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UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA

ILACV / CURSO DE MEDICINA

EDUARDO VON RANDOW


MATHEUS JOSÉ FERREIRA

OBSERVAÇÃO DO FLUXO DE ATENDIMENTO, CLASSIFICAÇÃO DE


RISCO E VULNERABILIDADES, ACOLHIMENTO E AVALIAÇÃO/ESTUDO
FAMILIAR DE USUÁRIO EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DO
MUNICÍPIO DE FOZ DO IGUAÇU-PR, 2º SEMESTRE DE 2018

Foz do Iguaçu
2018
EDUARDO VON RANDOW
MATHEUS JOSÉ FERREIRA

OBSERVAÇÃO DO FLUXO DE ATENDIMENTO, CLASSIFICAÇÃO DE


RISCO E VULNERABILIDADES, ACOLHIMENTO E AVALIAÇÃO/ESTUDO
FAMILIAR DE USUÁRIO EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DO
MUNICÍPIO DE FOZ DO IGUAÇU-PR, 2º SEMESTRE DE 2018

Relatório apresentado como requisito parcial para


obtenção de aprovação no Programa de
Integração Ensino-Serviço-Comunidade – PIESC
IV do Curso de Medicina oferecido na
Universidade Federal da Integração Latino-
Americana – UNILA.

Professor(a): Dra. Ludmila Mourão Xavier

FOZ DO IGUAÇU
2018
Agradecimentos

Aos colaboradores da USF Vila ‘’C’’ Nova,


Pela receptividade e aprendizado durante as atividades.

Aos usuários acompanhados durante as atividades na USF e família


selecionada para o estudo familiar,
Por contribuírem com o nosso aprendizado.

A Prof. Dra. Ludmila Mourão Xavier,


Por todo o apoio, incentivo e orientações para o desenvolvimento e confecção
deste relatório.
017RESUMO

O relatório aqui apresentado tem como objetivo apresentar o


acompanhamento, descrição e avaliação das tecnologias de cuidado na prática em
saúde relacionadas com o fluxo de atendimento, classificação de risco e
vulnerabilidades, acolhimento e o estudo familiar de um paciente na Estratégia de
Saúde da Família. Este relatório é construído com base nas políticas de prática no
cuidado à saúde do SUS, com fluxo de atendimento, através de ferramentas
adequadas, como classificação de risco e vulnerabilidade e acolhimento que podem
ser encontrados nos cadernos de Atenção Básica do Ministério da Saúde, também se
utilizou a Escala de Coelho e Savassi para estratificação do risco familiar, genograma
e ecomapa. A forma utilizada foi qualitativa e descritiva por meio observação direta,
informações de fontes primárias, relatos e entrevistas durante os 5 encontros práticos
de PIESC IV na Unidade de Saúde da Família Vila C Nova em Foz do Iguaçu/PR
com os colaboradores e usuários, no período de 05/09/2018 à 24/10/2018. Identificou-
se com o estudo, adaptações no fluxograma de atendimento para a realidade daquela
unidade e a classificação de risco/vulnerabilidades e acolhimento com suas
singularidades e dificuldades naturais de cada local, ademais, também contava com
problemas como o software utilizado pela USF que foi recentemente implementado e
falta de recursos, principalmente humanos.
LISTA DE FÍGURAS

FIGURA 1. FLUXOGRAMA DE ACOLHIMENTO PRATICADO NA USF VILA C NOVA DO


MUNICÍPIO DE FOZ DO IGUAÇU-PR. 12
FIGURA 2. GENOGRAMA DA FAMÍLIA ENTREVISTADA 17
FIGURA 3. LEGENDA DO GENOGRAMA DA FAMÍLIA 17
FIGURA 4. ECOMAPA DA FAMÍLIA ENTREVISTADA 20
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 7

