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09/01/14 MEMÓRIAS DE CHARLES G.

FINNEY CAPÍTULO XXXI--OBRAS EM D'OESTE E EM ROMA, 1854-1855

A VERDADE DO EVANGELHO
MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
por Charles G. Finney

CAPÍTULO XXXI.

OBRAS EM D'OESTE E EM ROMA, 1854-1855

No inverno seguinte, perto do natal, fomos novamente para D'Oeste, no condado de Oneida,
onde como já relatei, iniciei minhas obras no outono de 1825. O povo estava nessa época
novamente sem um pastor, e passamos várias semanas ali num trabalho muito interessante, e
com resultados muito claros.

Entre tantas coisas interessantes que aconteceram no avivamento dessa vez, falarei sobre o
caso de um jovem rapaz. Ele era o filho de pais devotos, e há muito tempo era alvo de oração.
Seus pais eram membros proeminentes da igreja. Na verdade, seu pai era um dos presbíteros
da igreja, e sua mãe uma mulher de Deus, mulher de oração. Quando comecei minhas obras ali,
para grande surpresa e tristeza de seus pais, e do povo cristão num geral, ele se tornou muito
amargo contra as pregações e contra as reuniões num geral, e contra tudo que era feito pela
promoção do avivamento. Ele se comprometeu com toda sua força e vontade contra esse
movimento, e afirmou como depois eu vim, a saber, que nem o Finney nem o inferno poderiam
convertê-lo. Ele dizia muitas coisas com ódio e profanação, até que seus pais estavam
profundamente amargurados, mas nunca soube que ele era suspeito de qualquer tipo de
imoralidade.

Mas a palavra de Deus o pressionava dia após dia, até que ele não pôde mais suportar. Ele
veio até meus aposentos certa manhã. Sua aparência era realmente chocante. Não tenho
palavras para descrever. Raramente vi uma pessoa cuja mente causava tamanha impressão em
seu semblante. Ele parecia estar quase louco, e tremia de tal forma que quando se assentou, a
mobília do quarto sentia seu tremer. Percebi, quando peguei sua mão, que estava muito fria.
Seus lábios estavam azuis, e toda sua aparência era bastante alarmante. O fato é que ele tinha
ido contra suas convicções tanto tempo quanto pôde. Quando se assentou, eu lhe disse "Meu
querido jovem, o que está acontecendo com você?" Ele disse "Ah, cometi um pecado
imperdoável." Eu respondi "Por que você diz isso?" E ele disse "Ora, o senhor sabe que o fiz, e
fiz de propósito.".

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Então ele relatou esse fato sobre si. Disse "Há muitos anos, um livro foi colocado em minhas
mãos, chamado 'O livro dos piratas'. Eu li, e ele gerou um efeito extraordinário em minha mente.
Ele me inspirou com um tipo de terrível ambição infernal de me tornar o maior pirata de todos
os tempos. Decidi-me a ser o cabeça de todos os assaltantes, bandidos e piratas que jamais
tiveram suas histórias relatadas. Mas minha educação religiosa estava no meu caminho. Os
ensinamentos e orações de meus pais pareciam se levantar diante de mim, impedindo-me de
avançar. Mas eu ouvi dizer que era possível afastar o Espírito de Deus, e reprimir Sua influência
a ponto de não mais sentí-la. Eu também havia lido que era possível cauterizar minha
consciência, para que não mais me incomodasse, e depois de tomar essa decisão, minha
primeira atitude foi me livrar de minhas convicções religiosas, para que fosse capaz de cometer
todas as formas de assaltos e assassinatos, sem qualquer compunção de consciência. Portanto,
comecei a blasfemar deliberadamente contra o Espírito Santo. Ele então me contou a maneira
na qual fez isso, e o que dizia ao Espírito Santo, mas era blasfemo demais para ser repetido.

Ele continuou: "Então eu senti que o Espírito de Deus me deixaria, e que minha consciência não
me incomodaria mais. Depois de algum tempo, decidi cometer algum crime, para ver qual seria
o efeito sobre mim. Havia uma escola do outro lado da rua de nossa casa, e numa noite, fui até
lá e ateei fogo. Então voltei para meu quarto e fui para cama. Contudo, logo o fogo foi
descoberto. Levantei-me e misturei-me com a multidão que se reunia pra apagar o fogo, mas
todos os esforços foram em vão, e a escola ficou em cinzas." Queimar um prédio daquela forma
era considerado crime para prisão naquele estado. Ele tinha consciência disso. Perguntei-lhe se
ele tinha feito mais alguma coisa ou cometido mais algum crime. Ele respondeu "Não." E creio
que acrescentou que não teve uma consciência tranqüila depois isso, como esperava. Perguntei-
lhe se já haviam suspeitado dele por ter queimado aquele prédio. Ele disse que não sabia se
isso tinha acontecido, mas outros jovens foram suspeitos, e falavam sobre isso. Perguntei o que
ele pensava em fazer a respeito disso. Ele respondeu que iria até os diretores confessar, e
pediu-me que o acompanhasse.

