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27/09/2018 (77) A Era Vargas: Uma Análise Marxista do Populismo Brasileiro

A Era Vargas: Uma Análise Marxista do


Populismo Brasileiro
O LADO VERMELHO DA HISTÓRIA · SEXTA, 24 DE AGOSTO DE 2018

Há 64 anos, dia 24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Dornelles Vargas


deixava a vida para entrar na história, com o emblemático suicídio que abalou
o país. O longo período de seu governo, cunhado historicamente como Era
Vargas, marcou o início de inúmeras transformações políticas, econômicas e
sociais, que moldaram o Brasil. Devido a isso, sua gestão foi objeto de estudo
de inúmeros historiadores e especialistas. Deixamos nossa contribuição para
tais estudos, com um artigo que pretende analisar a Era Vargas da
perspectiva do Materialismo Histórico.

Introdução – Em Defesa de uma Análise Materialista

Em meados da Crise da Bolsa de Valores, em 1929, que abalou as estruturas do capitalismo


mundial, surgem, sobretudo na América Latina, governos de caráter nacionalista, altamente
populares, com um projeto de desenvolvimento baseado na substituição de importações
(como forma de estimular o mercado consumidor interno), que apareceram como uma
contraposição tanto ao capitalismo liberal, quanto ao socialismo soviético.

Dentre tais governos, se destacam Lázaro Cárdenas no México (1934-1940), Juan Domingo
Perón na Argentina (1946-1955) e Getúlio Vargas no Brasil (1930-1945/1951-1954),
chamados erroneamente (como deixaremos claro em breve) de populistas. Por anos,
historiadores, jornalistas e militantes, buscaram analisar e compreender o caráter de tais
regimes, utilizando-se muitas vezes, de compreensões equivocadas para tal.

O presente artigo, escrito pelos moderadores da página O Lado Vermelho da História, busca
fornecer uma análise marxista de tais regimes, para determinar o seu papel na história.
Devido a quantidade de materiais disponíveis em nossa língua, iremos nos concentrar no
governo getulista, apenas citando os outros dois para comparação, mas já adiantamos que
essa análise irá responder por ambos os regimes.

Dentre as análises simplistas padrões, advindas das forças progressistas de nosso país, (não
nos encarregaremos de abordar e refutar as visões das forças conservadoras e reacionárias
sobre o assunto, devido a tamanha estupidez teórica presente em tais análises) tanto em
partidos políticos quanto por historiadores, estão no que chamaremos de “esquerda
udenista” e “esquerda getulista”: os primeiros, argumentam que o papel de Getúlio na
história do Brasil foi, na maior parte, de todo o mau, visto se tratar de um ditador fascista, de
extrema direita, que reprimiu milhares de pessoas em sua ditadura estado novista, perseguiu
os comunistas, e portanto, se encontra na lata de lixo da história. A esquerda getulista, como
o nome sugere, defende o legado de Getúlio: se trata sobretudo de um “pai dos pobres”, um
líder louvável que deu direitos aos trabalhadores e que fez de tudo pelo seu povo, se
suicidando e adiando um golpe fascista, que iria ocorrer 10 anos depois.

O motivo de chamarmos tais análises de “udenista” e “getulista”, é por ambas serem, na


verdade, meras propagandas de tais entidades referidas. A primeira, repete a propaganda

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utilizada pela UDN e vários outros órgãos antigetulistas. A segunda, beira a propaganda do
Estado Novo, ufanista e romântica, usada para consagrar a imagem de Getúlio como “pai do
povo brasileiro”. Descartamos ambas as análises. Como marxistas, devemos analisar a Era
Vargas sob o prisma do materialismo histórico. E de que forma fazer isso? Um conjunto de
documentos, produzidos pelo professor Fausto Arruda e publicado no Jornal A Nova
Democracia, chamado “Getúlio ou a consolidação do capitalismo burocrático no Brasil”,
sobretudo sua parte VI “o lugar de Getúlio Vargas na história”, avança em muito nessa
análise – apesar de discordarmos veementemente da conclusão que ele oferece.

O autor parte do pressuposto de que, para analisar o caráter e o papel de Getúlio Vargas na
história, é necessário analisar a qual classe servia: Afinal, Getúlio estaria ao lado da revolução
ou da contrarrevolução? E ainda mais, foi Getúlio o responsável por consolidar em nosso país
o que se chama de capitalismo burocrático - um capitalismo empurrado pelo imperialismo,
que mantém as relações de produção dependentes e alinhadas ao latifúndio e ao capital
externo - ou Getúlio teria combatido tal sistema, e tentado construir um capitalismo
independente do imperialismo e aliado aos setores progressistas do país? Essas são
perguntas cruciais para uma análise materialista do regime getulista, que serão respondidas
ao longo do texto.

Um último adendo, antes de iniciar. Gostaríamos de deixar claro que rejeitamos o termo,
cunhado historicamente, por “populismo”. Tal termo, geralmente utilizado por historiadores
liberais, serve apenas a uma campanha de difamação e propaganda, tal qual o conceito
“totalitarismo”, que foi criado unicamente para comparar a Alemanha nazista a União
Soviética (uma comparação que deixa os mais cuidadosos desconfiados). Em um curso de
introdução ao pensamento marxista, o professor José Paulo Netto, ao criticar a suposta
“ciência política” que cunhou o termo “totalitarismo”, discorre um pouco sobre o
“populismo”: “essa mesma ciência política que cunhou o conceito de populismo, que explica
Franco, Videla, Perón, Vargas, Garotinho, Brizola. Suspeitem por favor desse tipo de clichê,
que não significa nada. São pérolas do cretinismo sociológico.”

Dito isto, vamos ao artigo.

Uma Breve Análise de Classes da Sociedade Brasileira – Quem são os nossos


inimigos? Quem são os nossos amigos?