2 DESENVOLVIMENTO 9

2.1 Objetivo geral 9

2.1.1 Objetivos específicos 9

2.2 Metodologia 9

2.3 Resultados e Discussão 10

2.3.1 Fluxo de atendimento 11

2.3.2 Classificação de risco e vulnerabilidade 12

2.3.3 Estudo familiar 14

2.3.4 Acolhimento 20

3 CONCLUSÃO 24

4 REFERÊNCIAS 26

5 APÊNDICES 28

APÊNDICE A – Roteiro guia da entrevista familiar 28

6. ANEXOS 29

ANEXO A – Escala de Coelho e Savassi 29


1 INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Atenção Básica - PNAB - define a Atenção Básica como


a porta de entrada no Sistema Único de Saúde (SUS), permitindo a integração com
os outros componentes da Rede de Atenção à Saúde (RAS), garantindo-se pelos
princípios do SUS - Universalidade, Integralidade, Equidade, acessibilidade, vínculo,
continuidade do cuidado, humanização, responsabilização e participação social
(BRASIL, 2012).
A Política Nacional de Humanização - PNH - preconizada pelo ministério da
Saúde surgiu com o intuito de qualificar a atenção no primeiro nível e, com ela, surgiu
diretrizes, entre elas a diretriz da promoção de saúde e do acolhimento, com a
perspectiva de garantir o acesso e a resolutividade, além do trabalho em equipe dos
profissionais da Atenção Básica (LOPES et al., 2015).
Na PNH, o acolhimento foi definido como um processo e uma ferramenta de
prática da promoção de saúde, sendo de responsabilidade do profissional e
trabalhador da Unidade desde o primeiro momento, da chegada do usuário, até a sua
saída, sendo realizado através de uma escuta qualificada de suas demandas e
necessidades para poder garantir a atenção integral e resolutiva por meio dos serviços
internos ou acionando as redes externas quando necessário (MS, 2004).
O acolhimento possui três dimensões constitutivas, as quais foram definidas
para diminuir o impacto da burocratização do atendimento, tornando-o mais
humanizado. O acolhimento é um mecanismo de ampliação e facilitação do acesso,
no qual há a inclusão do usuário de diversos grupos, através do atendimento da
demanda espontânea e agenda programada; uma atitude, postura e tecnologia de
cuidado, considerando a relação profissional-usuário; e um dispositivo de
reorganização do processo de trabalho em equipe, a qual necessita dividir o trabalho
e conseguir atender o usuário de maneira resolutiva (BRASIL, 2013) .
Entretanto, ainda é notificada dificuldades no cumprimento do acolhimento
nas suas três dimensões de abordagem, no qual há bastante burocratização, sendo a
demanda espontânea realizada por ordem de chegada e a utilização de fichas
limitadas, permitindo que situações de risco, medo e constrangimento ainda ocorram

7
e, além disso, o médico ainda prevalece como o centro da Atenção Básica,
prejudicando a resolutividade e também o empoderamento de outros profissionais da
saúde (CAMELO et al., 2016).
Para consolidar o acolhimento como mecanismo de resolutividade da situação
do usuário, abrangendo suas três dimensões, ainda há um desafio a ser superado,
que consiste na classificação de risco e avaliação de vulnerabilidades, a qual
necessita de um trabalho integrado de toda a equipe que atua na Atenção Básica,
garantindo a equidade no acesso e permitindo uma melhora na gestão do cuidado e
do tempo para o atendimento da demanda, adequando-se ao protocolo de urgência e
emergência (SCHOLZE, 2014).
Como uma maneira de estratificar o risco familiar e as vulnerabilidades, a
Escala de Coelho se tornou uma tecnologia de cuidado que permitiu o conhecimento
das famílias de uma Unidade de Saúde e permitir um melhor planejamento das
equipes durante o acolhimento (COELHO; SAVASSI, 2004).
Além disso, o acesso avançado surgiu como um modelo para evitar longos
tempos de espera do usuário da demanda programada, buscando também garantir
uma melhora no atendimento e nos desafios existentes no acolhimento. Sendo assim,
é um modelo que garante o atendimento em até quarenta e oito horas para o usuário,
equilibrando com a demanda espontânea e garantindo a manutenção dos
agendamentos de rotina e, também, a manutenção da continuidade do atendimento
ao usuário, que têm suas demandas resolvidas mais rapidamente (ROCHA; BOCCHI;
GODOY, 2015).
Portanto, o acolhimento permite a melhora nos processos de humanização da
saúde, com a escuta qualificada, torna o atendimento mais resolutivo e com melhores
avaliações de risco e vulnerabilidades, garante um trabalho em equipe mais efetivo,
tirando o foco centrado biomédico, e tornando o atendimento biopsicossocial, com o
foco no usuário e em suas demandas e necessidades (LOPES et al., 2015).

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Objetivo geral

Descrever o fluxo de atendimento, classificação de risco e vulnerabilidades,


acolhimento e o estudo familiar de um paciente usuário da USF Vila C Nova no
município de Foz do Iguaçu-PR.

2.1.1 Objetivos específicos

Demonstrar como é feito o fluxo de atendimento e acolhimento de usuários na


USF;
Verificar como ocorre a classificação de risco e vulnerabilidade na USF;
Elaborar um genograma e ecomapa da família do usuário selecionado para o
estudo familiar.

2.2 Metodologia

Este é um relatório que teve uma abordagem qualitativa e descritiva através de


observação direta, visita e entrevistas na prática de PIESC IV na USF Vila C Nova em
Foz do Iguaçu/PR com a ajuda de colaboradores e usuários do serviço, no período de
05/09/2018 à 24/10/2018.
Para a confecção deste, utilizou-se os conhecimentos e estratégias do SUS
como norte, se apoiando em ferramentas como fluxo de atendimento, classificação de
risco e vulnerabilidade e acolhimento, que foram encontrados nos cadernos da
Atenção Básica do Ministério da Saúde, além disso, foi utilizado também a Escala de
Coelho e Savassi para se estratificar o risco familiar e a confecção de genograma e
ecomapa. As informações dos resultados também foram por fontes primárias, através
de visita familiar.
O desenvolvimento deste relatório, segundo o plano de trabalho de PIESC IV,
objetivava o aprendizado, conhecimento e o estudo das tecnologias de cuidado na
prática em saúde que são realizados e disponibilizadas na USF Vila C Nova.

