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Resumo
O uso de aditivos incorporadores de ar na produção de compósitos de matriz cimentícia usualmente se dá
com o intuito de melhorar o desempenho destes quando submetidos a ciclos de gelo e degelo, além serem
capazes de aumentar sua fluidez e sua trabalhabilidade no estado fresco, permitindo a redução da quantidade
de água utilizada no traço. Entretanto, o ar incorporado pode ser também capaz de reduzir a absorção de
líquidos por capilaridade no material e de diminuir a conectividade de sua estrutura de vazios, produzindo
uma redução da difusibilidade de fluidos, sendo possível, deste modo, serem utilizados sem o
comprometimento da vida útil das estruturas de concreto armado. O presente estudo buscou avaliar o efeito
do uso de aditivos incorporadores de ar em baixas dosagens no avanço da frente de carbonatação, uma vez
que a velocidade com que tal fenômeno ocorre está condicionada a fatores que estão diretamente
relacionados à sua composição, às condições de exposição e às características de sua microestrutura. Neste
contexto, realizou-se o acompanhamento do avanço da frente de carbonatação e da variação do potencial
hidrogeniônico (pH) de corpos de prova (CPs) cilíndricos de argamassa com dimensão padrão de (5 x 10) cm,
dosados com três diferentes tipos de aditivos incorporadores de ar, mantendo-se, para todos os traços, o
mesmo índice de consistência normal conforme procedimento especificado na NBR 7215:1996. O traço de
referência, sem uso de aditivos, foi elaborado tomando-se como base as recomendações desta mesma
norma, adotando-se uma relação água/cimento igual a 0,48. Ensaios de caracterização da resistência à
compressão dos traços estudados, foram realizados nas idades de 3, 7 e 28 dias. Os corpos de prova,
submetidos ao ensaio de carbonatação acelerada aos 7, 14 e 28 dias, foram acondicionados em câmara de
carbonatação, tomando-se como referência os padrões normativos estabelecidos na ISO 1920-12:2015,
paralelamente à medição da variação do pH na superfície do compósito cimentício, utilizando-se equipamento
específico para este fim. Os resultados obtidos acusaram uma pequena redução na resistência à compressão
nos traços em que foram utilizados os aditivos incorporadores de ar, e uma equivalência na velocidade de
avanço da frente de carbonatação em relação ao traço de referência para um dos aditivos utilizados. Foi
possível acompanhar também a variação do pH dos CPs ao longo das idades.
Palavra-Chave: compósitos cimentícios, carbonatação acelerada, aditivos incorporadores de ar
Abstract
The use of air-entraining admixtures in production of cementitious composites matrix commonly accurs in order
to improve the performance when subjected to freezing and thawing cycles besides being able to increase its
fluidity and its workability in fresh concrete allowing water reduction in the mixture. However the incorporated
1 Introdução
O estudo dos mecanismos de deterioração das estruturas de concreto armado é uma área
de vital importância, pois, até mesmo estruturas bem projetadas e construídas, podem
desenvolver patologias ao longo de sua vida útil.
No concreto armado, as barras de aço estão protegidas da oxidação por meio da formação
de uma película passivadora quando seu pH se encontra acima de 12. Essa alcalinidade
decorre das soluções intersticiais constituídas por hidróxidos de sódio, potássio e,
principalmente, de cálcio, que é um importante produto de hidratação do cimento Portland
(DIVSHOLI e CAHYADI, 2009; PAPADAKIS e FARDIS, 1991, HELENE, 1993). A
carbonatação ocorre por meio da ação de gases de efeito ácido, principalmente o CO 2,
capazes de provocar a redução do pH da matriz cimentícia, resultando na despassivação
da armadura, favorecendo, desse modo, o início de sua corrosão.
2 Materiais e Métodos
2.1 Cimento
O cimento utilizado foi o Cimento Portland de Alta Resistência Inicial (CP V – ARI). As
propriedades químicas e físicas atendem à norma NBR 5733 (ABNT, 1991) conforme pode
ser visto nas Tabelas 1 e 2 e, também, na Figura 1.
2.2 Areia
Foram utilizados nos ensaios quatro frações de areias conforme especificado pela NBR
7214 (ABNT, 2015): areia fina, areia média fina, areia média grossa e areia grossa
(Tabela 3).
2.2 Aditivos
POWERMIX 411BR
CENTRAMENT AIR 200
CENTRAMENT AIR 202
A Tabela 4 mostra a análise química dos aditivos utilizados. Os produtos possuem a mesma
base química, porém, em concentrações e arranjos moleculares distintos.
Os aditivos Centrament Air 200 e Centrament Air 202 são utilizados para incorporar
microporos de ar (< 0,3 mm de diâmetro) em concretos e argamassas, uniformemente
distribuídos e que podem melhorar as propriedades do concreto no estado úmido e no
estado fresco. Esses aditivos podem ser utilizados para reduzir a quantidade de água
utilizada na dosagem do concreto obtendo-se a mesma trabalhabilidade. O fabricante indica
que para cada 1% de ar incorporado, necessita-se de mais 8% de cimento na pasta para
compensar a perda de resistência. A Tabela 5 apresenta os dados técnicos desses aditivos.
