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DIPLOMACIA APLICADO

PORTUGUÊS

Texto I: Eros e Psique


Fernando Pessoa
(...)
1 CONTA A LENDA que dormia 3 Ela para ele é ninguém.
Uma Princesa encantada Mas cada um cumpre o Destino –
A quem só despertaria Ela dormindo encantada,
Um Infante, que viria Ele buscando-a sem tino
De além do muro da estrada. Pelo processo divino
Ele tinha que, tentado, Que faz existir a estrada.
Vencer o mal e o bem, E, se bem que seja obscuro
Antes que, já libertado, Tudo pela estrada fora,
Deixasse o caminho errado E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
2 Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera. 4 Chega onde em sono ela mora.
Sonha em morte a sua vida, E, inda tonto do que houvera,
E orna-lhe a fronte esquecida, À cabeça, em maresia,
Verde, uma grinalda de hera. Ergue a mão, e encontra hera,
Longe o Infante, esforçado, E vê que ele mesmo era
Sem saber que intuito tem, A Princesa que dormia.
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado. (PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1983.)

Texto II: Eros e Psique

Segundo o mito grego, Eros e Psique viviam apaixonados em um palácio encantado, mas, para que fossem felizes,
Eros impunha a Psique uma única condição: que ela nunca tentasse conhecê-lo. Por isso, sempre se encontravam à noite.
Pensando ter casado com um monstro, enquanto Eros dormia, Psique acendeu uma lamparina com a intenção de iluminá-lo e
encantou-se com a beleza sem par do companheiro. Ao se inclinar, contudo, deixou uma gota de óleo quente da lamparina
queimar o amado. Acordado pela dor, Eros percebeu-se traído e, com tristeza, despediu-se de Psique para não mais retornar.
In: www.klickeducacao.com.br/.../0,7562,POR-17919-28-39-2007,00.html

Questão 01
Julgue os itens a seguir, considerando as ideias e as estruturas dos textos I e II.

I. Embora os textos I e II exemplifiquem diferentes gêneros, pode-se afirmar que o tipo textual é o mesmo, visto que apresentam
os elementos narrativos básicos.
II. Pode-se afirmar que os textos I e II apresentam concepções diferentes acerca do relacionamento entre Eros e Psique: no
primeiro, os dois seres mitológicos convergem para a unicidade; no segundo, eles afastam-se sem retorno.
III. Depreende-se do texto I que o elemento que promove a dedução acerca de o infante e a princesa encantada comporem a
mesma pessoa é a grinalda de hera.
IV. Pode-se afirmar que, em ambos os textos, Psique não conhecia Eros, o que pode ser comprovado pelo verso “Ele dela é
ignorado.” (texto I - 2ª estrofe) e pelo trecho “Eros impunha a Psique uma única condição: que ela nunca tentasse conhecê-
lo.” (texto II).

Questão 02
Considerando o sentido dos textos I e II e a correção gramatical, julgue os itens abaixo.

I. Os versos “Ela dormindo encantada, / Ele buscando-a sem tino” (3ª estrofe) retomam e ampliam o conteúdo semântico da
palavra “Destino”, empregada em verso anterior.
II. A locução conjuntiva “se bem que”, em “E, se bem que seja obscuro / Tudo pela estrada fora, / E falso, ele vem seguro,”
(3ª estrofe), retifica a antítese que relaciona o espaço da narrativa e o protagonista.
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III. No trecho “Eros e Psique viviam apaixonados em um palácio encantado” (texto II), além do sujeito composto e do verbo,
podem ser identificados dois predicativos, que expressam o estado do substantivo a que se referem.
IV. Também atenderia à prescrição gramatical a reescrita do trecho “Psique acendeu uma lamparina com a intenção de
iluminá-lo” como Psique acendeu uma lamparina com a intenção de o iluminar.

Questão 03
Com base nos aspectos relativos às palavras QUE e Se presentes nos textos I e II, julgue as assertivas abaixo.