Para determinar qual classe social Getúlio Vargas representou, precisamos, antes de tudo,
fazer uma análise de classes da sociedade brasileira, e assim, identificar quais classes são
inerentemente reacionárias e potencialmente revolucionárias. De acordo com o teórico
marxista Mao Tse-tung:

“Quem são os nossos inimigos? Quem são os nossos amigos? Esse problema é de importância
primordial para a revolução. A razão básica por que as anteriores lutas revolucionárias na
China obtiveram tão fracos resultados está no facto de não se ter sabido fazer a união com os
verdadeiros amigos para atacar os verdadeiros inimigos. O partido revolucionário é o guia
das massas, não podendo, portanto, a revolução alcançar a vitória se este as conduz por uma
via errada. Para não dirigirmos as massas pela falsa via, para estarmos seguros de alcançar
definitivamente a vitória na revolução, devemos prestar atenção à unidade com os nossos
verdadeiros amigos para atacar os nossos verdadeiros inimigos. Para distinguir os
verdadeiros amigos dos verdadeiros inimigos, impõe-se proceder a uma análise geral da
situação económica das distintas classes da sociedade chinesa, bem como da atitude que
estas tomam frente à revolução.” (ZEDONG, 1926)
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Devido ao caráter didático que pretendemos dar a esse artigo, não iremos fazer uma grande
análise pautada em argumentos históricos. Podemos dizer, sumariamente, que entre as
classes sociais brasileiras, estão principalmente: o proletariado, o campesinato, a pequena
burguesia, a média burguesia (ou burguesia genuinamente nacional) e a grande burguesia, ou
burguesia burocrática e exportadora. A partir disso, devemos determinar, como Mao
corretamente afirmou, quem são nossos inimigos e quem são nossos amigos.

Podemos afirmar, a partir de uma análise materialista, que a classe do proletariado, do


campesinato, da pequena e da média burguesia, tem uma tendência progressista a servir a
revolução democrática, contra o imperialismo e a grande burguesia burocrática (aqui ainda
não falamos de uma revolução socialista, e sim da revolução democrática que precede a
revolução socialista, importante salientar). Mas o leitor pode se perguntar: por que a
burguesia nacional se juntaria a revolução, sendo esta reacionária? Isso é facilmente
explicado a partir da análise das contradições da sociedade: em nosso país, devido ao caráter
semifeudal e semicolonial das relações de produção, a principal contradição existente é entre
os elementos nacionais e progressistas x o imperialismo e seus lacaios. O líder soviético
Joseph Stalin disserta sobre isso em seu histórico artigo “Sobre o Problema da China”:

“Consiste em estabelecer uma rigorosa diferença entre a revolução nos países imperialistas,
nos países que oprimem outros povos, e a revolução nos países coloniais e dependentes, nos
países que suportam a opressão imperialista de outros Estados. A revolução nos países
imperialistas é uma coisa: neles, a burguesia é a opressora de outros povos; neles, a
burguesia é contrarrevolucionária em todas as etapas da revolução; neles, falta o fator
nacional como fator da luta emancipadora. A revolução nos países coloniais e dependentes é
outra coisa: neles, a opressão imperialista de outros Estados é um aos fatores da revolução;
neles, essa opressão não pode deixar de afetar também a burguesia nacional; neles, em
determinada etapa e durante determinado período, a burguesia nacional pode apoiar o
movimento revolucionário de seu país contra o imperialismo; neles, o fator nacional, como
fator da luta pela emancipação, é um fator da revolução. Não fazer essa distinção, não
compreender essa diferença, identificar a revolução nos países imperialistas com a revolução
nos países coloniais, tudo isso significa desviar-se do caminho marxista, do caminho
leninista, e situar-se no dos partidos da II Internacional.” (STALIN, 1927)

Dessa forma, é necessário, como afirmado por Stalin, diferenciar a grande burguesia
burocrática da burguesia genuinamente nacional. Segue uma citação do artigo “A
mistificação burguesa do campo e a atualidade da revolução agrária”, também escrito pelo
Jornal A Nova Democracia:

“Chamamos atenção para a conceituação distintiva de burguesia burocrática e burguesia


nacional. A primeira grande burguesia brasileira atada ao latifúndio e ao imperialismo,
composta de duas frações básicas, a burocrática propriamente dita e a compradora. A
segunda, que é média burguesia ou burguesia genuinamente nacional. Burguesia nacional ou
média burguesia, cujo duplo caráter determinado por sua condição de oprimida pela grande
burguesia lacaia e pelo imperialismo de um lado, e por outro, pelo temor à classe operária e à
revolução, a faz uma classe vacilante, inconsequente e totalmente incapaz de encabeçar a
revolução democrático-nacional inconclusa e pendente.” (AND, 2002)

A partir desta breve análise das classes brasileiras, podemos voltar a pergunta introdutória:
afinal, Getúlio esteve ao lado da revolução, junto a ascendente burguesia nacional, ao
proletariado e ao campesinato, ou ao lado da contrarrevolução, junto burguesia rentista e
burocrática, e do latifúndio?
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Para o professor Fausto Arruda, Getúlio Vargas serviu a classe burocrática e rentista, serviu
ao latifúndio e ao imperialismo, e consequentemente consolidando o capitalismo burocrático
no Brasil. Como já dito, nós discordamos dessa análise, e iremos discorrer, baseado em
documentos históricos do período, uma outra possível análise do que foi, de fato, a Era
Vargas.

A Formação Ideológica de Getúlio – Um Fascista Reacionário ou Positivista


Progressista?

Para iniciar uma análise da classe social a qual Getúlio Vargas servia, é interessante
constatarmos quais eram suas ideias: o que defendia Getúlio, e de que forma isso pode ser
relacionado a suas políticas posteriores? Uma abordagem inicial sobre a formação política e
ideológica de Getúlio Vargas, desde seus anos de formação até sua consolidação como chefe
de estado, não é difícil de ser analisada. O gaúcho era influenciado por uma corrente muito
popular na época chamada Castilhismo – fundada pelo político Júlio de Castilhos, adotada
pelo Partido Republicano Rio-Grandense. Não iremos nos estender explicando cada ponto
dessa ideologia, mas nos limitaremos a dizer que é uma adaptação do positivismo, mesclada
com o trabalhismo, à realidade brasileira.

A partir disso, muitos afirmam, como prova material, que Getúlio Vargas era reacionário.
Afinal, o que há de mais reacionário que um positivista, que faria qualquer coisa em nome da
manutenção da “ordem”, incluindo a repressão de operários em nome das oligarquias? Esse
tipo de análise, entretanto, ignora que uma determinada ideologia, pode se manifestar de
diferentes formas em determinadas realidades. É sabido que, na França e em boa parte do
mundo, o positivismo se manifestou de forma abertamente reacionária, reprimindo as
aspirações revolucionarias do proletariado internacional.