Tabela 5 - Dados técnicos dos aditivos Centrament Air 200 e Centrament Air 202
Característica Unidade Valor Observações
Densidade g/cm³ 1,00
Dosagem % 0,02 a 0,50 Sobre o peso do cimento
Fonte: Manual técnico MC – Linha de produtos 2016/2017 p. 59 e 61
2.3.1 Dosagem
O traço de referência (TDP), sem uso de aditivos, foi elaborado tomando-se como base as
recomendações especificadas na NBR 7215 (ABNT,1996), adotando-se uma relação
água/cimento igual a 0,48. A dosagem dos três traços com aditivos foi realizada utilizando-
se o percentual mínimo em relação à massa do cimento, recomendado pelo Manual Técnico
(2016) do fabricante, e igualando-se o índice de consistência normal dos traços com
aditivos com o do traço de referência (TPD), mantendo-se a massa do cimento constante e
fazendo-se os ajustes através da diminuição da relação água/cimento.
Para cada um dos quatro traços, foram moldados seis corpos de prova (CPs) cilíndricos,
nas dimensões (5 x 10) cm, para cada idade especificada para os ensaios de compressão
axial (3, 7 e 28 dias) e três CPs para cada idade especificada para os ensaios de
carbonatação acelerada (7, 14 e 28 dias).
O adensamento foi realizado em mesa vibratória, sendo o tempo determinado de tal forma
que a superfície ficasse lisa e brilhante (Tabela 9).
1ª camada 40 20 20 20
2ª camada 30 20 20 20
3ª camada 20 15 15 15
2.3.3 Cura
A cura dos corpos de prova foi de 28 dias, sendo 1 dia em câmara úmida, até a desforma,
e o restante em cura submersa. Para os corpos de prova destinados ao ensaio de
compressão axial, a cura foi submersa em água saturada com cal, conforme NBR 7215
(ABNT, 1996). A cura dos corpos de prova destinados aos ensaios de carbonatação
acelerada foi submersa em água potável, conforme recomendado pela ISO 1920-12 (2015)
e pela EN 12390-10 (BS, 2015).
2.3.4 Condicionamento
O pH dos corpos de prova foi medido após cada uma das seguintes etapas: desforma, 14
dias de cura, 28 dias de cura, após o precondicionamento (0 dias) e após o ensaio de
carbonatação acelerada nas idades de 7, 14 e 28 dias. Para tanto foi utilizado o
equipamento ExStik® PH150-C específico para medição quantitativa do pH (mede os íons
de hidrogênio na solução) em superfícies de materiais cimentícios.
Após a medição inicial do pH, os corpos de prova foram colocados em uma câmara de
carbonatação, modelo ThermoScientificSteri-Cult® CO2, ficando expostos a condições
estáveis de umidade relativa a (65 ± 1) %, temperatura a (28,0 ± 0,5) ºC e concentração de
dióxido de carbono (CO2) a (3,0 ± 0,1) %, até o dia previsto para a realização dos ensaios.
Em seguida foi aspergida uma solução de fenolftaleína nas faces serradas do corpo de
prova de modo a se visualizar a profundidade média da frente de carbonatação conforme
especificações da norma EN 14630 (BS, 2006).
3 Resultados e discussões
Utilizou-se o modelo Generalized Estimating Equation (GEE) para se avaliar uma possível
correlação desconhecida entre resultados, para amostras independentes. Quando o p-valor
encontrado for < 0,05, tem-se que o traço com uso de aditivo incorporador de ar em análise
é diferente do traço de referência (TDP).
Os testes mostraram que nas três idades analisadas (3, 7 e 28 dias) há diferença
significativa entre a resistência à compressão dos três traços dosados com aditivos (411BR,
A200, A202) e o traço de referência TDP (p-valor < 0,05 encontrado para todos os traços).
Conforme já era esperado o uso dos aditivos incorporadores de ar, mesmo em baixas
dosagens, provocou uma redução na resistência à compressão dos traços. Observa-se
uma redução média em torno dos 10%.
3.2 Medições de pH
Nota-se, de modo geral, uma redução do valor do pH até os 14 dias de cura, havendo uma
inversão dessa tendência no restante do período analisado. Essa observação sugere que
uma cura prolongada dos compósitos cimentícios favorece a manutenção do pH do corpo
de prova. Observa-se que a queda do pH não seria detectada com a utilização da solução
de fenolftaleína pois, todos os valores se encontram acima da faixa de viragem deste
indicador, mostrando assim, a utilidade do acompanhamento do processo por meio da
sonda específica para medição quantitativa do pH em superfícies de materiais cimentícios.
