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Como Escrever

Como Escrever as Primeiras Linhas


É muito bom quando sentamos em frente ao teclado e começamos a
escrever imediatamente. As ideias parecem surgir como mágica em nossa mente
e conseguimos progredir bastante em um curto espaço de tempo. Pena que isso
não acontece todos os dias, pelo menos para a maioria de nós. E quando a
inspiração não aparece, o que fazer? Bem, aqui vão algumas dicas que podem
ajudar:

1. Jogue por alguns minutos - Antes de começar a escrever, precisamos


nos desligar do mundo exterior. Jogar paciência ou algum outro jogo que permita
distanciar nossos pensamentos dos problemas da vida, fará com que nossa
mente "desperte" e esteja mais preparada para criar.

2. Escreva sobre outras coisas - No lugar de trabalhar logo de cara em


seu projeto principal, escreva sobre algum outro assunto. Descreva o cômodo
onde você está ou escreva um conto sobre o que ocorreu com você na noite
anterior. Depois de alguns minutos fazendo isso, você verá que ao voltar para
seu projeto principal, as ideias irão fluir com mais facilidade.

3. Escreva um e-mail - Escolha uma pessoa que goste de ler seus textos
e escreva uma breve história para ela. Pode ser um poema, um conto, uma piada
ou qualquer outra coisa. O simples fato de estar escrevendo, irá energizar sua
mente e permitir que você produza como nunca!

Se nada disso funcionar... bom, talvez seja melhor você ir dar um passeio
e tentar novamente em outra hora!
Como Escrever um Bom Início
Você já reparou como um livro é analisado por um possível comprador
em uma livraria? Ele olha a capa, lê a sinopse no verso e procura por informações
nas orelhas. Além disso, na maioria das vezes, o leitor lê as primeiras páginas e
toma sua decisão de ficar ou não com o livro com base no início da história! O
papel do primeiro capítulo ou prólogo é fazer com que o leitor tenha vontade de
continuar lendo. Mas como fazer isso? Simples: o início deve conter elementos
que despertem curiosidade. Os primeiros parágrafos adiantam o que o leitor
deve esperar do restante do texto. Seja direto e comece com um conflito ou
outro ponto de tensão. Não perca tempo descrevendo demais personagens ou
locações. Veja, por exemplo, o prólogo do meu livro Teia Negra:

Assim que entraram no apartamento, Robert foi direto ao escritório pegar


alguns papéis e deixou seu convidado aguardando na sala. Ao abrir a gaveta do pequeno
arquivo de madeira, sentiu um calafrio e virou-se repentinamente. Uma pistola com
silenciador estava apontada para sua cabeça. O cano longo, a poucos centímetros de sua
testa, exalava o cheiro dos restos de pólvora das vezes anteriores em que a arma fora
usada. Sem que qualquer palavra fosse dita, o gatilho foi puxado. A bala entrou um
pouco acima dos olhos, fazendo Robert cair, quase que instantaneamente.

Repare que neste único parágrafo coloquei na mente do leitor diversos


questionamentos: Quem é Robert? Quem o matou? Por que ele foi morto? Se
você der uma olhada nas primeiras linhas de autores como Dan Brown, Frederick
Forsyth, entre outros, verá que eles fazem exatamente isso. É claro que existem
outras formas de se obter o mesmo efeito. Leia os primeiros capítulos de livros
dos autores que você admira e aprenda com eles! Um macete para um bom início
é pegar uma parte do texto (seja um capítulo ou parágrafo) e trazê-lo para o
início. Este prólogo do Teia Negra era um parágrafo que fazia parte do Capítulo
4!

Lembre-se: um bom início dá o tom do restante do texto e faz com que


o leitor tenha interesse em ler o resto!
Como Descrever Personagens, Locais e Objetos
Este costuma ser um ponto em que o escritor torna-se superficial demais
ou acaba exagerando nas descrições e deixa o leitor cansado e desanimado com
a leitura. Bom, encontrar um meio termo nem sempre é fácil, mas temos
algumas coisas para levar em conta antes de descrever um local, um objeto ou
personagem. Vamos lá!

Se você está descrevendo alguma coisa corriqueira e conhecida, deixe os


detalhes de lado. Seja específico. Exemplo: vamos supor que o herói de sua
história encontrou uma porteira de uma fazenda fechada e terá que dar um jeito
de abri-la ou pular por cima. Neste caso, basta mencionar que existe a porteira.
Não é necessário dizer que a porteira é formada por tábuas de cerejeira, pintada
de branco, com uma tranca do lado esquerdo, etc, etc, etc. Todo mundo sabe
como é uma porteira! É claro que existem situações em que se torna importante
mencionar um detalhe ou outro, desde que este detalhe interfira diretamente
numa ação. Se o herói pular a porteira e ficar enganchado em um prego gigante,
você pode dizer que "a porteira possuía pregos gigantes apontados para cima...".

Para descrever algum objeto que não é comum ou um extraterrestre que


veio roubar nossos tesouros, aí sim você pode usar um pouco dos detalhes para
gerar na mente do leitor a imagem que você deseja. De qualquer forma, não
abuse. Deixe o leitor imaginar e criar sua própria versão do personagem. No livro
"Anjos e Demônios", Dan Brown faz uma extensa descrição de um objeto: o tubo
que guarda a "anti-matéria". Aposto que você nunca viu um. Pois é, nem eu. Mas
agora já tenho uma ideia bastante exata de como ele é! Neste caso específico,
torna-se importante descrever em detalhes, mas se você já leu este livro irá
perceber que o objeto não foi descrito de uma só tacada. Dan Brown tomou o
cuidado de espalhar os detalhes em meio a diálogos e narrativas de ações. Desta
forma, conseguiu o que queria e não cansou o pobre do leitor.

Veja estes trechos de "Teia Negra":

Vinte minutos depois, Michael passava pelo portão de ferro da mansão Wong,
onde viviam Bei Wong, sua esposa Lisa e a filha, Samanta. Todas as vezes que ele
entrava naquela casa, não deixava de admirar a grandiosidade do lugar. O imenso
lustre de cristal, pendurado no centro do hall de entrada, dava um ar aristocrático ao
lar dos Wong. Alguns vasos orientais e pequenos enfeites não escondiam as raízes da
família. O aroma de canela, proveniente do discreto altar em um dos cantos da sala,
completava a atmosfera de paz e serenidade.

No primeiro trecho, cito o portão de ferro da mansão e só. Você já


imaginou como é o portão? Preciso descrever? Já no segundo trecho, procuro
descrever a mansão e dar uma certa personalidade ao lugar. Vamos ver se
funcionou. Ao ler o texto, você deve ter imaginado a mansão completa e não
somente os poucos detalhes que eu dei, correto? Será que na "sua" mansão tem
uma imensa escada de mármore que leva para um segundo andar? Você colocou
um lindo tapete oriental bem no centro da sala? Você montou o restante da
mansão com a sua imaginação, mas as dicas que eu dei levaram você na direção
certa. É isso que o escritor deve fazer: guiar o leitor e deixar que ele experimente
e viva sua própria aventura.

Resumindo: escreva em detalhes apenas o que é importante!

Como Estabelecer o Ponto de Vista


Este é um tópico muito importante para quem escreve romances ou
textos que exigem a definição de um ponto de referência através do qual a
"cena" que está sendo narrada irá ser filtrada. O ponto de vista, quando não
usado corretamente, pode deixar o leitor confuso e tornar a leitura cansativa.
Isto ocorre quando o ponto de vista é trocado de um personagem para outro,
sem que a troca fique bastante clara para o leitor.

Escritores experientes conseguem fazer esta mudança de ponto de vista


usando alguns recursos como pular uma linha ou apenas inserindo algumas dicas
no próprio texto, fazendo com que o leitor realize a transição sem maiores
problemas. Já escritores que ainda não dominem completamente esta técnica,
devem utilizar recursos mais claros, como o encerramento de um capítulo e início
do próximo em outro ponto de vista. Eu, particularmente, procuro me manter o
máximo possível dentro do ponto de vista que iniciou o capítulo. Acho mais fácil
de gerenciar e até mesmo de escrever a cena.
Alguns escritores utilizam o ponto de vista neutro, ou seja, a cena se
passa como se estivesse sendo filmada por uma câmera. Este recurso é raro nos
livros de hoje, mas ainda é utilizado em livros infanto-juvenis, como a série Harry
Potter. De qualquer forma, o ponto de vista neutro é difícil de ser usado e
somente o deve ser feito por aqueles que dominam a técnica.

Neste trecho de Teia Negra, faço a troca do ponto de vista utilizando o


recurso de pular uma linha:

Kremer estava no aeroporto Internacional do Rio de Janeiro por quatro horas


consecutivas e já havia consumido quase um maço inteiro de cigarros. O painel
mostrava que o voo do americano ainda atrasaria meia hora. Ele lera o relatório sobre
o caso Wong três vezes. Uma coisa o intrigava: a Greenwood estava licenciada para
explorar petróleo em uma das áreas disponibilizadas pelo governo brasileiro, porém, o
contrato, que deveria ter sido assinado há dois meses, aparentemente, ainda estava em
aberto. As outras três empresas que receberam áreas de exploração, já iniciavam os
trabalhos de pesquisa. A única pista que pôde ser levantada foi a existência de algum
entrave burocrático que estava impedindo a assinatura. Ao contrário do que geralmente
ocorre neste tipo de negociação, a exigência era da Greenwood e não do governo. Que
tipo de exigência a Greenwood poderia estar fazendo? Segundo o relatório, a ANP -
Agência Nacional de Petróleo - órgão criado pelo governo para regulamentar e fiscalizar
o setor, não tinha nenhuma informação sobre o assunto ou, simplesmente, não queria
dar maiores esclarecimentos.

Quando finalmente chegou sua vez, depois de quase vinte minutos de espera,
Michael foi fotografado e deixou suas digitais no formulário preenchido com seus dados
pessoais. O procedimento foi adotado pelas autoridades brasileiras, depois que os
Estados Unidos começaram a fazer o registro de todos os estrangeiros que entravam em
seu território. Como existe um acordo de reciprocidade, os brasileiros decidiram dar o
troco. Agora, todos os americanos eram fichados da mesma forma. Assim que passou
pela porta que separa a área de desembarque do saguão do aeroporto, Michael deparou-
se com dezenas de pessoas segurando cartazes, com os mais variados nomes. No meio
deles estava o seu.
No primeiro bloco, Kremer detém o ponto de vista, já no segundo é
Michael quem filtra a cena. Eu queria mostrar o ponto de vista de Kremer
aguardando a chegada de Michael no aeroporto e depois o de Michael
desembarcando. Neste caso, decidi trocar o ponto de vista dentro do mesmo
capítulo.

