Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO: Este artigo analisa o processo de tomada de de- ABSTRACT: This article analyzes the decision-making process for
cisão para a execução do Projeto RDS-Defesa, voltado à P&D the implementation of RDS-Defesa Project, a Brazilian R&D effort
de rádios definidos por software no Brasil. Além disto, o artigo focused on software defined radios. In addition, the article highlights
destaca a importância, influência e resultados advindos do em- the importance, influence and results arising from the employment
prego do modelo de tríplice hélice no aludido projeto. A partir of the triple helix innovation model in the afore mentioned project.
da resposta a questões de cunho norteador, o artigo destaca os As a response to several guiding issues, the article highlights the
ganhos advindos ao Projeto RDS-Defesa com a estratégia de RDS-Defesa Project gains from the adoption of a R&D strategy in
P&D em lugar da aquisição de rádios importados e a importân- place of merely purchasing imported radios, as well as the impor-
cia do modelo de tríplice hélice para o sucesso do projeto. tance of the triple innovation helix model to project success.
PALAVRAS-CHAVE: Pesquisa e Desenvolvimento. Inovação. KEYWORDS: Research and Development. Innovation. Software
Rádios Definidos por Software. SCA. Tríplice Hélice. Defined Radios. SCA. Triple Helix.
Evidentemente em razão da supremacia das técnicas de Assim, descortinam-se algumas soluções para este pro-
transmissão digital em relação às técnicas de comunicação blema. A primeira delas é dispor-se de diversos equipamen-
analógica, optou-se pelo foco no desenvolvimento de meca- tos, em variedade suficiente para prover as comunicações
nismos de transmissão digital, até mesmo de sinais de voz, com cada sistema de cada Força Armada, órgão de segurança
mediante a adoção de conversão Analógica para Digital e pública e forças auxiliares. Obviamente, essa solução é bas-
codificação de fonte. No entanto, para preservar a interopera- tante onerosa, além de apresentar inconvenientes logísticos
bilidade com sistemas legados que operam com modulações e operacionais.
analógicas, optou-se por disponibilizar também esse tipo de A segunda abordagem é utilizar apenas um único forne-
técnica de transmissão. cedor para as comunicações táticas e estratégicas do país.
No entanto, diferentemente dos sistemas de transmis- Essa abordagem representa grande vulnerabilidade estra-
são analógicas, os sistemas digitais são caracterizadas por tégica e desdobramentos negativos às expressões do poder
diversos parâmetros, técnicas e protocolos de transmissão nacional – especialmente quando se trata de equipamentos
específicos para cada cenário de comunicação. Tal caracte- meramente adquiridos de fabricantes estrangeiros, à luz de
rística, aliada às variadas condições fisiográficas, operacio- todo o exposto na Seção 2 deste artigo.
nais e condicionantes doutrinárias, determina o surgimento Em terceiro lugar, pode-se empregar elementos centrais
de uma grande quantidade de protocolos de comunicações, de interoperabilidade, tais como o elemento integrador ado-
de técnicas de acesso ao meio, de mecanismos de segurança tado nas redes rádio de pacotes descritas em [13]. Tal ele-
e codificadores de fonte proprietários dos grandes desenvol- mento, usualmente denominado gateway, é dotado de dispo-
vedores do setor. Como consequência, surgem equipamen- sitivos de hardware e software capazes de promover a devida
tos rádio especializados para os mais diversificados cenários conversão dos mecanismos de comunicação adotados pelas
operacionais e que não interoperam entre si, em razão das diversas redes que compõem um determinado sistema de co-
soluções proprietárias e protegidas por patentes e segredos municações, em qualquer escalão. A despeito da populari-
industriais [12]. dade de tal solução, é forçoso destacar que tal abordagem é
Cabe destacar que prover sistema de comunicações digi- vulnerável do ponto de vista operacional, uma vez que esses
tais capazes de promover a interoperabilidade entre as For- elementos centrais estabelecem um grande número de enla-
ças Armadas, entre estas e os órgãos de segurança pública ces, sendo, portanto, facilmente identificados pelas técnicas
e as Forças Auxiliares, bem como entre Forças Armadas de de guerra eletrônica e de análise de trafego de dados. Assim
países distintos na condução de operações conjuntas é um sendo, são fáceis de serem alvejadas e retidas de operação
objetivo perseguido pelos governos de muitos países. Isso se no início de um conflito armado. Tal ação poderia destruir a
justifica facilmente, posto ser condição indispensável para interoperabilidade entre os diversos escalões e armas de uma
que as diversas Forças Armadas disponham da capacidade Força Armada, trazendo dificuldades operacionais e reflexos
de operação em rede e de forma segura. Diversos países per- maléficos na vontade de combater [14].
