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VITÓRIA
2009
FICHA TÉCNICA
Consultores
Flora: Marcelo Simonelli (coordenador), Luiz Fernando Silva Magnago, André Paviote
Fontana, Ludovic Jean Charles Kollmann, Fabio Ribeiro de Mattos e Clara Esgário
Herpetofauna: José Luiz Helmer (coordenador), Edicarlos Pralon da Silva e Marcio Lopes
Gomes
Educação Ambiental: Deusdedet Alle Son, Flavia Nascimento Ribeiro e Roberta Cordeiro
Fassarella
PARCERIAS
CONSELHO DELIBERATIVO
Presidente
Elizete Sherring Siqueira
Vice-presidente
Luiz Son
Conselheiros
Luiz Paulo de Souza Pinto
Marcelo Simonelli
Sérgio Lucena Mendes
Antônio Claudino de Jesus
Leonora Pires Costa
CONSELHO FISCAL
Conselheiros
Hélio de Queiroz Boudt Fernandes
João Carlos Alciati Thomé
Roberta Cordeiro Fassarella
Valéria Fagundes
Rua Desembargador Sampaio, 40, Sala 702/704, Edifício Top Center, Praia do Canto,
Vitória, ES
CEP 29055-250
CNPJ 39.351.4320001-82
Telefone: (27) 3314-2537
E-mail: ipema@ipema-es.org.br
SUMÁRIO
1. Introdução..................................................................................................................................... 1
1.1. Histórico................................................................................................................................ 2
2. Meio Abiótico................................................................................................................................ 5
3. Meio Biótico................................................................................................................................... 26
3.1. Flora....................................................................................................................................... 26
3.1.1. Introdução................................................................................................................. 26
3.1.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 28
3.1.3. Resultados.................................................................................................................. 29
3.1.3.1. Enquadramento fitogeográfico............................................................................... 29
A. Restinga................................................................................................................... 29
B. Planície aluvial........................................................................................................ 34
3.1.3.2. Caracterização fitofisionômica............................................................................... 36
A. Restinga................................................................................................................... 36
A1. Herbácea Não-inundável................................................................................... 36
A2. Formação Arbustiva Fechada Não-inundável (Pós-praia)............................. 37
A3. Floresta Não-inundável (Mata Seca de Restinga)........................................... 37
A4. Arbustiva Aberta Não-inundável (Aberta de Clusia)....................................... 38
A5. Herbácea Inundável (Brejos ou Alagados)...................................................... 41
A6. Floresta Inundada e Inundável (Floresta Paludosa)...................................... 41
B. Floresta Aluvial...................................................................................................... 42
B1. Mata de cabruca................................................................................................ 42
C. Culturas................................................................................................................... 43
C1. Pastagem............................................................................................................ 45
3.1.3.3. Florística................................................................................................................. 45
3.1.3.4. Espécies ameaçadas de extinção............................................................................ 54
3.1.3.5. Plantas endêmicas e raras...................................................................................... 59
3.1.3.6. Plantas úteis............................................................................................................ 59
3.1.4. Considerações finais................................................................................................. 60
3.2. Entomofauna......................................................................................................................... 61
3.2.1. Introdução................................................................................................................. 61
3.2.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 62
3.2.2.1. Área de estudo......................................................................................................... 62
3.2.2.2. Espécies de insetos ameaçadas de extinção........................................................... 63
3.2.2.3. Odonata.................................................................................................................... 63
3.2.2.4. Lepidoptera frugívoros............................................................................................ 65
3.2.2.5. Vespas parasitóides..................................................................................................66
3.2.2.6. Análise dos dados.................................................................................................... 67
3.2.3. Resultados.................................................................................................................. 68
3.2.3.1. Espécies de insetos ameaçadas de extinção........................................................... 68
3.2.3.2. Odonata................................................................................................................... 68
3.2.3.3. Lepidoptera frugívoros........................................................................................... 70
3.2.3.4. Vespas parasitóides................................................................................................. 70
3.2.4. Discussão.................................................................................................................... 71
3.3. Herpetofauna........................................................................................................................ 72
3.3.1. Introdução................................................................................................................. 72
3.3.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 73
3.3.3. Resultados e discussão.............................................................................................. 76
3.3.4. Conclusão................................................................................................................... 84
3.4. Avifauna................................................................................................................................ 85
3.4.1. Introdução................................................................................................................. 85
3.4.2. Materiais e métodos.................................................................................................. 86
3.4.2.1. Área de estudo......................................................................................................... 86
3.4.2.2. Ambientes amostrados............................................................................................. 87
3.4.2.3. Esforço amostral......................................................................................................89
3.4.2.4. Inventário da avifauna............................................................................................ 90
3.4.2.5. Nomenclatura científica.......................................................................................... 92
3.4.3. Resultados.................................................................................................................. 93
3.4.3.1. Composição da avifauna local................................................................................ 93
3.4.3.2. Riqueza de espécies na área de estudo................................................................... 104
3.4.3.3. Riqueza de espécies nos ambientes amostrados..................................................... 105
3.4.3.4. Riqueza das guildas tróficas nos fragmentos florestais......................................... 105
3.4.4. Discussão.................................................................................................................... 106
3.4.5. Conclusões..................................................................................................................107
6. Considerações finais......................................................................................................................153
7. Referências.....................................................................................................................................154
Anexo II. Diagnóstico da Educação Ambiental sobre a área de interesse para criação de Unidades de
Conservação.................................................................................................................................201
1. INTRODUÇÃO
A Mata Atlântica é a segunda maior floresta tropical do continente americano, um dos maiores e
mais relevantes centros de biodiversidade do planeta e um dos biomas mais ameaçados do mundo.
Originalmente o Estado do Espírito Santo possuía quase 90% de sua superfície coberta por este
bioma, uma paisagem que ficou restrita a 11% do território estadual devido ao processo de
ocupação desordenado. Apesar deste histórico, seus remanescentes florestais ainda abrigam uma
enorme diversidade biológica, incluindo um alto grau de endemismo, o que reforça a necessidade
de sua preservação. Das áreas florestais estaduais, menos de 3,5% estão sob a forma de áreas
protegidas, não diferindo dos outros Estados brasileiros, que cobrem em conjunto menos de 2% de
todo o seu território.
A etapa inicial de mobilização para o desenvolvimento do projeto ocorreu em abril de 2005, com a
realização de um workshop que mapeou 30 áreas prioritárias e potenciais para a criação de
Unidades de Conservação, um esforço coletivo de vários especialistas de diversas regiões e Estados
com representatividade no Espírito Santo. Cinco destas trinta áreas foram priorizadas para a
realização do projeto: (1) Serra das Torres, compartilhada pelos municípios de Atílio Vivácqua,
Mimoso do Sul e Muqui; (2) Santa Lúcia, localizada no município de Santa Teresa; (3) Alto
Misterioso, formada por áreas dos municípios de Itaguaçu, Santa Teresa, Itarana e São Roque do
Canaã; (4) Santa Leopoldina, localizada no município de mesmo nome e como última área de
atuação o (5) Delta do Rio Doce, no município de Linhares.
As etapas do projeto incluíram: (1) realização de estudos técnicos, coletando informações sobre o
meio físico, estrutura fundiária, flora, entomofauna, herpetofauna, avifauna, mastofauna não-
voadora, mastofauna voadora e socioeconomia de cada área; (2) fóruns de divulgação e
compartilhamento de informações com entidades governamentais, empresariais, da sociedade civil
organizada e comunidades locais, incluindo a realização de uma Oficina de Integração em cada
área; (3) atividades de Educação Ambiental, comunicação e mobilização social; (4) realização de
um workshop técnico para cada área e (5) elaboração de um relatório final para cada área, contendo
todas as informações obtidas nas etapas anteriores, especialmente a proposta de criação de
Unidades de Conservação, obtida e validada com a realização da Oficina de Integração.
Neste sentido, quatro Relatórios, referentes às áreas de Serra das Torres, Santa Lúcia, Alto
Misterioso e Santa Leopoldina, contendo todas as informações resultantes dos estudos e,
especialmente a proposta de criação de Unidades de Conservação discutida e validada nas Oficinas
de Integração, já foram entregues ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
(IEMA).
Deste modo, este documento pretende contribuir para a criação do processo da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, um processo iniciado no ano de 2002, com a
elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado e Sustentável para as Comunidades do Entorno
da Reserva Biológica de Comboios, ao longo de um extenso processo histórico.
1
Os estudos físicos e pesquisas aqui expostos ampliam o conhecimento da região e fornecem
subsídios para a conservação e proteção da sociobiodiversidade local. Com este registro, espera-se
que a experiência da proposta de criação da Unidade de Conservação no Espírito Santo possa
contribuir para o desenvolvimento de métodos que incluam contribuições da população local, bem
como inclusão dos estudos socioambientais como um passo importante na gestão participativa de
Unidades de Conservação.
1.1 Histórico
No ano de 2002, a Fundação Pró-TAMAR, com recursos captados junto ao Fundo Nacional do
Meio Ambiente (FNMA), concluiu a elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado e
Sustentável para as Comunidades do Entorno da Reserva Biológica de Comboios, situada na região
da foz do Rio Doce, município de Linhares, Estado do Espírito Santo.
O assim chamado Plano Comboios foi construído de forma participativa junto às comunidades de
Regência e Povoação e teve no seu Conselho Gestor a sua instância de avaliação, orientação e
validação das propostas apresentadas, sendo formada por representantes da Associação de
Moradores de Regência, Associação de Moradores de Povoação, Associação dos Pescadores de
Regência, Associação Indígena Tupiniquins de Comboios, Fundação Nacional do Índio (FUNAI),
Fundação Pró-TAMAR, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), Reserva Biológica de Comboios, Centro TAMAR e Prefeitura Municipal de
Linhares.
Esta categoria de Unidade de Conservação foi selecionada pelo Conselho Gestor do Plano
Comboios, por se enquadrar perfeitamente nas características da região, marcada pela presença de
comunidades tradicionais que vivem da pesca, agricultura e silvicultura e pela grande diversidade
de ambientes em excelente estado de conservação. As praias arenosas e semidesérticas da região
abrigam o único sítio conhecido no Brasil de desova da tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea)
e atuam como importante sítio reprodutivo da tartaruga cabeçuda (Caretta caretta), ambas
constando na Lista Oficial Brasileira de Espécies Ameaçadas de Extinção. A região também
2
apresenta formações de restingas que variam desde vegetações herbáceas, arbustivas, até matas
secas e matas de aluvião associadas ao cultivo de cacau, localmente conhecidas como mata de
cabruca; bem como várias lagoas costeiras, veredas e cursos d’água que abrigam diversificada
fauna de aves, anfíbios e insetos aquáticos.
O Rio Doce, que forma a bacia hidrográfica de maior representatividade dos Estados do Espírito
Santo e Minas Gerias, apresenta uma característica impar na sua foz, um estuário projetado sobre a
área marinha contígua, sem a ocorrência de manguezais na sua porção interna, dada a grande vazão
do rio que dificulta a penetração de água do mar. Esta condição proporciona a ocorrência de uma
diversificada fauna aquática, onde predominam espécies dulciaquícolas na porção interna da foz,
além de alta produtividade biológica sobre a plataforma continental interna, suportando estoques
pesqueiros de grande relevância econômica e social, sendo explorados tanto pela pesca artesanal e
de pequena escala praticadas pelas comunidades locais, quanto por frotas industriais provenientes
de outras regiões do Estado, do sul e sudeste do Brasil.
Entretanto, com o incremento de ações na região marinha da foz do Rio Doce nos últimos anos,
como atividades petrolíferas, da navegação de cabotagem, de capturas acidentais de tartarugas e
botos nas pescarias e do aumento dos conflitos de pesca entre comunidades locais e pescadores de
escala semi-industrial provenientes de outras regiões, efetuou-se uma revisão da proposta original,
havendo a inclusão de uma área marinha na plataforma continental interna até aproximadamente a
isóbata de 20 metros.
Entre dezembro de 2007 e julho de 2008, por meio de recursos obtidos junto à Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Brasil, foi realizado um
diagnóstico participativo da atividade pesqueira, abrangendo as comunidades de Barra do Riacho,
localizada no município de Aracruz, além de Regência, Povoação e Degredo, localizados no
município de Linhares, ambos no Estado do Espírito Santo e que realizam suas pescarias na região
estuarina da foz do Rio Doce. Também foram realizados os diagnósticos das atividades turísticas e
dos empreendimentos industriais e de infra-estrutura, públicos e privados existentes na região,
3
visando contribuir para os estudos técnicos realizados e necessários para a criação da Unidade de
Conservação.
Com as contribuições dos estudos sobre os meios físico, biótico e socioeconômico realizados pelo
Instituo de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema) na área proposta para a criação da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce (Figura 1), foram dados passos significativos
para a conclusão da etapa de estudos técnicos, complementando as informações necessárias para
consolidar e fortalecer a iniciativa de criação da Unidade de Conservação e permitindo que se
avance para a etapa de consulta pública inerente ao processo de criação de Unidades de
Conservação estabelecido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
(SNUC).
Figura 1. Área em estudo para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio
Doce.
4
2. MEIO ABIÓTICO
2.1.1 Introdução
O Estado do Espírito Santo apresenta somente cerca de 11% da sua cobertura original (SOS Mata
Atlântica, 2009), havendo a necessidade de esforços emergenciais para conter a devastação
florestal e ampliar a área coberta por este bioma.
A melhoria das condições de vida das populações direta e indiretamente dependentes dos recursos
naturais também é necessária e as Unidades de Conservação de Proteção Integral e Uso Sustentável
são ferramentas muito úteis neste processo.
2.1.2 Objetivo
O objetivo dos estudos sobre o meio físico consistiu em caracterizar parte do meio abiótico da
região denominada Delta do Rio Doce, situada nos municípios de Aracruz e Linhares, incluindo
especificamente as comunidades de Regência e Povoação (Figura 2). Desta forma, foram descritos
aspectos geológicos, climáticos, pedológicos e hidrográficos, além de uma breve exposição sobre
fatores antrópicos e impactos ambientais associados à área.
5
2.1.3 Materiais e métodos
Os métodos utilizados foram: (1) análise de manuais, artigos, livros, mapas e fotografias aéreas
sobre a área de estudo; (2) visitas a campo para o reconhecimento da área de estudo (Figura 3) e (3)
registro fotográfico da área de estudo.
2.1.4 Geologia
A região estudada encontra-se sob domínio dos Sedimentos Quaternários, que se distribuem no
litoral brasileiro desde o Estado do Pará até o norte do Rio de Janeiro (Brasil, 1960). Estes
sedimentos são constituídos por camadas arenosas (Figura 4), argilo-arenosas e argilosas, de cores
variegadas, apresentando por vezes intercalações de leitos lateríticos. Tidos como sedimentos
depositados em condições subaéreas, consolidados ou não, exibem frequentemente uma
estratificação real.
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Os Sedimentos Quaternários distribuem-se em aluviões atuais ou antigos, ao longo dos vales e vias
fluviais nas planícies costeiras e formam dunas, praias, aluviões, recifes de arenito e restingas; e
podem estar associadas a depósitos de manguezais. Apresentam-se em geral não-consolidados e
são constituídos por sedimentos arenosos (EMBRAPA, 1978).
2.1.5 Clima
A área está localizada nos municípios de Linhares e Aracruz, com altitudes que variam de 10 a 20
metros, sob um regime climático do tipo Aw, de acordo com a classificação de Köppen (1948),
caracterizado como um clima tropical úmido com estação chuvosa no verão e seca no inverno, com
temperatura média do mês mais quente superior a 22oC e do mês mais frio inferior a 18oC. A média
mínima no mês mais frio pode variar entre 11,8 e 18oC, enquanto a média máxima no mês mais
quente pode variar entre 30,7 e 34oC.
Figura 6. Média mensal da temperatura máxima e mínima (1976 a 2006). Fonte: CECAM/INCAPER.
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Tratando-se da classificação das Unidades Naturais do Espírito Santo, pode-se enquadrar a área
como sendo de terras quentes, planas e transição seca e chuvosa (Feitoza et al., 2001),
apresentando cerca de cinco meses secos (Tabela 1).
Tabela 1. Características da unidade natural local (U = chuvoso; S = seco; P = parcialmente seco, com
dois meses parcialmente secos contados como um mês seco)
A região em estudo situa-se na Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Figura 7), abrangendo
integralmente os municípios de Afonso Cláudio, Águia Branca, Alto Rio Novo, Governador
Lindemberg, Itarana, Itaguaçu, Laranja da Terra, Pancas, Marilândia, Rio Bananal, São Domingos
do Norte, São Gabriel da Palha, São Roque do Canaã, Sooretama e Vila Valério. A bacia também
abrange de forma parcial os municípios de Ibatiba, Ibiraçu, Iúna, Jaguaré, João Neiva, Linhares,
Mantenópolis, Nova Venécia, Santa Teresa e São Mateus.
Figura 7. Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).
A Bacia Hidrográfica do Rio Doce abrange uma área de 13807 quilômetros quadrados no Espírito
Santo e sua rede de drenagem equivale a 10630 quilômetros (Figuras 8 e 9). O principal rio desta
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bacia é o Rio Doce, que tem como principais afluentes os Rios Guandu, Pancas, Santa Joana, Santa
Maria do Rio Doce e São José.
Figura 8. Bacia Hidrográfica do Rio Doce com destaque para a área de estudo delimitada por uma
circunferência vermelha. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto Estadual de Meio Ambiente
e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).
Figura 9. Sub-bacias hidrográficas do Rio Doce com destaque para a área de estudo delimitada por
uma circunferência vermelha. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto Estadual de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).
9
O Rio Comboios também está presente na região analisada, com cerca de 30 quilômetros de
extensão, sendo formado pela drenagem das várzeas litorâneas, ao sul do Rio Doce. Este curso de
água corre no sentido norte-sul, desaguando no Rio Riacho (Fundação Pró-TAMAR, 2002). Uma
série de ilhas oriundas de deposição de sedimentos também é encontrada próxima à foz, sendo
utilizadas para a exploração agrícola de cacau e banana.
A região apresenta diversas lagoas de menor ou maior porte (Figura 10), destacando-se as Lagoas
Areal, Monsarás, Cacimbas e Parda. As principais praias existentes são as de Regência, Comboios,
Povoação e Monsarás, utilizadas principalmente para o lazer e a prática de surf, sendo também um
local essencial para desova de tartarugas marinhas (Fundação Pró-TAMAR, 2002).
Figura 10. Rede de drenagem da Bacia Hidrográfica do Rio Doce com destaque para a área de estudo
delimitada por uma circunferência vermelha. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto Estadual
de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).
Analisando-se as curvas de distribuição das chuvas nesta Bacia Hidrográfica, pode-se notar que a
pluviosidade corrente na área de estudo varia entre 1190 a 1310 milímetros (Figura 11).
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Figura 11. Curvas de precipitação da Bacia Hidrográfica do Rio Doce com destaque para a área de
estudo delimitada por uma circunferência vermelha. Fonte: Sub-Gerência de Geomática do Instituto
Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA, 2007).
2.1.7 Solos
2. Associação de gleissolos tiomórficos distróficos com textura argilosa (GJ) mais organossolos
tiomórficos textura orgânica, em fase de campos de várzea em relevo plano (OJ).
4. Neossolos flúvicos eutróficos A fracos e moderados de textura argilosa, com fase de floresta
perenifólia de várzea relevo plano (RY).
11
Figura 12. Neossolos quartzarênicos hidromórficos.
Estes solos desenvolvem-se a partir de sedimentos arenosos, ocorrendo em relevo plano com
altitudes que variam de 5 a 10 metros, tendo como vegetação natural os campos de restinga e
floresta subperenifólia de restinga.
Esta classe de solos apresenta uma sequência de horizontes A e C, com espessura superior a 250
centímetros. Há pouca diferenciação entre os horizontes devido a uma pequena variação entre suas
características morfológicas, podendo ser evidenciada alguma diferenciação em relação à
coloração. Pode-se citar como elemento diferencial entre os horizontes A e C os pequenos teores de
matéria orgânica no horizonte superficial, que segue decrescendo com o aumento da profundidade.
Também são encontrados solos conhecidos como gleissolos tiomórficos distróficos (Figura 13),
que tem caráter organo-mineral, rasos, pouco desenvolvidos e apresentando horizonte A com alto
teor de matéria orgânica, seguidos de horizontes fortemente gleizados. Estão situados em área de
relevo plano, com altitudes variando em torno de 10 metros, com drenagem dificultada e lençol
freático bastante elevado.
12
Figura 13. Associação de solos gleissolos tiomórficos distróficos mais organossolos tiomórficos.
Estes solos têm sua origem relacionada às deposições orgânicas e de sedimentos aluviais argilo-
arenosos, ambos do Holoceno e atualmente cobertos pelos campos de várzea. A acidez varia entre
fortemente ácido, nos horizontes superiores; e extremamente ácida nas partes inferiores.
Apresentam drenagem dificultada e permeabilidade lenta, podendo ser impedida na parte inferior
do perfil. O perfil apresenta-se constituído por espessas camadas orgânicas assentadas sobre
camadas minerais gleizadas (Horizonte IIC) podendo ocasionalmente originar um horizonte A.
O material de origem desta classe caracteriza-se por acumulações orgânicas sobre depósitos de
natureza arenosa ou argilosa, apresentando uma litologia proveniente de sedimentos do Holoceno.
As propriedades químicas e físicas destas classes de solos exibem uma variação extremamente
diversificada (Tabelas 2, 3 e 4).
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Tabela 2. Descrição física e química dos neossolos quartzarênicos hidromórficos A moderado em fase de floresta subperenifólia de restinga e campos de restinga
relevo plano. Fonte: embrapa (1978).
Composição granulométrica
pH Complexo sortivo (mE/100 g) V m C
Profundidade da terra fina (%) P
Horizonte da orgânico
(cm) Areia Areia (ppm)
Silte Argila água Ca Mg K Na S Al H T % %
grossa fina
A11 0-10 72 18 7 3 4,4 4,8 0,8 0,06 0,11 5,8 0,7 13,1 19,6 30 11 3 2,72
A12 10-25 79 16 4 1 4,4 0,6 0,03 0,04 0,7 0,8 3,5 5,0 14 53 5 0,84
C1 25-140 77 19 3 1 5,4 0,1 0,01 0,02 0,7 0,0 0,4 0,5 20 0 12 0,05
C2 140-250 + 67 25 7 1 5,4 0,1 0,01 0,02 0,7 0,0 0,3 0,4 25 0 <1 0,06
Tabela 3. Descrição física e química dos gleissolos tiomórficos distróficos textura argilosa fase campos de várzea relevo plano. Fonte: embrapa (1978).
Composição granulométrica
Densidade pH Complexo sortivo (mE/100 g) V m C
Profundidade da terra fina (%) Porosidade P
Horizonte aparente da orgânico
(cm) Areia Areia (%) (ppm)
Silte Argila (g/cm3) água Ca Mg K Na S Al H T % %
grossa fina
A1 0-17 8 21 32 39 0,55 79 5,0 10,0 4,2 0,07 0,61 14,9 1,5 33,2 49,6 30 9 1 13,85
B21g 17-34 1 12 38 49 1,12 55 4,9 1,8 1,8 0,27 0,44 4,3 2,4 5,0 11,7 37 36 <1 0,84
B22g 34-56 1 18 42 39 0,99 64 4,7 1,1 1,1 0,09 0,35 2,6 2,0 4,3 8,9 29 43 <1 0,68
B3g 56-76 2 51 24 23 1,07 59 4,3 0,7 0,8 0,08 0,26 1,8 2,0 3,7 7,5 24 53 <1 0,05
Cg 76-100+ 0 32 13 13 0,89 67 2,6 0,6 0,11 0,19 0,9 3,1 5,5 9,5 9 78 3 1,96
Tabela 4. Descrição física e química dos organossolos tiomórficos textura orgânica fase campos de várzea relevo plano Fonte: EMBRAPA (1978).
Composição granulométrica da
pH Complexo sortivo (mE/100 g) V m C
Profundidade terra fina (%) P
Horizonte da orgânico
(cm) Areia Areia (ppm)
Silte Argila água Ca Mg K Na S Al H T % %
grossa fina
a
1 camada 0-13 - - - - 4,9 8,1 6,6 0,74 1,18 16,6 2,5 62,9 82,0 20 20 2 37,88
2a camada 13-56 - - - - 4,8 7,7 6,0 0,83 1,50 16,0 3,6 75,8 95,4 17 18 <1 44,18
IIC 56-200+ 6 3 15 76 4,8 0,4 0,9 0,09 0,21 1,6 2,5 6,7 10,8 15 61 <1 1,49
14
O espodossolo humilúvico é um solo profundo (Figura 14), constituído por horizonte A
proeminente, textura arenosa, tendo o horizonte B com acumulação de húmus aluvial
imperfeitamente drenado, com permeabilidade rápida na porção superior, passando a lenta no
horizonte B, sendo invariavelmente distrófico e com acidez variando entre fortemente a
extremamente ácida. São solos desenvolvidos a partir de sedimentos marinhos de caráter
arenoso, ocorrendo em relevo plano, com altitude em torno de 20 metros estabelecidos sob
campos de restinga e floresta perenifólia de restinga.
Outra classe de solo encontrada foi a de neossolos flúvicos eutróficos (Figura 15), mais
comumente conhecidos como solos aluviais, aparecendo em associação com relevos planos e
vizinhos aos cursos d’água.
15
Estes são solos minerais, recentes, pouco desenvolvidos, apresentando horizontes A/C sem
relação pedogenética entre si, com camadas mais ou menos estratificadas, mas não
consolidadas. Além disto, caracterizam-se como solos férteis, com drenagem excessiva a
imperfeita, apresentando muita desuniformidade textural. Esta característica é conhecida como
anisotropia, que significa uma grande e caótica variação espacial de atributos físicos e químicos
explicada pelo seu processo de formação, que é realizado através da deposição de sedimentos
orgânicos e minerais em camadas alternadas depositadas nos períodos de secas e enchentes
(EMBRAPA, 1999). Estas classes de solo variam quanto às diversas propriedades químicas e
físicas entre as classes de solos (Tabelas 5 e 6).
16
Tabela 5. Descrição física e química do espodossolo humilúvico A proeminente textura arenosa em fase de campos de restinga e floresta perenifólia de restinga em
relevo plano
Composição granulométrica da
Densidade pH Complexo sortivo (mE/100 g) V m C
Profundidade terra fina (%) Porosidade P
Horizonte aparente da orgânico
(cm) Areia Areia (%) (ppm)
Silte Argila (g/cm3) água Ca Mg K Na S Al H T % %
grossa fina
A1 0-29 73 24 2 1 1,51 42 3,5 0,8 0,02 0,06 0,9 0,5 4,1 5,5 16 36 2 1,19
A2 29-80 63 35 1 1 1,59 39 4,9 0,2 0,01 0,02 0,2 0,0 0,2 0,4 50 0 <1 0,05
B2h 80-129 54 41 3 2 1,59 37 4,2 0,7 0,4 0,01 0,03 1,1 3,0 13,2 17,3 6 73 <1 2,83
B3h 129-172+ 52 44 3 1 1,50 40 4,8 0,5 0,01 0,03 0,5 1,1 6,1 7,7 6 69 <1 1,38
Tabela 6. Descrição física e química do neossolo flúvico eutrófico A fraco e moderado textura argilosa em fase de floresta perenifólia de várzea em relevo plano
Composição granulométrica
pH Complexo sortivo (mE/100 g) V m C
Profundidade da terra fina (%) P
Horizonte da orgânico
(cm) Areia Areia (ppm)
Silte Argila água Ca Mg K Na S Al H T % %
grossa fina
A1 0-6 5 3 43 49 6,2 11,2 6,4 1,16 0,29 19,1 0,0 4,0 23,1 83 0 3,4 3,24
B1 6-20 2 2 25 71 4,9 1,6 2,4 0,57 0,30 4,9 0,5 4,1 9,5 52 9 1,1 0,93
B21 20-40 X 1 28 71 5,0 0,8 1,2 0,17 0,32 2,5 1,2 2,9 6,6 38 32 0,6 0,43
B22 40-55 1 1 35 63 5,3 0,8 1,5 0,12 0,34 2,8 0,8 2,9 6,5 43 22 0,7 0,31
B23 55-72 1 2 34 63 5,4 0,9 1,8 0,12 0,34 3,2 0,7 2,7 6,6 48 18 0,8 0,30
C1 72-82 1 3 30 66 5,5 1,0 1,5 0,10 0,20 2,8 0,2 3,0 6,0 47 7 0,7 0,40
C2 82-100 2 7 36 55 5,6 0,6 2,1 0,10 0,34 3,1 0,2 2,6 5,9 53 6 0,7 0,43
IIC3g 100-125 23 42 21 14 5,7 0,4 1,0 0,04 0,11 1,6 0,4 1,2 3,2 50 20 2,2 0,25
IIIC4g 125-180 94 4 0 0 6,5 0,4 0,1 0,02 0,11 0,6 0,0 0,3 0,9 67 0 1,3 0,05
IIIC5g 180-190 17 68 9 6 5,8 0,5 1,1 0,07 0,28 2,0 0,2 1,1 3,3 61 9 1,5 0,09
IIIC6g 190-220 2 1 0 0 6,5 0,5 - 0,02 0,08 0,6 0,0 0,2 0,9 75 0 1,1 0,03
17
2.1.8 Fatores antrópicos e impactos ambientais
Os sistemas de produção agrícolas são baseados na produção de gado de corte, cacau, banana,
lavouras brancas e silvicultura, principalmente no cultivo de eucalipto, sendo conduzidos sob baixa
base tecnológica, com exceção dos plantios florestais.
Não foram encontrados sistemas de produção alternativos, como cultivo de produtos orgânicos e
outras práticas sustentáveis. Entretanto, as lavouras de cacau são conduzidas no sistema conhecido
como mata de cabruca (Figura 16), mantendo algumas espécies nativas da Mata Atlântica para
proporcionar o sombreamento necessário ao cacau, coerente com os princípios da agricultura
sustentável.
Este sistema de produção de certa forma é responsável pela manutenção de diversas porções de
mata ciliar nas margens do Rio Doce. A criação de gado e as plantações de eucalipto estão
localizadas em propriedade rurais com extensões maiores (Figura 17), sendo algumas áreas de
propriedade da empresa Aracruz Celulose.
18
Figura 17. Área de produção de eucalipto.
Os rebanhos de gado ocupam extensas áreas de pastagens plantadas (Figura 18), circulando
livremente e sem nenhuma tecnologia de rotatividade de pasto, o que provavelmente contribui para
a compactação e degradação das propriedades físicas destes solos.
Neste sentido, a região estudada encontra-se desmatada, com diversas áreas originalmente alagadas
sob efeito de drenagem e consequentemente impactadas quanto ao meio físico (Figura 19). Podem
ser relacionados problemas como degradação física a compactação de solos pelo pisoteio do gado e
alterações químicas no pH e fertilidade, além da utilização de herbicidas e formicidas nas lavouras
de eucalipto.
19
Figura 19. Canal aberto para desvio de curso de água.
Estes solos de caráter tiomórfico são muito sensíveis às variações nos teores de umidade, pois
quando drenados tornam-se extremamente ácidos, devido à formação de ácido sulfúrico
proveniente do seu elevado teor de enxofre. Esta acidificação pode levar à formação de um
verdadeiro “deserto químico”, onde pouquíssimas plantas têm capacidade ecológica para
sobreviver (SEMA, 2008). Diversos trechos de mata ciliar foram eliminados da paisagem,
provocando erosão e assoreamento do Rio Doce, havendo degradação qualitativa e quantitativa,
com intenso aporte de sedimentos, esgotos, efluentes e resíduos sólidos ao longo do seu curso
(Figura 20).
20
Foram observadas diversas estruturas em operação pertencentes à empresa Petrobras extraindo
petróleo do subsolo (Figura 21). Os impactos desta atividade manifestam-se principalmente de
forma indireta, através do fluxo de veículos e equipamentos utilizados em ações de manutenção
para a condução dos trabalhos.
Existem diversas iniciativas de caráter ambiental na região, como as atividades desenvolvidas pelo
Projeto TAMAR, Organizações Não-Governamentais (ONG’s) ligadas à bacia hidrográfica do Rio
Doce e projetos de extensão e pesquisa de diversas instituições de ensino superior.
De forma sintética, pode-se concluir que a região estudada representa uma área importante para a
desova de tartarugas marinhas, concentrando cerca de 70% a 80%, além de apresentar comunidades
de pescadores artesanais e tribos indígenas, com suas respectivas manifestações folclóricas e
tradicionais diversas. Desta forma, além da criação de uma Unidade de Conservação, recomenda-se
à implementação de ações e programas que visem à recuperação e conservação dos seus atributos
naturais, colaborarando para a manutenção da sociobiodiversidade existente.
2.2.1 Introdução
As informações seguintes referem-se ao perfil fundiário de uma área localizada na zona rural do
município de Linhares (Figura 22). Para tanto, buscou-se levantar e analisar dados a respeito da
quantidade e do tamanho dos imóveis rurais, a condição do produtor ou do sitiante e as principais
atividades realizadas nas propriedades, permitindo uma caracterização da realidade fundiária dos
imóveis localizados no interior da área delimitada.
21
Figura 22. Localização da área de estudo no Delta do Rio Doce.
Os métodos utilizados para a obtenção dos dados da área subdividiram-se em dois níveis: (1)
levantamento e análise de referências e dados secundários provenientes do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária e (2) visitas a campo para coleta de dados.
Após a realização de uma revisão de referências, alguns pontos essenciais foram estabelecidos
servindo para orientar o levantamento de dados secundários e direcionar o trabalho desenvolvido
em campo.
O trabalho de campo foi realizado nos dias 21 e 22 de outubro de 2008 e adotou abordagens diretas
e indiretas sobre os imóveis localizados na área de estudo. Com o auxílio de materiais
cartográficos, o percurso com veículo foi realizado ao longo das estradas e caminhos da área,
visitando as propriedades de interesse.
Para garantir as contextualizações espaciais e à manutenção da coleta de dados sem que fossem
ultrapassados os limites da área selecionada para o estudo, o processo foi auxiliado tomando como
base a interpretação de fotografias áreas do ano de 2008, fornecidas pelo Instituto de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA).
22
O Sistema de Posicionamento Global (GPS) foi utilizado para obter as coordenadas geográficas dos
locais das propriedades, um processo realizado mediante a coleta de pontos e coordenadas no
sistema Universal Transversa de Mercator (UTM), nos limites e nas sedes das propriedades
visitadas. Ainda foram coletadas trilhas utilizando Sistema de Posicionamento Global, passando
posteriormente a fazer parte da atualização da malha viária da base cartográfica.
Por fim, o tratamento dos dados e a elaboração dos mapas finais foram realizados com o auxílio
dos softwares Microsoft Excel para organização e compilação de dados do campo; TrackMaker no
tratamento de dados coletados pelo Sistema de Posicionamento Global e ArcGis 9.1(ESRI, 2005)
para a elaboração de mapas temáticos e mapas de uso e ocupação do solo.
2.2.3 Resultados
Como a área de estudo pertence em sua maior parte ao município de Linhares e apresenta uma
pequena porção localizada no município de Aracruz, optou-se, em um primeiro momento, por uma
breve contextualização das características fundiárias do município de Linhares, apresentando os
resultados advindos do trabalho de campo realizado na área delimitada para estudo.
Como em outros municípios do norte capixaba, a economia de Linhares foi baseada na exploração
de madeira nativa e expansão das atividades agrícolas até a década de 1970. Este modelo
econômico foi adotado pelo Estado do Espírito Santo com o intuito de estimular o povoamento da
região norte estadual.
A partir da década de 1990, a economia de Linhares passou a crescer baseada nas atividades
industriais e agroindústrias, contando com a ampliação do pólo moveleiro especialmente após sua
inserção na área de abrangência da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
no ano de 1998.
Atualmente, o município apresenta uma economia bastante diversificada e com grande potencial
produtivo. Entre as atividades presentes destacam-se as produções de frutas, café, cacau, cana-de-
açúcar, eucalipto, seringueira, indústria moveleira, indústria de confecções, agroindústrias,
beneficiamento de rochas ornamentais, extração de petróleo e gás natural.
