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ISABEL GUIMARÃES
Apesar de se reconhecer universalmente que os professores para os mesmos. Este facto, associado à percepção de
apresentam um maior risco vocal do que outros profissio- uma melhoria da qualidade vocal nos períodos de
nais, ainda não está claro, em Portugal, que tal facto possa férias, fá-los pensar na situação como um aconteci-
ser aceite como doença profissional. No presente artigo mento ocasional e por isso não tomam muitas vezes
define-se uso profissional da voz, indica-se a incidência, os as medidas apropriadas e adiam a resolução do pro-
factores causais e os efeitos dos problemas de voz e ainda blema.
as formas de avaliação e estratégias de prevenção vocal
Face às razões acima expostas, importa desenvolver
para o professor.
condições de natureza preventiva que levem à redu-
ção dos riscos profissionais da voz no professor por
forma a garantir a melhor qualidade de ensino, factor
de importância capital no futuro, económico e social,
da nossa sociedade.
O objectivo do presente artigo é contribuir para a
Introdução prevenção do uso profissional da voz através da
informação sobre o seu mecanismo, sinais e sintomas
A experiência clínica e a investigação (Fritzell, 1996;
de problemas e sugestões de prevenção vocal.
Scalco, Pimentel e Pilz, 1996; Smith et al., 1997;
Stemple, Stanley e Lee, 1995; Morton e Watson,
1998) confirmam a percepção de que os professores
são um grupo profissional mais vulnerável a proble- Como se produz a voz?
mas de voz do que a população em geral.
Ao surgir a vontade de comunicar oralmente, o cére-
Apesar de identificarem os seus problemas de voz,
bro transmite impulsos nervosos aos músculos do
muitos professores continuam a não procurar solução
sistema respiratório (que, ao contraírem-se, compri-
mem o ar dos pulmões e obrigam-no a subir ao longo
da traqueia), à laringe (fazendo com que as pregas
vocais ajustem o seu posicionamento e vibração) e às
estruturas do tracto vocal (fazendo com que haja
Isabel Guimarães é terapeuta da fala, doutorada em Fonética Expe- ajustamentos da tensão da faringe, do posiciona-
rimental pela Universidade de Londres, professora coordenadora mento da língua e do palato mole). Deste modo, a
na Escola Superior de Saúde do Alcoitão (ESSA).
coluna de ar pulmonar é sonorizada na laringe
Submetido à apreciação: 14 de Abril de 2004. (fonação) e modulada no tracto vocal (em sons da
Aceite para publicação: 27 de Abril de 2004. fala).
Em suma, a voz é um som (resultante de um conjunto -cultural do indivíduo e se o mesmo a aceitar como
de acontecimentos no aparelho fonador e ao longo do «normal». Ao longo do dia, consoante as condições
tracto vocal) com uma determinada força, sonoridade, do indivíduo e o contexto de uso vocal, a qualidade
duração, velocidade e ritmo regulado de forma sub- vocal deve variar dentro de limites adequados do
consciente pela informação enviada ao cérebro via ponto de vista da intensidade (desde sussurrada,
auditiva (Figura 1). fraca, conversacional, forte, ao grito), sonoridade
(desde tom grave, médio, a agudo), precisão articula-
tória e velocidade de fala.
Voz habitual versus uso profissional da voz Apesar de as potencialidades vocais de um indivíduo
serem consideradas muitas vezes um «dom», este
Através da sua dimensão verbal (palavra articulada, comportamento está susceptível a variações de ordem
fala) e não verbal (intensidade e sonoridade), a voz física e contextual e, por isso, o seu uso profissional
habitual produz-se sem que o emissor tenha qualquer assente na ignorância da verdadeira natureza do fenó-
preocupação voluntária com ela. É o resultado de meno pode ser meramente casual e a sua perturbação
uma aprendizagem inconsciente que envolve proces- ou desaparecimento podem ser tão surpreendentes
sos de produção (fonação, articulação e ressonância), quanto o seu «dom» original.