Entretanto, como nos mostra o historiador marxista Eric Hobsbawm, em sua obra “A Era dos
Impérios”, apesar do positivismo ter se degenerado em aberração reacionária nos países
europeus, em países em desenvolvimento – sobretudo Turquia, México e Brasil – o
positivismo se manifestou de forma revolucionária, responsável por impulsionar a abolição
da escravatura (vale lembrar que, antes da Lei Áurea, Júlio de Castilhos já havia libertado
90% dos escravos de Rio Grande sem indenização aos escravistas); a fundação da República
Federativa do Brasil, derrubando a velha monarquia; e posteriormente, com a Revolução de
30 (apesar de Hobsbawm não citar, poderíamos elencar aqui o Tenentismo, cuja maior parte
dos militares envolvidos tinham alta influência positivista). Ainda poderíamos acrescentar os
avanços conquistados por certos presidentes de influência castilhista da República Velha
(como Borges de Medeiros, no Rio Grande) que buscaram ampliar a questão trabalhista no
país e até manifestaram apoio a Greve de 1917. (RIBEIRO, 2002)

Poderíamos discutir aqui ainda sobre os próprios posicionamentos progressistas de Comte,


fundador do positivismo, que sempre admirou e manifestou apoio aos movimentos
socialistas de sua época, mas isso é irrelevante para o presente artigo.

Tais aspectos progressistas do positivismo brasileiro não escaparam a Getúlio. O presidente


oligarca Washington Luís, que tratou de reprimir de forma massiva o proletariado brasileiro,
declarara em 1925, no que veio a ser tornar sua mais famosa frase:

“[...] entre nós, a questão operária é uma questão que interessa mais à ordem pública que à
ordem social” (LUÍS APUD RIBEIRO, 2002)

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Tal frase pode ser traduzida da seguinte maneira: a questão social é caso de polícia. Isso é, de
fato, um pensamento extremamente reacionário, que não representava os clamores do povo
brasileiro por melhores condições de trabalho. Na plataforma da Aliança Liberal em 1930,
Getúlio responde a tal estupidez:

“Não se pode negar a existência da questão social no Brasil, como um dos problemas que
terão de ser encarados com seriedade pelos poderes públicos. O pouco que possuímos em
matéria de legislação social não é aplicado ou só o é em parte mínima, esporadicamente,
apesar dos compromissos que assumimos a respeito, como signatários do Tratado de
Versalhes [...] Se o nosso protecionismo favorece os industriais, em proveito da fortuna
privada, corre-nos também o dever de acudir ao proletário com medidas que lhe assegurem
relativo conforto e estabilidade e o ampararem tanto nas doenças como na velhice. [...] A
atividade das mulheres e dos menores, nas fábricas e estabelecimentos comerciais, está, em
todas as nações cultas, subordinada a condições especiais que, entre nós, até agora,
infelizmente se desconhecem. [...] Tanto o proletariado urbano como o rural necessitam de
dispositivos tutelares, aplicáveis a ambos, ressalvadas as respectivas peculiaridades. Tais
medidas devem compreender a instrução, educação, higiene, alimentação, habitação; a
proteção às mulheres, às crianças, à invalidez e à velhice; o crédito, o salário e até o recreio,
como os desportos e a cultura artística. É tempo de se cogitar da criação de escolas agrárias e
técnico-industriais, da higienização das fábricas e usinas, saneamento dos campos,
construção de vilas operárias, aplicação da lei de férias, lei do salário mínimo, cooperativas
de consumo, etc.” (VARGAS APUD RIBEIRO, 2002)

Além da questão trabalhista, Getúlio ainda defende a anistia aos militares e civis integrantes
da Coluna Prestes, ressaltando que tal concessão:

“Não é, apenas, esta ou aquela parcialidade partidária que a solicita. É o país que reclama.”
(VARGAS APUD RIBEIRO, 2002)

E também defende a reforma agrária em todo o território nacional:

“É necessário atender à sorte de centenas de milhares de brasileiros que vivem nos sertões,
sem instrução, sem higiene, mal alimentados e malvestidos, tendo contato com os agentes do
poder público apenas através dos impostos extorsivos que pagam. [...] É preciso grupá-los,
instituindo colônias agrícolas; investi-los da propriedade da terra, fornecendo-lhes os
instrumentos de trabalho, o transporte fácil, para a venda da produção excedente às
necessidades do seu sustento. [...] Em não poucas das regiões mais próprias para a
agricultura, impera ainda o latifúndio, causa comum do desamparo em que vive geralmente o
proletariado rural, reduzido à condição de escravo da gleba. Nessas regiões, seria
conveniente, para os seus possuidores e para a coletividade, subdividir a terra, a fim de
colonizá-la, fazendo-se concessões de lotes, a estrangeiros como nacionais, a preços módicos,
mediante pagamento a prestações, além do fornecimento de máquinas agrícolas, mudas,
sementes...” (VARGAS APUD RIBEIRO, 2002)

Vemos aqui que, ao menos em discurso, Getúlio herdou todo o aspecto progressista dos
teóricos que o influenciaram. Não se tratava de um fascista, defensor da ordem acima de
tudo, aliado ao coronelismo e ao imperialismo, indo contra os interesses do povo brasileiro.
Se tratava de um político progressista, que defendia uma forte proteção da indústria interna,
a consolidação de uma legislação trabalhista, a anistia aos grandes revolucionários que
lutaram contra os oligarcas da República Velha, o voto livre e secreto, e a reforma agrária.

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É alegado, afinal, que mesmo com esses posicionamentos, Getúlio era um ferrenho
anticomunista. Ideologicamente, de fato, Getúlio sempre foi anticomunista. Em uma
conversa com sua filha Alzira Vargas, Getúlio disse que tanto o integralismo (leia-se fascismo
brasileiro), quanto o comunismo, eram ideologias estrangeiras, que não poderiam ajudar a
nação, sendo necessário uma ideologia de desenvolvimento própria, feita por brasileiros,
para que se atingisse os objetivos desejados (VARGAS, 1960). Tal posicionamento de Getúlio,
está ligado a uma limitação de classe. Como nacionalista, não via além dos interesses da
pátria, da principal contradição imperialismo e seus lacaios x progressistas nacionalistas, não
podendo avançar com a contradição capital x trabalho.