A maior parte de sua produção é exportada para outros países. Entretanto, há uma parte da
produção destinada a abastecer os mercados consumidores do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São
Paulo, um abastecimento facilitado devido à posição estratégica ocupada pelo município, que dista
120 quilômetros da capital Vitória, o que facilita o acesso ao aeroporto e ao porto. O município
também possui um aeroporto local que auxilia no escoamento de produtos.
Devido ao processo de colonização municipal, a maior parte da vegetação original foi retirada
ainda nas primeiras décadas do século XX, principalmente para o uso da madeira como
combustível empregado no funcionamento das usinas instaladas na Grande Vitória, além de
contribuir para a expansão da fronteira agrícola.
A produção agrícola de Linhares é voltada para a exportação e para o abastecimento das indústrias
do município. Devido a este fato, a base da produção não é a mão-de-obra familiar, o que foi um
fator predominante nas outras áreas de estudo; mas sim o trabalho assalariado, que é na maior parte
executado com auxílio mecânico.
23
Dentre os produtos cultivados no município de Linhares merecem destaque: (1) como lavoura
permanente a banana, borracha, cacau, café, coco, goiaba, laranja, limão, mamão, manga,
maracujá, palmito, pimenta-do-reino e tangerina; (2) como lavoura temporária, cana-de-açúcar,
feijão, mandioca e milho; e (3) na silvicultura, o carvão vegetal, a lenha e a celulose.
As terras abrangidas pela área de estudo não são utilizadas para o abastecimento das indústrias do
município de Linhares, uma vez que não foi observado o seu uso em atividades de fruticultura,
plantio de eucalipto, seringueiras ou extração de madeira, com exceção da área destinada para o
plantio de cacau.
A área de estudo do Delta do Rio Doce possui 9070 ha distribuídos em 140 propriedades. Destas,
39 estão localizadas na área de ampliação da Reserva Biológica de Comboios. Se considerarmos o
número total de propriedades, o tamanho médio é de aproximadamente 65 ha.
Na porção localizada à margem direita do Rio Doce, encontramos 13 famílias de caseiros, que são
responsáveis por gerenciar as propriedades, uma vez que os proprietários residem, em sua maioria,
na sede do município de Linhares. O principal uso da terra é para a criação de gado bovino. Esta
atividade é hegemônica e está presente em quase todas as propriedades. Há também pequenas áreas
de cultivo de coco e não foi observado nenhum outro produto agrícola. À margem direita do Rio
Doce também apresenta a Reserva Biológica de Comboios, além de uma área destinada a sua
ampliação, compreendendo aproximadamente 41% do total da área de estudo, enquanto 11%
pertencem ao leito do Rio Doce.
Na porção localizada à margem esquerda do Rio Doce, somente um proprietário reside na terra,
enquanto o restante mora na área urbana de Povoação. Nesta parte, realiza-se o cultivo de coco em
terrenos arenosos, mas não representa grandes proporções. Além desta cultura, o cacau é cultivado
em meio a espécies nativas, formando a mata de cabruca. Há ainda grandes áreas de pastagens.
O uso e cobertura do solo são compreendidos entre 21,5% de Formação Mata Seca de Restinga,
3,5% Formação Aberta de Clusia, 5% de Formação Praial Graminóide com arbustos, pouco mais
de 1% de vegetação de Mata Atlântica em estágios iniciais e médios de regeneração, 12% de
agrofloresta, 1% de áreas de cultivo de coco, 0,5% de áreas de cultivo de eucalipto, 7% de áreas
úmidas ou alagáveis e 32% destinados as pastagens (Figura 23).
24
Figura 23. Utilização do solo na área de estudo.
25
2.2.4 Discussão
A partir do exposto, nota-se que a área estudada possui potencial considerável para a preservação,
levando-se em conta a presença da Reserva Biológica de Comboios e de sua área de ampliação,
com ambas as áreas localizadas no Delta do Rio Doce. Outro fator é a ausência de moradores nas
propriedades, sendo encontrados apenas 13 indivíduos que zelam pelas mesmas. Pode-se ainda
ressaltar que a vegetação da região encontra-se bastante descaracterizada apesar da presença de
algumas áreas remanescentes. Estas informações expõem a necessidade de intervenção visando à
preservação e recuperação da cobertura vegetal nativa da região, uma realidade possível a partir da
consolidação da criação de uma Unidade de Conservação com área maior que a já existente na
região.
3. MEIO BIÓTICO
3.1 Flora
3.1.1 Introdução
A Mata Atlântica é composta por vários ecossistemas associados (Rizzini, 1997) e apresenta
feições vegetais que vão desde formações herbáceas até florestais. Estando entre as florestas
tropicais mais ameaçadas do planeta, a Mata Atlântica atualmente se encontra dramaticamente
ameaçada por um histórico de destruição que é mais antigo que o da Amazônia (Ayres et al., 2005).
Segundo Scarano (2002), estes diferentes ecossistemas ou comunidades vegetais que compõe a
Mata Atlântica estão sob efeito de uma vasta gama de condições ambientais, tais como
temperaturas altas e baixas, incluindo congelamento; inundações, secas, ações do vento e elevadas
salinidades. Estes fatores ambientais são responsáveis por criar a elevada diversidade de
ecossistemas e fitofisionomias que compõe a Mata Atlântica sensu lato, onde cada qual ocorre em
uma faixa estreita de condições consideradas ideais para o seu estabelecimento.
Apesar da sua importância, a Mata Atlântica encontra-se hoje, segundo a Fundação SOS Mata
Atlântica & INPE (2009), reduzida a aproximadamente 8% da sua cobertura nacional original. No
Espírito Santo, restam apenas 11,3% de fragmentos florestais remanescentes.
A Mata Atlântica ocupa três províncias geomorfológicas bem distintas no Espírito Santo: a Região
Serrana, os Tabuleiros Terciários e as Planícies Quaternárias (Simonelli, 2007), sendo as duas
últimas encontradas na área de estudo da área proposta para a criação da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce. Sobre os Tabuleiros Terciários erguem-se as
denominadas Florestas de Tabuleiro, que apresentam fitofisionomias diferenciadas, principalmente
quanto à pedologia, influência do lençol freático, composição florística e estrutural (Peixoto &
Simonelli, 2007). Segundo Simonelli (2007), os maiores remanescentes das Florestas de Tabuleiro
26
estão no norte do Espírito Santo, sendo quase relíquias comparadas às outras regiões do Estado
devido à ação do desmatamento.
As Planícies Quaternárias, que ocupam a maior parte da área de estudo, apresentam as Restingas,
que são definidas como o conjunto da vegetação litorânea sobre solos arenosos marinhos
depositados tanto no Pleistoceno, como no Holoceno, associadas com alguns pontos de sedimentos
fluvio-marinhos presentes na costa. No Espírito Santo a Restinga abrange a maior parte da extensão
da costa, sendo interrompida em alguns trechos pela foz de rios (Pereira, 2007).
Este ecossistema ocorre sobre sedimentos arenosos quartzosos que foram depositados por meio de
diferentes processos durante o período Quaternário (Rizzini, 1997). Tais processos ocorreram
durante o Pleistoceno e Holoceno, havendo deposição predominante de areias quartzosas marinhas.
Alguns trechos apresentaram entradas de areias fluviais, principalmente nas proximidades de
grandes rios (Pereira, 2003).
As regressões marinhas ocorridas durante o Pleistoceno deram origem aos cordões arenosos mais
internos ao continente, sendo por isso mais antigos, com cerca de 120000 anos, já os cordões
Holocênicos, mais recentes e com cerca de 5100 anos; são posicionados mais próximos aos limites
do continente, fazendo divisa com as linhas de praia (Martin et al., 1997). Sobre estes cordões
arenosos são encontradas as formações vegetais não-inundáveis de restinga (Araujo & Henriques,
1984; Pereira, 1990; Menezes & Araujo, 2005; Magnago et al., 2007). A origem destes cordões
litorâneos implicou no aparecimento de lagoas, lagunas e baias (Bigarella, 2001). Alguns trechos
destas áreas alagadas, que ocorrem geralmente entre os cordões arenosos, sofreram deposição
sedimentar dando origem a formações de turfas (Martin et al., 1997) e sobre os intercordões são
encontradas as formações vegetacionais inundadas e inundáveis de restinga (Araujo & Henriques,
1984; Pereira, 1990; Menezes & Araujo, 2005; Magnago et al., 2007).
Os solos que compõe o ecossistema restinga são quimicamente pobres, apresentando como
principal fonte de nutrientes o spray marinho (Araujo & Lacerda, 1987; Leão & Dominguez,
2000). As classes de solos predominantes neste ecossistema são os Espodossolos e Neossolos
Quartzarênicos (Moura Filho, 1998; Gomes et al., 1998; Rossi, 1999), muitas vezes apresentando
um incipiente processo de podzolização, levando-os a demonstrar características intermediárias
para os Espodossolos (Gomes et al., 2007). As porções de argila e silte equivalem a 1% do total das
amostras, evidenciando uma proporção pouco representativa em relação aos nutrientes quando
comparados a outros ecossistemas. A quantidade de cálcio, magnésio e potássio disponíveis
também são muito baixas, enquanto os níveis de alumínio são elevados (Pereira, 2003).
A restinga apresenta uma elevada diversidade fitofisionômica originada por diversos tipos de
influências bióticas e abióticas (Pereira, 1990; Assis et al. 2004; Magnago et al., 2007), podendo
estar associada ao gradiente no sentido mar/continente, onde a localização da formação
27
vegetacional em relação aos cordões arenosos e depressões intercordões pode exercer uma
influência marcante sobre a composição florística. A diversidade de fitofisionomias existente na
restinga do Espírito Santo foi primeiramente descrita por Pereira (1990) para o Parque Estadual
Paulo Cesar Vinha. Posteriormente outros autores também apontaram esta heterogeneidade
fitofisionômica para outras localidades do Estado (Pereira & Gomes, 1994; Pereira, 2007; Magnago
et al., 2007).
Figura 24. Localização das áreas de estudo em Regência e Povoação, Linhares, Espírito Santo.
Figura 25. Limites da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce em amarelo,
Linhares, Espírito Santo. Fonte: Fundação Pró-TAMAR et al. (2002).
28
O enquadramento fitogeográfico utilizou as classificações propostas por Ruschi (1950), Azevedo
(1962), RADAMBRASIL (1983), IBGE (1987) e Rizzini (1997). A caracterização fitofisionômica
foi realizada com base no levantamento de campo, onde foram feitas observações percorrendo a
área estudada. A base para a classificação dos estágios de sucessão utilizada neste estudo está em
conformidade com as recomendações da Lei n° 5361 de Política Florestal do Estado do Espírito
Santo, seguindo as definições e terminologias para reconhecimento em campo. Estes critérios não
foram utilizados para o estudo do ecossistema Restinga, adotando-se terminologias propostas por
Pereira (2003).
A caracterização florística também foi realizada com base no levantamento de campo, onde os
espécimes em estágio de floração e/ou frutificação foram coletados e tratados conforme Mori et al.
(1989). Também foram feitas observações relativas às formas de vida, fisionomia, altitude e
coordenadas geográficas onde cada um foi encontrado.
Além das espécies coletadas foram incorporadas espécies observadas em campo em uma listagem
florística, porém não coletadas. Também foi consultado o banco de dados do herbário do Museu de
Biologia Professor Mello Leitão (MBML), do herbário VIES (UFES) e referências cientificas com
informações sobre a área de estudo.
O sistema proposto por Cronquist (1981) foi adotado para a elaboração da listagem, com exceção
para Leguminosae, que foi considerada como Família única. As espécies ameaçadas de extinção
foram citadas conforme a Lista Internacional da International Union for Conservation of Nature
(IUCN, 2004); a Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção via Portaria
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) Nº 6-N de
15 de janeiro de 1992 e de acordo com o Decreto nº 1499-R, que homologa a Lista de Espécies
Ameaçadas de Extinção no Espírito Santo.
3.1.3 Resultados
A. Restinga
O principal fator que promoveu a sedimentação arenosa da planície do Rio Doce foi à variação do
nível relativo do mar, sendo que estes eventos regressivos expuseram grandes quantidades de areia
na plataforma continental, constituindo-se na principal fonte de sedimentos que subsidiaram a
progradação da zona arenosa (Dominguez et al., 1983). Os eventos transgressivos então
interromperam a progradação, erodindo e afogando as planícies costeiras, resultando no
aparecimento de sistemas laguna-ilha barreira, passando então a construir deltas nestas localidades.
Segundo Dominguez et al. (1983), foi possível estabelecer dois sentidos preferenciais para o
trânsito litorâneo de sedimentos durante a evolução de sua planície costeira do Rio Doce (Figura
26). O primeiro seria de orientação norte/sul, tendo predominado na região durante a construção
dos terraços marinhos pleistocênicos, bem como na construção da primeira geração de cordões
holocênicos (Figura 27A). Em seguida, quando houve a construção do sistema de cordões
litorâneos associados ao intumescimento apresentado pela planície costeira nas vizinhanças da
Lagoa do Zacarias, o sentido da deriva inverteu-se para sul/norte. Em períodos mais recentes o
29
trânsito litorâneo readquiriu seu sentido original norte/sul, como atesta o ponta1 arenoso associado
à desembocadura do Rio Doce (Figura 27B).
Figura 26. Mapa geológico da planície costeira associada à desembocadura do Rio Doce (Suguio &
Tessler, 1984).
Segundo Dominguez et al. (1983) é possível reconhecer oito estágios principais na história do
desenvolvimento das feições deltaicas do Rio Doce, embora estes nem sempre estejam bem
representados (Figura 27).
30
Figura 27. Esquema evolutivo da sedimentação quaternária nas feições deltaicas da costa leste do
Brasil (Dominguez et al., 1983).
31
desta formação, o nível relativo do mar encontrava-se mais baixo que o atual, tendo seus
sedimentos recobertos em parte da plataforma continental (Bigarella & Andrade, 1965).
O Estágio II (Figura 27B) consistiu no processo em que deposição da Formação Barreiras foi
interrompida assim que o clima passou a adquirir características úmidas. Este período coincide com
o início do episódio transgressivo mencionado por Bittencourt et al. (1979), como a transgressão
mais antiga. Além disto, erodiu a porção externa da Formação Barreiras, com o limite máximo
atingido pelo mar sendo representado por antigas linhas de falésias entalhadas ao longo da
formação.
O Estágio III (Figura 27C) caracteriza o período em que o clima voltou a adquirir características
semi-áridas após o máximo alcançado pela transgressão marinha mais antiga e durante a regressão
que se seguiu. Esta retomada de condições climáticas semelhantes às prevalecentes durante a
deposição da Formação Barreiras propiciou a formação de novos depósitos continentais do tipo
leques aluviais coalescentes no sopé das falésias esculpidas nas Barreiras ao longo do evento
transgressivo anterior.
O Estágio VI (Figura 27F), refere-se à última transgressão que erodiu e afogou parcialmente as
planícies associadas ao Rio Doce durante seu curso. A rede de drenagem que havia se instalado nos
terraços pleistocênicos, favorecida pela descida acentuada do nível de base que caracterizou o
evento anterior, foi invadida pelo mar da mesma maneira que foram escavados alguns valores na
Formação Barreiras. Durante o máximo desta transgressão, os baixos cursos dos rios São
Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul foram mais uma vez parcialmente afogados,
constituindo os estuários. Associado ao afogamento da planície costeira pleistocênica iniciou-se o
desenvolvimento de ilhas-barreiras, que eliminaram o contato direto entre o mar e o que restou dos
terraços marinhos relacionados àquelas planícies. Atrás destas ilhas instalaram-se sistemas
lacustres que em algumas regiões alcançaram dimensões consideráveis, sendo condições datadas
por volta de 6000 atrás a exemplo das planícies costeiras do Rio Doce.
No Estágio VI1 (Figura 27G) foram construídos deltas intralagunares nas lagunas instaladas no
estágio anterior pelos rios que penetravam. Este estágio encontra-se bem representado nas planícies
costeiras dos rios Doce e Paraíba do Sul. Suas feições constituem de fato as únicas acumulações
sedimentares presentes nas planícies costeiras aqui analisadas e podem ser consideradas como
deltas típicos, uma vez que foram construídas a partir dos aportes de sedimentares fluviais
aprisionados nestas lagunas, exibindo uma morfologia característica dos deltas de domínio fluvial.
No Estágio VIII (Figura 27H), o abaixamento do nível relativo do mar, que ocorreu com um
máximo de retrassão há 5000 anos; se traduziu na formação de terraços marinhos a partir da ilha-
barreira original, o que resultou na progradação da linha da costa. Para a planície costeira do Rio
Doce, a formação de uma primeira geração de cordões holocênicos ocorreu entre 5100 e 3800 anos
atrás. È interessante notar que a construção da primeira geração de cordões o Rio Doce ainda não
32
alcançava diretamente o mar, apresentando sua carga sedimentar totalmente retida na laguna,
constituindo o delta intralagunar. Neste estágio, além da construção dos terraços marinhos
arenosos, o abaixamento do nível relativo do mar também provocou o desaparecimento dos
sistemas lagunares, uma vez que foram substituídos por zonas baixas pantanosas (Figuras 28 e 29).
Figura 28. Esquema da evolução paleogeográfica da feição deltaica do Rio Doce durante o Holoceno.
33
Figura 29. Representação da situação atual da sedimentação do Rio Doce. Fonte: Instituto Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA).
B. Planície aluvial
As margens do rio Doce são constituídas por solos aluviais eutróficos, geralmente cobertos por
matas de cacau e nas áreas mais distantes do leito do rio predominam os aluviais distróficos, já com
presença de pastagens, além de vários fragmentos de florestas (Rolim et al., 2006). Esta formação
está assentada principalmente sobre sedimentos fluviais de origem holocênica, sendo depositados
nas planícies aluviais nos últimos 6,5 mil anos (Suguio & Tessler, 1984).
O principal remanescente florestal sobre as planícies aluviais do Rio Doce encontra-se na Floresta
Nacional de Goytacazes, sendo citada como o único remanescente de Floresta Atlântica da Planície
Aluvial do Rio Doce (Rolim et al., 2006). A composição de espécies e características fitofisiômicas
encontrada sobre este tipo florestal é apontada como semelhante às encontradas na Floresta de
Tabuleiro (Rolim et al., 2006).
Rolim et al. (2006) indica que a variação topográfica observada nas margens do Rio Doce é
mínima, formando uma extensa planície aluvial. Entretanto, podem ser observadas pequenas bacias
de acúmulo ao longo de vários trechos as margens, propiciando mosaicos de umidade
principalmente devido à influência do lençol freático ou até mesmo das lagoas temporárias, onde é
34
comum a ocorrência de grandes cheias que se estendem por mais de 2 quilômetros de extensão
sobre a planície aluvial, havendo à deposição de sedimentos nestas épocas.
Esta floresta pode, então, ser classificada como uma Floresta Estacional Semidecídua ribeirinha
com influência fluvial sazonal (Rolim et al., 2006), correspondendo à Floresta Estacional
Semidecidual Aluvial segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) (Veloso et al., 1991). Contrastando com esta hipótese, o IBGE (1987) classifica toda esta
área como pertencente à região fitoecológica de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas ou
Floresta de Tabuleiro, em classificações anteriores.
Essa unidade está posicionada no sentido norte-sul, com largura variável entre 20 e 120
quilômetros e altitudes em torno de 10 a pouco mais de 100 metros, abrangendo área de 20994
quilômetros quadrados, integrados principalmente aos Estados da Bahia e do Espírito Santo (IBGE,
1987).
Veloso e colaboradores (1991) classificam estas áreas de Tabuleiro como Florestas Ombrófilas
Densas de Terras Baixas. Já Ruschi (1950) atribuiu a esta formação vegetal o nome de Floresta dos
Tabuleiros Terciários, destacando-a como a formação florestal de maior importância no Espírito
Santo, face às espécies vegetais existentes no local, que rivalizam com a diversidade encontrada na
Amazônia, chegando mesmo a ultrapassá-los em espessura. Esta mesma denominação é também
adotada por Rizzini (1979), que a inclui na Província Atlântica e Subprovíncia Austro-oriental.
O IBGE (1987) classifica a área como Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, destacando que
a sua composição florística revela uma semelhança extrema com florestas que ocorrem na
Amazônia. Esta característica ombrófila também é evidenciada por Andrade-Lima (1966), que a
inclui na Floresta Ombrófila Hileiana.
Outros autores tendem a evidenciar o caráter estacional, como Azevedo (1962), que atribuiu ao
local à classificação de Comunidade Arbórea Mesófila dos Tabuleiros, enquanto Jesus (1988)
acredita tratar-se de uma Floresta Estacional Semidecidual com período decíduo geralmente muito
curto.
A importância desta vegetação em termos de conservação fez com que Peixoto & Silva (1997)
incluísse as Florestas de Tabuleiro do norte do Espírito Santo entre os 14 centros de elevada
diversidade vegetal do Brasil. Na realidade, a região denominada por Floresta de Tabuleiro não é
ocupada somente por formações florestais, mas sim por um mosaico de formações vegetais,
contendo quatro formações vegetais naturais dos Tabuleiros do Espírito Santo, denominadas de
Floresta Alta, Floresta de Muçununga, Áreas Inundadas e Inundáveis e Campos Nativos.
Apesar de toda a importância destas áreas, a vegetação nativa tem sido exaustivamente explorada
para fins madeireiros e para a implementação de projetos agropastoris ao longo dos anos,
principalmente devido à facilidade de acesso fornecida pelas próprias condições do relevo
(Simonelli, 1998). Esta realidade levou a região a uma intensa fragmentação, confinando a
extensões florestais a manchas esparsas distribuídas em paisagens fortemente antropizadas (Garay
& Rizzini, 2003).
35
Como conseqüência, a Floresta de Tabuleiro do norte do Espírito Santo está praticamente restrita a
um núcleo florestal constituído pela Reserva Biológica de Sooretama e Reserva Natural da Vale,
respectivamente nos municípios de Sooretama e Linhares, havendo destaque local para a intensa
exploração madeireira e a expansão da fronteira agrícola (Peixoto et al., 2008).
A. Restinga
As espécies encontradas nesta formação são geralmente herbáceas com crescimento estolonífero,
não ultrapassam 50 centímetros de altura e apresentam adaptações para tolerar a salinidade de áreas
próximas ao mar e erosões causadas pela ação das marés. Além disto, tem a importante função de
fixar areia e manter a formação de dunas, um papel exercido por espécies como Panicum
racemosum (Henriques et al., 1984; Thomaz, 1991; Menezes-Silva, 1998; Menezes-Silva & Britez,
2005) (Figura 30).
Devido às condições de estresse hídrico e salino existente, a riqueza de espécies desta comunidade
apresenta-se sempre baixa. Entres as espécies mais características desta formação estão
Alternanthera littoralis, Blutaparon portulacoides, Hydrocotyle bonariensis, Ipomoea imperati,
Ipomoea pes-caprae, Panicum racemosum, Canavalia rosea, Remirea maritima, Paspalum
maritimum e Sporobolus virginicus.
36
A baixa riqueza florística desta formação pode ser compreendida levando-se em consideração os
fatores restritivos presentes nesse tipo de ambiente, como a escassez de nutrientes, elevadas
salinidade e temperatura e a movimentação intensa do substrato causada pelo vento. Isto faz com
que poucas espécies ocupem estas localidades, sendo necessária para a sua ocupação, a presença de
adaptações na forma e funcionamento das espécies, como caules rastejantes, estoloníferos e
presença de glândulas de sal.
Figura 31. Aspecto da vegetação da Formação de Pós-praia na região de Povoação. Foto: Luiz
Magnago.
Entre as espécies arbustivas que caracterizam esta formação estão Schinus terebinthifolius, Protium
heptaphyllum, Psidium macahense, Eugenia uniflora, Guapira pernambucensis. Espécies
herbáceas que são características desta formação são Bromelia antiacantha, Cereus
fernambucensis, Anthurium raimundii, Quesnelia quesneliana, havendo destaque para a
Allagoptera arenaria, que exibe uma alta predominância fitofisionômica. Lianas como Davilla
flexuosa e Smilax rufescens apresentam relevância considerável em termos florísticos.
37
inferior herbáceo terrestre (Figura 32). Devido a este maior desenvolvimento estrutural, um maior
contingente de espécies epifíticas podem se estabelecer nesta fitocenose.
Figura 32. Detalhe para o interior de uma Floresta Não-inundável em Regência. Foto: Luiz Magnago.
Entre as espécies arbóreas que caracterizam o dossel destas florestas estão Manilkara bella,
Tapirira guianensis, Protium heptaphyllum e Pera glabrata. Entre as arbóreas não-emergentes
estão Couepia schotti, Himatanthus phagedaenicus e Myrsine umbellata. Das espécies que
caracterizam o sub-bosque podem ser citadas Cordia taguahyensis, Sorocea hilarii e Salzmannia
nitida. Herbáceas terrestres como Eltroplectris calcarata, Pseudananas sagenarius, Paradisanthus
micranthus, Aechmea bromeliifolia e Dichorisandra thrysiflora são comumente encontradas nesta
formação. Entre as epífitas destacam-se Tillandsia stricta, Tillandsia usneoides, Vriesea
neoglutinosa, Aechmeia nudicaulis, Campylocentrum micranthum, Epidendrum densiflorum e
Cattleya guttata.
Esta formação foi denominada por Pereira (1990) como Formação Aberta de Clusia, sendo mais
recentemente adotada a terminologia de Arbustiva Aberta Não-inundável (Pereira, 2003), já que a
caracterização que diferencia esta formação com mais clareza não é presença de espécies do gênero
Clusia e sim a falta de fortes influências do lençol freático e até mesmo do afloramento sazonal.
38
Figura 33. Aspecto da formação Arbustiva Aberta Não-inundável em Povoação. Foto: Luiz Magnago.
Entre as espécies arbustivas que caracterizam esta fitofisionomia estão a Clusia hilariana,
Kielmeyera albopunctata, Cupania emarginata, Byrsonima sericea, Pera glabrata e Protium
hepthaphyllum. Entre as espécies herbáceas terrestres estão Anthurium raimundi, Aechmea
nudicaulis, Aechmea blanchetiana, Vriesea procera e Cyrtopodium polyphyllum. As espécies
epífitas Vriesea neoglutinosa, Brassavola tuberculata, Tillandsia stricta e Tillandsia gardineri são
encontradas comumente no interior das moitas.
As espécies Evolvulus spp., Chamaecrista ramosa e Axonopus pressus também podem ser
encontradas nas áreas entre moitas. A espécie Axonopus pressus é endêmica da restinga de
Regência e encontra-se classificada como Criticamente Em Perigo na Lista das Espécies
Ameaçadas de Extinção do Espírito Santo. Esta espécie ocupa áreas extensas nas restingas de sua
área de ocorrência, principalmente em alguns pontos próximos a Reserva Biológica de Comboios.
Pereira (1995) denominou estas áreas como áreas de Formação Praial Graminóide com Arbusto,
apresentando largura aproximada de 250 metros e uma topografia plana (Figura 34).
39
Figura 34. Formação Praial Graminóide com Arbusto na localidade de Regência, Linhares, Espírito
Santo. Foto: Marcelo Simonelli.
Os elementos herbáceos que dominam esta formação pertencem principalmente à Família Poaceae,
que também se caracteriza por possuir elementos arbustivos esparsos e de pequeno porte que não
ultrapassam 10% da cobertura vegetal, representados principalmente pela palmeira gurirí ou
Allagoptera arenaria (Figura 35).
Figura 35. Formação Praial Graminóide com detalhe para uma moita de Allagoptera arenaria. Foto:
Marcelo Simonelli.
40
Os elementos dominantes nesta faixa são a Axonopus pressus, que caracteriza a comunidade nesta
região. Esta espécie não é citada para outras formações de Restinga do Espírito Santo, como
comentado anteriormente, estando aparentemente restrita à Reserva Biológica de Comboios e
adjacências. Outras espécies encontradas na área são Chamaecrista ramosa, Remiria maritima,
Hybanthus calceolaria, Mytracarpus frigidus e Ipomoea littoralis. Menos frequentes são os
elementos arbustivos, com a área sendo principalmente representada por Allagoptera arenaria e
Scaevola plumieri.
A Formação Herbácea Inundável tem sua ocorrência nas depressões dos intercordões arenosos,
onde ocorrem inundações sazonais que provavelmente alteram sua composição florística,
apresentando alta produtividade (Figura 36).
Figura 36. Aspecto da formação Herbácea Inundável em Regência. Foto: Luiz Magnago.
Esta formação é influenciada por alagamentos em função de estar localizada em áreas de depressão
nos intercordões arenosos, permanecendo com água aflorada em sua maior extensão por longos
períodos (Figura 37). A sazonalidade de alagamento do solo determina a existência de florestas
periodicamente inundadas e permanentemente inundadas.
41
Figura 37. Aspecto de uma Floresta Inundável em Regência. Detalhe para um trecho de Floresta
Inundável à direita e aspecto do interior de Floresta Inundável à esquerda. Fotos: Marcelo Simonelli.
A estrutura destas áreas é muito distinta de terrenos secos em razão do número de espécies (Toniato
et al., 1998), já que a condição de encharcamento constante do solo é o fator determinante para a
seleção de espécies vegetais que ocorrem (Ivanauskas & Rodrigues, 2000), resultando em uma
diminuição da diversidade em ambientes paludosos (Sugiyama & Mantovani, 1994; Sztutman &
Rodrigues, 2002).
Pequenas diferenças no teor de umidade do solo, assim como em sua topografia, possibilitam
alterações na composição florística dos ambientes paludosos (Costa et al., 2003). Neste ambiente,
as florestas periodicamente inundadas apresentam maior riqueza de espécies que aquelas
permanentemente inundadas (Sztutman & Rodrigues, 2002).
Entre as espécies arbóreas mais características destas florestas estão Calophyllum brasiliense e
Tapirira guianensis. No sub-bosque as espécies mais comuns são Tovomita brasiliensis, Sapium
glandulatum, Myrcia racemosa e Guapira opposita.
B. Floresta Aluvial
As Florestas Aluviais estão representadas na área de estudo apenas pela mata de cabruca. As matas
de cabruca consistem em áreas de sub-bosque com elementos florísticos retirados para a realização
do plantio de cacau. Desta forma o sub-bosque sofre a retirada de espécies, sendo mantidas apenas
as árvores formadoras do dossel (Figuras 38 e 39).
42
Figura 38. Detalhe para a espessura de uma sapopema ou raiz tabular de Ficus sp. em Floresta de
Tabuleiro de cabruca em Povoação, Linhares, Espírito Santo. Foto: Luiz Magnago.
Figura 39. Detalhe das matas de cabruca plantadas em consórcio com bananas em Povoação, Linhares,
Espírito Santo. Foto: Luiz Magnago.
C. Culturas
C1. Pastagem
Nestas áreas a vegetação natural sofreu corte raso para implementação da pecuária, prejudicando
não apenas a vegetação, mas causando danos ao solo a partir do pisoteio do gado. Esta formação é
43
predominantemente herbácea com raros indivíduos arbóreos e arbustivos, com alguns deles
constituídos por remanescentes da vegetação original (Figura 40).
Figura 40. Aspecto da Fisionomia de pastagem em Povoação, Linhares, Espírito Santo. Foto: Luiz
Magnago.
Nesta formação as espécies herbáceas mais comuns são as gramíneas Brachiaria spp; Melinis
minutiflora; Panicum maximum e Paspalum spp., além das espécies de outras Famílias como
Desmodium incanum, Stylozanthes viscosa, Stylozanthes guianensis, Mimosa pudica, Crotalaria
lanceolata e Centrosema virginianum. Alguns indivíduos arbustivos e arbóreos comuns em outros
estágios de regeneração também aparecem nestas áreas. Os representantes arbustivos mais comuns
são representados pelas espécies Cordia verbenacea e Psidium guianensis. Outros tipos de cultivo
característicos, além do cacau, consistem no plantio de coco (Cocos nucifera) e eucalipto
(Eucaliptus spp.) (Figura 41).
44
Figura 41. Aspecto do plantio de coco em Povoação, Linhares, Espírito Santo. Foto: Luiz Magnago.
3.1.3.3 Florística
Foi analisado um total de 730 dados procedentes de diferentes fontes de informações. Deste total,
344 informações (47,2%) foram extraídas de bibliografias, 209 (28,7%) foram inventariadas no
trabalho de campo in loco e 176 (24,1%) provenientes de dados a partir da consulta de materiais
botânicos depositados em herbários (Tabela 8).
Tabela 8. Números de espécies listadas por tipo de informação analisada para avaliação da vegetação
Após uma filtragem dos dados coletados, um total de 730 informações; foram relacionadas à
ocorrência de 382 espécies para área em estudo distribuídas em 88 famílias (Tabela 9). Apesar da
elevada riqueza encontrada, a região proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável da Foz do Rio Doce tem potencial para apresentar um número muito maior de espécies,
pois a realização de um levantamento florístico restrito a uma única semana do ano, concentrado
em apenas uma estação do ano, reflete uma amostra do potencial florístico da região. Para
levantamentos mais aprofundados, seria necessário realizar coletas sazonais, abrangendo todas as
estações, pelo menos durante um ano.
45
Tabela 9. Lista florística das espécies com ocorrência na área proposta para a criação da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, elaborada a partir de três fontes. Campo: 1a =
coletadas in loco; 1b = observadas in loco; Herbário: 2a = Museu de Biologia Professor Mello Leitão
(MBML); 2b = Species Link/Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA); Referências: 3a
= Aracruz Celulose, 2001; 3b = Fraga, 2000; 3c = Rodrigues & Simonelli, 2007; 3d = Salvador &
Ventura, 2007; 3e = Thomaz, 1991; 3f = Thomaz & Monteiro, 1993 e 3g = Simonelli et al., 2006.
