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DIMENSÕES HISTÓRICAS Pátria e à dignidade da espécie” (QUEIRÓS apud


DA EDUCAÇÃO FÍSICA CASTELLANI FILHO, 1994, p. 53). No início do século
XX, especificamente a partir de 1929, a disciplina de
Educação Física tornou-se obrigatória nas instituições de
O pensamento só pode enfrentar a tarefa de transformar
ensino para crianças a partir de 6 anos de idade e para
o mundo se não se esquivar à luta pela
ambos os sexos, por meio de um anteprojeto publicado
autotransformação, ao acerto de contas com aquilo que
pelo então Ministro da Guerra, General Nestor Sezefredo
ele tem sido e precisa deixar de ser.
Passos. Propõe também a criação do Conselho Superior
de Educação Física com o objetivo de centralizar,
coordenar e fiscalizar as atividades referentes ao
Dimensão Histórica da Disciplina de Educação Física
Desporto e à Educação Física no país e também a
elaboração do Método Nacional de Educação Física.
A fim de situar historicamente a disciplina de
(LEANDRO, 2002, p. 34). Isso representa o quanto a:
Educação Física no Brasil, optouse, nestas Diretrizes
Educação Física no Brasil se confunde em muitos
Curriculares, por retratar os movimentos que a
momentos de sua história com as instituições médicas e
constituíram como componente curricular. As primeiras
militares. Em diferentes momentos, essas instituições
sistematizações que o conhecimento sobre as práticas
definiram seu caminho, delineando e delimitando seu
corporais recebe em solo nacional ocorrem a partir de
campo de conhecimento, tornando-a um valioso
teorias oriundas da Europa. Sob a égide de
instrumento de ação e de intervenção na realidade
conhecimentos médicos e da instrução física militar, a
educacional e social [...]. (SOARES, 2004, p. 69) Esse
então denominada ginástica surgiu, principalmente, a
período histórico foi marcado pelo esforço de construção
partir de uma preocupação com o desenvolvimento da
de uma unidade nacional, o que contribuiu sobremaneira
saúde e a formação moral dos cidadãos brasileiros. Esse
para intensificar o forte componente militar nos métodos
modelo de prática corporal pautava-se em prescrições de
de ensino da Educação Física nas escolas brasileiras. As
exercícios visando ao aprimoramento de capacidades e
relações entre a institucionalização da disciplina de
habilidades físicas como a força, a destreza, a agilidade e
Educação Física no Brasil e a influência da ginástica,
a resistência, além de visar à formação do caráter, da
explicitam-se em alguns marcos históricos, dentre eles: a
autodisciplina, de hábitos higiênicos, do respeito à
criação do “Regulamento da Instrução Física Militar”
hierarquia e do sentimento patriótico. O conhecimento da
(Método Francês), em 1921; a obrigatoriedade da prática
medicina configurou um outro modelo para a sociedade
da ginástica nas instituições de ensino, em 1929; a
brasileira, o que contribuiu para a construção de uma
adoção oficial do método Francês2, em 1931, no ensino
nova ordem econômica, política e social. “Nesta nova
secundário; a criação da Escola de Educação Física do
ordem, na qual os médicos higienistas irão ocupar lugar
Exército, em 1933, e a criação da Escola Nacional de
destacado, também se coloca a necessidade de construir,
Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil,
para o Brasil, um novo homem, sem o qual a nova
em 1939. O método ginástico francês, que contribuiu para
sociedade idealizada não se tornaria realidade”
construir e legitimar a Educação Física nas escolas
(SOARES, 2004, p. 70). No contexto referido acima, a
brasileiras estava fortemente ancorado nos
educação física1 ganha espaço na escola, uma vez que o
conhecimentos advindos da anatomia e da fisiologia,
físico disciplinado era exigência da nova ordem em
cunhados de uma visão positivista da ciência, isto é, um
formação. A educação do físico confundia-se com a
conhecimento científico e técnico considerado superior a
prática da ginástica, pois incluía exercícios físicos
outras formas de conhecimento, e que deveria ser
baseados nos moldes médico-higiênicos. Com a
referência para consolidação de um projeto de
proclamação da República, veio a discussão sobre as
modernização do país.3 Preponderando uma visão
instituições escolares e as políticas educacionais. O
mecanicista e instrumental sobre o corpo, o método
século XIX foi o século que difundiu a instrução pública e
ginástico francês priorizava o desenvolvimento da
Rui Barbosa foi influenciado pelas discussões de sua
mecânica corporal. Conforme esse modelo, melhorar o
época. Tanto que, empenhado num projeto de
funcionamento do corpo e a eficiência do gasto
modernização do país, interessouse pela criação de um
energético dependia de técnicas que atribuíam à
sistema nacional de ensino - gratuito, obrigatório e laico,
Educação Física a tarefa de formar corpos saudáveis e
desde o jardim de infância até a universidade. Para
disciplinados, possibilitando a formação de seres
elaboração do seu projeto buscou inspiração em países
humanos aptos para adaptarem-se ao processo de
onde a escola pública estava sendo difundida,
industrialização que se iniciava no Brasil (SOARES,
procurando demonstrar os benefícios alcançados com a
2004). No final da década de 1930, o esporte começou a
sua criação. Para fundamentar sua análise recorreu às
se popularizar e, não por acaso, passou a ser um dos
estatísticas escolares, livros, métodos, mostrando que a
principais conteúdos trabalhados nas aulas de Educação
educação, nesses países, revelava-se alavanca de
Física. Com o intuito de promover políticas nacionalistas,
desenvolvimento. Suas ideias acerca desta questão estão
houve um incentivo às práticas desportivas como a
claramente redigidas nos seus famosos pareceres sobre
criação de grandes centros esportivos, a importação de
educação. (MACHADO, 2000, p. 03) No ano de 1882,
especialistas que dominavam as técnicas de algumas
Rui Barbosa emitiu o parecer n. 224, sobre a Reforma
modalidades esportivas e a criação do Conselho Nacional
Leôncio de Carvalho, decreto n. 7.247, de 19 de abril de
dos Desportos, em 1941. No final da década de 1930 e
1879, da Instrução Pública. Entre outras conclusões,
início da década de 1940, ocorreu o que o Conselho
afirmou a importância da ginástica para a formação de
denomina como um processo de “desmilitarização” da
corpos fortes e cidadãos preparados para defender a
Educação Física brasileira, isto é, a predominância da
Pátria, equiparando-a, em reconhecimento, às demais
instrução física militar começou a ser sobreposta por
disciplinas (SOARES, 2004). Conforme consta no próprio
outras formas de conhecimento sobre o corpo e, com o
parecer, “[...] com a medida proposta, não pretendemos
fim da II Guerra Mundial, teve início um intenso processo
formar nem acrobatas nem Hércules, mas desenvolver na
de difusão do esporte na sociedade e,
criança o quantum de vigor físico essencial ao equilíbrio
consequentemente, nas escolas brasileiras. O esporte:
da vida humana, à felicidade da alma, à preservação da
1
Afirma-se paulatinamente em todos os países sob a agentes educacionais, tanto do professor quanto do
influência da cultura europeia, como o elemento aluno; noutra, porque o esporte se afirmava como
hegemônico da cultura de movimento. No Brasil as fenômeno cultural de massa contemporâneo e universal,
condições para o desenvolvimento do esporte, quais afirmando-se, portanto, como possibilidade educacional
sejam, o desenvolvimento industrial com a consequente privilegiada. Assim, o conjunto de práticas corporais
urbanização da população e dos meios de comunicação passíveis de serem abordadas e desenvolvidas no interior
de massa, estavam agora, mais do que antes, presentes. da escola resumiu-se à prática de algumas modalidades
Outro aspecto importante é a progressiva esportivização esportivas. As práticas escolares de Educação Física
de outros elementos da cultura de movimento, sejam elas passaram a ter como fundamento primeiro a técnica
vindas do exterior como o judô ou o karatê, ou esportiva, o gesto técnico, a repetição, enfim, a redução
genuinamente brasileiras como a capoeira. (BRACHT, das possibilidades corporais a algumas poucas técnicas
1992, p. 22) No início da década de 1940, o governo estereotipadas. (TABORDA DE OLIVEIRA, 2001, p. 33)
brasileiro estabeleceu as bases da organização Ocorreram, ainda, outras reformas educacionais no
desportiva brasileira instituindo o Conselho Nacional de Brasil, em particular o chamado acordo do Ministério da
Desportos, com o intuito de orientar, fiscalizar e incentivar Educação e Cultura - MEC/United States Agency
a prática desportiva em todo o país (LEANDRO, 2002, p. International for Development - USAID (MEC-USAID).5
58). Nesse contexto, as aulas de Educação Física Esse fato permitiu que muitos professores dessa área de
assumiram os códigos esportivos do rendimento, conhecimento frequentassem, nos Estados Unidos,
competição, comparação de recordes, regulamentação cursos de pós-graduação cujos fundamentos teóricos
rígida e a racionalização de meios e técnicas. Trata-se sobre o movimento humano pautavam-se na visão
não mais do esporte da escola, mas sim do esporte na positivista das ciências naturais, isto é, na prática
escola. Isto é, os professores de Educação Física se esportiva e na aptidão física. Nesse contexto, o esporte
encarregaram de reproduzir os códigos esportivos nas consolidou sua hegemonia como objeto principal nas
aulas, sem se preocupar com a reflexão crítica desse aulas de Educação Física, em currículos nos quais o
conhecimento. A escola tornou-se um celeiro de atletas, a enfoque pedagógico estava centrado na competição e na
base da pirâmide esportiva4 (BRACHT, 1992, p. 22). performance dos alunos. Os chamados esportes
Com a promulgação da Nova Constituição e a instalação olímpicos - vôlei, basquete, handebol e atletismo, entre
efetiva do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, a outros - foram priorizados para formar atletas que
prática de exercícios físicos em todos os representassem o país em competições internacionais.
estabelecimentos de ensino tornou-se obrigatória. Entre Tal preferência sustentava-se na “teoria da pirâmide
os anos de 1937 e 1945, o então presidente Getúlio olímpica”, isto é, a escola deveria funcionar como um
Vargas estruturou o Estado no sentido de incentivar a celeiro de atletas, tornar-se a base da pirâmide para
intervenção estatal e o nacionalismo econômico. Durante seleção e descoberta de talentos nos esportes de elite
o Estado Novo implantado em 1937, a Educação Física nacional. Predominava o interesse na formação de atletas
sofreu grande inquietação. Encarada pelos militares como que apresentassem “talento natural”, de modo que se
uma arma na estruturação humana, entendiam que a destacavam, até chegar ao topo da pirâmide, aqueles
maneira como o corpo é educado é resultado direto das considerados de alto nível, prontos para representar o
normas sociais impostas, que definem consequentemente país em competições nacionais e internacionais. A ideia
a estruturação da sociedade, que através dos seus de talento esportivo substanciava-se num entendimento
gestos ou ações motoras revelam a natureza do sistema naturalizante dos processos sociais que constituem os
social. Os militares fazem então um grande investimento seres humanos, como se as características biológicas
na política esportiva, certos de que assim teríamos uma individuais fossem preponderantes frente às
nítida melhoria da saúde do povo brasileiro, tendo oportunidades que cada um possui no decorrer de sua
consequentemente mais homens aptos ao serviço militar, história de vida. Na década de 70, a Lei n. 5692/71, por
que nesta época continha uma grande quantidade de meio de seu artigo 7º e pelo Decreto n. 69450/71,
jovens dispensados por incapacidade física. (LEANDRO, manteve o caráter obrigatório da disciplina de Educação
2002, p. 43) No contexto das reformas educacionais sob Física nas escolas, passando a ter uma legislação
a atuação do ministro Gustavo Capanema, a Lei Orgânica específica e sendo integrada como atividade escolar
do Ensino Secundário, promulgada em 09 de abril de regular e obrigatória no currículo de todos os cursos e
1942, demarcou esse cenário ao permitir a entrada das níveis dos sistemas de ensino. Conforme consta no
práticas esportivas na escola, dividindo um espaço até Capítulo I, Art. 7º da Lei n. 5692/71, “será obrigatória a
então predominantemente configurado pela instrução inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física,
militar. Com tais reformas, a Educação Física tornou-se Educação Artística e Programa de Saúde nos currículos
uma prática educativa obrigatória, desta vez com carga plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, observado
horária estipulada de três sessões semanais para quanto à primeira o disposto no Decreto-lei n. 869, de 12
meninos e duas para meninas, tanto no ensino de setembro de 1969” (BRASIL, 1971). Ainda nesse
secundário quanto no industrial, e com duração de 30 e período, aos olhos do Regime Militar, a Educação Física
45 minutos por sessão (CANTARINO FILHO, 1982). A Lei era um importante recurso para consolidação do projeto
Orgânica do Ensino Secundário permaneceu em vigor até “Brasil-Grande” (BRACHT, 1992). Através da prática de
a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação exercícios físicos visando ao desenvolvimento da aptidão
Nacional n. 4.024/61, em 1961. Com o golpe militar no física dos alunos, seria possível obter melhores
Brasil, em 1964, o esporte passou a ser tratado com resultados nas competições esportivas e,
maior ênfase nas escolas, especialmente durante as consequentemente, consolidar o país como uma potência
aulas de Educação Física. De acordo com algumas olímpica, elevando seu status político e econômico. Tal
teorizações da historiografia: Isso teria ocorrido em parte, concepção de Educação Física escolar de caráter
porque numa certa perspectiva o esporte codificado, esportivo foi duramente criticada pela corrente
normatizado e institucionalizado pode responder de forma pedagógica da psicomotricidade que surgia no mesmo
bastante significativa aos anseios de controle por parte do período. Baseada na interdependência do
poder, uma vez que tende a padronizar a ação dos desenvolvimento cognitivo e motor, (a abordagem

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psicomotora) critica o dualismo predominante na patória, descritas abaixo, operam a crítica da
Educação Física, e propõe-se, a partir de jogos de Educação Física a partir de sua contextualização
movimento e exercitações, contribuir para a Educação na sociedade capitalista.
Integral [...] Com a Psicomotricidade, temos um
deslocamento da polarização da Educação do movimento Crítico-Superadora: baseia-se nos
para a Educação pelo movimento, ficando a primeira pressupostos da pedagogia históricocritica e
nitidamente em segundo plano. (BRACHT, 1992, p. 27) A estipula, como objeto da Educação Física, a
perspectiva esportiva da Educação Física escolar Cultura Corporal a partir de conteúdos como: o
recebeu uma forte crítica da corrente da psicomotricidade esporte, a ginástica, os jogos, as lutas e a
cujos fundamentos se contrapunham às perspectivas dança. O conceito de Cultura Corporal tem como
teórico-metodológicas baseadas no modelo didático da suporte a ideia de seleção, organização e
esportivização. Tais fundamentos valorizavam a formação sistematização do conhecimento acumulado
integral da criança, acreditando que esta se dá no historicamente, acerca do movimento humano,
desenvolvimento interdependente de aspectos cognitivos, para ser transformado em saber escolar. Esse
afetivos e motores. Entretanto, a psicomotricidade não conhecimento é sistematizado em ciclos e
estabeleceu um novo arcabouço de conhecimento para o tratado de forma historicizada e espiralada. Isto
ensino da Educação Física, e as práticas corporais, entre é, partindo do pressuposto de que os alunos
elas o esporte, continuaram a ser tratadas, tão-somente, possuem um conhecimento sincrético sobre a
como meios para a educação e disciplina dos corpos, e realidade, é função da escola, e neste caso
não como conhecimentos a serem sistematizados e também da Educação Física, garantir o acesso
transmitidos no ambiente escolar. Além disso, a às variadas formas de conhecimentos
Educação Física ficou, em alguns casos, subordinada a produzidos pela humanidade, levando os alunos
outras disciplinas escolares, tornando-se um elemento a estabelecerem nexos com a realidade,
colaborador para o aprendizado de conteúdos diversos elevando-os a um grau de conhecimento
àqueles próprios da disciplina6 (SOARES, 1996, p. 09). sintético. Nesse sentido, o tratamento espiralar
Com o movimento de abertura política e o início de um representa o retomar, integrar e dar continuidade
processo de redemocratização social, que culminou com ao conhecimento nos diferentes níveis de
o fim da Ditadura Militar em meados dos anos de 1980, o ensino, ampliando sua compreensão conforme o
sistema educacional brasileiro passou por um processo grau de complexidade dos conteúdos. Por
de reformulação. Nesse período, a comunidade científica exemplo: um mesmo conteúdo específico, como
da Educação Física se fortaleceu com a expansão da a Ginástica Geral, pode ser abordado em
pós-graduação nessa área no Brasil. Esse movimento diferentes níveis de ensino, desde que se
possibilitou a muitos professores uma formação não mais garanta sua relação com aquilo que já foi
restrita às ciências naturais e biológicas. Com a abertura conhecido, elevando esse conhecimento para
de cursos na área de humanas, principalmente em um nível mais complexo. A abordagem
educação, novas tendências ou correntes de ensino da metodológica crítico-superadora foi criada no
Educação Física, cujos debates evidenciavam severas início da década de 90 por um grupo de
críticas ao modelo vigente até então, passaram a pesquisadores tradicionalmente denominados
subsidiar as teorizações dessa disciplina escolar por Coletivo de Autores. São eles: Carmen Lúcia
(DAÓLIO, 1997, p. 28). Houve um movimento de Soares, Celi Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino
renovação do pensamento pedagógico da Educação Castellani Filho, Micheli Ortega Escobar e Valter
Física que trouxe várias proposições e interrogações Bracht.
acerca da legitimidade dessa disciplina como campo de
conhecimento escolar. Tais propostas dirigiram críticas Crítico-Emancipatória: Nessa perspectiva, o
aos paradigmas da aptidão física e da esportivização movimento humano em sua expressão é
(BRACHT, 1999). Entre as correntes ou tendências considerado significativo no processo de
progressistas, destacaram-se as seguintes abordagens: ensino/aprendizagem, pois está presente em
todas as vivências e relações expressivas que
Desenvolvimentista: defende a ideia de que o constituem o “ser no mundo”. Nesse sentido,
movimento é o principal meio e fim da Educação parte do entendimento de que a expressividade
Física. Constitui o ensino de habilidades motoras corporal é uma forma de linguagem pela a qual o
de acordo com uma sequência de ser humano se relaciona com o meio, tornado-se
desenvolvimento. Sua base teórica é, sujeito a partir do reconhecimento de si no outro.
essencialmente, a psicologia do Esse processo comunicativo, também descrito
desenvolvimento e aprendizagem; como dialógico, é um ponto central na
abordagem crítico-emancipatória. A principal
Construtivista: defende a formação integral sob corrente teórica que sustenta essa abordagem
a perspectiva construtivistainteracionista. Inclui metodológica é a Fenomenologia, desenvolvida
as dimensões afetivas e cognitivas ao por Merleau Ponty. A concepção crítico-
movimento humano. Embora preocupada com a emancipatória foi criada, na década de 90, pelo
cultura infantil, essa abordagem se fundamenta pesquisador Elenor Kunz. No contexto das
também na psicologia do desenvolvimento. teorizações críticas em Educação e Educação
Vinculadas às discussões da pedagogia crítica Física, no final da década de 1980 e início de
brasileira e às análises das ciências humanas, 1990, no Estado do Paraná, tiveram início as
sobretudo da Filosofia da Educação e discussões para a elaboração do Currículo
Sociologia, estão as concepções críticas da Básico.
Educação Física. O que as diferencia daquelas
descritas anteriormente é o fato de que as O Currículo Básico para a escola pública do Estado do
abordagens crítico-superadora e crítico-emanci Paraná surgiu, na década de 90, como o principal

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documento oficial relacionado à educação básica no eram denominados pressupostos do movimento
Estado do Paraná. O documento foi aprovado pelo (condutas motoras de base ou formas básicas de
Conselho Estadual de Educação do Paraná, através da movimento; condutas neuro-motoras; esquema corporal;
Deliberação nº 02/90 de 18 de dezembro de 1990, do ritmo; aprendizagem objeto-motora), esses enfraqueciam
processo 384/90. Conforme consta no Currículo Básico, os pressupostos teóricometodológicos da pedagogia
sua primeira edição teve uma tiragem de noventa mil crítica, pois o enfoque permaneceu privilegiando
exemplares, que foram distribuídos para maior parte das abordagens como a desenvolvimentista, construtivista e
escolas públicas do Estado do Paraná. Isso demonstra a psicomotora (FRATTI, 2001; NAVARRO, 2007). No
extensão que atingiu este documento, que passou a mesmo período, foi elaborado o documento intitulado
legislar em todas as escolas públicas do Paraná, com Reestruturação da Proposta Curricular do Ensino de
grande influência sobre as práticas escolares. Segundo Grau, também para a disciplina de Educação
(NAVARRO, 2007, p. 48) Esse processo envolveu Física. Assim como antes, a proposta foi fundamentada
profissionais comprometidos com a Educação Pública do na concepção histórico-crítica de educação para resgatar
Paraná, deu-se num contexto nacional de o compromisso social da ação pedagógica da Educação
redemocratização do país e resultou em um documento Física. Vislumbrava-se a transformação de uma
que pretendia responder a demandas sociais e históricas sociedade fundada em valores individualistas, em uma
da educação brasileira. Os embates educacionais sociedade com menor desigualdade social. Essa
oriundos desse período, posterior ao Regime Militar, proposta representou um marco para a disciplina,
consolidaram-se nos Documentos Oficiais sobre destacou a dimensão social da Educação Física e
Educação no Brasil, dentre eles, o próprio Currículo possibilitou a consolidação de um novo entendimento em
Básico do Estado do Paraná que, com um viés critico, relação ao movimento humano, como expressão da
apresentava um discurso preocupado com a formação de identidade corporal, como prática social e como uma
seres humanos capazes de questionar e transformar a forma do homem se relacionar com o mundo. A proposta
realidade social em que vivem. O Currículo Básico, para a valorizou a produção histórica e cultural dos povos,
Educação Física, fundamentava-se na pedagogia relativa à ginástica, à dança, aos esportes, aos jogos e às
histórico-crítica, identificando-se numa perspectiva atividades que correspondem às características regionais.
progressista e crítica sob os pressupostos teóricos do A rigidez na escolha dos conteúdos, a insuficiente oferta
materialismo histórico-dialético. O Currículo Básico foi de formação continuada para consolidar a proposta e,
produzido num período de emergência, na educação, do depois, as mudanças de políticas públicas em educação
chamado “discurso crítico”. Esse discurso pretendia trazidas pelas novas gestões governamentais, a partir de
reformular a educação e, consequentemente, a disciplina meados dos anos de 1990, dificultaram a implementação
de Educação Física, a partir de reflexões históricas e dos fundamentos teóricos e políticos do Currículo Básico
sociais que desvelassem os mecanismos de na prática pedagógica. Por isso, o ensino da Educação
desigualdade social e econômica, para então legitimar e Física na escola se manteve, em muitos aspectos, em
concretizar um projeto de transformação social. O suas dimensões tradicionais, ou seja, com enfoque
objetivo central da criação do Currículo Básico foi o exclusivamente no desenvolvimento das aptidões físicas,
projeto de reestruturação do currículo das escolas de aspectos psicomotores e na prática esportiva. Os
públicas do Paraná [...]. (NAVARRO, 2007, p. 49) Esse avanços teóricos da Educação Física sofreram retrocesso
documento caracterizou-se por ser uma proposta na década de 1990 quando, após a discussão e
avançada em que o mero exercício físico deveria dar aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
lugar a uma formação humana do aluno em amplas Nacional (LDB n. 9394/96), o Ministério da Educação
dimensões. O reflexo desse contexto para a Educação (MEC) apresentou os Parâmetros Curriculares Nacionais
Física configurou-se em um projeto escolar que (PCN) para a disciplina de Educação Física, que
possibilitasse a tomada de consciência dos educandos passaram a subsidiar propostas curriculares nos Estados
sobre seus próprios corpos, não no sentido biológico, e Municípios brasileiros. O que deveria ser um referencial
mas especialmente em relação ao meio social em que curricular tornou-se um currículo mínimo, para além da
vivem. Dessa forma: É necessário procurar entender a ideia de parâmetros, e propôs objetivos, conteúdos,
dialética de desenvolvimento e aperfeiçoamento do corpo métodos, avaliação e temas transversais. No que se
na história e na sociedade brasileira, para que a refere à disciplina de Educação Física, a introdução dos
Educação Física saia de sua condição passiva de temas transversais acarretou, sobretudo, num
coadjuvante do processo educacional, para ser parte esvaziamento dos conteúdos próprios da disciplina.
integrante deste, buscando colocá-la em seu verdadeiro Temas como ética, meio ambiente, saúde e educação
espaço: o de área do conhecimento. Quando discutimos, sexual tornaramse prioridade no currículo, em detrimento
hoje, a Educação Física dentro da tendência Histórico- do conhecimento e reflexão sobre as práticas corporais
Crítica, verificamos que em sua ação pedagógica, ela historicamente produzidas pela humanidade, entendidos
deve buscar elementos (chamados aqui de pressupostos aqui como objeto principal da Educação Física. Os
do movimento) da Ciência da Motricidade Humana Parâmetros foram elaborados para atender a um artigo
(conforme proposta do filósofo português: Prof. Manuel da Constituição que prevê o estabelecimento de
Sérgio). Esta ciência trata da compreensão e explicação conteúdos mínimos para a educação (...) não levando em
do movimento humano e há dificuldade de compreender conta a realidade social dos homens, colocando a
e apreender os elementos buscados nesta ciência, uma educação como solução para os problemas sociais e aos
vez que as raízes históricas da Educação Física homens a responsabilidade de seu sucesso ou fracasso
brasileira, estão postas dentro de um regime militar rígido na vida. Esse documento se apresenta como flexível e
e autoritário, visando fins elitistas e hegemônicos. Por optativo, embora, pela forma como foi minuciosamente
outro lado, na dinâmica da sociedade capitalista, ela elaborado, se denuncie todo o tempo como descritivo e
sempre esteve atrelada às relações capital x trabalho específico no seu conteúdo, estimulando a sua
para dominação das classes trabalhadoras. (PARANÁ, incorporação e apresentando-se como verdade absoluta.
1990, p. 175) No entanto, o Currículo Básico (MARTINS E NOMA, 2002, p. 05) Acusados por alguns
apresentava uma rígida listagem de conteúdos, os quais críticos12 de proporem um ecletismo teórico, os PCN não

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apresentaram uma coerência interna de proposta máquinas que não requerem realizar esforço, em cujo
curricular. Ou seja, continham elementos da pedagogia caso é mais importante a destreza e a concentração do
construtivista piagetiana, psicomotora, da abordagem que o exercício físico. Idealmente o esporte diverte e
tecnicista, sob a ideia de eficiência e eficácia no esporte entretém, e constitui uma forma metódica e intensa de um
e, também, defendia o conceito de saúde e qualidade de jogo que tende à perfeição e à coordenação do esforço
vida do aluno pautado na perspectiva da aptidão física. muscular tendo em vista uma melhora física e espiritual
Nessa tentativa de absorver o maior número possível de do ser humano. As modalidades esportivas podem ser
concepções teóricas, o documento acabava tratando tais coletivas, duplas ou individuais, com ou sem adversário.
teorizações de forma aligeirada, deixando, inclusive, de Também podemos definir esporte como um fenômeno
destacar os autores responsáveis pelas diferentes sociocultural, que envolve a prática voluntária de
abordagens. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de atividade predominantemente física competitiva com fina
Educação Física para o Ensino Fundamental lidade recreativa ou profissional, ou predominantemente
abandonaram as perspectivas da aptidão física física não competitiva com finalidade de lazer, contri
fundamentadas em aspectos técnicos e fisiológicos, e buindo para a formação, desenvolvimento e/ou apri
destacaram outras questões relacionadas às dimensões moramento físico, intelectual e psíquico de seus pra
culturais, sociais, políticas, afetivas no tratamento dos ticantes e espectadores. Além de ser uma forma de criar
conteúdos, baseadas em concepções teóricas relativas uma identidade esportiva para um inclusão social. A
ao corpo e ao movimento. Já nos Parâmetros atividade esportiva pode ser aplicada ainda na promoção
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, os da saúde em âmbito educacional, pela aplicação de
conhecimentos da Educação Física perderam conhecimento especializado em complementação a
centralidade e importância em favor dos temas interesses voluntários de uma comunidade não espe
transversais e da pedagogia das competências e cializada. Os principais desportos praticados na escola
habilidades, as quais receberam destaque na proposta13. são: futsal, voleibol, basquetebol, handebol e atletismo.
Apesar de sua redação aparentemente progressista,
pode-se dizer que os Parâmetros Curriculares Nacionais
de Educação Física para o Ensino Fundamental e Médio Esportes: Individuais e Coletivos. Técnicas e Táticas.
constituíram uma proposta teórica incoerente. As diversas Regras e Penalidades.
concepções pedagógicas ali apresentadas valorizaram o
individualismo e a adaptação do sujeito à sociedade, ao A aprendizagem esportiva segue, em muitos aspectos
invés de construir e oportunizar o acesso a da cultura corporal o gosto pela prática de uma ou
conhecimentos que possibilitem aos educandos a algumas modalidades. É relevante pensarmos que os
formação crítica. Diante da análise de algumas das esportes individuais e coletivos seguem por vezes uma
abordagens teóricas que sustentaram historicamente as diretriz coerente e linear de aprendizagem, principalmente
teorizações em Educação Física escolar no Brasil, desde no espaço formal do ambiente escolar. Do simples para o
as mais reacionárias até as mais críticas, opta-se, nestas mais complexo; do habitual para o particular; do cultu
Diretrizes Curriculares, por interrogar a hegemonia que ralmente normatizado para a exceção. Como a capa
entende esta disciplina tão-somente como treinamento do cidade do conhecimento é seletiva, ou seja, estamos limi
corpo, sem nenhuma reflexão sobre o fazer corporal. tados a conhecer mais de um estrito número de infor
Dentro de um projeto mais amplo de educação do Estado mações sobre um determinado assunto, o que normal
do Paraná, entendese a escola como um espaço que, mente fica da aprendizagem pode ser identificado nas
dentre outras funções, deve garantir o acesso aos alunos situações prazerosas que alunos vivenciam durante as
ao conhecimento produzido historicamente pela aulas de educação física, quer sejam os conteúdos que
humanidade. Nesse sentido, partindo de seu objeto de englobem as lutas, as danças ginásticas ou ainda os
estudo e de ensino, Cultura Corporal, a Educação Física esportes praticados com bola (COLETIVO DE AUTORES,
se insere neste projeto ao garantir o acesso ao 1992; LOVISOLO, 1997). Pensamos que a cultura cor
conhecimento e à reflexão crítica das inúmeras poral experimentada pelos alunos de ensino fundamental
manifestações ou práticas corporais historicamente deve compor inúmeras situações em que os alunos sejam
produzidas pela humanidade, na busca de contribuir com agentes de suas próprias regras. A regra é neste aspecto
um ideal mais amplo de formação de um ser humano uma forma de compreensão crítica e autônoma do que se
crítico e reflexivo, reconhecendo-se como sujeito, que é quer jogar e de que formar aderir ao jogo. É comum
produto, mas também agente histórico, político, social e encontrarmos nas escolas crianças e adolescentes que
cultural. gostam mais de participar de jogos tradicionais do que de
os jogos esportivos, tais exemplos podem ser vistos no
jogo da amarelinha, na bola de gude e no queimado,
2. DIMENSÕES FILOSÓFICAS, ANTROPO- jogos que contém diversas habilidades motoras e com
LÓGICAS E SOCIAIS APLICADAS À EDU- plexas formas de raciocínio em um ambiente de jogo
adaptado e personalizado pelo grupo que joga (MELLO,
CAÇÃO E AO ESPORTE: LAZER E AS IN- 1985; PARLEBAS, 1988). Portanto, pensar os jogos
TERFACES COM A EDUCAÇÃO FÍSICA, tradicionais é também uma forma de pensar a educação
ESPORTE, MÍDIA E OS DESDOBRA- física em seu mundo de diferentes possibilidades e
MENTOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA desafios, em que o esporte não seja interpretado como
única fonte de aprendizagem na educação física, prin
Desporto ou esporte é uma atividade física ou mental cipalmente no primeiro segmento do ensino fundamental,
sujeita a determinados regulamentos e que geralmente onde o gosto pela atividade física pode ser estimulado de
visa a competição entre praticantes. Para ser esporte tem diversas maneiras. Além disso, compreendemos que a
de haver envolvimento de habilidades e capacidades mo educação física escolar tem avançado pouco quanto às
toras, regras instituídas por uma confederação regente e diversificações nos conteúdos de aula. Pouco tem se feito
competitividade entre opostos. Algumas modalidades para incluir outras modalidades, e os esportes de salão
esportivas se praticam mediante veículos ou outras
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(basquetebol, futsal, handebol e voleibol) ainda são os sua imagem pessoal se sobreponha a do clube ou de
mais praticados. Não é alguma confederação. O profissional de educação física
conhecedor desse contexto pode mostrar as tendências,
identificando as especificidades de cada modalidade es
O Esporte como Paradigma da Educação Física portiva e suas inúmeras formas de adesão para crianças
e adolescentes, mas o que vemos é que a maioria dos
Em escolas que contém em seu corpo docente um professores não relaciona desenvolvimento esportivo ao
número significativo de profissionais de educação física, é espaço escolar, como se as situações vistas na mídia
possível notar a experiência pessoal que cada profis fossem pouco exemplares. O ato de passar a bola, tão
sional traz para o espaço escolar. Uns trazem suas comum nos esportes coletivo, tem um significado
trajetórias de vida ligadas aos esportes individuais, que diferente, por exemplo, do nadar sozinho na piscina. Se
via de regra na escola são compostos por atletismo, dan para Elias (1990) o autocontrole é elemento básico para a
ça, judô e a natação. Em outra ponta temos os profis esportivização, ele é adquirido de forma diferente em es
sionais ligados aos esportes coletivos que no espaço portes individuais e coletivos. Não acredito que esportes
escolar gira em torno do basquetebol, futsal, handebol e coletivos tenham a capacidade de socializar mais que
voleibol. Pensando na especificidade de cada esporte e esportes individuais. Dependendo da interferência do
na lógica interna de suas regras acreditamos que é rele professor, da situação de cada escola e dos objetivos de
vante disponibilizar o maior número de atividades cor cada indivíduo, podemos ter variadas respostas para um
porais para o corpo discente, em que se experimente das mesmo estímulo da aprendizagem. Acreditamos no pra
lutas à dança, dos esportes com bola aos esportes zer, na ludicidade, no jogo. Na possibilidade de escolha
aquáticos (PARLEBAS, 1988). Como o profissional de que atualmente tem sido constante nas escolas privadas.
educação física vai apresentar esses conteúdos aos seus O aluno escolhe o que quer fazer bimestre por bimestre.
alunos é que me parece o problema a ser solucionado. Não apenas a modalidade esportiva, mas também com o
Ao não privilegiar um esporte em detrimento de outro, o professor que mais lhe agrada. Simples e democrático,
professor pode aproveitar para ensinar conceitos básicos complexo e sedutor. É claro que outras questões estão
da educação que são apresentados nos Parâmetros envolvidas: os alunos tendem a escolher os esportes que
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1994). Temas trans estão acostumados a jogar e podem vir a querer fazer
versais como a ética e saúde em um país de baixo nível aulas com aqueles professores que tendem a ser mais
sócio econômico fazem destas questões tópicos flexíveis e menos rígidos com relação a presença e
relevantes, em que pesem o acesso aos bens culturais. O participação. Mas ainda assim me parece a melhor opção
esporte, assim como outras atividades corporais no a ser desenvolvidas nas escolas. Senão acreditassemos
espaço escolar, é estimulado ainda de maneira tímida, nisso, seria bastante difícil trabalharmos com qualidade,
principalmente nas questões relacionadas às instalações, ensinando educação física para alunos em situações
ao material esportivo e a falta de adequação da grade precárias, com poucos recursos físicos e quase nenhum
escolar às aulas de educação física. material esportivo adequado, em áreas de risco social do
entorno de comunidades pobres da periferia do Rio de
Janeiro. Porém, infelizmente, a adesão de alunos não se
Esporte e Desenvolvimento Pessoal transforma no desenvolvimento desses esportes na
cultura esportiva brasileira, no que diz respeito à sua
As tomadas de decisão, iniciativa e atitude nos es propagação, desenvolvimento e evolução. É comum ver
portes são interpretadas muitas vezes como benéficas e atletas das modalidades do atletismo e do handebol re
aplicáveis em outros espaços da vida, ou seja, indivíduos clamando da falta de condições financeiras e de estrutura
que aprendem uma educação voltada para a prática de física para que esses possam desenvolver seus melhores
esportes tendem a utilizar elementos como a concen potenciais. Mas existem outros fatores que impedem o
tração e o espírito de equipe em outras atividades de seu desenvolvimento e a massificação dos esportes no Brasil,
cotidiano. Neste sentido, inúmeros atletas e técnicos de com exceção, é claro, do futebol. Há outras questões a
diversas modalidades esportivas têm sido requisitados serem discutidas. Componentes físicos tais como altura e
para contar sobre suas trajetórias vitoriosas dentro de massa muscular são impedimentos reais para a exclusão
meio esportivo para diferentes profissionais liberais em de muitos alunos nas práticas físicas. Talvez por isso o
palestras com alto valor de mercado, pois se compreende futebol apresente o estigma de ser um esporte demo
que as experiências realizadas dentro das áreas dos crático, em que as características físicas ficam em
esportes podem ser transportadas para outras atividades segundo plano, fazendo com que o mito do esporte para
profissionais também competitivas na busca da capa as massas se concretize em nosso país (RIBEIRO,
citação de equipes vencedoras. Iniciativa, atitude e tomas 2005). Durante uma fase de nossa educação física,
de decisão estão presentes tanto nos esportes individuais apenas selecionamos crianças e adolescentes para que
como nos coletivos. Porém, vemos que é a capacidade fosse viável a criação de equipes de competição.
do indivíduo conviver com o outro numa equipe, treinando Concentrou se esforço na seleção de talentos e pensou
e viajando junto que faz com que muitos jovens atletas se que uma nação forte se desenvolveria com os resul
acabem por se integrar em equipes de esportes coletivos. tados olímpicos de homens e mulheres brasileiras, es
Tanto no aspecto de pertencimento, quanto no aspecto quecendo se nas implicações políticas para a população
financeiro é interessante que em um primeiro momento brasileira de atividades esportivas descomprometidas da
os atletas pertençam a alguma agremiação ou equipe. Na qualidade de vida e do bem estar social (GHIRALDELLI
medida em que os atletas passam a gerir suas próprias JR., 1988). A seleção de talentos nas escolas às vezes
carreiras, vemos que tem sido freqüente a saída de mantém um efeito perverso (BOUDON, 1979) que é
atletas do voleibol de quadra para o voleibol de praia, pouco visto: quando levados para clubes de competição,
possibilitando assim que esses negociem diretamente os alunos acabam por atuar em funções específicas, em
com os patrocinadores, sem que clubes ou federações que sua altura ou força precoce os fazem ser destaques
tenham grande poder de interferência. Ou seja, o atleta em suas categorias de idade. Ou seja, se são altos jogam
torna se gestor de sua própria careira fazendo com que a na função de pivô, como no caso do basquete, e perdem

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a oportunidade de atuarem como armadores ou alas, fato Esportes individuais em que há interação com o
que constantemente limitam na fase adulta a possibil oponente: são aqueles em que os sujeitos se enfrentam
idade de uma maior flexibilidade de permanência no diretamente, tentando em cada ato alcançar os objetivos
esporte. do jogo evitando concomitantemente que o adversário o
faça, porém sem a colaboração de um companheiro.

Classificação dos Esportes: Relação de Cooperação e Esportes coletivos em que há interação com o opo
Oposição nente: são atividades nas quais os sujeitos, colaborando
com seus companheiros de equipe de forma combinada,
Dentro das classificações possíveis neste trabalho, se enfrentam diretamente com a equipe adversária, tem
optou se, inicialmente, por aquela que permite dividir os tando em cada ato atingir os objetivos do jogo, evitando
esportes em quatro grandes categorias a partir da ao mesmo tempo que os adversários o façam.
combinação de outras duas distribuições, o que permite
construir uma matriz de análise que, embora não inclua O Quadro 1 mostra alguns exemplos:
todos os esportes, envolve uma importante parte do Quadro 1 Classificação em função da relação de coope
universo das modalidades. De forma resumida, pode se ração e oposição
dizer que os critérios são:
Com Interação Sem Interação
Esporte
a) se existe ou não relação com companheiros e, com o Adversário com o Adversário
Basquetebol Acrosport
b) se existe ou não interação direta com o adver Futebol Ginástica Rítmica
Coletivo Futsal Desportiva (grupo)
sário. Softbol Nado Sicronizado
Voleibol Remo
Badminton
Com base nesses princípios é possível classificar as Atletismo (provas de
Judô
campo)
modalidades em individuais ou coletivas, quando utilizado Individual Paddle
Ginástica Olímpica
o critério relação com os companheiros, e com e sem Peteca
Natação
interação direta com o adversário, quando o critério Tênis
utilizado é a relação com o oponente. Com base no pri
meiro critério os esportes podem ser classificados como Classificação dos Esportes: em função das caracterís
individuais, segundo seu próprio nome indica, quando o ticas do ambiente físico onde se realiza a pratica
sujeito participa sozinho durante a ação esportiva total esportiva.
(duração da prova, do jogo), sem a participação
colaborativa de um colega, e em esportes coletivos, Quando se observa o ambiente físico no qual se realiza a
quando as modalidades exigem, pela sua estrutura e prática esportiva, pode se perceber que a atuação dos
dinâmica, a coordenação das ações de duas ou mais praticantes é afetada de forma diferente por ele. Estas
pessoas para o desenvolvimento da atuação esportiva. Já formas diferenciadas de o ambiente físico afetar as
quando considerada a relação com o rival como critério práticas motoras permitem classificar os esportes no
de classificação, a interação com o adversário pode ser mínimo em duas categorias. Uma reúne o conjunto de
identificada como a característica central dos esportes esportes que se realizam em ambientes que não sofrem
com oposição direta. Essa condição exige dos partici modificações, isto é, não criam incertezas para o pra
pantes adaptações e mudanças constantes na atuação ticante no momento em que ele o conhece. Uma segunda
motora em função da ação e da antecipação da atuação categoria agrupa o conjunto de esportes em que o
do adversário. Estes esportes também podem, de forma ambiente produz incertezas para o praticante, com base
mais ampla, ser denominados de atividades motoras de nas mudanças permanentes do ambiente físico onde se
situação, definidas como "atividades ludomotoras que pratica a modalidade ou quando o mesmo é des
exigem dos sujeitos participantes antecipar as ações do/s conhecido pelo atleta. Assim, nesta lógica, as práticas
adversário/s (e colega/s se a atividade for em grupo) para motoras institucionalizadas classificam se em:
organizar suas próprias ações orientadas a alcançar o/s
objetivo/s das atividades lúdicas" (GONZALEZ, 1999, Esportes sem estabilidade ambiental ou pra
p.4). Outros autores denominam a condição de interação ticados em espaços não padronizados: São a
com o adversário de oposição direta (RIERA, 1989), da queles que se realizam em espaços mutáveis e
mesma forma que a categoria com interação supõe a que, conseqüentemente, apresentam incertezas
presença do adversário que se enfrenta diretamente, o para o praticante, exigindo dele a permanente
qual procura a todo momento neutralizar a atuação do adaptação de sua ação motora às variações do
rival. Combinando estas duas classificações teremos as ambiente.
seguintes categorias:
Esportes com estabilidade ambiental ou prati
Esportes individuais em que não há interação com o cados em espaços padronizados: São os que se
oponente: são atividades motoras em que a atuação do realizam em espaços estandardizados e que não
sujeito não é condicionada diretamente pela necessidade oferecem incertezas para o praticante.
de colaboração do colega nem pela ação direta do opo
nente. O Quadro 2 mostra alguns exemplos.

Esportes coletivos em que não há interação com o


oponente: são atividades que requerem a colaboração de Quadro 2 Classificação em função das características
dois ou mais atletas, mas que não implicam a inter do ambiente físico onde se realiza a prática esportiva.
ferência do adversário na atuação motora.
Esportes sem Estabilidade Esportes com Estabilidade

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Ambiental Ambiental espaço na combinação de ações de ataque e
Basquetebol defesa (BRASIL, 1998, p. 70).
Canoagem Ginástica Rítmica Despor
Corrida de Orientação tiva Campo e taco: compreendem aqueles que têm
Iatismo Judô como objetivo colocar a bola longe dos joga
Mountain Bike Nado Sicronizado dores do campo a fim de recorrer espaços deter
Natação (em piscina) minados para conseguir mais corridas que os
adversários.

