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TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL:
UM CAMPO HISTORICAMENTE
CONTESTADO

Os estudos organizacionais têm ori- para a transformação das irracionalidades


gens históricas nos escritos de pensadores humanas em comportamentos racionais
do século XIX, como Saint-Simon, que ten- (Wolin, 1961 : 378-383).
taram antecipar e interpretar as nascentes Assim, as raízes históricas dos estudos
transformações ideológicas e estruturais organizacionais estão profundamente inse-
geradas pelo capitalismo industrial (Wolin, ridas em um conjunto de trabalhos que ga-
1961). A modernização instigada pelo des- nhou expressão a partir da segunda metade
pertar do capitalismo trouxe mudanças eco- do século XIX, e que antecipava de forma
nômicas, políticas e sociais, que criaram um confiante o triunfo da ciência sobre a políti-
mundo fundamentalmente distinto daque- ca, bem como a vitória da ordem e do pro-
le em que imperavam as formas de produ- gresso coletivos concebidos racionalmente
ção e administração em pequena escala, tí- acima da recalcitrância e irracionalidade
picas das primeiras fases do desenvolvimen- humanas (Reed, 1985).
to capitalista do século XVIII e princípio do O crescimento de uma "sociedade
século XIX (Bendix 1974). Entre o fim do organizacional" representou um avanço
século XIX e o início do século XX, as gran- inexorável da razão, liberdade e justiça e
des unidades organizacionais difundiram- da possibilidade de erradicação da ignorân-
se amplamente, dominando as esferas eco- cia, coerção e pobreza. As organizações fo-
nômica, social e política, à medida que a ram racionalmente projetadas para resolver
crescente complexidade e intensidade da
atividade coletiva inviabilizavam a coorde-
nação personalizada e direta, e assim exigi-
am incrementos de capacidade administra-
tiva (Waldo, 1948). De fato, a ascensão do
"estado administrativo" simbolizou um novo
modo de organização da sociedade, em que

Tradução: Jader Cristino de Souza Silva e Marcos


Cerqueira Lima.
Revisão Técnica: Frederico Guanais, Marcos
Cerqueira Lima e Tânia Fischer.
a natureza humana foi transformada pela
organização racional e científica:
Organização como forma de poder
- esta foi a lição ensinada por Saint-Simon.
A nova ordem seria regida não mais por
homens, mas por "princípios científicos"
baseados na "natureza das coisas", e por-
tanto absolutamente independente da
von-
tade humana. Dessa forma, a promessa da
sociedade organizacional era o predomí-
nio das leis científicas sobre a subjetivida-
de humana, o que levaria ao desapareci-
mento completo do elemento político. (...)
[a organização] é o "grande instrumento"
2 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

conflitos permanentes entre as necessidades no debate sobre a natureza da organização


coletivas e as vontades individuais que vi- e quais os meios intelectuais mais adequa-
nham obstruindo o progresso social desde dos ao seu estudo (Reed e Hughes, 1992).
os dias da Grécia Antiga (Wolin, 1961). As Fundamentar-se em pressupostos de que
organizações garantiam a ordem social e a qualidades racionais e éticas são inerentes
liberdade pessoal pela combinação entre à organização moderna é algo cada vez mais
processos decisórios coletivos e interesses contestado por vozes alternativas que criti-
individuais (Storing, 1962), por meio de um cam radicalmente a objetividade e bonda-
projeto de bases científicas em que estrutu- de "naturais" das organizações (Cooper e
ras administrativas subjugassem os interes- Burrell, 1988). Se textos publicados nos
ses sectários aos objetivos coletivos institu- anos 50 e princípio dos 60 esbanjavam
cionalizados. O conflito perene entre "socie- autoconfiança na "identidade intelectual e
dade" e "indivíduo" seria permanentemen- racionalismo" de sua "disciplina" (Cf. Haire,
te superado. Enquanto Hegel fez uso da 1960; Argyris, 1964; Blau e Scott, 1963),
dialética histórica para erradicar o conflito nos trabalhos dos anos 80 e 90, predomi-
social (Plant, 1973), os teóricos organi- nam expectativas incertas, complexas e con-
zacionais depositavam sua fé na organiza- fusas sobre a natureza e o mérito dos estu-
ção moderna como a solução universal para dos organizacionais.
o problema da ordem social. Em termos kuhnianos, vivemos em
uma fase de ciência "revolucionária", não
Os organizacionistas viam a socie-
mais em uma fase de ciência "normal"
dade como um arranjo de funções, uma
construção utilitária de atividades (Kuhn, 1970). A ciência normal é domina-
integra- da pela atividade de resolver problemas e
das, ou um meio de focalizar as energias por programas de pesquisa incrementai, re-
humanas em um esforço combinado. En- alizados com base em modelos teóricos
quanto o símbolo de comunidade era a amplamente aceitos e fortemente institu-
fraternidade, o símbolo de organização cionalizados (Lakatos e Musgrave, 1970).
era Já a ciência revolucionária ocorre quando
o poder... organização significa um méto-
do de controle social, um meio de impor
ordem, estrutura e uniformização à socie-
dade (Wolin, 1961 : 343-344).
No entanto, com a compreensão
conferida pela perspectiva histórica do fi-
nal do século XX, o estudo e a prática de
organizações já são muito diferentes de an-
tes. As primeiras metanarrativas que trata-
vam da ordem coletiva e liberdade indivi-
dual por meio da organização racional e do
progresso material foram fragmentadas e
dispersas em uma grande diversidade de
"discursos" sem nenhuma força moral ou
coerência analítica (Reed, 1992). A prome-
tida garantia de progresso material e social
por meio do incremento tecnológico contí-
nuo, da organização moderna e da admi-
nistração científica hoje em dia parece cada
vez mais distante. Tanto a efetividade téc-
nica quanto a virtude moral das organiza
ções "formais" ou "complexas" são questio-
nadas por transformações intelectuais e
institucionais que estão levando-nos à frag-
mentação social, à desintegração política e
ao relativismo ético. Quem entre nós pode
dar-se ao luxo de ignorar aquilo que Bauman
chama de "padrões de ação tecnológico-bu-
rocráticos modernos e a mentalidade que
estes institucionalizam, geram, sustentam e
reproduzem" (1989 : 75), e que consistiram
nos alicerces psicossociais e nas precon-
dições organizacionais para o Holocausto?
Em suma, os estudiosos de organiza-
ção contemporâneos encontram-se numa
posição histórica e num contexto social em
que as "certezas" ideológicas e os "remen-
dos" técnicos que outrora eram o suporte
de sua "disciplina" estão sendo questiona-
dos e aparentemente já começam a recuar
TEORIZAÇAO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO

ticas e os discursos éticos que moldaram seu


-------------------------------------------------------------- desenvolvimento e legitimaram sua essên-
os "pressupostos comuns" sobre o objeto de cia (Reed, 1992; Willmott, 1993). Tais abor-
estudo, os modelos de interpretação e o pró- dagens questionam tanto o retorno às ori-
prio conhecimento estão expostos a crítica gens quanto a celebração irrestrita da des-
e reavaliação contínuas (Gouldner, 1971). continuidade e diversidade: nem a adesão
A pesquisa e a análise são moldadas pela à onda relativista nem o recuo aos porões
busca de anomalias e contradições dentro da ortodoxia parecem futuros atraentes para
de um modelo teórico prevalecente, geran- o estudo das organizações. O primeiro pro-
do uma dinâmica intelectual interna de con- mete liberdade intelectual ilimitada, mas ao
flitos teóricos. Significa que tal disciplina é custo do isolacionismo e da fragmentação;
avassalada por conflitos internos e desacor- o segundo recai em um consenso antiqua-
dos sobre fundamentações ideológicas e do, sustentado por constante vigilância e
epistemológicas; seus vários defensores ha- controle intelectuais.
bitam e representam "mundos" paradigmá- Este capítulo adota a terceira via. Seu
ticos diferentes, entre os quais a comunica- objetivo é reconstruir a história do desen-
ção, e muito menos a mediação, tornam-se volvimento intelectual da teoria organiza-
impossíveis (Kuhn, 1970; Hassard, 1990). cional de forma a balancear contexto social
A fragmentação e a descontinuidade tor- com idéias teóricas, bem como condições
nam-se as características predominantes da estruturais com inovação conceituai. Essa
identidade e da rationale do campo de es- forma de pensar oferece a possibilidade de
tudos, ao invés da estabilidade e coesão que redescobrir e renovar um senso de visão
caracterizam a "ciência normal" (Willmott, histórica e de sensibilidade contextual que
1993). dão crédito tanto à "sociedade" quanto às
Uma forte estratégia de reação ao im- "idéias". A história dos estudos organizacio-
pacto divisor resultante da quebra com a nais e a maneira como essa história é conta-
ortodoxia funcionalista/positivista é a bus- da não são representações neutras do que
ca nostálgica das certezas do passado e do
conforto consensual que elas garantiam
(Donaldson, 1985). Essa "reação conserva-
dora" pode também requerer um consenso
político rigidamente imposto e vigiado den-
tro do campo, com o fim de reparar o teci-
do intelectual danificado por décadas de
lutas internas e restabelecer a hegemonia
teórica de determinado paradigma de pes-
quisa (Pfeffer, 1993). Tanto a forma "nos-
tálgica" quanto a "política" de conserva-
dorismo têm por objetivo resistir às tendên-
cias centrípetas desencadeadas pela luta
intelectual e promover o retorno à ortodo-
xia teórica e ideológica. Uma combinação
robusta de "volta às raízes" e "imposição
paradigmática" pode ser uma opção bastan-
te atrativa para aqueles que se sentiram per-
turbados pela fermentação intelectual que
ocorre nos estudos organizacionais.
Ao invés da "imposição paradigmá-
tica", outros acadêmicos buscam a "prolife-
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ração paradigmática" por meio do desen-


volvimento intelectual separado e do estí-
mulo a abordagens distintas dentro de do-
mínios diferentes, que não foram contami-
nados pelo contato com as perspectivas com-
petitivas (Morgan, 1986; Jackson e Carter,
1991). Essa reação à mudança so-
cial e sublevação intelectual fornece susten-
tação teórica para "experimentações lúdicas
sérias" em estudos organizacionais, nos
quais a ironia e humildade do pós-moder-
nismo substituem as obviedades sagradas
que caracterizam o modernismo racional,
incapaz de perceber que "a verdade objeti-
va não é o único caminho possível" (Gergen,
1992).
Se nem o conservadorismo, nem o
relativismo agradarem, uma terceira opção
é recontar a história da teoria organizacional
de forma a redescobrir as narrativas analí-
I4 PARTE 1 - MODELOS DE ANÁLISE ________________________________

se conseguiu no passado. De fato, qualquer contexto histórico e que está voltada para a
processo de reconstrução histórica que pre- construção e mobilização de recursos ide-
tenda servir de base às visões do presente e ais, materiais e institucionais para legitimar
do futuro é, na verdade, uma interpretação certos conhecimentos e os projetos políti-
controversa e contestada que sempre pode- cos que deles derivam. O debate teórico está
rá ser refutada. Portanto, o objetivo deste inserido em contextos intelectuais e sociais
capítulo é mapear a teoria da organização que têm um efeito crucial na forma e no
como um campo de conflitos históricos em conteúdo das inovações conceituais especí-
que diferentes línguas, abordagens e filoso- ficas, à medida que estas lutam com o obje-
fias lutam por reconhecimento e aceitação. tivo de obter aceitação dentro da comuni-
A próxima seção examina a criação e dade em geral (Clegg, 1994; Thompson e
o desenvolvimento da teoria em estudos McHugh, 1990). Como afirma Bendix, "um
organizacionais como uma atividade inte- estudo das idéias como armas para a gestão
lectual que está necessariamente envolvida de organizações poderia proporcionar um
com o contexto social e histórico em que melhor entendimento das relações entre
ela é criada e recriada. O capítulo então idéias e ações" (1974 : xx).
examinará seis modelos interpretativos que Isto não significa, contudo, que não
estruturaram o desenvolvimento do campo existam bases coletivas reconhecidas que
ao longo do último século, bem como os possam ser utilizadas para a avaliação de
contextos histórico-sociais em que eles atin- conhecimentos contraditórios. Em qualquer
giram certo grau de predominância intelec- momento histórico, os estudos organiza-
tual (sempre sujeita a contestação). A pe- cionais sempre foram constituídos por linhas
núltima seção considera as exclusões ou comuns de debate e diálogo, que estabele-
omissões mais significativas que se eviden- ceram os limites intelectuais e oportunida-
ciam nessas principais tradições narrativas. des para julgamento de novas contribuições.
O capítulo é concluído com uma avaliação O julgamento coletivo de novos e velhos tra-
de desenvolvimentos intelectuais futuros,
contextualizados dentro das formas narra-
tivas previamente esboçadas.

A ORGANIZAÇÃO DA TEORIA

Essa concepção de teorização organi-


zacional é baseada na visão de Gouldner de
que tanto o processo quanto o produto da
teoria devem ser vistos como um "processo
de ação e criação realizado por pessoas num
período histórico específico" (1980 : 9). A
análise e o debate sobre organizações e o
organizar com base em informações teóri-
cas são resultados de uma combinação pre-
cária de visão individual com produção téc-
nica situada dentro de um contexto históri-
co-social dinâmico. Como tal, a criação teó-
rica tem a responsabilidade de subverter
convenções institucionalizadas e petrifica
das em ortodoxias aceitas sem reflexão e que
portanto nunca poderão caber inteiramen-
te em modelos cognitivos e parâmetros
conceituais estabelecidos. Contudo, a pro-
babilidade de que iniciativas teóricas espe-
cíficas sejam convertidas em "mudanças de
paradigmas conceituais" mais significativas
depende muito de seu impacto cumulativo
nas comunidades e tradições intelectuais
que as mediam e recebem (Willmott, 1993).
Dessa forma, ao passo em que a criação te-
órica é sempre potencialmente subversiva
do status quo intelectual, seu impacto é sem-
pre atenuado por meio das relações conhe-
cimento/poder existentes e pela "recep-
tividade contextual", que é conferida a de-
senvolvimentos intelectuais específicos sob
condições histórico-sociais particulares
(Toulmin, 1972).
Em suma, a criação de uma teoria é
uma prática intelectual situada em dado
rEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 5

balhos é feito com base em regras e normas va científica" (Thompson, 1978 : 205-206).
negociadas, das quais emergem um voca- Assim, a teoria organizacional é sujeita a
bulário e uma gramática da análise orga- procedimentos metodológicos comuns, mas
nizacional. Essa "racionalidade fundamen- que podem ser revisados, por intermédio dos
tada" (Reed, 1993) pode pecar pela falta de quais modelos e teorias explicativas são ne-
universalidade que normalmente se associa, gociados e debatidos. A interação e contes-
ainda que erroneamente (Cf. Putnam, tação de tradições intelectuais rivais impli-
1978), às chamadas ciências hard, mas mes-
mo assim ela estabelece um modelo
identificável de procedimentos e práticas
"que geram seu discurso próprio sobre pro-

Tabela 1 Narrativas analíticas em análise organizacional.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura de
organizacional, pós-estruturalista, industrialismo/
pós-industrialista, pós-fordista/ modernidade
moderno, Foucault, Garfinkel, teoria a pós-
do ator-rede industrialismo/
pós-modernidade
Justiça Participação Ética de negócios, moralidade e OB, de democracia
democracia industrial, teoria repressiva
participativa, teoria crítica, a democracia
Habermas participativa
Tabela 1 Narrativas analíticas em análise organizacional.
Variáveis-chaves Previsões-chaves Referências-
chaves
6 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

ca a existência de entendimentos negocia- zacionais, promovendo o princípio de orga-


dos e relacionados a dado contexto e situa- nização social em que a função técnica racio-
ção histórica, que tornam a argumentação nalmente atribuída a cada indivíduo, grupo
racional possível (Reed, 1993). ou classe define sua localização socio-
Os modelos interpretativos da Tabela econômica, seu grau de autoridade e tipo
1 formam o campo intelectual de conflitos de comportamento. De acordo com Saint-
históricos em que a análise organizacional Simon, tal lógica fornece uma poderosa de-
se desenvolveu - um campo que deve ser fesa contra o conflito social e a incerteza
mapeado e atravessado levando-se em con- política, à medida que estabelece uma nova
sideração as inter-relações entre os fatores estrutura de poder baseada em capacidade
processuais e contextuais em torno dos quais técnica e na sua contribuição para o funcio-
essa área do conhecimento emergiu namento adequado da sociedade, e não de-
(Morgan e Stanley, 1993). Esses modelos rivada de fatores aleatórios ou de mercado,
conformaram o desenvolvimento dos estu- ou mesmo de privilégios de berço.
dos organizacionais por pelo menos um sé- A organização construída racional-
culo, à medida que forneceram: a gramáti- mente na forma de um instrumento dirigi-
ca por meio da qual narrativas coerentemen- do para a solução de problemas coletivos,
te estruturadas podem ser construídas e di- de ordem social ou de gestão está refletida
fundidas; os recursos simbólicos e técnicos nos escritos de Taylor (1912), Fayol (1949),
por meio dos quais a natureza da organiza- Urwick e Brech (1947) e Brech (1948). Es-
ção pode ser discutida; e um conjunto de ses trabalhos sustentam que a teoria das
textos e discursos compartilhados que po- organizações
dem ser usados para mediar debates entre
audiências leigas ou especialistas. Tais mo- "tem que ver com a estrutura de coorde-
nação imposta sobre as unidades de divi-
delos desenvolvem uma relação dialética
são do trabalho de uma empresa... A divi-
com processos históricos e sociais, como são do trabalho é o alicerce da organiza-
formas contestadas e pouco estruturadas de ção; é, de fato, a razão para que ela exis-
conceitualizar e debater aspectos chaves da ta" (Gulick e Urwick, 1937 : 3).
organização. Cada um deles é definido com
vistas à problemática central em torno da
qual eles se desenvolveram e ao contexto
histórico-social em que foram articulados.
Essa discussão, portanto, fornece uma apre-
ciação fundamentada de narrativas analíti-
cas estratégicas por meio das quais o cam-
po de estudos organizacionais é constituído
enquanto prática intelectual dinâmica,
permeada de controvérsias teóricas e con-
flitos ideológicos em torno da questão de
como a "organização" pode e deve ser.

TRIUNFO DO RACIONALISMO

Como defende Stretton, "bebemos a


racionalidade desde as primeiras gotas de
leite materno" (1969 : 406). Tal crença na
naturalidade do raciocínio calculado tem
raízes históricas e ideológicas bem defini-
das. Há uma tendência a considerar Saint-
Simon (1958) o primeiro "teórico organi-
zacional", supondo-se ter sido ele, "prova-
velmente, o primeiro a observar o surgimen-
to dos padrões organizacionais modernos,
identificando alguns de seus aspectos dis-
tintivos e insistindo na importância que eles
teriam para a sociedade que se formava...
percebeu ele que as regras básicas da socie-
dade moderna haviam sido profundamente
alteradas, de modo que organizações delibe-
radamente concebidas e planejadas viriam
a desempenhar um novo papel no mundo"
(Gouldner, 1959 : 400-401). A crença de que
a sociedade moderna é dominada por uma
"lógica da organização" é recorrente ao lon-
go de toda a história dos estudos organi-
TEOR1ZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 67 I

Os autores citados legitimam a idéia forma indispensável de poder organizado,


de que a sociedade e as unidades organi- baseado em funções técnicas objetivas e
zacionais que a constituem serão regidas por necessária para o funcionamento efetivo e
leis científicas de administração excluindo eficiente de uma ordem social fundamenta-
totalmente valores e emoções humanas da em autoridade racional-legal (Frug,
(Waldo, 1948). Princípios epistemológicos 1984; Presthus, 1975).
e técnicas administrativas transformam pre- Esses princípios estão profundamente
ceitos normativos altamente questionáveis embutidos nos fundamentos epistemoló-
em leis científicas universais, objetivas, imu- gicos e teóricos das perspectivas analíticas
táveis e portanto incontestáveis. O "indiví- que constituem o cerne conceituai dos estu-
duo racional é, e deve ser, organizado e dos organizacionais. A "administração cien-
institucionalizado" (Simon, 1957 : 101- tífica" de Taylor é direcionada ao permanen-
102). Os seres humanos tornam-se "maté- te monopólio do conhecimento organiza-
ria prima" transformada pelas tecnologias cional por intermédio da racionalização do
da sociedade moderna em membros bem desempenho do trabalho e do design fun-
comportados e produtivos da sociedade, cional. Como comenta Merkle:
pouco propensos a interferir nos planos de "ultrapassando suas origens nacionais e
longo prazo das classes dominantes e eli- técnicas, o taylorismo tornou-se um
tes. Portanto, os problemas sociais, políti- impor-
cos e morais podem ser transformados em tante componente da perspectiva filosófi-
problemas de engenharia passíveis de solu- ca da civilização industrial moderna, defi-
ção técnica (Gouldner, 1971). As organiza- nindo virtude como eficiência,
ções modernas anunciavam o triunfo do estabelecen-
do um novo papel para os especialistas
conhecimento racional e da técnica sobre a
em
emoção e o preconceito humano, aparente- produção, e criando parâmetros para no-
mente intratáveis. vos padrões de distribuição social" (1980 :
Esse modelo impregnou o núcleo ide- 62). Como ideologia ou como prática, o
ológico e teórico dos estudos organiza- taylorismo era extremamente hostil a teo-
cionais de forma tão abrangente e natural rias empresariais das organizações que
que sua identidade e influência foram vir- enfocassem necessidades técnicas e de
legitimação de uma pequena elite (Bendix,
tualmente impossíveis de serem detectados
1974; Rose, 1975; Clegg e Dunkerley,
ou questionados. Como Gouldner (1959) 1980). Como ressalta Bendix,
afirma, o modelo prescreve o "mapa" de
uma estrutura autoritária em que os indiví-
duos e grupos são obrigados a seguir certas
leis. Princípios de funcionamento eficiente
e eficaz foram promulgados como um axio-
ma para dirigir todas as formas de prática e
análise organizacional. Tal modelo fornece,
assim, uma caracterização universal da "re-
alidade" de uma organização formal, inde-
pendentemente de tempo, lugar e situação.
Uma vez aceito esse "mapa", legitimou-se
uma visão de organizações como unir ides
sociais independentes e autônomas, acima
de qualquer avaliação moral ou debate po-
lítico (Gouldner, 1971).
Embora a "era da organização" neces-
sitasse de uma nova hierarquia profissional
para atender às necessidades da sociedade
industrial em desenvolvimento, sobrepon-
do-se aos clamores da aristocracia moribun-
da e dos empresários conservadores, essa
visão era profundamente anti-democrática
e antiigualitária. Uma concepção determi-
nada por critérios técnicos e administrati-
vos de hierarquia, de subordinação e auto-
ridade perdia espaço em um contexto
sociopolítico de agitação inspirada em ide-
ais de sufrágio universal, tanto no ambien-
te de trabalho quanto na polis (Wolin, 1961;
Mouzelis, 1967; Clegg e Dunkerley, 1980).
A organização racional burocrática era so-
cial e moralmente legitimada como uma
8 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

mento". O racionalismo forneceu uma re-


"as ideologias gerenciais de hoje são dis- presentação de formas organizacionais
tintas das ideologias empresariais do pas- emergentes que legitimaram seu crescente
sado, à medida que as primeiras suposta- poderio e sua influência como característi-
mente ajudam o empregador ou seus cas inevitáveis em uma trajetória histórica
agen- de longo prazo, por meio de discursos acer-
tes a controlar e dirigir as atividades dos
ca da administração e gerência tecnocrática
empregados" (1974 : 9).
racional (Ellul, 1964; Gouldner, 1976). Ade-
Os princípios organizacionais de Fayol, mais, ele "elevou" a teoria e prática da ad-
ainda que modificados pela crescente ministração organizacional de uma arte in-
conscientização de que há uma necessida- tuitiva para um corpo de conhecimentos
de de adaptação contextual e de concilia- codificados e analisáveis, tornando possível,
ção de forças, foram orientados pela neces- inclusive, transações com o poderoríssimo
sidade de construir uma arquitetura de co- capital cultural e com o simbolismo da
ordenação e controle que contivesse a "ciência".
descontinuidade e o conflito inevitáveis cau- Considerado nesses termos, o racio-
sados pelo comportamento "informal". A nalismo estabeleceu uma concepção de te-
teoria organizacional "clássica" fundamen- oria e análise organizacionais como uma
ta-se na crença de que a organização forne- tecnologia intelectual em condições de ofe-
ce o princípio do projeto estrutural e valori- recer um
za uma prática de controle operacional, que "mecanismo capaz de tornar a realidade
podem ser determinados racionalmente e passível de manipulação por certos tipos
formalizados antes de qualquer operação. de ação (...); o racionalismo envolve o pro-
De fato, a teoria assume que a opera- cesso de circunscrever a realidade nos
cionalização é decorrência automática da cál-
culos governamentais, por meio de técni-
lógica do projeto e funciona como instru-
cas materiais relativamente mundanas"
mento de controle embutido na estrutura
(Rose e Miller, 1990 : 7).
formal da organização (Massie, 1965).
Ainda que o conceito de Simon (1945) A "organização" torna-se ferramenta
de "racionalidade limitada" e sua teoria de ou instrumento para autorizar e realizar
"comportamento administrativo" se ba-
seiem em uma crítica mordaz ao racio-
nalismo e formalismo excessivos presentes
na teoria organizacional e gerencial, suas
idéias também fundamentam-se em uma
abordagem que entende a escolha racional
entre opções claramente delineadas como
base da ação social (March, 1988). Essa vi-
são reduz o "trabalho interpretativo", vital
para o bom desempenho de atores indivi-
duais e organizacionais, a um mero proces-
so de cognição dominado por regras e pro-
gramas operacionais padronizados. E notá-
vel a exclusão de variáveis importantes como
política, cultura, moral e história do mode-
lo da "racionalidade limitada". Essas variá-
veis tornam-se analiticamente marginaliza-
das, se forem omitidas dos parâmetros
conceituais do modelo preferido de Simon,
-------------------------------------------------------------
à medida que forem tratadas como elemen-
tos aleatórios, externos e portanto não su-
jeitos à influência dos processos cognitivos,
dos procedimentos organizacionais, e mui-
to menos de seu controle.
O racionalismo exerceu profunda in-
fluência no desenvolvimento histórico e
conceituai da análise organizacional. Esta-
beleceu um modelo cognitivo e uma pauta
de pesquisas que não puderam ser ignora-
dos, mesmo por aqueles que quiseram ado-
tar uma linha radicalmente diferente
(Perrow, 1986). Além disso, tal corrente re-
percutiu ideologicamente no desenvolvi-
mento político de instituições e estruturas
econômicas durante o princípio e meados
do século XX, tornando as corporações e o
estado político "alcançáveis pelo conheci-
TEORIZACAO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 9

objetivos coletivos por meio do desenho e organizações modernas combinam autori-


do gerenciamento de estruturas voltadas à dade com um sentimento de comunidade
administração e manipulação de comporta- entre seus membros.
mentos organizacionais. A tomada de deci-
A missão da organização é não ape-
sões organizacionais apóia-se em uma aná- nas prover bens e serviços, mas também
lise racional das opções disponíveis, com criar o companheirismo. A confiança do
base em conhecimento qualificado e deli- autor moderno no poder da organização
beradamente orientado pelo aparato legal deriva de uma crença mais ampla, de que
estabelecido. Essa "lógica das organizações" a organização é o caminho para a reden-
torna-se garantia de avanço material, pro- ção humana frente a sua própria mortali-
gresso social e ordem política nas socieda- dade... Na comunidade e dentro das orga-
des industriais modernas, à medida que elas nizações, o homem moderno elaborou
objetos políticos em substituição aos obje-
convergem para um padrão de desenvolvi-
tos de amor. A busca pela comunidade
mento institucional e capacidade adminis-
buscou refúgio na noção do homem como
trativa em que a "mão invisível do merca- um animal político; a adoração da organi-
do" foi sendo gradualmente substituída pela zação foi parcialmente inspirada na espe-
"mão visível da organização". rança de encontrar uma nova forma de
A despeito do fato de estar presente civilidade (Wolin, 1961 : 368).
nos primórdios do desenvolvimento da teo-
Esta é uma questão central na emer-
ria organizacional, o modelo racional nun-
gência da perspectiva da escola de relações
ca teve domínio ideológico e intelectual
humanas na análise organizacional, que
completo. Sempre foi contestado por linhas
embora trate dos mesmos problemas do
alternativas. Os contestadores freqüente-
modelo racional, fornece para estes soluções
mente compartilhavam o projeto político e
distintas.
ideológico do modelo racional, que consis-
A monografia Administração e o tra-
te em descobrir uma nova fonte de autori-
balhador (Roethlisberger e Dickson, 1939)
dade e controle dentro dos processos e es-
e os escritos de Mayo (1933; 1945), por-
truturas da organização moderna, porém
tanto, acusam a tradição racional de igno-
usavam discursos e práticas diferentes para
rar as qualidades naturais e evolucionárias
alcançá-las. Em particular, muitos viam a
das novas formas sociais geradas pela in-
inabilidade de lidar com o dinamismo e ins-
dustrialização. Toda a força da escola de
tabilidade de organizações complexas como
relações humanas vem da identificação do
uma das maiores falhas do modelo racio-
isolamento social e dos conflitos como sin-
nal. Esse senso crescente de limitações prá-
tomas de uma patologia social. A "boa" so-
ticas e conceituais e a natureza utópica do
projeto político que o modelo racional sus-
tentava deram espaço para que o pensamen-
to organicista prosperasse onde antes as for-
mas de discurso mecanicista predominavam.

REDESCOBRINDO A COMUNIDADE

As questões que mais deixavam os crí-


ticos perplexos, a partir dos anos 30 e 40,
eram a incapacidade da organização
racionalística em resolver problemas de
integração social e as implicações desse fato
para a manutenção da ordem social em um
mundo mais instável e incerto. Essa forma
de abordagem permaneceu cega às críticas
de que a autoridade não é eficaz sem "coo-
peração espontânea ou intencional"
(Bendix, 1974). Os críticos, apreensivos com
o alto grau de racionalismo, enfatizavam a
necessidade prática e teórica de uma base
alternativa para o poder e autoridade inves-
tidos ao gerencialismo pelo projeto orga-
nizacional. O pensamento organicista preo-
cupava-se também com a maneira como as
10 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

ciedade e a organização eficaz são aquelas moldados por valores que estão profun-
capazes de facilitar e sustentar a realidade damente internalizados pelos membros
sociopsicológica de cooperação espontânea da
organização. O foco empírico, portanto, é
e estabilidade social em face de mudanças
direcionado a estruturas que emergem
econômicas, políticas e tecnológicas que es-
ameaçam a integração do indivíduo e do pontaneamente, sancionadas normativa-
grupo dentro de uma comunidade mais mente na organização (Gouldner, 1959 :
ampla. 405-406).
Ao longo de vários anos, essa concep-
ção de organizações como unidades sociais Dessa forma, processos emergentes, e
intermediárias que integram os indivíduos não estruturas planejadas, asseguram a es-
à civilização industrial moderna, sob a tu- tabilidade e sobrevivência de longo prazo
tela de uma administração benevolente e do sistema.
socialmente hábil, institucionalizou-se de tal Ao final dos anos 40 e começo dos 50,
modo que começou a desbancar a posição essa concepção de organizações como sis-
predominante mantida por exponentes do temas sociais voltados para as "necessida-
modelo racional (Child, 1969; Nichols, des" de integração e sobrevivência das or-
1969; Bartell, 1976; Thompson e McHugh, dens societárias maiores, das quais elas fa-
1990). Essa concepção convergia em teo- ziam parte, estabeleceu-se como o modelo
rias organizacionais com características so- teórico predominante dentro da análise
ciológicas e abstratas mais acentuadas, que organizacional. Simultaneamente e de for-
detinham grande afinidade com as prefe- ma convergente, eram desenvolvidos os fun-
rências evolucionistas e naturalistas da es- damentos da "teoria geral dos sistemas",
cola de relações humanas (Parsons, 1956; originária das áreas da biologia e da física
Merton, 1949; Selznick, 1949; Blau, 1955). (von Bertalanffy, 1950; 1956), o que forne-
Portanto, em suas origens o pensamento cia inspiração conceituai considerável para
organicista nos estudos organizacionais ba- o desenvolvimento subseqüente da teoria de
seou-se na crença de que o racionalismo
fornecia uma visão extremamente limitada
e freqüentemente enganadora das "realida-
des" da vida organizacional (Gouldner,
1959; Mouzelis, 1967; Silverman, 1970).
Ela enfatizava a ordem e o controle impos-
tos mecanicamente ao invés da integração,
da interdependência e do equilíbrio que
deveria existir nos sistemas sociais em de-
senvolvimento orgânico (cada um com sua
dinâmica própria). "Interferências" por parte
de agentes externos, tais como o projeto
planejado das estruturas organizacionais,
ameaçam a sobrevivência do sistema.
A organização como um sistema so-
cial facilita a integração de indivíduos den-
tro da comunidade mais ampla, bem como
a adaptação desta às condições técnico-so-
ciais de mudança, que freqüentemente ocor-
re de forma volátil. Essa visão é teoricamente
antecipada, ainda que de forma embrioná-
ria, por Roethlisberger e Dickson, que fa-
lam da organização industrial como um sis-
tema social operante que busca o equilíbrio
em um ambiente dinâmico (1939 : 567).
Essa concepção é influenciada pela teoria
dos sistemas sociais equilibrados de Pareto
(1935), em que as disparidades nas taxas
de mudança sociotécnica e os desequilíbrios
que estas trazem aos organismos são com-
pensados automaticamente por respostas
internas que, ao longo do tempo, restabele-
cem o equilíbrio do sistema.

Entende-se que as estruturas orga-


nizacionais são mantidas homeostática e
espontaneamente. As mudanças nos pa-
drões organizacionais são entendidas
como
conseqüência da reações cumulativas, não
planejadas, e adaptativas às ameaças ao
equilíbrio de todo o sistema. Respostas
aos
problemas são consideradas mecanismos
de defesa gradativamente desenvolvidos,
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 11

sistemas sociotécnicos (Miller e Rice,, 1967) de às necessidades ideológicas e práticas de


e das "metodologias de sistemas soft" um grupo ascendente de projetistas de sis-
(Checkland, 1994). Foi, contudo, a interpre- temas e administradores que almejam o con-
tação estrutural-funcionalista da abordagem trole absoluto em meio a uma sociedade
sistêmica que assumiu proeminência den- cada vez mais complexa e diferenciada.
tro da "análise organizacional" e que domi- Assim, o entusiasmo geral com que a
naria o desenvolvimento teórico e a pesqui- teoria de sistemas foi recebida pela comu-
sa empírica desse campo entre os anos 50 e nidade de estudos organizacionais nos anos
70 (Silverman, 1970; Clegg e Dunkerley, 50 e 60 refletia uma ampla renascença do
1980; Reed, 1985). O funcionalismo estru- pensamento utópico, que presumia que a
tural e sua progênie, a teoria de sistemas, análise funcional dos sistemas sociais for-
forneceram um foco "interno" no projeto neceria os fundamentos intelectuais para a
organizacional, com uma preocupação "ex- nova ciência social (Kumar, 1978). O pro-
terna" voltada para a incerteza ambiental cesso de diferenciação sócio-organizacional,
(Thompson, 1967). A primeira visão talvez com a ajuda de engenheiros sociais
enfatizava a necessidade de grau mínimo especializados, resolveria o problema da
de estabilidade e segurança internas a lon- ordem social por meio de estruturas que
go prazo para a sobrevivência do sistema; a evoluem naturalmente, capazes de lidar com
segunda expunha as indeterminações ine- as crescentes tensões endêmicas entre os
rentes à ação organizacional tendo em vis- interesses individuais e as demandas insti-
ta as demandas ambientais e as ameaças que tucionais. A postura de que a sociedade em
escapam ao controle da organização. A ques- si resolveria o problema da ordem social fi-
tão fundamental de pesquisa que emerge ava-se em um "pressuposto do campo" de
dessa síntese entre preocupações estruturais que "toda a história da humanidade tem
e ambientais é o estabelecimento da combi- uma forma característica, um padrão, uma
nação entre configurações internas e condi- lógica ou significado que permeia a diversi-
ções externas que facilitem a estabilidade e dade de eventos aparentemente descone-
crescimento da organização a longo prazo xos" (Sztompka, 1993 : 107). A análise fun-
(Donaldson, 1985). cional de sistemas fornecia a chave teórica
O funcionalismo estrutural e a teoria para desvendar os mistérios desse desenvol-
de sistemas também fizeram uma "despo- vimento sócio-histórico, capacitando os ci-
litização" eficaz dos processos de tomada entistas sociais e organizacionais a prever,
de decisão por meio dos quais se estabelece explicar e controlar tanto a sua dinâmica
uma adaptação funcional adequada entre a interna quanto suas conseqüências institu-
organização e seu ambiente. Certos "impe- cionais. Apesar de essa visão lidar com uma
rativos funcionais", tais como a necessida-
de de equilíbrio de longo prazo do sistema
para a sobrevivência, presumivelmente eram
impostos a todos os atores organizacionais,
determinando os resultados dos projetos
produzidos por seu processo decisório
(Child, 1972; 1973; Crozier e Friedberg,
1980). Esse "passe de mágica" teórico rele-
ga os processos políticos à margem da aná-
lise organizacional. Ao manter as ressonân-
cias ideológicas mais amplas da teoria de
sistemas, a concepção converte conflitos de
valor sobre fins e meios em questões técni-
cas que podem ser "resolvidas" por meio de
um projeto eficaz de sistema e de adminis-
tração. Como indica Boguslaw (1965), essa
conversão apóia-se em uma fachada teóri-
ca, para não dizer utópica, de homo-
geneidade de valores; a realidade política
das mudanças organizacionais, bem como
as tensões e deformações que elas geram, é
mascarada como pequenos elementos de
atrito de um sistema que em tudo o mais
funciona perfeitamente. Ela também aten-
12 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

forma de evolucionismo e funcionalismo artigo clássico, se os mercados são perfei-


sócio-organizacional cujas raízes remontam tos, então as firmas (e organizações) deve-
aos escritos de Comte, Saint-Simon e riam desenvolver transações de mercado
Durkheim (Weinberg, 1969; Clegg e perfeitamente reguladas, baseadas no inter-
Dunkerley 1980; Smart, 1992), ela só veio câmbio voluntário de informações entre
a alcançar seu apogeu nos anos 50 e 60, no agentes econômicos iguais. Coase foi, con-
trabalho dos cientistas sociais que contribu- tudo, forçado a reconhecer a realidade das
íram para o desenvolvimento da teoria da firmas na condição de agentes econômicos
sociedade industrial, e que demonstraram coletivos, aos quais se atribui a "solução"
circunspecção histórica e sensibilidade po- para as falhas de mercado ou do colapso do
lítica muito inferiores às de seus predeces- sistema. Como mecanismos de "interna-
sores acadêmicos. lização" de trocas econômicas recorrentes,
Conseqüentemente, a ortodoxia fun- as firmas reduzem o custo das transações
cionalista/de sistemas, que veio a dominar, individuais por meio de padronização e
ou pelo menos estruturar, a prática intelec- rotinização, e aumentam a eficiência da
tual e o desenvolvimento das análises alocação de recursos dentro do sistema de
organizacionais entre os anos 40 e 60, era mercado em sua totalidade, à medida que
apenas parte de um movimento muito mais minimizam os custos de transação entre os
amplo que ressuscitou os modelos evolu- agentes, os quais, por natureza, descon-
cionistas do século XIX (Kumar, 1978: 179- fiam de seus parceiros.
190). Na teoria organizacional, essa orto- Coase, inadvertidamente, faz uso do
doxia completou-se teoricamente com o modelo racional quando admite que o com-
desenvolvimento da "teoria da contingên- portamento é motivado, primariamente,
cia" entre o fim dos anos 60 e princípio dos pelo objetivo de minimizar custos de mer-
70 (Thompson, 1967; Lawrence e Lorsch, cado e maximizar seus retornos. Tanto a tra-
1967; Woodward, 1970; Pugh e Hickson, dição racionalista quanto a economicista da
1976; Donaldson, 1985). Essa abordagem análise organizacional são construídas com
mostrava todas as virtudes e vícios intelec- base na "racionalidade limitada" para ex-
tuais da tradição teórica de onde buscaram plicar e prever a ação social e individual;
sua inspiração ideológica e metodológica.
Ela também reforçava a ética gerencialista
que tinha a pretensão de resolver, por inter-
médio de uma engenharia social especializa-
da e um projeto flexível de organização
(Gellner, 1964; Giddens, 1984), os proble-
mas institucionais e políticos fundamentais
das sociedades industriais modernas (Lipset,
1960; Bell, 1960; Galbraith, 1969).
Ainda assim, à medida que os anos 60
avançavam, as virtudes do pensamento
organicista eram cada vez mais sombreadas
por seus vícios, especialmente quando as
realidades sociais, econômicas e políticas se
recusavam a adequar-se às teorias explica-
tivas promulgadas por tal narrativa. Mode-
los alternativos de interpretação já começa-
vam a emergir para questionar o funciona
lismo, baseados em tradições intelectuais e
históricas muito diferentes. Antes que as
possamos considerar, contudo, é necessário
adentrar as teorias de organização orienta-
das pelo mercado.

ENTRA EM CENA O MERCADO

Teorias organizacionais baseadas no


mercado parecem ser uma contradição, em
termos: se os mercados operam da forma
especificada pela teoria econômica neoclás-
sica, ou seja, mecanismos de ajustes perfei-
tos que equilibram preço e custo, então não
há nenhum papel conceituai ou necessida-
de técnica para a existência de "organiza-
ção". Como constata Coase (1937) em seu
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO

ambas apoiam teorias que reconhecem a A teoria do custo de transação preocupa-se


organização em termos de eficiência e efi- com os ajustes adaptativos que as organiza-
cácia; ambas reverenciam intelectualmente ções precisam fazer para enfrentar as pres-
os modelos orgânicos, quando enfatizam a sões de maximização da eficiência em suas
evolução "natural" das formas organiza- transações internas e externas. A ecologia
cionais, que otimizam retornos dentro dos populacional destaca o papel das pressões
ambientes em que as pressões competitivas competitivas, que selecionam alguns tipos
restringem as opções estratégicas. As teo- de organização em detrimento de outros.
rias econômicas da organização também li- Ambas as perspectivas são baseadas em um
dam com elementos da tradição organicista, modelo de organização em que seu projeto,
quando enfocam organizações como um funcionamento e desenvolvimento são tra-
produto evolucionário e semi-racional de tados como resultados diretos de forças uni-
condições espontâneas e involuntárias versais, que não podem ser modificadas pela
(Hayek, 1978). As organizações são uma ação estratégica.
resposta automática e um preço razoável a O que fica evidente no modelo do
ser pago pela necessidade de se dispor de mercado é a falta de qualquer tentativa con-
agentes econômicos formalmente livres e tínua de abordar a questão do poder social
iguais, capazes de negociar e monitorar con- e da intervenção humana. Nem a aborda-
tratos em meio a transações complexas de gem de mercados/ hierarquias, nem a de
mercado, que não podem ser acomodadas ecologia populacional, ou mesmo a "teoria
em arranjos institucionais existentes. liberal das organizações" de Donaldson
Essas teorias econômicas da organiza- (1990; 1994) se interessam muito pelos
ção surgiram em resposta às limitações meios por meio dos quais a mudança
explanatórias e analíticas inerentes às teo- organizacional se estrutura em função de
rias clássica e neoclássica da firma (Cyert e lutas de poder entre atores sociais e as for-
March, 1963). Elas exigem que se conside-
re melhor o problema da alocação de recur-
sos como um determinante primário do
comportamento e projeto organizacional
(Williamson e Winter, 1991). O foco na
"microeconomia da organização" (Donald-
son, 1990; Williamson, 1990), assim como
uma teoria do comportamento da firma mais
sensível às limitações institucionais em que
são conduzidas as transações econômicas,
encorajaram a formulação de uma agenda
de pesquisa com ênfase nas estruturas de
corporativas de administração e em seu elo
com as funções organizacionais (William-
son, 1990). Esse modelo também se vale da
concepção de Barnard sobre organização
como cooperação, "que é consciente, deli-
berada e com fins específicos" (1938 : 4), e
que somente pode ser explicada como o re-
sultado de uma interação complexa entre a
racionalidade formal e a substantiva ou en-
tre requisitos técnicos e ordem moral
(Williamson, 1990). A tentativa original de
Barnard de fornecer uma síntese de organi-
zação como uma concepção sistêmica "raci-
onal" e "natural" dá o fundamento das teo-
rias baseadas no mercado, que floresceram
nos anos 70 e 80, tais como a análise do
custo de transação (Williamson, 1975;
Francis, 1983) e a ecologia populacional
(Aldrich, 1979; 1992; Hannan e Freeman,
1989).
Apesar de haver diferenças teóricas
importantes entre essas duas abordagens,
particularmente em relação à forma e ao
grau de determinismo ambiental do qual
elas se valem (Morgan, 1990), ambas se
baseiam em uma série de premissas que
compatibilizam formas administrativas in-
ternas com condições externas de mercado
por meio de uma lógica evolucionária, que
subordina a ação individual e coletiva aos
imperativos de eficiência e sobrevivência,
que vão muito além da influência humana.
I14 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ______________________________

mas de dominação que eles legitimam turais e a ação social, à medida que molda
(Francis, 1983; Perrow, 1986; Thompson e as formas institucionais reproduzidas e
McHugh, 1990). Essas abordagens tratam transformadas pela prática social (Giddens,
a "organização" como sendo constituída de 1985; 1990; Layder, 1994). Ele rejeita o
uma ordem social e moral em que os inte- determinismo ambiental inerente às teorias
resses e valores individuais e grupais são organizacionais baseadas no mercado, com
simplesmente derivados de uma estrutura sua ênfase obstinada nos imperativos de efi-
de "interesses e valores do sistema", que não ciência e eficácia que garantem a sobrevi-
se contaminam por conflitos setoriais e lu- vência de longo prazo de certos tipos de
tas de poder (Willman, 1983). Uma vez que organização em detrimento de outros. A
esse conceito unitário é considerado inato, perspectiva do poder também questiona os
"aceito" como um aspecto "natural" e virtu- pressupostos unitaristas que são inerentes
almente invisível da organização, o poder, aos modelos racionalista, orgânico e de
os conflitos e a dominação podem ser segu- mercado, pois conceitua a organização como
ramente ignorados, tratados como elemen- uma arena de interesses e valores confli-,
tos "externos" ao campo de visão analítica e tantes, constituída pela luta de poder.
de preocupação empírica do modelo. O modelo de poder em análise
Essa forma unitária de conceber a or- organizacional é fundamentado na sociolo-
ganização é inteiramente compatível com gia de dominação de Weber e na análise da
um contexto político e ideológico mais am- burocracia e burocratização que derivam de
plo, dominado por teorias neoliberais de seu trabalho (Weber, 1978; Ray e Reed,
organização e controle da sociedade, que 1994). Mais recentemente, essa tradição
elevam as "forças impessoais de mercado" weberiana tem sido complementada pelas
à categoria analítica de universalidades teorizações de poder que se inspiraram no
ontológicas determinando as chances indi- interesse de Maquiavel pela micropolítica do
viduais e coletivas de sobrevivência (Miller
e Rose, 1990; Rose, 1992; Silver, 1987).
Desde as ideologias neoliberais ou darwi-
nianas do século XIX (Bendix, 1974) até
doutrinas mais recentes que enfatizam a
"sobrevivência dos mais aptos", todas essas
teorias defendem a expansão progressiva do
mercado, da racionalidade econômica e da
iniciativa privada, em detrimento de con-
ceitos cada vez mais frágeis e marginaliza-
dos de comunidade, serviço público e preo-
cupações sociais. Por meio da globalização,
as nações e empresas envolvem-se em lutas
cada vez mais acirradas, que terão por ven-
cedoras as organizações e economias que
se adaptarem de forma intensiva às deman-
das do mercado (Du Gay e Salaman, 1992;
Du Gay, 1994). Assim, teorias organiza-
cionais baseadas no mercado lidam com
movimentos cíclicos, dentro do próprio con-
texto socioeconômico, político e ideológico
do qual fazem parte (Barley e Kunda, 1992).
No entanto, elas permanecem negligentes
quanto à questão das estruturas e lutas de
poder dentro das organizações, por meio das
quais estas respondem a pressões econômi-
cas supostamente "objetivas" e "neutras".

FACES DO PODER

Poder continua a ser um conceito que,


embora usado em excesso, é um dos menos
compreendidos da análise organizacional.
Ele fornece as bases ideológicas e episte-
mológicas para uma teoria de organizações
que contrasta, profundamente, com as nar-
rativas analíticas e modelos interpretativos
previamente discutidos. O poder propala
uma lógica de organização e do organizar
enraizada analiticamente em concepções
estratégicas de poder social e intervenção
humana que são sensíveis à dinâmica
dialética existente entre as limitações estru-
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 15 |

poder organizacional e sua expressão con- mos hierárquicos que sustentam a reprodu-
temporânea, refletida no trabalho de ção do poder" (Fincham, 1992 : 742).
Foucault (Clegg, 1989; 1994). As análises Esse diálogo entre conceituações de
baseadas em Weber enfatizam o caráter poder weberianas/institucionais e maquia-
relacionai do poder como recurso ou capa- vélicas/processuais levaram a uma compre-
cidade distribuídos de forma diferenciada e ensão muito mais sofisticada da natureza
que, se empregado com o devido grau de multifacetada das relações e processos de
habilidade estratégica e tática pelos atores poder, bem como de suas implicações para
sociais, produz e reproduz relações hierar- a estruturação das formas organizacionais.
quicamente estruturadas de autonomia e A análise de Lukes (1974) das "múltiplas
dependência (Clegg, 1989; Wrong, 1978). facetas do poder" tornou-se o maior ponto
Isto leva à priorização das formas institu- de referência para a pesquisa contemporâ-
cionais e aos mecanismos por meio dos quais nea sobre a dinâmica e os resultados do
o poder é alcançado, convertido em rotinas poder organizacional. Sua diferenciação
e contestado. A "ênfase está nas restrições entre as três faces ou dimensões de poder,
mais amplas e nos determinantes do com- ou seja, entre as formas de poder
portamento: as formas de poder que deri- "episódico", "manipulativo" e "hegemônico"
vam de estruturas de classe e propriedade, (Clegg, 1989), resulta em uma ampliação
o impacto dos mercados e profissões, e fi- considerável do programa de pesquisa para
nalmente a questão do gênero, que vem o estudo de poder na organização, bem
despertando cada vez mais interesse" como dos modelos pelos quais o tema pode
(Fincham, 1992: 742). Assim, a análise ser abordado.
weberiana da dinâmica e das formas de po- O conceito "episódico" de poder con-
der burocrático na sociedade moderna en- centra-se nos conflitos de interesse que se
fatiza a interação complexa que há entre a observa entre atores sociais identificáveis e
racionalização da sociedade e a da organi- seu encontro com objetivos opostos, parti-
zação, ambas reproduzindo estruturas cularmente em processos de tomada de de-
institucionalizadas sob o controle de "espe- cisão. A visão "manipulativa" concentra-se
cialistas" e "peritos" (Silberman, 1993). nas atividades de "bastidores", por meio das
Essa concepção estrutural ou institu- quais grupos que já detêm o poder manipu-
cional de poder organizacional foi comple- lam o processo de tomada de decisão a fim
mentada por um foco mais concentrado nos
processos micropolíticos, por meio dos quais
o poder é obtido e mobilizado, em oposição
ou em paralelo a regimes estabelecidos e a
suas estruturas de comando. Essa aborda-
gem está em forte consonância com o tra-
balho de Foucault sobre o mosaico das coa-
lizões e alianças diagonais que mobilizam
regimes disciplinares (Lyon, 1994). Nesses
casos, observam-se práticas organizacionais
em que o poder "sobre outros" pode ser
mantido temporariamente de uma perspec-
tiva "de baixo para cima", ao invés da tradi-
cional visão "de cima para baixo". Essa in-
terpretação processual do conceito de po-
der organizacional tende a concentrar-se nas
manobras táticas que buscam inverter o
equilíbrio de vantagens entre os diversos
interesses sociopolíticos (Fincham, 1992),
sendo menos convincente quando tenta ex-
plicar os mecanismos organizacionais mais
amplos que se institucionalizam como es-
truturas e retóricas aceitas, retóricas que
legitimam "associações coordenadas de for-
ma imperativa", e que são permanentes e
menos perceptíveis. Assim sendo, esse
enfoque mais recente de pesquisa sobre os
processos de interação, ou micropolítica, por
meio do qual as relações de poder são tem-
porariamente sedimentadas em estruturas
de autoridade mais permanentes e estáveis,
desvia a atenção para longe dos "mecanis-
16 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

de descartar questões que têm o potencial Friedland, 1985; Cerny, 1990; Miller e Rose,
de perturbar, ou ameaçar, seu domínio e 1990; Johnson, 1993). Tal pesquisa também
controle. A interpretação "hegemônica" questiona a coerência analítica e o alcance
enfatiza o papel estratégico de estruturas explanatório de um modelo teórico de po-
ideológicas e sociais existentes ao formar, e der com capacidade limitada de lidar com
assim limitar, seletivamente, os interesses e as complexidades materiais, culturais e po-
valores - e portanto a ação - de atores so- líticas das mudanças organizacionais.
ciais em qualquer campo de decisão. À me-
dida que se avança da concepção "episódica"
para a "manipulativa" e, enfim, "hege- CONHECIMENTO É PODER
mônica" de poder, ocorre um movimento
progressivo de análise e valoração que vai O modelo baseado em conhecimento
desde a capacidade humana de constituir tem sérias prevenções contra os tendências
relações de poder, até o papel dos mecanis- institucionais e estruturais que caracterizam
mos materiais e ideológicos de determinar os modelos analíticos previamente exami-
as estruturas de dominação e controle, por nados. Esse modelo rejeita as várias formas
meio das quais essas relações são institu- de determinismo metodológico e teórico e
cionalizadas (Clegg, 1989 : 86-128). Há a explanação lógica "totalizante" na qual os
também uma ênfase crescente na explica- outros se inserem. Ao invés disso, essa abor-
ção das estruturas de nível "macro" e dos dagem trata de todas as formas da ação so-
mecanismos que determinam os processos cial institucionalizada e estruturada como
organizacionais pelos quais as lutas de po- um mosaico temporário de interações e
der micropolíticas são mediadas. Isto acar- alianças táticas, que formam redes mutáveis
retou uma relativização das práticas orga- e relativamente instáveis de poder, tenden-
nizacionais específicas que produzem e re- do à decadência e dissolução internas. Ele
produzem formas institucionais.
Alguns pesquisadores (e.g. Fincham,
1992; Clegg, 1994; Knights e Willmott,
1989) tentaram contornar esta divisão en-
tre a concepção institucional/estrutural e a
processual/ intervencionista ao focalizar as
práticas organizacionais genéricas (ainda
que "localizadas"), por meio das quais al-
guns padrões de dominação e controle são
mantidos. Eles tentaram combinar o enfoque
weberiano na reprodução institucional de
estruturas de dominação com a abordagem
de Foucaut das micropráticas que geram
formas mutáveis de poder disciplinar. O
ponto focai, tanto em termos analíticos
quanto empíricos, é o discurso que usa o
pretexto de "perícia" para estabelecer pa-
drões particulares de estruturação e controle
organizacionais em diferentes sociedades e
setores (Abbott, 1988; Miller e 0"Leary,
1989; Powell e DiMaggio 1991; Larson,
1979; 1990; Reed e Anthony, 1992). Esses
discursos criam tipos específicos de regimes
disciplinares em um nível organizacional ou
setorial que estabelecem uma mediação
entre políticas governamentais estratégicas
centralizadas em agentes de intervenção,
por um lado, e a sua implementação tática
dentro de domínios localizados, por outro
(Miller e Rose, 1990; Johnson, 1993; vide
também alguns trabalhos recentes sobre a
teoria do processo de trabalho, e.g. Burawoy,
1985; Thompson, 1989; Littler, 1990; e ges-
tão da qualidade total, e.g. Reed, 1995;
Kirkpatrick e Martinez, 1995).
Esse tipo de pesquisa tenta explicar a
decadência e quebra de estruturas
"corporativistas" dentro das economias po-
líticas e práticas organizacionais de socie-
dades industriais avançadas, à medida que
enfoca suas contradições internas e a inca-
pacidade de responder a iniciativas políti-
cas e ideológicas externas, trazidas pela di-
reita neoliberal que ressurge (Alford e
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 17

explica o desenvolvimento de "sistemas" mo- ras que reproduzem a "organização"


dernos da disciplina organizacional e con- (Goffman, 1983; Layder, 1994).
trole governamental como mecanismos ne- Várias abordagens teóricas específicas
gociados e contingentes de poder e relações, baseiam-se nessa orientação geral para de-
cujas raízes institucionais estão na capaci- senvolver uma agenda de pesquisa para
dade de exercer gerenciamento efetivo dos análise organizacional que tenha, como in-
meios de produção de novas formas do po- teresse estratégico, os processos de produ-
der em si (Cerny, 1990 : 7). ção do conhecimento por meio dos quais a
Assim, surgem como foco estratégico "organização" é reproduzida. A etnome-
de análise mecanismos técnicos e culturais, todologia (Boden, 1994), as abordagens
por meio dos quais campos particulares de pós-modernistas para cultura e simbolismo
comportamento humano (saúde, educação, organizacional (Calas e Smircich, 1991;
criminologia, administração) são estabele- Martin, 1992), a teoria da tomada de deci-
cidos como reservas de mercado para cer- são neoracionalista (March e Olsen, 1986;
tos especialistas ou grupos de peritos. Esses March, 1988), a teoria rede-ator (Law, 1991;
mecanismos têm muito maior significado do 1994a) e a teoria pós-estruturalista (Kondo,
que os poderes econômicos e políticos au- 1990; Cooper, 1992; Gane e Johnson, 1993;
tônomos, tais como "estado" ou "classe". O Clegg, 1994; Perry, 1994) contribuem, co-
conhecimento, e o poder que ele potencial- letivamente, para uma mudança do foco na
mente confere, assumem o papel central, análise organizacional, deslocando-o do ní-
fornecendo a chave cognitiva e os recursos vel macro de formalização ou institu-
representativos para a aplicação de um con- cionalização para um nível micro de análi-
junto de técnicas com que regimes discipli- se do ordenamento ou rotinização social. A
nares, ainda que temporários e instáveis, seus diferentes modos, essas abordagens -
podem ser construídos (Clegg, 1994). Co- muitas das quais são representadas nesse
nhecimentos altamente especializados e livro (ver os Capítulos de Calas e Smircich,
aparentemente esotéricos, que podem, po- Clegg e Hardy, e Alvesson e Deetz, neste
tencialmente, ser acessados e dominados Handbook) - tentam reformular o conceito
por qualquer indivíduo ou grupo com trei- de organização como sendo uma "ordem"
namento e habilidade necessários (Bladder, socialmente construída e sustentada, neces-
1993), fornecem os recursos estratégicos sariamente fundamentada em reservas lo-
para apropriação do tempo, do espaço e da calizadas de conhecimento, em rotinas prá-
consciência. Assim, a produção, codificação, ticas e em mecanismos técnicos mobiliza-
estoque e uso daqueles conhecimentos, que dos por atores sociais em suas interações e
são relevantes para a regulação do compor- discursos do dia-a-dia.
tamento social, tornam-se uma questão es-
tratégica para a mobilização e institu-
cionalização de uma forma de poder orga-
nizado que permita o "controle à distância"
(Cooper, 1992).
Retrabalhada dentro dessa problemá-
tica, a "organização" torna-se portadora de
conhecimentos sociais, técnicos e de habili-
dades por meio dos quais modelos particu-
lares de relacionamento social surgem e re-
produzem-se (Law, 1994a). Esse tipo de "or-
ganização" não tem característica ontológica
inerente nem significado expla-
natório como entidade ou estrutura
generalizável e monolítica. A contingência,
e não a universalidade, impera tanto no to-
cante ao conhecimento localizado e restri-
to, que torna possível a existência de orga-
nizações, quanto nas relações de poder que
elas geram. O foco da pesquisa encontra-se
na "ordem interacional" que produz a orga-
nização e os estoques de conhecimentos por
meio dos quais agentes se envolvem em prá-
ticas situacionais que constróem as estrutu-
18 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Tomados em sua totalidade, os estu- as formas institucionais e as questões analí-


dos contemporâneos de discursos sobre co- ticas e normativas que elas levantam.
nhecimento/poder concentram-se nos me- Um exemplo relativamente óbvio des-
canismos por meio dos quais os membros se desenvolvimento é encontrado no "novo
organizacionais tentam impor ordem à or- institucionalismo" (Powell e DiMaggio,
ganização, gerando redes relacionais dinâ- 1991; Meyer e Scott, 1992; Whitley, 1992,
micas e ambíguas. Essa abordagem ratifica Perry, 1992). Outro pode ser visto no res-
uma visão de organizações como "a con- surgimento do interesse pela política eco-
densação de culturas locais de valores, po- nômica da organização e suas implicações
der, regras, critério e paradoxo" (Clegg, para a extensão da vigilância e do controle
1994 : 172). Esses estudos estão em conso- burocráticos na "modernidade tardia", que
nância com as imagens e preconceitos de se observam na complexa cadeia de formas
um espírito "pós-industrial" ou "pós-moder- e práticas institucionais (Alford e Friedland,
no", de acordo com o qual a organização é 1985; Giddens, 1985; 1990; Cerny, 1990;
desconstruída em termos da "tomada de Wolin, 1988; Thompson, 1993; Silberman,
decisão localizada, descentralizada, instan- 1993; Dandeker, 1990). Por fim, debates
tânea..." de forma que as "transformações e sobre a perspectiva imediata e de longo pra-
inovações organizacionais acontecem do zo para a democracia e participação
encontro entre informação e interação" organizacional dentro de estruturas de con-
(Boden, 1994 : 210). Isto está, por sua vez, trole corporativo, debates estes que se de-
inteiramente de acordo com as teorias da senvolveram em economias políticas domi-
especialização flexível (Piore e Sabei, 1984) nadas por ideologias e práticas neoliberais
e do capitalismo desorganizado (Lash e Urry, durante as décadas de 80 e 90 (Lammers e
1987; 1994), em que as formas ou estrutu- Szell, 1989; Morgan, 1990; Fulk e Steinfield,
ras institucionais, uma vez consideradas 1990; Hirst, 1993) e despertaram o interes-
constitutivos da "economia política", dissol- se por questões globais que devem ser obje-
vem-se em fluxos e redes de informações to da análise de organizações.
fragmentadas. Cada um desses campos da literatura
Há, contudo, uma dúvida persistente levanta questões fundamentais sobre os ti-
quanto ao que está perdido nessa "localiza-
ção" da análise organizacional e sua apa-
rente obsessão com o nível micro de pro-
cessos e práticas. A dúvida faz essas abor-
dagens parecerem estranhamente dissocia-
das das questões mais amplas sobre justiça,
igualdade, democracia e racionalidade. Per-
gunta-se: e quanto à preocupação socioló-
gica clássica com os aspectos macroes-
truturais da modernidade (Layder, 1994) e
suas implicações na forma como "devería-
mos" conduzir nossas vidas organizacionais?

ESCALAS DE JUSTIÇA

O refúgio analítico que os estudos


organizacionais buscaram dentro de aspec
tos locais da vida da organização os distan-
cia, teórica e epistemologicamente, dos te-
mas normativos e das questões estruturais
que formaram seu desenvolvimento histó-
rico e sua racionalidade intelectual. Pode-
se dizer, pelo menos, que esse afastamento
redefine, radicalmente, sua "missão intelec-
tual", distanciando-se de universalidades
éticas e de abstrações conceituais, ao tem-
po em que se aproxima de relatividades cul-
turais e de esquemas interpretativos que são,
inerentemente, resistentes a generalizações
históricas e teóricas. Contudo, essa mudan-
ça em direção à análise local em organiza-
ções e a recusa em enfrentar questões mais
ideológicas e estruturais não passaram de-
sapercebidas. Vários críticos tentaram
redirecionar o estudo das organizações para
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO

pos de controle corporativo predominantes sa forma, explicações que relacionam o com-


nas organizações contemporâneas e em suas portamento e desenho organizacional aos
bases de julgamentos morais e políticos so- contextos de nível macro ganham primazia,
bre justiça e imparcialidade, em contraste dado que estes são constituídos por padrões
com outros interesses e valores. Essa litera- de atividades
tura também reafirma a importância das
"supra-organizacionais que conduzem no
questões relativas à distribuição institu- tempo e no espaço as vidas materiais dos
cionalizada de forças econômicas, políticas seres humanos, bem como por sistemas
e culturais em sociedades desenvolvidas e simbólicos por meio dos quais eles
em desenvolvimento, que tendem a ser categorizam suas atividades e lhes confe-
marginalizadas nos discursos pós-modernis- rem significado" (Friedland e Alford,
tas e pós-estruturalistas, centrados na prá- 1991:
tica de interpretações e representações lo- 232).
cais. Essas abordagens reavivam uma con- Na condição de formas institucio-
cepção da organização como uma estrutura nalizadas de prática social, as organizações
institucionalizada de poder e autoridade que são vistas como "estruturas nas quais as
está acima das micropráticas localizadas dos pessoas poderosas dedicam-se a algum va-
membros organizacionais. lor ou interesse", e esse poder "tem muito
DiMaggio e Powell sustentam que o que ver com a preservação histórica dos
"novo institucionalismo" representa uma padrões de valores" (Stinchcombe, 1968 :
"rejeição dos modelos de atores racionais, 107). Portanto, o posicionamento histórico,
um interesse nas instituições como variá- estrutural e contextual dos valores e inte-
veis independentes, uma volta às explica- resses de atores coletivos, e não sua
ções cognitivas e culturais, e um interesse (re)produção local por meio de práticas de
em propriedades de unidades de análise nível micro, surgem como a prioridade ana-
supra-individuais que não podem ser re- lítica e explicativa para a teoria institucio-
duzidas a agregações ou tratadas como nal'.
conseqüência direta de atributos ou moti-
Esse foco no desenvolvimento históri-
vos individuais" (1991 : 8).
co e na contextualização estrutural de or-
Eles concentram seu foco na estrutu- ganizações, característico do "novo insti-
ra organizacional e em práticas encontra- tucionalismo", está refletido em um traba-
das em diferentes setores institucionais, nos lho recente sobre as mudanças na capaci-
"mitos de racionalidade" que legitimam e dade de "vigilância e controle" das organi-
rotinizam arranjos predominantes e, final-
mente,
"nas formas pelas quais a ação é estru-
turada e a ordem é viabilizada por siste-
mas compartilhados de regras que, por
um
lado, restringem a capacidade e propen-
são dos atores em otimizar recursos e, por
outro, privilegiam alguns grupos cujos in-
teresses estão assegurados por incentivos
e punições" (1991 : 11).
Sua ênfase nas práticas que penetram
as estruturas e processos organizacionais -
tais como o Estado, a classe social, e recei-
tas das profissões e indústrias/setores - re
vela o papel estratégico desempenhado pe-
las lutas de poder entre atores institucionais
com o objetivo de controlar "a formação e
reforma dos sistemas de regras que guiam
a ação política e econômica" (1991 : 28).
Ao reconhecer que a geração e a
implementação de formas e práticas insti-
tucionais são "repletas de conflitos, contra-
dição e ambigüidade" (1991 : 28), a teoria
institucional tem, como preocupação cen-
tral, o processo cultural e político por meio
do qual atores e seus interesses/valores são
institucionalmente construídos e mobiliza-
dos no apoio de certas "lógicas orga-
nizacionais" em detrimento de outras. Des-
I20 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE _____________________________

zações modernas que, como sugere Giddens, nhecimento que trata do que é geral e
tem o tema da "reflexividade institucional" integrativo para o homem [sic]; uma vida
como seu objeto de estudo estratégico. Tra- de envolvimento comum".
ta-se da Essa aspiração de reaver uma "visão
institucional" em análise organizacional, que
institucionalização de uma postura inves-
fale do relacionamento entre o cidadão, a
tigadora e calculista que se interessa por
condições genéricas de reprodução do sis- organização, a comunidade e o Estado nas
tema; ela ao mesmo tempo estimula e re- sociedades modernas (Etzioni, 1993; Arhne,
flete um declínio nos meios tradicionais 1994), é um tema rico. As pesquisas sobre
de fazer as coisas. Está também associada participação e democracia organizacional
à geração de poder (entendida como ca- sugerem que esforços de desenvolvimento
pacidade transformativa). A expansão da de projetos organizacionais mais partici-
reflexividade institucional está por trás da pativos e igualitários têm encontrado difi-
proliferação de organizações em contex- culdades extremas nos últimos 15 anos
tos modernos, incluindo organizações de (Lammers e Szell, 1989). Perspectivas de
alcance global (1993 : 6).
longo prazo para a democracia parecem
A ascensão de formas e práticas igualmente pessimistas em um mundo cada
organizacionais modernas é vista como in- vez mais globalizado e fragmentado, que
timamente ligada à crescente sofisticação, desestabiliza ou mesmo destrói identidades
alcance e variedade de sistemas burocráti- sociopolíticas e culturais estabelecidas, cor-
cos de vigilância e controle, que podem ser roendo a segurança cognitiva e a certeza
adaptados a várias circunstâncias sociais e ideológica que antes se imaginava possíveis
históricas diferentes (Dandever, 1990). A (Cable, 1994).
emergência e a sedimentação institucional A combinação de políticas neoliber-
do estado-nação e das estruturas adminis- tárias com vigilância sofisticada não teve
trativas profissionais desempenham um pa- êxito, contudo, para erradicar o desafio per-
pel crucial no avanço das condições materi- manente de encontrar formas de disciplina
ais e sociais aos quais a vigilância e o con- e controle organizacional mais discretas e
trole organizacional podem ser estendidos
(Cerny, 1990; Silberman, 1993). Mudanças
tecnológicas, culturais e políticas relativa-
mente recentes estimularam a criação e a
difusão de sistemas de vigilância mais dis-
cretos, que são muito menos dependentes
da supervisão e do controle diretos (Zuboff,
1988; Lyon, 1994). O crescimento da sofis-
ticação técnica e da penetração de sistemas
de controle também servem para reafirmar
a relevância atual da preocupação de Weber
sobre a perspectiva, a longo prazo, de
envolvimento individual significativo em
uma ordem social e organizacional, que
parece cada vez mais próxima, ainda que
continue distante, das vidas cotidianas (Ray
e Reed, 1994).
A análise organizacional parece, en-
tão, ter completado um ciclo ideológico e
teórico, uma vez que a percepção de amea-
ça à liberdade representada pelas formas
organizacionais burocráticas "modernas" do
início do século XX ecoam agora em deba-
tes sobre participação e democracia, em
meio ao regime de vigilância e controle, tão
sofisticado quanto discreto, que emergiu no
final do século (Webster e Robins, 1993). À
medida que a organização pós-moderna tor-
na-se um mecanismo de controle sociocul-
tural altamente disperso, dinâmico e des-
centrado (Clegg, 1990), impossível de ser
detectado ou combatido, questões que rela-
cionam responsabilidade política e cidada-
nia tornam-se tão importantes agora quan-
to eram há cem anos. Como Wolin (1961 :
434) elegantemente argumentou, a teoria
organizacional e a teoria política "devem
novamente ser vistas como a forma de co-
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO

auto-aplicáveis (Lyon, 1994). Como Cerny


argumentou em relação às mudanças A narrativa estruturada/analítica so-
organizacionais no final deste século: bre justiça e democracia organizacional bus-
ca reconectar o estudo dos discursos e das
Indivíduos e grupos devem definir- práticas localmente contextualizados com
se estrategicamente e manobrar
ordens de poder, de autoridade e de contro-
taticamen-
te no contexto da lógica do Estado, seja le institucionalizados, que têm racionalidade
amoldando-se a regras legais, seja compe- social e dinâmica histórica específicas. Es-
tindo por recursos distribuídos ou regula- tas, por sua vez, não podem ser entendidas
dos pelo Estado, ou mesmo tentando re- ou explicadas por meio de um foco limita-
sistir e evitar a influência e o controle de do na interação e nos eventos "cotidianos"
outro Estado ou de atores não estatais (Layder, 1994). Tal narrativa força-nos a
(...);
redescobrir o elo vital entre as demandas
o próprio Estado é constituído de uma ca-
deia de jogos de níveis médio e micro que práticas e as necessidades intelectuais do
são, também, caracterizadas por lógicas estudo das organizações, bem como os "pon-
contrastantes, por espaços intersticiais, tos de interseção" entre o normativo e o
por analítico. Esses pontos de interseção devem
estruturas dinâmicas e tensões contínuas ser redefinidos se tal análise quiser reter sua
(1990 : 35-36). relevância e vitalidade, em um mundo onde
Devido a esses jogos políticos sobre- estruturas estabelecidas de longo prazo so-
postos e freqüentemente contraditórios, frem uma pressão extrema para que se trans-
novos princípios e práticas organizativas formem em formas institucionais diferentes.
estão surgindo. As novas soluções propos-
tas requerem que se repense o relaciona-
mento entre o indivíduo e a comunidade, o
qual está mudando rapidamente em um
contexto sociopolítico em que a "o progra-
ma de identidade política" tem-se tornado
muito mais diversificado, instável, fragmen-
tado e contestado (Cable, 1994 : 38-40). A
pesquisa de Lyon (1994) sobre movimen-
tos sociais, grupos de interesse e coalizões
políticas contrários a regimes centralizados
e antidemocráticos de vigilância e controle
indica que há outras opções disponíveis além
da "paranóia pós-moderna" e do pessimis-
mo político que ela parece encorajar. De for-
ma semelhante, escritores como Hirst
(1993) e Arhne (1994; 1996) redescobriram
a sociedade civil e as diversas cadeias de
formas "associativas" de controle social e
econômico que estas continuam a gerar e
apoiar, mesmo estando nas garras de pres-
sões técnicas e sociais para maior centrali-
zação do poder e do controle.
Portanto, essa narrativa exige que re-
conectemos, analítica e politicamente, o lo
cal com o global; as práticas e processos
organizacionalmente situados com as racio-
nalidades e estruturas institucionais; a or-
dem negociada com o controle e o poder
estratégico. Em resumo, é preciso conside-
rar que:

Vivemos em um mundo maciçamen-


te interconectado e interdependente, po-
rém de forma desigual e irregular, onde a
"organização" (e desorganização) e os ti-
pos peculiares de organizações represen-
tam "problemas" fundamentais, tanto em
termos conceituais quanto práticos; em
tal
cenário, uma visão administrativa domi-
nante e ampla, por exemplo, só pode ser
obtida de forma limitada e imperialista,
tanto em termos conceituais quanto práti-
cos. Procurar entender e analisar tais
com-
plexas interseções e suas ramificações
deve, a meu ver, representar um compo-
nente-chave para o desenvolvimento fu-
turo do campo, se ele espera atender aos
desafios práticos e intelectuais que lhe
são
impostos (Jones, 1994 : 208).
I22 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE_____________________________

PONTOS DE INTERSEÇÃO essa visão, a "tese da contestação essencial


é preterida pela prática da desconstrução
Vários temas interconectados consti- total" (1993 : 233). Connolly concebe a te-
tuem a "espinha dorsal de análise" em tor- oria política, essencialmente, como um do-
no da qual as seis estruturas narrativas ana- mínio ou espaço de conflitos, no qual inter-
lisadas neste capítulo podem ser interpre- pretações rivais da vida política podem ser
tadas como tentativas contestadas de repre- analiticamente identificadas e racionalmen-
sentação e controle de nosso entendimento te debatidas por agentes responsáveis, sem
sobre a prática social estratégica insti- que se apele ao "provincialismo transcen-
tucionalizada que é a "organização". Assim dental" característico do universalismo
como o discurso da teoria política, o discur- epistemológico e do relativismo cultural.
so da teoria da organização deve ser consi- Essa concepção pode ser usada para mapear
derado como uma rede contestável e con- os temas subjacentes ao relato histórico da
testada de conceitos e teorias, que travam teoria das organizações apresentado neste
batalhas para impor certos significados em capítulo.
detrimento de outros a nosso entendimen- Esses temas podem ser resumidos das
to partilhado da vida organizacional na seguintes formas: um debate teórico a res-
modernidade recente. peito das explicações rivais sobre conceitos
de "atuação" e "estrutura", à medida que
Dizer que uma rede particular de estes são empregados como conceitos-cha-
conceitos é contestável eqüivale a dizer ve de características organizacionais; um
que
debate epistemológico entre "construti-
os referenciais e critérios de julgamento
que ela expressa estão abertos à contesta- vismo" e "positivismo" e suas implicações
ção. Dizer que essa rede é essencialmente para a natureza e caráter do conhecimento
contestável eqüivale a afirmar que os cri- que os estudos organizacionais produzem;
térios universais da razão - como agora os um debate analítico sobre a prioridade re-
entendemos - não bastam para conciliar lativa a ser conferida, nos estudos orga-
esses conflitos definitivamente. Quem nizacionais, ao nível "local" em oposição ao
pro- nível "global" de análise; um debate nor-
põe conceitos essencialmente
contestáveis
investe contra aqueles que interpretam e
operacionalizam os referenciais a seu pró-
prio modo, tornando-os representativos
da
vontade de Deus ou da razão ou da natu-
reza com um provincialismo transcenden-
tal; eles tratam os referenciais com que
estão intimamente familiarizados como
critérios universais de medida para ava-
liar todas as outras teorias, práticas e
ideais. Eles se utilizam de uma retórica
universalista para proteger práticas pro-
vinciais... A frase "conceitos essencialmen-
te contestáveis", se bem interpretada,
cha-
ma a atenção para a conexão interna exis-
tente entre os debates conceituais e os
debates sobre a forma de bem viver; cha-
ma a atenção para os motivos que agora
temos para acreditar que o espaço racio-
nal para tais contestações continuará a
existir no futuro; para o valor de se man-
ter tais contendas vivas mesmo em cená
rios onde se requer uma orientação deter-
minada à ação; e para a tarefa que cabe
àqueles que aceitam os primeiros três te-
mas de expor seu hermetismo conceituai
onde este foi imposto artificialmente
(Connolly, 1993 : 225-231).
Connolly desenvolve esse argumento
para desenvolver uma crítica ao "univer-
salismo racional" e ao "relativismo radical"
que dominam a análise política nas arenas
da filosofia analítica anglo-americana e do
deconstrucionismo continental (1993 : 213-
247). Ele é particularmente crítico do
"hermetismo conceituai" artificial e sem
garantias dos relatos foulcaudianos sobre
discursos de conhecimento/poder, que en-
tendem atores sociais como artefatos, ao
invés de agentes de poder. De acordo com
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO

cia da atuação gerencial em nossa socieda-


de" (1994 : 71). Sua rejeição de extremis-
mativo entre o "individualismo" e "coleti- mos teóricos de reducionismo individualis-
vismo" como concepções ideológicas rivais, ta e determinismo coletivista é bem aceita.
que competem pela noção de "viver bem" A necessidade de desenvolver teorias expla-
nas sociedades modernas. Cada uma das seis natórias em que a "atuação deriva da natu-
narrativas contribui e participa para a for- reza simultaneamente facilitadora e contra-
mação dos espaços intelectuais contestados, ditória dos princípios estruturais de acordo
abertos por esse debate. com os quais agem as pessoas" (1994 : 72)
constitui uma das questões centrais no pro-
grama de pesquisas da análise organiza-
O debate atuação/estrutura cional.

Layder argumenta que, na teoria so-


cial, o debate atuação / estrutura "concen- O debate construtivista/
tra-se na questão de como a criatividade e positivista
as restrições se relacionam por meio da ativi-
dade social - como podemos explicar sua Os assuntos epistemológicos têm de-
coexistência?" (1994: 4). Os que enfatizam sempenhado um papel estratégico no desen-
a atuação concentram-se na busca de um volvimento da teoria organizacional, espe-
entendimento da ordem social e orga- cialmente nos últimos 25 anos, à medida
nizacional que saliente as práticas sociais por que a ortodoxia positivista vem sendo pre-
meio das quais seres humanos criam e re- terida por várias escolas de metodologia
produzem instituições. Os que privilegiam interpretativa, realista e crítica (Hassard,
a "estrutura" ressaltam a importância dos 1990; Willmott, 1993; Donaldson, 1985;
padrões e das relações externas que deter- 1994; Aldrich, 1992; Gergen, 1992). Esse
minam e circunscrevem a interação social debate tem que ver com as formas repre-
dentro de formas institucionais específicas. sentacionais, por meio das quais as "preten-
Com relação às estruturas narrativas
acima, percebe-se, por um lado, um abismo
teórico entre um conceito de organização
que se refere a determinadas estruturas
como condicionantes de comportamentos
individuais e coletivos, e por outro lado, um
conceito que induz a uma teoria de redes
de interação preconcebidas, por meio das
quais geram-se e reproduzem-se estruturas
temporárias, cujos mecanismos ordenadores
estão em permanente mudança. As narrati-
vas racional, integracionista e de mercado
apoiam firmemente a concepção estrutural
da organização, ao passo que os pesquisa-
dores que trabalham segundo as tradições
de poder, conhecimento e justiça preferem
o conceito de atuação organizacional. Mui-
to esforço tem sido feito na tentativa de su-
perar, ou pelo menos reconciliar essa
dualidade teórica, por meio de abordagens
que enfatizam a natureza simultaneamente
83 |

constituída e constituinte da atuação e da


estrutura na reprodução organizacional (e.g.
Giddens, 1984; 1993; Boden, 1994); no
entanto, o conflito gerado por essas lógicas
explanatórias rivais continua sendo fonte de
tensão criativa nos estudos organizacionais.
Há sempre o risco de que as concep-
ções orientadas para a atuação afastem por
demais a organização de seu ambiente con-
textual, tornando-se incapaz de lidar com
grandes mudanças nas formas institucionais
dominantes. Por outro lado, visões orienta-
das pela estrutura tendem a resultar em uma
explanação lógica determinística, na qual a
sociedade esmaga a atuação com uma for-
ça monolítica (Whittington, 1994 : 64). A
conclusão de Whittington é que a análise
de organizações necessita de uma teoria de
"escolha estratégica adequada à importân-
24 PARTE I - MODELOS DE ANALISE

soes de conhecimento" dos teóricos da or- Em estudos organizacionais, as abor-


ganização podem ser avaliadas e legitima- dagens teóricas desenvolvidas com base nas
das. Enquanto as narrativas racional, estruturas de poder, conhecimento e justiça
integracionista e de mercado se desenvol- tendem a dar destaque a processos e práti-
veram com base na ontologia realística e na cas organizacionais em nível local/micro; as
epistemologia positivista, as tradições de narrativas racional, integracionista e de
poder, conhecimento e justiça são mais fa- mercado, por outro lado, começam por uma
voráveis a uma ontologia construtivista e a concepção mais global da "realidade da or-
uma epistemologia convencionalista. A pri- ganização". Abordagens etnometodológicas
meira trata "organização" como um objeto e pós-estruturalistas levam o foco local ao
ou entidade existindo como tal, e que pode extremo, ao passo que a ecologia popu-
ser explicada em termos de princípios ge- lacional e o institucionalismo desenvolvem
rais ou de leis que governam seu funciona- um nível de análise mais global. Abordagens
mento. A segunda promove uma concepção que se fixam no nível local/micro de análi-
da organização como sendo um artefato se em estudos organizacionais correm o ris-
socialmente construído e dependente, que co de basear suas pesquisas em "ontologias
somente pode ser entendido em termos de homogêneas", o que faz com que se torne
convenções metodológicas altamente restri- muito difícil, se não impossível, ir além das
tas e localizadas, sempre abertas a revisões práticas cotidianas em que os membros se
e mudanças. acham envolvidos (Layder, 1994: 218-229).
Essas epistemologias radicalmente Como resultado, fica comprometida a sua
opostas legitimam procedimentos e proto-
colos muito diferentes para avaliar as "pre-
tensões de conhecimento" do pesquisador
organizacional. A epistemologia positivista
restringe severamente o limite do "conheci-
mento" que pode ser atingido pelos estudos
organizacionais, limitando-o àqueles fatos
que podem ser submetidos a um "método
de prova" rigoroso, bem como a generaliza-
ções semelhantes a leis que ela sanciona. O
construtivismo adota uma posição muito
mais liberal - para não dizer relativista - e
recai nas normas e práticas comunais res-
tritas de comunidades de pesquisa específi-
cas, desenvolvidas ao longo do tempo (Reed,
1993). Várias tentativas de se seguir um
meio termo entre essas polaridades episte-
mológicas têm sido feitas (Bernstein, 1983),
porém o campo de conflitos onde lutam a
corrente relativista/construtivista e a positi-
vista/objetivista continua a existir nos estu-
dos organizacionais.
O debate local/global

O debate atuação/estrutura gira em


torno de questões fundamentais sobre a ló-
gica da explanação que deve ser seguida
pelos analistas organizacionais, ao passo que
o debate construtivista/positivista realça a
arraigada controvérsia sobre as formas
representacionais, através das quais este
conhecimento deve ser desenvolvido, ava-
liado e legitimado. O debate localismo/
globalismo surge quando o foco narrativo
se direciona às questões relativas ao nível
de análise em que a pesquisa e a análise
organizacional devem ser conduzidos. Como
Layder (1994) assinala, questões relativas
a níveis de análise fixam-se em torno de di-
ferentes modelos de realidade social e em
torno das propriedades analíticas das enti-
dades ou objetos localizados nos diferentes
níveis dentro de tais modelos. Portanto, o
debate "micro/macro" questiona se a ênfa-
se deve ser dada aos "aspectos íntimos e
detalhados da conduta individual [ou] em
fenômenos impessoais, de maior escala"
(1994 : 6).
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 25

------------------------------------------- preceito ontológico/metodológico está na


crença de que formas de organização social
capacidade teórica de perceber, e muito que vão além de associações diretas
menos explicar, as engrenagens intrincadas interpessoais só podem ser justificadas em
e complexas das práticas locais, em toda sua termos de sua contribuição positiva para a
variabilidade e contingência, bem como as proteção da liberdade e da autonomia indi-
estruturas institucionalizadas (Smith, vidual.
1988). O perigo correspondente que há em O coletivismo encontra-se no ponto
"ontologias estratificadas" é que elas nunca oposto do espectro ideológico/metodoló-
vêem a dialética que há entre estruturas e gico, à medida em que recusa o reconheci-
práticas sociais, as quais se constituem mu- mento de atores individuais como compo-
tuamente. nentes constituintes da organização formal;
A tendência que se observa, em análi- os indivíduos tornam-se simplesmente cifras
se organizacional, de mudar o foco analíti- para as programações cognitivas, emocio-
co para tão perto do nível local/micro traz nais e políticas geradas pelas grandes estru-
consigo o risco de se perder de vista as limi- turas. Se, por um lado, o individualismo ofe-
tações e recursos estruturais que conformam rece uma visão da organização como uma
o processo de (re)produção ou "ordenação" criação não intencional dos atores indivi-
organizacional. Alguns estudos, contudo, duais que seguem os desígnios de seus ob-
conseguem manter uma relação intrincada, jetivos políticos e instrumentais, por outro
porém absolutamente vital, entre local e lado, o coletivismo trata a organização como
global, entre atuação e estrutura, e entre uma entidade objetiva que se auto-impõe
construção e restrição. De fato, as pesqui- aos atores com tal força que lhes deixa pou-
sas mais recentes e importantes no estudo ca ou nenhuma alternativa, exceto obede-
das organizações são encontradas nos tra- cer a seus comandos (Whittington, 1994).
balhos de Zuboff (1988), sobre tecnologia A narrativa integracionista apóia-se muito
da informação; na análise de Jackall (1988) nessa visão, à medida que identifica uma
dos "labirintos morais" a serem descober- lógica de funcionamento e desenvolvimen-
tos em grandes corporações americanas; e to da organização que funciona à revelia dos
na pesquisa de Kondo (1990) sobre a "auto- indivíduos, e que limita bastante suas op-
construção da personalidade" em organiza- ções de tomada de decisão, ao ponto de
ções japonesas. Esses estudos redescobrem
e renovam a relação de constituição mútua
existente entre práticas e formas institu-
cionalizadas que estão no cerne de um tipo
de análise organizacional que ultrapassa os
limites do entendimento do cotidiano,
conectando-se com a dinâmica histórica,
social e organizacional que estrutura o de-
senvolvimento de uma sociedade.

O debate individualista/
coletivista
A última vertebra analítica que cons-
titui a estrutura teórica dessa breve história
dos estudos sobre organizações é o debate
ideológico entre a visão individualista e
coletivista da ordem organizacional. As te-
orias organizacionais individualistas estão
fundamentadas em uma perspectiva analí-
tica e normativa que vê a organização como
resultado de ações e reações individuais
potencialmente redutíveis a suas partes com-
ponentes. Portanto, teorias baseadas no
mercado, e a rica vertente das teorias da
tomada de decisão criadas em torno dessa
perspectiva individualista (Whittington,
1994), negam que conceitos coletivos tais
como "organização" têm alguma outra ca-
racterística ontológica ou metodológica
além de representarem um código simplifi-
cado para os comportamentos de atores in-
dividuais. A justificativa ideológica para esse
I26 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE_______________________________

quase extingui-las. Embora o coletivismo volvimento global e seus impactos em for-


esteja muito menos em voga atualmente, ele mas de controle e administração das orga-
continua a oferecer uma concepção de or- nizações e instituições em todo o mundo.
ganização e análise organizacional que de-
safia diretamente o domínio das perspecti-
vas analíticas fundamentadas em um pro- Gênero
grama reducionista/individualista.
A "cegueira relativa ao gênero" da te-
oria e análise organizacional é bem docu-
PONTOS DE EXCLUSÃO mentada em outras obras e não necessita
ser ensaiada outra vez (Hearn et al., 1989;
Cada um dos quatro pontos de inter- Calas e Smircich, 1992; Witz e Savage,
seção apresentados na história narrada por 1992; Mills e Tancred, 1992; Ferguson,
este capítulo estrutura o campo de conflitos 1994; Martin, 1994; ver também o Capítu-
no qual a teoria das organizações vem to- lo de Calas e Smircich deste Handbook). O
mando forma como um empreendimento ponto básico que se quer enfatizar aqui é
intelectual identificável e factível. Eles es- que as categorias, conceitos e teorias fun-
tabelecem um conjunto de parâmetros em damentais com os quais a análise orga-
meio aos quais tornou-se possível, durante nizacional geralmente lida não permitem o
quase um século, um diálogo entre inter- reconhecimento do fato de que as estrutu-
pretações concorrentes e conflitantes de ras e processos organizacionais são per-
organização, à medida que os cientistas so- meados por relações e práticas de poder
ciais tentam dar conta do crescimento e da baseadas no gênero. Isto acarreta uma for-
importância estratégica dessa prática so- ma extrema de miopia intelectual e ideoló-
cial. Contudo, os pontos de interseção en- gica institucionalizada, em que são excluí-
tre as narrativas são também relevantes por das dos programas de pesquisa a contribui-
tudo aquilo que eles excluem, ou seja, por ção vital das teorias e práticas organi-
conta dos pontos de exclusão ou de "silên- zacionais para a produção e reprodução de
cio" que eles revelam. "pessoas sexuadas" (Mills e Tancred 1992),
As narrativas analíticas estruturadas bem como as estruturas de desigualdade e
que constituem o campo de conflitos histó-
ricos da teoria organizacional são estórias
que filtram e mediam seletivamente uma
realidade social e histórica extremamente
diversa e complexa. Essas narrativas omi-
tem, ou no mínimo marginalizam, aspectos
da vida organizacional que podem adquirir
significado estratégico, se observados de um
ponto de vista diferente. O teor das narrati-
vas está longe de ser ingênuo; na verdade,
ele se baseia nos pressupostos sobre a reali-
dade da organização e os meios intelectu-
ais que sejam mais apropriados para sua
exploração, e que encontram pouca aceita-
ção em outras áreas.
Nossa consciência e sensibilidade para
com essas omissões ou "ausências" tem cres
cido nos últimos anos, porém, estas perma-
necem sendo realidades relativamente sub-
desenvolvidas e minimizadas nos estudos
das organizações, para as quais somente
agora nos voltamos. Quatro temas são
cruciais para essa "agenda latente" na aná-
lise organizacional: a questão do gênero e
suas implicações para o modo pelo qual
conceitualizamos, analisamos e praticamos
a organização; o tema da etnicidade e raça
e sua relevância para o nosso entendimen-
to da desigualdade organizacional; o assun-
to da tecnociência e seu potencial para trans-
formar as estruturas organizacional e os
meios teóricos por meio dos quais elas são
intelectualmente abordadas; e, finalmente,
o processo de desenvolvimento e subdesen-
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 87 I
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

controle por meio das quais se perpetua sua sas categorias analíticas e compromissos
subordinação (Witz e Savage, 1992). ideológicos básicos.

Raça e etnicidade Scarbrough e Corbett argumentam que a


nova tecnologia da informação está geran-
Enquanto a crítica feminista à "ceguei- do "circuitos" de controle, significados e
ra relativa ao gênero" inata à teoria desenhos mais complexos e inovadores, à
organizacional tem ganhado força nos últi- medida que "a força transformacional do
mos 10 anos ou mais, a questão dos funda- conhecimento tecnológico pode escapar aos
mentos raciais e étnicos do poder nas orga- desígnios dos poderosos e ameaçar, e não
nizações está apenas começando a surgir na simplesmente reproduzir, a estrutura eco-
literatura como um tópico aceitável de in- nômico-social existente" (1992 : 23). Mui-
vestigação e debate (Nkomo, 1992; Reed, to se fala em uma estratégia de controle
1992; Ferguson, 1994; ver também o Capí- organizacional "neotaylorista" como sendo
tulo de Nkomo e Cox deste Handbook): a força motriz por trás das mudanças
tecnológicas contemporâneas (Webster e
introduzir a cor da pele nos estudos Robins, 1993). Contudo, uma leitura mais
organizacionais requer reflexão sobre o matizada sugeriria que as tecnologias avan-
sig- çadas vêm abrindo novos focos de conflito
nificado dessa cor e o desmonte da com-
e circuitos de controle, que tornaram ainda
plexa gramática da raça que
rotineiramen- mais difícil a realização de previsões sobre
te mistura terminologias biológicas (por tendências de longo prazo nas estruturas de
exemplo, "preto", "branco"), geográficas poder.
(por exemplo, "americano africano", O trabalho de Escobar (1994) sobre a
"ame- emergência de uma nova "cibercultura" em
ricano asiático") e históricas (por exem- sociedades avançadas/pós-modernas levan-
plo, "americano nativo", "indígena") para
ta questões fundamentais sobre o papel da
rastrear a identidade racial. Raça, assim
como gênero, apresenta-se como desem-
penho por si mesma, um conjunto de prá-
ticas, linguagens e auto-aprendizagens
tão
denso e pesado que é possível mascarar a
história como natureza (Ferguson, 1994 :
93).

Ferguson conclui que a introdução da


cor na análise organizacional poderia enco-
rajar-nos "a pensar na raça, não como uma
propriedade estática que adere aos indiví-
duos, mas como um conjunto de práticas e
identidades produzidas por meio de com-
plexas interações entre geografia, história e
poder" (1994 : 95). Dessa forma, tanto a
"sexualização" quanto a "colorização" da
teoria organizacional abriria caminho para
uma definição "muito mais ampla da cons-
tituição e objetivos dos estudos orga-
nizacionais" (1994 : 97) e faria com que nos
dedicássemos a um questionamento mais
profundo, e portanto mais perigoso, de nos-
Tecnociência

As práticas e os processos sociotécnicos


por meio dos quais a "ordenação orga-
nizacional" se conforma são temas perma-
nentes nos estudos organizacionais, e
reemergem como uma pesquisa de interes-
se estratégico nas abordagens contemporâ-
neas que se inspiram nas teorias organi-
zacionais baseadas no conhecimento, tal
como a teoria de rede-ator (Law, 1991;
1994a). Contudo, a interação dinâmica en-
tre cultura e tecnologia atrai ainda mais a
atenção dos pesquisadores que se concen-
tram no desenvolvimento de novas tecno-
logias da informação, que aparentemente
acarretam "uma transformação fundamen-
tal na estrutura e no significado da cultura
e sociedade moderna" (Escobar, 1994 : 211).
I28 ['ARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ______________________________

tecnologia como agente e produto da pro- meçam também a atrair a atenção dos pes-
dução cultural e social. Ele argumenta que quisadores organizacionais (Escobar, 1994;
novos desenvolvimentos em inteligência Ramirez, 1994). Contudo, todo o terreno da
artificial e biotecnologia, que radicalmente globalização política, econômica e cultural
transformam o relacionamento entre as dominada pelo Ocidente e seus impactos nas
máquinas, corpos e comportamentos, deses- novas formas organizacionais emergentes
tabilizam a divisão convencional do traba- no Primeiro e no Terceiro Mundo permane-
lho entre ciência, tecnologia e sociedade. Em cem como temas pouco explorados nas aná-
vez da tradicional distinção categórica en- lises contemporâneas da organização (Calas,
tre "natureza" e "sociedade", está se forman- 1994).
do, "por meio de intervenções tecnológicas Essa breve revisão de algumas das
baseadas na biologia, uma nova ordem para omissões apresentadas pelas tradições teó-
a interação entre a vida, a natureza e o cor- ricas revela sua capacidade limitada de auto-
po" (1994 : 214). Ela reconfigura radical- reflexão crítica. Qualquer das narrativas
mente a prática e o discurso organizacional analiticamente estruturadas, bem como as
que giram em torno dos desenvolvimentos abordagens teóricas particulares e progra-
tecnocientíficos. Escobar afirma ainda que mas de pesquisa que elas estimulam, exclui
esses desenvolvimentos levarão a "profun- e marginaliza ao mesmo tempo que inclui e
das mudanças na acumulação do capital, nas estrutura. Contudo, a interação dinâmica
relações sociais e na divisão do trabalho em entre tradições rivais abre espaço para o
muitos níveis... A mudança para novas diálogo racional e a reflexão criativa por
tecnologias da informação marcou o apare- meio das quais o estudo de organizações se
cimento de processos de trabalhos mais fle- desenvolve ou "progride" como prática in-
xíveis e descentralizados, altamente telectual identificável e coerente. O diálogo
estratificados por fatores de gênero, etnia, racional entre tradições que competem en-
classe e fatores geográficos" (1994 : 120). tre si e a auto-reflexão crítica sobre suas li-
Considerado nesses termos, o concei- mitações inerentes são características sem-
to de "tecnociência" começa a sensibilizar
pesquisadores organizacionais para os no-
vos campos organizacionais e cenários insti-
tucionais nos quais os desenvolvimentos
científicos e tecnológicos se combinam para
criar novas formas de apropriação e meca-
nismos de decisão. Isso é, particularmente,
o caso do desenvolvimento do Terceiro Mun-
do, onde corporações transnacionais dedi-
cam-se à pesquisa e desenvolvimento
biotecnológico, nas áreas de genética de
plantas, cultura de tecidos industriais e
manipulação genética de microorganismos,
que provavelmente resultarão em uma
"biorrevolução" dirigida pelos imperativos
da acumulação de capital ao invés de cres-
cimento interno. É nesses termos que o re-
lativo silêncio sobre as implicações cultu-
rais e políticas da biotecnologia se encaixa
perfeitamente com a negligência constante
dos interesses e tradições do Terceiro Mun-
do nos estudos organizacionais.

Desenvolvimento global e
subdesenvolvimento
Pesquisadores como Castells (1989) e
Smith (1993) têm começado a reconhecer
as "novas dependências" entre os países "ri-
cos em tecnologia" e os "pobres em
tecnologia", que resultam da dominação,
pelo Primeiro Mundo, das inovações como
computadores, tecnologia biológica e de
informação, bem como de sua coordenação
sistemática dos mecanismos organizacionais
associados à "tecnociência". As práticas cul-
turais e as formas políticas por meio das
quais esses novos relacionamentos de ex-
ploração e dependência são mediados co-
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 29

pre presentes no campo. Elas provavelmen- rativas que gerem questões" (1994b : 249).
te se tornarão características ainda mais sig- Isto não necessariamente leva os estudos
nificativas quando os debates interno e ex- organizacionais a um redemoinho incon-
terno a cada narrativa descortinarem as con- trolável de relativismo, argumenta Law, pois
tradições e tensões encontradas em qualquer essa opção nos sensibiliza para a necessida-
comunidade intelectual, bem como nas au- de de preservar e utilizar o pluralismo inte-
diências mais amplas para as quais ela diri- lectual viabilizado pela crítica e de revelar
ge seu discurso. O estudo das organizações os "processos pelos quais os atos de narrar
vem atravessando um debate prolongado e ordenar as estórias ocorrem espontanea-
sobre sua identidade, razão e objetivo há mente" (1994b : 249).
mais de três décadas. Esse debate tem lan- Como já foi relatado em seções ante-
çado uma verdadeira torrente de novas riores desse capítulo, o chamado para a re-
abordagens, cujas falas são dirigidas a uma clusão e o reagrupamento em torno de uma
extensão cada vez maior de audiências, e ortodoxia intelectual renovada é uma ten-
que trata de um conjunto muito mais am- dência forte dentro do campo no presente
plo de questões do que o fazia quando as momento. A seus próprios modos,
necessidades técnicas e os interesses políti- Donaldson (1985; 1988; 1989; 1994) e
cos de uma pequena elite formadora de di- Pfeffer (1993) tentam reviver a narrativa dos
retrizes dominavam o cenário. O debate estudos organizacionais como um empreen-
atual também enfatiza algumas questões bá- dimento científico em sintonia direta com
sicas sobre os rumos mais apropriados para as necessidades técnicas e interesses políti-
o desenvolvimento futuro do estudo de or- cos das elites formadoras de diretrizes; esta
ganizações. é, aliás, uma aspiração e uma motivação que
dominou o desenvolvimento do campo des-
de as primeiras décadas deste século. Seu
NARRANDO O FUTURO TEÓRICO apelo por consenso paradigmático e disci-
plina em torno de uma ortodoxia meto-
Law sugeriu que, ao longo das últimas dológica e teórica dominante, que forneces-
duas décadas, os estudos organizacionais se, cumulativamente, conhecimento codifi-
atravessaram uma "fogueira de certezas" em cado e "amigável ao usuário" às elites for-
relação a suas fundações ontológicas, com- madoras de diretrizes, está em consonância
promissos teóricos, convenções metodoló- com o atual desejo de restabelecer ordem
gicas e predileções ideológicas (1994b : 248- intelectual e controle em um mundo cada
249). Os pressupostos do domínio relacio- vez mais fragmentado e incerto. Eles são
nados à prevalência analítica da "ordem" herdeiros intelectuais e ideológicos do
sobre a "desordem"; da "estrutura" sobre o cientificismo tecnocrático que permeia as
"processo"; das "internalidades" sobre as
"externalidades"; dos "limites" sobre as "eco-
logias"; e da "racionalidade" sobre a "emo-
ção" têm sido incinerados por críticas fero-
zes a sua arrogância teórica inata e a sua
pretensão metodológica. Law delineia as
duas respostas possíveis para essa situação:
"avançar a qualquer custo" ou, o oposto,
"deixar que brotem mil flores". A primeira
opção sugere uma reclusão às fortificações
intelectuais que oferecem proteção contra
os efeitos radicalmente desestabilizadores
da crítica contínua e da desconstrução, des-
de que seja feita uma reforma adequada
dessas fortificações. Ela apoia um reagru-
pamento geral em torno de um paradigma
teórico aceito e um programa básico de pes-
quisas, que neutralizem a dinâmica frag-
mentária criada pelas abordagens que rom-
peram com a ortodoxia. A segunda opção
estimula uma continuada proliferação de
"mais questões e incertezas e (...) mais nar-
PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

cessos e práticas comunais de reflexão críti-


ca necessária à identificação de anomalias
tradições racionais, integracionistas e de dentro das teorias existentes oferece uma
narrativas de mercado previamente anali- alternativa mais atraente, tanto para a ar-
sadas. Esse apelo a uma unicidade intelec- rogância do "sempre em frente" ortodoxo
tual, em torno de um paradigma teórico re- quanto para a desesperança do "tudo é váli-
novado e ao consenso ideológico sobre as do" relativista. Willmott (1993) resiste ao
necessidades tecnocráticas restritivas às dogma da incomensurabilidade paradig-
quais a análise organizacional deve servir, mática, ao mesmo tempo em que enfatiza o
se apoiam no pressuposto de que o retorno papel crucial da política acadêmica insti-
à ortodoxia é um projeto politicamente viá- tucionalizada ao determinar critérios de
vel. acesso aos recursos e infra-estrutura - (bol-
O alter ego da visão "de volta à orto- sas, periódicos, editores etc.) que confor-
doxia" é a "tese da incomensurabilidade", mam as condições em que os diferentes
que vem recebendo nova vida intelectual da paradigmas do conhecimento são produzi-
crescente influência das abordagens pós- dos e legitimados. Contudo, essa sensibili-
estruturalista e pós-modernista, tais como dade quanto às "práticas de produção" que
a teoria do discurso de inspiração facilitam a aceitação de certas teorias
foucauldiana e a teoria ator-rede (Jackson organizacionais e marginalizam ou exclu-
e Carter, 1991; Willmott, 1993; 1994; em outras não é suficiente. A análise de
Alvesson e Willmott, 1992). Simpatizantes Willmott revela que há pouca consciência
da "tese da incomensurabilidade" se acomo- quanto às formas em que essas práticas de
dam no relativismo epistemológico, teórico produção interagem com práticas adju-
e cultural. Eles rejeitam a possibilidade de dicatórias, construídas ao longo de deter-
um discurso compartilhado entre posições
paradigmáticas conflitantes em favor de um
relativismo sem qualificação, que politiza
completamente o debate intelectual entre
tradições rivais. Relações de mútua exclusi-
vidade entre paradigmas oferecem visões
polarizadas da organização e das linguagens
da análise organizacional, que não podem
ser reconciliadas. Assim, as narrativas rivais
que constituem "nosso" campo estão trava-
das em uma luta pelo poder intelectual sem
nenhuma esperança de mediação. Um "de-
sejo de poder" transcendental nietzschiano
e uma idéia geopolítica darwiniana de "so-
brevivência do mais adaptado" tornam-se
os parâmetros intelectuais e institucionais
dentro dos quais essa luta deve ser travada.
Não há possibilidade de sustentar uma nar-
rativa por meio da argumentação, da lógica
e da prova; o que há simplesmente é o po-
der de um paradigma dominante e das prá-
ticas disciplinares que ele gera e legitima.
Não há reconhecimento de regras funda-
mentais, negociadas, dentro das quais se
pode contestar racionalmente (Connolly,

1993 : 233-234), nem um interesse com-


partilhado na mediação de suspeitas e riva-
lidades mútuas. A concepção de estudos
organizacionais como um campo de confli-
tos históricos mediados pelo contexto, por-
tanto, é substituída pela prática de uma
desconstrução total e pelo relativismo sem
qualificação em que se baseiam esses auto-
res.
Essa "escolha de Hobson", entre a or-
todoxia renovada e o relativismo radical não
é a única opção: uma sensibilidade maior
ao contexto sócio-histórico e à dinâmica
política do desenvolvimento teórico não
precisa degenerar-se em uma desconstrução
impensada e total como a única alternativa
à ortodoxia ressurgente. O trabalho de
Willmott (1993) baseado na abordagem
kuhniana do desenvolvimento teórico no
âmbito das ciências sociais e naturais ofere-
ce uma saída para esse beco sem saída inte-
lectual no qual tanto a ortodoxia quanto o
relativismo desembocam. Seu foco nos pro-
TEORIZAÇÃO ORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 31

minado período de desenvolvimento inte- renovação dos estudos organizacionais.


lectual, para formar as regras negociadas por Como argumenta Perry, "não podemos es-
meio das quais abordagens e tradições ri- capar da história ou do jogo da cultura. Toda
vais possam ser avaliadas. Precisamos de- teorização é portanto parcial; toda teo-
senvolver maior consciência das maneiras rização é seletiva" (1992 : 98). Contudo,
sutis e intricadas de interação entre as con- aqui não se trata de racionalização em prol
dições materiais e as práticas intelectuais, e de um consenso paradigmático forçado ou
do modo como essa interação gera e sus- rumo à proliferação irrestrita de para-
tenta as tradições narrativas e os programas digmas. Ao contrário, está se falando de uma
de pesquisa inerentemente dinâmicos, que apreciação mais sensível da complexa inte-
constituem o campo dos estudos organi- ração entre um conjunto de condições
zacionais ao longo do tempo. institucionais e formas intelectuais em mu-
"Reflexividade institucional" (Giddens, tação, à medida que se combinam para re-
1993; 1994) não é apenas a característica produzir a reflexividade e a crítica que são
que define os fenômenos que são objeto de o marco do estudo contemporâneo de orga-
estudo dos pesquisadores organizacionais; nizações.
ela é também uma característica constitutiva A proposta implícita deste capítulo é
da troca intelectual que eles praticam. O sugerir que os teóricos organizacionais de-
estudo de organizações é ao mesmo tempo senvolveram e continuarão a desenvolver
progenitor e herdeiro dessa reflexividade uma rede de debates críticos internos e ex-
institucionalizada, à medida que necessa- ternos às tradições narrativas, que irão in-
riamente depende e sistematicamente cul- delevelmente conformar a evolução do cam-
tiva uma atitude crítica e um questio- po. Três debates parecem particularmente
namento em torno de seus objetos, media- intensos e potencialmente produtivos no
dos por meio de uma interação dinâmica presente. O primeiro é a necessidade perce-
nas tradições narrativas que constituem seu bida de desenvolver uma "teoria sobre o
legado intelectual. Os estudiosos da organi- assunto" que não degenere nas simplicida-
zação não podem evitar esse legado: ele des do reducionismo ou nos absurdos do
define os pressupostos que formam o pano determinismo. O segundo é o desejo gené-
de fundo e o contexto moral que alimentam rico de construir uma "teoria organizacio-
as decisões dos pesquisadores quanto a ideo- nal" que venha a realizar a mediação analí-
logia, epistemologia e teoria. Essas escolhas tica e metodológica entre as restrições do
são feitas em um legado que não é simples- localismo e a grandiosidade do globalismo.
mente "passado adiante", mas sim constan-
temente revisitado, reavaliado e renovado
à medida que passa pelo debate crítico e re-
flexão que são o sangue intelectual dos es-
tudos organizacionais.
A reflexividade e a crítica estão institu-
cionalizadas no âmbito das práticas intelec-
tuais que constituem o estudo das organi-
zações. Os critérios específicos pelos quais
esses "mandatos gerais" são definidos, bem
como as condições sociais, econômicas e
políticas em que eles são ativados, variam
no tempo e no espaço. O poder material e
simbólico mobilizado por diferentes comu
nidades acadêmicas afeta claramente a so-
brevivência de tradições narrativas rivais.
Contudo, o elo indelével entre o raciocínio
prático que permeia as narrativas estru-
turadas analiticamente e o desenvolvimen-
to teórico em um contexto sócio-histórico
dinâmico não pode ser apagado nem pela
ortodoxia conservadora, nem pelo relati-
vismo radical. É precisamente o confronto
entre tradições narrativas rivais, particular-
mente quando suas tensões internas e con-
tradições ou anomalias estão clara e crua-
mente expostas, que fornece o dinamismo
intelectual essencial ao redescobrimento e
\ 32 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE
-----------------------------------------------------------------------------

O terceiro debate é a necessidade imperio- ______ , SCOTT, W. R. Formal organizations: a


sa de nutrir uma "teoria do desenvolvimen- comparative approach. Londres : Routledge
to (intelectual)" que resista às limitações do and Kegan Paul, 1963.
conservadorismo e às distorções do rela- BODEN, D. The business of talk: organizations in
tivismo. Desde que este capítulo tenha for- action. Cambridge : Polity Press, 1994.
necido alguma contribuição para avançar o BOGUSLAW, R. The new Utopians: the study of
debate sobre esses temas de forma histori- system design and social change. Englewood
camente mais informada e intelectualmen- Cliffs, NJ : Prentice-Hall, 1965.
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NOTA TÉCNICA: TEORIZANDO
SOBRE ORGANIZAÇÕES -
VAIDADES
ou PONTOS DE VISTA?
ROBERTO FACHIN E SUZANA BRAGA RODRIGUES

O texto de Michael Reed é, apropria- vamente, em questões de ordem, consenso,


damente, o texto introdutório deste volu- liberdade, dominação, controle e participa-
me que faz o estado-da-arte dos estudos ção.
organizacionais, pois é abordagem de índo- O texto acentua que o "terreno é his-
le histórica sobre os diversos temas, dife- toricamente contestado", implicando dife-
rentes contextos e distintas metodologias rentes visões sobre o que são organizações
que cercam o campo de estudo. Em verda- e como devem ser estudadas e compreendi-
de, juntamente com o texto introdutório de das, caminhos ortodoxos ou relativistas,
Clegg & Hardy (Organizações e estudos quem sabe vaidades transformadas em pro-
organizacionais), o texto de Reed abre o es- postas teóricas à busca de um espaço para
pectro de temas que serão mais deta- consagrar-se e receber prosélitos. Diferen-
lhadamente tratados em capítulos posterio- tes paradigmas inundam o campo, mas não
res. recebem claramente uma preferência, em-
Lidando, como material de estudo e bora certas tendências tenham grupo maior
análise, com as produções das diferentes de adeptos. O mapeamento dessas tendên-
correntes do pensamento administrativo, cias dentro dos quadros metanarrativos
acentuando suas contribuições e suas con- apresentados, leva-nos a evocar o conceito
testações a teorias anteriores, o texto traba- de "conversações" adotado pelos organiza-
lha com material que é, em sua maioria, fa- dores da edição original. Para Clegg & Hardy
miliar ao leitor presumível desta obra. Par- (ver introdução ao presente volume), o
ticularmente digna de nota é a Tabela 1 do Handbook, ao selecionar trabalhos dentro
texto - Narrativas analíticas em análise da corrente principal de estudos bem como
organizacional -, em que Reed relaciona as linhas emergentes, ao evidenciar as diferen-
diferentes perspectivas teóricas acopladas a tes perspectivas que organizam o campo de
esquemas interpretativos distintos e às pro- estudos, cria oportunidades para que "con-
blemáticas trabalhadas dentro dos respecti- versações" comecem entre tais tendências,
vos contextos. Assim, em vez de equacionar estimulando a diversidade, acordos e desa-
a história da teorização organizacional cordos. Reed, ao classificar as diferentes
numa visão histórica linear - designatr o de
escolas que surgem em seqüência e que são
tão presentes na maioria dos livros utiliza-
dos em nosso meio -, Reed os classifica em
perspectivas cujo esquema de análise acen-
tua racionalidade, integração, mercado, po-
der, conhecimento ou justiça e com proble-
máticas cujo foco concentrava-se, respecti-
40 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

perspectivas, permite ao leitor perceber, de nhecimento aqui produzido para explicar e


forma mais clara, as diferentes ênfases teó- melhorar a administração no país; aliás, na
ricas, com a luz que derrama sobre os di- mesma linha de texto de J. E Chanlat sobre
versos pontos de vista. O leitor brasileiro a produção de conhecimento administrati-
poderá, assim, melhor inserir-se na comu- vo em Quebec (Chanlat, 1996). O questio-
nidade mundial de estudiosos e a contribuir namento do pensamento etnocêntrico tam-
para o conhecimento em administração es- bém aparece em muitos outros textos (veja-
crevendo sobre teorias que melhor expli- se, a título de exemplo: Fachin, 1990,
quem nossa realidade. Bertero e Keinert Bethlem, 1989, como principalmente o re-
(1994 : 89-90) já lembraram, analisando a cente Motta e Caldas, 1997). Conclusões
produção brasileira em análise organi- emanadas do estudo de Bertero e Keinert
zacional, os questionamentos a respeito da (1994), que focaliza a trajetória dos estu-
pretendida universalidade dos estudos nas dos organizacionais no Brasil de 1961 a
áreas de ciências humanas e sociais da ne- 1993, indicaram que o conhecimento gera-
cessidade de "uma teoria administrativa do no Brasil era praticamente reprodução
brasileira", defendida desde Guerreiro Ra- do pensamento americano e limitado para
mos, mas com simpatizantes até hoje. poder explicar a realidade brasileira. Bertero
Livros como o presente, que recons- e Keinert (1994 : 85) concluíram que a ne-
trói o estado-da-arte dos estudos organiza- cessidade de criar perspectivas mais apro-
cionais, ajudam a sanar uma das dificulda- priadas ao contexto brasileiro não pôde ser
des do leitor brasileiro: a identificação de atendida, eis que muitos dos estudos, de
fontes importantes da evolução teórica de- feitio contestatório (17% da amostra), eram
vidamente classificadas em mapas cogni- principalmente de ênfase reflexiva ou críti-
tivos definidos. O leitor brasileiro tem tido ca, mas incapazes de fazer avançar o que já
acesso a obras clássicas e influentes, mas se conhecia das teorias estrangeiras.
nem sempre teve acesso a textos que, em- Os estudos mencionados indicam que
bora não igualmente importantes, confor- não é por acaso que as avaliações críticas
mam enlaces na contestação de teorias em sobre o conhecimento em organizações têm
vigor e na evolução teórica empreendida. O
artigo de Reed permite a reconstrução de
tais elos no conhecimento, e facilita, ao
identificá-las devidamente, a busca do aces-
so a tais obras. Talvez essa dificuldade no
acesso seja explicação para a relativa pouca
ênfase que autores brasileiros emprestam à
revisão bibliográfica em seus artigos, e con-
centração em obras clássicas e tradicionais
(Rodrigues, 1997).
O tamanho da economia brasileira e
um setor privado diversificado indicam o
potencial do Brasil para o desenvolvimento
de uma teoria de administração independen-
te. Além disso, nosso sistema de pós-gradua-
ção já conta com mais de 20 anos de atua-
ção. No entanto, a produção realmente
publicada que abranja tais requisitos é mais
uma pretensão do que uma possibilidade
real dada a, às vezes, pouca familiaridade
com o conhecimento produzido pelo
mainstream anglo-saxão, mas também de-
vido a ser publicação "raramente apoiada
em pesquisa empírica" e de "reduzida origi-
nalidade" (Bertero & Keinert, 1994 : 89-90).
Por esse motivo, possivelmente, muito pou-
ca produção nacional é mostrada em perió-
dicos internacionais (Rodrigues, 1997).
A evolução do conhecimento brasilei-
ro sobre organizações já teve alguns analis-
tas (Machado-da-Silva, Cunha e Ambon,
1990; Bertero & Keinert, 1994; Vergara e
Carvalho Jr., 1995). A influência do pensa-
mento anglo-saxão no Brasil é particular-
mente tratada em Rodrigues (1997). Tanto
o texto de Rodrigues (1997) como o de
Bertero, Caldas e Wood Jr. (1998) fazem
questionamentos sobre a adequação da co-
NOTA TÉCNICA! TEORIZANDO SOBRE ORGANIZAÇÕES - VAIDADES OU PONTOS DE VISTA? 101

tido abrigo nos encontros anuais da Asso- é considerado como de alta qualidade ou co-
ciação Nacional dos Programas de Pós-gra- nhecimento relevante. Diferentemente de
duação em Administração (Anpad) - o nú- outras áreas das ciências sociais e humanas,
cleo de formação de uma comunidade de a produção de conhecimento em adminis-
estudiosos que tem se reunido já há 20 anos tração é, geralmente, aberta a diferentes
e que hoje seleciona artigos com base em paradigmas e diferentes abordagens meto-
sistemas de blind review cada dia mais aper- dológicas, o que ainda uma vez nos remete
feiçoado. Nas revistas mais respeitadas da à necessidade das "conversações" tão insis-
área, também o processo "cego" de avalia- tentemente referidas neste texto.
ção há muito se produz, mesmo que com as Rodrigues (1997) afirma o declínio, no
deficiências desvendadas em estudo recen- Brasil, da influência dos estudos organi-
te de Bertero, Caldas e Wood Jr. (1998). zacionais tradicionais oriundos da vertente
Há necessidade, porém, de uma comu- americana e britânica. As mudanças enfren-
nidade mais efetiva de estudiosos sobre or- tadas pelo país (tais como abertura de mer-
ganizações, o que hoje é dificultado não só cado, a presença cada vez mais forte do ca-
pela fragmentação das áreas de estudo como pital estrangeiro, em suma, os passos que
pelas deficiências existentes na estruturação nos levam ao termo "globalização") têm
geral da área: resultado da fragilidade e ins- provocado novos temas (vantagens compe-
tabilidade das instituições, da falta de apoio titivas, métodos de produção baseados nas
(e recursos) nas universidades para desen- experiências japonesas, inovação e apren-
volver trabalho de pesquisa (e ainda que dizagem organizacional) bem como novos
haja apoio de órgãos federais de fomento, relacionamentos de pesquisa, mas, ainda
há instabilidades notórias nas políticas de assim, et pour cause, os estudos tradicionais
desenvolvimento científico) e do apoio qua- têm sido incapazes de proporcionar as ex-
se exclusivo na literatura estrangeira plicações esperadas e as soluções para os
(Rodrigues, 1997; Fachin, 1990). É uma problemas enfrentados pela sociedade bra-
área de estudos sem dúvida em busca de sileira de hoje.
legitimação. Não é uma área que se afirmou Entre os estudos destinados a mapear
como atraente para o meio empresarial - a evolução do conhecimento administrati-
como marketing e finanças - a não ser quan-
do elabora em torno da estratégia (Bertero
e Keinert, 1994), mas há sinais, porém, de
uma presença forte da área dentro da co-
munidade acadêmica de administração, tais
como a apresentação numerosa de papers
às sessões específicas sobre "organizações"
nos encontros da ANPAD e a recente consti-
tuição, dentro da Anpad, do Grupo de Estu-
dos Organizacionais.
Em qualquer circunstância, o quadro
teórico delineado por Reed leva-nos nova-
mente a referir o conceito de "conversações".
Na própria intenção inicial do livro de Clegg,
Hardy e Nord estava implícita a noção do
enraizamento cultural da teoria organiza-
cional, além de ser um empreendimento
cujos "produtos estão sujeitos, freqüente
mente, a negociações e rearranjos de signi-
ficado" (Rodrigues, 1997). É ainda de se
fazer menção ao texto de Astley (1985, re-
ferido por Rodrigues, 1997) que descreve
os estudos organizacionais como uma ativi-
dade social moldada pelo consenso sobre o
que se constitui em expressão válida de co-
nhecimento, não somente em termos de
quadro conceptual, mas também em termos
de estrutura lingüística. Uma narrativa vá-
lida, segundo Astley, seria aquela conside-
rada como de alta qualidade pelos acadê-
micos reputados como "guardiães" do que
seja conhecimento relevante. E na análise
dos critérios de avaliação da produção
científica em administração no Brasil
(Bertero, Caldas e Wood Jr., 1998) que se
constata o ainda pouco consenso sobre o que
I 42 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ______________________________

vo no Brasil, o conduzido por Machado-da- britânica. Investigando as razões de tal pre-


Silva et ali (1990) evidenciou os temas mais dominância, apresenta-se a descoberta tal-
discutidos entre os anos 1985 e 1989 nos vez mais percuciente: a escolha de literatu-
quatro periódicos acadêmicos mais reputa- ra estrangeira era mais resultado de ser um
dos daquela época: mudança e inovação nas conhecimento legitimado no circuito inter-
organizações; administração e planejamen- nacional do que na capacidade, a ela atri-
to (os mais freqüentes, 23% e 27% do total, buível, de melhor explicar os problemas in-
respectivamente); processo decisório; de- vestigados. Autores brasileiros eram rara-
sempenho organizacional; relações organi- mente citados, não porque fossem de quali-
zação-ambiente; poder e conflito; clima e dade inferior, mas porque careciam da legi-
cultura nas organizações; burocracia e timidade implícita quando a literatura era
tecnocracia. Os temas mais freqüentes eram estrangeira. Outras interpretações podem
mera conseqüência do contexto vivido pelo ser levantadas, mas o fato é que "conversa-
país à época, segundo afirma Machado-da- ções" dentro do quadro nacional ainda são
Silva et al. (1990 : 18). raramente desenvolvidas.
No estudo de Rodrigues (1997) foram Concluindo, indicamos que o texto de
reunidas evidências sobre os tópicos mais Reed ajuda o leitor e pesquisador brasileiro
freqüentes nos três periódicos mais respei- a melhor balizar o avanço do campo, mas
tados na área: "mudança e inovação nas diríamos que uma leitura atenta do último
organizações" continua a ser um tópico im- texto deste volume - o texto de Burrell, um
portante assim como, a partir dos anos 90, dos autores do influente Sociological
"cultura organizacional". E a metodologia Paradigms and Organizational Analysis -
preferida é a "qualitativa". Estudos com deve permitir uma perspectiva também
abordagem crítica são tão freqüentes como epistemológica, tão cara a muitos autores
os de perspectiva mais pragmática, espe- em nossa realidade, conforme afirmam
cialmente a partir de 1995. Bertero e Keinert (1994) em seu texto, de-
Ainda quanto à metodologia empre- nunciando que tal ênfase em epistemologia
gada nos estudos organizacionais brasilei-
ros, Bertero & Keinert (1994 : 82-86) apre-
sentam duas interpretações curiosas: (a) de
um lado, indicam a importância de concei-
tos, teorias e variáveis das ciências sociais
para a análise organizacional, mas, no Bra-
sil, a tradição das ciências sociais, diferen-
temente da norte-americana, não é funcio-
nalista, tendo havido ampla "adoção do
marxismo para interpretação da realidade
social" não havendo, entre nós, o "vínculo
tão importante entre Análise Organizacional
e funcionalismo, característico de grande
parte da produção norte-americana e tam-
bém inglesa" (1994 : 82); (b) de outro, ao
registrar a escolha de variáveis orga-
nizacionais tratadas pelos autores em seu
estudo, indicam a influência da literatura
americana; usaram-se variáveis "considera-
das importantes para o conhecimento das
organizações pelas diversas escolas ou pers-
pectivas teóricas" donde a inevitabilidade
que "uma abordagem organizacional usan-
do a Sociologia acabasse por privilegiar va-
riáveis tipicamente funcionalistas, já que
este foi o paradigma sociológico predomi-
nante" nos estudos americanos. E conclui,
mostrando a relativa incoerência entre as
duas interpretações: "portanto, diferencia-
ção horizontal, diferenciação vertical e com-
plexidade são necessariamente escolhidas e
não luta de classes, hegemonia e domina-
ção" (1994 : 86).
Vergara e Carvalho Jr. (1995) também
desenvolveram estudo de período mais re-
cente (1989-93), partindo de outra amos-
tragem. Uma das principais conclusões é a
de que os diferentes artigos examinados
partiam do uso de fontes bibliográficas pre-
dominantemente de origem americana ou
NOTA TÉCNICA: TEORIZANDO SOBRE ORGANIZAÇÕES - VAIDADES OU PONTOS DE VISTA? 103 |,

"denota um certo 'aristocracismo' científico autores "devem defender constantemente


que é exatamente o oposto do pragmatismo suas idéias contra proposições alternativas"
da 'mão na massa' ou hands on." O último e, portanto, construir seus trabalhos a par-
volume desta trilogia vai, no entanto, em- tir de trabalhos anteriores, não é muito im-
prestar sua ênfase à ação organizacional, portante em nosso contexto. Idéias parecem
talvez contribuindo para aumentar a apli- às vezes sair do nada, não havendo preocu-
cabilidade do conhecimento produzido no pação com o que já foi dito sobre a matéria.
Brasil, atendendo à crítica de Bertero e Donde uma fragmentação no conhecimen-
Keinert (1994). to produzido e pouca preocupação com con-
Naturalmente, o texto de Reed não solidação do conhecimento. Que tal mudar-
suscita todas as perguntas e muito menos se este quadro?
todas as respostas. Conforme afirma
Rodrigues (1997), autores brasileiros têm
confiado mais em teorias anglo-saxônicas e
têm pouca confiança em conhecimento cria- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do internamente, sendo muito difícil criar
líderes distinguíveis no campo. O consenso ASTLEY, G. W. Administrative science as socially
aparente que molda os estudos organi- constructed truth. Administrative Science
Quarterly, 30: 497-513, 1985.
zacionais no Brasil, afirma, descansa prin-
cipalmente em pensamento americano ou BERTERO, C. O., KEINERT, T. M. M. A evolução
europeu. Logo, o campo é dividido por con- da produção brasileira em análise
organizacional a partir dos artigos publica-
tradições entre aqueles que acreditam que
dos pela RAE no Período de 1961-93. Revis-
os modelos estrangeiros não tem utilidade
ta de Administração de Empresas, 34 (3): 81-
no contexto brasileiro e aqueles que confi- 90, 1994.
am inteiramente na literatura estrangeira e
BERTERO, C. O., CALDAS, M. P, WOOD JR., T.
pensam que não há muitas inovações gera- Critérios de avaliação da produção científica
das internamente. Esse tipo de fissura refle- em administração no Brasil. Relatório de
te a lacuna decorrente de uma ausência de Pes-
liderança no campo nacional e descobre a quisa. São Paulo : NPP/EAESP, 1998.
fragilidade de um sistema derivado de uma
hierarquia baseada num sistema reputa-
cional.
Diferentemente do que ocorre na pu-
blicação em periódicos estrangeiros, os au-
tores brasileiros parecem não se sentir obri-
gados a referir produção anterior (o que é
mandatório em periódicos americanos e bri-
tânicos, pelo menos). Rodrigues (1997)
aliás, já acentuava tal aspecto, lembrando
que Astley (1985) já apontava a necessida-
de, nos artigos, de um equilíbrio adequado
entre tradição (representada pela produção
anterior) e inovação (a contribuição especí-
fica daquele artigo) e que, aparentemente,
há uma crença subjacente na necessidade
somente de referir-se aos textos mais conhe-
cidos, aos pioneiros, aos prestigiados (cf.
Üsdiken & Pasadeos, 1995). Mas não se deve
excluir a influência produzida pela falta de
estrutura, conforme já referido anteriormen-
te, que se reflete nas lacunas existentes nas
coleções de periódicos de nossas bibliote-
cas levando ao mesmo resultado: concen-
tração da revisão de literatura em autores
clássicos.
Enquanto na vertente anglo-saxônica
(Rodrigues 1997) a elaboração teórica é
crucial na reputação acadêmica e no desen-
volvimento científico, no Brasil, esse aspec-
to não parece ter a mesma relevância, eis
que o país tem sido tradicionalmente um
importador de teorias (nem sempre aplicá-
veis, como muitos criticam). Além disso, a
prática de contestar trabalho de colegas não
é freqüente. Como Astley (1985 : 505, apud
Rodrigues, 1997) observa, a idéia de que os
PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

BETHLEM, A. Gerência à brasileira. São Paulo :


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CHANLAT, J. F. From cultural imperialism to
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TEORIA DA CONTINGÊNCIA
ESTRUTURAL*
LEX DONALDSON

Entre os estudos organizacionais, a única que seja altamente efetiva para todas
Teoria da Contingência tem fornecido um as organizações. A otimização da estrutura
paradigma coerente para a análise da es- variará de acordo com determinados fato-
trutura das organizações. O paradigma cons- res, tais como a estratégia da organização
tituiu um quadro de referência no qual a ou seu tamanho. Assim, a organização óti-
pesquisa progrediu, levando à construção ma é contingente a esses fatores, que são
de um corpo de conhecimento científico. O denominados fatores contingenciais. Por
objetivo deste capítulo é traçar os contor- exemplo, uma organização de pequeno por-
nos da teoria da contingencial da estrutura te, que tenha poucos empregados, é estru-
organizacional e mostrar como a pesquisa turada otimamente ao possuir uma estrutu-
dentro desse paradigma evoluiu na forma ra centralizada, em que a tomada de deci-
da ciência normal. são está concentrada no topo da hierarquia,
O conjunto recorrente de relaciona- enquanto uma organização de grande por-
mentos entre os membros da organização te, que possua muitos empregados, é estru-
pode ser considerado como sendo a estru- turada otimamente utilizando uma estrutu-
tura da organização, o que inclui (sem se ra descentralizada, em que a autoridade
restringir a isso) os relacionamentos de au- para a tomada de decisão está dispersa pe-
toridade e de subordinação como represen- los níveis inferiores da hierarquia (Child,
tados no organograma, os comportamentos 1973; Pugh et al., 1969). Há diversos fato-
requeridos pelos regulamentos da organi- res contingenciais: estratégia, tamanho, in-
zação e os padrões adotados na tomada de certeza com relação às tarefas e tecnologia.
decisão, como descentralização, padrões de Essas características organizacionais, por sua
comunicação e outros padrões de compor- vez, refletem a influência do ambiente em
tamento. Engloba tanto a organização for- que a organização está inserida. Assim, para
mal oficialmente prescrita, quanto a orga- ser efetiva, a organização precisa adequar
nização de fato, não oficial e informal sua estrutura a seus fatores contingenciais,
(Pennings, 1992). Não há definição de es- e assim ao ambiente. Portanto, a organiza-
trutura organizacional que circunscreva fir-
memente seu objeto a priori; mas cada pro-

Tradução: Marcos Amatucci.


