Embora na LDB a gestão democrática apareça por lei. Isso evita o uso indevido dos recursos. Todos esses
especificamente como orientação para o ensino público, ela processos requerem qualificação da comunidade escolar.
está indicada, implicitamente, para todas as instituições
educacionais nos arts. 12 e 13, entre as quais as instituições 6.6 Avaliação do Ensino Médio
privadas, que não devem se furtar ao processo, sob pena de
contrariarem os valores democráticos e participativos que As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
presidem nossa sociedade. Educação Básica indicam três dimensões básicas de avaliação:
A institucionalização da participação é necessária, com avaliação da aprendizagem, avaliação institucional interna e
especial destaque para a constituição de conselhos escolares externa e avaliação de redes de Educação Básica.
ou equivalentes, indicados no inciso II do art. 14, com atuação A avaliação da aprendizagem, que conforme a LDB pode
permanente, garantindo a constância do processo ser adotada com vistas à promoção, aceleração de estudos e
democrático na unidade de ensino. classificação, deve ser desenvolvida pela escola refletindo a
Outro elemento necessário para a gestão democrática, com proposta expressa em seu projeto político-pedagógico.
previsão de direitos e deveres dos sujeitos comprometidos Importante observar que a avaliação da aprendizagem deve
com a unidade educacional, é o seu regimento escolar. Convém assumir caráter educativo, viabilizando ao estudante a
que este possa assegurar à escola as condições institucionais condição de analisar seu percurso e, ao professor e à escola,
adequadas para a execução do projeto político-pedagógico e a identificar dificuldades e potencialidades individuais e
oferta de uma educação inclusiva e com qualidade social. A coletivas.
elaboração do regimento deve ser feita de forma a garantir A avaliação institucional interna é realizada a partir da
ampla participação da comunidade escolar. É essa proposta pedagógica da escola, assim como do seu plano de
participação da comunidade que pode dar protagonismo aos trabalho, que devem ser avaliados sistematicamente, de
estudantes e voz a suas famílias, criando oportunidades maneira que a instituição possa analisar seus avanços e
institucionais para que todos os segmentos majoritários da localizar aspectos que merecem reorientação.
população, que encontram grande dificuldade de se fazerem A Emenda Constitucional nº 59/2009, ao assegurar o
ouvir e de fazerem valer seus direitos, possam manifestar os atendimento da população de 4 aos 17 anos de idade, com
seus anseios e expectativas e possam ser levados em conta, oferta gratuita determina um salto significativo no processo de
tendo como referência a oferta de um ensino com qualidade democratização do ensino, garantindo não só o atendimento
para todos. para aqueles matriculados na idade tida como regular para a
A experiência mostra que é possível alcançar melhorias escolarização, como para aqueles que se encontram em
significativas da qualidade de ensino desenvolvendo boas defasagem idade-tempo de organização escolar ou afastados
práticas, adequadas à situação da comunidade de cada escola. da escola.
Em outras palavras, existem diferentes caminhos para se O esforço necessário para cumprir tais objetivos exige mais
desenvolver uma educação de qualidade social, embora todas do que investimentos em infraestrutura e recursos materiais e
elas passem pelo compromisso da comunidade e da escola. humanos. E necessário estabelecer ações no sentido de definir
Sempre que, por intermédio do desenvolvimento de um orientações e práticas pedagógicas que garantam melhor
projeto educativo democrático e compartilhado, os aproveitamento, com atenção especial para aqueles grupos
professores, a direção, os funcionários, os estudantes e a que até então estavam excluídos do Ensino Médio.
comunidade unem seus esforços, a escola chega mais perto da Um dos aspectos que deve estar presente em tais
escola de qualidade que zela pela aprendizagem, conforme o orientações é o acompanhamento sistêmico do processo de
inciso III do art. 13 da LDB. escolarização, viabilizando ajustes e correções de percurso,
Além da organização das escolas, é necessário tratar da bem como o estabelecimento de políticas e programas que
organização dos sistemas de ensino, os quais devem, concretizem a proposta de universalização da Educação
obrigatoriamente, nortear-se por Planos de Educação, sejam Básica.
estaduais, sejam municipais. A obrigação destes planos, A avaliação de redes de ensino é responsabilidade do
lamentavelmente, não vem sendo cumprida por todos os entes Estado, seja realizada pela União, seja pelos demais entes
federados, sendo que o Projeto de Lei do II Plano Nacional de federados. Em âmbito nacional, no Ensino Médio, ela está
Educação para o decênio 2011-2020 reafirma esta contemplada no Sistema de Avaliação da Educação Básica
necessidade, em seu art. 8º. (SAEB), que informa sobre os resultados de aprendizagem
Os órgãos gestores devem contribuir e apoiar as escolas estruturados no campo da Língua Portuguesa e da Matemática,
nas tarefas de organização dos seus projetos na busca da lembrando-se o Índice de Desenvolvimento da Educação
melhoria da qualidade da educação, embora se saiba que a Básica (IDEB), que mede a qualidade de cada escola e rede,
vontade da comunidade escolar é um fator determinante para com base no desempenho do estudante em avaliações do
que esse sucesso seja alcançado. Nenhum esforço é vitorioso Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira
se não for focado no sucesso do estudante. Por isso, o projeto (INEP) e em taxas de aprovação.
político-pedagógico deve colocar o estudante no centro do Para tratar das exigências relacionadas com o Ensino
planejamento curricular. É preciso considerá-lo um sujeito Médio, além do cumprimento do SAEB, o Ministério da
com todas as suas necessidades e potencialidades, que tem Educação vem trabalhando no aperfeiçoamento do Exame
uma vivência cultural e é capaz de construir a sua identidade Nacional do Ensino Médio (ENEM) que, gradativamente,
pessoal e social. assume funções com diferentes especificidades estratégicas
Como sujeitos de direitos, os estudantes devem tomar para estabelecer procedimentos voltados para a
parte ativa nas discussões para a definição das regras da democratização do ensino e ampliação do acesso a níveis
escola, sendo estimulados à auto-organização e devem ter crescentes de escolaridade. Neste sentido, este exame
acesso a mecanismos que permitam se manifestar sobre o que apresenta hoje os seguintes objetivos, conforme art. 2º da
gostam e o que não gostam na escola e a respeito da escola a Portaria nº 109/2009:
que aspiram.
A descentralização de recursos, por outro lado, é I – oferecer uma referência para que cada cidadão possa
fundamental para o exercício da autonomia das escolas proceder à sua auto avaliação com vistas às suas escolhas
públicas. Por isso é necessário que a comunidade escolar, e futuras, tanto em relação ao mundo do trabalho quanto em
necessariamente aqueles que ocupam os cargos de direção, relação à continuidade de estudos;
dominem os processos administrativos e financeiros exigidos

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II – estruturar uma avaliação ao final da Educação Básica com os Planos de Educação nacional, estadual e/ou municipal,
que sirva como modalidade alternativa ou complementar aos o contexto em que a escola se situa e as necessidades locais e
processos de seleção nos diferentes setores do mundo do de seus estudantes.
trabalho; A proposta educativa da unidade escolar, o papel
III – estruturar uma avaliação ao final da Educação Básica socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, as questões de
que sirva como modalidade alternativa ou complementar a gênero, etnia e diversidade cultural que compõem as ações
processos seletivos de acesso aos cursos de Educação educativas, a organização e a gestão curricular são
Profissional e Tecnológica posteriores ao Ensino Médio e à componentes integrantes do projeto político-pedagógico,
Educação Superior; devendo ser previstas as prioridades institucionais que a
IV – possibilitar a participação e criar condições de acesso identificam, definindo o conjunto das ações educativas
a programas governamentais; próprias das etapas da Educação Básica assumidas, de acordo
V – promover a certificação de jovens e adultos no nível de com as especificidades que lhes correspondam, preservando a
conclusão do Ensino Médio nos termos do art. 38, §§ 1º e 2º da sua articulação sistêmica.
Lei nº 9.394/96 (LDB); Segundo o art. 44 da Resolução CNE/CEB no 4/2010, o
VI – promover avaliação do desempenho acadêmico das projeto político-pedagógico, instância de construção coletiva
escolas de Ensino Médio, de forma que cada unidade escolar que respeita os sujeitos das aprendizagens, entendidos como
receba o resultado global; cidadãos com direitos à proteção e à participação social, deve
VII – promover avaliação do desempenho acadêmico dos contemplar:
estudantes ingressantes nas Instituições de Educação
Superior. I – o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do
processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo;
Assim, cada um destes objetivos delineia o II – a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação
aprofundamento de uma função do ENEM: da aprendizagem e mobilidade escolar;
I – avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsidiar as III – o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos –
políticas públicas para a Educação Básica; que justificam e instituem a vida da e na escola, do ponto de vista
II – avaliação certificatória, que proporciona àqueles que intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconômico, como
estão fora da escola aferir os conhecimentos construídos no base da reflexão sobre as relações vida-conhecimento-cultura,
processo de escolarização ou os conhecimentos tácitos professor-estudante e instituição escolar;
construídos ao longo da vida; IV – as bases norteadoras da organização do trabalho
III – avaliação classificatória, que contribui para o acesso pedagógico;
democrático à Educação Superior. V – a definição de qualidade das aprendizagens e, por
consequência, da escola, no contexto das desigualdades que se
Nesse caminho, o ENEM vem ampliando o espectro de refletem na escola;
atendimento apresentando um crescimento que veio de VI – os fundamentos da gestão democrática, compartilhada
156.000 inscritos, em 1998, e alcançou 4,6 milhões, em 2009. e participativa (órgãos colegiados e de representação
À medida que se garantir participação de amostragem estudantil);
expressiva do sistema, incluindo diferentes segmentos VII – o programa de acompanhamento de acesso, de
escolares, se estará aproximando de uma percepção mais fiel permanência dos estudantes e de superação da retenção
do sistema, na perspectiva do direito dos estudantes. Nesse escolar;
sentido, deve manter-se alinhado com estas Diretrizes e com VIII – o programa de formação inicial e continuada dos
as expectativas de aprendizagem a serem elaboradas. profissionais da educação, regentes e não regentes;
O INEP deve continuar desenvolvendo metodologia IX – as ações de acompanhamento sistemático dos
adequada no sentido de alcançar esta multifuncionalidade do resultados do processo de avaliação interna e externa (SAEB,
sistema de avaliação. Prova Brasil, dados estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da
Educação Básica), incluindo dados referentes ao Índice de
7. Projeto político-pedagógico e organização Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que
curricular complementem ou substituam os desenvolvidos pelas unidades
da federação e outros;
7.1. Projeto político-pedagógico X – a concepção da organização do espaço físico da
instituição escolar de tal modo que este seja compatível com as
As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a características de seus sujeitos, que atenda as normas de
Educação Básica (Parecer CNE/CEB no 7/2010 e Resolução acessibilidade, além da natureza e das finalidades da educação,
CNE/CEB no 4/2010) tratam pertinentemente do projeto deliberadas e assumidas pela comunidade educacional.
político-pedagógico, já referido várias vezes neste Parecer,
como elemento constitutivo para a operacionalização da O primeiro fundamento para a formulação do projeto
Educação Básica e, portanto, do Ensino Médio. político-pedagógico de qualquer escola ou rede de ensino é a
Segundo o Parecer CNE/CEB no 7/2010, o projeto político- sua construção coletiva. O projeto político-pedagógico só
pedagógico, interdependentemente da autonomia pedagógica, existe de fato – não como um texto formal, mas como
administrativa e de gestão financeira da instituição expressão viva de concepções, princípios, finalidades,
educacional, representa mais do que um documento, sendo um objetivos e normas que orientam a comunidade escolar – se ele
dos meios de viabilizar a escola democrática para todos e de resultar do debate e reflexão do grupo que compõe a formação
qualidade social. destes espaços (escola ou rede de ensino). Nesse contexto,
Continua o citado Parecer indicando que a autonomia da identifica-se a necessidade do grupo comprometer-se com
instituição educacional baseia-se na busca de sua identidade, esse projeto e sentindo-se autores e sujeitos de seu
que se expressa na construção de seu projeto político- desenvolvimento.
pedagógico e do seu regimento escolar, enquanto Sua construção e efetivação na escola ocorrem em um
manifestação de seu ideal de educação e que permite uma nova contexto concreto desta instituição, de sua organização
e democrática ordenação pedagógica das relações escolares. escolar, relação com a comunidade, condições econômicas e
Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de seus realidade cultural, entre outros aspectos. Por isso, trata-se de
sujeitos, articular a formulação do projeto político- pedagógico um processo político, tanto quanto pedagógico, pois ocorre em

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meio a conflitos, tensões e negociações que desafiam o XIV – reconhecimento e atendimento da diversidade e
exercício da democracia na escola. Em decorrência, a diferentes nuances da desigualdade, da diversidade e da
construção desse projeto é essencial e necessariamente exclusão na sociedade brasileira;
coletiva. XV – valorização e promoção dos Direitos humanos
O projeto político-pedagógico aponta um rumo, uma mediante temas relativos a gênero, identidade de gênero, raça
direção, mas, principalmente, um sentido específico para um e etnia, religião, orientação sexual, pessoas com deficiência,
compromisso estabelecido coletivamente. O projeto, ao se entre outros, bem como práticas que contribuam para a
constituir em processo participativo de decisões, preocupa-se igualdade e para o enfrenta- mento de todas as formas de
em instaurar uma forma de organização do trabalho preconceito, discriminação e violência sob todas as for- mas;
pedagógico que desvele os conflitos, as contradições, XVI – análise e reflexão crítica da realidade brasileira, de
buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e sua organização social e produtiva na relação de
autoritárias, rompendo com a rotina do mando pessoal e complementaridade entre espaços urbanos e do campo;
racionalizado da burocracia e permitindo as relações XVII – estudo e desenvolvimento de atividades
horizontais no interior da escola. socioambientais, conduzindo a educação ambiental como uma
O projeto político-pedagógico exige um compromisso prática educativa integrada, contínua e permanente;
ético-político de adequação intencional entre o real e o ideal, XVIII – práticas desportivas e de expressão corporal, que
assim como um equilíbrio entre os interesses individuais e contribuam para a saúde, a sociabilidade e a cooperação;
coletivos. XIX – atividades intersetoriais, entre outras, de
A abordagem do projeto político-pedagógico, como promoção da saúde física e mental, saúde sexual e saúde
organização do trabalho de toda a escola, está fundamentada reprodutiva, e prevenção do uso de drogas;
em princípios que devem nortear a escola democrática, entre XX – produção de mídias nas escolas a partir da
os quais, liberdade, solidariedade, pluralismo, igualdade, promoção de atividades que favoreçam as habilidades de
qualidade da oferta, transparência, participação. leitura e análise do papel cultural, político e econômico dos
Com fundamento no princípio do pluralismo de ideias e de meios de comunicação na sociedade;
concepções pedagógicas e no exercício de sua autonomia, o XXI – participação social e protagonismo dos estudantes,
projeto político-pedagógico deve traduzir a proposta como agentes de transformação de suas unidades escolares e
educativa construída coletivamente, garantida a participação de suas comunidades;
efetiva da comunidade escolar e local, bem como a permanente XXII – condições materiais, funcionais e didático-
construção da identidade entre a escola e o território no qual pedagógicas, para que os profissionais da escola efetivem as
está inserida. proposições do projeto.
Concretamente, o projeto político-pedagógico das
unidades escolares que ofertam o Ensino Médio deve O projeto político-pedagógico das unidades escolares deve,
considerar: ainda, orientar:
I – atividades integradoras artístico-culturais, I – dispositivos, medidas e atos de organização do trabalho
tecnológicas, e de iniciação científica, vinculadas ao trabalho, escolar;
ao meio ambiente e à prática social; II – mecanismos de promoção e fortalecimento da
II – problematização como instrumento de incentivo à autonomia escolar, mediante a alocação de recursos
pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvimento financeiros, administrativos e de suporte técnico necessários à
do espírito inventivo; sua realização;
III – a aprendizagem como processo de apropriação III – adequação dos recursos físicos, inclusive
significativa dos conhecimentos, superando a aprendizagem organização dos espaços, equipamentos, biblioteca,
limitada à memorização; laboratórios e outros ambientes educacionais.
IV – valorização da leitura e da produção escrita em todos
os campos do saber; 7.2. Currículo e trabalho pedagógico
V – comportamento ético, como ponto de partida para o
reconhecimento dos Direitos humanos, da cidadania, da O currículo é entendido como a seleção dos conhecimentos
responsabilidade socioambiental e para a prática de um historicamente acumulados, considerados relevantes e
humanismo contemporâneo expresso pelo reconhecimento, pertinentes em um dado contexto histórico, e definidos tendo
respeito e acolhimento da identidade do outro e pela por base o projeto de sociedade e de formação humana que a
incorporação da solidariedade; ele se articula; se expressa por meio de uma proposta pela qual
VI – articulação teoria e prática, vinculando o trabalho se explicitam as intenções da formação, e se concretiza por
intelectual às atividades práticas ou experimentais; meio das práticas escolares realizadas com vistas a dar
VII – integração com o mundo do trabalho por meio de materialidade a essa proposta.
estágios de estudantes do Ensino Médio conforme legislação Os conhecimentos escolares são reconhecidos como
específica; aqueles produzidos pelos homens no processo histórico de
VIII – utilização de diferentes mídias como processo de produção de sua existência material e imaterial, valorizados e
dinamização dos ambientes de aprendizagem e construção de selecionados pela sociedade e pelas escolas que os organizam
novos saberes; a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, tornando-se
IX – capacidade de aprender permanente, desenvolvendo elementos do desenvolvimento cognitivo do estudante, bem
a autonomia dos estudantes; X – atividades sociais que como de sua formação ética, estética e política.
estimulem o convívio humano; Para compreender a dinâmica do trabalho pedagógico
XI – avaliação da aprendizagem, com diagnóstico escolar a partir do currículo, é necessário que se tome como
preliminar, e entendida como pro- cesso de caráter formativo, referência a cultura escolar consolidada, isto é, as práticas
permanente e cumulativo; curriculares já vivenciadas, os códigos e modos de organização
XII – acompanhamento da vida escolar dos estudantes, produzidos, sem perder de vista que esse trabalho se articula
promovendo o seguimento do desempenho, análise de ao contexto sócio-histórico-cultural mais amplo e guarda com
resultados e comunicação com a família; ele estreitas relações.
XIII – atividades complementares e de superação das Falar em currículo implica em duas dimensões:
dificuldades de aprendizagem para que o estudante tenha
sucesso em seus estudos;

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I – uma dimensão prescritiva, na qual se explicitam as Nesse sentido, ressalta-se a inter-relação entre projeto
intenções e os conteúdos de formação, que constitui o político-pedagógico, currículo, trabalho pedagógico e,
currículo prescritivo ou formal; e concretamente, condição e jornada dos professores.
II – uma dimensão não explícita, constituída por relações Reitera-se, com base na legislação concernente ao Ensino
entre os sujeitos envolvidos na prática escolar, tanto nos Médio, o quanto os princípios adotados e as finalidades
momentos formais, como informais das suas atividades e nos perseguidas precisam nortear as decisões tomadas no âmbito
quais trocam ideias e valores, constituindo o currículo oculto, do currículo, compreendido esse como o conjunto de
mesmo que não tenha sido pré-determinado ou intencional. experiências escolares que se desdobram a partir do
conhecimento, em meio às relações sociais que se travam nos
Ambas as dimensões geram uma terceira, real, que espaços institucionais, e que afetam a construção das
concretiza o currículo vivo ou em ação, que adquire identidades dos estudantes.
materialidade a partir das práticas formais prescritas e das Currículo tem a ver com os esforços pedagógicos
informais espontâneas vivenciadas nas salas de aula e nos desdobrados na escola, visando a organizar e a tornar efetivo
demais ambientes da escola. o processo educativo que conforma a última etapa da
O conhecimento é a “matéria prima” do trabalho Educação Básica. Expressa, assim, o projeto político-
pedagógico escolar. Dada sua condição de ser produto pedagógico institucional, discutido e construído pelos
histórico-cultural, isto é, de ser produzido e elaborado pelos profissionais e pelos sujeitos diretamente envolvidos no
homens por meio da interação que travam entre si, no intuito planejamento e na materialização do percurso escolar.
de encontrar respostas aos mais diversificados desafios que se Pode-se afirmar a importância de se considerar, na
interpõem entre eles e a produção da sua existência material e construção do currículo do Ensino Médio, os sujeitos e seus
imaterial, o conhecimento articula-se com os mais variados saberes, necessariamente respeitados e acolhidos nesse
interesses. Na medida em que a produção, elaboração e currículo. O diálogo entre saberes precisa ser desenvolvido, de
disseminação do conhecimento não são neutras, planejar a modo a propiciar a todos os estudantes o acesso ao
ação educativa, melhor definindo, educar é uma ação política indispensável para a compreensão das diferentes realidades
que envolve posicionamentos e escolhas articulados com os no plano da natureza, da sociedade, da cultura e da vida.
modos de compreender e agir no mundo. Assume importância, nessa perspectiva, a promoção de um
O trabalho pedagógico ganha materialidade nas ações: no amplo debate sobre a natureza da produção do conhecimento.
planejamento da escola em geral e do currículo em particular, Ou seja, o que se está defendendo é como inserir no currículo,
no processo de ensinar e aprender e na avaliação do trabalho o diálogo entre os saberes.
realizado, seja com relação a cada estudante individualmente Mais do que o acúmulo de informações e conhecimentos,
ou ao conjunto da escola. No que se refere à avaliação, muito há que se incluir no currículo um conjunto de conceitos e
se tem questionado sobre seus princípios e métodos. Vale categorias básicas. Não se pretende, então, oferecer ao
ressaltar a necessidade de que a avaliação ultrapasse o sentido estudante um currículo enciclopédico, repleto de informações
de mera averiguação do que o estudante aprendeu, e torne-se e de conhecimentos, formado por disciplinas isoladas, com
elemento chave do processo de planejamento educacional. fronteiras demarcadas e preservadas, sem relações entre si. A
O planejamento educacional, assim como o currículo e a preferência, ao contrário, é que se estabeleça um conjunto
avaliação na escola, enquanto componentes da organização do necessário de saberes integrados e significativos para o
trabalho pedagógico, estão circunscritos fortemente a esse prosseguimento dos estudos, para o entendimento e ação
caráter de não neutralidade, de ação intencional condicionada crítica acerca do mundo.
pela subjetividade dos envolvidos, marcados, enfim, pelas Associado à integração de saberes significativos, há que se
distintas visões de mundo dos diferentes atores do processo evitar a prática, ainda frequente, de um número excessivo de
educativo escolar. Desse modo, o trabalho pedagógico define- componentes em cada tempo de organização do curso,
se em sua complexidade, e não se submete plenamente ao gerando não só fragmentação como o seu congestionamento.
controle. No entanto, isso não se constitui em limite ou Além de uma seleção criteriosa de saberes, em termos de
problema, mas indica que se está diante da riqueza do quantidade, pertinência e relevância, e de sua equilibrada
processo de formação humana, e diante, também, dos desafios distribuição ao longo dos tempos de organização escolar, vale
que a constituição dessa formação, sempre histórica, impõe. possibilitar ao estudante as condições para o desenvolvimento
O currículo possui caráter polissêmico e orienta a da capacidade de busca autônoma do conhecimento e formas
organização do processo educativo escolar. Suas diferentes de garantir sua apropriação. Isso significa ter acesso a diversas
concepções, com maior ou menor ênfase, refletem a fontes, de condições para buscar e analisar novas referências
importância de componentes curriculares, tais como os e novos conhecimentos, de adquirir as habilidades mínimas
saberes a serem ensinados e aprendidos; as situações e necessárias à utilização adequada das novas tecnologias da
experiências de aprendizagem; os planos e projetos informação e da comunicação, assim como de dominar
pedagógicos; as finalidades e os objetivos a serem alcançados, procedimentos básicos de investigação e de produção de
bem como os processos de avaliação a serem adotados. Em conhecimentos científicos. É precisamente no aprender a
todas essas perspectivas é notável o propósito de se organizar aprender que deve se centrar o esforço da ação pedagógica,
e de se tornar a educação escolar mais eficiente, por meio de para que, mais que acumular conteúdos, o estudante
ações pedagógicas coletivamente planejadas. desenvolva a capacidade de aprender, de pesquisar e de
O planejamento coletivo promove “a conquista da buscar e (re)construir conhecimentos.
cidadania plena, mediante a compreensão do significado social Por se desejar que as experiências de aprendizagem
das relações de poder que se reproduzem no cotidiano da venham a tocar os estudantes, afetando sua formação, mostra-
escola, nas relações entre os profissionais da educação, o se indispensável a promoção de um ambiente democrático em
conhecimento, as famílias e os estudantes, bem assim, entre que as relações entre estudantes e docentes e entre os
estes e o projeto político-pedagógico, na sua concepção próprios estudantes se caracterizem pelo respeito aos outros
coletiva que dignifica as pessoas, por meio da utilização de um e pela valorização da diversidade e da diferença.
método de trabalho centrado nos estudos, nas discussões, no Faz-se imprescindível uma seleção de saberes e
diálogo que não apenas problematiza, mas também propõe, conhecimentos significativos, capazes de se conectarem aos
fortalecendo a ação conjunta que busca, nos movimentos que o estudante já tenha apreendido e que, além disso, tenham
sociais, elementos para criar e recriar o trabalho da e na sentido para ele, toquem-no intensamente, como propõe
escola”. Larrosa (2004), e, ainda, contribuam para formar identidades

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pautadas por autonomia, solidariedade e participação na fator que facilita tanto o planejamento quanto o
sociedade. desdobramento do próprio processo pedagógico.
Nesse sentido, deve ser levado em conta o que os
estudantes já sabem, o que eles gostariam de aprender e o que 7.3. Organização curricular do Ensino Médio
se considera que precisam aprender.
Nessa perspectiva, são também importantes metodologias Toda ação educativa é intencional. Daí decorre que todo
de ensino inovadoras, distintas das que se encontram nas salas processo educativo fundamenta-se em pressupostos e
de aula mais tradicionais e que, ao contrário dessas, ofereçam finalidades, não havendo neutralidade possível nesse
ao estudante a oportunidade de uma atuação ativa, processo. Ao determinar as finalidades da educação, quem o
interessada e comprometida no processo de aprender, que faz tem por base uma visão social de mundo, que orienta a
incluam não só conhecimentos, mas, também, sua reflexão bem como as decisões tomadas.
contextualização, experimentação, vivências e convivência em O planejamento curricular passa a ser compreendido de
tempos e espaços escolares e extraescolares, mediante aulas e forma estreitamente vinculada às relações que se produzem
situações diversas, inclusive nos campos da cultura, do esporte entre a escola e o contexto histórico-cultural em que a
e do lazer. educação se realiza e se institui, como um elemento, portanto,
Do professor, espera-se um desempenho competente, integrador entre a escola e a sociedade.
capaz de estimular o estudante a colaborar e a interagir com As decisões sobre o currículo resultam de um processo
seus colegas, tendo-se em mente que a aprendizagem, para seletivo, fazendo-se necessário que a escola tenha claro quais
bem ocorrer, depende de um diálogo produtivo com o outro. critérios orientam esse processo de escolha.
Cabe enfatizar, neste momento, que os conhecimentos e os O currículo não se limita ao caráter instrumental,
saberes trabalhados por professores e estudantes, assumem assumindo condição de conferir materialidade às ações
contornos e características específicas, constituindo o que se politicamente definidas pelos sujeitos da escola. Para
tem denominado de conhecimento escolar. concretizar o currículo, essa perspectiva toma, ainda, como
O conhecimento escolar apresenta diferenças em relação principais orientações os seguintes pontos:
aos conhecimentos que lhe serviram de referência, aos quais
se associa intimamente, mas dos quais se distingue com I – a ação de planejar implica na participação de todos os
bastante nitidez. elementos envolvidos no processo;
Os conhecimentos escolares provêm de saberes histórica e II – a necessidade de se priorizar a busca da unidade entre
socialmente formulados nos âmbitos de referência dos teoria e prática;
currículos. Segundo Terigi (1999), tais âmbitos de referência III – o planejamento deve partir da realidade concreta e
podem ser considerados como correspondendo aos seguintes estar voltado para atingir as finalidades legais do Ensino
espaços: Médio e definidas no projeto coletivo da escola;
I – instituições produtoras de conhecimento científico IV – o reconhecimento da dimensão social e histórica do
(universidades e centros de pesquisa); trabalho docente.
II – mundo do trabalho;
III – desenvolvimentos tecnológicos; Como proporcionar, por outro lado, compreensões globais,
IV – atividades desportivas e corporais; totalizantes da realidade a partir da seleção de componentes e
V – produção artística; conteúdos curriculares? Como orientar a seleção de conteúdos
VI – campo da saúde; no currículo?
VII – formas diversas de exercício da cidadania; A resposta a tais perguntas implica buscar relacionar
VIII – movimentos sociais. partes e totalidade. Segundo Kosik (1978), cada fato ou
conjunto de fatos, na sua essência, reflete toda a realidade com
Nesses espaços são produzidos e selecionados maior ou menor riqueza ou completude. Por esta razão, é
conhecimentos e saberes dos quais derivam os escolares. possível que um fato contribua mais que outro na explicitação
Esses conhecimentos são escolhidos e preparados para do real. Assim, a possibilidade de se conhecer a totalidade a
compor o currículo formal e para configurar o que deve ser partir das partes é dada pela possibilidade de se identificar os
ensinado e aprendido. fatos ou conjunto de fatos que esclareçam sobre a essência do
Compreender o que são os conhecimentos escolares faz-se real. Outros aspectos a serem considerados estão relacionados
relevante para os profissionais da educação, pois permite com a distinção entre o que é essencial e acessório, assim como
concluir que os ensinados nas escolas não constituem cópias o sentido objetivo dos fatos.
dos saberes e conhecimentos socialmente produzidos. Por Além disso, o conhecimento contemporâneo guarda em si
esse motivo, não faz sentido pensar em inserir, nas salas de a história da sua construção. O estudo de um fenômeno, de um
aula, os saberes e as práticas tal como funcionam em seus problema, ou de um processo de trabalho está articulado com
contextos de origem. Para se tornarem conhecimentos a realidade em que se insere. A relação entre partes que
escolares, os conhecimentos e saberes de referência passam compõem a realidade possibilita ir além da parte para
por processos de descontextualização e recontextualização. A compreender a realidade em seu conjunto.
atividade escolar, por conseguinte, implica uma determinada A partir dos referenciais construídos sobre as relações
ruptura com as atividades específicas dos campos de entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura e dos nexos
referência (Moreira e Candau, 2006; Terigi, 1999). estabelecidos entre o projeto político-pedagógico e a
Explicitado como a concepção de conhecimento escolar organização curricular do Ensino Médio, são apresentadas, em
pode influir no processo curricular, cabe discutir, seguida, algumas possibilidades deste.
resumidamente, em que consistem os mencionados processos Estas possibilidades de organização devem considerar as
de descontextualização e recontextualização do conhecimento normas complementares dos respectivos sistemas de ensino e
escolar. Tais processos incluem algumas estratégias, sendo apoiar-se na participação coletiva dos sujeitos envolvidos,
pertinente observar que o professor capaz de melhor entender bem como nas teorias educacionais que buscam as respectivas
o processo de construção do conhecimento escolar pode, de soluções.
modo mais acurado, distinguir em que momento os Ninguém mais do que os participantes da atividade escolar
mecanismos implicados nesse processo favorecem ou em seus diferentes segmentos, conhece a sua realidade e,
dificultam as atividades docentes. Ou seja, a compreensão de portanto, está mais habilitado para tomar decisões a respeito
como se constitui os conhecimentos escolares e saberes é um do currículo que vai levar à prática.

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Compreende-se que organizar o currículo implica romper relações existentes entre os eixos constituintes do Ensino
com falsas polarizações, oposições e fronteiras consolidadas Médio integrando as dimensões do trabalho, da ciência, da
ao longo do tempo. Isso representa, para os educadores que tecnologia e da cultura.
atuam no Ensino Médio, a possibilidade de avançar na Cabem, aqui, observações referentes às atividades
compreensão do sentido da educação que é proporcionada aos integradoras interdisciplinares, como colocadas nas Diretrizes
estudantes. Esses professores são instigados a buscar relações Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer
entre a ciência com a qual trabalham e o seu sentido, enquanto CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010):
força propulsora do desenvolvimento da sociedade em geral e A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de
do cidadão de cuja formação está participando. métodos de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, mas sua
Após as análises e reflexões desenvolvidas, discute-se a finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abordagem
organização curricular propriamente dita, ou seja, como os interdisciplinar ocorre a transversalidade do conhecimento
componentes curriculares podem ser organizados de modo a constitutivo de diferentes disciplinas, por meio da ação
contribuir para a formação humana integral, tendo como didático-pedagógica mediada pela pedagogia dos projetos
dimensões o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura. temáticos.
Em geral, quando se discute currículo no Ensino Médio, há A interdisciplinaridade é, assim, entendida como
uma tendência a se questionar, corretamente, o espaço dos abordagem teórico-metodológica com ênfase no trabalho de
saberes específicos, alegando-se que, ao longo da história, a integração das diferentes áreas do conhecimento.
concepção disciplinar do currículo isolou cada um deles em Continua o citado Parecer, considerando que essa
compartimentos estanques e incomunicáveis. Os orientação deve ser enriquecida, por meio de proposta
conhecimentos de cada ramo da ciência, para chegarem até a temática trabalhada transversalmente:
escola precisaram ser organizados didaticamente, A transversalidade é entendida como forma de organizar o
transformando-se em conhecimentos escolares. Estes se trabalho didático- pedagógico em que temas, eixos temáticos
diferenciam dos conhecimentos científicos porque são são integrados às disciplinas, às áreas ditas convencionais de
retirados/isolados da realidade social, cultural, econômica, forma a estarem presentes em todas elas.
política, ambiental etc. em que foram produzidos para serem A interdisciplinaridade é, portanto, uma abordagem que
transpostos para a situação escolar. Nesse processo, facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se em
evidentemente, perdem-se muitas das conexões existentes caminhos facilitadores da integração do processo formativo
entre determinada ciência e as demais. Como forma de dos estudantes, pois ainda permite a sua participação na
resolver ou, pelo menos, minimizar os prejuízos decorrentes escolha dos temas prioritários. A interdisciplinaridade e a
da organização disciplinar escolar, têm surgido, ao longo da transversalidade complementam-se, ambas rejeitando a
história, propostas que organizam o currículo a partir de concepção de conhecimento que toma a realidade como algo
outras estratégias. É muito rica a variedade de denominações. estável, pronto e acabado.
Mencionam-se algumas dessas metodologias e estratégias, Qualquer que seja a forma de organização adotada, esta
apenas a título de exemplo, sendo propostas que tratam da deve, como indica a LDB, ter seu foco no estudante e atender
aprendizagem baseada em problemas; centros de interesses; sempre o interesse do processo de aprendizagem.
núcleos ou complexos temáticos; elaboração de projetos, No que concerne à seleção dos conteúdos disciplinares,
investigação do meio, aulas de campo, construção de importa também evitar as superposições e lacunas, sem fazer
protótipos, visitas técnicas, atividades artístico-culturais e reduções do currículo, ratificando-se a necessidade de
desportivas, entre outras. Buscam romper com a centralidade proporcionar a formação continuada dos docentes no sentido
das disciplinas nos currículos e substituí-las por aspectos mais de que se apropriem da concepção e dos princípios de um
globalizadores e que abranjam a complexidade das relações Ensino Médio que integre sua proposta pedagógica às
existentes entre os ramos da ciência no mundo real. características e desenvolvimento das áreas de conhecimento.
Tais estratégias e metodologias são práticas desafiadoras Igualmente importante é organizar os tempos e os espaços de
na organização curricular, na medida em que exigem uma atuação dos professores visando garantir o planejamento,
articulação e um diálogo entre os conhecimentos, rompendo implementação e acompanhamento em conjunto das
com a forma fragmentada como historicamente tem sido atividades curriculares.
organizado o currículo do Ensino Médio. Com relação às atividades integradoras, não cabe
Nesta etapa de ensino, tais metodologias encontram especificar denominações, embora haja várias na literatura,
barreiras em função da necessidade do aprofundamento dos cada uma com suas peculiaridades. Assume-se essa postura
conceitos inerentes às disciplinas escolares, já que cada uma por compreender que tal definição é função de cada sistema de
se caracteriza por ter objeto próprio de estudo e método ensino e escola, a partir da realidade concreta vivenciada, o
específico de abordagem. Dessa maneira, tem se revelado que inclui suas especificidades e possibilidades, assim como as
praticamente difícil desenvolver propostas globalizadoras que características sociais, econômicas, políticas, culturais,
abranjam os conceitos e especificidades de todas as disciplinas ambientais e laborais da sociedade, do entorno escolar e dos
curriculares. estudantes e professores.
Assim, as propostas voltadas para o Ensino Médio, em Entretanto, de forma coerente com as dimensões que
geral, estão baseadas em metodologias mistas (SANTOMÉ, sustentam a concepção de Ensino Médio aqui discutido, é
1998), as quais são desenvolvidas em, pelo menos, dois importante que as atividades integradoras sejam concebidas a
espaços e tempos. Um, destinado ao aprofundamento partir do trabalho como primeira mediação entre o homem e a
conceitual no interior das disciplinas, e outro, voltado para as natureza e de suas relações com a sociedade e com cada uma
denominadas atividades integradoras. É a partir daí que se das outras dimensões curriculares reiteradamente
apresenta uma possibilidade de organização curricular do mencionadas.
Ensino Médio, com uma organização por disciplinas (recorte Desse modo, sugere-se que as atividades integradoras
do real para aprofundar conceitos) e com atividades sejam desenvolvidas a partir de várias estratégias/temáticas
integradoras (imersão no real ou sua simulação para que incluam a problemática do trabalho de forma relacional.
compreender a relação parte-totalidade por meio de Assim sendo, a cada tempo de organização escolar as
atividades interdisciplinares). Há dois pontos cruciais nessa atividades integradoras podem ser planejadas a partir das
proposta: a definição das disciplinas com a respectiva seleção relações entre situações reais existentes nas práticas sociais
de conteúdos; e a definição das atividades integradoras, pois é concretas (ou simulações) e os conteúdos das disciplinas,
necessário que ambas sejam efetivadas a partir das inter-

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tendo como fio condutor as conexões entre o trabalho e as desenvolvimento das linguagens, no mundo do trabalho e na
demais dimensões. tecnologia, na produção artística, nas atividades desportivas e
É, portanto, na busca de desenvolver estratégias corporais, na área da saúde, nos movimentos sociais, e ainda
pedagógicas que contribuam para compreender como o incorporam saberes como os que advêm das formas diversas
trabalho, enquanto mediação primeira entre o ser humano e o de exercício da cidadania, da experiência docente, do cotidiano
meio ambiente, produz social e historicamente ciência e e dos estudantes.
tecnologia e é influenciado e influencia a cultura dos grupos Os conteúdos sistematizados que fazem parte do currículo
sociais. são denominados componentes curriculares, os quais, por sua
Este modo de organizar o currículo contribui, não apenas vez, se articulam com as áreas de conhecimento, a saber:
para incorporar ao processo formativo, o trabalho como Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências
princípio educativo, como também para fortalecer as demais Humanas. As áreas de conhecimento favorecem a
dimensões estruturantes do Ensino Médio (ciência, tecnologia, comunicação entre os conhecimentos e saberes dos diferentes
cultura e o próprio trabalho), sem correr o risco de realizar componentes curriculares, mas permitem que os referenciais
abordagens demasiadamente gerais e, portanto, superficiais, próprios de cada componente curricular sejam preservados.
uma vez que as disciplinas, se bem planejadas, cumprem o A legislação, seja pela LDB seja por outras leis específicas,
papel do necessário aprofundamento. já determina componentes que são obrigatórios e que,
portanto devem ser tratados em uma ou mais das áreas de
7.4. Base nacional comum e a parte diversificada: conheci- mento para compor o currículo. Outros,
integralidade complementares, a critério dos sistemas de ensino e das
unidades escolares, podem e devem ser incluídos e tratados
A organização da base nacional comum e da parte como disciplinas ou, de forma integradora, como unidades de
diversificada no currículo do Ensino Médio tem sua base na estudos, módulos, atividades, práticas e projetos
legislação e na concepção adotada nesse parecer, que contextualiza- dos e interdisciplinares ou diversamente
apresentam elementos fundamentais para subsidiar diversos articuladores de saberes, desenvolvimento transversal de
formatos possíveis. Cada escola/rede de ensino pode e deve temas ou outras formas de organização.
buscar o diferencial que atenda às necessidades e Os componentes definidos pela LDB como obrigatórios
características sociais, culturais, econômicas e a diversidade e são:
os variados interesses e expectativas dos estudantes,
possibilitando formatos diversos na organização curricular do I – o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o
Ensino Médio, garantindo sempre a simultaneidade das conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura. e política, especialmente do Brasil;
O currículo do Ensino Médio tem uma base nacional II – o ensino da Arte, especialmente em suas expressões
comum, complementada em cada sistema de ensino e em cada regionais, de forma a promover o desenvolvimento cultural
estabelecimento escolar por uma parte diversificada. Esta dos estudantes, com a Música como seu conteúdo obrigatório,
enriquece aquela, planejada segundo estudo das mas não exclusivo;
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da III – a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da
economia e da comunidade escolar, perpassando todos os instituição de ensino, sendo sua prática facultativa ao
tempos e espaços curriculares constituintes do Ensino Médio, estudante nos casos previstos em Lei;
independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos IV – o ensino da História do Brasil, que leva em conta as
tenham acesso à escola. contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
A base nacional comum e a parte diversificada constituem do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
um todo integrado e não podem ser consideradas como dois africana e europeia;
blocos distintos. A articulação entre ambas possibilita a V – o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e
sintonia dos interesses mais amplos de formação básica do Indígena, no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
cidadão com a realidade local e dos estudantes, perpassando nas áreas de educação artística e de literatura e história
todo o currículo. brasileiras;
Voltados à divulgação de valores fundamentais ao VI – a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso;
interesse social e à preservação da ordem democrática, os VII – uma língua estrangeira moderna na parte
conhecimentos que fazem parte da base nacional comum a que diversificada, escolhida pela comunidade escolar, e uma
todos devem ter acesso, independentemente da região e do segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da
lugar em que vivem, asseguram a característica unitária das instituição.
orientações curriculares nacionais, das propostas curriculares
dos Estados, Distrito Federal e Municípios e dos projetos Em termos operacionais, os componentes curriculares
político-pedagógicos das escolas. obrigatórios decorrentes da LDB que integram as áreas de
Os conteúdos curriculares que compõem a parte conhecimento são os referentes a:
diversificada são definidos pelos sistemas de ensino e pelas
escolas, de modo a complementar e enriquecer o currículo, I – Linguagens:
assegurando a contextualização dos conhecimentos escolares a) Língua Portuguesa.
diante das diferentes realidades. b) Língua Materna, para populações indígenas.
É assim que, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais c) Língua Estrangeira moderna.
e dos conteúdos obrigatórios fixados em âmbito nacional, d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas e,
multiplicam-se as propostas e orientações curriculares de obrigatoriamente, a musical.
Estados e Municípios e, no seu bojo, os projetos político- e) Educação Física.
pedagógicos das escolas, revelando a autonomia dos entes
federados e das escolas nas suas respectivas jurisdições e II – Matemática.
traduzindo a pluralidade de possibilidades na implementação
dos currículos escolares diante das exigências do regime III – Ciências da Natureza:
federativo. a) Biologia;
Os conteúdos que compõem a base nacional comum e a b) Física;
parte diversificada têm origem nas disciplinas científicas, no c) Química.

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III – Ciências Humanas: expectativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares


a) História; da base nacional comum que devem ser atingidas pelos
b) Geografia; estudantes em cada tempo do curso de Ensino Médio, as quais,
c) Filosofia; por sua vez devem necessariamente orientar as matrizes de
d) Sociologia. competência do ENEM. Nesse sentido, o Conselho Nacional de
Educação deverá apreciar proposta dessas expectativas, a
Em decorrência de legislação específica, são obrigatórios: serem elaboradas pelo Ministério da Educação, em articulação
com os órgãos dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito
I – Língua Espanhola, de oferta obrigatória pelas unidades Federal e dos Municípios.
escolares, embora facultativa para o estudante.
II – Tratados transversal e integradamente, permeando 7.5. Formas de oferta e de organização do Ensino
todo o currículo, no âmbito dos demais componentes Médio
curriculares:
a) a educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/2009, O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, deve
que dispõe sobre o atendi- mento da alimentação escolar e do assegurar sua função formativa para todos os estudantes,
Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da Educação sejam adolescentes, jovens ou adultos, atendendo:
Básica, altera outras leis e dá outras providências); I – O Ensino Médio pode organizar-se em tempos escolares
b) o processo de envelhecimento, o respeito e a valorização no formato de séries anu- ais, períodos semestrais, ciclos,
do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir alternância regular de períodos de estudos, grupos não
conhecimentos sobre a matéria (Lei nº 10.741/2003: Estatuto seriados, com base na idade, na competência e em outros
do Idoso); critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o
c) a Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99: Política interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.
Nacional de Educação Ambiental); II – No Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 anos,
d) a educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97: Código de com carga horária mínima total de 2.400 horas, tendo como
Trânsito Brasileiro). referência uma carga horária anual de 800 horas, distribuídas
e) a educação em direitos humanos (Decreto nº em pelo menos 200 dias de efetivo trabalho escolar.
7.037/2009: Programa Nacional de Direitos Humanos - III – O Ensino Médio regular diurno, quando adequado aos
PNDH). seus estudantes, pode se organizar em regime de tempo
integral, com no mínimo 7 horas diárias;
Reitera-se que outros componentes complementares, a IV – No Ensino Médio regular noturno, adequado às
critério dos sistemas de ensino e das unidades escolares e condições de trabalhadores e res- peitados os mínimos de
definidos em seus projetos político-pedagógicos, podem ser duração e carga horária, o projeto pedagógico deve atender
incluídos no currículo, sendo tratados ou como disciplinas ou com qualidade a sua singularidade, especificando uma
com outro formato, preferencialmente, de forma transversal e organização curricular e metodológica diferenciada, e pode,
integradora. para garantir a permanência e o sucesso destes estudantes:
Ainda nos termos da LDB, o currículo do Ensino Médio, a) ampliar a duração para mais de 3 anos, com menor carga
deve garantir ações que pro- movam a educação tecnológica horária diária e anual, garantido o mínimo total de 2.400 horas
básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e para o curso;
das artes; o processo histórico de transformação da sociedade V – Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos,
e da cultura; e a língua portuguesa como instrumento de observadas suas Diretrizes específicas, a duração mínima é de
comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da 1.200 horas, sendo que o projeto pedagógico deve atender com
cidadania. Deve, também, adotar metodologias de ensino e de qualidade a sua singularidade, especificando uma organização
avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes, bem curricular e metodológica diferenciada que pode, para garantir
como organizar os conteúdos, as metodologias e as formas de a permanência e o sucesso de estudantes trabalhadores:
avaliação de tal modo que ao final do Ensino Médio o estudante a) ampliar seus tempos de organização escolar, com menor
demonstre domínio dos princípios científicos e tecnológicos carga horária diária e anu- al, garantida sua duração mínima;
que presidem a produção moderna, e conhecimento das VI – Atendida a formação geral, incluindo a preparação
formas contemporâneas de linguagem. básica para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para o
Na perspectiva das dimensões trabalho, ciência, tecnologia exercício de profissões técnicas, por articulação na forma
e cultura, as instituições de ensino devem ter presente que integrada com a Educação Profissional e Tecnológica,
formam um eixo integrador entre os conhecimentos de observadas as Diretrizes específicas, com as cargas horárias
distintas naturezas, contextualizando-os em sua dimensão mínimas de:
histórica e em relação à realidade social contemporânea. a) 3.200 horas, no Ensino Médio regular integrado com a
Essa integração entre as dimensões do trabalho, ciência, Educação Profissional Técnica de Nível Médio;
tecnologia e cultura na perspectiva do trabalho como princípio b) 2.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos integrada
educativo, tem por fim propiciar a compreensão dos com a Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
fundamentos científicos e tecnológicos dos processos sociais e respeitado o mínimo de 1.200 horas de educação geral;
produtivos, devendo orientar a definição de toda proposição c) 1.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos integrada
curricular, constituindo-se no fundamento da seleção dos com a formação inicial e continuada ou qualificação
conhecimentos, disciplinas, metodologias, estratégias, tempos, profissional, respeitado o mínimo de 1.200 horas de educação
espaços, arranjos curriculares alternativos e formas de geral;
avaliação. VII – Na Educação Especial, Educação do Campo, Educação
Estas dimensões dão condições para um Ensino Médio Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, de pessoas em
unitário que, ao mesmo tempo, deve ser diversificado para regime de acolhimento ou internação e em regime de privação
atender com motivação à heterogeneidade e pluralidade de de liberdade, e na Educação a Distância, devem ser observadas
condições, interesses e aspirações dos estudantes. Mantida a as respectivas Diretrizes e normas nacionais.
diversidade, a unidade nacional a ser buscada, no entanto, VIII – Os componentes curriculares que integram as áreas
necessita de alvos mais específicos para orientar as de conhecimento podem ser tratados ou como disciplinas,
aprendizagens comuns a todos no país, nos termos das sempre de forma integrada, ou como unidades de estudos,
presentes Diretrizes. Estes alvos devem ser constituídos por módulos, atividades, práticas e projetos contextualizados e

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interdisciplinares ou diversamente articuladores de saberes, as ações realizadas nesse âmbito possam enraizar-se em todo
desenvolvimento transversal de temas ou outras formas de o território brasileiro.
organização. Para que isso possa ocorrer é fundamental que as ações
IX – Tanto na base nacional comum quanto na parte desencadeadas nesse domínio sejam orientadas por um
diversificada a organização curricular do Ensino Médio deve regime de coordenação e cooperação entre as esferas públicas
oferecer tempos e espaços próprios para estudos e atividades dos vários níveis, dentro do quadro de um sistema nacional de
que permitam itinerários formativos opcionais diversificados, educação, no qual cada ente federativo, com suas peculiares
a fim de melhor responder à heterogeneidade e pluralidade de competências, colabora para uma educação de qualidade. A
condições, múltiplos interesses e aspirações dos estudantes, Emenda Constitucional nº 59/2009, incluiu na Constituição
com suas especificidades etárias, sociais e culturais, bem como Federal justamente a prescrição de que a União, os Estados, o
sua fase de desenvolvimento. Distrito Federal e os Municípios devem organizar em regime
X – Formas diversificadas de itinerários formativos podem de colaboração seus sistemas de ensino (art. 211), e que será
ser organizadas, desde que garantida a simultaneidade das articulado o sistema nacional de educação em regime de
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, colaboração, o qual é um objetivo do Plano Nacional de
e definidas pelo projeto político-pedagógico, atendendo Educação, de duração decenal, a ser estabelecido por lei (art.
necessidades, anseios e aspirações dos sujeitos e a realidade 214).
da escola e de seu meio. Em nível nacional, almeja-se coordenação e cooperação
XI – A interdisciplinaridade e a contextualização devem entre o MEC e outros Ministérios, tendo em vista a articulação
assegurar a transversalidade e a articulação do conhecimento com as políticas setoriais afins; internamente, entre suas
de diferentes componentes curriculares, propiciando a Secretarias e órgãos vinculados; e externamente, com as
interlocução entre os saberes das diferentes áreas de instituições de Educação Superior, os sistemas estaduais, do
conhecimento. Distrito Federal e os sistemas municipais de ensino.
No nível de cada unidade da Federação, espera-se que haja
Note-se que as horas acima indicadas são, obviamente, de coordenação e cooperação entre o respectivo sistema de
60 minutos, não se confundindo com as horas-aula, as quais ensino, as instituições de Educação Superior e os sistemas
podem ter a duração necessária que for considerada no municipais de ensino. Pressupõe igualmente a cooperação
projeto de cada escola. entre órgãos ou entidades responsáveis pelas políticas
Destaque-se que há redes escolares com Ensino Médio que setoriais afins no âmbito estadual e dos municípios.
já vêm desenvolvendo formas de oferta que atendem às No nível das unidades escolares é igualmente relevante a
indicações acima, inclusive com ampliação da duração e da criação de mecanismos de comunicação e intercâmbio,
carga horária do curso e com organização curricular flexível e visando à difusão e adoção de boas práticas que desenvolvam.
integradora. São exemplos desse comportamento as escolas É esse regime de colaboração mútua que deve contribuir
que aderiram aos Programas Mais Educação e Ensino Médio para que as escolas, as redes e os sistemas de ensino possam
Inovador, ambos incentivados pelo MEC na perspectiva do desenvolver um Ensino Médio organicamente articulado e
desenvolvimento de experiências curriculares inovadoras. sequente em relação às demais etapas da Educação Básica, a
Ao lado das alternativas que incluem a ampliação da carga partir de soluções adequadas para questões centrais como
horária deve-se estimular a busca de metodologias que financiamento; existência de quadro específico de professores
promovam a melhoria da qualidade, sem necessariamente efetivos; formação inicial e continuada de docentes,
implicar na ampliação do tempo de permanência na sala de profissionais técnico-administrativos e de gestores;
aula, tais como o uso intensivo de tecnologias da informação e infraestrutura física necessária a cada tipo de instituição, entre
comunicação. outros aspectos relevantes.
No referente à integração com a profissionalização, No tocante aos profissionais da educação – gestores,
acrescenta-se que a base científica não deve ser compreendida professores, especialistas, técnicos, monitores e outros – cabe
como restrita àqueles conhecimentos que fundamentam a papel de relevo aos gestores, seja dos sistemas, seja das
tecnologia específica. Ao contrário, a incorporação das ciências escolas. A eles cabe liderar as equipes, criar as condições
humanas na formação do trabalhador é fundamental para adequadas e estimular a efetivação do projeto político-
garantir o currículo integrado. Por exemplo: história social do pedagógico e do respectivo currículo, o que requer processo
trabalho, da tecnologia e das profissões; compreensão, no democrático de seleção segundo critérios técnicos de mérito e
âmbito da geografia, da produção e difusão territorial das de desempenho, como também lhes deve ser propiciada
tecnologias e da divisão internacional do trabalho; filosofia, formação apropriada, inclusive continuada, para atualização e
pelo estudo da ética e estética do trabalho, além de aprimoramento do desempenho desse papel.
fundamentos da epistemologia que garantam uma iniciação Quanto aos professores, embora repetitivo, cabe reiterar a
científica consistente; sociologia do trabalho, com o estudo da necessidade de efetivação da sua valorização, tanto no
organização dos processos de trabalho e da organização social referente a remuneração, quanto a plano de carreira,
do trabalho; meio ambiente, saúde e segurança, inclusive condições de trabalho, jornada de trabalho completa em única
conhecimentos de ecologia, ergonomia, saúde e psicologia do escola, organização de tempos e espaços de sua atuação para
trabalho, no sentido da prevenção das doenças ocupacionais. garantia de planejamento, implementação e acompanhamento
conjunto das atividades curriculares, formação inicial e
8. Implementação das Diretrizes Curriculares continuada, inclusive para que se apropriem da concepção e
Nacionais e o compromisso com o sucesso dos estudantes dos princípios do Ensino Médio proposto nestas diretrizes e no
respectivo projeto político-pedagógico, incorporando atuação
O Ensino Médio, fundamentado na integração das diversificada, com estratégias, metodologias e atividades
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, integradoras, contextualizadas e interdisciplinares ou
pode contribuir para explicitar o significado da formação na diversamente articuladores de saberes.
etapa conclusiva da Educação Básica, uma vez que materializa É oportuno lembrar que as ações do MEC voltadas para a
a formação humana integral. expansão e melhoria do Ensino Médio, como a proposição do
Para que essa educação integral constitua-se em política FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formulação e implementação
pública educacional é necessário que o Estado se faça presente do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), do Plano de
e que assuma uma amplitude nacional, na perspectiva de que Ações Articuladas (PAR) e vários programas, dentre estes, o
Brasil Profissionalizado, o Ensino Médio Inovador, o Programa

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Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM), vêm escolares diante das diferentes realidades, essa assertiva pode
criando condições que favorecem a implementação destas ser considerada em conformidade com a Lei 9.394/96?
Diretrizes. ( ) Verdadeiro ( ) Falso
Lembra-se, igualmente, a proposta do Custo Aluno-
Qualidade Inicial (CAQi), que indica insumos essenciais Respostas
associados aos padrões mínimos de qualidade para a Educação
Básica pública no Brasil, previstos na Constituição Federal 01. D / 02. Verdadeiro
(inciso VII do art. 206) e na LDB (inciso IX do art. 4º), a qual foi
objeto do Parecer CNE/CEB nº 8/2010. No contexto do CAQi, é
exigência um padrão mínimo de insumos, que tem como base Parâmetros Curriculares
um investimento com valor calculado a partir das despesas
Nacionais - Ensino Médio.
essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedimentos
formativos, que levem, gradualmente, a uma educação
integral, dotada de qualidade social. Tais padrões mínimos são
definidos como os que levam em conta, entre outros Os Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio) se
parâmetros: professores qualificados com remuneração divide em quatro partes:
adequada; pessoal de apoio técnico e administrativo que
assegure o bom funcionamento da escola; escolas possuindo Parte I - Bases Legais
condições de infraestrutura e de equipamentos adequados; Parte II - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
definição de relação adequada entre número de estudantes Parte III - Ciências da Natureza, Matemática e suas
por turma e por professor, e número de salas e estudantes. Tecnologias
Finalmente, visando alcançar unidade nacional e Parte IV - Ciências Humanas e suas Tecnologias
respeitadas as diversidades, reitera-se que o Ministério da
Educação elabore e encaminhe ao Conselho Nacional de Parte I
Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta de Bases Legais
expectativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares e
saberes que devem ser alcançadas pelos estudantes em O Ensino Médio no Brasil está mudando. A consolidação do
diferentes tempos do curso de Ensino Médio que, Estado democrático, as novas tecnologias e as mudanças na
necessariamente, se orientem por estas Diretrizes. Esta produção de bens, serviços e conhecimentos exigem que a
elaboração deve ser conduzida pelo MEC em articulação e escola possibilite aos alunos integrarem-se ao mundo
colaboração com os órgãos dos sistemas de ensino dos contemporâneo nas dimensões fundamentais da cidadania e
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. As expectativas do trabalho.
de aprendizagem, que não significam conteúdos obrigatórios Partindo de princípios definidos na LDB, o Ministério da
de currículo mínimo, devem vir a ser encaradas como direito Educação, num trabalho conjunto com educadores de todo o
dos estudantes, portanto, com resultados correspondentes País, chegou a um novo perfil para o currículo, apoiado em
exigíveis por eles. competências básicas para a inserção de nossos jovens na vida
É imprescindível que o MEC articule e compatibilize, com adulta. Tínhamos um ensino descontextualizado,
estas Diretrizes, as expectativas de aprendizagem, a formação compartimentalizado e baseado no acúmulo de informações.
de professores, os investimentos em materiais didáticos, e as Ao contrário disso, buscamos dar significado ao conhecimento
avaliações de desempenho e exames nacionais, especialmente escolar, mediante a contextualização; evitar a
o ENEM. Com essa compatibilização, o Ensino Médio, em compartimentalização, mediante a interdisciplinaridade; e
âmbito nacional, ganhará coerência e consistência, visando à incentivar o raciocínio e a capacidade de aprender.
sua almejada qualidade social. Estes Parâmetros cumprem o duplo papel de difundir os
Ao Ministério cabe, ainda, oferecer subsídios para a princípios da reforma curricular e orientar o professor, na
implementação destas Diretrizes. busca de novas abordagens e metodologias. Ao distribuí-los,
temos a certeza de contar com a capacidade de nossos mestres
Questões e com o seu empenho no aperfeiçoamento da prática
educativa. Por isso, entendemos sua construção como um
01. Com relação aos princípios norteadores das normas da processo contínuo: não só desejamos que influenciem
gestão democrática do ensino público na educação básica, positivamente a prática do professor, como esperamos poder,
assinale V para a afirmativa verdadeira e F para a falsa: com base nessa prática e no processo de aprendizagem dos
( ) I - participação dos profissionais da educação na alunos, revê-los e aperfeiçoá-los.
elaboração do projeto pedagógico da escola;
( ) II - participação das comunidades escolar e local em O novo Ensino Médio
conselhos escolares ou equivalentes.
( ) III – participação das comunidades escolar na O Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de
elaboração do projeto pedagógico da escola; Educação Média e Tecnológica, organizou, na atual
administração, o projeto de reforma do Ensino Médio como
As afirmativas são, respectivamente, parte de uma política mais geral de desenvolvimento social,
(A) F, V e F. que prioriza as ações na área da educação.
(B) V, V e V. O Brasil, como os demais países da América Latina, está
(C) F, V e V. empenhado em promover reformas na área educacional que
(D) V, V e F. permitam superar o quadro de extrema desvantagem em
(E) F, F e F. relação aos índices de escolarização e de nível de
conhecimento que apresentam os países desenvolvidos.
02. Em relação aos conteúdos curriculares que compõem a Particularmente, no que se refere ao Ensino Médio, dois
parte diversificada são definidos pelos sistemas de ensino e fatores de natureza muito diversa, mas que mantêm entre si
pelas escolas, de modo a complementar e enriquecer o relações observáveis, passam a determinar a urgência em se
currículo, assegurando a contextualização dos conhecimentos repensar as diretrizes gerais e os parâmetros curriculares que
orientam esse nível de ensino. Primeiramente, o fator

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econômico se apresenta e se define pela ruptura tecnológica As matrículas se concentram nas redes públicas estaduais
característica da chamada terceira revolução técnico- e no período noturno. Os estudos desenvolvidos pelo Instituto
industrial, na qual os avanços da microeletrônica têm um Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), quando
papel preponderante, e, a partir década de 80, se acentuam no da avaliação dos concluintes do Ensino Médio em nove
País. Estados, revelam que 54% dos alunos são originários de
A denominada “revolução informática” promove famílias com renda mensal de até seis salários mínimos e, na
mudanças radicais na área do conhecimento, que passa a Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte, mais de 50%
ocupar um lugar central nos processos de desenvolvimento, destes têm renda familiar de até três salários mínimos.
em geral. É possível afirmar que, nas próximas décadas, a É possível concluir que parte dos grupos sociais até então
educação vá se transformar mais rapidamente do que em excluídos tenha tido oportunidade de continuar os estudos em
muitas outras, em função de uma nova compreensão teórica função do término do Ensino Fundamental, ou que esse
sobre o papel da escola, estimulada pela incorporação das mesmo grupo esteja retornando à escola, dada a compreensão
novas tecnologias. sobre a importância da escolaridade, em função das novas
As propostas de reforma curricular para o Ensino Médio exigências do mundo do trabalho.
se pautam nas constatações sobre as mudanças no
conhecimento e seus desdobramentos, no que se refere à Pensar um novo currículo para o Ensino Médio coloca
produção e às relações sociais de modo geral. em presença estes dois fatores:
Nas décadas de 60 e 70, considerando o nível de - as mudanças estruturais que decorrem da chamada
desenvolvimento da industrialização na América Latina, a “revolução do conhecimento”, alterando o modo de
política educacional vigente priorizou, como finalidade para o organização do trabalho e as relações sociais; e
Ensino Médio, a formação de especialistas capazes de dominar - a expansão crescente da rede pública, que deverá
a utilização de maquinarias ou de dirigir processos de atender a padrões de qualidade que se coadunem com as
produção. Esta tendência levou o Brasil, na década de 70, a exigências desta sociedade.
propor a profissionalização compulsória, estratégia que
também visava a diminuir a pressão da demanda sobre o O processo de trabalho
Ensino Superior.
Na década de 90, enfrentamos um desafio de outra ordem. O projeto de reforma curricular do Ensino Médio teve
O volume de informações, produzido em decorrência das como estrutura, desde sua origem, um modelo cuja principal
novas tecnologias, é constantemente superado, colocando preocupação era proporcionar um diálogo constante entre os
novos parâmetros para a formação dos cidadãos. Não se trata dirigentes da Secretaria de Educação Média e Tecnológica, a
de acumular conhecimentos. equipe técnica coordenadora do projeto da reforma e os
diversos setores da sociedade civil, ligados direta ou
A formação do aluno deve ter como alvo principal: indiretamente à educação.
- a aquisição de conhecimentos básicos, Definiu-se que, para a formulação de uma nova concepção
- a preparação científica e do Ensino Médio, seria fundamental a participação de
- a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias professores e técnicos de diferentes níveis de ensino.
relativas às áreas de atuação. A primeira reunião entre os dirigentes, a equipe técnica da
Secretaria de Educação Média e Tecnológica e professores
Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em convidados de várias universidades do País apontou para a
oposição à formação específica; o desenvolvimento de necessidade de se elaborar uma proposta que, incorporando
capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e os pressupostos acima citados e respeitando o princípio de
selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao flexibilidade, orientador da Lei de Diretrizes e Bases, se
invés do simples exercício de memorização. mostrasse exequível por todos os Estados da Federação,
São estes os princípios mais gerais que orientam a considerando as desigualdades regionais.
reformulação curricular do Ensino Médio e que se expressam A primeira versão da proposta de reforma foi elaborada
na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394/96. pelo então diretor do Departamento de Desenvolvimento da
Se é necessário pensar em reformas curriculares, levando Educação Média e Tecnológica, professor Ruy Leite Berger
em conta as mudanças estruturais que alteram a produção e a Filho, e pela coordenadora do projeto, professora Eny Marisa
própria organização da sociedade que identificamos como Maia.
fator econômico, não é menos importante conhecer e analisar Propôs-se, numa primeira abordagem, a reorganização
as condições em que se desenvolve o sistema educacional do curricular em áreas de conhecimento, com o objetivo de
País. facilitar o desenvolvimento dos conteúdos, numa perspectiva
No Brasil, o Ensino Médio foi o que mais se expandiu, de interdisciplinaridade e contextualização.
considerando como ponto de partida a década de 80. De 1988 Foram convidados a participar do processo de elaboração
a 1997, o crescimento da demanda superou 90% das da proposta de reforma curricular professores universitários
matrículas até então existentes. Em apenas um ano, de 1996 a com reconhecida experiência nas áreas de ensino e pesquisa,
1997, as matrículas no Ensino Médio cresceram 11,6%. os quais atuaram como consultores especialistas.
É importante destacar, entretanto, que o índice de As reuniões subsequentes foram organizadas com a
escolarização líquida neste nível de ensino, considerada a participação da equipe técnica de coordenação do projeto e
população de 15 a 17 anos, não ultrapassa 25%, o que coloca representantes de todas as Secretarias Estaduais de Educação,
o Brasil em situação de desigualdade em relação a muitos para as discussões dos textos que fundamentavam as áreas de
países, inclusive da América Latina. Nos países do Cone Sul, ensino.
por exemplo, o índice de escolarização alcança de 55% a 60%, A metodologia de trabalho visava a ampliar os debates,
e na maioria dos países de língua inglesa do Caribe, cerca de tanto no nível acadêmico quanto no âmbito de cada Estado,
70%. envolvendo os professores e técnicos que atuavam no Ensino
O padrão de crescimento das matrículas no Ensino Médio Médio. Os debates realizados nos Estados, coordenados pelos
no Brasil, entretanto, tem características que nos permitem professores representantes, deveriam permitir uma análise
destacar as suas relações com as mudanças que vêm crítica do material, contendo novas questões e/ou sugestões
ocorrendo na sociedade. de aperfeiçoamento dos documentos.

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Concluída esta primeira etapa, os documentos foram A Constituição, portanto, confere a esse nível de ensino o
submetidos à apreciação dos Secretários de Estado em estatuto de direito de todo cidadão.
reuniões do CONSED e outras, organizadas pela Secretaria de
Educação Média e Tecnológica com esse objetivo específico. A alteração provocada pela Emenda Constitucional
O debate ampliou-se por meio da participação dos merece, entretanto, um destaque. O Ensino Médio deixa de ser
consultores especialistas em diversas reuniões nos Estados e obrigatório para as pessoas, mas a sua oferta é dever do
pela divulgação dos textos de fundamentação das áreas entre Estado, numa perspectiva de acesso para todos aqueles que o
os professores de outras universidades. desejarem. Por sua vez, a LDB reitera a obrigatoriedade
Concomitantemente à reformulação dos textos teóricos progressiva do Ensino Médio, sendo esta, portanto, uma
que fundamentavam cada área de conhecimento, foram diretriz legal, ainda que não mais constitucional.
realizadas duas reuniões nos Estados de São Paulo e do Rio de A LDB confere caráter de norma legal à condição do Ensino
Janeiro com professores que lecionavam nas redes públicas, Médio como parte da Educação Básica, quando, por meio do
escolhidos aleatoriamente, com a finalidade de verificar a Art. 21, estabelece:
compreensão e a receptividade, em relação aos documentos
produzidos. “Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
Obtivemos índices de aceitação muito satisfatórios nesses I – Educação básica, formada pela educação infantil,
dois encontros, o que se considerou como um indicador da ensino fundamental e ensino médio;
adequação da proposta ao cotidiano das escolas públicas. O II – Educação superior”
projeto foi também discutido em debates abertos à população,
como o organizado pelo jornal Folha de S. Paulo no início de Isso significa que o Ensino Médio passa a integrar a etapa
1997. Neste debate, do qual participaram os sindicatos de do processo educacional que a Nação considera básica para o
professores, a associação de estudantes secundaristas, exercício da cidadania, base para o acesso às atividades
representantes de escolas particulares e outros segmentos da produtivas, para o prosseguimento nos níveis mais elevados e
sociedade civil, o professor Ruy Leite Berger Filho apresentou complexos de educação e para o desenvolvimento pessoal,
a proposta de reforma curricular, que obteve dos referido à sua interação com a sociedade e sua plena inserção
participantes uma aprovação consensual. nela, ou seja, que “tem por finalidades desenvolver o
Os trabalhos de elaboração da reforma foram concluídos educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável
em junho de 1997, a partir de uma série de discussões internas para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para
que envolveram os dirigentes, a equipe técnica de progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Art.22, Lei
coordenação do projeto e os professores consultores. nº 9.394/96).
O documento produzido foi apresentado aos Secretários
de Educação das Unidades Federadas e encaminhado ao - O Ensino Médio como etapa final da Educação Básica
Conselho Nacional de Educação em 7 de julho de 1997,
solicitando-se o respectivo parecer. Nessa etapa, a Secretaria A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional explicita
de Educação Média e Tecnológica trabalhou integradamente que o Ensino Médio é a “etapa final da educação básica”
com a relatora indicada pelo Conselho, a professora Guiomar (Art.36), o que concorre para a construção de sua identidade.
Namo de Mello, em reuniões especialmente agendadas para O Ensino Médio passa a ter a característica da
este fim e por meio de assessorias específicas dos professores terminalidade, o que significa assegurar a todos os cidadãos
consultores especialistas. - a oportunidade de consolidar e aprofundar os
O Parecer do Conselho Nacional de Educação foi aprovado conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental;
em 1/06/98 – Parecer nº 15/98 da Câmara de Educação - aprimorar o educando como pessoa humana;
Básica (CEB), do Conselho Nacional de Educação (CNE), - possibilitar o prosseguimento de estudos;
seguindo-se a elaboração da Resolução que estabelece as - garantir a preparação básica para o trabalho e a
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, cidadania;
Resolução CEB/CNE nº 03/98 e à qual o Parecer se integra. - dotar o educando dos instrumentos que o permitam
Os textos de fundamentação das áreas de conhecimento, “continuar aprendendo”, tendo em vista o desenvolvimento
elaborados pelos professores especialistas, foram submetidos da compreensão dos “fundamentos científicos e tecnológicos
à apreciação de consultores visando ao aperfeiçoamento dos dos processos produtivos” (Art.35, incisos I a IV).
mesmos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi
a principal referência legal para a formulação das mudanças O Ensino Médio, portanto, é a etapa final de uma educação
propostas, na medida em que estabelece os princípios e de caráter geral, afinada com a contemporaneidade, com a
finalidades da Educação Nacional. construção de competências básicas, que situem o educando
como sujeito produtor de conhecimento e participante do
A Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional e a mundo do trabalho, e com o desenvolvimento da pessoa, como
reforma curricular do Ensino Médio “sujeito em situação” – cidadão.
Nessa concepção, a Lei nº 9.394/96 muda no cerne a
- Ensino Médio é Educação Básica identidade estabelecida para o Ensino Médio contida na
referência anterior, a Lei nº 5.692/71, cujo 2º grau se
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei caracterizava por uma dupla função: preparar para o
9.394/96) vem conferir uma nova identidade ao Ensino prosseguimento de estudos e habilitar para o exercício de uma
Médio, determinando que Ensino Médio é Educação Básica. profissão técnica.
A Constituição de 1988 já prenunciava essa concepção, Na perspectiva da nova Lei, o Ensino Médio, como parte da
quando, no inciso II do Art. 208, garantia como dever do educação escolar, “deverá vincular-se ao mundo do trabalho e
Estado “a progressiva extensão da obrigatoriedade e à prática social” (Art.1º § 2º da Lei nº 9.394/96). Essa
gratuidade ao ensino médio”. Posteriormente, a Emenda vinculação é orgânica e deve contaminar toda a prática
Constitucional nº 14/96 modificou a redação desse inciso sem educativa escolar.
alterar o espírito da redação original, inscrevendo no texto Em suma, a Lei estabelece uma perspectiva para esse nível
constitucional “a progressiva universalização do ensino médio de ensino que integra, numa mesma e única modalidade,
gratuito”. finalidades até então dissociadas, para oferecer, de forma

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articulada, uma educação equilibrada, com funções exercício da cidadania quanto para o desempenho de
equivalentes para todos os educandos: atividades profissionais. A garantia de que todos desenvolvam
- a formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e ampliem suas capacidades é indispensável para se combater
e competências necessárias à integração de seu projeto a dualização da sociedade, que gera desigualdades cada vez
individual ao projeto da sociedade em que se situa; maiores.
- o aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia De que competências se está falando?
intelectual e do pensamento crítico;
- a preparação e orientação básica para a sua integração ao Da capacidade de abstração, do desenvolvimento do
mundo do trabalho, com as competências que garantam seu pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e
aprimoramento profissional e permitam acompanhar as fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade,
mudanças que caracterizam a produção no nosso tempo; da capacidade de pensar múltiplas alternativas para a solução
- o desenvolvimento das competências para continuar de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento
aprendendo, de forma autônoma e crítica, em níveis mais divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da
complexos de estudos. disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para
o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber
O papel da educação na sociedade tecnológica comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento. Estas
são competências que devem estar presentes na esfera social,
A centralidade do conhecimento nos processos de cultural, nas atividades políticas e sociais como um todo, e que
produção e organização da vida social rompe com o paradigma são condições para o exercício da cidadania num contexto
segundo o qual a educação seria um instrumento de democrático.
“conformação” do futuro profissional ao mundo do trabalho. O desafio a enfrentar é grande, principalmente para um
Disciplina, obediência, respeito restrito às regras País em processo de desenvolvimento, que, na década de 90,
estabelecidas, condições até então necessárias para a inclusão sequer oferece uma cobertura no Ensino Médio, considerado
social, via profissionalização, perdem a relevância, face às como parte da Educação Básica, a mais que 25% de seus
novas exigências colocadas pelo desenvolvimento tecnológico jovens entre 15 e 17 anos.
e social. Não se pode mais postergar a intervenção no Ensino
A nova sociedade, decorrente da revolução tecnológica e Médio, de modo a garantir a superação de uma escola que, ao
seus desdobramentos na produção e na área da informação, invés de se colocar como elemento central de
apresenta características possíveis de assegurar à educação desenvolvimento dos cidadãos, contribui para a sua exclusão.
uma autonomia ainda não alcançada. Isto ocorre na medida Uma escola que pretende formar por meio da imposição de
em que o desenvolvimento das competências cognitivas e modelos, de exercícios de memorização, da fragmentação do
culturais exigidas para o pleno desenvolvimento humano conhecimento, da ignorância dos instrumentos mais
passa a coincidir com o que se espera na esfera da produção. avançados de acesso ao conhecimento e da comunicação. Ao
O novo paradigma emana da compreensão de que, cada manter uma postura tradicional e distanciada das mudanças
vez mais, as competências desejáveis ao pleno sociais, a escola como instituição pública acabará também por
desenvolvimento humano aproximam-se das necessárias à se marginalizar.
inserção no processo produtivo. Segundo Tedesco, aceitar tal Uma nova concepção curricular para o Ensino Médio,
perspectiva otimista seria admitir que vivemos “uma como apontamos anteriormente, deve expressar a
circunstância histórica inédita, na qual as capacidades para o contemporaneidade e, considerando a rapidez com que
desenvolvimento produtivo seriam idênticas para o papel do ocorrem as mudanças na área do conhecimento e da
cidadão e para o desenvolvimento social”. Ou seja, admitindo produção, ter a ousadia de se mostrar prospectiva.
tal correspondência entre as competências exigidas para o Certamente, o ponto de partida para a implementação da
exercício da cidadania e para as atividades produtivas, reforma curricular em curso é o reconhecimento das
recoloca-se o papel da educação como elemento de condições atuais de organização dos sistemas estaduais, no
desenvolvimento social. que se refere à oferta do Ensino Médio.
Constata-se a necessidade de investir na área de
Em contrapartida, é importante compreender que a macroplanejamento, visando a ampliar de modo racional a
aproximação entre as competências desejáveis em cada uma oferta de vagas. Também é essencial investir na formação dos
das dimensões sociais não garante uma homogeneização docentes, uma vez que as medidas sugeridas exigem
das oportunidades sociais. Há que considerar a redução dos mudanças na seleção, tratamento dos conteúdos e
espaços para os que vão trabalhar em atividades simbólicas, incorporação de instrumentos tecnológicos modernos, como
em que o conhecimento é o instrumento principal, os que vão a informática.
continuar atuando em atividades tradicionais e, o mais grave, Essas são algumas prioridades, indicadas em todos os
os que se veem excluídos. estudos desenvolvidos recentemente pela Secretaria de
Educação Média e Tecnológica e pelo Instituto Nacional de
A expansão da economia pautada no conhecimento Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), por meio do
caracteriza-se também por fatos sociais que comprometem os Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), e
processos de solidariedade e coesão social, quais sejam a que subsidiaram a elaboração da proposta de reforma
exclusão e a segmentação com todas as consequências hoje curricular.
presentes: o desemprego, a pobreza, a violência, a Mesmo considerando os obstáculos a superar, uma
intolerância. proposta curricular que se pretenda contemporânea deverá
incorporar como um dos seus eixos as tendências apontadas
Essa tensão, presente na sociedade tecnológica, pode se para o século XXI. A crescente presença da ciência e da
traduzir no âmbito social pela definição de quantos e quais tecnologia nas atividades produtivas e nas relações sociais,
segmentos terão acesso a uma educação que contribua por exemplo, que, como consequência, estabelece um ciclo
efetivamente para a sua incorporação. permanente de mudanças, provocando rupturas rápidas,
precisa ser considerada.
Um outro dado a considerar diz respeito à necessidade do Comparados com as mudanças significativas observadas
desenvolvimento das competências básicas tanto para o nos séculos passados – como a máquina a vapor ou o motor a

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explosão –, cuja difusão se dava de modo lento e por um largo desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
período de tempo, os avanços do conhecimento que se crítico.
observam neste século criam possibilidades de intervenção Não há o que justifique memorizar conhecimentos que
em áreas inexploradas. estão sendo superados ou cujo acesso é facilitado pela
Estão presentes os avanços na biogenética e outros mais, moderna tecnologia. O que se deseja é que os estudantes
que fazem emergir questões de ordem ética merecedoras de desenvolvam competências básicas que lhes permitam
debates em nível global. Em contrapartida, as inovações desenvolver a capacidade de continuar aprendendo.
tecnológicas, como a informatização e a robótica, e a busca de É importante destacar, tendo em vista tais reflexões, as
maior precisão produtiva e de qualidade homogênea têm considerações oriundas da Comissão Internacional sobre
concorrido para acentuar o desemprego. Educação para o século XXI, incorporadas nas determinações
É possível afirmar que o crescimento econômico não gera da Lei nº 9.394/96:
mais empregos ou que concorre para a diminuição do número a) a educação deve cumprir um triplo papel: econômico,
de horas de trabalho e, principalmente, para a diminuição de científico e cultural;
oportunidades para o trabalho não qualificado. b) a educação deve ser estruturada em quatro alicerces:
Se o deslocamento das oportunidades de trabalho do setor aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e
industrial para o terciário é uma realidade, isso não significa aprender a ser.
que seja menor nesse a exigência em relação à qualificação do
trabalhador. A reforma curricular e a organização do Ensino Médio
Nas sociedades tradicionais, a estabilidade da organização
política, produtiva e social garantia um ambiente educacional O currículo, enquanto instrumentação da cidadania
relativamente estável. Agora, a velocidade do progresso democrática, deve contemplar conteúdos e estratégias de
científico e tecnológico e da transformação dos processos de aprendizagem que capacitem o ser humano para a realização
produção torna o conhecimento rapidamente superado, de atividades nos três domínios da ação humana: a vida em
exigindo-se uma atualização contínua e colocando novas sociedade, a atividade produtiva e a experiência subjetiva,
exigências para a formação do cidadão. visando à integração de homens e mulheres no tríplice
A transformação do ciclo produtivo, a partir da década de universo das relações políticas, do trabalho e da
40, provocou a migração campo-cidade. Houve uma simbolização subjetiva.
diminuição gradativa, mas significativa, de empregos na
agricultura. Atualmente, observa-se uma situação semelhante Nessa perspectiva, incorporam-se como diretrizes gerais e
na indústria e isso ocorre não apenas em função das novas orientadoras da proposta curricular as quatro premissas
tecnologias, como também em função do processo de abertura apontadas pela UNESCO como eixos estruturais da educação
dos mercados, que passam a exigir maior precisão produtiva na sociedade contemporânea:
e padrões de qualidade de produção dos países mais
desenvolvidos. - Aprender a conhecer
A globalização econômica, ao promover o rompimento de
fronteiras, muda a geografia política e provoca, de forma Considera-se a importância de uma educação geral,
acelerada, a transferência de conhecimentos, tecnologias e suficientemente ampla, com possibilidade de
informações, além de recolocar as questões da sociabilidade aprofundamento em determinada área de conhecimento.
humana em espaços cada vez mais amplos. Prioriza-se o domínio dos próprios instrumentos do
A revolução tecnológica, por sua vez, cria novas formas de conhecimento, considerado como meio e como fim. Meio,
socialização, processos de produção e, até mesmo, novas enquanto forma de compreender a complexidade do mundo,
definições de identidade individual e coletiva. Diante desse condição necessária para viver dignamente, para desenvolver
mundo globalizado, que apresenta múltiplos desafios para o possibilidades pessoais e profissionais, para se comunicar.
homem, a educação surge como uma utopia necessária Fim, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de
indispensável à humanidade na sua construção da paz, da conhecer, de descobrir.
liberdade e da justiça social. O aumento dos saberes que permitem compreender o
mundo favorece o desenvolvimento da curiosidade
Deve ser encarada, conforme o Relatório da Comissão intelectual, estimula o senso crítico e permite compreender o
Internacional sobre Educação para o século XXI, da UNESCO, real, mediante a aquisição da autonomia na capacidade de
“entre outros caminhos e para além deles, como uma via discernir.
que conduz a um desenvolvimento mais harmonioso, mais Aprender a conhecer garante o aprender a aprender e
autêntico, de modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão constitui o passaporte para a educação permanente, na
social, as incompreensões, as opressões e as guerras”. medida em que fornece as bases para continuar aprendendo
ao longo da vida.
Considerando-se tal contexto, buscou-se construir novas
alternativas de organização curricular para o Ensino Médio - Aprender a fazer
comprometidas, de um lado, com o novo significado do
trabalho no contexto da globalização e, de outro, com o sujeito O desenvolvimento de habilidades e o estímulo ao
ativo, a pessoa humana que se apropriará desses surgimento de novas aptidões tornam-se processos
conhecimentos para se aprimorar, como tal, no mundo do essenciais, na medida em que criam as condições necessárias
trabalho e na prática social. Há, portanto, necessidade de se para o enfrentamento das novas situações que se colocam.
romper com modelos tradicionais, para que se alcancem os Privilegiar a aplicação da teoria na prática e enriquecer a
objetivos propostos para o Ensino Médio. vivência da ciência na tecnologia e destas no social passa a ter
A perspectiva é de uma aprendizagem permanente, de uma significação especial no desenvolvimento da sociedade
uma formação continuada, considerando como elemento contemporânea.
central dessa formação a construção da cidadania em função
dos processos sociais que se modificam. - Aprender a viver
Alteram-se, portanto, os objetivos de formação no nível do
Ensino Médio. Prioriza-se a formação ética e o Trata-se de aprender a viver juntos, desenvolvendo o
conhecimento do outro e a percepção das interdependências,

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de modo a permitir a realização de projetos comuns ou a sociais, além do trabalho, requer, por exemplo, que a Biologia
gestão inteligente dos conflitos inevitáveis. dê os fundamentos para a análise do impacto ambiental, de
uma solução tecnológica ou para a prevenção de uma doença
- Aprender a ser profissional. Enfim, aponta que não há solução tecnológica
sem uma base científica e que, por outro lado, soluções
A educação deve estar comprometida com o tecnológicas podem propiciar a produção de um novo
desenvolvimento total da pessoa. Aprender a ser supõe a conhecimento científico.
preparação do indivíduo para elaborar pensamentos Essa educação geral, que permite buscar informação,
autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos gerar informação, usá-la para solucionar problemas concretos
de valor, de modo a poder decidir por si mesmo, frente às na produção de bens ou na gestão e prestação de serviços, é
diferentes circunstâncias da vida. Supõe ainda exercitar a preparação básica para o trabalho. Na verdade, qualquer
liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e competência requerida no exercício profissional, seja ela
imaginação, para desenvolver os seus talentos e permanecer, psicomotora, sócio afetiva ou cognitiva, é um afinamento das
tanto quanto possível, dono do seu próprio destino. competências básicas. Essa educação geral permite a
Aprender a viver e aprender a ser decorrem, assim, das construção de competências que se manifestar-se-ão em
duas aprendizagens anteriores – aprender a conhecer e habilidades básicas, técnicas ou de gestão.
aprender a fazer – e devem constituir ações permanentes que A Base Nacional Comum destina-se à formação geral do
visem à formação do educando como pessoa e como cidadão. educando e deve assegurar que as finalidades propostas em
A partir desses princípios gerais, o currículo deve ser lei, bem como o perfil de saída do educando sejam alcançadas
articulado em torno de eixos básicos orientadores da seleção de forma a caracterizar que a Educação Básica seja uma
de conteúdos significativos, tendo em vista as competências e efetiva conquista de cada brasileiro. O desenvolvimento de
habilidades que se pretende desenvolver no Ensino Médio. competências e habilidades básicas comuns a todos os
Um eixo histórico-cultural dimensiona o valor histórico e brasileiros é uma garantia de democratização. A definição
social dos conhecimentos, tendo em vista o contexto da destas competências e habilidades servirá de parâmetro para
sociedade em constante mudança e submetendo o currículo a a avaliação da Educação Básica em nível nacional.
uma verdadeira prova de validade e de relevância social. Um
eixo epistemológico reconstrói os procedimentos envolvidos O Art. 26 da LDB determina a obrigatoriedade, nessa Base
nos processos de conhecimento, assegurando a eficácia desses Nacional Comum, de “estudos da Língua Portuguesa e da
processos e a abertura para novos conhecimentos. Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da
realidade social e política, especialmente do Brasil, o ensino da
A Base Nacional Comum arte [...] de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
alunos, e a Educação Física, integrada à proposta pedagógica
É no contexto da Educação Básica que a Lei nº 9.394/96 da escola”.
determina a construção dos currículos, no Ensino
Fundamental e Médio, “com uma Base Nacional Comum, a ser Quando a LDB destaca as diretrizes curriculares
complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento específicas do Ensino Médio, ela se preocupa em apontar para
escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas um planejamento e desenvolvimento do currículo de forma
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da orgânica, superando a organização por disciplinas estanques
economia e da clientela” (Art. 26). e revigorando a integração e articulação dos conhecimentos,
num processo permanente de interdisciplinaridade e
Atenção: o Art. 26 da Lei nº 9.394/96 foi alterado!! transdiciplinaridade. Essa proposta de organicidade está
contida no Art.36, segundo o qual o currículo do Ensino Médio
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino “destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino de transformação da sociedade e da cultura; a língua
e em cada estabelecimento escolar, por uma parte portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao
diversificada, exigida pelas características regionais e conhecimento e exercício da cidadania”.
locais da sociedade, da cultura, da economia e dos
educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) A organicidade dos conhecimentos fica mais evidente
ainda quando o Art. 36 da LDB estabelece, em seu parágrafo
A Base Nacional Comum contém em si a dimensão de 1º, as competências que o aluno, ao final do Ensino Médio,
preparação para o prosseguimento de estudos e, como tal, deve demonstrar:
deve caminhar no sentido de que a construção de
competências e habilidades básicas, e não o acúmulo de Art. 36, § 1º. “Os conteúdos, as metodologias e as formas de
esquemas resolutivos pré-estabelecidos, seja o objetivo do avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino
processo de aprendizagem. É importante, por exemplo, operar médio o educando demonstre:
com algoritmos na Matemática ou na Física, mas o estudante I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que
precisa entender que, frente àquele algoritmo, está de posse presidem a produção moderna;
de uma sentença da linguagem matemática, com seleção de II - conhecimento das formas contemporâneas de
léxico e com regras de articulação que geram uma significação linguagem;
e que, portanto, é a leitura e escrita da realidade ou de uma III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia
situação desta. Para tanto, deve-se entender que a linguagem necessários ao exercício da cidadania.”
verbal se presta à compreensão ou expressão de um comando
ou instrução clara, precisa, objetiva. Atenção: o Art. 36 da Lei nº 9.394/96 foi alterado!!
A Base Nacional Comum também traz em si a dimensão de
preparação para o trabalho. Esta dimensão tem que apontar Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela
para que aquele mesmo algoritmo seja um instrumento para a Base Nacional Comum Curricular e por itinerários
solução de um problema concreto, que pode dar conta da formativos, que deverão ser organizados por meio da
etapa de planejamento, gestão ou produção de um bem. E, oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a
indicando e relacionando os diversos contextos e práticas relevância para o contexto local e a possibilidade dos

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sistemas de ensino, a saber: (Redação dada pela Lei nº Códigos e suas Tecnologias, Ciências da Natureza, Matemática
13.415, de 2017) e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias –
tem como base a reunião daqueles conhecimentos que
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e das compartilham objetos de estudo e, portanto, mais facilmente
respectivas competências e habilidades será feita de se comunicam, criando condições para que a prática escolar se
acordo com critérios estabelecidos em cada sistema de desenvolva numa perspectiva de interdisciplinaridade.
ensino. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) A estruturação por área de conhecimento justifica-se por
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de assegurar uma educação de base científica e tecnológica, na
2017) qual conceito, aplicação e solução de problemas concretos são
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de combinados com uma revisão dos componentes
2017) socioculturais orientados por uma visão epistemológica que
III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 11.684, de concilie humanismo e tecnologia ou humanismo numa
2008) sociedade tecnológica.
O desenvolvimento pessoal permeia a concepção dos
O perfil de saída do aluno do Ensino Médio está componentes científicos, tecnológicos, socioculturais e de
diretamente relacionado às finalidades desse ensino, linguagens. O conceito de ciências está presente nos demais
conforme determina o Art. 35 da Lei: componentes, bem como a concepção de que a produção do
conhecimento é situada sócio, cultural, econômica e
Art. 35 politicamente, num espaço e num tempo. Cabe aqui
“O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, com reconhecer a historicidade do processo de produção do
duração mínima de três anos, terá como finalidade: conhecimento. Enfim, preconiza-se que a concepção
I - a consolidação e aprofundamento dos conhecimentos curricular seja transdiciplinar e matricial, de forma que as
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o marcas das linguagens, das ciências, das tecnologias e, ainda,
prosseguimento de estudos; dos conhecimentos históricos, sociológicos e filosóficos, como
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do conhecimentos que permitem uma leitura crítica do mundo,
educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o estejam presentes em todos os momentos da prática escolar.
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento A discussão sobre cada uma das áreas de conhecimento
crítico; será apresentada em documento específico, contendo,
III - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos inclusive, as competências que os alunos deverão alcançar ao
dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, concluir o Ensino Médio. De modo geral, estão assim definidas:
no ensino de cada disciplina.”
- Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
É importante compreender que a Base Nacional Comum
não pode constituir uma camisa-de-força que tolha a A linguagem é considerada aqui como capacidade humana
capacidade dos sistemas, dos estabelecimentos de ensino e do de articular significados coletivos em sistemas arbitrários de
educando de usufruírem da flexibilidade que a lei não só representação, que são compartilhados e que variam de
permite, como estimula. Essa flexibilidade deve ser acordo com as necessidades e experiências da vida em
assegurada, tanto na organização dos conteúdos mencionados sociedade. A principal razão de qualquer ato de linguagem é a
em lei, quanto na metodologia a ser desenvolvida no processo produção de sentido.
de ensino-aprendizagem e na avaliação. Podemos, assim, falar em linguagens que se inter-
As considerações gerais sobre a Lei indicam a necessidade relacionam nas práticas sociais e na história, fazendo com que
de construir novas alternativas de organização curricular a circulação de sentidos produza formas sensoriais e
comprometidas, de um lado, com o novo significado do cognitivas diferenciadas. Isso envolve a apropriação
trabalho no contexto da globalização econômica e, de outro, demonstrada pelo uso e pela compreensão de sistemas
com o sujeito ativo que se apropriar-se-á desses simbólicos sustentados sobre diferentes suportes e de seus
conhecimentos, aprimorando-se, como tal, no mundo do instrumentos como instrumentos de organização cognitiva da
trabalho e na prática social. realidade e de sua comunicação. Envolve ainda o
Ressalve-se que uma base curricular nacional organizada reconhecimento de que as linguagens verbais, icônicas,
por áreas de conhecimento não implica a desconsideração ou corporais, sonoras e formais, dentre outras, se estruturam de
o esvaziamento dos conteúdos, mas a seleção e integração dos forma semelhante sobre um conjunto de elementos (léxico) e
que são válidos para o desenvolvimento pessoal e para o de relações (regras) que são significativas:
incremento da participação social. Essa concepção curricular - a prioridade para a Língua Portuguesa, como língua
não elimina o ensino de conteúdos específicos, mas considera materna geradora de significação e integradora da
que os mesmos devem fazer parte de um processo global com organização do mundo e da própria interioridade;
várias dimensões articuladas. - o domínio de língua(s) estrangeira(s) como forma de
O fato de estes Parâmetros Curriculares terem sido ampliação de possibilidades de acesso a outras pessoas e a
organizados em cada uma das áreas por disciplinas potenciais outras culturas e informações;
não significa que estas são obrigatórias ou mesmo - o uso da informática como meio de informação,
recomendadas. O que é obrigatório pela LDB ou pela comunicação e resolução de problemas, a ser utilizada no
Resolução nº 03/98 são os conhecimentos que estas conjunto das atividades profissionais, lúdicas, de
disciplinas recortam e as competências e habilidades a eles aprendizagem e de gestão pessoal;
referidos e mencionados nos citados documentos. - as Artes, incluindo-se a literatura, como expressão
criadora e geradora de significação de uma linguagem e do uso
As três áreas que se faz dos seus elementos e de suas regras em outras
linguagens;
A reforma curricular do Ensino Médio estabelece a divisão - as atividades físicas e desportivas como domínio do
do conhecimento escolar em áreas, uma vez que entende os corpo e como forma de expressão e comunicação.
conhecimentos cada vez mais imbricados aos conhecedores,
seja no campo técnico-científico, seja no âmbito do cotidiano Importa ressaltar o entendimento de que as linguagens e
da vida social. A organização em três áreas – Linguagens, os códigos são dinâmicos e situados no espaço e no tempo,

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com as implicações de caráter histórico, sociológico e processo contínuo e dotado de historicidade; para que
antropológico que isso representa. compreenda o espaço ocupado pelo homem, enquanto espaço
É relevante também considerar as relações com as construído e consumido; para que compreenda os processos
práticas sociais e produtivas e a inserção do aluno como de sociabilidade humana em âmbito coletivo, definindo
cidadão em um mundo letrado e simbólico. A produção espaços públicos e refletindo-se no âmbito da constituição das
contemporânea é essencialmente simbólica e o convívio social individualidades; para que construa a si próprio como um
requer o domínio das linguagens como instrumentos de agente social que intervém na sociedade; para que avalie o
comunicação e negociação de sentidos. sentido dos processos sociais que orientam o constante fluxo
No mundo contemporâneo, marcado por um apelo social, bem como o sentido de sua intervenção nesse processo;
informativo imediato, a reflexão sobre a linguagem e seus para que avalie o impacto das tecnologias no desenvolvimento
sistemas, que se mostram articulados por múltiplos códigos e e na estruturação das sociedades; e para que se aproprie das
sobre os processos e procedimentos comunicativos, é, mais do tecnologias produzidas ou utilizadas pelos conhecimentos da
que uma necessidade, uma garantia de participação ativa na área.
vida social, a cidadania desejada.
Atenção: foi incluído na Lei nº 9.394/96 o Art. 35-A
- Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá
A aprendizagem das Ciências da Natureza, direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
qualitativamente distinta daquela realizada no Ensino conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas
Fundamental, deve contemplar formas de apropriação e seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº
construção de sistemas de pensamento mais abstratos e 13.415, de 2017)
ressignificados, que as trate como processo cumulativo de I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
saber e de ruptura de consensos e pressupostos 13.415, de 2017)
metodológicos. A aprendizagem de concepções científicas II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
atualizadas do mundo físico e natural e o desenvolvimento de 13.415, de 2017)
estratégias de trabalho centradas na solução de problemas é III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído
finalidade da área, de forma a aproximar o educando do pela Lei nº 13.415, de 2017)
trabalho de investigação científica e tecnológica, como IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela
atividades institucionalizadas de produção de conhecimentos, Lei nº 13.415, de 2017)
bens e serviços.
Os estudos nessa área devem levar em conta que a § 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o
Matemática é uma linguagem que busca dar conta de aspectos caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino,
do real e que é instrumento formal de expressão e deverá estar harmonizada à Base Nacional Comum
comunicação para diversas ciências. É importante considerar Curricular e ser articulada a partir do contexto histórico,
que as ciências, assim como as tecnologias, são construções econômico, social, ambiental e cultural. (Incluído pela Lei
humanas situadas historicamente e que os objetos de estudo nº 13.415, de 2017)
por elas construídos e os discursos por elas elaborados não se § 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao
confundem com o mundo físico e natural, embora este seja ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas
referido nesses discursos. Importa ainda compreender que, de educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído
apesar de o mundo ser o mesmo, os objetos de estudo são pela Lei nº 13.415, de 2017)
diferentes, enquanto constructos do conhecimento gerado § 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática
pelas ciências através de leis próprias, as quais devem ser será obrigatório nos três anos do ensino médio,
apropriadas e situadas em uma gramática interna a cada assegurada às comunidades indígenas, também, a
ciência. E, ainda, cabe compreender os princípios científicos utilização das respectivas línguas maternas. (Incluído pela
presentes nas tecnologias, associá-las aos problemas que se Lei nº 13.415, de 2017)
propõe solucionar e resolver os problemas de forma § 4º Os currículos do ensino médio incluirão,
contextualizada, aplicando aqueles princípios científicos a obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão
situações reais ou simuladas. ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo,
Enfim, a aprendizagem na área de Ciências da Natureza, preferencialmente o espanhol, de acordo com a
Matemática e suas Tecnologias indica a compreensão e a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos
utilização dos conhecimentos científicos, para explicar o sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
funcionamento do mundo, bem como planejar, executar e § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da
avaliar as ações de intervenção na realidade. Base Nacional Comum Curricular não poderá ser superior
a mil e oitocentas horas do total da carga horária do ensino
- Ciências Humanas e suas Tecnologias médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino.
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Nesta área, que engloba também a Filosofia, deve-se § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
desenvolver a tradução do conhecimento das Ciências esperados para o ensino médio, que serão referência nos
Humanas em consciências críticas e criativas, capazes de gerar processos nacionais de avaliação, a partir da Base
respostas adequadas a problemas atuais e a situações novas. Nacional Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415,
Dentre estes, destacam-se a extensão da cidadania, que de 2017)
implica o conhecimento, o uso e a produção histórica dos § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar
direitos e deveres do cidadão e o desenvolvimento da a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
consciência cívica e social, que implica a consideração do trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida
outro em cada decisão e atitude de natureza pública ou e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e sócio
particular. emocionais. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
A aprendizagem nesta área deve desenvolver § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de
competências e habilidades para que o aluno entenda a avaliação processual e formativa serão organizados nas
sociedade em que vive como uma construção humana, que se redes de ensino por meio de atividades teóricas e práticas,
reconstrói constantemente ao longo de gerações, num provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades

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on-line, de tal forma que ao final do ensino médio o A parte diversificada do currículo
educando demonstre: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que A parte diversificada do currículo destina-se a atender às
presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
13.415, de 2017) economia e da clientela (Art. 26 da LDB). Complementa a Base
II - conhecimento das formas contemporâneas de Nacional Comum e será definida em cada sistema de ensino e
linguagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) estabelecimento escolar.
Do ponto de vista dos sistemas de ensino, está
Interdisciplinaridade e Contextualização representada pela formulação de uma matriz curricular
básica, que desenvolva a Base Nacional Comum, considerando
Através da organização curricular por áreas e da as demandas regionais do ponto de vista sociocultural,
compreensão da concepção transdisciplinar e matricial, que econômico e político. Deve refletir uma concepção curricular
articula as linguagens, a Filosofia, as ciências naturais e que oriente o Ensino Médio no seu sistema, ressignificando-o,
humanas e as tecnologias, pretendemos contribuir para que, sem impedir, entretanto, a flexibilidade da manifestação dos
gradativamente, se vá superando o tratamento estanque, projetos curriculares das escolas.
compartimentalizado, que caracteriza o conhecimento A parte diversificada do currículo deve expressar, ademais
escolar. das incorporações dos sistemas de ensino, as prioridades
A tendência atual, em todos os níveis de ensino, é analisar estabelecidas no projeto da unidade escolar e a inserção do
a realidade segmentada, sem desenvolver a compreensão dos educando na construção do seu currículo. Considerará as
múltiplos conhecimentos que se interpenetram e conformam possibilidades de preparação básica para o trabalho e o
determinados fenômenos. Para essa visão segmentada aprofundamento em uma disciplina ou uma área, sob forma de
contribui o enfoque meramente disciplinar que, na nova disciplinas, projetos ou módulos em consonância com os
proposta de reforma curricular, pretendemos superado pela interesses dos alunos e da comunidade a que pertencem.
perspectiva interdisciplinar e pela contextualização dos O desenvolvimento da parte diversificada pode ocorrer no
conhecimentos. próprio estabelecimento de ensino ou em outro
Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem a estabelecimento conveniado. É importante esclarecer que o
pretensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas de desenvolvimento da parte diversificada não implica
utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver profissionalização, mas diversificação de experiências
um problema concreto ou compreender um determinado escolares com o objetivo de enriquecimento curricular, ou
fenômeno sob diferentes pontos de vista. Em suma, a mesmo aprofundamento de estudos, quando o contexto assim
interdisciplinaridade tem uma função instrumental. Trata-se exigir. O seu objetivo principal é desenvolver e consolidar
de recorrer a um saber diretamente útil e utilizável para conhecimentos das áreas, de forma contextualizada,
responder às questões e aos problemas sociais referindo-os a atividades das práticas sociais e produtivas.
contemporâneos. Estas são as questões consideradas centrais para a
Na proposta de reforma curricular do Ensino Médio, a compreensão da nova proposta curricular do Ensino Médio.
interdisciplinaridade deve ser compreendida a partir de uma As informações apresentadas neste texto têm como objetivo
abordagem relacional, em que se propõe que, por meio da discutir, em linhas gerais, a reforma curricular do Ensino
prática escolar, sejam estabelecidas interconexões e Médio em seus principais elementos. A intenção é situar os
passagens entre os conhecimentos através de relações de leitores – professores, técnicos de educação e demais
complementaridade, convergência ou divergência. interessados na questão educacional – sobre os aspectos
A integração dos diferentes conhecimentos pode criar as considerados centrais da nova concepção para o Ensino
condições necessárias para uma aprendizagem motivadora, Médio.
na medida em que ofereça maior liberdade aos professores e
alunos para a seleção de conteúdos mais diretamente As partes II, II e IV se referem a cada área de
relacionados aos assuntos ou problemas que dizem respeito à conhecimento, conforme a disposição da Resolução CEB/CNE
vida da comunidade. Todo conhecimento é socialmente nº 3/98:
comprometido e não há conhecimento que possa ser - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias;
aprendido e recriado se não se parte das preocupações que as - Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias;
pessoas detêm. O distanciamento entre os conteúdos - Ciências Humanas e suas Tecnologias.
programáticos e a experiência dos alunos certamente
responde pelo desinteresse e até mesmo pela deserção que Nessas partes, o leitor encontrará a fundamentação
constatamos em nossas escolas. Conhecimentos selecionados teórica de cada área, orientações quanto à seleção de
a priori tendem a se perpetuar nos rituais escolares, sem conteúdos e métodos a serem desenvolvidos em cada
passar pela crítica e reflexão dos docentes, tornando-se, desta disciplina potencial e as competências e habilidades que os
forma, um acervo de conhecimentos quase sempre esquecidos alunos deverão ter construído ao longo da Educação Básica.
ou que não se consegue aplicar, por se desconhecer suas
relações com o real. Portanto, orientamos que estude a área de conhecimento
A aprendizagem significativa pressupõe a existência de respectivamente ligada à disciplina que leciona e que irá
um referencial que permita aos alunos identificar e se “prestar” o concurso.
identificar com as questões propostas. Essa postura não
implica permanecer apenas no nível de conhecimento que é Questões
dado pelo contexto mais imediato, nem muito menos pelo
senso comum, mas visa a gerar a capacidade de compreender 01. (Pref. Tremembé-SP – Oficial de Escola – Instituto
e intervir na realidade, numa perspectiva autônoma e Excelência/2017) Os PCNs elegeram Os seguintes princípios
desalienante. Ao propor uma nova forma de organizar o para orientar a educação escolar: dignidade da pessoa
currículo, trabalhado na perspectiva interdisciplinar e humana; igualdade de direitos; participação pela vida social,
contextualizada, parte-se do pressuposto de que toda pois os PCNs estão articulados com os propósitos do Plano
aprendizagem significativa implica uma relação sujeito-objeto Nacional de Educação (PNE) do Ministério da Educação (MEC)
e que, para que esta se concretize, é necessário oferecer as e, dessa forma, propõem uma educação comprometida com a
condições para que os dois polos do processo interajam.

