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Economia Portuguesa e Europeia – Escola de Economia e Gestão

Universidade do Minho

BREXIT
Em que medida a história do Reino Unido explica a sua situação
atual relativamente à União Europeia?
Tudo começou em 1973, quando o Senhor Edward Heath, primeiro ministro do Reino
Unido da época, liderou o processo de adesão do país à então denominada Comunidade
Económica Europeia (CEE). Nesta altura o Reino Unido passava por um fraco período
económico, devido ao declínio comercial na Commonwealth (organização
intergovernamental formada por países independentes que faziam parte do Império
Britânico) provocado pela descolonização de algumas nações, o que os tornava numa
das regiões mais pobres da Europa.
Desde cedo começaram a surgir opiniões diferentes relativas à adesão do Reino à CEE.
De um lado estavam as pessoas que partilhavam a opinião de que o fato de fazerem
parte do bloco o país poderia ter uma participação mais ativa na economia europeia
fazendo deste modo crescer a sua própria economia e em contraposição a estes ideais,
estavam os eurocéticos que rapidamente se pronunciaram afirmando que a adesão à
CEE só iria provocar uma transferência de poder económico do Reino Unido para o
bloco. Assim em 1975 realiza-se o primeiro referendo para anular o acordo assinado em
1973 e permitir a saída do Reino Unido da CEE, contudo, a maioria dos cidadãos do reino
optou por votar a favor da permanência.
O tempo foi passando, mas as relações entre Londres e Bruxelas não davam sinais de
muitas amizades e em 1984, a então primeira ministra Margaret Thatcher, exigiu a
revisão do contrato celebrado em 1973 alegando injustiças relativas às políticas
agrícolas comuns, as quais representavam 70% do orçamento Europeu, que estavam a
beneficiar os franceses. As insatisfações dos Britânicos fizeram-se ouvir e Thatcher
consegui que Bruxelas reduzisse em 66% as contribuições liquidas do Reino.
Passados dois anos, em 1986, é assinado o Ato Único Europeu, um marco muito
importante da História da integração europeia pois, passou a ser permitida a livre
circulação de pessoas, bens, serviços e produtos dentro do bloco. Inicialmente o Reino
Unido viu este acordo com “bons olhos”, contudo mostrou alguma insatisfação. Em 1988
é proposto por Jacques Delors, presidente da CEE, que 80% das políticas económicas e
sociais seriam decididas a nível Europeu e não nacional. Novamente o Reino Unido
mostra-se descontente.
Em 1997, Tony Blair assume o cargo de primeiro ministro do Reino Unido sendo que este
mostrava-se disponível a melhorar as relações de integração do Reino com o resto do
bloco, inclusive, foi a favor do alargamento de 2004, onde dez novos países passaram a
fazer parte da CEE, e era também a favor da adesão à moeda única, contudo, devido a
pressões nacionalistas acabou por manter a economia Britânica a funcionar com base
na Libra. Foi durante o período em que Tony Blair esteve no poder que se verificou um
alinhamento de interesses entre Londre e Bruxelas.
Em 2009 é assinado o Tratado de Lisboa e a CEE passa a ser a União Europeia (UE).
Em 2010, David Cameron assume o governo, no primeiro executivo em coligação depois
de no ano anterior ter promovido a criação de um novo movimento eurocético e
antifederalista. Uma das primeiras medidas tomadas foi o afastamento do Reino Unido
das cimeiras da zona euro.
Em 2011 verifica-se o pico máximo do impacto da crise económica e reacende-se
novamente o braço de ferro entre o Reino Unido e o resto do bloco. David Cameron
bloqueia a proposta Europeia para a assinatura de um tratado que permita a regulação
fiscal e com este último conflito surge novamente a ideia do BREXIT.
Passados dois anos, ou seja, em 2013, Cameron afirma que se vencer as próximas
eleições irá renegociar uma Reforma com a União Europeia fazendo referência a um
novo referendo para retirar o Reino do bloco com o intuito de pressionar Bruxelas. Estes
não cedem e em junho de 2016 realiza-se um novo referendo onde é decidido que o
Reino Unido pretende sair da União Europeia.
Analisando todos os acontecimentos anteriormente referidos, conclui-se que a partir do
momento em que o Reino Unido aderiu à União Europeia, em muitas poucas ocasiões
assumiu a posição de uma nação que luta e que apoia a integração e a coesão dos
diversos membros, opondo-se a quase todas as decisões tomadas em conjunto com os
países pertencentes ao bloco e lutando sempre pelos seus interesses pessoais e não pelo
interesse comum a todos os estados membros, a prosperidade e o crescimento
económico. Deste modo não se revela surpreendente o desejo de independência do
Reino Unido da União Europeia, uma vez que desde sempre existiu um grande grupo de
pessoas que contestou a adesão desde o primeiro momento.