Revisão técnica: Carlos Osmar Bertero.
jeto de pesquisa focaliza vários aspectos di-
ferentes da estrutura organizacional, sem
pretender que seu foco esgote as questões.
A teoria da contingência estabelece
que não há uma estrutura organizacional
I 46 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

ção é vista como adaptando-se a seu am- ORIGENS DA TEORIA DA


biente. CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL
Cada um dos diferentes aspectos da
estrutura organizacional é contingente a um Até o final dos anos 50, a produção
ou mais fatores contingenciais. Assim, a ta- acadêmica sobre estrutura organizacional
refa da pesquisa contingencial é identificar era dominada pela escola clássica de admi-
o fator ou fatores contingenciais particula- nistração. Esta sustentava que havia uma
res aos quais cada aspecto da estrutura única estrutura organizacional que seria al-
organizacional precisa adequar-se. Isto en- tamente efetiva para organizações de todos
volve a construção de modelos teóricos de os tipos. Essa estrutura caracterizava-se por
adequação entre fatores contingenciais e um alto grau de tomada de decisão e plane-
estruturais, e seu teste frente a dados em- jamento no topo da hierarquia, de maneira
píricos. Os dados empíricos geralmente con- que o comportamento dos níveis hierárqui-
sistem em dados que comparam diferentes cos inferiores e de operações era previamen-
organizações com seus fatores contin- te especificado em detalhes pela gerência
genciais e estruturais. A teoria da contin- sênior, por meio de definição de tarefas, es-
gência da estrutura organizacional será aqui tudo do trabalho e procedimentos similares
denominada de "Teoria da Contingência (Brech, 1957).
Estrutural" (Pfeffer, 1982). A escola clássica de administração
Kuhn (1970) argumenta que a pesqui- manteve sua influência durante a primeira
sa científica ocorre dentro do quadro de re- metade deste século, mas foi combatida a
ferência de um paradigma, o qual especifi- partir da década de 30, e de maneira cres-
ca as idéias teóricas principais, os pressu- cente daí por diante, pela escola de relações
postos, a linguagem, o método e as conven- humanas. Essa abordagem focava o empre-
ções. O crescimento de um corpo de conhe- gado individual como possuidor de necessi-
cimentos é marcado por revoluções para- dades psicológicas e sociais. Um entendi-
digmáticas, quando um paradigma é aban- mento dessas necessidades permitiria uma
donado e substituído por outro. Essas mu-
danças descontínuas são radicais e pouco
freqüentes. Na maior parte do tempo, a
ciência se desenvolve numa fase chamada
de ciência normal, guiada pelas regras do
paradigma. Nessa fase, a pesquisa lida com
problemas no interior do paradigma resol-
vendo anomalias, não questionando o para-
digma.
O estudo da estrutura organizacional
testemunhou uma mudança de paradigma
quando a escola clássica de administração
foi suplantada pelo novo paradigma da teo-
ria da contingência, conforme será visto a
seguir. Isto inaugurou uma fase de "ciência
normal" dentro do paradigma contingencial
(Scott, 1992). Assim, o estudo da estrutura
organizacional é atualmente pluralístico,
com conflito entre paradigmas e ciência
normal no interior dos paradigmas (Aldrich,
1992; Donaldson, 1985a, 1995a; Pfeffer,
1993). Uma vez que outros capítulos neste
Handbook lidam com outros paradigmas,
iremos aqui nos concentrar no paradigma
contingencial. A ciência normal que tem sido
seguida dentro do paradigma contingencial
é provavelmente a mais ampla corrente iso-
lada de ciência normal no estudo de estru-
tura organizacional até o presente. Assim,
na discussão do paradigma contingencial,
há um considerável volume de pesquisas ao
qual se referir. Conseqüentemente, o con-
ceito de ciência normal nos estudos
organizacionais é bem ilustrado pelo traba-
lho no campo da teoria da contingência da
estrutura organizacional (v. tb. Donaldson,
1996).
47
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL

apreciação de como a organização do tra- tarefa é o coração do conceito de contin-


balho emergia da interação da dinâmica dos gência, que tem implicações para conceitos
grupos (Roethlisberger e Dickson, 1939). contingenciais de segunda ordem, tais como
Isto habilitaria os gerentes a adotar uma inovação e tamanho.
abordagem mais atenciosa que iria evocar O significado da incerteza da tarefa
a cooperação do empregado. O foco aqui deriva da percepção de que quanto mais
estava nos processos bottom-up (de baixo incerta a tarefa, mais informações têm que
para cima) de organização e nos benefícios ser processadas e isto, por sua vez, molda
da participação na tomada de decisão por as estruturas de comunicação e de controle
empregados dos níveis mais baixos da hie- (Galbraith, 1973). Quanto mais incerta a
rarquia (Likert, 1961). Houve tentativas de tarefa, menos suscetíveis de programação
aproximar essas duas abordagens contradi- serão as atividades de trabalho e mais se
tórias da administração clássica e das rela- apoiarão em arranjos ad hoc. Além disso, as
ções humanas por meio do argumento de organizações que lidam com incerteza têm
que cada abordagem tinha seu lugar. Assim, que se valer de procedimentos especia-
nos anos 50 e 60, teorias contingenciais lizados e isto exige flexibilização da obedi-
desenvolveram-se sobre tópicos como deci- ência hierárquica, pois parte dessa especia-
sões em pequenos grupos e liderança (veja lização pode estar localizada nos níveis hie-
Vroom e Yetton, 1973). No final dos anos rárquicos inferiores. Parte desses conheci-
50, estudiosos começaram a aplicar a idéia mentos especializados podem ser ainda pri-
de contingência a estruturas organizacio- vativos de profissionais, o que comprome-
nais. teria ainda mais o controle por meio da hi-
A idéia-chave na literatura sobre pe- erarquia.
quenos grupos era a de que a resolução de A hipótese central da teoria da con-
problemas em grupo seria mais eficaz numa tingência estrutural é que as tarefas de bai-
estrutura centralizada quando a tarefa fos- xa incerteza são executadas mais eficazmen-
se relativamente estabelecida, mas reque- te por meio de uma hierarquia centraliza-
reria uma estrutura menos centralizada e da, pois isso é mais simples, rápido e permi-
mais rica quando a tarefa contivesse incer- te uma coordenação estrita mais barata. Na
tezas, de maneira a produzir e comunicar a medida que a incerteza da tarefa aumenta,
grande quantidade de conhecimento e co- por meio de inovação ou outro fator simi-
municação necessários (Pennings, 1992 : lar, a hierarquia precisa perder um pouco
276). Aplicada a toda a estrutura orga- do controle e ser coberta por estruturas co-
nizacional, a idéia eqüivale a uma hierar-
quia que centraliza habilidades, comunica-
ções e controle para tarefas com baixa in-
certeza, e uma rede de equipes flexíveis e
participativas para tarefas de alta incerte-
za. A principal maneira de se reduzir incer-
tezas é fazer as coisas repetidamente, evi-
tando a inovação. Portanto a inovação tor-
na-se o principal fator contingencial subja-
cente à contingência da tarefa com incerte-
zas. O aumento de escala pode levar a tare-
fas com baixo grau de incerteza, pois a es-
cala implica repetição, como ocorre com os
processos de produção em massa.
Escala também leva a crescente núme-
ros de empregados, o que, por seu turno,
leva à especialização. Isto estreita o escopo
de cada cargo, de maneira que os cargos
tornam-se menos variados e complexos, o
que por sua vez diminui a incerteza da tare-
fa. Essas tarefas repetitivas e de baixa in-
certeza são passíveis de formalização buro-
crática podendo ser especificadas em des-
crições de cargo, procedimentos operacio-
nais padronizados, regras e treinamento. A
burocratização posteriormente reduz a in-
certeza daqueles que estão desempenhan-
do as tarefas. Dessa maneira, a incerteza da
I 48 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE _____________________________

municativas e participativas. Isto reduz a A teoria de Burns e Stalker (1961) foi


simplicidade estrutural e eleva os custos, desenvolvida num livro que forneceu exten-
mas é recompensado pelos benefícios da sas ilustrações de estudos de caso qualitati-
inovação. A medida que o tamanho aumen- vos da indústria eletrônica. Esta foi prova-
ta, a estrutura compacta, simples e centrali- velmente a contribuição mais circulada da
zada é substituída por uma burocracia ca- literatura sobre teoria da contingência es-
racterizada por uma hierarquia exagerada trutural. Forneceu de um só golpe uma sín-
e grande especialização. Essa burocracia tese entre a escola clássica de administra-
permite a descentralização porque os funcio- ção e a escola das relações humanas nas
nários são cada vez mais controlados pela estruturas mecanicista e orgânica, respecti-
formalização (por exemplo, regras), e a vamente. Ela resolveu o debate entre elas
descentralização é cada vez mais requerida com o compromisso de que cada uma era
porque o aumento na escala, da complexi- válida em seu próprio lugar. Também deu
dade estrutural interna e do comprimento primazia à incerteza da tarefa, guiada pela
da hierarquia fazem a centralização impra- inovação, como o fator de contingência.
ticável. A burocracia traz malefícios por Aproximadamente no mesmo momen-
meio da rigidez, disfunções e alguma perda to em que Burns e Stalker apresentavam sua
de controle, mas estes são mais que com- teoria, Woodward (1958; 1965) conduziu
pensados pelo aumento na previsibilidade, um estudo comparativo quantitativo de uma
baixos salários médios, redução no overhead centena de organizações manufatureiras.
gerencial e aumento na informatização que Ela examinou suas estruturas organiza-
a burocratização também traz. Quando a cionais e descobriu que não se relaciona-
organização aumenta o leque e a complexi- vam com o tamanho das organizações. A
dade de seus outputs, isto é, produtos ou tecnologia de operação surgiu como a cha-
serviços, ou aumenta sua abrangência ve explicativa da estrutura organizacional
territorial, tornando-se uma multinacional, (Woodward, 1965). Onde a tecnologia de
aumentará também sua complexidade es- operação era simples, com produtos singu-
trutural e o grau de descentraliza-
ção, adotando uma estrutura divisio-
nal ou matricial.
Este é o pano de fundo que fornece a
unidade teórica subjacente às idéias que
compõem a teoria da contingência estrutu-
ral. Uma visão assim totalizadora é possível
em retrospecto, mas, na verdade, a teoria
foi desenvolvida como um quebra-cabeças,
por meio de saltos que identificavam cone-
xões entre um fator contingencial particu-
lar, ou vários, e um fator estrutural, ou vá-
rios. Esses insights teóricos tiveram origem
em estudos que ofereceram sustentação
empírica provenientes de organizações
reais.
Burns e Stalker (1961) foram respon-
sáveis pelo enunciado seminal e que iniciou
a abordagem contingencial da estrutura
organizacional. Eles distinguiram entre a
estrutura mecanicista, em que os papéis
organizacionais eram firmemente definidos
por superiores, que detinham o monopólio
do conhecimento organizacional, e a estru-
tura orgânica, em que os papéis orga-
nizacionais eram definidos de forma menos
rígida, como resultado de discussão entre
as partes, pois o conhecimento necessário
ao desempenho das tarefas estava diluído
entre os empregados. Burns e Stalker (1961)
argumentaram que quando uma organiza-
ção enfrenta um ambiente estável, a estru-
tura mecanicista é mais efetiva; mas onde a
organização enfrenta um alto grau de mu-
dança tecnológica e de mercado, uma es-
trutura orgânica é necessária. O resultado
da alta incerteza do ambiente e das tarefas
na organização significa que a cooperação
espontânea entre equipes de especialistas,
isto é, a estrutura orgânica, é mais efetiva.
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 49

lares ou fabricação em pequenos lotes, exi- estrutura (amplitude média de controle dos
gindo habilidades manuais e artesanais, supervisores de primeira linha), como tam-
como por exemplo, instrumentos musicais, bém indica que as organizações que ado-
a organização era razoavelmente informal tassem a amplitude de controle encontrada
e orgânica. Onde a produção havia avança- teriam melhor desempenho; inversamente,
do para grandes lotes e produção em mas- as que se afastassem da amplitude de con-
sa, utilizando equipamentos mais sofistica- trole reduziriam seu desempenho.
dos, como nas montadoras de automóveis, Woodward (1965) argumentou que adequa-
a organização do trabalho era mais forma- ção entre estrutura organizacional e tecnolo-
lizada e mecanicista, e mais de acordo com gia leva a um desempenho superior ao das
as prescrições da administração clássica. organizações onde a estrutura está em de-
Entretanto, com o avanço tecnológico pos- sacordo com a tecnologia.
terior levando a uma produção mais auto- Burns e Stalker e Woodward trabalha-
matizada e utilização mais intensa de capi- ram no Reino Unido. Contribuições pionei-
tal, surge uma produção por processo con- ras vieram também dos Estados Unidos.
tínuo, como numa refinaria de petróleo. Lawrence e Lorsh (1967) têm o mérito de
Aqui, a organização da produção em massa terem iniciado o uso do termo "teoria da
cede lugar para equipes de trabalho dirigi- contingência" para identificar a então inci-
rem linhas orgânicas e de relações huma- piente abordagem para a qual contribuíram
nas. A previsibilidade cada vez maior do sis- de maneira decisiva. Eles determinaram que
tema técnico e a suavidade da produção, à a taxa de mudança ambiental afeta a dife-
medida que a tecnologia avança, levam pri- renciação e a integração da organização.
meiro a uma estrutura mais mecanicista e Taxas elevadas de mudança ambiental exi-
depois a uma estrutura mais orgânica. gem que certas partes da organização, como
O modelo de Woodward (1965) era o departamento de Pesquisa e Desenvolvi-
mais complexo que o de Burns e Stalker mento (P&D), enfrentem índices de incer-
(1961), contando com três estágios ao in- teza maiores do que outras partes, tais como
vés de dois. Entretanto, eles compartilha- o departamento de produção. Isto leva a
vam uma conceitualização similar de estru- grandes diferenças de estrutura e de cultu-
tura, enquanto mecânica a orgânica, e tam- ra entre os departamentos, com P&D sendo
bém convergiam a respeito da tecnologia internamente mais orgânico e a produção
como indutora de incerteza. Além disso, mais mecanicista. Essa grande diferencia-
Woodward, como Burns e Stalker, sustenta-
ram que o futuro pertenceria ao estilo de
administrar orgânico de relações humanas,
e que isto seria imposto à Administração pela
evolução tecnológica. A tarefa da pesquisa
e dos trabalhos acadêmicos seria chamar a
atenção dos administradores para essas
descobertas, de maneira que se evitassem
as ineficiências que tanto Woodward (1965)
quanto Burns e Stalker (1961) descreve-
ram como conseqüência de não se adapta-
rem com a rapidez necessária as estrutu-
ras organizacionais às evoluções da tecnolo-
gia.
Diferentemente de Burns e Stalker
(1961), Woodward (1958; 1965) utilizou
medidas quantitativas da estrutura organi-
zacional, tais como a amplitude de controle
(número de subordinados que o chefe pos-
sui) dos supervisores de primeira linha, o
número de níveis hierárquicos (cadeia es-
calar) e a proporção entre mão-de-obra di-
reta e indireta. Woodward (1965) obtém
muitos resultados quantitativos mostrando
associações entre tecnologia de operações
e vários aspectos da estrutura organi-
zacional. Há também uma tabela (1965 :
69, Tabela 4) que não só mostra uma asso-
ciação entre a tecnologia e um aspecto da
I 50 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE _____________________________

ção torna a coordenação entre os dois de- as diferentes partes dessa estrutura espe-
partamentos, por exemplo, para lançar um cializando-se para ir ao encontro das exi-
novo produto, mais problemática. A solu- gências das diferentes partes daquele ambi-
ção é promover um nível maior de inte- ente. Thompson teorizou também a respei-
gração por meio de pessoal mais integrado to das políticas organizacionais, como o fi-
em equipes de projeto e coisas do gênero, zeram Burns, Stalker e Perrow. O foco prin-
ao lado de processos interpessoais de reso- cipal da teoria da contingência, contudo,
lução de conflitos por meio de abordagens permanece no modo como a estrutura
do tipo problem-solving. Lawrence e Lorsh organizacional é modulada de maneira a
(1967) apresentaram sua teoria num estu- satisfazer as necessidades do ambiente e nas
do comparativo de diferentes organizações tarefas daí decorrentes (v. Donaldson,
de três indústrias: containers, alimentação 1996).
e plásticos. Eles demonstraram também que Nos EUA, Blau (1970) desenvolveu a
organizações cujas estruturas adequaram- teoria da diferenciação estrutural. Ela afir-
se a seu ambiente obtiveram melhores de- ma que as organizações crescem em tama-
sempenhos. nho (empregados), de modo que se estrutu-
Hage (1965) desenvolveu uma teoria ram de forma mais elaborada, em um cres-
axiomática das organizações, similar a Burns cente número de subunidades, tais como
e Stalker, em que organizações centraliza- mais divisões, mais seções por divisão, mais
das e formalizadas obtinham alta eficiên- níveis hierárquicos e assim por diante. Tam-
cia, porém baixos índices de inovação, en- bém argumentou que o crescimento orga-
quanto as organizações descentralizadas e nizacional leva a grandes economias de es-
menos formalizadas eram menos eficientes, cala, com a proporção de funcionários que
mas apresentavam altos índices de inova- ocupam cargos de gerência ou staff de su-
ção. Assim, cada estrutura pode ser ótima, porte diminuindo.
dependendo do objetivo da organização:
eficiência ou inovação. Hage e Aiken (1967; Conforme ficaram conhecidas no Brasil. (N.T.)
1969) demonstraram a validade da teoria
num estudo sobre organizações de saúde e
de previdência social.
Perrow (1967) argumentou que a
tecnologia do conhecimento era contingen-
te à estrutura organizacional. Quanto mais
codificado o conhecimento utilizado na or-
ganização e quanto menos exceções encon-
tradas nas operações, mais o processo
decisório da organização poderia ser cen-
tralizado.
Thompson (1967) desenvolveu uma
extensa teoria das organizações, contendo
muitas idéias e proposições. Ele separou
organizações de tipo "sistema fechado" de
organizações que são "sistemas abertos",
efetuando trocas com seu ambiente. Argu-
mentou que organizações tentam isolar suas
principais tecnologias de produção num sis-
tema fechado para emprestar-lhes eficiên
cia, defendendo-as do meio ambiente. Lida-
se com perturbações externas por meio de
projeções, relatórios e outros mecanismos.
Thompson (1967) também distinguiu três
diferentes tecnologias: cadeias longas, me-
diadoras e intensivas* (long-linked,
mediating e intensive). Além disso, distinguiu
três níveis de interdependência entre as ati-
vidades no fluxo de trabalho - combinadas,
seqüenciais e recíprocas (pooled, sequential
e reciprocal) - e identificou os diferentes
mecanismos de coordenação para se lidar
adequadamente com cada interdependên-
cia. Ele concluiu que as interdependências
entre as atividades no fluxo de trabalho da
organização tinham que ser manejadas em
diferentes níveis hierárquicos, gerando as-
sim o desenho da organização. Thompson
(1967) acrescentou que o ambiente molda
diretamente a estrutura organizacional, com
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 51

Max Weber (1968) argumentou que contendo divisões geográficas e matrizes por
as organizações estavam-se tornando estru- área e por produto. Egelhoff (1988) desen-
turas cada vez mais burocráticas, caracteri- volve uma teoria da contingência formal
zadas por uma administração impessoal, baseada nas exigências de processamento
promovida em parte por seu tamanho cres- de informações.
cente. No Reino Unido, o Grupo de Aston Outros fatores contingenciais, tais
(assim chamado por causa de sua universi- como hostilidade ambiental (Khandwalla
dade) argumentou a favor da necessidade 1977) e ciclo de vida do produto
de se melhorar a medição da estrutura (Donaldson, 1985b), têm sido identificados,
organizacional (Pugh et al., 1963). Seus in- e suas implicações para a estrutura orga-
tegrantes desenvolveram um grande núme- nizacional teorizadas. Para um modelo que
ro de medidas quantitativas de diferentes prescreve o desenho organizacional ótimo
aspectos da estrutura organizacional, com requerido pela combinação das contingên-
atenção para a confiabilidade (Pugh et al., cias estratégicas e de inovação, vide
1968; Pugh e Hickson, 1976). O Grupo de Donaldson (1985a : 171).
Aston pesquisou organizações de diversos
tipos, incluindo muitas organizações indus-
triais e organizações de serviços tanto pú-
blicas como privadas. Distinguiram empi- O MODELO TEÓRICO DA
ricamente duas grandes dimensões da es- CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL
trutura organizacional: estruturação das
atividades (o quanto a organização adota O aumento do índice de inovação de
de especialização funcional, regras e proce- uma empresa pode refletir a competição
dimentos) e concentração da autoridade com outras empresas por meio de novos
(centralização da tomada de decisão) (Pugh produtos, assim, em última instância, a cau-
et al., 1968). Examinaram um grande nú- sa é o ambiente. Por essa razão, a aborda-
mero de fatores contingenciais e utilizaram- gem contingencial é freqüentemente chama-
se de regressão múltipla para identificar di- da de "a abordagem da organização e seu
ferentes conjuntos de preditores da estru- ambiente". Entretanto, a inovação ambiental
tura organizacional. Para estruturação o leva a organização a aumentar seu grau de
principal preditor foi o tamanho da organi- inovação pretendida, a qual é causa imedi-
zação em número de empregados, sendo as ata da adoção de uma estrutura orgânica.
maiores as mais estruturadas (Pugh et al., Assim a estrutura é causada diretamente por
1969). Para centralização, a principal con-
tingência foi o tamanho da organização e
se a organização estudada era ou não sub-
sidiária de uma organização maior, sendo a
descentralização maior em organizações
independentes (Pugh et al., 1969).
Uma variante da teoria da contingên-
cia estrutural focalizou as implicações da
estratégia corporativa como contingente
para a estrutura organizacional das empre-
sas. Chandler (1962) mostrou historicamen-
te que a estratégia determina a estrutura.
As corporações necessitam manter uma ade-
quação entre sua estratégia e sua estrutura,
caso contrário terão menor desempenho.
Especificamente, uma estrutura funcional
ajusta-se a uma estratégia não diversificada,
mas não se ajusta a uma estratégia diver-
sificada em que uma estrutura divisional é
requerida para o gerenciamento efetivo da
complexidade de produtos e mercados mui-
to diferentes (Chandler, 1962).
Outros pesquisadores analisaram o sig-
nificado estrutural da passagem de uma
operação exclusivamente doméstica para a
multinacionalização (Stopford e Wells,
1972; Egelhoff, 1988; Ghoshal e Nohria,
1989). Isto levou à adoção de estruturas
I 52 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ______________________________

um fator interno e apenas indiretamente contabilidade, planejamento da produção,


pelo ambiente. Ambos os fatores, interno e arquivos, pessoal e assim por diante. O com-
externo, são considerados contingenciais, portamento é cada vez mais regulado por
mas uma afirmação mais parcimoniosa da descrições de cargo escritas, planos, proce-
teoria da contingência estrutural precisaria dimentos e regras. Esses elementos consti-
referir-se apenas ao fator interno. Portanto, tuem uma teia impessoal que regula os
muitos dos fatores contingenciais da estru- membros da organização, de maneira que
tura, tais como tamanho da organização ou o controle se desloca da supervisão direta e
tecnologia, são internos à organização, ain- pessoal para dispositivos impessoais. No
da que reflitam o ambiente na forma de ta- caso extremo da grande organização, sua
manho da população ou tecnologias comer- estrutura é uma burocracia mecânica
cialmente disponíveis. Assim, conquanto (Mintzberg, 1979). O aumento em escala e
seja correto incluir fatores ambientais como especialização significa que o trabalho de
contingências que moldam a estrutura, uma qualquer indivíduo torna-se mais rotineiro
explicação suficiente pode ser obtida consi- e isto facilita sua formalização burocrática,
derando-se apenas fatores internos como o que, por sua vez, intensifica o caráter ro-
contingências. tineiro e a previsibilidade do trabalho. A
A importância da teoria da contingên- maior formalização e previsibilidade do
cia pode ser brevemente resumida da se- comportamento do empregado encoraja os
guinte maneira. Uma pequena organização, níveis sêniores a aumentar a delegação de
aquela com poucos empregados, é efetiva- autoridade para níveis hierárquicos cada vez
mente organizada numa estrutura simples mais baixos, à medida que podem fazê-lo
(Mintzberg, 1979), em que há poucos ní- seguros de que aquela delegação será utili-
veis na hierarquia. A autoridade para a to- zada da maneira desejada pelos
mada de decisão é concentrada no princi- delegadores, embora tal controle se torne
pal executivo (que, freqüentemente, é o pro- imperfeito à medida que aparecem as
prietário na pequena empresa), que exerce disfunções burocráticas (Gouldner, 1954;
o poder diretamente sobre os empregados Merton, 1949). A especialização crescente
dos níveis inferiores por meio de instrução
direta. Assim, há pouca delegação de auto-
ridade e há também pouca especialização
entre os empregados. A medida que a orga-
nização cresce em tamanho, especificamente
no número de empregados, a estrutura tor-
na-se mais diferenciada. Muitos outros ní-
veis são adicionados à hierarquia, criando-
se camadas de gerentes intermediários. Al-
guma autoridade de tomada de decisão do
executivo do topo é delegada para essa ca-
mada intermediária, proporcionalmente ao
grau de conhecimento do local, dos assun-
tos operacionais, tais como supervisão do
pessoal de nível operacional e algumas de-
cisões de produção. Essa delegação é, em
certa medida, imposta aos gerentes sêniores
pelo aumento da carga das decisões que eles
experimentam à medida que o tamanho da
organização e a complexidade aumentam.
Novamente, o crescimento da hierarquia e
a dispersão geográfica das pessoas fazem
com que a administração sênior fique longe
da "linha de fogo", e assim torna-se impos-
sível para eles ter acesso a todas as infor-
mações requeridas. Entretanto, os gerentes
sêniores continuam a decidir sobre estraté-
gias, políticas e grandes decisões, incluindo
a alocação do capital e os montantes orça-
mentários.
Por toda a organização há uma divi-
são maior do trabalho conforme as opera-
ções são decompostas em seus componen-
tes e alocadas a departamentos e equipes
de trabalho específicos. A administração
também é crescentemente fragmentada em
especializações, cada uma gerenciada por
grupos funcionais (.staff) distintos, como
O PARADIGMA DE PESQUISA DA
TEORIA DA CONTINGÊNCIA
do pessoal aumenta sua competência, o que
novamente incentiva a delegação, apesar, de ESTRUTURAL
os riscos reaparecerem (Selznick, 1957).
A medida que as organizações procu- Quase toda a pesquisa inicial sobre
ram inovar em produtos, serviços ou pro- contingência estrutural foi publicada entre
cessos produtivos, as tarefas se tornam mais 1960 e 1970 e foi fruto da eclosão de pes-
incertas. Essas tarefas não podem ser for- quisas conduzidas principalmente durante
malizadas pela burocracia, não podendo ser os anos 60. Assim, por volta de 1970, havia
especificadas previamente por meio de uma um paradigma de pesquisa bem estabeleci-
regra ou procedimento, porque isto reque- do.
reria um conhecimento que os burocratas A teoria que serve de base é o funcio-
não possuem. Assim, há o recurso do apren- nalismo sociológico (Burrel e Morgan,
dizado por tentativa e erro, freqüentemente 1979). Assim como o funcionalismo bioló-
acompanhado pelo emprego de funcioná- gico explica como os órgãos do corpo hu-
rios mais educados e altamente treinados mano contribuem para o bem-estar, o fun-
como profissionais. A organização tem que cionalismo sociológico explica a estrutura
permitir que eles sejam prudentes e usem social por suas funções, que são suas con-
sua iniciativa, com a divisão de trabalho real tribuições para o bem-estar da sociedade
incluindo elementos de equipe e surgindo (Merton, 1949; 1975; Parsons, 1951; 1964).
por meio de discussões entre os funcioná- A ramificação sociológica organizacional do
rios, mais do que sendo imposta por superi- funcionalismo postula que a estrutura
ores hierárquicos. Isto significa que, em prin- organizacional é moldada de forma a pro-
cípio, o departamento de P&D é estruturado ver a organização de efetivo funcionamen-
mais organicamente que o departamento de to (Pennings, 1992). A teoria organizacional
produção. Enquanto P&D projeta e desen- do funcionalismo estrutural procede da se-
volve, o departamento de operações e pro- guinte maneira: variações na estrutura
dução fabrica e o de vendas vende. A con- organizacional são identificadas e explicadas
fluência desses requisitos significa que a ino- por funcionarem eficazmente em determi-
vação de sucesso necessita de coordenação nada situação. A estrutura ajusta-se ao que
entre esses departamentos e isto é alcança- há de contingente, que, por sua vez se ajus-
do por equipes de projeto interfuncionais
ou matrizes ou divisões de produto (depen-
dendo de outras contingências, tais como o
grau de diversificação estratégica, vide
Donaldson, 1985b).
A medida que as empresas se diversi-
ficam de um único produto ou serviço para
múltiplos produtos ou serviços, a estrutura
funcional original deixa de responder à com-
plexidade das decisões. A estrutura multi-
divisional reduz a complexidade à medida
que cada divisão passa a decidir sobre seus
produtos e mercados. Isto leva ao aprimo-
ramento das decisões e ao aumento da ve-
locidade decisória, aliviando a sobrecarga
da alta administração e permitindo que se
concentre nas decisões estratégicas e numa
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 113 I
-------------------------------------------------------------------- ijg^

intervenção mais seletiva nas divisões. O


centro conserva o controle global, tratando
as divisões como centros de lucro e criando
um staff corporativo para monitorar o
desempnho divisional e planejar a estraté-
gia corporativa. Assim, a organização, quan-
do grande e diversificada, torna-se até mais
burocratizada e descentralizada.
Este é, resumidamente, o modelo teó-
rico da contingência sobre o modo como a
estrutura organizacional muda à medida
que as contingências mudam devido ao cres-
cimento.
I 54 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ______________________________

ta ao meio ambiente. Adequação (fit) é a Child (1974). Em segundo lugar, houve uma
premissa subjacente. Organizações buscam crescente atenção para a confiabilidade das
a adequação, ajustando suas estruturas a medidas. Woodward (1965) não se preocu-
suas contingências, e isto leva à associação pou em indicar a confiabilidade de suas
observada entre contingência e estrutura. medidas e se valeu de aproximações que
A ênfase na adaptação da organização a levaram a uma baixa confiabilidade, como
seu ambiente faz da teoria da contingência medidas de itens isolados. Pesquisadores
estrutural parte do funcionalismo adapta- posteriores buscaram melhorar a confiabi-
tivo. lidade pelo uso de medidas de múltiplos
A base teórica do funcionalismo têm itens, como o Grupo de Aston (Pugh et al.,
significado que o paradigma da contingên- 1968). Hoje, é comum entre os trabalhos
cia pode ser adotado tanto por sociólogos publicados nos melhores periódicos infor-
interessados apenas na explicação da estru- mar sobre a confiabilidade das variáveis. Em
tura organizacional, para os quais a funcio- terceiro lugar, os modelos teóricos utiliza-
nalidade da estrutura é puramente uma cau- dos para explicar um aspecto da estrutura
sa, e por teóricos da administração, para os organizacional evoluíram do uso de um
quais a efetividade oriunda da estrutura único fator contingencial, por exemplo,
orienta uma atitude prescritiva aos admi- tecnologia em Woodward (1965), para o uso
nistradores. Na história da teoria da contin- de diversos, tal como em Pugh et al. (1969),
gência, ambos os valores têm motivado os isto é, evoluíram da monocausalidade para
pesquisadores (Hickson, comunicação pes- a multicausalidade. Por último, a análise dos
soal). dados utiliza estatísticas mais sofisticadas.
O método utilizado na pesquisa contin- Woodward (1965) utilizou apenas estatísti-
gencial tendeu a seguir Joan Woodward cas simples, ao passo que, no final dos anos
(1965). Um estudo comparativo é feito com 60, se usava estatística multivariada e téc-
organizações diferentes (ou usando diferen- nicas que levavam em consideração o tama-
tes unidades da mesma organização, se nho da amostra utilizada (p. ex.: Pugh et
apresentarem interesse). Cada fator contin- al., 1969).
gencial e estrutural é medido, com uma es-
cala quantitativa, ou com uma série de ca-
tegorias ordenadas. Cada organização rece-
be um escore em cada fator estrutural e
contingencial. A distribuição cruzada de
escores das organizações em um par de fa-
tores contingenciais e estruturais é exami-
nada para verificar-se onde há uma asso-
ciação. Isto é feito por tabulação cruzada
ou correlação. A teoria que continha a hi-
pótese de associação entre a contingência e
a estrutura é testada. Organizações em con-
formidade com a associação são compara-
das com aquelas que desviam de tal asso-
ciação. Se as organizações que estão con-
formes com a associação suplantam, em de-
sempenho, as organizações "desviantes",
isto significa que temos uma adequação
entre a contingência e a estrutura. Assim,
em muitas pesquisas, a associação empírica
se apoia numa adequação aproximada
(Child, 1975; Drazin e Van de Ven, 1985;
Woodward, 1965). Contudo, em outras pes-
quisas, o modelo de adequação é derivado
da teoria (Alexander e Randolph, 1985;
Donaldson, 1987). É desejável unir os mo-
delos de adequação empírica e teoricamen-
te derivados, ao longo do curso da pesqui-
sa.
Com o passar do tempo, as pesquisas
tornaram-se mais sofisticadas em quatro
aspectos. Em primeiro lugar, maior impor-
tância foi dedicada à definição operacional
dos conceitos. Por exemplo, Woodward
(1965) mediu o desempenho organizacional
de forma vaga. Pesquisadores posteriores
foram mais precisos e registraram suas de-
finições de maneira mais explícita, como
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 55

Trabalhos pioneiros da teoria da con- chaves como centralização organizacional


e desempenho organizacional, não podem
tingência estrutural utilizam-se com fre-
sequer ser discutidos sem uma análise da
qüência de pesquisas de várias organizações organização em nível de coletividade e
em dado momento, isto é, utilizam-se do como
método seccional.* A partir desses dados, sistema (vide também Donaldson, 1990).
são feitas inferências de que a causalidade O funcionalismo adaptativo, o mode-
flui numa direção particular, isto é, da con- lo da adequação da contingência e o méto-
tingência para a estrutura. Essa interpreta- do comparativo constituem o coração do
ção funcionalista-adaptativa é uma conven- paradigma da teoria da contingência estru-
ção na pesquisa da contingência estrutural. tural. Eles fornecem o pano de fundo em
Não obstante, o método correlacionai deixa que os pesquisadores subseqüentes traba-
espaço para outras interpretações causais. lham.
Por exemplo, Aldrich (1972) reanalisou os
dados de Aston e argumentou que as corre-
lações são compatíveis com um modelo em
que a estrutura causa o tamanho da organi-
A FASE DE CIÊNCIA NORMAL:
zação - o oposto da interpretação causai REPLICAÇÃO E GENERALIZAÇÃO
promovida pelo Grupo de Aston (Pugh et
al., 1969). Essas interpretações alternativas Por volta de 1970, havia um para-
constituem desafios ao paradigma. Tem ha- digma de teoria de contingência estrutural
vido progresso na resolução de algumas estabelecido e aqueles que vieram depois
dessas questões de causalidade em favor do puderam orientar seus esforços dentro des-
determinismo da contingência, conforme sa tradição e contribuir para a evolução da
será visto adiante. literatura (para uma revisão v. Donaldson,
A teoria e a evidência empírica utili- 1995b).
zadas na teoria da contingência estrutural Os estudos de contingência pioneiros
são positivistas. A organização é vista como produziram evidência de conexões entre as
forçada a ajustar sua estrutura a fatores contingências e a estrutura organizacional,
materiais, tais como tamanho e tecnologia. mas essas evidências podiam constituir-se
Idéias e valores não figuram como causas em acasos ou idiossincrasias ou refletir vie-
de maneira proeminente. Ademais, não há
muito espaço para a escolha ou para a von-
tade humanas. Há muito pouca informação
na maioria das análises contingenciais a res-
peito de quem exatamente toma as decisões
estruturais ou quais são seus motivos ou
como as estruturas são implementadas
(Pugh et al., 1969; Blau e Schoenherr,
1971). Assim, a análise é despersonalizada
e ocorre ao nível da organização como enti-
dade coletiva que persegue seus objetivos.
Há, portanto, a ausência de uma análise ao

Método cross-sectional, em contraposição ao mé-


todo longitudinal, isto é, aquele que tomaria uma
organização em diversos momentos no tempo.
(N.T.)
nível dos atores humanos (Pennings, 1972).
Uma análise como esta identificaria os ato-
res no processo de redesenhar as organiza-
ções, suas crenças, ideais, valores, interes-
ses, poder e táticas. Muito da crítica exter-
na ao paradigma gira em torno da falta de
uma análise ao nível do ator individual na
pesquisa da teoria da contingência estrutu-
ral (Silverman, 1970). De fato, a validade
de falar-se sobre "a organização" ao invés
dos indivíduos que compõem a organização
tem sido combatida sociológica e filosofica-
mente (Silverman, 1970). Contudo,
Donaldson (1985a) oferece uma defesa dos
constructos em nível organizacional, argu-
mentando que eles são naturais e indispen-
sáveis na teoria organizacional. Fenômenos-
PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Shenoy, 1981; Conaty et al., 1983; Azumi e


McMillan, 1981; Ayoubi, 1981; Kuc et al.,
ses de seus autores. Portanto, havia a ne- 1981; Tai, 1987; Horvath et al., 1981;
cessidade de replicação, isto é, necessidade Bryman et al., 1983; Blau et al., 1976). As-
de outros estudos, realizados por pesquisa- sim, o relacionamento tamanho-especializa-
dores independentes, para ver se eles en- ção funcional generaliza-se globalmente e
contravam ou não o mesmo fenômeno. Ré- não é confinado a nações anglo-saxônias,
plicas raramente são feitas na mesma orga- tais como o Reino Unido e os Estados Uni-
nização, de modo que os estudos também dos, onde esse tipo de relacionamento foi
fornecem um teste de generalização, isto é, originalmente identificado (para uma revi-
se os resultados originais sustentam-se nos são, vide Donaldson, 1996).
estudos de novas organizações, quando con-
dições, como o tipo de organização ou o país,
são diversos daquelas em que os estudos
iniciais foram realizados (Fletcher, 1970).
Por exemplo, durante os anos 70, houve um
crescente interesse em saber se diferentes
culturas nacionais demandariam diferentes
formas de estrutura organizacional, de
modo a tornar falsa uma teoriageraZ de con-
tingência estrutural (Hickson et al., 1974;
Lammers e Hickson, 1979; Mansfield e
Poole, 1981; McMillan et al., 1973). Esse
interesse continuou nos anos 90 e gerou
muitas pesquisas (como Conaty et al. 1983;
Hickson e McMillan, 1981; Routamaa,
1985). A orientação inicial da maioria dos
pesquisadores foi a de esperar encontrar as
relações contingência-estrutura apontadas
pelos estudos pioneiros, mas perceberam
que as generalizações dos estudos iniciais
deveriam ser tratadas com cautela em cada
novo ambiente pesquisado. Réplicas e ten-
tativas de generalização constituem boa
parte da pesquisa de ciência normal na lite-
ratura da contingência estrutural.
O Grupo de Aston insistiu em réplicas
(Child, 1972a; Hinings e Lee, 1971; Inkson
et al., 1970). As múltiplas dimensões da es-
trutura organizacional dos estudos pionei-
ros não foram encontradas em algumas ré-
plicas, enquanto outras confirmaram ape-
nas a dimensão principal de maneira isola-
da (Child, 1972a; Grinyer e Yasai-Ardekani,
1980; 1981; Hinings e Lee, 1971). Este é
um dos maiores problemas com os traba-
lhos do Grupo de Aston... houve tentativas
de solução pelo exame de tópicos meto-
dológicos, tais como as medidas das variá-
veis e se o status da organização (como va-
riável dependente ou independente) afeta-
ria os resultados (Donaldson et al., 1975;
Greenwood e Hinings, 1976; Mansfield,
1973; v. tb. Reimann, 1973; Starbuck,
1981). Os diferentes resultados são vistos
tanto como reflexos de diferentes visões te-
óricas, como constituindo refutações e con-
firmações (Weber, 1968).
Diversamente, os principais resulta-
dos, em termos de contingência-estrutura
dos estudos originais, foram confirmados:
tamanho é a principal contingência para a
estruturação burocrática das atividades
organizacionais. Réplicas o confirmaram
(Pugh e Hinings, 1976). Estudos posterio-
res mostraram que esses resultados podem
ser generalizados para diversos tipos de or-
ganizações, localizadas em diversas nações
e regiões. Por exemplo, Donaldson (1986 :
74) revisa 35 estudos de relações entre o
tamanho da organização e a variável estru-
tural grau de especialização funcional. To-
dos os estudos encontraram uma correla-
ção positiva. Esses estudos incluem organi-
zações de 15 países: Algeria, Canadá, Egi-
to, Finlândia, França, Alemanha, índia, Irã,
Japão, Jordânia, Polônia, Singapura, Sué-
cia, Reino Unido e Estados Unidos (respec-
tivamente, Zeffane, 1989; Hickson et al.,
1974; Badran e Hinings, 1981; Routamaa,
1985; Zeffane, 1989; Child e Kieser, 1979;
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 57

------------------------------------------- da ciência normal tem sido mobilizada para


fazer estudos através do tempo, de maneira
DINÂMICA DA CAUSALIDADE a revelar os reais caminhos da causalidade.
A questão das relações entre estraté-
Até agora a discussão tem se concen- gia e estrutura tem sido estudada em maior
trado em estudos seccionais (vide nota do detalhadamente, de maneira que é uma área
tradutor número 2) que correlacionam a conveniente para se examinar a causalida-
contingência e a estrutura no mesmo ponto de.
e ao mesmo tempo. A teoria da contingên-
cia interpreta essa associação de acordo com
seu próprio paradigma, que é o funcionalis-
mo adaptativo e o determinismo contin- Dinâmicas de estratégia e
gencial. Surge então a questão da correção estrutura
dessa interpretação.
Cada uma das principais teorias do A explicação da correlação entre es-
paradigma da contingência enfoca apenas tratégia e estrutura é a teoria funcionalista
determinados pares de fatores contingen- de que há uma adequação entre certas es-
ciais e estruturais (por exemplo, tamanho e tratégias e certas estruturas (Chandler,
burocracia, ou estratégia e estrutura). Os 1962). A pesquisa acerca do desempenho
críticos alegam que não existe uma teoria indagou inicialmente se estruturas divisio-
da contingência, mas apenas uma coleção nais superavam, em termos de desempenho,
de teorias que constituem, na melhor das as estruturas funcionais (por exemplo,
hipóteses, uma abordagem contingencial. Armour e Teece, 1978). Entretanto, isto não
Entretanto, é possível responder a esse dis- é o mesmo que teoria da contingência, que
parate oferecendo uma teoria comum, sustenta que não é a estrutura de per se, mas
subjacente a todas. Esta pode ser denomi- antes se ela está ou não adequada à estraté-
nada teoria da adaptação estrutural para gia, que é relevante para o desempenho. Isto
readquirir adequação (structural adaptation requer a operacionalização de um modelo
to regain fit) (SARFIT) (Donaldson, 1987). que especifica certas combinações de estra-
Ela sustenta haver adequação entre cada tégias e estruturas como adequadas e ou-
contingência e um ou mais aspectos da es- tras combinações como inadequadas.
trutura organizacional de forma que a ade- Donaldson (1987) propôs um modelo como
quação afeta positivamente o desempnho
e a inadequação a afeta negativamente. Uma
organização inicialmente "adequada" tem
sua contingência alterada e desse modo tor-
na-se "inadequada", sofrendo um declínio
de desempenho: isto leva à adoção de uma
nova estrutura de modo que a adequação é
readquirida e o desempenho restaurado.
Portanto, o ciclo da adaptação é: adequa-
ção, mudança da contingência, inadequa-
ção, adaptação estrutural, nova adequação.
Esse modelo causai está por trás de muitas
das teorias de contingência estrutural (Burns
e Stalker, 1961; Lawrence e Lorsch, 1967;
Williamson, 1970; 1971; Woodward, 1965).
Têm havido argumentos contra idéias
do tipo SARFIT que contestam cada um de
seus componentes. Argumenta-se que as
correlações entre cada contingência e estru-
tura significam processos causais diferentes
daqueles do modelo SARFIT (Aldrich,
1972). Erros ou incertezas na interpretação
teórica são tidos como possíveis por causa
das limitações dos estudos seccionais. Os
comentaristas sugerem que os estudos de
teoria de contingência estrutural devem ir
além dos estudos seccionais ou desenhos
sincrônicos de pesquisa para realizar estu-
dos de mudança organizacional por meio
do tempo, isto é, estudos longitudinais ou
diacrônicos (Mansfield e Poole, 1981;
Galunic e Eisenhardt, 1994). Assim, parte
I 58 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ______________________________

este derivando-o do trabalho de Chandler 13), reproduzindo-se assim a hipótese nula


(1962) e outros. encontrada em estudos prévios de mudan-
Corporações "adequadas" superariam ça organizacional.
o desempenho das "inadequadas", fornecen- Então, os dados foram analisados pelo
do validação empírica (Donaldson 1987). exame separado de cada um dos estágios
Além disso, a adequação ocorre num mo- do modelo SARFIT e este foi confirmado.
mento anterior ao desempenho, enfatizando Das 87 corporações que se moveram da ade-
que a adequação é causa e o desempenho é quação para a inadequação, 83% o fizeram
efeito. Hamilton e Shergill (1992; 1993) devido ao aumento de seu nível de contin-
também validaram empiricamente um mo- gência estratégica, adotando uma estraté-
delo de adequação muito similar, mostran- gia de diversificação (1987 : 14). Assim, o
do relacionamento positivo com desempe- ciclo de adaptação estrutural é iniciado pela
nho. Organizações em adequação por uma mudança na contingência, como sustenta o
série de anos tiveram melhoria de desem- SARFIT. Passando para o segundo passo no
penho superior àquelas em inadequação no modelo SARFIT, os dados foram analisados
mesmo período. Isto significa que estar ade- para ver se a inadequação levaria à mudan-
quada leva a um aumento no desempenho ça estrutural. Dessas corporações em con-
e dessa forma, a adequação deveria ser vis- dições "inadequadas", 39% mudaram suas
ta como causa e o desempenho como con- estruturas, enquanto entre as "adequadas",
seqüência. Hill et al. (1992) também mos- apenas 9% o fizeram (1987 : 14). Isto con-
traram que as adequações da estratégia e firma que a inadequação causa mudança
da estrutura estão positivamente relaciona- organizacional. Das corporações que muda-
das com o desempenho. Assim, a proposi- ram sua estrutura, 72 porcento moveram-
ção de que a adequação entre estratégia e se da inadequação para a adequação e ape-
estrutura afeta o desempenho recebe apoio, nas 5 porcento moveram-se da adequação
e um pouco desse apoio vem de pesquisas para a inadequação (1987 : 14). Assim, a
em que a dimensão temporal fornece sus- mudança estrutural foi predominantemen-
tentação à inferência causai de que adequa- te adaptativa, isto é, adotou-se uma estru-
ção afeta desempenho. A teoria funcionalista
de que as corporações alinham suas estru-
turas com suas estratégias por causa de uma
adequação subjacente encontra sustentação
empírica.
Alguns estudos de mudança organiza-
cional têm buscado uma correlação entre
mudança da contingência e mudança da
estrutura, durante o mesmo período de tem-
po ou no período de tempo imediatamente
seguinte. Seus resultados têm sido confu-
sos e têm tendido a gerar dúvidas sobre a
teoria da contingência estrutural (Dewar e
Hage, 1978; Dyas e Thanheiser, 1976;
Inkson et al., 1970; Meyer, 1979). Enquan-
to a teoria da contingência sustenta que a
contingência causa a estrutura, isto só ocorre
a longo prazo, pois o curto e médio prazos
são marcados por diversas inadequações.
Assim a mudança da contingência leva ini-
cialmente apenas a uma nova inadequação,
que eventualmente conduz a uma mudan-
ça de estrutura e a uma nova adequação.
Esse modelo causai alongado e com várias
etapas expressa melhor a teoria contin-
gencial e por isso deveria ser objeto de veri-
ficações empíricas sobre mudança organi-
zacional.
Donaldson (1987) combinou dados de
estudos de estratégia e estrutura em cinco
países (França, Alemanha, Japão, Reino
Unido e Estados Unidos). Primeiramente, os
dados foram analisados de maneira tradi-
cional: buscou-se uma associação entre a
mudança da contingência da estratégia e a
mudança na estrutura no período imedia-
tamente posterior. Não houve associação
positiva entre estratégia e estrutura (1987 :
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 59 [

tura divisional para adequar a estrutura a firma que a dinâmica da causalidade é a


uma estratégia corporativa mais diversi- identificada pelo modelo SARFIT.
ficada. Portanto, a inadequação estrutural ESCOLHA
causa adaptação estrutural, como o SARFIT ESTRATÉGICA
sustenta. E assim cada estágio separado do
SARFIT foi validado. A teoria da contingência estrutural é
Quando a mudança organizacional é determinista no sentido de que a contingên-
examinada com um modelo que captura cia causa a estrutura (embora com um re-
mais precisamente todo o processo envolvi- tardamento temporal). A organização cur-
do na adaptação estrutural, então a teoria va-se ao imperativo de adotar uma nova
da contingência estrutural é confirmada. estrutura que se ajuste ao novo nível de con-
Quando se utiliza o modelo simplista de que tingência de forma a evitar a perda de de-
mudança na contingência leva à mudança sempenho em virtude da inadequação. Esse
estrutural, chega-se à conclusão errônea que determinismo tem sido muito criticado. Al-
acaba por não confirmar a teoria da contin- guns autores rejeitam um determinismo
gência estrutural. Isto é a "ciência normal" situacional como este, afirmando que os
em ação: resolver descobertas contrárias à administradores têm livre escolha
teoria pela demonstração de que os proce- (Whittington, 1989) e alguns falam de "li-
dimentos de testes empíricos estavam incor- vre arbítrio" (Bourgeois, 1984). Child
retos por não fazer uso de um modelo teó- (1972b) argumenta, mais moderadamente,
rico devidamente articulado. que as contingências possuem alguma in-
A teoria da contingência sustenta que fluência, mas há um grau considerável de
a estratégia leva à estrutura. Contudo, Hall escolha, que ele chama de "escolha estraté-
e Saias (1980) argumentam que a estrutu- gica" (v. tb. Reed, 1985; Pennings, 1992).
ra leva à estratégia. Bourgeois (1984) criti- Child (1972b) argumenta que a esco-
ca a pesquisa da contingência por falhar em lha para os administradores e outros diri-
considerar a causalidade reversa na qual o gentes organizacionais surge de fontes di-
fator de contingência presumido realmente versas. Ele aponta o processo de tomada de
resulta da estrutura. Surge a possibilidade, decisão, que intervém entre a contingência
portanto, de que correlações positivas sur- e a estrutura, começando assim um esboço
jam entre estratégia e estrutura, mas indi- de análise ao nível da ação administrativa
cando que a estrutura causa a estratégia. (action-level analysis).** Administradores (e
Entretanto, Donaldson (1982) examinou outros dirigentes organizacionais) variam
essa possibilidade e não encontrou estrutu- em suas respostas às contingências de acor-
ras divisionalizadas que levassem estraté- do com suas percepções, suas teorias implí-
gias de diversificação.* A correlação entre citas, preferências, valores, interesses e po-
estratégia e estrutura não se manifesta com der (Child, 1972b). Os pioneiros da teoria
estruturas que causam estratégias. Isto con- da contingência estrutural fazem alguma

Note que essas conclusões só foram possíveis a


partir da operacionalização do modelo que espe-
cifica certas combinações de estratégias e estru-
turas, conforme dito no início da seção. (N.T.)
Esse nível "micro" de análise, em que o tomador
de decisão individual aparece, é contraposto ao
nível "macro" de análise anterior, onde a empre-
sa aparece como um todo indivisível na relação
com o ambiente externo ou com outras contin-
gências também tomadas de maneira "macro".
Sobre vários níveis de análise organizacional, v.
PFEFFER, Jeffrey. Organizations and organization
theory. Londres : Pitman, 1982. (N.T.)
60 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

tura nova e adequada, podendo chegar a


décadas (Channon, 1973; Donaldson, 1987;
menção a esses fatores, mas prosseguem na Dyas e Thanheiser, 1976). A adaptação es-
defesa do imperativo da contingência trutural tende a ocorrer quando a organiza-
(Woodward, 1965). ção em inadequação tem baixo desempenho
Para Child (1972b) esses fatores no (Donaldson, 1987). Isto é consistente com
nível da ação ganham força e espaço em vir- o argumento da escolha estratégica (Child,
tude da fraqueza do imperativo dos siste- 1972b). Contudo, o estudo que revela esse
mas. Uma organização "inadequada" pode fenômeno (Donaldson, 1987; Rumelt, 1974)
sofrer queda de desempenho, mas esse fa- envolve as 500 maiores da revista Fortune,
tor pode ser de menor importância frente isto é, os pilares do capitalismo americano.
às demais causas de perda de desempenho. Muitos dos estudos de adaptação estrutural
Uma corporação numa posição de mercado a contingências mutantes são de grandes
dominante, tal como um monopólio ou oli- corporações (Channon, 1973; Donaldson,
gopólio, ou uma corporação numa indús- 1987; Dyas e Thanheiser, 1976; Fligstein,
tria protegida, tem excesso de lucros, ou 1985; Mahoney, 1992; Palmer, et al. 1987;
ociosidade de recursos, que lhe permitam Pavan, 1976; Rumelt, 1974; Suzuki, 1980).
absorver um decréscimo em desempenho, E portanto falso entender que grandes
por causa da inadequação estrutural, sem corporações façam adaptações estruturais
deixar que o nível de lucratividade torne-se pouco freqüentes. Por exemplo, Fligstein
insatisfatório. Assim, os administradores de (1985 : 386, Quadro 2) mostra que, entre
tais organizações podem conservar uma es- as 100 maiores corporações dos EUA, 71
trutura inadequada se o desejarem por um
longo tempo. Novamente, Child (1972b)
argumenta que quando a inadequação não
é mais tolerável e é necessário restaurar a
adequação, isto pode ser feito mantendo-se
a estrutura e alterando-se a contingência de
modo que a estrutura se ajuste. Assim não
há imperativo para adaptar a estrutura à
contingência, pois há uma rota alternativa
para reconquistar a adequação. Dessa ma-
neira, o imperativo de se adotar uma estru-
tura para dada contingência é consideravel-
mente atenuado, aumentando o espaço da
escolha estratégica. A teoria da escolha es-
tratégica têm sido amplamente reconheci-
da e constitui um desafio considerável para
a teoria da contingência estrutural.
O argumento de Child (1972b) de que
o imperativo dos sistemas é mais fraco do
que supunham os pioneiros da teoria da
contingência foi examinado e não é tão vá-
lido quanto em geral se presume. Comenta-
ristas apontam que na pesquisa de Aston
sobre a estrutura burocrática, os fatores
contingenciais foram responsáveis por ape-
nas metade da variância na estrutura, de
modo que muito da variância na estrutura
-------------------------------------------
pode ser devida à escolha estratégica. En-
tretanto, a variância na estrutura explicada
por fatores contingenciais é subestimada em
virtude de erros de mensuração. Donaldson
(1986 : 89) mostrou que a verdadeira cor-
relação entre tamanho e especialização fun-
cional, depois da correção do erro de men-
suração, é 0,82. Isto significa que 67% da
variação estrutural é explicada pelo tama-
nho, o que é bem mais do que a metade.
Dos 33% restantes de variância da estrutu-
ra, uma parte será devida a outros fatores
contingenciais, e alguns serão devidos ao
intervalo de tempo na adaptação da estru-
tura ao tamanho e às demais contingências.
Assim, a variância estrutural restante para
ser explicada pela escolha estratégica é, na
melhor das hipóteses, menor de 30%. E pode
muito bem ser menos do que 30% por cau-
sa de outros fatores que possam influenciar
a estrutura, além dos mencionados e da pró-
pria escolha estratégica.
A pesquisa sobre estratégia e estrutu-
ra mostra que organizações em inadequação
podem demorar muito a adotar uma estru-
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 61

adotaram a estrutura multidivisional, de 28% da rentabilidade e a adequação estru-


1919 a 1979. Até mesmo corporações gran- tural (à estratégia) responsável por 16%
des e saudáveis podem enfrentar alterações (1993 : 19). Assim, o efeito da inadequação
de desempenho descendo a níveis insatis- da estrutura organizacional é similar em
fatórios. Isto pode surgir quando ocorre re- magnitude àquele da dominação do merca-
cessão econômica, aumento da competitivi- do. A inadequação estrutural não é despre-
dade internacional, desregulamentação da zível em seu efeito sobre o desempenho
indústria e assim por diante. quando cotejada com a dominação de mer-
Críticos afirmam que, enquanto a teo- cado. Para a maioria das empresas, o grau
ria da contingência sugere que a organiza- de "folga" de recursos organizacionais pro-
ção responde ao ambiente, por outro lado, piciado pela dominação de um mercado
a organização pode alterar o ambiente tor- poderia ser exaurido pela inadequação es-
nando-o mais favorável a seus objetivos trutural, fazendo com que o desempenho
(Perrow, 1986; Pfeffer e Salancik, 1978). Isto se tornasse insatisfatório, obrigando a uma
torna mais fácil para a organização ser lu- readaptação estrutural.
crativa e assim evitar ter que fazer altera- A teoria da escolha estratégica argu-
ções estruturais. Perrow (1986) vale-se da menta que uma organização em inade-
análise de Hirsch (1975) para mostrar que quação pode readquirir sua adequação pela
a maior lucratividade da indústria farma- alteração de sua contingência de forma a
cêutica, quando comparada à indústria que esta venha a se adequar a sua estrutu-
fonográfica, deve-se à grande regulamen- ra; evitando, portanto, a necessidade de
tação governamental do mercado farmacêu- mudar uma estrutura preferida pelos admi-
tico, que cria uma barreira de entrada, re- nistradores. De fato, a pesquisa empírica
duzindo, portanto, a concorrência. Presu- revela que 95% das corporações que se
mivelmente, um ambiente benigno seria movem da inadequação para a adequação
atraente para muitas empresas, mas nem fazem isto por meio de mudanças que en-
todas são bem-sucedidas em produzir um volvem adaptações estruturais (Donaldson,
ambiente de tal maneira favorável. Isto in- 1987). A maioria das corporações se ajusta
dica a resiliência do ambiente e de institui- adaptando estrutura à estratégia. Apenas
ções poderosas como o governo. O grau de 5% das corporações movem-se da inade-
regulamentação da indústria farmacêutica quação para a adequação alterando a estra-
americana é atípico, refletindo a preocupa- tégia para que se ajuste à estrutura existen-
ção pública de que drogas podem ser mais te. Na realidade, corporações não utilizam
perniciosas do que discos de paradas de su- a rota da adequação da contingência para
cessos. De fato, a política governamental em chegar à adequação. A diferença é muito
diversos países (Austrália, Nova Zelândia, marcante a ponto de levantar dúvidas a res-
Reino Unido e EUA) é cada vez mais
desregulamentar indústrias de maneira a
aumentar a concorrência com o intento de
restringir disponibilidades organizacionais
e forçar organizações a se adaptarem. As-
sim, a idéia de que reengenharia ambiental
é uma alternativa à adaptação organiza-
cional é um exagero e se enfraquece com o
passar do tempo.
Uma inadequação estrutural é tolerá-
vel, quando ocorre moderada ociosidade de
recursos organizacionais, porque os efeitos
negativos da inadequação são vistos como
menores, especialmente para uma organi-
zação saudável que domina um mercado
oligopolizado (Child, 1972b). Entretanto,
um estudo feito por Hamilton e Shergill
(1992; 1993) comparou o efeito sobre o
desempenho da inadequação estrutural com
o efeito da concentração da indústria, do-
minação do mercado ou oligopólio. A con-
centração da indústria foi responsável por
62 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

peito de a adaptação contingencial ser mes- em pequenas empresas não pode ser gene-
mo uma rota alternativa. Quando a mudan- ralizado para empresas, grandes. Portanto,
ça de estratégia produz uma nova adequa- os efeitos da personalidade do CEO restrin-
ção, isto não se deve ao fato de que se pre- gem-se a pequenas empresas, pois nas
feriu alterar a estratégia para satisfazer a grandes empresas a institucionalização da
estrutura existente; na verdade, tratou-se de estrutura organizacional restringe a influ-
um retorno a uma estrutura funcional por- ência de fatores contingenciais de natureza
que foi decidido que se deveria reduzir o pessoal.
nível de diversificação, pois a estratégia Fligstein (1985) mostra que a origem
diversificadora tinha acabado de gerar que- funcional do CEO afeta a estrutura. Por sua
da de desempenho. Portanto, não se tratou vez a origem funcional do CEO é afetada
de adequar estratégia à estrutura, mas se pela estrutura e pela estratégia, isto é, por
alterou a estratégia, optando-se por centrar uma contingência estrutural (Fligstein,
as atividades no core business, com a venda 1987). Assim, não está claro que a origem
dos negócios considerados não fundamen- funcional do CEO seja causa da estrutura e
tais. Ao invés de rotas alternativas para a que independa da estrutura e das contin-
adequação e escolha, a pesquisa sustenta a gências estruturais. Muitos dos fatores em
visão de que corporações selecionam a es- nível individual que Child (1972b) e outros
tratégia e então costuram uma estrutura que vêem como moldadores de decisões estru-
seja adequada (Chandler, 1962; Christensen turais podem ser afetados pela estrutura
et al., 1978). organizacional, pela estratégia, pelo tama-
Assim o desenvolvimento de uma nho e por outras contingências. Por exem-
"ciência normal" tem sido capaz de respon- plo, o poder para afetar a escolha de estru-
der às objeções ao paradigma da teoria da turas é possivelmente afetado pela estrutu-
contingência estrutural pelo campo da es- ra organizacional existente; de maneira si-
colha estratégica. Os imperativos sistêmicos milar, o interesse de um administrador é
são fortes e limitam em alto grau a escolha
dos administradores sobre a estrutura or-
ganizacional. As organizações, mesmo as
grandes e saudáveis, curvam-se ao impera-
tivo de ter que adequar sua estrutura às con-
tingências para evitar perdas intoleráveis de
desempenho. Se alguma escolha resta, re-
duz-se em grande parte à ocasião em que
efetuar a mudança estrutural (v. tb.
Donaldson, 1996).
Têm havido alguns movimentos no
sentido de demonstrar o papel dos indiví-
duos em formatar a estrutura organiza-
cional, em que as características individu-
ais somam-se às contingências na explica-
ção da estrutura. Miller e seus colegas mos-
traram que a estrutura é afetada pela per-
sonalidade do CEO - Chief Executive Officer
(Miller et al., 1988; Miller e Droge, 1986;
Miller e Toulouse, 1986). Entretanto, o es-
tudo de Miller et al. (1988) foi realizado
em pequenas organizações, onde o impacto
do CEO é provavelmente maior do que em
grandes organizações, onde o CEO tem
menos influência, dividindo-a com especia-
listas do staff, e as decisões são mais buro-
cratizadas (como os autores aceitam
(1988 : 564). Além disso, o efeito do ta-
manho é restrito num estudo de pequenas
organizações. Assim, o estudo de Miller et
al. (1988) provavelmente superestima o im-
pacto da personalidade do CEO e subesti-
ma o efeito do tamanho. De fato, Miller e
Droge (1986 : 552) não encontraram rela-
cionamento entre a personalidade do CEO
e a estrutura organizacional em grandes
organizações. Igualmente, Miller e Toulouse
(1986 : 1397) encontraram mais efeitos da
personalidade do CEO sobre a estrutura
organizacional de pequenas do que de gran-
des firmas. Assim, o efeito da personalida-
de do CEO sobre a estrutura organizacional
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 63

afetado por sua posição na estrutura (vide gência nas escolas de administração acele-
também Donaldson, 1996). ra a adoção de estruturas organizacionais
A principal tentativa feita por Child mais efetivas, como esperado pelos pesqui-
(1973) para forjar uma teoria da estrutura sadores pioneiros (Woodward, 1965).
ao nível do ator individual sustenta que a
formalização burocrática é afetada pelo grau
de qualificação e especialização do staff ad- ADEQUAÇÃO E DESEMPENHO
ministrativo que é o arquiteto da burocra-
tização. Dessa forma, a especialização leva Como já foi apontado, a idéia central
à formalização. Assim, a teoria é essencial- da teoria da contingência é que há uma ade-
mente estrutural, explicando a estrutura quação entre a estrutura e a contingência
pela própria a estrutura. Isto não chega a organizacional que afeta o desempenho
substituir a teoria estrutural por uma teoria organizacional. A partir dos anos 80, res-
do ator individual. surgiu o interesse pela conceituação e men-
A teoria da escolha estratégica forne- suração operacional da adequação, princi-
ceu-nos o estímulo para um exame mais palmente entre os pesquisadores norte-ame-
detido de vários itens na teoria da contin- ricanos, como o trabalho crítico de
gência estrutural. O resultado confirma a Schoonhoven (1981). Outros têm procura-
teoria estrutural em sua forma original, dei- do investigar o relacionamento empírico
xando intacto seu determinismo. entre suas definições operacionais de ade-
A teoria da escolha estratégica fre- quação e desempenho organizacional, ava-
qüentemente exibe um aspecto negativo que liada de diversas maneiras (Alexander e
consiste em procurar assegurar um papel Randolph, 1985; Argote, 1982; Drazin e Van
para a escolha gerencial mostrando que de Ven, 1985; Gresov, 1989; Gresov et al.,
administradores escolhem estruturas que 1989; Van de Ven e Drazin, 1985).
não são as mais apropriadas (ótimas) para Drazin e Van de Ven (1985) modela-
a situação (Child, 1972b), manifestando um ram adequação como uma linha de iso-de-
capricho pelo qual deveriam ser moralmen- sempenho e efetuaram medidas do grau de
te culpados (vide especialmente Whitting- inadequação entre uma variável contingen-
ton, 1989). Assim, a escolha manifesta-se te e diferentes variáveis estruturais de di-
pela preferência de uma estrutura que não versas organizações. Isto trouxe à luz a
é a mais efetiva. Entretanto num segundo
movimento, mais positivo, os administrado-
res selecionam a estrutura que conduzirá a
organização à adequação com aumento da
efetividade organizacional, e reconhecimen-
to dos imperativos sistêmicos. Assim, indi-
víduos escolhem, mas na verdade são ato-
res humanos que acionam um sistema che-
gando a um resultado benéfico para a orga-
nização porque em conformidade com a te-
oria da contingência.
A sustentação para essa maneira posi-
tiva de entender a escolha gerencial é
fornecida por Palmer et al. (1993). Eles
mostram que a adoção de uma estrutura
multidivisionalizada em empresas america
nas era mais freqüente quando o CEO era
um diplomado de uma escola de adminis-
tração de elite. Palmer et al. (1993) argu-
mentam que os CEOs teriam adquirido a
idéia de uma estrutura multidivisional pela
educação. A adoção de uma estrutura
multidivisional em grandes corporações
norte-americanas foi uma adaptação predo-
minantemente racional às mudanças em
estratégia. A estrutura multidivisional foi
adotada para que se adequasse estratégia e
estrutura (Donaldson, 1987). Assim, o efei-
to da educação em administração sobre a
divisionalização é uma evidência encora-
jadora de que o conhecimento que os admi-
nistradores adquirem da teoria da contin-
I 64 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ____________________________

desejabilidade de se considerar a adequa-


ção não apenas entre a variável contin-
gencial e uma variável estrutural, mas en-
tre a variável contingencial e todas as variá- REFLEXÕES SOBRE O PARADIGMA DA
veis estruturais para as quais ela é uma con- TEORIA DA CONTINGÊNCIA
tingência. Um conceito multiestrutural de ESTRUTURAL
adequação como este reflete mais satisfato-
riamente a noção de adequação subjacente A ciência normal da teoria da contin-
e por isso é bem-vinda. De outro lado, abre gência estrutural vem recebendo a atenção
a porta para um modelo mais plenamente de um grande número de pesquisadores e
multivariado, em que os fatores contin- estudiosos. Entretanto, não desfruta de acei-
genciais e todas as variáveis estruturais para tação universal e provavelmente perdeu
as quais eles são contingentes são conside- importância a partir da década de 70. Sur-
rados simultaneamente para cada organi- giram diversas abordagens, como a teoria
zação (Randolph e Dess, 1984). Esse mode- institucional nos EUA (Meyer e Scott, 1983)
lo multidimensional de adequação captura- e a teoria do agenciamento (agency theory)
ria a idéia de adequação de uma forma mais no Reino Unido (Silverman, 1970). Os EUA
rica. Seria mais complexo, mas não comple- têm testemunhado o aparecimento de no-
xo demais, à medida que cada variável es- vas teorias organizacionais (vide Donaldson,
trutural tem, na prática, um número limita- 1995a), que vêm abrigando abundante pes-
do de contingências. Muitas variáveis estru- quisa sobre estrutura organizacional. Já se
turais têm como suas contingências apenas disse que os incentivos da carreira acadê-
um conjunto limitado de variáveis contin- mica premiam mais a criação de novos
genciais, na maior parte das vezes restrita a paradigmas do que a perseverança no estu-
uma ou poucas das variáveis de tamanho, do dos paradigmas mais antigos (Aldrich,
estratégia, incerteza da tarefa e responsabi- 1992; Mone e McKinley, 1993). Ademais, a
lidade pública. O próximo passo na pesqui- combinação de teorias alternativas com re-
sa da adequação é esclarecer com exatidão
quais as poucas contingências que se apli-
cam a cada diferente aspecto da estrutura e
incluí-las em modelos multivariados que
capturem de forma exaustiva a adequação
para em seguida estabelecer as medidas
dessa adequação multivariada e seu impac-
to no desempenho. Este é um tópico impor-
tante para o futuro da pesquisa contin-
gencial.

O DESAFIO DE OUTROS
PARADIGMAS

Como parte do crescente pluralismo


no estudo das organizações, desde meados
dos anos 70, novos paradigmas surgiram na
sociologia e na economia, oferecendo expli-
cações sobre a estrutura organizacional e
se juntando à teoria da contingência estru
tural (Pennings, 1992; Davis e Powell,
1992). Incluem a teoria da dependência de
recursos (Pfeffer e Salancik, 1978), a teoria
institucional (Powell e DiMaggio, 1991), a
teoria da ecologia populacional (Hannan e
Freeman, 1989), a teoria do agenciamento
(Jensen e Meckling, 1976) e as teorias dos
custos econômicos de transação (Williamson
1985). Algumas dessas teorias são apresen-
tadas em outros capítulos e volumes deste
Handbook. Há ainda uma discussão detalha-
da e crítica sobre cada uma dessas teorias e
se apresentam argumentos a favor da teo-
ria da contingência (Donaldson, 1995a).
Nosso ponto de vista é que essas teorias mais
novas oferecem contribuições que suple-
mentam a teoria da contingência, que con-
tinua sendo a principal teoria explicativa
da estrutura organizacional (Donaldson,
1995a).
TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 65

sultados negativos no interior do paradigma utilidade da teoria da contingência estrutu-


da pesquisa sobre contingência estrutural ral.
faz com que muitos pesquisadores acredi- Uma vez que a teoria da contingência
tam que suas descobertas são contestações estrutural começou como uma síntese en-
da teoria da contingência estrutural e que tre as idéias opostas da administração clás-
isto representa um avanço da análise sica e da escola de relações humanas, não é
organizacional. Por exemplo, Cullen et al. de admirar que venha a servir como elemen-
(1986) reestudaram a teoria de Blau (1970) to de síntese para uma teoria organizacional
e suas variáveis ao longo do tempo. Os re- mais ampla. A questão então é saber se a
sultados negativos foram interpretados teoria da contingência estrutural se tornar
como indicativos de que a teoria de Blau uma parte maior ou menor da nova síntese.
deve ser vista como uma teoria estática e Proponentes da teoria da contingência es-
não uma explicação dinâmica do tamanho trutural acharão que ela irá contribuir ma-
organizacional, como Blau sempre desejou. joritariamente para a nova síntese
Nesses casos, os pesquisadores não estão (Donaldson, 1995a). Proponentes de outras
tratando os resultados negativos como pro- teorias organizacionais acharão que a teo-
blemas do paradigma a serem solucionados, ria da contingência estrutural irá fornecer
como se esperaria no desenvolvimento de uma parte menor e suas próprias teorias
uma "ciência normal". serão fornecedoras dos elementos mais im-
Dessa forma, o desenvolvimento de portantes. Este poderia ser um dos princi-
uma ciência normal da teoria da contingên- pais debates sobre o futuro imediato dos
cia estrutural tem ocupado apenas alguns estudos organizacionais.
estudantes de organizações. Mesmo assim,
os resultados têm conduzido a progresso
considerável, problemas têm sido esclareci- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dos e o paradigma da contingência estrutu-
ral vem se fortalecendo. E apesar de a teo- ALDRICH, Howard E. Technology and
organizational structure: a re-examination of
ria da contingência estrutural ser apenas
the findings of the Aston Group.
uma entre várias teorias, no ensino da ad- Administrative Science Quarterly, 17: 26-43,
ministração constata-se seu inequívoco pre- 1972.
domínio. Os textos sobre estrutura organi- ______ . Incommensurable paradigms? Vital signs
zacional continuam a depositar grande con- from three perspectives. In: REED, Michael,
fiança na teoria da contingência estrutural HUGHES, Michael (Eds.). Rethinking
e em seus resultados (Bedeian e Zammuto,
1991; Child, 1984; Daft, 1986).
Dado o crescente pluralismo teórico do
campo dos estudos da estrutura organiza-
cional, muitos pesquisadores aceitam basi-
camente a teoria contingencial da estrutura
e acrescentam variáveis e interpretações dos
paradigmas estruturais mais novos, tais
como a teoria institucional, porém de ma-
neira eclética (para exemplos vide Fligstein,
1985; Palmer et al, 1993). Desse modo, a
teoria da contingência continua sendo o eixo
principal da pesquisa mesmo para os que se
valem de outras teorias. Esse ecletismo re-
sulta no colapso das várias teorias que não
logram erigir-se em paradigmas e acaba sen-
do rejeitado pelos adeptos mais radicais das
diversas teorias (vide Aldrich, 1992). Entre-
tanto, os pesquisadores contemporâneos
mais típicos tentam acomodar as diferentes
idéias dentro de seus modelos de pesquisa
(Fligstein, 1985; Palmer et al., 1993). Ao
mesmo tempo em que há dificuldades em
integrar os diversos paradigmas contempo-
râneos (vide Donaldson, 1995a), a tentati-
va de reintegrar o campo é altamente reco-
mendada. E, paradoxalmente, todo esse
ecletismo pode estar tornando-se a grande
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NOTA TÉCNICA: TEORIA DA
CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL
CARLOS OSMAR BERTERO

Em seu capítulo, Lex Donalson postu- se pode negar que isto em muito auxiliou
la ser a Teoria da Contingência Estrutural para que se tornasse um modelo de traba-
não só um conjunto respeitável de conheci- lho, e em conformidade com o paradigma
mentos acumulados na área organizacional, tivesse gerado livros, modelos de consultoria
mas possivelmente a maneira mais adequa- e grande quantidade de teses de mestrado
da de se construir uma "ciência" organiza- e doutorado. Contemporaneamente, diría-
cional. mos que na América Latina o mesmo suces-
Não é possível negar que a Teoria da so em termos de ciência normal foi obtido
Contingência constitui o mais amplo con- pelo paradigma da Teoria da Dependência,
junto de trabalhos publicados lidando com versão marxista com base nalgumas ques-
Análise Organizacional. A preocupação com tões de comércio internacional e que busca-
estrutura, como variável que deve ser va explicar o subdesenvolvimento e a mar-
explicada, a situa dentro da melhor tradi- ginalidade do Terceiro Mundo, e especial-
ção organizacional, influenciada pelo "admi- mente da América Latina, em face do gran-
nistrativismo", que era uma das formas as- de bloco desenvolvido situado no Atlântico
sumidas pela velha proposta da one best way. Norte. Como o paradigma da Dependência
No fundo, a origem da preocupação com permeou todas as ciências sociais, também
estrutura procurava responder à pergunta: se fez sentir na Análise Organizacional. Po-
Qual a forma correta, ou qual a melhor rém, se hoje a Teoria da Dependência é re-
maneira de organizar? Antes da abordagem ferência apenas para a história das ciências
contingencial, a resposta era buscada em sociais na América Latina, o mesmo não se
termos absolutos, com a contingencializa- pode dizer da Teoria da Contingência Es-
ção, inegavelmente, a resposta relativizou-
se, pois serão possíveis tantas estruturas
"corretas" quantas forem as variáveis contin-
gencializadoras. As origens e os trabalhos
pioneiros estão bem lembrados no texto de
Lex Donaldson e ainda julgamos aconselhá-
vel que muitos desses textos sejam revisi-
tados pelos estudiosos de nossos dias. A
maioria deles já padece da triste sina de
muitas obras, freqüentemente citadas e ra-
ramente lidas. Exemplos seriam os trabalhos
conhecidos, como o do Grupo de Aston
(Pugh e Hickson, 1976; Pugh e Hinings,
1976), o livro de Burns e Stalker (1961) e o
livro de Joan Woodward (1965).
O fato de a Teoria da Contingência
Estrutural situar-se confortavelmente no in-
terior de um paradigma funcionalista auxi-
liou para que pudesse assumir as caracte-
rísticas kuhnianas da "ciência normal". Não
NOTA TÉCNICA: TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 75

trutural quando tratamos de Análise Organi- Donaldson apresenta em seu capítulo. Boa
zacional. Ela continua viva e gerando gran- parte da literatura gerencialista apresenta
de quantidade de trabalhos e de abordagens sucessos e insucessos empresariais como
gerenciais, seja por meio da consultoria, seja conseqüência de capacidades ou incapaci-
pela ação de administradores que gerenciam dades de readaptação a um ambiente de
organizações. negócios que se teria alterado. Quando a
Isto pode ser comprovado pelas duas readaptação ocorre, o resultado é visto como
grandes variáveis contingencializadoras que a recuperação do sucesso, caso contrário,
até o momento foram utilizadas: tamanho temos o fracasso e o eventual desapareci-
e meio ambiente. Classicamente, os tra- mento da organização ou sua queda no
balhos de Peter Blau (1970) e do Grupo de ranking que lhe é relevante. Portanto a Teo-
Aston foram obras importantes, em que se ria da Contingência Estrutural explica boa
buscava o impacto do tamanho sobre o que parte da literatura recente, entenda-se dos
hoje chamaríamos de formatação organiza- últimos 15 anos, envolvendo gestão estra-
cional. Os trabalhos referidos foram elabo- tégica e mudança e transformação organi-
rados no período do desabrochar e da gran- zacional.
de expansão das organizações de tipo buro- Também se deve reconhecer que boa
crático funcional, que fizeram amplo uso da parte da literatura e das práticas hoje ado-
tipificação ideal weberiana, além de adap- tadas em design organizacional, envolven-
tarem os conceitos durkheimianos de dife- do reorganização ou reestruturação e os fa-
renciação e integração. Nos dias atuais, a mosos "problemas" de readequação, ou sim-
questão se altera. Se é fato que a buro- plesmente adequação entre estratégia, es-
cratização hoje perdeu sentido em boa par- trutura e processos administrativos conti-
te das explicações que se podem oferecer nuam altamente dependentes de uma visão
para formatação organizacional, não há organizacional que é fornecida pela Teoria
dúvida de que o abandono ou a mitigação da Contingência Estrutural. A medida que
do burocratismo funcional recolocam a a idéia de paradigma de Kuhn implica se-
questão da variável tamanho, mas de for- não a suspensão, pelo menos o amorteci-
ma alguma a excluem do cenário. Na ver- mento do senso crítico, pois quando um
dade, nada lida mais diretamente com ta- paradigma "triunfa" ele tende a ser sofre-
manho do que as propostas de reestru- gamente abraçado pela comunidade cientí-
turação que enveredam pelo downsizing. Se fica, pode-se constatar que isto de fato ocor-
no passado o aumento de tamanho era vis- reu com o contingencialismo voltado à ex-
to como elemento decisivo, em nossos dias plicação de estrutura organizacional em
sua redução e a fragmentação organiza- nosso mundo de administração e análise
cional em substituição ao burocratismo fun- organizacional. É necessário reconhecer que
cional continuam correndo por dentro de nem todos o abraçaram crítica e conscien-
um contexto de explicação contingencial da temente, mas com certeza colocaram seus
estrutura. barcos para flutuar no caudal contin-
O ambiente continua variável deci- gencialista. Se a Teoria da Contingência Es-
siva nos dias atuais como explicação de trutural for vista como uma desistência de
contingencialização e isto não apenas na construir uma one best way em nível da prá-
clássica proposta de Alfred D. Chandler tica administrativa, e também como a afir-
(1962), mas especialmente no SARFIT mação da impossibilidade de construir uma
(Structural Adaptation to Regain Fit) que explicação única para a estrutura organi-
NOTA TÉCNICA: TEORIA DA CONTINGÊNCIA ESTRUTURAL 76

zacional, ela pode ser vista como um sinal entendida como o reconhecimento de que
de maturidade. Aqui, a maturidade deve ser modelos universais, absolutos e necessá-

FURB - Biblioteca Centrai


I 77 PARTE 1 - MODELOS DE ANÁLISE____________________________

rios de ciência, como desenvolvidos na área


de exatas, biológicas e geociências não são
aplicáveis noutras áreas de conhecimento,
especialmente nas áreas de ciências sociais,
sejam puras ou aplicadas. Isto também per-
mite ver a Teoria da Contingência Estrutu-
ral de um ângulo menos polêmico e menos
rígido do que o habitual, à medida que ela
é vista como modelo de "ciência normal",
mas capaz de flexibilizar-se pela absorção
de outras perspectivas contingencializado-
ras. Na verdade, quando se fala em cultura
organizacional, diferenças entre modelos de
gestão entre países e culturas, não se está
contingencializando e portanto relativi-
zando? Quando ouvimos que o modelo nor-
te-americano de empresa e seu tipo de
governança (governance) pode não ser
universalizável e que os países latinos, como
França, Itália e os da América Latina, têm
outro tipo de empresa, que demanda igual-
mente outro tipo de estrutura de cúpula e
outro modelo de governança, não continu-
amos a contingencializar? Se a contingen-
cialização traz consigo a renúncia à univer-
salização, e portanto, a ruptura com deter-
minado modelo de ciência, isto poderá le-
var-nos à melancolia, mas também pode le
var à aceitação de que a realidade adminis-
trativa não pode ser entendida ou aborda-
da gerencialmente sem a contingecialização
relativizadora.

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ECOLOGIA ORGANIZACIONAL-
JOEL A. C. BAUM

O QUE ECOLOGIA ORGANIZACIONAL diferenças existam entre investigadores in-


É dividuais, a pesquisa ecológica tipicamente
é iniciada por três observações: (1) diversi-
E NÃO É
dade é uma propriedade dos agregados de
organizações, (2) organizações freqüente-
Até a metade dos anos 70, a aborda- mente têm dificuldade para executar e pla-
gem predominante na teoria de organiza- nejar mudanças suficientemente rápidas
ção e gerenciamento enfatizava a mudança para responder às demandas de ambientes
adaptativa nas organizações. Segundo essa incertos e mutáveis e (3) a comunidade das
visão, quando o ambiente organizacional organizações é raramente estável - organi-
muda, líderes ou coalizões dominantes em zações aparecem e desaparecem continua-
organizações alteram as características mente. Feitas essas observações, ecólogos
organizacionais apropriadas para responder organizacionais passam a procurar explica-
às demandas do ambiente. A abordagem de ções para a diversidade nos níveis da popu-
estudo da mudança organizacional, que lação e da comunidade da organização e
enfatiza os processos de seleção ambiental, focalizam as taxas de fundação e fracasso,
introduzidos também nesse período (Aldrich criação e morte de populações organizacio-
e Pfeffer, 1976, Aldrich, 1979, Hannan e nais, como fatores-chaves para o crescimen-
Freeman, 1977, McKelvey, 1982), tem-se to e redução da diversidade.
tornado progressivamente influente. A linha Organizações, populações e comuni-
de pesquisa dentro da perspectiva ecológi- dades constituem os elementos básicos da
ca da mudança organizacional gerou gran- análise ecológica das organizações. Um con-
de excitação, controvérsia e debate dentro junto de organizações engajadas em ativi-
da comunidade científica dedicada à teoria dades similares e com padrões similares de
das organizações e da administração. utilização de recursos constituem uma po-
Inspirada pela questão "por que há pulação. Populações formam-se como resul-
tantos tipos de organizações?" (Hannan e tado de um processo que isola ou segrega
Freeman, 1977 : 936), ecólogos organiza- um tipo de organização de outro, incluindo
cionais procuram explicar como as condi- incompatibilidades tecnológicas e ações
ções políticas, econômicas e sociais afetam institucionais, tais como regulamentações
a relativa abundância e diversidade de or-

Tradução: Kátia Madruga.


Revisão técnica: Luiz Felipe Nasser Carvalho.
ganizações e tentam justificar sua composi-
ção mutante ao longo do tempo. Embora
I 79 PARTE I - MODELOS DF. ANÁLISE

do governo. Populações desenvolvem rela- que para toda a população das organizações:
ções com outras populações engajadas em existem limites para a influência das ações
atividades distintas, formando comunidades individuais sobre a variabilidade nas pro-
organizacionais. Comunidades organizacio- priedades organizacionais. Conseqüente-
nais são sistemas funcionalmente integra- mente, as ações de indivíduos poderão não
dos de populações interagentes. Os resulta- explicar muito a respeito da diversidade nas
dos para as empresas em qualquer popula- populações de organizações.
ção são fundamentalmente interligados com
empresas em outras populações dentro da
mesma comunidade. Abordagens ecológicas para a
mudança organizacional
Ecologia organizacional e As mudanças nas populações organi-
determinismo ambiental zacionais refletem a atuação de quatro pro-
cessos básicos: variação, seleção, retenção e
Embora a ecologia organizacional seja competição (Aldrich, 1979; Campbell, 1965;
atualmente um notável subcampo dos estu- McKelvey, 1982). Variações fazem parte dos
dos organizacionais, existem muitos críticos comportamentos humanos. Qualquer tipo
e céticos em relação a ela. Por quê? O deba- de mudança, intencional ou não, é uma va-
te centraliza-se primeiramente nas hipóte- riação. Indivíduos produzem constantemen-
ses a respeito das influências relativas da te variações em, por exemplo, competên-
história organizacional, de seu ambiente e cias administrativas e técnicas, em seus es-
de seus padrões de escolha estratégica so- forços para ajustar a relação de suas orga-
bre os padrões de mudança da organização, nizações ao ambiente. Algumas variações
desenvolvidas pela teoria da inércia estru- trazem mais benefícios que outras na aqui-
tural (Hannan e Freeman, 1977; 1984). A sição de recursos num ambiente competiti-
teoria da inércia estrutural afirma que as
organizações existentes freqüentemente têm
dificuldades para mudar sua estratégia e
estrutura de forma suficientemente rápida
para acompanhar as demandas de ambien-
tes incertos e mutáveis e enfatiza que a
maioria das inovações organizacionais,
freqüentemente ocorre no início da história
das organizações e populações. A mudança
e a variabilidade organizacionais são, por-
tanto, consideradas essencialmente, o refle-
xo da substituição de uma organização iner-
te (isto é, inflexível) por outra. Para os críti-
cos e céticos, isto significa determinismo
ambiental e a desconsideração da ação hu-
mana (Astley e Van de Ven, 1983,
Perrow, 1986).
Abordagens ecológicas implicam que
as ações de indivíduos em particular não
importam para as organizações? A resposta
é não, é claro. Uma parte da confusão é que
o determinismo é erroneamente contrasta-
do com oprobabilismo (Hannan e Freeman,
1989; Singh e Lumsden, 1990). Deixando
de lado se a discussão a respeito de se as
ações são tolas ou inteligentes, cuidadosa-
mente planejadas ou instintivas, o fato é que
indivíduos podem claramente influenciar o
futuro das organizações. Sob as condições
de incerteza, contudo, existem severas res-
trições às habilidades dos indivíduos para
conceber e implementar corretamente mu-
danças que aumentem as chances de sobre-
vivência e sucesso organizacional diante da
competição. Conseqüentemente, "num mun-
do de grandes incertezas, esforços adapta-
tivos... tornam-se essencialmente randô-
micos em relação a seu valor futuro"
(Hannan e Freeman, 1984 : 150). Uma se-
gunda parte da confusão está ligada ao ní-
vel da análise. As ações dos indivíduos são
mais importantes para sua organização do
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 80 |

vo e são, então, selecionadas positivamente Meu objetivo neste capítulo é avaliar


- não pelo ambiente, mas pelos administra- e consolidar o presente estado da arte em
dores dentro das organizações e pelos in- ecologia organizacional. Para realizar o pro-
vestidores, clientes e reguladores governa- posto, reviso a maioria das afirmações teó-
mentais no ambiente externo (Burgelman, ricas, estudos empíricos e discussões que
1991, Burgelman e Mittman, 1994; estão ocorrendo neste momento. Embora
McKelvey, 1994; Meyer, 1994; Miner, 1994). tenha tentado examinar o campo da inves-
Quando variações de sucesso são co- tigação em ecologia organizacional compre-
nhecidas, ou quando tendências ambientais ensivamente, devido à pesquisa ecológica
são identificáveis, indivíduos podem tentar constituir, neste momento, um grande cor-
copiar e implementar essas variações de po de trabalho e devido a já existirem ou-
sucesso em sua própria organização ou po- tras revisões extensas (Aldrich e
dem tentar prever, antecipar, planejar e Wiedenmayer, 1993, Carroll, 1984a; Wholey
implementar políticas no contexto de ten- e Brittain, 1986; Singh e Lumsden, 1990),
dências previsíveis (DiMaggio e Powell, focalizarei os trabalhos mais recentes. O
1983; McKelvey, 1994; Nelson e Winter, restante deste capítulo é organizado em
1982). Mas quando variações de sucesso são duas seções principais. Reviso a teoria e
desconhecidas, porque, por exemplo, o com- pesquiso as taxas de fundação e fracasso
portamento dos consumidores e competido- organizacionais na primeira seção e taxas
res é imprevisível, a probabilidade de esco- de mudança organizacional na segunda. Em
lher a variação correta e implementá-la é ambas as seções, enfatizo temas e debates
muito baixa. Mesmo quando variações de contemporâneos, bem como identifico ques-
sucesso são identificadas, a ambigüidade de tões centrais que permanecem sem respos-
suas possíveis causas pode frustrar as tenta- ta e saliento novas e emergentes direções
tivas de imitação. Sob essas condições, va- que parecem promissoras para a pesquisa
riações podem ser vistas como tentativas futura.
experimentais, algumas conscientemente
planejadas e outras acidentais, algumas re-
sultando em sucesso outras em fracasso
(McKelvey, 1994; Miner, 1994).
Quer elas sejam conhecidas ou não,
com o passar do tempo, variações de suces-
so são retidas na forma de organizações so-
breviventes que são caracterizadas por tais
variações. Se as chances de sobrevivência
são baixas para organizações com uma va-
riante especial, isso não significa necessa-
riamente que essas organizações estão des-
tinadas ao fracasso. Na verdade, significa
que a capacidade dos indivíduos de mudar
as organizações com sucesso é de grande
importância (Hannan e Freeman, 1989). A
teoria ecológica, portanto, não remove os
indivíduos da responsabilidade de controle
(ou influência, pelo menos) sobre o sucesso
e sobrevivência da organização: indivíduos
realmente têm importância. A teoria ecoló-
gica, contudo, assume que os indivíduos não
podem sempre (ou freqüentemente) deter-
minar previamente que variações irão ser
bem-sucedidas ou quais irão mudar as es-
tratégias e as estruturas de suas organiza-
ções rápido o suficiente para acompanhar
as demandas de ambientes incertos e mutá-
veis. Conseqüentemente, em contraste com
as abordagens da adaptação, que explicam
mudanças na diversidade organizacional em
termos de escolhas estratégicas cumulativas
e mudanças nas organizações existentes, as
abordagens ecológicas realçam a criação de
novas organizações e o desaparecimento de
outras.

Este capítulo
81
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL

FUNDAÇÃO E FRACASSO novos papéis como atores sociais e criar


ORGANIZACIONAL papéis e rotinas organizacionais a tempo,
em um período no qual os recursos orga-
nizacionais estão sendo exigidos até o limi-
Abordagens ecológicas da fundação e
te. Novas organizações parecem enfrentar
fracasso representam variações radicais em
a falta de influência e apoio, relações está-
relação às abordagens tradicionais que fo-
veis com agentes constituintes externos im-
calizam as iniciativas, capacidades e habili-
portantes e legitimidade. Seguindo numa
dades individuais. A abordagem tradicional
linha complementar, Hannan e Freeman
- baseada em traços inatos - a respeito da
(1984) sugerem que as pressões seletivas
fundação de organizações assume que há
favorecem organizações capazes de demons-
algo sobre o passado de um indivíduo ou
trar serem confiáveis e terem justificação.
personalidade que o leva a fundar uma or-
Mostrar confiança e justificação exige das
ganização (Gartner, 1989). Igualmente, a
organizações alta reprodutividade. Esta
pesquisa tradicional a respeito de política
reprodutividade, e a inércia estrutural que
de negócios normalmente atribui o fracas-
ela gera, aumentam à medida que avança a
so organizacional à inexperiência e incom-
idade da organização. Uma vez que os pro-
petência administrativa, ou a situação finan-
cessos de seleção favorecem enormemente
ceira inadequada (Dun e Bradstreet, 1978).
estruturas reprodutíveis, organizações mais
As abordagens ecológicas à fundação e fra-
antigas são menos propensas ao fracasso do
casso organizacional, comparativamente,
que organizações iniciantes.
enfatizam causas contextuais ou ambientais
Bastante relacionada à suscetibilidade
- sociais, econômicas e políticas - que pro-
das novatas está a suscetibilidade das peque-
duzem variações nas taxas de fundação e o
nas empresas. Organizações maiores são
fracasso das organizações ao longo do tem-
po, influenciando estruturas de oportunida-
de que confrontam fundadores organiza-
cionais potenciais e restrições de recursos
com que se deparam as organizações exis-
tentes (Aldrich e Wiedenmayer, 1993;
Carroll, 1984a; Romanelli, 1991). Em ter-
mos mais amplos, a teoria e a pesquisa eco-
lógicas sobre a criação e fracasso focalizam
três temas, resumidos na Tabela 1: (1) pro-
cessos demográficos, (2) processos ecológi-
cos e (3) processos ambientais.

PROCESSOS DEMOGRÁFICOS

Considerando que os processos de fun-


dação de empresas são atributos de uma
população, já que nenhuma organização
existe antes de sua criação, os processos de
fracasso ocorrem nos níveis organizacionais
e populacionais: as organizações existentes
têm histórias e estruturas que influenciam
suas taxas de fracasso. Desse modo, o estu-
do dos fracassos organizacionais é compli-
cado pela necessidade que temos de consi-
derar processos tanto no nível organiza-
cional quanto populacional. A análise demo-
gráfica examina os efeitos das característi-
cas organizacionais sobre as taxas de fra-
casso em populações organizacionais.

Dependência de idade e tamanho

Uma linha central de investigação na


pesquisa ecológica tem sido o efeito da ida-
de organizacional sobre o fracasso. A visão
predominante é a da suscetibilidade das no-
vatas (Stinchcombe, 1965 : 148-149), ou
seja, a propensão de organizações mais jo-
vens terem taxas mais altas de fracasso.
Apoiando esse argumento está a hipótese
de que organizações mais jovens são mais
vulneráveis, porque elas têm que aprender
82 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Tabela 1 Principais abordagens ecológicas para a fundação e fracasso organizacional.


Variáveis-chave Previsões-chave Referências-
chave
Processos Demográficos Idade organizacional Suscetibilidade das novatas: as Freeman et al.,
taxas de fracasso 1983
Dependência da idade
organizacional declinam com
a idade, conforme os papéis e
rotinas são dominados, e as
relações com os agentes
externos são estabelecidas.
Suscetibilidade da Bruderl e
adolescência: taxas de fracasso Schusller, 1990;
organizacional Fichman e
crescem com os aumentos Levinthal, 1991
iniciais da idade, alcançam um
pico, quando os primeiros
recursos são depauperados,
então declinam com os futuros
aumentos da idade.
Suscetibilidade da Baum, 1989a;
obsolescência: Ingram, 1993;
as taxas de fracasso Ranger-Moore,
organizacional aumentam com 1991; Barron et
o tempo, à medida que seu al., 1994
ajuste inicial com o ambiente
se corrói.
Dependência do tamanho Suscetibilidade das as taxas de fracasso Freeman et al.,
Tamanho organizacional pequenas empresas: organizacional declinam com o 1983
tamanho, protegendo
organizações das ameaças à
sobrevivência.
Processo Ecológico Estratégia Especialistas exploram uma Freeman e
Dinâmicas de amplitude especialista estreita faixa dos recursos e são Hannan, 1983;
do nicho favorecidos em ambientes 1987; Carrol,
concentrados e refinados (fine- 1985
grained)
Estratégia do Generalistas toleram mais
generalista facilmente um amplo espectro
de as mudanças ambientais e
são favorecidos em ambientes
de grande variabilidade e não
refinados (.course-grained).
Dinâmica da população Fundações 0 início do crescimento em Carroll e
anteriores fundações prévias sinaliza Delacroix, 1982;
oportunidades, estimulando Delacroix e
novas fundações; mas tais Carroll, 1983;
crescimentos criam Delacroix et al.,
competição por recursos, 1989
83
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL

Tabela 1 Continuação.
Variáveis-chave Previsões-chave Referências-
chave
reprimindo novas fundações.
Crescimentos das fundações
anteriores que sinalizam
diferenciação organizacional
diminuem as taxas de
fracasso.
Fracassos anteriores 0 início do crescimento nas
mortes prematuras libera
recursos, estimulando novas
fundações, mas tal
crescimento adicional sinaliza
um ambiente hostil,
reprimindo novas fundações.
Os recursos liberados pelas
mortes prematuras diminuem
as taxas de fracasso.
Dependência da Densidade da 0 início do crescimento na Hannan e
densidade população (isto é, densidade aumenta a Freeman, 1987;
número de legitimidade institucional de 1988;1989;
organizações numa uma população, aumentando Hannan e Carrol,
população) as taxas da fundação e 1992
diminuindo os fracassos;
aumentos adicionais, porém,
produzem competição,
diminuindo as fundações e
aumentando os fracassos.
Interdependência da Densidade da Examina os efeitos da Hannan e
comunidade população densidade entre populações. Freeman, 1987;
Populações competitivas 1988;
(mutualistas) sufocam Barnett, 1990;
(estimulam) as taxas de Brittain, 1994.
fundação entre elas e
aumentam (diminuem) as
taxas de fracasso de cada uma.
Processos ambientais Desordem política Desordens políticas afetam os Carroll e
padrões das fundações e Delacroix, 1982;
Processos institucionais
fracassos, mudando os Delacroix e
alinhamentos sociais, Carrol, 1983;
rompendo relações Carrol e Hup,
estabelecidas entre 1986
organizações e recursos, e
liberando recursos para
utilização por novas
organizações.
Regulamentações Políticas governamentais Tucker et al.,
governamentais afetam padrões de fundação e 1990a; Baum e
fracasso, melhorando, por Oliver, 1992;
84
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL
J

Tabela 1 Continuação.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura de
organizacional, pós-estruturalista, industrialismo/
pós-industrialista, pós-fordista/ modernidade
moderno, Foucault, Garfinkel, teoria a pós-
do ator-rede industrialismo/
pós-modernidade
consideradas menos suscetíveis ao fracasso de fato, ser resultado da confusão com o
por uma série de razões. Uma vez que o tamanho não mensurado (Levinthal 1991a).
maior tamanho aumenta a tendência à inér- Embora numerosos estudos ecológicos an-
cia nas organizações e que as pressões sele- teriores sustentem consistentemente a hipó-
tivas ambientais favorecem organizações tese da susceptibilidade das novatas
estruturalmente inertes por sua confiabili- (Carroll, 1983; Carroll e Delacroix, 1982;
dade, organizações maiores são considera- Freeman et al., 1983), conforme a Tabela 2
das menos vulneráveis aos riscos do fracas- demonstra, estudos recentes demonstram
so (Hannan e Freeman, 1984). A propen- que - após o controle pelo tamanho orga-
são das pequenas organizações para o fra-
casso é também apontada como uma das
conseqüências de alguns problemas, como
dificuldades para levantar capital, recrutar
e treinar a força de trabalho, responder aos
pagamentos com altas taxas de juros e lidar
com os custos administrativos de estar de
acordo com as regulamentações do gover-
no (Aldrich e Auster, 1986). O tamanho
grande também tende a legitimar organiza-
ções, à medida que ele é interpretado pelos
investidores como o resultado do sucesso
da empresa e como um indicador de um
futuro confiável.
Considerando que as novas organiza-
ções tendem a ser pequenas, se, conforme a
suscetibilidade das pequenas empresas
aponta, pequenas organizações têm taxas de
fracasso mais altas, então a suscetibilidade
das novatas e das pequenas empresas são
passíveis de ser confundidas e devem ser
separadas empiricamente (Freeman et al.,
1983). Então, o que aparece como depen-
dência negativa em relação à idade pode,
85PARTE I - MODELOS DE ANALISE

Tabela 2 Estudos da dependência da idade e do tamanho, 1989-1994.


População Idade* Tamanho Variável de Referências
tamanho
_
Sindicatos dos Estados Unidos, + Membros na Hannan e Freeman, 1989;
1836-1985" fundação Carrol e Hannan, 1989a;

1989b; Carrol e Wade,

1991; Hannan e Carroll,

1992

Cervejeiros dos Estados Unidos, - nac

1633-1988

Jornais da Argentina, 1800-1900 U - na

Jornais da Irlanda, 1800-1975 - na

Jornais de São Francisco, 1800-1975 - na

Jornais de Little Rock, 1815-1975 - na

Jornais de Springfiel, 1835-1975 - na

Jornais de Shreveport, 1840-1975 - na

Jornais de Elmira, 1815-1975 na •


-
Jornais de Lubbock, 1890-1975 - na

Jornais de Lafayette, 1835-1975 - na

Vinícolas da Califórnia, 1940-1985 0 - Capacidade Delacroix et. al., 1989;


de estoque Declacroix e Swaminathan,

1991

Companhias telefônicas de Iowa, 0 0 Assinantes Barnett, 1990; Bamett e


1900-29 Amburgey, 1990

Companhias telefônicas da Pensilvânia, + 0

1879-1934

Organizações de negócios da Alemanha +/- - Empregados Bruderl e Schussler, 1990


Ocidental, 1890-1899 no período de

fundação

Cervejeiros bávaros, 1900-81 0 - Simulação de Swaminathan e


pequenas Wiedenmayer, 1991

empresas

Creches de Toronto, 1971-89 + - Capacidade de Baum e Oliver, 1991; 1992;


licenciados Baum e Singh, 1994b

Jornais de imigrantes dos Estados - na Olzak e West, 1991

Unidos, 1877-1914

Jornais afro-americanos, 1877-1914 - na

Companhias de seguro de vida do

Estado de New York +/- Ativos Ranger-Moore, 1991


-
Bancos de Manhattan, 1840-1976 0 - Ativos Banaszak-Holl, 1992; 1993
Hóteis de Manhattan, 1898-1990 + - Número de Baum e Mezias, 1992
salas

California S&L, 1970-1987 0 0 Ativos Haveman, 1992; 1993a


US mutual S&L, 1960-1987 +/- 0 Ativos Rao e Nielsen, 1992
US stock S&Ls, 1960-1987 +/- 0 Ativos

Produtores de cimento dos Estados

Unidos, 1888-1982 0/- na Anderson e Tushman, 1992

Produtores de minicomputadores, +/- na

1958-1982

Grupo HMOs do Estados Unidos, 0 - Matrícula Wholey et. al., 1992


1976-1991

US independence practice Assn HMOS, + - Matrícula

1976-1991

Jornais Finlandeses, 1771-1963 na Amburgey et al., 1993


-
Cervejeiros dos Estados Unidos, + - Produção em Carrol et al., 1993
1878-1988 1878e 1879
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 86

Tabela 2 Estudos da dependência da idade e do tamanho, 1989-1994.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal

a x/y dá os sinais dos significantes (p < 0,05) de termos lineares e quadrados, respectivamente, quando
estimados. X dá o sinal dos efeitos do crescimento inicial em idade, Y dá os sinais do efeito para aumentos
no futuro
b \feja Hannan e Freeman (1989 : 257-259) para uma interpretação desse efeito de tamanho positivo,
c na - não aplicável
d Amburgey et al. (1994) testa um efeito cúbico do tamanho para examinar o risco de fracasso das organiza-
ções de tamanho médio.

nizacional atual - as taxas de fracasso não de tempo em que a organização permanece


declinaram com o tempo. Uma vez que protegida. Conforme esses estoques iniciais
muito do suporte original para a hipótese se degradam, as organizações enfrentam a
da suscetibilidade das novatas vem de estu- suscetibilidade da adolescência; aquelas
dos em que o tamanho das organizações não organizações que fracassaram foram inca-
é controlado, os resultados primeiramente pazes de gerar os fluxos de recursos neces-
sustentados podem simplesmente refletir
viés de especificação. Em contraste, os es-
tudos na Tabela 2 sustentam fortemente o
prognóstico a respeito da suscetibilidade das
pequenas empresas, isto é, de que as taxas
de fracasso organizacional declinam à me-
dida que cresce o tamanho das empresas.

Maior pode ser melhor, mas mais velho


significa mais sensato?

Esses resultados levaram a duas pers-


pectivas teóricas alternativas sobre a depen-
dência da idade que questionam o argumen
to básico da suscetibilidade das novatas.1 A
hipótese da suscetibilidade da adolescência
(Bruderl e Schussler 1990; Fichman e
Levinthal, 1991) prevê uma relação em for-
ma de "U" invertido entre idade e fracasso
organizacional. Esse modelo parte da obser-
vação de que toda nova organização come-
ça com um estoque inicial de ativos, entre
os quais boa vontade, crenças positivas,
compromisso psicológico e investimentos de
recursos financeiros, que as protegem do
fracasso, durante um período inicial de "lua-
de-mel" - mesmo quando os resultados ini-
ciais não são favoráveis. Quanto maior o
estoque inicial de ativos, maior o período
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 87

sários, porque, por exemplo, não consegui-


ram estabelecer os papéis e rotinas neces- Dois exemplos de problemas gerados
sários ou desenvolver relações estáveis com por tendenciosidade na seleção de amostras
agentes externos importantes. Contudo, podem contribuir para a fraqueza dos argu-
após a adolescência, a futura probabilidade mentos da suscetibilidade das novatas na
de fracassos declina, uma vez que as orga- Tabela 2. Primeiramente, as novas organi-
nizações sobreviventes foram capazes de zações estudadas podem ser velhas organi-
adquirir os recursos suficientes continua- zações novatas, isto é, tardias no processo
mente. de emergência (Katz e Gartner, 1988). Se
Os argumentos da suscetibilidade dos os pesquisadores fossem capazes de obter
novatos e da suscetibilidade da adolescên- informações anteriores ao processo de fun-
cia oferecem explicações divergentes para dação (por exemplo, anteriores à incorpo-
a dependência de idade em organizações ração formal da empresa), os resultados da
jovens, mas ambas concordam que as taxas suscetibilidade das novatas seriam muito
de fracasso diminuem para organizações mais fortes. Em segundo lugar, organizações
mais velhas. Além disso, os processos sub- censuradas pela esquerda,* isto é, aquelas
jacentes a esses modelos (por exemplo, a fundadas antes do começo do período de
aprendizagem e a criação de novos papéis e observação, são incluídas em várias análi-
rotinas, o estabelecimento de relações com ses. Devido ao fato de já serem sobreviven-
agentes externos e a corrosão de vantagens) tes, essas organizações tendem a ser casos
ocorrem muito cedo dentro da vida das de baixo risco. Conseqüentemente, conside-
empresas. A hipótese da suscetibilidade da rar organizações censuradas pela esquerda
idade prevê uma taxa de fracasso crescente
para organizações mais velhas, como um
resultado de processos que ocorrem mais Left-censored organizations, no original.
tarde na vida das organizações (Barron et
al., 1994; Baum, 1989a; Ingram, 1993; Ran-
ger-Moore, 1991). Desse modo, a hipótese
da suscetibilidade da idade complementa e
estende as hipóteses sobre suscetibilidade
das novatas e sobre suscetibilidade da ado-
lescência (Baum, 1989a).
O argumento da suscetibilidade da
idade começa com outro insight do ensaio
de Stinchcombe (1965 :153): "as invenções
organizacionais que podem ser feitas den-
tro de um determinado momento da histó-
ria dependem da tecnologia social disponí-
vel naquele período". As organizações re-
fletem o ambiente no período de sua funda-
ção. Quando muda o ambiente em que uma
organização é fundada, o ajuste que existe
entre as organizações e seu ambiente é al-
terado, uma vez que a informação incom-
pleta, a racionalidade limitada e tendências
inerciais tornam o alinhamento às novas
demandas ambientais difícil, quando não
impossível. Mudanças ambientais também
criam oportunidades para novas organiza-
ções entrarem e destruírem as posições com-
petitivas das organizações já estabelecidas.
Ironicamente, tentativas para realinhar a
organização com seu ambiente podem re-
sultar em riscos adicionais, resultantes dos
limites das habilidades dos indivíduos em
conceber e implementar mudanças com su-
cesso e do potencial que tentativas de mu-
danças maiores têm de diminuir a perfor-
mance organizacional e romper relações
externas importantes (Hannan e Freeman
1984). Portanto, enfrentar uma série de
mudanças ambientais que diminuem o ali-
nhamento das organizações com seus am-
bientes expõe organizações com mais idade
a um risco crescente de fracasso.

Resultados da pesquisa e
direções futuras
88 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

como padrão pode levar à subestimação das lido para o tamanho organizacional, é cla-
taxas de fracasso em prazos mais curtos ro), avanços recentes oferecem a promessa
(Guo, 1993). de progressos futuros.
Enquanto a suscetibilidade das nova-
tas pode normalmente ser subestimada, a
suscetibilidade da idade pode ser superesti- PROCESSOS ECOLÓGICOS
mada. Se a idade coincide com a quantida-
de de mudanças ambientais experimenta- Dinâmicas de extensão de nicho
das pela organização e se o risco de fracas-
so aumenta com a mudança ambiental cu- Na afirmação inicial a respeito da eco-
mulativa, então a probabilidade de fracas- logia organizacional, Hannan e Freeman
so aumentará artificialmente com a idade, (1977) usam a teoria do tamanho de nicho
se a mudança ambiental não for controlada para formular um modelo de capacidades
(Carroll, 1983 : 313). Então, da mesma for- diferenciais de sobrevivência das organiza-
ma que a dependência negativa da idade ções especialistas - que possuem pouca so-
pode resultar artificialmente do tamanho bra de recursos e concentram-se nos modos
não controlado, a dependência positiva da de exploração de uma estreita faixa de cli-
idade (após controlada pelo tamanho) po- entes potenciais - e organizações
derá resultar artificialmente da exposição generalistas - que apelam para a média dos
não controlada à mudança ambiental. Cla- consumidores que ocupam o meio do mer-
ro que isto implica que, após o controle pelo cado e exibem tolerância adaptativa para
tamanho e mudança ambiental, nenhuma variações mais amplas nas condições am-
dependência da idade deveria ser encontra- bientais. Baseadas na teoria da posição de
da. ajuste (Levins, 1968), Hannan e Freeman
A sustentação limitada para a hipóte- focalizam dois aspectos da variação
se da suscetibilidade da idade pode ter uma ambiental para explicar a relativa preva-
explicação mais simples: testes da hipótese lência de especialistas e generalistas. A pri-
da suscetibilidade da adolescência são pou- meira - variabilidade - refere-se à variação
co freqüentes. Visivelmente, cinco dos sete nas flutuações ambientais em torno de sua
estudos na Tabela 2 que permitem a depen- média, ao longo do tempo. A segunda,
dência da idade não regular, encontram a granulosidade, refere-se à desigualdade, ir-
suscetibilidade da adolescência. regularidade dessas variações, com muitas
Pesquisas a respeito da dependência
da idade devem ir além do uso da idade
como substituto para todos os constructos,
salientando os vários modelos de dependên-
cia da idade e começando a testar as hipó-
teses do modelo diretamente. Por exemplo,
a hipótese da suscetibilidade das novatas
assume que a falta da aprovação social, de
estabilidade e de recursos suficientes tipifica
novos entrantes numa população, e que es-
sas deficiências aumentam seus riscos de
fracasso, mas a variação organizacional nes-
ses fatores é raramente medida diretamen-
te. É claro, se organizações jovens são capa-
zes de obter legitimidade e acesso aos re
cursos mais cedo, por meio da formação de
vinculações institucionais à comunidade e
agentes públicos, a suscetibildade das no-
vatas poderá não ser observada (Baum e
Oliver, 1991). Um benefício adicional desse
tipo de abordagem é que as suscetibilidades
das novatas, da adolescência e da obso-
lescência, podem ser tratadas como comple-
mentares, em vez de serem consideradas
processos organizacionais competitivos.
Então, embora saibamos muito pouco so-
bre como a idade diminuirá os fracassos
organizacionais ou as condições sob as quais
uma ou outra ou algumas combinações des-
ses modelos predominarão (o mesmo é vá-
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 89

Tabela 3 Previsões da teoria da extensão de nicho das formas favorecidas.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
Fonte: Adaptado de Hannan e Freeman (1989 : 311).
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons

e pequenas variações periódicas que são são de que a crescente concentração de


refinadas* e algumas variações periódicas mercados aumenta a taxa de fracasso das
maiores que são grosseiras.** A Tabela 3 re- grandes organizações generalistas e dimi-
sume as formas organizacionais dominan- nui a taxa de fracasso das pequenas organi-
tes prognosticadas pela teoria da tamanho zações especialistas.
de nicho. O prognóstico-chave (para ajuste
côncavo, no qual a magnitude média da
variação ambiental é extensa em relação às Resultados da pesquisa e direções
tolerâncias organizacionais) é que em am- futuras
bientes refinados as organizações especia-
listas dominam as generalistas independen- Embora a distinção entre especialistas
temente do nível de incerteza ambiental. Isto e generalistas seja usada atualmente com
ocorre porque as organizações especialistas mais freqüência na pesquisa ecológica como
suportam melhor as flutuações ambientais, uma distinção estratégica, estudos recentes
enquanto generalistas são incapazes de res-
ponder rápido o suficiente, para acompa-
nhar qualquer grau de eficiência produtiva
(mas veja Herriott, 1987). Então, sob con-
dições específicas de ambientes refinados,
a teoria da posição de ajuste desafia a teo-
ria da contingência organizacional conven-
cional de que ambientes incertos sempre
favorecem organizações generalistas, por-
que elas dissipam, distribuem seus riscos
(Lawrence e Lorsch, 1967; Pfeffer e
Salancik, 1978; Thompson, 1967).
Carroll (1985) propõe um modelo al-
ternativo sobre a dinâmica de extensão de
nicho desenhada para explicar as capacida-
des diferenciadas de sobrevivência dos es-

Fine-grained, no original.
Coarse-grained, no original.
pecialistas e generalistas em ambientes ca-
racterizados por economias de escala. Em
contraste com a teoria de ajuste, que prevê
que dentro de determinada população a es-
tratégia ótima existe, Carroll propõe que a
competição entre grandes organizações
generalistas numa população para ocupar
o centro de mercados livres libera recursos
periféricos que, provavelmente, serão usa-
dos por membros menores e mais especiali-
zados de uma população. Carroll denomina
o processo de geradores desses resultados
de particionamento de recursos. O modelo
de particionamento de recursos implica que,
em mercados concentrados com (poucas e
grandes organizações generalistas), as pe-
quenas organizações especialistas podem
explorar mais recursos sem um engajamento
na competição direta com organizações
generalistas maiores. Isto resulta na previ-
____________________ ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 90 [

da dinâmica dos nichos de populações não Padrões prévios de fundação e fracas-


usam a teoria de extensão de nicho e so de uma população podem influenciar as
freqüentemente tratam a variação ambiental taxas atuais de fundação (Delacroix e
tanto espacial, quanto temporal (Baum e Carroll, 1983). Inicialmente, fundações an-
Mezias, 1992; Baum e Singh, 1994b; 1994c; teriores sinalizam um nicho fértil para em-
Carroll e Wade, 1991; Haveman, 1994; preendedores potenciais, encorajando no-
Lomi, 1995). Testes de previsão específicos vas fundações. Conforme, porém, as funda-
de extensão de nicho e de teoria de par- ções aumentam, a competição por recursos
ticionamento de recursos são limitados. O também aumenta, desencorajando as novas
estudos de fracassos de restaurantes da Cali- fundações. Os fracassos anteriores são prog-
fórnia (Freeman e Hannan, 1983; 1987) e nosticados como tendo um efeito curvilíneo
de empresas americanas de semicondutores similar sobre as fundações. Primeiramente,
(Hannan e Freeman, 1989) não suportaram os fracassos liberam recursos que podem ser
a hipótese básica de que, para ajustes côn- reutilizados em novas fundações criações.
cavos, em ambientes refinados, especialis- Mas fracassos adicionais sinalizam um am-
tas dominam sobre os generalistas, indepen- biente hostil, desencorajando novas funda-
dentemente do nível de incerteza do ambi- ções. Criações e fracassos prévios podem
ente, e, desse modo, então falham em dis- também diminuir taxas de fracasso. Os re-
tinguir a teoria de extensão de nicho da te- cursos liberados pelos fracassos anteriores
oria ortodoxa da contingência organiza- aumentam a viabilidade das organizações
cional. A Teoria do particionamento de re- já estabelecidas, diminuindo a taxa de fra-
cursos é sustentada em estudos sobre fra- casso no próximo período (Carroll e
casso em empresas jornalísticas (Carroll Delacroix, 1982). Ondas de fundações
1985; 1987), bem como em dois estudos organizacionais, que refletem diferenciações
recentes sobre fundação e fracasso de que segmentam as exigências de recursos
cervejarias americanas (Carroll e organizacionais, diminuem as taxas de fra-
Swaminathan, 1992) e fundação de bancos casso, reduzindo a competição direta por
cooperativos rurais na Itália (Freeman e recursos (Delacroix et al., 1989).
Lomi, 1994) que oferecem sustentação par- Explicações da Teoria da Dependên-
cial. Estudos que comparam os prognósti- cia da Densidade para fundações e fracas-
cos destes dois modelos e estudos que con- sos são similares, embora não idênticas.
trastam modelos ecológicos com prognósti- Aumentos iniciais na densidade popula-
cos da teoria da contingência tradicional são cional podem aumentar a legitimidade ins-
necessários. As formulações atuais sobre a titucional de uma população. A capacidade
teoria de extensão de nicho que focalizam de os membros da população adquirirem
exclusivamente a variação ambiental tem- recursos aumenta consideravelmente, quan-
poral também precisam estar ligadas às
abordagens recentes que consideram a va-
riação ambiental espacial. Finalmente, a
possibilidade de polimorfismo organiza-
cional (por exemplo, diversificação não re-
lacionada versus variação temporal, diver-
sificação relacionada versus variação espa-
cial), uma alternativa estratégica para em-
presas especialistas e generalistas, também
deve ser incorporada aos quadros concei-
tuais existentes (Usher, 1994).
Dinâmica da população e
dependência da densidade
A pesquisa recente em ecologia
organizacional sobre fundação e fracasso
tem devotado muita atenção aos processos
intrapopulacionais de dinâmica da popula-
ção, como número de fundações e fracassos
prévios em uma população, e da densidade
da população, ou seja, número de organiza-
ções na população.
I 91 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ____________________________

do aqueles que controlam os recursos con- Embora o suporte à Teoria da Depen-


sideram aquela forma organizacional como dência da Densidade seja bastante forte, ela
certa. Contudo, à medida que uma popula- ainda sofre algumas críticas. A Teoria da
ção continua a crescer, a interdependência Dependência da Densidade recebeu alguma
entre seus membros torna-se competitiva. atenção crítica por sua proposta integradora
Quando há poucas organizações numa po- das perspectivas institucional e ecológica
pulação, a competição de umas com as ou- (Baum e Powell, 1995; Delacroix e Rao,
tras pelos recursos compartilhados e escas- 1994; Zucker, 1989). Alguns autores têm
sos pode facilmente ser evitada. Mas isto se questionado a hipótese implícita de que cada
torna mais difícil à medida que os competi- organização numa população influencia e é
dores em potencial aumentam. Combinados, influenciada pela competição igualmente
os efeitos mútuos dos aumentos iniciais na (Baum e Mezias, 1992; Baum e Singh,
densidade e os efeitos competitivos de au- 1994a; 1994b; Winter, 1990). Numa crítica
mentos posteriores sugerem efeitos curvi- metodológica, Petersen e Koput (1991) ar-
líneos da densidade da população nas taxas gumentam que o efeito negativo do cresci-
de fundação e fracasso (Hannan e Carroll mento inicial na densidade populacional
1992, Hannan e Freeman, 1989). sobre a taxa de fracasso pode resultar da
Hannan e Freeman (1989), Hannan e heterogeneidade não observada na popula-
Carroll (1992) e outros fornecem bases ção (mas veja Hannan et al., 1991). Singh
empíricas substanciais para relações curvi- (1993) observa que parte do debate sobre
líneas prognosticadas pelo modelo de de- dependência de densidade origina-se da
pendência da densidade. Por comparação, principal força desse modelo, sua generali-
embora freqüentemente significativas, as dade, que tem sido atingida as custas da
descobertas da dinâmica de populações são precisão de suas medições e realismo de seu
confusas (Aldrich e Wiedenmayer, 1993; contexto. Singh conclui que "nós podemos
Singh e Lumsden, 1990). Além disso, con- fazer bem ao sacrificar alguma generalida-
forme ilustrado na Tabela 4, quando a dinâ- de, desde que isso leve a pesquisa para uma
mica e a densidade populacionais são mo- maior precisão e realismo" (1993 : 471). Os
deladas conjuntamente, estudos recentes efeitos de densidade são claros empirica-
descobriram que efeitos dinâmicos da po- mente, mas as condições específicas que
pulação são geralmente mais fracos e me-
nos robustos. Mesmo os resultados originais
de Delacroix e Carroll (1983), a respeito de
populações de empresas jornalísticas na
Argentina e na Irlanda não se sustentam
quando a densidade é introduzida numa
reanálise de seus dados (Carroll e Hannan,
1989b).
Uma explicação possível para a apa-
rente dominância do processo de dependên-
cia de densidade sobre os processos de di-
nâmica populacional é o caráter mais siste-
mático da densidade frente à frente com a
natureza transitória das mudanças de den-
sidade que resulta das fundações e fracas-
sos contínuos. Uma explicação relacionada
é que os efeitos das fundações e fracassos
são mais transitórios que os dados anuais -
tipicamente disponíveis - são capazes de
detectar (Aldrich e Wiedenmayer, 1993).
Uma terceira explicação é a maior sensibili-
dade das estimativas por especificações
quadráticas das fundações e fracassos pré-
vios das observações marginais. Esses da-
dos necessitam ser pesquisados mais deta-
lhadamente antes que os efeitos das dinâ-
micas das populações sejam abandonados,
o que é claramente a tendência na pesquisa
recente.

Elaboração do modelo de
dependência da densidade
92 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Tabela 4 Dinâmica da população e estudos da dependência da densidade.'

População Referência

Fundações Densidade
Fracassos da
prévias prévios população
Estudos de Fundações
Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições
metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura de
organizacional, pós-estruturalista, industrialismo/
pós-industrialista, pós-fordista/ modernidade
moderno, Foucault, Garfinkel, teoria a pós-
do ator-rede industrialismo/
pós-modernidade
Justiça Participação Ética de negócios, moralidade e OB, de democracia
democracia industrial, teoria repressiva
participativa, teoria crítica, a democracia
Habermas participativa
Tabela 1 Narrativas analíticas em análise organizacional.
Variáveis-chaves Previsões-chaves Referências-
chaves

exemplo, a legitimidade, Barnett e


estimulando a demanda, s Carroll, 1993
proporcionando subsídios e
regulando a competição.
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 93

Tabela 4 Continuação.

População Fundações Fracassos Densidade Referência


previas prévios da população s

Empresas de transmissão de fax de


Manhatan - 1965-1992 Baum et al., 1993; 1995
Associação de planejamento pré-dominante +/0
Associação de planejamento pós-dominante 0 -/+
Associação Comercial dos Estados Unidos,
1901-1990 + -/+ Aldrich et al., 1994

Inclui somente analise que estima tanto a dinâmica da população quanto os efeitos de dependência da
densidade. X/Y dá os sinais de significantes (p < 0,05) em termos lineares e quadrados, respectivamente.

geram legitimidade e competição são mais uma densidade contemporânea da popula-


ambíguas - são entendidas mais pelos re- ção, a densidade nos períodos históricos
sultados do que pela substância. Então, a particulares que estão em foco. Carroll e
interpretação precisa dos extensos resulta- Hannan (1989a) propõem um refinamento
dos da dependência de densidade necessita do modelo para incluir um efeito tardio adi-
ser mais explorada. cional na densidade da população, que aju-
Muitas elaborações, re-especificações da a explicar o declínio da população com
e novas mensurações têm avançado recen- base nos picos de densidade. Eles sugerem
temente a fim de responder as questões le- que as chances de sobrevivência das orga-
vantadas pela formulação inicial da depen- nizações são sensíveis aos níveis de densi-
dência de densidade. Embora Hannan e dade da população no período de sua cria-
Carroll tenham questionado alguns destes ção. Especificamente, organizações funda-
desenvolvimentos (por exemplo, 1992 : 38- das em condições de alta densidade popula-
39, 71-74), essas novas direções parecem
manter o compromisso real para melhorar
a precisão e o realismo com respeito à
legitimação e à competição. Esses desenvol-
vimentos, resumidos na Tabela 5, são revi-
sados a seguir:

Razões para a concentração

As trajetórias de crescimento de diver-


sas populações organizacionais parecem
seguir um padrão repetitivo. Inicialmente,
o número de organizações cresce lentamen-
te, depois rapidamente, chegando a um pico.
Uma vez que o pico é alcançado, há um
declínio no número de membros da popu-
lação e um crescimento da concentração. Na
ecologia organizacional, o modelo de depen
dência de densidade é usado para explicar
a forma da trajetória de crescimento até seu
pico (Hannan e Carroll, 1992). Uma vez que
não se permite a nenhuma organização ou
pequeno grupo de organizações dominar
(cada organização numa população é con-
siderada como contribuindo e vivendo igual-
mente a competição), o modelo da depen-
dência de densidade prevê um crescimento
logístico nos números até um nível de equi-
líbrio. Mas isto não justifica o declínio pos-
terior nos números e o aumento da concen-
tração (Carroll e Hannan, 1989a; Jammam
e Carroll, 1992). Duas elaborações da for-
mulação original têm procurado responder
a esta questão.

Atraso de densidade - No modelo da


dependência de densidade, é considerada
94 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Tabela 5 Elaborações do modelo de dependência de densidade, 1989-1995.


Modelo Variáveis-chave Natureza da Elaboração Referência
Atraso da densidade Densidade da Adiciona à formulação original Carrol e Hannan,
população na um efeito de impressão da 1989a; Hannan e
fundação densidade na fundação. Ajuda a Carrol, 1992
explicar o declínio na densidade
da população comumente
observado em populações mais
velhas.
Dependência de massa Massa da população Especifica novamente o efeito Barnett e Amburgey,
(densidade da da competição da densidade da 1990
população medida população, permitindo que
pelo tamanho das organizações maiores tenham
organizações) competição mais fortes. Ajuda a
explicar a tendência para a
concentração nas populações
organizacionais.
Conformidade Densidade Relacionai Tenta explicar a legitimação de Baum e Oliver, 1992;
institucional (número de conexões uma forma organizacional em Hybels et al., 1994
entre uma população termos das aprovações por parte
e o ambiente de atores organizacionais
institucional) poderosos.
Medidas de Concorrência por Efeitos de legitimação do Rao, 1994; Hybels,
legitimidade não Certificação e modelo com medidas de 1994
baseadas na medidas de conteúdo institucionalização não baseadas
densidade baseadas na mídia na densidade.
Densidade baixa inicial Densidade da Separa legitimação inicial de Baum, 1995
x Densidade baixa população x idade da poder de mercado tardio e os
tardia população efeitos de repartição de recursos
de densidade de população
baixa em populações que se

j
tenham desenvolvido além de
sua densidade de pico.
Nível de análise Densidade da cidade, Tenta descobrir o nível de Carroll e Wade, 1991;
do estado, da região, análise apropriado para estudar Swaminathan e
nacional (densidade os padrões de dependência da Wiedenmayer, 1991;
da população em densidade, comparando Hannan e Carrol,
vários níveis de processos de dependência da 1992
agregação geográfica) densidade entre os vários níveis
de análise.
Competição localizada Similaridade de Detalha novamente o efeito da Hannan et al., 1990,
tamanho, preço, densidade da competição, Baum e Mezias, 1992
localização permitindo que organizações
(densidade de similares possam competir num
população medida nível de intensidade mais alto.
pelo tamanho das
diferenças das várias
características
organizacionais)
I 95 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Tabela 5 Elaborações do modelo de dependência de densidade, 1989-1995.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
cional tendem persistentemente aTeoria Organizacional
experi- liberal
ção, a soma dos tamanhos de todas as orga-
mentar taxas mais altas de fracasso. Uma nizações na população, ou, em outras pala-
alta densidade nas fundações cria uma sus- vras, a densidade da população medida pelo
ceptibilidade à escassez de recursos que im- tamanho das organizações. Se organizações
pede as organizações de se moverem rapi- grandes são competidores mais fortes, en-
damente de seu processo de organização até tão, após o controle pela densidade da po-
a produção em plena escala. A alta densi- pulação, o aumento da massa populacional
dade também resulta num estreitamento de tem que ter um efeito competitivo, diminu-
nicho, forçando organizações recém-funda- indo a taxa de fundação e aumentando a
das, que não conseguem competirparí-passu taxa de fracasso de organizações menores.
com as organizações já estabelecidas, a usar Admitindo que as forças competitivas
recursos inferiores ou marginais. Essas con- das organizações possam variar em função
dições por si sós marcam as organizações, de seu tamanho, o modelo de dependência
afetando sua viabilidade por meio de sua
existência. Carroll e Hannan mostram que
a densidade populacional no período da fun-
dação de uma organização está positivamen-
te relacionada às taxas de fracasso em seis
das sete populações analisadas (Carroll e
Hannan, 1989a; Hannan e Carroll, 1992).
Isto significa que as organizações que en-
tram em populações de alta densidade ele-
vam persistentemente as taxas de fracasso,
contribuindo para uma explicação para o
declínio da densidade da população com
base em seu pico. Contudo, muitos outros
estudos falharam ao replicar esses resulta-
dos (Aldrich et al., 1994; Wholey et al.,
1992). Além do mais, os efeitos do atraso
da densidade parecem produzir um equilí-
brio oscilante na densidade da população
(Hannan e Carroll, 1992 : 183), em vez de
um declínio simples e definitivo.

Dependência de massa - Várias pers-


pectivas na teoria de organização e de
gerenciamento sugerem que organizações
maiores geram uma competição mais forte
do que suas rivais menores, resultante de
seu maior acesso aos recursos, poder de
mercado e economias de escala e escopo.
Se organizações maiores geram competição
mais forte, então modelos ecológicos da di-
nâmica da população deveriam refletir sua
maior significância. Barnett e Amburgey
(1990) avançam na elaboração de um mo-
delo de dependência da densidade que in-
corpora essa possibilidade. Eles fazem isto,
modelando os efeitos da massa da popula-
cognitiva possa ser alcançada sem aprova-
ção sociopolítica, a legitimidade sociopo-
da massa permite que organizações maio- lítica é uma fonte vital de, ou um impedi-
res em uma população possam dominar, mento para a legitimidade cognitiva. De
gerando competição mais forte do que or- fato, uma vez que as populações orga-
ganizações menores, deslocando o tamanho nizacionais contemporâneas raramente ope-
de sua população em freqüência e aumen- ram isoladamente do Estado, das profissões
tando a concentração. Organizações maio- e das influências sociais maiores, a legitimi-
res podem, portanto, ter papel importante dade sociopolítica não pode ser ignorada
em ecologia organizacional, não porque elas (Baum e Oliver, 1992, Baum e Powell,
são afetadas individualmente pelas pressões 1995).
de seleção, mas porque têm uma influência
desproporcional na dinâmica da população Conformidade institucional e legiti-
(Barnett e Amburgey, 1990). Infelizmente, midade sociopolítica - Em seu comen-
os resultados de dependência da massa são tário provocativo, Zucker (1989) critica
confusos. Alguns estudos encontram os efei- Hannan e seus colegas por envolverem o
tos previstos (Banaszak-Holl, 1992; 1993; conceito de legitimação ex post facto, para
Baum e Mezias, 1992). Outros encontram explicar os efeitos da densidade nas taxas
resultados confusos, não os encontram de fundação e fracasso e sugere que as esti-
(Hannam e Carroll, 1992) ou encontram mativas para densidade são indicativos de
efeitos mútuos* (Barnet e Amburgey, 1990). outros efeitos (veja também Miner, 1993,
Embora os resultados não sustentados pa- Petersen e Koput, 1991). Ela advoga o uso
reçam ser atribuíveis à limitação dos dados de medidas mais diretas dos processos
(Hannan e Carroll, 1992 : 130-131) ou ca- institucionais subjacentes. Suas críticas le-
racterísticas significativas do estudo das vam para o argumento da densidade como
populações (Barnett e Amburgey, 1990 : 98- processo, na qual a legitimação já não é uma
99), uma explicação mais geral pode ser variável a ser mensurada, e sim um proces-
encontrada na Teoria de Grupos Estratégi- so que relaciona densidade a fundações e
cos (Caves e Porter, 1977) que sugere que fracassos. Hannan e Carroll reivindicam que
as inferências válidas para toda uma indús- "o crescimento na densidade controla... os
tria a respeito de seu poder de mercado não processos de [legitimação] e não os reflete"
podem ser feitas quando grupos estratégi- (1992 : 69). Essas visões concorrentes -
cos caracterizam a competição, uma vez que
as barreiras de mobilidade protegem dife-
renciadamente os grupos estratégicos.

Densidade e processos institucionais

Lançando mão da literatura neo-insti-


tucional (DiMaggio e Powel, 1983; Meyer e
Rowan, 1977), Zucker 1977), ecólogos
organizacionais traçam uma distinção en-
tre a legitimidade cognitiva e a sociopolítica
(Aldrich e Fiol 1994). De uma perspectiva
cognitiva, uma forma organizacional é legi-

Mutualistic effects, no original. (N.T.)


ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 155 I
------------------------------------------------------------- '
tima "quando há pouca dúvida nas mentes
dos atores de que ela serve como o cami-
nho natural para efetuar algum tipo de ação
coletiva" (Hannan e Carroll, 1992 : 34). A
abordagem sociopolítica enfatiza como a
conformidade em contextos relacionais e
normativos influencia a legitimidade da for-
ma organizacional, sinalizando sua confor-
midade com as expectativas sociais e insti-
tucionais. Embora os institucionalistas ve-
jam essas duas facetas da legitimação como
complementares e fundamentalmente inter-
relacionadas, a teoria de dependência da
densidade enfatiza somente a legitimidade
cognitiva. E, ainda que a legitimidade
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 97

um mecanismo de difusão social. Rao


(1994) argumenta que vitórias cumulativas
variável indicativa e processo - sugerem em competições por certificação melhoram
diferentes efeitos de covariantes adicionais a reputação da organização aos olhos dos
(Hanna e Carroll, 1992). Se a densidade é consumidores e financiadores avessos a ris-
um indicador indireto, que mede a legiti- cos, aumentando seu acesso a recursos e
mação mais diretamente, dela resultariam suas chances de sobrevivência. Além disso,
em efeitos de densidade de primeira ordem, Rao argumenta que, por aumentar as opor-
ou os levaria a desaparecerem juntos. Mas, tunidades de certificação e a difusão do co-
do ponto de vista da densidade como pro- nhecimento sobre as organizações e seus
cesso, a inclusão dessa covariância implica produtos, essas competições estabelecem a
maior precisão e reforço dos efeitos de legi- identidade e legitimidade de um produto e
timação da densidade. de seus produtores, baixando o risco de fra-
Baum e Oliver (1992) buscam exata- casso dos fabricantes. Sua análise nos
mente essa questão. Eles argumentam que primórdios da indústria automobilística
uma limitação importante do modelo de americana sustenta essas idéias, demons-
dependência da densidade é que ele negli- trando que as vitórias em corridas de car-
gencia a evolução de interdependências das ros, amplamente divulgadas, melhoraram as
populações com relação às instituições que taxas de sobrevivência dos produtores de
as cercam. Contudo, onde relações com a carros individuais e, além disso, que a
comunidade e o governo são densas, esses prevalência cumulativa nas competições di-
atores institucionais podem exercer influên-
cia considerável sobre as condições que re-
gulam a competição por recursos escassos e
legitimidade na população. Baum e Oliver
(1992) propõem uma hipótese alternativa
em que a legitimação é explicada em ter-
mos da relação de uma população com seu
ambiente institucional. Eles modelam a con-
formidade institucional com a densidade
relacionai, ou seja, o número de relações
entre os membros da população e organiza-
ções da comunidade e agências governa-
mentais em seus ambientes institucionais.
Enquanto as estimativas iniciais num estu-
do de creches sustentam os prognósticos de
dependência da densidade curvilínea, tan-
to para fundações quanto para fracassos, a
inclusão da densidade relacionai alterou
ambas as relações por serem puramente
competitivas. Esses resultados sustentam a
crítica à mensuração de Zucker. Hybels et
al. (1994) replicam esses resultados num
estudo de fundações de empresas de
biotecnologia americanas, no qual alianças
estratégicas verticais (entradas e saídas) são
usadas para medir a conformidade da in-
dústria no contexto relacionai e institucio-
nal. Esses estudos sugerem que a formula-
-------------------------------------------
ção da densidade como variável indicadora
da legitimidade foi mais precisa, e, além
disso, que a densidade da população pode
ser um indicador da legitimidade sociopo-
lítica tanto quanto (ou ao invés de) da legi-
timidade cognitiva (Baum e Powell, 1995).
A pesquisa futura que incorpora a densida-
de populacional e a relacionai pode forne-
cer mais explicações do papel dos proces-
sos institucionais numa dinâmica da popu-
lação.

MEDIDAS DE LEGITIMIDADE NÃO


BASEADAS EM DENSIDADE

Várias outras alternativas para estu-


dar a legitimação não baseadas em densi-
dade têm sido recentemente examinadas.
Em muitas indústrias, organizações com pro-
pósitos especiais estabelecem certificações
para avaliar produtos ou empresas e classi-
ficam os participantes de acordo com seu
desempenho em critérios preestabelecidos.
A certificação oferece um teste social comum
de produtos e organizações que serve como
98 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

------------------------------------------- população, nos quais a teoria da dependên-


cia da densidade não é apropriada para sua
minuiu a taxa de fracasso agregada. Em
explicação. Conseqüentemente, são neces-
complemento às competições por certifica-
sários estudos futuros que estimem separa-
dos, um grande número de atividades de
damente os efeitos da densidade linear pre-
certificação e credenciamento sinaliza a con-
matura e tardia (Baum, 1995).
fiabilidade, elevando a legitimidade socio-
política das formas organizacionais, contri-
buindo para sua legitimidade cognitiva ao
Densidade e processos competitivos
espalhar conhecimento sobre elas (Baum e
Powell, 1995).
A teoria da dependência da densida-
Outra fonte básica de difusão de in-
de assume que a intensidade da competi-
formação sobre as atividades de uma forma
ção depende do número de organizações em
organizacional é a mídia impressa. Existem
uma população. Alguns pesquisadores, con-
arquivos detalhados de cobertura de mídia
tudo, questionam a suposição implícita nes-
sobre muitas indústrias, e a análise do con-
sa abordagem de que todos os membros de
teúdo desses registros públicos oferece uma
uma população são equivalentes, assumin-
técnica potencialmente poderosa para a
do que cada membro compete pelos mes-
operacionalização da legitimidade. Medidas
mos recursos escassos e contribuem e vivem
desse tipo são usadas amplamente na pes-
igualmente a competição (Winter, 1990 :
quisa de movimento social (exemplo: Olzak,
286). Embora a pesquisa demonstre que
1992, Tilly, 1993). Medidas baseadas no
essa suposição pode ser uma aproximação
conteúdo prometem tanto alta compara-
inicial razoável, a teoria da ecologia
bilidade entre estabelecimentos cobertos
organizacional sugere que a intensidade da
pela mídia impressa, quanto comparabi-
competição entre organizações numa popu-
lidade temporal dentro de um dado contex-
lação seja amplamente uma função de suas
to. Hybls (1994) empregou com sucesso as
medidas de legitimidade baseadas na mí-
dia, numa analise das fundações de empre-
sas americanas de biotecnologia.

