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Éinevitável que a abro qui- cOllS1ruímos como
arquitetos,sirva de ponto de partida parti o. nosSo
ensino, e obviamente omelhor (omí~ho paio explicor o.
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, que se tem odizer é fozê-lo com base fio experíêndo
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HERMAN -
UCOES
HERTZBERGER
DÉ ARQUITETURA
Tradução
CARLOS mUARDO UMA MACHADO
Martins Fontes
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U f'.l I R ~_ .,.,
Herttberger. Hennan .
Lições de Brquitcrunl I Herman Henzbe'1ler ; (traduç1o Carlo.
EduardoLimaM.madoJ. - 21ed.-Sio Paulo: Martins Fontes, 1999.
99-1477 CDD·720
tn dlct5 para catálogo sl5ttmU ico;
1. AIqUilCtwa 720
2. Dcsign arquitctônico 720
1 Público e Privado 12
2 Demarcações Territoriais 14
3 Diferenciação Territorial 20
4 Zoneamento Territorial 22
5 De Usuário a Morador 28
6 O "Intervalo" 32
9 A Rua 48
10 O Domínio Público 64
9 Incentivos 164
DOMíNIO PÚBliCO 11
Wenn aber der Individualismus nur einen Teil des Menschen
1 PÚBLICO EPRIVADO erlasst so erlasst der Kollektivismus nur den Menschen oIs
Teil: zur Ganzheit des Menschen, zum Menschen aIs Ganzes
dringen beide nicht vor. Der Individualismus sieht den
Menschen nur in der Bezogenheit aul sich se/bst, aber der
Kollekfivismus sieht den Menschen überhaupf nichf, er siehf
05 conceitos de "público" e "privado" podem ser nur die "Gesellschalt", Beide lebensanschauungen sind
interpretados como a tradução em termos espaciais de Ergebnisse oder Aeusserungen des g/eichen menschlichen
IIcoletivo" e HindividuaJ". Zusfands .
Num sentido mais absoluto, podemos dizer: pública é Dieser Zusfand isf durch das Zusammensfriimen von
uma área acessível a todos a qualquer momento; a kosmischer und sozia/er Heim/osigkeit, von Welfangsf und
responsabilidade por sua manutenção é assumida lebensangsf, zu einer Daseinsverlassung der Einsamkeit
coletivamente. Privada é uma área cu jo acesso é gekennzeichnef, wie es sie in diesem Ausmass vermuflich
determinado por um pequeno grupo ou po r uma noch nie zuvor gegeben hat. Um sich vor der Verzweil/ung
pessoa, que tem Q responsabilidade de mantê-Ia. zu reffen, mif der ihn siene Vereinsamung bedroht, ergreilt
der Mensch den Ausweg, diese zu glorilizieren. Der
Esta oposição extrema entre o público e o privado - como moderne Individua/ismus haf im wesentlichen eine
a oposição entre o coletivo e o individual - resultou num imaginare Gru~dlage. An diesem Charakfer scheiferf er,
clichê, e é tão sem matizes e falsa como a suposto oposição denn die Imaginafion reicht nichf zu, die gegebene Situafion
entre o geral e o específico, o obietivo e o subietivo. Tais laktisch zu bewalfigen.
oposições são sintomas da desintegração das relações Der moderne Kollektivismus isf die lefzfe Schranke, die der
humanas básicas. Todo mundo quer ser aceito, quer se Mensch vor der Begegnung mif sich se/bsf aulgerichfef
inserir, quer ter um lugar seu. Todo comportamento no haf... ; im Kollektivismus gibf sie, mit dem Verzicht aul die
sociedade em geral é, no verdade, determinado por papéis, Unmiffelbarkeit personlicher Entscheidung und
nos quais o personalidade de cada indivíduo é afirmado Veranfworfung, sich selber aul. In beiden Fallen isf sie
pelo que os outros vêem nele. No nosso mundo, unlahig, den Durchbruch zum Anderen zu vollziehen: nur
experimentamos uma polarização entre a individualidade zwischen ech fen Personen gibf es echte Beziehung. Hier gib f
exagerada, de um lado, e a coletividade exagerada, de es keinen anderen Ausweg aIs den Aulsfand der Person um
outro. Coloca-se excessiva ênfase nestes dois pólos, embora der Belreiung der Beziehung willen. Ich sehe am Horizonf,
não exista uma única relação humano que nos interesse mit der langsamkeif aller Vorgange der wahren
como arquitetos que se concentre exclusivamente em um Menschengeschich fe, eine grosse Unzulriedenheif
indivíduo ou em um grupo, ou mesmo que se concentre de heraulkommen.
modo exclusivo em todos os outrosl ou seja, no "mundo Man wird sich nichf mehr bloss wie bisher gegen eine
externo". Ésempre uma questão de pessoas e grupos em bestimmfe herrschende Tendenz um anderer Tendenz willen
inter-relação e compromisso mútuo, i.e. , é sempre uma emporen, sondem gegen die la/sche Rea/isierung eines
questão de coletividade e indivíduo, um em face do outro. grossen Sfrebens, des Sfrebens zur Gemeinschaft, um der
echfen Realisierung willen.
Man wird gegen die Verzerrung und lür die reine Ges falt
kamplen. Ihr ersfer Schriff muss die Zerschlagung einer
fa/schen Alternafive sein, der Alfernative "/ndividualismus
oder Kollektivismus".'
(Martin Buber, Das Problem des Menschen, Heidelberg, 1948, também
publicodo ,m Forum 7-1959, p. 249)
12 LIÇÕ ES DE ARQUITElURA
"Se, porém, o individualismo compreende apenas parte da Os conceitos de "público R e uprivado" podem ser
humanidade, o coletivismo só compreende a humanidade vistos e compreendidos em termos relativos como uma
como parte; nenhum deles apreende o todo da série de qualidades espaciais que, diferindo
humanidade, a humanidade como um todo. gradualmente, referem-se ao acesso, à
O individualismo vê a humanidade apenas na relação responsabilidade, à relação entre a propriedade
consigo mesmo, mas o coletivismo não vê o homem de privada e a supervisão de unidades espaciais
maneiro nenhuma, vê apenas a 'sociedade'. Ambas as específicas.
visões de mundo são produtos ou expressões dó mesma
condição humana.
Esta condição caracteriza-se pela con fluência de um
desomparo cósmico e sociol, de uma angústia diante do
mundo e da vida, por um estado existencial de solidão, que
provavelmente nunca se manifestaram antes nesse nível.
Na tentativa de fugir do desespero trazido pelo isolamento,
o homem, como escapatória, procura glorificá-lo.
O individualismo moderno possui um fundamento
imaginário. Neste aspecto, ele fracassa, pois a imaginação
é incapaz de lidar factualmente com uma situação dada.
O coletivismo moderno é a última barreira que o homem
construiu para evitar o encontro consigo mesmo [ ... i; no
coletivismo, com a renúncia à imediaticidade da decisão e
da responsabilidade pessoal, ela se rende. Em ambos os
casos é incapaz de efetuar uma abertura para o outro: só
entre pessoas reais pode haver uma relação real.
Não há alternativa, neste caso, a não ser a rebelião do
indivíduo em favor da libertação do relacionamento. Vejo
surgir no horizonte, com a lentidão de todos os processos
da história humana, um grande descontentamento.
As pessoas não mais se levantarão como fizeram no
passado contra certa tendência predominante e a favor de
uma tendência diferente, mas contra a falsa realização de
um grande anseio, o anseio pelo comunitário, em nome da
verdadeira realização.
As pessoas lutarão contra a distorção e pela pureza.
O primeiro passo deve ser a destruição de uma falsa
escolha, a escolha: 'individualismo ou coletivismo'.'
DOMíN IO PÚ BLICO 13
2 DEMARCACÕES
,
TERRITORIAIS
Uma área aberta , um quarto o~ um espaço podem ser
concebidos como um lugar mais ou menos privado ou
como u'!10 área pública, dependendo do grau de
acesso, da forma de supervisão, de quem o utiliza, de
quem tomo conta dele e de suas respectivas
responsabi lidades.
O seu quarto, por exemplo, é um espaço privado em
comparação com a sala de estar e a cozinha da casa
em que mora. Você tem o chave do seu quarto, do
qual você mesmo cuida. O cuidado e a manutenção da
sala de estar e da cozinha são basicamente uma
responsabilidade compartilhado por todos 05 que
moram na casa, que têm a chave da porta de entrada.
Numa escola, cada sala de aula é privada em
comparação com o hall comunitário. Este hall, por sua
vez, é, como a escola em sua totalidade, privado em
comparação com a rua.
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14 LIÇÕES DE ARQUITETURA
Muitas ruas em Bali constituem o território de uma família de acesso. Às vezes o grau de acesso é uma questão Estação Central,
extensa. Nessas ruas estão situadas as casas das diversas de legislação, mas, em gerat é exclusivamente uma Hoorlem, Holanda
unidades familiares, que iuntas compõem a família extensa. questão de convenção, que é respeitada por todos.
Essas ruas têm um portõo de entrada, que é muitos vezes
provido de uma pequeno cerca de bambu encarregada de EDIFíCIOS PÚBliCOS
manter as crianças e os animais do lado de dentro, e, Os chamados edifícios públicos, tais como o hall do correio
embora seiam basicamente acessíveis a qualquer um, central ou uma estação ferroviária, podem Ipelo menos
tendemos o nos sentir como intrusos ou, no máximo, como durante as horos em que ficam abertos) ser vistos como um
visitantes. espaço de rua no sentido territorial. Outros exemplos de
Além das diversas nuances nas demarcações territoriais, os graus diferenciados de acesso ao público estão listados
balineses fazem uma distinção dentro do espaço público: a abaixo, mas a lista, naturalmente, pode ser ampliada para
área do templo, que compreende uma série de recintos incluir oulras experiências pessoais:
sucessivos com entradas claramente marcadas, aberturas • os pátios quadrangulares das universidades na Inglaterra,
nas cercas ou portões de pedra (conhecidos como t;andi como em Oxford e Cambridge; são acessíveis a todos pelos
bentar). Esta área do templo serve como rua e como pórticos, formando uma espécie de subsistema de caminhos
playground para as crianças. Para o visitante também é para pedestres que atravessa todo o centro da cidade.
acessível como rua - pelo menos quando não estõo • edifícios públicos, como, por exemplo, o hall do co:reio,
acontecendo manifestações religiosas - , mas, mesmo assim, a estaçõo ferroviária, etc, .
visitante sente certa relutância. Como alguém estranho ao • os pátios de blocos de moradia em Paris, onde a
lugar, sente"se honrado por ter permissão de entrar. concierge em geral reina suprema.
• ruas "fechadas", encontradas em grande variedade por
No mundo inteiro encontramos gradações de todo o mundo, às vezes patrulhadas por guardas de
demarcações territoriais, acompanhadas pela sensação segurança privada.
DOMíNIO PÚBliCO IS
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AlDEIA DE MÓRBISCH, ÁUSTRIA 16-B} públicos e até mesmo no meio-fio das estradas de
As ruas na aldeia austríaca de Morbisch, perto da fronteira macadame, onde permanece intocado pelos veículos e
húngara (publicado em Forum 9-1959), têm portões largos, pelos pedestres, pois toaas estão conscientes do
como os que dão acesso a fazendas - mas aqui dõo acesso importância do contribuição de cada membro da
a ruas laterais ao longo das quaís se situam residências, comunidade para a colheita de arroz. 19}
estóbulos, celeiros e hortas. Um outro exemplo de mistura do público com o privado é a
roupa pendurada para secar nas ruas estreitas de cidades
Estes exemplos mostram como são inadequados os do sul da Europa: uma expressão coletiva de simpatia pela
termos público e privado, enquanto as áreas lavagem de roupa de cada fa mília, que fica pendurada
chamadas semiprivadas ou semi públicas, que muitos numa rede de cabos que atravesso a rua de uma casa a
vezes estão espremidas na zona intermediária, são outra.
equívocas demais paro acomodar as sutilezas que
6 7 devem ser levadas em conto ao projetar cada espaço
e cada área .
• Onde quer que indivíduos ou grupos tenham a
lO 11 oportunidade de usar partes do espaço público para
seus próprios interesses, e apenas indiretamente no
interesse dos outros, o caráter público do espaço é
temporária ou permanentemente colocado em questão
por meio do uso. Exemplos desse tipo podem ser
encontrados em qualquer parte do mundo.
13
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DOMíNIO PÚSlICO 17
15 16
17 16
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DOMíNIO PÚBlICO 19
3 DIFERE NCIACAO
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TERRITORIAL
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20 l iÇÕ ES DE AlQUllElURA
Hotel Solvoy, Bruxe/os, 1896/V. Horto
{ver tombém págino 84}
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22 lI ÇÔES DE ARQUITETURA
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EDIFíCIO DE ESCRITÓRIOS CENTRAAl BEHEER (30, 31 1 escolha, vasos e obietos de estimação, não são apenas a
Os efeitos surpreendentes obtidos pelos fu ncionários do conseqüência lógica do fato de o acabamento dos interiores
Centraol Beheer na maneiro como ordenaram e ter sido deliberadamente entregue aos usuários do edifíc io.
personalizaram o espaço de seus escritórios com cores de sua Embora a nudez do interior severo e cin zento sejo um convite
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31
24 LIÇÕ ES DE ARQUITElUIA
essa providência foi tomada, a situação tornou-se
permanente, e a ambiente, se é que ainda existe, pode ser
visto como um monumento ao entusiasmo de um grupo de
estudantes de arquitetura. Mas não devemos nos
surpreender se tudo já não foi eliminado lou venha a sê-lo)
- a burocracia da administração centralizadora voltou a
assumir o controle.