46
Família Espécie Fonte
ASTERACEAE Dasycondylus resinosus (Spreng.) R.M. King & H. Robinson 2b
ASTERACEAE Eclipta alba Hassk. 1a
ASTERACEAE Emilia sonchifolia (L.) DC. 1b
ASTERACEAE Mikania glomerata Spreng. 3g
ASTERACEAE Vernonia fruticulosa (Vell.) Font. & Schw. 3a
ASTERACEAE Vernonia salzmannii DC. 1a
ASTERACEAE Vernonia scorpioides (Lam.) Pers. 1a
BIGNONIACEAE Arrabidaea conjugata (Vell.) Mart. 3d
BIGNONIACEAE Fridericia conjugata (Vell.) L.G. Lohmann 2b
BIGNONIACEAE Jacaranda bracteata Bur. & K.Sch. 1a
BIGNONIACEAE Lundia cordata (Vell.) A. DC. 3g
BIGNONIACEAE Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. 2b
BIGNONIACEAE Tabebuia obtusifolia (Cham.) Bureau 3g
BIGNONIACEAE Tabebuia riodocensis A. Gentry 3g
BIXACEAE Bixa orellana L. 1b
BLECHNACEAE Blechnum occidentale L. 1a
BORAGINACEAE Cordia curassavica (Jacq.) Roem. 2a
BORAGINACEAE Cordia superba Cham. 1a
BORAGINACEAE Cordia taguahyensis Vell 3g
BORAGINACEAE Heliotropium indicum L. 1a
BORAGINACEAE Heliotropium procubens Mill. 1a
BORAGINACEAE Turnefortia bicolor Sw. 1a 2b
BRASSICACEAE Capparis flexuosa (L.) L. 1a 3a 3d
BROMELIACEAE Acanthostachys strobilacea (Schult. f.) Klotzsch 1a
BROMELIACEAE Aechmea blanchetiana (Baker) L. L. B. Sm. 3a 3d 3g
BROMELIACEAE Aechmea bromeliifolia (Rudge) Baker 1a
BROMELIACEAE Aechmea chlorophylla L.B. Sm. 2b
BROMELIACEAE Aechmea multiflora L.B. Sm. 2b
BROMELIACEAE Aechmea nudicaulis (L.) Griseb. 1a 1b 2a 3d
BROMELIACEAE Aechmea ramosa Mart. ex Schult. f. 1b
BROMELIACEAE Bromelia antiacantha Bertol. 3a 3g
BROMELIACEAE Hohenbergia angusta (Vell.) E.Morren 1a 1b
BROMELIACEAE Neoregelia pascoaliana L. B. Sm. 1a 2a 3a
BROMELIACEAE Pseudonanas sagenarius (Arruda) Camargo 2b 3g
BROMELIACEAE Quesnelia quesneliana (Brongn.) L. B. Sm. 3a 3d
BROMELIACEAE Tillandsia gardneri Lindl. 1a 2b 3d 3g
BROMELIACEAE Tillandsia stricta Sol. ex Sims 1a 3d 3g
BROMELIACEAE Tillandsia usneoides (L.) L. 1a 1b 2a 3g
BROMELIACEAE Vriesea neoglutinosa Mez€ 3g
BROMELIACEAE Vriesea procera (Mart. ex Schult.f.) Wittm. 1a 1b 3d
BURSERACEAE Protium aff. warmingianum March. 3g
BURSERACEAE Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand 1a 2b 3a 3d 3g
BURSERACEAE Protium icicariba (DC) March. 3a
CACTACEAE Cereus fernambucensis Lem. 3a 3e 3g
CACTACEAE Epiphyllum phyllanthus (L.) Haw. 1b
CACTACEAE Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles & G. D. Rowley 3a 3d 3g
CACTACEAE Rhipsalis floccosa Salm-Dyck ex Pfeiff. 1a 2a
CALYCERACEAE Acicarpha spathulata R. Br. 3e
CAMPANULACEAE Centropogon cornutus (L.) Druce 1a
CELASTRACEAE Maytenus obtusifolia Mart. 2b 3a
CHRYSOBALANACEAE Chrysobalanus icaco L. 1a 3d 3e
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Família Espécie Fonte
CHRYSOBALANACEAE Couepia schottii Fritsch 3a 3g
CHRYSOBALANACEAE Licania heteromorpha Benth. 3g
CHRYSOBALANACEAE Licania littoralis Warm 3g
CLUSIACEAE Calophyllum brasiliense Cambess. 2b
CLUSIACEAE Clusia hilariana Schltdl. 3a 3d
CLUSIACEAE Garcinia brasiliensis Mart. 3a 3g
CLUSIACEAE Kielmeyera albopunctata Saddi 1a 3a 3d 3g
CLUSIACEAE Tovomita brevistaminea Engl. 3g
COMBRETACEAE Terminalia glabrescens Mart. 3g
COMMELINACEAE Dichorisandra thyrsiflora J.C.Mikan 1a 2a
CONNARACEAE Rourea glabra Kunth var. glabra 2b
CONVOLVULACEAE Ipomoea imperati (Vahl.) Griseb. 3a
CONVOLVULACEAE Ipomoea littoralis (L.) Blume 3e
CONVOLVULACEAE Ipomoea pes-caprae (L.) Sweet 1a 2a 3a 3e 3f
CYPERACEAE Bulbistylis capillaris (L.) C.B. Clarke 1a
CYPERACEAE Mariscus pedunculatus (R.Br.) T. koyana 2b 3e 3f
CYPERACEAE Remirea maritima Aubl. 3a
CYPERACEAE Sporobulus virginicus (L.) Kunth. 3e 3f
DILLENIACEAE Davilla flexuosa A. St.-Hil. 3d
DILLENIACEAE Davilla rugosa Poir. 2a 3g
DRYOPTERIDACEAE Ctenitis submarginalis (Lands. & Fisch.) Copel. 1a 2a
DRYOPTERIDACEAE Tectaria incisa Cav. 1a 2a 2b
ELAEOCARPACEAE Sloanea guianensis (Aubl.) Benth. 1a
ERYTROXYLACEAE Erythroxylum macrocalyx Mart. 3g
EUPHORBIACEAE Alchornea iricurana Casar. 1a
EUPHORBIACEAE Chamaecyse thymifolia (L.) Mill. 1a 3a
EUPHORBIACEAE Chamaesyce aff. prostata (Aiton) Small 1a
EUPHORBIACEAE Chamaesyce hyssopifolia (L.) Small 3e
EUPHORBIACEAE Croton floribundus Spreng. 1b
EUPHORBIACEAE Croton urucurana Baill. 2b
EUPHORBIACEAE Euphorbia bahiensis (Klotzsch & Garcke) Dugand 2b
EUPHORBIACEAE Joanesia princepis Vell. 1a
EUPHORBIACEAE Margaritaria nobilis Linn. F. 3g
EUPHORBIACEAE Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. 1a 2b 3a 3d 3g
EUPHORBIACEAE Pera leandri Baill. 1a 3g
EUPHORBIACEAE Pera parvifolia Mull. Arg. 3g
EUPHORBIACEAE Pogonophora schomburgkiana Miers ex Benth. 2b
EUPHORBIACEAE Ricinus communis L. 1b
EUPHORBIACEAE Sapium glandulatum (Vell.) Pax 2b
EUPHORBIACEAE Sebastiana aff. corniculata (Vahl) Müll. Arg. 1a
EUPHORBIACEAE Sebastiana glandulosa Müll. Arg. 1a 3a 3d
EUPHORBIACEAE Sebastiana hispida (Mart.) Pax 2b
FABACEAE Abarema jupumba Willd. 1a
FABACEAE Andira fraxinifolia Benth. 2b 3a 3g
FABACEAE Canavalia rosea (Sw.) DC. 2b 3a 3e 3f
FABACEAE Centrosema virginianum (L.) Benth. 1a 3e
FABACEAE Chamaecrista ensiformis (Vell.) H. S. Irwin & Barneby var. ensiformis 2b
FABACEAE Chamaecrista flexuosa (L.) Greene 3a 3d
FABACEAE Chamaecrista nictitans L. 1a
FABACEAE Chamaecrista ramosa (Vogel) Irwing & Barneby 2b 3a 3d
FABACEAE Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene var. grandiflora (Benth.) H. S. Irwin & Barneby 2b
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Família Espécie Fonte
FABACEAE Dialium guianense (Aubl.) Sandwith 3g
FABACEAE Dioclea violaceae Mart. ex Benth. 2b
FABACEAE Hymenaea courbaril (Hayne) Y.T. Lee & Langenh. 3g
FABACEAE Inga aff. fagifolia (L.) Willd. ex Benth. 1a
FABACEAE Inga capitata Desv. 3g
FABACEAE Inga cf. cylindrica (Vell.) Mart. 3g
FABACEAE Inga edulis Mart. 1a
FABACEAE Inga exfoliata T.D. Penn. & F.C.P. Garcia 3g
FABACEAE Inga flagelliformis (Vell.) Mart. 3g
FABACEAE Inga striata Benth 1a
FABACEAE Inga subnuda subsp. subnuda T. D. Penn. 3a 3g
FABACEAE Pithecellobium pedicellare (DC.) Benth. 3g
FABACEAE Stylosanthes viscosa (L.) Sw. 1a 3a
FABACEAE Swartzia acutifolia Vogel 2b
FABACEAE Swartzia apetala Raddi 2b 3a 3d 3g
FABACEAE Swartzia oblata 2b
FABACEAE Vatairea heteroptera (Allem.) Ducke ex de Assis Iglesias 3g
FABACEAE Zollernia modesta A.M. de Carvalho & R.C. Barneby 3g
GENTIANACEAE Nymphoides indica (L.) Kuntze 2a
GOODENIACEAE Scaevola plumieri (L.) Vahl. 1a 3a
HELICONIACEAE Heliconia episcopalis Vell. 1a 2a
HELICONIACEAE Heliconia psittacorum L.f. 2a
HUMIRIACEAE Humiriastrum dentatum Casar. 3g
HYPERICACEAE Vismia aff. martiana Reichardt. 3g
LAURACEAE Nectandra cuspidata Nees & Mart. 2b
LAURACEAE Nectandra nitidula Nees 2b
LAURACEAE Nectandra oppositifolia Nees 1a 2b
LAURACEAE Ocotea aciphylla (Nees) Mez 3g
LAURACEAE Ocotea cernua (Ness) Mez Vell. 3g
LAURACEAE Ocotea conferta Coe Teixeira 3g
LAURACEAE Ocotea confertiflora (Meisn.) Mez 3g
LAURACEAE Ocotea elegans Mez 3g
LAURACEAE Ocotea neesiana (Miq.) Kosterm. 3g
LAURACEAE Ocotea notata (Nees & C. Martius ex Ness) Mez 3a 3d
LAURACEAE Ocotea teleiandra Mez 3g
LAURACEAE Rhodostemonodaphne capixabensis Baitello & Coe-Teix. 2b
LECYTHIDACEAE Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze 1a 1b
LECYTHIDACEAE Cariniana legalis (Mart.) Kuntze 2b
LECYTHIDACEAE Eschweilera ovata (Cambess.) Mart. ex Miers 1a 2b 3a 3g
LECYTHIDACEAE Lecythis pisonis Cambess. 1b
LENTIBULARIACEAE Utricularia foliosa L. 1b 2b
LOGANIACEAE Strychnos recognita Krukoff & Barneby 2b
LYTHRACEAE Cuphea carthaginensis (Jacq.) J.F.Macbr. 1a
LYTHRACEAE Cuphea melvilla Lindley 2a
MALPIGHIACEAE Byrsonima cacaophila W.R. Anderson 3g
MALPIGHIACEAE Byrsonima sericea DC 2b 3a 3d 3g
MALPIGHIACEAE Heteropterys alternifolia W.R. Anderson 1a
MALPIGHIACEAE Heteropterys chrysophylla (Lam.) Kunth 2b
MALPIGHIACEAE Niedenzuella sericea (A. Juss.) W. R. Anderson 2b
MALPIGHIACEAE Stigmaphyllon ciliatum (Lam.) A. Juss 2b
MALVACEAE Calathea monophylla Körn. 1b
49
Família Espécie Fonte
MALVACEAE Eriotheca macrophylla (K. Schum.) A. Robyns 3g
MALVACEAE Eriotheca pentaphyla (Vell.) A. Robyns 3a
MALVACEAE Hibiscus pernambucensis Arruda 2a
MALVACEAE Pavonia cancellata (L.) Cav. 1a 2a 2b
MALVACEAE Pseudobombax grandiflorum (Cavin) A. Robyns 3a 3g
MALVACEAE Urena lobata L. 1a
MALVACEAE Waltheria aspera K. Schum. 3a
MALVACEAE Wissadula contracta (Link) R.E.Fries 1a
MARANTACEAE Calathea monophylla Körn 2b
MARANTACEAE Thalia geniculata L. 1a
MELASTOMATACEAE Clidemia bullosa DC. 2b
MELASTOMATACEAE Miconia albicans (Sw.) Triana 3d
MELASTOMATACEAE Miconia brevipes Benth. 2b
MELASTOMATACEAE Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin 2b 3g
MELASTOMATACEAE Miconia latecrenata (DC.) Naudin 1a
MELASTOMATACEAE Miconia pusilliflora (DC.) Naudin 2b
MELASTOMATACEAE Mouriri doriana Saldanha ex Cogn. 3g
MELASTOMATACEAE Tibouchina urceolaris (DC) cong. 2b
MELIACEAE Cedrela fissilis Vell. 1b
MELIACEAE Guarea guidonia (L.) Sleumer 1a
MELIACEAE Guarea penningtoniana Pinheiro 3g
MELIACEAE Trichilia casaretti C. DC. 3g
MELIACEAE Trichilia lepidota Mart. Subsp. Schumaniana 3g
MELIACEAE Trichilia quadrijuga Kunth 2b
MENISPERMACEAE Orthomene schomburgkii (Miers) R. C. Barneby & Krukoff 2b
MENYANTHACEAE Nymphoides indica (L.) Kuntze 1a
MOLLUGINACEAE Mollugo verticillata L. 1a
MORACEAE Artocarpus heterophyllus Lam 1b
MORACEAE Clarisia racemosa Ruiz & Pav. 3g
MORACEAE Ficus clusiifolia Schott 3g
MORACEAE Sorocea guileminiana Gaudich. 3g
MORACEAE Sorocea hilarii Gaudich. 2b
MUSACEAE Musa paradisiaca L. 1b
MYRISTICACEAE Virola gardneri (A.DC.) Warb. 3g
MYRSINACEAE Myrsine guianensis (Aubl.) O.Kuntze 1a 2a 2b
MYRSINACEAE Myrsine parvifolia A. DC. 3a 3d
MYRSINACEAE Myrsine umbellata Mart. 1a 3a 3d
MYRTACEAE Calyptranthes brasiliensis Spreng. 3d
MYRTACEAE Campomanesia guazumifolia (Camb.) Berg 3a 3g
MYRTACEAE Eugenia aff. oblongata 3a
MYRTACEAE Eugenia bahiensis DC. 2b
MYRTACEAE Eugenia cerasiflora Miq. 3g
MYRTACEAE Eugenia cf. tinguyenses 3a
MYRTACEAE Eugenia cuspidata Berg 3g
MYRTACEAE Eugenia excelsa Berg 3g
MYRTACEAE Eugenia ligustrina Berg 3g
MYRTACEAE Eugenia rotundifolia Casar. 3d
MYRTACEAE Eugenia ubensis Camb. 3g
MYRTACEAE Eugenia uniflora 1a
MYRTACEAE Gomidesia cerqueiria Niedenzu 3g
MYRTACEAE Gomidesia martiana O. Berg 3g
50
Família Espécie Fonte
MYRTACEAE Marlierea grandiflora O. Berg 3a
MYRTACEAE Marlierea neuwiediana (O. Berg) Nied. 3a
MYRTACEAE Marlierea obscura Berg 3g
MYRTACEAE Marlierea obversa Legrand. 3g
MYRTACEAE Myrcia fallax DC. 3g
MYRTACEAE Myrcia lineata (Berg.) G.M. Barroso 3g
MYRTACEAE Myrcia racemosa (O. Berg) Kiaersk. 2b
MYRTACEAE Myrciaria floribunda (West. Ex Willd.) Berg 3d 3g
MYRTACEAE Psidium brownianum DC. 2b
MYRTACEAE Psidium guajava L. 1b 3g
MYRTACEAE Psidium guinense Pers. 1a 2b
MYRTACEAE Psidium macahenses O. Berg. 3a 3d
MYRTACEAE Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M. Perry 1b
NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz 2b 3a 3g
NYCTAGINACEAE Guapira pernambucensis (Casar.) Lundell 1a 2b 3a 3d
NYMPHAEACEAE Nymphaea ampla (Salisb.) DC. 1b
OCHNACEAE Ouratea cuspidata Tiegh. 2b 3d
OLACACEAE Ludwigia cf. leptocarpa (Nutt.) H. Hara 1a
OLACACEAE Ludwigia cf. tomentosa (Cabess.) H. Hara 1a
OLACACEAE Ludwigia octovalvis (Jacq.) P.H.Raven 1a
OLACACEAE Schoepfia brasiliensis A. DC. 3d 3g
OLACACEAE Schoepfia oblongifolia Turez 3g
ORCHIDACEAE Acianthera strupifolia (Lindl.) Pridgeon & M. W. Chase 3c
ORCHIDACEAE Brassavola tuberculata Hook. 3c 3g
ORCHIDACEAE Campylocentrum micranthum (Lindl.) Rolfe 3c 3g
ORCHIDACEAE Catasetum discolor (Lindl.) Lindl. 3d
ORCHIDACEAE Catasetum luridum (Lindk.) Lindl. 3b
ORCHIDACEAE Cattleya guttata Lindl. 1b 3c 3g
ORCHIDACEAE Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne 1a 3c 3g
ORCHIDACEAE Cyrtopodium holstii L.C.Menezes 3b 3c 3g
ORCHIDACEAE Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros 2b 3c 3d 3g
ORCHIDACEAE Dimerandra emarginata (G. Mey.) Hoehne 1a 3c, 3g
ORCHIDACEAE Dryadella obrieniana (Rolfe) Luer 2a 3b
ORCHIDACEAE Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & Sweet. 3c 3d 3g
ORCHIDACEAE Epidendrum carpophorum Barb. Rodr. 3c 3g
ORCHIDACEAE Epidendrum densiflorum Hook. 3c 3g
ORCHIDACEAE Epidendrum imatophyllum Lindl. 2a 3b 3c 3g
ORCHIDACEAE Epidendrum rigidum Jacq. 3b
ORCHIDACEAE Koellensteinia altissima Pabst. 2a 3b 3c 3d 3g
ORCHIDACEAE Notylia pubescens Lindl. 3c 3g
ORCHIDACEAE Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. 3c 3g
ORCHIDACEAE Oncidium ciliatum Lindl. 3c 3g
ORCHIDACEAE Paradisanthus micranthus (Barb. Rodr.) Schltr. 2a 3b 3c 3g
ORCHIDACEAE Pleurothallis strupifolia Lindl. 3g
ORCHIDACEAE Polystachya concreta (Jacq.) Garay & Sweet. 3c 3b 3g
ORCHIDACEAE Prosthechea fragans (Sw.) W.E.Higgins 2a 3b 3c 3g
ORCHIDACEAE Rauhiella silvana Toscano 2a 3b
ORCHIDACEAE Vanilla bahiana Hoehne 2a 3a 3b 3d
ORCHIDACEAE Vanilla chamissonis Klotzsch ex Cogn. 3c 3g
OXALIDACEAE Oxalis clausenii Lourteig 2a 2b
PASSIFLORACEAE Passiflora galbana Mast. 1a
51
Família Espécie Fonte
PASSIFLORACEAE Passiflora mucronata Lam. 3a
PHYTOLACCACEAE Galesia integrifolia (Spreng.) Harms 1a
PIPERACEAE Peperomia magnolifolia A.Dietr. 1a
PIPERACEAE Piper lhotzkianum Kunth 1a
PIPERACEAE Piper ovatum Vahl var. boucheanum (C. DC.) Callejas 2b
PIPERACEAE Piper tuberculatum Jacq. 1a 2b
PIPERACEAE Piper umbelata L. 1b
POACEAE Axonopus pressus (Ness) Parodi 3a 3d
POACEAE Panicum racemosum (P. Beauv.) Spreng. 3e
POACEAE Paradiolyra micrantha (Kunth) Davilla & Zullago 1a
POACEAE Paspalum maritimum Trin. 3a 3e
POACEAE Paspalum repens P.J.Begius 1a
POACEAE Sporobolus virginicus (L.) Kunth. 2b 3a
POACEAE Stenotaphrum secundatum (Walt.) Ktze. 3a 3e
POLYGALACEAE Polygala cyparissias A. St.-Hil. & Moq. 3e
POLYGONACEAE Coccoloba alnifolia Mart. 3a 3d 3g
POLYGONACEAE Coccoloba arborescens (Vell.) R.A. Howard 3a 3d
POLYPODIACEAE Microgramma vaccinifolia (laugsd & Fisch.) Copet. 1a 2a
POLYPODIACEAE Pleopeltis angusta Humb. & Bonpl. ex Willd. 1a
PTERIDACEAE Adiantum latifolium Lam. 1a 2a 2b
RHAMNACEAE Zizyphus platiphylla Reiss. 3a
RUBIACEAE Borreria verticillata (L.) G. Mey. 3d
RUBIACEAE Coccocypselum campanuliflorum (Hook.) Cham. & Schltdl. 2b
RUBIACEAE Diodia radula (Willd. & Hoffmanns. ex Roem. & Schult.) Cham. & Schltdl. 3e
RUBIACEAE Genipa americana L. 1b 2b
RUBIACEAE Guettarda angelica Mart. ex. Muell. Arg. 3g
RUBIACEAE Mitracarpus frigidus (Willd.) Schum. 3a
RUBIACEAE Psychotria carthagenensis Jacq. 3g
RUBIACEAE Psychotria maporioides DC. 3g
RUBIACEAE Salzmannia nitida DC. 3d
RUBIACEAE Simira grazielae A. L. Peixoto 3g
RUBIACEAE Spermaccose verticilata L. 1b
RUBIACEAE Tocoyena bullata (Vell.) Mart. 3a 3d
RUTACEAE Citrus limon (L.) Burm. f. 1b
RUTACEAE Conchocarpus heterophyllus (A.St.H.O) Kallunki & Pirani 3g
RUTACEAE Conchocarpus macrophyllus (Mikan) Kallunki & Pirani 3g
RUTACEAE Esenbeckia grandiflora Mart. 3a
RUTACEAE Neoraputia alba (Nees & Mart.) Emmerich 3a
SALICACEAE Casearea ulmifolia Vahl. Ex Vent. 3g
SALICACEAE Casearia commersoniana Cambess. 3g
SAPINDACEAE Allophylus petiolulatus Radlk. 3g
SAPINDACEAE Cupania cf. scrobiculata L. C. Rich. 3g
SAPINDACEAE Cupania emarginata Camb. 3a 3d 3g
SAPINDACEAE Cupania racemosa (Vell.) Radlk. 1a
SAPINDACEAE Cupania zanthoxyloides Camb. 3g
SAPINDACEAE Matayba guianensis Aubl. 1a 2b
SAPINDACEAE Paullinia racemosa Wawra 2b
SAPINDACEAE Paullinia riodocensis G. V. Somner 2a 2b
SAPINDACEAE Paullinia weinmanniaefolia Mart. 3a 3d
SAPINDACEAE Serjania salzmanniana Schltr. 2b
SAPINDACEAE Toulicia patentinervis Radlk. 3g
52
Família Espécie Fonte
SAPOTACEAE Chrysophyllum lucentifolium Cronquist 3g
SAPOTACEAE Chrysophyllum splendens Spreng. 2b
SAPOTACEAE Manilkara bella Monach. 3g
SAPOTACEAE Manilkara subsericea (Mart.) Dubbard 3a 3d
SAPOTACEAE Micropholis gardneriana (A.DC.) Pierre 3g
SAPOTACEAE Micropholis venulosa (Mart. & Eichl) Pierre 3g
SAPOTACEAE Pouteria bangii (Tusby) T.D. Pennington 3g
SAPOTACEAE Pouteria caelomatica Rizzini 3g
SAPOTACEAE Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk. 1a
SAPOTACEAE Pouteria venosa subsp. amazonica T.D. Pennington 3g
SAPOTACEAE Pradosia lactescens (Vell.) Radlk. 1a
SCHIZAEACEAE Lygodium volubile Sw. 1a 2a
SIMAROUBACEAE Simaba cuneata A.St. -Hil. & Tul. 3a
SIMAROUBACEAE Simaba subcymosa A.St.H. & Tul. 3g
SIMAROUBACEAE Simarouba amara Aubl. 3a 3g
SMILACACEAE Smilax remotinervis Hand.-Mazz. 2a
SMILACACEAE Smilax rufescens Griseb. 3a 3d 3g
SOLANACEAE Solanum asperolatum Ruiz & Pav. 1a
SOLANACEAE Solanum asterophorum Mart. 2b
SOLANACEAE Solanum capsicoides All. 1a
SOLANACEAE Solanum cordifolium Dunal 2b
THEOPHRASTACEAE Clavija caloneura Mart. Miq. 3g
TURNERACEAE Turnera ulmifolia L. 1a
ULMACEAE Celtis fluminensis Carauta, Valente & Araújo 1a
URTICACEAE Boehmeria caudata Sw. 1a
URTICACEAE Cecropia pachystachya Trécul 1b 3a
VERBENACEAE Bouchea fluminensis (Vell.) Moldenke 1a 2a
VERBENACEAE Lantana camara L. 1a
VERBENACEAE Lippia aff. alba (Mill.) N.E.Br 1a
VIOLACEAE Hybanthus calceolaria (L.) Schulze-Menz 1a 3a 3e
VIOLACEAE Hybanthus communis (A.St.-Hil.) Taub. 1a
VITACEAE Cissus verticillata (L.) Nicolson & Jarvis 1a
53
Figura 42. Famílias mais representativas em riqueza de espécies presentes na área proposta para a
criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, Linhares e Aracruz, Espírito
Santo.
54
em Diferenciação, que prediz que áreas que apresentam basicamente espécies endêmicas devem
apresentar maior valor que áreas com espécies comuns e o Perigo, que prediz que áreas que
possuem espécies ameaçadas devem ser priorizadas em detrimento das demais (Primack &
Rodrigues, 2001).
Das 382 espécies de plantas analisadas oriundas da área de estudo foram identificadas 35 espécies
ameaçadas de extinção, pertencentes a 19 famílias (Tabela 10). Dentre estas, 18 encontram-se na
categoria Vulnerável (VU), quatro na categoria Em Perigo (EN) e duas Criticamente Em Perigo
(CP), segundo a lista das espécies ameaçadas do Espírito Santo (ESPIRITO SANTO, 2005). Na
lista da IUCN (2004) foram identificadas três espécies Em Perigo (EN) e oito espécies Vulneráveis
(VU). Na lista do IBAMA (1992), Rhodostemonodaphne capixabensis Baitello & Coe-Teix, da
Família Lauraceae; é a única espécie ameaçada de extinção, também encontrada como Vulnerável
(VU) na lista estadual. Podemos observar que quase dois terços das espécies (65,4 %) estão
enquadrados na categoria de menor risco (VU). Entretanto, estas espécies, assim como todas as
outras, merecem uma atenção especial para que não venham a ocupar categorias de maior ameaça.
Tabela 10. Lista das espécies ameaçadas de extinção que ocorrem na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável da Foz do Rio Doce. ES= espécies que constam na lista de espécies ameaçadas do Espírito
Santo; BR = espécies presentes na lista oficial de espécies ameaçadas do Brasil e IUCN = espécies
presentes na lista internacional da International Union for Conservation of Nature (IUCN)
55
Família Espécies ES BR IUCN
ORCHIDACEAE Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & Sweet. VU - -
ORCHIDACEAE Epidendrum carpophorum Barb. Rodr. EN - -
ORCHIDACEAE Epidendrum imatophyllum Lindl. VU - -
ORCHIDACEAE Rauhiella silvana Toscano CR - -
POACEAE Axonopus pressus (Ness) Parodi CR - -
SAPINDACEAE Paullinia riodocensis G. V. Somner VU - -
SAPOTACEAE Chrysophyllum splendens Spreng. - - VU
SAPOTACEAE Manilkara bella Monach. (Figura 47) - - EM
SAPOTACEAE Pouteria caelomatica Rizzini - - EM
Figura 43. Detalhe de Aechmea blanchetiana (Baker) L. B. Sm. Foto: Ludovic Jean Charles Kollmann.
Figura 44. Detalhe da flor de Scaevola plumieri (L.) Vahl. Foto: Ludovic Jean Charles Kollmann.
56
Figura 45. Detalhe da inflorescência de Cattleya guttata Lindl. Foto: Ludovic Jean Charles Kollmann.
Figura 46. Detalhe da flor de Cyrtopodium holstii L.C.Menezes. Foto: Ludovic Jean Charles Kollmann.
57
Figura 47. Manilkara bella. Foto: Luiz Magnago.
A Família que apresentou o maior número de espécies ameaçadas foi Orchidaceae, com nove
espécies, sendo seis Vulneráveis (VU), duas Em Perigo (EN) e uma Criticamente Em Perigo (CR)
distribuídas em sete gêneros; seguida por Bromeliaceae com três espécies Vulneráveis (VU), em
três gêneros; Fabaceae com três espécies, uma Vulnerável (VU) e duas Em Perigo (EN)
pertencendo a dois gêneros; Sapotaceae com três espécies também em três gêneros, com uma
Vulnerável (VU) e duas Em Perigo (EN). A lista ainda apresenta duas espécies de Lauraceae, com
representantes de dois gêneros, com uma espécie (VU) e outra Em Perigo (EN); Meliaceae, com
um gênero e duas espécies Em Perigo (EN); Araceae, com uma espécie Em Perigo (EN);
Asteraceae com uma espécie Vulnerável (VU); Bignoniaceae, com uma espécie Em Perigo (EN);
Chrysobalanaceae, com uma espécie Vulnerável (VU); Euphorbiaceae, com uma espécie
Vulnerável (VU); Fabaceae com uma espécie Vulnerável (VU); Goodeniaceae, com uma espécie
Vulnerável (VU); Heliconiaceae, com uma espécie Vulnerável (VU); Lauraceae, com uma espécie
Vulnerável (VU); Lentibulariaceae, com uma espécie Vulnerável (VU); Marantaceae, com uma
espécie Vulnerável (VU); Moraceae, com uma espécie Vulnerável (VU); Myrtaceae, com uma
espécie Vulnerável (VU); Poaceae, com uma espécie Criticamente Em Perigo (CR) e Sapindacea,
com uma espécie Vulnerável (VU) (Figura 48).
Número de espécies ameaçadas
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
E
E
E
AE
E
E
E
AE
EA
EA
EA
EA
EA
EA
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M
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Figura 48. Famílias que apresentaram mais espécies ameaçadas de extinção por ordem decrescente em
riqueza presentes na Foz do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo.
58
Na lista das espécies ameaçadas de extinção do Delta do Rio Doce podemos observar que a maioria
pertence às Angiospermas, sendo 19 eudicotiledôneas e 16 monocotiledôneas. O grande número de
monocotiledônea ocorre devido à grande quantidade de espécies de Bromeliaceae e Orchidaceae
que vem sofrendo coletas predatórias intensivas por serem ornamentais. Não foram registradas
espécies de Pteridófitas nas listas de espécies ameaçadas.
Entre as espécies que merecem destaque podemos citar Cattleya guttata (Orchidaceae) na categoria
Vulnerável (VU) da lista estadual. Esta espécie é uma orquídea muito procurada por
colecionadores, resultando em uma diminuição de exemplares no Estado do Espírito Santo, uma
situação agravada também pela ocorrência de desmatamento. A Aechmea blanchetiana
(Bromeliaceae), também é muito procurada para o uso em paisagismo devido a sua beleza e
resistência a condições ambientais desfavoráveis. Scaevola plumieri (Goodeniaceae), por sua vez, é
uma planta endêmica das restingas do Rio de Janeiro e Espírito Santo, crescendo na beira da praia.
Na Foz do Rio Doce, foram identificadas mais de 40 espécies endêmicas da Mata Atlântica. Na
região do Rio Doce varias espécies novas foram descobertas e publicadas em revista
especializadas, como a Rhodostemonodaphne capixabensis Baitello & Coe-Teix, Simira Graziela
A.L.Peixoto, Tabebuia riodocensis A.Gentry, Inga exfoliata T.D.Penn. & F.C.P.Garcia, Guarea
penningtoniana Pinheiro e Paullinia riodocensis G.V.Sommer. Dentre as espécies endêmicas da
Mata Atlântica encontradas podemos citar, Mikania glomerata Spreng., Aechmea blanchetiana
(Baker) L.B.Sm., Aechmea multiflora L.B.Sm., Hohenbergia angusta (Vell.) E.Morren, Quesnelia
quesneliana (Brongn.) L.B.Sm. (Bromeliaceae), Couepia schottii Fritsch (Chrysobalanaceae),
Dichorisandra thyrsiflora J.C.Mikan (Commelinaceae), Capotroche brasiliensis (Raddi.) A.Gray
(Achariaceae), Ocotea elegans Mez (Lauraceae), Trichilia chasaratti C.DC. (Meliaceae), Eugenia
cuspidata Berg, Marlierea obscura Berg (Myrtaceae), Acianthera strupifolia (Lindl.) Pridgeon &
M.W.Chase e Koellensteinia altissima Pabst (Orchidaceae).
A verificação da presença de espécies consideradas úteis pelo homem preenche o terceiro critério
considerado importante na priorização de áreas para a conservação da biodiversidade, consistindo
na Utilidade. Segundo este critério, a espécie que tem um valor usual ou potencial tem mais
importância para a conservação do que espécies que não tem nenhum uso evidente para a
população (Primack & Rodrigues, 2001).
Das 382 espécies catalogadas na área estudada, mais de 100 espécies apresentaram potencial para
uso ornamental, integrando principalmente às Famílias Bromeliaceae, Orchidaceae, Marantaceae,
Piperaceae, Araceae, Fabaceae, Palmae e Cactaceae. As espécies ornamentais encontradas incluem
Cattleya guttata e Cyrtopodium holstii (Orchidaceae), Peperomia magnolifolia (Piperaceae),
Heliconia episcopalis (Heliconiaceae), Allagoptera arenaria (Arecaceae), Tabebuia cassinoides e
T. riodocensis (Bignoniaceae), Aechmea blanchetiana, Neoregelia pascoaliana, Quesnelia
quesneliana e Vriesea procera (Bromeliaceae), Cereus fernanbucensis e Pilosocereus arrabidae
(Cactaceae) e Clusia hilariana (Clusiaceae). A quantidade de espécies selecionadas com potencial
ornamental é alta devido à diversidade rica das matas oriundas do Estado do Espírito Santo
(Chamas, 1995; Kollmann et al., 2007).
Várias espécies madeireiras, usadas regionalmente, também ocorrem na área estudada, como
Astronium graveolens e Schinus terebintifolia (Anacardiaceae); Tabebuia cassinoides
(Bignoniaceae), além de várias Lauraceae, como Nectandra nitidula e Ocotea elegans. Duas
59
espécies de Jequetibá foram encontradas na área estudada, representadas por Cariniana estrellensis
e C. legalis (Lecythidaceae) e o cedro Cedrela fissilis (Meliaceae).
Foram encontradas várias espécies com potencial para uso medicinal no Delta do Rio Doce como
Anacardium occidentale e Schinus terebintefolius (Anacardiaceae); Eclipta alba, Emilia
sonchifolia e Mikania glomerata (Asteraceae); Cecropia pachystachia (Urticaceae); Heliotropium
indicum (Boraginaceae); Bromelia antiacantha (Bromeliaceae); Protium heptaphyllum
(Burseraceae); Croton urucurana (Euphorbiaceae); Carpotroche brasiliensis (Achariaceae);
Guaria guidonia (Meliaceae); Piper umbelata (Piperaceae) e Genipa americana (Rubiaceae)
(Lorenzi, 2002; Lorenzi & Matos, 2002).
Na área também podem ser encontradas espécies nativas com potencial alimentício como a
pimenta-rosa Schinus terebintefolius (Anacardiaceae), Xylopia sericea (Annonaceae), Bromelia
antiacantha (Bromeliaceae), Chrysobalanus icaco (Chrysobalanaceae), Inga edulis (Fabaceae),
Genipa americana (Rubiaceae) e Allagoptera arenaria (Arecaceae). As espécies citadas são muito
importantes e de valor comercial significante, apresentando potencial para serem cultivadas em
escala comercial visando o uso sustentável dos recursos naturais.
A área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce
apresentou diversas fitofisionomias que se diferenciaram pela florística e porte da vegetação. As
condições determinantes para o estabelecimento destas fisionomias variam de acordo com os
fatores abióticos, principalmente edáficos, bem como do tempo de regeneração das regiões que
sofreram influência humana.
Face ao exposto, a área estudada pode ser considerada como de extrema importância para a
conservação da biodiversidade, necessitando de critérios e medidas rigorosas em prol da
preservação, sendo extremamente plausível a necessidade de implementar uma Unidade de
Conservação para garantir a sustentabilidade das comunidades locais e a conservação das espécies
existentes.
60
3.2 Entomofauna
3.2.1 Introdução
A Mata Atlântica é um ecossistema com alto índice de diversidade, com estimativas de 10000
espécies vegetais e milhares de espécies animais, muitas delas talvez ainda desconhecidas da
Ciência. O Estado do Espírito Santo, apesar de possuir apenas 11% da área original de Mata
Atlântica, suportando um desmatamento desenfreado, apresenta uma das áreas de maior
diversidade biológica do mundo, com níveis extremamente altos de endemismo em todas as
categorias.
Os insetos apresentam uma enorme diversidade de espécies nos trópicos e um papel importante nos
estudos aplicados em biologia tropical, diversidade de comunidades e conservação de habitats
(Edwards et al., 1993). Apesar de representarem grande parte da biodiversidade e seu inegável
papel no funcionamento de ecossistemas tropicais (Chapin III et al., 1997; Wilsey & Potvin, 2000;
Roubik, 2002; De Marco & Coelho, 2004), seu uso na determinação de áreas prioritárias para a
conservação não é frequente, devido principalmente à ausência de informações sistematizadas,
inclusive no Brasil.
A Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção apresenta atualmente
oito espécies de Odonata. Duas destas são Zygoptera endêmicos do Estado do Espírito Santo, com
Mecistogaster pronoti considerada Criticamente Em Perigo (CP). Contudo, devem-se considerar
alguns aspectos importantes da Biologia de Conservação em países em desenvolvimento: o número
de espécies ameaçadas e sua distribuição são definidos principalmente em função do esforço de
coleta e do número de pesquisadores na área.
A Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (IBAMA, 2003)
contém 50 espécies de Lepidoptera Em Perigo (EN) ou Criticamente Ameaçadas (CR). Deste total,
26 pertencem à família Nymphalidae e 10 pertencem as espécies de uma guilda alimentar particular
composta por borboletas que se alimentam da polpa de frutos em putrefação, correspondendo a um
quinto do total (DeVries et al., 1997). Este valor ressalta a importância dos levantamentos de
espécie de Lepidoptera. A guilda frugívora inclui as subfamílias Charaxinae, Morphinae,
Brassolinae, Amathusiinae, Satyrinae e alguns gêneros de Nymphalinae, apresentando entre 40 e
55% da riqueza total dos Nymphalidae em florestas tropicais (DeVries, 1987).
61
A Ordem Hymenoptera é extremamente abundante na natureza e seus representantes ocupam os
mais diversos tipos de ambientes disponíveis. Atualmente estão incluídas nesta Ordem cerca de
115000 espécies, mas estima-se que existam pelo menos 250000 espécies no mundo (Hanson &
Gauld, 1995).
Dentre os himenópteros, as vespas parasitóides apresentam diversidade variada (Lasalle & Gauld,
1991) e têm uma grande relevância biológica, ecológica e econômica. Segundo Godfray (1994),
vespas parasitóides são consideradas espécies de Hymenoptera cujas larvas se desenvolvem no
corpo de outro artrópodo, usualmente um inseto, em uma massa única ou gregária de hospedeiros,
como ootecas ou em massas de larvas galhadoras. O término do desenvolvimento do parasitóide
acarreta na morte do hospedeiro. Essas vespas participam em mais de 50% das cadeias alimentares
dos ambientes terrestres como os de florestas úmidas (Lasalle & Gauld, 1991). O grupo é
considerado um indicador ecológico eficiente, principalmente pela sua potencialidade no controle
biológico natural, regulando possíveis explosões populacionais de plantas e consequentemente, de
animais herbívoros. Entretanto, apesar de ser potencialmente um indicador ecológico, o emprego
de vespas parasitóides para esta finalidade não é comum.
A Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção não inclui nenhuma
espécie de himenóptero parasitóide citado, isso ocorre principalmente devido à falta de
conhecimento da fauna de vespas em localidades nacionais.
O objetivo do levantamento das Ordens de insetos, com ênfase nas espécies ameaçadas de
extinção; foi caracterizar a abundância das famílias e espécies de Odonata, de Lepidoptera da
guilda frugívora da Família Nymphalidae e de vespas parasitóides, na área da foz do Rio Doce,
Linhares, Espírito Santo.
O presente estudo foi realizado na região da foz do Rio Doce, nas localidades de Povoação e
Regência, localizadas no município de Linhares, Espírito Santo (Tabela 11).
62
Tabela 11. Pontos amostrados para levantamento de insetos. O * indica coletas realizadas na Reserva
Biológica de Comboios a partir da realização do Projeto Leptagrion, financiado pelo Fundo Nacional
do Meio Ambiente, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia
Legal (MMA)
Coordenadas
Localidade
S W
Povoação 19° 33' 34,6" 39° 47' 15,3"
19° 33' 32,9" 39° 47' 16,5"
19° 33' 29,2" 39° 47' 8"
19° 33' 30,2" 39° 47' 7,6"
19° 33' 30,0" 39° 47' 6,3"
19° 33' 30,4" 39° 47' 5,1"
19° 33' 30,5" 39° 47' 4,3"
19° 33' 30,4" 39° 47' 2,9"
Reserva Biológica de Comboios* 19° 40' 8,5" 39° 53' 18,8"
Para a execução da lista de espécies com ocorrência local, foi realizada uma coleta de campo em
Povoação, porém o esforço de coleta apresentou uma eficiência reduzida de captura, pois esteve
associado à influência de períodos de chuva, ocorrendo nos dias 12 a 14 de novembro de 2008. As
coletas foram realizadas por uma equipe de quatro pessoas, com uma amostragem utilizando
métodos diferenciados para cada grupo de inseto.
O levantamento de insetos foi complementado com dados obtidos pela realização do Projeto
Leptagrion, que atuou na Reserva Biológica de Comboios e foi realizado pelo Instituto de
Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema) em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV),
com recursos fornecidos pelo Governo Federal.
Para o levantamento das espécies de insetos ameaçadas de extinção foram utilizadas as espécies
citadas na lista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA, 2003); na Lista Vermelha do Estado do Espírito Santo (2005) e na Lista da International
Union for Conservation of Nature (IUCN, 2004). Foram realizadas buscas ativas com utilização de
redes entomológicas, apenas observando, quantificando e fotografando os indivíduos de cada
espécie ameaçada.
3.2.2.3 Odonata
As amostragens de espécies da Ordem Odonata foram feitas nos principais corpos d’águas da
propriedade do Senhor Rodrigues, em áreas de mata, pasto e mata de cabruca. Também foram
coletados espécimes em uma área de restinga próxima à praia de Povoação. Foi feita apenas uma
amostragem qualitativa em corpos d’água lênticos por meio de busca ativa devido ao tempo
desfavorável para a atividade dos insetos (Figuras 49, 50 e 51).
63
Figura 49. Poça temporária na estrada para a propriedade do Senhor Rodrigues. Foto: Karina
Schmidt Furieri.
Figura 50. Corpo d’água lêntico com vegetação aquática na estrada para a propriedade do Senhor
Rodrigues. Foto: Karina Schmidt Furieri.
64
Figura 51. Coleta ativa de libélulas a partir de um puçá utilizado na propriedade do Senhor Rodrigues.
Foto: Karina Schmidt Furieri.
O protocolo para borboletas frugívoras consistiu na instalação de cinco armadilhas Van Someren-
Rydon utilizadas na captura de borboletas frugívoras (Shuey, 1997), na propriedade do Senhor
Rodrigues (Figura 52), sendo verificadas a cada 24 horas quanto à coleta de indivíduos e para a
renovação de iscas. As iscas foram compostas por uma mistura de caldo de cana e bananas
fermentadas (DeVries, 1987). A composição das iscas foi de cerca de 600 mililitros de caldo de
cana e 2 quilos de banana triturada, deixadas para fermentar durante dois dias. Foi disponibilizado
por dia cerca de 50 mililitros de isca, acondicionados no centro da armadilha.
65
Figura 52. Armadilha Van Someren-Rydon para coleta de borboletas frugívoras. Foto: Karina
Schmidt Furieri.
A análise da abundância das Famílias de vespas parasitóides foi realizada com o emprego das
armadilhas Malaise (Figura 53) e Möricke. As armadilhas ficaram expostas de 13 a 14 de
novembro de 2008.
Os exemplares foram identificados ao nível de Família segundo chaves de Fernández & Sharkey
(2006). O material coletado foi depositado na Coleção Entomológica da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES). Também foram identificadas outras Ordens de insetos que foram
capturadas nas armadilhas de vespas parasitóides.
66
Figura 53. Armadilhas Malaise utilizadas na coleta de vespas parasitóides. Foto: Karina S. Furieri.
1. O Jackknife de primeira ordem (Heltshe & Forrester, 1983; Heltshe & Forrester, 1985;
Hellmann & Fowler, 1999):
m 1
S jack1 S obs Q1
m
Onde:
Sobs é o número total de espécies observadas em todas as amostras coletadas;
m é o número total de amostras;
Qj é o número de espécies que ocorrem em exatamente j amostras (Q1 é a freqüência de espécies
que ocorrem em apenas uma amostra (“uniques”), Q2 é a freqüência de espécies que ocorrem em
apenas duas amostras (“duplicates”).
67
2. O Bootstrap (Efron, 1979; Efron, 1982; Hellmann & Fowler, 1999):
Onde:
Sobs é o número total de espécies observadas em todas as amostras coletadas;
m é o número total de amostras;
pk é a proporção de amostras que contém a espécie k.
3.2.3 Resultados
3.2.3.2 Odonata
Um total de 17 espécies de libélulas (Odonata) foi registrado para a região do Delta do Rio Doce,
sendo 12 pertencentes à Subordem Anisoptera e cinco a Zygoptera (Tabela 12 e Figura 54). Estas
espécies estão distribuídas em quatro famílias: Coenagrionidae, Gomphidae, Pseudostigmatidae e
Libellulidae. Mecistogaster amalia, Leptagrion porectum e Leptagrion dispar foram coletados
durante as atividades do Projeto Leptagrion na Reserva Biológica de Comboios e não foram
observadas nas áreas visitadas pela equipe na última campanha. Todas as demais espécies de
libélulas foram coletadas na propriedade do Senhor Rodrigues. Na restinga, foram coletados
indivíduos de Ischnura fluviatilis pousados na vegetação halophila-psamofila e pós-praia. Nesta
mesma área, observamos a presença de Pantala flavescens e de Erythemis vesiculosa durante uma
pequena parada da chuva.
68
Tabela 12. Espécies de libélulas encontradas na região do Delta do Rio Doce
Figura 54. Telebasis filiola, uma das espécies de libélulas coletada na propriedade do Senhor
Rodrigues. Foto: Karina Schmidt Furieri.
De acordo com as listas de espécies de Odonata para o Estado (Costa & Oldrini, 2005; Lencioni
2005, 2006), não foram registradas novas ocorrências. Não foi encontrada nenhuma espécie de
libélula ameaçada de extinção, mas Mecistogaster amalia está na categoria Deficiente em Dados
(DD) da lista vermelha mundial. Leptagrion porrectum é uma espécie rara restrita às restingas do
norte do Espírito Santo e que possivelmente será incluída na próxima revisão das listas de espécies
ameaçadas de extinção nacional e estadual (Furieri & De Marco, dados não publicados).
69
Há grande probabilidade de mais espécies serem encontradas caso sejam feitas campanhas
adicionais. Os indivíduos que não foram identificados ao nível de espécie serão encaminhados aos
especialistas de cada grupo.
Nenhuma borboleta caiu nas armadilhas. A chuva interferiu na atratividade da isca e o vento
derrubou uma armadilha. Muitas borboletas foram observadas pela equipe e a de Mamíferos não-
voadores, porém não foi possível sua identificação.
Foi registrado um total de nove superfamílias, 20 Famílias e 256 indivíduos de vespas parasitóides
com ocorrência para Povoação (Tabela 13). A Família mais abundante foi Diapriidae, com 74
indivíduos equivalentes a 30,2 % do total, seguida de Scelionidae com 45 indivíduos equivalentes a
18,3 % dos indivíduos coletados e Ceraphronidae com 30 indivíduos equivalentes a 12,2%.
Tabela 13. Famílias de vespas parasitóides coletadas em Povoação nos dias 13 e 14 de novembro de
2008
A riqueza de Famílias de vespas parasitóides foi estimada entre 20 a 26, utilizando-se apenas os
dados da Malaise, ressaltando a necessidade de mais coletas para a região mediante ao aumento do
esforço amostral e possibilidade de encontrar novas Famílias.
Foi registrado um total de 13 Ordens de insetos nas armadilhas usadas no levantamento de vespas
parasitóides na região de Povoação: Blattaria, Coleoptera, Collembola, Diptera, Hemiptera,
Hymenoptera, Isoptera, Lepidoptera, Mantódea, Orthoptera, Psocoptera, Strepsiptera e
70
Thysanoptera. Adicionadas a Ordem Odonata, a região do Delta do Rio Doce apresenta pelo menos
um total de 14 Ordens coletadas a partir dos métodos utilizados.
3.2.4 Discussão
A chuva e o frio são desfavoráveis à coleta de insetos e isto certamente influenciou nos resultados.
Entretanto, apesar das condições climáticas desfavoráveis, um número considerável de espécies de
libélulas e Famílias de vespas parasitóides foi encontrado na área de estudo em um curto período de
amostragem.
A formiga saúva-preta (Atta robusta) é endêmica das restingas dos Estados do Espírito Santo e Rio
de Janeiro e está ameaçada na categoria Vulnerável (VU) em nível nacional e no Espírito Santo.
Ela se alimenta durante o dia e é mais frequente em locais sombreados nas formações arbustivas
conhecidas como matas de mirtáceas (Teixeira et al., 2004).
71
Tabela 14. Riqueza e estimativa de riqueza para cada área estudada no projeto (R = riqueza e E =
estimativa de riqueza)
Em comparação com os demais dados de coleta em Mata Atlântica, a riqueza de Famílias obtidas é
menor que as outras áreas voltadas para a conservação, mas deve-se levar em consideração que as
condições climáticas foram desfavoráveis e que as armadilhas ficaram expostas durante tempo
muito inferior ao que é de costume, um período menor que 24 horas, uma vez que o padrão consiste
em pelo menos uma semana. Alencar et al. (2007) relataram a ocorrência de 1997 espécimes e 28
Famílias de vespas parasitóides no Parque Estadual de Pedra Azul no município de Domingos
Martins, Espírito Santo. Azevedo et al. (2003) obtiveram 28 Famílias com armadilha de Möericke
e 30 com armadilha Malaise, totalizando 35 Famílias citadas para a Estação Biológica de Santa
Lúcia. Utilizando a varredura de vegetação ao longo de um ano, Azevedo & Santos (2000)
obtiveram 30 Famílias para a Reserva Biológica de Duas Bocas, enquanto Azevedo et al. (2002)
encontraram 28 Famílias para o Parque Estadual da Fonte Grande.
3.3 Herpetofauna
3.3.1 Introdução
A Classe Amphibia consiste na Ordem Anura, Urodela e Gymnophiona (Duellman & Trueb, 1986;
Izecksohn & Carvalho-e-Silva, 2001; Frost, 2004), sendo que os anuros se caracterizam pela
ausência da cauda pós-anal na fase adulta. O nome anfíbio deriva da presença de uma larva
aquática, chamada de girino e de uma forma terrestre, o que os torna um grupo especial
(Hildebrand, 1974; Freitas & Silva, 2004). Os anfíbios anuros, que atingiram o seu ápice evolutivo
100 milhões de anos atrás e são os animais popularmente conhecidos como sapos, rãs e pererecas
(Freitas & Silva, 2004). O número de espécies de anfíbios presentes no mundo está em torno de
5931 (Frost, 2004), com 841 espécies descritas para o Brasil (SBH, 2008a).
No mundo existem quatro Ordens de Répteis, sendo que três delas ocorrem no Brasil: Chelonia,
Squamata e Crocodylia. A Ordem Squamata possui três subordens: Amphisbaenia, que engloba os
animais popularmente conhecidos como cobras-cegas; Squamata, que inclui os lagartos e
similares, com quatro patas e alguns com as mesmas reduzidas e as Serpentes, que se referem às
cobras, todas ápodas (Pough et al., 2003).
Até o momento são citadas para o Brasil 641 espécies de répteis, incluindo neste total todas as
Ordens e os ambientes terrestre, dulcícola e marinho. A Ordem Chelonia ou Testudines possui 35
espécies representadas em nosso território, a Ordem Crocodylia possui seis e os Squamata contam
com mais 701 espécies no Brasil (SBH, 2008b). Assim, o Brasil possui a quarta maior diversidade
de espécies de répteis, atrás apenas da Austrália, com cerca de 840 espécies; do México, com cerca
de 770 e da Índia, com cerca de 750 (SBH, 2008b). Portanto, existiam no Brasil até 2005, pelo
menos 1541 espécies de anfíbios e répteis descritas.
72
A vulnerabilidade em anuros é decorrente do seu elevado grau de endemismo (Lynch, 1979), bem
como dos seus modos reprodutivos especializados (Duellman & Trueb, 1986). Outros aspectos que
contribuem para o seu declínio são: destruição, alteração e fragmentação de habitat (Fisher &
Shaffer, 1996; Davidson et al., 2001; Marsh & Trenham, 2001), introdução de espécies exóticas
(Kats & Ferrer, 2003; Vredenburg, 2004), sobre-exploração (Jennings & Hayes, 1985; Lannoo et
al., 1994), mudança de clima (Pounds et al., 1999; Kiesecker et al. 2001; Carey & Alexander,
2003), radiação ultravioleta, contaminantes químicos (Hayes et al., 2002) e doenças infecciosas
(Daszak et al., 2003), que provavelmente são decorrentes de estresses ambientais como o déficit
hídrico e extremos de temperatura.
Embora o Brasil tenha a fauna mais rica de toda a América Central e do Sul, as informações sobre
répteis ainda são preliminares e demonstram a necessidade de realização de mais estudos
faunísticos (Rodrigues, 2005).
Levando em consideração esta diversidade, o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos
e da Amazônia Legal (MMA, 2000) cita apenas 470 espécies, dentre as quais 197 ocorrem como
endêmicas do Bioma Mata Atlântica. Já a Sociedade Brasileira de Herpetologia, cita 641 espécies
para o Brasil (SBH, 2008b), enquanto Rodrigues (2005) cita para o Brasil um número de 650
espécies descritas, com a maioria pertencente aos Squamata (94%). Estes números desencontrados
refletem a ausência de conhecimento adequado sobre a fauna de répteis brasileiros como salientado
anteriormente.
Tendo em vista os empreendimentos existentes e futuros previstos para o Delta do Rio Doce, a
conservação da fauna de anfíbios e répteis da região segue como essencial. A região inclusive
propiciou a descrição recente de um leptodactilídeo para a Ciência (Almeida & Ângulo, 2006).
73
Figura 55. Pontos de estudo de anfíbios e répteis na região do entorno do Delta do Rio Doce, Linhares,
Espírito Santo, no período de 16 a 31 de novembro de 2008.
Tabela 15. Coordenadas geográficas dos pontos locais aonde ocorreram buscas por espécies de anfíbios
e répteis em Regência e Povoação
Regência Povoação
Os procedimentos de observação envolveram a busca ativa (Conte & Rossa-Ferres, 2006), na qual
anfíbios e répteis são procurados nas serrapilheiras das restingas e ao longo dos corpos d’água e
pastos (Figura 56 e 57). As observações noturnas contaram com auxílio do uso de lanternas (Bastos
et al., 2003). O acompanhamento de sítios de reprodução foi realizado entre as 18 e 24 horas para o
74
reconhecimento visual e obtenção das vocalizações de anuro a partir de gravadores digitais. Os
gravadores foram posicionados a uma distância variando entre 30 e 60 centímetros e uma curva
acumulada de espécies foi calculada a partir dos dias de observação utilizados como unidade de
esforço. Os exemplares observados foram capturados, fotografados e soltos nos próprios locais de
captura.
Figura 56. (A) Busca ativa durante o dia em áreas de restinga com serrapilheira; (B) áreas de restinga
investigadas próximo à Lagoa Parda; (C) aspectos gerais do interior de uma mata de cacau e (D)
aspecto geral da vegetação de pasto e da restinga ao fundo, onde foram feitas as investigações de
anfíbios e répteis.
Figura 57. Aspecto geral de um córrego onde foram realizadas as investigações de ocorrência de
anfíbios e répteis na região de Povoação, Linhares, Espírito Santo.
75
Espécies capturadas e registradas pelos diversos autores a partir das referências de estudos
desenvolvidos na região e do mapa de distribuição das espécies apresentado pela International
Union for Conservation of Nature (IUCN, 2008) foram consideradas como potenciais para a região
do Delta do Rio Doce. A sistemática e nomenclatura para as espécies de anfíbios e répteis
utilizadas neste levantamento seguiram as recomendações da Sociedade Brasileira de Herpetologia
(SBH, 2008a, 2008b).
A identificação dos táxons foi feita utilizando-se as seguintes referências para répteis: Vanzolini et
al. (1980), Peters & Orejas-Miranda (1986), Borges (2001), Marques et al. (2001), Freitas (2003),
Freitas & Silva (2005). As seguintes referências foram utilizadas para anfíbios: Heyer et al. (1990),
Izecksohn & Carvalho-e-Silva (2001), Bastos et al. (2003), Freitas & Silva (2004), Ramos &
Gasparini (2004), Haddad et al. (2005) e Haddad et al. (2008).
Foram registradas 27 espécies de anfíbios (Tabela 16) e sete espécies de répteis (Tabela 17) para os
dias de coleta (Figura 58). O número de espécies de anfíbios anuros observados visualmente, nestes
cinco dias, pode ser considerado satisfatório, pois segundo Antônio de Pádua Almeida
(comunicação pessoal) já foi observado na região 42 espécies de anuros.
Figura 58. Curva acumulada de espécies da herpetofauna obtida em cinco dias de amostragem, em
Regência e Povoação, Linhares, Espírito Santo.
76
Tabela 16. Lista de anfíbios já registrados para a região do Delta do Rio Doce (IUCN = International
Union for Conservation of Nature: LC = Não-ameaçada e DD = Dados Deficientes; ES = Espírito
Santo: NC = Não citada como ameaçada e Tipo de Registro: a = audição, g = gravação, f = foto, v =
visualização e b = referência)
77
Figura 59. Bufo crucifer, sapo comum encontrado Figura 60. Rhinella granulosa encontrada junto a
no Delta do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo. alagados em várias áreas no Delta da Foz do Rio Doce.
Figura 61. Rhinella schneideri encontrada em Figura 62. Eleutherodactylus binotatus encontrado
áreas de restinga e próxima a edificações em junto ao chão em áreas de mata de restinga, na região
Povoação, na região do Delta do Rio Doce. do Delta do Rio Doce.
Figura 63. Aparasphenodon brunoi encontrada na Figura 64. Dendropsophus bipunctatus encontrada no
região do Delta do Rio Doce. Delta do Rio Doce.
78
Figura 65. Dendropsophus decipiens encontrada Figura 66. Dendropsophus sp.1 encontrada na região do
no Delta do Rio Doce. Delta do Rio Doce.
Figura 67. Dendropsophus sp.2 encontrada na Figura 68. Dendropsophus elegans encontrada na do
região do Delta do Rio Doce. Delta do Rio Doce.
Figura 69. Hypsiboas albomarginata encontrada Figura 70. Hypsiboas pardalis encontrada em
no Delta do Rio Doce. vegetação arbustiva, na região do Delta do Rio Doce.
79
Figura 71. Hypsiboas semilineata encontrada em Figura 72. Phyllodytes luteolus encontrado em
vegetação arbustiva, na região do Delta do Rio bromélias de restinga, na região do Delta do Rio Doce.
Doce.
Figura 73. Scinax alter encontrada em alagados, Figura 74. Scinax argyreornatus encontrada na
na região do Delta do Rio Doce. serrapilheira de mata de restinga, na região do Delta
do Rio Doce.
80
Figura 77. Physalaemus crombiei encontrado junto Figura 78. Leptodactylus fuscus encontrado em áreas
ao chão em áreas de mata de restinga, na região de gramíneas alagáveis, na região do Delta do Rio
do Delta do Rio Doce. Doce.
Figura 79. Leptodactylus natalensis encontrado em Figura 80. Leptodactylus spixi encontrado próximo as
áreas alagáveis em áreas de restinga, na região do áreas alagáveis, na região do Delta do Rio Doce.
Delta do Rio Doce.
Figura 81. Leptodactylus ocellatus encontrado em Figura 82. Arcovomer passarellii encontrado em áreas
áreas alagáveis, na região do Delta do Rio Doce. alagáveis em áreas de restinga, na região do Delta do
Rio Doce.
81
Tabela 17. Lista de répteis já registrados para a região do Delta do Rio Doce (IUCN = International
Union for Conservation of Nature: LC = Não-ameaçada; ES = Espírito Santo: NC = Não citada como
ameaçada e Tipo de Registro: f = foto e v = visualização)
Figura 83. Tropidurus torquatus encontrada em Figura 84. Hemidactylus mabouia encontrada em
áreas abertas degradadas pela ação humana, no residências no Delta do Rio Doce.
Delta do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo.
Figura 85. Gymnodactylus darwinii encontrada em Figura 86. Ameiva ameiva encontrada em área de
área de mata de restinga, na região do Delta do restinga, na região de Regência, Linhares, Espírito
Rio Doce, Povoação, Linhares, Espírito Santo. Santo.
82
Figura 87. Mabuya agilis encontrada em área de Figura 88. Phimophis sp. encontrada em área de pasto
restinga, na região de Povoação. próxima a restinga, na região de Regência.
Figura 89. Bothrops jararaca encontrada em área de pasto próxima a restinga, na região de Regência.
Das 25 espécies de anfíbios, 14 pertencem à Família Hylidae, com maior número de espécies para a
região; quatro pertencem à Família Leptodactylidade, três à Família Bufonidae, uma à Família
Leiuperidae e uma espécie para a Famílias Craugastoridae e uma para Microhylidae.
Foram encontradas sete espécies de répteis, sendo que a Família Gekkonidae apresentou duas
espécies e as Famílias Tropiduridae, Teiidae, Scincidae, Colubridae e Viperidae apresentaram
apenas uma espécie cada.
Estudos anteriores realizado em áreas próximas a região (Aracruz Celulose, 2003a, 2003b, 2003c),
citam também as seguintes espécies: Dendropsophus branneri, provavelmente a espécie citada
como Dendropsophus sp2; Dendropsophus minutus, Hybsiboas faber, Phyllomedusa burmeisteri e
Sphaenorhynchus planicola. A espécie Bufo ictericus parece ser uma identificação errônea, pois ela
não possui distribuição para o Espírito Santo, sendo provavelmente confundida com Bufo crucifer,
o que totaliza 30 espécies de anuros.
A fauna de répteis de áreas próximas ao Delta do Rio Doce também foi estudada pela empresa
Aracruz Celulose (2003a, 2003b, 2003c). Nestes estudos foram encontradas as seguintes espécies
de répteis terrestres: Anolis sp., Enyalius sp.; Ophioides striatus, Tupinambis meriane, Leposoma
scincoides, Mabuya macrorhyncha, Boa constrictor, Liophis miliaris, Philodryas olfersii e Spilotes
83
pullatus. Além destas espécies também foram observadas, por um dos autores na região de
Regência as seguintes espécies: Leposternum sp., Liophis meridionalis, Oxyrhophus sp. e
Cnemidophorus nativo, totalizando 21 espécies de répteis.
Das 80 espécies de anfíbios com possibilidade de ocorrência na região de Santa Lucia, 77 foram
consideradas pela International Union for Conservation of Nature (IUCN, 2006b) como Não-
ameaçadas (LC), duas Vulneráveis (VU), nenhuma Quase-ameaçada (NT), uma com Dados
Deficientes (DD) e nenhuma Em Perigo (EN).
A lista de espécies ameaçadas estadual (Espírito Santo, 2005) considerou que dez espécies de
anfíbios sofrem ameaça sendo que destas, três podem ser encontradas na região do Delta do Rio
Doce: Cycloramphus fulginosus Tschudi, 1838, como Criticamente Em Perigo (CP) e
Hyalinobatrachium eurygnathum (A. Lutz, 1925) e Hyalinobatrachium uranoscopum (Muller,
1924) como Vulneráveis (VU). Uma análise mais detalhada sobre as espécies de anfíbio ameaçadas
com ocorrência para o Espírito Santo foi realizada por Vieira & Gasparini (2007).
Diferentemente dos anfíbios, não existe ainda um mapa de distribuição potencial para a maioria das
espécies de répteis, tornando não-confiável a estimativa do número de espécies que podem ocorrer
no Delta do Rio Doce.
Dos répteis registrados neste levantamento nenhum se encontra ameaçado. Entretanto, Vieira
Gasparini (2007) citam para a região o lagartinho-de-linhares, Chenmidophorus nativo,
considerado ameaçado de extinção na categoria Vulnerável (VU).
A conservação das áreas de florestas interiores da região do Delta do Rio Doce é importante para as
espécies florestais que são mais sensíveis à influência marinha e águas ácidas das florestas
alagáveis do litoral.
3.3.4 Conclusão
84
3.4 Avifauna
3.4.1 Introdução
Como outras regiões do leste do Brasil, a Mata Atlântica do Estado do Espírito Santo, que outrora
recobria mais de 90% do seu território; sofreu um desordenado e constante processo de devastação,
pois restam não mais do que 11% de sua cobertura vegetal original (Ipema, 2005). Sem dúvida,
esta extrema modificação ambiental provocou profundas alterações em comunidades biológicas
que só recentemente começaram a ser noticiadas, seja a partir do declínio de populações de
espécies e extinções locais (Bauer, 1999; Simon 2001; Willis & Oniki, 2002; Simon & Lima, 2004)
ou a partir do estabelecimento de espécies exóticas que podem ser nocivas à biota autóctone (GISP,
2005; Frigotto & Serafim-Junior, 2007).
Em recente avaliação sobre o estado de conservação da Mata Atlântica no Espírito Santo, foram
reconhecidas 30 áreas prioritárias para a criação de Unidades de Conservação, entre as quais a
região do Delta do rio Doce. Embora Linhares seja um dos municípios ornitologicamente mais bem
investigados do Espírito Santo, os estudos voltados ao complexo vegetacional de sua porção
85
litorânea são escassos, incluindo estudos sobre as áreas com lavouras do cacau Theobroma cacao
L. no baixo Rio Doce.
Assim como outras regiões, o cutivo de cacau do norte do Espírito Santo foi predominantemente
implantado sob o dossel da mata nativa raleada, denominada mata de cabruca (Miranda, 1938;
Vinha & Silva, 1982; Sambuichi, 2006) e o valor das cabrucas para a conservação da
biodiversidade tem sido avaliado por diferentes autores (Faria & Baumgartem, 1998; Greenberg et
al., 2000; Argôlo, 2004; Laps, 2006; Sambuichi, 2006).
O presente estudo objetivou inventariar a composição da avifauna na área prevista para a criação da
Reserva do Desenvolvimento Sustentável da Foz do rio Doce e realizado como área integrante do
projeto Apoio à Criação de Unidades de Conservação no Estado do Espírito Santo: Um Processo
Participativo Integrando as Comunidades Locais, sob a coordenação do Instituto de Pesquisas da
Mata Atlântica (Ipema).
86
Tabela 18. Pontos com ambientes amostrados, respectivas coordenadas geográficas UTM (Datum SA
69) e altitudes
Cinco tipos principais de ambientes foram delineados de acordo com a conformação atual da
vegetação da região, permitindo a realização do inventário da avifauna local: (1) vegetação
implantada a partir de ação antrópica (VA), incluindo capoeiras, pastagens, monoculturas e áreas
urbanizadas (Figura 90); (2) ambientes dulcícolas (AD), representados por brejos, lagoas e o curso
do Rio Doce (Figura 91); (3) matas de aluvião (MA), representadas por fragmentos de Floresta
Ombrófila Densa Aluvial (Veloso et al., 1991) (Figura 92); (4) mata de cabruca (MC), formação
florestal constituída pelo plantio de cacau sob a mata nativa de aluvião raleada (Figura 93) e (5)
restinga (RE);
87
Figura 90. Tipo de ambiente amostrado pela equipe de avifauna: vegetação implantada a partir de ação
antrópica.
Figura 91. Tipo de ambiente amostrado pela equipe de avifauna: ambientes dulcícolas, Rio Doce.
88
Figura 92. Tipo de ambiente amostrado pela equipe de avifauna: mata de aluvião.
Figura 93. Tipo de ambiente amostrado pela equipe de avifauna: mata de cabruca.
89
Em função de sua maior complexidade vegetacional, as cabrucas foram submetidas a um maior
tempo de amostragem, com aproximadamente 60% das horas trabalhadas, a partir de trilhas pré-
existentes em seu interior.
O inventário da avifauna foi conduzido pelo método de MacKinnon, que adota a lista das 20
espécies como unidade de esforço amostral durante os levantamentos de campo (MacKinnon &
Phillips, 1993). A partir destas listas (N = 15), foi possível obter a “curva do coletor”, que mostra
a descoberta de novas espécies conforme evoluem as amostragens via listas numéricas na área de
estudo, sendo muito úteis para a estimativa de riqueza faunística e comparações entre regiões,
habitats e épocas distintas (Santos, 2003).
O levantamento de campo para a obtenção das listas das 20 espécies apoiou-se em registros visuais
(Figura 94) e auditivos (Figura 95), bem como no uso da técnica de play-back (Figura 96),
consisitindo em gravar e reproduzir a vocalização de determinada espécie a partir de sua atração
para o observador identificá-la visualmente (Johnson et al., 1981; Parker III, 1991). Embora o
método auditivo seja o mais eficiente em áreas florestais (Sick, 1997), a combinação dos três
métodos supracitados é recomendável para maximizar a amostragem de avifaunas regionais,
considerando a variação da chance de detecção das espécies (Simon et al., 2007).
Entrevistas com moradores rurais (Figura 97) foram realizadas para a obtenção de dados adicionais
sobre a avifauna local, incluindo registros históricos e pressão de caça, visando subsidiar as
discussões na oficina realizada pelo projeto em questão.
90
Figura 95. Método de levantamento auditivo da avifauna. Foto: Juliana Peres.
Figura 96. Método de levantamento da avifauna com auxílio da técnica de playback. Foto: Juliana
Peres.
91
Figura 97. Entrevista com moradores rurais como fonte adicional de informações sobre a avifauna
local. Foto: Juliana Peres.
Figura 98. Consulta à coleção zoológica do Museu de Biologia Professor Mello Leitão (MBML), Santa
Teresa, Espírito Santo, para a identificação da avifauna observada em campo Foto: Juliana Peres.
92
A menção ao status de conservação das espécies seguiu o Livro Vermelho da Fauna Brasileira
ameaçada de Extinção (MMA, 2008, fundamentado na Instrução Normativa 3 de 27 de maio de
2003) e a lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Estado o Espírito Santo (Simon et
al., 2007), de acordo com as seguintes categorias de ameaça: Criticamente Em Perigo (CP ou CR);
Em Perigo (EP ou EN); Vulnerável (VU) e Regionalmente Extinta (RE).
As seis guildas tróficas adotadas para este estudo, compostas por carnívoros, frugívoros,
insetívoros, granívoros, onívoros e nectarívoros; incluiu apenas espécies florestais, dada à
importância deste grupo para a caracterização dos impactos ambientais sobre a biota de uma região.
A inclusão das espécies em cada uma dessas guildas apoiou-se na sua dieta preferencial
mencionada em referências conforme Moojen et al. (1941), Schubart et al. (1965), Willis (1979),
Sick (1997) e Simon (2006).
3.4.3 Resultados
Um total de 190 espécies de aves, distribuídas em 55 Famílias, foram registradas na área de estudo
(Tabela 19). As Famílias com a maior riqueza de espécies entre as aves não-passeriformes, com
103 espécies foi Ardeidae e Psittacidae, ambas representadas por oito espécies. Entre as aves
Passeriformes, a Família Tyrannidae, com 22 espécies, apresentou a maior riqueza específica,
seguida por Emberezidae, com 11 espécies.
Tabela 19. Lista de espécies de aves registradas a partir do trabalho de campo desenvolvido na área
proposta para a criação da Reserva Biológica da Foz do Rio Doce (F e En = espécies dependentes do
ambiente florestal e endêmicas do bioma Mata Atlântica, CP = Criticamente Em Perigo, EP = Em
Perigo, VU = Vulnerável e RE = Regionalmente Extinta; Registro: a = auditivo, v = visual, r = captura
em rede de neblina e c = coleta de espécime; Ambiente: VA = vegetação de origem antrópica, AD =
ambientes dulcícolas, MA = matas de aluvião, MC = mata de cabruca e RE = restinga e Guilda
Trófica: CA = carnívoros, FR = frugívoros, IN = insetívoros, GR = granívoros, ON = onívoros e NE =
nectarívoros)
Guilda
Nome científico Nome popular Registro Ambiente
Trófica
Aves Passeriformes (N=103 spp.)
Tinamidae
Crypturellus soui (Hermann, 1783) F Tururim av MC MA GR
Inhambu-
Crypturellus variegatus (Gmelin, 1789) F, EP a MA GR
anhangá
Inhambu-
Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) a VA -
chororó
Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) Perdiz a VA -
Anatidae
Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) Irerê av AD -
Dendrocygna autumnalis (Linnaeus, 1758) Asa-branca v AD -
Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) Pé-vermelho av AD -
Cracidae
Ortalis guttata (Spix, 1825) F Aracuã av MC MA RE ON
Penelope superciliaris Temminck, 1815 F Jacupemba av MC MA RE FR
Podicipedidae
Tachybaptus dominicus (Linnaeus, 1766) Mergulhão v AD -
93
Guilda
Nome científico Nome popular Registro Ambiente
Trófica
Aves Passeriformes (N=103 spp.)
