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HENRIQUE
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MARÍTIMA
SEGURANÇA MARÍTIMA
INCÊNDIOS – CONCEITOS GERAIS
JOÃO EMÍLIO
2012
ÍNDICE
1. ELEMENTOS BÁSICOS SOBRE COMBUSTÃO........................................................................................................ 1
2. PROPAGAÇÃO E EVOLUÇÃO DE UM INCÊNDIO .................................................................................................. 3
2.1. PROPAGAÇÃO................................................................................................................................................... 3
2.2. EVOLUÇÃO DO FOGO........................................................................................................................................ 4
3. PODER CALORÍFICO E CARGAS DE INCÊNDIO ..................................................................................................... 5
4. PROPRIEDADES BÁSICAS DO PETRÓLEO............................................................................................................. 6
4.1. VAPORIZAÇÃO E PRESSÃO DE VAPOR ................................................................................................................ 6
4.1.1. PRESSÃO DE VAPOR REID (STANDARD) .............................................................................................................. 7
5. INFLAMABILIDADE ............................................................................................................................................ 8
5.1. LIMITES DE INFLAMABILIDADE .......................................................................................................................... 8
5.1.1. EFEITO DOS GASES INERTES NOS LIMITES DE INFLAMABILIDADE ...................................................................... 10
5.2. CARATERÍSTICAS DE INFLAMABILIDADE DAS SUBSTÂNCIAS COMBUSTÍVEIS...................................................... 12
5.2.2. PONTO DE INFLAMAÇÃO – PONTO DE COMBUSTÃO – TEMPERATURA DE IGNIÇÃO.......................................... 12
5.3. CLASSIFICAÇÃO DA INFLAMABILIDADE DO PETRÓLEO...................................................................................... 13
5.4. LÍQUIDOS PETROLÍFEROS NÃO VOLÁTEIS......................................................................................................... 13
5.5. LÍQUIDOS PETROLÍFEROS VOLÁTEIS................................................................................................................. 13
6. DENSIDADE DOS VAPORES DE HIDROCARBONETOS ......................................................................................... 14
7. DESENVOLVIMENTO DE VAPORES DE HIDROCARBONETOS E SUA DISPERSÃO .................................................. 14
7.1. DESENVOLVIMENTO DE VAPORES DURANTE O ABASTECIMENTO..................................................................... 14
8. FONTES GERADORAS DE TEMPERATURAS DE IGNIÇÃO .................................................................................... 16
8.1. ELETRICIDADE ESTÁTICA ................................................................................................................................. 17
8.1.1. SEPARAÇÃO DE CARGAS.................................................................................................................................. 17
8.1.2. ACUMULAÇÃO DE CARGAS ............................................................................................................................. 19
8.1.3. DESCARGAS ELETROSTÁTICAS ......................................................................................................................... 19
8.1.4. SONDAGENS ................................................................................................................................................... 21
8.1.5. COLHEITA DE AMOSTRAS ................................................................................................................................ 21
8.1.6. MANGUEIRAS DE CARGA NÃO CONDUTORAS .................................................................................................. 21
8.1.7. PREVENÇÃO DAS DESCARGAS ELETROESTÁTICAS............................................................................................. 21
8.1.8. COMBUSTÃO ESPONTÂNEA ............................................................................................................................ 23
8.2. EFEITO DA HUMIDADE SOBRE AS COMBUSTÕES.............................................................................................. 23
8.3. EFEITOS DA RADIO, RADAR E RAIOS ................................................................................................................ 24
8.4. FRICÇÃO MECÂNICA ....................................................................................................................................... 24
8.5. OXIDAÇÃO PIROFÓRICA .................................................................................................................................. 24
8.5.1. FORMAÇÃO DE PIRÓFOROS ............................................................................................................................ 24
8.5.2. OPERAÇÕES EM TERMINAIS ............................................................................................................................ 24
8.5.3. OPERAÇÕES A BORDO..................................................................................................................................... 24
8.5.4. TANQUES COM GÁS INERTE ............................................................................................................................ 25
8.5.5. PREVENÇÃO DA IGNIÇÃO PIROFÓRICA EM TANQUES DE CARGA ...................................................................... 25
9. EXPLOSÕES ..................................................................................................................................................... 26
9.1. EXPLOSÃO DE POEIRAS ................................................................................................................................... 27
9.2. INTENSIDADE DAS EXPLOSÕES ........................................................................................................................ 27
9.3. PROTEÇÃO INTEGRADA CONTRA EXPLOSÕES................................................................................................... 29
10. TIPOS DE INCÊNDIOS A BORDO ....................................................................................................................... 30
11. INVESTIGAÇÃO DE INCÊNDIOS ........................................................................................................................ 30
11.1. INVESTIGAÇÃO ............................................................................................................................................... 30
11.2. RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO ........................................................................................................................ 30
11.3. CONCLUSÕES DO RELATÓRIO .......................................................................................................................... 30
BIBLIOGRAFIA
INTERNATIONAL CHAMBER OF SHIPPING - International Safety Guide for Oil Tankers & Terminals
Fire Dynamics
HUGHES/SWINDELLS –Storage and Handling of Petroleum Liquids -Third Edition 1987
Eng. PAIS LOURENÇO - Apontamentos de Segurança Marítima
Eng. Maq. Naval MANUEL BOUZA SERRANO – A Proteção contra Incêndios em Casas de Máquinas de Navios – 1982
INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION – Advanced Training in Fire Fighting – 2000 Edition
Vejamos alguns tipos de combustões ou oxidações: Para o arranque duma combustão é preciso ainda um
½ O2 + H2 H2 O + 68.400 cal choque a que chamamos condição energética ou
C + O2 CO2 + 94.230 cal acendimento. Esta condição energética pode pôr-se
CO + ½ O2 CO2 + 67.620 cal em evidência imaginando a experiência representada
C2 H2 + 5/2O2 2 CO2 + H2 O + 323.000 cal na figura 2.
Na gasolina, de modo geral, as moléculas dos
hidrocarbonetos têm de 7 a 9 átomos de carbono,
sendo que as gasolinas de melhor qualidade têm
propriedades de queima que se assemelham a um
hidrocarboneto de 8 carbonos, o isoctano, C8H18
Na combustão da gasolina (octano, os seus vapors
combinam-se com o oxigénio originando dióxido de
carbono e água de acordo com a seguinte equação de
balanço: Figura 2 - Condição energética
2C8H18 + 25O2 16CO2 + 18H2O A bola colocada num “fosso” de energia possui um
certo valor de energia convertível. Mas esta não pode
Na combustão de 1,0 mole de C8H18 é libertada, ser obtida sem que imprimamos previamente à bola
aproximadamente, a energia de 5471 kJ. energia suficiente para a fazer passar a ponta do
Diz-se que uma combustão é completa quando o máximo de energia. É somente a partir deste
combustível é totalmente oxidado e se liberta toda a momento que a bola é capaz de descer o plano
energia. A combustão incompleta pode ser devida a: inclinado correspondente e libertar então a energia
recuperável, por exemplo sob a forma de trabalho.
- Insuficiência de oxigénio;
- Mistura imperfeita entre o combustível e o Designaremos a altura do máximo de energia A por
oxigénio; energia de ativação. Sob esta designação
entenderemos a quantidade de energia que é preciso
- Temperatura demasiado baixa para manter a
fornecer ao sistema inibido para lhe dar a
combustão.
possibilidade de entrar em reação. No caso de um
As expressões seguintes traduzem a combustão
processo de combustão, a energia de ativação pode
incompleta do carbono e do hidrogénio:
ser fornecida de várias maneiras, por exemplo, sob a
C+ ½ O2 CO forma de trabalho mecânico, como o atrito, etc.,
sendo contudo, os processos térmicos os principais
2 H2 + ½ O2 H2 O + H2
responsáveis pela criação da energia de ativação.