Classificação dos Esportes: em função da lógica da Esportes de rede/quadra dividida ou muro:


comparação de desempenho e princípios táticos são os que têm como objetivo colocar arremes
sar/lançar um móvel em setores onde o(s)
Este processo de análise das características esportivas adversário(s) seja(m) incapaz(es) de alcançá lo
permite identificar dentro das categorias de esportes com ou forçá lo(s) para que cometa/m um erro, ser
e sem interação direta com o adversário subcategorias vindo somente o tempo que o objeto está em
que se vinculam a diferentes critérios. Para os esportes movimento.
sem interação o critério utilizado é o tipo de desempenho
motor comparado para designar o vencedor nas dife Esportes de invasão ou territoriais: consti
rentes modalidades. Já para os esportes em que há inte tuem aqueles que têm como objetivo invadir a
ração o critério de classificação liga se ao objetivo tático setor defendido pelo adversário procurando atin
da ação, ou seja, a exigência que é colocada aos parti gindo a meta contraria para pontuar, protegendo
cipantes pelas modalidades para conseguir o propósito simultaneamente a sua própria meta.
do confronto deportivo. Assim, observamos que nos es
portes sem interação com o adversário tem se diferentes
tipos de resultados como elemento de comparação de Nesse sentido, com base nas categorias descritas, pode
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desempenho, permitindo classificar as modalidades em: ser montado um sistema que reúne o conjunto de clas
sificações e permite localizar os diferentes tipos de espor
Esportes de "marca": são aqueles nos quais o tes (Quadro 3). É possível realizar essa classificação em
resultado da ação motora comparado é um re função das quatro categorias descritas: a) a relação com
gistro quantitativo de tempo, distância ou peso. o adversário, b) a lógica de comparação de desempenho,
c) as possibilidades de cooperação e, d) as caracte
Esportes "estéticos": são aqueles nos quais o rísticas do ambiente físico onde se realiza a prática
resultado da ação motora comparado é a qua esportiva. O sistema de classificação apresentado não é
lidade do movimento segundo padrões técnico completo, existem esportes que nele não estão com
combinatórios. templados (por exemplo, o kabaddi, esporte nacional da
Índia, aqui classificado como esporte de luta e coletivo,
Esportes de precisão: são aqueles nos quais o poderia entender se que não é compatível com esta
resultado da ação motora comparado é a efici classificação). Esta estrutura, contudo, possibilita a classi
ência e eficácia de aproximar um objeto ou ficação da maioria das modalidades esportivas conhe
atingir um alvo. cidas, habilitando uma análise criteriosa dos elementos
particulares do universo esportivo e permitindo mapear os
elementos comuns entre diversas modalidades. As carac
Já os esportes com interação com o adversário, adap terísticas da lógica interna dos esportes condicionam
tando a classificação de Almond (citado em DEVIS e decisivamente os procedimentos de ensino e treina
PEIRÓ,1992) e dando ênfase aos princípios táticos do mento. Dessa forma, este conhecimento é fundamental
jogo, podem ser divididos em quatro categorias: para o profissional que pretenda mediar entre as mani
festações esportivas e os sujeitos, haja vista que o
Esportes de combate ou luta: são aqueles car reconhecimento das especificidades da modalidade per
acterizados como disputas em que o(s) oponen mitirá hierarquizar os conteúdos (o que ensinamos) e
te(s) deve(m) ser subjugado(s), com técnicas, selecionar de forma adequada os procedimentos de
táticas e estratégias de desequilíbrio, contusão, ensino (como ensinamos).
imobilização ou exclusão de um determinado

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Quadro 3. Sistema de classificação dos esportes em dades aeróbicas mais comuns estão: andar, correr, peda
função: da relação com o adversário, lógica de compa lar e remar. Aeróbica por definição, significa com ar ou
ração de desempenho, as possibilidades de cooperação oxigênio. Além dos benefícios para a queima de subs
e as características do ambiente físico onde se realiza a tratos (gordura, glicose e em último caso proteína) os
prática esportiva. exercícios aeróbicos são muito benéficos também para
melhorar a saúde de modo geral. A ginástica aeróbica é
uma ginástica composta por exercícios que estimulam a
Ginásticas: De Manutenção da Saúde, Aeróbica e melhora do desempenho cardiovascular através do incre
Musculação; de Preparação e Aperfeiçoamento para a mento do uso do oxigênio pelo corpo do indivíduo e
Dança; de Preparação e Aperfeiçoamento para os permitindo que o coração trabalhe com mais força e com
Esportes maior frequência. Como tem um ritmo constante e de
longo período, que caracteriza atividades aeróbicas, é
Todo movimento ginástico, assim como os caracte considerado um exercício aeróbico.
rísticos dos esportes, evoluíram a partir dos movimentos
mais naturais do ser humano que anda, corre, salta,
arremessa, trepa em árvore, vira cambalhota e mais uma Musculação
infinidade de outros conforme a necessidade de
momento. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portu A musculação ou treinamento com pesos é um tipo de
guesa define a palavra Ginástica como vinda do grego exercício resistido, com variáveis de carga, amplitude,
Gymnastiké e significa a “Arte ou ato de exercitar o corpo tempo de contração e velocidade controláveis. Geralmen
para fortificá lo e dar lhe agilidade. O conjunto de exer te, a musculação é praticada nas academias desportivas.
cícios corporais sistematizados, para este fim, realizados Desse modo pode ser aplicada da forma isométrica
no solo ou com auxílio de aparelhos e aplicados com (contração mantida), isocinética (com velocidade angular
objetivos educativos, competitivos, terapêuticos, etc.”. A constante) ou isotônica (alternância de contrações com
Encyclopedia Britannica, define Como” a system of cêntricas e excêntricas), contínua ou intervalada, leve,
physical exercices practised either to promote physical moderada ou intensa, com recursos aeróbios ou anae
development or a sport”. Segundo Pérez Gallardo (1993), róbios. Esta possibilidade de controle de tantas variáveis
as habilidades naturais “são aquelas que se caracterizam torna a musculação uma atividade física altamente ver
por estar presentes em todos os seres humanos, inde sátil que pode ser praticada por pessoas de diversas ida
pendentes de seu lugar geográfico e nível sócio cultural e des para diferentes objetivos. O treinamento com pesos
que servem de base para aquisição de habilidades se difere do fisiculturismo, levantamento de peso olím
culturalmente determinadas...”. Partindo desses concei pico, levantamento de peso básico (ou powerlifting), e
tos, quase todas as atividades de academia são consi atletismo de força (ou strongman), que são esportes ao
deradas área da ginástica e a localizada trás toda funda invés de formas de exercício. O treinamento com pesos,
mentação teórica da musculação. entretanto, geralmente faz parte do regime de trei
namento dos atletas dessas modalidades. A musculação
como todo tipo de exercício físico necessita de uma série
Manutenção da Saúde Aeróbica e Musculação de cuidados. A prática desregrada dessa atividade pode
causar desde lesões musculares de pequena magnitude
Ginástica Aeróbica até grandes lesões e rompimentos de grupos musculares.
Para uma eficiente prática de exercícios físicos nunca
A Ginástica Aeróbica surgiu como uma ótima forma de deixe de fazer uma série de alongamentos para cada
praticar exercícios físicos para o público em geral no final grupo muscular, com isso serão evitadas distensões
da década de 80. Mas logo se transformou também em musculares e grande parte das possibilidades de pe
um esporte competitivo de alto nível. Em sentido estrito, quenas lesões ao decorrer do exercício. Não menos
chama se ginástica aeróbica as atividades físicas carac importante que o alongamento, o aquecimento prévio
terizadas por movimentos rítmicos e intensos com também é um grande aliado da segurança no esporte.
elevado gasto calórico e de impacto sobre as juntas, Alguns minutos de aquecimento antes da musculação
movimentos estes causadores de esforço físico que pode fazem com que o rendimento seja maior e os riscos de
ser suprido pela oxigenação normal da respiração, quase acidentes sejam menores haja vista que o corpo bem
sempre acompanhados de música, e que produzem um aquecido se encontra com o metabolismo estável, não
aumento metabólico e uso de substratos benéficos ao ocorrendo variações bruscas durante as contrações com
organismo. Ginástica aeróbica pode ser qualquer ati peso.
vidade física caracterizada pela prática de exercícios
isotônicos, ou seja, esforços musculares em que existe a
manutenção da tonicidade muscular, com modificação do Ginástica de Preparação e Aperfeiçoamento para a
comprimento e volume da mesma na medida do tempo. Dança
Geralmente são exercícios em que não há uma exaustão
por acúmulo excessivo de ácido láctico, onde o consumo A ginástica rítmica, também conhecida como GRD ou
de oxigênio pelo músculo é proporcional, e que por com ginástica rítmica desportiva, é uma ramificação da ginás
seguinte o ganho anabólico é menor quando comparado tica que possui infinitas possibilidades de movimentos
com os exercícios anaeróbios. Na década de 1990, esta corporais combinados aos elementos de ballet e dança
disciplina foi uma "febre da moda" nas academias, já que teatral, realizados fluentemente em harmonia com a
favorece a redução de percentual de gordura e produzem música e coordenados com o manejo dos aparelhos
corpos esculpidos. Os exercícios aeróbicos usam gran próprios desta modalidade olímpica, que são a corda, o
des grupos musculares rítmica e continuamente, ele arco, a bola, as maças e a fita. Praticada apenas por um
vando os batimentos cardíacos e a respiração durante al lheres em nível de competição, tem ainda uma prática
gum tempo. O exercício aeróbico é longo em duração e masculina surgida no Japão. Pode ser iniciada em média
moderada em intensidade. Dentre algumas das ativi aos seis anos e não há idade limite para finalizar a

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prática, na qual se encontra competições individuais ou de forma sistêmica. O professor demonstra um movi
em conjunto. Seus eventos são realizados sempre sobre mento para o aluno, que deve procurar repeti lo. O aluno
um tablado e seu tempo de realização varia entre 75, é “comandado” pelo instrutor ou mestre a executar um
para as provas individuais, e 150 segundos, para as número de “n” repetições, enquanto este vai observando
provas coletivas. A ginástica rítmica desenvolve harmo e corrigindo o. Em seguida é demonstrado outro movi
nia, graça e beleza em movimentos criativos, traduzidos mento. Os alunos realizam todos o mesmo movimento,
em expressões pessoais através da combinação musical para então iniciar séries de outros movimentos em
e técnica, que transmite, acima de tudo satisfação seguida. O tempo para que o aluno realize a pesquisa
estética aos que a assistem. Surgida através dos estudos corporal, a concentração prévia ao disparo do movimento
de Russeau, assim como as demais modalidades, trans é eximida em pretensão ao ritmo de execução, que segue
formou se durante o passar dos anos, sempre ligada à o mesmo do coletivo, comandado pelo instrutor. A or
dança e à musicalidade, até chegar à União Soviética, ganização dos treinamentos geralmente ocorre de forma
onde desenvolve se como prática esportiva, e à Ale coletiva. É preciso considerar que essa forma de ensino
manha, onde ganhou os aparelhos conhecidos hoje. A pode servir a alguns alunos, assim como pode ser
ginasta precisa ter graça, leveza, beleza e técnicas extremamente enfadonha para outros. Cabe ao professor
precisas em seus movimentos para demonstrar harmonia de educação física realizar aulas em que não fiquem
e entrosamento com a música e suas companheiras, em apenas repetindo gestos, mas mobilize os alunos de
um ambiente de expressão corporal contextualizada diferentes maneiras para que o assunto desperte a
inclusive pelos sentimentos transmitidos através do curiosidade e garanta a participação dos mesmos nas
corpo. Fisicamente, é função desta modalidade desen atividades propostas. Nas atividades práticas podem ser
volver o corpo em sua totalidade, por meio dos movimen trabalhados os movimentos das lutas, e na evolução dos
tos naturais aperifeiçoados pelo ritmo e pelas capa treinamentos outros conteúdos associados como: conhe
cidades psicomotoras nos âmbitos físico, artístico e cimentos sobre o corpo (anatomia, fisiologia, treina
expressivo. Por essa reunião de característica, é cha mento); exercícios mentais (meditação, concentração);
mada de esporte arte. além de outros. Nas atividades teóricas realizadas atra
vés de pesquisas, aulas expositivas, ou também com
análises de filmes, podem ser trabalhadas informações
Ginástica de Preparação e Aperfeiçoamento para os sobre cultura dos países, história das lutas, as lutas no
Esportes contexto mundial ou regional, o cunho filosófico das artes
marciais orientais, as lutas como são mostradas pela
Não restam muitas dúvidas quanto à importância que mídia, e várias outras. Para o professor adquirir o “con
o esporte adquiriu na sociedade contemporânea. Sua teúdo” para suas aulas é ideal que pesquise dados
onipresença na vida cotidiana faz com que ele seja históricos, regras e códigos, em livros e Internet, podendo
praticado, assistido e discutido a toda hora, em todas as inclusive coordenar um trabalho de pesquisa com os
rodas, de todas as classes sociais. Desde criança, com próprios alunos ou ainda, com a participação dos profes
vivemos com o esporte de uma forma aparentemente sores das disciplinas de Geografia ou História, em um
espontânea, quase naturalizada. Seria quase impossível trabalho multidisciplinar, interdisciplinar ou até trans
imaginar crescermos hoje sem esse contato tão precoce disciplinar. O professor de educação física, acostumado a
e, ao mesmo tempo, tão definitivo com a experiência es criar a inovar em atividades recreativas e jogos, pode
portiva. Atualmente o esporte é a principal manifestação facilmente propor exercícios para treinar equilíbrio, agi
da nossa cultura de movimento e das práticas corporais lidade e força. Os alunos podem visitar academias espe
que nos envolvem, contudo nem sempre foi assim. Num cializadas e assistir os treinamentos ou competições, ou o
passado recente (menos de um século atrás) os jogos, as professor pode combinar com um instrutor e sua turma
brincadeiras e a ginástica representavam as nossas para apresentarem uma aula demonstração. Na Internet é
formas simbólicas de dialogar com o mundo e conosco de fácil obtenção alguns vídeos demonstrativos das lutas
mesmo. Atualmente, quase todas essas práticas foram e artes marciais mais populares, possibilitando a
substituídas pelas atividades esportivas. Correr não é apresentação destes pelo professor para que os alunos
mais correr simplesmente; correr é como se corre no possam conhecer rapidamente cada modalidade de luta.
Atletismo, seja em velocidade ou em corridas de longa Concordando com Silveira (2005), os vídeos são uma
duração. Saltar não é mais apenas saltar; mas saltar alternativa cognitiva que muito auxilia na construção do
conforme as técnicas do Salto em Altura ou em Distância. raciocínio inferencial do educando para a sua compre
Jogos com bola, que eram percebidas como uma mani ensão. É importante que o professor não entenda essa
festação lúdica da cultura de movimento, hoje são “sessão de vídeo” como um momento para os alunos
incorporados utilitariamente como jogos de preparação aprenderem sozinhos. É obrigação do professor estar
para o esporte, que adquiriu o status de ponto de che junto, apresentando as demonstrações e elucidando as
gada, uma meta a ser alcançada. dúvidas dos educandos. É recomendável que antes de
iniciar a construção de uma aula com lutas, o professor
freqüente algum treinamento, para adquirir alguma
Jogos e Lutas experiência nesse sentido. No entanto, recomendável não
significa obrigatoriedade. Da mesma forma que o
Ainda que o professor não possua uma formação professor busca o conhecimento quando precisa ensinar
ampla sobre o assunto, é possível trabalhar dentro da uma modalidade de atletismo, ou uma atividade recre
realidade de estrutura física da escolar, e da sua for ativa aos seus alunos, o estudo e a busca de informações
mação profissional. O primeiro passo é entender que uma para construir suas aulas de lutas pode seguir da mesma
aula de lutas na Educação Física Escolar não pode ser forma, pois o ensino de lutas na Educação Física Escolar,
confundida com a simples repetição de movimentos, que não se trata de um treinamento esportivo especializado
observamos facilmente em um treinamento realizado em em uma modalidade de luta. É importante que o professor
uma academia. Em academias e escolas de artes mar execute algumas vezes os movimentos que pretende tra
ciais, o ensino das “técnicas básicas” ocorre geralmente balhar com seus alunos, pois alguns colocam a estrutura

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física dos mesmos sob risco. Existem muitas técnicas de mundo, ainda que de forma lúdica, através da fantasia, ou
torções e estrangulamentos, comuns no Jiu jitsu, Judô e de formas simplificadas das lutas? Qual modalidade aten
Hapkido, que não necessitam serem ensinadas para que de melhor às necessidades de meus alunos. O Judô? A
o aluno alcance os mesmos objetivos conforme suas Luta Livre? O Boxe é menos pedagógico que a capoeira?
necessidades pedagógicas. Para conhecer alguns movi A Capoeira seria mais adequada porque os golpes são
mentos técnicos, é possível recorrer a livros disponíveis, desferidos sem que haja contato físico, e ainda pode ser
como “Judô: da Escola à Competição”, de Carlos Fernan trabalhada como uma dança, sem riscos. Vale Tudo,
do dos Santos Baptista, onde são descritas as execuções Muay Thai, são impróprios para aulas de Educação
detalhadas dos movimentos. Contudo, o ensino pelos Física? As modalidades que possuem golpes de percus
livros é muito dependente das gravuras, que são satis são (golpes de bater com os punhos, pés, cotovelos, etc,
fatórias para o entendimento do momento estático do muito comuns no Caratê e modalidades similares) devem
gesto técnico, e insatisfatórias para a compreensão do ser excluídas? Deve se estabelecer um critério para a
movimento em si. Além dos livros existem vídeos para escolha das modalidades a serem trabalhadas? Esse
download disponíveis na Internet, de forma gratuita ou critério deve ser discutido em relação à necessidade do
paga. Mas qualquer outra fonte não se compara ao in aluno ou ao contexto local? Em se tratando de temas
gresso e treinamento de vários meses (ou anos) em uma transversais, como a “pluridade cultural”, o trabalho com
academia de luta com um professor habilitado. modalidades diferentes possibilita conhecer e fazer uma
reflexão comparativa e crítica entre o nosso país e os
outros povos e nações, pois as lutas são também uma
Escolha da Luta forma de difusão das culturas dos seus povos de origem.
Também é preciso afastar preconceitos na hora de
A gama de modalidades de lutas no Brasil varia muito, escolher. Algumas pessoas podem ver o Boxe, a Capoe
de acordo com a realidade e a conjuntura da região, da ira e o Vale Tudo como uma prática marginal e perigosa,
cidade, e da escola. A diferença entre uma cidade mais inadequada como conteúdo escolar. Primeiramente, não
populosa e cidades de áreas menos desenvolvidas pode se trata de realizar as lutas entre os alunos. Trabalhar es
ser muito grande no que se refere a opções de prática de ses conteúdos, ou essas lutas, também significa propor
lutas e artes marciais. Os PCN’s não determinam qual cionar oportunizar uma discussão e o entendimento sobre
modalidade de luta é a melhor ou a mais indicada para as as lutas. É possível também propor pesquisas sobre as
aulas de educação física. Fica o professor responsável artes marciais ditas menos adequadas ao contexto es
por decidir a escolha da modalidade de luta que será colar, e outras formas que permitam a eles conhecer essa
ensinada. E, se o professor, ao chegar neste ponto, não parte do mundo esportivo. Há, entretanto, alguns autores
tenha compreendido o significado das lutas, enquanto que defendem uma modalidade de luta, integrada ao
componente da Educação Física Escolar, talvez não currículo escolar. Segundo o presidente do Conselho
compreenda se será necessário escolher uma, duas ou Superior de Mestres de Capoeira e Vice Presidente da
três modalidades de luta. E quais deverão ser escolhidas: Confederação Brasileira de Capoeira (CBC), a Capoeira é
as mais conhecidas na cidade e na região? Ou somente uma das práticas mais adequadas para a educação e
as modalidades olímpicas? Assim como ocorre com os formação de nossas crianças: A Capoeira, que é uma
esportes (Futebol, Handebol, Basquetebol e Voleibol) atividade genuinamente brasileira e natural, não exige
serão escolhidas as modalidades que são mais popu muito espaço, vestimentas ou sofisticações para sua
lares? Os alunos conhecerão, então, apenas a Capoeira, prática. Ela promove o lazer e desperta outros interesses
o Karatê, Judô e o Taekwondo? Por qual critério? Por centrados na música, na dança, no folclore e no ritmo.
serem os mais conhecidos, os mais fáceis de aplicar ou Acém disto, a Capoeira é um instrumento de grande
por fazerem parte do contexto local? É o professor que poder de socialização e ajuda na melhoria da auto estima
escolhe desenvolver Futebol com seus alunos, ou ele não de nossos jovens e crianças, sobretudo aqueles con
tem outra opção, porque em sua escola só existe uma siderados excluídos, como negros, pobres, crianças de
quadra para essa modalidade esportiva, e porque sua rua e deficientes físicos. O que sugere já é feito com
formação enfatizou demasiadamente os esportes popu outras artes marciais em seus países de origem. O Tae
lares e não foi satisfatória nas outras modalidades? Se no kwondo, na Coréia do Sul, é considerado esporte naci
momento de escolher as lutas optar apenas por algumas onal e tem seu ensino obrigatório nas faculdades, escolas
modalidades mais comuns na conjuntura local, os alunos e Forças Armadas. Além do desenvolvimento da Capoe
continuarão a conhecer a Esgrima, o Aikido, e o Kempo, ira nas escolas, importante também, é considerar as lutas
como um esporte “da elite rica”, que mora nas cidades como um todo, um conjunto de manifestações culturais
maiores e dispõem de condições financeiras para fre históricas, que deve ser aprendido. Além da vivência nas
qüentar e comprar os equipamentos necessários à prática modalidades mais comuns, também é importante para o
dessas artes. Meu aluno conhecerá o Boxe apenas pelo educando conhecer a dimensão desse universo,
Rocky Balboa (personagem do popular filme “Rocky V”, complexo e diverso. Já foi apontado no item “Concep
1990, ficção sobre a vida um pugilista) e Myke Tyson (ex ção”, no capítulo “LUTAS E A EDUCAÇÃO FÍSICA ES
pugilista peso pesado norte americano)? Não será algo COLAR”, deste estudo, que as lutas podem ser encontra
de se impressionar se a única percepção quanto ao Boxe das nas escolas inseridas no planejamento do professor
seja a de um esporte violento, pois a construção da sua de educação física ou de forma extracurricular. O trabalho
opinião é feita apenas com essas fontes. As opções de extracurricular sugere que o ensino ocorre dicotomizado
escolha de lutas serão restritas, principalmente em Cida de um planejamento maior do currículo escolar. Mas, por
des menos favorecidas, se o professor optar por escolher outro lado, imagina se que esteja adequado à proposta
entre as modalidades disponíveis no local. Em algumas do projeto político pedagógico da escola. Então a questão
cidades existem apenas duas ou três modalidades dife seria verificar se a proposta político pedagógica partiu de
rentes. Em outras nem isso. Serão os alunos destas cida uma interpretação adequada dos Parâmetros Curriculares
des fadados ao desconhecimento? Devem se conformar Nacionais e se realmente atende as necessidades peda
com o que assistem em filmes e programas de televisão? gógicas do educando. Para a forma curricular o professor
Ou o professor procurará outros meios de inseri los nesse possui muitas possibilidades. É possível escolher traba

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lhar com quantas lutas diferentes o tempo disponível per competitivos também devem ser estudados quanto a sua
mitir, e de maneiras diferentes. As regras podem ser organização, planejamento, ou ainda (usando como
adaptadas às necessidades do contexto escolar. A exemplo os Jogos Olímpicos e os eventos das diferentes
escolha da luta vai depender do conhecimento do modalidade de lutas), como patrimônio da cultura corporal
professor e das condições da estrutura física da escola. a ser estendida ao acervo cultural do aluno. O estímulo à
Por outro lado existem muitas formas de contornar competição chega a ser demasiado intenso, pois o mês
problemas de falta de material. A falta (de tatames, mo já é trabalhado nas outras modalidades esportivas,
equipamentos de proteção, etc) pode se tornar em uma como os jogos coletivos. O professor pode aproveitar as
alternativa de aula. Trabalhar com os alunos a construção lutas, para abordar outros conteúdos da Educação Física,
desses materiais, pode oportunizar o envolvimento com como conhecimentos sobre o corpo ou as diferenças
os mesmos conteúdos que seriam desenvolvidos em uma entre as pessoas. Em um exemplo de plano de aula além
aula dita normal. Além de construir os materiais, os de oportunizar os alunos conhecerem a Luta Greco Ro
alunos iriam aprender para que servem e como usá los. mana, também são estudados os conceitos de categorias
Isto também é conteúdo de lutas na Educação Física de tamanho e peso, e, por este tópico são trazidas para a
Escolar, e amplia os conhecimentos dos alunos relativos aula questões de diferença biológica entre as pessoas.
as lutas. Quanto à falta de habilidade técnica, é possível Podem ser levantadas diferenças na turma em relação ao
recorrer a especialistas da comunidade, quando houver. peso e altura, e outras diferenças. Também é oportuno
Solicitar a um professor de academia que dê uma discutir por que somos diferentes em vários aspectos.
demonstração, ou realize uma apresentação junto com Além de escolher outros conteúdos, o professor pode
praticantes da arte marcial também pode ser uma também mudar o “cenário” da sua aula, utilizando se de
alternativa para estimular os alunos antes do professor outros recursos, como filmes, revistas, quadrinhos,
ministrar suas aulas. música, entre outros.

Além do Treinamento Técnico Competitivo Elaboração do Currículo Escolar

É quase natural um o professor dos dias de hoje pre Seria pretensão sugerir um modelo de currículo
parar uma aula de caráter técnico competitivo, onde são escolar para que fosse aplicado nas aulas de Educação
enfatizados o aprendizado de gestos técnicos e o jogo. Física. No entanto, é importante ressaltar que a unidade
Em aulas como essas, os alunos são condicionados a menor da dinâmica de ensino, a “aula”, sempre deveria
realizar as atividades repetidamente, visando aprender preceder um planejamento curricular bem elaborado, de
um movimento, ou ajustar se às regras para que o jogo forma que não se desenvolvam “soltas”, com objetivos
se desenvolva perfeitamente. Essa atitude do professor é momentâneos, mas participando de um processo com
esperada, uma vez que a sua formação e as informações tínuo de construção do saber. As lutas tratam se de um
que recebe através da mídia, sempre enfatizam o aspecto ramo da Educação Física Escolar, portanto, é inconce
competitivo das lutas. As lutas e artes marciais, ainda que bível falar de um planejamento sem considerar a neces
popularmente difundidas como “esportes de luta”, podem, sária participação dos outros ramos: esportes, dança, etc.
no contexto escolar, serem desenvolvidas com um O que se pode (e deve) é construir um segmento inter
caráter competitivo, ou não. Todas as práticas da cultura relacionando harmoniosamente as diferentes áreas. Seja
corporal de movimento, competitivos ou não, são posi qual for o motivo, ainda não se definiu a predominância
tivas, pois são contextos favoráveis de aprendizagem, de maior valor de uma sobre a outra, ou de necessidade
pois permitem o exercício de uma ampla gama de de maior tempo de trabalho de uma ao invés das outras.
movimentos que solicitam a atenção do aluno na tentativa Sendo assim, as lutas não aparecem como um com
de executá los de forma satisfatória e adequada. Elas ponente prepotente afirmando se sobre os outros, mas
incluem, simultaneamente, a possibilidade de repetição como um dos blocos de conteúdos necessários (ainda
para manutenção e prazer funcional e a oportunidade de que muitos professores ainda não o tenham compre
ter diferentes problemas a resolver. Além disso, pelo fato endido) de serem trabalhados para que o educando
de constituírem momentos de interação social bastante compreenda e participe melhor no mundo em que vive.
significativos, as questões de sociabilidade constituem Se desenvolvidos de forma descontínua, com certeza não
motivação suficiente para que o interesse pela atividade serão notados os seus benefícios. Portanto, para garantir
seja mantido. Trabalhando com lutas na Educação Física uma permanência maior no planejamento escolar do
Escolar o professor deve mais que desenvolver o aspecto professor, podem ser feitas associações com danças,
competitivo, ou seja, determinar objetivos adequados com apresentações teatrais, com outras disciplinas, etc,
para faixa etária. A especialização dos movimentos, deve possibilitando variações interessantes a um universo
ser deixada para quando o aluno estiver preparado com maior de alunos, e promovendo uma participação maior
uma estrutura biológica desenvolvida. Devem ser utiliza nas aulas.
das, principalmente para as crianças mais novas “as
atividades recreativas relacionadas ao judô e adequadas
às suas necessidades, sem que haja uma preocupação Alternativas Pedagógicas
com a performance e sim, com um desenvolvimento
natural e equilibrado”. Eventuais disputas e competições O professor que desejar desenvolver algo mais que
não devem ser associadas somente à busca do rendi uma iniciação a uma modalidade de luta, terá de buscar
mento físico esportivo, mas sim como uma oportunidade nos outros ramos da própria Educação Física Escolar,
de compreender a técnica como conhecimento histo conceitos e estruturas que ajudarão a construir uma aula
ricamente produzido e o movimento humano ali presente, com uma plástica diferente, mais atrativa. Tecnologias
além de sua condição de ato motor, e, também, de alternativas na Educação Física e nos esportes podem
perceber as regras esportivas como construções ser utilizadas. Sucatas para construir equipamentos e
socioculturais modificáveis, e não somente parâmetros materiais comuns nas lutas, como um simples Makiwara
para serem seguidos na prática do esporte. Os eventos (instrumento usado para exercitar golpes com a mão ou

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com o pé, comum no Karatê). Além dos conteúdos de caracterização das atividades que são desenvolvidas e
lutas, os alunos estarão conhecendo e desenvolvendo compreensão dos ambientes que determinam os seus
habilidades de marcenaria, por exemplo. Bonecos de conteúdos. As atividades de lutas seriam práticas de in
argila no formato de lutadores, tatames de colchonetes, teração motriz de oposição entre os adversário. Por
desenhos e estórias em quadrinhos, e muitas outras exemplo, em uma disputa entre dois alunos de Judô, pra
podem ser as atividades relacionadas às lutas, que ticamente não há alteração do meio físico (área, tempo,
exigem o estudo e a pesquisa sobre o assunto, ao invés objetos ou pessoas ao redor), não há um colega agindo
do aprendizado e execução dos gestos de luta. Um em conjunto (cooperação), e as ações do judoca depen
projeto, baseado em um espetáculo de circo, foi aplicado derá das ações de ataque e defesa do adversário. Anali
com sucesso por professoras da Escola Municipal de sando a atividade somente nesse momento, certamente
Ensino Básico Luana Lino de Souza, de São Bernardo do as lutas classificam se como unicamente de interação
campo, na Grande São Paulo. Os alunos interpretaram com o adversário. No entanto, se considerarmos uma
personagens do circo, participaram de treinamentos de aula inteira de educação física e não somente o “mo
acrobacias e cambalhotas usando colchonetes, além de mento da disputa”, as lutas, podem ser também ati
desenvolverem o equilíbrio em atividades elaboradas vidades com relações dos alunos com o meio e relações
pelas educadoras. Esta é uma atividade inovadora, inte motrizes entre si, ou cooperação. Alguns jogos populares
ressante para todos os alunos, em um cenário alegre e ou de rua, exigem muito mais disposição tática (coo
divertido. Este é o ideal de atividade atrativa. O professor peração) e tomada de decisão dos praticantes que os
não pode prender se à idéia de exercícios de movimentos jogos institucionalizados (realizados conforme as regras
de luta dentro de uma dinâmica “sem dinâmica”, ou uma pré estabelecidas). Adaptando a idéia principal dessas
aula sem um cenário dando sentido e prazer aos exer atividades para a aplicação das lutas, se montariam
cícios. Porque uma aula não precisa ser repetitiva e sem disputas de três (ou cinco, etc) adversários ao mesmo
graça. Atividades semelhantes à do circo podem ser tempo. Em alguns momentos, os adversários podem aliar
desenvolvidas nas aulas de lutas. Exibir para a turma um se para superar um terceiro mais forte. “Nem sempre o
filme ou desenho animado com personagens que lutam, é melhor ganha, o adversário pode tornar se um compa
uma alternativa com opções variadas de atividades, na nheiro em alguns momentos do jogo”. As diferentes inte
continuidade. Lembrar trechos dos filmes e organizar uma rações não devem ser consideradas somente no mo
encenação com os alunos interpretando os personagens, mento dos combates. O professor pode agregar também
também exige aprender alguns movimentos para usá los às outras fases do trabalho oportunidades para os alunos
na interpretação, sem que se necessite treiná los intera exercitarem a solidariedade e a tomada de decisão. Em
gindo com outros colegas. O treinamento dos movi um ambiente fixo, os alunos podem executar os seus
mentos aparece com a finalidade de construir uma coreo movimentos adequando a ação de um colega, de um
grafia. O papel de cada personagem já está definido. A material (raquete de chutar ou outros equipamentos), ou
estória ou trecho do filme pode ser escolhido ou criado de uma música, tema, ou série pré determinada (“Katas”,
pelos próprios alunos. Os alunos podem escolher os “Katis” ou “Poomses”). Já em um ambiente variável, o
personagens com os quais mais se identificaram. Para a aluno deverá fazer freqüentemente uma leitura do ambi
interpretação ainda pode se variar entre dramatização ou ente e tomar decisões em função de cada situação. Cabe
usando a criatividade e transformando a cena, acrescen ao professor criar esse ambiente variável. Podem ser
tando detalhes cômicos. Além de informações de atividades de simulação de defesa pessoal com número
movimentos de luta, trabalham a consciência corporal, de oponentes variado, combates entre dois alunos
desperta a imaginação, e propicia encantamento e enquanto os demais procuram atrapalhar jogando balões,
diversão. Dessa forma respeitar a produção das fanta bolas. O terreno demarcado com números, letras, que
sias, dos desejos, das crenças, dos mitos, símbolos e indicam onde devem pisar, etc. Os alunos podem ser réu
com eles também a racionalidade, o lugar socialmente nidos em duplas, ou grupos, para combinarem estra
incorporado pelos alunos, significa a possibilidade do tégias. Os combates podem ser em duplas, duplas com
educador construir pontes de aproximação que possibi revezamento, equipes. Treinamentos com auxílio de
litará a emergência de um espaço cada vez mais parceiros, um executando e o outro procurando apontar
fecundado para a realização da ação pedagógica. As os erros. Segundo a teoria da ecologia do desenvol
opções de variação da aplicação de lutas nas aulas do vimento humano, de Bronfenbrenner, a aula de Educação
professor de Educação Física são tão diversas quanto a Física é um microssistema, enquanto a relação da aula
capacidade e a criatividade dele. É possível utilizar a de Educação Física com os demais ambientes dos quais
estrutura ou relacionar os conteúdos das lutas com o de o aluno participa ativamente, é equivalente a um mesos
outras artes e atividades humanas (teatro, música, dese sistema. Seguindo esse entendimento, nas aulas de
nho, literatura, informática) produzindo dinâmicas origina educação física teríamos as atividades molares, estru
is que desenvolvem dois ou mais conhecimentos ao turas interpessoais e papéis. As atividades molares (os
mesmo tempo. O professor pode criar uma situação favo movimentos de luta, por exemplo) devem conter um
rável à aprendizagem, através de uma variedade de significado para o aluno, necessitariam de intencio
recursos, de métodos, de procedimentos e de novos nalidade e persistência temporal. Quanto às estruturas
conteúdos. interpessoais o professor deve procurar oportunizar
atividades no sentido de alcançar o equilíbrio de poder e
afetividade entre os participantes. E em relação aos
Relacionamento Social papéis, além do “professor” e do “aluno”, as lutas
possibilitam situações de árbitro, juiz, oponente, técnico,
“A Educação Física vem buscando entender o movi assistentes, observadores, entre outros. Cada professor
mento integrado, contextualizado e com significados, não tem uma maneira diferente de transmitir seus conhe
como uma simples seqüência de movimentos neces cimentos. Se observarmos algumas aulas, notaremos
sários para o indivíduo aprender uma determinada habi diferenças na metodologia de ensino, no conteúdo
lidade”. Ainda os mesmos autores propõem uma reflexão programático e na seqüência pedagógica. Não podemos
dos conteúdos da Educação Física na escola a partir da avaliar qual seria o método mais eficiente, pois são

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muitas as variáveis existentes, como por exemplo: capa escolher e decidir, ele tem possibilidade de cooperar
cidade profissional do professor, objetivos, faixa etária, voluntariamente com os outros e construir seu próprio
perfil psicológico da turma e o nível técnico e sócio sistema moral de convicções”. A Metodologia Funcional
econômico. Outra ação importante e que possui reflexo Integrativa (MFI), pode ser igualmente aplicada às aulas
no aspecto afetivo são as saudações, no início e fim das de lutas. Este método, é voltado para a aprendizagem
aulas e também antes de jogos e lutas entre alunos. social, usando sempre o espírito do jogo. A MFI enfatiza
Estas podem colaborar no desenvolvimento do pensa nos alunos a sua participação em aula, seus contatos
mento pró colega, valorizando o oponente, inibindo mani sociais, suas participações em resoluções de problemas
festações de agressividade. É importante que se observe e expressões de idéias, onde o professor é um esti
os seguintes comportamentos nos alunos: mulador, nomeando atividades e incentivando a partici
pação do alunos para a modificação de regras, colocando
Respeito ao próximo; idéias, condução de reflexões e discussões a respeito da
atividade em andamento, tendo como foco a apren
Humildade; dizagem do esporte que está sendo utilizado. A MFI está
fundamentada basicamente:
Sinceridade;
No conceito recreativo de educação do gesto desportivo
Auxílio aos iniciantes e paciência com os mais que propõe o ensino dos desportos através de séries
novos; metodológicas de jogos.

Atitudes com o relacionamento com os alunos Esta forma de ensino já é adotado na forma de brin
mais tímidos; cadeiras e jogos recreativos, principalmente, com crian
ças. Para iniciação em Judô, por exemplo, são conhe
Participar das atividades respeitando as regras; cidos o “Jacarezinho”, e outras brincadeiras que exer
citam o equilíbrio, a queda, e outras habilidades da luta.
Assumir os seus atos e não acusar os colegas, As atividades são desenvolvidas em uma seqüência pe
a não ser em casos de extrema importância; dagógica que prevê o desenvolvimento de habilidades
básicas, seguindo com o ensino de movimentos mais
Eficiência nos estudos. complexos.

