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DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER EXECUTIVO
Imunidade do art. 51, I, e art. 86 da CF/88 não se estende para codenunciados
que não sejam Presidente da República, Vice ou Ministro de Estado
A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, caput, da CF/88 não se estende
para os codenunciados que não se encontrem investidos nos cargos de Presidente da
República, Vice- Presidente da República e Ministro de Estado.
A finalidade dessa imunidade é proteger o exercício regular desses cargos, razão
pela qual não é extensível a codenunciados que não se encontrem ocupando tais
funções.
STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson
Fachin, julgados em 14 e 19/12/2017 (Info 888).
As empresas públicas e sociedades de economia mista não têm direito à prerrogativa
de execução via precatório.
STF. 1ª Turma. RE 851711 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/12/2017
(Info 888).
Em regra, as empresas estatais estão submetidas ao regime das pessoas jurídicas de
direito privado (execução comum).
No entanto, é possível sim aplicar o regime de precatórios para empresas públicas e
sociedades de economia mista que prestem serviços públicos e que não concorram
com a iniciativa privada.
Assim, é aplicável o regime dos precatórios às empresas públicas e sociedades de
economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não
concorrencial.
STF. 1ª Turma. RE 627242 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 02/05/2017.
STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info
858).
DIREITO PROCESSUAL PENAL
AÇÃO PENAL
Empate no julgamento de ação penal
Verificado empate no julgamento de ação penal, deve prevalecer a decisão mais
favorável ao réu.
Esse mesmo entendimento deve ser aplicado em caso de empate no julgamento dos
embargos de declaração opostos contra o acórdão que julgou a ação penal.
Terminando o julgamento dos embargos empatado, aplica-se a decisão mais
favorável ao réu.
STF. Plenário. AP 565 ED-ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Dias
Toffoli, julgado em 14/12/2017 (Info 888).
HABEAS CORPUS
É cabível habeas corpus para questionar a imposição de medidas cautelares diversas
da prisão
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de
natureza criminal diversas da prisão.
STF. 2ª Turma. HC 147426/AP e HC 147303/AP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em
18/12/2017 (Info 888).
Informativo 889-STF
DIREITO ADMINISTRATIVO AGÊNCIAS REGULADORAS E FUNÇÃO
NORMATIVA É constitucional a previsão de que a ANVISA pode proibir produtos e
insumos em caso de violação da legislação ou de risco iminente à saúde, inclusive cigarros
com sabor e aroma.
É constitucional o art. 7º, III e XV, da Lei nº 9.782/99, que preveem que compete à
ANVISA: III - estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as políticas, as
diretrizes e as ações de vigilância sanitária; XV - proibir a fabricação, a importação, o
armazenamento, a distribuição e a comercialização de produtos e insumos, em caso de
violação da legislação pertinente ou de risco iminente à saúde; Entendeu-se que tais
normas consagram o poder normativo desta agência reguladora, sendo importante
instrumento para a implementação das diretrizes, finalidades, objetivos e princípios
expressos na Constituição e na legislação setorial. Além disso, o STF, após empate na
votação, manteve a validade da Resolução RDC 14/2012- ANVISA, que proíbe a
comercialização no Brasil de cigarros com sabor e aroma. Esta parte do dispositivo não
possui eficácia erga omnes e efeito vinculante. Significa dizer que, provavelmente, as
empresas continuarão ingressando com ações judiciais, em 1ª instância, alegando que a
Resolução é inconstitucional e pedindo a liberação da comercialização dos cigarros com
aroma. Os juízes e Tribunais estarão livres para, se assim entenderem, declararem
inconstitucional a Resolução e autorizar a venda. Existem, inclusive, algumas decisões
nesse sentido e que continuam valendo. STF. Plenário. ADI 4874/DF, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 1º/2/2018 (Info 889).