As reações anteriormente referidas são exotérmicas,
Pode-se muito bem imaginar o efeito do calor com o
isto é, libertam calor de reação. A combustão do
exemplo da bola. Para a bola que representa por
carbono é expressa pela reação:
exemplo, uma molécula, a entrega de calor significa
C + O2 CO2 + Q calor de reação que ela é posta em oscilação no fosso de energia e
tanto mais fortemente quanto mais tenha sido
Vejamos ainda a reação do propano (C3H8)
aquecida. Se o movimento oscilatório ultrapassar uma
1 m3 C3 H8 + 24 m3 ar 3 m3 CO2 + 4 m3 H20 + 19 m3 certa amplitude (amplitude de oscilação), a
N2 + 24.400 Kcal ultrapassagem do máximo A pode tornar-se possível.
O efeito de catalisadores apropriados permite baixar a
Na reação anterior considerou-se o ar, uma vez que o
altura do máximo de energia de ativação A segundo a
oxigénio necessário para a combustão é captado do ar
linha a tracejado da figura; a bola pode ultrapassar
acompanhado de grande quantidade de azoto.
mais facilmente este máximo diminuído. Os
Nas reações que se têm vindo a analisar, verifica-se catalisadores são substâncias que, sem participar
que se considerou como combustível o carbono (C), o diretamente numa reação, aceleram a sua velocidade
hidrogénio (H) e a combinação destes dois elementos, (catalisadores positivos).
tal como vimos no caso do propano e da gasolina. Os
Existem igualmente catalisadores negativos cujo efeito
combustíveis comerciais no seu estado natural ou em
é suscetível de se exercer em sentido inverso. Neste
forma preparada podem ser sólidos, líquidos ou
caso são designados por inibidores e travam ou
gasosos. Em qualquer destes estados, os elementos
dificultam uma reação. Os inibidores são muito
fundamentais de um combustível são: carbono (C) e o
importantes nos processos de extinção. A desinibição
hidrogénio (H). Além destes elementos podem ainda
dum sistema de matérias combustíveis necessita,
existir outros como por exemplo o enxofre (S) que, no
como mostrámos, uma certa energia de acendimento.
entanto, não é considerado um combustível.
Consoante esta energia é recebida do exterior ou (smog). Contudo, uma vez que os níveis são
produzida dentro do próprio sistema falaremos de insignificantes em termos energéticos, o azoto é
acendimento exterior ou de auto-acendimento. tratado como um gás inerte.
Combustão de líquidos combustíveis
2. PROPAGAÇÃO E EVOLUÇÃO DE UM INCÊNDIO
Do ponto de vista técnico, não é correto falar em
O calor desenvolvido pela combustão de um corpo
combustão de líquidos inflamáveis, uma vez que a
inflamado, transmite-se não apenas às restantes
combustão se verifica nos vapores que os esses
partes do corpo ainda não inflamadas, como também
líquidos libertam. Logo, para que a combustão se
aos materiais existentes nas proximidades, incluindo
verifique, torna-se necessário a libertação de vapores
materiais combustíveis, provocando o seu
em quantidade suficiente para que a mistura ar-
aquecimento e destilação dando origem à emanação
combustível esteja dentro de uma faixa designada por
de cada vez maior quantidade de gases combustíveis.
zona ou domínio de inflamabilidade. A formação de
Estes, levados a altas temperaturas, poderão inflamar-
vapores está diretamente relacionada com
se imediatamente, se existir oxigénio suficiente,
volatilidade do combustível líquido que, por sua vez
verificando-se a propagação do fogo à sua volta ou, no
depende das características do produto e da
caso da quantidade de oxigénio ser insuficiente, os
temperatura a que se encontra. A vaporização pode,
gases acumular-se-ão criando condições para uma
também, verificar-se de forma mecânica, através da
inflamação violenta quando houver a introdução de ar
pulverização do líquido por efeito de pressão, tal como
fresco, por exemplo devido à abertura de uma porta.
acontece com os sistemas de injeção dos motores ou
Pode ainda acontecer que os gases progridam por
caldeiras.
condutas de ventilação, esgotos, etc., originando a
Combustão de sólidos combustíveis inflamação de materiais combustíveis à sua passagem
mesmo em locais bastante afastados.
A combustão de um combustível sólido pode fazer-se
de duas formas:
2.1. PROPAGAÇÃO
Por pirólise, em que o sólido, por efeito do calor,
Os incêndios propagam-se através de quatro
emite vapores inflamáveis de decomposição do
processos:
material, sendo esses vapores que ardem.
Por condução. O calor desenvolvido pela combustão
Por brasas, em que a combustão se processa
de um corpo transmite-se, não só o volume restante
praticamente sem chamas mas com forte radiação de
do próprio corpo, como aos corpos em contacto. Esta
calor.
transmissão é tanto maior quanto maior for a
Neste caso, o estado de divisão da matéria é de condutibilidade térmica dos corpos. A condução é
grande importância na combustão. Um pedaço de muitas vezes efetuada através de condutas, estruturas
madeira arde com muito mais facilidade se for metálicas, etc.
transformada em serradura.
Por convecção. A diferença de densidades dos gases
O ar atmosférico é uma mistura de cerca de 21% de frios e quentes provoca a formação de correntes de
oxigénio, 78% de azoto e 1% de outros constituintes. convecção de ar e gases. Quando um incêndio assume
Para o processo de combustão é satisfatório proporções elevadas, o fogo propaga-se através destas
representar o ar como uma mistura de 21% de correntes de convecção por todas as comunicações
oxigénio e 79% de azoto em volume. Por cada 21 verticais (escadas, trunks, ductos técnicos, elevadores,
moles de oxigénio que reagem quando o ar oxida o etc.).
combustível, existem também 79 moles de azoto
Por radiação. O calor transmite-se por ondas
envolvidas. Desta forma, 79/21=3,76 moles de azoto
eletromagnéticas (infra vermelhos). Neste tipo de
encontram-se presentes por cada mole de oxigénio no
transmissão, é muito importante ter em conta que a
ar.
energia libertada é proporcional à quarta potência da
À temperatura ambiente tanto o oxigénio como o
temperatura da fonte de calor, pelo que um incêndio
azoto existem como moléculas diatómicas, O2 e N2.
relativamente importante é suscetível de emitir
Assume-se geralmente que o azoto é não reativo às
energia suficiente para provocar a sua propagação a
temperaturas a que as combustões se processam. No
materiais combustíveis situados nas proximidades.
entanto, a temperaturas mais elevadas, pequenas
quantidades de azoto reagem com o oxigénio para
formar óxidos de azoto, normalmente designados por
NOx. Estas pequenas quantidades de óxidos de azoto
são importantes do ponto de vista da poluição devido
ao papel que desempenham na formação das névoas
Figura 3 – Evolução típica de um incêndio
de ignição. Este processo de desenvolvimento de um
Por projeção. Por vezes a transmissão do fogo faz-se
incêndio é designado por ‘flashover’.
por intermédio de partículas ou mesmo de partes dos
corpos em combustão, aquecidos ou inflamados que O flashover ocorre normalmente à temperatura de
são projetados à distância atingindo outros materiais 500ºC, em materiais combustíveis comuns, gerando
que entram em combustão. um fluxo de calor, ao nível do piso, de cerca de
20kW/m2. Um exemplo de flashover verifica-se
2.2. EVOLUÇÃO DO FOGO quando um material de mobiliário é incendiado num
espaço interior. O fogo que envolve a peça inicial de
A figura 3 mostra uma curva típica de evolução do
mobiliário pode produzir fumos que se dispersam por
fogo, constituída pelas seguintes fases:
todo o teto da sala.
