Capitulo 1 0 Mercado de Cavalos no Brasil cavalo exerceu um importante papel na formaco econdmica, social ¢ politica do Brasil. Essa meméria, pouco discutida na literatura, permite compreender as- pectos fundamentais para a configuragio do atual per- fil do agronegécio do cavalo. Como bem esti descrito no Estudo do Complexo do Agronegécio Cavalo sobre a importancia do cavalo na formacao do Brasil!, cita-se que: No aspecto econdmico, desempenhou as fungées de sela (para 0 vaqueito e 0 pedo, nas lides comuns 2 pecusiria); de carga (nos comboios ou comitivas); e de tragao (“motor” de veiculos de carga de moen- das), No aspecto social - englobando exibicionis- mo, vaidade, orgulho e diferenciagdo social — 0 cavalo desempenhou seu papel tanto na fungao de sela quanto de tracao dos veiculos. A partir da se- gunda metade do século XIX, destacam-se no as- pecto social as atividades de esportes e lazer, como corrida ¢ salto. Neste novo milénio, realgam-se mais ainda estas aptiddes equestres, e a procura pelo lazer por meio do cavalo é muito grande. O mercado equestre ainda € subdimensionado, ten- do muitos campos a serem explorados, mas a equideo- cultura é parte integrante da economia nacional. © mercado de cavalos no Brasil esté em franca ascensao. Os primeiros anos da década de 1990, no final do século XX, trouxeram uma dura realidade ao mer- cado de cavalos, artificialmente aquecido durante as décadas de 1970 e 1980. Pregos de cavalos, que antes facilmente alcangavam pregos de carros de luxo, des- pencaram assustadoramente. Aquela época, alguns criadores quiseram adotar me- didas, como as adotadas pelos Estados Unidos, para segurar 0 preco dos cavalos, como reduzir, em comum acordo com todas as racas, 0 ntimero de animais eria- dos por todos, Menor oferta, melhores pregos. Entretanto, algumas ragas diziam que a crise nfo era com elas e nio aderiram a essa campanha, Mas isso acabou por acontecer naturalmente, pois, como nao havia prego para os animais, mais de 80% dos criado- res abandonaram seus criat6rios, disponibilizando os animais a pregos irrisérios para 0 mercado, Claro que essa crise afetou todos os setores ligados ao cavalo,4 Parte 1-0 Cavalo como as indistrias de alimentos, suplementos, medi- camentos e produtos equestres. Mas essa disponibilidade de cavalos a prego baixo, que a princfpio desesperou muitos criadores, acabou por criar novas modalidades de mercado, que hoje se tornam mais interessantes para a indistria ligada a0 cavalo. Muitas pessoas, amantes do cavalo, que nao adqui- riam um por seu alto prego, conseguiram ter seu pri- meiro cavalo a um prego muito convidativo (muitas vezes de graca), criando e movimentando um setor ti- mido antes da crise, que é 0 de lazer. Essas pessoas, porém, no tinham onde colocar seus cavalos. Mais um segmento que cresceu muito nesta Litima década: as pensdes, baias de aluguel e pequenos Centros Hipicos em cidades que antes nada tinham, Diversas cidades passaram a contar com muitos ca- valos ligados ao lazer, apenas para passeio, mas que movimentam bastante comércio local, dando novo impulso a indiistria do cavalo. Antes, poucos proprietirios com muitos cavalos; hoje, muitos proprietirios com poucos cavalos. Tor- nou-se mais ficil cuidar methor de seus cavalos, abrin- do uma nova frente para a indistria ligada ao cavalo: produtos de beleza (xampus, condicionadores), suple- ‘mentos nutricionais e equipamentos hipicos passaram a ter uma importincia muito grande para compor 0 conjunto cavalo/cavaleiro para passeio. Muitas cidades passaram a organizar cavalgadas e desfiles coincidindo com as festas de pedo de rodeio, que também tiveram seu crescimento nessa época. Paralelamente a esse movimento do cavalo de pas- seio e lazer, um outro segmento teve uma trajetéria muito positiva, consolidando uma nova era para o fu- turo do cavalo no Brasil: cavalos para esporte. O segmento de cavalos de esporte tem diversas mo- dalidades, como enduro, provas de trabalho e rédeas, hipismo clissico (gragas, em parte, aos 6timos resul dos obtidos pelos nossos atletas no exterior, com des- taque para Rodrigo Pessoa, tinico tricampedo