Podicipedidae
Mergulhão-
Podilymbus podiceps (Linnaeus, 1758) v AD -
caçador
Ardeidae
Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) Socó-boi av AD -
Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758) Savacu av AD MC -
Butorides striata (Linnaeus, 1758) Socozinho av AD -
Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) Garça-vaqueira v AD VA -
Ardeidae
Ardea cocoi Linnaeus, 1766 Garça-moura v AD -
Garça-branca-
Ardea alba Linnaeus, 1758 v AD -
grande
Garça-branca-
Egretta thula (Molina, 1782) v AD -
pequena
Egretta caerulea (Linnaeus, 1758) Garça-azul v AD -
Threskiornithidae
Platalea ajaja Linnaeus, 1758 Colhereiro v AD -
Ciconiidae
Ciconia maguari (Gmelin, 1789) CP Maguari v AD -
Cathartidae
Urubu-de-
Cathartes aura (Linnaeus, 1758) cabeça- v AD MC VA -
vermelha
Urubu-de-
Cathartes burrovianus Cassin, 1845 v AD VA -
cabeça-amarela
Urubu-de-
Coragyps atratus (Bechstein, 1793) v MC VA -
cabeça-preta
Pandionidae
Águia-
Pandion haliaetus (Linnaeus, 1758) v AD -
pescadora
Accipitridae
Elanoides forficatus (Linnaeus, 1758) F Gavião-tesoura v MC MA IN
Gavião-
Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) v AD -
caramujeiro
Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) F Sovi av MC MA IN
Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) Gavião-caboclo v VA -
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) Gavião-carijó av MC MA -
Gavião-de-
Buteo albicaudatus Vieillot, 1816 v VA -
rabo-branco
Falconidae
Caracara plancus (Miller, 1777) Caracará av MC VA -
MC MA
Milvago chimachima (Vieillot, 1816) Carrapateiro av -
VA
Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) F Acauã a MA CA
Falco sparverius Linnaeus, 1758 Quiriquiri av VA -
Falco rufigularis Daudin, 1800 F Cauré v MC MA CA
Falcão-de-
Falco femoralis Temminck, 1822 v MC VA -
coleira
Aramidae
Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) Carão v AD -
94
Guilda
Nome científico Nome popular Registro Ambiente
Trófica
Aves Passeriformes (N=103 spp.)
Rallidae
Saracura-três-
Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) a MC MA -
potes
Laterallus melanophaius (Vieillot, 1819) Sanã-parda a AD -
Porzana albicollis (Vieillot, 1819) Sanã-carijó av AD -
Pardirallus nigricans (Vieillot, 1819) Saracura-sanã a AD -
Frango-d'água-
Gallinula melanops (Vieillot, 1819) v AD -
carijó
Charadriidae
Vanellus chilensis (Molina, 1782) Quero-quero av VA -
Recurvirostridae
Pernilongo-de-
Himantopus melanurus Vieillot, 1817 v AD -
costas-brancas
Scolopacidae
Maçarico-
Actitis macularius (Linnaeus, 1766) v AD -
pintado
Maçarico-
Tringa solitaria Wilson, 1813 av AD -
solitário
Jacanidae
Jacana jacana (Linnaeus, 1766) Jaçanã av AD -
Sternidae
Trinta-réis-
Phaetusa simplex (Gmelin, 1789) v AD -
grande
Rynchopidae
Rynchops niger Linnaeus, 1758 Talha-mar v AD -
Columbidae
Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Rolinha-roxa v MC RE VA -
Columbina squammata (Lesson, 1831) Fogo-apagou av MC VA -
Columbina picui (Temminck, 1813) Rolinha-picui v RE VA -
Pombo-
Columba livia Gmelin, 1789 v VA -
doméstico
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) Pombão av MC RE VA -
Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) F Pomba-galega v VA GR
Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 F Juriti-pupu av MC MA RE GR
Psittacidae
Periquitão-
Aratinga leucophthalma (Statius Muller, 1776) F av MC MA GR
maracanã
Aratinga aurea (Gmelin, 1788) Periquito-rei av MC VA -
Pyrrhura cruentata (Wied, 1820) F, En, (VU) EP Tiriba-grande av MC MA FR
Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) Tuim av MC VA FR
Brotogeris tirica (Gmelin, 1788) F, En Periquito-rico av MC VA FR
Pionus maximiliani (Kuhl, 1820) F Maitaca-verde av MC MA FR
MC MA
Amazona rhodocorytha (Salvadori, 1890) F, En, (EP) Chauá av FR
VA
Amazona amazonica (Linnaeus, 1766) Curica av MC MA -
Cuculidae
Piaya cayana (Linnaeus, 1766) F Alma-de-gato av MC MA IN
Crotophaga major Gmelin, 1788 F Anu-coroca av MC RE IN
Crotophaga ani Linnaeus, 1758 Anu-preto av MC RE VA -
Guira guira (Gmelin, 1788) Anu-branco av MC RE VA -
95
Guilda
Nome científico Nome popular Registro Ambiente
Trófica
Aves Passeriformes (N=103 spp.)
Cuculidae
Tapera naevia (Linnaeus, 1766) Saci a VA -
Tytonidae
Coruja-da-
Tyto alba (Scopoli, 1769) av MC VA -
igreja
Strigidae
Corujinha-do-
Megascops choliba (Vieillot, 1817) F av MC VA IN
mato
Pulsatrix cf. perspicillata (Latham, 1790) F Murucututu a MC CA
Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) Caburé av MC MA -
Coruja-
Athene cunicularia (Molina, 1782) av VA -
buraqueira
Coruja-
Rhinoptynx clamator (Vieillot, 1808) v MC -
orelhuda
Nyctibiidae
Mãe-da-lua-
Nyctibius grandis (Gmelin, 1789) F, VU av MC MA IN
gigante
Mãe-da-lua-
Nyctibius aethereus (Wied, 1820) F, VU v MC MA IN
parda
Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) F Mãe-da-lua av MC MA IN
Caprimulgidae
Lurocalis semitorquatus (Gmelin, 1789) F Tuju av MC MA IN
Nyctidromus albicollis (Gmelin, 1789) F Bacurau av MC MA RE IN
Apodidae
Andorinhão-de-
Chaetura cf. cinereiventris Sclater, 1862 F av MC MA IN
sobre-cinzento
Trochilidae
Balança-rabo-
Glaucis hirsutus (Gmelin, 1788) F av MC MA NE
de-bico-torto
Rabo-branco-
Phaethornis idaliae (Bourcier & Mulsant, 1856) F, En av MC MA RE NE
mirim
Beija-flor-
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) v MC RE VA -
tesoura
Besourinho-de-
Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812) v RE VA -
bico-vemelho
Beija-flor-de-
Thalurania glaucopis (Gmelin, 1788) F, En av MC MA NE
fronte-violeta
Beija-flor-de-
Polytmus guainumbi (Pallas, 1764) v RE -
bico-curvo
Beija-flor-de-
Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) F av MC RE NE
garganta-verde
Trogonidae
Surucuá-
Trogon viridis Linnaeus, 1766 F grande-de- av MA ON
barriga-amarela
Alcedinidae
Martim-
Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766) pescador- av AD -
grande
Martim-
Chloroceryle amazona (Latham, 1790) av AD -
pescador-verde
96
Método de Guilda
Nome científico Nome popular Ambiente
Registro Trófica
Aves Passeriformes (N=103 spp.)
Alcedinidae
Martim-
Chloroceryle americana (Gmelin, 1788) pescador- v AD -
pequeno
Bucconidae
Malacoptila striata (Spix, 1824) F, En Barbudo-rajado v MA IN
Ramphastidae
Tucano-de-
Ramphastos vitellinus Lichtenstein, 1823 F av MC MA FR
bico-preto
Selenidera maculirostris (Lichtenstein, 1823) F Araçari-poca av MC MA FR
Araçari-de-
Pteroglossus aracari (Linnaeus, 1758) F av MC MA FR
bico-branco
Picidae
Pica-pau-anão- MC MA RE
Picumnus cirratus Temminck, 1825 F av IN
barrado VA
Birro, pica-pau-
Melanerpes candidus (Otto, 1796) av VA -
branco
Picapauzinho-
Veniliornis affinis (Swainson, 1821) F v MA IN
avermelhado
Pica-pau-do-
Colaptes campestris (Vieillot, 1818) av MC RE VA -
campo
Pica-pau-de-
Celeus flavescens (Gmelin, 1788) F av MC MA IN
cabeça-amarela
Pica-pau-de-
Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) F av MC MA IN
banda-branca
Aves Passeriformes (N=87 spp.)
Thamnophilidae
Taraba major (Vieillot, 1816) Choró-boi av RE VA -
Thamnophilus palliatus (Lichtenstein, 1823) Choca-listrada av VA -
Choca-de-
Thamnophilus ambiguus Swainson, 1825 F, En av MA IN
sooretama
Choquinha-de-
Myrmotherula axillaris (Vieillot, 1817) F av MA IN
flanco-branco
Papa-formiga-
Formicivora rufa (Wied, 1831) arv RE -
vermelho
Dendrocolaptidae
Dendrocincla turdina(Lichtenstein, 1820) F, En Arapaçu-liso av MA IN
Furnariidae
Casaca-de-
Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823) av AD VA -
couro-da-lama
Furnarius rufus (Gmelin, 1788) João-de-barro av AD VA -
Furnariidae
Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin, 1788) Curutié av AD -
Bico-virado-
Xenops rutilans Temminck, 1821 F av MA IN
carijó
Tyrannidae
MC MA
Todirostrum poliocephalum (Wied, 1831) F, En Teque-teque av IN
VA
Ferreirinho-
Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) F av MC VA IN
relógio
97
Guilda
Nome científico Nome popular Registro Ambiente
Trófica
Aves Passeriformes (N=87 spp.)
Phyllomyias fasciatus (Thunberg, 1822) F Piolhinho av MC MA IN
Guaracava-de-
Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) av MC RE VA -
barriga-amarela
MC MA RE
Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) Risadinha av -
VA
Pseudocolopteryx sclateri (Oustalet, 1892) Tricolino v AD -
Euscarthmus meloryphus Wied, 1831 Barulhento av RE -
Myiornis auricularis (Vieillot, 1818) F, En Miudinho av MC MA IN
Bico-chato-de-
Tolmomyias sulphurescens (Spix, 1825) F av MA IN
orelha-preta
Bico-chato-
Tolmomyias flaviventris (Wied, 1831) F av MC MA IN
amarelo
Myiophobus fasciatus (Statius Muller, 1776) Filipe av VA -
Hirundinea ferruginea (Gmelin, 1788) Gibão-de-couro av MA -
Cnemotriccus fuscatus (Wied, 1831) F Guaracavuçu av MA IN
Lavadeira-
Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766) av AD MC VA -
mascarada
Arundinicola leucocephala (Linnaeus, 1764) Freirinha v AD -
Suiriri-
Machetornis rixosa (Vieillot, 1819) v VA -
cavaleiro
Bentevizinho-
Myiozetetes similis (Spix, 1825) de-penacho- av AD VA -
vermelho
MC MA RE
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) Bem-te-vi av -
VA
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) F Neinei av MC MA IN
MC MA RE
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 Suiriri av -
VA
Tyrannus savana Vieillot, 1808 Tesourinha v VA -
MC MA
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) F Maria-cavaleira av IN
VA
Pipridae
Manacus manacus (Linnaeus, 1766) F Rendeira av MA FR
Tityridae
Flautim-
Schiffornis turdina (Wied, 1831) F, VU av MA IN
marrom
Tityridae
Pachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818) F Caneleiro-preto av MC MA IN
Vireonidae
Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766) F Juruviara av MC MA ON
Hirundinidae
Andorinha-do-
Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783) v AD -
rio
Andorinha-de-
Tachycineta leucorrhoa (Vieillot, 1817) v AD -
sobre-branco
Andorinha-do-
Progne tapera (Vieillot, 1817) av MC VA -
campo
Andorinha-
Progne chalybea (Gmelin, 1789) doméstica- av VA -
grande
98
Guilda
Nome científico Nome popular Registro Ambiente
Trófica
Aves Passeriformes (N=87 spp.)
Hirundinidae
Andorinha-
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) av AD VA -
serradora
Andorinha-de-
Hirundo rustica Linnaeus, 1758 v AD -
bando
Troglodytidae
MC MA
Troglodytes musculus Naumann, 1823 Corruíra av -
VA
Garrinchão-pai-
Pheugopedius genibarbis (Swainson, 1838) F av MA -
avô
Donacobiidae
Donacobius atricapilla (Linnaeus, 1766) Japacanim av AD -
Turdidae
Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850 F Sabiá-poca av MC RE VA ON
Turdus albicollis Vieillot, 1818 F Sabiá-coleira av MA ON
Mimidae
Mimus gilvus (Vieillot, 1807) EP Sabiá-da-praia av RE -
Sabiá-do-
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) av MC RE VA -
campo
Motacillidae
Caminheiro-
Anthus lutescens Pucheran, 1855 av VA -
zumbidor
Coerebidae
MC MA RE
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) Cambacica av -
VA
Thraupidae
Sanhaçu-de-
Schistochlamys melanopis (Latham, 1790) av AD -
coleira
Saíra-de- MC MA RE
Nemosia pileata (Boddaert, 1783) F av ON
chapéu-preto VA
Tachyphonus cristatus (Linnaeus, 1766) F Tiê-galo v MC MA ON
Ramphocelus bresilius (Linnaeus, 1766) F, En Tiê-sangue av AD RE ON
Thraupidae
Sanhaçu- MC MA RE
Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) av -
cinzento VA
Sanhaçu-do-
Thraupis palmarum (Wied, 1823) F av MC VA ON
coqueiro
Tangara cayana (Linnaeus, 1766) Saíra-amarela av MC RE VA -
Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) F Saí-azul av MC RE VA ON
Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766) F Saíra-beija-flor v MC RE VA ON
Figuinha-de-
Conirostrum speciosum (Temminck, 1824) F av MC MA ON
rabo-castanho
Emberizidae
Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) Tico-tico v VA -
Tico-tico-do-
Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) av VA -
campo
Sicalis luteola (Sparrman, 1789) Tipio av VA -
Canário-do-
Emberizoides herbicola (Vieillot, 1817) av VA -
campo
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) Tiziu av VA -
Coleiro-do-
Sporophila collaris (Boddaert, 1783) v AD -
brejo
99
Guilda
Nome científico Nome popular Registro Ambiente
Trófica
Aves Passeriformes (N=87 spp.)
Emberizidae
Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) Baiano v VA -
Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) Coleirinho av VA -
Sporophila leucoptera (Vieillot, 1817) Chorão av AD -
Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776) Caboclinho av AD -
Tico-tico-rei-
Coryphospingus pileatus (Wied, 1821) av VA -
cinza
Cardinalidae
Saltator maximus (Statius Muller, 1776) F Tempera-viola av MC MA ON
Parulidae
Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) F Mariquita av MC IN
Geothlypis aequinoctialis (Gmelin, 1789) Pia-cobra arv AD -
Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) F Pula-pula av MA IN
Icteridae
Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766) F Guaxe av MC MA ON
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) Graúna av VA -
Agelasticus cyanopus (Vieillot, 1819) Carretão v AD -
Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819) Garibaldi av AD -
Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) Vira-bosta av VA -
Polícia-inglesa-
Sturnella superciliaris (Bonaparte, 1850) av VA -
do-sul
Fringillidae
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) F Fim-fim av MC VA ON
Gaturamo-
Euphonia violacea (Linnaeus, 1758) F av MC MA ON
verdadeiro
Estrildidae
Estrilda astrild (Linnaeus, 1758) Bico-de-lacre av VA -
Passeridae
Passer domesticus (Linnaeus, 1758) Pardal av VA -
Total de espécies: 190
Total de espécies florestais: 60
Total de espécies endêmicas da Mata Altântica: 11
Total de espécies ameaçadas: 8
Entre as espécies registradas, oito estão ameaçadas de extinção, seja em nível regional, contando
com sete espécies; ou nacional, contando com duas espécies: Crypturellus variegatus (inhambu-
anhangá), Ciconia maguari (maguari, Figura 99), Pyrrhura cruentata (tiriba-grande, Figura 100),
Amazona rhodocorytha (chauá), Nyctibius grandis (mãe-da-lua-gigante), Nyctibius aethereus (mãe-
da-lua-parda, Figura 101), Schiffornis turdina (flautim-marrom) e Mimus gilvus (sabiá-da-praia,
Figura 102).
100
Figura 99. Ciconia maguari (maguari), espécie regionalmente ameaçada de extinção. Trata-se de uma
ave aquática de grande porte registrada em vôo sobre as áreas alagadas ao norte da área de estudo.
Foto: José Eduardo Simon.
Figura 100. Pyrrhura cruentata (tiriba-grande), espécie ameaçada de extinção, em nível regional e
nacional. Trata-se de uma ave frugívora registrada nas cabrucas e em alguns fragmentos de matas
nativas, se agrupando em bandos de quatro a seis indivíduos. Foto: F. M. Flores.
101
Figura 101. Nyctibius aethereus (mãe-da-lua-parda), espécie regionalmente ameaçada de extinção.
Trata-se de uma ave insetívora de médio porte, com notável plumagem de coloração críptica. Espécie
registrada nas matas de cabruca e fragmentos de matas nativas da margem norte do Rio Doce. Foto:
José Eduardo Simon.
Figura 102. Mimus gilvus (sabiá-da-praia), espécie regionalmente ameaçada de extinção. Trata-se de
uma ave restrita as restingas, com populações sujeitas ao desaparecimento em várias localidades do
Espírito Santo em função da pressão de caça e especulação imobiliária. Foto: José Eduardo Simon.
Outro resultado peculiar do inventário foi à constatação de que 60 espécies (31%) são dependentes
do ambiente florestal e de que 11 (6%) correspondem a endemismos do bioma Mata Atlântica, a
102
exemplo de Thalurania glaucopis (beija-flor-de-fronte-violeta, Figura 103), Malacoptila striata
(barbudo-rajado, Figura 104), Thamnophilus ambiguus (choca-de-sooretama, Figura 105) e
Ramphocelus bresilius (tiê-sangue, Figura 106).
Figura 104. Malacoptila striata (barbudo-rajado), espécie associada ao sub-bosque de matas nativas,
pertencente à guilda das aves insetívoras. Espécie endêmica da Mata Atlântica. Foto: José Eduardo
Simon.
103
Figura 105. Thamnophilus ambiguus (choca-de-sooretama), espécie associada ao sub-bosque de matas
nativas, pertencente à guilda das aves insetívoras. Espécie endêmica da Mata Atlântica. Foto: José
Eduardo Simon.
A maior parte da avifauna inventariada (76%), correspondendo a 145 espécies, foi registrada pelas
onze primeiras listas do método de MacKinonn, o que correspondeu a mais da metade do esforço
amostral empregado em campo, constituído por 15 listas. Contudo, a curva do coletor obtida por
este método não alcançou a sua assíntota, indicando que o incremento nas amostragens de campo
pode adicionar a ocorrência de novas espécies para a área de estudo (Figura 106).
200
180
160
140
Nº de espécies
120
100
80
60
40
20
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Amostragens
Figura 106. Curva do coletor obtida pelo método de MacKinnon para o levantamento da avifauna na
área prevista para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce,
Linhares, Espírito Santo.
104
3.4.3.3 Riqueza de espécies nos ambientes amostrados
Figura 107. Riqueza exclusiva de aves nos cinco ambientes diferentes amostrados na área prevista para
a criação da Reserva de Desenvolvimento da Foz do Rio Roce, Linhares, Espírito Santo: VA =
vegetação antrópica; AD = ambientes dulcícolas; RE = restinga; MA = mata de aluvião e MC = mata
de cabruca.
Dos cinco tipos de ambientes amostrados, os alagados apresentaram a maior riqueza específica,
representada por 43 espécies exclusivamente associadas (Tabela 19, Figura 107). Em seguida,
destacaram-se as matas de aluvião, com 17 espécies restritas. A menor riqueza foi encontrada nas
matas de cabruca, contando com apenas três espécies. Entre as espécies registradas nas áreas
antropizadas, 21 foram exclusivas destes ambientes, sendo que apenas três espécies estiveram
associadas à restinga. Várias espécies apresetaram distribuição em dois ou até três tipos de
ambientes distintos, indicando fraca especificidade por determinado tipo de hábitat.
A repartição das espécies em guildas tróficas (N=70) mostrou que as aves insetívoras, constituídas
por 33 espécies, predominam nos ambientes florestais da região, como as matas de cabruca e de
aluvião; embora as onívoras, compostas por 15 espécies, também demonstrem participação comum
na estrutura da comunidade da avifauna amostrada (Figura 108). A riqueza nas demais guildas
variou de três espécies carnívoras a 10 espécies frugívoras.
105
CA
NE
Guildas
GR
FR
ON
IN
0 5 10 15 20 25 30 35
Número de espécies
Figura 108. Participação das seis guildas tróficas na estrutura da comunidade de aves florestais na
área prevista para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce,
Linhares, Espírito Santo: CA= carnívoros; FR = frugívoros; GR = granívoros; IN = insetívoros; NE =
nectarívoros e ON = onívoros.
3.4.4 Discussão
O conjunto das 190 espécies registradas na área de estudo corresponde a 29% da avifauna
conhecida para todo o Estado do Espírito Santo (Simon, 2009). Contudo, tal riqueza não deve ser
assumida como parâmetro real, por duas principais razões: primeiro, em função do curto período
das amostragens de campo, o que impossibilita a avaliação precisa da diversidade biológica em
análise, além de dificultar a detecção de espécies raras (Santos, 2003) e segundo, em função da
necessidade de inclusão de novos pontos de amostragem para cobrir a complexidade vegetacional
da região. De fato, a curva do coletor, obtida pelo método de MacKinnon, indicou que o
incremento nas amostragens de campo pode revelar novas ocorrências de outras espécies de aves
para a localidade estudada.
As áreas úmidas, como alagados, brejos e estuários estão entre os ambientes que merecem atenção
especial no plano de zoneamento da área proposta para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável
da Foz do Rio Doce, pois abrigam rica diversidade de aves aquáticas (Novaes & Simon, 2002,
2003), representadas por espécies residentes, migratórias, ribeirinhas, limícolas e marinhas, como
106
mergulhões, socós, garças, maçaricos, trinta-réis e marrecas, entre as quais estão aves
emblemáticas como o maguari e o colhereiro. Em função do regime de chuvas, o que determina
primordialmente a oferta de águas nos ambientes alagados e extensos da região; muitas aves
aquáticas apresentam uma distribuição sazonal fixa e consolidada, consequentente uma série de
populações de aves dependem fortemente da capacidade suporte e do grau de conservação destes
ambientes.
3.4.5 Conclusões
Apesar das alterações ambientais resultantes da desordenada ocupação e uso do solo, a região do
Delta do Rio Doce ainda detém uma diversidade biológica excepcional e diferenciada,
constituindo-se em um local estratégico imprescindível para a conservação de aves no Estado do
Espírito Santo.
3.5.1 Introdução
O grupo dos mamíferos de pequeno porte não-voadores, como os marsupiais e roedores da família
Cricetidae e Echimyidae, exerce influência fundamental para a dinâmica das florestas, seja através
da predação do banco de sementes e de plântulas ou pela dispersão de sementes. Além disto, são
indicadores eficientes para alterações locais do habitat e alterações na paisagem (Pardini &
Umetsu, 2006). Vale ressaltar que formam o grupo ecológico mais diversificado de mamíferos das
Florestas Neotropicais, com mais de 190 espécies atualmente reconhecidas para o Brasil (Fonseca
et al., 1996). Entretanto, ainda existem muitas espécies novas a serem descobertas e catalogadas.
No intervalo de sete anos entre a publicação da primeira e segunda edição de um guia de campo de
mamíferos de florestas neotropicais (Emmons & Feer, 1997), o número de espécies reconhecidas
aumentou em 10%. Grande parte deste aumento é consequência de rearranjos taxonômicos
107
resultantes de revisões sistemáticas, muitas vezes com a elevação de subespécies a espécies,
retomando visões taxonômicas utilizadas no passado (Emmons et al., 2002).
As atividades para amostragem das espécies de mamíferos não-voadores presentes na área do Delta
do Rio Doce, abrangendo os distritos de Regência e Povoação, Estado do Espírito Santo, foram
realizadas a partir de uma campanha de campo conduzida no período de 7 a 14 de novembro de
2008. As atividades em campo compreenderam amostragens intensivas das espécies de mamíferos
de pequeno porte não-voadores, incluindo os marsupiais da Família Didelphidae e roedores das
Famílias Cricetidae e Echimyidae; e mamíferos de médio e grande porte.
A praia de Povoação fica na margem norte da barra do Rio Doce, podendo-se visualizar o seu
encontro com as águas do Oceano Atlântico, acerca de 3 km do povoado. Para o norte da orla
marítima e a 3 km da base do Projeto TAMAR encontra-se a barra do rio Monsarás. A base do
Projeto TAMAR, localizada em Povoação, abriga o maior número de ninhos entre as bases do
Espírito Santo, desde 1987. No local, desovam a tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) e a tartaruga-
gigante (Dermochelys coriacea).
Para a realização do inventário, foram selecionados locais de amostragem nos distritos de Regência
e Povoação com a finalidade de amostrar os principais ambientes encontrados na região (Figura
108
109). As coordenadas geográficas de cada ponto de coleta foram registradas e a denominação
empregada em campo consistiu nos seguintes ambientes: restinga baixo porte (TA); restinga de
médio porte (TB); restinga de grande porte (TC); margens do Rio Doce (TD); propriedade do pai
do Rogério (TE) e matas próximas a lagoa de Monsarás (TF) (Tabela 20). As trilhas instaladas em
Regência e Povoação foram percorridas separadamente (Figura 110 e 111). Os pontos de
amostragem consideraram as fitofisionomias presentes.
Figura 109. Pontos de amostragem da fauna de mamíferos não-voadores. É possível observar as seis
trilhas instaladas para a realização do inventário nos distritos de Regência e Povoação, Linhares,
Espírito Santo.
Tabela 20. Pontos de amostragem de pequenos mamíferos não-voadores na área proposta para criação
da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, focando os distritos de Regência e
Povoação
109
Figura 110. Pontos de amostragem da fauna de mamíferos não-voadores em Regência, Linhares,
Espírito Santo.
Para a caracterização das espécies de mamíferos de pequeno porte não-voadores foi adotado um
modelo de captura-marcação-recaptura de espécimes a partir do emprego de armadilhas de captura
110
viva (live trap) tipo gaiola, confeccionadas com arame galvanizado e sistema de gancho; e tipo
sherman, confeccionadas de alumínio. Foi estabelecido um transecto linear com 20 postos de
amostragem ou estações de captura para cada um dos seis ambientes selecionados dispostos em
intervalos de 20 metros. Desta forma, cada transecto apresentou 600 metros de extensão em linha
reta. Ao todo foram instaladas 240 armadilhas na área de estudo.
Em cada estação de captura foram instaladas duas armadilhas, com uma disposta no solo e outra na
vegetação de sub-bosque fixada em galhos ou cipós a uma altura média de 1,5 metos; totalizando
40 armadilhas por transecto. Este procedimento teve por objetivo amostrar espécies terrícolasou
que se deslocam no solo e na vegetação, conhecidas como escansoriais; e arborícolas. Esta
disposição das armadilhas foi adotada em todas as áreas de acordo com a estrutura vegetacional de
cada local. Para os pontos nos quais não foram identificadas estruturas de sub-bosque adequadas
para instalação de armadilhas, as duas unidades foram dispostas no solo.
Uma mistura composta de fubá, óleo de fígado de bacalhau (Emulsão Scott), banana e creme de
amendoim (Amendocrem) foi utilizada como isca. As iscas foram renovadas quando necessário,
principalmente em armadilhas com ocorrência de captura e/ou durante o terceiro dia de atividades.
As armadilhas foram vistoriadas diariamente, preferencialmente no período da manhã,
permanecendo ativas ou abertas com iscas no decorrer de cinco noites consecutivas de amostragem.
O registro das espécies de mamíferos presentes na área foi realizado a partir da procura ativa por
rastros e/ou vestígios que confirmassem a presença de representantes da mastofauna, como
pegadas, fezes e tocas ou a própria visualização de espécimes. Estas atividades foram realizadas
durante caminhadas em estradas de terra, acessos não-pavimentados e margens de corpos d’água,
como córregos e áreas drenadas. Áreas com solo exposto e ambientes lineares, como margem de
corpos d’água, trilhas e acessos, são consideradas locais prováveis para a detecção de evidências
indiretas da presença de mamíferos. Neste contexto, ocorre uma facilidade de visualização dos
vestígios em locais abertos e o uso tais áreas para a realização de atividades rotineiras como
alimentação e vigilância territorial por determinadas espécies. Foram considerados apenas os
vestígios em estado de preservação que fornecessem informações confiáveis.
Além disto, foram instaladas parcelas de areia como método complementar e auxiliar na detecção e
identificação das pegadas de mamíferos de médio e grande porte. As parcelas corresponderam a
áreas de 1x1 metro preenchidas com areia fina e úmida até uma altura de aproximadamente 3
centímetros e iscadas com abacaxi ou banana. Cada parcela foi previamente limpa, retirando-se a
vegetação e o folhiço para colocação da areia em solo limpo. A areia foi descompactada e sua
111
superfície homogeneizada para que rastros de animais mais leves fossem registrados. Foram
dispostas dez parcelas de areia na região de Regência.
A cada dia, as armadilhas foram vistoriadas, umedecidas e a isca renovada. A identificação das
pegadas baseou-se em experiência prévia, auxiliada pela utilização do guia de campo de Becker &
Dalponte (1991). Em cada registro de presença foram anotados: espécie, data, local, horário e
número da parcela. Os registros em cada parcela não apresentaram independência, um fator que
dificultou a utilização deste método para o cálculo de abundância de espécies. Desta forma,
calculou-se a frequência de parcelas com o registro de presença das espécies em cada área.
Pressupõe-se que os índices indiretos, como pegadas, apresentem relação linear positiva com a
abundância relativa das espécies (Wilson et al., 1996).
Também foram realizadas, de forma complementar, entrevistas com moradores das comunidades
em Regência e Povoação para a obtenção de informações referentes às espécies de mamíferos
presentes na área, especialmente se tratando de grupos de visualização rara em campo e/ou que
ocorrem naturalmente em densidade populacional baixa. Ilustrações e/ou fotografias de mamíferos
(Auricchio, 1995; Borges & Tomas, 2004) foram apresentadas aos entrevistados para auxiliar no
reconhecimento das espécies presentes na área ou confirmar os táxons citados, quando necessário.
3.5.4 Resultados
Foram registrados nove indivíduos pertencentes a cinco espécies, agrupados em duas Famílias
(Tabela 21). O esforço de captura empregado totalizou 1000 armadilhas-noite, refletindo em um
sucesso de captura total de 0,9%. O sucesso de captura é estimado a partir da relação do número de
capturas dividido pelo esforço de captura vezes 100%, o que representa a porcentagem de
aproveitamento.
112
Tabela 21. Lista de espécies de pequenos mamíferos com base em amostragem da área proposta para
criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, distritos de Regência e
Povoação. Apenas as trilhas nas matas próximas as margens do Rio Doce (TD) e matas próximas a
lagoa de Monsarás (TF) tiveram espécimes capturados, apesar da ausência de detecção de espécimes
nas trilhas da restinga de baixo porte (TA); restinga de médio porte (TB); restinga de grande porte
(TC) e propriedade do pai do Rogério (TE).
É importante ressaltar as limitações durante a campanha de campo, com origens na intensa chuva
durante todos os dias de coleta. A chuva intensa muitas vezes restringe a captura destas espécies,
pois optam por permanecer em abrigos. Desta forma, pode-se justificar o baixo sucesso de captura
neste inventário. Provavelmente o registro de novas espécies ocorrerá a partir da continuidade dos
esforços de captura e amostragens nos períodos de seca. Os registros de captura na estação seca
costumam serem maiores, quando comparados aos períodos chuvosos.
Tabela 22. Sucesso de captura (%) e esforço amostral por ambiente inventariado durante campanha
na região do Delta do Rio Doce, nos distritos de Regência e Povoação, Espírito Santo (TA = restinga de
baixo porte; TB = restinga de médio porte; TC = restinga de grande porte; TD = mata as margens do
Rio Doce; TE = Propriedade pai do Rogério e TF = mata ao lado da lagoa de Monsarás)
113
3.5.4.2 Mamíferos de médio e grande porte
Foram identificadas 22 espécies de mamíferos de médio e grande porte silvestres para a região do
Delta do Rio Doce, agrupadas em sete Ordens e 15 Famílias (Tabela 23). Quatro espécies (18,18%)
foram registradas de forma direta a partir de visualização, vocalização ou armadilhas fotográficas.
Três espécies (13,63%) foram registradas a partir de vestígios indiretos, como fezes e pegadas. O
método de entrevistas revelou 17 espécies (77,27%) para a área de estudo.
A Ordem Carnivora apresentou o maior número de táxons registrados, com dez espécies, seguida
pela Ordem Rodentia, com cinco espécies. As Ordens Cingulata e Primates apresentaram duas
espécies, enquanto Artiodactyla, Pilosa, e Lagomorpha foram representadas por um táxon (Tabela
23).
Tabela 23. Espécies de mamíferos de médio e grande porte detectadas por evidências diretas e
indiretas na área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio
Doce, distritos de Regência e Povoação, município de Linhares, com seus respectivos nomes populares
e tipos de registros pelo qual foram detectados (ET = entrevista; DS = dados secundários; PG =
pegada; VI = visualização e VO = vocalização)
Tipo de
Ordem Família Espécie Nome popular
registro
Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole ET
Cingulata Dasypodidae
Dasypus septemcinctus Tatu-galinha ET
Pilosa Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla Tamanduá-de-colete ET
Callithrix sp. Mico-estrela ET VI VO
Primates Cebidae
Callicebus personatus Sauá, guigó ET
Canidae Cerdocyon thous Cachorro-do-mato ET PG VI
Nasua nasua Quati ET
Procyonidae
Procyon cancrivorus Mão-pelada ET
Mephitidae Conepatus semistriatus Jaratataca ET
Eira barbara Irara ET
Carnivora Mustelidae
Galictis cuja Furão ET
Leopardus tigrinus Gato-do-mato-pequeno ET
Leopardus pardalis Jaguatirica ET
Felidae
Puma concolor Onça-parda, onça-vermelha ET
Puma yagouaroundi Gato-mourisco ET VI
Artiodactyla Cervidae Mazama americana Veado mateiro ET PG
Caviidae Cavia aperea Preá ET
Erethizontidae Coendou prehensilis Ouriço-cacheiro ET
Rodentia Cuniculidae Cuniculus paca Paca ET
Dasyproctidae Dasyprocta agouti Cutia ET
Hydrochaeridae Hydrochoerus hydrochaeris Capivara ET
Lagomorpha Leporidade Sylvilagus brasiliensis Tapeti ET VI
114
Cabassous unicinctus (tatu-de-rabo-mole) e Dasypus septemcinctus (tatu-galinha) foram
registrados a partir do método de entrevista na área de estudo. Embora estas espécies sejam
descritas como amplamente distribuídas e não-ameaçadas de extinção, a perda de hábitat é uma
preocupação para suas populações.
Quanto aos primatas, foram visualizados bandos de Callithrix sp. (mico-estrela) nos distritos de
Regência e Povoação, sendo detectados também a partir de vocalização nestes locais. A espécie
Callicebus personatus (sauá) foi registrada a partir de entrevistas com moradores locais e consulta
de dados secundários, sendo uma espécie considerada de ocorrência potencial para a área de
estudo.
Os sauás (gênero Callicebus), por sua vez, são primatas monogâmicos que vivem em grupos
familiares compostos por um casal adulto e seus filhotes, formados em geral por até cinco
indivíduos, onde o macho progenitor é o principal responsável pelo cuidado dos filhotes (Reis et
al., 2006). Alimentam-se principalmente de frutos, complementando a dieta com insetos e folhas
(Reis et al., 2006). Este conjunto de características ecológicas e comportamentais torna as espécies
de Callicebus sensíveis às alterações ambientais, pois sua estrutura social é fundamental para a
manutenção de seus indivíduos, tornando-as naturalmente vulneráveis quando este quadro social é
alterado.