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Após isso, analisamos e estudamos as modelagens de acolhimento, o fluxo do
atendimento e a classificação de risco e vulnerabilidade que aconteciam na prática
nesta USF, elaboramos então um fluxograma segundo a vivência particular de um
usuário selecionado e também sobre a nossa percepção na unidade na prática de
como ocorria o acolhimento de forma real.
Em seguida, realizou-se um estudo familiar de um usuário da unidade, sendo
agendada uma visita com um paciente da unidade, entretanto, o paciente não se
encontrava no momento da visita, todavia, contornou-se a situação realizando a
entrevista com sua esposa e então foi realizado o genograma, ecomapa e
classificação de risco da família. Para a entrevista, foi realizada uma breve revisão da
literatura sobre genograma e ecomapa e assim elaboramos um roteiro para guiar a
conversa durante a visita domiciliar a fim de contemplar os principais pontos
necessários para a boa elaboração do relatório, ademais, entramos em contato
posteriormente via redes sociais com a pessoa índice para coletar informações que
não ficaram claras no momento da escrita do relatório.
Ao final, ocorreu a apresentação e discussão dos resultados obtidos durante o
estudo, fazendo-se comparações com as referências e ferramentas indicadas neste
relatório, além disso, faz-se também uma análise dessa comparação e uma
abordagem das principais características da família pesquisada e do estudo familiar
realizado.
A base científica deste estudo foi a partir da utilização das referências
disponibilizadas no plano de trabalho do estudante de PIESC IV e artigos retirados da
base de dados do Scielo. Para a confecção deste genograma e ecomapa utilizamos
o software GenoPro em sua versão 3.0.1.0 de 2016, além do software Paint para
menores detalhes, como legendas e traços. O fluxograma foi feito com a ferramenta
Lucid Chart, disponível de maneira online.

2.3 Resultados e Discussão

Os resultados que foram encontrados a respeito do fluxo de atendimento,


classificação de risco e vulnerabilidades, acolhimento e realização do estudo familiar
com classificação de risco com o usuário da USF Vila C Nova no município de Foz do
Iguaçu-PR, encontram-se a seguir.
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2.3.1 Fluxo de atendimento

O fluxograma permite a organização e o planejamento da rotina da unidade de


saúde, nos quais as atividades agendadas sejam realizadas e os indivíduos
orientados, os imprevistos consigam ser manejados e que a equipe se organize para
garantir a resolução e que os profissionais responsáveis pela demanda espontânea
consigam analisar cada situação por meio da escuta ativa e possam coordenar o
cuidado dentro e fora da Unidade de Saúde. (BRASIL, 2013)

Entende-se fluxograma, no âmbito das relações de saúde, como uma


representação gráfica da forma que os fluxos e a organização da produção da
assistência (BRASIL, 2013).

Usuários com atividades agendadas devem recebidos e guiados para evitar


filas de espera desnecessárias, entendimento que imprevistos são inerentes à vida
devendo ser solucionados e escuta das demandas espontâneas com o objetivo de
identificar riscos e vulnerabilidades, são os três pilares da lógica do fluxograma em
saúde (BRASIL, 2013).

Tendo em vista o fluxograma e suas diretrizes, procuramos um caso real de um


paciente para ilustrar melhor como é feito o acolhimento na USF designada, além de
se basear também em informações e nossa vivência na prática para elaborar de forma
mais verossímil possível o fluxograma.

O motivo que levou ao usuário selecionado procurar o serviço foi devido a


existência de um lipoma muito inflamado em suas costas que, segundo ele, o
impossibilitava de trabalhar e gerava muita dor. Além disso, disse que também tinha
um problema no seu pé direito que estava muito dolorido e inflamado, aparentando
uma torção.

Nesse sentido, após ter tido atendimento médico, relatou para nós o fluxo de
atendimento. Primeiramente, ele disse que chegou muito cedo na unidade e teve que
esperar em uma fila com demais usuários. Quando este entrou em contato com a
recepção, foi avaliado visualmente, questionado se havia atividade agendada ou de
rotina e recebeu uma ficha de espera com o enfermeiro de sua microárea. Após um

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período de espera, ele foi chamado pela equipe de enfermagem da sua microárea
para que expusesse sua queixa. A equipe de enfermagem então fez uma análise e
uma classificação de risco do usuário que foi classificado como atendimento prioritário
e logo em seguida foi solicitado para que comparecesse a consulta médica o usuário
foi atendido e foi solicitado retorno para reavaliação.

Na unidade de Saúde da Vila C nova foi possível identificar, através dos


encontros, relatos e observação direta o seguinte fluxograma de atendimento (Figura
1).

Figura 1. Fluxograma de acolhimento praticado na USF Vila C Nova do município de Foz do Iguaçu-
PR.

Fonte: Fluxograma confeccionado com a ferramenta online Lucid Chart.