Algumas regras básicas devem ser observadas para que o ponto de vista
seja mantido:

- O personagem que detém o ponto de vista não pode "ler" os


pensamentos dos outros (exceto, é claro, se ler pensamentos seja uma
característica do personagem).

- De onde está posicionado, o personagem não consegue enxergar o que


acontece através das paredes ou em um local distante (exceto se o personagem
for o Super-Homem).

- O personagem com o ponto de vista pode apenas supor o que os outros


estão sentindo, seja com base na sua expressão corporal ou no histórico
conhecido pelo personagem.

Veja como fica uma cena com o ponto de vista "quebrado":

René estava exausto após aquela fuga. Ele parou apenas alguns minutos para
descansar e foi aí que seu perseguidor o encontrou. Seu coração disparou e ele imaginou
a morte chegando para levá-lo. O carrasco olhava para ele com ar furioso e pensava:
"vou matá-lo agora mesmo!". Ele olhou para sua vítima que estava espremida contra a
parede e bradou sua espada. A lâmina, afiada como uma navalha, passou rente ao
braço de René. Ele esquivou-se e conseguiu escapar mais uma vez, porém sabia que
aquela poderia ser sua última chance.

Repare que o ponto de vista muda de René para o Carrasco e volta para
René no meio da cena. Se você ler com calma e prestar atenção, irá conseguir
identificar a mudança de ponto de vista e entender perfeitamente o que se
passou entre René e o Carrasco. Mas veja o texto apenas do ponto de vista de
René e tire suas conclusões:

René estava exausto após aquela fuga. Ele parou apenas alguns minutos para
descansar e foi aí que seu perseguidor o encontrou. Seu coração disparou e ele imaginou
a morte chegando para levá-lo. O carrasco olhava para ele com ar furioso. Sua expressão
indicava que iria matá-lo ali mesmo. René estava espremido contra a parede, uma
vítima perfeita. O carrasco bradou sua espada. A lâmina, afiada como uma navalha,
passou rente ao braço de René. Ele esquivou-se e conseguiu escapar mais uma vez,
porém sabia que aquela poderia ser sua última chance."

Agora do ponto de vista do Carrasco:

O carrasco perseguia sua vítima sem compaixão. Ele sabia que René estava
exausto e que a qualquer momento iria parar para descansar. E foi assim que ele o
encontrou. O carrasco podia sentir a morte chegando para levar René de uma vez por
todas. Ele estava furioso e disse para si mesmo: "vou matá-lo agora!". A vítima estava
exprimida contra a parede. O carrasco bradou sua espada. A lâmina, afiada como uma
navalha, passou rente ao braço de René. Sua presa esquivou-se e conseguiu escapar mais
uma vez, então o carrasco jurou que aquela teria sido a última vez.

Quando estamos narrando uma história através do ponto de vista de um


personagem, é muito mais interessante demonstrar os sentimentos deste
personagem através de ações ativas. Veja estes dois exemplos:

Ele sentiu um calafrio ao passar pela porta enferrujada e suja.

Ao passar pela porta enferrujada e suja, um calafrio sacudiu seu corpo.


No primeiro trecho, o personagem apenas "sente" um calafrio. Já no
segundo, o calafrio "sacode" o corpo do personagem. Qual dos dois você acha
que trás uma experiência mais intensa para o leitor? Usar ações ativas torna a
leitura muito mais interessante e isso é possível, principalmente, para a
personagem que detém o ponto de vista.

Em uma cena, através de qual personagem o leitor quer enxergar? Será


melhor mostrar a cena através dos olhos do personagem central? Pode ser que
sim, mas se você mostrar uma cena através de um personagem secundário,
poderá descrever melhor as reações do personagem principal. Quem está no
centro da ação pode estar limitado a mostrar apenas seus próprios sentimentos
e se estiver muito ocupado com o que está ocorrendo, não terá nem tempo de
comentar sobre quem mais está na cena. Por um outro lado, um personagem
que estiver atuando como coadjuvante poderá reagir e demonstrar a cena com
muito mais riqueza de detalhes.

Veja como fica uma cena com o ponto de vista a partir do personagem
central:

— Você está atrasado, — disse Carlos, tentando não demonstrar a raiva que
estava sentindo.

— Desculpe, tive problemas para chegar até aqui, — disse Luís,


acompanhando os passos rápidos de Carlos.

Aquilo era um absurdo, pensava Carlos, além de ser responsável por manter a
segurança daquele lugar, ainda tinha que aturar os atrasos frequentes de Luís. Agora,
precisava correr para que tudo ficasse pronto antes da cerimônia. O risco de alguma
coisa dar errado aumentava muito quando os procedimentos eram executados em cima
da hora.

A mesma cena com o Ponto de Vista a partir do personagem secundário:


— Você está atrasado, — disse Carlos, com o tom de voz controlado, mas
fulminando Luís com o olhar.

— Desculpe, tive problemas para chegar até aqui, — disse Luís,


acompanhando os passos rápidos de Carlos.

Tudo bem que Luís chegava atrasado em quase todos os eventos, mas sempre
conseguia arrumar tudo antes do prazo. Carlos era perfeccionista e se achava dono da
verdade. Ele nunca disse diretamente à Luís que odiava quando não chegava na hora
marcada, mas a cada dia ficava mais claro que sua situação estava no limite.

Carlos estava suando muito, provavelmente por causa do calor infernal que
fazia naquele dia. Luís, por sua vez, já estava acostumado com a correria e a trabalhar
em ambientes quentes como aquele caldeirão. Não era cheio de frescuras como Carlos
que só estava ali para dar ordens e ficar olhando os outros darem duro.

No primeiro trecho, temos a visão da cena pelos olhos de Carlos e


ficamos sabendo que ele está nervoso pelo atraso de Luís. Só que Carlos está
preocupado demais em colocar tudo em ordem antes que a cerimônia comece e
não dá atenção aos outros detalhes que poderiam enriquecer a cena e tornar a
leitura mais interessante. Já no segundo trecho, a visão de Luís é mais completa
e mais viva. Ele transmite o que sente ao ver Carlos olhando para ele
furiosamente, mas tentando controlar as palavras. E, mais importante, com esta
visão o leitor fica sabendo de muito mais detalhes sobre o que Luís está sentindo
e sobre como o personagem principal, neste caso Carlos, se comporta do ponto
de vista dos outros personagens.

Algumas vezes, usar o ponto de vista a partir de um personagem


secundário, pode enriquecer o texto e a percepção do leitor em relação ao
personagem principal.

Como Escrever Diálogos


Vamos iniciar um tópico muito importante: diálogos. Procure prestar
atenção como as pessoas conversam na vida real. Elas falam em sentenças
curtas, cortam umas as outras e executam ações enquanto falam. Para que seu
diálogo seja autêntico, você precisa usar estes mesmos artifícios. Só tome
cuidado para que não fique chato, pois muitas vezes, nossas conversas cotidianas
são chatas. Os diálogos devem sempre fazer a história progredir e trazer algum
nível de tensão ou conflito. Evite "jogar conversa fora", com coisas do tipo:

— Oi, tudo bem?

— Tudo bem. E você?

— Lindo dia não?

— Lindo mesmo.

...

Não abuse dos dialetos e gírias. Usar apenas algumas palavras no meio
das falas é suficiente para indicar ao leitor que aquele personagem fala de uma
determinada maneira. Se o personagem usar uma linguagem incomum, que
possa deixar o leitor confuso quanto ao significado de uma palavra, você pode
usar o outro personagem para esclarecer. Exemplo:

— Te abanquetas aí, homem, — disse o Gaúcho.

— Te abanquetas? Que diabo é isso? — Perguntou o Carioca.

— É pra sentar, tchê!

Controle a velocidade e a entonação dos diálogos com a pontuação. Se,


por exemplo, uma pessoa fizer uma pausa um tanto longa para "pensar" antes
de continuar uma frase, use três pontos para mostrar esta pausa no texto.
Quando alguém for interrompido no meio da frase, use um traço horizontal para
demonstrar isso.

Cada personagem deve ter sua personalidade e isso deve ser refletido na
forma de falar. Evite que dois personagens conversando pareçam ser a mesma
pessoa. Use o perfil dos personagens, seu nível de educação, a regionalidade, a
idade, o humor e outros fatores que influenciam na forma como falamos. Veja
um diálogo entre Kremer e Guilherme extraído do meu livro Teia Negra:

— Bom, senhores, a situação é a seguinte, — disse Kremer, enquanto pegava


uma folha de papel em branco que estava sobre a mesa e começava a desenhar. — Aqui
fica o prédio da Greenwood e nosso homem está no oitavo andar. Precisamos tirá-lo de
lá, o mais rápido possível.

— Mas o quê que esse cara tá fazendo lá, meu camarada? — perguntou
Guilherme.

— Infelizmente, não posso dizer. Faz parte de uma missão que está em
andamento, — disse Kremer, colocando um cigarro na boca, mas sem acendê-lo.

— Porra, Kremer, você sabe que se descobrem que eu tô agindo extra-


oficialmente numa parada dessa, vai dar a maior merda.

— Não se preocupe, ninguém vai ficar sabendo. Vai ser jogo rápido e limpo.

— Tá certo. Só tô aqui porque você é meu amigo. Sabe disso.

— Bom, vamos ter --

— Ah! Antes que eu esqueça, — gritou Guilherme, — vai ter que pagar uma
cerveja pros amigos aqui.

— Tá bom, Guilherme, mas será que dá pra você calar essa boca e prestar
atenção na porra do plano? O cara tá lá no ninho das cobras, cacete.

— Tá, tá, desculpa. Manda ver.


Você deve ter percebido que Kremer é mais centrado, mais "elegante"
ao falar do que Guilherme, embora não deixe de lado algumas expressões que o
coloca no mesmo "ambiente" que o amigo. Já Guilherme é totalmente
"esculhambado". Você também deve ter percebido que o tom da voz de
Guilherme é mais alto, mesmo antes que o marcador "gritou Guilherme"
aparecesse no texto.