Tal limitação não se encontra, curiosamente, em Perón. O argentino sempre foi simpatizante
do marxismo, e apesar das difíceis relações com o Partido Comunista de seu país, nunca
deixou de manifestar apoio ao Movimento Comunista Internacional. Durante seu exílio, e,
portanto, não possuía nenhum interesse diplomático, Perón enviou uma carta ao líder
comunista Mao Tse-tung, cujos principais pontos transcrevo aqui:

“A partir deste exílio difícil, aproveito a magnífica oportunidade oferecida pelos jovens
líderes peronistas do MRP, gentilmente convidados por você, para enviar com a minha
saudação mais fraterna e amigável as expressões de nossa admiração por você, seu governo e
seu Partido; que conseguiram trazer à nação chinesa a conquista de tantas vitórias
importantes, que o mundo capitalista já começou a reconhecer e a aceitar. Seus pensamentos
e palavras de Mestre Revolucionário penetraram profundamente nas almas dos povos que
estão lutando para serem livres – nós entre eles – que debatemos, nos últimos dez anos, em
marchas e contramarchas próprias dos processos de um povo, preparamos as condições mais
favoráveis, para a luta final. [...] O exemplo da CHINA POPULAR, hoje a base inabalável da
Revolução Mundial, permite que os homens das novas gerações se preparem para a longa
luta com mais clareza e firme determinação. [...] em essência, somos coincidentes, e eu
expressei isso muitas vezes diante de nossos colegas, a classe trabalhadora e peronista da
Argentina. Permanecem os aspectos naturais e adequados de nossos países, que fazem suas
condições socioeconômicas, e que modificam de certa forma as táticas de luta. [...] os
companheiros operários poderão explicar nossos pontos de vista e o grande desejo de que as
mais profundas e mais sinceras amizades se consolidem entre nós.” (PERÓN, 1965)

Podemos concluir, dessa forma, que Getúlio não conseguiu avançar na questão marxista de
classe, ao contrário do presidente argentino. Entretanto, isso em nada tira o progressismo
dos seus pensamentos e ideais. Em nenhum momento Getúlio teve algum tipo de influência
fascista em sua formação ideológica, pelo contrário, até o presente momento, sempre esteve
ao lado das forças democratas da nação. Tal abordagem, é claro, foi uma análise apenas do
discurso, das propostas de Getúlio na Aliança Liberal, e nos diários e conversas que o mesmo
teve. Isso por si só não reflete, ao menos ainda, as políticas de Getúlio na prática, e na forma
que isso se relaciona com a sua classe.

E afinal, Getúlio foi um progressista na prática? Prossigamos.

A Defesa da Indústria Nacional – Getúlio: o Pai dos Pobres e a Mãe dos Ricos
(mas dos Ricos Brasileiros)

Um ponto que raramente é questionado dentro da historiografia, é o nacionalismo


econômico de Getúlio. Vargas foi um dos maiores defensores da indústria nacional que já
esteve na presidência. Isso foi, entretanto, uma necessidade histórica e classista, e não
necessariamente ideológica, ao contrário do que dizem certos getulistas. Após a crise da
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Bolsa de Valores de 1929, e a consequente queda do ciclo do café, o Brasil tinha dois
caminhos a seguir: ou permanecer dependente da exportação e produção de café, que
inevitavelmente iria levar o país a falência; ou promover a modernização e o desenvolvimento
das forças produtivas a partir de capital interno. A primeira opção representava os anseios da
classe oligárquica e coronelista que por anos governaram o Brasil; a segunda, os anseios da
pequena e média burguesia urbana (ou burguesia nacional), em sua inicial ascendência.

A Revolução de 1930, não foi nada mais do que a tentativa da consolidação desses anseios,
com seu auge durante o Estado Novo. Era a burguesia brasileira querendo consolidar sua
revolução e a independência nacional. Isso se deu através da própria estrutura econômica de
substituição de importações, a criação de inúmeras estatais, e assim por diante. De acordo
com o economista Nilson Araújo de Souza:

“Getúlio Vargas, consciente da necessidade do desenvolvimento interno do setor de meios de


produção dentro de uma estratégia de independência nacional, adotou, em seu segundo
governo (1951-54), uma série de medidas visando à sua produção” (SOUZA, 2005)

Citando ainda Francisco de Oliveira e Frederico Mazzuchelli:

“É deste ponto de vista que se entende o bloco de atividades produtivas, que se


materializaram sob a forma de empreendimentos estatais, consubstanciados na criação da
Petrobrás, na entrada em operação da Companhia Siderúrgica Nacional, na tentativa de pôr
em funcionamento a Companhia Nacional de Álcalis, na já modesta performance da
Companhia Vale do Rio Doce e no projeto da Eletrobrás, enviado ao Congresso Nacional e
apenas aprovado dez anos após.” (OLIVEIRA & MAZZUCHELLI APUD SOUZA, 2005)

Citando o historiador marxista Nelson Werneck Sodré, em sua obra magistral “Formação
Histórica do Brasil”:

“Assim, sob o impacto da crise, o país não só impulsionou um produto de exportação que há
muito permanecia em nível baixíssimo como desenvolveu um parque industrial capaz de
suprir a demanda interna. A produção industrial cresceu, realmente, entre 1929 e 1937, em
cerca de 50% e a produção primária para o mercado interno em mais de 40%. Assim, apesar
da depressão, a renda nacional aumentou em 20%, naquele período, o que significou um
incremento de 7% per capita, incremento significativo, e tanto mais se se levar em conta que,
no mesmo período, aquela renda decresceu. Celso Furtado observou, a respeito dessa reação:
‘Aqueles países de estrutura econômica similar à do Brasil, que seguiram uma política muito
mais ortodoxa nos anos de crise, e ficaram, portanto, na dependência do impulso externo
para recuperar-se, chegaram a 1937 com suas economias ainda em estado de depressão’.
Esperar do mecanismo tradicional o amparo da economia brasileira teria sido uma fórmula
suicida. A importância da crise, para nós, consistiu na resposta que os novos fatores deram,
ante as dificuldades, na dinâmica que o desenvolvimento brasileiro adquirira. As velhas
relações estavam minadas. [...] Num esquema simplista, a ditadura instaurada por Vargas,
em 1937, correspondia a uma tentativa de realizar a revolução burguesa sem o proletariado.
Sob a camada que lhe dava fisionomia, atrás da fachada policial, o Estado Novo, realmente,
buscaria compor as novas forças econômicas internas.” (SODRÉ, 1962)

Existe, entretanto, certas controvérsias nesse ponto. É afirmado, geralmente, que boa parte
dessa industrialização foi paga com capital americano. Getúlio realmente fez um jogo de
concessões com o imperialismo em meados do Estado Novo, quando cedeu bases militares
aos EUA para poder bancar a Companhia Siderúrgica Nacional.
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Para isso, deve se considerar o contexto da época. O Brasil, ao contrário do que dizem certos
udenistas, nunca teve flertes com o fascismo italiano ou alemão (nazismo). Apesar de sempre
prezar por manter a neutralidade e a as relações econômicas com todos os lados (não nos
esqueçamos que Getúlio estava bancando a industrialização), o Brasil já havia expulso do
território nacional, em 1938, o embaixador alemão Karl Ritter, após esse declarar apoio aos
Partidos Nazistas do sul do Brasil, que estavam sendo severamente reprimidos pela polícia
estado novista. Antes, vejam bem, da Segunda Guerra. De acordo com as memórias do
marechal Cordeiro de Farias:

“Declarei minha guerra à Alemanha em 1938, antes, portanto, do início da Segunda Guerra
Mundial” (FARIAS APUD RIBEIRO, 2002)

Em plena Segunda Guerra Mundial, dois navios brasileiros foram derrubados pelos nazistas
alemães. Novamente, certas frações da esquerda udenista buscam acusar os americanos pelo
ataque, como uma tentativa de pressionar o Brasil na entrada da guerra. Tais falácias são
devidamente refutadas no livro “U-507: O submarino que afundou o Brasil na Segunda
Guerra”, do jornalista Marcelo Monteiro. Haviam motivos de sobra para mandar as divisões
expedicionárias contra o Eixo.