Sempre que utilizarmos um companheiro para o trei Na elaboração de formas básicas de jogos, que deve
namento dos golpes, o autocontrole é fundamental para progredir para a forma final, com as regras do jogo.
evitar lesões. É também uma prova de respeito para com
o colega, o cuidado na execução de golpes que podem Trata se da imposição da luta formal, com suas regras já
ferir. O professor deve sempre estar atento ao compor elaboradas e predefinidas. A iniciação em uma luta, deve
tamento dos alunos, estimulando o respeito ao próximo e iniciar por jogos mais simples, com poucas regras, para
contendo a agressividade excessiva. O autocontrole do que, através de interações, discussões e reflexões, os
aluno é posto em prova quando o cansaço natural im alunos possam compreender o produto final, que seja a
posto pelas lutas, torna insuficiente a oxigenação cere própria luta, com suas verdadeiras regras.
bral, pode provocar uma liberação de atitudes impen
sadas, reduzindo o discernimento para a percepção,
análise e ação, ultrapassando os limites de compor Na ação pouco manipulativa do professor.
tamento, conseguidos através da educação. Em aça
demias de artes marciais, “os princípios morais e filo O professor não deve ser um agente para o seu próprio
sóficos são discutidos ao final do treinamento, quando os interesse. Ainda que entenda sua aula perfeita, pla
alunos já se encontram exauridos”. Os métodos milita nejada, construída em uma idealização preocupada com
ristas, que ainda perpetuam em aulas em academias, por as necessidades pedagógicas dos alunos, deve respeitar
professores ortodoxos, formados nesses mesmos a individualidade de interesses dos alunos. O estilo de
métodos, não podem ser os mesmos utilizados na escola, professor autoritário e determinador das atividades, é um
pois quando se utiliza o rigor metodológico na iniciação e limitador para a motivação do aluno que deseja expandir
prática do esporte na escola, não estamos contribuindo se, e buscar informações sobre outras formas de lutas,
para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor por exemplo. Muitos alunos sentem vergonha de praticar
eficaz de nossos alunos. Muita aceleração corre o risco determinadas atividades por receio de se tornarem alvo
de romper o equilíbrio (a hereditariedade e maturação de risadas dos colegas. Para que isso não aconteça, o
interna; experiência física a ação dos objetos; a professor precisa transmitir lhes segurança, para que
transmissão social, o fator educativo: equilíbrio e sintam prazer em realizar atividades diversas sem medo
compensação). O professor não pode esperar que o de errar, que vejam essa nova possibilidade como algo
aluno aprenda somente com o pouco tempo que tem de motivador, como um desafio a ser vencido, algo que seja
aula junto ao professor, ou mesmo todo o tempo em que valorizado como parte do processo de aprendizagem.
o aluno freqüenta a escola. Transmitir um imenso volume
de informações não significa o aprendizado de todas elas.
Muito se perde. O importante é motivar o aluno para este A Capoeira como Herança Cultural na Bahia
continuar sua progressão fora da escola: “O ideal de
educação não é aprender ao máximo, maximizando os A Capoeira foi introduzida no Brasil por intermédio dos
resultados, mas é antes de tudo aprender a se negros Bantos, que procediam principalmente de Angola.
desenvolver e continuar este desenvolvimento depois da É por demais sabido que durante a Idade Média, os
escola”. “É importante dar a criança liberdade de escolha portugueses, assim como outros povos, traficaram
e decisão, pois na medida que um indivíduo pode escravos, sobretudo negros. Os milhões de africanos que

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foram trazidos para o Brasil eram tripulantes de navios Palmares. A fim de conseguir provisões e utensílios de
negreiros, cada qual com suas crenças, dialetos e rituais que careciam, os rebelados estabeleciam parceria com
diferentes, que chegaram entre os séculos XVI e XIX. pequenos fazendeiros mais próximos, por meio de troca
Nesta caravana incluíam se reis, rainhas, príncipes e de produtos excedentes de suas lavouras. Aliados aos
princesas. Antes de falarmos propriamente da capoeira, é fazendeiros insatisfeitos, os quilombolas criaram uma
necessário responder uma pergunta que normalmente é rede de informações que os permitiram resistir por mais
formulada, ou seja: se os africanos trouxeram a capoeira de 100 anos aos ataques luso brasileiros e holandeses. O
da África, especificamente de Angola, ou a inventaram no governador geral Francisco Barreto de Menezes, orga
Brasil. O estudo do negro no Brasil, sempre encontrou nizou uma expedição, com o objetivo de extermina los.
certa dificuldade, vez que, após a Proclamação da Defendendo se com armas primitivas, empenhando se
República (1889), o Conselheiro Ruy Barbosa, num gesto em lutas corpo a corpo, os negros derrotaram sucessi
que jamais poderá ser compreendido, salvo a sua vamente mais de 24 expedições contratadas pelo
intenção de com a queima de documentos históricos, governo ou pelos senhores. Os capitães do mato,
tentar apagar uma mancha tão vergonhosa como fora à recebiam ordem de capturar o maior número possível de
escravidão. Este ou outros motivos levaram o então escravos vivos, sem inutilizá los para o trabalho forçado,
Ministro da Fazenda a baixar uma resolução, deter havendo portanto o cuidado de não mutila los ou não
minando aos órgãos públicos a queima de todos os produzir lesões graves. Nesta luta corpo a corpo, de
documentos referentes ao negro e a sua escravidão. homem, o escravo se mostrava superior, graças à sua
Todavia, com base nos poucos e raros documentos que coragem, sua extraordinária agilidade, sangue frio, as
escaparam do fogo, puderam levar pesquisadores e túcia, cotidianamente exercitados no mais íntimo contato
historiadores a concluírem como sendo de Angola os com a natureza; contra as feras e outros perigos. Para
primeiros negros que chegaram na Bahia, assim como ter não se deixar apanhar vivo, segundo o testemunho dos
o grosso dos mesmos desembarcados de São Paulo de componentes das escoltas, o negro, refugiando se na
Luanda e de Benguela, mas, isso não seria razão para capoeira (mata roçada), defendiam se com um estranho
poder se afirmar que a capoeira, sempre designada como jogo de braços e pernas, tronco e cabeça, realizada com
de Angola, tivesse de lá a sua procedência. Tudo leva a tal destreza que, não raro debandava se os soldados que
crer, seja a capoeira uma invenção dos africanos no pretendiam agarra lo. E foi assim que se espalhou a fama
Brasil, desenvolvida por seus descendentes afro do jogo da capoeira de que os negros debandados
brasileiros. Segundo o Mestre Almir das Areias, o negro lançavam mão para se defenderem. Coube ao bande
observou o sistema natural de defesa do gato, do irante Domingos Jorge Velho, comandando 7.000 ho
macaco, cavalo, boi, jacaré, aves e cobras. Passou a mens bem armados e equipados com canhões, exter
imitar aqueles movimentos, aliados às danças que minar a república dos Palmares, tarefa em que se com
trouxeram da África: Cambangula, Bassula, N’angolô, sumiram dez anos de constantes combates (1687 –
etc., criaram um sistema de defesa eficiente, que não 1697). Conseguiu ele conquistar as terras, mas o número
precisa de outras armas a não ser a que todos os de escravos aprisionados foi muito reduzido, não
homens já nascem com elas: cabeça, braços e pernas, compensando as grandes baixas que tivera. Os negros
acrescidos de agilidade e um pouco de manha. E se recapturados trouxeram para as fazendas e engenhos o
outros argumentos não bastassem, seria suficiente a “Jogo da Capoeira”, que se estendeu rapidamente aos
lógica de que dificilmente um capoeira seria aprisionado e povoados, vilas e cidades. Embora originária dos negros,
trazido como escravo, não se tendo igualmente notícias foi entre os mestiços e mulatos que a capoeira encontrou
de que, a bordo dos navios negreiros, os negros se campo fértil para desenvolver e aperfeiçoar. Mais
rebelassem, valendo se dos seus conhecimentos da estilizado que o negro e mais destro que o branco, o
capoeira. Nas práticas religiosas a que os africanos se mestiço era presunçoso, dominado pela preocupação de
entregavam, as danças litúrgicas, ao som de instru evidenciar que nada possuía da submissão do negro e
mentos de percussão, desempenhavam papel de grande que podia vencer o branco. Após a chegada de Dom
relevância. O ritmo bárbaro exacerbava lhes a gesti João VI ao Brasil em (1808), a capoeiragem alcançou seu
culação, exagerava lhes o salto, exercitava os na ginga apogeu; os capoeiristas se encarregavam à noite, de
do corpo dotando os de extraordinária velocidade os vingar as afrontas constantes que o povo recebia dos
movimentos. E é neste ritual religioso que a capoeira nobres recém chegados. As forças políticas terminaram
encontra a sua verdadeira origem. No século XVII, a colocando a capoeiragem a serviço de suas ambições e,
época em que ocorreram as Invasões Holandesas, em para reprimi las, a carta de 31 de outubro de 1821 esta
Pernambuco, aproveitando se da confusão que se belecia castigos corporais e outras medidas igualmente
estabelecera, começaram os escravos a debandarem de severas. Durante a regência, no longo reinado de D.
seus senhores e, aos milhares, foram reunidos nas Pedro II, a capoeiragem constituiu motivos para grandes
fraldas da Serra da Barriga, no atual Estado de Alagoas. escândalos e arruaças, não sendo em pequeno o número
A maior parte dos debandados, era constituída de negros de campanhas de repressão que, contra a mesma, se
angolas. Quando o seu número já era estimado em mais encetaram. Proclamada a República em (1889), a
de 20.000, constituíram uma República que ficou co capoeiragem foi severamente reprimida no Código Penal
nhecida pelo nome de Quilombo dos Palmares Brasileiro (Decreto 287, de 11/10/1890), cujo capítulo XIII
(denominam se “Quilombos”, na concepção mais ele tratava dos vadios e capoeiras. O art. 402, estabelecia
mentar, as barracas ou palhoças construídas às pressas, textualmente que “Fazer nas ruas e praças públicas
afastado do centro urbano, quase sempre com folhas de exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecido
palmeiras). Um dos últimos líderes de Palmares nasceu pela denominação de capoeiragem, andar em correrias,
num quilombo no momento de uma intensa guerra, foi com armas e instrumentos capazes de produzir uma
raptado ainda criança e vendido a um padre em Porto lesão corporal, provocando tumultos ou desordens,
Calvo. Foi coroinha, aprendeu latim e foi batizado pelo ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor
nome de Francisco. Aos 15 anos retornou a Palmares, de algum mal, seria punido com pena de prisão celular de
galgou o posto de General das Armas, recebeu o nome dois a seis meses”. Era considerado circunstancia agra
de Zumbi ‘Deus da Guerra’ e consagrou se Rei de vante pertencer à capoeira, a algum bando ou malta e

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aos chefes ou cabeças se impunha pena em dobro.
Apesar dessa disposição penal, os interesses políticos Guarda: Como no Boxe ou na Luta Livre, é a
então em jogo, muito concorreram para que os principais atitude de expectativa, de estudo do adversário.
capoeiras se tornassem cabos eleitorais, capangas ou
secretários de grandes figurões. Nas próprias unidades Peneirar ou Pentear: é a ginga do corpo, ba
Militares de Pernambuco, havia interesse de seus coman mboleio em que os braços se atiram em todas as
dantes em contar com os melhores capoeiras. E quando direções e o corpo dança sobre as pernas semi
a banda de música saia às ruas, os capoeiristas, cha flexionadas.
mados de moleques de frente de música, abriam
passagem à custa de rasteira e cabeçadas, ao mesmo Rasteira: Diferencia se do corta capim, porque
tempo, que defendiam os bombos das navalhadas de este é dado na posição descaída, enquanto na
capoeiristas de outra facção, pois um dos principais diver quela, o capoeira está de pé firme. É conhecido
timentos ou maior afronta possível consistia em rasgar, a também por Cambapé ou Cangapé em alguns
navalha, o bombo de uma banda de música. Logo que o lugares. Quem o aplica tem a intenção de dese
Marechal Deodoro da Fonseca organizou o Ministério, quilibrar o oponente.
mandou chamar o Dr. Sampaio Ferraz e lhe entregou o
cargo de chefe de policia ou Segurança Pública, na Corta Capim: O capoeira descai para trás rapi
cidade de Recife, com a principal incumbência de extin damente, apoiando as duas mãos no solo,
guir a capoeiragem. A campanha que Sampaio Ferraz encolhe uma das pernas, e esticando a outra faz
iniciou contra os capoeiras foi das mais violentas e que esta gire violentamente, descolando o ad
eficientes, prendendo e desterrando pra Fernando de versário pela sua base de sustentação.
Noronha os mais célebres capoeiristas da época. Conta
se que o tal chefe de polícia, em nome da lei, assassinou Tesoura: O capoeira atira se ao chão de barriga
uma grande quantidade de negros, jogando os para os para baixo, apoiado sobre ambos às mãos,
tubarões durante a viagem para Noronha; e que o envolve as pernas do adversário, com as pernas
simples fato de encontrar qualquer negro parado, deso esticadas, uma de cada lado e virando se violen
cupado, ou que não fosse aprovado no teste do limão, ou tamente obriga o a cair. É golpe também muito
que apresentasse gestos de capoeirista, era motivo para utilizado na luta livre.
uma investigação que resultava sempre no seu reco
lhimento e condenação. O teste do limão, consistia em Queixada: O capoeira dará um passo a frente,
colocar um pequeno limão dentro da calça do indivíduo, em direção ao adversário e calculando a dis
pela cintura, e se o limão caísse pela boca da perna da tancia existente entre ambos, suspenderá a
calça, aquela pessoa era considerada um capoeirista O perna direita ou esquerda, com força, de modo
que fatalmente acontecia, visto que a moda dos que o pé bata no queixo do adversário.
capoeiristas da época, era usar calça “boca sino”. Muito
comum, também, era os chefes de polícia, andarem com Baiana: O capoeira correrá em direção do ad
dois seguranças que na frente do negro abordado, faziam versário e quando chegar bem próximo, deverá
movimentos de combate e por uma ação instintiva, o abaixar se com rapidez, segurar com firmeza as
negro colocava se em posição de defesa, e assim, ine pernas do adversário, e com um arranco brusco,
vitavelmente era flagrado. As terríveis medidas de exter faze lo cair para trás. A cabeça auxiliará a impul
mínio, levou diversos capoeiristas a trocarem de ende são do antagonista. Quando for aplicado segu
reço quase que semanalmente e também a adotarem rando as pernas da calça, o golpe receberá o
vários apelidos, na tentativa de escaparem das perse nome de Boca de Calça.
guições. A capoeiragem foi aos poucos, perdendo sua
notoriedade, enquanto luta, à proporção que a vida nas Escorão: O capoeira encolherá um dos pés e
cidades se tornava mais civilizada. Banida no final do simulando recuar, desferirá um golpe sobre o
século, a capoeira no Recife refugiou se nos movimentos ventre do adversário, quando este avançar.
dos passistas de frevo, durante o carnaval. E na Bahia,
adotaram o fenômeno do “camaleão”, (que muda de cor Chulipa: É uma tapona, dada com a palma da
conforme o ambiente), fingindo se em uma brincadeira, mão ou o dorso. Sobre o rosto, é aconselhado o
um jogo ou uma dança, que não oferecia o menor perigo. dorso da mão e sobre o ouvido, a palma da mão
Suas características de improvisação cederam lugar à ligeiramente em concha.
racionalização e sistematização que identificam as
práticas desportivas. E assim, no ano de 1907, surgiu um Tronco: O capoeira, sem que o adversário
opúsculo, que parece ter sido o primeiro, intitulado “O perceba a sua intenção, aproxima se deste, bate
Guia do Capoeira ou Ginástica Brasileira”, cujo autor se lhe com o braço esquerdo em seu lado
ocultou sob as iniciais O.D.C., compreendia as quatro esquerdo, ao mesmo tempo em que, com a
seguintes partes: I – Posições, II – Negações, III – Pan perna direita, desloca a base de sustentação do
cadas simples, IV – Pancadas fincadas. Duas décadas adversário em sentido oposto.
mais tarde, (1928), Aníbal Burlamaqui, publicou “Gi
nástica Nacional (Capoeiragem) Metodizada e Regrada”, Suicídio: Assim se determina este golpe porque,
estabeleceu regras para o jogo desportivo da capo se o adversário estiver armado de punhal ou
eiragem e apresentou, devidamente ilustrados os prin faca, é quase certo que se fira e seriamente. O
cipais golpes e contra golpes nessa modalidade de arte/ capoeira avança peneirando e na justa medida,
luta Este trabalho, do ponto vista técnico, deverá ser com descai o corpo para trás e fazendo que os pés
siderado como o melhor até hoje aparecido. Como no jiu flexionados, rentes ao chão se metam entre os
jitsu, o número de golpes empregados na capoeira é pés do adversário, e num brusco empurrão de
considerável, dos quais cerca de 30 poderão ser tidos perna, faz o adversário cair lhe em cima; simul
como fundamentais. Eis alguns mais utilizados: taneamente encolhe uma perna de maneira que

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o joelho se interponha entre ambos, e arremessa o prazer emanam por todos os poros dos Capoeiristas e
o antagonista por sobre a cabeça. E neste tem dos presentes.
po, o adversário soltará a arma, sofrendo apenas
as conseqüências da queda.
Ginástica Olímpica e Rítmica Desportiva
Cabeçada: É um dos recursos de que mais se
vale o capoeira. É dada com simplicidade, quase A ginástica olímpica, é uma das modalidades da gi
sempre de baixo para cima, atingindo o ad nástica. Por definição, de acordo com o Novo Dicionário
versário no peito, na barriga ou no rosto. Aurélio da Língua Portuguesa, a palavra vem do grego
gymnastiké e significa "A Arte ou ato de exercitar o
corpo para fortificá lo e dar lhe agilidade. O conjunto de
A história da capoeira na Bahia guarda nomes de mestres exercícios corporais sistematizados, para este fim, rea
famosos como Besouro (Manoel Henrique), o famoso Be lizados no solo ou com auxílio de aparelhos são aplicados
souro Cordão de Ouro, Paulo Ricardo das Docas, Antônio com objetivos educativos, competitivos, terapêuticos, etc."
Maré, Vitorino Braço Torto, Raimundo Cachoeira, Historicamente, enquanto forma de prática física, a
Zacarias Grande, Nozinho, Bilusca, Manoel Querido de ginástica surgiu na Pré História. Contudo, veio a se tornar
Deus e tantos outros. Ainda se guardam na memória, uma modalidade esportiva apenas em 1881, em escolas
nomes de outros mais modernos como Manoel dos Reis alemãs tipicamente masculinas. Desse modo, a ginástica
Machado o (Mestre Bimba), Vicente Ferreira Pastinha, artística sagrou se como a forma mais antiga do desporto
(Mestre Pastinha), Washington Bruno da Silva (Mestre e em decorrência disto, sua história é constantemente
Canjiquinha), José Gabriel Góes (Mestre Gato), Rafael confundida com a da ginástica em si, o que não fere sua
Alves França (Mestre Cobrinha Verde), João Ramos do evolução artística individual posterior. Mais tarde, em
Nascimento (Mestre Traira) Waldemar da Paixão (Mestre 1896, até então praticada somente por homens, passou a
Waldemar), Mestre João Grande, Mestre Caiçara. Antes ser um esporte olímpico, e em 1928 as mulheres pu
deles, não havia as chamadas Academias de Capoeira, e deram participar nos seus primeiros Jogos. No ano de
exatamente com eles, ou mais precisamente com Mestre 1950, a ginástica passou a ser praticada – nos aparelhos
Bimba, foi que surgiram as primeiras Academias de – da forma como se conhece hoje. Apesar de despontar
Capoeira. Foi exatamente a 09 de julho de 1937 que o para o mundo como um esporte inicialmente masculino, a
Mestre Bimba fundou o Centro de Cultura Física e ginástica tornou se uma prática mais ativa entre as
Capoeira Regional Bahiana, recebendo para tanto mulheres. Em decorrência disso, os eventos artísticos
autorização da então Secretaria de Educação, Saúde e femininos tornaram se mais disputados, admirados e
Assistência Publica, em documento assinado pelo Dr. destacados entre todas as modalidades do esporte. As
Clemente Guimarães, Inspetor Técnico da referida apresentações da ginástica artística são individuais
Secretaria. Com isso mudava a capoeira o seu “status” ainda que nas disputas por equipes , possuem o tempo
social e de uma manifestação folclórica perseguida pela aproximado de trinta a noventa segundos de duração,
policia, começava a sua caminhada para mais tarde são realizadas em diferentes aparelhos sob um conjunto
transformar se numa modalidade de esporte, reconhecida de exercícios e separadas em competições femininas e
pela CBD (Confederação Brasileira de Desporto). masculinas. Os movimentos dos ginastas devem ser
sempre elegantes e demonstrarem força, agilidade,
flexibilidade, coordenação, equilíbrio e controle do corpo.
Batismo de Capoeira Ginástica rítmica. A ginástica rítmica começou a ser
praticada por volta da década de 20, após o final da
As fortes proibições da prática da Capoeira no período Primeira Guerra Mundial, quando várias escolas de
Republicano, através do Decreto Lei de 1890, obrigam os ginástica começaram a acrescentar novos exercícios e
Capoeiristas o uso de pseudônimos como forma de pro música à ginástica artística. Em virtude da adição desses
teção a sua real identidade. Havendo Capoeiristas com elementos, em 1961, na União Soviética, a modalidade
quatro e até cinco apelidos. E esta forma de resistência e passou a ser chamada de ginástica rítmica. Disputada
de preservação da vida, tornou se tradição. Um iniciante unicamente por mulheres, a intenção inicial desta mo
após um período de mais ou menos seis meses de dalidade era suavizar os movimentos da ginástica e
contato com a Capoeira, já tem um determinado domínio realçar a interação entre o corpo e os aparelhos. A ênfase
dos seus movimentos básicos, e, é chegada, então, a na feminilidade foi outra constante na ginástica rítmica
hora de ele decidir se quer trilhar com dedicação os que incorpora, inclusive, posições e técnicas derivadas do
caminhos da Capoeiragem. Para tanto, o aluno faz um balé clássico. A ginástica rítmica também busca muitas
teste relativo a tudo que aprendeu até o momento, se referências na dança, algo que pode ser percebido
passar, será batizado. O Batismo é um ritual para inici quando associamos as potências da modalidade às
ação do aluno nos caminhos mais profundos da Capoei principais escolas mundiais de dança. Moscou e Kiev são
ragem. Consiste num golpe dado no aluno no decorrer do mundialmente conhecidas por suas escolas, enquanto
jogo, por um mestre, que lhe provoca um tombo e que ele outros países periféricos no esporte como Espanha e
nunca sabe quando se dará. Precisa cair dignamente, Brasil encontram na dança fortes identidades culturais.
sem deixar o corpo tocar o solo, a não ser os pés e as
mãos, como se estivesse levado um escorregão. No mo
mento da queda, o mestre abraça o aluno, parabenizando Internacionalização
e o aluno recebe um nome de batismo (apelido) e em
seguida um cordel de graduação amarrado na cintura O primeiro torneio internacional da modalidade data de
pela madrinha quando o aluno é masculino, e pelo 1961 e foi realizado no Leste Europeu. Um ano depois, a
padrinho quando é feminino. Depois que todos os alunos Federação Internacional de Ginástica (FIG) reconheceu a
já foram batizado, dar se inicio a Roda de Confra ginástica rítmica como modalidade e, em 1963, a enti
ternização, o êxtase da festa, onde a vibração, a beleza e dade organizou oficialmente o primeiro torneio mundial
em Budapeste, na Hungria. O evento contou com a

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participação de 28 ginastas de dez países europeus. Conteúdos Estruturantes da Educação Física para a
Nesta época, as rotinas limitavam se a bola, arco e ma Educação Básica devem ser abordados em complexidade
ças. Nas décadas seguintes, o esporte teve grande cres crescente19, isto porque, em cada um dos níveis de
cimento e ganhou popularidade. Dessa forma, o Comitê ensino os alunos trazem consigo múltiplas experiências
Olímpico Internacional (COI) reconheceu, em 1984, a relativas ao conhecimento sistematizado, que devem ser
ginástica rítmica como esporte olímpico. A modalidade consideradas no processo de ensino/aprendizagem. A
fez a primeira aparição nos Jogos de Los Angeles com Educação Física e seu objeto de ensino/estudo, a Cultura
competições exclusivamente individuais. A primeira Corporal, deve, ainda, ampliar a dimensão meramente
medalha de ouro foi conquistada por Lori Fung, do motriz. Para isso, pode-se enriquecer os conteúdos com
Canadá. A prata ficou com Doina Staiculescu, da Ro experiências corporais das mais diferentes culturas,
mênia e o bronze com Regina Weber, da Alemanha priorizando as particularidades de cada comunidade. A
Ocidental. Em Seul 1988, quatro anos após o boicote dos seguir, cada um dos Conteúdos Estruturantes será
soviéticos, as ginastas deste país voltaram aos Jogos tratado sob uma abordagem que contempla os
Olímpicos e impuseram seu domínio na modalidade com fundamentos da disciplina, em articulação com aspectos
a vitória de Marina Lobach. No ano seguinte, competindo políticos, históricos, sociais, econômicos, culturais, bem
pela Comunidade dos Estados Independentes (CEI), como elementos da subjetividade representados na
Aleksandra Timoshenko subiu no ponto mais alto do valorização do trabalho coletivo, na convivência com as
pódio. Em Atlanta 1996 é implantada a competição por diferenças, na formação social crítica e autônoma. Os
conjuntos, e a Espanha vence o primeiro ouro nesta Conteúdos Estruturantes propostos para a Educação
categoria. No Brasil, a atual Ginástica Rítmica, teve várias Física na Educação Básica são os seguintes:
denominações diferentes, primeiramente denominada de
Ginástica Moderna, Ginástica Rítmica Moderna, e sendo
praticada essencialmente por mulheres, passou a ser • Esporte;
chamada de Ginástica Feminina Moderna. E a seguir, por
decisão da Federação Internacional de Ginástica, passou • Jogos e brincadeiras;
a denominação de Ginástica Rítmica Desportiva, e hoje,
finalmente Ginástica Rítmica. A história da ginástica • Ginástica;
rítmica no Brasil é bastante recente e teve seu início
marcado pela chegada da professora Ilona Peuker, da • Lutas;
Hungria, que introduziu a modalidade no país. Na década
de 50, a professora ministrou cursos no Rio de Janeiro e • Dança.
criou a primeira equipe de ginástica rítmica do Brasil, o
Grupo Unido de Ginastas. Desta equipe veio a primeira
ginasta brasileira a competir internacionalmente. Deise
Barros participou do Campeonato Mundial em 1971, na Esporte
cidade de Copenhague, na Dinamarca. Dois anos mais
tarde, em 1973, a equipe do GUG representou o Brasil no Garantir aos alunos o direito de acesso e de reflexão
Campeonato Mundial de Roterdã, na Holanda, termi sobre as práticas esportivas, além de adaptá-las à
nando a competição em 13º lugar. Em 1978 foi dado um realidade escolar, devem ser ações cotidianas na rede
passo fundamental para o desenvolvimento da moda pública de ensino. Nesse sentido, a prática pedagógica
lidade, com a criação da Confederação Brasileira de de Educação Física não deve limitar-se ao fazer corporal,
Ginástica e o conseqüente apoio da entidade à ginástica isto é, ao aprendizado única e exclusivamente das
rítmica. A primeira atleta classificada para uma Olimpíada habilidades físicas, destrezas motoras, táticas de jogo e
foi Rosane Favilla, nos Jogos de Los Angeles 1984. Em regras. Ao trabalhar o Conteúdo Estruturante esporte, os
Barcelona 1992, foi a vez de Marta Cristina Schonhorst professores devem considerar os determinantes histórico-
marcar presença na competição individual. Nos últimos sociais responsáveis pela constituição do esporte ao
anos a ginástica rítmica brasileira se desenvolveu bas longo dos anos, tendo em vista a possibilidade de
tante, e o país detém a hegemonia nas Américas nas recriação dessa prática corporal.20 Portanto, nestas
provas de conjunto, com três ouros nos últimos três Pan Diretrizes, o esporte é entendido como uma atividade
Americanos, que valeram à equipe brasileira a clas teóricoprática e um fenômeno social que, em suas várias
sificação para as últimas três edições das Olimpíadas. manifestações e abordagens, pode ser uma ferramenta
Este período recente da ginástica rítmica viu o de aprendizado para o lazer, para o aprimoramento da
desenvolvimento particular da modalidade em alguns saúde e para integrar os sujeitos em suas relações
centros do país. Destaca se neste contexto a cidade de sociais. No entanto, se o profissional de Educação Física
Londrina, no Paraná, considerada o berço do esporte no negligenciar a reflexão crítica e a didatização desse
Brasil. A equipe campeã em Winnipeg 1999, por exem conteúdo, pode reforçar algumas características como a
plo, era toda formada por atletas de uma universidade da sobrepujança, a competitividade e o individualismo. A
região. título de exemplo, a profissionalização esportiva deve ser
analisada criticamente, discutindo-se com os alunos as
consequências dos contratos de trabalho que levam à
Conteúdos Estruturantes Educação Física Paraná migração e a desterritorialização prematura de meninos e
meninas; às exigências de esforço e resistência física
Nestas Diretrizes Curriculares, os Conteúdos levados a limites extremos; à exacerbação da
Estruturantes foram definidos como os conhecimentos de competitividade; entre outros. A exacerbação e a ênfase
grande amplitude, conceitos ou práticas que identificam e na competição, na técnica, no desempenho máximo e
organizam os campos de estudos de uma disciplina nas comparações absolutas e objetivas faz do esporte na
escolar, considerados fundamentais para compreender escola uma prática pedagógica potencialmente
seu objeto de estudo/ensino. Constituem-se excludente, pois, desta maneira, só os mais fortes, hábeis
historicamente e são legitimados nas relações sociais. Os e ágeis conseguem viver o lúdico e sentir prazer na

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vivência e no aprendizado desse conteúdo. Superar isso jogo pode servir de conteúdo para que o professor
é um dos grandes desafios da Educação Física, o que discuta as possibilidade de flexibilização das regras e da
exige um trabalho intenso de redimensionamento do trato organização coletiva. As aulas de Educação Física
com o conteúdo esporte na escola, repensando os podem contemplar variadas estratégias de jogo, sem a
tempos e espaços pedagógicos de forma a permitir aos subordinação de um sujeito a outros. É interessante
estudantes as múltiplas experiências e o desenvolvimento reconhecer as formas particulares que os jogos e as
de uma atitude crítica perante esse conteúdo escolar. Os brincadeiras tomam em distintos contextos históricos, de
valores que privilegiam o coletivo são imprescindíveis modo que cabe à escola valorizar pedagogicamente as
para a formação do humano o que pressupõem culturas locais e regionais que identificam determinada
compromisso com a solidariedade e o respeito, a sociedade. Nessa direção, pode-se trazer como exemplo
compreensão de que o jogo se faz a dois, e de que é o jogo de queimada ou caçador, fortemente presente no
diferente jogar com o companheiro e jogar contra o cotidiano escolar, que em sua organização delimita os
adversário (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 71). papéis e os poderes concedidos aos jogadores, os quais
Sendo assim, sugere-se uma abordagem que privilegie o mudam conforme a hierarquia assumida no jogo. Ou seja,
esporte da escola, e não somente o esporte na escola. o “capitão” ou “base” detém maior poder do que qualquer
Isso pressupõe que as aulas de Educação Física sejam outro jogador, com autoridade de decidir sobre a “vida” e
espaços de produção de outra cultura esportiva, de a “morte” dos demais jogadores. Via de regra, o jogador
ressignificação daquilo que Bracht (2005) denominou que assume este papel é o mais habilidoso, o mais forte e
como “esporte moderno”, isto é, a expressão hegemônica com maior liderança, já aqueles que são escolhidos para
atual do esporte competitivo de alto rendimento, “morrer” no início do jogo, representam os jogadores mais
espetacularizado e profissionalizado21. Ainda, o ensino frágeis e menos habilidosos, e que dificilmente serão os
do esporte deve propiciar ao aluno uma leitura de sua escolhidos como “base”. A partir dessa exemplificação,
complexidade social, histórica e política. Busca-se um entendemos que o jogo praticado nesta perspectiva
entendimento crítico das manifestações esportivas, as reproduz e pode servir para reforçar desigualdades
quais devem ser tratadas de forma ampla, isto é, desde arraigadas no contexto social. Dessa maneira, é possível
sua condição técnica, tática, seus elementos básicos, até garantir o papel da Educação Física no processo de
o sentido da competição esportiva, a expressão social e escolarização, a qual tem, entre outras, a finalidade de
histórica e seu significado cultural como fenômeno de intervir na reflexão do aluno, realizando uma crítica aos
massa. O esporte parece de fato ter sido, e ainda ser, modelos dominantes. Intervenção esta que requer um
um forte vetor a potencializar o domínio do corpo. Sua exercício crítico por parte do professor diante das práticas
importância não pode ser menosprezada, se que reforçam tais modelos. Exige, também, a busca de
considerarmos o quanto as identidades se constroem em alternativas que permitam a participação de todos os
torno do corpo, e o quanto a sociedade moderna está alunos nas aulas de Educação Física. Assim, as crianças
impregnada pelo princípio do rendimento, o quanto ela é e os jovens devem ter oportunidade de produzirem as
esportivizada [Grifos do autor]. (VAZ, et. al., 1999, p. 92) suas formas de jogar e brincar, isto é, ter condições de
Portanto, o ensino do esporte nas aulas de Educação produzirem suas próprias culturas, pois: [...] o uso do
Física deve sim contemplar o aprendizado das técnicas, tempo na infância varia de acordo com o momento
táticas e regras básicas das modalidades esportivas, mas histórico, as classes sociais e os sexos. Na nossa
não se limitar a isso. É importante que o professor sociedade [...] ainda que por razões bem diferentes,
organize, em seu plano de trabalho docente, estratégias independente das classes sociais a que pertençam, as
que possibilitem a análise crítica das inúmeras crianças também não têm tempo e espaço para vivência
modalidades esportivas e do fenômeno esportivo que, da infância, como produtoras de uma “cultura infantil”.
sem dúvida, é algo bastante presente na sociedade atual. (MARCELLINO, 2002, p. 118) Os trabalhos com os jogos
O vínculo da sociedade brasileira com o futebol é um e as brincadeiras são de relevância para o
exemplo. O professor de Educação Física pode elaborar desenvolvimento do ser humano, pois atuam como
várias estratégias metodológicas para esse conteúdo, maneiras de representação do real através de situações
como: discussão sobre a predominância do futebol como imaginárias, cabendo, por um lado, aos pais e, por outro,
esporte na sociedade brasileira; o discurso hegemônico à escola fomentar e criar as condições apropriadas para
sobre a identidade brasileira ligada ao futebol; as as brincadeiras e jogos. Não obstante, para que sejam
inúmeras outras possibilidades de jogarmos futebol, relevantes, é preciso considerá-los como tal. Tanto os
modificando as regras; o processo de esportivização que, jogos quanto as brincadeiras são conteúdos que podem
a partir de um jogo popular, constituiu o futebol; a ser abordados, conforme a realidade regional e cultural
masculinização do futebol; os preconceitos raciais do grupo, tendo como ponto de partida a valorização das
historicamente presentes nos times e torcidas; as manifestações corporais próprias desse ambiente
relações de mercado e de trabalho no futebol; dentre cultural. Os jogos também comportam regras, mas
outros. deixam um espaço de autonomia para que sejam
adaptadas, conforme os interesses dos participantes de
forma a ampliar as possibilidades das ações humanas.
Jogos e Brincadeiras Torna-se importante, então, que os alunos participem na
reconstrução das regras, segundo as necessidades e
Nestas Diretrizes, os jogos e as brincadeiras são desafios estabelecidos. Para que os princípios de
pensados de maneira complementar, mesmo cada um sobrepujança sejam relativizados, os próprios alunos
apresentando as suas especificidades. Como Conteúdo decidem como equilibrar a força de dois times, sem a
Estruturante, ambos compõem um conjunto de preocupação central na mensuração do desempenho.
possibilidades que ampliam a percepção e a Através do brincar (jogar) o aluno estabelece conexões
interpretação da realidade. No caso do jogo, ao entre o imaginário e o simbólico. [...] as brincadeiras são
respeitarem seus combinados, os alunos aprendem a se expressões miméticas privilegiadas na infância,
mover entre a liberdade e os limites, os próprios e os momentos organizados nos quais o mundo, tal qual as
estabelecidos pelo grupo. Além de seu aspecto lúdico, o crianças o compreendem, é relembrado, contestado,

19
dramatizado, experienciado. Nelas as crianças podem com hierarquização do movimento, de exercícios mais
viver, com menos riscos, e interpretando e atuando de simples para os mais complexos e pela ordem de
diferentes formas, as situações que lhes envolvem o comando para que todos os alunos realizem os mesmos
cotidiano. Desempenham um papel e logo depois outro, movimentos. Ampliando esse olhar, é importante
seguindo, mas também reconfigurando, regras. São entender que a ginástica compreende uma gama de
momentos de representação e apresentação, de possibilidades, desde a ginástica imitativa de animais, as
apropriação do mundo. (VAZ et. al., 2002, p. 72) Almeja- práticas corporais circenses, a ginástica geral, até as
se organizar e estruturar a ação pedagógica da Educação esportivizadas: artística e rítmica. Contudo, sem negar o
Física, de maneira que o jogo seja entendido, apreendido, aprendizado técnico, o professor deve possibilitar a
refletido e reconstruído como um conhecimento que vivência e o aprendizado de outras formas de movimento.
constitui um acervo cultural, o qual os alunos devem ter Como exemplo, além de ensinar os alunos a técnica do
acesso na escola (COLETIVO DE AUTORES, 1992). rolamento para frente e para traz, o professor pode
Nesta perspectiva, não se pode esquecer dos brinquedos construir com eles outras possibilidades de realizar o
que, no seu processo de criação, envolvem relações rolamento, considerando as individualidades e limitações
sociais, políticas e simbólicas que se fazem presentes de cada aluno, fazendo relações com alguns animais,
desde sua invenção. [...] os brinquedos não foram em com movimentos do circo, relacionando com formas
seus primórdios invenções de fabricantes especializados; geométricas ou objetos, entre outras. Deve-se, ainda,
eles nasceram, sobretudo nas oficinas de entalhadores oportunizar a participação de todos, por meio da criação
em madeira, fundidores de estanho etc. [...] O estilo e a espontânea de movimentos e coreografias, bem como a
beleza das peças mais antigas explicam-se pela utilização de espaços para suas práticas, que podem
circunstância de que o brinquedo representava ocorrer em locais livres como pátios, campos, bosques
antigamente um processo secundário das diversas entre outros. Não há necessidade de material específico
indústrias manufatureiras. (BENJAMIN, 1984, p. 67-68) para realização das aulas, pois a prática pedagógica
A construção do brinquedo era repleta de significados pode acontecer por meio de materiais alternativos e/ou de
tanto para o pai, que o construía com as sobras de acordo com a realidade própria de cada escola. A
materiais utilizados em seu trabalho artesanal, como para presença da ginástica no programa se faz legítima na
a criança, que brincava com ele. Entretanto, com o medida em que permite ao aluno a interpretação subjetiva
desenvolvimento da industrialização, os brinquedos das atividades ginásticas, através de um espaço amplo
passaram a ser fabricados em grande escala, perdendo de liberdade para vivenciar as próprias ações corporais.
sua singularidade, isto é, tornando-se cada vez mais No sentido da compreensão das relações sociais a
estranhos aos sujeitos inseridos nesta lógica de ginástica promove a prática das ações em grupo onde,
mercantilização dos brinquedos. Assim, oportunizar aos nas exercitações como “balançar juntos” ou “saltar com
alunos a construção de brinquedos, a partir de materiais os companheiros”, concretiza-se a “co-educação”,
alternativos, discutindo a problemática do meio ambiente entendida como forma de elaborar/praticar formas de
por meio do (re)aproveitamento de sucatas e a ação comuns [...]. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.
experimentação de seus próprios brinquedos e 77) Por meio da ginástica, o professor poderá organizar
brincadeiras, pode dar outro significado a esses objetos e a aula de maneira que os alunos se movimentem,
a essas ações respectivamente, enriquecendo-os com descubram e reconheçam as possibilidades e limites do
vivências e práticas corporais. Dessa maneira, como próprio corpo. Com efeito, trata-se de um processo
Conteúdo Estruturante da disciplina de Educação Física, pedagógico que propicia a interação, o conhecimento, a
os jogos e brincadeiras compõem um conjunto de partilha de experiências e contribui para ampliar as
possibilidades que ampliam a percepção e a possibilidades de significação e representação do
interpretação da realidade, além de intensificarem a movimento.
curiosidade, o interesse e a intervenção dos alunos
envolvidos nas diferentes atividades.
Lutas

Ginástica Da mesma forma que os demais Conteúdos


Estruturantes, as lutas devem fazer parte do contexto
Nestas Diretrizes Curriculares, entende-se que a escolar, pois se constituem das mais variadas formas de
ginástica deve dar condições ao aluno de reconhecer as conhecimento da cultura humana, historicamente
possibilidades de seu corpo. O objeto de ensino desse produzidas e repletas de simbologias. Ao abordar esse
conteúdo deve ser as diferentes formas de representação conteúdo, deve-se valorizar conhecimentos que permitam
das ginásticas. Espera-se que os alunos tenham identificar valores culturais, conforme o tempo e o lugar
subsídios para questionar os padrões estéticos, a busca onde as lutas foram ou são praticadas. Tanto as lutas
exacerbada pelo culto ao corpo e aos exercícios físicos, ocidentais como as orientais surgiram de necessidades
bem como os modismos que atualmente se fazem sociais, em um dado contexto histórico, influenciadas por
presentes nas diversas práticas corporais, inclusive na fatores econômicos, políticos e culturais. Exemplo disso,
ginástica. Sob tal perspectiva, foram desenvolvidas conforme analisa Cordeiro Jr. (1999), no contexto
técnicas visando à padronização dos movimentos, a histórico feudal japonês, marcado pela tirania dos
aquisição de força física, privilegiando os aspectos latifúndios, a luta entre camponeses e samurais, e/ou
motores e a vivência de coreografias e gestos entre estes, quando defendiam senhores de terra
normatizados. Nessa concepção, que não considera a diferentes, envolvia golpes de morte. Os camponeses,
singularidade e o potencial criativo dos alunos, os que precisavam se defender de samurais armados com
exercícios físicos privilegiam um bom desempenho de espadas, desenvolveram uma prática corporal coletiva –
grupos musculares e o aprimoramento das funções o jiu-jitsu. Em grupo, atacavam os samurais,
orgânicas para a melhoria da performance atlética. Um imobilizando-os e desarmandoos, prendendo seus braços
exemplo é o método ginástico baseado em exercícios e/ou pernas para, rapidamente, derrubá-los e então
calistênicos. A eficiência do movimento seria alcançada aplicar-lhes chaves, torções, etc. De fato, as lutas

20
desenvolvidas nos diversos continentes estão permeadas O professor, ao trabalhar com a dança no espaço
por esses aspectos. Ao se pensar em outra prática escolar, deve tratá-la de maneira especial, considerando-
corporal genuinamente brasileira, a capoeira foi criada a conteúdo responsável por apresentar as possibilidades
pelos escravos como forma de luta para se conquistar a de superação do limites e das diferenças corporais. A
liberdade. Não obstante, hoje ela é considerada um misto dança é a manifestação da cultura corporal responsável
de dança, jogo, luta, arte e folclore (FALCÃO, 2003). Ao por tratar o corpo e suas expressões artísticas, estéticas,
abordar o conteúdo lutas, torna-se importante esclarecer sensuais, criativas e técnicas que se concretizam em
aos alunos as suas funções, inclusive apresentando as diferentes práticas, como nas danças típicas (nacionais e
transformações pelas quais passaram ao longo dos anos. regionais), danças folclóricas, danças de rua, danças
De fato, as lutas se distanciaram, em grande parte, da clássicas entre outras. Em situações que houver
sua finalidade inicial ligada às técnicas de ataque e oportunidade de teorizar acerca da dança, o professor
defesa, com o intuito de autoproteção e combates poderá aprofundar com os alunos uma consciência crítica
militares, no entanto, ainda hoje se caracterizam como e reflexiva sobre seus significados, criando situações em
uma relevante manifestação da cultura corporal. De que a representação simbólica, peculiar a cada
maneira geral, as lutas estão associadas ao contato modalidade de dança, seja contemplada. A dança pode
corporal, a chutes, socos, disputa, quedas, atitudes se constituir numa rica experiência corporal, a qual
agressivas, entre outros. Apesar disso, elas não se possibilita compreender o contexto em que estamos
resumem apenas a técnicas, que também são inseridos. É a partir das experiências vividas na escola
importantes de serem transmitidas, pois os alunos devem que temos a oportunidade de questionar e intervir,
ter acesso ao conhecimento que foi historicamente podendo superar os modelos pré-estabelecidos,
construído. O desenvolvimento de tal conteúdo pode ampliando a sensibilidade no modo de perceber o mundo
propiciar além do trabalho corporal, a aquisição de (SARAIVA, 2005). Alguns assuntos podem ser discutidos
valores e princípios essenciais para a formação do ser com os alunos, como o uso exacerbado da técnica,
humano, como, por exemplo: cooperação, solidariedade, mostrando que a dança pode ser realizada por qualquer
o autocontrole emocional, o entendimento da filosofia que pessoa independentemente dos seus limites. A dança é
geralmente acompanha sua prática e, acima de tudo, o uma forma de libertação do ser e promove a expressão
respeito pelo outro, pois sem ele a atividade não se de movimentos. Dançar (...) um dos maiores prazeres
realizará. As lutas, assim como os demais conteúdos, que o ser humano pode desfrutar. Uma ação que traz
devem ser abordadas de maneira reflexiva, direcionada a uma sensação de alegria, de poder, de euforia interna e,
propósitos mais abrangentes do que somente principalmente, de superação dos limites dos seus
desenvolver capacidades e potencialidades físicas. movimentos. Algumas pessoas não se importam com o
Dessa forma, os alunos precisam perceber e vivenciar passo correto ou errado e fazem do ato de dançar uma
essa manifestação corporal de maneira crítica e explosão de emoção e ritmo que comove quem assiste.
consciente, procurando, sempre que possível, (BARRETO, 2004) A discussão pode ocorrer depois de
estabelecer relações com a sociedade em que vive. A experimentações de improvisação da dança, sobre a
partir desse conhecimento proporcionado na escola, o supervalorização da coreografia, fruto do esforço humano
aluno pode, numa atitude autônoma, decidir pela sua em produzir meios rápidos e eficientes para a realização
prática ou não fora do ambiente escolar. Uma das de determinadas ações, por meio da criação de técnicas,
possibilidades de se trabalhar com as lutas na escola é a sejam elas mecânicas ou corporais, como é o caso das
partir dos jogos de oposição, cuja característica é o ato inúmeras coreografias de danças, cujo interesse central
de confrontação que pode ocorrer em duplas, trios ou está no fazer ou na prática pela prática, sem qualquer
até mesmo em grupos. O objetivo é vencer o reflexão sobre as mesmas. Não significa dizer que a
companheiro de maneira lúdica, impondo-se fisicamente coreografia é essencialmente prejudicial ou negativa. Um
ao outro. Além disso, deve haver o respeito às regras e, exemplo de dança onde ela está presente e que tem
acima de tudo, à integridade física do colega durante a íntima relação com o folclore do nosso Estado é o
atividade. Os jogos de oposição podem aproximar os fandango paranaense. Trata-se de um conjunto de
combatentes, mantendo contato direto (corpo a corpo) danças, denominado “marcas”, acompanhado de violas,
como o Judô, Luta Olímpica, Jiu-Jitsu, Sumo; podem rabeca, adufo ou pandeiro, batidas de tamanco e versos
manter o colega à distância, como o Karatê, Boxe, Muay cantados. Essa dança se manifesta, atualmente, no litoral
Thay, Taekwondo; ou até mesmo ter um instrumento paranaense, especialmente na região de Antonina,
mediador, como a Esgrima. Além dos jogos de oposição, Morretes, Porto de Cima, ilha dos Valadares, ilha de
para se trabalhar com o conteúdo de lutas, os Guaraqueçaba e Paranaguá. Dançado em pares
professores podem propor pesquisas, seminários, visitas dispostos em círculo, possui melodias variadas e os
às academias para os alunos conhecerem as diferentes movimentos são compostos por tamanqueados, que
manifestações corporais que fazem parte desse exploram passos em forma de “8” ou de arco (PINTO,
Conteúdo Estruturante. Assim, o que se pode concluir é 2005). Outras danças que podem ser exploradas são
que a Educação Física, juntamente com as demais àquelas que retratam a cultura afro-brasileira. Algumas
disciplinas do currículo, deve, com seus próprios são compostas por elementos provindos das
conteúdos, ampliar as referências dos estudantes no que manifestações que retomam toda a cultura milenar de
diz respeito aos conhecimentos, em especial no campo aldeias e tribos africanas. Nessas culturas, a dança está
da cultura corporal. Isso significa desenvolver, por meio presente, sobretudo no culto à espiritualidade, e faz
das práticas corporais na escola, conceitos, categorias e incorporar os orixás invocados. (FIAMONCINI e
explicações científicas reconhecendo a estrutura e a SARAIVA, 2003) Conforme tal concepção, os orixás têm
gênese da cultura corporal, bem como condições para comportamentos semelhantes aos dos seres humanos e
construí-la a partir da escola. geralmente estão associados a elementos da natureza,
como a água, o ar, a terra e o fogo. O ritmo da dança tem
uma batida forte, com uso de tambores, atabaques e
Dança outros instrumentos de percussão, podendo ser
confeccionados com materiais alternativos para que