2.3.2 Classificação de risco e vulnerabilidade

A classificação de risco e vulnerabilidade existente na USF Vila C Nova


abrange diferentes motivos de consulta, entretanto, o mais comum motivo de consulta
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é renovação de receitas, dores lombares, dores abdominais, consulta de Hiperdia e
queixa de sintomas relacionados a rinofaringites.
A equipe de enfermagem faz a classificação do usuário em quatro categorias
que são ilustradas pelas seguintes cores: vermelho, que representa atendimento
imediato, amarelo, que representa atendimento prioritário, verde, que presenta
atendimento no dia e azul, que seriam casos não-agudos e as intervenções são
programadas/agendadas.
Verifica-se de forma clara que grande parte dos usuários busca atendimento
apenas do médico e apenas uma pequena parcela destes tem resolutividade dos
problemas pela equipe de saúde, fato este que demonstra o quão é importante a
necessidade de uma equipe multiprofissional, visando descentralizar a o modelo
biomédico e empoderar os outros profissionais da saúde.
Malagón-Oviedo e Czeresnia (2015), debatem sobre o conceito de
vulnerabilidade e seu caráter biopsicossocial, demonstrando que o termo foi
amplamente usado em vários momentos de forma ambígua. Entretanto, na última
década, se evidenciou um crescente interesse pelos estudos sobre vulnerabilidade
em saúde gerando avanços significativos na sua conceituação e nas práticas
sanitárias. A partir disto, vulnerabilidade se configurou em uma dinâmica de
interdependências recíprocas que exprimem valores multidimensionais, sendo que a
situação de vulnerabilidade limita a força de afirmação no mundo, gerando
fragilização. Captar a complexidade das vulnerabilidades é um desafio, tanto pelas
implicações práticas no âmbito clínico quanto pela crítica geral das instituições sociais
contemporâneas que, segundo os autores, conduz a formas de exclusão, segregação
e negação de direitos.
De acordo também com Sanchez e Bertolozzi (2007), para ser possível ações
em situações de vulnerabilidade, são necessárias intervenções que envolvam uma
resposta social, com o envolvimento ativo da população com o objetivo de encaminhar
os problemas e necessidades de saúde.
Entrando, na USF que realizamos este relatório, não ficou clara a forma que a
equipe trabalha (se trabalha) o conceito de vulnerabilidade, devido aos poucos
encontros, sendo necessário reestruturar o trabalho a fim de incorporar de maneira
mais tangível e evidente o conceito de vulnerabilidade em saúde, para ser possível

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intervir e executar ações além do âmbito científico, fornecendo subsídios para práticas
no campo de prevenção e redução das vulnerabilidades encontradas.

2.3.3 Estudo familiar

No quarto dia de atividade prática que realizamos durante o PIESC IV na USF


Vila C nova, agendamos a entrevista e a visita familiar com o marido da pessoa que
efetivamente fizemos o estudo familiar, pois a pessoa que escolhemos não se
encontrava no dia marcado.

A visita domiciliar é eficiente pois auxilia o contato da equipe de saúde com o


paciente mesmo que fora da USF. É possível através desta, que os profissionais
observem o paciente e todo o seu contexto familiar e ambiental, suas condições de
vida e assim ser possível elaborar uma estratégia que limite as situações de risco que
o paciente se encontra exposto. Além do maior conforto e tranquilidade para a família
e paciente, possibilitando, através das visitas, estabelecer um vínculo entre o paciente
e a equipe de saúde (MOURÃO et al., 2010).

A partir disto, a Escala de Coelho foi criada em 2003 por Coelho e Savassi, com
a finalidade de ser um instrumento de auxílio na avaliação da vulnerabilidade familiar
e mais uma ferramenta para o planejamento das ações da equipe. A escala foi
elaborada a partir da revisão dos critérios de preenchimento da Ficha A do Sistema
de informação de Atenção Básica (SIAB), realçando as sentinelas de risco (COELHO
E SAVASSI, 2004). Ademais, a Escala de Coelho não tem a finalidade de abordagem
familiar e nem consegue classificar todos os riscos, sendo necessário uma avaliação
mais aprofundada, entretanto, devido a sua fácil aplicação, se consolidou como uma
boa ferramenta de auxílio (COELHO, LAGE E SAVASSI, 2012)

Segundo Coelho e Savassi (2004), as formas de visita domiciliar são duas: As


visitas domiciliares ‘’Fim’’ que tem um objetivo específico, como por exemplo, uma
internação domiciliar ou uma visita a acamado e há também a visita domiciliar ‘’Meio’’,
que tem um caráter de busca ativa, prevenção e promoção da saúde, sendo focada
para a estratégia da família.

A partir da visita que executamos com o usuário e a sua família, foi possível ter
uma noção das condições da família, como ela era formada, como estes membros se
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sentiam e se portavam frente o ambiente e as doenças que afligem pessoas de sua
família e ao próprio usuário e também, como a família interage entre si, sendo possível
estabelecer as situações de risco obtidas a partir da Escala de Coelho e Savassi
(Anexo A).

Ao preencher a Escala de Coelho, pudemos notar que há uma situação onde


há desemprego por parte da filha do casal e também pela paciente que entrevistamos,
entretanto, este último não configura desemprego na ferramenta devido à realização
de tarefas domésticas, mesmo que não seja remunerada, sendo assim, há apenas
uma pessoa em situação de desemprego, configurando 2 pontos na escala.

Além disso, foi relatado pela pessoa entrevistada que o marido sofre de
Diabetes Mellitus, o que configura 1 ponto, e ela também relatou que possui
hipertensão arterial, somando-se então mais 1 ponto na escala e relatou também que
o marido faz uso de álcool sem restrição em alguns casos, chegando a, em sua
concepção, representar risco para a saúde dele (mais 2 pontos, por drogadição).

Por fim, a partir da visita e perguntas ao entrevistado, observou-se que o


número de cômodos na residência dividido pelo número de moradores do domicílio
resultava em um valor menor que 1 (3 quartos, 2 banheiros, 1 sala e 1 cozinha), o que
configura 1 ponto na Escala de Coelho.

A pontuação final obtida através da Escala de Coelho da família visitada foi de


7 pontos, o que representa R2, significando risco médio.

Na visita domiciliar, também realizamos o genograma e o ecomapa da família


entrevistada.

A elaboração do genograma foi realizada seguindo ordem cronológica, ou seja,


do mais velho para o mais novo. Além disso, foram usados vários símbolos e setas
para indicar eventos ou relações familiares, respectivamente, todos os sinais usados
são descritos na legenda.