Condições iniciais x Condições tar-


dias de baixa densidade - Embora,
conforme observado anteriormente, a teo-
ria da dependência da densidade preveja
somente o crescimento logístico das popu-
lações a partir de um pico de tamanho, isto
é freqüentemente testado nas populações
que se desenvolveram bem além de sua den-
sidade de pico. Isto complica as interpreta-
ções de legitimidade dependente da densi-
dade. Embora a densidade inicial baixa te-
nha um significado específico (isto é, a
legitimação) na teoria de dependência da
densidade, a baixa densidade tardia não tem
nenhum significado (Baum, 1995). Notada-
mente, as condições de baixa densidade ini-
cial e tardias parecem ter efeitos análogos
sobre as taxas vitais que não são distinguidas
nas estimativas: não é improvável que al-
gumas organizações grandes que dominam
segmentos substanciais de mercado fracas-
sarão, e que a crescente concentração po-
derá liberar recursos, criando oportunida-
des para os novos entrantes, que não exi-
gem deles engajamento na competição di-
reta com organizações maiores e bem
estabelecidas (Carroll, 1985). Coeficientes
de densidade de primeira ordem podem
então significar poder de mercado tardio e
particionamento de recursos, e não a legiti-
mação inicial. Baum e Powell (1995) des-
cobriram que a evidência para a dependên-
cia da densidade é muito mais forte em es-
tudos que incluem condições de baixa den-
sidade tardia. Conseqüentemente, os resul-
tados de numerosos estudos, que apoiam a
legitimidade da dependência da densidade
podem ser questionados ao incorporar in-
formação sobre os períodos de declínio da
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 99

os, revelando-se mais fortemente nos níveis


mais altos de agregação espacial. Mais pes-
similaridades na exigência de recursos:
quisa é necessária para suportar ou recusar
quanto mais similar a exigência de recur-
essa especulação.
sos, maior o potencial de competição inten-
sa (McPherson, 1983; Hannan e Freeman,
Competição localizada - Hannan e
1977; 1989). Se todas as organizações numa
Freeman (1977 : 945-946) propõem que
população não são competidores equivalen-
organizações de tamanhos diferentes usam
tes, a densidade da população poderá não
diferentes estratégias e estruturas; e, como
fornecer a medida mais precisa da competi-
resultado, embora organizações de diferen-
ção enfrentada pelas diferentes organiza-
tes tamanhos possam estar engajadas em
ções na população. Isto sugere que a teoria
atividades similares, organizações grandes
da dependência da densidade pode ser enri-
e pequenas dependem de diferentes combi-
quecida pela incorporação de microestru-
nações de recursos. Isto implica que organi-
turas da população. Recentemente, foram
zações competem mais intensamente com
examinados vários modelos ecológicos que
organizações de tamanhos similares. Por
incorporam diferenças organizacionais ex-
exemplo, se organizações pequenas e gran-
plicitamente para especificar mais precisa-
des dependem de diferentes recursos (por
mente os processos competitivos dentro das
exemplo, hotéis grandes dependem de con-
populações organizacionais.
venções, enquanto hotéis pequenos depen-
Nível de análise - Em suas formulações
originais, a teoria da dependência da densi-
dade implicitamente assume que as organi-
zações competem geograficamente entre si
com intensidade igual à de organizações
vizinhas. Pesquisadores começaram a refi-
nar essa suposição, desagregando a densi-
dade da população de acordo com o nível
de análise (isto é, agregação espacial), para
explorar os limites geográficos nos proces-
sos competitivos (e institucionais). Por
exemplo, Hannam e Carroll (1992), Carroll
e Wade, (1991) e Swaminathan e
Wiedenmayer (1991) analisaram a depen-
dência da densidade nas taxas de fundação
de cervejarias americanas e alemãs nos ní-
veis de análise municipal, estadual, regio-
nal e nacional. Esses estudos estimam sepa-
radamente o modelo de dependência da
densidade para cada nível de análise e, en-
tão, comparam os coeficientes entre níveis.
Eles revelam que efeitos competitivos locais
e difusos diferem muito mais que os efeitos
de legitimação comparáveis nas indústrias
cervejeiras americanas e alemãs. Lomi
(1995) obteve resultados paralelos nas aná-
lises das taxas de fundação dos bancos coo-
perativos rurais italianos. Recentemente,
-------------------------------------------
Hannan et al. (1995) estimaram os mode-
los de fundação organizacional na indústria
automobilística européia na qual a legiti-
mação dependente da densidade e a com-
petição foram operacionalizadas emdiferen-
tes níveis de análise. Eles encontraram uma
competição mais forte no nível nacional e
uma legitimação mais forte no nível euro-
peu.
Esses e outros estudos recentes
(Amburgey et al., 1993), Baum e Singh,
1994a, 1994b; Rao e Neilsen, 1992) susten-
tam a especulação de Zucker (1989 : 543)
de que "áreas geograficamente menores
deveriam, teoricamente, desenvolver com-
petição mais intensa, uma vez que estas são
áreas de recursos mais limitados". Ao mes-
mo tempo, eles também sustentam a idéia
de que processos institucionais operam num
nível mais extenso (Hannan et al., 1995),
servindo para contextualizar processos eco-
lógicos (Scott 1992; Tucker et al., 1992).
Então, processos competitivos podem ser
freqüentemente heterogêneos, operando
mais fortemente nas arenas ambientais lo-
cais, enquanto processos institucionais po-
dem freqüentemente ser mais homogêne-
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 100

dem de viajantes individuais), então padrões postos de uma organização com o de todas
de uso de recursos serão especializados pela as outras organizações na população. Jun-
distribuição de segmentos de tamanho. Con- tas, as densidades de sobreposição e de não-
seqüentemente, a competição entre grandes sobreposição desagregam as forças compe-
e pequenas organizações será menos inten- titivas e não competitivas para cada organi-
sa que a competição entre organizações zação numa população. Empreendedores
grandes ou entre as pequenas. Embora a são vistos como pouco inclinados ou inca-
competição localizada por tamanho não te- pazes de fundar organizações em partes do
nha recebido atenção empírica até pouco espaço de recursos em que a densidade de
tempo (Hannan et al 1992), estudos de ban- sobreposição é alta. Prevê-se que organiza-
cos (Banaszak-Holl, 1995) e hotéis de ções que operam em condições de alta den-
Manhatan (Baum e Mezias, 1992) e organi- sidade de sobreposição são também menos
zações americanas mantenedoras de saúde sustentáveis. Inversamente, prevê-se que há
(Wholey et al., 1992) fornecem agora evi- mais chances de investidores mirarem ou
dência empírica da competição localizada serem capazes de fundar organizações em
por tamanho. Esses resultados demonstram partes do espaço de recursos em que a den-
que a intensidade da competição enfrenta- sidade de não-sobreposição é alta, devido à
da por organizações numa população de- falta de competição direta por recursos e ao
pende não somente do número de outras potencial para o aumento da demanda com-
organizações, mas também de seus tama- plementar. Por essas razões, a alta densida-
nhos relativos. Baum e Mezias (1992) ge- de de não-sobreposição, espera-se uma que-
neralizam os modelos de competição loca- da nas taxas de fracasso. Baum e Sihgh en-
lizada por tamanho para outras dimensões contram suporte para essas previsões em
organizacionais e mostram que, além da si- populações de creches da região metropoli-
milaridade do tamanho das organizações, a tana de Toronto, para as quais as exigências
competição numa população pode ser mais de recursos foram definidas pelas idades das
intensa entre organizações geograficamen- crianças que elas tinham capacidade de
te próximas ou entre aquelas que praticam matricular. Esses estudos indicam que as
preços similares. organizações têm diferentes probabilidades
A pesquisa futura sobre a competição de se tornarem estabelecidas e de suportar
localizada pode oferecer compreensão di-
reta da dinâmica da diversidade organiza-
cional. Modelos de competição localizada
implicam um padrão de seleção por ruptu-
ra ou por segregação (Baum, 1990b,
Amburgey et al., 1994), no qual a competi-
ção entre entidades semelhantes por recur-
sos finitos leva, eventualmente, a diferen-
ciação (Durkheim, 1933, Hawley, 1950:
201-203). Esse modo de seleção tende a au-
mentar a diferenciação organizacional, pro-
duzindo muito mais lacunas do que suaves
variações contínuas na distribuição dos
membros de uma população, em algumas
dimensões organizacionais.
Sobreposição de nicho organizacio-
nal Baum e Singh (1994b; 1994c) testam o
modelo de sobreposição de recursos, no qual
o potencial para competição entre duas or-
ganizações é diretamente proporcional à
sobreposição de suas bases de recursos-al-
vos, ou nichos organizacionais. A competi-
ção potencial para cada organização é me-
dida pela densidade de sobreposição, ou seja,
pela sobreposição das exigências de recur-
sos de uma organização somada às exigên-
cias de todas as outras organizações da po-
pulação (isto é, a densidade da população
medida pela sobreposição das exigências de
recursos). Baum e Singh definem uma variá-
vel complementar, densidade de não-sobre-
posição, que agrega os recursos não sobre-
I 101 PARTE I — MODELOS DE ANÁLISE ________________________

diferentes destinos de sobrevivência após tos dessas interações sobre a dinâmica das
sua fundação em função das locações que comunidades organizacionais estão emer-
elas objetivam, num espaço de recursos gindo agora como uma área importante de
multidimencional. A generalização dessa investigação (Singh e Lumsden, 1990). Re-
desagregação da densidade da população sultados de estudos recentes de interação
em densidades de sobreposição e não- da comunidade estão resumidos na Tabela
sobreposição pode ajudar a explicar melhor 6.
o papel da heterogeneidade populacional
nas interpretações dos resultados de depen-
dência de densidade não regular (Petersen Resultados de pesquisa e
e Koput, 1991, Hannan et al., 1991). direções futuras

Entre os estudos apresentados na Ta-


Interdependência da bela 6, as aplicações de modelos de inte-
comunidade ração da comunidade em grupos estratégi-
cos parecem particularmente promissoras
Relações entre populações organiza- (Brittain, 1994, Carroll e Swaminathan,
cionais são centrais para as teorias ecológi- 1992). Embora o constructo dos grupos es-
cas das organizações. Populações desenvol- tratégicos capture a idéia de que a força da
vem relações com outras populações enga- competição sobre a performance organi-
jadas em diversas atividades que as vincula zacional de uma organização depende da
em comunidades organizacionais (Astley, localização de seus vários rivais no ambien-
1985; Fombrum, 1986; Hawley, 1950). Co- te de recursos, a pesquisa empírica, exami-
munidades organizacionais são formadas nando os efeitos de grupos estratégicos em
quando a competição leva à criação de no- competição, é bastante limitada (McGee e
vas populações de organizações que satis- Thomas, 1986, Thomas e Venkatraman,
fazem papéis complementares, dos quais 1988). Modelos de interdependência da
elas são dependentes, mas não competido- comunidade que enfatizam interações en-
ras com populações estabelecidas. Dessa
forma, a competição leva para a emergên-
cia de um sistema complexo de populações
funcionalmente diferenciadas, ligadas por
interdependências mútuas. O crescimento
da complexidade interna cria a estabilida-
de da comunidade, tornando mais lenta a
formação de novas populações. Contudo, a
complexidade interna da comunidade tam-
bém estabelece a base para seu colapso. Se
sistemas complexos experimentam distúr-
bios (por exemplo, inovação tecnológica,
mudança regulatória), além de certo nível
limiar, eles podem desintegrar como resul-
tado de um efeito dominó.
Quando uma população em evolução
interage com outras populações, o sucesso
da sobrevivência de seus membros depen-
de da natureza e força de suas interações
ecológicas. Conseqüentemente, é sempre
difícil entender o comportamento de orga-
nizações numa única população isolada,
porque o destino das populações tem uma
ligação em comum (Fombrun, 1988). A eco-
logia das comunidades organizacionais pre-
ocupa-se explicitamente com a estrutura e
a evolução dessas interações entre popula-
ções organizacionais e considera as conse-
qüências para o nível do sistema dessas
interações pela dinâmica da co-atuação de
partes da população. Brittain e Wholey
(1988) identificam os seguintes tipos possí-
veis de interação entre duas populações,; e
k, em que os sinais para a* e akj são, respec-
tivamente: (-,0) competição plena, (-,0)
competição parcial, (+,-) competição pre-
datória, (0,0) neutralidade, (+,-) comen-
salismo e (+,+) simbiose. Estudos dos efei-
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 102

Tabela 6 Estudos de interdependência de comunidades, 1989-1995.


Comunidade Interações da comunidade Referências
Sindicatos de trabalhadores Competição parcial (-,0): densidade crescente dos Hannan e Freeman,
da Indústria e Artesãos, sindicatos dos Artesãos, tanto reduzem a fundação 1989
1836-1985 (EEUU) quanto aumentam o fracasso dos sindicatos
industriais, mas a densidade do sindicato industrial
não afeta nem a fundação nem o fracasso do
sindicato dos artesãos
Cooperativas de Comensalismo ( + ,0): densidade crescente das Staber, 1989
Consumidores, Marketing e cooperativas de marketing; a densidade crescente
Trabalhador no Canadá das cooperativas de marketing estimula a fundação
atlântico, 1900-87 de cooperativas de consumidores; a densidade
crescente de cooperativas de consumidores estimula
a fundação de cooperativas de trabalhadores
Companhias de Telefone da Competição Parcial (-,0): densidade crescente das Barnett, 1990
Pensilvânia, 1879-1934: companhias de magneto aumenta o fracasso das
tecnologia para baterias companhias de bateria comum mas a densidade das
comuns e de magneto; companhias de bateria comum não afeta o fracasso
companhias de baterias das companhias de magneto
comuns de troca simples e Simbiose (+,+): densidade crescente das
múltipla companhias de troca simples diminui o fracasso das
companhias de força múltipla e a densidade
crescente das companhias de troca múltipla, em
contrapartida diminui o fracasso das companhias de
troca simples
Creches e Jardins de Infância Competição total (-,-): densidade crescente das Baum e Oliver,
na Região Metropolitana de cresches estimula o fracasso das creches e, em 1991
Toronto, 1971-87 contrapartida, a densidade crescente das creches
estimula o fracasso das creches
Bancos Comerciais e Caixas Neutralidade (0,0): densidades dos bancos Ranger e Moore et
de Poupança em Mnhatan, comerciais e caixas de poupança não têm relação al., 1991
1792-1980 entre si quanto às taxas de fundação
Companhias de Seguros de Comensalismo ( + ,0): aumento da densidade de
Vida (Sociedade Anônima e sociedades anônimas estimula a fundação de
Ltda.) no Estado de Nova companhias limitadas, mas a densidade das
Iorque, 1760-1937 companhias ltdas. não afeta a fundação de
sociedades anônimas
Indústria Cervejeira dos Comensalismo (+,-): aumento da densidade dos Carrol e
EEUU, 1975-90: bares cervejeiros estimula a fundação de Swaminathan,
microcervejarias, bares e microcervejarias, mas a densidade das 1992
produtoras em massa1 microcervejarias não afeta a fundação de bares
cervejeiros
Competição Parcial (-,0): aumento da densidade dos
produtores em massa estimula o fracasso das
microcervejarias, mas a densidade das
microcervejarias não afeta o fracasso dos produtores
em massa
HMOs dos EEUU, 1976-91: Neutralidade (0,0): densidades dos grupos e HMOs Wholey et al.,
grupo de HMOs e IRA não estão relacionadas entre si quanto às taxas 1992
associações de práticas de fracasso
independentes
L
103PARTE I - MODELOS DE ANALISE

Tabela 6 Continuação.
Comunidade Interações da comunidade Referências
Produtores de Componentes Competição total (-,-): fundação, nenhuma; fracasso, Brittain, 1994
Eletrônicos nos EEUU, 1947- r-especialistas e r-generalistas,
81: k-especialistas e k-generalistas
r-especialistas, Competição parcial (-,0): fundação,
k-especialistas, r-generalistas e k-especialistas; fracasso,
r-generalistas, r-generalistas e k-generalistas
k-generalistas2 Competição predatória (+,-): fundação, nenhuma;
fracasso, r-especialistas e
k-especialistas
Neutralidade (0,0): fundação, nenhuma; fracasso, r-
generalistas e k-generalistas
Comensalismo (+,0): fundação, r-especialistas e r-
gereralistas, r-generalistas e k-generalistas; fracasso,
r-especialistas e k-generalistas
Simbiose (+,+): fundação, r-especialistas e
k-especialistas, r-especialistas e k-generalistas, k-
especialistas e k-generalistas; fracasso, nenhum

Companhias de Transmissão Competição parcial (-,0): firmas de transmissão de Baum et al., 1995
de fax, 1965-92: cortes de fax com design predominante diminuem fundação e
design pré e pós-dominantes aumentam o fracasso de firmas de transmissão de fax
com design pós-dominante

Todas as interações possíveis são neutras (0,0).


Veja Brittain (1994) para uma discussão mais detalhada a respeito dos resultados.

tre múltiplas subpopulações organizacionais


proporcionam um modo de analisar a com-
petição dentro e entre os múltiplos grupos
estratégicos que compõem uma indústria.
Uma abordagem ecológica para a teoria dos
grupos estratégicos prove informações à pes-
quisa sobre administração estratégica, pro-
porcionando um modelo dos efeitos das es-
tratégias organizacionais e dos membros de
grupos estratégicos em populações dinâmi-
cas.
Embora estudos como aqueles da Ta-
bela 6 proporcionem evidências empíricas
da existência, da estrutura e da influência
potencial das comunidades organizacionais
sobre a dinâmica da população, eles tocam
superficialmente na "caixa de Pandora" da
ecologia das comunidades (DiMaggio,
1994). Até o momento, as comunidades
organizacionais estudadas foram limitadas
em escala e escopo a setores sociais e eco
nômicos isolados de atividade organiza-
cional (mas veja Baum e Korn, 1994; Korn
e Baum, 1994). Além disso, uma vez que
poucos estudos tentam prever a forma das
interações interpopulacionais específicas,
sabemos muito pouco a respeito do momen-
to em que competição ou mutualismo irão
existir entre organizações. Desafortunada-
mente, dentro de comunidades organiza-
cionais, populações afetam o destino umas
das outras, não somente através das rela-
ções diretas entre elas, mas também por
meio de relações indiretas e da reação que
flui por meio da comunidade (Baum e Singh,
1994d). Então, a dinâmica da comunidade
envolve a reação não linear entre popula-
ções interagentes: tais não-linearidades po-
dem complicar substancialmente as tentati-
vas de derivar previsões no nível da comu-
nidade (Carroll, 1981: 587, Puccia e Levins,
1985, Capítulo 3). Por essa razão, Baum e
------------------------------------------- ____________________ ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 104 |

Singh, 1994d, Korn e Baum, 1994) defen- a partir de seus antecessores, a fim de en-
deram o uso de uma técnica analítica cha- contrar populações de organizações e ex-
mada análise de loop (Puccia e Levins, 1985) plicar suas origens. Enquanto a herança
para modelagem de sistemas comunitários biológica é primariamente baseada na pro-
complexos. A análise da curva permite a pagação dos genes, processos de heredita-
derivação das previsões no nível da comu- riedade para organizações sociais parecem
nidade e justifica os efeitos das interações muito diferentes e sugerem uma dinâmica
indiretas e dos processos de feedback no sis- evolucionária completamente diferente da-
tema da comunidade. quelas esperadas com a pura transmissão
Mais fundamentalmente, contudo, em- genética. Baum e Singh (1994a) antecipam
bora Hannan e Freeman (1977) clamem por uma abordagem de processos genealógicos
pesquisas populacionais, como o primeiro organizacionais que expressa a preponde-
passo para o estudo do fenômeno no nível rância de mecanismos lamarkianos de he-
da comunidade, a pesquisa em ecologia reditariedade, visto que a competência de
organizacional permanece primariamente produção e organização adquirida por meio
focada no nível da população. Então, a per- do aprendizado pode ser retransmitida.
gunta - por que há tantos tipos de organi- Não obstante a alguns trabalhos em
zações? - ainda tem que ser perseguida se- economia evolucionária (Nelson e Winter,
riamente. Se, contudo, a diversidade pre- 1982; Winter, 1990), em teoria organiza-
sente das organizações é entendida como cional (Van de Ven e Grazman, 1994; Zucker,
um reflexo do efeito cumulativo de uma lon- 1977) e em teoria do aprendizado organi-
ga história de variação e seleção (Hannan e zacional (Levinthal, 1991b) estarem preo-
Freeman, 1989 : 20), então é necessária uma cupados com processos genealógicos das
explicação de como as formas das popula- organizações, a agenda de pesquisa sobre
ções organizacionais se tornam e permane- hereditariedade organizacional permanece
cem diferentes através do tempo. O desen- aberta.
volvimento desse problema parece impro-
vável, sem atenção para o desenvolvimento
de uma teoria de evolução organizacional PROCESSOS AMBIENTAIS
(Baum e Singh, 1994a; mas, para diferen-
tes pontos de vista, veja Carroll, 1984a; Em sua revisão da ecologia orga-
Hannan e Freeman, 1989). A evolução nizacional, Singh e Lumsden (1990 : 182)
organizacional envolve uma inter-relação
complexa entre processos ecológicos e his-
tóricos. Isto começa com a proliferação di-
ferencial de variações dentro das populações
que leva, em última análise, a fundações, o
produto do pensamento empreendedor que
emerge de populações estabelecidas para
criar novas populações e termina com a
extinção do último membro da população
que a imitação criou em torno da organiza-
ção fundadora (Lumsden e Singh 1990).
Poucos pesquisadores têm-se dirigido à
emergência e ao desaparecimento de popu-
lações organizacionais (para exceções veja
Aldrich e Fiol, 1994; Astley, 1985; Lumsden
e Singh, 1990; Romanelli, 1991). Conse-
qüentemente, ainda sabemos muito pouco
sobre as estruturas da herança e transmis-
são organizacional. Além disso, uma teoria
de evolução organizacional deve conside-
rar processos históricos de conservação e
transmissão da informação (isto é, proces-
sos genealógicos), pelos quais a produção e
a organização de rotinas, organizações e
populações são levados (isto é, replicadas)
através do tempo (Baum, 1989b; McKelvey,
1982; Nelson e Winter, 1982).
O estudo desses processos genealó-
gicos envolve o traçado das linhas evolu-
cionárias de descendência das organizações
105 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

identificaram a convergência das perspecti- mentais, ou pela conformidade institucio-


vas ecológicas e institucionais em organiza- nal.
ções "como um excitante desenvolvimento
da pesquisa em teoria organizacional". Teo-
rias institucionais e ecológicas têm conver- Turbulência política
gido principalmente sobre a questão: como
as variáveis do ambiente institucional (por A turbulência política afeta as taxas de
exemplo, política governamental, condições fundação e fracasso, rompendo os alinha-
políticas e relações de sanção) influenciam mentos sociais e estabelecendo relações en-
a dinâmica da população? Desde então, uma tre organizações e recursos, liberando re-
segunda, e igualmente excitante, convergên- cursos para uso por novas organizações.
cia emergiu da teoria do ciclo tecnológico. Apoiando esse argumento, Delacroix e
A busca dessa convergência é fundamental Carroll (1983) afirmam que ciclos de fun-
para o avanço da ecologia organizacional. dações de jornais na Argentina e na Irlanda
Processos ambientais, tais como mudanças refletem as turbulências políticas, além da
institucionais e evolução tecnológica, que dinâmica da população. Anos de turbulên-
modelam formas organizacionais apropria- cia política foram marcados pelo aumento
das e condicionam relações histórico-estru- nas taxas de fundação em ambos os países.
turais (por exemplo, as bases da competi- Carroll e Huo (1986) replicam esse resulta-
ção entre organizações), necessitam ser in- do e também asseguram que a turbulência
tegrados completamente à teoria e pesqui- política aumenta as taxas de fracasso de
sa ecológicas. Desenvolvimentos recentes empresas jornalísticas numa análise da fun-
nessas áreas de convergência são revisados dação de jornais na área da Baía de São
a seguir. Francisco. Amburgey e seus colegas também
encontram evidências de que a turbulência
política aumenta as taxas de fracasso na Fin-
Processos institucionais lândia (Amburgey et al., 1988). Notadamen-
te, jornais fundados durante os anos de tur-
Ambientes organizacionais represen-
tam mais do que simples "fontes para en-
trada, informação e conhecimento para sa-
ída" (Scott e Meyer, 1983 : 158). Regras
institucionalizadas e crenças sobre organi-
zações também figuram proeminentemen-
te (DiMaggio e Powel, 1983; Meyer e
Rowan, 1977). A Teoria Institucional enfa-
tiza que organizações devem estar em con-
formidade com essas regras e requerimen-
tos, se quiserem receber suporte e ser per-
cebidas como legítimas. O papel dessas res-
trições normativas tem crescido recentemen-
te na teoria e na pesquisa ecológicas. Alguns
vêem essa relação entre a teoria institucio-
nal e a ecológica como complementares e
propõem sua síntese dentro de uma única
estrutura explicativa (Hannan e Carroll,
1992; Hannan e Freeman, 1989). Outros
concebem a teoria institucional como um
contexto para a teoria ecológica: a relação
entre elas não é complementar, é também
hierárquica (Tucker et al., 1992). Partindo
desse ponto de vista, o ambiente institucio-
nal constitui o contexto social mais amplo
para a ocorrência de processos ecológicos:
o ambiente institucional pode prescrever o
critério de seleção ambiental para julgar se
uma organização ou população inteira deve
ou não sobreviver (Barnett e Carroll, 1993;
Baum e Oliver, 1991; 1992; Fombrun,
1988). A pesquisa ecológica sobre proces-
sos institucionais compara tipicamente ta-
xas de fundação e fracasso entre populações
organizacionais ou por meio do tempo, à
medida que a arena institucional de uma
população em particular muda devido à tur-
bulência política, regulamentações governa-
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 106

bulência política têm vida curta, compara- eventos de rotina cujos efeitos cumulativos
dos com aqueles formados em períodos mais são substanciais. Por exemplo, com o tem-
estáveis (Carroll e Delacroix, 1982). Para po, por meio de processos coercitivos,
explicar esses resultados, Carroll e seus co- miméticos e normativos, expectativas insti-
legas argumentam que jornais fundados em tucionais das regulamentações governamen-
períodos de turbulência política são opor- tais tornam-se inerentes às práticas e carac-
tunistas que prosperam graças aos recursos terísticas das organizações (DiMaggio e
liberados em períodos de conflitos sociais, Powell, 1983). Essas características institu-
mas então, tornam-se obsoletos ou pouco cionais que proporcionam a certeza de que
competitivos, quando o ambiente se estabi- as organizações são confiáveis para funcio-
liza. Em outras palavras, os jornais são par- nar produzem conseqüências ecológicas,
te de um ambiente político. O processo po- como, por exemplo, a restrição do espectro
lítico afeta outros tipos de organizações? de comportamentos competitivos possíveis
Carroll et al. (1988) fornecem um argumen- (Freeman e Lomi, 1994). Outros são mais
to teórico que generaliza as predições a res- dramáticos e interrompem os laços estabe-
peito de outros tipos de organizações, mas lecidos entre as organizações e os recursos,
este ponto permanece sem prova empírica. liberando recursos para o uso por novas or-
ganizações (Carroll et al., 1988).
Uma vez que o contexto regulatório
Regulamentação governamental varia bastante, a pesquisa ecológica freqüen-
temente formula hipóteses sobre os efeitos
Partindo de um ponto de vista ecoló- reguladores e regulatórios de áreas de pes-
gico, as regulamentações governamentais quisa particulares. Contudo, a pesquisa re-
são vistas como restrições importantes na cente identifica quatro maneiras básicas em
organização e na aquisição de recursos que que as regulamentações governamentais in-
afetam a diversidade organizacional fluenciam as taxas de fundação e fracasso
(Barnett e Carroll, 1993; Hannan e Freeman, (veja Tabela 7). Consistente com a perspec-
1977). Aumentando (diminuindo) o núme- tiva de que os processos ecológicos estão hi-
ro e/ou a variedade de restrições, a regula- erarquicamente contidos pelos processos
mentação aumenta (diminui) a hete- institucionais, essa pesquisa mostra como re-
rogeneidade ambiental, expandindo (con- gulamentações governamentais agem, para
traindo) o número de nichos potenciais e restringir e impulsionar o comportamento
aumentando (diminuindo) a diversidade organizacional bem como condicionar as
organizacional total possível dentro de uma relações ecológicas entre as organizações.
comunidade organizacional. Embora os te-
óricos institucionais concordem, o assunto
central de suas perspectivas é o nível de frag-
mentação na estrutura do ambiente institu-
cional regulatório (Scott e Meyer 1983).
Quando a influência no ambiente regula-
tório é centralizada, as demandas insti-
tucionais são facilmente coordenadas e im-
postas sobre as organizações. Em contras-
te, estruturas regulatórias fragmentadas
sofrem com a ambigüidade e o conflito, e a
ação coordenada para influenciar organiza-
ções é mais difícil. Então, consistente com
as hipóteses ecológicas, quanto maior a frag-
mentação das estruturas regulatórias num
campo organizacional (isto é, quanto
maior o número de recursos institucionais
e restrições distintos), maior a diversi-
dade de organizações que podem ser man-
tidas.
A pesquisa ecológica sobre os efeitos
regulatórios procura saber como as mudan-
ças nas regulamentações governamentais
influenciam o padrão de fundação e o fra-
casso organizacional. Algumas mudanças
regulatórias incorporam certos processos ou
107PARTE I - MODELOS DE ANALISE

Tabela 7 Regulamentação do governo e dinâmicas da população.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura de
organizacional, pós-estruturalista, industrialismo/
pós-industrialista, pós-fordista/ modernidade
moderno, Foucault, Garfinkel, teoria a pós-
do ator-rede industrialismo/
pós-modernidade
Justiça Participação Ética de negócios, moralidade e OB, de democracia
democracia industrial, teoria repressiva
participativa, teoria crítica, a democracia
Habermas participativa
Tabela 1 Narrativas analíticas em análise organizacional.
Variáveis-chaves Previsões-chaves Referências-
chaves

exemplo, a legitimidade, Barnett e


estimulando a demanda, Carroll, 1993
proporcionando subsídios e
regulando a competição.
Ligações Ligações a instituições Singh et al.,
institucionais comunitárias e públicas 1986b; Baum e
legitimadas conferem Oliver, 1991
legitimidade e recursos às
organizações, reduzindo os
níveis de fracasso.
108
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL

Tabela 7 Continuação.

Efeito Regulador Exemplos Referências


nacionais resultaram na divisão dos recursos
que capacitaram bancos cooperativos rurais a
recorrer à base de recurso liberado na periferia
do sistema sem se envolverem diretamente na
competição com bancos generalistas.
Monitorando, 0 endosso do Governo Federal do Canadá na Tucker et al.,
certificando, legitimação de grupos da comunidade local 1990a; Singh et al.,
autorizando e engajados em atividade organizacional 1991
apoiando independente para o alcance de objetivos
coletivos, por meio de programas de
oportunidades para jovens, aumentou a taxa
de fundação de organizações de serviço social
voluntário na região metropolitana de Toronto.
0 crescente envolvimento da Divisão de Baum e Oliver,
Serviços para Crianças da Região 1991; 1992
Metropolitana de Toronto no monitoramento,
autorização e aprovação das atividades de
creches na cidade aumentou a credibilidade e
legitimidade das organizações nelas engajadas
junto à população, aumentando as fundações e
diminuindo os fracassos das creches.
Natureza da 0 programa de oportunidades para jovens do Tucker et al.,
competição governo federal do Canadá alterou a 1990a; Singh et al.,
dependência da densidade de fundações 1991
especialistas entre organizações de serviços
sociais na região metropolitana de Toronto.
A Convenção Kingsbury, uma regulamentação Barnett e Carrol,
para conter a atividade competitiva de uma 1993
firma dominante, a Bell Corp., disparou um
processo de aumento da competição, alterando
o relacionamento entre as grandes e pequenas
companhias telefônicas que passou de
simbiótico para competitivo.

O próximo passo óbvio dentro da pesquisa


nessa área é estudar como a regulamenta-
ção governamental, e os processos institu-
cionais de forma mais ampla condicionam
os processos ecológicos diretamente, exami
nando as interações entre variáveis institu-
cionais e ecológicas (Baum e Oliver, 1991;
Tucker et al., 1990a; Singh et al., 1991;
Tucker et al., 1988).
109 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Conexões institucionais dade de pesquisas adicionais sobre relações


institucionais.
Teóricos institucionais propõem que
uma organização tem mais chances de so-
breviver se ela obtém legitimidade, suporte Processos tecnológicos
social e aprovação dos atores no ambiente
institucional no qual está inserida (DiMaggio A inovação tecnológica tem o poten-
e Powell, 1983, Meyer e Rowan, 1977). Essa cial de influenciar profundamente popula-
legitimidade externa eleva o status da orga- ções organizacionais, porque ela pode rom-
nização na comunidade, facilita a obtenção per mercados, mudar a importância relati-
de recursos, impede questionamentos sobre va de vários recursos, desafiando as capaci-
os direitos de uma organização e a compe- dades de aprendizagem organizacional e al-
tência para fornecer produtos ou serviços terando a natureza da competição (Cohen
específicos e permite que a organização de- e Levinthal, 1990; Tushman e Anderson,
monstre sua conformidade com as normas 1986). A inovação tecnológica cria oportu-
e expectativas institucionais. Embora a pes- nidades para a fundação de novas organi-
quisa sobre a conformidade institucional das zações, quando as fontes existentes de van-
organizações ainda seja limitada, de manei- tagens competitivas decaem e novas opor-
ra com a previsão da teoria institucional, os tunidades para estabelecer posições emer-
resultados dos estudos existentes indicam gem. Isto também cria incertezas e riscos
que o desenvolvimento de laços com impor- para aquelas organizações estabelecidas,
tantes instituições do Estado da comunida- porque os resultados podem ser somente
de, bem como com outras organizações que imperfeitamente vislumbrados. Por um lado,
operam no mesmo campo institucional, têm o impacto de uma inovação pode não ser
papel muito significativo no aumento das conhecido até que seja tarde demais para
chances de sobrevivência da organização. que as organizações estabelecidas, usando
Singh et al. (1986) descobriram que o
registro numa agência governamental de
serviço social voluntário no cadastro de uma
comunidade e a posse de um número de
registro de instituição de caridade diminuiu
a suscetibilidade das novatas numa popula-
ção de organizações de serviço social volun-
tário. Miner et al. (1990) descobriram que
os jornais finlandeses ligados aos partidos
políticos têm uma taxa de fracasso signifi-
cativamente mais baixa que as organizações
de jornais sem esse tipo de vinculação. Baum
e Oliver (1991) descobriram que creches e
berçários que mantêm relações com orga-
nizações comunitárias (exemplos: escolas,
centros comunitários e organizações religi-
osas) e com uma agência governamental
municipal exibiram vantagens de sobrevi-
vência sobre aquelas sem essas ligações, e
também que essas vantagens aumentaram
significativamente com a intensidade da
competição. Eles também mostraram que
organizações novatas e pequenas, especia-
lizadas no cuidado de crianças, beneficia-
ram-se das ligações institucionais mais do
que organizações maiores, mais velhas e
generalistas. Num estudo sobre produtores
de circuitos integrados, Loree (1993) des-
cobriu que as taxas de fracasso caíram ini-
cialmente após a aprovação para produção
militar, mas então aumentaram com o tem-
po, conforme os vínculos se tornaram mais
antigos. Uzzi (1993) também demonstra
como as chances de sobrevivência das em-
presas que produzem roupas em New York
aumenta, conforme seu nível de intercone-
xão social e comercial. Acima de tudo, es-
ses estudos sugerem que estas ligações das
organizações a um contexto institucional
maior podem alterar as relações causais
básicas propostas em ecologia organiza-
cional. Isto sugere enfaticamente a necessi-
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 110

tecnologias ultrapassadas, possam compe- mentais e para aperfeiçoamentos da tecno-


tir com sucesso com os novos competido- logia dominante. Embora exista algum de-
res. Por outro lado, arriscar-se cedo demais bate sobre a universalidade do ciclo tecno-
com uma inovação pode comprometer as lógico, ele tem se demonstrado esclarecedor
chances de sobrevivência das organizações numa grande variedade de indústrias (Nel-
estabelecidas, se aquela tecnologia acaba son, 1994).
não se tornam dominante. Então, as estru-
turas competitivas de uma população refle-
tem suas tecnologias subjacentes e a inova- Resultados de pesquisa e direções
ção tecnológica pode influenciar profunda- futuras
mente a dinâmica competitiva e a evolução
da população com o passar do tempo Como os ciclos tecnológicos influen-
(Barnett, 1990; Brittain e Freeman, 1980; ciam padrões de fundação e fracasso orga-
Dosi, 1984; Utterback e Suárez, 1993). nizacional? Resultados de pesquisas dispo-
níveis que relacionam ciclos tecnológicos à
fundação e ao fracasso organizacional pa-
Ciclos tecnológicos e recem apoiar fortemente as principais hipó-
dinâmica da população teses (veja Tabela 8). Embora essa pesquisa
proporcione inicialmente conexões promis-
Sustentada pela caracterização da evo- soras entre ciclos tecnológicos e dinâmicas
lução tecnológica de Schumpeter (1934; populacionais, é necessário estendê-la em
1950) como um processo de destruição cri- pelo menos três direções importantes. Pri-
ativa, a pesquisa reforça a idéia de que as meiro, embora a teoria sugira que as taxas
tecnologias desenvolvem-se ao longo do de fracasso das organizações estabelecidas
tempo, por meio de ciclos de longos perío- e das novatas sejam significativamente di-
dos de mudança incremental - que melho- ferentes, estudos dos efeitos dos ciclos
ram e institucionalizam uma tecnologia exis- tecnológicos sobre os fracassos organiza-
tente - pontuados por descontinuidades tec- cionais não fazem diferenciação exata dos
nológicas nas quais as novas tecnologias, grupos de organizações fundadas antes e
radicalmente superiores, removem aquelas depois das descontinuidades tecnológicas ou
ultrapassadas, tornando possível uma ordem do design dominante (Baum et al., 1993;
de magnitude ou uma melhora no desem- 1995; Suárez e Utterback, 1992). Segundo,
penho organizacional (Dosi, 1984; Tushman e mais fundamentalmente, estudos raramen-
e Anderson, 1986). Descontinuidades tecno-
lógicas geram a competição à medida que
organizações tecnologicamente superiores
deslocam as desatualizadas. A nova tecno-
logia pode ser tanto do tipo incremento na
competência - que se constrói sobre o co-
nhecimento incorporado à tecnologia exis-
tente - quanto do tipo destruição da compe-
tência, que destrói as habilidades requeridas
para operar e administrar a tecnologia ob-
soleta existente (Tushman e Anderson,
1986). Essa distinção ajuda a especificar a
probabilidade de as organizações serem
estabelecidas ou de as novatas tornarem-se
competidoras tecnologicamente superiores
como resultado da mudança tecnológica.
Descontinuidades tecnológicas são seguidas
por períodos de fermentação em que a com-
petição, pelo domínio de múltiplas varian-
tes da nova tecnologia e com a tecnologia
vigente, cria grandes incertezas (Anderson
e Tushman, 1990). O fermento tecnológico
termina com a emergência de um modelo
ou design dominante, uma arquitetura úni-
ca que mantém o domínio em uma classe
de produtos (Abernathy 1978). Uma vez que
um design dominante emerge, o avanço
tecnológico retorna para melhorias incre-
I 111 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Tabela 8 Ciclos de tecnologia e dinâmica da população.

Variável Previsões Exemplos Referências

Descontinuidade Uma descontinuidade do tipo Tushman e


do tipo aumento de aumento da competência Anderson, 1986
competência consolida a posição
competitiva das empresas
estabelecidas, aumentando sua
vantagem competitiva sobre as
novas organizações,
desencorajando os entrantes
potenciais.
Taxas de entrada e saída
(Entry-to-exit ratios)
declinaram (isto é, fundações
foram suprimidas) nos 05 anos
após as descontinuidades do
tipo aumento de competência
nas indústrias de cimento e
transporte aéreo dos Estados
Unidos.8

As vantagens das empresas Baum et al., 1993


estabelecidas desgastam-se
com o passar do tempo,
quando a inércia acaba
tornando difícil para elas tirar
total proveito de uma
tecnologia mais avançada. Isto
protege as empresas
estabelecidas de se moverem
rapidamente para uma nova
tecnologia, também criando
aberturas para novos entrantes
desenvolverem ativos
especializados, conhecimento
e reputação de mercado.
A mudança de um regime de
aumento de competência, na
tecnologia de transmissão de
fac-símile, de analógica para
digital diminui inicialmente as
taxas de fundação e fracasso
das organizações de serviços
de transmissão, mas ambas as
taxas aumentaram assim que a
descontinuidade retrocedeu no
passado.

Descontinuidade A descontinuidade do tipo Freeman, 1990


do tipo destruição destruição de competência
de competência prejudica as posições
competitivas das empresas
estabelecidas, tornando suas
competências obsoletas,
permitindo que as
organizações que exploram a Henderson e
nova tecnologia entrem e Clarck, 1990
estabeleçam posições em
mercados anteriormente
impenetráveis às custas de
empresas estabelecidas,
sobrecarregadas com o legado
de uma tecnologia mais
ultrapassada.
Taxas de saída de produtores
de semicondutores
aumentaram após a
continuidade da destruição de
competências de circuitos
integrados.

Empresas que lidam com a


indústria de equipamentos de
alinhamento de fotolitos foram
suplantadas sucessivamente
por novos entrantes que
exploram novas tecnologias.

Período de A fermentação tecnológica uma nova tecnologia ou tecnológicas nas


fermentação produz uma sucessão de defender o regime existente - indústrias de
regimes tecnológicos que mas qual dos regimes cimento,
geram novos mercados e tecnológicos ou das variantes recipientes de
melhoram dramaticamente a Taxas de fracasso vidro
performance das empresas. As organizacional aumentaram e de
organizações devem escolher durante as fermentações microcomputadore
I 112 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

s nos Andreson, 1988;


Estados Anderson e
Unidos. Tushman, 1992
____________________________________________________________________________________________ F.C0I.0G1A ORGANIZACIONAL 113 |

Tabela 8 Continuação.
Variável Previsões Exemplos Referências
técnicas dominará dentro dos
regimes competitivos é
completamente incerto.
Designs dominantes Um design dominante cria uma Organizações fundadas antes Suárez e
vantagem competitiva para as do design dominante nas Utterback, 1992
empresas estabelecidas, ao indústrias de automóveis,
permitir a realização de transistores, calculadoras
economias de produção e de eletrônicas e de TV nos
outros tipos, produzindo uma Estados Unidos tiveram taxas
onda de fracassos entre de fracasso de idade específica
empresas que não controlaram mais baixa, depois dos designs
a tecnologia dominante, dominantes, do que aquelas
criando barreiras à entrada de fundadas posteriormente.
novas empresas, levando a um Ondas de fracasso ocorreram Anderson, 1988
profundo declínio no número no período imediatamente
de organizações e à após a emergência de designs
estabilização da indústria. dominantes nas indústrias de
cimento, recipientes de vidro,
e industria de vidros para
janelas, mas as taxas de
fracasso declinaram com o
passar do tempo, à medida
que a indústria foi
restabilizada.
A emergência do padrão DOS Ingram, 1993
foi seguido por uma onda de
fracassos na indústria de
minicomputadores, mas taxas
de fracasso declinaram com o
tempo, conforme a indústria
foi estabilizada

a Embora Tushman e Anderson (1986) interpretem sua descoberta original de que as taxas de entrada-saída
declinaram nos cinco anos após as descontinuidades de destruição de competências na indústria de cimen-
to e microcomputadores dos Estados Unidos - como contraditórias às previsões - uma vez que se espera
que ambas as taxas aumentem após as descontinuidades de destruição de competências, uma comparação
de pré e pós-discontinuidades das taxas de entrada e saida é um teste que pode confundir.

te incorporam medidas específicas de tecno-


logia das organizações. A incorporação da
informação específica das organizações so-
bre tecnologia estende a pesquisa existente
em pelo menos três caminhos principais.
Um, o padrão de interdependência entre as
empresas que operam com tecnologias di-
ferentes durante os períodos de fermento
pode ser examinado, permitindo que o pro-
cesso de destruição criativa possa ser mo-
delado diretamente por um caminho mais
refinado (Barnett, 1990). Dois, as implica-
ções no desempenho de uma inovação es-
pecífica da empresa (por exemplo, a ado-
ção de uma nova tecnologia) e condições
que influenciam 'se' e 'quando' tal inovação
114 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

( + )
Institucionalizaçã Momentum (-)
o

X+) (+)
(+)
Tentativa de
Estrutura (+) (-) mudança na
Inércia competênci
reprodutível
a
(+1 principal
(+)

,(+)/(-)
Rotinas
padronizada (+)
s Fracasso
(-)/
Idade
organizacional
(+)
Tamanho
organizacional

Figura 1 Teoria da inércia estrutural (adaptada de Kelly e Amburgey, 1991 : 593).

será recompensada podem ser modeladas de taxas de mudança organizacional esta-


diretamente (Barnett, 1990; Mitchell, vam disponíveis. Essa falta de atenção tal-
1991). Três, padrões de interdependência vez tenha ocorrido, pelo menos em parte,
entre organizações, que usam designs de pela Teoria da Inércia Estrutural (Hannan e
tecnologia pré e pós-descontinuidade ou pré Freeman, 1977; 1984). A Teoria da Inércia
e pós-dominância permitem a superiorida- Estrutural descreve organizações como en-
de competitiva das tecnologias a serem mo- tidades relativamente inertes para as quais
deladas diretamente (Baum et al., 1993; a resposta adaptativa não é somente difícil
1995). Terceiro, a pesquisa examina especi- e pouco freqüente, mas perigosa. Conse-
almente "como" as mudanças em tecno- qüentemente, a mudança em organizações
logia influenciam os processos ecológicos. isoladas é vista como contribuindo conside-
Contudo, mais pesquisa é necessária para ravelmente menos para a mudança no nível
examinar como a dinâmica ecológica influ- populacional do que os processos demográ-
encia a mudança tecnológica. Wade (1993;
1995) fornece alguns passos importantes
nessa direção. Sua análise de mudança tec-
nológica no mercado de microprocessadores
nos Estados Unidos mostra que os novos
entrantes são as principais fontes de intro-
dução de designs, que o processo de depen-
dência da densidade influencia padrões de
entrada de patrocinadores de design, bem
como a taxa pela qual os novos designs ga-
nham suporte organizacional e que a emer
gência de um design dominante estimula a
entrada de novos patrocinadores.

MUDANÇA ORGANIZACIONAL:
TEORIA DA INÉRCIA ESTRUTURAL

Embora os pesquisadores ecológicos


tenham reunido estudos importantes rela-
tivos às taxas de fundação e fracasso, até
recentemente poucos estudos sistemáticos
requerem que as estruturas organizacionais
sejam altamente reprodutíveis (isto é, está-
ficos de fundação e fracasso organizacional. veis ao longo dos anos). A reprodutibilidade
Não obstante a importância dessa posição da estrutura é alcançada pela institucio-
teórica para abordagens ecológicas, até re- nalização dos propósitos e pela padroniza-
centemente, sua veracidade tinha sido acei- ção das rotinas organizacionais. Institu-
ta como verdade indiscutível. Os ecólogos cionalização e padronização oferecem a van-
organizacionais têm começado a examinar tagem da reprodutibilidade, mas elas tam-
as hipóteses da Teoria da Inércia Estrutural bém produzem pressões inerciais fortes con-
- a influência dos fatores ambientais e orga- tra mudanças (1984 : 154-155).
nizacionais nas taxas de mudanças em or- A estrutura na Teoria da Inércia Estru-
ganizações individuais e a adaptabilidade tural refere-se a algumas, mas não a todas
(isto é, conseqüências de sobrevivência) dos das características das organizações.
diferentes tipos de mudanças organiza- Hannan e Freeman (1984 : 156) enfatizam
cionais. as características centrais da estrutura or-
A teoria organizacional e de adminis- ganizacional, que estão relacionadas "às
tração freqüentemente focaliza as vantagens demandas usadas para mobilizar recursos
relativas das configurações alternativas das destinados a iniciar uma organização e às
características organizacionais. Conseqüen- estratégias e estruturas usadas para manter
temente, uma grande quantidade de pesqui- fluxos de recursos escassos". As caracterís-
sas sobre mudança organizacional tem-se ticas centrais principais incluem objetivos
concentrado no conteúdo das mudanças: a organizacionais, formas de autoridade, tec-
mudança para uma configuração mais van- nologia principal e estratégia de marketing
tajosa é considerada adaptativa, enquanto das organizações. As características perifé-
a mudança para uma configuração menos ricas protegem as características centrais da
vantajosa é considerada prejudicial organização em relação à incerteza, forman-
(Amburgey et al., 1993). Em complemento do um filtro e ampliando as conexões da
a este foco, a Teoria da Inércia Estrutural
de Hannan e Freeman (1984) oferece um
modelo de processo de mudança organiza-
cional que considera tanto as restrições in-
ternas quanto as externas sobre a mudan-
ça. A Teoria da Inércia Estrutural direciona-
se para duas questões principais: até que
ponto as organizações podem mudar e é a
mudança benéfica para as organizações? A
Figura 1 apresenta uma revisão da Teoria
da Inércia Estrutural.

Até que ponto as organizações


podem mudar?
Hannan e Freeman (1977) apontam
que as organizações enfrentam tanto restri-
ções internas quanto externas em sua capa-
cidade de mudança e que, dadas essas res-
trições, os processos de seleção fornecem a
explicação apropriada para mudança nas
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 173 I
--------------------------------------------------------------

populações organizacionais. Baseados em


seu argumento anterior, Hannan e Freeman
(1984) adotam aqui uma abordagem um
tanto diferente que assume seriamente o
potencial para a mudança organizacional ao
vislumbrar a inércia como conseqüência mais
do que antecedente aos processos de sele-
ção. Eles seguem a hipótese de que, embo-
ra alguns tipos de mudanças ocorram fre-
qüentemente nas organizações e embora,
algumas vezes, essas mudanças possam até
mesmo ser radicais, a natureza dos proces-
sos de seleção é tal que as organizações com
características inertes têm mais chance de
sobreviver (1984 : 149).
A teoria da inércia estrutural assume
que as organizações experimentam pressões
por uma performance confiável e por ações
responsáveis. Ela também assume que tan-
to a confiabilidade como a justificabilidade
I 116 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE __________________________

organização a seu ambiente. Características que exibem uma performance confiável e


periféricas incluem números e tamanhos de justificável em suas ações, Hannan e
subunidades, números de níveis hierárqui- Freeman (1984 : 160) concluem que,
cos, amplitude de controle, padrões de co- freqüentemente, tentativas para mudar as
municação e mecanismos de proteção. características centrais que visam promover
Hannan e Freeman (1984 :156) propõe que a sobrevivência - mesmo daquelas que po-
as características centrais tem níveis mais dem eventualmente reduzir os riscos de fra-
altos de inércia do que as características casso pelo melhor alinhamento da organi-
periféricas. zação com seu ambiente - expõem as orga-
Hannan e Freeman (1984) propõem nizações a um risco de fracasso maior a curto
ademais que, além de mudar em função da prazo. Então, a teoria da inércia prevê que
estrutura organizacional, as pressões iner- as organizações podem freqüentemente fra-
ciais variam com o tamanho e a idade cassar como um resultado direto de suas
organizacional. Devido ao fato de que as tentativas de sobrevivência.
organizações mais velhas tiveram tempo Além disso, por seus efeitos sobre a
para formalizar completamente as relações reprodutibilidade e a inércia, tanto a idade
internas, padronizar rotinas, instituciona- quanto o tamanho organizacional afetam a
lizar lideranças e distribuir poderes, bem probabilidade de sobrevivência a curto pra-
como desenvolver redes ricas de dependên- zo aos choques causados por tentativas de
cia e comprometimento com outros atores mudanças em características centrais. Uma
sociais, a reprodutibilidade da estrutura e a vez que as estruturas internas e as rotinas
inércia deveriam aumentar com sua idade. são mais institucionalizadas e suas conexões
Então, organizações mais velhas deveriam externas são estabelecidas de uma forma
ser mais limitadas em sua habilidade de melhor, organizações mais velhas são as que
adaptação às demandas mutantes do ambi- têm especialmente maior probabilidade de
ente. Conseqüentemente, a probabilidade de experimentar o rompimento como resulta-
ocorrer tentativas de mudança em caracte-
rísticas centrais declinam com a idade
(1984 : 157). O tamanho organizacional
também é associado com a resistência para
mudar. A medida que as organizações cres-
cem, elas" enfatizam a previsibilidade, os
papéis formalizados, os sistemas de contro-
le e seu comportamento torna-se previsível,
rígido e inflexível. Além disso, ao proteger
organizações do fracasso, o tamanho maior
pode reduzir o ímpeto de mudança
(Levinthal, 1994). Conseqüentemente, a
probabilidade de tentativa de mudança em
características centrais declina com o tama-
nho (Hannan e Freeman, 1984 : 159).

A mudança é benéfica?

Talvez, o aspecto mais marcante da


teoria da inércia estrutural é a relação hi
potética entre a mudança das característi-
cas centrais e a suscetibilidade dos novatos,
a propensão que organizações jovens têm
para taxas de fracasso mais altas
(Stinchcombe 1965). Hannan e Freeman
(1984 : 160) propõem que a tentativa de
mudanças em características centrais da
organização produz uma renovada susceti-
bilidade dos novatos, roubando o histórico
que a organização possui do valor da sobre-
vivência. A tentativa de mudança nas carac-
terísticas centrais diminui a confiabilidade
e a justificabilidade do desempenho da or-
ganização, fazendo-a retornar aos níveis de
uma organização novata, destruindo ou tor-
nando obsoletas rotinas e competências
estabelecidas e rompendo relações com ato-
res ambientais importantes. Ela também
mina a legitimidade adquirida da organiza-
ção, modificando sua missão visível. Dado
que os acionistas favorecem organizações
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 117 |

do da mudança em características centrais Testes da teoria da


(1984 : 157). Em contraste, organizações inércia estrutural
maiores, embora com menor probabilidade
de tentar mudanças em características cen-
trais num primeiro momento, têm maior Dependência da idade e de tamanho
probabilidade de morrer durante uma ten- nas taxas de mudança
tativa de mudança desse tipo (1984 : 159).
O tamanho grande pode proteger organiza- Testes de dependência do tamanho e
ções dos efeitos desestabilizadores das mu- da idade nas taxas de mudança organi-
danças em características centrais, por zacional são apresentados na Tabela 9. Os
exemplo, ajudando a manter velhas e no- resultados são cruzados e, no total, pare-
vas maneiras de fazer as coisas durante o cem oferecer suporte para as previsões da
período de transição ou superando priva- Teoria da Inércia Estrutural. Em sua revisão
ções de curto prazo e desafios competitivos da ecologia organizacional, Singh e
que acompanham as tentativas de mudan- Lumsden (1990 : 182) usam a distinção
ça. "central-periférico" para interpretar os re-
Se uma organização consegue sobre- sultados disponíveis. Eles consideram que
viver a curto prazo ao choque de uma mu- taxas de mudanças em caraterísticas centrais
dança em sua característica central, Hannan diminuem com a idade, enquanto taxas de
e Freeman (1984 : 161) prevêem que o ris- mudanças em características periféricas au-
co de fracasso declinará com o passar do mentam com a idade. Infelizmente, essa dis-
tempo, uma vez que a confiabilidade do de- tinção não ajuda a justificar os resultados
sempenho é restabelecida, relações externas confusos da dependência da idade (e de ta-
são restabilizadas e a legitimidade organi- manho) na Tabela 9. Por exemplo, a diver-
zacional é reafirmada. Contudo, a taxa de sificação - o desenvolvimento de novos pro-
declínio na taxa de fracasso, após a mudan- dutos ou serviços, freqüentemente para no-
ça em uma competência central, não é vos clientes e freqüentemente que requei-
especificada pelo modelo da inércia estru- ram implementação de novas tecnologias de
tural. Se a taxa de declínio da taxa de fra- administração, produção ou distribuição
casso subseqüente à mudança continuar a (Haverman, 1993a) - é uma mudança em
uma taxa idêntica àquela anterior à mudan- característica central que tem sido estuda-
ça, a organização enfrentará risco a curto da entre diversas populações. Infelizmente,
prazo sem nenhum benefício a longo pra- a Tabela 9 revela poucas evidências de que
zo. Se a taxa de declínio na taxa de morte
que segue a mudança é menor que a ante-
rior, a organização aumentará tanto seus ris-
cos de fracasso tanto no curto quanto a lon-
go prazo. Se, contudo, a taxa de declínio é
mais rápida que a taxa de declínio original,
a organização se beneficiará a longo prazo
por assumir riscos de curto prazo da mu-
dança. Então, embora a teoria da inércia
estrutural veja a mudança em característi-
cas centrais como maléficas a curto prazo,
ela pode, em última análise, ser adaptativa
se a organização administrar para superar
os perigos associados com a ruptura inicial.
Assim, a teoria da inércia estrutural
enquadra a questão de a mudança organi-
zacional ocorrer no nível populacional ou
no nível de organizações individuais en-
quanto um fator da taxa de mudança de
organizações em relação com a taxa de mu-
dança do ambiente. Organizações podem ser
capazes de responder a mudança do ambi-
ente ou porque elas são relutantes ou inca-
pazes de mudar ou porque elas fracassam
prioritariamente na realização de esforços
de mudanças.
118 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Tabela 9 Estudos da taxa de mudança organizacional.


População Tipo de mudança Idade" Tamanho Número de Tempo Referências
mudanças desde a
prioritárias última
(anteriores) mudança
Negócios Proprietário
_ 0 na Amburgey e
+
jornalísticos dos Editor - 0 + na Kelly, 1985
Estados Unidos Nome - 0 0 na

1774-1865 Layout - 0 + na

Conteúdo 0 0 0 na

Organizações de Nome + + na na Singh et al.,


serviços sociais Patrocinador 0 0 na na 1988; 1991;
voluntários Local + 0 na na Tucker e al.,
Área de serviço + 0 na na 1990b

Objetivos + 0 na na

Grupo de clientes 0 0 na na

Condições de serviços 0 0 na na

Executivo Chefe + + na na

Estrutura + 0 na na

Produtores de Mudança na + na na na Bocker,1989


semicondutores estratégia inicial

do Vale do

Silício"

Empresas de Entrada para na 0 na na Mitchell, 1989


diagnóstico subcampo emergente

médico por

imagem dos

Estados Unidos,

1959-1988

Creches da De especialistas para + - na na Baum, 1990a


região generalistas

metropolitana De generalistas para +/- 0 na na


de Toronto,
1971-1987 especialistas

Organizações De fins lucrativos a + 0 na na Ginsberg e


mantenedoras fins não lucrativos Buchholtz, 1990

de saúde dos

Estados Unidos"

Agências Especialismo no nível Kelly e

Aéreas dos EUA, de negócio 0 + na Amburgey, 1991,


-
1962-1985 Generalismo no nível veja Kelly,1998

de negócio 0 - + na

Especialismo no nível

de corporação 0 0 + na

Generalismo no nível

de corporação 0 - + na

Postos de Aumento de domínio 0 na na 0 Usher, 1991


gasolina, Contração de domínio 0 na na +
1959-88 Migração de nicho +/- na na na
_
Vinícolas da Portfolio de marca 0 + - Delacroix e
Califórnia, Linha de produto - + 0 Swaminathan,
-
1946-1984 Status do 1991

proprietário da terra 0 0 + 0
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 119 [

Tabela 9 Continuação.

População Tipo de mudança Idade Tamanho Número de Tempo Referências


mudanças desde a
prioritárias última
(anteriores) mudança

500 Empresas Fusões de extensão de Amburgey


Revista Fortune produtos na e
Fusões de Miner,
conglomerados na 1992;
Fusões horizontais na Amburgey
Integração Vertical na e
Diversificação de Dancin,
mercado e produto na 1994
Descentralização
estrutural na
Jornais da Conteúdo
Finlândia Freqüência da na
1771-1963 publicação na
Associações de Tentativa de
bares do Estado unificação - na Amburgey
1918-1950 et al.,
na
Institutos livres Mudança para 1993;
de artes liberais co-educar Minter et
0
Adição de programa al., 1990
na
de pós-graduação Halliday et
+ na
Adição de programa al.,
de negócios 1993
+
Companhias de Aquisição
Zajac e
bancos holding, relacionada na
Aquisição não- Kraatz,
1956-1988
relacionada 1993
na
Ginsberg e
California S8cL, Estado real (taxas de
entrada) Baum, 1994
1977-1987 +
Hipotecas não
residenciais
0
Seguros com lastro Ginsberg e
em hipotecas Baum, 1994
0
Empréstimo ao
consumidor
Empréstimo comercial 0
Haveman,1
Companhias de o 994;
serviços
veja
Mudança no domínio o também
Associações de
comércio dos
e objetivos da 0/0 o Haveman,
organização 1992;
EUA 1900-1980 na
Entrada de rota 1993a;
Companhias na
Saída de rota 1993b
aéreas da Cali-
fórnia 1979-1984 na
Entrada no mercado +
Creches da região na
Saída do mercado 0
metropolitana
de Toronto,
1971-1989
na
na
na Aldrich et
na al.,
na
1994

Baum e
Korn,
1996

Baum e
Singh,
1996

na

na
120 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

X/Y da os sinais dos significantes (p < 0,05) termos lineares e quadrantes, respectivamente, quando estimado
Dados do período de observação não fornecido
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 121 [

a diversificação é relacionada negativamen- Amburgey e seus colegas (Amburgey e Kelly,


te tanto à idade quanto ao tamanho. 1985; Amburgey et al., 1993; Amburgey e
Miner, 1992, Kelly e Amburgey, 1991) su-
Fluidez de Idade e Tamanho - A Teo- gerem que um entendimento completo da
ria da Inércia Estrutural está errada? Em mudança organizacional requer a conside-
contraste com as argumentações sobre inér- ração da história das mudanças da organi-
cia estrutural, algumas visões teóricas su- zação. De uma perspectiva de aprendizado
gerem que as organizações se tornam mais organizacional, fazer mudanças proporcio-
fluidas com o tempo (Singh et al., 1988). na às organizações a oportunidade de tor-
Embora os processos de seleção favoreçam nar a mudança uma rotina (Levitt e March,
organizações que estão ajustadas a seu meio 1988; Nelson e Winter, 1982). Toda vez que
ambiente, o ajuste entre organizações e seus uma organização se empenha num tipo par-
ambientes está constantemente sendo ero- ticular de mudança, ela aumenta sua com-
dido, uma vez que a racionalidade limitada petência naquele tipo de mudança. Quanto
da administração, as restrições de acesso às mais experiente uma organização se torna
informações e as pressões inerciais impedem em um tipo particular de mudança, mais
as organizações de acompanharem as mu- provavelmente repetirá essa mudança -
danças constantes do ambiente. Deste modo, porque ela sabe como fazê-la. Se uma mu-
"por meio de uma história cumulativa de dança particular casualmente se liga ao su-
sobrevivência, as tensões e os esforços de cesso, nas mentes dos decisores organi-
sobreviver em meio a tantas mudanças do zacionais - independente de existir essa li-
ambiente acumulam-se nas organizações, gação de fato - os efeitos de reforço torna-
aumentando as pressões para que mudem" rão a repetição mais provável. Então, uma
(1988 : 6). vez que essa mudança é iniciada, o proces-
Alguns pontos de vista teóricos tam-
bém sustentam a idéia de que as organiza-
ções maiores são mais fluidas. A complexi-
dade, a diferenciação, a especialização e a
descentralização internas, todas caracterís-
ticas das organizações grandes, têm sido
associadas à adoção das inovações
(Haveman, 1993a). Os recursos disponíveis
para as grandes organizações podem capa-
citá-las a iniciar mudanças, em resposta às
mudanças ambientais (Cyert e March,
1963). O maior tamanho relativamente a
outros atores também aumenta o poder de
mercado (Bain, 1996), diminuindo as bar-
reiras de entrada em função de economias
de escala e reduzindo as considerações po-
líticas externas (Pfeffer e Salancik, 1978).
Estimativas de idade e tamanho na
Tabela 9 sustentam as previsões de inércia
e fluidez com semelhante freqüência. Con-
tudo, há boas razões para duvidar de alguns
dos resultados de fluidez. Muitos estudos
que encontram as evidências de fluidez in
cluem organizações censuradas pela esquer-
da (ou seja, fundadas antes do início da
observação). Em virtude de essas organiza-
ções de orientação de esquerda serem fun-
dadas antes de o período de observação co-
meçar, e não serem observadas quando são
mais jovens e menores, incluí-las pode le-
var a uma subestimação das taxas de mu-
dança em idades e tamanhos menores. Além
disso, se organizações grandes são protegi-
das por seus recursos dos riscos da mudan-
ça, o suporte para a fluidez do tamanho pode
refletir numa seleção viciada da amostra
resultante de censura pela direita (isto é,
escolha de organizações fundadas após o
começo do período de observação): não se
observam organizações pequenas mudando,
porque elas fracassam antes da realização
de seus esforços.

Momentum Repetitivo - Embora


Hannan e Freeman (1984) não incluam
mudanças prévias em seu modelo teórico,
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 122

so de mudança, por si só, torna-se rotineiro gumentos subjacentes diretamente. Dado


e sujeito a forças inerciais. Isto cria o momen- que os coeficientes de tamanho e idade re-
tum repetitivo, isto é, a tendência para man- velam pouco sobre os processos organi-
ter a direção e a ênfase de ações anteriores zacionais subjacentes, ainda sabemos mui-
no comportamento corrente (Miller e Frie- to pouco sobre como os efeitos de idade e
sen, 1980). Experiências com a mudança de tamanho, ou as condições sob as quais flui-
um tipo particular permitem prever o au- dez, inércia e momentum predominarão.
mento da probabilidade de que a mudança Para aprender o que realmente está aconte-
desse mesmo tipo será repetida no futuro. cendo, são necessários estudos que utilizam
Para reconciliar a idéia de que a mu- medidas mais diretas dos processos organi-
dança organizacional é impulsionada pelo zacionais subjacentes. Os argumentos de
momentum repetitivo com evidência de que fluidez e inércia não são necessariamente
as organizações se movem de períodos de concorrentes; eles podem ser complemen-
mudança para períodos de inatividade, tares - de fato, os argumentos da fluidez da
Amburgey et al. (1993) propõem que os efei- idade baseiam-se parcialmente na inércia
tos de mudanças anteriores são dinâmicos. para criar um gap entre organizações e am-
Uma vez que o processo de busca organi- bientes -, e as relações subjacentes que eles
zacional começa com as rotinas mais utili- prevêem podem potencialmente existir si-
zadas recentemente (Cyert e March, 1963), multaneamente.
a probabilidade de repetir mudanças espe-
cíficas deveria ser mais alta imediatamente
após sua ocorrência, mas declinaria com o
tempo, uma vez que as mudanças foram os
últimos aumentos feitos. Combinados, os
efeitos dinâmicos e principais de mudanças
anteriores pressupõem que a probabilidade
de repetir uma mudança em particular sal-
ta imediatamente após uma mudança des-
se tipo, sendo que o tamanho do salto au-
menta após cada mudança adicional, mas
declina com o tempo, a partir do momento
em que aquele tipo de mudança ocorreu pela
última vez.
O suporte para o momentum repetitivo
da mudança organizacional é forte: entre
as estimativas na Tabela 9, as taxas de mu-
dança aumentam com o número de mudan-
ças anteriores do mesmo tipo em 18 de 24
testes. Estimativas para o efeito dinâmico,
contudo, são mais confusas. Notadamente,
os estudos que controlam por um ou ambos
os efeitos de mudança anterior justificam
muito da evidência em favor de Teoria da
Inércia Estrutural: nove dos doze coeficien-
tes negativos de idade negativa e sete de
dez coeficientes negativos de tamanho ocor-
rem nesses estudos. Então, o suporte para a
fluidez da idade e do tamanho pode refletir
um viés de especificação: organizações maio-
res e mais velhas podem ter maior propen-
são para a mudança não porque são maio-
res ou mais velhas, mas porque acumula-
ram experiência com a mudança. Acima de
tudo, esses resultados sugerem firmemente
a necessidade de uma visão maior das for-
ças inerciais sobre a organização - uma que
inclua o momentum tanto quanto a inércia
no processo de mudança.
Embora atentar para questões de es-
colha das organizações - como a censura
pela esquerda ou pela direita, ou seja, a ex-
clusão de empresas fundadas anteriormen-
te ou posteriormente ao início da observa-
ção, ou ainda questões de viés de especi-
ficação - possam melhorar nosso entendi-
mento do processo de mudança no nível
organizacional de forma incrementai, ga-
nhos maiores poderiam ser alcançados se
os pesquisadores começassem a testar os ar-
I 123 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE __________________

Mudança e fracasso organizacional afirmam, a menos que os dados sejam refi-


nados, mudanças de características centrais
Se a pesquisa ecológica indica que a podem freqüentemente não ser observadas,
inércia e o momentum freqüentemente res- porque organizações fracassam antes da
tringem a mudança organizacional, é claro realização de seus esforços. Por exemplo, se
que tal efeito não é necessariamente preju- algumas mudanças de características cen-
dicial: além de promover a confiança e a trais demonstram-se fatais dentro de um
justificação do desempenho, em um am- ano, essas mudanças fatais não serão de-
biente incerto, a inércia e o momentum po- tectadas nos primeiros dados que normal-
dem proteger as organizações de terem que mente estão disponíveis. Esse problema da
responder rápido freqüentemente demais às censura pela direita diminui os riscos esti-
mudanças ambientais. Mas se a inércia ou mados da mudança, porque as mudanças
o momentum são ou não prejudicais, depen- mais perigosas não são identificadas na aná-
de, em última análise, do risco da mudança lise.
organizacional.
A Tabela 10 apresenta os resultados Desempenho organizacional - Embo-
de estudos, investigando as conseqüências ra organizações com desempenhos supe-
para a sobrevivência de mudanças organi- riores e ruins tenham a probabilidade de en-
zacionais. As organizações, nos estudos de frentar riscos diferentes de fracasso, bem
populações, não necessariamente fracassam como taxas e tipos de mudança (Hambrick
como resultado de seus esforços para mu- e D'Aveni, 1988; Haveman, 1992; 1993a;
dar - mas elas também não necessariamen- 1993b; 1994), as análises ecológicas dos
te aumentam suas chances de sobrevivên- efeitos da mudança sobre fracassos
cia organizacional. Operam as organizações organizacionais não incluem normalmente
num mundo de tantas incertezas que os es- medidas de desempenho organizacional em
forços adaptativos acabam tornando-se es- progresso. Isto cria dois problemas. Primei-
sencialmente randômicos com relação a seu
valor futuro? (Hannan e Freeman, 1984 :
150). Infelizmente, somente seis estudos na
Tabela 10 separam efeitos de curto e longo
prazos e somente três deles também testam
a variação de tamanho e idade nos efeitos
destrutivos da mudança. Qualquer conclu-
são nesse ponto seria, portanto, prematura.
E notável, contudo, que o suporte para as
previsões da teoria da inércia estrutural é
forte nos três estudos mais completamente
especificados (Amburgey et al., 1993; Baum
e Singh, 1996; Haveman, 1993c), para to-
das as mudanças examinadas com exceção
de uma (isto é, entradas de creches no mer-
cado).

Direções futuras

Além da necessidade de mais pesqui-


sa sobre adaptabilidade da mudança orga
nizacional que especifique as previsões da
teoria da inércia estrutural, a pesquisa fu-
tura poderá também beneficiar-se ao consi-
derar os assuntos que seguem.

Censura pela esquerda e pela direi-


ta - Organizações censuradas pela esquer-
da, ou seja, aquelas fundadas antes do co-
meço do período de observação, não são
observadas quando são mais jovens e me-
nores, mas, de acordo com a teoria da inér-
cia estrutural, quando têm maior probabili-
dade de mudar e estão mais vulneráveis aos
riscos da mudança. Incluir essas organiza-
ções na análise pode levar à subestimação
dos riscos totais da mudança, bem como à
variação nos riscos para organizações de
diferentes tamanhos e idades. Além disso,
se a mudança organizacional de caracterís-
ticas centrais é tão perigosa a curto prazo
quanto os argumentos da inércia estrutural
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 124 [

Tabela 10 Estudos de mudança e Fracasso Organizacional.


População Tipo de mudança Mudança Tempo Mudança Mudança Referências
anterior8 desde a X X
última idade tamanho
mudança
Jornais dos Editor + 0 na na Carrol, 1984b
Estados Unidos

1800-1975

Periódicos de Proprietário + na na na Amburgey e


negócios dos Editor 0 na na na Kelly, 1985
Estados Unidos Nome 0 na na na

1774-1865 Layout 0 na na na

Conteúdo 0 na na na

Organizações Patrocinador + na na na Singh et al.,


de serviço social Localização
- na na na 1986

voluntário, Área de serviço + na na na

1970-1982 Objetivos 0 na na na

Grupos de clientes + na na na

Executivo chefe
- na na na

Estrutura 0 na na na

Companhias Especialismo ao nível Kelly e

aéreas dos do negócio 0 na na na Amburgey, 1991;


Estados Unidos, Generalismo ao nível veja também

1962-1985 do negócio 0 na na na Kelly, 1988


Especialismo ao nível
corporativo 0 na na na
Generalismo ao nível
corporativo 0 na na na

Mudança periférica 0 na na na

Postos de Aumento ou 0 + na na Usher, 1991


gasolina, contração do domínio

1959-1988

Vinícolas da Aumento do portfolio Delacroix e

Califórnia, de marca 0 0 na na Swaminathan,


1946-1984 Diminuição do portfolio 1991; veja

de marca 0 0 na na Swaminathan e

Aumento da linha de Delacroix, 1991

produto
- 0 na na

Diminuição da linha de

produto 0 0 na na

Aquisição de terra
- 0 na na

Diminuição de terra 0 0 na na

Jornais Conteúdo + - + na Amburgey et al.,

filandeses, Freqüência + + na 1990; 1993


-
1774-1963 Layout 0
- + na

Localização 0
- + na

Nome + - + na

Califórnia S8cLs, Hipotecas residenciais


- na na na Haveman, 1992

1977-1987 Estado real (+ invest.) 0 na na na


Hipotecas não
residenciais
- na na na

Seguros lastreados

hipotecas 0 na na na
I 125 PARTF I - MODELOS DF. ANÁLISE

Tabela 10 Continuação.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura de
organizacional, pós-estruturalista, industrialismo/
pós-industrialista, pós-fordista/ modernidade
moderno, Foucault, Garfinkel, teoria a pós-
do ator-rede industrialismo/
^HHIHHiiHH^^HHHilHHHHHI^HHHH^HHHHHHHHIHI^I^I^HI^HHIHI pós-modernidade
a X da os sinais dos coeficientes significantes (p < 0,05)

ro, a lógica de causa e efeito é pouco clara,


porque algumas mudanças ou tipos de mu-
danças são sintoma de declínio organiza-
cional, mais do que causas de fracasso. Se-
gundo, os modelos de estimação estão pro-
pensos a vieses de especificação: se as taxas
de mudança e fracasso organizacional são
ambas influenciadas pelo desempenho re-
cente, uma conexão falsa entre mudança e
fracasso será observada se o desempenho
anterior não for controlado. Embora seja
improvável que indicadores específicos de
desempenho organizacional possam ser ob-
tidos para populações inteiras ao longo do
tempo, uma forma de lidar com esse pro-
blema é usar o crescimento e o declínio
organizacional como uma medida de desem-
penho aproximado (Baum, 1990a; Baum e
Singh, 1996; Havemam, 1993c; Scoott,
1992 : 342-362).

Protetores de transformação - Um
tópico correlato é o pressuposto de que to-
das as organizações são igualmente suscetí-
veis aos efeitos das mudanças no fracasso.
Hannan e Freeman (1984) identificaram a
idade e o tamanho como fatores que alte-
ram a exposição das organização à susce-
tibilidade da mudança. Contudo, até o pre-
sente, somente três estudos (veja Tabela 10)
explicaram essa variabilidade (Amburgey et
al., 1993; Baum e Singh, 1996; Haveman,
1993c). Conexões institucionais (isto é, li-
gações a importantes instituições do Estado
e da comunidade) podem também fornecer
essa proteção da transformação, ao confe-
ECOLOGIA ORGANIZACIONAL 126

rir recursos e legitimidade extras para as com implicações muito diferentes para os
organizações (Miner et al., 1990; Baum e estudos das organizações, essas visões não
Oliver, 1991). Assim como a performance são fundamentalmente incompatíveis. En-
não mensurada, a variação não mensurada quanto a teoria ecológica enfatiza a predo-
da suscetibilidade aos riscos da mudança minância da seleção sobre a adaptação, a
podem causar especificações viesadas nas complementaridade dos efeitos adaptativos
estimativas do modelo. e ecológicos é claramente refletida na pes-
quisa revisada aqui. As pesquisas nas Tabe-
Variação de tipo interna - A ênfase eco- las 8 e 9 não parecem sustentar a hipótese
lógica ao processo de mudança tem resulta- ecológica com firmeza: organizações mu-
do numa menor atenção dada pelos pesqui- dam freqüentemente em resposta a mudan-
sadores ecológicos ao conteúdo da mudan- ças ambientais, e quase sempre sem nenhum
ça. Embora categorias abrangentes de mu- efeito prejudicial. Além disso, as taxas de
dança estejam sendo diferenciadas, de acor- mudança em geral não são compelidas pela
do com seu conteúdo (veja Tabelas 9 e 10), idade e tamanho, conforme previsto pela
todas as instâncias de uma categoria de Teoria da Inércia Estrutural. Ao mesmo tem-
mudança em particular são tipicamente con- po, contudo, em contraste com uma forte
sideradas equivalentes. Enquanto essa hipó- visão de adaptação, as conseqüências da
tese pode fornecer uma aproximação inici- mudança para a sobrevivência parecem mais
al razoável, para muitos tipos de mudança ligadas a buscas aleatórias do que a uma
podem existir diferenças de tipo interno, ação estrategicamente calculada (Baum e
com substanciais implicações sobre a sobre- Singh, 1996; Delacroix e Swaminathan,
vivência. Uma dessas diferenças é a varia- 1991). Analisados em conjunto, os resulta-
ção de tipo interna no efeito das mudanças dos sugerem uma relação complexa entre
sobre a intensidade da competição (Baum e adaptação e seleção: porque a mudança
Singh, 1996). Por exemplo, dependendo de organizacional pode afetar o fracasso
como as ações específicas de uma organiza- organizacional, o resultado ao nível de po-
ção alteram o tamanho de seu domínio re- pulação resultante de processos de adapta-
lativamente ao tamanho do número de or- ção e seleção combinados não é a simples
ganizações que competem nesse domínio, agregação de cada processo separadamen-
as atividades de diversificação da organiza- te. Estudando as transformações das popu-
ção podem aumentar, diminuir ou deixar lações organizacionais durante os períodos
inalterada a intensidade da competição que de rápida mudança ambiental, podem-se
a organização enfrenta. Baum e Singh abrir as janelas para a oportunidade de exa-
(1996) mostram que os efeitos de mudan- minar mais de perto as ligações entre as
ças no domínio do mercado (tanto de ex- perspectivas de adaptação e seleção na mu-
pansão quanto contração) sobre a sobrevi-
vência das creches dependem de como as
mudanças afetam a intensidade da compe-
tição: mudanças que diminuem a intensi-
dade da competição melhoram as chances
de sobrevivência organizacional, enquanto
aquelas que aumentam a intensidade da
competição diminuem as chances de sobre-
vivência. Desse modo, ao incorporar a va-
riação de tipo interno nos efeitos da mu-
dança, pode-se ajudar a explicar alguns re-
sultados anteriores confusos nos estudos das
conseqüências adaptativas da mudança or-
ganizacional.

Reconciliando
adaptação e seleção

Embora as visões adaptativa e ecoló-


gica sejam freqüentemente apresentadas
como alternativas mutuamente exclusivas,
I 127 PARTE 1 - MODELOS DE ANÁLISE_________________________

dança organizacional (Levinthal, 1994; também não resolveram esses problemas.


McKelvey, 1994). Muito poucas análises das Partindo de um ponto conceituai, enquanto
mudanças no nível organizacional exploram exemplos de inconsistências na lógica inter-
essas experiências naturais (para exceções, na são incomuns na teoria ecológica (mas
veja Ginsberg e Buchholtz, 1990). veja Young, 1988), muitos casos de ambi-
Como Hannan e Freeman (1977: 930) güidade conceituai aparecem. Questões são
apontam, um tratamento completo das re- freqüentemente levantadas sobre o signifi-
lações ambiente-organização deve cobrir cado e definição de conceitos centrais da
tanto adaptação como seleção. Agora é o teoria, tais como organização, população,
momento para expandir as fronteiras das fundação, fracasso e legitimidade (Astley,
perspectivas ecológicas e adaptativas para 1985; Carroll, 1984a; Rao, 1993; 1994;
criar uma abordagem combinada que veja McKelvey, 1982; Young, 1988). Para ser jus-
processos de adaptação e seleção como com- to, estas ambigüidades não são exclusivas
plementares e interagentes. Expandindo o da ecologia organizacional, mas endêmicas
estudo da mudança organizacional dessa para os estudos das organizações (Tucker,
maneira, criar-se-á uma estrutura conceituai 1994). Outra fonte recorrente de problemas
que considere seriamente a ocorrência de conceituais é a validade metodológica dos
processos de seleção e a combine com o es- testes das hipóteses teóricas. Uma área de
tudo sistemático das mudanças no nível debate freqüente é a adequação de inferir-
organizacional, que podem, sob certas con- se processo de legitimação com base nas
dições, ser adaptativas. estimativas de densidade da população, em
vez de medir-se o constructo subjacente
mais diretamente (Baum e Powell, 1995;
PROGRESSOS, PROBLEMAS E Delacroix e Rao, 1994; Hannan e Carroll,
DIREÇÕES FUTURAS 1992; Zucker, 1989). Em parte, esse proble-
ma se origina do uso em larga escala, pela
Como essa revisão mostra, a ecologia ecologia organizacional, de bancos de da-
organizacional é uma subdisciplina vital dos dos históricos nos quais, por necessidade,
estudos das organizações, onde a pesquisa medidas são freqüentemente removidas dos
tem-se proliferado constantemente e onde conceitos. A pesquisa sobre a dependência
a sofisticação metodológica tem aumenta-
do. Mas no que a ecologia organizacional
contribui para o progresso dos estudos
organizacionais? Uma forma de responder
a essa questão é examinar quais problemas
a ecologia organizacional resolve (Lauden,
1984; Tucker, 1994). De acordo com Lauden
(1984 : 15), teorias científicas devem resol-
ver dois tipos de problemas: (1) problemas
empíricos, que são questões substantivas
sobre os objetos (isto é, organizações), que
constituem ser domínio de pesquisa; e (2)
problemas conceituais que incluem questões
sobre a consistência lógica interna e ambi-
güidade conceituai de teorias desenvolvidas
para resolver problemas empíricos, bem
como a validade metodológica dos testes dos
argumentos teóricos. Dessa perspectiva, a
contribuição da ecologia organizacional
para o progresso pode ser definida em ter-
mos de sua capacidade para acumular pro-
blemas empíricos resolvidos, enquanto mini-
miza o escopo de problemas empíricos e
conceptuais não resolvidos.
Conforme revelado nessa revisão, a
ênfase básica da ecologia organizacional é
o desenvolvimento de explicações teóricas
para problemas empíricos específicos. Em-
bora a ecologia organizacional tenha avan-
çado no conhecimento sobre amplo espec-
tro de problemas empíricos, poucos (se al-
gum) destes podem ser considerados defi-
nitivamente resolvidos. É claro que outras
subdisciplinas de estudos organizacionais
ecologia organizacional 128

da idade, e em menor grau aquela sobre generalidade pode "esconder" muitos pro-
dependência de tamanho, também sofre blemas-chaves de ecologia organizacional.
com o problema. Conseqüentemente, ao sacrificar alguma
Embora problemas empíricos não re- generalidade por maior precisão e realismo,
solvidos e problemas conceituais não sejam os ecólogos organizacionais podem ser ca-
incomuns em áreas novas e emergentes da pazes de começar a resolver alguns desses
pesquisa científica, quanto mais tempo os problemas. A pesquisa que adota essa es-
problemas - especialmente, problemas tratégia de solução de problema tem con-
conceptuais - permanecem sem solução, tribuído para a literatura em pelo menos três
maior torna-se sua importância nos deba- maneiras. Primeiro, as elaborações do mo-
tes sobre a veracidade da teoria que a ge- delo de dependência da densidade (veja
rou (Lauden, 1984 : 64-66). O que produz Tabela 5) ajudam a aumentar tanto a preci-
os problemas da ecologia organizacional? são da mensuração, por exemplo, medindo
Embora ecólogos organizacionais gostariam os processos subjacentes de competição e
que suas teorias fossem generalizáveis en- legitimação ou diferenciadamente ou mais
tre populações organizacionais, maximi- diretamente (Baum e Oliver, 1992; Baum e
zassem o realismo de contexto e a precisão Singh, 1994b; 1994c), ou realismo contex-
na mensuração das variáveis, de fato, ne- tual, por exemplo, ao incorporar as caracte-
nhuma teoria pode ser geral, precisa e rea- rísticas específicas da população tais como
lista ao mesmo tempo (McGrath, 1982; distribuições do tamanho organizacional ou
Puccia e Levins, 1985; Singh, 1993). Teori- estruturas de nicho de mercado no modelo
as devem, portanto, sacrificar algumas di- (Barnett e Amburgey, 1990; Baum e Mezias,
mensões para maximizar outras. Por exem- 1992; Baum e Singh, 1994b; 1994c). Se-
plo, teorias realistas podem ser aplicadas a gundo, as análises ecológicas que incorpo-
somente um domínio limitado, enquanto ram processos tecnológicos e institucionais
teorias gerais podem ser imprecisas ou en- ajudam a melhorar o realismo contextual,
ganadoras para aplicações específicas. ligando processos ecológicos em populações
Ecólogos organizacionais parecem favore- organizacionais a processos históricos nos
cer a decisão entre precisão e realismo pela ambientes circunvizinhos (Barnett, 1990;
generalidade. Por exemplo, precisão e rea- Barnett e Carroll, 1993; Tucker et al., 1990a;
lismo são claramente sacrificados pela ge- Singh et al., 1991). Terceiro, a pesquisa
neralidade na teoria da dependência da den- que enfatiza uma precisão de mensuração
sidade e na teoria da inércia estrutural. Isto maior esclarece as causas subjacentes da de-
é menos verdadeiro na teoria de extensão pendência de tamanho e idade nas taxas de
de nicho e no modelo de particionamento fracasso organizacional (Singh et al., 1986;
de recursos.
Por um lado, essa estratégia de pes-
quisa produz a principal força da ecologia
organizacional: a acumulação de uma for-
ça de evidência empírica comparável a situ-
ações organizacionais diversas num espec-
tro de problemas empíricos sem paralelo nos
estudos das organizações. Por outro lado,
ela também cria uma maior fraqueza: o
grande conjunto de coeficientes de medi-
das indiretas, tais como tamanho, idade e
densidade da população, revela pouco so-
bre as explicações teóricas desenhadas para
justificar os problemas empíricos de interes-
se. Isto cria problemas conceituais ao pro-
mover ceticismo a respeito da veracidade
do processo subjacente inferido, porque os
resultados ajustados não podem ser preci-
samente interpretados, criando problemas
empíricos não solucionados ao dificultar a
explicação teórica de resultados não ajusta-
dos.
Então, o sacrifício do realismo contex-
tual e da precisão de medidas em favor da
I 129 parte i - modelos df analise ___________________________

Baum e Oliver, 1991). Medidas mais robus- quanto o autor era Professor Assistente em
tas no nível organizacional são necessárias Administração na Stern School of Business,
para estabelecer mais precisamente as na New York University.
microfundamentações da teoria ecológica.
Meu ponto de vista é que agora temos 1. Sou grato a Jim Ranger-Moore pelo uso do título
desta seção, que é o título de seu manuscrito de
testes indiretos mais do que suficientes das
1991.
teorias gerais e que a resolução de proble-
mas e o progresso em ecologia organi-
zacional podem ser ampliados, movendo-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
se em direção a uma maior precisão e rea-
lismo na teoria e na pesquisa. Isto significa
ABERNATHY, William. The productivity dilemma.
ficar mais próximo dos problemas da pes-
Baltimore, MD : Johns Hopkins University
quisa. A proximidade pode adicionar realis- Press, 1978.
mo e revelar aspectos importantes do fenô-
ALDRICH, Howard E. Organizations and
meno que pesquisadores ecológicos distan- environments. Englewood Cliffs, NJ :
ciados não podem detectar. Isto também sig- Prentice-Hall, 1979.
nifica o foco maior sobre as anomalias. Re-
______ , AUSTER, Ellen R. Even dwarfs started
sultados que são inconsistentes uns com os small: liabilities of age and size and their
outros ou com a explicação teórica são co- strategic implications. Research in
muns em ecologia organizacional. O enten- Organizational Behavior, 8: 165-198.
dimento dessas anomalias é crucial para Greenwich, CT : JAI Press, 1986.
especificar as condições sob as quais as vá- ______ , FIOL, Marlene C. Fools rush in? The
rias previsões sustentam e aumentam a pre- institutional context of industry creation.
cisão. Significa também a formulação de Academy of Management Review, 19: 645-
novos tipos de questões de pesquisa que 670,
desenvolvam conexões com outras linhas de 1994.
pesquisa na teoria das organizações e rela- ______ , PFEFFER, Jeffrey. Environments of
cione os processos micro e macro. Uma co- organizations. Annual Review of Sociology, 2:
nexão desse tipo na qual algum trabalho já 79-105, 1976.
se iniciou é a especificação dos impactos da
dinâmica ecológica das organizações sobre
os empregos e pessoas (Haveman e Cohen,
1994; Korn e Baum, 1994). Finalmente, isto
significa deixar os problemas de pesquisa
dirigirem a escolha da modelagem da pes-
quisa e metodologia e não o contrário. Para
algumas questões específicas, a história
organizacional será mais apropriada do que
a história de uma população inteira.
Ecólogos organizacionais necessitam come-
çar a planejar estudos e usar métodos que
capacitem melhor as questões de pesquisa
a serem respondidas. Em alguns casos, isto
pode requerer o uso de métodos múltiplos
- qualitativo tanto quanto quantitativo. A
alteração da orientação de pesquisa ecoló-
gica nessas direções pode ajudar a concluir
mais sobre a grande contribuição potencial
da ecologia organizacional para a teoria e
pesquisa nos estudos das organizações, bem
como para a prática na política pública, ad-
ministração e empreendimentos.

NOTAS

Por valiosas discussões, conversas e


comentários, eu gostaria de agradecer a
Howard Aldrich, Terry Amburgey, Jack
Brittain, Charles Fombrun, Raghu Garud,
Heather Haveman, Kathy Hick, Paul Ingram,
Helaine Korn, Walter Nord, Jim Ranger-
Moore, Woody Powell, Huggy Rao, Lori
Rosenkopf, Kaye Schoonhoven, Jitendra
Singh, Bill Starbuck e Anand Swaminathan.
Este capítulo foi escrito, parcialmente, en-
I 130 PARTE I ~ MODELOS DE ANÁLISE

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de Meyer e Rowan (1977), proliferaram sido dada à conceitualização e à espe-
análises organizacionais baseadas em uma cificação dos processos de instituciona-
perspectiva institucional. Trabalhos sob a lização (a respeito, ver DiMaggio, 1991;
bandeira da teoria institucional têm inves- Strang e Meyer, 1993; e Rura e Miner, 1994,
tigado vasta gama de fenômenos, desde a com relatos de progressos recentes nesta
expansão de políticas de pessoal específicas direção).
(Tolbert e Zucker, 1983; Baron et al., 1986; Conforme notado no trabalho ante-
Edelman, 1992) à redefinição fundamen- rior de Zucker (1977), que se concentrava
tal da missão organizacional e de suas es- nas conseqüências de níveis de instituciona-
truturas (DiMaggio, 1991; Fligstein, 1985), lização diferenciados, a institucionalização
até a formulação de políticas nacionais e in- aparece tanto como processo quanto como
ternacionais por organizações governamen- variável-atributo. Isso deve-se, talvez, por
tais (Strang, 1990; Zhou, 1993). No entan- seu trabalho ter sido baseado em amostra
to, ironicamente, a abordagem institucio- de pequenos grupos, muito embora, na
nal ainda há que se tornar institucio- maioria das análises organizacionais, não
nalizada. Há pouco consenso sobre a defi- tenha sido utilizada uma abordagem para a
nição de conceitos-chave, mensurações ou institucionalização baseada em processo.
métodos no âmbito desta tradição teórica. Pelo contrário, a institucionalização é qua-
Ao contrário da ecologia populacional, com se sempre tratada como um estado qualita-
suas medidas padronizadas de densidade, tivo: ou as estruturas são institucionalizadas
a teoria institucional ainda não desenvol- ou não o são. Conseqüentemente, negligen-
veu um conjunto central de variáveis-pa- ciam-se importantes questões sobre os fato-
drão, não tem metodologia de pesquisa pa- res determinantes das variações nos níveis
dronizada nem tampouco conjunto de mé-
todos específicos. Os estudos têm-se basea-
do em uma variedade de técnicas que in-

* Tradução: Humberto Falcão Martins e Regina


Cardoso.
Revisão técnica: Marcelo Milano Falcão Vieira e
Roberto Fachin .

cluem estudos de caso, regressão múltipla,


modelos longitudinais de vários tipos, en-
tre outras (veja também Davis e Powell,
1992; Scott e Meyer, 1994). Nossa revisão
da literatura sugere uma importante origem
para esta variedade de abordagens: a des-
peito do considerável conjunto de trabalhos
identificados como parte desta tradição,
140 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

de institucionalização, e sobre como tais va- sem qualquer reflexão ou resistência com-
riações podem afetar o grau de similarida- portamental, sem questioná-las, unicamen-
de entre conjuntos de organizações. te baseados em seus interesses particulares
Neste capítulo, analisamos estas ques- (veja Wrong, 1961). Sugerimos que estes
tões oferecendo uma abordagem teórica dois modelos gerais devem ser tratados não
específica dos processos de instituciona- como opostos, mas representando dois pó-
lização. Começamos apresentando um bre- los de um continuum de processos de toma-
ve panorama histórico da pesquisa e da teo- das de decisão e comportamentos. Deste
rização sociológica em organizações em modo, um problema-chave para a teoria e a
meados da década de 70. Esta visão geral pesquisa é especificar as condições sob as
pretende não só esclarecer as ligações entre quais o comportamento aproximar-se-á de
a teoria institucional e a precedente tradi- um lado ou outro deste continuum. Em sín-
ção sociológica sobre estrutura organiza- tese, precisa-se de teorias que clarifiquem
cional, como, também, contextualizar a quando há probabilidade da racionalidade
compreensão a respeito da aceitação, por ser mais ou menos limitada. A clarificação
parte dos estudiosos de organizações, do dos processos de institucionalização propor-
quadro explanatório da teoria institucional ciona um ponto de partida útil para a ex-
no final da década de 70. A seção seguinte ploração dessa questão.
examina a exposição inicial da teoria no ar-
tigo original de Meyer e Rowan (1977), con-
centrando-se no modo como este desafiou ANÁLISES SOCIOLÓGICAS DAS
as tradições teóricas e empíricas então do- ORGANIZAÇÕES: AS ORIGENS DA
minantes na pesquisa organizacional. Apon-
tamos uma aparente ambigüidade lógica
TEORIA INSTITUCIONAL
nessa formulação, que envolve a condição
fenomenológica de arranjos estruturais que Análises funcionalistas das
são os objetos dos processos de institu- organizações
cionalização. No restante do capítulo, ofe-
recemos um modelo geral dos processos de O estudo das organizações tem uma
institucionalização, com o propósito de es- história relativamente curta dentro do cam-
clarecer essa ambigüidade e de elaborar as po da Sociologia. Antes do trabalho de
implicações lógicas e empíricas de uma ver- Robert Merton e seus discípulos, no fim da
são da teoria institucional baseada na feno- década de 40, as organizações não eram
menologia, originada por Zucker. Finalmen- propriamente reconhecidas pelos sociólogos
te, com base nessa análise, consideramos americanos como um fenômeno social dis-
uma variedade de questões que requerem
desenvolvimento teórico adicional e estudo
empírico.
Nossos principais objetivos nesse es-
forço são dois: classificar as contribuições
teóricas da teoria institucional para a análi-
se organizacional e também avançar nesta
perspectiva teórica a fim de melhorar sua
utilização em pesquisa empírica.' Há, tam-
bém, um objetivo mais geral e mais ambi-
cioso, que é o de construir uma ponte entre
os dois modelos distintos de ator social
subjacentes à maioria das análises organi-
zacionais, aos quais nos referiremos como
modelo do ator racional e modelo institu-
cional. O primeiro baseia-se na premissa de
que indivíduos estão constantemente envol-
vidos em cálculos dos custos e benefícios das
diferentes alternativas de ação e que o com-
portamento segue critérios de maximização
de utilidade (Coleman, 1990; Hechter,
1990). No segundo modelo, ao contrário,
pressupõe-se que indivíduos "sobre-sociali-
zados" aceitam e seguem normas sociais,
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA TEORIA INSTITUCIONAL 141

tinto, merecedor de estudo próprio. Embo- rico geral, o exame empírico das relações
ra organizações tenham, certamente, sido entre os elementos da estrutura organiza-
objeto de estudo por sociólogos antes do cional era um foco natural de estudo.
advento da análise funcionalista (veja, por A segunda premissa é a de que as es-
exemplo, o trabalho de teóricos americanos truturas existentes contribuem para o fun-
associados à escola de Chicago: Park, 1922; cionamento de um sistema social, pelo me-
Thomas e Znaniecki, 1927), tais estudos tra- nos para a manutenção de seu equilíbrio,
tavam as organizações mais propriamente pois, de outro modo, o sistema não sobrevi-
como aspectos de problemas sociais gerais, veria. Uma implicação desta premissa, men-
tais como desigualdade social, relações cionada por Merton (1948), é que a mu-
intercomunitárias, desvio social etc; o foco dança provavelmente ocorre quando as dis-
da análise não estava nas organizações en- funções associadas a determinado arranjo
quanto organizações. A despeito do papel- institucional excedem às contribuições fun-
chave atribuído por Weber (1946) e Michels cionais daquele arranjo. Esse raciocínio le-
(1962) às organizações formais em suas vou a um interesse explícito na identifica-
análises sobre a ordem industrial, a noção ção das conseqüências funcionais e disfun-
de que organizações, nos processos sociais cionais de certos arranjos estruturais.2
modernos, são atores sociais independen-
tes não foi amplamente reconhecida até o
trabalho pioneiro de Merton e seus colegas Análises quantitativas da co-
(veja Coleman, 1980; 1990). Conforme será variação estrutural
explorado mais adiante, considera-se tanto
atores organizacionais quanto individuais A busca do primeiro problema, ou seja,
como potenciais criadores de nova estrutu- o exame das inter-relações entre elementos
ra institucional (Zucker, 1988). (Veja tam- estruturais estabeleceu as bases para uma
bém a discussão de DiMaggio de 1988 so- linha geral de pesquisa que veio a dominar
bre empreendedores institucionais.) e definir os estudos sociológicos de organi-
O interesse inicial de Merton (1948)
no estudo das organizações parece ter sido
direcionado primeiramente por preocupa-
ção com o teste empírico e o desenvolvimen-
to de uma lógica geral da teoria social
funcionalista. As organizações, vistas como
sociedades em microcosmos, ofereciam a
oportunidade de condução do tipo de pes-
quisa comparativa necessária ao exame
empírico dos princípios funcionalistas (veja
Selznick, 1949; Gouldner, 1950; Blau,
1955). Desse modo, uma das maiores mar-
cas produzidas pela análise de organizações
realizadas por Merton e seus alunos foi o
foco na dinâmica da mudança social, uma
questão que a teoria funcionalista tem sido
freqüentemente acusada de negligenciar
(Turner, 1974).
A preocupação com a mudança se re-
fletia em dois objetivos principais, que fo
ram as características marcantes dos estu-
dos organizacionais na tradição funcio-
nalista: o exame da natureza da "co-varia-
ção" entre diferentes elementos da estrutu-
ra, e a avaliação do equilíbrio dinâmico en-
tre os efeitos benéficos e disfuncionais de
determinados arranjos estruturais. Tais ob-
jetivos referem-se diretamente às duas
premissas-chave encrustradas na teoria fun-
cionalista a respeito de requisitos de sobre-
vivência de coletividades sociais.
A primeira premissa é a de que os com-
ponentes estruturais de um sistema devem
ser integrados para que o sistema sobrevi-
va, uma vez que os componentes são partes
inter-relacionadas do todo. Um corolário
derivado desse pressuposto principal é que
uma mudança em um componente estrutu-
ral requer mudanças adaptativas em outros
componentes. Assim, dado este quadro teó-
142 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

zações para as próximas duas décadas. Essa outras organizações. Ao enfatizar o papel
linha de pesquisa foi cada vez mais caracte- determinante de considerações de poder
rizada por análises quantitativas de co- para explicar a estrutura das organizações
variância entre os elementos da estrutura (veja Thompson e McEwen, 1958), desafia-
organizacional formal, e por explicações va abordagens teóricas dominantes que fo-
essencialmente econômicas destas co-varia- calizavam, em grande parte ou exclusiva-
ções. A rápida ascendência desta abordagem mente, os aspectos da eficiência da produ-
na análise organizacional reflete principal- ção. No entanto, na linha de trabalhos an-
mente sua afinidade com tradições de pes- teriores, uma abordagem voltada para a
quisa organizacional já estabelecidas no dependência de recursos também estava
campo da "ciência administrativa", na épo- presente, implicitamente ligada ao modelo
ca em que os sociólogos voltaram sua aten- decisório do ator racional, embora, nesse
ção para o estudo da burocracia (Follett, modelo, o comportamento dos atores esti-
1942; Fayol, 1949; Gulick e Urwick, 1937; vesse baseado em cálculos voltados para a
Woodward, 1965). Considerava-se que a maximização do poder e da autonomia em
estrutura formal refletia os esforços racio- lugar da eficiência pura. A influência de pro-
nais dos decisores no sentido de maximizar cessos sociais, tais como a imitação ou a
a eficiência, assegurando-se coordenação e conformidade normativa, que poderiam re-
controle de atividades de trabalho. Assim, a duzir ou limitar o processo decisório autô-
descoberta de uma relação positiva entre nomo, era amplamente ignorada.
tamanho e complexidade era explicada em
termos da: (a) necessidade e capacidade de
organizações maiores buscarem especializa- ESTRUTURAS FORMAIS COMO
ção visando ao aumento da eficiência; (b)
relação entre complexidade e tamanho do
MITO E CERIMÔNIA
componente administrativo em termos do
crescimento da necessidade de supervisão Propriedades simbólicas da
para lidar com problemas de coordenação estrutura
decorrentes da especialização etc.3
A pesquisa organizacional mudou seu A análise feita no já clássico artigo de
foco no fim dos anos 60 para incluir consi- Meyer e Rowan (1977) ofereceu, portanto,
derações sobre os efeitos das forças ambien- uma mudança radical nos modos conven-
tais na determinação da estrutura, mas o
quadro explanatório básico funcionalista/
econômico foi mantido na maioria dos tra-
balhos (veja, por exemplo, Thompson, 1967;
Lawrence e Lorsch, 1967). Apesar do domí-
nio dessa abordagem na análise e na expli-
cação da estrutura organizacional formal
(ou talvez por causa dela), esse paradigma
esteve sujeito a críticas crescentes no come-
ço dos anos 70. Em parte, um crescente ce-
ticismo refletia a ausência geral de desco-
bertas empíricas cumulativas feitas por tra-
balhos nessa tradição (Meyer, 1979). O
amplo renascimento e reavaliação da apli-
cabilidade geral de argumentos desenvolvi
dos anteriormente por Barnard (1938),
Simon (1947), e March e Simon (1957),
enfatizando os limites da racionalidade dos
decisores, pode também ter ajudado a esta-
belecer as bases para a aceitação de para-
digmas alternativos (Weick, 1969).
Refletindo a crescente insatisfação com
explicações tradicionais da estrutura formal,
um novo enfoque às relações organização-
ambiente, chamado dependência de recur-
sos (Pfeffer e Salancik, 1978), tornou-se
cada vez mais proeminente na década de
70. Esta perspectiva concentrava sua aten-
ção no interesse dos decisores em manter
autonomia e poder organizacionais sobre
I 143 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE _____________________

cionais de pensar a estrutura formal e a na- causais de estrutura. Primeiramente, no que


tureza da decisão organizacional por meio se refere aos determinantes da estrutura, a
da qual se produz a estrutura. Sua análise atenção é dirigida para influências externas
foi guiada por uma idéia-chave, qual seja: não relacionadas ao processo de produção
as estruturas formais têm tanto proprieda- real, tais como mudanças na legislação e o
des simbólicas como capacidade de gerar desenvolvimento de sólidas normas sociais
ação. Em outras palavras, as estruturas po- dentro da rede organizacional. Ao fazer isto,
dem ser revestidas de significados social- questionou-se a importância relativa de ca-
mente compartilhados e então, além das racterísticas organizacionais internas, tais
funções "objetivas", podem servir para in- como tamanho e tecnologia, tradicionalmen-
formar um público tanto interno quanto te investigadas como fontes de estrutura
externo sobre a organização (Kamens, formal. O argumento também sugeria indi-
1977). Explicar as estruturas formais deste retamente modos alternativos de interpre-
ponto de vista proporcionou aos pesquisa- tar tais características (como, por exemplo,
dores organizacionais a oportunidade de ex- indicadores tanto da visibilidade das orga-
plorar um amplo espectro de novas idéias nizações junto ao público em geral como das
sobre as causas e conseqüências da estrutu- redes organizacionais).
ra. Mais ainda, em termos de conseqüên-
A noção de que organizações têm as- cias ou resultados, o argumento resultou em
pectos simbólicos não era totalmente nova: ênfase na adoção de arranjos estruturais
vários autores, ao especificarem missões da específicos que haviam adquirido significa-
organização, arranjos estruturais ou estu- do social, tais como políticas formais de
darem os membros do alto escalão orga- contratação, práticas de contabilidade e de
nizacional, acentuaram as funções simbóli- orçamento e cargos ou funções associadas
cas que representavam (Clark, 1956; à eqüidade no emprego. Isso resultou num
Selznick, 1957; Zald e Denton, 1963). Na questionamento sobre a utilidade dos esfor-
tradição funcionalista, dizia-se que tais ele- ços teóricos e empíricos existentes destina-
mentos eram críticos para assegurar apoio
ambiental por meio da demonstração de
consistência entre os valores centrais da or-
ganização e aqueles da sociedade maior
(Parsons, 1956; 1960). A contribuição de
Meyer e Rowan a esse primeiro trabalho
repousa em seu esforço sistemático para
compreender as implicações do uso da es-
trutura formal para propósitos simbólicos,
particularmente no sentido de ressaltar as
limitações de explicações de cunho mais ra-
cional da estrutura.

Implicações

Baseada na noção de que uma estru-


tura formal pode sinalizar comprometimen-
to com padrões eficientes e racionais de or-
ganização e, portanto, atingir "aceitação"
social geral (Scott e Lyman, 1968), a análi-
se de Meyer e Rowan especificou três gran-
des implicações dessa noção. A primeira é a
de que a adoção da estrutura formal pode
ocorrer independentemente da existência de
problemas específicos e imediatos de coor-
denação e controle relativas às atividades
de seus membros.
'As organizações são levadas a in-
corporar as práticas e procedimentos
defi-
nidos por conceitos racionalizados de tra-
balho organizacional prevalecentes e ins-
titucionalizados na sociedade. Organiza-
ções que fazem isto aumentam sua legiti-
midade e suas perspectivas de
sobrevivên-
cia, independentemente da eficácia ime-
diata das práticas e procedimentos adqui-
ridos" (1977 : 340).
Este argumento desafiou os diversos
aspectos dos então dominantes modelos
144 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

dos à conceitualização e medição de estru- nas frouxamente ligados entre si e às ati-


turas em termos gerais e abstratos, tais como vidades, normas são freqüentemente vio-
formalização, complexidade e centralização. ladas, decisões não-implementadas, ou, se
Uma segunda grande implicação apon- implementadas, têm conseqüências incer-
tas, tecnologias são de eficiência proble-
tada pela análise de Meyer e Rowan é que a
mática, e sistemas de avaliação e inspeção
avaliação social das organizações e, conse- são subvertidos ou tornados tão vagos de
qüentemente, de sua sobrevivência, pode modo a garantir pouca coordenação.
estar na observação das estruturas formais (1977 : 342)
(que pode ou não funcionar de fato), em
vez de estar nos resultados observáveis re- Essa implicação também representa
lacionados ao desempenho das tarefas em um desafio às explicações tradicionais so-
questão. bre estrutura, as quais, ao tratar as estrutu-
ras formais como meios para coordenação
Assim, o sucesso organizacional de- e controle de atividades, assumiram, neces-
pende de fatores que vão além da eficiên- sariamente, uma conexão estreita entre as
cia na coordenação e controle das ativida-
estruturas e os comportamentos dos mem-
de de produção. Independentemente de
bros da organização.
sua eficiência produtiva, organizações
inseridas em ambientes institucionais al-
tamente elaborados legitimam-se e ga-
nham os recursos necessários a sua sobre-
vivência se conseguirem tornar-se
AMBIGÜIDADES NA
isomór- TEORIA INSTITUCIONAL
ficas nos ambientes (1977 : 352).
Essa afirmação contradiz frontalmen- Ao traçar esta última implicação,
te premissas subjacentes orientadas para o Meyer e Rowan desvinculam estrutura for-
mercado ou, pelo menos, para o desempe- mal e ação, definindo implicitamente estru-
nho, das funções da estrutura formal, que turas institucionais como aquelas que estão
foram dominantes nos trabalhos anteriores: sujeitas a tal desvinculação. No entanto,
(1) que organizações ineficientes em termos anteriormente, usaram o conceito de estru-
de produção seriam eliminadas por meio de turas institucionais do mesmo modo que
um processo de competição interorgani- Berger e Luckmann (1967) e Zucker (1977):
zacional; e (2) que as correlações entre uma estrutura que se tornou institucio-
medidas de estrutura formal e nas caracte- nalizada é a que é considerada, pelos mem-
rísticas tais como tamanho e tecnologia re- bros de um grupo social, como eficaz e ne-
sultariam então, da sobrevivência de orga- cessária; ela serve, pois, como uma impor-
nizações cuja forma condizia com as deman-
das de seus ambientes de produção. Embo-
ra tais suposições estivessem na base da
maioria das análises quantitativas sobre os
determinantes das estruturas, elas eram
freqüentemente explícitas apenas em estu-
dos que tratavam diretamente da eficácia
organizacional (Goodman e Pennings,
1977). A noção de que as organizações po-
deriam sobreviver, mesmo tendo baixo de-
sempenho implicava na possibilidade, exis-
tência e permanência de organizações em
"constante fracasso" (Meyer e Zucker, 1989),
ou seja, organizações que sobrevivem a des-
peito de ineficiências evidentes que, pela
lógica, deveriam levá-las ao fracasso.
Finalmente, a terceira grande impli-
cação, originada pelo trabalho de Meyer e
Rowan, foi que a relação entre atividades
do dia-a-dia e os comportamentos dos mem-
bros da organização e das estruturas formais
pode ser negligenciada:
Na maior parte das vezes, as orga-
nizações formais estão frouxamente agru-
padas (...) elementos estruturais estão
ape-
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA TEORIA INSTITUCIONAL 145

tante força causai de padrões estáveis de temas de regras (...) [que levam a uma ên-
comportamento. fase no] fluxo de recompensas e sanções"
Isso cria uma ambigüidade inerente no (1994 : 98). Nessa abordagem não se per-
argumento fenomenológico de Meyer e cebe, no entanto, nitidez entre as fronteiras
Rowan, pois a própria definição de "institu- das teorias de dependência de recursos e a
cionalizado" contradiz a alegação de que institucional, obscurecendo, desse modo, a
estruturas institucionais são passíveis de ser autêntica contribuição teórica desta última
desvinculadas do comportamento. Para ser para a análise organizacional em particu-
institucional, a estrutura deve gerar uma lar.
ação. Segundo argumento de Giddens Para ilustrar essa questão, é interes-
(1979), uma estrutura que não se traduz sante fazer uma comparação entre estudos
em ação é, fundamentalmente, uma estru- recentes baseados na teoria institucional e
tura "não-social". Geertz (1973 : 17) toca estudos anteriores no âmbito conceituai da
numa tecla semelhante: "Acessamos siste- dependência de recursos. Usando uma pers-
mas simbólicos somente por meio do fluxo pectiva institucional para examinar os efei-
do comportamento - ou, mais precisamen- tos de leis e políticas governamentais sobre
te, da ação social." estruturas de emprego, Sutton et al. argu-
A discussão sobre a desvinculação en- mentam:
tre estrutura e ação lembra a definição de "Confrontados com um ambiente
Goffman (1959) de estruturas instituciona- le-
lizadas;* a crença na eficácia e na necessi- gal aparentemente hostil, os empregado-
dade de tais estruturas está sujeita a con- res adotam procedimentos institucionali-
trovérsias; as estruturas, porém, são, ainda zados, legalmente reconhecidos para evi-
assim, vistas como servindo a um útil pro- tar possíveis litígios, bem como demons-
pósito de apresentação. Daí resulta que a trar conformidade adequada, de boa-fé,
tais estruturas fundamentais falte legitimi- com as determinações governamentais".
(1994 : 946)
dade normativa e cognitiva (Delia Fave,
1986; Walker et al., 1986; Stryker, 1994; Do mesmo modo, Edelman sugere que
Aldrich e Fiol, 1994), não sendo elas, de as organizações que constróem estruturas
modo algum, sinais reais de intenções formais como gestos simbólicos de confor-
subjacentes. Segundo definições-padrão do mação com a política governamental são
termo, no entanto, há dúvida sobre o fato
de tais estruturas poderem ser apropriada-
mente descritas como institucionalizadas.

Dependência de recursos versus


processos institucionais

Ademais, a ambigüidade inerente a


esta visão de mudança estrutural nas orga-
nizações leva a uma confusão fundamental
entre as teorias institucional e a teoria de

* "Bastidores/palco" Çbackstage/frontstage', na obra


original de Goffmann. (N.T.)

dependência de recursos (Zucker 1991 :


104). Scott (1987 : 497) argumentou que
uma mudança na teoria institucional no sen-
tido de explicar as "fontes ou loci de 'pres-
crições racionalizadas e impessoais'", em vez
de explicar as "propriedades de sistemas de
crenças generalizadas", tem a vantagem de
aumentar o quadro explicativo das estrutu-
ras formais. Inclui-se, nesse quadro, a con-
formidade das organizações com as deman-
das de atores externos, a fim de obter os
recursos necessários para sua sobrevivência.
Mais recentemente, Scott formulou: "Boa
parte da pesquisa empírica e teórica sobre
instituições está corretamente direcionada
a agências regulatórias (...) que exercem
poderes legítimos de formular e aplicar sis-
146 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

"menos sujeitas a provocar protestos, na fir- (generalizado) de que é negligenciável seu


ma, de classes protegidas de empregados, efeito no comportamento dos indivíduos. A
ou de membros da comunidade que procu- persistência de tal contradição no entendi-
ram emprego (...) e, muito provavelmente, mento cultural (isto é, que estruturas signi-
assegurarão mais recursos governamentais ficam comprometimento com alguma ação;
(contratos, dotações etc.) e (...) serão me- e que estruturas podem não estar relacio-
nos sujeitas a auditorias de agências de nadas com ação) nos surge como um enig-
regulação" (1992 : 1542). Assim, o deline- ma que não pôde ainda ser resolvido no uso
amento da estrutura é tratado como mudan- desta abordagem.
ça estratégica, mas, aparentemente, é ape- Há, ainda, em relação ao que se viu,
nas superficial; é a contrapartida organiza- um problema geral com os trabalhos que
cional das ações manipulativas de narcisis- enfatizam simplesmente as funções simbó-
tas que conscientemente utilizam "másca- licas, e asseguradoras de recursos, da estru-
ras falsas" como meio de obter seus pró- tura; refere-se ao pressuposto implícito de
prios objetivos por meio de outros.4 que os custos de criação de tais elementos
Outros estudos, descritos nos trabalhos estruturais são relativamente baixos, se com-
de Pfeffer e Salancik (1978) sobre a teoria parados aos ganhos potenciais de recursos
da dependência de recursos, refletem uma conseguidos no ambiente. Esse pressupos-
explicação lógica muito similar. Eles rela- to, presumivelmente, segue crença de que,
tam, por exemplo (1978 : 197-200), que freqüentemente, mudanças nas estruturas
Pfeffer fez um estudo de caso sobre uma or- formais não têm o poder de alterar a ação.
ganização que criou, intencionalmente, duas Embora haja freqüentes citações teóricas a
unidades estruturalmente distintas, uma das respeito, não há evidência empírica que sus-
quais sem fins lucrativos, com o fito de con- tente que a atividade social seja tão ubíqua
formar-se às definições, ainda em vigor na e barata como o ar que respiramos
sociedade, a respeito da forma apropriada (Granovetter, 1985). A partir da pesquisa
para organizações educacionais, asseguran- desenvolvida até o momento, não sabemos
do, dessa forma, o necessário apoio do am- dizer, concretamente, se a estrutura é regu-
biente externo. Similarmente, descrevem
(1978 : 56-59) pesquisa conduzida por
Salancik que examinava o relacionamento
entre indicadores da visibilidade das empre-
sas e sua dependência relativa de contratos
com o governo federal, bem como indican-
do a existência de arranjos organizacionais
mostrando comprometimento com a políti-
ca de emprego em igualdade de oportuni-
dades. Os resultados indicaram associação
entre maior dependência [de recursos! e
uma sinalização mais intensiva de aceita-
ção das leis de ação afirmativa, por meio da
criação de cargos ou empregos, bem como
da documentação, por escrito, de progra-
mas e de políticas. Observa-se uma super-
posição espantosa entre tais argumentos e
os oriundos de trabalhos mais recentes ela
borados dentro do quadro de referência da
teoria institucional.
A falta de uma distinção teórica entre
tais estudos resulta, em parte, da falta de
ênfase em característica típica da teoria ins-
titucional - isto é, o foco no papel das com-
preensões de base cultural como determi-
nantes do comportamento (Strang, 1994) e
nas limitações normativas do processo deci-
sório racional. Ao se promover mudança na
direção de uma ênfase maior nas mudanças
em "aparência", e desenfatização das con-
seqüências internas da estrutura institucio-
nalizada, bem como ao tratar a estrutura
simplesmente como símbolo e signo, acaba-
se por aceitar o argumento implícito de que
uma estrutura consegue manter seu valor
simbólico mesmo em face do conhecimento
I 147 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ____________________ ------------------

larmente desvinculada do funcionamento A partir de trabalhos identificados com


interno da organização, nem tampouco o a tradição filosófica da fenomenologia,
custo de criar-se tal estrutura, quando com- Berger e Luckmann (1967) identificaram a
parado com qualquer incremento nos flu- institucionalização como um processo cen-
xos de recursos para a organização (discus- tral na criação e perpetuação de grupos so-
são crítica destes resultados de pesquisa ciais duradouros. Uma instituição, o resul-
pode ser encontrada em Scott e Meyer, tado ou o estágio final de um processo de
1994). institucionalização, é definido como "uma
A reorientação da teoria institucional tipificação de ações tornadas habituais por
para que venha a ser mais influenciada por tipos específicos de atores" (1967 : 54; se-
uma abordagem de "dependência de recur- guindo Schutz, 1962; 1967).
sos" provavelmente reflete, em parte, o des- Nessa definição, ações tornadas habi-
conforto generalizado com a falta de volun- tuais referem-se a comportamentos que se
tarismo que é sugerido por versões, feno- desenvolveram empiricamente e foram ado-
menologicamente orientadas, da teoria ins- tados por um ator ou grupo de atores a fim
titucional, ou o que Oliver chama de "des- de resolver problemas recorrentes. Tais com-
crição abertamente passiva e conformista portamentos são tornados habituais à
das organizações" (1991 : 146). Isso pode medida que são evocados com um mínimo
surgir da aparente predominância da stasis* esforço de tomada de decisão por atores em
em uma abordagem fenomenológica resposta a estímulos particulares. Tipificação
(DiMaggio, 1988): como é prática corrente envolve o desenvolvimento recíproco de
na análise organizacional, o foco da abor- definições compartilhadas ou significados
dagem institucional tem sido, tradicional- que estão ligados a estes comportamentos
mente, na forma pela qual os atores seguem tornados habituais (veja Schutz, 1962;
persistentes scripts institucionais; questiona- 1967). Uma vez que tipificações acarretam
mentos sobre como tais scripts são produzi- classificações ou categorizações de atores
dos, mantidos e modificados têm sido am- aos quais as ações são associadas, este con-
plamente negligenciado (Barley e Tolbert, ceito implica que os significados atribuídos
1988). Dessas questões nos ocuparemos em à ação tornada habitual se tornaram gene-
seguida, usando análises teóricas de Berger ralizados, isto é, independentes de indiví-
e Luckmann (1967) e Zucker (1977) como
ponto de partida.
Ao abordarmos essas questões, privi-
legiamos o pressuposto de que a criação de
uma nova estrutura envolve mais recursos
que a manutenção da antiga: a alteração e
a criação de estruturas organizacionais cons-
tituem custos para a organização. A estru-
tura social não é simplesmente um subpro-
duto da atividade humana; em vez disso, a
ação humana é requerida para produzi-la
(Zucker et al., 1995; Zucker e Kreft, 1994).

Conforme o dicionário Webster, trata-se do


estancamento de qualquer fluxo corporal, como
sangue num vaso sangüíneo ou fezes no intesti-
no. (N.T.)
Assim, as estruturas que são alteradas ou
criadas carecem de credibilidade para agre-
gar algum valor positivo à organização, ou
os decisores tipicamente não alocariam re-
cursos para alterar ou criar nova estrutura
formal. Os decisores organizacionais, com
certeza, podem ter mais ou menos poder
discricionário: algumas vezes o poder deci-
sório é bastante amplo, às vezes, não. A
análise aqui desenvolvida é mais aplicada a
exemplos em que os decisores têm graus de
poder discricionário relativamente altos, em
relação à adoção das estruturas.5

PROCESSOS DE
INSTITUCIONALIZAÇÃO
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA TEORIA INSTITUCIONAL

----------------------------------------------------- lizadas as rotinas, mais prontamente elas


eram transmitidas aos novos empregados.
duos específicos que desempenham a ação. Desse modo, a transmissão é casual e, con-
Zucker (1977) referiu-se a esse processo de seqüentemente, relacionada à institucionali-
generalização do significado de uma ação zação. Ao enfatizar a exterioridade de um
como objetificação, e o identificou como um conjunto de comportamentos, a transmis-
dos componentes-chave do processo de insti- são aumenta o grau de institucionalização
tucionalização. desses comportamentos; a institucionali-
Análises fenomenológicas institucio- zação, por outro lado, afeta a facilidade de
nais anteriores, sugerem, desse modo, ao transmissões subsequentes (Tolbert, 1988).
menos dois processos seqüenciais envolvi- Este conjunto de processos seqüenciais
dos na formação inicial das instituições e - habitualização, objetivacação e sedimen-
em seu desenvolvimento: a habitualiza- tação - sugerem variabilidade nos níveis de
ção, * isto é, o desenvolvimento de compor- institucionalização, implicando, deste modo,
tamentos padronizados para a solução de que alguns padrões de comportamento so-
problemas e a associação de tais comporta- cial estão mais sujeitos do que outros à ava-
mentos a estímulos particulares, e a obje- liação crítica, modificação e mesmo a elimi-
tivação,** o desenvolvimento de significa- nação. Em resumo, tais padrões compor-
dos gerais socialmente compartilhados liga- tamentais podem variar em relação ao grau
dos a esses comportamentos, um desenvol- em que estão profundamente imbricados no
vimento necessário para a transposição de sistema social (mais objetivo, mais exte-
ações para contextos além de seu ponto de rior) e, portanto, variam em termos de sua
origem. estabilidade e de seu poder de determinar
Mais adiante em sua análise, Berger e comportamentos.
Luckmann (1967) sugerem um aspecto adi- A análise de Berger e Luckmann con-
cional da institucionalização, que foi tam- centrava-se na ocorrência de processos de
bém identificado por Zucker e chamado de institucionalização entre atores individuais
exterioridade. Exterioridade se refere ao e não organizacionais. A pesquisa experi-
grau em que as tipificações são "vivenciadas mental de Zucker estendeu a análise às or-
como possuindo uma realidade própria, uma ganizações, mas ainda em nível micro. Os
realidade que confronta o indivíduo como atores organizacionais distinguem-se por
um fato externo e coercitivo" (1967:58). Ela
está relacionada à continuidade histórica das
tipificações (Zucker; 1977) e, em particu-
lar, à transmissão das tipificações aos novos
membros que, não tendo conhecimento das
suas origens, estão aptos a tratá-las como
"dados sociais" (Berger e Luckmann, 1967;
Tolbert, 1988). Estamos, aqui, nos referin-
do ao processo por meio do qual as ações

* Os autores cunharam a expressão habitualization,


que sempre preferimos traduzir no texto por "tor-
nadas habituais" mas que aqui, finalmente, pre-
ferimos deixar na forma original do inglês,
aportuguesada e grafada em itálico. (N.T.)
** Como no texto, é uma expressão cunhada pelos
autores, aqui conservada nessa versão aportugue-
sada de objetification. (N.T.)

205 |

adquirem a qualidade de exterioridade


como sedimentação.
Em um estudo experimental anterior,
Zucker (1977) demonstrou que o aumento
do grau de objetivacação e exterioridade de
uma ação também aumenta o grau de
institucionalização (indicado pela conformi-
dade dos indivíduos ao comportamento de
outros), e que, quando a institucionalização
é alta, a transmissão da ação, a manuten-
ção desta ação ao longo do tempo, e sua
resistência à mudança também são altas.
Nelson e Winter (1982) encontraram um
processo semelhante em curso na criação
de tarefas rotineiras dentro de organizações.
Segundo eles, quanto mais instituciona-
I 149 PARTE I - MODELOS DF. ANÁLISE ___________________ -----------------------------------------------------

determinado número de propriedades - similares, possivelmente organizações inter-


autoridade hierárquica, período de vida conectadas, que enfrentam circunstâncias
potencialmente ilimitado, responsabilidades similares, e que variam consideravelmente
legais específicas, entre outros, (veja em termos da forma de implementação. Tais
Coleman, 1980) que, provavelmente, afe- estruturas não serão objeto de qualquer tipo
tarão o modo pelo qual os processos de teorização formal (Strang e Meyer, 1993),
institucionais são desempenhados, tanto e o conhecimento da estrutura entre os que
entre as organizações como dentro delas6 não a adotaram - especialmente aqueles que
Desse modo, consideramos a extensão des- não estão em contato direto e freqüente com
ta análise especificamente para fluxos os adotantes - será extremamente limita-
institucionais entre organizações formais. A do, em termos de operação e também de
Figura 1 mostra um sumário de nossa análi- propósito (Nelson e Winter, 1982).
se do processo de institucionalização, e as Exemplos de estruturas neste estágio
forças causais que são críticas em diferen- de institucionalização podem ser encontra-
tes pontos do processo.7
dos prontamente ao comparar-se organo-
gramas de qualquer conjunto de organiza-
ções semelhantes. Tais comparações, quase
Habitualização certamente, revelarão um leque de órgãos

Em um contexto organizacional, o pro-


cesso de habitualização envolve a geração
de novos arranjos estruturais em resposta a
problemas ou conjuntos de problemas
organizacionais específicos, como também
a formalização de tais arranjos em políticas
e procedimentos de uma dada organização,
ou um conjunto de organizações que encon-
trem problemas iguais ou semelhantes. Es-
ses processos resultam em estruturas que
podem ser classificadas como um estágio de
pré-institucionalização.
Há farta literatura a respeito da ino-
vação organizacional e da mudança organi-
zacional, relevante para a compreensão des-
tes processos (por exemplo, Quinn e
Cameron, 1988; Huber e Glick, 1993). O
que é essencial para os propósitos de nossa
análise, no entanto, é que nesse estágio a
criação de novas estruturas em organizações
é, em grande parte, uma atividade indepen-
dente. Uma vez que os decisores organi-
zacionais podem compartilhar uma base
comum de conhecimentos e idéias que tor-
nem a inovação factível e atraente, a ado-
ção de uma dada inovação pode ocorrer, e
freqüentemente ocorre, em estreita asso-
ciação com a adoção de processos em ou-
tras organizações (isto é, invenção simultâ-
nea). Organizações que estão passando por
um problema podem, como parte inerente
de sua procura por soluções, também levar
em consideração as soluções desenvolvidas
por outros (DiMaggio e Powell, 1983). Daí
pode resultar imitação, mas os decisores
vêem pouco sentido nisso, já que não há con-
senso a respeito da utilidade geral da ino-
vação. Portanto, a adoção pode ser ampla-
mente prevista pelas características que tor-
nam viável a reorientação técnica e econô-
mica para uma dada organização (Anderson
e Tushman, 1990; Leblebici et al., 1991) e
por meio de arranjos políticos internos, que
fazem com que as organizações sejam mais
ou menos receptivas aos processos de mu-
dança (veja March e Simon 1957).8
No estágio de pré-institucionalização,
então, muitas organizações podem adotar
uma dada estrutura, mas essas serão prova-
velmente em pequeno número, limitado a
um conjunto circunscrito de organizações
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA TEORIA INSTITUCIONAL 150 |

Legislação
Mudanças Forças do
tecnológicas mercado

i T l
Inovação

Habitualização > Objetificação ........................... ► Sedimentação


4 A *

Monitoramento Teorização Impactos Defesa de grupo


interorganizacional positivos de interesse
Resistência
de grupo

Figura 1 Processos inerentes à institucionalização.

e políticas idiossincráticos a um conjunto ou tratégia de baixo custo que requer menor


subconjunto limitado das organizações - investimento de "recursos sociais" do que
diretores de comunicações eletrônicas, de- criar nova estrutura organizacional.
partamentos acadêmicos de avicultura, li-
gações entre marketing e produção etc. Es-
ses tipos de estruturas tendem a ser relati-
vamente menos permanentes, por vezes
durando apenas o período de duração de
uma gestão (veja Miner 1987 : 1991).

Objetificação

O movimento em direção a um status


mais permanente e disseminado está ba-
seado no próximo processo, a objetificação,
que acompanha a difusão da estrutura. A
objetificação envolve o desenvolvimento de
certo grau de consenso social entre os
decisores da organização a respeito do va-
lor da estrutura, e a crescente adoção pelas
organizações com base nesse consenso. Tal
consenso pode emergir por meio de dois
mecanismos diferentes, embora não neces-
sariamente não relacionados.
Por um lado, as organizações podem
utilizar evidências colhidas diretamente de
uma variedade de fontes (noticiários, ob-
servação direta, cotação acionária etc) para
avaliar os riscos de adoção da nova estrutu-
ra. A medida que se espera que os resulta-
dos da mudança estrutural se generalizem,
os efeitos encontrados em outras organiza-
ções serão determinantes significativos da
próxima decisão de adoção. Deste modo, a
objetificação da estrutura é, em parte, con-
seqüência do monitoramento que a organi-
zação faz dos competidores, e de esforços
para aumentar sua competitividade relati-
va. Reciclar "velhas invenções sociais" é es-
PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

(1) a definição de um problema organiza-


cional genérico, o que inclui a especificação
Em conseqüência, a disseminação de de um conjunto ou categoria de atores
novas estruturas para determinada organi- organizacionais caracterizados pelo proble-
zação será obstáculo relativamente menor ma; e (2) a justificação de um arranjo es-
do que seria criar uma vez mais estruturas trutural formal particular como a solução
semelhantes naquela mesma organização; para o problema com bases lógicas ou
isto acontece porque outras organizações empíricas (veja também Galaskiewicz,
terão "pré-testado" a estrutura e porque a 1985). A primeira tarefa envolve gerar re-
percepção dos decisores sobre os custos e conhecimento público da existência de um
benefícios relativos dessa adoção será in- padrão consistente de insatisfação ou de fra-
fluenciada pela observação do comporta- casso organizacional característico de deter-
mento de outras organizações. Desse modo, minado grupo de organizações; a segunda
quanto mais organizações tiverem adotado
a estrutura, maior probabilidade terão os
decisores de perceber uma tendência favo-
rável ao equilíbrio relativo dos custos e be-
nefícios.
Nossos argumentos, aqui, coadunam-
se com os modelos decisórios seqüenciais
recentemente desenvolvidos por economis-
tas (Banerjee, 1992; Bikchandani et al.,
1992; veja também David 1985). Esses mo-
delos têm como premissa a noção básica de
que há algum grau de incerteza nos resulta-
dos de diferentes escolhas, e que os toma-
dores de decisão usarão a informação obti-
da por meio da observação das escolhas de
outros, bem como seu próprio julgamento
objetivo para determinar qual a "melhor"
escolha. Nessas condições, quando uma es-
colha é mais disseminada, é mais provável
que venha a ser percebida como uma esco-
lha ótima; e, ainda, serão menos influentes
os julgamentos independentes dos decisores
sobre o valor da escolha (veja também
Tolbert, 1985; Abrahamson e Rosenkopf,
1993).9
A objetificação e difusão da estrutura
também podem ter, como ponta de lança,
aquele referido algumas vezes, na literatu-
ra de mudança organizacional, como
champion* - freqüentemente, neste caso,

'Champion', no uso corrente, significa " pessoa que


luta por outra ou por uma causa; um defensor,
um protetor" (conforme Webster's New World
Dictionary of the American Language), um líder
de projeto, uma liderança incansável por um ob-
jetivo ou um projeto. (N.T.)
um conjunto de indivíduos com interesse
material na estrutura (DiMaggio, 1988).
Assim, por exemplo: (a) defensores de re-
gras de funcionamento do serviço público
provinham de famílias da elite cujo acesso
tradicional aos cargos políticos locais havia
sido rompida pelo desenvolvimento de
"má-
quinas políticas" dominadas por imigrantes
(Tolbert e Zucker, 1983); (b) difusão de
pro-
cedimentos formalizados de seleção e de
avaliação de desempenho no setor privado,
no período que se seguiu à Segunda Guerra
Mundial, foi influenciada pelos esforços
promocionais de membros da categoria
emergente de administradores de pessoal
(Baron et al., 1986); (c) o papel presente-
mente desempenhado por consultores na
adoção de práticas de qualidade total é
amplamente reconhecido (Reeves e Bednar,
1994; Sitkin et al., 1994). DiMaggio (1991),
Rowan (1982), Covaleski e Dirsmith (1988),
Chaves (1996) e Ritti e Silver (1986) tam-
bém oferecem exemplos do papel de gru-
pos de interesse na promoção de mudanças
estruturais em organizações.
Champions terão maior probabilidade
de surgir quando houver um grande "mer-
cado" potencial para inovação (por exem-
plo, quando mudanças no ambiente tiverem
afetado negativamente as posições compe-
titivas de determinado número de organi-
zações). A fim de serem bem-sucedidos, os
champions devem realizar duas grandes ta-
refas de teorização (Strang e Meyer, 1993):
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA TEORIA INSTITUCIONAL

------------------------------------- o grau de institucionalização total é que a


propensão dos atores para empreender ava-
tarefa envolve o desenvolvimento de teo- liações independentes da estrutura declina-
rias que diagnostiquem as fontes de insatis- rá de modo significativo.
fação ou de fracasso, de modo compatível
com a apresentação de uma estrutura espe-
cífica como solução ou tratamento. Sedimentação
Ao identificar o conjunto de organiza-
ções que enfrentam um problema definido A institucionalização total envolve se-
e ao prover uma avaliação positiva de uma dimentação, um processo que fundamental-
estrutura como solução apropriada, a teo- mente se apoia na continuidade histórica da
rização atribui à estrutura uma legitimida- estrutura e, especialmente, em sua sobrevi-
de cognitiva e normativa geral. Para que os vência pelas várias gerações de membros da
esforços de teorização sejam persuasivos e organização. A sedimentação caracteriza-se
eficientes, eles devem também oferecer evi- tanto pela propagação, virtualmente com-
dência de que a mudança é realmente bem- pleta, de suas estruturas por todo o grupo
sucedida em pelo menos alguns casos que de atores teorizados como adotantes ade-
possam ser examinados por outros, consi- quados, como pela perpetuação de estrutu-
derando a adoção da nova estrutura. Na ras por um período consideravelmente lon-
base de tal teorização e na evidência que a go de tempo. Deste modo, ela implica uma
acompanha, os champions encorajam a dis- bidimensionalidade ("largura" e "profundi-
seminação de estruturas por meio de um dade") das estruturas (Eisenhardt, 1988).
conjunto de organizações que, de outro A identificação dos fatores que afetam
modo, não teriam conexão direta. a abrangência do processo de difusão, como,
Estruturas que se objetificaram e fo- também, a conservação, a longo prazo, de
ram amplamente disseminadas podem ser uma estrutura é, assim, a chave para a com-
descritas como estando no estágio de semi- preensão do processo de sedimentação. Um
institucionalização. Nesse estágio, é típico dos fatores, apontado em grande número
que os adotantes sejam bastante heterogê-
neos; conseqüentemente, determinadas ca-
racterísticas organizacionais anteriormente
identificadas com a adoção terão poder
preditivo relativamente limitado (Tolbert e
Zucker, 1983). O ímpeto da difusão deixa
de ser simples imitação para adquirir uma
base mais normativa, refletindo a teorização
implícita ou explícita das estruturas. A medi-
da que a teorização se desenvolve e se
explicita, deve diminuir a variação na for-
ma que as estruturas tomam em diferentes
organizações.
Exemplos de estruturas que podem ser
consideradas nesse estágio incluem as de
produção baseada em equipes, círculos de
qualidade, planos de remuneração baseados
em produtividade, consultores internos, pro-
gramas de desenvolvimento gerencial e
organizacional, gerenciamento de políticas
de trabalho/família e programas de assis-
209 |

tência ao empregado, entre outras. Apesar


de tais estruturas geralmente terem uma
taxa de sobrevivência mais longa compara-
das àquelas no estágio pré-institucional, é
certo que nem todas perduram indefinida-
mente. De fato, o destino, geralmente, as
investe de uma qualidade de moda ou ma-
nia (Abrahamson, 1991). Isto ocorre por-
que estruturas no estágio de semi-insti-
tucionalização têm, via de regra, uma his-
tória relativamente curta. Desse modo, ape-
sar de terem adquirido certo grau de acei-
tação normativa, os adotantes, não obstan-
te, estarão conscientes de sua qualidade re-
lativamente não testada e, conscientemen-
te, monitorarão a acumulação de evidência
(de sua própria organização, bem como de
outras) a respeito da eficácia das estrutu-
ras. Somente quando uma estrutura atinge
I 153 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE___________________

de estudos, é a existência de um conjunto (por exemplo, alterações duradouras no


de atores que são, de algum modo, afeta- mercado, mudanças radicais em tecnolo-
dos adversamente pelas estruturas e assim gias) que poderão permitir a um grupo de
são capazes de se mobilizarem coletivamen- atores sociais, cujos interesses estejam em
te contra elas. A análise de Covaleski e oposição à estrutura, a ela se opor cons-
Dirsmith (1988) a respeito da resistência cientemente ou a explorar suas fraquezas
legislativa contra novos arranjos orçamen- (veja a descrição de Rowan [1982] sobre o
tários em universidades nos dá um exem- declínio dos profissionais de saúde nas es-
plo intra-organizacional desse tipo de for- colas após o advento das vacinas; veja tam-
ça. Em nível de análise inter-organizacional, bém Aldrich, 1979 :167; Davis et al., 1994).
a descrição de mudanças na indústria de A Tabela 1 resume nossos argumen-
radiodifusão, feita por Leblebici et al. (1991), tos sobre as características e conseqüências
ressalta o papel crucial das pequenas orga- dos processos que compõem a instituciona-
nizações concorrentes, as quais, estando em lização.
desvantagem devido às práticas correntes,
acabam por agir ativamente na promoção
de práticas alternativas no setor. Do mesmo Implicações para a pesquisa
modo, Rowan (1982), ao estudar a dissemi-
nação de três estruturas diferentes nos dis- Existem algumas implicações da nos-
tritos escolares da Califórnia, salientou o sa análise para estudos empíricos de orga-
papel do conflito de interesses nos proces- nizações que se baseiam na teoria institu-
sos de institucionalização emergentes. cional. Em nosso ponto de vista, a implica-
Mesmo na ausência de oposição dire- ção mais importante é, provavelmente, a
ta, a sedimentação pode ser truncada gra- necessidade de desenvolvimento de medi-
dualmente pela falta de resultados demons- das mais diretas e melhor documentação das
tráveis associados à estrutura. Uma relação
positiva fraca entre uma estrutura e os re-
sultados desejáveis pode ser suficiente para
afetar a difusão e a manutenção das estru-
turas, especialmente se seus defensores con-
tinuam envolvidos em sua teorização e pro-
moção. No entanto, em muitos casos, a li-
gação entre a estrutura e os resultados pre-
vistos é bastante distante e a demonstração
de impacto, muitíssimo difícil. Dado o de-
senvolvimento e a promoção de estru-
turas alternativas destinadas a alcançar os
mesmos fins, as organizações provavelmente
abandonarão arranjos antigos em favor de
estruturas mais novas e promissoras
(Abrahamson, 1991; veja argumentos aná-
logos de Abbott, 1988), ao menos se os cus-
tos associados com a mudança forem relati-
vamente baixos.
Assim, a total institucionalização da
estrutura depende, provavelmente, dos efei-
tos conjuntos de: uma relativa baixa resis
tência de grupos de oposição; promoção e
apoio cultural continuado por grupos de
defensores; correlação positiva com resul-
tados desejados. A resistência provavelmen-
te limitará a disseminação da estrutura en-
tre organizações identificadas, pela teori-
zação, como adotantes significativos; a pro-
moção continuada e/ou benefícios demons-
tráveis são necessários para contrabalançar
tendências entrópicas e, assim, assegurar a
perpetuação da estrutura no tempo (Zucker,
1988). Exemplos de estruturas totalmente
institucionalizadas nos Estados Unidos da
América variam de políticas de estabilidade
de emprego em organizações de ensino su-
perior a serviço de bebidas em vôos, até o
uso de memorandos como forma de comu-
nicação dentro de um escritório (Yates e
Orlikowski, 1992).
A reversão deste processo, isto é, a
desinstitucionalização, provavelmente re-
quererá uma grande mudança no ambiente
I
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA TEORIA INSTITUCIONAL
154

Tabela 1

Modelo de
metanarrativa
Estágios de institucionalização e dimensões comparativas.

interpretatíva
Problemática
principal
Perspectivas ilustrativas/
exemplos
Transições
contextuais
I
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons

solicitações de institucionalização das estru- Além disso, nossa análise sugere que
turas, uma vez que resultados associados a a identificação dos determinantes das mu-
uma dada estrutura, provavelmente, depen- danças no nível de institucionalização das
derão do estágio ou nível de institucio- estruturas representa um caminho impor-
nalização em que se encontrar. Dependen- tante e promissor para trabalhos teóricos e
do da amplitude e da forma pela qual os empíricos. Estudos existentes já sugeriram
dados são colhidos, diferentes procedimen- certo número de determinantes potenciais
tos poderão ser utilizados. do processo de legitimação de uma estrutu-
Por exemplo, análises sobre o nível de ra e, portanto, quão institucionalizada ela
institucionalização de estruturas contempo- se torna. A esse respeito, alguns estudos
râneas poderiam utilizar pesquisa tipo demonstraram que quando organizações
survey sobre a percepção da necessidade de grandes e centralizadas são inovadoras e
permanência de determinada estrutura para logo adotam uma estrutura, esta estrutura
o funcionamento eficiente da organização tem mais probabilidade de se tornar total-
(por exemplo, Rura e Miner, 1994), ou usar mente institucionalizada do que outras
questionários sobre atributos relacionados (DiMaggio e Powell, 1983; Fligstein, 1985;
ao grau de institucionalização, tais como o 1990; Baron et al., 1986; Davis, 1991;
grau de certeza subjetiva sobre os julgamen- Palmer et al., 1993). Além disso, os traba-
tos feitos (Zucker, 1977). Ainda que o de- lhos de Mezias (1990) e seus colegas (Mezias
senvolvimento de indicadores adequados
para essa medição seja, sem sombra de dú-
vida, uma tarefa controversa, este proble-
ma não é exclusividade do construto da
institucionalização (estamos nos referindo,
por exemplo, a conceitos padronizados, tais
como: produtividade, eficácia, incerteza).
Como ocorre com outros construtos difíceis,
este problema pode ser solucionado em par-
te utilizando técnicas psicométricas padro-
nizadas.
Pesquisa histórica utilizando dados de
arquivos, por outro lado, poderá lidar com
o problema prestando maior atenção à do
cumentação do contexto histórico - ou
doumentando-o - como das mudanças cul-
turais ao redor da pretendida institu-
cionalização das estruturas (Zucker, 1988).
A análise de conteúdo de materiais escri-
tos, em alguns casos, pode fornecer indica-
dores úteis a respeito do estado cultural das
estruturas (Tolbert e Zucker, 1983). Qual-
quer que seja a metodologia usada para co-
letar dados, no entanto, qualquer afirma-
ção plausível a respeito do grau de institu-
cionalização de estruturas, provavelmente,
residirá numa estratégia envolvendo trian-
gulação de fontes e métodos.
I 155 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ——i

' --- dições sob os quais as teorias - a institucio-


nal, a de dependência de recursos e a con-
e Scarselletta, 1994) sugerem que o status
tingencial orientada para eficiência, pode-
social das forças opositoras à adoção de uma
rão trazer insights úteis para estudos orga-
estrutura pode operar no sentido oposto:
nizacionais. Infelizmente, diferentes teo-
quanto maior o status do oponente, menor
rias, freqüentemente, levam aos mesmos re-
o grau de institucionalização.
sultados organizacionais previstos - em-
Existem outros fatores que, intuitiva-
bora os mecanismos postulados para pro-
mente, também esperaríamos que tivessem
duzir os resultados sejam diferentes. Portan-
um impacto na institucionalização: (1) a
to, é muito mais difícil, se não impossível,
variedade das organizações para as quais
determinar se os fatores ressaltados por
uma dada estrutura seria teoricamente re-
determinada perspectiva teórica estão de
levante (quanto maior o leque de organiza-
fato intervindo para determinar as ações
ções, mais difícil seria oferecer evidências
organizacionais.
convincentes da efetividade de estruturas e,
Por causa disso, pode ser útil confinar
portanto, mais baixo o grau de institu-
"testes" empíricos da teoria institucional aos
cionalização); (2) o número de champions
estudos de contextos em que não existam
ou o tamanho dos grupos de champions
grandes atores tentando compelir as orga-
(quanto maior o número de champions,
nizações a adotarem uma estrutura, seja
menor será a probabilidade de processos
pelo uso da lei, seja pela retenção de recur-
entrópicos tornarem-se operantes e, portan-
sos críticos. Ou talvez seja útil comparar
to, mais alto o nível de institucionalização);
diretamente os processos de adoção, sem
(3) o grau pelo qual a adoção de uma estru-
pressão àqueles em que haja alguns elemen-
tura está vinculada a mudanças que envol-
vam altos custos para as organizações
adotantes (investimentos mais elevados de-
veriam atenuar tendências entrópicas, resul-
tando, deste modo, em um alto grau de
institucionalização); (4) a força da correla-
ção entre a adoção e os resultados deseja-
dos (criação de fortes incentivos para man-
ter a estrutura, daí resultando alto grau de
institucionalização); e assim por diante.
O estudo dos determinantes do pro-
cesso de institucionalização provavelmente
requererá trabalho comparativo sobre o
desenvolvimento e propagação de diferen-
tes estruturas. Isso poderá envolver, por
exemplo, a construção e comparação de di-
versos casos reais de estruturas que tenham
sido objeto de teorizações recentes - círcu-
los de qualidade, programas de assistência
aos empregados, políticas de comunicações
e assim por diante. Esse tipo de estudo de
caso comparativo poderá trazer importan-
tes percepções para se saber se existem ou
não semelhanças nos processos pelos quais
ocorre a adoção e difusão dos diferentes ti-
pos de estruturas.