Peça a uma outra pessoa que leia os diálogos pra você em voz alta. Se
você conseguir que duas pessoas façam isso, uma para cada personagem, será
ainda melhor. Elas devem usar as entonações de acordo com as dicas que você
deixou no texto. Se ao ouvir o diálogo você não sentir que está como você
esperava, refine e peça para que leiam novamente. Repita o processo até
conseguir o resultado que deseja.

Não coloque muito texto com pensamentos ou ações no meio de um


diálogo. Lembre-se que a conversa deve fluir naturalmente, para que o leitor
possa acompanhá-la. Imagine se no meio de uma briga de marido e mulher, você
começar a descrever o objeto que está em cima da lareira. Isso irá quebrar o
ritmo do diálogo e o leitor perderá o interesse.

Leia o trecho abaixo com atenção:

— Ela estava doida para ir para o apartamento logo, — disse eu, enquanto
estávamos sentados na escada olhando ela passar no corredor.

Ricardo apontou diretamente para ela.

— É aquela?

— A própria.

— Tem certeza? — Disse ele. Eu concordei com a cabeça. — Não pode ser!

— Gostosa, não?

...
O que não está claro no diálogo acima? Consegue perceber? Bom, na
verdade existe um problema na linha "— Tem certeza? — Disse ele. Eu concordei
com a cabeça. — Não pode ser!". Fica difícil identificar quem está com a palavra.
Posso assumir que quem disse " — Não pode ser!" foi o personagem que está
narrando em primeira pessoa, mas na verdade quem disse isso foi o "Ricardo".
Esta confusão foi criada por existir uma ação de um personagem ("Eu concordei
com a cabeça.") no meio da fala do outro. Pode até ser que o leitor consiga
interpretar o texto corretamente e não se perca, mas se errar, todo o diálogo
ficará confuso. O trabalho do autor é evitar que isso ocorra e eliminar todas as
possíveis armadilhas. Veja agora o texto corrigido e tire suas próprias conclusões:

— Ela estava doida para ir para o apartamento logo, — disse eu, enquanto
estávamos sentados na escada olhando ela passar no corredor.

Ricardo apontou diretamente para ela.

— É aquela?

— A própria.

— Tem certeza? — Disse ele.

Eu concordei com a cabeça.

— Não pode ser! — Disse ele, deixando a boca aberta por mais tempo que o
necessário.

— Gostosa, não?

...

Procure usar marcadores no diálogo sempre que possa existir alguma


dúvida de quem está falando o quê. Usar "ele disse" ou "ela disse", sem muito
exagero, não polui o texto e o leitor nem nota a presença desses marcadores
"invisíveis". Leia alguns diálogos de autores famosos e repare que eles não usam
muitas variações nos marcadores, exceto em casos em que realmente é
necessário demonstrar uma alteração de tom de voz. Não use, por exemplo, "ele
falou" em uma linha, "ele exclamou" em outra e na outra "ele disse". Mesmo nos
casos onde seja necessário mostrar a variação de volume na voz, você pode
utilizar outros recursos mais elegantes do que simplesmente marcar com "ele
gritou":

— Vá para dentro, agora! — Gritou Carlos.

— Não, — disse Glória, com lágrimas nos olhos.

— Droga de menina teimosa! — Esbravejou Carlos.

Agora veja o mesmo texto sem os marcadores e diga qual versão ficou
mais interessante:

— Vá para dentro, agora! — Carlos estava com os punhos cerrados e


chamando a atenção de toda a vizinhança.

— Não, — disse Glória, com lágrimas nos olhos.

— Droga de menina teimosa! — disse ele, com o rosto vermelho como pimenta.

Como Construir Personagens


Toda história tem ao menos um personagem. Pode ser uma pessoa, um
animal, uma planta ou um objeto qualquer, mas ele sempre estará lá. É o
personagem que trás vida para um livro. Faz rir, chorar, amar, respirar... Se você
quiser contar uma boa história, terá que construir bons personagens. Se você
conseguir que seu leitor fique verdadeiramente preocupado com o que acontece
aos seus personagens, é por que você acertou! Quando nós gostamos de uma
história, na maioria das vezes não é por que a trama é interessante ou por causa
dos diálogos bem escritos, mas sim por que nos apaixonamos pelos personagens.
É da natureza humana querer se relacionar com outras pessoas e um bom livro
nos dá a oportunidade de conhecer "gente" nova. Podemos ficar sabendo de
detalhes da vida de um personagem que talvez jamais saberíamos se este fosse
uma pessoa do nosso círculo de relacionamentos. Lendo uma história bem
escrita, você entende os motivos pelos quais aquele personagem age desta ou
daquela forma. Por que está triste ou feliz. Após alguns anos, você
provavelmente irá esquecer os detalhes da trama, poderá até mesmo esquecer
como o livro acaba, mas jamais irá esquecer um personagem com quem você
tenha se identificado e vivido momentos emocionantes.

Alguém uma vez disse que para escrever uma boa história, você precisa
se concentrar em três pontos: personagens, personagens e personagens. Se você
conseguir criar pessoas interessantes, tem ótimas chances de conseguir criar
uma história interessante. Tudo gira em torno de personagens, portanto, antes
de pensar em escrever, defina quem será o personagem que dará vida à sua obra
e dê à ele um passado, um presente e um futuro. Olhe em sua volta, você está
cheio de exemplos. Pessoas que passam e interagem com você a todo o instante.
Passe a olhá-las com mais interesse. Analise seu comportamento. Veja como
falam, como gesticulam, como reagem à determinadas situações. Lembre-se que
pessoas precisam ser amadas, sentem-se sozinhas, aflitas, alegres, apaixonadas.
Você precisa levar esta vida para o seu texto e fazer com o leitor reconheça seus
personagens quando elas aparecerem na história, mesmo que seja o pior dos
vilões.

Vamos falar sobre como construir personagens memoráveis. Discutir


técnicas usadas pelos maiores escritores de todos os tempos, que nos deixaram
amigos fictícios que fazem parte de nossas vidas desde nossa infância. Como
exercício, leia um trecho de um livro que você tenha gostado muito, onde o autor
descreve o principal personagem. Veja como ele lida com os sentimentos,
emoções e reações deste personagem. Descubra que traços físicos ou
psicológicos fizeram com que você fosse capaz de identificar o personagem em
vários pontos da trama, sem que fosse preciso sequer mencionar o seu nome.

Sua história pode ser muito bacana, ter viradas incríveis na trama, um
final memorável, etc., etc., etc. Porém, se você não tiver ao menos uma
personagem forte, em que o leitor acredite e se preocupe com ela, todo seu
trabalho para desenvolver a trama pode ir por água abaixo. O leitor precisa
gostar das personagens, se preocupar com elas e, principalmente, acreditar
nelas. Portanto, o mais importante, é que suas personagens tenham
credibilidade. Mas como construir esta credibilidade? Vamos lá:

1- Seus personagens precisam de um passado. Nossa personalidade é


construída sobre uma série de acontecimentos em nossas vidas. Quem somos
hoje é resultado do lugar onde moramos, da convivência com as pessoas que
passaram por nossas vidas, do colégio em que estudamos e por aí vai. Seus
personagens têm que ter vivido tudo isso. Elas precisam de uma história, mesmo
que você não conte esta história para o leitor. É com base nesta história, que
pode ser construída desde a infância, que você irá obter as reações, os
sentimentos, o jeito de falar, os medos, as angústias, as alegrias, os prazeres e
tudo mais que seu personagem irá transmitir para o leitor. Uma forma prática de
fazer isso, é pegando uma folha de papel ou abrindo um novo documento no
computador e escrever este passado. Crie um perfil social, psicológico e físico
para cada personagem que desempenhe algum papel importante em sua
história.

2- As reações e decisões de um personagem devem estar em linha com


seu perfil. Exemplo: Uma pessoa forte e determinada não pode ser colocada em
uma situação onde esteja amedrontada e totalmente indefesa. Qualquer
situação de risco, deve ser enfrentada por este personagem com força e
determinação. Isso não quer dizer que ele não possa estar com um pouco de
medo ou preocupado, mas sim que os traços de força e determinação não
podem simplesmente desaparecer de uma hora para outra.

3- Quando estiver escrevendo, procure entrar na pele de seu


personagem. Veja com os olhos dele, sinta o que ele estiver sentindo. Isso irá
tornar o personagem mais verdadeiro, mais lógico e mais "humano" para o leitor.

O leitor precisa identificar um padrão de comportamento em seus


personagens, mesmo que, de vez em quando, você o surpreenda com alguma
reação inesperada. Lembre-se que essa "reação inesperada", também deve estar
dentro do perfil do personagem, a não ser que este personagem tenha algum
desvio de personalidade, o que, na prática, também faria parte do perfil.

Ao terminar de ler um livro onde algum personagem tenha conquistado


você, procure ler novamente alguns trechos e identifique quais foram as técnicas
usadas pelo autor para construir a credibilidade do personagem. Estou certo que
você irá identificar muito do que acabamos de falar aqui.

Algumas coisas, além do perfil, são muito importantes na construção de


seus personagens. Um ponto fundamental é a identificação do personagem. O
perfil irá ajudar nisso, sem dúvida, mas outras coisas devem ser levadas em
consideração:

1- Seu personagem pode ter alguma característica que o identifique


claramente. Exemplos: a cor do cabelo, um penteado diferente, uma marca de
nascença, um defeito genético ou causado por alguma doença ou acidente, uma
tatuagem, etc. Esta marca de identificação pode, inclusive, reagir ao ambiente
ou à situações. A marca de nascença pode doer quando a heroína estiver em
perigo, a tatuagem pode mudar de cor quando uma tempestade se aproxima e
assim por diante. A marca também pode ter uma história. Quem não se lembra
da cicatriz de Harry Potter e como ela fica em brasa quando Voldemort está por
perto?

Quando escrevi "Teia Negra", dei a Michael, o personagem principal,


uma tatuagem que foi feita em cima de uma cicatriz. A tatuagem teve direito à
uma história e desempenhou um papel importante durante a trama. Veja o
trecho onde Michael decide fazer a tatuagem:

...Michael decidiu fazer uma tatuagem no ombro ferido. A figura, símbolo da


justiça, ganhou vida ao ter sua espada realçada em alto relevo. A cicatriz tornou-se a
lâmina da justiça e inspirou Michael a tornar-se um dos mais experientes agentes...

