FECHAMENTO ORTODÔNTICO DE ESPAÇOS:

ASPECTOS TÉCNICOS E BIOMECÂNICOS

Space closure in orthodonrics:

technical and biomechanical aspects

GuilhermeThiesen', Marcus Vinicius Neiva Nunes do Rego2 ENDEREÇO

PARACORRESPONDÊNCIA:

GuilhermeThiesen
'Graduado em OdontologiapelaUFSC. Mestre emOrtodontiae OrtopediaFacialpela Av.MadreBenvenuta.
no 1285,BairroSantaMônica
Pontificia Universidade Católica do Rio Grandedo Sul - PUCRS. CEP:88035- 000 FlorianópolisSC
'Mestre em Ortodontia e Ortopedia Facial pela Pontificia Universidade Católica do Rio Telefone:(48)3234-9333
Grande do Sul - PUCRS. ProfessordeOrtodontiada NOVAFAPI - Piaui. guithiesen@hotmail.com

RESUMO

O fechamento de espaçosem Ortodontia, em particular daquelesprovenientes das extraçõesdentírias, ainda hoje oferecedificuldades ao
profissional dessaárea,principalmente devido ao aumento do tempo de tratamento, desconforto por parte do paciente,buscada excelência
na finalização e estabilidade do tratamento. Vários mecanismos ortodônticos foram elaboradosao longo dos anos para o fechamento de
espaços.Essesmétodos apresentamvariaçõesreferentes às fontesde aplicaçãode forças,aos seusdesenhos e também aos meiosde controle
da ancoragem. Desta maneira, o presente trabalho visa elucidar alguns aspectos técnicos e biomecãnicos relacionados à mecânica de
fechamento de espaços, a fim de otimizar os resultados finais do tratamento ortodôntico.

Palavras-chave: Fechamento de espaço ortodôntico. Biomecânica. Ortodontia.

INTRODUÇÃO

Uma das aplicações mais comuns da utilização da mecânica de
fechamento de espaços seria nos casos em que é realizada a
~tração de/lementos dentários. Dentre os dentes mais
coFiiurrmnê selecionados para extração com finalidade
ortodôntica, os pré-molares ocupam lugar de destaque (GOTTLlEB;
NELSON;VOGELS,1986; GOTTLlEB;NELSON;VOGELS,1996; ONG;
WOODS,2001; PROFFIT,
2002). Estrategicamentelocalizadosentre
ossegmentosanterior e posterior,a extração dessesdentes permite
eliminar tanto a existência de apinhamentos (discrepância de
modelo negativa) como também relaçõesinterincisais indesejáveis
(discrepância cefalométrica negativa). Assim, uma vez que tenha
sido tomada a decisãosobrea extração desseselementosdentários,
deve-se planejar como proceder ao fechamento dos espaços
residuais que não forem utilizados para a correção do
apinhamento. Além disso, deve ser enfatizado que o correto
posicionamento dos dentes anteriores é, reconhecidamente, uma
característica essencialtanto paraestética, como para estabilidade
e função oclusa!. Dessemodo, a retração dessesdentes durante o
fechamento de espaços representa uma etapa fundamental e
geralmente crítica dotratamento ortodôntico (GJESSING,
1992).
Segundo Burstone (1982), o fechamento otimizado dos espaçosé
conseguido de diferentes maneiras, através da variação dos
sistemas de forças entre os segmentos anterior e posterior,
devendo-seconsiderar:
- a possibilidade de fechamento de espaçosde modo diferenciado
(a capacidade de retração anterior, protração posterior ou até
mesmodeambossimultaneamente deveser possível);
- a cooperaçãopor parte do paciente (se a eficiência do método é
dependenteda cooperaçãodo paciente. podemvir a ocorrer certas
limitações quanto à obtenção desucessono tratamento);
- o controle da inclinação axial;
- o controle dasrotaçõese da largura ou comprimento do arco;
- a resposta biológica ideal (isso inclui um movimento dentário
rápido com um mínimo de desconforto ao paciente, além de não
proy.ocardanos aos tecidos e favorecer uma mínima reabsorção
radicular);
- a facilidade deoperaçãodo mecanismoa seradotado.
Com o objetivo de alcançar tais metas, o clínico deve utilizar um
dispositivo que aplique e libere um sistema de forças especifico
para cada situação. Deve-se também levar em consideração o

