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Diálogos sobre a paisagem:

A participação como estratégia de leitura da paisagem periférica

ST1 - ESTRATÉGIAS E PROJETOS PARA ESPAÇOS DE TRANSIÇÃO

WEHMANN, Hulda Erna


Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, professora da Universidade Anhembi Morumbi,
wehmann.hulda@gmail.com

COMOLATTI, Greta
estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, FAUUSP, greta.comolatti@usp.br

OLIVEIRA, Maria Isabel M. T.


Estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, bel.magalhaes.o@gmail.com

SILVA, Elane Lopes


Estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Anhembi Morumbi, elanelopes25@gmail.com

DAMASCENO, Tauane Lima


Estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Anhembi Morumbi, tauane.lima345@gmail.com

AYUMI, Andreia
Estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Anhembi Morumbi, andreiaayumi9@gmail.com

RESUMO
Como se constrói uma paisagem? O que significa paisagem em Brasilândia, distrito na periferia norte de São Paulo?
É a partir destas perguntas que se apresenta os processos participativos como estratégia essencial para a leitura e
proposição nos espaços de paisagem remanescentes nas regiões periféricas, discutindo os resultados alcançados
através de oficinas de leitura do espaço urbano e proposição por alunos de escolas públicas da área, sedo conduzida
como parte integrante de um projeto de extensão. Percebeu-se que a interlocução assim estabelecida permitiu a
transferência de conhecimentos entre sociedade e paisagistas que efetivamente possibilitam a intervenção
democrática na paisagem como criação coletiva. Como resultados, concluiu-se que metodologias de diálogo com os
habitantes da paisagem que antecedem as primeiras intenções projetuais permitem um melhor entendimento das
especificidades manifestas na área de estudos, fundamento necessário para uma proposição adequada e respeitosa
no contexto estudado.

PALAVRAS-CHAVE: Oficinas de participação, paisagem coletiva, Brasilândia

1 COMO SE APRENDE A DIALOGAR SOBRE A PAISAGEM?

Como se constrói uma paisagem? Esta pergunta, aparentemente simplória, é de grande


complexidade, mobilizando para sua resposta definições do que é paisagem, de quais seriam
seus componentes e a quem caberia sua produção. Cada um destes conceitos demanda
reflexão adequada e existem múltiplas posições divergentes na literatura acadêmica
relacionada, ocasionando a conhecida polissemia do próprio termo paisagem.
É justamente por sua multiplicidade de sentidos que o projeto de intervenção na paisagem
requer o desenvolvimento de sólida base teórica para a proposição de intervenções na
paisagem, em especial quando os interlocutores se expressam a partir de saberes
diferenciados, tal como a academia e as comunidades periféricas. Por essa razão é que se
propõe a discussão que fundamenta este artigo: o papel dos projetos de extensão na formação

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profissional do arquiteto paisagista como ferramenta de capacitação para entendimento de
contextos e para proposição de intervenções na paisagem. Resultado de um processo
continuado de acompanhamento da luta pela implementação do Parque Municipal da
Brasilândia, numa parceria entre universidades e a comunidade local, apresenta como
discussão a série de oficinas realizadas com escolas situadas no entorno do futuro Parque
(Escola Municipal de Ensino Fundamental Mário Lago, no Jaraguá, e o Centro para Crianças e
Adolescentes Arte na Rua, em Brasilândia), discutindo seu impacto específico sobre as
estudantes facilitadoras da oficina, sob o ponto de vista da formação profissional enquanto
arquitetas paisagistas, e a participação como parte da estratégia de intervenção projetual.
Para tanto, o artigo está estruturado da seguinte forma: em sua primeira parte, será discutido o
papel específico da extensão como desenvolvimento da interlocução entre a universidade e a
sociedade, e de que maneira a definição de paisagem utilizada se coaduna a proposta
extensionista. Posteriormente, apresenta-se o solo onde se desenvolveram as ações, o distrito
de Brasilândia, no norte do Município de São Paulo. A seguir, descreve-se as oficinas e
resultados alcançados, e, finalmente, discute-se as contribuições percebidas para a formação
das alunas facilitadoras e seu papel fundante para a elaboração projetual posterior,
apresentando qual o papel de estratégias participativas para a produção de propostas de
intervenção na paisagem.