Para a Ordem Carnivora, foram obtidos registros a partir de entrevistas com a comunidade para
Leopardus pardalis (jaguatirica), Nasua nasua (quati) e Cerdocyon thous (cachorro-do-mato). Dois
indivíduos de Cerdocyon thous (cachorro-do-mato) também foram registrados a partir de
visualização. O gerente da base do Projeto TAMAR, em Regência, havia recolhido dois indivíduos
atropelados em estrada próxima a Reserva Biológica de Comboios. Estes animais foram doados e
farão parte da coleção científica da Universidade Federal do Espírito Santo. Esta espécie de ampla
distribuição no Brasil é onívora, generalista e oportunista e sua dieta varia sazonalmente e
composta por frutos, pequenos vertebrados, insetos e crustáceos. Esta espécie desempenha uma
função fundamental para a manutenção da diversidade do ambiente devido ao seu consumo
frequente de frutos, podendo agir como dispersor de sementes (Reis, 2006).
O mesmo fato ocorreu com um exemplar de gato-mourisco (Puma yagouaroundi), o qual também
foi encontrado atropelado próximo à Reserva Biológica de Comboios e recolhido pela equipe do
Projeto TAMAR local. É de extrema importância ressaltar as vulnerabilidades destas espécies às
alterações ambientais, tanto locais quanto regionais, mesmo considerando os seus potenciais de
dispersão, pois necessitam de áreas com conectividades funcionais para a sua dispersão. A
destruição e a fragmentação dos habitats em escala local e regional são ameaças reais para estas
espécies.
Os quatis (Nasua nasua) formam grupos sociais de mais de 20 indivíduos, sendo também
considerados generalistas, ocorrendo em diversos tipos de vegetação (Eisenserg & Redford, 1999).
Sua dieta pode variar sazonalmente, alimentando-se principalmente de frutos em determinada
época do ano (Eisenserg & Redford, 1999), sendo também considerados dispersores de sementes
(Reis et al., 2006). Esta espécie foi registrada a partir das entrevistas.
115
pegadas desta espécie tanto em algumas trilhas percorridas para a amostragem de pequenos
mamíferos quanto nas parcelas de areia instaladas na área.
A jaritataca (Conepatus chinga) e o furão (Galictis cuja) habitam preferencialmente áreas com
vegetação aberta, com campos e borda de mata, podendo ser encontrados em ambientes florestais
(Reis et al., 2006). Os furões alimentam-se predominantemente de vertebrados, um hábito
alimentar de predação especializada, enquanto as jaritatacas se alimentam de invertebrados e
pequenos vertebrados, consumindo ocasionalmente frutos (Reis et al., 2006).
Foi detectada também a presença de cão (Canis familiaris), gato doméstico (Felis catus), gado
(Boa sp.) e equinos (Equus sp.). A utilização da área por animais domésticos contribui para a
redução da qualidade ambiental local. O tráfego de veículo foi considerado intenso durante todos
os dias de amostragem na área de estudo. O atropelamento de espécimes silvestres nas vias de
tráfego da região, conforme identificado durante as atividades realizadas em campo; causa a perda
de indivíduos, fragiliza as populações silvestres e prejudica o fluxo de espécimes entre as áreas
naturais remanescentes.
Das 22 espécies registradas na área, quatro encontram-se na Lista da Fauna Ameaçada de Extinção
no cenário nacional (Tabela 24). Entre os táxons registrados e inclusos na lista de espécies
ameaçadas, Callicebus personatus encontra-se na categoria Vulnerável (VU), juntamente com as
espécies Leopardus pardalis (jaguatirica) e Leopardus tigrinus (gato-do-mato-pequeno). Puma
concolor (onça-parda) é uma espécie inserida na categoria Em Perigo (EN).
Tabela24. Espécies de mamíferos silvestres ameaçados de extinção registrados na área proposta para a
criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, nos distritos de Regência e
Povoação [MAES (2006) = Aves e mamíferos ameaçados de extinção na região Serrana do Estado do
Espírito Santo (Mendes et al., 2006); LFBAE = Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
(Machado et al., 2005); IUCN (2006b) = Red List of Threatened Species; VU = Vulnerável; EN = Em
Perigo].
116
Os dados inventariados indicam uma riqueza significativa de espécies de mamíferos para a região
do Delta do Rio Doce. Como a grande maioria dos dados foi obtida através de entrevistas, não é
possível inferir sobre a representatividade ou abundância das diferentes espécies na área de estudo.
Entretanto, pode-se associar esta riqueza significativa ao contexto de ocupação local e regional
existente atualmente em parte desta região. É iminente a necessidade de realização de mais
inventários na região que amostrem a fauna de mamíferos, bem como a de outros grupos animais e
vegetais, tanto na estação seca quanto na chuvosa. Uma série de amostragens mais intensivas ao
longo de todo o ano também é necessária.
Das 22 espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas na área de estudo, duas
encontram-se na Lista da Fauna Ameaçada de Extinção em nível nacional. Entre os táxons
registrados e inclusos na lista de espécies ameaçadas, Callicebus personatus encontra-se na
categoria vulnerável (VU), juntamente com as espécies Leopardus pardalis (jaguatirica) e
Leopardus tigrinus (gato-do-mato-pequeno) (Mendes et al., 2006). Puma concolor (onça-parda),
por sua vez, é uma espécie que está incluída na categoria de ameaça Em Perigo (EN) (Mendes et
al., 2006).
A área é composta por diferentes tipos de vegetação importantes para a mastofauna local,
especialmente os ambientes de mata e restinga, sendo utilizada como área de permanência,
obtenção de abrigo, realização de forrageamento e/ou deslocamento de espécimes para acesso a
outras áreas mais preservadas na região. As diferentes tipologias vegetacionais apresentam valor
ecológico funcional e essencial para a manutenção da mastofauna local, abrigando altos valores de
riqueza, diversidade e espécies ameaçadas de extinção. É importante ressaltar que os ambientes de
mata e restinga nativas não-protegidas presentes na região são abundantes. Estas áreas que formam
um mosaico de ambientes, juntamente com a Reserva Biológica de Comboios, tornam-se
importantes como corredores de dispersão da mastofauna local.
117
3.6 Mastofauna voadora
3.6.1 Introdução
As restingas são ecossistemas característicos do bioma da Mata Atlântica localizadas nas baixadas
litorâneas onde a especulação imobiliária exerce forte pressão. O desmatamento neste ecossistema
ameaça elminar um conjunto de processos que regulam e colaboram para a manutenção de um
mosaico de formações integradas e pouco conhecido, além de todos os seus aspectos ecológicos.
De uma forma geral, a mastofauna de quirópteros da restinga ainda é relativamente pouco estudada
e as informações sobre a ecologia destes ecossistemas permanecem escassas (Oprea, 2007; Fogaça
& Reis, 2008).
Nesse contexto, o presente trabalho tem por finalidade aumentar o conhecimento sobre a
composição faunística de quirópteros nas restingas de Linhares, Espírito Santo, amostrando as
imediações da Reserva Biológica de Comboios e da vila de Povoação. A informação obtido é
espacialmente e temporalmente pontual, mas permite avaliar a potencialidade biológica da área e
consequentemente o seu potencial para uma conservação efetiva.
O estudo foi realizado em Regência e Povoação, no município de Linhares (Figura 112), Espírito
Santo. Linhares faz fronteira com os municípios de São Mateus, Jaguaré e Sooretama ao norte, Rio
Bananal, Marilândia, Colatina e João Neiva a oeste e Aracruz ao sul. O município está localizado a
uma latitude sul de 19º39’11’’ e uma longitude oeste de 40º07’22’’, em uma região conhecida
como "Baixo Rio Doce". Possui uma área de 3501,604 km2, sendo o maior município em extensão
territorial do Estado do Espírito Santo.
118
Figura 112. Mapa do Espírito Santo, Brasil, destacando a localização do município de Linhares.
Parte do trabalho foi realizada nas imediações da Reserva Biológica de Comboios, localizada ao
sul do Rio Doce. A Reserva Biológica de Comboios possui 837 hectares e está localizada a 7
quilômetros do povoado de Regência. Sua vegetação foi classificada como Formação Arbustiva
Aberta de áreas de Restinga, caracterizada por apresentar um grande número de espécies vegetais
de pequeno porte, geralmente herbáceas distribuídas em moitas, com a maior parte do solo sem
cobertura vegetal (Colodete & Pereira, 2007).
3.6.2.2 Amostragem
As coletas foram realizadas durante 12 noites, cinco no final da estação seca e sete no final da
estação chuvosa (Tabela 25).
119
Tabela 25. Localidades inventariadas nas adjacências das vilas de Povoação e Regência, apresentando
suas respectivas coordenadas geográficas e datas de coleta
Data /Estação
Regência Coordenadas geográficas
Seca Chuvosa
15/10/2008 6/4/2009 Fazenda Santa Lúcia 19º39'56,3”S 39º53’0,4"W
Para as amostragens foram utilizadas redes de neblina ou mist-nets de sete a quinze metros de
comprimento, armadas ao nível do solo. A cada dia foram abertos aproximadamente 102 metros de
rede, totalizando 1222 metros ao final do estudo. As redes ficaram estendidas durante seis horas
por noite totalizando um esforço de 72 horas. As redes foram vistoriadas em intervalos de 10 a 30
minutos, o que dependeu da atividade dos morcegos. Redes de neblina são amplamente utilizadas
em levantamento de fauna de morcegos, permitindo uma comparação com os dados adquiridos em
outras áreas amostradas utilizando o mesmo método.
Os espécimes de morcegos capturados foram identificados no local quanto à espécie que pertencem
e em caso de dúvida encaminhados ao Laboratório de Estudos de Quirópteros da Universidade
Federal do Espírito Santo (LABEQ-UFES) para a confirmação de sua espécie.
Cada exemplar capturado passou pelas seguintes etapas: (1) identificação ao nível taxonômico mais
preciso; (2) identificação do local de captura; (3) identificação do sexo; (4) medida do antebraço
em milímetros; (5) classificação etária com base no desenvolvimento dos caracteres sexuais
secundários, como gônadas e glândulas mamárias e (6) o grau de ossificação das sínfises dos ossos
do metacarpo, com jovens apresentando sínfises cartilaginosas e adultos apresentando sínfises
ossificadas e gônadas e glândulas desenvolvidas. As fêmeas foram classificadas quanto à condição
reprodutiva em: (1) fêmeas grávidas, (2) fêmeas lactantes ou pós-lactantes e (3) fêmeas não-
grávidas e/ou não-lactantes. Exemplares mortos, conservados em álcool, foram doados por
moradores da região e também considerados na listagem de espécies para a área. Também foram
considerados no inventário exemplares mortos, conservados em álcool, doados por moradores da
região.
120
material testemunho para as localidades de Regência e Povoação. Os exemplares coletados foram
eutanasiados por deslocamento cervical, método recomendado pela resolução n° 714 de 2002 do
Conselho Federal de Medicina Veterinária. Para conservação, estes exemplares foram tratados
conforme Peterson (1965) e armazenados em via úmida (álcool 70%) no Laboratório de Estudos de
Quirópteros da Universidade Federal do Espírito Santo (LABEQ-UFES). Os exemplares serão
posteriormente encaminhados para a coleção de quirópteros do Museu de Biologia Professor Mello
Leitão (MBML), situado na cidade de Santa Teresa, Espírito Santo, ao final do estudo.
Cada animal coletado foi identificado a partir de chaves de identificação própria (Vizotto &
Taddei, 1973) e/ou para os diferentes gêneros e Famílias. Os indivíduos coletados também
receberam uma etiqueta numerada que está relacionada ao local de captura e medidas padrões do
corpo, como o comprimento rosto-anal, comprimento da cauda, comprimento do pé, comprimento
da orelha, comprimento do tragus, comprimento do antebraço e peso.
3.6.2.4 Análises
A freqüência relativa (fr) de captura de cada espécie foi obtida apenas para os exemplares
capturados por rede de neblina, de acordo com a seguinte fórmula:
fr = n x 100/ N
A abundância das espécies foi definida de acordo com o valor de fr obtido para cada uma, com
espécies abundantes apresentando valor de fr superior a 10%, comuns apresentando fr entre 10% e
4% e pouco comuns para espécies com fr inferior a 4%.
O sucesso de captura foi calculado para cada localidade a partir da divisão do número total de
capturas de espécies pelo esforço total de captura:
Sendo este último a soma dos esforços de capturas diários (Etotal = Σ Ed i), calculado pela
metragem de rede estendida no dia vezes o número de horas:
Σ Edi = mi*h
A taxa de capturas foi calculada pela divisão entre o número de indivíduos capturados e o número
de horas de amostragem.
Uma curva do coletor foi gerada para uma melhor visualização do incremento do número de
espécies a cada duas horas de captura.
As espécies também foram avaliadas com base no hábito alimentar e estratégia de forrageamento
conforme referências bibliográficas.
3.6.3 Resultados
Ao final do estudo, foi obtido um total de 182 espécimes, considerando exemplares doados e
capturas por rede de neblina. Todos os indivíduos foram identificados até o nível taxonômico mais
específico, permitindo a elaboração de uma riqueza de 16 espécies (Tabela 26).
121
Tabela 26. Lista de espécies de morcegos inventariados em Regência e Povoação e suas respectivas
frequências relativas e números totais de espécimes (fr = frequência relativa; N = número de
indivíduos e A = abundância, com AB = abundante, CO = comum e PC = pouco comum)
Com relação aos indivíduos inventariados exclusivamente por rede de neblina, foram amostradas
14 espécies de morcegos em 179 capturas. O sucesso de captura foi de 0,024 capturas/m*h e a taxa
de capturas foi de 2,48 indivíduos por hora. Os Molossidae foram capturados a partir de busca ativa
e doados por moradores da região.
122
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Ph rti b fi m lat a
M ga s i lio
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A
hr
lo
yl
lo
C
C
Figura 113. Frequências reativas das espécies capturadas por rede de neblina em Regência e Povoação.
A linha de tendência obtida pelo incremento do número de espécies a cada duas horas não
apresenta sinais de estabilização (Figura 114).
16
14
12
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Figura 114. Gráfico do número cumulativo de espécies inventariadas por rede de neblina ou curva do
coletor, pelo número de horas trabalhadas.
As espécies capturadas a partir de rede de neblina e buscas ativas estão distribuídas em cinco
hábitos alimentares e oito estratégias de forrageamento (Tabela 27).
123
Tabela 27. Hábitos alimentares e estratégias de forrageamento das espécies capturadas em Regência e
Povoação (F = frugívoro, FB = frugívoro de sub-bosque, FD = frugívoro de dossel, C= carnívoro, CL=
capturam presas na folhagem ou solo, NA = nectarívoro de vôo adejado e ON = onívoro)
Hábito Estratégia de
Espécies
alimentar forrageamento
Carollia perspicillata (Linnaeus,1758) FS
Chiroderma villosum Peters, 1860 F
Artibeus lituratus (Olfers,1818) FD
Frugívoro Artibeus fimbriatus (Gray, 1838) FD
Artibeus obscurus( Schinz, 1821) F
Artibeus cinereus (Gervais, 1856) FD
Rhinophyla pumilio Peters,1865 F
Myotis nigricans (Schinz, 1821) I
Insetívoro
Molossus molossus (Pallas, 1766) IA
Lonchophylla mordax Thomas, 1903 NA
Nectarívoro
Glossophaga soricina (Pallas, 1766) CL
Trachops cirrosus (Spix, 1823) CL
Carnívoro
Chrotopterus auritus (Peters, 1856) C
Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) ON
Onívoro Phyllostomus elongatus (E. Geoffroy, 1810) ON
Phyllostomus discollor Wagner, 1843 ON
O hábito alimentar frugívoro foi predominante, ocorrendo em sete espécies de morcegos, cujas
frequências de captura somam 87,97%; seguido pelo hábito onívoro, correspondendo a 5,49%,
enquanto os demais hábitos alimentares apresentaram duas espécies cada (Figura 115).
87,97%
Figura 115. Hábitos alimentares das espécies de morcego inventariadas em Regência e Povoação,
expressos em porcentagem com base na frequência relativa das espécies capturadas (Azul = Frugívoro;
Vermelho = Onívoro; Verde = Insetívoro; Roxo = Nectarívoro e Amarelo = Carnívoro).
124
3.6.4 Discussão
N° de N° de N° de
Estadoa Localidade Referência
noites capturas espécies
MG Parque Estadual do Rio Doce 12 195 19 Tavares (1999)
RJ Vargem Grande 17 140 13 Baptista & Ribeiro-Mello (2001)
SP Parque Estadual Morro do Diabo 12 345 15 Reis et al. (1996)
ES Estação Biológica Santa Lúcia 15 148 15 Tahara et al. (2005)
ES Reserva Biológica de Duas Bocas 16 627 19 Scabello (2006)
ES Regência e Povoação 12 194 16 Trabalho atual
a
MG = Minas Gerais; RJ = Rio de Janeiro; SP = São Paulo; ES = Espírito Santo.
Os dez dias de estudo nas localidades com vegetação de restinga resultaram em uma riqueza de 11
espécies, com a adição dos dois dias de amostragem nas localidades de mata de cabruca ampliando
o número em mais cinco espécies. Trabalhos realizados em áreas de cabruca demonstram que
mesmo com a forte transformação do ambiente, estas regiões se mantêm bastante estratificadas, o
que garante a ocorrência de muitas espécies de aves e mamíferos (Alves, 1990). Segundo Bernard
& Fenton (2002), os estudos que incluem variedades de habitats são mais eficientes em amostrar a
fauna de morcegos, o que corrobora os resultados obtidos para Regência e Povoação, visto que
Oprea (2007), após realizar 45 noites de esforço de amostragem na Restinga de Setiba, presente no
125
sul do Espírito Santo, encontrou apenas 19 espécies de morcegos em comparação as 16 espécies do
presente estudo.
A não estabilização da linha de tendência, feita a partir da curva do coletor, demonstra que novas
espécies de morcegos podem ser inventariadas se o esforço amostral for aumentado. Entretanto, em
um contexto de uma Avaliação Ecológica Rápida, considera-se o resultado do presente trabalho
como satisfatório, já que seu objetivo foi uma amostragem genérica sobre a comunidade de
morcegos presente em Regência e Povoação, buscando fornecer dados preliminares sobre estas
localidades e confirmar sua importância para a manutenção dos ciclos biológicos naturais presentes
nos diversos ambientes do Delta do Rio Doce.
3.6.5 Conclusões
Regência e Povoação apresentam uma riqueza de espécies expressiva se comparada a outras áreas
de Mata Atlântica em que foram utilizados os mesmos métodos de amostragem (Tabela 29).
N° de N° de N° de
Estadoa Localidade Referências
noites capturas espécies
MG Parque Estadual do Rio Doce 12 195 19 Tavares (1999)
MG Caratinga 33 372 20 Aguiar (1994)
RJ Ilha Grande-Provetá 9 141 18 Bergallo et al. (2000)
RJ Parque Henrique Lage 4 220 16 Bergallo et al. (2000)
RJ Praia do Sono 4 179 17 Bergallo et al. (2000)
RJ Quinta Boa Vista 89 2361 19 Bergallo et al. (2000)
RJ Reserva Biológica de Poço das Antas 45 2200 18 Mello (2002)
RJ Vargem Grande 17 140 13 Baptista & Ribeiro-Mello (2001)
SP Parque Estadual Morro do Diabo 12 345 15 Reis et al. (1996)
SP Jardim Botânico 33 117 6 Pedro et al. (1995)
SP Serra do Japi 31 354 10 Marinho-Filho (1985)
ES Parque Estadual da Fonte Grande 31 879 17 Tahara et al. (2004)
ES Estação Biológica Santa Lúcia 15 148 15 Tahara et al. (2005)
ES Reserva da Companhia Vale do Rio Doce 8 55 8 Pedro & Passos (1995)
ES Reserva Biológica de Duas Bocas 16 627 19 Scabello (2006)
ES Parque Estadual Paulo Cesar Vinha 45 538 17 Oprea (2007)
ES Regência e Povoação 12 194 16 Trabalho atual
a
MG = Minas Gerais; RJ = Rio de Janeiro; SP = São Paulo; ES = Espírito Santo.
126
4. MEIO ANTRÓPICO
4.1 Socioeconomia
4.1.1 Introdução
O Brasil é um dos maiores centros de biodiversidade do planeta e conserva uma parte significativa
das reservas naturais, tornando-o um país fundamental na resistência a degradação e exploração
excessiva dos recursos naturais.
A Mata Atlântica merece a máxima atenção pelo grau de importância que exerce na conservação da
sociobiodiversidade. Este bioma cobria aproximadamente 90% da superfície terrestre do Estado do
Espírito Santo. Entretanto, o processo de destruição florestal alterou esta extensão para apenas
cerca de 10% de cobertura natural.
O município de Linhares está localizado ao norte do Estado do Espírito Santo, às margens do Delta
do Rio Doce. Possui uma área de 3460,30 quilômetros quadrados, sendo o maior município em
área territorial estadual. Linhares é cortado pela BR-101 ao longo de toda a sua extensão, uma
rodovia que interliga o sul ao nordeste do Brasil e por onde são escoados os principais produtos da
região.
Nos últimos anos a economia de Linhares ganhou um novo dinamismo, abrindo perspectivas
crescentes de desenvolvimento a partir da ampliação de indústrias e agroindústrias já existentes,
instalação de novos empreendimentos e da descoberta e exploração de grandes jazidas petrolíferas
e de gás natural.
127
4.1.2 Objetivos
A pesquisa foi constituída por dois métodos básicos: (1) obtenção de informações a partir de dados
secundários, incluindo pesquisas em livros, jornais, revistas, relatórios de atividades das Secretarias
Municipais de Saúde, Educação e Meio Ambiente, relatórios de programas e projetos
desenvolvidos por entidades e organizações sociais como o Instituto Capixaba de Pesquisa,
Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Programa de Assistência Técnica e Extensão
Rural, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE); e (2) e
obtenção de dados primários a partir de entrevistas com secretários e/ou servidores das Secretarias
Municipais de Saúde, Educação e Meio Ambiente, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Instituto
Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e informantes-chave
residentes no município que compõe a área de pesquisa. Também foram incluídas informações
adquiridas a partir de participações em reuniões com lideranças da área de abrangência do estudo e
conversas informais com moradores das comunidades. O período de desenvolvimento das
atividades de pesquisa ocorreu entre novembro de 2008 e fevereiro de 2009.
4.1.4 Desenvolvimento
A. Histórico
Em 1800, devido ao tráfico de ouro através do Rio Doce e pela implantação do Quartel Militar para
a Proteção da Navegação, surgiu o Povoado de Coutins. Neste cenário, os índios do grupo
Botocudos, nação Gês ou Tapuias, foram os primeiros donos da terra e resistiram à colonização
branca na área, uma realidade alterada com a implantação de um reforço militar que colaborou com
a dizimação dos índios.
Naquela época toda a área era coberta pela Mata Atlântica, sendo aos poucos devastada pela
instalação de povoamentos e atividades de pastoreio e agricultura.
O primeiro povoado foi inteiramente destruído por ataques sucessivos de índios botocudos. Em
1809, outro povoado foi levantado no mesmo lugar, recebendo o nome de Linhares, em
homenagem a D. Rodrigo de Souza Coutinho, o Conde de Linhares. O povoado ficava situado em
128
um platô em forma de meia-lua, às margens do Rio Doce. No leste e no oeste do povoado, ficavam
situados dois quartéis militares para avisar a população sobre os prováveis ataques dos indígenas.
Um deles estava situado onde hoje é o Bairro Aviso, enquanto o outro se localizava nas
proximidades de onde fica hoje o Colégio Estadual.
Em 1819, por ordem de Francisco Alberto Rubim, foi feita uma "vista e perspectiva do povoado de
Linhares", havendo a construção da Primeira Igreja sob o patrocínio de Rubim. O povoado foi
construído em volta de uma praça quadrada, a atual Praça 22 de Agosto, que guarda até hoje seu
traçado original, um local em que os índios dançavam e cantavam no passado.
Em abril de 1833, o povoado foi elevado à condição de Vila devido à execução de uma Provisão de
Paço Imperial, sendo a sede do município recebendo também o nome de Linhares, sob a proteção
de Nossa Senhora da Conceição. A Provisão de Paço corresponde, hoje, a um decreto do Presidente
da República. Em 22 de Agosto do mesmo ano, realizou-se a primeira sessão solene da Câmara de
Vereadores do Município de Linhares, dando início a sua vida político-administrativa. Nesta época,
o Brasil era Império, enquanto o Espírito Santo apenas uma Província. Já a Vila consistia na sede
dos municípios, sendo administrados pela Câmara de Vereadores, uma vez que não havia prefeito.
No final do século XIX, a Vila de Linhares entra em decadência e o povoado de Colatina, que
pertencia ao município de Linhares, conhece rapidamente o crescimento graças à colonização
italiana e a realização do plantio de café, bem como a inauguração dos trilhos da Estrada de Ferro
Vitória-Minas. Assim, por decreto de 30 de dezembro de 1921, ficou criado o município de
Colatina, englobando a Vila e o antigo município de Linhares. Este fato contribuiu mais ainda com
a decadência de Linhares, um processo verificado ao longo dos 22 anos seguintes.
Em 1930 iniciou-se a abertura de uma estrada que ligaria Vitória ao sul e depois ao norte, até São
Mateus. Este fato, somado ao trabalho de linharenses junto ao Governo do Estado, fez com que
uma nova perspectiva surgisse para o município. No dia 31 de dezembro de 1943, por decisão do
Governo do Estado, o município de Linhares foi restabelecido e desligado do município de
Colatina. O fato foi muito festejado pela população, que passaria a contar com seu primeiro
prefeito nomeado, Dr. Roberto Calmon. A partir de 1943, o município apresentou um
desenvolvimento contínuo e promissor no município de Linhares.
B. População
Em 2000, o município de Linhares contava com 112617 habitantes. O censo realizado pelo
129
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2007 registrou o aumento da população
para 124581 habitantes. Em 2000, a população urbana era de 92917, sendo que 19700 ocupavam a
área rural. A densidade demográfica passou de 32 habitantes em 2000, para 36 em 2007. A taxa de
urbanização é de 82,5%. A população está concentrada na faixa etária entre 30 e 49 anos.
C. Educação e cultura
O município de Linhares tem como base para o plano de ação a missão de “assegurar a formação
integral das crianças, jovens e adultos para o exercício pleno da cidadania, dando condições de
permanência e acesso equitativo à educação” a partir de sua Secretaria de Educação e Cultura.
A rede municipal de ensino mantém sua estrutura com as seguintes unidades: nove escolas de
ensino fundamental de 1º a 4º ano (4ª série); 13 escolas de ensino fundamental de 1º a 9º ano (8ª
série); 18 escolas de ensino fundamental na zona rural; 24 escolas de educação infantil na zona
urbana e 13 escolas de educação infantil na zona rural.
O número de alunos matriculados na rede municipal de ensino de Linhares consiste em: 7316
alunos de educação infantil; 13545 alunos de ensino fundamental; 250 alunos no Programa
Universidade para Todos (PUPT) e 65 alunos da Universidade Aberta do Brasil, totalizando 21176
alunos.
D. Saúde
As unidades assistenciais incluem: (1) Unidade de Saúde do Bairro Aviso, (2) Unidade de Saúde do
Bairro Novo Horizonte, (3) Unidade de Saúde de Baixo Quartel, (4) Unidade de Saúde de
Bebedouro, (5) Unidade de Saúde do Bairro Canivete, (6) Unidade de Saúde do Bairro Conceição,
130
(7) Unidade de Saúde do Bairro Conjunto Juparanã, (8) Unidade de Saúde de Desengano, (9)
Unidade de Saúde do Farias, (10) Unidade de Saúde do Guaxe, (11) Unidade de Saúde de Humaitá,
(12) Unidade de Saúde do Bairro Interlagos I, (13) Unidade de Saúde do Bairro Interlagos II, (14)
Unidade de Saúde de Japira, (15) Unidade de Saúde Jardim Laguna, (16) Unidade de Saúde do
Bairro Linhares V, (17) Unidade de Saúde do Bairro Nova Esperança, (18) Unidade de Saúde de
Perobas, (19) Unidade de Saúde do Pontal do Ipiranga, (20) Unidade de Saúde de Povoação, (21)
Unidade de Saúde de Regência, (22) Unidade de Saúde de Rio das Palmas, (23) Unidade de Saúde
do Bairro Santa Cruz, (24) Unidade de Saúde do Bairro São José, (25) Unidade de Saúde do Bairro
Shell, (26) Unidade de Saúde de Rio Quartel e (27) Unidade de Saúde de São Rafael.
Programa de Planejamento Familiar: tem por objetivo orientar e educar a população que deseja
fazer o uso de métodos contraceptivos para o controle da natalidade, bem como orienta aqueles
que desejam ter filhos. Mensalmente são oferecidas oficinas no Núcleo de Atenção e Promoção
da Saúde (NAPS) pela Equipe da Saúde da Família (ESF) e pelo Programa de Agentes
131
Comunitários de Saúde (PACS). São distribuídos gratuitamente preservativos, contraceptivos
hormonais, mini-pílula, injetável trimestral, diafragma e dispositivo intra-uterino;
Programa Viva Mulher: tem por objetivo reduzir os riscos de mortalidade feminina oferecendo
ações de promoção e prevenção contra doenças junto às equipes de Equipe da Saúde da Família
(ESF), Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Unidades Básicas de Saúde do
Município (UBS) e demais programas Núcleo de Atenção e Promoção da Saúde (NAPS). O
Viva Mulher conta com profissionais especializados no tratamento de cânceres e reabilitação de
mulheres. O diagnóstico precoce do câncer de mama e colo uterino é primordial nas ações do
programa, onde a Secretaria Municipal de Saúde terceiriza exames de imagem como
mamografia, ultra-som de mama, pélvica, abdominal e exames laboratoriais.
Serviço de Atendimento Especializado (SAE): tem por objetivo atender toda a demanda de
pacientes com sorologia positiva para HIV/AIDS e hepatites B e C. Apresenta ambulatório de
média complexidade pela gravidade das patologias e dispõe de uma equipe multiprofissional
para o acolhimento;
Programa de Combate ao Tabagismo: tem por objetivo estimular o indivíduo a deixar o vício do
fumo a partir de atividades de grupo, psicoterapia individual e abordagem cognitiva
comportamental preconizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA). O cigarro é
considerado o maior agravante externo para o desenvolvimento de diversos cânceres. O
programa desenvolve ações de prevenção e controle do uso do tabaco por crianças; adolescentes
e adultos, intensificando atividades nas escolas, empresas e comunidades a partir uma equipe
multidisciplinar;
132
Programa de Imunização: tem por objetivo programar e articular as campanhas do Calendário
Nacional de Vacinação no município, além do controle e logística do estoque de vacinas;
Programa Bota de Una: tem com objetivo o atendimento a pacientes com úlcera venosa. É
referência para todo o Estado. As ações e atendimentos acontecem em grupo a partir do
fornecimento de treinamento para o cuidador do paciente, com orientação específica para um
bom resultado ao longo do tratamento;
Centro de Fisioterapia de Linhares (CEFIL): tem como finalidade servir de referência às demais
Unidades de Saúde para realização dos procedimentos de reabilitação dos pacientes;
Hospital Geral de Linhares (HGL): realiza serviços de média complexidade. Dentro do Espaço
Físico do HGL, funciona o Laboratório Municipal onde são realizados os exames HIV, VDRL e
os marcadores de Hepatite B e C colhido no CTA - Centro de Testagem e Aconselhamento.
E. Habitação e saneamento
Quanto à forma de utilização dos domicílios, 72% dos proprietários ocupam os imóveis na área
urbana, enquanto 14% habitam os imóveis na condição de inquilinos. Na área rural, 67% dos
domicílios constituem-se de imóvel próprio e totalmente quitado, com apenas 12% sendo alugados.
A média de moradores por domicílio nas residências urbanas é de 3,8 habitantes, enquanto a área
rural abriga 4 habitantes por domicílio.
No setor de saneamento, o município necessita de investimentos cada vez mais elevados fornecidos
pelo poder público para acompanhar e atender a estrutura e a necessidade da população nos
aspectos básicos.
A rede geral de saneamento atende 49% da população. Muitos ainda utilizam a fossa rudimentar,
um padrão que atinge 35,3% da população; enquanto 7% dos moradores mantêm a fossa séptica,
com 5% do esgoto lançados em rios, lago ou no mar. Quanto ao destino do lixo, ocorre a coleta de
79% do que é produzido, queima ou enterro de 15,5% e um acúmulo de 4,5% em terrenos ou
propriedades.
133
F. Atividade econômica e agropecuária
Linhares, juntamente com os demais municípios do norte do Espírito Santo e do norte do Estado de
Minas Gerais, faz parte de uma região considerada como transição entre o Sudeste e o Nordeste do
Brasil. A partir de 1998, todos os municípios desta zona territorial, apesar de pertencerem à Região
Sudeste, passaram a fazer parte da área de abrangência da Agência para o desenvolvimento do
Nordeste (ADENE). Esta incorporação abriu perspectivas novas de desenvolvimento, uma vez que
Linhares localiza-se próxima aos grandes centros consumidores nacionais do Rio de Janeiro e São
Paulo, além de se encontrar no eixo principal da BR-101 e possuir um Aeroporto distando pouco
mais de 120 quilômetros do Aeroporto de Vitória e dos principais portos do Espírito Santo, o que
facilita o acesso aos mercados internacionais.
As principais atividades econômicas de Linhares nos setores produtivos são compostas por: (1)
Setor Primário ou Setor Agropecuário com café, cacau, mamão, banana, maracujá, coco, cana-de-
açúcar, seringa e eucalipto; (2) Setor Secundário ou Setor Industrial e Agroindustrial com indústria
de móveis, agroindústria de sucos prontos e polpa, indústrias metalmecânicas, agroindústria de
álcool, indústria de exploração de petróleo e gás, agroindústria de frangos, indústria de confecções
e indústria de beneficiamento de rochas ornamentais e (3) Setor Terciário ou de Comércio e
Serviços com comércio varejista, comércio de máquinas, equipamentos e insumos agrícolas,
serviços nas áreas de educação, saúde e manutenção de veículos.
O município destaca-se ainda por ser o maior produtor e exportador brasileiro de mamão para a
Europa e Estados Unidos, sendo a Gaia e a Caliman as maiores empresas. Além disto, destaca-se
por apresentar uma das redes industriais moveleiras mais relevantes do Brasil; pela produção de
álcool, pela produção de cacau, pela produção de confecções e pela produção de petróleo e gás
natural.
134
Nos últimos anos, Linhares conseguiu atrair para o seu território os mais importantes
empreendimentos industriais instalados no Espírito Santo: Brametal, Perfilados Rio Doce, Indústria
de Sucos Mais/Coca-Cola, Ducôco, Trop Frutas do Brasil, De Carli Mármore e Granito e Imetame
Granitos.
Linhares participou com 6,5% dos dez mil novos postos de trabalho no Espírito Santo a partir de
suas 10335 empresas e nove instituições financeiras e se destaca como o município espírito-
santense que mais gera empregos com carteira assinada, superando inclusive Vitória, que
participou com apenas 1% do total.
Na distribuição percentual das propriedades rurais de Linhares quanto ao tamanho, verifica-se que
dos 2111 estabelecimentos rurais pertencentes a agricultores familiares, apenas 144 deles estão
acima de 100 hectares, uma faixa que apresenta mais de 50% dos estabelecimentos rurais do tipo
patronal. A maioria dos estabelecimentos familiares ou 60% das propriedades concentra-se na faixa
com 5 e 50 hectares de extensão (Tabela 30).
135
G. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal
A. Regência
A Vila de Regência Augusta situa-se na margem sul da foz do Rio Doce, em Linhares, distando 56
quilômetros da sede do município e 125 quilômetros de Vitória pela rodovia ES-010. Seu limite
territorial coincide com o término da área da Reserva Biológica de Comboios, com a qual tem
grande relação.
Ocupando uma área de cerca de 40 hectares, possui 1157 habitantes, pertencentes a 471 famílias,
com 65,2% da população presente na faixa economicamente ativa e possuindo renda mensal média
de um salário mínimo.