DnMí NI O PÚBliCO 2S
domínio, dando-lhe um toque pessoal. Estes balcões de café
já foram removidos, e bancos e máquinas de café foram
instalados em seu lugar. Todo o edifício está passando por
uma renovação e uma limpeza, e duronte este processo um
grande número de ajustes será feito para otender aos
requisitos de um locol de trabolho contemporâneo.
26 lIÇÓES DE ARQUITElURA
o mesmo não pode ser dito, por exemplo, dos vagões de 41
DOMíNIO PÚBLICO 29
Éimportante que as crianças possam exibir as coisas que alguém senlir-se perdido em seu próprio espaço na manhã
fizeram , digamos, na aula de trabalhos manuais, sem medo seguinte.
{} de que possam ser destruídas, e que possam também deixar Uma sala de aula, concebida como o domínio de um
trabalhos inacabados sem que haja o perigo de serem grupo, pode mostrar sua própria identidade ao resto da
retirados ou "arrumados" por "estranhos/I, Afinal de contas, escola se lhe for dada o oportunídade de fazer uma
uma faxina complela feila par outra pessoa pode fazer exposição das coísas com os quais o grupo está
especialmente envolvido Icoisas que as crianças fizeram
dentro ou fora da sala de aulal. Isto pode ser executado de
modo informal usando-se a divisória entre o hal! e a sala
de aula como espaço de exposição e abrindo-se muitas
janelas com peitoris generosos na divisória.
30 LIÇÕ ES DE ARQUITEIUIA
. ,
ESCOlAS APOLLO 148·50)
Se o espaço entre as salas de aula foi usado para criar
"," .
áreas semelhantes a alpendres, como na escola Montessori
de Amsterdom, essas áreas podem servir como lugares de
trabalho adeq uados onde se pode estudar sozinho, i,e.,
sem estar na sala de aula mas também sem ficar isolado
desta. Esses lugares consistem numa superfície de trabalho
~p.. "~!"
com iluminação própria e num banco encostado a uma
parede baixa, Para regular o contato entre a sala de aula e
o hall da maneira mais sutil possivel , foram instaladas ._._ ---;. ...:...~
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meias·portas, cu ja ambigüidade pode gerar o grau
adequado de abertura para o hall e, ao mesmo tempo,
oferecer o isolamento necessário a cada situação.
Aqui encontramos mais uma vez Icomo na escola de Delk)
o mostruário de vidro contendo o museu-miniatura e a
exposição da sala de aula.
AS A9
50
DOMíNIO PÚBLICO 31
o valor deste conceito é mais explícito na soleira par
6 O"INTERVALO" excellence, a entrada de uma casa. Estamos lidando
aqui com o encontro e a reconciliação entre a rua, de
um lado, e o' domínio privado, de outro.
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32 IIÇÕ fS Df ARQUllfTURA
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DOMíNIO PÚ8l1CO 33
Graças à saliência da cobertura, ninguém precisa esperar
na chuva até que a porto seio aberta, enquanto a
atmosfera hospitaleira do lugar dá a quem chega o
sensação de que iá está quase dentro da caso.
Pode-se dizer que o banco na porta da frente é um motivo
tipicamente holandês - pode ser visto em muitas pinturas
antigas l mas, no nosso século, Rietveld, por exemplo, criou
o mesmo arranjo, completado por uma meia-porta, em sua
famosa casa Schroder. Utrecht, 1924 159).
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34 II(OES DE ARQUlmUiA
RESIDÊNCIAS DOCUMENiA URBANA (61-701
O edifício em forma de meandro, denominado Ilserpente'!!
é composto de segmentos, cada um deles proietado por
arquitetos diferentes. As escadas comunitários foram
colocadas numa situação de ampla lum inosidade, bem
maior que a do espaço residual costumeiro, em geral de
pouco luminosidade.
Numa residência para vários famílias, o ênfase não deve
recair exclusivamente sobre medidas arquitetônicas
destinadas a prevenir o barulho excessivo e o
inconveniência dos vizinhos; uma atenção especial deve ser
dado em particula r à disposição espacial, que pode
conduzir aos contatos sociais esperados entre os vários
ocupantes de um mesmo edifício. Por conseguinte,
atribuímos às escadas mais importância do que de costume.
As escadas comunitárias não devem ser apenas uma fonte
de aborrecimento no que diz respeito 00 acúmulo de
DE DRIE HOVEN, LAR PARA IDOSOS 1601 suieira e à limpeza - devem servir também, por exemplo,
Em situações nas quais possa ser necessário um contalo como um playground para os crianças de famílias vizinhos.
entre o interior e o exterior - num [ar para idosos{ por Por este motivo, foram proietadas com o máximo de luz e
exemplo, alguns dos moradores passam boa parte de seu abertura, como ruas com telhado de vidro, e podem ser
tempo na solidão de seus próprios quartos por causa da avistados das cozinhas. Os alpendres de entrado abertos,
mobilidade reduzida, esperando que alguém vá visitá-los, com duas portos, uma após o outro, expõem ao território
enquanto outros moradores que ficam do lodo de fora comunitário um pouco mais de seus moradores do que as
também gostariam de algum contato - , em tais situações, portas fechados tradicionais. 60
uma boa idéia é instalar portas qlm duas seções, de Embora, naturalmente, tenho-se tomado cuidado poro
maneiro que o porte de cimo posso ser mantido aberto e a assegurar a privacidade adequada nos terraços, os famílias 61
porte de baixo fechado. Essas "meio-portas" constituem um vizinhos não estão de todo isolados umas das outras.
cloro gesto de convite: o porto está aberto e fechado 00 Procuramos proietar os espaços exteriores de tal modo que
mesmo tempo, i.e., suficientemente fechado para evitar que o vedação necessário roube o mínimo possível dos
as intenções dos que estão lá dentro fiquem
demasiadamente explícitos, mos aberto o bastante para
fac ilitar o converso casual com quem está passando, o que
pode levar o um contato mais íntimo.
DO MíNIO PÚBliCO 3S
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36 ti ÇÕES DE AIQUITETUIA
62 63
64 45
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38 IIÇÔES DE ARQUITETURA
CIÉ NAPOlÉON, PARIS, 1849 / M. H. VEUGNY 171 ·74)
' . Cité Napoléon, em Paris, fo i uma dos primeiros
·~;'ltatjvas, e certamente a mais notável, de solução razoável
:oro o problema da distôncio entre o ruo e o porto do
'-ente num prédio residencial de muitos andares. Este
=-3paço interior, com suas escadas e passarelas, evoca as
71 72
,dificoções de vários andores de uma aldeia nos
73
-contonhos. Uma razoável quonlidade de luz alcança os
ondores mais altos através do telhado de vidro.
Os moradores dos andores de cima obrem suas janelas
;mo este espaço interior, e o presença de vasos de plantas
"ostra, pelo menos, que os pessoas dão valor o esse
2=tolhe. Embora não tenho sido possível - em que pesem os
: oos intenções dos construtores - transformar esse espaço
-.ierior (fechado como é em relação à rua lá foro) numa
'!ia interno verdadeiramente funcional segundo nossos
"cdrões, não há dúvida de que este exemplo se desloco de
-caneiro brilhante, sobretudo quando se penso em todas
oiuelos sombrios escadarias construídos desde 1849.
,,- o 5 10
IULJ
DOMíNIO PÚBLICO 39
7 DEMARCACÕES
, PRIVADAS
NO ESPACO
, PÚBLICO
o conceito de intervalo é a chave para eliminar a
divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações
territoriais. A questão está , portanto, em criar espaços
intermediários que, embora do ponto de vista
administrativo possam pertencer quer ao domínio
público quer ao privado, sejam igualmente acessíveis
para ambos os lados, isto é, quando é inteiramente
aceitável, paro ambos os lados f que o "outro" também
possa usá-lo.
40 liÇÕES DE ARQUITETURA
Usando pedaços de tapete, os moradores se apropriam do
cequeno espaço assim criado e o equipam, estendendo desta
aneira os limites de sua casa além da porta da Irente.
I
I
MORADIAS liMA [84·891 Construir nesta ilha triangular implica manter a igreja à
O conjunto de moradias LiMa está localizado na ponta de parte como uma estrutura destacada e autônoma. O pátio é
85 86 uma área triangular, cuja esqu ina é ocupada por uma bastante diferente do tradicional e muitas vezes deprimente
igreja. Os volumes desta igreja não se 'relacionam pátio berlinense, e sua concepção é a de um espaço
claramente com o alinhamento arquitetônico geral. público com seis caminhos de acesso para os pedestres,
incluindo conexões com a rua e com o pátio vizinho. Estes
caminhos para pedestres constituem parte das escadarias
comunitárias. No centro do pátio há um amplo tanque de
areia dividido em segmentos, cuias laterais foram
decoradas com mosaicos pelas próprias famí lias dos
moradores .
42 LlÇÓES DE ARQUITETURA
·enhum arquiteto hoje seria capaz de dedicar tanta 87 88
: J lenção a um tanque de creio l nem isto seria necessário, 89
:~'que é algo que pode ser deixado para os próprios
-oradores. Édi~ci l imaginar uma maneira melhor de
'õmonder ao incentivo oferecido. Mas ainda mais
l1portante é o fato de que o tanque de areia se tornou
o 80 que pertencia a eles e um objeto de seus cuidados: se
. -, fragmento do mosaico cai ou revela ser pontudo
:emois, por exemplo, algo seró feito sem que haja
,scessidade de reuniões especiais cartas oficiais ou
l
DOMíNIO PÚBliCO 43
8 CONCEITO DE
OBRA PÚBLICA
Projeto residencial Fomílistere, Guise, França
Conjunto residencial
Biilmermeer,
Amsterdam
\\I 91
92
Fotomonfagem
44 lIÇÕ,S Df ARQUIHTURA
o segredo é dar aos espaços públicos uma forma tal que fazem o que podem para tornar essas áreas tão
que a comunidade se sinta pessoalmente responsável atraentes quanto possível - dentro dos limites dos
por eles, fazendo com que cada membro da orçamentos alocados - em benefício da comunidade.
comunidade contribua à sua maneira para um Mas os resultados conseguidos desta maneiro não deixam
ambiente com o qua l possa se relacionar e se de ser rígidos, impessoais e anti econômicos, comparados
identificar. com os que poderiam ser alcançados se todos os moradores
O grande paradoxo do concei to de bem-estar coletivo, dos apartamentos tivessem a oportunidade de usar um
tal qual se desenvolveu lado a lado com os ideais do pequeno pedaço de terra Imesmo que fosse apenas do
socialismo, é que ele acaba subordinando as pessoas tamanho de uma vaga de estacionamento) para seus
00 sistema que foi construído para libertá-I as. próprios ob jetivos.
Os serviços prestados pelos departamentos de Obras O que foi negado à coletividade poderia ter sido o
Públicas Municipa is são vistos, por aqueles em cujo contribuição de cada morador da comunidade. O espaço
benefício esses depa rtamentos foram criados, como poderia ser usado de modo mais intensivo se nele fossem
umo abstração opressiva; é como se as obras públicas investidos amor e cuidado pessoal.
fossem uma imposição vinda de cima; o homem Um exemplo desta afirmação pode ser visto no Familistere
comum sente que "não tem nada a ver com e le", e, em Guise, na França, um projeto de moradias construído
deste modo, o sistema produz um sentimen to para a fóbrica de fogões Godin: uma comunidade de
genera lizado de alienação. moradores e trabalhadores moldado de acordo com as
idéias de Fourier. Embora construída no século XIX, ainda
Ds jardins públicos e os cinturões verdes em volta dos conserva seu in teresse como um exemplo do que pode ser
il ecos de apartamentos nas novas áreas urbanas são de feito.
-~sponsobi lidade dos departamentos de Obras Públicas,
MORADIAS VROESENlAAN, ROnERDAM, 193 1-34 / J. H. VAN
DEN BROEK 193,941
As áreas de lazer e conforto comunitárias só podem
florescer pelo esforço comunitário dos usuários. Essa deve
ter sido a idéia subjacente aos espaços comunitários
interiores - sem cercas e divisórias - que foram pro jetados
nos anos 20 e nos anos 30.