Informativo 890-STF
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Alteração da Lei impugnada antes do
julgamento da ADI
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da
ação? Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova
redação do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que
existia na redação original. A revogação, ou substancial alteração, do complexo
normativo impõe ao autor o ônus de apresentar eventual pedido de aditamento, caso
considere subsistir a inconstitucionalidade na norma que promoveu a alteração ou
revogação. Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado
o pedido em razão da perda superveniente do objeto. STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 7/2/2018 (Info 890)
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA É constitucional lei estadual que obrigue plano de
saúde a justificar recusa de tratamento
É constitucional lei estadual que obrigue os planos de saúde a fornecerem aos
consumidores informações e documentos justificando as razões pelas quais houve recusa
de algum procedimento, tratamento ou internação. O Mato Grosso do Sul editou uma lei
estadual prevendo que, se o plano de saúde recusar algum procedimento, tratamento ou
internação, ele deverá fornecer, por escrito, ao usuário, um comprovante fundamentado
expondo as razões da negativa. O STF entendeu que essa norma não viola competência
privativa da União, considerando que ela trata sobre proteção ao consumidor, matéria
inserida na competência concorrente (art. 24, V, da CF/88). STF. Plenário. ADI 4512/MS,
Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7/2/2018 (Info 890).
SAÚDE Constitucionalidade do ressarcimento ao SUS previsto no art. 32 da Lei 9.656/98
É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei nº 9.656/98, o qual é aplicável
aos procedimentos médicos, hospitalares ou ambulatoriais custeados pelo SUS e
posteriores a 4.6.1998, assegurados o contraditório e a ampla defesa, no âmbito
administrativo, em todos os marcos jurídicos. O art. 32 da Lei nº 9.656/98 prevê que, se
um cliente do plano de saúde utilizar-se dos serviços do SUS, o Poder Público poderá
cobrar do referido plano o ressarcimento que ele teve com essas despesas. Assim, o
chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32, é uma obrigação legal das
operadoras de planos privados de assistência à saúde de restituir as despesas que o SUS
teve ao atender uma pessoa que seja cliente e que esteja coberta por esses planos. STF.
Plenário. RE 597064/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 7/2/2018 (repercussão
geral) (Info 890).
COMUNIDADES QUILOMBOLAS Constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que
regulamenta o procedimento para titulação das terras ocupadas por remanescentes das
comunidades dos quilombos
O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos
que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes os títulos respectivos.” Em 2003, foi editado o Decreto nº 4.887, com
o objetivo de regulamentar o procedimento para identificação, reconhecimento,
delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das
comunidades dos quilombos. O STF entendeu que este Decreto não invadiu esfera
reservada à lei. O objetivo do Decreto foi tão somente o de regular o comportamento do
Estado na implementação do comando constitucional previsto no art. 68 do ADCT.
Houve o mero exercício do poder regulamentar da Administração, nos limites
estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição. O art. 2º, caput e § 1º do Decreto nº
4.887/2003 prevê como deve ser o critério utilizado pelo Poder Público para a
identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da autoatribuição
(autodefinição). O STF entendeu que a escolha do critério desse critério não foi arbitrária,
não sendo contrária à Constituição. O art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto preconiza que, na
identificação, medição e demarcação das terras dos quilombolas devem ser levados em
consideração critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades
dos quilombos. O STF afirmou que essa previsão é constitucional. Isso porque o que o
Decreto está garantindo é apenas que as comunidades envolvidas sejam ouvidas, não
significando que a demarcação será feita exclusivamente com base nos critérios indicados
pelos quilombolas. O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá
realizar a desapropriação de determinadas áreas caso os territórios ocupados por
remanescentes das comunidades dos quilombos estejam situados em locais pertencentes
a particulares. O STF reputou válida essa previsão tendo em vista que, em nenhum
momento a Constituição afirma que são nulos ou extintos os títulos eventualmente
incidentes sobre as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.