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sejam vivenciados os ritmos dessa cultura. Na prática, o seus alunos diversas modalidades de jogo, com suas
professor poderá aliar aos aspectos culturais e regionais regras mais elementares, as possibilidades de
específicos, vivências desses diferentes estilos de dança, apropriação e recriação, conforme a cultura local. Pode,
possibilitando a liberdade de recriação coreográfica e a ainda, discutir em que o jogo se diferencia do esporte,
expressão livre dos movimentos. Outra maneira de principalmente quanto à liberdade do uso de regras. Já o
abordagem da dança, nesta perspectiva crítica proposta professor do Ensino Médio, ao trabalhar com o mesmo
pelas Diretrizes, seria problematizar a forma como essa Conteúdo Estruturante, pode inserir questões envolvendo
manifestação corporal tem se apropriado da erotização as diversas dimensões sociais em jogos que requeiram
do corpo, tornando-se um produto de consumo do maior capacidade de abstração por parte do aluno. Um
público jovem. Outro exemplo seria o professor propor a jogo de representação, com imagens de revistas ou
vivência de uma dança próxima ao cotidiano do aluno jornais, poderia ser proposto, considerando
(exemplo: o funk), e depois realizar outra dança de conhecimentos assimilados desde o Ensino Fundamental.
acesso restrito a esse sujeito (exemplo: a dança de A partir de então, é possível problematizar as relações de
salão), a fim de discutir, com seus alunos, como se poder e os conflitos surgidos no decorrer de sua prática,
constituíram historicamente as duas danças, quais os como foram solucionados e as semelhanças deste jogo
seus significados, suas principais características, com outras esferas da sociedade. Ao pensar o
vertentes e influências que sofrem pela sociedade em encaminhamento metodológico para as aulas de
geral. Dessa maneira, é importante que o professor Educação Física na Educação Básica, é preciso levar em
reconheça que a dança se constitui como elemento conta, inicialmente, aquilo que o aluno traz como
significativo da disciplina de Educação Física no espaço referência acerca do conteúdo proposto, ou seja, é uma
escolar, pois contribui para desenvolver a criatividade, a primeira leitura da realidade. Esse momento caracteriza-
sensibilidade, a expressão corporal, a cooperação, entre se como preparação e mobilização do aluno para a
outros aspectos. Além disso, ela é de fundamental construção do conhecimento escolar. Após o breve
importância para refletirmos criticamente sobre a mapeamento daquilo que os alunos conhecem sobre o
realidade que nos cerca, contrapondo-se ao senso tema, o professor propõe um desafio remetendo-o ao
comum. cotidiano, criando um ambiente de dúvidas sobre os
conhecimentos prévios. Por exemplo, levantar a seguinte
questão sobre o jogo: todo jogo é necessariamente
Encaminhamentos Metodológicos competitivo? Será que existe alguma maneira de jogar
sem que exista um vencedor no final? Posteriormente, o
Considerando o objeto de ensino e de estudo da professor apresentará aos alunos o conteúdo
Educação Física tratado nestas Diretrizes, isto é, a sistematizado, para que tenham condições de
Cultura Corporal, por meio dos Conteúdos Estruturantes assimilação e recriação do mesmo, desenvolvendo,
propostos – esporte, dança, ginástica, lutas, jogos e assim, as atividades relativas à apreensão do
brincadeiras –, a Educação Física tem a função social de conhecimento através da prática corporal. Ainda neste
contribuir para que os alunos se tornem sujeitos capazes momento, o professor realiza as intervenções
de reconhecer o próprio corpo, adquirir uma pedagógicas necessárias, para que o jogo não se
expressividade corporal consciente e refletir criticamente encaminhe desvinculado dos objetivos estabelecidos.
sobre as práticas corporais. O professor de Educação Finalizando a aula, ou um conjunto de aulas, o professor
Física tem, assim, a responsabilidade de organizar e pode solicitar aos alunos que criem outras variações de
sistematizar o conhecimento sobre as práticas corporais, jogo, vivenciando-as. Neste momento, é possível também
o que possibilita a comunicação e o diálogo com as a efetivação de um diálogo que permite ao aluno avaliar o
diferentes culturas. No processo pedagógico, o senso de processo de ensino/aprendizagem, transformando-se
investigação e de pesquisa pode transformar as aulas de intelectual e qualitativamente em relação à prática
Educação Física e ampliar o conjunto de conhecimentos realizada. Para melhor compreensão da metodologia
que não se esgotam nos conteúdos, nas metodologias, proposta nestas Diretrizes, descrevese outro exemplo,
nas práticas e nas reflexões. Essa concepção permite ao relacionado ao Conteúdo Estruturante lutas, e conteúdo
educando ampliar sua visão de mundo por meio da específico capoeira. A capoeira é uma prática corporal da
Cultura Corporal, de modo que supere a perspectiva cultura afro-brasileira, cujos elementos são importantes
pautada no tecnicismo e na desportivização das práticas para entender a história do Brasil. Pela capoeira,
corporais. Por exemplo: ao se tratar do histórico de podemos pensar nossa história também sob o olhar dos
determinada modalidade, na perspectiva tecnicista, os afro-descendentes, fato pouco retratado na história
fatos eram apresentados de forma anacrônica e acrítica. tradicional. A partir desse conteúdo, pode-se lançar um
No entanto, no encaminhamento proposto por estas olhar para outras temáticas diretamente envolvidas. O
Diretrizes, esse mesmo conhecimento é transmitido e assunto a ser abordado é jogando capoeira. Como
discutido com o aluno, levando-se em conta o momento conteúdo específico, a capoeira pode também vir a ser
político, histórico, econômico e social em que os fatos excludente, caso não sejam respeitadas as limitações e
estão inseridos. Cabe ressaltar que tratar o conhecimento possibilidades corporais, sociais e culturais de cada
não significa abordar o conteúdo ‘teórico’, mas, aluno. Nessa proposta de aula, o objetivo é que os alunos
sobretudo, desenvolver uma metodologia que tenha como compreendam como a capoeira, que outrora foi uma
eixo central a construção do conhecimento pela práxis, manifestação cultural e de libertação, tornouse, em
isto é, proporcionar, ao mesmo tempo, a expressão alguns casos, elitizada, competitiva, sem preocupação
corporal, o aprendizado das técnicas próprias dos com a singularidade de cada participante. Outro
conteúdos propostos e a reflexão sobre o movimento importante objetivo com essa aula é a possibilidade de
corporal, tudo isso segundo o princípio da complexidade vivenciar a capoeira, sem a preocupação com a técnica
crescente, em que um mesmo conteúdo pode ser como parâmetro único e exclusivo. Tão logo os objetivos
discutido tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino estejam traçados, o professor buscará mapear o que os
Médio. Ao trabalhar o Conteúdo Estruturante jogo, o alunos já conhecem do tema. Dessa forma, uma
professor do Ensino Fundamental pode apresentar aos interessante questão a ser proposta aos alunos é: como

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posso praticar a capoeira sem nunca ter frequentado uma manifestações corporais historicamente produzidas e
academia, portanto, sem dominar a técnica? O professor acumuladas pelo ser humano. Prioriza-se na prática
questionará se a capoeira esportivizada é inclusiva ou pedagógica o conhecimento sistematizado, como
excludente, se a capoeira como manifestação da cultura oportunidade para reelaborar ideias e atividades que
corporal pode ou não ser mercantilizada e de que ampliem a compreensão do estudante sobre os saberes
maneira pode ser inserida na lógica de mercado. Fica produzidos pela humanidade e suas implicações para a
mais evidente, então, a possibilidade de estabelecer vida. Enfim, é preciso reconhecer que a dimensão
relação entre o Conteúdo Estruturante e os diversos corporal é resultado de experiências objetivas, fruto de
problemas da vida social, sejam de ordem econômica, nossa interação social nos diferentes contextos em que
social ou cultural. Após ter lançado questões ou desafios, se efetiva, sejam eles a família, a escola, o trabalho e o
que suscitaram a provocação e a reflexão por parte dos lazer.
alunos, o professor possibilitará ao educando o contato
com o conhecimento sistematizado, historicamente
construído. Assim, poderá começar a atividade 3. AS QUESTÕES DE GÊNERO E O SEXIS-
solicitando aos alunos que se dividam em duplas. Em MO APLICADOS À EDUCAÇÃO FÍSICA;
seguida, eles deverão decidir quem será a presa e quem
será seu predador correspondente. Tomada a decisão, CORPO; SOCIEDADE E A CONSTRUÇÃO
quem for a presa deverá fazer gestos que o identifiquem, DA CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO
para que o predador possa tentar encostar sua mão nas
costas do “animal”. A brincadeira tem algumas regras, em Percebe-se que a questão de gênero vem sendo
que a presa e seu predador poderão se mover apenas retratada ao longo da civilização, na qual há uma
executando um passo para trás ou para frente, um passo delimitação de diferenças entre homens/mulheres,
para o lado direito ou esquerdo. O principal objetivo meninos/meninas. O termo gênero começou a ser
desse primeiro momento é que os alunos ginguem sem utilizado mais intensamente no século XX, nos anos 70,
se preocuparem com a correta execução do movimento. procurando desvincular a discussão das relações sociais
Num segundo momento, deve-se proporcionar o acesso entre os sexos de seu aspecto puramente biológico
ao conhecimento de alguns gestos técnicos que (PEREIRA, 2004). Desta maneira, é importante atentar
identificam as práticas da capoeira. Esses movimentos para o conceito de gênero que se trata do modo como as
poderão ser demonstrados pelo próprio professor, por características sexuais são entendidas e expostas ou,
algum aluno que possua o conhecimento prévio da então como são estabelecidas na sociedade juntamente
atividade ou até mesmo por um praticante profissional de com seu o seguimento histórico. Apesar dos caracteres
capoeira convidado pelo professor. Outro método sexuais que definem a questão de gênero, o ambiente em
possível é a utilização de recursos tecnológicos, como a que o ser humano está inserido influenciará diretamente a
exposição de vídeos na TV multimídia23, para postura e a representação do menino ou menina nas
oportunizar aos alunos o contato com alguns movimentos relações sociais. Segundo Caron (2008) entender a
da capoeira. Deve-se reconstruir, com os educandos, os questão do gênero perpassa por uma construção social,
movimentos da capoeira, com a representação da presa que significa que, é constituído de modo plural, pois há
e do predador, sob o enfoque do respeito pelas vários modos de ser homem e várias formas de ser
possibilidades físicas de cada um, o que significa que mulher, influenciadas é claro pelas classes sociais, raça e
qualquer aluno pode praticar capoeira, sem necessidade outros aspectos culturais. Apesar de analisarmos a
de conhecimento prévio, ou de ter participado de algum questão do gênero basicamente pelas divisões baseadas
grupo. Para avaliar a apreensão dos conhecimentos por no sexo, esta não permite que perceba-se as
parte dos alunos, o professor poderá propor a formação representações e apresentações das diferenças sexuais,
de uma roda, onde todos possam jogar capoeira. Tal haja visto que a questão do gênero é construída
momento é imprescindível, pois constitui o socialmente e culturalmente. Durante essa construção
reconhecimento da capacidade de síntese e recriação constituímos algumas diferenças entre os gêneros, e para
dos alunos. Para contribuir ainda mais com a aula, melhoria da convivência e respeito das pessoas dos
sugere-se que sejam usados instrumentos que diferentes gêneros, atualmente, discussões em relação a
identifiquem musicalmente a capoeira, tais como: essa temática causa novos desafios. Um destes desafios
berimbau, caxixi e pandeiro. Caso não haja os originais, se encontra no âmbito educacional, onde permitirá
eles podem ser construídos com materiais alternativos, estudos analisando a convivência que respeite as
de modo que um utensílio pode virar um pandeiro; ou um diferenças, as fragilidades e potencialidades de cada
cano, arame e o fundo de uma garrafa plástica podem pessoa, visto que a família e, simultaneamente, o gênero
virar um berimbau. Os mais variados espaços escolares influenciam as práticas escolares, bem como os
podem servir para a realização dessa aula. O professor processos de ensino aprendizagem. É necessário frisar
também poderá contextualizar a aula de capoeira sob o que a escola é fundamental no processo de formação dos
enfoque do processo de marginalização e exclusão dos alunos e alunas, na missão de proporcionar a eles
povos afro-descendentes, nos tempos da escravatura. Os conhecimentos, discussões e posicionamentos a respeito
alunos podem criar jogos para representar os papéis de das relações humanas e profissionais. Na escola a
capitão-do-mato e escravo, de modo que interpretem as convivência entre meninos e meninas deve ser pensada e
contradições e injustiças que havia e, também, a articulada com as propostas pedagógicas de cada
superação delas com a proposta de outras brincadeiras. educador no sentido de formação sem distinção da
Espera-se que o professor desenvolva um trabalho questão do gênero. No caso específico da Educação
efetivo com seus alunos na disciplina de Educação Física, que aborda principalmente a questão motora, as
Física, cuja função social é contribuir para que ampliem representações e expressões de gênero podem ficar bem
sua consciência corporal e alcancem novos horizontes, nítidas, como por exemplo, nas valências físicas, onde
como sujeitos singulares e coletivos. O papel da segundo estereótipos já criados pelos próprios
Educação Física é desmistificar formas arraigadas e não pesquisadores e/ou pela sociedade, os meninos têm mais
refletidas em relação às diversas práticas e força, mais velocidade e mais agilidade do que as

23
meninas. Logo as representações e relações das escolas, da área urbana do município de Araxá,
interpessoais entre gêneros ficam acirrada, no sentido, de tendo como critério de seleção os setores da cidade e
exposição e definição de possibilidades e qualidade de nos setores, a escola com o maior número de alunos
movimento dos alunos em relação ao das meninas. A matriculados no ano de 2009, perfazendo-se assim, com
questão a ser discutida perpassa o fato das atividades a concordância da direção na realização da pesquisa,
oferecidas, pelas influências sócio-culturais que cada concordância e participação do professor/a na pesquisa e
menino e menina manifesta no meio em que vive, pois a atuação do mesmo/a no Ensino Fundamental (6º ano).
individualidade de cada aluno deve ser trabalhada Com relação à técnica de coleta de dados, foi utilizado:
levando em consideração experiências vivida observação, com utilização de um diário de campo, com
anteriormente para que o professor/a elabore um “categorias” fixadas a partir das pesquisas bibliográficas,
planejamento adequado, fazendo com que essas sendo feito o registro detalhado de todos os
experiências influenciem diretamente em seu acontecimentos relativos à prática pedagógica dos
aprendizado, lembrando que cada indivíduo possui um professores e professoras do ensino fundamental de
nível de aprendizado adquirido pela sua adaptação Araxá-MG, e as expressões desenvolvidas pelos alunos e
cultural. Compreende-se que a questão de gênero deve alunas durante as aulas de Educação Física; e,
ser discutida como um assunto de extrema importância questionário, para os professores, traçando facilidades,
no processo de formação do professor/a, para que assim fragilidades e preferências de ministrar aulas para
possa agregar junto a Educação Física novas propostas meninos e/ou meninas. Questionário aos alunos e alunas
aos currículos e conseqüentemente dar-lhes uma identificando suas considerações a respeito do
aplicabilidade concreta e produtiva. Percebe-se que a desenvolvimento de atividades entre meninos e meninas.
Educação Física apresenta particularidades importantes Os dados foram colhidos nos períodos das aulas de
no tocante ao gênero, tornando importantes as reflexões Educação Física, no turno da manhã e da tarde, na qual
sobre sua prática na escola, revendo a linguagem foram observadas 03 aulas de cada turma do 6º ano.
utilizada, a metodologia docente e a formação Foram entrevistados 4 alunos e 4 alunas de cada turma
profissional, voltando intencionalmente o seu foco para a mista de 6º ano, de cada escola. O critério de seleção
questão do gênero, no sentido de promover uma nova dos/as alunos/as foi feito de forma aleatória, ou seja,
prática pedagógica, incorporada nessas reflexões após a explanação do que seria a entrevista, foram
(PEREIRA NETTO, 2004). Desta forma o objetivo deste selecionados os alunos que se propuseram a responder
estudo pretendeu identificar durante o desenvolvimento as questões.
das atividades nas aulas de Educação Física do 6º ano,
as representações, convivência, ações e reações dos/as
professores/as, alunos e alunas, analisando as questões Resultados e Discussão
de expressão de gênero, as relações expressas entre
alunos e alunas e as relações expressas entre alunos/as Através do levantamento realizado a respeito das
e professores/as. Temos como objetivos específicos: escolas do município, e a obediência dos critérios citados
identificar se a participação dos/as alunos/as nas anteriormente, contou-se com a participação na pesquisa
atividades é mista ou separada por questões de gênero; seis professores/as de Educação Física atuantes no 6º
verificar se existe diferença e preferência dos/as ano de ensino fundamental, porém um/a deles/as não
professores/as na prática pedagógica em turmas mistas e respondeu o questionário por completo. Dessa forma,
separadas; analisar se os/as professores/as têm ou não diagnosticou que três escolas desenvolviam aulas mistas
problematizado questões de gênero durante as aulas; (Setor Oeste, Leste e Norte) e duas desenvolviam aulas
analisar a relação dos alunos e alunas durante o período separadas por sexo (Setor Sul e Centro). Sob bases
de aula. biológicas, a Educação Física tem construído papéis
diferenciados para os sexos optando, por vezes, pela
separação destes, onde dois dos/as docentes expôs que
Metodologia possuem uma facilidade maior na condução do trabalho
realizado com os/as alunos/as em relação às diferenças
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que foi realizada sexuais. Porém, dois professores/as relatam a
através da combinação de pesquisa bibliográfica e de importância de um trabalho coletivo, visando à
campo. Enquanto procedimento amplo de raciocínio, preparação desde a infância ao futuro para um melhor
também caracterizado como modo de observação, foi convívio entre os gêneros. Tais constatações mostram-
utilizada a análise de conteúdos segundo Minayo (1994, nos que a separação de meninos e meninas nas aulas de
p.75-76), que nos abrange as seguintes etapas do Educação Física desconsidera a articulação do gênero
método: “pré-análise, exploração do material, tratamento com outras categorias, a existência de conflitos,
dos resultados obtidos e interpretação”, visando uma exclusões e diferenças entre pessoas do mesmo sexo,
melhor aplicabilidade na estruturação da pesquisa. Com além de impossibilitar qualquer forma de relação entre
base em Minayo (1994 et al, p.69) esta fase aponta três meninos e meninas. Na perspectiva se existe ou não
finalidades: estabelecer uma compreensão dos dados diferença na prática pedagógica aplicada aos meninos e
coletados, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa meninas, quatro dos/as docentes relataram não haver,
e/ou responder as questões formuladas, e ampliar o pois procuram utilizar a mesma para que não se sintam
conhecimento sobre o assunto pesquisado. A pesquisa diferentes, porém são necessárias certas variações na
bibliográfica foi realizada valendo-se das seguintes forma pedagógica pela própria estruturação do gênero.
técnicas: levantamento bibliográfico inicial, Um/a dos/as docentes afirmou ter diferença na prática
correspondente aos temas-chave: (Educação Física pedagógica aplicada aos meninos e meninas, sendo a
Escolar, Gênero e Educação); análise textual; análise mesma na execução de uma determinada tática, sistema
interpretativa; análise crítica. A pesquisa de campo esportivo, na prática dos elementos básicos de cada
associada ao corpo teórico, proporcionou uma modalidade; e outro/a alegou que em certos momentos
interpretação e análise mais clara permitindo atingir os apresenta diferença na prática pedagógica. Foi permitido
objetivos desta pesquisa. Foi realizado o levantamento constatar que em algumas aulas, a prática pedagógica

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aplicada pelos/as professores/as eram igualitárias para desejos e expectativas atendidas e, conseqüentemente, o
ambos os sexos, porém, até mesmo nestas aulas haviam nível motivacional é menor em comparação com o
adaptações, variações da mesma pela própria masculino, gerando assim, possíveis exclusões. Através
estruturação do gênero, conforme relatada anteriormente. do questionário realizado com os/as alunos/as pode-se
Pelas explanações feitas pelos/as professores/as não constatar que cerca de 50% das meninas e 39,6% dos
diagnosticamos dificuldade na aplicabilidade de seus meninos acham legais aulas mistas. E que 43,75% e
conteúdos em relação aos gêneros. Nota-se que meninos 58,3% respectivamente, não gostam que as aulas sejam
e meninas nem sempre mantêm nítidas as divisões de mistas, pela diversidade de interesse, comportamento e
gênero, estando por vezes separados e noutras juntos, o habilidade. Em relação à problemática específica da
que, nas aulas de Educação Física, nem sempre ocorre categoria gênero, um estudo realizado em uma escola,
sem muitos conflitos, perante estas circunstâncias os Colégio Pedro II (CUNHA JÚNIOR, s/d), revelou que
docentes devem tomar providências. Dessa forma, os/as alunos/as expressam conceitos/opiniões
apenas um dos professores admitiu possuir dificuldade na estereotipados e preconceituosos, tais como: "Futebol é
aplicabilidade dos conteúdos em relação aos gêneros, coisa para homem!"; "O esporte de menina é o
especificamente em conteúdos envolvendo a dança, visto queimado!”. Em relação às características
que este docente é do sexo masculino. Visto que são comportamentais, as meninas eram vistas como grupo
inúmeros os conflitos e as dificuldades dos educadores frágil, submisso e desprovido de qualidade nas
no enfrentamento das questões de gênero presentes na habilidades motoras, e os meninos como fortes, hábeis,
cultura escolar, especialmente nas aulas de Educação resistentes e valentes (CUNHA JUNIOR, 1995 apud
Física, pois se trata de valores e normas culturais que se CUNHA JÚNIOR, s/d). Dessa forma o cerne dessa
transformam muito lentamente (SOUZA e ALTMANN, problemática é voltado à implementação do paradigma da
1999). Fatos que nos levam a uma reflexão sobre a forma aptidão física e em sua tendência sexista. Nesta medida,
na qual lecionamos, visto que questões de gênero e devemos construir estratégias que visem alcançar
ensino-aprendizagem são acompanhadas por processos mudanças a respeito desta concepção de Educação
de evoluções e transformações ao longo da vida. A Física majoritária no país, buscando uma reflexão sobre a
respeito do/a alunos/as, percebe-se que dentre o cultura corporal. Em suma, os espaços atribuídos para o
questionamento do que eles/as menos gostavam nas desenvolvimento das aulas é freqüentemente dominado
aulas de Educação Física, (no caso em turmas mistas) a pelos meninos, na qual tente uma maior participação dos
resposta mais destacada foi dividir as aulas com os mesmos. Cabe ressaltar que existe a divisão
diferentes gêneros, mostrando uma maior incomodação física/espacial entre meninos e meninas nas aulas de
masculina (20,8%; e 8,3% em relação ao total de Educação Física, porém a divisão cultural e simbólica
meninas) perante a presença feminina durante o quando em uma aula livre são evidentes, por exemplo, o
desenvolvimento das aulas, por questões de habilidade, professor ou a professora deixam os alunos e alunas
relacionamento e a não identificação das mesmas com realizarem qualquer atividade, neste momento a divisão
certas práticas esportivas, na qual foi citada em sua de papéis sociais fica clara, pois os meninos jogam
grande maioria, o futebol, sendo este considerada por futebol e as meninas dançam ou conversam fora da
eles masculina “esporte de homem é de homem e de quadra esportiva destinada às aulas. Observou-se que o
mulher é de mulher”; “elas não gostam das mesmas desenvolvimento de aulas mistas gera incomodo aos
brincadeiras que a gente gosta”; “elas não sabem jogar”; alunos, do gênero masculino, fator que propicia e torna
“elas são manhosas”. Já para as meninas, o que menos evidentes questões de exclusão, ocorrendo
gostam é o futebol, 33,4% relacionado ao número total de principalmente com meninas, não sendo excluídas de
meninas e 16,6% relativo ao número total de alunos e jogos simplesmente por questões de gênero, mas por
alunas; para elas a modalidade é considerada chata, serem consideradas mais fracas e menos habilidosas que
possuindo dificuldades em sua execução (falta de seus/suas colegas. Essa segregação e exclusão dos
habilidade), e além do mais, caracterizam-no como indivíduos podem ocorrer das mais diversas formas:
esporte masculino, na qual podem se machucar “é muito através de práticas corporais, gestos da professora, do
chato, é um jogo que você machuca muito”, “não é professor ou dos alunos e alunas e também através dos
brincadeira de mulher”; “os homens que gostam muito e silêncios, das ausências. A persistência de uma
as mulheres gostam de várias outras coisas”. Algumas Educação Física que não reflete sobre suas práticas e
alunas argumentaram que não sabiam jogar. A falta de seu papel na formação de seus alunos e alunas acabam
interesse estava diretamente relacionada ao significado colaborando para a formação dos estereótipos e
que atribuem à atividade física como sendo masculina ou preconceitos. Dessa forma, tendo a consciência de que a
feminina, conforme Louro (1997 apud ANDRADE e formação dos sujeitos ocorre em diversas instâncias
DEVIDE, 2006) ressalta: “É indispensável questionar não sociais, entre elas a escola, não podemos ignorar o papel
apenas o que ensinamos, mas o modo como ensinamos da Educação Física, uma vez que este campo de saber
e que sentidos nossas/os alunas/os dão ao que aprende” trata diretamente das questões ligadas ao corpo. Cabe
(p. 64). O desprazer gerado pela imposição as leva a então repensar o papel desse conteúdo escolar,
buscarem formas de se protegerem (a auto-exclusão) dos buscando novas formas de ensino e novas relações
confrontos e erros possíveis ao jogarem com os alunos sociais, através de uma formação continuada, sendo
que “sabem jogar”, evitando constrangimentos, excluindo- trabalhadas de maneira transversal, com constância, nas
se do jogo (ALTMANN, 2002 apud ANDRADE e DEVIDE, mais diversas formas, envolvendo também, outras
2006). Rangel (1997 apud ARAUJO et al, 2008) cria disciplinas. Cabe ao professor/a de Educação Física
pressupostos que explicam sobre as divergências quebrar paradigmas e adaptar as aulas para todos os
motivacionais existentes entre ambos os sexos, onde se alunos, como recurso para evitar exclusões entre
supõe que os alunos do sexo masculino consideram as meninos e meninas, a fim de articular idéias pré-
aulas de Educação Física mais motivantes, pois concebidas sobre a sexualidade, do esporte à dança. Se
valorizam a realização e o status já as meninas valorizam a escola e a Educação Física são limitadas por idéias já
as brincadeiras e as amizades. Sobre tal situação, vemos pré-estabelecidas, por outro lado devemos lembrar que a
que alunos de sexo feminino acabam não tendo seus escola e a Educação Física são também responsáveis

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pela construção de novas concepções de cultura e que é humano. Este estudo, além de diagnosticar as práticas
possível criar estratégias, propostas e atividades que docentes que determinassem questões de gênero
proporcionem aos alunos novas aprendizagens corporais. durante as aulas de Educação Física do 6º ano, permitiu
É necessário, uma escola que proporcione treinamento e reflexões sobre os padrões tradicionais de
orientação aos docentes, que vise essa questão como relacionamento, para que assim, possamos, como
uma mudança consciente e elaborada profissionalmente, professores/as trabalharmos na reconstrução e
ou seja, através de estudos e reciclagem. Isso é de fato, ressignificação de experiências motoras de meninos e
interessante, porque intuição, prática e experiência nem meninas, superando os preconceitos e estereótipos
sempre são suficientes para cuidar da educação de seres presentes no repertório motor, social, afetivo e cognitivo
humanos. Certamente, devemos convir que todos os dos/as alunos/as e na representação dos/as próprios/as
profissionais da área da educação deveriam ter uma professores/as. Sendo assim, através dos resultados
formação que privilegiasse o olhar para o obtidos, sugerimos que os profissionais de Educação
desenvolvimento integral do ser humano, levando em Física revejam suas diretrizes pedagógicas, na qual
consideração aspectos intelectuais, físicos, emocionais e percebemos a necessidade de uma formação continuada,
sociais. O problema mais pontual, a meu ver, é que através de palestras, cursos abordando a temática
muitas vezes dificuldades observadas nos alunos pesquisada, envolvendo diversos segmentos, para que
esbarram em limitações pessoais dos educadores, que através destas atualizações possam desenvolver um
precisam de apoio e orientação. Necessitam de uma processo de ensino-aprendizagem eficaz, propiciando
formação consistente que lhes possibilite rever sua segurança ao professor/a na aplicabilidade dos
postura, buscar o auto-conhecimento e o conteúdos e visando à formação dos/as alunos/as.
desenvolvimento de suas habilidades pessoais e Devido à versatilidade da temática de estudos do gênero
profissionais. Volto a pensar em nossos professores e na e também pelo estudo restrito à alunos/as de apenas um
capacidade que precisam desenvolver para escutar, olhar nível de ensino acreditamos que este pode ser um
e refletir sobre as necessidades de cada aluno. É dessa pontapé inicial em busca da realização de outras
forma que o/a educador/a abre espaço para que o seu pesquisas envolvendo a temática pesquisada, e que
aluno manifeste a individualidade. O ser é muito mais do visem proporcionar uma relação com mais equidade entre
que uma representação definida pelo aspecto fisiológico e os seres humanos. É sabido dos professores de
cultural; ele guarda em si todas as características da Educação Física que, nas atividades, por nós
humanidade. Cabe ao educador preocupar-se com essas empreendidas junto aos alunos, meninos e meninas
questões, tão fundamentais e estruturais. Mas para isso apresentam desempenho motor distinto. Estas diferenças
tem de submeter-se à própria crítica, fundamentada em são por nós percebidas, assimiladas e, por muitas vezes,
investigações que levem ao auto-conhecimento. É papel levadas em consideração, na montagem de nossas aulas
do professor/a revisar conceitos, discriminar o que é fruto , no intuito de manter as distinções sexuais sem levar em
de preconceito e condicionamento em suas posturas e conta diferenças individuais. Os desempenhos motores,
intervenções. reproduzidos nas atividades, estão interligados aos
processos crescentes de papéis sexuais por estarem
enraizados à nossa dimensão simbólica e à construção
Considerações Finais histórica de valores e significados comuns com os quais
definimos o que somos e o que queremos ser. É a partir
Com todo o processo de observação e questionários desse entendimento que a criança constrói e amplia
realizados pode-se constatar que os/as professores/as do conceitos sobre o gênero. A criança cresce interagindo de
município de Araxá devem rever e refletir sobre sua acordo com padrões culturais e históricos nos quais foi
prática atual na escola, voltando intencionalmente ao foco educada. Durante a socialização primária os
gênero, no sentido de promover uma nova prática comportamentos começam a se tornar sexualmente
pedagógica, incorporada nessas reflexões. Pois, nota-se tipificados. A questão cultural assume papel importante
que existe uma insegurança por parte dos mesmos em na construção de estereótipos sexuais. No caso da
relação à aplicabilidade dos conteúdos e até mesmo cultura brasileira, a sociedade patriarcal, dos primórdios
sobre as questões que envolvem o tocante gênero. da colonização portuguesa, ainda permanece quando se
Podemos identificar que a participação dos alunos nas aborda os atributos qualitativos de ambos os sexos.
aulas são mistas em três escolas pesquisadas, e em Mesmo a sociedade industrial tendo ampliado os espaços
duas são separadas por gênero. Para a maioria dos femininos, a participação e o desempenho da mulher tem
professores não existe diferença na prática pedagógica sido minorados pelo perfil ideologicamente construído do
aplicada aos meninos e meninas, porém procuram utilizar que viria a ser o seu "lugar" na divisão social do trabalho.
a mesma atividade para que não se sintam diferentes, Neste sentido, tanto a família quanto a escola,
sendo necessária a variação da forma pedagógica pela reproduzem e reforçam as diferenças sexuais ao criarem,
própria estruturação do gênero. A preferência da maioria a níveis de competência, as possibilidades para os papéis
deles é por turmas mistas pela oportunidade de interação que cada gênero pode ou deve fazer. O reforçamento da
e trabalho coletivo, visando à preparação desde a desigualdade, frente às possibilidades "permitidas" aos
infância ao futuro para um melhor convívio entre os dois sexos, restringe para a mulher seu espaço de
gêneros. A maioria dos docentes relatou não possuir participação em atividades profissionais, culturais e
dificuldade na aplicabilidade dos conteúdos em suas corporais. Este cerceamento de possibilidades,
aulas em relação aos gêneros, mas durante a observação reprodutor de dominação cultural, se dá, não sem
realizada das aulas constatou-se certos conflitos e produzir violência simbólica que, nas palavras de
dificuldades por eles apresentados. O gênero masculino é Bourdieu e Passeron, repetidas por Saviani é: "todo poder
mais participativo no desenvolvimento das aulas de que chega a impor significações e a impô-las como
Educação Física do que o gênero feminino. No legítimas, dissimulando as relações de força que estão na
relacionamento entre os gêneros existem muitas base de sua força, acrescenta sua própria força, isto é,
divergências, devido à presença de estereótipos e propriamente simbólica, a essas relações força." (Saviani,
preconceitos enraizados nos diversos setores de convívio 1987). Neste sentido, ao observarmos criticamente a

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imposição cultural que cerca nossas atitudes possibilidade de ampliar suas experiências motoras,
educacionais, devemos levar em consideração qual tipo através dos movimentos amplos, as meninas, mais
de proposta apresentamos para nossos alunos quanto à contidas, são educadas com vistas a cumprirem seu
abertura de possibilidades de libertação de modelos papel social, o da submissão. O ensino da Educação
limitadores do emergir de competências individuais. Física, que reproduz o modelo, cujo único critério é a
tradição histórica e cultural dos papéis dos sexos, cai no
risco de promover a desigualdade e criar barreiras à
Educação Física Sexista e Reprodutora da criatividade e ao desenvolvimento de competências
Desigualdade entre os Sexos individuais que, de forma nenhuma, estão sexualmente
pré-determinadas. Cabe, a nós, percebermos que as
A Educação Física, como disciplina integrante do diferenças sexuais não devem ser limitações ao
currículo de nossas escolas, parte de pressupostos que crescimento do aluno em suas atividades físicas e
integram objetivos para a formação de cidadãos. Não cognitivas. Deve-se levar em consideração que, se o fator
estamos afastados da proposição cultural que cerca a biológico tem certa importância, ele não é o responsável
elaboração curricular. Estamos regulados por normas pelos papéis que a mulher e o homem exercem na
educacionais e culturalmente adequadas a propósitos sociedade. Existem diferenças biológicas entre os sexos,
socialmente aceitos. Ao lidarmos com nossos alunos, mas estas diferenças não devem provocar a
além de encaixarmos nossos ensinamentos nas normas desigualdade nas conquistas de oportunidades oferecidas
reguladoras do Estado, reproduzimos as normas culturais pelo mercado de trabalho ou de realização profissional.
que permeiam a nossa sociedade. Nesse sentido, Uma Educação Física voltada para o gênero e para os
reproduzimos também as desigualdades que, anseios dos alunos, preocupada em buscar, nestes suas
historicamente, sutil, ou forçosamente demonstradas, possibilidades, sem que isso signifique, limitações, traz
separam por sexo e classes sociais, as possibilidades respostas mais amplas para o enfrentamento da divisão
dos indivíduos, aos quais ensinamos, de inserção no sexual do trabalho ainda imposta pela nossa sociedade
mercado competitivo da sociedade capitalista na qual com ranço patriarcal.
vivemos. Os papéis desempenhados na sociedade
obedecem a diferenciações, culturalmente reproduzidas,
de acordo com o sexo do indivíduo. Ao homem cabe a Cultura corporal de Movimento e os conteúdos da
independência, à mulher cabe a subordinação. À mulher Educação Física Escolar
cabe o privado, ao homem, cabe o público. Quando, em
nossas aulas, definimos os critérios que utilizamos para o Educação Física Escolar trata-se de uma matéria
ato de ensinar, usamos fazê-los munidos de pré- curricular com conteúdos próprios, onde deve estar ligada
conceitos sobre as possibilidades para atividades físicas a um conjunto de conhecimentos originados no domínio
de cada sexo. Usualmente, nas aulas de Educação acadêmico da Educação Física, assim como apontado
Física, os meninos exercem atividades onde são pedidos por SAVANI (1994). Educação Física primeiramente
movimentos amplos, como futebol, por exemplo. As precisa identificar os objetivos, conteúdo, métodos de
meninas, no entanto são determinados os movimentos ensino e de avaliação em função das características,
mais restritos, por exemplo, a brincadeira de pular necessidades e histórico social nos quais estão
elástico ou de casinha. Mas, que princípio leva a maioria envolvidos, do contrário criam-se uma Educação Física
dos professores de Educação Física a elaborar aulas Escolar negativa, sem conteúdos e princípios definidos
limitando atividades, aos sexos, e não às escolhas dos para sua prática, OLIVEIRA (1991), citado por DAOLIO
alunos ? Esta atitude serve a reprodução de (2004). Sem uma sistematização, organização não se
desigualdades superestruturais, ou seja, ideologicamente consegue desenvolver uma aprendizagem significativa e
determinadas, fruto de nossa cultura de padrão patriarcal. que esteja de acordo com as necessidades dos alunos. 7
È o modelo, ainda, da casa-grande do engenho, com seu De acordo com BRASIL MINISTÉRIO da EDUCAÇÃO de
senhor e sua família ampliada pelos escravos e clientes. 2001, temos os seguintes referenciais como objetivos do
Nessa situação o homem é o senhor e, a mulher, a ele ensino fundamental: .Compreender a cidadania como
está submetida. Uma Educação Física que distingue participação social e política exercendo seu direito e
atividades masculinas e femininas sob a ótica da respeitando o do outro; .Ter uma postura crítica e
limitação, principalmente das competências da mulher, é transformadora nas diferentes situações sociais;
uma educação que perpetua a desigualdade e não .Conhecer e valorizar a pluralidade sociocultural do país
permite a libertação que a atividade educacional deve em que vive sem nenhum tipo de discriminação seja ela
empreender. Os papéis sexuais que, culturalmente, social, cultural, de crença, sexo ou outras características
cabem a cada sexo, são, em nossa sociedade, individuais ou coletivas; .Desenvolver o conhecimento e
determinados ainda sob rigidez. Se menina ou menino o sentimento de confiança em suas capacidades afetivas,
deles destoam são punidos tanto pela família, quanto na físicas, cognitivas, éticas, estética, de inter-relação
escola. E, infelizmente, nós, professores, de forma pessoal e de inserção social para buscar conhecimento e
costumaz, reproduzimos esta punição ao reforçarmos, exercer sua cidadania; .Conhecer e cuidar do próprio
através de atividades diferenciadas, cujo critério é o valor corpo; .Utilizar diferentes formas de linguagem para se
social, as desigualdades entre os sexos. O corpo, comunicar e se expressar. .Saber ler e interpretar as
trabalhado nas aulas de Educação Física, é preparado diferentes fontes de informação. .Questionar a realidade,
para exercer as atividades culturalmente determinadas a capacidade critica para formular e resolver os
para os sexos. A família, por um lado, a escola, por outro problemas. O componente curricular, Educação Física
lado, reproduzem as desigualdades. Ambas instituições ainda está muito vinculada aos conhecimentos tratados
costumam reforçar estereótipos diferenciados de na biologia, psicologia e na pedagogia, afirmação feita
comportamentos sexuais. No caso da Educação Física, por SERGIO (1991), acredito que todos esses conteúdos
as atividades são diferenciadas de acordo com o sexo do estejam dentro da grade curricular que trata a Educação
aluno. O tratamento diferenciado leva a desempenho Física, mas também entendo que somos capazes de
motor diferenciado. Enquanto o menino tem maior desenvolver nossos próprios conhecimentos enfatizando

27
nossas necessidades. Os conteúdos organizados sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas edo
surgem, segundo LIBÂNEO, 1985:39; citado por um grupo que o geraram. A cultura é o conjunto de códigos
Coletivo de Autores, através de conteúdos culturais, onde simbólicos reconhecíveis pelo grupo, e é por intermédio
os conhecimentos são relativamente autônomos, desses códigos que o indivíduo é formado desde o
incorporados pela humanidade e reavaliados pela nascimento. Durante ainfância, por esses mesmos
realidade social, ou seja, nos são impostos culturalmente códigos, aprende os valores do grupo; por eles é mais
pela sociedade “... os conteúdos são exteriores ao aluno tardeintroduzido nas obrigações da vida adulta, da
que devem ser assimilados e não simplesmente maneira como cada grupo social as concebe. A
reinventados”. Como professores temos que estar fragilidade de recursos biológicos fez com que os seres
capacitados a fim de interagir com os alunos fazendo com humanos buscassem suprir as insuficiências com
que eles aprendam o que esta sendo trabalhado e seu criações que tornassem os movimentos mais eficientes e
aprendizado esteja ligado e associado à significação satisfatórios,procurando desenvolver diversas
humana e social que ele representa. Além dos conteúdos possibilidades de uso do corpo com o intuito de
sobre desenvolvimento motor e de coordenação que a solucionar as mais variadas necessidades.Entre essas
Educação Física deve trabalhar, temos que dar enfoque possibilidades e necessidades podem-se incluir motivos
aos conteúdos de ensino sobre a relevância social e seu militares, relativosao domínio e ao uso de espaço;
sentido. 8 Os conteúdos abordados devem estar de motivos econômicos, que dizem respeito às tecnologias
acordo com a capacidade cognitiva e a prática social do decaça, pesca e agricultura; motivos de saúde, pelas
aluno, ao seu próprio conhecimento e às possibilidades práticas compensatórias e profiláticas.Podem-se incluir,
enquanto sujeito histórico, Coletivos de Autores (p.31) de ainda, motivos religiosos, no que se referem aos rituais e
forma sistemática e metodológica, visando sempre às festas; motivos artísticos, ligados à construção e à
carências e as necessidades dos alunos. Nossa área de expressão de idéias e sentimentos; e por
estudo é muito ampla, pode ser denominada cultura motivaçõeslúdicas, relacionadas ao lazer e ao
corporal, onde temas ou formas de atividades corporais divertimento. Algumas práticas com motivos de caráter
são aplicados, o homem incorpora sua cultura corporal utilitário relacionam-se mais diretamenteà realidade
dispondo sua intencionalidade do conceito produzido pela objetiva com suas exigências de sobrevivência,
consciência corporal citação do livro Coletivo de Autores adaptação ao meio, produçãode bens, resolução de
(p.62). Segundo LEONTIEV (1981), citado pelo coletivo problemas e, nesse sentido, são conceitualmente mais
de autores, “as significações não são eleitas pelo homem, próximas dotrabalho.Outras, com motivos de caráter
elas penetram as relações com as pessoas que formam eminentemente subjetivo e simbólico, são realizadascom
sua esfera de comunicações reais”, as atividades fim em si mesmas, por prazer e divertimento. Estão mais
assumem diferentes sentidos dependendo da realidade próximas do lazer e dafantasia, embora suas origens, em
de cada aluno, do seu cotidiano, das relações pessoais e muitos casos, estejam em práticas utilitárias. Por
perspectivas. Menção do mesmo livro acima, “por exemplo,a prática do remo, da caça e da pesca por lazer
considerações como essas se pode dizer que os temas e não por sobrevivência, o caminhar comopasseio e o
abordados nas escolas expressam um sentido/significado correr como competição e não como forma de
onde se interpenetram, dialeticamente, a locomoção. Assim, às atividadesdesse segundo
intencionalidade/objetivos do homem e as agrupamento pode-se atribuir o conceito de atividade
intenções/objetivos da sociedade”, (p.62) e diante disso a lúdica, de certo mododiferenciada do trabalho.Com um
Educação Física sobre o aspecto do sentido/significado caráter predominantemente utilitário ou lúdico, todas
abrange a relação entre: jogos, ginástica, esportes e visam, a seu modo, acombinar o aumento da eficiência
danças os problemas sociais que estão interligados. dos movimentos corporais com a busca da satisfação edo
Além de jogos, esportes, ginástica e dança, outros temas prazer na sua execução. A rigor, o que define o caráter
cabem à Educação Física tratar, bem como os problemas lúdico ou utilitário não é a atividadeem si, mas a intenção
sócio-político atuais, discussões e reflexões desses do praticante; por exemplo, um esporte pode ser
problemas se faz necessárias afim de que o aluno praticado com finsutilitários, no caso do esportista
entenda a realidade social interpretando-a e explicando-a profissional, e pode ser praticado numa perspectiva
a partir dos seus interesses de classe social, cabe a deprazer e divertimento, pelo cidadão comum.Derivaram
escola promover ao aluno a preocupação o senso crítico daí conhecimentos e representações que se transformam
da prática social. ao longo dotempo. Ressignificadas, suas
intencionalidades, formas de expressão e
sistematizaçãoconstituem o que se pode chamar de
Educação Física e a Cultura Corporal de Movimento cultura corporal de movimento. Dentro desse universo de
produções da cultura corporal de movimento,
O ser humano, desde suas origens, produziu cultura. algumasforam incorporadas pela Educação Física como
Sua história é uma história decultura na medida em que objetos de ação e reflexão: os jogos ebrincadeiras, os
tudo o que faz é parte de um contexto em que se esportes, as danças, as ginásticas e as lutas, que têm em
produzem ereproduzem conhecimentos. O conceito de comum arepresentação corporal de diversos aspectos da
cultura é aqui entendido, simultaneamente,como produto cultura humana. São atividades queressignificam a
da sociedade e como processo dinâmico que vai cultura corporal humana e o fazem utilizando ora uma
constituindo e transformandoa coletividade à qual os intenção mais próximado caráter lúdico, ora mais próxima
indivíduos pertencem, antecedendo-os e transcendendo- do pragmatismo e da objetividade. A Educação Física
os.Não se trata aqui do termo cultura no sentido mais tem uma história de pelo menos um século e meio no
usual, empregado para definir certo saber, ilustração, mundoocidental moderno. Possui uma tradição e um
refinamento de maneiras. No sentido antropológico do saber-fazer ligados ao jogo, ao esporte, àluta, à dança e
termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no à ginástica, e, a partir deles, tem buscado a formulação
contexto de uma cultura. Não existe homemsem cultura, de um recorteepistemológico próprio.O trabalho na área
mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. Pode- da Educação Física tem seus fundamentos nas
se dizer que o homemé biologicamente incompleto; não concepçõessocioculturais de corpo e movimento, e a