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Rev. Ortodon. Catarin.. Florianópolis. v.3. n.1, p. 13-19,jan./dez. 2006
 comprimento da raiz e a quantidade de inserção periodontal, os
quais irão influenciar o sistema de forças aplicado (BURSTONE,
1982; MANHARTSBERGER; MORTON; BURSTONE, 1989).
Quando da utilização indevida de tais aparelhos, poderão advir
complicações, como a perda da ancoragem, verticalização
excessiva dos incisivos, aumento da sobremordida, reabsorções
radiculares que, além do aumento do tempo de tratamento,
poderãotrazer danosirreversíveisaostecidos dentários de suporte
(MENDES;BÁGGIO;BOLOGNESE, 1992).
MECÂNICASPARAFECHAMENTO
DEESPAÇOS
SegundoStaggerse Germane(1991),a mecânicadefechamento de
espaços apresenta variação muito grande no que diz respeito à
maneira como é executadae, sob a perspectiva biomecânica,pode
ser apresentada através de dois tipos distintos: mecânica com
atrito (fricção) ou mecânica de deslizamento; e mecânica sem
atrito (fricção) ou mecânicade fechamento comalças.
Na mecânica com fricção, a força para promovero deslocamentoé
gerada por um elástico ou por uma mola helicoidal fechada ligada
ao dente (FIG. 1). Dessemodo, o dente apresenta uma tendência
rotacional nos dois planos do espaço, pois o sistema de forças é
Figura 1: Fechamento
de espaços através
da mecânica de deslize.
A) Retração do canino
com o emprego
de cadeia elastomérica.
B) Emprego de mola
fechada de Ni- Ti.
aplicado em nível do braquete e não no centro de resistência do
dente. Durante a retração dentária isolada, um momento
rotacional promove a rotação da face mesial do dente para
vestibular, e o outro causa a inclinação da coroa para distal. A
tendência de inclinação da coroa para distal é controlada pela
interação fio-braquete, a qual propicia a formação de um momento
de força capaz de promover movimento de corpo do dente. A
magnitude dessemomento dependeda secçãotransversal,forma e
material do fio ortodôntico, bem como das dimensõesda canaleta
do braquete.Quanto maior for o limite de elasticidade do fio, maior
será a força resultante da sua deflexão e maior será o momento
produzido. Quanto mais larga for a canaleta do braquete, maior
também seráo momento (MOORE;WATERS,1993; OLIVEIRA,1998;
14
Rev. Ortodon. Catarin., Florianópolis,
STAGGERS;
GERMANE,1991).
Além de ser difícil obter-se o movimento puro de corpo paradistal
com a mecânicade deslize,também podevir a ocorrer a rotação dos
elementos dentários quando estes são retraídos isoladamente.
Como a aplicação da força não é feita através do centro de
resistência na direçãovestíbulo-lingual, um momento é necessário
para contrapor a tendência de rotação. Estemomento anti-rotação
é estabelecido pelo binário existente entre o fio, a amarração e o
braquete. Devidoao risco de atrito, a amarração não podeser feita
com muita força. Entretanto, também não podeserfeita muito leve,
pois resultaria na rotação dental durante o movimento para distal
(ZIEGLER;
INGERSVALL,1989). ~
Dessa maneira, a mecânica de deslizamento carácteriza-se,
principalmente, pela existência de certa quantidade de atrito entre
o fio e o braquete.A fricção impede o deslocamento do canino ao
longo do arco durante a sua retração com a técnica do arco
contínuo. A fricção também constitui um fator a ser considerado,
quando seesperaum deslizamento do arco atravésdos braquetese
tubos dos dentes posteriores. As asperezas das superfícies do
braquete e do fio, o efeito da saliva, a largura e angulação da
canaleta do braquete,as interaçõesdassuperfíciesdos braquetese
fios, e o método de amarraçãosão fatores que interferem na força
de atrito entre o braquete e o fio ortodôntico (BEDNAR;
GRUENDMAN;SANDRIK,1991; FRANK;NIKOLAI, 1980; GARNER;
ALLAI; MOORE, 1986; MOORE; WATERS, 1983; TSELEPIS;
BROCKHu'RST;
WEST,1994). Do ponto de vista biomecânico, todos
esses fatores causam alto grau de imprevisibilidade na mecânica de
deslizamento (GARNER;ALLAI;MOORE,1986; IRELAND;SHERRIFF;
McDONALD,1991).
Para mover um dente ao longo do arco, é necessárioaplicar uma
força de magnitude capaz de ultrapassar o atrito e, assim, iniciar o
movimento dentário (FRANK;NIKOLAI,1980).A maior dificuldade
está em avaliar o quão alta deve ser essa força,uma vez que se
torna praticamente impossível avaliar clinicamente o atrito
promovido em cada situação (KUSY; WHITLEY, 1997). Certa
atenção deve ser dada às diferentes configurações e combinações
possíveisentre os variados tipos de fios e braquetes encontrados
comercialmente(KUSY; WHITLEY; PREWITT, 1991). Sendoassim,as
forças de atrito devem ser bem conhecidas, principalmente nas