Assim, o art. 68 do ADCT, apesar de reconhecer um direito aos quilombolas, não invalida
os títulos de propriedade eventualmente existentes, de modo que, para que haja a
regularização do registro em favor das comunidades quilombolas, exige-se a realização
do procedimento de desapropriação. Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente
poderiam ser consideradas terras de quilombolas aqueles que estivessem sendo ocupadas
por essas comunidades na data da promulgação da CF/88 (05/10/1988). Em outras
palavras, mesmo que, na data da promulgação da CF/88, a terra não mais estivesse sendo
ocupada pelas comunidades quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito
previsto no art. 68 do ADCT.
STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.p/ o ac. Min. Rosa Weber,
julgado em 8/2/2018 (Info 890).
DIREITO PENAL
PRESCRIÇÃO Interpretação do art. 112 do CP
Se o Ministério Público não recorreu contra a sentença condenatória, tendo havido apenas
recurso da defesa, qual deverá ser o termo inicial da prescrição da pretensão executiva?
O início do prazo da prescrição executória deve ser o momento em que ocorre o trânsito
em julgado para o MP? Ou o início do prazo deverá ser o instante em que se dá o trânsito
em julgado para ambas as partes, ou seja, tanto para a acusação como para a defesa? •
Posicionamento pacífico do STJ: o termo inicial da prescrição da pretensão executória é
a data do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação, ainda que a defesa
tenha recorrido e que se esteja aguardando o julgamento desse recurso. Aplica-se a
interpretação literal do art. 112, I, do CP, considerando que ela é mais benéfica ao
condenado. • Entendimento da 1ª Turma do STF: o início da contagem do prazo de
prescrição somente se dá quando a pretensão executória pode ser exercida. Se o Estado
não pode executar a pena, não se pode dizer que o prazo prescricional já está correndo.
Assim, mesmo que tenha havido trânsito em julgado para a acusação, se o Estado ainda
não pode executar a pena (ex: está pendente uma apelação da defesa), não teve ainda
início a contagem do prazo para a prescrição executória. É preciso fazer uma interpretação
sistemática do art. 112, I, do CP. Vale ressaltar que, com o novo entendimento do STF
admitindo a execução provisória da pena, para essa segunda corrente (Min. Roberto
Barroso) o termo inicial da prescrição executória será a data do julgamento do processo
em 2ª instância. Isso porque se estiver pendente apenas recurso especial ou extraordinário,
será possível a execução provisória da pena. Logo, já poderia ser iniciada a contagem do
prazo prescricional. STF. 1ª Turma. RE 696533/SC, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 6/2/2018 (Info 890).
DIREITO PROCESSUAL PENAL FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
Haverá mudança de competência para julgar o recurso se, após a interposição, houve a
diplomação do réu como Deputado Federal
Se, após a interposição de recurso especial contra a condenação criminal, o réu foi
diplomado Deputado Federal, a competência para julgar este recurso passa a ser do STF.
STF. 1ª Turma. RE 696533/SC, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgado em 6/2/2018 (Info 890).
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA “Denúncia anônima”, quebra de sigilo e renovação
das interceptações
“Denúncia anônima” e quebra de sigilo Segundo a jurisprudência do STJ e do STF, não
há ilegalidade em iniciar investigações preliminares com base em "denúncia anônima" a
fim de se verificar a plausibilidade das alegações contidas no documento apócrifo. A
Polícia, com base em diligências preliminares para atestar a veracidade dessas
“denúncias” e também lastreada em informações recebidas pelo Ministério da Justiça e
pela CGU, requereu ao juízo a decretação da interceptação telefônica do investigado. O
STF entendeu que a decisão do magistrado foi correta considerando que a decretação da
interceptação telefônica não foi feita com base unicamente na "denúncia anônima" e sim
após a realização de diligências investigativas e também com base nas informações
recebidas dos órgãos públicos de fiscalização. Renovação das interceptações A Lei nº
9.296/96 prevê que a interceptação telefônica "não poderá exceder o prazo de quinze dias,
renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova."
(art. 5º). A interceptação telefônica não pode exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada
por igual período, não havendo restrição legal ao número de vezes para tal renovação, se
comprovada a sua necessidade. STF. 2ª Turma. RHC 132115/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli,
julgado em 6/2/2018 (Info 890).
