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Seguran¢a e confiabilidade de fundacdes profundas”) Nelson Aoki Resumo A norma NBR 6122/1996 de Projeto ¢ Execugao de Fundagoes determina que o dimensionamento de uma ndago profunda seja feito a partir da aplicacdo de fatores de seguranga e da verificagao de comportamento em servigo. Assim, a carga admissivel é obtida aplicando-se um fator dle seguranca global a capacidade de ga na ruptura ou & carga que conduz a um recalque admissivel. Na verificagdo ao estado-limite iltimo, aplicam-se farores de seguranga parciais as resistencias dos materiais ou a resisténcia da fundagao, A verificagdo ao estado-limite de servigo exige anilise de deformagao ¢ deslocamento. Portanto, esta norma admite que o atendimento aos fatores de seguranga garante também a confiabilidade da fundagao. Entretanto, verificagao de confiabilidade exige a determinagao da probabilidade de ruina, através da andlise de variabilidade da solicitagdo e da resisténcia do conjunto de elementos isolados que compoem a fundagio. Neste contexto, apresenta-se a relagdo matemitica entre fator de seguranga global e probabilidade de ruina, ressaltando a influéncia da variabilidade geotécnica e da interagdo estrutura-solo na determinagao da solicitagdo ¢ da resisténcia dos clementos que compiem a fundagio. Conclui-se que, para garantir simultaneamente a seguranga ¢ a confiabilidade de uma fundagio, deve-se também determinar a probabilidade de ruina associada aos atuais fatores de seguranga minimos da NBR 61 INTRODUGAO por pegas estruturais enterradas ou em contato com © solo. Assim, a superestrutura é constituida por A Engenharia Civil é 0 ramo de engenharia que pegas discretas (vigas, escadas, pilares, lajes, se dedica a construir estruturas, estradas, obras paredes, tirantes, etc.), interligadas entre si de hidréulicas ¢ urbanas, para atender as necessidades mancira a atender a forma e geometria imposta pel humanas. A arquitet construgdo deve atender arquitetura da obra de engenharia civil, sobre as aos aspectos funcionais, estéticos e de durabilidade. quais agem as cargas ou ages externas. A A. simples insergio da obra no meio ambiente subestrutura é formada pelo conjunto de elementos propicia a ago do meio gasoso, liquido ¢ sélido estruturais que se encontram em contalo com 0 sobre a estrutura criada gerando as cargas aleatérias macigo de solo (sapatas, blocos, estacas, tubuldes, ambientais tais como a ago do vento, das ondas, etc.) cuja missio ¢ transmitir ao macigo de solo, as terremotos, empuxos de terra, etc. Por outro lado, solicitagdes (esforgos nas ligagdes com” a funcionamento de cada tipo de construgdo gera superestrutura), com seguranga, "economia ¢ cargas aleatérias funcionais especificas, por durabilidade, Muitas vezes, a a¢do ou forga ativa exemplo, tens tipos, sobrecargas, forgas de externa ambiental ou funcional ¢ transmitida a atracagdo de navios, etc. Assim, denomina-se carga subestrutura através do macigo de solo, como qualquer ago ou forga ativa externa, ambiental ou acontece no caso de forgas sismicas, atrito negative funcional, que atua de forma independente sobre ae empuxo horizontal proveniente de sobrecargas construgdo, Denomina-se estrutura ao esqueleto verticais unilaterais. Sob a ago das cargas sto s6lido ou parte da construgiio que efetivamente —gerados os esforgos solicitantey nas segbes das recebe as cargas atuantes. A estrutura divide-se em —pecas estruturais discretas ¢ estados de tensdo em superestrutura ¢ subestrutura. A’ superestrutura é — pontos do macigo de solo, que dependem da ca formada por elementos estruturais situados acima da do mecanismo de interagdo solo-estrutura, ao longo superficie do terreno, ea subestrutura & constituida do