transmissão (vibrações que se propagam no ar sob a
forma de ondas sonoras) e percepção (sons que os Na actividade profissional do professor, a voz tem
ouvidos percepcionam). Ela é aceite como «normal» um papel importantíssimo, uma vez que pode facili-
se estiver adequada ao sexo, idade e contexto sócio- tar ou prejudicar a inteligibilidade da mensagem,
Figura 1
Tracto vocal e aparelho fonador
Farin
Língua
Pregas vocais fechadas Pregas vocais abertas
ge
Laringe
bem como ser uma fonte de indexação de informação Em inquéritos efectuados a professores sobre a refe-
estética, linguística e cultural, potencializando ou não rência a problemas vocais, Guimarães e Cruz (1997)
a eficácia e a credibilidade da sua comunicação oral. encontraram uma percentagem de 20% (em 61 pro-
Muito embora a exigência da qualidade de precisão fessores), Ferreira (2003) encontrou 54% (em 48
vocal do professor não seja crucial (quando compa- professores) e Larcher (2003) entre 40% e 47% (em
rada, por exemplo, às necessidades de um cantor 32 professoras de fitness).
lírico), deve, no entanto, possuir resistência elevada
para fazer face a factores como a necessidade contínua
de horas de comunicação vocal, às condições acústicas Factores causais dos problemas de voz
do local de trabalho, ao cansaço e ao stress emocional.
Existe uma enorme complexidade de factores intrín-
secos e extrínsecos ao indivíduo que podem estar
Incidência e prevalência dos problemas de voz subjacentes (individual ou conjuntamente) ao apare-
cimento de problemas de voz no professor, razão
Apesar das limitações em termos de investigação pela qual se torna complexo considerar a possibili-
nesta área (do ponto de vista do número e da diver- dade de uma doença «profissional».
sidade de metodologias usadas), constata-se que os Os factores intrínsecos de natureza individual mais
professores são, efectivamente, profissionais com frequentes nos professores são, segundo Vilkman
maior risco vocal devido ao desgaste vocal resultante (2000), a «voz débil», má técnica vocal, maus hábi-
do desempenho profissional, associado na maioria da tos vocais, personalidade «faladora», actividades de
situações à falta de (in)formação em voz. lazer que exigem uso vocal prolongado, hábitos de
No contexto clínico, de entre os doentes que pro- vida pouco saudáveis, condição física geral fraca e
curam resolução para os problemas de voz, os pro- doenças do foro respiratório.
fessores aparecem entre as dez profissões mais fre- São frequentemente citados como factores causais de
quentes (Cooper, 1977; Herrington et al., 1988) ou natureza profissional dos problemas de voz nos pro-
representam uma percentagem significativa, 16% fessores (Morton e Watson, 1998; Vilkman, 2000) o
(Fritzell, 1996; Smith et al., 1997). uso prolongado da voz a níveis elevados de intensi-
Smith et al. (1997) referem que nos Estados Unidos dade, o falar para grandes grupos, a acústica das
da América os sintomas de perturbação da voz refe- salas, a qualidade do ambiente (temperatura, ar, pó),
ridos pelos professores representam mais do dobro as posturas corporais de trabalho e o stress associado
dos indicados por outros profissionais (67% versus à profissão.
33%). Nos estudos que envolvem apenas professores, Um problema de voz de natureza profissional pode
Scalco, Pimentel e Pilz (1996) encontraram uma per- resultar nos mesmos factores que uma repetitive
centagem de 46%, enquanto Vilkmann (1996) des- strain injury, ou seja, exigência dinâmica prolongada
cobriu que entre 50% e 80% dos professores referem pela actividade profissional, e também factores
problemas de voz. De entre os professores que apre- biomecânicos desfavoráveis, qualidade do ambiente
sentam um problema de voz, Arnoux-Sindt et al. de trabalho, factores psicológicos (especificamente
(1994) referem que 63,4% não têm qualquer forma- stress) e atitude inadequada ou negligente na avalia-
ção em voz. ção e tratamento dos sinais precoces do problema
Em Portugal é, habitualmente, aceite que uma grande (Dalton e Hazleman, 1987, in Vilkmann, 1996).
percentagem de professores teve ou tem problemas
de voz e, apesar dos efeitos devastadores que cau-
sam, a informação disponível sobre a incidência dos Sintomas vocais e físicos
mesmos é bastante insuficiente.
