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O artigo apresenta o arcabouço legal que regulamenta os diferentes níveis e as modalidades da Educação Básica no
Brasil, em especial suas implicações na Educação Profissional e Tecnológica, considerada como uma modalidade
transversal à Educação Básica e ao ensino superior. Descreve, ainda, as ideias-forças que orientaram a construção
das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e suas modalidades de ensino, bem como seus
impactos na organização e gestão dos currículos nas escolas. A partir da perspectiva da interdisciplinaridade e
da transversalidade, esclarece o autor o conceito de matriz curricular e apresenta, em primeira mão, os pontos
convergentes entre as Diretrizes Curriculares da Educação Básica e as da educação profissional técnica de nível
médio, esta última em processo de análise e debate para aprovação pela Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação.
Palavras-chave: Educação Profissional e Tecnológica; Educação Básica; Diretrizes Curriculares; Legislação Educacional.
Introdução Para as crianças que completarem seis anos de idade até o dia
31 de março do ano da matrícula inicial do Ensino Fundamental
A atual LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- de nove anos, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais
nal1 define2 apenas dois níveis para a educação escolar: o nível para o Ensino Fundamental,7 será obrigatória a matrícula no
da Educação Básica e o nível da Educação Superior. O nível Ensino Fundamental, o qual terá sua oferta gratuita na escola
da Educação Básica tem como sua primeira etapa a Educação pública e “terá por objetivo a formação básica do cidadão”.8
Infantil; como núcleo central, o Ensino Fundamental; e como De acordo com a LDB, o Ensino Fundamental atingirá o
etapa final, o Ensino Médio. seu objetivo primeiro de propiciar a formação básica do cidadão
A Educação Infantil, como “primeira etapa da Educação mediante:
Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da 1. desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como
criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psico- meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
lógico, intelectual e social, complementando a ação da família cálculo;
e da comunidade”,3 e será oferecida “em creches ou entidades 2. compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,
equivalentes, para crianças de até três anos de idade”4 e em da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta
“pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade”,5 que a sociedade;
completarem quatro anos de idade até o dia 31 de março do ano 3. desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em
da matrícula inicial na pré-escola, segundo Diretrizes Curriculares vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação
Nacionais para a Educação Infantil.6 de atitudes e valores;
4. fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solida-
riedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a
vida social (BRASIL. Lei no 9.394/1996, art. 32, incisos I-IV).9
*
Consultor Educacional – Consultoria Educacional Peabiru (São Paulo); presidente da
Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. E-mail: fa.cordao@
O Ensino Médio, como “etapa final da Educação Básica,
uol.com.br
com duração mínima de três anos, terá como finalidades”10 as
Recebido para publicação em: 12.09.2011. seguintes:
...
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho”.27
A LDB, ao reproduzir o mandamento constitucional, incluiu
a expressão “inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais
de solidariedade humana”.28 Essa “qualificação para o trabalho”
ou “formação para o trabalho”29 objetiva garantir o direito à
de fato, a modalidade de Educação
profissionalização do cidadão trabalhador.
Desde 200830 está legalmente garantido que o Ensino Mé-
Profissional e Tecnológica pode ser
dio, atendida a formação geral do educando, poderá preparar considerada uma modalidade de
o cidadão para o exercício de profissões técnicas.31 Assim, o
Ensino Médio passou a assumir, também, além de seu objetivo educação transversal à Educação
primordial de “preparação básica para o trabalho e a cidada-
nia”,32 facultativamente, a incumbência da oferta da habilita- Básica e à Educação Superior.
ção profissional, preparando cidadãos trabalhadores “para o
exercício de profissões técnicas”,33 cujos programas poderão
ser desenvolvidos “nos próprios estabelecimentos de Ensino
Médio ou em cooperação com instituições especializadas em
educação profissional”.34 De qualquer forma, “os diplomas de cursos de Educação
Especificamente em relação à Educação Profissional Técnica Profissional Técnica de Nível Médio, quando registrados, terão
de Nível Médio, esta poderá ser desenvolvida nas seguintes formas: validade nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos
1. articulada com o Ensino Médio; na Educação Superior”.39 Além disso, os cursos de Educação
2. subsequente, em cursos destinados a quem já tenha concluído Profissional Técnica de Nível Médio, nas formas articulada
o Ensino Médio. concomitante e subsequente, quando estruturados e organizados
em etapas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de cer-
A Educação Profissional Técnica de Nível Médio deverá tificados de qualificação para o trabalho após a conclusão, com
observar: aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma qualificação
1. os objetivos e as definições contidos nas Diretrizes Curri- para o trabalho.