DOMíN IO PÚBliCO 4S
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95 DE DRIE HOVEN, lAR PARA IDOSOS 195) esperar que o setor de Obras Públicas vá cuidar de animais
O espaço cercado contendo animais, que deve sua por toda a cidade. Paro isso, seria ne<:essário um novo .
existência à iniciativa de um membro da equipe do "De departamento com funcionários especializados, para não
Drie Haven" , desenvolveu-se até tornar-se um zoológico em falar dos milhares de avisos dizendo "Não dê comida aos
• • 1/
miniatura, com um faisão, um pavão, galinhas, cabras, anImaiS.
uma porção de patos num lago cheio de peixes, Paro os A distribuição dos espaços e os animais no "De Drie
idosos que moram no lar, os animais compõem uma visto Hoven" constituem um fator de indução natural para o
agradável e interessante, e os quartos com vista paro a contato social entre os seus idosos moradores e a
menagerie são os mais procurados. população local- dois grupos com limitações diferentes,
Abrigos de fabricação caseiro poro os animais passarem a Os moradores do lar são forçados pelas circunstâncias a
noite foram providenciados por entusiastas, mas, logo que ser estranhos na cidade, mas graças a "seu" jardim podem
esse esquema popular virou um sucesso e a expansão se oferecer alguma compensação pora os outros - os quais,
tornou necessário, o Departamento de Inspeção de por sua vez, são estranhos na área do "De Drie Hoven",
Moradias decidiu que as coisas não podiam mais continuar
assim; estipularam então que era preciso submeter à Estes exemplos servem para ilustrar como as melhores
aprovação de autoridades e comissões competentes uma intenções podem levar à desilusão e à indiferença.
planta de construção elaborado por profi ssionais, As coisas começam a dar errado quando as escalas se
Poro a população loca l, o menagerie represento um convite tornam grandes demais, quando Q conservação e o
ao envolvimento nos cuidados com os animais ou administração de uma área comunitária não podem
simplesmente um passeio para ver como eles estão, Quando mais ser entregues àqueles que estõo diretamente
é que as crianças da cidade vêem animais 2 Os únicos que envolvidos e se torna necessária uma organização
a maioria delas vê em seu ambiente são animais domésticos especial, com sua equipe especializada, com interesses
de estimação, cachorros presos em coleiras, já que parece e preocupações próprios quanto à sua continuidade e,
impossível organ izar formas de posse coletiva de animais possivelmente, à sua expa nsão. Quando se atinge o
com divisão de responsabilidades pela suo manutenção, ponto em que o principal preocupação de uma
Uma idéio dessa natureza nem sequer é sugerida - os organizaçõo é assegurar a continuidade de sua
moradores locais, afinal, normalmente não exercem existência - independente dos objetivos para as quais
nenhuma influência na maneira como seus espaços foi criada, ou seja, fazer pelos outros o que não se
comunitários são organizados e usados, Mos não podemos pode esperar que eles mesmos façam -, neste
46 LIÇÕES DE ARQUITETURA
momento a burocracia assume o controle. As regras quantificável, de modo que permitisse um controle total
tornam-se uma camisa-de-Força de regulamentos_ e criasse as condições para que o sistema repressivo
O sentido de responsabi lidade pessoal perde-se numa da ordem nos torne locatários em vez de
burocracia sufocante de responsabilidades para com co-proprietários, subordinados em vez de participantes.
supe riores. Embora não exista nada de errado com as Assim, o próprio sistema cria a a lienação e, embora
intenções do elo individual nesta interminável cadeia afirme representar o povo, na verdade impede o
de interdependências, elas se tornam virtualmente desenvolvimento de condições que poderiam resultar
irrelevantes porque estão demasiado afastadas num ambiente mais hospitaleiro.
daqueles em cu jo benefício todo o sistema foi
inventado. A razão pela qual os habitantes da cidade • O arquiteto pode contribuir para criar um ambiente
se tornam estranhos em seu próprio ambiente de vida que ofereça muito ma is oportunidades para que as
é porque o potencial da iniciativa coletiva foi pessoas deixem suas marcas e identificações pessoais,
grosseiramente superestimado ou porque a qu e posso se r ap ropriado e anexado por todos como
participação e o envolvimento foram subestimados. um luga r que realmente lhes "pertença", O mundo que
Os moradores de uma casa não estão de fato é controlado e ad ministrado por todos e para todos
preocupados com o espaço fora de seus lares, mas terá de se r construído com entidades pequenas e
~'iÜ mbém não podem ignorá-lo. Esta oposição conduz à funciona is, não ma iores do que as capacidades de
dienação diante de seu ambien te e - na medida em cada um para mantê- Ias. Cada componente espacial
'~u e suas relações com os outros são influenciadas por será usado mais intensamente lo que valoriza o
ate - conduz também à alienação dia nte dos espaço), ao mesmo tem po em que se espera que os
,, ,:,.oradores vizinhos, usuários demonstrem suas intenções. Mais
O crescimento do nível de controle imposta de cima emancipação gera mais motivação, e deste modo
~ra baixo está tornando o mundo à nossa volta cada pode-se liberar a energia represada pelo sistema de
~z mais inexorável: e isso abre caminho para a decisões centralizadas. Isto constitui um apelo em
-'J.gressividade que, por sua vez, conduz a um favor da descentra lização do s responsabilidades, de 96
>;:::1ri jecimento ainda maior da teia de regulamentos. sua restituição onde for possível, e em favor da
o resultado é um círculo vicioso, a falta de delegação de responsabilidade a quem de direito -
c.om prometimento e o medo exagerado do caos para que possam ser tomadas medidas eficazes, para
,,=limentando-se mutuamente. resolver os problemas da inevitável alienação diante
A incrível destruição da propriedade pública, do "deserto urbano",
c~,;truição que está aumentando nas principais cidades
"'.;) mundo, pode ser provavelmente imputada à
-=1ienaçõo diante do ambiente de vida. O fato de que
:;~. abrigos de transporte público e os telefones
:viblicos venham senda, semana após semana,
~~mpletamente destruídos é na verdade uma
~~ormante acusação à nossa sociedade como um todo.
!Jose tão alarmante, no entanto, é que essa tendência
.- e sua escala - é enfrentada como se fosse um mero
?foblema de organização: por meio do expediente de
re po ros periódicos, como se tudo não passasse de uma
questão rotineira de manutenção, e da aplicação de
retorças-extras ("à prova de vândalos") . Desta
rr: oneira, a situação parece esta r sendo aceita como
' apenas mais uma dessas coisas". Todo o sistema
repressivo da ordem estabelecida é gerado para evitar
iConflitos, para proteger os membros ind ivid ua is da
i.om unidade das incursões de outros membros do
~esma comunidade, sem o envolvimento direto dos
...., divíduos em questão. Isso explica por que há um
!O::edo profundo da desordem, do caos e do
. esperado, e por que os regulamentos impessoais,
....objetivos'I, são sempre preferidos ao envolvimento
pressoal. É como se tudo devesse ser regulamentado e
DOMíNIO PÚBliCO 47
Para além de nossa porta ou do portão do jardim,
9 A RUA começa um mundo com o qua l pouco temos a ver, um
mundo sobre o qual praticamente não conseguimos
exercer influência. Há um sentimento crescente de que
o mundo para além de nossa porta é um mundo hostil,
de vandalismo e agressão, onde nos sentimos
Amsterdam, bairro ameaçados, nunca em casa. No entanto, tomar esse
operário, a vida nas
sentimento generalizado como ponto de partida para o
ruas: bem diferente de
hoie, mos lembre'se planejamento urbano seria fatal.
de como as moradias Certamente seria bem melhor voltar ao conceito otimista
eram apertadas e e utópico da "rua reconquistada", que podíamos ver tão
inadequadas naquele
tempo
claramente diante de nós há menos de duas décadas.
Nesta visão, inspirada pelo prazer existencialista diante
da vida no pós-guerra (especialmente o Provo, no coso
da· Holanda), a rua é de novo concebida como o que
deve ter sido originalmente, ou seja, um luga r onde o
contato social entre os moradores pode ser estabelecido:
como uma sala de estar comunitária. E o conceito de
que as relações sociais podem até ser estimuladas pela
aplicação eficiente ele recursos arquitetônicos pode ser
encontrado em Team X e especialmente em FOTurn,
onde, como um tema central, esta questão era
repetidamente levantada.
A desvalorização desse conceito de rua pode ser
atribuído aos seg uintes fatores:
97
9S
48 liÇÕ ES DE AlQUllfTURA
I
I • o aumento do tráfego motorizado e a prioridade que permite que o coletivismo assuma proporções além da
recebe;
Ii • a organização sem critérios de áreas de acesso às
moradias, em particular as portas da frente, por causa
nossa compreensão.
Devemos tentar lidar com esses fatores - ainda que o
arquiteto seja incapaz de fazer mais do que exercer
de vias indiretas e impessoais de acesso, tais como uma influência incidental nos aspectos fundamentais
galerias, elevadores, passagens cobertas (os de mudança social mencionados acima - criando
inevitáveis subprodutos de construções muito altas) que condições paro uma área mais viável de rua onde quer
diminuem o contato com o nível da rua; que seja possível. O que significa que isto deve ser
• a anulação da rua como espaço comunitário por feito no âmbito da organização espacial, isto é, por
-causa do assentamento dos blocos; meios arquitetônicos.
• densidades reduzidas de moradias, enquanto o
número de moradores por unidade também diminui • Situações em que o rua serve como uma extensão
ocentuadamente. Assim, o queda da densidade comunitária das moradias são familiares a todos nós.
populacional vem acompanhada por um acréscimo no Dependendo do clima, as partes ensolaradas ou as
-espaço de habitações por moradores e na largura das partes com sombra são os mais populares l mas o
Il
,
ruas. A conseqüência inevitável é que as ruas de hoje
estão bem mais vazias do que as do passado; a lém
dissol o melhoria no tamanho e na qualidade das
moradias significa que as pessoas passam mais tempo
tráfego motorizado está sempre ausente ou pelo menos
longe o bastante para não impedir que os moradores
vejam uns aos outros e possam ser ouvidos.
As ruas de convivência, que não servem mais
Moradias Spangen.
Rol1erdam, 1919 /
M. Brinkman. Ruo de
convivência, sem
Irônsito. Procurando
um lugar ao sol
1
27 metros paro o trânsito - mais relacionada com politica
do que com planejamento urbano - obrigou·nos a construir
dentro desse limite de alinhamento imposto; como
resultado, não sobrou espaço paro jardins nos fundos (que,
101 de qualquer modo, ficariam permanentemente na sombral.
100 101 Em suma, essas circunstâncias desfavoráveis - i.e., I
orientação indesejável e ruido de trânsito - deixavam cloro .. , ,.----.,<1
SO LI ÇÕ ES DE AiQU l rETUi A
melhores se fossem maiores. Como oferecem bem menos
privacidade do que as sacadas, podemos nos perguntar se
os moradores do andar térreo não ficam em desvantagem,
mas , por outro lado, o conlato imediato com os transeuntes
e com as atividades gerais da rua parece ser atraente para
muitas pessoas, especialmente quando a rua readquire algo
de sua antiga qualidade comunitária. Foram deixadas
faixas em abe rto ao lado dos espaços privados externos;
deliberadamente, ficou indefinida a organização dessas
faixas . O departamento de obros públicos não resistiu à
oportunidade de pavimentar esses espaços. Os moradores,
par sua vez, estão colocando plantas ali, apropriando-se
obstruir a passagem de qualquer tráfego adicional. Foram grodativamente dessa área basicamente pública.
plantadas árvores para formar um centro a meio-caminho A construção civil na Holanda tem a tradição de dedicar
entre os duas seções da rua . As estruturos que se projetam muita atenção aos problemas de acesso aos andares mais
a partir das fachadas - as escadas externas e as varandas altos, e uma grande variedade de soluções foi desenvolvida
- articulam o perfil da rua, fazendo-a parecer menos no país - todas com o objetivo de dar o cada residência
ampla do que os sete metros do frente de uma casa até a uma porta de entrada com o máximo de acesso possível
frente de outro . A conseqüência é uma zona que pela rua. Na verdade, a solução que adotamos é apenas
proporciona espaço para os terraços dos residências uma outra variação de um tema essencialmente antigo: a
103
térreas. Estes canteiros com muros baixos não são maiores escadaria externa de ferro condu z a um patamar no
do que as varandas do primeiro andar; é claro que não primeiro andar, onde fica a parta do frente da moradia do
podiam ser menores, mas a questão é saber se ficariam andar de cima; daí a escadaria continua por dentro do
DOMíNIO PÚSIICO SI
Rei;nier VinkeJeskode, edifício, passando pelos dormitórios do moradia do andar
Amsterdam, 1924 / térreo até a moradia do andar de cima.
1. C. van Epen
Andor térreo
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DO Mí NIO PÚ BLI CO S3
si, há o perigo de um excesso de I'controle social", é determinado em grande parte pelo planejamento e
eles argumentam. pelo detalhamento do layou! da vizinhança.