Ferreira et al. (1996), numa análise de 100 casos clí- De entre os sintomas vocais mais referidos pelos
nicos de afonias e disfonias (sem alterações professores encontram-se a fadiga vocal (fonastenia)
laríngeas), dizem que os professores surgem como o (Sapir, Keidar e Mathers-Schmidt, 1993; Fritzell,
quarto grupo profissional mais prevalecente (em 1996; Vilkman, 1996; Morton e Watson, 1998; Smith
igualdade com os empregados de escritório), depois el al., 1998), o atrito vocal (Sapir, Keidar e Mathers-
das domésticas, empregadas de balcão e estudantes. Schmidt, 1993), o hiperfuncionamento e problemas
No estudo de Guimarães (2002), os professores são médicos que influenciam a voz (Morton e Watson,
os profissionais em maior número no grupo com 1998), a voz em esforço, voz mais fraca do que o
queixas vocais (21%), enquanto no grupo de controlo habitual e rouquidão (Smith el al., 1998).
sem problemas de voz representam o terceiro grupo Os sintomas de desconforto físico referidos pelos
mais frequente (5%). professores (Sapir, Keidar e Mathers-Schmidt, 1993;
Scalco, Pimentel e Pilz, 1996; Smith el al., 1998) são dificuldades na comunicação entre os professores
a sensação de cansaço, de esforço, de secura, de com problemas de voz e outros profissionais, efecti-
comichão, de queimadura, de dor e de desconforto. vamente os professores têm mais dificuldades comu-
As principais queixas das professoras portuguesas de nicativas em ambientes de ruído e mais dificuldade
fitness (Larcher, 2003) foram «esforço ao falar», «a em se exprimirem pelo que lhes é pedido mais vezes
voz enfraquece ao longo do dia», «garganta seca» e para repetirem o que disseram. Segundo Sapir,
«perda vocal por esforço». Keidar e Mathers-Schmidt (1993), 21% dos professo-
Cooper (1977) diz que os professores têm não só res referem que os problemas de voz interferem na
dificuldade em reconhecer estes comportamentos de actividade pedagógica.
mau uso e abuso vocal, como também em reconhecer Em termos de saúde, os problemas de voz podem
os sintomas das suas dificuldades vocais. Assim, um existir na ausência de patologia laríngea, mas o con-
professor que sinta uma dor ou irritação ligeira após trário também é verdadeiro. Convém salientar que o
uso prolongado da voz e que ao mesmo tempo iden- perpetuar de comportamentos vocais de risco (como,
tifique que a voz começa a perder qualidade ao longo por exemplo, uso vocal inadequado e continuado,
do dia (cansaço vocal designado por fonastenia) perpetuar de cansaço vocal) associado a factores de
pode, no entanto, perpetuar o seu comportamento desequilíbrio (como, por exemplo, hipersensibilidade
vocal, transformando-o em mais severo e crónico nasal) e a más condições de vida (como, por exem-
(Tabela 1). plo, hábito tabágico) pode contribuir para o apareci-
mento de patologia laríngea (por exemplo, nódulos
vocais).
Impacto na qualidade de vida De acordo com Arnoux-Sindt et al. (1994), na avalia-
ção laringoscópica de 256 professores com proble-
As hipóteses de perturbações vocais são inúmeras e mas de voz foram encontrados 34,4% com patologia
as suas consequências em termos de saúde e de qua- laríngea. Já Le Huche e Allali (1990) referem que,
lidade de vida dependem de cada indivíduo, da sua num estudo com 73 casos, os professores são quem
dinâmica pessoal e profissional, e por isso devem ser apresenta uma maior incidência de nódulos vocais,
analisadas cuidadosamente. Por exemplo, Smith et seguidos dos cantores e dos comediantes.
al. (1997) referem que, apesar de não haver diferen- Em termos de impacto na vida profissional (actual e
ças estatisticamente significativas na frequência de futura), os efeitos mais adversos dos problemas de
Tabela 1
Estádios de mau uso e abuso vocal segundo Cooper (1977)
Dor ou irritação ligeira após uso prolongado da voz. Ligeira rouquidão (disfonia).
Ligeira tensão extra ou intralaríngea ou faríngea. Redução da capacidade vocal.