Dos 471 imóveis da Vila, 389 são residenciais e 83% das famílias possuem residência própria. São
residentes permanentes 71,5%, enquanto 52% da população residem na Vila há menos de 12 anos.
Por outro lado, 28,5% dos imóveis pertencem a residentes sazonais, provenientes principalmente de
Linhares. As principais atividades econômicas estão envolvidas com a pesca, o Projeto TAMAR,
vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Petrobras,
empreiteiras, comércio e atividades voltadas para o desenvolvimento municipal e ligadas à
prefeitura.
Na Vila de Regência, 30,7% dos moradores são crianças e adolescentes com idade entre 1 a 13
anos, caracterizando famílias numerosas. Quanto à escolaridade, verifica-se um baixo nível escolar,
já que 16,7 % da população possuem o ensino fundamental incompleto e apenas 2,5% possui o
ensino médio completo. Vale acrescentar que este quadro pode ser revertido futuramente,
considerando que a população é constituída por jovens e conta com uma frequência elevada de
estudantes. A maior reivindicação da comunidade é por uma escola de ensino médio. O
desemprego atinge 5,47% dos moradores da Vila de Regência.
A água utilizada pelos moradores é canalizada em quase todos os imóveis. Os domicílios que não
são contemplados pela rede canalizada de distribuição de água possuem poço próprio e instalação
de bomba para o abastecimento.
Com relação ao destino do lixo, a coleta é feita pela Prefeitura Municipal de Linhares. Muitos
moradores adotam a coleta seletiva, outros estão habituados a queimar, enterrar ou jogar o lixo nos
terrenos. Na comunidade, pode ser observada uma consciência sobre a importância correta do
136
destino do lixo, com os moradores sendo incentivados pelas associações a praticarem uma coleta
seletiva.
Os principais problemas que afetam a comunidade de Vila de Regência estão relacionados à falta
de escola para atender alunos com necessidade de cursarem o ensino médio, a precariedade do
posto de saúde e a falta de posto bancário. Deste modo, as prioridades a serem desenvolvidas em
parcerias com o Poder Público Municipal e Estadual para a melhoria da qualidade de vida na
comunidade de Regência são a educação, a saúde e a oferta de serviços especializados. A
instalação de um posto policial também é solicitada pela comunidade.
A população economicamente ativa na vila de Regência é composta por 65% dos cidadãos e
apresenta uma faixa etária entre 14 e 65 anos. As profissões e ocupações mais frequentes estão
relacionadas à educação, saúde, serviços sociais, coletivos, pessoais e domésticos. Em virtude da
organização social já mencionada com base nas associações, há um grande interesse nas áreas que
promovem a geração de emprego e renda, como mecânica, educação, abertura de micro-empresas,
indústrias e turismo.
B. Povoação
A Vila de Povoação situa-se às margens norte do Rio Doce, em Linhares, distante 36 quilômetros
da sede do município e 160 quilômetros de Vitória, pela BR-101. A área ocupada pela Vila é de 29
hectares e a população é de cerca de 1000 habitantes, dos quais 57% não possuem fonte de renda
fixa e apresentam renda mensal média de R$ 99,00. Dos 370 imóveis locais, 92,1% são ocupados
por residentes permanentes. A residência própria é uma realidade para 83% das famílias. As
principais atividades econômicas são as ligadas à pesca, à agricultura e à educação.
C. Comboios
A explicação mais usual para a origem do nome faz referência a organização de brancos
colonizadores em comboios e caravanas, visando o desbravamento e exploração da região quando
ela ainda era habitada pelos índios botocudos.
A Reserva Biológica de Comboios foi criada pelo Governo Federal em 25 de setembro de 1984,
com os atuais 833 hectares. Situada no Delta do Rio Doce, Comboios é a única Reserva Biológica
costeira da Região Sudeste, sendo considerada de extrema importância biológica. Uma das
principais razões para a implantação da Reserva Biológica de Comboios foi o fato de a região
constituir-se na única área de concentração de desova da tartaruga-gigante no Brasil, cuja
população vem sendo protegida desde 1982 pelo Projeto TAMAR.
137
Importantes ecossistemas estão preservados ao longo de sua extensão, porém sua dimensão
reduzida indica a necessidade de ampliação das ações de conservação para o entorno com o
objetivo de recuperar áreas e reorientar a utilização dos recursos naturais.
A Reserva limita-se ao sul pela Reserva Indígena de Comboios, ao norte pela Vila de Regência, a
leste pelo Oceano Atlântico e a oeste pelas diversas propriedades rurais utilizadas principalmente
para a pecuária.
O entorno é habitado pela comunidade indígena Tupiniquim, contando com 384 integrantes. A área
ocupa 2983,65 hectares de solos arenosos, cobertos de vegetação de restingas, roças de mandiocas
e pastagens. A totalidade da população, cerca de 73 famílias, vive em um pequeno aldeamento
central próximo ao Rio Comboios, apresentando também áreas próximas à praia e à Reserva
Biológica sem povoamento.
A comunidade possui posto de saúde, escola municipal, uma igreja católica e um posto da
Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A subsistência é obtida por meio da pesca no Rio
Comboios, no mar, a partir de plantios de mandiocas, pequena criação de gado, artesanato
incipiente e mais recentemente do cultivo de feijão em uma área de 96 hectares.
Cerca de 83% da área no entorno da Reserva Biológica de Comboios é ocupada por propriedades
extensas, cujos proprietários não residem no local. A pastagem com pecuária extensiva ocupa 46%
da área e a agricultura de subsistência é utilizada em menor escala nas pequenas propriedades e na
Reserva Indígena de Comboios.
A Reserva Biológica de Comboios e seu entorno recebem influência do Rio Doce e do Rio
Comboios. O Rio Doce, com uma extensão de 875 km, é o principal corpo d’água da região e do
Estado, sendo responsável pela formação e pelo regime de águas de toda a Planície Costeira do Rio
Doce.
Diversas ilhas são formadas pela deposição de sedimentos erodidos nas cabeceiras e são ocupadas
gradativamente por atividades agrícolas. Nas ilhas mais antigas, onde está presente a Floresta de
Aluvião, é cultivado o cacau, enquanto as ilhas mais recentes estão submetidas ao cultivo de
banana, a cultura mais comum. Os desmatamentos ao longo deste rio estão acelerando o processo
de formação de ilhas e diminuindo a profundidade de seu leito.
Com cerca de 30 quilômetros, o Rio Comboios é formado pela drenagem das várzeas litorâneas
localizadas ao sul do Rio Doce. O Rio Comboios anteriormente se ligava ao Rio Doce e corria no
sentido norte-sul estadual, paralelo à costa, desaguando no Rio Riacho, próximo à sua foz, mas
atualmente recebe águas do Rio Doce através de um canal artificial.
As lagoas da região, juntamente com os rios e pântanos, formam um rico e complexo sistema de
corpos d’água, um cenário que foi alterado intensamente pelos desmatamentos e dragagens
realizadas ao longo das últimas décadas. Além da retirada das matas ciliares, a poluição e a
introdução de diversas espécies exóticas de forma acidental ou intencional causaram grandes
impactos sobre os componentes dos rios e lagoas da região.
138
Os problemas regionais principais apresentam-se sob duas dimensões: (1) macro-problemas
ambientais e sociais e (2) problemas por eixo de desenvolvimento.
Os macro-problemas ambientais e sociais incluem: (1) ocupação desordenada dos espaços, (2)
estagnação econômica, (3) pressões antrópicas sobre o ambiente, (4) ausência de escolas
profissionalizantes, (5) tendência de redução dos recursos naturais, (6) degradação ambiental, (7)
baixo aproveitamento do uso do solo e (8) ausência de oportunidades de trabalho e renda.
Os problemas por eixo de desenvolvimento subdividem-se nas seguintes áreas: (1) problemas no
ecoturismo; (2) pesca; (3) agricultura e (4) serviços.
Os problemas enfrentados pelo ecoturismo consistem em: (1) estradas ruins sem a devida
sinalização, (2) recursos humanos turísticos de baixa qualificação profissional, (3) inexistência de
equipamentos para recreação e roteiros ecoturísticos, (4) ausência de estruturação da oferta
turística, (5) ausência de acesso via travessia do Rio Doce e (6) deficiências em hospedagem e
alimentação.
Os problemas enfrentados pela pesca incluem: (1) assoreamento do Rio Doce e fechamento sazonal
da barra, (2) limitações de porte e de condições adequadas das embarcações para pesca em alto-
mar, (3) falta de qualificação de mão-de-obra e capacitação, (4) declínio do estoques pesqueiros
tradicionais, (5) produção insuficiente, (6) dificuldades de acesso ao mercado e (7) pesca
predatória.
As dificuldades apresentadas pela agricultura são: (1) ausência de condições de acesso a terra, (2)
migração da mão-de-obra para outros setores e (3) ausência de incentivo à agricultura familiar.
4.1.5.3 Potencialidades
A comunidade, por sua vez, possui conhecimento desta vocação local e vem demonstrando
interesse quanto ao investimente nesta atividade, consciente de que o desenvolvimento sem
planejamento pode comprometer a qualidade de suas vidas e destruir o principal produto turístico; a
paisagem natural.
Nesta perspectiva, foi criado o Plano Indutor de Desenvolvimento do Ecoturismo, com a finalidade
de contribuir para a ampliação de renda da população, geração de postos de trabalho e o incremento
na arrecadação de impostos, incentivando a conservação ambiental e cultural e buscando
implementar melhorias sociais para as comunidades da região.
O programa contempla as seguintes ações: (1) criação da Comissão de Ecoturismo, (2) elaboração
do Calendário de Eventos, (3) implementação da Central de Reservas e Informações, (4)
139
organização de roteiros turísticos, (5) formação e capacitação de monitores e guias, (6) melhoria da
sinalização de estradas e pontos turísticos e (7) melhorias de infra-estrutura de alojamentos e
pousadas. Os resultados desta forma coletiva de atuação são essenciais para a valorização da auto-
estima e o reconhecimento do potencial das pessoas formadoras das comunidades.
O meio ambiente local ainda encontra-se relativamente preservado e a comunidade está disposta a
buscar soluções de interesse comum, o que propicia uma vantagem para a construção de um plano
de soluções dos problemas comuns, onde todos possam participar dos resultados e da divisão dos
benefícios.
O Estado do Espírito Santo, outrora totalmente coberto pela Mata Atlântica, apresenta atualmente
somente cerca de 10% da sua cobertura original. São necessários esforços urgentes e um potencial
coletivo para diminuir a agressão do homem sobre os recursos naturais visando estabelecer o seu
equilíbrio e manutenção.
Também é necessária a melhoria das condições de vida das populações que dependem direta e
indiretamente dos recursos naturais deste bioma. Neste contexto, as Unidades de Conservação de
uso indireto ou de uso sustentável se tornam ferramentas muito úteis ao longo do processo de
manutenção da sociobiodiversidade.
Desta forma, justifica-se a criação de uma área de conservação para garantir um desenvolvimento
mais justo, que vise a sustentabilidade ambiental e econômica, com ganhos sociais para todos.
Conclui-se ainda, que a iniciativa pela preservação caracteriza uma importante estratégia para o
desenvolvimento do município e para a superação de problemas sociais e econômicos da
população.
4.2.1 Introdução
Eesta pesquisa diagnóstica permitiu dar uma maior visibilidade às iniciativas de Educação
Ambiental desenvolvidas por atores sociais regionais e teve por objetivo analisar os contextos de
140
atuação dos praticantes, os principais temas trabalhados e as estratégias utilizadas nas práticas
educativas implantadas.
A pesquisa teve um caráter qualitativo e utilizou o método de busca ativa a partir de idas aos locais
previamente identificados e que fornecessem uma maior probabilidade de encontro com os
possíveis entrevistados, sendo complementada pela abordagem domiciliar de outros entrevistados.
O número de entrevistados na área de estudo do Delta do Rio Doce foi de oito. O critério de
escolha consistiu na atuação desempenhada por estes indivíduos em projetos e atividades de
Educação Ambiental locais. Neste sentido, optou-se pelo enfoque em pessoas-chave que atuem em
práticas socioambientais cotidianas instituídas ou em processo de instituição na região.
Além disto, vale ressaltar que houve uma conversa inicial com o coordenador do Projeto
Ecocidadania, Carlos Sangalia, permintindo um levantamento prévio sobre a realidade local. Esta
entrevista auxiliou no processo posterior de aplicação dos questionários para obtenção de dados
sobre iniciativas socioambientais da região.
Ao longo das visitas também foram realizados alguns diálogos informais com integrantes do
Projeto Ecocidadania e da Fundação Pró-Tamar, o que possibilitou à identificação de pessoas
envolvidas com a área proposta para a criação da Unidade de Conservação.
Uma nova série de visitas foi realizada em janeiro de 2009 nas localidades de Pontal do Ipiranga,
Regência e Povoação, havendo a participação da equipe de mobilização, comunicação e Educação
Ambiental do porjeto na reunião do Conselho Gestor do Ecocidadania, que foi realizada em Pontal
do Ipiranga, um evento em que foram aplicados os questionários.
141
4.2.3 Resultados
Dos dez questionários aplicados, apenas oito foram respondidos pelos informantes-chave
envolvidos com o Delta do Rio Doce. Os dados coletados forneceram informações sobre
localidades de Pontal do Ipiranga, Povoação e Regência. Os entrevistados também foram
categorizados quanto ao sexo, sendo 50% do sexo feminino e 50% do masculino. Em relação à
faixa etária, o grupo de entrevistados foi composto por 38% de indivíduos apresentando entre 41 e
50 anos; seguido por 37% com 20 a 30 anos e os 25% restantes com 31 a 40 anos (Figura 116).
Figura 116. Distribuição etária dos entrevistados envolvidos com atividades de Educação Ambiental.
Os entrevistados atuam às vezes em duas instituições distintas, com quatro pessoas trabalhando
tanto no Projeto Ecocidadania quanto na Agência de Sustentabilidade Comunitária da Planície
Costeira do Rio Doce (ASCORDE). Três pessoas integram a Fundação Pró-Tamar. A Escola
Estadual de Ensino Fundamental Vila Regência também foi indicada como instituição de atuação.
No que diz respeito ao cargo e papel social, os entrevistados atuam na coordenação local e geral do
Projeto Ecocidadania desempenhando as funções de biólogo executor, professora e supervisor
administrativo.
Quanto ao tempo de atuação dedicado a Educação Ambiental, 50% dos entrevistados possuem
período de trabalho superior a dez anos neste ramo de atividade, enquanto 37% atuam de dois a
cinco anos na área (Figura 117).
Quanto à escolaridade, 63% dos entrevistados possuem o ensino superior completo. As áreas de
formação incluem Pedagogia, Artes Visuais, Ciências Biológicas e Contabilidade. Do universo de
142
entrevistados, quatro possuem pós-graduação, havendo destaque para as áreas de Biologia Animal,
História, Gestão Empresarial, Saúde Pública e Biologia da Conservação (Figura 118).
A remuneração dos entrevistados que trabalham como educadores variou consideravelmente, com
72,41% apresentando uma renda familiar de 1 e 3 salários mínimos; 17,24% com renda menor que
um salário mínimo; 6,9% com renda familiar entre 4 e 6 salários mínimos e 3,45% com renda
acima de 10 salários mínimos.
143
Figura 120. Localidades de atuação dos entrevistados.
A investigação sobre a participação social aponta que a maioria dos oito entrevistados atua em
organizações sociais ligadas a algum movimento ou rede, participa de listas de discussão sobre o
tema e tem atuação em alguma Organização Não-Governamental (ONG), inclusive colaborando
com fóruns de discussão e comitês de Educação Ambiental (Figura 121).
Figura 121. Setores e atividades sociais que contam com a atuação dos entrevistados.
144
122. Áreas de atuação e demandas dos programas de Educação Ambiental no Delta do Rio Doce.
145
Figura 124. Principais problemas ambientais presentes na região do Delta do Rio Doce.
Apesar de a região apresentar preocupação com a questão da rede de esgoto, que é insatisfatória na
opinião dos entrevistados, os problemas ambientais mais graves incluem a prática de caça, seguida
pelas questões do tratamento de lixo e ocupação do solo por petróleo (Figura 125). O fator caça
também aparece como importante.
Figura 125. Problemas ambientais mais graves presentes na região do Delta do Rio Doce.
Um maior investimento em educação e escolas aparece como principal solução para os problemas
ambientais, seguido por uma necessidade da participação popular e do poder público maior que a
observada e pela necessidade de promoção de mais eventos de conscientização e mobilização
(Figura 126).
146
Figura 126. Soluções indicadas para a redução ou eliminação dos problemas ambientais locais.
Quando os entrevistados foram perguntados sobre quais atores ou entidades podem solucionar os
problemas ambientais locais, as respostas apontaram para a seuinte multiplicidade: (1) Prefeitura;
(2) Política Ambiental; (3) contratação de funcionários; (4) próprios moradores; (5) Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e (6) por meio de uma
ação conjunta envolvendo o Governo, entidades e sociedade.
Em uma análise sobre os benefícios que, porventura, uma Unidade de Conservação possa trazer
para a região, foi destacado o aumento na renda da comunidade mediante a realização de atividades
de turismo, a intensificação da preservação e a valorização e sensibilização sobre a região (Figura
127). A predominância de jovens na população local pode ser um fator favorável para a realização
de atividades ligadas a práticas de ecoturismo, esportes aquáticos ou radicais, vindo a suprir a
necessidade por empregos que podem ser providenciados a partir de cursos técnicos voltados para o
artesanato e práticas turísticas.
147
Figura 127. Possíveis benefícios como consequência da criação da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável da Foz do Rio Doce.
4.2.4 Conclusão
O diagnóstico sobre a Educação Ambiental no Delta do Rio Doce revelou a prática de iniciativas
socioambientais presentes na região. Neste contexto, notou-se que existe uma diversidade
significativa de interações entre o campo da educação, gestão cultural e dos movimentos de ação
social emergentes nas localidades.
De acordo com os dados qualitativos coletados nas entrevistas, pode-se observar que a presença do
Projeto Ecocidadania desempenha um papel fundamental na região quanto às iniciativas sociais e
ambientais, uma vez que ele é referência para os diversos atores sociais pesquisados. Além disto, a
criação de um Conselho Gestor do Projeto em 2003 possibilitou uma maior integração com as
comunidades.
Cabe destacar que o Conselho Gestor foi uma espécie de embrião para a criação da Agência de
Sustentabilidade Comunitária da Planície Costeira do Rio Doce (ASCORDE), reunindo assim
professores, técnicos das Secretarias Municipais, Fundação Pró-Tamar e associações comunitárias
como as mulheres dedicadas ao artesanato e comunidades de pescadores. Ainda no âmbito
participativo, a região apresenta, juntamente com o Conselho Gestor, uma série de fóruns de
discussões em cada comunidade e os Comitês Comunitários de Turismo.
Em relação aos trabalhos realizados com as escolas, nota-se que o Projeto Ecocidadania tem
contribuído bastante para a implantação de três laboratórios de ensino de Ciências em uma escola
estadual de Regência; e em escolas municipais de Povoação e Pontal do Ipiranga. Há também um
trabalho em torno da formação de professores sendo realizado desde 2006, onde ocorrem encontros
com uma proposta multidisciplinar ao longo do ano, denominados de “Encontro Transdisciplinar”.
Além disto, há um trabalho de implantação de brinquedotecas junto aos Centros de Educação
Infantil (CEMEI’s).
Ainda no campo da educação, o Projeto vem contribuindo para a inclusão digital, uma vez que
foram instalados alguns laboratórios de informática em escolas. Além disto, a ampliação dos meios
educomunicativos como o Rádio Recreio e a TV Comunitária (TV Eco) tem sido importantes
ferramentas difusoras do processo escolar e não-escolar entre as comunidades. Também foram
148
produzidos videos no formato de desenhos, denominados “Programa Ecocidadania” por moradores
das comunidades de Pontal, Regência e Povoação.
As ações do Projeto Ecocidadania têm sido potencializadas pela Fundação Pró-TAMAR, uma
parceria que vem favorecendo a realização das seguintes iniciativas na região:
Projeto Robalo: iniciado pela Fundação Pró-TAMAR e criado com os pescadores locais, uma
iniciativa apoiada pelo Projeto Ecocidadania;
Cineclube: com instalações de três equipamentos de reprodução de filmes em cada comunidade;
Projeto TAMAR: como gestor da Fundação Pró-TAMAR.
De modo geral, a organização social da região do Delta do Rio Doce tem sido representada pelas
associações de moradores, pescadores e artesanato; pela atuação da Agência de Sustentabilidade
Comunitária da Planície Costeira do Rio Doce (ASCORDE), Fundação Pró-TAMAR, Projeto
Ecocidadania, instituições privadas como a Petrobras; e Organizações Não-Governamentais
(ONG’s) ambientalistas como o Grupo Ambientalista Natureza e Cia (GANC).
Os movimentos e atividades comunitárias identificadas que devem ser favorecidas para que ocorra
um fortalecimento das comunidades locais consistem em: serviço de limpeza das trilhas, ofertas de
cursos e oficinas de artesanato com fibra de bananeira, condutores de ecoturismo, papel reciclado,
filmagem, pintura em tecido, confecção de redes de tarrafas, artesanato com fibras de taboa,
atividades pedagógicas denominadas Cores da Terra, atividades de rádio, cursos para fabricação de
bombons, biscuits e criação e manutenção da horta comunitária.
O trabalho de comunicação social envolvendo a região do Delta do Rio Doce foi transversal
durante todo o processo de realização, havendo destaque para as atividades de divulgação do
Projeto e principalmente para a confecção do informativo sobre a localidade. Este informativo teve
a função estratégica de resumir as ações e interações do Projeto na área de interesse, evidenciando
seu trabalho participativo e seus resultados.
5.1.1 Introdução
O Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema), promoveu no dia 28 de agosto de 2009, entre
às 13:00 e 17:00 horas, a Oficina sobre a Proposta de Criação da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável da Foz do Rio visando a participação e contribuição das comunidades locais,
representantes de instituições públicas federais e estaduais, instituições privadas e membros da
sociedade civil organizada, a partir da apresentação e discussão dos estudos realizados pela equipe
de pesquisadores acima apresentados. Além de divulgar os resultados técnicos, o evento
149
possibilitou a participação comunitária a partir do registro das manifestações de relatos, opiniões,
necessidades e reecomendações dos diversos participantes dos vários setores da sociedade.
A Oficina ocorreu em três vertentes: (1) apresentação dos resultados dos estudos técnicos sobre o
meio físico, perfil fundiário, flora, entomofauna, herpetofauna, avifauna, mastofauna não-voadora,
mastofauna voadora, socioeconomia e Educação Ambiental do Delta do Rio Doce; (2) a divulgação
e discussão dos resultados dos estudos interdisciplinares apresentados e discutidos anteriormente
em um Workshop, realizado no dia 4 de agosto de 2009, na Sede do Vitória do Futuro, em Vitória,
denominado de Workshop sobre a Proposta de Criação da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável da Foz do Rio Doce e (3) a inserção comunitária por meio das manifestações, relatos,
opiniões, necessidades e recomendações dos diversos participantes dos vários setores da sociedade
presentes.
A partir da apresentação e discussão dos estudos realizados pela equipe de pesquisadores, houve
um compartilhamento de conhecimentos e sugestões pelos participantes compostos por membros
das comunidades e técnicos de entidades parceiras e convidadas, representanto um processo mais
completo e participativo para garantir a conservação da natureza do Delta do Rio Doce. Todas as
atividades de Comunicação e Mobilização Social receberam o apoio profissional da pesquisadora
Deusdedet Alle Son.
5.1.2 Resultados
O início da Oficina foi marcado pela apresentação do Projeto Apoio à criação de Unidades de
Conservação no Estado do Espírito Santo: um processo participativo integrando as
comunidades locais pela Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto de Pesquisas da Mata
Atlântica (Ipema), Elizete Sherring Siqueira. Elizete comunicou que a área do Delta do Rio Doce
consiste na última área de estudo e implementação de Unidades de Conservação abordada pelo
projeto ao longo de um processo de três anos e que assim como nas demais áreas, houve uma
abertura comunitária para a participação e discussão dos dados.
Elizete finalizou sua apresentação destacando que, apesar de a Oficina caracterizar um primeiro
encontro, o Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema) está disposto a acompanhar todo o
processo envolvendo a proposta de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do
Rio Doce.
150
Após este momento, foi dado início a apresentação dos estudos técnicos bióticos pelos
pesquisadores, exibindo os dados regionais sobre flora, entomofauna, herpetofauna, avifauna,
mastofauna não-voadora, mastofauna voadora e socioeconomia.
O momento para que os presentes destacassem-se os seguintes pontos e necessidades que possam
complementar os trabalhos técnicos desenvolvidos na região foi muito produtivo e os seguintes
pontos e necessidades foram destacados pelos integrantes das comunidades locais e demais
participantes:
5. Deve haver a garantia real de que as populações tradicionais e de baixa renda tenham acesso
aos recursos naturais de forma equilibrada, além da necessidade de criar áreas públicas
voltadas para a geração e divulgação de cultura e de renda;
6. Áreas de pastos inativas podem ser convertidas em centros de fruticultura quando possível e
quando necessárias, gerando emprego e renda;
7. O uso de pesticidas e inseticidas em matas de cabruca deve ser evitado, uma medida que não é
adotada pelos produtores de extensas plantações de cacau, desencadeando a contaminação de
recursos hídricos e demais recursos naturais. Este cenário pode ser revertido mediante a
orientação de instituições estaduais envolvidas com atividades agrícolas e a partir de uma
fiscalização efetiva;
151
8. Os proprietários que produzem cacau em pequenas áreas de matas de cabruca não conseguem
competir com os proprietários de plantações extensas de cacau, havendo a necessidade de uma
integração e parceria entre estas duas escalas de produção visando fortalecer um comércio
justo do produto;
11. Os riscos ambientais presentes na prática do sistema vigente de produção cacaueira devem ser
informados, um conjunto de informações que pode ser obtido junto a Comissão Executiva do
Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC);
12. As áreas de mata de cabruca necessitam de serem protegidas de forma efetiva e legal;
13. Atividades e projetos de Educação Ambiental devem ser realizados na região do Delta do Rio
Doce com intuito de facilitarem a transição do modelo produtivo que escasseia os recursos
naturais por um sistema igualmente produtivo e rentável com base no desenvolvimento
sustentável e na conservação dos recursos naturais, compreendido por todos os habitantes;
17. A realização de estudo etnobotânicos na região do Delta do Rio Doce pode colaborar para a
descoberta de usos potenciais e amplificados de princípios químicos ativos que possam ser
utilizados na indústria de medicamentos;
18. Estudos sobre a situação e rotas de espécies de aves migratórias que incluem a região do Delta
do Rio Doce podem fortalecer a manutenção de uma área ambientalmente protegida;
152
19. As comunidades locais do Delta do Rio Doce têm papel insubstituível na estruturação do
possível plano de manejo que venha a ser elaborado após a consolidação da criação da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce;
20. A análise da situação dos recursos hídricos que caracterizam e dão forma ao Delta do Rio
Doce deve ser feita de forma aprofundada mediante estudos técnicos, uma ação fundamental
para indicar os usos potencias e a capacidade de utilização que suportam sem alterar a
paisagem e o estoque hídrico;
21. A criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce consiste em uma
oportunidade rara de restaurar a relação harmônica entre o homem e os recursos naturais;
23. Os resultados técnicos da região devem ser apresentados e divulgados sempre que solicitados,
seja mediante apresentação técnica, seja pela veiculação de materiais informativos;
24. Existe a necessidade urgente de uma discussão da iniciativa com empresas que também fazem
parte da paisagem do Delta do Rio Doce, como a Petrobras, os grandes produtores de cacau e
outros atores;
25. Existe a necessidade de elaboração de um plano de manejo adequado para o plantio de cacau
em matas de cabruca, pois os indivíduos que compõem as espécies vegetais nativas
envelhecem e morrem com o tempo, não havendo uma renovação de representantes da flora.
Após a exposição e debates destas necessidades e sugestões, Roberto Sforza ressaltou que embora
o processo de criação de uma Unidade de Conservação ocorra em etapas, a presença e ação da
mobilização local se tornam essenciais. Elizete Siqueira Sherring finalizou a Oficina comentando
que a região do Delta do Rio Doce conta com o benefício de não apresentar conflitos internos
referentes à possível criação de uma Unidade de Conservação e que a mobilização local conjunta
ocorre em um momento oportuno, aliado ao clima político convergente sobre a importância da
conservação dos recursos naturais da área e da melhoria da qualidade de vida das populações
locais.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
153
Apesar de os estudos bióticos comprovarem uma biodiversidade extremamente diversificada, a
região pode possuir uma diversidade ainda maior, sendo unanimemente recomendada pelos
especialistas para tornar-se uma área protegida a partir da criação de uma Unidade de Conservação
na categoria de Reserva de Desenvolvimento Sustentável. A presença de espécies em extinção,
raras e endêmicas e os riscos eminentes de perda de habitat pela extensão da ocupação da área por
humanos e a fragmentação fornecem um suporte ainda maior para a necessidade da criação de uma
Unidade de Conservação.
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ANEXO I. RELATÓRIO DO WORKSHOP SOBRE A PROPOSTA DE CRIAÇÃO DA RESERVA DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA FOZ DO RIO DOCE
1. Introdução
Este documento tem como objetivo principal consolidar as informações fornecidas pelos estudos
bióticos realizados na área do Delta do Rio Doce, uma das áreas estudadas pelo “Projeto de Apoio
à Criação de Unidades de Conservação no Estado do Espírito Santo: um processo participativo
integrando as comunidades locais”, com a finalidade de contribuir para a conservação da
biodiversidade da Mata Atlântica no Espírito Santo, analisando a viabilidade da criação de
Unidades de Conservação (UC’s) de forma participativa e integrada com comunidades locais.
Este projeto foi consolidado através de um convênio entre o Banco do Brasil e o Instituto de
Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema), com recursos doados pelo Kreditanstalt für Wiederaufbau
(KfW).
Figura 1. Área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio
Doce com destaque para a extensão terrestre, em verde; extensão marinha; em roxo; e a presença da
Reserva Biológica de Comboios, em vermelho; com seus 833 hectares de extensão.
170
Este processo de criação esta associado a uma futura gestão compartilhada e participativa que
permitirá monitorar, através de diretrizes e indicadores, os resultados de ações propostas para o
desenvolvimento social e conservação da biodiversidade local.
Após a recepção dos participantes realizada pela Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto
de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema), Elizete Siqueira Sherring e com o intuito de contextualizar
as características e interesses regionais associados à criação da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável da Foz do Rio Doce, o oceanógrafo Roberto Sforza, representante do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade e Centro Nacional de Conservação e Manejo das
Tartarugas Marinhas; iniciou uma apresentação para os demais participantes, sobre a situação local
quanto à conservação dos recursos naturais, interesse e necessidade dos pescadores pelo processo
de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável e as pressões exercidas por
empreendimentos ligados a atividades de exploração de petróleo e gás.
Sforza ressaltou que o processo de delimitação da área proposta para criação da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável incluiu o conhecimento acumulado pelos pescadores locais, um
processo realizado a partir da aplicação da técnica de mapa mental, onde cada pescador indica a
ocorrência de determinado recurso pesqueiro em áreas marinhas. Este procedimento foi bem
recebido por parte dos pescadores, uma vez que representou o interesse em manter o sustento e as
formas de uso e incluir os processos que envolvem consultas públicas, fundamentais para a
elaboração de políticas públicas.
A indicação dos locais com classificação dos tipos de recursos naturais pesqueiros permitiu a
complementação e delimitação da extensão marinha da proposta, um conjunto de informações
fundamentais para um maior conhecimento dos recursos naturais existentes e que serão protegidos.
Houve destaque também para a decisão de não promover a desapropriação de proprietários com
território presente na área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da
Foz do Rio Doce.
Segundo Sforza, estas informações, bem como outras provenientes de estudos científicos,
permitiram a ampliação da área proposta para a criação da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável, pois as descrições e exigências das categorias de Unidades de Conservação (UC’s)
presentes no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) infelizmente não
são muito detalhadas, dando margem a interpretações desfavoráveis para a conservação da
biodiversidade. Além disto, os processos de negociação política vêm exigindo estudos cada vez
mais aprofundados.
A importância de juntar o máximo de informação possível também colabora para reduzir o tempo
necessário para a criação de uma UC, pois entidades e pessoas contrárias a preservação da
biodiversidade muitas vezes questionam as informações demonstradas por estudos superficiais, um
171
quadro que pode ser revertido a partir da contribuição de um maior número de técnicos em prol da
conservação da biodiversidade.
O processo para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce foi
aberto junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no ano de
2007 e faz parte de um quadro com 150 a 200 pedidos de propostas de criação de UC’s. Entretanto,
cerca de 20 a 25 destas propostas vem recebendo prioridade máxima por parte do ICMBio,
incluindo a proposta de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.
O processo de tomadas de decisão junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA), por sua vez, passou recentemente por uma reestruturação. Esta
alteração passou a responsabilidade de tomadas de decisões a quatro diretorias integradas e
destinadas ao assessoramento do Presidente da República Federativa do Brasil. Aparentemente este
apoio técnico promoverá o aumento na criação de Reservas de Desenvolvimento Sustentável,
principalmente as criadas em processos que envolvam consultas públicas, um contexto seguido
pela proposta de criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.
Após a apresentação destas informações, foi aberto um momento para questionamentos sobre o
assunto. O seguinte questionamento, então, foi colocado pelo pesquisador José Luiz Helmer,
especialista em herpetofauna: a abertura para a inclusão do conhecimento popular, como as
informações fornecidas pelos pescadores, criou alguma dificuldade quanto à delimitação da área
proposta pela Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce? Sforza informou que
não, principalmente pelo fato de as informações serem posteriormente checadas e limitadas quando
necessário, pois a inclusão de todas as informações emitidas poderia tornar inviável a gestão de
uma área protegida muito extensa.
Após este momento, Sforza passou a dar destaque às possíveis ameaças presentes na área proposta,
havendo destaque para a proximidade de blocos petrolíferos explorados ou com vistas a serem
explorados (Figura 2).
172
Houve também o relato da existência de campos petrolíferos leiloados na região de Povoação,
pertencente ao município de Linhares, que possibilitam a exploração de petróleo através da injeção
de água no solo para viabilizar o seu ressurgimento na superfície. A água utilizada neste processo
vem sendo transportada a partir do Terminal de Regência.
Sforza ainda destacou que o Brasil felizmente não apresenta um cenário de exploração tão intenso e
destrutivo quanto aos recursos naturais presentes na zona costeira como outros países e que cabe ao
Governo garantir, mediante interesse público, uma conservação eficiente de sistemas costeiros.
3.1 Flora
A Mata Atlântica ocupa três províncias geomorfológicas bem distintas no Espírito Santo: a região
serrana, os tabuleiros terciários e as planícies quaternárias. A área proposta para criação da Reserva
de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce integra parte das duas últimas formações.
A área também apresenta alguns trechos alagáveis presentes junto aos cordões arenosos, com a
presença de turfas. Este cenário apresentou formações de vegetação de áreas inundadas e
inundáveis de restinga, imprescindíveis para existência de diversas espécies animais e vegetais.
173
Os levantamentos florístico e fitofionômico foram feitos em toda região de Regência e Povoação,
município de Linhares, norte do Espírito Santo, apresentando duração de dez dias com um número
total de seis especialistas envolvidos. O levantamento florístico registrou 382 espécies vegetais
para área distribuídas em 88 Famílias, com potencial para apresentar um número ainda maior de
espécies (Figura 3).
Figura 3. Famílias com riqueza de espécies mais representativas na área proposta para a criação da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, municípios de Linhares, Espírito Santo.
174
Apesar de esta região estar próxima ao maior núcleo florestal do norte do Estado do Espírito Santo,
as formações florestais presentes são compostas por manchas de vegetação fragmentadas, um
cenário comum para os remanescentes da Mata Atlântica. Entretanto, a área apresenta como
diferencial a presença de cordões arenosos e áreas com cultivo de cacau em meio às espécies
vegetais arbóreas nativas, compondo as formações vegetais denominadas de cabruca. Infelizmente,
a maior parte da matriz regional é composta por áreas desmatadas para criação de pastagens.
