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Resumen:
Este trabajo analiza la organización de las mujeres rurales en Brasil durante los últimos treinta años.
A través de grupos organizados, las campañas, experiencias comerciales y productivas, se han movi-
lizado en torno a varios movimientos, con el fin de hacer visible el punto de vista de las mujeres
sobre el desarrollo rural, especialmente sobre la soberanía alimentaria y los temas de seguridad. El
estudio muestra cómo –a través de sus prácticas sociales y en disputa con otros grupos políticos–
estas mujeres han obtenido la legitimidad de sus demandas relacionadas con el desarrollo sosteni-
ble y, en consecuencia, se han constituido como nuevos actores políticos. Estas mujeres, a pesar de
sus diferencias, han construido sus identidades comunes, como campesinas y activistas de los movi-
mientos de mujeres, como resultado de su participación en las acciones políticas que ponen en cues-
tión las desigualdades de género en el campo, así como el modelo productivo no sostenible. El
documento también aborda temas como los movimientos que están involucrados recientemente, el
proceso de diálogo iniciado con el gobierno federal con el fin de construir políticas públicas de
género para las mujeres rurales, y las cuestiones que están en la agenda para reforzar las alianzas
con otros movimientos (como los consumidores) con el fin de obtener el reconocimiento de su pro-
yecto de modelo de agricultura y de consumo sostenible.
Palabras clave:
movimientos de mujeres del medio rural, soberanía alimentaria, seguridad alimentaria,
desarrollo rural, cuestiones de género
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Abstract:
This paper analyses the organization of rural women in Brazil during the last thirty years. Through
organized groups, campaigns, commercial and productive experiences, they have mobilized
themselves around several movements, in order to make visible women’s point of view on rural
development, especially on food sovereignty and security themes. The study demonstrates how
–through their social practices and in dispute with other political groups– these women have
obtained legitimacy for their demands related to the sustainable development and, as a result, have
constituted themselves as new political agents. These women, despite their differences, have built
common identities as peasants and activists of the women’s movements, a result of their
involvement in political actions which question gender inequalities in the countryside as well as the
unsustainable productive model. The paper also comments themes these movements are involved
lately; the process of dialogue started with federal government in order to built gendered public
policies to rural women; and issues that still are in the agenda to reinforce alliances with other
movements (as consumers) to make their project of sustainable agricultural and consumption
model be recognized.
Key words:
rural women movements, food sovereignty, food security,
rural development, gender issues
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Emma Siliprandi
Universidade Estadual de Campinas
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como bancos, órgãos de assistência técnica O desafio colocado para essas políticas, no
e organizações não governamentais ainda entanto, está em conseguirem estreitar alianças
hoje relutam em reconhecê-las como sujeitos com outros setores tais como sindicatos, igrejas,
portadores de direitos e capazes de tomar as organizações não-governamentais, partidos
suas próprias decisões, dificultando ou mesmo políticos e órgãos de extensão rural, no sentido
impedindo que elas tenham acesso aos de se institucionalizar o espaço a ser ocupado
programas existentes. permanentemente pelas mulheres rurais: como
Políticas de desenvolvimento rural ainda são sujeitos plenos de direitos e como beneficiárias
decididas e implantadas sem a participação ativa diretas de políticas, e não apenas como
das mulheres e sem levar em consideração os componentes subordinados dentro da unidade
seus pontos de vista; sem que elas sejam familiar de produção.
incluídas como beneficiárias, ou que sejam con-
tabilizados os prejuízos que eventualmente
sofrerão com a perda de condições para exercer III. As mulheres rurais e os
suas atividades. O avanço de grandes projetos de temas da soberania e
culturas para exportação ou para agro- segurança alimentar
combustíveis, por exemplo, muitas vezes, se dá à
custa das áreas ocupadas pela produção de Saúde e alimentação são temas que aparecem
alimentos, sob responsabilidade das mulheres. A vinculados nas propostas dos movimentos de
contaminação da água, a diminuição das fontes mulheres, como elementos importantes para
de lenha ou das áreas de coleta de produtos, são a construção de um novo modelo de
fatores de piora nas suas condições específicas desenvolvimento sustentável no meio rural,
de trabalho, que muitas vezes não entram nos baseado em formas familiares de produção.