Alternativamente, insights úteis podem


ser obtidos por meio da análise comparati-
va da difusão e do destino de determinada
estrutura em diversos setores industriais ou
em diversos países (veja Strang e Tuma,
1993). Tal pesquisa tem o potencial de refe-
rir-se a certo número de dilemas em pro-
cessos de institucionalização sugeridos por
várias observações empíricas. Por que algu-
mas estruturas (por exemplo, produção por
equipes) existem em alguns setores indus-
triais, mas não em outros (regimes de esta-
bilidade)? Terão os processos de institu-
cionalização sempre menor probabilidade
de afetar estruturas em organizações me-
nores (Han, 1994) e, caso tenham, por quê?
Por que as inovações biotecnológicas apa-
recem em pequenas novas firmas nos Esta-
dos Unidos, mas predominantemente em
grandes firmas no Japão (Zucker e Darby,
1994)?
Uma grande implicação final que gos-
taríamos de tirar de nossa análise é a neces-
sidade de se considerar os contextos ou con-
156 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

tos coercitivos, como em nosso exame da ração de determinado número de proble-


adoção da reforma do funcionalismo públi- mas: (1) como e quando as escolhas ou li-
co em Estados em que isso não era requeri- nhas de ação alternativas se tornam social-
do por lei e em Estados em que isso era uma mente definidas; (2) quem age para causar
imposição legal (Tolbert e Zucker, 1983). a mudança e para difundi-la para organiza-
Do mesmo modo, pode também ser ções múltiplas, e por quê; e (3) quais são os
útil focalizar as aplicações empíricas da te- benefícios potenciais de se criarem estrutu-
oria institucional em análises em que os ras semelhantes, ou de convergir para as
benefícios materiais associados à estrutura mesmas estruturas, que levam ao isomor-
não sejam prontamente calculáveis (que é fismo institucional que observamos com tan-
o caso de muitas inovações administrativas, ta freqüência. Para a teoria institucional se
bem como de inovações técnicas) - isto é, desenvolver como um paradigma coerente
em que abordagens contingenciais orienta- e, deste modo, fazer uma contribuição du-
das para a eficiência não sejam tão relevan- radoura para a análise organizacional, tais
tes. Ou, também, pode ser útil avaliar como questões sobre os processos de institucio-
instituições sociais estão acostumadas a au- nalização demandam respostas tanto con-
mentar benefícios materiais, como, por ceituais quanto empíricas. Nessa análise,
exemplo, quando colaboradores científicos delineamos algumas respostas iniciais para
tendem a ser selecionados na mesma orga- esses problemas, respostas cuja extensão e
nização, usando efetivamente as fronteiras modificação deverão esperar ainda desen-
organizacionais como "envelopes de infor- volvimento teórico e testes empíricos.
mação" que protegem novas descobertas de
uma exploração prematura por parte de
outros (Zucker et al., 1995). JNÍOTAS

Gostaríamos de agradecer a Howard


CONCLUSÕES Aldrich, Michael Darby, Shin-Kap Han, John
Meyer, Linda Pike e Peter Sherer por dedi-
Ao ressaltar o papel das influências car tempo e esforço para ler e oferecer co-
normativas nos processos de tomada de de- mentários úteis sobre os primeiros rascu-
cisão organizacional, a teoria institucional nhos deste capítulo. Lynne Zucker reconhe-
oferece uma extensão importante e distinti- ce o apoio a esta pesquisa por subsídios da
va ao nosso repertório de perspectivas e
abordagens para explicar a estrutura orga-
nizacional. Enquanto a noção de que os
decisores são dotados de racionalidade li-
mitada tornou-se um componente básico
na cartilha da pesquisa organizacional, as
implicações disso não são exploradas em
profundidade pela maioria das teorias con-
temporâneas.10 Como a racionalidade é li-
mitada e sob quais condições ela será mais
ou menos limitada são questões raramente
abordadas. A teoria institucional oferece um
quadro de referência que pode ser útil na
abordagem dessas questões, mas sua utili-
dade nesse aspecto requer maior desenvol
vimento teórico a fim de esclarecer as con-
dições e os processos que fizeram com que
as estruturas se institucionalizassem. Uma
compreensão mais clara da instituciona-
lização como um processo nos permitiria
especificar o impacto de maior número de
aspectos sociais da tomada de decisão, tais
como os efeitos da posição social dos que
fornecem informações sobre as escolhas fei-
tas e as condições sob as quais as previsões
de uma escolha particular somente se tor-
narão possíveis se os aspectos sociais forem
diretamente incluídos na análise.
A referência a este tópico geral de con-
dições de aplicabilidade requer a conside-
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA TEORIA INSTITUCIONAL 157 |

cálculos (isto é, de racionalidade relativamente


não-limitada).
Fundação Sloan por meio do Programa de
Tecnologia Industrial NBER, e do System-
wide Biotechnology Research Education
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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opiniões expressas aqui são dos autores e
ABBOTT, Andrew. The System of Professions. Chi-
não da NBER.
cago : University of Chicago Press, 1988.
1. Aqui nós concentramos nossa análise dos proces- ABRAHAMSON, Eric. Managerial fads and
sos de institucionalização em nível interor- fashions: the diffusion and rejection of
ganizacional. Processos semelhantes provavel- innovations. Academy of Management
mente operam no nível intraorganizacional tam- Review,
bém, embora os mecanismos exatos, bem como 16:586-612, 1991.
suas conseqüências, possam diferir, Veja Tolbert
(1988), Rura e Miner (1994) e Barley e Tolbert
______ , Rosenkopf, Lori. Institutional and
(1988) para discussões da relação entre proces- competitive bandwagons: using mathema-
sos inter e intraorganizacionais. Veja Zucker tical modeling as a tool to explore
(1977) para a discussão e teste experimental de innovation
processos intraorganizacionais e conseqüências. diffusion. Academy of Management Review,
2. A evolução dessa linha de pesquisa inclui traba- 18: 487-517, 1993.
lhos focalizando a relação entre estrutura formal
e "organização informal" e, particularmente, as ALDRICH, Howard. Organizations and Environ-
relações de poder entre membros da organização ments. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall,
(por exemplo, Blau, 1955; Zald e Berger, 1978; 1979.
Perrow, 1984). Talvez porque tal trabalho fosse
menos compatível com a literatura sobre a ciên-
______ , Fiol, Marlene. Fools rush in? The
cia administrativa existente, ele não alcançou pro- institutional context of industry creation.
eminência tão rapidamente na literatura socioló-
gica sobre organizações quanto aos trabalhos fo-
calizando a co-variação entre elementos estrutu-
rais.
3. Veja, por exemplo, Stinchcombe (1959),
Thompson (1967), Pugh et al. (1969), Blau
(1970). Hall (1987) traz uma crítica e resumo
completos das conclusões desta literatura.
4. Outro análogo no nível individual é a bajulação,
na qual a lisonja e a exagerada conformidade são
utilizadas para atender às necessidades pessoais
por meio da alteração das respostas de pessoas
dotadas de poder ou autoridade (Jones, 1964;
Jones e Wortman, 1973). Veja também Elsbach e
Sutton (1992) para uma discussão sobre
"gerenciamento de impressões" nas organizações.
5. D'Aunno et al. (1991) descrevemo modo pelo qual
exigências conflitantes feitas a organizações de
saúde mental comunitárias por diferentes círcu-
los resultam na adoção de práticas incompatíveis
e contraditórias. Sugerimos que tais contradições
na estrutura têm mais chance de ocorrer quando
os gerentes tiverem pouca margem discricionária
quanto à adoção de mudanças estruturais.
6. Deixamos para desenvolvimento posterior proces-
sos de mudança que operam dentro de certa or-
ganização. Assume-se que a inércia dentro das
organizações bloqueia a mudança interna, ou,
pelo menos, a faz extremamente difícil (Kanter,
1983; 1989). No entanto, os processos de insti-
tucionalização, provavelmente, serão muito im-
--------------------------------------
portantes para o funcionamento interno da orga-
nização (Zucker, 1977; Pfeffer, 1982).
7. Conforme nos foi assinalado por John Meyer, esse
modelo pode ser mais aplicável a sociedades ca-
racterizadas por estados nacionais relativamente
fracos.
8. Leblebici et al. (1991) mostram que quando as
vantagens de uma inovação não são claras, são
freqüentemente as firmas menores e com menos
vantagem competitiva as primeiras a adotar, por-
que os riscos relativos de sua adoção serão meno-
res para elas.
9. Este processo de teorização já foi explicitamente
desenvolvido e empiricamente testado em nível
individual como características de estados difusos
(referências chave incluem Berger et al., 1972;
Webster e Driskell, 1978; Zelditch et al., 1980;
Ridgeway e Berger, 1986). É mais fácil ver erros
no processo de generalização quando atributos
pessoais, tais como gênero ou etnia, são analisa-
dos. Mas esperamos erros semelhantes em nível
organizacional.
10. Um bom exemplo é dado pela teoria de custos de
transação (Williamson 1975), que se baseia ex-
plicitamente na premissa de racionalidade limi-
tada. No entanto, os trabalhos nessa tradição pa-
recem estar implicitamente baseados na premissa
de que os decisores são capazes de executar cál-
culos extremamente complexos necessários para
estimar os custos relativos da transação associa-
dos às diferentes formas relacionais e de selecio-
nar um curso de ação apropriado baseado nesses
158 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

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NOTA TÉCNICA:
A TEORIA INSTITUCIONAL
CLÓVIS L. MACHADO-DA-SILVA E SANDRO A. GONÇALVES

O texto de Tolbert e Zucker (1997) giu nos anos 70. A despeito de parecer afir-
trata da contribuição da Teoria Institucio- mativa óbvia, compartilhada por Tolbert e
nal para a área de estudos organizacionais, Zucker, deve-se entender que a Teoria Insti-
mais especificamente para o entendimento tucional não é conjunto de proposições que
do processo de construção e reconstrução vise especificamente a análise organiza-
dos arranjos estruturais em organizações. cional; pelo menos, a ela não se restringe.
A análise das autoras baseia-se na evidên- O que, usualmente, coloca-se sob tí-
cia de que predominam na Teoria Institu- tulo de Teoria Institucional, constitui o re-
cional pesquisas de natureza restritiva, isto sultado da convergência de influências de
é, que tratam as instituições como dadas corpos teóricos originários principalmente
pelo ambiente, e a institucionalização como da ciência política, da sociologia e da eco-
um estado qualitativo: dado arranjo estru- nomia, que buscam incorporar em suas pro-
tural está ou não institucionalizado na or- posições a idéia de instituições e de padrões
ganização. De fato, no exame da literatura de comportamento, de normas e de valo-
especializada sobre o assunto, poucos são res, de crenças e de pressupostos, nos quais
os relatos empíricos sobre os mecanismos e encontram-se imersos indivíduos, grupos e
sobre suas dinâmicas que resultam naque- organizações. De acordo com esse entendi-
les estados, da mesma forma que também mento, Scott (1995) observa que grande
são raros os estudos sobre as formas pelas parte da ausência de consenso sobre os prin-
quais as organizações levam a cabo mudan- cipais conceitos, métodos e formas de men-
ças no plano institucional. suração, na literatura especializada, deve-
Cabe acrescentar que a proposta e as se à variedade de níveis de análise conside-
sugestões das autoras não se baseiam em
relato de pesquisa, mas essencialmente em
considerações teóricas. Na presente nota
técnica procura-se apresentar algumas con-
siderações complementares, de mesma na-
tureza, para que se possa localizar a contri-
buição dada pelas autoras, o que eqüivale
dizer: estabelecer limites e gerar dúvidas que
possam contribuir para melhor aproveita-
mento do raciocínio de Tolbert e Zucker.
Teoria institucional
Como já se afirmou, as autoras explo-
ram os possíveis uso da Teoria Institucional
para o entendimento de mudanças nos ar-
ranjos estruturais das organizações. Para
tanto, dirigem o foco para uma forma espe-
cífica de organização, a empresa, e realizam
revisão histórica para situar o momento e
as razões pelas quais está tendência emer-
164
NOTA TÉCNICA: A TEORIA INSTITUCIONAL

Pilares

Níveis Regulatívo Regulativo Cognitivo

Mundial

Subsistema
Organizacional
População de

Fonte: SCOTT) W. R. Institutions and organizations. Londres : Sage Publications, 1995. p. 59.

Figura 1 Pilares institucionais e variação de níveis: escolas ilustrativas.

rados e ao propósito das construções teóri-


cas reunidas sob tal título.
A fim de possibilitar uma primeira lo- Institucionalização
calização do sentido no qual a expressão
Teoria Institucional é empregada por Tolbert De acordo com Tolbert e Zucker, fo-
e Zucker, isto é, na fronteira entre popula- ram Meyer e Rowan (1977) os institucio-
ção de organizações e organizações, apre- nalistas que realizaram a grande ruptura
senta-se a Figura 1, que contém os níveis de com a forma convencional de se pensar so-
análise e os pilares institucionais, e as esco- bre a estrutura organizacional, ao destaca-
las que se situam na interseção de ambos. rem seu sentido simbólico. Importa acres-
Em paralelo à questão do nível de aná- centar que também foram Meyer e Rowan
lise, o foco na estrutura organizacional cons- (1977) que propuseram, em primeira mão,
titui preocupação fundamental para Tolbert
e Zucker. A propósito dessa questão, Scott
(1995) identifica três grandes pilares que
predominam entre os institucionalistas: o
regulatívo, o normativo e o cognitivo. Deve-
se ter em mente que não se tratam de pos-
turas mutuamente exclusivas, mas de alter-
nativas analíticas que visam propiciar me-
lhor compreensão de aspectos distintos do
mesmo fenômeno. No Quadro 1 sintetiza-
se o que Scott (1995) chamou de variações
de ênfase e suas diferenças analíticas. Na
avaliação do texto de Tolbert e Zucker, à luz
dessa classificação, é possível observar que
os argumentos das autoras apóiam-se de
forma predominante no pilar normativo;
apenas em alguns momentos sustentam-se
no pilar cognitivo. A consideração de nível
de análise e de pilar institucional, de modo
articulado, permite localização mais preci-
sa, ao mesmo tempo que mais abrangente,
da análise crítica esboçada pelas autoras no
texto em exame. Deve-se ressaltar, no en-
tanto, que a temática básica das autoras é a
dinâmica de institucionalização, mais espe-
cificamente os estágios desse processo.
i
165 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

Quadro 1 Variações de ênfase: três pilares institucionais.

Regulatívo Normativo Cognitivo

Base da submissão utilidade obrigação social aceitação de pressupostos


Mecanismos coercitivo normativo mimético
Lógica instrumental adequação
ortodoxa
regras, leis e certificação e
Indicadores predomínio e isomorfismo
sanções aceitação
legalmente moralmente culturalmente sustentado,
Base de legitimação sancionado governado conceitualmente correto

Fonte: SCOTT, W. R. Institutions and organizations. Londres : Sage Publications, 1995. p. 59.

a ampliação conceituai da visão de ambien- estrutura organizacional quanto da estru-


te em termos técnicos e institucionais, como tura da indústria e do mercado no qual se
facetas de uma mesma dimensão. insere a organização. Em suma, pode-se fa-
lar tanto da ascensão ou decadência de uma
"Ambientes técnicos, ou espaços de
competição na ótica econômica, são aque- organização, quanto de todo um segmento
les cuja dinâmica de funcionamento de- de determinada economia.
sencadeia-se por meio da troca de bens Assim, quando se fala da estrutura de
ou uma indústria, por exemplo, pode-se alcan-
serviços, de modo que as organizações çar, segundo Scott (1992), razoável consen-
que so sobre como definir e como operacio-
neles se incluem são avaliadas pelo nalizar o conceito de ambiente técnico em
processamento tecnicamente eficiente do
função de noções tais como as de depen-
trabalho [...]. Os ambientes institucionais
caracterizam-se, por sua vez, pela elabo- dência e de incerteza (vide Quadro 2).
ração e difusão de regras e procedimen- Essas duas condições (dependência e
tos, que proporcionam às organizações le- incerteza), além de caracterizarem a estru-
gitimidade e suporte contextual" (Macha- tura do ambiente, também estabelecem for-
do-da-Silva e Fonseca, 1996 : 103-104).
A questão que se pode colocar é: a dis-
tinção entre ambientes técnico e institucio-
nal representa bases excludentes de análi-
se? Conforme Scott (1995a), a distinção
entre ambientes técnico e institucional pode
trazer consigo certa confusão analítica se
forem tomados como excludentes. Em últi-
ma instância, os mercados são sistemas
estruturados institucionalmente, sustenta-
dos por crenças relativas à propriedade pri-
vada e às normas que regulam a honestida-
de das trocas.
'As duas dimensões ambientais -
téc-
nica e institucional - exemplificam dois
sig-
nificados contrastantes da racionalidade.
Ambientes técnicos incorporam a conota-
ção de que estruturas racionais são aque-
las que eficiente e efetivamente produzem
bens e serviços específicos - que de modo
eficaz realizam objetivos específicos. Am-
bientes institucionais representam a
cono-
tação contida no conceito de rationale: a
extensão na qual a organização específica
é capaz de interpretar um valor, uma teo-
ria, uma explicação que justifica ações
passadas, e fazê-lo de modo compreensí-
vel e aceitável" (Scott, 1995a : 47).

Nesse sentido, quando se fala em efi-


ciência, e em arranjos estruturais que maxi-
mizam eficiência, pode-se tratar tanto da
NOTA TÉCNICA: A TEORIA INSTITUCIONAL

mas estruturais e de comportamento para

Quadro 2 Qualidades do ambiente técnico: incerteza e dependência.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder
WÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ KÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ
Dominação Weberianos neo-radicais, marxismoÍ de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber,
Fonte: Elaborado a partir de Scott (1992 : 134-135). a corporativismo
Marx negociado

as organizações que nele se inserem. Dessa Na Figura 2, a fase 1 representa perí-


forma, considerando que os ambientes téc- odos de convergência entre as decisões e as
nicos são socialmente construídos, é possí- ações, com os resultados delas esperados.
vel entender parcialmente a afirmação de Na fase 2, o comprometimento temporário
Berger e Luckmann (1967) de que, uma vez com o nível de desempenho, que resulta da
estabelecidas, as instituições, pelo simples
fato de existirem, controlam a conduta hu-
mana, ao conduzirem mediante padrões
para determinada direção em oposição a
muitas outras teoricamente possíveis. Em
suma, dizer "que um segmento da vida hu-
mana foi institucionalizado, então, eqüiva-
le a dizer que foi submetido ao controle so-
cial" (Berger e Luckmann, 1967 : 55).
No texto de Tolbert e Zucker, a difu-
são de dada estrutura para determinada
organização depende de que outras organi-
zações já a tenham "pré-testado", para que
os tomadores de decisão possam ter base
de comparação e de percepção do custo/
benefício de sua adoção. Entretanto, à luz
da distinção entre ambientes técnico e ins-
titucional, pode-se afirmar que sofrerá tam-
bém influência das condições de dependên
cia e de incerteza do ambiente com o qual
se depara.
Em adição, segundo Johnson (1994),
a percepção dos tomadores de decisão so-
bre escolhas estratégicas depende da con-
vergência entre as expectativas inerentes às
decisões e o resultado efetivo das ações
organizacionais; haverá tendência à inércia
enquanto resultados como aumento da ren-
tabilidade e da produção se mantiverem
positivos, e predisposição ou mesmo neces-
sidade de mudança diante da deterioração
prolongada dos indicadores de desempenho.
Esse ímpeto para a mudança relaciona-se
não à comparação e ao cálculo de custo/
beneficio do arranjo atual com outros exis-
tentes no ambiente, mas resulta da percep-
ção de que o arranjo atual é insustentável,
conforme procura-se sintetizar por meio do
processo ilustrado na Figura 2.
I 167 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ____________________

Intensidad
e
da
mudança
fase 1: fase 2: fase 3: fase 4:
mudança tendenciosidade mudança mudança

Tempo

Fonte: JOHNSON, G. Strategic change: managing cultural processes. In: FAHEY, L., RANDALL, R. The portable
MBA in strategy. New York : John Wiley and Sons, 1994. p. 421.
Figura 2 Tendenciosidade estratégica.

incoerência entre a organização e as exigên- "No que diz respeito ao fenômeno


cias ambientais, pode não ser suficiente para social, estes momentos não devem ser
que os membros organizacionais dispo- pen-
nham-se a realizar mudanças. Na fase 3, a sados como ocorrendo em uma seqüência
persistência na deterioração do nível de temporal. Ao contrário, a sociedade e cada
desempenho torna a necessidade de mudan- uma de suas partes são simultaneamente
ça um imperativo para sobrevivência caracterizadas por estes três momentos,
organizacional, exigindo a busca e a expe- de
tal modo que qualquer análise que consi-
rimentação de novos arranjos e estratégias.
dere apenas um ou dois deles é insuficien-
Finalmente, a última fase indica recupera-
te" (Berger e Luckmann, 1967 : 129).
ção da congruência entre decisões e ações
organizacionais e os resultados efetivos al-
cançados na interação com o ambiente.
Essas considerações sobre os elemen-
tos que afetam a percepção da necessidade
de mudança, obviamente, não esgotam o
assunto, mas fornecem algum indicativo da
existência de condições que influenciam o
cálculo do custo de transição, apontado por
Tolbert e Zucker.

Mudanças nos arranjos


estruturais
Após a especificação do nível de aná-
lise e do foco que localizam o texto de
Tolbert e Zucker na abordagem institucio-
nal, juntamente com observações de que
seus argumentos não esgotam o modo pelo
qual o ambiente pode determinar mudan-
ças organizacionais, resta ainda espaço para
consideração mais específica acerca do mo-
delo de três estágios da institucionalização
proposto pelas autoras. Para sua formula-
ção torna-se necessário levantar duas dúvi-
das.
Em primeiro lugar, os três processos
de institucionalização defendidos pelos au-
tores correspondem à transposição dos mo-
mentos apresentados por Berger e
Luckmann (1967) do nível individual para
o organizacional. Deve-se considerar, con-
tudo, que:
NOTA TÉCNICA: A TEORIA INSTITUCIONAL 168

Domínio Institucional Significação Dominação Legitimação

esquema
(modalidades interpretativ recursos normas
) o

Domínio da Ação Comunicação Poder Sanções


Fonte: BARLEY, S. R., TOLBERT, R S. Institucionalization and structuration: studying the link between action
e institution. Organization Studies, v. 18, n. 1, p. 97, 1997.
Figura 3 Modelo de estruturação de giddens.

Como pode-se entender os termos


pré, semi e completo, que designam à Assim, a coerção, ausente enquanto
primeira vista uma seqüência, e, enquanto ímpeto para mudança, e o que parece ser
seqüência, indicadora do grau de institucio- uma classificação estática do processo de
nalização, conduziriam, na prática, a con- institucionalização, são aspectos que podem
clusões entre pré-estar, estar parcialmente ser equacionados a partir dos mecanismos
e estar totalmente institucionalizado. Assim, de isomorfismo coercitivo, mimético e
a pergunta relevante passa a ser: em que normativo apresentados por DiMaggio e
medida, efetivamente, o modelo proposto Powell (1983). A partir desses conceitos,
se distingue do tratamento estático denun- pode-se então falar de diferentes combina-
ciado pelas autoras na abertura do texto: ções de influências que pressionam para
"estruturas estão institucionalizadas, ou elas mudança; ou seja, em paralelo à questão do
não estão"? estágio de institucionalização, encontra-se
Por último, o impulso para a difusão a pergunta sobre a natureza da influência
nos estágios de pré-institucionalização, exercida pelo ambiente.
semi-institucionalização e institucionaliza- Os mecanismos que pressionam em
ção completa são, respectivamente, imita- direção ao isomorfismo são fundamentais
ção, imitação/normativo e normativo. Con- para o etendimento da dinâmica da mudan-
tudo, na elaboração de Giddens (Apud ça, em especial quando considerados em
Barley e Tolbert, 1997), três são os eixos que relação aos esquemas interpretativos dos
relacionam o domínio institucional e o do- dirigentes das organizações. A articulação
mínio da ação, e é por meio deles que se dá entre os três mecanismos na análise do pro-
o processo de estruturação (vide Figura 3). cesso de transformação são relevantes em
De conformidade com Barley e Tolbert qualquer sociedade; contudo, o peso espe-
(1997), o domínio institucional representa
a atual rede de regras e de tipificações que
resultam da história de ação e interação so-
cial, visualizada por Giddens (Apud Barley
e Tolbert, 1997) como os princípios gerais
que configuram os sistemas de significação,
dominação e legitimação social, e:
"o grau no qual a instituição se encontra
codificada no estoque de conhecimentos
práticos dos atores (na forma de esque-
mas interpretativos, recursos e normas,
adaptados a um particular cenário, cha-
mados por Giddens de modalidades) que
influencia como as pessoas se comunicam,
exercem poder, quais comportamentos
san-
cionar ou premiar" (Barley e Tolbert,
1997
: 98).
j------------------------------------------------------------------------------
169 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

cífico de cada mecanismo depende do con- John


texto de cada sociedade. Em sociedades com Wiley and Sons, 1994.
forte tradição democrática e com alto nível MACHADO-DA-SILVA, C. L., FONSECA, V S. da.
de competição na oferta de bens e serviços, Competitividade organizacional: uma tenta-
por exemplo, a tendência é que predomi- tiva de reconstrução analítica. Organizações
nem os mecanismos numéricos e normativos e Sociedade, v. 4, n. 7, p. 97-114, 1996.
de pressão para a estabilidade e a mudança MEYER, J. W, ROWAN, B. Institutionalized orga-
organizacional. Não caso da sociedade bra- nizations: formal structures as myth and
sileira, a forte tradição patrimonialista as- ceremony. American Journal of Sociology, v.
83,1977.
sociada aos longos períodos autoritários
durante o seu processo de formação sócio- RAMOS, A. G. Administração e contexto brasilei-
ro: esboço de uma teoria geral da adminis-
cultural têm conferido especial destaque aos
tração. 2. ed. Rio de Janeiro : Editora FGY
mecanismos coercitivos de manutenção e de
1983.
transformação social. Não é por acaso que
SCOTT, W R. Organizations rational natural and
expressões como burocracia patrimonial
open systems. New Jersey: Englewood Cliffs,
(Faoro, 1984) e formalismo como estraté- 1992.
gia para mudança (Guerreiro Ramos, 1983)
______ . Institutions and organizations. Londres :
merecem destaque na análise da trajetória
Sage Publications, 1995.
de modernização das instituições no Brasil.
______ . Simbols and organizations: from Barnard
Em conclusão, portanto, a par da ne-
to the institutionalists. In: WILLIAMSON, O.
cessidade de consideração dos três pilares
R. Organization theory. New York : Oxford
institucionais constantes do Quadro 1 em University Press, 1995a.
cada situação concreta de análise da mu-
TOLBERT, P S., ZUCKER, L. G. The institutio-
dança, seja de uma organização ou de todo nalization of institutional theory. In: CLEGG,
um segmento organizacional, há também S. R., HARDY, C, NORD, W Handbook of
que se levar em conta a noção de contexto organization studies. Londres : Sage Publica-
institucional de referência: local, regional, tions, 1996.
nacional e internacional. O conceito de con-
texto institucional de referência, ao trazer à
tona a distinção analítica entre ambientes
técnicos e institucionais em diferentes ní-
veis de análise, enriquece sobremaneira a
abordagem da dinâmica de transformação
organizacional. Em sociedades mais homo-
gêneas, a distinção entre os níveis pode ser
pequena e, até, irrelevante. Entretanto, em
sociedades em que a diversidade de condi-
ções de competição e de mercado, de um
lado, e de condições culturais e sociais, de
outro, constitui fator preponderante, como
parece ser o caso da sociedade brasileira, a
consideração das pressões institucionais nos
diferentes níveis e sua articulação com os
esquemas interpretativos dos dirigentes
organizacionais pode propiciar interpreta-
ções mais adequadas do fenômeno da esta-
bilidade e da mudança organizacional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARLEY, S. R., TOLBERT, P S. Institucionalization


and structuratíon: studying the link between
action e institution. Organization Studies, v.
18, n. 1, 1997.
BERGER, P L., LUCKMANN, T. The social
construction of reality: a treatise in the
sociology of knowledge. New York :
Doubleday Anchor Books, 1967.
DIMAGGIO, P J., POWELL, W W The iron cage
revisited: institutional isomorphism and
collective rationality in organizational fields.
American Sociological Review, v. 48, n. 2, p.
147-169, 1983.
FAORO, R. Os donos do poder: a formação do
patronato político brasileiro. Porto Alegre :
Globo, 1984.
JOHNSON, G. Strategic change: managing cul-
tural processes. In: FAHEY, L., RANDALL, R.
The portable MBA in strategy. New York:
TEORIA CRÍTICA E
ABORDAGENS PÓS-MODERNAS
PARA
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS*
MATS ALVESSON E STANLEY DEETZ

Qualquer um que tenha acompanha- pós-modernismo e a teoria crítica, no que


do os trabalhos em teoria crítica e pós-mo- diz respeito a isso, deveriam ser estudados
dernismo durante a última década mais ou não porque são novos e diferentes, mas por-
menos entende as dificuldades que enfren- que proporcionam caminhos únicos e im-
tamos ao tentar proporcionar uma peque- portantes para compreender as organizações
na, compreensível e útil visão geral deste e sua administração. Inicialmente, iremos
trabalho. As duas legendas referem-se a um considerar o contexto social e histórico que
volume significativo de literatura, sendo que deu origem a essas pesquisas e porque os
a maior parte é de difícil leitura. Compara- temas que encaminham estão tornando-se
da à maioria das outras perspectivas de pes- cada vez mais relevantes para os estudos
quisa tratadas neste handbook, a maior par- organizacionais. Demonstraremos, então,
te das diversas teorias críticas e posições pós- em que as teorias pós-moderna e crítica das
modernistas ainda são relativamente novas organizações são diferentes de outras abor-
para os estudos de gestão. Textos desta es- dagens de estudos organizacionais, bem
pecialidade cruzam muitas fronteiras disci- como diferem entre (e dentro de) si. No
plinares tradicionais. Muitos pesquisadores desenrolar do capítulo, iremos considerar
recorrem a ambas as tradições; outros afir- diferentes maneiras de se fazer um traba-
mam existir diferenças irreconciliáveis en- lho pós-moderno e crítico. Além de rever e
tre elas. As diferenças e conflitos tanto den- discutir o trabalho existente, iremos esbo-
tro quanto entre esses dois títulos gerais têm çar algumas linhas fecundas de desenvolvi-
preenchido muitas páginas dentro e fora da mento entre e dentro dessas duas aborda-
Teoria das Organizações. Pode muito bem gens. Apesar de sua importância, no trata-
ser argumentado que nada simultaneamente mento da teoria crítica e do pós-modernis-
imparcial, coerente e breve, possa ser escri- mo não abrangemos, nem específica nem
to a respeito deste tópico. Mas esforçar-se detalhadamente, temas que envolvam gê-
para entender essa literatura é importante. nero, visto que há neste volume um capítu-
O projeto geral da teoria crítica e pós- lo dedicado a abordagens feministas (veja,
modernismo não representa um modismo

Tradução: Marcos Amatucci e Ilan Avrichir.


Revisão Técnica: Sylvia Constant \fergara e Ma-
rio Couto Soares Pinto.
ou simples fascinação. É certo que alguns
relatos populares sobre pós-modernismo
suscitam tal crítica, e nós não acreditamos
que este rótulo seja necessariamente o me-
lhor ou que vá durar. Nós acreditamos que
J 171 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

neste volume, o capítulo de Calas e de serviços e o renovado apelo à liderança,


Smircich). alma e carisma, durante o final dos anos 80
Pesquisadores de estudos organizacio- e começo dos anos 90, ilustram isso. Obje-
nais e de gestão vieram para os textos de tos para o controle administrativo são cada
teoria crítica e de pós-modernismo relati- vez menos o poder trabalhista e o compor-
vamente tarde, com a teoria crítica surgin- tamento, e cada vez mais o poder da mente
do no final dos anos 70 e começo dos anos e a subjetividade dos empregados. Essas
80 (por exemplo, Benson, 1977; Burrell e novas condições sociais proporcionam nova
Morgan, 1979; Frost, 1980; Deetz e Kersten, urgência e novas áreas de aplicação para o
1983; Fischer e Sirianni, 1984 ) e os escri- trabalho do pós-moderno e da teoria crítica
tos de pós-modernismo no fim dos anos 80 no estudo das organizações - considere a
(por exemplo, Smircich e Calas, 1987; quantidade de trabalho de teoria crítica na
Cooper e Burrell, 1988). Isso não é nenhu- cultura organizacional (veja Alvesson, 1993
ma surpresa, dados os pressupostos "moder- e Willmott, 1993) -, mas têm pouco que ver
nistas" embutidos nas organizações e o ca- com sua formação. Outrossim, isto indica
ráter bastante dogmático e excludente da as novas condições sociais para as quais a
tradição dominante de pesquisa, de inclina- teoria crítica e os trabalhos pós-modernis-
ção ou positivista ou marxista. A razão pela tas têm proporcionado análises bastante ino-
qual os escritos de teoria crítica e pós-mo- vadoras e instrutivas.
dernos terem agora encontrado campo fér- Enquanto essas condições novas pro-
til nos estudos de gestão, deve-se em parte porcionam oportunidade para mudanças
ao declínio e à desilusão daquilo que pode organizacionais, pensamos que pouco se
ser genericamente referido como pressupos- ganha em proclamar um período pós-mo-
tos modernistas, tanto pelos teóricos quan- derno ou falar sobre organizações pós-mo-
to pelos profissionais da organização. Como dernas (Alvesson, 1995). Evidências empí-
se verá no desenvolvimento, o ataque à tra- ricas desse fato são altamente seletivas e
dição modernista é central para os estudos fracas (Thompson, 1993). O retrato do pró-
críticos e pós-modernos.
O crescimento no tamanho das orga-
nizações, a rápida implementação das
tecnologias de comunicação/informação, a
globalização, a mudança na natureza do tra-
balho, a redução da classe trabalhadora, os
conflitos de classe menos evidentes, a
profissionalização da força de trabalho, as
economias em estagnação, os problemas
ecológicos espalhados pelo mundo todo e
os mercados turbulentos são todos parte de
um contexto contemporâneo que exige uma
resposta da pesquisa. Algumas dessas linhas
de desenvolvimento têm enfraquecido o solo
do marxismo e de outras críticas da domi-
nação, mas preparou-os para as orientações
alternativas aqui discutidas. Muitos desses
desenvolvimentos proporcionaram uma
crescente crise no coração do discurso mo-
dernista, com sua racionalidade instrumen
tal e relação com as democracias. A Admi-
nistração num discurso modernista traba-
lha na base do controle, da crescente racio-
nalização e colonização progressiva da na-
tureza e das pessoas, enquanto trabalhado-
res, consumidores potenciais, ou sociedade.
Mas há limites estruturais para o controle.
O custo da integração e dos sistemas de con-
trole, freqüentemente, excedem o valor adi-
cionado pela administração dentro da cor-
poração. A mudança da manufatura para a
indústria de serviços como a forma econô-
mica mais típica no mundo ocidental tam-
bém tem implicações para as formas de con-
trole (Alvesson, 1987). Visto que o custo do
controle cresce e as cadeias de meios/fins
ficam mais longas, a estratégia e o raciocí-
nio instrumentais são tensionados. Temas
como cultura organizacional, identidade,
administração da qualidade, administração
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 172

prio tempo da pessoa como sendo único, e filosoficamente embasadas, emergiram a


um tempo de grande transição, é uma desa- partir dos trabalhos de Derrida e Foucault,
fortunada tendência de muitos períodos do em particular, e em menor grau de
pensamento ocidental (Foucault, 1983). No Baudrillard, Deleuze e Guattari, e Laclau e
plano teórico, esse empreendimento é, igual- Mouffe. Bem mais do que com teoria críti-
mente, não convincente. Falar sobre orga- ca, este é um amplo grupo de escritores e
nizações pós-modernas, freqüentemente, posições, com programas de pesquisa bas-
significa dar rótulos novos ao que também tante diferentes. Mesmo assim, o trabalho
é chamado orgânico, adhocrático ou orga- deles compartilha características e movi-
nização pós-fordista, com pouco ou nenhum mentos que podem ser evidenciados, se tra-
lucro conceituai e muita confusão (Parker, tados conjuntamente.1
1993; Thompson, 1993). Por exemplo, Seus temas incluem foco na natureza
Peters (1987) ou mesmo Clegg (1990) fa- construída das pessoas e da realidade,
lam de mudanças significativas em organi- enfatizando a linguagem como um sistema
zações que pensamos poderem ser ade- de distinções que são centrais no processo
quadamente exploradas usando discursos de construção, argumentando contra as
pós-modernos e de teoria crítica, mas eles grandes narrativas e os sistemas teóricos de
não. Estamos interessados apenas nessas larga escala, como o marxismo ou o funcio-
abordagens teóricas e no que elas oferecem nalismo, enfatizando a relação poder/co-
aos estudos organizacionais, e não na pro- nhecimento e o papel das exigências técni-
clamação de organizações como pós-moder- cas nos sistemas de dominação, enfatizando
nas. o caráter fluido e hiper-real do mundo con-
O que se inclui então sob o guarda- temporâneo e o papel dos meios de comu-
chuva dos conceitos de teoria crítica e pós- nicação de massas e das tecnologias de in-
modernismo? As vezes, à teoria crítica é formação, e apontando a narrativa/ficção/
dado um significado amplo que inclui to- retórica como central para o processo de
dos os trabalhos que levam a uma posição pesquisa.
basicamente crítica ou radical na sociedade Enfatizamos a extremidade crítica do
contemporânea, com uma orientação dire- pós-modernismo, vendo-o como parte de
cionada para a investigação da exploração, uma tradição crítica mais ampla que desa-
repressão, injustiça, relações de poder assi- fia o status quo e dá suporte a vozes silenci-
métricas (geradas por classe, sexo ou posi- adas ou marginalizadas. Essa é uma ênfase
ção), comunicação distorcida e falsa cons- comum, mas de forma alguma é a única.
ciência. Porém usamos aqui o termo com Muitas idéias pós-modernistas têm sido uti-
um significado mais restrito, referindo-se
aos estudos organizacionais embasados
prioritariamente, embora não exclusivamen-
te, em conceitos da Escola de Frankfurt
(Adorno, Horkheimer, Marcuse e
Habermas). Muito da fundamentação para
este trabalho é resumida, apesar de não es-
tar isenta de algumas confusões conceituais,
ao paradigma do humanismo radical de
Burrell e Morgan (1979) e às imagens de
dominação e neuroses de Morgan (1986).
O pós-modernismo é, de muitas ma-
neiras, muito mais difícil de ser delimitado.
Nas ciências sociais, o termo tem sido usa-
do para descrever um clima social, um pe-
ríodo histórico caracterizado por mudanças
sociais e organizacionais, e um conjunto de
abordagens filosóficas para o estudo da or-
ganização e de outras áreas (Featherstone,
1988; Kellner, 1988; Parker, 1992; Hassard
e Parker, 1993). Focalizaremos esta última
designação, enfatizando os textos social e
politicamente mais relevantes, e o uso dos
conceitos de fragmentação, textualidade e
resistência nos estudos da organização. Es-
sas abordagens da Teoria das Organizações
I------------------------------------------------------------------------------
173 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

mixes desses desenvolvimentos é responsá-


vel pela maior parte das diferenças entre e
lizadas com os mais diferentes propósitos.
dentro do pós-modernismo e da teoria críti-
A crítica aos fundamentos e aos ideais utó-
ca. São estes (1) a relação poder/conheci-
picos tem sido entendida por alguns como
mento que surge com o perspectivismo de
representando posição claramente apolítica,
Nietzsche, (2) um construcionismo não
socialmente irrelevante, ou mesmo neocon-
dualista devido à experiência e à linguagem
servadora (Habermas, 1983; Margolis,
que surge com a hermenêutica fenome-
1989; Sarup, 1988). A falta de uma posição
nológica e com o estruturalismo lingüístico,
política apoiada numa abordagem filosófi-
(3) uma teoria de conflito social historica-
ca sistematizada tem sido fonte de reclama-
mente embasada em Marx, (4) um sujeito
ções, mas isto não significa que uma posi-
humano complexo, que vem de Freud. O
ção política diferente, mais "local" e "recep-
primeiro desafiou qualquer fundamento
tiva" esteja ausente (veja Walzer, 1986).
possível do conhecimento: todo conheci-
Algumas pessoas distinguem entre "pós-
mento reivindica como referência primária
modernismo reacionário" e "pós-modernis-
as comunidades sociais eivadas de relações
mo de resistência" (Foster, 1983; Smircich
de poder específicas, em lugar de um mun-
e Calas, 1987). Assim, como a maioria dos
do de essências ou objetos de conhecimen-
autores nas Ciências Sociais e na Teoria das
to. O segundo situou todas as perspectivas
Organizações, optamos pelo segundo cami-
dentro de contextos sociais/históricos/
nho. A maioria das aplicações em Ciências
lingüísticos específicos: a intersubjetividade
Sociais têm tomado conceitos pós-moder-
que precede qualquer subjetividade ou ob-
nos numa direção radical/crítica - embora
jetividade é estruturada em formas inteligí-
não convencional.
veis. O terceiro removeu a inocência das
perspectivas social/histórico/lingüísticas ao
posicioná-las dentro de divisões sociais ma-
O DESENVOLVIMENTO DA
TEORIA
CRÍTICA E DO PÓS-MODERNISMO

Provavelmente, todos os períodos his-


tóricos tiveram seus equivalentes tradicio-
nalistas, modernistas, teóricos críticos e pós-
modernistas - aqueles que lamentam a pas-
sagem de um tempo mais puro, aqueles que
instrumentalmente constróem um futuro,
aqueles que se preocupam com segmentos
em desvantagem e com a direção do futuro,
e aqueles que vêem fragmentação e deca-
dência misturadas com potencial radical. Em
períodos transitórios mais rápidos, compa-
rados a períodos relativamente estáveis, o
mix destas figuras é, provavelmente, dife-
rente. Lembrar disso é mais situar o contex-
to histórico da teoria crítica e do pós-mo-
dernismo do que negar que sejam interes-
santes. Aqui, desejamos situá-los primeiro
na história das idéias. Vamos deixar claro
desde o início: histórias sociais como esta
são tipos de ficção. Elas, freqüentemente,
--------------------------------------
servem a propósitos sociais presentes, mais
que registros do passado. Elas são recons-
truções que nos dão uma forma particular
de pensar sobre o presente. A história é in-
teressante por causa de suas capacidades
produtivas. Os relatos que desenvolvemos
de teoria crítica e pós-modernismo não são
exceções.2 Esses relatos enfatizam unidade
e distinção e, enquanto ficções com objeti-
vo específico, ressaltam as características
centrais dos corpos desses trabalhos.

Fontes teóricas de
inspiração e distinção

Autores tanto da teoria crítica quanto


pós-modernos posicionam seus trabalhos em
relação a quatro desenvolvimentos especí-
ficos do pensamento ocidental. O modo
como reagem e, em parte, como utilizam
TEORIA CRITICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Respostas da teoria crítica e do


■■■■■■■■■■■■■■■11
pós-modernismo ao modernismo
terialmente produzidas, e negou qualquer
desenvolvimento histórico unitário homo-
Uma vez que os textos do pós-moder-
gêneo. E o quarto forneceu um sujeito com-
nismo e da teoria crítica estão repletos de
plexo, guiado por conflitos e freqüentemente
tentativas de distingui-los do projeto mo-
alienado, em lugar de uma pessoa conscien-
dernista, uma breve recapitulação do últi-
te, unitária, autônoma, desafiando, assim,
mo pode ser benéfica - visto isto ser fami-
qualquer pretensão a uma racionalidade
liar, nós não nos alongaremos. Kant descre-
simplória e a uma identidade clara e fixa.
veu o Iluminismo como fuga de tutela auto-
Juntas, as pessoas, as realidades e as rela-
infligida. Nas comunidades pré-iluministas,
ções sociais se tornam constructos não es-
identidades pessoais, conhecimento, ordem
senciais, estruturados sob condições espe-
social e narrativas históricas dominantes
cíficas de poder e contestação, e preenchi-
foram desenvolvidas e legitimadas pela tra-
dos com opacidades, contradições e supres-
dição, apesar dos indivíduos terem ativa-
são de conflito. Estes diferentes conceitos
mente "imposto" a tradição. O Iluminismo
proporcionam as ferramentas historicamen-
prometeu um sujeito autônomo progressi-
te específicas para encontrar os discursos
vamente emancipado pelo conhecimento
dominantes da época.
adquirido por meio dos métodos científicos.
Essas heranças intelectuais comparti-
Notou-se o crescimento da razão sobre a
lhadas não deveriam nos impedir de enfa-
autoridade e os valores tradicionais. Sua
tizar as diferenças da maneira como a teo-
ciência se desenvolveu e em certa hora pro-
ria crítica e o pós-modernismo as induzem.
clamou uma linguagem transparente (livre
Por exemplo, o pós-modernismo tipicamen-
da bagagem da ideologia tradicional) e uma
te usa Freud de forma muito menos con-
verdade de representações, uma positi-
vencional do que a teoria crítica, e funde
vidade e um otimismo na aquisição de um
idéias psicanalíticas com filosofia da lingua-
entendimento cumulativo, que conduziria
gem num esforço de desconstrução, e mos-
à melhoria progressiva da qualidade de vida.
tra a fragmentação do sujeito. Importantes
O inimigo do Iluminismo eram as trevas, a
fontes de inspiração, que são claramente di-
tradição, a ideologia, a irracionalidade, a
ferentes na teoria crítica e no pós-moder-
nismo, incluem a teoria do estruturalismo
lingüístico (Saussure), a qual o pós-moder-
nismo utiliza, pesadamente, como recurso,
e a noção weberiana do processo de racio-
nalização da sociedade moderna, que é cen-
tral para a teoria crítica. Além disso, a teo-
ria crítica inspira-se na filosofia moral
germânica e em sua crença na autonomia e
na razão (Hegel, Kant). Embutidas nessas
escolhas estão oposições históricas entre os
contextos culturais francês e germânico. Se
não fosse por esse contexto histórico, algu-
mas das diferenças não seriam tão claras.
Por exemplo, a crítica cultural de Adorno e
Horkheimer (1979) ao controle administra-
tivamente produzido, dependente da con-
cepção de progresso do Iluminismo, pode
ser lida tanto como próxima de Foucault,
231 |

quanto dos recentes escritos de Habermas.


Todavia, poucos pensariam nela daquele
modo. É interessante notar que Foucault, no
fim de sua vida, familiarizou-se com a Esco-
la de Frankfurt, e se expressou muito posi-
tivamente, quase que generosamente de-
mais, sobre ela:
se eu tivesse me familiarizado com a Esco-
la de Frankfurt (...) eu não teria dito vári-
as das coisas estúpidas que eu disse e teria
evitado muito dos desvios que eu fiz en-
quanto tentava seguir minha própria tri-
lha - quando, nesse meio tempo, avenidas
tinham sido abertas pela Escola de Frank-
furt (1983 : 200).
ignorância e a autoridade hierárquica. Cada novo conjunto de conflitos, que surgem dos
um desses temas do Iluminismo está pro- problemas da própria modernidade.
fundamente arraigado na teoria administra- Tanto a teoria crítica quanto o pós-
tiva modernista. modernismo vêem seu trabalho como res-
No contexto organizacional, usamos o postas para condições sociais específicas. A
termo "modernista" para atrair a atenção sociedade contemporânea proveniente de
para a instrumentalização das pessoas e da uma ciência, industrialização e tecnologias
natureza, pelo uso de conhecimento técni- de comunicação/informação têm desenvol-
co-científlco (modelado no rastro do positi- vido capacidades positivas, mas também
vismo e de outros modos "racionais" de de- perigosas formas de dominação. A teoria
senvolver um conhecimento seguro e robus- crítica e o pós-modernismo descrevem o
to) para realizar resultados previsíveis, me- desenvolvimento ocidental como o desen-
didos por produtividade e resolução técni- volvimento de um modernismo progressivo
ca de problemas, conduzindo à "boa" vida e instrumental, gradualmente eclipsando
econômica e social, definida principalmen- uma sociedade tradicional, com ganhos cla-
te pela acumulação de riquezas por parte ramente vantajosos, mas também com gran-
de quem investe na produção e pelo consu- des custos. Eles concordam que algo funda-
mo por parte dos consumidores. O moder- mental perdeu-se e que mais técnicas e "so-
nismo, inicialmente, representou a emanci- luções" instrumentais não irão consertar
pação em relação ao mito, à autoridade e isso. Enquanto seus diagnósticos são seme-
aos valores tradicionais, por meio do conhe- lhantes (para usar uma metáfora médica não
cimento, da razão e das oportunidades ba- totalmente adequada), eles diferem em seus
seadas em capacidades elevadas. Os primei- pronunciamentos e respostas. Os teóricos
ros estudos sobre organização do século XX críticos vêem o projeto do modernista como
foram organizados em torno do desenvol- doente e vêem esperança na reconstrução e
vimento modernista sobre os discursos tra- recuperação das partes boas, redirecionando
dicionais. O tratamento da racionalização e o futuro. Os pós-modernistas pronunciam
da burocratização em Taylor e Weber mos-
trou, desde o começo, a corporação como o
local do desenvolvimento da lógica moder-
nista e do raciocínio instrumental. O tradi-
cional era marginalizado e colocado fora do
reino privado. Enquanto os escritos sobre
relações humanas, qualidade de vida no tra-
balho e os mais recentes estudos culturais
continuariam reivindicando um lugar para
os valores e normas tradicionais com suas
lógicas particulares, cada um deles seria
"estrategizado" e trazido para ajudar a pos-
terior racionalização do trabalho, em favor
da conveniência, da eficiência e do
direcionamento do esforço de trabalho. A
performance viria a ser valorizada em qual-
quer das narrativas iluministas iniciais so-
bre emancipação ou valores humanos
(Lyotard, 1984). Na verdade, no embeleza-
mento da nova era, uma pessoa poderia ser
emancipada até mesmo das emoções do
corpo, e o espírito e a fé poderiam ser colo-
cados sob controle racional. As demonstra-
ções de Foucault (1977; 1980; 1988) e o
tratamento crítico da ascensão da auto-vi-
gilância e do bio-poder como sistemas de
controle descreveram o último desenvolvi-
mento da auto-racionalização na moder-
nidade. A teoria crítica e a pós-modernista
abrem novas discussões. Em particular, a
teoria crítica mostrou como o próprio mo-
dernismo estava baseado em mitos, tinha
adquirido uma autoridade arbitrária, subor-
dinado a vida social à racionalidade
tecnológica e protegido os interesses de um
novo grupo dominante (Horkheimer e Ador-
no, 1979). O velho conflito entre um dis-
curso moderno e um tradicional, no qual a
modernidade reivindica tudo o que há de
positivo, é de repente deslocado para um
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

é adiado eternamente e sem uma direção


positiva, mas a vida pode se dar de forma
sua morte e proclamam a ausência de um mais interessante por meio da prática de
futuro imaginável.3 desconstrução e do resgate de conflitos su-
Os teóricos críticos, especialmente primidos e de grupos marginalizados. O in-
Habermas (1984; 1987), enfocam as poten- telectual não tem nenhuma posição privi-
cialidades positivas não realizadas do Ilu- legiada ou conhecimento especial, e só pode
minismo. Forças diferentes têm utilizado seu agir de modo circunstancial e local, como
poder e suas vantagens para garantir novas todos os demais. Visto não existir nenhuma
formas de tutela, freqüentemente, de cará- teoria da história ou projeção do futuro,
ter consensual. Como discutiremos em rela- resistência e leituras alternativas, em vez de
ção aos estudos da organização, os teóricos reforma ou revolução, tornam-se a postura
críticos têm focado na distorção e no estrei- política primária.
tamento do discurso histórico por meio da
reiíicação, da universalização de interesses
de segmentos sociais, da dominação da ABRINDO AS TENSÕES E PROVENDO
racionalidade instrumental e da hegemonia. UNIDADES TEMPORÁRIAS
De modos diferentes, eles esperam recupe-
rar um processo racional pelo entendimen- Nesta seção mostraremos um modo de
to social-histórico-político do construcionis- pensar sobre as posições de pesquisa que
mo, uma concepção mais ampla de racio- tornam a teoria crítica e o pós-modernismo
nalidade, a inclusão de mais grupos na de- semelhantes em contraste com outras abor-
terminação social, e superando sistematica- dagens organizacionais, e diferentes entre
mente a comunicação distorcida. O ponto si. Para fazer isto usaremos uma grade se-
central disso é a crítica de dominação e os melhante à bastante popular de Burrell e
modos pelos quais aqueles subjugados par- Morgan (1979), mas com mudanças que
ticipam ativamente da própria subjugação. destacam semelhanças e diferenças mais
Ao intelectual politicamente astuto está de- úteis (veja Deetz,1994a, e Deetz, no prelo
terminado um papel ativo na produção de a, para desenvolvimento).4 Veja a Figura 1.
um entendimento esclarecido. A esperança
é prover foros tais, que segmentos diferen-
tes da sociedade e interesses humanos dife-
rentes possam fazer parte de um diálogo
histórico melhor, mais moral, de modo que
cada um possa contribuir igualmente para
as escolhas, visando produzir um futuro para
todos.
Os pós-modernistas também enfocam
o lado escuro do Iluminismo, sua ação de
destruir o ambiente e pessoas nativas, suas
exclusões e os efeitos escondidos de razão e
progresso, mas os pós-modernistas enten-
dem o projeto inteiro como estando errado.
O problema não é quem ou o quê participa
nisso. O projeto é inerentemente problemá-
tico. Eles buscam achar as vozes "não
esclarecidas", as possibilidades humanas que
o próprio Iluminismo suprime. Esse discur-
so está eivado do pronunciamento do fim
233 j
HHBHHBHHHHH

do discurso histórico de progresso e eman-


cipação e seu adiamento infinito da promes-
sa social de que mais tecnologia, mais co-
nhecimento e uma racionalidade desenvol-
vida irão, de alguma maneira, realizar a
promessa. O homem (o sujeito humanista
como entidade coerente com direitos natu-
rais e autonomia potencial) é declarado
morto e em seu lugar aparece o sujeito frag-
mentado, descentrado, com um gênero e
uma classe social; as grandes narrativas de
teoria e história são substituídas por narra-
tivas locais disjuntas e fragmentadas, poten-
cialmente articuladas e suturadas; e a
metafísica com suas filosofias de aparência
e essência tem perdido terreno para a cele-
bração de perspectiva múltiplas e um car-
naval de posições e estruturações. O futuro
177 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

-------------
Relação com o discurso
social dominante

Dissenso

----- Local/emergente ---------------- • Elite/a priori --------------

Origem dos conceitos Estudos interpretacionistas Estudos normativos


e problemas Pré-moderno, tradicional Moderno, progressista
Estudos dialógicos Estudos críticos
Pós-moderno, Moderno tardio,
desconstitucionista reformista

Consenso

Fonte: Adaptado de Deetz 1994c.


Figura 1 Dimensões contrastantes da meta-teoria de práticas representacionais.

A dimensão consenso-dissenso enfoca


a relação entre as práticas de pesquisas e os
discursos sociais hegemônicos. Perspectivas
de pesquisa podem ser contrapostas, toman-
do-se por base seu aprofundamento dentro
de um conjunto dominante de estruturações
do conhecimento, relações sociais e identi-
dades, aqui chamado de discurso de "con-
senso"; e até que ponto essas perspectivas
trabalham para desfazer tais estruturações,
aqui chamado de discurso de "dissenso".
Essa dimensão é usada para mostrar um
modo significativo de pensar sobre o que
faz o pós-modernismo e a teoria crítica se-
rem diferentes dos outros programas de
pesquisas em andamento. A segunda dimen-
são enfoca a origem dos conceitos e dos pro-
blemas a serem formulados como parte
constitutiva do processo de pesquisa. Dife-
renças entre perspectivas de pesquisa po-
dem ser apresentadas pelo contraste entre
concepções "local/emergente" e "elite/a
priori". Essa dimensão será usada para mos-
trar um modo interessante de pensar a dife-
rença entre os discursos pós-moderno e crí-
tico.
As duas dimensões juntas tentam mos-
trar o que é e o que não é negociável na
prática de pesquisa, como são organizados
os relatórios de pesquisa e o resultado polí-
tico antecipado da atividade de pesquisa (a
direção para qual aponta, se tem ou não efei-
to prático). Ao contrário de Burrell e
Morgan, não desejamos sugerir que a grade
identifique paradigmas, mas, ao contrário,
pretendemos que ele situe discursos parti-
culares, os quais desenvolvem relações mu-
táveis, porém específicas entre si, e posicione
tipos particulares de conflitos e contradições
internas. Cada um destes tópicos será bre-
vemente retomado adiante. Reconhecemos
que, ao nomear estas posições e o corpo de
trabalho que as exemplificam, algumas coi-
sas ainda diferentes em muitos e, agora,
escondidos aspectos, são colocadas juntas,
e contrastes bipolares que transformam um
mundo contínuo em descontínuo são cria-
dos. Esperamos que o leitor trabalhe conosco
a fim de ver as várias conceitualizações como
maneiras interessantes de chamar a aten-
ção para as semelhanças e as diferenças que
importam, em vez de enxergá-las como ins-
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 178 [

trumentos de divisão e classificação. As di- chamar atenção para uma diferença central
ferenças entre a teoria crítica e o pós-mo- entre as posições pós-modernas e da teoria
dernismo são contestadas com freqüência, crítica, mas também para contrastar estu-
e muitas pesquisas utilizam ambas as tradi- dos normativos dos interpretativos. A Tabe-
ções. Ainda assim, é útil dar conta do que la 2 apresenta uma matriz destes contras-
faz essas diferentes tradições não se tes. No lado da elite, o discurso produz o
colapsarem facilmente uma na outra. pesquisador como um agente mais forte,
com intuições privilegiadas - tendo ao me-
nos a habilidade para produzir um conheci-
A dimensão consenso-dissenso mento confiável - e deixa claro o compro-
misso com uma agenda política.
O conjunto de concepções a priori de-
Consenso ou dissenso não deveriam
monstra alianças implícitas ou explícitas
ser entendidos tão-somente como conformi-
com diferentes grupos da sociedade. Por
dade e divergência, mas como a apresenta-
exemplo, à medida que os conceitos de pes-
ção de unidade ou de diferença, a continui-
quisadores normativos alinham-se com con-
dade ou a ruptura de um discurso dominan-
cepções gerenciais e definição de problemas,
te coerente, a confiança ou a dúvida como
e são aplicados a priori em estudos, as pre-
hipótese básica. A chave para esta dimen-
tensões de conhecimento são intrinsecamen-
são é o argumento sob a ótica do dissenso
te enviesadas na direção de certos interes-
de que pessoas, ordens e objetos são cons-
ses, conforme são aplicados dentro de uma
truídos no trabalho, na interação social e
comunidade específica. As pretensões de
no processo de pesquisa e, conseqüentemen-
conhecimento tornam-se parte dos mesmos
te, o mundo percebido está baseado em pro-
processos que estão sendo estudados, repro-
cessos políticos de determinação que, fre-
duzindo visões de mundo e identidades pes-
qüentemente, demonstram dominação e
soais, e sustentando interesses particulares
poderiam/deveriam ser contestáveis; por
dentro da organização (veja Knights, 1992).
outro lado, o discurso de consenso propor-
Feministas e, principalmente, aqueles preo-
ciona a identidade das pessoas, das ordens
cupados com análises de classe, normalmen-
sociais e dos objetos como naturais ou, se
te em afinidade com a maioria dos aspectos
construído, legitima a esperada descoberta
do pós-modernismo, freqüentemente vol-
do pesquisador. Quando uma visão de cons-
tam-se para a teoria crítica (ou uma posi-
trução é defendida por certos pesquisado-
ção semelhante) para adquirir uma agenda
res do consenso, ela tende a enfatizar a na-
política baseada em divisões sociais precon-
tureza natural, orgânica e espontânea das
cebidas e formas de dominação que são con-
construções, em vez de seu caráter arbitrá-
sideradas gerais (veja Fraser e Nicholson,
rio e político, como na versão de investiga-
1988; Flax,1990). Enquanto tais concepções
dores do dissenso. Para economizar espaço,
da teoria crítica são críticas de grupos de
veja a Tabela 1 para a conceitualização des-
elite no sentido de criar uma sociedade mais
sa dimensão.
eqüitativa, eles tendem a privilegiar as con-
cepções de grupos desprivilegiados ou
ideais intelectuais e, conseqüentemente,
A dimensão local/emergente - produzem o próprio, normalmente tempo-
elite/a priori rário, elitismo. As concepções local/emer-
gente vêem os próprios agrupamentos so-
A dimensão local/emergente - elite/a ciais como construções, o poder e a domi-
priori será usada, aqui, principalmente para nação como dispersos, e a própria agenda
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 179 [

InIRR - Biblioteca Central


1 236 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE
Tabela 1 Caracterização da dimensão Consenso-Dissenso.
Consenso Dissenso
Confiança Suspeita
Ordem hegemônica como estado natural Conflitos sobre ordem como estado natural
Naturalização do presente Ordem presente interessada na História e na
Integração e harmonia são possíveis Política
Pesquisa enfoca a representação Ordem indica dominação e conflitos suprimidos
Espelho (refletindo) a metáfora dominante Pesquisa enfoca desafio e reconsideração
Validade como preocupação central (re-presentação)
Teoria como abstração Lente (vendo/lendo) a metáfora dominante
Ciência unificada e triangulação Intuição e práxis como preocupação central
Ciência é neutra Teoria como abertura
Vida é descoberta Complementaridade posicionai
Pesquisador anônimo, sem tempo e espaço Ciência é política
Agente livre/autônomo Vida é luta e criação
0 pesquisador tem nome e posiciona-se
Agente socialmente situado

Fonte: Adaptado de Deetz, no prelo.

Tabela 2 Caracterizações da dimensão local/emergente elite/a priori.

Local/emergente Elite/a priori

Comunidades comparativas Comunidade privilegiada


Múltiplos jogos de linguagem Jogo fixo de linguagem
Particularista Universalista
Filosofia sistemática é vista como Fundamentado na filosofia sistemática
etnocêntrica
Não teórico Teoria dirigida
Determinismo situacional ou estrutural Determinismo metodológico
Não fundamental Fundamental
Narrativas locais Grandes narrativas de progresso e emancipação
Sensualidade e significado como Racionalidade e verdade como preocupações
preocupações centrais centrais
Conhecimento prático Conhecimento teórico generalizável
Tende a ser feminino em atitude Tende a ser masculino em atitude
Vê o estranho Vê o familiar
Procede do outro Procede de si própria
Ontologia de alteridade acima do método Itens epistemológicos e procedimentais acima
de suposições Substantivas

Fonte: Adaptado de Deetz, no prelo a.


TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 181

Tabela 3 Características prototípicas do discurso.

Discurso
Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições
metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura de
organizacional, pós-estruturalista, industrialismo/
pós-industrialista, pós-fordista/ modernidade
moderno, Foucault, Garfinkel, teoria a pós-
do ator-rede industrialismo/
pós-modernidade
Justiça Participação Ética de negócios, moralidade e OB, de democracia
democracia industrial, teoria repressiva
participativa, teoria crítica, a democracia
Habermas participativa
Tabela 1 Narrativas analíticas em análise organizacional.
Variáveis-chaves Previsões-chaves Referências-
vida no trabalho chaves
Clima Otimista Despersonali Suspeita Totalização,
Desordem - Autoridade normalização
Temor social
zação
Amigável Brincalhão

de pesquisa como dominadora. Palavras


como mulheres, trabalhador, pobre, donos e
assim sucessivamente são aceitas não como
representações da realidade, mas como dis-
tinções poder-oprimido. Uma concepção
comum de ação política como dirigida a fins
é assim difícil de ser sustentada tanto nos
trabalhos interpretativos quanto nos pós-
modernos (dialógicos).
182PARTE I - MODELOS DE ANALISE

---
Um esboço de abordagem de incline a tratar a Administração como
institucionalizada, e as ideologias e práti-
pesquisas alternativas
cas administrativas como expressões de for-
mas contemporâneas de dominação. A teo-
A relação entre pós-modernismo e te-
ria crítica pode oferecer muito à Adminis-
oria crítica e entre estes e o trabalho
tração e aos administradores. As contribui-
normativo e interpretativo pode ser mostra-
ções fornecem insumos para a reflexão na
do, comparando-se o discurso que eles ge-
escolha de carreira, recursos intelectuais
ram com relação a tópicos de estudos da
para contrariar tendências totalitárias na
organização. Veja a Tabela 3. Considerando
socialização corporativa administrativamen-
que usaremos estas caracterizações para
te controlada, e estímulo para incorporar um
construir nossa discussão dos estudos em
conjunto maior de critérios e considerações
teoria crítica e pós-modernismo, não os dis-
na tomada de decisão - especialmente em
cutiremos aqui.
casos nos quais lucro e crescimento não
competem diretamente com outros fins ou
em que existe incerteza em relação aos re-
TEORIA CRÍTICA E PESQUISA sultados de lucro de vários meios e estraté-
ORGANIZACIONAL gias alternativas (Alvesson e Willmott, 1996:
Cap. 8; Deetz, 1995: Cap. 4).
A meta central da teoria crítica nos
estudos da organização tem sido criar soci-
edades e lugares de trabalho livres de do-
minação, em que todos os membros têm
igual oportunidade para contribuir para a
produção de sistemas que venham ao en-
contro das necessidades humanas e condu-
zam ao progressivo desenvolvimento de to-
dos. Os estudos têm enfocado externamen-
te a relação de organizações na sociedade,
enfatizando os possíveis efeitos sociais de
colonização de outras instituições e o do-
mínio ou destruição da esfera pública, e,
interiormente, no domínio do raciocínio ins-
trumental, do cerceamento do discurso, e
processos de consentimento no local de tra-
balho. Como indicado, os pesquisadores crí-
ticos tendem a entrar em seus estudos com
todo um conjunto de compromissos teóri-
cos que os ajudam a pesquisar analiticamen-
te situações de domínio e distorção. Orga-
nizações são amplamente vistas como espa-
ços políticos e, assim, as teorias sociais em
geral e, especialmente, as teorias de toma-
da de decisão na esfera pública, são vistas
como apropriadas (veja Deetz, 1992; 1995).
Teóricos críticos, às vezes, têm um pro-
grama de trabalho político claro, focado nos
interesses de grupos específicos identifi-
cáveis, tais como mulheres, trabalhadores,
negros, mas, normalmente, endereçam as-
suntos gerais de objetivos, de valores, de
formas de consciência e distorções comuni-
cativas dentro das corporações. Cada vez
mais importante para os estudos críticos é o
enriquecimento da base de conhecimento,
a melhoria do processo de decisão e os au-
mentos na "aprendizagem" e na adaptação.
Seu interesse em ideologias considera as
dificuldades que grupos desprivilegiados
têm de entender seu próprio interesse polí-
tico, porém é mais freqüentemente dirigido
às limitações das pessoas em geral, desafi-
ando a tecnocracia, o consumismo, o carrei-
rismo, e a preocupação exclusiva com o cres-
cimento econômico. A maior parte do tra-
balho tem enfocado a crítica da ideologia
que mostra como interesses específicos fa-
lham em ser realizados, em parte devido à
inabilidade das pessoas para entender ou
agir de acordo com esses interesses. No con-
texto da Administração e dos estudos
organizacionais, deveria ser enfatizado que
a teoria crítica, tal qual o marxismo, não é
anti-administração de per se, ainda que se
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 183

Podem ser identificados dois tipos do com seus próprios interesses. A ideolo-
principais de estudos críticos na Teoria das gia também seria credora do fracasso dos
Organizações: crítica ideológica e ação co- "profissionais e gerentes" em alcançar au-
municativa. tonomia em relação a suas necessidades e
desejos e à pressão conformista para padro-
nizar os meios para satisfazê-los (consumo
Crítica ideológica conspícuo, carreirismo e "auto-reifícação")
(veja Heckscher, 1995). Isso daria conta da
As primeiras críticas ideológicas do tradição da crítica ideológica.
local de trabalho foram oferecidas por Marx. Uma quantidade considerável de tra-
Em sua análise dos processos de trabalho, balho crítico tem considerado a Administra-
ele enfocou, principalmente, as práticas de ção e os estudos organizacionais como ex-
exploração econômica por meio da coerção pressões, tal como "produtores", de ideolo-
direta e as diferenças estruturais em rela- gias que legitimam e fortalecem relações
ções de trabalho entre os donos do capital e sociais e objetivos organizacionais específi-
os donos de seu próprio trabalho. Entretan- cos (Burrell e Morgan, 1979; Alvesson,
to, Marx também descreve o modo como a 1987; Alvesson e Willmott, 1996; Stefly e
relação é encoberta e é feita parecer legíti- Grimes, 1992). Acadêmicos, particularmen-
ma. Essa é a origem da crítica ideológica. te aqueles que estudam Administração, são
Condições econômicas e estrutura de classe freqüentemente vistos como ideólogos. Eles
ainda eram centrais para entender se o re- servem a grupos dominantes por meio da
conhecimento distorcido dos interesses era socialização em escolas de negócios, dão
um resultado do domínio das idéias da classe suporte a administradores com idéias e vo-
governante (Marx, 1844) ou da compulsão cabulários que visam a um controle cultu-
entorpecida das relações econômicas (Marx, ral-ideológico ao nível do local de trabalho
1867). e proporcionam uma aura científica para
Os temas da dominação e da explora- apoiar a introdução e o uso de técnicas de
ção por proprietários e depois por gerentes dominação administrativas.
têm sido central para a crítica ideológica do Quatro temas são recorrentes nos nu-
local de trabalho neste século pelos teóri- merosos e variados escritos sobre organiza-
cos organizacionais de inspiração marxista ções que trabalham na perspectiva da críti-
(por exemplo, Braverman, 1974; Clegg e ca ideológica: (1) a naturalização da ordem
Dunkerlery, 1980; Edwards, 1979; Salaman,
1981). A atenção dos analistas de esquerda
recai sobre a ideologia, visto que os traba-
lhadores parecem não reconhecer esta ex-
ploração e seu potencial revolucionário de
base classista nos países industriais. Gra-
dualmente, as mais recentes análises se tor-
naram menos preocupadas com a coerção e
as explicações de classe e econômicas, à me-
dida que seu foco deslocou-se para o por-
quê da coerção ser tão raramente necessá-
ria e para processos sistemáticos que pro-
duziam consentimento ativo. Tópicos como
"autocompreensão da experiência dos tra-
balhadores" tornam-se mais relevantes (por
exemplo, Gramsci, 1929-1935; Burawoy,
1979; Willmott, 1990). Em crescente medi-
da, as críticas à ideologia não apenas ou
fortemente dirigem-se a assuntos de classe,
mas também ampliam seu horizonte de atu-
ação e estudam como o controle cultural-
ideológico opera em relação a todos os em-
pregados, incluindo níveis de gerência
(Hodge et al., 1979; Czarniawska-Joerges,
1988; Deetz e Mumby, 1990; Kunda, 1992).
A ideologia produzida no local de trabalho
estaria ao lado daquela presente na mídia,
e o crescimento da cultura do consumidor e
o estado de bem-estar social respondem pelo
fracasso dos trabalhadores em agir de acor-
I 184 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

social, ou o modo como um mundo são, freqüentemente, universalizados e tra-


construído socialmente/historicamente se- tados como se fossem os interesses de to-
ria tratado como necessário, natural, racio- dos. Na prática das corporações contempo-
nal e auto-evidente; (2) a universalização râneas, grupos da administração são privi-
de interesses administrativos e a supressão legiados na tomada de decisão e na pesqui-
de interesses conflitantes; (3) o domínio sa. A Administração atribui-se uma posição
pelo instrumental e o eclipse dos processos de destaque em termos da definição e da
de racionalidade, pela competição; e (4) a realização dos interesses da corporação e,
hegemonia, o modo como o consentimento dessa forma, de grandes segmentos da po-
é orquestrado. pulação. Os interesses da corporação são
freqüentemente igualados aos interesses
específicos da gerência. Por exemplo, tra-
Naturalização balhadores, fornecedores ou interesses da
comunidade hospedeira podem ser interpre-
Na naturalização, uma formação so- tados em termos de seus efeitos nos inte-
cial é abstraída do conflito histórico da qual resses corporativos, isto é, os gerenciais
se origina e é tratada como uma entidade universalizados. Como tais, eles são exerci-
concreta, relativamente fixa. Dessa forma, dos apenas ocasionalmente, em geral de
a reificação, em lugar dos processos da vida, forma reativa, e representados freqüente-
transforma-se em realidade. Por meio do mente como itens simplesmente econômi-
obscurecimento do processo de construção, cos ou "custos" - por exemplo, o preço que
arranjos institucionais não são vistos como a "corporação" tem que pagar pelo traba-
escolhas, mas como naturais e auto-eviden- lho, matéria-prima, ou cuidados ambientais
tes. A ilusão de que as organizações e seus (Deetz, 1995). Central à universaHzação dos
processos são objetos "naturais" e respostas interesses da gerência é a redução das rei-
funcionais para "necessidades" as protege vindicações múltiplas de propriedade para
de serem examinadas, na qualidade de te-
rem sido produzidas sob condições históri-
cas específicas (que, potencialmente, estão
passando), e considerá-las fora de relações
de poder específicas. Nos estudos da orga-
nização dominam as metáforas orgânicas e
mecanicistas mantendo, assim, a pesquisa
dominante longe das considerações sobre a
legitimidade do controle e as relações polí-
ticas nas organizações (Morgan, 1986). Exa-
minar a naturalização do presente e as
reificações dos processos sociais ajuda a
expor a inter-relação estrutural das forças
institucionais, os processos pelos quais elas
são continuamente mudadas, e os proces-
sos pelos quais sua natureza arbitrária é
ocultada e, conseqüentemente, fechada para
discussão. A crítica ideológica recupera as
organizações como construções histórico-
sociais e investiga como são formadas,
mantidas e transformadas por meio de pro
cessos tanto internos quanto externos a elas
(vejaLukács, 1971; Benson, 1977; Giddens,
1979; Frost, 1980; 1987; Thompson, 1984;
Deetz, 1985; 1994d). A natureza auto-evi-
dente de uma sociedade organizacional, as
distinções básicas e a divisão de trabalho
entre administração e trabalhadores, ho-
mens e mulheres, e assim sucessivamente,
são postas em discussão pela crítica ideoló-
gica, que demonstra a natureza arbitrária
destes fenômenos e as relações de poder que
resultam e sustentam estas formas, a fim de
descobrir os lugares restantes de escolhas
possíveis.

Universalização de interesses gerenciais

Lukács (1971), entre muitos outros


(veja Giddens, 1979), tem mostrado que
aqueles interesses particulares seccionais
TEORIA CRITICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

mm 241 I
----------- 1

propriedade financeira. Os investimentos ção alinham-se com as estruturas orga-


feitos por outros envolvidos são mini- nizacionais para produzir a dominação da
mizados, enquanto o investimento de capi- racionalidade técnica (veja. Stablein e Nord,
tal é considerado central. A gerência, em 1985; Alvesson, 1987; Alvesson e Willmott,
virtude de sua responsabilidade fiduciária 1992; 1996; Mumby, 1988; Fischer, 1990).
(limitada aos investidores monetários) fala À medida que a racionalidade técnica do-
pela (e com freqüência é conceitualmente mina, ela reivindica para si todo o conceito
igualada à) corporação (Storey, 1983). Nes- de racionalidade, e as formas alternativas
se deslocamento, visto que o bem-estar ge- de razão aparecem como irracionais. Em
ral de cada grupo é conceitualmente e ma- grande medida os estudos do lado "huma-
terialmente amarrado ao bem-estar finan- no" das organizações (clima, enriquecimen-
ceiro da corporação, conforme entendido to do cargo, qualidade de vida no trabalho,
pela gerência, o interesse dos participantes programas de participação do trabalhador,
não gerentes é, freqüente e ironicamente, e cultura) têm sido transformados de fins
reinterpretado como realizado pela mini- alternativos para novos significados a serem
mização de sua própria realização. Na críti- colocados sob o controle técnico, de modo
ca ideológica, as vantagens gerenciais po- a servir aos interesses do grupo dominante
dem ser vistas como historicamente produ- da corporação (Alvesson, 1987). Sievers, por
zidas e ativamente reproduzidas por meio exemplo, sugere que "a motivação só se tor-
de práticas ideológicas na sociedade e nas na um tópico - para a gerência e teóricos de
próprias corporações (veja Tompkins e organização e também para a própria orga-
Cheney, 1985; Knights e Willmott, 1985; nização do trabalho - quando seu significa-
Lazega, 1992; Deetz, 1992). Estudos críti- do desaparece ou se afasta do trabalho;
cos exploram como a articulação dos inte- quando a perda do significado está direta-
resses é distorcida pelo papel dominante do mente relacionada à forma com que o tra-
dinheiro como meio simples e poderoso balho tem sido, e ainda está sendo organi-
(Offe e Wiesenthal, 1980), e confronta pro- zado, na maioria de nossos empreendimen-
dutividade e consumo com valores suprimi- tos no Ocidente" (1986: 338). A tensão pro-
dos, tais como autonomia, criatividade e
prazer, como objetivos para a organização
do trabalho (Burrell e Morgan, 1979;
Willmott e Knights, 1982; Alvesson, 1987).

A primazia da racionalidade
instrumental

Habermas (1971; 1975; 1984; 1987)


rastreou a emergência histórico-social da
racionalidade técnica sobre as formas con-
correntes de razão. Ele descreve a racio-
nalidade técnica como instrumental, tenden-
do a ser governada pelo teórico e o hipoté-
tico, com enfoque no controle por meio do
desenvolvimento de cadeias de meios e fins.
O oposto natural disso Habermas conceitua
como interesse prático. Racionalidade práti
ca focaliza o processo de compreensão e
determinação mútua dos fins a serem atin-
gidos, em lugar do controle e do desenvol-
vimento dos meios de realização de metas
(Apel, 1979). Habermas descreveu o inte-
resse prático como "um interesse consti-
tutivo na preservação e expansão da inter-
subjetividade de possíveis entendimentos
mútuos orientados para a ação. O entendi-
mento do significado é dirigido, em sua es-
trutura mais profunda, visando ao alcance
do consenso possível entre atores no âmbi-
to de um auto-entendimento derivado da
tradição" (1971:310). Em um sistema equi-
librado, essas duas formas de racio-
nalidade se tornam complementos naturais.
Mas, na situação social contemporânea, a
forma e o conteúdo da ciência social mo-
derna e a constituição social de especializa-
I 186 PARTE I ~ MODELOS DE ANÁLISE

dutiva entre controle técnico e aspectos Os estudos organizacionais nos anos


humanos submerge à realização eficiente 80 e 90 têm exibido um corpo bastante
das freqüentemente desconhecidas, mas cer- amplo de teoria crítica dirigida à cultura
tamente "racionais" e "legítimas", metas organizacional ou dado continuidade a pers-
corporativas. pectivas culturais em organizações, em que
a cultura e a engenharia cultural são defini-
das como apontando na direção da
Hegemonia hegemonia (p. ex.: Alvesson, 1993a;
Alvesson e Willmott, 1996; Deetz, 1985;
Embora a análise e o desenvolvimen- Jermier, 1985; Knights e Willmott, 1987;
to de Gramsci (1929-1935) sobre o concei- Mumby, 1988; Rosen, 1985). Willmott, por
to de "hegemonia" visasse a uma teoria ge- exemplo, tem explorado como "programas
ral da sociedade e da mudança social, com de cultura corporativa são projetados para
o local de trabalho representando um de negar ou frustrar o desenvolvimento de con-
seus componentes, suas concepções têm sido dições nas quais a reflexão crítica poderia
largamente utilizadas como uma fundamen- ser fomentada. Eles recomendam a homo-
tação para o exame do próprio local de tra- geneização de normas e valores dentro de
balho (p. ex.: Burawoy, 1979; Glegg, 1989). organizações (...) A diversidade cultural é
Gramsci concebe a hegemonia como uma dissolvida no banho ácido dos valores-cha-
rede complexa de arranjos conceituais e ve da corporação" (1993:534). Na prática,
materiais produzindo a estrutura mais pro- como Willmott e outros teóricos críticos
funda da vida cotidiana. A hegemonia no mostram, as estratégias de controle da ge-
lugar de trabalho é apoiada por arranjos rência raramente têm sucesso total. Resis-
econômicos obrigados por contratos e sis- tência e algum nível de diversidade cultural
temas de recompensa, arranjos culturais normalmente prevalecem. O papel de teo-
impostos pela defesa de valores e visões es- ria crítica, mas ainda mais do pós-moder-
pecíficas, e arranjos de comando obrigados
por regras e políticas. Estes estão situados
dentro da sociedade maior apoiada por seus
arranjos econômicos, pela sociedade civil
(incluindo educação/mídia/intelectuais) e
leis governamentais.
A concepção de hegemonia sugere a
presença de múltiplos grupos dominantes
com interesses diferentes, e a presença do
poder e de atividade mesmo em grupos do-
minados. A integração desses arranjos, po-
rém, favorece grupos dominantes, e a ativi-
dade de ambos os grupos, dominante e do-
minado, é melhor caracterizada como um
tipo de "consentimento" produzido. O sis-
tema hegemônico trabalha impregnando o
senso comum e transformando-se em parte
de um modo normal de ver o mundo, en-
tender-se a si mesmo e sentir necessidades
(veja Angus, 1922). Tal situação sempre tor-
na possível uma brecha entre o que é pres
crito pela ordem dominante e aquilo que um
grupo dominado teria preferido. Como
Lukes argumentou, "Os próprios desejos do
homem podem ser produto de um sistema
que trabalha contra seus interesses, e em
tais casos identifica este sistema com aquilo
que ele iria querer e iria preferir, caso fosse
capaz de escolher" (1974 : 34). Uma boa
quantidade de estudos tem investigado uma
variedade de processos de "consentimento"
(p. ex.: Burawoy, 1979; Kunda, 1992; Vallas,
1993). Vários estudos têm mostrado como
os empregados "traçam estratégias para a
própria subordinação", alcançando ganhos
marginais para eles mesmos por meio da
subordinação, mas também perpetuando
sistemas de dominação que impedem sua
autonomia e habilidade para agir em seus
interesses próprios mais gerais (v. Burawoy,
1985; Deetz, 1995; Deetz, no prelo b;
Willmott, 1993).
TEORIA CRITICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

de explicar resultados (por exemplo,


Alvesson, 1996; Knights e Willmott, 1987;
nismo, pode ser visto como a tentativa de Rosen, 1985); (b) refreando declarações
preservar e reforçar esta diversidade. diretivas que dizem respeito ao que as pes-
soas deveriam fazer (repugnar, liberar), mas
enfatizando a problematização de convic-
Uma crítica da crítica ideológica ções e valores dominantes (Deetz, 1992);
(c) reconhecendo qualidades pluralistas,
Cada uma dessas quatro preocupações mas ainda insistindo que há fortes
surgidas em várias críticas ideológicas têm assimetrias entre vários interesses e pers-
valor. Mesmo assim, limitações da crítica pectivas; e (d) tratando ideologias como
ideológica têm sido demonstradas por mui- dominantes sem vê-las como simples instru-
tos. Três críticas são muito comuns. Primei- mento ou no interesse de um grupo de eli-
ro, a crítica ideológica freqüentemente apa- te, mostrando que elites podem ter inter-
rece ad hoc e reativa. A maioria dos estudos nalizado e podem sofrer os efeitos do con-
explica, depois do fato, por que algo não junto de idéias hegemônicas (tal como po-
aconteceu, em vez de fazer declarações luição ou por meio de processos de traba-
preditivas e testáveis sobre o futuro. Segun- lho: Heckscher, 1995).
do, ela parece elitista. Conceitos como fal- Outra resposta para os problemas da
sas necessidades e falsa consciência, que crítica ideológica é o desenvolvimento de
eram centrais para os primeiros estudos, uma perspectiva comunicativa dentro da
presumem uma fraqueza básica na intuição teoria crítica. Isso representa um desenvol-
e nos processos de raciocínio nas mesmas vimento a partir de um foco em idéias e ins-
pessoas a que ela pretende dar poder. A iro- tituições socialmente repressivas, visando às
nia de um defensor de maior igualdade ao investigações dos processos comunicativos
prenunciar o que outros deveriam querer por meio dos quais as idéias são produzi-
ou como eles deveriam perceber "melhor" das, reproduzidas e criticamente examina-
o mundo, não está perdido nem nos grupos das, especialmente em contextos de toma-
dominantes nem nos dominados. E, tercei- da de decisão.
ro, estudos de crítica ideológica aparecem
muito simplistas. De acordo com a crítica
de Abercrombie et al. (1980) da "tese da
ideologia dominante", a concepção de gru-
po dominante permanece singular e inten-
cional, como se um grupo identificável.mon-
tasse um sistema no qual pudesse ocorrer a
dominação por meio do controle de idéias,
e seu interesse pudesse estar assegurado.
Uma crítica mais sofisticada, advinda
do pós-modernismo, aponta para a idéia de
que o foco no sujeito-agente é tão central
para a crítica ideológica quanto o é para
grupos dominantes e os sistemas que se be-
neficiam deles. A esperança para um agen-
te racional e reflexivo que é capaz de agir
de forma autônoma e coerente pode em
si mesma ser um alvo digno da crítica ideo-
lógica. A moderna legitimidade da cor-
poração está baseada na suposição da exis-
243 [

tência de tal indivíduo e em sua habilidade


para nutrir o desenvolvimento desse indiví-
duo. A crítica ideológica, em geral, não ques-
tiona esta noção básica do indivíduo, mes-
mo que os autores sejam rápidos para apon-
tar a discrepância entre a produção atual
das pessoas e um desenvolvimento poten-
cial.
Claramente, o poder da crítica ideoló-
gica pode ser mantido sem que se caia em
tais censuras e muitos teóricos críticos têm
realizado isto, à medida que têm puxado o
conceito de ideologia para longe do marxis-
mo tradicional. Eles têm respondido aos crí-
ticos: (a) defendendo a pesquisa que
empiricamente investiga expressões de sis-
temas hegemônicos de pensamento em si-
tuações comunicativas particulares, em vez
PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

vém de um foro aberto, em lugar da autori-


dade, tradição, ideologia, ou exclusão de
Ação comunicativa participantes.

"Este conceito de racionalidade co-


Ao contrário dos primeiros defensores
municativa carrega consigo conotações
da teoria crítica, o trabalho de Habermas
ba-
desde o final dos anos 70, tem reduzido o seadas, em última instância, na experiên-
significado da crítica ideológica tradicional cia central da força de uma fala argu-
e tem se concentrado em construir uma fi- mentativa desprovida de constrangimen-
losofia sistemática, na qual teoria e ação tos, unificadora, geradora de consenso, na
comunicativa constituem-se no eixo mais qual diferentes participantes superam
importante (Habermas, 1984; 1987). Este suas
projeto retém muitas das características da visões meramente subjetivas e, devido à
crítica ideológica, inclusive o ideal de sepa- mutualidade de convicção racionalmente
motivada, asseguram-se ao mesmo tempo
rar idéias sociais coagidas daquelas funda-
da unidade do mundo objetivo e da inter-
mentadas na razão, mas enfrenta idéias pro-
subjetividade do seu mundo vivido"
cessuais em vez de crítica substantiva e, as- (Habermas, 1984 : 10).
sim, torna-se bastante diferente da crítica
ideológica tradicional. Ele também introduz Portanto, a racionalidade comunicati-
um programa de trabalho afirmativo, não va denota um modo de responder (questio-
baseado em uma utopia, mas ainda com nando, testando e, possivelmente, aceitan-
uma esperança de como nós poderíamos do) a validade de diferentes reivindicações.
reformar instituições ao longo das linhas de A ação comunicativa permite a investigação
um discurso moralmente dirigido, em situ-
ações que se aproximam de uma situação
de fala ideal.
Habermas separa dois processos de
aprendizagem e formas de racionalidade
históricos, o tecnológico-científico-estraté-
gico, associado ao mundo do sistema, e o
comunicativo-político-ético, associado ao
mundo vivido, e tenta contribuir para este
último. Ele argumenta a favor de uma
melhoria sistemática do mundo vivido por
meio de uma concepção expandida de
racionalidade que foca na criação e recria-
ção de padrões de significado. O mundo vi-
vido pode ser considerado como completa-
mente racional - em vez de instrumentali-
zado ou planejado - à medida que permite
interações que são guiadas por entendimen-
to comunicativamente alcançado, em vez
dos imperativos do mundo do sistema - tais
como aqueles dependentes do código do
dinheiro ou do poder formal - ou pela re-
produção não reflexiva de valores culturais
tradicionais (Habermas, 1984).
O entendimento comunicativamente
alcançado é dependente da comunicação
---------------------------------------
não distorcida, da presença da discussão li-
vre baseada na boa vontade, argumentação
e diálogo. Na base da discussão racional não
distorcida, Habermas assume que o consen-
so pode ser alcançado levando-se em conta
os estados presente e desejável. Ele susten-
ta que na própria linguagem e no modo
como é usada existem certas condições para
alcançar este ideal: a expectativa e o desejo
de ser entendido e acreditado e a esperança
de que outros aceitarão nossos argumentos
e outras proposições (veja Thompson, 1984;
Deetz, 1992: Capítulos 6 e 7). Sem tais ex-
pectativas e ambições, serão de pouca aju-
da estes argumentos ou discussões. A co-
municação não distorcida proporciona a
base para a mais alta (ou talvez a mais am-
pla, mais reflexiva) forma de racionalidade,
denominada racionalidade comunicativa.
Aqui não é poder, status, prestígio, ideolo-
gia, manipulação, regra dos peritos, medo,
insegurança, mal entendido ou qualquer
outra forma de dano que fornece uma base
para as idéias envolvidas. A tomada de de-
cisão passa a ser baseada na força do bom e
do bem fundamentado argumento que pro-
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 189

de toda proposição na base de um dos se- çadas, desenvolvidas, e ilustrado sua rele-
guintes critérios (universais) de validade: vância para a compreensão de organizações
compreensibilidade, sinceridade, veracida- modernas, em particular, de corporações.
de e legitimidade. A ação comunicativa é, Alvesson e Willmott (1996) chamaram a
portanto, aspecto importante da interação atenção para algumas metáforas para orga-
social na sociedade, em instituições sociais nizações e gerência a partir da teoria críti-
e na vida diária. A situação ideal de fala, ca: organização como tecnocracia, mistifi-
que possibilita a racionalidade comunicati- cação, entorpecimento cultural e poder co-
va e é, por sua vez, permeada por ela, exis- lonizador. Isso chama a atenção para como
te sob as seguintes condições: "a estrutura a competência gerencial leva à passividade
de comunicação não produz nenhum cons- de outros participantes organizacionais,
trangimento se e somente se, para todos os como as ambigüidades e contradições são
possíveis participantes, houver uma distri- mascaradas, como a engenharia de valores
buição simétrica de chances para escolher e e definições de realidade tendem a debili-
aplicar ações comunicativas". (Habermas tar grupos de nível mais baixo e outros gru-
apud Thompson e Held, 1982 : 123). Claro pos marginais, na negociação da realidade
que a situação ideal de fala não é uma qua- do lugar de trabalho e, respectivamente,
lidade da comunicação ordinária, mas uma como os códigos do dinheiro e do poder for-
antecipação contrafactual que fazemos mal exercem um encerramento da posição
quando buscamos entendimento mútuo, hegemônica sobre as experiências, valores
tentando alcançar a forma de argumenta- e prioridades articulados no lugar de traba-
ção que pressupomos poder utilizar, quan- lho. Como indicado anteriormente, dois/oci
do buscamos nos retirar do fluxo de ação básicos podem ser apontados aqui: um
cotidiana e verificar uma afirmação proble- orientado para conteúdo, enfatizando as
mática. Como iremos sugerir, ao olhar para fontes de constrangimento, outro orienta-
a contribuição de teoria crítica, tal ideal, do para processo, enfatizando a variação na
quando usado como quadro analítico em ação comunicativa em organizações.
estudos de organizações, pode oferecer sig- A teoria crítica chama a atenção, por
nificativa orientação para discussões sobre exemplo, para a estreiteza do pensamento
reestruturação e tomada de decisão em or- associado ao domínio da razão instrumen-
ganizações (por exemplo, Lyytinen e tal e do código do dinheiro. Potencialmen-
Hirschheim, 1988; Power e Laughlin, 1922). te, quando sabiamente aplicada, a razão
Não repetiremos, aqui, a crítica à teo-
ria de Habermas (veja Thompson e Held,
1982; Fraser, 1987; Burrell, 1994), mas ape-
nas mencionaremos que ela enfatiza em
demasiado a possibilidade de racionalidade,
assim como valoriza o consenso (Deetz,
1992) e dá muito peso na clareza e no po-
tencial da racionalidade da linguagem e da
interação humana. Em certa medida, ela
confia em um modelo de indivíduo poten-
cialmente autônomo e esclarecido, mas esta
suposição tem papel menos central quando
comparado à teoria crítica anterior, visto que
o enfoque não está na consciência, mas na
estrutura da interação comunicativa como
a portadora de racionalidade. No entanto,
Habermas ainda pode ser criticado por sua
"visão benigna e benevolente da espécie
humana" (Vattimo, 1992), que conta com o
conhecimento e com a argumentação para
mudar o pensamento e a ação, posição di-
ante do qual os pós-modernistas são alta-
mente céticos.

A contribuição dos estudos


críticos da organização
Estudos críticos em teoria de organi-
zações têm utilizado as idéias aqui esbo-
190 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

instrumental é uma forma produtiva de pen- chamada "administração profissional". Ela


sar e agir. Porém, na ausência da razão prá- aponta para uma compreensão restrita do
tica (dirigida para um julgamento político e ser humano e das metas organizacionais:
eticamente informado), seu caráter altamen- aquelas que são identificadas e são valida-
te especializado, preso a meios e não refle- das por especialistas. Pela associação da
xivo, torna-a fortemente inclinada a também administração com tecnocracia e sua instru-
contribuir para a reifícação das pessoas e mentalização da razão, o domínio de uma
da natureza e, portanto, para várias formas concepção estreita de razão é simultanea-
de destruição. As mais aparentes são: (1) mente exposta e questionada.
condições de trabalho constrangidas, nas O domínio de grupos, idéias e insti-
quais qualidades intrínsecas ao trabalho tuições produzindo e utilizando a idéia de
(criatividade, variação, desenvolvimento, tecnocracia leva a uma consciência tec-
significação) são ignoradas ou subordina- nocrática (Habermas, 1970; Alvesson,
das a valores instrumentais (Alvesson, 1987; 1987). Aqui, conflitos básicos entre ideais e
Sievers, 1986); (2) o desenvolvimento e princípios diferentes são vistos como se dis-
reforço das relações sociais assimétricas solvendo, da mesma forma que são uma
entre especialistas (inclusive elites geren- conseqüência do desenvolvimento de mais
ciais) e não especialistas (Alvesson e e mais métodos racionais. Em organizações
Willmott, 1996; Fischer, 1990; Hollway, de trabalho, conflitos entre a razão prática
1984); (3) o preconceito sexual em termos (enfatizando a remoção da repressão) e ra-
de estilos de raciocínio, relações sociais zão instrumental (focada na maximização
assimétricas e prioridades políticas (Calas e da produção) são tratados como evitáveis
Smircich, 1992a, 1992b; Mumby e Putnam, pelo uso de métodos de gerenciais otimi-
1992; Ferguson, 1984; Hearn e Parkin, zantes, tais como enriquecimento do cargo,
1987); (4) o amplo controle do intelecto de QWL, TQM, cultura corporativa e assim por
empregados e o congelamento de sua reali- diante, que produzem simultaneamente
dade social, (Deetz e Kersten, 1983; Frost,
1987; Mumby, 1987); (5) o controle de lon-
go alcance de empregados, consumidores e
da agenda político-ética geral da socieda-
de, por intermédio de meios de comunica-
ção de massa e lobies, advogando o
consumismo e a prioridade do código do
dinheiro como parâmetro para valores e
tomada de decisão política individual e co-
letiva (Alvesson e Willmott, 1996; Deetz,
1992); e (6) destruição do ambiente natu-
ral por meio do desperdício e poluição
(Shrivastava, 1995; Stead e Stead, 1992).
Sob o disfarce de tecnocracia, a
racionalidade instrumental tem pretensões
de neutralidade e independência com rela-
ção às esferas do interesse próprio e da po-
lítica, carregadas de valor. Ela celebra e "es-
conde", sob técnicas e a falsa aparência de
objetividade e imparcialidade de conjuntos
institucionalizados de conhecimento, buro-
cracia e mandatos formais. Não surpreende
que a tecnocracia seja promovida por cada
"especialidade" da administração, conforme
reivindicam o monopólio da competência
em seus domínios respectivos. Por exemplo,
os especialistas de recursos humanos avan-
çam e defendem suas posições elaborando
uma bateria de técnicas "objetivas" para
administrar a seleção e a promoção de em-
pregados (Hollway, 1984; Steffy e Grimes,
1992). A administração estratégica institu-
cionaliza um modo particular de exercitar a
dominação, ao legitimar e privilegiar a "ad-
ministração" da interface organização-am-
biente, erigindo alguns atores a "estrategis-
tas" e reduzindo outros a tropas, cujo papel
é o de se subordinar e implementar estraté-
gias corporativas (Shrivastava, 1986;
Alvesson e Willmott, 1995). O conceito de
tecnocracia chama a atenção para alguns
dos aspectos mais perturbadores da assim
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 191

bem-estar e desenvolvimento para o ser "Quando organizações ou socieda-


humano, bem como com alta qualidade e des estão estruturadas de forma que seus
produtividade. Assuntos políticos básicos membros não têm recursos protegidos
são transformados em solução técnica de para
verificar a verdade, a legitimidade, a sin-
problemas.
ceridade, ou a claridade das alegações fei-
As idéias de Habermas também podem tas pelas estruturas estabelecidas de auto-
ser usadas de modo pragmático, mais apro- ridade e produção, podemos achar condi-
priado para a ciência social e os estudos ções de dogmatismo em vez de aprendi-
organizacionais, do que a versão filosófico- zagem social, tirania em vez de autorida-
teórica original. Com a direção comunicati- de, manipulação em vez de cooperação, e
va no trabalho de Habermas, seguem-se desordem em vez de sensibilidade. Neste
possibilidades de um desenvolvimento mais sentido, a teoria crítica aponta para a im-
aplicado e empírico no uso da teoria crítica. portância de compreender, pratica e nor-
mativamente, como o acesso e a partici-
Isto significa, como Forester sustentou, que
pação em discursos, tanto teórico e práti-
"colocar de lado o discurso ideal" e am-
co, são sistematicamente estruturados"
pliando a verificação das "atuais condições (1983 : 239-240).
políticas e sociais de controle, de voz políti-
ca, e dessa forma também de uma autono- Forester vê a organização da atenção
mia possível" (1991 : 3, grifo nosso). como um dispositivo crucial dos processos
Forester (1985; 1989; 1992; 1993) tem de- administrativos e organizacionais de repro-
senvolvido um "pragmatismo crítico" base- dução social. Ele se apoia no modelo de re-
ado em uma leitura independente e criativa produção de Habermas (1984), que inclui
de Habermas. O trabalho de Forester é par- (1) reprodução cultural de visões mundiais
ticularmente interessante, pois combina so- (idéias, conhecimento, crenças), (2) inte-
fisticação teórica com orientação empírica gração social na qual normas, obrigações e
e aplicada e pode servir como exemplo da padrões de pertinência social são repro-
forma pela qual o crítico pode posicionar- duzidas, e (3) socialização, na qual identi-
se na prática. Para Forester, uma teoria crí- dades sociais, motivos e expressões de si
tica orientada empiricamente deveria ser mesmo são alteradas e desenvolvidas. Em
"(1) empiricamente sólida e descritivamen- jogo nos atos (e lutas) comunicativo/
te significativa; (2) interpretativamente organizacionais específicos estão a reprodu-
plausível e fenomenologicamente expressi- ção/desafio/reformulação de crenças, con-
va; e ainda (3) criticamente orientada, eti- sentimento e identidade. A pesquisa crucial
camente esclarecedora" (1993 : 2). assim como questões práticas incluem "o que
Seguindo nesta direção, Forester torna possível ou o que impede um traba
(1989) distingue entre distúrbios inevitáveis lhador de descobrir informação no lugar d<
e os socialmente desnecessários, entre pro- trabalho, desafiar as regras ou normas, oi
blemas socialmente ad hoc e fontes de expressar necessidades, sentimentos, iden
distorção, estruturalmente relacionadas, e
socialmente mais sistemáticas. Organizações
podem ser entendidas como estruturas de
comunicação sistematicamente distorcidas
(de forma não acidental e possivelmente
evitável) ou como infra-estruturas sociais/
comunicativas mediando relações estrutu-
rais e ações sociais em contextos econômi-
cos e de trabalho. Independentemente de
até que ponto podem ser evitadas as dis-
torções na prática, o conhecimento e a per-
cepção dessas comunicações distorcidas são
certamente de valor. De uma perspectiva de
comunicação, organizações podem ser apre-
ciadas e avaliadas dependendo de sua pro-
ximidade com o dogma (comunicação fe-
chada) ou com o diálogo (comunicação
aberta) (veja Deetz, 1992: Capítulo 7).
Como Forester argumentou:
PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

|248
tidade e modo de ser?" (1993 :131) O pro-
cesso e a morte do indivíduo, autônomo,
blema aqui, observa Forester, é relacionar
sujeito criador de significado no qual a pro-
estruturas de controle com experiência diá-
dução discursiva do indivíduo substitui o
ria, voz e ação. Tal relato se transforma
convencional entendimento "essencialista"
numa fenomenologia estrutural: estrutural
das pessoas; (c) a crítica da filosofia da
porque mapeia "a representação e o enqua-
presença e representação na qual as incer-
dramento sistemáticos da ação social; é
tezas da linguagem assumem precedência
fenomenologia porque explora as interações
sobre a linguagem como um espelho da re-
sociais concretas (promessas, ameaças, acor-
alidade e um meio para a transmissão de
dos, conflitos) que são assim representados"
significado; (d) a perda dos fundamentos e
(1993:140). Forester (1992) ilustra seu
do poder das grandes narrativas, em que
enfoque por meio de leitura sensível de uma
uma ênfase em múltiplas vozes e políticas
situação empírica mundana, aparentemen-
locais é preferida em relação a quadros teó-
te trivial, uma reunião da equipe de plane-
ricos e projetos políticos de grande escala;
jamento de uma cidade. Ele explora seus
(e) a conexão poder/conhecimento no qual
dados - doze linhas de transcrição da reu-
as impossibilidades de separar poder de co-
nião - e mostra como as pretensões de vali-
nhecimento são assumidas e o conhecimento
dade pragmáticas de Habermas são produ-
perde um senso de inocência e neutralida-
tivas para explorar como as relações sociais
de; (f) hiper-realidade - simulacro - substi-
e políticas são estabelecidas, reordenadas e
tui o mundo real, em que simulações têm
reproduzidas, à medida que o pessoal da
precedência sobre a ordem social contem-
equipe fala e escuta.
porânea; e (g) a pesquisa visa à resistência
e à indeterminação, nas quais a ironia e o
jogo são preferidos à racionalidade,
PÓS-MODERNISMO E PESQUISA previsibilidade e à ordem. Consideremos
ORGANIZACIONAL cada um brevemente.

Muito tem sido dito sobre os múltiplos


usos do termo "pós-moderno" e suas dife-
rentes versões (Alvesson, 1995; Thompson,
1993). Nós não negaremos aqui as variação
dentro da corrente. Não obstante, em con-
textos como o atual, pode ser útil produzir
temas comuns em que variações nas agen-
das de autores-chave sejam desenfatizadas
e as semelhanças destacadas. No pós-mo-
dernismo, com uma perspectiva de pesqui-
sa baseada filosoficamente, que é a nossa
preocupação principal neste capítulo, o se-
guinte conjunto de idéias inter-relacionadas
no todo é, freqüentemente, enfatizado: (a)
a centralidade do discurso - textualidade -
em que são enfatizados os poderes
constitutivos de linguagem e os objetos "na-
turais" são vistos como discursivamente pro-
duzidos; (b) identidades fragmentadas,
enfatizando a subjetividade como um pro-

A centralidade do discurso

O pós-modernismo nasceu do estru-


turalismo francês, tomando seriamente o
viés da lingüística na filosofia. Neste senti-
do, os pós-modernistas na tradição france-
sa fizeram um movimento no pensamento
estruturalista semelhante ao que um
Habermas fez com a crítica ideológica na
tradição germânica. À medida que a comu-
nicação sistematicamente distorcida substi-
tui a falsa consciência na teoria crítica, cam-
pos textuais/discursivos substituem a estru-
tura do inconsciente no pensamento pós-
moderno. Ambos usaram isto para travar
uma guerra em duas frentes, os objetivistas
por um lado, com suas ciências que visam
predizer/controlar a natureza e as pessoas,
e os humanistas no outro, privilegiando a
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 193
J

experiência relatada pelo indivíduo e os di- não só linguisticamente, mas também na


reitos humanos singulares, e propagando prática, por meio de técnicas de poder par-
uma versão ingênua da liberdade humana. ticulares (claramente visíveis em prisões,
Focar na linguagem permitiu um constru- hospitais psiquiátricos, escolas, fábricas, e
cionismo que negou a reivindicação assim sucessivamente), produzem formas
objetivista de segurança e verdade objeti- particulares de subjetividade (Foucault,
va, e a confiança dos humanistas nas rei- 1977; 1980). Em ambas as versões, a subje-
vindicações essenciais que os conduziu a tividade humana pode estar relativamente
desconsiderar a política social/lingüística da aberta ou fechada. O fechamento discur-
experiência. Como discutiremos adiante, a sivo, de acordo com a primeira visão é tem-
virada em direção à lingüística permitiu ao porário, apesar de, freqüentemente, repro-
pós modernismo uma rejeição pós-moder- duzido de forma contínua, enquanto
na do humanismo por meio de urna crítica Foucault tende a enfatizar uma fixação mais
das identidades autônomas e unitárias e sistemática da subjetividade como resulta-
uma rejeição do objetivismo por meio de do da cadeia de relações de poder em ope-
uma crítica da filosofia da presença e repre- ração.
sentação. Muitos pesquisadores organizacionais
Para que se observe a primazia do dis- têm usado esta percepção produtivamente.
curso, é sugerido que cada pessoa nasce A maioria, mas não todos, têm seguido
dentro de discursos correntes, que têm uma Foucault em seu desenvolvimento. Por
presença continuada e material. A expe- exemplo, Knights e Morgan usaram as prá-
riência do mundo é estruturada por meio ticas discursivas de Foucault para mostrar a
das maneiras como os discursos conduzem construção da pessoa e do mundo no dis-
a pessoa a assistir o mundo e provêem uni- curso da estratégia corporativa. Eles susten-
dades e divisões particulares. A medida que tam que "o discurso estratégico engaja os
a pessoa aprende a falar esses discursos, eles indivíduos em práticas por meio das quais
falam com mais propriedade a ele ou a ela, eles descobrem a essência da Verdade' do
de forma que os discursos disponíveis que eles são, a saber - 'um ator estratégi-
posicionam o indivíduo no mundo de modo co'" (1991: 260). Eles apontam para vários
particular, antes do indivíduo ter qualquer efeitos de poder do discurso da estratégia
possibilidade de escolha. Visto que os dis- corporativa, incluindo a sustentação e a
cursos estruturam o mundo, eles ao mesmo ampliação das prerrogativas da gerência, a
tempo estruturam a subjetividade da pes- geração de uma sensação de segurança pes-
soa, provendo-a com uma identidade social soal para os administradores, a expressão
particular e um modo de ser no mundo. A de uma masculinidade para a gerência (mas-
pessoa, em oposição ao humanismo, é sem-
pre primeiramente social, e só erradamente
reivindica um self pessoal como a origem
da experiência.
Há duas versões principais deste tema.
Uma enfatiza o discurso num sentido lin-
güístico especial, no qual a linguagem em
uso está intrinsecamente relacionada ao sig-
nificado e à percepção. Toda percepção e
significado acarretam um "vendo como", e
este "vendo como" é descrito como uma re-
lação fundamental de "linguagem" ou "sig
nificado". As distinções historicamente
transmitidas pela linguagem permitem a
reprodução de relações "vendo como" es-
pecíficas. Discursos diferentes sempre são
possíveis - embora eles possam ser mais ou
menos poderosos ou marginais. Como um
fenômeno lingüístico, o discurso se acopla
tenuamente às práticas materiais nesta ver-
são (Weedon, 1987). Outra versão,
foucaultiana, vê os discursos como sistemas
de pensamento contingentes bem como in-
formativos dos métodos materiais as quais,
I 194 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

ciilina), e a facilitação e a legitimação do las forças comerciais ouselfs organizacionais


exercício do poder. e pela orquestração de culturas corporativas
(Deetz, 1995, Willmott, 1994). EsteseZ/per-
dido também é muito suscetível à manipu-
Identidades fragmentadas lação e pode ser deslocado aos trancos pelo
sistema, conduzindo ao êxtase, mas também
A posição da "pessoa" resulta direta- ao domínio sem qualquer grupo dominan-
mente da concepção do discurso. O pós- te, como na concepção de simulação de
modernismo rejeita a noção do indivíduo Baudrillard (1983; 1988). Estas duas ver-
autônomo, auto-determinado, com uma sões - enfatizando a natureza humana de
identidade unitária segura como o centro per se, ou só a variante ocidental contempo-
do universo social. Embora muitas outras rânea, pois produzida discursivamente e
tradições tenham feito o mesmo (por exem- fragmentária - são freqüentemente apenas
plo, behavioristas, estruturalistas), os pós- uma questão de ênfase (veja Gergen, 1991;
modernistas têm feito avançar este ponto 1992).
fortemente e de maneira sofisticada. Essa visão do sujeito humano cria di-
Há duas versões desta crítica a uma ficuldades, no entanto, para desenvolver
identidade unitária segura. A primeira su- uma ação política. Flax (1990), por exem-
gere que a concepção ocidental de homem plo, mostra a posição desajeitada em que
sempre foi um mito. Representa idéia bas- ela deixa as mulheres. Se o gênero é trata-
tante etnocêntrica. O trabalho de Freud so- do como uma construção social e os discur-
bre tensões e conflitos da psique humana é sos dominantes têm produzido a margi-
usado para mostrar a consciência crescente nalidade e uma sensação das mulheres se-
no pensamento ocidental da fundamental rem "outras" - carregando todos os termos
fragmentação e inconsistência interior, mas negativos no sistema lingüístico e no dis-
os pós-modernistas vão mais adiante em curso - então livrar a sociedade de atribui-
suas desconstruções da auto-imagem oci- ções de gênero fortes, tornando o gênero
dental. A concepção de um self unitário é
considerada uma ficção usada para supri-
mir aqueles conflitos e privilegiar a mascu-
linidade, racionalidade, visão e controle. À
medida que os discursos dominantes fala-
vam às pessoas (e produziram a pessoa
como origem do pensamento), a pessoa ga-
nhou uma identidade segura, mas partici-
pou na reprodução da dominação, assim
marginalizando as outras partes do self e
outros grupos. A sensação de autonomia
serviu para encobrir a subserviência e dar
ao conflito uma conotação negativa.
A outra versão sugere que a visão do
indivíduo como coerente, integrado e (po-
tencialmente) autônomo tem-se tornado
falsa na situação histórica e cultural contem-
porânea. Se a identidade é uma produção
social, ela será relativamente estável em
sociedades homogêneas e com poucos dis
cursos dominantes. Em sociedades contem-
porâneas, heterogêneas, globais, teleconec-
tadas a disponibilidade de discursos se ex-
pande grandemente. Eles também mudam
rapidamente. O indivíduo vem a ser falado
por tantos discursos que a fragmentação é
virtualmente inevitável (Gergen, 1991).
Uma vez que a sociedade se torna mais frag-
mentada e hiper-real ou virtual (o discurso
está desconectado de qualquer referência no
mundo, imagens referem imagens) as for-
ças estabilizadoras das identidades são per-
didas.5 Essa posição sugere a possibilidade
de uma tremenda liberdade e oportunida-
de para que grupos marginalizados e aspec-
tos de cada pessoa entrem no discurso, mas
também inseguranças, as quais conduzem
as estratégias de normalização, nas quais as
pessoas "voluntariamente" se agarram às
identidades de consumidor, oferecidas pe-
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

inerentemente, incerto. A construção de


conhecimento em administração de recur-
irrelevante em muitas situações, é uma boa sos humanos "opera por meio de regras de
idéia. Deveríamos simplesmente deixar de classificação, ordenamento e distribuição;
falar de "homens" e "mulheres", e deixar de definição de atividades; fixação de escalas;
reproduzir esta distinção penetrante e po- e regras de procedimento, que conduzem à
derosa (exceto em situações específicas nas emergência de um discurso específico de
quais ela tem sentido prático, p. ex., em re- HRM" (1993 : 541). Este corpo de conheci-
lação a parto e a algumas doenças). Mas mento opera para objetivar (determinar) a
realizar tal movimento na situação contem- pessoa, constrangendo, assim, e subordinan-
porânea exige que as mulheres se organi- do o caráter social e pessoal mais pleno da
zem e mostrem que o gênero é assunto que pessoa.
atravessa quase todas as situações sociais.
O mesmo ocorre em relação ao assunto da
experiência: se a experiência feminina sur- A crítica da filosofia de presença
ge de uma diferença essencial (física e/ou
socialmente produzida), sua importância A ciência social normativa, assim como
não pode ser negada e precisa ser levada a maioria de nós na vida cotidiana, trata a
em consideração, mas seguir o argumento presença de objetos como não problemáti-
essencialista é negar o construcionismo so- ca e acredita que a função primária da lin-
cial e pode ser facilmente usado em uma guagem é de reapresentá-los. Quando per-
sociedade em que os homens têm recursos guntados sobre o que algo é, nós tentamos
para estigmatizar ainda mais as mulheres. defini-lo e listar seus atributos essenciais.
Não é fácil escapar às tensões teóricas (ver Os pós-modernistas acham essa posição ilu-
Fraser e Nicholson, 1988). Ironicamente, sória, da mesma maneira que a concepção
porém, este tipo de tensão profunda e a ina- de identidade. Aquilo do qual o mundo é
bilidade de desenvolver uma única posição feito só se torna objeto numa relação espe-
coerente parece ao mesmo tempo debilitar cífica com um ser, para o qual pode ser um
o trabalho pós-moderno e dar a ele sua ra- tal objeto. Assim, práticas lingüísticas e não-
zão de ser. Essas tensões têm conduzido al-
guns pesquisadores a tomar emprestado da
teoria crítica concepções visando adicionar
um programa político mais claro (veja
Martin, 1990) e outros, a focar mais nas
formas locais de resistência (veja Smircich
e Calas, 1987).
Implicações importantes para análises
organizacionais decorrem da desestabili-
zação dos atores humanos e de seus proces-
sos organizadores. Linstead sugere que "a
organização é então continuamente emer-
gente, constituída e constituinte, produzi-
da e consumida por sujeitos" e pede inves-
tigações que conduzam "para frente aque-
les processos que modelem a subjetividade
em vez de processos pelos quais os sujeitos
individuais agem sobre a palavra" (1993 :
60). Knights e Willmott (1989) fizeram um
trabalho assim, demonstrando que o modo
251 |

como se é sujeitado conduz a formas parti-


culares de sujeição. Pringle (1988) mostrou
como a identidade de uma "secretária" é
construída e reproduzida. Deetz (1994; no
prelo b; no prelo c) mostrou como a nature-
za do trabalho intensivo em conhecimento
situa a produção de identidades de traba-
lho específicas. De um modo semelhante,
Townley (1993) aplicou a análise de
Foucault ao discurso da administração de
recursos humanos. Neste trabalho, Townley
sustentou que a unidade básica de análise
para a compreensão da administração de
recursos humanos era a "natureza da troca
encarnada na relação de emprego". Desde
que essa relação é em si mesma indeter-
minada, a relação de troca é organizada por
meio da imposição de ordem naquilo que é,
M 196 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

lingüísticas são centrais para a produção do lidades para o entendimento que estão es-
objeto. Tal posição é familiar já há algum condidas atrás do óbvio. A linguagem é,
tempo em trabalhos tão variados quanto então, central à produção de objetos na qual
Mead, Wittgenstein, e Heidegger, mas con- ela prove as distinções sociais/históricas que
tinua conduzindo a mal-entendidos, sendo fornecem unidade e diferença. A linguagem
o mais comum a pretensão ao relativismo. não pode refletir a realidade "lá fora", ou os
A posição não é, porém, relativista em qual- estados mentais de pessoas (Shotter e
quer modo solto ou subjetivo. A maioria dos Gergen, 1989; 1994). A linguagem é figu-
pós-modernistas não está preocupada com rativa, metafórica, cheia de contradições e
a chance de ser chamada relativista, ela está inconsistências (Brown, 1990; Cooper e
mais preocupada com a estabilidade apa- Burrell, 1988). O significado não é univer-
rente de objetos e a dificuldade de desfazer sal e fixo, mas precário, fragmentado e lo-
o alcance das atividades que produzem ob- cal (Linstead e Grafton-Small, 1992). Os
jetos particulares e os sustentam. pesquisadores organizacionais têm usado
Como mencionado na seção de iden- estas concepções para desconstruir objetos
tidades fragmentadas, os pós-modernistas da vida organizacional, incluindo o próprio
diferem dos demais à medida que descre- conceito limitado de organização. Talvez
vem o discurso no textual, versus uma for- entre os mais produtivos estejam aqueles
ma mais extensa. No conjunto, porém, eles que estudaram práticas contábeis. Prejuízo,
começam com a demonstração de Saussure despesas, e assim por diante, não têm ne-
que o ponto de vista cria o objeto. Ele pre- nhuma realidade sem práticas específicas
tendia que isso desse conta da importância que as criem. (Hopwood, 1987; Power e
da natureza carregada de valores do siste- Laughlin, 1992; Montagna, 1986). Outros
ma de distinções na linguagem, mas as prá- têm olhado para o conhecimento e a infor-
ticas lingüísticas e não lingüísticas rapida- mação (Boland, 1987). E outros, ainda, têm
mente relacionam-se. Deixe-nos usar um
breve exemplo: Um trabalhador é um obje-
to (como também um sujeito) no mundo,
mas nem Deus nem a natureza fizeram um
trabalhador. Duas coisas são requeridas para
um trabalhador existir: uma linguagem e um
conjunto de práticas que tornam possível
unidades e divisões entre pessoas, e algo ao
qual essas unidades e divisões possam ser
aplicadas. As perguntas "o que é realmente
um trabalhador"?, "O que é a essência de
um trabalhador?", "O que torna uma pes-
soa um trabalhador?" não são respondidas
olhando-se para algo que pode ser descrito
como um trabalhador, mas são produtos de
práticas lingüísticas e não lingüísticas que
fazem este algo tornar-se objeto. Neste sen-
tido, um trabalhador não é uma coisa isola-
da. Ter um trabalhador já implica uma divi-
são de trabalho, a presença de gerentes
("não trabalhadores"). A "essência" do tra-
balhador não são as propriedades que o "ob
jeto" contém, mas os conjuntos de sistemas
relacionais incluindo a divisão de trabalho.
O enfoque no objeto e nas propriedades do
objeto é um engano; a atenção deveria vol-
tar-se para os sistemas relacionais que não
estão simplesmente no mundo, mas são uma
compreensão humana do mundo, são dis-
cursivos ou textuais. O significado de "tra-
balhador" não está evidente e presente (con-
tido lá), mas adicionado aos conjuntos de
oposições e conjunturas, às relações que o
fazem parecido e não parecido com outras
coisas.
Desde que qualquer coisa no mundo
pode ser construído/expresso como muitos
objetos diferentes, limitado só pela cria-
tividade humana e pelos leitores de rastros
de compreensões passadas, o significado
nunca pode ser final, sempre estará incom-
pleto e indeterminado. A aparência de per-
feição e fechamento nos leva a negligenciar
as políticas em e de construção e as possibi-
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 197
I

examinado práticas de reporte (Sless, 1988) "espírito" e da "emancipação". A prolifera-


e categorias de pessoas (Epstein, 1988). ção de opções e o crescente cinismo políti-
Cada um destes mostra as condições neces- co (ou astúcia) do público levam à suspeita
sárias para os objetos existirem na vida de movimentos legitimadores. Esta concep-
organizacional. Qualquer tentativa de repre- ção não está longe da idéia de Habermas de
sentação é, assim, sempre parcial (unilate- crise de legitimação na sociedade capitalis-
ral e favorecendo um lado). A criação de ta tardia (Habermas, 1975). Talvez, no sen-
distinção pelo uso da linguagem é, ao mes- tido de Lyotard, tudo que permanece são
mo tempo, uma condição necessária da vida narrativas locais. Essa posição tem condu-
com outros e, no entanto, inevitavelmente zido a tratamentos sensíveis de como as his-
limitadora, à medida que esconde impor- tórias em organizações conectam-se a gran-
tantes alternativas de distinções (veja des narrativas e como outras tantas têm ca-
Bourdieu, 1984; 1991). ráter mais local e situacional (veja Martin,
1990; Deetz, no prelo c). Outros têm usado
esta abertura para exibir uma falsa certeza
A perda das fundamentações e nas grandes narrativas mestras em adminis-
das narrativas-mestre tração (Jehenson, 1984; Ingersoll e Adams,
1986; Carter e Jackson, 1987; Calas e
O poder de qualquer posição tem sido Smircich, 1991).
tradicionalmente deduzido de seus emba- Nem todos os pós-modernistas vêem
samentos. Esse embasamento podia ser isto como necessariamente positivo. Certa-
qualquer fundamento metafísico - tal como mente, o declínio dos fundamentos e das
um mundo externo no empirismo, as estru- grandes narrativas retiram um suporte pri-
turas mentais no racionalismo ou a nature- mário da oferta de grupos dominantes de
za humana no humanismo - ou de uma nar- segurança e certeza como um comércio para
rativa, uma história da história, como a luta subordinação. Mas a substituição não im-
de classe no marxismo, a sobrevivência dos
mais adaptados no darwinismo social, ou a
mão invisível da economia de mercado. Com Ao sublinhar a sílaba his em history, a crítica fe-
tais embasamentos, as posições são apresen- minista procura dilatar o que percebe ser um viés
tadas como seguras e inevitáveis e não opor- masculino da narrativa histórica prevalecente: his
tunistas ou motivadas por vantagens. Cer- (dele) é nesse sentido usado para sugerir a estó-
ria (story) dele (his), ou do ponto de vista mascu-
tamente, muito da teoria organizacional lino. (N.R.)
tem-se baseado em tais apelos, assim como
a teoria crítica em sua ação comunicativa
moralmente dirigida.
De novo, como no caso da identidade,
os pós-modernistas têm duas posturas dife-
rentes, mas não incompatíveis: uma, cate-
górica (válida ao longo da história e do con-
texto social) e uma interessada nas tendên-
cias recentes da históricas (sobrepondo, as-
sim, as distinções periodização/filosofia).
Seguindo a primeira posição, fundamentos
e narrativas legitimadoras sempre foram um
logro. Eles têm sido usados (geralmente,
sem conhecimento) para apoiar uma visão
dominante do mundo e sua ordem. Femi-
nistas, por exemplo, têm sustentado que a
narrativa histórica sempre tem sido histó-
ria* O apelo dos empiricistas à natureza do
mundo externo cobriu a força de seus pró-
prio conceitos (e aqueles emprestados dos
grupos de elite), métodos, instrumentos,
atividades e relatórios para construir aque-
le mundo.
Seguindo a segunda posição, outros
pós-modernistas notam o crescimento da
incredulidade social nas narrativas e movi-
mentos fundamentalistas. Lyotard (1984)
mostrou o declínio das grande narrativas do
I 198 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ___________________

plica necessariamente liberdade e possibili- sultado de relações fundamentais de poder.


dade política da parte dos grupos margina- O poder reside na própria formação dis-
lizados. Lyotard demonstrou a ascensão de cursiva - a combinação de um conjunto de
"performatividade", em que medidas de sig- distinções lingüísticas, formas de raciocínio
nificados para fins sociais tornam-se fins em e práticas materiais, que juntos organizam
si mesmos (também veja Power, 1994). Aces- instituições sociais e produzem formas par-
so a computadores e à informação - menos ticulares de sujeitos. Como mencionado, a
contingentes de conhecimento integrado na linguagem é, aqui, menos estritamente
pessoa (erudição) do que de recursos finan- focada do que em muitas outras variantes
ceiros - tem-se tornado fonte significativa de pós-modernismo. Seguindo um exemplo
de conhecimento e poder. Junto com isto dado anteriormente, o discurso que produz
vêm formas novas de controle dirigidas não um "gerente" simultaneamente, aumenta e
por uma visão de sociedade e bem social, diminui o poder do grupo de indivíduos for-
mas simplesmente por mais produção e con- mados como aquele objeto. Ao mesmo tem-
sumo. po, prove a solidariedade e interesses e põe
Certamente, a perda das principais em jogo conflitos simbólicos e de recursos
narrativas integrativas não escapou aos gru- materiais, autocompreensões e o mesmo
pos gerenciais. Poder-se-ia dizer, talvez, que para os outros, profissionais e trabalhado-
visões e cultura corporativas são constru- res. O poder, assim, reside nas demarcações
ções de narrativas locais estratégicas, para e nos sistemas de discurso que o sustentam,
promover a integração e a motivação em incluindo arranjos materiais, por exemplo,
uma sociedade pluralista, anteriormente recrutamento e procedimento de seleção,
providas pelas narrativas sociais mais am- organização de escritórios, estruturas de
plas. Por outro lado, poder-se-ia dizer que recompensa e controle, inclusão e exclusão
essas formas de controle gerencial represen- em reuniões significativas, e assim sucessi-
tam esforços sistemáticos de larga escala, vamente. Um dos termos mais úteis que
que se assemelham a grandes narrativas,
porém ao nível corporativo. Talvez o desen-
volvimento do controle gerencial possa ser
visto tal como as narrativas das grandes
corporações, assumindo algumas das fun-
ções de programas políticos. O declínio da
visão, esperança e comunidade em política
tem pavimentado o caminho para as ideo-
logias e práticas gerenciais que podem pre-
encher partes do vazio (Deetz, 1992). Os
pós-modernistas apontam para a natureza
precária deste tipo de projeto. Por exemplo,
culturas corporativas são vistas como texto,
e membros das corporações tornam-se lei-
tores, que trazem consciência de outros tex-
tos, outras formas culturais, outras evoca-
ções e explosões de significado para suas
leituras de qualquer texto, e entram no tex-
to, mudando sua natureza e o reproduzin-
do enquanto o consomem (Linstead e
Graíton-Small, 1992 : 334).
Com isto, a dificuldade do pós-moder-
nismo, como no conceito de identidades
fragmentadas, é gerar uma postura política
com respeito a esses desenvolvimentos. Se
a pessoa rejeita um fundamento essen-
cialista e acredita que é preciso mais do que
resistência local, algum tipo de combinação
entre pós-modernismo e teoria crítica pode
prover bem a melhor opção restante. Volta-
remos a isto.

A conexão poder/conhecimento

Nos escritos pós-modernos, o poder é


tratado de forma bem diferente da maioria
dos escritos em organizações. Foucault tem
sido o mais explícito (Foucault, 1977; 1980;
veja Clegg, 1994). O poder que é de inte-
resse não é aquele que alguém possui ou
adquire. Tais aparências de poder são o re-
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 199 I

WÊÊkmmmmW
entram nos estudos organizacionais a par- capacidade de construir rapidamente ima-
tir daí é o conceito de disciplina de Foucault gens que substituem, mais do que represen-
(1977). As demarcações fornecem formas tam, um mundo exterior. Tais sistemas po-
de comportamento normativo apoiadas em dem dominar a cena com uma variedade de
reivindicações de conhecimento. Treinamen- mundos imaginários reproduzidos. O refe-
to, rotinas de trabalhos, autovigilância e rente desaparece como qualquer coisa a
especialistas compreendem a disciplina na mais além de outro sinal; assim, sinais só se
qual fornecem os recursos para a normali- referem a outros sinais; imagens são ima-
zação. Especialistas normativos em particu- gens de imagens. Tais sistemas podem se
lar e o conhecimento que eles criam provê- tornar puramente auto-referentes, ou o que
em de um disfarce para as práticas discur- Baudrillard chama de simulações (veja
sivas arbitrárias e geradoras de vantagens e Deetz, 1994b). Em tal mundo, na análise
facilitam a normalização (Hollway, 1984; de Baudrillard, os sinais estão desconectados
1991). O trabalho de Townley (1993), já para abrir uma relação com o mundo e as
discutido, mostrou cuidadosamente como o respostas modelares para um mundo-mo-
desenvolvimento do especialista em recur- delo substituem a ação responsiva em uma
sos humanos e o conhecimento de recursos em mudança real. Sinais alcançam o limite
humanos foi usado como um modo para estrutural de representação por referenciar
"determinar" e subordinar empregados. Tal apenas a eles mesmos, com pequena rela-
conhecimento também pode ser utilizado ção com qualquer exterior ou interior.
por empregados para se ocupar da autovi- Baudrillard expressa essa relação como se-
gilância e autocorreção de atitudes e com- gue:
portamentos com relação a normas e expec-
tativas estabelecidas por outros (Deetz, 'A forma-signo [presente em um có-
1995; Capítulo 10; no prelo b). digo monopolista] descreve uma organi-
zação completamente diferente: o signifi-
cado e o referente são abolidos, agora em
proveito exclusivo do jogo dos significan-
Hiper-realidade tes, de uma formalização generalizada na
qual o código já não se refere a qualquer
Escritos pós-modernos variam em ter- realidade subjetiva ou objetiva, mas a sua
mos de como lidam com a relação da lin- própria lógica... O sinal já não designa
guagem com a área não lingüística das pes- qualquer coisa. Ele aproxima seu verda-
soas e do mundo. Um foco lingüístico rígi-
do e uma crítica rigorosa da filosofia da pre-
sença deixam pouco interesse em referên-
cia a uma realidade extratextual pré-forma-
da e relativamente constante. A maioria dos
pós-modernistas trata o exterior como um
tipo de excesso ou alteridade, que serve
como recurso para formações e também
impede sistemas de linguagem de se torna-
rem fechados e puramente imaginários.
Enquanto o referente não tem nenhum ca-
ráter específico, ele sempre excede os obje-
tivos feitos dele, o que nos lembra a nature-
za limitada de todos os sistemas de repre-
sentação e suas indeterminações fundamen
tais (Cooper, 1989). A presença da alte-
ridade na indeterminação fornece um mo-
mento para mostrar a dominação presente
em qualquer sistema, para abri-la e quebrar
a auto-referencialidade de alguns sistemas
textuais.
Os pós-modernistas mostram como
muitos sistemas lingüísticos ou represen-
tacionais são auto-referentes. Tais sistemas
não estão ancorados no mundo socialmen-
te produzido como objetivo, nem respeitam
o excesso de um exterior. Eles produzem o
mesmo mundo que parecem representar
com precisão. Por exemplo, a mídia contem-
porânea e os sistemas de informação têm a
I 200 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE ___________________

deiro limite estrutural que é referir-se mos . Ela demonstra a atividade de constru-
ape- ção e prove a indeterminação baseada no
nas a outros sinais. Toda a realidade, en- excesso de exterior. As construções positiva
tão, se torna o lugar de uma manipulação e polar são, ambas, mostradas como atos
semi-impulsiva, de uma simulação estru-
de dominação, subjetividade violentando o
tural" (1975 : 127-128).
mundo e se limitando no processo. Nesse
O mundo como compreendido não é movimento, conflitos que foram reprimidos
realmente uma ficção nessa situação, uma pelo positivo são trazidos de volta para
vez que não há um "real" fora, que seja re- redecisão, e o campo conflitivo do qual os
tratado falsamente ou que possa ser usado objetos são formados é recuperado para a
para corrigir essa compreensão. Ele é cor- determinação criativa - diferenciação cons-
retamente imaginário, não tem nenhum tante e rediferenciação. Dado o poder do
oposto, nenhum exterior. Baudrillard usou fechamento e o modo como ele entra em
o exemplo da diferença entre fingir e simu- rotinas e no senso comum, especialmente
lar uma enfermidade para mostrar o cará- em simulações, tais releituras requerem uma
ter desta representação pós-moderna: fin- forma particular de rigor e imaginação. As
gir ou dissimular deixa o princípio de reali- releituras são formadas por um agudo senti-
dade intacto; a diferença sempre está clara, do de ironia, uma jocosidade séria e, fre-
só é mascarada; enquanto que a simulação qüentemente, são guiadas pelo prazer que
ameaça a diferença entre o verdadeiro e o a pessoa tem de estar livre das compulsões
falso, entre o imaginário e o real. Desde que estúpidas de um mundo tornado excessiva-
o simulador produza os sintomas verdadei- mente fácil e violento. Um exemplo bom
ros, ele está doente ou não? Ele não pode desse tipo de leitura é o relato que Calas e
ser tratado objetivamente nem como doen- Smircich (1988) fazem do artigo de uma
te, nem como não doente (1983:5). Essas revista positivista da corrente dominante -
idéias têm inspirado alguns estudos de or- em que eles começam com a pergunta "Por
ganização enfatizando o caráter imaginário que nós deveríamos acreditar neste autor?"
de organizações modernas (Berg, 1989; e, então, apontam os truques retóricos en-
Alvesson, 1990; Deetz, 1994c; 1995). Como volvidos em persuadir o leitor. Outro exem-
é comum com idéias pós-modernas em teo-
ria de organização, esses estudos não se-
guem suas fontes de inspiração até suas con-
seqüências finais (extremas).