tempo de duragio da obra (Aoki, 1997). Assim, a (Trabalho originalmente publicado nos Anais do Congyesso Brasileiro de Pontes e Estruturas, Rio de Janeiro, 2005, V.2.p. 1-15. (2) Professor Doutor, Departamento de Geotecnia, Escola de Engenharia de Sao Carlos, USP, aoki@sc usp solicitacao (esforco solicitante ou tensdo) & uma reagao. interna_que carga edo mecanismo de interagdo solo-estrutura, A Figura | apresenta 0 equilibrio estitico da superestrutura de um prédio aporticado sob agao do peso préprio F das forgas de reagdo ES resultante das solicitagdes normais de compressiio S nas bases dos pilares do térreo, depende da Superficie terreno 1 ft 7 ura | - Equilibrio estitico da superestrutura A Figura 2 apresenta 0 esquema de equilibrio Ao longo dos pontos da superficie indeslocavel surgem as poio cuja resultante ZR equilibra a esta co da fundagao do mesmo prédio, reagdes de carga F e © peso das camadas colocadas acima do macigo indeformavel. l Figura 2 - Equilibrio estitico da fundagio. Do ponto de vista geotéenico a fundagao € 0 sistema formado pela subestrutura € 0 macigo de solo que o definido pela superficie resistente (Aoki ¢ Cintra, 1996) indicada na Figura 2A ura caracteriza-um elemento isolado de fundagao que compdem esse Grea hachurada da fig sistema. A figura mostra ainda a segdo transversal continuo constituido por camadas de solo situadas superficie juridicamente restrito ao limite do do macigo de solo ou sistema geotéenico, entre a indeslocivel, terreno (na realidade pela projeg’o em planta do bulbo de pressdes, que se estende além deste limite), superficie do terreno ea As camadas sd preenchidas por solos sedimentares, granulometria formagio, transporte © deposigzio muito complexa, Além da continuidade fisica e da diversidade dos materiais constituintes, a principal caracteristica de uma camada de solo é a indefinigdo de sua forma geométtica Note-se que o esforgo solicitante que atua no elemento isolado de fundacio ndo pode crescer indefinidamente, sendo limitado pela capacidade de carga do elemento isolado de fundagao, estimada por formulagao teérica ou empirica ou, determinada Neste contexto, denomina-se resisténcia ao valor desta capacidade de carga, que depende da compressibilidade © resisténeia dos materiais que compdem 0 macigo de solo € 0 elemento estrutural de fundagao, apés a execugio. A carga ou agdo que o denomina-se carga tiltima, capacidade de ruptura ou estado limite ditimo da estrutura (ou da parte da estrutura em anilise) capacidade de do elemento fundacio & limitada pela resisténcia do elemento estrutural de fundagao. Desta forma, 0 estudo de seguranga confiabilidade de uma fundagdo profunda, d por sua superficie resistente, requer curvas de distribuigao estatistica de solicitagao S e de resisténcia R dos elementos isolados de fundagdo que compoem o sistema ou residuais, de mineralogia © variadas, de em prova de carga, eometr gina esta situagao Note-se que a carga isolado de a andlise d 2. FATOR DE SEGURANGAE PROBABILIDADE DE RUINA A Figura 3 mostra que, para uma dada s istica ada pelo valor médio Sy, € 0 resistente, a curva de distribuigdo est solicitagio S & repre desvio padrio as, ¢ a curva de resisténcia R pelo valor médio Ry ¢ 0 desvio padro og. Os valores médios representam o valor mais prov varidvel (Benjamin ¢ Comell, 1970) © os desvios padrdes, que definem os pontos A e B de inflexdo das curvas, dispersio em toro do valor médio das variaveis independentes aleatorias S © R Esta dispersto pode ser também expressa pelos coeficientes de varingao de cada mede analisadas, coeficiente de variagao da solicitagaio a V3=65/Sy |< os 2 Ms=Ro-SnSn(Fs-D=B om >< op VY YY Rm RS. Curva de densidade de probabilidade de solicitagao e resistencia 170 coefici