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MODOS GREGOS PARTE 1

A escala maior natural

Para entrarmos este assunto, primeiro precisamos entender a escala maior natural. No
exemplo abaixo, temos a escala de dó maior:

Essa é formada por sete notas, e a distância entre cada uma dessas notas e a nota
seguinte pode ser de um tom ou meio. O intervalo de meio tom ocorre apenas entre o
III-IV graus e entre o VII e I. Vimos assim que a escala maior natural é formadas por T
T ST T T T ST, gerando os intervalos de 2M, 3M, 4J, 5J, 6M e 7M em relação à tônica
da escala.

Os modos gregos

Os modos gregos são uma espécie de inversões da escala maior. Se tocarmos a escala de
dó maior, a partir da nota dó, teremos o modo dó jônio, que nada mais é do que a
própria escala natural em seu estado fundamental (continuaremos com a configuração
de T T ST T T T ST). Se tocarmos essa mesma escala a partir do segundo grau, a nota
ré, teremos o modo ré dórico, e obteremos assim uma nova configuração de escala T ST
T T T ST T (e conseqüentemente novos intervalos) , conforme mostra a figura abaixo:

Se quisermos montar o modo de Dó Dórico, por exemplo, basta seguir esta seqüência de
intervalos T ST T T T ST T a partir da nota dó:
Outra maneira de pensar no dó dórico é você imaginar a escala de Bb maior natural
começando no segundo grau.

Veremos na tabela abaixo a seqüência dos sete modos da escala maior natural.

Para uma análise prática, podemos dividir estes 7 modos em 2 grupos, os modos
maiores e os menores. Os modos maiores possuem uma terça maior (3M) e os menores
uma terça menor (3m).

A escala maior natural é o modo jônio e a menor natural é o modo eólio. Usaremos
estas duas escalas para comparar as diferenças entre os modos:
O quadro acima mostra as diferenças entre os modos e as escalas naturais. Os intervalos
diferentes caracterizam a sonoridade de cada modo, estas são as famosas “notas
características”. Ex: A única diferença entre a escala de Sol maior (jônio) e Sol Lídio
vai ser a quarta aumentada, que vem a ser o dó# no modo de Sol Lídio, substituindo o
dó natural em Sol maior / jônio. Dizemos assim que a quarta aumentada é a nota
característica do modo lídio. O mesmo raciocínio vale para os outros modos, com um
pequeno porém para o lócrio, que vai apresentar duas notas diferentes da menor natural
(eólio). Consideramos estas duas notas características, porém a 5º possui maior
importância que a 2m.

Pegando a guitarra...

Transpor essa teoria para a guitarra é muito simples, e pode ser feita de várias maneiras.
Para guitarristas de rock/metal proponho utilizar sete “shapes” dos modos, cada um com
uma digitação começando com a tônica de um modo na 6ª corda. Os números indicados
são a digitação da mão esquerda que utilizo para tocar cada shapes:
Todos estes shapes são formados por 3 notas por corda, para facilitar a execução da
palhetada. Você pode optar por duas maneiras de palhetar estes shapes. A primeira é
alternando todas. A segunda é fazendo um sweep, cada vez que mudar de corda, para
aproveitar o sentido da palhetada.

A seguir veremos como estes modos ficam dispostos por todo o braço da guitarra,
utilizando a escala de dó maior como exemplo.
É importante ter na ponta dos dedos estes sete shapes e conseguir tocá-los com fluência
em todos os 12 tons.

Praticando...

O exercício que proponho para esta etapa, é tocar todos os modos sobre a nota dó (Dó
jônio, Dó dórico, Dó Frígio, Dó Lídio, Dó Mixolídio, Dó Eólio e Dó lócrio), começando
pela sexta corda. Localize a nota dó na sexta corda (casa 8), e toque o modo de dó jônio,
subindo e descendo a escala.

Agora toque o modo dó dórico, e em seqüência o frígio, lídio, mixolídio, eólio e lócrio.
Se você realmente quiser assimilar esta etapa, pratique em todos os 12 tons:

C – G – D – A – E – B – F# - Db – Ab – Eb – Bb – F

Lembre-se sempre de manter a clareza e definição das notas, assim como praticar com o
metrônomo.

Na próxima coluna, veremos como improvisar sobre uma harmonia utilizando esses
modos.
Continuem escrevendo e mandando suas dúvidas.
Abraços, bom estudo e até!