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cidadania, elegendo, baseados no texto constitucional, III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído
princípios para orientar a educação escolar. pela Lei nº 13.415, de 2017)
Assinale a alternativa que indica o principal critério desta IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela
proposta dos PCNs: Lei nº 13.415, de 2017)
(A) Interpretar os fatores determinantes das diferenças
individuais como preponderantes para o estudo das relações As Orientações Curriculares para o Ensino Médio foram
humanas. elaboradas a partir de ampla discussão com as equipes
(B) Visar à dignidade da pessoa humana, igualdade de técnicas dos Sistemas Estaduais de Educação, professores e
direitos, participação e corresponsabilidade pela vida social alunos da rede pública e representantes da comunidade
são algumas de suas balizas. acadêmica. O objetivo deste material é contribuir para o
(C) Expressar a definição ‘comportamento humano. diálogo entre professor e escola sobre a prática docente.
(D) Nenhuma das alternativas. A qualidade da escola é condição essencial de inclusão e
democratização das oportunidades no Brasil, e o desafio de
02. (SEDUC/CE - Professor Pleno I – CESPE). No que se oferecer uma educação básica de qualidade para a inserção do
refere aos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino aluno, o desenvolvimento do país e a consolidação da
Médio (PCNEM), assinale a opção correta. cidadania é tarefa de todos.
(A) A concepção curricular presente nos PCNEM elimina o Para garantir a democratização do acesso e as condições
ensino de conteúdos específicos e considera que estes de permanência na escola durante as três etapas da educação
fragilizam o processo global de ensino com várias dimensões básica – educação infantil, ensino fundamental e médio –, o
articuladas governo federal elaborou a proposta do Fundeb (Fundo de
(B) O desenvolvimento da parte diversificada do currículo Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
implica a profissionalização e a diversificação de experiências Valorização dos Profissionais da Educação). A Proposta de
escolares com o objetivo de preparação para o mercado de Emenda à Constituição (PEC) do Fundeb foi construída com a
trabalho. participação dos dirigentes das redes de ensino e de diversos
(C) A organização curricular proposta nos PCNEM busca segmentos da sociedade. Dessa forma, colocou-se acima das
dar significado ao conhecimento escolar, mediante a diferenças o interesse maior pela educação pública de
compartimentalização e o acúmulo de informações. qualidade.
(D) A Base Nacional Comum abrange a dimensão de Entre as várias ações de fortalecimento do ensino médio
preparação para o prosseguimento de estudos e, nesse destacam-se o Prodeb (Programa de Equalização das
sentido, a construção de competências e habilidades básicas Oportunidades de Acesso à Educação Básica) e a
constitui o objetivo do processo de aprendizagem. implementação do PNLEM (Programa Nacional do Livro do
(E) Para assegurar a unidade de ação nos sistemas de Ensino Médio). A Secretaria de Educação Básica do MEC
ensino, a flexibilidade não pode ser um princípio na passou a publicar ainda livros para o professor, a fim de apoiar
organização dos conteúdos mencionados em lei, mas somente o trabalho científico e pedagógico do docente em sala de aula.
na metodologia a ser desenvolvida no processo de ensino- A institucionalização do ensino médio integrado à
aprendizagem e na avaliação. educação profissional rompeu com a dualidade que
historicamente separou os estudos preparatórios para a
Respostas educação superior da formação profissional no Brasil e deverá
contribuir com a melhoria da qualidade nessa etapa final da
01. B / 02. D educação básica.
A formação inicial e continuada também passa a ser
oferecida em parceria com as Secretarias de Educação e
Orientações Curriculares instituições de ensino superior para a formação dos
professores, com a implantação do Pró-Licenciatura, do
Nacionais para o Ensino Médio.
ProUni (Programa Universidade para Todos) e da
Universidade Aberta do Brasil.
Preparar o jovem para participar de uma sociedade
Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio complexa como a atual, que requer aprendizagem autônoma e
contínua ao longo da vida, é o desafio que temos pela frente.
As Orientações Curriculares nacionais para o Ensino Médio Esta publicação não é um manual ou uma cartilha a ser
foram elaboradas em 3 volumes, sendo: seguida, mas um instrumento de apoio à reflexão do professor
a ser utilizado em favor do aprendizado. Esperamos que cada
Volume I - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias um de vocês aproveite estas orientações como estímulo à
Volume II - Ciências da Natureza, Matemática e suas revisão de práticas pedagógicas, em busca da melhoria do
Tecnologias ensino.
Volume III - Ciências Humanas e suas Tecnologias
Ministério da Educação
Lembrando que foi incluído na Lei nº 9.394/96 o Art. 35- Secretaria de Educação Básica
A que divide a aprendizagem em 4 áreas do conhecimento:
Os atuais marcos legais para oferta do ensino médio,
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá consubstanciados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, Nacional (nº. 9394/96), representam um divisor na
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas construção da identidade da terceira etapa da educação básica
seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº brasileira. Dois aspectos merecem destaque.
13.415, de 2017) O primeiro diz respeito às finalidades atribuídas ao ensino
I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº médio: o aprimoramento do educando como ser humano, sua
13.415, de 2017) formação ética, desenvolvimento de sua autonomia intelectual
II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº e de seu pensamento crítico, sua preparação para o mundo do
13.415, de 2017) trabalho e o desenvolvimento de competências para continuar
seu aprendizado. (Art. 35)

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O segundo propõe a organização curricular com os e ao adolescente serão incluídos, como temas transversais,
seguintes componentes: nos currículos escolares de que trata o caput deste artigo,
- base nacional comum, a ser complementada, em cada tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte (Estatuto da Criança e do Adolescente), observada a
diversificada que atenda a especificidades regionais e locais da produção e distribuição de material didático adequado.
sociedade, da cultura, da economia e do próprio aluno (Art. § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
26); caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular
- planejamento e desenvolvimento orgânico do currículo, dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação
superando a organização por disciplinas estanques; e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.
- integração e articulação dos conhecimentos em processo (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
permanente de interdisciplinaridade e contextualização;
- proposta pedagógica elaborada e executada pelos O grande avanço determinado por tais diretrizes consiste
estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e na possibilidade objetiva de pensar a escola a partir de sua
as de seu sistema de ensino; própria realidade, privilegiando o trabalho coletivo.
- participação dos docentes na elaboração da proposta Ao se tratar da organização curricular tem-se a consciência
pedagógica do estabelecimento de ensino. de que a essência da organização escolar é, pois, contemplada.
Por outro lado, um conjunto de questões emerge, uma vez que
Atenção: o Art. 26 da Lei nº 9.394/96 foi alterado!! o currículo traz na sua construção o tratamento das dimensões
histórico-social e epistemológica. A primeira afirma o valor
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino histórico e social do conhecimento; a segunda impõe a
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional necessidade de reconstruir os procedimentos envolvidos na
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e produção dos conhecimentos.
em cada estabelecimento escolar, por uma parte Além disso, a política curricular deve ser entendida como
diversificada, exigida pelas características regionais e expressão de uma política cultural, na medida em que
locais da sociedade, da cultura, da economia e dos seleciona conteúdos e práticas de uma dada cultura para
educandos. serem trabalhados no interior da instituição escolar.
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem Trata-se de uma ação de fôlego: envolve crenças, valores e,
abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua às vezes, o rompimento com práticas arraigadas.
portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo A Secretaria de Educação Básica, por intermédio do
físico e natural e da realidade social e política, Departamento de Política do Ensino Médio, encaminha para os
especialmente do Brasil. professores o documento Orientações Curriculares para o
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões Ensino Médio com a intenção de apresentar um conjunto de
regionais, constituirá componente curricular obrigatório reflexões que alimente a sua prática docente.
da educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de A proposta foi desenvolvida a partir da necessidade
2017) expressa em encontros e debates com os gestores das
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica Secretarias Estaduais de Educação e aqueles que, nas
da escola, é componente curricular obrigatório da universidades, vêm pesquisando e discutindo questões
educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: relativas ao ensino das diferentes disciplinas. A demanda era
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a pela retomada da discussão dos Parâmetros Curriculares
seis horas; Nacionais do Ensino Médio, não só no sentido de aprofundar a
II – maior de trinta anos de idade; compreensão sobre pontos que mereciam esclarecimentos,
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, como também, de apontar e desenvolver indicativos que
em situação similar, estiver obrigado à prática da pudessem oferecer alternativas didático-pedagógicas para a
educação física; organização do trabalho pedagógico, a fim de atender às
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de necessidades e às expectativas das escolas e dos professores
outubro de 1969; na estruturação do currículo para o ensino médio.
V – (Vetado) A elaboração das reflexões que o Ministério da Educação
VI – que tenha prole. traz aos professores iniciou em 2004. Desde então, definiu-se
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as um encaminhamento de trabalho que garantisse a articulação
contribuições das diferentes culturas e etnias para a de representações da universidade, das Secretarias Estaduais
formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes de Educação e dos professores para alcançar uma produção
indígena, africana e europeia. final que respondesse a necessidades reais da relação de
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do ensino e aprendizagem.
sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada Para dar partida a essa tarefa, constituiu-se um grupo de
pela Lei nº 13.415, de 2017) trabalho multidisciplinar com professores que atuam em
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linhas de pesquisa voltadas para o ensino, objetivando traçar
linguagens que constituirão o componente curricular de um documento preliminar que suscitasse o debate sobre
que trata o § 2º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº conteúdos de ensino médio e procedimentos didático-
13.278, de 2016) pedagógicos, contemplando as especificidades de cada
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a disciplina do currículo.
critério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas Na elaboração de material específico para cada disciplina
envolvendo os temas transversais de que trata o caput. do currículo do ensino médio, o grupo procurou estabelecer o
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) diálogo necessário para garantir a articulação entre as mesmas
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional áreas de conhecimento.
constituirá componente curricular complementar A publicação do documento preliminar ensejou a
integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua realização de cinco Seminários Regionais e de um Seminário
exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas Nacional sobre o Currículo do Ensino Médio. A pauta que
mensais. orientou as reuniões tratou da especificidade e do currículo do
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à ensino médio, tendo como referência esse documento.
prevenção de todas as formas de violência contra a criança

Legislação Básica em Educação 55


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A análise dessa produção contou com representantes das


Equipes Técnicas das Secretarias Estaduais de Educação, com Diretrizes Curriculares
professores de cada estado participante e, em alguns casos, Nacionais para a Educação de
com a representação de alunos.
Após os seminários, deu-se início ao processo bastante
Jovens e Adultos.
intenso de consolidação das análises e considerações
levantadas nos debates e à apresentação do trabalho a demais
professores-pesquisadores para leitura crítica do resultado MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
alcançado. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO2
Assim, este documento que chega à escola é fruto de
discussões e contribuições dos diferentes segmentos Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de
envolvidos com o trabalho educacional. O próprio processo, Jovens e Adultos
envolvendo diferentes representações e focos de análise,
indica a natureza do texto cujo resultado está aqui Parecer CEB nº: 11/2000
apresentado. Isto é, um material que apresenta e discute
questões relacionadas ao currículo escolar e a cada disciplina I- Introdução
em particular.
O currículo é a expressão dinâmica do conceito que a A Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional
escola e o sistema de ensino têm sobre o desenvolvimento dos de Educação (CNE) teve aprovados o Parecer CEB nº 4 em 29
seus alunos e que se propõe a realizar com e para eles. de janeiro de 1998 e o Parecer CEB nº 15 de 1º de junho de
Portanto, qualquer orientação que se apresente não pode 1998 e de cujas homologações, pelo Sr. Ministro de Estado da
chegar à equipe docente como prescrição quanto ao trabalho a Educação, resultaram também as respectivas Resoluções CEB
ser feito. nº 2 de 15/4 e CEB nº 3 de 23/6, ambas de 1998. O primeiro
O Projeto Pedagógico e o Currículo da Escola devem ser conjunto versa sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para
objetos de ampla discussão para que suas propostas se o Ensino Fundamental e o segundo sobre as Diretrizes
aproximem sempre mais do currículo real que se efetiva no Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
interior da escola e de cada sala de aula. Isto significou que, do ponto de vista da normatização da
É oportuno lembrar que os debates dos diferentes grupos Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Câmara de
manifestaram grandes preocupações com as bases materiais Educação Básica respondia à sua atribuição de deliberar sobre
do trabalho docente. Certamente a situação funcional da as diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da
equipe escolar, envolvendo jornada de trabalho, programas de Educação e do Desporto (art. 9º § 1º, c da lei n. 4.024/61, com
desenvolvimento profissional e condições de organização do a versão dada pela Lei n. 9.131/95). Logicamente estas
trabalho pedagógico, tem um peso significativo para o êxito do diretrizes se estenderiam e passariam a viger para a educação
processo de ensino-aprendizagem. de jovens e adultos (EJA), objeto do presente parecer. A EJA, de
Cabe à equipe docente analisar e selecionar os pontos que acordo com a Lei 9.394/96, passando a ser uma modalidade da
merecem aprofundamento. O documento apresentado tem por educação básica nas etapas do ensino fundamental e médio,
intenção primeira trazer referências e reflexões de ordem usufrui de uma especificidade própria que, como tal deveria
estrutural que possam, com base no estudo realizado, agregar receber um tratamento consequente.
elementos de apoio à sua proposta de trabalho. Ao mesmo tempo, muitas dúvidas assolavam os muitos
A Secretaria de Educação Básica, por meio do interessados no assunto. Os sistemas, por exemplo, que
Departamento de Políticas de Ensino Médio busca incentivar, sempre se houveram com o antigo ensino supletivo, passaram
com esta publicação, a comunidade escolar para que conceba a solicitar esclarecimentos específicos junto ao Conselho
a prática cotidiana como objeto de reflexão permanente. Nacional de Educação. Do mesmo modo, associações,
Somente assim, se encontrará um caminho profícuo para a organizações e entidades o fizeram. Fazendo jus ao disposto
educação. no art. 90 da LDB, a CEB, dando respostas caso a caso,
amadureceu uma compreensão que isto não era suficiente.
Diretoria do Departamento de Políticas de Ensino Médio Era preciso uma apreciação de maior fôlego. O presente
parecer se ocupa das diretrizes da EJA cuja especificidade se
Os volumes se referem a cada área de conhecimento, compõe com os pareceres supra citados.
conforme a disposição: Ao mesmo tempo, o Ministério da Educação e do Desporto
- Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; (MEC), em 1999, por meio de sua Coordenadoria de Educação
- Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; de Jovens e Adultos (COEJA), ao se reunir com o responsáveis
- Ciências Humanas e suas Tecnologias. por esta modalidade de educação nos sistemas, houve por bem
encaminhar a esta Câmara um pedido de audiência pública a
Nesses volumes, o leitor encontrará a fundamentação fim de que as demandas e questões pudessem obter uma
teórica de cada área, orientações quanto à seleção de resposta mais estrutural. Dado o caráter sistemático que esta
conteúdos e métodos a serem desenvolvidos em cada forma pública e dialogal de se correlacionar com a comunidade
disciplina potencial e as competências e habilidades que os educacional vem marcando a presença do CNE, a proposta foi
alunos deverão ter construído ao longo da Educação aceita e, na reunião de setembro de 1999, o presidente da
Básica. Câmara de Educação Básica indicou relator para proceder a
um estudo mais completo sobre o assunto e que fosse de
Portanto, orientamos que estude a área de caráter interativo com os interessados.
conhecimento respectivamente ligada à disciplina que A partir daí a CEB, estudando colegiadamente a matéria,
leciona e que irá “prestar” o concurso. passou a ouvir a comunidade educacional brasileira. As
audiências públicas, realizadas em 29 de fevereiro de 2000 em
Fortaleza, em 23 de março de 2000 em Curitiba e em 4 de abril
de 2000 em Brasília, foram ocasião para se reunir com

http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/eja/legislacao/parecer_11_2000.p
df

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representantes dos órgãos normativos e executivos dos É importante reiterar, desde o início, que este parecer se
sistemas, com as várias entidades educacionais e associações dirige aos sistemas de ensino e seus respectivos
científicas e profissionais da sociedade civil hoje existentes no estabelecimentos que venham a se ocupar da educação de
Brasil. jovens e adultos sob a forma presencial e semipresencial de
Duas teleconferências sobre a Formação de Educadores cursos e tenham como objetivo o fornecimento de certificados
para Jovens e Adultos, promovidas pela Universidade de de conclusão de etapas da educação básica. Para tais
Brasília (UnB) e o Serviço Social da Indústria (SESI), com o estabelecimentos, as diretrizes aqui expostas são obrigatórias
apoio da UNESCO, contaram com a presença da Câmara de bem como será obrigatória uma formação docente que lhes
Educação Básica representada pela relatoria das diretrizes seja consequente. Estas diretrizes compreendem, pois, a
curriculares nacionais desta modalidade de educação. Tais educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por
eventos se deram, respectivamente, em 28/11/99 e 18/04/00. meio do ensino, em instituições próprias. (art.1º , § 1º da LDB).
Tais iniciativas e encontros, intermediados por sessões Isto não impede, porém, que as diretrizes sirvam como um
regulares da CEB, sempre com a presença de representantes referencial pedagógico para aquelas iniciativas que, autônoma
do MEC, foram fundamentais para pensar e repensar os e livremente, a sociedade civil no seu conjunto e na sua
principais tópicos da estrutura do parecer. As sugestões, as multiplicidade queira desenvolver por meio de programas de
críticas e as propostas foram abundantes e cobriram desde educação no sentido largo definido no caput do art. 1º da LDB
aspectos pontuais até os de fundamentação teórica. e que não visem certificados oficiais de conclusão de estudos
Ao lado desta presença qualificada de setores ou de etapas da educação escolar propriamente dita.
institucionais da comunidade educacional convocada a dar sua
contribuição, deve-se acrescentar o apoio solidário e crítico de 2. Conceito e funções da EJA
inúmeros fóruns compromissados com a EJA e de muitos
interessados que, por meio de cartas, ofícios e outros meios, A focalização das políticas públicas no ensino fundamental,
quiseram construir com a relatoria um texto que, a múltiplas universal e obrigatório conveniente à relação idade
mãos, respondesse à dignidade do assunto. própria/ano escolar ampliou o espectro de crianças nele
presentes. Hoje, é notável a expansão desta etapa do ensino e
II - Fundamentos e Funções da EJA há um quantitativo de vagas cada vez mais crescente a fim de
fazer jus ao princípio da obrigatoriedade face às crianças em
1. Definições prévias idade escolar. Entretanto, as presentes condições sociais
adversas e as sequelas de um passado ainda mais perverso se
Do Brasil e de suas presumidas identidades muito já se associam a inadequados fatores administrativos de
disse. São bastante conhecidas as imagens ou modelos do país planejamento e dimensões qualitativas internas à
cujos conceitos operatórios de análise se baseiam em pares escolarização e, nesta medida, condicionam o sucesso de
opostos e duais: “Dois Brasis”, “oficial e real “, “Casa Grande e muitos alunos. A média nacional de permanência na escola na
Senzala”, “o tradicional e o moderno”, capital e interior, urbano etapa obrigatória (oito anos) fica entre quatro e seis anos. E os
e rural, cosmopolita e provinciano, litoral e sertão assim como oito anos obrigatórios acabam por se converter em 11 anos, na
os respectivos “tipos” que os habitariam e os constituiriam. A média, estendendo a duração do ensino fundamental quando
esta tipificação em pares opostos, por vezes incompleta ou os alunos já deveriam estar cursando o ensino médio.
equivocada, não seria fora de propósito acrescentar outros Expressão desta realidade são a repetência, a reprovação e a
ligados à esfera do acesso e domínio da leitura e escrita que evasão, mantendo-se e aprofundando-se a distorção
ainda descrevem uma linha divisória entre brasileiros: idade/ano e retardando um acerto definitivo no fluxo escolar.
alfabetizados/analfabetos, letrados/iletrados. Muitos Embora abrigue 36 milhões de crianças no ensino
continuam não tendo acesso à escrita e leitura, mesmo fundamental, o quadro socioeducacional seletivo continua a
minimamente; outros têm iniciação de tal modo precária reproduzir excluídos dos ensinos fundamental e médio,
nestes recursos, que são mesmo incapazes de fazer uso mantendo adolescentes, jovens e adultos sem escolaridade
rotineiro e funcional da escrita e da leitura no dia a dia. Além obrigatória completa.
disso, pode-se dizer que o acesso a formas de expressão e de Mesmo assim, deve-se afirmar, inclusive com base em
linguagem baseadas na microeletrônica são indispensáveis estatísticas atualizadas, que, nos últimos anos, os sistemas de
para uma cidadania contemporânea e até mesmo para o ensino desenvolveram esforços no afã de propiciar um
mercado de trabalho. No universo composto pelos que atendimento mais aberto a adolescentes e jovens tanto no que
dispuserem ou não deste acesso, que supõe ele mesmo a se refere ao acesso à escolaridade obrigatória, quanto a
habilidade de leitura e escrita (ainda não universalizadas), um iniciativas de caráter preventivo para diminuir a distorção
novo divisor entre cidadãos pode estar em curso. idade/ano.6 Como exemplos destes esforços temos os ciclos de
Para o universo educacional e administrativo a que este formação e as classes de aceleração. As classes de aceleração e
parecer se destina - o dos cursos autorizados, reconhecidos e a educação de jovens e adultos são categorias diferentes. As
credenciados no âmbito do art. 4º, VII da LDB e dos exames primeiras são um meio didático-pedagógico e pretendem, com
supletivos com iguais prerrogativas - parece ser significativo metodologia própria, dentro do ensino na faixa de sete a
apresentar as diretrizes curriculares nacionais da educação de quatorze anos, sincronizar o ingresso de estudantes com a
jovens e adultos dentro de um quadro referencial mais amplo. distorção idade/ano escolar, podendo avançar mais
Daí porque a estrutura do parecer, remetendo-se às celeremente no seu processo de aprendizagem. Já a EJA é uma
diretrizes curriculares nacionais para o ensino fundamental e categoria organizacional constante da estrutura da educação
ensino médio já homologadas, contém, além da introdução, os nacional, com finalidades e funções específicas.
seguintes tópicos: fundamentos e funções, bases legais das O Brasil continua exibindo um número enorme de
diretrizes curriculares nacionais da EJA (bases histórico-legais analfabetos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
e atuais), educação de jovens e adultos–hoje (cursos de EJA, (IBGE) aponta, no ano de 1996, 15.560.260 pessoas
exames supletivos, cursos a distância e no exterior, plano analfabetas na população de 15 anos de idade ou mais,
nacional de educação), bases histórico-sociais da EJA, perfazendo 14,7% do universo de 107.534.609 pessoas nesta
iniciativas públicas e privadas, indicadores estatísticos da EJA, faixa populacional. Apesar de queda anual e de marcantes
formação docente para a EJA e diretrizes curriculares diferenças regionais e setoriais, a existência de pessoas que
nacionais e o direito à educação. não sabem ler ou escrever por falta de condições de acesso ao
processo de escolarização deve ser motivo de autocrítica

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constante e severa. São Paulo, o estado mais populoso do país, outros9. Impedidos da plena cidadania, os descendentes
possui um contingente de 1.900.000 analfabetos. É de se notar destes grupos ainda hoje sofrem as consequências desta
que, segundo as estatísticas oficiais, o maior número de realidade histórica. Disto nos dão prova as inúmeras
analfabetos se constitui de pessoas: com mais idade, de regiões estatísticas oficiais. A rigor, estes segmentos sociais, com
pobres e interioranas e provenientes dos grupos afro- especial razão negros e índios, não eram considerados como
brasileiros. Muitos dos indivíduos que povoam estas cifras são titulares do registro maior da modernidade: uma igualdade
os candidatos aos cursos e exames do ainda conhecido como que não reconhece qualquer forma de discriminação e de
ensino supletivo.7 preconceito com base em origem, raça, sexo, cor idade, religião
Nesta ordem de raciocínio, a Educação de Jovens e Adultos e sangue entre outros. Fazer a reparação desta realidade,
(EJA) representa uma dívida social não reparada para com os dívida inscrita em nossa história social e na vida de tantos
que não tiveram acesso a e nem domínio da escrita e leitura indivíduos, é um imperativo e um dos fins da EJA porque
como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido a força reconhece o advento para todos deste princípio de
de trabalho empregada na constituição de riquezas e na igualdade."do que na presença de aptidões, saberes e na
elevação de obras públicas. Ser privado deste acesso é, de fato, virtualidade das pessoas socialmente estigmatizadas como
a perda de um instrumento imprescindível para uma presença pouco lógicas ou como destituídas de densidade psicológica.
significativa na convivência social contemporânea. Também opor obstáculos ao acesso de mulheres à cultura
Esta observação faz lembrar que a ausência da letrada faz parte da tradição patriarcal e machista que, por
escolarização não pode e nem deve justificar uma visão longo tempo, preponderou entre muitas famílias no Brasil.
preconceituosa do analfabeto ou iletrado como inculto ou Desse modo, a função reparadora da EJA, no limite,
"vocacionado" apenas para tarefas e funções "desqualificadas" significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela
nos segmentos de mercado. Muitos destes jovens e adultos restauração de um direito negado: o direito a uma escola de
dentro da pluralidade e diversidade de regiões do país, dentro qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade
dos mais diferentes estratos sociais, desenvolveram uma rica ontológica de todo e qualquer ser humano. Desta negação,
cultura baseada na oralidade da qual nos dão prova, entre evidente na história brasileira, resulta uma perda: o acesso a
muitos outros, a literatura de cordel, o teatro popular, o um bem real, social e simbolicamente importante. Logo, não se
cancioneiro regional, os repentistas, as festas populares, as deve confundir a noção de reparação com a de suprimento.
festas religiosas e os registros de memória das culturas afro- Como diz o Parecer CNE/CEB nº 4/98:
brasileira e indígena.8
Nada mais significativo e importante para a construção da
A excessiva ênfase nos aspectos lacunosos do cidadania do que a compreensão de que a cultura não existiria
analfabetismo pode mascarar formas de riqueza cultural e de sem a socialização das conquistas humanas. O sujeito anônimo
potencial humano e conduzir a uma metodologia pedagógica é, na verdade, o grande artesão dos tecidos da história.
mais forte na "ausência
Como diz a professora Magda Soares (1998): Lemos também na Declaração de Hamburgo sobre a
Educação de Adultos, de 1997, da qual o Brasil é signatário,
...um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado ...a alfabetização, concebida como o conhecimento básico,
social e economicamente, mas, se vive em um meio em que a necessário a todos, num mundo em transformação, é um
leitura e a escrita têm presença forte, se se interessa em ouvir a direito humano fundamental. Em toda a sociedade, a
leitura de jornais feita por um alfabetizado, se recebe cartas que alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um
outros leem para ele, se dita cartas para que um alfabetizado as dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades. (...)
escreva, ..., se pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações O desafio é oferecer-lhes esse direito... A alfabetização tem
afixados em algum lugar, esse analfabeto é, de certa forma, também o papel de promover a participação em atividades
letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser um
de leitura e de escrita. (p. 24) requisito básico para a educação continuada durante a vida.

Esta dimensão sociocultural do letramento é reforçada A incorporação dos códigos relativos à leitura e à escrita
pela professora Leda Tfouni: por parte dos alfabetizados e letrados, tornando-os quase que
"naturais", e o caráter comum da linguagem oral, obscurece o
O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos sócio quanto o acesso a estes bens representa um meio e
históricos da aquisição da escrita. Entre outros casos, procura instrumento de poder. Quem se vê privado deles ou assume
estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam este ponto de vista pode aquilatar a perda que deles advém e
um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; as consequências materiais e simbólicas decorrentes da
procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as negação deste direito fundamental face, inclusive, a novas
práticas "letradas" em sociedades ágrafas. ( 9-10) formas de estratificação social.
O término de uma tal discriminação não é uma tarefa
Igualmente deve-se considerar a riqueza das exclusiva da educação escolar. Esta e outras formas de
manifestações cujas expressões artísticas vão da cozinha ao discriminação não têm o seu nascedouro na escola. A educação
trabalho em madeira e pedra, entre outras, atestam escolar, ainda que imprescindível, participa dos sistemas
habilidades e competências insuspeitas. sociais, mas ela não é o todo destes sistemas. Daí que a busca
De todo modo, o não estar em pé de igualdade no interior de uma sociedade menos desigual e mais justa continue a ser
de uma sociedade predominantemente grafocêntrica, onde o um alvo a ser atingido em países como o Brasil.
código escrito ocupa posição privilegiada revela-se como Contudo, dentro de seus limites, a educação escolar
problemática a ser enfrentada. Sendo leitura e escrita bens possibilita um espaço democrático de conhecimento e de
relevantes, de valor prático e simbólico, o não acesso a graus postura tendente a assinalar um projeto de sociedade menos
elevados de letramento é particularmente danoso para a desigual. Questionar, por si só, a virtude igualitária da
conquista de uma cidadania plena. educação escolar não é desconhecer o seu potencial. Ela pode
Suas raízes são de ordem histórico-social. No Brasil, esta auxiliar na eliminação das discriminações e, nesta medida,
realidade resulta do caráter subalterno atribuído pelas elites abrir espaço para outras modalidades mais amplas de
dirigentes à educação escolar de negros escravizados, índios liberdade. A universalização dos ensinos fundamental e médio
reduzidos, caboclos migrantes e trabalhadores braçais, entre libera porque o acesso aos conhecimentos científicos

Legislação Básica em Educação 58


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virtualiza uma conquista da racionalidade sobre poderes adultos na escola e uma alternativa viável em função das
assentados no medo e na ignorância e possibilita o exercício especificidades socioculturais destes segmentos para os quais
do pensamento sob o influxo de uma ação sistemática. Ela é se espera uma efetiva atuação das políticas sociais. É por isso
também uma via de reconhecimento de si, da autoestima e do que a EJA necessita ser pensada como um modelo pedagógico
outro como igual. De outro lado, a universalização do ensino próprio a fim de criar situações pedagógicas e satisfazer
fundamental, até por sua história, abre caminho para que mais necessidades de aprendizagem de jovens e adultos.
cidadãos possam se apropriar de conhecimentos avançados Esta função reparadora da EJA se articula com o pleito
tão necessários para a consolidação de pessoas mais solidárias postulado por inúmeras pessoas que não tiveram uma
e de países mais autônomos e democráticos. E, num mercado adequada correlação idade/ano escolar em seu itinerário
de trabalho onde a exigência do ensino médio vai se impondo, educacional e nem a possibilidade de prosseguimento de
a necessidade do ensino fundamental é uma verdadeira estudos. Neste momento a igualdade perante a lei, ponto de
corrida contra um tempo de exclusão não mais tolerável. chegada da função reparadora, se torna um novo ponto de
Tanto a crítica à formação hierárquica da sociedade partida para a igualdade de oportunidades. A função
brasileira, quanto a inclusão do conjunto dos brasileiros equalizadora da EJA vai dar cobertura a trabalhadores e a
vítimas de uma história excludente estão por se completar em tantos outros segmentos sociais como donas de casa,
nosso país. A barreira posta pela falta de alcance à leitura e à migrantes, aposentados e encarcerados. A reentrada no
escrita prejudica sobremaneira a qualidade de vida de jovens sistema educacional dos que tiveram uma interrupção forçada
e de adultos, estes últimos incluindo também os idosos, seja pela repetência ou pela evasão, seja pelas desiguais
exatamente no momento em que o acesso ou não ao saber e oportunidades de permanência ou outras condições adversas,
aos meios de obtê-lo representam uma divisão cada vez mais deve ser saudada como uma reparação corretiva, ainda que
significativa entre as pessoas. No século que se avizinha, e que tardia, de estruturas arcaicas, possibilitando aos indivíduos
está sendo chamado de "o século do conhecimento", mais e novas inserções no mundo do trabalho, na vida social, nos
mais saberes aliados a competências tornar-se-ão espaços da estética e na abertura dos canais de participação.
indispensáveis para a vida cidadã e para o mundo do trabalho. Para tanto, são necessárias mais vagas para estes "novos"
E esta é uma das funções da escola democrática que, alunos e "novas" alunas, demandantes de uma nova
assentada no princípio da igualdade e da liberdade, é um oportunidade de equalização.
serviço público. Por ser um serviço público, por ser direito de Tais demandantes, segundo o Parecer CNE/CEB nº 15/98,
todos e dever do Estado, é obrigação deste último interferir no têm um perfil a ser considerado cuja caracterização se estende
campo das desigualdades e, com maior razão no caso também aos postulantes do ensino fundamental:
brasileiro, no terreno das hierarquias sociais, por meio de
políticas públicas. O acesso a este serviço público é uma via de ...são adultos ou jovens adultos, via de regra mais pobres e
chegada a patamares que possibilitam maior igualdade no com vida escolar mais acidentada. Estudantes que aspiram a
espaço social. Tão pesada quanto a iníqua distribuição da trabalhar, trabalhadores que precisam estudar, a clientela do
riqueza e da renda é a brutal negação que o sujeito iletrado ou ensino médio tende a tornar-se mais heterogênea, tanto etária
analfabeto pode fazer de si mesmo no convívio social. Por isso quanto socioeconomicamente, pela incorporação crescente de
mesmo, várias instituições são chamadas à reparação desta jovens adultos originários de grupos sociais, até o presente, sub
dívida. Este serviço, função cogente do Estado, se dá não só via – representados nessa etapa da escolaridade.
complementaridade entre os poderes públicos, sob o regime
de colaboração, mas também com a presença e a cooperação Não se pode considerar a EJA e o novo conceito que a
das instituições e setores organizados da sociedade civil. A orienta apenas como um processo inicial de alfabetização. A
igualdade e a liberdade tornam-se, pois, os pressupostos EJA busca formar e incentivar o leitor de livros e das múltiplas
fundamentais do direito à educação, sobretudo nas sociedades linguagens visuais juntamente com as dimensões do trabalho
politicamente democráticas e socialmente desejosas de uma e da cidadania. Ora, isto requer algo mais desta modalidade
melhor redistribuição das riquezas entre os grupos sociais e que tem diante de si pessoas maduras e talhadas por
entre os indivíduos que as compõem e as expressam. experiências mais longas de vida e de trabalho. Pode-se dizer
As novas competências exigidas pelas transformações da que estamos diante da função equalizadora da EJA. A equidade
base econômica do mundo contemporâneo, o usufruto de é a forma pela qual se distribuem os bens sociais de modo a
direitos próprios da cidadania, a importância de novos garantir uma redistribuição e alocação em vista de mais
critérios de distinção e prestígio, a presença dos meios de igualdade, consideradas as situações específicas. Segundo
comunicação assentados na microeletrônica requerem cada Aristóteles, a equidade é a retificação da lei onde esta se revela
vez mais o acesso a saberes diversificados. A igualdade e a insuficiente pelo seu caráter universal. (Ética a Nicômaco, V,
desigualdade continuam a ter relação imediata ou mediata 14, 1.137 b, 26). Neste sentido, os desfavorecidos frente ao
com o trabalho. Mas seja para o trabalho, seja para a acesso e permanência na escola devem receber
multiformidade de inserções sócio-político-culturais, aqueles proporcionalmente maiores oportunidades que os outros. Por
que se virem privados do saber básico, dos conhecimentos esta função, o indivíduo que teve sustada sua formação,
aplicados e das atualizações requeridas podem se ver qualquer tenha sido a razão, busca restabelecer sua trajetória
excluídos das antigas e novas oportunidades do mercado de escolar de modo a readquirir a oportunidade de um ponto
trabalho e vulneráveis a novas formas de desigualdades. Se as igualitário no jogo conflitual da sociedade.
múltiplas modalidades de trabalho informal, o subemprego, o
desemprego estrutural, as mudanças no processo de produção Analisando a noção de igualdade de oportunidades, Bobbio
e o aumento do setor de serviços geram uma grande (1996) assim se posiciona:
instabilidade e insegurança para todos os que estão na vida
ativa e quanto mais para os que se veem desprovidos de bens Mas não é supérfluo, ao contrário, chamar atenção para o
tão básicos como a escrita e a leitura. O acesso ao fato de que, precisamente a fim de colocar indivíduos desiguais
conhecimento sempre teve um papel significativo na por nascimento nas mesmas condições de partida, pode ser
estratificação social, ainda mais hoje quando novas exigências necessário favorecer os mais pobres e desfavorecer os mais ricos,
intelectuais, básicas e aplicadas, vão se tornando exigências isto é introduzir artificialmente, ou imperativamente,
até mesmo para a vida cotidiana. discriminações que de outro modo não existiriam... Desse modo,
Mas a função reparadora deve ser vista, ao mesmo tempo, uma desigualdade torna-se instrumento de igualdade pelo
como uma oportunidade concreta de presença de jovens e simples motivo de que corrige uma desigualdade anterior: a

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nova igualdade é o resultado da equiparação de duas um desafio a ser preenchido não só por iniciativas individuais,
desigualdades. (p. 32) mas também por programas de políticas públicas. Muitos
jovens ainda não empregados, desempregados, empregados
A educação, como uma chave indispensável para o em ocupações precárias e vacilantes podem encontrar nos
exercício da cidadania na sociedade contemporânea, vai se espaços e tempos da EJA, seja nas funções de reparação e de
impondo cada vez mais nestes tempos de grandes mudanças e equalização, seja na função qualificadora, um lugar de melhor
inovações nos processos produtivos. Ela possibilita ao capacitação para o mundo do trabalho e para a atribuição de
indivíduo jovem e adulto retomar seu potencial, desenvolver significados às experiências socioculturais trazidas por eles.
suas habilidades, confirmar competências adquiridas na A promessa de um mundo de trabalho, de vida social e de
educação extraescolar e na própria vida, possibilitar um nível participação política segundo as “leis da estética” está
técnico e profissional mais qualificado. presente nas possibilidades de um universo que se transforma
Nesta linha, a educação de jovens e adultos representa uma em grande sala de aula virtual. O mundo vai se tornando uma
promessa de efetivar um caminho de desenvolvimento de sala de aula universal. Assim, as realidades contemporâneas,
todas as pessoas, de todas as idades. Nela, adolescentes, ao lado da existência de graves situações de exclusão, contêm
jovens, adultos e idosos poderão atualizar conhecimentos, uma virtualidade sempre reiterada: os vínculos com uma
mostrar habilidades, trocar experiências e ter acesso a novas cidadania universal. A nossa Lei Maior e a Lei de Diretrizes e
regiões do trabalho e da cultura. Talvez seja isto que Comenius Bases da Educação Nacional não se ausentaram desta
chamava de ensinar tudo a todos. A EJA é uma promessa de perspectiva de encontro entre uma concepção abrangente da
qualificação de vida para todos, inclusive para os idosos, que educação com uma cidadania universal. A primeira coloca a
muito têm a ensinar para as novas gerações. Por exemplo, o cooperação entre os povos para o progresso da humanidade
Brasil também vai conhecendo uma elevação maior da como princípio de nossa República nas relações internacionais
expectativa de vida por parte de segmentos de sua população. (art. 4º, IX). A segunda consigna, em seu art. 1º, um amplo
Os brasileiros estão vivendo mais. Segundo o Instituto conceito de educação que abrange os processos formativos
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana,
brasileiros com mais de 60 anos estará na faixa dos 30 milhões no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
nas primeiras décadas do milênio. É verdade que são situações movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
não generalizáveis devido à baixa renda percebida e o pequeno manifestações culturais.
valor de muitas aposentadorias. A esta realidade promissora e A função qualificadora é também um apelo para as
problemática ao mesmo tempo, se acrescenta, por vezes, a instituições de ensino e pesquisa no sentido da produção
falta de opções para as pessoas da terceira idade poderem adequada de material didático que seja permanente enquanto
desenvolver seu potencial e suas experiências vividas. A processo, mutável na variabilidade de conteúdos e
consciência da importância do idoso para a família e para a contemporânea no uso de e no acesso a meios eletrônicos da
sociedade ainda está por se generalizar. comunicação.
Esta tarefa de propiciar a todos a atualização de Dentro deste caráter ampliado, os termos “jovens e
conhecimentos por toda a vida é a função permanente da EJA adultos” indicam que, em todas as idades e em todas as épocas
que pode se chamar de qualificadora. Mais do que uma função, da vida, é possível se formar, se desenvolver e constituir
ela é o próprio sentido da EJA. Ela tem como base o caráter conhecimentos, habilidades, competências e valores que
incompleto do ser humano cujo potencial de desenvolvimento transcendam os espaços formais da escolaridade e conduzam
e de adequação pode se atualizar em quadros escolares ou não à realização de si e ao reconhecimento do outro como sujeito.
escolares. Mais do que nunca, ela é um apelo para a educação
permanente e criação de uma sociedade educada para o III- Bases Legais das Diretrizes Curriculares Nacionais
universalismo, a solidariedade, a igualdade e a diversidade. para a Educação de Jovens e Adultos
Como já dizia a Comissão Internacional sobre a educação para
o século XXI, o chamado Relatório Jacques Delors para a A educação de adultos torna-se mais que um direito: é a
UNESCO: chave para o século XXI; é tanto consequência do exercício da
cidadania como condição para uma plena participação na
Uma educação permanente, realmente dirigida às sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do
necessidades das sociedades modernas não pode continuar a desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da
definir-se em relação a um período particular da vida _ justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento
educação de adultos, por oposição à dos jovens, por exemplo _ socioeconômico e científico, além de um requisito fundamental
ou a uma finalidade demasiado circunscrita _ à formação para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao
profissional, distinta da formação geral. Doravante, temos de diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. (Declaração de
aprender durante toda a vida e uns saberes penetram e Hamburgo sobre a EJA)
enriquecem os outros. (p. 89)
1. Bases legais: histórico
Na base da expressão potencial humano sempre esteve o
poder se qualificar, se requalificar e descobrir novos campos Toda a legislação possui atrás de si uma história do ponto
de atuação como realização de si. Uma oportunidade pode ser de vista social. As disposições legais não são apenas um
a abertura para a emergência de um artista, de um intelectual exercício dos legisladores. Estes, junto com o caráter próprio
ou da descoberta de uma vocação pessoal. A realização da da representatividade parlamentar, expressam a
pessoa não é um universo fechado e acabado. A função multiplicidade das forças sociais. Por isso mesmo, as leis são
qualificadora, quando ativada, pode ser o caminho destas também expressão de conflitos histórico-sociais. Nesse
descobertas. sentido, as leis podem fazer avançar ou não um estatuto que se
Este sentido da EJA é uma promessa a ser realizada na dirija ao bem coletivo. A aplicabilidade das leis, por sua vez,
conquista de conhecimentos até então obstaculizados por uma depende do respeito, da adesão e da cobrança aos preceitos
sociedade onde o imperativo do sobreviver comprime os estabelecidos e, quando for o caso, dos recursos necessários
espaços da estética, da igualdade e da liberdade. Esta para uma efetivação concreta. É evidente que aqui não se
compressão, por outro lado, também tem gerado, pelo pretende um tratado específico e completo sobre as bases
desemprego ou pelo avanço tecnológico nos processos legais que se referiram a EJA. O que se intenciona é oferecer
produtivos, um tempo liberado. Este tempo se configura como alguns elementos históricos para relembrar alguns

Legislação Básica em Educação 60


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ordenamentos legais já extintos e possibilitar o apontamento A primeira Constituição Republicana proclamada, a de


de temas e problemas que sempre estiveram na base das 1891, retira de seu texto a referência à gratuidade da instrução
práticas e projetos concernentes à EJA e de suas diferentes (existente na Constituição Imperial) ao mesmo tempo que
formulações no Brasil. condiciona o exercício do voto à alfabetização (art. 70, § 2º),
A Constituição Imperial de 1824 reservava a todos os dando continuidade ao que, de certo modo, já estava posto na
cidadãos a instrução primária gratuita. (art., 179, 32). Lei n. 3.029/1881 do Conselheiro Saraiva. Este
Contudo, a titularidade da cidadania era restrita aos livres e condicionamento era explicado como uma forma de mobilizar
aos libertos. Num país pouco povoado, agrícola, esparso e os analfabetos a buscarem, por sua vontade, os cursos de
escravocrata, a educação escolar não era prioridade política e primeiras letras. O espírito liberal desta Constituição fazia do
nem objeto de uma expansão sistemática. Se isto valia para a indivíduo o pólo da busca pessoal de ascensão,
educação escolar das crianças, quanto mais para adolescentes, desconsiderando a clara existência e manutenção de
jovens e adultos. A educação escolar era apanágio de privilégios advindos da opressão escravocrata e de formas
destinatários saídos das elites que poderiam ocupar funções patrimonialistas de acesso aos bens econômicos e sociais.
na burocracia imperial ou no exercício de funções ligadas à Além disso, face ao espírito autonomista que tomou conta dos
política e ao trabalho intelectual. Para escravos, indígenas e Estados, a Lei Maior de 1891 se recusa ao estabelecimento de
caboclos __assim se pensava e se praticava ___ além do duro uma organização nacional da educação e deixa à competência
trabalho, bastaria a doutrina aprendida na oralidade e a dos Estados (antes Províncias) muitas atribuições entre as
obediência na violência física ou simbólica. O acesso à leitura e quais o estatuto da educação escolar primária. Quanto ao papel
à escrita eram tidos como desnecessários e inúteis para tais da União, relativamente a este nível de ensino, o texto diz,
segmentos sociais. Esta situação não escapou da crítica de genericamente, no art. 35, § 2º, que incumbe, outrossim, ao
Machado de Assis: Congresso, mas não privativamente, animar no país o
desenvolvimento das letras, artes e ciências.... A Constituição
A nação não sabe ler. Há só 30% dos indivíduos residentes Republicana dava continuidade à descentralização da
neste país que podem ler; destes uns 9% não leem letra de mão. educação escolar promovida pelo Ato Adicional de 1834. Os
70% jazem em profunda ignorância. (...). 70% dos cidadãos Estados que fizeram empenho no sentido de acabar com o
votam do mesmo modo que respiram: sem saber porque nem o analfabetismo e de impulsionar o ensino primário invocarão
quê. Votam como vão à festa da Penha _ por divertimento. A este artigo da Constituição a fim de implicar a União nestas
Constituição é para eles uma coisa inteiramente desconhecida. iniciativas, sobretudo sob a forma de assistência técnico-
Estão prontos para tudo: uma revolução ou um golpe de Estado. financeira.
(...). As instituições existem, mas por e para 30% dos cidadãos. Movimentos cívicos, campanhas e outras iniciativas
Proponho uma reforma no estilo político. (Machado de consideravam importante a presença da União até mesmo
Assis,1879) como meio de combater a “internacionalização” das crianças
que estariam sendo alvo de tendências consideradas estranhas
Durante o Império, os candidatos ao bacharelismo podiam e exógenas ao “caráter nacional” ou que não estariam sendo
se valer dos “exames preparatórios” para efeito de ingresso no alfabetizadas por escolas brasileiras. Vale lembrar que a
ensino superior, cuja avaliação se dava via “exames de Estado” economia do país continuava basicamente agrária, com forte
sob o paradigma do Colégio de Pedro II e as instituições a ele presença do setor exportador.
equiparadas. Estes exames eram precedidos de “aulas de Isto não evitou que, por razões várias e concepções
preparatórios” dado o número insuficiente de escolas diferentes, estes movimentos civis e iniciativas oficiais
secundárias. Por outro lado, deve-se assinalar o decreto nº tivessem como alvo a expansão da escola primária e a busca da
7.247 de 19/4/1879 de reforma do ensino apresentado por erradicação do analfabetismo vistos como condição maior de
Leôncio de Carvalho. Ele previa a criação de cursos para desenvolvimento. Apesar do impulso trazido pelo
adultos analfabetos, livres ou libertos, do sexo masculino, com nacionalismo (em oposição às correntes de fundo
duas horas diárias de duração no verão e três no inverno, com internacionalista), os limites quanto ao acesso democrático a
as mesmas matérias do diurno. A Reforma também previa o estes bens serão postos pela manutenção de um quadro
auxílio a entidades privadas que criassem tais cursos. socioeconômico excludente e aberto, sob forma de reserva às
No seu famoso parecer sobre a reforma do ensino assim se elites no prosseguimento de estudos avançados.
expressou Rui Barbosa sobre a relação entre ensino e No início da República, seguindo uma tradição vinda do
construção da nação: final do Império, cursos noturnos de “instrução primária”
eram propostos por associações civis que poderiam oferecê-
A nosso ver a chave misteriosa das desgraças que nos los em estabelecimentos públicos desde que pagassem as
afligem, é esta, e só esta a ignorância popular, mãe da contas de gás. (Cf. Decreto nº 13 de 13.1.1890 do Ministério do
servilidade e da miséria. Eis a grande ameaça contra a Interior). Eram iniciativas autônomas de grupos, clubes e
existência constitucional e livre da nação; eis o formidável associações que almejavam, de um lado, recrutar futuros
inimigo, o inimigo intestino, que se asila nas entranhas do país. eleitores e de outro atender demandas específicas. A tradição
Para o vencer, releva instaurarmos o grande serviço da « de movimentos sociais organizados, via associações sem fins
defesa nacional contra a ignorância », serviço a cuja frente lucrativos, dava sinais de preenchimento de objetivos próprios
incumbe ao parlamento a missão de colocar-se, impondo e de alternativas institucionais, dada a ausência sistemática
intransigentemente à tibieza dos nossos governos o dos poderes públicos neste assunto.
cumprimento do seu supremo dever para com a pátria. (OCRB, Já o Decreto nº 981 de 8.11.1890 que regula a instrução
vol. X, t. I, 1883, p. 121-122) primária e secundária no Distrito Federal, conhecido como
Reforma Benjamin Constant, chama de exame de madureza as
Embora sem efetividade, tal reforma já expressa a provas realizadas por estudantes do Ginásio Nacional que
insuficiência de uma educação geral baseada apenas na houvessem concluído exames finais das disciplinas cursadas e
oralidade face aos surtos de crescimento econômico que se que desejassem matrícula nos cursos superiores de caráter
verificavam em alguns centros urbanos e que já exigia um federal. Mas estes exames poderiam ser feitos por pessoas que
pequeno grau de instrução. Muitos políticos e intelectuais já tivessem obtido o certificado de conclusão dos estudos
apontavam o baixo grau de escolaridade da população primários do primeiro grau (de 7 a 13 anos) e que estivessem
brasileira face a países europeus e vizinhos como Argentina e preparados para se submeter a estes exames reveladores da
Uruguai. maturidade científica do candidato.

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O exame de madureza, diz Geraldo Bastos Silva, é o remate exames, provas e passagens para a série seguinte. Estava
da formação alcançada pelo educando ao longo dos estudos aberto o caminho para uma oposição dual entre o regular e o
realizados segundo o currículo planejado...(e) representava a que se chamaria supletivo. Mas, o art. 80 do Decreto nº 19.890
aferição definitiva do grau de desenvolvimento intelectual de 18/4/1931 fala de estudantes que tendo se submetido a
atingido pelo educando ao fim do curso secundário, de sua mais de “seis preparatórios, obtidos sob o regime de exames
maturidade (p. 237/238). Mais tarde o sentido de maturidade parcelados” poderiam prestar os exames vestibulares. A
se desloca para maturidade etária sem que os examinandos exiguidade de uma rede secundária permite a continuidade de
devessem observar o regime escolar previsto em lei. estudos não seriados para efeito de exames e entrada no
O decreto nº 981/1890 também apoia “escolas itinerantes” ensino superior. Neste momento, há que se distinguir a noção
nos subúrbios para convertê-las em seguida em escolas fixas. de madureza como maturidade no domínio de conhecimentos
Nos anos 20, muitos movimentos civis e mesmo oficiais se da de educação para adultos como compensação de estudos
empenham na luta contra o analfabetismo considerado um primários não realizados.
"mal nacional" e "uma chaga social". A pressão trazida pelos Os movimentos sociais e políticos surgidos ao longo dos
surtos de urbanização, os primórdios da indústria nacional e a anos 20, o impacto da urbanização e industrialização e o forte
necessidade de formação mínima da mão de obra do próprio jogo entre as várias concepções de mundo presentes no Brasil
país e a manutenção da ordem social nas cidades impulsionam e as experiências de outros países farão da Constituinte de
as grandes reformas educacionais do período em quase todos 1933 um momento de grande discussão e mesmo mobilização.
os Estados. Além disso, os movimentos operários, fossem eles Diferentes forças sociais, heterogêneas entre si, querem ver
de inspiração libertária ou comunista, passavam a dar maior seus princípios inseridos na Lei Maior. Um ponto que já vinha
valor à educação em seus pleitos e reivindicações. Mas é desde a Revisão Constitucional era o reconhecimento da
também um momento histórico em que a temática do importância do Estado e seu papel interventor no
nacionalismo se implanta de modo bastante enfático e, no desenvolvimento econômico e no controle dos conflitos
terreno educacional, o governo federal nacionaliza e financia sociais.
as escolas primárias e normais, no Sul do país, estabelecidas A Constituição de 1934 reconheceu, pela primeira vez em
em núcleos de população imigrada. Fruto deste conjunto caráter nacional, a educação como direito de todos e {que ela}
contraditório de finalidades foi a Conferência Interestadual de deve ser ministrada pela família e pelos poderes públicos
1921, convocada pela União e realizada no Rio de Janeiro, a fim (art.149). A Constituição, ao se referir no art. 150 ao Plano
de discutir os limites e as possibilidades do art. 35 da Nacional de Educação, diz que ele deve obedecer, entre outros,
Constituição então vigente face ao problema do analfabetismo ao princípio do ensino primário integral, gratuito e de
e das competências da União face às responsabilidades dos frequência obrigatória, extensivo aos adultos (§ único, a). Isto
Estados em matéria de ensino. Ela acabou por sugerir a criação demonstra que o legislador quis declarar expressamente que
de escolas noturnas voltadas para os adultos com a duração de o todos do art. 149 inclui os adultos do art. 150 e estende a eles
um ano. Tal medida chegou a fazer parte do Decreto n. o estatuto da gratuidade e da obrigatoriedade. A Constituição
16.782/A e 13/1/1925, conhecido como Lei Rocha Vaz ou de 1934, então, põe o ensino primário extensivo aos adultos
Reforma João Alves, que estabelece o concurso da União para como componente da educação e como dever do Estado e
a difusão do ensino primário. Dizia o art. 27 do referido direito do cidadão. Esta formulação avançada expressa bem os
decreto: movimentos sociais da época em prol da escola como espaço
Poderão ser criadas escolas noturnas, do mesmo caráter, integrante de um projeto de sociedade democrática. Neste
para adultos, obedecendo às mesmas condições do art. 25. sentido, o "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova" de
1932 não defende só o direito de cada indivíduo à sua
O art. 25 obrigava a União a subsidiar parcialmente o educação integral, mas também a obrigatoriedade que, por
salário dos professores primários atuantes em escolas rurais. falta de escolas, ainda não passou do papel, nem em relação ao
Aos Estados competia pagar o restante do salário, oferecer ensino primário, e se deve estender progressivamente até uma
residência, escola e material didático. A alegada carência de idade conciliável com o trabalhador produtor, isto é, até os 18
recursos da União, o temor das elites face a uma incorporação anos...
massiva de novos eleitores e a defesa da autonomia estadual A feitura do Plano Nacional de Educação de 1936/1937,
tornaram sem efeito esta dimensão da Reforma. Mesmo as que não chegou a ser votado devido ao golpe que instituiu o
propostas de repor o ensino primário gratuito e até mesmo Estado Novo, possuía todo o título III da 2ª parte voltado para
obrigatório, tentadas durante a Revisão Constitucional de o ensino supletivo. Destinado a adolescentes e adultos
1925 e 1926, não lograram sucesso. analfabetos e também aos que não pretenderem instrução
A presença cada vez mais significativa dos processos de profissional e aos silvícolas (a fim de comunicar-lhes os bens
urbanização, a aceleração da industrialização e a necessidade da civilização e integrá-los progressivamente na unidade
de impor limites às lutas sociais existentes provocam, de um nacional), o ensino supletivo deveria conter disciplinas
lado uma maior presença do Estado no âmbito da "questão obrigatórias e sua oferta seria imperativa nos
social" e, de outro, um maior controle sobre as forças sociais estabelecimentos industriais e nos de finalidade correcional.
emergentes e reivindicantes. A educação primária das crianças Idêntica obrigação competia aos sindicatos e às cidades com
passa a contar com os avanços trazidos pelas reformas dos mais de 5.000 habitantes. A rigor, esta formulação minimiza a
anos 30, mas não faz da escolarização de adolescentes, jovens noção de direito expressa em 1934 devido à assunção do
e adultos um objeto de ação sistemática. termo regularidade sob a figura de ensino seriado.
A nova correlação de forças advinda com a "Revolução de A Constituição outorgada de 1937, fruto do temor das
Trinta" contribui para impulsionar a importância da educação elites frente às exigências de maior democratização social e
escolar. A tendência centralizadora do Estado propiciou uma instrumento autoritário de um projeto modernizador
série de reformas até mesmo em resposta à organização das excludente, deslocará, na prática, a noção de direito para a de
classes sociais urbanas em sindicatos patronais e operários. proteção e controle. Assim, ela proíbe o trabalho de menores
Uma das reformas será a da educação secundária e superior de 14 anos durante o dia, o de menores de 16 anos à noite e
pelo Ministro Francisco Campos. Com a implantação definitiva estimula a criação de associações civis que organizem a
do regime de séries adotado na reforma de 1931 para o ensino juventude em vista da disciplina moral, eugênica, cívica e da
secundário, determinará, cada vez mais, a sinonimização entre segurança nacional. Isto não significa que o Estado Novo não
faixa etária apropriada, seriação e ensino regular. A avaliação tivesse uma proposta de ação sistemática para a educação
do processo ensino-aprendizagem se dava por meio de escolar, ainda que sob a égide do controle centralizado e

Legislação Básica em Educação 62


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autoritário. Em termos de concepção, o Estado Novo chega a A Constituição de 1946 reconhece a educação como direito
explicitar uma discriminação entre as elites intelectuais de todos (art. 166) e no seu art. 167, II diz que o ensino
condutoras das massas e as classes menos favorecidas (art. primário oficial é gratuito para todos... Contudo, a oposição
129 da Constituição) voltadas para o trabalho manual e com entre centralização e descentralização, as lutas para se definir
acesso mínimo à leitura e à escrita. os limites entre o público e privado e a questão da laicidade
A Lei Orgânica do Ensino Secundário, Decreto–Lei nº 4.244 determinarão, por um bom tempo, a inexistência de uma
de 9/4/1942, no seu Título VII, franqueava a obtenção do legislação própria advinda da nova Constituição e a
certificado de licença ginasial aos maiores de 16 anos mesmo manutenção, com pequenos ajustes, do equipamento jurídico
que não houvessem frequentado o regime da escola herdado do estadonovismo.
convencional. Mas os exames deveriam ser iguais aos A nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
prestados em escolas oficiais seriadas. Nacional, Lei nº 4.024/61, reconhece a educação como direito
No que toca ao financiamento do ensino, embora a de todos e no Título VI, capítulo II, ao tratar do ensino primário
Constituição de 1937 silenciasse a propósito do vínculo diz no art. 27:
constitucional de recursos, como o fazia a Constituição de
1934, o governo central tomou medidas que pudessem O ensino primário é obrigatório a partir dos 7 anos e só
significar apoio técnico e financeiro aos Estados. A exibição de será ministrado na língua nacional. Para os que o iniciarem
índices alarmantes de analfabetismo, a necessidade de uma depois dessa idade poderão ser formadas classes especiais ou
força de trabalho treinada para os processos de cursos supletivos correspondentes ao seu nível de
industrialização e a busca de um maior controle social farão do desenvolvimento.
ensino primário um objeto de maior atenção.
Assim, o Decreto nº 4.958 de 14.11.1942 institui o Fundo OBS: Atualmente o artigo 27 encontra-se revogado.
Nacional do Ensino Primário. Este Fundo seria constituído de
tributos federais criados para este fim e voltado para A Lei nº 4.024/61 determinava ainda, no seu art. 99: aos
ampliação e melhoria do sistema escolar primário de todo o maiores de 16 anos será permitida a obtenção de certificados
país (§ único do art. 2º). O montante seria aplicado nos de conclusão do curso ginasial, mediante a prestação de
Estados e Territórios via convênios. Fala-se de um sistema exames de madureza, após estudos realizados sem
escolar primário a ser ampliado. Este convênio, denominado observância de regime escolar.
Convênio Nacional do Ensino Primário, veio anexo ao Decreto– § único: Nas mesmas condições permitir-se-á a obtenção
Lei nº 5.293 de 1.3.1943. A União prestaria assistência técnica do certificado de conclusão de curso colegial aos maiores de
e financeira no desenvolvimento deste ensino nos Estados, 19 anos.
desde que estes aplicassem um mínimo de 15% da renda
proveniente de seus impostos em ensino primário, chegando- OBS: O artigo 99 da Lei 4.024/1961 está revogado.
se a 20% em 5 anos. Por sua vez, os Estados se obrigavam a
fazer convênios similares com os Municípios, mediante Até este momento, os exames dos que não haviam seguido
decreto–lei estadual, visando repasse de recursos, desde que seriação só eram possíveis em estabelecimentos oficiais. A
houvesse uma aplicação mínima inicial de 10% da renda partir da Lei nº 4.024/61 esta orientação não diz quem são os
advinda de impostos municipais em favor da educação escolar responsáveis pelos exames. Assim, ao lado dos
primária, chegando-se a 15% em 5 anos. Em 11.8.1944, o estabelecimentos oficiais, as escolas privadas, autorizadas
Decreto – Lei n. 6.785 cria a fonte federal de onde proviriam pelos Conselhos e Secretarias, passaram também a realizá-los.
tais recursos: um imposto de 5% incidente sobre consumo de Uma nova redefinição será trazida pelo golpe de 1964 que
bebidas. aprofundará a distância entre o ímpeto urbano, modernizador,
Ora, será o Decreto Federal nº 19.513/45 de 25/8/45 que industrializante e demográfico do país e os processos de
completará o conjunto de decretos–lei do período sobre este democratização dos bens sociais. A concentração de renda e o
assunto. Ao regulamentar a concessão de auxílio pelo governo fechamento dos canais de participação e de representação
federal com o objetivo da ampliação e do desenvolvimento do fazem parte destes mecanismos de distanciamento. O rígido
ensino primário dos Estados, segundo suas necessidades, diz o controle sobre as forças sociais de oposição ao regime
decreto–lei no § 1º do art. 2º que tais necessidades seriam permitiu o aprofundamento dos processos conducentes à
avaliadas segundo a proporção do número de crianças, entre 7 modernização econômica para cujo sucesso era importante a
e 11 anos de idade, que não estejam matriculadas em expansão da rede física da educação escolar primária. O acesso
estabelecimentos de ensino primário. Se o art. 4º diz que, do a ela e a outros bens, por parte dos segmentos populares, não
total destes recursos, 70% seriam destinados para se deu de modo aberto, qualificado e universal. Ele se fez sob o
construções escolares, o inciso 2 determina que: signo do limite e do controle.
Sob este clima, a Constituição de 1967 mantém a educação
A importância correspondente a 25% de cada auxílio como direito de todos (art.168) e, pela primeira vez, estende a
federal será aplicada na educação primária de adolescentes e obrigatoriedade da escola até os quatorze anos. Esta extensão
adultos analfabetos, observados os termos de um plano geral parece incluir a categoria dos adolescentes na escolaridade
de ensino supletivo, aprovado pelo Ministério da Educação e apropriada, propiciando, assim, a emergência de uma outra
Saúde. faixa etária, a partir dos 15 anos, sob o conceito de jovem. Este
conceito será uma referência para o ensino supletivo. Esta
O Decreto–lei nº 8.529 de 2/1/1946, Lei Orgânica do mesma Constituição que retira o vínculo constitucional de
Ensino Primário, reserva o capítulo III do Título II ao curso recursos para a educação, obriga as empresas a manter ensino
primário supletivo. Voltado para adolescentes e adultos, tinha primário para os empregados e os filhos destes, de acordo com
disciplinas obrigatórias e teria dois anos de duração, devendo o art. 170.
seguir os mesmos princípios do ensino primário fundamental. A Lei 5.379/67 cria uma fundação, denominada
A presença do Brasil na 2ª Guerra Mundial, a luta pela Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), com o
democracia no continente europeu, a manutenção da ditadura objetivo de erradicar o analfabetismo e propiciar a educação
no país com seus horrores, o crescimento da importância da continuada de adolescentes e adultos. Vários decretos
democracia política trarão de volta à cena movimentos sociais decorreram desta Lei a propósito de levantamento de recursos
e temas culturais reprimidos à força. Um dos momentos de tal (Decreto nº 61.311/67) e da constituição de campanhas
retorno será a Constituinte de 1946. cívicas em prol da alfabetização (Decreto nº 61.314/67).

Legislação Básica em Educação 63


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APOSTILAS OPÇÃO

A Lei nº 5.400 de 21/3/1968, relativa ao recrutamento e um início de uma redefinição da aprendizagem e qualificação
militar e ensino, também se refere à alfabetização de recrutas na órbita do Ministério do Trabalho.
e diz no seu art. 1º: Os brasileiros, que aos dezessete anos de De todo modo, pode-se assinalar que, em todas as
idade, forem ainda analfabetos, serão obrigados a Constituições, atribui-se, de algum modo, à União o papel de
alfabetizarem-se. suprir as deficiências dos sistemas, de conceder assistência
As comissões de recrutamento dos jovens obrigados ao técnica e financeira no desenvolvimento de programas
serviço militar deveriam encaminhar às autoridades estaduais e municipais, de articular o conjunto das iniciativas
educacionais competentes os alistados analfabetos. O exigindo alguma adequação do então supletivo aos princípios
funcionário público que alfabetizasse mais de 10 listados teria gerais do ensino atendido na idade própria. Deste
registrado em seu prontuário a distinção de serviço meritório. enquadramento não fugirão os dispositivos legais sobre o
Os civis não funcionários públicos ganhariam um diploma assunto a partir de 1988.
honorífico.
A Emenda Constitucional de 1969, também conhecida 2. Bases legais vigentes
como Emenda da Junta Militar, usa, pela primeira vez, a
expressão direito de todos e dever do Estado para a educação. A Constituição Federal do Brasil incorporou como
O vínculo de recursos na Constituição retorna mas só para os princípio que toda e qualquer educação visa o pleno
municípios. Beneficiários menores na repartição dos desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
impostos, responsáveis, por lei, pela oferta do ensino cidadania e sua qualificação para o trabalho. (CF, art. 205).
fundamental, deviam aplicar 20% de seus impostos em Retomado pelo art. 2º da LDB, este princípio abriga o conjunto
educação. das pessoas e dos educandos como um universo de referência
É no interior de reformas autoritárias, como foi o caso, por sem limitações. Assim, a Educação de Jovens e Adultos,
exemplo, das Leis nº 5.540/68 e nº 5.692/71, e desta modalidade estratégica do esforço da Nação em prol de uma
"modernização conservadora" que o ensino supletivo terá igualdade de acesso à educação como bem social, participa
suas bases legais específicas. deste princípio e sob esta luz deve ser considerada.
O ensino supletivo, com a Lei nº 5.692/71, ganhou capítulo Estas considerações adquirem substância não só por
próprio com cinco artigos. Um deles dizia que este ensino se representarem uma dialética entre dívida social, abertura e
destinava a “suprir a escolarização regular para adolescentes promessa, mas também por se tratarem de postulados gerais
e adultos, que não a tinham seguido ou concluído na idade transformados em direito do cidadão e dever do Estado até
própria”. Este ensino podia, então, abranger o processo de mesmo no âmbito constitucional, fruto de conquistas e de lutas
alfabetização, a aprendizagem, a qualificação, algumas sociais. Assim o art. 208 é claro:
disciplinas e também atualização. Os cursos poderiam
acontecer via ensino a distância, por correspondência ou por O dever do Estado com a educação será efetivado mediante
outros meios adequados. Os cursos e os exames seriam a garantia de:
organizados dentro dos sistemas estaduais de acordo com – ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada
seus respectivos Conselhos de Educação. Os exames, de acordo inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiverem
com o art. 26, ou seriam entregues a “estabelecimentos oficiais acesso na idade própria;
ou reconhecidos” cuja validade de indicação seria anual, ou
“unificados na jurisdição de todo um sistema de ensino ou Atenção: o Art. 208 da Constituição Federal sofreu
parte deste”, cujo pólo seria um grau maior de centralização alterações. Vejamos, como fica o inciso I com a nova
administrativa. E o número de horas, consoante o art. 25, redação:
ajustar-se-ia de acordo com o “tipo especial de aluno a que se
destinam”, resultando daí uma grande flexibilidade curricular. Art. 208. O dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de:
No que se refere às instituições particulares, o § único do I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4
art. 51 da mesma lei diz (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada
As entidades particulares que recebam subvenções ou inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
auxílios do Poder Público deverão colaborar, mediante tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela
solicitação deste, no ensino supletivo de adolescentes e Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
adultos, ou na promoção de cursos e outras atividades com
finalidade educativo-cultural instalando postos de rádio ou Esta redação vigente longe de reduzir a EJA a um apêndice
televisões educativas. dentro de um sistema dualista, pressupõe a educação básica
para todos e dentro desta, em especial, o ensino fundamental
OBS: Atualmente esta lei está revogada. como seu nível obrigatório. O ensino fundamental obrigatório
é para todos e não só para as crianças. Trata-se de um direito
O Conselho Federal de Educação teve produção normativa positivado, constitucionalizado e cercado de mecanismos
sobre o assunto. Muitos foram os pareceres e as resoluções, financeiros e jurídicos de sustentação.
como é o caso do Parecer nº 699/72 do Cons. Valnir Chagas A titularidade do direito público subjetivo face ao ensino
regulamentando esta matéria, inclusive a relativa às idades de fundamental continua plena para todos os jovens, adultos e
prestação de exames e ao controle destes últimos pelos idosos, desde que queiram se valer dele. A redação original do
poderes públicos. art. 208 da Constituição era mais larga na medida em que
Esse Parecer destaca quatro funções do então ensino coagia à chamada universal todos os indivíduos não –
supletivo: a suplência (substituição compensatória do ensino escolarizados, estivessem ou não na faixa etária de sete a
regular pelo supletivo via cursos e exames com direito à quatorze anos, e identificava a fonte de recursos para esta
certificação de ensino de 1º grau para maiores de 18 anos e de obrigação. Apesar do estreitamento da redação trazida pela
ensino de 2º grau para maiores de 21 anos), o suprimento emenda 14/96, ela deixa ao livre arbítrio do indivíduo com
(completação do inacabado por meio de cursos de mais 15 anos completos o exercício do seu direito público
aperfeiçoamento e de atualização.), a aprendizagem e a subjetivo. Basta ler o art. 5º da LDB que universaliza a figura
qualificação. Elas se desenvolviam por fora dos então do cidadão e não faz e nem poderia fazer qualquer
denominados ensinos de 1º e 2º graus regulares. Este foi um discriminação de idade ou outra de qualquer natureza.
momento de intenso investimento público no ensino supletivo

Legislação Básica em Educação 64


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Direito público subjetivo é aquele pelo qual o titular de um Veja como ficou a nova redação do artigo 214 (caput)
direito pode exigir imediatamente o cumprimento de um da CF com a nova redação:
dever e de uma obrigação. Trata-se de um direito positivado,
constitucionalizado e dotado de efetividade. O titular deste Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de
direito é qualquer pessoa de qualquer faixa etária que não educação, de duração decenal, com o objetivo de articular
tenha tido acesso à escolaridade obrigatória. Por isso é um o sistema nacional de educação em regime de colaboração
direito subjetivo ou seja ser titular de alguma prerrogativa é e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de
algo que é próprio deste indivíduo. O sujeito deste dever é o implementação para assegurar a manutenção e
Estado no nível em que estiver situada esta etapa da desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis,
escolaridade. Por isso se chama direito público pois, no caso, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos
trata-se de uma regra jurídica que regula a competência, as poderes públicos das diferentes esferas federativas que
obrigações e os interesses fundamentais dos poderes públicos, conduzam a:
explicitando a extensão do gozo que os cidadãos possuem I – erradicação do analfabetismo,
quanto aos serviços públicos. Assim o direito público subjetivo II – universalização do atendimento escolar
explicita claramente a vinculação substantiva e jurídica entre
o objetivo e o subjetivo. Na prática, isto significa que o titular Erradicar o analfabetismo e universalizar o atendimento
de um direito público subjetivo tem asseguradas a defesa, a são faces da mesma moeda e significam o acesso de todos os
proteção e a efetivação imediata do mesmo quando negado. cidadãos brasileiros, pelo menos, ao ensino fundamental. Ora,
Em caso de inobservância deste direito, por omissão do órgão __ seu nome já o diz __ o fundamento é a base e a ponte
incumbido ou pessoa que o represente, qualquer criança, necessárias para quaisquer desenvolvimentos e composições
adolescente, jovem ou adulto que não tenha entrado no ensino ulteriores.
fundamental pode exigi-lo e o juiz deve deferir imediatamente, O artigo 208 da Constituição Federal se compõe tanto com
obrigando as autoridades constituídas a cumpri-lo sem mais o art. 214 quanto com o artigo 60 emendado do Ato das
demora. O direito público subjetivo não depende de Disposições Transitórias. Desta composição resulta, com
regulamentação para sua plena efetividade. O não outros dispositivos legais, um outro formato na distribuição de
cumprimento ou omissão por parte das autoridades competências onde todos os entes federativos estão
incumbidas implica em responsabilidade da autoridade diferencialmente implicados.
competente. (Art. 208, § 2º). A lei que define os crimes de De acordo com a redação dada pela Emenda Constitucional
responsabilidade é a de nº 1.079/50. Ela, em seu art. 4º, define nº 14/96, o art. 60 diz:
tais crimes como sendo aqueles em que autoridades públicas
venham a atentar contra o exercício dos direitos políticos, Nos dez primeiros anos da promulgação desta emenda, os
individuais e sociais. Seu art. 14 permite a qualquer cidadão Estados, o Distrito Federal e os Municípios destinarão não menos
denunciar autoridades omissas ou infratoras perante a de sessenta por cento dos recursos a que se refere o caput do art.
Câmara dos Deputados. 212 da Constituição Federal, à manutenção e ao
A Lei nº 9.394/96 explicita no § 3º do art. 5º que qualquer desenvolvimento do ensino fundamental, com o objetivo de
indivíduo que se sentir lesionado neste direito, pode dirigir-se assegurar a universalização do seu atendimento e a
ao Poder Judiciário para efeito de reparação e tal ação é remuneração condigna do magistério
gratuita e de rito sumário. O uso desta faculdade de agir com
vistas a este modo de direito é reconhecido também para ...........................
organizações coletivas adequadas. Ao exercício deste direito §6º A União aplicará na erradicação do analfabetismo e na
corresponde o dever do Estado na oferta desta modalidade de manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental
ensino dentro dos princípios e das responsabilidades que lhes ….nunca menos que o equivalente a trinta por cento dos
são concernentes. Entre estas responsabilidades está o art. 5º recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição
da LDB que encaminha à cobrança do direito público subjetivo Federal.
e que tem, entre seus preliminares, o recenseamento da
população em idade escolar para o ensino fundamental, e os Na verdade, o teor da Lei nº 9.424/96 que regulamentou a
jovens e adultos que a ele não tiveram acesso (art. 5º, § 1º, I) e Emenda nº 14/96 deixa fora do cálculo do Fundo de
fazer-lhes a chamada pública. (Art. 5º § 1º, II). Isto importa em Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
oferta necessária da parte dos poderes públicos a fim de que o Valorização do Magistério (FUNDEF) a Educação de Jovens e
censo e a chamada escolares não signifiquem apenas um Adultos. O FUNDEF se aplica tão só ao ensino fundamental no
registro estatístico. Para tanto, o censo deverá conter um momento em que muitos trabalhadores e mães de família,
campo específico de dados para o levantamento do número afastados dos estudos por longos anos, pressionam por uma
destes jovens e adultos. entrada ou retorno na educação escolar, seja para melhorar a
O exercício deste dispositivo se apóia também na renda familiar, seja para a busca de mobilidade social. O aluno
obrigação dos Estados e Municípios em fazer a chamada com a da EJA, integrante da etapa correspondente ao ensino
assistência da União.32 Isto supõe tanto uma política obrigatório da educação básica, na forma de ensino presencial
educacional integrada da EJA de modo a superar o isolamento e com avaliação no processo, não é computado para o cálculo
a que ela foi confinada em vários momentos históricos da dos investimentos próprios deste fundo. É preciso retomar a
escolarização brasileira, quanto um efetivo regime de equidade também sob o foco da alocação de recursos de
colaboração, de acordo com o art. 8º da LDB. maneira a encaminhar mais a quem mais necessita, com rigor,
eficiência e transparência.
Por sua vez, o art. 214 da Constituição Federal também é Ao mesmo tempo, como assinala Beisiegel (1999) parece
claro: estar em curso um processo de redefinição das atribuições da
educação fundamental de jovens e adultos, que vêm sendo
A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração deslocadas da União para os Estados e, principalmente, para
plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do os Municípios, com apelos dirigidos também ao envolvimento
ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder das organizações não – governamentais e da sociedade civil.
público que conduzam à: (p.4).
I – erradicação do analfabetismo, Mesmo assim, o art. 60 emendado, deixa claro, em seu § 6º,
II – universalização do atendimento escolar que um quantitativo do equivalente a trinta por cento dos

Legislação Básica em Educação 65


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recursos do art. 212 da Constituição Federal deverão ser O termo modalidade é diminutivo latino de modus (modo,
destinados à erradicação do analfabetismo e na manutenção maneira) e expressa uma medida dentro de uma forma própria
e desenvolvimento do ensino fundamental. de ser. Ela tem, assim, um perfil próprio, uma feição especial
É o que diz Título IX das Disposições Transitórias no art. diante de um processo considerado como medida de
87 ao instituir a Década da Educação. O § 3º, III diz que referência. Trata-se, pois, de um modo de existir com
característica própria. Esta feição especial se liga ao princípio
Cada Município e, supletivamente, o Estado e a União da proporcionalidade para que este modo seja respeitado. A
deverá prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e proporcionalidade, como orientação de procedimentos, por
adultos insuficientemente escolarizados. sua vez, é uma dimensão da equidade que tem a ver com a
aplicação circunstanciada da justiça, que impede o
Esta redefinição se ancora na incumbência da União, de aprofundamento das diferenças quando estas inferiorizam as
acordo com o art. 9º III da LDB, de prestar assistência técnica pessoas. Ela impede o crescimento das desigualdades por meio
e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios do tratamento desigual dos desiguais, consideradas as
para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o condições concretas, a fim de que estes eliminem uma barreira
atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo discriminatória e se tornem tão iguais quanto outros que
sua função redistributiva e supletiva. tiveram oportunidades face a um bem indispensável como o é
o acesso à educação escolar. Dizer que os cursos da EJA e
Esta função, sem desobrigar os outros entes federativos, se exames supletivos devem habilitar ao prosseguimento de
vê esclarecida no art. 75 da LDB que diz a ação supletiva e estudos em caráter regular (art. 38 da LDB) significa que os
redistributiva da União e dos Estados será exercida de modo a estudantes da EJA também devem se equiparar aos que
corrigir, progressivamente, as disparidades de acesso e sempre tiveram acesso à escolaridade e nela puderam
garantir o padrão mínimo de qualidade de ensino. permanecer. Respeitando-se o princípio de
proporcionalidade, a chegada ao patamar igualitário entre os
Já o art. 10 e o art. 11 apontam para as competências cidadãos se louvaria no tratamento desigual aos desiguais que,
específicas de Estados e Municípios respectivamente para com nesta medida, mereceriam uma prática política consequente e
o ensino médio e o ensino fundamental. diferenciada.
Diz o art. 10, VI da LDB ser incumbência do Estado: Por isso o art. 37 diz que a EJA será destinada àqueles que
não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino
Assegurar o ensino fundamental e oferecer, com fundamental e médio na idade própria. Este contingente plural
prioridade, o ensino médio. e heterogêneo de jovens e adultos, predominantemente
marcado pelo trabalho, é o destinatário primeiro e maior desta
Por sua vez, o art. 11, V da LDB enuncia ser incumbência modalidade de ensino. Muitos já estão trabalhando, outros
do Município: tantos querendo e precisando se inserir no mercado de
trabalho. Cabe aos sistemas de ensino assegurar a oferta
Oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com adequada, específica a este contingente, que não teve acesso à
prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em escolarização no momento da escolaridade universal
outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas obrigatória, via oportunidades educacionais apropriadas. A
plenamente as necessidades de sua área de competência e com oferta dos cursos em estabelecimentos oficiais, afirmada pelas
recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela normas legais, e a dos exames supletivos da EJA, pelos poderes
Constituição Federal, à manutenção e ao desenvolvimento do públicos, é garantida pelo art. 37 § 1º da LDB. A associação
ensino. entre gratuidade e a oferta periódica mais frequente e
descentralizada da prestação dos exames pode reforçar o
Embora o Município seja uma instância privilegiada tanto dever do Estado para com esta modalidade de educação. Para
para o contato mais próximo com estes jovens e adultos, tanto, os estabelecimentos públicos dos respectivos sistemas
quanto para o controle que os mesmos podem exercer sobre o deverão viabilizar e estimular a igualdade de oportunidades e
conjunto das políticas, e conquanto este artigo faça parte de de acesso aos cursos e exames supletivos sob o princípio da
disposições transitórias, os dispositivos legais, a tradição na gratuidade. Tais oportunidades se viabilizarão, certamente,
área e o esforço necessário para fazer esta reparação indicam pela oferta de escolarização mediante cursos e exames (§1º do
que o investimento em EJA não conta com um passado art. 37). Por meio dela ou de outras, o poder público viabilizará
consolidado junto aos entes federativos como um todo. e estimulará o acesso e permanência do trabalhador na escola,
Portanto, seja no que se refere à cooperação técnica, seja no mediante ações integradas e complementares entre si (§2º do
que se refere aos investimentos, o regime de colaboração tão art. 37). A oferta desta modalidade assevera, pois, que os
acentuado na Constituição Federal torna-se aqui uma estabelecimentos públicos não podem se ausentar deste dever
necessidade imperiosa. Isto significa uma política integrada, e eles devem ser os principais lugares desta oferta. A
contínua e cumulativa entre os entes federativos, financiada disseminação de cursos autorizados, reconhecidos e
com recursos suficientes e identificáveis em vista de sua credenciados, sob a forma presencial, pode ir tornando
sustentabilidade. exames supletivos avulsos cada vez mais residuais.
Face ao deslocamento de atribuições e em que pese a A lei reitera um direito inclusive à luz do princípio de
determinação financeira constritiva da Lei nº 9.424/96, uma colaboração recíproca que preside a República Federativa do
vez que as matrículas da EJA não fazem parte do cálculo do Brasil. O regime de colaboração é o antídoto de iniciativas
FUNDEF, a Lei nº 9.394/96 rompe com a concepção posta na descontínuas ou mesmo de omissões, bem como a via
Lei nº 5.692/71, seja pelo disposto no art. 92 da nova Lei, seja consequente para a efetivação destes dispositivos assinalados
pela nova concepção da EJA. Desaparece a noção de Ensino e dos compromissos assumidos em foros internacionais. Cabe
Supletivo existente na Lei nº 5.692/71. também às instituições formadoras o papel de propiciar uma
A atual LDB abriga no seu Título V (Dos Níveis e profissionalização e qualificação de docentes dentro de um
Modalidades de Educação e Ensino), capítulo II (Da Educação projeto pedagógico em que as diretrizes considerem os perfis
Básica) a seção V denominada Da Educação de Jovens e dos destinatários da EJA.
Adultos. Os artigos 37 e 38 compõem esta seção. Logo, a EJA é O art. 38 diz que os sistemas de ensino manterão cursos da
uma modalidade da educação básica, nas suas etapas EJA e exames supletivos.
fundamental e média.

Legislação Básica em Educação 66


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Tais cursos tanto podem ser no âmbito da oferta de assumida pelo Brasil mediante Decreto Legislativo nº 40 de
educação regular para jovens e adultos (art. 4º, VII), quanto no 1967 do Congresso Nacional e promulgada pela Presidência da
de oportunidades apropriadas ...mediante cursos (regulares) e República mediante o Decreto nº 63.223 de 1968. IV-
exames (supletivos) (art. 37, §, 1º). Tais cursos e exames, de Educação de Jovens e Adultos - Hoje
acordo com a Lei e as diretrizes, deverão atender à base
comum nacional e possibilitar o prosseguimento de estudos... ... mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao
Após a assinalação das novas faixas etárias, o § 2º do artigo conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que
prevê que as práticas de vida, os conhecimentos e habilidades poderiam melhorar a qualidade da vida e ajudá-los a perceber e
dos destinatários da EJA serão aferidos e reconhecidos a adaptar-se às mudanças sociais e culturais.
mediante exames. Para que a educação básica se torne equitativa, é mister
A legislação educacional existente hoje é bem mais oferecer a todas as crianças, jovens e adultos a oportunidade de
complexa. Ela, além dos dispositivos de caráter nacional, alcançar um padrão mínimo de qualidade de aprendizagem.
compreende as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas (Declaração Mundial sobre Educação para Todos)
dos Municípios. Dentro de nosso regime federativo, os Estados
e os Municípios, de acordo com a distribuição das Como já apontado, é no processo de redemocratização dos
competências estabelecidas na Constituição Federal, gozam de anos 80 que a Constituição dará o passo significativo em
autonomia e assim podem estabelecer uma normatividade direção a uma nova concepção de educação de jovens e de
própria, harmônica e diferenciada. A quase totalidade dos adultos. Foi muito significativa a presença de segmentos
Estados repete, em suas Constituições, a versão original do art. sociais identificados com a EJA no sentido de recuperar e
208, bem como a necessidade de um Plano Estadual de ampliar a noção de direito ao ensino fundamental extensivo
Educação do qual sempre constam a universalização do ensino aos adultos já posta na Constituição de 1934. A LDB
obrigatório e a erradicação do analfabetismo. Em muitas acompanha esta orientação, suprimindo a expressão ensino
consta a expressão ensino supletivo. supletivo, embora mantendo o termo supletivo para os
Observados os limites e os princípios da Constituição exames. Todavia, trata-se de uma manutenção nominal, já que
Federal e da LDB, os entes federados são autônomos na gestão tal continuidade se dá no interior de uma nova concepção.
de suas atribuições e competências. Desse modo, por exemplo, Termos remanescentes do ordenamento revogado devem ser
tanto a Constituição Estadual do Paraná como a Lei Orgânica considerados à luz do novo ordenamento e não pelos
do Município de Belo Horizonte mantêm a redação original do ordenamentos vindos da antiga lei. Isto significa vontade
art. 208, I da Constituição Federal. O Estado de Sergipe, em sua expressa de uma outra orientação para a Educação de Jovens e
Constituição, diz no art. 217, VI que é dever do Estado garantir Adultos, a partir da nova concepção trazida pela lei ora
a oferta do ensino público noturno, regular e supletivo, aprovada.
adequado às necessidades do educando, assegurando o Do ponto de vista conceitual, além da extensão da
mesmo padrão de qualidade do ensino público diurno regular. escolaridade obrigatória formalizada em 1967, os artigos 37 e
A Constituição Mineira, art. 198, XII, garante a expansão da 38 da LDB em vigor dão à EJA uma dignidade própria, mais
oferta de ensino noturno regular e de ensino supletivo ampla, e elimina uma visão de externalidade com relação ao
adequados às condições do educando. A Constituição Estadual assinalado como regular. O art. 4º VII da LDB é claro:
de Goiás se expressa no art. 157, I que O dever do Estado e dos
Municípios para com a Educação será assegurado por meio de: O dever do Estado com educação escolar pública será
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para efetivado mediante a garantia de:
os que a ele não tiverem acesso na idade própria e que deverão ....
receber tratamento especial, por meio de cursos e exames oferta de educação regular para jovens e adultos, com
adequados ao atendimento das peculiaridades dos educandos. características e modalidades adequadas às suas necessidades e
E a Constituição de Rondônia diz no art. 187, IX ser princípio disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as
da educação no Estado a garantia de acesso ao ensino condições de acesso e permanência na escola;
supletivo. O Estado do Pará, em sua Lei Maior, diz no § único Assinale-se, então: desde que a Educação de Jovens e
do art. 272 que O Poder Público estimulará e apoiará o Adultos passou a fazer parte constitutiva da lei de diretrizes e
desenvolvimento de propostas educativas diferenciadas com bases, tornou-se modalidade da educação básica e é
base em novas experiências pedagógicas, através de reconhecida como direito público subjetivo na etapa do ensino
programas especiais destinados a adultos, crianças, fundamental. Logo, ela é regular enquanto modalidade de
adolescentes e trabalhadores, bem como à capacitação e exercício da função reparadora. Portanto, ao assinalar tanto os
habilitação de recursos humanos para a educação pé - escolar cursos quanto os exames supletivos, a lei os tem como
e de adultos. O município de São José do Rio Preto (SP), além compreendidos dentro dos novos referenciais legais e da
de repetir do art. 208 da Constituição, explicita, em sua Lei concepção da EJA aí posta.
Orgânica no art. 178, que o Município aplicará parcela dos
recursos destinados à educação, objetivando erradicar o 1. Cursos da Educação de Jovens e Adultos
analfabetismo em seu território.
Como consequência desta composição federativa e dos A LDB determina em seu art. 37 que cursos e exames são
dispositivos normativos, a autonomia dos sistemas lhes meios pelos quais o poder público deve viabilizar o acesso do
permite definir a organização, a estrutura e o funcionamento jovem e adulto na escola de modo a permitir o prosseguimento
da EJA. de estudos em caráter regular tendo como referência a base
Por outro lado, o Brasil é signatário de vários documentos nacional comum dos componentes curriculares.
internacionais que pretendem ampliar a vocação de Se a lei nacional não estipula a duração dos cursos -- por
determinados direitos para um âmbito planetário. O direito à ser esta uma competência da autonomia dos entes federativos
educação para todos, aí compreendidos os jovens e adultos, --, e se ela não prevê a frequência, --como o faz com o ensino
sempre esteve presente em importantes atos internacionais, presencial na faixa de sete a quatorze anos --, é preciso apontar
como declarações, acordos, convênios e convenções. o que ela prevê: a oferta desta modalidade é obrigatória pelos
Veja-se como exemplo, além das declarações assinaladas poderes públicos na medida em que os jovens e os adultos
neste parecer, como a Declaração de Jomtien e a de Hamburgo, queiram fazer uso do seu direito público subjetivo. A
a Convenção relativa à luta contra a discriminação no campo organização de cursos, sua duração e estrutura, respeitadas as
do ensino, da UNESCO, de 1960. Essa Convenção foi assinada e orientações e diretrizes nacionais, faz parte da autonomia dos

Legislação Básica em Educação 67


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entes federativos. Tal entendimento legal foi assumido pelo efeito de aferição de resultados e do reconhecimento de
Parecer CEB nº 5/97. A matrícula em qualquer ano escolar das certificados de conclusão.
etapas do ensino está, pois, subordinada às normas do Outro ponto importante, face à organização dos cursos, é a
respectivo sistema, o mesmo valendo, portanto, para a relação entre ensino médio e ensino fundamental. Pergunta-
modalidade presencial dos cursos de jovens e adultos. se: o ensino médio supõe obrigatoriamente o ensino
Os cursos, quando ofertados sob a forma presencial, fundamental em termos organizacionais? O ensino
permitem melhor acompanhamento, a avaliação em processo fundamental, embora determinante na rede de relações
e uma convivência social. Isto não significa que cursos semi próprias de uma sociedade complexa como a nossa, não é
presenciais, que combinam educação a distância e forma condição absoluta de possibilidade de ingresso no ensino
presencial, ou que cursos não- presenciais que se valham da médio, dada a flexibilidade posta na LDB, em especial no art.
educação a distância não devam conter orientações para efeito 24, II, c. O importante é a capacitação verificada e avaliada do
de acompanhamento. Os então chamados cursos supletivos, __ estudante, observadas as regras comuns e imperativas. Mas,
dizia o CFE em 1975 __ não constituem mera preparação para nunca será demais repetir que tal não é a via organizacional
exames Os cursos supletivos [são] atividades que se justificam comum da educação nacional e nem ela é capaz de responder
por si mesmas. (Documenta nº 178 de 9/75). Com efeito, por à complexidade dos problemas educacionais brasileiros. É
estarem a serviço de um direito a ser resgatado ou a ser preciso insistir na importância e na necessidade do caráter
preenchido, os cursos não podem se configurar para seus obrigatório e imprescindível do ensino fundamental na faixa
demandantes como uma nova negação por meio de uma oferta de sete a quatorze anos. O ensino fundamental é princípio
desqualificada, quer se apresentem sob a forma presencial, constitucional, direito público subjetivo, cercado de todos os
quer sob a forma não-presencial ou por meio de combinação cuidados, controles e sanções. Além do que já se legislou sobre
entre ambas. Os exames, sempre oferecidos por instituição esse assunto, a partir do capítulo da educação da Constituição,
credenciada, são uma decorrência de um direito e não a da LDB e da Lei do FUNDEF, há outras indicações legais a
finalidade dos cursos da EJA. serem referidas.
A normatização em termos de estrutura e organização dos Assim, a Emenda Constitucional nº 20 de 1998 alterou o
cursos pertence à autonomia dos sistemas estaduais e teor do art. 7º, XXXIII da Constituição Federal para a seguinte
municipais (nesse último caso, trata-se do ensino redação: proibição de trabalho noturno, perigoso ou
fundamental), que devem exercer o papel de celebrantes de insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a
um dever a serviço de um direito. Contudo, deve-se observar a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a
imperatividade da oferta de exames supletivos prestados partir de quatorze anos. Também a oferta de ensino noturno
exclusivamente em instituições autorizadas, credenciadas e regular, adequado às condições do educando tornou-se dever
avaliadas. Afinal, a avaliação, além de ser um dos eixos da LDB, do Estado, garantido pelo art. 54, VI da Lei 8.069/90 que
consta dos artigos 10 e 11 da mesma lei. especifica a adequação deste turno às condições do
Como referência legal para a autonomia dos sistemas adolescente trabalhador. A proibição de trabalho noturno a
pode-se citar o art. 46 da LDB que, mesmo sendo voltado para estes adolescentes e jovens foi sempre uma forma de respeito
as instituições de ensino superior, espelha um aspecto da a um ser nessa fase de formação e, de outro lado, uma
avaliação dentro do espírito da lei. possibilidade de se ofertar o espaço institucional desta
formação: a escola.
A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o Pode-se acrescentar, ainda, a este respeito, o art. 227 da
credenciamento de instituições de educação superior, terão Constituição que, ao tratar do direito à proteção especial,
prazos limitados, sendo renovados periodicamente, após impõe, no inciso III, a garantia de acesso do trabalhador
processo regular de avaliação. adolescente à escola.
É verdade que a legislação brasileira, ao tornar o ensino
É justo, pois, que os órgãos normativos dos sistemas fundamental obrigatório para todos, não impôs que
saibam o que estão autorizando, reconhecendo e forçosamente ele se desse em instituições escolares. A
credenciando, dada sua responsabilidade no assunto. Daí não realização desta obrigação e deste dever encontra nas
ser exacerbado que tais órgãos exijam, quando da primeira instituições escolares próprias seu lugar social mais adequado
autorização dos cursos, documentos imprescindíveis para tal e historicamente consolidado. Esta constituição de
responsabilidade. Entre outros documentos de caráter geral, conhecimentos, quando devidamente ancorada na lei, nas
como, por exemplo, identificação institucional, objetivos, normatizações consequentes e nos objetivos maiores da
qualificação profissional, estrutura curricular, carga horária, educação, pode ser oferecida também em cursos virtuais, em
processo de avaliação, avultam o regimento escolar, para outros espaços adequados e mesmo no lar. Daí a existência do
efeito de análise e registro, e o projeto pedagógico para efeito art. 24, II, c da LDB que inclui como uma das regras comuns da
de documentação e arquivo. Isto combina com o novo papel educação básica esta possibilidade ao dizer:
esperado dos Conselhos de Educação com ênfase na função de independentemente de escolarização anterior, mediante
acompanhamento, na radiografia e superação de eventuais avaliação feita pela escola, que defina o grau de
deficiências, na identificação e reforço de virtudes. Ainda como desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua
resposta ao princípio da publicidade dos atos do governo, inscrição na série ou etapa adequada, conforme
recomenda-se a sua utilização pelos meios oficiais e pelos regulamentação do respectivo sistema de ensino. Tal
meios de comunicação de modo que as Secretarias e os possibilidade não é a ótica predominante na Lei, tendo-se em
Conselhos de Educação dêem a máxima divulgação dos cursos vista, por exemplo, o § 4º do art. 32 da LDB que diz: o ensino
autorizados. fundamental será presencial, sendo o ensino a distância
Para que esta estruturação responda à urgência desta utilizado como complementação da aprendizagem ou em
modalidade de educação, espera-se que ações integradas entre situações emergenciais.
todos os entes federativos revelem e traduzam mecanismos Mesmo assim, esta emergência ou aquela exceção devem
próprios ao regime de colaboração. ser acompanhadas de avaliação e sob normatividade
As diretrizes curriculares nacionais da EJA são específica. As iniciativas desenvolvidas por entidades públicas
indispensáveis quando da oferta destes cursos. Elas são ou privadas que ofertam modalidades de ensino fundamental
obrigatórias pois, além de significarem a garantia da base por si mesmas ou mediante instituições não credenciadas a
comum nacional, serão a referência exigível nos exames para certificar o término destes estudos, devem ser objeto de
avaliação criteriosa por parte dos órgãos normativos dos

Legislação Básica em Educação 68


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sistemas. Além disso, é bom recordar que o art. 38 fala em OBS: Essa Lei atualmente encontra-se revogada.
prosseguimento de estudos regulares. Por isso mesmo, torna-
se fundamental dar consequência ao disposto no art. 4º, I e VII Esta noção de avanços progressivos se aproxima, tanto da
da LDB. progressão parcial quanto do que diz no mesmo art. 24 o inciso
O importante a se considerar é que os alunos da EJA são V, letras b, c referindo-se à verificação do rendimento escolar
diferentes dos alunos presentes nos anos adequados à faixa do aluno. Tal verificação poderá ter como critérios:
etária. São jovens e adultos, muitos deles trabalhadores,
maduros, com larga experiência profissional ou com b) a possibilidade de estudos para alunos com atraso escolar
expectativa de (re)inserção no mercado de trabalho e com um c). a possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
olhar diferenciado sobre as coisas da existência, que não mediante a verificação do aprendizado.
tiveram diante de si a exceção posta pelo art. 24, II, c. Para eles,
foi a ausência de uma escola ou a evasão da mesma que os Ora, acelerar quem está com atraso escolar significa não
dirigiu para um retorno nem sempre tardio à busca do direito retardar mais e economizar tempo de calendário mediante
ao saber. Outros são jovens provindos de estratos condições apropriadas de aprendizagem que incrementam o
privilegiados e que, mesmo tendo condições financeiras, não progresso do aluno na escola. Tal progresso é um avanço no
lograram sucesso nos estudos, em geral por razões de caráter tempo e no aproveitamento de estudos de tal modo que o
sócio-cultural. Logo, aos limites já postos pela vida, não se aluno atinja um patamar igual aos seus pares. Quem está com
pode acrescentar outros que signifiquem uma nova adiantamento nos estudos também pode ganhar o
discriminação destes estudantes como a de uma banalização reconhecimento de um aproveitamento excepcional. Em cada
da regra comum da LDB acima citada. caso, o tempo de duração dos anos escolares cumpridos com
A LDB incentiva o aproveitamento de estudos e sendo esta êxito é menor que o previsto em lei. Em ambos os casos, tem-
orientação válida para todo e qualquer aluno, a fortiori ela vale se como base o reconhecimento do potencial de cada aluno que
mais para estes jovens e adultos cujas práticas possibilitaram pode evoluir dentro de características próprias. Um, porque
um saber em vários aspectos da vida ativa e os tornaram sua defasagem pedagógica, em termos de pouca experiência
capazes de tomar decisões ainda que, muitas vezes, não hajam com os processos da leitura e da escrita, pode ser redefinida
tematizado ou elaborado estas competências. A EJA é por meio de uma intensidade qualitativa de atenção e de zelo;
momento significativo de reconstruir estas experiências da outro, porque o avanço pode ser resultado de um capital
vida ativa e ressignificar conhecimentos de etapas anteriores cultural mais vasto advindo, por vezes, de outras formas de
da escolarização articulando-os com os saberes escolares. A socialização que não só a escolar, como enunciado no art. 1º da
validação do que se aprendeu "fora" dos bancos escolares é LDB, considerados tantos os fatores internos relativos à escola,
uma das características da flexibilidade responsável que pode como os externos relativos à estratificação social. Estes
aproveitar estes "saberes" nascidos destes "fazeres". aspectos devem ser considerados quando da busca de uma
Entretanto, no caso de uma postulação de ingresso direto ascensão qualitativa nos estudos. De todo modo, a aceleração
no ensino médio da EJA, tal situação deverá ser devidamente depende do disposto no art. 23 da LDB e que correlaciona a
avaliada pelo estabelecimento escolar, obedecida a flexibilidade organizacional, faixa etária e aproveitamento
regulamentação do respectivo sistema de ensino. Logo, a regra sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o
é o esforço para que o ensino seja universalizado para todos e recomendar.
que a uma etapa do ensino se siga a outra. Daí a importância A rigor, as unidades educacionais da EJA devem construir,
do art. 4º II da LDB que coloca como dever do Estado para com em suas atividades, sua identidade como expressão de uma
a educação pública de qualidade a garantia da progressiva cultura própria que considere as necessidades de seus alunos
extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio. e seja incentivadora das potencialidades dos que as procuram.
Este é o caminho para todos os adolescentes e jovens. A Tais unidades educacionais da EJA devem promover a
exceção fica por conta do art. 24, II, c da LDB devidamente autonomia do jovem e adulto de modo que eles sejam sujeitos
interpretado. Se tal exceção é uma alternativa dentro da do aprender a aprender em níveis crescentes de apropriação
função reparadora da EJA, isto não pode significar um do mundo do fazer, do conhecer, do agir e do conviver.
aligeiramento das etapas da educação básica como um todo. Outro elemento importante a se considerar é que tal
Um outro ponto importante a ser considerado é o combinação da faixa etária e nível de conhecimentos exige
aproveitamento pela EJA da flexibilidade responsável tal como professores com carga horária conveniente e turmas
posta no art. 24 da LDB, sem que isto signifique uma adequadas para se aquilatar o progresso obtido, propiciar a
identificação mecânica entre a própria EJA e um modo de avaliação contínua, identificar insuficiências, carências,
aproveitamento de estudos, práticas e experiências como aproveitar outras formas de socialização e buscar meios
fonte de conhecimentos. Com efeito, dentro das regras pedagógicos de superação dos problemas. O perfil do aluno da
comuns, é possível harmonizar para ela o inciso III deste EJA e suas situações reais devem se constituir em princípio da
mesmo artigo respeitada uma transposição criteriosa. Diz o organização do projeto pedagógico dos estabelecimentos, de
inciso: acordo com o art. 25 da LDB.
Sob o novo quadro legal, a existência de iniciativas que já
...nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por faziam a articulação entre formação profissional e educação de
série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão jovens e adultos implica que a relação entre ensino médio e
parcial, desde que preservada a sequência do currículo, educação profissional de nível técnico se dê de modo
observadas as normas do respectivo sistema de ensino. concomitante ou sequencial. O ingresso de um estudante na
educação profissional de nível técnico, supõe a frequência em
Em parte, a Lei nº 5.692/71 já apontava para este aspecto curso ou término do ensino médio, tanto quanto o diploma
quando, em seu art. 14, § 4º dizia: daquela supõe o certificado final deste.
Com as alterações advindas da LDB e do decreto
Verificadas as necessárias condições, os sistemas de ensino regulamentador nº 2.208/97, muitos jovens e adultos poderão
poderão admitir a adoção de critérios que permitam avanços fazer concomitantemente o ensino médio e a educação
progressivos dos alunos pela conjugação de elementos de idade profissional de nível técnico. Assim diz o parecer CNE/CEB
e aproveitamento. 16/99 analisando o referido decreto:

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A possibilidade de aproveitamento de estudos na educação assume o cidadão na condição de participante e usuário de


profissional de nível técnico é ampla, inclusive de “disciplinas ou serviços públicos prestados.
módulos cursados”, interhabilitações profissionais (§ 2º do art.
8º.), desde que o “prazo entre a conclusão do primeiro e do Diz o artigo 37, § 6º:
último módulo não exceda cinco anos” (§ 3º do artigo 8º). Este
aproveitamento de estudos poderá ser maior ainda: as As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
disciplinas de caráter profissionalizante cursadas no ensino prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
médio poderão ser aproveitadas para a habilitação profissional seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado
“até o limite de 25% do total da carga horária mínima” do o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
ensino médio “independente de exames específicos” (parágrafo culpa.
único do artigo 5º), desde que diretamente relacionadas com o
perfil profissional de conclusão da respectiva habilitação. Mais É importante salientar que a elaboração, execução e
ainda: através de exames, poderá haver “certificação de administração de exames supletivos realizados fora do país
competência, para fins de dispensa de disciplinas ou módulos em ficam reservadas à própria União, sob o princípio da sua
cursos de habilitação do ensino técnico “(artigo 11). competência privativa em legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional (art. 22, XXIV). Por se tratar de exames em
A autorização de funcionamento, o credenciamento e as outro país, cabe à nação brasileira, representada pelo Estado
verificações dos cursos da EJA pertencem aos sistemas, Nacional e seus respectivos Ministérios das Relações
obedecidas as normas gerais da LDB e da Constituição Federal. Exteriores e da Educação, realizar tais exames para brasileiros
Para esta autorização e credenciamento, dada sua inserção residentes no exterior e reconhecê-los como válidos para o
legal agora na organização da educação nacional como território nacional.
modalidade da educação básica nas etapas do ensino Para efeito da prestação de exames, é importante
fundamental e médio, os cursos deverão estar “sub lege”. considerar idade estabelecida em lei bem como o direito dos
Quando da primeira autorização, eles deverão apresentar aos portadores de necessidades especiais. A LDB diminui
sistemas, como componente imprescindível da documentação, significativamente a idade legal para a prestação destes
a sua proposta de regimento para efeito de conhecimento e de exames, segundo art. 38, § 1, I e II: maiores de quinze anos para
análise. Os projetos pedagógicos, que são fundamentalmente o ensino fundamental, e maiores de 18 anos para o ensino
expressão da autonomia escolar e meios de atingimento dos médio.
objetivos dos cursos, deverão ser cadastrados para efeito de As comunidades indígenas gozam de situação específica e
registro histórico e de investigação científica. Desse modo, os sob a figura da "escola indígena" se regulam nesta matéria pelo
órgãos normativos exercem sua função pedagógica de Parecer 14/99 e pela Resolução CNE/CEB noº 3/99. Esta
assessoramento e de aconselhamento, e ao exercerem-na forma de ser não impede que indivíduos pertencentes a estas
avalizam estabelecimentos e cursos por eles autorizados, comunidades queiram, por sua iniciativa, se valer destes
tornando-se corresponsáveis pelos mesmos. No caso de exames supletivos.
estabelecimentos que deixem de preencher condições de A concepção subjacente à EJA indica que a considerável
qualidade ou de idoneidade, cabe às autoridades a suspensão diminuição dos limites da idade, face ao ordenamento
ou a cassação da autorização de cursos. E, dadas as anterior, para se prestar exames supletivos da educação de
competências postas pela LDB nos artigos 9, 10, 11 e 67, os jovens e adultos, não pode servir de álibi para um caminho
sistemas estaduais e municipais deverão fazer da avaliação negador da obrigatoriedade escolar de oito anos e justificador
dos cursos o momento oportuno para um exercício da gestão de um facilitário pedagógico. Vale ainda a advertência posta no
democrática, em vista da superação de problemas e da Parecer 699/72 do então CFE a propósito da
correção de propostas inadequadas ou insuficientes.
... ausência de controle do Poder Público sobre os cursos que
2. Exames se ensaiavam e, mesmo, sobre os exames que se faziam... Tudo
isso, aliado às facilidades daí resultantes, encorajava a fuga da
Os exames da EJA devem primar pela qualidade, pelo rigor escola regular pelos que naturalmente deveriam segui-la e
e pela adequação. Eles devem ser avaliados de acordo com o concluí-la. Era por motivos dessa natureza que, já nos últimos
art. 9º, VI da LDB. É importante que tais exames estejam sob o anos, muitos educadores outra coisa não viam na madureza
império da lei, isto é, que sua realização seja autorizada, pelos senão um dispositivo para legitimar a dispensa dos estudos de
órgãos responsáveis, em instituições oficiais ou particulares, 1º e 2º graus.
especificamente credenciadas e avaliadas para este fim.
Ora, as instituições, tanto umas como outras, estão Esta advertência reforça a importância e o valor atribuídos
compreendidas dentro de cada sistema, de acordo com a Lei à oferta universal, anual, imperativa e permanente do ensino
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Assim, tanto as fundamental universal e obrigatório. O dever do Estado para
instituições de ensino mantidas pelo poder público estadual e com o ensino fundamental, com obrigatoriedade universal, se
do Distrito Federal, como as instituições de ensino impõe na faixa etária cujo início é a de sete anos, com a
fundamental e médio, criadas e mantidas pela iniciativa faculdade posta no art. 87, § 3º da LDB de oferta de matrícula
privada, de acordo com o inciso III do art. 17, podem oferecer aos seis anos, e cujo término se situa nos quatorze anos. Já a
cursos da EJA. Segundo o art. 18, as instituições de ensino etapa do ensino médio, com seus três anos de duração, se
fundamental fazem parte das competências dos Municípios. realiza entre os quinze e os dezessete anos.
Também os exames só poderão ser oferecidos por A LDB marca as idades mínimas para a realização dos
instituições que hajam obtido autorização, credenciamento exames supletivos tanto quanto a duração mínima de oito anos
específico e sejam avaliadas em sua qualidade pelo poder do ensino fundamental obrigatório para todos a partir dos sete
público, de acordo com o art. 7o, o art. 10, IV, o art. 17, III, o art. anos. Também o ensino médio tem duração mínima de três
18, I da LDB e, no caso de educação a distância, consoante o anos, logicamente a partir dos 14 ou 15 anos. A questão
Decreto n. 2.494/98. relativa à idade dos exames supletivos deve ser tratada com
As instituições educacionais de direito público ou de muita atenção e cuidado para não legitimar a dispensa dos
direito privado, que sejam credenciadas para fins de exames estudos do ensino fundamental e médio nas faixas etárias
supletivos, regram-se pelo art. 37 da Constituição Federal, que postas na lei a fim de se evitar uma precoce saída do sistema
formativo oferecido pela educação escolar.