Quais os principais desafios que o Reino Unido e os países que o


compõem enfrentam?
Com a eventual saída do Reino Unido da União Europeia, a grande questão que se coloca
é quais serão as principais consequências que esta medida terá na economia do RU e
quais os benefícios.
Inicialmente é necessário que a atual primeira ministra, Theresa May, ative o Artigo 50
do Tratado de Lisboa para que seja oficial a decisão de saída da União Europeia e após
isso é de extrema importância os chefes do poder do RU decidirem sobre as relações
económicas que querem estabelecer com a UE, uma vez que é possível manter ligações
comerciais como o bloco sem fazer parte dele, como exemplo temos o caso da Noruega.
Por enquanto a economia do país e de todos os agentes externos que se relacionam com
o RU estão num impasse, no entanto já se avistam alguns daqueles que poderão vir a
ser os desafios que o RU vai ter de enfrentar.
Inicialmente o primeiro obstáculo que a economia britânica tem de ultrapassar está
relacionado com a incerteza e as duvidas existentes em torno deste assunto, uma vez
que existem diversas multinacionais que estão sediadas, por exemplo, em Inglaterra e
que devido à incerteza encerraram os escritórios “temporariamente” fazendo cair a
bolsa de Londres. A título de exemplo temos 4 fundos de investimentos que são a
Standard Life, a Aviva Investors, a Henderson Global Investors e a M&G Investments.
Uma situação destas não se verificava desde o crash de 2008.
Posteriormente, outro dos temas de extrema importância relaciona-se com o emprego.
É necessário garantir que a economia se desenvolve de modo mais normal possível para
tentar manter os níveis de desemprego e neste aspeto é preciso realçar o fato de
existirem muitos trabalhadores imigrantes. Esta questão é relevante uma vez que
quando se assinou o Ato Único Europeu ficou estabelecida a livre circulação de pessoas
dentro do espaço comunitário, ou seja, qualquer cidadão de nacionalidade de um país
pertencente ao bloco tem o direito de se deslocar para outro país para trabalhar. Com
a saída do RU na União Europeia esse direito fica invalidado, quer para pessoas que são
de um dos países do RU e estão fora dele, quer para pessoas de fora que imigraram para
o RU, e por isso é necessário garantir que milhões de pessoas não vão ter de ficar sem
emprego e regressar ao seu país de origem. Contudo, o processo burocrático
relacionado com a legalização de imigrantes não é simples e por isso, deve haver uma
preocupação especial por parte do governo Britânico em garantir que todas as pessoas
que estão neste impasse não vejam a sua situação a ser alterada drasticamente, pelo
contrário, é necessário apresentar soluções que garantam a estabilidade dos mesmos.
O fato do Reino Unido se reger com a sua própria moeda consiste em mais um desafio
para a economia. Com a quebra de relações com um dos maiores blocos económicos
mundiais, a UE, as previsões dos especialistas indicam um aumento da inflação, perda
do poder de paridade de compra e desvalorização da moeda, sendo que após o
referendo registou-se o valor mais baixo da moeda, dos últimos 31 anos, relativo ao
dólar americano. Contudo, com a redução do valor da moeda, as empresas exportadoras
poderiam extrair daí uma vantagem, uma vez que se tornariam mais competitivas, mas
devido, mais uma vez à grande incerteza existente em torno deste tema, esses efeitos
positivos não se fizeram sentir e pelo menos até estar esclarecido e definido o modo
como se processarão as relações comerciais com o exterior a tendência é para que não
se verifiquem quaisquer efeitos positivos.
Outro aspeto relativamente relevante é o impacto que o referendo causou nos países
do RU que votaram a favor da permanecia na União Europeia e que posteriormente ao
referendo voltaram a assumir esse desejo. A título de exemplo temos a Escócia que já
ameaçou realizar um referendo para se tornar independente do Reino Unido. Numa
perspetiva geral, se tal situação se viesse a realizar seria mais uma quebra na economia
do Reino Unido. Podemos também referir o exemplo da Irlanda do Norte que está
isolada na mesma ilha com a República da Irlanda que, por sua vez, faz parte da UE e
por pressões sociais e políticas poderia tomar a mesma decisão criando assim um efeito
de domino dentro do RU e levando ainda a um maior enfraquecimento da economia
global do Reino Unido.
Em suma, a economia Britânica tem em mãos uma situação muito incerta, contudo,
neste momento o mais importante passa por esclarecer todas as dúvidas existentes para
que depois se possam traçar objetivos, numa primeira fase, com base na estabilidade
económica. Em seguida é necessário fazer a economia crescer para que tudo volte ao
“normal” e todos os agentes económicos internos e externos ao Reino Unido se
recuperem das consequências provocadas pelo BREXIT.
Daniel Gachineiro, A77821

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