2- Não confunda seu leitor com nomes de personagens muito parecidos


uns com os outros. Imagine se em uma mesma página os personagens Reinaldo,
Ronaldo e Rinaldo se encontram para um caloroso bate-papo? Uma dica é usar
nomes que comecem com letras diferentes, assim fica mais fácil para o leitor
identificá-los.

3- Procure usar nomes da mesma época em que sua história se passa.


De preferência, pesquise os nomes das gerações de famílias que viveram nos
mesmos anos em que seus personagens vivem. Tirando os casos em que você
queira fazer humor, não coloque nomes que não estejam relacionados ao povo
ou à cultura que está sendo citada em sua trama. Imagine um japonês chamado
Manuel da Silva!

4- Use nomes que combinem com seus personagens. Uma linda moça
com um nome horrível não faz muito sentido e vai deixar o leitor incomodado. É
claro que se o nome foi dado por causa de uma vingança ou se exerce algum
outro papel importante na trama, esta regra não se aplica.

Como Revisar seus Textos


Tenho visto vários exemplos de pessoas que escrevem um texto
qualquer e logo em seguida o publicam, sem nenhuma revisão. A qualidade do
que você escreve é de extrema importância para quem lê. Os leitores ficam
incomodados se percebem muitos erros no texto, principalmente se forem erros
ortográficos ou gramaticais. Ninguém é perfeito, portanto alguns detalhes
podem escapar, mas a impressão geral deve ser de que você se preocupou em
aparar as arestas. Vamos ver quais são os principais pontos de revisão e como
proceder para garantir um mínimo de qualidade para seus trabalhos.

1- Gramática e Ortografia - A primeira providência é passar um corretor


ortográfico eletrônico, caso você disponha de um. Esta funcionalidade está
presente no Microsoft Word e é acessível através da tecla F7. É importante
ressaltar que o corretor ortográfico vai apenas ajudá-lo a identificar possíveis
pontos com problemas. Não confie nele para fazer todo o trabalho sozinho!
Sempre que o corretor indicar algum erro, verifique se o erro realmente existe e
se as correções sugeridas são plausíveis. Ultimamente, tenho lido muito material
nas comunidades do Orkut relacionadas à literatura e tenho encontrado erros
básicos imperdoáveis. A maioria deles está na grafia das palavras, principalmente
no uso do S e do Ç. É neste ponto que o corretor pode ajudar bastante. De
qualquer forma, dedique um tempo para estudar as principais regras gramaticais
e tenha sempre um guia de consulta à mão. Leia muito, assim você assimila
regras e grafias de forma inconsciente e passa a escrever com mais qualidade.
2- Incoerências - Sua história deve ser coerente. O herói não pode
quebrar a perna em um dia e no dia seguinte aparecer correndo uma maratona.
Fique atento a todos os detalhes que possam gerar situações incompatíveis e
procure identificar os pontos onde isso acontece. Um método para manter o
controle é criar uma espécie de ficha com os principais acontecimentos da
história e um registro cronológico de quando as coisas aconteceram. Quando
meu livro Teia Negra estava passando pela revisão final, um detalhe quase passa
despercebido. Em um capítulo eu digo que uma das personagens nasceu dois
anos depois do irmão. Alguns capítulos mais adiante eu dizia que a diferença de
idade entre os irmãos era de oito anos!

3- Erros Históricos e Geográficos - Se você utilizou algum fato histórico


ou as locações onde passam sua história são reais, pesquise bastante para não
errar. É claro que você pode alterar alguns detalhes para ajudar a desenvolver
sua trama, mas nada que torne a narrativa absurda. Imagine se colocarmos o
morro do Pão de Açúcar em São Paulo! Dan Brown descreveu em detalhes
diversas locações na Europa em seu livro "O Código Da Vinci", mas para isso ele
esteve lá pessoalmente e pesquisou. Muitas das descrições no livro não refletem
fielmente a realidade, mas ele tem absoluto controle do que está fazendo.

4- Estética - Não sabia que palavra usar exatamente para descrever este
tópico. Acabei escolhendo estética por acreditar que esta é a palavra que mais
se aproxima do que o leitor percebe em um texto bem escrito. Seu objetivo
principal é que sua história seja lida e que seus leitores sintam-se confortáveis
com a leitura, a ponto de "entrar" na fantasia que você criou. Para conseguir que
o leitor atinja este estado de concentração, você precisa eliminar do texto tudo
que possa causar "ruído" e distraí-lo. Abaixo uma lista destes ruídos que devem
ser evitados:

- Excesso de repetição de palavras - procure por palavras repetidas,


principalmente se estiverem muito próximas umas das outras. Use sinônimos,
mude a frase e torne a leitura mais agradável.

- Sentenças começando com a mesma palavra - quando iniciar um


parágrafo, procure usar uma palavra diferente da que foi usada nos parágrafos
anteriores. Isso também vale para o início de capítulos.
- Palavras incomuns - Evite o uso de palavras difíceis, que possam exigir
que o leitor médio tenha que recorrer a um dicionário para entender o que você
quis dizer.

- Documentário - Não interrompa uma cena de ação ou um diálogo com


uma aula de história ou geografia. Imagine seu herói lutando contra seu principal
inimigo e o leitor tendo que aguardar entre um golpe e outro, enquanto você
conta a história da fundação da biblioteca onde a luta acontece.

É claro que existe um número muito maior de pontos de atenção do que


os relacionados acima, mas acredito que estes sejam os principais. O ideal é
somente começar o processo de revisão depois que você terminar o texto. Se
você ficar revisando cada pedaço do que acabou de escrever, corre o risco de
não conseguir terminar sua história.

Quanto mais tempo você deixar o que escreveu de lado antes de iniciar
a revisão, melhor. Fique pelo menos uma semana sem tocar no texto e quando
você voltar a ler, terá uma visão mais clara dos erros que cometeu.

Não caia na tentação de ficar revisando seu texto eternamente. Para que
sua história possa ficar pronta e com uma qualidade aceitável, vou sugerir um
processo que aprendi enquanto escrevia o Teia Negra. O processo de revisão
possui quatro etapas, que são:

1. Estrutura - Nesta primeira leitura, procure verificar a estrutura geral


da história. Existe um início, um meio e um fim bem definidos? Você colocou
"ganchos" no final dos capítulos para que seu leitor mantenha-se interessado no
que você está contando? Existem surpresas e viradas na trama suficientes para
que a história não fique monótona? Todas as "sub-tramas" estão bem amarradas
à trama principal? Seus personagens são interessantes, verdadeiros e evoluem
com o passar do tempo?

2. Detalhes - Na segunda leitura você deve procurar por palavras


repetidas muitas vezes no texto, frases fora de contexto, etc. Verifique se as
palavras escolhidas representam o que você realmente quis dizer. Procure
também por inconsistências do tipo: no primeiro capítulo o herói tem olhos
verdes e no quinto você diz que ele tem olhos azuis.
3. Leitura em Voz Alta - Desta vez, você irá ler o texto em voz alta. O
resultado será ainda melhor se você tiver alguém que possa ler pra você. Ao ouvir
o que escreveu, você vai perceber que muitos detalhes "escaparam" nas etapas
anteriores. Outro ponto interessante nesta técnica é o fato dos diálogos
tomarem vida e, com isso, você poderá torná-los ainda mais interessantes.

4. Revisão Geral - Fique no lugar do seu leitor e procure ler sua história
do ponto de vista dele. Nesta etapa é que você irá perceber que deixou algum
personagem sem um final ou que usou o mesmo nome para mais de um
personagem coadjuvante.

Lembre-se que sua história é para ser lida e não para ficar dentro da
gaveta aguardando você revisá-la cem vezes, até que esteja perfeita. Passe por
estas quatro etapas e seu texto estará pronto!

Como Manter o Leitor Interessado


Um dos grandes desafios de quem escreve é manter o leitor interessado
o suficiente para que este chegue até o final da história. De vez em quando,
pegamos um livro para ler e não conseguimos mais desgrudar dele até
chegarmos na última página. Eu estava um pouco receoso de falar sobre isso,
pois não sabia se já teria assimilado bem esta técnica. Agora, depois de receber
dezenas de e-mails de leitores dizendo ser exatamente esta uma das principais
características de Teia Negra, estou um pouco mais confortável para tratar deste
assunto. Sem dúvida, um dos melhores elogios que um autor pode receber é
quando um leitor diz não conseguir mais parar de ler a história. Mas como atingir
este objetivo?

A primeira coisa que você deve ter em mente é que qualquer leitor é
movido pela curiosidade. Você, como autor, é responsável por manter o leitor
curioso sobre o que virá a seguir, portanto deve tomar alguns cuidados para que
sua trama não se torne monótona e previsível. Vou relacionar abaixo alguns
pontos para ajudá-lo nesta tarefa:

1- Não conte tudo de uma vez. Deixe sempre alguns detalhes da trama
para serem revelados aos poucos, assim o leitor irá esperar por mais informações
sobre um determinado personagem ou uma situação que tenha ocorrido
anteriormente.

2- Apesar de seus personagens terem que se comportar de forma lógica,


nada impede que eles tenham atitudes imprevisíveis de vez em quando. Isso faz
com que o leitor fique em dúvida de como o personagem irá sair de determinada
situação.

3- No final de cada capítulo deixe um "gancho". Esta técnica é muito


usada pelos principais autores. Para criar um "gancho" você deve deixar alguma
situação sem solução no final do capítulo. Como exemplo, o herói pode estar em
uma situação de perigo e você encerra o capítulo naquele exato momento em
que parece não haver mais saída. A continuação da "cena" pode ser já no
próximo capítulo ou você pode até mudar de assunto, voltando no capítulo
seguinte. Só tome cuidado para não deixar passar muito "tempo" entre o gancho
e o restante da ação, isso pode deixar o leitor frustrado. Outro ótimo exemplo
desta técnica é o final do capítulo de uma novela na TV, repare que você sempre
tem que esperar pelo dia seguinte para saber o que vai acontecer.

Embora os "ganchos" sejam extremamente eficientes em manter os


leitores interessados, eles são apenas uma parte da obra. Não irá adiantar ter
excelentes "ganchos" no final de seus capítulos se, por exemplo, seus
personagens não forem interessantes.

Para encerrar, vou deixar o trecho final do capítulo 30 de Teia Negra.


