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REGÊNCIA E PEDAGOGIA DO CANTO CORAL – Prof.

: Vivian Assis

TÉCNICAS DE ENSAIO

A regência é uma atividade que exige a integração de habilidades e


conhecimentos em diversas áreas do fazer musical.
A regência tem muito mais a ver com o ensaio que com a apresentação.
Em qualquer organização musical, a proporção de tempo gasto com ensaio em
contraste com o tempo gasto com performance é, algumas vezes,
surpreendente. Daí percebemos que o ensaio representa, na verdade, a
performance do regente.
Apresentarei as principais técnicas de ensaio para diferentes grupos
corais. Algumas mais adequadas a um tipo de grupo do que outro. É importante
saber adequar as técnicas de ensaio ao grupo que se rege, com suas
características e capacidades específicas. Por exemplo, num coral infantil,
possivelmente será mais eficiente cantar o que se deseja, do que verbalizar; ou
talvez, verbalizar através de metáforas e não concretamente. Já num grupo
profissional, o mais adequado seja explicar o que se quer com justificativas
embasadas no estudo prévio da música.
O estudo aprofundado da partitura é essencial para reger qualquer
grupo. O regente geralmente não conhece adequadamente a partitura da peça
que interpreta.
- As técnicas de ensaio utilizadas pelo regente devem ser aplicadas em
função das músicas estudadas.
- A música delineada na partitura que vai dizer ao regente inclusive os
gestos físicos a serem utilizados em cada momento para expressar a idéia.
- O regente que conhece com profundidade a peça a ser interpretada
não ficará sem idéias quanto ao que fazer a cada ensaio.
- Além disso, ele estará cumprindo melhor o seu papel que é o de
reger a música, e não o de reger compassos, ou indicar todas as entradas
e cortes, como frequentemente se vê.

- ESTUDO DA PARTITURA – ANTES DO ENSAIO


- Forma sistemática do estudo de uma partitura:
- Do geral para o específico: do macro pro micro.
- Análise aprofundada do texto (em corais): Aquilo que caracteriza a
essência da música coral é o fato de que o veículo de expressão musical é
vocal, mas isso não é tudo: trata-se da expressão musical da voz sobre um
texto. Idéias musicais de compositores que compõe para vozes são inspiradas
pelo texto. É essencial que o regente compreenda profundamente a estrutura e
significado do texto para captar o processo de estruturação musical da peça
em que se encaixa.
- Análise formal da peça: visão mais global da partitura, características
formais da peça (seções), estabelecendo associações entre a forma e o texto.
Identificar as técnicas de composição utilizadas (imitação, melodia
acompanhada, duetos, cânones, etc.); os contrastes em termos de estilo,
andamento, densidade, textura. A análise musical é uma ferramenta de
aprendizagem, de aquisição de conhecimento e de construção de um domínio
da linguagem musical.
- Estudo da estrutura harmônica: determinando as tonalidades e
acordes do início e fim de cada seção e depois traçando o caminho utilizado
pelo compositor para ir de um ponto ao outro. Trabalhando seção por seção da
obra, identificando o material melódico principal, sem esquecer o
acompanhamento, observando as articulações indicadas e aquelas implícitas.
- Estudo sobre o compositor, o período em que trabalhou, as
características de seu estilo, ocasião para a qual a obra foi composta, como a
obra em estudo se encaixa em sua produção total e também a época da
história da música.
- O andamento: o regente deve definir com precisão o andamento da
peça, com embasamento. Em geral, as respostas que vão definir o andamento
estão na própria partitura, na forma da escrita, no tipo de subdivisões rítmicas
usadas, etc. Expressões de andamento não dizem respeito apenas à duração
absoluta das notas, mas também ao caráter e sentimento da obra.
- A análise aplicada à regência deve ressaltar principalmente: temas,
motivos, grupos motores (ostinatos, trêmolos), e suas reaparições, polifonia
(entradas, vozes principais), grau de dificuldade, planos auditivos, harmonia,
tutti e solos, orquestração, tensão musical. O conhecimento que advém da
análise é o maior apoio que o regente pode contar em um ensaio.
- Uma análise com sentido interpretativo: para conseguir extrair
conclusões reveladas pela análise para interpretação da música, com a
finalidade de possibilitar ao regente a correta execução da obra pelo
conhecimento da forma e da estrutura desta. Valorizar os elementos
expressivos da obra. (Ex: retardos, dissonâncias, pontos culminantes,
fraseados, articulações, caminho harmônico)
- Tornar inteligível o texto musical a ser executado é o primeiro dever
do regente, facilitando dessa maneira ao ouvinte a compreensão do mesmo.
Tornar inteligível o texto musical, entretanto, significa fraseá-lo, articulá-lo e
declamá-lo de acordo com o sentido musical das concatenações sintáticas
dos sons, do contraponto e da harmonia, conscientizando modulações, todas
as espécies de cadências, a preparação dos pontos culminantes, trechos e
períodos de tensão e afrouxamento, assim como todos os outros elementos
expressivos da composição.
- O regente deve cantar cada parte vocal para identificar intervalos
melódicos difíceis, por exemplo, aqueles que contêm grandes saltos
descendentes ou uma série de notas repetidas em uma região aguda.
- O regente deve ainda tocar a música toda para adquirir uma
impressão geral da peça e ainda antecipar dissonâncias harmônicas,
cruzamentos, ou modulações difíceis.
- O texto deve ser analisado para que seja possível identificar vogais
que necessitem modificação, ditongos, e consoantes sonoras que possam
causar problemas de desafinação.
- Os cantores devem ser guiados por uma pronúncia comum. Uma
dicção com máximo de clareza e compreensão de cada palavra.
- O regente deve examinar a escrita para as vozes para observar a
existência de cruzamentos e ciladas potenciais em termos de dinâmica, tal qual
um pianíssimo em uma tessitura aguda.
- O regente deve insistir na precisão absoluta da afinação. Os coros
devem ser capazes de afinar intervalos tanto horizontalmente dentro de cada
naipe quanto verticalmente em relação às demais vozes.
- Além disso, o estudo da partitura permite ao regente antecipar
problemas, planejar estratégias e formular um plano detalhado de ensaio
utilizando métodos pedagógicos eficientes.
- Em corais, mesmo o período de aquecimento pode estar diretamente
associado a demandas encontradas na partitura, ao repertório a ser
ensaiado. Técnicas específicas para a solução de problemas podem ser
discutidas e praticadas nesse período, de forma que, quando esses problemas
forem encontrados na música, o vocabulário e os métodos para solucioná-los já
serão conhecidos.