Informativo 891-STF
DIREITO PENAL
CRIME DO ART. 89 DA LEI DE LICITAÇÕES Elemento subjetivo Exige-se
descumprimento de formalidades mais violação aos princípios da Administração Pública
Decisão amparada em pareceres técnicos e jurídicos
Elemento subjetivo Para a configuração da tipicidade subjetiva do crime previsto no art.
89 da Lei 8.666/93, exigese o especial fim de agir, consistente na intenção específica de
lesar o erário ou obter vantagem indevida. Exige-se descumprimento de formalidades
mais violação aos princípios da Administração Pública O tipo penal previsto no art. 89
não criminaliza o mero fato de o administrador público ter descumprido formalidades.
Para que haja o crime, é necessário que, além do descumprimento das formalidades,
também se verifique que ocorreu, no caso concreto, a violação de princípios cardeais
(fundamentais) da Administração Pública. Se houve apenas irregularidades pontuais
relacionadas com a burocracia estatal, isso não deve, por si só, gerar a criminalização da
conduta.
Assim, para que ocorra o crime, é necessária uma ofensa ao bem jurídico tutelado, que é
o procedimento licitatório. Sem isso, não há tipicidade material. Decisão amparada em
pareceres técnicos e jurídicos Não haverá crime se a decisão do administrador de deixar
de instaurar licitação para a contratação de determinado serviço foi amparada por
argumentos previstos em pareceres (técnicos e jurídicos) que atenderam aos requisitos
legais, fornecendo justificativas plausíveis sobre a escolha do executante e do preço
cobrado e não houver indícios de conluio entre o gestor e os pareceristas com o objetivo
de fraudar o procedimento de contratação direta. STF. 1ª Turma. Inq 3962/DF, Rel. Min
Rosa Weber, julgado em 20/2/2018 (Info 891).
DIREITO PROCESSUAL PENAL
PRISÃO PREVENTIVA Prisão domiciliar para gestantes, puérperas, mães de crianças e
mães de pessoas com deficiência
O STF reconheceu a existência de inúmeras mulheres grávidas e mães de crianças que
estavam cumprindo prisão preventiva em situação degradante, privadas de cuidados
médicos prénatais e pós-parto. Além disso, não havia berçários e creches para seus filhos.
Também se reconheceu a existência, no Poder Judiciário, de uma “cultura do
encarceramento”, que significa a imposição exagerada e irrazoável de prisões provisórias
a mulheres pobres e vulneráveis, em decorrência de excessos na interpretação e aplicação
da lei penal e processual penal, mesmo diante da existência de outras soluções, de caráter
humanitário, abrigadas no ordenamento jurídico vigente. A Corte admitiu que o Estado
brasileiro não tem condições de garantir cuidados mínimos relativos à maternidade, até
mesmo às mulheres que não estão em situação prisional. Diversos documentos
internacionais preveem que devem ser adotadas alternativas penais ao encarceramento,
principalmente para as hipóteses em que ainda não haja decisão condenatória transitada
em julgado. É o caso, por exemplo, das Regras de Bangkok. Os cuidados com a mulher
presa não se direcionam apenas a ela, mas igualmente aos seus filhos, os quais sofrem
injustamente as consequências da prisão, em flagrante contrariedade ao art. 227 da
Constituição, cujo teor determina que se dê prioridade absoluta à concretização dos
direitos das crianças e adolescentes. Diante da existência desse quadro, deve-se dar estrito
cumprimento do Estatuto da Primeira Infância (Lei 13.257/2016), em especial da nova
redação por ele conferida ao art. 318, IV e V, do CPP, que prevê: Art. 318. Poderá o juiz
substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: IV - gestante; V -
mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; Os critérios para a
substituição de que tratam esses incisos devem ser os seguintes: REGRA. Em regra, deve
ser concedida prisão domiciliar para todas as mulheres presas que sejam - gestantes -
puérperas (que deram à luz há pouco tempo) - mães de crianças (isto é, mães de menores
até 12 anos incompletos) ou - mães de pessoas com deficiência. EXCEÇÕES: Não deve
ser autorizada a prisão domiciliar se: 1) a mulher tiver praticado crime mediante violência
ou grave ameaça; 2) a mulher tiver praticado crime contra seus descendentes (filhos e/ou
netos); 3) em outras situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente
fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício.