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Ora, se a norma é que os estudos se deem em cursos de oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade
estabelecimentos escolares nas faixas etárias postas na lei e competente. A cobrança desta responsabilidade cabe à
sob a forma disposta na LDB, em especial no capítulo II do sociedade civil e, quando omissos, também não estão isentos
Título V, então a correlação cursos de jovens e adultos/exames os responsáveis pelos estabelecimentos escolares, de acordo
supletivos, dadas as novas idades legais, encontra a via de seu com os art. 56 da Lei nº 8.069/90 e o art. 246 do Código Penal.
esclarecimento em um raciocínio indireto. Raciocínio homólogo deve ser estendido ao ensino médio.
No caso do ensino fundamental, a idade para jovens Esta etapa ainda não conta, em nível nacional, com a
ingressarem em cursos da EJA que também objetivem exames obrigatoriedade, embora a LDB, no art. 4º, indique a
supletivos desta etapa, só pode ser superior a 14 anos progressiva extensão da obrigatoriedade. O art. 38 dispõe a
completos dado que 15 anos completos é a idade mínima para destinação da EJA não só para o ensino fundamental na idade
inclusão em exames supletivos. Esta norma aqui proposta própria mas também para o ensino médio na idade própria. A
deve merecer, neste parecer, uma justificativa indicação lógica que se pode deduzir do art. 35 articulado com
circunstanciada. o art. 87 é que a idade própria assinalada na lei é a de 15 a 17
A legislação que trata da "educação escolar obrigatória" anos completos. Se o ensino fundamental é de 8 anos
(entre os 7 e 14 anos) instituiu, de forma clara e incisiva, as obrigatórios com faixa etária assinalada, se o ensino médio é
garantias e os mecanismos financeiros e jurídicos de proteção. de 3 anos, se as etapas da educação básica são articuladas, fica
Assim, qualquer modalidade de burla, de laxismo ou de claro que a idade própria, até para efeito de referência de
aproveitamento excuso que fira o princípio de, no mínimo, oito planejamento dos sistemas, é a de 15 a 17 anos completos. Por
anos obrigatórios, se configura como uma afronta a um direito analogia com o ensino fundamental, por uma referência de
público subjetivo. Além dos direitos e garantias explícitas na equidade, o estudante da EJA de ensino médio deve ter mais de
Constituição Federal, na LDB, na ECA, nas Constituições 17 anos completos para iniciar um curso da EJA. E só com 18
Estaduais e Leis Orgânicas, há que assinalar certas normas anos completos ele poderá ser incluído em exames. Mas se as
importantes. Constituições Estaduais previrem a obrigatoriedade do ensino
Certamente não é por acaso que a idade de 14 anos está médio, o raciocínio a propósito do ensino fundamental se
protegida em normas nacionais e acordos internacionais. aplica com igual força para esta etapa, nos limites da
Deve-se referir de novo ao art. 7º, XXXIII da Constituição, art. autonomia dos Estados.
203, art. 227, § 3º, I e III, a Consolidação das Leis do Trabalho Os certificados de conclusão dos estudantes poderiam ser
(CLT), Decreto-Lei nº 5.452/43 nos arts. 80, 402 a 414; e 424 consequência de exames referenciais por Estado cujos cursos
a 441. Importante citar o Programa Nacional de Direitos integrariam tanto o Sistema de Avaliação da Educação Básica
Humanos expresso no Decreto nº 1904/96 e nos Atos (SAEB), quanto os sistemas próprios de avaliação dos Estados
Internacionais dos quais o Brasil é signatário, entre os quais a e Municípios e poderiam se inspirar, mediante estratégias
Convenção n. 117/62, art. 15, 3 a respeito de objetivos e articuladas, no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), sob
normas básicas da política social. Por tudo isto, a possibilidade a forma de colaboração. De todo modo, mais do que exames
de quebra destes princípios e garantias só se justifica em casos anuais torna-se importante implementar e efetivar a avaliação
excepcionalíssimos, mediante consulta prévia ao órgão em processo como modo mais adequado de aferição de
normativo e ao Conselho Tutelar e a respectiva autorização resultados. Tais observações alertam para a prática de exames
judicial. Experiências ou tentativas que se aproveitam da massivos sem o correspondente cuidado com a qualidade do
fragilidade social de crianças e de adolescentes, fazendo uso de ensino e o respeito para com o educando.
artifícios e expedientes ilícitos para inseri-los precocemente A propósito da relação exames/idade, torna-se
em cursos da EJA, é um verdadeiro crime de responsabilidade importante, no âmbito deste parecer, uma orientação relativa
cuja sanção está prevista não somente nas leis da educação. à emancipação civil de jovens e a prestação de exames
Cumpre apelar ao Conselho Tutelar, de acordo com o supletivos de ensino médio.
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal nº 8.069/90, A Constituição Federal em seu art. 3º IV coloca como
no caso de pais ou responsáveis comprovadamente princípio de nossa República a promoção do bem de todos,
inconsequentes com o dever de matricular seus filhos ou sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
tutelados em escolas. Esta responsabilidade dos pais e tutores outras formas de discriminação.
tem uma dupla face. Quando em face de um caso É evidente que a Constituição está empregando o termo
comprovadamente excepcional à regra da obrigatoriedade discriminação no sentido de uma separação preconceituosa
universal, eles devem justificá-lo junto ao Conselho Tutelar da desrespeitadora do princípio da igualdade. Isto é: uma atitude
Criança e do Adolescente, consoante os art. 98 e 101, I e III do que priva indivíduos ou grupos de direitos aceitos por uma
ECA. Já o caso de evidente e obstinada forma de crime de sociedade por causa de uma diferença. Esta atitude, então,
abandono intelectual (assim conceituado pelo Código Penal torna-se opressiva. A rigor, discriminar é separar, estabelecer
segundo o art. 246) é objeto de sanção explícita. uma linha divisória, classificar ou mesmo estabelecer limites.
É reconhecer diferenças e semelhanças sem que isto signifique
Como diz a Declaração de Jomtien da Educação para Todos, motivo de exclusão ou separação ou formas de desprivilegia
da qual o Brasil é signatário: mento. Quando o próprio texto constitucional estabelece estas
linhas divisórias, ele está aceitando uma discriminação que,
Relembrando que a educação é um direito fundamental de por razões procedentes, separa, distingue sem que haja
todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro; prejuízo ou preconceito para um dos lados da linha. Trata-se
Cada pessoa __ criança, jovem ou adulto __ deve estar em do caso, por exemplo, da idade que, relacionada com
condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas determinadas capacidades, separa, estabelece uma linha
para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. divisória, enfim discrimina o sujeito para votar, ser votado,
habilitar-se para mandatos ou para se aposentar, entre outros.
A responsabilidade por uma oferta irregular de cursos não É o caso da discriminação etária como linha divisória entre
atinge só os estabelecimentos que os oferecem. Ela implica jovens e adultos.
também as autoridades que os autorizaram, inclusive as dos Vale para este aspecto o definido pela Convenção relativa
órgãos executivos, pois elas podem ter sido omissas ou à luta contra a discriminação no campo do ensino, da UNESCO,
coniventes. Nesta medida, também elas podem estar incluídas em 1960:
no § 2º do art. 208 da Constituição Federal que diz: o não –
oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou sua

Legislação Básica em Educação 71


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...o termo "discriminação" abarca qualquer distinção, Parecer 1759/73. Esta posição é reassumida, agora, por este
exclusão, limitação ou preferência que, por motivo de raça, cor, parecer, quanto aos menores na faixa etária de 16 a 18 anos.
sexo, língua, opinião pública ou qualquer outra opinião, origem A diferença entre a capacidade civil, adquirível também
nacional ou social, condição econômica ou nascimento, tenha pela emancipação, e a maturidade intelectual obtida no
por objeto ou efeito destruir ou alterar a igualdade de processo pedagógico patenteia a razão pela qual se interdiz os
tratamento em matéria de ensino menores de 18 anos, ainda que emancipados para certos atos
da vida civil, prestarem exames supletivos de ensino médio.
Neste contexto, pode haver permissão de prestar exames Semelhante é o raciocínio pelo qual se impede um menor de
supletivos de ensino médio para os jovens emancipados entre 18 anos, embora emancipado, obter habilitação de motorista
16 e 18 anos? com base na sua imaturidade psicossocial.
As disposições legais gerais da emancipação, previstas no Isto posto, a consideração fundamental, no entanto, é a
Código Civil, trazem a interdição absoluta deste instituto para necessidade de que todos os jovens e adultos possam ter
o menor de 16 anos (art. 5º). Pode-se dizer que tal interdição oportunidades de acesso ao ensino médio. Além dos
decorre, entre outras razões, pela necessidade de permanência dispositivos legais já citados, cumpre ainda reforçar esta
na escola. A capacidade plena, própria da maioridade, é imperatividade com o art. 227 da Constituição Federal
adquirida aos 21 anos. Os indivíduos entre 16 e 21 anos são (prioridade do direito à vida, à saúde, à alimentação e à
considerados relativamente incapazes (art. 6º) a certos atos ou educação; direito do trabalhador adolescente à escola) e com
no modo de exercê-los. O cessar desta incapacidade relativa o art. 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
pode ocorrer quando do casamento, do exercício de emprego O esforço para universalizar o acesso a e a permanência em
público efetivo, da colação de grau em ensino superior e do ambas as etapas da educação básica, para regularizar o fluxo e
estabelecimento civil ou comercial, com economia própria, se respeitar a nova concepção da EJA, assinala que as políticas
a pessoa estiver entre 16 e 21 anos (art. 9º). Na medida em que públicas devem se empenhar a fim de que a função
a LDB já rebaixou a idade legal para prestação de exames qualificadora venha a se impor com o seu potencial de
supletivos de ensino médio para 18 anos, a questão adquire enriquecimento dos estudantes já escolarizados nas faixas
menor amplitude. etárias assinaladas em lei. É por isso que a vontade política
Entretanto, o instituto da emancipação se dirige para deve comprometer-se tanto com a universalização da
determinados casos dos atos concernentes à vida civil, educação básica quanto com ações integradas a fim de tornar
devidamente citados no Código Civil. Os casos permitidos são cada vez mais residual a função reparadora e equalizadora da
todos próprios dos atos da vida civil, especificamente os EJA.
relativos à gerência de negócios e à faculdade de dispor de A avaliação em processo, também tornada
bens. Logo, este instituto não é absoluto. Há linhas divisórias. progressivamente presente no interior dos sistemas deverá,
Ora, entre os casos já citados, inexiste qualquer referência à para efeito de decisões sobre a qualidade do ensino da EJA,
capacidade de um emancipado entre 16 e 18 anos prestar analisar criticamente a função de exames avulsos
exames supletivos do ensino médio. A referência de cessação desvinculados dos próprios cursos. Tal aspecto se tornará
da incapacidade para atos da vida civil no caso da colação de mais constante e presente quando a EJA vier a se integrar ao
grau científico em um curso de ensino superior, ainda que Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica.
explicável pela data do Código Civil (1916), atualmente se
torna mais e mais improvável e excepcionalíssima pela 3. Cursos a distância e no exterior
extensão e duração que tem hoje os ensinos fundamental e
médio. A educação a distância sempre foi um meio capaz de
Na base da consideração de que o emancipado de 16 a 18 superar uma série de obstáculos que se interpõem entre
anos não tenha acesso ao exame supletivo está o raciocínio, já sujeitos que não se encontrem em situação face a face. A
comprovado, que o acesso à maturidade intelectual depende educação a distância pode cumprir várias funções, entre as
de um processo psico-sociopedagógico e não de um ato quais a do ensino a distância, e pode se realizar de vários
jurídico. Além do mais, a nova LDB já rebaixou bastante a idade modos. Sua importância avulta cada vez mais em um mundo
para a aptidão legal de prestação de tais exames. Se tomarmos dependente de informações rápidas e em tempo real. Ela
como referência as leis passadas pertinentes ao assunto, ver- permite formas de proximidade não-presencial, indireta,
se-á que esta capacidade jurídica se punha acima dos 18 anos. virtual entre o distante e o circundante por meio de modernos
Isto confirma a mesma assertiva já posta pelo CFE ante igual aparatos tecnológicos. Sob este ponto de vista, as fronteiras, as
objeto no parecer 808/68 de 5/12/68 do Cons. Celso Cunha divisas e os limites se tornam quase que inexistentes.
A Câmara de Ensino Primário e Médio é, assim, de parecer A LDB traz várias referências tanto para educação a
que não pode inscrever-se e prestar exames de madureza de 2º distância como para o ensino a distância. Assim, deve-se
ciclo a candidata casada com apenas 16 anos de idade, porque consultar os art. 80 e art. 32, § 4º bem como o Decreto Federal
a lei, ao estabelecer a exigência de 19 anos para fazê-lo, não nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998. Se o art. 80 incentiva o
cogitou da capacidade civil do candidato, e sim do seu poder público no sentido do desenvolvimento de programas
amadurecimento mental e cultural, do que ele sabe e do que está de ensino a distância em todos os níveis e modalidades, o art.
em condições de aprender. 32 § 4º restringe tais iniciativas quando se tratar do ensino
fundamental na faixa etária obrigatória. Este deve ser sempre
Também o parecer 699/72, tendo como referência legal a presencial, salvo quando utilizado como complementação da
idade de 21 anos para a realização dos exames, diz: aprendizagem ou em situações emergenciais.
Este veio fecundo e contemporâneo, dado seu caráter
É inútil que se adquira e alegue emancipação, pois não se inovador e flexível, pode sempre ser tomado de assalto por
resolve uma questão de ordem psicopedagógica pela tentativa mãos inescrupulosas com consequências inversas ao
de convertê-la em matéria jurídica. desejado: ensino medíocre e certificados e diplomas
mercadorizados. Daí a importância de um processo
O Parecer 1484/72 do mesmo Conselho responde a uma permanente de certificação que informe sobre a qualidade das
demanda específica, confirmando o Parecer 699/72. O mesmo iniciativas neste setor.
posicionamento negativo quanto à possibilidade de um menor O Decreto nº 2.494/98 regulamenta a educação a distância
de 21 anos prestar exames supletivos foi reconfirmado pelo em geral e reserva à competência da União a autorização e o
funcionamento de cursos a distância. Ao fazer referência à EJA,

Legislação Básica em Educação 72


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o decreto permite a presença de instituições públicas e próprias, quando da autorização e credenciamento de cursos e
privadas. Mas exige, em qualquer circunstância, a obediência exames supletivos ofertados fora do Brasil e subordinados às
às diretrizes curriculares fixadas nacionalmente (§ único do nossas diretrizes e bases.
art. 1º), considerando-se os conteúdos, habilidades e No caso da revalidação, ressalvada a delegação de
competências aí descritos. (§ único do art. 7º). competências, pode-se invocar o art. 6º do Decreto nº
Já o art. 2º do decreto diz que os cursos a distância que 2.494/98, que diz:
conferem certificado ou diploma de conclusão do ensino
fundamental para jovens e adultos…serão oferecidos por Os certificados e diplomas de cursos a distância emitidos por
instituições públicas ou privadas especificamente instituições estrangeiras, mesmo quando realizados em
credenciadas para este fim…em ato próprio, expedido pelo cooperação com instituições sediadas no Brasil, deverão ser
Ministro de Estado da Educação e do Desporto. revalidados para gerarem efeitos legais, de acordo com as
O credenciamento das instituições é, pois, mediação normas vigentes para o ensino presencial.
obrigatória para que cursos a distância sejam autorizados e
para que seus diplomas ou certificados tenham validade Ora, a revalidação, no caso, está sujeita à norma geral
nacional. Tais cursos deverão ser reavaliados a cada cinco vigente sobre o assunto e que tem o art. 23, § 1º da LDB como
anos para efeito de renovação do credenciamento, segundo o uma de suas referências. Diz o parágrafo:
art. 2º, § 4º do decreto e de acordo com procedimentos,
critérios e indicadores de qualidade definidos em ato próprio A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se
do Ministro da Educação e do Desporto (art. 2º, § 5º). tratar de transferência entre estabelecimentos situados no País
e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais.
Quanto à moralidade destes cursos, o § 6º do artigo 2º não
deixa margem à dúvida: O primeiro aspecto a se destacar é a distinção entre
equivalência de estudos e a revalidação de diplomas.
A falta de atendimento aos padrões de qualidade e a A equivalência é um processo que supõe previamente uma
ocorrência de irregularidade de qualquer ordem serão objeto de comparação qualitativa entre componentes curriculares de
diligência, sindicância e, se for o caso, de processo cursos diferentes para efeito de avaliação e classificação de
administrativo que vise apurá-los, sustando-se, de imediato, a nível e de grau de maturidade intelectual. Quando a
tramitação de pleitos de interesse da instituição, podendo ainda correspondência é de igual valor, mesmo no caso de
acarretar-lhe o descredenciamento. nomenclatura diferente para conteúdos idênticos ou bastante
análogos, atribui-se a estes componentes curriculares a
O art. 3º diz que a matrícula nos cursos a distância de equivalência dos estudos ou dos créditos pretendidos. Neste
ensino fundamental para jovens e adultos será feita caso, vale a autonomia dos sistemas e dos estabelecimentos
independentemente de escolarização anterior, mediante escolares para efeito de reclassificação, tendo como base as
avaliação…conforme regulamentação do respectivo sistema normas curriculares gerais, como diz a LDB no § 1º do art. 23.
de ensino. Já a revalidação é um ato oficial pelo qual certificados e
O art. 4º permite o mútuo aproveitamento de créditos e diplomas emitidos no exterior e válidos naquele país tornam-
certificados obtidos pelos estudantes em modalidades se equiparados aos emitidos no Brasil e assim adquirem o
presenciais e a distância de cursos. caráter legal necessário para a terminal idade e consequente
Exigido sempre o exame presencial para efeito de validade nacional e respectivos efeitos. Para tanto, se requer
certificado de conclusão, promoção ou diplomação em um conjunto de formalidades imprescindíveis para que os
instituições credenciadas, diz o art. 8º que nos níveis efeitos legais se processem em um quadro de autenticidade.
fundamental para jovens e adultos .... Os sistemas de ensino Respeitadas as formalidades inscritas nos acordos ou
poderão credenciar instituições exclusivamente para a convênios culturais de reciprocidade bilateral próprios das
realização de exames ... será exigido para o credenciamento de vias diplomáticas, certificados e diplomas que necessitem de
tais instituições a construção e manutenção de banco de itens revalidação, sê-lo-ão por autoridade oficial competente no
que será objeto de avaliação periódica (art. 8º, § 1º). país. A reciprocidade, entenda-se, vale tanto para os casos em
O credenciamento destas instituições, competência que um país exija explicitamente a revalidação de ensino
privativa do poder público federal pode ser delegado aos médio feito no Brasil, quanto para os que subentendem plena
outros poderes públicos. É isto o que diz o artigo 12 do Decreto validade de certificados de conclusão sem exigências
nº 2.561/98. Pelas suas características, especialmente quanto específicas de adaptação. Quando for o caso, o ato revalidador
à possibilidade de certificado formal de conclusão tanto do dos certificados pode exigir a análise prévia dos estudos
ensino fundamental como do ensino médio, os cursos da EJA, realizados no exterior para efeito de equivalência.
sob a forma não-presencial, hão de prever, obrigatoriamente, Quando a educação profissional de nível técnico estava
exames presenciais ao final do processo. Tais exames somente integrada ao então ensino de 2º grau, o art. 65 da Lei nº
poderão ser realizados por instituição especificamente 5.692/71 também regrava o assunto, havendo normatização
credenciada para este fim por meio de ato do poder público o do assunto pelo CFE, como, por exemplo, a Resolução n. 4/80
qual, segundo o art. 9º do Decreto nº 2.494/98, divulgará, e o Parecer 757/75 reexaminado pelo Parecer 3.467/75. Antes
periodicamente, a relação das instituições credenciadas, da Lei nº 5.692/71, o parecer 274/64 regulamentava
descredenciadas e os cursos ou programas autorizados. longamente a questão da equivalência. Em geral, a revalidação
Assim, tal competência pode ser delegada aos sistemas de tem maior número de casos face ao ensino superior, hoje
ensino, no âmbito de suas respectivas atribuições, para fins de regulada pelo art. 48, § 2º da LDB. E, como dantes, para
oferta de cursos a distância dirigidos à educação de jovens e prosseguimento de estudos no ensino superior, a prova válida
adultos e ensino médio e educação profissional de nível exigida para ingresso neste nível é o certificado de conclusão
técnico (art. 12 do Decreto). do ensino médio ou equivalente, segundo o inciso II do art. 44
Esta competência da União, se privativa dentro do da LDB.
território nacional, com maior razão há de sê-lo fora dele. A Associando-se a LDB ao Decreto nº 2.494/98, deve-se dizer
equivalência de estudos feitos fora do país e a revalidação de que quando houver acordo cultural entre países que
certificados de conclusão de ensino médio emitidos por país assegurem reciprocamente a plena validade de certificados de
estrangeiro, reitere-se, são de competência privativa da União conclusão sem outras exigências de adaptações, o mesmo não
para terem aqui validade. O mesmo se aplica, sob condições vale para os certificados da EJA. Tomando-se o art. 6º do

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Decreto supra mencionado, entende-se que os certificados de ampliada gradativamente. Da mesma forma, deve ser
conclusão de ensino médio de jovens e adultos, emitidos por garantido, aos que completaram o ensino fundamental o acesso
instituições estrangeiras, validados pelo país de origem e ao ensino médio.
reconhecidos pelas formalidades diplomáticas, deverão ser Esta ampliação supõe a EJA prioritariamente dentro da
revalidados para gerarem efeitos legais. Tais documentos esfera pública. E a garantia supõe recursos suficientes e
servirão de prova tanto para efeito de prossecução na identificáveis. Os investimentos necessários para que tal
educação profissional de nível técnico, quanto para o processo política gradativa e ampliadora se dê supõem uma dilatação do
seletivo para o ensino superior. fundo público e um controle democrático dos recursos
Em qualquer hipótese, cabe aos poderes públicos dos destinados exclusivamente ao ensino e a esta modalidade de
respectivos sistemas a formalização conclusiva da revalidação, educação.
sempre respeitados o teor dos acordos culturais celebrados A Carta de Recife, de fevereiro de 2.000, ao retomar os
entre o Brasil e outros países. objetivos de Jomtien, após uma década da Declaração, coloca
O segundo aspecto se refere a cursos de EJA e exames para a EJA, como meta, assegurar, em cinco anos, a oferta de
supletivos para brasileiros residentes no exterior. Sob este educação equivalente aos anos iniciais do ensino fundamental
ponto de vista não deixa de ser significativa a experiência para 50% da população dessas faixas etárias não
levada adiante pelo governo brasileiro no Japão, em 1999. escolarizadas. Além disso, a Carta tem como outra meta
Muitos descendentes nipônicos, brasileiros natos, puderam propiciar a oferta de educação equivalente aos oito anos do
prestar exames supletivos inclusive com a supervisão da ensino fundamental para todos os jovens e adultos que hajam
Câmara de Educação Básica. Logo, tratou-se de exame nacional concluído apenas os quatro primeiros anos.
em um contexto transnacional. Trata-se de uma competência O Informe Subregional de América Latina, avaliando os dez
privativa da União, própria do art. 22, XXIV, que estabelece as anos da Declaração de Jomtien, discutido na República
diretrizes e bases da educação nacional. O Brasil, diz Dominicana em fevereiro de 2.000 afirma:
acertadamente o parecer CEB nº 11/99, não tem competência Las politicas educativas orientadas a la alfabetización y a la
para autorizar o funcionamento de escolas em outro país educación de jóvenes y adultos, requieren la articulación com las
porque somente a autoridade própria do país onde a escola actuales reformas educativas; la concertación de acciones entre
pretenda instalar-se poderá emitir tal permissão, no exercício los distintos actores; el uso de nuevas tecnologias para ampliar
da soberania territorial. Mas, um exame prestado fora do la cobertura y la calidad, la reconceptualización de la
território brasileiro, para efeito de validade nacional e alfabetización y la educación de jovenes y adultos...
respectivo certificado de conclusão, deve passar
necessariamente pelo exercício das soberanias nacionais em O Fórum Mundial da Educação para Todos, realizado em
causa. Daí porque tais iniciativas devem ter como entidades abril de 2000, em Daccar (Senegal), pretende manter as metas
autorizatórias aquelas que tenham caráter nacional. Nesse estabelecidas em Jomtien até o ano 2015. Mas tão importantes
caso, o foro adequado é o Ministério da Educação, o Ministério quanto as metas de acesso são as que pretendem igualar os
das Relações Exteriores e o Conselho Nacional de Educação. resultados da aprendizagem face aos bons padrões de
qualidade.
4. Plano Nacional de Educação O importante é que tal Plano, de cujas metas espera-se um
maior democratização da escolaridade, passe ao campo das
A EJA mereceu um capítulo próprio no projeto de Lei n. realidades efetivadas.
4.155/98 referente ao Plano Nacional de Educação, em
tramitação no Congresso Nacional e que em seu diagnóstico V - Bases históricas da Educação de Jovens e Adultos no
reconhece um quadro severo. Brasil

Os déficits do atendimento no Ensino Fundamental "Professora, agora eu sei o que eu posso fazer, dedo melado
resultaram, ao longo dos anos, num grande número de jovens e eu não vou mais ter."
adultos que não tiveram acesso ou não lograram terminar o (de um aluno de 72 anos, após ter sido alfabetizado)
ensino fundamental obrigatório. Embora tenha havido
progresso com relação a esta questão, o número de analfabetos Se não tinha amigos na redondeza, não tinha inimigos, e a
é ainda excessivo e envergonha o país. [...] Todos os indicadores única desafeição que merecia, fora a do doutor Segadas, um
apontam para a profunda desigualdade regional na oferta de clínico afamado no lugar, que não podia admitir que Quaresma
oportunidades educacionais e a concentração de população tivesse livros: "Se não era formado, para quê? ... (Lima Barreto,
analfabeta ou insuficientemente escolarizada nos bolsões de 1994, p.19)
pobreza existentes no país.
As primeiras iniciativas sistemáticas com relação à
E o Plano propõe que educação básica de jovens e adultos se desenham a partir dos
anos 30, quando a oferta de ensino público primário, gratuito
Para acelerar a redução do analfabetismo é necessário agir e obrigatório, se torna direito de todos. Embora com variadas
ativamente tanto sobre o estoque existente quanto sobre as interpretações nos Estados e Municípios, o registro deste
futuras gerações. direito atingia inclusive os adultos.
Com o fim da ditadura estadonovista, era importante não
E o Plano aponta ainda como meta ir além dos quatro só incrementar a produção econômica como também
primeiros anos do ensino fundamental e a necessidade de uma aumentar as bases eleitorais dos partidos políticos e integrar
ação conjunta e concreta. ao setor urbano as levas migratórias vindas do campo. Por
O projeto de lei que acompanha o Plano Nacional de outro lado, no espírito da "guerra fria”, não convinha ao país
Educação diz que exibir taxas elevadas de populações analfabetas. É neste
período que a educação de jovens e adultos assume a
...o resgate da dívida educacional não se restringe à oferta dimensão de campanha. Em 1947, é lançada a Campanha de
de formação equivalente às quatro séries iniciais do ensino Educação de Adolescentes e Adultos, dirigida principalmente
fundamental. A oferta do ciclo completo de oito séries, àqueles para o meio rural. Sob a orientação de Lourenço Filho, previa
que lograrem completar as séries iniciais é parte integrante dos uma alfabetização em três meses e a condensação do curso
direitos assegurados pela Constituição Federal e deve ser primário em dois períodos de sete meses. A etapa seguinte da

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"ação em profundidade" se voltaria para o desenvolvimento Até meados da década de 80, o MOBRAL não parou de
comunitário e para o treinamento profissional. Os resultados crescer atingindo todo o território nacional e diversificando
obtidos em número de escolas supletivas em várias regiões do sua atuação. Uma de suas iniciativas mais importantes foi o
país até mesmo com o entusiasmo de voluntários não se Programa de Educação Integrada (PEI) que, mediante uma
manteve na década subsequente, mesmo quando condensação do primário, abria a possibilidade de
complementada e, em alguns lugares substituída pela continuidade de estudos para recém-alfabetizados com
Campanha Nacional de Educação Rural _ uma iniciativa precário domínio da leitura e da escrita.
conjunta dos Ministérios da Educação e Saúde, com o O volume de recursos investido no MOBRAL não chegou a
Ministério da Agricultura, iniciada em 1952. render os resultados esperados, sendo considerado um
Estas duas campanhas foram extintas em 1963. A primeira, desperdício e um programa ineficiente por planejadores e
sobretudo, possibilitou o aprofundamento de um campo educadores, e os intelectuais o tinham como uma forma de
teórico- pedagógico orientado para a discussão do cooptação aligeirada. Foi até mesmo acusado de adulteração
analfabetismo enquanto tal. A desvinculação do analfabetismo de dados estatísticos. Longe de tomar como princípio o
de dimensões estruturais da situação econômica, social e exercício do pensamento crítico, tais ações implicavam uma
política do país legitimava uma visão do adulto analfabeto concepção benfazeja do desenvolvimento para os "carentes".
como incapaz e marginal, identificado psicologicamente com a É preciso registrar ainda a ampla difusão do ensino
criança. supletivo, promovido pelo MEC, a partir da Lei nº 5.692/71. De
Nesse período, estudantes e intelectuais atuam junto a um lado, a extensão do ensino primário para o ensino de 1º
grupos populares desenvolvendo e aplicando novas grau, com oito anos de duração, motivou uma intensa procura
perspectivas de cultura e educação popular. É o caso do de certificação nesse nível, através dos exames. Esses exames
Movimento de Cultura Popular, criado em Recife em 1960 e passaram a ser realizados em estádios esportivos, exigindo sua
dos Centros de Cultura Popular da União Nacional dos normatização a nível nacional. Por outro lado, o Parecer nº
Estudantes, a partir de 1961. Também segmentos da Igreja 699/71 do Cons. Valnir Chagas, como já foi referido, redefiniu
Católica aplicar-se-ão neste compromisso, com destaque para as funções desse ensino e o MEC promoveu a realização de
o Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à Conferência grande número de cursos, como por exemplo os dirigidos à
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Outras iniciativas que certificação dos professores leigos (Logos I e II). Certamente a
merecem destaque foi a da Prefeitura de Natal com a iniciativa mais promissora foi a implantação dos Centros de
Campanha "de Pé no Chão também se aprende a Ler" e a Ensino Supletivo (CES), abertos aos que desejavam realizar
Campanha de Educação Popular da Paraíba (CEPLAR). estudos na faixa de escolaridade posterior às séries iniciais do
Mas a referência principal de um novo paradigma teórico ensino de primeiro grau, inclusive aos egressos do MOBRAL.
e pedagógico para a EJA será a do educador pernambucano Desde a metade dos anos 70, por sua vez, a sociedade
Paulo Freire. A sua proposta de alfabetização, teoricamente começava a reagir aos tempos de autoritarismo e repressão,
sustentada em uma outra visão socialmente compromissada, com a auto-organização exercendo importante papel.
inspirará os programas de alfabetização e de educação popular Movimentos populares em bairros das periferias urbanas,
realizados no país nesse início dos anos 60. movimentos sociais de caráter político e de oposição sindical,
Os diferentes grupos acima referidos foram se articulando associações de bairro e comunidades de base começam,
e passaram a pressionar o governo federal a fim de que os lentamente, a se constituir em atores sociais, aspirando por
apoiasse e estabelecesse uma coordenação nacional das democracia política e uma mudança de rumos excludentes do
iniciativas, o que efetivamente ocorreu em meados de 1963. crescimento econômico. Faziam-se também presentes
Logo depois, em novembro, foi criado também o Plano diversos movimentos defensores do direito à diferença e
Nacional de Alfabetização que previa a disseminação por todo contestadores das múltiplas formas de discriminação entre as
o Brasil de programas de alfabetização orientados pelo já quais as relativas às etnias e ao gênero. Renascia a sociedade
conhecido "Sistema Paulo Freire". civil organizada, acionada pelas condições soco existenciais de
O golpe de 1964 interrompe a efetivação do Plano que vida marcadas pela ausência de liberdade, de espaços de
desencadearia estes programas. O "modelo de participação e de ganhos econômicos. Ganha força a ideia e a
desenvolvimento" adotado pelos novos donos do poder prática de uma educação popular autônoma e reivindicante.
entendia como ameaça à ordem tais planos e programas. Os Esta buscava a construção de grupos de alfabetização, de
programas, movimentos e campanhas foram extintos ou reflexão e de articulação.
fechados. A desconfiança e a repressão reinantes atingiram Neste período, o III Plano Setorial de Educação, Cultura e
muitos dos promotores da educação popular e da Desporto (1980-1985) toma como um dos seus eixos a
alfabetização. Contudo, a existência do analfabetismo redução das desigualdades, assinalando a educação como
continuava a desafiar o orgulho de um país que, na ótica dos direito fundamental "mobilizadora...para a conquista da
detentores do poder, deveria se tornar uma "potência" e palco liberdade, da criatividade e da cidadania". Este Plano busca
das "grandes obras". A resposta do regime militar consistiu uma "nova postura com relação à educação de adolescentes e
primeiramente na expansão da Cruzada ABC, entre 1965 e adultos". Esta educação deveria atender aos objetivos de
1967 e, depois, no Movimento Brasileiro de Alfabetização “desenvolvimento cultural, de ampliação de experiências e
(MOBRAL). Criado em 1967, o MOBRAL constituiu-se como vivências e de aquisição de novas habilidades". Por isso o
fundação, com autonomia gerencial em relação ao Ministério ensino supletivo para dar certo deveria contar, socialmente,
da Educação. A partir de 1970, reestruturado, passou a ter com a distribuição da renda, a participação mobilizadora,
volumosa dotação de recursos, provinda de percentual da comunitária e pedagogicamente inovadora e
Loteria Esportiva e sobretudo deduções do Imposto de Renda, "tendencialmente não-formal". Daí decorreram os programas
dando início a uma campanha massiva de alfabetização e de de caráter compensatório como o Programa Nacional de Ações
educação continuada de adolescentes e adultos. Comissões Sócio- Educativas para o Meio Rural (PRONASEC) e o
Municipais se responsabilizavam pela execução das atividades Programa de Ações Socioeducativas e Culturais para as
enquanto que a orientação geral, a supervisão pedagógica e a Populações Carentes Urbanas (PRODASEC), ambos de 1980.
produção de material didático eram centralizados. Se o Em 1985, já declinante o regime autoritário, o MOBRAL foi
material didático e a técnica pedagógica se inspiravam no substituído pela Fundação EDUCAR, agora dentro das
"método Paulo Freire", a nova orientação esvaziara toda a competência do MEC e com finalidades específicas de
ótica problematizadora que nela primava. alfabetização. Esta Fundação não executa diretamente os
programas, mas atuava via apoio financeiro e técnico às ações

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de outros níveis de governo, de organizações não - governamental. Seu Programa de Alfabetização Solidária,
governamentais e de empresas. Ela foi extinta em 1990, no realizado em parceria com o MEC e a iniciativa privada, atua
início do Governo Collor, quando já vigia uma nova concepção em vários municípios, prioritariamente no Nordeste e no
da EJA, a partir da Constituição Federal de 1988. Norte, e dentre esses os que exibem maiores índices de
Vê-se, pois, que, ao lado da presença intermitente do analfabetos. Universidades associadas ao programa fornecem
Estado, estão presentes as parcerias de associações civis com apoio para o processo de alfabetização. Desde 1999, o
os poderes públicos, iniciativas próprias que, voluntariamente, programa vem se estendendo para os grandes centros
preenchem lacunas naquilo que é dever do Estado. A sociedade urbanos.
organizada, máxime mediante entidades sem fins lucrativos, O governo federal mantém outros programas vinculados
deve colaborar com os titulares do dever de atendimento da ao Ministério de Assuntos Fundiários e da Reforma Agrária
escola. Esta colaboração, por vezes forjada em outras junto aos assentamentos. E há uma forte presença do
dimensões da educação, pode se revestir de precioso Ministério do Trabalho no âmbito de projetos educacionais
enriquecimento na tarefa de acelerar o acesso dos que não voltados para diferentes formas de capacitação de
tiveram oportunidades na sua infância e adolescência. Muitas trabalhadores, que conta com recursos do Fundo de Amparo
destas associações adquiriram grande experiência neste aos Trabalhadores (FAT). Há, uma forte presença das
campo. O saber destas associações pode se constituir num entidades do chamado "Sistema S" em programas de educação
tesouro imenso de indicações, apontamentos de ordem profissional de nível básico. Com a reforma da educação
cultural e metodológica quando se propõem a tematizar e profissional em curso, as escolas técnicas públicas e privadas
trabalhar no âmbito da educação escolar. também estão implantando e incrementando programas de
educação profissional de nível básico paralelamente à oferta
VI - Iniciativas públicas e privadas. de cursos de educação profissional de nível técnico.
A nova formulação legal da EJA no interior da educação
O campo da EJA é bastante amplo, heterogêneo e complexo. básica, como modalidade do ensino fundamental e sua
Múltiplas são as agências que as promovem, seja no âmbito inclusão na ótica do direito, como direito público subjetivo, é
público, seja no privado, onde se mesclam cursos presenciais uma conquista e um avanço cuja efetivação representa um
com avaliação no processo, cursos à distância, cursos livres, caminho no âmbito da colaboração recíproca e na necessidade
formas específicas de educação mantidas por organizações da de políticas integradas.
sociedade civil e tantas outras iniciativas sob a figura da Os Estados, com sua atuação agora focalizada no ensino
educação permanente. médio, estão tendendo a reduzir sua presença nesta área.
De modo geral, pode-se distinguir iniciativas que provém Mesmo assim algumas secretarias mantiveram suas equipes
dos poderes públicos e da iniciativa civil. até mesmo para repassar a experiência adquirida para os
A União sempre atuou de alguma maneira no âmbito da Municípios.
educação de jovens e adultos sob forma de assistência técnica Os Municípios, ora com mais e maiores encargos no âmbito
e financeira. O papel atual, posto no art. 8º, § 1º da LDB, releva da educação básica, não possuem uma realidade homogênea
a função de articulação como capaz de impedir nem quanto ao seu tamanho, nem quanto à sua inserção em
descontinuidades e induzir ações continuadas e integradas diferentes regiões e contextos. Assim, é preciso reconhecer
entre os diferentes entes federativos. A presença articuladora que muitos, seja por falta de tradição na área, seja por carência
da União torna-se, inclusive, um locus fundamental de de recursos, não estão tendo capacidade e condições de
encontro dos diferentes entes federativos e de outros assumir os encargos que lhes foram atribuídos. Ao mesmo
interlocutores participantes da EJA. O Ministério, abrigando o tempo muitas administrações municipais vêm buscando
conjunto dos interessados, poderia propor orientações gerais assumir este compromisso com propostas curriculares,
e comuns, coordenar as várias iniciativas inclusive com vistas formação docente e produção de material didático. Donde a
ao emprego equitativo e racional dos recursos públicos e sua importância da existência de uma fonte permanente de
redistribuição no âmbito das transferências federais. recursos a fim de viabilizar o caráter includente deste direito.
Atualmente, a Coordenadoria da EJA (COEJA), vinculada à Assim, como direito de cidadania, a EJA deve ser um
Secretaria de Educação Fundamental (SEF) do MEC, integra o compromisso de institucionalização como política pública
conjunto das políticas do ensino fundamental. Entre seus própria de uma modalidade dos ensinos fundamental e médio
objetivos e finalidades está o de estabelecer e fortalecer e consequente ao direito público subjetivo. E é muito
parcerias e convênios com Estados e Municípios. Tais importante que esta política pública seja articulada entre
iniciativas se fazem sob o princípio do art. 8º, § 1º que todas as esferas de governo e com a sociedade civil a fim de
estabelece a função supletiva e redistributiva da União junto que a EJA seja assumida, nas suas três funções, como obrigação
aos sistemas de ensino. Vários projetos com Municípios e peremptória, regular, contínua e articulada dos sistemas de
Estados, via convênios e parcerias com outros órgãos públicos ensino dos Municípios, envolvendo os Estados e a União sob a
de outros Ministérios e organizações não-governamentais, são égide da colaboração recíproca.
avaliados antes de obter financiamento. O MEC tem editado, Também os interessados na efetivação do direito à
coeditado e distribuído livros pedagógicos e didáticos educação dos jovens e adultos têm procurado se reunir em
apropriados para essa modalidade, direcionados aos alunos e torno de associações civis-educacionais, sem fins lucrativos, e
aos professores, inclusive sob a forma de propostas que mostram trabalhos da maior relevância social. Muitas
curriculares. É um modo de traduzir a função supletiva da delas acumulam conhecimentos significativos dada sua
União no sentido de proporcionar aos projetos pedagógicos presença, de longa data, neste campo.
das instituições e dos estabelecimentos da EJA mais recursos Os empresários, dentro de seus objetivos, reconhecendo a
didáticos. Outras iniciativas se dirigem para projetos relativos importância da educação e incorporando sua necessidade, têm
ao apoio a docentes que queiram desenvolver ações de tomado iniciativas próprias ou buscado o fortalecimento de
formação continuada. Amparado pelos ditames parcerias seja com os poderes públicos, seja com organizações
constitucionais e infraconstitucionais, a União, ao deixar de não - governamentais e redefinindo ações já existentes no
atuar diretamente nessa área, reserva aos Estados e âmbito do "Sistema S".
Municípios a ação direta de atuação. Os trabalhadores, conscientes do valor da educação para a
Desde 1997, a Presidência da República apoia ações de construção de uma cidadania ativa e para uma formação
alfabetização por meio do Conselho da Comunidade Solidária contemporânea, tomam a EJA como espaço de um direito e
que, a rigor, a partir de 1999, tornou-se uma organização não como lugar de desenvolvimento humano e profissional.

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A rigor, uma vez e quando superadas as funções de de idade ou mais, vem caindo sistematicamente, se tomarmos
reparação e de equalização, estas iniciativas deverão como referência o período compreendido entre 1920 e 1996.
encontrar seu mais marcante perfil na função qualificadora. Em 1920, 64,9% da população brasileira da faixa
Este conjunto de iniciativas tem realizado eventos e se assinalada era analfabeta, perfazendo 11.401.715 pessoas. Em
reunido em fóruns regionais, nacionais e internacionais. A 1940 era de 56,0% com 13.269.381 pessoas. Em 1960 o
UNESCO tem sido incentivadora destes eventos e um lugar percentual era de 39,6% com 15.964.852 pessoas. Em 1980,
institucional de encontro dos mais diferentes países com suas tínhamos 18.651.762 pessoas nesta condição, sendo 25,4% do
mais diversas experiências. universo de 15 anos ou mais. De acordo com o IBGE, em 1996,
Para se avançar na perspectiva de um direito efetivado é o percentual era de 14,1% com um contingente de 15 milhões
preciso superar a longa história de paralelismo, dualidade e de analfabetos. Este último dado significa também o
preconceito que permeou a sociedade brasileira e as políticas decréscimo do número absoluto de analfabetos na faixa etária
educacionais para a EJA. Neste sentido, consoante a de mais de 15 anos.
colaboração recíproca e a gestão democrática, a avaliação É claro que se somarmos o número dos analfabetos ao dos
necessária das políticas implica uma atualização permanente jovens e adultos com menos de quatro anos de estudo, a cifra
em clima de diálogo com diferentes interlocutores será muito maior. De acordo com o MEC, os analfabetos
institucionais compromissados com a EJA. funcionais perfazem 34,1% da população brasileira com 20
anos e mais de idade e até quatro anos de escolarização.
VII - Alguns indicadores estatísticos da situação da EJA De acordo com o MEC/INEP/SEEC, em 1999, o número de
alunos matriculados em cursos presenciais da EJA em salas de
Não é objetivo deste Parecer a apresentação de um alfabetização era de 161.791; em ensino fundamental,
diagnóstico completo da situação educacional de jovens e 2.109.992; em ensino médio, 656.572 e em cursos
adultos. O que se pretende neste tópico é apenas trazer alguns profissionalizantes, 141.329. O número de estabelecimentos
indicadores estatísticos da situação da EJA, compor um quadro que oferecem a EJA, de acordo com os dados de 1999, no Brasil,
junto com os outros elementos já postos neste Parecer e é de 17.234. Deste total, os Estados oferecem a EJA em 6.973
propiciar um olhar aproximativo em vista da plenificação de estabelecimentos, os Municípios em 8.171, a União em 15 e a
um direito assegurado e não efetivado. rede privada em 2.075 estabelecimentos. O número de
Indicadores estatísticos da situação da EJA não são fáceis matrículas vem crescendo no âmbito municipal. Se em 1997
de serem obtidos, dada eram de 683.078 matrículas, em 1999 eram de 821.321. Já
A complexidade do quadro em que se inserem e devido ao para os mesmos anos, o número de matrículas nos entes
envolvimento de inúmeros atores sociais e instituições que se federativos passou de 1.808.161 para 1.871.620.
ocupam desta área. Além disso, disparidades regionais e Não se pode ignorar que há alunos atendidos pela
intraregionais, diferenças por faixas etárias ou entre zonas iniciativa privada e por múltiplas organizações não-
rurais e urbanas, sem contar as dificuldades conceituais e governamentais.
metodológicas, dificultam a captação e consolidação de dados O quadro existente quanto ao analfabetismo mostra-nos
referentes às ações realizadas pelas diferentes agências números inaceitáveis e a situação retratada não é de molde a
promotoras destas atividades. Embora haja esta propiciar uma perspectiva otimista quanto a uma imediata
complexidade, o Censo Escolar e os diagnósticos do INEP e do efetivação do direito ao acesso e permanência na escola nos
IBGE quanto à situação educacional de jovens e adultos, já termos das funções reparadora e equalizadora. Um panorama
fornecem uma contagem que permite uma visibilidade do como este não brota por acaso. Ele expressa um cenário de
universo a ser trabalhado. Apresentar-se-á apenas um quadro exclusão característico de sociedades que combinam uma
geral e certamente incompleto, porém revelador. Mas, perversa redistribuição da riqueza com formas expressivas de
qualquer que seja a origem do levantamento estatístico ou da discriminação.
agência promotora, bastaria a existência de um só brasileiro Por isso tais funções devem ser assumidas como
analfabeto para que tal situação devesse ser reparada por se alternativas viáveis aos que não tiveram a oportunidade de
tratar de um direito negado. acesso e permanência na escola, desde que constantes em
De acordo com as estatísticas do Instituto Brasileiro de políticas públicas. Estas alternativas devem ser tratadas com o
Geografia e Estatística (IBGE), com os dados da Pesquisa cuidado, o rigor e a dignidade próprios desta modalidade de
Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD), em 1996, dentro educação, tanto por meio das políticas sociais dos governos,
de um universo de 105.852.108 pessoas com 15 anos de idade quanto de uma normatização consequente.
ou mais, o Brasil tinha mais de 15 milhões de pessoas O desafio é fazer entrar este contingente humano na escola
analfabetas. Ou seja, 14,7% da população desta faixa etária, presencial ou semipresencial como o modo mais eficaz de se
sendo 8.274.448 mulheres e 9.365.517 homens. Ainda de atingir uma redução constante ou até mesmo a extinção do
acordo com estes dados a distribuição por regiões era a analfabetismo. Resultados positivos implicam ações
seguinte: integradas, políticas diferenciadas, consideração de
dificuldades específicas e adequado estatuto de formação de
Região Norte (Urbana) - 11,4% docentes para a EJA.
Região Nordeste - 28,7% A resposta a este desafio, que se expressará nos constantes
Região Sudeste - 8,7% indicadores estatísticos, é também um índice de até onde se
Região Sul - 8,9% pode alterar os quadros de uma sociedade historicamente
Região Centro – Oeste - 11,6% marcada pela excludência.

Segundo os mesmos dados, a percentagem de pessoas VIII - Formação docente para a educação de jovens e
analfabetas cresce à medida do avanço da idade. Se de 15 a 19 adultos
anos a percentagem é de 6%, a de 50 anos ou mais é de 31,5%.
Ao mesmo tempo, há indicadores de que as políticas A formação dos docentes de qualquer nível ou modalidade
focalizadas no atendimento à educação escolar obrigatória deve considerar como meta o disposto no art. 22 da LDB. Ela
estão promovendo uma queda mais acelerada do estipula que a educação básica tem por finalidade desenvolver
analfabetismo nas faixas etárias mais jovens. Os percentuais o educando, assegurar-lhe formação comum indispensável
relativos às taxas de analfabetismo na população de 15 anos para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para
progredir no trabalho e em estudos posteriores. Este fim,

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voltado para todo e qualquer estudante, seja para evitar preparo que possibilite aos profissionais do magistério uma
discriminações, seja para atender o próprio art. 61 da mesma qualificação multidisciplinar e polivalente, não se pode deixar
LDB, é claro a este respeito: A formação de profissionais da de assinalar também as exigências específicas e legais para o
educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes exercício da docência no que corresponder, dentro da EJA, às
níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase etapas da educação básica. Assim, o diferencial próprio do
de desenvolvimento do educando... ensino médio deve ser tão considerado como os dois
Com maior razão, pode-se dizer que o preparo de um segmentos do ensino fundamental.
docente voltado para a EJA deve incluir, além das exigências Esse apelo à consideração das diferenças, baseadas sempre
formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas à na igualdade, se apresenta insistentemente no corpo da lei. O
complexidade diferencial desta modalidade de ensino. Assim art. 4º, VI da LDB impõe a oferta de ensino noturno regular,
esse profissional do magistério deve estar preparado para adequado às condições do educando; e no inciso VII, a oferta
interagir empaticamente com esta parcela de estudantes e de de educação escolar regular para jovens e adultos, com
estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor características e modalidades adequadas às suas necessidades
aligeirado ou motivado apenas pela boa vontade ou por um e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores
voluntariado idealista e sim um docente que se nutra do geral as condições de acesso e permanência na escola.
e também das especificidades que a habilitação como Vê-se, pois, a exigência de uma formação específica para a
formação sistemática requer. Aqui poder-se-ia recuperar a EJA, a fim de que se resguarde o sentido primeiro do termo
exigência e o espírito do art. 57 do ECA: adequação (reiterado neste inciso) como um colocar-se em
consonância com os termos de uma relação. No caso, trata-se
O Poder Público estimulará pesquisas, experiências e novas de uma formação em vista de uma relação pedagógica com
propostas relativas a calendário, seriação, currículo, sujeitos, trabalhadores ou não, com marcadas experiências
metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de vitais que não podem ser ignoradas. E esta adequação tem
crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental. como finalidade, dado o acesso à EJA, a permanência na escola
via ensino com conteúdo trabalhados de modo diferenciado
A maior parte desses jovens e adultos, até mesmo pelo seu com métodos e tempos intencionados ao perfil deste
passado e presente, movem-se para a escola com forte estudante. Também o tratamento didático dos conteúdos e das
motivação, buscam dar uma significação social para as práticas não pode se ausentar nem da especificidade da EJA e
competências, articulando conhecimentos, habilidades e nem do caráter multidisciplinar e interdisciplinar dos
valores. Muitos destes jovens e adultos se encontram, por componentes curriculares. Mais uma vez estamos diante do
vezes, em faixas etárias próximas às dos docentes. Por isso, os reconhecimento formal da importância do ensino fundamental
docentes deverão se preparar e se qualificar para a e médio e de sua universalização dentro da escola com a oferta
constituição de projetos pedagógicos que considerem modelos de ensino regular.
apropriados a essas características e expectativas. Quando a O art. 26 da mesma lei aponta a base comum e a
atuação profissional merecer uma capacitação em serviço, a diversificada do currículo consideradas as características
fim de atender às peculiaridades dessa modalidade de regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da
educação, deve-se acionar o disposto no art. 67, II que clientela; o art. 27, II repete a consideração das condições de
contempla o aperfeiçoamento profissional continuado dos escolaridade dos alunos como diretriz da educação básica.
docentes e, quando e onde couber, o disposto na Res. CNE/CEB Desse modo, as instituições que se ocupam da formação de
03/97. professores são instadas a oferecer esta habilitação em seus
A Res. CNE/CP nº 01/99 que versa sobre os Institutos processos seletivos. Para atender esta finalidade elas deverão
Superiores de Educação inclui os Cursos Normais Superiores buscar os melhores meios para satisfazer os estudantes
os quais poderão formar docentes tanto para a educação matriculados. As licenciaturas e outras habilitações ligadas aos
infantil, como para ensino fundamental aí compreendida profissionais do ensino não podem deixar de considerar, em
também a preparação específica para educação de jovens e seus cursos, a realidade da EJA. Se muitas universidades, ao
adultos equivalente aos anos iniciais do Ensino Fundamental. lado de Secretarias de Educação e outras instituições privadas
(Art. 6º, § 1o, V) sem fins lucrativos, já propõem programas de formação
A Res. CEB/CEB nº 02/99, que cuida da formação dos docente para a EJA, é preciso notar que se trata de um processo
professores na modalidade normal média, não se ausentou em via de consolidação e dependente de uma ação integrada
desta modalidade de educação básica. Assim, o § 2º do art. 1º de oferta desta modalidade nos sistemas.
implica no mesmo compromisso de propostas pedagógicas e Tratando-se de uma tarefa que sempre contou com um
sistemas de ensino com a educação escolar de qualidade para diagnóstico de um Brasil enorme e variado, alcançar estes
as crianças, os jovens e os adultos. Isto quer dizer que não se jovens e adultos implica saber que muitos deles vivem em
pode "infantilizar" a EJA no que se refere a métodos, conteúdos distantes rincões deste país, por vezes impossibilitados de ter
e processos. O art. 5º, no seu § 2º assinala: o acesso apropriado a uma escola. Neste sentido, as funções
básicas das instituições formadoras, em especial das
Os conteúdos curriculares destinados (...) aos anos iniciais do universidades, deverão associar a pesquisa à docência de
ensino fundamental serão tratados em níveis de abrangência e modo a trazer novos elementos e enriquecer os
complexidade necessários à (re)significação de conhecimentos e conhecimentos e o ato educativo. Uma metodologia que se
valores, nas situações em que são baseie na e se exerça pela investigação só pode auxiliar na
(des)construídos/(re)construídos por crianças, jovens e adultos. formação teórico-prática dos professores em vista de um
ensino mais rico e empático. Além disso, o docente introduzido
O art. 9º, IV da mesma Resolução estatui que os cursos na pesquisa, em suas dimensões quantitativas e qualitativas,
normais médios poderão preparar docentes para atuar na poderá, no exercício de sua função, traduzir a riqueza cultural
Educação de Jovens e Adultos. dos seus discentes em enriquecimento dos componentes
É claro que a lei e sua regulamentação pertinente, ao curriculares.
destacarem as modalidades e cada fase, querem que a Por isso, ao lado da maior preocupação com a
igualdade de oportunidades se exerça também pela profissionalização de docentes da EJA, a luta por esta
consideração de diferenças significativas para a constituição escolarização sempre esteve associada, respeitadas as épocas,
de saberes próprios da educação escolar voltadas para jovens ao “Cinematógrafo”, às “escolas itinerantes”, às "missões
e adultos. Se cada vez mais se exige da formação docente um rurais", à “radiodifusão”, aos cursos por "correspondência",

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“aos discos”, às "telesalas", aos "vídeos" e agora ao IX - As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
"computador". A superação (e não sua negação) da distância de Jovens e Adultos.
sempre foi tentada como meio de presença virtual entre
educadores e educandos. A formação de docentes da EJA, com Cada sociedade tem uma perspectiva sobre o tempo aí
maior razão, deve propor o apropriar-se destes meios. compreendidas a duração e as fases da vida. Trata-se de um
Não será por outro motivo que as Disposições Transitórias dado cultural extremamente significativo. A Antropologia, a
da LDB incentivam os três entes federativos a assumirem suas Psicologia e a Sociologia não cessam de apontar, nas diferentes
responsabilidades de modo a proverem cursos presenciais ou sociedades, as condições para se passar de uma fase da vida
a distância aos jovens e adultos insuficientemente para outra. Ser reconhecido como criança, adolescente, jovem,
escolarizados, de acordo com o art. 87, II. E para tanto adulto ou idoso faz parte de importantes intercâmbios e
compete igualmente aos entes federativos o dever de significações relativos ao indivíduo e à cultura da qual ele
recensear os jovens e adultos que não tiveram acesso ao participa. O processo pelo qual cada indivíduo torna-se um
ensino fundamental e deverão criar formas alternativas de ente social reconhecido constitui-se de momentos que
acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente de possibilitam uma continuidade de si, via descontinuidades
escolarização anterior, segundo o art. 5º I e § 5º. Se certas mediadas por classes sociais, etnias, gênero e também de
regiões forem acometidas de tais dificuldades que faixas etárias. A faixa etária é trazida para o interior das
impossibilitem o ensino presencial, se tais circunstâncias sociedades, inclusive via códigos legais ao fazerem a distinção
representarem uma situação emergencial, então o ensino a entre menores e maiores, púberes e impúberes, capazes e
distância (será) utilizado como complementação da incapazes, imputáveis e inimputáveis, votantes e não-votantes.
aprendizagem. É o que diz o art. 32, § 4º. E o art. 38 § 2º Da idade decorrem a assinalação de direitos e deveres e modos
estimula a aferição e o reconhecimento dos conhecimentos e de transposição das leis. Ao estudioso das épocas, não pode
habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais. passar desapercebido que a fluidez da demarcação de faixas
Vale, pois, o que diz o Parecer CEB nº 04/98 quando lembra a etárias e suas capacidades depende, inclusive, de sua relação
sensibilização dos sistemas educacionais para reconhecer e com os níveis de estratificação social.
acolher a riqueza da diversidade humana. A Constituição Federal de 1988 tem um capítulo dedicado
Mas é preciso que a formação dos docentes voltados para à família, à criança, ao adolescente e ao idoso. Dele decorreu o
EJA, ofertados em cursos sob a égide da LDB seja completa nos Estatuto da Criança e do Adolescente, na Lei n.8.069/90.
estabelecimentos ofertantes pelo curso normal médio ou pelo Inúmeras referências aos jovens e adultos também
curso normal superior ou por outros igualmente apropriados. comparecem no capítulo da educação. A EJA contém em si tais
Como diz o mesmo Parecer supra citado, é preciso que em processos e estas considerações preliminares são importantes
qualquer nível formativo se deem correlações entre os para o conjunto das diretrizes.
conteúdos das áreas de conhecimento e o universo de valores As bases legais da LDB nos encaminham para uma
e modos de vida de seus alunos. O Brasil tem uma experiência diferenciação entre o caráter obrigatório do ensino
significativa na área (como se viu nas bases históricas) e um fundamental e o caráter progressivamente obrigatório do
acúmulo de conhecimento voltado para métodos, técnicas ensino médio, à vista da necessidade de sua universalização.
alternativas de alfabetização de educação de jovens e adultos. Ora, sendo a EJA uma modalidade da educação básica no
Tais experiências, salvo exceções, não conseguiram se traduzir interior das etapas fundamental e média, é lógico que deve se
em material didático específico voltado para a educação de pautar pelos mesmos princípios postos na LDB. E no que se
jovens e adultos, em especial para além do processo refere aos componentes curriculares dos seus cursos, ela toma
alfabetizador. As instituições de nível superior, sobretudo as para si as diretrizes curriculares nacionais destas mesmas
universidades, têm o dever de se integrar no resgate desta etapas exaradas pela CEB/CNE. Valem, pois, para a EJA as
dívida social abrindo espaços para a formação de professores, diretrizes do ensino fundamental e médio. A elaboração de
recuperando experiências significativas, produzindo material outras diretrizes poderia se configurar na criação de uma nova
didático e veiculando, em suas emissoras de rádio e de dualidade.
televisão, programas que contemplem o disposto no art. 221 Contudo, este caráter lógico não significa uma igualdade
da Constituição Federal de atendimento a finalidades direta quando pensada à luz da dinâmica sócio–cultural das
educativas, artísticas, culturais e informativas. No caso dos fases da vida. É neste momento em que a faixa etária,
sistemas públicos, nunca é demais lembrar o art. 67 da LDB e, respondendo a uma alteridade específica, se torna uma
para todos os estabelecimentos privados ou públicos, o mediação significativa para a ressignificação das diretrizes
princípio da valorização do profissional da educação escolar comuns assinaladas.
posto na Constituição e na LDB. A sujeição aos Pareceres CEB 04/98 e 15/98 e às
Ao lado da formação inicial, a articulação entre os sistemas respectivas Res. CEB nº 02/98 e 03/98 não significa uma
de ensino e as instituições formadoras se impõe para efeito de reprodução descontextuada face ao caráter específico da EJA.
formação em serviço sob a forma, por exemplo, de cursos de Os princípios da contextualização e do reconhecimento de
especialização. Nesta direção, deve-se lembrar a Resolução identidades pessoais e das diversidades coletivas constituem-
CEB nº 03/97 que fixa diretrizes para os novos planos de se em diretrizes nacionais dos conteúdos curriculares. Muitos
carreira e remuneração do magistério e que insta os sistemas alunos da EJA têm origens em quadros de desfavorecimento
a implementar programas de desenvolvimento profissional social e suas experiências familiares e sociais divergem, por
dos docentes em exercício... (art. 5º) vezes, das expectativas, conhecimentos e aptidões que muitos
Para qualquer profissional que se ocupe do magistério, a docentes possuem com relação a estes estudantes. Identificar,
garantia de padrão de qualidade é um princípio que cobre o conhecer, distinguir e valorizar tal quadro é princípio
espectro da cidadania enquanto participação e enquanto metodológico a fim de se produzir uma atuação pedagógica
exigência da clientela a que se destina. A pior forma de capaz de produzir soluções justas, equânimes e eficazes.
presença é aquela que se situa nas antípodas da qualidade e A contextualização se refere aos modos como estes
que atende pelo termo mediocridade, já expresso pelo cinismo estudantes podem dispor de seu tempo e de seu espaço. Por
da fórmula “qualquer coisa serve” ou “antes isso do que nada”. isso a heterogeneidade do público da EJA merece consideração
A formação adequada e a ação integrada implicam a cuidadosa. A ela se dirigem adolescentes, jovens e adultos, com
existência de um espaço próprio, para os profissionais da EJA, suas múltiplas experiências de trabalho, de vida e de situação
nos sistemas, nas universidades e em outras instituições social, aí compreendidos as práticas culturais e valores já
formadoras. constituídos.

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Diante dos ditames dos pareceres considerados, a regra II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
metodológica é: descontextualizá-los da idade escolar própria educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
da infância e adolescência para, apreendendo e mantendo seus se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
significados básicos, recontextualizá-los na EJA. Mas para isto aperfeiçoamento posteriores;
é preciso ter a observação metodológico-política do
Parecer/CEB 15/98, aplicável para além do ensino médio: a Tome-se o parágrafo único do art. 39:
diversidade da escola média é necessária para contemplar as
desigualdades nos pontos de partida de seu alunado, que Parágrafo único: o aluno matriculado ou egresso do ensino
requerem diferenças de tratamento como forma mais eficaz de fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em
garantir a todos um patamar comum nos pontos de chegada. geral, jovem ou adulto, contará com a possibilidade de acesso à
Uma destas diversidades se expressa nos horários em que educação profissional.
a EJA é oferecida, especialmente o noturno. Se cansaço e fadiga
não são exclusividade dos cursos da EJA, também métodos OBS: Atualmente o parágrafo único se encontra
ativos não são exclusividade de nenhum turno. revogado.
Esta atenção não pode faltar também a outros aspectos que
se relacionam com o perfil do estudante jovem e adulto. A Por isso, aqueles 25% da carga horária do ensino médio
flexibilidade curricular deve significar um momento de aproveitáveis no currículo de uma possível habilitação
aproveitamento das experiências diversas que estes alunos profissional tais como dispostos no § único do art. 5º do
trazem consigo como, por exemplo, os modos pelos quais eles Decreto nº 2.208/97 e a forma como foi tratada esta
trabalham seus tempos e seu cotidiano. A flexibilidade poderá alternativa nos Pareceres CEB 15/98 e 16/99 se dirigem para
atender a esta tipificação do tempo mediante módulos, e expressam uma realidade significativamente presente na
combinações entre ensino presencial e não–presencial e uma vida destes jovens e adultos. O que está dito no Parecer CEB nº
sintonia com temas da vida cotidiana dos alunos, a fim de que 15/98 para o ensino médio em geral ganha mais força para os
possam se tornar elementos geradores de um currículo estudantes da EJA porque em sua maioria já trabalhadores.
pertinente.
O trabalho, seja pela experiência, seja pela necessidade O trabalho é o contexto mais importante da experiência
imediata de inserção profissional merece especial destaque. A curricular (...) O significado desse destaque deve ser
busca da alfabetização ou da complementação de estudos devidamente considerado: na medida em que o ensino médio é
participa de um projeto mais amplo de cidadania que propicie parte integrante da educação básica e que o trabalho é princípio
inserção profissional e busca da melhoria das condições de organizador do currículo, muda inteiramente a noção
existência. Portanto, o tratamento dos conteúdos curriculares tradicional da educação geral acadêmica ou, melhor dito,
não pode se ausentar desta premissa fundamental, prévia e academicista. O trabalho já não é mais limitado ao ensino
concomitante à presença em bancos escolares: a vivência do profissionalizante. Muito ao contrário, a lei reconhece que, nas
trabalho e a expectativa de melhoria de vida. Esta premissa é sociedades contemporâneas, todos, independentemente de sua
o contexto no qual se deve pensar e repensar o liame entre origem ou destino profissional, devem ser educados na
qualificação para o trabalho, educação escolar e os diferentes perspectiva do trabalho...
componentes curriculares. É o que está dito no art. 41 da LDB:
Reconhecendo-se a importância de tempos liberados na
O conhecimento adquirido na educação profissional, vida contemporânea, é preciso identificar o impacto dos meios
inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, de comunicação sobre os estudantes. Pode-se dar, como
reconhecimento e certificação para prosseguimento ou exemplos, a procedência migratória de muitos e seu gosto
conclusão de estudos. pelas manifestações das culturas regionais, derivando daí
elementos significativos para a constituição e sistematização
OBS: Nova redação conferida ao art. 41. de novos conhecimentos. Muitos estudantes da EJA, face a
seus filhos e amigos, possuem de si uma imagem pouco
O conhecimento adquirido na educação profissional e positiva relativamente a suas experiências ou até mesmo
tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de negativa no que se refere à escolarização. Isto os torna inibidos
avaliação, reconhecimento e certificação para em determinados assuntos. Os componentes curriculares
prosseguimento ou conclusão de estudos. ligados à Educação Artística e Educação Física são espaços
oportunos, conquanto associados ao caráter multidisciplinar
Neste sentido, o projeto pedagógico e a preparação dos dos componentes curriculares, para se trabalhar a desinibição,
docentes devem considerar, sob a ótica da contextualização, o a baixa autoestima, a consciência corporal e o cultivo da
trabalho e seus processos e produtos desde a mais simples socialidade. Desenvolvidos como práticas socioculturais
mercadoria até os seus significados na construção da vida ligadas às dimensões estética e ética do aluno, estes
coletiva. Mesmo na perspectiva da transversalidade temática componentes curriculares são constituintes da proposta
tal como proposta nos Parâmetro Nacionais do Ensino pedagógica de oferta obrigatória e frequência facultativa.
Fundamental vale a pena lembrar que cabe aos projetos Contudo, a oferta destes componentes não será obrigatória
pedagógicos a redefinição dos temas transversais aí incluindo para os alunos no caso de exames supletivos avulsos
o trabalho ou outros temas de especial significado. As descolados de unidades educacionais que ofereçam cursos
múltiplas referências ao trabalho constantes na LDB têm um presenciais e com avaliação em processo.
significado peculiar para quem já é trabalhador. É nesta Importante é também distinguir as duas faixas etárias
perspectiva que a leitura de determinados artigos deve ser consignadas nesta modalidade de educação. Apesar de
vista sob a especificidade desta modalidade de ensino. partilharem uma situação comum desvantajosa, as
Veja-se como exemplo este parágrafo do art. 1º da LDB: expectativas e experiências de jovens e adultos
frequentemente não são coincidentes. Estes e muitos outros
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do exemplos deverão ser ressignificados, onde o zelar pela
trabalho e à prática social. aprendizagem, tal como disposto no art. 13, III da LDB, ganha
grande relevância. Desse modo, os projetos pedagógicos
Leia-se agora este inciso II do art. 35: devem considerar a conveniência de haver na constituição dos
grupos de alunos momentos de homogeneidade ou

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heterogeneidade para atender, com flexibilidade criativa, esta imposição do “erradicar o analfabetismo”. Erradicar é tirar
distinção. Não perceber o perfil distinto destes estudantes e algo pela raiz. Neste sentido, trata-se de eliminar as condições
tratar pedagogicamente os mesmos conteúdos como se tais gerais, que não permitem um mínimo de equidade, e as
alunos fossem crianças ou adolescentes seria contrariar mais específicas que, dentro dos cursos, não consideram o perfil do
do que um imperativo legal. Seria contrariar um imperativo aluno em adequação aos métodos e diretrizes, como ocorre tão
ético. frequentemente com os alunos da EJA.
Os momentos privilegiados desta ressignificação dos A base nacional comum dos componentes curriculares
pareceres são os da elaboração e execução dos projetos deverá estar compreendida nos cursos da EJA. E o zelar pela
pedagógicos. O momento da elaboração do projeto pedagógico aprendizagem dos alunos (art. 13, III) deverá ser de tal ordem
__ expressão e distintivo da autonomia de um estabelecimento que o estudante deve estar apto a prosseguir seus estudos em
__ inclui o planejamento das atividades. A organização dos caráter regular (art. 38). Logo, a oferta desta modalidade de
estabelecimentos usufrui de uma flexibilidade responsável em ensino está sujeita tanto à Res. CEB nº 02 de 7/4/1998 para
função da autonomia pedagógica. O projeto pedagógico ensino fundamental, quanto à Res. CEB nº 03 de 26/6/1998
resume em si (no duplo sentido de resumir: conter o todo em para o ensino médio e, quando for o caso, a Res. CEB nº 04/99
ponto menor e tornar a tomar, sintetizar o conjunto) o para a educação profissional.
conjunto dos princípios, objetivos das leis da educação, as Vale a pena consignar como cada Parecer correspondente
diretrizes curriculares nacionais e a pertinência à etapa e ao a estas resoluções definiu a base nacional comum.
tipo de programa ofertado dentro de um curso, considerados O Parecer CNE/CEB 04/98 diz que a base nacional comum
a qualificação do corpo docente instalado e os meios refere-se ao conjunto dos conteúdos mínimos das Áreas de
disponíveis para pôr em execução o projeto. Conhecimento articulados aos aspectos da Vida Cidadã de
No momento da execução, o projeto torna-se um currículo acordo com o art. 26. Por outro lado, o mesmo parecer entende
em ação, materializado em práticas diretamente referidas ao que a parte diversificada não é um recurso adicional a esta
ato pedagógico. Contudo, se muitos dos que buscam a oferta de Base. Os conteúdo desta parte são integrados à Base Nacional
educação escolar regular para jovens e adultos (LDB, art. 4º Comum....
VII) ou o ensino noturno regular (LDB, art. 4º VI) são Por seu turno, o Parecer CEB nº 15/98 resume, em um
prejudicados em seus itinerários escolares, não se pode trecho, as várias vezes que tocou neste ponto, no que está em
reduplicar seu prejuízo mediante uma via aligeirada que sintonia com o parecer do ensino fundamental: tudo o que se
queira se desfazer da obrigação da qualidade. Torna-se disse até aqui sobre a nova missão do ensino médio, seus
fundamental uma formulação de projetos pedagógicos fundamentos axiológicos e suas diretrizes pedagógicas se
próprios e específicos dos cursos noturnos regulares e os da aplica para ambas as “partes”, tanto a nacional comum como
Educação de Jovens e Adultos. a “diversificada”, pois numa perspectiva de organicidade,
Tais diretrizes assumem o ponto de vista do Parecer CEB integração e contextualização do conhecimento não faz
nº 15/98 quanto a uma política de qualidade dentro dos sentido que elas estejam divorciadas.
projetos pedagógicos. Estes associam-se ao prazer de fazer Vê-se, pois, que a base de ambos os ensinos é a “nacional
bem feito e à insatisfação com o razoável, quando é possível comum” integrada com o que se pode denominar de “nacional
realizar o bom, e com este, quando o ótimo é factível. Para essa diversificada”. Este princípio se aplica também à língua
concepção estética, o ensino de má qualidade é, em sua feiúra, estrangeira moderna. A LDB, em seu art. 26, § 5º, ao incluir
uma agressão à sensibilidade e, por isso, será também obrigatoriamente, a partir de uma lei de caráter nacional, uma
antidemocrático e antiético. Neste sentido, a EJA não pode língua estrangeira moderna, reconhece esta integração e
sucumbir ao imediatismo que sufoca a estética, comprime o “nacionaliza” a obrigação da oferta de uma língua estrangeira.
lúdico e impede a inventividade. Seja pela necessidade contemporânea do domínio de uma
Um momento específico dessa referência é a língua estrangeira, seja pela “nacionalização” deste
recontextualização que se impõe à transposição didática e imperativo, seja pela compreensão abrangente dos pareceres
metodológica das diretrizes curriculares nacionais do ensino citados, seja para que a igualdade de oportunidades no
fundamental e do médio para a EJA. Suas experiências de vida prosseguimento de estudos regulares não venha, de novo, a
se qualificam como componentes significativos da organização faltar aos concluintes do ensino fundamental da EJA, o § 5º do
dos projetos pedagógicos inclusive pelo reconhecimento da art. 26 é componente obrigatório dos conteúdos curriculares
valorização da experiência extra – escolar (art. 3, X). Tal desta modalidade de ensino. A escolha de qual língua, esta sim,
recontextualização ganha com a flexibilidade posta no art. 23 é uma opção da rede ou da escola nos seus projetos
da LDB cujo teor destaca a forma diversa que poderá ter a pedagógicos. Entretanto, a prestação de exames supletivos de
organização escolar tendo como um critério a base na idade. língua estrangeira deve ser de oferta obrigatória e de inscrição
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação de facultativa pelo aluno.
Jovens e Adultos se aplicam obrigatoriamente aos Portanto, as diretrizes curriculares nacionais da educação
estabelecimentos que oferecem cursos e aos conteúdos dos de jovens e adultos, quanto ao ensino fundamental, contêm a
exames supletivos das instituições credenciadas para tal. Base Nacional Comum e sua Parte Diversificada que deverão
integrar-se em torno do paradigma curricular que visa
Diz o art. 38 da LDB: estabelecer a relação entre a Educação Fundamental com a
Vida cidadã, com as Áreas de Conhecimento, segundo o
Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, Parecer CEB nº 04/98 e Res. CEB nº 02/98. Quanto ao Ensino
que compreenderão a base nacional comum do currículo, Médio, a EJA deverá atender aos Saberes das Áreas
habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. Curriculares de Linguagens e Códigos, de Ciências da Natureza
e Matemática, das Ciências Humanas e suas respectivas
Este artigo implica os sistemas públicos de ensino na Tecnologias, segundo o Parecer CEB nº 15/98 e Res. CEB nº
manutenção de cursos de jovens e adultos e exames supletivos. 03/98.
Já se viu reiteradamente que prioritária é a oferta de cursos na
faixa da escolaridade universal obrigatória, sem desconsiderá- X - O direito à educação
la no turno da noite. A oferta de cursos da EJA deve ser um
esforço constante e localizado dos poderes públicos com o No Brasil, país que ainda se ressente de uma formação
objetivo de tornar a função reparatória cada vez mais uma escravocrata e hierárquica, a EJA foi vista como uma
coisa do passado e que desapareça de nossos códigos a compensação e não como um direito. Esta tradição foi alterada

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em nossos códigos legais, na medida em que a EJA, tornando- face perversa e dualista de um passado ainda em curso,
se direito, desloca a ideia de compensação substituindo-a pelas poderão efetivar o princípio de igualdade de oportunidades de
de reparação e equidade. Mas ainda resta muito caminho pela modo a revelar méritos pessoais e riquezas insuspeitadas de
frente a fim de que a EJA se efetive como uma educação um povo e de um Brasil uno em sua multiplicidade, moderno e
permanente a serviço do pleno desenvolvimento do educando. democrático.
A concepção pela qual ninguém deixa de ser um educando,
deve contar com a universalização completa do ensino Conselheiro Carlos Roberto Jamil Cury - Relator
fundamental de modo a combinar idade/ano escolar
adequados com o fluxo regularizado, com a progressiva Questões
universalização do ensino médio e o prolongamento de sua
obrigatoriedade, inclusive possibilitando aos interessados a 01. (UFRJ - Pedagogo – Geral – UFRJ PR-4/2016). No
opção por uma educação profissional. Neste sentido, a EJA é Brasil, o analfabetismo e a baixa escolarização da população
um momento de reflexão sobre o conceito de educação básica jovem e adulta ainda apresentam-se como causas e
que preside a organização da educação nacional em suas consequências das desigualdades sociais, construídas
etapas. As necessidades contemporâneas se alargaram, historicamente, que violentam diariamente uma parcela da
exigindo mais e mais educação, por isso, mais do que o ensino população ao negar a garantia do direito à educação. Diante
fundamental, as pessoas buscam a educação básica como um desse quadro, o Parecer CNE/CEB nº 11/2000 estabelece as
todo. Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos para
A nova concepção da EJA significa, pois, algo mais do que o Ensino Fundamental e Médio e cita três funções desta
uma norma programática ou um desejo piedoso. A sua forma modalidade da educação básica. Assinale a opção que indica
de inserção no corpo legal indica um caminho a seguir. corretamente tais funções.
A EJA é educação permanente, embora enfrente os desafios (A) Supletiva, Compensatória e Solidária.
de uma situação socioeducacional arcaica no que diz respeito (B) Escolar, Profissionalizante e Compensatória.
ao acesso próprio, universal e adequado às crianças em idade (C) Aceleradora, Supletiva e Reparadora
escolar. (D) Reparadora, Equalizadora e Qualificadora.
Os liames entre escolarização e idade podem até não terem (E) Solidária, Missionária e Filantrópica
conseguido a melhor expressão legal, mas pretendem apontar
para uma democratização escolar em que o adjetivo todos tal 02. A Constituição Imperial de 1824 reservava a todos os
como posto junto ao substantivo direito seja uma realidade cidadãos a instrução primária gratuita, contudo, a titularidade
para cada um deste conjunto de crianças, adolescentes, jovens da cidadania não era restrita aos livres e aos libertos.
e adultos. A efetivação deste “direito de todos” existirá se e ( ) Certo ( ) Errado
somente se houver escolas em número bastante para acolher
todos os cidadãos brasileiros e se desta acessibilidade 03. Compete ao Estado oferecer a educação infantil em
ninguém for excluído. Aí teremos um móvel da atenuação de creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino
constrangimentos de qualquer espécie em favor de uma maior fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino
capacidade qualitativa de escolha e de um reconhecimento do somente quando estiverem atendidas plenamente as
mérito de cada um num mundo onde se fazem presentes necessidades de sua área de competência e com recursos
transformações na organização do trabalho, nas novas acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição
tecnologias, na rapidez da circulação das informações e na Federal, à manutenção e ao desenvolvimento do ensino.
globalização das atividades produtivas, para as quais uma ( ) Certo ( ) Errado
resposta democrática representa um desafio de qualidade.
Os pareceres da Câmara de Educação Básica sobre as Respostas
Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, do
Ensino Médio e da Educação Profissional de nível técnico, 01. D / 02. Errado / 03. Errado
assinalam e reafirmam a importância, o significado e a
contemporaneidade da educação escolar, daí decorrendo a
busca e as ações em vista da universalidade de acesso e de Estatuto da Criança e do
permanência. Qualquer formação futura deve ter nas etapas da Adolescente – ECA.
educação básica, cada vez mais universalizadas, um patamar
de igualdade e de prossecução. Assim sendo, a EJA é um modo
de ser do ensino fundamental e do ensino médio, com seus
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990.
homólogos voltado para crianças e adolescentes na idade
adequada são chaves de abertura para o mundo
contemporâneo em seus desafios e exigências mais urgentes e Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá
um dos meios de reconhecimento de si como sujeito e do outro outras providências.
como igual.
De acordo com Bobbio (1987), a possibilidade de escolha O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o
aumenta na medida em que o sujeito da opção se torna mais Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
livre. Mas esta liberdade só se efetua quando se elimina uma
discriminação que impede a igualdade dos indivíduos entre si. Título I
Assim, tal eliminação não só libera, mas também torna a Das Disposições Preliminares
liberdade compatível com a igualdade, fazendo-as
reciprocamente condicionadas. A superação da discriminação Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança
de idade diante dos itinerários escolares é uma possibilidade
e ao adolescente.
para que a EJA mostre plenamente seu potencial de educação
permanente relativa ao desenvolvimento da pessoa humana
face à ética, à estética, à constituição de identidade, de si e do Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
outro e ao direito ao saber. Quando o Brasil oferecer a esta pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
população reais condições de inclusão na escolaridade e na aquela entre doze e dezoito anos de idade.
cidadania, os “dois brasis”, ao invés de mostrarem apenas a

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Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se § 1º O atendimento pré-natal será realizado por
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e profissionais da atenção primária. (Redação dada pela Lei nº
vinte e um anos de idade. 13.257, de 2016)
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestante
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, direito de opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e de 2016)
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, § 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta
de dignidade. hospitalar responsável e contrarreferência na atenção
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam- primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos de
se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de apoio à amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, 2016)
religião ou crença, deficiência, condição pessoal de § 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência
desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal,
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição inclusive como forma de prevenir ou minorar as
que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que consequências do estado puerperal.
vivem. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) § 5º A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser
prestada também a gestantes e mães que manifestem
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a gestantes e mães que se encontrem em situação de privação de
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à § 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à acompanhante de sua preferência durante o período do pré-
liberdade e à convivência familiar e comunitária. natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: pela Lei nº 13.257, de 2016)
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer § 7º A gestante deverá receber orientação sobre
circunstâncias; aleitamento materno, alimentação complementar saudável e
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre
relevância pública; formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de
c) preferência na formulação e na execução das políticas estimular o desenvolvimento integral da criança. (Incluído
sociais públicas; pela Lei nº 13.257, de 2016)
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas § 8º A gestante tem direito a acompanhamento saudável
relacionadas com a proteção à infância e à juventude. durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de intervenções cirúrgicas por motivos médicos. (Incluído pela
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, Lei nº 13.257, de 2016)
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei § 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-
fundamentais. natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas
pós-parto. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os § 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à
fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob
direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que
da criança e do adolescente como pessoas em atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único
desenvolvimento. de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o
sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento
Título II integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores
Do Direito à Vida e à Saúde propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno,
inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à liberdade.
vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais § 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas,
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de
ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos e à alimentação complementar saudável, de forma contínua.
programas e às políticas de saúde da mulher e de (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal
atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta
atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
âmbito do Sistema Único de Saúde. (Redação dada pela Lei nº
13.257, de 2016)

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Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº
à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: 13.257, de 2016)
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos; Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua de assistência médica e odontológica para a prevenção das
impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil,
prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e
administrativa competente; alunos.
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e § 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém- recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado
nascido, bem como prestar orientação aos pais; do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem § 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à
necessariamente as intercorrências do parto e do saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal,
desenvolvimento do neonato; integral e intersetorial com as demais linhas de cuidado
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei nº 13.257,
a permanência junto à mãe. de 2016)
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado § 3º A atenção odontológica à criança terá função
voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o
do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e,
no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos de vida,
recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de com orientações sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº
2016) 13.257, de 2016)
§ 1º A criança e o adolescente com deficiência serão § 4º A criança com necessidade de cuidados odontológicos
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. (Incluído
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e pela Lei nº 13.257, de 2016)
reabilitação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, Capítulo II
àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento,
habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade,
acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos
§ 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
frequente de crianças na primeira infância receberão
formação específica e permanente para a detecção de sinais de Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para o aspectos:
acompanhamento que se fizer necessário. (Incluído pela Lei nº I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
13.257, de 2016) comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II - opinião e expressão;
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, III - crença e culto religioso;
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
cuidados intermediários, deverão proporcionar condições V - participar da vida familiar e comunitária, sem
para a permanência em tempo integral de um dos pais ou discriminação;
responsável, nos casos de internação de criança ou VI - participar da vida política, na forma da lei;
adolescente. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da
físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos integridade física, psíquica e moral da criança e do
contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
sem prejuízo de outras providências legais. espaços e objetos pessoais.
§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse em
entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e
encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de constrangedor.
entrada, os serviços de assistência social em seu componente
especializado, o Centro de Referência Especializado de Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser
Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,
conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais,
faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis,
de violência de qualquer natureza, formulando projeto pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas
terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los,
educá-los ou protegê-los.

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Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Redação
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o § 4º Será garantida a convivência da criança e do
adolescente que resulte em: adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio
a) sofrimento físico; ou de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas
b) lesão; hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma responsável, independentemente de autorização judicial.
cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente
que: Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento,
a) humilhe; ou ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
b) ameace gravemente; ou proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
c) ridicularize. filiação.

Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de
responsáveis, os agentes públicos executores de medidas condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a
socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em
crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária
que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou competente para a solução da divergência.
degradante como formas de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e
outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse
aplicadas de acordo com a gravidade do caso: destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de determinações judiciais.
proteção à família; Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados
psiquiátrico; no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado
III - encaminhamento a cursos ou programas de o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas,
orientação; assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei.
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
especializado;
V - advertência. Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do
aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras poder familiar.
providências legais. § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a
decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido
Capítulo III em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária incluída em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e
Seção I promoção. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Disposições Gerais § 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará
a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão,
educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família contra o próprio filho ou filha.
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária,
em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos
§ 1º Toda criança ou adolescente que estiver inserido em casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que
situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, alude o art. 22.
devendo a autoridade judiciária competente, com base em
relatório elaborado por equipe interprofissional ou Seção II
multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela Da Família Natural
possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família
substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade
desta Lei. formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
§ 2º A permanência da criança e do adolescente em Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou
programa de acolhimento institucional não se prolongará por ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e
mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos
atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada com os quais a criança ou adolescente convive e mantém
pela autoridade judiciária. vínculos de afinidade e afetividade.
§ 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou
adolescente à sua família terá preferência em relação a Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser
qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no
serviços e programas de proteção, apoio e promoção, nos próprio termo de nascimento, por testamento, mediante
termos do § 1º do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 escritura ou outro documento público, qualquer que seja a
origem da filiação.

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Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o entidades governamentais ou não-governamentais, sem


nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar autorização judicial.
descendentes.
Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito constitui medida excepcional, somente admissível na
personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser modalidade de adoção.
exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
restrição, observado o segredo de Justiça. Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o
Seção III encargo, mediante termo nos autos.
Da Família Substituta
Subseção I Subseção II
Disposições Gerais Da Guarda

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência
mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da material, moral e educacional à criança ou adolescente,
situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
Lei. inclusive aos pais.
§ 1º Sempre que possível, a criança ou o adolescente será § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,
previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente estrangeiros.
considerada. § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
§ 2º Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares
necessário seu consentimento, colhido em audiência. ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser
§ 3º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de deferido o direito de representação para a prática de atos
parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de determinados.
evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição
§ 4º Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive
tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a previdenciários.
comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que § 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em
justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a
procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento medida for aplicada em preparação para adoção, o
definitivo dos vínculos fraternais. deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros
§ 5º A colocação da criança ou adolescente em família não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim
substituta será precedida de sua preparação gradativa e como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de
acompanhamento posterior, realizados pela equipe regulamentação específica, a pedido do interessado ou do
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Ministério Público.
Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos
responsáveis pela execução da política municipal de garantia Art. 34. O poder público estimulará, por meio de
do direito à convivência familiar. assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o
§ 6º Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente
proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é afastado do convívio familiar.
ainda obrigatório: § 1º A inclusão da criança ou adolescente em programas de
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento
social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas institucional, observado, em qualquer caso, o caráter
instituições, desde que não sejam incompatíveis com os temporário e excepcional da medida, nos termos desta Lei.
direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela § 2º Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
Constituição Federal; cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado
seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão § 3º A União apoiará a implementação de serviços de
federal responsável pela política indigenista, no caso de acolhimento em família acolhedora como política pública, os
crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento
a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá temporário de crianças e de adolescentes em residências de
acompanhar o caso. famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que não
estejam no cadastro de adoção. (Incluído pela Lei nº 13.257, de
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a 2016)
pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com § 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais,
a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar distritais e municipais para a manutenção dos serviços de
adequado. acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse de
recursos para a própria família acolhedora. (Incluído pela Lei
Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá nº 13.257, de 2016)
transferência da criança ou adolescente a terceiros ou a

Legislação Básica em Educação 86


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Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais
mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério velho do que o adotando.
Público. § 4º Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-
companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que
Subseção III acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o
Da Tutela estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do
período de convivência e que seja comprovada a existência de
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da
pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão.
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a § 5º Nos casos do § 4o deste artigo, desde que
prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar e demonstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada a
implica necessariamente o dever de guarda. guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei
no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.
Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer § 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após
documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do
do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - procedimento, antes de prolatada a sentença.
Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a
abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais
controle judicial do ato, observando o procedimento previsto vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.
nos arts. 165 a 170 desta Lei.
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e
observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o
somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na pupilo ou o curatelado.
disposição de última vontade, se restar comprovado que a
medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou
em melhores condições de assumi-la. do representante legal do adotando.
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou
24. tenham sido destituídos do poder familiar.
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de
Subseção IV idade, será também necessário o seu consentimento.
Da Adoção
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade
segundo o disposto nesta Lei. judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso.
§ 1º A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se § 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o
deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante
manutenção da criança ou adolescente na família natural ou durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a
extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei. conveniência da constituição do vínculo.
§ 2º É vedada a adoção por procuração. § 2º A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
dispensa da realização do estágio de convivência.
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito § 3º Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou
anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido
dos adotantes. no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) dias.
§ 4º O estágio de convivência será acompanhado pela
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os responsáveis pela execução da política de garantia do direito à
impedimentos matrimoniais. convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do acerca da conveniência do deferimento da medida.
outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o
cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes. Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e do qual não se fornecerá certidão.
colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como
hereditária. pais, bem como o nome de seus ascendentes.
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, registro original do adotado.
independentemente do estado civil. § 3º A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua
adotando. residência.
§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os § 4º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união constar nas certidões do registro.
estável, comprovada a estabilidade da família.

Legislação Básica em Educação 87


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APOSTILAS OPÇÃO

§ 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante § 8º A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48


e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes
modificação do prenome. em condições de serem adotados que não tiveram colocação
§ 6º Caso a modificação de prenome seja requerida pelo familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que
adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo, sob pena de
§ 7º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em responsabilidade.
julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista § 9º Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa manutenção e correta alimentação dos cadastros, com
à data do óbito. posterior comunicação à Autoridade Central Federal
§ 8º O processo relativo à adoção assim como outros a ele Brasileira.
relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu § 10. A adoção internacional somente será deferida se,
armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados à
a sua conservação para consulta a qualquer tempo. adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude na
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional
adoção em que o adotando for criança ou adolescente com referidos no § 5o deste artigo, não for encontrado interessado
deficiência ou com doença crônica. com residência permanente no Brasil.
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no possível e recomendável, será colocado sob guarda de família
qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após cadastrada em programa de acolhimento familiar.
completar 18 (dezoito) anos. § 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério
ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, Público.
a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e § 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de
psicológica. candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente
nos termos desta Lei quando:
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder I - se tratar de pedido de adoção unilateral;
familiar dos pais naturais. II - for formulada por parente com o qual a criança ou
adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda
ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes em legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde
condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de
na adoção. laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério arts. 237 ou 238 desta Lei.
Público. § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, que
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das preenche os requisitos necessários à adoção, conforme
hipóteses previstas no art. 29. previsto nesta Lei.
§ 3º A inscrição de postulantes à adoção será precedida de
um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual
pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, a pessoa ou casal postulante é residente ou domiciliado fora do
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela Brasil, conforme previsto no Artigo 2 da Convenção de Haia, de
execução da política municipal de garantia do direito à 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à
convivência familiar. Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, aprovada
§ 4º Sempre que possível e recomendável, a preparação pelo Decreto Legislativo no 1, de 14 de janeiro de 1999, e
referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças e promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 de junho de 1999.
adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em § 1º A adoção internacional de criança ou adolescente
condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando
supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância restar comprovado:
e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo I - que a colocação em família substituta é a solução
programa de acolhimento e pela execução da política adequada ao caso concreto;
municipal de garantia do direito à convivência familiar. II - que foram esgotadas todas as possibilidades de
§ 5º Serão criados e implementados cadastros estaduais e colocação da criança ou adolescente em família substituta
nacional de crianças e adolescentes em condições de serem brasileira, após consulta aos cadastros mencionados no art. 50
adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção. desta Lei;
§ 6º Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi
residentes fora do País, que somente serão consultados na consultado, por meios adequados ao seu estágio de
inexistência de postulantes nacionais habilitados nos desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida,
cadastros mencionados no § 5o deste artigo. mediante parecer elaborado por equipe interprofissional,
§ 7º As autoridades estaduais e federais em matéria de observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a § 2º Os brasileiros residentes no exterior terão preferência
troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança
sistema. ou adolescente brasileiro.

Legislação Básica em Educação 88


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§ 3º A adoção internacional pressupõe a intervenção das II - satisfizerem as condições de integridade moral,


Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de competência profissional, experiência e responsabilidade
adoção internacional. exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central
Federal Brasileira;
Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua
previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes formação e experiência para atuar na área de adoção
adaptações: internacional;
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento
criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela
habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria Autoridade Central Federal Brasileira.
de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido § 4º Os organismos credenciados deverão ainda:
aquele onde está situada sua residência habitual; I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições
II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do
que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela
emitirá um relatório que contenha informações sobre a Autoridade Central Federal Brasileira;
identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas
para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada
social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir formação ou experiência para atuar na área de adoção
uma adoção internacional; internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal
relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal
Autoridade Central Federal Brasileira; competente;
IV - o relatório será instruído com toda a documentação III - estar submetidos à supervisão das autoridades
necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por competentes do país onde estiverem sediados e no país de
equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e
legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de situação financeira;
vigência; IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a
V - os documentos em língua estrangeira serão cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem
devidamente autenticados pela autoridade consular, como relatório de acompanhamento das adoções
observados os tratados e convenções internacionais, e internacionais efetuadas no período, cuja cópia será
acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público encaminhada ao Departamento de Polícia Federal;
juramentado; V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade
e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois)
postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia
acolhida; autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade de acolhida para o adotado;
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
com a nacional, além do preenchimento por parte dos adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal
postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento
necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes
Lei como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo sejam concedidos.
de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, § 5º A não apresentação dos relatórios referidos no § 4o
no máximo, 1 (um) ano; deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar a
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será suspensão de seu credenciamento.
autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da § 6º O credenciamento de organismo nacional ou
Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade internacional terá validade de 2 (dois) anos.
Central Estadual. § 7º A renovação do credenciamento poderá ser concedida
§ 1º Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, mediante requerimento protocolado na Autoridade Central
admite-se que os pedidos de habilitação à adoção Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao
internacional sejam intermediados por organismos término do respectivo prazo de validade.
credenciados. § 8º Antes de transitada em julgado a decisão que
§ 2º Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o concedeu a adoção internacional, não será permitida a saída
credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros do adotando do território nacional.
encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção § 9º Transitada em julgado a decisão, a autoridade
internacional, com posterior comunicação às Autoridades judiciária determinará a expedição de alvará com autorização
Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando,
imprensa e em sítio próprio da internet. obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente
§ 3º Somente será admissível o credenciamento de adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços
organismos que: peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção digital do seu polegar direito, instruindo o documento com
de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado.
Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida
do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil;

Legislação Básica em Educação 89


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APOSTILAS OPÇÃO

§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a os interesses da criança ou do adolescente, comunicando-se as
qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das providências à Autoridade Central Estadual, que fará a
crianças e adolescentes adotados. comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira e à
§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos Autoridade Central do país de origem.
credenciados, que sejam considerados abusivos pela
Autoridade Central Federal Brasileira e que não estejam Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for
devidamente comprovados, é causa de seu o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país
descredenciamento. de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida,
§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o
representados por mais de uma entidade credenciada para adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à
atuar na cooperação em adoção internacional. Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da
§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou adoção nacional.
domiciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano,
podendo ser renovada. Capítulo IV
§ 14. É vedado o contato direto de representantes de Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com
dirigentes de programas de acolhimento institucional ou Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação,
familiar, assim como com crianças e adolescentes em visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo
condições de serem adotados, sem a devida autorização para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
judicial. assegurando-se-lhes:
§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
limitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos escola;
sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo II - direito de ser respeitado por seus educadores;
fundamentado. III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
recorrer às instâncias escolares superiores;
Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e IV - direito de organização e participação em entidades
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de estudantis;
organismos estrangeiros encarregados de intermediar V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a residência.
pessoas físicas. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser ciência do processo pedagógico, bem como participar da
efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente definição das propostas educacionais.
e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de
Direitos da Criança e do Adolescente. Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao
adolescente:
Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive
país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
tenha sido processado em conformidade com a legislação II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade
vigente no país de residência e atendido o disposto na Alínea ao ensino médio;
“c” do Artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente III - atendimento educacional especializado aos portadores
recepcionada com o reingresso no Brasil. de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
§ 1º Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de
do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306,
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. de 2016)
§ 2º O pretendente brasileiro residente no exterior em país V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
Brasil, deverá requerer a homologação da sentença VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. condições do adolescente trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for programas suplementares de material didático-escolar,
o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país transporte, alimentação e assistência à saúde.
de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de público subjetivo.
habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder
Autoridade Central Federal e determinará as providências público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da
necessárias à expedição do Certificado de Naturalização autoridade competente.
Provisório. § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no
§ 1º A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos
Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela pais ou responsável, pela frequência à escola.
decisão se restar demonstrado que a adoção é manifestamente
contrária à ordem pública ou não atende ao interesse superior Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de
da criança ou do adolescente. matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
§ 2º Na hipótese de não reconhecimento da adoção,
prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
imediatamente requerer o que for de direito para resguardar fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:

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I - maus-tratos envolvendo seus alunos; Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, educativo, sob responsabilidade de entidade governamental
esgotados os recursos escolares; ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar
III - elevados níveis de repetência. ao adolescente que dele participe condições de capacitação
para o exercício de atividade regular remunerada.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral
e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, em que as exigências pedagógicas relativas ao
metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental sobre o aspecto produtivo.
obrigatório. § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo
trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da
criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à
criação e o acesso às fontes de cultura. proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre
outros:
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, I - respeito à condição peculiar de pessoa em
estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços desenvolvimento;
para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas II - capacitação profissional adequada ao mercado de
para a infância e a juventude. trabalho.