- Como estudo prévio, traçar o esquema de regência, com entradas,


cortes, dinâmicas, interpretação e praticar a regência da peça em frente ao
espelho. O estudo do gestual da regência vem integrar o conhecimento
teórico na manifestação corporal.
- Estudar a música e planejar o ensaio pode dar a você a
oportunidade de melhor prestar atenção nos cantores e nas habilidades de
cada um (liberdade), ao invés de prestar atenção em si próprio e nos próprios
eventuais erros e acertos, e naquilo que poderá acontecer na sequência do
ensaio.
 No entanto, o ensaio tem que permanecer flexível de tal maneira que o
plano pode ser modificado de acordo com os eventos.
 Três situações comuns que podem implicar na mudança de planos durante
o ensaio:
1. o grupo pode NÃO ter tanto problema em uma determinada parte da
música como você planejou;
2. ou o contrário pode também também acontecer;
3. os cantores ou instrumentistas podem ter chegado ao ensaio com um
nível de concentração variado e você vai precisar de mais tempo no
aquecimento para puxar a concentração do grupo.
 O estudo da partitura irá prepará-lo para reger a música e dará
ferramentas e sugestões de como ensaiar a música com o coro;
 Isto irá ajudá-lo a criar a suas próprias estratégias de ensaio. Exemplos:
1. a peça tem a forma ABA  compare as partes e estude suas
diferenças e similaridades;
2. harmonias fechadas e dissonâncias  antecipe estas dificuldades
durante o aquecimento.
3. dicção e pronúncia  elabore exercícios que venham a ajudar a
resolver eventuais problemas;
4. ritmo  fazer os cantores baterem o pulso enquanto cantam a parte
com problemas pode ajudar.