2 A PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA, A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E O ENSINO DE


PROJETO DE INTERVENÇÃO NA PAISAGEM

É verdade que existem diferentes compreensões do que deve ser a extensão universitária, à
medida em que o elemento comum a todas as iniciativas é a parceria entre a universidade e a
sociedade, a partir da qual as atividades acadêmicas se voltam para o atendimento de
demandas orientadas por setores sociais externos à academia. Pode-se dividir a atual
concepção de extensão em duas tendências: uma, de inspiração americana, que trata
principalmente da transferência de conhecimento e tecnologias à comunidade externa à
academia, com maior aproximação do setor empresarial, e uma outra, originada na Inglaterra,
que especificamente na América Latina associa-se à mobilização da universidade para
enfrentamento das questões contemporâneas das sociedades.
Cumpre assim distinguir a faceta aqui adotada. Para a justa compreensão do que se defende
neste trabalho, entende-se a extensão universitária um viés específico, qual seja, “uma cultura,
como uma prática, como um compromisso, indispensáveis à plena realização da universidade
como instrumento emancipatório” (DE PAULA, 2013, p.22), tendo como sujeitos tanto os
professores e estudantes envolvidos, quanto os destinatários das ações.
É neste sentido que se pode compreender a extensão universitária como chave importante
para a formação profissional de indivíduos capazes de atuar numa realidade complexa tal como
a brasileira, especialmente sobre um objeto dinâmico tal como a paisagem, este bem coletivo e
intangível sobre o qual atuam os trabalhos de paisagismo. A importância da inserção dos
pesquisadores no contexto se dá pela necessidade da aproximação de racionalidades, da lógica
de quem projeta e daquele que habita o lugar.
Assume-se importante para o desenvolvimento de projetos a percepção dos direitos coletivos
sobre a paisagem e sua produção, que expressa em si as contradições sociais da mesma forma

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como as ações individuais esboçadas a partir de esperanças e desejos, compondo um mosaico
sobre o qual as intervenções paisagísticas são um elemento a mais. É neste sentido que se
apresenta a seguir uma breve discussão sobre o entendimento da paisagem como construção
coletiva, e o papel do diálogo entre os sujeitos envolvidos no projeto como elemento
importante na elaboração de propostas paisagísticas.

2.1 A paisagem como construção coletiva e a participação comunitária

Compreender as dinâmicas presentes no espaço compartilhado da paisagem exige mais do que


processos de participação que variam da simples consulta para a aceitação de um projeto pré-
elaborado ou para indicações de usos desejados. Esta questão se torna ainda mais relevante
quando assumimos, conforme nos diz Arnold BERLEANT (1997), que a paisagem é produto de
uma experiência estética entre o homem e seu espaço de vida, conformando uma interação
significante capaz de produzir uma consciência do sujeito sobre si mesmo e seu espaço
habitado que o autonomiza e transforma. (LIMA et al, 2017).
Tais experiências se produzem a partir das camadas materiais e simbólicas depositadas sobre
os espaços, espécie de “artialização coletiva” contida na cotidianidade (WEHMANN, 2016), e
por isso espaço significativo de co-criação coletiva, a ser inserida de forma consciente, caso se
deseje realmente uma solução projetual inclusiva e democrática. Destaca-se especialmente a
importância deste entendimento no trato dos espaços de intervenção paisagística em áreas
periféricas, nas quais, conforme Ermínia Maricato (2001), “a exclusão é um todo”: territorial,
ambiental, econômica, racial, cultural, etc.”. A exclusão socioeconômica representa uma
exclusão da cidadania, negando-se mesmo direitos humanos como ao sonho e à experiência
estética, reservado como um “direito incompressível” (LIMA et al, 2017), uma necessidade
secundária, acessível apenas àqueles cuja renda mensal permite o luxo do “tempo livre” e da
cultura paisagística.
Por isso, considera-se extremamente necessária a ampliação dos espaços de diálogo como
forma de democratização da paisagem, especialmente nos espaços de periferia urbana. Neste
caso, a própria formação universitária deve prever a possibilidade desse encontro entre a
comunidade e os futuros profissionais da paisagem, concretizando os conhecimentos
adquiridos em teoria no solo concreto da realidade. Por tratar-se principalmente de ações que
visam compartilhar, dialogar e interagir, a extensão universitária cumpre um importante papel,
indissociável do ensino e da pesquisa, de capacitar o futuro profissional para a interação com a
realidade, e a coletividade, e as paisagens diversas que se constroem em um lugar.
A partir destes sentidos da paisagem é que se propõem as oficinas relatadas a seguir,
direcionadas a estabelecer um diálogo sobre as paisagens percebidas e desejadas pelas
crianças habitantes do entorno do futuro Parque Municipal de Brasilândia. A realização das
oficinas foi um esforço conjunto entre os grupos de extensão de cursos de arquitetura de duas
universidades (ANHEMBI -MORUMBI e USP), e destinava-se a produzir insumos para o projeto
do futuro parque. Para um melhor entendimento das ações realizadas, realiza-se a seguir uma
descrição do Distrito de Brasilândia, substrato das oficinas discutidas.