Pesquisa como resistência e


indeterminação
O papel de pesquisa pós-moderna é
muito diferente dos papéis mais tradicionais,
atribuídos à ciência social. Ele serve primei-
ramente para tentar abrir a indeterminação
que a ciência social moderna, as concepções
cotidianas, as rotinas e as práticas têm fe-
chado. O resultado é um tipo de conheci-
mento antipositivo (Knights, 1992). Os mé-
todos primários são a desconstrução, leitu-
ras como formas de resistência e genea-
logias. Esses termos têm sido usados de
muitos modos diferentes e aqui, neste pe-
queno espaço, podemos fazer pouco além
de um esboço. A desconstrução trabalha
principalmente criticando a filosofia de pre-
sença, recuperando os termos reprimidos (o
termo submetido) que produz o sistema e
assim permite o surgimento de termos po-
sitivos para representar um objeto existen-
te. Quando se dá ao termo suprimido valor,
se mostra a dependência do termo positivo
do negativo, um terceiro termo é recupera-
do, que mostra um modo de fabricação de
mundo que não é dependente na oposição
dos dois primeiros (Veja Cooper, 1989;
Martin, 1990; Calas e Smircich, 1991;
Mumby e Putnam, 1992). A leitura como
forma de resistência é menos focada em ter-
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS
■■■■■■■■■aHHBMnBHBMMMnn

pio interessante é a revisão crítica de contribuições mais poderosas e interessan-


Sangren (1992), de Writing Culture (1986), tes do pós- modernismo.
de Clifford e Marcus. Sangren, utilizando
Bourdieu (1979), usa os pontos de vista
deles sobre a política de representação - que RELACIONANDO TEORIA CRÍTICA E
pretendem indicar os problemas das etno- PÓS-MODERNISMO
grafias em refletir culturas e exemplificadas
por meio de trabalhos antropológicos im- Teoria crítica e pós-modernismo, con-
portantes - contra eles mesmos, mostrando forme têm sido mostrados, são semelhan-
como as representações de Clifford, Marcus tes e diferentes. Cada um tem muito para
e co-autores de trabalhos anteriores podem contribuir nos estudos organizacionais, e
ser vistas em termos de política. Tipos par- acreditamos que eles têm uma contribuição
ticulares de representações são usados para a fazer juntos. Sem considerar temas pós-
criar a impressão de que os trabalhos ante- modernos, a teoria crítica se torna facilmen-
riores tinham falhas e de que há um espaço te não reflexiva com respeito ao elitismo
grande e aberto para novas contribuições cultural e às condições modernas de poder;
(e de opções de carreira) da nova ortodoxia e sem incorporar alguma medida de pensa-
(Clifford, Marcus et al.) e suas mais infor- mento de teoria crítica - ou algo semelhan-
madas visões da política de representação. te, que proveja direção e relevância social -
O ponto da ciência social não é enten- o pós-modernismo simplesmente se torna
der certo, mas desafiar suposições orien- esotérico. Ambos chamam a atenção para a
tadoras, significados e relações fixos e rea- construção social, histórica e política do
brir a capacidade formativa dos seres hu- conhecimento, das pessoas e das relações
manos em relação a outros e ao mundo, sociais, inclusive como cada um destes ele-
qualidades que Gergen (1978) e Astley mentos aparece nas organizações contem-
(1985) mostraram como essenciais para porâneas. E eles compartilham a visão de
qualquer teoria importante. Como Sangren que a dominação é auxiliada, e pessoas e
(1992) ilustra, o desafio do dogmas, idéias organizações perdem muito, se negligen-
e reaberturas fixas implica com facilidade ciamos estas atividades de construção, tra-
novos dogmas, fixações e fechamentos. O tando o mundo existente como natural, ra-
pós-modernismo não está de nenhuma ma- cional e neutro. Na linguagem da teoria crí-
neira imune a tais implicações (Alvesson e tica, a preocupação é a reificação; no pós-
Skõldberg,1996). modernismo, a filosofia da presença. Base-
Um resultado desses temas revistos -
em particular a crítica da filosofia de pre-
sença e a perda das narrativas-mestras, mas
também da hiper-realidade e o enfoque da
resistência - é um grande interesse em ex-
perimentar estilos diferentes. Isto é proemi-
nente na antropologia (Clifford e Marcus,
1986; Geertz, 1988; Marcus e Fisher, 1986;
Rose, 1990) mas também na teoria da or-
ganização (por exemplo, Calas e Smircich,
1991; Jeffcutt, 1993; Linstead e Grafton-
Small, 1990). Tipicamente, modos "realis-
tas" de escrever são substituídos ou com-
plementados por outros estilos, por exem
plo, formas irônicas, auto-irônicas ou
impressionistas. Em uma investigação de
textos em cultura organizacional e simbo-
lismo, Jeffcutt mostra como eles se "distin-
guem por meio de buscas heróicas de fe-
chamento; são dominados por autores que
adotam estilos representacionais que privi-
legiam narrativas épicas e românticas com
relações a formas trágicas e irônicas. Estas
estratégias representacionais expõem uma
procura generalizada de unidade e harmo-
nia que reprime divisão e conflito" (1993 :
32). Talvez a inspiração para desenvolver
modos novos de escrita venha a ser uma das
202 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

ados nessa naturalização e congelamento da deles, mas o equilíbrio, escolhendo os mo-


realidade social contemporânea, conflitos mentos certos (Deetz, 1992). Dizer que con-
importantes - opções para reconsiderações senso implica dominação não significa que
e questionamento - são perdidos e diferen- não devamos tomar as melhores decisões
tes grupos de pessoas, bem como valores que pudermos juntos, mas precisamos con-
vitais, são marginalizados e colocados em tinuar a procurar a dominação e estar pron-
posição de desvantagem. Ambos vêem as tos para seguirmos adiante. Dizer que a re-
organizações e as ciências sociais que as sistência carece de uma política clara não
suportam como dependendo crescente- significa que ela não está fazendo algo im-
mente de uma forma de razão instrumen- portante e que, no final, possa ser o único
tal, que privilegia os meios sobre os fins e caminho para podermos ver por meio de
ajuda a habilidade dos grupos dominantes dominações de que gostamos ou que nos
em realizar seus fins invisivelmente. beneficiam e limitam.
Habermas descreve isto em termos de "ra- Uma opção, então, é trabalhar com
ciocínio técnico instrumental", Lyotard em tensões não resolvidas dentro de um texto,
termos de "performatividade". na qual seguimos diferentes temas de pós-
As diferenças também são importan- modernismo e teoria crítica, sem tentar sín-
tes. A teoria crítica vê a resposta em termos teses, trabalhando com as tensões e imagens
de uma forma expandida de raciocínio co- contrastantes. Exemplos disso incluem o tra-
municativo, moralmente guiado, que con- balho de Martin (1990; 1995), Knights e
duz à autonomia individual e a melhores Willmott (1989) e Deetz (1994c; no prelo
escolhas sociais. Por meio da reflexão da b). Outra versão é dar espaço para várias
forma como a ideologia - idéias culturais vozes discretas em textos, organizando-os
tomadas como mensagens específicas cria- em torno de conversações entre várias pers-
das por agências poderosas - entra na cons- pectivas teóricas ou de grupos de interesse
trução de pessoa/mundo/conhecimento, e (Alvesson e Willmott, 1996; Capítulo 7) para
provendo foros mais abertos de expressão e
um tipo de discurso que visa à compreen-
são mútua, há esperança de produção de
um consenso social e de acordos sociais que
satisfaçam melhor as necessidades humanas.
A narrativa principal do Iluminismo pode,
de acordo com a teoria crítica, ser melhora-
da. Mas o pós-modernismo rejeita tal refle-
xão e o consenso, suspeitando da substitui-
ção de velhas ilusões por novas, e da cria-
ção de novas elites e novas formas de
marginalização. A teoria crítica responde:
sem reflexão, consenso e racionalidade; não
há política, nenhuma agenda para uma al-
ternativa construtiva. O pós-modernismo se
opõe: políticas são necessidades locais e
situacionais; responsabilidade é mais impor-
tante do que o planejamento sistemático. A
teoria crítica responde: as políticas locais são
muito fracas para confrontar as dominações
de classe e de gênero de amplitude sistêmica
bem como a pobreza global e os problemas
ambientais. O pós-modernismo mantém:
organizar contra a dominação, estimula e
solidifica os grupos dominantes; cria suas
próprias formas de dominação. A diferença
é, em certo sentido, a mesma que existe
entre uma teoria que empurra e uma que
puxa. A teoria crítica quer que ajamos e pro-
porciona direção e orquestração; o pós-mo-
dernismo acredita que tal movimento será
limitado pela força de nossa própria domi-
nação subjetiva e nos encoraja a sair do ca-
minho e permitir que o mundo nos leve a
sentimentos e pensamentos desconhecidos;
mas a teoria crítica não tem confiança sufi-
ciente para deixar ir. E assim por diante.
Mas há modos para pensar neles, am-
bos de uma vez, embora não necessariamen-
te por meio de alguma nova síntese. Temos
necessidade de ambos: conflito e consenso,
resistência e planos. A'questão não é qual
TEORIA CRÍTICA E ABORDAGENS PÓS-MODERNAS PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 203J

conduzir interpretações múltiplas do mes- faltando, em particular, são esforços sérios


mo fenômeno (Alvesson, 1996; Morgan, para embasar idéias de resistência local em
1986), interpretando um fenômeno de contextos empíricos específicos. Fala-se
ambas as posições, da teoria crítica e pós- muito de resistência na indústria pós-mo-
modernista (e talvez outras). Outro modo dernista, mas de maneira altamente teóri-
de combinar insights de teoria crítica e pós- ca, generalizada e bastante esotérica. Preci-
modernista é ver ambas como metateorias samos ir além de repetir slogans progra-
úteis para inspirar a reflexividade, em vez máticos, e usar e refinar a idéia em contato
de vê-las como teorias diretamente relevan- estreito com as vidas de sujeitos em am-
tes para guiar e interpretar estudos de pro- bientes organizacionais.
blemas substantivos (Alvesson e Skõldberg, Por razões de espaço, não iremos nos
1996). Ainda outra opção é restringir o alongar no tratamento dessas respostas às
enfoque ao estudo cuidadoso do uso da lin- várias críticas dos modos tradicionais de
guagem e práticas comunicativas no cená- fazer pesquisa, adiantadas pelos autores pós-
rio social real, o que é feito pela, pelas aná- modernos em particular, mas em muitos
lise de conversação e discurso (I. Parker, casos também por autores que não empu-
1992; Potter e Wetherell, 1987) e constru- nham a bandeira pós-moderna. Basta dizer
tivistas (Shorter e Gergen, 1994; Steier, que há vários caminhos que se dirigem ao
1991). Tais estudos podem ser usados para espaço entre epistemologias hermenêuticas
nos sensibilizar para os efeitos de poder da mais tradicionalmente realistas - em que há
linguagem, e embasar as idéias de Habermas espaço para estudos empíricos do fenôme-
e pós-modernistas em porções da realidade no organizacional - por um lado; e uma fi-
organizacional (Forester, 1992). Esse foco losofia pós-moderna, ameaçando tornar
na linguagem evita a filosofia da presença, toda a ciência social uma crítica literária
mas conserva o contexto empírico. esotérica, por outro lado.
Talvez a maior crítica à teoria crítica e
ainda mais ao pós-modernismo seja a es-
cassez de estudos empíricos claros. Parte da
NOTAS
crítica advém de uma visão limitada da no-
ção de "empírico", mas os pesquisadores
1. Com freqüência, quando as pessoas falam sobre
ainda podem ser culpados por fazerem mui- pós-modernismo, e sua sombra modernista, a
tos ensaios conceituais sem experiência pro- posição anterior é um tipo de síntese e adaptação
longada no campo e relatórios. A forte críti-
ca que a teoria crítica e o pós-modernismo
fazem do empirismo e sua ênfase nos dados
como construção aberta a uma multiplici-
dade de interpretações não significa que o
trabalho empírico reflexivo não valha a pena
ser feito. Muitos textos têm uma percepção
limitada dos contextos organizacionais e das
vidas de pessoas reais. Muito pode ser gan-
ho permitindo aos participantes organiza-
cionais "dizer algo" que não seja imediata-
mente domesticado por teorias, que locali-
zam o material em discursos pejorativos
excessivamente previsíveis: burocracia, pa-
triarcalismo, capitalismo, empresarialismo,
num conceito foucaultiano absolutamente
abrangente de poder, ou na pacificação e
fragmentação de assuntos como meros
apêndices de discursos. Uma postura em-
pírica pode também reduzir uma tendência
à negatividade em muito da teoria crítica e
algum pós-modernismo. Tendo dito isto, nós
devemos reconhecer que, recentemente,
mais trabalhos empíricos têm sido feitos,
particularmente com uma orientação da te-
oria crítica (por exemplo, Rosen, 1985;
1988; Knights e Willmott, 1987; 1992;
Alvesson, 1996), mas também usando te-
mas pós-modernos (Martin, 1990; 1995;
Deetz, no prelo b; no prelo c). O que está
204 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

à ciência social do que foi expresso pelos gurus dominant ideology thesis. Londres : Allen and
referidos. Isso significa que não há necessariamen- Unwin, 1980.
te uma relação "um-para-um" entre o que se pode
encontrar apoio claro em textos-chave de Derrida, ALVESSON, M Organization Theory and
Foucault etc. e o que se sumaria como uma posi- technocratic consciousness: rationality, and
ção pós-modernista. Aqui seguiremos esta práti- quality of work. Berlin, New York: de
ca e conteremos as dúvidas com respeito às ra- Gruyter,
zões para resumir parcialmente autores e temas
1987.
intelectuais muito diferentes (Alvesson, 1995), -
uma ação que provavelmente conquistaria pouca ______ . Organization: from substance to image?
simpatia por parte dessas pessoas. Organization Studies, 11: 373-394, 1990.
2. Nós deveríamos observar, antes de seguir adian-
______ . Cultural perspectives on organizations.
te, que uma das funções das histórias é produzir
um número de textos/acadêmicos (a) como uma Cambridge : Cambridge University Press,
escola de pensamento, e (b) como nova ou dife- 1993a.
rente, tanto pelas vantagens profissionais para __ . The play of metaphors. In: HASSARD, J.,
seus praticantes, quanto como um jeito de demar-
PARKER, M. (Eds.). Postmodernism and
car uma comunidade. E interessante observar que
esta produção histórica é importante não para
organizations. Londres : Sage, 1993b.
precursores ou gurus - que freqüentemente re- __ . The meaning and meaninglessness of
sistem a rótulos como pós-modernismo - mas, postmodernism: some ironic remarks.
também, para seguidores e apoiadores. As vanta-
Organization Studies, 15, 1995.
gens políticas e de confirmação de identidade são
mais claras para estas pessoas. __ . Communication, Power and organization.
3. Como em muitas questões, há variações, aqui, Berlin/New York : de Gruyter, 1996.
entre os pós-modernistas. Derrida não aborda
diretamente o tema. Foucault é o que chega mais
__ , SKÒLDBERG, K. Towards a reflexive
perto, ao apoiar uma visão da teoria crítica con- methodology. Londres : Sage, 1996.
tra a engenharia social como uma solução, em- _, WILLMOTT, R (Eds.). Critical
bora ele não esteja sem ambigüidade neste pon- management studies. Londres : Sage, 1992.
to. Lyotard aparece para ter sentimentos mistu-
rados sobre este problema. A maioria dos autores __ , WILLMOTT, H. Strategic management as
da ciência social, que defendem o pós-modernis- domination and emancipation: from
mo, partilham o ceticismo da teoria crítica neste planning and process to communication and
ponto. praxis. In: STUBBART, C, SHRIVASTAVA, P
4. A discussão nesta sessão foi adaptada da discus- (Eds.). Advances in strategic management.
são de Deetz (no prelo a) sobre os problemas com Greenwich, CT : JAI Press, 1995. v. 11.
as divisões de paradigmas de Burrell e Morgan
(1979). Várias revisões de Burrell e Morgan são
cruciais. O termo "normativo" é usado para des-
crever na sua maior parte as mesmas posições de
pesquisa que Burrell e Morgan chamaram de
"funcionalista". Isto livra a descrição de uma es-
cola particular de pensamento sociológico e cha-
ma a atenção para suas pesquisas do normal, da
regularidade e da natureza carregada de valor de
seu uso em "normalizar" pessoas e as condições
sociais existentes. "Dialógico" chama a atenção
para o aspecto relacionai do pós-modernismo e
evita a questão da periodização. Observe que o
trabalho crítico é mostrado com mais afinidade
com o trabalho normativo (em vez da total opo-
sição na configuração funcionalista/radical-
humanista de Burrell e Morgan) por causa de suas
qualidades diretivas em contraste com a forte
orientação para a alteridade nos trabalhos inter-
pretative e dialógico. A dimensão elite/a priori,
local/ emergente substitui a dimensão subjetivo-
objetivo em Burrell e Morgan. O dualismo sujei
to/objeto, no qual a dimensão deles foi baseada,
é severamente falho. Primeiro, ela tende a repro-
duzir o dualismo sujeito/objeto presente nas filo-
sofias que sustentam a pesquisa normativa, mas
não as outras posições. Segundo, ela posiciona
erradamente a pesquisa normativa, menosprezan-
do sua subjetividade na dominação da natureza
e definindo a experiência de pessoas para elas. E
terceiro, ela deixa de realçar a qualidade do cons-
trucionismo de todos os programas de pesquisa.
5. Isto é, então, basicamente, uma sociologia ou tipo
de periodização da psicologia pós-moderna e é,
também, usada, em certa medida, por autores que
não se vêem como pós-modernistas ou falam de
pós-modernismo, por exemplo, Berger et al.
(1973) ou Lasch (1978; 1984).

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-
9
NOTA TÉCNICA: FRUTAS MADURAS
EM UM SUPERMERCADO DE
IDÉIAS MOFADAS
THOMAZ WOOD, JR.

Alguém já afirmou que o campo de supermercado de idéias mofadas, mas ain-


Estudos Organizacionais se converteu nos da estão em tempo de serem consumidas.
últimos anos em um verdadeiro supermer- A Teoria Crítica tem sabor de anos 60
cado de idéias. A pressão pela geração de Lembra "maio de 68", hippies e "The Kinks".
novidades, especialmente na academia ame- O Pós-modernismo é mais recente. Remete
ricana (sabidamente a mais numerosa, po- aos anos 80, yuppies, saxofone e "Blade
derosa e produtiva), estaria levando a uma Runner".
profusão de conceitos e teorias. Resultado: Mats Alvesson e Stanley Deetz, os au-
fragmentação, diversidade e crescente irre- tores do texto, realizaram uma empreitada
levância. de fôlego, procurando mostrar origens, prin-
Alguns arautos da consistência e dos cipais pontos em comum e principais dife-
bons costumes, nostálgicos de tempos não renças entre as duas abordagens. Os auto-
tão plurais, bradam aqui e ali por um rea- res reconhecem as dificuldades e os riscos
linhamento da produção, geralmente em de sua proposta. O material disponível é
torno de seus paradigmas de pesquisa. Ou- numeroso, multidisciplinar, contraditório e,
tros desafiam a já instável ordem esta- muitas vezes (especialmente no caso do Pós-
belecida, clamando por perspectivas alter- modernismo) confuso.
nativas e idealizando uma Babel em sua ple- Ambas as abordagens surgem do es-
nitude polifônica. gotamento do projeto modernista e da críti-
A verdade é que, por trás de uma exu- ca do primado da razão. Seus inimigos são
berância cultivada com retórica sofisticada
e requintes de gerenciamento da impressão,
este nosso supermercado de idéias está re-
pleto de idéias mofadas, teorias sem vida e
conceitos que nunca deixaram o conforto
das prateleiras. São produtos de uma torre
de rnarfim que vive em processo de
autopoiese pervertida, acredita que estuda
o mundo exterior e rumina irrelevâncias
pretensiosas.
Seria o caso de fechar o estabelecimen-
to e mudar de ramo? Talvez não. De fato,
aqui e ali, algumas abordagens talvez pos-
sam recuperar Estudos Organizacionais para
a vida.

POSSIBILIDADE DE RENOVAÇÃO

Neste capítulo, Mats Alvesson e


Stanley Deetz visitam duas abordagens que
poderiam contribuir para esta recuperação.
Nenhuma delas - o Pós-modernismo e a Teo-
ria Crítica - é nova. Sãofrutas maduras nesse
212 PARTE I - MODELOS DE ANÁLISE

o positivismo, a noção de progresso e as for- lhos gerados no âmbito da Universidade


mas sofisticadas de controle. A desilusão Federal da Bahia, na EAESP/FGY em São
com o projeto modernista é tanto maior Paulo, e na EBAP/FGV, no Rio de Janeiro.
quanto a constatação de sua incapacidade
de explicar (e controlar) o mundo.
A principal fonte dos trabalhos de Te- PÓS-MODERNISMO
oria Crítica é constituída por autores da Es- lise, Sociologia e da Psicologia Social, além
cola de Frankfurt, em especial Herbert de outras ciências da vida.
Marcuse. Para o Pós-modernismo, as fontes Com o tempo, a SCOS evoluiu de abor-
primeiras são autores franceses com desta- dagens interpretativistas - fundamentalmen-
que para Jean Baudrillard. te estudos de cultura e simbolismo organi-
Os pensadores das duas abordagens zacional - e passou a abrigar pesquisadores
bebem do perspectivismo de Nietzsche, da fortemente influenciados pelas idéias rela-
visão de conflito de Marx e do conceito com- cionadas ao Pós-modernismo. Além da SCOS,
plexo de homem de Freud. Eles dividem o Pós-modernismo tem encontrado espaço
universos similares de preocupações e vi- em publicações como Organization e Studies
sões de mundo. Preocupam-se com a lingua- in Culture, Organization and Society. Em
gem, o discurso e o texto. Posicionam-se 1997, até mesmo a Academy ofManagement
contra as grandes teorias totalizantes, en- abrigou debates inspirados por essa orien-
tendem a realidade como algo socialmente tação.
construído e dão ênfase para a fluidez e a Pós-modernismo é de fato um termo
hiper-realidade do mundo contemporâneo. polêmico. Sua origem é incerta e já foi de-
clarado inexistente, morto e desprovido de
significado. Segundo Featherstone (1988),
TEORIA CRÍTICA qualquer referência ao termo pode tornar o
utilizador alvo de olhares de suspeita e sar-
A Teoria Crítica tem uma agenda cla- casmo, normalmente dirigidos aos que abra-
ra. Ela não adota uma postura anti-mana- çam os últimos modismos da filosofia e do
gement, mas percebe acadêmicos da área debate cultural. Felizmente, os conceitos
como ideólogos, servindo aos interesses de
grupos dominantes. Sua meta maior é criar
sociedades e organizações livres da domi-
nação, em que todos possam contribuir e
desenvolver-se.
Se não chega a integrar o mainstream,
a Teoria Crítica também não é completamen-
te marginal. Autores dessa orientação têm
tido espaço em publicações de primeira li-
nha como Organization Studies.
A abordagem da teoria crítica parece
especialmente promissora no Brasil, onde o
funcionalismo não fincou raízes profundas.
Ainda assim, os trabalhos são poucos, per-
dendo em volume para o gerencialismo mal
informado que parece caracterizar grande
parte de nossa produção acadêmica. Pode-
mos aqui exemplificar nessa linha os traba-

Pior sorte na 7èrra Brasilis tem experi-


mentado o Pós-modernismo, que parece não
ter ainda conquistado, no âmbito de Estu-
dos Organizacionais, muitos adeptos. Nes-
te sentido, foi extremamente oportuna a
ocorrência, entre nós, de um encontro da
SCOS - Standing Conference of Organiza-
tional Symbolism -, em 1998.
A SCOS foi criada na Europa em 1981
como um grupo independente dentro do
European Group of Organanizational Studies
(EGOS). Seu principal pressuposto é que o
estudo de organizações, como fenômeno
humano e social, requer uma abordagem
interdisciplinar. Seu ideário prega o uso de
métodos, conceitos e metáforas tomadas da
Antropologia, Lingüística, História, Psicaná-
NOTA TÉCNICA: FRUTAS MADURAS EM UM SUPERMERCADO DE IDÉIAS MOFADAS 213

centrais do Pós-modernismo superaram o O mundo dos negócios transformou o


ceticismo e a desconfiança iniciais e conti- mundo das artes e do entretenimento. Hoje,
nuam a gerar debates e trabalhos interes- cinema, teatro, música e pintura ... tudo é
santes. business, tudo é julgado por critérios comer-
Em Estudos Organizacionais, o tema ciais. Em contrapartida, o mundo do entre-
passou a ser sistematicamente tratado no tenimento está transformando o mundo dos
final da década de 80 e no começo da déca- negócios em espetáculo: os modismos
da de 90. De 1988 a 1994, Cooper e Burrel gerenciais oferecem os enredos, os best-
publicaram, em Organization Studies, uma sellers de gestão oferecem os roteiros, e os
análise desdobrada em quatro trabalhos, gurus e gerentes simbólicos são personagens
intitulada "Modernismo, pós-modernismo e de infinitos roteiros de péssima qualidade.
análise organizacional" (Cooper & Burrel, O mundo das organizações constitui hoje a
1988; Burrel, 1988,1994; e Cooper, 1989). mais exuberante cena da sociedade do espe-
Além deles, outros pesquisadores conheci- táculo.
dos tiveram coletâneas e livros publicados
(por exemplo: Hassard, 1993; Hassard &
Parker, 1993; Clegg, 1990; e Chia, 1995). O ALTERNATIVAS PARA PESQUISA
volume de publicações comprova o interes-
se pela abordagem. A questão que deve aqui ser colocada
O Pós-modernismo traz uma concep- é: poderiam estas abordagens orientar linhas
ção de homem e de organização singulares. de pesquisa locais? Com suas singularida-
Do ponto de vista modernista, a organiza- des e contradições, forças e fraquezas, estas
ção é vista como um instrumento social e duas abordagens certamente oferecem pos-
uma extensão da racionalidade humana. Do sibilidades múltiplas e inexploradas para os
ponto de vista pós-modernista, a organiza- pesquisadores brasileiros.
ção é menos a expressão do pensamento Num momento em que gurus interna-
planejado e da ação calculada e mais uma cionais e modismos gerenciais avançam so-
ação defensiva a forças intrínsecas ao corpo bre os corações e mentes locais, a Teoria
social que ameaçam contentemente a esta- Crítica e o Pós-modernismo parecem abor-
bilidade da vida organizada (Cooper e dagens adequadas para analisar a importa-
Burrel, 1988: 91). ção de tecnologia gerencial e nossa nova
No Pós-modernismo, o homem é re-
presentado como um voyer navegando um
mar de símbolos. Sua vivência é mediada
por imagens de cinema e televisão. Daí po-
demos deduzir que vivemos em uma socie-
dade essencialmente dramatúrgica. O espe-
táculo não apenas espelha a vida, mas lhe
confere estrutura e significado (Debord,
1994[19671). A realidade, como construção
social, passa a ser julgada em face da con-
traparte cinematográfica.
De fato, vivemos em um mundo obce-
cado pelo novo, habitado por novidades ar-
tificiais, por eventos não espontâneos, em
que a imagem parece mais fidedigna que o
original. Após décadas de exposição a
pseudo-eventos, a tendência é perder a no-
ção do que é original. Se o ter já se havia
tornado mais importante que o ser, agora é
o parecer que ganha a primazia.
A espetacularização da vida social cria
um universo à parte, em que a relação en-
tre as pessoas é mediada por imagens. O
espetáculo cria uma auto-representação do
mundo que é superior ao próprio mundo. E
não se trata de um fenômeno de superfície.
Na sociedade do espetáculo, o homo spectator
não vive, apenas contempla. Ele é ator co-
adjuvante, pressionado a encontrar seu pa-
pel e a desempenhá-lo. O espetáculo forne-
ce o roteiro, o ato e a fala, e ainda avalia o
desempenho.
relação com o estrangeiro (Caldas, 1997; BURREL, G. Modernism, postmodernism and
Wood, 1997). Dentro desse tema, uma sé- organizational analysis: The contribution of
rie de alternativas pode ser imaginada: Jurgen Habermas. Organization Studies, 151:
1-45, 1994.
• analisar em profundidade a espe- CALDAS, M. P Santo de casa não faz milagre:
tacularização, em especial o dis- condicionantes nacionais e implicações
organizacionais da fixação brasileira pela fi-
tanciamento entre substância e
gura do 'estrangeiro'. In: MOTTA, F. C. P,
imagem;
CALDAS, M. P Cultura organizacional e cul-
• explorar a manipulação da ima- tura brasileira. São Paulo: Atlas, 1997.
gem e da retórica como instru-
CHIA, R. From modern to postmodern
mentos de controle social nas or- organizational analysis. Organization
ganizações; Studies,
• explorar as múltiplos narrativas 164: 579-604, 1995.
no âmbito de processos de mudan- CLEGG, S. R. Modern Organizations: Organization
ça, indo além do discurso oficial e studies in the postmodern world. Londres :
dando voz aos críticos e descon- Sage, 1990.
tentes; COOPER, R., BURREL, G. Modernism,
• compreender melhor a adoção postmodernism and organizational analysis:
(cerimonial) de tecnologia geren- An introduction. Organization Studies, 91:
cial importada; 91-112, 1988.
• analisar em profundidade os pro- COOPER, R. Modernism, postmodernism and
cessos de fragmentação de identi- organizational analysis: The contribution of
dade (individual e organizacio- Jacques Derrida. Organization Studies, 104:
nal), especialmente nos processos 479-50, 1989.
de privatização; e DEBORD, G. The society of spectacle. New York :
• desenvolver uma crítica sistemá- Zone Books, 1994 [1967].
tica a discursos pseudomoder- FEATHERSTONE, M. In pursuit of postmodern:
nizantes (qualidade total, compe- An introduction. Theory, Culture & Society,
tências organizacionais etc.) e no- 5: 195-215, 1988.
vos tipos ideais (learning organiza-
tion, empresa flexível etc).

CONCLUSÃO

A produção acadêmica brasileira em


Estudos Organizacionais tem se caracteri-
zado como periférica e sem originalidade.
Apesar de ter crescido em quantidade nos
últimos anos, ela tende a espelhar o que o
país tende a ser na maioria das áreas: uma
imitação opaca do que acontece em centros
mais desenvolvidos (Bertero, Caldas &
Wood, 1998).
Talvez seja o caso de retomar os ide-
ais antropofágicos e lançar ao caldeirão
(Wood e Caldas, 1998) de Baudrillards,
Marcuses, Alvessons e Deetz's. Se eles pro-
varem sua coragem e valor, então quem sabe
valha a pena devorá-los. Quiçá representem
alimento que, em amálgama com o maná
local, traga a vitalidade para o desenvolvi-
mento de Estudos Organizacionais entre as
nações tropicais.

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Parte II

QUESTÕES E TEMAS
EMERGENTES
EM ESTUDOS
ORGANIZACIONAIS
10
Do PONTO DE VISTA DA MULHER:
ABORDAGENS FEMINISTAS EM
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS*
MARTA B. CALAS E LINDA SMIRCICH

Nos últimos 30 anos, o movimento baixos níveis de remuneração e têm ascen-


pela "libertação das mulheres" obteve con- são mais lenta na carreira, se comparada à
sideráveis ganhos sociais, políticos e econô- dinâmica observada no grupo de maridos
micos, melhorando a situação de muitas cujas mulheres não trabalham fora de casa
mulheres. Concomitantemente, os movi- (Stroh e Brett, 1994). Em organizações
mentos feministas contribuíram fortemen- transnacionais em países em desenvolvi-
te para a análise cultural contemporânea. mento, as mulheres, que tradicionalmente
Em diversas universidades mundo afora, ocupavam os empregos de pior remunera-
programas de estudos sobre a questão da ção e de maior nível de exploração, estão
mulher ajudaram a promover métodos ficando desempregadas, à medida que os
multidisciplinares e diversas "teorias" femi- homens começam a aceitar os baixos salári-
nistas propuseram repensar as bases do co- os e a ocupar essas vagas (Fernández-Kelly,
nhecimento. No entanto, apesar desses 1994; Mies et al., 1988).
avanços, a segregação sexual nos empregos Apesar dessas e de outras evidências,
e organizações persiste como um fenôme- alguns têm considerado que o feminismo foi
no mundial, assim como a desigualdade longe demais no que se refere a beneficiar
remuneratória entre os sexos (Adler e mulheres em acusações de discriminação, e
Izraeli, 1988; Berthoin-Antal e Izraeli, 1993; o crescente número de denúncias de assé-
Brown e Pechman, 1987; Davidson e Cooper, dio sexual em locais de trabalho deu ori-
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United Nations, 1995). A "feminização da
pobreza" mostra que há uma tendência de
concentração de casos de baixa renda fami-
liar em lares mantidos por uma mulher so-
zinha como chefe de família, estando essa

Tradução: Regina Cardoso.


Revisão Técnica: Maria Ceei Misoczky.
mulher geralmente desempregada e depen-
dente da assistência social (Pearce, 1978).
Ao mesmo tempo, profissionais do sexo fe-
minino enfrentam o fenômeno da "gorjeta",
em que profissões de nível superior tipica-
mente masculinas e tradicionalmente bem
remuneradas sofrem quedas de poder aqui-
sitivo quando passam a ser dominadas por
mulheres (Strober, 1984). Ainda há que se
notar que a estrutura desigual de oportuni-
dades também afeta os maridos de mulhe-
res trabalhadoras, que permanecem com
^76PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

torno".* Outros, no entanto, se ressentem Por exemplo, uma distinção conceituai


de que muitos feminismos ainda não avan- central entre as teorias feministas é o en-
çaram suficientemente, por representarem tendimento do gênero. As primeiras teorias
pessoas brancas, ocidentais e de classe mé- do feminismo liberal preocupavam-se com
dia, excluindo um grande contingente de as desigualdades entre os "sexos", isto é,
mulheres e homens, seus interesses e ne- entre duas categorias de pessoas ("masculi-
cessidades (Lugones e Spelman, 1983; no" e "feminino") identificadas por suas ca-
Mohanty, 1991b). racterísticas biológicas. Mais tarde, a teo-
De nosso ponto de vista, a tarefa do rização distinguiu entre "sexo" biologica-
feminismo não acabou, e as preocupações mente definido e "gênero" sociologicamen-
feministas continuam a ter pontos de inter- te construído, um produto da socialização e
seção com os temas organizacionais. As te- vivência. Mesmo aqui, as formulações femi-
orias "feministas", como vamos sugerir, não nistas divergem sobre quais são os aspectos
dizem respeito apenas aos temas relativos vivenciais mais importantes na constituição
"às mulheres": ao adotar essas teorias como do gênero e das relações de gênero: por
lentes conceituais, acreditamos que pode ser exemplo, o aprendizado social dos papéis
criado um campo mais conclusivo de estu- sexuais, para o feminismo liberal; as práti-
dos organizacionais, onde sejam considera- cas culturais que sobrevalorizam a expe-
das as questões de outros, além das mulhe- riência masculina em detrimento da femi-
res, que são diretamente afetados pelos pro- nina, segundo o feminismo radical; ou as
cessos e discursos organizacionais. Assim, relações com os pais no primeiro estágio do
as teorias feministas articulam problemas no desenvolvimento, de acordo com o feminis-
campo da teoria e da prática organizacional mo psicanalítico. Mais além, o feminismo
que, de outra forma, poderiam permanecer socialista considera o gênero como um pro-
ignorados (Billing e Alvesson, 1993; cesso impregnado de relações de poder e
Cockburn, 1983, 1985, 1991; K. Ferguson, próprio de condições histórico-materiais,
1984; Ferree e Martin, 1995; Jacobson e enquanto a perspectiva feminista negra quer
Jacques, 1989a; Marshall 1984, 1995). identificar quais experiências são constitu-
tivas do "gênero". Tanto as abordagens pós-

QUE SÃO TEORIAS FEMINISTAS?

Neste capítulo, faremos uma revisão


das seguintes abordagens feministas: libe-
ral, radical, psicanalítica, marxista, socialis-
ta, pós-estruturalista e terceiro-mundista/
(pós) colonialista, assim como discutiremos
suas contribuições para os estudos orga-
nizacionais (Tabela 1). Apesar de sua diver-
sidade, a maior parte das teorias feministas
têm alguns pressupostos comuns, notada-
mente o reconhecimento da dominação

No original, backlash, que significa "forte reação


de um grande número de pessoas contra um even-
to/desenvolvimento social ou político". (N.T.)
masculina nos arranjos sociais e o desejo de
mudanças nessa forma de dominação (Flax,
1987, 1990; A. Ferguson, 1989). Mais ge-
nericamente, são discursos críticos em que
a teoria feminista é uma crítica do status
quo e, portanto, sempre política. Ainda as-
sim, o grau de crítica e a natureza da políti-
ca variam, originando agendas que vão da
"reforma" das organizações à "transforma-
ção" das organizações e da sociedade, pas-
sando pela transformação de nossos enten-
dimentos prévios sobre o que constitui o
conhecimento/teoria/ prática.

SEXO, GÊNERO OU RELAÇÕES DE


GÊNERO?
DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 219

estruturalistas quanto as terceiro-mundis- diferentes (uma latina e uma norte-ameri-


tas/(pós)colonialistas problematizam a pró- cana) que escrevem juntas e compartilham
pria noção de "experiência", questionando sua vida pessoal e profissional, não só em
a estabilidade de "sexo" e "gênero" como instituições norte-americanas, mas em ou-
categorias analíticas, e lembrando que a tras pelo mundo afora, reconhecemos que
subjetividade é construída lingüística, his- nossos escritos têm posições particularmente
tórica e politicamente, sendo, portanto, fle- (des)localizadas.* No entanto, isso pode ser
xível e múltipla. Assim, gênero é um termo uma vantagem, ao nos permitir relativizar
"em construção", que ao mesmo tempo re- e considerar seriamente as afirmações fei-
flete e constitui uma variedade de teori- tas pelas diferentes abordagens feministas,
zações feministas (Scott, 1986). ainda que, no fundo, sejamos céticas a res-
peito das soluções apresentadas.

ABORDAGENS FEMINISTAS E
ESTUDOS TEORIA FEMINISTA LIBERAL
ORGANIZACIONAIS
Essa perspectiva tem sua origem na
Neste capítulo, descrevemos como di- tradição política liberal desenvolvida duran-
versas abordagens do pensamento feminis- te os séculos XVII e XVIII, quando o domí-
ta se conectam com as teorias e as práticas nio da igreja e do feudalismo davam cami-
organizacionais, e como cada uma destas nho para o surgimento do capitalismo e da
enfoca aspectos específicos, enquanto igno- sociedade civü; quando aspirações por igual-
ra outros. Conforme a discussão for avan- dade, liberdade e fraternidade levavam à
çando, perceberemos mudanças nos temas, superação da ordem monárquica (Cockburn,
nas questões centrais e no vocabulário; des- 1991). Uma nova visão de pessoas e de so-
de a preocupação com a mulher (seu aces- ciedade estava surgindo com base em dois
so a organizações e seu desempenho), pas- pressupostos fundamentais sobre a nature-
sando pela relação entre gênero e organi- za humana: o dualismo normativo (dicoto-
zação (a noção de práticas organizacionais mia mente/corpo), que concebe a raciona-
influenciadas por relações de gênero), até a lidade como capacidade mental separada do
consideração da estabilidade das catego- corpo; e o individualismo abstrato, que dá à
rias "gênero", "masculinidade", "feminilida-
de" e "organização". Cada linha de pensa-
mento oferece formas alternativas para o No original, (dis)located positions. (N.T.)

enfoque da desigualdade de gênero, enqua-


drando o "problema" de forma diferencia-
da e propondo diferentes caminhos de ação
como "solução".
Nossa apresentação da evolução his-
tórica do pensamento ferninista baseia-se em
alguns escritos fundamentais (Jaggar, 1983;
mana e Tong, 1995; Tong, 1989), bem como
na discussão das concepções de gênero e nas
linhas de pesquisa da área (Harding e
Hintikka, 1983; Harding, 1986, 1991;
Lorber, 1994; Reinharz, 1992). É sempre um
risco apresentar as abordagens em seqüên-
cia, mas é um risco calculado, já que cada
abordagem foi desenvolvida para responder
às limitações de outra e, embora pareçam
independentes e diferenciadas, suas frontei-
ras não são muito nítidas. Nosso objetivo
não é julgar qual é a "melhor", mas reco-
nhecer que cada uma tem uma importante
contribuição a fazer. Em virtude da necessi-
dade de concisão neste capítulo, a exposi-
ção não será minuciosa e detalhada.
Não pretendemos escrever como ob-
servadoras "objetivas": como autoras pre-
ferimos as abordagens "pós"; como uma
dupla de trabalho composta por mulheres
Tabela 1 Resumo das abordagens feministas.
Tipo de Liberal Radical Psicanalítica Marxista Socialista Pós- Terceiro-mun-
Abordagem estruturalista/ dista/(pós)
pós-moderna colonialista
Origens Surgiu da teoria Gerada nos Desenvolveu-se a Baseada na crítica Surgiu nos anos Situado nas Surgindo de
intelectuais política dos movimentos partir de teorias marxista 70 como parte das críticas pós- interseções dos
séculos XVIII e feministas con- psicanalíticas da sociedade tentativas do estruturalistas feminismos
XIX. temporâneos, do freudianas e capitalista, e uma movimento femi- francesas ocidentais e das
fim dos anos 60. outras, em "conexão" dela nista de sintetizar contemporâneas críticas pós-
particular teorias desde meados do os feminismos do "conheci- colonialistas das
sobre relação- século XLX. marxista, mento" e da epistemologias
objeto. psicanalítico e "identidade". ocidentais.
radical.
Concepção da Os indivíduos são Os seres humanos A natureza A natureza A natureza Retira do centro o Analisada como
natureza seres autônomos, são, fundamental- humana humana reflete as humana é criada sujeito racional do um construto
humana dotados de mente, seres desenvolve-se condições histórica e cultu- humanismo ocidental que
racionalidade corpóreos biológica e psico- histórico- ralmente por meio "Subjetividade" e surgiu ao tornar
(dicotomia entre sexuados. sexualmente. materiais. A de inter-relações "consciência" são o "outro" invi-
mente/corpo e essência humana é dialéticas entre a efeitos discursivos. sível ou "quase"
individualismo o conjunto dos biologia humana, humano. Tam-
abstrato). relacionamentos a sociedade e o bém "essencialis
sociais. trabalho. mo estratégico".
Concepção de Sexo faz parte dos "Classe sexual" é a Os indivíduos se 0 gênero é parte 0 gênero é Sexo e gênero são Considera a
sexo/gênero dotes biológicos condição das mu- tornam sexual- de relações constituído práticas constituição de
naturais, é uma lheres como uma mente identifica- históricas de classe processual e discursivas que subjetividades
variável binaria. classe oprimida. dos como parte de que constituem socialmente por constituem complexas que
0 gênero é 0 gênero é uma seu desenvolvimento sistemas de meio de diversas subjetividades vão além dos
socializado em construção social psicossexual. opressão sob o interseções de específicas por conceitos
seres humanos que assegura a 0 gênero estrutura regime capitalista. sexo, raça, meio de poder e ocidentais de
sexuados pelo subordinação das um sistema social ideologia e resistência na sexo/gênero,
comportamento mulheres aos de dominação experiências de materialidade dos enfocando
adequado a cada homens. masculina que opressão sob o corpos humanos. aspectos de
sexo. influencia o patriarcado e o gênero nos
desenvolvimento capitalismo (que processos de
psicossexual. são distintos). globalização.
Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições
metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura de
organizacional, pós-estruturalista, industrialismo/
pós-industrialista, pós-fordista/ modernidade
moderno, Foucault, Garfinkel, teoria a pós-
do ator-rede industrialismo/
pós-modernidade
Justiça Participação Ética de negócios, moralidade e OB, de democracia
democracia industrial, teoria repressiva
participativa, teoria crítica, a democracia
Habermas participativa
Tabela 1 Narrativas analíticas em análise organizacional.
Variáveis-chaves Previsões-chaves Referências-
chaves

Fontes: Jaggar (1983); Mohanty, Russo e Torres (1991) ; Tong (1989); Tuana e Tong (1995); Weedon (1987).
222 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

ação humana uma perspectiva a-histórica quados sobre o comportamento e a ocupa-


(Jaggar, 1983). Os indivíduos viveriam em ção apropriados para cada sexo. Assim, um
um contexto de escassez e seriam motiva- objetivo tem sido a eqüidade sexual, ou a
dos pelo desejo de assegurar para si mes- "justiça de gênero".
mos a maior porção de recursos possível. Para algumas feministas liberais, para
Assim, para os liberais, uma "boa" ou "jus- se atingir esse objetivo, a estereotipagem de
ta" sociedade garantiria aos indivíduos o gênero precisa ser eliminada (Tong, 1989).
exercício de sua autonomia e a satisfação Outras ainda propõem a noção do ser
de suas necessidades, por meio de um siste- andrógino como uma solução definitiva para
ma de direitos individuais. o problema da discriminação sexual: já que
Onde ficam as mulheres nessa socie- os estereótipos sobre "papéis sexuais" ou
dade? As mulheres não votavam, não podi- "traços de gênero" são culturalmente refor-
am ter propriedades em seu nome e, com a çados, junto com as sanções e normas sobre
transição de uma forma de produção eco- como ser um homem ou uma mulher "de
nômica centrada no lar para uma economia verdade", a androginia poderia libertar ho-
industrial, foram gradativamente se tornan- mens e mulheres das restrições culturais
do mais isoladas e dependentes economica- (Tong, 1989). Assim, a primeira corrente
mente. Os primeiros teóricos liberais, como considera que as mulheres foram prejudi-
Mary Wollstonecraft (1792), John Stuart cadas por estereótipos sexuais inadequados,
Mill (1869) e Harriet Taylor Mill (1851), questiona a validade desses estereótipos e
afirmaram que o verdadeiro potencial das exige que as mulheres passem a ser julgadas
mulheres não se desenvolveu por causa de com base em seus méritos. A segunda cor-
sua exclusão da academia, do fórum e do rente considera haver considerável simila-
mercado: elas eram "não-pessoas" no mun- ridade entre homens e mulheres em virtu-
do público (Tong, 1989). As mulheres ne- de das condições estruturais que aprisionam
cessitariam do mesmo acesso às oportuni- ambos os sexos, e que a solução é acabar
dades em todas as esferas da vida, mas sem com os efeitos do gênero. A despeito dessa
transformação radical do sistema social e visão, a pesquisa feminista liberal prefere
político. Assim, os primeiros liberais eram epistemologias positivistas, tidas como "neu-
reformistas e não revolucionários: o para- tras" quanto aos aspectos de gênero (Jaggar,
digma predominante da natureza humana
era masculino e sua preocupação era de-
monstrar que as mulheres eram tão huma-
nas como os homens (Jaggar, 1983).
Um século depois, Betty Friedan
(1963) relembra Wollstonecraft e os Mill,
ao questionar a concepção segundo a qual
as mulheres podem satisfazer-se exclusiva-
mente nos papéis de esposa e mãe. Nos anos
60, a segunda onda do movimento feminis-
ta visava garantir para as mulheres a igual-
dade de acesso e representação na vida pú-
blica; qualquer ênfase em diferenças de sexo
e/ou seu reconhecimento era vista como
reacionária e perigosa para a "causa". No
entanto, em meados dos anos 80, Friedan
(1981), entre outras, começou a questionar
esse posicionamento, ao afirmar que nele
as mulheres eram tratadas como "clones
masculinos", quando, na realidade, "deve
haver um conceito de igualdade que leve
em consideração que são as mulheres que
têm os bebês" (Friedan apud Tong, 1989 :
27). Assim, feministas liberais fizeram a
transição dos temas da igualdade, nos anos
60 e 70, para os da diferença, nos anos 80 e
90, registrando que o sexo (que é, antes de
tudo, uma questão cromossômica e ana-
tômica) tem sido misturado com gênero e
com construtos culturais sobre quais traços
e comportamentos são adequadamente
"masculinos" ou "femininos". Alegaram
que as mulheres (e homens) são prejudica-
das em decorrência de julgamentos inade-
DO PONTO DE VISTA DA MULHER: ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 223

1983). Ambas as correntes sugerem a uma vidualismo abstrato, dicotomia mente/cor-


humanidade ideal, a-histórica e universal, po, dicotomia público/privado na vida so-
à qual homens e mulheres devem aderir cial, direito à propriedade individual e uma
(Parvikko, 1990). O grau de benefícios e noção de racionalidade instrumental, pela
recompensas obtidos pelos indivíduos vai qual indivíduos egocêntricos buscariam uma
depender do grau de aderência ao modelo; forma de distribuição de recursos escassos
ainda, essa pesquisa reconhece, mesmo que com base em regras universais de justiça e
superficialmente, a influência eurocêntrica, em um julgamento moral. Em 1965, um
elitista e masculina na definição da socie- artigo da Harvard Business Review (1965),
dade ideal defendida. baseado em um questionário aplicado em
Algumas feministas negras são mais executivos perguntou se "as executivas eram
críticas, afirmando que os valores univer- pessoas/gente". Concluiu que:
sais defendidos pelo feminismo liberal, como
"Quando as mulheres agem como
se manifestam no atual movimento feminis- pessoas, não pedem quaisquer privilégios
ta americano, representam somente os in- e não apresentam temperamentos indevi-
teresses de mulheres brancas, de classe mé- dos, tende-se a tratá-las como gente. In-
dia e heterossexuais. Ressaltam a ironia de versamente, quando as mulheres são tra-
que tanto a primeira quanto a segunda onda tadas como pessoas com base em cada
do movimento de libertação das mulheres caso
americanas tenham tomado fôlego a partir e não como uma categoria, elas tendem a
dos movimentos de libertação da raça: o se ver como gerentes - não como mulhe-
res, e a comportar-se naturalmente na si-
movimento abolicionista e o movimento
tuação de trabalho" (Bowman et al.,
pelos direitos civis. Não se poderia fazer
1965 : 174).
referência a questões de "justiça de gênero"
sem levar a raça em consideração, pois Houve grande concordância dos res-
ambas constituem formas particulares de pondentes masculinos com a afirmação
opressão e discriminação (Bambara, 1970; "apenas as mulheres excepcionais, realmen-
Dill, 1983; Hooks, 1981; Giddings, 1984; te as superqualificadas, podem esperar su-
Hull et al., 1982; Lewis, 1977; Joseph e cesso na gerência. Eles vêem pouca ou ne-
Lewis, 1981). nhuma chance de sucesso para as media-
namente dotadas" (1965 :176, grifo no ori-
ginal).
Teoria feminista liberal Grosso modo, pouco mudou nessa li-
teratura desde os anos 60. A maior parte da
e a literatura sobre
mulheres gerentes
(women-in-management)

A teoria organizacional tem sido, pri-


mariamente, uma literatura escrita por ho-
mens, para os homens e sobre os homens:
como obter racionalmente a cooperação dos
homens para atingir os objetivos organi-
zacionais, como gerenciar (man/age). A
despeito de as mulheres terem ocupado
postos em organizações desde o início da
Revolução Industrial (como documentado
em Taylor, 1911), e de pesquisarem sobre o
assunto desde o início do século (Mary
Parker Follett, 1951; Lillian Gilbreth, 1967),
sua presença em posições gerenciais era vis-
ta como uma anomalia, por muitos autores
(Alpern, 1993; Fortune, em agosto e setem-
bro de 1935), ou considerada normal se es-
tivessem em papéis subordinados (Barnard,
1938; Roethlisberger e Dickson, 1939).
A maior parte da literatura organi-
zacional de gênero desde os anos 60 enfoca
a categoria de mulheres gerentes, e é con-
sistente com os pressupostos da teoria polí-
tica liberal sobre a natureza humana: indi-
jjj 224 R\RTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

literatura sobre mulheres gerentes ainda mos da pesquisa organizacional que não
está tentando demonstrar que as mulheres considera o gênero (Calas e Jacques, 1988).
também são pessoas. Consistentemente com Ou seja, é difícil encontrar nesses trabalhos
os lemas do liberalismo político, concebe as qualquer desenvolvimento teórico sobre o
organizações como loci da racionalidade, tema do gênero. As questões formuladas e
dos atores autônomos, cujo objetivo maior as abordagens seguidas mimetizam o conhe-
é tornar as organizações eficientes, efetivas, cimento desenvolvido e utilizado em pes-
eficazes e justas (Tabela 2). Assim, o tema quisas que não enfatizam essa questão.
central não é a eliminação da desigualdade Uma preocupação recorrente nesta li-
sexual, mas a busca da eqüidade sexual (jus- teratura é determinar se há diferenças de
tiça de gênero). sexo/gênero, dentro dos conceitos orga-
nizacionais tradicionais tais como liderança
(Adams et al., 1984; Butterfield e Powell,
Trinta anos tentando 1981; Chapman, 1975; Dobbins e Platz,
demonstrar que as 1986; Eagly et al., 1992; Jago e Vroom,
1982; Schneier e Bartol, 1980); usos do po-
mulheres também são pessoas der (Ayers-Nachamkin et al., 1982;
Mainiero, 1986; Wiley e Eskilson, 1982);
Discutiremos brevemente, em segui- stress no trabalho (Jick e Mitz, 1985; Nel-
da, alguns temas representativos dessa lite- son e Quick, 1985); satisfação no trabalho
ratura, que é também a que mais extensiva- (Brockner e Adsit, 1986; Smith e Plant,
mente revisamos (veja também Adler e 1982; Varca et al., 1983; Waters e Waters,
Izraeli, 1994; Fagenson, 1993; Gutek e 1969; Weaver, 1978); e compromisso
Larwood, 1987; Moore, 1986; Pilotta, 1983; organizacional (Bruning e Snyder, 1983;
Powell, 1988,1993; Sekaran e Leong, 1991;
Terborg, 1977). Parte substancial dessa área
de pesquisa tem-se devotado a documentar
desigualdades nos locais de trabalho em ter-
mos de ocupações segregadas, desigualda-
des remuneratórias e carreiras com peque-
na amplitude (Larwood e Gutek, 1984; Blau
e Ferber, 1986; Freedman e Phillips, 1988).
Em geral, a pesquisa mostra que as atitu-
des, as tradições e as normas culturais ain-
da representam barreiras para o acesso das
mulheres a posições de maior status e mais
bem remuneradas, apesar das sanções le-
gais contra a discriminação sexual (Nieva e
Gutek, 1981; Larwood e Gutek, 1984). Da-
dos os padrões considerados discrimina-
tórios, pesquisadores tentam determinar os
fatores que os sustentam.
A literatura aborda esses problemas de
diferentes formas. As primeiras pesquisas
sobre mulheres gerentes enfatizaram as va-
riáveis psicológicas que contribuíam para a
discriminação. Mais recentemente, tem ha
vido um interesse crescente em explicações
estruturais, com a ênfase mudando para
pesquisas com enfoque sociológico. Uma ter-
ceira abordagem vai além das circunstânci-
as legais e aborda a interseção da organiza-
ção com o sistema social.

Pesquisa psicológica e
centrada no indivíduo

Essa corrente de pesquisa é muito in-


fluenciada pela psicologia experimental
behaviorista; assim, os tópicos e as aborda-
gens tendem a valorizar o comportamento
organizacional e as abordagens tradicionais
de recursos humanos. "Métodos e teorias
aplicados previamente a outros tópicos têm
sido transferidos para essa área sem nenhu-
ma modificação ou inspiração" (Brown,
1979 : 267), enquanto os tópicos de inves-
tigação permanecem praticamente os mes-
___________ DO PONTO DE VISTA DA MULHER: ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 225 I

Tabela 2 Feminismo liberal e mulheres gerentes: uma comparação.


Feminismo Liberal Representado na literatura sobre
mulheres gerentes
Origens Origens
Desenvolveu-se a partir da teoria política liberal Desenvolveu-se a partir do movimento pelos
(see. XVIII e XLX). direitos civis e pela segunda onda do movimento
feminista da década de 60.
Pressupostos básicos Questões representativas sob esses pressupostos
Natureza humana
Natureza Humana • As (mulheres) executivas são pessoas?
• Concebe as pessoas como indivíduos • Foco nos "temas das mulheres", separados dos
autônomos, dotados de racionalidade "temas dos homens".
(dicotomia mente/corpo). • Pesquisa concebe "sexo" como uma variável
• Os indivíduos têm desejos/interesses que demográfica discreta e "mulher" como uma
podem ser satisfeitos independentemente dos categoria homogênea.
interesses/desejos dos outros (individualismo • Pesquisa sobre "papéis de gênero" e ocupações
abstrato). sexualmente "típicas".
• 0 sexo é parte dos dotes físicos essenciais.
• Os papéis sexuais e de gênero são socializados.
Natureza da sociedade Natureza das organizações
• Os indivíduos vivem em um mundo de recursos • Os indivíduos aspiram a ocupar posições supe-
escassos, e cada um tenta assegurar para si a riores nas organizações (que são limitadas); as
maior porção de recursos possível. mulheres que conseguem atingi-las são poucas.
• A "sociedade justa" é aquela que permite aos • A "organização justa" é aquela que permite a
indivíduos exercer autonomia e satifazer seus homens e mulheres exercer suas habilidades e
desejos por meio de um sistema de direitos capacidades e satifazer seus desejos por meio
individuais. de um sistema meritocrático.
Causa(s) da opressão das mulheres Causa(s) da escassez de oportunidades nas
• Subordinação feminina originada em atitudes, organizações para as mulheres
costumes, restrições legais que bloqueiam a • 'Teto de Vidro", "Segunda Onda", falta de
entrada das mulheres e/ou seu sucesso no "estrutura de oportunidades", avaliações de
mundo público. desempenho não isentas, assédio sexual, falta
de redes.
Metas/Agenda para a mudança Metas/Agenda para a mudança organizacional
• Justiça de gênero/eqüidade sexual. • Eqüidade sexual como instrumento para
• Tratamento diferenciado para homens e melhorar o desempenho organizacional;
mulheres, porém eqüitativo. pagamento igual para tarefas iguais.
• Personalidade humanística para todos: total • Evitar discriminações sexuais.
engajamento na comunidade humana. • Ocupações e empregos multifuncionais para
• Homens e mulheres liberados dos papéis de aproveitamento de todo o potencial humano.
gênero opressores. • Possibilidade de androginia.
Obstáculos para alcançar as metas Obstáculos para alcançar as metas
• Falta de acesso a bons empregos, pagamento • Idem
desigual ou não eqüitativo. • Idem
• Estereótipos de gênero.
226 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Tabela 2 Feminismo liberal e mulheres gerentes: uma comparação.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal

Chusmir, 1982; Zammuto et al, 1979). Além Gallos, 1989; Ragins e Cotton, 1991; Smith,
disso, conceitos específicos tais como este- 1979; Tharenou et al., 1994).
reótipos sexuais (Brenner, 1982; Cleveland
e Landy, 1983; Gordon, 1974; Ilgen e
Terborg, 1975; Osborn e Vicars, 1976) e
androginia (Bem, 1976; Powell e Butterfield,
1979; Sargent, 1981; Spence e Helmreich,
1981) parecem ser levados em considera-
ção apenas para fins corretivos: a possibili-
dade de eliminar diferenças de sexo/gêne-
ro dos temas organizacionais.
Há igualmente uma considerável pro-
dução sobre tópicos da gestão tradicional de
recursos humanos, tais como os vieses atri-
buíveis às diferenças sexuais ou de gênero
no recrutamento (Forsythe et al., 1985;
Powell, 1987; Sterrett, 1978); seleção
(Heilman e Martell, 1986; Mai-Dalton e
Sullivan, 1981; Rosen e Mericle, 1979); ava-
liação de desempenho (Grams e Schwab,
1985; Hall e Hall, 1976; Heilman e Stopeck,
1985; Nieva e Gutek, 1980; Pulakos e
Wexley, 1983; Rose, 1978); e remuneração
(Cooper e Barrett, 1984; Martin e Peterson,
1987; Sigelman et al., 1982).
Pesquisa sociológica e estrutural

Em virtude de seu foco eminentemen-


te macroestrutural, essa literatura pode ser
considerada sociologia organizacional ou
teoria organizacional, mas algumas pesqui-
sas tentam integrar tanto os temas estrutu-
rais quanto os behavioristas. A maior parte
desses trabalhos surgiu após a metade da
década de 80, sendo muitos inspirados em
Kanter (1977) e Bartol (1978). A preocu-
pação maior desses trabalhos concentra-se
na estrutura sexuada das organizações e
suas conseqüências para as atividades e ex-
pectativas organizacionais tradicionais. En-
tre os tópicos mais representativos estão o
"teto de vidro" (glass ceiling) (Morrison e Von
Glinow, 1990; Morrison et al., 1987);
demografia organizacional (Bielby e Baron,
1987; Ely, 1995; Jacobs, 1992; Perry et al.,
1994; Pfeffer e Davis-Blake, 1987; Tsui et
al., 1992); e carreiras e redes sociais (Auster,
1989; Bowen e Hisrich, 1986; Hunt e
Michael, 1983; Ibarra, 1992; Kram, 1985;
DO PONTO DE VISTA DA MULHER: ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 285 \
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Caso 1: Ellen Randall como uma Feminista Liberal


Ellen Randall é uma figura impressionante. Ela construiu sua ascensão até se
tornar presidente de uma unidade da empresa, com total responsabilidade do topo
até a base. Superou situações difíceis e adquiriu habilidades de alta executiva. Sem
dúvida, é ela quem manda, mas também é aberta e calorosa. Ela nos faz acreditar
que não ficará onde está, que saberemos de suas futuras promoções pelo Wall Street
Journal. É o tipo de pessoa que vai chegar ao topo. Mas, para Ellen, seu futuro não
parece tão brilhante. Quando olha para o futuro, sente que não há possibilidade real
de maiores avanços dentro de sua corporação. Em vez disso, sente que há um muro,
uma barreira entre ela - uma mulher - e uma posição mais alta dentro da organiza-
ção... Ellen vê limites para sua ascensão como executiva. Realisticamente, ela diz,
poderá ter ainda uma ou duas promoções mais em sua companhia, mas provavel-
mente não alcançará o nível dos altos executivos... Por que mulheres executivas não
vão além? O que pode ser feito a respeito das barreiras que, elas acreditam, as
mantêm em posições inferiores?
Fonte: Morrison et al. 1987 : 4-5.

A organização e o que "mais pesquisa é necessária". Entre as


sistema social mais amplo exceções, no entanto, estão trabalhos que
se referem à interseção entre raça e gênero
Nessa corrente está a pesquisa que nas organizações, que tendem a ser mais
aborda os tópicos de alcance legal e social críticos em relação aos tradicionais objeti-
mais gerais, e seu relacionamento com os
temas organizacionais. Entre estes estão
oportunidades iguais, ação afirmativa e dis-
criminação (Barclay, 1982; Bergmann, 1995;
Chacko, 1982; Gender, Work and
Organization, julho de 1995; Heilman e
Herlihy, 1984; Taylor e Ilgen, 1981); assé-
dio/abuso sexual (Gutek e Morasch, 1982;
Konrad e Gutek, 1986; Paetzold e 0'Leary-
Kelly, 1994) e temas relacionadas ao traba-
lho e à família (Barling e Rosenbaum, 1986;
Beutell e Greenhaus, 1983; Jones e Causer,
1995; Norton, 1994; Parasuraman et al.,
1989).
Em geral, a pesquisa sobre mulheres
gerentes documenta a persistência da segre-
gação sexual nas organizações, ao tentar
elucidar as causas por meio de elementos
mensuráveis. Suas premissas epistemoló-
gicas mostram forte orientação funciona-
lista/positivista, favorecendo metodologias
quantitativas e, subsidiariamente, pesquisa
qualitativa (Ely, 1995). Em sua maior par-
te, esses estudos entendem sexo/gênero
como uma variável, não como um quadro
de referência (Balsamo, 1985; Smircich,
1985).
Ainda assim, apesar da volumosa lite-
ratura e de sua aparente variedade, a maio-
ria dos estudos falha em reconhecer as im-
plicações políticas do feminismo liberal. Al-
cançar os objetivos liberais pode significar
mudanças organizacionais fundamentais, e
não apenas pequenas correções em um sis-
tema considerado racional e justo e em um
estado de coisas desejado (a racionalizade
organizacional, suas metas e valores). Não
é de surpreender que essa literatura tenha
sido cautelosa no que se refere à proposi-
ção de soluções em termos de políticas,
freqüentemente buscando refúgio na obje-
tividade científica presente na afirmação de
228 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

vos e condições organizacionais e à pesqui- Como exemplo, Firestone (1970) ar-


sa organizacional tradicional (Bell, 1990; gumentou que, enquanto a subordinação da
Bell et al., 1993; Betters-Reed e Moore, mulher se enraíza nos processos repro-
1991; Cox e Blake, 1991; Cox e Nkomo, dutivos biológicos, esses imperativos são
1990; Jackson e Holvino, 1986; Pettigrew e reforçados pelas instituições sociais, espe-
Martin, 1987). cificamente as práticas sexuais e de educa-
Pode-se considerar que quase toda a ção infantil, que ressaltam a dominação
pesquisa se devota quase exclusivamente a masculina. Novas tecnologias podem liber-
analisar o "teto de vidro", pois a meta tar a mulher de seu papel reprodutivo his-
maior tem sido assegurar às mulheres o tórico, permitindo o desenvolvimento de
acesso a posições superiores no ranking uma sociedade não mais dependente da di-
organizacional. O Caso 1 (Morrison et al., visão sexual do trabalho. Algumas pesqui-
1987) procura resumir os pontos básicos sadoras propuseram a androginia como so-
dessa abordagem. Ao longo de nossa dis- lução, argumentando que a dicotomia mas-
cussão sobre outras teorias feministas, Ellen culino/feminino poderia ser erradicada (A.
Randall nos guiará em sua jornada rumo à Ferguson, 1977). Um ser biologicamente
conscientização feminista, mostrando as sexuado seria culturalmente andrógino, tan-
modificações na percepção do fenômeno do to masculino quanto feminino. Enquanto,
"teto de vidro", seu significado e sua impor- para o feminismo liberal, a androginia era
tância. vista como uma estratégia para mulheres em
situação de inferioridade, o feminismo ra-
dical procura nele um novo ideal de nature-
TEORIA FEMINISTA RADICAL za humana: que mistura as noções históri-
cas de masculinidade e feminilidade e de-
O feminismo radical surgiu da insatis- safia as normas da heterossexualidade (Daly,
fação da mulher com o sexismo dos movi- 1978; Rich, 1980; Jacobson e Jacques,
mentos supostamente libertários da Nova 1989b). Outras feministas radicais, no en-
Esquerda, pelos direitos civis e de oposição tanto, rejeitam esta imagem, argumentan-
à Guerra do Vietnã (Deckard, 1979). Seu
problema central é a subordinação das mu-
lheres: gênero é um sistema de dominação
masculina, um princípio fundamental que
organiza a sociedade patriarcal, e que está
na origem de todos os outros sistemas de
opressão (Jaggar, 1983). Problemas consi-
derados pelo feminismo liberal como essen-
cialmente pessoais e individuais - tais como
não obter uma promoção, sofrer assédio
sexual ou não ser capaz de atingir orgasmo
- são vistos, sistematicamente, como a con-
seqüência de privilégios do gênero masculi-
no em uma sociedade onde o homem e o
masculino definem as normas (Jaggar,
1983).
Desde sua origem, nos anos 60, o fe-
minismo radical desenvolveu uma perspec-
tiva ampla e fluida, exigindo não apenas a
transformação das estruturas legais e polí-
ticas que sustentam o regime patriarcal, mas
também das instituições culturais e sociais,
tais como família, igreja, academia e mes-
mo linguagem (Tong, 1989; Daly, 1978).
Sua posição epistemológica não reconhece
distinções entre "político" e "pessoal" - to-
dos os aspectos da vida estão sob a influên-
cia da "política sexual" (Jaggar, 1983 :101)
e são dignos de análise. A "elevação dos ní-
veis de consciência" foi eleita como a forma
mais adequada de propiciar às mulheres
ocasião para questionar suas experiêcias à
luz da dominação masculina sistêmica. A
pesquisa nunca é neutra, mas interessada,
e é uma atividade política que detecta as
origens da opressão das mulheres no regi-
me patriarcal, buscando formas de superá-
la.
DO PONTO DE VISTA DA MULHER: ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 229

do que, embora sua intenção seja a de trans- nismo radical pregou a criação de um espa-
cender o gênero, poderia provavelmente ço das mulheres, por meio de instituições e
reforçar e perpetuar estereótipos. organizações alternativas, voltadas para a
Esse feminismo é "radical" por ser satisfação de suas necessidades: colocação
centrado na mulher. Visa a uma nova or- do cuidado médico em suas mãos;
dem social em que as mulheres não sejam propiciação às mulheres de habilidades tra-
subordinadas aos homens. Para esse propó- dicionalmente inexistentes, tais como me-
sito, cruza a sexualidade com as relações cânica de automóveis e carpintaria; criação
de poder. Propõe arranjos sociais, políticos, de asilos para mulheres fisicamente
econômicos e culturais alternativos, agredidas e centros de apoio a vítimas de
freqüentemente separatistas, que desafiam estupro, assim como outras organizações
os valores da cultura dominada pelo mas- culturais, tais como livrarias, galerias de
culino (Koedt et al., 1973). Feministas radi- arte, festivais de cinema e de música, para
cais retomaram a ligação entre mulher e fortalecer sua expressão cultural. Tais espa-
natureza (em contraposição à homem-cul- ços são necessários para articular e
tura) e nela encontraram uma fonte de for- revalorizar o que é desvalorizado pela cul-
ça e poder. Enfatizaram o valor positivo de tura predominantemente masculina. Como
qualidades identificadas com as mulheres: Ellen Randall mostra, no Caso 2, o teto de
sensibilidade, capacidade de expressar emo- vidro existe apenas porque se valoriza mui-
ções e de prover cuidados. Em virtude de to a ascensão na corporação, com uma abor-
sua proximidade com a natureza, as mulhe- dagem competitiva de empregos que enfa-
res têm uma forma diferente de encarar o tiza a escassez.
mundo: emocional, não verbal, espiritual, Os grupos de conscientização, como
que contrasta com as formas patriarcais, fóruns de análise coletiva da opressão das
baseadas na lógica e na razão (Jaggar, mulheres, eram referidos como "sem líde-
1983). O feminismo radical sugere que é res" e "sem estruturas" - uma prática de
possível para as mulheres reconquistar o grupo. O "sistema de sorteio e rotatividade"
sentido de unicidade e conectar-se ao "fe- tentava institucionalizar a igualdade, a par-
minismo autêntico fora do patriarcado por ticipação e o desenvolvimento das habilida-
meio de uma contracultura feminina: um des dos membros (Koen, 1984). Papéis es-
feminismo cultural (Echols, 1983; pecíficos para cada reunião, tais como pre-
Eisenstein, 1983). Genericamente então, sidente ou secretária eram distribuídos ao
feministas radicais propõem políticas sepa- acaso, enquanto outros, como tesoureiro, ao
ratistas, pelo menos até que homens e mu-
lheres se tornem iguais.
Ao reforçar todos os valores femini-
nos, o feminismo radical abriu espaço para
as mulheres etnicamente não brancas e para
as lésbicas articularem suas diferenças, pes-
soais e políticas, das mulheres brancas e
heterossexuais (Frye, 1983; Lorde, 1983;
Moraga e Anzaldúa, 1983). Ainda, a pers-
pectiva radical das mulheres não brancas
tende a enfatizar subjetividades mais flui-
das e flexíveis que as posições fortemente
essencialistas de outras perspectivas radicais
(Alcoff, 1988).
Teoria feminista radical e
organizações alternativas
No fim dos anos 60, as feministas ra-
dicais descobriram e colocaram em prática
formas organizacionais que refletem valo-
res feministas, tais como igualdade, comu-
nidade, participação e integração de forma
e conteúdo (Brown, 1992; Ferree e Martin,
1995; Koen, 1984). No início, isso implicou
a negação da liderança e da estrutura
(Joreen, 1973). Eram, então, reativas, pro-
curando rejeitar todos os elementos asso-
ciados à forma masculina de poder. O femi-
I 230 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Caso 2: Ellen Randall como uma Feminista Radical


Ellen Randall é uma figura impressionante. Ela construiu sua ascensão até se
tornar presidente de uma unidade da empresa, com total responsabilidade do topo
até a base. Superou situações difíceis e adquiriu habilidades de alta executiva. Sem
dúvida, é ela quem manda, mas também é aberta e calorosa. Ela nos faz acreditar
que não ficará aonde está, e que saberemos de suas futuras promoções pelo Wall
Street Journal. É o tipo de pessoa que vai chegar ao topo. Mas, para Ellen, seu futuro
não parece tão brilhante. Desde que começou a participar de um grupo de
conscientização da mulher, ela se tornou mais atenta quanto a sua opressão. Ela
nota agora quão ingênuas suas expectativas são. Ellen não apenas não será promo-
vida "ao topo", como sua atitude está contribuindo para a existência de uma organi-
zação patriarcal. Para existir um topo, precisa existir uma base, e essa base tende a
ser ocupada eminentemente por mulheres. Ela reconhece que, por seu temperamen-
to meigo e aberto, ela estaria melhor em um lugar sem hierarquia, cercada por
outras mulheres como ela. Ela decide pedir demissão e começar seu próprio negó-
cio, com outras "irmãs" de seu grupo de conscientização.

acaso e por tempo determinado. Nas reuni- os mais importantes para a aderência de
ões, a rotatividade equilibrava a participa- uma organização aos valores feministas se-
ção e evitava qualquer monopolização das jam a estrutura e os processos decisórios
discussões. Embora tais formas organiza- participativos, em detrimento da liderança.
cionais tenham-se mostrado excelentes para A Tabela 3 compara o modelo de Koen com
criar comunidades de aprendizagem, foram os de Rothschild, Iannello e P Y. Martin.
menos eficazes para garantir a sustenta-
bilidade de ações políticas: ao dispersar ou
pulverizar a energia, os grupos se dissolvi-
am. Conseqüentemente, os grupos começa-
ram a experimentar formas organizacionais
igualitárias e não opressivas, mas que tam-
bém reconhecessem um papel para formas
de "estrutura" e "liderança" (Koen, 1984;
Brown, 1992).
A partir dos anos 70, inúmeros estu-
dos de caso exploraram práticas organiza-
cionais feministas (Baker, 1982; Brown,
1992; Cholmeley, 1991; Epstein etal., 1988;
Farrell, 1994; Ferree and Martin, 1995;
Hyde, 1989; Koen, 1984; Iannello, 1992;
Leidner, 1991a; Morgen, 1994; Reinelt,
1994; Riger, 1984; Rothschild, 1992 -seu
modelo de seis pontos foi republicado em
Robbins, 1996 : 568; Schwartz et al., 1988;
Sealander e Smith, 1986). A maior parte
dessas organizações aceitam os valores e
metas do feminismo radical, combinados
com a atenção aos temas da hierarquia e
das estruturas organizacionais similares
àquelas encontradas nas teorias da anarquia
e nas organizações coletivistas (Iannello,
1992; Rothschild-Whitt, 1979). Por exem-
plo, a pesquisa etnográfica de Koen (1984)
em três "negócios" explicitamente "femini-
nos" sugere que encontrar uma estrutura
organizacional que promova maior partici-
pação e empowerment é chave para a práti-
ca feminista. Ela identificou cinco elemen-
tos organizacionais que refletem valores fe-
ministas em organizações: processo decisó-
rio participativo, sistema de liderança
rotativa, desenhos de trabalho flexíveis e
interativos, sistema de distribuição de ren-
da eqüitativo, responsabilização política e
interpessoal. Entre estes, ela acredita que
DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 231 |

■■■■■■■■I
Tabela 3 Uma comparação entre quatro "práticas organizacionais feministas".

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura de
organizacional, pós-estruturalista, industrialismo/
pós-industrialista, pós-fordista/ modernidade
moderno, Foucault, Garfinkel, teoria a pós-
do ator-rede industrialismo/
pós-modernidade
Justiça Participação Ética de negócios, moralidade e OB, de democracia
democracia industrial, teoria repressiva
participativa, teoria crítica, a democracia
Habermas participativa
Tabela 1 Narrativas analíticas em análise organizacional.
Variáveis-chaves Previsões-chaves Referências-
chaves
232 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

As organizações feministas são nizacional. Eles partem da "teorização


factíveis? centrada na mulher", com base em suas vi-
das e experiências, para criar revisões femi-
nistas de conceitos organizacionais básicos,
Estudos das organizações feministas
tais como trabalho, carreira e gestão
raramente têm aparecido na literatura do-
(Freeman, 1990; Marshall, 1984, 1989,
minante sobre estudos organizacionais (K.
1995; PY. Martin, 1993; Shrivastava, 1994;
Ferguson, 1994; Ferree e Martin, 1995).
Tancred, 1995). Assim, enquanto a pesqui-
Uma razão para isso talvez seja que muitas
sa sobre mulheres gerentes é acrítica em
dessas organizações têm uma agenda explí-
relação às organizações ao adotar uma pers-
cita de inverter os valores da organização
pectiva de "como ser bem-sucedida"
capitalista masculina (P Y. Martin, 1990,
(Brenner, 1987; K. Ferguson, 1994), o fe-
1993; Woodul, 1978).
minismo radical coloca as perspectivas e
A natureza da empresa será trans- práticas das mulheres no centro das análi-
formada pela prática feminista. Devem ses. Ferguson observa que aquela aborda-
haver estruturas de controle do trabalha- gem privilegia "uma visão do mundo como
dor mais dotadas de sentido. Os salários
um conjunto de pontos-vantagens, proble-
devem ser definidos levando em conside-
matizando assim a equação convencional
ração as necessidades particulares de
cada homem = humanidade" (Ferguson, 1994 :
mulher, bem como seu papel na organiza- 90). Não se livra, no entanto, da ironia de
ção. As estruturas devem ser transparen- "usar estratégias capitalistas como um ca-
tes para todos e realisticamente definidas. minho para a libertação" (Woodul, 1978 :
Os métodos de decisão devem ser defini- 203).
dos levando em consideração a responsa-
bilidade pela decisão. Precisa haver cons-
ciência da responsabilização da mulher
perante sua comunidade. Precisa haver TEORIA FEMINISTA PSICANALÍTICA
um
compromisso de canalizar recursos finan- Consistentemente com suas raízes in-
ceiros para a comunidade ou para o movi- telectuais, a pesquisa feminista psicanalíti-
mento. Finalmente, precisa haver
compro-
misso com a mudança radical - com os
objetivos de poder econômico e político
para as mulheres (Woodul, 1978 : 197-
198).
Ao tentar inventar práticas organiza-
cionais e firmas feministas, as mulheres con-
frontam-se com o dilema prático de tornar
a igualdade real em situações concretas.
Cholmeley (1991 : 228), por exemplo, des-
creve sua firma feminista em um mundo
capitalista como "um estudo de caso con-
creto do problema teórico mais importante
do movimento de libertação das mulheres".
Como garantir a igualdade em face das di-
ferenças de classe, raça, sexualidade, edu-
cação, habilidades, dependentes, recursos
financeiros? A identificação de um conjun-
to de valores compartilhados, como referên-
cia para a atividade organizacional não sig
nifica que sua prática esteja livre de proble-
mas e de discussões (Brown, 1992).
Mais que isto, os valores feministas em
ação desafiam a impessoalidade burocráti-
ca, ao turvar a distinção entre o pessoal e o
organizacional. Muitos estudos de caso re-
latam situações carregadas de emoções.
Documentam-se casos de lutas em que "a
retórica da igualdade, a estrutura decisória
coletiva e os objetivos explícitos áeempower-
ment das mulheres e da comunidade" con-
frontam diferenças nos estilos de trabalho e
conflitos de classe, de raça e étnicos
(Morgen, 1994 : 681).
Sob a inspiração do feminismo radi-
cal, alguns estudiosos estão revendo não
apenas formas e práticas organizacionais,
mas formas e práticas de teorização orga-
DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 233

ca favorece abordagens clínicas que no, seriam menos obedientes e mais influen-
conectem o mundo da mente dos indivídu- ciadas pelos sentimentos em detrimento da
os com suas experiências de desenvolvimen- razão. A crítica feminista a esse corpo teóri-
to. Apesar de utilizar uma variedade de co refere-se à sua visão insensível e inacu-
métodos, todas compartilham a ênfase na rada da estrutura psicológica feminina
compreensão da pessoa em sua totalidade (Firestone, 1970; Millet, 1970; Friedan,
e de seu modo de se relacionar com seu 1963); ou rejeita o determinismo biológico
mundo. Muitas teorizações feministas psi- freudiano e reinterpreta a teoria psicanalí-
canalíticas originaram-se da psicanálise tica em termos de influências culturais que
freudiana, mas como crítica e correção de afetam a identidade de gênero da mulher
seus vieses misóginos ou como base para (Thompson, 1964; Horney, 1974).
uma interpretação psicanalítica centrada na Em geral, o feminismo psicanalítico
mulher (Tong, 1989). nega o determinismo biológico das interpre-
Freud propôs que, para se desenvol- tações psicanalíticas tradicionais de gênero
ver como adultos normais, as crianças pas- e sexualidade. Em vez disto, considera que
sariam por diversos estágios de desenvolvi- arranjos sociais específicos (como a família
mento psicossexual. Originalmente, as patriarcal) levam a distinções no desenvol-
crianças, a despeito de seu sexo biológico, vimento psicológico feminino e masculino,
são "polimoríicamente perversas", obtendo o que pode ser alterado pela mudança das
prazer sexual físico a partir de diversas for- condições estruturais que produzem o de-
mas de estímulo corporal. As crianças tran- senvolvimento desigual de gênero (Flax,
sitariam dessa sexualidade perversa e múl- 1990; Tong, 1989). A esse respeito, uma
tipla para uma sexualidade genital heteros- corrente importante do feminismo psicana-
sexual normal, ao passar pelos diversos es- lítico, inspirada na teoria relações-objeto
tágios de desenvolvimento. A passagem mais (Winnicott, 1975), enfoca o estágio pré-
crítica para as crianças é a resolução do com- edipiano em vez do edipiano, e os relacio-
plexo de Edipo, a mãe como objeto de amor namentos entre mãe e criança. A respeito,
e de desejo, que surge em média dos três Dinnerstein (1977) argumenta que, por ser
aos quatro anos. O fato de que os meninos a mãe a fonte tanto da dor quanto do pra-
têm pênis, e as meninas não, afeta o modo zer, as crianças aprendem a culpar a mãe/
como superam esse estágio. Para os meni- mulher por tudo de errado que lhes aconte-
nos, ela reside em sua habilidade de trans- ce na vida, o que, por sua vez, leva a um
formar seu amor pela mãe em medo do pai,
o que ocorre quando percebem que as mu-
lheres não têm pênis e que devem ter sido
castradas pelo pai. O medo da castração pelo
pai os faz renunciar ao desejo pela mãe e se
submeter à autoridade paterna, desenvol-
vendo então um forte superego e, eventual-
mente, eles mesmos se tornando pais. As
meninas resolvem seu drama edípico de
outra forma. Ao perceber que não têm pê-
nis, mas que os meninos sim, pressupõem
que foram castradas e começam a invejar a
superioridade dos corpos infantis masculi-
nos. Devido a isto, começam a rejeitar suas
mães e a transferir seu amor para o pai (su
perior). Eventualmente, o desejo pelo pênis
do pai é sublimado por seu desejo de ter
um bebê, que se torna o mais importante
substituto do pênis.
De acordo com a teoria freudiana, as
meninas teriam maior dificuldade em supe-
rar o complexo de Édipo e vir a desenvolver
uma sexualidade adulta normal, o que está
explicitado nos trabalhos sobre diferentes
neuroses e limites do desenvolvimento
psicossexual da mulher, incluindo referên-
cias a seu senso ético inferior (Tong, 1989).
As mulheres não conseguem desenvolver
superegos tão fortes como os homens: fal-
tar-lhes-ia o forte senso de justiça masculi-
ü234 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

conjunto de arranjos de gênero que promo- Teoria feminista psicanalítica e


vem a subordinação da mulher ao homem. os modos de gerência da mulher
Chodorow (1978) enfatiza a reprodução da
maternidade. Os meninos vêem suas mães O feminismo psicanalítico, como é
como distintas deles, como "outra", e even- aplicado aos estudos organizacionais, con-
tualmente, no estágio edipiano, param de sidera as conseqüências do desenvolvimen-
identificar-se com elas. As meninas, no en- to psicossexual feminino diferenciado em
tanto, nunca conseguem romper a conexão seus papéis na organização e na gerência.
com suas mães, e sempre as encaram como As primeiras "aplicações" enfocaram o ca-
extensão do self. Quando as meninas se dis- ráter feminino para explicar o status econô-
tanciam de suas mães no estágio edipiano, mico subordinado das mulheres (Blum e
em uma tentativa de manter uma identida- Smith, 1988). Horner (1972), por exemplo,
de separada simbolizada pelo pai, a separa- afirmou que o "medo do sucesso", tão co-
ção nunca é completa. Por essa razão, as mum às mulheres, seria fruto de uma in-
mulheres têm relacionamentos emocionais consistência básica entre feminilidade e re-
mais sólidos freqüentemente com outras alização que deriva do aprendizado social
mulheres, a despeito de muitas se tornarem de seus papéis. Pesquisa de Hennig e Jar-
adultas heterossexuais. As meninas tendem dim (1977), para a revista The Managerial
a ter uma capacidade de relacionamento Woman, examinou como as primeiras expe-
superdesenvolvida em comparação aos me- riências de socialização de homens e mu-
ninos, mas conseguem um equilíbrio se, no lheres e suas diferentes resoluções do com-
processo de crescimento, ambos consegui- plexo de Edipo eram levadas para seu estilo
rem ver seus pais como seres autônomos e de gerência. Muitas mulheres são socializa-
amorosos. Assim, uma forma de produzir uma das de modo a serem passivas, a verem-se
sociedade menos dominada pelo masculino se- como vítimas e não como agentes; elas são
ria modificar os arranjos familiares.
Outros teóricos consideram que o de-
senvolvimento psicossexual e o surgimento
de diferentes noções de selfe de identidade
de gênero não são apenas um problema a
ser resolvido pela socialização, mas igual-
mente um problema epistemológico, consi-
derando de quem é o autoconhecimento
valorizado e de quem o desvalorizado (Flax,
1983; Braidotti, 1989). O trabalho de
Gilligan (1982) desafia as bases episte-
mológicas masculinas da pesquisa psicoló-
gica como, por exemplo, a crença de que as
mulheres não desenvolvem um forte senso
de justiça. Em seus estudos sobre soluções
morais, Gilligan argumenta que mulheres e
homens têm conceitos diferentes de justiça
e moralidade, ambos razoáveis e bem de-
senvolvidos. Ela descreve a moralidade
"masculina" como uma ética de justiça, en-
quanto a moralidade "feminina" apoia uma
ética de cuidado.
O feminismo psicanalítico tem mostra-
do a orientação patriarcal de muitas teorias
sobre desenvolvimento da personalidade, e
os limites (valorizado/desvalorizado) do
que é considerado uma "humanidade nor-
mal". Mesmo com essas limitações, no en-
tanto, as análises de Chodorow represen-
tam a mesma família nuclear das socieda-
des capitalistas - branca, classe média, he-
terossexual - que estava no centro da teoria
psicanalítica de Freud (Brennan, 1989;
Spelman, 1989). Embora algumas vejam a
abordagem de Chodorow como um bom
ponto de partida para articular identidades
alternativas que se desenvolvam em condi-
ções diferenciadas de raça e classe (Abel,
1990; Flax, 1990), os críticos lembram que,
nesse corpo teórico, outros arranjos famili-
ares possíveis, e as subjetividades que neles se
desenvolvem, raramente têm sido tratados.
DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 293 I
^■■^ ^ÊÊÊÊÊWÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ
ambivalentes em relação à carreira e não gem compartilha o pressuposto liberal bási-
são diretivas como os homens. Executivas co sobre como é bom subir ao topo.
de sucesso, acreditava-se, teriam tido rela-
cionamentos atípicos com seus pais. Assim,
muitas mulheres não sobrevivem à cultura Vantagem da mulher?
corporativa, por causa de regras, normas e
ethos que refletem o desenvolvimento mas- Pesquisas mais recentes têm tratado as
culino (Blum e Smith, 1988 : 531); o suces- diferenças das mulheres não como um pro-
so das mulheres dependeria de mudanças blema, mas como uma vantagem. A in-
em si mesmas. Diferentemente da literatu- fluência de psicólogas e psicanalistas femi-
ra feminista liberal, que enfatiza uma nistas, incluindo Dinnerstein, Chodorow,
"reinvenção instantânea" das mulheres, do Gilligan e outras (Miller, 1976; Belenky et
tipo "vestida para o sucesso" ou treinamen- al., 1986), assim como influências dos fe-
to assertivo, essa literatura vê o desenvolvi- minismos radicais/culturais, levaram a tra-
mento psicossexual tanto como uma ques- balhos que destacam que os diferentes tra-
tão pessoal como social, com raízes cultu- ços de caráter e a socialização diferenciada
rais e históricas. dos papéis sexuais não são deficiências a
Ellen Randall, no Caso 3, ilustra a per- serem superadas, mas vantagens para a
sistência do teto de vidro pelas formas re- efetividade corporativa (Grant, 1986;
correntes de relacionamentos sociais, histó- Jelinek e Adler, 1988; Helgesen, 1990;
ricos e culturais. Ainda assim, essa aborda Loden, 1985; Rosener, 1990, 1995).

Caso 3: Ellen Randall como uma Feminista Psicanalítica


Ellen Randall é uma figura impressionante. Ela construiu sua ascensão até se
tornar presidente de uma unidade da empresa, com total responsabilidade do topo
até a base. Superou situações difíceis e adquiriu habilidades de alta executiva. Sem
dúvida, é ela quem manda, mas também é aberta e calorosa. Ela nos faz acreditar
que não ficará onde está, que saberemos de suas futuras promoções pelo Wall Street
Journal. É o tipo de pessoa que vai chegar ao topo. Para Ellen, porém, seu futuro não
parece tão brilhante. Quando olha para o futuro, sente que não há possibilidade real
de maiores avanços dentro de sua corporação. Em vez disto, sente um muro, uma
barreira entre ela - uma mulher - e uma posição mais alta dentro da organização...
Ellen entende sua situação e as dos outros a seu redor como resultado de práticas
educativas na infância, padrões de cuidados paternos e maternos e socialização nas
primeiras décadas. Ela, assim como seus colegas de trabalho e seus superiores, está
presa em um modo de pensar e comportar-se que favorece um modo "masculino" de
estar no mundo. Ela não acha que a situação mudará sensivelmente para ela: ela é
muito calorosa e aberta, e ela e seu marido estão assegurando que seus filhos cres-
çam valorizando e praticando formas de relacionamento tanto femininas como mas-
culinas. Como uma moderna família dos anos 90, é de dupla na carreira e trabalho
e no cuidado com os filhos, como forma de eventualmente quebrar a dominação
patriarcal nas organizações e na sociedade. Ainda assim, no fundo, Ellen ainda espe-
ra, agora que as organizações estão buscando formas alternativas de gerência, po-
der utilizar seus "valores femininos" como um trunfo que a levará para o topo.
236 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

As formas de conhecimento e lideran- consciência dos homens que determina sua


ça das mulheres são estudadas e defendi- existência, mas sua existência social que
das (S. Freeman, 1990; Haring-Hidore et al., determina sua consciência" (Marx, apud
1990; Valentine e Mcintosh, 1990; Rosener, Tong, 1989 : 40). Assim, a organização da
1990, 1995). As habilidades relacionais, vida econômica condiciona a vida social,
capacidades empáticas e sensibilidade política e intelectual; por essa razão, o modo
interpessoal se tornaram competências hu- capitalista de produção e a luta de classes
manas críticas, que conseguiriam interrom- entre capital e trabalho são centrais nessa
per "a maré de alienação, apatia, cinismo e perspectiva de análise.
baixo moral nas organizações" (Grant, 1986 De acordo com suas visões sobre a
: 62). A "liderança interativa", tipicamente natureza humana, as perspectivas feminis-
das mulheres, foi citada como "o estilo de tas inspiradas pelo pensamento marxista
gerência de escolha para muitas organiza- concebem gênero e identidade de gênero
ções... à medida que há cada vez mais de- como definições estruturais, históricas e
manda por participação, e que o ambiente materiais. Nessa perspectiva, "gênero" e
econômico cada vez mais requer mudanças "classe" são categorias sociais, caracteriza-
rápidas" (Rosener, 1990 :125). Abordagens das por relações de dominação e opressão,
das mulheres para a estruturação organiza- funcionando como um determinante de pa-
cional, favorecendo imagens de círculos ou drões estruturais na sociedade. Masculini-
redes, em detrimento de pirâmides ou ca- dade e feminilidade não são compreendi-
deias, atendem às demandas da economia dos como estados psicológicos ou como atri-
informacional e ao desenvolvimento de butos de papéis sexuais, passíveis de rever-
equipes (Helgesen, 1990). Uma abordagem são; são muito mais profundos, porque nos-
feminina de relacionamentos e conflitos sas identidades fundamentais são como se-
organizacionais permitiu às mulheres alcan- res sexuados (Game e Pringle, 1984 : 16).
çar sucesso ocupando profissões tipicamen- O pensamento feminista marxista analisa
te masculinas (como guardas de presídios),
de formas alternativas e, talvez, mais efica-
zes (Zimmer, 1987). As mulheres tornaram-
se um recurso bem-dotado e não tradicio-
nal, mas crescentemente valorizado no con-
texto de competição global (Jelinek e Adler,
1988; Peters, 1990; Rosener, 1995).
No entanto, ainda se questiona se o
foco nas vantagens das mulheres realmente
as deixa em posição mais vantajosa
(Fletcher, 1994a : 74), ou se isto reforça os
estereótipos de gênero. Em muitos casos, as
perspectivas feministas têm-se posicionado
como uma correção "iluminista" da pesqui-
sa de inspiração liberal, mas também têm
sido criticada por estar a serviço dos fins
instrumentais de organizações que tratam
as mulheres como objeto (Calas et al., 1990;
Calas e Smircich, 1993; Fletcher, 1994a).
Diversos estudos feministas, no entanto,
encontram nessa perspectiva uma forma de
desafiar o status quo ao enfatizar o poder
das atividades relacionais (Calvert e Ramsey,
1992; Fletcher, 1994a, 1994b; Kolb, 1992;
Kolb e Putnam, no prelo; Marshall, 1984,
1995; Ramsey e Calvert, 1994). Tais traba-
lhos resistem a ser incorporados pelo dis-
curso hegemônico e, por meio de aborda-
gens ginocêntricas, procuram transforma-
ções organizacionais fundamentais.

TEORIA FEMINISTA MARXISTA

A teoria marxista foi uma reação e uma


crítica ao capitalismo e ao liberalismo polí-
tico que o justificava. Em contraste com a
teoria política liberal, que vê os seres hu-
manos como seres racionais e autônomos,
o marxismo apresenta o materialismo his-
tórico como determinante (ou condi-
cionante) da natureza humana. "Não é a
DO PONTO DE VISTA DA MULHER: ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 237

como as identidades são construídas por A teoria feminista socialista é uma con-
meio de práticas sociais como o trabalho, fluência dos feminismos marxista, radical e
observando que poder e sexualidade estão psicanalítico (Jaggar, 1983; A. Ferguson,
entrelaçadas nas relações de trabalho. 1989). Resultou da insatisfação de feminis-
O feminismo marxista não é apenas tas marxistas com a cegueira da questão de
crítico do feminismo liberal por sua concep- gênero e sua tendência a considerar a opres-
ção errônea da natureza humana e por seu são feminina como não sendo tão impor-
entendimento inadequado do processo de tante quanto a opressão dos trabalhadores
trabalho, mas também por sua cegueira do (Tong, 1989). As feministas socialistas tam-
patriarcado (Hartmann, 1976; Game e bém criticam os feminismos radical e psica-
Pringle, 1984). Portanto, o feminismo mar- nalítico por suas tendências generalizantes,
xista acrescenta gênero às preocupações assumindo as condições patriarcais como
analíticas da perspectiva marxista, para cor- normativas, dando pouca importância às
rigir sua falta de atenção para com essa di- circunstâncias históricas ou culturais. Em
nâmica. Embora exista uma hierarquia en- particular, o feminismo radical é considera-
tre os homens, materializada na estrutura do ingênuo ao pretender que exista uma
de classes, os homens (como um grupo) "cultura das mulheres" sob o patriarcado e
dominam e controlam as mulheres (como o capitalismo. As teorias feministas socia-
um grupo), por meio de uma estrutura/sis- listas pretendem, pois, incorporar as virtu-
tema de gênero (Jaggar, 1983; Lorber, des de cada uma dessas correntes e, ao mes-
1994). O feminismo marxista, então, trata mo tempo, superar seus limites. Em parti-
da dupla opressão da mulher, como classe e cular, essa visão teoriza o gênero dinamica-
gênero. mente, em termos processuais e materiais.
Dessa perspectiva, o feminismo libe- Gênero aqui significa mais que uma identi-
ral é totalmente inadequado para explicar a dade binaria socialmente construída: "gê-
situação das mulheres na economia. Sua nero é um elemento constitutivo das rela-
abordagem acrítica das mulheres nas orga- ções sociais baseadas nas diferenças perce-
nizações e o excesso de ênfase no geren- bidas entre os sexos e uma forma primor-
ciamento são totalmente inadequados para dial de significação de relacionamentos de
os interesses das mulheres. Isto é, para as poder" (Scott, 1986 : 1067).
feministas marxistas, a economia capitalis- Para analisar esses relacionamentos, as
ta não é mais bem descrita por conceitos feministas socialistas utilizam duas aborda-
como forças de mercado, padrões de troca,
oferta e demanda - como apregoa a teoria
econômica liberal/clássica -, mas pelas re-
lações de desigualdade e poder. Nesse sen-
tido, as organizações de trabalho são im-
portantes loci para a análise da reprodução
da desigualdade de sexo/gênero, à medida
que expõem a conexão entre patriarcado e
capitalismo.
Em síntese, o feminismo marxista ana-
lisa a dinâmica produtiva e reprodutiva das
dinâmicas de gênero na organização capi-
talista e patriarcal da economia e da socie-
dade, lembrando que as desigualdades de
gênero persistem e persistirão se não ocor
rerem grandes mudanças estruturais. As
perspectivas feministas marxistas tradicio-
nais deram lugar a perspectivas feministas
socialistas, elaboradas em seguida, que são
de especial importância para estudos orga-
nizacionais. Ainda, alguns trabalhos
neomarxistas recentes trazem contribuições
significativas sobre a análise dos relaciona-
mentos público (local de trabalho) e priva-
do (ambiente doméstico) (Gibson, 1992;
Fraad et al., 1989).

TEORIA FEMINISTA SOCIALISTA


238 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

gens principais: teoria sistêmica dualista e balho baseada em critérios de gênero, Young
teoria sistêmica unificada. A primeira con- chama a atenção para os indivíduos que
sidera o capitalismo e o patriarcado como produzem na sociedade e como são dife-
fenômenos separados que se conectam e se renciadamente explorados: por exemplo,
relacionam mútua e dialeticamente: o capi- como o papel das mulheres como força de
talismo é sempre um modo de produção trabalho secundária se tornou um aspecto
material e historicamente determinado, e o fundamental do capitalismo.
patriarcado é considerado tanto uma estru- Em resumo, o feminismo socialista tem
tura material como ideológica. Mitchell enfatizado a integração analítica da estru-
(1974), por exemplo, observa que o status tura social e da ação humana para explicar
e as funções de uma mulher são determina- a persistência da segregação e da opressão
dos conjuntamente por seu papel na produ- de gênero (Wharton, 1991). Além disso, por
ção, na reprodução, na socialização das meio de desenvolvimentos teóricos que le-
crianças e na sexualidade. É bem provável vam em consideração o espaço e as relações
que a opressão da mulher persista, caso suas sociais, tais como os "pontos de vista das
psiques não experimentem uma revolução mulheres" (Hartsock, 1983; Harding, 1986),
equivalente a que se efetivará na transição ele tem-se preocupado particularmente com
do capitalismo ao socialismo. Em seu ponto questões epistemológicas: não apenas o que
de vista, o capitalismo é material, mas o há para ser conhecido, mas como o conhe-
patriarcado é ideológico e, portanto, mais cimento é constituído e com que propósi-
próximo da visão psicanalítica. tos. Por isto, o feminismo socialista tem-se
Outras abordagens sistêmicas dualis- reportado a interseções entre gênero, raça,
tas, similares ao feminismo radical, consi- classe e sexualidade de modo mais eficaz
deram o patriarcado como uma estrutura que as abordagens feministas já analisadas
material. Hartmann (1976; 1981a.; 1981b) (Collins, 1990; Anzaldúa, 1990; Lugones e
argumenta que o feminismo marxista, ao Spelman, 1983).
subsumir a relação das mulheres aos ho-
mens sob relações dos trabalhadores com o
capital, desmerece o objeto real da análise
feminista: as relações entre masculino e fe-
minino. Uma análise marxista do capita-
lismo necessitaria ser complementada por
uma análise feminista do patriarcado - as
diferentes formas de dominação da mulher
por interesses masculinos. O "salário da fa-
mília" é negociado pelos homens para man-
ter a servidão das esposas e sua subordina-
ção em casa; a "família de renda dupla" não
mudou realmente a situação patriarcal - a
mão-de-obra feminina é mais mal remune-
rada e sobrecarregada, uma vez que man-
tém a maior parte da responsabilidade quan-
to ao trabalho doméstico e à manutenção
da família. Do ponto de vista de Hartmann,
então, as mulheres têm que lutar contra sua
exploração material sob o patriarcado,
ao mesmo tempo em que lutam contra sua
exploração material sob o capitalismo.
No entanto, cada uma dessas lutas tem que
ser travada com armas diferentes e muito
específicas, de acordo com a arena: se no
ambiente doméstico ou nos locais de traba-
lho.
Teorias sistêmicas dualistas não estão
imunes a críticas (Ferguson e Folbre, 1981;
Folbre, 1985, 1987; Young, 1980). A abor-
dagem sistêmica unificada, defendida por
Young, considera os relatos sobre a deter-
minação material do patriarcado como pro-
motora de uma dicotomização entre as es-
feras familiar e econômica, que não questi-
ona quando e como essa divisão ocorreu e
se sustenta. Ela também argumenta que o
patriarcado, como uma construção psicoló-
gica, poderia ser falsamente considerado
como sendo menos opressivo para as mu-
lheres que a opressão econômica capitalis-
ta. Por meio do conceito da divisão do tra-
DO PONTO DE VISTA DA MULHERI ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 239

Caso 4: Ellen Randall como uma Feminista Socialista


Ellen Randall é uma figura impressionante. Ela construiu sua ascensão até se
tornar presidente de uma unidade da empresa, com total responsabilidade do topo
até a base. Superou situações difíceis e adquiriu habilidades de alta executiva. Sem
dúvida, é ela quem manda, mas também é aberta e calorosa. Ela nos faz acreditar
que não ficará onde está, e que saberemos de suas futuras promoções pelo Wall
Street Journal. E o tipo de pessoa que vai chegar ao topo. Para Ellen, porém, seu
futuro não parece tão brilhante. Quando olha para o futuro, sente que não há possi-
bilidade real de maiores avanços dentro de sua corporação. Em vez disso, sente um
muro, uma barreira entre ela - uma mulher - e uma posição mais alta dentro da
organização, mas isto não é o pior. De fato, Ellen, que é formada em Estudos Sobre
a Mulher em uma faculdade liberal de elite, sabe muito bem qual é sua situação. Por
pertencer a uma classe superior, tem conseguido subir posições, mas o modelo patri-
arcal ainda funciona em seu local de trabalho. Assim, embora tenha mais "sorte" que
sua secretária negra, que tem um MBA, e mais "sorte" que seus pares, não tão bem
relacionadas, ela ainda é uma mulher sob o jugo do capitalismo e do patriarcado. A
cada minuto de sua vida, ela está envolvida em recriar as estruturas que a exploram
e à maioria das mulheres, embora com diferenças de grau e, aparentemente, de
formas. Ela não pára de pensar em como ela mesma pode contribuir ainda mais
diretamente para esse estado de coisas ao ter uma empregada nicaragüense que
cozinha e limpa sua casa, além de cuidar de seus filhos, tornando a ela possível ter
esse emprego e ficando tanto tempo fora de casa. Seu marido também trabalha
muito para chegar ao topo, ou talvez para sobreviver, já que em sua organização
fala-se muito sobre downsizing. Ellen sente-se mais segura em seu emprego que ele,
uma vez que ela é, apesar de tudo, "mão-de-obra barata".

Teoria feminista socialista e Game e Pringle, 1984; Reskin e Roos, 1990;


relações de gênero nas Strober,1984). Em geral, nessa abordagem,
a pesquisa tem recaído em estudos de caso,
organizações que tomam mais visíveis processos informais
e invisíveis processos de segregação que
Da perspectiva do feminismo socialis- passariam despercebidos a pesquisadores
ta, os estudos organizacionais que enfocam adeptos de métodos de pesquisa quantitati-
"a organização" como unidade de análise
cometem um erro. A esfera privada não pode
ser separada da esfera pública, uma vez que
as organizações, famílias e sociedades são
constituídas mutuamente por meio de rela-
ções de gênero, como revela a elevada cons-
ciência feminista socialista de Ellen Randall,
no Caso 4.
Historicamente, a transição do modo
de produção agrário para o industrial criou
a separação entre o local de trabalho e o lar,
e produziu uma estrutura de gênero em que
mulheres e homens têm empregos diferen-
tes, em indústrias diferentes e em diferen-
tes níveis organizacionais (Alpern, 1993;
Crompton e Sanderson, 1990). Os padrões
baseados no sexo, desiguais e persistentes,
observáveis em diversas indústrias e situa-
ções, são denominados por muitos como
divisão sexual do trabalho, estruturação
organizacional sexuada e segregação sexual
ocupacional (Acker e Van Houten, 1974;
240PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

vos (Collinson et al., 1990). O trabalho Zimmerman, 1987) e nas piadas (Collinson,
empírico, realizado por sociólogos, teóricos 1988), de modo que a organização em si é
do processo de trabalho, etnólogos e outros, considerada como um ato de comunicação
mostra como pressupostos de gênero im- baseado em gênero (Buzzanell, no prelo;
pregnam as expectativas sociais e como Mills e Chiaramonte, 1991). Por meio de
interagem com as regras e práticas conversas organizacionais e de interações
organizacionais. Revelam, igualmente, os interpessoais, limitam-se as escolhas dos
microprocessos e as micro-práticas que cons- indivíduos (Nes e Iadicola, 1989), e atribu-
tituem os arranjos estruturais macrossociais tos de personalidade que podem bloquear
(Acker, 1990; 1994). o desenvolvimento humano são criados e
Conforme foi concebido por Acker, a mantidos ("muito emocional", "muito sen-
persistente estruturação por linhas de gê- sível", "não suficientemente independente
nero é reproduzida de diversas formas, sen- a ponto de tomar as decisões mais difíceis").
do uma delas pelos procedimentos cotidia- Os processos de criação de identidade - es-
nos que segregam, gerenciam, controlam e colha da profissão, uso da linguagem, estilo
constróem hierarquias nas quais o gênero, e sua apresentação como um membro
a classe e raça estão envolvidos (Acker, sexuado da organização - também contri-
1990). Nas práticas de recrutamento e de buem para a segregação (Acker, 1990,1994;
promoção, percebem-se claramente os "cír- Benschop e Doorewaard, 1995; Hearn et al.,
culos viciosos da segregação do trabalho" 1989; Hearn e Parkin, 1987; Rantalaiho e
(Collinson et al., 1990). Quando as firmas Heiskanen, no prelo; Reskin e Roos, 1990).
oferecem empregos de meio-expediente, A esse respeito, Sheppard (1989) e Piller
eles tendem a ser ocupados por mulheres, (1996) analisam o "trabalho corporal" re-
aumentando, assim, a proporção destas nos querido para mulheres gerentes; Leidner
níveis mais baixos da organização (1991b), por seu turno, examina como a
(Cockburn, 1991). A estrutura de gênero separação de profissões reforça a idéia de
persiste também nas práticas remunera-
tórias e nos processos de avaliação de de-
sempenho, resultando na desvalorização das
dimensões interpessoais do trabalho, tais
como a preocupação, o escutar, a emparia.
"Trabalho assistencial" é "trabalho de mu-
lher" e menos remunerado (Acker, 1989;
Fletcher, 1994b). Outra forma de perpetua-
ção das estruturas de gênero e de raça nas
organizações também ocorre com a justifi-
cativa e legitimação das diferenças e desi-
gualdades por meio de símbolos, imagens
ou ideologias (Acker, 1990,1994; Benschop
e Doorewaard, 1995; Billing e Alvesson,
1993; Gherardi, 1994, 1995; Mills, 1988,
1995; Mills e Tancred, 1992): ao se imagi-
nar como seria o membro ideal da organi-
zação, o top manager ou seu herói, a ten-
dência predominante é que sejam homens
(Kanter, 1977; Aaltio-Marjosola, 1994;
Stivers, 1993). Os processos simbólicos tam
bém estão associados às atividades de tra-
balho, ocasionando o surgimento de empre-
gos diferenciados por gênero e constituin-
do as "estruturas de oportunidade" que alo-
cam corpos sexuados na organização, como
acontece nas academias (Morley, 1994; J.
Martin, 1994) e nas vendas de seguros
(Collinson e Knights, 1986; Leidner, 1991b).
As estruturas de gênero também se
sustentam por meio de interações sociais que
propiciam a dominação e a submissão
(Acker, 1990,1994; Cockburn, 1991; Game
e Pringle, 1984; Hall, 1993; Rantalaiho e
Heiskanen (no prelo); P Y. Martin, 1996; D.
Smith, 1987, 1990a, 1990b; West e
Fenstermaker, 1995). Análises de conversa-
ções mostram como diferenças de gênero
em interrupções das discussões e na sua re-
tomada, bem como na preparação da pau-
ta, recriam desigualdades de gênero no
"fluir" da conversa rotineira (West e
DO PONTO DE VISTA DA MULHER." ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 241

■r-------------- -mm
diferença "natural"; enquanto Sahlin-
Andersson (1994), mostra, em um estudo O QUE PODE SER FEITO?
sobre enfermeiras, como a "identidade fe- TEORIZANDO SOBRE UMA DIFERENTE
minina" se reflete nas interações entre elas
ORDEM SOCIAL
e entre elas e o médico. Recentemente, a
atenção dos pesquisadores tem-se voltado
A criação de "homens" e "mulheres"
para "homens" como categoria social, exa-
socialmente intercambiáveis requer trans-
minando os pontos comuns entre masculi-
formações nos sistemas sociais: a restru-
nidades, gerência e organização (Collinson
turação de nossas relações mais íntimas, de
e Hearn, 1994,1996; Connell, 1995; Kerfoot
laços de parentesco, sexualidade, amizade,
e Knights, 1993; Kvande e Rasmussen, 1994;
paternidade/maternidade, assim como re-
P Y. Martin, 1996). Segundo a visão de Acker
lações de trabalho (Lorber, 1986); o desen-
(1990 : 145):
volvimento de uma estrutura remuneratória
Homens, individualmente, e grupos neutra, em que todo trabalho possa ser
particulares de homens nem sempre ven- igualmente valorizado e que todos os tra-
cem nesses processos, mas a masculinida- balhadores assalariados possam receber
de sempre parece simbolizar a auto-estí- igual compensação por seu trabalho; o de-
ma para os que estão nos níveis orga- saparecimento da divisão sexual do traba-
nizacionais inferiores, e poder para os que
lho no mercado e na família; a compensa-
estão nos níveis superiores; ao mesmo
ção igual para todos os trabalhos, incluindo
tem-
po em que confirmam, para ambas as ca- o cuidado com os dependentes (Folbre,
tegorias, a superioridade de seu gênero. 1994; Phillips e Taylor, 1980); a adoção de
As teorias que defendem a neutralidade políticas legais e tributárias não baseadas
de gênero da organização e da burocracia em gênero, famílias e sexualidade não
não podem dar conta, adequadamente, marcadas pelo gênero (Hooks, 1984; Lorber,
dessa contínua estruturação. Precisamos 1986,1994; Paige e Paige, 1981). Essas so-
diferentes estratégias teóricas para luções são muito mais radicais que as tenta-
exami- tivas de "nivelamento" de homens e mulhe-
nar as organizações como processos de
res em relações e categorias de trabalho já
gênero, nas quais a sexualidade também
desempenha um importante papel.

Finalmente, a persistente estruturação


sexuada das organizações é apoiada e sus-
tentada pela subestrutura organizacional,
como as práticas relacionadas com a "repro-
dução extra-organizacional de seus mem-
bros" (Acker, 1994 : 118). As mulheres são
os "fornecedores ocultos" na economia
(Stoller, 1993 : 153), pois a reprodução fí-
sica e social dos empregados acontece fora
do local de trabalho e é realizada primor-
dialmente por mulheres, muito como tra-
balho não remunerado (Acker, 1994; Folbre,
1994; Stoller, 1993; Stromquist, 1990). De
acordo com essa visão, a divisão social de
trabalho é uma característica básica da so-
ciedade capitalista (Jaggar, 1983), que afe-
ta tanto os homens quanto as mulheres.
Assim, de diversas maneiras, "fazer a orga-
nização" implica "fazer o gênero" (West e
Zimmermann, 1987).
O feminismo socialista defende "uma
sociedade em que masculinidade e femini-
lidade são socialmente irrelevantes e não
existem homens e mulheres como são con-
cebidos atualmente" (Jaggar, 1983 : 330).
Apesar disso, os objetivos de atingir eqüi-
dade/igualdade de gênero são muito limi-
tados, pois "não desafiam o conceito de di-
ferenças sexuais que leva à dicotomização
família/mercado que, por sua vez, provoca
menor acesso das mulheres ao controle de
recursos valiosos e posições de poder"
(Lorber, 1986 : 577).
PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

| 300 quer ponto do tempo. À medida que o "co-


nhecimento" depende da possibilidade de
estabelecidas (Brenner, 1987; Feldberg, representar uma realidade existente fora de
1984; Lorber, 1986; Treiman e Hartmann, sua representação e da linguagem, a cor-
1981). respondência entre "um" e o "outro" pode
ser facilmente questionada. Por um lado, o
"conhecimento" nos é dado apenas como
TEORIAS FEMINISTAS uma representação: por exemplo, aprende-
mos ao ler sobre alguma coisa que existe
PÓS-ESTRUTURALISTAS/PÓS-
fora do texto, mas apenas um conhecimen-
MODERNAS to imediato sobre a representação textual.
Por outro lado, o que é representado na lin-
Há pelo menos três correntes distin- guagem nunca esteve fora da linguagem: é
tas nessa literatura. A primeira é o "Femi- por meio desta que os pesquisadores cons-
nismo Francês", que inclui autoras como tituem seu objeto de investigação (o que
Hélène Cixous e Catherine Clement (1986), deve ser pesquisado, considerado, descon-
Luce Irigaray (1985a; 1985b) e Julia siderado) e sua própria subjetividade - é por
Kristeva (1980), que se engajaram direta- meio da linguagem que podemos "dizer"
mente com os trabalhos de conhecidas fi- quem somos. Seguindo essa linha de racio-
guras masculinas do pós-estruturalismo
francês, tais como Jacques Lacan (1977) e
Jacques Derrida (1976), e também com psi-
canalistas freudianos tradicionais (Jardine,
1985; Moi, 1985; Tong, 1989). A segunda
corrente, representada na teoria anglo-ame-
ricana, se desenvolve a partir da argumen-
tação de Michel Foucault sobre poder e co-
nhecimento e os pontos de interseção entre
corpo, discursos e práticas (Diamond e
Quinby, 1988; Sawicki, 1991; Weedon,
1987). A terceira, o "feminismo pós-moder-
no", compreende uma coleção de aborda-
gens ecléticas de diversas fontes, mas com-
partilhando algumas preocupações seme-
lhantes, tais como a incredulidade pós-mo-
derna de Lyotard (1984) a respeito das
metanarrativas, uma suspeita em relação à
constituição do "feminino" dentro da moder-
nidade e as conseqüências negativas da
desconstrução dessa imagem por uma "po-
lítica feminista" (Alcoff, 1988; Butler e Scott,
1992; K. Ferguson, 1993; Nicholson, 1990).
Distintamente das teorias liberal e
marxista, que propiciam um bom campo
para o feminismo, as abordagens pós-estru-
turalistas questionam o "conhecimento po-
sitivo" como o conhecemos, em uma tenta-
tiva de periodizar as tradições filosóficas e
científicas do Iluminismo (moderno), tais
como a existência de uma razão
transcendental e a possibilidade de conhe-
cimento objetivo. Essas abordagens constan-
temente interrogam as posições ontológicas
e epistemológicas das teorias modernas (sua
fundação, seu essencialismo e universa-
lismo), incluindo as posições de diversas
teorias feministas, de modo a articular um
"sujeito de conhecimento privilegiado" (ex-
periências e pontos de vista das mulheres),
um "feminismo essencial" e uma represen-
tação geral da "mulher". Essas abordagens
interrogam, pois, o "conhecimento" e sua
constituição como tal.
As abordagens pós-estruturalistas,
para demonstrar a instabilidade da lingua-
gem como forma de representação, pediram
emprestado alguns conceitos da lingüística
estrutural de Ferdinand de Saussure (1966),
que considera a linguagem como um siste-
ma de diferenças em vez de uma represen-
tação de essências.1 A Linguagem (compre-
endida amplamente como um sistema de sig-
nificação, além da forma comum escrita ou
falada) não é apenas maleável ao longo do
tempo, mas também ambígua e excessiva:
qualquer termo é capaz de significar uma
multiplicidade de coisas e idéias, em qual-
DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 243

cínio, o "conhecimento" termina sendo, por ção positiva e uma constante lembrança aos
exclusão, nada além da diferença com rela- "senhores" da posição igualmente precária
ção aquilo que é "não-conhecimento" - uma de suas afirmações sobre o "conhecimento".
representação que depende de um "outro", Irigaray (1985a, 1985b) utiliza imagens
freqüentemente desvalorizado e invisível sobre a heterogeneidade e a multiplicidade
para a legitimação. da mulher, os múltiplos pontos de prazer
O foco no relacionamento entre lin- sexual em seus corpos, para contrariar os
guagem e conhecimento estende-se em di- argumentos filosóficos e psicanalíticos.
versas direções pelos diferentes teóricos. Kristeva (1980), por sua vez, desaloja o re-
Derrida, por exemplo, enfatiza a multi- lacionamento entre a linguagem feminina e
plicidade do "outro" como uma condição a masculina e os corpos sexuados de homens
que sempre defere o significado do termo e mulheres. A busca humana pelo retorno
primário (denominado "conhecimento"). As da linguagem feminina reprimida na ordem
tradicionais noções logocêntricas sobre "co- simbólica torna a subjetividade humana ins-
nhecimento", desconstruídas por Derrida em tável e sempre em processo, permitindo,
sua textualidade imediata, são analisadas assim, identidades de gênero e posições sub-
por Foucault por meio de genealogias his- jetivas mais fluidas e flexíveis.
tóricas. Foucault (1977; 1980) enfatiza as A influência de Foucault produziu ou-
emergentes relações entre poder e conheci- tra linha de feminismo pós-estrutural. Em-
mento constituídas constantemente em dis- bora reconhecendo os problemas de adotar
cursos e práticas, por meio das quais consti- um olhar acrítico sobre seu trabalho
tuímos nossos selves e definimos nossa sub- (Sawicki, 1991), a influência de Foucault
jetividade. Assim, o corpo humano se torna não é surpreendente se considerarmos o
um locus que legitima e normaliza certos apelo político mais imediato de seus argu-
discursos e práticas como "verdade" e "co- mentos sobre o poder, e sua ruptura com as
nhecimento". Por sua vez, Lacan (1977) teorias tradicionais do sujeito que privile-
reinterpreta as teorias freudianas sobre os giam visões dominantes (patriarcais) sobre
estágios pré-edipiano e edipiano no desen- conhecimento e conhecer. Diamond e
volvimento infantil ao enfatizar a importân- Quinby identificam quatro interseções en-
cia da entrada das crianças no domínio da tre Foucault e o feminismo:
linguagem. Ele argumenta que ocorre uma Ambos identificam o corpo como o
divisão quando a criança entra no estágio locus do poder, isto é, da dominação para
simbólico (lingüístico), perde o senso do a obtenção da docilidade e da constitui-
todo e a noção de completude do estágio
imaginário (pré-lingüístico). Assim, o self
que é possível dentro da ordem simbólica é
sempre uma essência, um self desejoso de
ser novamente completo.
Essa breve excursão por algumas
idéias pós-estruturalistas básicas prepara o
cenário para os argumentos de diferentes
correntes de "teorias" feministas pós-estru-
turalistas. As feministas francesas concen-
traram seus argumentos no relacionamen-
to entre linguagem e "ser mulher". Elas es-
tenderam os insights de Derrida e de Lacan
para considerar o espaço particular que a
figura lingüística da "mulher" ocupa, como
aquele que é "outro" para o sistema de lin-
guagem dominante (falocêntrica), no siste-
ma de regras e conceitos de conhecimento
da modernidade. Para essas autoras, tenua-
mente inspiradas por Simone de Beauvoir
(1972), a "alteridade das mulheres" é um
espaço a ser ao mesmo tempo exigido e
problematizado. Por exemplo, Cixous e
Clément (1986) articulam a possibilidade
de uma écriture feminine como um espaço
em que "o outro" representaria a si próprio.
A marginalidade e elusividade dessa idéia a
torna, ao mesmo tempo, uma representa-
244

PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS


ORGANIZACIONAIS ------
r:—~ ----------
ção da subjetividade. Ambos destacam as "natureza" instável, complexa e ambígua da
operações locais e íntimas do poder, mais realidade social (De Lauretis, 1984; 1987).
que apenas se concentrarem Alcoff (1988), por exemplo, propõe a no-
exclusivamen- ção de posicionamento como um argumen-
te no supremo poder do Estado. Ambos
to político para localizar a "mulher" como
trazem à tona o papel crucial do discurso
uma identidade relativa, ao mesmo tempo
em sua capacidade de produzir e susten-
tar o poder hegemônico, e enfatizam os flexível e agenciai; enquanto K. Ferguson
desafios contidos dentro dos discursos (1993) considera a possibilidade de subje-
marginalizados e/ou não reconhecidos. tividades móveis, que, como Haraway (1985
Ambos criticam as formas pelas quais o : 73), oferecem "afinidade, não identidade":
humanismo ocidental privilegiou a expe- 'Já conscientes de si mesmas ao incorporar
riência da elite masculina ocidental e a contestação, as subjetividades móveis po-
como deriam estar preparadas para aceitar a par-
ela faz proclamações universais sobre cialidade de qualquer conjunto de soluções
ver-
para problemas públicos e a necessidade de
dade, liberdade e natureza humana (1988
contínua luta política" (K. Ferguson, 1993 :
:D.
183).
Adicionalmente, essas autoras argu- Em geral, então, o feminismo pós-
mentam que as análises feministas e as de moderno enfatiza a complexidade das rela-
Foucault oferecem insights distintos que os ções sociais, requerendo mais que "gênero"
outros ignoraram ou perderam. como uma categoria para a crítica efetiva.
No entanto, diversas teóricas feminis- As teorias feministas que insistem na uni-
tas expressaram ambivalência em relação às versalidade e na a-historicidade das cate-
abordagens pós-estruturalistas/pós-moder-
nas, considerando, por exemplo, que seria
arriscado para as mulheres abandonar os
projetos iluministas sobre o "bem", a "ver-
dade" e a "beleza", uma vez que nunca tive-
ram oportunidade de oferecer suas pró-
prias compreensões a respeito. Outros lem-
bram que o relativismo pós-moderno nega
valores essenciais que legitimariam teorias
de conhecimento (Harding, 1990) e
moralidade (Benhabib, 1984), baseadas nos
pontos de vista e necessidades das mulhe-
res. Algumas dessas críticas argumentam
que as políticas feministas ainda não estão
suficientemente fortalecidas a ponto de en-
frentar uma política não centrada que evita
que os grupos se expressem de uma posição
subjetiva unificada (Di Stefano, 1988), e que
o abandono de categorias universais impli-
ca o abandono da categoria "gênero" em
favor de uma diferença interminável presen-
te nos corpos humanos, impossibilitando o
surgimento de uma teoria e/ou política co-
erente para os não-privilegiados (Bordo,
1990).
Os defensores dessa perspectiva, por
outro lado, afirmam que "a teoria feminista
pós-moderna substituiria noções unitárias
de identidade da mulher e feminina de gê-
nero por concepções de identidade social
construídas de modo complexo e plural, tra-
tando gênero como uma corrente relevan-
te, entre outras, também considerando as
noções de classe, raça, etnia e idade" (Fraser
e Nicholson, 1988 : 393). Ao reconhecer a
heterogeneidade dentro da aparentemente
unitária categoria "gênero", torna-se possí-
vel o engajamento político, à medida que
as mulheres estejam dispostas a "costurar
um patchwork de alianças sobrepostas, não
circunscrito por uma definição essencial"
(1988 : 394). Flax (1987) também articula
uma política de heterogeneidade, lembran-
do-nos que essa parcialidade e diferença são
a realidade das relações sociais cotidianas.
Qualquer perspectiva que proponha que o
mundo seja diferente, como o Iluminismo,
modifica e enfraquece engajamentos políti-
cos alternativos.
As teorias feministas devem, então,
engajar-se diretamente na demonstração da
__________ DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 245 [

gorias analíticas "gênero" e "mulher" tor- pro-


nam-se suspeitas, caso signifiquem que, de cessual e emergente da pesquisa etnográ-
outra forma, o feminismo não ofereceria fica e as bases do que chamamos teoria
nesse processo; em terceiro lugar, argu-
uma noção coerente da ação social e políti-
menta que a complexidade da vida coti-
ca:
diana não pode ser compreendida por
Em que extensão palavras como mo-
"pós-estruturalismo" e "pós-modernis- delos teóricos que se baseiam em estrutu-
mo"... se tornam locus para todos os tipos ras organizacionais, indivíduos "típicos",
de medos da difusão de poder e da perda significados referenciais ou invocações de
do "domínio" cognitivo? Em que extensão nomes como "os japoneses". Em vez disso,
os termos usados para defender o sujeito minha estratégia será enfatizar, por meio
universal encobrem medos das minorias de mudança, as múltiplas vozes e a invo-
culturais excluídas pela e na construção cação do "eu", as identidades individuais
desse sujeito; em que extensão o alarde mutantes e complexas das pessoas com
contra o "pós-moderno" é uma defesa de quem vivi e trabalhei, bem como os pro-
posições epistêmicas culturalmente privi- cessos pelos quais me tomei vinculada a
legiadas, que deixam fora do exame os eles (1990 : 8-9).
domínios excluídos da homossexualidade,
raça e classe? (Butler e Scott, 1992 : xv). Outro exemplo de uma análise femi-
nista inspirada pelo pós-estruturalismo está
Assim, os feminismos pós-modernos/ no estudo de Rosemary Pringle (1988) so-
pós-estruturalistas permitem interseções bre as secretárias como um grupo social e
mais complexas de gênero e outras catego- suas construções discursivas nas relações
rias sócias, que tanto desconstróem posições cotidianas de poder. Ela explora a conexão
analíticas tradicionais (por exemplo, mulhe- entre dominação, sexualidade e prazer, uti-
res e opressão feminina como categorias lizando uma abordagem foucaultiana. Ou-
unitárias) quanto abrem espaço para dife- tras contribuições semelhantes de autores
rentes engajamentos políticos que reconhe- de estudos organizacionais incluem a
cem relações assimétricas de poder entre desconstrução da liderança carismática do
aqueles que pretendem ser o "mesmo". ponto de vista do "outro", de Calas (1993a);
as desconstruções feministas dos trabalhos
tradicionais sobre liderança (Calas e
"Teorias" feministas pós- Smircich, 1991), bem como a reescrita fe-
estruturalistas/pós-modernas minista dos estudos organizacionais (Calas
e análise organizacional e Smircich, 1992), a globalização
organizacional (Calas e Smircich, 1993) e a
feminista pós-moderna
ética nas empresas (Calas e Smircich, no
prelo); a reanálise da escala de Maslow
Encontros da literatura feminista pós-
estruturalista e dos estudos organizacionais,
embora crescentes, ainda estão muito limi-
tados, particularmente nos EUA. O maior
impacto vem do relacionamento tradicional
dos estudos organizacionais com outras
ciências sociais, como mostra o relato, na
área da antropologia cultural, de Dorinne
Kondo (1990). Ao narrar a história da vida
cotidiana em uma pequena fábrica japone-
sa, de propriedade familiar, essa etnografia
"feminista" pós-moderna subverte muitas
imagens sobre o que é ser um self de gênero
pertencente a grupos étnicos particulares
dentro de "circunstâncias" de vida particu-
lares, assim como o que importa como teo-
ria, e onde estão os limites entre o empírico
e o teórico. Kondo descreve assim seu pro-
jeto:

Primeiramente, qualquer narrativa,


inclusive a minha, é sempre parcial e loca-
lizada, percebida pelos olhos do narrador;
em segundo lugar, enfatiza a natureza
246 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

(Cullen, 1994); a análise feminista de Gray Fischer, 1993; Fischer e Bristor, 1994) e ad-
(1994) de seus próprios trabalhos sobre ministração escolar (Capper, 1992), entre
colaboração; enxertos de uma "ética do cui- outras.
dado" em argumentos de construção de te- Todos esses trabalhos não apenas fo-
orias (R. Jacques, 1992); a desconstrução calizam a construção e a precária natureza
de tabus organizacionais que permitem o do gênero na organização, mas também re-
ressurgimento de conflito de gênero es- velam o envolvimento dos "estudos organi-
condido (J. Martin, 1990); e análises femi- zacionais" na constituição de arranjos de
nistas sobre a "racionalidade limitada" gênero. Ellen Randall, no Caso 5, retrata
(Mumby e Putnam, 1992). Os trabalhos de como o "teto de vidro" pode ser visto de uma
Holvino (1994) e Nkomo (1992) são exem- perspectiva feminista pós-estruturalista. Dis-
plares; questionam a "racialização" e a solve-se a separação entre as práticas
"generização" do discurso organizacional. organizacionais que criam o teto de vidro e
No entanto, não há fronteiras disciplinares as práticas de pesquisa que produzem co-
na análise organizacional pós-moderna, nhecimento sobre ele: ambos são interliga-
embora existam pesquisas representativas dos, como a "política do conhecimento" e a
nas áreas de contabilidade (Shearer e "política da identidade" constituem-se uma
Arrington, 1993), marketing (Bristor e à outra.

Caso 5: Ellen Randall como uma Feminista Pós-Estruturalista/Pós-Moderna


Ellen Randall é uma figura impressionante. Ela construiu sua ascensão até se
tornar presidente de uma unidade da empresa, com total responsabilidade do topo
até a base. Superou situações difíceis e adquiriu habilidades de alta executiva. Sem
dúvida, é ela quem manda, mas também é aberta e calorosa. Ela nos faz acreditar
que não ficará onde está, que saberemos de suas futuras promoções pelo Wall Street
Journal. E o tipo de pessoa que vai chegar ao topo. Mas para Ellen, seu futuro não
parece tão brilhante. Quando olha para o futuro, sente que não há possibilidade real
de maiores avanços dentro de sua corporação, mas isto não é o que a preocupa mais.
Ellen é doutoranda em etnografia pós-moderna, estudando o "teto de vidro nas
corporações norte-americanas". Ela está preocupada com o fato de que, depois de
tantos anos no campo, ela pode ser descoberta, agora que está praticamente encer-
rando seu trabalho. Seu principal dilema, nesse momento, é como representar a
configuração de sua identidade como uma "mulher encontrando o teto de vidro".
Ela percebe que as práticas discursivas que dão lugar a essa questão organizacional
contemporânea têm uma história: o "teto de vidro" é o oposto de um discurso que
assume a possibilidade da ausência de barreiras, uma "verdade" que nunca existiu
mas que continua a ser sustentada por aqueles que usam discursos liberais para
pesquisar o tal "teto de vidro". Ela vê sua posição como um nó em uma rede de
poder e conhecimento, em que suas atividades, normalizadas em aparente confor-
midade com os requisitos da corporação também são momentos de resistência e
transgressão, ao agir como uma "mulher na corporação". Ela também sabe que não
há saída. Uma vez que ela deixe a corporação, ela constituirá e será constituída
como um (outro) sujeito na rede de poder e conhecimento dentro da "torre de mar-
fim".
DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 247

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TEORIZAÇÕES TERCEIRO- loniais para articular "outros conhecimen-
MUNDISTAS/ tos", que iluminariam

(PÓS)COLONIALISTAS "(1) a idéia da simultaneidade das opres-


sões como fundamentais para a experiên-
cia de marginalidade social e política e o
Nos últimos 10 anos ou mais, diversas embasamento da política feminista no his-
correntes críticas desafiaram as teorias fe- tórico do racismo e do imperialismo; (2) o
ministas ocidentais sobre gênero e relações papel crucial de um estado hegemônico na
de gênero por serem baseadas em imagens definição de suas/nossas vidas cotidianas
e experiências sociais das mulheres (e ho- e lutas pela sobrevivência; (3) o significa-
mens) mais privilegiados no Primeiro Mun- do da memória e da escrita na criação da
do. Esses argumentos, embora não sejam ação opositora; e (4) as diferenças, confli-
monolíticos e, de fato, bastante contestados, tos e contradições internas das organiza-
ções de mulheres e comunidades terceiro-
conseguem ir além dos argumentos levan-
mundistas" (Mohanty, 1991b : 10).
tados por feministas negras e outras mulhe-
res que questionaram as representações de Análises (pós) colonialistas vão, dessa
gênero branca, de classe média e heterosse- forma, além da desconstrução dos textos
xual presente nas teorias feministas liberal, ocidentais. Elas mostram que a produção do
radical, psicanalítica e socialista. Embora um conhecimento no centro (ocidental) é uma
pouco diferenciadas, as análises terceiro- forma de autopromoção, implicando a cons-
mundistas/(pós)colonialistas mantêm em tituição da legitimação do imperialismo e
comum uma suspeita fundamental do "gê- do colonialismo (Minh-ha, 1989; Prakash,
nero" como uma lente analítica estável e 1995; Said, 1978; 1989). Essas análises
suficiente, que pode ser aplicada sem pro- freqüentemente focalizam as complexas sub-
blemas em qualquer cultura ou história. jetividades produzidas pelas interseções de
Conseguiram, por outro lado, estender os gênero, raça, classe, etnia etc. no contexto
inghts pós-modernos e pós-estruturalistas e de relacionamentos específicos entre Primei-
suas conseqüências lógicas: se o conheci- ro e Terceiro Mundos. Elas teorizam sobre
mento ocidental tem sido constituído dife- posições e relações de sujeitos heterogêne-
rentemente dos "outros", ao torná-los invi- os, diferentes das imagens raciais e de gê-
síveis, o que aconteceria se esses "outros" nero produzidas pelas categorias ocidentais
pudessem responder? O que aconteceria (como "mulheres", "negra").
caso pudessem demonstrar como são cons- A questão permanece, no entanto, so-
tituídos como "outros"? O que aconteceria bre que linguagens e teorias estão sendo
caso esses outros pudessem reclamar suas
próprias especificidades, fora dos dualismos
(como, por exemplo, masculino/feminino)
presentes nos discursos ocidentais do conhe-
cimento?
Chandra Mohanty (1991a) argumen-
ta que as "mulheres do Terceiro Mundo" têm
sido freqüentemente constituídas como "ou-
tras", diferentes das mulheres do Primeiro
Mundo, ao acentuar seu subdesenvolvimen-
to, opressão, analfabetismo, pobreza, con-
dições superpopulosas etc. Essas represen-
tações reafirmam os conhecimentos ociden-
tais de "indicadores" como expectativa de
vida, proporção sexual, nutrição, fertilida
de, educação e atividades de geração de ren-
da, que homogeneizam e congelam as mu-
lheres não-ocidentais, negando a natureza
fluida, histórica e dinâmica de suas vidas.
Elas caracterizam os "povos do Terceiro
Mundo", não apenas as mulheres, como
atrasados, ignorantes e recebedores passi-
vos dos conhecimentos ocidentais, ignoran-
do outras representações que articulam sua
ação, suas capacidades, seu envolvimento
em lutas e estratégias de sobrevivência.
Mohanty chama a atenção para a
reestruturação da história baseada em lo-
cais e histórias de lutas de povos (pós-) co-
PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

utilizadas pelo "restante" para desconstruir centrado e essencial para sua legitimação.
o Ocidente. Alguns argumentam que as fer- Há uma subjetividade positiva com base na
ramentas teóricas utilizadas em análises qual os colonizados poderiam representar-
(pós)colonialistas são as dos opressores; se depois do ato desconstrutivista? Diver-
outros tentam demonstrar como os coloni- sas respostas a essa preocupação foram ofe-
zados semprem reapropriam as ferramen- recidas: a noção de essencialismo estratégi-
tas dos mestres (Lorde, 1983) e as empre- co desenvolvida por Spivak (1988) e Said
gam em seus próprios interesses. Assim, o (1989) descreve "um uso estratégico do
movimento desconstrutivista é perfeitamen- essencialismo positivista em prol de um in-
te consistente com as práticas históricas: é teresse político escrupulosamente visível"
uma forma de recriá-las no presente. Ainda (Spivak, 1988 : 13), e demonstra a possibi-
há, no entanto, o problema da identidade lidade para o engajamento em lutas políti-
representativa dos colonizados: quem é esse cas aparentemente contraditórias, enquan-
"outro" que desconstrói o Ocidente? Existe to mobiliza suporte para e de grupos que po-
um dilema em como representar as subjeti- deriam, de outra forma, aparecer em apoio
vidades pós-colonialistas sem pintá-las como a diferentes agendas. No entanto, alguns te-
um romântico "outro nativo" ou apenas em óricos (pós) colonialistas (Radhakrishnan,
seu relacionamento com seus opressores. 1994) consideram o essencialismo estraté-
Como os escritores podem articular um su- gico como outra instância de reutilização das
jeito terceiro-mundista/(pós)colonial sem "ferramentas do mestre", por meio da re-
reclamar um espaço original primordial, versão de suas táticas metropolitanas. Ou-
com base no qual possa representar sua tra noção, a hibridização (Bhabha, 1988;
ação, tanto histórica como experiencial- García-Canclini, 1990), pode ser lida tanto
mente? Como podem oferecer um espaço como resistindo às forças de assimilação em
para a representação fora das lutas de po- uma cultura dominante como representan-
der com o colonizador? do novas formas que, simultaneamente, in-
Parry (1995) identifica duas aborda- tegram e desintegram a modernidade e a
gens diferentes nas desconstruções (pós)
colonialistas, a primeira representada pelo
trabalho de Gayatri Spivak (1987, 1988) e
a outra por Homi Bhabha (1985, 1990). As
desconstruções de Spivak são produzidas
por meio de um duplo movimento. Primei-
ramente, ela considera o silêncio e a mudez
do colonizado (subalterno) que, ao cruzar
sua própria tradição patriarcal com os inte-
resses do colonizador, conspira em sua pró-
pria subjetivação e, dessa forma, não pode
falar por si mesmo. A mulher subalterna é
ainda mais silenciosa. O segundo movimen-
to de Spivak requer que a intelectual
(pós) colonialista contemporânea desenvol-
va uma estratégia específica para ler a his-
tória do colonizado, pontuando uma estó-
ria que dê à mulher subalterna uma voz na
história. Isso significa uma releitura de ve-
lhas estórias coloniais, por exemplo, sobre
o Sati (sacrifício da viúva), dispondo de ca-
tegorias fixas de gênero das quais depen-
dem para sua inteligibilidade no Ocidente
(Mani, 1989). Bhabha segue uma aborda-
gem diferente. Em sua leitura das estórias
coloniais, ele revela que os colonizados já
questionaram anteriormente o texto do co-
lonizador de seu próprio jeito: as posições
subjetivas mutantes e contraditórias que os
colonizados demonstram nesses textos são
indicativas das dificuldades representa-
cionais que colocaram para o colonizador.2
As preocupações permanecem, no en-
tanto, sobre o poder político de um discur-
so que reside em um sujeito descentrado,
móvel, múltiplo, constituído na diferença,
como uma posição para representar o "co-
nhecimento", uma vez que as "políticas do
conhecimento", como as conhecemos, têm
se baseado em um sujeito universal,
DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 249

tradição. Escobar (1995 : 218) explora a zantes, especialmente os processos de indus-


hibridização com particular referência à trialização no Terceiro Mundo induzidos por
América Latina, em termos de "contínuas agências de desenvolvimento do Primeiro
tentativas de renovação, por uma multi- Mundo. Essa literatura concentrou-se, ini-
plicidade de grupos que assumem a cialmente, nas preocupações do feminismo
heterogeneidade multitemporal peculiar a liberal com o acesso das mulheres a recur-
cada setor e país". Os escritos e testemu- sos e tecnologia de desenvolvimento
nhos latino-americanos oferecem outra pos- (Warren e Bourque, 1987; 1991). Recente-
sibilidade de representações terceiro- mente, esses quadros teóricos originais
mundistas, únicas e de grande força políti- mudaram, com o reconhecimento de que as
ca, ao descrever diferentes configurações de configurações de "mulheres" utilizadas ti-
gênero pelas mulheres "de baixo" que fa- nham muito mais que ver com as imagens e
lam, começam a ação, lutam em todos os questões de mulheres do Primeiro Mundo
tipos de lutas, enquanto resistem a qualquer que com os interesses das mulheres no con-
rotulação fácil dentro das imagens primei- texto do desenvolvimento ao redor do mun-
ro-mundistas de "mulher" ou "feminismo" do (Mohanty, 1991a).
(Franco, 1992; Marin, 1991; Sternbach, Tal mudança deve-se à abordagem da
1991; Sommer, 1988, 1995). feminilização da tecnologia, baseada no fe-
Esses argumentos são de importância minismo radical. Nele, o foco privilegiado
pragmática para a articulação contemporâ- tem sido a introdução de valores femininos
nea dos conhecimentos, além daqueles con- nas estratégias desenvolvimentistas que são,
siderados legítimos, nos discursos discipli- de acordo com os teóricos ocidentais, a for-
nares convencionais. Como falar (conheci- ça das culturas e das tradições das mulhe-
mento) como um "outro" é, talvez, a pro- res antes do contato com os valores ociden-
blemática central na atual procura por sig- tais modernos (Bergom-Larsson, 1982;
nificação, pois nem todos os discursos en- Boulding, 1981). Essa abordagem, no en-
tram nos espaços de significação (pós) co- tanto, articula uma "mulher natural" que
loniais da mesma forma. Assim, esses argu- existe somente como produto da imagina-
mentos oferecem um espaço discursivo ção romântica ocidental - igualitária, pro-
muito necessário para o engajamento com vedora e não violenta:
os "novos colonialismos" da globalização e
Essa perspectiva romantiza perigo-
o mercado. samente os valores das mulheres, a famí-
lia, a separação entre as esferas "pública"
e "privada" e a natureza das sociedades
Teorizações terceiro-mundistas/
(pós) colonialistas e a literatura
sobre a mulher no
desenvolvimento

Enquanto Ellen Randall reinterpreta


seu dilema sobre o teto de vidro no Caso 6,
precisamos reconhecer que não há suficien-
te literatura organizacional para ajudá-la -
é melhor que ela consulte sua amiga antro-
póloga. Haveria, no entanto, considerável
potencial na literatura sobre a mulher no
desenvolvimento se o foco se concentrasse
nas interseções do gênero com os temas
organizacionais contemporâneos, especial-
mente aqueles pertencentes à globalização
e à transnacionalização (Acosta-Belén e
Bose, 1990).
A pesquisa sobre mulher no desenvol-
vimento surgiu no início dos anos 70, pelo
cruzamento entre as teorias do desenvolvi-
mento econômico, as teorias feministas e a
antropologia cultural. Oferece "correções
feministas" aos estudos desenvolvimentistas
e às intervenções econômicas moderni-
I 250 PARTF. II - QUESTÕES E TKMAS EMERGKNTF.S EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Caso 6: Ellen Randall como uma Feminista (pós)colonialista


Ellen Randall é uma figura impressionante. Ela construiu sua ascensão até se
tornar presidente de uma unidade da empresa, com total responsabilidade do topo
até a base. Superou situações difíceis e adquiriu habilidades de alta executiva. Sem
dúvida, é ela quem manda, mas também é aberta e calorosa. Ela nos faz acreditar
que não ficará onde está, e que saberemos de suas futuras promoções pelo Wall
Street Journal. É o tipo de pessoa que vai chegar ao topo. Mas para Ellen, seu futuro
não parece tão brilhante. Quando olha para o futuro, sente que não há possibilidade
real de maiores avanços dentro de sua corporação. Em vez disso, ela sente uma
barreira entre ela, como mulher, e um alto posto em sua corporação... Um caminho
possível para o topo, ela pensa, seria literalmente continuar a conhecer lugares; isto
é, continuar a viajar para outros países. Ou ao menos, era o que pensava até sua
recente ida ao Sri Lanka, para visitar a mais nova fábrica da companhia. Aí, almo-
çando com diversas trabalhadoras, percebeu quão pouco sabia sobre a realidade de
trabalho de mulheres de outros países e quão pouca informação a respeito está
disponível. Estas mulheres eram, afinal, trabalhadoras pobres e fazendo atividades
que exigem pouca qualificação. Ela deveria ter sabido, uma vez que estava ali para
avaliar se a companhia estava oferecendo condições justas de trabalho para essas
mulheres e, assim, evitar qualquer escândalo envolvendo filiais no Terceiro Mundo.
Agora ela está bastante confusa. Essas mulheres têm pouco respeito pela compa-
nhia. Elas criaram seus próprios grupos baseados em laços comunitários, que deter-
minam em que e como vão trabalhar e como vão receber. Suas lutas e resistências
são difíceis de explicar. Não há sindicatos, mas um tipo de ação comunitária signifi-
cativa, composta por homens e mulheres, trabalhadores da companhia ou não. E
eles parecem ser bastante poderosos. Após refletir, ela percebeu que, quando falava
às mulheres sobre oportunidades de promoção na corporação, por meio de mais
estudo, elas praticamente riram dela. De alguma forma, ela sente que está errada, e
que suas próprias noções e estratégias para "progresso na corporação" estão equivo-
cadas. Talvez toda esta concepção de combater o "teto de vidro" seja apenas um
meio de ficar desapontada ao adotá-la... Bem, vivendo e aprendendo! Ela tem que
falar com sua amiga antropóloga feminista pós-colonialista quando chegar em casa.
Talvez Ellen Randall seja uma figura muito oprimida!

do Terceiro Mundo. Tem-se que olhar as


variadas e complexas construções de gê-
nero nas sociedades contemporâneas, a
negociação das identidades de gênero
como realizadas na prática, e a inter-rela-
ção das dinâmicas familiares e sistemas
legais para desafiar essas imagens de
mas-
culino e feminino (Warren e Bourque,
1991 : 287).