Obs1: o raciocínio acima explicado vale também para adolescentes que tenham praticado
atos infracionais. Obs2: a regra e as exceções acima explicadas também valem para a
reincidente. O simples fato de que a mulher ser reincidente não faz com que ela perca o
direito à prisão domiciliar. STF. 2ª Turma. HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 20/2/2018 (Info 891).
HABEAS CORPUS COLETIVO É cabível a impetração de habeas corpus coletivo? SIM.
A ação coletiva é um dos únicos instrumentos capazes de garantir o acesso à justiça dos
grupos mais vulneráveis socioeconomicamente. Nesse sentido, o STF tem admitido com
maior amplitude a utilização da ADPF e do mandado de injunção coletivo. O habeas
corpus, por sua vez, se presta a salvaguardar a liberdade. Assim, se o bem jurídico
ofendido é o direito de ir e vir, quer pessoal, quer de um grupo determinado de pessoas,
o instrumento processual para resgatá-lo é o habeas corpus, individual ou coletivo. Para
o STF, apesar de não haver uma previsão expressa no ordenamento jurídico, existem dois
dispositivos legais que, indiretamente, revelam a possibilidade de habeas corpus coletivo.
Trata-se do art. 654, § 2º e do art. 580, ambos do CPP. O art. 654, § 2º estabelece que
compete aos juízes e tribunais expedir ordem de habeas corpus de ofício. O art. 580 do
CPP, por sua vez, permite que a ordem concedida em determinado habeas corpus seja
estendida para todos que se encontram na mesma situação. Assim, conclui-se que os
juízes ou Tribunais podem estender para todos que se encontrem na mesma situação a
ordem de habeas corpus concedida individualmente em favor de uma pessoa. Pode-se
aplicar, por analogia, a regra do mandado de segurança coletivo A CF/88 prevê que o
mandado de segurança é cabível quando não for o caso de habeas corpus (art. 5º, LXIX).
Existe, portanto, uma equivalência entre esses dois remédios constitucionais. A
Constituição prevê a existência do mandado de segurança coletivo (art. 5º, LXX). Por
dedução, pode-se reconhecer a possibilidade do habeas corpus coletivo.
Quem é legitimado para impetrar habeas corpus coletivo? Diante da inexistência de
regramento legal, o STF entendeu que se deve aplicar, por analogia, o art. 12 da Lei nº
13.300/2016, que trata sobre os legitimados para propor mandado de injunção coletivo.
Assim, possuem legitimidade para impetrar habeas corpus coletivo: 1) o Ministério
Público; 2) o partido político com representação no Congresso Nacional; 3) a organização
sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há
pelo menos 1 (um) ano; 4) a Defensoria Pública. Posicionamento em sentido contrário do
STJ Vale ressaltar que, apesar de já ter admitido no passado, o entendimento atual do STJ
era no sentido da impossibilidade de habeas corpus coletivo. Nesse sentido: STJ. 5ª
Turma. AgRg no RHC 41.675/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/10/2017.
Vejamos como o STJ vai se portar depois desta decisão do STF. Para fins de concurso,
deve-se adotar o entendimento do STF de que é cabível habeas corpus coletivo.