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2.2 Brasilândia: solo concreto da interlocução sobre a paisagem

O distrito da Brasilândia situa-se na região noroeste de São Paulo, pertencente à subprefeitura


de Freguesia do Ó/Brasilândia. (FIGURA 1). Uma área conformada a partir dos violentos
contrastes da sociedade que a desenham, expressando em seu espaço as contradições centro-
periferia, e entre o uso humano e sua base biofísica, com um intenso adensamento
populacional, caracterizado pelas favelas, ocupações irregulares e alta densidade construtiva,
em contraponto com a rica natureza que resiste a expansão urbana. Conforme OLIVEIRA et al
(2017) a paisagem que se descortina no distrito “é, assim, um prenúncio do conflito vivo dentro
da região: a luta pela moradia e pelo direito à paisagem”.
Figura 01 - Localização dos distritos do entorno da Brasilândia e áreas verdes mais
significativas

Fonte:Google Earth, trabalhada pelas autoras

Esta justaposição de interesses em conflito torna o distrito uma região de muitas


peculiaridades. Ao mesmo tempo que se destaca pela fragilidade sócio - ambiental, com
grande densidade de população, carência de equipamentos públicos, e pela grande
concentração de favelas, é palco de luta de movimentos sociais e coletivos culturais, que
acrescentam às lutas por objetivos concretos, como moradia e acesso à serviços urbanos, as
demandas mais sensíveis por requalificação ambiental de sua paisagem natural e cultural. Foi a
partir da necessidade de lutar para obter acesso aos serviços públicos que nasceram vários
grupos de articulação e organização comunitária. Atualmente, dois grupos de ativistas têm por
objetivo a implementação do Parque Municipal da Brasilândia: O Movimento em Defesa do
Parque da Brasilândia e o Ousadia Popular.

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Sua morfologia urbana é definida pela topografia acidentada, as ocupações são delimitadas
pelas linhas de talvegues e cumes, as vias de estruturação local estão nos fundos de vales,
acompanhando a sinuosidade das curvas de níveis ou cortando-as em ladeiras (WEHMANN,
2017). É também uma região de rica hidrografia, cuja densidade construtiva da urbanização
sem planejamento formal é interrompida por remanescentes de mata Atlântica (FIGURA 2).
Figura 02 - Foto aérea a partir do Jardim Damasceno mostrando a inserção do parque

Foto: Ize Kampus, 2015

O futuro Parque da Brasilândia, grafado como Zona Especial de Proteção Ambiental desde o
Plano Diretor Estratégico de São Paulo de 2004, é uma esmeralda verde em espaço tão
densamente construído, conserva em seu interior dois córregos, diversas nascentes e uma área
de mata nativa preservada. A área estabelecida como parque está dividida em diferentes lotes,
parte de propriedade pública, e outra em processo de desapropriação desde 2011. (Figura 3). A
proposta é que funcione como um parque urbano, atendendo à população do distrito de
Brasilândia, que não está contemplada com nenhuma área verde pública significativa em todo
seu território – o único outro equipamento de espaço livre público, o já mencionado Parque
Linear do Canivete, é uma predominantemente pavimentada e pouco arborizada cujo objetivo
principal é a proteção da área de APP do Córrego do Canivete. Não é sem motivo que é descrita
pelos moradores como a “´praça”, indicando sua vocação como espaço livre público sem
identificação com um espaço “de natureza”. A peculiaridade do Parque Municipal da
Brasilândia seria justamente a oportunidade de mesclar os benefícios da presença de áreas de
relevância ecológica à posição de equipamento público. Essa característica é também um dos
principais entraves à sua implementação: a secretaria responsável pelos parques urbanos em
São Paulo alega não possuir recursos para a criação de novos parques na Zona Norte da cidade,
caso não se trate de “parques de natureza”, sem acesso direto do público.