Eclosão - Corresponde ao início da combustão, quando
A camada de fumo quente, constrangida pelas
o comburente é normalmente insuficiente para poder
paredes da sala vai aumentando em espessura. O calor
reagir com uma grande quantidade de combustível.
irradiado, a partir desta camada, aquece as superfícies
Crescimento - Fase em que por efeito de uma entrada dos restantes materiais combustíveis diretamente
de comburente o fenómeno se ativa rapidamente expostos existentes no espaço, fazendo com que estes
transmitindo-se aos corpos vizinhos. materiais, por efeito de pirólise, libertem gases
inflamáveis. Quando a temperatura dos gases atinge
Inflamação generalizada (Flashover) – Por efeito do
um determinado valor dá-se uma súbita ignição que se
calor, a energia libertada é suficiente para provocar a
propaga quase instantaneamente a toda a massa
combustão de forma contínua, de todos os materiais
gasosa.
combustíveis presentes.
Declive das chamas – Verifica-se após a fase de
O combate a incêndios nos navios difere do combate a
desenvolvimento contínuo e resulta da carência de
incêndios na generalidade das instalações industriais
combustível ou da dissipação de energia se tornar
em terra pelo facto das estruturas metálicas do navio
superior à sua produção, provocando o abaixamento
conduzirem mais facilmente o calor do que os
da temperatura.
materiais geralmente utilizados nas instalações
industriais. O resultado é que o fogo a bordo tende a A evolução dos incêndios, como é natural, varia de
propagar-se tanto verticalmente como acordo com um conjunto de parâmetros, entre os
horizontalmente. Se a temperatura de um material quais a carga térmica dos locais. A figura 4 mostra-nos
combustível, num compartimento adjacente àquele curvas típicas de desenvolvimento de um incêndio em
onde o fogo se desenvolve, atingir o seu ponto de função do tipo de local (materiais em presença).
ignição, esse material entra em ignição espontânea
A - Espaço com poucos materiais combustíveis
(auto ignição) resultando, assim, a propagação de um
(p.ex: escritório com mobiliário metálico e pouca
compartimento para outro através das anteparas, sem
ocupação).
que seja necessária a intervenção direta de uma fonte
Densidade de carga de incêndio - Carga de incêndio vapor é removido da superfície do líquido, maior é a
por unidade de área útil de um dado espaço ou, para o quantidade de substância que vaporiza. A vaporização
caso de armazenamento, por unidade de volume. também aumenta se se aumentar a temperatura da
substância. Quando um líquido é aquecido, uma parte
Densidade de carga de incêndio modificada -
do calor é utilizada para aumentar a sua temperatura
Densidade de carga de incêndio afetada de
(calor sensível) e a outra parte é utilizada para a
coeficientes referentes ao grau de perigosidade e ao
vaporização do líquido (calor latente).
índice de ativação dos combustíveis, determinada com
base nos critérios referidos no n.º 4 do artigo 12.º do Quando um líquido evapora, as moléculas deixam o
Decreto-Lei n.º 220/2008, de 12 de Novembro; líquido e passam ao espaço que o envolve. Se este
processo se realiza num recipiente fechado, o número
Densidade de ocupação teórica - Número de pessoas
de moléculas no espaço sobre o líquido atinge um
por metro quadrado de área útil de um
valor máximo para uma determinada temperatura. A
compartimento, estimado para cada utilização-tipo.
pressão exercida sobre as paredes do recipiente é a
Este valor é utilizado para calcular o efetivo e
soma da pressão das moléculas de ar e de vapor,
dimensionar os trajetos de evacuação dos espaços.
designando-se essa pressão como “pressão de vapor
do líquido” a uma dada temperatura. A continuidade
4. PROPRIEDADES BÁSICAS DO PETRÓLEO
da vaporização, é possível apenas, através da redução
É grande a variedade de produtos combustíveis da pressão do recipiente ou pelo aumento da
normalmente existentes a bordo e, portanto, todos temperatura.
eles apresentam em maior ou menor grau, risco de
Todos os petróleos brutos e seus produtos derivados
incêndio. Dos combustíveis que potencialmente
são, essencialmente, misturas diversificadas de
maiores riscos de incêndio envolvem há a considerar o
compostos de hidrocarbonetos, isto é, compostos
petróleo no estado bruto e os seus derivados.
químicos de hidrogénio e de carbono.
Estes tipos de produtos existem sempre a bordo em
As temperaturas de vaporização destes compostos vão
grandes quantidades, quer sob a forma de carga quer
desde – 162 °C no caso do metano (CH4) até valores
como combustível utilizado pelo navio. Além disso, em
superiores a 400 °C. A volatilidade de uma
qualquer das formas referidas, são esses produtos
determinada mistura destes compostos depende
movimentados através de sistemas suscetíveis de
essencialmente das quantidades dos constituintes
criarem condições propícias à ocorrência de um
mais voláteis, isto é, aqueles que têm um ponto de
incêndio.
vaporização mais baixo.
Dada a grande importância que o petróleo bruto e/ou
A volatilidade, ou seja, a propriedade que o petróleo
seus derivados representa para a segurança do navio,
bruto e os seus derivados têm para libertar vapores é
abordaremos de seguida as suas características
caracterizada pela sua pressão de vapor. Quando uma
principais do ponto de vista da prevenção e extinção
mistura petrolífera é introduzida num tanque isento
de incêndios.
de gases, (apenas com ar), inicia-se um processo de
vaporização, com a libertação de vapores acima do
4.1. VAPORIZAÇÃO E PRESSÃO DE VAPOR
nível da mistura petrolífera. Os vapores assim
Quando um líquido é colocado num recipiente aberto produzidos têm tendência para se dispersarem no seio
exposto ao ar, vai-se transformando gradualmente em do líquido, atingindo-se uma situação de equilíbrio na
vapor e desaparece. Esta transformação processa-se qual permanece uma certa quantidade de vapores
muito mais rapidamente nuns líquidos do que noutros. uniformemente distribuída no espaço livre acima do
Por exemplo, se uma pequena quantidade de éter for nível do líquido. A pressão criada pelos vapores é
exposta ao ar, rapidamente desaparecerá enquanto, designada por pressão de equilíbrio ou pressão de
se se tratar de gasolina, será necessário muito mais vapor.
tempo para que isso se verifique. A tendência de uma
Enquanto no caso de um composto homogéneo, a
substância para se vaporizar é chamada volatilidade. A
pressão de vapor de depende apenas da sua
volatilidade é aumentada pelo movimento da
temperatura, nas misturas, a pressão de vapor
atmosfera envolvente, p.ex: o vento. Quanto mais
depende da sua temperatura e do volume do espaço
livre para vaporização, isto é, depende da relação
volume de gás/volume de líquido.