A entrevista ocorreu com a esposa (Márcia) do usuário que buscou o serviço,


sendo na casa deles com a presença do seu filho mais novo e de seu neto, Mateus
Felipe.

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Márcia, que foi selecionada para ser a pessoa índice de nosso estudo, tem
hipertensão arterial sistêmica e se mostrava muito ansiosa e comunicativa, entretanto,
não nos dava as informações de forma exata e com muitos rodeios, sendo necessária
fazer perguntas mais diretas e interrompê-la algumas vezes com o intuito de guiar e
direcionar melhor a entrevista.

Ela relatou que sua família não é de Foz do Iguaçu e sim da região rural de
Marechal Cândido Rondon, entretanto, seu pai trouxe sua família para Foz pois veio
trabalhar na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu e ‘’na Furnas’’. Além disso,
logo disse que seu filho mais velho se mudou recentemente de casa pois se casou e
teve um filho (Márcia falou várias vezes de seu neto, mostrando muito afeto por ele).
Os dois pais de Márcia já estão mortos, segundo ela sua mãe morreu devido a um
câncer de colo de útero em 1999 e seu pai, após ter desenvolvido depressão e cura-
la, sofreu das complicações da hipertensão arterial sistêmica e diabetes gerando um
acidente vascular cerebral (AVC), entretanto, ficou internado por 7 meses até falecer
em 2008, com uma parada cardiorrespiratória.

A relação de Márcia com seus filhos, segundo ela, é muito próxima e também
com seu neto, entretanto diz que há algumas relações conflituosas na sua família: O
primeiro caso é da relação entre os dois filhos que moram em sua casa, segundo ela:
‘’os dois tem muito ciúmes um do outro’’, o que acarreta diversas discussões e até
agressão entre os envolvidos. Além disso, ainda há um caso na família de Cláudio
(seu marido) devido ao abuso de álcool por parte de um dos indivíduos e a não
aceitação do outro, e na sua família que também é entre irmãos, mas ela não soube
relatar ao certo o motivo dos conflitos, ‘’eles sempre foram desse jeito’’.

Além disso, Márcia nos relatou que é muito próxima de seus dois irmãos e que
sempre os ajuda de diversas formas, quando necessário, visto que o seu irmão mais
velho sofreu um acidente de trânsito quando exercia a profissão de entregador com
uma motocicleta, na cidade de Medianeira, ‘’ele perdeu os movimentos das pernas,
sofreu muito com isso, mas logo demos um jeito’’. Ela também informou que sua mãe
teve uma filha natimorta, mas ela não soube dar maiores informações.

Alguns fatores foram limitantes para a realização do genograma familiar. Márcia


tinha dificuldade de lembrar ao certo a idade de pessoas mais afastadas e também
nomes, mas ela se lembrava da relação da pessoa e da sua cronologia, para nos
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guiar, ela usava expressões como ‘’ele deveria ter uns 50 anos’’ ou ‘’o irmão dele era
um pouco mais velho e tinha esses 2 meninos’’, essas falas foram comuns durante a
entrevista. Para contornar isso, usamos idades aproximadas e a sigla ‘’NA’’ quando
ela não sabia o nome da pessoa. Ademais, esses fatores não impossibilitaram a
interpretação do genograma e das relações familiares existentes.

Ao observar o genograma (figura 2), foi possível fazer uma avaliação da


composição da família, o gênero dos membros, as relações entre os membros e a
intensidade de suas ligações, representando a estrutura interna da família.

Figura 2. Genograma da família entrevistada

Fonte: Ecomapa confeccionado com o software GenoPro V3.0.1.0

Figura 3. Legenda do genograma da família

Fonte: Legenda confeccionada com o software Paint

Souza e Kantorski (2009) pontuam que o ecomapa provê uma visão sistêmica
de todas as relações da família nuclear com outras pessoas, instituições e agências
fornecendo uma visão da natureza destas relações como: vínculos fortes, vínculos

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fracos, relações de stress, que recebem ou dão apoio (orientado por setas).
Consistindo então, em um instrumento qualitativo de avaliação que se usado de forma
correta, pode avaliar como indivíduos estão se relacionando com outras pessoas e
com um suporte social, visando aumentar as estratégias de cuidado.

Além disso, no ecomapa é possível demonstrar as redes de sustentação e


apoio tecidas pela família. As redes de sustentação são as quais participam
constantemente na vida da pessoa, embasada na afetividade (BELLATO et al., 2009).
Ela é construída por indivíduos próximos, como amigos e família, estando presente
no alcance de recursos quanto na busca por garanti-los para a urdidura do cuidado,
em quantidade e qualidade suficientes nas variadas situações de saúde ao longo do
tempo. (BELLATO et al., 2015).

O ecomapa também contrasta a atuação pontual e desvinculada da rede de


apoio com a forma implicada, afetiva e continuada com que a rede de sustentação
participou da vivência do indivíduo e de sua família (SOUZA et al., 2016)

Partindo disto, pode-se concluir que o ecomapa é um instrumento que torna


possível visualizar a estrutura familiar para um cuidado mais direcionado e efetivo
(MELLO et al., 2005).

Identificou-se no ecomapa da família uma forte relação estressante entre os


dois irmãos residentes na casa, segundo Márcia, devido a ciúmes um pelo outro desde
que eram muito mais jovens. Além disso, é possível observar que a família tem uma
relação muito forte de apoio mútuo (sem impacto na energia) com o cachorro de
estimação da família, uma vira-lata chamada Miney que foi adotada a
aproximadamente 2 anos, ainda diz que no começo o seu marido Cláudio não aceitava
que o animal vivesse dentro de casa, ademais, com o tempo ele se acostumou, mas
gerou muitos conflitos internos até ele aceitar a presença de Miney.

