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ESTUDO DO FENÔMENO DE DIFUSÃO EM REGIME TRANSIENTE

Flávio Augusto Dias de Oliveira1, Prof. Dr. Luiz Carlos de Queiroz2

Faenquil/Dequi, Rodovia Itajubá Lorena, km 74,5


Caixa Postal 116 – CEP 12600-970 – Lorena – SP – Brasil
Tel: (12) 3159- 5140, Fax: ( 12 ) 3153-3224,
1
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Resumo O regime transiente é caracterizado por situações físicas nas quais a concentração do difundente
em um determinado ponto no elemento de volume varia ao longo do tempo. Tal comportamento leva à uma
distribuição da concentração do soluto tanto no espaço quanto no tempo, acarretando para cada
distribuição espacial de concentração uma concentração média variável com o tempo. Este trabalho
apresenta um modelo matemático de difusão em um meio semi – infinito em função do espaço e do tempo.

Palavras-chave: Regime transiente


Área do Conhecimento: Engenharia

Introdução dC
J1 = − D1, 2 (1)
dx
A catalise heterogênea, um sistema onde os Onde J1é o fluxo difusivo molar (moles/L2T) e
reagentes sob a forma de um fluido passam sobre D1,2 a difusividade molecular da espécie 1 em 2
um catalisador sólido, está presente na maioria (L2/T) e C a concentração do reagente em
dos processos catalíticos. (moles/L2).
Os sistemas de catálise heterogênea são Durante o processo de difusão, as moléculas
preferidos pelas indústrias de alta conversão que individuais podem sempre se difundir dentro do
geralmente trabalham com sistemas de reação sistema de poros ou ser adsorvido na superfície.
aberta, como por exemplo, sistemas com troca Devido a presença de paredes, em adição ao
contínua de matéria e energia. processo de difusão molecular que ocorre através
Nestes sistemas, fluxos de massa e energia das colisões molécula-mólecula, outro mecanismo
são pareados com reações químicas que ocorrem ocorrera, trata-se do choque das moléculas com
nos centros ativos da superfície dos poros do as paredes do poro. Em poros onde o seu
catalisador. Portanto, uma análise cinética destes diâmetro é pequeno quando comparado com o
sistemas deve ser incluída em cooperação com as caminho livre entre as colisões molécula-mólecula,
taxas de reação na superfície, as taxas de o transporte de massa através das colisões
adsorção e desorção das moléculas do reagente parede-molécula prevalece e é denominado
nos sítios ativos na superfície e a taxas do transporte de Knudsen. O transporte de Knudsen
processo de transporte de massa e energia. é dado pela equação, segundo THOMAS (1997):
Geralmente com sistemas de reação isotérmica
os seguintes passos são considerados, de acordo ψ RT
com CHRISTOFFEL (1989): Dk = 163 ρ pSg
1.Difusão dos reagentes da massa de fluido πM (2)
para a superfície externa da partícula catalítica. O coeficiente de difusão molecular efetivo pode
2.Difusão dos reagentes dentro dos poros. calculado invocando o fator geométrico ε / τ . Da
3.Adsorção dos reagentes na superfície dos mesma forma para o coeficiente de difusão de
poros catalisador sólido. Knudsen, isto porque as paredes dos poros da
4.Reação na superfície. partícula catalítica não são lisos e possuem
5.Desorção dos produtos. rugosidades que devem ser levadas em
6.Difusão dos produtos fora dos poros. consideração. Como a partícula catalisadora
7.Difusão dos produtos da superfície externa possui poros que tem diferentes tamanhos, o
do partícula catalisadora para a massa fluída. mecanismo de difusão molecular e de Knudsen
O fluxo difusivo dos reagentes gerado pelo ocorrem simultaneamente, os coeficientes de
gradiente de concentração é descrito pela lei de difusão de ambos os casos podem ser
Fick: relacionados pela equação de Bosanquet:

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1 1 1 Na situação em que BiM tende ao infinito, diz-se
= + (3)
que a resistência externa ao fenômeno de
Def D1, 2ef DKef
transferência de massa é desprezível em face ao
fenômeno difusivo que está se processando no
Muitas reações heterogêneas dão impulso a meio em que ocorre o transporte de matéria. Na
um aumento ou diminuição no número total de prática, pode-se considerar este valor para BiM >
moles presente no sólido poroso devido à reação. 50. Na situação em que este número tende a zero,
Em tais casos haverá uma diferença de pressão diz-se que o processo que rege a transferência de
entre o interior e o exterior da partícula e a massa está situado externamente ao meio onde
corrente forçada ocorre. Quando a trilha livre das há o fenômeno difusivo. Neste caso a resistência
moléculas do reagente é maior comparada com o interna é desprezível em face a externa, segundo
diâmetro do poro, a corrente forçada não é CREMASCO (1998).
distinguida da corrente de Knudsen e não é Em ambos os casos a equação da
afetada pelos diferenciais de pressão. Quando, continuidade molar A no meio difusivo é:
entretanto, a trilha livre for menor comparada com ∂C A
o diâmetro do poro e uma diferença de pressão = Def ∇ 2C A + R A''' (6)
existe através do poro, uma corrente forçada ∂t
(corrente de Poiseuille) resultante desta diferença
de pressão será superposta na corrente molecular.
O coeficiente de difusão Dp para a corrente
forçada depende do quadrado do raio do poro e da Materiais e Métodos
diferença de pressão total Δ P segundo THOMAS
(1997): Este artigo foi elaborado a partir de
ferramentas computacionais como o programa
r 2 ΔP mathematica 4.2 para a geração das curvas no
Dr = (4)
8μ gráfico através dos comandos:
O regime transiente Plot[f, x, {xmin, xmax}] gera um gráfico de f
como uma função de x (xmin para xmax
Na difusão em regime permanente há somente Show[g1, g2, … ] mostra vários gráficos
uma distribuição espacial da concentração do combinados.
soluto na região de transporte ao longo do tempo, A solução para a equação diferencial foi obtida
levando a uma única concentração média. com o auxílio da transformada de Laplace.
Porém, nos fenômenos de transferência de
massa em regime transiente existem situações Resultados
físicas nas quais a concentração do difundente em
um determinado ponto no elemento de volume MODELAGEM MATEMÁTICA
varia ao longo do tempo. Tal comportamento leva
à distribuição da concentração do soluto tanto no PERRY (1980) - Apresenta - se o problema da
espaço quanto no tempo, acarretando para cada difusão de um soluto num meio semi infinito x ≥ 0:
distribuição espacial de concentração uma
∂C ∂ 2C
concentração média variável com o tempo. Este =D 2 (7)
comportamento revela-se importante no estudo de ∂t ∂x
operações em batelada e no início de processos com as condições de contorno C(0,t) = C0,
contínuos. C(x,0) = 0 e determinou sua solução:
A difusão em regime transiente aparece em Tomando a transformada de Laplace de ambos
diversas situações: adsorção, secagem, os lados em relação a t,
permeação de um gás por uma matriz polimérica, ∞ ∂ 2C 1 ∞ ∂C
penetração de átomos de carbono em uma barra
de ferro na fabricação de aço, entre outras. A
∫0
e − st
∂x 2
dt = ∫ e − st
D 0 ∂t
dt (8)