28
natureza do trabalho desenvolvido nessa área afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção
serelaciona intimamente com a compreensão que se tem social). Sobreo jogo da amarelinha, o de voleibol ou uma
desses dois conceitos.Historicamente, suas origens dança, o aluno deve aprender, para além dastécnicas de
militares e médicas e seu atrelamento quase servil execução (conteúdos procedimentais), a discutir regras e
aosmecanismos de manutenção do status quo vigente na estratégias, apreciá-los criticamente, analisá-los
sociedade brasileira contribuírampara que tanto a prática esteticamente, avaliá-los eticamente, ressignificá-los e
como a reflexão teórica no campo da Educação Física recriá-los (conteúdos atitudinais e conceituais).É tarefa da
restringissem os conceitos de corpo e movimento - Educação Física escolar, portanto, garantir o acesso dos
fundamentos de seu trabalho - aos seus alunos às práticasda cultura corporal, contribuir para a
aspectosfisiológicos e técnicos.No entanto, é necessário construção de um estilo pessoal de praticá-las, eoferecer
superar a ênfase na aptidão física para o instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las
rendimentopadronizado , decorrente deste referencial criticamente.
conceitual, e caracterizar a Educação Física deforma
mais abrangente, incluindo todas as dimensões do ser
humano envolvidas em cadaprática corporal. Atualmente, 4. DIMENSÕES BIOLÓGICAS APLICADAS
a análise crítica e a busca de superação dessa À EDUCAÇÃO FÍSICA E AO ESPORTE: AS
concepção apontam anecessidade de que se considerem
também as dimensões cultural, social, política e MUDANÇAS FISIOLÓGICAS RESULTAN-
afetiva,presentes no corpo vivo, isto é, no corpo das TES DA ATIVIDADE FÍSICA; NUTRIÇÃO E
pessoas, que interagem e se movimentamcomo sujeitos ATIVIDADE FÍSICA; SOCOROOS DE UR-
sociais e como cidadãos.Buscando uma compreensão GÊNCIA APLICADOS À EDUCAÇÃO FÍSICA
que melhor contemple a complexidade da questão,
aproposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais adotou O professor de Educação Física é dos poucos
a distinção entre organismo - nosentido estritamente profissionais que tem o privilégio de lidar com o ser
fisiológico - e corpo - que se relaciona dentro de um humano de maneira integral, sua ação atinge os aspetos
contextosociocultural - e aborda os conteúdos da físicos (motricidade, fisiologia, força, flexibilidade),
Educação Física como expressão de produçõesculturais, aspetos psicológicos (autoconfiança, autoestima,
como conhecimentos historicamente acumulados e desenvolvimento cognitivo), aspetos sociais (interações
socialmente transmitidos.Portanto, entende-se a sociais, trabalho em equipe, competitividade, ética) e
Educação Física como uma área de conhecimento da aspetos espirituais (moral). O professor de Educação
culturacorporal de movimento e a Educação Física necessita harmonizar o desenvolvimento do corpo físico
escolar como uma disciplina que introduz eintegra o aluno com o desenvolvimento de habilidades sociais e
na cultura corporal de movimento, formando o cidadão cognitivas para o verdadeiro desenvolvimento integral do
que vai produzi-la,reproduzi-la e transformá-la, ser humano. Não é suficiente entregar uma bola ou
instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, dos desenvolver uma rotina de exercícios para uma criança e
esportes,das danças, das lutas e das ginásticas em dizer que se está contribuindo com o desenvolvimento da
benefício do exercício crítico da cidadania e damelhoria criança. É necessário que cada ação, cada objeto, cada
da qualidade de vida.Trata-se, portanto, de localizar em
estratégia tenham a intencionalidade de mudar a
cada uma dessas modalidades (jogo, esporte, realidade para uma situação muito melhor.
dança,ginástica e luta) seus benefícios humanos e suas
possibilidades de utilização comoinstrumentos de
comunicação, expressão de sentimentos e emoções, de
lazer e demanutenção e melhoria da saúde. E a partir
deste recorte, formular as propostas de ensinoe
aprendizagem da Educação Física escolar.É fundamental
também que se faça uma clara distinção entre os
objetivos daEducação Física escolar e os objetivos do
esporte, da dança, da ginástica e da lutaprofissionais.
Embora sejam uma fonte de informações, não podem
transformar-se emmeta a ser almejada pela escola, como
se fossem fins em si mesmos. A Educação Física escolar
deve dar oportunidades a todos os alunos para
quedesenvolvam suas potencialidades, de forma
democrática e não seletiva, visando seuaprimoramento
como seres humanos. Cabe assinalar que os alunos
portadores denecessidades especiais não podem ser
privados das aulas de Educação Física.
Tradicionalmente, a “aptidão física” é um conjunto de
capacidades, tais como força, resistência e velocidade,
queo indivíduo deveria ter para estar apto a praticar Historicamente, a Educação Física tem priorizado e
atividades físicas. O “rendimento padronizado” diz enfatizado a dimensão bio-fisiológica. Entretanto, a partir
respeito àsmetas de desempenho corporal que todos os da década de 80, a presença de outros ramos do saber,
alunos, independentemente de suas características, especialmente das Ciências Humanas tem participado
deveriam atingir. O trabalho de Educação Física para deste debate. Novas questões, advindas da percepção da
portadores de necessidades especiais é abordado complexidade das ações humanas, tem sido trazidas por
adiante, em item específico. Seja qual for o objeto de este outro campo científico. Passa-se a estudar a
conhecimento em questão, os processos de ensino Educação Física em uma visão mais ampla, priorizando a
eaprendizagem devem considerar as características dos multidisciplinariedade, onde o homem, cada vez mais,
alunos em todas as suas dimensões(cognitiva, corporal, deixa de ser percebido como um ser essencialmente
biológico para ser concebido segundo uma visão mais
29
abrangente, onde se considera os processos sociais, atividade física constitui um fator fundamental de melhoria
históricos e culturais. Este ensaio pretende inserir-se da saúde pública.
nesta discussão. Seu objetivo é contribuir para o debate,
de uma forma introdutória, levantando questões sobre o
papel das relações sociais no universo da atividade física. Atividade Física e Saúde
O trabalho está estruturado em duas partes. Na primeira,
buscamos apresentar a visão que, historicamente, tem Uma tendência dominante no campo da Educação
legitimado a relação entre a atividade física, saúde e Física estabelece uma relação entre a prática da
qualidade de vida da perspectiva das ciências biológicas. atividade física e a conduta saudável. A fisiologia do
Na segunda parte, com o objetivo de trazer novos exercício nos mostra inúmeros estudos sustentando esta
elementos para o debate, lançamos um olhar social, tese. Nesta linha, Matsudo & Matsudo (2000) afirmam
cultural e histórico sobre o tema. que os principais benefícios à saúde advindos da prática
de atividade física referem-se aos aspectos
antropométricos, neuromusculares, metabólicos e
O Paradigma do Estilo de Vida Ativa psicológicos. Os efeitos metabólicos apontados pelos
autores são o aumento do volume sistólico; o aumento da
“Paradigmas são as realizações científicas potência aeróbica; o aumento da ventilação pulmonar; a
universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, melhora do perfil lipídico; a diminuição da pressão
fornecem problemas e soluções modelares para uma arterial; a melhora da sensibilidade à insulina e a
comunidade de praticantes de uma ciência.” (Kuhn, 1997) diminuição da freqüência cardíaca em repouso e no
A par das evidências de que o homem contemporâneo trabalho submáximo. Com relação aos efeitos
utiliza-se cada vez menos de suas potencialidades antropométricos e neuromusculares ocorre, segundo os
corporais e de que o baixo nível de atividade física é fator autores, a diminuição da gordura corporal, o incremento
decisivo no desenvolvimento de doenças degenerativas da força e da massa muscular, da densidade óssea e da
sustenta-se a hipótese da necessidade de se flexibilidade. E, na dimensão psicológica, afirmam que
promoverem mudanças no seu estilo de vida, levando-o a a atividade física atua na melhoria da auto-estima, do
incorporar a prática de atividades físicas ao seu cotidiano. auto conceito, da imagem corporal, das funções
Nessa perspectiva, o interesse em conceitos como cognitivas e de socialização, na diminuição do estresse e
“ATIVIDADE FÍSICA”, “ESTILO DE VIDA” e “QUALIDADE da ansiedade e na diminuição do consumo de
DE VIDA” vem adquirindo relevância, ensejando a medicamentos. Guedes & Guedes (1995), por sua vez,
produção de trabalhos científicos vários e constituindo um afirmam que a prática de exercícios físicos habituais,
movimento no sentido de valorizar ações voltadas para a além de promover a saúde, influencia na reabilitação de
determinação e operacionalização de variáveis que determinadas patologias associadas ao aumento dos
possam contribuir para a melhoria do bem-estar do índices de morbidade e da mortalidade. Defendem a
indivíduo por meio do incremento do nível de atividade inter-relação entre a atividade física, aptidão física e
física habitual da população. Da análise às justificativas saúde, as quais se influenciam reciprocamente. Segundo
presentes nas propostas de implementação de eles, a prática da atividade física influencia e é
programas de promoção da saúde e qualidade de vida influenciada pelos índices de aptidão física, as quais
por meio do incremento da atividade física, depreende-se determinam e são determinados pelo estado de saúde.
que o principal argumento teórico utilizado está Para a melhor compreensão deste modelo definem as
fundamentado no paradigma contemporâneo do estilo de variáveis que o compõem:
Vida Ativa. Tal estilo tem sido apontado, por vários
setores da comunidade científica, como um dos fatores - Atividade Física é definida, segundo Caspersen
mais importantes na elaboração das propostas de (1985) como qualquer movimento corporal
promoção de saúde e da qualidade de vida da população. produzido pelos músculos esqueléticos que
Este entendimento fundamenta-se em pressupostos resulta em gasto energético maior do que os
elaborados dentro de um referencial teórico que associa o níveis de repouso.
estilo de vida saudável ao hábito da prática de atividades
físicas e, consequentemente, a melhores padrões de - Saúde, de acordo com Bouchard (1990), é
saúde e qualidade de vida. Este referencial toma a forma definida como uma condição humana com
de um paradigma na medida em que constitui o modelo dimensões física, social e psicológica, cada uma
contemporâneo no qual se fundamentam a maioria dos caracterizada por um continuum com pólos
estudos envolvendo a relação positiva entre atividade positivos e negativos. A saúde positiva estaria
física, saúde, estilo de vida e qualidade de vida. associada à capacidade de apreciar a vida e
Identifica-se, neste paradigma, a interação das resistir aos desafios do cotidiano e a saúde
dimensões da promoção da saúde, da qualidade de vida negativa associaria-se à morbidade e, no
e da atividade física dentro de um movimento extremo, à mortalidade.
denominado aqui de Movimento Vida Ativa, o qual vem
sendo desencadeado no âmbito da Educação Física e - Para a Aptidão física, adotam a definição de
Ciências do Esporte, cujo eixo epistemológico centra-se Bouchard et al.(1990): um estado dinâmico de
no incremento do nível de atividade física habitual da energia e vitalidade que permita a cada um,
população em geral. O pressuposto sustenta a funcionando no pico de sua capacidade
necessidade de se proporcionar um maior conhecimento, intelectual, realizar as tarefas do cotidiano,
por parte da população, sobre os benefícios da atividade ocupar ativamente as horas de lazer, enfrentar
física e de se aumentar o seu envolvimento com emergências imprevistas sem fadiga excessiva,
atividades que resultem em gasto energético acima do sentir uma alegria de viver e evitar o
repouso, tornando os indivíduos mais ativos. Neste aparecimento das disfunções hipocinéticas.
cenário, entende-se que o incremento do nível de

30
Nesta definição distinguem a aptidão física relacionada à Gonsalves,1996; Matsudo & Matsudo,2000). Destas
saúde da aptidão física relacionada à capacidade constatações infere-se que a realização sistemática de
esportiva. A primeira reúne os aspectos bio-fisiológicos atividades corporais é fator determinante na promoção da
responsáveis pela promoção da saúde; a segunda refere- saúde e da qualidade de vida.
se aos aspectos promotores do rendimento esportivo.
O modelo em questão vem orientando grande parte dos
estudos cujo enfoque é a relação entre a atividade física Qualidade de Vida
e saúde na perspectiva da aptidão física e saúde
(Barbanti,1991; Böhme,1994; Nahas et al.,1995; Freitas Recentemente, a relação atividade física e saúde vem
Júnior,1995; Petroski,1997; Lopes, 1997; Ribeiro,1998; sendo gradualmente substituída pelo enfoque da
Fechio,1998; Glaner,1998; Zago et al.,2000). Para qualidade de vida, o qual tem sido incorporado ao
Marques (1999), esta perspectiva contemporânea de discurso da Educação Física e das Ciências do Esporte.
relacionar aptidão física à saúde representa um estado Tem, na relação positiva estabelecida entre atividade
multifacetado de bem-estar resultante da participação na física e melhores padrões de qualidade de vida, sua
atividade física. Supera a tradicional perspectiva do maior expressão. Observa-se, nos eventos científicos,
“fitness”, preconizada nos anos 70 e 80 - centrada no nacionais e internacionais, realizados nos últimos anos, a
desenvolvimento da capacidade cardiorrespiratória - e ênfase dada a esta relação. Muitas são as declarações
procura inter-relacionar as variáveis associadas à documentadas neste sentido. O Simpósio Internacional
promoção da saúde. Remete, pois, segundo Neto (1999) de Ciências do esporte realizado em São Paulo em
a um novo conceito de exercício saudável, no qual os outubro de 1998, promovido pelo CELAFISCS com o
benefícios ao organismo derivariam do aumento do tema Atividade Física : passaporte para a saúde,
metabolismo (da maior produção de energia diariamente) privilegiou em seu programa oficial a relação
promovido pela prática de atividades moderadas e saúde/atividade física/qualidade de vida destacando os
agradáveis. Conforme Neto (1999), o aumento em 15 % seus aspectos funcionais e anatomo-funcionais. Os
da produção diária de calorias - cerca de 30 minutos de resumos e conferências publicadas nos anais do
atividades físicas moderadas - pode fazer com que Congresso Mundial da AIESEP realizado no Rio de
indivíduos sedentários passem a fazer parte do grupo de Janeiro, em janeiro de 1997, cujo tema oficial foi a
pessoas consideradas ativas, diminuindo, assim, suas Atividade Física na perspectiva da cultura e da Qualidade
chances de desenvolverem moléstias associadas à vida de Vida, destacam a relação da qualidade de vida com
pouco ativa. Entidades ligadas à Educação Física e às fatores morfo-fisiológicos da atividade física. No I
Ciências do Esporte como a Organização Mundial de Congresso Centro-Oeste de Educação Física, Esporte e
Saúde (OMS), o Conselho Internacional de Ciências do Lazer, realizado em setembro de 1999, na cidade de
Esporte e Educação Física (ICSSPE), o Centro de Brasília, promovido pelas instituições de ensino superior
Controle e Prevenção de Doença - USA (CDC), o Colégio em Educação Física da região Centro-Oeste, o tema da
Americano de Medicina Esportiva (ACSM), a Federação atividade física e saúde representou 20% dos trabalhos
Internacional de Medicina Esportiva (FIMS), a Associação publicados nos anais. A temática da atividade física e
Americana de Cardiologia e o Centro de Estudos do qualidade de vida foi objeto de discussão em
Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul conferências e mesas redondas. Também neste evento
(CELAFISCS) preconizam que sessões de trinta minutos observa-se a ênfase dada aos aspectos biofisiológicos da
de atividades físicas por dia, na maior parte dos dias da relação atividade física/saúde/qualidade de vida.
semana, desenvolvidas continuamente ou mesmo em Vários autores e entidades ligados à Educação Física
períodos cumulativos de 10 a 15 minutos, em intensidade ratificam este entendimento. Katch & McArdle (1996)
moderada, já são suficientes para a promoção da saúde preconizam a prática de exercícios físicos regulares como
(Matsudo,1999). Nesta mesma direção, encontram-se fator determinante no aumento da expectativa de vida das
numerosos trabalhos de abordagem epidemiológica pessoas. A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte
assegurando que o baixo nível de atividade física (1999), em posicionamento oficial, sustenta que a saúde
intervém decisivamente nos processos de e qualidade de vida do homem podem ser preservadas e
desenvolvimento de doenças degenerativas (Powell et al., aprimoradas pela prática regular de atividade física.
1985). Dentre os estudos mais expressivos envolvendo Matsudo & Matsudo (1999, 2000), reiteram a prescrição
esta linha de pesquisa, tem-se o estudo de Paffenbarger de atividade física enquanto fator de prevenção de
(1993). Analisando ex-alunos da Universidade de doença e melhoria da qualidade de vida. Lima (1999)
Harvard, o autor observou que a prática de atividade afirma que a Atividade Física tem, cada vez mais,
física está relacionada a menores índices de mortalidade. representado um fator de Qualidade de Vida dos seres
Comparando indivíduos ativos e moderadamente ativos humanos, possibilitando-lhes uma maior produtividade e
com indivíduos menos ativos, verificou que a expectativa melhor bem-estar. Guedes & Guedes (1995) reconhecem
de vida é maior para aqueles cujo nível de atividade física as vantagens da prática de atividade física regular na
é mais elevado. Com relação ao risco de morte por melhoria da qualidade de vida. Nahas (1997) admite a
doenças cardiovasculares, respiratórias e por câncer, o relação entre a atividade física e qualidade de vida.
estudo sugere uma relação inversa deste com o nível de Citando Blair (1993) & Pate (1995), o autor identifica, nas
atividade física. Estudos experimentais sugerem que a sociedades industrializadas, a atividade física enquanto
prática de atividades de intensidade moderada atua na fator de qualidade de vida, quer seja em termos gerais,
redução de taxas de mortalidade e de risco de quer seja relacionada à saúde. Silva (1999), ao distinguir
desenvolvimento de doenças degenerativas como as a qualidade de vida em sentido geral (aplicada ao
enfermidades cardiovasculares, hipertensão, indivíduo saudável) da qualidade de vida relacionada à
osteoporose, diabetes, enfermidades respiratórias, dentre saúde (aplicada ao indivíduo sabidamente doente) vincula
outras. São relatados, ainda, efeitos positivos da à prática de atividade física à obtenção e preservação da
atividade física no processo de envelhecimento, no qualidade de vida. Dantas (1999), buscando responder
aumento da longevidade, no controle da obesidade e em em que medida a atividade física proporcionaria uma
alguns tipos de câncer (Powell et al.,1985; desejável qualidade de vida, sugere que programas de

31
atividade física bem organizados podem suprir as Qualidade de Vida e Atividade Física
diversas necessidades individuais, multiplicando as
oportunidades de se obter prazer e, consequentemente , A qualidade de vida é definida como o bem estar do
otimizar a qualidade de vida. Lopes & Altertjum (1999) indivíduo que não se liga unicamente ao fator
escrevem que a prática da caminhada contribui para a saúde/ausência de doença, embora se ligue ao próprio
promoção da saúde de forma preventiva e consciente. corpo. Uma boa saúde física leva ao bem estar. De modo
Vêem na atividade física um importante instrumento de que, um indivíduo inativo fisicamente, certamente influirá
busca de melhor qualidade de vida. O “Manifesto de São em várias áreas da vida do ser humano (PASCOAL et. al,
Paulo para a promoção de Atividades Físicas nas 2006). Segundo Spirduso (2005) há onze fatores que
Américas” - publicado na Revista Brasileira Ciência e afetam a qualidade de vida dos idosos: função emocional,
Movimento (jan/2000) - destaca a necessidade de sensação de bem-estar, função cognitiva, satisfação
inclusão da prática de atividade física no cotidiano das pessoal, condição financeira, atividade recreativa, função
pessoas de modo a promover estilos de vida saudáveis social, função sexual, função física, condição de saúde e
rumo a melhoria da qualidade de vida. Fora dos círculos energia e vitalidade. Para se ter uma melhor qualidade de
acadêmicos, os meios de comunicação constantemente vida deve-se ter ações preventivas no processo de
veiculam informações a respeito da necessidade de o envelhecimento. As ações, preventivas, no contexto do
homem contemporâneo melhorar sua qualidade de vida envelhecimento, procuram também retardar ou evitar a
por meio da adoção de hábitos mais saudáveis em seu progressão das doenças para eventos clinicamente
cotidiano. Neste contexto, a Federação Internacional de significativos, aqui incluídos a tentativa que deve ser feita
Educação Física - FIEP, elaborou o “Manifesto Mundial de procurar identificar o maior número possível de fatores
de Educação Física - 2000”, o qual representa um tanto de ordem funcional, como cognitiva, social ou
importante acontecimento na história da Educação Física psicológica (LIMA e DELGADO, 2010). Deve-se ter em
pois pretende reunir em um único documento as mente que não deverá existir uma solução fácil, uma vez
propostas e discussões efetivadas, no âmbito desta que as ações preventivas das incapacidades ou da
entidade, no decorrer do século XX. O manifesto morbidade cumulativa durante o processo de
expressa os ideais contemporâneos de valorização da envelhecimento são causadas por múltiplos e complexos
vida ativa, ou seja, ratifica a relação entre atividade física, fatores. Tal fato pode ser observado pelo impacto que o
saúde e qualidade de vida e prioriza o combate ao estado de saúde física das pessoas exerce sobre os
sedentarismo como objetivo da Educação Física (formal e fatores de risco (LITCOV e BRITO, 2004). De fato os
não formal) por meio da educação para a saúde e para o efeitos das medidas de saúde preventiva sobre a
lazer ativo de forma continuada. qualidade de vida podem exercer seus efeitos sobre a
quantidade de vida. A saúde e o condicionamento nos
idosos com 70 anos proporcionam-lhes vitalidade para
Novos olhares sobre a relação Atividade Física e caminhar, esquiar, nadar, fazer excursões a pé e atender
Saúde as exigências físicas (SPIRDUSO, 2005). Conforme
Ferreira e Figueiredo (2007) afirmam que a qualidade de
Diferentes visões acerca da atividade física, da vida têm se tornado um dos principais critérios na
qualidade de vida e da saúde foram acima apresentadas. avaliação da saúde e na eficácia dos tratamentos,
Correspondem a visões bastante disseminadas e aceitas devendo qualquer intervenção ser revertidas em
no domínio da Educação Física. Em comum, nestas benefícios e bem estar para as pessoas idosas. As
análises, encontramos o acentuado viés biológico que as avaliações dos serviços dirigidos aos idosos devem
marca e as caracteriza. Este, historicamente, tem sido a considerar indicadores físicos, sociais, intelectuais,
base da formação do profissional de Educação Física. mentais e emocionais e a repercussão nos sistemas
Segundo compreendemos, a questão não nos parece apresentados, além da sensação e percepção do
suficientemente resolvida deste ponto de vista. A relação indíviduo em tratamento sobre seu bem estar. A
entre atividade física e saúde envolve uma multiplicidade longevidade tem implicações importantes para a
de questões. Resolvê-la exclusivamente pelo paradigma qualidade de vida, podendo trazer problemas, como
naturalista é desconhecer a complexidade do tema. O ser conseqüências sérias nas diferentes dimensões da vida
humano não pode ser reduzido à dimensão biológica pois humana, física, psíquica e social. De fato, o avanço da
é fruto de um processo e de relações sociais bem mais idade aumenta à chance de ocorrência de doenças e de
amplas e abrangentes. Neste contexto, as Ciências prejuízos a funcionalidade física, psíquica e social, assim
Sociais oferecem importante contribuição para o debate a atividade física tem um importante papel na prevenção
ao conceber o homem segundo uma lógica distinta dessas doenças causadas pelos efeitos do
daquela estritamente bio-fisiológica. No entender dessas envelhecimento e uma tendência na melhora da
ciências, a realidade não é um dado unívoco, mas uma qualidade de vida na terceira idade (FREITAS et. al,
construção social, que varia segundo a história, as 2006). A prática em programas de exercícios físicos
diferentes estruturas e os diferentes processos sociais. regulares proporciona um número de respostas ao
Na perspectiva naturalista, pouca atenção tem sido dada organismo favoráveis, que colaboram para um
aos interesses políticos e econômicos associados à envelhecimento saudável, melhorando a qualidade de
saúde, à aptidão física e aos estilos de vida ativa. Esta vida, pois é uma modalidade de intervenção efetiva para
visão assumiu uma postura eminentemente individualista reduzir e prevenir inúmeros declínios psicológicos e
e biologicista no qual elaborou-se o conceito de vida funcionais associados ao envelhecimento (PACHECO et.
fisicamente ativa independentemente de uma análise al, 2005). Assim, Nóbrega et al. (1999) afirmam que a
cultural, econômica e política, desconsiderando as atividade física regular melhora a qualidade e expectativa
contradições estruturais que limitam as oportunidades de de vida do idoso, evitando que ocorra o declínio de todos
diferentes grupos sociais. os processos fisiológicos, mantendo-se um estilo de vida
ativo e saudável podendo retardar as alterações
morfofuncionais que ocorrem com a idade.

32
na área da saúde. O exercício físico melhora as
Atividade Física e Envelhecimento condições articulares, musculares e respiratórias,
contribuindo para retardar o declínio dos sistemas
A atividade física está extremamente ligada ao fisiológicos. A estimulação faz com que as pessoas vivam
processo de envelhecimento ativo, devido aos seus mais a vida, que vivam o hoje, que usem mais a memória
benefícios proporcionados a saúde do idoso, as e a criatividade para criar situações, atividades, alegria e
intervenções com vista a um estilo de vida ativo para um felicidade (ZIMERMAN, 2000). A atividade física regular
envelhecimento bem sucedido podem ser múltiplas. A produz melhorias fisiológicas, independentemente da
atividade física pode ser uma das estratégias eficazes idade. Evidentemente, a magnitude das alterações
para aumentar a expectativa de vida e diminuir os anos depende de vários fatores, incluindo estado de aptidão
de dependência funcional e incapacidade, a vida inicial, idade, e o tipo especifico de treinamento. Com
sedentária é prejudicial à saúde e, pelo contrário, a relação ao fator idade os indivíduos mais idosos não
atividade física regular pode melhorar a qualidade de vida conseguem aprimorar sua força e sua capacidade de
dos idosos (MAZO, 2008). O envelhecimento ativo, endurance no mesmo grau que as pessoas mais jovens
segundo OMS citado por Rosa Neto (2009), é o processo devido ao declínio geral na função neuromuscular assim
de facilitação das oportunidades para a saúde, a como de uma deterioração relacionada com a idade na
participação e a segurança, com o objetivo de melhorar a capacidade das células para síntese protéica e regulação
qualidade de vida á medida que as pessoas envelhecem. química (MCARDLE et. al, 2008). Os exercícios ajudam a
Este processo permite que as pessoas percebam seu manter a capacidade física, à medida que o tempo
potencial para o bem estar físico, social e mental ao longo envelhece a todos, aumentando a qualidade de vida,
da vida, e permite que essas pessoas participem da diminuindo o risco de quedas e mantendo ou melhorando
sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e a funcionalidade (SANGLARD et. al, 2004). Os cientistas
capacidades, protegendo-as e providenciando segurança enfatizam cada vez mais a necessidade de que a
e cuidados quando necessários. O envelhecimento bem atividade física seja parte fundamental dos programas
sucedido pode ser caracterizado pela presença de três mundiais de promoção da saúde. Não se pode pensar
situações essenciais que interagem dentro de uma hoje em dia em prevenir ou minimizar os efeitos do
relação dinâmica, a saber: baixa probabilidade de envelhecimento sem que além das medidas gerais de
doenças e de incapacidades associada a elas, boa saúde, inclua-se a atividade física (MATSUDO et. al,
capacidade funcional, tanto física quanto cognitiva, e 2000). Segundo Rebelatto Junior et al. (2006) a pratica de
participação ativa na sua comunidade. Não basta exercícios físicos é uma forma preventiva primária,
somente a ausência das doenças e de incapacidades, atrativa e eficaz para manter e melhorar o estado de
mas também a presença ou a gravidade de fatores de saúde física e psíquica em qualquer idade, tendo efeitos
risco como obesidade, fumo, intolerância á glicose e benéficos diretos e indiretos para prevenir e retardar as
outros (LITCOV e BRITO 2004). Envelhecimento perdas funcionais do envelhecimento, reduzindo os riscos
saudável passa a ser a resultante da interação de enfermidades e transtornos freqüentes da terceira
multidimensional entre saúde física, saúde mental, idade tais como as coronariopatias, a hipertensão,
independência na vida diária, integração social, suporte diabetes, a osteoporose, a desnutrição, a ansiedade, a
familiar e independência econômica. A perda de um ente depressão e a insônia. Já Pascoal et. al (2006) diz que a
querido, a falência econômica, uma doença incapacitante, atividade física contribui para que as pessoas se libertem
um distúrbio mental, um acidente, são eventos cotidianos de pré-conceitos estabelecidos culturalmente, atua na
que podem juntos ou isoladamente, comprometer a manutenção da saúde, melhora as funções orgânicas, na
capacidade funcional de um indivíduo. O bem-estar na parte social facilitar a convivência, e na parte psicológica
velhice, ou saúde num sentido amplo, seria o resultado atua na melhora da auto-estima consciêntizando o idoso
do equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade de que pode participar de muitas atividades e ações, e
funcional do idoso, sem necessariamente significar que envelhecer faz parte de um fenômeno de
ausência de problemas em todas as dimensões (RAMOS, corporeidade, que é natural. A avaliação do idoso deve
2003). A relação entre atividade física e envelhecimento ser um instrumento auxiliar no planejamento e no
tem promovido muitas discussões cientificas através da processo de ensino aprendizagem de um programa de
prevenção da saúde, segundo Freitas et al. (2006) atividade física, que deve estar comprometido com a
atualmente é um consenso entre os profissionais da área mudança de atitude para um estilo de vida ativo, que
da saúde que a atividade física é um fator determinante avance em propostas de intervenções sociais, políticas e
no sucesso do processo do envelhecimento. Assim a econômicas para um envelhecimento ativo e saudável
atividade física é definida como qualquer movimento (ROSA NETO, 2009). A classificação do nível de
corporal produzido em conseqüência da contração atividade física, conforme Rocha et. al (2008) classifica os
muscular e que resulte em gasto calórico. Conforme indivíduos em ativos (os que acumulam mais de 150
Litcov e Brito (2004) grande parte das evidências minutos de atividades moderadas ou intensas por
epidemiológicas sustenta um efeito positivo do estilo de semana) e insuficientemente ativos (os que acumulam
vida ativo ou do envolvimento dos indivíduos em menos de 150 minutos de atividades moderadas ou
programas de atividade física e exercício na prevenção e intensas por semana). O conhecimento do nível de
minimização dos efeitos deletérios do envelhecimento, os atividade física habitual da população é uma informação
cientistas enfatizam cada vez mais a necessidade de que importante no sentido de prevenir possíveis
a atividade física seja parte fundamental dos programas acometimentos decorrentes de um estilo de vida
mundiais de promoção da saúde. Não se pode pensar, sedentário. São vários os efeitos benéficos da atividade
hoje em dia, em garantir um envelhecimento bem- física na saúde e na qualidade de vida durante o
sucedido sem que, além das medidas gerais de saúde, processo de envelhecimento, sendo benefícios
inclua-se a atividade física. No processo de fisiológicos como: controle de peso corporal, aumento da
envelhecimento a necessidade de exercícios físicos está densidade óssea, melhora na força muscular, diminui a
mais do que provada pelos cardiologistas, pressão arterial, benefícios psicológicos como: aumento
reumatologistas ou profissionais de outras especialidades

33
da auto-estima, aumento do bem-estar, alivia estresse, o melhor aproveitamento dos aminoácidos na
entre outros (LITCOV e BRITO 2004). manutenção e formação dos músculos.

Nutrição e Atividade Física Hipertrofia

É interessante diferenciarmos atletas de pessoas Para quem está preocupado com a definição e o aumento
fisicamente ativas. Os primeiros são esportistas dos músculos (hipertrofia muscular) é importante saber
profissionais que se submetem em seus treinos diários a que uma alimentação que fornece diariamente de 12 a
uma carga de exercícios bastante intensa e por conta 15% do valor calórico total em proteínas é suficiente para
disso tem seu metabolismo e necessidades nutricionais atender as necessidades de quem pratica atividade física
completamente alterados e aumentados. Ao passo que com essa finalidade. Os resultados sobre o uso da
pessoas fisicamente ativas são aquelas que buscam na suplementação com aminoácidos para o aumento de
prática de atividades físicas, a promoção da saúde, a massa muscular assim como seus respectivos efeitos
qualidade de vida e o bem estar. Os cuidados nutricionais colaterais à longo prazo, são controversos. Por isso, uma
com atletas devem ser não só de melhora da alimentação equilibrada, planejada e individualizada que
performance durante os treinos e provas, mas também de garanta a ingestão de porções adequadas de alimentos
reposição das perdas de vários nutrientes que ocorrem fontes de proteínas é o caminho mais saudável, além da
durante os exercícios. Pessoas fisicamente ativas não prática de exercícios indicados para este fim e orientados
podem ter como referência a alimentação de atletas por um profissional. É importante também não descuidar
profissionais. A alimentação nos dois casos, atletas e do consumo de carboidratos na quantidade e horários
fisicamente ativos, é uma grande aliada, mas com recomendados. Além de garantir a manutenção do tônus
estratégias e objetivos diferentes.A abordagem nutricional muscular, os carboidratos mantêm os depósitos de
que segue, refere-se aos cuidados com a alimentação de glicogênio muscular e hepático sempre repletos e
pessoas fisicamente ativas. preservam a utilização da proteína dos músculos como
fonte de energia.
Carboidratos: A alimentação tanto das pessoas
sedentárias como daquelas praticantes de Lipídeos: O consumo de gorduras deve ficar
atividades físicas deve conter, em grande parte, entre 20% e 25% do valor calórico total da
alimentos que fornecem carboidratos, fontes de alimentação diária, tanto para pessoas
glicose, o principal combustível do nosso corpo. sedentárias como para indivíduos fisicamente
Cerca de 60 a 65% do total de calorias de uma ativos.Quando a prática de atividades físicas
alimentação saudável deve ser proveniente de visa o emagrecimento e a manutenção do peso
alimentos ricos em carboidratos, a base da corporal, os resultados são mais rápidos se
Pirâmide de Alimentos (pães, arroz, macarrão, houver maior controle e restrição no consumo de
batata).A glicose é armazenada em nosso corpo gorduras pela alimentação.Assim como os
sob a forma de glicogênio muscular e hepático. alimentos fontes de proteínas, os alimentos que
Os carboidratos são a matéria-prima para a contém gorduras, por terem a digestão mais
produção do glicogênio que é a primeira e lenta, não devem ser consumidos próximos aos
principal fonte de energia utilizada durante o horários dos exercícios. Do total de 25% das
exercício. Os estoques musculares e hepáticos calorias provenientes das gorduras recomenda-
de glicose são limitados e por isso é importante se:
atentar para o consumo de carboidratos quando Acima de 40% de gorduras monoinsaturadas
se pratica exercícios.De 2 a 3 horas antes das (azeite de oliva extra virgem processado à frio,
atividades físicas é importante fazer uma óleo de canola, abacate, nozes, castanhas,
refeição basicamente com alimentos ricos em linhaça, semente de abóbora, semente de
carboidratos ou um pequeno lanche, 1 hora girassol, gergelim e peixes de águas frias - atum,
antes.Após os exercícios os músculos têm "fome arenque, salmão, cavalinha, truta e sardinhas);
e sede" de carboidratos. Logo após as atividades Abaixo de 33% de gorduras saturadas
físicas, o carboidrato é muito bem vindo, pois (alimentos de origem animal, azeite de dendê,
repõe os estoques de glicogênio, beneficiando coco, óleo de coco e banha) e gorduras
assim a recuperação e a preparação dos hidrogenadas (alimentos industrializados); Em
músculos para atividades posteriores. torno de 33% de gorduras poliinsaturadas
(margarinas e óleos).
Proteínas: A ingestão de proteínas deve manter
a mesma proporção máxima recomendada para Hidratação: A ingestão de água e/ou água de
indivíduos saudáveis e sedentários, ou seja, 12 a coco, antes, durante e após as atividades é
15% em relação ao valor calórico total da necessária para o bom desempenho físico,
alimentação diária. Os alimentos fontes de manutenção dos líquidos corporais e
proteínas (leite, iogurtes, queijos, carnes, ovos, temperatura corporal. Somente a água e/ou
feijões, nozes) não devem ser consumidos muito água de coco é suficiente para repor a perda
próximos do início e término das atividades hídrica e de minerais em atividades leves e
físicas, uma vez que têm uma digestão mais moderadas (caminhada, musculação, ginástica,
lenta e, com isso, provocam o desconforto hidroginástica, dança). A ingestão de bebidas
gástrico. Alimentos ricos em proteínas devem isotônicas para a reposição rápida de água e
ser consumidos distantes dos horários de sais minerais é indicada para atletas
atividade física e de forma fracionada, ou seja, profissionais que tem um treinamento intenso e
em várias refeições ao longo do dia, garantindo freqüente. O uso de carboidratos em gel ou

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soluções com algum tipo de carboidrato simples Licopeno: tomate, molho de tomate, goiaba,
diluído seguem o mesmo critério. melancia.

Vitaminas, Minerais e Antioxidantes: As Observação: O licopeno é melhor absorvido em nosso


vitaminas e minerais são encontrados organismo após ter passado pelo processo de cozimento
naturalmente nos alimentos e atuam na e na presença de gorduras, de preferência
produção de energia e em uma série de reações monoinsaturadas (azeite, nozes, castanhas).
metabólicas que envolvem proteínas,
carboidratos e lipídeos.Teoricamente uma
alimentação equilibrada e planejada, onde Urgências na Educação Física
estejam presentes, diariamente, as porções
adequadas de todos os Grupos alimentares, é Sinais Vitais
suficiente para atender aos requerimentos de
vitaminas e minerais dos indivíduos sedentários Respiração
e praticantes de atividades físicas moderadas.
Entretanto, sabe-se que a prática de atividade - observe o movimento do tórax,
física leva ao aumento do consumo de oxigênio
e, conseqüentemente, da produção de radicais - aproxime-se da boca ou nariz
livres, sendo assim é importante atentar para da vítima para ouví-la
que alimentos fontes de antioxidantes estejam
presentes na alimentação diária e assim
promovam o fortalecimento das defesas Batimentos Cardíacos
imunológicas e retardem o envelhecimento
precoce. - encoste o ouvido no tórax da vítima,
procurando ouví-los

Seguem alguns antioxidantes essenciais e suas - verifique o pulso


respectivas fontes alimentares:

Betacaroteno (pré-vitamina A): abóbora, Medida do Pulso


moranga, agrião, batata doce, brócolis,
pimentas, cenoura, couve, espinafre, melão - dedo indicador e o dedo médio, na região do punho ou
amarelo, mamão, damasco, pêssego. do pescoço

Vitamina C: melão, pimentão e frutas cítricas - pulsação da artéria


como kiwi, goiaba, caju, abacaxi, morango,
laranja, tangerina, maracujá, cereja e acerola. - não utilize seu polegar

Vitamina E: amêndoas, avelãs, amendoim,


castanha do para, azeite de oliva, óleo de Freqüência Cardíaca
girassol, leite, batata doce, abacate, manga,
gérmen de trigo. Número de Batimentos

Cobre: grãos integrais, chocolate amargo, - 15 segundos x 4 = número de batimentos por minuto
carnes e legumes.
Freqüência Classificação
Zinco: carnes, ostras, moluscos, grãos, cereais < que 70 Lento (bradicardia)
integrais e alimentos enriquecidos. 70 a 90 Normal
91 a 98 Rápido (taquicardia)
Selênio: grãos, alho, cebola, castanha do pará, Trata-sede uma urgência
carnes, peixes, leite e derivados. Acidentados costumam
98 a 150 estar nesta faixa
Antocianidas: frutas Catequinas: chás de folhas inicialmente, devendo voltar
verdes, ban-chá. ao normal após o “susto”
Emergência
Flavonas: frutas e vegetais Sulfuranos: vegetais > que 150 Pedir auxílio médico
crucíferos - brócolis, couve-flor, repolho liso, urgente
repolho roxo, couve manteiga, couve de
Bruxelas.
Tipos de Lesão
Quercetinas: cebolas roxa e amarela, brócolis,
uvas rosadas. - Luxação
Glutationa: abacate, aspargos, brócolis, - Entorse
melancia.
- Distensão
Resveratrol: uvas rosadas com casca, vinho
tinto, suco de uvas rosadas. - Fratura

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- Contusão
Atendimento

Luxação - Não mover o paciente antes de conhecer a


lesão
- Lesões em que a extremidade de um dos
ossos que compõe uma articulação é deslocada - Não lhe permitir levantar-se ou sentar-se
de seu lugar.
- Não lhe dar álcool ou estimulantes
- A lesão dos tecidos pode ser muito grave,
afetando vasos sangüíneos, nervos e a cápsula - Não remover a vítima sem uma prévia
articular. Ocorre com maior freqüência em imobilização
dedos, tornozelo, quadril e ombro.
- Caso não possa fazer imobilização, cubra e
aqueça a vítima
Entorses
- Em caso de hemorragias, faça compressão
- São lesões nos ligamentos. Podem ser de grau sobre o sangramento com pano limpo
mínimo ou complexo com ruptura completa do
ligamento. Ocorre com maior freqüência nos - Imobilize todas as fraturas, usando talas
tornozelos, joelhos e punhos. improvisadas

- Chame a ambulância ou remova


Distensões imediatamente para o ambulatório de
acidentados
- Lesões aos músculos ou seus tendões.
Geralmente são causadas por hiperextensão ou
por contrações violentas. Pode ocorrer ruptura Imobilização
do tendão.
1. Descubra a lesão cortando a roupa e
inspecione o segmento afetado observando
Fratura feridas abertas, deformidades, edemas e
hematomas. Sempre compare uma extremidade
- É a ruptura total ou parcial de um osso, com ou com a outra;
sem desvio dos fragmentos
2. Remova anéis e braceletes que podem
comprometer a vascularização. Em
Contusão extremidades edemaciadas (inchadas) é
necessário cortá-los com instrumento
- É o amassamento nas partes moles apropriado. Em caso de lesões em membros
inferiores deve-se retirar sapatos e meias;

Tipos de Fraturas 3. Cubra lesões abertas com bandagens estéreis


ou panos limpo antes de aplicar a tala;
Fratura Exposta: ferida na pele sobre a lesão
que pode ser produzida pelo osso ou por objeto 4. Coloque as extremidades em posição
penetrante; anatômica e alinhada. Se houver resistência
imobilize na posição encontrada. Aplique a tala
Fratura Fechada: a pele sobre a fratura está imobilizando com as mãos o segmento lesado
intacta. de modo a minimizar movimentos do membro;

5. Imobilize o membro cobrindo uma articulação


Sinais e Sintomas acima e abaixo da lesão. A imobilização alivia a
dor, produz hemostasia (controle da hemorragia)
- Dor intensa que aumenta com o movimento e diminui a lesão tecidual.

