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AVALIAÇÃO QUALITATIVA DA ATUAÇÃO DE

COMITÊS DE BACIA HIDROGRÁFICA EM


MINAS GERAIS: um estudo de caso do Comitê
da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas
Rafael Lara Mazoni Andrade¹; Bruno de Castro Rozenberg²; Henrique Alves de Castro³

1- INTRODUÇÃO 3- METODOLOGIA 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS


Transformações no modus operandi da economia mundial vêm Uma das principais dificuldades em se avaliar as Instituições A gestão de bacias hidrográficas vem ganhando importância
alterando drasticamente as relações do ser humano com o Participativas se deve ao fato da enorme variedade de crescente na realidade brasileira à medida em que aumentam
meio ao seu redor. O comedimento que reconhecia a fóruns e processos apreendidos por tal categoria. A partir do os efeitos da degradação – até o que se vê hoje, chamado de
importância da manutenção de um equilíbrio cai por terra processo de redemocratização e, sobretudo, com a “crise hídrica”. Nesse contexto, os Comitês de Bacias
(SHIVA, 2000), e os humanos se julgam cada vez mais promulgação da Constituição Federal de 1988, o Brasil Hidrográficas se mostram como uma interessante forma de
independentes da natureza (LIMA, 2011). O foco na testemunhou um acentuado processo de inovação gestão colegiada e deliberativa. No entanto, Jacobi afirma que
maximização de lucros a partir da externalização de custos, institucional, marcado pelo surgimento de uma complexa e o grande desafio que se apresenta é fazer com esses Comitês
ideais basilares para os atuais padrões tecnológicos heterogênea rede de espaços participativos, em substituição sejam de fato públicos – no formato e nos resultados (JACOBI,
dominantes (LEFF, 2007), reflete aquilo que Boaventura de aos tradicionais ambientes de democracia participativa. 2003). No que pese a indiferença dos mecanismos de
Souza Santos (1997) chamou de crise da modernidade, participação – que são mal aproveitados pela população que
carreada a uma consequente crise ecológica. Diante do O processo de avaliação de tais instituições parece apenas buscar resultados imediatos –, Pedro Jacobi
reconhecimento desses problemas, surge a imperiosa participativas (Ips) deve analisar de que forma os diversos afirma que: “Pessoas cidadãs críticas e conscientes
necessidade de gerir tais recursos naturais escassos. O atores que compõem a sociedade se interagem com as IPs. compreendem, se interessam, reclamam e exigem seus
exemplo da água mostra-se inconfundível nos dias atuais: a É importante, também, verificar a importância que as IPs direitos ambientais junto ao setor social correspondente e, por
água disponível para o consumo é um recursos extremamente possuem, perante os demais atores, no processo de sua parte, estão dispostas a exercer sua responsabilidade
escasso, além de ser distribuído de maneira irregular. A produção e implementação de políticas públicas. ambiental” (JACOBI, 2003, p. 333).
pequena porcentagem que resta de água disponível para o Com base na literatura consultada acerca de avaliação
consumo tem sido contínua e acentuadamente degradada. Para Jacobi, faz-se necessário, então, incrementar
qualitativa de IPs, procedeu-se uma avaliação do Comitê da os meios e o acesso à informação, e é preciso pensar acerca
Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é proceder uma Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas. Para tanto, foi
avaliação da atuação dos comitês de bacia hidrográfica, da sustentabilidade a partir do reforço de políticas
realizada uma revisão bibliográfica – passando por artigos socioambientais que sejam transversais e articuladas com
reconhecendo sua relevância e a importância de uma que tratam acerca da participação social nessa IP, legislação
adequada atuação na defesa do nobre ideal de outros esferas de governo. Tudo isso possibilitaria o
e textos informativos, em geral, sobre o Comitê. desenvolvimento de uma consciência ambiental comprometida
desenvolvimento sustentável. Busca-se, assim, uma forma de
fornecer diretrizes a gestores e planejadores, bem como Essa análise buscou compreender: (i) o grau de de fato com a constituição do interesse público (JACOBI,
informar a comunidade acadêmica acerca do tema e de sua centralidade que a IP possui para cada ator; (ii) a situação 2003).
importância. dessa IP dentro do ciclo de políticas públicas; (iii) a
legislação que rege a atuação dessa IP; (iv) recursos que a
2- REFERENCIAL TEÓRICO
IP possui; e (v) resultados relacionados à atuação da IP. REFERÊNCIAS