De acordo com a definição SOLAS, material não combustível é um
material que não arde ou emite vapores inflamáveis em quantidade A pressão de vapor real é aquela que corresponde à
suficiente para produzirem a auto-ignição quando submetidos a uma situação de equilíbrio de uma mistura de
temperatura de aproximadamente 750ºC em teste efectuado de
hidrocarbonetos quando a relação gás/líquido é
acordo com o Fire Test Procedures Code. Qualquer outro material é
considerado um material combustível. efetivamente zero. É, portanto, a pressão de vapor
mais elevada que é possível atingir-se para uma dada hermeticamente fechado, mergulhado em água a 37.7
temperatura. Quando a temperatura de uma mistura °C (100 ºF).
petrolífera aumenta, aumenta igualmente a sua
Após o reservatório ter sido suficientemente agitado
pressão de vapor. Se esta ultrapassar a pressão
para que se produzam rapidamente as condições de
atmosférica, o líquido entra em ebulição.
equilíbrio termodinâmico, pode ler-se num
A pressão de vapor real de uma mistura é um bom manómetro, ligado ao aparelho, o aumento de
indicador da sua capacidade para libertar gases. É no pressão devido à vaporização do líquido. Nestas
entanto uma característica de difícil determinação, condições o manómetro indica, com boa aproximação,
podendo, contudo, ser calculada por meio de análise a pressão de vapor do líquido testado a 37.7ºC.
da composição do líquido. Para os petróleos brutos
A RVP é útil para estabelecer a comparação de
poderá ser estimada com as devidas tolerâncias,
volatilidade de uma grande diversidade de líquidos
dependendo da temperatura e da composição do
petrolíferos. Tem, no entanto, reduzido interesse para
produto.
determinar as condições dos vapores produzidos em
situações específicas, uma vez que o teste é efetuado
4.1.1. PRESSÃO DE VAPOR REID (STANDARD)
à temperatura padrão de 37.7 °C e com uma relação
A pressão de vapor de Reid (Reid Vapour Pressure- fixa de gás/líquido. Em condições variáveis de
RVP), é determinada por meio de um teste simples, temperatura e de relação gás/líquido, a pressão de
sendo o método mais utilizado para a determinação vapor real é um indicador mais adequado; no entanto
aproximada da volatilidade dos combustíveis líquidos. conforme já referido, podem estabelecer-se relações
O teste é realizado num aparelho normalizado e de entre os dois tipos de pressão de vapor, em função da
forma bem definida. Introduz-se uma amostra do temperatura.
líquido num reservatório de teste à pressão
Apesar de não existir uma clara distinção entre os
atmosférica, de modo a que o volume do líquido
líquidos de alta, baixa e média volatilidade, a tabela 2
ocupe um quinto (1/5) do volume total interno do
mostra-nos uma possível classificação em função da
reservatório. Em seguida, o reservatório é
pressão de vapor Reid.
pressões de vapor dos componentes puros, mas Na prática a combustão é quase sempre incompleta. A
também da sua concentração molecular no líquido. quantidade de ar é raramente suficiente,
especialmente nos grandes incêndios de superfície. Os
À medida que o líquido evapora, a sua composição vai
fenómenos de combustão incompleta produzem
variando gradualmente, ficando os componentes
importantes quantidades de fumo ou de fuligem, isto
menos voláteis numa proporção mais elevada.
é, carbono não calcinado. Se o combustível for muito
A perda de componentes voláteis por evaporação é rico em carbono, há uma formação importante de
conhecida por “weathering”, um processo que resulta fuligem. As substâncias cujas moléculas contêm já
no abaixamento gradual da pressão de vapor do oxigénio tais como os álcoois apresentam, pelo
líquido. É o caso dos líquidos como o crude, que possui contrário, fracas emissões de fumo e de fuligem.
dissolvidos, em elevada concentração, compostos
voláteis como o metano, etano, propano, butano e 5.1. LIMITES DE INFLAMABILIDADE
sulfureto de hidrogénio.
Uma mistura de hidrocarbonetos gasosos e ar não
pode ser inflamada (arder), a menos que a sua
5. INFLAMABILIDADE
composição tenha valores que se situem dentro de
Num processo de queima (combustão), os determinados limites de concentração de gás no ar,
hidrocarbonetos gasosos reagem com o oxigénio, para designados por campo ou zona de inflamação.
produzir dióxido de carbono (CO2) e água (H2O). A
O limite inferior deste campo é designado por Limite
reação liberta calor suficiente para formar uma chama
Inferior de Inflamabilidade – LII ou Limite Inferior de
visível, que se propaga através da mistura dos
Explosividade – LIE ou, em língua inglesa, Lower
hidrocarbonetos gasosos e do ar. Quando os vapores
Flammable Limit – LFL ou Lower Explosive Limit – LEL.
existentes acima do nível de um hidrocarboneto
Para concentrações de vapores no ar abaixo deste
líquido são inflamados, o calor produzido é
limite não há combustível suficiente para manter e
normalmente suficiente para evaporar uma
propagar a combustão. Acima do Limite Superior de
quantidade suficiente de líquido que mantêm a
Inflamabilidade – LSI ou Limite Superior de
chama, - diz-se que o, "líquido está a arder". De facto,
Explosividade ou, em língua inglesa Upper Flammable
são os vapores que continuamente se libertam do
Limit – UFL ou Upper Explosive Limit – UEL, a
líquido que mantêm a combustão.
concentração de vapores no ar é tal que não existe ar
A combustão total de qualquer substância significa a suficiente para manter e propagar a combustão. A
transformação em óxidos de todos os elementos das figura 5 ilustra graficamente a zona de explosividade
moléculas correspondentes. As partes não oxidáveis, ou inflamabilidade, limitada pelo LEL e UEL.
que à temperatura da combustão não são dissociáveis
Devido a limitações de alguns sensores utilizados pelos
nem voláteis, aparecem na cinza. Estas partes podem,
explosímetros, em regra, a escala de leitura destes
apesar de tudo, conter elementos que por si mesmos
instrumentos vai de 0 a 100% do limite inferior de
seriam capazes de formar óxidos à temperatura da
explosividade, tal como a figura indica, sendo também
transformação. Mas condições de ligação particulares
normal que os limites de alarme estejam situados nos
impedem-no. Desprezaremos estes fenómenos
10 ou 20% do LEL.
particulares para admitir uma combustão completa.
Os limites de inflamabilidade variam ligeiramente
A tabela seguinte mostra a necessidade teórica de ar
entre os hidrocarbonetos gasosos puros e as misturas
necessário para a combustão completa de algumas
de gases derivados de diferentes líquidos petrolíferos.
substâncias combustíveis:
Consumo de ar Em termos aproximados, pode dizer-se que as
Substância Nm3 / Kg ou Nm3 * misturas gasosas obtidas dos petróleos brutos, as
Madeira ** 7.3 gasolinas para veículos e aviões e produtos do tipo
gasolina natural, podem ser representados
Álcool etílico 6.93
respetivamente pelo gás puro de hidrocarbonetos tais
Benzina 11.56 como propano, butano e pentano.
Metano 9.52
Butano 31.00
Gás de iluminação 5.03
10
Como vimos anteriormente, a volatilidade e a pressão de vapor dependem, entre outros factores, da
temperatura. Em muitas situações a medição do teor de gases ou vapores explosivos num tanque ou
reservatório, é efectuada quando a atmosfera desse tanque ou reservatório se encontra a uma
temperatura perto da temperatura ambiente. Nesta situação, pode ocorrer que a atmosfera se encontre
abaixo do LEL (fora da zona de explosividade). Contudo, se forem efectuados trabalhos que envolvam o
aumento da temperatura, mesmo que em pontos localizados (p.ex: trabalhos de soldadura), existe uma
forte probabilidade desse aumento da temperatura originar a volatilização de substâncias líquidas
residuais, o que poderá implicar que a atmosfera dentro do espaço se torne explosiva.