seguem tal objetivo ao redor do mundo – inclusive o Brasil, Em resumo, soluções mais seguras apontam para a ne-
conforme exposto na Estratégia Nacional de Defesa [1], a cessidade de se dispensar um ponto central de interoperabi-
despeito do destaque devido aos Estados Unidos da América lidade. Nesse contexto destacam-se os rádios que seguem o
como país de maior investimento no setor. paradigma RDS.
lógicas. Pode-se observar que uma versão do rádio deverá -Defesa foi iniciado em 2010 e intensificado a partir de 2011.
operar nas três bandas de frequência (H/V/UHF), Figura Os requisitos operacionais foram elaborados em conjunto
1(b), enquanto que a outra apenas em V/UHF, Figura 2(a). com as três Forças Armadas, tendo sido finalizados ainda em
A Figura 3 apresenta um modelo tridimensional (mock- 2011.
-up) do desenho contido na Figura 2 (a). Esta versão possui Atualmente estão em curso as atividades de pesquisa e
dois Front-End de V/UHF e é apropriada para várias aplica- desenvolvimento das duas primeiras fases do Primeiro Ciclo
ções típicas do Exército Brasileiro. de desenvolvimento e o planejamento do Segundo Ciclo de
Nessa ilustração, da direita para a esquerda, estão posi- desenvolvimento.
cionados os seguintes blocos: Módulo de Processamento; Como mencionado previamente, a execução da Primeira
Controle e Conversão Digital-Analógico - CCDA operando Fase do Primeiro Ciclo de P&D do Programa Nacional RDS-
na faixa de VHF e UHF; o Front-End de VHF e UHF; e na -Defesa iniciou em dezembro de 2012, com a contratação
sequência os segundos CCDA e Front-End que também ope- do CPqD. Atualmente, esse desenvolvimento conta com a
ram na faixa de VHF e UHF. Acima, destaca-se o Módulo de participação do próprio CTEx, do CASNAV (Centro de Aná-
Interface e Interação (MII), o qual permite não só o emprego lise de Sistemas Navais), do IPqM (Instituto de Pesquisas da
local mas também remoto em relação ao conjunto principal Marinha), e de outras duas empresas: a MECTRON/Odebre-
por parte do usuário. cht e a Hidromec.
O CPqD atua na primeira fase do projeto RDS colaborando,
Adicionalmente, na Figura 4 são apresentados, em deta- especialmente, com o desenvolvimento de 5 (cinco) dentre
lhes, o Backplane (que interconecta os blocos de Processa- os 13 (treze) módulos, os quais são listados a seguir:
mento, CCDA e Front-End ao Módulo de Alimentação, que • MFOSCA – Módulo de Forma de Onda SCA (VHF);
é localizado na parte traseira do desenho) e alguns detalhes • MSCA – Módulo do Middleware SCA;
da Base Veicular, como, por exemplo, o sistema de arrefeci- • MSEG – Módulo de Segurança;
mento forçado (ventoinhas posicionadas na parte de baixo • FDSCAC – Ferramenta de Desenvolvimento SCA
do desenho). Compatível; e
O planejamento do Primeiro Ciclo do Programa RDS- • CCDA – Controle e Conversão Digital-Analógica,
grama RDS-Defesa, buscou-se o estabelecimento de redes privado sem fins lucrativos, sediada em Campinas, SP, e
de colaboração e parceria com atores dos mais diferentes herdeira da estatal de pesquisa de mesmo nome controlado
setores do governo e da sociedade brasileira – indústria e pela TELEBRÁS até o ano de 1997, constitui-se no maior
academia, notadamente. centro de pesquisa em telecomunicações do Hemisfério Sul,
Assim, além desses pesquisadores das Forças Armadas, contando com cerca de 1400 profissionais. Destes, o CPqD
participam do Projeto RDS-Defesa empresas com notória ca- chegou a alocar mais de 60 profissionais dedicados ao desen-
pacidade técnica em áreas de conhecimento necessárias para volvimento de elementos essenciais do primeiro protótipo
a execução do projeto, as quais chegaram a alocar mais de 90 RDS versão veicular, em fase de integração de módulos para
especialistas, entre engenheiros e técnicos, cujos empregos avaliação técnica e operacional (atualmente esse número foi
são mantidos pelo Programa Nacional RDS do Ministério da reduzido para cerca de 35 profissionais em razão da redução
Defesa (atualmente em razão dos reflexos da crise econômi- do fluxo de recursos para o projeto decorrente da crise eco-
ca na liberação de recursos para o Programa a quantidade de nômica).