Uma abordagem dinâmica estrutural


desses assuntos é a perspectiva da econo
mia global, que produziu enorme literatura
durante os anos 80 (Benería e Sen, 1986;
Etienne e Leacock, 1980; Fernández-Kelly,
1983; 1987; 1989; Nash, 1983; Nash e Safa,
1985). Mais próxima das críticas do femi-
nismo socialista, essa literatura liga o capi-
talismo, o colonialismo e a estratificação por
gênero, e produz explicações mais comple-
xas de suas interconexões. Ela revela não
apenas os efeitos da modernização, mas as
diversas mudanças e configurações sociais
DO PONTO DE VISTA DA MULHER: ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 251|

que a modernização produz. Benería e escritos (pós)coloniais, que enfrentam o


Roldán (1987), a esse respeito, analisaram desafio de representar o "outro" por meio
a produção descentralizada nos lares na Ci- de subjetividades "desconhecidas". Um im-
dade do México como um efeito da indus- portante trabalho nessa linha é a etnografia
trialização multinacional. Elas perceberam sobre operárias japonesas na Malásia, feita
como esse novo relacionamento entre as por Aihwa Ong (1987). Inspirada no traba-
esferas privada (lar) e pública (local de tra- lho de Michel Foucault sobre resistência,
balho) não era uma panacéia para as mu- Ong enfoca a produção de novas subjetivi-
lheres, como pretendia a feminilização da dades à medida que as camponesas se trans-
tecnologia. O trabalho realizado nos lares formam em "corpos dóceis", que podem
por mulheres que, de outra forma, seriam adaptar-se à vida na fábrica. Ela faz a
consideradas desempregadas, produziu genealogia das condições que propiciam o
igualmente mão-de-obra fragmentada e surgimento dessas operárias contemporâne-
mais barata para as multinacionais. as, e observa como as tradicionais relações
Outras abordagens, mais próximas às sociais e os novos padrões disciplinares da
teorias pós-modernas, consideram o gêne- fábrica criam uma série de relações de po-
ro não como uma característica, mas como der que não estão sempre do lado do "colo-
um relacionamento que traz redefinições de nizador". Uma das diversas formas de resis-
subjetividades e de posições de sujeitos ao tência utilizadas pelas operárias foi a "pos-
longo do tempo, tanto como produtos quan- sessão" por espíritos (baseada em tradições
to como produtores do contexto social locais) e a conseqüente perturbação da si-
(Mies, 1982). Fernández-Kelly (1994: 270), tuação de trabalho, combinando ação e re-
em uma recente análise da indústria presentação e modelando configurações de
maquiladora nos anos 1980, mostra como gênero muito específicas, completamente
as mudanças nessa indústria (maior empre- fora dos modelos de compreensão "cen-
go de homens atualmente que no passado) trais".
estão relacionadas com a "atomização da Conforme foi anteriormente mencio-
força de trabalho" com base em novas defi- nado, além da literatura sobre a mulher no
nições de gênero, que trouxeram a promes- desenvolvimento, existe pouca literatura
sa de independência pessoal e econômica organizacional que faz a conexão análise
para mulheres e igualdade entre os sexos. (pós) colonial e gênero (ver também a lite-
Entretanto, como sugere o mesmo exemplo, ratura sobre organizações não governamen-
maior igualdade entre homens e mulheres tais). Ainda assim, as tendências de
pode ser o resultado da deterioração das
condições dos primeiros, e não apenas os
efeitos dos ganhos das mulheres.
Mais análises pós-estruturalistas con-
centraram-se em como os textos sobre mu-
lher no desenvolvimento colonizam "discur-
sivamente as heterogeneidades materiais e
históricas das vidas das mulheres no Tercei-
ro Mundo, assim produzindo/reproduzin-
do uma mulher composta e singular - uma
imagem... que se legitima pelo discurso
humanista ocidental" (Mohanty, 1991a :
53). As "mulheres terceiro-mundistas" são
constituídas em representações que são
"uma forma de conhecer e não conhecer,
uma forma de falar sobre as mulheres e de
fazê-las calar sobre suas próprias experiên-
cias" (Mueller, apud Escobar, 1995 : 180).
Tais desconstruções revelam o caráter fictí-
cio das narrativas desenvolvimentistas que
modelam e/ou apagam um/outro mundo
(Mueller, 1987a, 1987b; Dorothy Smith,
1987, 1990a, 1990b).
Tais trabalhos demonstram que o pri-
meiro passo rumo às teorizações (pós) colo-
nialistas é uma ação desconstrutiva que
enfatize os problemas das representações
ocidentais. O passo seguinte pertence aos
252PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

globalização e transnacionalização indicam te que as desigualdades estão crescendo,


seu crescimento, em um futuro próximo, à mas também que se tornaram naturais, por
medida que estudiosos de várias partes do um discurso que reafirma que estas são uma
mundo se fazem ouvir por meio de publica- condição normal para sociedades ao redor
ções no Ocidente. Chio (1993), por exem- do mundo (Ver Business Week, 1994, núme-
plo, em um simpósio sobre mulheres e ro especial sobre "o capitalismo do século
(pós)colonialismo na US Academy of XXI"; Business Week de 15 de agosto de 1994,
Management, produziu um texto híbrido e matéria de capa sobre "Desigualdades: como
poliglota para problematizar a representa- a brecha entre ricos e pobres afeta a econo-
ção feminina na produção acadêmica sobre mia"; Business Week de 17 de julho de 1995,
gerenciamento, em termos de como o pes- matéria de capa sobre estagnação de salári-
quisador tenta representar o "outro", des- os e aumento de lucros.) Sob essa ótica, até
crevendo as subjetividades refratárias e as abordagens do feminismo liberal sobre
multivocais que surgem conforme ela tenta justiça de gênero parecem radicais. Nosso
se incluir no próprio ato da representação. interesse, portanto, é manter uma posição
Holvino (1993), no mesmo simpósio, con- a partir da qual se desnaturalizem essas con-
centrou-se no outro lado do dilema dições, e se continue a questionar a discri-
(pós)colonialista: quando o colonizado está minação e a opressão causadas pelas for-
"em casa". Inspirada no trabalho de Zavella mas contemporâneas do capitalismo, fre-
(1991), seu estudo desconstrutivista ques- qüentemente com amplas implicações em
tiona o discurso do desenvolvimento orga- atitudes organizacionais.
nizacional com as vozes das "operárias na Assim, tentamos produzir na Tabela 4
fábrica Chicana", na Califórnia. Na mesma uma síntese avaliativa das contribuições das
linha, Calas (1993b) discute as possibilida- várias perspectivas. Isto é feito com uma
des oferecidas para a pesquisa organiza- preocupação sobre sua capacidade para exa-
cional pelos escritos-testemunho, alertando
para o perigo de apropriações indevidas
dessas teorizações críticas quando "vertidas"
para a academia (primeiro-mundista).
Mais recentemente, Mir et al. (1995)
têm problematizado o espaço representa-
cional disponível para as subjetividades fe-
mininas terceiro-mundistas quando as for-
ças da ocidentalização e da transnacio-
nalização se aliam às práticas tradicionais
patriarcais, tais como infanticídio e aborto
seletivos (no caso de os bebês serem do sexo
feminino); enquanto Calas (1992) analisou
as estratégias retóricas utilizadas na pesqui-
sa organizacional quando representam a
"mulher hispânica" e os silêncios que tais
representações produziram.
CONCLUSÕES: NÃO ESTAMOS
FALANDO
MAIS APENAS SOBRE "GÊNERO"

Como os argumentos (pós)coloniais


tornam claro, o que escrevemos até agora
neste capítulo vem de um período de tem-
po e de um local no mundo muito específi-
cos. Como tais, não acreditamos que qual-
quer escrito de hoje vai "sobreviver ao teste
do tempo" ou, talvez, resistir até o próximo
livro sobre estudos organizacionais. Afinal,
não acreditamos em universais, aculturais
e a-históricos. Entretanto, desde onde nos
posicionamos hoje, queremos enfatizar que
consideramos as abordagens feministas de
estudos organizacionais um dos poucos es-
paços restantes para criticar e refletir sobre
os excessos e a violência do capitalismo glo-
bal contemporâneo, bem como sobre como
impacta muitas pessoas em todo o mundo.
Basta ler publicações recentes e popu-
lares sobre negócios para notar não somen-
DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 253

MM ■■■■MM ■■■■MM

Tabela 4 Contribuições das teorias feministas para os estudos organizacionais


contemporâneos.

Abordagem Contribuições Limitações

Feminismo Oferece evidência de desigualdades,


Liberal/Mulheres particularmente desigualdades
na Gerência econômicas, usando um símbolo
(estatísticas) que carrega forte
credibilidade social e acadêmica.
Forma a base para outras
perspectivas.
Conta o que pode ser contado, por
exemplo, distribuição de pessoas,
renda, postos.
Necessário para combater a idéia de
que o feminismo foi longe demais e
a tese de que "quanto mais
mulheres, melhor", por exemplo, ao
documentar a discriminação em
pagamento e alocação nos postos.
O pensamento liberal aceita a divisão
hierárquica do trabalho e a
desigualdade como dados. O objetivo
maior é que "as mulheres cheguem
ao topo".
Orientação individualista; percebe o
stams das mulheres como uma
questão de realização individual; não
reconhece as relações de poder no
sistema econômico capitalista e o
social.
Pressupõe a existência de sexo (e do
gênero) como variáveis discretas e
dicotômicas com características
universais.

Feminismo Mostra as possibilidades e as visões


Radical-Cultural/ de mundos alternativos fora do
organizações patriarcado.
alternativas Oferece "o aumento da consciência"
como uma forma única de pesquisa e
prática organizacional,
desenvolvendo poder político para
todos os participantes.
Documenta práticas alternativas e
organizações alternativas; oferece
exemplos específicos de organizações
não burocráticas bem-sucedidas.
Estratégia separatista é utópica, já
que a realidade social não respalda as
condições para a constituição de
"espaços da mulher".
A visão de política pode representar
somente interesses de mulheres
brancas e de classe média.
Organizações alternativas não
superam as contradições serem
inerentes a formas radicais que
adotam práticas (mais ou menos)
capitalistas.
Essencializa "gênero" e "mulher",
celebrando o "feminino" frente ao
"masculino". Reifíca essas
características salientando os
estereótipos, obscurecendo muitas
diferenças importantes, por exemplo,
de cultura e história.

Feminismo Enfatiza a importânica do documenta a possibilidade de


Psicanalítico/ desenvolvimento psicossexual na práticas organizacionais positivas (e
modelo feminino formação de estruturas sociais pesquisa organizacional) centradas
de gerência patriarcais, incluindo estruturas de nas orientações e experiências
pesquisa. psicossexuais femininas,
Promove modificações em relações de especialmente aquelas ligadas com
gênero e em práticas educativas, Foco no desenvolvimento
como um passo rumo à redução da psicossexual reduz a dinâmica do
desigualdade social de gênero. poder à psicodinâmica; desvia o foco
Como o feminismo cultural, da atenção das condições materiais
254PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

de reprodução da
desigualdade dos
gêneros.
As relações
familiares que
identifica
podem aplicar-se
somente a algumas
famílias
privilegiadas em
termos de
gênero, raça e
classe.
Nulo em termos de
impacto na
literatura
organizacional e
nas
relações
trabalho/família.
Na literatura
organizacional, a
abordagem da
vantagem feminina
reitera, sem
críticas, as
condições que
DO PONTO DE VISTA DA MULHER! ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 255

Tabela 4 Continuação.

Abordagem Contribuições Limitações

cuidados e relacionamento com os instrumentais para a organização


outros. (vantagem competitiva), redrando
parecem ser as causas da opressão dessas abordagens seu potencial de
feminina: transforma os "jeitos das mudar valores e éticas
mulheres" em benefícios organizacionais.

Feminismo Incorpora pontos básicos do


socialista/ feminismo marxista, radical e
reconhecendo psicanalítico e atenua algumas de
gênero nas suas limitações.
organizações Foco em relações de gênero e sistema
de sexo-gênero (e não de sexo ou de
gênero) como relações de poder
processuais e dinâmicas que
produzem e reproduzem
desigualdades sociais de gênero.
Aborda a dicotomia público/privado
como uma falsa dicotomia
historicamente produzida pela
interação do patriarcado e do
capitalismo.
Fortes preocupações teóricas e
epistemológicas são articuladas por
meio de conceitos analíticos tais
como pontos de vista, localizados em
relações de poder. Análises
extrapolam o âmbito das relações de
gênero para tratar outras formações
sociais que emergem da interseção
de, por exemplo, gênero, raça e
classe.
O foco na interseção da produção/
reprodução sob o patriarcado e o
capitalismo tem fornecido importan-
tes referenciais teóricos para a
análise das organizações. Estes são
particularmente úteis para docu-
mentar a perpetuação da opressão
por meio de práticas organizacionais
convencionais e interações sociais.
Debates internos sobre a natureza e a
origem da opressão de gênero e
social (sistema dual versus unificado)
têm freqüentemente feito teóricos
aparentarem um excesso de foco em
suas diferenças ideológicas e debates
acadêmicos, em detrimento da
aplicação prática de suas teorias, ou
seja, a importância de diferentes
insights analíticos em desvendar
causas da opressão.
Soluções propostas para as
desigualdades sociais parecem
ingênuas e utópicas, a menos que
sejam acompanhadas por maiores
mudanças revolucionárias sociais
(improváveis no momento atual).
Ainda não se percebeu uma
convergência das linhas sociológicas
de origem dessa abordagem
(eminentemente européias) e das dos
Estados Unidos. Sua análise incisiva,
complexa e crítica não combina com
as orientações liberais, positivistas,
behavioristas e instrumentais das
últimas.

Feminismo pós- Foco na natureza discursiva da feminista. A ênfase desconstrutivista


estruturalista/ "realidade sodal" e da questiona a possibilidade de
análise "subjetividade", e na sua natureza existência de uma base positiva para
organizacional não essencial. Ênfase na linguagem o conhecimento e um sujeito
feminista pós- como um sistema de diferenças que conhecedor.
moderna permite questionar os limites Políticas pluralistas não são sempre
impostos ao "conhecimento" por consideradas fortes o suficiente para
certos discursos privilegiados.
Permite a articulação da "política do
conhecimento" como uma forma de
Foco na linguagem e no discurso tem
sido freqüentemente criticado como
insustentável para a política
DO PONTO DE VISTA DA MULHER: ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 256

Tabela 4 Continuação.

Abordagem Contribuições Limitações

relações de poder que tenta baseadas em distinções de gênero)


naturalizar um sistema de exclusão desses limites.
para certas posições de sujeito (por eliminar sistemas de exclusão e de
exemplo, de gênero). opressão histórica e culturalmente
Oferece uma visão mais pluralista de localizados em arranjos patriarcais e
engajamentos políticos, em que capitalistas.
"gênero" se torna apenas um Críticas da desconstrução e outras
argumento entre outros. Oferece análises pós-estruturalistas incluem
visões mais complexas da localização as acusações de que são elitistas,
social e as estruturas de opressão. inacessíveis, cheias de jargão,
Análise desconstrutivista e tornando difícil sua utilização pela
genealógica prove uma estratégia maior parte dos analistas, a despeito
importante para demonstrar os de seu inerente esforço de
limites do discurso organizacional e democratização.
as estruturas (freqüentemente,

Feminismo Problematiza o conceito de "gênero"


Terceiro como constituído no ocidente, e abre
Mundista/ a possibilidade de outras
(pós)colonialista/ configurações de gênero e de relações
Mulheres no mais complexas entre homens e
Desenvolvimento mulheres, no contexto das múltiplas
opressões produzidas pelo
capitalismo.
Estende a crítica ao conhecimento
ocidental para além da
desconstrução, ao articular outras
possibilidades de conceitualização e
subjetividades. Produz imagens
positivas dos sujeitos terceiro-
mundistas capazes de agir e de
representação. Fortemente localizada
em culturas e histórias específicas, e
em interseções de gênero/raça/
classe/etnia.
Demonstra as possibilidades de ação
política e de pluralismo político
dentro dos limites micropolíticos da
vida (organizacional) cotidiana.
Ilustra abordagens adicionais para
organizações fora do âmbito da visão
ocidental de "organização". Essas
abordagens são freqüentemente
exemplificadas nos novos
movimentos sociais e novas
manifestações de cultura popular
surgindo em diversos países (pós)
coloniais.
Em alguns casos, está sujeita às
mesmas críticas de elitismo e de
inacessibüidade da abordagem pós-
estxuturalista.
A tradicional dicotomia da política de
conhecimento ocidental/restante
deve ser colocada fora do contexto do
feminismo ocidental, deixando "o
outro" sem voz e invisível.
Seus argumentos "além do gênero",
precisam ser cuidadosamente
posicionados nas críticas ao
neocolonialismo e à exploração
global, ou levarão à cooptação e à
trivialização das questões de gênero.
Em estudos organizacionais, parece
ser particularmente problemático,
mesmo para simpatizantes do
feminismo pós-moderno. Há
preocupações sobre a aceitação da
existência de "outros conhecimentos"
fora dos limites do "conhecimento
ocidental(izado)".
PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

1 314
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enquanto eram abordadas muitas preocu- 4(2):
pações já expressas neste capítulo. Nesse 139-58, 1990.
contexto, então, é adequada a reprodução
das palavras de Betty Friedan por ocasião
da Conferência:
A compreensão dos problemas em
nosso mundo social dinâmico requer um
novo paradigma de política social, trans-
cendendo toda a "política de identidade"...
Buscar os interesses separados das
mulhe-
res não é a forma mais adequada e provo-
ca, até mesmo, mais divisão. Em vez dis-
so, deve haver uma nova visão de comuni-
dade - precisamos reenquadrar nosso
con-
ceito de sucesso... As "questões das mu-
lheres" são sintomas de problemas que
afe-
tam a todos... Nossa tarefa agora é a de
sair dessa polarização para uma noção de
comunidade que possa unir a todos como
pessoas decentes. Será que as mulheres
estão fortalecidas o suficiente para se jun-
tar aos homens e, eventualmente, condu-
zi-los rumo a essa nova visão? (Friedan,
1995 : 31-2)
A isto respondemos: apenas se estiver-
mos fortalecidas o suficiente a ponto de de-
safiar as noções convencionais de organiza-
ção, sua ética e seus valores, isto é, se for-
mos fortes o suficiente para desafiar e mu-
dar o discurso dominante e colonialista tan-
tas vezes quantas forem necessárias. Esse é
o objetivo desse capítulo.

NOTAS

Agradecemos a Jill Woodilla e Deborah


Litvin, assistentes de pesquisa para este ca-
pítulo. Também queremos agradecer a Deb
Meyerson, Patricia y. Martin e Joyce
Rothschild por dividir material de pesquisa
conosco. Muitas idéias aqui apresentadas
começaram a ser desenvolvidas no decurso
de nossas colaborações com Sarah Williams
Jacobson e Roy Jacques. Finalmente, reco-
nhecemos a paciência e a disponibilidade
dos editores do Handbook, em particular de
Cynthia Hardy e de Sue Jones, da Sage.

1. Um argumento essencial na lingüística saussu-


reana é o relacionamento contingente entre
signifícante e significado. Isto é, dessa perspecti-
va, o signo que usamos para significar qualquer
coisa apenas tem sentido porque somos capazes
de diferenciá-lo de qualquer outro signo, e não
porque ele nomeia qualquer objeto ou conceito
essencial. Uma vez que isso seja aceito, a hieraquia
da linguagem sobre o pensamente está esta-
belecida, pois a linguagem é, então, constitutiva
das coisas que podemos pensar/conhecer, em vez
de ser representativa das coisas que sabemos.
2. Indian Ink (Tinta Indígena), uma peça contem-
porânea de Tom Stoppard, oferece uma descri-
ção maravilhosa dos problemas que representam
as causas/causações dos colonizados para o colo-
nizador.
DO PONTO DE VISTA DA MULHER: ABORDAGENS FEMINISTAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 258

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11
NOTA TÉCNICA: DO PONTO DE
VISTA DO BRASIL: ESTUDOS
ORGANIZACIONAIS E A
QUESTÃO DO FEMINISMO
LlUANA ROLFSEN PETR1LU SEGNINI

No Brasil, as mulheres também viven- processo, em decorrência do significado so-


ciaram, nos últimos 30 anos, inegáveis gan- cial que expressa.
hos sociais, políticos e econômicos aponta- Também no Brasil é grande o cresci-
dos por Calas e Smircich, ao referirem-se a mento da participação da mulher no mer-
outros contextos nacionais, sobretudo aos cado de trabalho, a partir dos anos 60, ten-
países desenvolvidos. Nesse sentido, o cres- dência esta que se mantém inalterada até
cimento da participação das mulheres no 1995, como é possível verificar por meio dos
mercado de trabalho é um dos indicadores indicadores sistematizados por Bruschini, a
mais elucidativos para acompanhar esse partir dos dados do IBGE - Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatítica.

Indicadores de participação econômica por sexo


Brasil

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
Fonte: FIBGE, PNADs 85 e 90 (tab. 3.1),corporativa,
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1995. São Paulo : Fundação Carlos Chagas, 1998. Texto mimeografado.
NOTA TÉCNICA: DO PONTO DE VISTA DO BRASIL: ESTUDOS ORGANIZACIONAIS E A QUESTÃO DO FEMINISMO 274 I

No período enfocado (1985/95), o vivenciamos a "Terceira Revolução Indus-


crescimento da participação da mulher trial" (Mattoso, 1993), um longo processo
(63%) no mercado de trabalho é significa- que revela características e contradições
tivamente superior ao do homem (20,8%). específicas, da mesma forma que em outros
Isso quer dizer que a porcentagem de mu- momentos históricos, outras tantas foram
lheres que estão trabalhando elevou-se de observadas, constituindo modos de regula-
36,9%, em 1985, para 53,4%, em 1995; no ção da vida social. Portanto, não falamos de
mesmo período, a taxa de atividade mascu- "impactos", mas de processos expressos,
lina registrou discreto crescimento de 76,0% nesse atual contexto, pela mundialização
para 78,9%. Dessa forma, em 1995 a pro- dos mercados de bens e fluxos financeiros e
porção de mulheres entre os trabalhadores pelo acirramento da concorrência; difusão
era de 40,4% (1985 = 33,5%); enquanto do ideário neoliberal que, contraditoriamen-
que para os homens é registrado um decrés- te, requer políticas estatais na direção do
cimo de 66,5% (1985) para 59,6% (1995). processo de desregulamentação e privatiza-
No entanto, a análise dos dados apontados ções, possibilitando a concretização da ló-
não permite a afirmação que esse crescimen- gica de "livre mercado", sob a coordenação
to refere-se tão somente a uma conquista do sistema financeiro global. Fusões e in-
social das mulheres na busca de oportuni- corporações de empresas contribuem na ace-
dades iguais às dos homens. Em alguns as- leração do tempo de giro do capital, ao mes-
pectos, para algumas mulheres, uma mino- mo tempo que muitas migram para regiões
ria, sim; mas não só (Segnini, 1998). Enfocar geográficas que tendem a possibilitar mais
a permanência de desigualdades é o objeti- fácil controle do trabalho. A emergência dos
vo deste texto. "Tigres Asiáticos" e a transferência de in-
Como bem registram Calas e Smircich, dústrias de regiões do sul do Brasil para o
a segregação sexual no trabalho persiste nordeste exemplificam essa afirmação. O pa-
como fenômeno mundial. O inegável cres- pel de organismos internacionais, como, por
cimento da participação das mulheres no exemplo, o Banco Mundial, tem sido funda-
mercado de trabalho não altera, ou altera mental para tanto (Banco Mundial, 1995).
pouco, as condições socioeconômicas por Nesse contexto, também difundem-se
elas vivenciadas. A desigualdade entre ho- novas formas de racionalização do trabalho
mens e mulheres se expressa de diferentes expressas por novas tecnologias produtivas,
formas, como a posição ocupada pelas mu- apoiadas na microeletrônica, como a auto-
lheres no mercado de trabalho (17,2% tra-
balhadoras domésticas, 13,1% não remune-
radas, 9,3% para autoconsumo), perfazen-
do um percentual de 40% de postos de tra-
balho precários enquanto para os homens
esse índice é de 10,7%. Mesmo entre as
mulheres empregadas (41,9%) é possível
observar que vários indicadores (rendimen-
to, jornada de trabalho, registro em cartei-
ra e direitos no trabalho), apontam para a
precária condição da maioria das mulheres
que ocupam postos de trabalho que deman-
dam menor qualificação reconhecida efeti-
vamente pela remuneração, como muitos no
setor de prestação de serviços, em que
29,8% das mulheres e 12,0% dos homens
trabalham . Entre esses trabalhadores (as),
78% das mulheres e 43% dos homens inse-
rem-se na classe de rendimento mensal de
até R$ 240,00 (Bruschini, 1998).
O crescimento da participação da mu-
lher no mercado de trabalho e sua precária
condição inscrevem-se no contexto do pro-
cesso de reestruturação do capitalismo, pro-
cesso este que revela novas formas de ra-
cionalização do trabalho.
E inegável que no processo de rees-
truturação do capitalismo, nos últimos 30
anos, intensas são as mudanças sociais, po-
líticas e econômicas. Para alguns autores,
275PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

de trabalho precários, que estavam por vir


para ambos os sexos, no contexto da rees-
mação, a informática e a telemática, bem
truturação produtiva. Mesmo assim, elas
como novas formas de organização do tra-
continuam campeãs em informalidade e pre-
balho, caracterizadas por diferentes formas
cariedade e começam a ser atingidas inten-
de flexibilização, que concretizam a inten-
samente pelo desemprego em vários seto-
sificação da produtividade nos processos
res. Essas questões precisam ser pesquisadas
produtivos, possibilitando a minimização
mais intensamente mesmo porque possibi-
dos custos e a circulação de mercadorias em
litam melhor compreensão dos processos de
velocidade cada vez maior.
mudanças sociais a partir da reestruturação
A estrutura do mercado de trabalho
econômica, que ainda está em curso.
também tem passado por mudanças: altas
taxas de desemprego são acompanhadas
pela crescente insegurança e precariedade
das novas formas de ocupação e queda dos
salários reais. A flexibilização das relações
de trabalho (contratos de tempo parcial,
subcontratação, terceirização etc.) inscreve-
se no mesmo processo que demanda maio-
res níveis de escolaridade para os trabalha-
dores que permanecem empregados e que
ocupam postos de trabalho considerados
essenciais para os processos produtivos nos
quais se inserem. Essas tendências, obser-
vadas mundialmente, expressam-se de for-
ma heterogênea em diferentes contextos
nacionais e setoriais, pois atendem a neces-
sidades específicas de cada empresa por
melhores condições de competitividade.
Outra característica desse contexto é
o expressivo crescimento do setor de servi-
ços. David Harvey (1992) aponta-o como
uma das características do processo de acu-
mulação flexível que se desenvolve a partir
do início dos anos 70, no contexto do pro-
cesso de reestruturação capitalista.
Entre as implicações dessas mudanças,
destaca Harvey a complexidade das relações
de gênero no mundo do trabalho, tendo em
vista que o "recurso à força de trabalho fe-
minina passou por ampla disseminação"
(Harvey, 1992). Nicole-Drancourt (1990),
referindo-se ao mercado de trabalho fran-
cês, exemplifica numericamente a questão,
afirmando que nos anos 80 as mudanças no
mundo do trabalho implicaram em 2,5 mi-
,—_

lhões de desempregados, um milhão de ati-


vos precários, 2,5 milhões de trabalhadores
em tempo parcial; ou seja, um quarto da
população com idade legal de trabalho en-
contrava-se fora das normas de atividade.
As mulheres significavam 3/4 desta popu-
lação "fora da norma", enquanto que repre-
sentam menos da metade do conjunto da
população ativa.
No Brasil, o trabalho "fora da norma"
é o trabalho realizado sem "carteira assina-
da". Trata-se do trabalho informal ou por
conta própria; precário em termos de direi-
tos trabalhistas, caracterizado, em sua
maioria, pela insegurança social. Esse tipo
de ocupação sempre esteve presente no ce-
nário econômico nacional, em porcentagens
elevadas, que passam a crescer ainda mais,
a partir da implementação dos processos de
reestruturação produtiva, observados sobre-
tudo nos anos 90. Os novos postos de tra-
balho - flexíveis -, sobretudo referentes ao
processo de subcontratação, que estão sur-
gindo no contexto da reestruturação enqua-
dram-se nessas características.
Precarização no trabalho é um proces-
so social que atinge homens e mulheres,
porém as mulheres já estavam em maior
número nas ocupações precárias e continu-
am a vivenciar taxas maiores de informa-
lidade e precariedade do que os homens.
Nesse sentido, pode-se afirmar que as
mulheres foram pioneiras ao ocupar postos
NOTA TÉCNICA: DO PONTO DE VISTA DO BRASIL: ESTUDOS ORGANIZACIONAIS E A QUESTÃO DO FEMINISMO
276

Característica do emprego urbano feminino e masculino (%)

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
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(1) Proporção de trabalhadores por conta-própria e empregados sem carteira sobre a população
ocupada.
(2) Proporção de trabalhadores que trabalham mais de 40 horas por semana e ganham menos de um
salário mínimo por mês sobre o total da população ocupada.

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DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES
■■■■■■■■^HHHHHHHHBHBH

12
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS
ORGANIZAÇÕES*
STELLA M. NKOMO E TAYLOR COX JR.

Nos últimos anos, com a divulgação heterossexismo, classistas, de habilidades e


do Workforce 2000 Report e de outras publi- outras formas de discriminação no nível in-
cações prevendo uma força de trabalho mais dividual, identidade de grupo e de sistema".
diversa nos Estados Unidos e em todo o Cox (1993 : 5-6) enfoca a diversidade cul-
mundo (Fullerton, 1991; Johnston e Packer, tural, que define como "a representação, em
1987; Johnston, 1991), a diversidade vem um sistema social, de pessoas com afiliações
ganhando notoriedade como tópico dos es- a grupos claramente diferentes em termos
tudos organizacionais. A maior atenção vem de significado cultural". Exemplos de defi-
de profissionais interessados em como "ad- nições mais amplas incluem Thomas (1991
ministrar a diversidade" à luz dessas predi- : 10) que declara: "A diversidade inclui to-
ções (Cross et al. 1994; Morrison, 1992; dos, não é algo que seja definido por raça
Loden e Rosener, 1991; Thomas, 1991). ou gênero. Estende-se à idade, história pes-
Apenas recentemente, os pesquisadores das soal e corporativa, formação educacional,
organizações voltaram sua atenção para o função e personalidade. Inclui estilo de vida,
tópico (Cox, 1993; Cox e Blake, 1991; preferência sexual, origem geográfica, tem-
Ferdman, 1992; Jackson e associados, 1992; po de serviço na organização, status de pri-
Watson et al. 1993). Em sua maior parte, o
conceito de diversidade carece de rigor, de-
senvolvimento teórico e especificidade his-
tórica.
A situação corrente do conhecimento
teórico e da pesquisa sobre a diversidade
nas organizações pode ser comparada à des-
coberta de muitos fluxos que se destinam a
um reservatório maior de água, mas não se
tendo a certeza quanto à natureza verda-
deira desse reservatório. Há grande núme-
ro de áreas de teoria e pesquisa que influen-
ciam o entendimento atual das identidades

Tradução: Ailton Bomfim Brandão.


Revisão Técnica: Vitarque Lucas Coelho e Tiago
Pinheiro de Oliveira Sena.
diversas nas organizações. A vastidão do que
pode estar sendo admitido sob a rubrica de
diversidade reflete um de seus principais
dilemas teóricos: a falta de especificidade
de conceito. O estudo da diversidade é defi-
ciente em termos de construção científica e
tem extraído grande parte de seu significa-
do atual a partir do trabalho de profissio-
nais nas organizações. Até mesmo o termo
"diversidade" é bastante contestado. As de-
finições presentes de diversidade variam de
conceituações restritas a excessivamente
amplas.
As definições restritas enfatizam raça,
etnia e gênero. Por exemplo, Cross et al.
(1994 : xxii) vêem a diversidade como
"enfocando assuntos de racismo, sexismo,
vilégio ou de não-privilégio e administra- de identidades" com base na filiação a gru-
ção ou não-administração". De forma seme- pos sociais e demográficos e como as dife-
lhante, Jamieson e 0'Mara (1991: xvi) sus- renças de identidades afetam as relações
tentam uma "visão ampliada da diversida- sociais nas organizações. Definimos diver-
de, acrescentando valores, idade, inabilida- sidade como um misto de pessoas com iden-
des, formação educacional em vez da inter- tidades grupais diferentes dentro do mes-
pretação mais comum, que se restringe ex- mo sistema social. O conceito de identida-
clusivamente a mulheres e negros". Em ter- de parece estar no âmago do entendimento
mos ainda mais gerais, Jackson et al. (1993 da diversidade nas organizações. Assim,
: 53) usam diversidade "para se referirem a nossa discussão sobre a diversidade neste
situações em que os atores de interesse não capítulo está centrada em torno do verda-
são semelhantes em relação a algum atri- deiro significado de identidade e em seu tra-
buto". Loden e Rosener (1991) também tamento no estudo das organizações.
adotam uma visão ampla, porém estabele- Em razão da diversidade ser percebi-
cem distinções entre as dimensões primá- da como um assunto novo, uma suposição
rias, consistindo de diferenças humanas implícita parece ser que há pouco conheci-
imutáveis, como idade, etnia, gênero, raça, mento relevante disponível para seu desen-
orientação sexual e habilidades físicas; e di- volvimento como um tópico. Entretanto,
ferenças secundárias mutáveis, como forma- uma revisão rigorosa da literatura organi-
ção educacional, localização geográfica e zacional indica haver um corpo relevante
experiência de trabalho. de trabalhos sobre a diversidade de identi-
As definições mais amplas indicam que dades. Nossa crença é que, para que a teo-
o termo diversidade refere-se a todas as di- ria e a pesquisa sobre a diversidade avan-
ferenças individuais entre as pessoas - isto cem, é importante analisar criticamente em
é, todos são diferentes. Esta conceitualização um capítulo as teorias e a pesquisa que se
espelha o individualismo que estrutura mui- qualificam atualmente como as orientações
tas de nossas idéias sobre as organizações. mais importantes. O trabalho analisado in-
Por outro lado, as abordagens restritas, que clui a teoria de identidade social, a teoria
limitam a diversidade à raça, etnia e gênero intergrupos incrustrados,* a pesquisa em
tendem a ser interpretadas como referindo- raça, etnia e gênero, a demografia organi-
se apenas às pessoas pertencentes a um gê- zacional e a etnologia. Não empreendemos
nero específico ou a um grupo minoritário uma revisão exaustiva da pesquisa empírica
de raça-etnia1 de um sistema social (isto é, feita em cada área. Nossa principal preocu-
a diversidade refere-se às mulheres brancas pação é como a identidade tem sido concei-
e às minorias raciais). tuada em cada trabalho. Para cada teoria/
Para obter-se clareza conceituai na lin- campo de trabalho revisto, focamos seis di-
guagem e no significado da diversidade, mensões do tratamento para identidade: (1)
tem-se que começar estruturando o próprio definição explícita versus implícita; (2) de-
conceito. As especiflcidades de como o ter- finição física versus definição cultural; (3)
mo é definido e tratado percorrerão um lon- mensuração proposta; (4) definição em fun-
go caminho para estabelecer a ideologia que ção do indivíduo versus outros; (5) níveis
moldará as idéias sobre o tópico de manei- de análise; e (6) efeitos da diversidade (veja
ra relevante. De fato, o próprio termo está a Tabela 1). Além disso, revisamos três es-
incompleto, porque, imediatamente, levan-
O texto original é embedded, que significa "embu-
ta a questão: diversidade em quê? Apesar
tido, encaixado incrustrado", conotando algo
da confusão sobre o que constitui diversi- incrustrado nun sistema maior. Foi traduzido aqui
dade, está mais ou menos claro que os aca- para "incrustrado", embora ainda não exista tra-
dêmicos estão-se referindo à "diversidade dução consagrada para uso em português (NT).

FURB - Biblioteca Central


DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES
■■■■■■■■^HHHHHHHHBHBH

Tabela 1 Resumo das abordagens para a identidade das organizações.


Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições
metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura de
organizacional, pós-estruturalista, industrialismo/
pós-industrialista, pós-fordista/ modernidade
moderno, Foucault, Garfinkel, teoria a pós-
do ator-rede industrialismo/
pós-modernidade
Justiça Participação Ética de negócios, moralidade e OB, de democracia
democracia industrial, teoria repressiva
participativa, teoria crítica, a democracia
Habermas participativa
Tabela 1 Narrativas analíticas em análise organizacional.
Variáveis-chaves Previsões-chaves Referências-
chaves
280
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

truturas metafóricas de diversidade recen- nominal. Ao contrário, uma das contribui-


temente propostas (Cox, 1993; Jackson et ções mais importantes da TIS para o campo
al., 1995; Triandis et al., 1994). Concluímos de pesquisa sobre a diversidade é a noção
nossa revisão com prescrições sobre como a de que as pessoas dentro dos grupos sociais
identidade pode ser reestruturada e expan- divergem quanto a importância relativa que
dida. Finalmente, exploramos as implicações qualquer identidade social específica tem em
metodológicas e de pesquisa dessas prescri- seu autoconceito (Jackson, 1981). Em de-
ções. Entretanto, começamos, primeiramen- corrência, uma das implicações da TIS é que
te, com uma revisão da literatura relevante. a identidade de grupo deve, idealmente, ser
operacionalizada para pesquisa como uma
medida de escala contínua.
REVISÃO DA LITERATURA Há, também, alguma ambigüidade
sobre até que ponto o fato de uma pessoa
Teoria da identidade social ser definida por outras é relevante para a
identidade social de alguém. Como exem-
Definimos diversidade como um mis- plo, Turner definiu a identificação social
to de pessoas com identidades de grupo di- como "o processo de alguém se localizar ou
ferentes dentro do mesmo sistema social. localizar outra pessoa dentro de um sistema
As perspectivas intergrupais têm sido uma de categorizações sociais", mas definiu si-
das principais estruturas para o entendimen- multaneamente a "identidade social" como
to das interações humanas, envolvendo in- a "soma total das identificações sociais usa-
divíduos percebendo a si mesmos como da por uma pessoa para definir a si própria"
membros de uma categoria social ou sendo (1982 : 18). Acreditamos que as "localiza-
percebidos por outros como pertencentes a ções" categóricas atribuídas a uma pessoa
uma categoria social (Taylor e Moghaddam, por outras são cruciais para o entendimen-
1987). Essas perspectivas envolvem uma to das implicações plenas da identidade so-
variedade de preocupações, do conflito cial. Em compensação, a clara ênfase da TIS
intergrupal ao preconceito (Brewer e está em autodefinição, um fato que impõe
Kramer, 1985; Hewstone e Brown, 1986; limitações para a utilidade do conceito como
Kramer, 1991; Messick e Mackie, 1989; ponto focai da pesquisa sobre a diversida-
Sherif e Sherif, 1953; Tajfel, 1982). Uma das de. Acreditamos que a maneira pela qual
teorias intergrupais mais proeminentes que alguém é definido por outros influencia sua
nos informam sobre os efeitos da identida- auto-identidade em algum grau, e tem efei-
de do grupo sobre o comportamento huma-
no tem sido a teoria da identidade social
(TIS). A TIS é uma teoria cognitiva que as-
sume que os indivíduos tendem a classifi-
car a si próprios e aos outros em categorias
sociais, e que essas classificações têm efeito
significativo sobre as interações humanas.
O trabalho fundamental sobre a identifica-
ção social foi feito no campo da psicologia
social, principalmente por Henry Tajfel e
John Turner (Tajfel, 1972; Turner, 1975;
Tajfel e Turner, 1979). O tratamento da iden-
tidade de grupo na teoria da identidade so-
cial é, de certa forma, inconsistente. Por
exemplo, os principais colaboradores para
o desenvolvimento da teoria divergem em
quanto os membros devem compartilhar em
comum para constituir um grupo de identi-
dade social (Rabbie e Horwitz, 1988). As-
sim, não está totalmente claro se as catego-
rias de identidade social são aceitas por te-
rem implicações culturais ou simplesmente
por representarem fenótipos ou categorias
sociais diferentes. Entretanto, a maioria dos
autores da TIS parece inclinar-se em dire-
ção à última interpretação. Contudo, deve-
se enfatizar que a TIS não trata a identida-
de de grupo como uma medida de escala
I 281 PARTE II ~ QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

tos em seus próprios méritos para afiliação dores independentes de status (isto é, inde-
ao grupo (i.e., independente da pendentes de posse de recursos ou de ou-
autodefinição de alguém). Por exemplo, o tros traços relevantes de status). O núcleo
fato de uma pessoa não se identificar forte- de seu argumento é que quando as identifi-
mente como sendo homem ou mulher não cações de grupo tornam-se altamente
significa que seu gênero não será importan- correlacionadas com uma diferença de re-
te na maneira pela qual as outras pessoas cursos intercambiáveis, a identificação do
relacionam-se com ele/ela e, assim, a iden- grupo torna-se um indicador de status que
tidade sexual pode afetar as experiências de é, depois, usado para determinar a inclusão
vida, quer a pessoa se identifique por gêne- ou exclusão de redes sociais importantes e,
ro ou não. À luz disso, para que a extensão definitivamente, é assumida como uma au-
em que a identidade social seja entendida torização para a competência geral. Usan-
como limitada à autoconcepção de uma pes- do as equações desenvolvidas por Skvoretz
soa (Abrams e Hogg, 1990), algum outro (1983), Ridgeway prevê que o gênero é uma
conceito é necessário para entender o papel identidade de grupo especialmente vulne-
que outros assumem na definição das iden- rável para este ciclo porque homens e mu-
tidades de grupo relevantes para uma pes- lheres são quase igualmente representados
soa. na população.
Embora bem desenvolvida na litera- Uma contribuição notável desses teó-
tura de psicologia social, a teoria da identi- ricos da construção social para o trabalho
ficação social apenas recentemente tem sido sobre a diversidade é que eles discutem a
aplicada ao campo organizacional. Ashforth aplicabilidade da identidade social em múl-
e Mael (1989) e Wharton (1992) apresen- tiplos níveis de análise. Tradicionalmente,
tam trabalhos teóricos que mostram a a TIS tem enfocado o nível individual, mas
interação da identidade social com um ou ao enfatizar o contexto social, esses autores
mais aspectos do contexto social. Ashforth deixam claro a importância do grupo - e da
e Mael (1989) sinalizam que uma combina-
ção dos fatores prevalecentes das organiza-
ções trabalha para intensificar os efeitos da
identificação do grupo. Esses fatores in-
cluem a presença de numerosos grupos for-
mais e informais e a distinção dos traços de
vários grupos (por exemplo, diferenças de
metas e processos entre as unidades de tra-
balho).
Wharton (1992) e Ridgeway (1991)
adotam uma abordagem de construção so-
cial para mostrar como a identidade social
é especificamente aplicável ao tópico da di-
versidade da força de trabalho nas organi-
zações. Wharton (1992) argumenta que
gênero e raça devem ser vistos como cate-
gorias socialmente construídas na pesquisa
organizacional. Para ela, uma implicação
dessa abordagem é que a identificação com
grupos de gênero e raça deve ser entendida
como evocada por estímulos contextuais em
vez de o ser por componentes fixos de um
autoconceito individual. Essa visão acom-
panha diretamente um trabalho anterior
sobre etnicidade situacional e etnicidade
emergente (por exemplo, Yancey et al.,
1976; Okamura, 1981; McGuire et al., 1978;
Stayman e Deshpande, 1989). Uma contri-
buição central desse corpo de trabalho é ilu-
minar as forças contextuais que determinam
saliências de identidade, como o tipo de ta-
refa a ser desempenhado e as característi-
cas demográficas dos grupos de trabalho.
O trabalho de Ridgeway (1991) enfoca
o valor do status das características nomi-
nais. Usando a teoria estrutural de Blau
(1977) e a teoria dos estados de expectati-
va de Berger e Zelditch (1985), ela explica
por que as identidades de grupo como gê-
nero e raça causam impacto em níveis de
interação social com pessoas que têm aces-
so a recursos e, portanto, tornam-se indica-
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES 282 I

organização - no fenômeno da identidade Como a TIS, a teoria das relações


social. intergrupais incrustrado também é classifi-
Agora, chegamos à questão central cada sob a rubrica geral das perspectivas
sobre o que a TIS tem a dizer sobre os efei- inter-grupais. Entretanto, Alderfer e Smith
tos da diversidade no grupo de trabalho e (1982) desenvolveram uma teoria das rela-
nos processos e resultados organizacionais. ções intergrupais incrustrado, especifica-
Na maior parte, esse corpo de trabalho pa- mente para as organizações que explicita-
rece sugerir que a identificação social e os mente integram a filiação a grupo de iden-
processos relacionados produzem efeitos tidade e a filiação a grupo resultante de
degradativos, principalmente sobre os resul- categorização organizacional. Sua teoria
tados dos vários grupos. O comentário se- postula dois tipos de grupos existentes no
guinte de Brewer é ilustrativo: interior das organizações: grupos de identi-
As metas comuns e a característica dade e grupos organizacionais.
de interdependência cooperativa entre as Grupo de identidade é aquele cujos
equipes de trabalho devem fornecer um membros compartilham alguma caracterís-
contexto para derrubar barreiras à comu- tica biológica comum, como gênero, que
nicação e explorar os benefícios das habi- participaram de experiências de vida seme-
lidades e perspectivas diversas. Entretan-
lhantes, estão, atualmente, sujeitos a forças
to, vários aspectos das relações intergru-
sociais similares e, como resultado, têm vi-
pais (lealdades dentro dos grupos, rivali-
dades intergrupais implícitas, sões consonantes de mundo (Alderfer, 1987).
estereótipos Os grupos de identidade mais comumente
negativos e desconfiança de grupos exter- reconhecidos são aqueles baseados em gêne-
nos), freqüentemente, conspiram para ro, família, etnia e idade (Alderfer e Smith,
impedir a coordenação entre os membros 1982). Embora haja pouca escolha sobre a
de equipes de trabalho diversas e filiação física nos grupos de identidade, há
reduzem
algum grau de escolha sobre a filiação psi-
o desempenho efetivo (1995 : 10).
cológica. Como a TIS, a teoria das relações
Em observação similar, Ashforth e intergrupais incrustradas argumenta que os
Mael (1989) identificam três conseqüên- indivíduos podem sentir-se mais ou menos
cias gerais da identificação de grupo que são identificados com seu grupo de identidade.
especialmente relevantes para o comporta- O foco está na auto-identificação.
mento/resultados organizacionais como se- Um grupo organizacional é aquele em
gue: (1) os indivíduos tendem a escolher que os membros compartilham cargos
atividades e instituições que sejam con- organizacionais comuns, participam de ex-
gruentes com suas identificações mais evi- periências de trabalho equivalentes e, como
dentes; (2) a identificação afeta os resulta- conseqüência, têm visões de mundo conso-
dos, como a coesão e a interação intra- nantes. A filiação ao grupo de identidade
grupais e (3) a identificação reforça a fixa- antecede a filiação ao grupo organizacional.
ção ao grupo e a seus valores e aumenta a
competição com grupos externos. A segun-
da e terceira conseqüências sugerem que a
existência da diversidade na identificação
do grupo pode levar a alguma dificuldade
nas relações entre as pessoas de identida-
des de grupo diferentes. À medida que as
identidades com subgrupos (microidenti-
dades no contexto organizacional) assumem
precedência sobre a identidade organiza-
cional comum (macroidentidade), a habili
dade das pessoas trabalharem em equipes
compostas de membros de identidades de
grupo diferentes pode ser prejudicada pe-
las conseqüências da identificação do grupo.

Teoria das relações


intergrupais embedded
PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

mento da identidade é sua atenção aos efei-


Assim, a identidade das pessoas nas organi- tos das identidades diversas dentro de um
zações é uma função de sua filiação ao gru- contexto organizacional mais amplo. Diz-se
po de identidade e sua filiação ao grupo que a identidade dos indivíduos nas organi-
organizacional. zações é determinada não apenas pela
A teoria apresenta conjunto um tanto categorização organizacional, mas também
complexo de interações para o entendimen- pela filiação a um grupo de identidade. A
to dos efeitos da diversidade nas identida- teoria de relações intergrupais incrustradas
des das organizações. A filiação ao grupo reconhece que os indivíduos não abando-
de identidade e ao grupo organizacional é nam suas identidades raciais, sexuais ou
vista como altamente relacionada com seus étnicas quando entram em uma organiza-
efeitos nas relações sociais nas organizações. ção. Esta teoria também sugere que a catego-
Certos grupos organizacionais tendem a ser rização do grupo de identidade sempre será
formados por membros de grupos de iden- relevante em um contexto organizacional.
tidade específicos. Por exemplo, os cargos
da alta administração nas organizações dos
Estados Unidos e em outros países indus- Demografia organizacional
trializados tendem a estar ocupados por ho-
mens brancos mais velhos. Conforme a teo- A pesquisa sobre a demografia orga-
ria de relações intergrupais incrustradas, os nizacional refere-se ao estudo das "causas e
indivíduos e as organizações estão constan-
temente tentando administrar conflitos po-
tenciais que surgem da interface entre gru-
pos de identidade e grupos organizacionais.
A maneira pela qual as tensões são admi-
nistradas depende de vários fatores. O fator
mais importante é como os grupos estão in-
crustados no "suprasistema" mais amplo
(Alderfer e Smith, 1982). Alderfer e Smith
(1982) usam o termo "relações intergrupais
incrustradas" para capturar a dinâmica en-
tre os grupos de identidade, os grupos
organizacionais e o suprasistema em que
eles estão incrustados. A incrustação pode
ser congruente ou incongruente. A incrus-
tração congruente existe quando as relações
de poder entre os grupos em um nível são
reforçadas pelas relações de poder no nível
de suprasistema e de subsistema (Alderfer,
1987). A incrustação incongruente existe
quando as relações de poder não são con-
sistentes com a dinâmica do suprasistema.
Contudo, a compreensão das diversas iden-
tidades nas organizações exige o entendi-
mento do perfil da afiliação das partes ao
grupo, bem como do contexto mais amplo
----------
em ______—_
que as partes -------------------
interagem.

A teoria de relações intergrupais


incrustradas tem sido usada para estudar as
mulheres e as minorias nas organizações
predominantemente brancas e masculinas
(Alderfer et al., 1980; Thomas, 1990). Um
exemplo de pesquisa que usa essa teoria é o
trabalho de Alderfer et al. (1980). Alderfer
e seus colegas estudaram os relacionamen-
tos raciais entre os gerentes de uma grande
corporação. Sua pesquisa demonstrou como
a identidade do grupo racial influenciou as
cognições das relações raciais dentro da or-
ganização. Uma constatação significativa foi
a existência de percepções paralelas e não
paralelas entre grupos raciais brancos e ne-
gros. Cada grupo racial relatou que os mem-
bros do outro grupo socializavam-se mais
entre si do que com os membros da outra
raça. Cada grupo racial tendia a ver esse
padrão como mais fraco em seu próprio gru-
po do que em outro grupo. A filiação a um
grupo de identidade era o fator mais pode-
roso, mesmo quando haviam fatos objeti-
vos sobre um problema.
O significado da teoria de relações
intergrupais incrustradas para o entendi-
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES 284

conseqüências da composição ou distribui- se tratamento é que a identidade deve ser


ção de atributos demográficos específicos mensurada como variável contínua em vez
dos funcionários em uma organização" (Tsui de variável nominal. Alternativamente, os
et al., 1995:4). A origem da demografia autores da demografia organizacional têm,
organizacional como campo de estudo é tipicamente, tratado as dimensões da dife-
freqüentemente atribuída a Pfeffer (1983). rença simplesmente como categorias físicas.
A revisão da pesquisa sobre a demografia Tsui et al. (1992) sustenta que uma
organizacional realizada por Tsui et al. distinção entre a pesquisa da diversidade e
(1995) identifica 15 estudos empíricos e um a pesquisa da demografia organizacional é
livro publicado desde o artigo seminal de que a primeira limita a atenção ao efeito
Pfeffer. Essa revisão indica que os demó- das diferenças da identidade do grupo so-
grafos organizacionais têm enfocado prin- bre os membros de grupos minoritários, ao
cipalmente as identidades dos grupos no que passo que a última está interessada nos efei-
diz respeito a idade, tempo de serviço, for- tos sobre todos os trabalhadores. Entretan-
mação educacional e histórico funcional. to, acreditamos que a pesquisa que revela o
Dos 15 estudos empíricos identificados, o impacto da identidade sobre os membros de
tópico tempo de serviço figurava em 13, ida- grupos minoritários revela, simultaneamen-
de em nove e formação educacional e histó- te, os efeitos para os membros de grupos
rico funcional em seis, cada. Em contraste, majoritários. Por exemplo, a pesquisa que
gênero e raça estavam incluídos em apenas revela que ser mulher tem efeito negativo
três estudos, cada (Tsui et al., 1995). nas promoções ou na remuneração também
Nosso estudo desse trabalho sugere revela que ser homem (grupo majoritário)
que a identidade do grupo é geralmente tra- tem efeito positivo. Em respeito a isso, mes-
tada como uma variável de escala nominal, mo a pesquisa que enfoca uma dimensão
significando que as categorias sociais são única de diversidade (por exemplo, gêne-
baseadas em características físicas ou em ro) fornece informações relevantes para to-
histórico de trabalho. Além disso, o estudo dos os trabalhadores, em lugar de apenas
baseia-se largamente nas autodefinições de aos membros de grupos minoritários. Tanto
grupos de identidade que são mais comu- a teoria quanto a pesquisa sobre a diversi-
mente obtidas em levantamentos ou arqui- dade estão crescentemente indicando di-
vos de dados históricos de empresas. A pró- mensões múltiplas da identidade de grupos,
pria expressão "demografia organizacional" tendência que esperamos continuar.
demonstra que este trabalho enfoca mais o De todas as áreas de pesquisa aqui dis-
nível macro de análise do que o nível indi- cutidas, o trabalho sobre demografia organi-
vidual ou grupai. Uma exceção notável é o
trabalho de Tsui e O'Reilly (1989) sobre
demografia relacionai, que direciona a aten-
ção nas características demográficas da
díade superior-subordinado.
Uma limitação da pesquisa sobre a
demografia organizacional sugerida pela
recente teoria da diversidade nas organiza-
ções (e pelo trabalho apresentado anterior-
mente sobre a teoria da identidade social) é
como as dimensões da diferença são opera-
cionalizadas. Autores sobre a diversidade da
força de trabalho têm enfatizado o signifi
cado cultural das categorias demográficas,
como gênero, raça e função exercida no tra-
balho e a noção dos níveis diferenciais de
identificação com o grupo dentro das cate-
gorias. Por exemplo, Cox (1993) destaca que
muitos grupos de identidade representam
distinções físicas (fenótipos) e culturais
(identidade cultural). Ele também argumen-
ta que os membros de grupos de identidade
variam à medida que exibem, além das ca-
racterísticas culturais para certos tipos de
diversidade, características físicas que são
prototípicas do grupo. Uma implicação des-
285 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

zacional oferece a pesquisa mais direta e Antes do final dos anos 60, pouca aten-
extensiva sobre os efeitos específicos da di- ção era dada a assuntos de raça e gênero no
versidade nos resultados e no desempenho estudo das organizações (Cox e Nkomo,
no trabalho. De fato, a motivação central 1990), sugerindo que os empregados esta-
do trabalho empírico sobre a demografia vam isentos dessas identidades. A atenção
organizacional tem sido no sentido de de- em larga escala para assuntos de raça e gê-
terminar o impacto da composição demo- nero nas organizações iniciou-se após a
gráfica das organizações ou grupos de tra- aprovação da legislação sobre a igualdade
balho nos resultados do trabalho (Tsui et de oportunidades de emprego e sobre a não-
al., 1995). Uma revisão da pesquisa empírica discriminação no final dos anos 60 e início
sugere que a heterogeneidade potencial- dos anos 70 nos Estados Unidos e, em me-
mente demográfica tem efeitos positivos e nor grau, em países da Europa Ocidental,
negativos sobre os resultados do trabalho principalmente na Grã-Bretanha (Cox e
de interesse para os profissionais. Por um Nkomo, 1990; Nkomo, 1992; Sivanandan,
lado, a heterogeneidade (comparada à 1985). A literatura que apareceu repenti-
homogeneidade dos grupos) reduz a coe- namente girou em torno das seguintes ca-
são dentro do grupo e a satisfação dos mem- tegorias cobertas pela legislação: gênero,
bros (pelo menos nos grupos majoritários) raça, país de origem, religião e idade. Uma
e aumenta o turnover (Jackson et al., 1991; vez que o maior volume de pesquisa acu-
Tsui et al., 1992; Wharton e Baron, 1987). mulado retrata racioetnia e gênero, enfo-
Por outro lado, a heterogeneidade, pelo camos nossa atenção nessas duas áreas.
menos sob certas condições, aumenta a Muito menos atenção tem sido dada à
criatividade, a qualidade da tomada de de- orientação sexual e à habilidade física (Hall,
cisão e a inovação (Jackson e associados, 1989; Harris, 1994; Munyard, 1988; Stone
1992; Ancona e Caldwell, 1992; Bantel e et al., 1992; Woods, 1993).
Jackson, 1989). A meta de muitas dessas pesquisas tem
E significativo notar que esse corpo de sido documentar o tratamento diferencia-
pesquisa mostra o que denominamos "di-
versidade não administrada", isto é, nenhum
esforço aparente foi feito para reduzir os
potenciais efeitos negativos da diferença nos
grupos de trabalho ou para acentuar os po-
tenciais efeitos positivos. Portanto, a ques-
tão que surge é: podem atitudes tais como
o conhecimento sobre as diferenças cultu-
rais, permitindo mais tempo para se chegar
às decisões, além de outras intervenções,
serem usadas para reduzir os efeitos nega-
tivos da heterogeneidade e aumentar os efei-
tos positivos? Acreditamos que a resposta é
sim. Há alguma pesquisa empírica que pa-
rece apoiar essa conclusão. Adler (1986)
relata estudo experimental em que equipes
culturalmente diversas foram comparadas,
em termos de produtividade, a equipes cul-
turalmente homogêneas. Os resultados in-
dicaram que uma atenção cuidadosa para a
dinâmica da diversidade pode ser a diferen-
ça entre os efeitos globais positivos e nega-
tivos sobre os resultados de desempenho do
grupo. Em outro estudo, os escores de cria-
tividade de díades heterogêneas (definidas
como diferentes em atitudes) foram com-
parados àqueles de díades homogêneas. As
constatações indicaram que quando não há
intervenção para dirigir as diferenças de
atitude, as díades heterogêneas foram me-
nos criativas do que as homogêneas, mas
quando houve algum treinamento destina-
do a aumentar o entendimento e a comuni-
cação entre os membros, os resultados fo-
ram revertidos (Triandis et al., 1965).

Pesquisa sobre
racioetnia e gênero
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

do nas organizações baseado na racioetnia junto de tópicos tradicionais do comporta-


e no gênero. A pesquisa anterior sobre mento organizacional. Os tipos de estudos
racioetnia e gênero foi fortemente influen- realizados refletem uma suposição de que
ciada pelas teorias de assimilação encontra- racioetnia e gênero são objetivas, proprie-
das no trabalho de acadêmicos como Allport dades essenciais dos indivíduos. Isto é, as
(1954), Myrdal (1944) e Park (1950). A diferenças de identidade refletem as dife-
ênfase era nas expressões psicológicas do renças inatas entre os grupos racioétnicos e
racismo, sexismo e outras formas de discri- os homens e as mulheres. Por exemplo, pes-
minação. O principal assunto adotado foi a quisadores têm testado as diferenças ra-
assimilação de mulheres brancas,2 mino- ciais sobre a satisfação e as atitudes no tra-
rias raciais e aqueles que eram "diferentes" balho (por exemplo, O'Reilly e Roberts,
nas organizações. 1973; Weaver, 1978), estilos de liderança
Na maior parte dos trabalhos, a iden- (por exemplo, Bartol et al., 1978) e motiva-
tidade não tem sido explícita no tratamento ção (por exemplo, Brenner e Tomkiewcz,
de raça e gênero nas organizações. De fato, 1982; McClelland, 1974). Apesar da gran-
os conceitos de identidade racial, identidade de quantidade de trabalho, os resultados são
étnica e/ou identidade sexual são raramente muito inconsistentes, com pouca evidência
encontrados nos trabalhos. Todavia, a lite- de diferenciações sistemáticas entre negros
ratura sugere, implicitamente, que a noção e brancos quanto às atitudes no trabalho e
de identidade incrustada na racioetnia e no à motivação. No caso das diferenças de gêne-
gênero considera a identidade como variá- ro, vários estudos têm levantado a questão
vel. Raça e gênero têm sido largamente es- de se as mulheres gerentes têm estilos de
tudados como objetivo, fixadas proprieda- liderança diferentes em comparação aos
des fixas e objetivas individuais que podem homens (Eagly e Johnson, 1990; Powell,
ser operacionalizadas em níveis mensuráveis 1990; Rosener, 1990). Alguns pesquisado-
(por exemplo, 1 = branco e 2 = negro; 1 = res sugerem que as mulheres não usam es-
homem e 2 = mulher). Os pesquisadores tilos hierárquicos de liderança, mas possu-
têm confiado largamente em mensurações em estilos mais democráticos, participativos
nominais para conduzir suas pesquisas. A
maior parte da pesquisa sobre racioetnia nas Prática ou política de limitar-se a um esforço mí-
organizações dos Estados Unidos tem com- nimo para oferecer oportunidades às minorias
parado negros e brancos. Esse foco estreito iguais às da maioria. (N.T.)
é problemático por si mesmo. Outros gru-
pos racioétnicos têm recebido atenção mui-
to menor (Knouse et al., 1992).
Duas importantes áreas de pesquisa
podem ser identificadas. Uma área enfoca
o objetivo em questão, ou seja, a evidência
quantificável da discriminação racial e se-
xual nas práticas organizacionais. Embora
os resultados desses estudos estejam mistu-
rados, tomados como um todo sugerem que
negros e mulheres enfrentam discriminação
de acesso e de tratamento nas organizações
(Collins, 1989; Kraiger e Ford, 1985;
Greenhaus et al., 1990). A literatura está
repleta de estudos documentando os efei
tos negativos sobre as carreiras das mino-
rias raciais e das mulheres brancas, incluin-
do tokenism, * diferença de acesso à orien-
tação, exclusão de redes informais, tetos de
vidro e outras formas de restrição à mobili-
dade de carreira (Antal e Izraeli, 1993; Bell,
1990; Collins, 1989; Cox e Nkomo, 1991;
Fernandez, 1981; Greenhaus et al., 1990;
Ibarra, 1993; lies et al, 1991; Morrison et
al., 1987; Pettigrew e Martin, 1987; Thomas,
1990; Cahoon e Rowney, 1993; Freedman
e Phillips, 1988; Stroh et al., 1992; Raggins
e Cotton, 1991).
Uma segunda área de pesquisa enfoca
as diferenças de raça e gênero em um con-
287PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

ele argumenta conter implicações para o


(Rosener, 1990). Outros pesquisadores ain- comportamento de trabalho nas organiza-
da têm constatado que as mulheres- geren- ções. Os valores foram: distância do poder,
tes bem-sucedidas não diferem em estilo dos fuga da incerteza, individualismo-coletivis-
homens gerentes bem-sucedidos (Powell, mo e masculinidade-feminilidade.
1990). Apesar da proliferação de estudos Usando medidas ajustadas à lingua-
enfocando as diferenças de gênero, cumu- gem e outras diferenças culturais nos paí-
lativamente é difícil fazer declarações va- ses envolvidos, Hofstede determinou que as
zias sobre o que diferencia sistematicamen- populações de diferentes nações do mundo
te as gerentes mulheres dos gerentes ho- diferem significativamente nesses quatro
mens nas atitudes em relação a trabalho, valores e que essas diferenças têm implica-
personalidade e comportamento. ções importantes para a aplicação das teo-
As explicações sobre as conseqüên- rias e conceitos de administração nos gru-
cias negativas para as minorias raciais e mu- pos de trabalho compostos por nacionali-
lheres brancas nas organizações envolvem dades diferentes. Um volume significativo
desde preconceito e discriminação decorren- de pesquisa empírica tem sido feito usando
tes de estereótipos, a explanações estrutu- uma ou mais dessas dimensões culturais
rais mostrando sua representação propor- (por exemplo, Yu e Murphy, 1993; Farh et
cional nas hierarquias organizacionais al., 1991; Davidson, 1993; Coxetal. 1991).
(Kanter, 1977). A influência da teoria de as- Edward T. Hall (1976; 1982) escreveu
similação é evidente nos tipos de questões extensivamente sobre o impacto da cultura
estudadas e nas soluções propostas. Parte e das diferenças culturais no comportamento
do trabalho sugere que a solução para os humano. Seu trabalho é notável por forne-
efeitos negativos da diversidade está na cer exemplos concretos de como diferenças
integração bem-sucedida das minorias ra-
ciais e das mulheres brancas nas organiza-
ções. Implicitamente, para o grupo mino-
ritário, assimilação bem-sucedida significa
perda de identidade - adaptação às normas
e comportamentos do grupo dominante.

Etnologia

Outra parte do fundamento da pesqui-


sa sobre a diversidade é a etnologia. Etno-
logia é o ramo da antropologia que lida com
as características sociais e culturais de dife-
rentes grupos "tribais" de pessoas. Preferi-
mos o termo "etnologia" em vez de "etno-
grafia" porque inclui a comparação e a aná-
lise de culturas em vez de meramente sua
descrição. Embora, historicamente, o termo
se refira às características culturais de raças
ou grupos étnicos diferentes, nossa inten-
ção é adotar aqui uma aplicação mais am-
pla para nos referirmos a qualquer identi-
dade de grupo à qual traços culturais dis-
mwÊmwmwÊBWmwmmWÊmmwÊwmmmvmm
m
tintivos possam ser identificados por pes-
quisa sistemática. Assim, neste contexto, a
etnologia representa o trabalho que identi-
fica as similaridades e as diferenças cultu-
rais entre grupos de identidade, bem como
a análise de fenômenos culturais como dis-
tância cultural e choque cultural. Em nossa
visão, esse trabalho é central para o enten-
dimento do efeito da diversidade nas orga-
nizações.
Na aplicação da etnologia ao cenário
e aos assuntos organizacionais, os pesqui-
sadores têm-se concentrado principalmen-
te na identidade de grupo de nacionalida-
de. Entre os trabalhos mais influentes estão
os de Hofstede (1980; 1984), Hall (1976;
1982), Laurent (1983) e Tung (1988a;
1988b).
Os estudos de Hofstede sobre as dife-
renças de valor entre pessoas de mais de 14
países do mundo identificaram quatro va-
lores centrais que diferenciavam as pessoas
de grupos de nacionalidade diferentes e que
288
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

culturais específicas, especialmente as não E importante notar que, em vista das


verbalizadas, podem tornar-se barreiras à altas taxas de imigração nos Estados Uni-
comunicação e ao entendimento entre as dos (e às crescentes taxas em muitos outras
pessoas. Por exemplo, seu conceito de ca- partes do mundo) e em função dos indiví-
deias de ação ajuda-nos a entender como duos com origens em grupos microculturais
as escolhas comportamentais são restrin- (grupos dentro de uma cultura nacional
gidas por rituais e normas que raramente particular, como os sino-americanos) que
são explicitadas. Um exemplo é a expectati- são influenciados por normas e valores cul-
va de que os membros de uma comunidade turais de suas culturas originais, o trabalho
façam amizade com os recém-chegados, em sobre as diferenças de nacionalidade é rele-
vez de evitá-los. Esta norma torna possível vante para as forças de trabalho domésticas
àqueles já integrados ao grupo excluírem os em muitas partes do mundo, bem como para
recém-chegados sem rejeitá-los abertamen- as organizações com operações multina-
te. Esse insight pode ser aplicável ao pro- cionais. Além disso, o princípio básico por
blema freqüentemente citado de acessibili- trás dessa pesquisa - que as diferenças de
dade desigual dos grupos de identidade por cultura são centrais para o entendimento da
meio das redes informais das organizações. dinâmica intergrupos - é aplicável às iden-
Outros autores têm feito extensões e tidades de grupo além da nacionalidade.
aplicações do trabalho de Hall a outros cam- Outra área de teoria e pesquisa em
pos de trabalho, principalmente em áreas etnologia altamente relevante para o traba-
de pesquisa de marketing (por exemplo, lho da diversidade nas organizações é a da
Graham, 1981; Cote e Tansuhaj, 1989) e aculturação. Esse trabalho enfoca os proces-
estilos de trabalho preferidos (por exemplo, sos de solução das diferenças culturais en-
Cox, 1993). tre membros de uma nação em nível societal
André Laurent (1983) está entre um (por exemplo, Berry, 1987; Padilla, 1980),
crescente número de acadêmicos europeus entre organizações com culturas diferentes
que têm contribuído para o trabalho sobre (por exemplo, Nahavandhi e Malekzadeh,
diversidade (entre outros incluem-se Stamp, 1988; Sales e Mirvis, 1984), entre organi-
1989; De Vries, 1992; Essed, 1991). O tra- zações e seus membros (por exemplo, Cox
balho de Laurent tem enfocado a identifica- e Finley-Nickelson, 1991) e entre indivídu-
ção das diferenças culturais nas expectati- os (por exemplo, Hazuda et al., 1988; Wong-
vas dos gerentes. Sua pesquisa é útil na iden- Reiger e Quintana, 1987). Para nós, solu-
tificação das maneiras específicas pelas quais cionar as diferenças culturais "entre indivi-
o desentendimento cultural pode levar a
relacionamentos ineficazes nas organiza-
ções, principalmente nos relacionamentos
diádicos entre um supervisor e seus supe-
riores diretos. Por exemplo, conforme seus
dados, levantados junto a 1.762 pesquisa-
dos de dez países, apenas 13% dos traba-
lhadores dos Estados Unidos esperavam que
um gerente deveria ter respostas precisas
às questões que eles poderiam levantar so-
bre seu trabalho, comparados a 59% na
França, 67% na Indonésia e 77% no Japão.
Isso sugere que a definição de competência
para cargos de direção variará significati
vamente entre as pessoas dessas diferentes
nacionalidades e que as teorias e práticas
administrativas não podem ser universa-
lizadas. Similarmente, Tung (1988a; 1988b)
constatou em seu estudo sobre padrões de
motivação entre trabalhadores chineses que
os mesmos são muito mais tolerantes e re-
ceptivos na execução das regras. Ela rela-
ciona isso à existência de uma economia so-
cialista rigidamente planejada e destaca que
os empregados chineses (tanto gerentes
como não gerentes) estão acostumados a
receber prescrições muito detalhadas de
seus papéis de trabalho (Tling, 1988a).
j 289 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

duos" significa o processo pelo qual os indi- Modelos teóricos


víduos estabelecem uma identidade cultu- da diversidade
ral que responda às diferenças entre norma
e sistemas de valores de grupos culturais
diferentes dos quais ela/ele faz parte. Por Tomadas isoladamente, nenhuma das
exemplo, Cox (1993) revisa nove estudos correntes de pesquisa revistas aqui é sufi-
empíricos mostrando a extensão em que os cientemente complexa para fazer justiça ao
membros de grupos minoritários de racio- tópico da diversidade. Recentemente, vá-
etnia nos Estados Unidos identificam-se com rios acadêmicos têm publicado modelos
seu grupo racioétnico versus o grupo anglo- conceituais sobre a diversidade que, especi-
majoritário. Esse corpo de trabalho vincula ficamente, combinam e traduzem as infor-
a etnologia à teoria de identidade social, mações das correntes de pesquisa mais an-
uma combinação que oferece base de co- tigas. Estamos em condições de identificar
nhecimento rica e substancial para o enten- três desses modelos. São os de Cox (1993),
dimento da dinâmica cultural da diversida- Jackson et al. (1995) e Triandis et al. (1994).
de nas organizações. Cada um deles será brevemente revisto a
Em geral, os pesquisadores da etno- seguir. Escolhemos esses modelos porque
logia têm dedicado menos atenção do que cada um deles tenta utilizar informações das
os demógrafos organizacionais em especifi- contribuições de disciplinas relevantes, são
car os efeitos da diversidade nos processos abrangentes em escopo, reconhecem a com-
e resultados do trabalho. Entretanto, é ra- plexidade do tópico e foram especificamen-
zoável afirmar que seu trabalho é mais te desenhados para explicar o impacto da
revelador das dificuldades potenciais, como diversidade nas identidades para o compor-
má comunicação, conflitos intergrupais, tamento e os resultados organizacionais.
perda de eficácia e estresse, do que dos po-
tenciais benefícios da diversidade cultural.
Por exemplo, Hall (1976) destaca que mui-
tos casos de ineficácia gerencial, mesmo
entre pessoas da mesma nacionalidade e
trabalhando para a mesma organização, são
decorrentes do fracasso no reconhecimento
das diferenças interculturais e, ambos,
Hofstede (1984) e Laurent (1983), desta-
cam que a ignorância das diferenças cultu-
rais têm levado à má aplicação das teorias
administrativas de motivação e liderança.
Em resumo, o conceito de identidade
de grupo é explicitamente tratado na litera-
tura sobre etnologia. Os aspectos culturais
de identidade são enfatizados e a identida-
de é tratada como medida contínua de re-
conhecimento das diferenças intragrupais
em quão fortemente alguém identifica-se
com o grupo. O foco é a auto-identificação
com o grupo em vez de como outras pesso-
as identificam alguém. O trabalho sobre
etnologia dá maior atenção ao nível de aná-
lise do grupo por meio de comparações
intergrupais das tradições culturais. Entre-
tanto, no trabalho sobre aculturação, as es-
truturas da identidade individual e a inte-
ração entre a identidade individual e a iden-
tidade organizacional, bem como as diferen-
ças culturais interorganizacionais estão co-
meçando a receber atenção. Assim, a etno-
logia está dando uma contribuição em to-
dos os três níveis de análise do comporta-
mento organizacional. Finalmente, em ra-
zão da possibilidade de choque cultural, a
pesquisa etnológica sugere que misturar
pessoas de grupos de identidade diferentes
em um sistema social pode levar a uma
variedade de resultados disfuncionais, a
menos que providências sejam tomadas para
superar esse problema.
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES 290

O modelo interativo de diversidade sua vez, um sentimento de obtenção de re-


cultural (MIDC) desenvolvido por Cox compensas ocorrerá quando as partes se
(1993) mostra que as diferenças de identi- perceberem como similares, quando elas
dades grupais entre indivíduos (tanto iden- têm oportunidade de contato positivo, quan-
tidades físicas quanto culturais) interagem do têm um senso de metas compartilhado e
com um conjunto complexo de fatores indi- quando a sociedade ou autoridades reconhe-
viduais, intergrupais e organizacionais (cli- cidas no seio da sociedade estimulam o con-
ma da diversidade) para determinar o im- tato. As especificações do modelo indicam
pacto da diversidade sobre os resultados que todos esses fatores têm efeitos indepen-
individuais e organizacionais. Os resultados dentes (principalmente) sobre as recompen-
individuais previstos pelo modelo são divi- sas.
didos em variáveis de resposta afetiva (sa- Um conceito-chave do modelo de
tisfação, identificação organizacional e Triandis et al. (1994) é similarmente perce-
envolvimento com o trabalho) e variáveis bido. Embora esse ponto de ênfase sugira
de realização (desempenho, mobilidade de que o aumento da diversidade tenderá a
trabalho e remuneração). Os resultados dificultar o grupo de trabalho e o desempe-
organizacionais são divididos tomando por nho organizacional, os autores são cuida-
base a diretiva de impacto esperado em pri- dosos ao apontar tipos de intervenções que
meiro nível (por exemplo, atendimento, podem evitar isso.
turnover e qualidade do trabalho) e em se- O modelo teórico final a ser discutido
gundo nível (por exemplo, lucro). Central a aqui é o "modelo para entendimento da di-
esse modelo é a noção de que a presença da nâmica da diversidade nas equipes de tra-
diversidade nas organizações impactará as balho" de Jackson et al. (1995). Esse mode-
medidas de eficácia, tanto no nível indivi- lo nomeia explicitamente mais de 30 variá-
dual quanto no organizacional, e que o con- veis e algumas delas com componentes
texto organizacional para a diversidade é o múltiplos. Ao reconhecer essa complexida-
eixo para determinar se o impacto global de, os autores não tentam especificar os
das diferenças de identidade grupai sobre a inter-relacionamentos entre as numerosas
eficácia será positivo ou negativo. Outras variáveis, mas, ao contrário, apresentam um
características perceptíveis do modelo são conjunto de conceitos relevantes organiza-
que ele está estruturado em torno de fenô- do em um modelo conceituai. As três prin-
menos sociopsicológicos que têm aplica-
bilidade clara por meio das muitas dimen-
sões de identidade do grupo (isto é, não
apenas gênero e raça, mas nacionalidade,
função exercida no trabalho, religião, clas-
se social etc.) e têm aplicação na experiên-
cia tanto de membros de grupos minoritários
quanto majoritários das organizações. Por
exemplo, a tendência da diversidade não
administrada para levar ao conflito inter-
grupal exaltado entre membros de grupos
majoritários e minoritários reduzirá, poten-
cialmente, os resultados afetivos do traba-
lho para os membros de ambos os grupos.
Um segundo modelo teórico abrangen-
te é o de Triandis et al. (1994). O modelo
(rotulado simplesmente como "Um modelo
teórico para o estudo da diversidade") defi-
ne e especifica os inter-relacionamentos
entre 19 variáveis. Uma lista completa das
variáveis e suas definições não será aqui
apresentada. Entretanto, alguns dos princi-
pais vínculos serão especificados. Os con-
ceitos centrais do modelo incluem similari-
dade percebida, grau de interação e recom-
pensas. A principal variável de resultado são
as atitudes intergrupais positivas. Seguindo
uma linha skinneriana de pensamento
(Skinner, 1981), as atitudes intergrupais
positivas devem ocorrer quando as transa-
ções entre pessoas de grupos diferentes são
interpretadas como recompensadoras. Por
j 348 PARTE II -QUESTÕES F. TEMAS F.MKRGF.NTKS KM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS _______________________________________________________

cipais partes do modelo são aspectos da di- conseqüências negativas. Nossa modelagem
versidade, estados de mediação e processos alternativa exige elaboração.
e conseqüências/manifestações comporta- A principal implicação desse conjunto
mentais. Todas as três são analisadas em três de prescrições é que a identidade deve ser
níveis - individual, interpessoal e equipe - entendida como um constructo complexo,
e dentro de um contexto mais amplo de for- multifacetado e passageiro (Bhavnani e
ças organizacionais e sociais. Conforme esse Phoenix, 1994). O fato dos indivíduos te-
modelo, pode-se analisar "diversidade" rem identidades múltiplas e não uma iden-
como uma característica: de indivíduos, das tidade única contribui para a complexidade
diferenças entre um indivíduo e seu grupo da identidade nas organizações. Os indiví-
de trabalho e como uma característica do duos não são apenas africanos, europeus,
próprio grupo de trabalho. Além disso, as coreanos, brancos, negros, mulheres, ho-
dimensões da diversidade são listadas como mens, gerentes de marketing ou gerentes de
relacionadas à tarefa (tempo de trabalho, produção. As identidades se cruzam para
formação educacional etc.) ou orientadas às criar uma identidade amalgamada. As ma-
relações (gênero, raça etc). A combinação neiras pelas quais as identidades interagem
dos atributos individuais, similaridade ou tornam-se destacáveis são importantes
interpessoal e formação de equipes é posi-
cionada para afetar resultados como desem-
penho pessoal, equilíbrio de poder e cria-
tividade da equipe. Entretanto, esse rela-
cionamento é mediado por grande número
de tarefas e variáveis relacionais, tais como
atenção, memória, estágio de socialização
e respostas cognitivas e afetivas.
Em resumo, três desses modelos pos-
suem arquiteturas similares uma vez que são
conjuntos de aprendizados sobre o que é
importante, e não declarações teóricas
parcimoniosas, que são facilmente adapta-
das às equações matemáticas a serem testa-
das com estatística linear Também, como
pode-se esperar, há considerável sobrepo-
sição dos conceitos dentro dos modelos te-
óricos, embora as definições e o posicio-
namento desses conceitos difiram conside-
ravelmente. O nível de complexidade dos
modelos, embora apropriado ao fenômeno,
provavelmente, impedirá seu teste empírico
completo. Ao contrário, parece que eles são
melhor usados como modelos heurísticos
que podem orientar a pesquisa empírica
desenhada para testar várias subconfi-
gurações. Para facilitar tal utilização, Cox
(1993) oferece mais de 40 proposições teó-
ricas testáveis derivadas do modelo inte-
rativo de diversidade cultural (MIDC).
REMODELANDO IDENTIDADE E
DIVERSIDADE NAS ORGANIZAÇÕES
Após revisar parte da teoria e pesqui-
sa que forma largamente a base para a pes-
quisa sobre diversidade, na última coluna
da Tabela 1 oferecemos nossa sugestão para
o tratamento do conceito de identidade. Para
acelerar o desenvolvimento teórico da di-
versidade nas organizações, devemos come-
çar com a remodelação do conceito de iden-
tidade. Especificamente, o entendimento das
identidades de diversidade será acelerado
por perspectivas teóricas que: (1) definem
e mensuram explicitamente a identidade de
grupo dos indivíduos; (2) atendem ao sig-
nificado cultural, histórico e social da iden-
tidade; (3) tratam a identidade como uma
medida de escala contínua em vez de mera-
mente como categorias discretas, assim,
permitindo aos membros dos grupos dife-
rir, na extensão em que uma identidade es-
pecífica seja mais perceptível para eles; (4)
detalham a relevância da categorização so-
cial por outros à identidade de grupo de al-
guém; (5) detalham efeitos da identidade
em níveis múltiplos de análise (individual,
grupai, organizacional e societal); e (6)
mostram explicitamente os efeitos da diver-
sidade sem assumir a inevitabilidade das
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES 292
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- , __ _

para um contexto organizacional. Assim, o nero (por exemplo, Acker, 1990; Calas e
estudo de uma identidade envolve, neces- Smircich, 1992; Mills e Tancred, 1992); a
sariamente, a atenção com sua interação identidade social das mulheres (por exem-
com outras identidades. plo, Skevington e Baker, 1989); e a identi-
Entretanto, deve-se fazer distinções dade homossexual (por exemplo, Cass,
entre as identidades baseadas em catego- 1979) que têm relevância na pesquisa so-
rias sociais como raça, gênero, etnia e clas- bre identidades diversas nas estruturas
se e as identidades baseadas em categorias organizacionais. Por exemplo, há um corpo
como função organizacional ou tempo de de trabalho emergente explorando o signi-
serviço. A teoria da identidade social pode ficado da identidade racial branca e da cons-
parecer um modelo geral para o exame das trução social da cor branca (por exemplo,
conseqüências de todos os tipos de identi- Carter et al., 1994; Frankenberg, 1993;
dades de grupo. Entretanto, seu campo Helms, 1990; Roediger 1991).
empírico original nos experimentos de gru- Ao mesmo tempo, devemos evitar o
po mínimo limita sua aplicação para o en- essencialismo em nosso tratamento de iden-
tendimento das identidades de grupo base- tidade, reconhecendo sua variabilidade. A
adas em categorias socialmente marcadas, identidade é construída socialmente e não
como racioetnia, gênero e classe (Henriques, inata. Pode ser mensurada nominalmente
1984; Lloyd, 1989; Michael, 1990). De acor- como propriedade objetiva de um indivíduo.
do com Michael (1990), as teorias Como Stuart Hall (1992) tem enfatizado, a
intergrupais e a teoria da identidade social, identidade não é estável ou fixa, mas social
em particular, têm sistematicamente negli- e historicamente construída e sujeita a con-
genciado o conteúdo, preferindo esclarecer tradições, revisões e mudança. Uma visão
os processos ou mecanismos que delineiam de construção social enfatiza o entendimen-
o comportamento intergrupal. Conseqüen- to do processo por meio do qual as distin-
temente, a exclusão do conteúdo tende a ções de identidade emergem e tornam-se
elevar o processo, sugerindo que os proces- visíveis aos indivíduos e grupos nas organi-
sos são universais, independentemente da zações (Wharton, 1992).
base de identidade. Entretanto, a identida- A identidade precisa ser entendida em
de baseada na função organizacional ou no quatro níveis de análise: individual, grupai/
tempo de serviço pode ser assumida, difun- intergrupal, organizacional e social. Isso é
dida ou perdida quando um indivíduo dei-
xa uma organização. Quando as categorias
de identidade sócio-históricas são compa-
radas com categorias menos marcadas so-
cialmente, como função organizacional, o
significado do racismo, sexismo e outras
formas de dominação nas organizações e na
sociedade mais ampla é negligenciado.
O estudo das identidades diversas nas
organizações deve, portanto, ser adequada-
mente situado em seu contexto social e o
conteúdo específico das diferentes catego-
rias sociais deve ser explicado (Duveen e
Lloyd, 1986). Especificamente, para estabe-
lecer a dialética entre o conteúdo e os pro-
cessos intergrupais, há necessidade de al
guma teoria sobre a relação que existe en-
tre grupos específicos e as circunstâncias
sócio-históricas que têm dado origem às
identidades relevantes. Em outras palavras,
isso significa identificar e descrever o con-
teúdo da identidade racial, identidade de
gênero, identidade étnica, identidade cul-
tural etc. versus uma identidade social ge-
nérica ou, ao mínimo, pensar em termos da
identidade social de um grupo específico
(por exemplo, a identidade social das mu-
lheres). Há algumas pesquisas em outras
disciplinas sobre: identidade racial (por
exemplo, Helms, 1990; Cross, 1991; Tinsley,
1994); o significado de raça (por exemplo,
Omni e Winant, 1986); o significado de gê-
293PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS
I

_____________________
_ ____________
particularmente importante para evitar a zões. As oposições fixadas ocultam a exten-
tendência da pesquisa sobre identidades são em que as coisas apresentadas como
diversas implicar que o peso da mudança opostas são, de fato, interdependentes e re-
deve ser atribuído apenas aos membros da lacionadas.3 Hall afirma que "por exemplo,
organização. E, também, para evitar a su- há diferenças entre as maneiras que os gê-
posição que os efeitos negativos das identi- neros são social e fisicamente construídos.
dades diversas são originados nos deficien- Mas não há rigidez nessas oposições. Trata-
tes processos cognitivos dos indivíduos. Se se de uma oposição relacionai; é uma rela-
confinarmos nossa análise ao nível indivi- ção de diferença" (1991 : 16, com nossa ên-
dual, mais a dinâmica sistêmica intergrupal, fase). O pensamento oposto implica não
organizacional e societal ficará inexplorada apenas a diferença, mas a hierarquia em que
e, conseqüentemente, a real possibilidade um grupo é, geralmente, superior e o outro
de mudança organizacional será reduzida. inferior (Derrida, 1976). O grupo dominante
Os aspectos importantes da identidade como obtém, de fato, o privilégio de reduzir ou
uma posição de grupo pode também ser suprimir seu opositor. Martin (1992 : 136)
negligenciada se os pesquisadores confina- também observa que o pensamento oposto
rem suas análises ao nível individual. Por não pode valorizar a diversidade em toda
outro lado, a confiança apenas na análise sua complexidade porque não pode expli-
ao nível de grupo falha em reconhecer que car os atributos mistos que podem cair en-
podem haver diferenças individuais de iden- tre pólos opostos.
tidade do grupo. A identidade também não
é homogênea nos grupos sociais. Isto é,
deve-se prestar atenção às diferenças de
identidade dentro dos grupos. Muitos indi-
víduos podem não compartilhar as normas,
valores e linguagem de um grupo, apesar
da similaridade em termos demográficos ou
culturais. No nível organizacional, deve-se
prestar atenção aos fatores contextuais mais
amplos que afetam e moldam a identidade.
Os significados societais, a construção e a
formação da identidade também permeiam
as fronteiras organizacionais. Por exemplo,
nova legislação, desenvolvimentos políticos
e mudanças demográficas têm afetado o
modo como a identidade é percebida e en-
tendida.
Finalmente, grande parte do trabalho
sobre a diversidade nas identidades tem sido
dominada pelos efeitos negativos das dife-
renças. Tem havido uma tendência a univer-
salizar as condições para o conflito inter-
grupal e a ver a diversidade das identida-
des como um "problema" que não pode ser
evitado. Isto sugere que as conseqüências
negativas da categorização representam
uma condição da natureza humana e que
pouco pode ser feito para mudar os fenô-
menos dos grupos. Entretanto, argumenta-
mos que todos os efeitos potenciais devem
ser entendidos, e que o foco deve estar no
entendimento da categorização como uma
prática discursiva (ver Marshall e Wetherell,
1989).

PROBLEMAS E DILEMAS
METODOLÓGICOS

Pensamento dicotômico
As prescrições mencionadas neste ca-
pítulo dão origem a inúmeras questões e
dilemas metodológicos práticos. Entender
isso é importante para se ir além dos
paradigmas de pesquisa que têm dominado
a pesquisa organizacional sobre diversida-
de e identidade. Na maior parte, a pesquisa
decorrente das teorias e da bibliografia re-
visada neste capítulo reflete o pensamento
dicotômico sobre a identidade (por exem-
plo, negro versus branco; inglês versus lati-
no, homem versus mulher etc). O pensa-
mento oposto é problemático por várias ra-
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES 294 |

Relacionada à discussão acima está a Grande parte do trabalho sobre os efei-


questão total da representação. Ela dá ori- tos da diversidade e da heterogeneidade na
gem a duas questões relacionadas. Primei- identidade (principalmente a teoria inter-
ro, quem é o "diverso" nas organizações? grupal já citada) tem sido feita com base
Quem realmente está sendo estudado? As em de estudos de laboratório. Mais traba-
abordagens atuais de teoria e pesquisa en- lho de campo é necessário. Entre as ques-
volvem populações de empregados tradi- tões que necessitam de atenção estão as se-
cionais - branco, homem, ocidental, hete- guintes: Como as identidades de grupo ope-
rossexual, classe média/alta, capacitado - ram na prática? Que fatores determinam o
são as normas contra as quais alguns tor- destaque a diferentes identidades de gru-
nam-se "diversos" ou "outros". Segundo, po? O que as pessoas acham de suas identi-
uma vez que nosso entendimento dos "ou- dades de grupo nas organizações? Como as
tros" está incrustado nas noções de uma pessoas se julgam em relação a suas tarefas
identidade dominante, ele estabelece limi- e suas identidades? Como as práticas e as
tes à possibilidade da representação dos políticas organizacionais produzem e repro-
"outros" fora desse conhecimento (Calas, duzem identidades diversas, valorizando
1992). Modelos teóricos e de pesquisa são algumas e desvalorizando outras? Um exem-
necessários para permitir que os acadêmi- plo do esforço no tratamento da última ques-
cos "percebam o diverso sob sua própria tão pode ser encontrado no trabalho de
lógica de representação" (1992 : 205). Collinson et al. (1990). Em seu estudo de
Esse projeto é particularmente urgen- 45 empresas de cinco setores industriais do
te, dado que grande parte da retórica atual Reino Unido, demonstram como a discrimi-
está estruturada na noção de "administrar nação sexual pode ser reproduzida, racio-
a diversidade" como um problema. Subli- nalizada e suportada por aqueles em posi-
nhando o discurso estão suposições como ções de domínio e subordinação no proces-
"é menos provável que os trabalhadores so de recrutamento e seleção (veja também
minoritários tenham recebido formação Cockburn, 1991).
educacional e treinamento. Eles podem ter O estudo da identidade é especialmen-
problemas de linguagem, de atitude e cul- te difícil porque a identidade não permite,
turais que os impedem de levar vantagem por si só, uma mensuração discreta. Os mé-
dos empregos que existirão" (Johnston e todos quantitativos de pesquisa podem fa-
Packer, 1987 : xxvi) ou que é importante ter lhar em identificar o complexo significado
"diversidade produtiva e transformá-la em e a construção da identidade. As escalas
vantagem para a organização" (Office of
Multicultural Affairs, 1994). Como conse-
qüência, tais descrições sugerem que a di-
versidade não administrada é improdutiva
e desvantajosa para as organizações. Tais
construções podem terminar atendendo a
propósitos particulares, freqüentemente
mantendo o padrão de relações sociais exis-
tente. A ênfase da pesquisa deve também
ser dirigida ao exame de como as organiza-
ções produzem e reproduzem diferenças
entre grupos sociais. Isso requer que os pes-
quisadores entendam a construção social da
diversidade nas organizações, em vez de vê-
la como reflexo das diferenças naturais de
categoria. Em grande parte da pesquisa so-
bre a diversidade nas organizações, a
legitimação e os valores básicos da organi-
zação não estão em questão. A priori, as or-
ganizações são consideradas como locais
fundamentalmente representativos e neu-
tros. Inevitavelmente, deve-se estar atento
ao que sustenta e mantém o padrão das re-
lações de poder nas organizações.

A mensuração da identidade
295PARTE II - QUESTÕES E
---------------- , --- _ --------------
TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

----
podem mensurar apenas a quantidade (ou tudo de caso enfocando as relações dos neo-
a força) da identidade, respondendo a ques- zelandeses brancos com os neozelandeses
tão: quanta identificação (Condor, 1989)? maoris revelou a textura heterogênea e
Elas não podem mensurar a questão da qua- estratificada das práticas, argumentos e re-
lidade: De que maneira a identidade é ma- presentações, admitidos como verdadeiros
nifestada? Para entender o significado cul- em uma sociedade específica. Eles concluí-
tural e a variabilidade do significado da ram que o racismo é uma manifestação do
identidade entre grupos sociais dentro das padrão desigual das relações de poder na
organizações, os pesquisadores necessitam Nova Zelândia, e não o resultado de um gru-
expandir suas metodologias para incluir po étnico tendo ilusões irracionais em rela-
abordagens etnográficas. Nas abordagens ção a outro.
tradicionais de pesquisa, a categorização dos Relacionado à mensuração da identi-
grupos é vista como fenômeno natural, ao dade está como considerar as diferenças
invés de como algo passageiro (Potter e intergrupais. Não podemos presumir igual-
Wetherell, 1987). Nas abordagens mais dade de identidade dentro de um grupo.
lingüisticamente orientadas, como na Nem todos os membros de um grupo po-
etnometodologia e na análise do discurso, dem construir ou responder à identidade de
o interesse está em como as categorias são seu grupo da mesma forma. Ao invés de
constituídas no discurso diário e as várias assumir homogeneidade de identidade, os
funções que satisfazem (Potter e Wetherell,
1987). A categorização é considerada uma
realização social sutil e complexa. A teoria
e a análise do discurso cobrem o estudo de
todos os tipos de textos escritos e a interação
oral (formal e informal), com particular
atenção às funções atendidas pela lingua-
gem e às implicações das construções lin-
güísticas específicas. Ela examina como as
categorias são flexivelmente articuladas no
curso de certos tipos de conversas e reda-
ções para realizar metas específicas como
exclusões, culpas ou justificativas (Parker,
1992; Potter e Wetherell, 1987). Ao estudar
a linguagem, costumamos falar que a diver-
sidade das identidades é tão importante por-
que, como Parker (1992 : xi) destaca: "A lin-
guagem é tão estruturada para refletir as
relações de poder que, freqüentemente, po-
demos não ver outras maneiras de ser, e ela
estrutura a ideologia de tal forma que é di-
fícil ser a favor ou contra a mesma."
Há exemplos disponíveis da aplicação
da análise do discurso no estudo da identi-
dade. Entrevistas abertas têm sido usadas
por alguns acadêmicos para enfocar o con-
teúdo das categorias de identidade e sua
construção a partir da experiência social
(por exemplo, veja Condor, 1986). A análi-
se do discurso tem sido usada como uma
forma de entender como a identidade de
gênero é constituída no discurso
(Skevington e Baker, 1989; Marshall e
Wetherell, 1989). A ênfase está em exami-
nar como as pessoas conversam sobre uma
identidade específica. Em artigo de 1989,
Marshall e Wetherell examinaram como um
grupo de estudantes composto por homens
e mulheres, recém-ingressos na carreira de
advogado, constróem sua identidade e ima-
gem próprias em relação ao seu próprio gê-
nero. Os pesquisadores encontraram mui-
tas inconsistências e contradições na amos-
tra de entrevistados. A maioria dos questio-
nados desenvolveu um modelo essencialista
de gênero e muitos também argumentaram
que homens e mulheres eram iguais em ter-
mos de perspectiva e habilidades. Este tipo
de variabilidade, argumentado por Marshall
e Wetherell (1989) é lugar comum no dis-
curso espontâneo. Tais análises ajudam a
capturar a natureza fluídica e contraditória
da identidade.
Whetherell e Potter (1992) usaram a
análise do discurso para mapear a lingua-
gem do racismo na Nova Zelândia. Seu es-
DIVERSIDADE E IDENTIDADE NAS ORGANIZAÇÕES
296__,
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projetos de pesquisa devem testar explici- descrição da força de trabalho total, não um
tamente as diferenças de identidade dentro nome para os membros de grupos mino-
do grupo. A questão de como tratar identi- ritários. Além disso, a diversidade deve ser
dades múltiplas permanece relativamente distinguida de conceitos relacionados tais
subexplorada. Embora acadêmicos tenham como ação afirmativa, pesquisa de gênero e
divulgado a necessidade de examinar as de racioetnia, ao mesmo tempo preservan-
interações entre diferentes categorias so- do a legitimidade dessas áreas. Os pesqui-
ciais, há poucos estudos empíricos que de- sadores devem ser cautelosos ao esclarecer
monstrem como isso pode ser realizado. A como a diversidade se relaciona a tópicos
mensuração é problemática porque as como oportunidades iguais, discriminação,
interações são mais sinérgicas do que pesquisa sobre racioetnia e gênero e ação
aditivas. Além disso, pouca atenção tem sido afirmativa. Talvez, a maior dificuldade até
dedicada ao relacionamento entre identida- aqui tenha ocorrido em torno da ação afir-
des de grupo baseadas em categorias soci- mativa. Embora a ação afirmativa esteja
almente marcadas como raça e gênero e dentro do tema diversidade, os dois concei-
outras bases de identidade como estilo de tos não são claramente equivalentes. Os que
trabalho ou carreira. Entretanto, o estudo trabalham sobre a diversidade nas organi-
de Marshall e Wetherell (1989) dá luz à zações são mais abrangentes nos tipos de
interação entre a construção da identidade identidades de grupos humanos tratados, e
profissional/ocupacional e de gênero de a ação afirmativa aplica-se especificamente
mulheres e homens. Em seu estudo, a rela- a uma ferramenta corretiva formulada para
ção entre mulheres e identidade ocupacional criar oportunidades iguais. Diversidade re-
torna-se problematizada, enquanto a rela- presenta um conceito muito mais amplo,
ção entre homens e identidade ocupacional dirigido ao entendimento da estrutura
torna-se normalizada. Mulheres e advoga- multidimensional e os efeitos das diferen-
dos foram retratados como dissonantes, o ças nas organizações. Para evitar conflitos
relacionamento de identidade tornou-se um entre diversidade e tópicos mais tradicio-
local de luta; mas, em contraste, o masculi- nais, os pesquisadores podem usar o título
no e a lei tornaram-se sinônimos, com a per- de "pesquisa sobre diversidade" quando tra-
sonalidade masculina retratada como idên- tarem das múltiplas dimensões das diferen-
tica à personalidade legal. Há alguma pes- ças e dos fenômenos que são comuns em
quisa sugerindo que os membros de grupos muitas dimensões. Por exemplo, parece
subordinados têm uma faixa mais limitada apropriado intitular um artigo tratando de
de comportamento aceitável do que os mem- gênero, raça e nacionalidade como "pesqui-
bros de grupos majoritários. Enagly et al. sa sobre diversidade". Por outro lado, um
(1992:16), em uma análise dos dados de artigo que examina os estilos de decisão de
61 pesquisas sobre gênero e liderança con- latinos e ingleses parece cair no domínio da
cluiu que "os homens têm maior liberdade "pesquisa de racioetnia" ou, no melhor dos
do que as mulheres para liderar em estilos casos, deve ser especificado como "diversi-
variados sem encontrar reações negativas". dade de racioetnia".

Terminologia

Finalmente, uma palavra deve ser dita


sobre o grande uso do termo "diversidade."4
Deve-se reconhecer que a diversidade é uma
CONCLUSÃO

Tentamos mapear o terreno para exa-


minar as identidades diversas nas organi-
zações. Examinamos a literatura que tem
297 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

sido a base dominante para a pesquisa so- ALPORT, G. The nature of prejudice. New York :
bre a diversidade nas organizações. Nosso Doubleday, 1954.
exame sugere a necessidade de ir além dos ANCONA, D. G., (lALDVVELL, D. E Demography
modos tradicionais de pensar sobre o con- and design: predictors of new product team
ceito de identidade que repousa no âmago performance. Organization Science, 3(3), p.
dessa pesquisa. A extensão de nossa análise 321-341,1992.
reflete a complexidade do tópico e os desa- ANTAL, A. B., IZRAELI, D. A global comparison
fios que são aguardados. of women in management: women
managers
in their homelands and as expatriates. In:
NOTAS FAGENSON, Ellen (Org.). Women in
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1. Há contradições em como as pessoas usam os ter-
mos raça e etnia. Por exemplo, diz-se que os afro-
Sage, 1993. p. 52-96.
americanos nos Estados Unidos representam um ASHFORTH, B. E., MAEL, E Social identity theory
"grupo racial", enquanto os latinos e asiáticos são,
and the organization. Academy of Manage-
às vezes, vistos como grupos étnicos. A etnia tem
sido tradicionalmente usada para os imigrantes
ment Review, 14, p. 20-39, 1989.
que chegam aos Estados Unidos procedentes da BANTEL, K. A, JACKSON, S. E. Top management
Europa. Entretanto, na Grã-Bretanha e em alguns and innovations in banking: does the
outros países europeus, os imigrantes proceden-
composition of the top team make a
tes da África, Caribe, índia e Paquistão são
freqüentemente vistos como "negros". Taylor Cox diference? Strategic Management Journal,
Jr. (1990) assinala que "as classificações são, 10,
freqüentemente, inapropriadas porque implicam p. 107-124, 1989.
em um grupo ser biologicamente ou culturalmente
distinto de outro, embora ambas sejam verdadei- BARTOL, K. M., EVANS, C. L., STITH, M. Black
ras". Ele tem sugerido o uso do termo "racioétni- versus white leaders: a comparative review
cos" para referir-se a grupos biologicamente (pes- of the literature. Academy of Management
soalmente, preferimos "fenotípico" em vez de "bi- Review, 3, p. 294-304, 1978.
ológico") e/ou culturalmente distintos. Além dis-
so, os acadêmicos dedicados ao estudo das rela-
ções de raça e etnia, freqüentemente, decidem
adotar teorias que abordem os termos raça e etnia.
2. Usamos explicitamente os termos "mulheres bran-
cas" e "minorias raciais" para evitar a tendência
de autores referirem-se a "mulheres e minorias".
A última terminologia não reconhece que as mu-
lheres têm raça e gênero. Também omite a cate-
goria das mulheres das minorias raciais.
3. Uma citação de Stuart Hall (1991), mostra, ele-
gantemente, a natureza relacionai da identida-
de: "Apenas quando há um outro, alguém pode
conhecer sua própria identidade."
4. Muito dessa discussão foi retirado de Taylor Cox
Jr. (1994) e Stella M. Nkomo (1993). O título do
último artigo, "Muito que ver com a diversidade"
não é usado por sugerir que o tópico da diversi-
dade seja frívolo, mas para destacar que os pes-
quisadores têm muito trabalho a fazer para en-
tender a diversidade nas organizações. Se esse
desafio não for atendido, talvez, a diversidade se
juntará aos arquivos de outras modas passagei-
ras, de vida curta, da administração.
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304 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

13
NOTA TÉCNICA: A DIVERSIDADE
CULTURAL ABAIXO DO
EQUADOR
MARIA TERESA LEME FLEURY

Na introdução a seu artigo "Diverse não tenham sido objeto de intensas discus-
identities in organizations", Nkomo e Cox sões políticas, discussões estas lideradas por
comentam que o tema diversidade cultural grupos de movimentos de defesa de direi-
vem ganhando espaço como tópico de estu- tos dos negros, mulheres e homossexuais.
dos, impulsionado pelo interesse demons- Esses debates repercutem na mídia, nas es-
trado por profissionais que questionam feras governamentais, porém poucas medi-
como gerenciar a diversidade nas organiza- das concretas têm sido tomadas para com-
ções. bater as discriminações no local de traba-
Procurando cobrir a lacuna teórico- lho e favorecer a diversificação.
metodológica deixada pelos estudiosos do Em 1996, foi instituído em Brasília o
assunto, os autores realizam um excelente Programa Nacional de Direitos Humanos,
trabalho de diálogo interdisciplinar, recupe- objetivando a implementação de atos e de-
rando o tema em suas diferentes raízes teó- clarações internacionais, relacionados com
ricas. direitos humanos, que contam com a ade-
No Brasil, a discussão sobre identida- são brasileira; um desses instrumentos é a
de tem sido feita segundo as fronteiras das Convenção 111 da OIT, que dispõe sobre a
diversas áreas do conhecimento; em outras discriminação no emprego e ocupação,
palavras, na Psicologia encontram-se os es- ratificada pelo governo em 1965. Com base
tudos sobre identidade e representações em denúncias apresentadas à OIT por re-
sociais; na Antropologia, os estudos sobre presentantes de organizações de trabalha-
identidade cultural de grupos; na Sociolo- dores sobre o descumprimento no Brasil dos
gia do Trabalho, as pesquisas cujo recorte compromissos assumidos, o Governo brasi-
metodológico privilegia as questões de gê- leiro, presente à Conferência de 1995, soli-
nero, raça. Na teoria das organizações, a citou à OIT cooperação técnica para formu-
disciplina de Comportamento Organizacio- lação e efetiva implementação de políticas
nal vem discutindo questões ligadas à iden- que promovam a igualdade de oportunida-
tidade dos grupos e à cultura organizacional.
É interessante observar que os estu-
dos sobre cultura em suas várias instâncias
de manifestação, da sociedade brasileira,
dos grupos, das organizações, vêm se mul-
tiplicando nos últimos anos. As pesquisas
sobre diversidade cultural, entretanto, são
em número bastante reduzido e só recente-
mente este tema despertou o interesse dos
pesquisadores e profissionais de empresas.
Isto não significa que, no Brasil, a ques-
tão das desigualdades raciais e de gênero
des no emprego (Ministério do Trabalho,
1996). 1. FLEURY, Maria Tereza Leme. Managing cultural
As medidas governamentais brasilei- diversity: experiences from brazilian companies,
1998.
ras para combate da discriminação no em-
prego são recentes, se comparadas às da
América do Norte: nos Estados Unidos, a
Affirmative Action foi promulgada no final
da década de 60, e no Canadá o Employment
Equity Act na década de 70.
A nosso ver, as medidas legais chocam-
se, no Brasil, com uma barreira cultural não
explicitada, de recusa da aceitação do pre-
conceito e discriminação racial. À medida
que o Brasil é um país racialmente bastante
heterogêneo, fruto das migrações, desde o
momento de sua formação, as quais se acen-
tuaram a partir do século XIX, faz parte do
imaginário popular o pensar-se como um
país sem preconceito. Ou seja, uma socie-
dade contraditória, cuja população valori-
za sua origem diversa, incluindo suas raízes
africanas, presente na música, na comida,
no sincretismo religioso; mas, por outro
lado, uma sociedade estratificada, em que
o acesso às oportunidades do sistema edu-
cacional e a posições no mercado de traba-
lho são definidas pela origem econômica e
racial.
A preocupação com o tema da diver-
sidade cultural nas empresas brasileiras en-
contra-se associada à necessidade de criar
vantagens competitivas, atraindo e desen-
volvendo competências novas, entre os cha-
mados grupos minoritários.
Em uma pesquisa recente, realizada
com empresas brasileiras que vêm desen-
volvendo programas para gestão da diver-
sidade cultural (Fleury, MT. 1998)1 obser-
vamos que a maioria das organizações
contatadas era subsidiária de empresas nor-
te-americanas e havia iniciado seu progra
ma com o incentivo da matriz. Entretanto,
em todos os casos de programas bem-suce-
didos, o impulso inicial foi dado pela ma-
triz globalmente, mas o desenvolvimento de
práticas para gestão da diversidade foi feito
localmente.
Cada empresa precisou definir suas
próprias diretrizes, trabalhar internamente
o conceito de minoria e do que seria uma
política de diversidade para então definir
as práticas adequadas a suas condições. E
não por acaso, a maioria está procurando
iniciar seus programas, concentrando as
atenções nas relações de gênero, procuran-
do refinar suas políticas de recrutamento da
mão-de-obra feminina, observando as bar-
reiras para promoção e treinamento das
mulheres nas organizações. A justificativa é
que as mulheres são mais facilmente encon-
tráveis para as diversas posições, com o ní-
vel educacional exigido. Sem negar a evi-
dência de que as mulheres têm ascendido
em termos de educação, nos últimos anos,
é possível levantar a hipótese de que nas
organizações brasileiras o gênero feminino
é objeto de menos preconceito do que os
negros.
No cenário de intensa competição eco-
nômica e busca da democratização das re-
lações sociais, o tema da diversidade cultu-
ral é pouco explorado, no Brasil, e uma in-
teressante agenda de pesquisas e de pesqui-
sa-ação se delineia para os estudiosos do
assunto.

NOTAS
306 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

14
As ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA:
ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE*
CAROLYN P EGRI E LAERENCE T. PINFIELD

Teorias sobre a natureza e teorias ceituais das organizações, que informam e


so- dirigem tais atividades.
bre a sociedade possuem uma história de Quais são essas inquietações e desa-
interconexões. Uma concepção da nature- fios? Embora tenhamos alguma dificuldade
za pode ser compreendida como uma pro- em priorizar ou mesmo agrupar todas as
jeção, no cosmos, da percepção humana a questões associadas ao movimento ambien-
respeito de si mesma e da sociedade. Con- talista, elas estão visíveis em inquietações
trariamente, as teorias acerca da natureza que se vêem expressas com relação aos esti-
têm sido interpretadas historicamente los de vida atual e futuro, à qualidade de
como incluindo implicações sobre a ma-
vida, à prosperidade econômica e, de for-
neira pela qual os indivíduos ou grupos
ma mais geral, ao futuro do homo sapiens
sociais se comportam ou teriam obrigação
de se comportar (Merchant, 1980, p. 69). no planeta Terra. Várias considerações, es-
pecíficas e gerais, desencadeiam essas in-
Uma característica importante da so- quietações: o crescimento populacional e
ciedade contemporânea é a crescente inqui- suas conseqüências para a capacidade do
etação com a qualidade, atual e emergente, planeta Terra; o aumento das aspirações, por
do ambiente natural. Essa inquietação to- parte de um número crescente de cidadãos
mou muitas formas, desde o estabelecimen- de nações menos desenvolvidas, por um es-
to de foros globais sobre as questões am- tilo de vida mais urbano e materialista; o
bientais (ex.: World Commission on Environ- tipo de industrialização adotado, resultan-
ment and Development,** em 1987; United do em altos níveis de desperdício e polui-
Nations Conference on the Environment and
Development, *** em 1992), a avaliações for- t Ecotage, no original. (N.T.)
mais dos arquivos ambientais de grandes
empresas americanas (Rice, 1993), e mes-

Tradução: Ângela Denise da Cunha Lemos.


Revisão técnica: Roberto Fachin.
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desen-
volvimento. (N.T)
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento. (N.T.)
mo relatos de "sabotagem ecológica"/ por
ambientalistas radicais determinados a li-
mitarem as atividades comerciais acusadas
de estarem degradando o meio ambiente
(Day, 1989; Egri e Frost, 1994). Essa breve
amostra de indicadores difundidos na mí-
dia representa um desafio significativo a
for-
mas tradicionais de pensar sobre atividades
sociais e industriais, inclusive modelos con-
307 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

ção ao mesmo tempo em que esgota recur- organizacional. Quem são esses defensores
sos não renováveis. Associadas a essas in- da mudança? Quais são suas visões e suas
quietações estão outras como a perda da agendas para a mudança nas organizações
biodiversidade e a transformação, irrecu- modernas e nas sociedades? Quais são as
perável, de biorregiões e ambientes natu- implicações para nossas teorias organiza-
rais em áreas para sempre hostis à habita- cionais? Estas são apenas algumas das ques-
ção humana (Brown, 1991; Buchholz, 1993; tões que podem ser exploradas para desen-
Commoner, 1990; Daly e Cobb, 1994; volver uma compreensão das intersecções
Paehlke, 1989). teóricas e práticas entre as organizações e a
Essas questões são sintomáticas da biosfera.
estrutura profunda de crenças quanto às Nossa discussão começará com as ori-
conseqüências de uma sociedade industria- gens históricas e o estado atual da teoria
lizada. Acredita-se que tanto organizações ecológica e das modernas perspectivas
governamentais como empresariais, em sua ambientalistas. São apresentadas três pers-
perseguição de metas e objetivos organiza- pectivas a respeito de eco-ambientes para
cionais, não levam em consideração os in- demonstrar como os valores ecológicos es-
teresses, as aspirações e as necessidades dos tão entrelaçados com os valores humanos
cidadãos. De acordo com a perspectiva da- no que concerne às realidades social, políti-
queles que querem agir conforme tais con- ca e econômica desejadas. São perspectivas
vicções, a situação está cada vez mais difícil que variam desde valores fortemente antro-
porque é improvável que a ação direta seja pocêntricos do "paradigma social dominan-
bem-sucedida. O "problema ambiental" é te" que visualiza progresso ilimitado resul-
uma conseqüência de como a sociedade está tante da exploração de recursos naturais
estruturada.Como múltiplas organizações infinitos (Catton e Dunlap, 1978; Daly,
perseguem seus interesses próprios, os pe-
quenos espaços, os interstícios da socieda-
de tornam-se um residual cada vez mais
degradado. Os pressupostos institucionali-
zados e tidos como certos da sociedade con-
temporânea, fundada em organizações, pro-
duzem conseqüências que mal conseguem
ser percebidas e processadas dentro da ló-
gica daquele quadro de referência.
A exploração do tópico "as organiza-
ções e a biosfera" requer uma abordagem
holística multifacetada, interdisciplinar e
controversa. Multifacetada porque investi-
ga os fenômenos em diferentes níveis (indi-
vidual, grupai, organizacional, social e glo-
bal) a partir de perspectivas alternativas (fí-
sica, técnica, econômica, social e ética).
Interdisciplinar porque investiga-se tanto
nas ciências naturais (Ecologia, Biologia,
Química, Física) como nas ciências sociais
(Filosofia, Sociologia, Teoria Organiza-
cional) em busca de áreas de intersecção e
de divergências. Controversa porque é uma
arena em expansão repleta de conflitos po-
líticos entre atores sociais propondo condu-
tas alternativas. Como identificado por
Merchant, na citação da abertura, existem
aqueles que afirmam que nossas teorias da
natureza e das sociedades são inextrica-
velmente entrelaçadas e não podem (ou não
devem) ser consideradas em separado. De
forma alternativa, existem outros, tais como
Schnaiberg e Gould (1994), que sustentam
que existe um "conflito duradouro" entre a
lógica e a dinâmica dos ecossistemas natu-
rais e os da sociedade industrializada que
impedem qualquer síntese significativa, quer
no nível teórico quer no prático. É esta últi-
ma percepção que parece ter sido adotada
pelos teóricos organizacionais tradicionais
e pelos profissionais por conveniência
conceituai e prática. Contudo, aqueles que
desafiam essa visão tradicional do mundo
sustentam que existe uma necessidade ur-
gente de incorporar princípios ecológicos e
o meio ambiente na teoria e na prática
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA: ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 308

HHBHB8HMHI

1977) até os valores biocêntricos da filoso- de sistemas para ilustrar os desafios con-
fia do ambientalismo radical da ecologia ceituais e práticos para integrar as perspec-
profunda que defende o "igualitarismo das tivas ambientalistas de ambientes biofísicos
bioespécies", no qual o progresso econômi- dentro das perspectivas organizacionais dos
co é negligenciado em favor da harmonia ambientes. Finalmente, encerra-se o capí-
com a natureza (Devall e Sessions, 1985; tulo com conclusões e pensamentos sucin-
Naess, 1973). Outras filosofias ambientais tos com relação às direções futuras da teo-
radicais tais como a ecologia espiritual (Fox, ria e da pesquisa.
1990), a ecologia social (Bookchin, 1990a),
e o ecofeminismo (Merchant, 1980; 1992;
Salleh, 1984; Warren, 1990) defendem ar- As PERSPECTIVAS AMBIENTALISTAS
ranjos sociais e biológicos nos quais existe EA
um equilíbrio entre os interesses da huma-
ECOLOGIA
nidade e da natureza. Nessa conceitua-
lização idealizada dos valores ecocêntricos,
A origem histórica do termo ecologia
os relacionamentos ecológicos entre as pes-
pode ser localizada em 1866, quando o zo-
soas e a natureza em cada comunidade es-
ólogo alemão Ernst Haeckel combinou as
tão integrados com outras eco-regiões com-
duas palavras gregas logos (significando 'o
partilhadas, que, por sua vez, cooperam para
estudo de') e oikos (significando "casa" ou
sustentar a ecosfera compartilhada da fá-
"lugar para viver") (Buchholz, 1993). Con-
brica (Tokar, 1988). Perspectivas interme-
forme foi elaborado por Haeckel, em 1870,
diárias são denominadas como ambienta-
"ecologia" era originalmente definida como:
lismo renovado,* e significam os graus de
modificação dos valores antropocêntricos o corpo de conhecimento relativo à eco-
que buscam incluir o ambiente natural nos nomia da natureza - a investigação da to-
esforços humanos. Nas propostas de desen- talidade das relações do animal com o seu
ambiente inorgânico e orgânico;
volvimento sustentável, todos os tipos de
engloban-
recursos de capital e ambientais são consi- do acima de tudo, suas relações de amiza-
derados na política de desenvolvimento lo- de e inimizade com estes animais e plan-
cal e nacional (Colby, 1990; World tas com os quais ele mantém contato dire-
Commission on Environment and Develop- ta ou indiretamente - em resumo, a ecolo-
ment, 1987) e o gerenciamento do risco gia é o estudo de todas aquelas complexas
emerge como uma tarefa crucial inter-relações referidas por Darwin como
(Kleindorfer e Kunreuther, 1986). Além dis-
so, políticas de proteção ambiental mantêm
a postura fortemente antropocêntrica do
paradigma social dominante dentro de um
sistema de escolhas entre crescimento eco-
nômico e degradação ambiental (Berkes,
1989; Colby, 1990). Cada ponto de vista é
descrito e, então, analisado criticamente
para identificar contradições entre as pro-
postas e a ação. Por clareza conceituai apre-
senta-se inicialmente as perspectivas dos

Reform environmentalism, no original. (N.T.)


pontos extremos do continuum ambienta-
lista (isto é, paradigma social dominante e
ambientalismo radical) antes de focalizar o
caminho intermédio do ambientalismo re-
novado.
A seção seguinte do capítulo explica
como o conceito de "ambiente" tem sido tra-
tado na ortodoxia e em teorias organiza-
cionais mais recentes. Discute-se como di-
ferentes conceitualizações das organizações
são ou compatíveis ou conflitantes com os
pontos de vista ambientalistas. Identifica-se
áreas atuais e potenciais para uma conflu-
ência de teorias relativas aos eco-ambien-
tes e organizações. Além disso, utiliza-se os
conceitos de interesse próprio e de teoria
309PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

as condições de luta pela sobrevivência, bem como pela sua atratividade para ou-
(traduzido em Allee et al . 1949, fron- tras atividades estéticas. As preocupações
tispício; apud Mcintosh, 1985 : p. 7-8). ambientais, especialmente entre as gerações
De sua conceptualização do século 19 mais jovens, tornaram-se então associadas
como um ramo da biologia, a ecologia tor- às aspirações humanas, profundamente
nou-se uma "ciência polimórfica" acordada enraizadas, por uma vida melhor e expec-
e estendida para abranger vários aspectos tativas de realizações pessoal e social. Em
dos fenômenos natural e social (Mcintosh, outras arenas, notadamente na Europa Oci-
1985). Fundamental para as conceitua- dental, sentimentos anti-nucleares tiveram
lizações teóricas de ecologia e ecossistemas1 impactos radicais e de integração no movi-
são os princípios do holismo (interconexões mento verde. Em todos os países, atenção e
dentro e entre sistemas e ambientes); o equi- apoio adicional fluíram para as causas
líbrio da natureza (equilíbrios auto-regula- ambientalistas como conseqüência do au-
dos de sistemas biológicos e não-biológicos); mento da capacidade científica em detec-
diversidade (tendência para maior biodiver- tar, medir e ligar contaminantes ambientais
sidade em sistemas naturais); limites íinitos com a saúde humana e a degradação ecoló-
do sistema planetário de suporte à vida (ca- gica (Carson, 1962; Sarkar, 1986). Relató-
pacidade de sustento para suportar popula- rios do Clube de Roma, no início dos anos
ções e comunidades de organismos); e mu- 70, também focalizaram a atenção pública
dança dinâmica dos processos e ciclos na- nos perigos insidiosos do crescimento indus-
turais (Daly e Cobb, 1994; Buchholz, 1993; trial descontrolado para os ambientes so-
Lovelock, 1979; Sarkar, 1986; Serafin, 1988; cial e natural. Cada vez mais, as noções pre-
Wilson, 1992). Em sua essência, ecologia re- dominantes da supremacia da ciência,
presenta o corpo de conhecimento relacio- tecnologia e industrialização estão sendo
nado com as relações entre os organismos e desafiadas (Sarkar, 1986). Ainda que a ideo-
seus ambientes orgânicos e inorgânicos. logia política dominante dos anos 70 e 80,
Dentro da ecologia, o termo "ambien-
te" refere-se a todos os fatores externos, fí-
sicos e biológicos, que influenciam direta-
mente a sobrevivência, o crescimento, o
desenvolvimento e a reprodução dos orga-
nismos" (Colby, 1990, p. 10). O
ambientalismo está primordialmente relaci-
onado com as interações entre a biosfera, a
tecnosfera e a sociosfera.2 De um lado, o
ambientalismo é a aplicação da teoria eco-
lógica para compreender o desenvolvimen-
to e operação dos sistemas sociais dentro
da biosfera. De outro lado, ambientalismo
é o estudo dos valores sociopolíticos huma-
nos que instruem a conceitualização e a
interação das relações humanas com o am-
biente natural (Bird, 1987; Hays, 1987;
Paehlke, 1989).
Foi somente depois da Segunda Guer-
ra Mundial que o ambientalismo ganhou
apoio popular suficiente para tornar-se o
nascente movimento social que atualmente
manifesta-se como uma preocupação social
predominante (Hays, 1987 : 3). Diferentes
origens moldaram diferentes movimentos
nacionais. Na Inglaterra e em outras regi-
ões da Europa, os grupos ambientalistas se
originaram de grupos naturalistas estabele-
cidos que tinham uma longa tradição de
acesso às tomadas de decisões (Rudig e
Lowe, 1986), enquanto que os movimentos
na América do Norte e Australasia tiveram
pouca ou nenhuma ligação com grupos so-
ciais anteriores (Fox, 1981; Hay e Haward,
1988). Na América do Norte, o ambien-
talismo começou com um enfoque con-
servacionista e de preservação dos ambien-
tes naturais para o propósito de recreação
ao ar livre e de preservação dos locais sel-
vagens. Os recursos naturais foram, cada vez
mais, sendo valorizados por suas qualida-
des existenciais em um estado de natureza,
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA: ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 310

bem como a crise econômica induzida pelo reza. (Cicero, 106-43 aC, apud Hughes,
cartel do petróleo nos anos 70, pudessem 1975 : 30).
ter restringido o crescimento dos movimen- O advento de antigas civilizações ur-
tos ambientalistas durante aquelas décadas, banas marcou a emergência do antropo-
o ativismo ambiental provou ser uma carac- centrismo no pensamento espiritual e filo-
terística persistente, profundamente enrai- sófico sobre o relacionamento da humani-
zada e organizada da sociedade contempo- dade com a natureza. Para os antigos
rânea (Dunlap, 1989; Sale, 1993). mesopotâmios, os homens possuíam um di-
Enquanto existe algo em comum na reito divino de domesticar o "caos monstru-
evolução dos movimentos ambientalistas, oso" da natureza; para os humanistas gre-
existem também diferenças fundamentais. gos clássicos (Aristóteles, Platão) e os pri-
Os movimentos verdes, em geral, são frag- mitivos estóicos, os homens reivindicavam
mentados e suborganizados, com vários os recursos da natureza para seu uso exclu-
subgrupos representando de forma indepen- sivo (Hughes, 1975; Sessions, 1987; Wall,
dente interesses mais específicos tais como 1994). Antigas evidências do preço que a
a preservação dos locais selvagens, o desen- ecologia paga à ordem e dominação pelo
volvimento de política ambiental, o geren- homem tornar-se-iam visíveis na destruição
ciamento de resíduos tóxicos, a proteção e das antigas florestas de cedro do Líbano, na
conservação de recursos, os direitos dos desertificação da outrora fecunda Meso-
animais e assim por diante (Sale, 1993; potamia e na erosão, poluição e extinção de
Snow, 1992a). Atualmente, não existe numerosas espécies sob o império de Roma
um outro foco claro para esses diferentes (Hughes, 1975). Ensinamentos judaico-cris-
submovimentos do que sua associação tãos são também identificados como promo-
geral com algum aspecto do ambienta- tores de uma visão antropocêntrica do mun-
lismo, desafiando, de várias maneiras, as do, na qual o papel da humanidade era
conceitualizações e os costumes tradicionais "crescer e multiplicar-se," bem como "ter
de uma sociedade predominantemente domínio sobre toda coisa vivente que se
urbana, industrial e baseada em organiza- move sobre a terra" (Merchant, 1980;
ções. White, 1967).
Três estruturas da filosofia ambiental Um aspecto crítico da visão antro-
e conceitos relacionados representam as pocêntrica do mundo é a noção de dualismo,
primeiras escolas de pensamento quanto ao semelhante à separação ideológica da men-
relacionamento homem-natureza. O para- te e do espírito humano da realidade física
digma social dominante não é uma perspec- da existência e a divisão entre entidades
tiva "ambientalista" per se, mas representa superiores e inferiores. O dualismo da mente
a visão tradicional de mundo da sociedade e da matéria foi fundamental para a defesa,
industrializada - o status quo contra o qual
são comparadas outras perspectivas ambien-
talistas. A perspectiva do ambientalismo
radical representa a visão de mundo daque-
les que defendem a mudança transforma-
cional. A perspectiva do ambientalismo re-
novado representa aqueles que ocupam a
área intermediária na filosofia e na prática
ambiental. As origens históricas, crenças e
suposições de cada perspectiva são apresen-
tadas e, então, criticamente, discutidas.
O paradigma social dominante

Somos os senhores absolutos do


que
a terra produz. Desfrutamos das monta-
nhas e das planícies. Os rios são nossos,
nós semeamos as sementes e plantamos
as árvores. Nós fertilizamos a terra... Nós
paramos, dirigimos e mudamos os rios.
Em
resumo, por nossas mãos nos esforçamos,
por via de nossas várias influências neste
mundo, fazer, por assim dizer, outra natu-
I 311 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

pelos filósofos (século 17) da Idade do diferentes em pistas diferentes, mas todos
Iluminismo (em particular, Bacon, Descar- os caminhos apontando para a mesma di-
tes, Newton, Hobbes), do domínio sobre a reção. Os verdes consideram que é a pró-
pria direção que está errada, ao invés da
natureza como essencial para o progresso
escolha por qualquer uma das pistas em
científico e social (Daly e Cobb, 1994; detrimento das outras. É nossa percepção
Ehrenfeld, 1978; Merchant, 1980). O ma- que a auto-estrada da industrialização
terialismo mecanicista, a racionalidade e o leva,
reducionismo científico tornaram-se os ali- inevitavelmente, para o abismo - por esta
cerces ideológicos das Revoluções Científi- razão a nossa decisão de sair fora e buscar
ca e Industrial das sociedades ocidentais e um objetivo totalmente diferente (Porrit,
1994: 43).
são agora considerados como os elementos
centrais do paradigma social dominante A perspectiva do ambientalismo radi-
(Bramwell, 1989; Fox, 1990). cal promove uma visão da biosfera e da so-
Como representado na moderna so- ciedade humana baseada nos princípios eco-
ciedade industrial, o paradigma social do- lógicos do holismo, do equilíbrio da nature-
minante (PSD) representa uma aderência za, da diversidade, dos limites finitos e das
aos princípios e objetivos econômicos mudanças dinâmicas (Catton e Dunlap,
neoclássicos (crescimento econômico e lu- 1978; Cotgrove e Duff, 1981; Drengson,
cro), com os fatores naturais tratados ou 1980; Devall e Sessions, 1985; dentre ou-
como externalidades ou como recursos tros). Como identificado por Donald Worster
exploráveis infinitamente. Se existem pro- (1977), a "idéia de ecologia é muito mais
blemas ambientais observáveis, estes podem velha do que o nome." Foi demonstrado que
facilmente (ou eventualmente) serem resol- aspectos da perspectiva do ambientalismo
vidos por meio do progresso científico e radical precederam, bem como tem-se de-
tecnológico (Daly e Cobb, 1994; Hawken, senvolvido em oposição às ideologias
1993; Milbrath, 1989). O PSD está mais in- antropocêntricas. Evidências arqueológicas
timamente associado às sociedades capita- das primitivas sociedades (de caça e colhei-
listas ocidentais, nas quais imperam os prin- ta) e das antigas civilizações oferecem um
cípios de "livre mercado" e de propriedade
privada. Contudo, os sistemas econômicos
fechados, informados pela filosofia marxis-
ta, também estão incluídos nessa perspecti-
va. Esse casamento ideológico, aparente-
mente paradoxal, justifica-se em virtude da
forte tendência antropocêntrica do marxis-
mo que apoia os objetivos de produção ca-
pital-intensivos do industrialismo moderno
(Daly e Cobb, 1994; Jacobs, 1993; Jung,
1991; Lee, 1980; Porritt, 1984).3 Outra ra-
zão aparece nas provas de degradação
ambiental nos modernos estados socialistas,
que muitos afirmam superar às do capita-
lismo desenfreado (Clow, 1986; Davies,
1991; Feshbach e Friendly, 1992; Jancar-
Webster, 1993).
Outras facetas do paradigma social
dominante dizem respeito à noção de
autodeterminismo do indivíduo e ao con-
trole centralizado das sociedades pelas eli-
tes social, política e econômica. Em socie-
dades baseadas em estruturas e relaciona-
mentos hierárquicos, tanto as pessoas como
a natureza não-humana são coisificadas e
avaliadas somente em termos instrumentais
(como inputs ou consumidores da produ-
ção), em vez do sê-las por seu valor intrín-
seco ou espiritual (Cotgrove e Duff, 1981;
Devall e Sessions, 1985; Drengson, 1980).

A perspectiva do
ambientalismo radical

As políticas da Era Industrial - de


esquerda, direita ou centro - são como
uma
auto-estrada de três pistas, com veículos
__________________AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 312 \

retrato da natureza e de suas forças, perso- tecnologias de larga escala, capital intensi-
nificadas como divindades para serem ado- vas, para o complexo industrial e militar, a
radas e obedecidas (Eisler, 1987; Merchant, ciência precisa ser redirecionada para de-
1980). Vestígios de divindades da natureza senvolver tecnologias que reduzam a inter-
estiveram/estão presentes nas tradições es- ferência humana com o mundo não-huma-
pirituais do xamanismo, no panteísmo dos no. Isto é para ser efetuado por meio do
egípcios, gregos e romanos (com a Gaia desenvolvimento e utilização de tecnologias
como a Mãe Terra), no misticismo oriental intermediárias (apropriadas) que reduzam
(Taoismo, Sufismo, Zen, Budismo), no Islam a depleção e a poluição dos recursos natu-
e no paganismo (deusa Mãe Terra) (Wall, rais, bem como desenvolvam a qualidade
1994). Subjacente a essas conceptualizações artesanal no trabalho humano (Commoner,
de uma natureza todo-poderosa, existe a 1990; Schumacher, 1973). Em contraste à
crença de que a sobrevivência humana de- crença do PSD no recurso material e no cres-
pende de uma síntese e integração holística cimento econômico ilimitados, a perspecti-
da humanidade com o ambiente natural. O va radical afirma que os limites e o delicado
holismo filosófico do antigo filósofo grego equilíbrio da biosfera requerem a preserva-
Heráclito (535-475 aC) ecoa no trabalho dos ção e a conservação dos recursos naturais
filósofos naturais e dos teólogos dos sécu- por meio das éticas anticonsumistas e anti-
los 17 e 18 (von Linné, Emerson, Malthus, materialistas.
Thoreau) que escreveram sobre a interco- Uma faceta importante da perspecti-
nexão dos homens e da natureza na "teia va do ambientalismo radical é o biorre-
de vida" (Wall, 1994). O conceito do holismo gionalismo como o princípio organizador
organicista seria desenvolvido mais adian- dos sistemas social, econômico e político
te, no início do século 20, por Jan Smuts descentralizados (Irvine e Ponton, 1988;
(1926 : 86) como uma síntese ou "uma Leopold, 1949; Mumford, 1938; Sale,
união de partes que é tão compacta e inten- 1985). Uma biorregião é "um lugar defini-
sa que é mais do que o total de suas par- do por suas formas de vida, sua topografia
tes... e o todo e as partes, conseqüentemen- e sua biota, ao invés de ser governada pelos
te, influenciam-se e determinam-se recipro- preceitos humanos; é uma região governa-
camente". da pela natureza, não por legislações" (Sale,
O respeito biocêntrico por outras for- 1985 : 43). À medida que critérios naturais
mas de vida pode ser rastreado até o ve- para definir limites de uma biorregião não
getarianismo das religiões orientais, aos fi- são mutuamente exclusivos nem destituídos
lósofos clássicos gregos, a São Francisco
de Assis (do século 13) e, no final do século
18, aos Românticos Ingleses (por exemplo,
Blake, Shelley, Wollstonecraft), que equa-
lizaram os direitos dos animais com os di-
reitos humanos (Wall, 1994). Críticas da
sociedade científica industrial são encontra-
das nos escritos do movimento Romântico
Europeu (do século 17 até o século 18), bem
como nos trabalhos dos filósofos trans-
cendentalistas dos Estados Unidos (Sessions,
1987). Um dos dogmas centrais da perspec-
tiva do ambientalismo radical é a retomada
de uma visão do mundo de um pré-Ilumi-
nismo organicista, na qual o universo é vis-
to como orgânico, vivo e espiritual
(Cotgrove e Duff, 1981; Devall e Sessions,
1985; Drengson, 1980; Sale, 1985).
O ponto de vista do ambientalismo
radical moderno está situado em oposição
direta à defesa do paradigma social domi-
nante do industrialismo moderno como al-
ternativa revolucionária demandada para a
sobrevivência ecológica de longo prazo. A
perspectiva do ambientalismo radical defen-
de o redesenho massivo dos sistemas agrí-
cola e industrial de produção e transporte
(Commoner, 1990). Em vez de desenvolver
313 FARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

de critérios humanos de utilização e percep- humana como pré-requisito para mudanças


ção (Alexander, 1990), as comunidades, nos níveis físicos da existência. A alienação,
inseridas nas biorregiões, deveriam causada pela visão de mundo mecanística e
readquirir autoridade para tomarem deci- dualística da sociedade industrializada,
sões locais a fim de gerar auto-suficiência pode somente ser remediada por meio da
ambiental e econômica de produção e utili- retomada das ligações sagradas da huma-
zação. nidade com todos os aspectos da criação.
Dentro da perspectiva do ambienta-
lismo radical existem quatro filosofias pro-
eminentes - a ecologia profunda, a ecolo- Ecologia social
gia espiritual, a ecologia social e o ecofe-
minismo - as quais diferem principalmente O ecologista social Murray Bookchin
em termos de ênfases e meios, ao invés dos (1980; 1982; 1990a; 1990b) desenvolve
fins, da agenda radical de mudança trans- uma abordagem mais secular para compre-
formacional na relação homem-natureza. ender a relação entre a sociedade e a natu-
reza.
As maneiras como interagimos com
Ecologia profunda
os outros, como seres sociais, influenciam
profundamente as atitudes que provavel-
A ecologia profunda é uma perspecti- mente teremos com relação ao mundo
va holística que integra as dimensões bioló- natural. Qualquer perspectiva ecológica
gica, psicológica, espiritual e metafísica de idônea repousa, em grande parte, em nos-
ecossistemas interdependentes e interativos sas perspectivas sociais e nossos inter-re-
(Devall e Sessions, 1985; Naess, 1973 : lacionamentos; por isso, redigir uma
1984). Como foi proposto pelo filósofo no- agen-
rueguês Arne Naess, a ecologia profunda da ecológica que não tenha espaço para
questiona as premissas normativas e descri- as questões sociais é algo tão obtuso
quan-
tivas (por quê? como?) em um nível mais
fundamental do que os níveis ordinários,
técnico e científico, de ecossistemas. Extra-
ída das filosofias de Spinoza, Gandhi e
Thoreau, e de várias tradições espirituais (o
budismo, o cristianismo, o americano nati-
vo), a ecologia profunda propõe o objetivo
moral de "auto-realização", o qual é alcan-
çado por meio da identificação com "o inte-
resse ou os interesses de outro ser [a que]
se reage como ao nosso próprio interesse
ou interesses" (Naess, 1988 : 261). A plata-
forma da ecologia profunda postula o
"igualitarismo bioesférico", isto é, os huma-
nos não têm nenhum direito de interferir
na riqueza e na diversidade de todas as for-
mas de vida (humanas e não-humanas), as
quais possuem valor intrínseco ou inerente.
Os ecologistas profundos identificam como
epistemologicamente problemática, mas
praticamente necessária, a aplicação de con-
ceitos culturais humanos, tais como direi-
tos, valores e ética, ao ambiente natural
(Manes, 1990; Sessions, 1987). A natureza
é para ser vista não como uma extensão dos
homens, mas como o elemento fundamen-
tal no qual as civilizações humanas estão
baseadas. O imperativo moral e ético da
ecologia profunda é que os homens têm uma
obrigação de implementar (pelo exemplo e
pela ação direta) essas mudanças na socie-
dade.