DURANTE O ENSAIO
- Tente fazer uma leitura completa de uma nova obra para oferecer ao
grupo uma visão geral da peça.
- Divida a obra em seções e ensaie passagens difíceis. Nessas
passagens, isole os elementos musicais – melodia, ritmo e texto (quando
houver) – e trabalhe um elemento de cada vez. Se muitas dificuldades forem
apresentadas de uma só vez, nenhuma será tratada apropriadamente.
- Enfatize desde o início a musicalidade; não ensine apenas notas e
ritmo para só depois acrescentar a expressividade. A atenção devida ao
fraseado, à linha melódica, e à expressão musical pode solucionar
indiretamente problemas de afinação de um coro, já que dá a passagem
melódica um senso de direção e energia.
- Interrompa o ensaio com um propósito específico e lide com um
objetivo de cada vez. Repetições devem fazer sentido; repetições de notas ou
quaisquer aspectos musicais incorretamente reforçam o erro. Notas
desafinadas não são apenas problemas de afinação; elas devem ser
consideradas como notas incorretas. Vá direto ao ponto com um mínimo de
palavras.
- Para direcionar qual passagem a ser ensaiada, comece com a
página, depois sistema e em seguida o compasso (do macro ao micro). No
ensaio de passagens problemáticas, muito tempo é perdido por se escolher
pontos não apropriados para se começar uma passagem musical.
- Quando tiver que insistir no trabalho com algumas notas, tente sempre
ensaiar pelo menos duas vozes ao mesmo tempo para que o contexto
harmônico seja estabelecido.
- Trabalhe regularmente com seus movimentos gestuais. Por meio
deles, pode-se economizar tempo de ensaio e instruções verbais
desnecessárias.
- Misture procedimentos corretivos técnicos com aqueles que
envolvem metáforas ou imagens.
- Misture instruções verbais com modelos vocais. Uma das formas
mais rápidas de se explicar a necessidade de uma mudança é demonstrar
vocalmente o som indesejado produzido pelo grupo e em seguida mostrar o
som desejado.
- Quando possível, faça ensaios de naipes separados, tanto em corais
quanto em grupos instrumentais.

DEPOIS DO ENSAIO
- Grave, quando possível, os ensaios e ouça-os para descobrir
problemas que não são evidentes durante o ensaio. Gravações de ensaios
podem ser muito úteis para que se ouçam erros não observados pelo regente
enquanto concentrado em outros problemas.
- Também podem ser utilizados para revelar quão eficiente o regente
utiliza o tempo de ensaio.
- A comparação entre procedimentos corretivos positivos e negativos
também pode ser de grande valia.
- Planeje constantemente novas estratégias de ensino. Quando uma
série de técnicas corretivas não surtirem os efeitos desejados, o regente
deverá usar o período entre os ensaios para avaliar porque ela não funcionou e
desenvolver novas estratégias. O educador criativo está constantemente
buscando novas formas de transmitir conhecimentos.
- O ouvido do regente se desenvolve mediante um processo constante
de audição crítica, avaliação, e planejamento de soluções. A prática dessas
habilidades fora do contexto do ensaio prepara melhor o regente para a hora
“h” no ensaio, quando decisões rápidas têm que ser tomadas. O regente
encontra-se constantemente diante das questões: “o que você está ouvindo? O
que você vai tentar resolver primeiro? Como você tentará solucionar o
problema?
O Ensaio
- O ensaio de um coral deve sempre começar com um aquecimento
vocal. Tudo o que envolva técnicas de emissão do som, associado a outros
itens como disciplina, relaxamento, técnica vocal, aquecimento vocal. O
aquecimento vocal tem uma importância fundamental nesse processo  o
ensaio começa com o aquecimento e isso significa que ele não é só uma
preparação física/vocal para o ensaio, mas também uma preparação
psicológica. O indivíduo passa a deixar para fora da sala de ensaio a
“vida”referente àquela realidade. Da mesma forma que o desaquecimento é
uma volta ao “mundo externo.”
- Nos primeiros momentos do ensaio, após o aquecimento, é
aconselhável revisar o material do ensaio anterior para reforçar a segurança
adquirida pelo grupo com o repertório.
- Ensaiar seções que não ficaram bem fixadas previamente é uma
boa estratégia no planejamento do ensaio.
- Às vezes, a maior parte do ensaio será dedicada à apresentação de
uma nova música. Tal período deve ser acompanhado de informações
históricas sobre o compositor e de um estudo do texto e do seu autor. Aspectos
específicos da música – métrica, mudanças tonais, técnicas melódicas –
devem ser todos demonstrados e ensaiados.
- Trabalhar sempre em função da sonoridade que você deseja.
- Nos momentos finais do ensaio deve-se recapitular os progressos do
dia e os aspectos positivos da performance do grupo no ensaio.