Os diagramas representados na figura 9 mostram, definida em termos dos seus teores de hidrocarboneto
para o caso das misturas metano/ar, que os limites de e de oxigénio.
inflamabilidade variam em função da energia de
Para maior facilidade na interpretação do diagrama, a
ativação e da pressão a que a mistura é submetida.
zona mais representativa, (contornada a tracejado) é
representada na figura 8.
5.1.1. EFEITO DOS GASES INERTES NOS LIMITES DE
As misturas de gases de hidrocarbonetos com ar sem
INFLAMABILIDADE
gás inerte, estão representadas sobre a linha limite de
Quando um gás inerte - geralmente proveniente dos diluição. A inclinação desta linha reflete a redução do
gases de evacuação de caldeiras - é adicionado a uma teor de oxigénio, à medida que aumenta o teor de
mistura de hidrocarbonetos gasosos com ar, o hidrocarboneto. Os pontos situados à esquerda da
resultado é um aumento da concentração de linha limite de diluição representam misturas com
hidrocarbonetos que define o limite inferior de teores de oxigénio reduzidos, pela adição de gás
inflamabilidade e um decréscimo da concentração inerte.
relativa ao limite superior de inflamabilidade. Estes
Os limites superior e inferior de inflamabilidade para
efeitos estão ilustrados no diagrama da figura 7, que
as misturas de gases de hidrocarbonetos com ar estão
deve ser interpretado apenas como representativo
representados, respetivamente, pelos pontos A e B. À
dos princípios envolvidos.
medida que aumenta o teor de gás inerte, os limites
Cada um dos pontos do diagrama representa uma de inflamabilidade das misturas variam, como
mistura gasosa de hidrocarbonetos, ar e gás inerte, indicado pelas linhas BC e AC, até convergirem no
Figura 7 – Efeito do gás inerte sobre os limites de explosividade
ponto C. Apenas as misturas situadas na área definida campo de inflamação vai progressivamente sendo
pelos pontos ABC, têm condições para se inflamarem. reduzido. Quando o teor de oxigénio se situa na
ordem dos 11 % em volume (ponto C), a mistura já
Para as diversas misturas (ar, gás inerte e vapores de
não pode inflamar-se.
HC) o UEL situa-se sobre a linha BC, enquanto que o
LEL se situa sobre a linha AC. Supondo que, por uma qualquer razão, se pretende
ventilar um tanque (operação designada por
Partindo de um ponto qualquer situado na área do
“gasfreeing”), cuja atmosfera se encontra com uma
diagrama, a adição de ar corresponde a deslocarmo-
composição não inflamável representada pelo ponto D
nos no sentido de 1 para 2, aumentando o teor de
(ar + vapores de HC + gás inerte), à medida que se vai
oxigénio na mistura, enquanto a adição de gás inerte
introduzindo ar, a atmosfera vai progredindo sobre a
provoca o deslocamento em sentido contrário (2 para
linha DE no sentido do ar puro (21% de O2).
1).
Continuando a ventilar, verifica-se que, ao cruzar a
Desta forma, à medida que se adiciona gás inerte às linha BC (ponto F), a atmosfera passa a ser inflamável
misturas de gases de hidrocarbonetos com ar, o passando a haver risco de explosão no tanque.
Para evitar este risco, a solução passa por injetar mais Medição da pressão de vapor Reid
gás inerte. Supondo que o gás inerte a injetar tem uma
Teste do ponto de inflamação (flashpoint)
percentagem de O2 de 5%, a atmosfera vai evoluindo
de D para G. Se a partir deste ponto começarmos a
5.2.2. PONTO DE INFLAMAÇÃO – PONTO DE
ventilar (G para E), a atmosfera do tanque já não vai
COMBUSTÃO – TEMPERATURA DE IGNIÇÃO
cruzar a zona de explosividade.
O ponto de inflamação (flashpoint) de um líquido
Para garantir uma total segurança da operação, é
combustível é determinado através de uma amostra
necessário introduzir uma quantidade suplementar de
de líquido que é gradualmente aquecida num vaso
gás inerte (G para H) para que, durante o processo de
especial e momentânea e repetidamente aplicada
“gasfreeing” (H para E) haja a garantia da atmosfera
uma pequena chama junto à sua superfície. O ponto
nunca se encontrar em condições de explosão.
de inflamação corresponde à temperatura mais baixa
do líquido à qual a chama provoca a combustão, sob a
5.2. CARATERÍSTICAS DE INFLAMABILIDADE DAS
forma de relâmpago, acima da superfície do líquido,
SUBSTÂNCIAS COMBUSTÍVEIS
indicando a presença de mistura inflamável de gás/ar.
Os limites de inflamabilidade dos produtos inflamáveis As condições desta mistura correspondem muito
não são constantes. Tal como mostra a figura 9, para o aproximadamente àquela que define o limite inferior
caso do metano, eles variam em função da energia de de inflamabilidade.
ativação e da pressão a que se encontram.
Se se continuasse a aquecer a amostra do líquido
Aumentando a energia da fonte de ignição, aumenta a
combustível e se fosse aproximando
zona de explosividade acontecendo o mesmo com o
intermitentemente, da boca do recipiente a pequena
aumento da pressão a que a mistura combustível-ar se
chama (um fósforo, por exemplo), verificaríamos que
encontra.
se continuavam a produzir os relâmpagos, já citados,
Uma vez que as misturas de gases de hidrocarbonetos sem que em qualquer das vezes se verificasse uma
com ar são inflamáveis dentro de faixas relativamente inflamação contínua dos vapores. A causa desta
estreitas de concentração de gases de inflamação esporádica deve-se a que, a estas
hidrocarbonetos com ar e estas dependem da pressão temperaturas, o ritmo de formação de vapores não é
de vapor seria, em princípio, possível desenvolver um suficientemente intenso para dar lugar à formação de
teste de inflamabilidade através da medição da vapores em quantidade necessária para sustentar uma
pressão de vapor. Na prática a grande variedade de combustão contínua.
produtos petrolíferos e a diversidade de temperaturas
Mas, ao continuar a aquecer a amostra do líquido e a
a que os mesmos são movimentados, impediu que
aproximar a chama da boca do vaso de teste, chegaria
fosse desenvolvido um método de teste simples para a
o momento em que os vapores voltariam a inflamar-
determinação da inflamabilidade através da pressão
se, persistindo a combustão durante pelo menos cinco
de vapor. Assim a indústria petrolífera utiliza dois
segundos mesmo depois de retirada a chama. Neste
métodos "standard" que permitem determinar
ponto, diz-se que o combustível alcançou o seu ponto
directamente a inflamabilidade.
de combustão (fire point).
*
Verifica-se, que a densidade de um gás sem diluição As situações que conduzem ao desenvolvimento de
proveniente de um produto, tal como a gasolina auto, vapores podem ser as operações de carga, o
é cerca de duas vezes maior do que a do ar e que os armazenamento do combustível num tanque, total ou
gases de um crude típico são cerca de 1,5. Estas altas parcialmente cheio (incluindo tanques de resíduos) e a
densidades e os efeitos de estratificação que delas evaporação dos resíduos dos tanques vazios.
resultam, têm efeito significativo quando os gases
As condições iniciais da atmosfera do tanque, com ar
permanecem concentrados. À medida que os gases
ou gás inerte não têm significado para o
são diluídos com ar, a densidade da mistura gás/ar,
desenvolvimento dos vapores.
para os três tipos de produtos aproxima-se da
densidade do ar e, nas concentrações
7.1. DESENVOLVIMENTO DE VAPORES DURANTE O
correspondentes ao limite inferior de inflamabilidade,
ABASTECIMENTO
as densidades das misturas gasosas são coincidentes
com a do ar. Quando um produto petrolífero, de elevada pressão
de vapor, entra num tanque vazio, (apenas com ar)
7. DESENVOLVIMENTO DE VAPORES DE produz-se um rápido desenvolvimento de vapores.
HIDROCARBONETOS E SUA DISPERSÃO Devido às suas elevadas densidades, os vapores
formam uma camada no fundo do tanque, que se
Durante a movimentação dos produtos petrolíferos
eleva à superfície do produto à medida que o tanque
são expelidos gases através dos ventiladores
se vai enchendo. Uma vez formada a camada de
(respiradouros) dos tanques, em quantidades
vapor, a sua espessura aumenta apenas ligeiramente,
suficientes para formar com o ar misturas inflamáveis,
durante o período de tempo normalmente necessário
na atmosfera exterior ao tanque.
para encher um tanque, estabelecendo-se no volume
Pode criar-se uma situação de inflamabilidade, devido livre do tanque uma mistura gasosa em equilíbrio.