interações entre os diferentes materiais (TANNEet aI., 1991).Em
relação aos fios ortodônticos disponíveisatualmente no mercado,
os de aço inoxidável são os que apresentam os menores níveis de
atrito, seguidos pelos fios de cromo-cobalto, níquel-titânio e beta-
titânio (KUSY;WHITLEY, 1997; KUSY;WHITLEY;PREWITT,1991;
TSELEPIS; BROCKHURST; WEST, 1994;VANZIN, 2002).
A fricçãovariatambém de acordo com a composição do braquete
utilizado. Issoocorre em especial com os braquetes cerâmicos,os
quais vêmsetornando cada vez mais popularesem virtude dassuas
excelentes propriedades estéticas. Porém, infelizmente, tais
acessóriospromovem umpadrãode movimentaçãodentária menos
eficiente que os convencionais braquetes de aço, o que, segundo
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Tanneet aI.(1991),podereduzir-se em até 50%.
Uma grande vantagem da mecânica com fricção é tornar
desnecessáriaa utilização de arcos com configurações complexas,
fazendo com que a troca dos arcos seja mais rápida e facilitada.
Entretanto, qualquer sistemaque envolvafricção diminui a taxa de
movimentaçâo dentária ao longo do arco, além de dificultar a
determinação do sistema de forças empregado, uma vez que,
clinicamente, a quantidade de atrito é desconhecida (STAGGERS;
GERMANE,1991).
Teoricamente, as desvantagens presentes na mecânica de
deslizamento podem ser superadasna mecânica semfricção, onde
os dentes são movimentados sem o deslocamento dos braquetes
pelo arco. Nessecaso,a retração é realizadaatravésda confecçãoe
uso de alças incorporadas aos fios como fonte de força, que
oferecem um movimento dentário mais controlado do que na
mecânica com fricção. Assim, sâo eliminados os problemas de
atrito e parada do movimento (OLIVEIRA, 1998; ZIEGLER;
INGERSVALL, 1989).
Existena Ortodontia umavasta gama de alças que, incorporadas a
arcos contínuos ou segmentados, podem ser utilizadas para a
retraçâo dos dentes anteriores (FIG.2). A técnica do Arco de Canto
(Edgewise)preconiza a utilização de um arco contínuo com alças
I . ,
Figura 2: Fechamento
I de espaçosatravés
do emprego
de alças ortodônticas
(mecânica sem atrito).
Retração de caninos
através da técnica
I do arcosegmentado(A)
e retraçãodos
incisivosatravés
da técnica
I do arcocontínuo(B).
dispostas bilateralmente no arco retangular, o qual se estende do
molar de um lado ao molar do outro lado (PROFFIT,2002). Atécnica
do arco segmentado, idealizada por Burstone (1962, 1966),
enfatiza a importância do controle de forças, principalmente
quanto à intensidade e a duração, para se alcançar os objetivos do
tratamento. A partir daí,o autor propôsuma mecânicaque consiste
na,utilização de alças dispostas em arcos segmentados,a fim de
proft:iovermagnitudes deforçasasmais contínuas possíveis.
O uso'{!e alças ortodônticas apresenta uma vantagem bastante
importarlte.. Como o mecanismo de fechamento de espaços é
ativado manualmente, com o deslizamento da porçâo posterior do
arco para distal e seu travamento nessaposição,a energia gerada
Rev. Ortodon. Catarin., Florianópolis,
pela ativação da alça é gradualmente dissipada. Os dentes são
movimentados sem o deslizamento dos braquetes pelo arco, ou
seja, na ausência de atrito, visto que não existe movimento do fio
no interior dos acessórios (PLETCHER,1959; PROFFIT,2002;
SIATKOWSKI,1997).
Na mecânica sem fricção, o momento é determinado pela
configuração da alça e pela presençade dobrasde pré-ativação, as
quais produzem uma força de momento ativa. Geralmente,quanto
maior a quantidade defio gengivalmente ao braquete,maior seráa
proporção momento/força gerada,promovendoum maior controle
radicular durante o movimento. Porém,a altura da alça apresenta
limitações inerentes às características anatômicas da cavidade
bucal, pois alturas muito excessivas podem vir a provocar
traumatismos. Sendo assim, certos desenhosde alças devem ser
preferencialmente utilizados quando for necessária maior
proporção momento/força, por exemplo,a alça em T, umavez que
essa possui maior quantidade de fio na sua porção apical
(STAGGERS ; GERMANE,1991).
O desenho da alça não influencia somente a proporção
momento/força, mas também a relação carga/deflexão, que
consiste na taxa de alteração da magnitude de força aplicada ao
longo da ativação/desativação do dispositivo. Essaúltima também
pode ser alterada pela mudança da liga metálica utilizada na
confecção da alça.Assim,umaalça confeccionadade uma liga com
baixo módulo de elasticidade, como beta-titânio, terá uma relação
carga/deflexão mais baixa do que uma alça com a mesma