Capítulo V Título III


Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho Da Prevenção
Capítulo I
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de Disposições Gerais
quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. (Vide
Constituição Federal) Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça
ou violação dos direitos da criança e do adolescente.
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada
por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei. Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios deverão atuar de forma articulada na elaboração
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico- de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir
profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e
legislação de educação em vigor. difundir formas não violentas de educação de crianças e de
adolescentes, tendo como principais ações:
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos I - a promoção de campanhas educativas permanentes
seguintes princípios: para a divulgação do direito da criança e do adolescente de
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
regular; tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de
II - atividade compatível com o desenvolvimento do proteção aos direitos humanos;
adolescente; II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do
III - horário especial para o exercício das atividades. Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho
Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é Adolescente e com as entidades não governamentais que
assegurada bolsa de aprendizagem. atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança
e do adolescente;
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, III - a formação continuada e a capacitação dos
são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários. profissionais de saúde, educação e assistência social e dos
demais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é direitos da criança e do adolescente para o desenvolvimento
assegurado trabalho protegido. das competências necessárias à prevenção, à identificação de
evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas as
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime formas de violência contra a criança e do adolescente;
familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica
entidade governamental ou não-governamental, é vedado de conflitos que envolvam violência contra a criança e o
trabalho: adolescente;
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a
e as cinco horas do dia seguinte; garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a
II - perigoso, insalubre ou penoso; atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao responsáveis com o objetivo de promover a informação, a
seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de
IV - realizado em horários e locais que não permitam a castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no
frequência à escola. processo educativo;
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a
articulação de ações e a elaboração de planos de atuação

Legislação Básica em Educação 91


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conjunta focados nas famílias em situação de violência, com Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários
participação de profissionais de saúde, de assistência social e de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de
de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou
direitos da criança e do adolescente. locação em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes competente.
com deficiência terão prioridade de atendimento nas ações e Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão
políticas públicas de prevenção e proteção. exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a
faixa etária a que se destinam.
Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas
áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar, em Art. 78. As revistas e publicações contendo material
seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão
comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus- ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência
tratos praticados contra crianças e adolescentes. de seu conteúdo.
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas
comunicação de que trata este artigo, as pessoas encarregadas, que contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam
por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou protegidas com embalagem opaca.
ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças e
adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustificado Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público
retardamento ou omissão, culposos ou dolosos. infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias,
legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco,
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e
cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e sociais da pessoa e da família.
serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento. Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que
explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas,
prevenção especial outras decorrentes dos princípios por ela ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja
adotados. permitida a entrada e a permanência de crianças e
adolescentes no local, afixando aviso para orientação do
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção público.
importará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
nos termos desta Lei. Seção II
Dos Produtos e Serviços
Capítulo II
Da Prevenção Especial Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:
Seção I I - armas, munições e explosivos;
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e II - bebidas alcoólicas;
Espetáculos III - produtos cujos componentes possam causar
dependência física ou psíquica ainda que por utilização
Art. 74. O poder público, através do órgão competente, indevida;
regulará as diversões e espetáculos públicos, informando IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que
sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se qualquer dano físico em caso de utilização indevida;
mostre inadequada. V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou
sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada no adolescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento
certificado de classificação. congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou
responsável.
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às
diversões e espetáculos públicos classificados como Seção III
adequados à sua faixa etária. Da Autorização para Viajar
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente
poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da
exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável. comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou
responsável, sem expressa autorização judicial.
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, § 1º A autorização não será exigida quando:
no horário recomendado para o público infantojuvenil, a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança,
programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma
informativas. região metropolitana;
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou b) a criança estiver acompanhada:
anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua 1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau,
transmissão, apresentação ou exibição. comprovado documentalmente o parentesco;

Legislação Básica em Educação 92


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2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, V - integração operacional de órgãos do Judiciário,
mãe ou responsável. Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local,
responsável, conceder autorização válida por dois anos. para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente
a quem se atribua autoria de ato infracional;
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a VI - integração operacional de órgãos do Judiciário,
autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; encarregados da execução das políticas sociais básicas e de
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado assistência social, para efeito de agilização do atendimento de
expressamente pelo outro através de documento com firma crianças e de adolescentes inseridos em programas de
reconhecida. acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida
reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, comprovadamente inviável, sua colocação em família
nenhuma criança ou adolescente nascido em território substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28
nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro desta Lei;
residente ou domiciliado no exterior. VII - mobilização da opinião pública para a indispensável
participação dos diversos segmentos da sociedade.
PARTE ESPECIAL VIII - especialização e formação continuada dos
TÍTULO I profissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à
primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos
Da Política de Atendimento da criança e sobre desenvolvimento infantil; (Incluído pela Lei
Capítulo I nº 13.257, de 2016)
Disposições Gerais IX - formação profissional com abrangência dos diversos
direitos da criança e do adolescente que favoreça a
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e intersetorialidade no atendimento da criança e do adolescente
do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de e seu desenvolvimento integral; (Incluído pela Lei nº 13.257,
ações governamentais e não-governamentais, da União, dos de 2016)
estados, do Distrito Federal e dos municípios. X - realização e divulgação de pesquisas sobre
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: desenvolvimento infantil e sobre prevenção da violência.
I - políticas sociais básicas; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
II - serviços, programas, projetos e benefícios de
assistência social de garantia de proteção social e de Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos
prevenção e redução de violações de direitos, seus conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do
agravamentos ou reincidências; (Redação dada pela Lei nº adolescente é considerada de interesse público relevante e não
13.257, de 2016) será remunerada.
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico
e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, Capítulo II
exploração, abuso, crueldade e opressão; Das Entidades de Atendimento
IV - serviço de identificação e localização de pais, Seção I
responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; Disposições Gerais
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
direitos da criança e do adolescente. Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou manutenção das próprias unidades, assim como pelo
abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a planejamento e execução de programas de proteção e
garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em
crianças e adolescentes; regime de:
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de I - orientação e apoio sóciofamiliar;
guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio II - apoio socioeducativo em meio aberto;
familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças III - colocação familiar;
maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de IV - acolhimento institucional;
saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos. V - prestação de serviços à comunidade;
VI - liberdade assistida;
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: VII - semiliberdade; e
I - municipalização do atendimento; VIII - internação.
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional § 1º As entidades governamentais e não governamentais
dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos deverão proceder à inscrição de seus programas,
e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a especificando os regimes de atendimento, na forma definida
participação popular paritária por meio de organizações neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de
III - criação e manutenção de programas específicos, suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar
observada a descentralização político-administrativa; e à autoridade judiciária.
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e § 2º Os recursos destinados à implementação e
municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos manutenção dos programas relacionados neste artigo serão
da criança e do adolescente; previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos
encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência

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Social, dentre outros, observando-se o princípio da prioridade ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação
absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo caput do prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.
art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e parágrafo único § 3º Os entes federados, por intermédio dos Poderes
do art. 4o desta Lei. Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a
§ 3º Os programas em execução serão reavaliados pelo permanente qualificação dos profissionais que atuam direta
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, ou indiretamente em programas de acolhimento institucional
no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para e destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes,
renovação da autorização de funcionamento: incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público e
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem Conselho Tutelar.
como às resoluções relativas à modalidade de atendimento § 4º Salvo determinação em contrário da autoridade
prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e judiciária competente, as entidades que desenvolvem
do Adolescente, em todos os níveis; programas de acolhimento familiar ou institucional, se
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos de
atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela assistência social, estimularão o contato da criança ou
Justiça da Infância e da Juventude; adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao
III - em se tratando de programas de acolhimento disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
institucional ou familiar, serão considerados os índices de § 5º As entidades que desenvolvem programas de
sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família acolhimento familiar ou institucional somente poderão
substituta, conforme o caso. receber recursos públicos se comprovado o atendimento dos
princípios, exigências e finalidades desta Lei.
Art. 91. As entidades não-governamentais somente § 6º O descumprimento das disposições desta Lei pelo
poderão funcionar depois de registradas no Conselho dirigente de entidade que desenvolva programas de
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual acolhimento familiar ou institucional é causa de sua
comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade destituição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade
judiciária da respectiva localidade. administrativa, civil e criminal.
§ 1º Será negado o registro à entidade que: § 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos
a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à
de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; atuação de educadores de referência estáveis e
b) não apresente plano de trabalho compatível com os qualitativamente significativos, às rotinas específicas e ao
princípios desta Lei; atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto
c) esteja irregularmente constituída; como prioritárias. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e Art. 93. As entidades que mantenham programa de
deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e
expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia
Adolescente, em todos os níveis. determinação da autoridade competente, fazendo
§ 2º O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz
cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do da Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.
Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade
renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo. judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o
apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de necessárias para promover a imediata reintegração familiar da
acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for
seguintes princípios: isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a
I - preservação dos vínculos familiares e promoção da programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
reintegração familiar; substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei.
II - integração em família substituta, quando esgotados os
recursos de manutenção na família natural ou extensa; Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
IV - desenvolvimento de atividades em regime de I - observar os direitos e garantias de que são titulares os
coeducação; adolescentes;
V - não desmembramento de grupos de irmãos; II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para objeto de restrição na decisão de internação;
outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas
VII - participação na vida da comunidade local; unidades e grupos reduzidos;
VIII - preparação gradativa para o desligamento; IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito
IX - participação de pessoas da comunidade no processo e dignidade ao adolescente;
educativo. V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
§ 1º O dirigente de entidade que desenvolve programa de preservação dos vínculos familiares;
acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os
todos os efeitos de direito. casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento
§ 2º Os dirigentes de entidades que desenvolvem dos vínculos familiares;
programas de acolhimento familiar ou institucional remeterão VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas
à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os
relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança objetos necessários à higiene pessoal;

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VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas
adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; públicas;
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
odontológicos e farmacêuticos; d) cassação do registro.
X - propiciar escolarização e profissionalização; § 1º Em caso de reiteradas infrações cometidas por
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; entidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao
de acordo com suas crenças; Ministério Público ou representado perante autoridade
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo suspensão das atividades ou dissolução da entidade.
máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à § 2º As pessoas jurídicas de direito público e as
autoridade competente; organizações não governamentais responderão pelos danos
XV - informar, periodicamente, o adolescente internado que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes,
sobre sua situação processual; caracterizado o descumprimento dos princípios norteadores
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os das atividades de proteção específica.
casos de adolescentes portadores de moléstias
infectocontagiosas; Título II
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos Das Medidas de Proteção
adolescentes; Capítulo I
XVIII - manter programas destinados ao apoio e Disposições Gerais
acompanhamento de egressos;
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente
da cidadania àqueles que não os tiverem; são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e forem ameaçados ou violados:
circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences III - em razão de sua conduta.
e demais dados que possibilitem sua identificação e a
individualização do atendimento. Capítulo II
§ 1º Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes Das Medidas Específicas de Proteção
deste artigo às entidades que mantêm programas de
acolhimento institucional e familiar. Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas
artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recursos a qualquer tempo.
da comunidade.
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as
Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao
abriguem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
em caráter temporário, devem ter, em seus quadros, Parágrafo único. São também princípios que regem a
profissionais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho aplicação das medidas:
Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos. (Incluído I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de
pela Lei nº 13.046, de 2014) direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos
previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição
Seção II Federal;
Da Fiscalização das Entidades II - proteção integral e prioritária: a interpretação e
aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser
Art. 95. As entidades governamentais e não- voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que
governamentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo crianças e adolescentes são titulares;
Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. III - responsabilidade primária e solidária do poder
público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo
serão apresentados ao estado ou ao município, conforme a nos casos por esta expressamente ressalvados, é de
origem das dotações orçamentárias. responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de
governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de da possibilidade da execução de programas por entidades não
atendimento que descumprirem obrigação constante do art. governamentais;
94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus IV - interesse superior da criança e do adolescente: a
dirigentes ou prepostos: intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e
I - às entidades governamentais: direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da
a) advertência; consideração que for devida a outros interesses legítimos no
b) afastamento provisório de seus dirigentes; âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; concreto;
d) fechamento de unidade ou interdição de programa. V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da
II - às entidades não-governamentais: criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
a) advertência; intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;

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VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo contraditório e da ampla defesa.
seja conhecida; § 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida encaminhados às instituições que executam programas de
exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio
indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade
criança e do adolescente; judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros:
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais
ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a ou de seu responsável, se conhecidos;
criança ou o adolescente se encontram no momento em que a II - o endereço de residência dos pais ou do responsável,
decisão é tomada; com pontos de referência;
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para tê-los sob sua guarda;
com a criança e o adolescente; IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na convívio familiar.
proteção da criança e do adolescente deve ser dada § 4º Imediatamente após o acolhimento da criança ou do
prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na adolescente, a entidade responsável pelo programa de
sua família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano
promovam a sua integração em família substituta; individual de atendimento, visando à reintegração familiar,
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em
adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e contrário de autoridade judiciária competente, caso em que
capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem também deverá contemplar sua colocação em família
ser informados dos seus direitos, dos motivos que substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.
determinaram a intervenção e da forma como esta se processa; § 5º O plano individual será elaborado sob a
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou
responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar § 6º Constarão do plano individual, dentre outros:
nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável;
autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ e
1o e 2o do art. 28 desta Lei. III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com
a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja
art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre esta vedada por expressa e fundamentada determinação
outras, as seguintes medidas: judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante em família substituta, sob direta supervisão da autoridade
termo de responsabilidade; judiciária.
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; § 7º O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no
III - matrícula e frequência obrigatórias em local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e,
estabelecimento oficial de ensino fundamental; como parte do processo de reintegração familiar, sempre que
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou identificada a necessidade, a família de origem será incluída
comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção
criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança
2016) ou com o adolescente acolhido.
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou § 8º Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de institucional fará imediata comunicação à autoridade
auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de
VII - acolhimento institucional; 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; § 9º Em sendo constatada a impossibilidade de
IX - colocação em família substituta. reintegração da criança ou do adolescente à família de origem,
§ 1º O acolhimento institucional e o acolhimento familiar após seu encaminhamento a programas oficiais ou
são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como comunitários de orientação, apoio e promoção social, será
forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
esta possível, para colocação em família substituta, não conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e
implicando privação de liberdade. a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade
§ 2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais ou responsáveis pela execução da política municipal de
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das garantia do direito à convivência familiar, para a destituição
providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.
criança ou adolescente do convívio familiar é de competência § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o
exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de
a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a
interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se realização de estudos complementares ou outras providências
que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda.

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§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou Capítulo II


foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas Dos Direitos Individuais
sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento
familiar e institucional sob sua responsabilidade, com Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem
um, bem como as providências tomadas para sua reintegração escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação
modalidades previstas no art. 28 desta Lei. dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o acerca de seus direitos.
Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local
e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à
implementação de políticas públicas que permitam reduzir o autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou
número de crianças e adolescentes afastados do convívio à pessoa por ele indicada.
familiar e abreviar o período de permanência em programa de Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de
acolhimento. responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.

Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser
serão acompanhadas da regularização do registro civil. determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
assento de nascimento da criança ou adolescente será feito à basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade,
vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
autoridade judiciária.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será
que trata este artigo são isentos de multas, custas e submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais,
emolumentos, gozando de absoluta prioridade. de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação,
§ 3º Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado havendo dúvida fundada.
procedimento específico destinado à sua averiguação,
conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de Capítulo III
1992. Das Garantias Processuais
§ 4º Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é
dispensável o ajuizamento de ação de investigação de Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua
paternidade pelo Ministério Público se, após o não liberdade sem o devido processo legal.
comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a
paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as
adoção. seguintes garantias:
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimento são infracional, mediante citação ou meio equivalente;
isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-
prioridade. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016) se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação necessárias à sua defesa;
requerida do reconhecimento de paternidade no assento de III - defesa técnica por advogado;
nascimento e a certidão correspondente. (Incluído dada pela IV - assistência judiciária gratuita e integral aos
Lei nº 13.257, de 2016) necessitados, na forma da lei;
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
Título III competente;
Da Prática de Ato Infracional VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
Capítulo I responsável em qualquer fase do procedimento.
Disposições Gerais
Capítulo IV
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita Das Medidas Socioeducativas
como crime ou contravenção penal. Seção I
Disposições Gerais
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de
dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as
considerada a idade do adolescente à data do fato. seguintes medidas:
I - advertência;
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança II - obrigação de reparar o dano;
corresponderão as medidas previstas no art. 101. III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

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APOSTILAS OPÇÃO

§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a
sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade supervisão da autoridade competente, a realização dos
da infração. seguintes encargos, entre outros:
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será I - promover socialmente o adolescente e sua família,
admitida a prestação de trabalho forçado. fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;
mental receberão tratamento individual e especializado, em II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar
local adequado às suas condições. do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
III - diligenciar no sentido da profissionalização do
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;
100. IV - apresentar relatório do caso.

Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II Seção VI


a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes Do Regime de Semiliberdade
da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a
hipótese de remissão, nos termos do art. 127. Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto,
que houver prova da materialidade e indícios suficientes da possibilitada a realização de atividades externas,
autoria. independentemente de autorização judicial.
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização,
Seção II devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos
Da Advertência existentes na comunidade.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado
Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à
que será reduzida a termo e assinada. internação.

Seção III Seção VII


Da Obrigação de Reparar o Dano Da Internação

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos Art. 121. A internação constitui medida privativa da
patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,
que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. desenvolvimento.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a § 1º Será permitida a realização de atividades externas, a
medida poderá ser substituída por outra adequada. critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa
determinação judicial em contrário.
Seção IV § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo
Da Prestação de Serviços à Comunidade sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
fundamentada, no máximo a cada seis meses.
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de
realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período internação excederá a três anos.
não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o
hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de
como em programas comunitários ou governamentais. semiliberdade ou de liberdade assistida.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de
aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante idade.
jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de § 7º A determinação judicial mencionada no § 1o poderá
trabalho. ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária.

Seção V Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada


Da Liberdade Assistida quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se ameaça ou violência a pessoa;
afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, II - por reiteração no cometimento de outras infrações
auxiliar e orientar o adolescente. graves;
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para III - por descumprimento reiterado e injustificável da
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por medida anteriormente imposta.
entidade ou programa de atendimento. § 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser
seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, decretada judicialmente após o devido processo legal.
revogada ou substituída por outra medida, ouvido o § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação,
orientador, o Ministério Público e o defensor. havendo outra medida adequada.

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Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a
exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele internação.
destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por
critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá
Parágrafo único. Durante o período de internação, ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido
inclusive provisória, serão obrigatórias atividades expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do
pedagógicas. Ministério Público.

Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, Título IV


entre outros, os seguintes: Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do
Ministério Público; Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
solicitada; II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
V - ser tratado com respeito e dignidade; orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou III - encaminhamento a tratamento psicológico ou
naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou psiquiátrico;
responsável; IV - encaminhamento a cursos ou programas de
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; orientação;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio sua frequência e aproveitamento escolar;
pessoal; VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene tratamento especializado;
e salubridade; VII - advertência;
XI - receber escolarização e profissionalização; VIII - perda da guarda;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: IX - destituição da tutela;
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; X - suspensão ou destituição do poder familiar.
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos
desde que assim o deseje; incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts.
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de 23 e 24.
local seguro para guardá-los, recebendo comprovante
daqueles porventura depositados em poder da entidade; Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou
XVI - receber, quando de sua desinternação, os abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade
documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. afastamento do agressor da moradia comum.
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a
temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança
existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade ou o adolescente dependente do agressor. (Incluído pela Lei nº
aos interesses do adolescente. 12.415, de 2011)

Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e Título V


mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas Do Conselho Tutelar
adequadas de contenção e segurança. Capítulo I
Disposições Gerais
Capítulo V
Da Remissão Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e
autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
apuração de ato infracional, o representante do Ministério adolescente, definidos nesta Lei.
Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão
do processo, atendendo às circunstâncias e consequências do Art. 132. Em cada Município e em cada Região
fato, ao contexto social, bem como à personalidade do Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
adolescente e sua maior ou menor participação no ato Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
infracional. pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1
remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão (uma) recondução, mediante novo processo de escolha.
ou extinção do processo.
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem I - reconhecida idoneidade moral;
prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir II - idade superior a vinte e um anos;
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas III - residir no município.

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Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente
dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
quanto à remuneração dos respectivos membros, aos quais é quem tenha legítimo interesse.
assegurado o direito a:
I - cobertura previdenciária; Capítulo III
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 Da Competência
(um terço) do valor da remuneração mensal;
III - licença-maternidade; Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de
IV - licença-paternidade; competência constante do art. 147.
V - gratificação natalina.
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e Capítulo IV
da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao Da Escolha dos Conselheiros
funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e
formação continuada dos conselheiros tutelares. Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do
de idoneidade moral. Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 8.242, de
12.10.1991)
Capítulo II § 1º O processo de escolha dos membros do Conselho
Das Atribuições do Conselho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial.
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no § 2º A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10
art. 101, I a VII; de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha.
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
as medidas previstas no art. 129, I a VII; § 3º No processo de escolha dos membros do Conselho
III - promover a execução de suas decisões, podendo para Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou
tanto: entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, natureza, inclusive brindes de pequeno valor. (Incluído pela
educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; Lei nº 12.696, de 2012)
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
descumprimento injustificado de suas deliberações. Capítulo V
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que Dos Impedimentos
constitua infração administrativa ou penal contra os direitos
da criança ou adolescente; Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro
competência; ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho,
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade padrasto ou madrasta e enteado.
judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o Parágrafo único. Estende-se o impedimento do
adolescente autor de ato infracional; conselheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
VII - expedir notificações; judiciária e ao representante do Ministério Público com
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na
criança ou adolescente quando necessário; comarca, foro regional ou distrital.
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
proposta orçamentária para planos e programas de Título VI
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; Do Acesso à Justiça
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a Capítulo I
violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Disposições Gerais
Constituição Federal;
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao
possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
junto à família natural. § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos dela necessitarem, através de defensor público ou advogado
profissionais, ações de divulgação e treinamento para o nomeado.
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da
adolescentes. Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumentos,
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do
convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão
Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal representados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e
entendimento e as providências tomadas para a orientação, o um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na
apoio e a promoção social da família. forma da legislação civil ou processual.

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Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses
especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao
destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou adolescente, observado o disposto no art. 209;
quando carecer de representação ou assistência legal ainda V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em
que eventual. entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis;
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente;
administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho
a que se atribua autoria de ato infracional. Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou
poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se adolescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a
fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar,
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se perda ou modificação da tutela ou guarda;
refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade c) suprir a capacidade ou o consentimento para o
judiciária competente, se demonstrado o interesse e casamento;
justificada a finalidade. d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna
ou materna, em relação ao exercício do poder familiar;
Capítulo II e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando
Da Justiça da Infância e da Juventude faltarem os pais;
Seção I f) designar curador especial em casos de apresentação de
Disposições Gerais queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais
ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar adolescente;
varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, g) conhecer de ações de alimentos;
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento
proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de dos registros de nascimento e óbito.
infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em
plantões. Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
Seção II I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
Do Juiz desacompanhado dos pais ou responsável, em:
a) estádio, ginásio e campo desportivo;
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da b) bailes ou promoções dançantes;
Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na c) boate ou congêneres;
forma da lei de organização judiciária local. d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
Art. 147. A competência será determinada: II - a participação de criança e adolescente em:
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; a) espetáculos públicos e seus ensaios;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à b) certames de beleza.
falta dos pais ou responsável. § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras a) os princípios desta Lei;
de conexão, continência e prevenção. b) as peculiaridades locais;
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à c) a existência de instalações adequadas;
autoridade competente da residência dos pais ou responsável, d) o tipo de frequência habitual ao local;
ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
adolescente. frequência de crianças e adolescentes;
§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão f) a natureza do espetáculo.
simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma § 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo
comarca, será competente, para aplicação da penalidade, a deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou determinações de caráter geral.
rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou
retransmissoras do respectivo estado. Seção III
Dos Serviços Auxiliares
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente
para: Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de
Público, para apuração de ato infracional atribuído a equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; Infância e da Juventude.
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou
extinção do processo; Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local,
fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou

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verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de
de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua
e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado
judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta,
técnico. contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de
nomeação.
Capítulo III Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
Dos Procedimentos liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento
Seção I da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor.
Disposições Gerais
Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam- requisitará de qualquer repartição ou órgão público a
se subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou
processual pertinente. a requerimento das partes ou do Ministério Público.
Parágrafo único. É assegurada, sob pena de
responsabilidade, prioridade absoluta na tramitação dos Art. 161. Não sendo contestado o pedido, a autoridade
processos e procedimentos previstos nesta Lei, assim como na judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco
execução dos atos e diligências judiciais a eles referentes. dias, salvo quando este for o requerente, decidindo em igual
prazo.
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não § 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento
corresponder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a das partes ou do Ministério Público, determinará a realização
autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de de estudo social ou perícia por equipe interprofissional ou
ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério multidisciplinar, bem como a oitiva de testemunhas que
Público. comprovem a presença de uma das causas de suspensão ou
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para destituição do poder familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638
o fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, ou no
família de origem e em outros procedimentos art. 24 desta Lei.
necessariamente contenciosos. § 2º Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas,
é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe profissional
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, de
representantes do órgão federal responsável pela política
Seção II indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei.
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar § 3º Se o pedido importar em modificação de guarda, será
obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e
poder familiar terá início por provocação do Ministério grau de compreensão sobre as implicações da medida.
Público ou de quem tenha legítimo interesse. § 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que esses forem
identificados e estiverem em local conhecido.
Art. 156. A petição inicial indicará: § 5º Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; autoridade judicial requisitará sua apresentação para a oitiva
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do
requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária
tratando de pedido formulado por representante do dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, salvo
Ministério Público; quando este for o requerente, designando, desde logo,
III - a exposição sumária do fato e o pedido; audiência de instrução e julgamento.
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde § 1º A requerimento de qualquer das partes, do Ministério
logo, o rol de testemunhas e documentos. Público, ou de ofício, a autoridade judiciária poderá
determinar a realização de estudo social ou, se possível, de
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade perícia por equipe interprofissional.
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão § 2º Na audiência, presentes as partes e o Ministério
do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmente
julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito,
adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e
responsabilidade. o Ministério Público, pelo tempo de vinte minutos cada um,
prorrogável por mais dez. A decisão será proferida na
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez audiência, podendo a autoridade judiciária, excepcionalmente,
dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem designar data para sua leitura no prazo máximo de cinco dias.
produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas e
documentos. Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento
será de 120 (cento e vinte) dias.
§ 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a
meios para sua realização. suspensão do poder familiar será averbada à margem do
§ 2º O requerido privado de liberdade deverá ser citado registro de nascimento da criança ou do adolescente.
pessoalmente.

Legislação Básica em Educação 102


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Seção III Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda


Da Destituição da Tutela provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o
adolescente será entregue ao interessado, mediante termo de
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o responsabilidade.
procedimento para a remoção de tutor previsto na lei
processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior. Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial,
e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar-
Seção IV se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco
Da Colocação em Família Substituta dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.

Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
colocação em família substituta: perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressuposto
I - qualificação completa do requerente e de seu eventual lógico da medida principal de colocação em família substituta,
cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste; será observado o procedimento contraditório previsto nas
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de Seções II e III deste Capítulo.
seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda
especificando se tem ou não parente vivo; poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento,
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de observado o disposto no art. 35.
seus pais, se conhecidos;
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o
anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão; disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47.
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente. sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade
também os requisitos específicos. por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias.

Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido Seção V


destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a
aderido expressamente ao pedido de colocação em família Adolescente
substituta, este poderá ser formulado diretamente em
cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem
dispensada a assistência de advogado. judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.
§ 1º Na hipótese de concordância dos pais, esses serão
ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante do Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato
Ministério Público, tomando-se por termo as declarações. infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade
§ 2º O consentimento dos titulares do poder familiar será policial competente.
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada
equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, para atendimento de adolescente e em se tratando de ato
em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da infracional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a
medida. atribuição da repartição especializada, que, após as
§ 3º O consentimento dos titulares do poder familiar será providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o
colhido pela autoridade judiciária competente em audiência, adulto à repartição policial própria.
presente o Ministério Público, garantida a livre manifestação
de vontade e esgotados os esforços para manutenção da Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido
criança ou do adolescente na família natural ou extensa. mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade
§ 4º O consentimento prestado por escrito não terá policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo
validade se não for ratificado na audiência a que se refere o § único, e 107, deverá:
3o deste artigo. I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o
§ 5º O consentimento é retratável até a data da publicação adolescente;
da sentença constitutiva da adoção. II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
§ 6º O consentimento somente terá valor se for dado após III - requisitar os exames ou perícias necessários à
o nascimento da criança. comprovação da materialidade e autoria da infração.
§ 7º A família substituta receberá a devida orientação por Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a
intermédio de equipe técnica interprofissional a serviço do lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
Poder Judiciário, preferencialmente com apoio dos técnicos ocorrência circunstanciada.
responsáveis pela execução da política municipal de garantia
do direito à convivência familiar. Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável,
o adolescente será prontamente liberado pela autoridade
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua
requerimento das partes ou do Ministério Público, apresentação ao representante do Ministério Público, no
determinará a realização de estudo social ou, se possível, mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato,
perícia por equipe interprofissional, decidindo sobre a exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua
concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção, repercussão social, deva o adolescente permanecer sob
sobre o estágio de convivência. internação para garantia de sua segurança pessoal ou
manutenção da ordem pública.

Legislação Básica em Educação 103


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Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do
encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder
Ministério Público, juntamente com cópia do auto de a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
apreensão ou boletim de ocorrência. propondo a instauração de procedimento para aplicação da
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a medida sócio educativa que se afigurar a mais adequada.
autoridade policial encaminhará o adolescente à entidade de § 1º A representação será oferecida por petição, que
atendimento, que fará a apresentação ao representante do conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas. infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas,
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. pela autoridade judiciária.
À falta de repartição policial especializada, o adolescente § 2º A representação independe de prova pré-constituída
aguardará a apresentação em dependência separada da da autoria e materialidade.
destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese,
exceder o prazo referido no parágrafo anterior. Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a
conclusão do procedimento, estando o adolescente internado
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
policial encaminhará imediatamente ao representante do
Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária
ocorrência. designará audiência de apresentação do adolescente,
decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
indícios de participação de adolescente na prática de ato § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
infracional, a autoridade policial encaminhará ao cientificados do teor da representação, e notificados a
representante do Ministério Público relatório das comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
investigações e demais documentos. § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
infracional não poderá ser conduzido ou transportado em judiciária expedirá mandado de busca e apreensão,
compartimento fechado de veículo policial, em condições determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua apresentação.
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a
sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do responsável.
Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela
devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e estabelecimento prisional.
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais § 1º Inexistindo na comarca entidade com as
ou responsável, vítima e testemunhas. características definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
representante do Ministério Público notificará os pais ou § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o
responsável para apresentação do adolescente, podendo adolescente aguardará sua remoção em repartição policial,
requisitar o concurso das polícias civil e militar. desde que em seção isolada dos adultos e com instalações
apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo cinco dias, sob pena de responsabilidade.
anterior, o representante do Ministério Público poderá:
I - promover o arquivamento dos autos; Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou
II - conceder a remissão; responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
medida sócio educativa. § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou proferindo decisão.
concedida a remissão pelo representante do Ministério § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de
Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo internação ou colocação em regime de semiliberdade, a
dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para autoridade judiciária, verificando que o adolescente não
homologação. possui advogado constituído, nomeará defensor, designando,
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a
autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o realização de diligências e estudo do caso.
cumprimento da medida. § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos prazo de três dias contado da audiência de apresentação,
autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
fundamentado, e este oferecerá representação, designará § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas
outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as
ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional,
autoridade judiciária obrigada a homologar. será dada a palavra ao representante do Ministério Público e

Legislação Básica em Educação 104


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ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º deste artigo.
para cada um, prorrogável por mais dez, a critério da (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão. § 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste artigo,
consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não I – dados de conexão: informações referentes a hora, data,
comparecer, injustificadamente à audiência de apresentação, a início, término, duração, endereço de Protocolo de Internet
autoridade judiciária designará nova data, determinando sua (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela
condução coercitiva. Lei nº 13.441, de 2017)
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado
do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do
para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário
procedimento, antes da sentença.
ou código de acesso tenha sido atribuído no momento da
conexão.
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
medida, desde que reconheça na sentença: § 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não será
I - estar provada a inexistência do fato; admitida se a prova puder ser obtida por outros meios.
II - não haver prova da existência do fato; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
III - não constituir o fato ato infracional;
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
o ato infracional. serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela
adolescente internado, será imediatamente colocado em Lei nº 13.441, de 2017)
liberdade. Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso
aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo
internação ou regime de semiliberdade será feita: de garantir o sigilo das investigações. (Incluído pela Lei nº
I - ao adolescente e ao seu defensor; 13.441, de 2017)
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais
ou responsável, sem prejuízo do defensor.
Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á
identidade para, por meio da internet, colher indícios de
unicamente na pessoa do defensor.
autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240,
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente,
deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A,
217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
Seção V-A dezembro de 1940 (Código Penal). (Incluído pela Lei nº
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) 13.441, de 2017)
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de
Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos
Criança e de Adolescente excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público
com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, 241, poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante
241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217- procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as
A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de informações necessárias à efetividade da identidade fictícia
dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes
criada. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
regras: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta
I – será precedida de autorização judicial devidamente
Seção será numerado e tombado em livro específico. (Incluído
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites
da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério pela Lei nº 13.441, de 2017)
Público; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos
ou representação de delegado de polícia e conterá a eletrônicos praticados durante a operação deverão ser
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e
policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, ao Ministério Público, juntamente com relatório
quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que circunstanciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
permitam a identificação dessas pessoas; (Incluído pela Lei nº Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no
13.441, de 2017) caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito
prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não policial, assegurando-se a preservação da identidade do
exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos
efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial. (Incluído
adolescentes envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.441, de
pela Lei nº 13.441, de 2017)
2017)
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão
requisitar relatórios parciais da operação de infiltração antes

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Seção VI Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a


Da Apuração de Irregularidades em Entidade de autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministério
Atendimento Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.

Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária
em entidade governamental e não-governamental terá início procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo
mediante portaria da autoridade judiciária ou representação necessário, designará audiência de instrução e julgamento.
do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde conste, Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão
necessariamente, resumo dos fatos. sucessivamente o Ministério Público e o procurador do
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um,
autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária,
liminarmente o afastamento provisório do dirigente da que em seguida proferirá sentença.
entidade, mediante decisão fundamentada.
Seção VIII
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar
documentos e indicar as provas a produzir. Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil,
apresentarão petição inicial na qual conste:
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo I - qualificação completa;
necessário, a autoridade judiciária designará audiência de II - dados familiares;
instrução e julgamento, intimando as partes. III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o casamento, ou declaração relativa ao período de união estável;
Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. de Pessoas Físicas;
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou V - comprovante de renda e domicílio;
definitivo de dirigente de entidade governamental, a VI - atestados de sanidade física e mental;
autoridade judiciária oficiará à autoridade administrativa VII - certidão de antecedentes criminais;
imediatamente superior ao afastado, marcando prazo para a VIII - certidão negativa de distribuição cível.
substituição.
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48
judiciária poderá fixar prazo para a remoção das (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério
irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:
processo será extinto, sem julgamento de mérito. I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a
entidade ou programa de atendimento. que se refere o art. 197-C desta Lei;
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos
Seção VII postulantes em juízo e testemunhas;
Da Apuração de Infração Administrativa às Normas III - requerer a juntada de documentos complementares e
de Proteção à Criança e ao Adolescente a realização de outras diligências que entender necessárias.

Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe
administrativa por infração às normas de proteção à criança e interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
ao adolescente terá início por representação do Ministério Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que
Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o
por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade
duas testemunhas, se possível. ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, desta Lei.
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a § 1º É obrigatória a participação dos postulantes em
natureza e as circunstâncias da infração. programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir- preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, dos execução da política municipal de garantia do direito à
motivos do retardamento. convivência familiar, que inclua preparação psicológica,
orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de
apresentação de defesa, contado da data da intimação, que saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.
será feita: § 2º Sempre que possível e recomendável, a etapa
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo
na presença do requerido; incluirá o contato com crianças e adolescentes em regime de
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente acolhimento familiar ou institucional em condições de serem
habilitado, que entregará cópia do auto ou da representação adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e
ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão; avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pelo
encontrado o requerido ou seu representante legal; programa de acolhimento familiar ou institucional e pela
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não execução da política municipal de garantia do direito à
sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal. convivência familiar.

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Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável
participação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a ou de difícil reparação ao adotando
autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer
Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que
designando, conforme o caso, audiência de instrução e deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.
julgamento.
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de
sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a destituição de poder familiar, em face da relevância das
juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos questões, serão processados com prioridade absoluta,
autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que
igual prazo. aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e
serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será parecer urgente do Ministério Público.
inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias,
crianças ou adolescentes adotáveis. contado da sua conclusão.
§ 1º A ordem cronológica das habilitações somente poderá Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da
deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas data do julgamento e poderá na sessão, se entender
hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando necessário, apresentar oralmente seu parecer.
comprovado ser essa a melhor solução no interesse do
adotando. Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a
§ 2º A recusa sistemática na adoção das crianças ou instauração de procedimento para apuração de
adolescentes indicados importará na reavaliação da responsabilidades se constatar o descumprimento das
habilitação concedida. providências e do prazo previstos nos artigos anteriores.

Capítulo IV Capítulo V
Dos Recursos Do Ministério Público

Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta
da Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei no
5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), Art. 201. Compete ao Ministério Público:
com as seguintes adaptações: I - conceder a remissão como forma de exclusão do
I - os recursos serão interpostos independentemente de processo;
preparo; II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de infrações atribuídas a adolescentes;
declaração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os
será sempre de 10 (dez) dias; procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar,
III - os recursos terão preferência de julgamento e nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem
dispensarão revisor; como oficiar em todos os demais procedimentos da
IV - Revogado competência da Justiça da Infância e da Juventude;
V - Revogado IV - promover, de ofício ou por solicitação dos
VI - Revogado interessados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer
instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de administradores de bens de crianças e adolescentes nas
agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho hipóteses do art. 98;
fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a
de cinco dias; proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no
remeterá os autos ou o instrumento à superior instância art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo VI - instaurar procedimentos administrativos e, para
pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos instruí-los:
dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do a) expedir notificações para colher depoimentos ou
Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da esclarecimentos e, em caso de não comparecimento
intimação. injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela
polícia civil ou militar;
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. b) requisitar informações, exames, perícias e documentos
149 caberá recurso de apelação. de autoridades municipais, estaduais e federais, da
administração direta ou indireta, bem como promover
Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito inspeções e diligências investigatórias;
desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida c) requisitar informações e documentos a particulares e
exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de instituições privadas;

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VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências Capítulo VI


investigatórias e determinar a instauração de inquérito Do Advogado
policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de
proteção à infância e à juventude; Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse
legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que
medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial,
corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos respeitado o segredo de justiça.
interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária
ao adolescente; integral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade
por infrações cometidas contra as normas de proteção à Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática
infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível; processado sem defensor.
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á
atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo,
pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à constituir outro de sua preferência.
remoção de irregularidades porventura verificadas; § 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto,
serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.
social, públicos ou privados, para o desempenho de suas § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se
atribuições. tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações indicado por ocasião de ato formal com a presença da
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas autoridade judiciária.
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e esta
Lei. Capítulo VII
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais,
outras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério Difusos e Coletivos
Público.
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de
suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
criança ou adolescente. criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou
§ 4º O representante do Ministério Público será oferta irregular:
responsável pelo uso indevido das informações e documentos I - do ensino obrigatório;
que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo. II - de atendimento educacional especializado aos
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII portadores de deficiência;
deste artigo, poderá o representante do Ministério Público: III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças de
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306,
instaurando o competente procedimento, sob sua presidência; de 2016)
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do
reclamada, em dia, local e horário previamente notificados ou educando;
acertados; V - de programas suplementares de oferta de material
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços didático-escolar, transporte e assistência à saúde do
públicos e de relevância pública afetos à criança e ao educando do ensino fundamental;
adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita VI - de serviço de assistência social visando à proteção à
adequação. família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como
ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa VIII - de escolarização e profissionalização dos
dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que adolescentes privados de liberdade.
terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e
documentos e requerer diligências, usando os recursos promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do
cabíveis. direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.
X - de programas de atendimento para a execução das
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer medidas socioeducativas e aplicação de medidas de proteção.
caso, será feita pessoalmente. XI - de políticas e programas integrados de atendimento à
criança e ao adolescente vítima ou testemunha de violência.
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público (Incluído pela Lei nº 13.341/2017)
acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo § 1º As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
juiz ou a requerimento de qualquer interessado. proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos
Art. 205. As manifestações processuais do representante pela Constituição e pela Lei.
do Ministério Público deverão ser fundamentadas. § 2º A investigação do desaparecimento de crianças ou
adolescentes será realizada imediatamente após notificação

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aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido
portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do
transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes respectivo município.
todos os dados necessários à identificação do desaparecido. § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito
em julgado da decisão serão exigidas através de execução
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos,
no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar § 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro
a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em
competência originária dos tribunais superiores. conta com correção monetária.

Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
coletivos ou difusos, consideram-se legitimados recursos, para evitar dano irreparável à parte.
concorrentemente:
I - o Ministério Público; Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa de
os territórios; peças à autoridade competente, para apuração da
III - as associações legalmente constituídas há pelo menos responsabilidade civil e administrativa do agente a que se
um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa atribua a ação ou omissão.
dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a
autorização da assembleia, se houver prévia autorização Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado
estatutária. da sentença condenatória sem que a associação autora lhe
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
Ministérios Públicos da União e dos estados na defesa dos facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao
associação legitimada, o Ministério Público ou outro réu os honorários advocatícios arbitrados na conformidade do
legitimado poderá assumir a titularidade ativa. § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973
(Código de Processo Civil), quando reconhecer que a
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar pretensão é manifestamente infundada.
dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a
às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo associação autora e os diretores responsáveis pela
extrajudicial. propositura da ação serão solidariamente condenados ao
décuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade por
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos perdas e danos.
por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações
pertinentes. Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
normas do Código de Processo Civil. quaisquer outras despesas.
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
poder público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-
Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da lhe informações sobre fatos que constituam objeto de ação
lei do mandado de segurança. civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.

Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a
específica da obrigação ou determinará providências que propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério
assegurem o resultado prático equivalente ao do Público para as providências cabíveis.
adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao poderá requerer às autoridades competentes as certidões e
juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no
prévia, citando o réu. prazo de quinze dias.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na
sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua
pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa,
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do organismo público ou particular, certidões, informações,
preceito. exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em ser inferior a dez dias úteis.
julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as
o dia em que se houver configurado o descumprimento. diligências, se convencer da inexistência de fundamento para
a propositura da ação cível, promoverá o arquivamento dos
autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o
fundamentadamente.

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§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que
arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta procede à apreensão sem observância das formalidades legais.
grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior do
Ministério Público. Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata
arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério comunicação à autoridade judiciária competente e à família do
público, poderão as associações legitimadas apresentar razões apreendido ou à pessoa por ele indicada:
escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do Pena - detenção de seis meses a dois anos.
inquérito ou anexados às peças de informação.
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua
e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a
conforme dispuser o seu regimento. constrangimento:
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a Pena - detenção de seis meses a dois anos.
promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação. Art. 233. Revogado

Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa,
disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985. de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão
logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:
Título VII Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
Capítulo I Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado
Dos Crimes nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
Seção I Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Disposições Gerais
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do
contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
prejuízo do disposto na legislação penal. Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com
as pertinentes ao Código de Processo Penal. o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública
incondicionada Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo
a terceiro, mediante paga ou recompensa:
Seção II Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Dos Crimes em Espécie Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece
ou efetiva a paga ou recompensa.
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato
registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, obter lucro:
declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
parto e do desenvolvimento do neonato: Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça
Pena - detenção de seis meses a dois anos. ou fraude:
Parágrafo único. Se o crime é culposo: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. correspondente à violência.

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
desta Lei: § 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
Pena - detenção de seis meses a dois anos. recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
Parágrafo único. Se o crime é culposo: participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua comete o crime:
liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade exercê-la;
judiciária competente: II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação
Pena - detenção de seis meses a dois anos. ou de hospitalidade; ou

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III – prevalecendo-se de relações de parentesco Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por
consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela
tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, praticar ato libidinoso:
a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
consentimento. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – facilita ou induz o acesso à criança de material
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de
outro registro que contenha cena de sexo explícito ou com ela praticar ato libidinoso;
pornográfica envolvendo criança ou adolescente: II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica
ou sexualmente explícita.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a
por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica”
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou compreende qualquer situação que envolva criança ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente: adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: adolescente para fins primordialmente sexuais
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento
das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
artigo; entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma,
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de munição ou explosivo:
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
caput deste artigo.
§ 2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a
do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. produtos cujos componentes possam causar dependência
física ou psíquica: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que fato não constitui crime mais grave. (Redação dada pela
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo Lei nº 13.106, de 2015)
criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
§ 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de
de pequena quantidade o material a que se refere o caput deste estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
artigo. reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer
§ 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a dano físico em caso de utilização indevida:
finalidade de comunicar às autoridades competentes a Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e
241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
I – agente público no exercício de suas funções; definidos no caput do art. 2º desta Lei, à prostituição ou à
II – membro de entidade, legalmente constituída, que exploração sexual:
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
referidos neste parágrafo; favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
III – representante legal e funcionários responsáveis de unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
computadores, até o recebimento do material relativo à notícia (Redação dada pela Lei nº 13.440, de 2017)
feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder § 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente
Judiciário. ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de
§ 3º As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste
manter sob sigilo o material ilícito referido. artigo.
§ 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou da licença de localização e de funcionamento do
adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por estabelecimento.
meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia,
vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, induzindo-o a praticá-la:
expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material § 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
produzido na forma do caput deste artigo. quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
internet.

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§ 2º As penas previstas no caput deste artigo são escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão,
aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou motel ou congênere:
induzida estar incluída no rol do art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 Pena – multa.
de julho de 1990. Capítulo II § 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o
Das Infrações Administrativas fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, fechado e terá sua licença cassada.
pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente
os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer
confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente: meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85
Pena - multa de três a vinte salários de referência, desta Lei:
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de três a vinte salários de referência,
aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade
de atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo
II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei: público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada
Pena - multa de três a vinte salários de referência, do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no
certificado de classificação:
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização Pena - multa de três a vinte salários de referência,
devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
documento de procedimento policial, administrativo ou
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer
infracional: representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade
Pena - multa de três a vinte salários de referência, a que não se recomendem:
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de três a vinte salários de referência,
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou duplicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente,
parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou
em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga publicidade.
respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma
a permitir sua identificação, direta ou indiretamente. Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão,
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste sua classificação:
artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão Pena - multa de vinte a cem salários de referência;
da publicação ou a suspensão da programação da emissora até duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária
por dois dias, bem como da publicação do periódico até por poderá determinar a suspensão da programação da emissora
dois números. (Expressão declara inconstitucional pela ADIN por até dois dias.
869-2)
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de classificado pelo órgão competente como inadequado às
seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regularizar crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
a guarda, adolescente trazido de outra comarca para a Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pelos reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do
pais ou responsável: espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze
Pena - multa de três a vinte salários de referência, dias.
aplicando-se o dobro em caso de reincidência,
independentemente das despesas de retorno do adolescente, Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de
se for o caso. programação em vídeo, em desacordo com a classificação
atribuída pelo órgão competente:
Observação: A Lei nº 13.431/2017 revoga o art. 248, Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
entretanto, essa lei só entrará em vigor após 1 ano de sua de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o
publicação (04/04/2018). fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79
inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, desta Lei:
bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Pena - multa de três a vinte salários de referência,
Tutelar: duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apreensão da revista ou publicação.
aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem autorização de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua
participação no espetáculo:

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Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso pela Primeira Infância. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o 2016)
fechamento do estabelecimento por até quinze dias. § 2º Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos
direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de
Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações
providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamente
previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três guarda, de crianças e adolescentes e para programas de
mil reais). atenção integral à primeira infância em áreas de maior
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade carência socioeconômica e em situações de calamidade.
que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou § 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da
casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a
regime de acolhimento institucional ou familiar. comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos deste
artigo.
Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de § 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Municipal dos
imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de Direitos da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais
que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em referidos neste artigo.
entregar seu filho para adoção: § 5º Observado o disposto no § 4º do art. 3º da Lei no 9.249,
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata o inciso I
mil reais). do caput:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de I - será considerada isoladamente, não se submetendo a
programa oficial ou comunitário destinado à garantia do limite em conjunto com outras deduções do imposto; e
direito à convivência familiar que deixa de efetuar a II - não poderá ser computada como despesa operacional
comunicação referida no caput deste artigo. na apuração do lucro real.

Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário
II do art. 81: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015) de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração
(dez mil reais); Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015) de Ajuste Anual.
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento § 1º A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até
comercial até o recolhimento da multa aplicada. (Redação os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado
dada pela Lei nº 13.106, de 2015) na declaração:
I - (VETADO);
Disposições Finais e Transitórias II - (VETADO);
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da § 2º A dedução de que trata o caput:
publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto
sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso II do
política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece caput do art. 260;
o Título V do Livro II. II - não se aplica à pessoa física que:
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios a) utilizar o desconto simplificado;
promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às b) apresentar declaração em formulário; ou
diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei. c) entregar a declaração fora do prazo;
III - só se aplica às doações em espécie; e
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, vigor.
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, § 3º O pagamento da doação deve ser efetuado até a data
sendo essas integralmente deduzidas do imposto de renda, de vencimento da primeira quota ou quota única do imposto,
obedecidos os seguintes limites: observadas instruções específicas da Secretaria da Receita
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido Federal do Brasil.
apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro § 4º O não pagamento da doação no prazo estabelecido no
real; e § 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução,
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença
pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado de imposto devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com
o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de os acréscimos legais previstos na legislação.
1997. § 5º A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na
§ 1º - Revogado Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo
§ 1º-A. Na definição das prioridades a serem atendidas ano-calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos
com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais e Direitos da Criança e do Adolescente municipais, distrital,
municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão estaduais e nacional concomitantemente com a opção de que
consideradas as disposições do Plano Nacional de Promoção, trata o caput, respeitado o limite previsto no inciso II do art.
Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à 260.
Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacional

Legislação Básica em Educação 113


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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal
poderá ser deduzida: do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os
I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas seguintes dados por doador:
jurídicas que apuram o imposto trimestralmente; e a) nome, CNPJ ou CPF;
II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou
as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente. em bens.
Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do
período a que se refere a apuração do imposto. Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações
previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do
Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público.
podem ser efetuadas em espécie ou em bens.
Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
ser depositadas em conta específica, em instituição financeira Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais
pública, vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. divulgarão amplamente à comunidade:
260. I - o calendário de suas reuniões;
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das atendimento à criança e ao adolescente;
contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem
nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança
em favor do doador, assinado por pessoa competente e pelo e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou municipais;
presidente do Conselho correspondente, especificando: IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-
I - número de ordem; calendário e o valor dos recursos previstos para
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e implementação das ações, por projeto;
endereço do emitente; V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação,
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do por projeto atendido, inclusive com cadastramento na base de
doador; dados do Sistema de Informações sobre a Infância e a
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e Adolescência; e
V - ano-calendário a que se refere a doação. VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados
§ 1º O comprovante de que trata o caput deste artigo pode com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do
ser emitido anualmente, desde que discrimine os valores Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais.
doados mês a mês.
§ 2º No caso de doação em bens, o comprovante deve Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
conter a identificação dos bens, mediante descrição em campo Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incentivos
próprio ou em relação anexa ao comprovante, informando fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
também se houve avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts.
dos avaliadores. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por ação
judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá atuar de
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador ofício, a requerimento ou representação de qualquer cidadão.
deverá: Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante Presidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria
documentação hábil; da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos, arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fundos
quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
pessoa jurídica; e estaduais e municipais, com a indicação dos respectivos
III - considerar como valor dos bens doados: números de inscrição no CNPJ e das contas bancárias
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última específicas mantidas em instituições financeiras públicas,
declaração do imposto de renda, desde que não exceda o valor destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
de mercado;
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será expedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos
considerado na determinação do valor dos bens doados, arts. 260 a 260-K.
exceto se o leilão for determinado por autoridade judiciária.
Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações a
e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei serão
de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedução efetuados perante a autoridade judiciária da comarca a que
perante a Receita Federal do Brasil. pertencer a entidade.
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos
contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente estados e municípios, e os estados aos municípios, os recursos
nacional, estaduais, distrital e municipais devem: referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão
I - manter conta bancária específica destinada logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança e do
exclusivamente a gerir os recursos do Fundo; adolescente nos seus respectivos níveis.
II - manter controle das doações recebidas; e

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, Questões


as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela
autoridade judiciária. 01. (Prefeitura de Alumínio/SP – Auxiliar de
Desenvolvimento Infantil – VUNESP – 2016) O Conselho
Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de Tutelar do Município, de acordo com o artigo 131 do ECA, é
1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes órgão encarregado pela sociedade, de zelar pelo cumprimento
alterações: dos direitos da criança e do adolescente definidos na citada lei.
1) Art. 121 ............................................................ Esse órgão tem como uma de suas características
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um fundamentais ser:
terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de (A) Partidário.
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar (B) Jurisdicional.
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as (C) Legislativo.
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em (D) Autônomo.
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de (E) Provisório
um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de
catorze anos. 02. (Prefeitura de Cuiabá – MT - Técnico de Nível
2) Art. 129 ... Superior - Bacharel em Direito - FGV) Aristides, zeloso
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer professor de português, com mais de 20 anos de magistério na
das hipóteses do art. 121, § 4º. rede pública municipal, sempre primou pela excelência de
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. seus alunos. Ocorre que João, adolescente do 9º ano do Ensino
3) Art. 136... Fundamental, não consegue se comportar em suas aulas,
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado prejudicando os demais alunos. Aristides já conversou com
contra pessoa menor de catorze anos. João, reuniu-se com os pais do aluno, todavia o adolescente se
4) Art. 213 ... comporta pior a cada dia.
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
Pena - reclusão de quatro a dez anos. Em uma determinada aula, João, ao tentar acertar um
5) Art. 214... amigo, joga um vidrinho de tinta guache que cai e mancha a
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos: camisa do professor. Aristides, muito nervoso, decide
Pena - reclusão de três a nove anos repreender imediatamente o aluno. Assim, coloca-o de castigo,
em pé, de costas para os demais alunos e de frente para a lousa,
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de durante cinco minutos, equilibrando o vidrinho de tinta
1973, fica acrescido do seguinte item: guache na cabeça e repetindo a seguinte frase, em voz alta, a
"Art. 102 ... cada intervalo de um minuto: “Sou o bobo da turma!"
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. "
A respeito da conduta do professor Aristides, assinale a
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, afirmativa correta.
da administração direta ou indireta, inclusive fundações (A) Está correta, pois Aristides, como educador, tem o
instituídas e mantidas pelo poder público federal promoverão direito de repreender os seus alunos.
edição popular do texto integral deste Estatuto, que será posto (B) Não está correta, porque Aristides se excedeu,
à disposição das escolas e das entidades de atendimento e de cometendo uma infração administrativa prevista no Estatuto
defesa dos direitos da criança e do adolescente. da Criança e do Adolescente.
(C) Não está correta, porque Aristides se excedeu,
Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla cometendo um crime previsto no Estatuto da Criança e do
divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos meios Adolescente.
de comunicação social. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de (D) Está correta, pois Aristides, como educador, tem o
2016) direito de repreender os seus alunos, somente não podendo
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será usar castigo físico.
veiculada em linguagem clara, compreensível e adequada a (E) Não está correta, porque Aristides se excedeu, mas não
crianças e adolescentes, especialmente às crianças com idade cometeu nenhum crime ou infração administrativa previstos
inferior a 6 (seis) anos. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de no Estatuto da Criança e do Adolescente.
2016)
03. (Secretaria da Criança – DF - Atendente de
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua Reintegração Socioeducativo – FUNIVERSA - 2015) É crime
publicação. previsto no ECA.
Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão (A) deixar o médico de comunicar à autoridade
ser promovidas atividades e campanhas de divulgação e competente os casos de seu conhecimento que envolvam
esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei. suspeita de maus-tratos contra criança ou adolescente.
(B) deixar a autoridade policial responsável pela
Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, de apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata
10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais comunicação à autoridade judiciária competente e à família do
disposições em contrário. apreendido ou à pessoa por ele indicada.
(C) descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres
inerentes ao poder familiar ou decorrentes de tutela ou
guarda.

Legislação Básica em Educação 115


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APOSTILAS OPÇÃO

(D) hospedar crianças ou adolescentes desacompanhados


dos pais ou dos responsáveis, ou sem autorização escrita
desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou
congênere.
(E) exibir filmes, trailers, peças, amostras ou congêneres
classificados pelo órgão competente como inadequados a
crianças ou adolescentes admitidos no espetáculo.

04. (Prefeitura de Alto Piquiri – PR - Cuidador Social –


KLC - 2015) O Artigo 1º do Estatuto da Criança e do
Adolescente dispõe sobre a proteção:
(A) integral à criança e ao adolescente.
(B) parcial à criança e ao adolescente.
(C) integral à criança e parcial ao adolescente.
(D) parcial à criança e integral ao adolescente
(E) integral à criança e facultativa ao adolescente.

05. (Prefeitura Municipal de Alumínio – Auxiliar de


Desenvolvimento Infantil – VUNESP - 2016) O artigo 18-A
do Estatuto da Criança e do Adolescente é de particular
relevância para os educadores porque aborda a questão de
forma como os diversos responsáveis pelos cuidados e pela
educação da criança devem agir em relação a ela. Assim, esse
artigo determina-se que
(A) O uso de castigo físico é admissível unicamente para a
correção de comportamentos extremamente indisciplinados.
(B) Qualquer pessoa, a qualquer pretexto, não tem o direito
de utilizar castigo físico contra a criança.
(C) As proibições elencadas nesse artigo não se aplicam
aos pais ou responsáveis legais pela criança.
(D) O tratamento degradante da criança poderá ser
relevado se o praticante apresentar a devida justificativa à
autoridade competente.
(E) Crianças devem ser educadas sem excessos de direitos
para que sejam disciplinadas.

Respostas

01. D / 02. C / 03. B / 04. A / 05. B

Anotações

Legislação Básica em Educação 116


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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

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APOSTILAS OPÇÃO

todos; todos podem e devem zelar pelo seu uso e sua adequada
conservação. A manutenção e o desenvolvimento de um bem
público comum requerem algumas condições:
1. Recursos financeiros adequados, regulares e bem
gerenciados, de modo a oferecer as mesmas condições de uso,
acesso e permanência nas escolas a alunos em condições
sociais desiguais;
2. Transparência administrativa e financeira com o
controle público de ações e decisões. Desse modo, cabe ao
gestor informar com clareza e em tempo hábil a relação dos
Gestão Escolar. recursos disponíveis, fazer prestações de contas, promover o
registro preciso e claro das decisões tomadas em reuniões;
3. Processo participativo de tomada de decisões,
Gestão democrática1 implementação, acompanhamento e avaliação. Ressaltamos
que o cotidiano de trabalho das escolas deve ter por referência
Gestão democrática implica compartilhar o poder, um projeto pedagógico construído coletivamente e o apreço às
descentralizando-o. Como fazer isso? Incentivando a decisões tomadas pelos órgãos colegiados representativos.
participação e respeitando as pessoas e suas opiniões;
desenvolvendo um clima de confiança entre os vários Em síntese, a gestão democrática do ensino pressupõe uma
segmentos das comunidades escolar e local; ajudando a maneira de atuar coletivamente, oferecendo aos membros das
desenvolver competências básicas necessárias à participação comunidades local e escolar oportunidades para:
(por exemplo, saber ouvir, saber comunicar suas ideias). A - Reconhecer que existe uma discrepância entre a situação
participação proporciona mudanças significativas na vida das real (o que é) e o que gostaríamos que fosse (o que pode vir a
pessoas, na medida em que elas passam a se interessar e se ser).
sentir responsáveis por tudo que representa interesse comum. - Identificar possíveis razões para essa discrepância.
Assumir responsabilidades, escolher e inventar novas - Elaborar um plano de ação para minimizar ou solucionar
formas de relações coletivas faz parte do processo de esses problemas.
participação e trazem possibilidades de mudanças que
atendam a interesses mais coletivos. Envolvendo a comunidade na gestão da escola
A participação social começa no interior da escola, por
meio da criação de espaços nos quais professores, A gestão escolar constitui um modo de articular pessoas e
funcionários, alunos, pais de alunos etc. possam discutir experiências educativas, atingir objetivos da instituição
criticamente o cotidiano escolar. Nesse sentido, a função da escolar, administrar recursos materiais, coordenar pessoas,
escola é formar indivíduos críticos, criativos e participativos, planejar atividades, distribuir funções e atribuições. Em
com condições de participar criticamente do mundo do síntese, se estabelecem, intencionalmente, contatos entre as
trabalho e de lutar pela democratização da educação. A escola, pessoas, os recursos administrativos, financeiros e jurídicos na
no desempenho dessa função, precisa ter clareza de que o construção do projeto pedagógico da escola. A gestão
processo de formação para uma vida cidadã e, portanto, de democrática, por sua vez, requer, dentre outros, a participação
gestão democrática passa pela construção de mecanismos de da comunidade nas ações desenvolvidas na escola. Envolver a
participação da comunidade escolar, como: Conselho Escolar, comunidades escolar e local é tarefa complexa, pois articula
Associação de Pais e Mestres, Grêmio Estudantil, Conselhos de interesses, sentimentos e valores diversos. Nem sempre é fácil,
Classes etc. mas compete às equipes gestoras pensar e desenvolver
Para que a tomada de decisão seja partilhada e coletiva, é estratégias para motivar as pessoas a se envolver e participar
necessária a efetivação de vários mecanismos de participação, na vida da escola. As possibilidades de motivação são várias,
tais como: o aprimoramento dos processos de escolha ao cargo desde a concepção e o uso dos espaços escolares até a
de dirigente escolar; a criação e a consolidação de órgãos organização do trabalho pedagógico. A mobilização das
colegiados na escola (conselhos escolares e conselho de pessoas pode começar quando elas se defrontam com
classe); o fortalecimento da participação estudantil por meio situações-problema. As dificuldades nos incentivam a criar
da criação e da consolidação de grêmios estudantis; a novas formas de organização, de participar das decisões para
construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico da escola; resolvê-las. Espaços de discussão possibilitam trabalhar ideias
a redefinição das tarefas e funções da associação de pais e divergentes na construção do projeto educativo. Como criar,
mestres, na perspectiva de construção de novas maneiras de ou então fortalecer, ambientes que favoreçam a participação?
se partilhar o poder e a decisão nas instituições. Na construção de ambientes de participação e mobilização de
Não existe apenas uma forma ou mecanismo de pessoas, algumas estratégias tornam-se fundamentais.
participação. Entre os mecanismos de participação que podem Vejamos algumas:
ser criados na escola, destacam-se: o conselho escolar, o
conselho de classe, a associação de pais e mestres e o grêmio - Estar atento às solicitações da comunidade.
escolar. - Ouvir com atenção o que os membros da comunidade têm
a dizer.
O processo de participação na escola produz, também, - Delegar responsabilidades ao máximo possível de pessoas.
efeitos culturais importantes. Ele ajuda a comunidade a - Mostrar a responsabilidade e a importância do papel de
reconhecer o patrimônio das instituições educativas – escolas, cada um para o bom andamento do processo.
bibliotecas, equipamentos – como um bem público comum, - Garantir a palavra a todos.
que é a expressão de um valor reconhecido por todos, o qual - Respeitar as decisões tomadas em grupo.
oferece vantagens e benefícios coletivos. Sua utilização por - Criar ambientes físicos confortáveis para assembleias e
algumas pessoas não exclui o uso pelas demais. É um bem de reuniões.

1 Dourado, L. F.Progestão: como promover, articular e envolver a ação das

pessoas no processo de gestão escolar? Brasília : CONSED – Conselho Nacional de


Secretários de Educação, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 1
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APOSTILAS OPÇÃO

- Essas características reforçam a ideia de que a qualidade


Estimularcadapresentenasreuniõesounasassembléiasaserespon de ensino depende de mudanças no âmbito da organização
sabilizar por trazer, pelo menos, mais uma pessoa para o escolar, envolvendo a estrutura física e as condições de
próximo encontro. funcionamento, a estrutura organizacional, a cultura
- Tornar a escola um espaço de sociabilidade. organizacional, as relações entre alunos, professores,
- Valorizar o trabalho participativo. funcionários, as práticas colaborativas e participativas. É a
- Destacar a importância da integração entre as pessoas. escola como um todo que deve responsabilizar-se pela
- Submeter o trabalho desenvolvido na escola às avaliações aprendizagem dos alunos, especialmente em face dos
da comunidade e dos conselhos ou órgãos colegiados. problemas sociais, culturais, econômicos, enfrentados
- Valorizar a presença de cada um e de todos. atualmente.
- Desenvolver projetos educativos voltados para a
comunidade em geral, não só para os alunos. Ampliando o conceito de organização e de gestão de
- Ressaltar a importância da comunidade na identidade da escolas
unidade escolar.
- Tornar o espaço escolar disponível para comunidade. Para a perspectiva que compreende a escola apenas como
organização administrativa, também conhecida como
Gestão escolar para o sucesso do ensino e da perspectiva técnico-racional, a organização e gestão da escola
aprendizagem2 diz respeito, comumente, à estrutura de funcionamento, às
formas de coordenação e gestão do trabalho, ao
Práticas de organização e gestão e escolas bem estabelecimento de normas administrativas, ao provimento e
sucedidas utilização dos recursos materiais e financeiros, aos
procedimentos administrativos, etc., que formam o conjunto
Pesquisas acerca dos elementos da organização escolar de condições e meios de garantir o funcionamento da escola. A
que interferem no sucesso escolar dos alunos mostram que o concepção técnico-racional reduz as formas de organização
modo como funciona uma escola faz diferença em relação aos apenas a esses aspectos, prevalecendo uma visão burocrática
resultados escolares dos alunos. Embora as escolas não sejam de organização, decisões centralizadas, baixo grau de
iguais, essas pesquisas indicam características organizacionais participação, separação entre o administrativo e o pedagógico.
úteis para compreensão do funcionamento das escolas, Abdalla indica os inconvenientes dessa concepção
considerados os contextos e as situações escolares específicos. funcionalista e produtiva: “A organização se fecha, os
Os aspectos a seguir aparecem em várias dessas pesquisas: professores se individualizam, as interações se enfraquecem,
regras são impostas, potencializa-se o campo do poder com
a) Em relação aos professores: boa formação profissional, vistas a controlar as estruturas administrativas e
autonomia profissional, capacidade de assumir pedagógicas”.
responsabilidade pelo êxito ou fracasso de seus alunos, Na perspectiva da escola como organização social, para
condições de estabilidade profissional, formação profissional além da visão “administrativa”, as organizações escolares são
em serviço, disposição para aceitar inovações com base nos abordadas como unidades sociais formadas de pessoas que
seus conhecimentos e experiências; capacidade de análise atuam em torno de objetivos comuns, portanto, como lugares
crítico-reflexiva. de relações interpessoais. A escola é uma organização em
b) Quanto à estrutura organizacional: sistema de sentido amplo, uma “unidade social que reúne pessoas que
organização e gestão, plano de trabalho com metas bem interagem entre si, intencionalmente, e que opera através de
definidas e expectativas elevadas; competência específica e estruturas e processos próprios, a fim de alcançar os objetivos
liderança efetiva e reconhecida da direção e coordenação da instituição”.
pedagógica; integração dos professores e articulação do Destas duas perspectivas ampliou-se a compreensão
trabalho conjunto e participativo; clima de trabalho propício da escola como lugar de aprendizagem, de compartilhamento
ao ensino e à aprendizagem; práticas de gestão participativa; de saberes e experiências, ou seja, um espaço educativo que
oportunidades de reflexão conjunta e trocas de experiências gera efeitos nas aprendizagens de professores e alunos. As
entre os professores; formas de organização e de gestão adquirem dois novos
c) Autonomia da escola, criação de identidade própria, com sentidos:
possibilidade de projeto próprio e tomada de decisões sobre a) o ambiente escolar é considerado em sua dimensão
problemas específicos; planejamento compatível com as educativa, ou seja, as formas de organização e gestão, o estilo
realidades locais; decisão e controle sobre uso de recursos das relações interpessoais, as rotinas administrativas, a
financeiros; planejamento participativo e gestão participativa, organização do espaço físico, os processos de tomada de
bom relacionamento entre os professores, responsabilidades decisões, etc., são também práticas educativas;
assumidas em conjunto; b) as escolas são tidas como instituições aprendentes,
d) Prédios adequados e disponibilidade de condições portanto, espaço de formação e aprendizagem, em que as
materiais, recursos didáticos, biblioteca e outros, que pessoas mudam com as organizações e as organizações
propiciem aos alunos oportunidades concretas para aprender; mudam com as pessoas.
e) Quanto à estrutura curricular: adequada seleção e
organização dos conteúdos; valorização das aprendizagens A organização escolar como lugar de práticas
acadêmicas e não apenas das dimensões sociais e relacionais; educativas e de aprendizagem
modalidades de avaliação formativa; organização do tempo
escolar de forma a garantir o máximo de tempo para as A escola entendida como espaço de compartilhamento de
aprendizagens e o clima para o estudo; acompanhamento de idéias, práticas socioculturais e institucionais, valores,
alunos com dificuldades de aprendizagem. atitudes de modos de agir, tem recebido várias denominações,
f) Participação dos pais nas atividades da escola; com diferentes justificativas: comunidade de aprendizagem,
investimento em formar uma imagem pública positiva da comunidade de práticas, comunidade aprendente,
escola. organizações aprendentes, aprendizagem colaborativa, entre

2 LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática; 6ª edição,

São Paulo, Heccus Editora, 2013.

Conhecimentos Pedagógicos 2
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APOSTILAS OPÇÃO

outras. Adotaremos aqui a noção de ensino como “atividade de mudanças na rotina de trabalho, etc. Segundo o sociólogo
situada em contextos”. francês Forquin “A escola é, também, um mundo social, que tem
Conforme a teoria histórico-cultural da atividade a suas características de vida próprias, seus ritmos e seus ritos, sua
atividade humana mediatiza a relação entre o ser humano e o linguagem, seu imaginário, seus modos próprios de regulação e
meio físico e social. Esta relação é histórico-social, isto é, de transgressão, seu regime próprio de produção e de gestão de
depende das práticas sociais anteriores, de modo que a símbolos”.
atividade conjunta acumulada historicamente influencia a Essa afirmação mostra que, nas escolas, para além
atividade presente das pessoas. Ao mesmo tempo, o ser daquelas diretrizes, normas, procedimentos operacionais,
humano, ao pôr-se em contato com o mundo dos objetos e rotinas administrativas, há aspectos de natureza sociocultural
fenômenos, atua sobre essa realidade modificando-a e que as diferenciam umas das outras, a maior parte deles pouco
transformando-se a si mesmo. Este entendimento decorre da perceptíveis ou explícitos, traço que em estudos sobre
lei genética do desenvolvimento cultural, segundo a qual currículo tem sido denominado de “currículo oculto”. Essas
“todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem diferenças aparecem nas formas de interação entre as pessoas,
duas vezes: primeiro, no nível social e, depois, no nível nas crenças, valores, significados, modos de agir, configurando
individual. Primeiro, entre pessoas (interpsicológica) e, práticas que se projetam nas normas disciplinares, na relação
depois, no interior da criança (intrapsicológica)”. Esse dos professores com os alunos na aula, na cantina, nos
princípio acentua as origens sociais do desenvolvimento corredores, na preparação de alimentos e distribuição da
mental individual, especialmente o peso atribuído às merenda, nas formas de tratamento com os pais, na
mediações culturais. Sendo assim, os contextos socioculturais metodologia de aula etc.
e institucionais atuam na formação do pensamento conceitual
o que, em outras palavras, significa dizer que as práticas As atividades compartilhadas entre direção,
sociais em que uma pessoa está envolvida influenciam o modo professores e alunos.
de pensar dessa pessoa.
A cultura organizacional aparece sob duas formas: como
A teoria da atividade, assim, possibilita compreender a cultura instituída e como cultura instituinte. A cultura
influência das práticas socioculturais e institucionais nas instituída refere-se a normas legais, estrutura organizacional
aprendizagens e o papel dos indivíduos em modificar essas definida pelos órgãos oficiais, rotinas, grade curricular,
práticas. De que práticas se trata? Elas referem-se tanto ao horários, normas disciplinares etc. A cultura instituinte é
contexto mais amplo da sociedade (o sistema econômico, as aquela que os membros da escola criam, recriam, nas suas
contradições sociais, por exemplo), quanto ao contexto mais relações e na vivência cotidiana, podendo modificar a cultura
próximo, por exemplo, a comunidade em que está inserida a instituída. Neste sentido, as escolas são espaços de
escola, as práticas de organização e gestão, o tipo de aprendizagem, comunidades democráticas de aprendizagem
relacionamento entre as pessoas da escola, as atitudes dos onde se compartilham significados, criam-se outros modos de
professores, as rotinas cotidianas, o clima organizacional, o agir, mudam-se práticas, recria-se a cultura vigente, aprende-
material didático, o espaço físico, o edifício escolar, etc. Desse se com a participação real de seus membros. As ações
modo, as práticas sociais e culturais que ocorrem nos vários realizadas na escola nesta perspectiva implicam a adoção de
espaços da escola são, também, mediações culturais, que formas de participação real das pessoas nas decisões em
atuam na aprendizagem das pessoas (professores, relação ao projeto pedagógico-curricular, ao desenvolvimento
especialistas, funcionários, alunos). do currículo, às formas de avaliação e acompanhamento da
Tais práticas institucionais afetam significativamente o aprendizagem escolar, às normas de funcionamento e
significado e o sentido, ou seja, atuam, positivamente ou convivência, etc.
negativamente, na motivação e na aprendizagem dos alunos, já
que, de alguma forma, eles participam nessas práticas. Para uma revisão das práticas de organização e gestão
das escolas
O ensino é, portanto, uma atividade situada, ou seja, é uma
prática social que se realiza num contexto de cultura, de Conclui-se que não é possível à escola atingir seus
relações e de conhecimento, histórica e socialmente objetivos de melhoria da aprendizagem escolar dos alunos
construídos. Isso significa que não é apenas na sala de aula que sem formas de organização e gestão, tanto como provimento
os alunos aprendem, eles aprendem também com os contextos de condições e meios para o funcionamento da escola, quanto
socioculturais, com as interações sociais, com as formas de como práticas socioculturais e institucionais com caráter
organização e de gestão, de modo que a escola pode ser vista formativo. Uma revisão das práticas de organização e gestão
como uma organização aprendente, uma comunidade precisa considerar cinco aspectos, que apresentamos a seguir:
democrática de aprendizagem. As pessoas – alunos,
professores, funcionários - respondem, com suas ações, a um a) As práticas de organização e gestão devem estar
contexto institucional e pedagógico preparado para produzir voltadas à aprendizagem dos alunos.
mudanças qualitativas na sua personalidade e na sua As práticas de organização e gestão, a participação dos
aprendizagem. professores na gestão, o trabalho colaborativo, estão a serviço
da melhoria do ensino e da aprendizagem. Mencionou-se
A noção de cultura organizacional é útil para compreender anteriormente que o que faz a diferença entre as escolas é o
melhor o papel educativo das práticas de organização e gestão. grau em que conseguem melhorar a qualidade da
Ela é constituída do conjunto dos significados, modos de aprendizagem escolar dos alunos. Desse modo, uma escola
pensar e agir, valores, comportamentos, modos de funcionar bem organizada e gerida é aquela que cria as condições
que revelam a identidade, os traços característicos, de uma organizacionais, operacionais e pedagógico-didáticas que
instituição – escola, empresa, hospital, prisão, etc. - e das permitam o bom desempenho dos professores em sala de aula,
pessoas que nela trabalham. A cultura organizacional sintetiza de modo que todos os seus alunos sejam bem sucedidos em
os sentidos que as pessoas dão às coisas e situações, gerando suas aprendizagens.
um modo característico de pensar, de perceber coisas e de agir.
Isso explica, por exemplo, a aceitação ou resistência frente a b) A qualidade do ensino depende do exercício eficaz da
inovações, certos modos de tratar os alunos, as formas de direção e da coordenação pedagógica
enfrentamento de problemas de disciplina, a aceitação ou não

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Há boas razões para crer que a instituição escolar não pode coordenação, acompanhamento e avaliação do trabalho das
prescindir de ações básicas que garantem o seu pessoas, como garantia para assegurar o sistema de relações
funcionamento: formular planos, estabelecer objetivos, metas interativas e democráticas. Para isso, faz-se necessária uma
e ações; estabelecer normas e rotinas em relação a recursos bem definida estrutura organizacional, responsabilidades
físicos, materiais e financeiros; ter uma estrutura de claras e formas eficazes de tomada de decisões grupais. As
funcionamento e definição clara de responsabilidades dos exigências de gestão e liderança por parte de diretores e
integrantes da equipe escolar; exercer liderança; organizar e coordenadores se justificam cada vez mais em face de
controlar as atividades de apoio técnico-administrativo; problemas que incidem no cotidiano escolar: problemas
cuidar das questões da legislação e das diretrizes pedagógicas sociais e econômicos das famílias, problemas de disciplina
e curriculares; cobrar responsabilidades das pessoas; manifestos em agressão verbal, uso de armas, uso de drogas,
organizar horários, rotinas, procedimentos; estabelecer ameaças a professores, violência física e verbal. Os problemas
formas de relacionamento entre a escola e a comunidade, se acentuam com a inexperiência ou precária formação
especialmente com as famílias; efetivar ações de avaliação do profissional de muitos professores que levam a dificuldades no
currículo e dos professores; cuidar das condições do edifício manejo da sala de aula, no exercício da autoridade, no diálogo
escolar e de todo o espaço físico da escola; assegurar materiais com os alunos. Constatar esses problemas implica que não
didáticos e livros na biblioteca. pensemos apenas em mudanças curriculares ou
metodológicas, mas em formas de organização do trabalhado
Tais ações representam, sem dúvida, o primeiro conjunto escolar que articulem, eficazmente, práticas participativas e
de competências de diretores e coordenadores pedagógicos. colaborativas com uma sólida estrutura organizacional.
Falamos da escola como espaço de compartilhamento, lugar de
aprendizagem, comunidade democrática de aprendizagem, d) Projeto pedagógico-curricular bem concebido e
gestão participativa, etc., mas as escolas precisam ser eficazmente executado
organizadas e geridas como garantia de efetivação dos seus O projeto pedagógico-curricular é uma declaração de
objetivos. Uma escola democrática tem por tarefa propiciar a intenções do grupo de profissionais da escola, é expressão da
todos os alunos, sem distinção, educação e ensino de coletividade escolar. Em sua elaboração, é sumamente
qualidade, o que põe a exigência de justiça. Isto supõe relevante levar-se em conta a cultura da escola ou a cultura
estrutura organizacional, regras explícitas e sua aplicação organizacional e, também, seu papel de instituidor de outra
igual para todos sem privilégios ou discriminações, garantia de cultura organizacional. Para isso, uma recomendação inicial é
ambiente de estudo e aprendizagem, tratamento das pessoas de que a equipe de dirigentes e professores tenha
conforme critérios públicos e justificados. Por mais que tais conhecimento e sensibilidade em relação às necessidades
exigências pareçam como excesso de “racionalidade”, elas se sociais e demandas da comunidade local e do próprio
justificam pelo fato de as escolas serem unidades sociais em funcionamento da escola, de modo a ter clareza sobre as
que pessoas trabalham juntas em agrupamentos humanos mudanças a serem esperadas nos alunos em relação ao seu
intencionalmente constituídos, visando objetivos de desenvolvimento e aprendizagem. Com base nos dados da
aprendizagem. As escolas recebem hoje alunos de diferentes realidade, é preciso que o projeto pedagógico-curricular dê
origens sociais, culturais, familiares, portadores vivos das respostas a esta pergunta: em que comportamentos
contradições da sociedade. É preciso que o grupo de dirigentes cognitivos, afetivos, físicos, morais, estéticos, etc., queremos
e professores definam formas de gestão e de convivência que intervir, de forma a produzir mudanças qualitativas no
regulem a organização da vida escolar e as práticas desenvolvimento e aprendizagem dos alunos?
pedagógicas, precisamente para conter tendências de Além disso, é necessário ter clareza sobre os objetivos da
discriminação e desigualdade social e assegurar a todos o escola que, em minha opinião, é o de garantir a todos os alunos
usufruto da escolarização de qualidade. uma base cultural e científica comum e uma base comum de
formação moral e de práticas de cidadania, baseadas em
c) A organização e a gestão implicam a gestão critérios de solidariedade e justiça, na alteridade, na
participativa e a gestão da participação descoberta e respeito pelo outro, no aprender a viver junto.
A organização da escola requer atender a duas Isto significa: uma escolarização igual, para sujeitos diferentes,
necessidades: a participação na gestão, enquanto requisito por meio de um currículo comum a todos, na formulação de
democrático, e a gestão da participação, como requisito Gimeno Sacristán. A partir de uma base comum de cultura
técnico. Por um lado, as escolas precisam cultivar os processos geral para todos, o currículo para sujeitos diferentes significa
democráticos e colaborativos de trabalho, em função da acolher a diversidade e a experiência particular dos diferentes
convivência e da tomada de decisões. Por outro, precisam grupos de alunos, propiciando na escola e nas salas de aula, um
funcionar bem tecnicamente, a fim de poder atingir espaço de diálogo e comunicação. Um dos mais relevantes
eficazmente seus objetivos, o que implica a gestão da objetivos democráticos no ensino será fazer da escola um lugar
participação. A gestão participativa significa alcançar de forma em que todos os alunos e alunas possam experimentar sua
colaborativa e democrática os objetivos da escola. A própria forma de realização e sucesso. Para tudo isso, são
participação é o principal meio de tomar decisões, de necessárias formas de execução, gestão e avaliação do projeto
mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos, os pedagógico-curricular.
conteúdos, as formas de organização do trabalho e o clima de
trabalho desejado para si próprias e para os outros. A e) A atividade conjunta dos professores na elaboração e
participação se viabiliza por interação comunicativa, diálogo, avaliação das atividades de ensino
discussão pública, busca de consensos e de superações de A modalidade mais rica e eficaz de formação docente
conflitos. Nesse sentido, a melhor forma de gestão é aquela que continuada ocorre pela atividade conjunta dos professores na
criar um sistema de práticas interativas e colaborativas para discussão e elaboração das atividades orientadoras de ensino.
troca de idéias e experiências para chegar a ideias e ações É assim porque a formação continuada passa a ser entendida
comuns. como um modo habitual de funcionamento do cotidiano da
escola, um modo de ser e de existir da escola. Para Moura, o
Já a gestão da participação implica repensar as práticas de projeto pedagógico se concretiza mediante a realização de
gestão, seja para assegurar relações interativas, democráticas atividades pedagógicas. Para isso, os professores realizam
e solidárias, seja para buscar meios mais eficazes de ações compartilhadas que exigem troca de significados,
funcionamento da escola. A gestão da participação refere-se à possibilitando ampliar o conhecimento da realidade. Desse

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modo, “a coletividade de formação constitui-se ao desenvolver partidário, religioso, racial e nem fins lucrativos, não sendo
a ação pedagógica. É essa constituição da coletividade que remunerados seu Dirigente ou Conselheiros.
possibilita o movimento de formação do professor”. Tem como objetivo efetivar a gestão escolar, na forma de
colegiado, promovendo a articulação entre os segmentos da
Questões comunidade escolar e os setores da escola, constituindo-se no
órgão máximo de direção.
01. (IF-PI- Pedagogo- FUNRIO) Os estudos sobre a
administração escolar não é novo, bem como a da organização Feitas essas considerações sobre sua formação,
do trabalho aí realizado. conceitualmente tratamos o Conselho Escolar como sendo um
processo que regula o funcionamento da escola, englobando a
É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, a tomada de decisão, planejamento, execução,
existência de duas concepções, que norteiam as análises: a acompanhamento e avaliação das questões administrativas e
científico-racional e a crítico, de cunho sócio-político. pedagógicas, efetivando o envolvimento da comunidade, no
Na primeira delas, que é o modelo mais comum de âmbito da unidade escolar, baseada na legislação em vigor e
funcionamento das instituições de ensino, as escolas dão muita nas diretrizes pedagógicas administrativas fixadas pela
ênfase à estrutura organizacional, que pode ser planejada, Secretaria de Educação.
organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices
de eficácia e eficiência, uma vez que a organização escolar se As partes que compõem o Conselho Escolar visam o
embasa numa percepção de “realidade objetiva, neutra, interesse dos alunos, para cumprimento da função escolar, que
técnica, que funciona racionalmente". traz como foco, o ensino na escola.
Na segunda concepção, a organização escolar se estabelece
“basicamente como um sistema que agrega pessoas, Segundo o artigo Art. 9º do Estatuto do Conselho Escolar:
importando bastante a intencionalidade e as interações
sociais, o contexto sócio-político etc., constituindo-se numa Art. 9º - A autonomia do Conselho Escolar será exercida com
construção social a ser construída pelos professores, alunos, base nos seguintes compromissos:
pais e integrantes da comunidade próxima, caracterizada pelo a) A legislação em vigor;
interesse público. b) A democratização da gestão escolar;
A visão crítica da escola resulta em diferentes formas de c) As oportunidades de acesso, permanência e qualidade de
viabilização da... ensino na escola pública de todos que a ela têm direito.
(A) administração empresarial.
(B) administração escolar. Diversidade: conselho escolar e inclusão do aluno
(C) gestão democrática. com deficiência
(D) gestão empresarial.
(E) administração colegiada. Anderson de Lima
Walkiria Gonçalves Reganhan
02. (IF-PB- Técnico em Assuntos Educacionais- IF-PB)
Dentre os princípios e características da gestão escolar As discussões envolvendo os direitos das pessoas com
participativa, destaca-se a autonomia como o fundamento da deficiência no Brasil ganharam impulso significativo na década
concepção democrático-participativa de gestão escolar. Com de 1980. Desse processo de mobilização, resultou um conjunto
base nessa informação, a autonomia na concepção de direitos estabelecidos pela Constituição de 1988, alguns
democrático-participativa de gestão escolar está expressa deles expressos na Lei 7.853/89 – posteriormente
em: regulamentada pelo Decreto 3.298/99.
(A) A faculdade de uma pessoa de autogovernar-se, decidir No artigo 4o, inciso III, da Lei de Diretrizes e Bases da
sobre o próprio destino, gerenciamento das ações e recursos Educação, fica garantido “III - atendimento educacional
financeiros. especializado gratuito aos educandos com deficiência,
(B) A organização escolar depende exclusivamente de transtornos globais do desenvolvimento e altas
decisões do poder central. habilidades ou superdotação, transversal a todos os
(C) O êxito da gestão da escola está no controle emanado níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede
pelo poder central. regular de ensino; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
(D) A gestão da autonomia não implica 2013)
corresponsabilidade dos membros da equipe escolar.
(E) A autonomia é um princípio que implica que um líder A aquisição de instrumentos variados para o ensino
tome as decisões para que os demais membros possam também foi apontada pela Lei Federal no 9.394, de 20 de
participar do processo de gestão. dezembro de 1996, no artigo 59, inciso I, que assegura aos
educandos com deficiência, transtornos globais do
Respostas desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
01. C / 02. A “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específicos para atendê-los”
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Conselho Escolar. Conselho os currículos deverão ajustar-se, em todos os locais de ensino,
de Classe. às condições do educando com necessidades educacionais
especiais. Cabem aos estabelecimentos de ensino a
organização e a operacionalização dos currículos escolares em
Conselho Escolar e Conselho de Classe seu projeto pedagógico, incluindo as devidas disposições para
o atendimento das necessidades especiais dos alunos. Mais
I - O que é Conselho Escolar?3 uma vez, o conselho escolar, como lugar do debate e da
O Conselho Escolar é um órgão colegiado de natureza decisão, ganha relevância na perspectiva da adequação
deliberativa, consultiva e fiscal, não tendo caráter político- curricular e da escola como um todo, ajustando-a ao aspecto

3 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/pr_lond_sttt.pdf

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legal e às demandas que surgem da comunidade na qual se Como espaço de convivência e aprendizado, a escola
insere. compreende um pluralismo e um multiculturalismo que lhe
são próprios e fazem desse lugar o lugar do aprendizado do
Não há por que haver dois sistemas paralelos de ensino, respeito ao outro, ao diferente, do respeito à divergência e à
mas um único que seja capaz de prover educação a todo o seu compreensão da multiplicidade que envolvem o ser humano
alunado. em suas relações pessoais e no mundo em que vive. A prática
da cidadania e a busca por uma escola e uma sociedade mais
Conselho escolar no contexto inclusivo democráticas passam por esse aprendizado, pela ética e pela
ação solidária que nos caracterizam enquanto humanidade e
A busca por uma escola de todos e para todos traz consigo que revestem o papel da escola de uma importância ainda
a ideia de inclusão e valorização do humano. A inclusão, como maior. Nela, serão construídas e estimuladas as possibilidades
forma de construção de cidadania, passa pelo acesso à escola e de um convívio harmônico entre as diferenças, as limitações e
pela permanência nela enquanto principal instituição os anseios daqueles que dela fazem parte.
responsável pela educação, requisito para o exercício do papel No conselho escolar, dada sua constituição, estão postos,
cidadão. Trata-se de um direito garantido em princípio, todos os pontos de vista, representados por seus
constitucionalmente, que abarca o ser humano de modo membros e expostos de modo a gerar, no debate, a busca por
indistinto e amplo. consensos que possam significar a procura pela qualidade do
A escola verdadeiramente voltada à formação do trabalho da e na escola. Nele, serão articulados meios capazes
indivíduo-cidadão se vê, hoje, inserida em um contexto social de valorizar a pluralidade da escola em favor da constituição
mais amplo, de reivindicação de direitos e de consolidação de de uma educação que represente os anseios e necessidades
uma sociedade que se faz cada vez mais responsável pelos que se colocam socialmente e que adentram seu universo no
rumos sociopolítico-econômico-ambientais que a dia a dia da sala de aula.
determinam. A cidadania torna-se, portanto, condição da Inclusão e conselho escolar ganham um valor único no
própria existência humana, e a participação, enquanto prática, contexto da democratização da escola, complementam-se e
assume papel de alta relevância na perspectiva de efetivação revestem-se de sentido enquanto caminhos na busca pela
do exercício da cidadania. Implica, assim, a tomada de decisão, escola de qualidade para todos, que há tanto almejamos.
a deliberação, a construção coletiva.
A escola – espaço primeiro de convivência e de vivência de Relação do Conselho Escolar com os Direitos
regras, de organização social coletiva – oferece, por sua Humanos4
própria dinâmica, a possibilidade de experimentação e
efetivação da cidadania via participação democrática de todos Os Conselhos Escolares, como espaços de reflexão de
aqueles que a compõem. temáticas que se acham diretamente ligadas ao cotidiano da
O conselho escolar, nesse contexto, assume relevância ação educativa escolar, devem ter, entre seus compromissos, a
significativa para a viabilização dessa prática de cidadania ao abordagem de questões relativas aos Direitos Humanos. Isso
agregar a representatividade dos segmentos que constituem o se justifica pelo fato de que, hoje, essas questões ocupam lugar
universo escolar e dar a eles a voz e a vez no processo de importante tanto nas agendas políticas nacionais e
construção de uma educação mais democrática, porque internacionais, como em organismos de alcance mundial.
cidadã, porque, essencialmente, participativa. Por causa da relevância dos Direitos Humanos para a
O deficiente, ao ser incluído, ao se tornar partícipe do dia a educação, torna-se necessário que os Conselhos Escolares
dia da escola, toma seu lugar e se faz ouvido nesse processo, conheçam a trajetória de sua construção no fazer histórico do
que, além de político, é social, é transformador da realidade homem, entendendo como os mesmos foram se configurando
que encontramos hoje na escola pública. até o presente momento e sendo capazes de reconhecer que a
É no conselho escolar que a democracia e a cidadania se garantia de sua aplicação se impõe como uma condição básica
complementam e se consolidam pela participação igualitária para que as nações estejam situadas no campo das novas
de todos (profissionais, comunidade, alunos), no esforço da democracias.
construção de uma escola de qualidade. O processo de democratização a que hoje assistimos na
É considerando a força do poder local no processo de maioria dos países que, na sua história recente, foram
construção das políticas públicas e, portanto, de afirmação do marcados por regimes autoritários, abre espaços não apenas
Estado Democrático e de Direito que o conselho escolar para a afirmação de direitos, como também assume
representa instância privilegiada de discussão de questões publicamente a pretensão de reparar as violações de Direitos
que dizem respeito à vida das pessoas, da escola, da Humanos cometidas nos anos de autoritarismo que
comunidade e, num plano mais amplo, da própria sociedade. aconteceram no Brasil e no conjunto dos países da América
O conselho escolar abriga, no contexto da inclusão e da Latina, assim como as violações cometidas ao longo da história
garantia de direitos do cidadão, o papel fundamental de do país, legitimadas pela cultura escravocrata, machista e
alicerçar ações que assegurem, no interior da escola, uma patriarcal, que atingem principalmente as pessoas negras,
educação de qualidade, socialmente referenciada, capaz de indígenas e as mulheres.
democratizar o conhecimento e possibilitar que todas as Esse avanço se observa no Brasil, especialmente a partir da
necessidades decorrentes da inclusão do deficiente possam última década, à medida que governos de tradição
ser, de fato, atendidas e trabalhadas a fim de lhe assegurar as democrática se tornaram signatários dos pactos
melhores possibilidades de aprendizado e desenvolvimento. internacionais de Direitos Humanos. Pretende-se que os
Ao exercer suas funções (consulta, mobilização, Direitos Humanos deixem de ser uma questão de governo e
deliberação, fiscalização), o conselho escolar viabiliza e passem a ser uma questão de Estado.
potencializa a capacidade de reivindicação de uma escola para Assim, educação e Direitos Humanos possuem uma íntima
todos e, nesse processo, canaliza a ação de todos os envolvidos e estreita relação, cabendo aos Conselhos Escolares serem
para a construção de ações que possam gerar as condições agentes motivadores de sua reflexão, difusão e implementação
necessárias ao acesso e à permanência – com aprendizado, nas práticas educativas escolares.
desenvolvimento, integração, sem restrições ou nenhum tipo O papel do Conselho Escolar é imprescindível, tanto no
de segregação – do aluno deficiente. aspecto administrativo, quanto na dimensão pedagógica.