à concentração de vapores no exterior dos tanques,
A quantidade e a concentração dos vapores que
no caso de produtos voláteis de elevada pressão de
formam esta camada no início do abastecimento,
vapor, cujos tipos principais são:
depende de vários fatores, tais como:
- Petróleo bruto (crude oil)
- Gasolinas auto e de aviação - Pressão de vapor real do produto
- Gasolinas naturais - Dispersão (splashing) do produto ao entrar no
- Destilados leves e naftas tanque
O vapor que se liberta através dos respiradouros, - Tempo necessário para encher o tanque
desenvolve-se no interior dos tanques e a forma como - Ocorrência de vácuo parcial na linha de carga
é gerado, influencia tanto a concentração do gás
A concentração dos vapores de hidrocarbonetos
libertado, como o período de tempo durante o qual
existentes na camada formada, varia em função da
são expelidas concentrações elevadas.
distância à superfície do líquido. Muito perto desta
superfície, tem um teor aproximadamente
Entre as precauções que devem ser tomadas para a vapores combustíveis, haverá a possibilidade desses
movimentação de produtos com pressões de vapor vapores se inflamarem se, por qualquer razão, se
real acima dos limites referidos, destacam-se: puserem em contacto total ou parcialmente, com um
- Evitar os abastecimentos quando a velocidade do foco de radiação de calor, cuja temperatura seja igual
vento for inferior a 5 nós; ou superior à de ignição dos ditos vapores.
- Iniciar o abastecimento com caudais baixos a Para que um fogo se inicie, é necessário que os
entrar nos tanques; reagentes (comburente e combustível) se encontrem
- Evitar a criação de vácuo parcial na linha de carga; em condições favoráveis para que possa ocorrer a
reação. A energia necessária para que a reação se
- Evitar o embarque de óleo quente, que tenha
inicie denomina-se energia de ativação e é fornecida
ficado exposto ao sol no interior das tubagens; se
pelos focos ou fontes de ignição.
tal não for possível, introduzir este óleo num
tanque cuja ventilação se efetue num espaço bem O calor de reação é a energia que se ganha ou perde
arejado. quando ocorre uma reação. Numa reação
endotérmica os produtos que se formam contêm mais
8. FONTES GERADORAS DE TEMPERATURAS DE energia que os reagentes. Para que a reação continue,
IGNIÇÃO é necessário um constante fornecimento de energia.
Temos visto que para que uma mistura de vapores de Numa reação exotérmica, os produtos que se formam
hidrocarbonetos com oxigénio se inflame, é necessário contêm menos energia que os reagentes. Esta energia
que, para além da mistura se encontrar dentro dos pode ser libertada sob várias formas mas, geralmente,
limites de inflamabilidade, adquira uma temperatura liberta-se sob a forma de calor. Quando a quantidade
específica para cada substância combustível, de energia libertada numa reação é muito elevada é
denominada temperatura de ignição. emitida radiação luminosa sob a forma de chamas.
Por conseguinte, sempre que em qualquer parte do Um foco de ignição pode provocar o acendimento se a
navio se tenha acumulado uma certa quantidade de sua energia, em intensidade (temperatura) e em
extensão (quantidade de calor) for suficiente, para percetíveis, merecem ser citadas algumas das causas
elevar a temperatura de uma zona da massa que em muitos casos têm sido origem de importantes
combustível, acima do seu ponto de auto-inflamação. sinistros marítimos.
As fontes de ignição mais comuns, apesar de todas
8.1. ELETRICIDADE ESTÁTICA
elas estarem associadas à temperatura, podem
agrupar-se da seguinte forma: Tal como anteriormente referido, a eletricidade
estática surge como um dos principais fenómenos que
Fontes de origem térmica – chama nua ou aberta,
estão na origem dos incêndios e explosões.
equipamentos que produzem calor, trabalhos a
quente, radiação solar, etc.. A eletricidade estática representa perigo de incêndio e
explosão durante a movimentação dos produtos
Fontes de origem elétrica – Arcos elétricos por
petrolíferos.
manobra de equipamentos, sobreaquecimento devido
a condutores ou contactos subdimensionados, Certas operações podem conduzir à acumulação de
sobrecargas ou curto-circuitos, eletricidade estática, cargas elétricas que podem descarregar-se
descargas atmosféricas, etc. repentinamente sob a forma de descargas
eletrostáticas com energia suficiente para inflamar as
Pela importância que representa a eletricidade
misturas de hidrocarbonetos e a. Não há
estática, do ponto de vista estatístico, como fonte de
evidentemente risco de ignição quando não existem
ignição nomeadamente a bordo dos navios, este
misturas inflamáveis.
fenómeno irá ser tratado mais à frente com algum
detalhe. O risco potencial da eletricidade estática forma-se
através de três fases básicas:
Fontes de origem mecânica – Fricção e atrito, chispas
originadas por ferramentas ou por equipamentos em 1. Separação de cargas
movimento, etc.. 2. Acumulação de cargas
Fontes de origem química – Polimerização e outras 3. Descarga eletrostática
reações exotérmicas, reações de substâncias auto- Todas estas três fases são necessárias para uma
comburentes, reações entre produtos reativos entre ignição eletrostática.
si.
Outra forma de dividir as energias de ativação (fontes 8.1.1. SEPARAÇÃO DE CARGAS
de ignição) é a seguinte: Sempre que dois materiais formados por substâncias
Energias de alta temperatura, grande extensão e larga diferentes entram em contacto verifica-se na interface
duração (CHAMAS) uma separação de cargas. A interface pode ser entre
dois sólidos, entre um sólido e um líquido ou entre
Estes focos são os mais perigosos, visto que provocam dois líquidos não miscíveis.
quase sempre o início e desenvolvimento de um
incêndio. Na interface, uma carga com determinado sinal,
digamos positivo, move-se do material A para o
Energias de alta temperatura, pequena extensão e material B, de modo que os materiais A e B tornam-se
curta duração (FAÍSCAS) carregados negativa e positivamente respetivamente.
Podem superar a temperatura de auto-ignição, Há cerca de 2.500 anos o filósofo pré-socrático grego
permitindo que a combustão se propague (tal como Thales de Mileto, descobriu que, esfregando um
no caso de gases, vapores e partículas em suspensão pedaço de âmbar ele adquiria a propriedade de atrair
no ar), ou pelo contrário, não chegar a superá-la corpos leves. Mais tarde (aproximadamente 1.600
(como no caso da madeira). anos DC) o Dr.Gilbert descobriu que outros corpos,
Energias de baixa temperatura independentemente da tais como vidro, podiam também ser eletrizado por
extensão e duração fricção.