I. Em “Por isso, sempre se encontravam à noite.” (texto II), o pronome “se” é reflexivo, com valor de reciprocidade, e,
sintaticamente, exerce função de objeto indireto.
II. Os pronomes destacados no período “Acordado pela dor, Eros percebeu-se traído e, com tristeza, despediu-se de
Psique para não mais retornar.” (texto II) são classificados como parte integrante do verbo, sem função sintática.
III. No último verso do texto I, “A Princesa que dormia.”, a palavra “que” é pronome relativo e inicia oração que restringe o
sentido do termo antecedente.
IV. No fragmento “Eros impunha a Psique uma única condição: que ela nunca tentasse conhecê-lo.” (texto II), a conjunção
“que” é integrante e introduz oração com valor apositivo.

Texto III: O chá, os fantasmas, os ventos encanados...


Mário Quintana

1 Nasci no tempo dos ventos encanados, quando, para evitar compromissos, a “gente bem” dizia estar com enxaqueca, palavra
horrível mas desculpa distinta. Ter enxaqueca não era para todos, mas só para essas senhoras que tomavam chá com o dedo
mindinho espichado. Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não dava opinião) por
que é que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no dedo...
2 Também se falava misteriosamente em “moléstias de senhoras” nos anúncios farmacêuticos que eu lia. Era decerto uma
coisa privativa das senhoras, como as enxaquecas, pois as criadas, essas, não tinham tempo para isso. Mas, em compensação,
me assustavam deliciosamente com histórias de assombrações. Nunca me apareceu nenhuma.
3 Pelo visto, era isso: nunca consegui comunicar-me com este nem com o outro mundo. A não ser através d’O tico-tico e da
poesia de Camões, do qual até hoje me assombra este verso único: “Que o menor mal de tudo seja a morte!” Pois a verdadeira
poesia sempre foi um meio de comunicação com este e com o outro mundo.
Mario Quintana: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

Questão 04
Considerando o sentido do texto e seus aspectos linguísticos, julgue os itens abaixo.

I. É possível depreender do texto que, por apreciar histórias de assombração, o que pode ser constatado no trecho “me
assustavam deliciosamente com histórias de assombrações.” (2° parágrafo), o narrador lamenta nunca ter visto alguma.
II. É possível inferir que a oração destacada em “Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo” (1° parágrafo) tem
sua justificativa expressa no trecho “menino, naqueles tempos, não dava opinião”, que foi colocado entre parênteses, por
ser um comentário de natureza particular.
III. Em “Ter enxaqueca não era para todos, mas só para essas senhoras que tomavam chá com o dedo mindinho
espichado.” (1º parágrafo), a retirada da conjunção “mas” não acarretaria mudanças semânticas significativas na frase em que
se encontra.
IV. O emprego das reticências no trecho “por que é que elas não usavam, para cúmulo da elegância, um laçarote azul no
dedo...” (1º parágrafo) pode ser justificado por motivo estilístico, a fim de indicar que a reflexão do autor não se completa com
o término da frase.

Questão 05
Com base nos aspectos coesivos do texto III, julgue as afirmativas abaixo.

I. Pode-se afirmar que o emprego do pronome demonstrativo “isso”, no trecho “Pelo visto, era isso: nunca consegui
comunicar-me” (3º parágrafo), não atende à prescrição gramatical, devendo ser substituído pelo pronome isto.
II. Considerando as passagens “comunicar-me com este nem com o outro mundo” e “até hoje me assombra este verso
único” (ambos do 3º parágrafo), verifica-se que os pronomes sublinhados exemplificam estratégias coesivas distintas, estando
ambos corretamente empregados.
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III. No segundo parágrafo, no trecho “Mas, em compensação, me assustavam deliciosamente com histórias de
assombrações. Nunca me apareceu nenhuma.”, identifica-se, mais de uma vez, o emprego do mecanismo de coesão textual
conhecido como elipse, o qual serve para se evitarem repetições desnecessárias.
IV. Verifica-se que, no excerto “Quando eu via aquilo, ficava a pensar sozinho comigo (menino, naqueles tempos, não
dava opinião)” (1º parágrafo), os pronomes sublinhados têm função dêitica, uma vez que se referem a elementos extratextuais.
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GABARITO:

1. CCCC
2. CEEC
3. EECC
4. ECCC
5. CCCE

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