Getúlio sabia, entretanto, que se envolver em uma guerra, traria gastos militares extensos
para a nação. Também sabia que os EUA estavam pressionando o país, inclusive com um
plano de invasão conhecido como “Rubber”. Enfrentar os EUA, à época, era impossível para a
parca força militar brasileira. Getúlio, então, usou um dos artifícios que mais o acompanhou
em sua vida política: a Realpolitik.

Getúlio se aproveitou da necessidade da época de entrar na Segunda Guerra, para bancar a


industrialização do país, cedendo bases militares aos EUA. Essa manobra de mestre foi bem-
sucedida, visto o triunfo da Força Expedicionária Brasileira na Itália, e a indústria siderúrgica
definitivamente consolidada no Brasil. Tal ato, entretanto, será um dos motivos políticos da
queda de Getúlio, como veremos ao final do artigo.

Por fim, as conquistas dessa política nacionalista logo transpareceram. Um exemplo,


geralmente esquecido, foi a educação. Citando o brasilianista Stanley Hilton:

“O número de estudantes por mil habitantes cresceu de 50, em 1929, para 80 dez anos
depois. A Revolução encontrou 28 mil escolas primárias em todo o Brasil; até 1940,
conseguiria um acréscimo de 14 mil. A população que frequentava as escolas primárias
aumentara em 75%, quando do início da guerra, em comparação com a de 1931; e o total de
estudantes inscritos em escolas de nível secundário aumentou de 90 mil para 227 mil...”
(HILTON APUD RIBEIRO, 2002)

Vamos agora para a análise do proletariado urbano na Era Vargas.

A Defesa do Proletariado Urbano – Seria a Legislação Trabalhista inspirada em


Mussolini?

Como se sabe, uma das maiores propagandas do governo estado novista era justamente sobre
a questão operária. Os famosos bordões do tipo “Pai dos Pobres”, ainda reivindicados pelos
getulistas fervorosos, devem ser abandonados absolutamente. Já vimos acima que as
políticas econômicas de Getúlio eram destinadas a classe da burguesia nacional, não podendo
assim, ser um representante da classe operária.
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Entretanto, é visível que em certos políticos da burguesia nacional de caráter progressista,


como Leonel Brizola e João Goulart, há a preocupação em auxiliar a classe trabalhadora. Em
parte, pelo próprio caráter conciliatório que os governos nacionalistas possuem, em
desenvolver economicamente e socialmente todas as classes que o sustentem. Por outro lado,
também pelo avanço de certa ideologia progressista dentre esses políticos, que acabam se
tornando um símbolo de luta até pela classe operária (como por exemplo, Brizola).

Isso se aplica a Getúlio. Abertamente influenciado pelo socialismo industrialista de Saint


Simon (como afirmado diversas vezes em entrevistas), é visível o avanço progressista que ele
dá em relação a classe operária em seu governo.

Já em 26 de novembro de 1930, é criado o Ministério do Trabalho durante o governo


provisório, no qual foram consolidadas as principais leis trabalhistas que o país já teve, hoje
ameaçadas.

Tal fato é de conhecimento geral, afinal, como já afirmado, era um dos pilares da propaganda
getulista. Devemos, então, analisar o caráter de tais leis, se realmente foram efetivas, ou
apenas “pelegas” e fascistas, com destaque para a Lei dos Sindicatos.

Certas frações da esquerda udenista, ainda que defendam a CLT atual, vociferam aos quatro
cantos: “vejam, a prova cabal do fascismo de Getúlio, as leis trabalhistas, inspiradas na Carta
del Lavoro de Mussolini”.

Em verdade, as leis trabalhistas brasileiras foram inspiradas muito mais no Marxismo do que
no fascismo. Isso porque o criador da maior parte destas leis, que forjaram o governo
getulista, foi Joaquim Pimenta: um ácido jornalista, socialista radical, e um dos ideólogos da
futura Aliança Nacional Libertadora. Ele foi convidado por Getúlio para participar no
Ministério do Trabalho e da consolidação das leis trabalhistas, incluindo a lei dos sindicatos.
Citando o jornalista José Augusto Ribeiro:

A segunda lei trabalhista importante, a lei dos sindicatos, de 19 de março de 1931, é que
estigmatizou o primeiro governo Vargas e até hoje tenta estigmatizar o trabalhismo
brasileiro, qualificando toda a sua legislação social de fascista e inspirada na Carta del
Lavoro, o código trabalhista de Mussolini. Teoricamente, a Lei dos Sindicatos reafirmava
apenas o que estava numa lei do início do século, que reconhecia o direito de os
trabalhadores se organizarem em associações representativas e incumbidas da defesa de seus
interesses coletivos e profissionais. Na prática, ela ia muito mais longe. Ela estabelecia, por
exemplo, o reconhecimento dos sindicatos pelo Ministério do Trabalho, e previa a
organização dos sindicatos, tanto de trabalhadores quanto de empregadores, em federações
profissionais, regionais ou nacionais, e em confederações nacionais. [...] Menos de um mês
depois da investidura do governo provisório, o Ministério do Trabalho tinha sido criado e
começava a funcionar. O ministro era o ex-deputado Lindolfo Collor, do Rio Grande, que se
especializara, como jornalista e parlamentar, em questões econômicas e financeiras. [...]
aceitando nomear Lindolfo Collor, Getúlio tomou a iniciativa – que Collor não rejeitou nem
contestou – de cerca-lo de especialistas na questão do direito do trabalho. Os dois primeiros
foram Joaquim Pimenta e o também professor Evaristo de Morais, igualmente socialista. Aos
dois juntaram-se dois outros socialistas, ainda mais radicais, Carlos Cavaco e Agripino
Nazaré [...] Eis o balanço que Joaquim Pimenta fez da ação do Ministério do Trabalho nos
três anos do governo provisório, de novembro de 1930 até a instalação da Assembleia
Nacional Constituinte, em novembro de 1933: ‘- Basta ... considerar que, em três anos de
governo provisório, atingimos, nos domínios do Direito do Trabalho, o mesmo nível de
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legislação de qualquer dos países europeus ou americanos, culturalmente mais avançados ou