Quando a temperatura da superfície é inferior à Várias experiências têm provado que os corpos podem
temperatura de auto-ignição do combustível, não ser carregados com diferentes cargas elétricas. Os
chega a haver inflamação. corpos carregados com uma carga igual repelem-se,
enquanto que os corpos carregados com cargas
A enumeração dos possíveis focos de irradiação de diferentes se atraem isto é, quando um corpo se
calor existentes num navio, seria interminável e, na encontra positivamente carregado e outro
maior parte dos casos, evidentes pois são muitas as negativamente carregado, os corpos atraem-se.
causas que podem dar lugar à produção de energia
calorífica a bordo. Contudo, por serem menos
Toda a matéria é constituída por átomos. Um átomo Outras substâncias com poucos ou nenhuns eletrões
de qualquer material em condições normais contém livres, conduzem mal a eletricidade mas é possível
quantidades iguais de cargas positivas e negativas. As carregar estas substâncias por aplicação de uma
partículas com carga positiva são chamados protões e excitação exterior, fricção por exemplo.
as partículas carregadas negativamente são chamados
Quando uma substância má condutora tenha sido
eletrões.
carregada eletricamente (ionizada) haverá tendência
Os átomos comportam-se como se os protões para a recombinação das cargas separadas. Um bom
estivessem concentrados no seu centro e envolvidos, a exemplo desta situação, aliás bem conhecida, é dado
distâncias relativamente grandes, comparadas com o pela utilização de peças de vestuário em "nylon"
seu diâmetro por eletrões planetários, isto é, por (fibras sintéticas). Quando se tira uma peça de
eletrões circulando em torno do núcleo. vestuário deste tipo, ouve-se por vezes, uma
crepitação que é devida à fricção da roupa no corpo. O
Em certos materiais, tais como os metais por exemplo,
som é causado pela troca de iões entre o vestuário e o
pelo menos um dos eletrões das órbitas exteriores
corpo.
está fracamente ligado ao átomo. Estes eletrões são
chamados eletrões livres e movem-se de um átomo Enquanto os materiais permanecem em contacto e
para outro apenas com uma ligeira excitação exterior. sem movimento relativo, as cargas encontram-se
muito aproximadas.
Daí que certos materiais se tornem carregados
positivamente e outros carregados negativamente. A diferença de potencial (d.d.p.) entre as cargas de
Portanto, se um ou mais eletrões orbitais são sinais contrários é neste caso muito fraca, não
removidos, o átomo fica carregado porque contém um existindo perigo.
excesso de protões relativamente aos eletrões,
No entanto as cargas podem ser largamente
adquirindo carga positiva.
separadas por muitos processos, tais como:
A separação dos eletrões divide o átomo em duas - Escoamento de líquidos (misturas petrolíferas ou
partes designadas iões, uma dessas partes é aquela da petróleo e água) através de tubagens ou filtros de
qual se separam os eletrões orbitais, que toma o nome malha apertada (Figura 12);
de ião negativo, enquanto que a outra parte
- Deposição de um sólido ou de um líquido não
permanece no átomo com o nome de ião positivo.
miscível no seio de outro líquido (ferrugem ou
Como referido anteriormente, um metal que possui
água no petróleo) (Figura 13);
eletrões livres é relativamente bom condutor de
eletricidade. - Expulsão de partículas ou de gotas de uma
uma oportunidade para descarga elétrica, toda a carga 10.000-100.000 pS/m. Alguns produtos químicos, por
disponível é descarregada quase instantaneamente. As exemplo álcoois são também não-acumuladores
descargas entre dois condutores ocorrem estáticos. Os sólidos nesta categoria intermédia
frequentemente sob a forma de faíscas, com elevada incluem matérias como madeira, cortiça, sisal e
energia e potencialmente mais perigosas do que as substâncias orgânicas. Devem a sua condutibilidade à
descargas entre dois objetos, um dos quais é não rápida absorção de água e tomam-se mais condutivos
condutor. Neste último caso as descargas geralmente quando as suas superfícies se encontram
verificam-se de forma mais difusa e muito menos contaminadas com sujidade ou humidade. Em muitos
perigosas, conhecidas como descargas corona ou casos a sua condutibilidade pode baixar por limpeza e
luminosas, em vez de faíscas. secagem de modo a serem incluídos na categoria dos
não-condutores.
O segundo grupo é o dos não condutores, que têm
condutibilidades tão baixas, que ao receberem uma Se os materiais desta categoria intermédia não
carga a retêm por períodos longos. Podem evitar a estiverem isolados da terra, as suas condutibilidades
perda de carga dos condutores atuando como são normalmente suficientemente elevadas, de modo
isoladores. Os não-condutores quando carregados têm a evitar a acumulação de cargas eletrostáticas
grande importância porque podem transferir carga, ou Contudo as suas condutibilidades são normalmente
induzir carga em condutores vizinhos isolados, que tão baixas que não permitem a produção de faíscas de
poderão provocar faíscas. Não-condutores fortemente elevada energia.
carregados, podem também eles próprios contribuir
Em condições normais os gases são grandes
diretamente para faíscas incendiárias.
isoladores, isto tem implicações importantes em
Os líquidos são considerados não-condutores quando relação aos nevoeiros e suspensões particulares no ar
têm condutibilidades inferiores a 100 pS/m, (pico ou em outros gases. Nevoeiros carregados
Siemens por metro) com tempos de dissipação de eletricamente formam-se durante a projeção de vapor
carga superiores a 0,2 segundo; são muitas vezes húmido através de uma agulheta enquanto se usam
conhecidos como acumuladores estáticos. O petróleo máquinas de lavagem dos tanques. Apesar de que o
e os produtos brancos (destilados) incluem-se líquido, por exemplo água possui grande
frequentemente nesta categoria. condutibilidade, a dissipação de cargas das gotas é
retardada pelas propriedades isolantes do gás
Um aditivo antiestático é uma substância que é
envolvente. Pequenas partículas presentes na
deliberadamente adicionada a um destilado com a
corrente de gás inerte ou criadas durante a descarga
finalidade de elevar a sua condutibilidade acima de
de dióxido de carbono líquido, estão frequentemente
100 pS/m.
carregadas. A dissipação gradual das cargas ocorre
Sólidos não-condutores são materiais de elevado como resultado da deposição das partículas ou gotas e
isolamento, tais como o polipropileno, PVC, nylon e se a intensidade do campo for elevada a dissipação dá-
muitos tipos de borracha. Tornam-se mais condutivos se por descarga corona, nas saliências que fornecem
quando as suas superfícies estão contaminadas com uma carga de neutralização de sinal contrário, à das
sujidade ou humidade. partículas em suspensão.
O terceiro grupo é constituído por uma gama de A tabela 9 mostra os valores mínimos da energia de
líquidos com condutibilidades intermédias entre o acendimento elétrico para alguns compostos
primeiro e o segundo grupo. Os líquidos que têm importantes. Estes valores são relativamente baixos e
condutibilidades superiores a 100 pS/m são podem ser obtidos simplesmente sob a forma de
frequentemente conhecidos como não-acumuladores cargas eletrostáticas estabelecidas por fricção.
estáticos. Exemplos destes líquidos são os óleos pretos
(contendo produtos residuais) petróleos brutos, os
quais têm tipicamente condutibilidade na gama de
–3
Corpo (no estado gasoso) Energia de acendimento mj (10 Ws)
Metano 0.28
n-Heptano 0.24
Benzeno 0.20/0.22
Éter dietílico 0.19
Acetileno 0,019
Hidrogénio 0,019
Sulfureto de carbono 0,009
combustão espontânea. Similarmente, o sódio suscetível de oxidação no ar, pode inflamar misturas
metálico em contacto com a humidade liberta inflamáveis de gases de hidrocarbonetos.
hidrogénio, que pode ser inflamado pelo próprio calor
de reação. 8.5.1. FORMAÇÃO DE PIRÓFOROS
Outros produtos químicos que libertam hidrogénio Como se pode concluir do anteriormente exposto, a
pelo contacto com a humidade, criando portanto risco formação de piróforos está dependente de três
de explosão, são pó de alumínio sem revestimento, fatores:
hidreto de alumínio (Al H3), lixo metálico, ligas
Presença de óxido de ferro (ferrugem);
metálicas de potássio e pó de zinco.