configuração, confeccionada com aço inoxidável (SCHILLAI;
LEHMANN,1989).
É necessário um bom conhecimento de mecânica quando da
utilização das alças de fechamento de espaço, uma vez que
pequenos erros podem resultar em grandes problemas durante a
movimentação dentária. Além disso, mais habilidade manual e
tempo de cadeira são necessáriosnessescasos,se comparadosà
mecânica de deslizamento, sendo ainda que tais alças podem,
ocasionalmente, provocar desconforto em alguns pacientes
(BRAUN;MARCOTTE, 1995; KUHLBERG; BURSTONE,1997).
Assim como na mecânica com fricção, as alças de fechamento
também produzem um momento de rotação da face mesial do
dente para vestibular quando da retração de dentes
individualmente. Isso ocorre porque a força é aplicada na face
vestibular, e não no centro de resistência. Essemomento pode ser
minimizado através da realização de dobras anti-rotacionais no
segmento de arco, ou também através do uso concomitante de
forças elásticas aplicadas na face lingual do dente a ser
movimentado (STAGGERS;GERMANE,1991).
A fim de compararosefeitos suscitadospelasmecânicascom e sem
fricção, alguns estudos clínicos e laboratoriais foram realizados.
Rhee; Chun; Row (2001). ao utilizarem um simulador de
movimentos (typodont) controlado através de unidades
eletrotermodinâmicas, relataram que a mecânica com fricção
apresentou melhoresresultados quanto ao controle rotacional dos
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v.3, n.l, p. 13-19, jan./dez. 2006
elementos dentários e a manutenção das dimensões do arco. Já a
mecânica sem fricção apresentou maior efetividade no controle da
angulação mésio-distal e no controle vertical dos dentes.
Ziegler e Ingervall (1989) compararam, clinicamente, a mecânica
com e sem fricção, e observaram que os caninos retraídos com o uso
de alças apresentaram um deslocamento mais rápido e com menor
inclinação dista Ido que aqueles retraídos com o uso de elásticos em
cadeia. Porém, a alça de retração não foi superior ao elástico em
cadeia quanto ao controle da rotação do canino durante sua
movimentação, embora essa diferença não tenha sido significativa.
Os autores concluíram que, de maneira geral, a mecânica de
fechamento de espaços com o uso de alças apresenta melhores
resultados do que a mecânica de deslizamento. Comentaram,
ainda, que a possível desvantagem da mecânica de fechamento
com alças (maior quantidade de rotação dentária) é superada pelo
fato da correção das rotações, após a retração, ser realizada de
maneira mais rápida e fácil do que a verticalização de um dente
com inclinação dista!.
No entanto, Pletcher (1959) frisou que a escolha do método de
fechamento depende da preferência pessoal do operador e,
também, da particularidade de cada caso. Além disso, Staggers e
Germane (1981) alegaram que o ortodontista deve possuir certo
conhecimento tanto sobre a mecânica com fricção como sobre a
mecânica sem fricção, uma vez que existem indicações especificas
para ambas e, assim, o profissional não deve estar limitado a apenas
uma alternativa biomecânica.
SISTEMAS DEFORÇAS
EMPREGADOS
PARAO FECHAMENTO
DE
ESPAÇOS
EMORTODONTIA
Dessemodo, os conceitos físicos que fundamentam a biomecânica
ortodôntica de fechamento de espaços constituem a chave para a
correta compreensão do funcionamento dos diversos dispositivos
utilizados, bem como constituem um fator crítico para o
desenvolvimento de novas alternativas e configurações. Tais
dispositivossão empregados para gerar um sistema de forças que
irá iniciar uma verdadeira cascata de reações biológicas e com isso
movimentar os dentes. Embora muitas filosofias e modalidades de
tratamento advoguem diferentes aparelhos, o sistema de forças
que esses produzem podem ser analisados através dos mesmos
componentes básicos: forças e momentos (HOCEVAR,1981;
LlNDAUER,2001; NANDA;DIAZ,1981).
Forças são vetores, apresentando, assim, tanto direção como
magnitudes. Para '!10vimentaro dente de maneira previsível,a
força deve ser aplicada na direção desejada, com a magnitude
requerida e na posição correta. Alterações na direção, magnitude e
ponto de aplicação da força afetarão a qualidade do deslocamento
dental que irá ocorrer (LlNDAUER,2001).
Dentre as abordagens utilizadas para explicar o movimento dos
elementos dentários, o modelo do centro de rotação parece ser o
mais popular. Nesse modelo, o centro de resistência substitui o
centro de gravidadee o movimentoé descrito baseado num centro
16
Rev. Ortodon. Catarin., Florianópolis,
de rotação criadonesse elemento dentário (KUSY;TUlLOCH,1986).
A localização do centro de resistência de um corpo depende