Márcia também informou que tem uma relação muito conflituosa com seus
vizinhos, que seria fruto de diversas discussões. Segundo ela, tudo começou devido
a ameaças de um dos vizinhos com os seus 2 gatos, o que aparentemente culminou
com Márcia tendo que doar os seus animais para a sua irmã mais nova, com receio
de algo pior acontecer com eles, acarretando muita tristeza e ressentimento para toda
a sua família e gerando essa relação estressante com o seus vizinhos.

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A relação da pessoa índice com seus filhos é muito harmoniosa e próxima,
ademais, ela diz que a pessoa que mais gosta de ser visitada é pelo seu neto, Mateus
Felipe. Segundo ela, ela é quase que uma mãe para ele, pois os pais do menino
trabalham quase sempre todo dia e é ela que tem que cuidar na maioria das vezes da
criança.

Ela ressalta em muitas vezes a questão da igreja, segundo ela, é uma relação
muito forte e de mútuo apoio, pois ela diz que é lá onde se sente feliz, não apenas
comparecendo á missas, mas também realizando outras atividades e pastorais
disponibilizados pela igreja que ela busca. Entretanto, ela diz que fica muito
desapontada com os seus filhos e marido pois não possuem o mesmo apreço que ela
pela religião.
Márcia disse ainda que fornece muita ajuda a seus dois irmãos, que passam
por dificuldades financeiras, segundo ela, ela sempre busca ajudá-los, ademais, ela
não se sente reconhecida pela ajuda que fornece aos irmãos, gerando
desapontamentos.
Identificou-se uma relação regular com a família de Cláudio, pois uma parte
deles não moram em Foz do Iguaçu.
Identificou-se que não há qualquer relação com lazer, não havendo qualquer
atividade. Justificou-se que há falta de tempo e que o que mais se aproximava a isso
eram as atividades realizadas pela sua igreja.
A entrevistada nos relatou que a 6 meses aproximadamente precisou se dirigiu
a UPA João Samek de Foz do Iguaçu pois na época sentiu muitas dores de cabeça,
no corpo e não conseguia realizar os serviços de casa, entretanto, disse que foi muito
mal atendida, ademais, conseguiu ser atendida foi diagnosticada com gripe influenza,
tendo seu problema resolvido.
Quanto a relação com a USF, a entrevistada referiu ter dificuldade para acessar
a USF pois há um tempo muito grande de espera, entretanto, sempre que busca o
serviço é muito bem atendida, sendo que ela busca mais a USF para renovar suas
receitas de medicamentos.
Com as informações que forma coletadas, é possível identificar como funciona
a família e a relação que ela tem com o meio, sendo assim ser possível realizar um
planejamento mais eficaz das intervenções da USF.

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Na Figura 4, está representado o ecomapa da família selecionada.

Figura 4. Ecomapa da família entrevistada

Fonte: Ecomapa confeccionado com o software Paint.