Presença de sulfureto de hidrogénio gasoso;
A reação bem conhecida do carbonato de cálcio CaC2,
com água produz um gás altamente inflamável, o Carência de oxigénio.
acetileno C2H2. Sob certas condições, o acetileno
Contudo, ela também depende da influência relativa
pode formar um composto altamente instável e
destes fatores. A presença do oxigénio impede a
explosivo se entrar em contacto com cobre ou ligas de
transformação de óxido de ferro em sulfureto de
cobre, que tenham mais de 70%, em peso de cobre,
ferro.
tais como o bronze fosforoso ou o metal de canhão.
Consequentemente todos os acessórios, tubagens, Enquanto que a concentração de sulfureto de
etc., de cobre ou suas ligas devem ser excluídos dos hidrogénio gasoso tem uma influência direta na
circuitos de acetileno. formação de piróforos, o grau de porosidade do óxido
de ferro e o caudal de gás sobre a sua superfície
8.3. EFEITOS DA RADIO, RADAR E RAIOS influenciam a taxa de sulfuração. Várias experiências
têm sustentado a ideia que não existe um nível de
A transmissão nas instalações de rádio e radares dos
segurança de sulfureto de hidrogénio, abaixo do qual,
navios é responsável por induzir correntes elétricas
não se possa gerar um piróforo.
com voltagens que podem ser a causa de perigo
durante o embarque e o manuseamento de produtos
8.5.2. OPERAÇÕES EM TERMINAIS
líquidos inflamáveis, como por exemplo, quando se
está a fazer o abastecimento de combustível ao navio. Nas operações em terminais é bem conhecido que o
sulfureto de ferro pirofórico é uma potencial fonte de
8.4. FRICÇÃO MECÂNICA ignição. Os depósitos pirofóricos tendem a acumular-
se em tanques de armazenamento ao serviço de
As partículas incandescentes provocadas pelo
petróleos brutos ácidos ou em equipamento de
batimento de metais duros em contacto com uma
processo movimentando correntes ácidas. Quando
atmosfera de vapores inflamáveis, pode produzir a
estes tanques são retirados de serviço é prática
inflamação dos mesmos.
normal manter as suas superfícies internas
O perigo derivado das referidas "chispas", pode completamente húmidas, durante a ventilação, de
eliminar-se utilizando ferramentas construídas com modo a que não se possa produzir reação pirofórica
metais macios (cobre, bronze, etc.), quando se tenha antes do equipamento ficar isento de gases. Depósitos
que trabalhar em zonas onde existam ou se suspeite e lamas devem ser mantidos húmidas, até que sejam
que possam existir vapores combustíveis. removidos para local seguro, onde posterior ignição
não cause perigo. Numerosos incêndios têm ocorrido
8.5. OXIDAÇÃO PIROFÓRICA quando os depósitos secaram prematuramente.
Numa atmosfera isenta de oxigénio onde exista
8.5.3. OPERAÇÕES A BORDO
sulfureto de hidrogénio (ou especificamente quando a
concentração de sulfureto de hidrogénio exceda a Enquanto que o sulfureto de ferro pirofórico é
concentração de oxigénio), o óxido de ferro é geralmente reconhecido como uma fonte de ignição
transformado em sulfureto de ferro. Quando o em operações desenvolvidas em terra tem sido
sulfureto de ferro é posteriormente exposto ao ar raramente citado como causa de ignição a bordo e
volta a oxidar-se, formando óxido de ferro e enxofre apenas nos casos em que o nível de H2S era muito
livre ou dióxido de enxofre. Esta oxidação pode ser alto.
acompanhada pela geração de uma quantidade de
Presumivelmente as operações a bordo têm estado
calor considerável, de modo que as partículas
livres deste perigo, porque os tanques de carga de
individualizadas podem tornar-se incandescentes. A
navios não inertizados, normalmente contêm algum
oxidação exotérmica rápida, acompanhada de
oxigénio no espaço de vapores como resultado da
incandescência é designada por oxidação pirofórica. O
aerificação dos tanques.
sulfureto de ferro pirofórico, isto é, sulfureto de ferro
8.5.4. TANQUES COM GÁS INERTE restaurado ou obtida uma fonte alternativa de gás
inerte.
O uso de gás inerte em navios de petróleo bruto pode
É evidente que qualquer depósito pirofórico formado
aumentar a possibilidade de formação de depósitos
durante a viagem em carga, não será necessariamente
pirofóricos devido à redução inicial do nível de
desativado durante a viagem em lastro subsequente.
oxigénio com o subsequente enchimento.
Portanto, a atmosfera nos tanques deve ser mantida
No entanto, os gases de evacuação das caldeiras que inerte ou não inflamável, tanto durante a viagem
vão ser, após tratamento, usados para inertizar os como durante a descarga de lastro.
tanques do navio contêm um teor de oxigénio entre 1
a 5%, sendo este teor posteriormente reduzido pela
absorção na carga de petróleo bruto. Além disso,
como os tanques de carga são mantidos com gás
inerte, com baixo teor de oxigénio, não entra ar no
espaço livre acima do nível da carga. Se a pressão tiver
que ser aumentada ela sê-lo-á com gás inerte.
O BLEVE (Boiling Liquid Expanding Vapour Explosion) é A onda de choque resultante desloca-se em todas as
um tipo de explosão comum que ocorre, por exemplo, direções e, se ocorrer num encanamento, não é
quando um reservatório é pressurizado acima do seu bloqueada ou constrangida pela direção do fluxo
limite de rotura. Se o líquido contido no reservatório é gasoso. A turbulência provocada por obstáculos cria
aquecido, acima do seu ponto de ebulição, pode um processo de “feed-back” positivo. À medida que a
ocorrer uma explosão devido ao aumento de pressão frente de chama aumenta de velocidade maior é a
que se verifica, originando o colapso do reservatório turbulência criada, potenciando o efeito explosivo.
(explosão física).
Num reservatório fechado a pressão máxima, devido à
Na sequência, se o líquido for inflamável, verifica-se a detonação, pode atingir 18 a 30 vezes a pressão inicial,
explosão química dos vapores libertados, produzindo dependendo, entre outros fatores, das condições de
os seguintes efeitos característicos: estequiometria da mistura combustível/oxidante.
Onda de choque; As figuras 15 e 16 ilustram os fenómenos acima
descritos. Sempre que a onda de pressão, resultante
Bola de fogo;
de uma deflagração, se propaga, por exemplo, através
Projeção de fragmentos; de uma conduta, verifica-se inicialmente que a onda
de pressão se desloca na frente da frente de chama.
Forte radiação de calor.
Na fase de transição entre a deflagração e a
detonação, verifica-se o aumento quase instantâneo
Figura 15 – Variação da pressão e da velocidade na transição deflagração-detonação
[ ] (bar / s)
estequiométrica;
Quantidade de pontos de inflamação.
[ ] √ (bar . m / s)
Para poeiras
[ ] √ (bar . m / s)