especialistas das empresas alocado nesse empreendimento é Desde a assinatura do primeiro contrato entre a Admi-
de apenas 50). Dentre as empresas contratadas, merece des- nistração Pública, por intermédio do CTEx, e a Fundação
taque a Fundação CPqD. CPqD em 06 de dezembro de 2012, diversas ações ilustram
Adicionalmente, é imperioso destacar que o Programa o emprego do modelo de tríplice hélice descrito na introdu-
RDS-Defesa tem estimulado o estabelecimento de interações ção no relacionamento com a Fundação CPqD. Dentre estes,
entre a equipe técnica do projeto e universidades, de modo a destacam-se os seguintes ganhos:
não só investigar e solucionar questões de cunho científico Geração de Propriedade Intelectual: de acordo com
de interesse do projeto, mas também com o objetivo de fo- mapeamento preliminar da equipe de projeto do CTEx, os
mentar o debate e a pesquisa de temas de interesse da Defesa resultados da 1a fase do Projeto RDS-Defesa já podem se
Nacional no âmbito da comunidade científica nacional na desdobrar no depósito de mais de 60 (sessenta) pedidos de
área de Telecomunicações. patente e registros de desenho industrial, além de dezenas de
Tal modelo, envolvendo a interação coparticipativa entre registros de software.
Governo, Empresa e Academia, é fortemente inspirado no Caso a proteção vislumbrada seja concedida pelo INPI,
modelo de tríplice hélice de colaboração para a inovação [1]. materializa-se a geração de inovação pelas Forças Armadas
Isto se justifica, posto que o modelo de tríplice hélice, mais no setor de comunicações militares, elemento dissuasório e
do que promover interação, induz transformações internas passível de emprego em cláusulas de offset e de negocia-
nos três atores citados. ção comercial em nível político-estratégico. Além disso,
Essa seção apresenta atividades do Projeto RDS-Defesa permite-se o retorno de recursos e investimento ao setor de
executadas sob o paradigma da tríplice hélice, destacando P&D das Forças Armadas, detentora exclusiva dos direitos
as vantagens auferidas na consecução dos objetivos preconi- de propriedade do material a ser protegido, como fruto da
zados pelo Ministério da Defesa na Portaria de autorização. percepção de royalties advinda do devido processo de licen-
Em síntese, as vantagens a serem elencadas nas subseções ciamento tecnológico junto à indústria.
apresentadas atendem aos princípios de inovação descritos Além disso, dado que a lei brasileira garante o direito
na Figura 5. dos autores à publicação de seus nomes nas patentes a serem
concedida, tal colaboração permitirá solidificar e incremen-
5.1. Integração com a Indústria: tar a posição da Fundação CPqD como geradora de conheci-
mento em área tecnológica sensível, tanto em nível nacional
Dentre as empresas contratadas, destaca-se o relaciona- como internacional.
mento com a Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvi- Constituição da Comissão para Absorção de Conheci-
mento em Telecomunicações (CPqD). Fundação de direito mentos e Transferência de Tecnologia (CACTT-CPqD): au-