somente da sua geometria e do seu mecanismo de suporte. Já a
localização do centro de rotação é dependente desses parâmetros
citados e, também, das caract~sticas do sistema de forças
aplicado neste corpo (NIKOLAr.1975).
Quando uma força for aplicada em qualquer ponto que não seja o
centro de resistência, além do movimento em direção à força
aplicada, haverá a criação de uma tendência de rotação ou
inclinação dentária. Dessemodo,a aplicação de uma força simples
no braquete produzirá um movimento de inclinação descontrolada,
fazendo com que o centro de rotação fique numa posição
ligeiramente apical em relação ao centro de resistência. Sabe-se
que, durante a mecânica de fechamento dos espaços, não existe um
meio prático e direto de se aplicar uma força exatamente sobre o
centro de resistência do dente e, com isso, produzirtranslação pura,
sem inclinação. Para movimentar um dente em direção ao espaço
da extração, uma força é aplicada no braquete para deslocá-Io
nessa direção. Portanto, aplicando-se uma simples força horizontal
sobre um braquete ocorrerá movimento de inclinação dentária que,
para ser controlado, requer a incorporação de um momento
(HOCEVAR,1981). O momento de uma força ou binário é uma
medida do potencial rotacional. Matematicamente, o momento de
uma força é igual ao produto da magnitude da força e o
comprimen.to do braço de alavanca, que corresponde à menor
distância (perpendicular) da linha de aplicação da força ao centro
de rotação do corpo (NIKOLAI, 1975). Ao associar determinada
quantidade de momento à força, o centro de rotação se deslocará
para o ápice dentário e ocorrerá o movimento de inclinação
controlada, ou seja, a coroa se inclinará na direção da força e o
ápice permanecerá na mesma posição. Aumentando a quantidade
de momento e, conseqüentemente, a proporçãomomento/força,o
centro de rotação se deslocará apicalmente para o infinito, o que
provocará o movimento de translação. Aumentando-se ainda mais
essa proporção momento/força, o centro de rotação se deslocará
em direção incisal, produzindo o movimento radicular. Persistindo o
aumento dessa proporção, o movimento radicular será de grande
amplitude, com a coroa se deslocando em direção oposta à da força
aplicada (LlNDAUER,2001; SMITH; BURSTONE,1984). Portanto,
através da variação da proporção entre o momento e a força
aplicada ao dente, o tipo de movimento dentário pode ser
modificado, desde a inclinação descontrolada, inclinação
controlada, translação, até o movimento radicular. Buckle et ai.
(1987) salientaram que a realização deumtratamentoortodôntico
otimizado é grandemente influenciada pela habilidade do
profissionalem predizere controlar o movimentodentário, através
da aplicação de sistemas de forças adequados, tendo sempre em
mente a localização efetiva da resistência apresentada pelos
tecidos de suporte em relação ao centro de resistência.
Nesse intuito, uma série de pesquisas têm sido realizadas no
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sentido de determinar a localização aproximada dos centros de
resistência das unidades dentárias, bem como as características
necessáriasdos sistemas de forças para promover os diferentes
tipos de movimentos dentais (MELSEN;FOTlS;BURSTONE,1990).
Clinicamente, o ponto de aplicação da força sobre o elemento
dentário é o braquete e, quando se desejaum movimento dentário
de translação pura, a tendência de inclinação dentária, oriunda da
aplicação da força horizontal na coroa do dente, deve ser
neutralizada. Isso é obtido quando a proporção momento/força
produzida no braquete for igual à distãncia existente entre esse
braquete e o centro de resistência do dente. (GJESSING,1994).
Sendoassim,quando a anatomia radicular ou a quantidade de osso
alveolar ao redordo dentefor modificada, como acontecenoscasos
de pacientes com doença periodontal ou submetidos a
traumatismos dentários, o centro de resistênciairá deslocar-seao
longo do eixo dentário. Para que ocorra movimento dentário de
corpo, um dente com raiz longa requer a aplicaçãode um momento
maior para contrapor a tendência de inclinação criada pela
aplicação da força. Do mesmo modo, a perda horizontal de tecido
ósseo alveolar indica que uma maior proporção momento/força
necessita ser aplicada na coroa dentária, a fim de que ocorra
movimento de maneira controlada e eficiente. Para os dentes
anteriores unirradiculares, o centro de resistência está localizado
cerca de um terço à metade do comprimento rad!cul~r, medido
apicalmente a partir da margem óssea.Paraos dentes posteriores,