- Inchação do ponto fraturado


Lesão na Coluna
- Deformidade de contorno
- Manter a vitima agasalhada e imóvel
- Perda de função (Dificuldade de movimento)
- Não mexer nem deixar ninguém tocar na vítima
- Posição anormal do membro fraturado até a chegada de socorro

- Mobilidade insólita de um ponto, como se ali - Não virar a vítima


houvesse uma nova articulação
- Transportar o paciente em maca ou padiola
- Sensação de crepitação

36
- Evitar abalos no transporte, para não agravar às reflexões sócio históricas, que ficavam em segundo
as lesões plano. É importante salientar que estas considerações
também eram inerentes às outras áreas (disciplinas), não
- Imobilizar com cintos as lesões no pescoço só à Educação Física. Por conseguinte, o papel da Edu
cação Física Escolar era o de aprimorar a potencialidade
- Deite a vitima em decúbito dorsal (barriga para dos alunos / atletas, com ênfase na aprendizagem espor
cima) colocando por baixo do pescoço e cintura, tiva visando rendimento, sem, entretanto, abandonar os
um travesseiro ou toalha dobrada, de forma que modelos anteriores do higienismo e militarismo. Daí a
se eleve forte presença da aprendizagem do modelo esportivo no
imaginário da Educação Física até os dias de hoje. O pa
pel do professor é semelhante ao do técnico, do treinador
5. A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CURRÍCULO e o do aluno, ao de atleta (SOARES et al., 1992).
Infelizmente esta tendência foi muito intensa e está
DA EDUCAÇÃO BÁSICA - SIGNIFICADOS E
presente até hoje nas aulas Educação Física Escolar e
POSSIBILIDADES: AS DIFERENTES nas concepções dos professores. Segundo Darido (2003)
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA a partir do final da década de 70, surgem novas
EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA concepções pedagógicas na Educação Física Escolar.
Um fator importante para o surgimento das novas conce
Tendências Pedagógicas da Educação Física na Es pções na área foi a valorização dos conhecimentos
cola científicos, que se deu principalmente com a volta de
vários professores que se especializaram nos principais
De acordo com Darido (2004) as Tendências Pedagó centros de pesquisa no exterior e retornam ao país como
gicas podem ser entendidas como pressupostos peda doutores, com uma nova visão a respeito dos objetivos da
gógicos que caracterizam uma determinada linha peda Educação Física na escola. A partir dos anos 80, cresce
gógica adotada pelo professor em sua prática, ou seja, uma forte necessidade de rompimento com a forma da
são criadas em função dos objetivos, propostas educa execução da Educação Física no passado, negando as
cionais, prática e postura do professor, metodologia, concepções (tradicionais) anteriores dando origem ao
papel do aluno, dentre outros aspectos. Nascimento movimento autodenominado “renovador” (RESENDE,
(2000) ressalta o fato das várias proposições metodológi 1994). Entre as teorias que apresentam propostas para a
cas, neste estudo denominadas tendências pedagógicas, superação e rompimento do modelo mecanicista/espor
serem construídas ao longo do processo histórico brasi tivista/tradicional, as que se tornaram mais conhecidas
leiro e possuírem estreita relação com o contexto político, foram: a psicomotricidade, a desenvolvimentista, a cons
econômico e social de cada época, ou seja, transpõem trutivista, a crítico superadora e a crítico emancipatória
essas características em seus aspectos didático peda (DARIDO, 2003). No mesmo sentido a proposta contida
gógicos. Segundo Melo (1999), a história da Educação nos Parâmetros Curriculares Nacionais –PCNs, docu
Física encontrou institucionalização no Brasil Imperial, em mentos criados na década de 90, pelo Ministério da
meados de 1822 a 1889, quando a atividade física ga Educação – MEC é apresentado como fonte orientadora
nhou espaço nas Leis e Decretos que legislam acerca da das práticas pedagógicas dos professores na escola.
Educação Física e Desportos, reforçadas pelos pareceres Essas concepções, surgidas em contraposição à vertente
de um dos Patronos da Educação Física Brasileira: “Rui tradicional, foram denominadas tendências pedagógicas
Barbosa”, que, naquela época, buscava chamar atenção “Renovadoras”, e emergiram da articulação entre as dife
para os valores que a atividade física podia desenvolver. rentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções
Diante desse significativo apelo e da mobilização social filosóficas. A PSICOMOTRICIDADE, que tem como seu
desencadeada, assistiu se em 1851, a promulgação da lei principal autor/pesquisador o estudioso francês, Jean Le
nº 630 que incluía a ginástica nos currículos escolares no Boulch, abordando o fato de que a atividade motora está
Brasil. De acordo com o autor, foi desse modo que a diretamente relacionada aos aspectos psicológicos (emo
Educação Física brasileira transpôs os muros da escola cionais e cognitivos) do indivíduo. Para o autor, há uma
trazendo características da ideologia positivista. Este relação de interdependência entre essas áreas. Segundo
caráter militarista perdurou durante as quatro primeiras Darido (2004) a psicomotricidade também é utilizada pela
décadas do século XX, valorizando a educação do físico Psicologia, Pedagogia, Psiquiatria e Neurologia, sendo
e da saúde corporal. Percebe se uma forte influência dos que na Educação Física ganhou força e influência
métodos ginásticos trazidos pelos professores de Edu somente nas décadas de 70 e 80. Já a DESEN
cação Física europeus que apresentavam uma rígida VOLVIMENTISTA, também surgida nos anos 80, destina
formação militar. De acordo com Resende (1994), a se principalmente às crianças de quatro a quatorze anos,
ginástica militar, enquanto conteúdo da Educação Física defende que as aulas de Educação Física promovam a
escolar começa a se dissipar, dando lugar aos esportes. aquisição de habilidades motoras, como andar, correr,
Para Assis de Oliveira (2001), a influência do esporte na saltar, arremessar, rolar, respeitando certos padrões
Educação Física se dá após a segunda guerra mundial, apontados como ideais para cada faixa etária e que serão
fortalecida pela ditadura militar que em seus objetivos úteis ao longo da vida do aluno. Destaca se como prin
incluía o desenvolvimento das aptidões físicas pela exe cipal obra desta tendência, “Educação Física Escolar:
cução mecânica de exercícios de alto rendimento. Dessa fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista”
forma, o aluno era visto como um atleta em potencial e as (TANI et al., 1988). Os autores ressaltam que não se
aulas de Educação Física deveriam desenvolver a deve defender a Educação Física como meio de solu
qualidade e performance dos movimentos. No ESPOR cionar os problemas de cunho social do Brasil, mas sim
TIVISMO, os objetivos e a metodologia assemelhavam se privilegiar nas aulas de Educação Física a aprendizagem
mais a um treinamento, centrando se nas repetições para do movimento para obtenção e desenvolvimento das
a aquisição da técnica (forma de executar o movimento), habilidades motoras. Abordando se a Tendência INTE
visando atingir um padrão de rendimento máximo. Assim, RACIONISTA CONSTRUTIVISTA, constata se a influen
as informações técnicas eram exaltadas em contrapartida cia da Psicomotricidade, tanto na busca da formação

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integral, com a inclusão das dimensões afetivas, cog dimento do que é Educação Física; a concepção de corpo
nitivas ao movimento humano, como na discussão sobre e movimento e os conteúdos e objetivos [...] (CAPAR
o papel da Educação Física na escola. E assim como a ROZ, 2003, p. 306). Segundo Darido (2004) estes docu
psicomotricidade, tem uma proposta de ensino princi mentos objetivam subsidiar a versão curricular dos
palmente voltada para crianças na faixa etária até os 10 Estados e municípios respeitando e empregando comu
11 anos, ou seja, dentro dos primeiros ciclos do Ensino mente as experiências já existentes, por meio de refle
Fundamental. O principal representante desta concepção xões e discussões internas de cada escola (de acordo
no Brasil é o professor João Batista Freire e a obra de com suas realidades sociais) elaborando projetos, dando
maior expressão ”Educação de corpo inteiro – Teoria e sustentação a prática pedagógica dos professores.
prática da Educação Física” (FREIRE, 1989). Ele defende Segundo Darido et al. (2001) os PCNs elegem a
nesta obra a idéia de que a escola não pode se ater so cidadania como eixo norteador trabalhando valores como
mente às capacidades cognitivas da criança, mas ao cor respeito mútuo, dignidade, solidariedade; valorizam a
po como um todo. Uma das principais abordagens da pluralidade da cultura corporal. Propõe a utilização de
Educação Física Escolar que também se opõe ao modelo hábitos saudáveis; analisa criticamente os padrões de
mecanicista / esportivista, surge embasada filosófica estética e beleza apresentados pela mídia e impregnados
mente no Marxismo e denominada CRÍTICO SUPERA em nossa sociedade; além de reivindicar espaços apro
DORA. Segundo Soares et al. (1992) a tendência Crítico priados para prática de lazer e atividades corporais. E,
Superadora é diagnóstica, por que pretende ler os dados por conseguinte, proporcionam aportes relevantes como:
da realidade, interpretá los e emitir um juízo de valor princípio da inclusão (escola dirigida a todos sem
especifica, e trabalha pedagogicamente com a reflexão. A discriminação), as dimensões dos conteúdos (atitudinais,
Educação Física escolar nesta visão aborda os esportes, conceituais e procedimentais) e os temas transversais
as danças, as lutas, as ginásticas e os jogos, como parte (Saúde, Meio Ambiente, Ética, Pluralidade Cultural,
de um conhecimento da cultura corporal do movimento, Orientação Sexual e Trabalho e Consumo). Ainda de
que devem abranger temas da cultura corporal, sempre acordo com a autora, embora as abordagens contenham
ligados à realidade social a que estão inseridos. O enfoques diferenciados entre si, com pontos muitas vezes
professor tem o papel de orientar a leitura da realidade, divergentes, tem em comum a busca de uma Educação
por intermédio dos temas (reais) da cultura corporal Física que articule as múltiplas dimensões do ser
inserido em suas aulas, e o aluno de maneira crítica, humano. Esse fato fez emergir, nos últimos 20 anos,
poderá constatar, interpretar, compreender e explicar a novos olhares e novas reflexões acerca do modus ope
mesma. O marxismo também dá suporte filosófico à ranti das práticas pedagógicas dos professores de Edu
Tendência CRITICO EMANCIPATÓRIA, sendo uma das cação Física e também refletiu nos processos de seleção
principais obras o livro Transformação Didático – Peda para provimento de vagas nas redes estaduais de ensino
gógica do Esporte, escrito em 1994 pelo professor Elenor de todo país. O objeto de estudo deste trabalho consistiu
Kunz, seu principal defensor. De acordo com Assis de em compreender quais concepções de Educação Física
Oliveira (2001) apud Kunz (1994) o nascimento desta têm norteado tais processos.
proposta pedagógica deu se em virtude da falta de pro
postas teórico práticas em nível do desenvolvimento con
creto na realidade escolar, surgindo com propósito de Elementos Organizativos do Ensino da Educação Fí
acrescentar aos avanços das reflexões / produções sica: Objetivos, Conteúdos, Metodologia e Avaliação
didático pedagógicas da Educação Física escolar. Nesta Escolar
concepção o principal conteúdo na Educação Física es
colar é o Esporte, pedagogicamente desenvolvido de ma Na sociedade moderna, com a transição de uma soci
neira reflexiva, voltado à formação de um aluno crítico e edade rural para uma industrial, com a urbanização e
emancipado. Kunz (2001) salienta que pode se entender expansão do capitalismo, a escola passou a ter uma
por emancipação, um processo contínuo de libertação do grande importância na formação do Homem (SAVIANI,
aluno, das condições limitantes de suas capacidades 2000). De acordo com Kunz (1991), institucionalizou se o
racionais críticas e até mesmo o seu agir no contexto processo educacional com o intuito de reforçar os valores
sócio cultural e esportivo. Kunz (2001) critica o livro coerentes para a sociedade. Ou seja, a escola e a educa
Metodologia do Ensino da Educação Física (Soares et al., ção têm uma importante função na reprodução das rela
1992), por “intransparência metodológica” no ensino da ções sociais de produção , e no controle social, sendo
Educação Física, pois não esclarece como relacionar o que “o educando só pode interagir na forma de modelos
conhecimento com a prática, ou seja, por não explicitar rotinizados, tipificados e normatizados do agir” (BERGER;
qual o conhecimento que os alunos devem adquirir para LUCKMANN apud KUNZ, 1991, p.144). Nesse sentido, a
criticar e compreender o esporte, indo além da simples educação aqui significa levar o indivíduo a internalizar
prática. Esta tendência pode ser compreendida como um valores, normas de comportamento que lhe possibilitarão
agir comunicativo, ou seja, proporciona ao aluno o desen se adaptar à sociedade capitalista. Isto é, uma educação
volvimento de uma capacidade consciente de questio que forma indivíduos alienados em relação às questões
namento e argumentação acerca dos temas abordados da sociedade, que não questionam a sua realidade, que
nas aulas. No decorrer das décadas de 1980 e 1990 não são críticos em prol de um desenvolvimento ade
ocorreu um embate político na construção de políticas quado de suas capacidades. Enfim, uma educação a ser
educacionais que culminou com a LDBEN e nos desdo viço dos detentores do poder, da classe dominante (BRA
bramentos desta, não colocando um ponto final nesse CHT, 1992). Contudo, a educação precisa ter como foco
embate, mas sim redimensionando os (CAPARROZ, principal à formação de cidadãos conscientes, ativos e
2003). Um destes desdobramentos são os PCNS – críticos em nossa sociedade, atuando como sujeito de
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. A cons sua história e não meramente um objeto da mesma. As
trução dos PCNs se pautou na perspectiva de compre sim, o aluno necessita ser instigado a refletir sobre a sua
ender o texto como uma tentativa de síntese propositiva realidade, o seu contexto social. Em outras palavras, o
de inserção da Educação Física no currículo escolar. Os educando deve realizar uma leitura de sua realidade.
interrogantes que guiaram o estudo foram: o enten Uma leitura crítica regada de intenções pedagógicas,

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envolvendo toda a comunidade escolar (KUNZ, 1991). Física nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental e, pos
Mas, o histórico sobre a atuação da Educação Física no teriormente, na Educação Infantil. Nesse aspecto, des
Brasil faz com que fique claro o papel a que se prestou a tacamos a relevância de uma proposta pedagógica às
disciplina no contexto educacional, isto é, de servir a Séries Iniciais do Ensino Fundamental a fim de, inten
interesses ideológicos, tendo pouca preocupação com o cionalmente, propiciar o desenvolvimento integral da
Homem em si, suas necessidades e carências (BERES criança. Uma proposta regada de intencionalidades coe
FORD, 2002). A Educação Física Escolar atual tem rentes com a realidade escolar, buscando uma inter
resquícios históricos bastante fortes na ação pedagógica venção pedagógica adequada e coerente no processo de
do professor, pois “historicamente, o corpo tem sido visto ensino e aprendizagem. Portanto, a ação educacional
e tratado preferencialmente do ponto de vista de sua deve refletir se à interpretação das intencionalidades dos
Anatomia e Fisiologia. O corpo trabalhado nas aulas de educandos, ou seja, não é simplesmente o atendimento
Educação Física vem sendo um corpo coisificado” dos interesses e necessidades dos educandos, nem tão
(MOREIRA apud BERESFORD, 2002, p.101). Dessa pouco a imposição de conhecimentos (Mollenhauer apud
maneira, a Educação Física Escolar fica respaldada so KUNZ, 1991), pois, segundo Menezes Filho (2002), a
mente na finalidade do desenvolvimento de habilidades educação, por se constituir uma prática social, não é uma
motoras e capacidades físicas consideradas necessárias ação neutra, mas carregada de objetivos e propósitos
para a prática dos esportes institucionalizados. Segundo bem definidos quanto ao que se quer alcançar, ou man
Daolio (1996), mediante uma metodologia puramente ter, ou reforçar ou transformar. Carreiro da Costa (1994)
tecnicista, a Educação Física Escolar atua homogene afirma que o sucesso educativo somente terá efeito
amente, tendendo para a universalização de sua meto quando houver uma efetiva materialização na capacidade
dologia, partindo do pressuposto de que o corpo respon de intervenção do professor no ensino onde torna o pro
derá sempre da mesma forma. Fica caracterizada, então, fessor um dos elementos essenciais do processo forma
uma Educação Física Escolar resguardada em um tivo e a prática pedagógica um problema central da ação
método onde a cultura corporal de movimento dos indi educativa. O autor ainda infere que a educação enquanto
víduos é negada, a opinião de cada um é desconsiderada atividade estritamente humana é caracterizada por ser
e a repreensão dos atos e atitudes é constante. A tra uma ação consciente, organizada e coerente. Assim, o
dição cultural existente em nossa área, conforme Daolio ensino só se inscreverá no âmbito da atividade educativa
(1996), tem como principal aspecto à consideração do quando refletir uma metodologia detentora das seguintes
Homem como uma entidade exclusivamente biológica, e características: intencionalidade (efeitos educativos dese
seu corpo constituído por um conjunto de músculos, jáveis) previsibilidade, controle e eficácia.
ossos e articulações, passíveis de um treinamento e por
tanto de melhor rendimento. Ou seja, é a visão dualista
do Homem. Dessa forma, o professor de Educação Objetivos
Física, em sua maioria, realiza um trabalho inadequado e
equivocado, desenvolvendo um processo pedagógico São objetivos do ensino da Educação Física:
sem uma intencionalidade educativa definida, gerando,
assim, uma redução das suas possibilidades educativas, • participar de atividades corporais, estabele
de seu potencial educativo. Acarretando um descrédito cendo relações equilibradas e construtivas com
depositado no profissional de Educação Física na escola. os outros, reconhecendo e respeitando carac
Verificamos, assim, tanto na prática pedagógica dos terísticas físicas e de desempenho de si próprio
professores nas escolas, como em muitos trabalhos já e dos outros, sem discriminar por características
desenvolvidos, que a Educação Física Escolar atua com pessoais, físicas, sexuais ou sociais;
finalidades vinculadas ao esporte institucionalizado e à
aptidão físico motora, tendo maior visibilidade nas Séries • adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e
Finais do Ensino Fundamental. Assim, o conteúdo central solidariedade em situações lúdicas e esportivas,
se resume ao esporte, por um lado devido aos grandes repudiando qualquer espécie de violência;
espetáculos propiciados pelo esporte de alto rendimento
e por outro, segundo Bracht (1992), pela ligação do • conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da
esporte ao ideal da educação e da saúde. Entretanto, ao pluralidade de manifestações de cultura corporal
deslocarmos nossos olhares para a Educação Física do Brasil e do mundo, percebendo as como
Escolar nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, se recurso valioso para a integração entre pessoas
gundo o Grupo de Estudos Ampliados de Educação e entre diferentes grupos sociais;
Física (1996), as tendências da Educação Física são: a
psicomotricidade; o desenvolvimento e aprendizagem • reconhecer se como elemento integrante do
motora; e, a recreação. Sendo que, de acordo com os ambiente, adotando hábitos saudáveis de higi
mesmos autores, a psicomotricidade legitimou se como ene, alimentação e atividades corporais, relacio
conteúdo da Educação Física Escolar em contraposição nando os com os efeitos sobre a própria saúde e
do modelo esportivo tornado hegemônico na escola, prin de recuperação, manutenção e melhoria da
cipalmente no que se relacionava a precocidade do saúde coletiva;
ensino de modalidades esportivas para crianças das sé
ries iniciais. O desenvolvimento e aprendizagem motora, • solucionar problemas de ordem corporal em
ao contrário, instalou se como reforçador do modelo es diferentes contextos, regulando e dosando o
portivo, como precedente ao esporte de rendimento, esforço em um nível compatível com as possi
voltando se ao desenvolvimento das habilidades motoras bilidades, considerando que o aperfeiçoamento e
necessárias a um futuro desempenho esportivo. A recre o desenvolvimento das competências corporais
ação é apropriada pela Educação Física a partir do mode decorrem de perseverança e regularidade e
lo do “lazer” ou da “Educação Física informal”; sendo que devem ocorrer de modo saudável e equilibrado;
num primeiro momento foi utilizada como conteúdo e
método para o desenvolvimento das aulas de Educação

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• reconhecer condições de trabalho que com ginásticas Atividades rítmicas e expressivas. Os três
prometam os processos de crescimento e blocos articulam se entre si, têm vários conteúdos em
desenvolvimento, não as aceitando para si nem comum, mas guardam especificidades. O bloco “Conhe
para os outros, reivindicando condições de vida cimentos sobre o corpo” tem conteúdos que estão incluí
dignas; dos nos demais, mas que também podem ser abordados
e tratados em separado. Os outros dois guardam
• conhecer a diversidade de padrões de saúde, características próprias e mais específicas, mas também
beleza e estética corporal que existem nos dife têm interseções e fazem articulações entre si.
rentes grupos sociais, compreendendo sua
inserção dentro da cultura em que são produ
zidos, analisando criticamente os padrões divul Conhecimentos sobre o Corpo
gados pela mídia e evitando o consumismo e o
preconceito; Este bloco diz respeito aos conhecimentos e com
quistas individuais que subsidiam as práticas corporais
• conhecer, organizar e interferir no espaço de expressas nos outros dois blocos e dão recursos para o
forma autônoma, bem como reivindicar locais indivíduo gerenciar sua atividade corporal de forma
adequados para promover atividades corporais autônoma. O corpo é compreendido como um organismo
de lazer, reconhecendo as como uma necessi integrado e não como um amontoado de “partes” e “apa
dade básica do ser humano e um direito do relhos”, como um corpo vivo, que interage com o meio
cidadão físico e cultural, que sente dor, prazer, alegria, medo, etc.
Para se conhecer o corpo abordam se os conhecimentos
anatômicos, fisiológicos, biomecânicos e bioquímicos que
Conteúdos capacitam a análise crítica dos programas de atividade
física e o estabelecimento de critérios para julgamento,
Com a preocupação de garantir a coerência com a com escolha e realização que regulem as próprias atividades
cepção exposta e de efetivar os objetivos, foram eleitos corporais saudáveis, seja no trabalho ou no lazer. São
os seguintes critérios para a seleção dos conteúdos tratados de maneira simplificada, abordando se apenas
propostos: os conhecimentos básicos. No ciclo final da escolaridade
obrigatória, podem ser ampliados e aprofundados. É
• Relevância Social: Foram selecionadas práticas da cul importante ressaltar que os conteúdos deste bloco estão
tura corporal que têm presença marcante na sociedade contextualizados nas atividades corporais desenvolvidas.
brasileira, cuja aprendizagem favorece a ampliação das Os conhecimentos de anatomia referem se principal
capacidades de interação sociocultural, o usufruto das mente à estrutura muscular e óssea e são abordados sob
possibilidades de lazer, a promoção e a manutenção da o enfoque da percepção do próprio corpo, sentindo e
saúde pessoal e coletiva. Considerou se também de fun compreendendo, por exemplo, os ossos e os músculos
damental importância que os conteúdos da área contem envolvidos nos diferentes movimentos e posições, em
plem as demandas sociais apresentadas pelos Temas situações de relaxamento e tensão. Os conhecimentos de
Transversais. fisiologia são aqueles básicos para compreender as
alterações que ocorrem durante as atividades físicas
• Características dos Alunos: A definição dos conte (freqüência cardíaca, queima de calorias, perda de água
údos buscou guardar uma amplitude que possibilite a e sais minerais) e aquelas que ocorrem a longo prazo
consideração das diferenças entre regiões, cidades e (melhora da condição cardiorrespiratória, aumento da
localidades brasileiras e suas respectivas populações. massa muscular, da força e da flexibilidade e diminuição
Além disso tomou se também como referencial a neces de tecido adiposo). A bioquímica abordará conteúdos que
sidade de considerar o crescimento e as possibilidades subsidiam a fisiologia: alguns processos metabólicos de
de aprendizagem dos alunos nesta etapa da esco produção de energia, eliminação e reposição de
laridade. nutrientes básicos. Os conhecimentos de biomecânica
são relacionados à anatomia e contemplam, principal
• Características da Própria Área: Os conteúdos são mente, a adequação dos hábitos posturais, como, por
um recorte possível da enorme gama de conhecimentos exemplo, levantar um peso e equilibrar objetos. Estes
que vêm sendo produzidos sobre a cultura corporal e conteúdos são abordados principalmente a partir da
estão incorporados pela Educação Física. percepção do próprio corpo, isto é, o aluno deverá, por
meio de suas sensações, analisar e compreender as
alterações que ocorrem em seu corpo durante e depois
Blocos de Conteúdos de fazer atividades. Poderão ser feitas análises sobre
alterações a curto, médio ou longo prazos. Também sob
Os conteúdos estão organizados em três blocos, que a ótica da percepção do próprio corpo, os alunos poderão
deverão ser desenvolvidos ao longo de todo o ensino analisar seus movimentos no tempo e no espaço: como
fundamental, embora no presente documento sejam são seus deslocamentos, qual é a velocidade de seus
especificados apenas os conteúdos dos dois primeiros movimentos, etc. As habilidades motoras deverão ser
ciclos. Essa organização tem a função de evidenciar aprendidas durante toda a escolaridade, do ponto de vista
quais são os objetos de ensino e aprendizagem que prático, e deverão sempre estar contextualizadas nos
estão sendo priorizados, servindo como subsídio ao tra conteúdos dos outros blocos. Do ponto de vista teórico,
balho do professor, que deverá distribuir os conteúdos a podem ser observadas e apreciadas principalmente
serem trabalhados de maneira equilibrada e adequada. dentro dos esportes, jogos, lutas e danças. Também fa
Assim, não se trata de uma estrutura estática ou infle zem parte deste bloco os conhecimentos sobre os hábitos
xível, mas sim de uma forma de organizar o conjunto de posturais e atitudes corporais. A ênfase deste item está
conhecimentos abordado, segundo os diferentes enfo na relação entre as possibilidades e as necessidades
ques que podem ser dados: Esportes, jogos, lutas e biomecânicas e a construção sociocultural da atitude

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corporal, dos gestos, da postura. Por que, por exemplo, existem várias técnicas de ginástica que trabalham o
os orientais sentam se no chão, com as costas eretas? corpo de modo diferente das ginásticas tradicionais (de
Por que as lavadeiras de um determinado lugar lavam a exercícios rígidos, mecânicos e repetitivos), visando a
roupa de uma maneira? Por que muitas pessoas do percepção do próprio corpo: ter consciência da respi
interior sentam se de cócoras? Observar, analisar, ração, perceber relaxamento e tensão dos músculos,
compreender essas atitudes corporais são atividades que sentir as articulações da coluna vertebral. Uma prática
podem ser desenvolvidas juntamente com projetos de pode ser vivida ou classificada em função do contexto em
História, Geografia e Pluralidade Cultural. Além da que ocorre e das intenções de seus praticantes. Por
análise dos diferentes hábitos, pode se incluir a questão exemplo, o futebol pode ser praticado como um esporte,
da postura dos alunos em classe: as posturas mais ade de forma competitiva, considerando as regras oficiais que
quadas para fazer determinadas tarefas, para diferentes são estabelecidas internacionalmente (que incluem as
situações e por quê. dimensões do campo, o número de participantes, o
diâmetro e peso da bola, entre outros aspectos), com
platéia, técnicos e árbitros. Pode ser considerado um
Esportes, Jogos, Lutas e Ginásticas jogo, quando ocorre na praia, ao final da tarde, com times
compostos na hora, sem árbitro, nem torcida, com fins
Tentar definir critérios para delimitar cada uma destas puramente recreativos. Pode ser vivido também como
práticas corporais é tarefa arriscada, pois as sutis uma luta, quando os times são compostos por meninos
interseções, semelhanças e diferenças entre uma e outra de ruas vizinhas e rivais, ou numa final de campeonato,
estão vinculadas ao contexto em que são exercidas. por exemplo, entre times cuja rivalidade é histórica. Em
Existem inúmeras tentativas de circunscrever com muitos casos, esses aspectos podem estar presentes
ceitualmente cada uma delas, a partir de diferentes simultaneamente. Os esportes são sempre notícia nos
pressupostos teóricos, mas até hoje não existe consenso. meios de comunicação e dentro da escola; portanto, po
As delimitações utilizadas no presente documento têm o dem fazer parte do conteúdo, principalmente nos dois
intuito de tornar viável ao professor e à escola ope primeiros ciclos, se for abordado sob o enfoque da
racionalizar e sistematizar os conteúdos de forma mais apreciação e da discussão de aspectos técnicos, táticos e
abrangente, diversificada e articulada possível. Assim, estéticos. Nos ciclos posteriores, existem contextos mais
consideram se esporte as práticas em que são adotadas específicos (como torneios e campeonatos) que possi
regras de caráter oficial e competitivo, organizadas em bilitam que os alunos vivenciem uma situação mais cara
federações regionais, nacionais e internacionais que cterizada como esporte. Incluem se neste bloco as infor
regulamentam a atuação amadora e a profissional. Envol mações históricas das origens e características dos
vem condições espaciais e de equipamentos sofisticados esportes, jogos, lutas e ginásticas, valorização e apre
como campos, piscinas, bicicletas, pistas, ringues, Gina ciação dessas práticas. A gama de esportes, jogos, lutas
sios, etc. A divulgação pela mídia favorece a sua apre e ginásticas existentes no Brasil é imensa. Cada região,
ciação por um diverso contingente de grupos sociais e cada cidade, cada escola tem uma realidade e uma com
culturais. Por exemplo, os Jogos Olímpicos, a Copa do juntura que possibilitam a prática de uma parcela dessa
Mundo de Futebol ou determinadas lutas de boxe gama. A lista a seguir contempla uma parcela de
profissional são vistos e discutidos por um grande número possibilidades e pode ser ampliada ou reduzida:
de apreciadores e torcedores. Os jogos podem ter uma
flexibilidade maior nas regulamentações, que são adap • jogos pré desportivos: queimada, pique ban
tadas em função das condições de espaço e material deira, guerra das bolas, jogos pré desportivos do
disponíveis, do número de participantes, entre outros. futebol (gol a gol, controle, chute em gol reba
São exercidos com um caráter competitivo, cooperativo tida drible, bobinho, dois toques);
ou recreativo em situações festivas, comemorativas, de
confraternização ou ainda no cotidiano, como simples • jogos populares: bocha, malha, taco, boliche;
passatempo e diversão. Assim, incluem se entre os jogos
as brincadeiras regionais, os jogos de salão, de mesa, de • brincadeiras: amarelinha, pular corda, elástico,
tabuleiro, de rua e as brincadeiras infantis de modo geral. bambolê, bolinha de gude, pião, pipas, lenço
As lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) atrás, corre cutia, esconde esconde, pega pega,
ser subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de coelho sai da toca, duro ou mole, agacha aga
desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um cha, mãe da rua, carrinhos de rolimã, cabo de
determinado espaço na combinação de ações de ataque guerra, etc.;
e defesa. Caracterizam se por uma regulamentação es
pecífica, a fim de punir atitudes de violência e de desle • atletismo: corridas de velocidade, de resistên
aldade. Podem ser citados como exemplo de lutas desde cia, com obstáculos, de revezamento; saltos em
as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro até as distância, em altura, triplo, com vara; arremessos
práticas mais complexas da capoeira, do judô e do de peso, de martelo, de dardo e de disco;
caratê. As ginásticas são técnicas de trabalho corporal
que, de modo geral, assumem um caráter individualizado • esportes coletivos: futebol de campo, futsal,
com finalidades diversas. Por exemplo, pode ser feita basquete, vôlei, vôlei de praia, handebol, futvô
como preparação para outras modalidades, como rela lei, etc.;
xamento, para manutenção ou recuperação da saúde ou
ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio • esportes com bastões e raquetes: beisebol,
social. Envolvem ou não a utilização de materiais e tênis de mesa, tênis de campo, pingue pongue;
aparelhos, podendo ocorrer em espaços fechados, ao ar
livre e na água. Cabe ressaltar que são um conteúdo que • esportes sobre rodas: hóquei, hóquei in line,
tem uma relação privilegiada com “Conhecimentos sobre ciclismo;
o corpo”, pois, nas atividades ginásticas, esses conhe
cimento se explicitam com bastante clareza. Atualmente, • lutas: judô, capoeira, caratê;

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expressivos que acompanham uma música canônica. As
• ginásticas: de manutenção de saúde (aeróbica brincadeiras de roda e as cirandas também são uma boa
e musculação); de preparação e aperfeiçoamen fonte para atividades rítmicas. Os conteúdos deste bloco
to para a dança; de preparação e aperfeiçoa são amplos, diversificados e podem variar muito de acor
mento para os esportes, jogos e lutas; olímpica e do com o local em que a escola estiver inserida. Sem
rítmica desportiva. dúvida alguma, resgatar as manifestações culturais
tradicionais da coletividade, por intermédio principalmente
das pessoas mais velhas é de fundamental importância.
Atividades Rítmicas e Expressivas A pesquisa sobre danças e brincadeiras cantadas de
regiões distantes, com características diferentes das dan
Este bloco de conteúdos inclui as manifestações da ças e brincadeiras locais, pode tornar o trabalho mais
cultura corporal que têm como características comuns a completo. Por meio das danças e brincadeiras os alunos
intenção de expressão e comunicação mediante gestos e poderão conhecer as qualidades do movimento expres
a presença de estímulos sonoros como referência para o sivo como leve/pesado, forte/fraco, rápido/lento, fluido/
movimento corporal. Trata se das danças e brincadeiras interrompido, intensidade, duração, direção, sendo capaz
cantadas. O enfoque aqui priorizado é complementar ao de analisá los a partir destes referenciais; conhecer
utilizado pelo bloco de conteúdo “Dança”, que faz parte algumas técnicas de execução de movimentos e utilizar
do documento de Arte. O professor encontrará, naquele se delas; ser capazes de improvisar, de construir
documento, mais subsídios para desenvolver um trabalho coreografias, e, por fim, de adotar atitudes de valorização
de dança, no que tange aos aspectos criativos e à con e apreciação dessas manifestações expressivas. A lista a
cepção da dança como linguagem artística. Num país em seguir é uma sugestão de danças e outras atividades
que pulsam o samba, o bumba meu boi, o maracatu, o rítmicas e/ou expressivas que podem ser abordadas e
frevo, o afoxé, a catira, o baião, o xote, o xaxado entre deverão ser adaptadas a cada contexto:
muitas outras manifestações, é surpreendente o fato de a
Educação Física ter promovido apenas a prática de • danças brasileiras: samba, baião, valsa, qua
técnicas de ginástica e (eventualmente) danças européias drilha, afoxé, catira, bumba meu boi, maracatu,
e americanas. A diversidade cultural que caracteriza o xaxado, etc.;
país tem na dança uma de suas expressões mais signi
ficativas, constituindo um amplo leque de possibilidades • danças urbanas: rap, funk, break, pagode, dan
de aprendizagem. Todas as culturas têm algum tipo de ças de salão;
manifestação rítmica e/ou expressiva. No Brasil existe
uma riqueza muito grande dessas manifestações. Danças • danças eruditas: clássicas, modernas, contem
trazidas pelos africanos na colonização, danças relativas porâneas, jazz;
aos mais diversos rituais, danças que os imigrantes trou
xeram em sua bagagem, danças que foram aprendidas • danças e coreografias associadas a manifes
com os vizinhos de fronteira, danças que se vêem pela tações musicais: blocos de afoxé, olodum, TIM
televisão. As danças foram e são criadas a todo tempo: balada, trios elétricos, escolas de samba;
inúmeras influências são incorporadas e as danças
transformam se, multiplicam se. Algumas preservaram • lengalengas;
suas características e pouco se transformaram com o
passar do tempo, como os forrós que acontecem no • brincadeiras de roda, cirandas;
interior de Minas Gerais, sob a luz de um lampião, ao
som de uma sanfona. Outras, recebem múltiplas influ • escravos de jó
ências, incorporam nas, transformando as em novas
manifestações, como os forrós do Nordeste, que
incorporaram os ritmos caribenhos, resultando na Metodologia
lambada. Nas cidades existem danças como o funk, o
rap, o hip hop, as danças de salão, entre outras, que se Segundo Bássoli de Oliveira, na atualidade podem ser
caracterizam por acontecerem em festas, clubes, ou encontradas as seguintes metodologias do Ensino da
mesmo nas praças e ruas. Existem também as danças Educação Física, considerando que o ensino vem,
eruditas como a clássica, a contemporânea, a moderna e historicamente, buscando organizar meios e formas
o jazz, que podem às vezes ser apreciadas na televisão, metodológicas que sejam colocadas em prática para o
em apresentações teatrais e são geralmente ensinadas atendimento das exigências que permeiam o mesmo
em escolas e academias. Nas cidades do Nordeste e (OLIVEIRA, 1997). Estudos desenvolvidos pelo mesmo
Norte do país, existem danças e coreografias associadas Oliveira (1988; 1992), Bracht (1989; 1992), Guilhermeti
às manifestações musicais, como a timbalada ou o (1991), Kunz (1991; 1994) e outros, procuraram demons
olodum, por exemplo. A presença de imigrantes no país trar que as denominadas Tendências Metodológicas de
também trouxe uma gama significativa de danças das Ensino da Educação Física são propostas que, em vários
mais diversas culturas. Quando houver acesso a elas, é casos, sucumbiram antes mesmo de serem testadas e
importante conhecê las, situá las, entender o que colocadas efetivamente em prática devido a vários fatores
representam e o que significam para os imigrantes que as dentre os quais podem ser encontrados: a falta de
praticam. Existem casos de danças que estão desapare preparo dos professores para o enfrentamento de novas
cendo, pois não há quem as dance, quem conheça suas estratégias metodológicas; a falta de interesse em
origens e significados. Conhecê las, por intermédio das estimular novas abordagens metodológicas; a condição
pessoas mais velhas da comunidade, valorizá las e revi de refratário do conhecimento que os docentes assumem
talizá las é algo possível de ser feito dentro deste bloco no ensino; a estabilidade empregatícia que os docentes
de conteúdos. As lengalengas são geralmente conhe têm dentro do sistema educacional e do medo da insta
cidas das meninas de todas as regiões do país. Carac bilidade frente a novos conteúdos e estratégias meto
terizam se por combinar gestos simples, ritmados e dológicas (OLIVEIRA, 1997). Entretanto, mesmo frente a

42
este quadro de dificuldades e incertezas na apresentação cionar, aos participantes, autonomia para as capacidades
de propostas metodológicas, a área da Educação Física de ação.
tem, nos últimos anos, procurado criar estratégias e
apresentar novas formas reflexivas do entendimento e Seriação Escolar: Pode ser trabalhada dentro da atual
aplicação da Educação Física na escola. Este esforço, estrutura curricular escolar. Preocupa se mais em como
mais uma vez, vemos que tem sido pequeno frente aos trabalhar, acessar e tornar significativo os conteúdos aos
problemas gerais que a área possui em relação ao participantes.
entendimento de toda a comunidade sobre a Educação
Física. Infelizmente, a Educação Física é entendida como Conteúdos Básicos: O mundo do movimento e suas
atividade dentro do processo educacional, é resolvida relações com os outros e as coisas.
como uma prática sem interesse para a formação integral
dos educandos e assim por diante (OLIVEIRA, 1997). Enfoque Metodológico:
Para esse mesmo autor, a Educação Física conta na
atualidade com quatro propostas de destaque: as Os conteúdos são construídos por meio da
Metodologias do Ensino Aberta; Construtivista; Crítico definição de Temas Geradores e são desen
Superadora e Crítico Emancipatoria. Os dados apresen volvidos promovendo se ações problematiza
tados a seguir foram coletados e descritos por Oliveira doras;
(1997) a partir de uma série de respostas oferecidas
pelos próprios idealizadores ao autor. As ações metodológicas são organizadas de
forma a conduzir a um aumento no nível de
complexidade dos temas tratados e realiza se
Metodologia do Ensino Aberto em uma ação participativa, onde professor e
alunos interagem na resolução de problemas e
Idealizadores: Reiner Hildebrandt & Ralf Laging (Ale na definição dos temas geradores;
manha) e Grupo de Trabalho Pedagógico (Brasil).
O ensino aberto exprime se pelo estímulo à
"subjetividade" dos participantes. Aqui entram as
Referencial Teórico intenções do professor e os objetivos de ação
dos alunos.
Teoria Sociológica do Interacionismo Simbólico (Mead/
Blumer).
O Grupo de Trabalho Pedagógico defende uma aula
Teoria Libertadora (Paulo Freire). de Educação Física que:

Interacionismo Simbólico (Blumer). a) procura uma ligação do aprender escolar com a


vida de movimento dos alunos;
a) O atributo simbólico é justificado pela premis
sa de que os homens agem baseados nos signi b) não olha para o esporte só como rendimento;
ficados em relação a coisas e pessoas;
c) considera as necessidades e interesses, medos e
b) Estes significados são adquiridos em inte aflições dos alunos, e que não os reduz a condições
rações sociais; prévias de aprendizagem motora;

c) Estes significados podem ser modificados d) mantém o caráter de brincadeira no movimento e


através de processos interpretativos. na forma natural dos alunos, isto é, que faça com
que isso se desenvolva na discussão social;

Berger e Luckman (1985, p. 98) ao falarem dos significa e) considera a relação entre movimento, percepção e
dos/símbolos afirmam: Os significados institucionais de realização;
vem ser impressos poderosa e inesquecivelmente na
consciência do indivíduo. Como os seres humanos são f) possibilite aos alunos a participação em todas as ETA
freqüentemente preguiçosos e esquecidos, deve também pas do processo ensino aprendizagem.
haver procedimentos mediante os quais estes significa
dos possam ser reimpressos e rememorizados, se neces
sário, por meios coercitivos geralmente desagradáveis. Relação Professor Aluno: Estabelece se dentro de uma
Além disto, como os seres humanos são freqüentemente ação co participativa que se amplia conforme o amadu
estúpidos, os significados institucionais tendem a ser recimento e responsabilidade assumida pelos integrantes
simplificados no processo de transmissão, de modo que do grupo. O engajamento, competência e responsa
uma determinada coleção de "fórmulas" institucionais bilidade docente são fatores fundamentais para a efeti
possa ser facilmente aprendida e guardada na memória vação e ampliação das ações pedagógicas no ensino
pelas gerações sucessivas. O caráter de "fórmula" dos aberto.
significados institucionais assegura sua possibilidade de
memorização. Avaliação: Privilegia a avaliação do processo ensino
aprendizagem.
Objeto de Estudo: O mundo do movimento e suas
implicações sociais.
Livros que tratam do assunto
Objetivos Gerais: Trabalhar o mundo do movimento em
sua amplitude e complexidade com a intenção de propor

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Concepções Abertas no ensino da Educação Livro que trata do assunto
Física (Hildebrandt & Laging, 1986).

Visão Didática da Educação Física (Grupo de Educação de corpo inteiro (FREIRE, 1989).
Trabalho Pedagógico, 1991).

Criatividade nas aulas de Educação Física Metodologia Crítico Superadora


(Taffarel, 1985).
Idealizadores: Coletivo de Autores (1992).