Fui com ele até um dos diretores, que vivia ali perto, e o jovem me pediu para contar-lhe os
fatos. Fiz isso. O diretor era um homem bom, e grande amigo dos pais desse jovem. A notícia o
afetou profundamente. O jovem estava diante dele, sem palavras. Depois de conversar um
pouco com o diretor, eu disse "Falaremos com os outros diretores." E o cavalheiro respondeu
"Não, vocês não precisam ir, eu mesmo falarei com eles e contarei toda a história." Ele
assegurou ao jovem que ele mesmo o perdoava espontaneamente, e tinha certeza de que os
outros fariam o mesmo, e as pessoas da cidade também o perdoariam, e não o sujeitariam, nem
a seus pais, a passar por nada em virtude do acontecido.

Retornei ao meu quarto, e o jovem foi para casa. Ele ainda não estava em paz. Conforme eu ia
para a reunião à noite, ele me encontrou à porta e disse "Eu preciso confessar publicamente.
Vários jovens foram suspeitos de terem feito isso, e quero que as pessoas saibam que eu fiz, e
que não tive nenhum cúmplice, que ninguém além de mim e Deus sabia sobre isso." E
acrescentou: "Sr. Finney, o senhor poderia contar ao povo? Estarei presente e direi tudo que
for necessário, se qualquer um perguntar alguma coisa, mas não sei se conseguirei abrir minha
boca. O senhor pode contar-lhes?"
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Quando o povo estava reunido, levantei-me e relatei os fatos. A família era tão conhecida e
amada na comunidade, que a declaração causou um grande impacto. As pessoas soluçavam e
choravam por toda congregação. Depois de fazer essa confissão total, ele obteve paz. De sua
história religiosa desde então, não sei muito. Contudo, há pouco tempo soube que ele manteve
sua fé em Cristo, e não mais caiu. Ele foi para o exército durante a rebelião, e foi morto na
batalha do Forte Fisher.

Dando minha narrativa dos avivamentos até agora, deixei de lado um grande número de casos
de crime, cometidos por pessoas que vinham até mim para aconselhamento, contando-me os
fatos. Em muitos momentos nesses avivamentos, restituições, algumas vezes de milhares de
dólares, foram feitas por aqueles cujas consciências os perturbavam, ou por que tinham obtido
o dinheiro diretamente por fraude, ou por alguma estratégia egoísta em suas relações
comerciais.

O primeiro inverno que passei em Boston resultou em muitas revelações como essa. Eu havia
pregado ali numa manhã de domingo sobre esse texto: "O que encobre suas transgressões
nunca prosperará," e à tarde, preguei sobre a parte "b" do versículo: "Mas o que as confessa e
deixa, alcançará misericórdia." Recordo-me que os resultados desses dois sermões foram
extraordinários. Durante semanas depois disso, pessoas de quase todas as idades, e de ambos
os sexos, vieram a mim em busca de conselhos espirituais, confessando que haviam cometido
várias fraudes, e pecados de quase todas as naturezas. Alguns jovens rapazes haviam
defraudado seus patrões, e algumas mulheres haviam roubado relógios e quase todo tipo de
artigos femininos. De fato, a Palavra do Senhor caíra em terra fértil com tal poder naquele
momento na cidade, a ponto de descortinar um antro de impiedade. Certamente eu levaria
horas para mencionar todos os crimes que chegaram a meu conhecimento pelas confissões
daqueles que os haviam cometido. Mas em todas as circunstâncias as pessoas pareciam estar
plenamente arrependidas, e desejosas de restituírem tudo, até onde pudessem.

Mas retornando a esse assunto, a D'Oeste, o avivamento teve um caráter muito interessante, e
houve um bom número de pessoas que nasceram de novo. Lembro-me da conversão de uma
moça com bastante interesse. Ela era professora na escola do vilarejo. Seu pai era, creio eu, um
cético, e até onde sei, ela era filha única e muito querida de seu pai. Ele era um homem de
considerável influência na cidade, se bem fui informado, mas não participava de nenhuma de
nossas reuniões. Vivia numa fazenda afastada da cidade. De fato, o vilarejo era bem pequeno, e
os habitantes estavam espalhados pelo vale do Mohawk, e pelas montanhas em ambos os
lados, de forma que a maior parte dos habitantes vinha de uma distância considerável para
participar da reunião.

