Você está na página 1de 2

Análise | Better Call Saul (season finale)

Guillermo Del Toro escreveu recentemente os motivos que fazem Better Call
Saul melhor que Breaking Bad. Dentre as razões que ele colocou, o ritmo da
queda moral de Jimmy McGill para sua transformaçãoa em Saul Goodman foi o
principal ponto, pois trata de uma construção de personagem menos acelerada
e menos focada na ação do que foi Walter White em BB, e sim na motivação
psicológica de Jimmy e nos fatos que derrubaram sua ética. Ao assistir ao
último episódio da temporada, “Vencedor”, vemos que Del Toro não só tem
razão, como que essa verdade pode ser bem triste.

Peter Gould e Vince Gilligan, como já dissemos antes, estão de parabéns pelo
excelente trabalho ao longo dessas quatro temporadas. Não é fácil conduzir
uma narrativa em que o protagonista passa 4 temporadas se transformando,
mostrando coisas novas, de modo tão multifacetado. Todos sabemos aonde
Jimmy irá desembocar, mas a narrativa de Gilligan e Gould faz isso de modo
paulatino, lento, como em um dia de trabalho ou quando se perde um dia
resolvendo coisas pessoais.

E é nessa alusão das coisas da vida, nos detalhes pequenos que marcam as
nossas decisões mais íntimas que vimos a chegada de Saul. Sem grandes
alardes, sem um espetáculo, mas em um choro, em uma lembrança, na
percepção de como a vida é artificial e sempre o verá por seus erros, não
importando o que você faça.

“O vencedor leva tudo”, e para ser essa pessoa, você não precisa andar pelas
regras. Só é preciso dizer o que se quer ouvir, ser aquilo que os outros querem
ver, e você leva tudo. A transformação de Jimmy, ao longo dessas temporadas,
culminou em algo que todos conhecemos bem: o cansaço de seguir pelas
regras.

Os outros arcos da temporada, como o de Mike e Werner, o da própria Kim,


Gus Fring, Hector Salamanca, nada foi tão profundo quanto ver Jimmy
simplesmente cansando de ser quem é, e, mais do que isso, das pessoas
serem quem são. O espelho que ele viu na estudante de Direito que não levou
uma bolsa de estudos por que cometeu um furto na adolescência foi a relação
que faltava para ele fazer a relação de si mesmo.
Daria para citar o disco do Pink Floyd, The Wall, como uma perfeita alegoria do
efeito Saul Goodman. Cada queda, cada julgamento, Chuck, Kim, Howard, o
Direito, a lei, as convenções, cada elemento desses foi um tijolo na parede que
significa Saul Goodman. É como ler Carta ao Pai, de Franz Kafka, e ver como
os pequenos detalhes são capazes de moldar o caráter de uma pessoa.

Jimmy realmente morreu nesse episódio, e nasceu o alterego que, agora,


vemos ser muito mais do que simplesmente picaretagem. É a soma de todas
as frustrações, decepções e revolta, e a reação àquele menosprezo. É a queda
moral que se prenuncia no dia a dia e no cansaço. Esperamos agora a 5ª
temporada, que provavelmente será a última, dada a tradição de BB, e ver
como outro desenvolvimento começará a crescer, dessa vez o de Saul.

“It’s all good, man”

Nota da temporada:

Você também pode gostar