este fica localizado aproximadamente de 0,3 a 0,4 da distância da
margemósseaao ápiceradicular (KUSY;TUlLOCH,1986).
Através do método não invasivo de holografia a laser, Burstone e
Pryputniewicz (1980) estudaram o deslocamento dos elementos
dentários. Foi determinado, experimentalmente, que a inclinação
do dente com centro de rotação no ápice (inclinação controlada)
requer a aplicação de uma proporçãomomento/força de 7,1mm.Já
para o movimento de translação, foi necessária uma proporção
momento/força de 9,9mm, e para a inclinação com centro de
rotação na margem incisal (movimento radicular), uma proporção
momento/força de l1,4mm. Segundo esse estudo, o centro de
resistênciado dente,avaliado de maneiratridimensional a partir de
um modelo de incisivo central superior, foi determinado como
estando localizado no longo eixo da raiz, mais precisamentea um
terço do comprimento radicular medido apicalmente a partir da
crista ósseaalveolar.Assim,o centro deresistênciaexperimental foi
determinado como estando 9,9mm apicalmente ao braquete, no
caso de um incisivo central superior de tamanho médio com altura
normal da crista ósseaalveolar.Extrapolandoessesresultadospara
um canino superior, também de tamanho médio, seu centro de
resistência estaria localizado a 5,3mm da margem óssea. Isso
significa que esseponto estaria localizado O,9mmapicalmente ao
centro de resistência do incisivo central, o qual se encontra a 4,4
mm da margem óssea. Porém, a presença de uma coroa clínica
ligeiramente mais curta e a colagem do braquete mais
gengivalmente sugerem que a distância do braquete ao centro de
. Ortodon. Catarin., Florianópolis,
---
resistência seria similar para os incisivos centrais e os caninos
superiores.
Buckle et aI. (1987) procuraram identificar, através da técnica de
reflexão a laser,a localizaçãodos centros de resistênciadosdentes
anteriores durante a sua retração, utilizando crânios secos de
humanos. Avaliaram, separadamente,a retração dos seis dentes
ântero-superiores (caninos e incisivos), dos quatro incisivos
superiores e dos dois incisivos centrais superiores. Foi observado
um deslocamentoapical crescente quanto à localizaçãodo centro
de resistência das unidades dentárias de dois, quatro e seis
elementos. Concluíram que uma pequena diferença na proporção
momento/força é necessária para a translação das unidades
dentárias compostas pelos quatro incisivos e pelos dois incisivos
centrais superiores durante a sua retração (aproximadamente
10mm). Entretanto, para a retração em bloco dos seis dentes
anteriores, a proporção momento/força de uma alça de retração
deve ser calibrada para um valor ligeiramente maior
(aproximadamente 12,5mm), a fim de facilitar o movimento de
translação destesegmento.
Segundo Nanda (1997), as forças e momentos geradas pelos
sistemas aplicados agem nos três planos do espaço (primeira,
segundae terceira ordens),porém,o aspectomais importante a ser
analisado é o sistema de forças em vista sagital (FIG. 3). Os
componentesdessesistemadeforças sãoosseguintes:
Figura 3: Componentes do sistema de forças produzido durante
o fechamento ortodôntico de espaços.
- momento alfa: é o momento que age nos dentes anteriores
(também denominadodetorque anterior);
- momento beta: é o momento queage nosdentesposteriores;
- forças horizontais: são as forças mésio-distais que atuam nos
elementos dentários. As forças distais que agem nos dentes
anteriores são sempre iguais às forças que agem nos dentes
posteriores;
- forças verticais: sãoforças intrusivas ou extrusivasque agem nas
unidadesdentárias. Geralmente resultam de momentos diferentes
aplicados nas unidades alfa e beta. Quando o momento beta for
maior que o alfa, uma força intrusiva será aplicada nos dentes
anteriores, enquanto uma força extrusiva seráaplicada nos dentes
posteriores. Quando o momento alfa for maior que o momento
beta, forças extrusivas agem nos dentes anteriores e forças
17
v.3, n.l, p. 13-19,jan./dez. 2006
 /
intrusivas agirão nos dentes posteriores. A magnitude dessas forças
verticais é dependente da diferença existente entre os momentos Figura 5: Fechamento
de espaços em uma única etapa
alfa e beta e também da distância interbraquetes. Forças de maior
(retração em massa ou em bloco ),
magnitude são associadas com menores distâncias interbraquetes utilizando alça T de beta-titânio
(NANDA,1997). pela técnica do arco segmentado.
FECHAMENTO
DOS ESPAÇOS EM BLOCO OU EM DUAS ETAPAS
Outro aspecto importante a ser abordado é a maneira como são
fechados os espaços: em uma ou duas etapas. No fechamento dos caninos conjuntamente (NANDA, 1997).