E se a mulher for reincidente? Quando a detida for tecnicamente reincidente, o juiz deverá
decidir de acordo com as circunstâncias do caso concreto, mas sempre tendo por norte os
princípios e as regras acima enunciadas, observando, ademais, a diretriz de
excepcionalidade da prisão. Em outras palavras, a regra e as exceções acima explicadas
também valem para a reincidente. O simples fato de a mulher ser reincidente não faz com
que ela perca o direito à prisão domiciliar. Outras medidas cautelares Se o juiz entender
que a prisão domiciliar se mostra inviável ou inadequada em determinadas situações,
poderá substituí-la por medidas alternativas arroladas no art. 319 do CPP. Como saber se
a mulher presa possui a guarda efetiva do(a) filho(a)? Deve-se dar credibilidade à palavra
da mãe. Assim, em regra, basta a palavra da mãe. Excepcionalmente, em caso de dúvida,
o juiz poderá requisitar a elaboração de laudo social. A prisão domiciliar já deverá ser
imediatamente implementada enquanto se aguarda a elaboração do laudo. Caso se
constate a suspensão ou destituição do poder familiar por outros motivos que não a prisão,
a mulher não terá direito à prisão domiciliar com base no art. 318, IV e V, do CPP.
Audiências de custódia Os juízes, durante a realização das audiências de custódia, já
deverão adotar as diretrizes acima explicadas, concedendo, em regra, a prisão domiciliar.
Concessão de ofício Embora a provocação por meio de advogado não seja vedada para o
cumprimento desta decisão, ela é dispensável, pois o que se almeja é, justamente, suprir
falhas estruturais de acesso à Justiça da população presa. Cabe ao Judiciário adotar
postura ativa ao dar pleno cumprimento a esta ordem judicial. Em outras palavras, os
juízes e Tribunais deverão, de ofício, conceder a prisão domiciliar às mulheres que se
enquadrem nos incisos IV e V do art. 318 do CPP. Cabe reclamação caso algum juiz ou
Tribunal descumpra essa decisão do STF no HC coletivo? NÃO. O STF, com o objetivo
de se proteger do grande número de reclamações que receberia, afirmou expressamente
que, “nas hipóteses de descumprimento da presente decisão, a ferramenta a ser utilizada
é o recurso, e não a reclamação”. Essa informação é muito importante, tanto na prática,
como nas provas de concurso público.
CUSTOS VULNERABILIS Como vimos acima, a DPU estava patrocinando, como
impetrante, um habeas corpus coletivo no STF pedindo que a Corte reconhecesse, de
forma ampla e geral, que as presas grávidas ou com filhos menores de 12 anos possuem
direito à prisão preventiva. Várias Defensorias Públicas estaduais pediram para intervir
no caso na condição de custos vulnerabilis.
Em que consiste o custos vulnerabilis? Custos vulnerabilis significa “guardiã dos
vulneráveis”. Enquanto o Ministério Público atua como custos legis (fiscal ou guardião
da ordem jurídica), a Defensoria Pública possui a função de custos vulnerabilis. Assim,
segundo a tese da Instituição, em todo e qualquer processo onde se discuta interesses dos
vulneráveis seria possível a intervenção da Defensoria Pública, independentemente de
haver ou não advogado particular constituído. Quando a Defensoria Pública atua como
custos vulnerabilis, a sua participação processual ocorre não como representante da parte
em juízo, mas sim como protetor dos interesses dos necessitados em geral. No âmbito das
execuções penais, a Defensoria Pública argumenta que, desde 2010, existe previsão
expressa na Lei nº 7.210/84 autorizando a intervenção da Instituição como custos
vulnerabilis: Art. 81-A. A Defensoria Pública velará pela regular execução da pena e da
medida de segurança, oficiando, no processo executivo e nos incidentes da execução, para
a defesa dos necessitados em todos os graus e instâncias, de forma individual e coletiva.
(Incluído pela Lei nº 12.313/2010).
Como é a atuação do custos vulnerabilis? A intervenção defensorial custos vulnerabilis
tem o objetivo de trazer para os autos argumentos, documentos e outras informações que
reflitam o ponto de vista das pessoas vulneráveis, permitindo que o juiz ou tribunal tenha
mais subsídios para decidir a causa. É uma atuação da Defensoria Pública para que a voz
dos vulneráveis seja amplificada. E