4 semed.manaus.am.gov.br/wp-content/uploads/2015/05/Caderno_11.pdf

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Neste caderno, estamos o tempo todo reforçando a participação da comunidade nas instituições públicas. A gestão
importância e urgente necessidade de fortalecer, cada vez democrática, princípio sobre o qual se assenta o processo de
mais, o Conselho Escolar, introduzindo uma questão que, democratização da educação no país e, particularmente, na
historicamente, tem sido vital para a humanidade: a Educação escola, tem nos conselhos escolares sua pedra angular, porque
em Direitos Humanos. Difundir essa cultura por meio das é pela participação da comunidade escolar nos processos
escolas constitui passo importante, pois torna conscientes decisórios da escola que se implementa a democratização das
alunos (as), trabalhadores (as) em Educação e representantes relações escolares.
de comunidade na luta pela garantia de direitos e pela Se, por definição, a gestão democrática é o resultado de um
conquista de novos direitos. Lefort (1987) nos ensina que a trabalho coletivo que tem os conselhos escolares como sua
garantia de direitos implica na luta pela conquista de novos principal instância, a possibilidade de participação coletiva
direitos. Desse modo, pensar em Direitos Humanos implica deve se apresentar, necessariamente, como um dos aspectos
instalar e difundir uma cultura em Direitos Humanos na fundantes da vida escolar. Seu princípio deve nortear o dia a
escola. Nessa tarefa, o Conselho Escolar pode e deve contribuir dia da escola, em suas relações cotidianas e na valorização das
como protagonista, ao exercer ação mediadora nos processos especificidades e singularidades do contexto histórico e social
de articulação entre a escola e outras organizações da dessa instituição, de sua comunidade e de suas expectativas de
sociedade na defesa e proteção dos Direitos Humanos. futuro. Por esse motivo, não se pode pensar que seja possível
Nesse sentido, o Conselho Escolar, ao assumir papel estabelecer um modelo de conselho escolar para todas as
decisivo na vivência da proposta curricular e na construção e escolas. Cada escola é única, sua comunidade é única, e o
implementação do projeto político-pedagógico da escola, deve debate que subsidiará as decisões relativas aos diferentes
fazer com que a Educação em Direitos Humanos seja aspectos de cada escola é único, não podendo ser reproduzido
contemplada. A criação de espaços para a promoção de em outro ambiente.
estudos, reflexões e discussões no cotidiano da escola deve A escola constitui um espaço privilegiado para a
constituir uma ação inovadora do Conselho Escolar, ação essa implementação de práticas que combatam todos os tipos de
que necessita do envolvimento de todos os segmentos da discriminação e preconceito, porque abriga, em seu interior,
comunidade escolar, criando condições para a formação da todas as formas de diversidade étnico-racial ou cultural,
consciência crítica acerca da importância da instalação de uma origem social, gênero, sendo o conselho escolar uma instância
cultura de Direitos Humanos. que representa os segmentos da escola, mas não toda a
Na condição de um organismo de base, o Conselho Escolar diversidade da escola. Ele deve ser a instância que garante a
é espaço da prática da democracia participativa. E essa, participação e a manifestação dessa diversidade na escola. É
quando bem exercitada, concorre, efetivamente, para a necessário, por isso, que se estabeleça uma clara definição do
ampliação e para o fortalecimento dos diferentes segmentos campo de ação dos conselhos escolares, colocando-os, de fato,
que compõem a escola e a comunidade. A atuação articuladora como uma instância de caráter deliberativo, normativo, fiscal,
entre a escola, a comunidade e outras instituições sociais mobilizador e inclusive pedagógico na vida escolar, que
confere ao Conselho Escolar poder social, possibilitando-lhe determina os caminhos das ações políticas, sociais, culturais e
agir como interlocutor de diferentes instâncias da educação e pedagógicas da escola.
da própria sociedade. Enquanto força social, o Conselho A nova forma de organização dos conselhos escolares,
Escolar pode influenciar nas políticas educacionais e nos decorrente da concepção de gestão democrática, é, ainda,
projetos da escola, propondo ações inovadoras que incipiente e encontra obstáculos em práticas tradicionais que
contribuam para melhoria da qualidade do ensino, para a consideram os conselhos como órgão assessor de atividades
democratização da gestão e para a garantia dos Direitos recreativas e financeiras da escola. Essa concepção
Humanos. assistencialista em nada contribui para a constituição da vida
Nessa perspectiva, além das funções que lhe vêm sendo escolar como um espaço de respeito às diferenças, porque
atribuídas - deliberativa, consultiva, fiscalizadora e atua, precisamente, no sentido contrário: ao estabelecer que a
mobilizadora – o Conselho Escolar deve assumir uma nova participação de todos seja limitada à esfera do trabalho, não
função: propositiva, mediante a qual poderá exercitar a sua consolida um espaço de decisões e permite que poucos
capacidade de criar, de inovar e de ter uma atuação mais continuem tendo o privilégio de determinar o destino dos
decisiva na prática educativa escolar. Ao exercer papel demais.
propositivo, o Conselho Escolar estará, de fato, assumindo a
condição de um sujeito político coletivo, ou seja, um ator social A concepção de gestão democrática da educação está,
capaz de interagir e intervir, como uma força coletiva, na indissociavelmente, vinculada ao estabelecimento de
construção de projetos sociais. Nesses termos, o Conselho mecanismos legais e institucionais de participação política e à
Escolar, como espaço privilegiado da prática da participação e organização de ações voltadas para a participação social. A
da vivência de experiências democráticas, é local, por participação política da população tem papel fundamental na
excelência, de promoção e exercício de cidadania e, por formulação das políticas educacionais, em seu planejamento,
conseguinte, de Educação em Direitos Humanos. no processo de tomada de decisões ou ainda na definição de
onde, quando e como utilizar os recursos públicos com o
Conselhos escolares e a valorização da diversidade: objetivo de implementar as deliberações coletivas.
uma dimensão mais democrática na escola A participação da comunidade na gestão da escola
constitui um mecanismo que tem como finalidade não apenas
Maria Cecília Luiz a garantia da democratização do acesso e da permanência com
Sandra Aparecida Riscal vistas à universalização da educação mas também a
José Roberto Ribeiro Junior propagação de estratégias democratizantes e participativas
Democracia e respeito ao diferente que valorizem e reconheçam a importância da diversidade
política, social e cultural na vida local, regional ou nacional.
Os conselhos escolares são parte de um esforço que visa à Constitui, portanto, elemento fundamental da propagação das
implantação e implementação de processos de concepções de diversidade e direitos humanos. A escola é
democratização das decisões nas escolas públicas, através da parte da sociedade, e nela podem-se iniciar práticas
participação da comunidade escolar e local na vida da escola. democráticas e igualitárias.
Na perspectiva da legislação atual, eles têm como foco a
constituição de uma sociedade democrática por meio da

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O grande problema é que tal concepção tem se firmado opiniões pelos meios de comunicação amplificados pelas
como um discurso e tem revelado que o conceito de novas tecnologias. A sociedade em que vivemos é
democracia equivale a um produto exposto nas prateleiras da homogeneizante e burocratizada, em um mundo cujas
mídia. Como mercadoria, a democracia está pronta para ser fronteiras e espaços se contraem com a aceleração da
consumida, seja em projetos governamentais, seminários ou capacidade de comunicação e informação. À medida que
propostas de trabalho. Ela é apresentada como algo que pode aumenta o contato entre uma quantidade cada vez maior de
ser adquirido, assimilado e posto em uso imediatamente. Nos pessoas, mais sensíveis elas se tornam à opinião umas das
meios de comunicação televisivos, jornais e revistas outras. Riesman (1995) chama esse tipo social, próprio da
especializados, a democracia é vendida como um remédio sociedade contemporânea, de alterdirigido (other-directed).
miraculoso, capaz de solucionar todas as dificuldades da vida Segundo Riesman, o que caracteriza o tipo social
escolar. Longe de ser apresentada como um processo que alterdirigido é que seus contemporâneos são fonte da
deveria se constituir pelas mudanças das práticas cotidianas orientação para o indivíduo – tanto aqueles que lhe são
da escola, a democracia tornou-se uma fórmula ou um conhecidos quanto aqueles que eles conhecem indiretamente,
receituário que, ao ser seguido, deve garantir o sucesso social através de amigos e dos meios de comunicação de massa. Essa
da escola. fonte, naturalmente, é ‘internalizada’, no sentido de que se
É como se bastasse vestir as escolas com uma roupagem implanta bem cedo no indivíduo a dependência em face dela,
democrática para que toda a estrutura e os educadores para a orientação da vida. As metas rumo às quais a pessoa
escolares se tornassem, desse ponto para frente, alterdirigida se conduz mudam com essa orientação: apenas o
democráticos. É frequente escutar afirmações como: processo mesmo de empenhar-se e o de prestar muita atenção
Implantaremos a democracia a todo custo, A partir de agora, aos sinais dos outros é que permanecem inalterados através
seremos todos democráticos, ou Agora, que sabemos como da vida.
funciona, fica mais fácil. A democracia deixa de ser um O tipo de caráter descrito por Riesman como alterdirigido
processo que, de maneira gradual, conquista espaço por meio parece permitir que se estabeleçam algumas características
de mudanças das práticas cotidianas para se tornar, dos sujeitos que nascem do mundo interativo, dos meios de
ironicamente, objeto de imposição. comunicação de massa, da internet e da informação
A democracia e, em particular, a gestão democrática na globalizada. Esse processo contínuo e infinito é tão rápido
educação tornaram-se um cobiçado produto de moda, algo que quanto superficial, pois a finalidade é a informação, a
todas as escolas e secretarias municipais e estaduais de familiarização, não o aprofundamento nem a análise ou a
educação almejam adquirir para que possam, publicamente, se crítica. A voracidade com a qual se procuram e se consomem
apresentar como democráticas. Se continuarmos nesses as informações tem a rapidez da leitura dos textos virtuais, que
passos, logo teremos selos que certificarão as escolas logo são substituídos por uma nova página acessada e
democráticas, permitindo que se estabeleça um ranking das esquecidos no espaço virtual informe. Não cabem nesse
escolas mais democráticas. O sucesso da democracia como processo os procedimentos tradicionais de análise e síntese,
produto social acabou por contaminar todas as esferas sociais mas o estabelecimento pragmático de relações entre a
e, hoje, dificilmente se aceita que um diretor de escola ou informação acessada e sua utilidade, no conjunto de
autoridade educacional afirmem que não adotam a possibilidades.
democracia como prática em sua escola.
Como a estrutura do pensamento é, também, a estrutura A diversidade e a cultura escolar
da ação, todos os aspectos simbólicos de que se revestem os
discursos sobre a democracia revelam as práticas O direito às diferenças se constitui da desnaturalização das
intersubjetivas do campo escolar. As manifestações desigualdades, que devem deixar de ser percebidas como uma
discursivas permitem compreender a estratégia de integração perversão às leis da natureza e passar a ser enxergadas como
e a busca de incorporação de uma estrutura simbólica aceita uma constituição legítima da vida social. Essa compreensão
coletivamente. Por isso, para a compreensão do caráter do exige uma concepção transdisciplinar, algo que não rotule, que
discurso veiculado acerca da democracia, é necessário que se passe por cima dos estereótipos e estigmatizações, que separe
entenda o tipo de estratégia social que constitui. cada segmento em um campo disciplinar próprio e que
O consenso representado pela democracia como forma de recolha, nas diferentes ciências, o saber necessário para
ação política vem exigindo que os diferentes agentes sociais compreender a correlação entre as formas de discriminação e
demonstrem publicamente sua adesão. A adoção da estabelecer jeitos para sua superação, construindo maneiras
democracia parece significar, de maneira pública, um modo de igualmente transdisciplinares de promover a igualdade.
acumulação de prestígio que confere status àqueles que se O conhecimento das diferentes possibilidades de
mobilizam muito mais para cumprir um ritual do que para manifestação cultural e de comportamentos sexuais é a
exercitar a interação democrática. maneira mais eficiente de demonstração da falência do
Assumindo caráter cerimonial, o efeito mobilizador e discurso conservador naturalizado. A disseminação do
unificador do discurso democrático, quando voltado para as conhecimento acerca dessas manifestações é um contraponto
massas, tende, frequentemente, a tornar-se catarse coletiva, aos meios de comunicação de massa, que têm se constituído
passando a ter a forma de populismo. Quando proferido para em um dos principais instrumentos de propagação do
autoridades, significa a demonstração de adesão ao modelo preconceito
político adotado e constitui uma espécie de propaganda É possível compreender o importante papel da educação e
pessoal de quem o faz. O discurso democrático pode remeter, da escola tanto na constituição dos preconceitos e na
assim, à necessidade de reconhecimento dos agentes reprodução de práticas sociais preconceituosas quanto na luta
escolares, quer por parte do coletivo da escola, quer por parte pela superação desses preconceitos. O predomínio de livros
das autoridades superiores. Corresponde, portanto, a uma didáticos e paradidáticos nos quais a figura da mulher é
espécie de marketing pessoal constituído do consenso ausente ou caracterizada como menos qualificada que o
representado pela opinião geral. Isso significa que é preciso homem contribui para uma imagem de inferioridade feminina,
distinguir o discurso democrático, que visa a atender à opinião por um lado, e de superioridade masculina, por outro. A
pública, da ideia de democracia, como processo que instaura a escolha das cores, o rosa e o azul, os papéis representados nas
livre e autônoma participação coletiva. brincadeiras, a ausência das crianças negras nas salas de nível
A maneira como a opinião pública se constitui pode ser mais avançado vão, entre outras questões, demarcando e
concebida atualmente como o resultado da circulação dessas

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referendando as posições machistas e racistas que persistem A concepção adotada aqui baseia-se no princípio de que a
em nossa sociedade. possibilidade de criação de um espaço escolar plural passa
Ao identificarmos o cenário de discriminações e pelo direito de todos, em suas diferenças, serem reconhecidos
preconceitos, vemos no espaço da escola as possibilidades de como iguais. A diversidade é um dos aspectos fundamentais da
particular contribuição para a alteração desse processo. A atual concepção de direitos humanos.
escola abriga em seu interior todas as diferentes formas de Característica daquilo que é diverso e, portanto, diferente,
diversidade, quer sejam de origem social, sexual, étnico-racial, a diversidade é um dos aspectos fundamentais da existência
cultural ou de gênero. É, portanto, um espaço privilegiado na humana, e ser diferente constitui um direito de todos os seres
construção dos caminhos para a eliminação de preconceitos e humanos. Na esfera escolar, é um tema ainda incipiente e
de práticas discriminatórias. A escola democrática deve permeado de tensões, rejeições e recusas.
educar para a valorização da diversidade e formar indivíduos A escola é um espaço de saber-poder que veicula
capazes de exercer a cidadania com dignidade. significados e práticas; o reconhecimento do direito a ser
Ressalta-se que esse papel não cabe somente às escolas diferente exige a compreensão de que não existe o diferente
mas também às políticas públicas, que precisam prevenir, em si; a diferença é o resultado da comparação com o que não
investigar, estimular o debate e punir crimes de ódio baseados é considerado diferente e constitui a norma ou o padrão.
em orientação sexual ou identidade de gênero. Questões de Assim, afirmar diferença significa eliminar o padrão
gênero, religião, raça/etnia ou orientação sexual direcionam homogeneizante, que impõe a negação da diferença.
práticas preconceituosas e discriminatórias da sociedade A noção de diversidade remete, no espaço escolar, quase
contemporânea. Se o estereótipo e o preconceito estão no sempre às questões de gênero e etnia ou aos direitos de
campo das ideias, a discriminação está no da ação, ou seja, minorias, como indígenas ou pessoas com deficiência.
trata-se de uma atitude. Entretanto, o reconhecimento do diferente deve ultrapassar
A superação das discriminações implica a elaboração de essas distinções, abarcando outras possibilidades de ser e
políticas públicas específicas e articuladas. Os exemplos viver, na diversidade de expressões culturais, linguísticas,
relativos às mulheres, aos homossexuais masculinos e artísticas ou nas diferenças físicas, que vão desde peso ou
femininos, às populações negra e indígena tiveram a intenção altura até modos de vestir e falar. Trata-se de questões que não
não apenas de explicitar que as práticas preconceituosas e têm encontrado acolhimento na escola e apenas agora têm
discriminatórias – misoginia, homofobia e racismo – existem experimentado alguma repercussão, com discussões sobre
no interior da nossa sociedade mas também de mostrar que bullying ou assédio. São expressões não sistematizadas e não
essas mesmas práticas vêm sofrendo profundas institucionalizadas e, por isso, se encontram marginalizadas
transformações em função da atuação dos próprios nas representações da sociedade; constituem novas
movimentos sociais, feministas, LGBT, negros e indígenas. Tais demandas, que devem encontrar na escola uma possibilidade
movimentos têm evidenciado o quanto as discriminações se de expressão.
dão de formas combinadas e sobrepostas, refletindo um
modelo social e econômico que nega direitos e considera Conselho Municipal de Educação, conselho escolar e
inferiores mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis, formação continuada: democratização, participação e
negros, indígenas. qualidade de ensino
A desnaturalização das desigualdades exige um olhar
transdisciplinar, que convoca as diferentes ciências, Flávio Caetano da Silva
disciplinas e saberes para compreender a correlação entre Maria Cecília Luiz
essas formas de discriminação e construir maneiras Ana Lucia Calbaiser da Silva
igualmente transdisciplinares de enfrentá-las e de promover a
igualdade. Levando em conta a atual conjuntura mundial e o
Durante muito tempo, a escola foi encarada como local delineamento das políticas públicas no que se refere à
onde deveria prevalecer a homogeneidade cultural. Questões educação brasileira, este texto tem como objetivo refletir
como direitos individuais, diferenças étnicas, culturais, sociais sobre alguns aspectos presentes na formação continuada a
ou de gênero não eram objeto de atenção. Na sala de aula, distância em conselhos escolares e de conselheiros municipais
prevalecia a autoridade inquestionável do professor; na de educação, principalmente quanto às formas de participação
escola, a autoridade do diretor. Tendendo a ignorar as no processo de democratização da educação com qualidade de
diferenças, a cultura escolar se estabeleceu por meio de um ensino.
jogo de pressupostos preconceituosos jamais explicitamente Para tanto, nos utilizamos do conceito de gestão
enunciados, mas carregados de violência simbólica, cujo democrática e participação para uma melhor compreensão da
resultado era incutir em toda a comunidade escolar práticas formação continuada. Nossa análise tem como base
sociais impregnadas de preconceitos. acontecimentos e situações de aprendizagem que ocorreram
Embora se constituíssem como espaço público, muitos dos em ambos os cursos.
problemas eram considerados tabus, porque, acreditava-se, O curso de conselheiros municipais de educação foi
pertenceriam à vida privada, como o racismo, a sexualidade ou ofertado para membros do Conselho Municipal de Educação
o assédio, portanto eram do âmbito da família. A escola, por (CME) de municípios do Estado de São Paulo; e o de conselhos
sua vez, positivista desde sua origem, deveria ser uma escolares, aos técnicos das secretarias municipais e estadual
instituição ascética que, imaginava-se, privilegiaria a de educação dos seguintes estados: São Paulo, Paraná, Rio
propagação de conhecimentos objetivos e neutros. Grande do Sul, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e Piauí. Essa
Ignorando as diferenças, a escola tornou-se um dos análise permitiu o entendimento da importância da formação
sustentáculos da propagação dos preconceitos. Nos conteúdos continuada e a observação dos problemas existentes nessas
escolares, encontravam-se subjacentes padrões identitários duas formações.
de etnia, cultura ou gênero, que excluíam (e ainda excluem) Gestão democrática: domínios legais e sociais
aqueles que não se encontravam na concepção cultural
ocidental tradicional. O espaço escolar sempre foi elemento Se pensarmos na sociedade atual, em que o individualismo
essencial dos processos sociais de estigmatização e e a concorrência são características predominantes, fica difícil
discriminação, que devem e podem ser combatidos em concebermos um espaço no qual a democracia, a participação
benefício de um ambiente mais respeitoso com relação à e o diálogo se ressaltem. Sem aprendizado, o exercício da
diversidade e aos direitos humanos. participação e das tomadas de decisão não muda a realidade –

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trata-se de um processo que deve ser construído qualidade de resultados, compreendidos como fato de sucesso
coletivamente, por meio do diálogo igualitário. da aprendizagem (casassUs, 2002). Em outras palavras, uma
A gestão democrática e sua efetiva implantação em boa gestão escolar está relacionada ao fato de a escola ter bons
estabelecimentos públicos de ensino sucederam-se sob a égide índices de aprovação e baixos de evasão.
de duas perspectivas: a primeira esteve pautada pelos Ao aproximar a concepção de qualidade da educação do
movimentos sociais e pelas políticas públicas da década de discurso de eficácia e eficiência administrativa, a figura do
1980, resultando na Constituição de 1988; a segunda, por sua diretor torna-se fundamental no gerencialismo, pois é ele o
vez, moldada pelo neoliberalismo e denominada de gestão por responsável pelos índices mensuráveis por meio de avaliações
resultados, é conhecida como gerencialista ou managerialista. externas. Atualmente, vemos esse tipo de controle de
A respeito da primeira, verifica-se que, no começo da qualidade dentro das escolas públicas, que se empenham para
década de 1980, tem início um processo de retomada da liderar o ranking de qualidade com a intenção de receber
democracia e da reconquista dos espaços políticos que a “prêmios”, traduzidos em repasses financeiros.
sociedade civil brasileira havia perdido. Os movimentos Segundo Ferreira & Aguiar (2001), na década de 1990,
sociais centravam-se na consolidação e na conquista de novos apesar de as parcerias terem se multiplicado e de a
espaços de participação na esfera do Estado. Estes se preocupação com os índices e resultados ter sido exaltada, o
fortaleceram com a Constituição de 1988, que estabeleceu a projeto político-pedagógico das escolas e a qualidade do
democracia participativa por meio de conselhos de cogestão ensino nem sempre apresentaram grandes modificações. Seu
nos diferentes âmbitos de atuação do Estado (conselhos de grande desafio diz respeito à função social que elas exercem,
educação, de saúde, de assistência social, entre outros). que é a de assegurar a todos e todas permanência com a
Os princípios defendidos – de igualdade de condições – aquisição de aprendizagens significativas e de oportunidades
para o acesso dos estudantes à escola e sua permanência nela de exercício da cidadania, com o desenvolvimento das
propiciaram um novo entendimento para a educação, potencialidades de cada um e com um preparo básico para o
possuindo, agora, um fator de realização da cidadania, com mundo do trabalho. Para Ferreira & Aguiar (2001),
padrões de qualidade de oferta e produto na luta pela precisamos, juntos, pensar os problemas de acesso e
superação das desigualdades sociais e da exclusão. permanência, garantindo o sucesso dos alunos na escola e
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não só ajudando a encontrar soluções que sejam mais adequadas às
confirmava como também materializava a garantia do direito suas necessidades tão diversas – e é nessa hora que entra a
público subjetivo à educação, determinando a eliminação de participação da comunidade. É preciso criar um ambiente
toda e qualquer forma de discriminação para a matrícula ou acolhedor para ouvir o que a população tem a dizer sobre o
permanência na escola. Isso garantiria ao estudante brasileiro que espera do ensino.
o direito de aprender e prosseguir seus estudos com um Participação e diálogo
ensino de qualidade.
Para tais alterações, teve-se como meta a descentralização Sabemos que a modificação de um paradigma nem sempre
da administração escolar, por meio da gestão democrática, contempla o cotidiano escolar, por isso consideramos que a
assegurando, pelos colegiados, a participação de professores, concepção de gestão educacional ou mesmo o entendimento
funcionários, alunos e pais nas decisões da escola. Destaca-se de gestão democrática não garantem, sozinhos, a
a importância do entendimento da sociedade civil, neste democratização dos sistemas de ensino.
momento histórico, de compartilhar as decisões na escola, Podemos construir uma sociedade mais democrática por
garantindo a participação de todos. meio da participação, da discussão e do diálogo, mas, para isso,
Em consonância com a Constituição Federal, outras leis e é necessário que a escola abra caminho para a conscientização
decretos foram se regularizando para a implantação da gestão da população por práticas que levem à formação de uma
democrática. Um exemplo disso é a Lei de Diretrizes e Bases da consciência crítica. Esse exercício se dá com a participação
Educação Nacional (9.394/96), que, no artigo 14, declara a efetiva de vários segmentos da escola e da comunidade, com
relevância da “participação dos profissionais da educação na eles opinando em decisões e tendo voz para argumentar o que
elaboração do projeto pedagógico da escola e da participação pensam – logo, não meros espectadores.
das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou Garantir a participação de todos não significa ter os
equivalentes” (Brasil, 1996). conselhos escolares apenas funcionando de forma legal. De
Na contramão dessas mobilizações, no início dos anos acordo com Luiz & Conti (2007), um dos grandes desafios, por
1990, não só por causa da crise econômica mas também pelo exemplo, é a questão da representação. A falta de tempo e de
esgotamento do modelo de Estado brasileiro, o pensamento local para os representantes e representados se reunirem, a
neoliberal, alicerçado na defesa da sociedade de livre mercado, fim de acordar nos assuntos concernentes à escola, tem sido
tornou-se referência para a redefinição do papel do Estado. um problema real nessas representações. Geralmente, em
Assim, alguns termos aparecem associados à ideia de conselhos de escola, temos representantes que defendem
participação, tais como empowerment e accountability.5 Nesse somente os seus interesses, esquecendo-se do coletivo.
novo contexto, também despontam as organizações não O conceito de participação fundamenta-se no de
governamentais, o chamado Terceiro Setor. autonomia (capacidade das pessoas e grupos de conduzir sua
Nessa conjuntura, os ideais da Constituição de 1988 são vida) e no de organização escolar, com objetivos coletivos e
negligenciados, e surge o discurso da modernização educativa compartilhados. Pode-se diferenciar uma escola por sua
e da qualidade do ensino. Essa proposta neoliberal discute a autonomia e pelo modo como descentraliza sua gestão, como
qualidade da educação do trabalhador com base na formação delibera e como executa um planejamento compatível com as
de competências, imprescindíveis para a atuação desses realidades locais, todos e todas devendo acreditar que o
trabalhadores em um mercado competitivo. processo educacional seja algo a ser construído por meio de
Com esse novo discurso, a gestão é concebida de maneira participação ativa.
gerencialista ou managerialista, aproximando a administração Quando existe esse diálogo, pessoas com diferentes
empresarial da administração escolar. Tal lógica, a culturas possuem igual valor e dialogam entre si, dando forma
gerencialista, entende que a educação deve ter como foco a a novos saberes a partir da inteligência cultural. Consideramos

5 Accountability é uma palavra recente no vocabulário político brasileiro. De

origem inglesa, é associada à transparência, à prestação de contas e à


responsabilização.

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que essa diversidade cultural é salutar, não havendo uma Processo formativo dos conselheiros do CME
cultura melhor que outra. A presença da diversidade humana
na sociedade resulta na multicultura, no sentido de que toda O curso formativo dos conselheiros do CME compõe um
cultura é plural. Um comportamento multicultural significa conjunto de esforços da SEB/MEC direcionado à criação e ao
reconhecer o pluralismo cultural e aceitar a presença de ideias fortalecimento de Conselhos Municipais de Educação, como
de diversas pessoas e, por conseguinte, de culturas distintas. indicado no site oficial do MEC:
Nessa perspectiva, entendemos que há inúmeras formas O programa estimula a criação de novos Conselhos
de participação nas escolas, cujo exercício pleno possibilita à Municipais de Educação, o fortalecimento daqueles já
comunidade maior inserção nos processos democráticos de existentes e a participação da sociedade civil na avaliação,
nossa sociedade. Quando essa participação está pautada pela definição e fiscalização das políticas educacionais, entre outras
ação comunicativa (HaBermas, 1987) e as pessoas têm a ações. O Pró-Conselho tem como principal objetivo qualificar
possibilidade de desenvolver um diálogo igualitário dentro gestores e técnicos das secretarias municipais de educação e
das escolas, há um ganho riquíssimo na aprendizagem das representantes da sociedade civil para que atuem com relação
crianças, pois a comunidade externa pode contribuir com seus à ação pedagógica escolar, à legislação e aos mecanismos de
saberes e experiências para a equipe escolar em busca da financiamento, repasse e controle do uso das verbas da
promoção de uma educação de qualidade. educação. Os Conselhos Municipais de Educação exercem
Freire (2006) nos alerta que a relação dialógica é papel de articuladores e mediadores das demandas
percebida como uma prática fundamental à natureza humana educacionais junto aos gestores municipais e desempenham
e à democracia: funções normativa, consultiva, mobilizadora e fiscalizadora
A dialogicidade não pode ser entendida como instrumento (Brasil, 2013b).
usado pelo educador, às vezes, em coerência com sua opção Consideramos que essa ação formativa aprofunda as
política. A dialogicidade é uma exigência da natureza humana chances de experiências democráticas na escola básica na
e também um reclamo da opção democrática do educador medida em que se direcionam àqueles que transformam as
(Freire, 2006, p. 74). políticas públicas educacionais em ações diretas à sociedade,
Urge a necessidade de processos emancipatórios de na medida em que nos permitem fazer que as políticas públicas
educação conduzidos pelo diálogo e pela reflexão; eles devem educacionais, originárias do governo federal, cheguem a
permitir, segundo Beck, Giddens & Lash (1997), novas formas diversos municípios paulistas.
organizacionais, mais democráticas. Para garantir que tais ações sejam permanentes,
Faz-se necessária uma mudança na relação conflituosa oferecemos o curso em questão com o objetivo de criar
entre familiares e equipe escolar, de maneira a promover oportunidades de reflexão a educadores e profissionais da
espaços para a participação ao estabelecer um diálogo educação, bem como aos familiares de estudantes, acerca das
igualitário. Assim, a ideia é a de dar lugar a debates em que os ações do Estado, pretendendo enfrentar os grandes desafios
sujeitos (independentemente de sua posição social), juntos, que a educação representa em nossos dias.
construam os currículos, de modo que tanto educadores
quanto educandos aprendam. Conselho Escolar: incentivador da articulação
Nessa perspectiva, o espaço escolar passa a ser um escola/sociedade.6
ambiente de ação comunicativa (HaBermas, 1987), formando
indivíduos críticos e participativos e, portanto, fazendo parte, Aqui se pretende viabilizar aos diferentes segmentos que
sendo parte e tomando parte de tudo o que concerne à compõe a unidade escolar e a comunidade local,
instituição. principalmente aos membros do Conselho Escolar, identificar
Embora o discurso da gestão escolar seja relacionado, na sociedade práticas emergentes que favorecem a construção
algumas vezes, à gestão democrática, sabemos que os espaços da cidadania. Práticas sociais as mais diversas, que são
coletivos e dialógicos nos processos escolares estão se traduzidas numa intensa efervescência cultural e social,
constituindo a cada dia. Toda uma cultura brasileira de não passam despercebidas ou não são legitimadas ou apoiadas não
participação e medo está muito presente nas nossas relações só pela escola, como também pelos sistemas de ensino, ou
sociais. As famílias participantes da pesquisa afirmaram, em mesmo, pela sociedade.
sua maioria, não fazer parte de sindicatos nem ter ligação O que mais se evidencia é a existência de um discurso
alguma com movimentos políticos. Os tabus e preconceitos institucional que insiste em ignorar a capacidade de
também são significativos, principalmente com relação aos intervenção e as ações que estão em marcha, organizadas pelas
sujeitos que se manifestam ou que questionam muito, fazendo comunidades, visando à construção de um mundo mais igual,
pesar o histórico que possuímos: o de sermos um país que ético, fraterno e solidário. Perceber, compreender, criticar e, se
permaneceu sob regime de ditadura militar e repressão por necessário, alterar a sua prática pedagógica constitui um
mais de 20 anos. desafio para a escola, o que pode ser efetivado mediante um
As escolas devem intencionar essa participação, conjunto de ações norteadas pelo projeto político-pedagógico
provocando, nas pessoas envolvidas, a vontade de sempre construído coletivamente. Nessa direção, pode-se considerar a
buscar mais, aprender mais, sonhar com uma escola melhor. multiplicidade de formas de atuação ao alcance das escolas e
Compreendemos, por meio das formações continuadas, que a de seus profissionais, tais como:
participação está sendo construída de forma gradual, sendo a) mapear as organizações populares existentes no bairro;
imprescindível a crença, por todos os componentes de dentro b) promover assembleias externas, em parceria com as
e de fora da escola, de que a gestão democrática é viável e entidades da sociedade civil, para analisar ou propor políticas
produz resultados. de desenvolvimento local;
Isso ficou evidente quando as pessoas envolvidas nessas c) inventariar a situação do bairro com o objetivo de
unidades escolares perceberam resultados e, por isso, foram, compreender o contexto social, econômico e político, o que
aos poucos, aderindo a algumas condutas e modificando as significa entender o bairro, suas perspectivas, potencialidades,
relações interpessoais entre todos os da equipe escolar e os da projetos do setor público e do setor privado que modificarão a
comunidade local com mais respeito, responsabilidade e vida local.
solidariedade.

6 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/cad%2010.pdf

Conhecimentos Pedagógicos 11
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Há um razoável consenso entre os educadores que o de há muito tempo, uma realidade em países que alcançaram
projeto político-pedagógico, construído de forma coletiva e melhores patamares na oferta da escolarização às suas
participativa, constitui o norte orientador das práticas populações.
curriculares e pedagógicas na escola. O Conselho Escolar pode
exercer um papel relevante na gestão escolar (pedagógico- Enfim, incentivar a constituição de projetos de vida dos
administrativa) contribuindo para a construção e estudantes articula- dos aos movimentos que visam à
implementação do projeto político-pedagógico da escola e construção coletiva do projeto de bairro, da cidade e da nação
para o alargamento do horizonte cultural dos estudantes. é um desafio. Projetos de vida que significam crescimento
Nesse processo, o Conselho Escolar, ao atuar plenamente, pessoal e profissional, considerando a sociedade complexa e
no sentido de contribuir com a ampliação das oportunidades contraditória na qual o estudante se situa. Contribuir para que
de aprendizagens dos estudantes, não só se fortalece como o estudante se reconheça como ser histórico e que faz a
instância de controle social como também auxilia a escola história em suas ações cotidianas e em interação com o outro
pública no cumprimento de sua função social. é papel da escola. Esse reconhecimento do estudante como ser
histórico, capaz de, ao longo do tempo e em processos de lutas
Conselho Escolar e a articulação com a comunidade coletivas, mudar as condições de vida e as relações sociais de
trabalho nessa sociedade, valoriza a ação da escola.
A escola pode propiciar a organização de situações que Nessa direção, são variadas as atividades de cunho
favoreçam ao estudante efetivar aprendizagens que o leve a pedagógico que podem ser desenvolvidas na escola e na
valorizar a história do seu bairro, dos líderes populares do seu comunidade com a participação decisiva do Conselho Escolar.
lugar, da sua raça, do seu gênero e da sua classe social. São atividades propostas, discutidas, desenvolvidas e
Incentivar no corpo discente o desenvolvimento de posturas avaliadas por docentes em sua relação com os estudantes, bem
solidárias, críticas e criativas e propiciar a organização de como por outras instâncias da escola e pelo Conselho Escolar.
situações que induzam o estudante a lutar pelos seus sonhos
são tarefas de uma escola comprometida com a formação II. Conselhos de Classe
cidadã.
Nesse sentido, a escola pode realizar atividades que O Papel do Conselho de Classe
despertem o senso estético, concorrendo, assim, para a
vivência mais plena dos estudantes, como seres humanos Para a compreensão acerca do papel do Conselho de Classe
sensíveis, mesmo que estes convivam em ambientes pouco faz-se necessário o conhecimento da história dessa instância
estimuladores da beleza que a natureza e a produção cultural colegiada conforme disposto pela legislação educacional
da humanidade oferecem. contemporânea.
Incentivar e desenvolver atividades pedagógicas que
permitam aflorar a sensibilidade e o bom gosto dos estudantes O Conselho de Classe francês tem, portanto, um caráter
pode ser um objetivo relevante da escola. específico, encaminhando para a seleção e a distribuição do
É necessário atentar que para possibilitar um ambiente aluno no sistema dualista implantado na França naquele
favorável às aprendizagens significativas das crianças e jovens período. Os pareceres dos Conselhos serviriam para orientar
que se encontram em situação de maior vulnerabilidade os alunos às diversas modalidades de ensino (clássico ou
(como bem evidenciam as manchetes que apontam para as técnico) de acordo com as “aptidões” e o “caráter”
estatísticas de violência, desemprego, gravidez indesejada e demonstrado pelos mesmos.
precoce e restritas oportunidades culturais e de lazer), a escola Essa experiência de Conselho de Classe foi trazida ao Brasil
depende, em boa par- te, da ação solidária e colaborativa da por educadores brasileiros que foram estagiários em Sèvres,
comunidade local em relação às suas propostas pedagógicas. em 1958, e sua implantação foi feita no Colégio de Aplicação
Crianças e jovens, habituados e fascinados pela vida livre das da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAP).
ruas, sem limites e regras, têm dificuldade de adaptação à Acredita-se que a importação das ideias trazidas pelo
“estrutura tradicional” da escola. Conselho de Classe francês, como afirmado por Rocha, só foi
O que pode contribuir para alterar esse quadro de possível porque já teria havido um processo de
incertezas e de dificuldades de toda ordem é levar todas essas desenvolvimento de um ideário pedagógico, que estaria
questões ao debate no coletivo da escola, expor as impregnando o meio educacional por meio da pedagogia
contradições que afloram permanentemente na prática escolanovista que sugere uma organização que valoriza o
pedagógica, não se deixar intimidar pelo volume dos trabalho coletivo, a discussão, a busca e a criação de novos
problemas e pela precariedade de recursos que poderiam ser métodos.
acionados visando à sua superação. Debater as situações Com base nesse pressuposto e retrocedendo no tempo, a
problemáticas, tomar decisões, desenvolver e avaliar as ações criação do Conselho de Classe encontra suas origens no cerne
pedagógicas e administrativas, nos colegiados, parecem ser das ideias que permearam a tendência escolanovista da
formas bem-sucedidas de lidar com as inúmeras questões educação. Quando se lê o Manifesto dos Pioneiros da Educação
sociais e pedagógicas que emergem no cotidiano da escola. Nova, expõe Dalben, percebem-se elementos do tipo:
“O ensino de segundo grau começa por um ano de estudos
A participação nos projetos comunitários: numa classe de orientação, depois da qual se divide em três
secções: clássica, moderna e técnica. O encaminhamento para
Nessa perspectiva, a escola pode procurar interagir com os essas secções faz-se tendo em conta os desejos das famílias e o
projetos comunitários, de natureza socioeducativa, que visem interesse geral, segundo o gosto e as aptidões nas classes de
promover o ingresso, o regresso, a permanência e o sucesso orientação e eventualmente nas classes seguintes”7
dos estudantes na escola. Estrategicamente, a escola e o
sistema de ensino podem aproveitar a existência desses Esses elementos apontam para o início da valorização das
projetos para discutir, apreciar e avaliar as condições de ideias de atendimento individualizado, de estudo em grupos e,
infraestrutura e pedagógicas locais, com o propósito de especificamente, de reunião dos profissionais para discussão
implantar de forma progressiva e criativa o tempo integral, já de um determinado tipo de atendimento ao alunado.
sinalizado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e,

7 (LUZURIAGA, 1959, p.117).

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A ideia de uma nova organização de escola, como sistema, com observância de normas fixadas pelo respectivo
“organismo vivo”, de “comunidade palpitante pelas soluções Conselho de Educação”.
de seus problemas”, proposta no Manifesto dos Pioneiros da Entretanto, pode-se afirmar que do “PREMEN” emanavam,
Educação Nova, é contrária à centralização de poder e de de forma direta e indireta, as orientações necessárias para a
decisões, considerando necessária a adaptação da escola a operacionalização da lei. Essas orientações apresentavam uma
interesses e necessidades dos alunos. Essa nova concepção de relativa “abertura” às escolas, havendo, no entanto, pouca
escola sugere uma organização que valoriza o trabalho clareza à forma de execução.
coletivo, a discussão, a busca e a criação de novos métodos. No contexto de implantação da lei 5692/71 e da concepção
Entretanto, o Conselho de Classe instituído na organização de de ensino subjacente e essa organização, onde a referida lei
modo a operacionalizar essas ideias, ainda não aparece nesse estruturava o sistema educacional, num clima político pautado
momento. pelo autoritarismo, excluindo a participação de setores
representativos da sociedade, acarretou a desconfiança por
Os Conselhos de Classes só foram instituídos no Brasil a parte dos profissionais da escola nas possibilidades do
partir da lei 5692/71 –LDB do Ensino de 1º e 2º graus. Essa lei Conselho de Classe como um espaço capaz de intensificar a
veio para dirigir o sistema escolar por meio de um processo construção de processos democráticos de gestão. Assim sendo,
político pautado pelo autoritarismo, sem a participação de o objetivo fundamental da instância, que seria o de propiciar a
setores representativos da nacionalidade. Ela vem definir uma articulação coletiva dos profissionais num processo de análise
nova estrutura para o sistema educacional, reunindo os compartilhada, considerando a globalidade de óticas dos
diversos ramos existentes (secundário, comercial, industrial, professores, não foi atingido, perdendo assim sua importância
agrícola e normal) num só, além de propor a profissionalização e sua riqueza no trato das questões pedagógicas.
do educando (DALBEN, 2004). O Conselho de Classe, como uma instância coletiva de
Esse novo sistema educativo brasileiro introduzido pela avaliação do processo de ensino e aprendizagem, reflete essas
Lei 5692/71 tinha como um de seus propósitos fundamentais concepções, assim como as limitações e contradições próprias
a transformação do estudante em indivíduo treinável, a elas, já que o posicionamento dos profissionais é que dará
instrumentalizado nos valores do capital, na competição e na seu contorno político. No contexto (...), o Conselho de Classe
racionalidade deste. não conseguirá desempenhar seu papel original de mobilizar a
O PREMEN foi implantado, a partir de 1970, em vários avaliação escolar no intuito de desenvolver um maior
estados do Brasil, os quais realizaram convênios com as conhecimento sobre o aluno, a aprendizagem, o ensino e a
prefeituras dos diversos municípios atingidos por ele, para escola, e especialmente, de congregar esforços no sentido de
com isso executá-lo em larga escala. Para isso grupos de alterar o rumo dos acontecimentos, por meio de um projeto
professores eram treinados nesse programa para, pedagógico que visa ao sucesso de todos.8
posteriormente, implementar as chamadas escolas A ruptura da visão tradicional de ensino, que segregava os
polivalentes, já dentro dos modelos observados nos estados segmentos sociais, iniciou com a Lei de Diretrizes e Bases da
Unidos. Educação Nacional nº. 9394/96, gestada em um contexto no
qual a política estava voltada ao social. Em decorrência desta
A promulgação da Lei 5692/71 ocorreu após a Lei, todo conceito acerca do sistema educacional e suas
implantação desse programa nas escolas polivalentes e, a organizações foi revisto, com base em princípios
partir dela, foi possível a orientação normativa e legal desse democráticos.
tipo de escola para a estrutura e funcionamento de todo o
ensino de 1º e 2º graus. Os Conselhos de Classe ocorrem em grande parte das
É importante ressaltar que, segundo Dalben, escolas, guiados por modelos de avaliação classificatórios, com
anteriormente à Lei 5692/71, o Conselho de Classe não se o objetivo de conceder uma sentença ao aluno. Hoffman
apresentava como instância formalmente instituída na escola, entende que esta deve ser uma ação dirigida ao futuro, com
acontecendo, como afirma Rocha (1982), de forma espontânea caráter interativo e reflexivo, deliberando sobre novas ações
em escola que voluntariamente se dispusesse a enxergá-lo que garantam a aquisição de competências para à
como de importância pedagógica. Sua implantação, entretanto, aprendizagem dos alunos.
não se deu claramente por meio da nova lei, mas ocorreu
indiretamente, por intermédio de orientações vindas do Até muito recentemente a questão da escola limitava-se a
modelo de escola proposto pelo PREMEN, que apresentava o uma escolha entre ser tradicional e ser moderna. Essa
Conselho de Classe como órgão constituinte da escola. tipologia não desapareceu, mas não responde a todas as
Os Conselhos Estaduais de Educação com base em pedidos questões atuais da escola. Muito menos à questão do seu
de esclarecimento sobre a Lei 5692/71, produziram pareceres projeto9.
e resoluções orientadores, que de certa forma encaminhavam A crise paradigmática também atinge a escola e ela se
as discussões para a formalização de instâncias de avaliação pergunta sobre si mesma, sobre seu papel como instituição
coletiva na escola, do tipo Conselho de Classe que deveria ser numa sociedade pós-moderna e pós-industrial, caracterizada
implementado. Conclui-se que o novo modelo de escola foi pela globalização da economia, das comunicações, da educação
formalmente implantado por meio dos novos regimentos e da cultura, pelo pluralismo político, pela emergência do
escolares elaborados pelas escolas, que passaram a orientar poder local. Nessa sociedade cresce a reivindicação pela
seu funcionamento. Nesses regimentos, encontra-se o participação e autonomia contra toda forma de uniformização
Conselho de Classe como um dos órgãos instituídos. e o desejo de afirmação da singularidade de cada região, de
cada língua etc. A multiculturalidade é a marca mais
É legítimo dizer que a Lei 5692/71 deu abertura aos significativa do nosso tempo.
Conselhos Estaduais de Educação para traçar as diretrizes de
sua operacionalização, conforme o que diz o artigo 2º em seu Como isso se traduz na escola?
parágrafo único: [...] “a organização administrativa, didática e
disciplinar de cada estabelecimento de ensino será regulada Nunca o discurso da autonomia, cidadania e participação
no respectivo regimento, a ser aprovado pelo órgão próprio do no espaço Escolar ganhou tanta força. Estes têm sido temas

8 (DALBEN, 2004, p. 38). 9 Texto extraído de GADOTTI, Moacir. “Projeto político pedagógico da escola:

fundamentos para sua realização”.

Conhecimentos Pedagógicos 13
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marcantes do debate educacional brasileiro de hoje. Essa Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de
preocupação tem-se traduzido, sobretudo pela reivindicação mentalidade de todos os membros da comunidade escolar.
de um projeto político pedagógico próprio de cada escola. Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de
Neste texto, gostaríamos de tratar deste assunto, sublinhando que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do
a sua importância, seu significado, bem como as dificuldades, Estado e não uma conquista da comunidade. A gestão
obstáculos e elementos facilitadores da elaboração do projeto democrática da escola implica que a comunidade, os usuários
político pedagógico. da escola, sejam os seus dirigentes e gestores e não apenas os
Começaremos esclarecendo o próprio título: “projeto seus fiscalizadores ou, menos ainda, os meros receptores dos
político pedagógico”. Entendemos que todo projeto serviços educacionais. Na gestão democrática pais, mães,
pedagógico é necessariamente político. Poderíamos alunas, alunos, professores e funcionários assumem sua parte
denominá-lo, portanto, apenas “projeto pedagógico”. Mas, a de responsabilidade pelo projeto da escola.
fim de dar destaque ao político dentro do pedagógico,
resolvemos desdobrar o nome em “político pedagógico”. Avaliação Escolar e Conselho de Classe10
Frequentemente se confunde projeto com plano.
Certamente o plano diretor da escola — como conjunto de Quando se discute o Conselho de Classe, discutem-se as
objetivos, metas e procedimentos — faz parte do seu projeto, concepções de avaliação escolar presentes nas práticas
mas não é todo o seu projeto. educativas dos professores. Neste sentido, a importância dos
Isso não significa que objetivos metas e procedimentos não Conselhos de Classe e dos processos avaliativos da escola está
sejam Necessários. Mas eles são insuficientes, pois, em geral, o nas possibilidades e capacidades de leitura coletiva da prática,
plano fica no campo do instituído, ou melhor, no cumprimento bem como diante do reconhecimento compartilhado das
mais eficaz do instituído, como defende hoje todo o discurso necessidades pedagógicas, de modo a mobilizar esse coletivo
oficial em torno da “qualidade” e, em particular, da “qualidade no sentido de alterar as relações nos diversos espaços da
total”. Um projeto necessita sempre rever o instituído para, a instituição.
partir dele, instituir outra coisa. Tornar-se instituinte. Um Avaliar é tarefa antiga das escolas, existe desde a sua
projeto político-¬pedagógico não nega o instituído da escola criação e, embora haja variedade nas formas da atividade
que é a sua história, que é o conjunto dos seus currículos, dos avaliativa, ela manteve, ao longo dos séculos, um certo caráter
seus métodos, o conjunto dos seus atores internos e externos punitivo, presente, ainda, hoje nas escolas que valorizam a
e o seu modo de vida. Um projeto Sempre confronta esse verificação em detrimento da avaliação, conforme afirma
instituído com o instituinte. Luckesi (2003). Assim o que hoje se observa é que a avaliação
Não se constrói um projeto sem uma direção política, um está centrada no desempenho cognitivo dos alunos, sem
norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é referência a um projeto de escola ou ao trabalho docente,
também político. O projeto pedagógico da escola é por isso objetos também de avaliação.
mesmo, sempre um processo inconcluso, uma etapa em Os processos de avaliação escolar refletem os
direção a uma finalidade que permanece como horizonte da posicionamentos dos profissionais e são fundamentados pelas
escola. concepções de escola, de ensino, do papel do professor, do
papel do aluno, que cada um possui. A organização e as
De quem é a responsabilidade da constituição do projeto da condições de trabalho do professor apresentam-se como
escola? fatores determinantes no processo e orientam as diferentes
práticas docentes. A transformação da prática pedagógica liga-
O projeto da escola não é responsabilidade apenas de sua se estreitamente à alteração da concepção de avaliação porque
direção. Ao contrário, numa gestão democrática, a direção é a construção do processo avaliativo expressa o conhecimento
escolhida a partir do reconhecimento da competência e da da e sobre a escola.
liderança de alguém capaz de executar um projeto coletivo. A
escola, nesse caso, escolhe primeiro um projeto e depois essa A concepção de avaliação que aponta para os atos de
pessoa que pode executá-lo. Assim realizada, a eleição de um aprovar ou reprovar o aluno com base em um registro
diretor ou de uma diretora se dá a partir da escolha de um numérico, são procedimentos nos qual o professor assume o
projeto político pedagógico para a escola. Portanto, ao se papel de juiz ao utilizar-se de provas, consubstanciado por
eleger um diretor de escola, o que se está elegendo é um mecanismos de verificação da aprendizagem de conteúdos
projeto para a escola. específicos, num determinado momento do processo. Assim,
Como vimos, o projeto pedagógico da escola está hoje entende-se que existe uma visão reduzida e equivocada do
inserido num cenário marcado pela diversidade. Cada escola é processo de avaliação, já que a nota, produto concreto dessa
resultado de um processo de desenvolvimento de suas aferição, reflete apenas o resultado do desempenho cognitivo
próprias contradições. Não existem duas escolas iguais. Diante do aluno e nunca o processo educativo que o levou a tal
disso, desaparece aquela arrogante pretensão de saber de resultado.
antemão quais serão os resultados do projeto para todas as É importante ressaltar que esta simples verificação não
escolas de um sistema educacional. A arrogância do dono da possibilita a melhoria do ensino e, consequentemente, da
verdade dá lugar à criatividade e ao diálogo. A pluralidade de aprendizagem, pois ela é estática, somente constatando erros
projetos pedagógicos faz parte da história da educação da e acertos que classificam os alunos em aprovados ou
nossa época. reprovados, provocando a exclusão e a evasão escolar.
Por isso, não deve existir um padrão único que oriente a Repensar esta prática deve ser tarefa urgente e substituí-
escolha do projeto de nossas escolas. Não se entende, portanto, la pela avaliação enquanto processo de formação humana é
uma escola sem autonomia, autonomia para estabelecer o seu uma necessidade. A avaliação, enquanto atividade dinâmica
projeto e autonomia para executá-lo e avaliá-lo. presente na escola, deve subsidiar decisões e
A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte reencaminhamentos da prática docente por intermédio da
da própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática coleta, da análise e da síntese de dados resultantes da prática
da escola é, portanto, uma exigência de seu projeto político pedagógica que considera a aprendizagem um processo onde
pedagógico. a socialização do saber científico deve ser garantida,

10 http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2199-6.pdf

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contribuindo com a inclusão e a melhoria da qualidade da além da direção, participantes dos demais colegiados e
aprendizagem. representantes da comunidade na qual está inserida a escola.
(E) (...) Cabe ao Conselho Escolar na sua função
É necessário ver a aprendizagem como um processo e as deliberativa emitir pareceres para dirimir as dúvidas e tomar
disciplinas curriculares como um meio para se chegar a ser um decisões quanto às questões pedagógicas, administrativas e
cidadão e não como conteúdos que se dominam pela financeira, no âmbito de sua competência.
memorização. Daí a necessidade de um currículo centrado no
desenvolvimento, na construção, na experiência que 03. (SEDUC/RO - Professor Classe C – Sociologia –
oportuniza a autonomia e transformações sociais IBADE/2016). Sobre o conselho de classe, leia as afirmativas.
significativas e de uma avaliação que contribua para a I. O conselho de classe, em uma visão democrática, é uma
formação humana. Nesta perspectiva, Lima11, afirma que a instância meramente burocrática em que se buscam
avaliação para formação humana contrapõe-se à noção justificativas para o baixo rendimento dos alunos.
vigente, uma vez que seus objetivos são nortear o aluno, II. O conselho de classe guarda em si a possibilidade de
informar ao professor o estágio de desenvolvimento em que articular os diversos segmentos da escola e tem por objeto de
ele se encontra, e orientar os próximos passos do processo. estudo o processo de ensino.
Dessa forma, ela não classifica, mas situa. E situa para auxiliar III. Para maior eficácia do conselho de classe, seria
no processo de formação do aluno, decorrendo daí sua necessário o envolvimento de outros segmentos da
importância para a prática pedagógica, que deve sempre comunidade escolar, por exemplo, alunos representantes de
propiciar ao educando novas possibilidades de turmas.
desenvolvimento e aprendizagem. Está correto o que se afirma apenas em:
(A) II e III.
Principais diferenças entre Conselho Escolar e (B) I e II.
Conselho de Classe (C) I e III.
(D) I.
O Conselho Escolar é formado por professores, equipe (E) III.
pedagógica de pais e alunos. É responsável pelas decisões em
prol da escola, através de pintura, organização e outros Respostas
eventos.
01. E / 02. D / 03. A
O Conselho de Classe permite que os professores,
coordenadores e diretores se reúnam para fazer
apontamentos dos alunos, observar seus resultados, Projeto Político-Pedagógico
andamentos. da Escola.
Questões
Conceitos
01. (Prefeitura de Rio Branco/AC - Cuidador Pessoal –
IBADE/2017). A principal função do Conselho Escolar é: 1- O projeto político pedagógico da escola pode ser
(A) estudar os diversos campos sociais (econômico, entendido como um processo de mudança e definição de um
político e cultural), refletindo sobre o sentido de qualidade rumo, que estabelece princípios, diretrizes e propostas de ação
mais adequado à educação. para melhor organizar, sistematizar e significar as atividades
(B) refletir sobre as dimensões e os aspectos que desenvolvidas pela escola como um todo. Sua dimensão
necessitam ser avaliados, ao se construir uma escola cidadã e política pedagógica pressupõe uma construção participativa
de qualidade. que envolve ativamente os diversos segmentos escolares e a
(C) conhecer parcialmente o trabalho que se desenvolve na própria comunidade onde a escola se insere.
escola, em suas especificidades e na relação que existe entre
essas partes. 2- Quando a atuação ocorre em um planejamento
(E) estar ligado, prioritariamente, à essência do trabalho participativo, as pessoas ressignificam suas experiências,
escolar. refletem suas práticas, resgatam, reafirmam e atualizam
valores. Explicitam seus sonhos e utopias, demonstram seus
02. (UFMA - Pedagogo – UFM/2016). Sobre o papel do saberes, suas visões de mundo, de educação e o conhecimento,
Conselho Escolar e o lugar que ocupa na estrutura geral da dão sentido aos seus projetos individuais e coletivos,
escola, especialmente entre os demais órgãos colegiados, reafirmam suas identidades estabelecem novas relações de
julgue a afirmativa correta. convivência e indicam um horizonte de novos caminhos,
(A) (...) Dos órgãos colegiados com funções apenas possibilidades e propostas de ação. Este movimento visa
fiscalizadoras estão a Associação de Pais, Mestres e promover a transformação necessária e desejada pelo coletivo
Funcionários e o Grêmio Estudantil e os com funções escolar e comunitário e a assunção de uma intencionalidade
deliberativas e consultivas estão o Conselho de Classe e o política na organização do trabalho pedagógico escolar.
Conselho de Alunos.
(B) (...) Os conselhos escolares são órgãos representativos 3- Para que o projeto seja impregnado por uma
da sociedade que falam em nome do governo para os intencionalidade significadora, é necessário que as partes
dirigentes das escolas. envolvidas na prática educativa de uma escola estejam
(C) (...) O Conselho Escolar não tem nenhuma relação com profundamente integradas na constituição e que haja vivencia
a prática educativa e nem com o desenvolvimento do processo dessa intencionalidade. A comunidade escolar então tem que
ensino-aprendizagem. estar envolvida na construção e explicitação dessa mesma
(D) (...) Dos órgãos colegiados, o Conselho Escolar, devido intencionalidade.
a sua formação e fins, é o mais importante porque congrega,

11 (2001, p. 32)

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Processos e Princípios de Construção remete-nos para regras e orientações criadas pelos próprios
sujeitos da ação educativa, sem imposições externas.
Segundo Veiga12, a abordagem do projeto político-
pedagógico, como organização do trabalho da escola como um Valorização do magistério: é um princípio central na
todo, está fundada nos princípios que deverão nortear a escola discussão do projeto político-pedagógico. A qualidade do
democrática, pública e gratuita: ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar
cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica,
Igualdade: de condições para acesso e permanência na política e cultural do país relacionam-se estreitamente a
escola. Saviani13 alerta-nos para o fato de que há uma formação (inicial e continuada), condições de trabalho
desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto (recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação
de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula
autor destaca: Portanto, só é possível considerar o processo etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à
educativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir a profissionalização do magistério.
democracia com a possibilidade no ponto de partida e
democracia como realidade no ponto de chegada. Igualdade de O reforço à valorização dos profissionais da educação,
oportunidades requer, portanto, mais que a expansão garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional
quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com permanente, significa “valorizar a experiência e o
simultânea manutenção de qualidade. conhecimento que os professores têm a partir de sua prática
pedagógica”.
Qualidade: que não pode ser privilégio de minorias
econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto A formação continuada é um direito de todos os
político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade profissionais que trabalham na escola, uma vez que não só ela
para todos. A qualidade que se busca implica duas dimensões possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na
indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está qualificação e na competência dos profissionais, mas também
subordinada a outra; cada uma delas tem perspectivas propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento profissional
próprias. dos professores articulado com as escolas e seus projetos.

Formal ou Técnica - enfatiza os instrumentos e os Estratégia de Planejamento


métodos, a técnica. A qualidade formal não está afeita,
necessariamente, a conteúdos determinados. Demo14 afirma Definição de marco/referência: é necessário definir o
que a qualidade formal: “(...) significa a habilidade de manejar conjunto de ideias, de opções e teorias que orientará a prática
meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos da escola. Para tanto, é preciso analisar em que contexto a
desafios do desenvolvimento”. escola está inserida. Para assim definir e explicitar com que
tipo de sociedade a escola se compromete, que tipo de pessoas
Política - a qualidade política é condição imprescindível da ela buscará formar e qual a sua intencionalidade político,
participação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos. social, cultural e educativa. Esta assunção permite clarear os
Quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de se critérios de ação para planejar como se deseja a escola no que
fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade se refere à dimensão pedagógica, comunitária e
humana”. administrativa.

Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de Para delimitar o marco doutrinal do projeto político-
que a qualidade centra-se no desafio de manejar os pedagógico propõe-se discutir: que tipo de sociedade nós
instrumentos adequados para fazer a história humana. A queremos construir, com que valores, o que significa ser
qualidade formal está relacionada com a qualidade política e sujeito nesta sociedade, como a escola pode colaborar com
esta depende da competência dos meios. a formação deste sujeito durante a sua vida.

Gestão Democrática: é um princípio consagrado pela Para definirmos o marco operativo sugere-se que
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, analisemos a concepção e os princípios para o papel que a
administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica escola pode desempenhar na sociedade.
na prática administrativa da escola, com o enfrentamento das
questões de exclusão e reprovação e da não permanência do Propomos a partir da leitura de textos, da compreensão de
aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização cada um, discutir com todos os segmentos como queremos que
das classes populares. Esse compromisso implica a construção seja nossa escola, que tipo de educação precisamos
coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação desenvolver para ajudar a construir a sociedade que
das classes populares. idealizamos como entendemos que ser a proposta pedagógica
da escola, como devem ser as relações entre direção, equipe
Neste sentido, fica claro entender que a gestão pedagógica, professores, alunos, pais, comunidade, como a
democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de escola pode envolver a comunidade e se fazer presente nela,
ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na analisando qual a importância desta relação para os sujeitos
construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão. que dela participam.

Liberdade: o princípio da liberdade está sempre associado Diagnóstico: é o segundo passo da construção do projeto
à ideia de autonomia. O que é necessário, portanto, como ponto e se constitui num momento importante que permite uma
de partida, é o resgate do sentido dos conceitos de autonomia radiografia da situação em que a escola se encontra na
e liberdade. A autonomia e a liberdade fazem parte da própria organização e desenvolvimento do seu trabalho pedagógico
natureza do ato pedagógico. O significado de autonomia acima de tudo, tendo por base, o marco referencial, fazer

12 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: 13 SAVIANI, Dermeval. "Para além da curvatura da 'vara". In: Revista Ande no

uma construção possível. 12ª edição Papirus, 2002. 3. São Paulo, 1982.
14 DEMO Pedro. Educação e qualidade. Campinas, Papirus,1994.

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comparações e estabelecer necessidades para se chegar à - estudo, planejamento, enriquecimento curricular, ação
intencionalidade do projeto. comunitária.
- normas de utilização de espaços comuns da instituição.
Propostas de Ação: este é o momento em que se procura
pensar estratégias, linhas de ação, normas, ações concretas Acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico:
permanentes e temporárias para responder às necessidades parâmetros, mecanismos de avaliação interna e externa,
apontadas a partir do diagnóstico tendo por referência sempre responsáveis, cronograma.
à intencionalidade assumida. Assim, cada problema
constatado, cada necessidade apontada é preciso definir uma Esses são alguns elementos que devem ser abordados no
proposta de ação. projeto pedagógico.

Esta proposta de ação pode ser pensada a partir de grandes Geralmente encontram-se documentos com a seguinte
metas. Para cada meta pode-se definir ações permanentes, organização: apresentação, dados de identificação,
ações de curto, médio e longo prazo, normas e estratégias para organograma, histórico, filosofia, pressupostos teóricos e
atingir a meta definida. Além disso, é preciso justificar cada metodológicos, objetivos, organização curricular, processo de
meta, traçar seus objetivos, sua metodologia, os recursos avaliação da aprendizagem, avaliação institucional, processo
necessários, os responsáveis pela execução, o cronograma e de formação continuada, organização e utilização do espaço
como será feita a avaliação. físico, projetos/programas, referências, anexos, apêndices,
dentre outros.
Com base nesses três momentos que devem estar
dialeticamente articulados elabora-se o projeto político- Contudo, a participação da coordenação pedagógica
pedagógico, o qual precisa também de forma coletiva ser nesse processo é fundamental, pois o trabalho é garantir a
executado, avaliado e (re)planejado. satisfação do bom atendimento em prol de toda a
instituição.
Etapas
Avaliação
As etapas de elaboração de um projeto pedagógico podem
assim ser definidas: Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a
reflexão com base em dados concretos sobre como a escola
Cronograma de trabalho e definição da divisão de organiza-se para colocar em ação seu projeto político-
tarefas: definição da periodicidade e das tarefas para a pedagógico. A avaliação do projeto político-pedagógico, numa
elaboração do projeto pedagógico. Definir um prazo faz com visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade
que haja organização e compromisso com o trabalho de escolar, busca explicar e compreender ceticamente as causas
elaboração. da existência de problemas bem como suas relações, suas
mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação
Histórico da instituição: sua criação, ato normativo, coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
origem de seu nome, etc.
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global,
Abrangência da ação educativa referente: analisam o projeto político-pedagógico, não como algo
- Nível de ensino e suas etapas; estanque desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não
- Modalidades de educação que irá atender; rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um
- Aos profissionais, considerando: à área, o trabalho da compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia
equipe pedagógica e administrativa; das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar
- À comunidade externa: entorno social. o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da
própria organização do trabalho pedagógico.
Objetivos: gerais, observando os objetivos definidos pela
instituição. Considerando a avaliação dessa forma é possível salientar
dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato
Princípios legais e norteadores da ação: a instituição dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto político-
deve observar ainda os planos e Políticas (federal, estadual ou pedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às ações dos
municipal) de Educação. A partir da identificação dos educadores e dos educandos.
princípios registrados nas legislações em vigor, deve explicitar
o sentido que os mesmos adquirem em seu contexto de ação. O processo de avaliação envolve três momentos: a
descrição e a problematização da realidade escolar, a
Currículo: identificar o paradigma curricular em compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e
concordância com sua opção do método, da teoria que orienta a proposição de alternativas de ação, momento de criação
sua prática. Implica, necessariamente, a interação entre coletiva.
sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um
referencial teórico que o sustente. A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser
instrumento de exclusão dos alunos provenientes das classes
Programa de formação continuada: concepção, trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer
objetivos, eixos, política e estratégia. o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de
conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos
Formas de relacionamento com a comunidade: historicamente e deve ser resultante de um processo coletivo
concepção de educação comunitária, princípios, objetivos e de avaliação diagnóstica.
estratégias.
Questões
Organização do tempo e do espaço escolar: cronograma
de atividades. 01. (Pref. Lagoa da Prata/MG - Especialista
- diárias, semanais, bimestrais, semestrais, anuais. Educacional – FGR)

Conhecimentos Pedagógicos 17
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“A construção do Projeto Político-Pedagógico (PPP) é um alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais
processo dinâmico e permanente, pois continuamente novos eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de
atores se incorporam ao grupo, trazendo novas experiências, esforços e recursos.
capacidades e necessidades, assim como novo interesses e
talentos, exigindo que novas frentes de trabalho se abram. O Planejamento também pressupõe a necessidade de um
É um eterno diagnosticar, planejar, repensar, começar e processo decisório que ocorrerá antes, durante e depois de sua
recomeçar, analisar e avaliar.” elaboração e implementação na escola. Este processo deve
conter ao mesmo tempo, os componentes individuais e
(VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.). organizacionais, bem como a ação nesses dois níveis deve ser
Escola: espaço do projeto político pedagógico. orientada de tal maneira que garanta certa confluência de
Campinas, SP: Papirus, 1998, pág. 183) interesses dos diversos fatores alocados no ambiente escolar.

Tendo como referência a construção do PPP, marque V O processo de planejar envolve, portanto, um modo de
para as alternativas VERDADEIRAS e F para as FALSAS. pensar; e um salutar modo de pensar envolve indagações; e
indagações envolvem questionamentos sobre o que fazer,
( ) Eliminação das relações verticalizadas entre a escola e como, quando, quanto, para quem, por que, por quem e onde.
os dirigentes educacionais. É um processo de estabelecimento de um estado futuro
( ) Realização de trabalho padronizado, repetitivo e desejado e um delineamento dos meios efetivos de torna-lo
mecânico, desconsiderando as diferenças entre os agentes realidade justifica que ele antecede à decisão e à ação.
educativos.
( ) O currículo se restringe ao cumprimento das atividades Elementos Constitutivos do Planejamento
do livro didático, que passa a ser utilizado como um fim e não
um meio. Objetivos e Conteúdos de Ensino: Os objetivos
( ) A elaboração do PPP possibilita aos profissionais da determinam de antemão os resultados esperados do processo
educação e aos alunos a vivência do processo democrático. entre o professor e o aluno, determinam também a gama de
habilidades e hábitos a serem adquiridos. Já os conteúdos
A sequência CORRETA, de cima para baixo é: formam a base da instrução.
(A) V, F, F, V. A prática educacional baseia-se nos objetivos por meio de
(B) F, F, F, V. uma ação intencional e sistemática para oferecer
(C) V, F, V, V. aprendizagem. Desta forma os objetivos são fundamentais
(D) F, V, V, F. para determinação de propósitos definidos e explícitos quanto
às qualidades humanas que precisam ser adquiridas. Os
02. (IFBA - Professor - FUNRIO) O projeto educacional é, objetivos têm pelo menos três referências fundamentais para
respectivamente, político e pedagógico, porque a sua formulação.
(A) perpetua valores da cultura da sociedade a que atende - Os valores e ideias ditos na legislação educacional.
e impõe as opções pedagógicas da unidade de ensino - Os conteúdos básicos das ciências, produzidos na história
(B) reproduz os valores sociais e culturais e propõe opções da humanidade.
educativas que levam à construção de ideais pedagógicos. - As necessidades e expectativas da maioria da sociedade.
(C) favorece a formação dos sujeitos para um tipo de
sociedade que se deseja e define as ações para que a escola Métodos e Estratégias: O método por sua vez é a forma
cumpra suas intenções educativas. com que estes objetivos e conteúdos serão ministrados na
(D) responde às demandas da sociedade e organiza as prática ao aluno. Cabe aos métodos dinamizar as condições e
estratégias pedagógicas traçadas pela direção e coordenação modos de realização do ensino. Refere-se aos meios utilizados
pedagógica da escola. pelos docentes na articulação do processo de ensino, de acordo
(E) repete as estruturas sociais e especifica o trabalho com cada atividade e os resultados esperados.
pedagógico em linhas científicas, acadêmicas e educativas. As estratégias visam à consecução de objetivos, portanto,
há que ter clareza sobre aonde se pretende chegar naquele
03. (DEPEN – Pedagogo - CESPE) São funções do projeto momento com o processo de ensino e de aprendizagem. Por
político-pedagógico: diagnóstico e análise da realidade, isso, os objetivos que norteiam devem estar claros para os
definição de objetivos e eixos norteadores, determinação de sujeitos envolvidos – professores e alunos.
atividades e responsabilidades a serem assumidas, além da
avaliação dos processos e resultados previstos. Multimídia Educativa: A multimídia educativa é uma
( ) Certo ( ) Errado estratégia de ensino e de aprendizagem que pode ser utilizada
por estudantes e professores. É imperativa a importância das
Respostas multimídias educativas com uso da informática no processo
educativo como uma ferramenta auxiliar na educação.
01. A / 02. C / 03. Certo
Avaliação Educacional: É uma tarefa didática necessária
e permanente no trabalho do professor, deve acompanhar
Planejamento e Plano todos os passos do processo de ensino e de aprendizagem. É
Escolar/Ensino. através dela que vão sendo comparados os resultados obtidos
no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos,
conforme os objetivos propostos, a fim de verificar progressos,
Conceito de Planejamento dificuldades e orientar o trabalho para as correções
necessárias.
O Planejamento pode ser conceituado como um processo, A avaliação insere-se não só nas funções didáticas, mas
considerando os seguintes aspectos: produção, pesquisa, também na própria dinâmica e estrutura do Processo de
finanças, recursos humanos, propósitos, objetivos, estratégias, Ensino e de Aprendizagem.
políticas, programas, orçamentos, normas e procedimentos,
tempo, unidades organizacionais etc. Desenvolvido para o

Conhecimentos Pedagógicos 18
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APOSTILAS OPÇÃO

Níveis de Planejamento Requisitos do Planejamento Educacional

- Aplicação do método científico na investigação da


realidade educativa, cultural, social e econômica do país;
- Apreciação objetiva das necessidades, para satisfazê-las a
curto, médio e longo prazo;
- Apreciação realista das possibilidades de recursos
humanos e financeiros, a fim de assegurar a eficácia das
soluções propostas;
- Previsão dos fatores mais significativos que intervêm no
desenvolvimento do planejamento;
- Continuidade que assegure a ação sistemática para
alcançar os fins propostos;
- Coordenação dos serviços da educação, e destes com os
demais serviços do Estado, em todos os níveis da
administração pública;
- Avaliação periódica dos planos e adaptação constante
destes mesmos às novas necessidades e circunstâncias;
Planejamento Educacional
- Flexibilidade que permita a adaptação do plano a
situações imprevistas ou imprevisíveis;
Planejamento educacional é aplicar à própria educação
- Trabalho de equipe que garanta uma soma de esforços
àquilo que os verdadeiros educadores se esforçam por
eficazes e coordenados;
inculcar em seus alunos: uma abordagem racional e científica
- Formulação e apresentação do plano como iniciativa e
dos problemas. Tal abordagem supõe a determinação dos
esforço nacionais, e não como esforço de determinadas
objetivos e dos recursos disponíveis, a análise das
pessoas, grupos e setores”.16
consequências que advirão das diversas atuações possíveis, a
escolha entre essas possibilidades, a determinação de metas
Pressupostos Básicos do Planejamento Educacional
específicas a atingir em prazos bem definidos e, finalmente, o
desenvolvimento dos meios mais eficazes para implantar a
- O delineamento da filosofia da educação do país,
política escolhida.
evidenciando o valor da pessoa e da escola na sociedade;
- A aplicação da análise - sistemática e racional - ao
O planejamento educacional significa bem mais que a
processo de desenvolvimento da educação, buscando torná-lo
elaboração de um projeto contínuo que engloba uma série de
mais eficiente e passível de responder com maior precisão às
operações interdependentes.
necessidades e objetivos da sociedade.
O Planejamento do Sistema de Educação é o de maior
Podemos, portanto, considerar que o planejamento
abrangência (enquanto um dos níveis de planejamento na
educacional constitui a abordagem racional e científica dos
educação escolar), correspondendo ao planejamento que é
problemas da educação, envolvendo o aprimoramento gradual
feito em nível nacional, estadual ou municipal. Incorpora e
de conceitos e meios de análise, visando estudar a eficiência e
reflete as grandes políticas educacionais. Enfrenta os
a produtividade do sistema educacional, em seus múltiplos
problemas de atendimento à demanda, alocação e
aspectos.
gerenciamento de recursos etc.
Planejamento Curricular
Objetivos do Planejamento Educacional
Planejamento curricular é o processo de tomada de
São objetivos do planejamento educacional, segundo
decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É a previsão
Joanna Coaracy15:
sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno. É o
- “relacionar o desenvolvimento do sistema educacional
instrumento que orienta a educação como um processo
com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural
dinâmico e integrado de todos os elementos que interagem
do país, em geral, e de cada comunidade, em particular;
para consecução dos objetivos, tanto os dos alunos como os da
- “estabelecer as condições necessárias para o
escola.
aperfeiçoamento dos fatores que influem diretamente sobre a
eficiência do sistema educacional (estrutura, administração,
O Planejamento curricular, enquanto um dos níveis dos
financiamento, pessoal, conteúdo, procedimentos e
planejamentos da educação escolar é a proposta geral das
instrumentos);
experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela
- alcançar maior coerência interna na determinação dos
escola, incorporada nos diversos componentes curriculares.
objetivos e nos meios mais adequados para atingi-los;
- conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do
Enquanto um dos níveis do planejamento na educação
sistema”.
escolar, o Planejamento curricular é a proposta geral das
experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela
É condição primordial do processo de planejamento
escola, incorporada nos diversos componentes curriculares
integral da educação que, em nenhum caso, interesses
desde as séries iniciais até as finais.
pessoais ou de grupos possam desviá-lo de seus fins essenciais
que vão contribuir para a dignificação do homem e para o
A proposta curricular pode ter como referência os
desenvolvimento cultural, social e econômico do país.
seguintes elementos:
- Fundamentos da disciplina;
- Área de estudo;

15COARACY, Joanna. O planejamento como processo. Revista Educação, Ano I, 16 UNESCO, Seminário Interamericano sobre planejamento integral na

no. 4, Brasília, 1972. educação. Washington. 1958.

Conhecimentos Pedagógicos 19
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APOSTILAS OPÇÃO

- Desafios Pedagógicos; O professor, ao planejar o trabalho, deve estar


- Encaminhamento Metodológico; familiarizado com o que pode pôr em prática, de maneira que
- Propostas de Conteúdos; possa selecionar o que é melhor, adaptando tudo isso às
- Processos de Avaliação. necessidades e interesses de seus alunos. Na maioria das
situações, o professor dependerá de seus próprios recursos
Objetivos do Planejamento Curricular para elaborar seus planos de trabalho. Por isso, deverá estar
bem informado dos requisitos técnicos para que possa
- Ajudar aos membros da comunidade escolar a definir planejar, independentemente, sem dificuldades.
seus objetivos;
- Obter maior efetividade no ensino; Ainda temos a considerar que as condições de trabalho
- Coordenar esforços para aperfeiçoar o processo de diferem de escola para escola, tendo sempre que adaptar seus
ensino e de aprendizagem; projetos às circunstâncias e exigências do meio. Considerando
- Propiciar o estabelecimento de um clima estimulante que o ensino é o guia das situações de aprendizagem e que
para o desenvolvimento das tarefas educativas. ajuda os estudantes a alcançarem os resultados desejados, a
ação de planejá-lo é predominantemente importante para
Requisitos do Planejamento Curricular incrementar a eficiência da ação a ser desencadeada no âmbito
escolar.
O planejamento curricular deve refletir os melhores meios
de cultivar o desenvolvimento da ação escolar, envolvendo, O professor, durante o período (ano ou semestre) letivo,
sempre, todos os elementos participantes do processo. pode organizar três tipos de planos de ensino. Por ordem de
abrangência:
Seus elaboradores devem estar alertas paras novas - Plano de Curso - delinear, globalmente, toda a ação a ser
descobertas e para os novos meios postos ao alcance das empreendida;
escolas. Estes devem ser minuciosamente analisados para - Plano de Unidade – disciplinar partes da ação pretendida
verificar sua real validade naquele âmbito escolar. Posto isso, no plano global;
fica evidente a necessidade dos organizadores explorarem, - Plano de Aula - especificar as realizações diárias para a
aceitarem, adaptarem, enriquecerem ou mesmo rejeitarem concretização dos planos anteriores.
tais inovações.
Pelo significativo apoio que o planejamento empresta à
O planejamento curricular é de complexa elaboração. atividade do professor e alunos, é considerado etapa
Requer um contínuo estudo e uma constante investigação da obrigatória de todo o trabalho docente. O planejamento tende
realidade imediata e dos avanços técnicos, principalmente na a prevenir as vacilações do professor, oferecendo maior
área educacional. Constitui, por suas características, base vital segurança na consecução dos objetivos previstos, bem como
do trabalho. A dinamização e integração da escola como uma na verificação da qualidade do ensino que está sendo
célula viva da sociedade, que palmilha determinados caminhos orientado pelo mestre e pela escola.
conforme a linha filosófica adotada, é o pressuposto inerente a
sua estruturação. Planejamento Escolar

O planejamento curricular constitui, portanto, uma tarefa O Planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui
contínua a nível de escola, em função das crescentes exigências tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua
de nosso tempo e dos processos que tentam acelerar a organização e coordenação em face dos objetivos propostos,
aprendizagem. Será sempre um desafio a todos aqueles quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de
envolvidos no processo educacional, para busca dos meios ensino. É um processo de racionalização, organização e
mais adequados à obtenção de maiores resultados. coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar
e a problemática do contexto social.
Planejamento de Ensino
Planejamento global da escola é o nível do planejamento
Planejamento de ensino é o processo que envolve a que corresponde às decisões sobre a organização,
atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho funcionamento e proposta pedagógica da escola. É o que o que
pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações o mais requer a participação conjunta da comunidade.
tempo todo. Envolve permanentemente as interações entre os
educadores e entre os próprios educandos. O Planejamento da escola, enquanto outro nível do
planejamento na educação escolar é o que chamamos de
Objetivos do Planejamento de Ensino “Projeto Educativo” - sendo o plano global da instituição.
Compõem-se de Marco Referencial, Diagnóstico e
- Racionalizar as atividades educativas; programação. Envolve as dimensões pedagógicas,
- Assegurar um ensino efetivo e econômico; administrativas e comunitárias da escola.
- Conduzir os alunos ao alcance dos objetivos;
- Verificar a marcha do processo educativo. O Planejamento anual da escola consiste em elaborar a
estratégia de ação para o prazo de um ano - conforme a
Requisitos do Planejamento do Ensino realidade específica de cada escola - tomando decisões sobre o
que, para que, como e com o que se vai fazer o trabalho na
Por maior complexidade que envolva a organização da escola o período proposto levando em conta as linhas tiradas
escola, é indispensável ter sempre bem presente que a no plano global.
interação professor-aluno é o suporte estrutural, cuja
dinâmica concretiza ao fenômeno educativo. Portanto, o Projetos Educativos
planejamento de ensino deve ser alicerçado neste pressuposto
básico. É o primeiro grande instrumento de planejamento da ação
educativa da escola, devendo por isso, servir
permanentemente de ponto de referência e orientação na

Conhecimentos Pedagógicos 20
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APOSTILAS OPÇÃO

atuação de todos os elementos da Comunidade Educativa em Para Vidal, Cárave e Florencio20, o projeto educativo é:
que a escola se insere, em prol da formação de pessoas e - Um meio de adequação das intenções educativas da
cidadãos cada vez mais cultos, autônomos, responsáveis, sociedade às características concretas de uma escola;
solidários e democraticamente comprometidos na construção - Elemento orientador do conjunto de atividades
de um destino comum e de uma sociedade melhor. educativas de uma escola;
- Instrumento integrador das atividades educativas de uma
Um Projeto Educativo é, segundo a definição de Costa17, um escola;
“documento de caráter pedagógico que, elaborado com a - Garantia de coerência e de continuidade nas diferentes
participação da comunidade educativa, estabelece a atuações dos membros de uma comunidade escolar;
identidade da própria escola através da adequação do quadro - Critério para avaliar e homologar os processos;
legal em vigor à sua situação concreta, apresenta o modelo - Documento dinâmico para definir as estruturas e
geral de organização e os objetivos pretendidos pela estratégias organizacionais da escola;
instituição e, enquanto instrumento de gestão, é ponto de - Ponto de referência para a solução dos conflitos de
referência orientador na coerência da ação educativa”. convivência.

Isto é, um Projeto Educativo é um documento de O projeto educativo traduz o engajamento da instituição


orientação pedagógica que, não podendo contrariar a escolar, suas prioridades, seus princípios. Ele define o sentido
legislação vigente, explicita os princípios, os valores, as metas de suas ações e fixa as orientações e os meios para colocá-las
as estratégias através das quais a escola propõe realizar a sua em prática. É formulado por um documento escrito que
função educativa. estabelece a identidade da escola (diz o que ela é), apresenta
seus propósitos gerais (diz o que ela quer) e descreve seu
Barbier18 distingue dois tipos de projeto – o projeto de modelo geral de organização (diz como ela se organiza).
situação (“representações relativas ao estado final do objeto,
da identidade, da situação que se procura transformar ou Concebido como um projeto de longo prazo, ele visa
modificar”) e o projeto do processo (“representações relativas favorecer a continuidade e a coerência da ação da escola.
ao processo que permite chegar a este estado final”). Embora não seja um documento inalterável, não deverá estar
sujeito a profundas e constantes alterações anuais. De modo
O projeto é, por um lado, uma “antecipação” relativa a geral, “a sua duração dependerá fundamentalmente da
um estado, uma “representação antecipadora do estado permanência em cada instituição das pessoas que o
final de uma realidade”, uma previsão ou prospectiva, um elaboraram e da estabilidade das suas convicções” (Costa21).
objetivo ou fim a atingir, uma pequena utopia.
Para Vidal, Cárave e Florencio e para Carvalho e Diogo22, o
Seu conteúdo não é um acontecimento ou objeto projeto educativo de escola é um documento de planificação
pertencente ao ambiente atual ou passado, mas um fato da ação educativa, de amplitude integral, de duração de longo
possível, uma imagem ou representação de uma possibilidade, prazo e de natureza geral e estratégica. Assim, é mais amplo e
uma ideia a se transformar em ato, um futuro a se “fazer”, uma abrangente do que o projeto pedagógico e o plano de Unidade
possibilidade a se transformar em realidade. Sua relação é com Didática que são meios em relação ao projeto educativo e têm
um “tempo a vir”, “um futuro de que constitui uma como objeto converter as finalidades deste em ações, pois são
antecipação, uma visão prévia” (Barbier). documentos de planificação operatória.

Por outro lado, a função do projeto não se reduz a simples O projeto educativo distingue-se também de outras
representação do futuro. Barbier atribui-lhe ainda um duplo planificações escolares, como o Plano Trienal escolar, o Plano
efeito – o operatório ou pragmático e o mobilizador da anual de Escola, o Projeto curricular de turma e o Regimento
atividade dos atores implicados. interno da Escola, que estão destinados a concretizá-lo
relativamente a aspectos mais operacionais e, portanto, têm
No entendimento de Boutinet19, o projeto implica um um caráter tático, e instrumental.
comprometimento com o futuro. A construção de um projeto
já implica na vontade de fazê-lo acontecer. Daí, seu valor O projeto educativo é elaborado por toda a comunidade
pragmático. O projeto não age, pois, dizer não equivale escolar. O projeto educativo da escola é um conjunto de opções
automaticamente a fazer, mas “dizer prepara o fazer”. ideológicas, políticas, antropológicas, axiológicas e
pedagógicas resultantes da tensão entre o estabelecido ou
O projeto expressa a representação da realização da ação, imposto pelo Estado (projeto vertical), a prática implícita
ou seja, a imagem do resultado da ação. “No caso de uma ação interna à escola (projeto ritual) e a postura utópica ou
coletiva[...], escreve Barbier, é o projeto que fornece a intencional da comunidade escolar (projeto intencional).
representação comum que permite a realização coordenada
das operações de execução”. Na sua função mobilizadora, o Dimensões do projeto educativo, citadas por Carvalho e
projeto apresenta, no plano afetivo, efeitos dinamizadores da Diogo:
atividade dos atores implicados.
O projeto deve servir a incerteza, ter em conta o
Nossas imagens ou representações constituem um indeterminado, ser capaz de infletir de direção como resultado
elemento dinamizador da mudança e, portanto, um fator de de uma avaliação permanente, incorporar o conflito, mas,
concretização do projeto. sobretudo, devolver a cada indivíduo o seu espaço de
criatividade e ação de modo a que ele sinta reconhecida a sua

17 COSTA, Adelino Jorge: "Construção de projetos educativos nas escolas: 20 VIDAL, J. G., CÁRAVE, G. e FLORENCIO, M. A. (1992). Madrid: Editorial EOS.
traços de um percurso debilmente articulado." - Revista Portuguesa de Educação, 21 COSTA, J. A. (1992). Gestão escolar: Participação, autonomia, projecto
Volume 17, nº 2. educativo da escola. Lisboa: Texto Editora.
18 BARBIER, J.-M. (1993). Elaboração de projectos de acção e planificação. 22 CARVALHO, A. E DIOGO, F. (1994). Projecto educativo. Porto: Edições

Porto: Porto Editora. Afrontamento.


19 BOUTINET, J. P. (1986). Le concept de projet e ses niveaux. Éducation

Permanente, nº 86.

Conhecimentos Pedagógicos 21
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APOSTILAS OPÇÃO

atividade, compreenda as suas ações e as possa inscrever num 02. (SEDF - Professor de Educação Básica -
todo significativo. Quadrix/2017) Quanto ao planejamento e à organização do
trabalho pedagógico, julgue o item subsecutivo.
Neste sentido, o projeto educativo deve ser coletivo, mas
favorecendo a interação; autônomo mas não independente. No processo de planejamento e organização do trabalho
Uma tal concepção exige do projeto educativo: pedagógico, as ações estão circunstanciadas no âmbito dos
- explicitação de valores comuns; vários elementos que compõem o universo escolar, devendo
- coerência de atividades; ser dada importância máxima àquelas circunscritas à prática
- busca coletiva de recursos e meios para melhorar o pedagógica do professor e à sua formação.
ensino; ( ) Certo ( ) Errado
- definição de ação;
- definição de um sentido para uma ação comum; 03. (Pref. Rio de Janeiro/RJ - Professor de Ensino
- gestão participativa; Fundamental - Pref./2016) José Carlos Libâneo, em seu livro
- avaliação permanente, participada e interativa; Didática, declara:
- implicação do conjunto dos atores;
- apropriação de saberes e instrumentos de ação por parte (...) A ação de planejar, portanto, não se reduz ao simples
dos implicados. preenchimento de formulários para controle administrativo;
é, antes, a atividade consciente de previsão das ações docentes
Em suma, concebendo-se como uma adaptação do “projeto (...)
educacional” do país (leis e diretrizes curriculares) ao nível LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1990.
específico local, como uma programação geral da escola e Pág.222
como um instrumento de autonomia didático-pedagógica e
organizativa da escola, o projeto educativo da escola se Nesse trecho, o autor destaca uma das características do
caracteriza por quatro categorias metodológicas (Baldacci23): planejamento pedagógico, que é:
- a intencionalidade; (A) a flexibilidade
- a contextualização; (B) a contextualidade
- a metodicidade; e (C) a intencionalidade
- a flexibilidade. (D) o rigor administrativo

Pela intencionalidade, o projeto educativo estabelece 04. (Pref. Nova Friburgo/RJ - Professor de Ciências -
direção e metas precisas e explícitas, evitando a ação educativa Exatus) Assinale (V) para as alternativas verdadeiras e (F)
casual e extemporânea. para as falsas:
( ) O planejamento escolar não assegura a unidade e a
A contextualização representa a adaptação do projeto coerência do trabalho docente.
educacional do país à realidade sociocultural concreta de uma ( ) O planejamento escolar não inter-relaciona ao plano de
escola. A intencionalidade passa a ser “historicizada”, ou seja, aula.
contextualizada num ambiente de referência específico, o que ( ) O planejamento escolar é um processo contínuo e
permite a passagem de um projeto abstrato para um projeto dinâmico.
concreto. ( ) O planejamento escolar deve ser dialógico e flexível.

A metodicidade valoriza o princípio de sistematicidade e Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA
organicidade no processo didático, mesmo reconhecendo as de cima para baixo:
diferenças de estilo de aprender e ensinar de alunos e
professores, respectivamente. (A) V, V, F, V.
(B) F, F, V, V.
Finalmente, a flexibilidade assegura que o projeto (C) V, F, V, F.
educativo seja tratado como uma mera hipótese de trabalho e (D) F, V, V, F.
por isso está sujeito a retificações e revisões ao longo de sua
implementação. Respostas

Questões 01. E / 02. Errado / 03. C / 04. B

01. (IFB - Professor Pedagogia - IFB/2017) Em relação


aos aspectos do planejamento, assinale a opção que contenha
a CORRETA sequência hierárquica do mais amplo ao mais Formação Continuada.
restrito, em relação ao planejamento:
(A) planejamento escolar; planejamento educacional;
planejamento de ensino; planejamento curricular; Formação Continuada do Professor24.
(B) planejamento curricular; planejamento educacional;
planejamento escolar; planejamento de ensino; A busca da qualidade de ensino na formação básica voltada
(C) planejamento de ensino; planejamento curricular; para a construção da cidadania, para uma educação
planejamento escolar; planejamento educacional; sedimentada no aprender a conhecer, aprender a fazer,
(D) planejamento de ensino; planejamento educacional; aprender a conviver e aprender a ser e para as novas
planejamento curricular planejamento escolar; necessidades do conhecimento, exige necessariamente,
(E) planejamento educacional; planejamento escolar; repensar a formação inicial de professores, assim como requer
planejamento curricular; planejamento de ensino. um cuidado especial com a formação continuada desse
profissional com um olhar crítico e criativo. Essa preocupação

23 BALDACCI, M. (1996). La scuola dell´autonomia: Il Progetto educativo 24 Texto adaptado de COSTA, N. M. L.


d´Istituto. Bari: Maria Adda Edittore.

Conhecimentos Pedagógicos 22
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APOSTILAS OPÇÃO

é relevante, tendo em vista o atual contexto de reformas produção do conhecimento, os quais são: a universidade e os
educacionais, que visam a dar respostas à complexa sociedade demais espaços vinculados a ela. Nessa perspectiva, considera-
contemporânea. se que a universidade é o local em que circulam as informações
Este é um tema de particular atualidade em função da mais recentes, as novas tendências e buscas nas mais
recente reforma implementada em todos os níveis da diferentes áreas do conhecimento. Embora não se questione
educação brasileira, Educação Infantil, Ensino Fundamental, tanto essa realidade, existe um aspecto crítico nessa visão,
Ensino Médio e hoje em discussão a do Ensino Superior. qual seja, a desconsideração das escolas de Ensino
Uma reforma que merece um domínio profundo por parte Fundamental e Médio como produtoras de conhecimento e
dos atores que de fato conduzem o processo ensino- passa-se a considerá-las como espaços meramente destinados
aprendizagem. Pois, as mudanças implementadas são de à prática, local onde se aplica conhecimentos científicos e se
cunho filosófico, metodológico e sociológico implica numa adquire experiência profissional.
postura dialética frente ao conhecimento, compreensão de As pesquisas na área têm confirmado que é esse modelo
processos cognitivos e metacognitivos, domínio do conceito de clássico, que vem sendo praticado nos sistemas educacionais
competência e sua construção na escola, entre outras para a formação continuada dos profissionais do magistério,
exigências. tem sido o mais promovido e portanto, o mais aceito.
As referidas mudanças educacionais se baseiam em Candau, destaca quatro modalidades em que se
princípios filosóficos inovadores e têm fundamentos apresentam tais iniciativas numa perspectiva tradicional.
epistemológicos da pedagogia crítica. Porém, ao mesmo tempo Sob a forma de convênios entre universidades e
tem como pilar de sustentação um movimento político-social secretarias de educação, em que as universidades destinam
de clara hegemonia do projeto neoliberal. vagas para formar professores em exercício do ensino
Na implantação de qualquer proposta pedagógica que fundamental e médio nos cursos de graduação e licenciatura.
tenha implicações em novas posturas frente ao conhecimento, A oferta de cursos de especialização através de convênios
conduzindo a uma renovação das práticas no processo ensino- entre instituições universitárias e secretarias de educação,
aprendizagem, a formação continuada de professores assume visando à melhoria da qualidade de ensino tem sido muito
um espaço de grande importância. praticada. Esses cursos são realizados em regime normal
A formação continuada de docentes é um tema complexo e presencial ou na modalidade a distância, lançando mão de
que pode ser abordado a partir de diferentes enfoques e diferentes estratégias como, correspondência, via fax, vídeos,
dimensões. A história mostra a existência do modelo clássico computador, teleconferência, ou outras mídias. Atualmente,
no planejamento e na implementação de programas de no Brasil, existe um grande interesse na realização de cursos à
formação, bem como o surgimento de novas tendências de distância e várias universidades já estão começando a montar
educação continuada praticadas na área profissional da cursos de aperfeiçoamento de professores nesta modalidade,
educação, como também em outros contextos não só para a rede pública, como também para a rede privada
profissionalizantes. de ensino.
Será abordada uma discussão a respeito das características Embora tais experiências não estejam restritas à área de
do modelo clássico e das novas tendências na formação educação, as possibilidades que as novas tecnologias
continuada de professores, suas contribuições para a apresentam podem ser muito bem exploradas em prol da
profissionalização docente, bem como as implicações na formação continuada, rompendo propostas tradicionais,
operacionalização das propostas coexistentes e ainda, aponta distâncias geográficas e temporais. Mesmo lançando-se mão
caminhos para atender às atuais necessidades na formação de dos recursos tecnológicos, tais experiências mantêm ainda, as
professores. características do modelo clássico de formação continuada.

Modelos de educação continuada Uma terceira modalidade de formação continuada, na


perspectiva tradicional, são as ações promovidas por órgãos
O modelo clássico de formação continuada para docentes responsáveis pelas políticas educacionais como, Secretarias de
traduz-se no que vem sendo feito historicamente nas Educação dos estados e municípios e/ou o próprio Ministério
iniciativas de renovação pedagógica. A ênfase é dada na de Educação, ofertando cursos de caráter presencial ou à
atualização da formação recebida ou numa “reciclagem” que distância.
significa “refazer o ciclo”. Além dos cursos promovidos de natureza presencial,
Candau utiliza o termo reciclagem diferentemente de insere-se também nessa modalidade programas de formação
outros interessados no assunto que discordam da expressão continuada a distância como os veiculados pela TV Escola, que
por atribuírem a palavra “reciclar” como um termo próprio do se constitui numa formação aberta a todas as escolas públicas
processo industrial e aplicado à reutilização de materiais que possuam antena parabólica, receptor, TV e vídeo. O
recicláveis não condizente com a atual discussão da formação programa é vinculado ao Ministério da Educação e coordenado
docente. em todos os Estados pelas respectivas Secretarias de
Na visão de Prada, os termos empregados para nomear os Educação. Embora estas iniciativas possuam características do
programas de formação continuada de professores estão modelo clássico, apresentam condições de ser trabalhada
impregnados da concepção filosófica que orienta o processo, numa perspectiva de práticas inovadoras, onde as escolas se
recebendo também influências da região, país e instituições assumam enquanto lugares de formação como um exemplo
envolvidas, entre outros fatores. vivo desse aspecto da interface.
No modelo clássico, caracterizado por vários estudiosos, o Como quarta modalidade surge mais recentemente, ação
professor que já atua profissionalmente com sua formação de apoio às escolas, em que se incluem componentes de
inicial volta à universidade para renovar seus conhecimentos formação continuada de professores em atividade. A partir de
em programas de atualização, aperfeiçoamento, programas de um slogan “adote uma escola”, universidades ou empresas
pós- graduação de latu sensu e strictu sensu, ou ainda, “adotam” uma escola situada em suas proximidades e
participando de cursos, simpósios, congressos e encontros desenvolvem programas específicos de colaboração em
voltados para seu desenvolvimento profissional. Esses, diferentes aspectos, oferecendo bolsas de estudos,
promovidos pelas Secretarias de Educação, onde os docentes equipamentos e outras formas de colaboração. No caso das
estão vinculados ou por outras entidades interessadas na área. universidades, oferecem programas de aperfeiçoamento em
Nesse modelo, permeia uma perspectiva de privilégios aos serviço para os professores.
espaços considerados tradicionalmente como lócus da

Conhecimentos Pedagógicos 23
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APOSTILAS OPÇÃO

Na visão de Demailly25, os modelos de formação necessariamente híbridas, apelando segundo uma coerência
continuada de professores, classificam-se em quatro estilos ou própria e contextualizada a diferentes contributos teóricos
categorias, a saber: metodológicos”. Nesse sentido, confirma Demailly, a
inexistência de “formas no estado puro”.
- A forma universitária, que tem como finalidade a É de suma importância o conhecimento desses diferentes
transmissão dos saberes teóricos. Tem características modelos, a compreensão de que eles se materializam na
semelhantes à dos profissionais liberais-clientes, por ter caráter prática da formação docente de maneira mista e criam novas
voluntário e pela relação constituída entre formador-formando, formas e representações nessa complexa teia de atuações
os mestres são produtores do saber e o aluno funciona como rumo à melhoria da profissionalização docente. Porém, a
receptor dos conhecimentos. experiência tem mostrado bons resultados na metodologia
- A forma escolar, onde estão organizados todos os cursos ativa, construtivista e que proporcione ação-reflexão-ação.
através de um poder legítimo, exigem escolaridade obrigatória Nesse contexto, não importa muito a forma em que se dão
e existe uma instância organizadora onde os formadores não os programas de educação continuada. O que prevalece é a
são responsáveis pelo programa nem por decisões concepção filosófica entre teoria e prática, a compreensão do
administrativas. Possuem um papel passivo em termos de papel da universidade e das escolas de educação básica no
planejamento. processo de produção de conhecimento e qual o sentimento do
- A forma contratual se caracteriza pela negociação entre os profissional da educação e o sentido das instituições
diferentes parceiros. Estes estão ligados por uma relação de formadoras, enquanto agente de socialização de
troca ou contratual do programa pretendido, modalidades conhecimentos, voltadas para a melhoria do processo ensino-
materiais e ações pedagógicas da aprendizagem. aprendizagem e da profissionalização docente.
- A forma interativo-reflexiva, bastante presente nas
iniciativas de formação voltadas para a resolução de problemas Novas tendências e recursos para um novo caminhar
reais. Nessa modalidade, está presente uma ajuda mútua entre
formandos e uma ligação à situação de trabalho. Em contrapartida à concepção clássica, atualmente vem se
desenvolvendo reflexões, anseios e pesquisas científicas,
Dentro desta concepção, a autora toma uma posição e visando à construção de uma nova concepção e práticas
destaca significativa diferença entre as formas universitária e condizentes com as relevantes necessidades da formação
a interativo-reflexiva. A primeira parece ser mais eficiente no continuada dos educadores. Esses caminhos estão delineando-
plano individual. A segunda, é mais eficiente nos planos se como novas tendências para a formação continuada de
individual e coletivo porque suscita menor resistência por professores. É importante destacar que mesmo existindo
parte dos formandos, permite o prazer da construção modelos distintos como o clássico e as novas tendências,
autônoma, trazendo respostas aos problemas vivenciados, nenhum deles existe isoladamente em seu estado puro,
aborda a prática de maneira global e permite a criação de sempre apresentam interfaces entre eles. Entretanto, é a partir
novos saberes para a profissão. da perspectiva predominante que se identifica em que modelo
Outros autores também defendem a forma interativo- e tendência determinada formação está inserida.
reflexiva como uma maneira organizada e produtiva no As investigações recentes, e que estão conquistando
processo ensino-aprendizagem, conforme afirma Gimeno consenso entre profissionais da educação, tratam de uma
Sacristán. O ensino como atividade racional ou reflexiva, como formação voltada para o professor reflexivo e tem como eixo
um fazer em que se mede cada passo dado e cada opção é fruto central a própria escola. Desse modo, desloca-se o eixo da
de um processo de deliberação, é uma prática utópica a que se formação de professores da universidade para o cotidiano da
aspira. escola de educação básica. Entretanto, ressalta-se que esse
deslocamento é defendido em termos metodológicos, não que
Nóvoa apresenta uma síntese dos modelos já discutidos, se queira depreciar a grande contribuição da universidade na
resumindo-os a dois grandes grupos, nomeando-os de formação docente.
modelos estruturantes e modelos construtivistas. Tal perspectiva rompe com a concepção clássica de
Os modelos estruturantes são organizados previamente a formação continuada muitas vezes concebida como um meio
partir da lógica de racionalidade científica e técnica e ainda de acumulação de cursos, conhecimentos ou técnicas. É
aplicados a diversos tipos de professores. O autor inclui neste entendida como um trabalho reflexivo da prática docente,
grupo as formas universitárias e escolares citadas por como uma forma de reconstrução permanente de uma
Demailly. identidade pessoal e profissional em interação mútua com a
Os modelos construtivistas partem de uma reflexão cultura escolar, com sujeitos do processo e com os
contextualizada para a montagem dos dispositivos de conhecimentos acumulados sobre a área da educação.
formação continuada, visando a uma regulação permanente Para Nóvoa26, todo processo de formação deve ter como
das práticas e do processo de trabalho. referencial o saber docente, o reconhecimento e valorização
Este é um modelo que pode suscitar verdadeiras mudanças desse saber. Não é interessante se desenvolver formação
na prática, pois parte das necessidades dos educadores e se continuada sem levar em consideração as etapas de
constitui em uma aprendizagem significativa, visto que os desenvolvimento profissional do docente, ou seja, seus
estudos teóricos têm ressonância na realidade cotidiana e aspectos psicossociais. Existem grandes diferenças de anseios
visam a resolver questões anteriormente identificadas pelos e necessidades entre o docente em fase inicial, o que já
envolvidos. adquiriu uma considerável experiência pedagógica e o que já
se encaminha para a aposentadoria.
Entretanto, as sistematizações de Demailly e Nóvoa devem Por esta razão, as novas tendências de formação
servir aos educadores como modelos teóricos de análise e não continuada consideram estas diferenças e apontam sérias
como modelos práticos de intervenção. Pois os próprios críticas a situações padronizadas e homogêneas, as quais são
teóricos reconhecem que esses modelos não existem de amplamente conhecidas como “pacotes de formação” que
maneira isolada na prática de formação de professores. Para ignoram tais diferenças e não consideram o contexto no qual o
Nóvoa, “as estratégias de formação continuada são docente está inserido.

25 DEMAILLY, Lise C. Modelos de formação contínua e estratégias de mudança. 26NÓVOA. A. Formação contínua de professores: realidades e perspectivas. Aveiro:
In: NÓVOA, Antonio (org.). Professores e sua formação. Lisboa, Dom Quixote, 1992. Universidade de Aveiro, 1991

Conhecimentos Pedagógicos 24
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Alguns pesquisadores sobre a formação continuada de supervisor em uma escola preocupada com a produção
professores revelam que, nessas tendências inovadoras, coletiva e com a qualidade do processo de formação
destacam-se três eixos que norteiam a prática docente e continuada, quais sejam:
buscam adequá-las aos desafios do momento. Candau27, “Organizar a ‘formação em serviço’ em torno de temas ou
sintetiza esses eixos como pontos centrais de referências para problemas detectados como relevantes ou diretamente
se repensar a formação de professores adequada aos desafios sugeridos pelos professores. Favorecer o acesso dos
do atual contexto. São eles: professores aos conhecimentos científicos em jogo nos
diferentes temas, ultrapassando o senso comum:
- a escola deve ser vista como lócus de formação continuada; a) teorias que analisam o processo educativo de forma
- a valorização dos saberes da experiência docente; ampla (sociologia, antropologia, história, filosofia);
- a consideração do ciclo de vida dos docentes b) estudos relacionados ao processo de construção do
conhecimento (psicologia do desenvolvimento);
Primeiramente, a partir dos estudos de Antonio Nóvoa, a c) conhecimentos que tratam diretamente o tema em
escola é vista como lócus de formação continuada do questão”.
educador. É o lugar onde se evidenciam os saberes e a
experiência dos professores. É nesse cotidiano que o No atual contexto educacional estão postos novos desafios
profissional da educação aprende, desaprende, estrutura para o profissional da pedagogia no cotidiano escolar. Esse
novos aprendizados, realiza descobertas e sistematiza novas novo fazer ultrapassa os aspectos burocráticos de exigências
posturas na sua “práxis”. Eis uma relação dialética entre de planos de aula, de objetivos e avaliação, frequência e notas,
desempenho profissional e aprimoramento da sua formação. os quais necessitam de uma sistematização e de um olhar
Entretanto, essa perspectiva não é simples nem ocorre pedagógico, porém tais pontos não podem consumir o fazer do
espontaneamente. Não basta acreditar que o cotidiano escolar pedagogo/a na dinâmica do processo. Isto se resumiria ao
favorece elementos para essa formação e a partir do seu puro tarefemos, deixando exposta a lacuna do profissional que
trabalho, o professor está se formando continuamente. Nesse conduziria a escola ao espírito inovador e de pesquisa baseado
sentido, o pesquisador alerta: “A formação continuada deve na ação - reflexão - ação.
estar articulada com desempenho profissional dos Nessa perspectiva dinamizadora das atuais tendências de
professores, tomando as escolas como lugares de referência. formação continuada de professores, em que a escola é
Trata-se de um objetivo que só adquire credibilidade se os compreendida como lugar de formação continuada,
programas de formação se estruturarem em torno de orientadores pedagógicos ou supervisores e professores
problemas e de projetos de ação e não em torno de conteúdos necessitam discutir a prática pedagógica, situada num
acadêmicos”. contexto mais amplo e buscar as necessárias soluções.
A fim de que o cotidiano escolar se torne um espaço
significativo de formação profissional é importante que a Conforme Mediano28, esse trabalho parte de dois
prática pedagógica seja reflexiva no sentido de identificar princípios:
problemas e resolvê-los e acima de tudo, seja uma prática
coletiva, construída por grupos de professores ou por todo 1) converter as próprias experiências em situações de
corpo docente de determinada escola. Sendo assim, tem-se aprendizagem e
uma rica construção de conhecimento em que todos se sentem 2) fazer uma reflexão crítica da própria prática pedagógica.
responsáveis por ela.
Nóvoa destaca também a necessidade de se criar novas Entretanto, para que a escola redirecione sua prática
condições para o desencadeamento desse ousado processo, de formação e redimensione o trabalho do pedagogo, é
em que a escola seja explorada em todas suas dimensões imprescindível que os dirigentes de escolas e os órgãos
formativas. gestores da educação em conjunto com essa categoria, revejam
Para a escola se constituir enquanto lócus de formação os aspectos de atuação desse profissional no cotidiano escolar,
continuada, se faz necessária a promoção de experiências contribuam para modificar a representação negativa que foi
internas de formação, que esta iniciativa se articule com o construída nesta profissão ao longo da história, desde a
cotidiano escolar e não desloque o professor para outros própria universidade e passem a compreender que este
espaços formadores. profissional não é um mero assistente ou acessório
Essa compreensão implica na necessidade das instituições pertencente ao quadro administrativo da escola.
escolares criarem espaços e tempos institucionalizados que Nesse sentido, outro fator importante, destaca Mediano, e
favoreçam processos coletivos de reflexão e intervenção na a necessidade de os orientadores pedagógicos se
prática pedagógica através de reuniões pedagógicas, dentro da desvincularem da insegurança que assola esse profissional em
carga horária dos profissionais, construção coletiva do projeto seu novo campo de atuação, ou seja, na formação de
político-pedagógico da escola, inclusive programa de professores em serviço. Para vencer esse desafio, é
formação contínua e avaliação coletiva deste. Cabe, também, importante a troca de experiências e a necessidade de se criar
criar uma forma de incentivo à sistematização de práticas instâncias de trocas e de trabalhos coletivos, bem como se
pedagógicas a partir da metodologia de pesquisa-ação. instalar um clima de confiança entre os pares.
Tardif destaca o segundo eixo das atuais tendências de
Outro aspecto relevante dessa compreensão é a mudança formação continuada, como sendo a valorização do saber
de foco da atuação pedagógica nas instituições escolares. Tal docente. O trabalho desenvolvido parte da investigação dos
mudança implica numa nova concepção do trabalho do saberes dos professores, sua natureza, sua origem, na
pedagogo nas escolas. Isso somente será possível se estiver capacidade de construção e reconstrução de saberes
muito claro qual é o papel desse profissional no atual contexto específicos dos professores e das relações que estes
escolar. E qual o seu compromisso com a formação contínua profissionais estabelecem entre os saberes construídos no
dos docentes desenvolvida na própria escola. Numa visão cotidiano escolar e as ciências da educação.
crítica, Kramer, apresenta dois eixos em que devem ser
sedimentados o trabalho do orientador pedagógico ou

27 CANDAU, Vera Maria (org.).Magistério: construção cotidiana. Petrópolis: 28 MEDIANO, Zélia D. A formação em serviço do professor a partir da pesquisa

Vozes,3ª Edição,1999. e da prática pedagógica. Rio de Janeiro. Tecnologia Educacional. Nº 105/106,


1992, 31-36.

Conhecimentos Pedagógicos 25
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APOSTILAS OPÇÃO

Os saberes da experiência são de extrema importância na Em seus estudos, o autor identifica cinco etapas básicas
profissão docente, se originam no trabalho cotidiano e no que não são estáticas nem lineares, a saber: a entrada na
conhecimento do seu meio. São incorporados à vivência carreira, tempo de sobrevivência e descobertas; a fase de
individual e coletiva e se traduzem em habilidades de saber estabilização, etapa de identificação profissional; a fase de
fazer e saber ser. São conhecimentos que surgem da diversificação, momento de buscas plurais e experimentações;
experiência e são por ela validados. É importante destacar que a etapa de distância afetiva, lugar de serenidade e lamentação;
é através desses conhecimentos experienciados que os e, finalmente, o momento de desinvestimento, próprio do final
professores julgam a formação individual, atribuem valores de carreira profissional.
aos planos e reformas implementados e definem Diante dessas considerações, é possível compreender que
determinados modelos de excelência profissional. Podemos o ciclo da vida profissional é deveras complexo, o qual sofre
compreender da seguinte forma: “eles constituem, hoje, a interferências de múltiplas variáveis, muito embora, no
cultura docente em ação é muito importante que sejamos desempenho da profissão muitas vezes, não são consideradas
capazes de perceber essa cultura docente em ação, que não as mutações e os estágios psicossociais do educador.
pode ser reduzida ao saber cognitivo”. Contribuições dessa natureza são de grande valia para a
É de extrema importância ressaltar a práxis reflexiva na discussão e prática da formação continuada, visto que é
cultura da formação, visto que os saberes adquiridos na imprescindível à compreensão da heterogeneidade desse
experiência ficam relevados ao “ostracismo” e não são processo. É importante a tomada de consciência que as
canalizados e sistematizados para um saber acadêmico. A necessidades, os problemas, as buscas dos professores não
própria Universidade não tem essa vivência, em seus cursos de são as mesmas nos variados momentos de sua profissão.
formação inicial ou continuada para docentes, parte do zero e Essa compreensão impede a realização de programas de
desconsidera um saber construído na experiência que formação que padronizem os profissionais em um mesmo
necessita ser confrontado com a produção acadêmica. lugar comum ou que desconsidere seus interesses e
Para ratificar essa compreensão Nóvoa afirma: “A necessidades.
formação continuada deve alicerçar-se numa reflexão na Nesse sentido, podemos refletir a respeito do ciclo de vida
prática e sobre a prática”, através de dinâmicas de dos educadores articulado às novas tendências de formação
investigação-ação e de investigação-formação, valorizando os centrada numa visão construtivista:
saberes de que os professores são portadores. Essa linha de “É urgente devolver a experiência ao lugar que
pesquisa se constitui em uma importante iniciativa de reflexão merece na aprendizagem dos conhecimentos necessários à
no âmbito educacional. É um espaço de pesquisa emergente e existência (pessoal, social e profissional), na certeza que este
pouco explorado, ainda tem muito a contribuir com o saber processo passa pela constatação que o sujeito constrói o seu
sistematizado da prática docente. saber ativamente ao longo de seu percurso de vida. Ninguém
O terceiro eixo orientador das atuais tendências da se contenta em receber o saber como se ele fosse trazido do
formação continuada de professores centra-se na exterior pelos que detém os seus segredos formais”.
consideração do ciclo de vida dos docentes trabalhados por
Hubermann. É uma visão abrangente e unitária que possui Todas essas contribuições teóricas que concebem a escola
grandes contribuições para a superação da dicotomia teoria - como lócus de formação continuada, valorizam os saberes
prática presente no modelo clássico docentes e reconhecem que os ciclos de vida profissional dos
Essa é uma temática recente no meio acadêmico, vem professores se constituem como pilares para a fomentação das
abrindo uma interessante linha de pesquisa que visa novas tendências na formação docente. Os conceitos e
aproximar as etapas do ciclo profissional de professores, formulações tratados aqui visam à formação do educador
conhecida na psicologia como ciclo de vida do adulto. reflexivo que tem como prática recorrente a ação-reflexão-
As contribuições de Hubermann, professor da Faculdade ação enquanto elemento fundamental para se trilhar novos
de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de caminhos rumo à consolidação de um modelo construtivista
Genebra têm sido significativas para aprofundar o sentido da de formação profissional do educador.
docência enquanto “carreira” profissional. Para o pesquisador
esse conceito apresenta algumas vantagens: Questões
“Em primeiro lugar, permite comparar pessoas no
exercício de diferentes profissões. Depois, é mais focalizado 01. (CONDER - Pedagogo – FGV/2014) Os profissionais
que o estudo de "vida" de uma série de indivíduos. Por outro da educação buscam cursos de formação continuada, sejam
lado, e isso é importante, comporta uma abordagem ao mesmo eles presenciais, semipresenciais ou à distância, oferecidos
tempo psicológica e sociológica. Trata-se, com efeito, de pelas mais diversas instituições.
estudar o percurso de uma pessoa em uma organização (ou Sobre as políticas de formação continuada, assinale a
numa série de organizações) e de compreender como as afirmativa correta.
características dessa pessoa exercem influência sobre a (A) O alvo das políticas de formação continuada são os
organização e são, ao mesmo tempo, influenciadas por ela”. gestores educacionais, já que cada vez mais se faz necessário
que os gestores tenham uma dimensão de gestão democrática
Hubermann29 correlaciona os estudos clássicos do ciclo da e participativa.
vida individual trazidos da Psicologia com os estudos de um (B) Os cursos de formação continuada devem implementar
grupo específico de professores. O autor identifica estágios o mesmo, pois deste modo tem‐se a garantia de que o ensino
durante a carreira docente; passeia pela subjetividade do oferecido será homogêneo e de qualidade para todos.
professor procurando conhecer a imagem que as pessoas têm (C) O processo de formação em que o especialista possui
de si como professores ativos, em diferentes momentos de sua maior domínio do assunto cobre as lacunas que foram
carreira; o nível de competência com o decorrer dos anos, bem ocasionadas na graduação
como procura estabelecer o diferencial entre os professores (D) O foco está nos conteúdos que foram apropriados (ou
que chegam ao fim da carreira com sofrimentos e aqueles que deveriam ter sido apropriados) no processo de formação ao
a finalizam com tranquilidade. longo da graduação.

29 HUBERMAN, M. La vie do enseignants: evolution et bilan de une profession.

Paris: Delachaux et Niestlé, 1989.