Aqui uma pergunta fica no ar e eu "convido" o leitor para juntar-se a Michael na
busca pela verdade.

Voltando para seus papéis, ele começou a ler sobre as regras estabelecidas pelo
governo brasileiro para a exploração de petróleo. Não achou nada interessante. Passou
a pensar na morte de Robert. Tudo o que eles haviam descoberto até agora mostrava
que muitos interesses estavam em jogo, mas nada que justificasse um assassinato.
Robert deve ter descoberto alguma outra coisa que o tornou uma ameaça maior. Isto
era o que Michael precisava descobrir. O que Robert sabia?
Como Fazer seu Leitor Chorar
Você já ficou, alguma vez, com lágrimas nos olhos enquanto lia um livro?
Creio que a maioria de nós já experimentou essa sensação de sofrimento diante
de acontecimentos que envolvem os personagens de uma história. E você já
parou para perguntar como isso é possível? Como podemos nos derreter em
lágrimas apenas lendo um livro? Esta é uma técnica usada com frequência por
grandes autores e uma das mais importantes para tornar sua história
inesquecível.

O conceito é muito simples e para entendê-lo basta olhar um pouco para


a vida real. Se você está vendo TV e o jornal das oito mostra um acidente com
vítimas, você fica curioso e começa a prestar atenção. Até aí, trata-se apenas de
mais um acidente. Conforme a reportagem avança, você percebe que o acidente
aconteceu com uma família que mora em uma rua ao lado da sua. Uma das
crianças veio a falecer e quando mostram o rosto da menina na tela, você
começa a chorar. Aquela criança brincava com seus filhos e você conhecia sua
família, seus sonhos e o sorriso inocente de quem ainda teria uma vida inteira
pela frente. Agora a linda menina de cabelos claros e bochechas rosadas estava
no meio daquelas ferragens retorcidas e você sabe que jamais irá vê-la
novamente. Pronto, seu mundo desabou.

Qual foi o motivo principal de você ter ficado emocionado com a


reportagem? Certamente, o fato de você conhecer a vítima e gostar dela! Nós
nos importamos com aqueles que conhecemos e nos preocupamos com eles. Da
mesma forma, para que um leitor fique emocionado com uma passagem de um
livro, é importante que ele conheça e se importe com o personagem que está
passando por dificuldades. Antes de colocar seu personagem em uma fria e
tentar arrancar lágrimas dos seus leitores, você precisa criar uma conexão
emocional entre leitor e personagem primeiro. Faça com que seu leitor conheça
o personagem, seu passado, seus sonhos, suas habilidades e o que mais você
achar que possa ajudar a criar um relacionamento entre eles.

Agora é só descer o machado! Não tenha pena do leitor! Faça com que
seu personagem sofra e leve o leitor junto com ele! Se lágrimas aparecerem no
canto dos olhos do leitor, você conseguiu, parabéns. Não pense nisso como uma
coisa cruel, mas sim como um excelente ingrediente para tornar sua trama
interessante e cativante. Além do mais, sempre será possível reverter a situação
e fazer seu leitor sorrir! Mas isso é assunto para uma outra hora.

Como Criar uma Conexão Emocional Entre Leitor e


Personagem
Já falamos sobre como fazer o leitor se emocionar com sua história. O
principal motivo que leva o leitor a derramar lágrimas com o que está lendo é o
seu vínculo com o personagem. Como criar este vínculo? Como fazer com que o
leitor "apaixone-se" e fique completamente envolvido com o personagem a
ponto de "sentir" as consequências do que acontece na história? É sobre isso que
vamos falar um pouco hoje.

Seu principal objetivo como escritor é colocar o leitor na pele do


personagem. O leitor precisa tornar-se o personagem que detêm o ponto de
vista. Para que isso funcione, você terá que levar o leitor para dentro da mente
do personagem. Mostre quais são os medos, as crenças, os objetivos e o passado
do personagem. Só tome cuidado para não exagerar, apenas algumas dicas são
suficientes. Deixe que eles conheçam um ao outro, fiquem íntimos e sejam
cúmplices nas decisões.

Nós somos seres emocionais e reagimos aos acontecimentos desta


forma. Se você quer causar impacto ao descrever uma cena de terrorismo, por
exemplo, ao invés de mostrar a explosão e um monte de corpos mutilados logo
de cara, mostre primeiro as vítimas felizes antes do atentado. Isto irá criar uma
conexão emocional com o leitor e fará com que ele fique realmente sentido com
a morte daquelas pessoas.

Para demonstrar a diferença na prática, vamos analisar dois textos e


compará-los quanto ao grau de envolvimento emocional leitor x personagens:

1: Janaína brincava na calçada com sua bola de borracha. A brincadeira


consistia em arremessar contra um muro de concreto e tentar agarrar o objeto arisco,
que mudava completamente de trajetória a cada vez que tocava em alguma superfície.
No quarto arremesso, a pequena esfera azul passou por cima da cabeça da criança que,
instintivamente, virou o corpo e correu para o meio da rua. O barulho estridente de uma
freada precedeu o baque surdo e sombrio. A bolinha bateu no meio-fio e voltou, parando
ao lado do corpo inerte da menina."

2: Desde a morte de Catarina, Marcelo mudara seus hábitos. Ele chegava todos
os dias antes das seis e não fazia mais horas extras nos finais de semana. Estava decidido
a criar Daniela como um pai presente e responsável. A mudança não foi nada fácil.
Acostumado a passar dias e noites em operações policiais perigosas, ainda tentava se
adaptar à monotonia do serviço burocrático da delegacia.

De manhã, antes de sair para o trabalho, Marcelo passava no quarto de


Daniela e ficava, pelo menos, cinco minutos acariciando os cabelos dourados e
cacheados da filha. Nossa, como o tempo passava rápido. Outro dia era apenas um bebê
e agora estava para completar cinco anos. Já falava coisas incríveis, parecia mais
inteligente que muitos adultos que conhecia.

Depois que a babá ia embora e os dois ficavam a sós, eles sentavam-se à mesa
para jantar. Este era um dos maiores prazeres do pai coruja. Daniela conversava sobre
o que havia acontecido naquele dia na escola e contava das dificuldades da babá em dar
banho no seu cachorro. Eles riam e se divertiam. Apesar de sentirem a falta de Catarina,
eram felizes, pois sabiam que era assim que a mãe desejaria que fosse.

Naquela noite, porém, ele sentiu seu coração bater mais forte quando abriu a
porta da sala. Daniela não veio a seu encontro como sempre fazia. A casa estava
silenciosa e ele sabia que havia alguma coisa errada. Correu para o quarto da filha, mas
não a encontrou. Gritou pelo seu nome, mas não obteve resposta. Ao entrar no banheiro,
viu Joice, a babá, com as mãos e pés amarrados e com os lábios tapados. Ele sentiu um
calafrio. Cuidadosamente removeu a fita que impedia Joice de falar.

— Eles a levaram, Dr. Marcelo, eles a levaram, — disse Joice, com lágrimas
correndo pelo rosto e a voz embargada.

— Quem a levou, Joice?

Antes que a babá pudesse responder, o celular de Marcelo tocou. Ele pegou o
aparelho e quase o deixou cair.

— Alô?
— Dr. Marcelo, quanto prazer em falar com o senhor, -- disse a voz forte do
outro lado da linha.

— Desculpe, mas não --

— Sua filhinha é uma graça, está aqui ao meu lado, chorando.

Gotas de suor brotavam da testa de Marcelo.

— Quem é você, o que está fazendo com minha filha?

— Agora, doutor, finalmente terei minha vingança.

Ele ainda pôde ouvir Daniela gritando, antes de perder a ligação.

Se você analisar o primeiro texto, verá que trata-se de uma tragédia.


Uma criança vai para o meio da rua e é atropelada. Você se emocionou? Pouco
provável. Talvez tenha ficado um pouco chocado, afinal uma criança atropelada
não é uma coisa muito fácil de se assimilar. E no segundo texto, alguma emoção?
Garanto que, no mínimo, você sentiu seu coração apertado quando Marcelo
ficou sem a filha. Repare que neste caso, existe até a possibilidade de não
acontecer nada com Daniela e os dois voltarem a ficar juntos sem maiores
consequências. A diferença aqui é que você "conheceu" um pouco mais Daniela
e estabeleceu um relacionamento emocional com Marcelo. O que está se
passando com ele afeta você diretamente.

A melhor maneira de criar personagens com quem seus leitores se


importem é você, como autor, entrar no personagem e viver as situações.
Coloque-se no lugar do personagem quando ele estiver em uma situação de
perigo. O que ele sente? O que ele vê? O que ele pensa? Fazendo isso você irá
criar personagens mais humanos e reais, dando à eles a credibilidade necessária
para que seus leitores estabeleçam um relacionamento. É isso que torna a leitura
de um livro agradável, afinal, você não está sempre querendo saber o que
acontece na vida de seus amigos? Pois então, faça o leitor ser o melhor amigo
dos seus personagens!
Como Trabalhar os Sentidos
Ao ler uma história bem escrita, você não apenas vê o que está sendo
contado, mas ouve sons, sente cheiros e experimenta sensações de frio ou calor.
É isso que nos faz entrar de corpo e alma naquele mundo criado pelo autor. É
isso que nos faz sentir parte da história, compartilhar experiências com os
personagens e "estar" nos lugares por onde eles passam. Mas como fazer nosso
texto ter esta mágica? O mais importante é você, como autor, entrar na pele dos
seus personagens e tentar responder algumas perguntas, como por exemplo:

- Quais os tipos de odores podem estar presentes neste lugar e/ou


situação em que o personagem se encontra?

- Quais os sons que podem estar sendo emitidos no ambiente?

- Qual a temperatura? Se o personagem está na água, está fria ou


quente? Se alguém toca no personagem, a mão do outro está quente ou fria?

- O objeto que está sendo manipulado pelo personagem é macio? Duro?


Flexível?

Continue fazendo perguntas como estas e as respostas irão criar uma


atmosfera bastante realista. Aí vão alguns pontos que podem ajudar a estimular
os sentidos dos seus leitores:

- Cheiros: Se o personagem principal encontrou com sua amada, ele deve


ter sentido seu perfume. Se ele entrou em um restaurante, certamente sentiu o
cheiro da comida sendo preparada na cozinha. Se alguém está preparando um
café, o ar ficará tomado por aquele aroma delicioso.