mais antigos que o Brasil. O fato é tanto mais digno de apreço, porque, até 1930 ... estávamos
nós em um humilhante posto de retaguarda, ao lado, se não abaixo de nações que não
ofereciam o mesmo nível de progresso industrial, nem tão pouco as condições materiais de
existência de que já dispunha o povo brasileiro.’ Essas primeiras leis trabalhistas,
especialmente a dos sindicatos, foram todas elaboradas por Joaquim Pimenta, que, na lei dos
sindicatos, contou com a colaboração de Evaristo de Morais. Como seriam fascistas leis
elaboradas por Joaquim Pimenta e Evaristo de Morais?” (RIBEIRO, 2002)

Para encerrar de vez a alegação de que as leis trabalhistas eram fascistas, cito aqui Mario
Pedrosa, um dos maiores trotskistas que o Brasil já teve, e grande opositor do getulismo
(inclusive, este integrou a UDN):

“Nós, da esquerda, queríamos sindicatos livres da tutela do Estado e combatíamos a nova lei.
Mas não há dúvida de que existia um ponto positivo – ela garantia os sindicatos contra
invasões policiais, frequentes e comuns na época... Todas diziam que a nova lei era fascista,
mas no interior, se os sindicatos não recebessem as garantias que ela oferecia, não teriam
condições de sobrevivência.” (PEDROSA APUD RIBEIRO, 2002)

Vamos agora, para a Questão Agrária, um dos pontos mais controversos da Era Vargas.

A Defesa do Campesinato – Coroné Getúlio, pero no mucho...

Já vimos, que o discurso de Getúlio, enquanto um progressista, falava abertamente da


necessidade da reforma agrária e da melhora das relações de produção no campo.
Entretanto, é convencionalmente aceito que Getúlio, ao passo que se importou com o
trabalhador urbano, negligenciou o trabalhador rural, favoreceu o latifúndio, e etc. Tal tese é
aceita, inclusive, por renomados autores, como Boris Fausto. Comenta sobre isto, o
historiador Clifford Andrew Welch:

“Talvez o autor original da ‘tese básica vigente’ que condenava o governo Vargas por excluir
os camponeses dos direitos sociais seja Fernando Antônio Azevedo. Num livro baseado em
sua dissertação de mestrado, o sociólogo defendeu a tese da existência de uma ‘paz agrária’
entre o Estado e os ‘grandes proprietários’, a qual ‘baseou-se na exclusão política e social dos
camponeses e dos trabalhadores rurais’ (Azevedo, 1982, p.37). A evidência que Azevedo usou
para apoiar sua tese foi essencialmente teórica. A mesma ausência de provas faz do
renomeado sociólogo José de Souza Martins o mais prolífico dos propagandistas da ‘tese
básica’. No livro O poder do atraso, Martins escreveu: ‘Vargas estabeleceu com os ‘coronéis’
... uma espécie de pacto político tácito ... O governo não interferiu diretamente nem
decisivamente nas relações de trabalho rural. Não as regulamentou, indiferente ao seu atraso
histórico...’ (Martins, 1994, p.32).” (WELCH, 2015)

Entretanto, Clifford contesta essa tese convencional, evidenciando a enorme atenção que o
governo getulista deu aos trabalhadores rurais, dando vários exemplos disso. Não queríamos
fazer citações tão extensas, deixando o texto com caráter mais argumentativo, mas vale a
pena ressaltar todos estes exemplos:

“De fato, existe bastante evidência para mostrar como o regime Vargas procurou ‘organizar a
vida rural’ desde os primeiros meses de seu governo provisório, nos anos 1930, até seus
últimos meses de governo, em 1945. Nos anos 1980, a renovação do movimento camponês já
havia chamado a atenção dos cientistas sociais do Brasil. Estudos realizados com camponeses
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a partir desse período demonstraram como eles lembravam o ‘tempo de Getúlio’ como um
‘tempo de fartura’. ‘Ele deixou aquelas leis, que pobre não era cachorro, que não podia
mandar camarada embora, que tinha que pagar indenização’, relatou para a antropóloga
Verena Stolcke (1986, p.308, 327) uma trabalhadora rural chamada Dona Maria. [...] Para as
centenas de milhares de brasileiros que viviam no campo, longe das disputas políticas, a nova
legislação social seria o instrumento que os motivaria a aumentar a produtividade. Essa
possibilidade fez Vargas antecipar a promulgação de um código para todos os trabalhadores.
‘Tanto o proletário urbano como o rural necessitam de dispositivos tutelares, aplicáveis a
ambos, ressalvadas as respectivas peculiaridades’ (Vargas, 1938, p.28). [...] No início de 1931,
o novo ministro do Trabalho, Lindolfo Collor, articulou a filosofia sindicalista do governo
quando anunciou a organização social do campo. ‘Já que os sindicatos de trabalhadores
agrários praticamente não existem, será indispensável promover a formação de alguns deles
em vários estados’ (Collor, 1931). Em reunião com fazendeiros, Collor explicou que a
sindicalização seria o meio para que as duas classes (eles, os empregadores, e seus
empregados, os camponeses) poderiam ajudar a traçar a política agrícola do Brasil. Em
março, 4 meses depois da revolução, Vargas emitiu o Decreto 19.770 que explicou como o
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio de Collor assumiria a responsabilidade pela
regulação das condições de trabalho nos setores agrícola, comercial e industrial, registrando
as associações de empregador e empregado nas escalas local, estadual e nacional como
agências consultivas e técnicos do governo. [...] Mais uma vez, o governo Vargas revelava sua
intenção de promover a formação de sindicatos rurais, agora na Carta corporativista de 1937.
A Carta persistia em reunir sob a lei os trabalhadores agrícolas e todos os outros
trabalhadores. Em seu capítulo sobre a economia nacional (Art. 57 a 63), deixou espaço para
investigar as condições de trabalho na agricultura e para ‘racionalizar a organização e
administração’ do setor. Quando uma nova lei de sindicalização foi decretada (Lei 1.402, de 5
de julho de 1939), ela especificamente excluiu o setor agrário em seu artigo 58, determinando
no artigo 25, seção 4, que ‘as associações sindicais de grau superior da agricultura e da
pecuária serão organizadas na conformidade do que dispuser a lei que regular a
sindicalização dessas profissões’ [...] O debate sobre a organização da vida rural iniciada na
Era Vargas acentuou a nova disposição do Brasil para ‘racionalizar’ ou ‘modernizar’ os
diversos setores de sua economia. Para espelhar a moderna sociedade industrial, a sociedade
agrícola teve de se organizar. Vargas manteve as mudanças, e ninguém depois dele pôde
negar as consequências. As atividades econômicas do campo se desenvolveram em todos os
sentidos com a formação de 8 mil sindicatos de trabalhadores rurais [...] assim, o governo
Vargas nem excluiu nem ignorou o campo, mas gerou uma série de estudos, ideias, leis e
instituições para a organização da vida rural que se mostrou parte permanente de seu
legado.” (WELCH, 2015)