2.3.4 Acolhimento

O acolhimento na Atenção Básica, de acordo com o Manual do Ministério da


Saúde de Acolhimento da Demanda Espontânea (BRASIL, 2013), como já descrito
anteriormente, possui três dimensões constitutivas que incluem um mecanismo de
ampliação e facilitação do acesso, uma postura, atitude e tecnologia de cuidado e um
dispositivo de reorganização do processo de trabalho em equipe.
Além disso, a Unidade de Saúde que pratica o acolhimento necessita a
implementação de agendas para o atendimento, sendo parte destinada à demanda
espontânea e parte destinada a demanda programada, sendo ambas constituídas de
acordo com a classificação de risco e de vulnerabilidades do usuário para definir
situações agudas e não-agudas (BRASIL, 2013)
A equipe necessita ter uma comunicação e, também, uma organização dentro
da Unidade de Saúde, que, de acordo com o Manual de Acolhimento da Demanda
Espontânea (BRASIL, 2013), pode ser realizada o acolhimento de quatro maneiras,
sendo elas o acolhimento pela equipe de referência do usuário, pela equipe de
acolhimento do dia, o acolhimento misto e o acolhimento coletivo.
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A participação realizada pela dupla durante o período permitiu o conhecimento
do acolhimento da Unidade de Saúde Vila C Nova, seu funcionamento e a forma de
trabalho da equipe, permitindo comparar a teoria e a prática, entendendo que o
acolhimento se inicia no momento que o usuário chega à unidade até o momento que
ele sai do atendimento médico.
A Unidade de Saúde Vila C Nova trabalha o acolhimento através da equipe de
referência do usuário, no qual ocorre a partir da entrega dos documentos na recepção,
é chamada pela enfermeira, descreve e explica seus problemas e necessidades, as
quais são compreendidas por meio da escuta ativa e é decidido se há a necessidade
do atendimento médico imediato, no dia ou não.
Para tanto, é necessária a classificação de risco, a qual é estabelecida
teoricamente através de protocolos do Manual de Acolhimento à Demanda
Espontânea (2013), em tipos de situação e condutas, que são definidas como casos
não agudos, agudos de baixo risco com vulnerabilidade, aguda de risco moderado e
aguda de alto risco. Entretanto, cada Unidade de Saúde estabelece as condutas que
vão serem tomadas através da organização dialógica da equipe e do conhecimento
técnico de cada profissional.
Foi observado durante a prática e descrito pelo preceptor que ainda há desafios
em relação a classificação de risco na Unidade de Saúde Vila C Nova, o qual adotou
o E-SUS como tecnologia de cadastro e registro do usuário, porém que já não há mais
a classificação automática de risco como havia no Saúde-Foz, o que representou um
motivo para a reorganização do processo de trabalho. Dentro dessa reorganização,
as recepcionistas exercem uma grande importância na Unidade pois elas são as
primeiras a entender o problema do usuário e reconhecer o risco que pode ser
subjetivo ou não.
Ademais, a enfermeira também tem o papel de atuar na classificação de risco
garantindo a resolutividade do atendimento do usuário, buscando compreender suas
vulnerabilidades e suas demandas. Foi visto durante o estágio na Unidade de Saúde
que, como não havia médicos na equipe de referência acompanhada pela dupla, o
usuário era encaminhado pela médica de outra equipe quando havia a necessidade,
principalmente em quadros agudos que ocorriam em crianças, demonstrando mais
uma vez a reorganização do processo de trabalho e a comunicação entre as equipes
com o intuito de atender o usuário.
21
Entender e realizar o acolhimento como um processo além da consulta médica
não é um trabalho fácil, porém a Unidade de Saúde da Vila C Nova consegue cumprir
com esse trabalho ao ofertar outros serviços na Unidade que podem facilitar e efetivar
o trabalho da equipe e também diminuir a fila da Unidade. O conhecimento do usuário
dos serviços como o pré-natal, o HiperDia, o preventivo e a puericultura, e os dias e
horários que eles ocorrem, permite a organização das agendas da demanda
espontânea e da demanda programada, deixando um espaço maior para a equipe
atender os outros casos não relacionados.
O Fluxograma é uma tecnologia de cuidado no qual permite a coordenação do
usuário dentro e fora da unidade de saúde, iniciando-se na recepção e seguindo uma
lógica de acordo com usuários agendados, situações imprevistas e realizado pelos
profissionais, variando em cada unidade de acordo com os serviços oferecidos e as
capacidades dos profissionais (BRASIL, 2013)
Durante o processo de acolhimento, foi observado que casos patológicos como
dores, crises hipertensivas e doenças respiratórias são os mais frequentes naquela
Unidade. Enquanto isso, foi observado também que a renovação de receitas é um dos
maiores motivos de procura do usuário pela Unidade.
Apesar de não haver fluxogramas fixos nas paredes, os profissionais estão
capacitados para seguir essa lógica, e a dupla observou esse processo através do
comparativo com os fluxogramas exemplares do Manual do Acolhimento à Demanda
Espontânea (2013), como foi demonstrado no item 2.3.1 desse Relatório. Entendeu-
se a necessidade do fluxograma como tecnologia do acolhimento, sendo um
mecanismo de organização garantido pela escuta ativa e compreensão do usuário.
O acolhimento é um processo que exige, de acordo com a Oficina 5 (BRASIL,
2013), acessibilidade, envolvendo disponibilidade dos profissionais, comodidade para
o paciente, custo e aceitabilidade do usuário pela oferta dos serviços; e atendimento,
que enquadra a responsabilidade, o reconhecimento do problema, a identificação de
riscos e vulnerabilidades, a escuta ativa, a comunicação e o registro, ambos
necessitando do processo de humanização para com o usuário, com a otimização do
trabalho e o estabelecimento de vínculos.
Foi notado que a Unidade de Saúde Vila C Nova é um referencial fácil de ser
achado, que não está lotada e existem ambientes para o usuário ficar esperando sua
consulta, o que demonstra um bom cumprimento da acessibilidade. Os profissionais
22
de saúde que foram acompanhados pela dupla demonstraram uma boa escuta ativa
e compreensão dos problemas do usuário e uma boa maneira de lidar com cada tipo
de pessoa, garantindo um bom atendimento. Finalmente, foi observado o
cumprimento da Humanização já que usuários são previamente reconhecidos pela
equipe, que já estabeleceu vínculo e já entende, de certo modo, as necessidades de
cada paciente.
Os usuários “Hiperutilizadores” são, de acordo com o Manual de Acolhimento
à Demanda Espontânea (BRASIL, 2013) do Ministério da Saúde, indivíduos que
frequentam a Unidade de Saúde com intervalos pequenos de visitas e sem motivos
aparentes, possuindo um perfil que necessita uma diferente abordagem, que vai além
dos serviços de saúde. Consequentemente, cumpre-se, através do acolhimento dos
usuários hiperutilizadores, a abordagem das vulnerabilidades desses pacientes que
repetem suas queixas, avaliando-o de maneira integral.
Finalmente, na Unidade de Saúde Vila C Nova, notou-se que os casos dos
hiperutilizadores são bem característicos e configuram-se como usuários que
necessitam de um tipo diferente de atenção, que de acordo com a observação ativa
durante o acolhimento e informações da enfermeira, se enquadram nos grupos de
indivíduos com dor crônica que necessitam falar sobre sua dor, a população carente
que precisa renovar receitas para comprar remédios, uma parcela de população que
demanda atenção emocional, indo além de um caso físico, e tratando a unidade como
o seu lazer e contato com o outro.