mundial € medalha de ouro na Olimpfada de Atenas, 2004), € mesmo em modalidades nem to tradicionais como Adestramento, destaque do Pan-americano de 2007, € no Hipismo Paraolimpico, em que o Brasil vem ga- nhando medalhas tanto no individual como por equi- pes na Paraolimpfada Equestre. Esses novos segmentos trazem uma perspectiva mui- to positiva, tanto aos eriadores, que t@m consumidores para seus cavalos, apenas com um perfil diferente da- quele da tltima década (antes, cavalos para criar, hoje, avalos para utilizar), como também para a crescente industria ligada ao cavalo. Sio consumidores cada vez mais exigentes com os beneficios que podem ter para seu cavalo, avidos por novidades, porém também por qualidade ¢ informa- des téenicas. A.cada dia mais e mais empresas comecam a produ- zir produtos para os equinos, tendo, na maioria das veres, 0 cuidado de procurar oferecer produtos de real qualidade e que tragam beneficios para os cavalos. Ao chegarmos a uma loja de produtos equestres, sempre aparece um produto novo, de uma empresa que, antes desconhecida no setor, esta entrando com produtos de qualidade para nossos animais. [sso somen- te pode demonstrar o interesse econdmico que esse seg- mento esta despertando. Aliada a isso, a procura por profissionais competen- tes e de real valor também tem se intensificado. © Brasil é 0 terceiro maior criador de cavalos do mundo, com quase seis milhdes de cabecas, perdendo apenas para China e México. Eo terceiro maior mercado de produtos veterindrios, atras apenas de Estados Unidos ¢ Japao. O mercado brasileiro de medicamentos apresentou um significativo crescimento nominal no perfodo entre 1997 e 2004 —quan- doas vendas mais que dobraram, de RS 923,629.719,00 para R$ 2.058.202.871,00—em termos reais. Estima-se que 0s produtos para equinos representam 2,6% desse mercado, respondendo por R$ 54.142,630,20 de fatu- ramento da industria em 2004, E importante destacar ‘que muitos criadores, proprietérios e tratadores utilizam, no plantel de equinos, medicamentos originalmente produzidos para outras espécies, destacando-se os pro- dutos direcionados para bovinos e, também, medica- mentos para humanos. (O mercado de cavalos pode ser dividido em quatro categorias, de acordo com a capacidade de consumo: 1, Equinos destinados ao esporte: Inclui centros de treinamento, jGqueis, propriedades particulares ¢ cas. 2. Equinos destinados criagio: O segmento de eria- io, ou haras, que apresentou acentuado dectinio na década de 1990, estando hoje estabilizado em relacio aos demais segmentos, acompanhando as ‘movimentagdes do mercado em conjunto, Equinos destinados ao lazer: A reduco da impor- ancia do haras resultou em queda dos precos dos avalos, facilitando 0 acesso de maior ntimero de pessoas. Isso fez com que o segmento de la- ver crescesse durante a década de 1990. Atual- mente, € 0 segmento que tem o maior mercado potencial de consumo. O mercado de lazer ~ me- nos técnico, menos especializado e menos exigen- te — tem potencial expressivo de crescimento: estima-se que poderia ser seis vezes maior do que € hoje, segundo dados da Confederagao Nacional da Agricultura, 4, Equinos de trabalho: Utilizados na lida didria com gaclo. Representam quase 85% do rebanho equino brasileiro, porém sio responsdveis por pequena parcela de consumo da indtistria equestre, 3, 0-698 IPZL-SH-BLG© Complexo do Agronegécio Cavalo € de grande importincia para 0 Brasil. As estimativas calculadas com base em critérios conservadores indicam, em 2006, que © complexo movimentou valor econdmico superior a RS 7,3 bilhdes anuais, Estima-se cerca de 640.000 pessoas ocupadas. Considerando que cada emprego direto corresponde a quatro empregos in- diretos, tém-se 3,2 milhdes de empregos diretos e indi- Capitulo 1-0 Mercado de Cavalos no Brasil 5 retos, relacionados ao cavalo no Brasil. Trata-se de nimeros expressivos. REFERENCIA BIBLIOGRAFICA 1. Esnuéo do Complexo do Agronegdcio Cavalo no Beast. Comins Se Estudos Avancados em Economie Aplicada da ESALQ. Contains ‘glo da Agricultura e Pecuésia do Brasil - Brasilia: CNA: MAES 2006. 68p. (Coletinea Estudos Gleba 40),