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Católicos abaixo de 50% até 2022 e abaixo do percentual de evangélicos até 2032

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

O Brasil é o maior país católico do mundo e possui mais de 100 milhões de habitantes que se
auto declaram católicos (praticantes ou não praticantes). Em termos percentuais, os católicos
representavam mais de 90% da população em meados do século XX. Mas este quadro veio
mudando rapidamente nas últimas décadas. Há 4 tendências claras:

1) As filiações católicas vem caindo em termos relativos durante todas as décadas do


século XX, mas o declínio se acentuou entre 1991 e 2010 (queda de 1% ao ano), sendo
que houve declínio absoluto entre 2000 e 2010;
2) As filiações evangélicas crescem de forma consistente e com aceleração nas últimas
décadas (também houve diversificação das denominações e aumento dos evangélicos
não institucionalizados);
3) Há também crescimento do percentual das religiões não cristãs;
4) Por fim, nota-se um aumento absoluto e relativo do número de pessoas que se
autodeclaram sem religião (incluindo ateus e agnósticos);

Estas 4 tendências podem ser resumidas em duas grandes linhas:

1) Mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos;


2) Aumento da pluralidade religiosa, com queda no percentual de filiações cristãs
(católicas + evangélicas) e aumento das outras religiões e dos sem religião.
A Igreja Católica esteve presente no Brasil deste o primeiro instante do projeto colonial
português. A primeira missa foi rezada no domingo, dia 26 de abril de 1500, quatro dias após o
desembarque da frota de Pedro Álvares Cabral (que era um católico fervoroso). A igreja cresceu
muito e se fortaleceu junto às populações rurais e pouco dinâmicas.

Contudo, com o processo de urbanização houve um desenraizamento da população rural


brasileira que migrou para as periferias dos centros urbanos e não encontrou apoio e presença
da Igreja Católica. A falta de padres e o clericalismo afastou a Igreja Católica das áreas de
expansão demográfica. O conservadorismo, a centralização do poder e a rigidez da hierarquia
católica dificultou a expansão da igreja nas áreas mais dinâmicas do país e acelerou o processo
de desafeição ao catolicismo. Os escândalos de pedofilia agravam a situação.

Já os evangélicos dão ênfase na experiência direta e pessoal de Deus através do Batismo no


Espírito Santo e conseguem atingir um grande público através da “Cura divina” e da “teologia
da prosperidade”. Eles possuem grande descentralização e autonomia, rápida formação de
pastores, cultos dinâmicos e alegres, abertura de templos pequenos perto das comunidades,
fazem uso de músicas e outras formas de atração de fieis, etc. Um dos marcos do crescimento
evangélico no Brasil é o uso de diversas mídias (jornais, rádios, internet, televisão, etc.) e a
presença atuante na política (inclusive na Frente Parlamentar Evangélica).

Desta forma, devido ao ativismo evangélico e à passividade católica, a transição religiosa tem se
acelerado no Brasil. Infelizmente, o IBGE não fez nenhuma pesquisa levando em consideração
a variável religião na atual década. Entretanto, pesquisas nacionais (Datafolha) e internacionais
(PEW, Gallup, Latinobarômetro, etc.), mesmo não sendo totalmente comparáveis com os dados
históricos do IBGE, indicam que a transição está se acelerando.

Em artigos acadêmicos anteriores (ALVES et. al, 2017) chegamos a prever que as filiações
católicas ficariam abaixo de 50% até 2030 e seriam ultrapassados pelos evangélicos até 2040.
Contudo, estas tendências devem ser antecipadas em alguns anos.

No gráfico acima, apresento uma projeção com base em um declínio das filiações católicas em
torno de 1,2% ao ano e um crescimento de 0,8% ao ano das filiações evangélicas. Estes dados
são compatíveis com os resultados das eleições gerais de 2018 que mostraram uma maior
presença evangélica em todo o país.

Nas novas projeções, a presença católica na população chegaria a 49,9% em 2022 e a 38,6% em
2032, enquanto a presença evangélica seria de 31,8% e 39,8% nas mesmas datas (conforme
mostra o gráfico acima). Ou seja, no ritmo atual da transição religiosa não é improvável que os
católicos fiquem com menos de 50% das filiações nacionais em 2022 (nos 200 anos da
Independência do Brasil) e que sejam ultrapassados pelos evangélicos até 2032.

A mudança de hegemonia entre os dois grandes grupos religiosos do Brasil está em curso. Parece
que a mudança na correlação de forças é irreversível. A dúvida é sobre a data exata em que
ocorrerá a ultrapassagem e até onde irá a queda das filiações católicas.

Referência:
ALVES, JED, CAVENAGHI, S, BARROS, LFW, CARVALHO, A.A. Distribuição espacial da transição
religiosa no Brasil, Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2, 2017, pp: 215-242
http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/112180/130985

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