23
3 CONCLUSÃO

Com as atividades desempenhadas no quarto semestre na UBS Vila C Nova


simultaneamente à produção deste relatório, compreendeu-se que o Acolhimento é o
mecanismo pelo qual a Atenção Primária permite o conhecimento da realidade de uma
comunidade, a dinâmica a qual está suscetível e os maiores riscos e vulnerabilidades
individuais e familiares da população adscrita.

O acolhimento para ser efetivo necessita cumprir suas três dimensões


constitutivas, sendo mecanismo de ampliação e facilitação do acesso, atitude, postura
e tecnologia de cuidado e um mecanismo que permite a organização do processo de
trabalho da equipe. Para um bom funcionamento do Acolhimento de uma Unidade de
Saúde, estes 3 processos precisam ser cumpridos e estar em constante
transformação, permitindo flexibilidade e compreendimento da realidade.

O uso das referências e o trabalho prático permitiu compreender que o


Acolhimento exige ações e participações articuladas dos usuários, profissionais e
gestores e, assim, permitindo que todos os papéis sejam cumpridos. Entretanto, essa
articulação é ainda uma dificuldade a ser vencida, pois exige uma compreensão de
todas as partes sobre suas funções e habilidades relacionais e comunicativas.

O fluxograma é uma tecnologia de cuidado o qual permite o entendimento e o


manejo do usuário na Unidade de Saúde. A UBS Vila C Nova não dispunha de um
fluxograma impresso para poder comparar com o disponibilizado pelo Ministério da
Saúde, mas ao acompanhar a rotina do usuário, percebeu-se a semelhança e pode-
se concluir que o atendimento naquela unidade segue uma lógica de organização.

Há uma dificuldade enfrentada pela Unidade relativa à identificação de riscos e


vulnerabilidades iniciais, no qual não há a idade não consta no E-SUS, o que impede
o atendimento prioritário para essas faixas etárias pela enfermeira durante o processo
inicial do acolhimento. Entretanto, as recepcionistas são qualificadas para identificar
riscos nos usuários que chegam à unidade e avisam para as enfermeiras de cada
equipe sobre essas possibilidades, garantindo um atendimento resolutivo.

Ressalta-se que os dias nos quais a dupla acompanhou o acolhimento, que


ocorriam nas quartas, não havia médico na equipe, o que representava uma

24
necessidade de reorganização da equipe e entre equipes para o atendimento do
usuário e a coordenação do cuidado, como por exemplo, o direcionamento de casos
mais vulneráveis para outra equipe de referência.

As demandas programadas na Unidade tinham um funcionamento adequado,


incluindo as específicas dos dias do acolhimento, como a Puericultura, o Preventivo,
o Pré-Natal e o HiperDia, e também as salas de vacinação de procedimentos

A tecnologia de informação utilizada para prontuário eletrônico é o E-SUS, no


qual organiza-se os dados e cadastro do usuário, permitindo o conhecimento de seu
histórico e de sua enfermidade atual.

Como já abordado anteriormente, as fragilidades identificadas na UBS Vila C


Nova configuram-se com a ausência de médico às quartas feiras na equipe de
referência e a ausência de classificação de risco automático no E-SUS.

A disciplina também permitiu a visita domiciliar para conhecimento da realidade


de uma família e a identificação de seus riscos e vulnerabilidades, compreendendo o
usuário através de diferentes contextos e permitindo o planejamento do cuidado.

A classificação de risco familiar, o genograma e o ecomapa foram os


instrumentos utilizados que permitiu a compreensão desse contexto através da visita
familiar.

Finaliza-se o relatório compreendendo que o acolhimento permite a efetivação


da atenção básica do usuário e dos princípios da atenção primária, garantindo um
atendimento resolutivo que, quando funcionante, capaz de organizar o fluxo do
atendimento, a identificação dos riscos e vulnerabilidades do usuário e a compreensão
do usuário de maneira biopsicossocial.

25
4 REFERÊNCIAS

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CAPS ad: o ecomapa como recurso. Rev Esc Enferm USP. 2009 Jun; 43(2):373-83

27
5 APÊNDICES

APÊNDICE A – Roteiro guia da entrevista familiar

• Conte-me um pouco sobre a sua família e de onde ela é


• Qual a idade e gênero dessas pessoas que você nos indicou? Elas têm alguma
doenças ou fazem uso de alguma substância de forma prejudicial?
• Quais destas moram com você?
• Quais pessoas da sua família tiveram óbitos confirmados? Você sabe me dizer
a causa
• Quem é casado e qual a família próxima dessas pessoas? Elas têm alguma
doença? Algum teve separação ou divórcio?
• Destas pessoas que você indiciou, incluindo você, há alguma que é muito mais
próxima de outra? Há alguma que é muito distante?
• Há algum tipo de relação hostil ou intriga na sua família?
• Você sabe me dizer sua relação com as pessoas que vivem com você e com
as pessoas que você nos indicou?
• Qual a sua relação com a USF?
• Qual a sua relação com o seus filhos?
• Você participa de alguma atividade social com frequência?
• Tem alguma relação que desgasta você e sua família?
• Existe algum tipo de relação que é de caráter de apoio para a sua família?
• Conte-me mais sobre as relações positivas e negativas da sua família?
• Existem mais informações sobre a sua família que você poderia nos contar?
(deixar a pessoa falar e filtrar as informações relevantes)

28
6. ANEXOS

ANEXO A – Escala de Coelho e Savassi

29
Fonte: COELHO, LAGE E SAVASSI, 2012

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