Metodologia Construtivista Referencial Teórico: Teoria do Materialismo Histórico


Dialético
Apesar de o trabalho não ser considerado totalmente
construtivista, pelo próprio autor que não gosta de clas É denominada Crítico Superadora porque tem a Con
sificação, denominou se o mesmo como tal por apre cepção Histórico Crítica como ponto de partida. Assim
sentar, dentro da área da Educação Física, a ligação como ela, entende ser o conhecimento elemento de
mais próxima a esta metodologia educacional. A pessoa mediação entre o aluno e o seu apreender (no sentido de
que iniciou esta tendência foi Emilia Ferreiro, seguida por construir, demonstrar, compreender e explicar para poder
Ana Teberosky. Hoje, vários grupos de educadores estão intervir) da realidade social complexa em que vive.
trabalhando nesta tendência com o propósito de Porém, diferentemente dela, privilegia uma dinâmica cur
redirecioná la e aperfeiçoá la. Na educação já se trabalha ricular que valoriza, na constituição do processo peda
com a linha denominada de sócioconstrutivismo, um gógico, a intenção dos diversos elementos (trato do
avanço, segundo os educadores, do construtivismo conhecimento, tempo e espaço pedagógico...) e seg
original. mentos sociais (professores, funcionários, alunos e seus
pais, comunidade e órgãos administrativos...).
Idealizador: João Batista Freire (na Educação Física).
Objeto de Estudo: Temas inerentes à Cultura Corporal
Referencial Teórico: Piaget, especialmente com as do Homem e da Mulher brasileiros, entendendo a como
obras "O nascimento da inteligência na criança" e "O uma dimensão da cultura. Busca desenvolver a apre
possível e o necessário, fazer e compreender". ensão, por parte do aluno da Cultura Corporal, como
parte constitutiva da sua realidade social complexa.
Tendência Educacional: Construtivista (com tendência
ao sócio interacionismo socioconstrutivismo). Objetivos Gerais: Desenvolver a apreensão, por parte
do aluno, da sua Cultura Corporal, entendendo a como
Objeto de Estudo: Motricidade Humana, entendida como parte constitutiva da sua realidade social complexa.
o conjunto de habilidades que permitem ao homem
produzir conhecimento e se expressar. Seriação Escolar: Propõe a estruturação em ciclos de
escolarização:
Objetivos Gerais: Ensinar as pessoas a se saberem
corpo. Ou seja, terem consciência de que são corpo. Mais 1° Ciclo: (pré à 3a. série) ciclo de organização
especificamente seria ensinar as habilidades que per da identificação dos dados da realidade;
mitem as expressões no mundo.
2° Ciclo: (4a à 6a série) ciclo de iniciação à
Seriação Escolar: Pode ser adaptada ao currículo atual, sistematização do conhecimento;
mas aponta, para alterações no currículo, inclusive na
seriação. 3° Ciclo: (7a à 8a série) ciclo de aplicação da
sistematização do conhecimento;
Conteúdos Básicos: Trabalhar, inicialmente, com a
cultura dos próprios participantes, de modo a tornar, o 4° Ciclo: (2o grau) ciclo de aprofundamento da
conhecimento significativo. Trabalhar com a educação sistematização do conhecimento.
dos sentidos, educação da motricidade, educação do Conteúdos Básicos: São os temas que, historicamente,
símbolo. compõem a Cultura Corporal do Homem e da Mulher
brasileiros: Jogo / Ginástica / Dança e Esportes.
Enfoque metodológico: Trabalha com a metodologia do
conflito. A partir do que o sujeito sabe, sugerir mudanças Enfoque Metodológico: Propõe olhar para as práticas
no conteúdo, criando o conflito entre o que se sabe e o constitutivas da Cultura Corporal, como "Práticas
que é preciso ser aprendido. Do conflito viria a Sociais", vale dizer, produzidas pela ação (trabalho) hu
consciência do fazer. mana com vistas a atender determinadas necessidades
sociais. Dessa forma, as atividades corporais, esportivas
Relação Professor Aluno: Todos participam do proces ou não, componentes da nossa Cultura Corporal, são
so de construção do conhecimento. vivenciadas tanto naquilo que possuem de "fazer"
corporal, quanto na necessidade de se refletir sobre o
Avaliação: Este aspecto necessita ser ainda melhor significado/sentido desse mesmo "fazer".
trabalhado. O autor da proposta não se sente à vontade
para falar do tema, o que não quer dizer que não o Relação Professor Aluno: Defende o prevalecer da
domine, apenas ressalta que para uma tomada de Diretividade Pedagógica (Snyders). Cabe ao professor
posição seria necessário uma dedicação especial ao explicar, a priori, a intencionalidade de suas ações
estudo do mesmo. pedagógicas, pois ela não é neutra. É Diagnóstica (parte
de uma leitura/interpretação da realidade, de uma deter

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minada forma de estar no mundo), Judicativa (estabelece Relação Professor Aluno: Fundamenta se na ação co
juízo de valor) e Teleológica (é ensopada de intenções, municativa problematizadora, visando uma interação hu
metas, fins a alcançar). Tal ação pedagógica tem no mana responsável e produtiva.
conhecimento sobre a realidade, manifesta pelo aluno, o
seu ponto de partida. Como seu horizonte de trabalho Avaliação: Privilegia a avaliação do processo Ensino
pedagógico, tem o de qualificar o conhecimento do aluno Aprendizagem.
sobre aquela mesma realidade no sentido de dotá lo de
maior complexidade , de tal forma que ela, realidade, é a Livros que tratam do assunto
mesma... e é diferente!
Educação Física: ensino e mudanças (KUNZ,
Avaliação: Privilegia a avaliação do processo Ensino 1991).
Aprendizagem.
Transformação didático pedagógica do esporte
Livros que tratam do assunto (KUNZ, 1994).

Metodologia do ensino da Educação Física


(Coletivo de Autores, 1992). Avaliação Escolar

Educação Física e Aprendizagem Social (BRA Os Parâmetros Curriculares Nacionais consideram


CHT, 1992). que a avaliação deve ser algo útil, tanto para o aluno
como para o professor, para que ambos possam dimen
sionar os avanços e as dificuldades dentro do processo
Metodologia Crítico Emancipadora de ensino e aprendizagem e torná lo cada vez mais
produtivo. Tradicionalmente, as avaliações dentro desta
Idealizador: Elenor Kunz (1994). área se resumem a alguns testes de força, resistência e
flexibilidade, medindo apenas a aptidão física do aluno. O
Referencial Teórico: Teoria Sociológica da Razão Co campo de conhecimento contemplado por esta proposta
municativa (Habermas). vai além dos aspectos biofisiológicos. Embora a aptidão
possa ser um dos aspectos a serem avaliados, deve estar
Objeto de Estudo: Movimento Humano esporte e suas contextualizada dentro dos conteúdos e objetivos, deve
transformações sociais. considerar que cada indivíduo é diferente, que tem
motivações e possibilidades pessoais. Não se trata mais
Objetivos Gerais: daquela avaliação padronizada que espera o mesmo
resultado de todos. Isso significa dizer que, por exemplo,
Conhecer e aplicar o movimento conscientemente, se um dos objetivos é que o aluno conheça alguns dos
libertando se de estruturas coercitivas; seus limites e possibilidades, a avaliação dos aspectos
físicos estará relacionada a isso, de forma que o aluno
Refuncionalizar o movimento. possa compreender sua função imediata, o contexto a
que ela se refere e, de posse dessa informação, traçar
metas e melhorar o seu desempenho. Além disso, a
Seriação Escolar: Não aponta e/ou trabalha alguma aptidão física é um dos aspectos a serem considerados
proposta neste sentido para que esse objetivo seja alcançado: o conhecimento
de jogos, brincadeiras e outras atividades corporais, suas
Conteúdos Básicos: O movimento humano através do respectivas regras, estratégias e habilidades envolvidas,
esporte, da dança e das atividades lúdicas. o grau de independência para cuidar de si mesmo ou
para organizar brincadeiras, a forma de se relacionar com
Enfoque Metodológico: Defende a idéia de que é ne os colegas, entre outros, são aspectos que permitem uma
cessário que cada disciplina se torne um verdadeiro avaliação abrangente do processo de ensino e apren
campo de estudos e de pesquisa. Também para a izagem. Dessa forma, os critérios explicitados para cada
Educação Física. Afinal de contas os alunos visitam a um dos ciclos de escolaridade têm por objetivo auxiliar o
escola para estudar e não para se divertir (embora o professor a avaliar seus alunos dentro desse processo,
estudo possa se tornar algo divertido) ou para praticar abarcando suas múltiplas dimensões. ambém buscam
esportes e jogos (embora esta prática, também tenha a explicitar os conteúdos fundamentais para que os alunos
sua importância). Assim, optou se por uma estratégia possam seguir aprendendo.
didática com as seguintes categorias de ação: trabalho,
interação e linguagem. Uma aula deve ter como caminho
a ser percorrido em seu desenvolvimento: Plano de Ensino e Plano de Aula

1. Arranjo material; Os preceitos legais, o PPP e o Plano de Ensino da


Educação Física (PEEF), serão as bases da proposta
2. Transcendência de limites pela pedagógica a ser desenvolvida pelo educador, bem como
experimentação; irão nortear a sua organização na escola com relação à
carga horária, o turno e a duração das aulas, necessários
3. Transcendência de limites pela aprendizagem; para atingir os objetivos previstos. Objetivo é o propósito,
a finalidade de uma intenção educacional que vise atingir
4. Transcendência de limites, criando. as prioridades identificadas, embasado no contexto
social, cultural e econômico de uma comunidade escolar.
Os objetivos podem ser: gerais, aqueles estabelecidos no
PPP da escola (compreendem as finalidades da Educa

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ção e da Educação Física ao mesmo tempo); e os espe tégias (são as condições de estrutura e de relações do
cíficos (que visam às especificidades da Educação âmbito escolar e seu conhecimento referente à área); a
Física). Para estabelecê los é necessário ter conheci organização, conforme a estrutura para distribuir os
mento pedagógico de sua área, de seu contexto educa conteúdos no tempo e espaço disponíveis (momento em
cional, para então definir o propósito de suas escolhas e que o professor se organiza para desenvolver o currículo
a quem será destinada. Cabe ao educador ter clareza dentro dessas condições estruturais); relacionamento
quanto às estratégias de ação a serem utilizadas para professor/aluno (envolvimento dos alunos no processo
atingir os objetivos pretendidos e estar atento para a pedagógico); e finalmente avaliação do processo ensino
necessidade de reavaliá los durante o processo de aprendizagem (institui os critérios a serem utilizados para
ensino/aprendizagem. Após a definição dos objetivos, a dimensionar o aprendizado e para cumprir exigências
etapa seguinte no PEEF é a definição dos conteúdos a legais).
serem abordados. Sobre a base nacional comum e parte
diversificada dos conteúdos curriculares, os PCNs (BRA
SIL, 1999) orientam que a primeira seja complementada Currículo
por uma parte diversificada, conforme as características
locais. Fensterseifer e Gonzáles (2005, p.94) entendem A década de 80 é apontada em diversos trabalhos e
conteúdo por: “a unidade de todos os elementos por diferentes autores, como um período marcado por
integrantes do objeto, de suas propriedades, processos, profundas transformações econômicas, políticas e sócio-
nexos, contradições, tendências internas e movimentos”. culturais, observáveis tanto mundialmente, quanto no
Esses elementos determinam os significados que se Brasil.. As transformações no modo de produção
constroem para o conhecimento a ser ensinado. Segundo capitalista, a escalada do modelo econômico neoliberal a
Zabala (1999) os conteúdos podem ser explanados de partir dos governos de Thatcher e Reagan, a oclusão dos
forma conceitual (formular uma idéia acerca de deter governos do Leste Europeu, contribuíram para o
minado conteúdo), procedimental (conduta ao executar estabelecimento de uma nova ordem mundial, sob a
uma determinada ação) e atitudinal (procedimento em condução hegemônica dos Estados Unidos da América
determinadas situações), conforme a proposta peda do Norte e de organismos internacionais como o Fundo
gógica. Fensterseifer e Gonzáles (2005, p.98) afirmam Monetário Internacional e o Banco Mundial. No Brasil,
que: “a Educação Física ao longo dos anos, os conteúdos acuado pela pressão popular e absurda alta inflacionária,
priorizados ficaram quase que exclusivamente na esfera o governo militar, que continuava no poder desde o golpe
procedimental, onde se valoriza essencialmente o saber em 1964, vai lentamente se abrindo e um processo de
fazer e não o saber sobre a cultura corporal”. Nessa redemocratização é iniciado. Na sociedade civil,
perspectiva não há o interesse em esclarecer o educando diferentes movimentos sociais se organizam,
sobre o conhecimento que adquire, importa simplesmente concretizando o crescimento de um movimento de
levá lo a realizar mecanicamente uma ação, da melhor contestação ao modelo social vigente. Neste contexto, a
forma possível. Segundo Gadotti (1994) a condição para educação passa a ser severamente questionada quanto
o aluno aprender está na questão dele ser sujeito de sua ao papel por ela desempenhada, especialmente em
aprendizagem, para que o conteúdo do ensino seja relação a escola pública e a educação oferecida às
significativo para ele. O sentido, a relevância sócio classes populares. No âmbito da Educação Física, surge
cultural de um conteúdo, os procedimentos método também um forte movimento contestador do papel
lógicos utilizados durante o processo ensino aprendiza desempenhado pela Educação Física, especialmente no
gem, revelam a que tendência pedagógica o conteúdo contexto escolar. Segundo Daolio (1997), rompe-se em
está vinculado. Os métodos de ensino devem propiciar nível do discurso científico, o consenso de que a
que os objetivos e os conteúdos pré estabelecidos no Educação Física era uma prática escolar com objetivos
PEEF sejam postos em prática. Significa a forma como o de desenvolvimento da aptidão física dos alunos e iniciá-
processo ensino aprendizagem se estabelecerá. Devem los na prática esportiva. O debate acadêmico da
resultar de uma boa compreensão, por parte do edu Educação Física construído a partir deste período tem
1cador, das questões sociais e culturais do contexto edu como uma das principais características, a rejeição à
cacional de sua escola, para ir construindo, delineando exclusividade do referencial teórico advindo das ciências
passo a passo suas ações pedagógicas. Para Saviani biológicas, passando-se a buscar principalmente nas
(1997) os métodos a serem preconizados pelos educa ciências humanas, outras explicações para os fenômenos
dores devem vincular a Educação e a sociedade. Na da área. Uma das principais críticas feitas à Educação
elaboração de uma proposta pedagógica para a Educa Física referia-se a sua configuração enquanto uma
ção Física deve haver uma reflexão sobre quais deman atividade eminentemente prática, desprovida de uma
das suprir, priorizando, contemplar a cultura corporal, sua reflexão teórica que pudesse justificá-la no interior da
especificidade enquanto conhecimento cultural escolar. escola como uma disciplina pedagógica componente do
Ao planejá la, alguns elementos são essenciais e devem currículo escolar. Tais determinações advinham não só
ser considerados (SAVIANI, 1997). Para Coletivo de de determinações legais como o Decreto Lei nº 69450/71,
Autores (1992) o educador em sua prática pedagógica, analisado e criticado por Castellani Filho (1988), entre
carrega intenções que indicam sua concepção de homem outros, como também pela falta de reflexão acadêmica e
e sociedade, evidenciando a necessidade de coerência científica que não se pautasse exclusivamente nas
entre o planejar e o fazer, pois estes não podem estar ciências biológicas. O surgimento de explicações
distantes da contemporaneidade do contexto educa diferenciadas a respeito da Educação Física deve ser
cional. De acordo com Saviani (1997) os elementos a entendido como uma ampliação do entendimento sobre o
serem considerados são: os conhecimentos a serem objeto da área, o que determina o tipo de conhecimento
abordados (finalidades, metas e objetivos); a quem para fundamentá-la. Nesta direção, Bracht (1997)
direcioná lo (definindo seu papel sócio político); sua apresentou as seguintes possibilidades de identificação
sistematização, conforme os interesses da instituição do objeto da Educação Física:
escolar (escolha dos conteúdos de encontro à concepção
do currículo); os procedimentos metodológicos ou estra

46
Deste modo, o currículo deixou de ser há muito tempo
a) atividade física, em alguns casos atividades uma área meramente técnica, voltada a questões
físico-esportivas e recreativas; relativas a procedimentos, técnicas, métodos. As
questões relativas ao "como" só adquirem sentido quando
b) movimento humano ou movimento corporal se relacionam com questões que perguntem "por quê"
humano, motricidade humana ou, ainda, das formas de organização do conhecimento escolar.
movimento humano consciente; Nesta perspectiva, o currículo é colocado na moldura
mais ampla de suas determinações sociais, de sua
c) cultura corporal de movimento. história, de sua produção contextual.. Está implicado em
relações de poder, transmitindo visões particulares e
interessadas, produzindo identidades individuais e sociais
Tais possibilidades podem ser identificadas informando particulares. O currículo possui uma história vinculada a
diferentes proposições teórico-metodológicas não formas específicas e contingentes de organização da
sistematizadas e sistematizadas apresentadas por sociedade e da educação. (Moreira e Silva, 1995),
Taffarel (1997). Em concordância com a referida autora, Quelhas (1995), Taffarel (1992), Mocker (1993), entre
considera-se de fundamental importância o outros, já apontaram limitações de entendimento no
reconhecimento deste quadro tanto para a formação campo do currículo na área da Educação Física. A
inicial quanto para a formação continuada na área de principal delas refere-se à pouca aproximação com as
Educação Física. Tal reconhecimento permite identificar teorias curriculares, além de uma predominância da
diferentes concepções de sociedade, homem, trabalho, racionalidade instrumental ou técnica, podendo-se afirmar
presentes nas diversas proposições. É preciso que prevalece amplamente um entendimento próprio das
reconhecer em cada uma delas, diferentes projetos teorias tradicionais de currículo. A partir de diferentes
históricos colocados. Apesar de serem fruto de um conceitos empregados, Silva (1999) apresenta a seguinte
mesmo processo histórico, as diferentes proposições possibilidade de distinção entre as teorias do currículo:
buscam a hegemonia no interior da Educação Física,
contribuindo desta forma para a construção/consolidação a) Teorias Tradicionais: ensino; aprendizagem;
de projetos históricos distintos. Esta questão foi avaliação; metodologia; didática; organização;
explicitada por Taffarel (1997), quando apresentou planejamento; eficiência; objetivos.
argumentos de resistência aos Parâmetros Curriculares
Nacionais e sua ideologia, entre outros, por ocultar o b) Teorias Críticas: ideologia; reprodução
Projeto Histórico Superador expresso nas proposições cultural e social; poder; classe social;
crítico-emancipatória (Kunz, 1991; Kunz,1994; Bracht, capitalismo; relações sociais de produção;
1992) e crítico-superadora (Coletivo de Autores, 1992). conscientização; emancipação e libertação;
Em comum, estas proposições identificam a cultura currículo oculto; resistência.
corporal de movimento como o objeto da Educação
Física, além de se localizarem no âmbito da chamada c) Teorias Pós-Críticas: identidade, alteridade,
pedagogia histórico-crítica. A identificação e delimitação diferença; subjetividade; significação e discurso;
da cultura corporal de movimento como o conhecimento saber-poder; representação; cultura; gênero,
da Educação Física parece não ter resolvido ainda, o raça, etnia, sexualidade; multiculturalismo.
problema da legitimação da área enquanto uma disciplina
curricular da educação básica. A questão da organização
e sistematização do conhecimento, que a grosso modo é A partir deste quadro e das críticas já apontadas em
identificada como currículo escolar, tem sido outros estudos, pode-se perceber que a Educação Física
sistematicamente, em aulas, palestras e encontros com encontra-se ainda presa aos temas relacionados as
professores e estudantes, colocada como um problema a Teorias Tradicionais do currículo. Tal situação pode ser
ser resolvido. Segundo Silva (1999), mais importante que constatada uma vez mais, através da leitura das novas
definir "currículo" é saber quais questões uma "teoria" do diretrizes curriculares para os cursos de graduação em
currículo ou um discurso curricular procura responder. A Educação Física (Kunz et alli, 1998). As relações entre
questão central sintética de todas as teorias do currículo currículo e ideologia, currículo e cultura, currículo e poder,
é saber qual conhecimento deve ser ensinado. No apontados por Moreira e Silva (1995) como eixos que
entanto, para responder a este questionamento, continuam centrais na Teoria Crítica e na Sociologia do
diferentes teorias podem recorrer a discussões sobre a Currículo, sequer são abordados no texto apresentado
natureza humana, sobre a natureza da aprendizagem ou pela comissão de especialistas. Convém destacar ainda
sobre a natureza do conhecimento, da cultura e da dois aspectos pertinentes aos debates atuais, que
sociedade. A pergunta "o quê?" nunca está separada de merecem atenção dos estudiosos e profissionais de
"o que os alunos devem se tornar?". Neste sentido, "... as Educação Física, na perspectiva de avanços no campo
teorias do currículo deduzem o tipo de conhecimento do currículo: a) as dificuldades de aproximação entre a
considerado importante justamente a partir de descrições produção teórica proveniente da teoria curricular crítica e
sobre o tipo de pessoa que elas consideram ideal. Qual é a realidade vivida no cotidiano das escolas (Moreira,
o tipo de ser humano desejável para um determinado tipo 1998), b) a possibilidade de diálogo do discurso pós-
de sociedade? Será a pessoa racional e ilustrada do ideal crítico com a teoria crítica do currículo (Moreira, 1997).
humanista de educação? Será a pessoa otimizadora e Isto posto, cabem algumas questões que considero
competitiva dos atuais modelos neoliberais de educação? desafiadoras:
Será a pessoa ajustada aos ideais de cidadania do
moderno estado-nação? Será a pessoa desconfiada e • Quais estratégias devemos empregar para que
crítica dos arranjos sociais existentes preconizada nas haja uma aproximação da Educação Física com
teorias educacionais críticas? A cada um desses as teorias curriculares críticas?
"modelos" de ser humano corresponderá um tipo de
conhecimento, um tipo de currículo." (Silva, 1999, p.15) • Como avançar na consolidação de concepções

47
pedagógicas críticas em Educação Física, sem violência, dos interessespolíticos e econômicos, do
uma maior aproximação com as teorias doping , dos sorteios e loterias, entre outros aspectos.O
curriculares, em especial, as teorias críticas? vínculo direto que a indústria cultural e do lazer
estabelece entre o acesso aosconhecimentos da cultura
• De que forma a Educação Física pode corporal de movimento e o consumo de produtos deve
contribuir para o processo de construção de uma ser alvode esclarecimento e reflexão. A compreensão da
escola pública de qualidade no país, a partir da organização institucional da cultura corporal de
produção advinda das teorias críticas do movimento nasociedade, incluindo uma visão crítica do
currículo? sistema esportivo profissional, deve dar subsídiospara
uma discussão sobre a ética do esporte profissional e
Assim sendo, faz-se necessário considerar a necessidade amador, sobre a discriminaçãosexual e racial que neles
de ampliação e aprofundamento do debate em torno existe. Essa discriminação pode ser compreendida pela
destas questões, tanto nos cursos de graduação, de pós- explicitaçãode atitudes cotidianas, muitas vezes
graduação, quanto em congressos, seminários e dentre inconscientes e automáticas, pautadas em
outros. preconceitos.Contribui para essa compreensão, por
exemplo, o conhecimento do processo político ehistórico
de inclusão dos negros e das mulheres nas práticas
6. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E CIDA- organizadas dos esportes emolimpíadas e campeonatos
DANIA; OS OBJETIVOS, CONTEÚDOS, mundiais. Pode, ainda, favorecer a formação de uma
consciênciaindividual e social pautada no bem-estar, em
METODOLOGIA E AVALIAÇÃO NA posturas não-preconceituosas e não-discriminatórias e,
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ainda, no cultivo dos valores coerentes com a ética
democrática.
A concepção de cultura corporal de movimento amplia
a contribuição da EducaçãoFísica escolar para o pleno
exercício da cidadania, na medida em que, tomando Avaliação
seusconteúdos e as capacidades que se propõe a
desenvolver como produtos socioculturais,afirma como Embora seja discutido há muito tempo, a avaliação
direito de todos o acesso e a participação no processo de ainda é um assunto polêmico no ambiente docente.
aprendizagem.Favorece, com isso, a modificação do Como avaliar? O quê avaliar? São questionamentos que
histórico da área, que aponta para um processo deensino me vêem a cabeça quando penso neste assunto. Mas o
e aprendizagem centrado no desempenho físico e que é avaliar? De acordo com o Dicionário Michaelis
técnico, resultando em muitosmomentos numa seleção (2006), avaliar é “calcular ou determinar a valia, o valor, o
entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas da ‘merecimento’ de”. Ou seja, quem avalia tem o poder de
cultura corporalde movimento.O princípio da inclusão do decidir à que o avaliado é merecedor. A Educação Física
aluno é o eixo fundamental que norteia a concepção e é uma disciplina diferenciada das demais, em que é
aação pedagógica da Educação Física escolar, possível medir o conhecimento do aluno por meio de
considerando todos os aspectos ou elementos,seja na exames teóricos. Na Educação Física, o conhecimento é
sistematização de conteúdos e objetivos, seja no construído pela assimilação de experiências corporais e
processo de ensino e aprendizagem,para evitar a pela criação de movimentos, o que dificulta a avaliação
exclusão ou alienação na relação com a cultura corporal por parte do professor. De acordo com Barbosa (1997),
de movimento. Além disso, aponta para uma perspectiva para fins didáticos, podemos classificar a avaliação em
metodológica de ensino e aprendizagemque busca o três tipos: a diagnóstica, a formativa e a somativa. A
desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a avaliação diagnóstica é aquela realizada no início do ano
participação social e a afirmaçãode valores e princípios letivo, com o objetivo de dar ao professor uma noção
democráticos.O lazer e a disponibilidade de espaços sobre os níveis de conhecimento e habilidades dos
públicos para as práticas da cultura corporalde alunos, para que, a partir daí, o professor possa planejar
movimento são necessidades essenciais ao homem seu trabalho de acordo com as necessidades dos alunos.
contemporâneo e, por isso, direitosdo cidadão. Os alunos Já a avaliação formativa é realizada durante o ano letivo,
podem compreender que os esportes e as demais onde o professor pode detectar possíveis falhas no
atividades corporaisnão devem ser privilégio apenas dos processo ensino-aprendizagem, podendo, assim,
esportistas profissionais ou das pessoas em condiçõesde modificar a maneira de ministrar suas aulas de acordo
pagar por academias e clubes. Dar valor a essas com a evolução de seus alunos. E, por fim, a avaliação
atividades e reivindicar o acesso a centrosesportivos e de somativa, que objetiva verificar o resultado do processo
lazer, e a programas de práticas corporais dirigidos à ensino-aprendizagem ao final de um bimestre, semestre
população em geral, éum posicionamento que pode ser ou ano letivo. Geralmente esta avaliação está associada
adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas a uma “nota” que o reprovará ou aprovará para a série
aulasde Educação Física. No âmbito da Educação Física, seguinte. Bom, o diagnóstico é fundamental, junto com o
os conhecimentos construídos devem possibilitar aanálise projeto político pedagógico da escola, para que se possa
crítica dos valores sociais, como os padrões de beleza e delinear o plano de ensino e os objetivos a se alcançar ao
saúde, desempenho,competição exacerbada, que se final do ano, e uma avaliação formativa para que o
tornaram dominantes na sociedade, e do seu papel professor venha a se corrigir ou apenas aprimorar suas
comoinstrumento de exclusão e discriminação social. A aulas. Já a avaliação somativa é mais complexa, e nela
atuação dos meios de comunicação e da indústria do que está centrado este ensaio. Os Parâmetros
lazer em produzir, transmitir e impor esses valores, ao Curriculares Nacionais indicam três focos principais de
adotar o esporte-espetáculo como produto de consumo, avaliação na Educação Física: Realização das práticas
tornaimprescindível a atuação da Educação Física — É preciso observar primeiro se o estudante respeita o
escolar. Esta deve fornecer informaçõespolíticas, companheiro, como lida com as próprias limitações (e as
históricas e sociais que possibilitem a análise crítica da dos colegas) e como participa dentro do grupo. Em

48
segundo lugar vem o saber fazer, o desempenho conhecimento, no domínio dos conteúdos e na didática
propriamente dito do aluno tanto nas atividades quanto na para poder passá-los aos meus futuros alunos, nunca a
organização das mesmas. O professor deve estar atento questão “avaliação” tinha me passado pela cabeça. Hoje
para a realização correta de uma atividade e também é minha maior inquietação, pois acredito ser fundamental
como um aluno e o grupo formam equipes, montam um no processo ensino-aprendizagem. Bem como Barbosa
projeto e agem cooperativamente durante a aula. (1997), dividi meus métodos avaliativos em: diagnóstico,
Valorização da cultura corporal de movimento — É formativo e a somativo. O diagnóstico foi realizado
importante avaliar não só se o educando valoriza e previamente em observações da turma, e nas aulas
participa de jogos esportivos. Relevante também é seu iniciais onde tive os primeiros contatos, a partir daí, e de
interesse e sua participação em danças, brincadeiras, acordo com o projeto político pedagógico da escola, pude
excursões e outras formas de atividade física que traçar meu planejamento de ensino. A avaliação formativa
compõem a nossa cultura dentro e fora da escola. foi sendo realizada ao longo das aulas em observações
Relação da Educação Física com saúde e qualidade de dos alunos e, também, através de uma avaliação dos
vida — É necessário verificar como crianças e jovens alunos em relação às aulas, assim como em conselhos
relacionam elementos da cultura corporal aprendidos em do professor titular da classe que, esporadicamente,
atividades físicas com um conceito mais amplo, de observa meu trabalho. Com estes feedback’s tenho
qualidade de vida. Giannichi (1984) esclarece que, para repensado minha postura em aula, métodos de ensino e
procedermos a uma avaliação, devem-se ter claros relacionamento com os alunos. O processo de avaliação
alguns princípios: esclarecer o que será avaliado somativa está fundamentado nos objetivos de promoção
inicialmente, selecionar as técnicas de avaliação em de saúde e qualidade de vida, assim como incentivar o
função dos objetivos, considerar os pontos positivos e gosto por atividades físicas fora do ambiente escolar e
limitados das técnicas de avaliação empregadas, levar para a vida adulta, também levo em conta, mais uma vez,
em conta uma variedade de técnicas para assegurar uma o projeto político pedagógico da escola onde a avaliação
avaliação compreensiva e considerar a avaliação como deve ser dividida em prática e teórica e, por fim, no
meio e não fim. Betti (1991) não especifica o modelo, ou comprometimento dos alunos com as aulas, não avalio de
metodologia de avaliação. Apenas deixa claro que o acordo com rendimento, habilidade e tão pouco em
processo de ensino-aprendizagem deve estar de acordo relação à freqüência, pois, ao aluno, é permitido a
com a proposta política pedagógica da escola. A ausência em 25% das aulas e, puni-lo por isso fere uma
avaliação presencial, medidas biométricas e execução de lei do MEC (LEI Nº. 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE
gestos técnicos referem-se a uma avaliação “formal”, já 1996). Não acredito num modelo, ou fórmula mágica de
que ela também possui um caráter “não formal”, ou seja, avaliação, acredito que toda avaliação deve ser um
critérios estabelecidos pelos professores a partir de reflexo do processo ensino-aprendizagem e se levar em
condutas e comportamentos que ocorrem nas aulas e conta se os objetivos traçados foram alcançados e não
influenciam a nota do aluno (segundo os autores da obra usar a avaliação como uma arma de defesa ou coação
em questão, isso fica claro quando o professor escolhe aos alunos.
aqueles mais habilidosos para dividir as equipes,
organizar atividades etc). Com essas características, a
avaliação em educação física vem sendo realizada com 7. ESPORTE E JOGOS NA ESCOLA:
ênfase na aptidão física e na busca de talentos COMPETIÇÃO, COOPERAÇÃO E
esportivos, e desse modo acaba por segregar aqueles
classificados como menos aptos (Mauad, 2003, p. 35). De TRANSFORMAÇÃO DIDÁTICO-
acordo com Luckesi (1999), a avaliação que se pratica na PEDAGOGICA
escola é a avaliação da culpa. Aponta, ainda, que as
notas são usadas para fundamentar necessidades de O esporte atualmente vem adquirindo espaço e
classificação de alunos, onde são comparados importância cada vez mais no ambiente escolar, em
desempenhos e não objetivos que se deseja atingir. nossa sociedade, basta olhar á nossa volta para que
Concordo com os autores quando defendem que a comprovemos isto verificando o espaço deixado pela
proposta de avaliação do processo de ensino- mídia, constatamos que a maioria das revistas de
aprendizagem em educação física deve “(...) levar em atualidades e jornais de grande circulação no País
conta a observação, análise e conceituação de elementos apresenta cadernos ou seções dedicadas a ele. Os
que compõem a totalidade da conduta humana e que se canais abertos de televisão possuem desde blocos nos
expressam no desenvolvimento de atividades” (Coletivo telejornais, até programas diários, semanais ou
de Autores, 1992, p.103). Mauad (2003) fala que a internacionais especializados em esportes. É uma
educação física é uma disciplina que trata do atividade que envolve muito dinheiro e movimenta a
conhecimento denominado de cultura corporal; por isso indústria de lazer, turismo, roupas, equipamentos
seus adeptos compreendem que os conteúdos devem esportivos, alta tecnologia e pesquisas cientificas. Seu
ser: o esporte, as danças, os jogos, a ginástica e as lutas, significado é o conjunto de exercícios físicos, desporto,
entendidos como linguagem corporal, por meio da qual o desporte. O esporte se tornou um estilo de vida, tanto que
aluno pode compreender melhor as relações sociais do CAGIGAL apud DARIDO e RANGEL (2005) chegou a
meio em que vive e confrontá-las com outras realidades afirmar que o esporte é um dos hábitos que caracteriza o
existentes à sua volta, Betti (1992) completa que é nosso tempo, ou como coloca TUBINO (1999)’’o maior
preciso levar o aluno a compreender as razões que o fenômeno do século XX. O reconhecimento do esporte
levam a fazer uma atividade física, favorecer o como um fenômeno social contemporâneo estimula
desenvolvimento de atitudes favoráveis e positivas em reflexões sobre o seu tratamento como um conteúdo
relação à atividade física, desenvolver a compreensão de curricular escolar. Portanto, o objetivo deste trabalho é
todas as informações relacionadas às conquistas conceituar, classificar, caracterizar, refletir, discutir, e
materiais e espirituais da cultura física e aprender a propor vivências apontando possibilidades de tratamento
apreciar o corpo em movimento. Desde o início de minha didáticas no sentido da construção de uma identidade
formação sempre me preocupei e me empenhei no

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escolar dos esportes através dos Parâmetros Curriculares pelo esforço, o confronto com o perigo e os desafios do
Nacionais. treinamento, as regras do esporte apresentam se
restritivas, imperiosas, minuciosas e coerentes como o
objetivo que se deseja alcançar. Para TUBINO (1999)
A História do Esporte acrescenta que, no esporte moderno, o jogo tinha sofrido
uma atrofia considerável e que a sistematização levará a
O esporte moderno surgiu na Inglaterra, berço do perda de qualidade de jogo à medida que esse não
Capitalismo, no final do século XIX, a mesma época da levava ao divertimento.
Revolução Industrial. O futebol, o atletismo moderno e o
rúgbi surgiram nesta época. No Brasil, o inicio do esporte
deu se na metade da década de 40. Entre 1946 e 1968 a Classificação dos Esportes
Educação Física sofreu a influencia de um método criado
na França, por AUGUSTO LISTELLO, conhecido como Diversas são as maneiras de classificar o esporte e vários
Método Desportivo. Generalizando, esse método são os autores que o fizeram (FERRANDO, 1990;
procurou na Educação Física, dando ênfase ao aspecto KOLYNIAK FILHO, 1997; CAGIGAL, 1972). Optamos por
lúdico. Iniciar os alunos nos diferentes esportes era o uma classificação que se mostra bem interessante e
objetivo principal, e a estratégia utilizada era os jogos adequada aos propósitos que foi apresentada por
sendo ele, mais livre, flexível, rígido e com poucas regras, TUBINO (2000) e TUBINO et al. (2001). Este autor
sendo com regras, técnicas e táticas impostas pela classificou o esporte sob três aspectos de sua
atividade esportiva praticada. Com a ascensão do manifestação: o esporte-educação; o esporte-participação
Regime Militar, o esporte tornou se a razão de Estado e a e o esporte-performance ou de rendimento, embora, na
Educação Física Escolar sucumbiram subordinadas a realidade concreta, nem sempre seja fácil localizar ou
este durante toda a década de 70. Com nova diferenciar essas manifestações.
regulamentação especifica, a aptidão física torna se a
referência fundamental para orientar desde o
planejamento até a avaliação de Educação Física com a O Esporte Educação
inclusão da iniciação esportiva a partir da 5ª série do
Ensino Fundamental, o desenvolvimento da aptidão Focalizado na escola, tem por finalidade democratizar
física, mencionada na lei, se dá por meio do esporte. e gerar cultura pelo movimento de expressão do indivíduo
Assim, investigar a inserção da pratica esportiva, no em ação como manifestação social e de exercício crítico
âmbito da Educação Física Escolar Brasileira, justifica-se da cidadania, evitando a exclusão e a competitividade
por apresentar uma reflexão no atual discurso sobre o exacerbada. Assim, o professor, ao trabalhar o esporte-
fenômeno esportivo presente nessa disciplina: “A educação, além de proporcionar aos alunos a vivência de
influência do esporte sobre a educação tem um grande diferentes modalidades, deve levá-los a refletir de forma
crescimento após a Segunda Guerra Mundial, afirmando- crítica, não só sobre os problemas que envolvem o
se como elemento hegemônico da cultura esporte na sociedade, tais como a utilização de drogas
corporal’’(ASSIS, 2001, P. 15) O cenário político muda e ilícitas para melhoria da performance, a corrupção e
a década de 80 fica marcada no meio acadêmico, pelo violência, mas também sobre seus aspectos positivos,
questionamento e pela reflexão sobre o papel da como a geração de empregos, o desenvolvimento de
Educação Física e principalmente sobre o papel do pesquisas científicas, tanto no tocante a novas
esporte dentro da escola. Viajamos pela história desse tecnologias, como na área médica. Concordando com
fenômeno, mas afinal de contas, o que vem a ser Paes (2002) e Tubino (2002), temos que acreditar em
esporte? nossos estudos, pois se o esporte esta presente na vida
do indivíduo, o mesmo, tem que ser inserido nas aulas de
Educação Física escolar. Apresentando o objetivo de
Conceitos dos Esportes auxiliar na formação do cidadão e em sua convivência na
sociedade. CRUM (1993) ajuda-nos a reforçar a idéia da
Em sua origem a palavra esporte significa regozijo, ou necessidade de oferecimento do esporte na escola, pois
seja, diversão continua, ainda hoje servindo de base para segundo o autor, o esporte está presente em clubes,
quase todas as definições atuais. Esporte é um fenômeno escolas especializadas em esporte, etc.; porém não é
sociocultural, que envolve a prática voluntária de toda a camada da população que é atingida, além disso,
atividade predominante física competitiva com finalidade apesar destas instituições também poderem atuar
recreativa, educativa ou profissional, e educacionalmente, os objetivos principais não são os
predominantemente física não competitiva com finalidade mesmos do ambiente escolar. [...], partindo do principio
de lazer, contribuindo para a formação, desenvolvimento de é desejável que todos os jovens tenham
e aprimoramento físico, intelectual e psíquico de seus oportunidades iguais para se familiarizarem com uma
praticantes e expectadores. Vários autores escreveram série de aspectos da cultura motora no seio da qual
sobre os conceitos do esporte, porém, conceitos crescem, parece óbvio que a escola tem de desempenhar
contraditórios. Conceitos estes que apresentam em um papel central no processo de socialização de
comum uma estreita ligação entre o esporte e o jogo. movimento (CRUM, 1993, p.143)
FEIO apud DARIDO E RANGEL (2005) coloca que o
esporte e o jogo têm em comuns elementos essenciais:
liberdade, prazer e regras, mas esses elementos se O Esporte Participação
diferenciam em atividades: a liberdade e a gratuidade são
inerentes ao jogo no esporte, não se exclui a importância Referenciadas pelos princípios do prazer lúdico, essas
dada aos resultados, o que se faz é tão importante manifestações ocorrem em espaços não comprometidos
quanto à livre escolha que se fez no jogo, o prazer é como tempo e livres de obrigações da vida cotidiana,
processado imediatamente e unicamente pela motivação apresentam como propósitos a demonstração, a diversão,
lúdica, o esporte, integra, em grande proporção gosto o desenvolvimento pessoal e a interação social. O

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esporte-participação pode ser praticado por jovens, de questões fundamentais para o país, onde valores
adultos, indivíduos da terceira idade, portadores de enraizados na Educação Física serão questionados,
necessidades especiais, homens, mulheres. É comum visando modificar atitudes e comportamentos
observarmos as pessoas se organizando para jogar apresentados pelos alunos construindo gesto esportivo
futebol, basquetebol, voleibol, praticar ciclismos, com percepção e desenvolvimento das capacidades
ginástica, realizar caminhadas ou ainda esportes de físicas e habilidades motoras relacionadas ás atividades
aventura, em espaços públicos de lazer e esporte, nos desportiva. Quando a Educação Física considera que o
clubes, nas praias, nas ruas e também em algumas homem em movimento produz cultura, estabelecendo
instituições de ensino que cedem espaços para a relações de valores nas suas diversas dimensões, ela
realização de tais atividades nos finais de semana (escola está possibilitando vivências de práticas corporais que
da família) ou nos períodos de ociosidade das atividades reconhecem ética, pluralidade cultural e saúde, entre
cotidianas. outras, na discussão sobre o corpo inserido na sociedade
de consumo, questionando seu papel na relação com o
mundo. Ao tratar da inclusão no ambiente escolar não se
O Esporte Performance refere apenas em alunos portadores de necessidades
especiais, ou aqueles que apresentam problemas
Também chamado de esporte de rendimento, traz neurológicos e sim a preocupação de todos os alunos
consigo os propósitos de novos êxitos e a vitória sobre os estarem incluídos no processo de ensino e
adversários. As diferentes modalidades esportivas estão aprendizagem. Para não se repetir a característica onde
ligadas a instituições (ligas, federações, confederações, só era privilegiada a participação nas aulas de Educação
comitês olímpicos) que organizam as competições locais, Física os alunos dotados e habilidosos, deixando de lado
nacionais ou internacionais e têm a função de zelar pelo os alunos venham a ter dificuldades como os gordinhos e
cumprimento das regras e dos códigos éticos. É exercido os de baixa estatura. Respeitando as diferenças de todos,
sobre regras universalmente preestabelecidas, e pois cada sujeito possui a sua individualidade. É preciso
apresenta uma tendência a ser praticada pelos talentos ensinar aos alunos a competição saudável, a que permite
esportivos, tendência que marca o seu caráter que o jogo se torne atrativo. Assim a competição no
antidemocrático. Certamente que, em meio a tantos esporte deve ser desenvolvida de maneira que não ponha
aspectos negativos, também a um grande número de em risco o risco princípio lúdico, ou seja, não interfira no
aspectos positivos é citado o esporte de competição prazer de se praticar o jogo. No contexto escolar, há a
como uma atividade cultural que proporciona intercâmbio necessidade de que os alunos percebam o elemento
internacional o envolvimento de recursos humanos competitivo do esporte no seu sentido primeiro, ou seja,
qualificados, o que provoca a existência de várias como um fator motivacional. A principal competição a ser
profissões especializadas no esporte, a geração de incentivada e a do aluno consigo mesmo na busca da
turismo, o efeito-imitação como influência ao esporte superação de seus próprios resultados.
popular e o crescimento de mão-de-obra especializada na
indústria de produtos esportivos. Exemplos dos esportes-
performance podem ser vistos nos finais de semana, Objetivos
algumas modalidades com maior ou menor freqüência,
pelas transmissões televisivas dos campeonatos No Ensino Fundamental, serão oportunizadas diversas
nacionais e internacionais de futebol, voleibol, vôlei de vivências que valorizem o aluno como produtor do
praia, automobilismo, basquetebol, surf, judô, ginástica conhecimento, estimulando a reflexão crítica e a
artística, natação, entre outros. utilização do corpo como instrumento de interpretação do
mundo. Para isso, o ensino da Educação Física oferecerá
a organização de um ambiente que possibilite
PCNs. Sobre esporte conceitos e procedimentos desenvolver as capacidades de:

Nesta perspectiva, os PCN recomendam uma - Conhecer e utilizar o corpo em movimento no


Educação Física que extrapole suas atividades tempo e no espaço;
curriculares, visando à construção de uma escola
comprometida com a transformação social, permitindo o - Dominar os movimentos básicos do corpo;
conhecimento crítico da realidade, onde a educação para
a cidadania possibilitará que questões sociais sejam - Ampliar o repertório motor na combinação de
apresentadas para uma maior reflexão. Entendendo os movimentos e habilidades;
conteúdos como produtos sócio-culturais, a Educação
Física no Ensino Fundamental amplia a participação do - Identificar e utilizar as atividades ludo-
aluno e transforma sua ação pedagógica. Assim, o pedagógico do cotidiano escolar na organização
esporte entra no contexto escolar de forma recreativa, na do lazer;
compreensão dos aspectos históricos, sociais, vivência
de esportes individuais e coletivos no contexto - Repudiar a violência, evidenciando o respeito
participativo e também competitivo, organização de mutuo, a ética, a dignidade e a solidariedade;
campeonatos dentro da escola, na capacidade de adaptar
espaços e materiais para realização de esportes. Os - Incorporar as manifestações corporais das
PCNs ainda mostram a importância dos temas diversas culturas ao acervo lúdico;
transversais para a área de Educação Física, já que, ao
discutir questões como: ética, pluralidade cultural, - Demonstrar autonomia na legislação da regra
orientação sexual, meio ambiente, trabalho e consumo, dos jogos;
saúde, historia das olimpíadas, inclusão e exclusão da
mulher e do negro em determinados momentos históricos
e entre outros, permite-se o debate relevante e urgente