Ligeiro Ligeira produção de muco. A voz vai perdendo qualidade ao longo do dia.
Ligeira sensação de «comichão» na laringe ou faringe. Limitação da extensão vocal.
«Pigarreio» e dores de garganta ocasionais.
Sensação de que falar é um esforço. Disfonia moderada.
Fadiga vocal após um uso moderado da voz. Quebras (falhas) de voz.
Aumento da tensão extra ou intralaríngea e faríngea. Extensão vocal reduzida.
Moderado Irritação laríngea e faríngea. Episódios de perda de voz (afonia).
Dores episódicas de garganta. Dificuldades vocais mais notórias ao longo do dia.
«Pigarreio» frequente.
Imediata fadiga vocal após um uso vocal curto. Disfonia persistente e/ou laringite crónica.
Fala em esforço. Quebras (falhas) constantes de voz.
Sensação de corpo estranho na garganta. Marcada redução da extensão vocal.
Severo «Pigarreio» constante. Episódios repetidos de afonia.
Irritação ou dor na laringe ou faringe. Dificuldade evidente na inteligibilidade do discurso.
Excessiva produção de muco. Dificuldade evidente de resistência vocal.
Dores de garganta frequentes. Dificuldades vocais notórias logo ao início do dia.
voz identificados pelos professores estão relaciona- nico) e tenso. Para os terapeutas da fala, a avaliação
dos com o terem de faltar (Sapir, Keidar e Mathers- perceptiva não se centra apenas na qualidade fonató-
Schmidt, 1993), com as limitações nas decisões pro- ria e envolve a análise de diversos comportamentos
fissionais e a incapacidade para modificarem a sua vocais (como, por exemplo, voz habitual, projecção
carreira, bem como as opções para o futuro em ter- vocal e resistência vocal) e actividades correlaciona-
mos de carreira (Smith et al., 1997). Segundo Sapir, das (como, por exemplo, a dinâmica postural), pelo
Keidar e Mathers-Schmidt (1993), 9% dos professo- que surgem outros protocolos, como, por exemplo, o
res referem que os problemas de voz são fonte de de Laver (1980) e, em Portugal, o de Guimarães e
stress e frustração. Cruz (1995).
Os meios instrumentais de avaliação acústica e
electroglotográfica permitem a obtenção de dados
Como se avalia profissionalmente um pro- quantitativos que se correlacionam com as outras
blema de voz? formas de avaliação. A Tabela 2 apresenta uma aná-
lise comparativa entre diferentes formas de avaliação
Sempre que existam dúvidas sobre a qualidade da da intensidade.
voz, devem ser consultados os profissionais de saúde, Foi observado que o volume da voz falada aumenta
otorrinolaringologista e terapeuta da fala, habilitados cerca de 3dB para cada 10dB de ruído ambiente
para fazerem uma avaliação da situação e definirem começando de 40bB(A) devido ao efeito de Lombard
a forma mais adequada de resolução dos problemas. (Vilkman, 1996). Estima-se que a intensidade da voz
A avaliação da qualidade vocal (em termos de saúde) do professor dentro da sala de aula varia entre 58 a
implica a elaboração da história clínica/anamnese do 78 dB(A) (Vilkman, 1996).
indivíduo (para recolha de informações de carácter Os valores da frequência fundamental (medidos atra-
pessoal, familiar, profissional e de saúde), a observa- vés de electroglotografia) da voz de adultos portu-
ção das estruturas e do funcionamento laríngeo atra- gueses sem problemas de voz em situação de leitura
vés de endoscopia e/ou estroboscopia (pelo otorrino- em voz alta e conversação (em voz habitual) são
laringologista), a análise do comportamento vocal apresentados na Tabela 3.
através da avaliação perceptiva, acústica e/ou electro- A autopercepção vocal [feita através de questionários
glotográfica (pelo terapeuta da fala) e uma avaliação normalizados, como, por exemplo, o voice handicap
da qualidade vocal pelo próprio. index (VHI) de Jacobson et al., 1997, validado para
O exame de observação laríngea (endoscopia e/ou o português por Guimarães, 2002] permite analisar a
estroboscopia) é fundamental para a observação das percepção que o indivíduo tem do impacto psicosso-
estruturas e funcionamento laríngeo. cial da sua voz do ponto de vista funcional, físico e
A avaliação perceptiva (através da utilização de esca- emocional. Quanto maior for o valor obtido, mais
las e protocolos) permite identificar subjectivamente negativo é o impacto.