Na verdade, quanto mais isoladas e alienadas as
pessoas se tornarem em seu ambiente diário, mais CONJUNTO HABITACIONAL SPANGEN, ROTTERDAM, 1919 /
fácil será con trolá-Ias com decisões autoritárias. M. BRINKMAN 1110, 1111
Embora o "controle social" não tenha de ser negativo As galerias de acesso no coniunto habitacional Spangen de
por definiçõo, ele sem dúvida existe e seus eFeitos Roijerdam 119191ainda não foram superadas no que diz
negQth~os são sentid os quando não podemos fazer respeito 00 que oferecem aos moradores. Como só existem
nado sem que sejamos julgados e vigiados pelos portas da frente em um lado dessa '/rua de convivência" , os
outros, como em toda comunidade muito concentrada, moradores têm como companhia apenas seus vizinhos
uma vi la, por exemplo. imediatos. Isso é uma desvantagem em comparação com
Devemos aproveitar todas as oportunidades possíveis uma rua normal, onde naturalmente encontramos os
poro evitar uma separação rígido entre habitações vizinhos também do outro lado da rua. No entanto, em
e para estimular o que restou do sentimento de Spangen, o contato entre vizinhos é excepcionalmente
participar de algo que nos é comum. intenso o que mostra como é importante a ausência do
l
Em primeiro lugarl esse sentimento de comunidade está trônsito. Ainda assim a interação que ocorre nos acessos
I
presente em qualquer interaçõo social do cotidiano, tal da galeria não se estende à rua abaixo, onde ficam os
como nas brincadeiras das crianças, no hábito de fundos dos residências. Não se pode estar em dois lugares
revezar-se para tomar conta das crianças, na ao mesmo 'tempo.
preocupação em manter-se inFormado sobre a saúde
do outro, em suma, em todos esses cuidados e alegrias ALOJAMENTO PARA ESTUDANTES WEESPERSTRAAT (11 2·1151
que talvez pareçam tão evidentes que tendemos a As unidades de habitação para os estudantes casados no
subesti mar sua importância. quarto andar induziram à construção de uma rua·galeria,
gue poderia ser vista como um protótipo poro uma rua de
110 11 1 • As unidades de habitação funcionam melhor quando convivência, livre do trânsito e com vista paro os tel hados
as ruos em que estão localizados funcionam bem como da cidade velha. Éum lugar seguro mesmo para as
espaços de convivência, o que por sua vez depende crianças pequenas, que podem brincar ali enquanto seus
particularmente de veriFicar o quanto são receptivos, pais podem ficar sentados em frente às suas casas.
i.eo, em que medida a atmosFera dentro das casas pode O exemplo em gue esse proieta se baseou foi, na verdade,
se integrar à atmosFera comunitária da rua lá foro. Isto o complexo Spangen de 45 anos atrás.
.~ "
: :;' -....'
' L~:=~J'L
~l '•_ ___=
54 JlÇÓES DE ARQUITETURA
Um dos problemas nas ruas·ga lerias é a colocação das
ianelas dos quartos de dormir: se se abrem para a galeria,
surge a desvantagem de uma privacidade insuficiente. Essa
situação pode ser melhorada ao se erguer o nível do chão
do quarto de dormir, de modo que os que estão dentro
possam olhar pela ia nela com suo visão acima das cabeças
das pessoas que estão do lado de fora , ao mesmo tempo
em que a ianela é alta demais para que os que estão do
lado de fora possam olhar para dentro do quarto.
O edifício como um todo acabou se tornando muito menos
aberto, e, em conseqüência, a rua-galeria não é mais
acessível ao público.
A procura por mais espaço e luz solar para todas as 112
PRINCíPIOS DE ASSENTAMENTO 111 61 unidades habitacionais conduziu, no planeiamento urbano 113
Pode-se ver como isto funciona, de uma forma elementar, do século XX, ao abandono do até então habitual 114 11 5
nos princípios de assentamento adotados de um modo ou assentamento de quadras dentro do perímetro.
de outro em todos os proietos de moradia recentemente O resultado foi a perda do contraste entre a reclusão
construídos. tranqüilo dos pátios cercados e o agitação e o barulho do
S6 liÇÕ ES DE ARQUITETURA
RÓMERSTADT, FRANKFURT, ALEMANHA, 1927-28 / E. MAv 1120-1231
.-
Ernst May, como seu colega mais fa moso, Bruno Taut, está
entre os mais importantes pioneiros do construção de
moradias no Alemanha. Os numerosos complexos
habitacionais que construiu em Frankfurt no período
1926-1930 mostram como tinha uma percepção aguçado
dos detalhes urbanos que podem melhorar os condiçães de
vida. A lição que ele ensino é que plantas muito monótonos
de loteamento, que em geral resultam dos orçamentos
limitados para o habitação social, podem ser transformados
num excelente ambiente de moradia, apesar dos meios
120
limitados, no medido em que os plantas sejam
121
desenvolvidos com um sentido adequado de orientação e
de proporção.
Naturalmente, é importante compreender que o arquitetura
dos moradias e o projeto do ambiente à suo volto foram
"I p, 122
123
18.00
entregues à responsabilidade do mesmo homem, que, além '"
disso, não fez nenhuma distinção entre a arquitetura e o 1934
planejamento urbano, conseguindo assim ajustar moradias
e ambiente de tal modo que se tornaram portes
complementares de um todo único.
O conjunto habitacional Rõmerstadt está situado num suave
declive às margens do rio Nidda. As ruas paralelos seguem
o direção do vale. Embora pudesse parecer evidente, neste
caso, com ruas em terraço, planejar coerentemente os
'ardins no encosto do vale, decidiu-se colocar os portos de
entrado dos fileiras de cosas uma diante do outra de ambos
os lodos do cominho. A desigualdade entre os dois lodos
de entrado, resultado do orientação e de uma Ileve)
diferença de nível, foi compensado pelo organização do
espaço do ruo de tal modo que os cosas que ficavam do
lodo com jardins situados menos favoravelmente tinham
uma área verde no frente.
Um detalhe caracteristica é que o pavimentação do calçado
termino um pouco antes do fachada , deixando uma estreito
faixa nua bem 00 lodo do parede do lodo norte. Este é um
espaço óbvio para os plantas, e os trepadeiras podem subir
pelo fachada , amenizando o suo rigidez.
--
,
t Pie •
1985
DOMíNIO PÚ BLICO 57
las ruas) num pedaço de pano constitui uma estrutura forte instalar alpendres cobertos, estufas, toldos e outros
lainda que sem cores se for necessário}, o tramo dá cor ao confortos individuais. Estes acréscimos foram fornecidos por
tecido. Um requisito importante, porém, é que os ruas de nós logo no início paro uma série de moradias, o que pode
convivência sejam mantidas livres do trânsito tanto quanto estimular os ocupantes de moradias semelhantes a seguir
possível. Deu-se muita atenção aos perfis das ruas; eles não estes exemplos, se tjver~m os recursos para isso. A maneira
apenas são essenciais para a qualidade de cada moradia como esta zona vier a ser usada por todos os envolvidos
individual, como também para a maneira como estas se constituirá a principal fonte de diversidade - não como
inter-relacionam. As fachadas e, por conseguinte, também resultado do pro jeto, mas sim como expressão de escolhas
as portas das moradias ficam uma defronte da outra, duas individuais. Algumas dessas habitações possuem extensões
a duas, nos dois lados da rua. As ruas têm orientação de no telhado, também existe a garantia de que no futuro
sudeste para noroeste, o que significa que um lado recebe serão permitidos mais acréscimos numa zona especialmente
mais sol do que o outro. Épor isso que as ruas estão desig nada para isso. Os galpões dos jardins estão
assimetricamente organizadas: os espaços de localizados perto da caso ou no jardim, dependendo das
lU 125 estacionamento ficaram num único lodo do ruo - o lado do condiçães de luminosidade. Nos jardins parcialmente
sombra. O outro, o lado do sol, tem uma amplo área cobertos pelo sombra, isso ainda possibilita o criação de
127 verde. As habitações com as portos da frente poro o lodo um lugar ensolarado com alguma proteção. Os loteamentos
116 128 do sol e, por conseqüência, com jardins do lodo com mais com uma orientação mais favorável têm o galpão perto do
sombra foram compensadas com um espaço extra 11,80 m coso, de modo que se torno atraente construir algum tipo
de largura) ao longo da fac hada, que pode ser usado para de conexão no espaço entre os dois.
A rua também pode ser o lugar para atividades Ruo residencial, 5axmundhom, Inglaterra, 1887. "Ce/ebrando o Jubileu do 130
comunitárias r tais como a celebração de ocasiões Rainha Vitória. No década de 1880, o popularidade da rainha Vitória 131
havia sobrepujado os primeiras ondas de republicanisma, e atingiu seu
especiais que dizem respeito a todos os moradores clímax nos Jubileus de 1887 e 1897, época em que foi amado e
129 131
locais. É impossível projetar a área da rua de tal modo reverenciada como nenhum outro monarca britânico. Observe que um
que as pessoas resolvam subitamente fazer juntas as policial, no centro da fotografia, com a iarro na môo direita, está entre 05
Funcionários que ajudam a servir o população. O dia está bem q~uente pois
refeições do lado de fora. muit05 senhoras na mesa do lodo direito abriram suas sombrinhas para se
proteger do sol. Um rosto queimado de 501 em uma mulher ero,
Mesmo assim, é uma boa idéia guardar este tipo de naturalmente, uma coisa o ser evitada o qualquer custo coso quisesse
manter algum tipo de posição social." (Gordon Winter, A country comera,
imagem no funda da mente como uma espécie de 1844- 191 4, Penguin, Londres)
padrão ao qual o projeto dever em princípior ser
capaz de corresponder. Embora as pessoas nos países
60 liÇÕES DE ARQUl1frURA
DE DRIE HOVEN, lAR PARA IDOSOS (137-1 40)
\los hospitais, lares poro idosos e grandes comunidades de
'eor semelhante, o mobilidade restrito dos moradores torno
'mperativo conceber o plano quase literalmente como uma
cidade em escola reduzido. No coso do De Drie Hoven,
'udo tinha de ser acessível em uma distância relativamente
:Jrta sob o mesmo teto, porque quase ning uém é capaz de específico. Este padrão é dominado pelo "pátio" central,
jeixar o lugar sem ajudo . Graças às grandes dimensões do que os próprios moradores chamam de "praça da aldeia" .
_cr, foi possível realizar um programo abrangente de Esta "praça da aldeia" não é, estritamente falando,
,~rviços de tal ordem que o instituição pôde aproximar-se bordejada pelos unidades de moradia, como acontece por
co natu reza de uma cidade também neste sentido. exemplo com os pótios cobertos no Familistere de Guise,
::'5 moradores acomodaram-se a seu ambiente como se ele mas, na medida em que o uso e as relações sociais estão
137 138
:>sse uma comunidade de aldeia. envolvidas, constitui o foco do conjunto. Éonde acontecem
todos as atividades que são organizadas pela e para o
:,rtemente influenciado pelo noção de restituição da comunidade de moradores: festas, concertos, espetáculos de 139 140
.organização, o complexo foi dividido em um determinado dança e de teatro, desfiles de modo, fe iras, apresentação
-Jmero de I/olos"/ cada uma com seu próprio IIcenfro", de corais, noites de jogos de cartas, exposições e refeições
Js diversos departame.ntos desembocam numa /Isola festi vos em eventos especiais! Algo especial acontece ali
:omum" central. Esta disposição dos espaços gerou uma quase que diariamente. Esta "praça do aldeia' é uma
,oqüência de áreas abertas que, do ponto de vista espacial, interpretação bastante livre do auditório convencional para
-~~lete a seqüência: centro de vizinhança l centro de eventos especiais, que poderia ficar sem uso metade do
comunidade, centro de cidade - um todo compásito dentro tempo, se fosse uma solo separada, de localização menos
:':: qual cada lIc1areiro" ou área aberta possui uma função central.
'.
i
!!'I!----J !
62 lIÇÓES DE AROUITElUIA
Ao abandonar o principio do assentamento tradicional
d~s blocos, os arquitetos tentaram, inspirados
especialmente por Teom X e Farum, inventar uma "
tendência de novas formas de moradia. Essa tentativa
conduziu muitas vezes a resultados espetaculares, mas
a questão de que venham a funcionar de maneira
adequada é algo que só parcialmente irá depender da
qualidade das próprias moradias. Um aspecto pelo
menos tão importante quanto esse está na
possibilidade de o arquiteta descobrir um caminho,
usando as moradias como seu material de construção,
para fazer uma rua que funcione adequadamente.
A qualidade de uma depende da qualidade da outra:
casas e ruas são complementares!
DOMíNIO PÚBliCO 63
organizado com tanto cuidado que possa criar uma
10 O DOMíNIO PÚBLICO situação na qual a rua passa servir a outros objetivos
além do trânsito motorizado. Se a rua como uma
coleção de blocos de edifícios é basicamente a
expressão da pluralidade de componentes individuais,
na maior parte privados, a seqüência de ruas e praças
como um todo constitui potencialmente o espaço em
que deve tornar-se possível um diálogo entre os
moradores.
A rua foi, originalmente, o espaço para ações,
revoluções, celebrações, e ao longo de todo a história
podemos ve r como, de um período pa ra o outro, os
arquitetos projetaram o espaço público no interesse da
comunidade a que de fato serviam.