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Figura 03 – Mapa Fundiário da área proposta para o Parque Municipal da Brasilândia

Foto: Google Earth, trabalhada pelas autoras


A reivindicação pelo parque, portanto, não se dá somente para que a região possua uma área
pública de lazer qualificada, mas também para que se viabilize a preservação dos recursos
naturais presentes no local. (Figura 4).
Figura 04 - Córrego da Onça na entrada do parque a partir da Avenida Cantídio Sampaio

Foto: Acervo LABPARC, 2017


A riqueza ambiental encontra-se ameaçada pela fragilidade social que caracteriza a população
do distrito, cuja situação de vulnerabilidade social, conforme dados do Índice Paulista de
Vulnerabilidade Social (IPVS), aumenta à medida em que se aproxima dos espaços protegidos
da Serra da Cantareira, confirmando a “estranha coincidência” entre os espaços de exclusão e
as áreas ambientalmente frágeis apontados por Ermínia Maricato (2008), entre outros.
A ocupação da área do hoje Distrito de Brasilândia se inicia em 1947 com o loteamento de um
antigo sítio. Abriga inicialmente imigrantes estrangeiros, migrantes oriundos do nordeste e do
oeste paulista, e trabalhadores saídos do centro de São Paulo (WEHMANN, 2017), que naquele
momento com as obras das avenidas centrais - inspiradas nos planos higienistas - são retirados
dessas áreas, agora privilegiadas, o que resulta no crescimento da periferia, processo que
continua significativo, mesmo nos dias atuais (BASTOS, 2012). Entre 1991 a 2000, houve um
acréscimo de 20 mil habitantes ao distrito, paralelamente ao desmatamento de 23 ha na área
lindeira da serra da Cantareira. Já de 2000 a 2010, o distrito ganhou 30 mil novos moradores,

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implicando em uma ocupação densa e, pelas possibilidades técnicas disponíveis às classes
populares, marcadamente horizontal. A pressão sobre os espaços livres disponíveis é
significativa. As ocupações irregulares têm um papel de destaque, metade do distrito é
composto por loteamentos irregulares, ocupações e favelas (ANGILELI, 2012). É evidente na
paisagem essa nova ocupação, os desmatamentos nas áreas antes não tocadas evidencia a
linha de tensão entre a expansão urbana e a áreas ambientais, trazendo diversos conflitos do
ponto de vista urbano, social e ambiental.
De acordo com ANGILELI (2012), atualmente nota-se que a dinâmica de expansão tem se dado
internamente ao distrito, em que a população que migra para as áreas sensíveis são pessoas
que não conseguem mais se manter nas áreas já consolidadas da Brasilândia, seja pelo alto
valor dos aluguéis, ou pela necessidade de obter uma casa própria, sendo obrigadas a migrar
para áreas menos consolidadas, carentes de infraestrutura e de condições básicas de moradia.
Tal processo pode ser observado na área do futuro parque, cuja ocupação inicial, de caráter
reivindicatório, tornou-se permanente, resultado na Favela da Capadócia, além de um
loteamento que se expande em área já reservada para o parque (Figuras 05). O resultado, além
da degradação da área do futuro parque, degradado pela apropriação privada e inadequada do
que deveria ser patrimônio ambiental público, implica em processos de erosão, desmatamento,
assoreamento dos cursos d’água, despejo de resíduos nos córregos, expondo os moradores da
área mais precária a maior vulnerabilidade.
Figuras 05 – Progressão da ocupação da área destinada ao futuro Parque Municipal da
Brasilândia