- Em resumo, ensaiar é por si só uma arte dentro da arte. É essencial


que todo regente desenvolva habilidades estratégicas e eficientes de
ensaio. É necessário que cada regente chegue ao primeiro ensaio com todas
as perspectivas e sons da produção final já completamente internalizados.
- O regente deve conhecer o nível atual de habilidade do grupo, as
habilidades exigidas para a execução da peça do repertório, e a maneira
exata pela qual um tempo específico de ensaio deverá ser eficientemente
utilizado para deixar o ponto inicial da jornada e ir diretamente a sua conclusão
satisfatória.
- Cada momento desperdiçado num ensaio deve ser multiplicado pelo
número de integrantes presentes. Assim, em um grupo de 100 instrumentistas
ou cantores, o regente desperdiça 100 minutos para cada minuto perdido.

- O repertório deve ser uma preocupação do regente!


- Grande parte do sucesso de um coro (em termos de afinação) é pré-
determinada pela seleção de repertório, por parte do regente.
- Escolha criteriosamente as obras que irá trabalhar de acordo com sua
capacidade e a do grupo a ser regido.
RESUMO
Estudo da Partitura
 Antes do primeiro ensaio, maestro deve estudar a partitura;
 Problemas devem ser previstos e soluções planejadas antes do primeiro ensaio.

Planejando o ensaio
 Um plano para cada ensaio ajuda a manter a concentração no ensaio e facilita o alcance de
objetivos.

Ensaiando o Coro
 Regendo a música X ensaiando a música;
 Estudando a música, estudando a regência, planejando o ensaio;
 Prevendo erros X Achando soluções;

Técnicas de comunicação com o coro e instrumentistas acompanhadores

 Comunicação não-verbal: gestuais de regência, expressão facial, contato


com os olhos, linguagem corporal  estas mensagens passam para o coro;
 Comunicação verbal: informações, instruções, correções;
 Há algum problema musical?
 Isole o problema musical:
1. se o problema atinge todo o coro, trabalhe rapidamente voz por voz;
2. isole o problema ritmico ou melódico trabalhando o trecho sem o
texto;
3. verifique se os acordes estão certos;
4. faça o coro cantar o ritmo do trecho problemático;
5. faça as outras vozes cantarem com a voz que está tendo problemas.
 Para diagnosticar uma área com problemas:
1. estude a música antes do ensaio;
2. por exemplo: problema  sopranos cantando com afinação baixa.
3. causa: vogal fechada; solução: modificar o formato da vogal;
4. causa: apoio respiratório fraco; solução: trabalhar a respiração;
5. causa: linha longa para os sopranos; solução: fazer respiração
alternada;

 Achando a solucão para o problema: inclui não só informar ao coro sobre o


problema, mas também achar a solução e fazer o coro trabalhar a solução;
 O coro tem que cantar pelo menos as notas e o ritmo certo  é o mínimo
que podemos oferecer para uma platéia;
 Tenha mais de uma solução para o problema, assim você terá a certeza de
que a solução será definitiva.

Incentivo aos cantores


 Cantores precisam de ouvir bons comentários desta maneira eles dão o retorno mais rápido às
exigências do maestro;
 Da mesma maneira os cantores precisam saber quando eles não estão desempenhando bem o
trabalho deles.
Referências Bibliográficas:

ANDRADE, Antônio Lincoln Campos de. Apostila de Regência Coral.

FONSECA, Carlos Alberto Pinto. Apostila de Regência Coral.

GALLO, J. A.; GRAETZER, G. E.; NARDI H.. El Director de Coro – Manual de


para la Dirección de Coros Vocacionales. Buenos Aires: Ricordi, 1979.

MARTINEZ, Manuel. Regênica coral: Princípios básicos.Curitiba, Editora Dom


Bosco, 2000.

MATIAS, Nelson. Coral – um Canto Apaixonante. Musimed, Brasília: 1986.


Zander, Oscar. Regência Coral. Editora Movimento, Porto Alegre:1979.

MOORE, James A. Como organizar e realizar um ensaio coral eficiente. In:


Convenção Internaciontal de Regentes de Coros 1999. Brasília (anais).

OAKLEY, Paul. O Ensaio Coral: a performance do regente. In: CONVENÇÃO


Convenção Internaciontal de Regentes de Coros, 1999. Brasília (anais).

SILANTIEN, John. Técnicas de Ensaio Coral para aperfeiçoar a Afinação. In:


Convenção Internaciontal de Regentes de Coros, 1999. Brasília (anais).

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