Este, portanto, é um apelo para se dar mais ênfase ao
tratamento do domínio público, para que este possa
funcionar não só para estimular a interação social
como também para refleti-Ia. Quanto a todo espaço
público, devemos nos perguntar como ele funciona:
para quem, por quem e para qual objetivo.
Estamos apenas impressionados por suas proporções
ou será que ele talvez sirva para estimular melhores
relações entre as pessoas?
Quando uma rua ou praça nos impressiona como bela,
não é somente por causa das dimensões e proporções
Passeata estudantil no Gol/erio Viftorio Emanuele, Milão.
·Com a revolta dos estudantes, a educação retornou ó cidade e às ruas e, assim, encontrou um campo agradáveis, mas também pela maneira como ela
de experiência rico e diversificado, mais formador ql1e o oferecido pelo antigo sistema escolar. Talvez funciona dentro da cidade como um todo. Este aspecto
estejamos entrando em uma ero em que educação e experiência foto/ coincidirão novamente, em que não precisa depender apenas dos condições espaciais,
a escolo como instituição estabelecido e codificado não ferá mais motivo para existir. "
(do artigo "Architecture cna Educo/ion", Gioncorfo de Cor/o, Horvord Educo/ion Review, J 969)
embora estas muitas vezes ajudem, e estes casos
obviamente são exemplos interessantes para o
arquiteto e para o planejador urbano.
147
Se as casas são domínios privados, a rua é o domínio
público. Dar igual atenção à moradia e à rua significa PALAIS RoYAL, PARIS, 1780 / J. V. LUIS 1148·1501
].t8 IA9
tratar a rua não apenas como o espaço residual entre Em 1780, foram construídas filas de casas com galerias de
quadras residenciais, mas sim como um elemento Ioias nos três lados do que antes foro o iardim do Palais
fundamentalmente complementar, espacialmente Royal em Paris. Hoie é um dos espaços públicos mais
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155
66 liÇÕES DE ARQUITETURA
156 157
158
~" .
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oarticulares, localizadas em lugares proeminentes e dão origemà necessidade de criar serviços comunitários
estratégicos na vida da comunidade, assumem em áreas públicas, como estas que ainda são encontradas
:emparariamente condição pública. em partes menos prósperas do mundo?
Todas essas varandas, construídas segundo os mesmos
princípios como uma área adicional de madeira sustentada
por vigas em fachadas relativamente fechadas
- evidentemente tendo em vista essa função pública
~ d i cional -, acabam por formar um grande espaço
, nificado, semelhante ao teatro italiano clássica com suas
i!eiros verticais de camarotes.
"
. "
instalações para a lavagem dos carros nõo contam). Mas '"
-~ .,' ,'
será que ainda há lugares onde os atividades cotidianas ).} ~ '. -..
DOMíNIO PÚBliCO 67
Até o século XIX havia poucos ediFícios públicos, e
11 OESPACO PÚBLICO COMO mesmo estes não o eram de maneira integral.
e acesso público a edifícios como igrejas,
AMB IEN'TE CONSTRUíDO templos, mesquitas, spos, bazares, (anFi-)teatros,
universidades, etc. sofria certas restrições, impostas
pelos encarregados de sua manutenção ou pelos
proprietários. 0 5 verdadeiros espaços públicos
estavam quase sempre ao ar livre. O século XIX foi
a época de ouro do edifício público, em princípio
159 construído com os recursos fornecidos pela
160 comunidade. Os tipos de ediFício que foram
desenvolvidos nesse período formaram os blocos de
construção para a cidade, e nós ainda podemos
aprender com estes exempl os quais meios
arquitetônicos e espaciais podem ser mais bem
aproveitados para tornar um edifício mais convidativo
e hospitaleiro.
A IrJevolução industrial abriu um novo mercado de
ma ssa. A aceleração e a massificação dos sistemas de
produção e distribuição conduzi ram à criação de loja s
de departamento, exposições {mundiais], mercados
cobertos e à construção de redes de transporte
público, com estações ferroviárias e de metrô, e,
conseqüentemente, ao crescimento do turismo.
68 lIÇÕ E5 DE ARQUITETURA
lES HALLES, PARIS, 1854-66/ V. SALTARD 11 62-164)
Os salões do mercado de Paris constituíam um elo
indispensável na cadeia de distribuição de bens na cidade
- uma estação de abastecimento, por assim dizer, dentro de
um sistemá gigantesco, em que produtor e consum idor não
mantêm mais contato direto um com o outro. Os salões do
mercado eram compostos de vastas áreas com telhados de
duas águas e uma área coberto poro carga e descorga.
Todo essa atividade não deixou de marcar a vizinhança à
,ua volta: havia, por exemplo, muitos resta urantes abertos
DOMíNIO PÚBLICO 69
sejam mais usados hoje em dia. O barulho das atividades
que ocorrem nos espaços ao lodo revelou-se
particularmente perturbador, e logo as pessoas começaram
a erigir paredes e outros tipos de divisárias, eliminando
assim a unidade espacial que era fundamental para o
pro jeto.
70 lIÇÓ ES DE ARQUlmURA
I
I )AVllHÕES DE EXPosiçÃO origem também a novos métodos de construção: a introdução
';5 exposições mundiais - aqueles mostruários internacionais do aço como material de construção tornou possível erigir em
'o produção em massa, para a qual era preciso criar ou pouco tempo estruturas com enormes vãos . Além disso,
~ncontrar novos mercados - requeriam a construção de painéis de vidro podiam agora ser inseridos nas molduras de
,normes salões de exposição como o Palácio de Cristal em aço do telhado, e a transparência resultante dava aos vastos
_ondres 11851) {167, 168), o Grand Palais 11900) (169) e o salões uma atmosfera arejada, leve. Na verdade, as novas
'.tit Palais em Paris, ambos ainda de pé. Estes vastos salões estruturas pareciam mais redomas fechando o espaço e 167 168
~e aço e vidro foram 05 primeiros palácios para o oferecendo abrigo contra as variações climáticas. Deste
consumidor, que rege e é regido pela sociedade de consumo modo, lembravam mais gigantescas estufas Icomo aquelas 169
.~S consumidores consomem e concomitantemente são que ainda existem em Laken, perto de Bruxelas, e nos Kew
consumidos numa sociedade de consumo). Gardens de Londresl do que os habituais edifícios sólidos.
:sta época de novos métodos e sistemas de produção dó IIncidentalmente, o Palócio de Cristal foi um produto direto
da tradicional estufa.) Os grandes vãos contribuem também,
sem dúvida, para a sensação de não estarmos dentro de um
edifício no sentido convencional. Mas se o uso de estruturas
de aço tornou possíveis estes grandes vãos, e se as novas
possibilidades oferecidas pelos novos métodos de construção
foram avidamente exploradas, permanece em aberto a
questão de saber se eram verdadeiramente funcionais. Talvez
não, porque, embora o vasto telhado de vidro fornecesse
uma excelente iluminação para grandes espaços, algumas
colunas a mais não representariam uma diferença tão grande
assim de um ponto de vista funcional. Mais uma vez, a mera
factibilidade parece ter criado a necessidade, do mesmo
modo que a necessidade exigiu novas técnicas e
possibilidades. Assim como a Torre Eiffel demonstrava
claramente uma maneira de pensar, esta maneira de pensar,
por sua vez, era indubitavelmente inspirada pelas novas
possibilidades de construção; deste modo, a procura gera a
oferta e vice-versa (o que veio primeiro, o ovo ou a . ,-
galinha?). É, na verdade, muito difícil deixar de associar os
grandes vãos dos telhados e a maneira como evoluíram,
assim como a articulação espacial mínima que exigiam, com
o surgimento de uma maneira de pensar que conduziu à
expansão em grande escala e à conseqüente centralização
de hoje.
DOMiNIO PÚBLICO 71
Magasin du Au Bon Morché, Paris
Prinfemps, Paris 1876/L. C. Boi/eau
1881 · 1889/
p. Sedil/e
Galerie Lafayette,
Paris, 1900
DOMiNIO PÚ!IICO 73
12 OACESSO PÚBLICO
AO ESPACO
, PR IVADO
Embora os grandes edifícios que têm como objetivo ser
acessíveis para o maior número possível de pessoas
não fiquem permanentemente abertos e ainda que os
perícfdo5 em que estão abertos sejam de fato impostos
de cima, tais edifícios realmente implicam uma
expansão fundamental e considerável do mundo
público.
Os exemplos mais característicos desta mudança de
ênFase são sem dúvida as galerias: ruas internas de
comércio cobertas de vidro, tais como as construídas
no século XIX, e das quais muitos exemplos marcantes
ainda sobrevivem em todo o mundo. As gole rias
serviram em primeiro lugar para explorar os espaços
interiores abertos, e eram empreendimentos comerciais
afinados com a tendência de abrir áreas de venda
para um novo público de compradores. Oeste modo,
surgiram circuitos de pedestres no núcleo das áreas de
lojas. A ausência de trânsito permite que o caminho
seja bastante estreito para dar ao comprador potencial PASSAGE DU (AIRE, PARIS, 1779 1175·178)
175
uma boa visão das vitrines dos dois lados. Um exemplo interessante do conceito de galeria pode ser
176
visto, numa forma elementar na Passage ou Cairei em
l
74 IIÇOU DE ARQUITETUiA
ordenamento que, até certo ponto e submetido o certas
regras, permitiu a livre disposição dos elementos
órquitetônicos. Muitos dos negócios localizadas aqui estão
igados às dependências periféricas, permitindo a
jesenvalvimenta de uma rede informal de passagens entre
o. pontos-de-venda, somando-se às entradas oficiais.
SALERIAS DE LOJAS
~m Paris, ande a galeria de lojas foi inventada e floresceu
13inda existem muitas galerias, especialmente no primeiro e
'0 segundo Arrondissement), há três quadras consecutivas
com passagens infernos de ligação: Passage Verdeau,
Cassage Jauffray, e Passage des Panoramas. Juntas formam
_:11 0 pequena cadeia que cruza o Baulevard Monlmartre e, se
"vessem continuado, seria fácil imaginar como uma rede de
caminhos cohertos para pedestres poderia ter se desenvolvido
cdependentemente do padrão das ruas à sua volta.
As galerias de lojas existem em todo o mundo, em formas e
o;mensões diversas que dependem das condições locais -
- as muitas vezes já perderam seu encanto original como
conjunto de lojas caras, embora em vários lugares ainda
:comodem as lojas mais luxuosas, como por exemplo o
Salerie St. Hubert, em Bruxelas, e a Galleria ViHorio
Paris, 29 distrito
=:ssage des
=;,10ramas, Paris
Galerie Vivienne,
Paris
179 181
180 181
DOMiNIO PU Bli CO 75
Sfrand Arcoae, Emanuele, em Milão, que todos identificam como o coração
Sidney
da cidade.
(Para um levantamento, análise e história da galeria ver: J. F. Geist, I
i
Passagen, ein Bautyp de, 19.Jahrhunderll, Munique, 19691 !
'I
o principio do galeria voltou a adquirir relevância local
183 18. quando o volume do trânsito nas ruas do centro dos
185 cidades tornou-se tão pesado que surgiu a necessidade de
18.\ áreas exclusivas paro pedestres, i.e., de um "sistema"
exclusivo para os pedestres ao longo do padrão existente
das ruas. As galerias típicas do século XIX passavam
através das quadros, como atalhos, e suo proposto básico
era fazer com que as óreas internas fossem usadas.
Embora os edifícios fossem atravessados por essas
passagens, sua aparência exterior não era afetada: o 1
exterior, a periferia, continuava a funcionar de modo ,i
separado e independente como uma fachada autônoma.
Em muitos projetos contemporâneos de caminhos cobertos
para pedestres, o exterior do complexo dentro do qual a
atividade está concentrada lembra as pouco convidativas
paredes de fundo de um edifício. Esta inversão - virar a
massa do edifício de dentro para foro - não passa de total
perversão do principio orientador da galeria. .·1
76 LIÇÕES DE ARQUITETURA
,
I
'1
Esquerdo: Galerie
SI. Hubert, Bruxelas
Go/leria del/'/ncJusfrio
Suba/pino, Turim
ao outro que não se pode dizer quando estamos o abandono do assentamento de quadras num
dentro de um edifício ou quando estamos no espaço perímetro fechado, no urbanismo do século XX,
que liga dois edifícios separados. Na medida em que a significou a desintegração do definição espacial nítida
oposição entre as massas dos edifícios e o espaço da dada pelo padrão da rua. À medida que crescia a
rua serve poro distinguir - grosso modo - o mundo autonomia dos edifícios, seu inter-relacionamento
privado do público, o domínio privado circunscrito é dim inuía, e hoje eles se erguem destitu ídos de
transcendido pela inclusão de galerias. O espaço alinhamento, por assim dizer, como um monte de
interior se torna mais acessível, enquanto o tecido das mególi tos irregularmente espalhados, afastados entre
ruas se torna ma is unido. A cidade é virada pelo si, num espaço aberto excessivamente amplo.
avesso, tanto espacialmente quanto no que concerne O "corredo r de rua" degenerou em "corredor de
ao princípio do acesso. espaço".