espaços em duas etapas (FIG. 4), primeiro ocorre a retração dos
Figura 4: Fechamento
de espaços em duas
etapas através
de mecânica de deslize.
A) Retração prévia
dos caninos.
B) Retração
dos incisivos.
caninos e, posteriormente, a retração dos incisivos. Já no
fechamento dos espaços em uma etapa (FIG.5), ocorre a retração
em massa ou bloco dos seis dentes anteriores: incisivos e
Nos casos de apinhamentos severos na região anterior, com
incisivos mal alinhados ou girados, deve-se realizar a retração
prévia dos caninos, e só então a retração dos demais dentes
anteriores, a fim de propiciar maior controle da unidade de
ancoragem(FAULKNER et aI., 1989; PROFFIT,2002; SHIMIZU,
1995;TWEED,1966).
Por outro lado, nos casos de más oclusões com bom alinhamento
dental, e quando a ancoragem não for tão crítica, admite-se a
retração em massa, ou seja, simultânea de caninos e incisivos.
Nanda (1997) salienta que o fechamento de espaços em bloco pode
reduzir significativamente o tempo de tratamento. A retração
isolada do canino poderia ser realizada apenas para aliviar o
apinhamento da região anterior e, após um correto alinhamento
dos seis dentes anteriores,o fechamento em blococompletariaessa
etapa dotratamento de maneiramaisrápida.
Independéntemente do método utilizado, é de fundamental
importância para a obtenção de resultados ideais, no final do
tratamento, o controle preciso do movimentodentário durante o
fechamento de espaços, incluindo o controle da ancoragem, das
forças verticais produzidas, da posição radicular e das rotações
dentárias (KUHLBERG; BURSTONE, 1997).