a qualidade vocal. A escala de avaliação perceptiva Correia (2002), usando o VHI, encontrou um maior
da voz mais difundida a nível mundial na comuni- impacto psicossocial da voz nos professores do que
dade dos otorrinolaringologistas é a de Hirano (1981), nos enfermeiros e estudantes (muito embora a dife-
em que o enfoque é ao nível da qualidade fonatória, rença não seja estatisticamente significativa, p > 0,05).
usando uma escala de gravidade (desde normal, Os itens mais cotados do ponto de vista funcional
ligeiro, moderado a severo) para os termos rouquidão foram «as pessoas têm dificuldade em compreende-
(áspero), sussurrado (soprado), muito fraco (asté- rem-me num local ruidoso», «a minha voz faz com
Tabela 2 Tabela 3
Percepção subjectiva da intensidade versus intensidade Frequência fundamental da voz de adultos (Guimarães
et al., 2003)
Percepção subjectiva da intensidade Intensidade (décibeis)
Leitura Conversação
Sussurrada Inferior a 30dB
Mulheres Média = 190 Hz Média = 187 Hz
Fraca Inferior a 40dB
19-64 anos [143-227 Hz] [147-220 Hz]
Conversacional 40-70 dB
Forte (projectada) 80 a 90 dB Homens Média = 110 Hz Média = 109 Hz
Grito Superior a 90 dB 20-67 anos [83-151 Hz] [87-131 Hz]
que seja difícil os outros ouvirem-me» e «as minhas e sintomas), à definição de prioridades e à busca de
dificuldades com a voz limitam a minha vida pessoal soluções a serem aplicadas de uma forma proactiva.
e social». Do ponto de vista físico, encontram-se «o Nesse sentido qualquer abordagem terapêutica, seja
som da minha voz varia ao longo do dia», «sinto ela fisiológica, sintomática, psicossomática ou ecléc-
como se tivesse de me esforçar para produzir voz» e tica, deve ser encarada não só na perspectiva mera-
«a minha voz está pior à noite». Do ponto de vista mente individual, mas também na perspectiva do
emocional, o item mais cotado é «o meu problema de indivíduo como um elemento de um sistema.
voz preocupa-me». Compreensão, empatia e projecção de credibilidade,
Segundo Ferreira (2003), professores portugueses do conjuntamente com o saber ouvir, aconselhamento e
1.o ciclo apresentaram valores superiores de impacto motivação, são atributos essenciais para o sucesso da
psicossocial, estatisticamente significativos, quando terapia vocal (Guimarães, 1997).
comparados com os professores do 2.o ciclo.
vés da sua desidratação e vasodilatação) e oral (atra- dos e ainda: (1) degluta (em seco) ou beba água sem-
vés da sua desidratação) e contribuir para o apareci- pre que sinta vontade de «pigarrear» e/ou tossir.
mento de irritações generalizadas das mucosas e O acto de deglutição obriga à descida da laringe e
afectar a produção de muco, tornando-o mais visco- alivia a excessiva tensão dos músculos constritores
so. Como consequência, podem surgir sinais de tosse faríngeos; (2) boceje, pois o bocejar obriga à descida
e «pigarreio». da laringe (tal como o deglutir), mas permite, especi-
As queixas mais comuns dos professores sobre a ficamente, a expansão da faringe e, portanto, reduz a
qualidade do ar são o ambiente seco e o pó (Vilkman, excessiva tensão muscular do tracto vocal; (3) faça
1996). massagem laríngea (pequenos movimentos circula-
Aconselha-se, por isso, para beneficiar a hidratação res, efectuados lentamente com o indicador e o pole-
(Cruz e Guimarães, 1997), ter atenção: (1) ao nível gar, na zona vulgarmente designada por «maçã-de-
de humidade do ar. A hidratação diminui o grau de -adão»); (4) faça vibração da língua e dos lábios (sem
pressão de contacto das pregas vocais durante a som).