O conceito de galeria contém o princípio de um novo Este novo tipo de assentamento aberto, tão inovador
sistema de acesso no qua l a fronteira entre o público e para as condições "físicas" da construção de casas em 189 190
o privado é deslocada e, portanto, parcialmente particular, teve um efeito desastroso sobre a coesão do
abolida; em que, pelo menos do ponto de vista tod o - um destino que prejudicou a maioria das 187 188
espacial, o domínio privado se torna publicamente cidades. Quanto mais os edifícios se afastam uns dos
mais acessível. outros como volumes autônomos com Fachadas
184·188:
Golleria Vittorio
Emanuele, Mi/õo
78 liÇÕES DE AiQUllETURA
r nafural das coisas, seria inacessível, já que faz parte do
domínio privado, é, graças à possibilidade de acesso, uma
contribuição à cidade como um todo.
Éimportante ter em vista, no entanto, que essa solução
r! perderia muito de sua qualidade se os blocos circundantes
," fossem projetados de acordo com o mesmo princípio,
Neste caso, a área como um todo iria aprese ntar a
imagem padrão de uma cidade moderna. É justamente a
surpresa do contraste que torna o princípio tão claro nesfe
caso.
DOMíNIO PÚ6l1CO 79
EDIFíCIO DE ESCRITÓRIOS CENTRAAl SEHEER [197·200[
O plano urbano, integralmente aj ustado à "tradicional"
construção aberta da primeira metade deste século, i.e.,
sem um alinhamento estrito dos edifícios e sem muros de
rua dentro dos quais o edifício tinha de estar situado,
80 LIÇÕES DE ARQUITETURA
,dotado - isto é, pelo fato de que podemos entrar no CENTRO MUSICAL VREDENBURG 1201 ·203) 201 203
sdifício a partir de qualquer direção gradualmente e em Aqui foi feita uma tentativa para evitar a forma tradicional 202
DOMíN IO PÚBLICO 81
os concertos semanais gratuitos na hora do almoço. Nesses CINEMA ClNEAC , AMSTERDAM, 1933 / J. DUIKER 1204, 205}
dias, vemos os compradores passeando pelo edifício, Duiker não só alcançou um êxito maravilhoso ao ajustar o
muitas vezes demonstrando surpresa outras vezes ouvindo
I programa arquitetônico inteiro diagonalmente ao espaço
atentamente, embora não tenham vindo para ouvir o minúsculo do edifício (em que cada centímetro teve de ser
concerto, e às vezes apenas tomando um atalho até a usado), como conseguiu também deixar aberta a esquina
próxima ruo. onde se localiza a entrada, de modo que a esquina
continua funcionando como um espaço público. Deste
modo, podemos atravessar a esquina por trás da coluna
alta e, guiados pela marquise curva de vidro, sentir-nos
tentados a comprar um bilhete para uma sessão contínua
de cinema. (Esta marquise foi revestida com madeira em
1980; o anúncio luminoso também foi reti rado,
desfigurando assim a último das grandes obras de Duiker.)
O espaço que foi devolvido à rua é um componente integral
da arquitetura, em parte por causa de sua localização
especifica numa esquina e em parte por causa dos
materiais empregados (o mesmo tipo de azulejos no chão e
no resto do edificio, o morquise de vidrol . Deste modo, é
ombivalente: privado, mas também público. J
j
82 IIÇOfS Df ARQUITfTURA
J
Embora a expressão da relatividade dos conceitos de
interior e exterior seja antes de tudo uma questão de
organização espacial, o Fato de uma área tender para
uma atmosfera mais parecida com a da rua ou mais
?orecida com a de um interior depende especialmente
da qualidade do espoço.
Além disso, se as pessoas reconhecerão a área em
questão como interior ou exterior, ou como alguma
torma intermediária, depende em grande parte das
dimensões, da Forma e da escolha dos materiais.
DOMiNIO PÚBlICO 83
HOTEl SOLVAY, BRUXELAS, 1896 / V, HORTA (108,111)
Embora as portas da fachada formem de modo inequívoco
a entrada principal do edifício, descobrimos ao entrar que
elas não levam a um hail convencional, mas dão acesso a
um corredor que passa diretamente através do prédio até
um outro par de portas que dá para um pátio nos fundos,
Este corredor foi concebido para permitir o ingresso de
carruagens, paro que as pessoas pudessem descer na
verdadeira entrada do prédio sem se molhar.
A verdadeira porta de entrada está situada, portanto, em
ângulo reto com a fachada, e marca o começo de uma
seqüência espacial que compreende o hail de entrada e a
escadaria conduzindo ao primeiro andar, enquanto os
quartos principais estão localizados ao longo de toda a
fachada e dos muros do fundo, com o uso, característico de
Horto, de divisórios de vidro paro criar uma conexão
aberta com o poço do escada,
2Q8
m 210
211 '::,,:: "F::::,:::::::,
-_ ::-.... ...
84 liÇÕES DE ARQUllETURA
Assim como a aplicação ao interior do tipo de
organ izaçêo espacial e do material referentes ao
mundo exterio r faz tom que o interior pareça menos
íntimo, as refe rências espaciais ao mundo interior
fazem com que o exterior pareça mais íntimo.
Porta nto, é a união em perspectiva de interior e
exterior e a conseqüente ambigüidade que
intensificam a pe rcepção de acesso espacial e de
intimidade. Uma seqüência gradual de indicações
mediante recu rsos arquitetônicos assegura uma
entrada e uma saída g raduais. O complexo inteiro de
experiências evocadas pelos recursos arquitetônicos
contribui para este processo: gradações de altura,
largura, grau de iluminação (natu ral e artificia!),
materiais, diferentes níveis do chão. As diversas
sensações desta seqüência evocam toda uma
variedade de associações, cada uma delas
correspondendo a uma gradação específica de
"interioridade e exterioridade" que se baseia no
reconhecimento de experiências prévias semelhantes.
Não só cada sensação se refere a uma gradação
específica de exterioridade e inte rio ridade, como se
refe re por extensão a um uso co rrespondente. Eu já
havia sublinhado antes que o uso de uma área, o.
214 sentido de responsabilidade por e la e o cuidado
"A CARTA" / PIETER DE HOOGH 11629-168411215) dispensado o ela encontram-se todos ligados às
O quadro de Pieter de Hoogh demonstra a relatividade das demarcações territoriais e à admi ni stração. Mas a
noções de exterior e interior, pela maneira como elas são arquitetura, graças às qualidades evocativas de todas
evocadas não só por meio de recursos de distinções as imagens explicitamente espaciais, formas e
espaciais, mas também, e principalmente, por meio da materiais, possu i o capacidade de estimular
expressão dos materiais e de suas temperaturas sob determinado tipo de uso. Conceitos como O de público
gradações varióveis de luz. O interior, com seus azulejos e privado restringem-se, portanto, a meras entidades
brilhantes e frios e as janelas severas no fundo, possui uma administrativas.
temperatura exterior que contrasta com o brilho quente do
fachada exterior iluminada pelo sol. A porta de entrada
aberta e sem degrau cria uma transição suave entre a
habitação e a rua com suo superfície semelhante a um
tapete. As funções do exterior e do interior parecem estar
Ao seleciona r os meios arquitetônicos adequados, o
domínio privado pode se tornar menos parecido com
uma fortaleza e ficar mais acessível, ao passo que, por
sua vez, o domínio público, desde que se torne mais
sensível às responsabilidades ind ividuais e à proteção
I.
4
invertidas, criando um conjunto espacialmente coeso que pessoal daqueles que estão diretamente envolvidos,
expressai acima de tudo, acesso. pode se tornar mais intensamen te usado e portanto
mais rico. Enquanto a tendência no fim dos anos 60
parecia levar a uma abertura maio r da sociedade em
!j
geral e dos edifícios em particula r, assim como a uma
revivescência da rua - o domínio público por
excelência -, há atualme nte um movimento crescente
para restringir este acesso e buscar refúgio em sua
própria "fortaleza", longe da agress ividade, na
segurança da própria casa. Mas, na medida em que o
equilíbrio entre a abertura e o fechamento é um
reflexo de nossa sociedade ba stante aberta, nós nos
Poíses Baixos, com nosso sól ida tradição, podemos
'I
l
ter os melhores condições pa ro a construção de
edifícios fundamentalmente mais acessíveis e de ruas
fundamen talmente mais convidativas.
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I
L
DOMíNIO PÚBliCO 85
T - - - - -- -
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215
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DOMiNIO PÚBLICO 87
B CRIANDO ESPAÇO, DEIXANDO ESPAÇO
'Der Gegenpod von Zwong ist nicht Freiheit, sondem 'O oposto do compulsão não é o liberdade, mos o
Verbundenheit. Zwong ist eine negotive Wirkfichkeit, und integração. A compulsão é uma realidade negativo,
Verbundenheit ist die positive; Freiheit ist eine Miiglichkeit, o integração é o positivo; o liberdade é uma possibilidade,
die wiedergewonnene Miiglichkeit. Vom Schicksol, von der o possibilidade reconquistado. Ser compelido pelo destino,
Notur, von den Menschen gezwungen werden: der pelo natureza, pelos pessoas: o oposto não é libertar-se
Gegenpol is nicht, vom Schicksol, von der Notur, von den do destino, do natureza e dos pessoas, mos aliar-se e
Menschen Irei, sondem mit ihm, mit ih" mit ihnen integrar-se o eles; para que isso aconteço é preciso antes
verbunden und verbündet sein; um dies zu werden, muss ser independente, mos o independência é um caminho, não
mon Ireilich erst unobhãngig geworden sein, ober die um espaço. H
Unobhangigkeit ist ein Steg und kein Wohnraum.' (Morti n Buber, Reden über Erziehung, Heidelberg, 1953)
4 Grelha 122
Ensanche, Barcelona / I. Cerdá
Manhattan, Nova York
92 LIÇÕES DE ARQUITETURA
transformação, havia um alto g rau de correspondência uma pessoa tem de sua língua, enquanto desempenho
na estrutura. Todos os padrões de comportamen to em se refere 00 uso que ela faz deste conhecimento em
diferentes culturas, ele afi rmava, eram transformações situações concretas. E é com esta reformulação mais
um do outro; por ma is diferentes que fossem, a relação geral dos termos "língua" e "fala" que se pode
com seu próprio sistema, no qual exercem uma função, estabelecer uma ligação com a arquitetura. Em te rmos
serio, em princípio, constante. arquitetônicos, pode-se dizer que "competência" é a
"00 mesmo modo, se você comparar fJmo fotografia e capacidade da formo de ser interpretada, e
seu negativo - embora as duas imagens sejam "desempenho" é o modo pelo qual a forma é/foi
diferentes -, verificará que as relações entre as partes interpretada numa situação específico.
componentes permanecem as mesmas. (M . Foucau lt)
H
94 LIÇÕES DE ARQUITETURA
,amo um motivo subjacente de seu layou! particular, que que se reolizavo oli : o centro da cidade não era apenas Herengracnt,
moldado por uma bela arquitetura, mas também pela Amslerdam. 1672 /
'ave e ainda tem, potencialmente, muito para oferecer. Além G. van Berkherde
de servir a objetivos de defesa, os canais eram usados agitação viva e colorida em torno dos barcos que levavam
,obretudo para o transporte de bens importados e suas cargas diretamente ao coração da cidade.
.xportados aos quais a cidade devia grande parte de sua A paisagem da cidade muda de forma mais rápida com as
i queza; e, antes da criação do sistema público de esgotos, estações, sobretudo ao longo dos canais, onde as árvores
oerviam como bueiros para o lixo da cidade. Hoje os produzem no verão efeitos espaciais completamente 219 22Q
:anois constituem os principais cinturões verdes do centro l e diferentes dos obtidos no inverno, quando estão nuos e as
JS passeios de barco oferecem à massa de turistas a diversas fachados delineiam'se nitidamente contra o céu,
'portunidade de apreciar a beleza de sua arquitetura de formando uma delimitação quase gráfica do espaço
1m ponto de vista especial. Mas representaram também urbano. E, por fim, há naturalmente o dramática mudança
ema possibilidade de conquistar um bom espaço extra - de aparêncio quando os canais congelom e a ênfase se
Jma possibilidade especialmente atrativa na época em que desloca dos ruas ladeando os canois para o centro gelado,
a expansão urbana era uma alta prioridade, pois os canais cheio de patinadores. Nestas ocasiões às vezes raras, tanto
"am vistos como uma solução para os problemas de a atmosfera como o sentido de espoço mudam
'rânsito que assumiram proporções gigantescas nas completamente por um momento.