Foto: Google Earth, trabalhada pelas autoras

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De acordo com os dados censitários de 2010 a população local pode ser caracterizada como
predominantemente jovem, pertencentes a famílias de renda mensal entre 1 e 5 salários
mínimos, sem acesso a carência de espaços públicos qualificados - equipamentos de cultura,
saúde, esporte e lazer. É justamente a percepção destas carências e do significado ambiental e
social da área verde remanescente que deu origem à mobilização em prol da implementação
do parque, inspirados na experiência do processo que deu origem ao Parque Pinheirinho
d’água, situado a oeste da Brasilândia no distrito de Pirituba.
Observa-se a importância da experiência de espaços livres qualificados para a formação do
vocabulário de direitos que configuram conjuntamente o direito à cidade (LIMA et al, 2017). A
luta pela implementação do parque foi uma ação participativa entre moradores, estudantes e o
poder público. Durante o processo de mobilização, as escolas situadas no entorno da área
proposta para o parque realizaram atividade para o estudo do meio físico da região e dos
córregos próximo, utilizaram-se de questionários para o levantamento dos desejos e demandas
dos moradores, realizaram oficinas para elaboração do projeto com visitas de campo, estudos e
debates. Tudo isso com o protagonismo de crianças e jovens que assumiram e encabeçaram as
entrevistas e a leitura do território junto aos adultos, possibilitando e balizando as decisões
programáticas. Elaborando um conteúdo riquíssimo debatido em reuniões junto ao corpo
técnico da Prefeitura para realizar o projeto (LIMA; QUEIROGA; GONÇALVES, 2007). A criação
desse parque é uma bela inspiração para novos processos participativos, principalmente na
Brasilândia, situada tão próxima e com uma demanda crítica por espaços livres públicos, a
potencialidade das áreas não ocupadas remanescentes e a existência de grupos de organização
comunitária dispostos interessados na questão, além das escolas dispostas a prover esse
protagonismo das crianças e jovens. Foi a partir desta experiência que se propôs trabalhar com
as escolas de Brasilândia, como estratégia de fortalecimento da luta pelo Parque Municipal da
Brasilândia.

3 OFICINAS DE VER/SONHAR A PAISAGEM

As oficinas foram propostas como parte de uma ação que visava realizar, em parceria com as
escolas e movimentos sociais atuantes na região do futuro Parque Municipal de Brasilândia,
situado no distrito de mesmo nome, na Zona Norte de São Paulo, um processo participativo
com professores e estudantes para a leitura do lugar. Com isso, espera-se contribuir não só
para uma melhor compreensão das questões específicas do ambiente e da paisagem locais nos
currículos escolares, como construir conjuntamente com estes atores uma percepção renovada
sobre Brasilândia, para a comunidade acadêmica e para os moradores do lugar, e que
produzissem, ao mesmo tempo, insumos para uma proposta de projeto inicial para o Parque
Municipal de Brasilândia.
Analisando o contexto social vivido pelas crianças residentes em Brasilândia, é notável a
ausência de apropriação dos espaços livres públicos, prejudicando o seu desenvolvimento
saudável, tanto numa perspectiva física, quanto nos aspectos mais subjetivos da formação da
personalidade. Portanto, a proposta da Oficina objetivou estimular o reconhecimento do
espaço livre a partir daquilo que elas idealizam, ou seja, a partir de suas perspectivas
adquiridas através de suas percepções e vivências anteriores.
As oficinas realizadas tiveram sua metodologia construída conjuntamente entre a Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo e a equipe docente da Escola de Ensino Fundamental Jardim