CONCLUSÃO

Quando a exodontia de pré-molares está indicada para a correção
de uma determinada má oclusão, o plano de tratamento
incluir a etapa do fechamento dos espaços residuais provenientes
dessas extrações. O fechamento desses espaços requer o emprego
de forças e momentos aplicados nos segmentos anterior e posterior
do arco dentário. A fim de otimizar os resultados do tratamento,
deve ser elaborado um cuidadoso estudo sobre a mecânica a ser
utilizada. Isso irá não só reduzir o tempo de tratamento, mas
deve também evitar o aparecimento de efeitos colaterais indesejados.A
fim de se obter o máximode eficiênciaclínica,devemser aplicados
os princípios da biofísica do movimento dental durante a
mecanoterapia de fechamento de espaços, favorecendo desta
forma as respostas clinicas e histológicas induzidas pelos
dispositivosutilizados.

ABSTRACT

Space closure in Orthodontics, in particular those created by tooth extractions, still nowadays implies in some difficulties to the
orthodontists, specially because of the prolonged treatment time, patient's discomfort, pursuit of excellence in finalization and
stability of treatment. Several orthodontic appliances were developed ali along the years for space closure. These options have a lot of
variations by the source of application offorces, their designs and also by the way they control anchorage. Therefore, this paper aim to
eIucidate some technical and biomechanical aspects related to space closure mechanics, in order to optimize the results obtained at the
end ofthe orthodontic treatment.

Keywords: Orthodontic space closure. Tooth extraction. Biomechanics

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Rev. Ortodon. Catarin., Florianópolis, v.3, n.1, p. 13-19,jan./dez. 2006
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