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Origens históricas da propriedade de terra e formação do campesinato.

Modelo português de ocupação territorial-sesmaria

1530: Era necessário combater dois problemas que se acentuavam nas terras brasileiras nesse
momento: a presença de franceses no litoral, que constituía ameaça à soberania lusa, e a
necessidade de uma compensação econômica para suprir as demandas, cada vez mais
insustentáveis do comércio oriental.

Sesmaria: subdivisão da capitania

Os capitães-donatários só detinham 20% da sua capitania e eram obrigados a distribuir os 80%


restantes, a título de sesmaria, não conservando nenhum direito sobre estas. As sesmarias não
comportavam assim nenhum laço de dependência pessoal.

Em 1822, suspendeu-se a concessão de sesmarias e isso acabou por beneficiar os posseiros


que cultivavam a terra. O fim das sesmarias consagrou a importância social dos posseiros.
Embora terminada juridicamente a concessão, não se acabou com a figura do sesmeiro.
Grande fazendeiro, ele não seria derrotado pela política do Império.

A Carta de 1824 garantiu assim o direito de propriedade sem fazer alarde dos problemas
herdados das sesmarias e das terras devolutas.

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Analisando os documentos de distribuição de terras no período colonial brasileiro,


percebemos que ao instituir a obrigação da divisão das terras das capitanias em sesmarias a
qualquer pessoa, de qualquer condição que requeresse, observamos que a Coroa portuguesa
teve por intenção distribuir as terras do Brasil entre o maior número de colonos possível,
impedindo, dessa maneira, a formação de grandes propriedades improdutivas e desvinculadas
da produção mercantil. P.1

Caio prado jr, nelson Werneck Sodré, alberto passo Guimarães propunham o rompimento com
as raízes coloniais

Mercantilismo e necessidade de rápido retorno financeiro

Embora as terras brasileiras aparecessem como uma possibilidade de obtenção de riqueza,


transferir-se para essa região e iniciar uma atividade produtiva demandava grandes somas de
recursos. Diante dessa necessidade de altos investimentos nas novas terras, aqueles que
recebiam do rei uma capitania, deveriam dispor de uma grande soma de riquezas e de um
espírito aventureiro para arriscar todas as suas posses em um empreendimento
completamente novo. P.2

A concessão de uma capitania hereditária era regulamentada por documentos entregues pelo
monarca português àqueles que ele considerava merecedor e capaz de dar vida ao seu projeto
colonial. Esses documentos são as Cartas de Doação e os Forais, os quais continham as
diretrizes que determinariam os rumos de organização da nova sociedade que se criava. P.3

quem eram os homens que se aventuraram a vir para o Brasil em prol de uma obra
inteiramente nova, ou seja, eram indivíduos com algum prestígio social que tinham seus
méritos reconhecidos pelo rei através da concessão de uma capitania. P.5

- Os capitães donatários recebiam o título de Capitão-mor e Governador das ditas capitanias;


- As suas terras eram isentas do pagamento de tributos, exceto o pagamento do dízimo à
Ordem de Cristo;

- A concessão de uma capitania era feita em caráter hereditário e vitalício;

- Tinham o poder de exercer a justiça Cível e Criminal;

- Podiam criar vilas, seguindo os exemplos do Reino;

- Somente aos capitães donatários era concedido o direito de construir engenhos, sendo que
os demais colonos só poderiam erguer engenhos mediante sua aprovação e o pagamento de
uma taxa;

- Tinham o monopólio da escravização dos índios e da sua venda;

- Recebiam uma parte sobre a exploração do pau-brasil; - Recebiam uma parte sobre o
pescado em suas capitanias;

- Tinham direito à redízima sobre as dízimas cobradas pelo erário público.

- Podiam nomear tabeliães, juízes e ouvidores. P.5-6

A principal obrigação dos donatários, e a que para nós interessa, residia na obrigação de
distribuir parte das terras de sua capitania entre os colonos interessados em ocupá-las
produtivamente. Essa distribuição era feita mediante a concessão de sesmarias. p. 6

“capitães donatários ganharam poderes políticos sobre a capitania, mas não direito ao solo”

Não poderiam reter as terras de sesmarias, nem doar a parentes. Mas a qualquer pessoa
estranha.

A única exigência para receber a sesmaria era de ser cristão

No Brasil, tudo estava por fazer, toda estrutura de cultivo e administração tinha que ser
constituída. Era preciso, por exemplo, a construção e manutenção de engenhos para a
produção do açúcar, necessidades que possuíam um alto custo. Além disso, de acordo com as
Cartas de doação, somente os capitães donatários poderiam construir engenhos e caso algum
sesmeiro quisesse construir um engenho, deveria conseguir do capitão uma licença e pagar
uma taxa a este pela construção do engenho. Portanto, a “aventura” de se colonizar o Brasil
era cara e dispendiosa. P. 10

não era intenção da Coroa promover o povoamento de suas possessões americanas visando
ou mesmo estimulando a concentração de grandes parcelas de terras por apenas alguns
indivíduos, criando uma classe de aristocratas possuidores de grandes unidades de terras. P.
11

ao instituir a obrigação da divisão das terras das capitanias em sesmarias a qualquer pessoa,
de qualquer condição que requeresse, observamos que a Coroa portuguesa teve por intenção
distribuir as terras do Brasil entre o maior número de colonos possível, impedindo, dessa
maneira, a formação de grandes propriedades improdutivas, desvinculadas da produção
mercantil. P. 12