- Sons: Uma arma caiu da mão do mocinho e isso faz com que o barulho
seja ouvido pelo vilão. Perdido na floresta, o menino escuta o ruído de uma
corredeira. O trânsito na grande metrópole faz com que o personagem leve as
mãos aos ouvidos para tentar livrar-se daquele barulho ensurdecedor.

- Temperatura: A chuva deixa a roupa de seu personagem totalmente


molhada e quando o vento sopra um pouco mais forte, ele procura abrigo para
fugir do frio. Ao segurar em um cano de metal, o menino se assusta e tira a mão
rapidamente, mas as bolhas começam a aparecer e demonstrar a gravidade da
queimadura. Ao mergulhar, sentiu a água gelada envolvendo seu corpo.

Nem sempre é preciso descrever diretamente o cheiro, som ou a


temperatura. Você precisa tomar o cuidado de deixar que o leitor "viva" a
experiência. Como exemplo prático, vou mostrar abaixo um trecho de "Teia
Negra" onde uso esta técnica:

Kremer e Guilherme passaram pela casa andando do lado oposto da rua,


tentando não chamar atenção. Estavam abaixados atrás de uma picape quando o
Mercedes prata apareceu na curva, a menos de vinte metros de onde estavam.
Guilherme fez o sinal combinado para Camargo, que ligou a sirene azul e subiu a rua
em disparada, atravessando o carro na frente do Mercedes, que freou bruscamente,
deixando um forte cheiro de borracha queimada. Ao mesmo tempo ele e Guilherme
colocavam uma tábua, com grandes pregos, por trás dos pneus traseiros do carro e
apontavam suas armas para as portas. O motorista e o segurança desceram com as
mãos para cima, pareciam não estar dispostos a reagir. Logo em seguida, Vicente abriu
a porta traseira e saiu, segurando uma maleta na mão direita.

Repare que não descrevi o barulho da freada, mas tenho certeza que
você ouviu claramente, não foi? Muito provavelmente, você também escutou o
som da porta do carro sendo aberta. Procurei neste trecho dar a sensação visual
da sirene azul sendo refletida nos carros e casas ao redor e deixar o ar carregado
com o cheiro da borracha queimada. Será que funcionou? Espero que sim.

Como Escrever o Miolo de uma História Interessante


Já vimos como escrever inícios e mais para frente veremos como
escrever finais, mas e o meio do livro? Como conseguir um recheio que
mantenha o leitor interessado até o final da história? O que fazer se sua trama
está "patinando" e não chega a lugar algum? Vou tentar ajudá-lo com estas
questões.
Quando comecei a escrever "Teia Negra", já sabia como seria o início e,
principalmente, o final da história. O que eu não sabia, ainda, era o que colocar
entre os dois. Acredito que esta seja uma das maiores dificuldades para um
escritor: escrever o meio do livro. Para ser interessante, o livro precisa ter
conteúdo interessante. Vou listar abaixo algumas dicas que recebi ao longo do
processo e que me ajudaram bastante nesta tarefa:

1- Tenha controle sobre a trama. Saiba exatamente para onde você está
indo e que o caminho tomado leve ao final desejado. Isso não significa que você
deva ser previsível. Tenha na manga algumas viradas na trama, assim o leitor
estará sempre na dúvida sobre o que irá acontecer. Pode ser um personagem
que é bonzinho e, de uma hora para outra, mostre seu lado obscuro e cruel ou
um fato novo que mude completamente os rumos de uma investigação. O
importante é que o leitor tenha algumas surpresas pela frente.

2- Crie tramas paralelas, mas sempre relacionadas de alguma forma com


a trama principal. Não exagere para não perder o controle e tenha o cuidado de
fechar todas elas até o final do livro. Deixar uma sub-trama em aberto é um erro,
já que o leitor ficará frustrado de não saber o desfecho da situação.

3- Você, provavelmente, não irá conseguir manter o mesmo ritmo o


tempo todo. É natural e até desejável, que a história tenha seus altos e baixos.
Depois de uma cena tensa, você pode relaxar um pouco e deixar o leitor respirar
por alguns instantes. Só não esqueça de manter sempre a "ação", caso contrário
o livro poderá ficar chato.

4- Se você estiver enfrentando um bloqueio e não consegue avançar,


escreva sem se preocupar muito com a qualidade. Tente pensar no que levaria a
trama adiante e escreva. Depois, durante as revisões, você terá oportunidade de
lapidar o texto e torná-lo mais interessante. O importante aqui é quebrar o
bloqueio e ir em frente.

Espero que isso ajude. No meu caso, ajudou muito. Consegui criar uma
trama em "Teia Negra" que mantém o leitor grudado no livro até a última página.
No final das contas, o que importa é divertir e surpreender o leitor!
Como Escrever Finais
Falamos sobre como escrever inícios e meios, então agora vamos aos
finais. Sua maior preocupação com o início e o meio de seu texto deve ser manter
o leitor interessado o suficiente para que ele leia tudo até a última linha. Mas o
que adianta fazer isso se o final não estiver à altura das expectativas criadas? Se
o final não convencer, ninguém vai querer perder tempo lendo o que você
escreve, pois sempre irá pensar na experiência anterior de não ter tido um bom
desfecho da história. Vou relacionar abaixo algumas dicas para que o
encerramento seja com chave de ouro:

1. Não deixe para resolver tudo no último capítulo. Algumas coisas


devem ser fechadas no decorrer da história, principalmente as sub-tramas que
não estejam diretamente relacionadas com o "grand finale" planejado por você.
O final propriamente dito deve ser para o fechamento da trama principal e para
que os personagens que conduzem a história resolvam seus conflitos.

2. É muito importante que tudo fique resolvido. Não deixe situações


pendentes, mesmo as criadas para personagens secundários. Lembre-se que o
leitor sempre vai querer saber o que aconteceu com a filha do porteiro que
apareceu caindo da escada no meio da história, mesmo que a personagem não
tenha qualquer peso na sua trama. Para ajudá-lo nesta tarefa você pode manter
uma lista com o nome de todos os personagens que apareceram durante a
história. Quando estiver escrevendo os últimos capítulos, confira se você
resolveu todas as pendências. Não deixe absolutamente nada para trás, caso
contrário você terá um leitor frustrado.

3. Quanto maior o peso do personagem na história, maior a atenção


que você deverá dedicar ao final. O leitor deve ficar satisfeito com o que leu,
mas não necessariamente feliz! Não tem problema se você decidir matar o
mocinho e surpreender todo mundo, afinal é você quem decide o que irá
acontecer com cada um dos personagens. O importante é que a história termine
de forma coerente e com todas as suas pontas amarradas.

4. O final não se escreve apenas no último capítulo! O grande momento


em que tudo se resolve vem sendo preparado no decorrer da história. Enquanto
escreve, você deve ir plantando as sementes que levarão ao clímax da trama.
Você precisa saber, desde o início, para onde está indo, mesmo que ainda não
tenha um mapa detalhado do caminho. Hoje estou escrevendo um novo livro e,
da mesma forma que aconteceu quando escrevi "Teia Negra", eu já sei qual será
o final. Só não sei ainda, exatamente, "como" será o final. O "como" irá surgir
aos poucos, conforme a trama tomar mais corpo e todos os personagens
começarem a ter vida própria. O importante é saber, o quanto antes, qual será o
final. Um final convincente só será construído se tiver uma base sólida. Emoções,
surpresas e conflitos somente terão efeito sobre o leitor se forem transmitidas
com credibilidade. A credibilidade você constrói ao longo do processo e não
apenas nas últimas linhas. É por isso que antes do final, existe um início e um
meio!

Muitas pessoas me escrevem elogiando meu trabalho com Teia Negra e


todas, sem exceção, disseram ter adorado o final. Isso não é por acaso. Desde o
momento em que escrevi a primeira linha, eu já sabia que o final deveria ser
surpreendente e deixar um sorriso na face de cada um dos leitores. Se você
também conseguir isso, terá atingido seu objetivo.

Como Filtrar as Descrições Através dos Personagens


Alguns fatores nos levam a filtrar, de formas diferentes, o que vemos e
sentimos quando estamos em uma determinada situação. Esta afirmação
também é válida para nossos personagens. Os fatores mais relevantes são:

- Experiências anteriores: Se uma pessoa é pobre e nunca teve a


oportunidade de ir a um restaurante classe A, por exemplo, ela irá reparar em
detalhes que uma pessoa rica e acostumada a este tipo de lugar não repararia.
O assoalho de madeira envernizada, a arrumação das mesas com toalhas de linho
e taças de cristal, a forma como os garçons abordam os clientes e por aí vai. Em
uma situação como esta, a pessoa rica iria reclamar da sua mesa que estava
demorando, apesar de ter sido feita uma reserva! Nesta mesma linha, imagine
alguém que nunca tenha pescado na vida e decidiu participar de uma pescaria
com os amigos pescadores veteranos. Quando esta pessoa pegar um peixe, será
uma experiência completamente nova! A tentativa de segurar o peixe que
escorrega pelas mãos como sabão, o incômodo de ser espetado por uma
barbatana, a falta de habilidade para retirar o anzol, etc. Tudo isso para os
veteranos já não é mais um problema. A forma de lidar com as situações e os
sentidos é completamente diferente. Pense nisso. Quando for colocar seus
personagens em situações que são naturais para eles, eles devem reagir de
acordo. Da mesma forma, a reação deve ser oposta em ambientes não naturais.
Conheça seus personagens e respeite o passado e as experiências deles.

- Reagir através dos sentidos: Nossas reações são motivadas pelos


nossos sentidos. Nem sempre devemos descrever o que o personagem está
vendo. Em algumas situações, outros sentidos podem estar mais em evidência
do que outros. Imagine um personagem entrando em uma sala escura. Nesta
situação, o tato, a audição e o olfato serão os sentidos pelos quais devemos
descrever a cena. Se entramos em uma tubulação de esgoto, o cheiro é a
primeira coisa que nos impacta. Se estamos molhados depois de pegar uma
chuva e é inverno, estaremos sentindo frio. Determine qual sentido está mais em
evidência e use-o para determinar como o personagem reage.

- E se fosse você? Coloque-se no lugar do personagem e pense no que


você estaria sentindo em determinada situação. O que você vê? Está frio?
Quente? Algum som que chame a sua atenção? Algum cheiro? Só não esqueça
que seu personagem tem um passado diferente do seu e, provavelmente, irá
reagir de modo diferente. A não ser que você esteja escrevendo sobre si mesmo.