Eu havia ouvido dizer que essa jovem não participava muito de nossas reuniões, e que
manifestava uma certa oposição à obra. Ao passar pela escola certo dia, entrei para conversar

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com ela. A princípio, ela pareceu surpresa de ver-me entrar. Eu não havia sido apresentado a
ela, e não a conheceria se não a tivesse encontrado naquele lugar. Entretanto, ela me conhecia,
e a priori parecia querer evitar minha presença. Peguei-a gentilmente pela mão, e disse-lhe que
havia parado ali para falar com ela sobre sua alma. "Minha filha, como você está? Já entregou
seu coração a Deus?" Disse isso enquanto segurava sua mão. Ela baixou sua cabeça, e não fez
esforço algum para soltar minha mão. Vi num instante que uma forte influência viera sobre ela,
uma influência tão profunda e perceptível, que tive quase certeza de que ela se submeteria a
Deus imediatamente.

Quando entrei, o máximo que esperava era trocar algumas palavras com ela, na esperança de
fazê-la pensar, e marcar um horário para conversar com ela mais calmamente. Mas a impressão
foi tão manifesta e imediata, que ela parecia ter seu coração quebrantado num minuto, e que
com algumas poucas frases ditas de forma calma e doce, ela desistiria de sua oposição, e
estaria pronta a render-se ao Senhor Jesus Cristo. Eu então lhe perguntei se deveria dizer
algumas palavras aos alunos, e ela disse que sim. Fiz isso, e depois perguntei se deveria
apresentar-lhe, com seus alunos, a Deus em oração. Ela disse que gostaria que eu o fizesse, e
ficou muito afetada com a presença da escola. Começamos a orar, e era um momento muito
solene e de contrição. A partir daquele momento, aquela jovem parecia estar submersa, ter
passado da morte para a vida. Ela não viveu ainda muito tempo, creio eu, antes de passar para
os céus.

Essas duas temporadas de minhas passagens por D'Oeste tiveram um intervalo de quase trinta
anos entre si. Outra geração vivia no lugar daquela que vivia ali no primeiro avivamento no qual
trabalhei. Encontrei, no entanto, alguns dos antigos membros ali. Mas a congregação era nova
em sua maioria, e composta principalmente por jovens que cresceram depois do primeiro
avivamento.

Assim como no primeiro avivamento, o povo de Roma escutou do que se passava em D'Oeste,
e vinha em grandes grupos participar de nossas reuniões. Isso me levou a, depois de algumas
semanas, ir passar algum tempo em Roma.

A situação da religião em D'Oeste, acredito, melhorou muito desde este último avivamento. As
ordenanças do Evangelho têm sido mantidas, e creio que um progresso considerável foi
alcançado na direção certa.

A família B inteira foi-se embora de D'Oeste, com a exceção de um filho com sua respectiva
família. Aquela grande e interessante família se desfez, mas um deles permaneceu em D'Oeste,
um em Utica, e um filho que se convertera no primeiro avivamento ali, e que já há muitos anos é
pastor da Primeira Igreja Presbiteriana em Watertown, em Nova Iorque.

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Quando estive em Roma pela primeira vez, e por muitos anos depois disso, a igreja ali era
Congregacional. Mas poucos anos antes de minha última visita ali, eles haviam estabelecido um
pastor Presbiteriano, um jovem, que sentira que a igreja deveria ser Presbiteriana ao invés de
Congregacional. Ele propôs e recomendou isso para a igreja, e obteve sucesso na realização do
processo, para a grande insatisfação de muitas das mais influentes pessoas da igreja. Isso criou
uma situação bastante indesejável em Roma. Quando cheguei ali de D'Oeste, deparei-me, pela
primeira vez, com esse sério sentimento de divisão na igreja. Seu pastor perdera a confiança e
afeição de muitos dos membros mais influenciais de sua igreja.

Quando soube da situação, tive certeza de que pouco poderia ser feito para promover um
avivamento geral, a menos que aquela dificuldade fosse sanada. Mas o assunto fora esgotado
de tal forma, e as pessoas envolvidas estavam tão comprometidas, que trabalhei em vão na
tentativa de trazer reconciliação. Não era algo que deveria ser pregado, mas em conversas
privadas tentei arrancar aquela raiz de amargura. Vi que as partes não viam os fatos da mesma
maneira. Continuei pregando, contudo, e o Espírito do Senhor foi derramado, conversões
ocorriam com freqüência, e creio que um bem imenso foi alcançado.

Mas depois de me esforçar em vão para assegurar uma união de sentimentos num esforço tal
que seria aprovado por Deus, decidi-me por deixá-los. Mais tarde soube que alguns dos
membros mais desgostosos da igreja saíram de uma vez por todas de Roma e foram para
D'Oeste, unindo-se à igreja ali. Presumo que o Pastor tenha feito o que cria ser seu dever em
meio àquela controvérsia, mas as divisões conseqüentes foram dolorosas demais para mim, pois
tinha um interesse peculiar por aquela igreja.

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