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(E) O principal objetivo é aprofundar o conhecimento, penalizados pela repetência, evasão, discriminação, exclusão,
diante do advento das novas tecnologias, da reorganização dos enfim.
processos produtivos e seus reflexos na sociedade. E fácil receber os “alunos que aprendem apesar da escola”
e é mais fácil ainda encaminhar, para as classes e escolas
02. (TCE/PI - Pedagogo – FCC). A educação profissional especiais, os que têm dificuldades de aprendizagem e, sendo
se organiza de maneira a integrar-se às diferentes formas de ou não deficientes, para os programas de reforço e aceleração.
educação, ao trabalho e ao desenvolvimento tecnológico. Pode Por meio dessas válvulas de escape, continuamos a
ser desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por discriminar os alunos que não damos conta de ensinar.
meio de estratégias de educação continuada em instituições Estamos habituados a repassar nossos problemas para outros
especializadas ou no ambiente de trabalho. No caso da colegas, os “especializados” e, assim, não recai sobre nossos
educação continuada, ombros o peso de nossas limitações profissionais.
(A) o acesso ao mercado de trabalho fica vinculado à Segundo proclama a Declaração de Salamanca:
conclusão de cursos regulares, mediante comprovação pelo
histórico escolar. "Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às
(B) os certificados, mesmo registrados, têm validade necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os
restrita a determinadas empresas e em âmbito regional. estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação
(C) considera-se a experiência do aluno e a certificação do de qualidade a todos através de um currículo apropriado,
conhecimento adquirido permite que o trabalhador continue a arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos
estudar e aperfeiçoar-se. e parceria com as comunidades. (...) O desafio que confronta a
(D) por se tratar de educação de jovens e adultos, a escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma
avaliação no processo deve se restringir à observação das pedagogia centrada na criança e capaz de bem sucedidamente
atividades dos alunos. educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam
(E) há restrições legais, em termos de carga horária, desvantagem severa. O mérito de tais escolas não reside somente
conteúdo programático e qualificação dos professores no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação de
instrutores, bem como da validação de cursos. alta qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais
escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes
03. (MMA - Analista Ambiental – CESPE). Com relação a discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de
recursos humanos, julgue o item seguinte. desenvolver uma sociedade inclusiva."
O ensino a distância, uma das modalidades de educação
continuada utilizada nos processos de educação corporativa, Um dos princípios norteadores da Lei de Diretrizes e Bases
não tem proporcionado aos seus participantes melhor Nacionais da Educação – LDB 9.394/96 é o da igualdade de
desempenho de seus papéis nas organizações. condições para o acesso e a permanência na escola. A LDB
( ) Certo ( ) Errado reconhece a educação infantil como direito e prevê a garantia
de condições adequadas à escolarização de jovens, adultos e
Respostas trabalhadores, a qualidade de ensino em todos os níveis e
modalidades educacionais, além de outros direitos e
01. E / 02. C / 03. Errado obrigações (Título III, Artigo 5 I – IX).
A reafirmação de identidades étnicas e o desenvolvimento
de educação escolar bilíngue e intelectual aos povos indígenas
são apontados em diversas proposições. A LDB rompe com o
Educação Inclusiva: Fundamentos, modelo assistencial e terapêutico operante, até então, no que
Políticas e Práticas Escolares. diz respeito ao tratamento dispensado a educandos com
deficiência e necessidades educacionais especiais. Tais
proposições nos permitem inferir que os pilares fundamentais
Inclusão Escolar da LDB podem favorecer a concretização de projetos flexíveis
e inovadores referenciados no ideal de uma escola inclusiva.
A escola brasileira é marcada pelo fracasso e pela evasão
de uma parte, privações constantes e pela baixa autoestima Mudanças na escola
resultante da exclusão escolar e da social — alunos que são
vítimas de seus pais, de seus professores e, sobretudo, das Para atender a todos e atender melhor, a escola atual tem
condições de pobreza em que vivem, em todos os seus de mudar, e a tarefa de mudar a escola exige trabalho em
sentidos. Esses alunos são sobejamente conhecidos das muitas frentes. Cada escola, ao abraçar esse trabalho, terá de
escolas, pois repete as suas séries várias vezes, são expulsos, encontrar soluções próprias para os seus problemas. As
evadem e ainda são rotulados como mal nascidos e com mudanças necessárias não acontecem por acaso e nem por
hábitos que fogem ao protótipo da educação formal. Decreto, mas fazem parte da vontade política do coletivo da
As soluções sugeridas para se reverter esse quadro escola, explicitadas no seu Projeto Político Pedagógico (PPP) e
parecem reprisar as mesmas medidas que o criaram. Em vividas a partir de uma gestão escolar democrática.
outras palavras, pretende-se resolver a situação a partir de É ingenuidade pensar que situações isoladas são
ações que não recorrem a outros meios, que não buscam novas suficientes para definir a inclusão como opção de todos os
saídas e que não vão a fundo nas causas geradoras do fracasso membros da escola e configurar o perfil da instituição. Não se
escolar. desconsideram aqui os esforços de pessoas bem-
Esse fracasso continua sendo do aluno, pois a escola reluta intencionadas, mas é preciso ficar claro que os desafios das
em admiti-lo como sendo seu. mudanças devem ser assumidos e decididos pelo coletivo
A inclusão total e irrestrita é uma oportunidade que temos escolar.
para reverter a situação da maioria de nossas escolas, as quais A organização de uma sala de aula é atravessada por
atribuem aos alunos as deficiências que são do próprio ensino decisões da escola que afetam os processos de ensino e de
ministrado por elas — sempre se avalia o que o aluno aprendizagem. Os horários e rotinas escolares não dependem
aprendeu, o que ele não sabe, mas raramente se analisa “o que” apenas de uma única sala de aula, o uso dos espaços da escola
e “como” a escola ensina, de modo que os alunos não sejam para atividades a serem realizadas fora da classe precisa ser
combinado e sistematizado para o bom aproveitamento de

Conhecimentos Pedagógicos 27
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todos, as horas de estudo dos professores devem coincidir A matrícula no AEE é condicionada à matrícula no ensino
para que a formação continuada seja uma aprendizagem regular. Esse atendimento pode ser oferecido em Centros de
colaborativa, a organização do Atendimento Educacional Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou
Especializado (AEE) não pode ser um mero apêndice na vida privada, sem fins lucrativos. Tais centros, contudo, devem
escolar ou da competência do professor que nele atua. estar de acordo com as orientações da Política Nacional de
Um conjunto de normas, regras, atividades, rituais, Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e com
funções, diretrizes, orientações curriculares e metodológicas, as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o
oriundo das diversas instâncias burocrático-legais do sistema Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica
educacional, constitui o arcabouço pedagógico e (MEC/SEESP).
administrativo das escolas de uma rede de ensino. Trata-se do Na perspectiva da educação inclusiva, o processo de
que está INSTITUÍDO e do que Libâneo30 e outros autores reorientação de escolas especiais e centros especializados
analisaram pormenorizadamente. requer a construção de uma proposta pedagógica que institua
Nesse INSTITUÍDO, estão os parâmetros e diretrizes nestes espaços, principalmente, serviços de apoio às escolas
curriculares, as leis, os documentos das políticas, os para a organização das salas de recursos multifuncionais e
regimentos e demais normas do sistema. para a formação continuada dos professores do AEE.
Em contrapartida, existe um espaço e um tempo a serem Os conselhos de educação têm atuação primordial no
construídos por todas as pessoas que fazem parte de uma credenciamento, autorização de funcionamento e organização
instituição escolar, porque a escola não é uma estrutura pronta destes centros de AEE, zelando para que atuem dentro do que
e acabada a ser perpetuada e reproduzida de geração em a legislação, a Política e as Diretrizes orientam. No entanto, a
geração. Trata-se do INSTITUINTE. preferência pela escola comum como o local do serviço de AEE,
A escola cria, nas possibilidades abertas pelo já definida no texto constitucional de 1988, foi reafirmada pela
INSTITUINTE, um espaço de realização pessoal e profissional Política, e existem razões para que esse atendimento ocorra na
que confere à equipe escolar a possibilidade de definir o seu escola comum.
horário escolar, organizar projetos, módulos de estudo e O motivo principal de o AEE ser realizado na própria escola
outros, conforme decisão colegiada. Assim, confere autonomia do aluno está na possibilidade de que suas necessidades
a toda equipe escolar, acreditando no poder criativo e inova- educacionais específicas possam ser atendidas e discutidas no
dor dos que fazem e pensam a educação. dia a dia escolar e com todos os que atuam no ensino regular
e/ou na educação especial, aproximando esses alunos dos
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) ambientes de formação comum a todos. Para os pais, quando o
AEE ocorre nessas circunstâncias, propicia-lhes viver uma
Uma das inovações trazidas pela Política Nacional de experiência inclusiva de desenvolvimento e de escolarização
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva é o de seus filhos, sem ter de recorrer a atendimentos exteriores à
Atendimento Educacional Especializado - AEE, um serviço da escola.
educação especial que "[...] identifica, elabora e organiza
recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as A formação de professores para o AEE
barreiras para a plena participação dos alunos, considerando
suas necessidades específicas" (SEESP/MEC).31 Para atuar no AEE, os professores devem ter formação
O AEE complementa e/ou suplementa a formação do específica para este exercício, que atenda aos objetivos da
aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela, educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Nos
constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino. É cursos de formação continuada, de aperfeiçoamento ou de
realizado, de preferência, nas escolas comuns, em um espaço especialização, indicados para essa formação, os professores
físico denominado Sala de Recursos Multifuncionais. Portanto, atualizarão e ampliarão seus conhecimentos em conteúdo
é parte integrante do projeto político pedagógico da escola. específico do AEE, para melhor atender a seus alunos.
São atendidos, nas Salas de Recursos Multifuncionais, A formação de professores consiste em um dos objetivos
alunos público-alvo da educação especial, conforme do PPP. Um dos seus aspectos fundamentais é a preocupação
estabelecido na Política Nacional de Educação Especial na com a aprendizagem permanente de professores, demais
Perspectiva da Educação Inclusiva e no Decreto N.6.571/2008. profissionais que atuam na escola e também dos pais e da
comunidade onde a escola se insere. Neste documento,
- Alunos com deficiência: aqueles [...] que têm apresentam-se as ações de formação, incluindo os aspectos
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, ligados ao estudo das necessidades específicas dos alunos com
intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na habilidades/superdotação. Este estudo perpassa o cotidiano
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas da escola e não é exclusivo dos professores que atuam no AEE.
(ONU)32. À gestão escolar compete implementar ações que
- Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: garantam a formação das pessoas envolvidas, direta ou
aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações indiretamente, nas unidades de ensino. Ela pode se dar por
sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de meio de palestras informativas e formações em nível de
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. aperfeiçoamento e especialização para os professores que
Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do atuam ou atuarão no AEE.
espectro do autismo e psicose infantil. (MEC/SEESP). As palestras informativas devem envolver o maior número
- Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que de pessoas possível: professores do ensino comum e do AEE,
demonstram potencial elevado em qualquer uma das pais, autoridades educacionais. De caráter mais amplo, essas
seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, palestras têm por objetivo esclarecer o que é o AEE, como ele
acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de está sendo realizado e qual a política que o fundamenta, além
apresentar grande criatividade, envolvimento na de tirar dúvidas sobre este serviço e promover ações conjuntas
aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu para fazer encaminhamentos, quando necessários.
interesse (MEC/SEESP).

30 LIBÂNEO, J. C., OLIVEIRA J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, 32 Organização das Nações Unidas - ONU. Convenção sobre os Direitos das

estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003. Pessoas com Deficiência. Nova Iorque, 2006.
31 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Decreto No 6.571, de 17 de setembro de 2008.

Conhecimentos Pedagógicos 28
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Para a formação em nível de aperfeiçoamento e A ACR é composta de etapas que incluem trabalhos
especialização, a proposta é que sejam realizadas ações de individuais e coletivos. As etapas compreendem a
formação fundamentadas em metodologias ativas de apresentação, a descrição e a discussão do problema;
aprendizagem, tais como Estudos de Casos, Aprendizagem pesquisas em fontes bibliográficas para favorecer a
Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning compreensão do problema; apresentação de propostas de
(PBL), Aprendizagem Baseada em Casos (ABC), Trabalhos com soluções para o problema em foco; elaboração do plano de
Projetos, Aprendizagem Colaborativa em Rede (ACR), entre atendimento; socialização; reelaboração da solução do
outras. problema e do plano de atendimento; avaliação.
Essas metodologias trazem novas formas de produção e A proposta de formação ACR prepara o professor para
organização do conhecimento e colocam o aprendiz no centro perceber a singularidade de cada caso e atuar frente a eles.
do processo educativo, dando-lhe autonomia e Nesse sentido, a formação não termina com o curso, visto que
responsabilidade pela sua aprendizagem por meio da a atuação do professor requer estudo e reflexões diante de
identificação e análise dos problemas e da capacidade para cada novo desafio. Finalizada a formação, é importante que os
formular questões e buscar informações para responder a professores constituam redes sociais para dar continuidade
estas questões, ampliando conhecimentos. aos estudos, estudar casos, dirimir dúvidas e socializar os
Tradicionalmente os cursos de formação continuada são conhecimentos adquiridos a partir da prática cotidiana. Para
centrados nos conteúdos, classificados de acordo com o contribuir com estas ações, a internet disponibiliza várias
critério de pertencimento a uma especificidade, tendo sua ferramentas de livre acesso que podem ser utilizadas pelos
organização curricular pautada num perfil "ideal" de aluno que professores.
se deseja formar. Estes modelos de formação estão sendo cada As tecnologias de informação e comunicação - TICs, em
vez mais questionados no contexto educacional e algumas especial as tecnologias Web 2.0, possibilitam aos usuários o
metodologias começam a surgir com a finalidade de romper acesso às informações de forma rápida e constante. Elas
com esta organização e determinismo. Tais metodologias permitem a participação ativa do usuário na grande rede de
rompem com o modelo determinista de formação, computadores e invertem o papel de usuário consumidor para
considerando as diferenças entre os estudantes e usuário produtor de conhecimento, de agente passivo para
apresentando uma nova perspectiva de organização agente ativo, o que pode ampliar as possibilidades dos
curricular. programas de formação pautados em metodologias ativas de
Zabala33 defende uma perspectiva de organização aprendizagem.
curricular globalizadora, na qual os conteúdos de Estas e outras ferramentas possibilitam viabilizar a
aprendizagem e as unidades temáticas do currículo são construção coletiva do conhecimento em torno das práticas de
relevantes em função de sua capacidade de compreender uma inclusão e, o mais importante, socializar estas práticas e fazer
realidade global. Para Hernandez34, o conceito de delas um objeto de pesquisa.
conhecimento global e relacional permite superar o sentido da
mera acumulação de saberes em torno de um tema. Ele propõe Finalizando...
estabelecer um processo no qual o tema ou problema
abordado seja o ponto de referência para onde confluem os Embora possa assustar pelo grande número de mudanças
conhecimentos. e pelo teor de cada uma delas, a inclusão é como muitos a
É neste contexto que surgem as metodologias ativas de apregoam “um caminho sem volta”.
aprendizagem. Elas requerem uma mudança de atitude do Nunca é demais, contudo, reafirmar as condições em que
docente. Uma delas refere-se à flexibilidade diante das essa inovação acontece, marcando, grifando na nossa
questões que surgirão e dos conhecimentos que se construirão consciência de educadores o seu valor para que nossas escolas
durante o desenvolvimento dos trabalhos. Este processo atendam à expectativa dos alunos de nossas escolas, do ensino
permite aos professores e aos alunos aprenderem a explicar as infantil à Universidade.
relações estabelecidas a partir de informações obtidas sobre A escola prepara o futuro e de certo que, se os alunos
determinado assunto e demonstra respeito às diferentes aprenderem a valorizar e a conviver com as diferenças nas
formas e procedimentos de organização do conhecimento. salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós que temos
Essas propostas colocam o aprendiz como protagonista do de nos empenhar tanto para entender e viver a experiência da
processo de ensino e aprendizagem e agrega valor educativo inclusão!
aos conteúdos da formação. Os conteúdos não se tornam à O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja
finalidade, mas os meios de ensino. As metodologias ativas de ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda e
aprendizagem têm como característica o fato de se qualquer mudança, especialmente no meio educacional,
desenvolverem em pequenos grupos e de apresentarem convence a todos pela sua lógica e pela ética de seu
problemas contextualizados. Trata-se de um processo ativo, posicionamento social.
cooperativo, integrado e interdisciplinar. Estimula o aprendiz Ao denunciar o abismo existente entre o velho e o novo na
a desenvolver os trabalhos em equipe, ouvir outras opiniões, a instituição escolar brasileira, a inclusão é reveladora dos
considerar o contexto ao elaborar as propostas das soluções, males que o conservadorismo escolar tem espalhado pela
tornando-o consciente do que ele sabe e do que precisa nossa infância e juventude estudantil.
aprender. Motiva-o a buscar as informações relevantes, O futuro da escola inclusiva depende de uma expansão
considerando que cada problema é um problema e que não rápida dos projetos verdadeiramente imbuídos do
existem receitas para solucioná-los. compromisso de transformar a escola, para se adequar aos
Entre as diversas metodologias, a Aprendizagem novos tempos.
Colaborativa em Redes - ACR, construída a partir da Se hoje ainda esses projetos se resumem a experiências
metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas, foi locais, estas estão demonstrando a viabilidade da inclusão, em
desenvolvida para um programa de formação continuada a escolas e redes de ensino brasileiras, porque têm a força do
distância de professores de AEE. Seu foco é a aprendizagem óbvio e a clareza da simplicidade.
colaborativa, o trabalho em equipe, contextualizado na
realidade do aprendiz.

33 ZABALA, A. A Prática Educativa. Porto Alegre: Artmed, 1998. 34 HERNANDEZ, F; VENTURA, M. A Organização do Currículo por Projetos de

Trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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A aparente fragilidade das pequenas iniciativas tem sido Respostas


suficiente para enfrentar, com segurança e otimismo, o poder
da velha e enferrujada máquina escolar. 01. A / 02. D / 03. A
A inclusão é um sonho possível.

Questões
Educação e Sociedade.
01. (FCM - IF Sudeste – MG - Técnico em Assuntos
Educacionais/2016) A escola inclusiva é aquela que:
I- atua em coletividade, prezando o indivíduo, Educação - Sociedade - Comunidade
reconhecendo sua identidade e subjetividade.
II- está preparada para receber os alunos, tendo a garantia Concepção de sociedade
da acessibilidade física, metodológica, comunicacional e
tecnológica. Vivemos num mundo onde a informação é diversificada e
III- tem o poder de acabar com as mazelas sociais, com a atualizada rapidamente, o mundo mudou, as pessoas
produção das desigualdades sociais. mudaram e, ao constatar a velocidade com que ocorrem
IV- defende a inserção de alunos com deficiência com transformações em nossa vida cotidiana, podemos afirmar que
comprometimentos mais severos para o ato de socialização. estamos diante de um novo tempo, uma outra realidade que
nos envolve e nos desafia.
São corretas as afirmativas: A forma com que compreendíamos a vida e tudo que
(A) I e II. acontecia, já não parece ser o que prevalece hoje. Vivemos uma
(B) I e III. nova era, onde o conhecimento que tínhamos como
(C) II e III. entendimento de se estar no mundo (algo pronto e acabado),
(D) III e IV. não é mais aceito e absorvido pela maioria das instituições,
(E) I, II, III e IV. como também pelo processo que configura a produção do
conhecimento.
02. (UTFPR – UTFPR - Pedagogo/2016) A Declaração de Isto significa que a sociedade atual exige uma prática
Salamanca apresentou princípios, políticas e práticas, que são pedagógica que assegure a construção da cidadania, fundada
explicitados nas legislações atualmente vigentes e nos na criatividade, criticidade, nas responsabilidades advindas
documentos oficiais. Sobre tais princípios, é correto afirmar das relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Essas
que: reais exigências cognitivas e atitudinais requeridas nos
(A) A Declaração de Salamanca refere-se à necessidade de permitem o questionamento: o que tem a educação a refletir
todas as crianças se adaptarem à educação regular, a partir dos sobre as relações e transformações em curso e a formação do
esforços da família e da comunidade. homem?
(B) A Declaração de Salamanca acentuou as desigualdades A educação e a escola, por sua importância política,
historicamente construídas em nossa sociedade, reforçando a merecem um papel de destaque numa proposta de sociedade.
segregação e a exclusão. Neste esforço de reorganização da vida social e política, velhas
(C) A Declaração de Salamanca refere-se à educação nos instituições e antigos conceitos são redefinidos de acordo com
países em desenvolvimento, fruto das desigualdades essa lógica. Portanto, “o que está em jogo não é apenas uma
promovidas pelo sistema capitalista. reestruturação das esferas econômicas, sociais e políticas, mas
(D) A Declaração de Salamanca ressalta que os sistemas uma reelaboração e redefinição das próprias formas de
educativos devem ser projetados e os programas aplicados de representação e significação social”.
modo que tenham em vista toda a gama das diferentes A escola tem muito que refletir sobre sua organização
características e necessidades. curricular, a começar pela compreensão de que a sua ação
(E) A Declaração de Salamanca afirma que todas as passa a ser uma intervenção singular no processo de formação
crianças têm direito fundamental à educação, mesmo que não do homem na sociedade atual. Nesse paradigma, o professor já
consiga se desenvolver e manter um nível aceitável de não pode ser considerado como único detentor de um saber
conhecimentos. que simplesmente lhe basta transmitir, mas deve ser um
mediador do saber coletivo, com competência para situar-se
03. (FUNCAB - EMSERH -Pedagogo/2016) A Escola como agente do processo de mudança.
Inclusiva é uma tendência internacional do final do século XX. Assim, concebemos que a educação, a escola e o objeto de
O principal desafio dessa escola é: conhecimento constituem os elementos essenciais para o
(A) Desenvolver uma pedagogia centrada na criança, capaz processo de formação de homens e mulheres que contribuirão
de educar todas, sem discriminação, respeitando suas para a organização da sociedade.
diferenças.
(B) Dar conta da diversidade das crianças oferecendo Concepção de Homem
respostas adequadas às suas características e necessidades,
solicitando apoio de instituições e especialistas somente Partindo do que diz Morin35 ao se referir sobre a
quando a família exigir. complexidade do ser humano: "ser, ao mesmo tempo,
(C) Fortalecer uma sociedade democrática, justa e totalmente biológico e totalmente cultural", apresentamos
economicamente ativa. nossa concepção de homem e, em consequência, as aspirações
(D) Garantir às crianças com necessidades especiais uma pretendidas em relação ao cidadão que queremos formar.
convivência participativa com outras crianças com as mesmas Entendendo o sujeito tanto biológico como social, temos por
necessidades especiais. objetivo desenvolver no aluno a consciência e o sentimento de
(E) Desenvolver o princípio da integração previsto na pertencer ao mundo, de modo que possa compreender a
Declaração Municipal. interdependência entre os fenômenos e seja capaz de interagir

35MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2001.

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de maneira crítica, criativa e consciente com seu meio natural desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre
e social. história individual e história social.
Alguns desafios são fundamentais no que se refere à Além dos aspectos abordados, importante lembrar que nos
formação do sujeito, desenvolver competências para processos de aprendizagem e desenvolvimento, os ambientes
contextualizar e integrar, para situar qualquer informação em educacionais são espaços que possibilitam ampliar suas
seu contexto, para colocar e tratar os problemas, ou seja, o experiências e se desenvolver nas diferentes dimensões
grande desafio de formar sujeitos que possam enfrentar humanas: afetiva, motora, cognitiva, social, imaginativa, lúdica,
realidades cada vez mais complexas. Assim, acreditamos na estética, criativa, expressiva e linguística.
possibilidade de formar um cidadão mais indignado com as As abordagens dos conteúdos não se limitam a fatos e
manifestações e acontecimentos da vida cotidiana, um cidadão conceitos, mas também aos procedimentos, atitudes, valores e
que saiba mediar conflitos e propor soluções criativas e normas que são entendidos como conteúdos imprescindíveis
adequadas a favor da coletividade, que tenha liberdade de no mesmo nível que os fatos e conceitos. Isto [...] pressupõe
pensamento e atitudes autônomas para buscar informações aceitar até as suas últimas consequências o princípio de que
nos diferentes contextos, organizá-las e transformá-las em tudo o que pode ser aprendido pelas crianças e jovens podem
conhecimentos aplicáveis. e devem ser ensinado pelos professores.
Para o educador Paulo Freire, o homem só começa a ser um
sujeito social, quando estabelece contato com outros homens, A) Conteúdos relacionados a fatos, conceitos e
com o mundo e com o contexto de realidade que os determina princípios – correspondem ao compromisso científico da
geográfica, histórica e culturalmente, é nessa perspectiva que educação: transmitir o conhecimento socialmente produzido.
a escola se torna um dos espaços privilegiados para a formação
do homem. B) Conteúdos relacionados a procedimentos – que são
os objetivos, resultados e meios para alcançá-los, articulados
Concepção de escola por ações, passos ou procedimentos a serem implementados e
aprendidos.
A Escola é um espaço privilegiado para o desenvolvimento
das relações sociais e, é nesse ambiente que a criança e o jovem C) Conteúdos relacionados a atitudes, normas e
interagem com grupos de sua idade, criam vínculos e laços de valores – correspondem ao compromisso filosófico da
convivência, além de desenvolverem habilidades e educação: promover aspectos que nos completam como seres
competências para continuar seu processo de aprendizagem. humanos, que dão uma dimensão maior, que dão razão e
Sabemos que os modos de vida também são vivenciados sentido para o conhecimento científico.
pela escola. São variantes de diversos matizes, que se
multiplicam a cada dia e esses acontecimentos não podem ser Sociedade contemporânea
desprezados. As ações educativas vinculadas às práticas
sociais compõem o rol de compromissos da educação formal. O sociólogo e filosofo polonês Bauman36 apresenta a
Por isso, o cotidiano escolar exerce um papel expressivo na sociedade caracterizando-a como modernidade líquida, utiliza
formação cognitiva, afetiva, social, política e cultural dos assim está metáfora para explanar o advento de uma
alunos que passam parte de suas vidas nesse ambiente sociedade mais leve em detrimento da chamada modernidade
pedagógico e educativo. Sendo assim, sólida. Atualmente o que se vivencia difere de tempos
passados, que ganham novas formas. Portanto, a modernidade
Concepção de ensino e aprendizagem sólida possui características contrárias aos novos tempos.
Para Bauman, vive-se hoje, uma modernidade líquida que
O caráter eminentemente pedagógico da Educação no é marcada pela instantaneidade e pela liquidez. O conceito de
contexto escolar fundamenta-se numa perspectiva de liquidez utilizado pelo teórico destaca uma sociedade que não
considerar que a criança está inserida em determinado mantém sua forma, não é estável, mas é marcada por
contexto social e, portanto, deve ser respeitada em sua história transformações, desestabilidades, construções e
de vida, classe social, cultura e etnia. Nesse sentido, a escola é desconstruções, imprevisibilidade, não se atendo a um só
vista como espaço para a construção coletiva de novos formato, ao contrário de solidez que se refere à metáfora das
conhecimentos sobre o mundo, na qual a sua proposta marcas da modernidade, adjetivado por aspectos de
pedagógica permite a permanente articulação dos conteúdos durabilidade, de controle, de estabilidade.
escolares com as vivências e as indagações da criança e do A esse respeito, afirma: “Se o sociólogo empregou a
jovem sobre a realidade em que vivem. metáfora da solidez como marca característica da
Podemos considerar os processos interativos, a modernidade nas primeiras décadas do século XX (destruir a
cooperação, o trabalho em grupo, a arte, a imaginação, a tradição e colocar outra, potencialmente superior e mais
brincadeira, a mediação do professor e a construção do sólida, em seu lugar), na transição para o século XXI ele
conhecimento em rede como eixos do trabalho pedagógico destacará o novo aspecto da condição moderna, desta vez
voltado para o desenvolvimento da criança e do jovem visando baseado na metáfora da liquidez. Por isso a modernidade
à constituição do sujeito solidário, criativo, autônomo, crítico líquida passou a ser a denominação preferencial de Bauman
e com estruturas afetivo-cognitivas necessárias para operar para referir-se ao contemporâneo. É essa oposição entre
sua realidade social e pessoal. solidez e liquidez que permite a ele explicar a distinção entre
O processo de desenvolvimento, na perspectiva histórico- o nosso modo de vida moderno e aquele vivido por nossos
cultural, é compreendido como o processo por meio do qual o antepassados”.
sujeito internaliza os modos culturalmente construídos de Entretanto, diante dos conceitos sólido e líquido,
pensar e agir no mundo. Este processo se dá nas relações com apresentados por Bauman, é importante considerar aquilo que
o outro, indo do social para o individual. Berman, enfatiza como conceito de solidez. Ao contrário de
O caminho do objeto do conhecimento até o indivíduo e Bauman, assinala que o sólido também pode sofrer alterações.
deste até o objeto passa através de uma outra pessoa. Essa O conceito de sólido tratado por Berman difere da definição
estrutura humana complexa é o produto de um processo de criada por Bauman na medida em que, para o primeiro, as
bases sólidas, os valores fundados na sociedade moderna são

36 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

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permanentes e imutáveis, já na pós-modernidade, difundiram- Berman destaca que é preciso adaptar-se às novas
se, sofreram alterações marcadas pelos novos pressupostos da transformações, considerando-as como novos processos que
vida moderna. Para Bauman, somente a metáfora da liquidez necessitam ser imbuídos na vida pessoal e social:
se compara a esse processo de transformação. Percebe-se,
entretanto, que, referindo-se às características gerais da Homens e mulheres modernos precisam aprender a aspirar
modernidade, os autores compartilham as mesmas definições, à mudança: não apenas estar aptos a mudanças em sua vida
apresentando o mesmo painel sobre os tempos modernos. pessoal e social, mas ir efetivamente em busca das mudanças,
O sentido da modernidade apresentada por Berman é o procurá-las de maneira ativa, levando-as adiante. Precisam
mesmo em comparação ao que apresenta Bauman, na medida aprender a não lamentar com muita nostalgia as “relações fixas,
em ambos ressaltam que esta modernidade é passível de imobilizadas” de um passado real ou de fantasia, mas a se
transformações, de mudanças, de desintegração de ambientes, deliciar na mobilidade, a se empenhar na renovação, a olhar
de construção de novas formas de vida. Destacam-se, nesse sempre na direção de futuros desenvolvimentos em suas
movimento, algumas características, como: crescente explosão condições de vida e em suas relações com outros seres humanos.
demográfica, grandes descobertas nas ciências, crescimento
acelerado da tecnologia e dos sistemas de comunicação de Referindo-se aos modos de trabalho, o ser humano busca o
massa e expansão do mercado capitalista mundial. Esses progresso, sendo visualizado como um caminho sem fim, que
fatores, por sua vez, influenciam a vida das pessoas e geram deve ser alcançado constantemente, através do esforço do
novas formas de adaptação, de movimento, de poder e de homem. Para o alcance do progresso, novos valores passam a
sobrevivência. Em tempos como esses, “o indivíduo ousa permear as relações de trabalho: a competição e a
individualizar-se”. De outro lado, esse ousado indivíduo individualização que concorrem, simultaneamente, para o
precisa desesperadamente “de um conjunto de leis próprias, alcance deste progresso. Todos esses processos mudam o
precisa de habilidades e astúcias, necessárias à modo de vida humana, sendo que cada indivíduo é responsável
autopreservação, à autoimposição, à autoafirmação, à por encontrar meios para o alcance de melhores condições de
autolibertação.” vida.
Retornando às características subjacentes à modernidade
líquida de Bauman, o tempo é um fator que assinala esta Bauman destaca: [...] são homens e mulheres individuais que
modernidade, marcada fortemente por fatos instantâneos. às suas próprias custas deverão usar, individualmente, seu
próprio juízo, recursos e indústria para elevar-se a uma
[...] os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão condição mais satisfatória e deixar para trás qualquer aspecto
constantemente prontos e propensos a mudá-la; assim, para de sua condição presente de que se ressintam.
eles, o que conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca
ocupar; espaço que, afinal, preenchem apenas “por um O trabalho, na modernidade sólida, era considerado uma
momento”. virtude, sendo fundamental para a vida nos tempos modernos
para alcançar status. Capital e trabalho eram
As pessoas que comandam o mundo são aquelas que agem interdependentes. Os trabalhadores dependiam do emprego
com maior rapidez, que mais se aproximam do momentâneo. para sobreviver e o capital dependia dos trabalhadores para
A instantaneidade auxilia a dominação, no sentido de que o seu crescimento. Com o trabalho, o trabalhador comandava
indivíduo que domina é aquele que tem capacidade para seu próprio destino. Como o modelo fordista, o trabalhador
adaptar-se a novas formas de vida, novos lugares, que iniciava sua carreira em uma empresa e lá permanecia, ficando
consegue decidir rapidamente e agir aceleradamente. Nesse “preso” em seu lugar, impedindo a sua mobilidade. Porém, na
sentido, sobre a instantaneidade associada à flexibilidade, contemporaneidade, o trabalho não é mais um projeto de vida,
Bauman enfatiza: “neste mundo, tudo pode acontecer e uma base sólida, mas um significado de satisfação, assim como,
tudo pode ser feito, mas nada pode ser feito uma vez por todas não significa estabilidade, como nos tempos passados. “Neste
– e o que quer que aconteça chega sem se anunciar e vai-se mundo, estabilidade significa tão somente entropia, morte
embora sem aviso”. lenta, uma vez que nosso sentido de progresso e crescimento
Para o autor, compreende-se que a modernidade líquida é o único meio que dispomos para saber, com certeza, que
demarca uma grande transformação nos âmbitos social, estamos vivos”.
político, econômico, ambiental, sempre no sentido de esquecer Da Era Industrial passa-se à Era do Acesso, sendo que,
o passado, ou seja, aquilo que significava importante nas ações nesta, máquinas inteligentes, na forma de programas de
dos indivíduos e agora acaba perdendo seu efeito. As computador, da robótica, da biotecnologia, substituíram
possibilidades de criar novas formas de vida são aceitas e o rapidamente a mão-de-obra humana na agricultura, nas
mundo movimenta-se conforme as demandas imediatas. É o manufaturas e nos setores de serviços. Segundo a lógica
mundo do imediatismo, das coisas descartáveis. A diferença da reinante do mundo globalizado, comandado pelas linhas
modernidade sólida para a modernidade líquida é a duração mestras da tecnologia, uma multidão de seres humanos
da ação. Na modernidade líquida, a ação é imediata, em curto encontra-se sem razão para viver neste mundo. A ideologia de
prazo. sustentação da economia do mercado é excludente e busca
Ainda, tomando-se em consideração os novos formatos e eliminar quem não entra e consegue seguir seus parâmetros.
relações estabelecidas pelas novas tecnologias, surgem novas Deve-se executar o ofício de separar e eliminar o refugo, o
relações oferecidas pela internet. Esse recurso oferece meios descartável. Tudo se estrutura a partir do privilégio e do
de conexão com o mundo todo, levando os indivíduos a padrão de vida e consumo.
estarem constantemente em movimento, mesmo
permanecendo no lugar onde se encontra. A internet também Assim, mudar de emprego tornou-se algo comum,
favorece novas formas de relações entre as pessoas, sendo que, reafirmando o conceito de transitoriedade e flexibilidade que
a comunicação ocorre por intermédio de meios eletrônicos, a marcam a denominada modernidade líquida. “A vida de
qualquer tempo, descartando outras formas de contato. A trabalho está saturada de incertezas”. As incertezas são
mídia, assim como a internet, possibilita também repassar marcadas pelo descontrole e desconhecimento das situações.
informações em um curto espaço de tempo em uma grande Não há, neste tempo, segurança em relação ao trabalho, no
velocidade, permitindo a sensação de mobilidade. “O espaço sentido de permanecer nele a vida toda.
deixou de ser um obstáculo – basta uma fração de segundo Os conceitos de emancipação e individualidade ganham
para conquistá-lo”. Com esse aspecto de instantaneidade, um peso maior nesta sociedade, sendo que o coletivo e a

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comunidade passam a ser conceitos abstratos, aquilo que vem serviços que outras pessoas não se rebaixariam ou se
depois das escolhas individuais. A solidariedade é um valor dignariam a oferecer, acenam com guloseimas de sensatez,
que não possui mais fundamento. O indivíduo é capaz de revigorantemente diversas da rotina e da chateação.
decidir sobre as ações e fins. O poder de consumo avalia a posição social dos indivíduos.
Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer, esticar Aquelas pessoas que não possuem certa posição de conforto
essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa na sociedade e que não detêm um mínimo de condições de
capacidade poderia melhor servir – isto é, com a máxima escolha de consumo, acabam muitas vezes demonstrando
satisfação concebível. revolta, estranheza para muitos e violência, assim, como ao
que se assiste nos novos tempos.
Nesse sentido, nada está pronto e acabado. As Uma vez que as únicas senhas para defender a liberdade de
oportunidades são infinitas ao indivíduo e sua liberdade de escolha, moeda corrente na sociedade do consumidor, estão
escolha favorece um estado de ansiedade e incertezas. escassas em seu estoque ou lhes são inteiramente negadas,
O sentimento de felicidade está, em muitos casos, ligado a elas precisam recorrer aos únicos recursos que possuem em
situações de consumo. “O consumo é um investimento em tudo quantidade suficientemente grande para impressionar. Elas
que serve para o ‘valor social’ e a autoestima do indivíduo”. defendem o território sitiado através de “rituais, vestindo-se
Neste sentido, o consumismo passa a ser algo de desejo estranhamente, inventando atitudes bizarras, quebrando
imediato. Consome-se mais e, geralmente, para satisfazer normas, quebrando garrafas, janelas, cabeças, e lançando
desejos instantâneos e individuais. A sociedade do consumo retóricos desafios à lei”. Reagem de maneira selvagem, furiosa,
privilegia não só aquisição de bens e produtos, mas a busca alucinada e aturdida [...].
incessante de novas receitas para uma vida melhor; novos Além disso, cresceram as taxas de desemprego e um
exemplos, novas habilidades, novas competências em grande número de excluídos socialmente, pois os empregos
detrimento daquilo que ainda o indivíduo não é, para tomaram novas configurações, não sendo possível projetar
aparentar uma imagem, mostrar aos outros aquilo que não é, uma vida em longo prazo, com projetos e planejamentos.
para agradá-los ou como um modo de atrair atenção. O
consumo não é mais caracterizado como a satisfação das De acordo com estas características, Bauman destaca que
necessidades, mas serve para satisfazer os desejos insaciáveis. aqueles que não possuem emprego não são considerados
As necessidades são sólidas, inflexíveis, já o desejo é marcado como “desempregados”, mas sim como consumidores falhos,
pela fluidez, são flexíveis, mutáveis e podem ser substituídos. pois não desempenham a função ativa de consumir e, portanto,
Desse modo, estar na sociedade de consumidores requer não são aptos de usufruir dos bens e serviços que o mercado
estar adaptado aos novos padrões do mercado. Consumir é pode oferecer, sendo definidos como os “pobres” da sociedade
estar de acordo com aquilo que o mercado impõe como atual. Ele enfatiza a esse respeito.
símbolo de comodidade, de autoafirmação, de conforto, de Antes de mais nada, os pobres de hoje (ou seja, as pessoas
emancipação dos indivíduos. que são “problemas” para as outras) são “não-
Bauman acrescenta a esses aspectos outros fatores que consumidores”, e não “desempregados”. São definidos em
auxiliam a compreender a configuração da nova sociedade. primeiro lugar por serem consumidores falhos, já que o mais
Ressalta que a comunidade como defensora do direito à vida crucial dos deveres sociais que eles não desempenham é o de
decente transformou este projeto em promover o mercado ser comprador ativo e efetivo dos bens e serviços que o
como garantia de auto enriquecimento, gerando maiores mercado oferece. Nos livros de contabilidade de uma
sofrimentos entre aqueles que não podem consumir como o sociedade de consumo, os pobres entram na coluna dos
mercado demanda. Ele completa essa ideia, enfatizando que, débitos, e nem por exagero da imaginação poderiam ser
na sociedade pós-moderna nenhum emprego é garantido, registrados na coluna dos ativos, sejam estes presentes ou
nenhuma posição é segura. Além disso, ressalta: futuros.
Em sua versão presente, os direitos humanos não trazem Nesse panorama da sociedade de consumidores e busca
consigo a aquisição do direito a um emprego, por mais que pela satisfação pessoal, alguns valores e princípios passaram a
bem desempenhado, ou – de um modo mais geral – o direito ao tomar outras configurações. O valor da responsabilidade, por
cuidado e à consideração por causa de méritos passados. Meio exemplo, que, em outros tempos, residia no dever ético e na
de vida, posição social, reconhecimento da utilidade e preocupação pelo outro, atualmente, configurou-se em relação
merecimento da autoestima podem todos desvanecer-se a si próprio, levando o indivíduo a compreender-se como
simultaneamente da noite para o dia e sem se perceber. único responsável por seus atos e deveres, excluindo a
responsabilidade pelos interesses, necessidades e desejos do
Bauman37 enfatiza que as relações entre as pessoas outro.
também se dão de forma diferente, dependendo da situação Entretanto, observa-se que, neste período atual, há certa
econômica das mesmas, do usufruto de bens e da posição de ambiguidade em torno da vida responsável, pois surgem
conforto que possuem. Noutras palavras, dependendo da reflexões, organizações e movimentos em favor da vida, do
posição que se ocupa, as pessoas são consideradas como respeito à natureza, à sustentabilidade. Enquanto se afirma
“estranhos”, pois não ocupam a mesma posição social e servem que o indivíduo preocupa-se com si mesmo, ao mesmo tempo,
apenas para oferecer serviços e bens para o consumo, surgem preocupações acerca do outro e do mundo. Percebe-se
conforme afirma que há uma evolução para a possibilidade de construção de
Para alguns moradores da cidade moderna, seguros em uma vida responsável.
suas casas à prova de ladrões em bairros bem arborizados, em O panorama apresentado até aqui, certamente, não
escritórios fortificados no mundo dos negócios fortemente contempla todos os aspectos referentes à sociedade
policiado, e nos carros cobertos de engenhocas de segurança contemporânea, mas apresenta definições importantes que
para levá-los das casas para os escritórios e de volta, o levam a analisar e refletir sobre a configuração subjacente aos
“estranho” é tão agradável quanto a praia da rebentação [...]. tempos atuais e que podem instigar a questão referente à
Os estranhos dirigem restaurantes, prometendo experiências tarefa da escola frente a tais aspectos presentes na sociedade
insólitas e excitantes para as papilas gustativas, vendem atual.
objetos de aspecto esquisito e misterioso, [...], oferecem

37BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar,


1998.

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Desse modo, é urgente compreender sua missão como escola era medida pela transmissão deste conhecimento de
instituição educativa que, assim como outras instâncias, valor adaptado ao mundo sólido. As pessoas se ajustavam ao
desempenha um papel importante na formação dos sujeitos. mundo pela educação, entendendo que este mundo era
imutável e consideravelmente manipulável. O professor
A tarefa da escola detinha o poder de transmitir o conhecimento ao aluno,
compreendendo este conhecimento como justo e confiável.
Compreender a missão da escola perante as novas
configurações da sociedade, torna-se essencial para avaliar a Para Pourtois e Desmet38, a escola contemporânea continua
sua tarefa, diante das transformações sociais e culturais e de a repetir os princípios defendidos pela escola moderna, na
suas implicações no processo educativo atual. qual enfatizava o modelo de que o aluno deveria aprender as
Desse modo, diante dos processos sociais que se regras da vida em sociedade e o pensamento racional, sendo
desencadeiam na atualidade, surgem algumas questões que se disciplinado por meio de recompensas ou castigos, sendo que
referem ao processo educativo escolar: qual é o papel da a personalidade individual deve ser ocultada atrás da moral do
escola? A escola está preparada para formar sujeitos oriundos dever. Para esses autores, a pedagogia moderna ainda está
da sociedade descrita por Bauman? A educação escolar dá fortemente enraizada nas práticas escolares.
conta de compreender esses processos de transformação? Na passagem da modernidade sólida para a líquida, de
Essas questões remetem à reflexão sobre a verdadeira acordo com a visão de sociedade de Bauman, a escola assume
missão da escola frente aos processos de mudança e ao outras características, sendo que a ordem social, sólida e
contexto atual que, de maneira geral, recebe as influências das imutável não é mais aceita na chamada modernidade líquida.
mudanças, passando a adquirir novos pressupostos, novos O mundo é diferente daquele em que a escola estava preparada
objetivos, novas concepções. Diante dos temas que perfazem a para formar os alunos. “Em tais circunstâncias, preparar para
realidade, a educação é vista como um meio indispensável na toda a vida, essa invariável e perene tarefa da educação na
constituição da sociedade e passa a ocupar um papel modernidade sólida, vai adquirir um novo significado diante
fundamental. das atuais circunstâncias sociais.” O conhecimento não será
Nestes tempos de mutações profundas e de incerteza mais considerado como um produto conservado, pronto e
acentuada, deve-se investir muito na educação, facilitando acabado para toda a vida, assumindo, muito mais um caráter
assim o emprego, despertando as mentes e as consciências inconcluso, podendo ser substituível. O conhecimento passa a
diante dos novos desafios, facilitando o acesso à cultura e ter o objetivo de oferecer eficiência, criatividade,
reduzindo a exclusão. A educação é o melhor investimento competitividade, habilidades básicas para o mundo do
social. trabalho. Em síntese, o conhecimento se transforma em
Sabe-se que, entre outros fatores, pontos, movimentos e informação que logo será substituída, por considerar que
tendências, o cientificismo positivista impôs a fragmentação rapidamente estará ultrapassado.
do conhecimento, sustentando a ordem econômica e social da A escola então, transmissora deste conhecimento, passa
modernidade. Atualmente, não se pode mais conceber que esta agora a não ser a detentora do saber, pois as novas tecnologias
fragmentação dê conta de formar e desenvolver o homem na oferecem as informações em um rápido espaço de tempo, no
nova ordem social vigente. Como se vê, muitas transformações qual todos têm acesso ao “conhecimento”. Os professores
têm surgido ao longo dos tempos: as novas tecnologias, as perdem a autoridade sobre o domínio exclusivo dos saberes. A
comunicações, a preocupação com o meio ambiente, a nova dinâmica do mercado passa a ter autoridade, decidindo
produção econômica cada vez mais crescente e diversificada sobre as formações de opiniões, verificação de valores,
com novos produtos no mercado, demandando novos cursos definindo o que é bom ou mal, belo ou feio, verdadeiro ou falso.
de capacitação e aperfeiçoamento, entre tantas outras Os alunos passam a dar atenção àqueles que oferecem várias
mudanças as quais a escola deve acompanhar e produzir possibilidades de experiência, prazer e proveito (geralmente a
reflexões acerca destes novos elementos. mídia – televisão, internet), os seduzindo para a arte de saber
Além disso, a escola, mergulhada neste contexto, não pode viver. O professor, desse modo, não é mais aquele conselheiro
ficar alheia às transformações sociais e culturais advindas da que orientava os alunos a seguirem, de modo seguro, sua vida,
sociedade. Mas, pelo contrário, a escola pertence ao meio através de seus estudos e saberes. Nesse sentido, a não mais
social e, por isso, sofre as influências do meio. “A escola é uma inquestionável autoridade do professor em orientar a lógica da
comunidade. Como parte da sociedade, ela está normalmente aprendizagem compete, [...], com as sedutoras e muito mais
estruturada de forma a reproduzir a estrutura social.” Nesse atraentes mensagens das celebridades, sejam jogadores de
sentido, Bauman destaca que, muitas transformações estão futebol, artistas, frequentadores de reality shows ou políticos
permeando a sociedade contemporânea e essas acabam por oportunistas.
invadir todos os contextos, inclusive a escola. O processo
educativo escolar, de acordo com as novas estruturas, procura Diante de todos esses desafios, Almeida39 enfatiza que, ao
desenvolver um currículo que considera as mudanças e atenda mesmo tempo em que Bauman apresenta tais aspectos, o
aos novos conceitos, novos pressupostos e novas demandas. próprio autor também oportuniza uma solução para a escola
poder enfrentá-los, destacando o poder da escola de facilitar a
Relacionando os conceitos apresentados, pode-se dizer socialização entre os indivíduos e de promover uma
que a escola, na sociedade sólida, referenciando Bauman, era sensibilização acerca do mundo atual e conscientizar para a
aquela que educava para toda a vida. A escola era um espaço busca de novas formas de relações em suprimento das
que tinha como propósito estabelecer a ordem. A formação dos relações individualistas. Almeida afirma:
indivíduos era responsabilidade de toda a sociedade, dos
governantes e do Estado, com vistas a formá-los para um [...] além de promover a socialização, ou seja, preparar as
comportamento correto e moralmente aceitável. Desse modo, pessoas para o mundo cambiável em que vivemos, a
somente os professores eram capazes de fornecer esta individualização pressuposta nos mecanismos educacionais, ao
formação para uma integração social, destacando uma vida mesmo tempo em que evita decretar o que é certo ou verdadeiro
correta e moral, disciplinada e eficiente. Além disso, o e provocar sua manifestação, consiste no exercício de “agitar” os
conhecimento era um produto duradouro e a qualidade da estudantes e incitar-lhes a dúvida sobre a imagem que têm de si

38POURTOIS, Jean-Pierre; DESMET, Huguette. A Educação pós-moderna. São 39ALMEIDA, Felipe Quintão de; BRACHT, Valter; GOMES, Ivan Marcelo. Bauman e
Paulo: Loyola, 1999. a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

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e da sociedade em que estão inseridos e, nesse movimento, culturas, por que não?). Levando isso em conta, extraímos da
desafiar o consenso prevalecente. Os professores seriam, assim, posição de Bauman o seguinte imperativo para a educação
intelectuais que ajudam a assegurar que a consciência moral de escolarizada na sociedade líquida: conversar ou perecer!
cada geração seja diferente da geração anterior. De acordo com essa nova forma curricular, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997), de acordo com a Lei de
A escola, articulada como uma instituição, em harmonia Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal n.
com a preparação de indivíduos adequados a habitar um 9.394/96) destacam a valorização dos temas transversais, os
mundo ordenado, não se configura nos tempos atuais. quais possuem a intenção de responder aos novos
Configura-se hoje como um espaço destinado a dar pressupostos e novas configurações da educação escolar.
oportunidades iguais a todos, inclusive às minorias e aos Dentre os temas transversais salientam-se a Ética e a
excluídos, sendo um ambiente no qual se recebe uma Pluralidade Cultural. De acordo com o enredo apresentado,
pluralidade de culturas e valores de uma mesma sociedade, entende-se que a educação escolar deve preocupar-se com as
respeitando diferenças e enfatizando os princípios de condutas humanas e não só com o desenvolvimento de
solidariedade. habilidades e competências técnicas, mas referenciar valores
Nesse enredo, Gadotti40 enfatiza que esta época de rápidas que valorizem a relação com o outro, já que ética e valores
transformações acaba por demandar uma nova configuração estão imbuídos no currículo escolar e nas relações entre os
da educação na busca de um melhor desempenho do sistema indivíduos.
escolar: Segundo Gómez41, a função educativa da escola deve
Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta- cumprir não só o processo de socialização, mas oferecer às
se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do futuras gerações a possibilidade de questionar a validade dos
sistema escolar não tem dado conta da universalização da conteúdos, de elaborar alternativas e tomar decisões
educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes autônomas acerca das transformações sociais e culturais. O
teóricas não apresentam ainda a consistência global conjunto de conhecimentos adquiridos na escola só será válido
necessária para indicar caminhos realmente seguros numa se oferecer ao indivíduo um modo consciente de pensamento
época de profundas e rápidas transformações. e ação. Afirma o autor que: A formação de cidadãos autônomos,
Para esse propósito, é necessário que a escola fortaleça seu conscientes, informados e solidários requer uma escola onde
projeto educativo, relacionando-o com o contexto social e suas possa-se recriar a cultura, não uma academia para
características, sendo este um princípio da educação aprendizagens mecânicas ou aquisições irrelevantes, mas uma
contemporânea, no mesmo modo que esta educação possa escola viva e comprometida com a análise e a reconstrução das
sempre superar os limites impostos pelo mercado, buscando a contingências sociais, onde os estudantes e os docentes
transformação social. aprendem os aspectos mais diversos da experiência humana.
Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea Nesse sentido, salienta-se que a existência da escola
tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma perante a todas as transformações culturais e sociais, deve
educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo assumir uma postura, não só de transmissão de conteúdos sem
Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais significados, de aprendizagens mecânicas, sem sentido,
voltada para a transformação social. somente para atender às influências do mercado competitivo,
Nesse sentido, a educação, na era contemporânea, deve mas assumir a condição de um espaço no qual valorize as
apropriar-se das informações e refletir sobre elas. O contexto experiências trazidas pelas culturas e assim, construir uma
deve ser de um agir comunicacional, ou seja, comunicação interlocução entre elas, permeadas pela reflexão, pela
intersubjetiva em que os outros constituem uma forma de socialização e pela relação de valores indispensáveis à
mediação entre saberes existentes e os saberes de base do formação do homem.
sujeito. O ato educativo deve ter sentido no contexto social
atual e deixar transparecer seus objetivos. Educação e Sociedade no Brasil
Além disso, com as novas configurações da sociedade, a
escola passou a aceitar todas as visões de mundo que chegam Nas últimas duas décadas do século XX assistiu-se a
até ela, sem desconsiderar os direitos de propriedade das mais grandes mudanças tanto no campo socioeconômico e político
diversas comunidades. Na modernidade, a construção da quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia. Ocorreram
ordem era estabelecida pelos intelectuais, ou seja, professores grandes movimentos sociais, como aqueles no leste europeu,
e teóricos educacionais detinham a função de “legislar acerca no final dos anos 80, culminando com a queda do Muro de
do modo correto de separar a verdade da inverdade das Berlim. Ainda não se tem ideia clara do que deverá
culturas [...].” Atualmente, a escola enfrenta o desafio de representar, para todos nós, a globalização capitalista da
aceitar a multiplicidade de culturas e verdades que perpassam economia, das comunicações e da cultura. As transformações
os saberes escolares, pois a verdade do conhecimento torna-se tecnológicas tornaram possível o surgimento da era da
questionável nesse novo contexto. informação.
Almeida, parafraseando Bauman, destaca esta nova É um tempo de expectativas, de perplexidade e da crise de
configuração da escola em detrimento de um espaço concepções e paradigmas. É um momento novo e rico de
multicultural que aposta na pluralidade de culturas, no intuito possibilidades. Por isso, não se pode falar do futuro da
de compreendê-las, fortalecê-las e relacioná-las com outras educação sem certa dose de cautela. É com essa cautela que
culturas, assinalando-as como parte de um diálogo que serão examinadas, neste artigo, algumas das perspectivas
enriquece os saberes educativos: atuais da teoria e da prática da educação, apoiando-se
Diante dos inúmeros “textos” que escrevem o mundo, a arte naqueles educadores e filósofos que tentaram, em meio a essa
da conversação civilizada é algo que o espaço da escola perplexidade, apesar de tudo, apontar algum caminho para o
necessita de maneira urgente. Dialogar com as distintas futuro. A perplexidade e a crise de paradigmas não podem se
tradições que chegam até ela, sem combatê-las; procurar constituir num álibi para o imobilismo.
entendê-las, sem aniquilá-las ou descartá-las como mutantes; No início deste século, H. G. Wells dizia que “a História da
fortalecer sua própria perspectiva (a do professor, por exemplo) Humanidade é cada vez mais a disputa de uma corrida entre a
com o livre recurso à experiências alheias (a dos alunos e suas educação e a catástrofe”. A julgar pelas duas grandes guerras

40GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec. [online]. 41GÓMEZ, A. I. Pérez. A Cultura escolar na sociedade neoliberal. Tradução: Ernani
2000, v.14, n. 2, p. 03-11. Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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que marcaram a “História da Humanidade”, na primeira Escolas, por iniciativa do educador Adolphe Ferrière. Como
metade do século XX, a catástrofe venceu. No início dos anos resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade nos sistemas
50, dizia-se que só havia uma alternativa: “socialismo ou de ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas
barbárie” (Cornelius Castoriadis), mas chegou-se ao final do educacionais contam com uma estrutura básica muito
século com a derrocada do socialismo burocrático de tipo parecida. No final do século XX, o fenômeno da globalização
soviético e enfraquecimento da ética socialista. E mais: pela deu novo impulso à ideia de uma educação igual para todos,
primeira vez na história da humanidade, não por efeito de agora não como princípio de justiça social, mas apenas como
armas nucleares, mas pelo descontrole da produção industrial, parâmetro curricular comum.
pode-se destruir toda a vida do planeta. Mais do que a
solidariedade, estamos vendo crescer a competitividade. Novas Tecnologias
Hoje muitos educadores, perplexos diante das rápidas
mudanças na sociedade, na tecnologia e na economia, As consequências da evolução das novas tecnologias,
perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns com centradas na comunicação de massa, na difusão do
medo de perdê-la sem saber o que devem fazer. Então, conhecimento, ainda não se fizeram sentir plenamente no
aparecem, no pensamento educacional, todas as palavras ensino – como previra McLuhan já em 1969 –, pelo menos na
citadas por Abbagnano e Aurélio: “projeto” político- maioria das nações, mas a aprendizagem a distância,
pedagógico, pedagogia da “esperança”, “ideal” pedagógico, sobretudo a baseada na Internet, parece ter sido a grande
“ilusão” e “utopia” pedagógica, o futuro como “possibilidade”. novidade educacional nos últimos tempos. A educação opera
Fala-se muito hoje em “cenários” possíveis para a educação, com a linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante vive
portanto, em “panoramas”, representação de “paisagens”. Para impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e a da
se desenhar uma perspectiva é preciso “distanciamento”. É informática, particularmente a linguagem da Internet. A
sempre um “ponto de vista”. Todas essas palavras entre aspas cultura do papel representa talvez o maior obstáculo ao uso
indicam uma certa direção ou, pelo menos, um horizonte em intensivo da Internet, em particular da educação a distância
direção ao qual se caminha ou se pode caminhar. Elas com base na Internet. Por isso, os jovens que ainda não
designam “expectativas” e anseios que podem ser captados, internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com
capturados, sistematizados e colocados em evidência. mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles
já estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital.
Educação Tradicional Os sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar
suficientemente o impacto da comunicação audiovisual e da
Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar
Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação as mentes. Ainda trabalha-se muito com recursos tradicionais
tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista, que não têm apelo para as crianças e jovens. Os que defendem
mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da a informatização da educação sustentam que é preciso mudar
escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação profundamente os métodos de ensino para reservar ao
nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar,
Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe em vez de desenvolver a memória. Para ele, a função da escola
consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para
ciências da educação e das metodologias de ensino. O conceito isso é preciso dominar mais metodologias e linguagens,
de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas Freinet, por inclusive a linguagem eletrônica.
exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia.
Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova, Paradigmas Holonômicos
amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na
educação do futuro. Entre as novas teorias surgidas nesses últimos anos,
A educação tradicional e a nova têm em comum a despertaram interesse dos educadores os chamados
concepção da educação como processo de desenvolvimento paradigmas holonômicos, ainda pouco consistentes.
individual. Todavia, o traço mais original da educação desse Complexidade e holismo são palavras cada vez mais ouvidas
século é o deslocamento de enfoque do individual para o social, nos debates educacionais. Nesta perspectiva, pode-se incluir
para o político e para o ideológico. A pedagogia institucional é as reflexões de Edgar Morin, que critica a razão produtivista e
um exemplo disso. A experiência de mais de meio século de a racionalização modernas, propondo uma lógica do vivente.
educação nos países socialistas também o testemunha. A Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber,
educação, no século XX, tornou-se permanente e social. É do conhecimento, em torno do ser humano, valorizando o seu
verdade, existem ainda muitos desníveis entre regiões e cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o
países, entre o Norte e o Sul, entre países periféricos e acaso e outras categorias como: decisão, projeto, ruído,
hegemônicos, entre países globalizadores e globalizados. ambiguidade, finitude, escolha, síntese, vínculo e totalidade.
Entretanto, há ideias universalmente difundidas, entre elas a Essas seriam algumas das categorias dos paradigmas
de que não há idade para se educar, de que a educação se chamados holonômicos. Etimologicamente, holos, em grego,
estende pela vida e que ela não é neutra. significa todo e os novos paradigmas procuram centrar-se na
totalidade. Mais do que a ideologia, seria a utopia que teria
Educação Internacionalizada essa força para resgatar a totalidade do real, totalidade
perdida. Para os defensores desses novos paradigmas, os
No início da segunda metade deste século, educadores e paradigmas clássicos – identificados no positivismo e no
políticos imaginaram uma educação internacionalizada, marxismo – seriam marcados pela ideologia e lidariam com
confiada a uma grande organização, a Unesco. Os países categorias redutoras da totalidade. Ao contrário, os
altamente desenvolvidos já haviam universalizado o ensino paradigmas holonômicos pretendem restaurar a totalidade do
fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas sujeito, valorizando a sua iniciativa e a sua criatividade,
nacionais de educação trouxeram um grande impulso, desde o valorizando o micro, a complementaridade, a convergência e a
século passado, possibilitando numerosos planos de educação, complexidade. Para eles, os paradigmas clássicos sustentam o
que diminuíram custos e elevaram os benefícios. A tese de uma sonho milenarista de uma sociedade plena, sem arestas, em
educação internacional já existia deste 1899, quando foi que nada perturbaria um consenso sem fricções. Ao aceitar
fundado, em Bruxelas, o Bureau Internacional de Novas como fundamento da educação uma antropologia que concebe

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o homem como um ser essencialmente contraditorial, os o testemunha o Fórum Paulo Freire, que se realiza de dois em
paradigmas holonômicos pretendem manter, sem pretender dois anos, reunindo educadores de muitos países.
superar, todos os elementos da complexidade da vida.
Os holistas sustentam que o imaginário e a utopia são os As práticas de educação popular também constituem-se
grandes fatores instituintes da sociedade e recusam uma em mecanismos de democratização, em que se refletem os
ordem que aniquila o desejo, a paixão, o olhar e a escuta. Os valores de solidariedade e de reciprocidade e novas formas
enfoques clássicos, segundo eles, banalizam essas dimensões alternativas de produção e de consumo, sobretudo as práticas
da vida porque sobrevalorizam o macroestrutural, o sistema, de educação popular comunitária, muitas delas voluntárias. O
em que tudo é função ou efeito das superestruturas Terceiro Setor está crescendo não apenas como alternativa
socioeconômicas ou epistêmicas, linguísticas e psíquicas. Para entre o Estado burocrático e o mercado insolidário, mas
os novos paradigmas, a história é essencialmente também como espaço de novas vivências sociais e políticas
possibilidade, em que o que vale é o imaginário (Gilbert hoje consolidadas com as organizações não-governamentais
Durand, Cornelius Castoriadis), o projeto. Existem tantos (ONGs) e as organizações de base comunitária (OBCs). Este
mundos quanto nossa capacidade de imaginar. Para eles, “a está sendo hoje o campo mais fértil da educação popular.
imaginação está no poder”, como queriam os estudantes em Diante desse quadro, a educação popular, como modelo
maio de 1968. teórico reconceituado, tem oferecido grandes alternativas.
Na verdade, essas categorias não são novas na teoria da Dentre elas, está a reforma dos sistemas de escolarização
educação, mas hoje são lidas e analisadas com mais simpatia pública. A vinculação da educação popular com o poder local e
do que no passado. Sob diversas formas e com diferentes a economia popular abre, também, novas e inéditas
significados, essas categorias são encontradas em muitos possibilidades para a prática da educação. O modelo teórico da
intelectuais, filósofos e educadores, de ontem e de hoje: o educação popular, elaborado na reflexão sobre a prática da
“sentido do outro”, a “curiosidade” (Paulo Freire), a educação durante várias décadas, tornou-se, sem dúvida, uma
“tolerância” (Karl Jaspers), a “estrutura de acolhida” (Paul das grandes contribuições da América Latina à teoria e à
Ricoeur), o “diálogo” (Martin Buber), a “autogestão” (Celestin prática educativa em âmbito internacional. A noção de
Freinet, Michel Lobrot), a “desordem” (Edgar Morin), a “ação aprender a partir do conhecimento do sujeito, a noção de
comunicativa”, o “mundo vivido” (Jürgen Habermas), a ensinar a partir de palavras e temas geradores, a educação
“radicalidade” (Agnes Heller), a “empatia” (Carl Rogers), a como ato de conhecimento e de transformação social e a
“questão de gênero” (Moema Viezzer, Nelly Stromquist), o politicidade da educação são apenas alguns dos legados da
“cuidado” (Leonardo Boff), a “esperança” (Ernest Bloch), a educação popular à pedagogia crítica universal.
“alegria” (Georges Snyders), a unidade do homem contra as
“unidimensionalizações” (Herbert Marcuse), etc. Universalização da Educação Básica e Novas Matrizes
Evidentemente, nem todos esses autores aceitariam Teóricas
enquadrar-se nos paradigmas holonômicos. Todas as
classificações e tipologias, no campo das ideias, são A educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um
necessariamente reducionistas. Não se pode negar as lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado conta da
divergências existentes entre eles. Contudo, as categorias universalização da educação básica de qualidade; de outro, as
apontadas anteriormente indicam uma certa tendência, ou novas matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência
melhor, uma perspectiva da educação. Os que sustentam os global necessária para indicar caminhos realmente seguros
paradigmas holonômicos procuram buscar na unidade dos numa época de profundas e rápidas transformações. Essa é
contrários e na cultura contemporânea um sinal dos tempos, uma das preocupações do Instituto Paulo Freire, buscando, a
uma direção do futuro, que eles chamam de pedagogia da partir do legado de Paulo Freire, consolidar o seu “Projeto da
unidade. Escola Cidadã”, como resposta à crise de paradigmas. A
concepção teórica e as práticas desenvolvidas a partir do
Educação Popular conceito de Escola Cidadã podem constituir-se numa
alternativa viável, de um lado, ao projeto neoliberal de
O paradigma da educação popular, inspirado educação, amplamente hegemônico, baseado na ética do
originalmente no trabalho de Paulo Freire nos anos 60, mercado, e, de outro lado, à teoria e à prática de uma educação
encontrava na conscientização sua categoria fundamental. A burocrática, sustentada na “estatolatria” (Antônio Gramsci). É
prática e a reflexão sobre a prática levaram a incorporar outra uma escola que busca fortalecer autonomamente o seu projeto
categoria não menos importante: a da organização. Afinal, não político-pedagógico, relacionando-se dialeticamente – não
basta estar consciente, é preciso organizar-se para poder mecânica e subordinadamente – com o mercado, o Estado e a
transformar. Nos últimos anos, os educadores que sociedade. Ela visa formar o cidadão para controlar o mercado
permaneceram fiéis aos princípios da educação popular e o Estado, sendo, ao mesmo tempo, pública quanto ao seu
atuaram principalmente em duas direções: na educação destino – isto é, para todos – estatal quanto ao financiamento
pública popular – no espaço conquistado no interior do Estado e democrática e comunitária quanto à sua gestão.
–; e na educação popular comunitária e na educação ambiental Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea
ou sustentável, predominantemente não governamentais. tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma
Durante os regimes autoritários da América Latina, a educação educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo
popular manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais
apresentando projetos “alternativos”. Com as conquistas voltada para a transformação social do que para a transmissão
democráticas, ocorreu com a educação popular uma grande cultural. Por isso, acredita-se que a pedagogia da práxis, como
fragmentação em dois sentidos: de um lado ela ganhou uma uma pedagogia transformadora, em suas várias manifestações,
nova vitalidade no interior do Estado, diluindo-se em suas pode oferecer um referencial geral mais seguro do que as
políticas públicas; e, de outro, continuou como educação não- pedagogias centradas na transmissão cultural, neste momento
formal, dispersando-se em milhares de pequenas de perplexidade.
experiências. Perdeu em unidade, ganhou em diversidade e
conseguiu atravessar numerosas fronteiras. Hoje ela Sociedade da informação e educação
incorporou-se ao pensamento pedagógico universal e orienta
a atuação de muitos educadores espalhados pelo mundo, como Costuma-se definir nossa era como a era do conhecimento.
Se for pela importância dada hoje ao conhecimento, em todos

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os setores, pode-se dizer que se vive mesmo na era do ciberespaço, a informação está sempre e permanentemente
conhecimento, na sociedade do conhecimento, sobretudo em presente e em renovação constante. O ciberespaço rompeu
consequência da informatização e do processo de globalização com a ideia de tempo próprio para a aprendizagem. Não há
das telecomunicações a ela associado. Pode ser que, de fato, já tempo e espaço próprios para a aprendizagem. Como ele está
se tenha ingressado na era do conhecimento, mesmo todo o tempo em todo lugar, o espaço da aprendizagem é aqui
admitindo que grandes massas da população estejam – em qualquer lugar – e o tempo de aprender é hoje e sempre.
excluídas dele. Todavia, o que se constata é a predominância A sociedade do conhecimento se traduz por redes, “teias” (Ivan
da difusão de dados e informações e não de conhecimentos. Illich), “árvores do conhecimento” (Humberto Maturana), sem
Isso está sendo possível graças às novas tecnologias que hierarquias, em unidades dinâmicas e criativas, favorecendo a
estocam o conhecimento, de forma prática e acessível, em conectividade, o intercâmbio, consultas entre instituições e
gigantescos volumes de informações, que são armazenadas pessoas, articulação, contatos e vínculos, interatividade. A
inteligentemente, permitindo a pesquisa e o acesso de maneira conectividade é a principal característica da Internet.
muito simples, amigável e flexível. É o que já acontece com a O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não é
Internet: para ser “usuário”, basta dispor de uma linha apenas o capital da transnacional que precisa dele para a
telefônica e um computador. “Usuário” não significa aqui inovação tecnológica. Ele é básico para a sobrevivência de
apenas receptor de informações, mas também emissor de todos e, por isso, não deve ser vendido ou comprado, mas sim
informações. Pela Internet, a partir de qualquer sala de aula do disponibilizado a todos. Esta é a função de instituições que se
planeta, pode-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos.
partes do mundo. As novas tecnologias permitem acessar Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática,
conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e
também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc. Nos nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas
últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou públicas no setor, acabaram surgindo “indústrias do
especialidade para se tornar uma dimensão de tudo, conhecimento”, prejudicando uma possível visão humanista,
transformando profundamente a forma como a sociedade se tornando-o instrumento de lucro e de poder econômico.
organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma A educação, em particular a educação a distância, é um bem
Revolução da Informação, como ocorreram no passado a coletivo e, por isso, não deve ser regulada pelo jogo do
Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. mercado, nem pelos interesses políticos ou pelo furor
Ladislau Dowbor42, após descrever as facilidades que as legiferante de regulamentar, credenciar, autorizar,
novas tecnologias oferecem ao professor, se pergunta: o que reconhecer, avaliar, etc. de muitos tecnoburocratas. Quem
eu tenho a ver com tudo isso, se na minha escola não tem nem deve decidir sobre a qualidade dos seus certificados não é nem
biblioteca e com o meu salário eu não posso comprar um o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade e o sujeito
computador? Ele mesmo responde que será preciso trabalhar aprendente. Na era da informação generalizada, existirá ainda
em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro. necessidade de diplomas?
Fazer tudo hoje para superar as condições do atraso e, ao O que cabe à escola na sociedade informacional? Cabe a ela
mesmo tempo, criar as condições para aproveitar amanhã as organizar um movimento global de renovação cultural,
possibilidades das novas tecnologias. aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. Hoje é a
As novas tecnologias criaram novos espaços do empresa que está assumindo esse papel inovador. A escola não
conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o pode ficar a reboque das inovações tecnológicas. Ela precisa
espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. ser um centro de inovação. Temos uma tradição de dar pouca
Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, de casa, importância à educação tecnológica, a qual deveria começar já
acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a na educação infantil.
distância, buscar “fora” – a informação disponível nas redes de Na sociedade da informação, a escola deve servir de
computadores interligados – serviços que respondem às suas bússola para navegar nesse mar do conhecimento, superando
demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil a visão utilitarista de só oferecer informações “úteis” para a
(ONGs, associações, sindicatos, igrejas, etc.) está se competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma
fortalecendo não apenas como espaço de trabalho, em muitos formação geral na direção de uma educação integral. O que
casos, voluntário, mas também como espaço de difusão de significa servir de bússola? Significa orientar criticamente,
conhecimentos e de formação continuada. É um espaço sobretudo as crianças e jovens, na busca de uma informação
potencializado pelas novas tecnologias, inovando que os faça crescer e não embrutecer.
constantemente nas metodologias. Novas oportunidades Hoje vale tudo para aprender. Isso vai além da “reciclagem”
parecem abrir-se para os educadores. Esses espaços de e da atualização de conhecimentos e muito mais além da
formação têm tudo para permitir maior democratização da “assimilação” de conhecimentos. A sociedade do
informação e do conhecimento, portanto, menos distorção e conhecimento possui múltiplas oportunidades de
menos manipulação, menos controle e mais liberdade. É uma aprendizagem: parcerias entre o público e o privado (família,
questão de tempo, de políticas públicas adequadas e de empresa, associações, etc.); avaliações permanentes; debate
iniciativa da sociedade. A tecnologia não basta. É preciso a público; autonomia da escola; generalização da inovação. As
participação mais intensa e organizada da sociedade. O acesso consequências para a escola e para a educação em geral são
à informação não é apenas um direito. É um direito enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber
fundamental, um direito primário, o primeiro de todos os pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer sínteses e elaborações
direitos, pois sem ele não se tem acesso aos outros direitos. teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina
Na formação continuada necessita-se de maior integração para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular
entre os espaços sociais (domiciliar, escolar, empresarial, etc.), o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo e a
visando equipar o aluno para viver melhor na sociedade do distância.
conhecimento. Como previa Herbert McLuhan, o planeta Neste contexto de impregnação do conhecimento, cabe à
tornou-se a nossa sala de aula e o nosso endereço. O escola: amar o conhecimento como espaço de realização
ciberespaço não está em lugar nenhum, pois está em todo o humana, de alegria e de contentamento cultural; selecionar e
lugar o tempo todo. Estar num lugar significaria estar rever criticamente a informação; formular hipóteses; ser
determinado pelo tempo (hoje, ontem, amanhã). No criativa e inventiva (inovar); ser provocadora de mensagens e

42 DOWBOR, L. A reprodução social. São Paulo, Vozes, 1998.

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não pura receptora; produzir, construir e reconstruir Educação do futuro


conhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva
emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso Jacques Delors43, coordenador do “Relatório para a Unesco
em favor dos excluídos, não discriminando o pobre. Ela não da Comissão Internacional Sobre Educação para o Século XXI”,
pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir no livro Educação: um tesouro a descobrir, aponta como
conhecimentos, saber, que é poder. Numa perspectiva principal consequência da sociedade do conhecimento a
emancipadora da educação, a tecnologia contribui muito necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida
pouco para a emancipação dos excluídos se não for associada (Lifelong Learning) fundada em quatro pilares que são ao
ao exercício da cidadania. mesmo tempo pilares do conhecimento e da formação
Como diz Ladislau Dowbor, a escola deixará de ser continuada. Esses pilares podem ser tomados também como
“lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. Segundo o bússola para nos orientar rumo ao futuro da educação.
autor, “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser
determinante sobre o desenvolvimento”. A educação tornou- Aprender a conhecer – Prazer de compreender, descobrir,
se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso, não construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade,
basta “modernizá-la”, como querem alguns. Será preciso autonomia, atenção. Inútil tentar conhecer tudo. Isso supõe
transformá-la profundamente. uma cultura geral, o que não prejudica o domínio de certos
A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que
sua própria inovação, planejar-se a médio e a longo prazos, aprender a aprender. Aprender mais linguagens e
fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem
parâmetros curriculares, enfim, ser cidadã. As mudanças que rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso
vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Da sua aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas “pensar
capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua pensamentos”, pensar o já dito, o já feito, reproduzir o
prática/experiência, dependerá o seu futuro. Nesse contexto, o pensamento. É preciso pensar também o novo, reinventar o
educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno pensar, pensar e reinventar o futuro.
que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir
conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa Aprender a fazer – É indissociável do aprender a
ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos conhecer. A substituição de certas atividades humanas por
sentidos para o que fazer dos seus alunos. máquinas acentuou o caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou
Em geral, temos a tendência de desvalorizar o que fazemos de ser puramente instrumental. Nesse sentido, vale mais hoje
na escola e de buscar receitas fora dela quando é ela mesma a competência pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar
que deveria governar-se. É dever dela ser cidadã e desenvolver novas situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe,
na sociedade a capacidade de governar e controlar o do que a pura qualificação profissional. Hoje, o importante na
desenvolvimento econômico e o mercado. A cidadania precisa formação do trabalhador, também do trabalhador em
controlar o Estado e o mercado, verdadeira alternativa ao educação, é saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa,
capitalismo neoliberal e ao socialismo burocrático e gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber
autoritário. A escola precisa dar o exemplo, ousar construir o resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são, acima
futuro. Inovar é mais importante do que reproduzir com de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações
qualidade o que existe. A matéria-prima da escola é sua visão interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial.
do futuro. Existem hoje perto de 11 mil funções na sociedade contra
A escola está desafiada a mudar a lógica da construção do aproximadamente 60 profissões oferecidas pelas
conhecimento, pois a aprendizagem agora ocupa toda a nossa universidades. Como as profissões evoluem muito
vida. E porque passamos todo o tempo de nossas vidas na rapidamente, não basta preparar-se profissionalmente para
escola – não só nós, professores – devemos ser felizes nela. A um trabalho.
felicidade na escola não é uma questão de opção metodológica
ou ideológica, mas sim uma obrigação essencial dela. Como diz Aprender a viver juntos – a viver com os outros.
Georges Snyders no livro ‘A alegria na escola, precisamos de Compreender o outro, desenvolver a percepção da
uma nova “cultura da satisfação”, precisamos da “alegria interdependência, da não-violência, administrar conflitos.
cultural’. O mundo de hoje é “favorável à satisfação” e a escola Descobrir o outro, participar em projetos comuns. Ter prazer
também pode sê-lo. no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa
O que é ser professor hoje? Ser professor hoje é viver é a tendência. No Brasil, como exemplo desta tendência, pode-
intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e se citar a inclusão de temas/eixos transversais (ética, ecologia,
sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a cidadania, saúde, diversidade cultural) nos Parâmetros
humanidade sem educadores, assim como não se pode pensar Curriculares Nacionais, que exigem equipes interdisciplinares
num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão e trabalho em projetos comuns.
emancipadora, não só transformam a informação em
conhecimento e em consciência crítica, mas também formam Aprender a ser – Desenvolvimento integral da pessoa:
pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético,
marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento
os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa. Para
(não o dado, a informação e o puro conhecimento), porque isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de
constroem sentido para a vida das pessoas e para a cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico-
humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas matemática e linguística. Precisa ser integral.
produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são Iniciou-se este texto procurando situar o que significa
imprescindíveis. “perspectiva”. Sem pretender fazer qualquer exercício de
futurologia e muito mais no sentido de estabelecer pontos para
o debate, serão apontados aqui algumas categorias em torno

43DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO


da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez,
1998.

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da educação do futuro, que indicam o surgimento de temas educação básica. Para pensar a educação do futuro, é
com importantes consequências para a educação. necessário refletir sobre o processo de globalização da
economia, da cultura e das comunicações.
As categorias “contradição”, “determinação”,
“reprodução”, “mudança”, “trabalho”, “práxis”, “necessidade”, F) Transdisciplinaridade – Embora com significados
“possibilidade” aparecem frequentemente na literatura distintos, certas categorias como transculturalidade,
pedagógica contemporânea, sinalizando já uma perspectiva da transversalidade, multiculturalidade e outras como
educação, a perspectiva da pedagogia da práxis. Essas complexidade e holismo também indicam uma nova tendência
categorias tornaram-se clássicas na explicação do fenômeno na educação que será preciso analisar. Como construir
da educação, principalmente a partir de Hegel e de Marx. A interdisciplinarmente o projeto pedagógico da escola? Como
dialética constitui-se, até hoje, no paradigma mais consistente relacionar multiculturalidade e currículo? É necessário
para analisar o fenômeno da educação. Pode-se e deve-se realizar o debate dos PCN. Como trabalhar com os “temas
estudá-la e estudar todas as categorias anteriormente transversais”? O desafio de uma educação sem discriminação
apontadas. Elas não podem ser negadas, pois ajudarão muito étnica, cultural, de gênero.
na leitura do mundo da educação atual. Elas não podem ser
negadas ou desprezadas como categorias “ultrapassadas”. G) Dialogicidade, dialeticidade – Não se pode negar a
Porém, também podemos nos ocupar mais atualidade de certas categorias freireanas e marxistas, a
especificamente de outras, ao pensar a educação do futuro, validade de uma pedagogia dialógica ou da práxis. Marx, em O
categorias nascidas ao mesmo tempo da prática da educação e capital, privilegiou as categorias hegelianas “determinação”,
da reflexão sobre ela. Eis algumas delas a título de exemplo: “contradição”, “necessidade” e “possibilidade”. A
fenomenologia hegeliana continua inspirando nossa educação
A) Cidadania – O que implica também tratar do tema da e deverá atravessar os anos. A educação popular e a pedagogia
autonomia da escola, de seu projeto político-pedagógico, da da práxis deverão continuar como paradigmas válidos para o
questão da participação, da educação para a cidadania. Dentro futuro que virá.
desta categoria, pode-se discutir particularmente o significado
da concepção de escola cidadã e de suas diferentes práticas. A análise dessas categorias e a identificação da sua
Educar para a cidadania ativa tornou-se hoje projeto e presença na pedagogia contemporânea podem constituir-se,
programa de muitas escolas e de sistemas educacionais. sem dúvida, num grande programa a ser desenvolvido hoje em
torno das “perspectivas atuais da educação”. Não se pretende
B) Planetaridade – A Terra é um “novo paradigma” aqui dar respostas definitivas. Com esse pequeno texto
(Leonardo Boff). Que implicações tem essa visão de mundo introdutório, procurou-se apenas iniciar um debate sobre as
sobre a educação? O que seria uma ecopedagogia (Francisco perspectivas atuais da educação, sem a intenção de, com isso,
Gutiérrez) e uma ecoformação (Gaston Pineau)? O tema da encerrá-lo. Existem muitos outros desafios para a educação. A
cidadania planetária pode ser discutido a partir desta reflexão crítica não basta, como também não basta a prática
categoria. Podemos nos perguntar como Milton Nascimento: sem a reflexão sobre ela. Aqui, são indicadas apenas algumas
“para que passaporte se fazemos parte de uma única nação?” pistas, dentro de uma visão otimista e crítica – não pessimista
Que consequências podemos tirar para alunos, professores e e ingênua – para uma análise em profundidade daqueles que
currículos? se interessam por uma “educação voltada para o futuro”, como
dizia o grande educador polonês, o marxista Bogdan
C) Sustentabilidade – O tema da sustentabilidade Suchodolski.
originou-se na economia (“desenvolvimento sustentável”) e na
ecologia, para se inserir definitivamente no campo da A integração da Escola x Família x Comunidade
educação, sintetizada no lema “uma educação sustentável para
a sobrevivência do planeta”. O que seria uma cultura da Não há como pensarmos em educação sem o envolvimento
sustentabilidade? Esse tema deverá dominar muitos debates da família nesse processo. Escola e família são instituições
educativos das próximas décadas. O que estamos estudando sociais muito presentes na vida escolar do aluno, de forma que
nas escolas? Não estaremos construindo uma ciência e uma só se pode pensar em sucesso educativo se pensarmos
cultura que servem para a degradação/deterioração do também em trabalho conjunto. Educar é sem dúvida um papel
planeta? que recai sobre a família e a escola. Por isso, quanto mais
estreita for essa relação, melhor será o resultado. Pais e
D) Virtualidade – Esse tema implica toda a discussão atual professores têm objetivos comuns e precisam ser os mais
sobre a educação a distância e o uso dos computadores nas cordiais, coerentes e responsáveis nesse processo.
escolas (Internet). A informática, associada à telefonia, nos Não há como conceber um compartilhamento da ação
inseriu definitivamente na era da informação. Quais as educativa sem considerar os contatos entre as famílias e os
consequências para a educação, para a escola, para a formação educadores. Essa é uma questão primordial que deve ser
do professor e para a aprendizagem? Consequências da muito mais frequente na educação dos anos iniciais do que nas
obsolescência do conhecimento. Como fica a escola diante da outras etapas, os contatos podem ser de várias naturezas:
pluralidade dos meios de comunicação? Eles abrem os novos contatos rotineiros, reunião de pais, reuniões de, reuniões de
espaços da formação ou irão substituir a escola? conselho de escola, comemorações, trabalho do professor e
informações da própria criança.
E) Globalização – O processo da globalização está Todas as formas de contatos entre escola e família sevem
mudando a política, a economia, a cultura, a história e, para aproximar as famílias do universo escolar e para que a
portanto, também a educação. É um tema que deve ser escola possa conhecer a dinâmica familiar daquele aluno,
enfocado sob vários prismas. A globalização remete também quanto mais à escola conhece o aluno e sua família mais
ao poder local e às consequências locais da nossa dívida próxima estarão do sucesso na educação dele.
externa global (e dívida interna também, a ela associada). O Quando falamos na necessidade da relação entre família e
global e o local se fundem numa nova realidade: o “global”. O escola, falamos principalmente na possibilidade de
estudo desta categoria remete à necessária discussão do papel compartilhar critérios educativos para que possam minimizar
dos municípios e do “regime de colaboração” entre União, as possíveis diferenças entre os dois ambientes, Para o aluno,
estados, municípios e comunidade, nas perspectivas atuais da é muito mais produtivo que os ambientes tenham ideias

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parecidas sobre educação. O crescimento harmonioso do pública porque essa correrá uma medida em que a escola se
aluno deve permear a colaboração entre as duas instâncias, coloca a serviço dos interesses da população que dela
família e escola, de forma que possa contribuir para: necessita.
Buscar meios para que a família possa criar o hábito de Paro argumenta que a ausência da comunidade na escola
participar da vida escolar dos seus filhos, percebendo o quanto pública torna-se mais difícil a avaliação da qualidade do ensino
a família é importante no processo Ensino Aprendizagem do ofertado. Os pais, até mesmo mais que os alunos, como co-
aluno, através de ações previstas no Projeto Político usuário da escola, são capazes de apontar problemas e, muitas
Pedagógico, propor alteração no Projeto Político Pedagógico vezes, sugerir ações para solução deles. Além de todos esses
com o intuito de melhorar o processo ensino aprendizagem, aspectos é ainda importante realizar a divisão do poder na
despertar as famílias, fazendo com que possam perceber a escola possibilitando a comunidade participar da tomada de
importância da participação nas atividades escolares dos decisões.
filhos, promover atividades que permitam o envolvimento das A relação entre escola e comunidade precisa ser um espaço
famílias, criar momentos de integração entre pais, alunos e aberto onde favoreça e solicite a participação de toda essa
comunidade escolar, mostrando-lhes o quanto eles são abertura aponta para o caráter interdependente da escola.
importantes na vida escolar de seus filhos. Essa interação entre escola e comunidade é amparada por leis
que exigem, por exemplo, a criação dos conselhos escolares.
Relação Escola x Comunidade Essas são estratégias de interação e de democratização do
espaço escolar e favorecem a democratização do ensino.
Para Libâneo44 a organização de atividades que asseguram
a relação entre escola e comunidade, implica ações que Gestão escolar democrática
envolvem a escola e suas relações externas, tais como os níveis
superiores de gestão do sistema escolar, os pais, as A escola tem como uma de suas atribuições desenvolver
organizações políticas e comunitárias, as cidades e os ações e atividades que ensinem e aprimorem o respeito ás
equipamentos urbanos. O objetivo dessas atividades é buscar diferenças entre todos. Para tanto, se faz necessário que a
as possibilidades de cooperação e de apoio, oferecidas pelas escola efetive ações em prol do desenvolvimento da cidadania.
diferentes instituições, que contribuam para o aprimoramento É nesse contexto que se destaca a gestão democrática do
do trabalho da escola, isto é, para as atividades de ensino e de ensino público, princípio constitucional que traduz a
educação dos alunos. Espera-se especialmente, que os pais participação ativa e cidadã da comunidade escolar e local na
atuam na gestão escolar mediante canais de participação bem condução da escola, pois a gestão da escola é um ato político
definidos. que implica tomada de decisões que não podem ser
Assim, podemos inferir que a participação efetiva da individuais, mas coletivas.
comunidade na escola é uma responsabilidade da escola. Essa No contexto educacional, a democracia deve ser o princípio
participação traz, sem dúvidas, inúmeras vantagens, porém norteador da prática pedagógica, configurando-se como
reconhece-se que há inúmeros obstáculos em relação a tal fundamento das ações escolares. Desse modo, o
participação. Mesmo assim, a escola não deve desistir, pois desenvolvimento de práticas democrático é parte da
essa participação deve ser entendida como uma questão construção de um sistema que respeita os direitos individuais
política, que auxilia na construção da cidadania. Um bom e coletivos de todos. Assim, é fundamental que a escola efetive
começo para efetivas mudanças no padrão de participação da ações que concretizem a gestão democrática, entre elas, a
comunidade é, por exemplo, um incentivo e a implantação dos efetivação do Conselho da Escola e a realização de eleições
conselhos escolares que devem atuar de maneira ativa e diretas para direção e vice direção.
autônoma. No entanto, para que a gestão democrática se concretize é
Pais e mães podem participar de várias formas no essencial o desenvolvimento de ações pautada nos princípios
ambiente escolar e na própria educação dos filhos, basta que a de autonomia e interculturalismo, em processos de
escola ofereça opções e dedique um tempo para que isso participação e de cooperação na construção de uma sociedade
aconteça. Claro que essa não é uma tarefa fácil, uma vez que os mais justo e igualitária. Para tanto, o processo de ensino-
professores estão envolvidos emocionalmente com seus aprendizagem é fundamental, pois por meio de práticas
alunos e famílias. Famílias e escola têm a responsabilidade de democráticas desenvolvidas em sala de aula se vivencia e se
educar as crianças, para isso precisam estabelecer uma relação aprende o respeito às diferenças, possibilitando a resolução
de parceria, aumentando as possibilidades de compartilhar positiva de conflitos e favorecendo a realização de objetivos
critérios educativos que possam minimizar as possíveis coletiva.
diferenças entre os dois ambientes, escola e família. Portanto, se a escola busca desenvolver valores
Não há dúvidas que o ambiente escolar e a família democráticos como o respeito, a justiça, a liberdade e a
compõem o meio social no qual o aluno está inserido. Eles dois solidariedade, devem necessariamente, democratizar os
mais o local em que localiza sua residência ou sua escola, bem métodos e os processos de ensino-aprendizagem e,
como os laços sociais e econômicos compõem o meio social fundamentalmente, o relacionamento entre professor e aluno.
com forte interferência no aprendizado e na motivação para Professores que estabelecem relações horizontais com seus
aprendê-lo. alunos, propiciando o diálogo sobre conteúdos e vivências,
conseguem concretizar intervenções que atendem ás questões
A educação como responsabilidade de todos individuais e coletivas. Essa atitude, além de respeitar as
condições e possibilidades de cada um, proporciona o êxito do
Observa-se nas últimas décadas, uma crescente processo de ensino-aprendizagem.
preocupação com essa inserção da comunidade na escola,
inclusive com programas voluntários, como os famosos A relação Família x Escola
“Amigos na escola”. Independentemente das questões
ideológicas que esse tipo de participação possa suscitar Há inúmeros fatores a serem levados em conta na
sabemos que a comunidade tem um papel importante na consideração da relação família/escola. O primeiro deles, é que
construção da autonomia da escola, principalmente da escola a ação educativa dos pais difere, necessariamente, da escola,

44LIBANEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas,


estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.

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dos seus objetivos, conteúdos, métodos, no padrão de perceber que estamos no caminho certo ao realizar ações que
sentimentos e emoções que estão em jogo, na natureza dos despertem neles o entendimento da importância dessa
laços pessoais entre os protagonistas e, evidentemente, nas participação. Porém não podemos deixar de registrar um
circunstâncias em que ocorrem. imobilismo ou incapacidade da escola em elaborar ações que
Outra consideração refere-se ao comportamento das superem ou ajudam superar essas limitações, pois o que mais
famílias das diferentes camadas sociais em relação à escola ouvimos a escola dizer que é muito difícil trazer os pais para a
pública, famílias de classe média desenvolvem estratégias de escola, isso tem caracterizado o desânimo e a falta de vontade
participação, tendo em vista a criação de condições para o em mudar situações.
sucesso escolar de seus filhos, além dos mais, o nível de Exemplificando esforços de mudanças dessa situação,
escolaridade e a facilidade de verbalização possibilitam a esses decidimos assumir juntamente com os diretores a realização
pais uma crítica que famílias das classes trabalhadoras não de trabalho para promover a superação dessas dificuldades, e
conseguem ou não ousam fazer. tomamos a iniciativa de promover encontros, realizar
Outro fator a ser considerado refere-se às estratégias de reuniões e palestras com pais de alunos de nossas escolas,
socialização escolar, se são complementares ou não às da abrindo-se para apoiar as famílias como forma de promover a
escola, e isto depende muito de classe social que a família integração dos mesmos ao seu trabalho.
pertence. As famílias podem desenvolver práticas que venham A participação dos pais na vida da escola tem sido
facilitar a aprendizagem escolar (por exemplo: preparar para observada em pesquisas, como um dos indicadores mais
a alfabetização) e desenvolver hábitos coerentes com os significativos na determinação da qualidade do ensino, isto é
exigidos pela escola (por exemplo: hábitos de conversação) ou aprendem mais os alunos cujos pais participam mais da vida
não. da escola.
Além de estratégias de socialização, as famílias diferem
uma das outras quanto a modelos educativos. Bouchard45 Referência:
distingue, de forma geral, três modelos: o “racional”, o
“humanista” e o “simbiossinérgico”. No racional, os pais ALMEIDA, Felipe Quintão de; BRACHT, Valter; GOMES, Ivan
mantêm uma hierarquia na qual decidem e impõem suas Marcelo. Bauman e a educação. Belo Horizonte: Autêntica,
decisões sobre as atividades e o futuro dos filhos. Dão muita 2009.
importância à disciplina, à ordem, à submissão, à autoridade. BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade.
Nas suas estratégias educativas, os pais distribuem ordens, Tradução: Mauro Gama; Cláudia Martinelli Gama. Rio de
impõem, ameaçam, criticam, controlam, proíbem, dão as Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
soluções para a criança. Orientam mais para um conformismo BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar:
do que para a autonomia. a aventura da modernidade. Tradução: Carlos Felipe Moisés;
No modelo humanista, os pais se colocam mais como guias, Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
dando aos filhos o poder de decisão, numa política que GADOTTI, MOACIR. Perspectivas atuais da educação. São
Bouchard chama de autogestão no poder pela criança. Entre as Paulo Perspec. , São Paulo, v. 14, n. 2, p. 03-11, junho de 2000.
estratégias educativas estão as seguintes: permite e estimula a Disponível em
expressão das emoções pelos filhos, encoraja nos seus <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010
empreendimentos, reconhece e valoriza as capacidades dos 2-88392000000200002&lng=pt_BR&nrm=iso>.
filhos, favorece a autonomia e a autodeterminação nos seus GÓMEZ, A. I. Pérez. A Cultura escolar na sociedade
filhos sua comunicação orienta-se necessidades dos filhos. neoliberal. Tradução: Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Os conflitos entre famílias e escolas podem advir das LIBANEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação
diferenças de classes sociais, valores, crenças, hábitos de Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo:
interação e comunicação subjacentes aos modelos educativos. Cortez, 2003
Tanto crianças como pai pode comportar-se segundo modelos PARO, V. Gestão democrática da escola pública. 3ª ed. São
que não são da escola. Isto pode não ser um problema para as Paulo: Ática, 2003.
famílias das camadas sócias mais altas, quem tem a
possibilidade de escolher uma escola que se assemelhe ao seu Questões
próprio modelo. Esta não é a realidade para as classes
trabalhadoras. Os modelos adotados pelas escolas dependem, 01. Assinale certo ou errado para a assertiva abaixo:
em geral, da disposição das diretorias e de sua orientação. Ao tratar da concepção de homem, Paulo Freire entende
que o homem começa a ser sujeito social, independente do
A participação dos pais na vida da escola contato com outros homens.
( ) Certo ( ) Errado
Sabe-se que em geral, os pais poucas participações
exercem na determinação do que acontece na escola. Algumas 02. Com relação ao convívio família/escola, a ação
vezes teme-se a participação de certos pais que, sendo muito educativa dos pais difere, necessariamente, da escola, dos seus
eloquentes e de temperamento forte, tentam impor sua objetivos, dentre outros aspectos.
vontade sobre procedimentos escolares e que muitas vezes ( ) Certo ( ) Errado
funcionariam mais para “facilitar” sua própria vida, ou de seus
filhos, do que para melhorar a qualidade do ensino, conforme 03. O tema da sustentabilidade originou-se na economia
percebido por gestores e professores. Em vista disso, muitas (“desenvolvimento sustentável”) e na ecologia, para se inserir
vezes, os dirigentes escolares não apenas deixam de ouvir os definitivamente no campo da educação, sintetizada no lema
pais, como até evitam fazê-lo, e de dar espaço para a “uma educação sustentável para a sobrevivência do planeta.
participação familiar. É possível que ajam dessa forma ( ) Certo ( ) Errado
também por terem receio de perder espaço e autoridade.
Observando a escola, podemos perceber que a maioria dos Respostas
pais por terem dificuldades em estarem frequentes na escola
tem nos revelado não apenas uma carência, mas nos fez 01. Errado / 02. Certo / 03. Certo

45 BOUCHARD, J. M. De I'Institution a Ia communauté: les parents et les


professionels-une relation qui se construit. In: DURNING, R Education familiale.
Vigneux: Matrice, 1988.

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APOSTILAS OPÇÃO

Esses tipos de aprendizagem têm grande relevância na


assimilação ativa dos indivíduos, favorecendo um
O Papel da Didática na formação do conhecimento a partir das circunstâncias vivenciadas pelo
Professor: saberes e competências. mesmo.
O processo de assimilação de determinados
conhecimentos, habilidades, percepção e reflexão é
Processos Didáticos Básicos, Ensino e Aprendizagem desenvolvido por meios atitudinais, motivacionais e
intelectuais do aluno, sendo o professor o principal orientador
Anteriormente convém ressaltar o conceito atual de desse processo de assimilação ativa, é através disso que se
didática segundo a análise etimológica, o contexto histórico em pode adquirir um melhor entendimento, favorecendo um
que prevaleceram determinados conceitos, a problemática desenvolvimento cognitivo.
educacional e sua relevância para o ensino. Através do ensino podemos compreender o ato de
Etimologicamente a palavra ‘didática’ significa ‘expor aprender que é o ato no qual assimilamos mentalmente os
claramente’, ‘demonstrar’, ‘ensinar’, ‘instruir’. Em primeira fatos e as relações da natureza e da sociedade. Esse processo
instância, este sentido mais originário corresponde de assimilação de conhecimentos é resultado da reflexão
aproximadamente a tudo aquilo que é ‘próprio para o ensino’. proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas ações
Levando em consideração o seu significado etimológico mentais que caracterizam o pensamento. Entendida como
percebemos que a didática está intimamente ligada ao fundamental no processo de ensino a assimilação ativa
processo de ensino-aprendizagem, e a tudo que se refere ao desenvolve no indivíduo a capacidade de lógica e raciocínio,
ato de ensinar e aprender. facilitando o processo de aprendizagem do aluno.
A Didática foi concebida como base de uma reforma O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de
educacional importante pela primeira vez no século XVII, com determinados conhecimentos e operações mentais,
João Amós Comenius, em sua obra Didática Magna. Nesta caracterizada pela apreensão consciente, compreensão e
época, ele havia observado que a educação se dava de maneira generalização das propriedades e relações essenciais da
muito espontânea, permeada de puro praticismo, não havia realidade, bem como pela aquisição de modos de ação e
sistematização, organização ou planejamento. Com o objetivo aplicação referentes a essas propriedades e relações. De
de organizar e sistematizar a educação, Comenius escreveu a acordo com esse contexto podemos despertar uma
Didática Magna, que pretendia estabelecer os fundamentos da aprendizagem autônoma, seja no meio escolar ou no ambiente
‘arte universal de ensinar tudo a todos’, privilegiando em que estamos.
sobretudo o professor, o método e o conteúdo. Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto pelo
A didática então surge como objeto de estudo no processo contato com as coisas no ambiente, como pelas palavras que
de ensino/aprendizagem, pois este está inserido em todas as designam das coisas e dos fenômenos do ambiente. Portanto
práticas educacionais, em todos os níveis de ensino, e cada as palavras são importantes condições de aprendizagem, pois
prática educacional evidencia uma intenção, ideologia, através delas são formados conceitos pelos quais podemos
objetivos e meios para serem atingidos. Desta forma ocorre o pensar.
processo de ensino aprendizagem, que em momento algum é O ensino é o principal meio de progresso intelectual dos
neutro, apolítico ou isolado de sua realidade político social. alunos, através dele é possível adquirir conhecimentos e
Assim, a Didática é o principal ramo de estudo da habilidades individuais e coletivas. Por meio do ensino, o
pedagogia, pois ela situa-se num conjunto de conhecimentos professor transmite os conteúdos de forma que os alunos
pedagógicos, investiga os fundamentos, as condições e os assimilem esse conhecimento, auxiliando no desenvolvimento
modos de realização da instrução e do ensino, portanto é intelectual, reflexivo e crítico.
considerada a ciência de ensinar. Nesse contexto, o professor Por meio do processo de ensino o professor pode alcançar
tem como papel principal garantir uma relação didática entre seu objetivo de aprendizagem, essa atividade de ensino está
ENSINO x APRENDIZAGEM. ligada à vida social mais ampla, chamada de prática social,
Segundo Libâneo46, o professor tem o dever de planejar, portanto o papel fundamental do ensino é mediar à relação
dirigir e controlar esse processo de ensino, bem como entre indivíduos, escola e sociedade.
estimular as atividades e competências próprias do aluno para
a sua aprendizagem. A condição para o processo de ensino O Caráter Educativo do Processo de Ensino e o Ensino
requer uma clara e segura compreensão do processo de Crítico
aprendizagem, ou seja, deseja entender como as pessoas
aprendem e quais as condições que influenciam para esse No desempenho da profissão docente, o professor deve ter
aprendizado. Assim, ressalta que podemos distinguir a em mente a formação da personalidade dos alunos, não apenas
aprendizagem em dois tipos: aprendizagem casual e a no aspecto intelectual, como também nos aspectos morais,
aprendizagem organizada. afetivos e físicos. Como resultado do trabalho escolar, os
alunos vão formando o senso de observação, a capacidade de
A) Aprendizagem casual: É quase sempre espontânea, exame objetivo e crítico de fatos e fenômenos da natureza e
surge naturalmente da interação entre as pessoas com o das relações sociais, habilidades de expressão verbal e escrita.
ambiente em que vivem, ou seja, através da convivência social, O processo de ensino deve estimular o desejo e o gosto pelo
observação de objetos e acontecimentos. estudo, mostrando assim a importância do conhecimento para
a vida e o trabalho, nesse processo o professor deve criar
B) Aprendizagem organizada: É aquela que tem por situações que estimule o indivíduo a pensar, analisar e
finalidade específica aprender determinados conhecimentos, relacionar os aspectos estudados com a realidade que vive.
habilidades e normas de convivência social. Este tipo de Essa realização consciente das tarefas de ensino e
aprendizagem é transmitido pela escola, que é uma aprendizagem é uma fonte de convicções, princípios e ações
organização intencional, planejada e sistemática, as que irão relacionar as práticas educativas dos alunos,
finalidades e condições da aprendizagem escolar é tarefa propondo situações reais que façam com que os indivíduos
específica do ensino. reflitam e analisem de acordo com sua realidade.

46 LIBÂNEO, José Carlos. A Didática e as exigências do processo de escolarização:


formação cultural e científica e demandas das práticas socioculturais.

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APOSTILAS OPÇÃO

Entretanto, o caráter educativo está relacionado aos A prática educativa não pode ocorrer de maneira
objetivos do ensino crítico e é realizado dentro do processo de espontânea, sem planejamento, metas e instrumentos, ela
ensino. É através desse processo que acontece a formação da deve estabelecer objetivos, os quais devem ser atingidos
consciência crítica dos indivíduos, fazendo-os pensar utilizando-se da didática, que certamente facilitará o caminho
independentemente, por isso o ensino crítico, chamado assim a ser trilhado segundo meios viáveis e de acordo com cada
por implicar diretamente nos objetivos sócio-políticos e realidade educacional, em proveito da ideia de homem que se
pedagógicos, também os conteúdos, métodos escolhidos e deseja formar, de acordo com a sociedade em que este homem
organizados mediante determinada postura frente ao contexto está inserido, pois “a didática não se limita só ao fazer, só ação
das relações sociais vigentes da prática social. prática, mas também se vincula as demais instâncias e
É através desse ensino crítico que os processos mentais aspectos da educação formal”.
são desenvolvidos, formando assim uma atitude intelectual.
Nesse contexto os conteúdos deixam de serem apenas Dessa forma, o trabalho do professor é reflexo de uma
matérias, e passam então a ser transmitidos pelo professor aos AÇÃO x REFLEXÃO x AÇÃO, ou seja, é papel do professor
seus alunos formando assim um pensamento independente, planejar a aula (AÇÃO), criar condições favoráveis de estudo
para que esses indivíduos busquem resolver os problemas dentro da sala de aula, estimulando a curiosidade e a
postos pela sociedade de uma maneira criativa e reflexiva. criatividade dos alunos (REFLEXÃO), reelaborar as aulas após
observadas as necessidades dos educandos (NOVA AÇÃO).
As contribuições da Didática na formação do
profissional da Educação Entretanto é necessário que haja uma interação mútua
entre docentes e discentes, pois não há ensino se os alunos não
Como vimos anteriormente à didática estuda o processo de desenvolverem suas capacidades e habilidades mentais, ou
ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos fazem seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem dos
parte, de modo a criar condições que garantam uma alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria
aprendizagem significativa dos alunos. Nessa perspectiva, a aprendizagem. Portanto, podemos dizer que o processo
didática torna-se o principal ramo de estudos da pedagogia, didático se baseia no conjunto de atividades do professor e dos
pois é necessário dominar bem todas as teorias para que haja alunos, sob a direção do professor, apenas como mediador,
uma boa prática educativa, assim o educador dispõe de para que haja uma assimilação ativa de conhecimentos e
recursos teóricos para organizar e articular o processo de desenvolvimento das habilidades dos alunos.
ensino e aprendizagem. Assim, é necessário para o planejamento de ensino que o
Segundo Libâneo47, o trabalho docente também chamado professor compreenda as relações entre educação escolar, os
de atividade pedagógica tem como objetivos primordiais: objetivos pedagógicos e tenha um domínio seguro dos
conteúdos ao qual ele leciona, sendo assim capaz de conhecer
A) Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e os programas oficiais e adequá-los ás necessidades reais da
duradouro possível dos conhecimentos científicos; escola e de seus alunos.
B) Criar as condições e os meios para que os alunos Um professor que aspira ter uma boa didática necessita
desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais de modo aprender a cada dia como lidar com a subjetividade do aluno,
que dominem métodos de estudo e de trabalho intelectual sua linguagem, suas percepções e sua prática de ensino. Sem
visando a sua autonomia no processo de aprendizagem e essas condições o professor será incapaz de elaborar
independência de pensamento; problemas, desafios, perguntas relacionadas com os
C) Orientar as tarefas de ensino para objetivo educativo de conteúdos, pois essas são as condições para que haja uma
formação da personalidade, isto é, ajudar os alunos a aprendizagem significativa. No entanto para que o professor
escolherem um caminho na vida, a terem atitudes e convicções atinja efetivamente seus objetivos, é preciso que ele saiba
que norteiem suas opções diante dos problemas e situações da realizar vários processos didáticos coordenados entre si, tais
vida real. como o planejamento, a direção do ensino da aprendizagem e
da avaliação.
Além dos objetivos da disciplina e dos conteúdos, é Portanto é a didática que fundamenta a ação docente, é
fundamental que o professor tenha clareza das finalidades que através da didática que a teoria e a prática se consolidam de
ele tem em mente, a atividade docente tem a ver diretamente forma viável e eficaz, pois ela se ocupa do processo de ensino
com “para que educar”, pois a educação se realiza numa nas várias dimensões, não se restringindo apenas a educação
sociedade que é formada por grupos sociais que tem uma visão escolar, mas investiga e orienta a formação do educador na sua
diferente das finalidades educativas. totalidade.
Nota-se que a problemática que permeia a educação em
torno da didática, consiste na dificuldade de mediar Formação de profissionais da educação: visão crítica e
conhecimento prático e teórico, na medida em que muitos perspectiva de mudança
educadores apresentam uma concepção fragmentada e
ambígua desta interação, chegando ao ponto de dissociá-las. Há cerca de 20 anos, por iniciativa de movimentos de
Essa separação entre teoria e prática impossibilita os educadores e, em paralelo, no âmbito do Ministério da
profissionais da educação de articular a teoria em proveito da Educação, iniciava-se um debate nacional sobre a formação de
prática, pois uma subsidia a outra. Como resultado dessa pedagogos e professores, com base na crítica da legislação
separação a prática educativa tende a reduzir-se ao extremo vigente e na realidade constatada nas instituições formadoras.
do praticismo. Nesse sentido a didática visa contribuir para a O marco histórico de detonação do movimento pela
superação dessa dificuldade proporcionando ao profissional reformulação dos cursos de formação do educador foi a I
da educação embasamento teórico-prático. Conferência Brasileira de Educação realizada em São Paulo em
Os profissionais da educação precisam ter um pleno 1980, abrindo-se o debate nacional sobre o curso de pedagogia
“domínio das bases teóricas científicas e tecnológicas, e sua e os cursos de licenciatura. A trajetória desse movimento
articulação com as exigências concretas do ensino”, pois é destaca-se pela densidade das discussões e pelo êxito na
através desse domínio que ele poderá estar revendo, mobilização dos educadores, mas o resultado prático foi
analisando e aprimorando sua prática educativa. modesto, não se tendo chegado até hoje a uma solução

47 LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

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razoável para os problemas da formação dos educadores, nem Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar
no âmbito oficial nem no âmbito das instituições básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido
universitárias. formados em cursos reconhecidos, são:
A discussão sobre a identidade do curso de pedagogia, que I – professores habilitados em nível médio ou superior para
remonta aos pareceres de Valnir Chagas48 na condição de a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e
membro do antigo Conselho Federal de Educação, é retomada médio;
nos encontros do Comitê Nacional Pró-formação do Educador, II – trabalhadores em educação portadores de diploma de
mais tarde transformada em Associação Nacional pela pedagogia, com habilitação em administração, planejamento,
Formação dos Profissionais da Educação, e é bastante supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com
recorrente para pesquisadores da área. Estes já apontavam, títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas;
em meados dos anos 80, a necessidade de se superar a III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de
fragmentação das habilitações no espaço escolar, propondo a curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim.
superação das habilitações e especializações pela valorização IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
do pedagogo escolar: respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de
áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
(...) a posição que temos assumido é a de que a escola pública atestados por titulação específica ou prática de ensino em
necessita de um profissional denominado pedagogo, pois unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
entendemos que o fazer pedagógico, que ultrapassa a sala de corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente
aula e a determina, configura-se como essencial na busca de para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei
novas formas de organizar a escola para que esta seja nº 13.415, de 2017)
efetivamente democrática. A tentativa que temos feito é a de V - profissionais graduados que tenham feito
avançar da defesa corporativista dos especialistas para a complementação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho
necessidade política do pedagogo, no processo de Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)
democratização da escolaridade. (...)