- Mostre apenas o que é importante: Quando estiver descrevendo


algum objeto, lugar ou situação, lembre-se de só mencionar o que for relevante
para a ação. Não caia na tentação de descrever todos os objetos de uma sala,
minuciosamente, se isso não fizer diferença para a trama. Descrições detalhadas
fazem com que você fique longe da ação e isso deixará o leitor entediado. Seja
coerente. Se alguém estiver fugindo da polícia em uma perseguição nas ruas de
Paris, não dá tempo de parar para admirar a beleza e os detalhes arquitetônicos
do Arco do Triunfo!

Ao escrever Teia Negra, procurei usar os ensinamentos que transmito


agora nesta newsletter e acho que o resultado ficou bom. Disponibilizei os 20
primeiros capítulos no meu site para que você possa conferir a aplicação das
dicas em um trabalho real. Repare que no "Prólogo" o que mais impressiona o
personagem é o "cheiro da pólvora". Já o primeiro capítulo é pontuado por um
rodízio de sentidos, apesar da maior parte ser visual. Pegue qualquer obra de um
grande autor e veja como ele trata o assunto. Você irá aprender muito fazendo
este exercício.
Como Transmitir Energia Através das Palavras
Escrever é uma arte. Como todo artista, você deve trabalhar com paixão,
caso contrário o resultado final será apenas mais um texto entre tantos. O
correto seria dizer que é preciso escrever com o coração. O que fará seu estilo
único e original será o que ficar nas entrelinhas. Você já reparou que algumas
pessoas quando chegam em um evento parecem mudar a energia do lugar e
iluminar todo o ambiente? Pois é, é disso que estou falando. Seu trabalho precisa
transmitir esta energia e iluminar as vidas de seus leitores. Mas como conseguir
este efeito? Como transmitir energia através das palavras?

Se você está esperando que eu vá dar uma "receita de bolo", esqueça,


não é possível. O que posso fazer é garantir que esta energia existe e pode ser
passada adiante através do seu texto. A única forma de fazer isso é escrevendo
com o coração. Em primeiro lugar, você precisa gostar do que escreve. Se você
gosta de ficção científica, escreva ficção científica, se gosta de romances épicos,
escreva romances épicos. Antes de escrever, é claro, você precisa ler. Leia muito,
mas muito mesmo, livros do seu gênero preferido. Leia diversos autores, assim
você não corre o risco de virar um clone de um escritor famoso. De vez em
quando, aventure-se em outros gêneros, afinal é sempre bom sair um pouco
para dar uma volta e respirar novos ares, isto irá estimular sua criatividade.

Você só vai conseguir arrancar um sorriso de satisfação de um leitor, se


você for capaz de ler o seu próprio trabalho e dizer: "Nossa! Ficou ótimo!"
Enquanto não atingir este ponto, acredite, o texto não está pronto.

Aproveito o assunto para tocar em um ponto importante, que está


diretamente relacionado ao tema desta dica. Você escreve apenas por hobby ou
profissionalmente? Quando digo profissionalmente, isso inclui aqueles que
pretendem publicar um trabalho algum dia, mesmo que ainda não ganhem
dinheiro com a profissão. Bom, o que quero dizer aqui é para aqueles que são,
ou pretendem ser, escritores profissionais. É necessário ter disciplina e escrever
regularmente, mesmo quando não estiver se sentindo inspirado. Contraditório?
Afinal, você deve estar pensando: "como posso escrever com o coração se não
estiver inspirado?". O problema é que se você ficar esperando a inspiração
aparecer, pode ser que demore muito e você morra de fome! Mesmo sem estar
inspirado, escreva algumas linhas todos os dias. Desta forma, você estará
estimulando sua inspiração e, de uma hora para outra, ela aparece e você será
capaz de revisar o que tiver escrito "mecanicamente" e, aí sim, colocar a sua
energia que irá iluminar a vida de muitos leitores.

Sentiu a energia deste texto?

Como Escrever Lutas e Combates


Como recebi muitos pedidos para falar sobre este assunto, aí vai! Leia a
cena de luta abaixo:

Antônio ainda estava sentado na mesa do bar quando recebeu o primeiro soco.
Ele virou repentinamente e viu Ricardo em pé ao seu lado, chamando para uma briga.
Antes mesmo de levantar, ele deu um chute na perna de Ricardo, fazendo com que seu
oponente perdesse o equilíbrio e quase caísse.

Ricardo não demorou a desferir um outro golpe, desta vez abrindo um talho
nos lábios de Antônio. O grandalhão, agora ferido, jogou seu corpo sobre Ricardo, que
caiu batendo com a cabeça no chão e ficando desacordado. A luta estava encerrada.

O texto acima narra uma luta entre Antônio e Ricardo. Isto já é um


problema, pois o ideal é mostrar e não narrar. Outro ponto que torna a cena
fraca e desprovida de emoção é o fato de não existir um personagem com o
ponto de vista. A cena é vista "de longe" pelo leitor, que não fica
emocionalmente envolvido. Os nomes dos personagens são repetidos muitas
vezes, o que também afasta o leitor da cena.

Agora vejamos a mesma cena escrita de forma diferente:


Antônio estava distraído, sentado, saboreando sua cerveja gelada quando
sentiu um forte impacto atingir seu queixo. Levou alguns instantes para que ele
percebesse o que acontecia. Tentando ignorar a dor que sentia, girou a perna por baixo
da mesa e atingiu seu oponente, que cambaleou e quase caiu.

Na noite anterior, ele dormira em um motel, acompanhado da mulher de


Ricardo, que agora olhava para ele furiosamente. Gotas de suor desciam pelo rosto do
marido traído e Antônio começou a sentir uma ponta de culpa.

— Seu safado! Vou acabar com você! — Gritou Ricardo, mantendo os olhos
fixos em seu alvo.

— Deixa disso, gente boa. Vai pra casa, cuidar da sua esposa, — disse
Antônio, enquanto se preparava para receber o próximo golpe.

Ele nunca havia saído com mulher de ninguém, pois sempre teve medo de estar
em uma situação como a que se apresentava agora. Mas, Lindalva era irresistível e ele
acabou seduzido pela moça.

O ataque seguinte foi tão rápido que, mesmo estando alerta, ele não conseguiu
impedir que seu lábio inferior fosse atingido. O gosto de sangue veio logo a seguir e foi
neste momento que ele decidiu acabar logo com aquilo, antes que coisa pior pudesse
acontecer.

O infeliz, certamente, não estava preparado para o que ele faria a seguir.
Antônio atirou-se em direção ao corpo de seu rival, fazendo com que os dois caíssem. A
cabeça de Ricardo bateu no chão de ladrilho e ele ouviu um barulho abafado. A luta
chegara ao fim. Ele apenas certificou-se que o pobre coitado ainda respirava e saiu,
deixando sua cerveja pela metade.

— Lindalva nunca mais, — disse baixinho.

E então? Melhorou? O texto não é lá essas coisas, mas serve de exemplo.


O mais importante aqui é o fato de Antônio ter o ponto de vista e o leitor ver a
cena através de seus olhos. A aproximação é total e o leitor entra na briga!

Ao escrever uma cena de luta, faça com que o leitor conheça o


personagem que detém o ponto de vista. Mostre seus pensamentos, suas
emoções e os motivos que o levaram a estar naquela situação. Isso irá gerar
identificação com o personagem e trará mais vida para a cena. Este conceito vale
para qualquer tipo de confronto, seja uma briga de bar ou um duelo com
espadas.

Nos últimos capítulos de "Anjos e Demônios" de Dan Brown, existe uma


cena de luta entre Langdon (o herói) e o "Assassino" (o vilão). O experiente
escritor coloca o ponto de vista em Langdon e faz o leitor entrar na pele do herói.
Os apuros vividos pelo personagem nesta cena deixam nossos nervos à flor da
pele! Se você já leu o livro, volte nesta parte e identifique as técnicas usadas por
Dan Brown. Se ainda não leu, eis um bom motivo!

Como Fazer seu Leitor Rir


Fazer rir não é fácil, portanto não espere que eu vá colocar aqui uma
receita milagrosa e infalível. Muitas vezes, é mais importante a forma como a
piada é contada do que seu conteúdo. Já aconteceu de você ouvir uma mesma
piada diversas vezes e só conseguir rir depois que aquele seu amigo maluco
colocou alguns ingredientes novos na história? Pois é, para escrever comédia é
preciso lançar mão de alguns ingredientes:

1. Surpresa - Para arrancar sorrisos dos leitores, você deve surpreendê-


los. Situações inusitadas são muito usadas em comédias do tipo pastelão. É o
balde que cai na cabeça do noivo que está pronto para sair para a igreja ou o
bebê que faz xixi na cara da avó enquanto a fralda é trocada. A surpresa também
pode ser usada de formas mais sutis, como aquele cara que acorda ao lado de
uma mulher que ele nem lembra ter conhecido na noite anterior.

2. Sarcasmo - Diálogos carregados de ironia podem ser bem eficientes.


Um bom laboratório são os debates políticos, normalmente as falas dos
candidatos estão recheadas de sarcasmo em relação aos adversários. Outro
exemplo muito comum, é o da sogra falando sobre a nora, ou vice-versa.

3. Aparência Física - Gordo, magro, corcunda, com uma verruga enorme


na testa, anão, gigante, etc. Muitos humoristas usam a aparência dos
personagens de forma a torná-los cômicos.
4. Exagero - Algumas situações ficam engraçadas quando exageramos
em algum ponto. Um personagem muito gordo, por exemplo, pode fazer com
que um carro vire quando ele se senta no banco do carona.

5. Fala - A forma como alguns personagens se expressam pode ajudar a


tornar o texto engraçado. Você pode usar um sotaque específico, fazer com que
o personagem seja gago ou fanho e usar outros artifícios nesta mesma linha.

Talvez a melhor forma de aprender seja com quem faz. Leia algumas
comédias de autores que você goste e veja como eles usam os recursos que
fazem rir.

