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Mais inovação, menos religião

“A religião é o ópio do povo”


Karl Marx

As disjunções entre religião e ciência fazem parte da modernidade. Segundo Auguste Comte
(1798-1857), toda sociedade passa cronologicamente por três estágios sucessivos na forma de
pensar. No primeiro, o teológico, os fenômenos naturais e sociais eram explicados,
predominantemente, pela religião e pela ação das forças divinas. No segundo, o metafísico, o
pensamento filosófico se dava pela reflexão sobre a essência e o significado abstrato dos
fenômenos. Por terceiro e mais avançado estágio, as explicações sociais e naturais seriam
construídas por meio da observação cientifica dos fenômenos, da elaboração de hipóteses e da
formulação de leis universais. Prevaleceria a racionalidade e o método científico.

De acordo com o artigo publicado no National Bureau of Economic Research, os países mais
religiosos tendem a ser menos inovadores. Ou seja, mais religião significa menos ciência. O
artigo "Frutos proibidos: a economia política da ciência, da religião e do crescimento", Roland
Benabou de Princeton e Davide Ticche e Andrea Vindigni, do Instituto IMT de Estudos
Avançados, encontram uma forte correlação negativa entre a inovação, medida pelo registro de
patentes e a religiosidade , medido pela parcela da população que se auto identifica como
religiosa.

Os autores não chegam a afirmar que a religião causa um déficit de inovação científica. No
entanto, eles afirmam que os modelos de governo teocráticos, nos quais os líderes políticos são
fortemente influenciados por instituições religiosas, podem fornecer um canal de visão
anticíclica para influenciar a política pública. Como exemplos, eles citam a proibição da
impressão no Império Otomano e a controvertida decisão do ex-presidente americano George
W. Bush de limitar o financiamento do governo federal da pesquisa com células-tronco.
O gráfico acima compara inovação e religiosidade e mostra uma relação negativa importante
entre níveis de religiosidade e a inovação em si (medida pelo número de patentes per capita). A
conexão “mais religiosidade, menos inovação” permanece forte mesmo controlando por outras
variáveis como renda, acesso à educação e legislação de patentes.

Talvez prevaleça de fato a máxima marxista: “A religião é o ópio do povo”. Isto porque a ciência
não combina com os dogmas de qualquer tipo e como disse outro filósofo alemão, Kant, se
referindo às características do Iluminismo e da defesa da racionalidade e da maturidade
intelectual: “O Iluminismo é a saída do ser humano da sua menoridade de que ele próprio é
culpado”.

O Estado laico garante a liberdade religiosa, mas está liberdade de crença não deve vir no
sentido de coibir as atividades científicas. Os dogmas não devem prevalecer sobre a
racionalidade e a metodologia científica.

Referência:
Roland Bénabou, Davide Ticchi, Andrea Vindigni. Forbidden Fruits: The Political Economy of
Science, Religion, and Growth, NBER Working Paper No. 21105, Issued in April 2015
http://nber.org/papers/w21105

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

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