:iécadas de 1950 e 1960. Muitos canais holandeses foram
aferrados nessa época, o que significa que muitas cidades e MEXCAlTlTÀN, MÉXICO (221·223)
"ilas holandesas sofreram danos irreparáveis. "O desejo de criar um ambiente suscetível de ter vários usos
:m Amsterdam, o prejuízo se limitou o uma série de canais às vezes pode ser estimulado por circunstâncias locais
'odiais - felizmente o singular layou! semicircular dos específicas. Em Mexcaltitàn, uma povoado mexicano
principais canais não foi adulterado. Os barcos-residência situado no rio Son Pedro, no México, as mudanças
,inda são tolerados em alguns canais porque as periódicas no nível da água por causa das pesadas chuvas
Jutoridades têm consciência de sua importância como
moradias substitutas numa época de drástica falta
je moradias. Mas gostariam de ver·se livres deles o mais
cedo possível, porque não compreendem como esta
lariedode informal e em constante mudança contribui para
a atmosfera vivaz da cidade - especialmente nos lugares
.m que a aparência geral da cidade é dominada por uma
arquitetura formal , dignificada, como a que aparece ao
longo dos canais.
No entanto, quondo olhamos fotografias antigas, vemos
que os canais apresentavam um quadro bem mais agitado
e desordenado no século possado, por causa do comércio
96 LIÇÕES DE ARQUITETURA
OUOE GRACHT, UTRECHT 1226· 233) Quando a velha prática de transportes por águo foi
Em Utrecht, a diferença natural de nível entre a rua e o interrompida, esses cais perderam sua função original, até
canal resultou num perfil extraordinário e muito eficiente. que em época recente começaram a servir como terraços
Desde o século XIV as mercadorias eram transportadas para cafés e restaurantes localizados nos antigos depósitos,
celos canais em barcaças; eram carregadas e os quais, em sua maioria, foram separados das lojas que
descarregadas na beira dos cais em frente aos espaços de ficaram acima deles quando o transporte fluvial das
armazenamento abaixo do nível da rua. Estes espaços mercadorias chegou ao fim e os cais deixaram de ser
de armazenamento, ou depósitos, continuam por baixo da usados.
"lia e formam os porões dos lojas situadas nas ruas acima. Assim, hoje, os velhos cais voltaram a ser usados, embora
Jeste modo, a mercadoria podia ser facilmente erguida ou de maneira diferente, e quando o tempo está bom eles
·:baixada por uma simples conexão vertical com o cais. novamente ficam cheios de gente. Na verdade, são
~'l1 certo ponto, havia um túnel oblíquo através do qual as excepcionalmente bem localizados, ao longo dos canais,
carruagens puxadas a cavalo podiam ir da rua até o cais e onde as altas paredes dos armazéns dos cais oferecem
.ice-verso, fazendo o transporte para qualquer lugar na proteção contra o vento e o barulho do trônsito. Também a
cidade. distôncia entre as paredes de cada lado do canal, com os
cais abaixo do nível da rua, ao longo da água, contribui
I para formar um logradouro de proporções agradáveis.
I 2260b 227
A curvo neste ponto do canal apenas realça o espaço,
fechando·o de maneira agradável sem obstruir a visão.
Finalmente le quem poderia te r projetado iss02), há belas 228
I' árvores no nível mais baixo, o que contribui mais do que 229 230 231
qualquer outra coisa paro criar a atmosfera única e
/.
,, agradável dessa parte do centro antigo da cidade. Embora
este perfil tenha sido projetado para objetivos urbanos
específicos, hoje, um século mais tarde, ele se tornou um
lugar inteiramente indiferente, sem que nenhuma mudança
fundamental tenha sido necessária . Éfácil imaginar a cena
quando a água dos canais se congela, proporcionando um
rinque natural de patinação. A bei ra do cais então se torna
o lugar perfeito para calçar os patins, enquanto a rua
acima se transforma no domínio dos espectadores . Essa
, transformação fornece ainda mais uma prova de quanto
esse tipo de fo rma urbana pode acomodar, a fim de
I·
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adequar· se a cada nova situação que surge. E, embora a
escalo seio muito maior, as margens do Seno, em Paris,
I TT" ....... T~T
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./
98 liÇÕ ES DE ARQUITETURA
acrescenlam novos significados às redondezas. Énolável
verificar como as ocupações pouco levaram em conta a
forma semicircular da moldura - uma forma pouco
conveniente para construções e aparentemente sem oferecer
nenhum incentivo para que se criasse uma contra forma
específica. Como se fosse a coisa mais óbvia do mundo,
lodos os arcos foram preenchidos por edificações
{onslruídas segundo os mesmos princípios de uma casa
1um espaço livre. O próprio viadulo não serviu como ponlo
je parlida ou fonle de inspiração, mas lambém não foi
aercebido como um obsláculo; alé mesmo as ruas lalerais
,
I.
;!streifas prosseguiram em seu curso através do comprido
obsláculo de pedra, que ao mesmo lempo peneira e é
peneIrado pelo lecido urbano. Agora que não é mais usado
para trens, torno~·se um passeio público, conduzindo até o
r ,10VO edifício da Opera, no lugar da anliga Gore de
239
I~ 2~D
23Sb
142 243
241
I
,
l
f
: Visto do viadulo
sobre o rue
Rambouilfel com o
antiga Gore de /0
BO'fille (I 859J; o/i
ergue-se hoje o novo
edifício da Ópera
I
II
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100 liÇÕ ES DE ARQUITETURA
BI8L!07cC .;;\
S:;,Q ,; 0 ~é do Riv I-' re tc ~ sP.
pelo novo faz com que nos perguntemos o que restaria, do
ponto de vista estrutural, se subtraíssemos os acréscimos
posteriores. O processo é irreversível - o palácio está ali
mesmo, dentro, mas não pode ser mais recuperado!
Tampouco é possível conceber que, sob circunstâncias forma e função. Vale a pena mencioná-lo aqui porque, já
diferentes, uma adaptação totalmente diferente ao que em 1962, era uma fonte de inspiração para nosso modo de
restou da estrutura original possa algum dia ser realizada; pensor sobre formas arquitetônicos como os anfiteatros - 151
de qualquer modo, o que restou da estrutura não oferece a ainda que estes, ao contrário do palácio em Split, não só
menor sugestão de como isso seria possível. permitiram novas formas de uso como também inspiraram
O exemplo de Split é especialmente interessante porque estas novas aplicações em virtude de sua forma e estrutura
demonstra da maneíra mais clara possível a separação de específicas.
252
por ele, e o ambiente por sua vez também foi colorido pela Os exemplos anteriores, assim como os seguintes, dão
antiga estrutura em seu centro. Os anfiteatros não só foram margem a uma série de conclusões:
aceitos em sua nova forma como parte integral do tecido • Em todos estes exemplos, os objetivos múltiplos que
urbano, como também forneceram uma identidade a esse a estrutura original permitiu não foram deliberada ou
tecido. A estrutura oval e seus arredores mostraram"se intencionalmente inseridos na estrutura. É antes sua
capazes, em ambos os casos, de se modificar mutuamente. Ucompetência" intrínseca que faz com que se tomem
Estes espaços ovais representam uma lorma arquetípica capazes de desempenhar funções diferentes sob
- nesse caso, a do espaço cercado, um interior, um quarto circunstâncias diferentes, e de cumprir deste modo um
amplo que pode servir como local de trabalho, playground, papel diferente dentro da cidade como um todo.
praça pública e lugar para morar. A função original foi
esquecida, mas a forma de anfiteatro mantém sua • Não é certamente verdade que há sempre uma
relevância porque é tão sugestiva que pode oferecer forma específica que se ajusta a um objetivo específico.
oportunidades para uma renovação constante.' (li Há formas que não só permitem várias interpretações
Estes anfiteatros conseguiram manter sua identidade como como ainda suscitam efetivamente essas interpretações
espaços cercados, ao mesmo tempo em que seu conteúdo quando as circunstâncias mudam. Assim, seria possível
se submeteu à mudança. A mesma forma pode, portanto, dizer que a variedade de soluções deve estar contida
assumir aparências diferentes sob c'ircunstôncias novas, sem na forma como uma proposta inerente.
253
25'
Anfiteatro, Lucco,
Itália
215
A Rockefeller Plaza, a pequena praça rebaixada no meio exatamente em seu oposto l como vemos aqui.
do Rockefeller Center, em Manhanan, assume aparências
bem diferentes no verão e no inverno. No inverno há os Não seria difícil citar mais exemplos de como uma
patinadores, e nos meses de verão o gelo dá lugar a um forma em grande escala pode, de maneira
terraço com muitos assentos entre plantas e guarda-sóis. não-intencional, permitir interpretações diferentes.
Este espaço claramente definido oferece todas as No entanto, o que nos preocupa aqui são as aplicações
oportunidades pa ra que as ci rcunstâncias mutáveis das potenciais do princípio estabelecido. Se um arquiteto é
diferentes estações sejam exploradas ao móximo. capaz de apreender integralmente as implicações da
distinção entre estrutura e ocupação, ou, em outras
UNIVERSIDADE DE COlÚMBIA, NOVA YORK 1262) palavras, entre Ucompetêncian e "desempenho", ele
Lances de escadaria monumentais são uma característica pode chegar a soluções com um alto valor potencial no
comum em edifícios que pretendem inspirar um sentimento que diz respeito à sua aplicabilidade - Le., com mais
de importância e, deste modo, um sentimento de respeito e espaço para interpretação. E, uma vez que o fator
reverência em todos os que entram. Neste caso o edifício é
l tempo é incorporado a suas soluções, há mais espaço
uma biblioteca, o centro nervoso da universidade, um para o tempo. Enquanto, por um lado, a estrutura
templo em que o conhecimento é guardado. E aqui a representa o coletivo, por outro, a maneira como pode
impressionante entrada não convida a uma visita ser interpretada representa as exigências individuais,
espontâneo e informal, além de desencorajar firmemente reconciliando assim o individual e o coletivo.
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o desenho também mostra algumas moradias bem "As VIGAS DE SUSTENTAÇÃO E O POVO: O FIM DA MORADIA
comuns, o tipo de habitação popular (I) que sempre DE MASSA', 1961 / N. J. HABRAKEN
aparece num sistema em que as pessoas não têm voz Gostaria de mencionar a contribuição de Habraken
ativa no projeto e na construção das casas em que neste contexto, que, num certo sentido, conforma-se ao
vivem. No desenho de Le Corbusier, essas moradias que le Corbusier tinha em mente quando fez seu plano
não ocupam um lugar proeminente em meio à para Argel. ~abraken tentou, pelo menos em teoria ,
exuberância à sua volta, e parecem não ser mais do chegar a uma base a partir da qual , usando o aparato
que a lembrança curiosa de uma época passada. Mas industrial à nossa disposição, as pessoas pudessem ter
este tipo de moradia massificado é a realidade que mais liberdade para escolher como querem morar.
encontramos continuamente 8, na verdade, constitui As vigas, unidades estruturais especialmente projetadas
um dos problemas fundamentais que temos de e fornecidas pelo Estado completas, com os requisitas
enFrentar. As pessoas hoje não parecem mais ter idéia técnicos básicos, podem servir como sítios para
de como dar expressão a seu próprio estilo de vida, e edificações sobre os quais as pessoas podem erguer
168 169 no entanto sabemos que pessoas em todas as partes casas pré-fabricadas ou módulos de casas, que são
do mundo sempre construíram o tipo de casa vendidos por numerosas firmas. O morador pode
que queriam, assim como vestiram o tipo de roupa de escolher o ti po de casa que quer a partir de uma
que gostavam, usaram seus próprios instrumentos e determinada gama de possibilidades e fazer os ajustes
comeram seu próprio tipo de comida. Não há, que julgar necessários para adequá-Ia a seu gasto.
portanto, nenhum motivo para supor que a capacidade Deste modo, ele envolve-se de maneira ativa num
de expressão pessoal por meio da forma seja processo no qual normalmente não tem voz ativa.
essencialmente diferente da capacidade de expressão Contudo, os problemas surgem de imediato, já que
pessoal por meio da língua. E, se hoje parecemos também aqui as casas tornam-se totalmente
incapazes de fazê-lo, então é razoável supor que a comercializadas e, portanto, sujeitas às vicissitudes da
impotência da arquitetura hoje é causada por uma competição e dos mecanismos de mercado. Isto significa
ruptura muito séria das relações sociais. A moradia de que são niveladas pelo mínimo denominador comum - o
mossa, que está superficialmente de acordo com da mediocridade - , e assim voltamos ao ponto de
nossos circunstôncias industriais, deriva sua posição partida. O que torna a proposta interessante é a
dominante do mecanismo de comportamento tentativa de criar as condições para uma exploração
monocultural que governa nossa sociedade. O mínimo mais sensata e eficaz do rico potencial industrial de
que um arquiteto pode fazer numa situação como esta nossa sociedade. Cada um de nós se pergunta de vez
é fornecer as linhos gerais das imagens que irão em quando por que as casas não podem ser produzidas
mostrar maneiras de despertar as pessoas de seu como os carros e, de um ponto de vista tecnológico, é
estado de embotamento. Por mais que a proposta de muito difícil entender por que existe esse problema com
le Corbusier (1932) nos aproxime de uma solução casas.
aparentemente óbvia, por enquanto estamos distantes A resposta é menos simples do que a pergunta, mas
dela. Até mesmo o menor passo dado nesta direção uma coisa fico bem clara: é especificamente o problema
logo entra em conflito com as conseqüências de nossa do assentamento, com sua infinita variedade de
sociedade institucionalizado e centralizada, e não nos requ isitos e regras, que entra em conflito com a
aproximamos da realização de nossos planos. Mas, repetição, que é o esteio da tecnologia moderna . Se ao
nas poucas vezes em que o conseguimos, podemos menos pudéssemos separar o problema da casa do
pelo menos dar-nos a oportunidade de demonstrar o problema do "sítio para edificação", que o Estado
princípiol ainda que de modo mais teórico do que poderia fornecer como uma moldura urbana sofisticada,
prático. então, pelo menos do ponto de vista teórico, 'Jm dos
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A eslrutura básica pôde desempenhar deste modo um
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estrutura básica e os edifícios influenciaram'se
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reciprocamente no âmbito da forma. Em retrospecto,
poderíamos argumentar que o plano tal como foi
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envolvimento de mais arquitetos, e, infelizmente, o
potencial verdadeiramente gerador do motivo básico -
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!' que pelo menos se manifesta nas margens das valas -
não pôde ser integralmente explorado em relação com
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. ' ", l-o os próprios edifícios .