Como Escrever Pensando em Cenas


Quando você escreve uma história, constrói, na verdade, uma sequência
de cenas que serão projetadas na mente do leitor. Como diz o ditado: "uma
imagem vale mais do que mil palavras", portanto você irá precisar de muitas
palavras para conseguir construir a visão de uma cena na cabeça de quem estiver
lendo seu texto. Aí vão algumas dicas para uma boa cena:

1. Posição da Câmera: em um texto, a posição da câmera é determinada


pelo personagem que detêm o ponto de vista. Imagine a cena sendo "filmada"
através dos olhos do personagem. O que ele está vendo? Quem mais está por
perto? Quais ações estão sendo desenvolvidas? É claro que você pode ter visões
diferentes, principalmente quando o texto está sendo narrado. Neste caso, você
pode ter a câmera posicionada por cima, por baixo ou pelas laterais, "filmando"
os personagens como se fosse a "plateia".

2. Ambiente: pense em como o ambiente deve ser retratado para o


leitor. Está escuro ou claro? Está quente ou frio? Qual o cheiro? O lugar causa
medo ou transmite tranquilidade? É barulhento ou silencioso?

3. Cenário: você precisa de um fundo para sua cena. O lugar onde o


personagem está é uma casa moderna? Antiga? Um escritório? Uma praça?
Como está decorado? Existem móveis? Plantas? Monumentos? Obras de arte?
Monte seu cenário mentalmente como se estivesse construindo uma maquete.
4. Objetos de Cena: já reparou que, assim como fazemos na vida real,
nos filmes, novelas ou séries de TV os personagens interagem com o ambiente e
com os objetos próximos? Pois é, você precisa fazer com que seus personagens
aproveitem os objetos que estejam ao redor. Pode ser um interruptor que
acende uma lâmpada, um maço de cigarros que é amassado em um momento
de raiva, um objeto sobre a mesa que é trocado de lugar diversas vezes durante
uma conversa e por aí vai.

5. Marcação: esta é uma terminologia usada por diretores de teatro e TV


para posicionar os atores no cenário ou no palco e marcar os pontos de reação.
Você pode usar esta mesma técnica para seus textos. Quando, por exemplo, um
personagem estiver empunhando uma arma para atirar em um outro, pense em
como serão as marcações para esta cena. A arma está na altura dos olhos? Qual
a distância entre o personagem e seu oponente? O oponente reage? Se sim, em
que momento? Antes de atirar o personagem faz algum gesto? Muda de
posição?

Estas dicas são válidas para roteiros, peças teatrais e podem ser usadas
com bastante sucesso em literatura de um modo geral.

Como Escrever Cenas de Sexo


Se você pensa que vou explicar como escrever uma cena de um filme
pornô, pode esquecer. O objetivo desta dica é apresentar os fundamentos para
uma boa cena de sexo que se encaixe em um romance, mistério, policial, drama,
terror, fantasia, etc. Repare que usei a palavra "encaixar" e este é o ponto
fundamental a ser considerado quando você decide inserir uma relação sexual
no meio do seu texto. A cena deve, obrigatoriamente, acrescentar alguma coisa
à trama, seja um novo elemento que ajude a esclarecer um mistério ou uma
característica de um personagem que, até então, não havia se manifestado. O
importante aqui é que ela faça parte do todo e não seja apenas um relato
pornográfico gratuito, sem qualquer função no desenrolar da história. O que
você quer, na maioria das vezes, é uma cena de amor com conteúdo sexual e não
o ato sexual puro e simples.

Normalmente, uma cena de sexo serve para mostrar:


- Aquisição: como a conquista de um novo amor.

- Retenção: o momento em que o casal reforça seus laços e a união fica


ainda mais forte na trama.

- Perda: um adeus, uma despedida desejada ou não.

A cena pode, e deve, mostrar a intimidade entre os personagens, assim


como usar elementos como o fingimento ou insatisfação para estabelecer o
clima da relação como um todo. Para ajudá-lo a decidir como a cena deve ser
escrita, vou deixar algumas perguntas para reflexão:

- Qual o real objetivo da cena?

- Que tipo de conflito ou harmonia entre os personagens você deseja


mostrar?

- Quão explícita deve ser a cena?

- Qual será a influência desta cena nos capítulos seguintes?

Lembre-se que, como na vida real, nem sempre uma relação sexual é
perfeita. Pode acontecer de um dos parceiros falhar, o ato ser interrompido por
algum fator externo ou um dos dois pode se arrepender e desistir. Não esqueça
do ambiente. Um dos personagens pode estar "desligado" do momento, por
estar preocupado que o bebê comece a chorar. Um quadro com a foto do pai da
moça pode deixar o rapaz incapaz de seguir adiante e por aí vai.

Aqui valem as mesmas regras de "Como escrever lutas e combates": é


preciso estabelecer claramente qual é o personagem que detém o ponto de vista
e mostrar a cena através deste personagem. O que o personagem está vendo,
sentindo, pensando? Se você se colocar no lugar deste personagem, ficará muito
mais fácil escrever a cena.

Cuidado com o tom da cena. Você deve definir antes, se a cena será
engraçada, séria, romântica ou erótica e usar as palavras adequadas. Compare
duas versões de um mesmo trecho de cena e entenda o que quero dizer:
Versão 1:

Clarisse sentiu o corpo estremecer quando Lauro tocou seus seios, enquanto a
beijava suavemente. Ela só conseguia pensar o quão feliz seria sua vida dali para frente.
Agora que havia conquistado o homem da sua vida, nada mais importava. Ele começou
a desabotoar sua blusa e ela soltou um suspiro quando aquela mão quente e forte
apertou suavemente seu seio esquerdo...

Versão 2:

Clarisse quase teve um treco quando Lauro meteu a mão em seus peitos,
enquanto tacava-lhe um baita beijo na boca. Ela só conseguia pensar na idiota da
Sheila, que deixara escapar um pedaço de homem daquele. Ele começou a arrancar sua
blusa e ela quase gozou quando aquela baita mão quente e forte espremeu uma de suas
tetas...

Diálogos durante cenas de sexo são importantes para dar vida e


realismo, mas atenção: eles devem ser interessantes e não apenas "Eu te amo...
eu te amo...".

Evite interromper uma sequência de cenas de ação com uma cena de


sexo. Isso pode levar seu leitor a ficar se perguntando: "Quem é esse cara que
tem tempo para namorar enquanto está sendo perseguido por bandidos?" Em
alguns casos, é melhor deixar registrado para o leitor que uma cena de sexo
aconteceu, do que descrever a cena em detalhes. Fiz isso em Teia Negra e
funcionou muito bem.

Como Escrever Cenas de Suspense


Recebi alguns e-mails solicitando técnicas para escrever cenas de
suspense. Só quero deixar claro que existe uma diferença muito grande entre
suspense e terror. Digo isso, pois alguns e-mails pareciam confundir um pouco
os dois conceitos. É claro que você pode usar suspense e terror na mesma
narrativa. Aliás, histórias de terror sempre são acompanhadas de muito
suspense.

Para simplificar:

- Terror ocorre quando a cena é forte, onde coisas extremamente ruins


acontecem e reagimos com sentimentos de medo e repulsa.

- Suspense acontece quando ficamos ansiosos para saber o que virá a


seguir.

Nosso objetivo aqui é falar sobre como fazer suspense, seja para
romances, comédias, terror ou qualquer outro gênero. Vamos começar com as
premissas básicas para uma boa cena de suspense:

1- Os personagens envolvidos devem ser verdadeiros e inspirar confiança


para o leitor;

2- Você deve escolher o melhor ponto de vista para a cena;

3- O leitor deve ter estabelecido algum envolvimento emocional com


o(s) personagem(ns) principal(is);

Agora vamos aos ingredientes:

- Objetivo. O personagem deve ter um objetivo claro a ser conquistado


e que justifique o esforço para alcançá-lo.

- Contagem regressiva. O personagem deve cumprir seu objetivo em um


determinado período de tempo, caso contrário, irá fracassar e as consequências
serão dramáticas.

- Obstáculos. O personagem deve encontrar obstáculos imprevisíveis e


difíceis de superar.
Muito bem, considerando que as premissas foram atendidas e os
ingredientes são conhecidos, vamos exercitar. Partimos de uma situação
comum:

"Renato sai de casa para ir ao museu."

Nada demais, correto? Então vamos melhorar acrescentando um


objetivo claro:

"Renato precisa raspar um pedaço de osso do Tiranossauro Rex, ingrediente


fundamental para a poção que irá salvar a vida de Lila."

Agora adicionamos o ingrediente "Tempo":

"São quatro e meia da tarde e Renato precisa chegar ao museu antes das cinco,
quando os portões são fechados. Mas o prazo para salvar Lila é o que mais preocupa.
Hoje à noite, a lua completa seu ciclo e quando aparecer, exatamente às vinte e uma
horas, será o fim de Lila. A única salvação é a poção, que reverterá o processo de
envelhecimento e fará com que Lila volte a ser saudável."

E, finalmente, os obstáculos. Primeiro um que irá tornar-se uma


preocupação para o personagem e, consequentemente, para o leitor:

"Ao entrar no carro, Renato olha para o ponteiro da gasolina. Está na reserva.
Ele não terá tempo de reabastecer, pois o tempo de deslocamento até o museu, em
condições normais é de quarenta minutos. Ele terá que correr e rezar para que o
combustível não acabe no meio do caminho."

Um imprevisível:

"Já na estrada, Renato não consegue tirar os olhos do painel. A luz que indica
falta de combustível pisca insistente e ele precisa de gasolina por mais cinco quilômetros.
Ele vê a saída que dá acesso à avenida principal e pega a pista da direita. Desce a rampa
e é surpreendido por um gigantesco engarrafamento. Vários carros bloqueiam seu
caminho. Sem ter como voltar para a estrada ou pegar outro desvio, Renato se
desespera. Restam apenas 10 minutos para o fechamento do museu. Ele precisa
encontrar uma saída."

O que mais pode ser usado nesta história para gerar suspense? Eu diria
que o céu é o limite! Tudo vai depender da imaginação do escritor. Podemos, por
exemplo, parar o capítulo nesta última sentença, deixando o leitor sem saber se
Renato irá ou não conseguir encontrar um meio de chegar ao museu a tempo.
Então dedicamos o próximo capítulo à Lila, vivendo o drama do ponto de vista
dela! Imagine se criarmos uma situação onde o prazo de Lila para ficar viva se
torne ainda menor? E, pior, Renato só fique sabendo disso depois que voltar do
museu com o ingrediente para a fórmula?

Como você pode ver, a receita é simples, mas o cozinheiro deve saber
usar os ingredientes de forma inteligente!

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