Outras matérias desta seção:


Warming Up
Estudo x Diversão
1234... Cromatizando - Parte I
1234... Cromatizando - Parte II
Pentatônicas com tapping
Lick Combo 3
Modos Gregos - Parte II
Modos Gregos - Parte III
Shapes de aperjos
Improvisação sobre uma corda
Palhetada sobre duas cordas
Saltos de Cordas (string skipping)
Estu/ticando

ESTUDO X DIVERSÃO

Como será que o Malmsteen toca esses arpejos? Como será que o Vai toca esses
ligados? Como o Petrucci palheta essa frase? Essas perguntas são muito
freqüentes, mas será que estamos fazendo a pergunta certa? A pergunta certa não
seria: “Quanto tempo ele estudou para conseguir tocar determinada frase, lick,
arpejo, etc?”. Acho que sim!

Quando escutamos esses e muitos outros guitarristas que gostamos, nos


é apresentado um resultado, que resultado? O do estudo diário/regular, que exercita a
criatividade musical e nos permite melhorar tecnicamente, fazendo com que nós
guitarristas possamos tocar tudo que quisermos, desde que a perseverança seja
proporcional ao resultado a ser obtido. Aí você me diz: “Mas eu toco todos os dias e não
vejo melhora?” Novamente, será que você realmente está estudando? Bom, vamos lá! O
que é estudar? De acordo com o dicionário Aurélio, o verbo estudar significa: aplicar a
inteligência a, para aprender.

Baseado nesse princípio estudar música ou determinada técnica, requer atenção,


concentração, paciência e regularidade! O que você acha que te deixaria em forma?
Jogar futebol 5 horas seguidas no domingo ou três vezes por semana? Se você
respondeu três vezes por semana, você acertou. Com a guitarra é a mesma coisa. Se
você quer tocar alguma passagem, solo, ou base, que seja complexa, estude de forma
lenta e gradativa. Caso seja um solo, divida-o em varias partes, ou estude-o por frases,
até que as mesmas estejam soando da forma correta, pois a sonoridade é muito
importante. Tocar o instrumento várias horas por dia, sem disciplina e objetivo, não
trará resultado algum, por isso organize seu estudo. Reserve um horário do seu dia para
estudar e depois do conteúdo estudado, se divirta com o instrumento. Existem várias
formas de deixar o estudo dinâmico e interessante, motivando-nos a estudar com
dedicação. Abaixo vão algumas dicas de como organizar seu estudo.

Como estudar?

Para se concentrar, um lugar que seja ventilado, tranqüilo e silencioso é essencial.


Organize o conteúdo que você quer estudar (como no exemplo da tabela abaixo). *

Dia da semana: Segunda


Conteúdo Técnico: Palhetada (30 min.), Ligados (30 min.)
Demais Itens de Estudo: Repertório (30 min.), Audição (30 min.)

Dia da semana: Terça


Conteúdo Técnico: Vibratos (30 min.), Bends (30 min.)
Demais Itens de Estudo: Interpretação (30 min.), Audição (30 min.)

Dia da semana: Quarta


Conteúdo Técnico: Slides (30 min.), Tapping (30 min.)
Demais Itens de Estudo: Leitura (30 min.), Audição (30 min.)

Dia da semana: Quinta


Conteúdo Técnico: Sweep Picking (30 min.), Alavancadas (30 min.)
Demais Itens de Estudo: Criação (30 min.), Audição (30 min.)

Dia da semana: Sexta


Conteúdo Técnico: String Skiping (30 min.), Harm Artificiais (30 min.)
Demais Itens de Estudo: Repertório (30 min.), Audição (30 min.)

Sweep Picking: técnica que utiliza a palheta em uma única direção com a finalidade de
produzir uma grande quantidade de notas rapidamente, ou facilitar a passagem de uma
corda para outra.

String Skiping: é o salto de cordas, ou seja, ao invés de palhetar ou ligar as notas em


cordas seguintes, pulamos a corda. Saltamos da corda si para a corda ré, por exemplo.

Harmônicos Artificiais: temos basicamente 2 tipos. Um é feito através do choque entre


o dedo e a palheta sobre a corda, e o outro é conseguido através do toque sobre o traste
correspondente a nota oitavada da qual você está tocando.

Repertório: pegue qualquer peça que tenha vontade de tocar e estude-a. Pode ser
música, riff, solo, etc.

Interpretação: não importa o que você vai tocar e sim como vai 'interpretar', entendeu!

Criação: crie um riff, solo, exercício com o conteúdo estudado.

Se concentre naquilo que estiver estudando e sempre use um metrônomo, pois assim
você tem um parâmetro para medir seu desenvolvimento. Certifique-se de que a sua
coluna não esteja torta, que suas mãos estejam nas posições corretas e relaxe, com
tensão os resultados não serão alcançados.
Tenha paciência! Aumente a dificuldade e depois passe para outro tópico da lista.
Estude cada tópico de 15 a 30 minutos e depois mude, assim você fica menos entediado
e cobre um conteúdo muito maior. E por último, estude com regularidade, assim você
tocará muito melhor! Eu garanto!!

