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1º Simpósio Luso-Brasileiro sobre Modelos e Práticas de Sustentabilidade, pp.

323-324, Centro de Investigação


em Ambiente e Sustentabilidade, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Lisboa, Portugal, 11 – 12 julho de 2016.
ISBN: 978-972-674-792-5.

Resolução de conflitos de vizinhança entre as populações e a


indústria através do diálogo –
O caso da zona costeira de Sines (Portugal)

Álvaro António Pinheiro Barroqueiro 1, Sandra Sofia Ferreira da Silva Caeiro 2


1
Universidade Aberta, alvaro.barroqueiro@sapo.pt
2
Universidade Aberta, Departamento de Ciências e Tecnologia, CENSE, Center for Environmental
and Sustainability Research of Faculty of Science and Technology, scaeiro@uab.pt

Abstract

Os sistemas costeiros são por natureza ambientalmente frágeis. Porém, também a indústria
tem preferência por se instalar em zonas litorais, pela facilidade de acesso às vias
marítimas, sendo então necessária a existência nesses lugares de instalações portuárias.
Por outro lado, a atividade industrial tem sempre associados impactes ambientais, motivo de
contestação popular, nomeadamente em áreas onde as populações têm de conviver de
perto com a indústria, como é o caso de Sines. O município de Sines, em Portugal,
tradicionalmente ligado às atividades do mar e piscatórias, é um caso paradigmático onde
este problema se faz sentir, com a oposição da população local à indústria vizinha.
Praticamente no seu estado natural até ao início da década de 1970, a construção do
complexo portuário e industrial na região, processo no qual a população não se viu
envolvida, viria a mudar para sempre o modo de vida dos seus habitantes. Sabendo-se que
o diálogo tem demonstrado bons resultados na resolução de conflitos de vizinhança,
realizou-se um estudo de caso holístico, alargando-se o campo da investigação aos aspetos
ambientais e sociais envolventes, para dar resposta às questões ‘como’ e ‘porquê’ da
existência do conflito na região de Sines, contribuindo-se assim para o conhecimento dos
fatores que condicionam os comportamentos individuais em matéria de ambiente, tendo em
vista a implementação de plataformas de diálogo e a promoção da integração ambiental
entre populações e a indústria. A recolha de informação baseou-se na análise documental,
observação direta e consulta on-line em sites de dados institucionais, complementada por
inquérito a duas amostras de conveniência, uma constituída por 55 atores sociais chave da
população de Sines, com uma taxa de sucesso de 58%, e outra por um painel de oito
empresas, que pela sua dimensão e atividade integram os aspetos ambientais e sociais
críticos da indústria local, obtendo-se uma taxa de sucesso de 50%. Face aos resultados
alcançados, ainda que situações de alteração das condições naturais tenham ocorrido num
passado recente na região em estudo, não se pode afirmar que exista de facto um caso de
poluição, sugerindo que as causas do conflito em Sines se prendem mais com razões
sociais e culturais do que com o ambiente propriamente dito, verificando-se que o espaço
social e a proximidade física e cognitiva têm um efeito modelador das atitudes individuais, e
na construção da perceção do risco ambiental. Embora a existência do conflito em Sines
seja uma realidade, este trabalho vem demonstrar a disponibilidade dos atores sociais de
Sines para a colaboração na proteção do ambiente e da saúde pública, o que permite
antecipar o sucesso na resolução do conflito em Sines através do diálogo. São todavia
apontadas barreiras, que se prendem essencialmente com a falta de tempo ou oportunidade
por parte da população, ou com o receio das empresas pela exposição à opinião pública.
Neste campo, as autoridades locais têm um papel a desempenhar na integração ambiental
das populações e a indústria, como facilitadoras do diálogo, criando-se assim novas
oportunidades de gestão para o exercício de uma cidadania mais efetiva.

Keywords: risco, integração, ambiental, facilitação, cidadania

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