A variação do pH ao longo do ensaio de carbonatação acelerada pode ser vista nas Figuras
4 e 5, onde são mostrados o pH médio externo, obtido da média dos valores encontrados
no topo e na base dos CPs, e o pH médio interno, medido no centro dos corpos de prova
após serem cortados transversalmente na metade de sua altura. A Tabela 11 mostra a
média dos valores de pH medidos nas faces externas dos CPs e sua variação percentual
(%) em relação aos valores obtidos para o traço padrão.
A Tabela 12 mostra images da seção dos corpos de prova nas idades de 7, 14 e 28 após
asperção de uma solução de fenolftaleína de modo a se visualizar a profundidade média
da frente de carbonatação conforme especificações da norma EN 14630 (BS, 2006).
TPD-0,48
0 mm 0 mm 1,68 mm
A202-0,45
0 mm 0 mm 1,62 mm
A200-0,47
0 mm 1,80 mm 2,63mm
411BR-0,44
0 mm 0 mm 2,42mm
Figura 4 - Boxplot para distribuição da profundidade de carbonatação dos CPs aos 28 dias (milímetros)
O boxplot identifica onde estão localizados 50% dos valores mais prováveis, a mediana e
os valores extremos. Os resultados indicam que o menor valor médio da profundidade de
carbonatação foi encontrado para o traço A202, que foi 3% inferior ao do traço de referência
(TDP). Os traços 411BR e A200 apresentaram valores da profundidade de carbonatação
44% e 57% superiores ao traço TDP, respectivamente.
A comparação dos traços com aditivos em relação ao traço de referência (TDP) mostrou
que apenas a profundidade de carbonatação encontrada para o traço A202 não pode ser
considerada diferente do traço TDP (p-valor igual a 0,822).
Tal constatação mostra que o simples aumento do volume de vazios na matriz cimentícia
causado pelo uso de aditivos incorporadores de ar, não implica, necessariamente, em um
aumento na conectividade entre estes e, consequente, na difusibilidade de fluidos no
material. Deste modo, os resultados sugerem que é possível utilizar aditivos incorporadores
de ar em baixas dosagens sem o comprometimento da vida útil das estruturas de concreto
armado quando submetidos a exposições atmosféricas adversas.
4 Conclusão
Conforme esperado, o uso dos aditivos incorporadores de ar, mesmo em baixas dosagens,
provocou uma redução na resistência à compressão dos traços em consequência do
aumento no volume de vazios, apesar da redução da relação água/cimento nos traços com
aditivos, decorrente da busca de Índices de Consistência semelhantes à do traço TDP.
Observou-se uma redução média da resistência à compressão em torno dos 10%.
Nos CPs submetidos ao ensaio de carbonatação acelerada, foi identificada uma grande
queda no valor do pH externo, medido em seu topo e sua base, já aos 7 dias de ensaio de
carbonatação acelerada, mas, novamente, a fenolftaleína só identificou o avanço na frente
de carbonatação aos 14 e 28 dias. O pH interno dos quatro traços estudados não
ANAIS DO 59º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2017 – 59CBC2017 15
apresentou grandes variações ao longo dos ensaios de carbonatação acelerada,
permanecendo sempre próximo de 13.
A comparação dos traços com aditivos em relação ao traço de referência (TDP), utilizando-
se o modelo estatístico Generalized Estimating Equation (GEE), mostrou que apenas a
profundidade de carbonatação encontrada para o traço A202 não pode ser considerada
diferente do traço TDP (p-valor igual a 0,822). Os resultados indicaram que o menor valor
médio da profundidade de carbonatação foi encontrado para o traço A202, que foi 3%
inferior ao do traço de referência (TDP). Os traços 411BR e A200 apresentaram valores da
profundidade de carbonatação 44% e 57% superiores ao traço TDP, respectivamente.
Tal constatação mostra que o simples aumento do volume de vazios na matriz cimentícia,
causado pelo uso de aditivos incorporadores de ar, não implica, necessariamente, em um
aumento na conectividade entre estes e, consequente, na difusibilidade de fluidos no
material. Deste modo, os resultados sugerem que é possível utilizar aditivos incorporadores
de ar em baixas dosagens sem o comprometimento da vida útil das estruturas de concreto
armado quando submetidos a exposições atmosféricas adversas.
5 Agradecimentos
6 Referências
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5733 /EB-2: Cimento
Portland de alta resistência inicial. Rio de Janeiro, 1991.
DRANSFIELD, J. Admixtures for concrete, mortar and grout. In: NEWMAN, J.; CHOO,
B. S. (Ed.) Advanced Concrete Technology. Oxford: Butterworth-Heinemann, 2003, v. 3, p.
3-36.
KROPP, J.; Hilsdorf, H. K.; Grube, H.; Andrade, C. y Nilsson, L. O. (1995). Transports
mechanisms and definitions. RILEM - Tech. Committee 116-PCD - Perfomance Criteria
for Concrete Durability. Rep.12, Ed. J. Kropp y H. K. Hilsdorf, E & FN Spon, pp. 4-14.
Manual Técnico Linha de Produtos 2016/2017, 1ª Edição. MC Bauchemie Brasil, São Paulo,
2016.