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- Entender a diversidade cultural e conviver com desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor, como
ela na organização e execução das práticas individuo e a construção do conhecimento. Para trabalhar
corporais; com os esportes inclusive nas escolas, é necessário
compreendê-los a partir de suas modalidades e dos
- Compreender a importância da atividade física pontos em comum que elas apresentam,não há
e do esporte para a saúde, relacionando-a com desenvolvimento e esporte rico possível sem uma
os fatores sócio-culturais; estrutura que lhe dê origem e o sustente, sem uma
estrutura que não passe pelo sujeito. O esporte nas aulas
- Adquirir habilidades esportivas, reconhecendo de Educação Física deve estar segundo KUNZ apud
a importância do gesto motor, despertando o DARIDO E RANGEL (2005) pedagogicamente
prazer pelo esporte; transformado, esporte escolar tem como pressuposto o
aspecto de servir ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e
- Responsabilizar-se pelo desenvolvimento e motor, e à construção do conhecimento. Nós educadores
manutenção de suas capacidades físicas devemos permitir que as crianças descobrissem novos
(resistência aeróbica, força, velocidade e métodos de diversão e aprendizagem, pois brincadeiras
flexibilidade) exercidas por eles em casa já são realizadas
cotidianamente, se nós educadores dermos atividades já
- Valorização e respeito com sensações, executadas por eles, estaremos permitindo que eles
emoções, limites, integridade física e morais fiquem estáticos, ou seja, que eles não aprendam nada
pessoais e dos colegas. de novo. Refletir sobre o esporte nas aulas de Educação
Física escolar procuramos destacar uma educação
- Reconhecimento e valorização de atitudes não fazendo de seus conteúdos uma ferramenta para o
discriminatórias, quanto à habilidade, sexo, cor e processo de formação dos alunos. A maneira que é
outras. utilizada o esporte nas aulas, destaca-se o sistema
escolar, caracterizando o não esporte da escola e sim o
- Predisposição em cooperar com colega ou esporte na escola, concordando com o (COLETIVO DE
grupo, participar em jogos esportivos, AUTORES, 1992, p.07), é questionado a forma de ser
recreativos. trabalhado o esporte no ambiente escolar, pois é
repassados regras e regulamentos dos esportes
Propõe-se, assim, a valorização do aluno, dando competitivos aos alunos. O professor acaba se tornando
movimento a cada idéia dentro da escola numa um treinador de seus alunos atletas, onde começam a ser
perspectiva interdisciplinar, cabendo ao professor mediar exigido resultados e comparações a talentos esportivos.
às vivências, desenvolvendo habilidades e competências Reforçando a critica de coletivos de autores, da utilização
na formação do ser crítico participativo. O esporte é uma do esporte como rendimento no contexto escolar sendo
ótima forma dos alunos aprenderem que a vida não é esta forma, a conseqüência de frustração para a maioria
feita só de vitórias e que nem sempre se consegue tudo o dos alunos que não rendem o necessário, fazendo com
que se almeja. Os esportes os põem frente à derrota, o que eles convivam com o sentimento de incapacidade e
que os obrigam a aprenderem a superar suas frustrações improdutividade. Uma escola que assume por missão
CAGIGAL, (1981, p.203) consolidar a capacidade e a vontade dos indivíduos de
serem atores e ensinar a cada um a reconhecer no outro
a mesma liberdade que em si mesmo, o mesmo direito a
O Esporte nas Aulas de Educação Física individualização e a defesa de interesses sociais e
valores culturais é uma escola de democracia. (TORAINE
O esporte serve muitas vezes como ajuda na 1998, p.339) Os conteúdos do esporte nas aulas de
socialização das crianças, e nas aulas de Educação Educação Física e sua tematização como nos advertem
Física não é diferente, mas também estando atento em KUNZ apud DARIDO E RANGEL (2005) devem existir a
um tratamento didático e pedagógico, ensinando-lhes a partir da compreensão do esporte como fenômeno
maneira correta que se deve trabalhar, sempre tirando sociocultural, de maneira que os alunos não o façam
dúvidas e as desafiando cada vez mais, não querendo acontecer apenas por sua ação motora, e sim
transformar em superatletas, mais com o objetivo de que principalmente por sua ação reflexiva. Cada vez mais os
se tornem pessoas melhores e é nesse fim que nós alunos estão desinteressados pelas aulas propostos
futuros professores temos que trabalhar. Devemos pelos professores, e sim interessados naquilo que os
valorizar o conhecimento do conteúdo, construindo uma satisfazem, que na maioria das vezes acaba não sendo o
análise no esporte em geral, conhecendo suas ideal para eles, e infelizmente não existe uma relação
modalidades, códigos, regras, instalações e aparelhos dialética entre educador e aluno, onde a autoridade é o
aprendendo e debatendo com esportistas e professores professor e o aluno deve fazer um papel passivo
de determinadas modalidades conforme formos obedecendo. Historicamente uma das primeiras
trabalhando. Acreditamos que no ambiente pedagógico classificações surgiu a partir dos esportes atléticos. Eles
devemos tentar mostrar aos alunos atividades compreendiam as corridas, marchas, lançamentos e
espontâneas com materiais que devem facilitar a saltos, além de algumas provas combinadas, como o
atividade, desencadeando problemas para que eles pentatlo e o decatlo. Além de existir uma divisão dos
resolvam, mudando os métodos quando esses mudam as esportes em olímpicos e não olímpicos, individuais ou
formas de pensar, citando exemplos e atividades coletivos. Dentro dessa perspectiva, ainda pode-se notar
alternativas, ensinando-lhes a observar os fatos e o que os esportes artísticos, náuticos, militares, radicais e os de
não souberem indagarem, tentando trabalhar em grupo e aventura. Outra tentativa para se classificar os esportes
fazendo com que desenvolvam habilidades de toma como foco as habilidades, estas se separam,
comunicação e socialização. RAMIREZ apud SCARPATO conforme BOMPA apud DARIDO E RANGEL (2005) em
(2007) Trabalhar com os conteúdos dos esportes na cíclicas, acíclicas e combinadas. O Único Caminho para a
escola tem como pressuposto o aspecto de servir ao verdadeira critica ao esporte é abandono da vivencia em

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prol do discurso filosófico e sociológico. TOURAINE municipais, estaduais ou nacionais, competições
(1998) defende a idéia de uma transformação da escola, tradicionais realizadas em muitas escolas e municípios,
onde ela não deva ter a função exclusiva de instruir, mas onde somente os atletas selecionados representam a sua
sim se preocupar com o ato de educar, e acima de tudo série, sua escola, sua cidade ou seu estado, buscando
aumentar a capacidade dos indivíduos a ser sujeito. rendimento. Não se encontravam equívocos, ou se
(TOURAINE, 1998, p.327). Parece ser fundamental o formulavam críticas ao formato de jogos escolares, pois
aprendizado dos gestos motores na caracterização das eles eram fiéis às competições profissionais dessa forma,
atividades esportivas, e mais, é essencial a prática deveriam ser o espelho ideal a ser almejado pela
desses gestos para a progressão, visando à apropriação educação física tradicional. Mas com o passar dos anos e
das modalidades esportivas. Talvez a questão central dos estudos, as inquietações pedagógicas surgiram,
relacione-se á contraposição entre a prática consciente e permitindo que se verificasse que essas competições
a prática alienada. As dimensões dos conteúdos apresentam inúmeras situações antipedagógicas,
colocam-se como chave importante para a orientação antiéticas, injustas, as quais privilegiam a exclusão,
nesse sentido. Como sugestão para uma abordagem constituindo-se então um local de reprodução de uma
metodológica envolvendo as reflexões acima ideologia seletiva e elitista com a qual não se pode mais
apresentadas, destaca-se a proposição de objetivos que compactuar, muito menos a Educação Física na
também levem em consideração as dimensões dos perspectiva de suas novas teorias. (SCAGLIA & GOMES
conteúdos. 2005, p. 140) As competições esportivas pedagógicas
que defendemos contrapõemse a esse modelo de jogos
de alto nível, buscando-se exclusivamente o rendimento,
O Esporte como algo a ser Modificado excluindo totalmente os considerados menos habilidosos,
a que nos remetemos quando se fala em competição
Algumas discussões podem ser motivadas a partir da escolar. Alguns autores colocam a necessidade de
proposta de transformação do esporte. Os mais rigorosos estudos mais aprofundados não somente no que diz
podem entender que qualquer modificação na estrutura, respeito a Pedagogia do Esporte mas também a
que diz respeito às regras ou ao espaço físico no qual Pedagogia da Competição, uma vez que o Esporte e a
acontece a vivência, pode ser considerada uma Competição estão atrelados A pedagogia da competição
descaracterização da prática esportiva. Porém no deve entender o valor da humanização das relações inter-
ambiente escolar, ou mesmo nas escolas de esporte que pessoais em detrimento da escravização do resultado;
trabalham ao nível da iniciação, inúmeras adaptações também busca equilibrar as relações entre prática e
com objetivo de adequação ás características da resultado, do valor sócio-cultural da (con)vivência da
clientela. Em geral, essas ações contribuem muito mais competição esportiva. Parece-nos um tanto arrogante
do que atrapalham na compreensão do que venha a ser afirmar que a lógica da competição esportiva é destruir as
esporte. Tendo em vista as diversas possibilidades de pessoas, colocá-las reféns do sistema de rendimento,
adaptação, os alunos devem compreender através da onde o resultado final é o funil do alto-rendimento.
vivência e também da construção e desconstrução das Promover a pedagogia da competição propõe encaminhar
regras, que o esporte caracteriza-se como um campo de nossos alunos à constantemente superar-se individual e
ação aberto, e a atribuição de sentidos e significados coletivamente. (SCAGLIA, 2001, p. 4) Diante das novas
pode ser orientada a adjetivos tais como a satisfação de teorias, a competição exacerbada passou a ser um dos
um prazer intrínseco, uma atividade com fins sociais, uma focos polêmicos da disciplina, porém sem muitos
vivência á aquisição e manutenção da saúde, entre argumentos sobre a necessidade de se ensinar
outras possibilidades. Concordando com Cagigal (1981), competição na escola. Não há como separar o Esporte da
quando ele aponta que o esporte é extremamente competição, no entanto, como estamos falando de uma
importante, onde em nossa sociedade cada vez menos competição escolar, não podemos perder o foco
pessoas se exercitam apresentando alto índice pedagógico desta atividade. Segundo Reverdito et al
mortalidade em doenças cardiovasculares. (2006) Quando a competição apenas acontece na escola,
não existe um comprometimento intrínseco aos seus
objetivos e função. Nesse caso, ela apenas reproduz um
Esporte e Competição: É Possível Separar? sistema espetacularizado. O compromisso é exterior aos
objetivos e à função da escola, atendendo apenas aos
Como já discutido anteriormente, o Esporte no anseios do sistema competitivo institucionalizado e suas
contexto histórico da disciplina de Educação Física, nas transgressões, repelindo de si qualquer responsabilidade
abordagens apresentadas e no contexto escolar já é por pedagógica e valorizando a escravidão pelos resultados.
si só bastante controverso e polemizado. O que falar (grifos do autor - p.3) Os objetivos e funções da
então da competição, que é considerada por muitos seu competição esportiva que defendemos devem estar bem
elemento fundamental? Ao se mencionar o Esporte, claros, devem ser pautados na participação de todos,
quase que imediatamente associa-se a idéia de uma possibilitando momentos de cooperação, de vivências, de
competição. Dentre os principais fatores que contribuíram socialização, de enriquecimento corporal. Essa atividade
para as contradições das discussões acerca do tema, esportiva apresenta uma possibilidade de inclusão social
temos sua negação pela Educação Física, quando se não somente dos alunos envolvidos diretamente na
analisa o número de obras que discutem a competição no competição, mas também para toda a equipe pedagógica
espaço escolar. Idêntico modo acontece com a da escola. A equipe diretiva e o corpo docente têm papel
Pedagogia do Esporte que, mesmo reconhecendo o fundamental nessa perspectiva de evento pedagógico da
significativo avanço promovido pelas principais escola e sua contribuição é fundamental para que essa
abordagens atuais, ainda são poucos os autores e obras proposta se efetive. A partir do momento que o Esporte e
que se dedicam efetivamente ao estudo da teoria e a competição recebem um tratamento pedagógico,
prática da competição escolar.(REVERDITO et al 2006, p. mudam-se seus significados. O que falta ao Esporte
1) Ao se mencionar competição escolar imediatamente se desenvolvido na escola é um tratamento pedagógico
remete à ideia de inter-séries ou jogos escolares comprometido com a educabilidade do sujeito e não

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somente visando competições externas, mas sim o objetivo? As perguntas não param por aí, mas todas as
desafios pessoais e coletivos a serem vencidos. Segundo respostas estão quase sempre prontas no discurso dos
Bracht (2000, 2001) Portanto, o esporte tratado e professores e técnicos, porém infelizmente a teoria na
privilegiado na escola pode ser aquele que atribui um prática é outra. Muitas vezes (quase sempre), as crianças
significado menos central ao rendimento máximo e à são bombardeadas com treinamentos técnicos e táticos
competição, e procura permitir aos educandos vivenciar nos quais reproduzem o que é pedido sem saber o
também formas de prática esportiva que privilegiem antes porquê, e os professores e técnicos acreditam que
o rendimento possível e a cooperação. (p.19) O modelo ensinando todos os fundamentos com detalhes e
de competição pedagógica que defendemos deverá ser algumas jogadas ensaiadas estão formando seus alunos,
em torno de maximizar os aspectos positivos e minimizar mas isto é educar? No treinamento o aluno quase nunca
os efeitos negativos, buscando o resgate de valores tem o direito de brincar e se divertir, ou seja, ser criança
essências à vida em sociedade que podem ser com suas limitações, defeitos, virtudes e potenciais. Eles
trabalhados nessa perspectiva. Assis (2005) faz a sua são treinados para executar e não para pensar, passar a
consideração sobre o Esporte e os valores que estão bola para o mais habilidoso que assim nos "daremos
implícitos na sua prática, valorizando esse momento bem" no jogo. Quando será que os profissionais
vivido por todos, na busca de satisfações pessoais em envolvidos neste processo darão conta que os pequenos
detrimento de resultados performáticos. [...] Traz consigo "atletas" têm o direito de aprender a aprender, resolver
possibilidades contraditórias, estabelecidas em sua situações problema com inteligência, serem respeitados
própria dinâmica, de forma que é possível enfatizar na sua individualidade e participarem do treinamento e do
situações que privilegiam a solidariedade sobre a jogo com prazer e felicidade? Em alguns casos a escola
rivalidade, o coletivo sobre o individual, a autonomia é, em parte, responsável por esta situação ao exigir a
sobre a submissão, a cooperação sobre a disputa, a vitória nos campeonatos. Os pais cobram os técnicos,
distribuição sobre a apropriação, a abundância sobre a muitas vezes transferindo suas frustrações para os filhos,
escassez, a confiança mútua sobre a suspeita, a e inicia-se um ciclo vicioso onde todos perdem e que
descontração sobre a tensão, a perseverança sobre a somente o professor tem condições de interromper,
desistência e, além de tudo, a vontade de continuar esclarecendo aos mantenedores e pais o ganho como
jogando em contraposição à pressa para terminar o jogo cidadão que as competições representam, que a vitória e
e configurar resultados. (p.196) O Esporte trabalhado nas a derrota dentro de uma competição servem para
aulas de Educação Física e nas competições escolares fomentar discussões a respeito dos erros e acertos,
com esse cunho pedagógico pode ser um grande respeitando o desenvolvimento e ritmo individual em
facilitador das mais variadas aprendizagens e da inclusão todas as fases do convívio. Por outro lado, os
social dos alunos e professores. O ensino de Esporte organizadores dos campeonatos escolares, têm grande
antes, durante e depois das competições é um desafio responsabilidade no processo de informar e exigir o
para os professores de Educação Física, já que nessa cumprimento das regras de conduta. Regras estas que
lógica o esporte torna-se um meio de educação e não um asseguram um ambiente educacional e formador,
fim de competição. As competições podem marcar um competitivo sim, mas extremamente saudável para todos
sentido de congraçamento, de relação social complexa os envolvidos. Só assim deixaremos de constatar cenas
entre as pessoas, porque elas não iniciam quando o grotescas nas quadras esportivas, onde técnicos
árbitro apita o jogo, e não se encerram no próprio jogo, ofendem seus "atletas" e cobram execuções técnicas de
mas desde a preparação do evento, passando por uma crianças em formação. Pais que torcem pelos filhos não
série de manifestações, de relações complexas, sociais e se preocupando em poupar seus sentidos (ouvir, ver e
culturais, entre os estudantes, a partir de uma sentir) de toda sorte de palavras e gestos agressivos
participação ativa e motivante garantida na organização e contra crianças, árbitros e técnicos, ou jogando
desenvolvimento da prática e do conhecimento do balas(doces) na quadra ao final de um jogo que seu time
Esporte. (REVERDITO, SCAGLIA et al, 2005). Para venceu, reproduzindo a experiencia de PAVLOV no
Scaglia (2005) Faz-se necessário que a competição não adestramento de cães no inicio do séc. XX. Professores
seja vista sempre como um jogo de alguém contra precisamos repensar nossas práticas nos campeonatos
alguém, mas sim no jogar com alguém e contra si próprio, escolares antes que seja tarde, nossa função na escola é
como um marco de referência para uma auto-avaliação. formar cidadão e não atleta.
O objetivo da competição deve estar voltado também
para a autosuperação e busca de auto-estima (p.4) A
possibilidade real, concreta e de essência de o Esporte 8. CRESCIMENTO E
ser partícipe de um projeto emancipatório está, DESENVOLVIMENTO MOTOR
sobretudo, na sua ampla oferta, na sua prática como
objeto de reflexão e na transformação de sua dinâmica,
O desenvolvimento motor representa um aspecto do
essencialmente competitiva e aparentemente lúdica, para
processo desenvolvimentista total e está intrinsecamente
uma outra, qualitativamente distinta, essencialmente
inter-relacionado às áreas cognitivas e afetivas do
lúdica e aparentemente competitiva. (ASSIS, 2005) A
comportamento humano, sendo influenciado por muitos
escola é um espaço privilegiado de encontro de pessoas
fatores. A importância do desenvolvimento motor ideal
onde as manifestações humanas devem ser valorizadas,
não deve ser minimizada ou considerada como
buscando-se uma verdadeira inclusão social de toda a
secundária em relação a outras áreas do
comunidade escolar, através dessa poderosa máquina
desenvolvimento. Portanto, o processo do
cultural: o Esporte. No ambiente escolar é comum
desenvolvimento motor revela-se basicamente por
encontrarmos as famosas turmas de treinamento que têm
alterações no comportamento motor, do bebê ao adulto, é
por finalidade a particípação em campeonatos escolares
um envolvido no processo permanente de aprender a
dos mais diversos níveis, mas será que a competição é o
mover-se eficientemente, em reação ao que enfrentamos
produto final deste processo? Os técnicos deixam de ser
diariamente em um mundo em constante modificação
educadores? Os limites e particularidades de cada fase
(GALLAHUE; OZMUN, 2002). Nos primeiros anos de vida
da vida não devem ser respeitados? Só a vitória do jogo é
a criança explora o mundo que a rodeia com os olhos e
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as mãos, através das atividades motoras. Ela estará, ao precisão não seja um componente importante nesta
mesmo tempo, desenvolvendo as primeiras iniciativas tarefa, a coordenação perfeita na realização deste
intelectuais e os primeiros contatos sociais com outras movimento é imprescindível ao desenvolvimento hábil
crianças. É em função do seu desenvolvimento motor que desta tarefa (MAGILL, 1984). A coordenação global e as
a criança se transformará numa criatura livre e experimentações feitas pela criança levam a adquirir a
independente (BATISTELLA, 2001). Segundo Oliveira dissociação do movimento, levando-a a ter condições de
(2001), toda seqüência básica do desenvolvimento motor realizar diversos movimentos simultaneamente, sendo
está apoiada na seqüência de desenvolvimento do que cada um destes movimentos pode ser realizado com
cérebro, visto que a mudança progressiva na capacidade membros diferentes sem perder a unidade do gesto
motora de um indivíduo, desencadeada pela interação (OLIVEIRA, 2001). A conduta motora, de coordenação
desse indivíduo com seu ambiente e com a tarefa em que motora global é concretizada através da maturação,
ele esteja engajado. Em outras palavras, as motora e neurológica da criança. Para isto ocorrer haverá
características hereditárias de uma pessoa, combinada um refinamento das sensações e percepções, visual,
com condições ambientais específicas (como por auditiva, sinestésica, tátil e principalmente proprioceptiva,
exemplo, oportunidade para prática, encorajamento e através da solicitação motora que as atividades infantis
instrução) e os próprios requerimentos da tarefa que o requerem (VELASCO, 1996).
indivíduo desempenha, determinam a quantidade e a
extensão da aquisição de destrezas motoras e a melhoria
da aptidão (GALLAHUE; OZMUN, 2002). Equilíbrio

O equilíbrio é a base primordial de toda ação


Elementos Básicos do Desenvolvimento Motor diferenciada dos membros superiores. Quanto mais
defeituoso é o movimento mais energia consome, tal
Motricidade Fina gasto energético poderia ser canalizado para outros
trabalhos neuromusculares. Nesta luta constante, ainda
Motricidade Fina “é uma atividade de movimento que inconsciente, contra o desequilíbrio resulta numa
espacialmente pequena, que requer um emprego de força fatiga corporal, mental e espiritual, aumentando o nível de
mínima, mas grande precisão ou velocidade ou ambos, stress, ansiedade, e angustia do indivíduo. A postura é a
sendo executada principalmente pelas mãos e dedos, às atividade reflexa do corpo com respeito ao espaço. O
vezes também pelos pés” (MEINEL, 1984, p.154). A equilíbrio considerado como o estado de um corpo,
coordenação fina diz respeito à habilidade e destreza quando distintas e encontradas forças que atuam sobre
manual ou pedal constituindo-se como um aspecto ele se compensam e se anulam mutuamente. Desde o
particular na coordenação global. Habilidades motoras ponto de vista biológico, a possibilidade de manter
finas requerem a capacidade de controlar os músculos posturas, posições e atitudes indica a existência de
pequenos do corpo, a fim de atingir a execução bem- equilíbrio. O equilíbrio tônico postural do sujeito, seu
sucedida da habilidade (MAGILL, 1984). Conforme gesto, seu modo de respirar, sua atitude, etc., são o
Canfield (1981), a motricidade fina envolve a reflexo de seu comportamento, porém ao mesmo tempo
coordenação óculo-manual e requerem um alto grau de de suas dificuldades e de seus bloqueios. Para voltar a
precisão no movimento para o desempenho da habilidade encontrar seu estado de equilíbrio biopsicossocial, é
específica, num grande nível de realização. Podemos necessário liberar os pontos de maior tensão muscular
citar exemplo da necessidade desta habilidade que seria (couraças musculares), isto é, o conjunto de reações
na realização de tarefas como escrever, tocar piano, tônicas de defesa integradas a atitude corporal. No plano
trabalhar em relógios etc. A coordenação viso manual da organização neuropsicológica, se pode dizer que o
representa a atividade mais freqüente utilizada pelo equilíbrio tônico postural constitui o modelo de auto-
homem, pois atua para inúmeras atividades como pegar regulação do comportamento (ROSA NETO, 1996). Asher
ou lançar objetos, escrever, desenhar, pintar, etc (ROSA (1975), considera que as variações da postura estão
NETO, 1996). Velasco (1996, p. 107) destaca que “a associadas a períodos de crescimento, aparecendo como
interação com pequenos objetos exigem da criança os uma resposta aos problemas de equilíbrio que costumam
movimentos de preensão e pinça que representam a ocorrer segundo as mudanças nas proporções corporais
base para o desenvolvimento da coordenação motora e seus segmentos. Conforme Rosa Neto (1996), a
fina”. postura inadequada está associada a uma excessiva
tensão que favorece um maior trabalho neuromuscular,
dificultando a transmissão e informações dos impulsos
Motricidade Global nervosos.

Segundo Batistella (2001), a motricidade global tem


como objetivo a realização e a automação dos Esquema Corporal
movimentos globais complexos, que se desenrolam num
certo período de tempo e que exigem a atividade conjunta A imagem do corpo representa uma forma de
de vários grupos musculares. A motricidade global equilíbrio. Em um contexto de relações mútuas do
envolve movimentos que envolvem grandes grupos organismo e do meio é onde se organiza a imagem do
musculares em ação simultânea, com vistas à execução corpo como núcleo central da personalidade (ROSA
de movimentos voluntários mais ou menos complexos. NETO, 1996). O esquema corporal é um elemento básico
Dessa forma, as capacidades motoras globais são indispensável para a formação da personalidade da
caracterizadas por envolver a grande musculatura como criança. É a representação relativamente global, científica
base principal de movimento. No desempenho de e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo
habilidades motoras globais, a precisão do movimento (WALLON, 1975). A criança percebe-se e percebe os
não é tão importante para a execução da habilidade, seres e as coisas que a cercam, em função de sua
como nos casos das habilidades motoras finas. Embora a pessoa. Sua personalidade se desenvolverá a uma

55
progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu integração destas informações internas e externas
ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo provem nossa organização espacial (OLIVEIRA, 2001).
à sua volta. Ela se sentirá bem na medida em que seu Segundo as características das nossas atividades,
corpo lhe obedece, em que o conhece bem, em que o podemos utilizar duas dimensões do espaço plano
utiliza não só para movimentar-se, mas também para agir distância ou profundidade. A pele apresenta receptores
(PEREIRA, 2002). As atividades tônicas, que está táteis onde a concentração modifica de uma região a
relacionada à atitude, postura e a atividade cinética, outra no corpo. A separação dos pontos de estimulação
orientada para o mundo exterior. Essas duas orientações permite fazer diferenças entre o contínuo e o distinto. Os
da atividade motriz (tônica e cinética), com a incessante índices táteis, associados aos índices sinestésicos
reciprocidade das atitudes, da sensibilidade e da resultam da exploração de um objeto que permite o
acomodação perceptiva e mental, correspondem aos reconhecimento das formas (esterognosia) em ausência
aspectos fundamentais da função muscular, que deve da visão (sentido háptico). Os deslocamentos de uma
assegurar a relação com o mundo exterior graças aos parte do corpo sobre uma superfície plana podem ser
deslocamentos e movimentos do corpo (mobilidade) e apreciados pela sinestesia tanto no caso dos movimentos
assegurar a conservação do equilíbrio corporal, infra- lineares como angulares. As sensações vestibulares
estrutura de toda ação diferenciada (tono). A função abastecem índices sobre certos dados espaciais
tônica se apresenta em um plano fisiológico, em dois (orientação, velocidade e aceleração). Chegam aos
aspectos: o tono de repouso o estado de tensão núcleos vestibulares, ao cerebelo e ao lóbulo frontal,
permanente do músculo que se conserva inclusive porém só contribuem muito debilmente a percepção dos
durante o sono; o tono de atitude, ordenado e deslocamentos. Não obstante, durante os deslocamentos
harmonizado pelo jogo complexo dos reflexos da atitude, passivos onde a visão e a sinestesia não intervêm, a
sendo estes mesmos, resultado das sensações orientação espacial diminui, geralmente se existe lesão
proprioceptivas e da soma dos estímulos provenientes do do sistema vestibular (RIGAL, 1988).
mundo exterior (ROSA NETO, 1996). A imagem corporal
como resultado complexo de toda a atividade cinética,
sendo a imagem do corpo a síntese de todas as Organização Temporal
mensagens, de todos os estímulos e de todas as ações
que permitam a criança se diferenciar do mundo exterior, Percebemos o transcurso do tempo a partir das
e de fazer do “EU” o sujeito de sua própria existência. O mudanças que se produzem durante um período
esquema corporal pode ser definido no plano educativo, estabelecido e da sua sucessão que transforma
como a chave de toda a organização da personalidade progressivamente o futuro em presente e depois em
(PEREIRA, 2002). passado. O tempo é antes de tudo memória, à medida
que leio, o tempo passa. Assim aparecem os dois
grandes componentes da organização temporal, a ordem
Organização Espacial e a duração, que o ritmo reúne, o primeiro define a
sucessão que existe entre os acontecimentos que se
A noção do espaço é uma noção ambivalente, ao produzem, uns a continuação de outros, numa ordem
mesmo tempo concreta e abstrata, finita e infinita. Na vida física irreversível; a segunda permite a variação do
cotidiana utilizamos constantemente os dados sensoriais intervalo que separa os dois pontos, o princípio e o fim de
e perceptivos relativos ao espaço que nos rodeia. Estes um acontecimento. Esta medida possui diferentes
dados sensoriais contêm as informações sobre as unidades cronométricas como o dia e suas divisões,
relações entre os objetos que ocupam o espaço, porém, é horas, minutos e segundos. A ordem ou distribuição
nossa atividade perceptiva baseada sobre a experiência cronológica das mudanças ou acontecimentos sucessivos
do aprendizado a que lhe dá um significado. A representa o aspecto qualitativo do tempo e a duração
organização espacial depende simultaneamente da seu aspecto quantitativo (ROSA NETO, 1996). A
estrutura de nosso próprio corpo (estrutura anatômica, organização temporal inclui uma dimensão lógica
biomecânica, fisiológica, etc.), da natureza do meio que (conhecimento da ordem e duração, os acontecimentos
nos rodeia e de suas características (ROSA NETO, se sucedem com intervalos), uma dimensão convencional
1996). Todas as modalidades sensoriais participam (sistema cultural de referências, horas, dias, semanas,
pouco ou muito na percepção espacial: a visão; a meses, e anos) e um aspecto de vivência, que aparece
audição; o tato; a propriocepção; e o olfato. A orientação antes dos outros dois (percepção e memória da sucessão
espacial designa nossa habilidade para avaliar com e da duração dos acontecimentos na ausência de
precisão a relação física entre nosso corpo e o meio elementos lógicos ou convencionais). A consciência do
ambiente, e a tratar as modificações no curso de nossos tempo se estrutura sobre as mudanças percebidas,
deslocamentos (OLIVEIRA, 2001). As primeiras independente de ser sucessão ou duração, sua retenção
experiências espaciais estão estreitamente associadas ao depende da memória e da codificação da informação
funcionamento dos diferentes receptores sensoriais sem contida nos acontecimentos. Os aspectos relacionados à
os quais a percepção subjetiva do espaço não poderia percepção do tempo, evolucionam e amadurecem com a
existir; a integração contínua das informações recebidas idade. No tempo psicológico organizamos a ordem dos
conduz a sua estruturação, e ação eficaz sobre o meio acontecimentos e estimamos sua duração, construindo
externo. Olho e ouvido; labirinto; receptores articulares e assim nosso próprio tempo. A percepção da ordem nos
tendinosos; fusos neuromusculares e pele; representam o leva a distinguir o simultâneo do sucessivo, variando o
ponto de partida de nossa experiência espacial (ROSA umbral segundo os receptores utilizados. A percepção da
NETO, 1996). A percepção relativa à posição do corpo no duração começa pela discriminação do instantâneo e do
espaço e de movimento tem como origem estes duradouro que se estabelece a partir de 10 ms a 50ms
diferentes receptores com seus limites funcionais, para a audição e 100ms a 120ms para a visão (RIGAL,
enquanto que a orientação espacial dos objetos ou dos 1988).
elementos do meio, necessita mais da visão e audição.
Está praticamente estabelecido que da interação e da

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Lateralidade constitui prática antiga, através de estudos realizados por
autores clássicos, como Ozeretski, Guilmain, Grajon,
O corpo humano está caracterizado pela presença de Zazzo, Piaget, Stambak, Picq e Vayer, entre outros que
partes anatômicas pares e globalmente simétricas. Esta se dedicaram ao estudo da criança (ROSA NETO, 1996).
simetria anatômica se redobra, não obstante, por uma Testes padronizados, que embora bastante antigos, mas
assimetria funcional no sentido de que certas atividades que freqüentemente são revisados destacam-se na
que só intervêm numa das partes. Por exemplo, avaliação física, afetiva, cognitiva e motora dos seres
escrevemos com uma só mão; os centros de linguagem humanos. De acordo com Rigal et al. (1993), existe uma
se situam na maioria das pessoas no hemisfério grande quantidade de testes, que por sua facilidade de
esquerdo. A lateralidade é a preferência da utilização de utilização e sua relação com as diferentes aprendizagens
uma das partes simétricas do corpo: mão, olho, ouvido, escolares, são muito úteis para medir o comportamento
perna; a lateralização cortical é a especialidade de um humano, entre eles, destacamos a Escala de
dos dois hemisférios enquanto ao tratamento da Desenvolvimento Motor - EDM (ROSA NETO, 1996).
informação sensorial ou enquanto ao controle de certas
funções (OLIVEIRA, 2001). A lateralidade está em função
de um predomínio que outorga a um dos dois hemisférios
a iniciativa da organização do ato motor, que
desembocará na aprendizagem e a consolidação das TESTES
praxias. Esta atitude funcional, suporte da
intencionalidade, se desenvolve de forma fundamental no
momento da atividade de investigação, ao largo da qual a QUESTÃO 01
criança vai enfrentar-se com seu meio. A ação educativa As aulas de Educação Física para o Ensino Funda
fundamental para colocar a criança nas melhores mental tem os seguintes objetivos, EXCETO
condições para aceder a uma lateralidade definida, A) Participar de atividades corporais, sem discriminar por
respeitando fatores genéticos e ambientais, é permitir-lhe características pessoais, físicas, sociais ou sexuais.
organizar suas atividades motoras (ROSA NETO, 1996). B) Conhecer a diversidade de padrões de saúde, de
Segundo Pereira (2002), a definição de uma das partes beleza e desempenho que existem nos diferentes grupos
do corpo só ocorre por volta dos sete anos de idade, sociais, analisando criticamente os padrões divulgados
antes disso, devem-se estimular ambos os lados, para pela mídia e evitando o consumismo e o preconceito.
que a criança possa descobrir por si só, qual o seu lado C) Aceitar qualquer condição de trabalho, independendo
de preferência. “A preferência pelo uso de uma das mãos de que comprometa o processo de crescimento e desen
geralmente se evidencia aos três anos”. volvimento da busca da qualidade de vida.
D) Reinvidicar locais adequados para promover ativi
dades corporais de lazer, reconhecendo as como uma
Avaliação Motora necessidade do ser humano e um direito do cidadão.

O padrão de crescimento e comportamento motor QUESTÃO 02


humano que se modifica por meio da vida e do tempo; e a Ao avaliar o(a) aluno(a) quanto à sua capacidade de
grande quantidade de influência que os afetam, enfrentar desafios, o professor deve observar as se
constituem basicamente por diferentes teorias científicas guintes características, EXCETO
e sustentam a evolução de estudos que se caracterizam A) se os alunos são capazes de colaborar com os
pelas técnicas de pesquisa e pelos meios utilizados na colegas.
obtenção de dados, que são elaborados e discutidos, B) se os alunos aceitam as limitações impostas pelas
como forma de elucidar os diferentes vieses que situações de jogo.
perfazem a existência do homem e sua evolução física, C) se os alunos apresentam disposição para superação
orgânica, cognitiva e psicológica. Os conceitos, de limitações pessoais.
ilustrações e teorias adicionam ao contexto, a estrutura D) as características físicas dos alunos e suas limitações.
necessária para que tais estudos possam legitimar-se e
oferecer fundamentos fidedignos sobre as hipóteses que QUESTÃO 03
pretendem estabelecer e discutir. É importante lembrar Na avaliação do processo ensino aprendizagem da
que o caráter estatístico de nível normal de referência dos Educação Física, deverão ser observados os
testes não engloba o mesmo valor para todas as seguintes aspectos:
populações, tendo em conta os aspectos afetivos e I Os alunos, desde que tenham excelente desem
sociais (ROSA NETO, 1996). Normalmente utilizam-se penho na aprendizagem, devem ter a possibilidade de
testes para conhecer as características e necessidades direcionar as atividades nas aulas de Educação
individuais das pessoas, isto se torna indispensável se Física.
pensar em cada vez mais atender o desenvolvimento das II A avaliação do processo ensino aprendizagem de
pessoas, em especial as crianças, como o máximo de ve levar em conta o desenvolvimento da musculatura
acertos possíveis para que seu desenvolvimento ocorra durante as aulas de Educação Física.
dentro dos períodos desejáveis, contribuindo assim, para III Cabe apenas ao professor a avaliação do proces
com um desenvolvimento pleno. Para que tenhamos so ensino aprendizagem.
estas informações devemos lançar mão de meios IV A avaliação deve estar relacionada ao projeto pe
auxiliares que como já comentamos anteriormente seria a dagógico da escola.
utilização de testes. É importante destacar que para esta Está(ão) CORRETO(S) o(s) aspecto(s)
avaliação não são utilizados somente um único teste e A) I e II, apenas.
sim um conjunto de testes, a fim de examinarmos a B) III e IV, apenas.
criança em todas as dimensões do desenvolvimento C) IV, apenas.
humano (ROSA NETO, 1996). A observação do D) II, III e IV, apenas.
comportamento humano feito através de testes já se
QUESTÃO 04
57
Ao planejar aulas de Educação Física para os alunos B) Habilidades motoras que envolvem a grande
do Ensino Fundamental, em que o professor pretende musculatura como base principal do movimento são
trabalhar o conteúdo jogos, deverá ser levada em consideradas como motoras globais.
consideração a seguinte afirmativa: C) Habilidades motoras globais requerem precisão de
A) Os jogos têm uma flexibilização maior de suas movimento para serem realizadas.
regulamentações em função das condições de espaço. D) Habilidades motoras finas requerem a capacidade de
B) As brincadeiras regionais não devem ser incluídas controlar os músculos pequenos do corpo.
entre os jogos.
C) Pique bandeira ou (rouba bandeira) não é considerado QUESTÃO 09
jogo pré desportivo. Ao realizar atividades aeróbicas durante uma aula de
D) Os jogos não podem ser exercidos com um caráter Educação Física, os alunos terão as fibras mus
competitivo. culares de contração lenta mais ativadas do que as
fibras musculares de contração rápida porque
QUESTÃO 05 A) são ativadas somente as fibras de contração lenta,
Os jogos como conteúdos atitudinais devem ser des para as atividades aeróbicas e anaeróbicas.
tacados nas aulas de Educação Física, pois a B) as fibras de contração lenta possuem maior número de
aprendizagem de qualquer prática da cultura corporal mitocôndrias e maior concentração de enzimas necessá
de movimento que não considerá lo será reduzida à rias para manter o metabolismo aeróbico
mera aprendizagem tecnicista. Considere os enunci C) os músculos sempre apresentam mais fibras de com
ados a seguir: tração lenta do que de contração rápida.
I Predisposição à cooperação e solidariedade nos D) essas fibras são ativadas durante a mudança de ritmo
jogos faz parte dos conteúdos atitudinais. e nas atividades com paradas e arranques bruscos.
II Disposição em adaptar se às regras, materiais e
espaço, visando à inclusão do outro, faz parte dos QUESTÃO 10
conteúdos atitudinais. NÃO deve ser objetivo de uma aula de iniciação ao
III Compreensão dos aspectos históricos sociais re voleibol para alunos do Ensino Fundamental:
lacionados aos jogos faz parte dos conteúdos A) Desenvolver atividades lúdicas com jogos pré
atitudinais. desportivos.
IV Desenvolvimento da capacidade de adaptar espa B) Compreender, discutir e construir as regras aplicadas
ços e materiais na criação de jogos faz parte dos ao voleibol.
conteúdos atitudinais. C) Estabelecer metas individuais possíveis de serem
Estão CORRETOS os enunciados alcançadas.
A) I e II, apenas. D) Atingir um desempenho técnico de alto nível.
B) I, II e III, apenas.
C) I, II e IV, apenas. QUESTÃO 11
D) I, II, III e IV. Todas as alternativas abaixo são fatores fisiológicos
que influenciam o VO2 máx, EXCETO
QUESTÃO 06 A) a liberação de oxigênio ao músculo.
Ao selecionar atividades para o desenvolvimento do B) a captação de oxigênio pelo músculo.
ajuste postural e do equilíbrio, o professor de Edu C) a diminuição da temperatura corporal.
cação Física deve, EXCETO D) a genética e o treinamento físico.
A) priorizar aquelas que ajudam as crianças a adquirir
confiança e segurança. QUESTÃO 12
B) priorizar aquelas que desenvolvem principalmente a Entre as possibilidades no trato com o conteúdo
capacidade anaeróbica das crianças. Lutas na Educação Física Escolar, podem se afirmar,
C) ter ciência de que o equilíbrio pode ser afetado por EXCETO
causas psicológicas. A) Espera se que haja uma intervenção ativa dos profes
D) considerar o papel do sistema nervoso central, no sores no sentido de ressignificar o papel das lutas no
ajuste do tônus postural. contexto educacional, valorizando atitudes de não violên
cia e respeito aos companheiros.
QUESTÃO 07 B) Além de ser um conteúdo importante a ser opor
Marque a alternativa INCORRETA. tunizado a todos os alunos, as lutas, na Educação Física
O Domínio Motor, ou Psicomotor, inclui atividades Escolar, têm como um de seus principais objetivos pre
que requerem parar os alunos e instrumentalizá los em ataque e defesa,
A) tocar, manipular e/ou mover um objeto. tão necessários na sociedade violenta em que vivemos.
B) atividades intelectuais e físicas. C) Podem ser estudadas as lutas de origem japonesa,
C) controlar o corpo de objetos quando os mantém em entre elas o judô, o karatê, o aikidô; as chinesas como o
equilíbrio. Tai Chi Chuan, Kung Fu; as brasileiras como a capoeira.
D) mover e/ou controlar o corpo ou partes do corpo no D) Podem ser praticados diversos tipos de equilíbrios e
espaço. desequilíbrios, alguns golpes tidos nas lutas mais
conhecidas como quedas seguras e rolamentos.
QUESTÃO 08
A classificação das habilidades motoras com base na QUESTÃO 13
precisão do movimento levou ao desenvolvimento de Hoffamman (2002) diferencia pesquisar e avaliar ao
duas categorias: habilidades motoras globais e dizer “enquanto a pesquisa tem por objetivo a coleta
habilidades motoras finas. Marque a alternativa de informações e a análise e a compreensão dos
INCORRETA. dados obtidos, a avaliação está predominantemente a
A) Escrever e desenhar são exemplos de habilidades serviço da ação, colocando o conhecimento obtido,
motoras finas.

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pela observação ou investigação, a serviço da _____________________________________
melhoria da situação avaliada”.
Nessa perspectiva, analise as afirmativas abaixo. _____________________________________
1. As ações de observar, compreender, explicar não
são de avaliá las. _____________________________________
2. A avaliação está além da investigação e inter
pretação. _____________________________________
3. As mudanças fundamentais na avaliação dizem
respeito à finalidade dos procedimentos avaliativos.
_____________________________________
4. A maioria das escolas iniciam processos de um _____________________________________
danças delineando, com os professores, princípios
norteadores de suas práticas. _____________________________________
São CORRETAS as afirmativas
A) 1 e 2, apenas. _____________________________________
B) 3 e 4, apenas.
C) 1, 2 e 3, apenas. _____________________________________
D) 2, 3 e 4, apenas.
_____________________________________
QUESTÃO 14
A otimização de espaços significativos de apren
_____________________________________
dizagem consiste em oferecer a professores e alunos _____________________________________
oportunidades de interação com objetos de conhe
cimento. Isso ocorre quando _____________________________________
A) analisamos horas/aula oferecidas.
B) damos notas nas apresentações teatrais ou Dra _____________________________________
matizações.
C) oferecemos noções de seriação para apropriação de _____________________________________
regras.
D) diversificamos as atividades, portadores de textos, de _____________________________________
forma gradativa e complementar.
_____________________________________
QUESTÃO 15 _____________________________________
Para Perrenoud (1999), a avaliação na lógica for
mativa NÃO deve _____________________________________
A) considerar uma pedagogia diferenciada.
B) ser ativa e transmissiva. _____________________________________
C) ser aberta e cooperativa.
D) ser eficiente. _____________________________________
_____________________________________
_____________________________________
GABARITO
_____________________________________
1. C 6. B 11. C
2. D 7. B 12. B _____________________________________
3. C 8. C 13. C
4. A 9. B 14. D _____________________________________
5. A 10. D 15. B _____________________________________
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ANOTAÇÕES
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