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A constituição do Brasil de 1988

A Constituição de 1988

No tocante a distribuição de recursos, a Constituição de 1988 favoreceu os Estados e


Municípios, transferindo-lhes a maior parte deles sem, entretanto, a correspondente
transferência de encargos e responsabilidades. Nesse particular foi desastrosa. O
Governo Federal continuou com os mesmos custos e com fonte de receita bastante
diminuídas. Metade do imposto de renda (IR) e do imposto sobre produtos
industrializados (IPI) - os principais da União - foi automaticamente distribuída aos
Estados e Municípios. Além disso, cinco outros tributos foram transferidos para a base
de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Ao mesmo
tempo, os constituintes ampliaram as funções do Governo Federal.

É fácil concluir, pois, que a Carta de 88 promoveu desequilíbrios graves no campo fiscal,
que, obviamente, têm repercutido nos recursos para programas sociais.ao induzir a
União a buscar receitas não partilháveis com os Estados e Municípios, contribuiu para
o agravamento da ineficiência e da iniqüilidade do sistema tributário e do predomínio de
impostos indiretos e contribuições. O crescente recurso ao imposto sobre operações
financeiras (IOF), e as contribuições de fins sociais (FINSOCIAL) e sobre o lucro.

BRASIL

RECEITA DISPONÍVEL POR ESFERA DE GOVERNO (%)

1975 1980 1985 1990

FEDERAL 50 49 46 35

ESTADUAL 36 35 36 42

MUNICIPAL 14 16 18 23

A Decadência do Estado

O Brasil entrou nos anos 80 despreparado para o desafio da década. Após dois choques
do petróleo, elevação dos juros internacionais e contração do comércio, o Governo optou
por mudar o rumo de sua política econômica: continuou a absover recursos externos
para financiar gastos internos, a balança de pagamentos e dívidas externas e internas. A
politica "desenvolvimentista" de 1979 a 1985, apoiava-se em controles rígidos sobre
preços e câmbio. O objetivo era deter a inflação a qualquer custo, cobrir o deficit público
sem cortar consumo e investimento. Em decorrência, o deficit fiscal ampliou-se com a
defasagem de preços e tarifas públicas. O endividamento interno elevou-se devido aos
maiores encargos financeiros daí decorrentes. A inflação continuou a crescer, sem que o
PIB real aumentasse. Em 1983, o governo aplicou rigoroso choque fiscal. aumentou
imposots, desvalorizou o câmbio, comprimiu salários. Seguiu-se, então,uma breve
recessão, apenas a exportação desempenhou-se bem. A intervenção estatal na economia
aprofundou-se.

Os planos de estabilização fracassaram em 1986, 1987, 1989, 1990 e 1991 porque foram
incapazes de diagnosticar e atacar as causas dos desequilíbrios da economia. O Plano
Real, iniciado em julho de 1994, ainda não se consolidou, estando apoiado em política
monetária de juros elevados - pelos déficits públicos persistentes - e utilização das
reservas cambiais que, em Jul/94, se situavam em US$ 40,1 bilhões, ora em torno de
US$ 31 bilhões. A retração do consumo tem sido perseguida a fim de impedir o
crescimento da inflação. O Governo Federal vem enfatizando a necessidade da reforma
constitucional para consolidar o Plano, principalmente no tocante à ordem econômica e
tributária. O problema do déficit público é muito antigo e foi agravado pela Constituição
de 1988 com suas inovações, e com o conceito de que o Governo Federal tem capacidade
de financiamento ilimitada, isento de conseqüencias inflacionárias.

A carga tributária da União caiu de 10 % do PIB em 1983 para 6,5% em 1989. A


transferência aos Estados e Municípios aumentou de 2% do PIB para 4% nesse período;
os encargos financeiros da União aumentaram de 3% para 5,4% do PIB. Assim, a
União não dispõe de recursos para serviços públicos que abrangem as necessidades
básicas da população - Saúde, Educação e Trabalho. Sobra muito pouco para os Gastos
Sociais ao se descontarem os subsídios, repasses às estatais - cobertura de prejuízos ou
refinanciamento da dívida interna. Constata-se também que, além disto os resultados
dos gastos na área social em termos de benefícios reais para a população são
insuficientes. A máquina estatal está, de uma maneira geral desaparelhada para prestar
o atendimento em condições mínimas de eficiência e qualidade.

A ação governamental ( dos 3 níveis) tem sido a criação de contribuições e impostos


provisórios para financiar despesas correntes e os gastos sociais transferidos às empresas
privadas e ONGs - organizações não-governamentais na operacionalização do "socorro
urgente" às populações desassistidas, além do aumento da tributação. Os investimentos
estatais caíram de 4,6% do PIB, no início dos anos 80 para 1,8% em 1988

Em relação às Constituições anteriores, a Constituição de 1988 representa um


avanço. As modificações mais significativas foram:

+ Direito de voto para os analfabetos;


+ Voto facultativo para jovens entre 16 e 18 anos;
+ Redução do mandato do presidente de 5 para 4 anos;
+ Eleições em dois turnos (para os cargos de presidente, governadores e prefeitos de
cidades com mais de 200 mil habitantes);
+ Os direitos trabalhistas passaram a ser aplicados, além de aos trabalhadores urbanos e
rurais, também aos domésticos;
+ Direito a greve;
+ Liberdade sindical;
+ Diminuição da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais;
+ Licença maternidade de 120 dias (sendo atualmente discutida a ampliação).
+ Licença paternidade de 5 dias;
+ Abono de férias;
+ Décimo terceiro salário para os aposentados;
+ Seguro desemprego;
+ Férias remuneradas com acréscimo de 1/3 do salário.

TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o


Executivo e o Judiciário.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

  III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e


regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;


III - autodeterminação dos povos;

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei;

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

CAPÍTULO II
DOS DIREITOS SOCIAIS

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos
termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros
direitos;

II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;

  III - fundo de garantia do tempo de serviço;

IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas


necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:


I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado
o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção
na organização sindical;

II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau,


representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que
será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior
à área de um Município;

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da


categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;

IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria


profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da
representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;

V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;

VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a


oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento


das necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados


dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto
de discussão e deliberação.

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um


representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto
com os empregadores.

CAPÍTULO III
DA NACIONALIDADE

Art. 12. São brasileiros:

I - natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde


que estes não estejam a serviço de seu país;

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer


deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
II - naturalizados:>

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários


de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade
moral;

Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.

§ 1º - São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o


selo nacionais.

§ 2º - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios.

CAPÍTULO IV
DOS DIREITOS POLÍTICOS

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular.

§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:

I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;

II - facultativos para:

a) os analfabetos;

b) os maiores de setenta anos;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará
nos casos de:

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

II - incapacidade civil absoluta;

III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos


do art. 5º, VIII;

V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

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