A Restinga apresentou as seguintes Formações: Herbácea de Restinga; Arbustiva Fechada Não-
inundável; Floresta Não-inundável ou Mata seca de Restinga; Formação Arbustiva Aberta Não-
inundável ou Aberta de Clusia; área entre moitas e áreas inundadas, de brejo ou de alagados.
A Formação Arbustiva Fechada Não-inundável, por sua vez apresentou as espécies arbustivas
Schinus terebinthifolius, Protium heptaphyllum, Psidium macahense, Eugenia uniflora, Guapira
pernambucensis; espécies herbáceas Bromelia antiacantha, Cereus fernambucensis, Anthurium
raimundii, Quesnelia quesneliana, com destaque para Allagoptera arenaria e espécies de lianas
Davilla flexuosa e Smilax rufescens.
Nas áreas entre moitas foram encontradas as espécies Chamaecrista ramosa e Evolvulus spp.,
contendo ainda a espécie endêmica Axonopus pressus constando como Criticamente Em Perigo
(CP) na Lista de Espécies Ameaçadas do Espírito Santo (Espirito Santo, 2005), presente em pontos
próximos a Reserva Biológica de Comboios em áreas extensas de restinga. Esta região também
apresenta Chamaecrista ramosa, Remiria maritima, Hybanthus calceolaria, Mytracarpus frigidus,
Ipomoea littoralis e elementos arbustivos Allagoptera arenaria e Scaevola plumieri.
Estas áreas, que apresentam com elemento dominante a Axonopus pressus, são denominadas de
Formação Praial Gramnóide com Arbusto, estando aparentemente restrita à Reserva Biológica de
Comboios e adjacências.
175
As áreas com Floresta Inundadas e Inundáveis ou Florestas Paludosas apresentaram espécies
arbóreas Calophyllum brasiliense e Tapirira guianensis, enquanto o sub-bosque apresentou
espécies mais comuns como Tovomita brasiliensis, Sapium glandulatum, Myrcia racemosa e
Guapira opposita.
As áreas de Floresta Aluvial apresentaram regiões com mata de cabruca e outras culturas
associadas. As matas de cabruca consistem em áreas de sub-bosque que mantiveram as espécies
formadoras de dossel e foram destinadas ao plantio consorciado de cacau. Além do cacau, a região
também apresenta plantios de coco (Cocos nucifera) e eucalipto (Eucaliptus spp.). As áreas de
pastagem apresentam Brachiaria spp; Melinis minutiflora; Panicum maximum e Paspalum spp.,
todas pertencentes às gramíneas. Além destas, espécies de outras Famílias como Desmodium
incanum, Stylozanthes viscosa, Stylozanthes guianensis, Mimosa pudica, Crotalaria lanceolata,
Centrosema virginianum entre outras, também estiveram presentes. Alguns indivíduos arbustivos e
arbóreos presentes em estágios de regeneração também ocorrem nestas áreas, havendo
representantes arbustivos das espécies Cordia verbenacea e Psidium guianensis.
Apesar de toda a importância destas áreas (Figura 4), a vegetação nativa tem sido exaustivamente
explorada para fins madeireiros e para a implementação de projetos agropastoris não-sustentáveis,
um processo maximizado pela facilidade de acesso e pelas condições regionais favoráveis do
relevo, o que acarreta na fragmentação da vegetação, que permanece distribuída entre paisagens
degradadas.
Figura 4. Exemplos de formações vegetais presentes na área proposta para criação da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, no sentido horário: Formação Herbácea Não-
inundável, Formação de Pós-praia, Floresta Não-inundável, Formação Arbustiva Aberta Não-
inundável, Formação Praial Graminóide e Floresta Inundável.
176
A lista de espécies da flora ameaçadas de extinção na área da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável da Foz do Rio Doce foi elaborada a partir de três listas oficiais disponíveis, sendo uma
internacional (IUCN, 2004), uma nacional (IBAMA, 2008) e uma estadual (Espírito Santo, 2005).
Das 382 espécies de plantas analisadas 35 espécies encontram-se ameaçadas de extinção,
envolvendo 19 famílias (Tabela 1). Observa-se que quase dois terços das espécies ameaçadas
(65,4%) estão enquadrados na categoria de menor risco (VU). Entretanto, estas espécies merecem
uma atenção especial para que não se tornem cada vez mais ameaçadas e não se enquadrem em
uma categoria de ameaça maior.
Tabela 1. Lista das espécies ameaçadas de extinção que ocorrem na área proposta para criação da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce [ES = espécies que constam na lista de
espécies ameaçadas do Espírito Santo; BR = espécies presentes na Lista Oficial de Espécies Ameaçadas
do Brasil e IUCN = espécies presentes na Lista Internacional da International Union for Conservation
of Nature (IUCN); CP = Criticamente Em Perigo; EN = Em Perigo e VU= Vulnerável]
177
A Família que apresentou o maior número de espécies ameaçadas de extinção foi Orchidaceae,
com nove espécies pertencentes a sete gêneros; seguida por Bromeliaceae, com três espécies
integrantes de três gêneros; Fabaceae com três espécies pertencendo a dois gêneros; Sapotaceae
com três espécies em três gêneros; Lauraceae com dois gêneros; Meliaceae com duas espécies de
mesmo gênero e as demais Famílias com apenas uma espécie (Figura 5).
Número de espécies ameaçadas
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
E
E
E
AE
E
E
E
AE
EA
EA
EA
EA
EA
EA
EA
CE
CE
AC
AC
AC
C
AC
AC
AC
TA
DA
BA
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BI
UR
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HI
FA
NO
O
LA
IC
C
AR
G
PH
R
EL
BI
O
M
EU
A área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce
apresentou mais de 40 espécies endêmicas da Mata Atlântica, sendo a fonte de descrição de
várias espécies novas como Guarea penningtoniana, Inga exfoliata, Paullinia riodocensis,
Rhodostemonodaphne capixabensis, Simira graziel e Tabebuia riodocensis. Dentre as espécies
endêmicas da Mata Atlântica foram encontradas Aechmea blanchetiana, Aechmea multiflora,
Hohenbergia angusta, Mikania glomerata, Quesnelia quesneliana (Bromeliaceae), Couepia
schottii (Chrysobalanaceae), Dichorisandra thyrsiflora (Commelinaceae), Capotroche brasiliensis
(Achariaceae), Ocotea elegans (Lauraceae), Trichilia chasaratti (Meliaceae), Eugenia cuspidata e
Marlierea obscura (Myrtaceae), Acianthera strupifolia e Koellensteinia altissima (Orchidaceae),
dentre outras.
A presença de espécies consideradas úteis pelo homem preenche o terceiro critério considerado
importante para a priorização da conservação da biodiversidade, a Utilidade. Segundo este critério,
uma espécie que tem um valor atual ou potencial tem uma maior importância para a conservação
do que uma espécie que não apresenta nenhum uso evidente para as pessoas.
As 382 espécies catalogadas na área estudada incluem mais de 100 espécies com potencial
ornamental, pertencentes principalmente às famílias Bromeliaceae, Orchidaceae, Marantaceae,
Piperaceae, Araceae, Fabaceae, Palmae e Cactaceae, dentre outras. Espécies como Cattleya guttata
e Cyrtopodium holstii (Orchidaceae), Peperomia magnolifolia (Piperaceae), Heliconia episcopalis
178
(Heliconiaceae), Allagoptera arenaria (Arecaceae), Tabebuia cassinoides e T. riodocensis
(Bignoniaceae), Aechmea blanchetiana, Neoregelia pascoaliana, Quesnelia quesneliana e Vriesea
procera (Bromeliaceae), Cereus fernanbucensis e Pilosocereus arrabidae (Cactaceae), Clusia
hilariana (Clusiaceae), tabém estão presentes na área.
Espécies com potencial alimentício e que podem ser cultivadas em escala comercial para uso
sustentável dos recursos naturais incluem a pimenta-rosa Schinus terebintefolius (Anacardiaceae);
Xylopia sericea (Annonaceae); Bromelia antiacantha (Bromeliaceae); Chrysobalanus icaco
(Chrysobalanaceae); Inga edulis (Fabaceae); Genipa americana (Rubiaceae) e Allagoptera
arenaria (Arecaceae).
Espécies com potencial para recuperação de áreas degradadas incluem Schinus terebintefolius e
Papirira guianensis (Anacardiaceae); Xylopia sericea (Annonaceae); Tabebuia cassinoides
(Bignoniaceae); Alchornea triplinervia, Joanesia principes, Pera glabrata e Sapium glandulatum
(Euphorbiaceae); Abarema jupumba, Dialum guianense e Hymenaea courbaril (Fabaceae);
Carpotroche brasiliensis (Achariaceae); Nectandra nitidula e Ocotea elegans (Lauraceae);
Byrsonima sericea (Malpighiaceae); Hibiscus pernambucensis (Malvaceae); Cedrela fissilis e
Guarea guidonia (Meliaceae) e Guapira opposita (Nyctaginaceae), dentre outras.
O grupo dos mamíferos não-voadores, compostos principalmente pelos marsupiais e roedores das
Famílias Cricetidae e Echimyidae; exercem influência fundamental nas dinâmicas florestais, seja
pelo consumo do banco de sementes e plântulas ou pela dispersão de sementes que promovem. O
registro ou ausência de suas espécies pode atuar como indicadores confiáveis das alterações de
habitat e da paisagem.
O inventário de espécies foi realizado em pontos pertencentes aos distritos de Regência e Povoação
ao longo de cinco noites de amostragem, com 240 armadilhas, totalizando um esforço-amostral de
1200 armadilhas por noite. Este método permitiu a realização de coletas em pontos com uma maior
representatividade dos principais ambientes encontrados na região, uma coleta de dados possível
graças à existência de trilhas presentes em áreas de restinga de baixo porte (TA); restinga de médio
porte (TB); restinga de grande porte (TC); matas as margens do Rio Doce (TD); matas presentes na
propriedade do Pró-TAMAR (TE) e matas ao lado da lagoa de Monsarás (TF) (Figura 6). As
coordenadas geográficas de cada trilha foram respectivamente registradas (Tabela 2). Métodos
como a busca por pegadas, registro de fezes, realização de entrevistas e instalação de armadilha
fotográfica também foram utilizados na detecção de espécies de mamíferos não-voadores.
179
Figura 6. Pontos de amostragem da fauna de mamíferos não-voadores. É possível observar as seis
trilhas instaladas para a realização do inventário nos distritos de Regência e Povoação, município de
Linhares, Espírito Santo.
Tabela 2. Pontos de amostragem de pequenos mamíferos não-voadores na área proposta para criação
da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, focando os distritos de Regência e
Povoação
180
Marmosops incanus (Didelphidae) Didelphis aurita (Didelphidae)
Figura 7. Algumas das espécies de pequenos mamíferos encontradas na área proposta para criação da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.
Tabela 3. Lista de espécies de pequenos mamíferos com base em amostragem da área proposta para
criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, distritos de Regência e
Povoação. Apenas as trilhas nas matas próximas as margens do Rio Doce (TD) e matas próximas a
lagoa de Monsarás (TF) tiveram espécimes capturados
181
Dentre os mamíferos de médio e grande porte, a Ordem Carnivora apresentou o maior número de
espécies, com registro de 10 espécies; seguida pela Ordem Rodentia, com cinco espécies, enquanto
as Ordens Cingulata e Primates apresentaram duas espécies e Artiodactyla, Pilosa e Lagomorpha
apresentaram uma única espécie cada (Tabela 4).
Tabela 4. Espécies de mamíferos de médio e grande porte detectadas por evidências diretas e indiretas
na área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce,
distritos de Regência e Povoação, município de Linhares, com seus respectivos nomes populares e tipos
de registros pelo qual foram detectados (ET = entrevista; DS = dados secundários; PG = pegada; VI =
visualização e VO = vocalização)
Tipo de
Ordem Família Espécie Nome popular
registro
Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole ET
Cingulata Dasypodidae
Dasypus septemcinctus Tatu-galinha ET
Pilosa Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla Tamanduá-de-colete ET
Callithrix sp. Mico-estrela ET VI VO
Primates Cebidae
Callicebus personatus Sauá, guigó ET
Canidae Cerdocyon thous Cachorro-do-mato ET PG VI
Nasua nasua Quati ET
Procyonidae
Procyon cancrivorus Mão-pelada ET
Mephitidae Conepatus semistriatus Jaratataca ET
Eira barbara Irara ET
Carnivora Mustelidae
Galictis cuja Furão ET
Leopardus tigrinus Gato-do-mato-pequeno ET
Leopardus pardalis Jaguatirica ET
Felidae
Puma concolor Onça-parda, onça-vermelha ET
Puma yagouaroundi Gato-mourisco ET VI
Artiodactyla Cervidae Mazama americana Veado mateiro ET PG
Caviidae Cavia aperea Preá ET
Erethizontidae Coendou prehensilis Ouriço-cacheiro ET
Rodentia Cuniculidae Cuniculus paca Paca ET
Dasyproctidae Dasyprocta agouti Cutia ET
Hydrochaeridae Hydrochoerus hydrochaeris Capivara ET
Lagomorpha Leporidade Sylvilagus brasiliensis Tapeti ET VI
Entre as 27 espécies de mamíferos registradas na área, quatro das 22 espécies de médio e grande
porte encontram-se na Lista da Fauna Ameaçada de Extinção nacional. A espécie Callicebus
personatus apresenta-se como Vulnerável (VU) para a região serrana do Espírito Santo, assim
como as espécies de felino Leopardus pardalis (jaguatirica) e Leopardus tigrinus (gato-do-mato-
pequeno). A espécie de felino Puma concolor (onça-parda), por sua vez, encontra-se na categoria
de ameaça Em Perigo (EN) (Tabela 5).
182
Tabela 5. Espécies de mamíferos silvestres ameaçados de extinção registrados na área proposta para a
criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, nos distritos de Regência e
Povoação [MAES = Aves e mamíferos ameaçados de extinção na região Serrana do Estado do Espírito
Santo (Mendes et al., 2006); LFBAE (2005) = Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
(Machado et al., 2005); IUCN (2006a) = Red List of Threatened Species; VU = Vulnerável; EN = Em
Perigo].
As comunidades compostas por morcegos neotropicais são muito complexas e os especialistas que
trabalham com este grupo animal no Estado do Espírito Santo tem se esforçado para traçar os
padrões biogeográficos demonstrados pelas espécies com ocorrência estadual.
Infelizmente, muitas áreas, incluindo a região do Delta do Rio Doce, vêm sofrendo com o aumento
da especulação imobiliária e o desmatamento, o que coloca em risco a obtenção de informações de
áreas de ocorrência e uso de várias espécies.
As coletas para amostragem de espécies de morcegos ocorreram durante 12 noites, sendo cinco delas
realizadas no final da estação seca e sete no final da estação chuvosa (Tabela 6 e Figura 8).
Tabela 6. Localidades inventariadas nas adjacências das vilas de Povoação e Regência, apresentando
suas respectivas coordenadas geográficas e datas de coleta
Data /Estação
Regência Coordenadas geográficas
Seca Chuvosa
15/10/2008 6/4/2009 Fazenda Santa Lúcia 19º39'56,3”S 39º53’0,4"W
183
Figura 8. Locais inventariados quanto a fauna composta por morcegos em Povoação e Regência na área
proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce.
Cada exemplar capturado passou pelas etapas de identificação até o nível taxonômico mais preciso;
do local de captura; do sexo; medida do antebraço em milímetros; classificação etária com base no
desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, como gônadas e glândulas mamárias e grau
de ossificação das sínfises dos ossos do metacarpo, com jovens apresentando sínfises cartilaginosas
e adultos apresentando sínfises ossificadas e gônadas e glândulas desenvolvidas. As fêmeas foram
classificadas quanto à condição reprodutiva em fêmeas grávidas; fêmeas lactantes ou pós-lactantes
e fêmeas não-grávidas e/ou não-lactantes. Exemplares mortos, conservados em álcool, foram
doados por moradores da região e também considerados na listagem de espécies para a área.
184
Tabela 7. Lista de espécies de morcegos inventariados em Regência e Povoação e suas respectivas
frequências relativas e números totais de espécimes (fr = frequência relativa; N = número de
indivíduos; A = abundância, com AB = abundante, CO = comum e PC = pouco comum; e EF =
estratégia de forrageamento, com I= insetívoro, IA = insetívoro aéreo, F = frugívoro FB = frugívoro de
sub-bosque, FD = frugívoro de dossel, C= carnívoro, CL= capturam presas na folhagem ou solo, NA =
nectarívoro de vôo adejado e ON = onívoro)
O hábito alimentar frugívoro foi predominante, ocorrendo em sete espécies de morcegos; seguido
pelo hábito onívoro e pelos demais hábitos alimentares, que apresentaram duas espécies cada, mas
com freqüências de captura diferentes (Figura 9).
87,97%
185
As redes de neblina possibilitaram a captura de 179 indivíduos distribuídos em 14 espécies de
morcegos, com sucesso de captura de 0,024 capturas por metro por hora e taxa de captura de 2,48
indivíduos por hora. A busca ativa permitiu a captura de dois exemplares da família Molossidae. A
Família Phyllostomidae colaborou com 98,33% das capturas, enquanto a Vespertilionidae
colaborou com apenas 1,67%. Com relação à freqüência relativa das espécies, Artibeus lituratus
representou 46,36% do número total de espécies, seguido por Carollia perspicillata, com 20,67% e
Artibeus fimbriatus, 13,4%.
A linha de tendência ou curva do coletor obtida pelo incremento do número de espécies a cada duas
horas não apresenta sinais de estabilização, significando que outras espécies ainda podem ser
encontradas na área proposta para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (Figura 10).
16
14
12
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Figura 9. Gráfico do número cumulativo de espécies inventariadas por rede de neblina, pelo número
de horas trabalhadas, com ausência de estabilidade.
3.4 Entomofauna
As vespas parasitóides, por sua vez, participam de 50% das cadeias alimentares terrestres e atuam
no controle biológico natural das populações de suas presas, além de exibirem algumas espécies
utilizadas no controle biológico de pragas agrícolas.
Os grupos de insetos que tiveram espécies levantadas na área de estudo foram compostos por
libélulas (Ordem Odonata), borboletas (Ordem Lepidoptera), especialmente as da guilda frugívora;
e Famílias de vespas parasitóides (Ordem Hymenoptera), todos com ênfase nas espécies ameaçadas
de extinção.
186
Os métodos utilizados consistiram em um levantamento rápido com busca ativa para espécies de
libélula, uso de armadilhas Malaise e Möricke para vespas e uso de armadilha Van Someren-Rydon
para borboletas da guilda frugívora. Os métodos foram empregados em um período de dois dias de
amostragem durante o mês de novembro de 2008 (Tabela 8).
Tabela 8. Pontos amostrados para o levantamento de insetos na área proposta para a criação da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce
Coordenadas geográficas
Local
S W
19° 33' 34,6" 39° 47' 15,3"
19° 33' 32,9" 39° 47' 16,5"
19° 33' 29,2" 39° 47' 08,0"
19° 33' 30,2" 39° 47' 07,6"
Povoação
19° 33' 30,0" 39° 47' 06,3"
19° 33' 30,4" 39° 47' 05,1"
19° 33' 30,5" 39° 47' 04,3"
19° 33' 30,4" 39° 47' 02,9"
Reserva Biológica de Comboios* 19° 40' 08,5" 39° 53' 18,8"
* Dados complementares provenientes de coletas realizadas no Projeto Leptagrion, financiando pelo Fundo
Nacional do Meio Ambiente (FNMA) do Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (MMA) e
desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema).
187
Tabela 9. Espécies de libélulas encontradas na região da Foz do Rio Doce.
Devido à ocorrência de chuvas e ventos repentinos, nenhuma borboleta caiu nas armadilhas.
Entretanto, borboletas foram visualizadas, mas não possível uma identificação confiável.
3.5 Herpetofauna
188
15 e 16 de novembro de 2008, dedicados a Regência; e 29 e 30 de novembro de 2008 dedicados a
Povoação, havendo o registro das coordenadas geográficas dos pontos visitados (Tabela 10).
Tabela 10. Coordenadas geográficas dos pontos locais aonde ocorreram buscas por espécies de anfíbios
e répteis em Regência e Povoação
Regência Povoação
19°37’38,74”S e 39°52’03,52”W 19°35’21,62”S e 39°47’32,82”W
19°40’12,67”S e 39°52’58,15”W 19°35’01,92”S e 39°47’06,28”W
19°39’31,61”S e 39°53’26,99”W 19°34’58,78”S e 39°47’04,30”W
19°39’26,36”S e 39°52’42,30”W 19°34’00,64”S e 39°47’14,42”W
19°39’14,07”S e 39°52’36,96”W 19°33’53,96”S e 39°47’12,82”W
19°39’23,26”S e 39°51’19,04”W 19°33’51,71”S e 39°47’11,45”W
19°39’18,77”S e 39°51’21,35”W 19°33’52,59”S e 39°47’04,66”W
19°38’48,72”S e 39°51’38,93”W 19°33’42,49”S e 39°47’09,57”W
19°38’19,69”S e 39°52’56,36”W 19°33’45,84”S e 39°48’34,87”W
19°38’02,58”S e 39°52’56,37”W 19°33’42,37”S e 39°48’30,54”W
19°38’02,79”S e 39°52’48,24”W
19°37’59,80”S e 39°52’10,87”W
19°37’46,30”S e 39°52’17,43”W
A catalogação das espécies ocorreu a partir de busca ativa e complementação de informações pela
consulta de diversos estudos desenvolvidos a partir de um mapa de distribuição das espécies
apresentado pela IUCN (2006b).
Os totais de 25 espécies de anfíbios e sete espécies de répteis foram registrados para a área (Figura
12, Tabela 11 e Tabela 12). Informações adicionais provenientes de estudos realizados em áreas
próximas à região abordada e pelos mapas de distribuição geográfica da IUCN (2006b)
confirmaram a presença de 80 espécies de anfíbios para região da Foz do Rio Doce, o que
representa 55% das espécies já registradas para o Estado do Espírito Santo, um total de 144
espécies. Enquanto o Estado do Espírito Santo apresenta 124 espécies de anfíbios endêmicas de
Mata Atlântica, a região da Foz do Rio Doce e seu entorno tem potencial para abrigar cerca de 80
destas espécies (40%).
Figura 12. Curva acumulada de espécies da herpetofauna obtida em cinco dias de amostragem, em
Regência e Povoação, município de Linhares.
189
Tabela 11. Lista de anfíbios já registrados para a região da Foz do Rio Doce (IUCN = International
Union for Conservation of Nature: LC = Não-ameaçada e DD = Dados Deficientes; ES = Espírito
Santo: NC = Não citada como ameaçada e Tipo de Registro: a = audição, g = gravação, f = foto, v =
visualização e b = fonte bibliográfica)
A região é a única conhecida por apresentar registro da espécie Leptodactylus thomei (Almeida &
Ângulo, 2006), além da presença exclusiva de espécies de baixada como a Dasypops schirchi.
A distribuição dos répteis não conta com a elaboração prévia de um mapeamento detalhado para a
maioria das espécies. Esta ausência de informações torna arriscada a obtenção de uma estimava do
número real de espécies que ocorre na Foz do Rio Doce, havendo a necessidade de mais estudos na
região.
190
Tabela 12. Lista de répteis já registrados para a região da Foz do Rio Doce (IUCN = International
Union for Conservation of Nature: LC = Não-ameaçada; ES = Espírito Santo: NC = Não citada como
ameaçada e Tipo de Registro: f = foto e v = visualização)
As espécies de répteis detectadas na campanha de campo não constam nas listas de espécies
ameaçadas, com exceção das espécies de tartarugas marinhas. Entretanto, a espécie
Chenmidophorus nativo ou lagartinho-de-linhares, com registro em área próxima (Vieira &
Gasparini, 2007); é considerada uma espécie ameaçada de extinção na categoria Vulnerável
(VU).
3.6 Avifauna
191
Tabela 13. Pontos com seus respectivos ambientes, coordenadas geográficas e altitudes
A base de analises da composição faunística de aves forneceu a Diversidade gama (riqueza geral de
espécies) e a Diversidade alfa (riqueza de espécies nos ambientes). Os elementos especiais da fauna
também foram considerados mediante o registro de endemismos da Mata Atlântica, das espécies
ameaçadas de extinção, das espécies cinegéticas, dos registros históricos e das espécies com alta
sensibilidade ecológica.
Uma riqueza de 195 espécies distribuída em 55 Famílias foi obtida na área proposta para a criação
da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce. Esta riqueza apresentou 60
espécies florestais, 11 espécies endêmicas de Mata Atlântica e oito espécies ameaçadas, com a área
apresentando potencial para registros de outras espécies (Figura 13).
192
140
120
100
Nº de espécies
80
60
40
20
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Amostragens
Figura 13. A curva do coletor não atingiu a estabilidade, indicando a potencialidade para obtenção do
registro de outras espécies para a área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável da Foz do Rio Doce.
As espécies também apresentaram uma diversidade expressiva quanto à guildas tróficas, havendo
predominância de espécies insetívoras (Figura 13).
CA
NE
Guildas
GR
FR
ON
IN
0 5 10 15 20 25 30 35
Número de espécies
Figura 13. Guildas tróficas com respectivo número de espécies de aves (CA = carnívoros, NE =
nectarívoros, GR = granívoros, FR = frugívoros, ON = onívoros e IN = insetívoros).
A visita de naturalistas que percorreram a região do Delta do Rio Doce possibilitou inferir a
presença de diversas espécies não mais presentes devido à pressão da caça, do tráfico de animais
silvestres e da alteração de habitats anteriormente intactos e estáveis (Figura 14).
193
Figura 14. Alguns dos elementos faunísticos anteriormente presentes no Delta do Rio Doce e que foram
localmente ou totalmente extintos.
194
4. Discussões e conclusões
2.1 Flora
Apesar das limitações ocorridas durante a campanha de levantamento de espécies devido à intensa
chuva, o número de espécie de mamíferos não-voadores para á área de estudo deve ser considerado
como essencial.
O registro de novas espécies poderá ocorrer com a continuidade dos esforços de captura e com
amostragens nos períodos de seca, uma vez que o número de espécies amostrado na estação seca
geralmente supera o obtido na estação chuvosa.
É importante destacar que os ambientes de mata e restinga nativas não protegidas são abundantes,
apesar do intenso processo de degradação; e podem tornar-se importantes como corredores de
dispersão para espécies locais de mamíferos e outros grupos animais, caso as formações vegetais
sejam integradas a um mosaico de ambientes que inclua a Reserva Biológica de Comboios.
195
Apesar de toda a alteração ambiental decorrente principalmente da ocupação humana, é possível
atribuir à riqueza da fauna de mamíferos à área florestal presente, uma área que necessita ser
preservada e assegurada mediante a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do
Rio Doce.
Ainda que a riqueza de espécies na região seja representativa é importante ressaltar que teve sua
diversidade alterada. Este contexto se torna mais grave quando considerada a presença de espécies
vulneráveis, raras e ameaçadas, principalmente as que ocorrem em densidades relativamente mais
baixas.
N° de N° de N° de
Estadoa Localidade b Categoria
noites capturas espécies
MG Rio Doce P 12 195 19
RJ Vargem Grande - 17 140 13
SP Morro do Diabo P 12 345 15
ES Santa Lúcia E 15 148 15
ES Duas Bocas RB 16 627 19
ES Regência e Povoação - 12 194 16
a
MG = Minas Gerais; RJ = Rio de Janeiro; SP = São Paulo e ES = Espírito Santo.
b
P = Parque Federal ou Estadual; R = Reserva; RB = Reserva Biológica e E = Estação Biológica.
A não estabilização da linha de tendência a partir da curva do coletor demonstra que novas espécies
de morcegos podem ser registradas mediante o aumento do esforço amostral.
196
Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce, indicando o potencial da área para abrigar
diferentes espécies, havendo a necessidade da consolidação de sua criação, o que garantirá a
continuidade de processos biológicos importantes para a diversidade de ambientes local e das
espécies que nela ocorrem.
2.4 Entomofauna
Tabela 15. Riqueza (R) e Estimativa de Riqueza (ER) para cada área estudada no Projeto de Apoio à
Criação de Unidades de Conservação no Estado do Espírito Santo: um processo participativo
integrando as comunidades locais
Em comparação com os demais dados de coleta em Mata Atlântica, a riqueza de Famílias obtidas é
baixa, mas deve-se levar em consideração que as condições climáticas foram desfavoráveis e que
as armadilhas ficaram expostas durante tempo muito inferior ao que é recomendado, um tempo
menor do que 24 horas, enquanto o padrão sugere uma permanência de pelo menos uma semana.
Além disto, ambientes com potencial para fornecimento de novos registros de espécies, como as
áreas de alagados ou brejos em Regência, não foram amostrados devido às condições climáticas
desfavoráveis para a coleta de insetos.
O fato de esta área ser insubstituível devido a sua diversidade ecossistêmica e de espécies
corrobora a necessidade da implementação de uma proteção eficiente mediante a criação de uma
Unidade de Conservação.
197
2.5 Herpetofauna
A região da Foz do Rio Doce apresenta uma espécie de réptil ameaçada, com exceção das espécies
de tartaruga; e três de anfíbios sob alguma forma de ameaça. Aliado a esta informação, existe a
possibilidade da ocorrência de pelo menos 80 espécies de anfíbios, com 63% destas estando restrita
a Mata Atlântica.
A região ao norte do Rio Doce, rica em remanescentes de florestas de restingas, possui poucas
áreas protegidas, havendo a necessidade da proteção de áreas adicionais.
Enquanto o Estado do Espírito Santo apresenta 124 espécies de anfíbios endêmicas de Mata
Atlântica, a região do Delta do Rio Doce e seu entorno tem potencial para ter 80 delas (40%); com
possibilidade de ocorrência de 77 espécies consideradas Não-ameaçadas (LC), duas como
Vulneráveis (VU), nenhuma como Quase ameaçada (NT), uma com Dados Deficientes (DD) e
nenhuma Em Perigo (EN), informações que fortalecem a necessidade da consolidação da Reserva
de Desenvolvimento Sustentável devido a sua importância para a conservação da biodiversidade
em áreas efetivamente desprotegidas em um primeiro momento.
2.6 Avifauna
A área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce
apresenta potencial para a existência de várias outras espécies de aves.
198
Estas áreas são caracterizadas por permanecerem cobertas por água doce, além de sofrerem
períodos de flutuação do nível da água, sendo muito sensíveis e as alterações ambientais via
poluentes e remoção ou introdução de novos elementos da fauna e flora. Isto consiste, em parte, por
serem sistemas muito abertos, recebendo influência direta dos ecossistemas terrestres e aquáticos
vizinhos ao qual estão integrados.
Infelizmente, muitos destes ambientes foram considerados insalubres até a década de 70 do Século
XX. Uma realidade que foi alterada mediante o aumento de pesquisas direcionadas, demonstrando
que são peças fundamentais para a autodepuração de rios, lagoas e demais ambientes associados.
Além disto, atuam como locais para reprodução, desenvolvimento e habitat de várias espécies
aquáticas de insetos, peixes, crustáceos, microcrustáceos, moluscos, espécies vegetais, anfíbios,
répteis, aves, inclusive migratórias; e mamíferos.
Esta imensa variedade de formas de vida ocorre e se mantém principalmente devido à variação
constante das características físico-químicas da água e produtividade de matéria em comparação a
outros corpos hídricos.
A inclusão destes ambientes na área protegida poderá evitar a exploração econômica excessiva
proveniente de um turismo sem planejamento, ocorrência de ocupação habitacional em áreas
vizinhas não- apropriadas, utilização do entorno para o plantio de coco e outras culturas de forma
desenfreada e drenagem local.
Desta forma, o estado de conservação do ambiente como um todo pode ser garantido impedindo o
desmatamento de suas bordas; o que evitaria o aumento do escoamento superficial das águas de
chuva e da evapotranspiração e redução da infiltração hídrica responsável pela recarga das águas
superficiais. Neste contexto, a mata atua como um filtro biológico onde a água precipitada é
liberada gradualmente por evapotranspiração e acumulada por infiltração no solo.
6. Referências
ALMEIDA, A.P & ANGULO, A., 2006 A new species of Leptodactylus (Anura: Leptodactylidae) from the
state of Espírito Santo, Brazil, with remarks on the systematics of associated populations. Zootaxa
1334: 1–25.
ALVES, M.C., 1990. The role of cacao plantations in the conservation of the Atlantic Forest of Southern
Bahia, Brazil. 1990. M.Sc. thesis, University of Florida. Gainesville, Florida.
ESPÍRITO SANTO, 2005. Decreto n° 1499-R. Declara as espécies da fauna e flora silvestres ameaçadas de
extinção no estado do Espírito Santo. Diário oficial da união (13 de junho de 2005), Vitória, ES.
VIEIRA, F. & J.L. GASPARINI, 2007 Anfíbios Ameaçados de Extinção no Estado do Espírito Santo. In.
PASSAMANI, M. & S.L. MENDES (Org.). Espécies da Fauna Ameaçadas de extinção no Estado do
Espírito Santo. Ipema, Vitória.
IBAMA, 2008. Lista oficial de Flora Ameaçada de Extinção.
199
IUCN, 2004. 2004 IUCN Red List of Threatened Species.
IUCN, 2006b. Conservation International and Nature Serve. Global Amphibian Assessment.
MACHADO, A. B. M.; C.S. MARTINS & G.M. DRUMMOND, 2005. Lista da fauna brasileira
ameaçada de extinção, incluindo as listas das espécies quase ameaçadas e deficientes em
dados. Belo Horizonte (MG). Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte, 157 pp.
MENDES, S.L.; J.E. SIMON; D.M. VIANNA & A. GATTI, 2006. Aves e mamíferos ameaçados
de extinção na região serrana do estado do Espírito Santo. Ipema, Vitória, 90 p.
TEIXEIRA, M.C., J.H. SCHOEREDER & J.N.C. LOUSADA, 2004. Occurrence of Atta robusta
Borgmeier (Hymenoptera: Formicidae) in the north of Espírito Santo State, Brasil.
Neotropical Entomology, 33(2):265-266.
7. Lista de presença
200
ANEXO II. DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOBRE A ÁREA DE INTERESSE PARA
CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
I. Identificação
1. Nome do entrevistado:__________________________________________________________________
3. Endereço:___________________________________ ________________________________________
6. Nome da instituição/entidade/organização:__________________________________________________
8. Escolaridade:
201
9. Onde trabalha/atua como educador/educadora ambiental?
( ) Outros. Especificar:____________________________________________________________________
( ) ONG. Qual?__________________________________________________________________________
( ) Outros. Quais?________________________________________________________________________
( ) Até 2 anos
( ) Mais de 2 anos - 5 anos
( ) Mais de 5 anos - 10 anos
( ) Mais de 10 anos
12. Na sua área de atuação, qual a demanda de Educação Ambiental que em sua opinião necessita de apoio
prioritariamente:
202
13. Você desenvolve prioritariamente a E.A. por meio de/do:
14. Os problemas ambientais listados, quais, na opinião do (a) Sr (a), existem aqui:
( ) Queimadas/incêndios florestais
( ) Desmatamento
( )Caça de animais silvestres
( ) Poluição das águas/lençol freático
( ) Mineração/Garimpo
( ) Poucas áreas preservadas
( ) Falta de água para beber
( ) Desperdício de água
( ) Falta de coleta de lixo/sujeira provocada por lixo
( ) Falta de rede de esgoto
( ) Falta de educação ambiental das pessoas
( ) Falta de moradia adequada
( ) Falta de locais de lazer
( ) Contaminação com agrotóxico
( ) Poluição do ar (poeira, fumaça)
( ) Vibrações e ruídos
( ) Falta de jardins e áreas verdes
Outros:
( ) Desperdício de __________________________________________________________________
( ) Outros ________________________________________________________________________
15. Qual o problema ambiental que o(a) Sr(a) acha mais grave ou mais sério nesta localidade, hoje?
__________________________________________________________________________________
16. Quais são, na opinião do Sr(a), as soluções mais adequadas para esse problema?
__________________________________________________________________________________
Soluções __________________________________________________________________________
Como?____________________________________________________________________________
18. O(A) Sr(a) acha importante a existência de uma Unidade de Conservação (UC) para a região?
203
19. Acha que uma UC traz benefícios para a região?
204