vibração porque esta depende da viscosidade e de Uma voz mais forte (aumento da intensidade) é con-
outras propriedades dos tecidos. Um nível de humi- seguida através do aumento da pressão de ar
dade do ar de 30%-40% pode ser mantido através de subglótico, o que modifica o padrão de vibração das
vaporizadores, obviamente não causando o risco de pregas vocais. Do ponto de vista puramente biomecâ-
efeitos secundários (Vilkman, 1996); (2) ao nível de nico, o uso prolongado de uma voz de intensidade
hidratação corporal. Ter o hábito de beber água a forte pode restringir a circulação sanguínea nas pre-
temperatura natural (6 a 8 copos por dia), fazer a gas vocais (Titze, 1994). Da experiência clínica tam-
inclusão de frutas e vegetais na dieta alimentar, pois bém é sabido que muitas vezes os indivíduos perdem
contém vitaminas (A, E e C) bastante importantes a capacidade de adaptação do seu volume de voz de
para a saúde da mucosa faríngea (pele que reveste a acordo com as condições e tendem a usar uma voz
garganta) e usar água salinizada (sprays nas fossas muito forte em situação conversacional (Vilkman,
nasais e gargarejos). 1996).
Sugere-se que evite antes e durante o uso profissional Aconselha-se que:
da voz (Cruz e Guimarães, 1997): (1) pastilhas ou
gargarejos com substâncias que contêm álcool e • Se fala com uma voz de intensidade muito forte
substâncias químicas, porque alteram a saúde das para fazer face ao ruído de fundo, pense tornar-se
mucosas oral e faríngea; (2) as bebidas com cafeína adepto de uma campanha «antifalar-sobrepondo o
e álcool. Estas bebidas actuam como diuréticos e ruído». As campanhas antitabágicas e anti-ruído
causam desidratação. Para além disso, provocam um permitem a melhoria da qualidade dos espaços
efeito excitante, o que produz alterações vocais públicos, estabelecendo limites de segurança para
neurovegetativas. Mais ainda, o álcool cria irritação todos. Será importante demonstrar a todos que a
da mucosa faríngea e é um factor de risco no cancro campanha «antifalar-sobrepondo o ruído» tem o
da laringe; (3) as comidas demasiado condimentadas, duplo benefício de melhorar a qualidade dos
porque provocam desidratação e por vezes perturba- ouvidos e das laringes (Titze, 1999);
ções gástricas (por exemplo, azia); (4) o consumo de • Faça descanso vocal apropriado após o uso pro-
tabaco ou exposição a fumo porque tem um efeito longado de voz ou uso vocal de intensidade forte.
nocivo na mucosa das pregas vocais (constitui um Sempre que se pára de falar, consegue-se um
factor de risco no cancro da laringe) e consequências período curto de recuperação que beneficia os
na qualidade da voz (tom de voz muito grave e com músculos (cuja química se restabelece para a con-
irregularidades). Em resposta a agentes poluidores, tracção seguinte). No entanto, sempre que se
como o tabaco, podem surgir sinais de tosse e «pigar- traumatiza a mucosa que recobre as pregas vocais
reio». (pela força de colisão das pregas vocais no acto
Durante ou após a actividade de uso vocal (prolon- fonatório, por exemplo), esta não é rapidamente
gado ou não) podem surgir sinais de «pigarreio» e/ou recuperada. Este processo pode durar desde algu-
tosse. «Pigarrear» («arranhar a garganta») e/ou tosse mas horas a 72 horas (Titze, 1999);
são hábitos que criam uma tensão laríngea e faríngea • Use uma precisão articulatória adequada (com
exagerada e o bem-estar conseguido é habitualmente movimentos amplos da língua e dos lábios, mas
de curta duração, com a necessidade de repetição não exagerados, sem cerrar os dentes), velocidade
súbita do mesmo comportamento. de discurso moderada com variações da entoação,
Aconselha-se (Cruz e Guimarães, 1997) que reflicta em vez de aumentar a intensidade da voz para
sobre o motivo desses sinais e, caso se devam a fac- chamar a atenção dos alunos. Guimarães (1992)
tores de desidratação, siga os conselhos acima cita- refere que, «quando comunicamos, a nossa aten-
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