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Damasceno I - EMEF Jardim Damasceno I, e enriquecida pelo conhecimento empírico dos
militantes pela preservação da área do Parque. Esse sistema, estruturado em torno do princípio
“Ver, Compreender e Sonhar a Paisagem”, procura sensibilizar gradualmente o olhar dos
participantes para a visão da paisagem do parque. Dessa maneira, procura-se despertar a
percepção das belezas escondidas por entre os espaços do cotidiano, permitindo sua
ressignificação como área de integração com a natureza, de dignidade e de esperança.
As mesmas oficinas foram aplicadas, no estudo a que se refere este artigo, na Escola de Ensino
Fundamental Mario Lago – EMEF Mario Lago e no Centro para a Criança e o Adolescente Arte
na Rua – CCA Arte na Rua. As oficinas consistiram em duas etapas, uma primeira realizada na
EMEF Mario Lago e no CCA Arte na Rua, e a segunda realizada apenas no último. Sua estrutura
geral foi de em um primeiro momento os jovens desenharem o que viam no entorno da escola,
então buscar observar mais atentamente os locais em que passavam todos os dias por meio da
necessidade de observar para só então conseguir desenhar. No segundo momento propôs-se
uma atividade de localizar suas casas e espaços públicos de lazer em um mapa, e ir
simultaneamente listando os usos e a diferença de usos em cada um deles(Parque Linear do
Canivete, CEU Paz, Espaço Cultural Jd. Damasceno e, por fim, campo de futebol e cachoeira
localizados no interior do Parque da Brasilândia); para então, apresentar o território do futuro
Parque da Brasilândia, e assim, desenvolver, maquetes propondo espaços e usos para o lugar,
por meio de materiais recicláveis.
Um dos primeiros aprendizados das experiências realizadas em escolas da Brasilândia foi como
as oficinas podem ser diversas e apresentar resultados diferenciados, ainda que sempre
enriquecedores. Dependendo das variáveis existentes, local, objetivo da oficina, contexto e tipo
de público; a oficina se transforma, o que torna o processo de elaboração dela mais complexo
e mais rico. Apesar do planejamento cuidadoso, a imprevisibilidade está sempre presente. É
justamente essa “reinvenção” da oficina, operada na interlocução entre as facilitadoras e os
participantes que permite perceber sempre novos sentidos conferidos às experiências de
paisagem relatados/desejados.
Uma das oficinas foi realizada na EMEF Mario Lago com crianças de 10 anos. Numa adaptação
da proposta original, sugerida pela professora que acompanhou a oficina, os alunos fizeram um
pequeno trajeto nas ruas ao redor da escola relatando o que viam e, por fim, ao pararem em
uma praça desenharam o que consideravam como “coisas boas e ruins” que tinham observado
na paisagem e propuseram mudanças que gostariam para o espaço. A proposta era que,
através dos desenhos, fosse possível desvendar os desejos de paisagem daquelas crianças;
insumos que poderiam ser utilizados para elaborar o projeto do parque (FIGURA 6).
Figura 06 – Registro da Oficina com os alunos da EMEF Mario Lago

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Foto: Acervo das Autoras, 2017
No entanto, apesar de ter sido possível identificar alguns desejos, observou-se uma dificuldade
propositiva, superada apenas após algum tempo. Percebe-se assim que o maior ganho da
oficina para as crianças foi pedagógico, ao proporcionar um novo olhar das crianças sobre a
paisagem. Retornando à sala de aula, em uma conversa sobre o que tinham achado da
atividade, uma criança relatou ter gostado por “agora estar prestando mais atenção nas coisas
que vê todos os dias, coisas que estão sempre ali, mas que nunca tinha parado pra pensar”.
Esta fala, e a dificuldade inicial de proposição apresenta uma barreira presente nos processos
participativos: a dificuldade de visualização do devir, inerente ao exercício da profissão
propositiva, por parte da população, especialmente quando imersa em espaços cotidianos tão
agressivos que a alienação do espaço causada pelo dano estético1 cotidiano (BERLEANT, 1997)
parece a única forma de sobrevivência possível.
Pensar no papel que esta pequena ação possui sobre as crianças é estimulante. Relatos de uma
das coordenadoras indica que as primeiras oficinas, realizada com a EMEF Jardim Damasceno I,
ainda em 2016, são ainda hoje lembradas como um momento especial pelos alunos
participantes. Ademais, a sensibilização com a paisagem gera a possibilidade de ser criada uma
identidade positiva com o lugar. Ao tratar de regiões da periferia da cidade de São Paulo, que
são estigmatizadas cotidianamente pela mídia e pela sociedade como o lugar do “crime, da
ilegalidade, de onde há muito lixo na rua e esgoto”, pensar associações positivas ao território
se torna essencial, evitando o que Arnold Berleant (1997) denomina de dano estético,
associado desde enfermidades psicológicas à questões como a alienação social. Compreender e
pensar sua paisagem permitiu às crianças (re)construí-la, materialização assim a noção do
habitar o território, tal como a trabalha Heidegger (1975), quando diz que é impossível habitar
sem a construção do lugar, física e, principalmente, poeticamente.
A segunda oficina realizada propôs a elaboração de maquetes de como poderia ser o Parque
(FIGURAS 7, 8, 9 e 10). Se por um lado, na primeira oficina, foi possível identificar problemas,
potencialidades de espaços e demandas por lugares de lazer, na segunda parte foi possível

1
Berleant cunha o termo dano estético para definir as experiências estéticas negativas, que culminam
na alienação do homem de seu espaço de vida. (1997, p.11).