Conclui assim, Clifford:

“Certo ou errado, para muitos camponeses, ‘Getúlio era bom pros pobres’ (Stolcke, 1986,
p.327).” (WELCH, 2015)

Foi também durante a Era Vargas que se teve a primeira experiência de reforma agrária no
país, com o Estatuto da Lavoura Canavieira (BRASIL, 1941). Mais tarde, esse projeto de
reforma agrária seria retomado por João Goulart, e devido a isso, sofreu o lembrado golpe de
1964.

Um ponto, que geralmente é dito sobre isso, é que Getúlio teria garantido a manutenção, e
até feito um pacto de classe com os coronéis e latifundiários da República Velha. Tal ponto é
embasado, geralmente, na famosa compra do café paulista, feita pelo governo federal à
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época, para garantir que a produção de café fosse mantida. Entretanto, se Getúlio não
houvesse “salvado” os barões do café na época, como defendia Washington Luís, o colapso
econômico do país não afetaria tanto em si os coronéis – mas sobretudo, o proletariado
paulista, que estava tendo seu salário reduzido ao máximo, antes da legislação trabalhista se
concretizar. Getúlio em nada simpatizava com os latifundiários paulistas, mas a medida foi
necessária. Comenta sobre isso o jornalista José Augusto Ribeiro:

“O café era a riqueza e, nesse momento, o desespero das elites, não ainda dos trabalhadores
industriais da cidade. No início da crise do café, essas elites tentaram safar-se levando o
governo do Estado a tomar novos empréstimos estrangeiros para custear a política de
valorização dos preços [...] Em 1929, porém, com a dificuldade cada vez maior na tomada de
empréstimos, surgem iniciativas alternativas: ‘Outra providência que a oligarquia toma em
sua defesa – diz Vavy Pacheco Borges – é a baixa dos salários dos trabalhadores. Desde a
crise de 1929, os fazendeiros reduzem de 35 a 40% a remuneração do trabalho agrícola... Em
compensação permitem que esses empregados plantem cereais entre as ruas dos cafezais...’.
Até para preservar a simpatia e o apoio dos trabalhadores de São Paulo, Getúlio precisava
salvar as elites de São Paulo antes que a crise do café atingisse mais profundamente a cidade
e suas indústrias e levasse a elas a redução dos salários – que a ainda não tinham qualquer
proteção legal – e de quebra aumentasse os índices já perigosamente altos do desemprego
[...] Decidido a agir rapidamente, já em 1º de fevereiro de 1931 Getúlio assina o decreto que
permite a compra de estoques de café pelo governo federal. Era o que se pedia a Washington
Luís e ele recusara até o fim. Getúlio, porém, não se limita aos desejos dos barões do café, aos
quais Washington Luís recomendara um ‘salve-se quem puder!’, sem considerar que a
merecida ruína deles teria como consequência uma crise econômica e social devastadora. Os
barões do café estavam acostumados a nada ceder. Agora, porém, o governo não é controlado
por eles e impõe, compensando a permissão para a compra dos estoques encalhados, uma
taxa sobre cada pé de café, a proibição de novas lavouras e a retenção de 20% de todo o café
exportado.” (RIBEIRO, 2002)

Ainda contra os latifundiários, o governo federal tomou várias outras medidas. Uma delas,
identificadas no clássico “Cangaceiros e Fanáticos” de Rui Facó, obra antigetulista, foi o
desarmamento forçado dos latifundiários brasileiros, o que reduziu em muito (pelo menos
até o final da Era Vargas) os conflitos agrários:

“O PRINCIPAL GOLPE CONTRA O PODER político dos grandes latifundiários, sobretudo


nordestinos, em cujos domínios mais solidamente subsistiam os restos feudais, foi desferido
pelo movimento revolucionário de 1930. As armas não tinham sido depostas, e, por todo o
Nordeste, os ânimos ainda acendidos, eram desarmados os coronéis. A medida generalizou-
se. Na Bahia, o próprio chefe de polícia comanda a ação a diferentes municípios do interior,
detém coronéis, submete-os a interrogatórios, vareja-lhes as fazendas, arrecada-lhes as
armas. Os coronéis, como que haviam pressentido a tendência acentuadamente burguesa do
movimento de 30, a luta da burguesia brasileira por uma maior parcela no Poder. Desde a
primeira hora haviam lutado contra os revolucionários da Aliança Liberal.” (FACÓ, 1963)

Por fim, é necessário questionar: se Getúlio fez tantas políticas pelo campesinato, e
igualmente prejudicou a classe latifundiária, porque não realizou uma reforma agrária geral,
por todo território nacional? Aparentemente, pela limitação da classe burguesa enquanto
ascendente na época. A burguesia, apesar de sepultar a República Velha, não teve força para
consolidar uma legítima reforma agrária por todo o território, apesar dos casos isolados já
citados. Diferente foi o homólogo de Vargas no México, Cárdenas, que consolidou uma

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reforma agrária muito mais ampla, inspirada nos princípios zapatistas, o que abrangeu boa
parte do território mexicano (ainda que não todo).

