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Primeira Parte: Métodos para a construção de textos jurídicos: raciocínio jurídico para artigos,

monografias, dissertações e teses.

Objetivo é permitir que a argumentação jurídica dimane da primeira palavra de um trabalho até
a última; por conseguinte, será importante costurar um fio condutor nítido que possa guiar
qualquer leitor, apresentando-lhe permanentemente, ao longo de sua leitura, a lógica da
construção do texto.

Capítulo 1 – Os problemas identificados na construção da argumentação jurídica

Um método é sempre embasado no valor que lhe conferimos: importante ou supérfluo; útil ou
inútil; merecedor de dedicação e de tempo ou não. É o valor dado ao método na construção da
argumentação jurídica que determina a qualidade do raciocínio jurídico.

O raciocínio é o pensamento, enquanto a argumentação é a forma convincente – e, até certo


ponto, a arte -, de apresentar o pensamento. Ambos devem ser valorizados, e um problema
inerente a um conduz à fraqueza do outro. Nesse sentido, é possível identificar um problema
por um lado estrutural (I) e por outro substancial (ii) no método da construção da argumentação
jurídica: ambos enfraquecem o raciocínio jurídico.

I. Um problema estrutural na argumentação jurídica

O problema estrutural deve ser entendido como um problema na organização do


pensamento e no tratamento dos argumentos. A ordem na argumentação reflete a ordem no
pensamento.

Alguns problemas são constatados na construção dos textos jurídicos (A), os quais impedem
um tratamento completo e rigoroso do assunto que está sendo estudado (B).

A. Os problemas na construção dos textos

Uma explicação conceitual do problema (i) antecederá a ilustração deste e poderá ser
observada como nesse processo, a capacidade de argumentar, sacrificada e avassalada pela
mera vontade ou pelo hábito de escrever (ii)

(i) A explicação conceitual do problema

O método reflete a clareza do pensamento; a forma espelha a substância. Dessa


forma, um trabalho desarticulado revela um pensamento e uma argumentação,
ambos, incompletos, sem fio condutor palpável. Isto se verifica quando a lógica da
estrutura do trabalho não é costurada de forma a erguer uma argumentação sólida,
rigorosa, organizada, com um início e um fim, e com uma coerência evidente entre
o início e o fim.
Não há uma articulação e tampouco existe uma ligação entre os diferentes
argumentos salientados nas várias partes do trabalho. Nesse caso, cada parte –
cada capítulo, por exemplo -, é completamente independente das outras, o que
deixa a impressão de haver várias teses independentes e uma tese defendida.
Observa-se esse fenômeno quando o trabalho contém uma grande parte descritiva
e uma opinião analítica tênue – o que, no final, enfraquece o poder argumentativo
do texto. A mera e pura descrição em um trabalho jurídico é uma facilidade
metodológica. Alguns exemplos clarificarão e ilustrarão, a seguir, essas
informações e constatações.
(ii) A ilustração do problema: um método que incita à descrição

Considerando esse assunto: a proteção do meio ambiente pelos direitos humanos,


eis dois modelos de construção de textos que aparecem frequentemente:

Modelo 1:
1. A proteção do meio ambiente
2. Os princípios dos Direitos Humanos
3. A proteção do meio ambiente pelos Direitos Humanos

Modelo 2:
1. A proteção do meio ambiente sob uma perspectiva histórica
2. Os princípios jurídicos da proteção do meio ambiente
3. Os princípios dos Direitos Humanos
4. A proteção do meio ambiente pelos direitos humanos

Ambos os modelos apresentam três passos ao lidar com o assunto. O primeiro


é uma parte histórica do assunto; o segundo é uma parte conceitual e de
definição; o terceiro repete o capítulo do assunto a tratar. É um método adotado
em muitos trabalhos. Contudo, não é um método que convence. Não convence,
pois, essa forma de pensar um texto oferece às vezes um trabalho muito
descritivo; o trabalho peca por ser descritivo, seja ao apresentar uma parte
histórica sistemática (1), seja ao exagerar na descrição dos conceitos (2).

(1) A parte histórica como capítulo meramente descritivo


(2) A redundância da descrição conceitual

B. Um método que impede o tratamento completo e rigoroso do assunto


II. Um problema substancial

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