O curso de pedagogia – sem entrar agora no mérito de sua Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação
função, isto é, de formar professores ou especialistas ou ambos básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena,
– pouco se alterou em relação à Resolução no 252/69. admitida, como formação mínima para o exercício do
Experiências alternativas foram tentadas em algumas magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do
instituições e o antigo CFE expediu alguns pareceres sobre ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade
“currículos experimentais”, mas nenhum deles, a rigor, normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017)
apresenta algo realmente inovador. Possíveis “novidades” no
chamado “curso de pedagogia” seriam, por exemplo, a A proposta básica é a de que a formação dos profissionais
atribuição, ao lado de outras, da formação em nível superior de da educação para atuação na educação básica far-se-á,
professores para as séries iniciais do Ensino Fundamental, predominantemente, nas atuais faculdades de educação, que
supressão das habilitações (administração escolar, orientação oferecerão curso de pedagogia, cursos de formação de
educacional, supervisão escolar etc.) e alterações na professores para toda a educação básica, programa especial de
denominação de algumas disciplinas. Alterações geralmente formação pedagógica, programas de educação continuada e de
inócuas, pois na maior parte dos casos foi mantida a prática da pós-graduação. As faculdades de educação terão sob sua
grade curricular e os mesmos conteúdos das antigas responsabilidade a formulação e a coordenação de políticas e
disciplinas, por exemplo, Organização do trabalho pedagógico planos de formação de professores, em articulação com as pró-
manteve o conteúdo da anterior Administração escolar. reitorias ou vice-reitorias de graduação das universidades ou
Em relação aos cursos de licenciatura, também não houve órgãos similares nas demais Instituições de Ensino Superior,
nenhuma mudança substantiva desde a Resolução no 292/62 com os institutos/faculdades/departamentos das áreas
do CFE, que dispunha sobre as matérias pedagógicas para a específicas e com as redes pública e privada de ensino.
licenciatura. O que se tentou foram diferentes formas de O curso de pedagogia destinar-se-á à formação de
organização do percurso da formação, umas mantendo o 3+1 profissionais interessados em estudos do campo teórico-
já presente em 1939, outras distribuindo as disciplinas investigativo da educação e no exercício técnico-profissional
pedagógicas ao longo do curso específico. Quanto ao local da como pedagogos no sistema de ensino, nas escolas e em outras
formação pedagógica, em alguns lugares ela foi mantida nas instituições educacionais, inclusive as não-escolares.
faculdades de educação, em outros, foi deslocada, total ou Os cursos de formação de professores e os programas
parcialmente, aos institutos/departamentos/cursos. mencionados, abrangendo todos os níveis da educação básica,
Atualmente, a atuação do Ministério da Educação e do CNE serão realizados num Centro de Formação, Pesquisa e
na regulamentação da LDB no 9.394/96 tem provocado a Desenvolvimento Profissional de Professores – CFPD, que
mobilização dos educadores de todos os níveis de ensino para integrará a estrutura organizacional das faculdades de
rediscutir a formação de profissionais da educação. A nosso educação e destinar-se-á à formação de professores para a
ver, não bastam iniciativas de formulação de reformas educação básica, da educação infantil ao Ensino Médio.
curriculares, princípios norteadores de formação, novas Distinguindo o curso de pedagogia (stricto sensu) e o curso
competências profissionais, novos eixos curriculares, base de formação de professores para as séries iniciais do Ensino
comum nacional etc. Faz-se necessária e urgente a definição Fundamental.
explícita de uma estrutura organizacional para um sistema
nacional de formação de profissionais da educação, incluindo Formação teórico-prática articulada na formação
a definição dos locais institucionais do processo formativo. Na inicial e contínua
verdade, reivindicamos o ordenamento legal e funcional de
todo o conteúdo do Título VI da Lei de Diretrizes e Bases. As investigações recentes sobre formação de professores
apontam como questão essencial o fato de que os professores
O disposto nos artigos 61 caput e incisos e, 62 caput, da desempenham uma atividade teórico-prática. É difícil pensar
LDB é o seguinte: na possibilidade de educar fora de uma situação concreta e de

48 CHAGAS, Valnir. Formação do magistério: Novo sistema. São Paulo: Atlas, 1976.

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uma realidade definida. A profissão de professor precisa chamar esse curso de ciências da educação e não de
combinar sistematicamente elementos teóricos com situações pedagogia? Libâneo50 aponta, em publicação recente, quatro
práticas reais. Por essa razão, ao se pensar um currículo de posições a respeito desse assunto e sobre a denominação
formação, a ênfase na prática como atividade formadora “ciências da educação” escreve:
aparece, à primeira vista, como exercício formativo para o
futuro professor. Entretanto, em termos mais amplos, é um (..) tal denominação (...) é criticada por provocar dispersão
dos aspectos centrais na formação do professor, em razão do no estudo da problemática educativa, levando a uma postura
que traz consequências decisivas para a formação profissional. pluridisciplinar ao invés de interdisciplinar. Ou seja, a
Atualmente, em boa parte dos cursos de licenciatura, a autonomia dada a cada uma das ciências da educação levaria a
aproximação do futuro professor à realidade escolar acontece enfoques parciais da realidade educativa, comprometendo a
após ele ter passado pela formação “teórica”, tanto na unidade temática e abrindo espaço para os vários
disciplina especifica como nas disciplinas pedagógicas. O reducionismos (sociológico, psicológico, econômico...), como
caminho deve ser outro. Desde o ingresso dos alunos no curso, aliás a experiência brasileira tem confirmado.
é preciso integrar os conteúdos das disciplinas em situações
da prática que coloquem problemas aos futuros professores e Assim, assume-se que a pedagogia se apoia nas ciências da
lhes possibilitem experimentar soluções. Isso significa ter a educação, mas não perde com isso sua autonomia
prática, ao longo do curso, como referente direto para epistemológica e não se reduz ao campo conceitual de uma ou
contrastar seus estudos e formar seus próprios conhecimentos outra, nem ao conjunto dessas ciências.
e convicções a respeito. Ou seja, os alunos precisam conhecer A pluridimensionalidade do fenômeno educativo não
o mais cedo possível os sujeitos e as situações com que irão elimina sua unicidade, que permite “estabelecer um corpo
trabalhar. Significa tomar a prática profissional como instância cientifico que tem o fenômeno educativo em seu conjunto
permanente e sistemática na aprendizagem do futuro como objeto de estudo, com a finalidade expressa de dar
professor e como referência para a organização curricular. coerência à multiplicidade de ações parcializadas”. Nessa
Significa, também, a articulação entre formação inicial e concepção, a pedagogia promove a síntese integradora dos
formação continuada. Por um lado, a formação inicial estaria diferentes processos analíticos que correspondem a cada uma
estreitamente vinculada aos contextos de trabalho, das ciências da educação em seu objeto específico de estudo.
possibilitando pensar as disciplinas com base no que pede a Também Pimenta51 discute detidamente a questão
prática; cai por terra aquela ideia de que o estágio é aplicação recorrendo a vários autores, argumentando pela necessidade
da teoria. Por outro, a formação continuada, a par de ser feita de a pedagogia postular sua especificidade epistemológica, de
na escola a partir dos saberes e experiências dos professores modo a não se conformar com uma mera posição de campo
adquiridos na situação de trabalho, articula-se com a formação aplicado de outras ciências que também estudam a educação.
inicial, indo os professores à universidade para uma reflexão Com base nisso, firma sua posição de que a pedagogia tem sua
mais apurada sobre a prática. Em ambos os casos, estamos significação epistemológica assumindo-se como ciência da
diante de modalidades de formação em que há interação entre prática social da educação.
as práticas formativas e os contextos de trabalho. Com isso, Diferentemente das demais ciências da educação, a
institui-se uma concepção de formação centrada na ideia de pedagogia é ciência da prática. Ela não se constrói como
escola como unidade básica da mudança educativa, em que as discurso sobre a educação, mas a partir da prática dos
escolas são consideradas “espaços institucionais para a educadores tomada como referência para a construção de
inovação e a melhoria e, simultaneamente, como contextos saberes, no confronto com os saberes teóricos. (...) O
privilegiados para a formação contínua de professores” objeto/problema da pedagogia é a educação enquanto prática
(Escudero e Botia49). social. Daí seu caráter específico que a diferencia das demais
(ciências da educação), que é o de uma ciência prática – parte
A favor de um curso específico de pedagogia da prática e a ela se dirige. A problemática educativa e sua
superação constituem o ponto central de referência para a
Conforme vimos considerando, as faculdades de educação investigação.
sediariam, de forma articulada, o curso de pedagogia e a Defendemos, pois, a criação do curso de pedagogia, um
formação inicial e continuada de professores. O que é esse curso que oferece formação teórica, científica e técnica para
curso de pedagogia? Trata-se de curso para a realização da interessados no aprofundamento da teoria e da pesquisa
investigação em estudos pedagógicos, tomando a pedagogia pedagógica e no exercício de atividades pedagógicas
como campo teórico e como campo de atuação profissional. específicas (planejamento de políticas educacionais, gestão do
Como campo teórico, destina-se à formação de profissionais sistema de ensino e das escolas, assistência pedagógico-
que desejem aprimorar a reflexão e a pesquisa sobre a didática a professores e alunos, avaliação educacional,
educação e o ensino da pedagogia, propriamente dita. Como pedagogia empresarial, animação cultural, produção e
campo de atuação profissional, destina-se à preparação de comunicação nas mídias etc.).
pesquisadores, planejadores, especialistas em avaliação,
gestores do sistema e da escola, coordenadores pedagógicos A existência desse curso tem como suporte algumas
ou de ensino, comunicadores especializados para atividades premissas:
escolares e extraescolares, animadores culturais, de
especialistas em educação a distância, de educadores de A) O fenômeno educativo sujeita-se à pluralidade de
adultos no campo da formação continuada etc. abordagens, à medida que a educação é objeto de várias
A ampliação do campo educacional e, por consequência, da ciências que o abordam de seu enfoque específico. O estudo da
atuação pedagógica é uma realidade constatada por muitos educação tem um caráter de multirreferencialidade – abarca
autores. tanto modalidades educativas escolares quanto
O curso de pedagogia proposto tem correlatos em extraescolares, como os movimentos sociais, a educação
praticamente todos os países do mundo, embora em alguns ambiental, educação comunitária, educação de grupos sociais
lugares, especialmente na Europa, receba a designação de marginalizados e de minorias sociais. Não é que se descarte o
“ciências da educação”. Poder-se-ia perguntar: por que não fato de que a educação escolar seja, ainda hoje, a forma

49ESCUDERO, Juan M. e BOTIA, Bolívar. "Inovação e formação centrada na escola. 50 LIBÂNEO, José C. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 1998.
Uma perspectiva da realidade espanhola". In: AMIGUINHO, Abílio e CANÁRIO, Rui 51 PIMENTA, Selma G. O pedagogo na escola pública. São Paulo: Loyola, 1988.
(orgs.). Escolas e mudança: O papel dos Centros de Formação. Lisboa: Educa, 1994.

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histórica predominante de prática educativa. Mas, mesmo em para a educação infantil. Às vezes esses profissionais são
benefício de uma educação escolar mais aberta e mais formados no nível superior (nos atualmente chamados cursos
articulada com outras instâncias educativas fora de seu marco de pedagogia). Os professores para as séries seguintes do
próprio, a ideia é a de que o educativo não se restrinja ao Ensino Fundamental e para o Ensino Médio são formados no
escolar, uma vez que abrange as relações mais amplas entre o nível superior, recorrendo ao velho esquema dos cursos de
indivíduo e o meio humano, social, físico, ecológico, cultural, bacharelado e licenciatura. Conforme mencionamos
econômico. anteriormente, essas modalidades de formação já
demonstraram historicamente seu esgotamento (em nosso
B) Se, por um lado, a compreensão ampliada da educação país e em vários outros). Dentro desse quadro, o
fortalece as ciências da educação pelo fato de a pedagogia não aprimoramento do processo de formação de professores
ser a única área científica que tem a educação como objeto de requer muita ousadia e criatividade para que se construam
estudo, por outro, não descaracteriza a especificidade da novos e mais promissores modelos educacionais necessários à
pedagogia como uma das ciências da educação. Com efeito, urgente e fundamental tarefa de melhoria da qualidade do
cada uma das chamadas ciências da educação (sociologia da ensino no país.
educação, psicologia da educação, linguística aplicada à A LDB no 9.394/96, em seu art. 62, estabelece como regra
educação, economia da educação etc.) aborda o fenômeno que a formação dos docentes para a educação fundamental e
educativo da perspectiva de seus próprios conceitos e para a educação infantil far-se-á em nível superior. A elevação
métodos de investigação, ao passo que a pedagogia se da formação docente em nível superior, reivindicação antiga
distingue por estudar o fenômeno educativo em sua dos educadores em nosso país e já consolidada em grande
totalidade, inclusive para integrar os enfoques parciais parte dos países desenvolvidos, fica assim contemplada. No
daquelas ciências em função de uma aproximação global e mesmo art. 62, no entanto, admite-se como formação mínima
intencionalmente dirigida aos problemas educativos. para as séries iniciais e para a educação infantil, “a oferecida
em nível médio, na modalidade Normal”, Redação dada pela lei
C) Um currículo de pedagogia, além de contemplar como nº 13.415, de 2017.
objeto de investigação a pluralidade das práticas educativas,
concentra sua temática investigativa nos saberes pedagógicos, Que professor queremos formar?
com a contribuição das ciências da educação, na forma de
inter-relação entre os saberes científicos. Ou seja, assume-se o Na sociedade contemporânea, as rápidas transformações
entendimento de pedagogia como ciência da prática social da no mundo do trabalho, o avanço tecnológico configurando a
educação para daí se definirem saberes pedagógicos. A sociedade virtual e os meios de informação e comunicação
integração de conhecimentos pela inter-relação entre saberes incidem com bastante força na escola, aumentando os desafios
decorre não apenas da pluralidade que caracteriza o fenômeno para torná-la uma conquista democrática efetiva. Não é tarefa
educativo, mas também de uma tendência irrefreável das simples nem para poucos. Transformar as escolas em suas
ciências no mundo contemporâneo buscarem a integração práticas e culturas tradicionais e burocráticas – as quais, por
entre os saberes, sem perder de vista a especificidade meio da retenção e da evasão, acentuam a exclusão social – em
disciplinar. escolas que eduquem as crianças e os jovens, propiciando-lhes
um desenvolvimento cultural, científico e tecnológico que lhes
O currículo terá uma forte orientação para a pesquisa, seja assegure condições para fazerem frente às exigências do
como prática acadêmica, seja como atitude. Ressaltem-se, aí, mundo contemporâneo, exige esforço do coletivo da escola –
os vínculos entre o ensino e a pesquisa, a pesquisa como forma professores, funcionários, diretores e pais de alunos –, dos
básica de construção do saber, em confronto, em sindicatos, dos governantes e de outros grupos sociais
questionamento, com os saberes já estabelecidos e como organizados.
instrumento para desenvolvimento das competências do Não se ignora que esse desafio precisa ser
pensar. Tal concepção de pedagogia deveria transpassar toda prioritariamente enfrentado no campo das políticas públicas.
a formação pedagógica nos cursos de formação de professores, Todavia, não é menos certo que os professores são
da educação infantil ao Ensino Médio. profissionais essenciais na construção dessa nova escola.
Entendendo que a democratização do ensino passa pela sua
A defesa de um local institucional específico para formação, sua valorização profissional, suas condições de
formar professores trabalho, pesquisas e experiências inovadoras têm apontado
para a importância do investimento no desenvolvimento
A atividade docente vem se modificando em decorrência profissional dos professores. O desenvolvimento profissional
de transformações nas concepções de escola e nas formas de envolve formação inicial e contínua articuladas a um processo
construção do saber, resultando na necessidade de se repensar de valorização identitária e profissional dos professores.
a intervenção pedagógico-didática na prática escolar. Um dos Identidade que é epistemológica, ou seja, que reconhece a
aspectos cruciais dessas transformações, os quais têm se docência como um campo de conhecimentos específicos
evidenciado em avaliações educacionais como o Saresp, é o configurados em quatro grandes conjuntos, a saber: conteúdos
investimento na qualidade da formação dos docentes e no das diversas áreas do saber e do ensino, ou seja, das ciências
aperfeiçoamento das condições de trabalho nas escolas, para humanas e naturais, da cultura e das artes; conteúdos didático-
que estas favoreçam a construção coletiva de projetos pedagógicos (diretamente relacionados ao campo da prática
pedagógicos capazes de alterar os quadros de reprovação, profissional); conteúdos relacionados a saberes pedagógicos
retenção e da qualidade social e humana dos resultados da mais amplos (do campo teórico da prática educacional) e
escolarização. conteúdos ligados à explicitação do sentido da existência
Tem sido unânime a insatisfação de gestores, humana (individual, sensibilidade pessoal e social). E
pesquisadores e professores com as formas convencionais de identidade que é profissional. Ou seja, a docência constituiu
se formar professores em nosso país. Realizados em dois um campo específico de intervenção profissional na prática
níveis de ensino – Médio e Superior –, os atuais cursos não dão social – não é qualquer um que pode ser professor.
conta de preparar o professor com a qualidade que se exige Uma visão progressista de desenvolvimento profissional
hoje desse profissional. No nível médio, realiza-se a formação exclui uma concepção de formação baseada na racionalidade
dos professores das quatro séries iniciais do Ensino técnica (em que os professores são considerados mero
Fundamental e, em alguns casos, a formação dos professores executores de decisões alheias) e assume a perspectiva de

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considerá-los em sua capacidade de decidir e de rever suas forma profunda sua área de especialidade (científica e
práticas e as teorias que as informam, pelo confronto de suas pedagógica/educacional) e seus aportes para compreender o
ações cotidianas com as produções teóricas, pela pesquisa da mundo; um analista crítico da sociedade, portanto, que nela
prática e a produção de novos conhecimentos para a teoria e a intervém com sua atividade profissional; um membro de uma
prática de ensinar. Considera, assim, que as transformações comunidade de profissionais, portanto, científica (que produz
das práticas docentes só se efetivam na medida em que o conhecimento sobre sua área) e social.
professor amplia sua consciência sobre a própria prática, a da Esse profissional deve ser formado nas universidades, que
sala de aula e a da escola como um todo, o que pressupõe é o lugar da produção social do conhecimento, da circulação da
conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade. produção cultural em diferentes áreas do saber e do
Dessa forma, os professores contribuem para a criação, o permanente exercício da crítica histórico-social.
desenvolvimento e a transformação nos processos de gestão,
nos currículos, na dinâmica organizacional, nos projetos A Organização da Aula e Seus Componentes Didáticos
educacionais e em outras formas de trabalho pedagógico. Por do Processo Educacional
esse raciocínio, reformas gestadas nas instituições, sem tomar
os professores como parceiros/autores, não transformam a A aula é a forma predominante pela qual é organizado o
escola na direção da qualidade social. Em consequência, processo de ensino e aprendizagem. É o meio pelo qual o
valorizar o trabalho docente significa dotar os professores de professor transmite aos seus alunos conhecimentos
perspectivas de análise que os ajudem a compreender os adquiridos no seu processo de formação, experiências de vida,
contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais nos conteúdos específicos para a superação de dificuldades e
quais se dá sua atividade docente. meios para a construção de seu próprio conhecimento, nesse
Nas últimas décadas assistimos a uma ampliação das sentido sendo protagonista de sua formação humana e escolar.
oportunidades de acesso à escola, em que pesem as diferenças É ainda o espaço de interação entre o professor e o
entre as regiões. Poder-se-ia concluir que o país tem uma indivíduo em formação constituindo um espaço de troca
escola que realizou a inclusão social de todos? Não nos parece, mútua. A aula é o ambiente propício para se pensar, criar,
pois a essa ampliação quantitativa, em grande parte resultante desenvolver e aprimorar conhecimentos, habilidades, atitudes
da reivindicação dos educadores e da população, não e conceitos, é também onde surgem os questionamentos,
correspondeu a melhoria das condições de trabalho, de indagações e respostas, em uma busca ativa pelo
jornada, de organização e funcionamento, de formação e esclarecimento e entendimento acerca desses
valorização do professor, fatores essenciais para a qualidade questionamentos e investigações.
do ensino. Sem isso, a escola quantitativamente ampliada Por intermédio de um conjunto de métodos, o educador
permanece excludente. Ao desenvolver um ensino aligeirado, busca melhor transmitir os conteúdos, ensinamentos e
impossibilita a inserção social de crianças e jovens de classes conhecimentos de uma disciplina, utilizando-se dos recursos
sociais mais pobres em igualdade de condições com aqueles disponíveis e das habilidades que possui para infundir no
dos segmentos economicamente favorecidos, acentuando a aluno o desejo pelo saber.
exclusão social. Deve-se ainda compreender a aula como um conjunto de
Uma escola que inclua, ou seja, que eduque todas as meios e condições por meio das quais o professor orienta, guia
crianças e jovens, com qualidade, superando os efeitos e fornece estímulos ao processo de ensino em função da
perversos das retenções e evasões, propiciando-lhes um atividade própria dos alunos, ou seja, da assimilação e
desenvolvimento cultural que lhes assegure condições para desenvolvimento de habilidades naturais do aluno na
fazerem frente às exigências do mundo contemporâneo, aprendizagem educacional. Sendo a aula um lugar privilegiado
precisa de condições para que, com base na análise e na da vida pedagógica refere-se às dimensões do processo
valorização das práticas existentes que já apontam para didático preparado pelo professor e por seus alunos.
formas de inclusão, se criem novas práticas: de aula, de gestão, Aula é toda situação didática na qual se põem objetivos,
de trabalho dos professores e dos alunos, formas coletivas, conhecimentos, problemas, desafios com fins instrutivos e
currículos interdisciplinares, uma escola rica de material e de formativos, que incitam as crianças e jovens a aprender. Cada
experiências, como espaço de formação contínua, e tantas aula é única, pois ela possui seus próprios objetivos e métodos
outras. Por sua vez, os professores contribuem com seus que devem ir de acordo com a necessidade observada no
saberes específicos, seus valores, suas competências, nessa educando.
complexa empreitada, para o que se requer condições salariais A aula é norteada por uma série de componentes, que vão
e de trabalho, formação inicial de qualidade e espaços de conduzir o processo didático facilitando tanto o
formação contínua. desenvolvimento das atividades educacionais pelo educador
Dada a natureza do trabalho docente, que é ensinar como como a compreensão e entendimento pelos indivíduos em
contribuição ao processo de humanização dos alunos formação; ela deve, pois, ter uma estruturação e organização,
historicamente situados, espera-se dos processos de formação afim de que sejam alcançados os objetivos do ensino.
que desenvolvam conhecimentos e habilidades, competências, Ao preparar uma aula o professor deve estar atento às
atitudes e valores que possibilitem aos professores ir quais interesses e necessidades almeja atender, o que
construindo seus saberes-fazeres docentes a partir das pretende com a aula, quais seus objetivos e o que é de caráter
necessidades e desafios que o ensino como prática social lhes urgente naquele momento. A organização e estruturação
coloca no cotidiano. Espera-se, pois, que mobilizem os didática da aula têm por finalidade proporcionar um trabalho
conhecimentos da teoria da educação e do ensino, das áreas do mais significativo e bem elaborado para a transmissão dos
conhecimento necessárias à compreensão do ensino como conteúdos. O estabelecimento desses caminhos proporciona
realidade social, e que desenvolvam neles a capacidade de ao professor um maior controle do processo e aos alunos uma
investigar a própria atividade (a experiência) para, a partir orientação mais eficaz, que vá de acordo com previsto.
dela, constituírem e transformarem os seus saberes-fazeres As indicações das etapas para o desenvolvimento da aula,
docentes, num processo contínuo de construção de suas não significa que todas elas devam seguir um cronograma
identidades como professores. rígido, pois isso depende dos objetivos, conteúdos da
Em síntese, dizemos que o professor é um profissional do disciplina, recursos disponíveis e das características dos
humano que: ajuda o desenvolvimento pessoal/intersubjetivo alunos e de cada aluno e situações didáticas especificas.
do aluno; um facilitador do acesso do aluno ao conhecimento Dentro da organização da aula destacaremos agora seus
(informador informado); um ser de cultura que domina de Componentes Didáticos, que são também abordados em

Conhecimentos Pedagógicos 48
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alguns trabalhos como elementos estruturantes do ensino e habilidades de observar a realidade, perceber as
didático. São eles: os objetivos (gerais e específicos), os propriedades e características do objeto de estudo,
conteúdos, os métodos, os meios e as avaliações. estabelecer relações entre um conhecimento e outro, adquirir
métodos de raciocínio, capacidade de pensar por si próprios,
Objetivos fazer comparações entre fatos e acontecimentos, formar
conceitos para lidar com eles no dia-a-dia de modo que sejam
São metas que se deseja alcançar, para isso usa-se de instrumentos mentais para aplicá-los em situações da vida
diversos meios para se chegar ao esperado. Os objetivos prática. Neste contexto pretende-se que os conteúdos
educacionais expressam propósitos definidos, pois o professor aplicados pelo professor tenham como fundamento não só a
quando vai ministrar a aula já vai com os objetivos definidos. transmissão das informações de uma disciplina, mas que esses
Eles têm por finalidade, preparar o docente para determinar o conteúdos apresentem relação com a realidade dos discentes
que se requer com o processo de ensino, isto é prepará-lo para e que sirvam para que os mesmos possam enfrentar os
estabelecer quais as metas a serem alcançadas, eles desafios impostos pela vida cotidiana. Estes devem também
constituem uma ação intencional e sistemática. proporcionar o desenvolvimento das capacidades intelectuais
Os objetivos são exigências que requerem do professor um e cognitivas do aluno, que o levem ao desenvolvimento crítico
posicionamento reflexivo, que o leve a questionamentos sobre e reflexivo acerca da sociedade que integram.
a sua própria prática, sobre os conteúdos os materiais e os Os conteúdos de ensino devem ser vistos como uma
métodos pelos quais as práticas educativas se concretizam. Ao relação entre os seus componentes, matéria, ensino e o
elaborar um plano de aula, por exemplo, o professor deve levar conhecimento que cada aluno já traz consigo. Pois não basta
em conta muitos questionamentos acerca dos objetivos que apenas a seleção e organização lógica dos conteúdos para
aspira, como O que? Para que? Como? E Para quem ensinar? É transmiti-los. Antes os conteúdos devem incluir elementos da
isso só irá melhorar didaticamente as suas ações no vivência prática dos alunos para torná-los mais significativos,
planejamento da aula. mais vivos, mais vitais, de modo que eles possam assimilá-los
Não há prática educativa sem objetivos; uma vez que estes de forma ativa e consciente. Ao proferir estas palavras, o autor
integram o ponto de partida, as premissas gerais para o aponta para um elemento de fundamental importância na
processo pedagógico. Os objetivos são um guia para orientar a preparação da aula, a contextualização dos conteúdos.
prática educativa sem os quais não haveria uma lógica para
orientar o processo educativo. A) Contextualização dos conteúdos
Para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça de A contextualização consiste em trazer para dentro da sala
modo mais organizado faz-se necessário, classificar os de aula questões presentes no dia a dia do aluno e que vão
objetivos de acordo com os seus propósitos e abrangência, se contribuir para melhorar o processo de ensino e
são mais amplos, denominados objetivos gerais e se são aprendizagem do mesmo. Valorizando desta forma o contexto
destinados a determinados fins com relação aos alunos, social em que ele está inserido e proporcionando a reflexão
chamados de objetivos específicos. sobre o meio em que se encontra, levando-o a agir como
construtor e transformador deste. Então, pois, ao selecionar e
Objetivos Gerais: exprimem propósitos mais amplos organizar os conteúdos de ensino de uma aula o professor
acerca do papel da escola e do ensino diante das exigências deve levar em consideração a realidade vivenciada pelos
postas pela realidade social e diante do desenvolvimento da alunos.
personalidade dos alunos. Por isso ele também afirma que os
objetivos educacionais transcendem o espaço da sala de aula B) A relação professor-aluno no processo de ensino e
atuando na capacitação do indivíduo para as lutas sociais de aprendizagem
transformação da sociedade, e isso fica claro, uma vez que os O professor no processo de ensino é o mediador entre o
objetivos têm por fim formar cidadãos que venham a atender indivíduo em formação e os conhecimentos prévios de uma
os anseios da coletividade. matéria. Tem como função planejar, orientar a direção dos
conteúdos, visando à assimilação constante pelos alunos e o
Objetivos Específicos: compreendem as intencionalidades desenvolvimento de suas capacidades e habilidades. É uma
específicas para a disciplina, os caminhos traçados para que se ação conjunta em que o educador é o promotor, que faz
possa alcançar o maior entendimento, desenvolvimento de questionamentos, propõem problemas, instiga, faz desafios
habilidades por parte dos alunos que só se concretizam no nas atividades e o educando é o receptor ativo e atuante, que
decorrer do processo de transmissão e assimilação dos através de suas ações responde ao proposto produzindo assim
estudos propostos pelas disciplinas de ensino e aprendizagem. conhecimentos. O papel do professor é levar o aluno a
Expressam as expectativas do professor sobre o que deseja desenvolver sua autonomia de pensamento.
obter dos alunos no decorrer do processo de ensino. Têm
sempre um caráter pedagógico, porque explicitam a direção a Métodos de Ensino
ser estabelecida ao trabalho escolar, em torno de um programa
de formação. Métodos de ensino são as formas que o professor organiza
as suas atividades de ensino e de seus alunos com a finalidade
Conteúdos de atingir objetivos do trabalho docente em relação aos
conteúdos específicos que serão aplicados. Os métodos de
Os conteúdos de ensino são constituídos por um conjunto ensino regulam as formas de interação entre ensino e
de conhecimentos. É a forma pela qual, o professor expõe os aprendizagem, professor e os alunos, na qual os resultados
saberes de uma disciplina para ser trabalhado por ele e pelos obtidos é assimilação consciente de conhecimentos e
seus alunos. Esses saberes são advindos do conjunto social desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e operativas
formado pela cultura, a ciência, a técnica e a arte. Constituem dos alunos.
ainda o elemento de mediação no processo de ensino, pois Segundo Libâneo a escolha e organização os métodos de
permitem ao discente através da assimilação o conhecimento ensino devem corresponder à necessária unidade objetivos-
histórico, cientifico, cultural acerca do mundo e possibilitam conteúdos-métodos e formas de organização do ensino e as
ainda a construção de convicções e conceitos. condições concretas das situações didáticas. Os métodos de
O professor, na sala de aula, utiliza-se dos conteúdos da ensino dependem das ações imediatas em sala de aula, dos
matéria para ajudar os alunos a desenvolverem competências conteúdos específicos, de métodos peculiares de cada

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disciplina e assimilação, além disso, esses métodos implica o O mais comum é tomar a avaliação unicamente como o ato
conhecimento das características dos alunos quanto à de aplicar provas, atribuir notas e classificar os alunos. O
capacidade de assimilação de conteúdos conforme a idade e o professor reduz a avaliação à cobrança daquilo que o aluno
nível de desenvolvimento mental e físico e suas características memorizou e usa a nota somente como instrumento de
socioculturais e individuais. controle. Tal ideia é descabida, primeiro porque a atribuição
A relação objetivo-conteúdo-método procuram mostrar de notas visa apenas o controle formal, com objetivo
que essas unidades constituem a linhagem fundamental de classificatório e não educativo; segundo porque o que importa
compreensão do processo didático: os objetivos, explicitando é o veredito do professor sobre o grau de adequação e
os propósitos pedagógicos intencionais e planejados de conformidade do aluno ao conteúdo que transmite. Outro
instrução e educação dos alunos, para a participação na vida equívoco é utilizar a avaliação como recompensa aos bons
social; os conteúdos, constituindo a base informativa concreta alunos e punição para os desinteressados, além disso, os
para alcançar os objetivos e determinar os métodos; os professores confiam demais em seu olho clínico, dispensam
métodos, formando a totalidade dos passos, formas didáticas e verificações parciais no decorrer das aulas e aqueles que
meios organizativos do ensino que viabilizam a assimilação rejeitam as medidas quantitativas de aprendizagem em favor
dos conteúdos, e assim, o atingimento dos objetivos. de dados qualitativos.
No trabalho docente, os professores selecionam e O entendimento correto da avaliação consiste em
organizam seus métodos e procedimentos didáticos de acordo considerar a relação mútua entre os aspectos quantitativos e
com cada matéria. Dessa forma destacamos os principais qualitativos. A escola cumpre uma função determinada
métodos de ensino utilizado pelo professor em sala de aula: socialmente, a de introduzir as crianças, jovens e adultos no
método de exposição pelo professor, método de trabalho mundo da cultura e do trabalho, tal objetivo não surge
independente, método de elaboração conjunta, método de espontaneamente na experiência das crianças, jovens e
trabalho em grupo. Nestes métodos, os conhecimentos, adultos, mas supõe as perspectivas traçadas pela sociedade e
habilidades e tarefas são apresentados, explicadas e controle por parte do professor. Por outro lado, a relação
demonstradas pelo professor, além dos trabalhos planejados pedagógica requer a independência entre influências externas
individuais, a elaboração conjunta de atividades entre e condições internas do aluno, pois nesse contexto o professor
professores e alunos visando à obtenção de novos deve organizar o ensino objetivando o desenvolvimento
conhecimentos e os trabalhos em grupo. Dessa maneira autônomo e independente do aluno.
designamos todos os meios e recursos matérias utilizados pelo
professor e pelos alunos para organização e condução Referência:
metódica do processo de ensino e aprendizagem.
SANTOS, E. P. dos; BATISTA, I. C.; M. L. da S.; SILVA, M. de F.
Avaliação Escolar F. da. O processo didático educativo: Uma análise reflexiva
sobre o processo de ensino e a aprendizagem. Disponível em:
A avaliação escolar é uma tarefa didática necessária para o http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/proce
trabalho docente, que deve ser acompanhado passo a passo no sso-didatico-educativo-analise-reflexiva-sobre-processo-
processo de ensino e aprendizagem. Através da mesma, os ensino-aprendizagem.htm
resultados vão sendo obtidos no decorrer do trabalho em
conjunto entre professores e alunos, a fim de constatar LIBANEO, José Carlos; PIMENTA, Selma Garrido. Formação
progressos, dificuldades e orientá-los em seus trabalhos para de profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de
as correções necessárias. mudança. Educ. Soc., Campinas, v. 20, n. 68, p. 239-277,
A avaliação escolar é uma tarefa complexa que não se Dec. 1999.
resume à realização de provas e atribuição de notas, ela
cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de Questões
controle em relação ao rendimento escolar.
A função pedagógico-didática refere-se ao papel da 01. (UFPE - Pedagogo – COVEST-COPSET). Das
avaliação no cumprimento dos objetivos gerais e específicos alternativas abaixo, assinale a compatível com a didática.
da educação escolar. Ao comprovar os resultados do processo (A) Didática relaciona-se com o estudo dos elementos
de ensino, evidencia ou não o atendimento das finalidades substantivos ou nucleares do currículo.
sociais do ensino, de preparação dos alunos para enfrentar as (B) Didática é reconhecida como um espaço próprio no
exigências da sociedade e inseri-los ao meio social. Ao mesmo domínio científico da educação.
tempo, favorece uma atitude mais responsável do aluno em (C) Didática é caracterizada como um todo, organizada em
relação ao estudo, assumindo-o como um dever social. Já a função de propósitos e de saberes educativos.
função de diagnóstico permite identificar progressos e (D) Didática é ligada ao estudo dos processos e práticas
dificuldades dos alunos e a atuação do professor que, por sua pedagógicas institucionalizadas.
vez, determinam modificações do processo de ensino para (E) Didática está associada ao conteúdo, ao programa dos
melhor cumprir as exigências dos objetivos. A função do processos de formação.
controle se refere aos meios e a frequência das verificações e
de qualificação dos resultados escolares, possibilitando o 02. (SEDUC/CE - Professor Pleno I – CESPE). Com
diagnóstico das situações didáticas. relação às características e às propriedades relativas à didática
No entanto, a avaliação durante a pratica escolar tem sido e à formação dos professores, assinale a opção correta.
bastante criticada sobre tudo por reduzir-se à sua função de (A) A relação entre o professor, o aluno e o ensino de
controle, mediante a qual se faz uma classificação quantitativa conceitos científicos constitui uma tríade na qual convergem
dos alunos relativa às notas que obtiveram nas provas. Os apenas estudos teóricos de diferentes domínios do
professores não têm conseguido usar os procedimentos de conhecimento.
avaliação que sem dúvida, implicam o levantamento de dados (B) Didática é a articulação entre teoria e prática na
por meio de testes, trabalhos escritos etc. Em relação aos formação do professor.
objetivos, funções e papel da avaliação na melhoria das (C) A formação do professor de biologia é complexa e
atividades escolares e educativas, tem-se verificado na pratica envolve inúmeras disciplinas que, pela especificidade de cada
escolar alguns equívocos. uma delas, não devem se complementar.

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(D) Um dos princípios gerais da didática é o foco em No ensino da língua portuguesa, parte-se da concepção que
conteúdos e atividades de ensino que tenham sentido considera a linguagem como expressão do pensamento. Os
essencialmente pedagógicos. seguidores dessa corrente linguística, em razão disso,
(E) Uma formação global e integral de professores de preocupam-se com a organização lógica do pensamento, o que
biologia requer especialização do professor em determinada presume a necessidade de regras do bem falar e do bem
disciplina do curso. escrever. Segundo essa concepção de linguagem, a Gramática
Tradicional ou Normativa se constitui no núcleo dessa visão do
Respostas ensino da língua, pois vê nessa gramática uma perspectiva de
normatização linguística, tomando como modelo de norma
01. A / 02.B culta as obras dos nossos grandes escritores clássicos.
Portanto, saber gramática, teoria gramatical, é a garantia de se
chegar ao domínio da língua oral ou escrita.
Tendências pedagógicas e as Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o ensino da
abordagens de ensino. gramática pela gramática, com ênfase nos exercícios
repetitivos e de recapitulação da matéria, exigindo uma
atitude receptiva e mecânica do aluno. Os conteúdos são
Tendências Pedagógicas52 organizados pelo professor, numa sequência lógica, e a
avaliação é realizada através de provas escritas e exercícios de
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicionantes casa.
de ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de
homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes Tendência Liberal Renovada Progressivista
pressupostos sobre o papel da escola e da aprendizagem, inter
alia. Assim, justifica-se o presente estudo, tendo em vista que Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a tendência
o modo como os professores realizam o seu trabalho na escola liberal renovada (ou pragmatista) acentua o sentido da cultura
tem a ver com esses pressupostos teóricos, explícita ou como desenvolvimento das aptidões individuais.
implicitamente. A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para
Embora se reconheçam as dificuldades do assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades do
estabelecimento de uma síntese dessas diferentes tendências educando ao meio social, por isso ela deve imitar a vida. Se, na
pedagógicas, cujas influências se refletem no ecletismo do tendência liberal tradicional, a atividade pedagógica estava
ensino atual, emprega-se, neste estudo, a teoria de José Carlos centrada no professor, na escola renovada progressivista,
Libâneo, que as classifica em dois grupos: “liberais” e defende-se a ideia de “aprender fazendo”, portanto centrada
“progressistas”. No primeiro grupo, estão incluídas a no aluno, valorizando as tentativas experimentais, a pesquisa,
tendência “tradicional”, a “renovada progressivista”, a a descoberta, o estudo do meio natural e social, etc, levando em
“renovada não-diretiva” e a “tecnicista”. No segundo, a conta os interesses do aluno.
tendência “libertadora”, a “libertária” e a “crítico-social dos Como pressupostos de aprendizagem, aprender se torna
conteúdos”. uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo
o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo
Tendências Pedagógicas Liberais que se incorpora à atividade do aluno, através da descoberta
pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura
Segundo LIBÂNEO53, a pedagogia liberal sustenta a ideia cognitiva para ser empregado em novas situações. É a tomada
de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o de consciência, segundo Piaget.
desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não
individuais. Isso pressupõe que o indivíduo precisa adaptar-se trouxeram maiores consequências, pois esbarraram na prática
aos valores e normas vigentes na sociedade de classe, através da tendência liberal tradicional.
do desenvolvimento da cultura individual. Devido a essa
ênfase no aspecto cultural, as diferenças entre as classes Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva
sociais não são consideradas, pois, embora a escola passe a
difundir a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na formação
conta a desigualdade de condições. de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com
os problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou
Tendência Liberal Tradicional sociais. Todo o esforço deve visar a uma mudança dentro do
indivíduo, ou seja, a uma adequação pessoal às solicitações do
Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal ambiente.
tradicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, Aprender é modificar suas próprias percepções. Apenas se
de cultura geral. De acordo com essa escola tradicional, o aluno aprende o que estiver significativamente relacionado com
é educado para atingir sua plena realização através de seu essas percepções. A retenção se dá pela relevância do
próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de classe social não aprendido em relação ao “eu”, o que torna a avaliação escolar
são consideradas e toda a prática escolar não tem nenhuma sem sentido, privilegiando-se a auto avaliação. Trata-se de um
relação com o cotidiano do aluno. ensino centrado no aluno, sendo o professor apenas um
Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia de que facilitador. No ensino da língua, tal como ocorreu com a
o ensino consiste em repassar os conhecimentos para o corrente pragmatista, as ideias da escola renovada não-
espírito da criança é acompanhada de outra: a de que a diretiva, embora muito difundidas, encontraram, também,
capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto, uma barreira na prática da tendência liberal tradicional.
sem levar em conta as características próprias de cada idade.
A criança é vista, assim, como um adulto em miniatura, apenas
menos desenvolvida.

52 Texto adaptado de SILVA, D. B. 53 LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. São Paulo:

Loyola, 1990.

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Tendência Liberal Tecnicista da pedagogia, situando-se também no campo da economia, da


política e das ciências sociais, conforme Gadotti.
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da Como pressuposto de aprendizagem, a força motivadora
ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se deve decorrer da codificação de uma situação-problema que
diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega a será analisada criticamente, envolvendo o exercício da
ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia abstração, pelo qual se procura alcançar, por meio de
comportamental. Seu interesse principal é, portanto, produzir representações da realidade concreta, a razão de ser dos fatos.
indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, não se Assim, como afirma Libâneo, aprender é um ato de
preocupando com as mudanças sociais. conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real
Conforme MATUI54, a escola tecnicista, baseada na teoria vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma
de aprendizagem S-R, vê o aluno como depositário passivo dos aproximação crítica dessa realidade. Portanto o conhecimento
conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através que o educando transfere representa uma resposta à situação
de associações. Skinner foi o expoente principal dessa corrente de opressão a que se chega pelo processo de compreensão,
psicológica, também conhecida como behaviorista. Segundo reflexão e crítica.
RICHTER55, a visão behaviorista acredita que adquirimos uma No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista,
língua por meio de imitação e formação de hábitos, por isso a sintetiza sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto
ênfase na repetição, nos drills, na instrução programada, para carinhosamente. De modo geral, simbolicamente, eu puxo uma
que o aluno forme “hábitos” do uso correto da linguagem. cadeira e convido o autor, não importa qual, a travar um
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, que diálogo comigo”.
implantou a escola tecnicista no Brasil, preponderaram as
influências do estruturalismo linguístico e a concepção de Tendência Progressista Libertária
linguagem como instrumento de comunicação. A língua – como
diz TRAVAGLIA56 – é vista como um código, ou seja, um A escola progressista libertária parte do pressuposto de
conjunto de signos que se combinam segundo regras e que é que somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado
capaz de transmitir uma mensagem, informações de um em situações novas, por isso o saber sistematizado só terá
emissor a um receptor. Portanto, para os estruturalistas, saber relevância se for possível seu uso prático. A ênfase na
a língua é, sobretudo, dominar o código. aprendizagem informal via grupo, e a negação de toda forma
No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa concepção de repressão, visam a favorecer o desenvolvimento de pessoas
de linguagem, o trabalho com as estruturas linguísticas, mais livres. No ensino da língua, procura valorizar o texto
separadas do homem no seu contexto social, é visto como produzido pelo aluno, além da negociação de sentidos na
possibilidade de desenvolver a expressão oral e escrita. A leitura.
tendência tecnicista é de certa forma, uma modernização da
escola tradicional e, apesar das contribuições teóricas do Tendência Progressista Crítico-Social dos Conteúdos
estruturalismo, não conseguiu superar os equívocos
apresentados pelo ensino da língua centrado na gramática Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-social
normativa. Em parte, esses problemas ocorreram devido às dos conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária,
dificuldades de o professor assimilar as novas teorias sobre o acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as
ensino da língua materna. realidades sociais. A atuação da escola consiste na preparação
do aluno para o mundo adulto e suas contradições,
Tendências Pedagógicas Progressistas fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de
conteúdos e da socialização, para uma participação organizada
Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa as e ativa na democratização da sociedade.
tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o
sociais, sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas princípio da aprendizagem significativa, partindo do que o
da educação. aluno já sabe. A transferência da aprendizagem só se realiza no
momento da síntese, isto é, quando o aluno supera sua visão
Tendência Progressista Libertadora parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e unificadora.

As tendências progressistas libertadora e libertária têm, Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96


em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o
antiautoritarísmo. A escola libertadora, também conhecida Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de
como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação à luta e n.º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vygotsky e
organização de classe do oprimido. Segundo GADOTTI57, Paulo Wallon. Um dos pontos em comum entre esses psicólogos é o
Freire não considera o papel informativo, o ato de fato de serem interacionistas, porque concebem o
conhecimento na relação educativa, mas insiste que o conhecimento como resultado da ação que se passa entre o
conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto deste, não se sujeito e um objeto. De acordo com ARANHA58, o
elabora uma nova teoria do conhecimento e se os oprimidos conhecimento não está, então, no sujeito, como queriam os
não podem adquirir uma nova estrutura do conhecimento que inatistas, nem no objeto, como diziam os empiristas, mas
lhes permita reelaborar e reordenar seus próprios resulta da interação entre ambos.
conhecimentos e apropriar-se de outros. Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo essa
Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes, o perspectiva interacionista, a leitura como processo permite a
saber mais importante para o oprimido é a descoberta da sua possibilidade de negociação de sentidos em sala de aula. O
situação de oprimido, a condição para se libertar da processo de leitura, portanto, não é centrado no texto,
exploração política e econômica, através da elaboração da ascendente, bottom-up, como queriam os empiristas, nem no
consciência crítica passo a passo com sua organização de receptor, descendente, top-down, segundo os inatistas, mas
classe. Por isso, a pedagogia libertadora ultrapassa os limites ascendente/descendente, ou seja, a partir de uma negociação

54 MATUI, Jiron. Construtivismo. São Paulo: Editora Moderna, 1998. 57 GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. São Paulo: Ática,
55 RICHTER, Marcos Gustavo. Ensino do Português e Interatividade. Santa 1988.
Maria: Editora da UFSM, 2000. 58 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo:
56 TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. São Paulo: Cortez, 1998. Editora Moderna, 1998.

Conhecimentos Pedagógicos 52
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de sentido entre enunciador e receptor. Assim, nessa - Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos
abordagem interacionista, o receptor é retirado da sua “competentes” para o mercado de trabalho, transmitindo
condição de mero objeto do sentido do texto, de alguém que informações precisas, objetivas e rápidas.
estava ali para decifrá-lo, decodificá-lo, como ocorria, - Os conteúdos de ensino são as informações, princípios
tradicionalmente, no ensino da leitura. científicos, etc, estabelecidos e ordenados por especialistas
As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao numa sequência lógica e psicológica.
encontro da concepção que considera a linguagem como forma - A tarefa inicial do professor é modelar respostas
de atuação sobre o homem e o mundo e das modernas teorias apropriadas aos objetivos instrucionais.
sobre os estudos do texto, como a Linguística Textual, a Análise - O professor é apenas um elo entre a verdade científica e
do Discurso, a Semântica Argumentativa e a Pragmática, entre o aluno, devendo empregar o sistema instrucional previsto.
outros. - Foi efetivamente introduzida no Brasil no final da década
De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Libâneo, de 1960, com o objetivo de adequar o sistema educacional à
deduz-se que as tendências pedagógicas liberais, ou seja, a orientação político-econômica do regime militar então
tradicional, a renovada e a tecnicista, por se declararem vigente.
neutras, nunca assumiram compromisso com as Essas características permitem identificar que o autor se
transformações da sociedade, embora, na prática, refere à:
procurassem legitimar a ordem econômica e social do sistema (A) tendência progressista libertadora
capitalista. No ensino da língua, predominaram os métodos de (B) tendência liberal tradicional
base ora empirista, ora inatista, com ensino da gramática (C) tendência progressista libertária
tradicional, ou sob algumas as influências teóricas do (D) tendência liberal tecnicista
estruturalismo e do gerativismo, a partir da Lei 5.692/71, da
Reforma do Ensino. Resposta
Já as tendências pedagógicas progressistas, em oposição às
liberais, têm em comum a análise crítica do sistema capitalista. 01. C / 02. D
De base empirista (Paulo Freire se proclamava um deles) e
marxista (com as ideias de Gramsci), essas tendências, no Abordagens de ensino e aprendizagem59
ensino da língua, valorizam o texto produzido pelo aluno, a
partir do seu conhecimento de mundo, assim como a Dos diversos autores que analisam e comparam as
possibilidade de negociação de sentido na leitura. abordagens do processo de ensino e aprendizagem, destacam-
A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as difusão se os trabalhos de Bordenave Libâneo Saviani e Mizukami, que
das ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa perspectiva classificam e agrupam as correntes teóricas, segundo critérios
sócio histórica, essas teorias buscam uma aproximação com diferentes.
modernas correntes do ensino da língua que consideram a Bordenave classifica e distingue “as diferentes opções
linguagem como forma de atuação sobre o homem e o mundo, pedagógicas segundo o fator educativo que elas mais
ou seja, como processo de interação verbal, que constitui a sua valorizam”. Libâneo utiliza como “critério a posição que as
realidade fundamental. teorias adotam em relação às finalidades sociais da escola”.
Saviani toma como critério de classificação “a criticidade da
Questões teoria em relação à sociedade e o grau de percepção da teoria
dos determinantes sociais”. Mizukami considera que a base
01. (MPE/RO - ANALISTA JUDICIÁRIO – PEDAGOGIA – das teorias do conhecimento envolve três características
FUNCAB) As práticas do cotidiano escolar têm vários básicas: primado do sujeito, primado do objeto e interação
condicionantes políticos e sociais que configuram diferentes sujeito objeto – apesar de reconhecer que existam muitas
concepções de homem e sociedade e, em consequência, variações e diferentes combinações possíveis.
diferentes concepções de escola, aprendizagem, relação
professor/a– aluno/a, técnicas pedagógicas, entre outras. Os autores citados analisam as abordagens do processo de
Conforme Libâneo (1992), as tendências pedagógicas ensino e aprendizagem a partir de seus princípios, dos
classificam-se em duas grandes vertentes: componentes necessários ao fenômeno educativo e de seus
(A) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada não diretiva e efeitos sobre o indivíduo e a sociedade
tecnicista) e Pedagogia Emancipatória (libertadora, renovada Como existem diversidade de critérios e diferenças
progressista, libertária e crítico-social dos conteúdos). relativas aos principais componentes que explicam o processo
(B) Pedagogia Liberal (libertadora, libertária e crítico- educativo, no decorrer deste estudo resolvemos adotar os
social dos conteúdos) e Pedagogia Progressista (tradicional, conceitos expostos por Mizukami, com algumas adaptações
renovada progressista, renovada não diretiva e tecnicista). para efeito comparativo.
(C) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada progressista, Nesse sentido, o enfoque deste estudo concentra-se nas
renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia Progressista situações concretas de ensino e aprendizagem, por meio do
(libertadora, libertária e críticosocial dos conteúdos). agente formal, a escola, envolvendo naturalmente as
(D) Pedagogia Autoritária (tradicional, renovada atividades dos professores e alunos diante dos conteúdos de
progressista, renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia ensino. Vale também acrescentar que um dos pontos
Capitalista (libertadora, libertária e críticosocial dos relevantes a serem analisados consiste na identificação das
conteúdos). correntes teóricas que suportam o comportamento do
professor em situações de ensino e aprendizagem,
02. (SEDUC/RJ - PROFESSOR – MATEMÁTICA – CEPERJ) principalmente em sala de aula.
Luckesi analisa diversas tendências pedagógicas e as
características da prática escolar a elas correspondentes. A educação formal ou informal, de alguma forma, sempre
Nesse contexto, considere as observações abaixo, todas foi objeto de preocupação da sociedade e de seus dirigentes,
relativas a uma determinada tendência pedagógica. notadamente em seus aspectos formais, em seu conteúdo e em
sua utilidade enquanto instrumento de socialização. Como
bem observa Mizukami, para entendermos o fenômeno

59 SANTOS, R. V. dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem

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educativo, faz-se necessário refletir sobre seus diferentes a aprendizagem consiste em aquisição de informações e
aspectos: “É um fenômeno humano, histórico e demonstrações transmitidas, é a que propicia a formação de
multidimensional. Nele estão presentes tanto a dimensão reações estereotipadas, de automatismos denominados
humana quanto a técnica, a cognitiva, a emocional, a hábitos, geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase
sociopolítica e a cultural”. Consequentemente entendemos o sempre, somente às situações idênticas em que foram
fenômeno educativo como um objeto em permanente adquiridos. O aluno que adquiriu o hábito ou que "aprendeu"
construção e com diferentes causas e efeitos de acordo com a apresenta, com freqüência, compreensão apenas parcial.
dimensão enfocada. Ignoram-se as diferenças individuais. É um ensino que se
preocupa mais com a variedade e quantidade de
Abordagem Tradicional noções/conceitos/informações que com a formação do
pensamento reflexivo.
Entende-se por abordagem tradicional a prática educativa
caracterizada pela transmissão dos conhecimentos O professor-aluno é vertical, sendo que ( o professor )
acumulados pela humanidade ao longo dos tempos. Essa tarefa detém o poder decisório quanto a metodologia, conteúdo,
cabe essencialmente ao professor em situações de sala de aula, avaliação, forma de interação na aula etc. O professor detém os
agindo independentemente dos interesses dos alunos em meios coletivos de expressão. A maior parte dos exercícios de
relação aos conteúdos das disciplinas. Essa missão do controle e dos de exames se orienta para a reiteração dos
professor, segundo Mizukami, é considerada “catequética e dados e informações anteriormente fornecidos pelos manuais.
unificadora da escola”; envolve “programas minuciosos,
rígidos e coercitivos. Exames seletivos, investidos de caráter Abordagem Comportamentalista
sacramental”. Nesse sentido, o ensino tradicional tem como
primado o objeto, o conhecimento, e dele o aluno deve ser um Bordenave denomina essa abordagem “pedagogia da
simples depositário. A escola deve ser o local ideal para a moldagem do comportamento”, descrevendo-a assim: “Se o
transmissão desses conhecimentos que foram selecionados e fator é o efeito ou resultado obtido pela educação – quer dizer,
elaborados por outros. Referências ao ensino tradicional as mudanças de conduta conseguidas no indivíduo –, isto
também são feitas por Bordenave (1984), que o denomina definiria o tipo de educação comumente denominado
“pedagogia da transmissão”: “Assim, se opção pedagógica Pedagogia Moldagem do Comportamento, ou pedagogia
valoriza sobretudo os conteúdos educativos, isto é, os condutista”. Libâneo privilegia o enfoque sociológico da
conhecimentos e valores a serem transmitidos, isto educação. Identifica essa abordagem como parte da pedagogia
caracterizaria um tipo de educação tradicional que liberal, em sua versão renovada pro gressista, dando atenção
chamaremos Pedagogia da Transmissão.” E, na análise das ao movimento da “tecnologia educacional”, e, ao discorrer
consequências sociais decorrentes desta pedagogia, esta sobre isso, diz que, “quanto ao movimento da ‘tecnologia
“forma alunos passivos, produz cidadãos obedientes e prepara educacional’, preferimos situá-lo aqui, e não junto às
o terreno para o Ditador Paternalista. A sociedade é marcada tendências de tipo behaviorista, embora tenha base teórica
pelo individualismo, e não pela solidariedade”. Por outro lado, nessa corrente. A tecnologia educacional foi-se introduzindo
Libâneo identifica essa abordagem como pedagogia liberal em nos sistemas públicos de ensino a partir da tradição
sua versão conservadora, enfatizando que o papel da escola é progressista que privilegia o ensino sob o ângulo dos aspectos
de formação intelectual e moral dos alunos, para que estes metodológicos, em contraposição à ênfase nos conteúdos das
possam assumir o seu papel na sociedade. Ele afirma que, “na matérias. Assim, os recursos fornecidos pela tecnologia da
versão conservadora, a pedagogia liberal se caracteriza por educação (instrução programada, planejamento sistêmico,
acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, no qual o operacionalização de objetivos comportamentais, análise
aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, sua plena comportamental e sequência instrucional) foram
realização como pessoa. incorporados à prática escolar”. Segundo a classificação de
Os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação Saviani, essa abordagem é identificada como a pedagogia
professor-aluno não tem nenhuma relação com o cotidiano do tecnicista, que ele apresenta assim: “... na pedagogia tecnicista,
aluno e muito menos com as realidades sociais”. Nesse sentido, o elemento principal passa a ser a organização dos meios,
Saviani identifica essa abordagem como pedagogia tradicional. ocupando professor e aluno posição secundária(...)”; “é o
Ensina que “a escola surge como um antídoto à ignorância, processo que define o que professores e alunos devem fazer, e
logo, um instrumento para equacionar o problema da assim também quando e como o farão(...);” marginalizado será
marginalidade. Seu papel é difundir a instrução, transmitir os o incompetente (no sentido técnico da palavra), isto é, o
conhecimentos acumulados pela humanidade e ineficiente e improdutivo”.
sistematizados logicamente”. Os principais defensores do Para realização dessa moldagem do comportamento, o
ensino tradicional, citados por Mizukami, são Émile Chartier e ensino deve utilizar-se de reforços e recompensas para, por
Snyders. meio do treinamento, atingir objetivos preestabelecidos. Neste
sentido, o ensino necessita de tecnologias derivadas da
A educação é entendida como instrução, caracterizada aplicação de pesquisas científicas, tais como “máquinas de
como transmissão de conhecimentos e restrita à ação da ensinar”, a instrução programada, computadores, manuais
escola. Às vezes, coloca-se que, para que o aluno possa chegar, tutoriais de treinamento etc. O principal representante da
e em condições favoráveis, há uma confrontação com o “análise funcional” do comportamento é Skinner. Ele não se
modelo, é indispensável uma intervenção do professor, uma preocupa em justificar por que o aluno aprende, mas sim em
orientação do mestre. Trata-se, pois, da transmissão de idéias fornecer uma tecnologia que seja capaz de explicar como fazer
selecionadas e organizadas logicamente. o estudante estudar e que seja eficiente na produção de
mudanças comportamentais.
O Ensino-aprendizagem
A educação está intimamente ligada à trasmissão cultural.
Os conteúdos e as informações têm de ser adquiridos , os A educação, pois, deverá transmitir conhecimentos, assim
modelos imitados. Seus elementos fundamentais são imagens como comportamentos éticos, práticas sociais, habilidades
estáticas que progressivamente serão "impressas" nos alunos, consideradas básicas para a manipulação e controle do mundo
cópias de modelos do exterior que serão gravadas nas mentes /ambiente.
individuais. Uma das decorrências do ensino tradicional, já que

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A escola é considerada e aceita como uma agência pessoas de iniciativas, de responsabilidade , autodeterminação
educacional que deverá adotar forma peculiar de controle, de que soubessem aplicar-se a aprendizagem no que lhe servirão
acordo com os comportamentos que pretende instalar e de solução para seus problemas servindo-se da própria
manter. existência. Nesse processo os motivos de aprender deverão ser
do próprio aluno. Autodescoberta e autodeterminação são
Aso educandos caberia o controle do processo de características desse processo.
aprendizagem, um controle científico da educação, o professor
teria a responsabilidade de planejar e desenvolver o sistema A escola será uma escola que respeite a criança tal qual é,
de ensinoaprendizagem, de forma tal que o desempenho do que ofereça condições para que ela possa desenvolver-se em
aluno seja maximizado, considerando-se igualmente fatores seu processo possibilitando a autonomia do aluno. O princípio
tais como economia de tempo, esforços e custos. básico consiste na ideia da não interferência com o
crescimento da criança e de nenhuma pressão sobre ela. O
A abordagem Humanista ensino numa abordagem como esta consiste num produto de
Nessa abordagem o enfoque é o sujeito, com “ensino personalidades únicas, respondendo as circunstâncias únicas
centrado no aluno”. No entanto, sob alguns pontos de vista, num tipo especial de relacionamentos. A aprendizagem tem a
esse enfoque também tem características interacionistas de qualidade de um envolvimento pessoal.
sujeito-objeto. Para Mizukami, o referencial teórico desta
corrente tem origem no trabalho de Rogers, que não foi Cada professor desenvolverá seu próprio repertório de
especificamente elaborado para a educação, e sim para uma forma única, decorrente da base percentual de seu
tratamento terapêutico. O enfoque rogeriano enfatiza as comportamento. O processo de ensino irá depender do caráter
relações interpessoais, objetivando o crescimento do individual do professor, como ele se relaciona com o caráter
indivíduo, em seus processos internos de construção e pessoal do aluno. Assume a função de facilitador da
organização pessoal da realidade, de forma que atue como aprendizagem e nesse clima entrará em contato com
uma pessoa integrada. Nesse contexto, o professor deve ser problemas vitais que tenham repercussão na existência do
um “facilitador da aprendizagem”, ou seja, deve fornecer estudante. Isso implica que o professor deva aceitar o aluno tal
condições para que os alunos aprendam, podendo ser treinado como é e compreender os sentimentos que ele possui. O aluno
para tomar atitudes favoráveis condizentes com essa função. deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes a
Os conteúdos de ensino são vistos como externos e aprendizagem que tem significado para eles. As qualidades do
assumem papel secundário, privilegiando-se o relacionamento professor podem ser sintetizadas em autenticidade
das pessoas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem. compreensão empática , aceitação e confiança no aluno.
Por outro lado, verifica-se na obra de Rogers e na abordagem
humanista a carência de uma teoria de instrução que forneça Abordagem Cognitivista
bases e diretrizes sólidas para a prática educativa. No trabalho
de Bordenave não se identifica de forma explícita à abordagem Os principais pesquisadores nessa área são Jean Piaget,
humanista, com base nos pressupostos de Rogers. No entanto, biólogo e filósofo suíço, e Jerome Bruner, americano. Essa
é feita uma aproximação, somente em alguns aspectos, por abordagem é também conhecida como piagetiana, devido à sua
meio daquilo que este denomina “pedagogia da grande difusão e influência na pedagogia em geral. Nesse
problematização”. Como exemplo disso, faz a seguinte enfoque encontramos o caráter interacionista entre sujeito e
afirmação: “... o docente facilita a identificação de ‘problemas’ objeto, e o aprendizado é decorrente da assimilação do
pelo grupo, sua análise e teorização, bem como a busca de conhecimento pelo sujeito e também da modificação de
soluções alternativas ... incentivam a aprendizagem ... a estruturas mentais já existentes. Pela assimilação o indivíduo
solidariedade com o grupo com o qual se trabalha ... sua explora o ambiente, toma parte dele, transformando-o e
percepção do professor não é autoritária, pois o papel do incorporando-o a si. Sendo assim, o pensamento é a base da
professor não é de autoridade superior, mas de facilitador de aprendizagem, que se constitui de um conjunto de
uma aprendizagem em que ele também é aprendiz”. Libâneo mecanismos que o indivíduo movimenta para se adaptar ao
identifica essa abordagem à pedagogia liberal, em sua versão meio ambiente; o conhecimento é adquirido por meio de uma
renovada não-diretiva. Discorrendo sobre isso diz que, “em construção dinâmica e contínua. Dessa forma o ensino deve
termos pedagógicos, a escola renovada propõe a autoeducação visar ao desenvolvimento da inteligência por meio do
— o aluno como sujeito do conhecimento —, de onde se extrai “construtivismo interacionista”, que em essência parte do
a idéia do processo educativo como desenvolvimento da princípio segundo o qual é assimilado o é a uma estrutura
natureza infantil: a ênfase na aquisição de processos de mental anterior, criando uma nova estrutura em seguida.
conhecimentos em oposição aos conteúdos”. Por outro lado, Nesse sentido, a concepção piagetiana implica a
Saviani não explicita o trabalho de Rogers, mas, em função das interdependência do homem em relação ao meio em que vive,
características observadas de não-diretividade do ensino e o a sociedade, sua cultura, seus valores e seus objetos.
primado do sujeito, podemos enquadrar a abordagem No trabalho de Bordenave não encontramos referências
humanista dentro do que Saviani chama de a pedagogia nova, explícitas à abordagem cognitivista, mas podemos identificá-
considerada o marco inicial para o surgimento das tendências la em parte na pedagogia da problematização, na qual este nos
não-diretivas e antiautoritárias. Esse autor nos ensina que “o ensina que “...quando a opção valoriza o próprio processo de
professor agiria como um estimulador e orientador da transformação do aluno enquanto agente transformador da
aprendizagem, cuja iniciativa principal caberia aos próprios sua realidade ... o aluno sente-se protagonista de um processo
alunos. Tal aprendizagem seria uma decorrência espontânea de transformação da realidade e desenvolve um sentido de
do ambiente estimulante e da relação viva que se estabeleceria responsabilidade social e uma atitude de entusiasmo
entre estes e o professor”. construtivo”. Libâneo faz menção à abordagem piagetiana e a
de outros pensadores e seguidores da “escola nova”,
A educação é centrada na pessoa, já que nessa abordagem classificando-os na pedagogia liberal, em sua versão renovada
o ensino será centrado no aluno. A educação tem como progressista, e dizendo que “... a idéia de ‘aprender fazendo’
finalidade primeira a criação de condições que facilitam a está sempre presente. Valorizam-se as tentativas
aprendizagem de forma que seja possível seu experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio
desenvolvimento tanto intelectual como emocional seria a natural e social, o método de solução de problemas – embora
criação de condições nas quais os alunos pudessem tornar-se os métodos variem, as escolas ativas ou novas (Dewey,

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Montessori, Decroly, Cousinet, Piaget e outros) partem sempre consciência dessa mesma realidade a fim de nela atuarem,
de atividades adequadas à natureza do aluno e às etapas de seu num sentido de transformação social”.
desenvolvimento”. No trabalho de Saviani referências à Na obra de Saviani (1984) não existem referências diretas
abordagem cognitivista podem ser encontradas indiretamente ou indiretas detalhadas a essa abordagem. Apenas podemos
no que ele identifica como a “pedagogia nova”. Entende “... que inferir que, como este estava preocupado com a relação entre
essa maneira de entender a educação, por referência à educação e o problema da marginalidade, esse enfoque teórico
pedagogia tradicional tenha deslocado o eixo da questão poderia ter algumas similaridades com as teorias crítico-
pedagógica do intelecto para o sentimento: do aspecto lógico reprodutivistas, que entendem que a educação é um
para o psicológico; ... de uma pedagogia de inspiração filosófica instrumento de discriminação social. O autor diz que “... as
centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de teorias ... são críticas, uma vez que postulam não ser possível
inspiração experimental baseada principalmente nas compreender a educação senão a partir dos seus
contribuições da biologia e da psicologia. condicionantes sociais. Há, pois, nessas teorias uma cabal
percepção da dependência da educação em relação à
A educação é o processo educacional, consoante a teoria sociedade. Entretanto, como as análises que desenvolvem
de desenvolvimento e conhecimento, tem um papel chegam invariavelmente à conclusão de que a função da
importante, ao provocar situações que sejam educação consiste na reprodução da sociedade em que ela se
desequilibradoras para o aluno, desequilíbrios esses insere, bem merecem a denominação de ‘teorias crítico-
adequados ao nível de desenvolvimento em que a criança vive reprodutivistas’”.
intensamente (intelectual e afetivamente) cada etapa de seu Como podemos observar pela análise comparativa dos
desenvolvimento. trabalhos de Bordenave, Libâneo, Saviani e Mizukami, as
diversas abordagens teóricas que procuram explicar o
Segundo Piaget, a escola deveria começar ensinando a processo de ensino e aprendizagem podem ser agrupadas e
criança a observar. A verdadeira causa dos fracassos da sistematizadas de diferentes formas, dependendo do enfoque
educação formal, diz, decorre essencialmente do fato de se do autor. Deve ficar claro, também, que as diferentes
principiar pela linguagem (acompanhada de desenhos, de classificações não têm limites totalmente fixos e que as
ações fictícias o narradas etc.) ao invés de o fazer pela ação real abordagens teóricas não se constituem em referenciais
e material. totalmente puros e fechados, sem pontos de interligação. Vale
relembrar que os referidos trabalhos têm objetivos diferentes
Um ensino que procura desenvolver a inteligência deverá e, consequentemente, produziram classificações diferentes.
priorizar as atividades do sujeito, considerando-o inserido Vale rememorar que Bordenave classifica e distingue as
numa situação social. diferentes opções pedagógicas segundo o fator educativo que
elas mais valorizam. Já Libâneo utiliza como critério a posição
Abordagem Sociocultural que as teorias adotam em relação às finalidades sociais da
escola. Por outro lado, Saviani toma como critério de
Podemos caracterizá-la como abordagem interacionista classificação a criticidade da teoria em relação à sociedade e o
entre o sujeito e o objeto de conhecimento, embora com grau de percepção da teoria dos determinantes sociais.
enfoque no sujeito como elaborador e criador do Finalmente, Mizukami considera que a base das teorias do
conhecimento. Na abordagem sociocultural, o fenômeno conhecimento envolvem três características: primado do
educativo não se restringe à educação formal, por intermédio sujeito, primado do objeto e interação sujeito-objeto. Apesar
da escola, mas a um processo amplo de ensino e aprendizagem, de reconhecer que existem muitas variações e combinações
inserido na sociedade. A educação é vista como um ato político, possíveis. Adotou-se o enfoque de Mizukami como referencial
que deve provocar e criar condições para que se desenvolva teórico básico de comparação das diferentes classificações que
uma atitude de reflexão crítica, comprometida com a procuram explicar o fenômeno educativo em sua
sociedade e sua cultura. Portanto, deve levar o indivíduo a uma multidimensionalidade.
consciência crítica de sua realidade, transformando-a e a
melhorando-a. Dessa forma, o aspecto formal da educação faz A escola, o aluno, o professor e o processo de ensino e
parte de um processo sociocultural, que não pode ser visto aprendizagem
isoladamente, nem tampouco priorizado.
Parece, pelas diversas abordagens, que as teorias e seus
Identificam-se no texto de Bordenave referências a essa diferentes enfoques ainda não constituem um corpo de
abordagem, denominada “pedagogia da problematização” ou conhecimentos capaz de explicar e/ou predizer todos os
“educação libertadora”. Esse autor assim se pronuncia: “...a aspectos do fenômeno educativo em suas diferentes situações.
situação preferida é quando o aluno enfrenta, em situação de Por outro lado, é inegável que a educação não pode ser
grupo, problemas concretos de sua própria realidade. analisada isoladamente, sem considerarmos a sociedade-
A aprendizagem realimenta-se constantemente pelo cultura envolvida nem tampouco seu momento histórico, com
confronto direto do grupo de alunos com a realidade objetiva todos os seus efeitos sobre os indivíduos. Também se pode
ou com a realidade mediatizada ... O aluno desenvolve sua inferir que a escola, com todas as suas críticas, ainda tem sido
consciência crítica e seu sentido de responsabilidade o local ideal para a realização do processo de ensino e
democrática baseada na participação”. Libâneo classifica essa aprendizagem. E, para tanto, deveria utilizar todos os meios
abordagem como “pedagogia progressista”, em sua versão materiais, humanos e tecnológicos possíveis para atingir seus
libertadora, da seguinte forma: “. a pedagogia progressista objetivos.
tem-se manifestado em três versões: a libertadora, mais É inegável também que a escola está intimamente ligada ao
conhecida como pedagogia de Paulo Freire “... dá” mais valor processo social, sendo ao mesmo tempo agente influenciador
ao processo de aprendizagem grupal ... do que a conteúdos de e influenciada por este. Em decorrência das pesquisas
ensino, como a decorrência, a prática educativa somente faz realizadas, leituras, experiências sociais etc., o professor
sentido numa prática social junto ao povo, “e por isso incorpora de certa forma um ou mais aspectos dos referenciais
preferem-se” as modalidades de educação popular ‘não teóricos analisados anteriormente em suas práticas docentes,
formal’ ... educação ... uma atividade em que professores e muitas das quais são derivadas de como foi educado durante
alunos, mediatizados pela realidade que apreendem e da qual sua vida escolar.
extraem o conteúdo de aprendizagem, atingem um nível de

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O aluno tem sido observado, analisado, ora como ser (D) Na aprendizagem escolar há influência de fatores
“ativo”, ora como ser “passivo”, dependendo do enfoque, e afetivos e sociais, tais como os que suscitam a motivação para
muitas vezes na prática docente assume papéis mistos e o estudo, os que afetam as relações professor-alunos e os que
controvertidos. O processo de ensino e aprendizagem tem sido interferem nas disposições emocionais dos alunos para
visto de forma integrada à sociedade-cultura e suas crenças e enfrentar as tarefas escolares.
valores dominantes em uma determinada época, o que (E) A atividade de ensino não pode se restringir a
significa dizer que as teorias que suportam esse processo têm- atividades práticas. Elas somente fazem sentido quando
se modificado ao longo do tempo. Dessa forma, foram suscitam a atividade mental dos alunos, de modo que estes
discutidas algumas considerações relevantes das diferentes lidem com elas através dos conhecimentos sistematizados que
abordagens teóricas do processo de ensino e aprendizagem. vão adquirindo.
Naturalmente, não se esgotou o assunto, devido à
complexidade do tema e à necessidade de uma maior 02. (BHTRANS - Pedagogo – FUNDEP). Em relação às
profundidade em pesquisas teóricas e investigações empíricas abordagens apresentadas por Mizukami (1986), é
sobre as controvérsias existentes. INCORRETO afirmar que,
(A) tanto na abordagem tradicional, quanto na abordagem
Toda ação educativa, para que seja válida, deve, comportamentalista, a relação professor-aluno é vertical,
necessariamente, ser precedida tanto de uma reflexão sobre o cabendo ao professor o papel decisório.
homem como de uma análise do meio de vida desse homem (B) tanto na abordagem cognitivista, quanto na abordagem
concreto, a quem se quer ajudar para que se eduque. humanista, o professor tem um papel não diretivo, aquele que
apenas cria condições para que os alunos aprendam.
A escola deve ser um local onde seja possível o crescimento (C) tanto na abordagem cognitivista, quanto na abordagem
mútuo, do professor e dos alunos, no processo de sociocultural, a ênfase está na relação do sujeito com o meio
conscientização o que indica uma escola diferente de que se em que está inserido.
tem atualmente, coma seus currículos e prioridades. (D) nas abordagens cognitivista, humanista e sociocultural,
o aluno tem um papel mais ativo como sujeito da
O ensino-aprendizagem deverá procurar a superação da aprendizagem.
relação opressor-oprimido. A estrutura de pensar do oprimido
está condicionada pela contradição vivida na situação 03. (BHTRANS – Pedagogo - FUNDEP). Em cada uma das
concreta, existencial em que o oprimido se forma. Resultando abordagens apresentadas por Mizukami (1986),a avaliação da
consequencias tais como: aprendizagem apresenta diferentes características.
- ser ideal é ser mais homem... (A) que a abordagem humanista nega qualquer
- atitude fatalista padronização de estratégias e procedimentos avaliativos,
- atitude de auto desvalia provas, exames e notas, defendendo a autoavaliação
- o medo da liberdade ou a submissão do oprimido. (B) que, na abordagem tradicional, a avaliação visa à
exatidão da reprodução do conteúdo comunicado em sala de
A relação professor-aluno é horizontal. Professor aula por meio de provas, exames, chamadas orais.
empenhado na prática transformadora procurará desmitificar (C) que, na abordagem cognitivista, se busca verificar se o
e questionar, junto com o aluno. aluno já adquiriu noções, realizou operações, relações etc. por
meio de produções livres e expressões próprias.
Referências Bibliográficas (D) que, na abordagem comportamentalista, a avaliação
ocorre apenas ao final do processo, com o intuito de saber se
Mizukami, M.G.N. Ensino, as abordagens do processo. São os comportamentos desejados foram atingidos.
Paulo: EPU, 1986.
Libâneo, J. C. Tendências Pedagógicas na prática escolar . Respostas
In: Revista da Ande
Saviani, D. Escola e Democracia. São Paulo: Cortez, 1984. 01. C / 02. B / 03. D
Bordenave, J.E. D. “A opção pedagógica pode ter
consequências individuais e sociais importantes. “In Revista de
Educação AEC. Currículo escolar e a construção do
Skinner. E.B. Tecnologia do Ensino. São Paulo :Herder, conhecimento.
1972.
Rogers C. Liberdade para aprender. Belo Horizonte,
Interlivros. 1972, 2ª edição. Concepções de Currículo e a Organização Curricular da
Educação Básica
Questões
Concepções de Currículo
01. (IFBP - Técnico em Assuntos Educacionais –
IFB/2016). Leia as afirmativas sobre o processo de ensino e Podemos afirmar que as discussões sobre o currículo
aprendizagem, de acordo com o que Libâneo (2013) aborda no incorporam, com maior ou menor ênfase, discussões sobre os
livro Didática, e assinale a sentença INCORRETA. conhecimentos escolares, sobre os procedimentos e as
(A) Ensino e aprendizagem são duas facetas de um mesmo relações sociais que conformam o cenário em que os
processo. O professor planeja, dirige e controla o processo de conhecimentos se ensinam e se aprendem, sobre as
ensino, tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria transformações que desejamos efetuar nos alunos e alunas,
dos alunos para a aprendizagem. sobre os valores que desejamos inculcar e sobre as identidades
(B) A aprendizagem escolar é um processo de assimilação que pretendemos construir.
de determinados conhecimentos e modos de ação física e
mental, organizados e orientados no processo de ensino. Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços
(C) A aprendizagem escolar surge naturalmente da pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas. Por
interação entre as pessoas e com o ambiente em que vivem. É esse motivo, a palavra tem sido usada para todo e qualquer
uma atividade intencional, dirigida, casual e espontânea. espaço organizado para afetar e educar pessoas, o que explica

Conhecimentos Pedagógicos 57
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o uso de expressões como o currículo da mídia, o currículo da O currículo tecnológico, concebido fundamentalmente no
prisão etc. método, tem, como função, identificar meios eficientes,
programas e materiais com a finalidade de alcançar resultados
Abordagens do Currículo pré-determinados. É expresso de variadas formas:
levantamento de necessidades, plano escolar sob o enfoque
Para entendermos melhor, as ideologias e concepções em sistêmico, instrução programada, sequências instrucionais,
relação ao currículo recorreremos ao texto de McNeil60. Neste ensino prescritivo individualmente e avaliação por
texto o autor classifica o currículo em quatro abordagens desempenho.
distintas: Acadêmico, Humanista, Tecnológico e O desenvolvimento do sistema ensino e aprendizagem
Reconstrucionista, que foram sendo construídas ao longo do segundo hierarquia de tarefas constitui o eixo central do
tempo. planejamento do ensino, proposto em termos de uma
linguagem objetiva, esquematizadora e concisa.
Currículo Acadêmico - é dentre as várias orientações
curriculares, a que possui maior tradição histórica. Para os Currículo Reconstrucionista Social - o currículo
adeptos da tendência tradicional, o núcleo da educação é o reconstrucionista tem como concepção teórica e metodológica
currículo, cujo elemento irredutível é o conhecimento. Nas a tendência histórico crítica e tem como objetivo principal a
disciplinas acadêmicas de natureza intelectual – como língua e transformação social e a formação crítica do sujeito. De acordo
literatura, matemática, ciências naturais, história, ciências com McNeil o reconstrucionismo social concebe homem e
sociais e belas artes –, se encontra o núcleo do conhecimento, mundo de forma interativa. A sociedade injusta e alienada
o conteúdo principal ou a matéria de ensino. pode ser transformada à medida que o homem inserido em um
Sua abordagem baseia-se, principalmente, na estrutura do contexto, social, econômico, cultural, político e histórico
conhecimento, como um patrimônio cultural, transmitido às adquire, por meio da reflexão, consciência crítica para
novas gerações. As disciplinas clássicas, verdades consagradas assumir-se sujeito de seu próprio destino.
pela ciência, representam ideias e valores que resistiram ao Nesse prisma, a educação, é um agente social que promove
tempo e às mudanças socioculturais. Portanto, são a mudança. A visão social da educação e currículo consiste em
fundamentais à construção do conhecimento. provocar no indivíduo atitudes de reflexão sobre si e sobre o
Segundo McNeil a finalidade da educação, segundo o contexto social em que está inserido. É um processo de
currículo acadêmico, é a transmissão dos conhecimentos promoção que objetiva a intervenção consciente e libertadora
vistos pela humanidade como algo inquestionável e sobre si e a realidade, de modo a alterar a ordem social. Na
principalmente como uma verdade absoluta. À escola, cabe perspectiva de reconstrução social agrupam-se as posições
desenvolver o raciocínio dos alunos para o uso das ideias e que consideram o ensino uma atividade crítica, cujo processo
processos mais proveitosos ao seu progresso. de ensino e aprendizagem devam se constituírem em uma
prática social com posturas e opções de caráter ético que
Currículo Humanístico - o currículo humanista tem como levem à emancipação do cidadão e à transformação da
base teórica a tendência denominada Escola Nova e esta realidade.
defende que o currículo necessita levar em consideração a Sob o norte de emancipação do indivíduo, o currículo deve
realidade dos alunos. Na ênfase humanista, segundo McNeil a confrontar e desafiar o educando frente aos temas sociais e
atenção do conteúdo disciplinar se desloca para o indivíduo. O situações-problema vividos pela comunidade. Por
aluno é visto como um ser individual, dotado de uma conseguinte, não prioriza somente os objetivos e conteúdos
identidade pessoal que precisa ser descoberta, construída e universais, sua preocupação não reside na informação e sim na
ensinada; e o currículo tem a função de propiciar experiências formação de sujeitos históricos, cujo conhecimento é
gratificantes, de modo a desenvolver sua consciência para a produzido pela articulação da reflexão e prática no processo
libertação e auto realização. de apreensão da realidade. Enfatizando as relações sociais,
A educação é um meio de liberação, cujos processos, amplia seu âmbito de ação para além dos limites da sala de
conduzidos pelos próprios alunos, estão relacionados aos aula, introduzindo o educando em atividades na comunidade,
ideais de crescimento, integridade e autonomia. A auto incentivando a participação e cooperação.
realização constitui o cerne do currículo humanístico. Para O currículo reconstrucionista acredita na capacidade do
consegui-la, o educando deverá vivenciar situações que lhe homem conduzir seu próprio destino na direção desejada, e na
possibilitem descobrir e realizar sua própria individualidade, formação de uma sociedade mais justa e equânime. Esse
agindo, experimentando, errando, avaliando, reordenando e compromisso com ideais de libertação e transformação social
expressando. Tais situações ajudam os educandos a integrar lhe imputa certas dificuldades em uma sociedade hegemônica
emoções, pensamentos e ações. e dominadora.

Currículo Tecnológico - sob a perspectiva tecnológica, Currículo e Projeto Pedagógico


ainda segundo McNeil a educação consiste na transmissão de
conhecimentos, comportamentos éticos, práticas sociais e É viável destacar que o currículo constitui o elemento
habilidades que propiciem o controle social. Sendo assim, o central do projeto pedagógico, ele viabiliza o processo de
currículo tecnológico tem sua base sólida na tendência ensino e de aprendizagem.
tecnicista. O comportamento e o aprendizado são moldados
pelo externo, ou seja, ao professor, detentor do conhecimento, Sacristán61 afirma que o currículo é a ligação entre a
cabe planejar, programar e controlar o processo educativo; ao cultura e a sociedade exterior à escola e à educação; entre o
aluno, agente passivo, compete absorver a eficiência técnica, conhecimento e cultura herdados e a aprendizagem dos
atingindo os objetivos propostos. alunos; entre a teoria (ideias, suposições e aspirações) e a
prática possível, dadas determinadas condições.

60MCNEIL, John. O currículo reconstrucionista social. Tradução de José Camilo dos ______. O currículo tecnológico. Tradução de José Camilo dos Santos Filho.
Santos Filho. Campinas: editora, 2001. Campinas: editora, 2001.
______. O currículo humanístico. Tradução de José Camilo dos Santos Filho. 61 SACRISTAN, J. Gimeno. Poderes instáveis em educação. Tradução de Beatriz

Campinas: editora, 2001. Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed, 1999.


______. O currículo acadêmico. Tradução de José Camilo dos Santos Filho. Campinas:
editora, 2001.

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Alguns estudos realizados sobre currículo a partir das acordo com as especificações da sociedade, tem seus objetivos
décadas 1960 a 1970 destacam a existência de vários níveis de voltados para um controle de qualidade.
Currículo: formal, real e oculto. Esses níveis servem para fazer
a distinção de quanto o aluno aprendeu ou deixou de aprender. Kliebard63, defendia que “padrões qualitativos e
quantitativos definitivos fossem estabelecidos para o
O Currículo Formal refere-se ao currículo estabelecido produto”, considerando esse produto como o material criança,
pelos sistemas de ensino, é expresso em diretrizes a professor deveria obter de seus alunos a maior capacidade
curriculares, objetivos e conteúdos das áreas ou disciplina de que eles possuíssem para solucionar determinada tarefa em
estudo. Este é o que traz prescrita institucionalmente os determinado período de tempo.
conjuntos de diretrizes como os Parâmetros Curriculares
Nacionais. A prática docente desse currículo é facilmente
compreendida, pois baseia-se num modelo funcional de
O Currículo Real é o currículo que acontece dentro da sala aplicação de conteúdos e atividades. Para Kliebard a
de aula com professores e alunos a cada dia em decorrência de padronização de atividades ou unidades de trabalho e dos
um projeto pedagógico e dos planos de ensino. próprios produtos (crianças), exigiu a especificação de
objetivos educacionais e tornou a criança, em idade escolar
Cabe destacar que a palavra currículo tem sido também como algo a ser modelado e manipulado, produzido de modo
utilizada para indicar efeitos alcançados na escola, que não que se encaixasse em seu papel social predeterminado.
estão explicitados nos planos e nas propostas, não sendo
sempre, por isso, claramente percebidos pela comunidade Em sequência a essa concepção fabril de currículo,
escolar. Kliebard apresenta o pensamento de Tyler, que afirma que o
professor pode controlar as experiências de aprendizagem
Trata-se do chamado currículo oculto, que envolve, através da “manipulação do ambiente de tal forma que crie
dominantemente, atitudes e valores transmitidos, situações estimulantes – situações que irão suscitar a espécie
subliminarmente, pelas relações sociais e pelas rotinas do de comportamento desejado, portanto, parte do pressuposto
cotidiano escolar. Fazem parte do currículo oculto, assim, de que “a educação é um processo de mudança nos padrões de
rituais e práticas, relações hierárquicas, regras e comportamento das pessoas”.
procedimentos, modos de organizar o espaço e o tempo na
escola, modos de distribuir os alunos por grupamentos e Teoria Crítica
turmas, mensagens implícitas nas falas dos(as)
professores(as) e nos livros didáticos. Quanto ao Brasil, apresenta que Regina Celli Cunha
considera que a concepção crítica de currículo vivencia uma
Teorias do Currículo crise de legitimação, por não conseguir, na prática,
implementar seus princípios teóricos. Moreira revela, ainda,
Teoria Tradicional que a opinião dominante entre especialistas em currículo
acerca da crise é de que os avanços teóricos afetam pouco a
Kliebard62 apresenta que os fundamentos da teoria prática docente e que essas discussões têm predominância no
curricular de John Bobbit estão baseados na concepção de campo acadêmico, dificilmente alcançando a escola, não
administração científica de Taylor, e que a extrapolação desses contribuindo para maior renovação, e que, apesar da crise, a
princípios para a área de currículo transformou a criança no teoria curricular crítica constitui a mais produtiva tendência
objeto de trabalho da engrenagem burocrática da escola. do campo do currículo.

Neste sentido, as finalidades do currículo eram: Fundamentos:


- educar o indivíduo segundo as suas potencialidades; - Crítica aos processos de convencimento, adaptação e
- desenvolver o conteúdo do currículo de modo repressão da hegemonia dominante;
suficientemente variado com o fim de satisfazer as - Contraposição ao empiricismo e ao pragmatismo das
necessidades de todos os tipos de indivíduos na comunidade; teorias tradicionais;
- favorecer um ritmo de treinamento e de estudo que seja - Crítica à razão iluminista e racionalidade técnica;
suficientemente flexível; - Busca da ruptura do status quo;
- dar ao indivíduo somente aquilo de que ele necessita; - Materialismo Histórico Dialético – crítica da organização
- estabelecer padrões de qualidade e quantidade social pautada na propriedade privada dos meios de produção
definitivos para o produto; (fundamentos em Marx e Gramsci);
- desenvolver objetivos educacionais precisos e que - Crítica à escola como reprodutora da hegemonia
incluam o domínio ilimitado da capacidade humana através do dominante e das desigualdades sociais. (Michael Apple)
conhecimento de hábitos, habilidades, capacidades, formas de
pensamento, valores, ambições, etc., enfim, conhecer o que Principais Fundamentos:
seus membros necessitam para o desempenho de suas
atividades; - Escola Francesa: teoria da reprodução cultural – “capital
- oferecer “experiências diretas” quando essas múltiplas cultural”. O currículo da escola está baseado na cultura
necessidades não fossem atendidas por “experiências dominante, na linguagem dominante, transmitido através do
indiretas”. código cultural (Bourdieu e Passeron)

Da transposição dos princípios gerais da administração - Escola de Frankfurt: crítica à racionalidade técnica da
científica para a administração das escolas passou-se ao escola “pedagogia da possibilidade” – da resistência. Currículo
domínio da teoria curricular. As implicações para a prática de como emancipação e libertação. (Giroux e Freire)
uma escola em que a criança é o material e a escola é a escola-
fábrica e, que, portanto deve modelá-la como um produto de

62KLIEBARD, H. Burocracia e teoria de currículo. In: MESSIK, R.; PAIXÃO, L.; 63KLIEBARD, H. Os princípios de Tyler. In: MESSIK, R.; PAIXÃO, L.; BASTOS, L.
BASTOS, L. (Orgs.). Currículo: análise e debate. São Paulo: Zahar,1980. p.107-126. (Orgs.) Currículo: análise e debate. São Paulo: Zahar, 1980. p.107-126.

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Teoria Pós-Críticas Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
Já a teoria pós-críticas emergiu a partir das décadas de III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular
1970 e 1980, partindo dos princípios da fenomenologia, do por série, o regimento escolar pode admitir formas de
pós-estruturalismo e dos ideais multiculturais. Assim como a progressão parcial, desde que preservada a sequência do
teoria crítica, a perspectiva pós-crítica criticou duramente a currículo, observadas as normas do respectivo sistema de
teoria tradicional, mas elevaram as suas condições para além ensino;
da questão das classes sociais, indo direto ao foco principal: o IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos
sujeito. de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento
na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou
Desse modo, mais do que a realidade social dos indivíduos, outros componentes curriculares;
era preciso compreender também os estigmas étnicos e
culturais, tais como a racialidade, o gênero, a orientação sexual Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
e todos os elementos próprios das diferenças entre as pessoas. fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
Nesse sentido, era preciso estabelecer o combate à opressão comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em
de grupos semanticamente marginalizados e lutar por sua cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
inclusão no meio social. exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e dos educandos. (Redação dada pela Lei
A teorias pós-crítica considerava que o currículo nº 12.796, de 2013)
tradicional atuava como o legitimador dos modus operandi dos § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
preconceitos que se estabelecem pela sociedade. Assim, a sua obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da
função era a de se adaptar ao contexto específico dos matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da
estudantes para que o aluno compreendesse nos costumes e realidade social e política, especialmente do Brasil.
práticas do outro uma relação de diversidade e respeito. § 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões
regionais, constituirá componente curricular obrigatório da
Além do mais, em um viés pós-estruturalista, o currículo educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
passou a considerar a ideia de que não existe um § 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da
conhecimento único e verdadeiro, sendo esse uma questão de escola, é componente curricular obrigatório da educação
perspectiva histórica, ou seja, que se transforma nos básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação dada
diferentes tempos e lugares. pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
§ 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do
Organização Curricular da Educação Básica sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela
Lei nº 13.415, de 2017)
Veremos agora o que está vigorando (hoje) na Lei de § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as
Diretrizes e Bases da Educação: linguagens que constituirão o componente curricular de que
trata o § 2o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. 2016)
§ 7o A integralização curricular poderá incluir, a critério
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os
temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela
TÍTULO IV Lei nº 13.415, de 2017)
Da Organização da Educação Nacional § 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá
componente curricular complementar integrado à proposta
Art. 9º A União incumbir-se-á de: pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído pela Lei nº 13.006,
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a de 2014)
educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo prevenção de todas as formas de violência contra a criança e o
a assegurar formação básica comum; adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos
currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo
TÍTULO V como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino da Criança e do Adolescente), observada a produção e
distribuição de material didático adequado. (Incluído pela Lei
CAPÍTULO II nº 13.010, de 2014)
DA EDUCAÇÃO BÁSICA § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular
Seção I dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e
Das Disposições Gerais de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o
na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
organização, sempre que o interesse do processo de (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
aprendizagem assim o recomendar. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas
situados no País e no exterior, tendo como base as normas de educação artística e de literatura e história brasileiras.
curriculares gerais. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).

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Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica § 7o Os currículos do ensino médio deverão considerar a
observarão, ainda, as seguintes diretrizes: formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua
aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.
comum e à ordem democrática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
II - consideração das condições de escolaridade dos alunos
em cada estabelecimento; Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela
III - orientação para o trabalho; Base Nacional Comum Curricular e por itinerários
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de
desportivas não-formais. diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o
contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população saber: (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações § 3o A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto
necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e itinerário formativo integrado, que se traduz na composição
de cada região, especialmente: de componentes curriculares da Base Nacional Comum
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às Curricular - BNCC e dos itinerários formativos, considerando
reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; os incisos I a V do caput. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de
2017)
Seção III § 11. Para efeito de cumprimento das exigências
Do Ensino Fundamental curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
reconhecer competências e firmar convênios com instituições
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de de educação a distância com notório reconhecimento,
9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído pela
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do Lei nº 13.415, de 2017)
cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, Seção IV-A
obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
Adolescente, observada a produção e distribuição de material Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível médio
didático adequado. (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007). será desenvolvida nas seguintes formas: (Incluído pela Lei nº
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído 11.741, de 2008)
como tema transversal nos currículos do ensino I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes
fundamental. (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011). curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional
de Educação; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Seção IV
Do Ensino Médio Seção V
Da Educação de Jovens e Adultos
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas supletivos, que compreenderão a base nacional comum do
seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415, currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em
de 2017) caráter regular.
§ 1o A parte diversificada dos currículos de que trata
o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá Obs.: Só colocamos os parágrafos e incisos que dizem
estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser respeito ao currículo, por isso não seguimos à ordem.
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social,
ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Currículo e Direito à Educação
§ 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de Sabemos o quanto a questão curricular afeta a organização
educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº do trabalho na escola, constituindo-se mesmo num elemento
13.415, de 2017) estruturante do seu trabalho.
§ 4o Os currículos do ensino médio incluirão,
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar Aspectos fundamentais do cotidiano das escolas são
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, condicionados pelo currículo: é ele que estabelece, por
preferencialmente o espanhol, de acordo com a exemplo, os conteúdos, seu ordenamento e sequenciação, suas
disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos hierarquias e cargas horárias. São também as decisões
sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) curriculares que fazem importante mediação dos tempos e dos
§ 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base espaços na organização escolar, das relações entre educadores
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e e educandos, da diversificação que se estabelece entre os
oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de professores. A organização escolar, portanto, é inseparável da
acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela organização curricular.
Lei nº 13.415, de 2017)
§ 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho Miguel G. Arroyo64 é um dos autores que têm se
esperados para o ensino médio, que serão referência nos preocupado com o currículo e os sujeitos envolvidos na ação
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional educativa: educandos e educadores. Arroyo tem ressaltado
Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) nesses estudos diversos aspectos, como:

64ARROYO, Miguel Gonzalez. Secretaria de Educação Básica (Org.). Os educandos,


seus Direitos e o Currículo: Documento em versão preliminar. 2006.

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- a importância do trabalho coletivo na educação para a deficiências ou diferentes grupos minoritários, geralmente
construção de parâmetros de ação pedagógica; excluídos e marginalizados.
- o fato de serem os educandos sujeitos de direito ao
conhecimento; Na sua concepção o currículo educacional deve atender a
- a necessidade de se mapearem imagens e concepções dos todas estas diversidades, pois a sociedade não é homogênea.
educandos para subsidiar o debate sobre os currículos. Para tanto, o currículo deve ser ampliado e abranger as
necessidades dos grupos minoritários, ou seja, não pode se
Tomando os educandos como sujeitos de direito, os prender apenas a cultura dominante e geral, mas sim
currículos são responsáveis pela organização de reconhecer a singularidade dos indivíduos.
conhecimentos, culturas, valores, artes a que todo ser humano
tem direito. Isso significa inverter as prioridades ditadas pelo Para que aconteça a inclusão de grupos minoritários, é
mercado e definir as prioridades a partir do respeito ao direito necessária uma discussão profunda sobre a temática, a qual
dos educandos. deve envolver toda a comunidade escolar. O ponto de partida
para o movimento inicial é o planejamento curricular, mas é
Somente partindo do conhecimento dos educandos como no currículo real, ou seja, as práticas educativas, que de fato
sujeitos de direitos, estaremos em condições de questionar o ocorrem à desvalorização das experiências dos alunos e as
trato seletivo e segmentado em que ainda se estruturam os discriminações.
conteúdos.
Para Sacristán, a cultura transmitida pela escola confronta
Isso exige repensar a reorganização da estrutura escolar e com outros significados prévios, por isso, deve-se pensar em
do ordenamento curricular legitimados em valores de mérito um currículo extraescolar, para que os educadores possam
e sucesso, em lógicas excludentes e seletivas, em hierarquias mediar os educandos com uma perspectiva multicultural, a
de conhecimentos e de tempos, em cargas-horárias. qual visa o currículo em coordenadas mais amplas.

A superação das hierarquias, das segmentações e dos Para que não perca a identidade das culturas, o
silenciamentos entre os conhecimentos e as culturas pode ser planejamento curricular, de acordo com Sacristán66, deve se
um dos maiores desafios atuais para a organização dos pautar na seguinte estratégia:
currículos. Eles têm sido repensados, mas, sobretudo, em - formação de professores;
função do progresso cientifico e tecnológico. Assim, os - planejamento de currículos;
currículos se complexificam cada vez mais, o que não significa - desenvolvimento de materiais apropriados e,
que os mesmos questionem os processos humanos regressivos - a análise e revisão crítica das práticas vigentes.
que acontecem na sociedade e que cada vez mais parecem
precarizar a vida dos educandos. Para esta abordagem, segundo o autor, deve-se modificar
muito o currículo.
As exigências curriculares e as condições de garantia do
direito à educação e ao conhecimento se distanciam pela Em relação ao papel da escola Candau67 enfatiza que as
precarização da vida dos setores populares. diversidades culturais existentes nas diferentes sociedades,
como:
Por um lado, o direito à educação e, por outro, a vivência - os negros americanos;
da negação dos direitos humanos mais básicos questionam o - os emigrantes em países desenvolvidos;
ordenamento curricular, a lógica sequenciada, linear, rígida, - os emigrantes no Brasil; e mais,
previsível, para sujeitos disponíveis, liberados, em tempo - as muitas distintas culturas que variam de grupos e de
integral, sem rupturas, sem infrequências, somente ocupados pessoas se fazem presentes no interior da escola.
no estudo, sem fome, protegidos, com a sobrevivência
garantida. A escola neste sentido, não pode reproduzir a cultura
dominante, ela deve considerar as vivências dos educandos e
A escola vem fazendo esforços para repensar-se em função contribuir para uma pedagogia libertária.
da vida real dos sujeitos que têm direito à educação, ao
conhecimento e à cultura. A nova LDB n° 9394/96 recoloca a Em decorrência do fracasso escolar, intensificaram-se os
educação na perspectiva da formação e do desenvolvimento estudos a respeito do multiculturalismo associado com a
humano; o direito à educação, entendido como direito à Antropologia, mas também se viu a Psicologia como uma das
formação e ao desenvolvimento humano pleno. ciências importantíssima para a resolução dos problemas.