Obs.: a tabela acima é um roteiro de estudo de 2 horas diárias, que permite ao estudante
se concentrar melhor em cada tópico/técnica especifico/a, trazendo resultados muito
mais rápidos! Você não precisa seguir este modelo! Crie o seu próprio roteiro de estudo
e faça o seu tempo render da forma que achar melhor, o importante é estudar com
atenção e dedicação!!

Dúvidas? theomachado@ig.com.br ...

Abraço!!!

MODOS GREGOS PARTE 2

Cada modo possui um acorde característico, ou uma cadência de acordes que


representam sua sonoridade. Esta sonoridade pode ser obtida pela tríade da tônica do
modo, mais sua nota característica. Utilizaremos somente tríades nestes exemplos, mas
sinta-se à vontade para adicionar todas as extensões diatônicas que quiser.

Jônio

A sonoridade do modo jônio é a mesma da escala maior natural. Uma cadência IV - V –


I define bem esta sonoridade.

A sonoridade do jônio é dada, basicamente, pelo repouso da harmonia no I grau do


campo harmônico. Podemos citar Let It Be, dos Beatles e a primeira parte de Always
With Me, Always With You do Satriani como exemplos deste modo.

Dórico

O modo dórico possui uma sonoridade “jazzística”, um acorde menor com uma sexta
maior (nota característica) define o modo. Uma cadência bem comum mostrando a
sonoridade do dórico é um IIm – V. (cadência do inicio de Wave de Tom Jobim).
No caso acima, Cm é o segundo grau do campo harmônico de Sib Maior natural e F é o
quinto grau desta mesma escala. O acorde de Cm isolado não define a sonoridade do
dórico, pois não apresenta a sexta maior. A sexta maior de Cm (a nota Lá) aparece no
próximo acorde (F) como sua a terça maior. Nesta cadência, poderíamos substituir o
acorde de F por qualquer outro acorde do campo harmônico de Sib maior para obtermos
a sonoridade do dórico, desde que este acorde apresente a nota Lá em sua formação.

Uma boa maneira de pensar em sonoridades modais é tocando a tríade da tônica do


modo seguido de um outro acorde contendo as extensões do acorde anterior. Ex: ré
dórico: Toca-se o acorde de Dm e em seqüência Em. Podemos aplicar no Dm os modos
de ré dórico, ré frígio ou ré eólio. Porém o próximo acorde mostra algumas notas que
caracterizam o ré dórico: a tônica de Em, que vem a ser a segunda maior do acorde de
Dm, portanto não podemos ter o modo frígio neste caso. A nota si, quinta do acorde de
Em, é a sexta maior de Dm, indicando que este Dm é dórico e não eólio ou frígio.

Assim afirmamos que o acorde característico do modo dórico é o m6. Ex: Cm6. O som
isolado deste acorde nos remeterá a este modo. Sempre que encontrar um acorde m6,
utilize o modo dórico para improvisar sobre ele.

OBS: o acorde m6 isolado também pode ser encarado como o primeiro grau da escala
menor melódica.

Frígio

O modo frígio é um modo menor, com a segunda menor como nota característica. É
empregado com alguma freqüência no Heavy, como nas músicas Wherever I May
Roam do Metallica e Trust do Megadeth.

Uma cadência de acordes que caracteriza o modo frígio é a IIIm – IV.

No caso acima temos Cm, que é terceiro grau da escala de Ab maior, e Db que vem a
ser o quarto grau desta escala. A tônica de Db, é uma segunda menor em relação a Cm,
caracterizando o frígio.

O modo frígio também é caracterizado pelo acorde sus4(b9).


Lídio

O Lídio é o único modo que apresenta a quarta aumentada e uma quinta justa ao mesmo
tempo. Cadência comum deste modo é IV – V.

C é o quarto grau da escala de Sol Maior e D é o quinto grau. A terça maior do acorde
de D, a nota fá#, é uma quarta aumentada em relação ao acorde de C.

Encontramos o modo lídio freqüentemente no rock e afins. Answears e The Riddle do


Steve Vai, assim como o início de Overture 1928 do Dream Theater são bons exemplos
deste modo.

O acorde característico do modo lídio é o maj7(#11). Ex: Cmaj7(#11)

Vale também ressaltar que este modo pode ser aplicado em qualquer acorde maior com
sétima maior.

Mixolídio

O mixolídio é o quinto grau da escala maior natural. Uma cadência V – IIm é um bom
exemplo da sonoridade do mixolídio.