Conclusão – O Legado de Getúlio Vargas e a Consolidação do Capitalismo


Burocrático

Após toda a análise feita, podemos concluir o seguinte: Getúlio Vargas foi o maior
representante político que a nossa burguesia nacional já teve. Por meio de um sistema de
conciliação com as classes progressistas (pequena/média burguesia, proletariado e
campesinato), combateu as velhas oligarquias e classes parasitárias, aliadas ao imperialismo,
que até hoje assolam o país. Promoveu o desenvolvimento das forças produtivas, a
consolidação das leis trabalhistas para auxiliarem tanto o trabalhador rural quanto urbano, e
a industrialização pesada do Brasil, melhorando em muito a qualidade de vida da população.
Lutou até o último dia de sua vida pela implantação de um capitalismo independente, livre
do imperialismo e do latifúndio, e ao se confrontar com os interesses do império (sobretudo
em seu segundo governo), pagou com sua vida, adiando por dez anos o golpe militar que
aprofundaria o processo de capitulação ao imperialismo e as oligarquias, anteriormente
derrubadas.

Sendo um representante da burguesia nacional, de sua fração progressistas, deve ser visto de
forma positiva pelos setores da atual esquerda brasileira – rejeitando tanto as mentiras
udenistas quanto as exaltações getulistas. Ele esteve, afinal, ao lado da revolução (com todos
os entraves e limitações que todos nós conhecemos).

Agora, uma questão fundamental: se não Getúlio, quem consolidou o capitalismo burocrático
(ou seja, empurrado pelo capital estrangeiro e com a manutenção das oligarquias) no Brasil?
Bem, após o suicídio de Getúlio e a ascensão de Juscelino Kubistchek à presidência, esse
tentou ampliar a industrialização de forma mais rápida e “eficiente”, ao seu ver. Para isso,
abriu o país para as multinacionais e ao capital internacional, acumulando uma enorme
dívida externa, abandonando definitivamente o projeto getulista.

Esse processo tentou ser revertido, em parte, pelo sucessor de Getúlio, João Goulart. E como
sabemos, após sua deposição e a instauração do regime militar, nosso país se afundou
completamente na dependência econômica de outrora. Infelizmente, pelo já dito caráter
didático do artigo, não abordamos várias outras questões que são importantes para tal
análise, como a repressão estado novista aos comunistas, a ditadura Vargas, a tentativa de
assassinato de Carlos Lacerda, e etc. Citamos então o economista Adriano Benayon, que
aborda esses e mais outros aspectos da Era Vargas:

“A soberania do País nunca foi plenamente exercida, mas, se houve governante que tomou
iniciativas para alcançá-la, esse foi Getúlio Vargas. Exatamente por isso, a oligarquia imperial
anglo-americana sempre conspirou contra ele, com a ajuda de pseudo-elites e de agentes
locais da política e da mídia, em geral recrutados por meio de corrupção. [...] Vargas fora
forçado, durante a Segunda Guerra Mundial, a ceder bases militares no Nordeste aos EUA, e
cometeu o erro de insistir em enviar a Força Expedicionária Brasileira à Itália. A FEB foi
equipada e armada pelos EUA e combateu sob comando norte-americano. Daí se criaram
laços entre os comandantes e oficiais de ligação estadunidenses e os oficiais brasileiros que
conspiraram nos quatro golpes pró-EUA (1945, 1954, 1961 e 1964.). Quando Vargas, eleito
em 1950, voltou à presidência, nos braços do povo, já estava em marcha a desestabilização de
seu governo, a qual culminou com o crime da rua Toneleros, já em agosto de 1954. O crime
foi dirigido pelo chefe da delegacia de ordem política e social (DOPS), famosa por seus
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métodos desumanos de repressão aos comunistas, desde a época do Estado Novo, instituído
por golpe militar, em 1937. Esse golpe proveio de oficiais do exército, que colocaram Filinto
Muller na chefia da polícia. Vargas, presidente constitucional desde 1934, permaneceu à
frente do governo, mas não teve poder e/ou vontade suficiente para limitar
significativamente as violências. Ele sempre foi contemporizador, negociava com pessoas de
diferentes tendências e, por vezes, as colocava ou mantinha no governo. Ao voltar Vargas, em
1951, continuou na DOPS o filonazista Cecil Borer, que vinha da administração do marechal
Dutra. Como tantos pró-nazistas, mundo afora, movido pelo anticomunismo, Dutra
subordinou-se aos interesses dos EUA. Apesar de seus erros, Vargas merece lugar de honra
na história do Brasil, por ter dado o indispensável apoio do Estado ao desenvolvimento
industrial, que despontava desde o início do século XX e ganhou força, de 1914 a 1945, graças
também à redução dos vínculos comerciais e financeiros com os centros mundiais, propiciada
pelas duas guerras e a longa depressão dos anos 30. [...] Foi, assim, inviabilizado o
desenvolvimento de tecnologias nacionais, a não ser por grandes empresas estatais ou apenas
em nichos menores, no caso de indústrias privadas nacionais, ainda assim, fadadas a ser
desnacionalizadas. Tanto o golpe de 1964, que instituiu os governos militares, como a falsa
democratização, a partir de 1985, intensificaram as políticas pró-capital estrangeiro em
detrimento do País. Os governos de 1954-1955 e 1956-1960 (JK) foram motores da
desnacionalização da economia. Os de Collor e FHC os mais monoliticamente entreguistas.
Nenhum operou reversões nessa marcha infeliz. A herança hoje é a desindustrialização e a
colossal dívida pública, tendo a União já gastado nela, desde 1988, quase 20 trilhões de
reais.” (BENAYON, 2014)

Por fim, não precisamos de mais um “Getúlio”, um político progressista, que venha tentar
reverter essa condição atual. A burguesia nacional provou ser incapaz de encabeçar a
Revolução Democrática, consolidando de forma quase profética as palavras de Stalin, de cem
anos atrás. Precisamos de um Partido Comunista de Novo Tipo, que conduza de fato uma
Revolução Democrática ininterrupta ao Socialismo.

Bibliografia:

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Disponível em: <https://anovademocracia.com.br/no-1/1447-a-mistificacao-burguesa-do-
campo-e-a-atualidade-da-revolucao-agraria>.

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<https://drive.google.com/file/d/1LyhGzbeMHbbc_Nkzf2uhg9G8GJxafPHX/view>.

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3855.htm>.

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<https://www.marxists.org/portugues/faco/1963/03/cangaceiros.pdf>.

MONTEIRO, Marcelo. U-507: O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra. 2012.

PERÓN, Juan Domingo. “Mi querido Presidente y Amigo”. 1965. Disponível em:
<https://www.infobae.com/politica/2017/07/08/la-carta-de-peron-a-mao-llevada-por-
militantes-que-iban-a-entrenarse-a-china/>.

RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas Volume 1 – 1982-1950. 2002.


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SOUZA, Nilson Araújo de. O Papel da Indústria de Base no Capitalismo e no Socialismo.


2005. Disponível em:
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