culares Nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Os cursos de Educação Profissional Tecnológica, de gradua-
Educação; ção e de pós-graduação, por sua vez, “organizar-se-ão por eixos
2. as normas complementares dos respectivos sistemas de tecnológicos, possibilitando a construção de diferentes itinerários
ensino; formativos, observadas as normas do respectivo sistema e nível
3. as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de de ensino”.40 Tais cursos “organizar-se-ão, no que concerne a
seu projeto pedagógico.35 objetivos, características e duração, de acordo com as Diretrizes
Curriculares Nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional
Essa modalidade da Educação Profissional Técnica, ofertada de Educação”.41
na forma articulada,36 será desenvolvida de forma: Assim, de fato, a modalidade de Educação Profissional e
1. integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o Tecnológica pode ser considerada uma modalidade de educação
Ensino Fundamental, sendo o curso planejado de modo a transversal à Educação Básica e à Educação Superior. A LDB
conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível atual apresenta, ainda, outras modalidades de educação e ensino
...
e pesquisa”.45 Já no que se refere à oferta de Educação Básica
para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as
adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida
rural e de cada região.46
Esse é o arcabouço legal com o qual trabalhou a Câmara
de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação para
definir as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a educação, como direito inalienável
a Educação Básica.47
de todos os cidadãos, é condição
Diretrizes Curriculares Nacionais primeira para o exercício pleno dos
para a Educação Básica
direitos humanos, tanto dos direitos
No histórico do Parecer CNE/CEB no 07/2010,48 que es-
tabeleceu as bases para a definição das Diretrizes Curriculares
sociais e econômicos quanto dos
direitos civis e políticos
...
Nacionais Gerais para a Educação Básica, o Conselho Nacional
de Educação ressaltou que
-2009&catid=323%3Aorgaos-vinculados&Itemid=866>. rativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 25. ed. atual. e ampl.
São Paulo: Saraiva, 2000. Art. 227, 307 p. (Coleção Saraiva de Legislação).
7
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica.
Inclui adendo especial com os textos originais dos artigos alterados.
Resolução no 7, de 14 de dezembro de 2010. Fixa as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental de nove anos. Diário Oficial da Id. Ibid., art. 205.
27
mid=866>. BRASIL. Constituição Federal. Op. cit., 1988. Art. 214, inciso IV.
29
8
BRASIL. Leis, decretos. Lei n 9.394. Op. cit., art. 32, 1996.
o
BRASIL. Lei no 11.741. Op. cit., 1988.
30
9
Id. Ibid., inciso IV. BRASIL. Lei no 9.394. Op. cit., 1996. Art. 36-A.
31
10
Id. Ibid., art. 35, incisos I-IV. Id. Ibid., art. 35, inciso II.
32
11
Id. Ibid., art. 36, inciso II. Id., art. 36-A.
33
12
Id. Ibid., art. 36, inciso I. Id. Ibid., parágrafo único.
34
13
Id. Ibid., § 3o. Id. Lei no 9.394. Op. cit., 1996. Art. 36-A, parágrafo único, incisos 1-III.
35
14
Id. Ibid., § 1o. Id., art. 36-C.
36
15
Id. Ibid. Op. cit., incisos I-II. Id. Ibid., incisos I-II.
37
16
Id. Lei no 9.394. Op. cit., art. 37, 1996. Id. Ibid. Op. cit., alíneas a , b e c.
38
17
Id. Ibid., § 1o. Id., art. 36-D.
39
18
Id. Ibid., § 2o. Id., art. 39, § 1o.
40
19
Id. Ibid., § 3 .
o
Id. Ibid., § 3o.
41
20
Id. Lei n 9.394. Op. cit., art. 39, 1996.
o
Id., arts. 58 a 60.
42
21
Id. Ibid., § 1 .
o
Id., art. 80.
43
22
BRASIL. Leis, decretos. Lei n 11.741, de 16 de julho de 2008. Diário
o
Id., art. 78.
44
49
São as seguintes as alterações na Constituição Federal promovidas pela
Emenda Constitucional no 59/2009:
Art. 208. [...]
I – Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade,
assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade
própria; (O disposto neste inciso I deverá ser implementado progressivamente,
até 2016, nos termos do Plano Nacional de Educação, com apoio técnico e
financeiro da União).
VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da Educação Básica, por meio de
programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência
à saúde.
Art. 211. [...]