cálculos monetários de avaliação dos impactos A alimentação saudável (com diversidade
das transformações propostas. de alimentos, sem resíduos químicos ou
Muito do que já mudou no meio rural contaminações) é vista como condição para a
no sentido de melhorar a vida das mulheres, saúde física e mental das pessoas e também
como vimos, foi resultado das reivindicações como fator de proteção do meio ambiente. A
históricas e mobilizações dos vários movimentos revitalização do uso de plantas medicinais e de
de mulheres rurais, que encontraram setores outras práticas de medicina natural, que
governamentais sensíveis às suas propostas tradicionalmente eram realizadas pelas
e dispostos a construir alianças para a mulheres e foram desprezadas com a crescente
implantação de propostas inovadoras. “medicalização” da saúde; o combate ao uso
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dos agrotóxicos; assim como outras medidas de todas as políticas, vista como o direito que
de saneamento ambiental, são aspectos os povos, os países, ou as uniões de Estados
importantes sobre a sustentabilidade desse têm de definir suas políticas agrícolas e
modelo que vêm sendo questionados pelos alimentares e proteger sua produção e sua
movimentos de mulheres, assim como a cultura alimentar. Esse conceito, popularizado
mudança no relacionamento entre as pessoas internacionalmente pela Via Campesina a
e entre essas e o meio natural onde vivem partir de 1996, pretende superar a visão de
e trabalham. segurança alimentar, centrada muitas vezes
A produção de alimentos voltada para o somente na questão do acesso físico aos
consumo interno, sem a dilapidação dos alimentos, sem levar em consideração a sua
recursos naturais, pressupõe políticas de apoio origem. Para esses movimentos, o conceito de
à diversificação de cultivos, o monitoramento segurança alimentar tem sido usado por muitos
dos impactos ambientais das práticas agrícolas governos como justificativa para a importação
atuais, o estímulo a práticas conservacionistas de alimentos ou o recebimento de doações,
com relação à biodiversidade e apoio aos que, muitas vezes, desestruturam a produção
circuitos locais de comercialização. Contrapõe- camponesa naqueles países.
se, portanto, ao avanço das monoculturas e Os movimentos de mulheres rurais têm
plantios extensivos, vistos como o símbolo de utilizado o conceito de soberania alimentar
uma visão imediatista, equivocada e irracional também no sentido de garantir o direito dos
de uso dos recursos naturais. agricultores e das agricultoras de definir o quê e
Para os movimentos de mulheres, um novo como plantar, e, especialmente, de utilizar as
modelo de desenvolvimento deve ser capaz de próprias sementes (o que inclui a luta contra os
melhorar as condições de sobrevivência das transgênicos); e de garantir a preservação dos
famílias de agricultores, mas em bases bens ambientais e o seu acesso por parte dos
sustentáveis ao longo do tempo. Parte-se camponeses (bosques, fontes de água, energia,
da avaliação de que o desenvolvimento do etc.). Têm conduzido muitas experiências
capitalismo no campo, baseado na concentração concretas de produção “alternativa”: em pe-
da propriedade e da renda, tem sido quena escala, sem uso de agrotóxicos, baseadas
socialmente excludente, destruidor do meio- nos princípios da agroecologia e centradas em
ambiente e gerador de dependência econômica circuitos locais de comercialização. Mas ao
perante grandes capitais transnacionais. mesmo tempo, estiveram à frente de ações
Um novo modelo teria a defesa da públicas massivas contra grandes empresas
soberania alimentar como princípio orientador (laboratórios farmacêuticos que produzem os
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A forte politização com que essas lutas vêm têm valor o que é trocado no mercado– é preciso
sendo colocadas publicamente –com ações apontar os nexos existentes entre essas duas
de enfrentamento a grandes empresas, a esferas e dar um novo status às atividades da
laboratórios transnacionais, disputas por reprodução (trabalho doméstico, comunitário, de
políticas públicas, críticas a acordos comerciais cuidados) como um trabalho necessário para o
internacionais– evidenciam que não se trata, conjunto da sobrevivência humana no planeta.