Não foi a divisão do território brasileiro em capitanias hereditárias ou a implantação do


sistema de sesmarias que levou à formação de latifúndios e a conseqüente injustiça imposta
aos trabalhadores do campo no século XX. P.16
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Stedile

A carência e a ignorância sobre as questões agrárias em nosso país são frutos dessa submissão
colonial, que impediu o desenvolvimento das ideias, das pesquisas e do pensamento nacional
durante os 400 anos de colonialismo. P. 16

Primeiro período 50.000 a.c-1500 d.c

Para efeito do estudo da questão agrária nesse período [50.000 a.c-1500 d.c.], sabe-se que
esses povos viviam no modo de produção do comunismo primitivo. Organizavam-se em
agrupamentos sociais de 100 a 500 famílias, unidos por algum laço de parentesco, de unidade
idiomática, étnica ou cultural. Não havia entre eles qualquer sentido ou conceito de
propriedade dos bens da natureza. Todos os bens da natureza existentes no território – terra,
águas, rios, fauna, flora – eram, todos, de posse e de uso coletivo e eram utilizados com a
única finalidade de atender às necessidades de sobrevivência social do grupo. E quando os
bens da natureza se tornavam escassos em determinadas regiões, os grupos se deslocavam
para outros locais, o que caracterizava a sua condição de vida nômade. P.18-19

Segundo período 1500 - 1850

Os portugueses que aqui chegaram e invadiram nosso território, em 1500, o fizeram


financiados pelo nascente capitalismo comercial europeu, e se apoderaram do território por
sua supremacia econômica e militar, impondo as leis e vontades políticas da monarquia
portuguesa. No processo da invasão, como a História registra, adotaram duas táticas de
dominação: cooptação e repressão. E, assim, conseguiram dominar todo o território e
submeter os povos que aqui viviam ao seu modo de produção, às suas leis e à sua cultura. p.19

O modelo de produção adotado era do plantation: É a forma de organizar a produção agrícola


em grandes fazendas de área contínua, com a prática monocultura, ou seja, com a plantação
de um único produto, destinado à exportação, seja ele a cana-de-açúcar, o cacau, o algodão,
gado etc., com o emprego de mão de obra escrava. P. 21

A Coroa possuía o monopólio da terra

Terceiro período 1850-1930

O que caracteriza a Lei no 601, de 1850? Sua característica principal é, pela primeira vez,
implantar no Brasil a propriedade privada das terras. Ou seja, a lei proporciona fundamento
jurídico à transformação da terra – que é um bem da natureza e, portanto, não tem valor, do
ponto de vista da economia política – em mercadoria, em objeto de negócio, passando,
portanto, a ter preço. A lei normatizou, então, a propriedade privada da terra. P. 22-23

Qualquer cidadão poderia tornar-se proprietário de terra, desde que tivesse dinheiro para
compra-la à Coroa.

A Lei no 601, de 1850, foi então o batistério do latifúndio no Brasil. Ela regulamentou e
consolidou o modelo da grande propriedade rural, que é a base legal, até os dias atuais, para a
estrutura injusta da propriedade de terras no Brasil. P. 23.

A lei de terras é também a “mãe” das favelas nas cidades brasileiras. P. 24


O surgimento do campesinato se deu em duas vertentes. A primeira, já mencionada, trouxe
quase dois milhões de camponeses pobres da Europa, para habitar e trabalhar na agricultura
nas regiões Sudeste e Sul.

A segunda vertente de formação do campesinato brasileiro teve origem nas populações


mestiças que foram se formando ao longo dos 400 anos de colonização, com a miscigenação
entre brancos e negros, negros e índios, índios e brancos, e seus descendentes. Essa
população, em geral, não se submetia ao trabalho escravo e, ao mesmo tempo, não era
capitalista, eram trabalhadores pobres, nascidos aqui.p. 26-27.

Quarto período 1930-1964 (industrialização independente)

Do ponto de vista da questão agrária, esse período se caracteriza pela subordinação


econômica e política da agricultura à indústria.

Surge, então, um setor da indústria vinculado à agricultura, as indústrias produtoras de


insumos para a agricultura, como ferramentas, máquinas, adubos químicos, venenos etc. E
outro, da chamada agroindústria, que foi a implantação da indústria de beneficiamento de
produtos agrícolas. P. 29

Na estrutura da propriedade da terra, a lógica contraditória se repetia. Por um lado, havia a


multiplicação de pequenas propriedades, pela compra e venda e reprodução das unidades
familiares. E, por outro lado, em vastas regiões, a grande propriedade capitalista avançava e
concentrava mais terra, mais recursos. E, no geral, havia uma tendência histórica, natural da
lógica de reprodução capitalista, de que a propriedade da terra, que já nasceu em bases
latifundiárias, continuava na média se concentrando ainda mais. P. 30

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