difusão pode ocorrer sem a presença do


fenômeno da convecção mássica nas fronteiras do ou
meio difusivo ou difusão em regime transiente com
resistência externa desprezível e com a presença ∂2F 1 sF
da convecção mássica, ou seja, com presença de = sF − C ( x,0) = (9)
resistência externa. ∂x 2
D D
Pode-se diferenciar esses dois tipos de
resistência por intermédio do número de Biot onde
mássico, o qual está definido abaixo:
KL F(x,s) = Lt[C(x,t)].
Bi M = (5)
Def Portanto:

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∂2F s Figura 1. Concentração do difundente em função
− F =0. (10) da posição para vários instantes de tempo.
∂x 2 D
A primeira condição de contorno se transforma Discussão
em F(0,s) = C0/s. A solução da equação diferencial
ordinária com esta condição inicial e para qual F Os dados foram obtidos graficamente para
fica finito quando x → ∞ é F(x,s) = (C0/s)exp(- cada tempo t onde cada curva corresponde a um
sx/D). Uma tabela de transformadas mostra que a tempo diferente. Cada ponto foi obtido a partir da
função correspondente é: equação erro complementar no programa
⎡ 2 x / 2 Dt ⎤ mathematica 4.2.
C ( x, t ) = C0 ⎢1 − ∫ e −u du ⎥
2
(11)
⎣ π 0
⎦ Conclusão
Condições de contorno:
C(0,t) = C0 → L{C(0,t)} = C0/s A transformada de Laplace pode ser usada
C(x,0) = 0 → L{C(x,0)} = 0 como uma poderosa ferramenta no tratamento de
Pelo método da equação característica: de problemas de transporte de massa e calor onde
s equações diferenciais parciais se fazem presentes
y2 − =0 (12) nos casos mais complexos.
D
y = ± s/D (13) Referências
yx - yx
tem-se a solução F = C1e + C2e
[1]CHISTOFFEL, E. “Laboratory Studies of
F ( x, s) = C1e s / Dx
+ C2 e (14)
s / Dx
Heterogeneous Catalytic Processes”, vol 42,
Aplicando as condições de contorno, para que Elsevier Science Publisher B.V. New York, 1989.
a C fique limitada quando x → ∞ tem-se C1 = 0,
então substituindo F(0,s) = C0/s, tem-se que C2 = [2]CREMASCO, M. A. “Fundamentos da
C0/s: transferência de Massa”, Campinas, editora da
C0 − Unicamp, 1998.
F ( x, s ) = e s / Dx

s
(15) [3]THOMAS, J.M., THOMAS, W.J. “Principles and
Empregando a tabela de transformadas: Practice of Heterogeneous Catalysis”, Weinheim,
VCH, 1997.
⎛ 2 ⎞

x / 2 Dt
F ( x, t ) = C 0 ⎜⎜1 − e −u du ⎟⎟
2
(16) .
⎝ π 0
⎠ [4]PERRY, H. R. , CHILTON, C.H., “Manual de
Para a função erro complementar Engenharia Química”, Rio de janeiro, editora
guanabara dois S.A., 1980.
⎛ 2 x / 2 Dt ⎞
⎜1 − ∫ e −u du ⎟
2
(17)
⎝ π 0

foi gerada uma tabela de valores de x para
vários instantes tempo t:.

TABELA 1 – Valores de x para vários instantes t


t(s) 2,1 3,1 4,1 5,1 6,1
Desloc. 154,3x 127x 110,43x 99,01x 90,5x
t(s) 7,1 8,1 9,1 10,1 10,1
Desloc. 83,9x 78,56x 74,12x 70,36x 70,36x

Fazendo Co =1 [Mol/L3] e Def = 0,5.10-5 cm2/s é


obtido o gráfico C x X para cada t:
C
1

0.8 t = 10.1s

0.6

0.4

0.2 t = 1.1s
x
0.002 0.004 0.006 0.008 0.01

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