resisténcia ente de variagao da Q) Valores de coeficientes de variagao da resisténcia ve para alguns tipos de estacas em diferentes formagdes geotéenicas brasileiras podem ser encontrados em Silva (2003). A Figura 3 que a seguranga_¢ confiabilidade pode ser diretamente relacionada distancia Ms que separa a solicitagio média Sq resisténcia média Ry, ou seja, quanto maior for esta distincia maior serd a seguranga e a confiabilidade da fundagio. De modo geral, considerando que a solicitagiio e a resisténcia sejam estatisticamente independentes, define-se a fungi margem de seguranga M (Ang mostra Tang, 1984) pela diferenca entre as curvas de resisténcia Re de solicitagao S: M=(R-S) @) Neste enfoque ruina ocorre quando M < 0, ou seja, quando R < S, a fundagao é bem sucedida, ou 10 ocorre ruina quando M > 0. pode-se afirmar que o afastan curvas, determinada pela margem de seguranga, € uma medida direta de confiabilidade da fund Portanto, io entre as duas R, 0 desvio padrio oy da fungio. m: seguranga M vale: on = (a5 +042) (4) O valor mais provivel de mai © valor médio Ms que vale: em de seguranga & Mg = (Ra = Su) (6) Assim, a _confiabilidade média pode _ ser quantificada (Hasofer & Lind, 1974) pelo quociente entre Ms © oy, uranga expressa em unidades de oy que se denomina indice de confiabilidade (ou indice de seguranga) f, ou seja B=Ms/on (6) Outro modo de se medir a distincia entre as curvas de solicitagao ¢ resisténcia, mais familiar a0 engenheiro civil, ¢ a fungJo fator de seguranga F 1974) que € igual ao quociemte entre a taco S. O valor mais 10 € o valor médio denominado (Fusco, So a Combinando as expressdes (5), (6) ¢ (7) resulta (vide Figura 3) Mg = Ra- Sm = Sw (Fs-1) = B oy (s) A. expresso (8) relaciona a margem de seguranga, 0 fator de seguranea global Fs e 0 indice de confiabitidade fi mostrando que estes valores S30 estatisticamente _dependentes. Substituindo os valores de Ry € Sy a partir das expressdes (1) e (2) na expresso (8), resulta Fs = [1 +B (vs? + va? - B? vs? vac)"5] / (I~ B? ve) 9) A expresso (9) mostra que, uma ver fixadas as formas das curvas S ¢ R, definidas pelos respectivos coeficientes de 0 Vs © Ve 0 seguranga global Fs torna-se dependemte do indice de confiabilidade fou si confiabilidade sdo inseparéveis do ponto de vista varia fator de Portamo, esta expresso deveria ser comprovada nas obras de engenharia civil em geral ¢, em particular, nas obras de fundacdes A partir das expressdes (1) a (6), Cardoso Fernandes (2001) deduziram que B= (1-Sp/Ry) [vie (So/R)'¥SE)* (10) As expressdes (10) ¢ (7) levam a equagdo inversa de (9), ou seja B= (1 VF3)/ Eve + UES) ve) ay A probabilidade de ruina py ¢ uma fungdo direta de B (Ang e Tang, 1984) e vale: pe= 1-@(B) (2 Para 0 caso de distribuig20 estatistica normal a Tabela | apresenta valores de probabil pr para alguns valores de p A Figura 4 mostra que a curva de densidade de probabilidade — da densidade de probabilidade da probabilidade de ruina py encontra se abaixo da regido de superposigao, ou seja, sob curva de resisténcia 4 esquerda do ponto C ¢ sob a curva de solicitagao a direita do mesmo ponto. A frea hachurada representa a probabilidade no condicionada de ruina p Quanto’ maior a area hachurada maior probabilidade de ruina, ou seja, menor a bilidade ou probabilidade de sucesso ivéncia) da fundago, Neste caso. a probabilidade de sucesso ¢ igual ao complemento, ou seja, (1 - py). O nao condicionamento refere-se a0 modo como a curva pr € obtida supondo-se que, para qualquer elemento isolade de fundaedo por estaca do conjunto analisado, a solicitago e a resisténcia sejam —fungdes —aleatérias independentes. Esta é a situaga0 mais desfavordvel anilise de confiabilidade

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