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identificar elementos desejados para o Parque. Analisando as maquetes percebe-se a
constante questão da água e da arborização. A água aparece em quase todos os produtos, seja
representando o córrego da forma que está (poluído), seja numa indicação de desejos
sonhados, como áreas de banho em lagos ou até piscinas. É tristemente curioso que, numa
área marcada por sua rica hidrografia, o descolamento entre o indivíduo e seu espaço de vida,
associado à uma ocupação urbana incoerente com seu meio biofísico e precariamente servida
em seus direitos urbanos, a água apareça como utilizável apenas num contexto de sonhos não-
alcançados.
Figuras 07, 08, 09 e 10 – Maquetes realizadas pelos alunos do CCA Arte na Rua

Foto: Acervo das Autoras, 2017

Outra demanda comum são brinquedos, balanços, gangorras, escorregadores, uma pista de
skate e um campinho. (FIGURAS 11, 12, 13 e 14). Aparecem também com frequência bancos e
mesas de piquenique, e o espaço sempre ocupado pelas próprias crianças, através de bonecos
de massinha que os representavam. Talvez representem um desejo de uma cidade em que
possam usar e viver, ao invés de estarem restritas aos espaços fechados e “protegidos”, desejo
despertado a partir das poucas experiências de cidade proporcionada pela própria escola. É
interessante notar, por fim, que os elementos naturais eram normalmente os primeiros a
serem colocados. As crianças começavam fazendo o sol, um céu, o córrego ou alguma árvore.
Inconscientemente representado o surgimento primeiro da base biofísica que suporta,
condiciona e é alterada pelos processos humanos que se desenvolvem sobre ela, esse cuidado
em determinar primeiro “o espaço da natureza” nas propostas indica, talvez, uma percepção

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clara de sua importância e significado, destacando a necessidade de manutenção e expansão
das áreas de “experiência de natureza”, raramente associadas à experiência contemplativa que
geralmente se associa a noção de paisagem.
Figuras 11, 12, 13 e 14 – Maquetes realizadas pelos alunos do CCA Arte na Rua

Foto: Acervo das Autoras, 2017

Aspecto importante a ressaltar é que, apesar dessa importância, o conflito por espaço de
realização dos direitos que lhe são negados na desigualdade presente nas áreas urbanas
brasileiras já se manifesta. Uma menina, por exemplo questionou ao colocar sua casa no meio
da sua maquete, ou seja, no meio do parque. Às vezes, pode ser difícil defender a construção
de um parque em um contexto como o Distrito da Brasilândia, que há uma enorme demanda
por moradia. Em lugares como esse, espaços remanescentes são disputados por demandas
contraditórias. Sabe-se que este é o resultado do descaso e da segregação socioespacial que
estrutura a construção do espaço urbano brasileiro. Por princípio, tais demandas não são
contraditórias, mas concorrem conjuntamente para a qualidade da vida urbana. Porém, a
manifestação concreta e as demandas urgentes do território produziram questionamentos e
debates. No caso da elaboração da oficina foi encontrado um grande obstáculo: como tratar a
área do parque com as crianças sendo que possivelmente algumas morariam dentro da área,
ou seja, estariam passíveis de remoção caso fosse elaborado o parque por completo? Essa
temática suscitou discussões a serem trabalhadas nas oficinas anteriores, sobre a necessidade
da discussão do direito à paisagem (LIMA et al, 2017) e do direito à moradia como demandas
inerentes ao pleno direito à cidade.