C e Gm são respectivamente o quinto e o segundo graus do campo harmônico de Fá


maior. A terça menor de Gm (a nota Sib) é a sétima menor de C, a nota característica do
modo mixolídio.

O acorde característico do modo mixolídio é o acorde dominante “7” (ex: C7) . Estes
acordes estão presentes em qualquer blues de tonalidade maior. Ex: Scuttle Buttin e
Pride and Joy do Stevie Ray Vaughan.

Eólio

Modo característico do metal... para mostrar a sonoridade deste modo, utilizaremos a


famosa cadência VIm – IV – V, que consagrou a sonoridade “Iron Maiden”. Fear of the
dark, Hallowed be thy name, Running Free e Still Life são alguns exemplos que
utilizam esta cadência.
Cm, Ab e Bb são respectivamente VI IV e V graus do campo harmônico de Mib Maior.
O acorde de Ab em relação ao Cm define a uma sexta menor e o acorde de Bb define
uma segunda maior em relação ao acorde de Cm, caracterizando o modo eólio.

O acorde m(b6) é o acorde característico deste modo.

Lócrio

O modo lócrio é o único modo que possui uma quinta diminuta, dando a este modo uma
sonoridade bem peculiar. No rock, o único exemplo que me vem na cabeça é a primeira
parte da música Painkiller, do Judas Priest. Podemos sentir a sonoridade do lócrio na
seqüência VIIIm(b5) - V.

O sétimo grau do campo harmônico de Db Maior é Cm(b5). Este acorde sozinho já gera
toda a sonoridade do modo lócrio, o outro acorde (Ab) foi colocado para não criar um
movimento de tensão – resolução.

O acorde m7(b5) é o acorde característico do modo lócrio.

Tocando...

A primeira parte do exercício consiste em improvisar sobre os sete modos de dó,


utilizando a harmonia característica de cada modo vista anteriormente. Grave um
playback com a cadência de acordes de dó Jônio, crie um loop e improvise sobre eles
com a escala de dó maior. Depois faça o mesmo sobre o modo dó dórico, utilizando a
escala de Bb maior. No dó frígio, toque a escala de Ab maior e assim por diante.

Um erro freqüente dos estudantes é ficar preso ao “shape do modo”. Os shapes geram a
sonoridade do modo quando tocados sozinhos. Nesta parte do processo você já está
improvisando sobre uma harmonia, o que importa é a relação de cada nota que você
toca em relação ao(s) acorde(s) da harmonia.

Ex: as notas da escala de ré mixolídio (ré, mi, fa#, sol, la, si, dó), são as mesmas notas
que compõem a escala de dó lídio, que também são as mesmas de fa# lócrio. Estas notas
“funcionam” perfeitamente sobre todos os acordes do campo harmônico de Sol Maior
natural (G Am Bm C D Em F#m(b5)).
Portanto a grande jogada neste exercício é você “passear” pelo braço inteiro da guitarra,
utilizando todos os shapes dentro da escala.

Um software-seqüenciador bem interessante para fazer este exercício é o Band in a Box.


Caso você não tenha como gravar as progressões manualmente, você pode utilizar este
programa para seqüênciar as cadências de cada modo.

Pratique bastante os exemplos, e se realmente quiser ir fundo no assunto, toque os


exemplos em todos os tons.

Na próxima coluna veremos a última parte sobre os modos, que é o improviso


utilizando diferentes centros tonais.

Abraço pra vocês... e bons sons!

MODOS GREGOS PARTE 3

Jônio

A progressão abaixo mostra quatro centros tonais diferentes para improvisar numa unica
progressão harmônica (C Jônio, B Jônio, Bb Jônio e A Jônio). As escalas estão
indicadas pelas linhas pontilhadas. O Mesmo raciocínio seque para os outros exemplos.
Improvise sobre estas cadências, prestando muita atenção na hora de mudança de modo.
Evite saltos nestes momentos, prefira os graus conjuntos. Tente desenvolver suas idéias
nas modulações.

No início estas harmonias podem parecer muito difíceis e complexas para desenvolver
suas idéias musicais, mas vale sua perseverança e empenho para adquirir fluência nestas
situações. Há material para vários meses de estudo nestes exemplos.

O próximo exercício é uma junção de todos os modos em um único exemplo. Aqui a


principal dificuldade é nas mudanças de escalas, que ocorrem irregularmente.
Pratiquem com muita calma e com um playback num andamento lento, siga
aumentando a velocidade progressivamente. Outra opção é utilizar somente uma nota
por compasso, depois duas, três, quatro...

Bom estudo para vocês!

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