Ecologia espiritual

A ecologia espiritual ou ecologia


transpessoal (Berry, 1988; Fox, 1990; Hull,
1993; Reason, 1993) compartilha a ênfase
da ecologia profunda na necessidade de
mudanças transformacionais na consciência
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE
■^■■■■■■■«■■■■■■■1
to redigir uma agenda social que não te-
A
nha espaço para as questões ecológicas. perspectiva do
(Bookchin, 1990b : 24-5). ambientalismo renovado
Como resultado da evolução social e
natural, a sociedade humana desenvolveu O homem já esqueceu, há muito
padrões de dominação hierárquica, os quais tempo, que a terra lhe foi dada somente
são social e ambientalmente destrutivos. para seu usufruto, não para o consumismo
Diferente das espécies não-humanas, a hu- e, menos ainda, para um desperdício dis-
manidade é única em sua capacidade de solute. A terra está tornando-se, rapida-
mente, num local inadequado para seus
pensamento criativo e consciente na altera-
habitantes mais nobres e outra era seme-
ção do curso da evolução social. Bookchin lhante, de crime e de imprevidência hu-
(1980; 1990b) oferece uma visão de uma manas... a reduziria a uma tal condição
ordem sociopolítica reconstruída, baseada de empobrecimento da produtividade, de
no "municipalismo libertário", o que impli- destruição da superfície, de excessos cli-
ca em planejamento e um governo popular máticos, como para intimidar a deprava-
descentralizado e biorregionalmente base- ção, o barbarismo e, talvez, até mesmo, a
extinção de espécies (George Perkins
ado em assentamentos humanos, que
Marsh, Man and Nature, 1863, apud
espelhem ecossistemas locais. Somente por Strong, 1988 : 35).
meio da comunidade ecológica e da demo-
cracia participativa pode ser criada uma As origens dos pontos de vista do
nova sociedade livre da opressão ecológica ambientalismo renovado podem ser locali-
e cultural. zadas nas primeiras críticas ao industria-
lismo do século 19, que alertavam o públi-
co e os reformadores para seus efeitos
Ecofeminismo colaterais na saúde humana e na degrada-
ção ambiental (Devall, 1988). George
A integração da mudança social e po-
lítica, como parte da mudança ecológica,
Inclusiveness, no original. (N.T.)
também se repercute nas definições do
ecofeminismo:
Ecofeminismo é um termo que al-
guns utilizam para descrever não só as di-
ferentes áreas dos esforços das mulheres
para salvar a Terra como as transforma-
ções do feminismo no Ocidente, que re-
sultaram da nova visão das mulheres e da
natureza... ecofeminismo não é uma ideo-
logia monolítica, homogênea... Na verda-
de, é, precisamente, a diversidade de pen-
samento e ação que faz esta nova política
tão promissora como elemento
catalisador
de mudanças nestes tempos problemáti-
cos (Diamond e Forenstein, 1990 : ix, xii).
Os ecofeministas (King, 1989;
Merchant, 1980; Plant, 1989; Warren, 1990)
também posicionam-se no sentido de que
os homens são membros da comunidade
371 [

ecológica, mas diferentes das (mas não equi-


valentes às) outras formas de vida. A domi-
nação da natureza é vista como sendo inter-
relacionada com a dominação hierárquica
dos homens, baseada em gênero, raça, etnia
e classe social. A questão central do
ecofeminismo é "pôr fim a todas as formas
de opressão" (Warren, 1990), especialmen-
te aquela das mulheres inseridas em cultu-
ras patriarcais. O antídoto ecofeminista às
estruturas e processos sociais exploradores
é a justiça social, baseada nos princípios do
igualitarismo, inclusão* social, comuni-
tarismo, tomada de decisão consensual, cui-
dados recíprocos e responsabilidade
(Cheney, 1987).
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 315

Perkins Marsh, um geógrafo do século 19, é à validade de medidas de poluição propos-


considerado como instrumental na transi- tas, tais como níveis de toxicidade de dife-
ção ocorrida, das visões primitivas, român- rentes poluentes químicos, como alguém faz
ticas, da natureza para as visões que advo- para comparar, de forma precisa, o impacto
gam a defesa do bem-estar da natureza, para ecológico do grafite versus amônia versus
a sobrevivência humana no longo prazo. Dos dioxinas? De forma mais geral, como alguém
anos 80 (século passado) aos anos 20 (des- pode calcular os efeitos sinérgicos da com-
te século), a conservação e a preservação binação de poluentes em diferentes ecossis-
dos habitats e recursos naturais tornar-se- temas?
iam a missão das sociedades ecológicas e A ecologia industrial está preocupada
de história natural, recém-fundadas, por com os meios de alcançar sistemas de pro-
toda a América do Norte, Reino Unido e dução ambientalmente sustentáveis
Europa (Jancar-Webster, 1993; Mcintosh, (Allenby, 1992; Hawken, 1993; Stead e
1985; Strong, 1988). O trabalho dos funda- Stead, 1992). A ecologia industrial propõe
dores do movimento conservacionista ame- que o impacto dos sistemas industriais no
ricano (John Muir, Aldo Leopold, Gifford ambiente natural pode ser minimizado pela
Pinchot) continua a informar, até os dias de adoção dos princípios de gestão da qualida-
hoje, a filosofia de operação das principais de total ambiental (TEQM)* para produto
organizações do movimento ambientalista e desenho de processo (Callenbach et al.,
(Mcintosh, 1985; Snow, 1992a; Strong, 1993; Cairncross, 1991; Baram e Dillon,
1988). 1993; Flannery e May 1994; Hawken, 1993;
A perspectiva do ambientalismo reno-
vado representa uma modificação de valo- TEQM: total environmental quality management.
res antropocêntricos, a fim de incluir valo- (N.T.)
res biocêntricos, na medida que existe de-
senvolvimento sustentável, definido como
satisfazer "as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações
futuras de alcançarem as suas próprias ne-
cessidades" (World Commission on Environ-
ment and Development, 1987 : 43). Nessa
perspectiva, a tecnologia é o veículo para o
progresso científico e econômico, bem como
o meio para detectar e gerenciar os riscos
ambientais que ameaçam a sobrevivência
humana e seu bem-estar. O funcionamento
da metáfora mecanicista é evidente no foco,
do ambientalismo renovado, no uso efi-
ciente dos recursos naturais e na minimi-
zação dos efeitos econômicos da poluição
(Dorfman e Dorfman, 1977). Contudo, ao
contrário da perspectiva do paradigma so-
cial dominante, a perspectiva do ambien-
talismo renovado tenta incorporar uma
abordagem sistêmica e as leis de conserva-
ção e de entropia da termodinâmica no con-
texto dos cálculos da sustentabilidade
ambiental (Georgescu-Rogen, 1971; Stead
e Stead, 1992).4 Os limites físicos dos siste-
mas vivos e sistemas econômicos obrigam
ao desenvolvimento de recursos energéticos
renováveis e à conservação de recursos não-
renováveis.
A economia ecológica e a ecologia in-
dustrial representam dois meios pelo qual o
ambiente natural é incorporado nos proces-
sos de tomada de decisão industrial. A eco-
nomia ecológica pode ser utilizada para a
quantificação das comparações entre bene-
fícios e custos econômicos e ambientais e
para a gestão do risco ambiental (a deter-
minação dos níveis ótimos de poluição e a
compensação econômica pela depleção e/
ou degradação dos recursos naturais)
(Dorfman e Dorfman, 1977). Os desafios
metodológicos de medição do impacto eco-
lógico das indústrias são demonstrados por
meio de recentes estudos de Schaltegger
(1993) e Ilinitch e Schaltegger (1993). Por
exemplo, quando existem questões relativas
316PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

WÊtmwÊmwmmwmwmwkmmmmMkmmwÊÊkmw
Sharfman e Ellington, 1993; Shrivastava, servar e proteger seu ambiente natural. Nem
1994). Em sistemas industriais fechados, o podem dispor de recursos para evitar a ex-
uso de recursos naturais não-renováveis é ploração e exportação de seus recursos na-
minimizado e/ou suplantado pelas fontes turais, necessários para manter o alto pa-
renováveis de energia e recursos naturais. drão de vida das nações industrializadas (p.
Os resíduos industriais e os poluentes são ex., com apenas um quinto da população
reduzidos, reciclados e/ou descartados de mundial, as nações industrializadas conso-
maneira ecologicamente segura. Enquanto mem quatro quintos do combustível fóssil e
os sistemas tecnológicos são fechados, pro- dos recursos produzidos em metais mine-
cessos de política e estratégia ambiental in- rais). Embora reconhecendo que os padrões
dustrial são abertos, para abranger toma- de consumo das nações industrializadas são
das de decisão colaborativas com múltiplos ambientalmente insustentáveis e que neces-
stakeholders (comunidade e grupos de inte- sitam ser reduzidos, a erradicação da po-
resse, agências governamentais, emprega- breza nos países do Terceiro Mundo é vista
dos). Procedimentos de auditoria ecológica como uma parte integrante da auto-
são utilizados para medir o desempenho sustentabilidade econômica, social e políti-
ambiental e expor abertamente as ativida- ca. Além disso, estilos e modos alternativos
des industriais aos empregados e públicos de desenvolvimento econômico, apropria-
interessados. dos às culturas locais e ambientes biofísicos,
Um aspecto importante da perspecti- necessitam ser desenvolvidos. Conseqüen-
va do ambientalismo renovado é o conceito temente, uma das preocupações do desen-
de stakeholders e os direitos dos stakeholders volvimento sustentável é o gerenciamento
(McGowan e Mahon, 1991; Shrivastava, dos bens comuns, biorregionais e locais, mas
1994; Stead e Stead, 1992; Steger, 1993; não de forma isolada dos bens comuns glo-
Throop, 1991; Westley e Vredenburg, 1991). bais - uma visão mais inclusiva do que o
Enquanto não se inclui, como stakeholders conceito biorregional fechado do
formais, o ambiente natural e as entidades ambientalista radical (Keating, 1993; Sitarz,
não-humanas, reconhece-se, no entanto, 1993; World Commission on Environment
interesses públicos que buscam assegurar and Development, 1987).
sustentabilidade ambiental a longo prazo. No sentido de que a biosfera represen-
Desse modo, a partir da perspectiva do ta um bem comum global, o potencial de
ambientalismo renovado, a questão relevan-
te não é se os stakeholders não-industriais
(por ex., governos, organizações ambien-
talistas, público em geral) estão incluídos
nas tomadas de decisão organizacional, mas
como e em até que ponto eles estão incluí-
dos nas decisões relativas ao ambiente na-
tural (Bennett, 1991; Berle, 1990; Elkington
e Burke, 1989; Schmidheiny, 1992; Scott e
Rothman, 1992; Steger, 1993; e outros).
Geralmente, são as grandes organizações da
corrente principal do ambientalismo reno-
vado que têm desenvolvido acordos de co-
laboração com a indústria e o governo
(McCloskey, 1991; Sale, 1993; Snow
1992a).
Gerenciando o ambiente comum

O objetivo de desenvolvimento susten-


tável do ambientalismo renovado represen-
ta "uma reconciliação entre o crescimento
econômico e a proteção ambiental"
(Cairncross, 1991 : 26) nos níveis local,
nacional e global. Proponentes do desenvol-
vimento sustentável identificam como sen-
do importante causa da degradação am-
biental a distribuição desigual da riqueza
econômica entre as nações industrializadas
e os países do "Terceiro Mundo". Economi-
camente empobrecidos, os países do Tercei-
ro Mundo são incapazes de desenvolver ou
comprar as tecnologias científicas para con-
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 317

uma "tragédia dos bens comuns não-geren- em 1992), no qual os signatários garanti-
ciados" obriga a que haja o envolvimento ram terminar com a utilização de CFCs
formal do governo e que se regule institu- (clorofluorcarbonos, que ameaçam a cama-
cionalmente o desenvolvimento e o geren- da de ozônio do planeta) até o ano 2000
ciamento dos recursos naturais (Hardin, (Cairncross, 1991). Menos bem-sucedidos
1968; 1991; The Ecologist, 1993; Throop, têm sido os esforços internacionais para re-
1991). Como foi proposto por Hardin mediar a degradação ambiental do ecossis-
(1991), pressões informais para evitar a tema dos Grandes Lagos - Canadá e Esta-
destruição dos bens comuns funcionam ape- dos Unidos - (Colburn et al., 1990;
nas com grupos pequenos, envolvendo en- MacLarkey, 1991). Iniciada em 1972 e am-
tre 50 e 150 atores. Se os bens comuns glo- pliada em 1978, a Comissão Internacional
bais não são geridos e não são regulados, a para o Acordo da Qualidade da Água dos
motivação das partes individuais para jogar Grandes Lagos foi arrojada em seu objetivo
o jogo do "distribuir os custos enquanto se de envolver as agências governamentais
privatiza os lucros"* (DC-PL) leva, inevita- (nos níveis federal, provincial/estadual e
velmente, à degradação dos bens comuns. local), indústria, academia e grupos ambien-
Dentro da perspectiva do ambientalismo re- tais para desenvolver e implementar um pla-
novado existem variações, com respeito à no de ação. A despeito da melhor das inten-
natureza desejável da responsabilidade, e ções, após dez anos de esforços, os partici-
do envolvimento dos governos, no geren- pantes concordaram que
ciamento dos bens comuns globais e locais.
Em muitos aspectos, foi um período
Em direção à extremidade antropocêntrica frustrante: novas descobertas, freqüente-
do continuum antropocêntrico-ecocêntrico, mente, parecem servir para ampliar o
o governo admite responsabilidade limita- ema-
da pela conservação e gestão dos recursos ranhado dos relacionamentos ambientais,
naturais públicos (por exemplo, em parques tornando as ações e as soluções mais difí-
nacionais), cobrando taxas pela utilização ceis e, aparentemente, cada vez mais com-
dos recursos públicos e regulando os níveis
de poluição. No meio-termo, o governo as-
sume um papel mais ativo, desenvolvendo
e administrando regulamentos ambientais,
taxas e licenças de comercialização para a
poluição industrial (Cairncross, 1991; Hahn
e Hester, 1989). Enquanto existe uma pre-
ferência geral por pressões informais vo-
luntárias, para encorajar a responsabilida-
de ambiental, os estrategistas políticos re-
conhecem que a potencialidade para uma
rédea-solta ambiental necessita de ativa in-
tervenção governamental. Entretanto, o pro-
tocolo para começar tais intervenções não
tem sido muito encorajador, porque as re-
gulamentações ambientais provaram ser
dispendiosas, de difícil manejo e, fre-

CC-PP: commonize the costs while privatizing the


profits. (N.T.)
qüentemente, ineficazes (Baram e Dillon,
1993; Nemetz, 1986; Paehlke, 1990;
Schweitzer, 1977; Simmons e Wynne,
1993).
Outra abordagem para a gestão dos
bens comuns globais está baseada no prin-
cípio da colaboração, em vez da competi-
ção, entre instituições públicas e privadas,
nos níveis local, nacional e internacional
(Colby, 1990). Como foi identificado na
Conferência Agenda 21 das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimen-
to (UNCED) (Keating, 1993; Sitarz, 1993),
a liberalização global do comércio e das
culturas necessita de uma redefinição dos
papéis institucionais públicos e privados
para a proteção dos bens comuns em nível
local e global. Esforços para desenvolver
regulamentações ambientais internacionais
e mecanismos coercitivos incluem o Proto-
colo de Montreal (assinado por 81 nações,
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 318 [

plexas, difíceis, demandadoras de tempo, humana em que se identifica fluxo e mu-


e talvez, definitivamente impossíveis dança com relação ao ambiente natural. E
(Colbum et al, 1990 : 11). também o lugar dos debates político e soci-
Como já se revelou em estudos de ou- al, com relação aos fins, às formas e aos
tras iniciativas de formulação de política meios de solucionar as inquietações ecoló-
pública ambiental em que há muitos gicas. A partir da perspectiva do ambien-
stakeholders, o estabelecimento de novos talismo radical, o ambientalismo renovado
sistemas sociopolíticos de controle por meio é uma resposta incrementai (e alguns po-
de colaboração inter-organizacional é mui- deriam afirmar superficial ou sem profun-
to mais fácil de se proclamar do que fazer didade) às questões ecológicas (Devall,
(Crowfoot e Wondolleck, 1994; Egri e Frost, 1988), enquanto que da perspectiva do
1992; Feyerherm, 1994; Gray, 1989; Pas- paradigma social dominante, o ambien-
quero, 1991). Questão crítica se levanta em talismo renovado é uma resposta progres-
torno do grau em que colaboração verda- sista (Cairncross, 1991; Schmidheiny, 1992).
deira é praticada ou é possível quando há Os méritos de cada posição nesse debate,
desigualdade ou diferença entre as partes concernente à filosofia e prática ambiental,
na mesa de negociações em termos de valo- são examinados a seguir.
res filosóficos, recursos, poder e influência.

racionais do livre mercado são incessante-


UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS mente objeto de compromissos e ajustes
para se adaptarem, na sociedade, à "irra-
PERSPECTIVAS AMBIENTALISTAS
cionalidade" subjetiva de governos, organi-
zações e indivíduos. Como foi identificado
Em sua crítica aos paradigmas ecoló-
pelos economistas teóricos e, da mesma for-
gicos alternativos, Routley (1983) adverte
ma, pelos críticos ambientalistas
que os paradigmas contemporâneos, fre-
(Cairncross, 1991; Daly e Cobb, 1994;
qüentemente, contêm elementos super-
Dorfman e Dorfman, 1977; Friend, 1992;
postos ou contraditórios, e falham, portan-
Hawken, 1993; Jacobs, 1993), os pressupos-
to, em oferecer sistemas unificados de cren-
tos e técnicas econômicas neoclássicas es-
ças. Como foi identificado por Colby (1990),
tão mal equipados para refletir, de forma
essa falta de clareza conceituai contra-indi-
precisa, as externalidades ambientais, os
ca uma interpretação linear das perspecti-
custos e os benefícios qualitativos, bens pú-
vas que ainda estão em seu estágio evolutivo
blicos e recursos, limites para as substitui-
de desenvolvimento. Embora as perspecti-
ções, custos de depleção de recursos, eus-
vas do paradigma social dominante e a do
ambientalismo radical apresentem um grau
maior de contrastes, dentro da perspectiva
intermédia do ambientalismo renovado exis-
te uma considerável variabilidade no grau
de abrangência dos pressupostos ecológicos
e dos fins e meios prescritos para a sus-
tentabilidade ambiental. Ver Tabela 1 para
um resumo das características mais impor-
tantes de cada perspectiva.
A perspectiva do ambientalismo reno-
vado é a menos clara conceitualmente por-
que representa o estado atual da sociedade
Críticas do paradigma social
dominante

Em muitos aspectos, a perspectiva do


PSD tem sido posicionada, no debate ecoló-
gico, como o "homem de palha" (Fox, 1990;
Routley, 1983; Wexler, 1990). Em sua for-
ma pura, o PSD existe, principalmente, nos
princípios abstratos das teorias econômicas
neoclássica e marxista ou como uma repre-
sentação histórica incompleta da sociedade
industrializada. Na realidade, os princípios
319 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Tabela 1 Tipologia das perspectivas ambientalistas.


Paradigma social Ambientalismo Ambientalismo
dominante renovado radical
Relacionamento Dominação sobre a Administração da Cooperação e harmonia
homem-natureza natureza (antropocen- natureza (antropocen- com a natureza
trismo muito forte) trismo modificado) (ecocentrismo —>
biocentrismo)
Abordagem ao Dominação (controle) Naturalista (conservação) Moralista (espiritual)
ambiente natural Utilitária (material) Utilitarista (modificada) Estética (preservação)
Negativista (evitação) Científica Simbólica
Humanística (afeição/
emoção)
Natureza da ordem Hierárquica Hierárquica Igualitária
social Autoridade centralizada Centralizada com Participação
Competidora consulta ao stakeholder descentralizada (tradição
Individualística Competidora/ minoritária em base
colaborativa biorregional)
Individualismo/ Municipalismo
coletivismo Coletivista
Pressupostos: Reducionismo Sistemas reducionistas Holismo
Racionalidade dos meios Meios e fins político- Racionalidade dos fins
Conhecimento
Dualismo racionais Integrativo/dialético
Econômico Economia neoclássica Economia ecológica Economia estabilizada
(crescimento econômico (neoclássica mais capital (homeostase)
e material ilimitado, natural para tomada de
essencial para o decisão ótima)
progresso humano)
Recursos naturais Recursos naturais Recursos naturais não- Recursos naturais muito
infinitos (substitutos renováveis e renováveis limitados ('espaçonave
ilimitados disponíveis) (limites de substituição) terra')
Tecnologia científica Otimismo tecnológico Otimismo tecnológico Ceticismo tecnológico
Objetivos dominantes Crescimento econômico e Desenvolvimento Equilíbrio holístico com a
material ilimitado, sustentável do ambiente natureza frágil (simbiose)
essencial para o natural Justiça ambiental e social
progresso humano Desenvolvimento
Progresso científico e econômico e industrial
tecnológico para reduzir as injustiças
sociais local/global
Gestão ambiental Industrialismo moderno Industrialismo verde Planejamento e controle
Tecnologias e Consumerismo ilimitado Consumerismo verde biorregional
estratégias Ética pós-consumo
Dispersão da poluição Redução da poluição Eliminação da poluição
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 320 I

Tabela 1 Continuação.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal

tos e benefícios projetados a longo prazo, gem ou na natureza (Fox, 1990); e a com-
sistemas complexos, e assim por diante. Um param ao antigo neoestoicismo (Cheney,
exemplo, freqüentemente citado, para ilus- 1989). Além disso, a ecologia profunda é
trar as inadequações da economia neoclás- criticada pela falta de uma teoria de transi-
sica é o paradoxo de que a limpeza de de- ção para um mundo biocêntrico (Fox, 1990;
sastres ambientais é contabilizada, no PIB Luke, 1988) e sua posição, logicamente in-
de um país, como crescimento, enquanto consistente e simplista (Wexler, 1990;
que a preservação e a conservação de re- Bookchin, 1994 : 6), fornece a crítica mais
cursos ambientais são consideradas como contundente do que considera como a "po-
custos (Cairncross, 1991; Daly e Cobb, breza intelectual, cultural e espiritual" da
1994). Com essas contradições, na prática, abordagem da ecologia profunda, que bei-
o paradigma social dominante pode ser con- ra, afirma ele, à "propaganda ecofascista".
siderado, mais precisamente, como uma Os ecologistas profundos, que defendem que
perspectiva ideológica que serve como um existe apenas "um caminho", isto é, "o seu
ponto final conceituai contra o qual outras caminho" de reconstrução do relacionamen-
perspectivas e ações ambientalistas podem to homem-natureza, podem estar mais pa-
ser medidas.

Críticas da perspectiva do
ambientalismo radical
Como o conjunto mais extremo des-
sas perspectivas alternativas, o ambien-
talismo radical propõe uma completa refor-
ma filosófica da sociedade baseada nos prin-
cípios do PSD. Todavia, é a agenda da uto
pia política, social e econômica da ecologia
profunda que evocou as reações mais fortes
dos filósofos, dentro e fora do movimento
ambientalista (Fox, 1990; Jacobs, 1991). Os
críticos, a partir das perspectivas do ambien-
talismo radical e renovado, salientam, quan-
to à ecologia profunda, sua desassociação
das questões ecológicas dos problemas so-
ciais (Bookchin, 1994; Bradford, 1987); sua
defesa da interferência na liberdade indivi-
dual dos homens, mas não na da vida selva-
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE

recidos com seus oponentes do PSD do que 1993). Em uma escala menor, as organiza-
eles poderiam supor ou desejariam admitir. ções populares têm centrado seu foco nas
Poderia ser argumentado que os ecologis- crises ambientais, em nível local e regional,
tas profundos estão caindo na armadilha tais como a do depósito de lixo tóxico no
positivista de tomar como natural e incon- Love Canal (Wallace, 1993).
testável conjuntos de suposições que são Contudo, os ambientalistas radicais
resultado de interação política e social, em têm tido limitada influência nas mudanças
vez de uma versão unitária da realidade ou sociais, pelo motivo de que eles se opõem,
"verdade". A despeito destas críticas, a eco- claramente, aos arranjos e às instituições
logia profunda tem provado ser significati- mais poderosas da sociedade moderna. Em
vamente influente no discurso ecofilosófíco vez de trabalharem de forma menos eviden-
(Fox, 1990), bem como tem-se tornado a te, a partir do lado interno, e correr o risco
filosofia operante de muitos ambientalistas da cooptação, os proponentes do ambien-
radicais (Devall, 1988; Manes, 1990). talismo radical têm tentado realizar a mu-
A natureza radical utópica e abstrata dança social pelo lado externo. Embora eles
dos objetivos social e biológico, subsumidos possam ter tido algum efeito marginal, em
sob o rótulo do ambientalismo radical, tem questões locais restritas, tais como a nítida
limitado o grau em que essa filosofia exerce redução de florestas antigas (Egri e Frost,
influência nas questões do dia-a-dia da so- 1994), eles ainda não produziram um mo-
ciedade moderna. Não obstante, o ambien- vimento social coerente, nem um con-
talismo radical serve como um guarda-chu- junto de reformas sociais propostas com
va filosófico, útil para diversos grupos de probabilidade de serem aceitas ou adotadas
interesse, cujos próprios objetivos coinci-
dem, embora somente de forma parcial, com
outros ambientalistas radicais. A composi-
ção de grupos específicos que se combinam Província do Canadá (NT).
para empreender uma ação depende, por
conseguinte, da ação específica que está sen-
do contemplada. O ambientalismo radical
alcançou voz política formal na eleição de
candidatos do partido verde no Parlamento
da Comunidade Econômica Européia e em
vários governos europeus (Fisher, 1993;
Jancar-Webster, 1993; Spretnak e Capra,
1986). Na América do Norte, os partidos
verdes têm sido menos capazes de conquis-
tar o apoio do eleitorado (McCloskey, 1991;
Slaton, 1992). Em vez disso, o ambienta-
lismo radical tem sido mais freqüentemente
adotado pelas organizações de defesa po-
pular (Sale, 1993; Snow, 1992a; 1992b).
Para as organizações ambientalistas radicais,
tais como Earth First, Sea Shepherd Society,
Friends of the Earth, Rainforest Action
Network e outras, os princípios da ecologia
profunda fornecem uma base lógica das
campanhas de ação direta de ecotage (sabo
tagem ecológica) e desobediência civil con-
tra aqueles que eles vêem como inimigos
da natureza. Nem todos os ambientalistas
radicais toleram o uso da violência na luta
por uma mudança transformacional no re-
lacionamento homem-natureza. Mais nume-
rosas têm sido as campanhas de resistência
passiva contra governos e interesses indus-
triais, como o movimento de mulheres de
Chipko, no norte da índia, para prevenir o
desmatamento nos contrafortes do Himalaia
(Shiva, 1988), e os bloqueios ambientalistas
para prevenir o desmatamento nas velhas
florestas costeiras de Clayoquot Sound, na
Columbia Britânica.* Nas pré-democracias
da Europa Oriental, existem numerosos
exemplos de protestos populares efetivos,
de grande escala, contra a degradação
ambiental, projetos de energia nuclear, pro-
jetos de indústrias poluidoras e o represa-
mento do Rio Danúbio (Jancar-Webster,
322PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

pelos membros da organização na corrente econômicos e suas bases de poder. Por exem-
principal da sociedade. plo, o endosso da UNCED à liberalização
global do capital e do comércio é conside-
rada como antitética ao princípio ambien-
Críticas da perspectiva do talista do biorregionalismo (Hawken, 1993;
ambientalismo renovado McRobert e Muldoon, 1992). Hawken é es-
pecialmente precavido a respeito da eficá-
Embora o ambientalismo renovado cia potencial de padrões internacionais para
não seja um paradigma "puro", ele repre- regulamentações ambientais e de comércio,
senta uma diversidade de meios pelos quais em face dos registros ambientais das cor-
a sociedade industrializada tem procurado porações multinacionais, bem como a natu-
integrar o meio ambiente ao processo de reza de entidades reguladoras do livre co-
tomada de decisão. Como foi observado por mércio (tais como o GATT), que excluem
Gladwin (1993), o conceito de "esverdear", pequenos negócios, fazendas, igrejas, orga-
na sociedade e em suas organizações, está nizações ambientalistas e sindicatos. Tam-
repleto de ambigüidades e contradições, bém existe pouca confiança na capacidade
mais indicativo do modelo "lata de lixo" de de entidades internacionais (tais como o
tomada de decisão (March, 1978) do que Banco Mundial) para efetivamente estabe-
de qualquer escolha racional ou planejamen- lecerem políticas econômicas, ambiental-
to. mente sustentáveis, em face de pressões
O ambientalismo renovado tem sido contraditórias dos governos dos países-
criticado mais pelos ambientalistas radicais membros (Hawken, 1993; Rich, 1990).
do que pelas agências principais que ele tem As críticas do ambientalismo radical
procurado reformar. Enquanto os proponen- também atingem o Brundtland Report e a
tes do ambientalismo renovado sustentam Agenda 21 da UNCED ao classificar o apoio
ser ambientalmente responsáveis, uma crí- dado ao desenvolvimento da energia nu-
tica feita pelos ambientalistas radicais é que clear e da tecnologia da engenharia bioge-
a tendência antropocêntrica dos ambien- nética como destruidores do ambiente e não-
talistas renovados propõe somente ajustes sustentáveis (Rifkin, 1983; Shiva, 1993;
incrementais secundários nos sistemas eco- WEDO - Women's Environment and
nômico e tecnológico, em vez de mudanças Development Organization, 1992). As
transformacionais na sociedade humana ecofeministas objetam particularmente à
(Colby, 1990). identificação das taxas de fertilidade femi-
O conceito de desenvolvimento susten-
tável é, talvez, o aspecto mais contencioso
da perspectiva do ambientalismo renovado,
tanto para os ambientalistas radicais como
para os renovados (Hawken, 1993; Jacobs,
1993; McRobert e Muldoon, 1992;
Schnaiberg e Gould, 1994; The Ecologist,
1993). Com pretensão de englobar ampla
diversidade de abordagens e iniciativas, a
imprecisão do termo 'desenvolvimento sus-
tentável' permite ampla variedade de inter-
pretações e ações. Para alguns, o desenvol-
vimento sustentável não é possível devido às
contradições fundamentais entre os princí
pios e objetivos da sustentabilidade am-
biental e aqueles do desenvolvimento eco-
nômico (Schnaiberg e Gould, 1994). Alguns
críticos argumentam que o conceito de de-
senvolvimento sustentável possibilita aos go-
vernos e à indústria "abraçarem o ambien-
talismo sem comprometimento" (Jacobs,
1993 : 59). Acusa-se também de que os par-
ticipantes em eventos públicos de perfil des-
tacado, tais como a UNCED, em verdade
engajam-se em política simbólica - proje-
tam a ilusão de mudança ambiental subs-
tantiva, enquanto, simultaneamente, prote-
gem e promovem seus próprios interesses
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE

nina como um dos principais motivos da abrangente, incluindo diversas "constituên-


degradação ambiental (WEDO, 1992). Polí- cias" dentro do governo, da indústria e do
ticas de controle populacional que violam público em geral, tanto nas negociações
os direitos reprodutivos das mulheres são como nas implementações de ações am-
vistos como sintomáticos da contínua bientalmente instruídas. O potencial de
marginalização das mulheres e da total ne- transformação pode, desse modo, ser reali-
gligência das questões de gênero na agen- zado pelas múltiplas iniciativas incrementais
da de mudança dos ambientalistas renova- de grande extensão que, no total, podem
dos. resultar em mudança fundamental no rela-
Relativamente às organizações indus- cionamento homem-natureza. Contudo,
triais, vê-se a responsabilidade ambiental problema essencial em relação ao conceito
como apenas uma faceta das responsabili- de "desenvolvimento sustentável", como é
dades sociais das empresas de muito maior concebido e representado atualmente, é
extensão, a englobar questões econômicas, que ele registra certa relutância em aban-
legais, éticas e filantrópicas (Carroll et al., donar totalmente os pressupostos, do
1988). Enquanto alguns argumentam que PSD, de crescimento infinito, consumeris-
objetivos de desempenho social e ambiental mo, crença nas soluções tecnológicas e
conflituam com objetivos de desempenho relações sociais hierárquicas. Existe o risco
econômico (Bucholz, 1993; Hawken, 1993; fundamental de que uma abordagem
Jacobs, 1993), outros afirmam que o que é incrementai pode estar preocupada somen-
moral e eticamente certo é também econo- te com a solução de sintomas superficiais,
micamente benéfico para as organizações em vez de enfocar a raiz das causas da de-
industriais (Elkington e Burke, 1989; Rice, gradação ambiental. Pode ser ilusório acre-
1993; Russo e Fouts, 1993; Schmidheiny, ditar no gerenciamento da crise ambiental
1992). Entretanto, a pesquisa empírica in- e em sua solução por meio do engenho hu-
dica que a responsabilidade ambiental da mano.
empresa é raramente voluntária, ocorren-
do mais freqüentemente em resposta a enér-
gicas regulamentações e à pressão do con-
sumidor (Ilinitch e Schaltegger, 1993;
Schnaiberg e Gould, 1994; Schot, 1991;
Steger, 1993). Isso tenderia a apoiar os crí-
ticos da corrente dominante (PSD) de que a
agenda do ambientalismo renovado é eco-
nomicamente impraticável (custos maiores,
menos empregos) e metodologicamente
indesejável (aumento da burocracia, menos
democracia). Tanto os ambientalistas radi-
cais quanto os renovados são céticos a res-
peito da promoção da visão reformista de
um "consumismo verde" e de um "capitalis-
mo verde", que podem ser considerados
como oxímoros que permitem um estado de
falsa consciência ecológica (Ekins, 1991;
Hawken, 1993; Jacobs, 1993).
Dentro do movimento ambiental
hydra-headed (Sale, 1993; Snow, 1992a),
grupos ambientalistas radicais e grupos
de defesa populares, freqüentemente, acu-
sam que grandes organizações, burocrá-
ticas e institucionalizadas, de ambientalismo
renovado têm sido cooptadas pelo status
quo industrial e governamental. A des-
peito do crescimento, em número de as-
sociados, de uma série enorme de ativida-
des e do apoio público, o desempenho
das principais correntes de organizações
ambientalistas renovadas tem sido menos
do que exemplar, em termos da ordena-
ção de estatutos ambientais e da mobili-
zação de apoio para questões outras que
não a proteção da natureza (McCloskey,
1991).
Em sua defesa, a agenda de mudança
incremental do ambientalismo renovado
oferece algumas características positivas.
Comparada com a posição do ambientalismo
radical, a abordagem renovadora é mais
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 324 |

Breves comentários econômicas mantém "instituições sociais e


políticas de toda a sociedade que... expan-
Como foi revelado por essa revisão das dem tanto a produção ... como a explora-
perspectivas ambientalistas, não existe ne- ção ecológica" (Schnaiberg e Gould, 1994 :
nhuma abordagem "perfeita" para visualizar 45). Teorias alternativas ou modos concor-
e atuar no relacionamento homem-nature- rentes de pensamento, tais como aqueles do
za. Um tema comum às três perspectivas em eco-ambientalismo, terão que ser particu-
eco-ambientes aqui descritas é seu foco no larmente robustos se quiserem modificar ou
meio ambiente físico como a lente através substituir modelos estabelecidos de organi-
da qual cada uma vê as conseqüências das zações baseadas em uma perspectiva
atividades social, política e econômica. Em orgocêntrica.
uma extremidade do continuum, o para- A ortodoxia tradicional, na teoria
digma social dominante (PSD) representa organizacional, tem sido dominada pelas
uma abordagem na qual os interesses eco- perspectivas funcionalistas, nas quais as or-
nômicos e as necessidades da sociedade ganizações têm sido vistas tanto como má-
humana são preeminentes sobre todos os quinas ou organismos vivos ou como algu-
outros interesses. Conquanto possa ser ar- ma combinação de cada metáfora (Morgan,
gumentado ser essa uma caricatura da rea- 1980). Na metáfora da máquina, as organi-
lidade (tanto presente como passada), o PSD zações são vistas, principalmente, como ins-
oferece um útil ponto conceituai de partida trumentos racionais para a realização de
para outras perspectivas que advogam mu- objetivos preestabelecidos e gerados inter-
danças para os relacionamentos homem- namente. Limitações contextuais ou ambien-
natureza existentes. A principal força da tais, que cercam a consecução das metas e
perspectiva do ambientalismo radical resi- dos objetivos, recebem escassa atenção, en-
de em sua (relativa) coerência filosófica, ao quanto o ambiente é tido como imutável e
passo que suas prescrições para a ação per- um dado (fabricado) pelos atores organi-
manecem, em grande parte, não-testadas. zacionais. Tais perspectivas são consisten-
Embora baseada em um conjunto menos tes com as instituições econômicas do capi-
coesivo (e, freqüentemente, contraditório)
de pressupostos filosóficos, a perspectiva do
ambientalismo renovado engendra uma
abordagem pragmática mais otimista para
resolver problemas ambientais imediatos.
Contudo, tanto o ambientalismo reno-
vado como o radical desafiaram conceitos
estabelecidos que temos dos propósitos e
conseqüências das organizações industriais
modernas. Como meio de desenvolver apre-
ciação adicional das tensões entre essas pers-
pectivas, aborda-se, a seguir, os ambientes
vistos através das lentes da teoria
organizacional.
O MEIO AMBIENTE NA TEORIA
ORGANIZACIONAL

Tal como os ambientalistas, os


teorizadores da organização reivindicam
centralidade de sua visão do mundo. "As
organizações... são os blocos fundamentais
de construção das sociedades modernas"
(Aldrich e Marsden, 1988 : 361). Até mes-
mo um prêmio Nobel em economia já sus-
tentou que um mítico visitante do espaço,
quando visse a terra, poderia descobrir que
as "organizações seriam a característica do-
minante da paisagem" (Simon, 1991 : 27).
Mais recentemente, os sociólogos
Schnaiberg e Gould (1994) tipificaram a
visão de mundo dominante como sendo um
"moinho de produção", onde a lógica indus-
trial das empresas e de outras organizações
325PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

talismo e com o ethos social da competição ambientes da segunda-ordem. Segundo, a


individual. Os ambientes de mercado são natureza das interdependências causais nos
considerados como sendo auto-regulados. ambientes da segunda-ordem raramente é
O bem-estar individual e coletivo é maxi- conhecida ou compreendida pelos represen-
mizado por meio da perseguição de inte- tantes da organização focai.
resses individuais e pela competição social Emery e Trist estenderam esse quadro
e econômica. referencial para desenvolver uma classifica-
Quando se visualizam organizações ção inicial dos ambientes organizacionais.
como organismos, admite-se que a sobrevi- Os ambientes organizacionais são problemá-
vência continuada de uma organização é ticos em função do grau de incerteza que
dependente de um relacionamento apro- eles apresentam para os decisores
priado, interativo e interdependente, entre organizacionais. Tal incerteza é indicada
a organização e seu meio ambiente. Dessa pela força das ligações interorganizacionais
maneira, meios ambientes são cuidados até e as taxas de mudança dos elementos
enquanto restringem ou colocam em peri- organizacionais em um ambiente. As con-
go a sobrevivência organizacional. Na cur- dições ambientais são as mais problemáti-
ta e, não necessariamente gloriosa, história cas e produzem maior incerteza quando as
da teoria organizacional (Perrow, 1973), as ligações interorganizacionais são densas e
perspectivas que enfatizam idéias da depen- as taxas de mudança são altas. Tais ambien-
dência ambiental são relativamente novas. tes são caracterizados como sendo "turbu-
Embora tenham havido anteriormente idéi- lentos". Em uma ampliação, potencialmen-
as, dispersas, em relação às conseqüências te profética, do modelo de Emery e Trist,
desta dependência ambiental (Dill, 1958; Terryberry (1967) examinou as tendências
Burns e Stalker, 1961), pesquisa permanente na sociedade moderna e previu que os am-
sobre a natureza dos ambientes organi- bientes da maioria das organizações evolui-
zacionais não começou a apresentar com-
pleto desenvolvimento antes do final dos
anos 60 e início dos 70 (Duncan, 1972;
Emery e Trist, 1965; Evan, 1966; Jurkovich,
1974; Lawrence e Lorsch, 1967; Osborne e
Hunt, 1974; Thompson, 1967). Desde en-
tão, têm havido aferições dispersas dos am-
bientes organizacionais, que não mudaram
radicalmente as perspectivas tradicionais
orgocêntricas (Aldrich, 1979; Aldrich e
Marsden, 1988; Aldrich e Pfeffer, 1976;
Carrol et al., 1988; Meyer e Scott, 1983;
Starbuck, 1976).
As conceitualizações atuais sobre os
ambientes organizacionais podem ser recu-
peradas do trabalho seminal de Emery e Trist
(1965). O tratamento que deram à "textura
causai" dos ambientes organizacionais
visualizou um conjunto de dependências
transacionais entre um conjunto de organi-
zações, observadas a partir da perspectiva
de uma única organização focai. O ambien
te de primeira ordem de qualquer organi-
zação focai consiste nos relacionamentos
entre essa organização e as outras com as
quais ela mantém transações diretas - tais
como fornecedores e clientes. O ambiente
de segunda-ordem da organização focai con-
siste de todos os outros relacionamentos, ou
dependências transacionais, entre as orga-
nizações do ambiente imediato (de primei-
ra-ordem) e todas as outras organizações.
A "textura causal" do ambiente da organi-
zação focai, portanto, é um mapa conceituai
das ligações causais nas quais uma mudan-
ça no comportamento de qualquer organi-
zação nesse ambiente influenciaria o fun-
cionamento da organização focai. Nessa
conceitualização, o ambiente de segunda-
ordem, ao contrário do ambiente de primei-
ra-ordem, é potencialmente mais problemá-
tico para o funcionamento de uma organi-
zação focai. Primeiro, mudanças nos ele-
mentos ambientais são menos visíveis nos
I 326 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

riam para a turbulência - uma condição que de ecologia populacional de organizações e


não é desconhecida para os estudantes da seus ambientes são extensões das perspec-
literatura contemporânea de negócios ou da tivas funcionalistas que dominaram a teo-
teoria do caos (Gleick, 1987). ria organizacional. E irônico e enganador
Ao desenvolver essas conceituali- que os modelos derivados da biologia, apli-
zações dos ambientes, os teóricos da orga- cados às análises das organizações e seus
nização e da administração expandiram a ambientes, e providos com um rótulo eco-
maneira tradicional funcionalista de pensar lógico, tenham tão pouco a ver com a
para além dos limites organizacionais. Por biosfera (Young, 1988). Outras tentativas de
exemplo, as organizações necessitam gas- chegar a definições de ambientes organiza-
tar mais tempo e energia alinhando ações cionais independentes têm sido utilizadas
coletivas, sob condições de incerteza, do que para definir os atributos das próprias orga-
quando as condições são estáveis e conhe- nizações. Dessa forma, Scott (1992) utiliza
cidas (Thompson, 1967). Assim, a incerte- definições de mercados, dos economistas,
za diminui a eficiência organizacional (um tais como concorrência perfeita ou oligo-
atributo da máquina), quanto menos ener- pólio, para ilustrar e resumir as conseqüên-
gia estiver disponível para perseguir os ob- cias dos atributos de um ambiente de uma
jetivos acordados. Além disso, devido ao fato firma para o delineamento organizacional.
de que os ambientes poderiam, potencial- Em todos esses exemplos, as concei-
mente, significar tudo que esteja fora dos tualizações dos ambientes organizacionais
limites organizacionais, a atenção é focali- fracassam quando não incluem, explicita-
zada somente naqueles atributos ambien- mente, considerações acerca do ambiente
tais que tornam problemática a perseguição natural. Até mesmo as tentativas para defi-
dos objetivos organizacionais. Os decisores nir ambientes em níveis de análise ambiental
organizacionais são indiferentes aos even- baseiam-se em construtos relacionais. Isto
tos que tenham conseqüências para outros é, os ambientes são definidos como não ten-
stakeholders situados no "ambiente", mas do nenhuma outra característica a enunciar
que tenham poucas conseqüências para a que não seja seus atributos organizacio-
organização focai. nalmente relevantes. Dentro dos paradigmas
Relativamente, poucas tentativas têm dominantes de ambientes definidos em ter-
sido feitas para definir ambientes, indepen- mos organizacionais, temos poucos, se al-
dentemente, de uma única organização fo- gum, meios de avaliar as conseqüências das
cai ou de um grupo específico. Scott (1981
: 170) identificou níveis diferentes de aná-
lise para o estudo dos ambientes orga-
nizacionais. Sua revisão incluiu conceitos do
cenário da organização (Blau e Scott, 1962;
Evan, 1966) e o termo relacionado de do-
mínio organizacional (Levine e White, 1961;
Thompson, 1967), os quais são similares às
idéias de Emery e Trist (1965) de ambien-
tes de primeira-ordem. Em níveis mais am-
plos e abrangentes de análise, os ambientes
podem, também, ser considerados como
todas as organizações que constituem a co-
munidade ecológica (Hawley, 1950) ou o
campo interorganizacional (Warren, 1967;
Trist, 1983). Por exemplo, um desenvolvi-
mento mais recente, em relação à natureza
dos ambientes organizacionais, originou-se
com a teoria da ecologia populacional das
organizações de Hannan e Freeman (1977).
Embora essas teorias apliquem modelos,
teorias e métodos das ciências biológicas a
populações de organizações, os ambientes
são novamente definidos em termos relacio-
nais. Os ambientes organizacionais não pos-
suem definição independente daqueles atri-
butos, principalmente sua capacidade de
manter um negócio que influencia as carac-
terísticas de sobrevivência de uma popula-
ção de organizações. De fato, os modelos
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA! ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 327

ações organizacionais para as qualidades dentes. Além disso, essa perspectiva tam-
do(s) ambiente(s) que as contém. bém falha em considerar o potencial para
As perspectivas tradicionais sobre or- as crenças, normas e valores ambientais a
serem incorporados nos axiomas,
ganizações e seus ambientes ganharam acei-
pressupos-
tação em virtude de sua utilidade para a tos e valores de poderosos membros
iniciação e comprometimento da ação cole- organi-
tiva (Starbuck, 1983), especialmente por zacionais (Beyer, 1981).
poderosos decisores organizacionais, cujos As atividades organizacionais não são
interesses pessoais admitia-se estar alinha- independentes dos sistemas social, econô-
dos com os das organizações por eles repre- mico, cultural, político e técnico, mais am-
sentadas. No emergente mercado de edu- plos, dos quais são uma parte. Todos têm
cação empresarial, durante o período pós- interesses e comprometimentos externos
Segunda Guerra Mundial, pelo menos duas que norteiam seus comportamentos dentro
gerações de gerentes em treinamento foram da organização, bem como seus objetivos
expostas a exposições fundamentadas* de pretendidos para as atividades organiza-
ordem limitada como estas. Contudo, ou- cionais. As organizações importam conhe-
tras visões das organizações e seus ambien- cimento e tecnologias para seus domínios
tes via concepções de sistemas abertos têm internos. Elas também absorvem recursos e
sido desenvolvidas a partir de perspectivas suprimentos, que são combinados e trans-
mais institucionais e críticas. formados, para gerarem produtos (outputs)
Nas perspectivas dos sistemas abertos, para o ambiente social maior. As organiza-
o limite entre as organizações e seus ambi- ções necessitam, a longo prazo, continuar
entes é visto como permeável. As organiza- provendo funções de valor para a socieda-
ções não podem ser facilmente separadas de maior se quiserem continuar a sobrevi-
dos ambientes em que estão inseridas. Elas ver (Fellmeth, 1970; Maniha e Perrow,
não somente se adaptam a seus ambientes, 1965).
mas também influenciam fortemente a na- A conseqüência líquida dessas pressões
tureza desses ambientes. Originado do tra- é que as organizações devem tornar-se mais
balho seminal de Selznick (1948 :1957) em ou menos isomórficas com seus ambientes,
sociologia organizacional, numerosos estu-
dos examinaram os processos de adaptação
organizacional. Perrow (1972) esboça duas
opções genéricas. As organizações menos
poderosas são "capturadas" pelos podero-
sos elementos ambientais e modificam suas
metas e objetivos para assegurar tanto a
sobrevivência da organização como, pre-
sumivelmente, uma continuação das quali-
ficações dos atores organizacionalmente
dependentes. Alternativamente, organiza-
ções mais poderosas são capazes de impor
sua visão de mundo em outras organizações
e agências. Neste último cenário, podero-
sos líderes organizacionais adaptam a ideo-

Rationale, no original. (N.T.)


logia e os recursos sob seu controle para
produzir exigências ambientais vantajosas
para os membros da coalizão dominante
que
controla a organização (Aldrich e Pfeffer,
1976). É nesta última conceitualização que
se localizam os medos de alguns
ambientalistas. As organizações se adaptam
à definição de seu ambiente-tarefa, mas os
interesses individuais, societais e ambien-
tais (biofísicos) não são, necessariamente,
considerados nas prioridades dos decisores
organizacionais. Essa visão confere às orga-
nizações grande espaço de influência rela-
tiva sobre seus ambientes. Enquanto tais
caracterizações são, indubitavelmente, ver-
dadeiras para um pequeno número de
gran-
des e poderosas organizações, essa
perspec-
tiva ignora a enorme proporção de organi-
zações que são mais ambientalmente
depen-
I 328 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

pois exige-se tal "ajustamento"* se quiserem nizacionais que degradam o ambiente local
adquirir os recursos e a legitimidade neces- tornam-se pertinentes quando a sobrevivên-
sários para operar nesses ambientes. Em cia organizacional futura ou sua lucrati-
termos convencionais, as organizações am- vidade é ameaçada pelas restrições impos-
bientalmente dependentes terão que se ajus- tas pela legislação ou pela escassez de re-
tar a fortes demandas ambientais, ao passo cursos naturais. Em contraste, um tema cla-
que as organizações mais poderosas podem ro para muitos ambientalistas é que as ações
moldar as exigências ambientais de forma limitadas e míopes dos atores organiza-
a melhor se adaptarem a suas necessidades. cionais degradam, inevitavelmente, o meio
Em ambos os casos, os valores sociais serão ambiente. A partir dessa perspectiva, existe
trazidos pelos participantes organizacionais uma ligação clara entre as ações organiza-
para dentro do comando e da orientação das cionais e sua concepção do que se constitui
atividades organizacionais. Dessa forma, no meio ambiente. Contudo, o que os am-
pode ser dito que as organizações adaptam- bientalistas têm feito, exortando as organi-
se a seus ambientes, em, pelo menos, duas zações a modificarem seus comportamen-
maneiras. Primeira, dentro da perspectiva tos, sem, no entanto, estruturar tal persua-
limitada de um modelo racional e meca- são à luz dos interesses próprios das orga-
nístico, as organizações mudam quando está nizações, é não compreender bem a lógica
dentro dos interesses próprios limitados da da ação organizacional.
organização agir assim. Segunda, a partir A despeito de tais confusões, acredi-
do ponto de vista institucional, as organiza- tamos que existe um nexo para essas dife-
ções ajustar-se-ão aos valores sociais em rentes perspectivas. Demonstramos que as
mudança, à medida que estes são incorpo- abstrações funcionalistas dos ambientes
rados nas premissas decisórias dos membros organizacionais subestimam o potencial
da coalizão dominante da organização para os aspectos do ambiente natural a se-
(Meyer e Rowan, 1983; Powell e DiMaggio, rem incluídos nas premissas de decisão dos
1991). Está completamente claro, apesar de atores organizacionais. Como indivíduos
raramente examinado de forma explícita, que esperam continuar a existir na limitada
que os conceitos orgocêntricos dos ambien- biosfera da espaçonave terra, acreditamos
tes organizacionais possuem aparentemen- que as ações ambientais interessadas serão
te pouca superposição com as preocupações norteadas pelos valores, conhecimentos e
dos ambientalistas. Nenhuma tem uma vi- experiências dos atores organizacionais.
são completa das outras, e concepções er-
radas são ativamente encorajadas. A pers-
pectiva ambientalista do homem de palha -
homem facilmente dominado - do para-
digma social dominante, bem como a pers-
pectiva dos ambientalistas radicais, falham
em reconhecer organizações com as carac-
terísticas de sistemas abertos. Defensores da
racionalidade limitada, inserida nas perspec-
tivas do PSD, receiam a indeterminação,
associada com a inclusão de valores huma-
nísticos, nas considerações organizacionais.

Fit, no original.
Os ambientalistas radicais têm proposto,
até agora, somente ideais românticos,
com pouca atenção dispensada à forma
prática pela qual seu nirvana pode ser al-
cançado. Os ambientalistas renovados pro-
puseram várias modificações aos valores do
PSD, mas relativamente poucas foram
traduzidas em estruturas orgocêntricas de
ação.
A partir da perspectiva da teoria
organizacional, a degradação ambiental tor-
na-se relevante somente quando o desem-
penho de uma organização focal e o bem-
estar dos participantes organizacionais são
afetados por tais questões. As ações orga-
I 329 PARTE II ~ QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

INTEGRANDO AS PERSPECTIVAS primitiva conceptualização está um concei-


EM to de interesse próprio baseado na família
imediata e na progênie (Simon, 1993;
Eco-AMBIENTES E ORGANIZAÇÕES
Samuelson, 1993; Wilson, 1975). Os indi-
víduos poderiam considerar sacrificar seu
Essencialmente, o debate ambienta-
bem-estar (suas vidas?) por uma mudança
lista está preocupado com as mudanças fun-
para melhor na sobrevivência da progênie
damentais e transformacionais na estrutu-
que carrega seus genes. Dessa forma, os pais
ra profunda da sociedade (ver Elliott, 1988;
renunciam ao lazer e ao consumo para in-
Egri e Frost, 1994; e outros). Uma questão
vestir na educação de seus filhos e provê-
que se impõe, portanto, relaciona-se com a
los com recursos para que melhorem suas
extensão na qual, de forma conceituai e prá-
oportunidades de vida. A pequena distân-
tica, o presente estado de coisas deveria
cia estaria o interesse próprio baseado em
permanecer ou se existem vantagens no
uma coletividade familiar livre tal como um
aumento de superposição e síntese dessas
clã ou uma tribo. A mais ampla concei-
idéias distintas. Isto é, em que extensão as
tualização do interesse próprio é aquela
percepções ambientalistas dos ambientes
baseada nas espécies (homo sapiens). Os
biofísicos podem e devem ser incorporadas
indivíduos e as coletividades renunciam aos
nas percepções organizacionais sobre seus
retornos de atividades imediatamente be-
ambientes? Nesta seção do capítulo, focali-
néficas, tais como o desenvolvimento da
za-se duas questões - interesse próprio e
energia nuclear ou a utilização de combus-
teoria dos sistemas - que ilustram os desa-
tíveis fósseis para melhorar as probabilida-
fios na integração dessas abordagens distin-
des de que os cidadãos de hoje e os do futu-
tas dos eco-ambientes.
ro, de todo o planeta, pudessem ser expos-
tos a menores riscos ambientais que vão
desde o aumento da radiação solar, à proli-
O interesse próprio e a
mudança ambiental

As características dominantes da so-


ciedade contemporânea estão profunda-
mente enraizadas. Desafios ao status quo
precisam ser embasados em motivos pode-
rosos, se pretenderem modificar os arran-
jos existentes, que podem ter embutidas for-
tes tendências para a autodestruição global.
Dessa forma, nossa discussão do interesse
próprio é apresentada como um dispositivo
para unir as preocupações pelo meio ambi-
ente com a possibilidade da ação organi-
zacional.
Na sociedade contemporânea, as or-
ganizações são os meios fundamentais para
realizar a ação coletiva. Não obstante, as
ações coletivas geralmente estão estrutu-
radas dentro de uma hierarquia de sistemas
encaixados. Os atores individuais enfrentam
a realidade dos objetivos conflitantes em
suas experiências individuais de ambiva-
lência. Os indivíduos também experienciam
a tensão entre seus objetivos pessoais e os
sistemas sociais imediatos, tais como famí-
lias e grupos de trabalho que modelam a
ação individual. Em níveis maiores e mais
amplos de análise, a saliência das perspec-
tivas individuais diminuem enquanto que os
interesses organizacionais, regionais e, pos-
sivelmente, nacionais fornecem estruturas
por meio das quais ações coletivas prová-
veis são avaliadas. Um elo comum que une
cognições e racionalizações associadas com
a intencionalidade da ação é o interesse pró-
prio.
Os interesses próprios podem ser vis-
tos por meio de várias lentes diferentes. Em
seu nível mais primitivo e interesseiro, o
interesse próprio é de curto prazo e total-
mente preocupado com a sobrevivência fí-
sica do indivíduo. Em nível distante dessa
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA: ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 330

feração de armas nucleares, ao aquecimen- orgocêntrica, a filosofia e o conhecimento.


to do planeta ou à elevação do nível dos As organizações são coletividades sociais
mares. com interesses especiais, cujas atividades
Dois aspectos de percepções rivais da são norteadas pelos interesses dos partici-
realidade complicam as avaliações do inte- pantes organizacionais. Esses interesses es-
resse próprio, que estruturam as perspecti- tão circunscritos por aqueles de outros ato-
vas de ações. Por um lado, podemos consi- res que operam tanto dentro como fora dos
derar a proximidade ou a distância da ame- limites organizacionais e são considerados
aça ambiental. Por outro lado, as ameaças essenciais para o funcionamento
ambientais podem ser consideradas como organizacional. Os ambientes definidos
sendo experienciadas (e, portanto, motiva- organizacionalmente são construtos funci-
das) pelos indivíduos, pelos grupos geneti- onalmente proveitosos para a realização das
camente similares, ou por sociedades intei- ações coletivas. A perspectiva ambiental
ras. Quando pode ser mostrado ao interes- descrita como o paradigma social dominante
se próprio que ele já está correndo risco, é uma interpretação incipiente e limitada
em conseqüência de ações sobre as quais das perspectivas de ação nas organizações,
ele tem controle, essas ações serão muda- eis que ignora o construto de ambientes
das. Todavia, quando as conseqüências das organizacionais estabelecido por meio de
ações atuais são problemáticas, pouco evi- relações. Todavia, modelos de organizações
dentes e não necessariamente experien- vistas como sistemas abertos, embora ain-
ciadas antes de várias décadas ou futuro da problemáticos, permitem a introdução de
muito distante, os interesses próprios daque- preocupações ambientalistas dentro dos cri-
les que se beneficiam dos atuais arranjos li- térios de decisão organizacional. Os atribu-
derarão as resistências aos defensores do tos (caricaturas), caracterizações do PSD,
ambientalismo. Em situações contestadas, formulados pelos ambientalistas, de que as
tais como essas reivindicações por legitimi- organizações contemporâneas apresentam
dade, baseadas em evidência científica par- fronteiras hermeticamente seladas entre elas
cial, ideologia normativa e debates políti- mesmas e seus eco-ambientes, são represen-
cos, tornam-se a moeda do debate público tações inexatas do que acontece hoje em
(Pinfield e Berner, 1992; Samuel e Spencer, dia. Além disso, os paralelos organizacio-
1993; Schelling, 1992). nais contemporâneos do PSD encorajam
Contudo, uma avaliação compartilha- perspectivas de ação que, por fim, pode-
da das questões ambientais é crucial, já que
a solução de ameaças ambientais, invaria-
velmente, requer ação coletiva interdepen-
dente. Faltando concordância substancial,
acerca da natureza das ações colaborativas,
é improvável que as ações individuais ve-
nham a atender aos interesses de qualquer
coletividade superior. Semelhantemente,
ações locais, empreendidas pelas coletivida-
des, terão efeito insignificante nas conse-
qüências globais, a menos que outras cole-
tividades, que também contribuem para a
degradação ambiental, modifiquem seus
comportamentos. Além disso, deve-se reco-
nhecer que nem todas as pessoas e coletivi
dades estão similarmente localizadas para
perceber ou experienciar a escassez e a de-
gradação dos recursos.
A expressão de interesses especiais e
o trabalho por meio de ações coletivas re-
querem a atividade das organizações. A ob-
tenção dos resultados desejados por qual-
quer grupo ambientalista necessita de uma
apreciação de como o interesse especial e
os objetivos coletivos podem ser alcançados.
Vivemos em um mundo organizacional onde
as organizações são os meios pelos quais os
interesses são realizados. Seja qual for a
perspectiva ambiental aceita, se quisermos
alcançar objetivos, é necessária a tradição
I
EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS
331 PARTE I I - QUF.STÒKS E TF.MAS KMERGF.NTI-.S
-------------------------------------------

riam incluir melhorias na prática de abusos superestrutura institucional (Astley e


ambientais. Fombrun, 1987) da comunidade da qual é
Em contraste, a perspectiva do membro a organização focai. Se a superes-
ambientalismo radical apresenta uma visão trutura institucional existente fornece pou-
transformacional dos resultados desejados. co ou nenhum recurso, então os cidadãos
As ações organizacionais exigidas "para che- (pelo menos aqueles em sociedades demo-
gar lá a partir daqui" não são consideradas. cráticas) têm oportunidades para elaborar
As perspectivas organizacional e ambien- tal superestrutura na forma de novas legis-
talista radical são, atualmente, incompatí- lações e regulamentações. Não é provável
veis e a possibilidade de uma síntese das que tais desenvolvimentos ocorram rapida-
duas é mínima. No curto prazo, os propo- mente. Reconhecemos que é possível que
nentes da perspectiva ambientalista radical danos de longo prazo ocasionados pelas ati-
precisam utilizar e controlar a mídia de vidades de organizações focais possam es-
massa se quiserem que sua mensagem seja tar bem caracterizados antes que quaisquer
recebida e aceita pelos membros mais in- restrições significativas possam ser desen-
fluentes da sociedade. Nós consideramos volvidas e aplicadas. Além disso, é provável
que as exigências para a ação coletiva, pro- que o desenvolvimento de nova legislação
vavelmente, produziriam conflito entre as seja contestado por aqueles que se benefici-
idéias orgocêntricas e a coerência da posi- am pela ausência de tal legislação e por
ção ambientalista radical. Os proponentes aqueles cujos interesses possam ser preju-
do ambientalismo radical podem conside- dicados pela aprovação de tal legislação.
rar que suas realizações são limitadas pela Todavia, as "regras" formais e informais que re-
negativa inerente da existência de interesse gulam a conduta e as conseqüências das ativi-
próprio nas ações organizacionais. À seme- dades organizacionais deveriam estar sujei-
lhança de outros que já argüiram no senti- tas ao exame, acurado, científico e político.
do de que preocupações sociais maiores fos-
sem consideradas nos objetivos organi-
zacionais, os defensores do ambientalismo
radical podem acabar enfraquecendo suas
energias emocionais em função da falta de
progresso, ou sua atenção pode ser desvia-
da para outras questões (Downs, 1972). A
influência ideológica do ambientalismo ra-
dical vai persistir, mas de forma silenciosa,
o que irá ajudar a diminuir a força de esfor-
ços adicionais do ponto de vista do ambien-
talismo renovado.
O ambientalismo renovado oferece
uma perspectiva viável de longo prazo em
bioambientes, porque é só essa perspectiva
que mais ou menos aceita o utilitarismo de
ação coletiva de definições dos ambientes
organizacionais em termos relativos. As ava-
liações dos ambientes, definidas em termos
biofísicos, são relevantes para os decisores
organizacionais quando traduzidas em ter-
mos de seu interesse próprio. Esses interes-
ses próprios podem ser definidos em termos,
cada vez mais amplos, dos valores societais,
norteados pela nova informação relativa às
conseqüências das ações organizacionais
individuais e coletivas. Enquanto temos in-
formação incompleta sobre essas conse-
qüências (Hawken, 1993; Shrivastava,
1994; Stead e Stead, 1992), isto representa
nitidamente uma oportunidade para mais
pesquisa organizacional, verdadeiramente
interdisciplinar.
Uma vez que tal informação torna-se
disponível, que oportunidades há para que
sejam usadas a fim de nortear e redirecionar
as atividades dos participantes organiza-
cionais? Para aqueles indivíduos cujos inte-
resses não são atendidos, ou que são, possi-
velmente, prejudicados, pelas atividades de
uma organização focai, dois conjuntos de
táticas estão disponíveis para modificarem
aquela situação. A primeira é descobrir ca-
minhos de influência, por meio da presente
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA: ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE

----------
O exame acurado e a avaliação políti- Existem várias questões teóricas que
ca ocorrem dentro de uma ideologia nor- permanecem, em grande parte, sem solu-
mativa existente. Como parte do processo ção na literatura da teoria sociológica e
de tentar mudar ou retrabalhar a legislação organizacional sobre sistemas sociais como
existente, a ação política necessariamente também na teoria ecológica sobre os siste-
envolve tentativas de mudar as ideologias mas ecológicos. A teoria dos sistemas aber-
existentes. Os proponentes de nova legisla- tos nos direciona para considerar as organi-
ção podem tentar aplicar a persuasão mo- zações e a biosfera como fenômenos dinâ-
ral às atividades de uma organização focai. micos, que estão constantemente se ajustan-
Eles podem tentar mudar os valores dos do às mudanças ambientais. Os sistemas
membros da coalizão dominante ou traba- compreendem subsistemas e unidades in-
lharem para mudar os valores sociais maio- dividuais, que também estão em estado de
res de forma tal que as atividades das em- mudança dinâmica em relação ao outro.
presas-alvo sejam percebidas como sendo Contudo, as ligações entre a ação indivi-
cada vez menos legítimas. Em qualquer caso, dual e as conseqüências no nível sistêmico
a condição de legitimidade dos arranjos (o relacionamento micro e macro) e as liga-
organizacionais existentes torna-se o gati- ções entre as mudanças no nível sistêmico e
lho para mudança das atividades organiza- as conseqüências individuais (o relaciona-
cionais em que julga-se que os interesses mento macro e micro) permanecem, em
próprios da coalizão dominante são contrá- grande parte, inexploradas pelos cientistas
rios aos interesses dos outros membros da sociais (Ashmos e Huber, 1987; Coleman,
sociedade. Conflito político contínuo conti- 1986; Namboodiri, 1988). Uma exceção im-
nuará a existir entre objetivos sociais e portante é a exploração da natureza das
organizacionais e a qualidade do ambiente conexões entre os sistemas social e ecológi-
natural (Schnaiberg e Gould, 1994). co, em termos de acoplamento rígido e frou-
xo (Weick, 1979).
Em geral, sistemas frouxamente aco-
A promessa da plados têm sido freqüentemente considera-
teoria dos sistemas dos como uma característica positiva das
organizações, enquanto sistemas rigidamen-
A teoria dos sistemas parece ser uma te acoplados são considerados como menos
estrutura conceituai comum para ambos os desejáveis nas organizações modernas.
domínios, o ambientalista e o organiza- Como foi determinado por Perrow (1984),
cional. Na verdade, prescrição comum en- sistemas tecnológicos rigidamente acopla-
tre os escritores ambientalistas consiste na
adoção, total, em sociedades e organizações,
dos princípios de sistemas ecológicos como
o "único caminho" na direção da susten-
tabilidade ambiental (Milbrath, 1989;
Shrivastava, 1992/1994; Stead e Stead,
1992). O que é menos discutido dentro de
cada perspectiva é que a realidade é social-
mente construída, sendo problemático o
efeito que as fronteiras temporal e espacial,
que tanto focalizam como limitam a aten-
ção, produzem. De forma paradoxal, essas
características problemáticas, de ambos os
domínios, permitem uma futura confluên-
cia, otimista e adaptável, de dois esquemas
conceituais historicamente separados. À
medida que a informação, sobre os efeitos
das ações coletivas, humana e organi-
zacional, na biosfera, torna-se disponível, ela
será, gradualmente legalizada dentro das
crenças de atores sociais (Gamson et al.,
1992). Os indivíduos, quer por meio do in-
teresse próprio ou por meio do cultivo de
uma consciência ecológica, modificarão as
conceitualizações coletivas das organizações
e seus ambientes.
PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

dança incrementai numa pequena parte de


um sistema pode, no decorrer do tempo,
dos são propensos a "acidentes normais". ampliar-se e produzir efeito e grande trans-
Mais recentemente, Weick e Roberts (1993) formação em sistemas de nível macro. De
propuseram que sistemas sociais rigidamen- forma independente, metodologias tradi-
te acoplados podem mediar ou neutralizar cionais de pesquisa que limitam o escopo
os perigos inerentes dos sistemas tecno- espacial e temporal da indagação parecem
lógicos rigidamente acoplados. Conceitua- ser mal ajustadas ao tratamento de ques-
lizando a mentalidade coletiva como "o pa- tões relativas a fenômenos de sistemas multi-
drão de cuidadosas inter-relações das ações facetados. A pesquisa organizacional preci-
em um sistema social", Weick e Roberts sa promover o desenvolvimento de uma
(1993 : 357) propõem que as ações indivi- variedade de abordagens para estudar as
duais em sistemas de alta confiabilidade organizações e seus eco-ambientes.
(perigosos) precisam ser tanto representa-
tivos como subordinados aos significados
mutuamente compartilhados e às comuni- CONSIDERAÇÕES FINAIS
dades profissionais. A cooperação, e não o
individualismo, é essencial para a ação cui- Quanto mais saímos do mundo, me-
dadosa (atenta) em sistemas de complexi- nos o deixamos e, no longo prazo, tere-
dade interativa. Isso possibilita maior com-
plexidade no desenvolvimento de uma apre-
ciação da dinâmica do acoplamento rígido
ou frouxo entre sistemas organizacional e
ecológico.
Dentro da perspectiva do ambien-
talismo renovado, a ecologia industrial pro-
põe que se aumente a segurança ambiental
por meio do desenvolvimento de sistemas
fechados de produção industrial rigidamen-
te acoplados. A pressuposição subjacente é
que a atividade industrial é inerentemente
perigosa para os sistemas ecológicos, nos
quais os sistemas industriais necessitam ser
cuidadosos, embora desobrigados com os
eco-ambientes maiores. Coerente com as
observações de Weick e Roberts, em rela-
ção aos sistemas sociais rigidamente aco-
plados sob tais condições, as ações indivi-
duais são norteadas e subordinadas àque-
las de valor coletivo da sustentabilidade
ambiental.
Mais problemáticas para a existência
de ação ambiental acordada são o que Weick
e Roberts identificam como condições onde
existe uma mentalidade coletiva primitiva.
Como estudado na análise da perspectiva
do ambientalismo renovado, permanecem
contradições significativas entre valores es-
posados e ações visíveis a respeito do am
biente natural. Enquanto parte disso pode
ser atribuído ao estágio inicial do conceito
de desenvolvimento sustentável, muito pode
ser determinado pela falta de disposição de
abandonar totalmente os valores do indivi-
dualismo e os princípios do livre mercado
concorrencial das sociedades ocidentais in-
dustrializadas. Esses valores identificam um
acoplamento frouxo dentro e entre os siste-
mas social, tecnológico e ecológico. Como
Weick e Roberts (1993 : 378) assim identi-
ficaram: "Uma cultura que encoraja o indi-
vidualismo, a sobrevivência do mais apto, o
heroísmo machista, e as reações do tipo
poder-fazer, freqüentemente negligenciarão
prática cuidadosa de representação e subor-
dinação." Na medida que estes valores cul-
turais permanecerem dentro da perspecti-
va do ambientalismo renovado, a ação
ambiental cuidadosa continuará a estar
comprometida e as mudanças incrementais
podem continuar isoladas ou absorvidas
pelo status quo. A teoria dos sistemas ofere-
ce também uma hipótese alternativa com
relação ao resultado das ações incrementais.
Coerente com a premissa subjacente do cre-
do ambientalista "Pense globalmente, aja
localmente", o que pode aparentar ser mu-
AS ORGANIZAÇÕES E A BIOSFERA T ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE 334

mos que pagar nossos débitos de uma só dades de sustento, proteção e segurança dos
vez, o que pode ser inconveniente para a seres humanos. De forma similar, preservar
nossa própria sobrevivência (Wiener, o ambiente natural meramente pelo seu
1954 : 2). valor estético (como pela ecologia profun-
O "ciclo problema-atenção" das ques- da), com a exclusão de outras relações com
tões sociais poderia sugerir que a atual pre- o ambiente natural, renega o desenvolvi-
ocupação com as questões ambientais é ape- mento das relações materiais necessárias
nas temporária e se desvanecerá quando os para a existência física humana. Por fim,
problemas forem resolvidos e um público existe uma necessidade de equilíbrio entre
aborrecido dirigir sua atenção para outros esses relacionamentos díspares e, algumas
temas (Downs, 1972). Contudo, evidência vezes, conflitantes com o ambiente natural
histórica e empírica está provando o con- - não um equilíbrio final estático, mas um
trário (Dunlap, 1989). A preocupação com equilíbrio dinâmico entre sistemas existen-
o ambiente natural tem uma longa história ciais naturais e humanos, em evolução.
e provou ser notavelmente resiliente, ape- Um argumento similar pode ser feito
sar dos desvios e bonanças temporárias na com relação à introdução do ambiente na-
atividade. Um dos motivos por que o desa- tural dentro do discurso da teoria e da prá-
fio ambiental para a sociedade e suas orga- tica das organizações. Como desenvolvido
nizações promete permanecer e tornar-se em nossa discussão da teoria organizacional,
mais proeminente é que os seres humanos as conceitualizações ortodoxas dos interes-
estão testemunhando e experienciando os ses e ações organizacionais têm sido ampla-
efeitos deletérios da degradação do am- mente destituídas das considerações da co-
biente natural em escala e escopo sem pre- nexão homem-natureza. Contudo, existe
cedentes na história da humanidade. ainda evidência crescente de que mudan-
Outro motivo pode ser encontrado no ças no ambiente físico virão trazer, clara-
conceito de biofilia, que é definido como "a mente, mudanças societais. A partir das
afiliação emocional inata dos seres huma- perspectivas ambientalistas, a mudança
nos com outros organismos vivos" (Wilson, biofísica e social é iminente e inevitável.
1984 : 31). A hipótese da biofilia propõe Dessa maneira, apoiar o status quo na teo-
que as relações humanas com o ambiente ria e na ação organizacional não é um ca-
natural são afetadas, simultaneamente, pe- minho seguro, e sim um caminho destrutivo
las dimensões material, emocional, cog- para a biosfera e a espécie humana. Que a
nitiva, estética e espiritual da existência mudança é inevitável não é assunto em ques-
humana (Kellert, 1993). As três perspecti-
vas alternativas em eco-ambientes, iden-
tificadas neste capítulo, representam graus
de ênfase em cada dimensão inter-relacio-
nada. Enquanto o paradigma social domi-
nante enfatiza relações utilitárias e de do-
minação dos homens para com a nature-
za, a perspectiva do ambientalismo radical
enfatiza as conexões emocional, estética e
espiritual dos homens com o ambiente na-
tural. A perspectiva (de meio termo) do
ambientalismo renovado representa uma
abordagem mais cognitiva (ou científica)
para integrar e equilibrar essas dimensões,
algumas vezes contraditórias. O dogma cen-
tral da hipótese da biofilia é que cada abor-
dagem tem um lugar e um papel a desem-
penhar na história evolucionária da huma-
nidade. Ênfase demasiada em uma ou em
algumas facetas, com a exclusão de outras,
pode ter conseqüências destrutivas tanto
para os homens como para o ambiente na-
tural. Por exemplo, focalizar somente no
valor material e nos benefícios a serem ob-
tidos a partir do ambiente natural (como
pelo paradigma social dominante) norteia
ações ambientalmente insustentáveis e irá
ameaçar, a longo prazo, por fim, as necessi-
335 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

tão. É a direção e a natureza da mudança 56-


que são os focos do desafio ambientalista 68,1992.
para a ciência da organização. Como pro- ASHMOS, D. P, HUBER, G. P The systems
pôs Lovelock (1988) em seu princípio Gaia, paradigm in organization theory: correcting
a biosfera do planeta continuará a adaptar- the record and suggesting the future.
se e a mudar como resultado dos fenôme- Academy of Management Review, 12(4): 607-
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do não somente o complexo do organismo, mas
também todo o complexo de fatores físicos que BENNETT, S. J. Ecopreneuring: the complete
formam o que chamamos de ambiente do bioma guide to small business opportunities from
- os fatores do habitat em sentido mais amplo" the environmental revolution. New York :
(como citado por Mcintosh, 1985 : 193). Wiley, 1991.
2. Como proposto por Kassas e Polunin (1989), os
ecossistemas compreendem três sistemas: a
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biosfera, que engloba a atmosfera mais baixa do Ecology and Community-Based Sustainable
planeta, a litosfera (terra), a hidrosfera (água) e Development. Londres : Belhaven, 1989.
os sistemas vivos; a tecnosfera, que é composta BERLE, G. The Green Entrepreneur: Business
dos sistemas de estruturas humanas dentro da
Opportunities met can Save the Earth and
biosfera; e a sociosfera, que é composta das insti-
tuições sociopolíticas, socioeconômicas e socio-
Make you Money. Liberty Hall Press, 1990.
culturais criadas pelos humanos. A biosfera apre-
senta três funções inter-relacionadas na manu-
tenção dos sistemas vivos, isto é, ela prove recur-
sos, ela prove serviços ambientais (tais como su-
porte à vida e amenidades) e ela acumula produ-
tos residuais (Jacobs, 1993).
3. Entretanto, defensores da teoria marxista afirmam
que os ensinamentos originais marxistas não eram
antagônicos ao ambiente natural mas, ao invés,
que as práticas centralizadas dos estados socia-
listas modernos eram baseadas numa interpreta-
ção stalinista do comunismo (Grundmann, 1991;
McLaughlin, 1990; Raskin e Bernow, 1991). Con-
forme afirma Pepper (1993 : 109), "a dialética
sociedade-natureza [de Marx] parece ser, na rea-
lidade, profundamente orgânica (vendo as duas
como a composição de um corpo orgânico) e
monista (fenômeno físico e mental que pode ser
analisado em termos de uma realidade comum
subjacente)".
4. A primeira lei da termodinâmica é a lei da con-
servação, que postula que a quantidade total de
energia é constante, não é destruída ou criada,
mas transformada de um estado para outro (Stead
e Stead, 1992). A segunda lei é a da entropia,
que postula que quando a energia muda de esta
do, uma porção de energia utilizável é perdida.
Com relação aos sistemas vivos, existe o poten-
cial para a entropia negativa, mas a importação
de energia adicional pode prevenir o declínio e a
morte (Georgescu-Rogen, 1971).

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15
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA
INTERNACIONALIZAÇÃO À
GLOBALIZAÇÃO
BARBARA PARKER
I
Cresce o sentimento de que eventos enças que afligem humanos, animais e cul-
mundiais estão rapidamente convergindo turas são exportadas com produtos de con-
para delinear um mundo único, integrado, sumo. Esse exemplo ilustra que eventos po-
em que influências econômicas, sociais, cul- líticos e econômicos de escopo global tam-
turais, tecnológicas e dos negócios e tam- bém têm implicações culturais, políticas,
bém de outras naturezas atravessam fron- tecnológicas e humanas, e à medida que as
teiras tradicionais, como nações, culturas fortunas econômicas de indivíduos, organi-
nacionais, tempo, espaço e indústrias, com zações e nações estão conectadas entre si,
facilidade crescente. Essa dissolução de são criadas novas interdependências. Orga-
quaisquer fronteiras tradicionais tornou con- nizações não são simplesmente afetadas pela
fusas distinções que já foram mais claras. globalização: as atividades combinadas de
Atividades de negócios, por exemplo, são todos os tipos de organização estimulam,
conduzidas ou delineadas por organizações facilitam, sustentam e expandem a glo-
não empresariais, como as ONGs (organi- balização. Empresas de negócios, na busca
zações não governamentais). Essas ativida- por novos produtos e mercados, não distri-
des confundem as fronteiras entre setores, buem apenas produtos para os consumido-
antes mais claramente definidas. Recorrer
a pistas visuais ou verbais para distinguir
entre forma e conteúdo, entre homem e
mulher, entre o que é real e o que é virtual,
entre o que organizações podem fazer o que
elas devem fazer tornou-se mais difícil. As
implicações de tais mudanças são potenci-
almente revolucionárias, levando a mudan-
ças significativas e de amplo escopo em to-
das as esferas da vida, gerando novos desa-
fios e responsabilidades para todos os tipos
de organizações.

Tradução: Isabela Baleeiro Curado.


Revisão técnica: Carlos Osmar Bertero.
As demandas conceituais e práticas
para interpretar qualquer aspecto individu-
al de mudança global são enormes, e essas
demandas se multiplicam quando mudan-
ças rápidas e simultâneas ocorrem em vári-
os setores, interagem e mudam novamente.
Alterações econômicas globais reforçaram
o apoio político à Organização Mundial do
Comércio e às regras comerciais comuns no
mundo inteiro. Aparentemente simples, der-
rubar barreiras alfandegárias, que fazem
parte das tradições nacionais, obriga-nos a
quebrar outras barreiras. Práticas tradicio-
nais são retomadas como violações dos di-
reitos humanos; tradições culturais somam-
se aos insultos às políticas imigratórias; do-
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO A GLOBALIZAÇÃO

res, mas também idéias a respeito da cria- pressupostos culturais. A compreensão do


ção de riqueza; idéias de como as pessoas próprio eu (self)) com relação ao outro se
devem viver e trabalhar; ideologias sobre redefine (Rhinesmith, 1993). Alguns auto-
autoridade política e administrativa. Os res têm enfatizado a permeabilidade das
parâmetros de negócios no mundo global fronteiras entre organizações à medida que
não são controlados facilmente: uma cone- novas alianças são formadas; outros têm
xão telefônica com a Internet fornece dicas apontado as mudanças no interior das or-
sobre táticas guerrilheiras e pornografia in- ganizações à medida que fronteiras verti-
fantil com a mesma rapidez que fornece o cais de nível e posição vêm sendo achata-
último índice Dow-Jones; organizações das e ao passo que as fronteiras horizontais
mafiosas e cartéis de drogas operam numa de função e disciplina vêm sendo fundidas
arena mundial com a mesma habilidade da (Ashkenas et al., 1995).
Shell, da Imperial Chemical Industries ou Essas diferenças de definições não são
da Exxon. Negócios globais não se referem apenas semânticas. Elas moldam pressupos-
somente a negócios: existem efeitos cultu- tos sobre o que o outro está falando ou deve
rais, legais, políticos e sociais, assim como ter a permissão para falar, direcionando e
econômicos. limitando a exploração futura do que é a
O conhecimento desse fenômeno glo- globalização. Por exemplo, uma abordagem
bal pode ser descrito como evolucionário. sociológica da globalização representa esse
Como acadêmicos e profissionais, ainda sa- fenômeno como a compressão do mundo e
bemos muito pouco sobre a globalização. a intensificação da consciência de que o
Relatórios provenientes de pessoas de ne- mundo é um todo (Robertson, 1992 : 8).
gócios confirmam que a vida organizacional, Na literatura dos negócios, a globalização é
assim como a vida fora das organizações, habitualmente descrita como um conjunto
ocorre em um contexto crescentemente de mudanças nos padrões tradicionais de
globalizado. A maioria das pessoas concor- produção, investimentos e comércio inter-
daria, sem sombra de dúvida, que esse mun- nacionais (Dicken, 1992); ou como conver-
do global está tendo um efeito revolucioná- gência entre os interesses das empresas e
rio na vida e no trabalho; que a dissolução da sociedade (Brown, 1992; Renesch,
e a penetração de fronteiras de todo tipo 1992). Uma visão popular da globalização
criou tanto oportunidades quanto desafios é a ausência de fronteiras e barreiras para o
para organizações e para as pessoas envol- comércio entre as nações (Sera, 1992;
vidas nelas. Embora aqueles que gerenciam Ohmae, 1995).
organizações sob condições da globalização Essa conceituação da globalização
também reconheçam a multiplicidade, a como "ausência de fronteiras" nacionais
variedade e a complexidade dos temas as-
sociados à globalização, muitos estão tão
ocupados com a mudança que não têm con-
dições de documentá-la ou explicá-la. Con-
seqüentemente, descrições das práticas as-
sociadas a essas mudanças revolucionárias
são mais anedóticas do que organizadas.
Autores discordam sobre os impactos
da globalização: alguns argumentam que a
globalização é um fenômeno que nem me-
rece destaque (Farnham, 1994); outros acre-
ditam que a globalização já começou há al
gum tempo (Ohmae, 1985) e o desafio ago-
ra é simplesmente enfrentá-la (Henzel e
Rail, 1986). Não há consenso sobre o que a
globalização é ou significa. Somente nas
ciências sociais, Pieterse (1995) aponta que
o conceito de globalização dependerá da
ciência social que a estiver definindo. Alguns
autores analisaram a globalização como o
processo de romper fronteiras nacionais;
outros têm enfatizado seus efeitos sobre
conceitos tradicionais como tempo, espaço,
escopo, geografia, funções, pensamento,
PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

| 402 burocracia em suas diferentes formas está,


ou deveria estar, morta, existem evidências
pode levar alguns a concluir que a glo- que mostram que princípios burocráticos
balização está produzindo uma tendência hoje estão tão em vigência quanto no pas-
mundial de homogeneidade e uniformida- sado. Assumem, todavia, formas que lhes
de. Outros, porém, têm apontado que, com permitem coexistir com novos formatos
a dissolução das fronteiras, das barreiras, organizacionais, alguns deles claramente
com a compressão do mundo e a crescente não burocráticos. As diferentes possibilida-
interdependência, tornamo-nos mais cons- des de escolha envolvem estruturas e pro-
cientes das diferenças e da diversidade cul- cessos organizacionais mais complexos, hí-
turais (Kahn, 1995; Robertson, 1995): bridos, capazes de sobreviver e concorrer
uma conseqüência paradoxal do processo no mercado global. Mas isto requer uma
de globalização, da consciência da pesquisa mais sofisticada, que combine uma
finitude, visão integral dos sistemas em que a orga-
da condição humana e da vinculação da nização opera com um exame dos procedi-
humanidade a este planeta não é a produ- mentos dos sistemas internos da organiza-
ção de homogeneidade, mas o
ção (Earley e Singh, 1995 : 337). Essa pes-
aguçamento
das percepções de grande diversidade, quisa deve ser capaz de lidar com a comple-
que xidade da empresa global (veja Melin,
se expressa por meio de numerosas cultu- 1992).
ras locais (Robertson, 1995 : 86). Existe, portanto, a necessidade de vi-
são compreensiva e interdisciplinar da
Portanto, o apelo mundial de "pensar
globalização e de seus efeitos na vida do fi-
globalmente e agir localmente" e fazer par-
te da "vila global" é inibido pela tendência
de definir, descrever e imaginar a globa-
lização de diferentes formas.
Se estamos confusos com o significa-
do da globalização hoje, também estamos
perplexos com o que ela irá significar para
o futuro. Alguns observadores argumentam
que a diversidade doméstica e internacio-
nal promovida pela globalização será "a
máquina que direciona a energia criativa da
empresa do século XXI" (Rhinesmith,
1993 : 4). De acordo com este ponto de vis-
ta, a globalização criará oportunidades mun-
diais para o crescimento e o desenvolvimen-
to, expandindo as opções tanto para as or-
ganizações quanto para as pessoas no mun-
do todo; criar oportunidades de emprego
para milhares de pessoas carentes; ajudar a
formar infra-estrutura empreendedora em
países em desenvolvimento; contribuir para
o processo de democratização; e equacionar
a solução de problemas sociais em escala
global (por exemplo, Pieterse, 1995;
Cooperrider e Passmore, 1991; e Gergen,
1995). Outros, todavia, acreditam que a
globalização resultará na exploração de
mão-de-obra estrangeira, na redução das
opções para escolhas medíocres e pouco
atrativas como "McWord" e 'ílihad"; e na
destruição de recursos naturais e de cultu-
ras locais (Lavipour e Sauvant, 1976; Barber,
1992).
Portanto, não obstante a magnitude da
"revolução" global; não obstante as comple-
xidades, as incertezas e os rápidos coefi-
cientes de mudança; apesar do nível de
envolvimento das empresas com a globa-
lização e do nível que são afetadas por ela,
continua difícil, de uma perspectiva acadê-
mica, dizer o que está acontecendo e por
que está acontecendo. E é mais difícil ainda
saber que ferramentas e técnicas devem ser
utilizadas para gerenciar a empresa global,
exatamente porque a globalização possibi-
lita que organizações de qualquer porte e
tipo, e independentemente de sua localiza-
ção geográfica, participem em atividades de
negócio. Essas mudanças sugerem que teo-
rias correntes sobre mercados e organiza-
ções precisam ser reexaminadas e possivel-
mente revistas em face da globalização.
Enquanto vários autores proclamam que a
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 346

nal do século XX. Este capítulo estrutura essa o futuro. Essa seção começa examinando o
tarefa, olhando a natureza da globalização que é a globalização, fazendo uma referên-
no contexto de negócios, suas causas, no que cia particular ao mundo de negócios e mos-
consiste, como os negócios a direcionam e trando como a pesquisa tem evoluído. Na
como os negócios são afetadas por ela. Além seção seguinte, aborda-se a empresa global,
disso, o que pode significar, não somente argumentando que a empresa globalizada
para os negócios, mas também para todos se envolve em diferentes tipos de ativida-
aqueles que acordam num mundo global. A des, criando responsabilidades adicionais
primeira seção descreve como a pesquisa para as organizações, em comparação com
sobre negócios internacionais tem mudado as empresas internacionais. Em particular,
nos últimos 50 anos. A segunda discute as enfatizamos que as empresas operam num
características da empresa global, mostran- mundo com fronteiras mais permeáveis do
do como ela difere das empresas interna- que um mundo dividido em estados nacio-
cionais ou multinacionais. A terceira seção nais, espaços geográficos e culturais. Por
mostra como a globalização é um fenôme- outro lado, crescem igualmente as interco-
no que engloba muito mais que o empreen- nexões entre atividades empresariais e ou-
dimento global, envolvendo mudanças mui- tros tipos de atividade, tornando as frontei-
to mais fundamentais e amplamente basea- ras organizacionais também mais permeá-
das. Essa seção também explora como cin- veis.
co contextos em particular são afetados por O estudo acadêmico de negócios in-
essas mudanças: economia, política, cultu- ternacionais (NI) é um fenômeno recente,
ra, tecnologia e recursos naturais. Finalmen- iniciando-se com os estudos formais que
te, são abordadas as implicações da globa- surgiram depois da Segunda Guerra Mun-
lização para empresas e outras organizações. dial, com a crescente importância das ex-
No final, este capítulo faz mais per- portações e dos investimentos diretos exter-
guntas do que apresenta respostas. Em vez nos (IDE) norte-americanos na reconstru-
de documentar o que sabemos sobre a aná- ção e no desenvolvimento do mundo. Até
lise comparada de negócios internacionais, 1960, a maioria das pesquisas de NI busca-
apresentamos o que não sabemos sobre va explicações econômicas dos fluxos de tro-
globalização. O capítulo tenta esclarecer cas entre países, refletindo seu embasa-
algumas implicações profundas da globali- mento na teoria macroeconômica e enfa-
zação para todas as sociedades. Ao apontar tizando a teoria da vantagem comparativa
essas implicações e as tensões envolvidas, (Bartlett e Ghoshal, 1991; veja também
talvez estejamos preparando-nos para refor- Grosse e Behrman, 1992; Dunning, 1993).
mular nossa agenda de pesquisa.

O CAMINHO DE NEGÓCIOS
INTERNACIONAIS PARA
NEGÓCIOS GLOBAIS

Não existe ainda uma resposta clara


para a questão: o que é globalização? Desa-
fios globais tradicionalmente têm sido aque-
les que impactam o planeta e todos os seus
habitantes, pois virtualmente toda ativida
de humana está confinada às fronteiras bi-
ológicas e físicas da Terra (Stead e Stead,
1994 : 369). O ar e água foram identifica-
dos há muito tempo como pertencentes a
todas as pessoas, pois a população da Terra
depende igualmente desses recursos para
sua sobrevivência e todos são afetados pe-
las atividade que degradam ou alteram a
disponibilidade desses recursos comuns.
Hoje, preocupações com o uso de recursos
naturais estão associadas a outras preocu-
pações globais, que não são tão visíveis,
porém são tão importantes quanto estas para
347 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

A partir dos anos 60, o campo cresceu temas de comportamento organizacional de


e diversificou-se (Melin, 1992). Impul- uma perspectiva internacional ou de diver-
sionadora foi a tese de Hymer (1976), sidade cultural. Consistente com a defini-
publicada originalmente em 1960, sobre os ção dada por Nehrt et al., essas pesquisas
padrões de IDE desencadeados pela expan- de NI não incluíam estudos sobre desenvol-
são das empresas multinacionais (EMs) no vimento econômico, comércio internacional,
pós-guerra, o que levou a linhas de pesqui- ou o sistema monetário internacional (por-
sa diferentes, porém complementares, como que eles "pertenciam" a campos acadêmi-
o estudo da relação entre IDE e competição cos relacionados ao desenvolvimento eco-
oligopolista (por exemplo, Caves, 1971); da nômico e à economia internacional); ou
relação entre o ciclo de vida do produto e a ambientes sociais, políticos, econômicos e
internacionalização (por exemplo, Vernon, legais internacionais ( enquadrando-se no
1966); e, no final da década de 70, a exis- domínio do direito, da ciência política, da
tência e o comportamento de Ems que usam economia e das ciências comportamentais).
o trabalho sobre custos de transação de No mesmo período em que as pesqui-
Williamson (1975) (por exemplo, Buckley sas de NI foram emergindo, pesquisas de
e Casson, 1976; Rugman, 1980; Hennart, gerenciamento internacional (GI) também
1982; veja Bartlett e Ghoshal, 1991). Outra foram desenvolvendo-se, com um foco ad-
linha de pesquisa surgiu a partir da Escola ministrativo muito forte, seguindo o traba-
de Uppsala, estudando como as empresas lho de autores como Aharoni (1966), que
gradualmente aumentam seu envolvimento explorou o processo de IDE de uma pers-
internacional (por exemplo, Johanson e pectiva gerencialista; Fayerweather (1969)
Vahlne, 1977; veja também Melin, 1992). que discutiu a capacidade de resposta das
Na década de 70, um campo de NI, EMs às características culturais, políticas e
separado da economia, havia se estabeleci- econômicas de países individuais; e
do. Inicialmente, ele concentrou-se em:

atividades de negócios, no nível da empre-


Cross-cultural management, no original. (N.T.)
sa, que atravessam fronteiras nacionais ou
que sejam conduzidos em uma localiza-
ção diferente do país de origem da empre-
sa (esta atividade pode ser o movimento
de produtos, pessoas e conhecimento, ou
pode ser manufatura, extração, constru-
ção, serviços bancários, transporte, publi-
cidade e serviços similares). Secundaria-
mente, havia preocupação com os relacio-
namentos entre as operações da empresa
internacional e os ambientes
internacionais
ou estrangeiros em que a empresa opera-
va (Nehrt et al., 1970).

Durante esse período, o foco deslocou-


se da economia internacional para incluir a
empresa e os processos internacionais rela-
cionados à empresa, sintetizado no
paradigma eclético de IDE de Dunning
(1988), que incluiu variáveis exploratórias
de um padrão de IDE das EMs. Trabalhos
nesse campo em expansão foram publica-
dos em revistas recém fundadas. Dezenove
revistas foram fundadas na década de 70,
representando um aumento de 50% no nú-
mero de publicações. Outras 18 foram adi-
cionadas na década de 80 (Pierce e Garven,
1995). A importância crescente do comér-
cio e dos investimentos para as empresas e
a complexidade crescente de seus ambien-
tes de operação também tornaram possível
a publicação de pesquisas de NI em outros
tipos de revistas, apesar de seu impacto ain-
da ser limitado. A revisão das tendências de
publicações que tratam de administração
comparada em contextos culturais diferen-
tes,* realizada por Adler (1983), durante a
década de 70 mostrou que menos de 5%
dos artigos publicados nas revistas mais
importantes de administração abordavam
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 348 |i

Perlmutter (1969) que descreveu a evolu- nal, mais sofisticada e orientada para pro-
ção das estruturas de EMs. Stopford e Wells cessos, substituiu o trabalho de relaciona-
(1972), Franko (1976) e Dyas e Thanheiser mento entre estratégia e estrutura (por
(1976) ampliaram o trabalho de Chandler exemplo, Beamish et al., 1991; Melin,
(1962) sobre a relação estratégia/estrutura 1992), focando a necessidade de alcançar
para empresas internacionais. Outros auto- uma convergência maior entre estratégia,
res, como Prahalad, Doz, Bartlett e Hedlund, estrutura e sistemas (Ghoshal e Bartlett,
começaram a examinar as ações da 1995). Outros pesquisadores se ativeram às
gerência e dos processos estratégicos em abordagens de rede para entender os negó-
EMs (veja Bartlett e Ghoshal, 1991; Melin, cios internacionais (por exemplo, Hedlund,
1992). 1986); desenhar estratégias globais (por
A década de 70 também marcou uma exemplo, Kogut, 1989); alianças globais
mudança nos tipos de assuntos abordados (Hamel, 1991; Hedlund e Rolander, 1990);
pelos pesquisadores, à medida que países e aprendizagem (Bartlett e Ghoshal, 1989;
hospedeiros começaram a questionar a pos- Hamel, 1991).
tura etnocêntrica das EMs, e, em alguns ca- Muitas das pesquisas iniciais de NI
sos, a rejeitar seu papel (Robinson, 1981). manifestaram convicção na superioridade
O nacionalismo crescente e as preocupações norte-americana, expressa por Henry Luce
sobre o papel político das EMs levaram à quando chamou esse período de tempo de
nacionalização de alguns ramos e empre- "o século americano". As pesquisas eram
sas, e ao crescimento das regulamentações. caracterizadas por "pesquisadores america-
Ao mesmo tempo, aumentava a competição nos centrados por empresas americanas,
da Europa e do Japão. De acordo com esses perspectivas americanas, e por questões
movimentos, a pesquisa começou a exami- mais importantes para gerentes americanos"
nar os laços entre a empresa e seu ambien- (Boyacigiller e Adler, 1991 : 264). O suces-
te político; a análise política do risco e a so econômico e o reforço, tanto público
negociação representaram duas abordagens quanto acadêmico, confirmaram, sem ne-
para entender o ambiente político de negó- nhuma dúvida, a impressão de superiorida-
cios internacionais (por exemplo, Moran, de das formas burocráticas de geren-
1973; 1974; Rummel e Heenan, 1978). As ciamento como as desenvolvidas pelas em-
análises de estratégica competitiva direcio- presas americanas, uma impressão aborda-
navam-se para as relações entre as condi- da por Robinson (1971) em seu discurso
ções da indústria e as organizações (por para a Associação para a Educação em Ne-
exemplo, Porter, 1980; 1985). A importân-
cia crescente da sensibilidade cultural para
o sucesso das empresas internacionais foi
demonstrada pelos estudos comparativos de
culturas nacionais realizados por Hofstede
(1980; 1983) e pela análise de agrupamen-
to de países com base nos valores de traba-
lho e nas atitudes realizadas por Ronen e
Shenkar (1985). À medida que muitos dos
novos poderosos competidores eram empre-
sas japonesas, desenvolveu-se também um
interesse por estudos de empresas japone-
sas e de técnicas japonesas de administra-
ção, principalmente conceitos de qualidade
total e suas implicações para empresas não
japonesas (Reitsperger e Daniel, 1990). As
estruturas sugeridas por Stopford e Wells
(1972) foram exploradas visando identifi-
car formas estruturais apropriadas para di-
versas estratégias multinacionais (Daniel et
al., 1984) ou para incluir fatores contin-
genciais na análise das escolhas das EMs
(Lemak e Bracker, 1988). O interesse nas
formas estruturais e nos mecanismos for-
mais de controles, da década de 70, muda-
ram para formas menos formais de coorde-
nação (Melin, 1992; veja Martinez e Jarillo,
1989). Uma visão de estratégia internacio-
349PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

gócios Internacionais.* Não obstante algu- de e a confusão relacionadas à empresa glo-


bal.
mas mudanças, a pesquisa de NI continua a
ser produzida primordialmente por acadê-
micos norte-americanos (Pierce e Garvein,
1995), focando um grupo pequeno de paí- A EMPRESA GLOBAL
ses e, explicita ou implicitamente, reforçan-
do as práticas ocidentais de administração A empresa global ainda não foi bem
como uma norma (Boyacigiller e Adler, definida. Tem havido ênfase muito grande
1991). Uma revisão dos 25 anos do Journal nas pesquisas em grandes organizações, e
of International Business Studies revelou que grandes organizações têm sido atores im-
os estudos publicados examinaram princi- portantes na internacionalização, assim
palmente as nações do G-7 com um total de como na globalização. Qualquer desse fa-
40% destacando os Estados Unidos (Thomas tos pode levar à conclusão de que a globa-
et al, 1994). lização afeta somente grandes organizações
As pesquisas de NI também têm-se originadas em países desenvolvidos. Essa
desenvolvido ao longo de linhas disciplina- seção mostrará como o uso inconsistente do
res. Inicialmente vários acadêmicos famo- termo global tem levado a essa concepção
sos que se ocupavam do tema estavam errônea. Definir-se-á a empresa global e
lotados nos departamentos acadêmicos exis- identificar-se-ão as competências essenciais
tentes, quase sempre representando áreas mais importantes para o sucesso e a sobre-
funcionais da administração. Atualmente, vivência num mundo em processo de glo-
não obstante haja vários departamentos de balização. Isto permitirá que se perceba que
negócios internacionais, a pesquisa de NI a capacidade de envolver-se em atividades
continua sendo orientada funcionalmente globais não está confinada a grandes orga-
(Inkpen e Beamish, 1994). Melin (1992)
identifica sete áreas distintas de NI cons-
truídas sobre linhas disciplinares relativa-
mente estritas, incluindo finanças, geren-
ciamento em contextos culturais diversos,
gestão de recursos humanos e investimen-
tos diretos no estrangeiro. Para completar,
pesquisas sobre negócios internacionais têm
sido vistas, com freqüência, como periféri-
cas e pouco importantes em relação às pes-
quisas "centrais" (mainstream) das respec-
tivas disciplinas (Thomas et al., 1994).
A base disciplinar e a orientação oci-
dental que continuam a caracterizar muitas
das pesquisas no campo dos NI dificultam a
pesquisa e o ensino num âmbito efetivamen-
te internacional. Adicionalmente, a expe-
riência de globalização apresenta novos de-
safios, que também devem ser respondidos

Association for Education in International


Business. (N.T.)
pela pesquisa. Um desses desafios está rela-
cionado à complexidade da empresa global:
uma fraqueza na compreensão dos proces-
sos fez com os pesquisadores tivessem difi-
culdades em explicar e documentar as prá-
ticas novas e diferentes que têm surgido
nessas organizações (Melin, 1992). Como
as organizações autônomas estão evoluin-
do em direção a redes globais complexas,
manter a organização enquanto unidade de
análise deixou de ser a abordagem mais
adequada. Diante das complexidades de um
aprendizado difuso numa empresa disper-
sa espacialmente e culturalmente diversa, o
foco na estrutura formal e na coordenação
não parece adequado. Quando a dificulda-
de em conduzir uma estratégia global au-
menta, manifesta-se a necessidade de exa-
minar mais detidamente a relação entre es-
trutura, estratégia, sistemas e processos e o
meio ambiente (veja Bartlett e Ghoshal,
1991; Melin, 1992). A seção seguinte exa-
mina, em maiores detalhes, a complexida-
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO

vação. Portanto, de acordo com esses e ou-


tros autores (Adler e Bartholomew, 1992),
nizações. Vários tipos de organizações es- é a empresa transnacional, que não se ba-
tão se "tornando globais" e enfrentando seou em evidência empírica, que oferece a
desafios similares. solução para os problemas complexos da
A empresa global está associada a ati- globalização. Em outros lugares, porém,
vidades diferentes e adota atitudes igual- corporações transnacionais são vistas como
mente diferentes de sua predecessora mais sinônimos de empresas multinacionais
limitada, a empresa internacional. (Daniels e Radebaugh, 1992 : G-21) ou sim-
A internacionalização implica a ex- plesmente como aquelas que vêem o mun-
pansão de interfaces entre a empresa e as do como um mercado único (Ohmae, 1989).
nações, às vezes levando à invasão ou do- Companhias globais também foram
minação política. Na internacionalização definidas como aquelas com estratégias glo-
dos negócios, portanto, a nacionalidade bais, em que economias de escala são reali-
está presente na consciência das pessoas, zadas por meio de integração e padroniza-
significando o fluxo de negócios, bens ou ção mundiais (Hout et al., 1982; Levitt,
capitais de um país para outro. Globa- 1983; Bartlett e Goshal, 1989). Na Ford, a
lização, em contraste, vê o mundo todo
integração de grupos de desenho do mun-
sem nações ou fronteiras. Bens, capitais e
do todo em combinação com uma rees-
pessoas devem mover-se livremente
(Sera, truturação levou à produção de um "carro
1992 : 89). mundial" capaz de aproveitar as economias
de escala e ganhar para a Ford a alcunha de
A empresa internacional é aquela cujas uma companhia global (Kerwin, 1995). Po-
atividades atravessam fronteiras nacionais rém, como Yip (1995) observa, estratégia
(Ball e McCullough, 1990), ou que está en- global não é necessariamente sinônimo de
volvida em negócios em dois ou mais países empresa global, uma vez que a última pode
(Daniels e Radebaugh, 1992). Segundo sustentar um padrão integrado para uma
Hordes et al., (1995) seu escritório central linha de negócios e responder localmente
está, na maioria das vezes, baseado num em outras. Isto sugere que a empresa glo-
único país, porém ela pode estabelecer ope-
rações parciais ou completas em outros. Sua
cultura e sua estrutura organizacional são
consistentes com as práticas e normas do
país de origem. Adota tecnologias e proces-
sos padronizados em todas as suas opera-
ções, não importando onde elas estejam lo-
calizadas, e baseia-se em políticas similares,
especialmente de recursos humanos, no
mundo todo.
Embora haja um consenso de que a
empresa global se diferencia da empresa
internacional, a natureza exata da diferen-
ça é muito menos clara para os executivos e
praticantes envolvidos (Leong e Tan, 1993).
A pesquisa tem tendido a produzir defini-
ções diferentes e freqüentemente confusas.
Por exemplo, Bartlett e Ghoshal (1989) di-
ferenciam a organização internacional, que
é uma federação coordenada na qual a em-
presa mãe transfere conhecimento e habili-
407 |

dade para mercados estrangeiros; a organi-


zação multinacional, que é uma "federação
descentralizada de ativos e responsabilida-
des" (1989 : 49) que permite que as opera-
ções estrangeiras respondam às diferenças
locais; e a organização global, que é um eixo
centralizado em que a maioria dos ativos e
das decisões é centralizada. Bartlett e
Ghoshal (1989) descobriram evidências
empíricas para os três tipos, porém susten-
taram que cada tipo encontrou problemas
com a globalização. Eles propuseram uma
forma ideal chamada de organização
transnacional, uma rede integrada em que
eficiência é contrabalançada com capacida-
de de responder localmente para obter
competitividade e flexibilidade numa orga-
nização dedicada à aprendizagem e à ino-
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 351

bal pode ser mais ou menos global, depen- total de investimentos diretos das nações
dendo da quantidade de seus negócios com desenvolvidas européias, $ 40 bilhões (15%)
presença no mundo todo. Esforços para do total dos investimentos diretos exterio-
equilibrar mundialmente as demandas para res do Japão, e $ 15 bilhões em IDE (3%)
posicionar produtos e serviços também já do total dos IDE realizados pelos Estados
foram chamados de estratégia global Unidos. Olhando por outro prisma, cerca de
(Hamel e Prahalad, 1985), não obstante Yip 28% das PMEs americanas têm algum in-
(1995 : 8) a tenha descrito essa abordagem vestimento direto externo, porém cerca de
como multifocal* e Phatak (1992) e 60% das empresas japonesas do mesmo ta-
Ashkenas et al. (1995) a tenham chamado manho participam de alguma forma de in-
de glocal.** vestimentos no exterior, mesmo sem ser
Resumindo, usos diferentes da pala- majoritários (Bleakley, 1993). Empresas fa-
vra global podem estar diluindo qualquer miliares das Américas do Sul e Central, de
significado específico que ela possa ter para Portugal, Espanha, Ásia e índia também es-
descrever uma estratégia (Yip, 1995 : 8). tão procurando o crescimento global. Kim
Essas diferenças são um legado da percep- Woo-choong, fundador da Daewoo, afirma
ção crescente das mudanças - complexas e que o objetivo da empresa "é tornar-se uma
freqüentemente intratáveis - que estão acon- companhia sem fronteiras" (Forbes, 1995).
tecendo no mundo, que enfatizam uma co- A influência crescente de chineses e india-
ordenação interna das funções da empresa nos que emigraram de seus países demons-
e geram uma percepção maior da necessi- tra que existe mais de um modelo de em-
dade de analisar os eventos mundiais. Para- presa familiar. Como um grupo, os chineses
doxalmente, enquanto as definições variam, fora da China geram um resultado econô-
as pesquisas continuam voltadas para as mico estimado em 500 bilhões de dólares,
maiores empresas mundiais. Abertura de comparável ao produto nacional bruto da
capital e tamanho fazem com que as 37.000 China em 1993. A maioria dos bilionários
maiores MNs sejam identificáveis. O con- do sudeste asiático são chineses étnicos que
trole de mais de 206.000 subsidiárias no vivem fora da China. E, acredita-se que es-
mundo todo e ativos que atingem trilhões
de dólares salienta sua contribuição para o
crescimento econômico e para o desenvol-
vimento no mundo. As maiores 100 MNs
do mundo (sem incluir aquelas que atuam
em bancos e finanças) tinham mais de 3
trilhões de dólares em ativos globais em
1992 (United Nations, 1994a : 5). Elas in-
cluem empresas como Daimler Benz,
Hanson, Glaxo, McDonalds's, Siemens, Saint
Gobain, Sony, Itochu, Amoco, Michelin e
Grand Met; todas com bases em países eco-
nomicamente desenvolvidos. São essas or-
ganizações que normalmente são conside-
radas "globais".

Multinacional + local. (N.T.)


Global+local. (N.T.)
Empresas de vários outros tipos tam-
bém podem ser consideradas globais. Vá-
rias empresas de pequeno e médio porte
(PME) estão deixando de ser apenas nacio-
nais para se tornarem globais (Bannon,
1994; Business Week 1995a; Shrivastava,
1995). Empresas de pequeno e médio porte
estão tendo um papel cada vez mais impor-
tante nas exportações globais, e, em 1995,
esperava-se que, pela primeira vez, as pe-
quenas empresas norte-americanas expor-
tariam mais do que as grandes (Barrett,
1995). Empresas de pequeno e médio porte
também aumentam sua importância ao in-
vestir fora de seus países. Exemplos dos pa-
íses desenvolvidos mostram que, em 1992,
o IDE (Investimento Direto Externo) das
empresas de pequeno e médio porte contri-
buiu com $ 43 bilhões ou cerca de 7,5% do
352 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

ses empresários de origem chinesa são res- deradas globais, porque procuram estabe-
ponsáveis por apenas uma porção da rique- lecer uma presença mundial na maioria ou
za crescente dos chineses no mundo todo, em todas as suas linhas de produtos. Gran-
especialmente no Sudeste asiático (Drucker, des ou pequenas, essas empresas enfrentam
1994). Empresas como essas, com proprie- o mesmo desafio gerencial: criar processos
tários independentes ou controladas por e estruturas gerais na organização que
grandes "famílias", contribuem para a di- apoiem seu comprometimento global. Gran-
versidade de práticas gerenciais e objetivos des empresas como Nestlé e Unilever tam-
de negócios na esfera global, porém se sabe bém têm uma presença global significativa,
muito pouco sobre elas. apesar de não atuarem globalmente em to-
Alianças entre governos e empresas, das as linhas, da mesma forma que os pro-
assim como negócios estabelecidos por ini- dutores de frutas independentes do Estado
ciativas globais (Oviatt e McDougall, 1995), de Washington freqüentemente vendem
são partes do crescimento global dos negó- mundialmente uma linha de produtos, mas
cios, e muitos que haviam sido banidos pela não todas. Essas empresas também enfren-
expansão das grandes empresas estão per- tam o desafio mundial de criar processos e
cebendo a possibilidade de se tornar parte estruturas capazes de alcançar o equilíbrio,
do cenário global de negócios (Hymowitz, evitando que se criem interesses confli-
1995). Organizações sem fins lucrativos tantes.
contribuem crescentemente para as ativida- Esses exemplos demonstram que or-
des econômicas, assim como organizações ganizações de qualquer tamanho podem
não governamentais (Commission on Glo- estabelecer uma presença global e podem
bal Governance, 1995). Finalmente, gan- ser pensadas como empresas globais, e tam-
gues globais, piratas, senhores da guerra bém mostram que estabelecer presença
(warlords) e outros da mesma laia também num, em vários ou em todos os negócios
povoam as terras dos negócios globais. À cria desafios únicos para líderes organi-
medida que mercados globais são caracte- zacionais. Podemos, portanto, pensar em
rizados por esses competidores múltiplos de "global" como uma visão mundial de mer-
diferentes tamanhos e formas que operam cados de negócios, usando descritores como
com motivos competitivos diferentes, geren- "multilocal" para nos referirmos a estraté-
ciamento global pode ser considerado mais gias que as empresas empregam quando
complexo e menos seguro do que o geren- combinam padrões mundiais com capacida-
ciamento quando competidores tinham o de de resposta local, ou "padronização mun-
mesmo tamanho e motivações semelhantes.
Este capítulo sustenta que a globa-
lização não está confinada a grandes orga-
nizações, podendo ser encontrada "virtual-
mente em qualquer indústria" (Yip, 1995),
sendo difícil uma empresa permanecer to-
talmente indiferente às condições globais.
Embora virtualmente todas as organizações
possam ser afetadas pela globalização dos
negócios e todas as empresas crescente-
mente operem numa esfera de negócios glo-
bais, não se pode, todavia, afirmar que toda
empresa é uma empresa global. Empresas
globais geralmente podem ser descritas
como as que mantêm uma presença mundi-
al em um ou mais negócios. Empresas como
Pepsi Cola, CNN ("a rede global de notí-
cias") e Benetton podem ser identificadas
como empresas globais porque estabelecem
uma presença global em virtualmente todos
os seus negócios. Apesar de serem meno-
res, empresas como Britain's R. Griggs (fa-
bricante das botas Doc Martens), Israel's
Vocal Tech (que desenvolveu o programa
que facilita ligações à distância na Internet),
ou Netherland's Digicash (que desenvolveu
o equivalente digital de dinheiro para com-
pras eletrônicas) também podem ser consi-
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 353

dial" para nos referirmos à integração e pa- ganhadores, perdedores e sobreviventes"


dronização de produtos e serviços mun- (Bartlett e Ghoshal, 1989 : 12). Empresas
dialmente. Para empresas com uma presen- globais freqüentemente adotam abordagens
ça global, qualquer dessas estratégias pode não convencionais, desenvolvendo "uma
ser uma medida do nível de globalização inovação estratégica para mudar as regras
da empresa. do jogo competitivo em sua indústria" (Hout
A empresa global também pode ser et al., 1982 : 100).
descrita de acordo com suas habilidades de A empresa global, portanto, organiza-
transcender três tipos de fronteiras existen- se com base em linhas diferentes das em-
tes. Primeiro, empresas globais atravessam presas internacionais - internamente foca-
fronteiras externas das nações (Ohmae, das - das décadas de 1960 e 1970, e até das
1995), espaço e tempo, ou responsabilida- empresas multinacionais - responsáveis por
des (Brown, 1992), que são, de certa for- um número limitado de desafios políticos,
ma, mensuráveis. Segundo, fronteiras me- competitivos e culturais da década de 1970
nos tangíveis como cultura, pensamento, ou e do início da década de 1980. A empresa
o relacionamento entre a organização e os global desenvolve uma presença mundial;
outros (Rhinesmith, 1993) também devem ela não hesita em cruzar fronteiras tradi-
ser cruzadas para alcançar as oportunida- cionais, sejam fronteiras nacionais ou pen-
des globais. Terceiro, algumas fronteiras samentos nacionalistas. E capaz de repen-
internas às organizações globais também sar suas atividades, visando integrar pers-
devem ser cruzadas, incluindo barreiras ver- pectivas mundiais e capitalizar tanto global-
ticais e horizontais (Ashkenas et al., 1995), mente quanto localmente, removendo bar-
as relacionadas à tarefa ou à posição reiras internas que impeçam sua habilidade
(Ghoshal e Bartlett, 1995), e mesmo bar- de alavancar conhecimento e diversidade
reiras mais amorfas como as atitudes. A para sustentar uma posição global. A im-
importância de romper fronteiras entre de-
partamentos, mudar o gerenciamento de
hierárquico para contratual e partilhar va-
lores para o sucesso da atividade global foi
percebida há muito tempo por Stopford e
Wells (1972) e Franko (1976), embora na
época, como apontado por Melin (1992),
essas observações não foram abordadas por
pesquisadores. Mais recentemente, elas têm
sido exploradas no contexto das redes glo-
bais, alianças globais e aprendizagem glo-
bal (por exemplo, Hedlund, 1986; Hedlund
e Rolander, 1990; Hamel, 1991).
Até agora, a empresa global tem sido
definida como a que estabelece uma pre-
sença mundial em um ou mais negócios, que
adota uma estratégia mundial e que é ca-
paz de atravessar fronteiras externas e in-
ternas. Mostramos que empresas de qual-
quer tamanho podem ser definidas como
empresas globais e sugerimos que todas
enfrentam desafios significativos e distintos.
Hordes et al. (1995) descrevem o que uma
empresa global organizada em função de
poucos valores centrais. Não obstante um
escritório central, é freqüentemente geren-
ciada por uma equipe que opera em diver-
sas localidades; adota uma cultura orga-
nizacional que valoriza a diversidade; com
exceção de poucas políticas gerais, seus pro-
cessos, políticas e tecnologias tendem à di-
versidade. Uma combinação de missão, vi-
são, educação e treinamento combina-se
com ênfase em processo de cultura orga-
nizacional global (Evans et al., 1990). Co-
nhecimento (D'Aveni, 1995; Senge, 1990)
e diversidade de pessoas, processos ou es-
truturas (Hoecklin, 1995, Rhinesmith, 1993,
Trompenaars, 1994) são essenciais para sus-
tentar a flexibilidade e ajustar-se rapidamen-
te às oportunidades e ameaças em um mun-
do que se globaliza rapidamente. "A habili-
dade de agrupar e alavancar conhecimento
é cada vez mais um fator que diferencia
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 354

portância dessas fronteiras internas e exter- cidos de New York, Tóquio e Londres para
nas pode variar em função do tamanho, in- países como Egito, Namíbia, China, Quênia,
dústria e outros fatores e cada empresa pode Hungria e Bermudas, para citar apenas al-
priorizá-las de forma diferente. Por exem- guns.
plo, uma empresa iniciante numa indústria Enquanto a economia global oferece
dependente da Internet pode priorizar oportunidades, ela também produz desafi-
tecnologia do conhecimento, enquanto uma os crescentes. Atualmente, os bancos cen-
empresa já estabelecida pode sentir uma trais precisam encarar a força dos negocia-
necessidade maior em quebrar as barreiras dores independentes, que movimentam
internas à diversidade para alavancar o co- mais de US$ 1 trilhão por dia. Esforços rea-
nhecimento. Nesse contexto, é importante lizados pelos bancos centrais dos Estados
perceber que a diversidade é representada Unidos, Japão e Alemanha para manter o
não apenas pelas diferenças visíveis, como dólar derramaram US$ 30 bilhões nos mer-
gênero e etnicidade, mas também pelas di- cados globais entre janeiro e maio de 1995.
ferenças em níveis, alocações funcionais ou Não obstante isso, o dólar desvalorizou-se
papéis. Enquanto existe um debate consi- 17% com relação ao iene e 11% com rela-
derável e diferenças de opiniões em relação ção ao marco alemão (Sesit, 1995), provan-
à organização global, parece claro que tal do que provavelmente são os especuladores
atividade não está confinada simplesmente que desempenham papel dominante nos
a grandes organizações com presença física mercados de câmbio (Millman, 1995). En-
em diferentes países, mas também inclui quanto Millman (1995) acredita que esses
configurações mais flexíveis que permitem negociadores disciplinam o mercado finan-
às organizações menores beneficiarem-se ceiro global, outros sugerem que eles ame-
das oportunidades globais. açam a ordem econômica mundial, dificul-
tando as ações governamentais para defen-
der o interesse público (Solomon 1995).
Como disse um alto funcionário canadense,
GLOBALIZAÇÃO: UM FENÔMENO EM participando de uma reunião do G-7 em
EXPANSÃO 1994: "Com um trilhão de dólares fluindo
pelos mercados financeiros diariamente, há
Não obstante a globalização seja diri- pouco que os governos possam fazer, com
gida e delineada com base em atividades de exceção de parar o movimento por um dia,
negócios, ela estende-se além das frontei-
ras individuais e das organizações globais,
não importando o quão amplamente sejam
definidas. Globalização é um fenômeno em
expansão, e o interesse pelo fenômeno não
pode estar confinado somente às atividades
de negócios. Nessa seção, o interesse expan-
de-se para cinco arenas, incluindo econo-
mia, política, cultura, tecnologia e recursos
naturais. Separá-las é um processo artifi-
cial, uma vez que interagem naturalmente
e sinergicamente, porém separá-las esclare-
ce os conteúdos e proporciona uma forma
de ilustrar tensões nacionais e organiza-
cionais resultantes da globalização.
Economia global

A economia global está crescendo, com


a perspectiva de o Produto Interno Bruto
mundial crescer de US$ 26 trilhões em 1994
para US$ 48 trilhões em 2010 (Richman,
1995). Fundos podem ser transferidos no
mundo todo eletronicamente e instantane-
amente por meio da tecnologia da informa-
ção. Em 1995, só o Citibank transferiu ele-
tronicamente mais de US$ 500 bilhões por
dia. O mercado de capitais não fecha, pois
as bolsas de valores estão espalhadas pelo
mundo. Na última década, mercados de ca-
pitais expandiram-se dos centros estabele-
355 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

uma hora - ou talvez por apenas dez minu- da dos que vivem fora da lei, tanto de paí-
tos" (Gumbel e Davis, 1994). ses como da comunidade internacional. Pun-
Os mercados de capitais, antes domi- guistas navegam pela Internet, em busca do
nados pelos bancos, estão cada vez mais equivalente eletrônico de uma porta aberta
dominados por fundos de pensão e hedge- ou de um cofre desguarnecido. Organiza-
funds baseados nos Estados Unidos e que ções do tipo da Máfia, gangues, piratas e
controlam cerca de US$ 3 trilhões em ati- cartéis de drogas também emergiram à pro-
vos. A busca global desses investimentos por cura de um território no fértil reino econô-
retornos crescentes cria dinheiro "quente" mico das negócios mundiais, e são respon-
que financiam crescimento econômico rá- sáveis por negócios no mercado ilegal de
pido, cria empregos e traz estabilidade po- drogas, estimado pela Interpol em US$ 400
lítica, mas tais investimentos podem retirar- bilhões; providenciam papéis ilegais para
se com a mesma facilidade em busca de pessoas interessadas no mercado de traba-
maiores retornos noutros lugares (Kwan, lho, ou respondem pela demanda global
1991). O capital privado está provendo as crescente por todos os tipos de produtos e
necessidades de capital que deveriam vir de serviços ilícitos.
instituições como o Banco Mundial e o FMI, A atividade econômica crescente as-
resultando em questionamentos sobre a vi- sociada à globalização direciona a atenção
abilidade desse tipo de instituição financei- para premissas econômicas nunca questio-
ra no atual cenário mundial (Bello e nadas. Fica mais difícil ignorar atividades
Cunningham, 1994; Owen, 1994). econômicas realizadas informalmente, uma
A globalização crescente da atividade vez que o trabalho não pago, no mundo,
econômica também está levando mais or- tem um valor não contabilizado de US$ 16
ganizações para o mercado, estimulando trilhões, sendo que US$ 11 trilhões são ge-
negócios e dispersando a produção pelo
mundo (Dicken, 1992). No passado, os pa-
íses industrializados eram as maiores fon-
tes de crescimento econômico mundial. Hoje
esse crescimento também provém de "flu-
xos reversos" com o mundo em desenvolvi-
mento, com a transferência de investimen-
tos diretos dos países em desenvolvimento
para os países desenvolvidos. Enquanto a
América do Norte, Europa e Japão foram
responsáveis por aproximadamente 65% do
PIB mundial em 1993, essa figuras deverão
cair para 55% até 2010, com o desenvolvi-
mento da China e de países na Ásia e Amé-
rica do Sul (World Bank, 1995). Na última
década, empresas provenientes de países
recém-industrializados, como Coréia do Sul,
Taiwan, Tailândia e Cingapura, aumentaram
seu papel na economia global, de 4% na
década de 1960 para 25% na década de
1990 (Farrell, 1994). Além do mais, a velo-
cidade do desenvolvimento está crescendo.
A Inglaterra levou 58 anos para dobrar sua
renda per capita a partir de 1789. Come-
çando a contagem em 1839 os Estados Uni-
dos levaram47 anos. O Japão levou 34 anos
a partir de 1885; a Coréia do Sul 11 anos a
partir de 1966; e ainda mais recentemente,
a China dobrou sua renda per capita em
menos de 10 anos (The Economist, 1994).
Dessa forma, enquanto a economia global
tem a capacidade de corrigir desequilíbrios
econômicos entre o mundo desenvolvido e
o mundo em desenvolvimento, isto não se
faz sem um custo. Países recém industriali-
zados tiveram que aprender, em pouco tem-
po, o que países como a Inglaterra ou os
Estados Unidos levaram mais de um século.
O crescimento econômico pune a humanidade
com eventos como o trabalho infantil, locais de
trabalho perigosos e degradação ambiental.
É importante notar que dessa arena
global não participam unicamente aqueles
que desfrutam de legitimidade, estão den-
tro da lei e são respeitáveis. O acesso mais
livre à arena global também facilita a entra-
356 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

rados por mulheres (Nações Unidas, 1995). reduzem a autonomia nacional por meio de
Premissas sobre interesses próprios também arranjos especiais, como zonas francas aber-
necessitam ser reexaminadas com base na tas e cidades estados no interior de nações;
evidência que mostra que nos Estados Uni- alianças de produtores como a OPEC; ali-
dos se espera que a pessoa ou organização anças regionais como UE, ASEAN,
individual seja ator com interesses pró- MERCOSUL e NAFTA; ou alianças mundi-
prios, enquanto no Japão a motivação dá- ais como GATT e seu sucessor a OMC (Or-
se com base nos interesses da economia na- ganização Mundial do Comércio) e a APEC.
cional, enquanto na Europa Ocidental, a Esses grupos não reduzem somente as
qualidade de vida é valorizada (Hampden- barreiras comerciais, mas também a auto-
Turner e Trompenaars, 1993; Sharp, 1992). nomia nacional. A OMC promete introduzir
Embora indicadores como Produto Interno um conjunto de regras comerciais mundi-
Bruto (PIB) já tenham sido considerados pa- ais comuns. Diferentemente do Gatt, que
drões quase universais do desenvolvimento privilegiava os países maiores, a OMC pro-
econômico de uma nação, a aplicação des- mete uma atuação mais equilibrada, bene-
se indicador está se tornando cada vez mais ficiando, mais do que no passado, países
suspeita num mundo global. O PIB não pode menores (Wall Street Journal, 1995d) e en-
ser ajustado a custos de vida diferentes, a corajando mais países a participar (Becker,
diferenças entre ricos e pobres na mesma 1994), o que irá, por sua vez, gerar amar-
nação, ou a fatores intangíveis que contri- ras adicionais aos países já acostumados li-
buem para a qualidade de vida (Ibbotson e berdades maiores. O processo de nivela-
Brinson, 1993). mento não vem sem custos. Depois do pra-
Uma economia globalizada requer um zo de 10 anos concedido pela OMC, a Afri-
reexame de várias premissas a respeito de ca Meridional Subsaariana vai sofrer uma
riqueza: se a economia mundial deve ser perda líquida em sua balança comercial de
entendida como um jogo de soma zero (em US$ 2,6 bilhões por ano, principalmente por
que o ganho de uns significa necessariamen- causa do aumento do custo da importação
te perdas de outros); como recursos devem de comida devido à redução de subsídios à
ser alocados com justiça, considerando sis- agricultura nos países desenvolvidos. Em-
temas de mercado diferentes; qual trabalho bora o aumento dos preços da comida im-
e o trabalho de quem deve ser considerado portada nos países africanos possa ser re-
fator de produção e mesmo como avaliar os solvido com o aumento na ajuda externa e
próprios critérios da economia. Embora a
globalização econômica possa criar conver-
gência entre interesses próprios e interes-
ses coletivos ou comunitários (Naisbitt,
1994), economias com interesses próprios
não operam em um vácuo, mas são molda-
das pelas políticas globais (Sorenson, 1995)
e outros fatores nacionais, regionais e glo-
bais.

Políticas globais
A esfera política está envolvida numa
tensão entre autonomia e dependência à
medida que governos nacionais tentam des-
montar as barreiras ao comércio mundial.
O economista Robert Reich (1991) enfatiza
que a globalização vai fazer com que líde-
res de negócios comecem a se ver cada vez
menos como atores autônomos e cada vez
mais como participantes totalmente conec-
tados uns aos outros em indústrias globais,
além de reduzir a autonomia nacional. A
medida que a destruição de fronteiras au-
menta as oportunidades, ela também cria
dependências que restringem a autonomia.
Buscando ganhos econômicos, poucos reco-
nhecem que acordos de troca bilaterais,
multilaterais e unilaterais necessariamente
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 357 [

as reduções de subsídios aliviem a situação (MacEwen, 1994). Portanto, com o aumen-


nos países desenvolvidos, a ocorrência sin- to do poder econômico e social das empre-
cronizada dessas medidas não pode ser tida sas, algumas centenas de corporações tor-
como certa. Países desenvolvidos também nar-se-ão impérios mundiais no século XXI,
encaram desafios na forma de perda de reunindo recursos suficientes para se tor-
empregos para trabalho mais barato em narem governos efetivos, embora ocultos
outros lugares, e a possível queda nos pa- (Barnet e Cavanagh); ou, ainda, à medida
drões de vida se os salários globais caírem que empresas vão exercendo de maneira
em função da oferta mundial em vez de su- crescente seu poder, surgirá uma nova for-
birem para se equiparem aos padrões atu- ma de imperialismo, à medida que organi-
ais (World Bank Policy Research Bulletin, zações econômicas mais poderosas utilizem
1995). seu peso para obter concessões e subjugar
Outro tema global que afeta a arena organizações mais fracas (Wanniski, 1995).
política relaciona-se a mudança nas respon- Ao mesmo tempo que acordos de co-
sabilidades do governo: privatizações no mércio globais reduzem o papel dos gover-
mundo todo transferiram para o setor pri- nos nacionais nos assuntos globais, podem
vado prisões, transporte e projetos de infra- liberar recursos que os governos podem uti-
estrutura que anteriormente eram geren- lizar para o desenvolvimento da nação. Por-
ciados e controlados pelos governos. Na tanto, há evidências de que a globalização
América do Norte, a erosão na confiança do não excluirá completamente os estados na-
Estado Previdência (Welfare State) e a per- cionais, mas criará condições para que se
cepção das ineficiências das empresas esta- transformem. Os recursos naturais poupa-
tais têm favorecido as privatizações. Na dos pela necessidade decrescente de moni-
Europa Ocidental, políticas governamentais torar e reforçar as regras comerciais globais
têm enfatizado a privatização extensiva, podem fornecer oportunidades para políti-
particularmente na Inglaterra. Em partes do cos redirecionarem recursos para educação,
mundo desenvolvido, a inabilidade do go-
verno em atender às necessidades de pro-
dutos e serviços levou à privatização. O vo-
lume de privatizações tem sido maior na
Europa Ocidental, vindo a seguir a Ásia
Oriental e, depois, a Europa Oriental e a
América Latina, e as vendas de empresas es-
tatais aumentou drasticamente de um pou-
co menos de US$ 20 bilhões em 1994 para
um pouco menos de US$ 70 bilhões em 1994
(Wall Street Journal, 1995c). Na Europa
Oriental, o fim do comunismo e da guerra
fria levou à redução da influência do gover-
no em várias atividades, com empresas pri-
vadas procurando obter lucros pela adoção
de respostas empreendedoras,
A globalização reduziu a influência de
líderes políticos nacionais e a transferiu para
o mundo dos negócios, enfraquecendo a
possibilidade de controle dos processos eco-
nômicos pelos responsáveis pelas políticas
públicas (Simai, 1994). Em conseqüência,
existem expectativas crescentes de que as
empresas adotem papéis desempenhados
anteriormente por entidades governamen-
tais (Brown, 1992; Drucker, 1989; Renesch,
1992). Enquanto algumas empresas globais
como The Body Shop, Levi Strauss e Canon
assumem e até lideram as novas demandas
por direção social, outras resistem, obs-
truem e exploram tanto recursos naturais
como humanos. Existe atualmente um mer-
cado global para prostituição infantil, tanto
masculina quanto feminina, abastecido por
turistas e por uma indústria do turismo que
explora o sexo (Shoup, 1994). Essas ativi-
dades levantam preocupações sobre o pa-
pel que empresas podem, devem ou vão re-
presentar no palco político mundial. A au-
toridade governamental está-se desgastan-
do (Korten, 1995), dificultando a regula-
mentação das atividades das empresas
358 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

treinamento e outras formas de criação de medida que as atividades empresariais trans-


conhecimento (Marshall e Tucker, 1992). cendem fronteiras nacionais.
Uma vez que a criação de conhecimento leva Por meio da tecnologia da informação
à criatividade, talvez esta seja uma fonte de e da comunicação global, pessoas no mun-
capacidade inovadora nacional, necessária do todo testemunham normas, valores e
para o sucesso econômico (McRae, 1995; comportamentos culturais que refletem vá-
Porter, 1990). rias nações, e atualmente várias pessoas
pensam e comportam-se de maneiras que
são cada vez mais globais. As empresas pro-
Cultura global movem, pelo mundo, tanto uma linguagem
global, o inglês, quanto uma proliferação de
À medida que a globalização leva a que bens de consumo que vão das bebidas cola
se reveja o conceito de estado nação, tam- aos jeans, dos programas de televisão aos
bém chama a atenção sobre a cultura. Or- astros de rock. Alguns argumentam que tal
ganizações de negócios que operam unica- invasão cultural fornece aos adolescentes e
mente em um ambiente doméstico tradicio- aos jovens adultos hábitos globais que in-
nalmente derivam seus hábitos e valores cluem formas similares de vestir, jargões,
culturais da nação de origem. Não obstante músicas, preferências de lazer e até valores
haja possibilidade de variações étnicas e convergentes que vão da preservação am-
regionais, no que tange à maioria dos valo- biental (Tully, 1994) ao individualismo
res essas organizações adotam os da cultu- (Rohwedder, 1994). Em 1995, a televisão
ra dominante. Mesmo quando as empresas alcançou 800 milhões de casas, apresentan-
se tornam internacionais, elas continuam a do imagens de fantasia como "Mighty
derivar seus hábitos e valores culturais das Morphin Power Rangers" e "Dinastia", com
nações de origem, como ilustra o trabalho a mesma precisão das reportagens da CNN.
de Hofstede (1980). Mas quando organiza- Imagens da violência real e imaginária, pro-
ções operam cada vez mais além-fronteiras, venientes da tradição das artes marciais fil-
seus membros são expostos a outras cultu- tradas pela indústria cinematográfica de
ras e adotam algumas normas, hábitos e até Hong Kong (Dannen, 1995), assim como de
valores delas. Uma vez que vendas e lucros Hollywood, cultivam uma cultura de violência
cada vez mais dependem de mercados ex- por todo o do mundo, particularmente atraen-
ternos, faz sentido contratar funcionários te aos homens jovens (Appadurai, 1990).
que conheçam esses mercados, e gerentes
podem decidir que não é mais possível ou
desejável permanecer totalmente congruen-
te com a cultura do país de origem.
Tais mudanças nas práticas organi-
zacionais geram outras mudanças na cultu-
ra organizacional, que, no mundo dos ne-
gócios globais, são devolvidas à cultura ori-
ginal, uma vez que esta também muda. Des-
sa forma, empresas constróem e são
construídas pelas atividades em que elas e
outras empresas participam. Por exemplo,
mudanças organizacionais entre conglome-
rados gigantes ou chaebol, como Samsung,
Sunkyong e Daewoo, são focadas em ini
ciativas de melhorias de qualidade, que exi-
gem certa iniciativa individual e responsa-
bilidade em vez da reverência pela autori-
dade, própria da cultura coreana. Mudan-
ças como estas prenunciam uma mudança
nacional, uma vez que empresas se tornam
condutoras de uma cultura "global", assim
como recipientes de múltiplas culturas na-
cionais. Isto sugere que, num mundo
globalizado, o estado-nação não é a fonte
principal de comportamentos e valores cul-
turalmente aceitos, uma vez que comporta-
mentos, normas, premissas e valores surgem
fora das fronteiras nacionais. Nesse senti-
do, a cultura torna-se "sem fronteiras" à
I 359 PARTE II ~ QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Alguns autores vêem essas influênci- dade ao controle de doenças, têm trazido
as como fontes potenciais de corrupção cul- mais pessoas ao mercado de trabalho; des-
tural (Finel-Honigman, 1993). Eles vêem cobertas de processos e de produtos cons-
convergência cultural como uma forma de tantemente alteram a natureza de seu tra-
neo-imperialismo capaz de eliminar a vari- balho e tecnologias baseadas na informa-
edade cultural (Tomlinson, 1991) e produ- ção tornam as pessoas e as informações re-
zir pressões culturais que levam a formas cursos críticos para as organizações. Dife-
destrutivas de conflito (Barber, 1992; rentemente da terra, do trabalho e do capi-
Huntington, 1993). Outros desafiam essas tal, tão importantes ao crescimento econô-
suposições, argumentando que o emprésti- mico durante a Revolução Industrial, a for-
mo cultural associado à "creolização", ça motriz que apoia a revolução da infor-
"mestiçagem", "orientalização" e similares, mação é intangível: o conhecimento. Os in-
realça, mas não redefine, a cultura (Pieterse, divíduos são donos do conhecimento, e por
1995). "Glocalização" ou conexões soltas isso ele só se torna um recurso organi-
entre o que é local e o que é global formam- zacional quando partilhado (Handy, 1994),
se (Robertson, 1995), levando à multiplica- criando um potencial para maior igualdade
ção das diferenças culturais em vez de a sua ou aumentando a desigualdade.
redução (Kahn, 1995). Em vez de a A tecnologia de telecomunicação, ca-
globalização levar a uma cultura predomi- paz de transmitir informação quase instan-
nantemente ocidental, onde linguagem, va- taneamente por todo o mundo, tornou pos-
lores e comportamentos de negócios são sível para pessoas e empresas comunicarem-
padronizados e homogeneizados numa base se e operarem 24 horas por dia, sete dias
mundial, Robertson (1995) argumenta que por semana. Mais ainda, o custo do proces-
as influências culturais do oriente sobre o samento de dados e da computação tem
ocidente têm sido seriamente subestimadas, declinado rapidamente em anos recentes.
em questões referentes à religião, casa e
comunidade que se tornam mais, em vez de
menos, importantes (Abu-Lughod 1994).
Aqueles que categorizam cultura como
fenômeno global ou uma série de culturas
nacionais diversas talvez estejam tendo uma
visão limitada. Em vez dessa abordagem
dicotômica, vemos uma tensão entre
homogeneidade e heterogeneidade sendo
percebida pelas nações, organizações e in-
divíduos, como demonstram os conflitos
armados baseados em diferenças étnicas,
pelo debate público sobre imigração e por
debates privados sobre fundamentos religi-
osos. Enquanto as estimativas sugerem que
o número de nações pode crescer de 300
para 1.000 no século XXI (Outlook, 1994),
em parte devido a diferenças culturais
(Davis, 1994), países heterogêneos estão-
se juntando para formar blocos de comér-
cio. Os sinais estão misturados: enquanto
os conflitos étnicos explodiram na antiga
Iugoslávia, a violência religiosa diminui na
Irlanda do Norte; enquanto diferenças polí-
ticas, religiosas e étnicas fragmentam o Ori-
ente Médio, diferenças raciais estão sendo
postas de lado na África do Sul. A Checos-
lováquia readapta-se ao processo democrá-
tico, tendo votado pela separação, enquan-
to a província de Quebec, numa votação
apertada, escolhe continuar integrando o
Canadá.

