O documento discute como o surrealismo influenciou a composição dos poemas de Murilo Mendes, especialmente "Cantiga de Malazarte". Embora o surrealismo tenha se desenvolvido principalmente na Europa, artistas brasileiros como Mendes incorporaram seus princípios, como o uso de imagens fragmentadas e insólitas. No poema analisado, imagens aproximam elementos dispares como o eu e o mundo, o relevante e o irrelevante, e o mundano e o sagrado.
Descrição original:
A relevância da estética surrealista no processo de composição dos poemas de Murilo Mendes, em específico no poema “Cantiga de Malazarte”, que abarca fortes traços desse movimento artístico e literário.
Título original
Análise de Eli Dias sobre a relevância da estética surrealista no processo de composição dos poemas de Murilo Mendes.
O documento discute como o surrealismo influenciou a composição dos poemas de Murilo Mendes, especialmente "Cantiga de Malazarte". Embora o surrealismo tenha se desenvolvido principalmente na Europa, artistas brasileiros como Mendes incorporaram seus princípios, como o uso de imagens fragmentadas e insólitas. No poema analisado, imagens aproximam elementos dispares como o eu e o mundo, o relevante e o irrelevante, e o mundano e o sagrado.
O documento discute como o surrealismo influenciou a composição dos poemas de Murilo Mendes, especialmente "Cantiga de Malazarte". Embora o surrealismo tenha se desenvolvido principalmente na Europa, artistas brasileiros como Mendes incorporaram seus princípios, como o uso de imagens fragmentadas e insólitas. No poema analisado, imagens aproximam elementos dispares como o eu e o mundo, o relevante e o irrelevante, e o mundano e o sagrado.
Nesta etapa da análise, iremos discorrer sobre a relevância da estética surrealista no
processo de composição dos poemas de Murilo Mendes, em específico no poema “Cantiga de Malazarte”, que abarca fortes traços desse movimento artístico e literário. No Brasil, não houve propriamente Surrealismo como houve na Europa, mas é sabido que alguns artistas incorporaram pressupostos do movimento em seus métodos de composição. É o caso de Murilo Mendes que, conforme explica Marcondes de Moura (1994, p.119), “dialogou de modo declarado com uma das principais vertentes da modernidade: o surrealismo”. Esse surrealismo em Murilo Mendes não se configura como escrita automática, da maneira em que ficou conhecida a produção artística do grupo de André Breton, na França. No entanto, o caráter fragmentário de sua escrita associa-se fortemente com a experiência do registro imediato da imaginação. O efeito poético dessa fragmentação foi descrito por Marcondes como “o aparente esgarçamento da composição” (1994, p. 105). Isso quer dizer que a uma ordenação lógica dos elementos semânticos do poema Murilo prefere uma articulação ilógica, segundo um modo de funcionamento das narrativas oníricas. Para o sentido do poema, o ilogismo significa um ataque proposital ao mundo real ordenado como é. No poema “Modinha do Empregado de Banco”, a força da imaginação ameaça colocar em xeque o mundo trivial dos negócios, assim como a chuva, elemento natural que precipita sobre as coisas, molha e modifica a figura rígida e onipotente de Floriano Peixoto. Além do fragmentário, o surrealismo legou as aproximações insólitas de elementos que não coexistem ou convivem na realidade. São imagens que brotam do choque de coisas muito diferentes ou opostas. Pode-se observar a construção do insólito imagético no poema “Cantiga de Malazarte” adaptando o que Marcondes de Moura faz em relação ao poema de Murilo “Aproximação do terror”. Neste, o autor diz que “convivem sem mediações explicativas o maior e o menor, o artificial e o natural, o construtivo e o destrutivo, o presente, o passado e o fututo”. (MOURA, 1994, p.107). Em “Cantiga de Malazartes” as aproximações podem ser descritas da seguinte forma: o eu e o mundo, o relevante e o irrelevante, o mundano e o sagrado. A relação entre o eu e o mundo é verificada nas imagens do “olhar que penetra nas camadas do mundo”, no “andar de baixo da pele”, no ato de destelhar “as casas penduradas na terra” e na rua que “estala com meus passos”. Tudo isso indica a abertura sensível do eu-lírico às impressões do mundo físico. Já o paralelo entre o relevante e o irrelevante traduz-se pelas imagens do “herói vagabundo”, o personagem Malazarte, e pelo “soldado vencido”, ambos dignificados pelo eu-lírico, que se considera ser o próprio amor, quem é capaz também de “cumprimentar os gatos” e “pedir desculpas ao mendigo”. Aprofundando o choque de elementos dessemelhantes, é no confronto entre o mundano e o sagrado que o poema concentra a imagem de um eu-lírico espirituoso “que assiste à Criação” sem deixar de abrir mão de sua consciência mundana; por isso ele olha, anda, “toca nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos”, tira “o cheiro dos corpos das meninas sonhando” e “bole em todas as almas que encontra”. Portanto, o insólito das imagens assim como o fragmentário resultante da apreensão do inconsciente são traços surrealistas importantes no processo de composição de grande parte dos poemas da obra “Poemas” e conferem a eles um sentido particular de embate entre o universo da imaginação e a realidade cruel do mundo concreto.
Referências Bibliográficas:
MOURA, Murilo Marcondes de. Os jasmins da palavra jamais. In BOSI, Alfredo. (Org.) Leitura de poesia. São Paulo: Ática, 1996.p.101-125.