para elas, de lutas menores, mas de embates de Isso não quer dizer que tenha que ser uma
projetos em que as mulheres estão se tarefa exclusiva das mulheres. Hoje vista como
posicionando a partir da sua condição de atribuição das mulheres, a reprodução é
gênero, no sentido de uma transformação social naturalizada por conta da condição biológica
mais ampla. das mulheres de serem criadoras da vida, e
reforçada pela imagem de que as mulheres são
necessariamente seres altruístas, que só se
IV. Desafios para pensar o realizam ao cuidar dos demais. Porém, parte
desenvolvimento rural com dos movimentos de mulheres rurais tem
soberania alimentar e equidade questionado esses construtos ideológicos,
de gênero mostrando que são imagens que aprisionam as
mulheres em estereótipos funcionais ao
Existem questões a serem repensadas, para patriarcado e ao capitalismo, elementos que
que as políticas de desenvolvimento rural potencializam a sua exploração e submissão.
contemplem efetivamente as demandas das Valorizar e melhor dividir o trabalho doméstico
mulheres e avancem na construção de um entre mulheres e homens é uma luta que vem
novo modelo de desenvolvimento mais justo sendo colocada historicamente pelos movi-
e equitativo, com soberania e segurança mentos feministas que também é assumida
alimentar. pelos movimentos rurais como parte da sua
Em primeiro lugar, é necessária a va- luta por modelo de agricultura familiar que não
lorização do conjunto de atividades necessárias seja opressivo para as mulheres.
à sustentação da vida humana, como apontado Uma segunda questão diz respeito ao tipo
por teóricas da Economia Feminista (NOBRE, de agricultura que se pretende estimular, do
2008). Para além da separação entre a produção ponto de vista da tecnologia de produção e das
e a reprodução, feita pela economia tradicional, formas de inserção dos produtos no mercado,
que hoje segrega as mulheres às atividades de vistas também pelo crivo da sustentabilidade
reprodução –e não as valoriza, uma vez que só ao longo do tempo. Existem diferentes
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propostas hoje sobre como tratar essas especialmente com relação à alimentação, que
questões, que muitas vezes esbarram em homogeneíza os hábitos alimentares e
distintas perspectivas entre mulheres e promove a substituição de valores tais como
homens. Os discursos das mulheres, muitas cultura alimentar, qualidade nutricional,
vezes, consideram preferível uma situação em comensalidade, por outros, como praticidade,
que se renuncia a ganhos no presente em aparência, relação custo X benefício. A falta de
nome da sustentabilidade no médio e longo tempo, a sobrecarga de trabalho, as exigências
prazo; enquanto os dos homens parecem da sociedade com relação ao corpo restringem
preferir o contrário. Essa discussão aparece, por o quê e como as pessoas conseguem se
exemplo, como um dilema entre investir na alimentar, que passam a ser definidos pela
produção para o autoconsumo ou produzir indústria processadora de alimentos e pelas
para vender; policultura X monocultura, grandes cadeias de supermercados. A maioria
derrubada de bosques X preservação, etc.. das pessoas não tem como fugir desse padrão,
São questões vinculadas às atribuições de por falta de opções concretas no cotidiano. O
gênero e aos modelos de masculinidade e mercado também se segmenta: para as
feminilidade construídos socialmente e forte- pessoas das classes populares –tratadas como
mente presentes no meio rural: os homens, máquinas que devem apenas repor suas
como provedores econômicos, são mais necessidades biológicas– alimentos menos
pressionados a priorizar a renda monetária, elaborados, padronizados; e para as pessoas
que lhes proporciona reconhecimento social que podem pagar, alimentos carregados de
imediato; enquanto as mulheres são mais experiência e de cultura, tais como os produtos
propensas a aceitar viver com menos recursos de origem controlada, livres de contaminação,
financeiros, desde que a sobrevivência etc. Enquanto isso, as mulheres continuam
familiar esteja assegurada ao longo do tempo, responsáveis pela alimentação dentro dos
ainda que seja à custa da exploração do seu lares; o que implica que, as propostas de
trabalho. Não são dilemas fáceis de serem mudanças nos modelos de consumo não
resolvidos, em um contexto de tendência ao podem ser construídas sem que a sua
empobrecimento e à marginalização da sobrecarga de trabalho seja considerada.
agricultura familiar e de desestruturação das (NOBRE, 2008).
suas condições de sobrevivência. Alianças entre esses diferentes setores
Uma terceira questão que extrapola o meio serão necessárias, para que se possa assegurar
rural diz respeito à mudança do modelo de que haja alimentos de qualidade para todos e
consumo hegemônico em nossas sociedades, que se possam melhorar as relações das
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Referencias bibliográficas
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