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4 AS CRIANÇAS E A PAISAGEM: APRENDENDO NAS ESCOLAS A PENSAR A PAISAGEM
PERIFÉRICA

A realização de processos de efetiva participação, como os relatados nesta oficina, ou seja, que
proporcionam espaço efetivo de livre expressão entre os participantes, permite estabelecer um
contato com a comunidade, permitindo vivenciar empaticamente o cotidiano dos moradores.
Através disso, é possível identificar as realidades existente, a partir dos relatos das crianças e
educadores locais, num diálogo que enriquece a todos os interlocutores. Os dados coletados na
oficina servirão para fundamentar a proposição de um parque como parte do projeto de
extensão, a partir da interpretação da leitura do território atual quanto dos desejos de viver a
cidade como paisagem compreendidos das falas e expressões das crianças. Sem este diálogo, a
proposição do parque se torna abstrata, enquanto que a interlocução com o lugar a partir
daqueles que o constroem cotidianamente permite entende-lo como espaço concreto. Neste
sentido é que se percebe uma maior contribuição das ações realizadas para a formação dos
estudantes de graduação enquanto profissionais do espaço compartilhado da paisagem
coletiva.
Para os participantes da oficina, refletir sobre a paisagem, enquanto experiência da realidade
concreta ou como desejo de experiências sonhadas, permitiu realizar a transposição da
vivência cotidiana para experiências significativas. Nas palavras da jovem participante, agora as
“coisas que sempre estiveram ali”, mas que nunca tinha “parado para pensar”, agora lhe
chamavam atenção. Pode-se falar assim nas oficinas de paisagem como uma “aprender a
apreender”, um despertar para o espaço de vida. Considera-se este um processo significativo
de despertar da alienação imposta pela rotina do cotidiano fragmentado contemporâneo,
reduzindo o dano estético, origem de tantas problemáticas de afetam o indivíduo urbano do
nível pessoal ao social.
Ao mesmo tempo, o exercício de criar oficinas que “fizessem sentido para as crianças”,
condição necessária para que participassem ativamente da atividade (conforme precioso
conselho dado por educadora do CCA Arte na Rua) estimulou nas estudantes facilitadoras da
oficina um dos sentidos do conhecimento preconizados por Paulo Freire na prática
extensionista, qual seja:
“O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer uma ação
transformadora sobre a realidade. Demonstra uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção.
Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao
reconhecer-se assim, percebe o “como” de seu conhecer e os condicionamentos a qual está submetido seu ato.
[...] Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito e somente enquanto sujeito, que o homem
pode realmente conhecer.” (FREIRE, 2010, p. 27 apud DE PAULA, 2013, p.18).

Para intervenções na paisagem, a importância desse processo é justamente o questionar o


sentido da paisagem como dimensão compartilhada e coletiva territorializada num contexto
específico, estabelecendo ao mesmo tempo um diálogo entre grupos diferenciados. A riqueza
do processo participativo na paisagem está assim presente na preparação para o diálogo, na
interlocução em si e na reflexão posterior que permite. Como relata uma das facilitadoras da
oficina, em discussões sobre os resultados alcançados:

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“Procuramos estimular a transformação de um olhar passivo em um olhar ativo, olhar atentamente aos usos
desses espaços e suas potencialidades para então conseguir propor alterações que se viam como necessárias e
desejadas pelas crianças. O caminho, se bem observado, é bastante parecido com as atribuições de um
arquiteto-urbanista, que foi exatamente onde ancoramos a nossa possibilidade de contribuição aos jovens, um
tipo de conhecimento que estava conosco e que efetivamente poderíamos passar adiante. Ver e conseguir ver
que as coisas poderiam se configurar de outro modo não é algo banal.”

A compreensão do papel do arquiteto na produção do espaço percebido, especialmente nas


regiões periféricas urbanas, demanda a consciência das possibilidades da profissão no contexto
socioeconômico em que se insere. Assim, a intervenção paisagística atua como além de uma
intervenção na paisagem urbana, mas sim, como uma intervenção social, compreendendo que
toda modificação paisagística afeta diretamente as pessoas envolvidas. Concretiza-se a noção
da participação como estratégia essencial para o desenvolvimento de projetos para
intervenção na paisagem, conquanto respeitam seu sentido como co-criação coletiva e
expressão da relação entre o homem e seu espaço de vida.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos alunos e professores da Escola de Ensino Fundamental Mario Lago e Centro
para a Criança e Adolescente Arte na Rua, pelos participação, conselhos e conhecimentos
compartilhados, sem os quais o aprendizado relatado neste artigo não teria sido possível.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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