2.1- GESTÃO AMBIENTAL 4- RESULTADOS ALMEIDA, J. R.; BASTOS, A. C. S.; MALHEIROS, T. M.; SILVA,
D. M. (orgs.) Política e planejamento ambiental. 3. ed. Rio de
Dentro do escopo dessas transformações que o mundo vem 4.1- CENTRALIDADE Janeiro: THEX, 2008.
vivendo nos últimos anos, as questões atinentes à gestão • composição paritária, contemplando a diversidade de atores
ambiental vêm ganhando espaço. Dentro desse contexto, existentes dentro da área das bacias hidrográficas, dando a JACOBI, P. R. Espaços públicos e práticas participativas na
diversos autores tratam acerca dessa crise ecológica carreada possibilidade de participação a todos eles (LEMOS; ROCHA, gestão do meio ambiente no Brasil. Sociedade e Estado.
pela crise da modernidade. A solução para esse problemas 2013). Brasília. v. 18, n.1/2, pp. 315-338, jan/dez 2003.
passa, dentre outras coisas, por uma ação de planejamento • Grande relevo no que atine ao exame de processos relativos a
que ative e objetive um conjunto de processos sociais (LEFF, pedidos de outorga de direito de uso dos recursos hídricos – LEFF, E. Pensamento sociológico, racionalidade ambiental e
2007). Faz-se necessário, para tanto, um planejamento conforme a Lei federal n. 9.344/97, cuja efetivação só ocorreu transformações do conhecimento. In: LEFF, E. Epistemologia
abrangente, com visão de médio e longo prazo para guiar as em Minas Gerais –, o que coloca essa IP no centro das ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
ações de desenvolvimento – ao invés de reagir a intempéries discussões e dos interesses afetos ao uso da água,
(ALMEIDA, et al., 2008). Demanda-se, também, pensar acerca apresentando incentivos à participação – o que pode situar tal LEMOS, R. S; ROCHA, R. M. L. Os processos de outorga de
da participação social no âmbito das políticas de planejamento IP como um espaço de deliberação (cf. SILVA, 2011). direitos de uso de recursos hídricos em Minas Gerais: uma
e gestão ambiental (JACOBI, 2003). 4.2- SITUAÇÃO NO CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS releitura a partir da experiência do Comitê da Bacia Hidrográfica
• O CBH do Velhas seja, concomitantemente, uma IP de do Rio das Velhas. In: XX SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
2.2- DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM
consulta e diagnóstico, de planejamento, de alocação de RECURSOS HÍDRICOS. Anais... Bento Gonçalves (RS), 2013.
POLÍTICAS DE GESTÃO AMBIENTAL
recursos, de formulação de políticas e de fiscalização.
Atualmente, em relação ao processo de participação de 4.3- LEGISLAÇÃO LIMA, G. F. C. Crise ambiental, educação e cidadania: os
políticas públicas de planejamento ambiental, percebe-se que • A Lei das Águas propõe um papel muito amplo aos Comitês de desafios da sustentabilidade emancipatória. In: LOUREIRO, C.
essa ideia de nova qualidade de cidadania está relacionada à Bacias, mas há, segundo Jacobi (2003), uma ambiguidade F. B.; LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. (orgs.) Educação
capacidade de se instituir o cidadão como criador de direitos, nessa legislação, posto que ela abra espaço para a ambiental: repensando o espaço da cidadania. 5ª ed. São
a partir da superação de barreiras e da multiplicação de participação da sociedade e, pari passu, dê primazia ao Paulo: Cortez, 2011. pp. 115-48
iniciativas de gestão que se mostrem afinadas à complexidade conhecimento de informações técnicas.
das práticas efetivamente democráticas. 4.4- RECURSOS PORTO-GONÇALVES, C. W. O desafio ambiental. Rio de
• Aproximadamente um quarto da receita do CBH vem da Janeiro: Record, 2004.
Todavia, teóricos apontam para uma lacuna no
outorga do direto de uso de água, reforçando o relevo dessa IP
entendimento e na aplicação das teorias de democracia e
no contexto da gestão das águas. SACHS, I. Transição para o século XXI. In: BURSZTYN, M.
participação à gestão ambiental. Tal lacuna, principalmente na
4.5- RESULTADOS (org.) Para pensar o desenvolvimento sustentável. Brasília:
aplicação desses ideais é muito grande na América Latina,
• Grande capacidade potencial de articulação, sensibilização, Brasiliense, 1993.
onde os alcances da democracia esbarram na luta pela
mobilização e relacionamento com as diversas instâncias e
conquista de espaços para aumentar a participação social
instituições que compõem as políticas territoriais e de recursos SHIVA, V. Recursos naturais. In: SACHS, W. Dicionário de
(JACOBI, 2003).
hídricos desenvolvimento: guia para o conhecimento como poder.
Forma interessante de gestão colegiada e deliberativa • apenas Minas Gerais atribui, de facto, o papel de julgar os Petrópolis: Vozes, 2000. p. 300-303.
são os Comitês de Bacias Hidrográficas. Os comitês de bacia pedidos de outorga de água aos CBHs (LEMOS; ROCHA,
têm em sua composição, embora em diferentes partições do 2013); SILVA, M. K. Dos Casos aos Tipos: notas para apreensão das
número de assentos dependendo da titularidade das águas, • No cômputo geral da avaliação dessa IP, vê-se a superação variações qualitativas na avaliação das instituições
membros dos diversos níveis de governo, dos agentes das assimetrias de informação, afirmando uma nova cultura de participativas. In: PIRES, R. R. C. (org.) Efetividade das
privados e da sociedade civil. A inclusão desses comitês como direitos. Além disso, essas experiências fortalecem a instituições participativas no Brasil: estratégias de avaliação.
instâncias de gestão de recursos hídricos de uma bacia capacidade de crítica e de interveniência dos setores de baixa Brasília: Ipea, 2011. pp. 233-46
hidrográfica foi resultado desse processo de demanda coletiva renda num processo de aprendizagem, criando sinergia com
por participação nos processos decisórios, que ganhou muito potencial de multiplicar o potencial do cidadão no processo
peso e expressão desde a década de 1980 no Brasil. decisório (JACOBI, 2003). Os autores agradecem ao apoio financeiro da FAPEMIG.

1. Rafael Lara Mazoni Andrade - Bacharel em Administração Pública pela


• Fundação João Pinheiro, graduando em Geografia pelo UniBH e mestrando em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro, EPPGG no
Governo de Minas Gerais, rafaelmazoni13@gmail.com;
2. Bruno de Castro Rozenberg – Bacharel em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro, EPPGG no Governo de Minas Gerais, bruni.cas@hotmail.com;
3. Henrique Alves de Castro - Bacharel em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro, graduando em Economia pela PUC Minas, EPPGG no Governo de Minas Gerais.

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