Essa lei se afasta, no seu discurso, da visão dos educandos Candau faz referência à teoria de Paulo Freire, a qual
como mão-de-obra a ser preparada para o mercado e buscou em uma perspectiva da cultura popular, alfabetizar
reconhece que toda criança, adolescente, jovem ou adulto tem muitas pessoas em blocos divididos, os quais os educadores
direito à formação plena como ser humano. Reafirma que essa faziam um estudo do cotidiano das pessoas para daí então,
é uma tarefa da gestão da escola, da docência e do currículo. começar alfabetizá-los, considerando a linguagem e os termos
comuns.
Currículo e Multiculturalismo
O multiculturalismo, de acordo com Candau, tem sua maior
Sacristán65 afirma que a escola tem sido um mecanismo de representatividade nos EUA, porque lá vivem negros,
normalização. O multiculturalismo na escola nada mais é do mexicanos, porto-riquenhos, chineses e uma pluralidade de
que a inclusão de todos à educação, procurando atender aos raças e etnias distintas.
interesses de todos, independentemente de etnias,

65SACRISTAN, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Trad Ernani 67CANDAU, Vera Maria Ferrão. (Org.). Sociedade, educação e cultura(s): Questões
da Rosa. Porto Alegre, RGS: Artmed, 2000. e propostas. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
66 SACRISTAN, José Gimeno. Currículo e diversidade cultural. In SILVA, Tomaz

Tadeu da. MOREIRA, Antonio Flávio (Orgs). Territórios Contestados: o currículo e


os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

Conhecimentos Pedagógicos 62
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Durante a década de 1960, tiveram muitas manifestações Nesse sentido, as práticas pedagógicas do educador podem
em prol da igualdade dos negros perante aos brancos, eles se tornar um ato classificatório, sendo que o juízo de valor se
reivindicavam direitos e participação iguais na sociedade, expressa nas suas ações diárias desenvolvidas em sala de aula.
independentemente de raça, sexo, crenças e religião. Haja vista que a atividade docente requer um processo
contínuo de reflexões em torno da práxis, especialmente no
O multiculturalismo enfim, se apresenta de muitas formas, tocante ao ato de avaliar.
as quais não se limitam a uma única tendência. Por isso, sua
abordagem educacional é muito ampla, fazendo uma reforma Faz-se fundamental que o educador reflita as suas práticas
drástica no currículo para uma perspectiva de diversidades. desenvolvidas no cotidiano da sala de aula, respeitando as
experiências que os indivíduos trazem do seu convívio em
Currículo e Avaliação sociedade. Tendo em vista que a avaliação consiste um dos
aspectos do processo pedagógico, cuja prática deve colaborar
Que tipo de ser humano queremos formar? É com esta no desenvolvimento da criticidade do indivíduo, interagindo
pergunta na cabeça que devemos pensar o currículo. Não os conhecimentos escolares com os contextos em que alunos
obstante, a avaliação, também, perpassa por este viés – uma estão inseridos.
avaliação que dê conta de suprir algumas de nossas
necessidades do cotidiano. Nesse sentido, o corpo docente não deve utilizar o ato de
avaliar apenas para medir e controlar o rendimento do
É nesse contexto que as três últimas décadas registraram discente dentro da instituição escolar. Segundo Fernandes e
uma preocupação intensa com os estudos sobre avaliação. O Freitas68 perpassam, na prática escolar, duas formas de
processo de avaliação não está ainda bem resolvido e definido avaliação:
pela escola e tampouco nas cabeças dos professores. - a avaliação formativa que tem princípios norteadores no
próprio processo educativo e
Muitos estudos foram empreendidos, mas pouco se - a avaliação somativa que apresenta a função de julgar o
avançou. Teóricos têm estudado e buscado caminhos para resultado final, ou seja, ao término do ano letivo, sendo feito
romper com um processo tão solidificado na escola como é o uma avaliação com objetivo de somar as notas do aluno
caso da avaliação da aprendizagem. durante o período escolar.

Algumas críticas severas têm sido feitas em relação ao “Os processos de avaliação formativa são concebidos para
aluno não saber quais são os verdadeiros objetivos das permitir ajustamentos sucessivos durante o desenvolvimento e
avaliações, não saber como ele será avaliado e, o mais a experimentação do currículo”.
importante não saber o que o professor espera que ele
responda, o que o professor, verdadeiramente, quer. Referências:

É preciso entender, de uma vez por todas, que temos que ALVES, Alzenira Cândida; SANTOS, Jaiana Cirino dos;
conciliar a concepção de avaliação em um currículo aberto e FERNANDES, Hercília Maria. Currículo e Avaliação: uma análise
em construção que deve contemplar o conhecimento real dos do projeto político pedagógico da Escola Cecília Estolano
alunos. Meireles.IV FIPED. Campina Grande, REALIZE Editora, 2012.
BRASIL. Indagações sobre Currículo - Currículo,
Como local de conhecimento, o currículo é a expressão de Conhecimento e Cultura. Ministério da Educação. Secretaria de
nossas concepções do que constitui conhecimento (...). Trata- Educação Básica. Brasília, 2007.
se de uma concepção do conhecimento e do currículo como FRANCO, Maristela Canário Cella. Teoria Curricular Crítica
presença: presença do real e do significado no conhecimento e e Prática Pedagógica: Mundos Desconexos.
no currículo; presença do real e do significado para quem JESUS, Adriana Regina de. Currículo e Educação: conceito e
transmite e para quem recebe. questões no contexto educacional.
MELLO, Guiomar Namo de. Currículo da Educação Básica no
Este conceito assevera a ideia de um currículo em Brasil: concepções e políticas.
constante movimento. Um currículo aberto e que serve de PRADO, Iara Glória Areias. O MEC e a Reorganização
passagem para o real e significativo. Um lugar perfeito para se Curricular. Secretária de Educação Fundamental do MEC São
processar a avaliação que se deseja em qualquer processo de Paulo Perspec. vol.14 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2000.
aprendizagem REIS, Danielle de Souza. Concepções de Currículo e suas
inter-relações com os Fundamentos Legais e as Políticas
A avaliação é um processo histórico que se propaga de Educacionais Brasileiras. Rio de Janeiro,2010.
acordo com as mudanças sociais, tendo em vista os múltiplos
contextos que perpassam a vida dos sujeitos humanos. Ou seja, Questões
a avaliação está presente no cotidiano dos indivíduos,
ocorrendo de maneira espontânea ou através do ensino 01. (TSE – Analista Pedagogia – CONSULPLAN) O
formal. currículo tem um papel tanto de conservação quanto de
transformação e construção dos conhecimentos
Na educação, a avaliação deve partir de um currículo historicamente acumulados. A perspectiva teórica que trata o
planejado, envolvendo todo o coletivo da instituição. O currículo como um campo de disputa e tensões, pois o vê
currículo, por sua vez, tem por objetivo direcionar caminhos implicado com questões ideológicos e de poder, denomina-se
de como trabalhar as diversidades encontradas dentro da (A) tecnicista.
escola, atribuindo juízo de valor que deve ser realizado de (B) crítica.
forma ética e democrática a respeito do objetivo que se (C) tradicional.
pretende alcançar, principalmente no ensino e na (D) pós-crítica.
aprendizagem escolar.

68FERNANDES, Claudia de Oliveira. Indagações sobre currículo: currículo e Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
avaliação. Organização do documento: Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Educação Básica, 2008.

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02. (TSE – Analista Pedagogia – CONSULPLAN) O A lógica temporal precedente e segmentada fundamenta-
documento introdutório dos Parâmetros Curriculares se em uma organização curricular baseada na lógica do ser
Nacionais (PCN/1997) propõe um desenvolvimento curricular humano como sujeito de direitos.
em quatro níveis de concretização. O primeiro nível de ( ) Certo ( ) Errado
concretização do currículo corresponde aos próprios PCNs
que se constituem em uma referência nacional; o segundo diz 05. (TJ/DF – Analista Judiciário Pedagogia – CESPE)
respeito às propostas curriculares dos Julgue os item subsequente, relativo às concepções de
currículo.
(A) Estados; o terceiro refere-se às propostas curriculares
dos Municípios e o quarto nível é o momento de realização das Em uma visão emancipadora de currículo, deve-se partir
programações das atividades de ensino e aprendizagem na do pressuposto que os alunos são diferentes, porém o
sala de aula. parâmetro de organização curricular deve ser a capacidade
(B) Municípios e das instituições escolares; o terceiro daqueles mais capazes ou normais para garantia da qualidade.
refere- se às propostas curriculares implementadas nas salas ( ) Certo ( ) Errado
de aula e o quarto nível corresponde às atividades realizadas
individualmente pelos alunos. Respostas
(C) Estados e Municípios; o terceiro refere-se ao momento
de realização das programações das atividades de ensino e 01. A / 02. C / 03.D / 04. Errada / 05. Errada
aprendizagem na sala de aula e o quarto nível corresponde às
atividades realizadas individualmente pelos alunos.
(D) Estados e Municípios; o terceiro refere-se às propostas
curriculares de cada instituição escolar e o quarto nível é o Interdisciplinaridade no ensino.
momento de realização das programações das atividades de
ensino e aprendizagem na sala de aula.
Multidisciplinaridade, Interdisciplinaridade,
03. (UFAL – Pedagogo – COPEVE) Do ponto de vista Transdisciplinaridade69
etimológico, a palavra Currículo deriva da palavra latina
curros (carros, carruagem) e de suas variações. Começou a ser A compreensão dos conceitos de multidisciplinaridade,
empregada na literatura geral norte-americana em meados do interdisciplinaridade e transdisciplinaridade e sua
século XIX, para designar processo de vida e desenvolvimento. emergência no campo da educação requer uma atenção ao
Segundo Vilar (1998), o currículo pode assumir os significados conceito de disciplina e sua centralidade no universo escolar.
seguintes: Uma primeira observação a ser feita sobre o termo
disciplina diz respeito aos significados que evoca, dentre os
Faça a associação correta. quais, poderíamos destacar os seguintes: ensino e educação
que um discípulo recebia do mestre; obediência às regras e aos
1. Currículo prescrito. superiores; ordem, bom comportamento; obediência a regras
2. Currículo apresentado. de cunho interior, firmeza, constância; castigo, penitência,
3. Currículo trabalhado. mortificação; ramo do conhecimento, ciência, matéria,
4. Currículo traduzido. disciplinas: cordas, correias e concorrentes com que os frades,
5. Currículo concretizado. devotos e penitentes se flagelam. Embora algumas dessas
definições pareçam bastantes distintas entre si, a noção de
( ) Conjunto dos meios elaborados por diferentes disciplina está estritamente vinculada às ideias de controle, de
instâncias com o objetivo de apresentar uma interpretação do organização de algo que é múltiplo ou disperso, de imposição
currículo prescrito. de uma ordem. Foucault70 denomina disciplinas aos métodos
( ) Conjunto das tarefas escolares que corporizam as que permitem o controle minucioso das operações de corpo,
decisões curriculares, anteriormente assumidas. que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes
( ) Consiste na planificação curricular no âmbito da escola, impõem uma relação de docilidade-utilidade.
configuram os significados e conteúdos das decisões e É a partir da segunda metade do século XVIII, nos diz
propostas. Foucault, que o corpo é descoberto como objeto e alvo de
( ) Consiste no conjunto de efeitos cognitivos, afetivos, poder: algo que se manipula, se modela, treina, que obedece,
morais, sociais etc. que se torna ágil ou cujas forças podem ser multiplicadas, um
( ) Trata-se do resultado das decisões assumidas pela corpo máquina, que se submete e se utiliza, um corpo dócil e
administração do sistema educativo. manipulável. Tudo isso a favor de uma nova anatomia política
nascente, que é também uma forma de poder que, por meio da
Assinale a sequência correta, de cima para baixo disciplina, fabrica corpos submissos. As prisões, os hospitais,
(A) 2, 3, 5, 4, 1. os quartéis, as fábricas e os colégios são os espaços
(B) 3, 2, 4, 1, 5. disciplinares por excelência: na forma de distribuir os
(C) 3, 1, 2, 4, 5. indivíduos, de organizar e controlar as atividades, os espaços
(D) 2, 3, 4, 5, 1. e tempos, nos recursos para garantir o bom adestramento,
(E) 2, 4, 3, 5, 1. dentre os quais ela destaca os exames. O conhecimento, sua
produção e sua divulgação não fogem à lógica do poder que se
04. (TJ/DF – Analista Judiciário Pedagogia – CESPE) está constituindo.
Julgue os item subsequente, relativo às concepções de No sentido que será aqui abordado – campo de
currículo. conhecimento, ciência – disciplina refere-se a uma maneira de
organizar e delimitar um território de trabalho de um corpo de
conhecimentos e de definir a pesquisa e as experiências dentro
de um determinado ângulo de visão. Historicamente, a

69 SOARES, C.C. Disponível em http://crv.educacao.mg.gov.br/ 70FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel
Ramalhete, 19 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

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diferenciação do conhecimento em disciplinas autônomas vem desaparecem e constitui-se um sistema total que ultrapassa o
se concretizando desde o início do século XIX. plano das relações e interações entre as disciplinas, na busca de
Vincula-se ao processo de transformação social que objetivos comuns e de um ideal de unificação epistemológica.
ocorria nos países em desenvolvimento na Europa, naquele Pode-se falar do aparecimento de uma macrodisciplina.
momento, e à necessidade de especialização demandada pelo
processo de produção industrial. Nesse contexto, as técnicas e Morin72 nos lembra que o movimento de migrações
os saberes foram progressivamente se diferenciando, disciplinares faz parte da história das ciências. As rupturas de
configurando campos, com objetos de estudo próprios, marcos fronteiras disciplinares sempre ocorreram paralelamente à
conceituais, métodos e procedimentos específicos. Esse consolidação das disciplinas, gerando novos campos de
movimento na produção do conhecimento se deu sob forte conhecimento. Cita, como exemplo, a biologia molecular,
influência do paradigma positivista, o que acabou por nascida de transferência entre disciplinas à margem da Física,
influenciar a própria definição do tipo de conhecimento que da Química e da Biologia. A antropologia estrutural de Lévi-
poderia se considerar uma disciplina e, ao mesmo tempo, Strauss, fortemente influenciada pela linguística estrutural de
destituindo diversas formas de conhecimento do estatuto de Jakobon. Ou o movimento da École de Annales, que construiu
ciência. As universidades são instituições que têm um papel uma história numa perspectiva transdisciplinar,
decisivo na configuração e legitimação do conhecimento multimensional, em que se acham presentes contribuições da
científico, uma vez que sua estrutura, seus departamentos, Antropologia, da Economia e da Sociologia entre outras
suas associações profissionais definem concretamente os disciplinas. Para Morin, esses projetos inter-poli-
objetos de estudo, as linhas de pesquisa para a construção e transdisciplinares podem constituir-se em processos de
formalização do conhecimento. complexificação das áreas de pesquisa e, ao mesmo tempo,
recorrem à poli competência do pesquisador.
E é nesse espaço institucional que se produz um
acúmulo enorme de conhecimentos, fragmentados e E quanto à escola, como é que todo esse movimento de
compartilhamentalizados em diferentes disciplinas e produção do conhecimento se reflete na instituição
especialidades que ignoram, embora muitas vezes, escolar?
trabalhem com o mesmo objeto de estudo, Santomé.71
A lógica de organização do conhecimento por disciplinas
Esse paradigma científico, que produziu conhecimentos foi incorporada à cultura escolar e passou a ser o critério
extremamente relevantes para a humanidade, está hoje sendo dominante de estruturação curricular, sobretudo, nos níveis
profundamente questionado, por seus limites e distorções, por de ensino mais elevados, reproduzindo a fragmentação e o
seu reducionismo e determinismo, por sua incapacidade de isolamento das diferentes matérias e campos do
abarcar aspectos da realidade que são estranhos aos seus conhecimento. O questionamento a essa perspectiva, no
marcos conceituais e metodológicos. É nesse contexto que entanto, se faz desde o início do século XX, quando diferentes
surgem as noções de multidisciplinaridade, educadores formulam propostas de ensino que têm como
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade entre outros, a objetivo buscar maior unidade no desenvolvimento curricular,
partir de uma crítica à excessiva compartimentalização do na organização dos conteúdos de ensino. Ainda assim, a
conhecimento e à falta de comunicação entre as disciplinas. perspectiva disciplinar permanece fortemente arraigada à
Cada uma dessas perspectivas responde à necessidade de nossa cultura escolar, tendo chegado ao seu extremo, aqui no
interação entre diferentes disciplinas e caracteriza-se pelo Brasil, nos anos 70, com o tecnicismo. Os anos 80 foram
tipo de relação que se vai estabelecer entre elas. Estudiosos do fecundos em debates, movimentos de renovação pedagógica e
tema propõem diferentes modalidades de colaboração entre reformas educativas que buscavam novas orientações
as disciplinas, às vezes, com subdivisões dentro de um mesmo curriculares, com forte componente político. A noção de
nível de relação (interdisciplinaridade linear, estrutural, interdisciplinaridade incorpora-se ao discurso e à prática
restritiva), dentre os quais, Piaget, que apresenta o seguinte pedagógica, como expressão de uma busca para superar o
modelo: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e isolamento entre as disciplinas e para construir propostas
transdisciplinaridade. educativas mais adequadas aos anseios dos educadores de
trabalharem a formação para a cidadania, a partir da realidade
- Multidisciplinaridade: corresponde ao nível mais baixo e do aluno.
integração. Caracteriza-se como uma justaposição de Diferentes autores teorizam sobre as perspectivas
disciplinas com a intenção de esclarecer alguns de seus educativas de integração curricular. Zabala73 faz uma distinção
elementos comuns. entre os métodos globalizados e os enfoques que trabalham
- Interdisciplinaridade: reúne estudos diferenciados de diferentes relações entre os conteúdos. Nos primeiros, os
diversos especialistas em um contexto coletivo de pesquisa. conteúdos de ensino não se apresentam nem se organizam a
Implica um esforço por elaborar um contexto mais geral, no qual partir de uma estrutura disciplinar, mas de um tema ou
cada uma das disciplinas é modificada e passa a depender cada problema por meio do qual os conteúdos são estudados. O
qual das demais. A interação proporcionará um enriquecimento referencial organizador do trabalho pedagógico é o aluno e
recíproco, com transformações em diferentes aspectos, como, suas necessidades educativas. Os conteúdos estão
por exemplo, nas suas metodologias de pesquisa, nos seus condicionados aos objetivos de formação do aluno. Os
conceitos, na formulação dos problemas, nos instrumentos de segundos se caracterizam pelo tipo de relação que se
análise, nos modelos teóricos, etc. Os intercâmbios entre as estabelece entre as disciplinas; não se referem a uma
disciplinas são mútuos. A bioquímica, a sociolinguística, as metodologia concreta, mas a uma determinada maneira de
neurociências são áreas do conhecimento resultantes de organizar e apresentar os conteúdos, a partir das disciplinas.
trabalhos interdisciplinares. A prioridade básica são matérias e sua aprendizagem. Zabala
- Transdisciplinaridade: caracteriza-se como o nível mais observa que as relações entre as disciplinas constituem um
alto de interação entre as disciplinas. A interação se dá de tal problema essencialmente epistemológico e apenas como
forma que as fronteiras entre as diferentes disciplinas consequência, uma questão escolar. Este autor apresenta

71 SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo 73 ZABALA, Antoni Vidiella. Enfoque globalizador e pensamento

integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.ant
72 MORIN, Edgar. A Cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o

pensamento. 5 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

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quatro tipos diferentes de relações entre as disciplinas que Projetos de Trabalho, no Dicionário Tempos e Espaços
têm aplicação no campo do ensino: multidisciplinaridade, Escolares).
pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e - O estudo individual cede lugar ao estudo em pequenos
transdisciplinaridade. grupos, nos quais os alunos trabalham por projetos;
- O conhecimento é construído em função da pesquisa que se
- Multidisciplinaridade: os conteúdos escolares se está realizando;
apresentam como matérias independentes, como um somatório - A avaliação é feita através de portfólios, em que os alunos
de disciplinas, sem explicitação de relação entre si. sistematizam o conhecimento construído e refletem sobre o seu
- Pluridisciplinaridade: a organização dos conteúdos processo de aprendizagem.
expressa a existência de relações entre disciplinas mais ou Igualmente importante para se repensar um currículo
menos afins, como, por exemplo, as diferentes ciências integrado, que favoreça a construção de sentido nas
experimentais. aprendizagens, é a noção de conceito estruturador que
- Interdisciplinaridade: é a interação de duas ou mais permite a concretização da interdisciplinaridade na prática
disciplinas, implicando numa troca de conhecimentos de uma escolar.
disciplina à outra (conceitos, leis, etc.), gerando, em alguns
casos, um novo corpo disciplinar. O conhecimento do meio, no Implicações da interdisciplinaridade no processo de
Ensino Fundamental, pode ser um exemplo de ensino-aprendizagem
interdisciplinaridade.
- Transdisciplinaridade: é o grau máximo de relações entre A escola, como lugar legítimo de aprendizagem, produção
as disciplinas, a busca de uma integração global dentro de um e reconstrução de conhecimento, cada vez mais precisará
sistema totalizador que possibilite uma unidade interpretativa. acompanhar as transformações da ciência contemporânea,
adotar e simultaneamente apoiar as exigências
Segundo Zabala, a transdisciplinaridade constitui-se mais interdisciplinares que hoje participam da construção de novos
como um desejo do que como uma realidade. conhecimentos. A escola precisará acompanhar o ritmo das
Para Hernández74, a interdisciplinaridade da escola tem mudanças que se operam em todos os segmentos que
como objetivo oferecer uma resposta à necessidade de ensinar compõem a sociedade. O mundo está cada vez mais
aos alunos a unidade do saber. Para isso, os professores interconectado, interdisciplinarizado e complexo.
organizam o trabalho de modo a colocar em comum a visão de Embora a temática da interdisciplinaridade esteja em
diferentes disciplinas sobre um determinado tema como, por debate tanto nas agências formadoras quanto nas escolas,
exemplo, a Inconfidência Mineira vista numa perspectiva sobretudo nas discussões sobre projeto político-pedagógico,
histórica, geográfica, das letras e artes. Uma crítica que esse os desafios para a superação do referencial dicotomizador e
autor tece a essa perspectiva é relativa ao fato de que, de modo parcelado na reconstrução e socialização do conhecimento
geral, não há intercâmbios relacionais reais entre os saberes, que orienta a prática dos educadores ainda são enormes.
já que cada professor costuma dar a uma visão do tema, o que Para Luck,75 o estabelecimento de um trabalho de sentido
não garantirá que o aluno tenha uma visão relacional do interdisciplinar provoca, como toda ação a que não se está
mesmo: o fato de os professores evidenciarem as relações habituado, sobrecarga de trabalho, certo medo de errar, de
entre as disciplinas não garante que os alunos estabeleçam as perder privilégios e direitos estabelecidos. A orientação para o
conexões necessárias para a compreensão global do tema. enfoque interdisciplinar na prática pedagógica implica romper
Para Hernández, esse enfoque é externo à aprendizagem do hábitos e acomodações, implica buscar algo novo e
aluno, resulta do esforço e dos conhecimentos do professor e desconhecido. É certamente um grande desafio.
mantém a centralidade das disciplinas. Para que a escola A ação interdisciplinar é contrária a qualquer
enfrente as mudanças requeridas no contexto atual, diz ele, a homogeneização e/ou enquadramento conceitual. Faz-se
reorganização curricular deve acontecer na perspectiva da necessário o desmantelamento das fronteiras artificiais do
transdisciplinaridade. conhecimento. Um processo educativo desenvolvido na
As transformações ocorridas nas últimas décadas no perspectiva interdisciplinar possibilita o aprofundamento da
cenário sociocultural, econômico, político, no campo do compreensão da relação entre teoria e prática, contribui para
conhecimento e das tecnologias, em todo o planeta, e que uma formação mais crítica, criativa e responsável e coloca
transformaram decisivamente as relações entre as pessoas e escola e educadores diante de novos desafios tanto no plano
destas com o conhecimento, demandam da escola mudanças ontológico quanto no plano epistemológico.
profundas. Assumir a Transdisciplinaridade como marco para Na sala de aula, ou em qualquer outro ambiente de
uma organização do currículo escolar integrado significa aprendizagem, são inúmeras as relações que intervêm no
repensar o trabalho educativo em termos da complexidade do processo de construção e organização do conhecimento. As
conhecimento e de sua produção. Nessa perspectiva, aprender múltiplas relações entre professores, alunos e objetos de
significa interpretar a realidade, compreendendo seus estudo constroem o contexto de trabalho dentro do qual as
fenômenos e explicando essa compreensão. Isso implica que a relações de sentido são construídas. Nesse complexo trabalho,
escola repense os critérios para a organização de seu currículo, o enfoque interdisciplinar aproxima o sujeito de sua realidade
o porquê de algumas disciplinas serem nele contempladas e mais ampla, auxilia os aprendizes na compreensão das
outras não, o significado de conteúdo escolar, os complexas redes conceituais, possibilita maior significado e
procedimentos de ensino/aprendizagem, os processos sentido aos conteúdos da aprendizagem, permitindo uma
educativos como um todo. formação mais consistente e responsável.
De todo modo, o professor precisa tornar-se um
Para Hernández, são características do currículo profissional com visão integrada da realidade, compreender
transdisciplinar: que um entendimento mais profundo de sua área de formação
- O trabalho é desenvolvido através de temas ou problemas não é suficiente para dar conta de todo o processo de ensino.
vinculados ao mundo real, à comunidade; Ele precisa apropriar-se também das múltiplas relações
- O professor é mediador do processo, que é desenvolvido por conceituais que sua área de formação estabelece com as outras
meio de pesquisas, de projetos de trabalho (ver também verbete ciências. O conhecimento não deixará de ter seu caráter de

74 HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos 75LUCK, Heloísa. Pedagogia da interdisciplinaridade. Fundamentos teórico-

de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2001.

Conhecimentos Pedagógicos 66
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especialidade, sobretudo quando profundo, sistemático, Ultrapassa-as, mas sua finalidade inscreve-se no estudo
analítico, meticulosamente reconstruído; todavia, ao educador disciplinar. Pela abordagem interdisciplinar ocorre a
caberá o papel de reconstruí-lo dialeticamente na relação com transversalidade do conhecimento constitutivo de diferentes
seus alunos por meio de métodos e processos disciplinas, por meio da ação didático-pedagógica mediada
verdadeiramente produtivos. pela pedagogia dos projetos temáticos. Estes facilitam a
A escola é um ambiente de vida e, ao mesmo tempo, um organização coletiva e cooperativa do trabalho pedagógico,
instrumento de acesso do sujeito à cidadania, à criatividade e embora sejam ainda recursos que vêm sendo utilizados de
à autonomia. Não possui fim em si mesma. Ela deve constituir- modo restrito e, às vezes, equivocados. A interdisciplinaridade
se como processo de vivência, e não de preparação para a vida. é, portanto, entendida aqui como abordagem teórico-
Por isso, sua organização curricular, pedagógica e didática metodológica em que a ênfase incide sobre o trabalho de
deve considerar a pluralidade de vozes, de concepções, de integração das diferentes áreas do conhecimento, um real
experiências, de ritmos, de culturas, de interesses. A escola trabalho de cooperação e troca, aberto ao diálogo e ao
deve conter, em si, a expressão da convivialidade humana, planejamento. Essa orientação deve ser enriquecida, por meio
considerando toda a sua complexidade. A escola deve ser, por de proposta temática trabalhada transversalmente ou em
sua natureza e função, uma instituição interdisciplinar. redes de conhecimento e de aprendizagem, e se expressa por
A escola precisa acolher diferentes saberes, diferentes meio de uma atitude que pressupõe planejamento sistemático
manifestações culturais e diferentes óticas, empenhar-se para e integrado e disposição para o diálogo.
se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço de A transversalidade é entendida como uma forma de
heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade em organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas, eixos
movimento, no processo tornado possível por meio de temáticos são integrados às disciplinas, às áreas ditas
relações intersubjetivas, fundamentada no princípio convencionais de forma a estarem presentes em todas elas. A
emancipador. Cabe, nesse sentido, às escolas desempenhar o transversalidade difere-se da interdisciplinaridade e
papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, complementam-se; ambas rejeitam a concepção de
fundamentadas no pressuposto do respeito e da valorização conhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto
das diferenças, entre outras, de condição física, sensorial e e acabado. A primeira se refere à dimensão didático-
sócio emocional, origem, etnia, gênero, classe social, contexto pedagógica e a segunda, à abordagem epistemológica dos
sociocultural, que dão sentido às ações educativas, objetos de conhecimento. A transversalidade orienta para a
enriquecendo-as, visando à superação das desigualdades de necessidade de se instituir, na prática educativa, uma analogia
natureza sociocultural e socioeconômica. Contemplar essas entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados
dimensões significa a revisão dos ritos escolares e o (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real
alargamento do papel da instituição escolar e dos educadores, (aprender na realidade e da realidade). Dentro de uma
adotando medidas proativas e ações preventivas. compreensão interdisciplinar do conhecimento, a
Na organização e gestão do currículo, as abordagens transversalidade tem significado, sendo uma proposta didática
disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar que possibilita o tratamento dos conhecimentos escolares de
requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque forma integrada. Assim, nessa abordagem, a gestão do
revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagógicas conhecimento parte do pressuposto de que os sujeitos são
dos educadores e organizam o trabalho do estudante. agentes da arte de problematizar e interrogar, e buscam
Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde o procedimentos interdisciplinares capazes de acender a chama
planejamento do trabalho pedagógico, a gestão do diálogo entre diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas.
administrativo-acadêmica, até a organização do tempo e do Portanto, a interdisciplinaridade é um movimento
espaço físico e a seleção, disposição e utilização dos importante de articulação entre o ensinar e o aprender.
equipamentos e mobiliário da instituição, ou seja, todo o Compreendida como formulação teórica e assumida enquanto
conjunto das atividades que se realizam no espaço escolar, em atitude, tem a potencialidade de auxiliar os educadores e as
seus diferentes âmbitos. As abordagens multidisciplinar, escolas na ressignificação do trabalho pedagógico em termos
pluridisciplinar e interdisciplinar fundamentam-se nas de currículo, de métodos, de conteúdos, de avaliação e nas
mesmas bases, que são as disciplinas, ou seja, o recorte do formas de organização dos ambientes para a aprendizagem.
conhecimento.
Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do Questões
conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade estuda
um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias outras ao 01. (CESPE – SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargo
mesmo tempo. Segundo Nicolescu76, a pesquisa 2/2017) Com relação a planejamento pedagógico,
pluridisciplinar traz algo a mais a uma disciplina, mas transdisciplinaridade, avaliação e projeto político-pedagógico,
restringe-se a ela, está a serviço dela. A transdisciplinaridade julgue o item que se segue. A transdisciplinaridade, sem negar
refere-se ao conhecimento próprio da disciplina, mas está para a interdisciplinaridade, propõe a superação da fragmentação
além dela. O conhecimento situa-se na disciplina, nas do conhecimento e o trabalho de forma integrada.
diferentes disciplinas e além delas, tanto no espaço quanto no ( ) Certo ( ) Errado
tempo. Busca a unidade do conhecimento na relação entre a
parte e o todo, entre o todo e a parte. Adota atitude de abertura
sobre as culturas do presente e do passado, uma assimilação 02. (CESPE – SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargo
da cultura e da arte. O desenvolvimento da capacidade de 2/2017) Com relação a planejamento pedagógico,
articular diferentes referências de dimensões da pessoa transdisciplinaridade, avaliação e projeto político-pedagógico,
humana, de seus direitos, e do mundo é fundamento básico da julgue o item que se segue. Os elementos constituintes, os
transdisciplinaridade. De acordo com Nicolescu, para os objetivos e os conteúdos de um planejamento devem,
adeptos da transdisciplinaridade, o pensamento clássico é o obrigatoriamente, estar interligados, mas as estratégias, não,
seu campo de aplicação, por isso é complementar à pesquisa pois estas são flexíveis.
pluri e interdisciplinar. A interdisciplinaridade pressupõe a ( ) Certo ( ) Errado
transferência de métodos de uma disciplina para outra.

76NICOLESCU, Basarab. Um novo tipo de conhecimento – transdisciplinaridade. Tradução de Judite Vero, Maria F. de Mello e Américo
transdisciplinaridade. In: NICOLESCU, Basarab et al. Educação e Sommerman. Brasília: UNESCO, 2000. (Edições UNESCO).

Conhecimentos Pedagógicos 67
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03. Com relação as características fundamentadas por essa apreensão é feita de modo semelhante por todos,
Hernández acerca da transdisciplinaridade, julgue o item que caso contrário não poderia ser entendida pela
se segue. O professor é mediador do processo, que é comunidade científica. Há, como mostra Husserl, uma
desenvolvido por meio de pesquisas e/ou trabalhos, desta intersubjetividade entre os que dominam a mesma área
forma o conhecimento é construído em função da pesquisa em do saber que atesta uma identidade na construção do
que se conhecimento.
( ) Certo ( ) Errado
A chamada “construção do conhecimento” não é então
Respostas totalmente livre e aleatória levando ao solipsismo e à
incomunicabilidade. Ela deve corresponder a uma unidade de
01. Certo / 02. Errado / 03. Certo pensamento, a uma concordância, a um consenso universal.
Não se pode imaginar que possa, cada um, “construir” o seu
conhecimento de modo totalmente pessoal e independente
Questões atuais de seleção e sem vínculo com a comunidade científica e com o saber
organização do conhecimento universal.
Nas Meditações Cartesianas afirma ele: se realmente toda
escolar. a mônada é uma unidade absolutamente circunscrita e
fechada, todavia a penetração irreal, penetração intencional do
Sobre o processo de construção do conhecimento: o outro na minha esfera primordial não é irreal no sentido do
papel do ensino e da pesquisa77 sonho ou da fantasia. É o ser que está em comunhão
intencional com o outro. É um elo que, por princípio, é sui
A construção do conhecimento, basicamente, é entendida generis, uma comunhão efetiva, que é precisamente a condição
como construção de saberes universalmente aceitos em transcendental da existência de um mundo, de um mundo de
determinado tempo histórico ou como processo de homens e de coisas.
aprendizagem do sujeito. É assim possível uma comunicação intersubjetiva e o que
um sujeito cognoscente conhece numa objetividade lógica,
A noção de construção qualquer outro sujeito pode conhecer do mesmo modo,
preenchidas as condições necessárias.
Considera-se como construção o ato de construir algo, e, Na própria ideia de ser concreto está contida a ideia de
como ato ou ação a terceira fase do processo da vontade. Ante mundo intersubjetivo. Não basta, portanto, descrever a
um objeto que mobilize o sujeito vão ocorrer três etapas: a constituição do objeto numa consciência individual. Só por
deliberação, a decisão e por fim, a execução. A ação é isso não se chega ao objeto como é na vida concreta, mas
entendida como um processo racional e livre decorrente apenas a uma abstração. Só a redução ao ego não é suficiente.
portanto da inteligência e da vontade. Embora se possa É preciso também descobrir os “outros”, o mundo
falar em ato reflexo, ato instintivo e ato espontâneo como intersubjetivo. Pela intuição fenomenológica da vida do outro
movimentos que partem do sujeito independentemente da sua chega-se à intersubjetividade transcendental completando-se
vontade, percebe-se que nesses casos não se tem a intuição filosófica da subjetividade.
propriamente um ato, uma ação livre, mas apenas um É de maior interesse para o educador o conhecimento
movimento involuntário indeterminado. dessa intuição que torna possível a intersubjetividade, e o que
faz com que a intersubjetividade não se faça sempre de igual
O termo construção aplicado à educação pode ser modo, com que grupos mais homogêneos melhor se
entendido em dois sentidos: compreendam, com que possa haver uma comunidade
científica, religiosa e ideológica.
- como constituição do saber feita pelo estudioso, pelo Husserl78 parte do fato de que, para o ser humano enquanto
cientista, pelo filósofo resultante da reflexão e da ego, o mundo é constituído como mundo “objetivo” no sentido
pesquisa sistemática que leva a novos conhecimentos. de mundo que existe para todo o ser, de mundo que se revela
Nesse sentido, construíram-se e constroem-se através do tal como é “na comunidade intersubjetiva do conhecimento”.
tempo, os conteúdos da Física, da Química, da Biologia, da A partir dessa colocação feita para o conhecimento
Medicina, [...]. O homem não “descobre” o conhecimento científico, mas válida para todo conhecimento, chega-se, ao
pronto na natureza, mas relaciona os dados dela que parece, a uma exigência de conhecimento intersubjetivo
recebidos constituindo os saberes. A ciência é o resultado idêntico para todos, o que não ocorre. O que acontece são
desta elaboração mental, da reflexão, do estabelecimento níveis de conhecimento intersubjetivo de acordo com os vários
de relações, da observação de causas, de consequências, níveis de educação, e com os diferentes setores passíveis de
de continuidades, de contiguidades, de oposições, [...]. educação como o afetivo, o volitivo e o intelectivo.
Pode-se, portanto entender a construção do O homem transforma a natureza tanto por sua ação
conhecimento como a constituição dos saberes que individual quanto social num mundo de cultura que vai para
resulta da investigação filosófico-científica. ele aparecer revestido de valor. Cada um compreende a sua
cultura tanto no presente como no passado como membro da
- outra possibilidade de compreensão da ideia de sociedade que historicamente a formou.
“construção” do conhecimento refere-se apenas ao modo Tomando por base esse fato afirma Husserl: ele deve, a
pelo qual cada um apreende a informação e aprende partir disso, criar passo a passo, novos meios de compreensão.
algum conteúdo. Neste caso, o sujeito não propriamente Deve, partindo do que é geralmente compreensível, abrir um
“constrói” o saber, somente apropria-se de um caminho à compreensão de camadas sempre mais vastas do
conhecimento já estabelecido. O conteúdo é passado pelo presente, depois mergulhar nas camadas do passado que por
ensino, já pronto e definido embora sempre passível de sua vez, facilitam o acesso ao presente.
modificações, e cada um vai apreendê-lo de modo O mundo objetivo como ideia, como correlativo ideal de
semelhante mas não idêntico. Note-se, no entanto, que uma experiência intersubjetiva idealmente concordante, deve

77WERNECK, V. R.. Sobre o processo de construção do conhecimento: o papel do 78 HUSSERL, E. Méditations cartésiennes. Tr. de l'allemand par Gabrielle

ensino e da pesquisa. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2006. Peiffer et Emmanuel Lévinas. Paris: J. Vrin, 1980.

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ser, por essência, relativo à intersubjetividade que se constitui Com Jean Piaget iniciam-se as pesquisas de psicologia
como ideal de uma comunidade infinita e aberta. Cada genética que deram origem ao chamado construtivismo –
comunidade tem, pois, seu modo específico de constituir o Interacionismo Genético que tinha como objetivo estudar o
mundo objetivo, embora fique garantida a possibilidade de processo da constituição do conhecimento humano. Não
crescimento, de aperfeiçoamento no sentido de busca de acreditando em inteligência inata, considera que a gênese da
plenitude. razão, da afetividade e da moral, faz-se progressivamente em
estágios sucessivos em que é organizado o pensamento lógico,
O conceito de conhecimento a capacidade de julgamento e a vida moral.
O conhecimento humano inicia-se na primeira infância
Na busca do saber o sujeito pode adquirir informações quando a criança, por imitação repete os gestos, as expressões
empiricamente, aprendendo a fazer sem compreender o nexo faciais e as palavras dos adultos com quem convive. Constitui-
causal que dá origem ao fenômeno. Pode ter um conhecimento se um conhecimento empírico, ligado ao fazer em que pouco
por experiência como, por exemplo, o modo de dirigir um se conceitua e muito se apreende pela experiência, pelo senso
automóvel sem que tenha a compreensão do processo comum. É uma modalidade de conhecimento altamente
mecânico que sua ação desencadeia. Pode ainda aceitar, por influenciada pelo imaginário social, marcada pelo preconceito
um comportamento de fé, um ensinamento que lhe é e pelas interpretações ideológicas.
transmitido sem nenhuma consciência de seu conteúdo como Com o início do pensamento lógico começam as buscas de
é o caso das superstições. Aquele que toma uma cápsula de relações causais, de simultaneidade, de contiguidade [...]. Os
remédio, acreditando curar a sua doença com tal conceitos de substância e de acidentes, de classificação e de
procedimento, não tem, na maioria das vezes, nenhum ordenamento. Inicia-se a estruturação de um corpo de ideias
conhecimento da relação da substância contida na pílula com que vai constituir o conteúdo dos diversos saberes.
o seu mal-estar. Não se pode, nesses casos, falar em À medida que o sujeito atinge o nível de desenvolvimento
conhecimento propriamente dito ou, pelo menos, em necessário para a compreensão com a ajuda de elementos
conhecimento científico. externos, o outro, o livro, o professor, a TV, a Internet
Pode-se entender como sabedoria a adequada apropriam-se do novo saber organizando-o a seu modo.
hierarquização dos valores para a promoção da dignidade
humana, o domínio do conhecimento científico e tecnológico De acordo com as inúmeras concepções filosóficas e
de seu tempo, ou a vivência do respeito e da justiça que epistemológicas varia o entendimento sobre o processo de
permitem um melhor desempenho social. produção do saber.
São inúmeras as definições de ciência. Desde a mais Algumas características desse processo são, no entanto,
sucinta, que a entende como o conhecimento sistematizado universalmente aceitas nos dias atuais:
das causas do fenômeno, até as mais elaboradas, como a de
Baremblitt79, que diz: “ser uma ciência um sistema de - a provisoriedade dos saberes científicos.
apropriação cognoscitiva do real e de transformação regulada Não mais se aceita o conhecimento como um processo
desse real, a partir da definição que a teoria da ciência faz de cumulativo. Há, na ciência, uma revisão constante decorrente
seu objeto”. da possibilidade de novos pontos de vista. O mesmo objeto
Afirma Japiassu80 que: “É considerado saber, hoje em dia, pode ser analisado de diferentes ângulos, o que leva não a um
todo um conjunto de conhecimentos metodicamente relativismo, mas à constatação da relatividade do
adquiridos, mais ou menos sistematicamente organizados, conhecimento;
susceptíveis de serem transmitidos por um processo
pedagógico de ensino”. Empregam-se aí os conceitos de - a interferência do imaginário na produção do
aquisição e de transmissão, mas não o de construção. conhecimento pela via da cosmovisão e da ideologia.
Há, evidentemente, uma pluralidade de discursos Admitindo-se como cosmovisão a visão de mundo do
científicos e, inúmeras maneiras de se fazer ciência. Cada saber sujeito cognoscente pela sua posição histórico-geográfico,
científico tem seu próprio estatuto de cientificidade que deve cultural e econômica e a ideologia como orientação originária
ser considerado pelo aprendiz. do imaginário que determina os papéis e as funções sociais,
É ainda Japiassu, que volta a afirmar: A ciência se define por percebe-se a interferência desses dois fatores na produção do
um discurso crítico, pois exerce controle vigilante sobre seus conhecimento.
procedimentos utilizando critérios precisos de validação. A
demarche científica é, ao mesmo tempo, reflexiva e - a impossibilidade de neutralidade axiológica.
prospectiva. Os pressupostos de uma ciência são justamente Não sendo possível a neutralidade e a imparcialidade na
as ideias, os critérios e os princípios que ela emprega na sua constituição dos saberes, há sempre uma interferência dos
efetuação. valores aceitos pelo sujeito na produção do conhecimento.
Essas afirmações levam à reflexão quando se analisa o
conceito de construção do conhecimento. Embora Piaget considere ser “a inteligência um sistema de
operações vivas e atuantes de natureza adaptativa” e afirme
Quais as exigências e os sentidos dessa noção de que o essencial do pensamento lógico é ser operativo com o
“construção”? fim da constituição de sistemas, não descarta a interferência
da afetividade no processo do conhecimento. Reafirma a
O novo conceito de ciência inicia-se com Kant com a existência de um paralelo constante entre a vida afetiva e a
afirmação de ser a ciência “construída” pelo homem por meio vida intelectual, considerando-as como dois fatores
dos juízos sintéticos a priori, contrapondo-se à concepção indissociáveis e complementares em toda a conduta humana.
proveniente do empirismo da apreensão pela experiência, do Tais considerações trazem, senão dificuldades, pelo menos
conhecimento científico captado da própria natureza. Kant vai maior exigência de reflexão sobre a noção de construção de
entender a ciência como constructo humano por meio dos conhecimento.
juízos sintéticos a priori. Nos “Seis Estudos de Psicologia” mostra que “os interesses
de uma criança dependem, portanto, a cada momento, do

79 BAREMBLITT, G. F. Progressos e retrocessos em psiquiatria e psicanálise. 80 JAPIASSU, H. Introdução ao pensamento epistemológico. 2. ed. Rio de

Rio de Janeiro: Global, 1978. Janeiro: F. Alves, 1977.

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conjunto de noções adquiridas e de suas disposições afetivas Talvez se justifique o termo construtivismo como uma
já que tendem a completá-los em sentido de melhor condenação ao processo impositivo de transmissão do
equilíbrio”. Como ligar a exigência da ação à de equilíbrio? conhecimento. Levanta a possibilidade de uma transmissão
Qual será exatamente o sentido do termo ação? manuseio, ação sem imposição e de uma recepção sem a característica da
espontânea ou ato exercido de modo consciente e livre? passividade.
Diz ele ainda: “o equilíbrio não é qualquer coisa de passivo,
mas, ao contrário, alguma coisa essencialmente ativa. É Admite então haver uma maneira “certa”, “correta”,
preciso, então, uma atividade tanto maior quanto maior for o “adequada” de conhecer que não é a da passividade, a da
equilíbrio [...]. Portanto, equilíbrio é sinônimo de atividade”. aceitação tácita, a de decorar fórmulas prontas, mas a do
Refere-se ainda ao interesse como essencial a todo ato de sujeito ativo que compreende os conteúdos, que refaz os
assimilação mental. Entende como interesse a expressão do passos do processo, que busca entender os significados e os
ato de assimilação como incorporação de um objeto à sentidos assim como que reconstruir por si próprio o
atividade do sujeito, ou seja, o conhecimento ocorre quando o conhecimento.
seu objeto traduz-se na atividade do sujeito.
No seu pensar, as estruturas lógicas somente se É importante registrar que o sujeito não vai refazer o
constituem quando ocorrem ações exercidas sobre os objetos, caminho da ciência, “redescobrir”, “reinventar” os conteúdos
ou seja, a fonte das operações lógicas é sempre e apenas a dos saberes, mas apreendê-los da maneira correta e adequada
própria ação. que pode ser entendida como uma “reconstrução” do
Tais afirmações parecem permitir entender o seu conceito conhecimento, de modo que ele venha a constituir parte de si
de ação como estado mental de atividade, de interesse próprio e não como algo justaposto, aceito sem apreensão.
podendo- se mesmo encontrar uma relação com a noção de O uso indiscriminado do termo construtivismo pode, por
intencionalidade de Husserl em que o sujeito busca e assim vezes, passar a impressão de que nada pode ser ensinado,
interfere no objeto do conhecimento. transmitido e de que o estudante deve “re-fazer” todo o
De qualquer modo, ainda nos “Seis estudos de Psicologia”, conhecimento humano por si mesmo.
mostra que as teorias correntes do desenvolvimento, da Podem-se admitir diferentes modalidades de
gênese, na psicologia da inteligência invocam três fatores, seja construtivismo. Cesar Coll82 registra as seguintes formas:
um a um, seja simultaneamente: - o cognitivo que lida com o processo da informação;
- a maturação, portanto um fator interno estrutural mas - o piagetiano baseado na psicologia genética;
hereditário; - o de orientação sociocultural baseado na teoria histórica
- a influência do meio físico, da experiência ou do exercício e e sociocultural;
- a transmissão social. - o da psicologia discursiva, da psicologia social que nega a
existência de processos psicológicos internos no indivíduo.
O aprendizado, a construção do conhecimento, exige,
portanto, um estado de atividade da parte do sujeito sem que O sócio construtivismo foi desenvolvido a partir dos
isso signifique ausência de ensino, de transmissão social. estudos de Vygotsky e dá grande importância à interação
social e à informação linguística para a construção do
Construtivismo conhecimento. O núcleo do processo passa a ser a
funcionalidade da linguagem, o discurso e as condições de
O que será possível entender-se como construtivismo? produção. Cresce a importância do professor como alguém que
interage com os alunos por meio da linguagem.
Para J. H. Rossler81, o construtivismo constitui-se num De qualquer modo, pode-se dizer que a grande
ideário epistemológico, psicológico e pedagógico: Afirma ele contribuição do construtivismo concentra-se na questão do
que “numa primeira aproximação, e também provisoriamente, método. Como fazer para que o processo da aprendizagem se
poderíamos definir o construtivismo como um conjunto de faça de modo correto, ou seja, como transmitir o conhecimento
diferentes vertentes teóricas que, apesar de uma aparente de modo que o educando o compreenda, o situe
heterogeneidade ou diversidades de enfoques no interior de adequadamente e seja capaz de utilizá-lo de modo criativo e
seu pensamento, possuem como núcleo de referência básica a independente?
epistemologia genética de Jean Piaget em torno da qual são Em primeiro lugar parece necessário ter- se como objetivo
agregadas certas características que definem a identidade do primordial, a organização do pensamento. Conhece-se algo
ideário construtivista como filosófico, psicológico e quando se é capaz de ter desse objeto uma visão de conjunto e
educacional, compartilhando, assim, um conjunto de de situar as suas partes de uma maneira ordenada.
pressupostos, conceitos e princípios teóricos. Algumas noções aparecem como fundamentais nesse
Pode-se ainda entender essa teoria como uma crítica a processo, como a de espaço e tempo, a de causa e efeito, a de
modos inadequados de aprendizagem, modos que não levam à encadeamento lógico, que permite distinguir o princípio, o
apreensão do conteúdo propriamente dito e, ao mesmo tempo, desenvolvimento e a conclusão.
como uma proposta de investigação sobre as mais adequadas Torna-se, portanto, uma exigência da análise dessa teoria
e corretas maneiras de apreendê-lo. o estabelecimento de referenciais de avaliação do
Nesse segundo sentido, o Construtivismo constituiria uma conhecimento “construído”.
teoria da psicologia da aprendizagem ou mesmo da didática A avaliação do conhecimento construído deve considerar a
geral. criatividade e a autonomia do sujeito, não se limitando a
Como teoria vai, o Construtivismo, propor uma verificar o êxito de condicionamentos.
modalidade de aquisição do conhecimento em que o sujeito de O objeto da avaliação passa a ser não exatamente o
modo ativo, compreenda cada fase do processo, perceba os conteúdo do saber, mas o modo segundo o qual ele foi
nexos causais existentes entre eles e incorpore como seu aprendido, ou seja a organização do pensamento do aprendiz.
aquele conteúdo e não que reconstrua por si mesmo a Basicamente, o construtivismo defende a teoria de que o
bagagem científica já constituída. conhecimento é construído pelo aluno e não transmitido pelo
professor.

81 ROSSLER, J. H. Construtivismo e alienação: as origens do poder de atração 82 COLL, C. S. Entrevista a Faoze Chibli. Revista Educação, São Paulo, ano 7, n.

do ideário construtivista. In: DUARTE, N. (Org.). Sobre o construtivismo. Campinas, 78, out. 2003.
SP: Autores Associados, 2000.

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Do entendimento do termo nesse sentido, fatalmente vai Em defesa da possibilidade e da validade do ensino, além
ocorrer a “construção” do conhecimento. Seja o conteúdo das evidências históricas, pode-se recorrer ao conceito de
transmitido pelo professor ou descoberto pelo aprendiz vai ele Zona de Desenvolvimento Próximal de Vygotsky a qual
sempre ser organizado e estruturado de modo pessoal e reconhece haver uma diferença entre o que uma criança pode
peculiar. Os processos de assimilação e de acomodação são fazer sozinha e o pode realizar se receber ajuda. Essa ajuda é
pessoais e intransferíveis, embora não totalmente diferentes promovida pelo processo do ensino.
em cada um. A tão falada passividade a que a criança estava condenada
Graças à intencionalidade como bem mostrou Husserl, o pela escola tradicional parece teoricamente impossível já que
sujeito vai interferir no objeto do conhecimento construindo- o processo da aprendizagem exige a ação não como
o a seu modo. A rigor, é impossível o conhecimento passivo, movimento externo mas como intencionalidade, como
puramente receptivo. Todo conhecimento resulta, em última movimento intelectual de busca e de apreensão. Assim, ou
análise, de uma construção do sujeito sobre o seu objeto. ocorre a atividade intencional por parte do aprendiz ou não
A discussão desloca-se então da epistemologia para a ocorre aprendizagem. Nesse sentido, pode- se admitir que é a
metodologia de ensino. Sobre o melhor método para levar-se pessoa que sempre, com qualquer metodologia de ensino,
o sujeito a apreender o objeto do modo como é universalmente desde que haja apreensão do conteúdo, constrói o seu próprio
considerado. Sobre como promover uma aprendizagem que conhecimento.
não cerceie a criatividade mas a estimule e a desenvolva e, ao
mesmo tempo, não leve ao solipsismo e à incomunicabilidade. O conhecimento resulta da interação do sujeito com o
Apesar de todas essas informações, é difícil precisar em objeto. O desenvolvimento cognitivo ocorre pela
que consiste o construtivismo, embora seja incontestável o seu assimilação do objeto de conhecimento a estruturas
sucesso no meio educacional. próprias e existentes no sujeito e pela acomodação dessas
Partindo da afirmação não muito clara de que a criança estruturas ao objeto da assimilação.
constrói seu próprio conhecimento, essa teoria não explica em
que sentido ocorre essa construção. Os processos de ensino e aprendizagem

Algumas contribuições positivas dessa teoria podem Para o construtivismo, a aprendizagem resultaria de um
todavia ser registradas como: processo de construção individual do sujeito a partir de suas
- uma maior consideração ao nível de desenvolvimento representações internas. Seria impossível a apreensão da
psicológico do aluno. realidade como ela, é, ou seja, o conhecimento objetivo. O
- a preocupação com a compreensão do conteúdo processo de conhecimento decorreria da interpretação
ensinado. pessoal que, pela experiência, conferiria um significado ao
- a consciência da importância dos aspectos afetivos para a objeto do conhecimento.
aprendizagem. Alguns autores consideram a negação da possibilidade de
- o interesse como motivador da atenção, fator conhecimento objetivo e universal e, portanto, a
preponderante para a aprendizagem. impossibilidade da apreensão da correspondência entre
conhecimento e realidade, como característica fundamental do
No entanto, embora todo conhecimento seja elaborado de construtivismo.
modo pessoal e peculiar, embora seja verdade que cada um Essa posição e a afirmação de que cabe ao sujeito a
vivencia e interpreta a realidade a seu modo e do seu ponto de atribuição de significados e de sentidos leva ao solipsismo e ao
vista, ou há uma intersubjetividade e uma possibilidade de relativismo, tornando impossível o conhecimento racional e a
comunicação ou o conhecimento torna-se impossível. comunicação científica.
Todo ensino visa a transmitir a nova geração o patrimônio Pode-se, no entanto, admitir outra interpretação, a que
cultural acumulado. A questão passa a ser o como, o modo pelo aceita o conhecimento objetivo e universal discutindo apenas
qual esse aprendizado é feito. Embora em todo processo de a metodologia da aprendizagem e reafirmando a constituição
apreensão esse conteúdo vá ser reinterpretado, esse pessoal do conteúdo da aprendizagem pelo aluno.
fenômeno pode dar-se de modo aleatório e passivo ou com Na verdade, parece não haver outra alternativa. Cada um
consciência e sentido crítico. Nessa segunda modalidade constrói o conhecimento de acordo com o seu modo de ser e
ocorreria uma apropriação do conhecimento semelhante ao de suas capacidades. A afirmação corrente de que o aluno na
processo fisiológico da assimilação que pode talvez pedagogia tradicional receberia passivamente os conteúdos
corresponder ao que se entende por “construção”. transmitidos pelo professor como já se viu, é bastante
O mesmo texto lido, a mesma aula a que se assiste vão ser discutível a partir da própria epistemologia genética de Piaget.
interpretados diferentemente por cada um mas a Admitindo-se com ela que todo processo de aprendizagem se
comunicabilidade do significado é preservada caso contrário a dá pela ação, qualquer que seja o método de ensino utilizado,
escrita e a fala tornar-se-iam inúteis. a aprendizagem dependeria da disposição do educando.
Afirma João Batista Araújo e Oliveira que: torna-se óbvio Estando ele passivo, não haveria aprendizagem.
que do ponto de vista lógico, filosófico e científico o termo Há um estado psíquico ativo e um passivo, há um agir que
‘construir conhecimento’ não pode referir-se a um relativismo significa fazer, há um agir a esmo e um agir intencional. Há uma
absoluto, seja em relação à aprendizagem (tudo que diferença entre o agir espontâneo e o ato livre e consciente
aprendemos seria relativo à nossa forma pessoal de aprender direcionado a um fim.
de modo geral), seja referente à verdade idiossincrática de
cada texto (só existe o texto que eu leio cujo significado, isto é É difícil compreender por que crianças que muito agem
cuja interpretação e sentido eu ‘construo’). como as que têm pouca assistência familiar e escolar, sendo
O construtivismo não pode, portanto, negar o processo do deixadas à própria sorte e tendo, por isso, grande contato com
ensino já que ele ocorre desde a mais tenra idade de modo diferentes materiais como água, terra, pedra, madeira [...] e
espontâneo ou determinado, mas deve referir-se ao modo tendo de, pela sua atividade, buscar soluções para os múltiplos
correto de ensinar para que ocorra um aprendizado eficaz e, obstáculos com que se deparam, não apresentem, em geral, o
até mesmo, o processo da criação. desenvolvimento mental mais adiantado.
Pode-se então entender como construtivismo a corrente O próprio Piaget oferece uma explicação ao afirmar que
teórica que se propõe a conhecer o desenvolvimento da não existe experiência pura no sentido do empirismo e que os
inteligência humana e a ela adequar os métodos de ensino. fatos só são acessíveis se assimilados pelo sujeito o que

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pressupõe a intervenção de instrumentos lógico-matemáticos atividade operatória do sujeito para a construção dos
de assimilação construindo relações que enquadram ou instrumentos adequados de leitura e para a construção de
estruturam esses fatos e os enriquecem na mesma proporção. estruturas explicativas”. Chega-se então a que, para não ater-
Ao mesmo tempo, sabe-se que os instrumentos lógico- se apenas ao nível da experiência mas para atingir-se o nível
matemáticos de assimilação são construídos a partir da ação. da atividade operatória, é preciso um direcionamento. Entra aí
Fecha-se então o círculo, deixando interrogações. o papel do educador como propiciador da aprendizagem,
Mostra ainda esse autor, “que não há processos em sentido como aquele que vai adaptar o ensino aos ensinamentos
único, visto que se uma forma operatória é sempre necessária da psicologia do desenvolvimento.
para estruturar os conteúdos, estes podem frequentemente
favorecer a construção de novas estruturas adequadas”. Esta, pode-se dizer é a grande contribuição de Piaget que
Percebe-se então a importância da aprendizagem de deve ainda ser melhor aproveitada especialmente pelos
conteúdos para a constituição de novas estruturas autores didáticos: a adequação entre o desenvolvimento
responsáveis por novas formas operatórias. De qualquer psíquico do estudante e as técnicas de ensino e do material
modo é, nesse contexto, difícil a compreensão de como ocorre didático.
a passagem das formas iniciais do conhecimento para as Afirma ainda ele: é evidente que toda pesquisa em
formas superiores. Em que medida resultam de uma mudança epistemologia genética, quer do desenvolvimento de um certo
de paradigma fundamentada nas capacidades de abstração e setor do conhecimento na criança (número, velocidade,
de reflexão. causalidade física [...]), quer de uma transformação num dos
A necessidade de aprendizagem leva à necessidade de ramos correspondentes do pensamento científico, pressupõe
ensino e de ensino adequado. a colaboração de especialistas da epistemologia da ciência
- no pensar de Alessandra Arce, é fundamental para o considerada.
professor um aprofundamento na epistemologia genética e no Relacionando-se a ideia de construção de conhecimento à
desenvolvimento infantil a partir da visão construtivista, didática, aos métodos de ensino, chega-se à importância da
levando em consideração os seguintes itens: ligação dos estudos de psicologia nas suas diversas áreas com
- o conhecimento da realidade não constitui cópia objetiva a constituição dos currículos.
dessa realidade, dependendo sempre de interpretações Sabe-se que o processo de aprendizagem da ciência vai
pessoais. exigir a desconstrução do saber empírico. Sendo a ciência um
- as construções ocorrem sempre dentro dos padrões de novo olhar, um outro modo de ver o real, vai exigir uma
acomodação e de assimilação. metodologia própria que deve ser introduzida pelas
- aprender é um processo de construção e não de instituições de ensino.
acumulação. O conhecimento acadêmico é um processo contínuo de
- o significado da aprendizagem é reflexo da resolução de correção de rumos que embora histórico ultrapassa as
conflitos que ela provoca. relações sociais, as concepções de mundo e as ideologias.
Ao que parece, Piaget fala em desenvolvimento como um
Ao que parece, se conforme mostra a epistemologia processo que se faz espontaneamente e não de construção
genética, o desenvolvimento infantil segue sempre os mesmos como prática consciente e deliberada. A aquisição do
passos, seria impossível que o conhecimento se constituísse conhecimento dar-se-ia espontaneamente provocada pela
em cópia da realidade independente da metodologia de ensino experiência e pela influência social.
utilizada.
Com qualquer metodologia de ensino as construções Como os estudos da psicologia da inteligência mostram
ocorreriam dentro dos processos de acomodação e de não serem as estruturas lógicas inatas, mas “construídas”
assimilação, ou não existiriam. Seria impossível, teoricamente, formadas pouco a pouco, vê-se que a ideia de processo de
o processo de acumulação. desenvolvimento como “construção” não é entendida como
Para o construtivismo o sujeito constrói o próprio ato livre e consciente.
conhecimento a partir de suas representações internas, sendo Também a questão da avaliação se reporta à noção de
assim, a aprendizagem resulta dessa construção. construção. As práticas de avaliação são bons indicadores da
Pode-se, no entanto, propiciar essa aprendizagem expectativa da escola quanto à aprendizagem dos conteúdos
proporcionando experiências, enriquecendo o dia a dia do propostos.
sujeito com materiais didáticos adequados e situações de vida Há a necessidade inicial do estabelecimento de critérios
que induzam e facilitem essas experiências. pedagogicamente justificáveis para a seleção dos conteúdos
O conhecimento resultaria de um processo de construção programados para cada etapa do desenvolvimento.
pessoal, de atribuição de sentidos e significados pelo sujeito O ensino de certas ciências como a matemática, por
que, de certo modo, restringiria a possibilidade do exemplo, exige níveis de abstração muitas vezes incompatíveis
conhecimento objetivo e universal. com o estágio de desenvolvimento da criança.
Fica sempre a pergunta sobre se o conceito de construção Para que se perceba o conhecimento construído é
em Piaget implica em ato livre ou se apenas significa processo necessária a avaliação do progresso do educando,
de formação de conhecimento que ocorre independentemente comparando-o com ele próprio em avaliações anteriores.
da vontade do sujeito. O nível do conhecimento manifesta- se ainda na utilização
Sabe-se que o sujeito interfere no conhecimento com a sua prática que dele se faz. Pode-se observar em que medida, no
intencionalidade, o que faz com que o mesmo conteúdo seja seu dia-a-dia, o sujeito emprega o conhecimento aprendido.
apreendido diferentemente por cada um, resguardando-se, no Tem conhecimento quem é capaz de distinguir o essencial
entanto, a identidade do objeto. do acidental, aquele capaz de ordenar e hierarquizar os dados,
Mesmo admitindo-se como fundamental o papel da ação de situar no tempo e no espaço de definir causas e
do sujeito na aquisição do conhecimento, pode-se falar em consequências.
aprendizagem como um processo que não supõe a sua Considerando-se que a vida afetiva, embora distinta, é
passividade mas a interferência do outro. inseparável da cognitiva, também esse aspecto deve ser
avaliado.
Novamente na sua Epistemologia Genética, encontra-se a A construção do conhecimento como processo de
afirmação de que “a experiência não basta para assegurar a aprendizagem do sujeito depende de um lado, do
formação de operações novas” e de que “é fundamental a desenvolvimento de suas estruturas cognitivas e do outro, do

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modo pelo qual os conteúdos do conhecimento lhe são intencionalidade, não a cria, mas é, de certa maneira, uma
apresentados. modificação subjetiva porque no interior de cada
O conhecimento em geral resulta da construção do sentido subjetividade se traduz a maneira segundo a qual o “eu” se
a partir de um texto lido ou de uma exposição de um professor. relaciona com o seu objeto. No ato da atenção, o “eu” está ativo.
Percebe-se, no entanto, que não é aceito qualquer sentido, mas Nos atos onde não há atenção no âmbito potencial, o “eu” não
somente aquele adequado, ou seja, não há propriamente uma se ocupa diretamente com as coisas dadas. Não se dirige
construção livre, pessoal e independente, mas um processo de ativamente ao objeto. Pode-se concluir ser esta a condição
aprendizagem, de incorporação de um conteúdo que deve ser para a aprendizagem.
feito de determinado modo para que seja garantida a A questão da intencionalidade pode ainda ser relacionada
comunicação entre os que têm o mesmo conhecimento. com a tendência própria do ser humano para a busca e a
Para a melhor compreensão do processo da consciência, apreensão dos valores. As carências das várias áreas do sujeito
pode-se fazer um paralelo entre a consciência ativa de Piaget e levam-no a tender não propriamente para os entes mas para
a teoria da intencionalidade de Husserl. valores que portam.
A teoria do conhecimento que estuda as questões das O conteúdo deve ser apresentado como valor ou seja como
relações entre a consciência e o ser perceberá a correlação algo que, de algum modo, vá preencher as necessidades do
entre eles. O ser aparecerá como alguma coisa conhecida, sujeito.
segundo a maneira da consciência. Não se pode deixar de lado
o fato de que a consciência individual tem um modo próprio de O papel das instituições de ensino
conhecer e usar que não pode ser ignorado pela teoria da
educação. O ideal do ensino e da aprendizagem corretos não é novo,
Do conhecimento adequado de si mesmo, do mundo e do mas ao contrário, data da mais remota antiguidade. Já se
outro vai resultar um tipo de intencionalidade, embora esse encontra na indução socrática com a proposta de levar o
mesmo conhecimento seja decorrente dela. educando a buscar a verdade em si mesmo.
É bastante frequente a exigência do estado de atividade
A intencionalidade vai, pois, caracterizar toda a vida por parte do aprendiz. Atividade que não se restringe à
psíquica e dar o sentido do próprio “eu”, do outro e do mundo. atividade física, ao fazer ou ao agir, mas no sentido de
A análise intencional vai esclarecer o modo pelo qual é atividade mental que leva o educando a sair de si mesmo em
constituído o sentido de ser do objeto, já que a busca do saber. O estar passivo entendido como um estado de
intencionalidade é não somente um “tender para”, mas ainda ausência, apatia, distanciamento, desinteresse ou desatenção
uma doação de sentido. apresenta-se como empecilho à aprendizagem.
Husserl vê a consciência como uma intenção dirigida para Cabe então ao educador aprofundar o seu objeto de
o objeto que, portanto, nela não está contido como fenômeno. conhecimento, o ensino e a aprendizagem para melhor chegar
A intencionalidade caracteriza a consciência. ao seu objetivo.
A intencionalidade é o modo de a consciência visar ao seu Não se confundem o processo de fazer ciência com o de
objeto, sendo diferente em cada um, embora com uma base aprendê-la. Ensinar e aprender ciência é função da escola,
comum. fazer ciência é tarefa da comunidade científica. Um
A estrutura da consciência e da intencionalidade mostram procedimento não se opõe ao outro, ambos se complementam,
seu caráter pessoal. A vida psíquica não se apresenta como embora sejam distintos e com características próprias.
uma corrente anônima no tempo. O vivido pertence sempre ao O aprendizado da ciência vai exigir o conhecimento da
sujeito. Os atos procedem do “eu” que neles vive e conforme o metodologia científica, do processo histórico que a justifica,
modo como os vive, vai-se distinguir a receptividade da dos diferentes estatutos de cientificidade. Mais do que
espontaneidade da consciência, da intencionalidade. propriamente fazer ciência, é tarefa das instituições de ensino
A intencionalidade vai dar o sentido do conhecimento e a oferecer este conhecimento. Seu objetivo é preparar o futuro
significação do conhecido. pesquisador, o futuro cientista e o objeto de seu labor é o
Husserl insiste no fato de que a consciência se relaciona aprendizado do estudante.
sempre a alguma coisa e na existência de variedades Não significa essa afirmação a defesa de um modelo de
especificas da relação intencional: os modos representativo, transmissão de conhecimento que não leve o aprendiz a
judicativo, volitivo, emotivo e estético, aos quais o objeto visa buscar, de modo ativo, uma mudança conceitual, que se vão
de maneiras diversas. Existiria, no entanto, uma maneira entregar conteúdos prontos para serem aceitos, fixados,
adequada de assim proceder que garantiria a autenticidade e internalizados sem reflexão crítica, mas que se procurem
a validade do conhecimento. processos didáticos que facilitem e aprimorem o aprendizado.
A intencionalidade de como direcionar dando um sentido, A noção de produção de conhecimento na escola é dúbia e
não diz respeito unicamente à vida teórica, mas ainda a todas discutível. Justifica- se, se entendida como aprendizado
as formas de vida que se caracterizam por uma relação com o individual. Caso contrário, só ocorreria esporadicamente, já
objeto. que pressupõe por parte do autor reflexão crítica, maturidade
Essa observação é especialmente importante para a e conhecimento sistematizado.
proposta da educação já que ela toma o sujeito na sua
globalidade e não apenas no seu aspecto cognoscitivo. Há, O discurso pedagógico resulta de uma recontextualização
assim, um direcionamento dele ao tender para os valores, ao do discurso científico para torná-lo acessível ao conhecimento
desejar algo, ao agir, ao amar, ao alegrar-se [...] que o escolar. É um discurso que se adapta ao nível de
caracterizam como um ser ativo. desenvolvimento do aluno.
Embora a intencionalidade faça que os objetos sejam A escola de ensino Fundamental e Médio vai apropriar-se
percebidos de modos diversos por cada um, ao reconhecer a do conhecimento científico atualizado para disponibilizá-lo ao
existência do objeto exterior afasta-se do relativismo e aponta aluno. Desse modo propicia o seu contato com os
para uma relatividade, não propriamente quanto ao conhecimentos relativos à natureza, à vida social e com toda a
conhecimento, mas quanto ao seu sentido. produção científica, ao mesmo tempo em que o inicia na
Continuando o relacionamento do pensamento de Husserl metodologia da ciência, despertando a capacidade crítica e
com o de Piaget, vê-se que o fenômeno da atenção, no seu preparando o futuro pesquisador.
pensar, não constitui um ato diferente dos outros, mas um Talvez seja essa uma das principais metas da escola: a
modo de ser possível a todos os atos. Ela não muda a instrumentalização para a produção e o consumo da ciência.

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Na verdade, o conteúdo transmitido pela escola não se Divulgar saberes existentes com a reflexão crítica é o melhor
constitui apenas da seleção e organização do conhecimento modo de propiciar a produção do conhecimento.
científico de modo a torná-lo adequado e acessível ao nível de Não se podem saltar etapas. A tentativa de criação de
desenvolvimento psicológico dos alunos mas apresenta-se conhecimentos sem o devido embasamento teórico leva a
como uma modalidade de saber com características próprias. resultados de qualidade inferior que se acumulam esquecidos
A concepção crítica do conhecimento entende o saber não nas bibliotecas.
como constituído por dados prontos e definitivos mas como O conhecimento científico começou como uma produção
um conjunto provisório em constante processo de revisão e de individual. Grandes gênios observaram a natureza,
reconstrução. estabeleceram relações e constituíram saberes que foram
Torna-se então fundamental para a escola a constante aceitos como válidos ao longo do tempo.
atualização do conteúdo das suas disciplinas e a avaliação dos
seus processos de ensino para proteger-se da grande Com o aumento das informações e com o cruzamento dos
interferência do imaginário social dada a impossibilidade da dados de inumeráveis pesquisas de indivíduos e de grupos, a
sua neutralidade. complexidade chegou a tal ponto que a produção do
Vai ser necessário ao professor a constante atualização, o conhecimento humano passou a ser feita por empresas que
interesse pela sua disciplina, a capacidade de observação e de detinham grande poder econômico para atender às demandas
interpretação do real para uma boa atuação. Importa mais o cada vez maiores das pesquisas sempre mais complexas.
espírito de pesquisa, o despertar do aluno para a observação e Por muito tempo coube às universidades a seleção, a
a reflexão do que a própria pesquisa de campo que exige organização e a transmissão dos saberes. Coube a ela o
tempo e dedicação para a sua conclusão. O docente deve estabelecimento do mínimo a ser exigido para que fosse
buscar excelência na docência, assim como o pesquisador, na conferido o grau ao aluno, para que ele fosse considerado
pesquisa. detentor de um saber que lhe permitiria certas prerrogativas
como o exercício profissional.
Ensino não é apenas a transmissão do já conhecido, Hoje alguns profissionais como o advogado, devem
mas o processo que leva à capacidade de observação e de submeter-se ao exame de corporações profissionais como a
reflexão crítica. Ordem dos Advogados para poderem exercer o seu ofício.
Somente no século XX entendeu-se caber à universidade
Percebe-se, nos dias de hoje, um preconceito contra o não apenas o ensino, mas também a pesquisa como produção
ensino como se fosse ele uma atividade menor, como se fosse de conhecimento e, até mesmo, a extensão como serviço à
um processo condenável por si mesmo. Podem-se questionar sociedade.
os seus métodos, buscar o seu aprimoramento, mas, sendo o O conceito de pesquisa também merece um
homem um ser social, a transmissão da bagagem de conteúdos aprofundamento. O termo é tomado numa tão vasta amplidão
e da reflexão crítica de uma geração para a seguinte é que engloba, desde recortes de jornais e revistas nas classes
inevitável e fundamental. iniciais, até trabalhos teóricos de grande envergadura.
Cabe à escola a socialização do conhecimento, a instigação Pesquisas científicas exigem metodologia adequada,
à curiosidade, a instauração do hábito do rigor metodológico, originalidade, grande dedicação e investimento financeiro. A
mas não propriamente a produção da ciência. multiplicidade de pequenas pesquisas para cumprimento de
Afirmações que atribuem à escola a produção do saber sem exigências acadêmicas apenas confirmam o que já se sabe ou
maiores explicações levam a mal-entendidos. A educação pode trazem contribuições de pouca importância.
promover o saber no sujeito ao qual se direciona mas não, O Ensino na Universidade, a partir do século XVIII, procura
necessariamente, produzir novos conhecimentos de validade incorporar ao conteúdo clássico os novos conhecimentos
universal. produzidos pela ciência experimental e, ao mesmo tempo,
capacitar os alunos para as novas profissões. Procura assim
O objetivo primordial das instituições de ensino, seja novos métodos de ensino e técnicas de aprendizagem mais
em que nível for, não é a produção de saberes no sentido modernas.
de resultados de pesquisa científica mas construção É sabido que, na época moderna, a pesquisa científica
individual de conhecimento. desenvolveu-se especialmente fora das instituições
universitárias. Só no início do século XIX, na Universidade de
Quando se afirma que cabe às universidades gerar saber, Berlim, começa propriamente a integração entre ensino e
não se esclarece o sentido da afirmação. Ela significa produzir pesquisa científica. O professor, além de conhecer o seu campo
conhecimento que possam ser universalmente aceito ou gerar específico do saber, deveria pesquisar novas soluções para os
conhecimentos no estudante? São compreensões diferentes problemas de sua área de conhecimento.
que não se excluem mas não se confundem. Mostra Newton Sucupira que “a figura do sábio solitário
Pode-se, sem dúvida, considerar como uma das funções da em seu laboratório é hoje inconcebível. A ciência é obra
universidade a produção do conhecimento, embora se perceba coletiva que depende de técnicas especiais, laboratórios
que, na maioria das vezes os avanços da ciência ocorreram e custosos, financiamentos maciços e vasta equipe de
ocorrem fora da universidade. Foram promovidos pelas cientistas”.
Academias de Ciência ou mesmo pelo interesse das grandes Essa afirmação quase inviabiliza a figura do professor
empresas. A outra função, talvez a principal, por expressar seu pesquisador. Ou bem que ensina ou bem que pesquisa. Caso
objetivo primeiro, seria a socialização do conhecimento por pesquise, o faz de modo muito limitado ou então atém-se à
meio do ensino e a sua aplicação prática pela extensão. pesquisa teórica não indo a campo.
O bom professor é o que se preocupa com o ensino e com a Considerando-se os objetivos primordiais da universidade
aprendizagem. Para isso, deve aprimorar-se, buscar novas do desenvolvimento do sujeito e da divulgação do
técnicas, pesquisar sobre o tema. Outra modalidade de conhecimento científico, a pesquisa se justificaria como um
atividade é a pesquisa propriamente dita, um excelente meio do ensino da ciência, como técnica didática.
professor pode não ser um bom pesquisador e vice-versa. A primazia da dedicação à pesquisa no sentido de
A universidade moderna, ao ensinar a pensar, a criticar, a construção de conhecimento para a humanidade dificulta o
analisar, a sintetizar, está cumprindo a sua missão de exercício da função precípua na Universidade que seria a
promover o aprimoramento humano, a transformação social e reflexão crítica sobre a vida social, científica e política. A
a de preparar o sujeito para a produção do conhecimento. universidade é eminentemente crítica e, por isso, precisa ser

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livre e independente de ideologias e do poder econômico ou acadêmica e a oportunidade do aprofundamento do que diz
do Estado. Deve transmitir o conhecimento acumulado respeito ao processo do conhecimento humano especialmente
cuidando para que seja adequadamente construído no sujeito pelo fato de dar-se ele em áreas distintas como a do
e assim propiciar o desenvolvimento da pesquisa. imaginário, fundamentada no inconsciente; a motora,
Novamente é Newton Sucupira quem diz: Se muitos se resultante de treinamentos; a da apreensão dos valores
queixam de que os deveres do ensino absorvem os professores decorrentes do aprimoramento da sensibilidade e a do
impedindo-os de se dedicarem mais livremente à pesquisa desenvolvimento intelectual propriamente dito.
cientifica, outros acentuam que a predominância da pesquisa Encontra-se um duplo sentido na expressão “construção
em detrimento do ensino termina por prejudicar a formação do conhecimento” e a amplidão da compreensão dos conceitos
do estudante ao nível da graduação como estaria acontecendo de ensino, aprendizagem e pesquisa que vão exigir maior
em certas universidades americanas. clareza na definição para que se evitem distorções e confusões
Continua ele: Hoje, nos Estados Unidos, a pesquisa de prejudiciais ao bom andamento do processo educacional.
desenvolvimento se faz preponderantemente na indústria ou A noção de “construção do conhecimento” é entendida
em organismos governamentais, enquanto a pesquisa básica como constituição de saberes aceitos em determinado tempo
se processa preferentemente na universidade. Esta é que histórico e/ou como processo de aprendizagem do sujeito.
prepara os pesquisadores para a indústria e os grandes Busca-se precisar a conceituação de “construção do
cientistas puros se encontram na universidade. conhecimento” segundo Piaget. Prefere-se dá-la a um processo
Embora já um tanto distante no tempo, é de grande que ocorre de modo espontâneo ou como ato livre e
importância a contribuição do Professor Sucupira, consciente? Em que medida o sujeito se dá conta dessa
distinguindo duas modalidades de pesquisa: a pesquisa básica construção? Em segundo lugar, pergunta-se se essa construção
e a de desenvolvimento. Talvez se possa considerar como é pessoal e independente ou se segue padrões universais.
pesquisa básica a que busca reformar, corrigir e consolidar os Há ainda que refletir sobre os desdobramentos da
fundamentos da ciência por meio da discussão, da reflexão exigência da ação do sujeito para o construtivismo: sobre o
crítica e de experiências fundamentais e, como pesquisa de papel do professor e a possibilidade do ensino. Considerando-
desenvolvimento a que serve à indústria e à tecnologia e, se suas diferentes interpretações, percebe-se que, para
assim, indiretamente à organização da produção e da algumas delas, como na de feição sociocultural, a
sociedade. Atualmente essa pesquisa de desenvolvimento é, aprendizagem vai depender de agentes externos como o meio
em grande parte, promovida pelas chamadas Universidades social e o professor. O ensino ganha relevância como fator
Corporativas que têm objetivos práticos definidos e condições essencial na construção do conhecimento, enquanto que, para
econômicas para sustentá-las. outras, a aprendizagem depende exclusivamente da atividade
do aprendiz.
O processo mestre x oficial da Idade Média era uma Ao que parece, a ação do sujeito no plano material pode ser
modalidade de ensino extremamente eficaz. Hoje, contornam- considerada uma excelente prática pedagógica, mas não
se as dificuldades econômicas com as chamadas Universidades essencial para a aprendizagem e a constituição das estruturas
Corporativas. Volta-se de certo modo a esse processo. São as cognitivas que caracterizam as diferentes etapas do seu
empresas que com seu poder econômico, montam grandes desenvolvimento.
laboratórios e mantêm seus pesquisadores para que possam Percebe-se que o sujeito interfere no processo do
ter dedicação exclusiva. conhecimento com a sua atividade como quer Piaget, ou com a
Quando a Universidade abre mão da reflexão crítica para sua intencionalidade como pretende Husserl, mas que é
ater-se apenas aos aspectos quantitativos do real, deixa de sempre preservada a objetividade do conhecimento.
cumprir seu objetivo principal: o embasamento do
conhecimento do aluno pela instauração da reflexão filosófica, Conclui-se, portanto, que essa “construção” não é
da capacidade de avaliação e de crítica para tentar uma totalmente livre e independente o que levaria ao relativismo
performance para a qual não tem as condições econômicas mas que, deve adequar-se às exigências da intersubjetividade
exigidas. para que seja garantida a possibilidade de comunicação.
Não significa ser menos ambicioso buscar a excelência no Chega-se então à possibilidade de um paralelo entre as
ensino como fundamentação para futuras pesquisas. Note-se, noções de atividade do sujeito em Piaget e a de
novamente que a pesquisa pode também ser utilizada como intencionalidade de Husserl que focalizam o sujeito
metodologia de ensino para uma melhor aprendizagem. psicologicamente ativo. A exigência para a aprendizagem não
É possível admitir-se que, no momento, faz-se necessária estaria numa atividade prática, mas num estado de atividade
uma pesquisa sobre os melhores métodos e técnicas para um psíquica que muito se aproxima do interesse ou da
ensino eficiente. intencionalidade husserliana.
A epistemologia genética vai ser de grande valia para o Conclui-se ainda que o processo da aprendizagem não se
desenvolvimento do conhecimento pedagógico. Dela vai confunde com o da produção científica, mas deve antecedê-lo
depender a ação pedagógica que pode ajudar ou dificultar o necessariamente.
processo de construção do conhecimento de cada estudante. O aprendizado da ciência leva à compreensão de sua
A pesquisa na universidade assim como o ensino, são gênese e do processo histórico que a justifica e explicita o seu
considerados como parte da educação. Quando desvinculados estatuto de cientificidade.
da promoção humana, do seu aprimoramento global, dos Tanto o conhecimento do senso comum quanto o científico
valores da família, da ideia de nação apenas respondendo aos como modalidades diversas de abordagem do objeto, vão
interesses do estado ou do mercado, desvirtuam-se provocar um processo de aprendizagem ou de “construção” no
constituindo empecilhos a esse processo. sujeito.
Dificilmente vai a Universidade, produzir novos saberes se No processo de aprendizagem é necessário, de início, a
não atentar para o aprimoramento do ensino que, como já foi compreensão do conteúdo objetivado podendo essa
visto, não se reduz à simples transmissão do conhecimento. compreensão, ser entendida como uma construção do
conhecimento e, ao mesmo tempo, como uma construção das
Ao finalizar essa pequena reflexão sobre o processo de estruturas cognitivas do sujeito.
construção do conhecimento emergem algumas Essa “construção” do conhecimento, embora elaborada
considerações. Primeiramente quanto à premente pelo próprio sujeito, graças à sua intencionalidade que
necessidade da precisão dos termos utilizados na vida interfere no conteúdo apreendido conferindo-lhe um sentido,

Conhecimentos Pedagógicos 75
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não é totalmente independente e autônoma. O conhecimento está inserida e deve se comprometer, também, com seus
não é apenas relativo ao sujeito, mas objetivo e universal. projetos. Sem nunca esgotar em si mesma, a dimensão local
Não há, no processo do conhecimento, relativismo, mas, pode ser uma dimensão importante do planejamento
sim, uma relatividade que faz com que ocorra a educacional, integrado a um projeto social comprometido
intersubjetividade entre as diferentes comunidades. com a melhoria da qualidade de vida de toda a população.
A produção de conhecimento pode então dar-se como
conteúdos apreendidos e elaborados pelo sujeito tornando-o O projeto curricular interdisciplinar
mais culto, modificando seu modo de ser, ou como uma
inovação na bagagem do saber da humanidade. Assentado sobre as bases ética e política do projeto
Ressalta então a importância do ensino adequadamente escolar e sobre o princípio da interdisciplinaridade,
feito como desenvolvimento da capacidade de crítica, de acreditamos que o currículo, como dimensão cultural,
análise e de síntese. epistemológica e metodológica deste projeto, pode mobilizar
Na maior parte das vezes é nesse sentido que se pode dizer intensamente os alunos, assim como os diversos recursos
que professores e alunos “constroem” o conhecimento. O didáticos disponíveis e/ou construídos coletivamente.
desenvolvimento científico e tecnológico que supõem o Pressupomos, com isso, a possibilidade de se dinamizar o
conhecimento básico propiciado pelas instituições de ensino é processo de ensino-aprendizagem numa perspectiva dialética,
produzido, em geral, pela comunidade científica. em que o conhecimento é compreendido e apreendido como
Desse ponto de vista, o ensino torna-se extremamente construções histórico-sociais.
importante e as pesquisas visando ao seu aprimoramento, Tomando os objetivos das áreas de conhecimento
desejáveis e oportunas. organizadoras da educação básica, vemos que os estudos na
O bom ensino que deve ocorrer não como um área de códigos e linguagens visam à compreensão do
armazenamento de informações, mas como formação de significado das letras e das artes; dar destaque à língua
referenciais e desenvolvimento da capacidade de avaliação vai portuguesa como instrumento de comunicação; acesso ao
ser fundamental para a produção científica e tecnológica. conhecimento e exercício da cidadania. O eixo curricular dessa
área pode ter como referência a construção do sujeito nas
Construção do conhecimento científico, tecnológico e relações intersubjetivas e coletivas mediadas pelas linguagens.
cultural como um processo sócio histórico83 Os estudos das ciências da natureza e da matemática
devem destacar a educação tecnológica básica e a
O Ensino médio deve ser planejado em consonância com as compreensão do significado da ciência. Um eixo de
características sociais, culturais e cognitivas do sujeito organização dos conteúdos pode ser a complexidade e o
humano referencial desta última etapa da Educação Básica: equilíbrio dinâmico da vida no processo de desenvolvimento
adolescentes, jovens e adultos. Cada um desses tempos de vida dos indivíduos e da sociedade.
tem sua singularidade, como síntese do desenvolvimento
biológico e da experiência social condicionada historicamente. A área de ciências humanas e sociais assenta-se sobre a
Por outro lado, se a construção do conhecimento científico, compreensão do processo histórico de transformação da
tecnológico e cultural é também um processo sócio histórico, sociedade e da cultura, podendo se organizar em torno do eixo
o ensino médio pode configurar-se como um momento em que da cidadania e dos processos de socialização, na perspectiva
necessidades, interesses, curiosidades e saberes diversos sócio-histórica.
confrontam-se com saberes sistematizados, produzindo Algumas abordagens metodológicas podem conferir ao
aprendizagens socialmente e subjetivamente significativas. currículo uma perspectiva de totalidade, respeitando-se as
Em um processo educativo centrado no sujeito, o ensino médio especificidades epistemológicas das áreas de conhecimento e
deve abranger, portanto, todas as dimensões da vida, das disciplinas. Propomos a organização dos planos de estudo
possibilitando o desenvolvimento pleno das potencialidades de forma interdisciplinar, sugerindo que o processo
do educando. pedagógico tenha como base: o trabalho sistematizado com
No atual estágio de construção do conhecimento pela leituras de publicações diversas; a produção própria e coletiva
humanidade, a dicotomia entre conhecimento geral e dos textos; a utilização intensa da biblioteca; o uso de diversos
específico, entre ciência e técnica, ou mesmo a visão de recursos pedagógicos disponíveis na escola; a exploração de
tecnologia como mera aplicação da ciência deve ser superada, recursos externos à escola (os cinemas, os teatros, os museus,
de tal forma que a escola incorpore a cultura técnica e a cultura as exposições etc.); a investigação de problemas de ordem
geral na formação plena dos sujeitos e na produção contínua socioeconômica, do ponto de vista histórico, geográfico,
de conhecimentos. sociológico, filosófico e político; a realização de atividades
As relações nas unidades escolares, por sua vez, expressam práticas (laboratórios e visitas de campo); o uso de acervos e
a contradição entre o que a sociedade conserva e revoluciona. patrimônios histórico-culturais da região.
Essas relações não podem ser ignoradas, mas devem ser Assim, a possibilidade de se abordar pedagogicamente as
permanentemente recriadas, a partir de novas relações e de atividades cotidianas está em considerá-las referências que
novas construções coletivas, no âmbito do movimento auxiliem os professores entre si e em sua interação com os
socioeconômico e político da sociedade. alunos, em seus diálogos interdisciplinares, para a definição de
objetivos e projetos comuns e articulados, no processo ensino-
Com este referencial, propomos discutir as aprendizagem.
possibilidades de se repensar o Ensino Médio na
perspectiva interdisciplinar. Consideramos importante que Questões
cada escola faça um retrato de si mesma, dos sujeitos que a
fazem viva e do meio social em que se insere, no sentido de 01. (SEPLAG/MG – Pedagogia – BFC) A Educação, neste
compreender sua própria cultura, identificando dimensões método, é tecida em conjunto por alunos e professores, frente
da realidade motivadoras de uma proposta curricular aos exercícios da leitura e da escrita praticadas
coerente com os interesses e as necessidades de seus exaustivamente nas aulas. Assim, mestres e aprendizes atuam
alunos. Afinal, a escola faz parte do conjunto social em que juntos na construção do conhecimento, assessorados pela

83 RAMOS, M. N. Interdisciplinaridade: desafios de ensino e aprendizagem. In:

http://www.sbfisica.org.br

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incidência da problemática social mais atual e pelo arsenal de espontaneamente, nem transmitido de forma mecânica pelo
saberes já edificados, patrimônio intransferível do ser meio exterior, mas como resultado de uma interação na qual o
humano. O texto se refere a: sujeito é sempre um elemento ativo na busca ativa de
(A) Teoria do saber. compreender o mundo que o cerca.
(B) Teoria do Ler e Saber. Entende-se, então, de acordo com essa teoria, que o
(C) Teoria da Paradidática. desenvolvimento cognitivo é resultado de situações e
(D) Teoria do Construtivismo. experiências desconhecidas advinda da interação com o meio,
onde o sujeito procura compreender e resolver as
02. (Prefeitura de São Roque/SP - Professor Adjunto interrogações. Com isso, o aluno exerce um papel ativo e
do Ensino Fundamental I) De acordo com Piaget, é correto constrói seu conhecimento, sob orientação do professor,
afirmar. buscando informações, propondo soluções, confrontando-as
(A) Construtivismo é o processo pelo qual um indivíduo com as de seus colegas, defendendo-as e discutindo. Essa
desenvolve sua própria consciência adaptativa e seu próprio teoria permite utilizar todo o potencial de interação da
conhecimento. internet para criar um ambiente que gere conhecimento
(B) Desde que o conhecimento seja organizado numa teórico e prático através da construção gradual do
totalidade estrutural coerente, nenhum conceito pode existir conhecimento por meio de participação ativa. Oferece
isolado, cada conceito é sustentado e colorido por uma rede oportunidade para reflexão. A construção do conhecimento
completa de outros conceitos. pelos alunos é fruto de sua ação, o que faz com que eles se
(C) “Conhecimento” no amplo sentido e “inteligência” são tornem cada vez mais autônomos intelectualmente.
a mesma coisa.
(D) Todas as alternativas estão corretas. 02. Resposta: D
O construtivismo (ou psicologia genética) procura explicar
03. (Prefeitura De Votorantim/SP – PEB I – INTEGRI o desenvolvimento cognitivo (inteligência) como um processo
BRASIL) Weisz, em “O Diálogo entre o Ensino e a continuo de adaptação do organismo ao meio, marcado por
Aprendizagem”, faz uma abordagem em relação à importância várias fases (estádios): Cada uma delas representa um estágio
da ____________ no processo educacional. de equilíbrio, cada vez mais estável, entre o organismo e o
(A) prática construtivista. meio, onde ocorrem de determinados mecanismos de
(B) prática tradicional. interação, como a assimilação e a acomodação. Todo o
(C) prática interacionista. conhecimento começa por uma assimilação pelas estruturas e
(D) prática montessoriana. esquemas do sujeito dos dados que recebe do exterior. Estas
estruturas e esquemas são os meios que permitem o
04. (IF/SP - Técnico em Assuntos Educacionais) conhecimento. Esta assimilação implica por sua vez a sua
Ghiraldelli afirma que os professores brasileiros chegaram ao modificação.
século XXI guiando suas práticas por cinco tendências A acomodação consiste na modificação destas estruturas
pedagógico-didáticas que seguem a inspiração de filosofia ou esquemas aos novos dados.
educacional de seus autores. De acordo com uma delas, os
passos segundo os quais acontece o processo ensino 03. Resposta: A
aprendizagem, se resumem, sequencialmente, em: vivência, No Construtivismo a importância do que se faz é igual ao
temas geradores, problematização, conscientização e ação como e porque fazer, buscando delinear os diversos estágios
política. por que passam os indivíduos na ação de aquisição dos
Assinale o autor cujas ideias melhor caracterizam essa conhecimentos, de como se desenvolve a inteligência humana
sequência. e de como o indivíduo se torna autônomo. O Construtivismo
(A) Herbart. parte da ideia de que nada, está pronto e acabado, e o
(B) Dewey. conhecimento não é algo terminado, destacando o papel ativo
(C) Paulo Freire. da criança no aprendizado, onde os conhecimentos são
(D) Paulo Ghiraldelli Júnior. construídos pelos alunos mediante o estímulo ao desafio, ao
desenvolvimento do raciocínio, à experimentação, à pesquisa
05. (Prefeitura de Votorantim/SP – PEB I – INTEGRI e ao trabalho coletivo.
BRASIL) Delia Lerner em “Ler e Escrever na escola: o real, o Porém, existe uma polêmica entre Telma Weisz
possível e o necessário”, afirmam que o contrato didático serve (construtivismo) e Fernando Capovilla (método fônico). O
para deixar claro aos: método fônico baseia-se no aprendizado da associação entre
(A) professores e alunos suas parcelas de sons e letras e usa textos produzidos designadamente para a
responsabilidades na escola e na relação alfabetização. O construtivismo não prioriza essa associação e
ensino/aprendizagem. trabalha com textos que já façam parte do mundo infantil. O
(B) pais e alunos suas parcelas de responsabilidades na que sabemos é que embate entre os dois métodos de
escola e na relação ensino/aprendizagem. alfabetização está intenso. Nossa opinião é que qualquer que
(C) coordenador e pais suas parcelas de responsabilidades for o procedimento pedagógico, o que interessa é que a
na escola e na relação ensino/aprendizagem. metodologia possa interagir com as reais necessidades de
(D) professores e coordenador suas parcelas de conhecimento dos alunos em cada momento do seu
responsabilidades na escola e na relação aprendizado.
ensino/aprendizagem.
04. Resposta: C
Respostas Espera-se, assim, uma atuação do educador- educando em
prol da transformação da sociedade, o que implica na
01. Resposta: D libertação do homem das condições de opressão. Contra o que
Para Piaget, a pessoa, a todo o momento interage com a é a educação bancária, Freire orienta uma didática organizada
realidade, operando ativamente objetos e pessoas. O nos seguintes passos: vivência, seleção de temas geradores,
conhecimento é construído por informações advindas da problematização, conscientização e ação social e política. É
interação com o ambiente, na medida em que o conhecimento esta metodologia que se pretende desenvolver em sala de aula,
não é concebido apenas como sendo descoberto tendo como objeto de trabalho o conteúdo da Didática.

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Evidentemente que esse processo foi recriado considerando a O método sintético estabelece uma correspondência entre
especificidade da referida disciplina e as condições concretas o som e a grafia, entre o oral e o escrito, através do
do trabalho docente e discente. aprendizado por letra por letra, ou sílaba por sílaba e palavra
por palavra.
05. Resposta: A Os métodos sintéticos podem ser divididos em três tipos: o
O contrato didático serve para deixar claro aos professores alfabético, o fônico e o silábico. No alfabético, o estudante
e alunos suas parcelas de responsabilidades na escola e na aprende inicialmente as letras, depois forma as sílabas
relação ensino/aprendizagem. Estabelecer objetivo por ciclo juntando as consoantes com as vogais, para, depois, formar as
para diminuir a fragmentação do conhecimento; Atribuir palavras que constroem o texto.
maior visibilidade aos objetivos gerais do que aos específicos; No fônico, também conhecido como fonético, o aluno parte
Evitar o estabelecimento de uma correspondência termo a do som das letras, unindo o som da consoante com o som da
termo entre os objetivos e atividades. vogal, pronunciando a sílaba formada. Já no silábico, ou
silabação, o estudante aprende primeiro as sílabas para formar
as palavras.
Métodos de ensino: enfoque teórico Por este método, a aprendizagem é feita primeiro através
e metodológico. de uma leitura mecânica do texto, através da decifração das
palavras, vindo posteriormente a sua leitura com
compreensão.
Métodos de Ensino84 Neste método, as cartilhas são utilizadas para orientar os
alunos e professores no aprendizado, apresentando um
Os métodos de ensino são as ações do professor pelas quais fonema e seu grafema correspondente por vez, evitando
se organizam as atividades de ensino e dos alunos para atingir confusões auditivas e visuais.
objetivos do trabalho docente em relação a um conteúdo Como este aprendizado é feito de forma mecânica, através
específico. Eles regulam as formas de interação entre ensino e da repetição, o método sintético é tido pelos críticos como
aprendizagem, entre o professor e os alunos, cujo resultado é mais cansativo e enfadonho para as crianças, pois é baseado
a assimilação consciente dos conhecimentos e o apenas na repetição e é fora da realidade da criança, que não
desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e operativas cria nada, apenas age sem autonomia.
dos alunos.
O método não se reduz a um conjunto de procedimentos. O - Método Analítico
procedimento é um detalhe do método, formas específicas da
ação docente utilizadas em distintos métodos de ensino. Por O método analítico, também conhecido como “método
exemplo, se é utilizado o método da exposição, podem-se olhar-e-dizer”, defende que a leitura é um ato global e
utilizar procedimentos tais como leitura de texto, audiovisual. Partindo deste princípio, os seguidores do
demonstração de um experimento, etc. método começam a trabalhar a partir de unidades completas
de linguagem para depois dividi-las em partes menores. Por
Qual é o melhor método exemplo, a criança parte da frase para extrair as palavras e,
depois, dividi-las em unidades mais simples, as sílabas.
O melhor método para a alfabetização85 é uma discussão Este método pode ser divido em palavração, sentenciação
antiga entre os especialistas no assunto e também entre os ou global. Na palavração, como o próprio nome diz, parte-se da
pais quando vão escolher uma escola para seus filhos palavra. Primeiro, existe o contato com os vocábulos em uma
começaram a ler as primeiras palavras e frases. No caso sequência que engloba todos os sons da língua e, depois da
brasileiro, com os elevados índices de analfabetismo e os aquisição de certo número de palavras, inicia-se a formação
graves problemas estruturais na rede pública de ensino, das frases.
especialistas debatem qual seria o melhor método para
revolucionar, ou pelo menos, melhorar a educação brasileira. Na setenciação, a unidade inicial do aprendizado é a frase,
Ao longo das décadas, houve uma mudança da forma de pensar que é depois dividida em palavras, de onde são extraídos os
a educação, que passou de ser vista da perspectiva de como o elementos mais simples: as sílabas. Já no global, também
aluno aprende e não como o professor ensina. conhecido como conto e estória, o método é composto por
São muitas as formas de alfabetizar e cada uma delas várias unidades de leitura que têm começo, meio e fim, sendo
destaca um aspecto no aprendizado. Desde o método fônico, ligadas por frases com sentido para formar um enredo de
adotado na maioria dos países do mundo, que faz associação interesse da criança. Os críticos deste método dizem que a
entre as letras e sons, passando pelo método da linguagem criança não aprende a ler, apenas decora.
total, que não utiliza cartilhas, e o alfabético, que trabalha com
o soletramento, todos contribuem de uma forma ou de outra, - Método Alfabético
para o processo de alfabetização.
Um dos mais antigos sistemas de alfabetização, o método
Para Libâneo:86 alfabético, também conhecido como soletração, tem como
princípio de que a leitura parte da decoração oral das letras do
"Os métodos são determinados pela relação objetivos- alfabeto, depois, todas as suas combinações silábicas e, em
conteúdos, e referem-se aos meios para alcançar os objetivos seguida, as palavras. A partir daí, a criança começa a ler
gerais e específicos do ensino, ou seja, ao 'como' do processo sentenças curtas e vai evoluindo até conhecer histórias.
de ensino, englobando as ações a serem realizadas pelo Por este processo, a criança vai soletrando as sílabas até
professor e pelos alunos para atingir objetivos e conteúdos." decodificar a palavra.

Passamos a analisar os métodos detalhadamente: Por exemplo, a palavra casa soletra-se assim c, a, ca, s,
a, sa, casa. O método Alfabético permite a utilização de
- Método Sintético cartilhas.

84 Libâneo , Os Métodos de Ensino , 1994, cap.7.) 86 Libâneo, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994
85 Adaptação de VISVANATHAN, C.

Conhecimentos Pedagógicos 78
Apostila Digital Licenciada para MICHAEL ERMESON ARAUJO DA SILVA - profemichael@hotmail.com (Proibida a Revenda)
APOSTILAS OPÇÃO

palavras: o “A” no corpo da abelha, o “F” no cabo da faca, o “G”,


As principais críticas a este método estão relacionadas à no corpo do gato.
repetição dos exercícios, o que o tornaria tedioso para as Por causa da facilidade no aprendizado por meio desta
crianças, além de não respeitar os conhecimentos adquiridos técnica, rapidamente a cartilha tornou-se o principal aliado na
pelos alunos antes de eles ingressarem na escola. alfabetização brasileira até o início dos anos 80, quando o
O método alfabético, apesar de não ser o indicado pelos construtivismo começou a tomar forma. Em 1995, o Ministério
Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda é muito utilizado em da Educação retirou a cartilha do seu catálogo de livros. Apesar
diversas cidades do interior do Nordeste e Norte do país, já que disto, estima-se que ainda são vendidas 10 mil cartilhas por
é mais simples de ser aplicado por professores leigos, através ano no Brasil.
da repetição das Cartas de ABC, e na alfabetização doméstica.
Tipos de Método87
- Método Fônico
1 – Método de Exposição pelo professor
O método fônico consiste no aprendizado através da Exposição verbal, demonstração, ilustração,
associação entre fonemas e grafemas, ou seja, sons e letras. exemplificação, etc.
Esse método de ensino permite primeiro descobrir o princípio
alfabético e, progressivamente, dominar o conhecimento 2 – Método de Trabalho Independente;
ortográfico próprio de sua língua, através de textos Estudo dirigido, investigação e solução de problemas, etc.
produzidos especificamente para este fim.
O método é baseado no ensino do código alfabético de 3 – Método de Elaboração Conjunta
forma dinâmica, ou seja, as relações entre sons e letras devem Conversação didática (perguntas)
ser feitas através do planejamento de atividades lúdicas para
levar as crianças a aprender a codificar a fala em escrita e a 4 – Método de Trabalho em Grupo
decodificar a escrita no fluxo da fala e do pensamento. Debate, TPG, Tempestade Mental, GV-GO, Seminário, etc.
O método fônico nasceu como uma crítica ao método da
soletração ou alfabético. Primeiro são ensinadas as formas e os 5 – Atividades Especiais
sons das vogais. Depois são ensinadas as consoantes, sendo, Estudo do meio, atividades práticas, etc.
aos poucos, estabelecidas relações mais complexas. Cada letra
é aprendida como um fonema que, juntamente com outro, Questões
forma sílabas e palavras. São ensinadas primeiro as sílabas
mais simples e depois as mais complexas. 01. (IF/AP - Pedagogo – FUNIVERSA/2016). Os métodos
de ensino são as ações por meio das quais os professores
Visando aproximar os alunos de algum significado é que organizam as atividades de ensino com o intuito de atingir
foram criadas variações do método fônico. O que difere uma objetivos. Considerando essa informação, assinale a
modalidade da outra é a maneira de apresentar os sons: seja a alternativa correta.
partir de uma palavra significativa, de uma palavra vinculada (A) Os métodos de ensino adotados em sala de aula
à imagem e som, de um personagem associado a um fonema, independem dos objetivos gerais propostos pelo Projeto
de uma onomatopeia ou de uma história para dar sentido à Político-Pedagógico (PPP) da escola.
apresentação dos fonemas. Um exemplo deste método é o (B) O método de ensino deve corresponder à necessária
professor que escreve uma letra no quadro e apresenta unidade: objetivos; conteúdos; métodos; e formas de
imagens de objetos que comecem com esta letra. Em seguida, organização do ensino.
escreve várias palavras no quadro e pede para os alunos (C) Os métodos de ensino independem dos conteúdos e das
apontarem a letra inicialmente apresentada. A partir do disciplinas, por isso todos os métodos podem ser utilizados em
conhecimento já adquirido, o aluno pode apresentar outras qualquer conteúdo.
palavras com esta letra. (D) A escolha do método a ser utilizado para o ensino de
Os especialistas dizem que este método alfabetiza crianças, um determinado conteúdo independe da idade e do nível de
em média, no período de quatro a seis meses. Este é o método desenvolvimento dos alunos.
mais recomendado nas diretrizes curriculares dos países (E) No PPP da escola, já estão definidos todos os métodos
desenvolvidos que utilizam a linguagem alfabética. e todas as ações que o professor adotará em sala de aula.
A maior crítica a este método é que não serve para
trabalhar com as muitas exceções da língua portuguesa. Por 02. (Secretaria da Criança/DF - Especialista
exemplo, como explicar que cassa e caça têm a mesma Socioeducativo – Pedagogia – FUNIVERSA/2015). Assinale
pronúncia e se escrevem de maneira diferente? a alternativa que apresenta o termo correspondente ao
seguinte conceito: são determinados pela relação objetivo-
A velha cartilha Caminho Suave conteúdo e referem-se aos meios para alcançar objetivos
gerais e específicos do ensino, englobando as ações a serem
A grande maioria dos brasileiros alfabetizados até os anos realizadas pelo professor e pelos alunos.
de 1970 e início dos 80 teve na cartilha Caminho Suave o seu (A) conteúdos de ensino
primeiro passo para o aprendizado das letras. Com mais de 40 (B) planos de aulas
milhões de exemplares vendidos desde a sua criação, a cartilha (C) currículos
idealizada pela educadora Branca Alves de Lima, que morreu (D) planejamentos curriculares
em 2001, aos 90 anos, teve um grande sucesso devido à (E) métodos de ensino
simplicidade de sua técnica.
Na tentativa de facilitar a memorização das letras, vogais e Respostas
consoantes, e depois das sílabas para aprender a formar as 01. B / 02. E
palavras, a então professora Branca, no final da década de 40,
criou uma série de desenhos que continham a inicial das

87 Libaneo, Texto 5: Os Métodos de Ensino 1994, cap.7

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