Tecnologias globais

Eletrônica digital, miniaturização, te-


lecomunicação, computadores, robótica,
inteligência artificial, engenharia genética,
satélites de órbita baixa e condutores a laser
são apenas algumas das diversas tecnologias
que revolucionam as relações entre pesso-
as, organizações e nações no mundo todo.
Descobertas médicas, do controle de natali-
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO A GLOBALIZAÇÃO

Com a queda nos custos, a proliferação da te mais de US$ 8 bilhões em software em


tecnologia digital pode englobar o mundo, 1994, enquanto a Business Software
provendo capacidade de computação Alliance, sediada em Londres, alegou que o
maior e muito mais avançada do que se dis- custo da pirataria de software, somente na
põe hoje, atingindo usuários de diversos Europa, totalizou US$ 6 bilhões em 1994
níveis de renda. O custo baixo e a disponi- (Pope, 1995).
bilidade mundial dessa tecnologia oferecem Informações resultantes da indústria
um potencial extraordinário para a oportu- de vídeo e entretenimento também indicam
nidade e a igualdade (Negroponte, 1995), vantagens e desvantagens na globalização.
mas apenas àqueles que têm acesso à edu- Videoconferências internacionais com tra-
cação e condições para usá-la. De outra for- dução acoplada podem tornar-se tão comuns
ma, a tecnologia pode apresentar uma ame- como os atuais editores de texto e planilhas
aça em vez de oportunidades, por meio da eletrônicas. Essa tecnologia possibilitará às
perda de habilidades no trabalho (Rifkin, pessoas "reunirem-se" sem os custos adi-
1995), e criando uma divisão maior entre cionais de viagens. Desde 1997, satélites de
as pessoas e as atividades que enriquecem baixa órbita tornam possível a comunicação
suas vidas (Stoll, 1995). com áreas remotas da África, América Lati-
A revolução digital tem distribuído na, Ásia e outras (Boyd, 1995), porém aque-
ferramentas poderosas para uma enorme les que não dispõem de telefone ou outro
parcela da humanidade, além de realocar tipo de equipamento não poderão utilizar
fontes de inovação tecnológica do mundo essa tecnologia. No mercado editorial e de
desenvolvido para o mundo em desenvolvi- entretenimento, leitores e espectadores vão
mento, já que cientistas indianos, búlgaros acessar noticiários, filmes ou documentos
e israelenses participam do desenvolvimen- diretamente no fluxo de dados, porém es-
to tecnológico. Como a matemática é o fun- sas vastas galáxias de vídeo, som e dados
damento de todas as melhorias digitais, na- digitalizados, que giram no ciberespaço per-
ções bem desenvolvidas nessa disciplina, manecem inatingíveis para aqueles que não
incluindo nações como China, índia e ou- conseguem ler ou que não tem eletricidade.
tras do Sudeste Asiático, poderão avançar Dessa forma, caracteres de ASCII são
decisivamente no aumento da capacitação caracteres na língua inglesa, vários jogos de
tecnológica de seus países. Empreendedo- computadores são mais atraentes para me-
res individuais e pequenas empresas agora ninos do que para meninas (Bulkeley, 1994);
têm acesso a tecnologias anteriormente dis- os ícones dos computadores são mais repre-
poníveis apenas às grandes empresas. Qua-
se todas as empresas podem ter acesso ao
conhecimento tecnológico e a trabalhado-
res capacitados no mundo todo. Existem,
porém, receios sobre os resultados dessa
redistribuição de conhecimento para os pa-
íses desenvolvidos, se as empresas retirarem
recursos aplicados nesses países para inves-
tir em salários mais baratos noutros lugares
(Rifkin, 1995).
O potencial para novas oportunidades,
criadas por essas tecnologias, é contraba-
lançado pelo medo de que aqueles sem aces-
so à Internet irão tornar-se os "assassinos
da estrada" da informação quando novas
modalidades de "excluídos" aparecerem. As
vantagens do acesso livre à informação po-
dem ser neutralizadas pela perda de priva-
cidade (Gandy, 1995), e a informação pode
ser usada para ferir em vez de ajudar. Me-
nos óbvio para o público em geral são as
ameaças crescentes à propriedade intelec-
tual, uma vez que a digitalização facilita a
pirataria de software, a cópia ou plágio de
trabalhos registrados e a engenharia reversa.
A Associação de Editores de Software
(Software Publishers Association) estimou
que piratas de software copiaram ilegalmen-
361PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

sentativos do Ocidente e das experiências fazendeiros (Winslow, 1995). As reduções


culturais americanas, e o formato dos jogos da OMC nas barreiras comerciais para os
e programas para computadores refletem produtos agrícolas poderá levar à expansão
um tendência ocidental para a ação, para o de algumas pragas.
pensamento linear e para a determinação O vírus da Aids é talvez o primeiro a
pessoal (Goulet, 1977; Magnet, 1994). merecer o epíteto de doença "global", ape-
sar de alguns africanos terem sido os pri-
meiros vitimados, deixando crianças para
serem criadas por seus avós e ninguém para
Globalização de assisti-los financeiramente. Epidemias letais,
recursos naturais como tuberculose, febre Ebola e dengue,
têm uma expectativa de crescer no mundo
O meio ambiente é outra arena da todo juntamente com as interconexões glo-
globalização. Ela entrelaça as pessoas com bais entre as pessoas (Garrett, 1994;
o meio ambiente natural a que pertencem Preston, 1994). Mesmo os desastres natu-
(veja o capítulo de Egri e Pinfield, no rais, confinados a uma parte do mundo, têm
Handbook). Desigualdades existentes entre implicações mundiais devido às conexões
o Norte e o Sul, e também em função de globais. Por exemplo, enchentes na Europa
grupos étnicos e de diferenças de gênero e um terremoto no Japão no início de 1995
crescem em decorrência das práticas da glo- interromperam o fluxo de comércio inter-
balização que exploram tanto recursos na- nacional no mundo todo porque vários pro-
turais como humanos. dutos escoam por Roterdã e Kobe.
Derramamentos de óleo, desastres Alguns argumentam que o desenvol-
nucleares e acidentes similares destroem os vimento econômico por meio de mercado
recursos naturais, enquanto a industrializa- livres deve ser substituído por princípios de
ção os consome e esgota. A água consumida desenvolvimento sustentável que garantam
durante a produção industrial pode poluir
a água no mundo todo, da mesma forma
que as emissões de gases reduzem a quali-
dade do ar e a camada de ozônio. De acor-
do com um depoimento científico, feito na
Conferência das Nações Unidas sobre Cli-
mas, em 1995, espera-se que até o ano 2000
as reduções antecipadas de ozônio e o aque-
cimento global deslocarão 95 milhões de
pessoas que moram no nível do mar, fazen-
do com que ecossistemas desapareçam, de-
sertos se expandam e tempestades se tor-
nem mais violentas e mais freqüentes. En-
quanto a industrialização cria empregos e
um padrão de vida que indivíduos e nações
buscam, também concentra as pessoas em
áreas densamente povoadas onde problemas
urbanos de lixo, tratamento de água e po-
luição sonora agridem o meio ambiente. A
industrialização é, portanto, um processo
ambíguo: aumenta a prosperidade mun
dial, mas, ao mesmo tempo, aumenta o po-
tencial de rupturas ecológicas.
A ruptura ecológica cresce à medida
que atividades empresariais transportam
plantas e animais a distâncias maiores. Al-
guns tipos de cobras introduzidas em Guam
há 30 anos extinguiram todas as espécies
de pássaros e vários outros animais. Certos
moluscos, que viajam em navios russos, en-
topem canos de aspiração nos Grandes La-
gos da América do Norte. Por outro lado
espécies de peixes entraram no mar Negro
em 1982 e destruíram reservas de planctons,
ovas de peixes e larvas de espécies diversas
de fauna e flora. Doenças que afetam tanto
as pessoas como as plantas estão-se tornan-
do globais. Por exemplo, o vírus A2 da ba-
tata migrou recentemente das plantações do
centro do México para as plantações dos
Estados Unidos, devastando as culturas, cau-
sando prejuízos de milhões de dólares aos
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO A GLOBALIZAÇÃO
■■■■■■■■■■■■■

419 V
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um futuro viável para as gerações futuras ilegal, está crescendo. Nos Estados Unidos
(Gore, 1992; Hawken, 1993). Propostas a imigração foi responsável por 39% do cres-
para o desenvolvimento sustentável reque- cimento populacional na última década; na
rem mudanças fundamentais. Enquanto Europa grandes aumentos populacionais
mercados geralmente criam divisões entre que ocorreram nos últimos 20 anos resulta-
países ricos e pobres, o desenvolvimento ram da integração econômica e da imigra-
sustentável requer mais igualdade econômi- ção. Ao mesmo tempo que a imigração acon-
ca mundial. Isso não significa que a riqueza tece e, em alguns casos, é ativamente in-
do mundo deve ser redistribuída, mas que centivada, surgem barreiras como o acordo
desigualdades entre as nações mais ricas e de Schengen. Para impedir alguns fluxos
as mais pobres devem ser suplantadas, ofe- migratórios, indivíduos são devolvidos a
recendo às nações mais pobres oportunida- seus países de origem, e imigrantes têm sido
des melhores do que as oferecidas no pas- vítimas de ataques violentos, bem como suas
sado. Segundo os autores do Human propriedades, com violação de seus direitos
Development Report, das Nações Unidas na Europa, nos Estados Unidos, no Japão
(1994b), "o conceito de um mundo e um (Fernandez, 1991) e em outras partes do
planeta não pode vingar num mundo desi- mundo.
gual". Crescimento sustentável em escala glo- As decisões que envolvem opções en-
bal sem justiça não passa de uma miragem. tre investimento econômico e humano aca-
Ironicamente, mesmo que alguns ar- bam sendo sempre mais prejudiciais aos que
gumentem que os estilos de vida nas nações possuem menos. Freqüentemente, as pesso-
mais ricas devem ser alterados para consu- as que perdem mais com a ênfase em cres-
mir menos, muitos em países desenvolvidos cimento e desenvolvimento são as mulhe-
advogam uma mudança oposta para adotar res. O Human Development Report das Na-
hábitos materialistas consistentes com uma ções Unidas mostra que os países que for-
sociedade de consumo. Alguns estão dispos- necem estatísticas com questões de gênero
tos a trocar sua terra ou matérias-primas por não tratam igualmente mulheres e homens.
bens de consumo, enquanto outros acham Em vários países a diferença no tratamento
a sobrevivência impossível a não ser por
meio da exploração dos recursos disponí-
veis. A medida que esses recursos desapa-
recem, florestas e água desaparecem e a
desertificação cresce. Num ambiente de ne-
gócios competitivo e com a população mun-
dial ansiosa ou pressionada para fazer par-
te da economia mundial, empresas que não
queiram comprometer o meio ambiente tal-
vez percam oportunidades; aquelas, porém,
que tomam medidas efetivas para preser-
var o meio ambiente podem ser acusadas
de impor seus próprios valores em países
hospedeiros ansiosos por desenvolvimento
econômico. Portanto, um dos desafios ao
desenvolvimento sustentável é o paradoxo
de gerenciar o crescimento econômico e si-
multaneamente proteger o meio ambiente
e as pessoas que nele vivem.
Devido à globalização, indivíduos
mudaram suas expectativas com relação à
riqueza. Por causa das demandas de empre-
go, a mão-de-obra passou a mover-se mais
livremente pelo mundo, e como as expecta-
tivas individuais freqüentemente não podem
ser satisfeitas em países emergentes, as pes-
soas vão buscar emprego noutros lugares.
Falta de trabalhadores em países industria-
lizados, como Japão e Coréia do Sul, e opor-
tunidades limitadas em outras partes da
Ásia, levou mais de 2 milhões de pessoas do
leste e sudeste Asiático a abandonarem suas
casas para buscar trabalho em nações vizi-
nhas (Pura, 1992). Os pobres da China ru-
ral migram para as cidades ou pagam gran-
des somas para emigrar ilegalmente para
países onde possam encontrar trabalho. A
imigração mundial, tanto a legal quanto a
PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

discrimina as mulheres no acesso à segu- 1993). Grupos de defesa dos direitos dos
rança básica, à seguridade, à nutrição, às consumidores e empresas cada vez mais
oportunidades educacionais e aos recursos assumem responsabilidades políticas, en-
de saúde. Mulheres de países emergentes quanto algumas responsabilidades de em-
freqüentemente são mandadas para outros presas estão sendo assumidas por organi-
países para trabalhar em tarefas servis que zações governamentais e não governamen-
criam oportunidades para o abuso. Algumas tais. Organizações de todos os setores estão
são vendidas para serem escravas ou pros- sendo pressionadas por mais eficiência,
titutas, servindo de iscas para o turismo se- medindo a relação entre insumos e resulta-
xual globalizado. Em conseqüência, o de- dos; a serem mais "profissionais". Ao mes-
senvolvimento econômico restringe-se ape- mo tempo, implora-se às empresas que se-
nas à metade da população, roubando às jam mais responsáveis socialmente na ma-
gerações futuras a oportunidade de desen- neira pela qual se globalizam, que acomo-
volver seu potencial. As mulheres, sem edu- dem homogeneidade e heterogeneidade,
cação, tendem a permanecer como reci- que reduzam desigualdades enquanto man-
pientes passivas dos bens e serviços em vez têm a lucratividade interna, que mantenham
de contribuírem com seu trabalho e paga- crescimento sustentável enquanto exploram
mento de impostos. Tornam-se também oportunidades de maneira imediata. Portan-
menos atraentes às empresas globais em to a globalização, ao difundir-se muito além dos
busca de trabalhadores. limites dos negócios, cria novos e significati-
Em nações industrializadas, a discri- vos desafios a todas as partes da sociedade.
minação de mulheres reflete-se em desigual-
dades salariais e de status entre mulheres e
homens. A relação entre o salário semanal IMPLICAÇÕES PARA AS
feminino/masculino ficou na faixa de 80 a ORGANIZAÇÕES
90% na Austrália, Dinamarca, França, Nova
Zelândia, Noruega e Suécia, enquanto nou- A abordagem baseada no tripé estra-
tros países da Europa Ocidental encontram- tégia/estrutura/sistemas administrativos
se diferenças entre 65% e 75%. Mulheres
americanas recebem 76% do que os homens
recebem, enquanto as japonesas recebem
61% do que os homens percebem em em-
pregos similares (Wall Street Journal,
1995a). Entretanto, existem algumas evi-
dências de que as mulheres estão progre-
dindo no acesso a posições gerenciais. Por
exemplo, entre 1985 e 1991 a percentagem
de gerentes mulheres aumentou em 39 dos
41 países que divulgam estatísticas compa-
rativas de mão de obra (World of Work -
US, 1993). A medida que essas desigualda-
des são resolvidas, levam à percepção de
outras formas de desigualdade. Por exem-
plo, melhorias educacionais para as mulhe-
res tanto em países em desenvolvimento
como em países desenvolvidos são
conseguidas primeiramente por aquelas com
recursos econômicos. As mulheres pobres
continuam pobres.
A globalização freqüentemente resul-
ta em desigualdades, ou entre os países ri-
cos do norte e os países pobres do sul, ou
entre homens e mulheres ou dentro de gru-
pos étnicos, ou entre eles. Existe uma ex-
pectativa freqüente de que organizações e,
especialmente, organizações de negócios, se
voltem para essas desigualdades, porém, ao
fazê-lo, elas enfrentam a tensão entre capi-
talizar o potencial de crescimento e prote-
ger e reabordar tais diferenças.
Resumindo esta seção, podemos dizer
que a globalização envolve mudanças revo-
lucionárias nas esferas econômica, política,
cultural, tecnológica e natural. Uma busca
global dos benefícios da criação de riqueza
alterou relacionamentos tradicionais entre
empresas, governos e sociedades (Hawken,
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 364 [

para gerenciar empresas multinacionais pro- Como o crescimento no mundo industriali-


duziu resultados, obtidos por meio das es- zado tem diminuído e crescido rapidamen-
truturas hierárquicas baseadas em sistemas te nos países em desenvolvimento, as em-
gerenciais complexos e sofisticados presas, por sua natureza, sentem-se moti-
(Ghoshal e Bartlett 1995). Para a gestão, o vadas a participar do desenvolvimento eco-
valor das estruturas hierárquicas e da abor- nômico (Handy, 1994).
dagem estratégia/estrutura/sistemas admi- Regulamentar é uma das formas de
nistrativos está perdendo sentido num mun- forçar um comportamento socialmente res-
do com empresas de vários tamanhos, num ponsável das organizações, apesar das tre-
ambiente global caracterizado por mudan- mendas dificuldades em fazê-lo em escala
ças rápidas, mas onde a necessidade de ge- mundial. O Parlamento Mundial das Reli-
rar resultados continua alta. Esse desafio giões produziu uma Ética Global, pedindo a
gerencial é apenas um de vários paradoxos redução dos abusos ambientais e humanos
que as organizações enfrentam quando são no mundo; a Organização das Nações Uni-
pressionadas para serem simultaneamente das tem emitido várias declarações sobre
várias coisas para várias pessoas (Handy,, direitos individuais e organizacionais, e em
1994). Dentro da empresa, o paradoxo pode 1995 o governo americano introduziu um
ser gerenciado por meio de um foco cres- código voluntário de comportamento em-
cente nos processos organizacionais, como presarial. A comunidade empresarial global
empreendedorismo, desenvolvimento de produziu os Principles for Business quando
competências e renovação (Ghoshal e do encontro conhecido como Caux Round
Bartlett, 1995), e por meio de agentes de Table que combinavam ideais orientais bá-
mudança bem-sucedidos que possuam as sicos de kyosei (viver e trabalhar para o bem
duas capacidades: possibilidade de anteci- comum) e dignidade humana (cada pessoa
par o futuro e disposição para nadar contra é dotada de valor e, portanto, é sagrada)
a corrente das resistências internas (Handy, num conjunto de princípios éticos. Desen-
1994). Campeões de mudança podem ser volvido em 1994 por meio da colaboração
encontrados em todos os tipos de organiza- de líderes empresariais no Japão, na Euro-
ções, empresas, governos e em círculos aca- pa e nos Estados Unidos, esse princípios
dêmicos. As diversas questões que eles le- sugerem que alguns líderes empresariais
vantam sobre o papel das empresas e ou- têm a disposição de assumir uma responsa-
tros tipos de organizações no mundo atual bilidade social maior. Também em 1995, 41
geram outras questões sobre estratégias, grandes nações fundaram a Transparency
estruturas e processos adequados às orga-
nizações num mundo globalizado. A natu-
reza da globalização levanta um número de
implicações importantes sobre a responsa-
bilidade social de todas as organizações glo-
bais, tanto para as empresas como para to-
dos os outros tipos de organização. Essas
implicações serão discutidas a seguir.

Responsabilidade social

Existe uma expectativa de que as em-


presas, ao assumirem papéis anteriormente
desempenhados por entidades governamen-
tais, o que pode ocorrer em processos de
privatização (Drucker, 1989), comportem-
se mais como organizações sociais do que
como empresas comprometidas com lucros
e resultados (Brown, 1992). Quando estas
empresas se globalizam, os custos de não
atuar responsavelmente aumentam, pois são
grandes organizações, com o poder disse-
minado pelo mundo todo. Todavia, há au-
tores que acreditam que empresas talvez
sejam as únicas organizações capazes de re-
equacionar muitos dos problemas sociais
existentes atualmente (Hawken, 1993).
| 365 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

International, um grupo moldado com base dificilmente pagarão os custos totais ou de


em Anistia Internacional, e financiado por longo prazo de mudanças não previstas.
agências de auxílio européias e algumas Consumidores podem estar mal informados;
multinacionais, para combater corrupção ou empresas podem não ser capazes de pre-
em larga escala que envolvem empresas e ver os resultados de decisões que são obri-
detentores de cargos públicos no mundo gadas a tomar. Por exemplo, esforços legíti-
inteiro. mos para aliviar os abusos do trabalho in-
Qualquer tentativa de desenvolver fantil podem resultar em mudança para pior
códigos de ética globais deve abordar pelo se as crianças que não trabalham mais na
menos dois problemas principais. O primei- fábrica forem forçadas a buscar trabalhos
ro refere-se aos problemas inerentes em piores ou se as famílias passarem fome. Par-
policiar atividades que podem facilmente cerias efetivamente responsáveis devem ve-
atravessar fronteiras e perderem visibilida- rificar se uma correção não resultará em
de. Essas dificuldades aumentam quando maiores custos e situações piores.
governos de países em desenvolvimento, Organizações Não Governamentais
ansiosos por moeda forte e desenvolvimen- (ONGs) também assumiram um mandato
to econômico, estão dispostos a tolerar, e global, armando uma "revolução associa-
nalguns casos encorajar, práticas de negó- tiva" global (Salamon, 1994), por causa do
cios que são ilegais em outros lugares e que tamanho e dos efeitos das atividades das
podem envolver perigos para a população, ONGs sobre as práticas empresariais no
que ou as ignoram ou não conseguem resis- mundo todo. Bons exemplos seriam o boi-
tir a elas. Uma segunda dificuldade refere- cote dos consumidores na Alemanha, lide-
se ao fato de que padrões éticos variam lar- rados pelo Greenpeace que resultou num
gamente pelo mundo: o que é suborno num protesto global e obrigou a Royal Dutch
país pode ser visto como uma prática co- Shell a reverter sua decisão de enterrar o
mum noutro. Valores variam tremendamen- navio de óleo Brent Spar no mar. Sem tanto
te pelo mundo (Hofstede, 1980; Hampden-
Turner e Troupenaars, 1993; Kanter, 1991;
Schwartz, 1992), levando a diferenças em
comportamentos e atitudes no trabalho
(Hofstede, 1983). Mesmo a pesquisa de
Kanter (1991) que envolveu 12.000 geren-
tes mostrou visões comuns de problemas
mundiais, mas não soluções comuns.
Outras formas de encorajar compor-
tamentos socialmente responsáveis existem.
Por exemplo, grupos de consumidores as-
sumiram um papel novo ao encorajar a
responsabilidade social das empresas. De
acordo com o The Economist (1995b), a pres-
são dos consumidores motivou empresas
como IKEA, Levi-Strauss e Nike a enfrentar
questões de direitos humanos. Organizações
supranacionais, como as Nações Unidas e a
Organização Internacional do Trabalho ten-
tam transcender as políticas nacionais para
promover uma sociedade democrática or
ganizada ao redor de valores como justiça,
igualdade e respeito mútuo (Commission of
Global Governance, 1995), enfrentando di-
ferenças crescentes entre os ricos e os po-
bres, conflitos armados pelo mundo, prote-
ção legal mínima em algumas partes do
mundo e regimes corruptos (Kennedy,
1993). Enquanto se pode esperar que em-
presas e governos assumam responsabilida-
de em preencher algumas dessas diferen-
ças, parcerias entre grupos de homens de
negócios, funcionários do governo e repre-
sentantes não governamentais têm uma
chance maior de alcançar resultados que
conquistem um nível maior de igualdade.
Políticos ansiosos por obter para seus paí-
ses ou regiões as vantagens que uma orga-
nização como a OMC - Organização Mun-
dial do Comércio - pode propiciar talvez não
percebam os custos de transição em que
outros incorrerão. Isto porque mercados
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTEPVNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 366 [

sucesso, o Greenpeace tem tido papel im-


portante no protesto global contra os testes A globalização exige novas abordagens
nucleares franceses no Pacífico. ONGs tam- para a formulação da estratégia, em com-
bém conduzem atividades de negócios glo- paração com os modelos tradicionais. Por
bais como providenciar dinheiro de investi- exemplo, estratégias globais devem ser ins-
mento para o setor informal (World of Work, piradas por considerações políticas, legais e
1994); organizar trabalhadores (Frenkel, sociais, além das considerações econômicas
1993); ou apoiar o desenvolvimento eco- (Buckley, 1990; Boddewyn e Brewer, 1994;
nômico (Hymowitz, 1995). Essas atividades Earley e Singh, 1995). Ser competitivo num
questionam premissas tradicionais sobre a mundo globalizado, onde é difícil manter
realização dos interesses das empresas. Por uma vantagem competitiva (D'Aveni, 1995),
exemplo, em Bangladesh os empréstimos do envolve repensar muitos dos conceitos es-
Grammen Bank para 3 milhões de mulhe- tratégicos básicos (Hamel e Prahalad, 1989).
res em milhares de pequenas vilas não só Oportunidades não esperadas surgem ape-
tirou metade dos recebedores da linha de nas quando premissas tradicionais são ques-
pobreza, mas também forneceu os recursos tionadas: a sobrevivência organizacional
necessários para o banco expandir-se glo- dependerá em ver o futuro primeiro e de
balmente. Em conseqüência, o crescimento uma forma diferente (Hamel e Prahalad,
de micro-bancos (Wall Street Journal, 1994). Conseqüentemente, técnicas de pla-
1995b) desafia as premissas tradicionais nejamento devem basear-se menos em da-
sobre a habilidade dos pobres de honrar dos históricos para apoiar o planejamento
empréstimos, e, uma vez que muitos desses de cenário ou a análise competitiva e mais
empréstimos vão para mulheres, eles tam- naqueles que produzem previsões da indús-
bém mudam as premissas tradicionais so- tria e alavancam conhecimentos globais
bre o papel econômico que as mulheres po- (Ghoshal e Bartlett, 1995). A organização
dem ter. global apresenta uma grande divergência
A medida que as ONGs assumem pa- das práticas tradicionais de formulação de
péis empresariais, aumentam as expectati- estratégias tanto ocidentais quanto orientais,
vas de que elas atuem mais profissionalmen- uma vez que organizações de diferentes
te ao gerenciar dinheiro e até mesmo pes- nações participam de atividades interna-
soas. Da mesma forma que organizações cionais e contribuem para mudanças na ma-
empresariais enfrentam exigências de serem neira de conduzir os negócios. Por exem-
socialmente responsáveis, organizações não plo, contrastando a filosofia "quanto maior
lucrativas são impelidas a pensar nas pes-
soas como "consumidoras" e a adotar práti-
cas contábeis similares às utilizadas pelas
empresas de negócios (Greenberger, 1995).
Essas demandas por prestações de contas
confundem a distinção entre a necessidade
humana e a prática empresarial, entre o eco-
nômico e o social, entre negócios e política.
Existem, portanto, várias questões re-
ferentes ao papel social de organizações glo-
bais de todos os tipos. Vários observadores
têm manifestado preocupação com relação
ao potencial de irresponsabilidade social por
parte dessas organizações e a incapacidade
de governos e de outros atores em regulá-
las. Gergen (1995), por outro lado, argu-
menta que os atributos pós-modernos da
organização global (a dispersão de con-
ceituações, as rupturas nas cadeias de co-
mando, a erosão da racionalidade, a redu-
ção do conhecimento centralizado e a auto-
nomia enfraquecida) oferecem o potencial
para "práticas geradas eticamente". Clara-
mente, essa é uma área onde mais pesqui-
sas devem ser realizadas.

Estratégia organizacional
367 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

melhor" das empresas ocidentalizadas, a generalista, em vez de um especialista em


Acer Inc, de Taiwan, estabeleceu-se como determinada área de negócios, que possa
uma força no mercado de computadores lidar com estratégias complexas que envol-
pessoais, tornando-se mais compacta. A vem diversos países, responsabilizando-se
empresa reorganizou-se abandonando uma pelo desenvolvimento do pessoal adequado
estrutura centralizada e adotando pequenas e capaz de integrar pessoas e funções
unidades de negócios em que os gerentes (Bartlett e Ghoshal, 1992). De acordo com
têm autonomia para tomar decisões em seus Adler e Bartholomew (1992), essas habili-
mercados. Enquanto as empresas familiares dades superam as que se exigiam tradicio-
chinesas encorajam a contratação de fami- nalmente de gerentes expatriados, mas são
liares, a Acer adotou uma postura oposta, cruciais para gerenciar uma força de traba-
mantendo os membros da família afastados lho que se diversifica quando habilidades,
da gerência e dando participação financei- interesses e motivações variam em função
ra aos trabalhadores (Wall Street Journal, de gênero, nacionalidade, papel no traba-
1994). lho e origens (Gibson, 1995; Laurent, 1986;
A organização global também é depen- Parker, 1991; Welsh et al., 1993).
dente da aprendizagem organizacional Existe, portanto, campo para estudos
(Bartlett e Ghoshal, 1989), que foi descrita futuros sobre as diferentes estratégias que
como a habilidade de desenvolver compre- estão evoluindo no mercado global: não
ensão e conhecimento das relações entre apenas as adotadas por empresas ociden-
ações passadas, sua eficácia e ações futuras tais, mas também as de outros países; não
(Lyles, 1988). É esperado que esse aprendi- apenas as lançadas por empresas, mas tam-
zado venha não só da mestria pessoal, mas bém organizações de outros setores e não
também da visão compartilhada e do traba- apenas as multinacionais grandes e famo-
lho em equipe (Senge, 1990). Como o co- sas, mas também as organizações globais
nhecimento brota tanto do esforço de equi- menores e diferentes.
pes como de indivíduos, um tênue equilí-
brio é gerado entre flexibilidade e eficiên-
cia, entre colaboração e autonomia, entre
consenso e risco. Indivíduos treinados no
contexto de uma cultura coletivista encaram
o desafio de se tornarem individualmente
competitivos, enquanto pessoas de socieda-
des individualistas podem ter dificuldades
em operar como membro de um time. De-
safios organizacionais consistem em acom-
panhar e recompensar o tipo de aprendiza-
gem desejado, e lidar com frustrações quan-
do a aprendizagem necessita de mudanças
mais rápidas do que o habitual.
Diferentes de fatores mais tangíveis de
produção como equipamento e capital, o
conhecimento que surge da aprendizagem
organizacional é mais difícil de monopoli-
zar e medir (Handy, 1994). Porque o conhe-
cimento não precisa ser concentrado num
lugar, as atividades empresariais podem ser
redistribuídas pelo mundo para aproveitar
a mão-de-obra altamente educada e habili-
tada. Por exemplo, a International Data
Solutions escaneia casos e arquivos de
clientes de empresas de advocacia america-
nas e os transmite via satélite para a Filipi-
nas. Lá trabalhadores organizam e classifi-
cam os documentos para que possam ser
prontamente recuperados por uma rede de
computadores nos Estados Unidos. Reconhe-
cer que todos são simultaneamente apren-
dizes e instrutores representa uma mudan-
ça profunda em princípios tradicionais de
gerenciamento, que alocavam claramente o
trabalho de pensar e ensinar aos gerentes
do topo.
Estratégias globais tem implicações
profundas nas estratégias de recursos hu-
manos (Adler e Bartholomew, 1992; Schuler
et al., 1993). Hoje são maiores as probabili-
dades de um executivo internacional ser um
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 368

Estrutura organizacional ções tradicionais e criar empresas que sir-


vam melhor a seus interesses e necessida-
A burocracia cria organizações na for- des (Conference Board Europe, 1991). Pa-
ma de pirâmides altas, remove o conheci- drão similar nos Estados Unidos têm levado
mento gerencial do chão da fábrica e a um aumento dos negócios controlados por
enfatiza a importância de uma organização, mulheres com um aumento de 9,1% em
claramente definida. Não obstante as orga- 1994, e a aumentos recentes em ramos tra-
nizações ocidentais tendam a preferir ope- dicionalmente masculinos como finanças,
rar autonomamente (Janger, 1980), a transportes, construção e manufatura
globalização apresenta demandas diferen- (Business Week, 1995b). Acredita-se que
tes: há evidência de necessidade crescente entre um terço e metade dos pequenos em-
de várias formas de parcerias entre organi- preendedores latino-americanos são mulhe-
zações como teias de aranhas (Harrigan, res (Santiago, 1994), e microempréstimos
1985), redes globais (Reich, 1991), redes bancários na Ásia estimulam o crescimento
de trabalho (Ghoshal e Bartlett, 1990) ou de empresas, principalmente para mulhe-
joint ventures (Kanter, 1991). Em joint res (Wall Street Journal, 1995b).
ventures internacionais, grandes diferenças Isso não é para dizer que a organiza-
nas culturas sociais e organizacionais dos ção global representa uma transformação na
parceiros ou nas práticas gerenciais reque- organização do trabalho (Whitaker, 1992).
rem aprendizado para transpor essas dife- Nós não devemos esquecer que num mun-
renças (Parkhe, 1991). Internamente, orga- do global a competição é alta e os velhos
nizações podem ser estruturadas menos princípios ainda se aplicam: o novo centro
como pirâmides ou hierarquias, administra- pode agrupar-se com base na idéia de pro-
das a partir do topo, e mais como redes de ver serviço, mas os imperativos antigos con-
trabalho guiadas por equipes diversas e tinuam a enfatizar a necessidade de prestar
interdependentes com objetivos partilhados o serviço com o menor custo. Noções de efi-
(Brown, 1992), por valores comuns (Hoides ciência ainda sobrevivem; pressões financei-
et al., 19095); ou por processos organiza- ras continuam a reduzir a inovação e a ex-
cionais centrais (Ghoshal e Bartlett, 1995). perimentação; novas formas organiza-
A mudança de organizações hierárquicas cionais, assim como iniciativas de "assumir
para estruturas achatadas ou "horizon- a responsabilidade" chocam-se com as ne-
talizadas" e o movimento de pensamento
funcional para pensamento por processos
talvez demandem novas estruturas em vez
da burocracia em sua forma pura. Freqüen-
temente, essas novas estruturas envolvem
alguma forma híbrida que permita a empre-
sa global ser competitiva em preços, efi-
ciente e capaz de competir com outras em-
presas globais, assim como com empresas
locais e regionais.
A revolução do conhecimento associ-
ada à globalização tem o potencial para
reestruturar não só as organizações existen-
tes mas também a organização do trabalho.
Existe a possibilidade de as pessoas "se
conectarem" a distâncias internacionais, e
realizarem seus trabalhos em suas casas ou
noutros lugares. Em diferentes países, con-
figurações de trabalho mais flexíveis e loca-
lizadas podem oferecer a grupos baseados
na comunidade a possibilidade de combi-
nar oportunidades de negócios com as ne-
cessidades sociais locais. Atividades de ne-
gócios acordadas entre países e acessíveis
por fax, e-mail e computadores permitem
superar barreiras de etnia, gênero, nacio-
nalidade e fatores similares, liberando gru-
pos de alguns dos efeitos discriminatórios
que eles encontram nas configurações das
organizações mais tradicionais. Essas opor-
tunidades podem estar levando um núme-
ro crescente de mulheres a deixar organiza-
1 426 ---------- , ---------------- __ ---------- . - ------------ : ---
PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS
:
colaboração e
tempo dos
cessidades de "criar a ilusão de controle pesquisadores se
gerencial" (Salancik e Meindl, 1984) mes- é que estudiosos deveriam familiarizar-se
mo que minem a moral ou não resultem em com vários campos de conhecimento, e será
nada. O interesse em elos cooperativos não de difícil realização se não existirem recur-
sinaliza o fim da competição, uma vez que sos disponíveis. E lembrar que revistas aca-
os parceiros da aliança podem cooperar dêmicas nem sempre têm políticas edito-
numa linha de produtos e competir noutra. riais que abriguem trabalhos qualitativos e
E enquanto algumas organizações multina- multidisciplinares. Como professores e pes-
cionais incorporaram a diversidade na cú- quisadores dispõem de recursos de tempo e
pula administrativa, a maioria ainda tem dinheiro naturalmente limitados, e muitos
poucas mulheres ou estrangeiros na direto- atuam em sistemas que recompensam pro-
ria e nos conselhos de administração (The dutividade anual aferida por meio de publi-
Economist, 1995a). cações em revistas acadêmicas de primeira
Resumindo, a organização global ge- linha, o sistema acadêmico pode não enco-
ralmente representa um híbrido do velho e rajar pesquisa interdisciplinar, mesmo que
do novo, da organização moderna e da or- o mundo dos negócios precise dela cada vez
ganização pós-moderna. E exigente e difícil mais.
de ser gerenciada (Melin, 1992). Sem mu-
danças profundas na forma de pensar em
todos os escalões e setores organizacionais,
as mudanças associadas à globalização po-
dem não passar de modismos. A adaptação
da estrutura organizacional à globalização
requer não só mudanças incrementais no
funcionamento da organização, mas um re-
pensar fundamental de como os participan-
tes da organização pensam seu relaciona-
mento com a organização e o papel da or-
ganização num mundo global.

CONCLUSÃO

O desafio para a pesquisa sobre glo-


balização não é a existência de progressos e
sim se esses progressos estão sendo realiza-
dos com a rapidez suficiente (Dunning,
1989; Inkpen e Beamish, 1994). Por exem-
plo, Ricks et al. (1990 : 219) notaram que
enquanto "virtualmente todas as áreas de
gerenciamento têm uma dimensão interna-
cional (...) muitas dessas áreas apenas co-
meçam a ser investigadas". A pesquisa de
banco de dados de 73 revistas acadêmicas e
profissionais publicadas entre 1985 e 1990,
realizada por Adler e Bartholomew, revelou
um interesse crescente e um foco em itera
ções entre culturas de diversos tipos, mas
também descobriu que as publicações em
comportamento organizacional internacio-
nal e gestão de recursos humanos não au-
mentaram em duas décadas. Uma deman-
da particular é para a realização de mais
pesquisas interdisciplinares (Dunning, 1989;
Inkpen e Beamish, 1994) e Dunning (1993)
alerta-nos que futuramente estudiosos so-
mente realizarão todo o seu potencial se
combinarem o conhecimento da disciplina
estudada com idéias provenientes de outras
disciplinas. Acredita-se que organizações
multinacionais se desenvolveram além da
relevância e da legitimidade para que uma
única disciplina acadêmica pudesse explicá-
las (Sundaram e Black, 1992). Outros insis-
tem na necessidade de afastar-se de uma
pesquisa puramente quantitativa para incor-
porar uma pesquisa mais qualitativa (Wright
e Ricks, 1994) e comprometer-se com ma-
neiras mais flexíveis de elaborar teorias, para
abrigar a diversidade e a abrangência das
práticas globais.
Os esforços, porém, para constituir um
consórcio de pesquisa multinacional, multi-
cultural e interdisciplinar para gerar pers-
pectivas e níveis múltiplos de análises não
deixam de enfrentar "sérias dificuldades"
(Teagarden et al., 1995). Tal pesquisa exige
EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO: DA INTERNACIONALIZAÇÃO À GLOBALIZAÇÃO 370 p

Uma abordagem inderdisciplinar con- APPADURAI, A. Disjunctures and difference in


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16
NOTA TÉCNICA:
DA INTERNACIONALIZAÇÃO À
GLOBALIZAÇÃO NA PERSPECTIVA
BRASILEIRA
O capítulo de Barbara Parker é bem
apresentado e lê-lo acrescenta conhecimen-
CARLOS OSMAR
■■■■■■■■■■■■■■■■■HHHH
i
BERTERO
tos a todos, e aos que já estão familiariza- num país de Terceiro Mundo, ao tomar con-
dos com o tópico certamente algo mais do tato com programas, cursos, livros e traba-
que um reordenamento da matéria acaba lhos sobre negócios internacionais e globa-
ocorrendo. Traça adequadamente os passos lização é sempre de que continuamos ou-
e etapas que empresas percorreram desde vindo a fala e o discurso do escritório cen-
os tempos do chamado "International tral, embora a globalização implique a di-
Business" até as empresas que hoje são cha- luição dessa atitude. Como lembrou K.
madas de transnacionais ou globais ou tal- Ohmae (1994), uma empresa efetivamente
vez "glocais."
A globalização é apresentada, carac-
terizada e discutida, com as contradições
entre autores e as inevitáveis diferenças de
opiniões, esperáveis em tema tão sujeito a
controvérsias. A apresentação é, portanto,
equilibrada. Seu tom final é claramente
prescritivo, onde a autora recomenda estra-
tégias, estruturas organizacionais e valores
que devem nortear administradores e o com-
portamento em empresas que trilhem cami-
nhos globalizados. Aponta com proprieda-
de a escassez de pesquisas sobre assuntos
de negócios internacionais e de globali-
zação. Lembra que, embora de há muito se
observe que qualquer aspecto da atividade
de negócios, inclusive e especialmente das
diversas áreas funcionais de administração,
comporte sempre uma dimensão interna
cional, e hoje eventualmente global, as pes-
quisas sobre essa dimensão sempre foram
relativamente escassas.
Embora sempre cautelosa, procura
apresentar todos os aspectos da globalização
e reafirma um processo que vai dos "Negó-
cios Internacionais" (International Business)
à Globalização, que não é nunca questiona-
da. A globalização é apresentada como uma
realidade que está diante de nós, num pro-
cesso irreversível que não pode ser detido,
mas certamente pode ser modelado pela
vontade humana.
De uma perspectiva brasileira, que é o
que se espera nesta Nota Técnica, cabem
diversas observações. A primeira delas é que,
mesmo com o cuidado inegável da autora,
a perspectiva adotada é de uma área cen-
tral ou hegemônica. A sensação de alguém
que vive, ensina, pesquisa e trabalha numa
empresa multinacional ou "transnacional"
NOTA TÉCNICA: DA INTERNACIONALIZAÇÃO A GLOBALIZAÇÃO NA PERSPECTIVA BRASILEIRA

435 |
wmwmmwiÊÊmwmmmÊmwK -—-^mrnmm
m posta e apresentada como uma tendência
globalizada acaba por abolir a headquarters' irreversível, no mundo da economia e dos
mentality. Não é isto uma crítica à autora, negócios. O que se fala de globalização tem
mas uma constatação de uma etapa talvez em grande medida sua origem em círculos
inevitável no tratamento que hoje se faz do empresariais e econômicos. Acredito que
tema. noutras áreas, como Antropologia, História
Nosso mea culpa é nesse momento e Sociologia, o cuidado em abraçar e pro-
oportuno. Autores de Terceiro Mundo ao clamar tendências globalizadoras é bem
tratarem da globalização o vêm fazendo de maior. Isto quando não se tem uma atitude
maneira defendida e ainda utilizando as de contestá-la como no caso de Huntington.
velhas categorias de imperialismo, hege- Diante de visões tão contraditórias a
monia e dominação, (Ianni, 1995), como se respeito do tema seria de todo desejável que
nada tivesse substancialmente mudado. A ele merecesse maior atenção de pesquisa-
globalização é uma nova roupagem ou uma dores do Terceiro Mundo entre os quais nós
nova etapa do mesmo processo em que as brasileiros poderíamos oferecer nossa con-
nações ricas e poderosas, quase todas oci- tribuição. Questões importantes seriam dis-
dentais, tentam impor uma ordem econô- cutir criticamente a globalização, procuran-
mica, social e política ao restante do mun- do fugir seja do triunfalismo da irrever-
do, e que atualmente assumiria aspecto ain- sibilidade, seja do viés ideológico de que ela
da mais avassalador, já que a globalização não é mais do que o velho "imperialismo"
implicaria em boa medida uma homo- sob novo disfarce. Caso se aceite que mes-
geneização do mundo, feita sempre com mo sem triunfalismo globalizante, há uma
base em um modelo de cultura ocidental. real mudança na economia e no mundo
Curiosamente, o trabalho de Samuel empresarial, indaga-se sob as possíveis for-
P Huntington (1997), que não se ocupa di- mas de inserção nessa nova ordem. No caso
retamente de globalização, acaba por ser um brasileiro, houve início de mudanças em
interessante argumento contra sua viabili- políticas industriais e comerciais que eram
dade. O texto de Huntington, certamente um seculares, como o protecionismo que era um
autor de "contra-corrente" em seu universo pilar de nossa política econômica desde os
intelectual, acredita que o futuro nos reser- dias do Império. As transformações há pou-
va não a globalização enquanto "triunfo" da co iniciadas alteraram nosso mundo indus-
Cultura Ocidental, mas um declínio relati- trial e grandes mudanças ocorreram sob a
vo do Ocidente e a ascensão e aumento de forma de vendas, encerramentos de ativi-
importância de outras culturas, especial- dades de empresas, fusões etc. A nova or-
mente a chinesa e a islâmica. A conseqüên- dem que perspectivas traz ao país e a suas
cia é que a globalização passa a ser vista empresas? E claro que podemos inserir-nos
como manifestação, mais retórica do que vantajosa ou desvantajosamente na nova
uma possibilidade real, do etnocentrismo e ordem. Quais seriam as alternativas com que
arrogância ocidentais, mas que será apenas poderíamos contar?
um dos vetores a aumentar o potencial A pesquisa sobre negócios internacio-
conflitivo entre as diversas civilizações. O nais e globalização é não só feita nos países
trabalho de Huntington surgiu no mesmo centrais, como também a perspectiva é sem-
contexto em que desabrocharam as idéias pre do centro do sistema econômico e em-
triunfalistas e indiscutivelmente insólitas de presarial. Mesmo trabalhos importantes,
Fukuyama (1992), mas negando-as e enve- como os que vêm sendo realizados por
redando por outro caminho. Falar de globa- Bartlett e Ghoshal (1992), são pouco mar-
lização no meio de negócios sempre exige cados por dados, análises e perspectivas das
cautela. A globalização tem sido mais pro-
NOTA TÉCNICA: DA INTERNACIONALIZAÇÃO A GLOBALIZAÇÃO NA PERSPECTIVA BRASILEIRA

FURB - Biblioteca Central


I 380 PARTE II - QUESTÕES E TEMAS EMERGENTES EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

I -------------------------- _ ----------- _ ------------------------------------------------- 7TT ------------ r— --------------------------------------------------------------------------- : ------------------------------

subsidiárias ou unidades de negócios que


não estejam nos países centrais. No caso dos
Estados Unidos, da Europa Ocidental e do
Japão, este claramente incorporado pelos
referidos autores. A literatura ressente-se da
falta da pesquisa feita a partir da outra pers-
pectiva.
Um desafio análogo ao enfrentado por
Barbara Parker, que declara que muitas de
suas idéias, expostas no capítulo, resulta-
ram de um esforço maior que desenvolve
para produzir um livro-texto a ser usado em
um curso de "Globalization and Business
Practices", poderia ser empreendido por
autores brasileiros que poderiam propor-se
produzir um texto para o ensino de Globa-
lização e Negócios Internacionais com base
em uma perspectiva brasileira ou das subsi-
diárias e das unidades de negócios que não
estejam nos países ainda centrais. Quando
se tem que ensinar tal tipo de curso entre
nós não há alternativa senão utilizar textos
e casos que estão nos livros produzidos nos
Estados Unidos. A própria Europa não teve,
até o momento, uma presença marcante na
área, não obstante colocada no centro e
abrigue administrações centrais de muitas
empresas que são apresentadas pela litera-
tura não só como multinacionais, mas já
globalizadas ou transnacionais, como
Nestlé, Asea/Brow Boveri, Philips, Shell,
Unilever, Volkswagen e Deutsche Bank para
citar algumas.
O Brasil é um país de Terceiro Mun-
do, cuja tendência ao isolamento e ao
provincianismo são ainda agravados pela
pouca importância relativa da língua que
falamos. Isto contradiz nossa importância
econômica, se medida não só em termos de
nosso PNB, mas também de investimento
estrangeiro direto em nossa economia e do
papel potencial que podemos exercer no
hemisfério a partir do Mercosul, tomado
como ponto de partida. A tarefa acadêmica
em pesquisar nossa presença nesta realida-
de multinacionalizada, transnacionalizada
ou globalizada ainda está por realizar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OHMAE, Kenichi Um mundo sem fronteiras. São


Paulo : Makron Books, 1994.
IANNI, Octavio Teorias da globalização. São Pau-
lo : Brasiliense, 1995.
HUNTINGTON, Samuel P O choque das civiliza-
ções e a recomposição da ordem mundial. Rio
de Janeiro : Objetiva, 1997.
FUKUYAMA, Francis The end of history and the
last man. New York : The Free Press, 1992.
BARTLETT, C. A, GHOSHAL, S. Gerenciando
empresas no exterior: a solução
transnacional.
São Paulo : Makron Books, 1992.
/

CONCLUSÕES
17
CIÊNCIA NOPJVIAL,
PARADIGMAS,
METÁFORAS DISCURSOS E
GENEALOGIA DA ANÁLISE*
GIBSON
BURRELL
A VIDA NOS ANOS 60 reduzidas a tais simplicidades. Seu estilo era
tal que ele sempre se mantinha cuidadoso
Nos anos 60, o campo da análise em mostrar o quão provisório, parcial e ex-
organizacional era ilusoriamente simples. A perimental eram seus pensamentos. Seu
figura de Max Weber preenchia o espaço tal conceito de verstehen também lançou ques-
como um colosso e foi sob sua sombra que tões desconfortáveis, por apontar para o tra-
quase todo o trabalho foi desenvolvido. As dicional Idealismo alemão, e pelo qual os
ingenuidades do período eram correntes e teóricos organizacionais anglófilos tinham
envolviam suposições acerca da centralidade pouca simpatia ou entendimento. Assim,
da modernidade, a superioridade institucio- mesmo com a análise organizacional cons-
nal das estruturas burocráticas e a necessi- tituída a partir de uma imagem santificada
dade de medição do tipo ideal da constru- de Weber, eram ignoradas aquelas partes de
ção de Weber. A ascensão da teoria da con- seus fecundos escritos, que os parsonianos
tingência não havia feito nada para questi- desejaram consciente ou inconscientemen-
onar tais pressupostos, uma vez que a teo- te suprimir.
ria ainda estava sendo testada, normalmen- Temos pouco espaço aqui para avaliar
te, por meios de ênfase quantitativa, utili- a importância do Círculo de Pareto na Uni-
zando os métodos positivistas padrões na versidade de Harvard, mas seu impacto so-
busca de conclusões gerenciais relevantes. bre a teoria da organização pode ser facil-
Os autores organizacionais desse pe- mente subestimado. Esse grupo encontra-
ríodo, no qual o desenvolvimento dos esta- va-se como um clube recreativo no início
dos de bem-estar e de conflito armado ha- dos anos 30, e incluía os nomes de muitos
via criado uma espécie de movimento na
direção do corporativismo, perceberam sua
tarefa como sendo a de cientificar a área e
adicionar a ciência administrativa à lista dos
campos gerenciais relevantes, assim como
a ciência operacional e a economia. Seu

Tradução: Mario Couto Soares Pinto


Revisão técnica: Sylvia Constant Vergara
objeto de estudo - a organização - estava
ganhando em importância a partir das mu-
danças sociais significativas, relativas à
burocratização. E Weber, cujos escritos
pro-
metiam a sua audiência profissional um fu-
turo protegido, era um ídolo diante do qual
esses analistas se curvavam.
Sociólogos, naturalmente, há muito
haviam identificado que as complexidades
do pensamento de Weber não poderiam ser
I 383 CONCLUSÕES _____________________________________________ ------ . --------------- _^

personagens eminentes que, coletivamente, Bruno Latour (1982) mostrou-nos que para
se chamavam pelo nome de Vilfredo Pareto, o campo da ciência ser bem-sucedido, uma
o "Marx da burguesia". Parsons, Merton, rede tem que ser desenvolvida, e se a área
Mayo, Homans, Roethlisberger e Chester desenvolve ou não seu pleno gozo, na prá-
Barnard pertenciam todos ao círculo inter- tica isso depende do trabalho árduo e do
no das maiores figuras da teoria organi- consenso político entre seus líderes refe-
zacional. Na busca de rejeitar a influência renciais.
de Marx, eles se voltaram para outros teóri- Assim, podemos perdoar os primeiros
cos sociais da Europa. Se, por um lado, teóricos organizacionais por alguma miopia,
Pareto cumpriu esse propósito no início dos uma vez que isto serviu a um propósito polí-
anos 30, foi Weber quem foi resgatado ao tico mais importante. No entanto, a noção
posto no período da II Grande Guerra (Ray de época de ouro sempre é suspeita, visto
e Reed, 1994). que quando olhamos para trás, podemos ver
Não que Parsons não fosse um teórico não apenas um campo menor, mas um cam-
social extremamente competente, ou que po onde os poderosos concordaram em ig-
ignorasse a tradição do Idealismo alemão, norar problemas fundamentais no direcio-
ou que intencionalmente deturpasse as idéi- namento de questões fundamentais. O po-
as de Weber mais do que os outros. É prefe- der que o grupo ganhou veio mais de um
rível dizer que na busca por uma ciência amplo reconhecimento externo de seu
administrativa, unidade, homogeneidade e explanandum do que de seu explanans. Em
coerência eram enfatizadas, às custas da fra- outras palavras, muitas pessoas influentes
tura, fissura e diferença. Na discussão imaginaram que administração fosse um
parsoniana do trabalho de Max Weber, sua fenômeno importante a ser explicado (o
filosofia original e suas tensões políticas são explanandum), sem levar em consideração
quase totalmente ignoradas. Ademais, suas o quadro explanatório usado, que no caso
análises das organizações podiam ser sus- era positivista e estrutural (o explanans).
tentadas como se prescindissem de Marx ou Portanto, tão logo a natureza problemática
de idéias de esquerda. Weber, ou mais pre-
cisamente o weberianismo, forneceu a de-
fesa perfeita da regra burocrática e da im-
portância da função administrativa
(Mouzelis, 1975). Enquanto isso, a relevân-
cia do weberianismo de esquerda era igno-
rada juntamente com o conceito de
verstehen. Assim, quase desde o princípio,
uma teoria da organização unificada come-
çou a se dissolver diante de nossos olhos.
Nem bem um Weber modificado tinha sido
apresentado como um santo padroeiro da
análise organizacional, e os vândalos come-
çaram a pichar com o grafite da aversão
política e metodológica.
Ciência administrativa, então, não é
estranha às linhas fraturadas da análise. O
Weber que foi politicamente de esquerda e
intelectualmente idealista foi ignorado em
muitos dos trabalhos clássicos. Tão logo esse
Weber foi ressuscitado, o projeto da teoria
organizacional, quase que em seu instante
de concepção, transformou-se em luta. Te-
oria organizacional, daquele dia em diante,
foi um "terreno contestado".
Tal visão da análise organizacional
sugere que a contestação sobre solo políti-
co, epistemológico e metodológico estava
presente mesmo no auge dos Estudos de
Aston, o lançamento da ASQ - Admi-
nistrative Science Quartely - e a ascensão da
teoria da contingência. Enquanto as figuras
líderes não bradaram suas preocupações
sobre sua coerência - de fato alguém pode
argumentar que a figura "líder" só se trans-
forma nisso porque nunca expressou em
público nenhuma dúvida sobre a natureza
integral de seu projeto - tal coerência tinha
que ser afirmada, mais do que demonstra-
da, para auditórios que a desconheciam.
CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 384 I

do fenômeno foi encaminhada, ficou quase desejo e do corpo do que do pensamento e


irrelevante a forma pela qual as supostas da mente.
soluções foram alcançadas. Assim, a dificul- Como então descrever o fraturado pre-
dade real para a análise organizacional era, sente? Vamos pesquisar um outro mito pro-
e ainda é, como convencer o influente de fundamente enraizado que diz respeito ao
que estamos encaminhando um explanan- conhecimento humano e, ao achá-lo, vamos
dum de vital importância - do ponto de vis- usá-lo metaforicamente para compreender
ta dele. Se nós nos virmos como "servos do nossa disciplina. O mito que aqui anuncia-
poder" (Baritz, 1962), então, estar atento se à mente é encontrado não na mitologia
ao influente é uma questão crucial da qual grega, mas na Bíblia. Assim como todos os
nossas riquezas política e econômica depen- mitos, sua significância está sujeita a uma
dem. Que explanans nós possuímos é, de análise de múltiplas camadas, mas nosso
modo geral, de interesse unicamente nosso. esforço, como o leitor pode perceber útil,
Todavia, o presente texto não é sobre pode ser encontrado em After Babel: Aspects
o explanandum de nossa disciplina; ao con- of Language and Translation (1975), de
trário, diz respeito a ele mesmo em relação George Steiner.
ao nosso explanans em seus níveis mais bá-
sicos. Aqui, paradigmas, estruturas, mapas
cognitivos, teoria etc. são palavras (e mes- A TORRE DE BABEL
mo conceitos, vez por outra) que nós usa-
mos para descrever a forma pela qual abor- Na Gênesis, a história contada é que
damos e confrontamos nosso objeto de es- Deus ficou insatisfeito com a humanidade
tudo. Porém, se observarmos a teoria orga- representada pelos construtores do templo
nizacional nos últimos anos do século, ve- de Babel (Babilônia). Seu templo é tão alto,
remos que ela apresenta um quadro mais e sua intenção em rivalizar em poder com
fragmentado do que o existente nos 30 anos Deus é tão transparente, que Deus decidiu
anteriores. O que enfrentamos nos anos 60 espalhá-los pelos quatros cantos da Terra
foi um acordo de estilos no qual o foco de numa diaspora que tornou impossível a um
nossa atenção foi a grande organização bu- construtor falar com o outro. A diaspora dos
rocrática inserida na sociedade moderna. construtores é motivada pelo desejo de Deus
Com o acordo sobre o explanandum, as difi- em garantir, deliberadamente, uma divisão
culdades acerca do explanans retraíram-se. em muitos grupos de guerra. A fala de mui-
Nós vivíamos numa era de ouro, visto que o tas línguas veio apenas após o abandono do
objeto de nossos desejos era fixo. trabalho no mesmo edifício. O que é impor-
A era de ouro do modernismo foi gra- tante é o projeto compartilhado, não a lin-
dualmente transformando-se numa situação
na qual não é um acordo e identidade que é
celebrado, mas diferença e divergência lin-
güística (Cooper e Burrell, 1988). Nas áre-
as predominantes da teoria da organização,
atualmente, seria tolo sustentar que aquele
pós-modernismo foi aceito com alguma sim-
patia, mas uma percepção da relevância
vanguardista do trabalho de Michel Foucault
e Jacques Derrida, por exemplo, lentamen-
te despontou. Este capítulo tentará mostrar
o efeito corrosivo sobre nosso explanandum
de que é capaz tal pós-modernismo - desde
que aqui se observe que, considerando a
divergência e a multiplicidade de opiniões
sobre o "pós-modernismo", nem Foucault
nem Derrida aceitariam aquele rótulo como
um classificador de seu próprio trabalho.
Ademais, no combate entre aqueles deuses
gregos gêmeos, Apoio e Dionísio, enquanto
Apoio dominou dos anos 60 aos 70, Dionísio
como que ressurgiu nos últimos 15 anos. E
com essa ascensão Báquica, falocêntrica
como é, passou a ser mais possível falar de
CONCLUSÕES

guagem compartilhada. A babel de vozes monarquia, com o peso absoluto da tradi-


vem da interrupção da tarefa conjunta, e não ção, no início não era tão vivo e vibrante
o contrário. nos USA. O que era visto na arena da admi-
O que os estudos organizacionais ca- nistração, quando olhamos cuidadosamen-
recem hoje é de uma linguagem e de um te, é a confrontação do Novo Mundo pelo
projeto compartilhados. Como então isso se Velho. Como podem eles ter os mesmos pon-
ajusta com a noção muito usada de "o pro- tos de vista sobre como administrar as pes-
jeto da modernidade", e qual o papel dos soas sob seus domínios? Assim, da mesma
estudos organizacionais nisso tudo? A res- forma como Weber fica parcialmente perdi-
posta, naturalmente, é que a modernidade, do tanto na tradução como na passagem
em suas fases tardias ou pós-modernas, ques- transatlântica, os construtores da teoria da
tiona a organização burocrática e sua legiti- organização utilizam e contam com diferen-
midade, quase tanto quanto fora interrogada tes suposições sobre a natureza do mundo
naqueles longínquos tempos pré-modernos
social e psicológico - dependendo de qual
antes da industrialização. Com o expla-
lado do Atlântico Norte eles se encontravam
nandum de nossas atividades em retração, pode
num determinado momento.
causar espanto que também nossos explanans
Contudo, a fim de que a acusação de
sofram de uma carência de confiança?
hemisfériocentrismo não seja proferida con-
Pfeffer (1993), num texto provocativo,
tra este capítulo, permita-me rapidamente
objetou que a teoria da organização neces-
apontar um trabalho de interesse, em an-
sita ser muito mais disciplinada, centraliza-
damento no Hemisfério Sul, e ao redor de
da e controlada por um pequeno grupo de
um oceano maior do que o Atlântico. Foi
elite, se almeja ter algum futuro na acade-
numa noite de maio de 1985 que, pela pri-
mia. Apesar de ele não usar a metáfora de
meira vez, o tráfego aéreo sobre o Pacífico
Babel, existe uma clara idéia de um campo
ficou mais denso do que aquele sobre o
desigual e fragmentado, pronto para ser
Atlântico, e essa mudança no comércio glo-
hostilmente assumido por aqueles de fora,
bal é também reconhecida nas trocas inte-
que são melhor organizados e centraliza-
damente comandados. Assim, este capítu-
lo, em particular, vai considerar três elemen-
tos da estrutura deste campo. O primeiro é
a natureza da fragmentação de nossa disci-
plina nas escolas de pensamento, e a cor-
respondente fragilidade de uma elite uni-
versalmente aceita que está no controle; o
segundo é a deficiência de explanans com-
partilhados, resultantes; e o terceiro é a cau-
sa de ambos - a natureza móvel do próprio
empreendimento administrativo. Claro que
eles são interconectados, mas vamos nos
concentrar em um de cada vez.

A diaspora dos construtores


Os construtores da teoria da organi-
zação não vivem numa metrópole única. A
disciplina é global em seus redutos de pro-
dução. Por exemplo, a natureza transatlân-
tica de boa parte da teoria organizacional é
há muito reconhecida. A importação para
os EUA dos vestígios intelectuais de Weber
não é nada mais do que uma forma de trá-
fego. A importação reversa para a Europa
dos princípios organizacionais desenvolvi-
dos nas ferrovias da costa oriental apenas
refletia a exportação de idéias francesas em
disciplina e linearidade para a Academia de
West Point, um pouco antes (Hoskin e
MacVe, 1986). No entanto, em cada impor-
tação e exportação, pequenas mudanças
eram necessárias para customizar o produ-
to intelectual para mercados específicos.
Algo era adicionado. Algo era removido.
Dessa forma, as preocupações da Europa
com propriedade, servidão, com falta de
terras para as massas, com aristocracia e
CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 386 |

lectuais. O Atlântico não mais representa o de estagnação e para estagnação por meio
centro geopolítico inconteste da teoria das quais a mudança, a dinâmica, a
geopolítica como o fora uma vez. inquietude são forçadas a se oferecer para a
Agora, a existência da Teoria das Or- contemplação do observador. Conceitos são
ganizações do Atlântico Norte (OTAN) não a forma definitiva de panóptico (Foucault,
significa que os construtores originais algu- 1977). Ao classificar e marcar suas vítimas,
ma vez compartilharam uma identidade to- os conceitos desempenham um ato de apri-
tal de abordagem. O que eles realmente sionamento de considerável sofisticação.
compartilharam foi um consenso de pós- Todavia, ocorre muito mais do que um
guerra no qual o welfarism trazido pelos encarceramento. Uma vez imobilizada, a
governos do pós-guerra foi fundido com a estrutura de pensamentos transforma-se em
economia Keynesiana, uma desconfiança da objeto de legenda. O conceito escreve suas
URSS e do Euro-comunismo, tipos de rees- marcas sobre o corpo da literatura e, no pro-
truturação organizacional posta em prática cesso de marcar com cortes e incisões, dei-
por empresas de consultoria americanas, xa um rastro de lesões atrás do qual todos
enormes gastos de defesa e supostas tenta- podem seguir. Os cortes mais profundos são
tivas de manter o desemprego baixo. Todos aqueles que deixam as maiores impressões
esses traços apoiavam-se em atividades cen- sobre os que entenderam a significância das
tralmente planejadas e coordenadas nas observações do autor para eles próprios.
quais as idéias americanas, exatamente Contudo, esses magníficos cortes, em últi-
como as tropas americanas, predominavam. ma análise, significam morte e imobilida-
Como foi recentemente salientado, os de- de. No mínimo, o assunto é ferido pelos mais
sembarques do Dia-D representaram a pri- profundos e incisivos rótulos.
meira invasão bem-sucedida em solo euro- Paradigmas, metáforas, discursos e
peu desde que o Leste sucumbiu para um genealogias são todos lesões entalhadas no
dos paxás no fim do século 14. Quinhentos corpo da vida organizacional. Análises de
anos de predominância européia foram des- quase todo tipo requerem a morte ou, ao
feitos por uma invasão do capital, idéias e menos, a mutilação, daquilo que é analisa-
aparatos militares do Oeste. A teoria orga- do. Para identificar algo como explanandum,
nizacional, delicadamente inserida na estru- deve-se oferecê-lo para a execução. Para
tura de um sociólogo alemão, tal como ocor- apear-se sobre algo como um explanans,
reu, foi, todavia, uma re-importação ameri- deve-se fornecer, pelo menos, uma temível
cana.
A teoria organizacional era, e em al-
guma medida ainda o é, construída em tor-
no dessa mistura intercontinental. E tal
como ocorre com todos os produtos de in-
tercâmbio, ela convida a tentativas de com-
preensão da forma como opera.
A chave para o tema é a centralidade
da ciência em nossas formas de olhar para
a administração e para o comportamento
organizacional. A ciência começa pela colo-
cação da dinâmica perpétua num campo de
estagnação. As cláusulas de ceteris paribus,
o experimento e o laboratório são todos for-
mas de estabilizar o fluxo perpétuo do mun
do real. Tem o terrível exemplo de um pi-
nheiro de 4.900 anos no Wyoming que foi
derrubado por um pesquisador impaciente,
porque seu instrumento de tirar caroços de
árvores não iria funcionar. A coisa viva mais
antiga no planeta foi assassinada para que
fosse descoberto quão velha ela era (Zwicky,
1992). A criação da estagnação, o melhor
para manter a vítima científica estável para
que pudesse ser anatomicamente examina-
da, é extensa. Temos que olhar, talvez, para
a série de conceitualizações dentro da teo-
ria da organização como uma maneira de
reforçar uma estagnação anatomizante so-
bre a dinâmica da vida real. Existem noções
I 387 CONCLUSÕES _______________________________________________

arma de mutilação. Assim, palavras, espe- se com a diaspora da forma isomórfica de


cialmente em forma de conceitualizações, organização. Aqui não existe uma silhueta
servem para aprisionar, imobilizar e ferir facilmente identificável, visto não existir
aquilo a que elas buscam se referir. nenhuma identidade próxima entre aque-
les que, por exemplo, estudam o setor vo-
luntário e aqueles que utilizam uma instân-
Sem acordos sobre os explanans cia gerencial particular. As linhas da fissura
não coincidem. A fragmentação é muito pior
Assim como os construtores vieram a do que isso.
conflitar sobre termos e métodos a serem
usados na construção da torre, também na
teoria da organização existe muito pouco O LEITO DE PROCUSTO DA TEORIA
acordo sobre os tipos de conceitualizações
a serem usadas, não importando a própria Dadas todas essas linhas de fissura e a
conceitualização atual. A energia para a dis- necessidade desesperada de acadêmicos, sob
solução, naturalmente, está na área desde a modernidade, de proclamarem um enten-
o início. Como discutido, seria tolo imagi- dimento do mundo, não chega a surpreen-
nar a existência de uma estrutura coerente der que os teóricos tenham tentado "con-
que diga respeito ao colapso incipiente. Tudo sertar" o mundo organizacional e, reduzin-
o que ocorreu no final dos anos 60 era a do sua dinâmica para um sistema clas-
realidade da fragmentação, ficando mais sificatório estático, aprisioná-lo. Nós temos,
clara quando ficou brilhantemente óbvio
que um grupo particular de teóricos da con-
tingência tinha, até este ponto, calado as
outras vozes do outro lado da estrutura. A
idéia de que uma voz pudesse afogar o res-
tante é atraente para aqueles bem dotados
em pulmões, mas é um sonho que nunca
poderá ser completamente realizado. Exis-
tirão sempre, graças a Deus, as vozes de dis-
sidência e o clamor de alternativas concor-
rentes no espaço aural. O que tivemos nos
anos 60 foi meramente um período de opo-
sição silenciada antes que o volume do mur-
múrio aumentasse. Diferentes explicações
de problemas diferentemente concebidos,
rapidamente tornaram-se proeminentes,
conforme ia crescendo o número de acadê-
micos empregados na arena da teoria da
organização. As mudanças demográficas na
população acadêmica são significantes, mas
não podem ser vistas como a causa da frag-
mentação. Elas apenas a fizeram mais visí-
vel.
A natureza móvel do
empreendimento
Da mesma forma que a demografia da
população acadêmica afetou a natureza da
dinâmica fragmentadora na teoria organi-
zacional, também o fizeram as mudanças
que ocorreram nas populações das organi-
zações nas quais nosso interesse estava
centrado. Privatização, franquia, quebra de
grandes corporações em entidades quase
autônomas, ataque sobre a burocracia, ata-
que sobre o gerente médio e assim por di-
ante, tudo significava que o próprio
explanandum estava em transformação. O
modo de organização estava se alterando
na medida em que mercados e redes come-
çavam a tomar o lugar daquelas burocra-
cias, das quais Weber foi o teórico maior.
Enquanto muito poucos pensavam ou, mais
precisamente, pensam que a burocracia está
morta, claramente o que ela está é, em al-
guma proporção, em retração, ao longo do
mundo desenvolvido. Assim, é possível di-
zer que a diaspora dos teóricos emparelha-
CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 388

agora, por fim, que desviar para as formas ries que ele estava editando. Gioia e Pitre
nas quais os estabilizadores tentaram ofe- (1993) sugerem que
recer lampejos momentâneos de um mun-
A ironia de incluir o trabalho supos-
do em fluxo. Nisso, eles forçaram a análise tamente radical de Kuhn na série de
organizacional para um Leito de Procusto, Neurath et al. pode ser apenas aparente.
no qual ela geme e se contorce, porque não Apesar do trabalho de Kuhn ser
é do tamanho correto para caber na estru- tipicamen-
tura paralisada na qual vem sendo prensa- te citado como um marco na queda do
da. Todavia, as forças continuam. Cada um empiricismo lógico, sua atual oposição ao
dos termos apontados a seguir forçam o empiricismo de pós II Grande Guerra é
tema para uma estrutura compreensível e exagerada.
simplificada. Isso, afinal, é o que faz a ciên- Apesar disso, o que Kuhn alcançou na
cia. Mas precisamos dar conta que o que The Structure of Scientific Revolutions não se
todo conceito faz é excluir, tanto quanto in- ajustou bem às óticas contemporâneas de
cluir; ignorar, tanto quanto concentrar-se; então sobre o progresso da ciência e como
entregar para a obscuridade, tanto quanto isso tinha que ser explicado. Ao desenvol-
trazer para os refletores. Conceitos passam ver o conceito de "ciência normal", Kuhn
dos limites. E em lugar algum isso acontece argumentou que as evidências no progres-
mais do que no conceito de "paradigma". so nas ciências físicas, particularmente no
grande trabalho de síntese de Newton e
depois Einstein, não se ajustavam às visões
A ORIGEM DO PENSAMENTO DE indutivista ou falsificacionista da ciência. A
PARADIGMA ciência não evolui por fatos se revelando a
pensadores inteligentes, ou por cientistas
No início do século, a ciência e a filo- tentando falsificar suas próprias hipóteses
sofia alemãs eram vistas como estando num em cada experimento. Kuhn vê a ciência se
estado de caos. A visão externa, que desenvolvendo por meio de tensões políti-
enfatizava a força desses sistemas de pen- cas, que são resolvidas na comunidade ci-
samento, não era compartilhada por Carnap, entífica em um ciclo que começa com o de-
Neurath e os positivistas vienenses ou pela safio dos mais jovens e conseqüente resis-
Berlin School de empiricistas lógicos. Todos tência dos poderosos, a morte dos podero-
eles buscavam sobrepujar a situação já acei- sos, sua substituição pelos mais jovens que,
ta de heterogeneidade e fragmentação, ofe- então, passam a dominar e, finalmente, o
recendo o cenário de uma linguagem co- desafio de outros novos jovens, novamen-
mum para a ciência que iria levar eventual-
mente a uma ciência unificada. Sua ciência
unificada, para os olhos de alguém de fora,
parece excepcionalmente como matemáti-
ca, mas para eles esse caminho assenta pro-
gresso. Neurath e Carnap propuseram um
trabalho central que atingiria essa meta. The
Foundations of the Unity of Science: Toward
an International Encyclopaedia of Unified
Science foi iniciado em 1938 e por volta de
1962 incluiu em seu programa um texto-
chave para aqueles interessados na noção
de paradigma. Era a The Structure of
Scientific Revolution de Thomas Kuhn
(1962).
O surgimento desse livro particular
nesse projeto particular é incrivelmente irô-
nico, porque o livro de Kuhn é visto por
muitos como oferecendo a defesa de uma
ciência não unificada. Todavia, por razões
que examinaremos dentro em breve, não
está assim tão evidente que Kuhn esteja to-
talmente comprometido com o impacto be-
néfico de uma ausência de unidade da ciên-
cia. Como Gioia e Pitre (1993) mostram,
Carnap, um grande unificacionista, deu
boas-vindas ao surgimento do livro nas sé-
389 CONCLUSÕES

te. Daí, os ciclos de vida dos indivíduos e os O tratamento de incompatibilidade


caminhos do progresso científico estarem de Kuhn divide-se em posição inicial e po-
fortemente interligados. E preciso a morte sição posterior, separadas por um estágio
do velho para que o novo venha frutificar. de transição. Originalmente, a noção de
Kuhn de incompatibilidade envolveu dife-
Dessa forma, existe uma relação cíclica en-
renças semânticas, de observação e meto-
tre ciência normal e ciência revolucionária, dológicas entre teorias globais e paradig-
com uma dando passagem para a outra, res- mas. Sua discussão inicial sugeriu que os
pectivamente. proponentes de teorias não compatíveis
Ciência, então, não é uma trilha line- são incapazes de se comunicarem, e que
ar de hipóteses falsificáveis. Pelo contrário, não existe recurso para uma experiência
para Kuhn é uma sucessão de períodos de neutra ou padrões objetivos para julga-
descontinuidades da "ciência normal" e mentos entre teorias. Num esforço subse-
mudança revolucionária. Formas estabele- qüente de clarificar sua posição, ele res-
cidas de ver o mundo são substituídas, du- tringiu a incompatibilidade para diferen-
ças semânticas e incorporou isso à
rante toda a história, por tremendos
indeterminação quineana de tradução.
cataclismas no pensamento. Tais mudanças Durante essa fase intermediária, o trata-
são tão vastas que as antigas maneiras de mento de Kuhn a essa questão tende a ser
pensar são totalmente incompatíveis com as incompleto, freqüentemente resultando
novas. Para aceitar o novo, deve-se compro- numa discussão superficial. No entanto,
meter com uma experiência de conversão. nos anos recentes ele começou a desen-
De forma alguma estão todos os cientistas volver sua posição numa forma mais refi-
do campo propensos a contemplar esse nada. Seu ponto de vista amai é que exis-
movimento em uma estabilidade confortá- te uma falha de tradução entre um grupo
de termos indefinidos dentro da
vel. A nova visão de mundo - einsteiniana,
linguagem
em vez de newtoniana, por exemplo - cria
da teoria (1993 : 760).
uma nova estrutura, uma nova relação de
agendas comuns, um novo paradigma que
revoluciona nosso entendimento. A comple-
ta enormidade dessa revolução no pensa-
mento pode apenas ser vista se o cientista
leva adiante um 'deslocamento Gestáltico".
Paradigma, como é usado por Kuhn
(1962), é uma palavra que excitou muitos
na filosofia da ciência, mas fascinou outros
dos mais diversos lugares. Masterman
(1970), em um artigo largamente citado,
mostra que Kuhn usa o termo em mais de
20 diferentes maneiras em The Structure of
Scientific Revolutions. Todavia, na segunda
edição, escrita em 1970, Kuhn afirmou - em
uma versão que dilui bem mais o radicalis-
mo da primeira - preferir o termo "matriz
disciplinadora" a "paradigma". Em um pe-
ríodo a seguir, o trabalho de Kuhn aprovei-
tou as honrarias próprias a todo trabalho
importante. Foi tema de uma análise deta-
lhada e crítica. Uma conferência organiza
da por Imre Lakatos, o sofisticado falsifi-
cacionista líder do período, atacou a posi-
ção kuhniana com gosto e, sem surpresa,
entendeu que tinha fraquezas. Diante dis-
so, pelo final dos anos 60, Kuhn retirou-se
para uma posição menos radical. Essa
retração continuou em 1970 e alcançou o
estágio no qual ele pôde dizer, em 1982, que
"paradigmas" não interrompem uma comu-
nicação integral por meio da linha divisória
revolucionária e, em 1990, que o entendi-
mento por meio das barreiras não poderia
ser eliminado (Gioia e Pitre, 1993).
Howard Sankey (1993) envolveu-se
numa discussão completa sobre a mudança
de posição de Kuhn a respeito de paradigmas
e argumentou persuasivamente que o tra-
balho de Kuhn poderia ser dividido em três
fases. São "a posição inicial", "a fase de tran-
sição" e "a posição posterior". Ele argumen-
ta, em um expressivo trecho, que
_________________ CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 390 |

■ . ,.■ ■ ■ ■ ....

Discutível, o problema da incompati- e começaram a ver suas próprias discipli-


bilidade de paradigmas permanece bem no nas nessa forma "paradigmática"
centro da questão da relevância, existência, (Friedrichs, 1970; Ritzer, 1975). Isso se ajus-
ou futuro dos paradigmas organizacionais. tava bem à noção de crise na ciência social
Se um paradigma pudesse ser facilmente de pós-guerra e à possibilidade de uma nova,
traduzido em um outro, então a questão se realmente revolucionária ciência, detonan-
transformaria em como e quando a domi- do as velhas idéias pelo envelhecimento das
nância total daquele grupo numericamente ainda poderosas figuras que dominavam
mais forte ocorreria. Se o entendimento dos seus campos. Kuhnianismo, de várias for-
grupos menores, menos fortes politicamen- mas, instigava os jovens.
te, pode ser tão facilmente incorporado na As formas pelas quais "paradigm"
linguagem da ortodoxia dominante, então como um termo vieram para dentro da aná-
sua linguagem, sua cultura, sua própria exis- lise organizacional são várias, mas o livro
tência estarão provavelmente pouco segu- publicado em 1979 por Burrell e Morgan
ras. Essa noção de sobrevivência, então, e articulou a delimitação procusteana ao es-
as metáforas de morte e destruição a ela tabilizar o campo numa forma algo extre-
associadas são cruciais. Para aqueles que ma. E é provável que esse extremismo, ao
argumentam a favor da existência da incom- consertar e estabilizar o objeto de estudo
patibilidade de paradigma, existe uma ten- da teoria da organização, explique alguns
dência real em pensar que qualquer curso de seus impactos. Eles identificaram quatro
de ação apoiado na crença em regras de tra- "paradigmas" que são necessariamente for-
dução vai resultar, cedo ou tarde, em uma mados pela adoção de uma posição a partir
tomada - a invasão - de suas posições por de duas dimensões conceituais básicas. Dado
forças hostis. A ortodoxia funcionalista, in- que sociologia e teoria organizacional são
dependente de sua vantagem em números, partes não litigiosas da ciência social, argu-
recursos e posição institucional, é muito boa mentam eles, qualquer afirmação que é fei-
em traduzir preocupações, idéias e inves- ta nessas áreas de uma natureza especu-
tidas originadas de "fora" para dentro de lativa tem que fazer suposições tanto sobre
seus próprios termos. Pensa na forma como a natureza da sociedade, quanto sobre a
"alienação" transforma-se como que por natureza da ciência. Se isso não for feito,
encanto num conceito. As palavras perma-
necem as mesmas. O conteúdo, a ideologia
e a significância política são arrancados, no
entanto, deixando por trás da palavra qual-
quer coisa que não sua significação.

PARADIGMAS ORGANIZACIONAIS

Nos dois lados do Atlântico, a noção


de "paradigmas" na análise organizacional
tem recebido muita atenção nos últimos 15
anos. Não está claro, conforme já percebe-
mos em The Structure of Scientific Revolutions
(1962; 1970), o que é denotado precisamen-
te por "paradigma", visto que Kuhn usa o
termo em, pelo menos, 20 formas diferen
tes, em sua análise do colapso da física
newtoniana. Entretanto, o termo gira em
torno da idéia de "leis clássicas" e "modos
da vida comunitária". Deve ser dito que
paradigmas definem, em um senso acorda-
do e profundamente assentado, uma forma
de ver o mundo e como este deveria ser es-
tudado, e que este ponto de vista é compar-
tilhado por um grupo de cientistas que vi-
vem em uma comunidade marcada por uma
linguagem conceituai comum, que buscam
fundar um edifício conceituai comum, e que
são possuídos por uma postura política
muito defensiva em relação aos de fora.
Nos fins dos anos 60 e início dos 70,
cientistas sociais alinharam-se com a deli-
mitação kuhniana com grande entusiasmo
391CONCLUSÕES

--
consciente ou inconscientemente, então não organizacional é pluralístico. O que não sig-
está sendo feita uma afirmação da ciência nifica que a análise organizacional seja "ima-
social. Burrell e Morgan tentaram identifi- tura" ou esteja, com o fôlego suspenso,
car a natureza dessas afirmações em dois aguardando sua fase de ciência normal. É
eixos que, ao serem colocados em ângulo tão-somente que uma pluralidade de legi-
reto, criam quatro paradigmas "mutuamente timações e perspectivas que competem, deve
excludentes". Esse mapeamento, tal como ser esperada em todas as ciências, especial-
é, é apresentado nas Figuras 1 e 2. mente nas sociais.
Tão logo o livro apareceu, foi alvo de Apesar da desaprovação dirigida a
uma crítica sustentada, muito dela focali- Burrel e Morgan, e apesar de alguma pres-
zando a impossibilidade de se forçar as teo- são dos editores, os autores não produzi-
rias social e organizacional em quatro cate- ram uma segunda edição. Eles tinham visto
gorias estáticas. Enquanto o termo "leito a forma como escritores modificavam seus
procustiano" não era largamente utilizado trabalhos em respostas às críticas, e a ten-
nas críticas, muitos comentadores se con- dência para esse tipo de modificação asse-
trapunham à super-simplificação forçada do melha-se a uma diluição de argumentos ra-
esquema. Clegg (1982), por exemplo, disse dicais. Eles se abstiveram da oportunidade
que esse ajuste de complexidades pelo uso de responder às críticas pela simples e du-
de uma matriz 2 x 2 era uma abordagem vidosa razão de manter a "pureza".
tipicamente funcionalista ao objeto de es- O presente autor ousa acreditar que
tudo. Enquanto o livro dizia-se ser capaz de este livro resiste como uma peça escrita em
identificar e encorajar alternativas ao fun- um período em que o funcionalismo estava
cionalismo, ele caiu na própria armadilha
do conservadorismo. Muita atenção foi pres-
tada ao próprio conceito de paradigma e às
formas pelas quais este divergia da "visão"
(sic) que Kuhn tinha do termo. As dimen-
sões componentes da dicotomia subjetivo-
objetivo, conforme sublinhado na Figura 2,
também foram atacadas pelo suposto mal
uso do termo "ontologia". O que as críticas
acharam mais incômodo, contudo, foi a no-
ção de incompatibilidade de paradigma, ao
qual Burrell e Morgan aderiram de forma
tão tenaz. Aqui, a idéia de paradigma não
poderia aparecer, visto que paradigma foi
tomado até o momento para sugerir que
conceitos e termos e métodos de um para-
digma não eram traduzíveis em outros usa-
dos por outro paradigma. A ausência de re-
gras de tradução foi presumida por Burrell
e Morgan para conduzir à exclusividade
mútua de paradigmas. Eles argumentaram
que, uma vez que as afirmações metateó-
ricas de paradigmas diferiam, não pode-
riam existir regras de conversão totalmente
efetivas. Os comentadores, todavia, argu
mentaram em favor da possibilidade de al-
guma tradução estar disponível e nesta
assertiva, como visto, existe certamente al-
gum apoio do próprio Kuhn em suas últi-
mas publicações.
No que o livro de Burrell e Morgan
pode ter tido sucesso foi em ressaltar a fa-
lência do campo da teoria organizacional
com seus grupos conflitantes, e em demons-
trar que sua orientação funcionalista, en-
quanto popular, politicamente superior e
comum, não era de forma alguma a única
estrada possível aberta para a análise
organizacional. O texto articulava e legiti-
mava, em algum grau, as vozes daqueles que
não compartilhavam as orientações funcio-
nalistas. Observe-se aqui que o argumento
em Sociological Paradigms and Organiza-
tional Analysis não é de que o funcionalis-
mo é representativo de uma ciência normal
em nossa disciplina, e que será eventual e
inevitavelmente substituído por uma outra
orientação depois de um período de revolu-
ção (à la Kuhn). Pelo contrário, o livro ar-
gumenta que o estado normal da ciência
Sociologia da mudança radical

Figura 1 Os quatro paradigmas sociológicos.


CONCLUSÕES

A dimensão subjetiva-objetiva
A visão subjetiva A visão objetivista
de ciência social de ciência social

Nominalismo Ontologia

Anti-positívismo Epistemologia

Voluntarismo Natureza Humana

Ideográfico k- Metodologia

Realismo

Positivismo

Determinismo

Nomotética

Figura 2 Um esquema para analisar afirmações sobre a natureza da ciência social.

em declínio, mas a legitimidade de perspec- então não pode compreender completamen-


tivas alternativas ainda estava em dúvida. te como ela é usada pelos nativos.
Ele forneceu as condições para que alguns O problema da incompatibilidade de
analistas organizacionais abraçassem outros paradigmas permanece justo no centro dos
quadros de referência, sem se preocuparem problemas dos paradigmas organizacionais.
demais com a ortodoxia. No entanto, a Existe um grupo - "os guerreiros do
legitimação de outros paradigmas hoje está paradigma" (é o nome como às vezes são
longe de estar garantida. Se alguém olhar chamados) - que continua a advogar a no-
para o estruturalismo radical, por exemplo, ção de incompatibilidade (p. ex.: Jackson e
então sua vitalidade, e alguém poderia di- Carter, 1993). Para eles, a separação de
zer que mesmo sua viabilidade, foi certa- abordagens dentro do paradigma, daquelas
mente lançada em dúvida desde o final dos abordagens de fora, é de importância
anos 80. De outro modo, a ortodoxia crucial, porque o que esse isolacionismo
funcionalista - o que não é a mesma coisa (Reed, 1985) faz é garantir para os mem-
que ciência normal - permanece muito bem bros internos, pelo menos no curto prazo, a
entrincheirada. sobrevivência dessa abordagem e, talvez
Conforme vimos antes, a dimensão ainda mais importante, a sobrevivência do
que realmente mais irrita os funcionalistas ponto de vista ideológico do qual ele é fei-
na área, mas também diz respeito a todos to. Essa crença na incompatibilidade então
aqueles que acreditam nos valores do deba- tem sua origem na política, tanto quanto na
te, argumentação e compromisso, é a no- epistemologia. Os ataques sobre os "guer-
ção de incompatibilidade. Por isso, bate bem
no centro de uma crença largamente
mantida no debate e discurso racionais aca-
dêmicos. O que os patrocinadores da tese
da compatibilidade dos paradigmas falham
em entender é que uma das poucas lições
da história em assuntos epistemológicos,
apesar dos melhores esforços de muitas
mentes capazes, o sonho da tradução per-
manece exatamente aquilo. Ninguém pre-
cisa abraçar completamente o trabalho, por
exemplo, de Hofstede (1991) para acredi
tar que a cultura afeta perspectivas nas or-
ganizações, mas está claro para alguns que,
no entanto, a cultura realmente tem conse-
qüências, não apenas fazendo com que seja
difícil a aprendizagem da linguagem, como
também sugerindo que suas nuances são
raramente, se tanto, compreendidas por um
não-nativo. Wittgenstein disse quase o mes-
mo em seu famoso aforisma "significado é
uso". Aqui, nessa muito eloqüente e ainda
enigmática frase, está a afirmação que se
você não usa a linguagem regularmente,
CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 394 {

reiros do paradigma" que dependem, para paradigmas e sua potência em explicar di-
sua força, nas questões baseadas na lógica, ferentes posições filosóficas. Para Donaldson
teoria lingüística e análise de discurso (p. isso mostrou o oposto. Porém, talvez esta
ex. Wülmott, 1993) falham em reconhecer diferença esteja na natureza do próprio pen-
isso. Essas críticas também falham em ava- samento paradigmático!
liar que não apenas o discurso sobre poder Mais ou menos na mesma época, Reed
mas, concomitantemente, o poder sem o (985) também discutiu tais questões, mas
discurso é muito mais fraco. Diálogo é uma de forma alguma da mesma posição que
arma do poder. Donaldson. Nem mesmo deveria ser admi-
Muito do que alguém lê hoje sobre tido que ele chegou perto de aceitar os ar-
ciência normal e paradigmas diz respeito a gumentos de um fechamento paradigmá-
alguma injunção habermasiana para envol- tico. Seu livro Redirections in organizational
ver-se com o discurso e para falar direto do analysis termina com uma discussão de
problema de alguém. Muito do que alguém como tais redirecionamentos para a disci-
lê é afirmado na cultura do debate universi- plina poderiam parecer. Quatro possibilida-
tário, na argumentação e no diálogo. A apre- des foram destacadas: integracionismo,
sentação de idéias é, freqüentemente, vista isolacionismo, imperialismo e pluralismo. A
como separada da força intelectual do ar- primeira refere-se à esperança de uma re-
gumento de alguém (o que explica, parcial- conciliação eclética; a segunda, à estratégia
mente, a falta de habilidade de muitos eru- do separatismo paradigmático; a terceira,
ditos de, efetivamente, discursarem), ainda ao sucesso de uma posição teórica sobre
que seja óbvio que esses últimos dependem, outra; e a quarta, que Reed pessoalmente
fortemente, de convencer a audiência da defendia, envolvia a rejeição de todas as
utilidade de seu pensamento, contido em abordagens e a promulgação da noção de
sua apresentação. E quase impossível esca- "deixem mil flores vicejar".
par dessas convenções, uma vez que eu me Num veio similar, Hassard (1993 : 74-
sento aqui escrevendo este parágrafo, estou 75) argumentou mais recentemente que
envolvido em convencer você, leitor, que o nós, atualmente, enfrentamos uma crise.
que estou dizendo vale a pena ser ouvido. A crise está aprofundada pelo fato
Universidades contam com a boa vontade de que aquela noção de heterodoxia para-
daqueles que tentam falar (ou, no mais das digmática está freqüentemente atrelada a
vezes, escrever) a outros de forma persua- um dos fechamentos paradigmáticos. Es-
siva. Assim, a ameaça a essa noção univer-
sal de verdade era e é demais para alguém
suportar.
Uma réplica hostil ao conceito de en-
cerramento paradigmático na teoria da or-
ganização veio de Lex Donaldson (1985)
que, apropriadamente, denominou o texto
In Defense of Organization Theory, e tentou
inter alia refutar os argumentos contidos em
Sociological Paradigms and Organizational
Analysis (Burrell e Morgan, 1979).
Donaldson argumenta que o funcionalismo
estrutural nunca esteve em estado de crise,
e de fato tem sido muito capaz de lidar com
as novas questões teóricas e práticas quan
do elas surgem. Ele garante que aquele nú-
cleo de conceitos funcionalistas é bastante
razoável, tanto conceituai quanto fílosofi-
camente. Argumenta a favor de uma teoria
da contingência renovada, que suportaria a
área todo dia, diante do trabalho sem subs-
tância desenvolvido pelos críticos do fun-
cionalismo. O editor do jornal Organiza-
tional Studies dedicou uma edição inteira
para Donaldson em 1988, e convidou uma
quantidade de eruditos para falar sobre "ata-
que e defesa" (cf. Hassard, 1993 : 71). O
triunfalismo de Donaldson nessa época não
era muito fácil de entender porque para
muitos o debate destacava a existência de
395 CONCLUSÕES

critores que especificam uma faixa de sentido figurado ou figuras de linguagem


can- que precisamos reconhecer. A relevância da
didatos a paradigmas freqüentemente sinédoque, metonímia e ironia está intri-
adicionam que essas várias comunidades
gantemente mencionada, mas à continua-
são incompatíveis com as demais. A práti-
ca profissional nas diferentes tradições é ção do livro Images of organization ainda
baseada em filosofias que são antitéticas; está por surgir. O livro que apareceu foi uma
cientistas de diferentes paradigmas pare- bela obra que "tentou desenvolver as impli-
cem inferir (sic) uma forma extrema de cações mais práticas de suas idéias básicas"
relativismo social. Se cientistas não (1988: 345). Isso, então, encurta conside-
podem ravelmente a tese. De fato, muitos dos prin-
debater, como o progresso pode ser assi-
cipais itens conceituais devem ser encontra-
nalado?
dos mais nas notas de rodapé do que no
Se isso tem alguma validade como afir- corpo do texto. Poderia ser demonstrado que
mação, então precisamos, forçosamente, nos o impacto desse livro foi maior do que
preocupar com as recentes tentativas, para Sociological Paradigms and Organizational
nos envolver nos mais amplos debates acer- Analysis (SPOA), não apenas por ter sido
ca do progresso científico. Em outras pala- escrito numa forma não técnica, mas por-
vras, a largamente difundida retração da que ele escancarou o conceito de "para-
incompatibilidade precisa ser contada com digma" ao girá-lo claramente de volta à in-
alguma profundidade. E aqui o trabalho de compatibilidade.
Gareth Morgan é central tanto por sua con- Morgan articula, nas seções finais do
tribuição à disciplina, quanto por sua natu- texto, uma metáfora integrativa de visão
reza simbólica. Em seu desenvolvimento, a binocular, por meio da qual, argumenta,
tensão Europa/América do Norte está cla- duas metáforas tomadas em conjunto po-
ramente explicitada. dem desenhar um quadro melhor da reali-
dade sob investigação do que uma única
metáfora. Da mesma forma como dois olhos
METÁFORAS

A noção de metáforas tem estado às


voltas com um aparato analítico há séculos,
e é claramente apontada por Vico, por exem-
plo, como sendo de considerável importân-
cia. Dentro da ciência social em sua totali-
dade, uma boa quantidade de autores bus-
cou, no período de pós-guerra, elevar a no-
ção de metáforas para um lugar de desta-
que no léxico de aparatos, para entendimen-
to que deveria estar aberto para nós. Toda-
via, na teoria da organização, o entendimen-
to pela metáfora começou a ser usado ini-
cialmente por causa do livro de Morgan
(1988), Images of organization.
Gareth Morgan tentou mover a teoria
da organização numa direção de perspecti-
vas mais pluralistas e, desde que chegou à
América do Norte, muito tem feito para
ampliar a faixa de abordagens, mais ou
menos aceitáveis, dentro da ortodoxia da
teoria da organização. Seu doutorado, com-
pletado na Universidade de Lancaster, iden-
tificou a importância da metáfora como uma
forma de ver o mundo dentro dos quatro
paradigmas identificados em Burrell e
Morgan (1979). Em sua mudança para a
América do Norte, houve um deslocamento
concomitante e bem delineado em sua po-
sição intelectual. Metáfora transformou-se
num veículo por meio do qual paradigmas
são atualizados nas mentes dos teóricos, e
Morgan procurou identificar aquelas que
dominavam dentro de cada paradigma. As-
sim, somos apresentados a uma variedade
de metáforas que denuncia a análise
organizacional nos anos 80. A tese de
Morgan contém um quarto de milhão de
palavras e dentro dela ele apontou que me-
táforas não são mais do que expressões de
CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 396 [

são superiores a um só, também duas metá- temente das ciências naturais que, por sua
foras são melhor do que uma. Todavia, como vez, pegam suas idéias da literatura clássi-
metáforas podem ser processadas pela equi- ca, por exemplo, o caos) faz pouco para es-
valência de regiões visuais do cérebro não é capar da pressuposição de que elas são for-
explorado. A afirmação feita - em vez de mas de organizar, capturar e consertar pen-
defendida - é de que metáforas não são in- samentos. Existe uma evidência clara, tam-
compatíveis. Ao contrário, elas, supostamen- bém, da importância do trabalho de Stephen
te, podem ser sintetizadas numa visão Pepper (1948) no mundo das hipóteses do
binocular superior. Morgan desse estágio, visto que a influên-
A outra metáfora implícita que susten- cia de Pepper é bem mais evidente do que a
ta o livro é típica de meados dos anos 80. E de Thomas Kuhn. Naturalmente, não deve-
a idéia de supermercado. Está claro que in- ríamos subestimar a sofisticação da forma
compatibilidade não é mais central nas como tais idéias são expressas no texto, por
idéias de Morgan porque nos estudos da or- Morgan demonstrar sua erudição na litera-
ganizações, metáforas podem ser apanha- tura muito claramente. Muitos cursos foram
das conforme se queira das prateleiras de e ainda são ensinados usando esse quadro,
um supermercado. Claro que elas trazem e a riqueza dos exemplos contidos nele e
consigo todos os tipos de suposições, mas seu interesse intrínseco para nossa discipli-
isso é apenas parte do produto. Tivessem na fazem de Images of organization um li-
Burrel e Morgan usado a mesma metáfora vro muito importante para os anos 80. Exa-
em 1979, e a posição equivalente dentro do tamente como Morgan esperava, sua influ-
SPOA teria sido que aquelas seções integrais ência no ensino foi considerável, visto que
do hipermercado estavam fora dos limites o texto e a noção de metáforas geralmente
dos compradores, por força de sua recusa têm-se tornado um princípio organizacional-
em entrar em áreas que não sejam de seu chave para muitos cursos.
interesse. A carne, comida de neném, comi-
da de animais e seção de bebidas teriam sido
ignoradas pelos paradigmas equivalentes de ENQUANTO ISSO, DE VOLTA À
vegetarianos, os que não têm filhos, e assim EUROPA
por diante. Mas quando escreveu sozinho
para uma platéia americana, Morgan disse O desenvolvimento da posição de
aos leitores de Images of organization que, Morgan foi cuidadosamente observado por
se eles desejassem, nada estaria fora de suas seus ex-colegas em Lancaster, onde existia
fronteiras, e eles poderiam perambular con-
forme quisessem no mercado das idéias. Eles
eram benvindos como consumidores. En-
quanto incompatibilidade dentro do SPOA
significava que a mensagem ali e naquele
momento era completamente diferente, aos
funcionalistas dizia que eles não poderiam
colocar suas mãos compradoras naqueles
produtos genuinamente "verdes" daquele
hipermercado textual; em Images of
organization, a loja era mantida aberta para
que eles pudessem pilhar e saquear confor-
me achassem conveniente. Eles tinham li-
cença do livro para vagar de acordo com o
estereótipo do turista norte-americano. Uma
vez mais, a procura por uma grande barga-
nha suprimiu qualquer preocupação de que
a tradução da linguagem doméstica para
além-mar não fosse possível. Nada poderia
ser afastado do olhar intenso do turista
(Urry, 1990).
Essa abertura de idéias, a poderosa e
persuasiva maneira pela qual o livro foi es-
crito, e o distanciamento do livro das limi-
tações segregacionistas do SPOA teve um
impacto tremendo. Naturalmente, os críti-
cos apresentaram que metáforas também
são conceitos estáticos, e que o desenvolvi-
mento de outras novas (furtadas freqüen-
397 CONCLUSÕES

uma pronta disposição a atribuir seu óbvio corpo e o próprio corpo de sua obra. Ele
movimento intelectual a pressões culturais procurava desviar-se de termos fixos o me-
e institucionais. O assunto naquela época, lhor que podia, e mudava sua posição inte-
logo no início dos anos 80, era a iminente e lectual constantemente. Seu movimento
ansiada transferência do poder para o go- daquilo que chamou de orientação "arque-
verno de Margareth Thatcher e, menos cer- ológica" para o que classificou de "genea-
to, do trabalho do filósofo francês Michel lógica" será discutido mais tarde, mas pre-
Foucault. Nós fomos apresentados as suas cisa ser admitido que nós mesmos estamos
idéias, originariamente na forma do livro fixando no tempo e no espaço, dentro de
Discipline and punish (1977), por Bob uma classificação relativamente tosca, idéi-
Cooper. Minha reação pessoal ao ler aquele as de um intelectual de considerável estatu-
texto foi quanto ao importante deslocamen- ra, que são essencialmente dinâmicas. Isso
to de Gestalt, no qual os padrões do mundo faz seu trabalho estranhamente difícil para
passaram a ser vistos por meio de lentes audiências anglo-saxãs apreciarem-no com-
novas e aperfeiçoadas. Para Morgan, o fu- pletamente, uma vez que ele transgride
turo era binocular: em Lancaster, esse futu- muitas de suas suposições. De fato, sua obra
ro era panóptico, o que tinha se tornado é diretamente relevante para os estudos
evidente em 1984, quando uma obra escri- organizacionais, visto que em seus últimos
ta sobre a contribuição de Foucault para a trabalhos, principalmente, ele se concentra
análise organizacional foi submetida ao em questões nas quais nossa disciplina tem,
ASQ. Ressalto os comentários dos revisores tradicionalmente, interesse. A primeira vis-
daquela época. Todos os três questionaram ta, todavia, tantas são as dificuldades em
a relevância de "um filósofo francês desco- compreender suas idéias que sua relevân-
nhecido", e perguntaram "o que poderia cia para todas as ciências sociais, e não ape-
uma audiência americana aprender" com nas para a teoria da organização, precisa de
esse tipo de pensamento. Meu entendimen- uma articulação cuidadosa. Fazer isso requer
to da importância do Oceano Atlântico Norte
como um divisor, assim como uma rota de
comunicação, foi fortemente firmado nesse
momento. Talvez ainda haja uma questão
relevante, a qual o próximo trecho tentará
responder.

O PÊNDULO DE FOUCAULT

Embora isto levante importantes ques-


tões sobre a relevância do autor em com-
preender seu próprio trabalho, é discutível
que a coleção completa da obra de Foucault
somente possa ser integralmente compre-
endida em termos do contexto pessoal e in-
telectual no qual ele se encontrava. A
centralidade do corpo humano para seus
escritos e a noção de prazer - e dor - pare-
cem colocá-lo a alguma distância do estudo
das organizações. Em Discipline and punish,
no entanto, ele especificamente aborda a
questão da contingência e das metas orga-
nizacionais, quando afirma que todas os
organizações assemelham-se a prisões. As-
sim, os temas do corpo, poder e prazer na
organização e em contextos bem disciplina-
dos são tais que iluminam os estudos da
organização com intensidade e perspicácia.
Ele repugnou muito os esquemas classifí-
catórios e tentou evitar ser ele próprio rotu-
lado. Naturalmente, ainda é vulnerável a tais
aparatos.
Foucault, é dito peremptoriamente, foi
uma dos primeiros cidadãos franceses a
morrer de AIDS. Sua morte inoportuna em
1984 nada fez para interromper o interesse
crescente na articulação de sua abordagem
intelectual. Observe que o termo plural deve
ser usado aqui, uma vez que está claro que
a aversão de Foucault em ser rotulado, en-
caixotado e categorizado afetou seu próprio
CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 398

mais espaço do que o disponível aqui, daí cia também, e sua interpretação teve um
dever o leitor recorrer ao texto lúcido de importante efeito em Thomas Kuhn. Contu-
Dreyfus e Rabinow (1982) sobre o trabalho do, Foucault é relativamente silencioso na
de Foucault. Não obstante, pontos-chave questão de paradigmas como "jogos de lin-
necessitam de alguma atenção aqui. guagem". Dreyfus e Rabinow (1982: 60)
concluíram que esse silêncio é porque ele
entendeu mal a noção e o propósito
Arqueologia e discurso kuhniano. O silêncio também pode ter sido
resultado de sua relutância em confrontar
idéias de fora do domínio particular de seu
Enquanto a metáfora de uma história
próprio discurso. Ele diria em vida, mais tar-
cuidadosa e desprotegida e de artefatos his-
de, que não lera o trabalho de Habermas
tóricos influenciou muitos cientistas sociais
sobre o discurso quando isso, também, pa-
com o recurso de sua imaginação sedi-
rece que teria sido um exercício útil. Certa-
mentar, Foucault não adotou, em seu traba-
mente, ele não ignorou a existência de tal
lho inicial, um estruturalismo primitivo em
literatura.
sua discussão de arqueologia. Para ele, aná-
Entretanto, qual a relevância do mé-
lise do discurso é aquele método no qual "o
todo arqueológico para os estudos organi-
arqueólogo" atua sobre o passado, obser-
zacionais? Antes de tentarmos demonstrá-
vando dentro da história os códigos preci-
lo, talvez também seja útil considerar o tra-
sos de conhecimento que ali repousam, es-
balho de Foucault em genealogia.
perando por nossa descoberta. Qualquer
arqueólogo do conhecimento precisa distan-
ciar-se do passado e procurar ser objetivo,
mas ele percebe muito rapidamente, e mui-
Genealogia
to claramente, que nosso próprio período
presente contém discursos. Nossos códigos Uma vez dispensado o método arque-
de compreensão hoje são também discur- ológico, Foucault voltou-se para a genea-
sos, sujeitos às mesmas regras de articula- logia. Dreyfus e Rabinow (1982: 106) per-
ção, como no passado. Nossos discursos con- guntam, retoricamente: "o que é genealo-
temporâneos são sujeitos às mesmas infle- gia?" A resposta, dizem eles, é
xibilidades e problemas tal como muitas te- genealogia se opõe ao método histórico
orias originadas da Idade Média. Discurso é tradicional: seu propósito é gravar a "sin-
colocado tão distante de seu cenário social gularidade de eventos fora de qualquer fi-
quanto possível, nesse trabalho inicial de
Foucault e, agindo com um arqueólogo, ele
tenta descobrir as regras que governam sua
auto-regulação. Para fazer isso, recorre à
ajuda de uma noção um tanto efêmera - a
"episteme". A episteme unifica o conjunto
de práticas discursivas que existe em qual-
quer momento, de forma que numa dada
época alguém perceberá que uma episteme
em particular predomina. Modernidade,
então, fica caracterizada pela episteme, pos-
ta toscamente, na qual o Homem se inven-
ta. Essa episteme requereu uma catastrófi-
ca transformação social, uma "mutação ar
queológica" que assinalou ter a Idade Clás-
sica chegado ao fim sem que antes pudesse
ter-se tornado forte dentro de sua própria
existência. Desde o início de sua luta pela
vida, teve sucesso em dominar sua época.
Em seu livro The archaeology of
knowledge (1972), Foucault aplica seu mé-
todo às recém-descobertas profundidades de
análise. Em seu texto ele está interessado
em "atos sérios de fala", ciente que o con-
texto no qual esse tipo de prática discursiva
ocorre é crucial para a compreensão de pro-
fundas diferenças de significado. Ludwig
Wittgenstein obviamente notou essa tendên-
399 CONCLUSÕES

nalidade monótona" (...) Para o genealo- se opondo ao corpo físico - para o coração,
gista não existem essências fixas, nenhu- Foucault explora a forma na qual
ma lei fundamental, nenhuma finalidade
metafísica. Genealogia procura por o corpo é também diretamente envolvido
descon- num campo político... Relações de poder
tinuidades, onde outros encontraram um têm uma apropriação imediata sobre ele;
desenvolvimento contínuo. Ele encontra elas o envolvem, o marcam, o treinam, o
recorrências e divertimentos, enquanto torturam, forçam-no a desempenhar suas
outros encontraram progresso e serieda- tarefas, a realizar suas cerimônias, a emi-
de. Ele grava o passado da humanidade tir seus signos (1977 : 25).
para desmascarar os hinos solenes do
pro- Essa passagem maravilhosa prefigura
gresso. Genealogia evita a busca pela pro- seu interesse na tecnologia política do cor-
fundidade. Ao contrário, ela busca a su- po que, é anunciado, tem a mais alta
perfície dos eventos, pequenos detalhes, significância para as sociedades do Oeste
mínimos deslocamentos e contornos sutis. (Shilling 1993: 75-82). Entretanto, nós não
deveríamos assumir que esta análise sugere
Assim, a busca pelas metas modernis- que o estado é a chave para o entendimento
tas de significado oculto, pela verdade, pe- do poder-conhecimento e o corpo. De fato,
los significados do inconsciente repousa na Foucault não acredita que o estado tenha o
falha em reconhecer que eles são simula- papel mais importante nisso tudo. Ao con-
cros. Foucault diz que deveríamos evitar trário, é nas instituições como prisões, asi-
esses tipos de atividade, visto não existirem los, escolas, fábricas e quartéis que encon-
essências que possamos descortinar. Assim, tramos os loci de poder. A metáfora da pri-
Platão é um arquiinimigo dos genealogistas, são é central aqui, visto que todos esses ti-
enquanto que, claro, Nietzsche é a figura pos de instituições pretendem ser confina-
central, heróica. As bases da moralidade doras, e numa famosa seção de Discipline
estão por ser encontradas não no ideal de and punish, Foucault articula a importância
verdade, mas na pudenda origo com suas do Panopticon de Bentham como definindo
mais baixas origens. História é sobre menti- a busca pela "ferramenta gerencial definiti-
ra, não sobre verdade. É sobre luta pela va". Aqui, os corpos dos internos são sujei-
dominação representada num jogo de von- tos às tecnologias disciplinadoras de vigi-
tades. Mas não existe ninguém que seja res- lância cerrada, o assombro e o processo de
ponsável pela emergência de qualquer even- "normalização". O que Foucault faz é abrir
to; para o genealogista, não existe nenhum
indivíduo ou nenhuma coletividade capaz
de mover a história, visto que vivemos num
interstício criado por este jogo de dominações.
E tudo o que vemos é tudo o que existe.
Isto é importante por sugerir firme-
mente que o relativismo das conceitua-
lizações humanas da verdade, da beleza e
da virtude precisa ser reconhecido. Essas são
noções que estão sempre mudando, e não
estão localizadas em nada essencial. Mes-
mo o corpo humano não deve ser entendi-
do como alguma coisa com uma essência
que resistiu ao teste do tempo através dos
milênios. Justo pelo contrário. É uma no-
ção que sofreu muitas modificações. E o
corpo humano era uma das maiores preo
cupações de Foucault. Em Discipline and
punish (1977), Foucault reverteu a priori-
dade da arqueologia para a genealogia, pri-
vilegiando esta. O genealogista é retratado
como um diagnosticador que concentra a
relação entre o poder, o conhecimento e o
corpo. Nesse ponto, Foucault vira a teoria
da organização de cabeça para baixo ao
focar o corpo como o local onde práticas
sociais mínimas encontram a grande escala
da organização de poder. A organização do
corpo e seu prazer se transformam numa
área primeira do debate prático e teórico.
Apesar de não tomar a noção de Merleau-
Ponty de le corps propre - o corpo vivo como
CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 400

Tabela 1 Duas abordagens analíticas encontradas nos escritos de Foucault.

Modelo de Problemática Perspectivas ilustrativas/ Transições


metanarrativa principal exemplos contextuais
interpretatíva
Racionalidade Ordem Teoria das Organizações clássica, de Estado
administração científica, teoria da guarda-noturno
decisão, Taylor, Fayol, Simon a Estado
industrial
Integração Consenso Relações Humanas, neo-RH, de capitalismo
funcionalismo, teoria da empresarial
contingência/sistêmica, cultura a capitalismo do
corporativa, Durkheim, Barnard, bem-estar
Mayo, Parsons
Mercado Liberdade Teoria da firma, economia de capitalismo
institucional, custos de transação, gerencial
teoria da atuação, dependência de a capitalismo
recursos, ecologia populacional, neoliberal
Teoria Organizacional liberal
Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo de coletivismo
crítico-estrutural, processo de liberal
trabalho, teoria institucional, Weber, a corporativismo
Marx negociado
a análise das organizações para novas no- to organizacional não presta atenção algu-
ções, nas quais o corpo é peça central, como ma a seu trabalho.
um alvo para a pletora das tecnologias A Tabela 1 tenta apresentar lado a lado
disciplinadoras localizadas dentro das for- essas duas abordagens muito diferentes,
mas organizacionais, que experimentam desenvolvidas por Foucault. O que a simpli-
uma sinistra semelhança com prisões. Po- ficação excessiva faz é mostrar que a abor-
der vem do conhecimento do corpo, o qual dagem genealógica está muito mais sinto-
se desenvolve na mente e vem nas mãos dos nizada com o pós-modernismo, enquanto,
"juizes da normalidade". Estes são os pro- talvez, o método arqueológico parece mais
fissionais organizacionais, partes-chave da afinado com o modernismo. Foucault vol-
"sociedade somática" (Turner 1992 : 12). tou suas costas para a análise do discurso,
dizendo: "eu misturei muito isso com siste-
matização, a forma teórica, ou algo pareci-
Foucault e análise organizacional do com paradigma". Genealogia posta-se

Enquanto a preocupação por metáfo-


ras orientou os cursos de aprendizagem em
muitos programas, o legado de Foucault -
desde 1984, após sua morte, isso é tudo que
tivemos - orientou considerável quantida-
de de pesquisas (por exemplo, Hollway
1991; Townley 1994; Rose 1990). Certa-
mente, seria tolo dizer que muitas acade-
mias abraçaram este particular filósofo fran-
cês com algum prazer, visto que seu traba-
lho, conforme dissemos, é de difícil com
promisso e é teoricamente desafiador. Ain-
da dentro dos estudos organizacionais, têm
sido feitas tentativas para colocar a vigilân-
cia como principal foco de atenção e, quase
semanalmente, novas análises do panop-
ticismo aparecem, o que mostra a relevân-
cia de Foucault em meados dos anos 90, pela
sua concentração em poder-conhecimento.
Ainda assim, os métodos arqueológico e
genealógico não contam com muito apoio
em muitas áreas da disciplina. A recente
revisão de Warner (1994) do comportamen-
I 401 CONCLUSÕES
I -----------------------------------------------------------------------------------

muito mais alegremente diante do pós-mo- desconstrução, um texto se dissolve em ou-


dernismo, devemos de toda forma afirmar. tro, um texto se estabelece dentro de outro,
Para nós, rotular esse último trabalho como um texto é construído sobre o outro. Assim,
"pós-moderno" talvez fosse justo, mas de- o objetivo da desconstrução é quebrar o
vemos notar que Foucault rejeitou explici- poder do autor de afirmar sua primazia so-
tamente tal epiteto, preferindo, ao invés, bre uma narrativa particular, ou de impor
afirmar que qualquer esquema classifica- significados sobre o leitor. Todos os siste-
tório, qualquer aparato de rotulação é ele mas fixos de representação passam a ser vis-
mesmo parte do campo de poder-conheci- tos meramente como ilusórios, e como ca-
mento no qual o locutor, tal como a pessoa pazes de, pelo menos, permitirem dupla lei-
de quem se fala, transforma-se em sujeito a tura (Cooper 1989 : 492-501).
ser disciplinado. E por isso que ele é difícil A forma-chave do discurso no pós-
de ser classificado como um pensador, por- modernismo é a colagem ou a montagem.
que quase todo trabalho que ele fez foi A heterogeneidade inerente dessa forma de
autoconscientemente oposto à obra que a trabalho cultural significa que ambos, pro-
precedeu. O movimento permite a evasão dutores e consumidores do artefato, parti-
da captura. cipam de sua geração de significado. Isso é
A questão integral das ligações entre profundamente democrático, baseado que
pós-modernismo e análise organizacional é sobre conceitualizações populares do pro-
será focalizada numa seção posterior, mas duto na audiência mas, naturalmente, a
primeiro nós precisamos, se bem que muito grande incoerência de muitas conceituações
rapidamente, considerar o trabalho de permite a manipulação do mercado de mas-
Jacques Derrida, cuja contribuição à ciên- sa. A montagem é vulnerável a significados
cia social nesse período também é de consi- recombinados, que nunca são fixados e es-
derável importância. Derrida é apenas um táveis, mas que, freqüentemente, podem
dentre muitos autores franceses dos últimos bem ser exploradores e confinadores.
15 anos que têm tentado deslocar a teoria
social para longe das certezas dos anos 60.
As razões para essa concentração na França
de intelectuais simpáticos ao apego ao pós-
modernismo não podem ser encaminhadas
aqui, mas o escárnio anglo-saxão em rela-
ção a "modas parisienses" é indicativo de
uma hostilidade em teorizar e uma preocu-
pação em proteger o empiricismo nativo da
depredação dos teóricos tolos. Derrida é
escolhido aqui apenas por simbolizar esse
tipo de trabalho. Ele é a chave de um movi-
mento que se observa à distância. Para ele,
a vida social é construída de textos que são
lidos constantemente de várias formas dife-
rentes, daí nossa compreensão estar sendo
continuamente quebrada e rearrumada.
Assim como Foucault busca evitar um apri-
sionamento para suas idéias, Derrida argu-
menta que pelo menos uma dupla leitura
de qualquer texto é possível. A rigidez não
é mais sustentável.
A noção de Derrida de desconstrução
tem provado ser um estímulo poderoso às
formas de pensamento pós-modernas. Ele
lança uma maneira totalmente diferente de
pensar e "ler" textos. Enquanto sob o mo-
dernismo acreditava-se que o meio e a men-
sagem estavam firmemente interconectados,
Derrida olha isso como "continuamente se-
parando e rejuntando em novas combina-
ções". Textos são o meio que autores e lei-
tores usam para compreender o mundo e
cada novo nível de entendimento produz
novos textos, que são adicionados a uma
tecelagem textual. Tecelagens intertextuais
vêm ter uma vida própria, visto que escre-
vemos coisas da qual nada conhecemos, e
nossas palavras não podem transportar o
que pretendemos. A linguagem trabalha por
meio de nós, não o contrário. Então, para a
CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 402

PÓS-MODERNISMO E ANÁLISE Isso pode ofender aqueles que dese-


ORGANIZACIONAL jam falar apenas das realizações da socie-
dade moderna. Assim, se esquecermos que
ao lado dessa elegante e higienizada visão,
Aquelas certezas de pós-Segunda
se acomoda uma pintura mais escura - a
Grande Guerra que, supostamente, confron-
visão da morte, dor e tortura -, então per-
taram os teóricos organizacionais dos anos
deremos um tanto do sentido de contesta-
60 contavam, para sua sólida existência, com
ção ao modernismo, que os pós-modernis-
a crença nos pilares do modernismo. Ciên-
tas buscaram engendrar
cia e tecnologia eram vistas como deter-
Agora, não é que Foucault ou Derrida
minadoras do futuro, o qual, uma vez que
tenham escrito longamente sobre as limita-
se desenvolvia diretamente daquilo que es-
ções do modernismo, mas existe uma clara
tava diante de nossos olhos, era reconhecí-
implicação em suas epistemologias de que
vel para aqueles observadores localizados
as velhas certezas passaram. "Tudo o que é
no presente. O tempo era linear e o amanhã
sólido desmancha no ar", bem que poderia
deveria ser melhor do que o hoje. Burocra-
ser um refrão com o qual teríamos afinida-
cia, racionalidade e efetividade eram
de. O fin de siècle trouxe consigo as preocu-
inquestionáveis como os elementos sobre os
pações usuais do século cujo término teste-
quais a organização se apoiava para sua
munhamos.
legitimação. Contingências eram meramen-
te aqueles elementos que interferiam na
operação dos bem testados e amarrados
princípios da modelagem e do funcionamen- Fm DE SIÈCLE PÓS-MODERNISMO E O
to organizacional. "Teoria" da Contingência, FUTURO
talvez um nome pouco apropriado, articu-
lava-se em boas práticas e termos relevan- O fim de cada século traz consigo dois
tes às questões de "como" organizar. Naque- zeros no número do ano. Apenas este sécu-
le tempo, apesar de a evidência ser mais cla- lo vem, num novo milênio, com o requisito
ra do que hoje, poucos viram que a forma de três zeros. O significado cabalístico dis-
organizacional definidora de todo o século so é claro para quase todos nós, visto que
XX eram os campos de extermínio de um novo milênio vai certamente trazer no-
Auschwitz. vos modos de pensar. Cada fim de século
Modernismo é algo sobre os campos nos permite olhar para trás para as realiza-
da morte numa forma auspiciosa e sem qual- ções e falhas dos 100 anos anteriores. Todo
quer contencioso como se seus apologistas fin de siècle traz consigo desapontamento e
procurassem afastar as formas de Auschwitz alívio pela passagem dessa era. Se olharmos
das realizações da sociedade moderna, esta para os últimos anos do século XIX, vere-
supostamente baseada num questionamento mos que o modernismo e o mundo moder-
crítico e na posse da verdade. O livro de no estavam apenas despontando (Mestrovic,
Fútzer (1993), The Mcdonaldization of
society, mostra como as altas realizações da
modernidade, como o Big Mac, ainda são
em grande medida odores da morte meca-
nizada de um grande número de criaturas;
nesse caso, gado. Mas nós também sabemos
que soldados franceses na Primeira Guerra
Mundial foram para a morte quase certa no
front, tocados como ovelhas; sabemos que
os trens de Auschwitz eram feitos de carros
de gado; e sabemos que as eficiências das
fábricas de Ford apoiavam-se pesadamente
nas lições obtidas e na tecnologia desenvol-
vida nos abatedouros de Chicago. As conse-
cuções do mundo organizado do modernis-
mo são, de fato, construídas sobre as carnes
e os ossos da morte, e o métodos de sua
rápida e barata execução.
I 460 CONCLUSÕES
orias tem a ver com a falha da ciência em
vender sua narrativa como uma forma de
«MMHiMHnMnnHMi
conhecimento superior a todas as outras, em
1993). As grandes organizações dos barões
distribuir os bens. Como uma carga culta
da borracha estabeleciam uma cabeça-de-
do século XX, ela foi notavelmente bem su-
ponte e falou-se em New York, Paris, Lon-
cedida, mas novas narrativas e novas episte-
dres e São Petersburgo de uma crise moral,
mologias agora parecem mais necessárias
na qual os antigos valores estavam sendo
do que nunca.
desafiados pela falência da estrutura nor-
Parece que a ciência saiu de seu leito.
mativa de sociedade. Tal falência estava li-
O que colocamos em seu lugar? Poesia, lite-
gada nas mentes da maioria dos comen-
ratura, arte? Podem elas entregar bens?
tadores, à reestruturação econômica que
Bem, claro, o que quer que aquelas formas
estava aparecendo em diversas partes do
de conhecimento pruduzam, não parece
globo.
provável olhá-lo como artefatos perfor-
Hoje, a globalização é discutida e mes-
máticos conscientes (Lyotard, 1983) do sé-
mo analisada, mas existe também um senso
culo XX. Na clássica tensão entre
cabalístico (à la Nostradamus) sobre a fa-
Geisteswissenschaften e Naturwissenschaften,
lência da velha ordem. O estado-nação, a
não é certamente apenas uma questão de
organização burocrática, o método científi-
uma alcançando re-ascendência sobre a
co, o mundo natural são todos conceitos que
outra? Claro que não é tão simples. Mas
estão sob ameaça após um século de supe-
nessa antinomia existe um local excepcio-
rioridade. "Superioridade", naturalmente,
nalmente bom para se tentar construir a
não significa que essas noções não tenham
teoria da organização para o novo milênio.
sempre sido contestadas. E mais importan-
te para nós reconhecer que é o fato de ela
ser largamente questionada pelos podero-
sos (mais do que por qualquer grupo de in-
telectuais) que dá significância a esses va-
lores centrais. Mas os poderosos procuram
narrativas que a ralé comprará, nas formas
que explicam seu próprio papel de subordi-
nação e de seus "superiores". A ideologia
dominante é feita para consumo geral
(Abercrombie et al., 1983).
Daí, os conceitos que foram elabora-
dos nesse texto não se ajustam adequada-
mente às necessidades da ideologia domi-
nante. Paradigmas, mais do que um para-
digma; metáfora, mais do que uma narrati-
va completa; discurso, mais do que uma lin-
guagem compartilhada; genealogia, mais do
que um método histórico; desconstrução,
mais do que autoridade de um autor; tudo
isso é sólido e desmancha-se no ar, mais do
que gerência-um-minuto. Tudo isso sugere
que devemos ser ambíguos. Tudo isso suge-
re que nossos entendimentos são limitados
por nossas conceitualizações e metateoria.
Se os anos 60 se preocuparam com a
teorização e com sua utilidade prática, en
tão devemos compreender por que tão pou-
cos cursos de administração hoje tentam
fugir da literatura daquela era de ouro da
certeza. A literatura desse período - os as-
sim chamados clássicos - é precisamente
clássica porque a era em que floresceu se
foi. Hoje, estamos muito mais circunspectos
sobre o que sabemos, se é que sabemos algo.
Então, no princípio tudo era conhecível. "Vai
ser o que já foi" é a sincera desculpa de
muitos teóricos organizacionais.
Todavia, o fin de siècle criou para nós
novas incertezas. Atentos à teoria do caos e
à teoria da catástrofe, por nos informarem
que é possível entender as mudanças prin-
cipais usando matemática, então não são
elas de forma alguma sintomáticas das for-
ças da incerteza. De fato, tais teorias, ape-
sar de seus títulos, são os últimos vestígios
da modernidade. Aquelas mudanças caóti-
cas e catastróficas são, em princípio, com-
preensíveis, teriam sido a visão diária das
figuras heróicas da teoria da organização
dos anos 60. Não, a incerteza em nossas te-
CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES 404 |

Está no fundo da pré-modernidade, em que COOPER, R. Modernism, postmodernism and


nós ainda podemos encontrar bons momen- organizational analysis: an introduction.
tos para iniciar uma abordagem inovadora Organization Studies, 10(4), 1989.
para o futuro de nossa disciplina. COOPER, R., BURRELL, G. Modernism,
Por exemplo, se olharmos para o cor- postmodernism and organizational analysis:
po e o modo com que tem sido concei- an introduction. Organization Studies, 10(4),
tualizado desde os tempo medievais, vere- p. 479-502, 1988.
mos o "ímpeto anatomizante" sendo desen- DONALDSON, L. In defense of organizational
volvido. O corpo, visto como feito de órgãos, theory. Cambridge : Cambridge University
transforma-se na metáfora dominante para Press, 1985.
dizer como aquelas tarefas da administra- DREYFUS, H., RABINOW, P Michel Foucault:
ção poderiam ser conduzidas - em outras beyond structuralism and hermeneutics.
palavras, organizadas. Assim, confiamos na Brighton : Harvester, 1982.
faca do cirurgião para a incisão em nosso FOUCAULT, M. The archaeology of knowledge.
pensamento. Anatomizamos constantemen- Londres : Tavistock, 1972.
te, e pedimos a nossos alunos em seu apren- ______ . Discipline and punish. Harmondsworth :
dizado que façam o mesmo com seus estu- Penguin, 1977.
dos de caso, situações e textos. A liderança FRIEDRICHS, R. A sociology of sociology. New
é o lugar a ser alcançado. Quando alguém York : Free Press, 1970.
pode apenas apontar para o significado do
GIOIA, D., PITRE, E. Paradigm lost.
ímpeto anatômico, se tivesse gasto um pou- Organizational Studies, 1993.
co de tempo olhando para Foucault, Derrida
HASSARD, J. Sociology and organization theory.
e alguns outros teóricos sociais, acharia que
Cambridge : Cambridge University Press,
eles são altamente resistentes à noção de 1993.
incisão e separação cirúrgica. O que fica para
HOFSTEDE, G. Cultures and organizations.
a teoria da organização é a tarefa de teorizar
Maidenhead : Mcgraw-Hill, 1991.
o corpo de forma a permitir anatomização
e ainda encorajar o entendimento dos flu- HOLLWAY, W Work psychology and
organizational
xos morfológicos viscerais. Teoria da orga-
behaviour. Londres : Sage, 1991.
nização no próximo século pode bem ten-
tar "mudar sua forma", pela compreensão HOSKIN, K., MACVE, R. Accounting and the
do conceito pré-moderno do corpo, antes examination. Accounting, Organizations and
Society, 1986.
de se transformar em sujeito de uma anato-
mia organizada, articulando um caminho JACKSON, N., CARTER, P "Paradigm wars": a
para a frente com base na simples dicotomia response to Hugh Willmott, Organizational
Studies, 14(5), p. 727-730, 1993.
da disciplina, a qual se apoia sobre a barra
inclinada (/) para separar o indivisível, e KUHN, T. S. 77ie structure of scientific
adotando a fluidez, os fluxos e a liquidez revolutions.
do corpo humano como relevantes para a Chicago : University of Chicago Press, 1962.
forma como nós organizamos. Fazendo isso,
muito do que é novo para nós pode ser
aprendido de Foucault e Derrida. Unificar o
corpo e dijférance bem pode ser um cami-
nho para a frente, que nos reúna numa cau-
sa comum. Isso pode não ser a construção
da Torre, mas pode ser o começo pré-mo-
derno desses tempos pós-modernos.
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ZWICK, J. Lyric philosophy. Toronto : University
of Toronto Press, 1992.
18
NOTA TÉCNICA: CIÊNCIA
NORMAL,
PARADIGMAS, METÁFORAS,
DISCURSOS E
GENEALOGIA DA ANÁLISE
SYLVIA CONSTANT VERGARA

Burrel brinda-nos com um texto vilegiando homogeneidade em detrimento


instigante não só pelas questões que discu- das diferenças. A ameaça à noção de verda-
te, como também pelos autores que subli- de universal era demais para alguém supor-
nha, todos caros à academia brasileira: ele tar. O autor ressalta, contudo, que, embora
mesmo, Morgan, Foucault, Derrida. silentes, as vozes de oposição estavam lá.
As palavras que compõem o título do Trabalhando com os conceitos de
texto são, segundo o autor, conceitos que explanandum (fenômeno a ser explicado) e
usamos para descrever a forma pela qual explanans (quadro explanatório), Burrell
abordamos nosso objeto de estudo. São le- recorda que nos anos 60 nosso explanandum
sões, entalhes feitos na vida organizacional. foi a grande organização burocrática, ago-
Na busca da verdade, tão cara à ciência, a ra em transformação e desafiando e sendo
administração tentou uma teoria unificada, desafiada por um explanans cuja legitimi-
coerente, desconsiderando as diferenças. A dade foi questionada pelo pós-modernismo.
análise organizacional foi forçada ao leito Que explanans pode, então, ser usado?
de Procusto. Uma nova compreensão requer A natureza da fratura nas escolas de
o que o autor designa por "deslocamento pensamento relativas à administração, um
gestáltico", capaz de reconhecer o rela- tanto percebida com base em sua abertura
tivismo de conceituações, bem como capaz por outras áreas do saber, põe a descoberto
de abraçar outros quadros de referência. a relação inequívoca da administração com
Parece que Burrell faz uma reflexão sobre o poder, desde suas origens. Não é por aca-
seus próprios posicionamentos e, resgatan- so, por exemplo, que a propaganda fascista
do a visão habermasiana sobre a poten- usou como totem as propostas fordistas, que
cialidade do diálogo, acata um tanto da sa- lhes emprestava conteúdo, forma, alma e
ída pluralística proposta por Reed. O desa- legitimidade. O arejamento que as críticas
fio, então, é unificar o campo anatomi-
zado e entender o fluxo morfológico.
Lembra-nos Burrell que a certeza
trazida pelos pressupostos positivistas fez
ganhar em importância, na década de 60, a
forma burocrática de organização. A des-
peito das críticas dos sociólogos, para os
quais a complexidade das idéias weberianas
não poderia ser tão reduzida, a simplifica-
ção da vida organizacional foi buscada, pri-
I 407 CONCLUSÕES ______________________________________

deria macular a limpeza da área. Tinham


vindas de outras áreas trouxe para a nossa de lhe ser arrancadas as partes escuras.
desnudou a fragilidade da elite que está no Provocativa no texto é a crítica de
controle e retirou do sono confortável aque- Burrel a Morgan, seu parceiro na definição
les que repousavam sobre um explanandum de paradigmas sociológicos e organiza-
que era lido sem questionar seu explanans, cionais e dissidente construtor solitário de
numa recusa em entrar na estrada, sinuosa metáforas organizacionais. Diaspora poste-
e sem destino, do autoconhecimento. rior de ambos os teóricos? Como parece
Uma possibilidade de compreensão Burrel sugerir, concessão de Morgan, na
dessa recusa pode vir da relação umbilical passagem transatlântica, aos apelos funcio-
que a administração tem com os aspectos nalistas? Reposicionamento de Morgan,
instrumentais de determinada ideologia. numa atitude khuniana de reconsideração
Assim, buscar entender Taylor e Fayol, suas sobre o conceito de paradigma e incompa-
contribuições e idiossincrasias, sem posi- tibilidade entre paradigmas? Reposicio-
cionar o fato político, pode ser uma simpli- namento de Morgan numa atitude foucaul-
ficação perigosa de quem se recusa reconhe- tiana de não-aprisionamento, atitude do fi-
cer ou a admitir a quem serve a ideologia. lósofo, aliás, vista com simpatia por Burrel?
A área encontrou líderes muito próxi- A chamada de Burrel ao trabalho de
mos de um poder social que aspergia pro- Morgan, a paradigmas e metáforas instiga
dução e dispensava a crítica. O exercício da questões relevantes. A primeira diz respei-
aceitação passiva, de um lado e, de outro, da to à ortodoxia funcionalista, que permane-
recusa de um tônus ético, tema tão caro àquela ce entricheirada. A segunda concerne à per-
parte de Weber dispensada por muitos de seus cepção de que tal ortodoxia não pode ser
leitores, pode ter contribuído para o estabeleci- confundida com ciência normal, no sentido
mento da ortodoxia funcionalista que marca a kuhniano, passível de ser substituída. Se se
adrninistração desde sua aurora. Até Weber foi admite que o estudo da ciência administra-
colocado no leito de Procusto. tiva é pluralístico, não há possibilidade de
Não surpreende, portanto, o embara-
ço que pode causar a inclusão da obra do
arredio Foucault na bibliografia recomen-
dada por Burrel e por aqueles que aceitam
discutir a diferença, a não-linearidade, a
crítica e a ética. Os filósofos franceses que
iniciaram o movimento denominado, talvez
pejorativamente, de Filosofia da Diferença,
não encontraram abrigo seguro em nossas
fortalezas. Pós-modernidade por muitos
passou a ser tratada como um fenômeno
desarticulador, sem parâmetros ou indica-
dores compreensíveis para nós que milita-
mos na área da pro-dução, conforme suge-
ria Heidegger. Tal se deu por nossa incapa-
cidade de lidar justamente com a diferença
e, certamente, por nossa proximidade com
um poder que nunca teve inclinação para
reconhecer fraturas que poderiam fragilizá-
lo perante outros olhos. O fantasma de
Foucault tem, então, de ser exorcizado para
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não perturbar a paz e a harmonia do pro-


cesso produtivo.
A nossos primeiros "heróis", Taylor,
Fayol e até Weber, podemos contrapor figu-
ras, pode-se dizer, demolidoras, tais como
Nietzsche, Freud e Marx. Curiosamente, os
três últimos apontavam a incapacidade do
homem em enxergar o que está a sua volta.
Para Marx, a iodeologia obscurecia a exis-
tência da luta de classes; para Freud, a pri-
são à consciência fazia o homem não perce-
ber a pulsão de morte; para Nietzsche, a
vulgaridade do homem mascarava a vonta-
de de potência.
A administração fez sua escolha des-
de o início. Os "heróis" consolidaram-se
como tal. A assepsia que encobre a área pode
ser explicada pela ciência positivista, prote-
gida conforme crítica de Radnitzky, de "in-
fecções políticas". Nem mesmo Weber po-
NOTA TÉCNICA: CIÊNCIA NORMAL, PARADIGMAS, METÁFORAS, DISCURSOS E GENEALOGIAS DA ANÁLISES
408

substituição de um paradigma por outro. A Sob forte influência americana, tradu-


terceira relaciona-se à passagem transatlân- zimos para o português as recomendações
tica das escolas de pensamento e aos acrés- do funcionalismo hegemônico. Qualquer
cimos, subtrações e decodificações feitas possibilidade de ruptura, se houvesse, es-
nessa passagem. A teoria administrativa re- barraria com os desejos de uma nova classe
sulta, então, numa mistura intercontinen- social que se firmava no cenário econômico
tal. A quarta diz respeito à incrível capaci- nacional. Evitava-se, assim, a indesejada
dade do funcionalismo de traduzir coisas de perda de energia com discussões sobre fra-
fora para seus próprios termos e, assim, ga- turas ou ética, tal como parece ocorrer com
rantir os dedos mesmo perdendo anéis. A boa parte do campo administrativo mundo
quinta é a sinalização de que o funcionalis- afora.
mo não é a única estrada aberta para análi- Ao abraçar a ortodoxia funcionalista,
se organizacional. a "ferramenta gerencial definitiva", imagi-
Todas essas questões nos provocam namos poder paralisar a dinâmica, o fluxo,
pensar a administração no Brasil, país lati- as vozes discordantes. Tiramos a foto e pen-
no-americano de herança européia, africa- samos, com isso, que o filme não seria exi-
na e indígena, o que já revela o fogo cruza- bido. Mas está sendo. E ele nos fala que toda
do no qual se encontra. Desde a sua origem, verdade é um jogo político; ela é construída.
pode-se dizer que o Brasil é um pós-moder- Como lembrado por Burrel, Derrida
no cultural, um supermercado de idéias nos diz que, pelo menos, duas leituras de
cujas prateleiras mais à vista do consumi- qualquer texto é possível. Significado, ensi-
dor a partir dos anos 40 são as que ofere- na, é uso. Assim, certamente, muitos farão
cem prescrições americanas. Nosso próprio deste texto de Burrel uma leitura diferente.
rosto ainda não foi desenhado, menos por A que aqui está sendo explicitada sugere um
competência do que por jogo político. autor que, um tanto eurocentricamente
No Brasil, o interesse pela administra- embora, explica para leitores ávidos sua vi-
ção ganhou força na opção desenvol- são de incompatibilidade de paradigmas,
vimentista que fez a partir da Segunda Gran- mas convida ao diálogo. A metáfora que
de Guerra. A experiência da industrializa- agora se nos apresenta é a de que a faca do
ção em países "em desenvolvimento", con- cirurgião tanto pode servir para a cisão, a
forme expressão da época, faz parte de um dissecação, a subtração, tão pouco simpáti-
referencial posto à disposição desses países cas a Foucault e a Derrida, como para a pos-
após a derrota do fascismo europeu. Pensa- sibilidade de reconstrução e integração. A
va-se que qualquer país seria capaz de atingir os clonagem talvez seja um bom exemplo. Um
mesmos níveis de desenvolvimento dos países ponto, no entanto, é relevante afirmar: o
líderes, se passasse por um processo linear desafio proposto por Burrel, de voltar à pré-
por eles iluminado. Rostow que o diga. modernidade e de anatomizar e ainda en-
Na Era Vargas, notadamente a referi- tender os fluxos morfológicos, não nos le-
da ao período 1945-1954, o combustível e vará a uma verdade única. Aceitar o plu-
a bússola da administração brasileira esta- ralismo como a fonte da própria vida pare-
vam a soldo de uma razão de Estado. Um ce, pois, escolha adequada. Além disso, para
poder repressivo, talvez com mais semelhan- o caso brasileiro, que tão facilmente adere
ças do que diferenças com alguns fenôme- aos modismos funcionalistas, fica a lição do
nos administrativos dessa nossa atônita pós- relativismo das conceituações e da necessi-
modernidade, usou e abusou do panopticis- dade de encararmos nossas diferenças como
mo e pode manter ritmo acelerado para o organizações política e culturalmente inse-
alcance de seus objetivos políticos. ridas numa sociedade.

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