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I'I :; estava incluído. Estes planos, nos quais a rigidez de
funções exclusivas e a desintegração subseqüente foram
eliminadas com sucesso, podem realmente ser vistos
I 1 ~ como antecipando e inspirando o que hoie podemos
I ti chamar estruturalismo na arquitetura.
. li UNIVERSIDADE liVRE, BERLIM, 1963 / CANDIUS, JOSIC &
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II !i' W OODS 1290·2941
Este proieto, na versão original , propunha uma fórmula
I] I para organizar espacialmente uma universidade
Ii ;.: I
moderna como uma rede de inter'relações e
181 185 oportu nidades para a comunicação. Em vez de partir
18.l
da tradicional divisão em faculdades , cada uma sediada
187
como uma fortaleza em seu próprio edifício, com sua
própria biblioteca, etc., o ponto de partida neste
188
edifício foi uma único estrutura contínua funcionando
189
como um conglomerado acadêmico coberto, no qual
todas as partes componentes poderiam se posicionar
mutuamente segundo uma relação lógica. Mas, assim
como as idéias mudam ao longo do tempo, também as
inter-relações mudam, e com elos os diversos
componentes; propôs'se, portanto, a criação de espaços
que pudessem ser levantados ou desmanchados dentro
de uma rede fixa e permanente de ruas internas.
A explicação está contida nas seguintes formulações de
Shadroch Woods:
__ lIoadopor_...... _ 1~_
7
Na) Nossa intenção, neste plano, é escolher uma
organização mínima que forneça o máximo de
oportunidades para o tipo de contato, de intercâmbio e
de feed·back que constituem a verdadeira roison d'être
H~~~"{'<'O frit:
da universidade, sem comprometer a tranqüilidade do
I ~D Y~L:tuc 2A;:'~j
-.......... __ i- .
trabalho individuo/.
b) Estávamos convencidos de que era necessário ir além
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-..;Io_~ __ w_ do estudo analítico das diversas laculdades ou atividades
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arquiteta. Em outras palavras, a grade é capaz de gerar À parle a qualidade excepcional dos planas de Woods
ou até mesmo de provocar soluções. As limitações de e Wewerka como idéias, o que podemos aprender em
trabalhar com o tema proposto não têm um efeito especial com eles é que nõo devemos concentrar nossa
restritivo mas, como agentes catalisadores, possuem na atenção na mudança a ponto de excluir o resto, mas
verdade um efeito estimulante. Assim, as limitações do sim na estrutura que, em sua constância, é capaz de
tema resultam em mais liberdade lé um paradoxo que absorver a mudança.
liberdade e limitação gerem um ao outro?).
Projetistas diferentes trabalhando independentemente No exemplo dado acima, a imagem da urdidura e da
podem usar a grade como um "plano diretor", que eles trama, a estrutura coletiva é portanto a urdidura, na
podem complementar com suas próprias soluções qual as interpretações individuais são tecidas como Q
especificas. Do mesmo modo, uma grande variedade de trama. Foi o estrutura coletiva, que, em si, pouco ou
programas pode ser implementada . No layoul, os
componentes podem ser desenvolvidos de acordo com
seus próprios critérios. O plano permite uma tal
variedade de interpretações que, a despeito do que é
substituído e por quem, o complexo como um todo
sempre teró certa ordem.
O essencial é que a grade pode ser interpretada em
todos os níveis - jó que fornece apenas o padrão
objetivo, o padrão subjacente, por assim dizer, o
protolorma, que adquire sua verdadeira identidade em
vi rtude das próprias interpretações que recebe,
especialmente pelos programas inseridos e a maneira
especifica como é realizado. Seja ló o que for inserido,
sempre estará diretamente ordenado, o que não
significa ordenação no sentido de I'subserviência", mas
antes no sentido de "tendência". A grade funciona como
uma estrutura gerativa que contém dentro de si o
tendência bósica que é transmitida a cada solução.
E, uma vez que a grade confere aos componentes
individuais a tendência comum, não só as partes
determinam a identidade do todo, mas o todo contribui
para a identidade das partes. A identidade das partes e
do todo seró reciprocamente gerativa." [3J Le P%is Idec:
1879-1912 /
FacfelH dev:.
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•I+------l--'-t-'--····f-~-_1
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llNMu 1322·331)
32'
lnoi> O espaço de trabalho que foi construído no telhado de uma
m fábrica da começo deste século teve como primeiro ob jetivo
ampliar as instalações. Nessa época, a expeclativa era de
que, à medida que os diversos departamentos da fábrica se
expandissem, fosse necessário realizar uma série de
ampliações: permitiam apenas que um número limitado de unidades
fossem construídas simultaneamente;
1. a impossibilidade de prever que depa rtamentos iriam 3. a qualidade das instalações existentes era
precisar de expansão e quando; suficientemente boa para justifi car sua conservação e,
2. a nalureza e o potencial de investimento da companhia embora um tanto sombrio e disposto de maneira ineficiente,
o edifício ainda serviria após alterações pouco importantes.
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consulta prévia, por outro lado também é uma espécie de
triunfo verificar que sua idéia, como conceito global,
permanece de pé. A estrutura pode ser comparada a uma
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árvore que todo ano perde suas folhas. A árvore
permanece o mesmo, mas as folhas se renovam a cada
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primavera. O uso vario de acordo com a época, e os
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usuários exigem que o edifício se adapte à evolução de
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3.2
EDIFíCIO DE ESCRITÓRIOS CENTRAAl BEHEER 1342·353) diferentes unidades espaciais podem, se necessário, assumir
A idéia proposta anteriormente em dois concursos de outros papéis· e esta é a chave para a capacidade de
projetos para prefeituras em Valkenswaard 1343·344) e absorver mudança.
Amsterdam 1345·346), respec!ivamente, e que, finalmente, Projetar um edifício de escritórios pode ser bastante simples
veio a se materializar no edifício de escritórios Centra0 I em princípio, mas foi esta mesma necessidade de
aeheer, é a de um edifício concebido como uma espécie de adaptabilidade que conduziu ao resultado. Constantemente
povoado, composto por um grande número de unidades surgem mudanças dentro da organização, requerendo por
espaciais iguais, como um grupo de ilhas. Essas conseguinte ajustamentos freqüentes no tamanho dos diversos
unidades espaciais constituem o bloco básico do edifício; departamentos. A construção deve ser capaz de acomodar
são relativamente pequenas e podem acomodar os diversos essas forças internas, enquanto o edifício como um todo deve
componentes do programa (ou "funções", se preferirem!, continuar a funcionar em todos os aspectos du rante o tempo
porque suas dimensões, assim como sua forma e todo. Isto significa que a adaptabilidade permanente é uma
organização espacial, se ajustam a essa proposta. Elas são, pré'condição do projeto. Em cada situação nova, para
portanto, polivalentes. assegurar o equilíbrio do sistema como um todo, i.e., para
Enquanto o De Drie Hoven envolvia um programa com uma que ele continue a funcionar, os componentes devem ser
grande diversidade de dimensões e de requisitos espaciais capazes de servir a objetivos diferentes.
. o que necessariamente resultou num ordenamento de A construção foi projetada como uma extensão ordenada,
construção único, capaz de gerar uma grande variedade . , composta por uma estrutura básíca, que se manifesta como
no caso deste edifício de escritórios, o programa, análogo uma zona essencialmente fixa e permanente por todo o
00 princípio básico escolhido do quadrado como unidade edjfício, e por uma zona complementar variável e
espacial, ainda que simples no sentido elementar, interpretável.
mostrava'se capaz de responder virtualmente a todos os A estrutura básica é o sustentáculo, por assim dizer, de
requisitos espaciais. Graças à sua polivalência, as todo o conjunto. Éa construção principal, abrangendo o
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Desse modo, a estrutura escolhida poro o ed ifíc io torna
I j/ possível ' preencher" as diferentes partes do programa de
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--~---<l>--j variação nos preenchimentos e reaiusfes, de modo que o
\ / ! ~/ edifício mostrar-se-á relativamente adaptável às
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necessidades futuras.
A estrutura serve para íntroduzir ordem e não irá restringir
efetivamente a liberdade de preenchimento mas, ao
contrário, irá ampliá-Ia. A estrutura é o fio comum
arquitetônico que perpassa o con junto inteiro, tornando
legíveis seus diversos componentes e desse modo
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365
366 367
3ó8
J.l9
370
378 379 ESCOlAS ApOllO (380-3BB) semelhanças entre elas_ Mas há também um série de
Estas duas escolas resultaram do mesmo programa espacial diferenças importantes entre os dois edifícios, em razão do
3BO 381 de requisitos estabelecidas pelo Ministério de Educação e, msentamento diferente e, conseqüentemente, em razõo da
coma se desenvolveram a partir da mesmo ordenamento de orientação diferente das janelas das salas de aulas, e
construção, como um projeto comum, há muitas também como resultada dos diferentes princípios
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podem ser classificados de acordo com a maneiro como parentesco, algo que resultou das considerações, ainda na
são interpretados, por exemplo, dentro-fora; esqueleto ou fase de projeto, sobre os implicações de cada ponto para
aplicação consistente de tijolos, peitoris, componentes de todos os outros pontos, de maneira que cada passo
aço; normal ou muito grande; vigas cruzadas ou conexões subseqüente remete 00 primeiro.
em T. Todos os elementos são ligados por uma espécie de
A unidade de meios inerente a um ordenamento da
construção pode nos lem brar a class ificação dos estilos
arquitetônicos, de acordo com a qual o onipresente
estilo classicista vai ao encontro, de modo ostensivo,
dos critérios que estabelecemos para um ordenamento
da construção.
Num estilo arquitetônico cada elemento tem sua função
fixa e se deixa combinar com outros de acordo com
regras específicas. Neste sentido, um estilo
arquitetônico representa uma espécie de linguagem
formal por meio da qual podemos expressar
determinadas coisas mas não outras, já que cada
elemento e cada co"mbinação de elementos se referem
inevi tavelmente a certo significado fixO i deixando
assim pouca ou nenhuma margem para a
interpretação. Mas, além disso, as lim itações técn icas
do "kit de construção" determinam seu potencial
espacial. Por exemplo, não se pode fazer vigas
canti léver - quando se aplicam princípios classicistas e l
por conseguinte, nõo pode haver nenhum canto aberto
sem uma coluna (como nos prédios de Ouiker e de
RietveldJ - I pois os meios para fazê-los simplesmente
não são proporcionados pelo kit de construção.
Na verdade l se a história da arquitetura tem algo a
389
190 191
:SCOLA MONTESSORI, DE1FT 1395-417) contém as sugestões e os incentivos para a resposta a cada
~s vidraças com saliências largas sobre as portas, entre as situação que surge. O bloco se torna uma "pedra de
,alas de aula e o saguão na Escola Montessori, em Del ~, toque", e contribui para o articulação do espaço de tal
codem ser usadas para abrigar vasos de plantas, livros, modo que aumenta a gama de suas possibilidades de uso.
'1lodelos, figuras de barro e todo o tipo de bugigangas. Em cada situação a plataforma levantada suscita uma
estes "armários" abertos formam uma moldura que pode imagem particular, e, já que permite diversas
,er preenchida de acordo com as necessidades específicas interpretações, pode exercer uma variedade de papéis,
, os desejos de cada grupo. mas, inversamente, as próprias crianças são estimuladas a
O ponto central do saguão da escola é o pádio de tijolos, assumir maior variedade de papéis no espaço. As crianças
1ue é usado tanto para assembléias formais quanto para costumam usá-Ia para sentar-se ou paro colocar os
·euniões espontâneas. À primeira vista, poderio parecer materiais durante as aulas de trabalhos manuais, lições de
'Iue o potencial do espaço seria maior se o bloco pudesse música e todas as outras ativi dades que ocorrem no saguão
,er removido de vez em quando e, como era de esperar, da escola. Incidentalmente, a plataforma pode ser ampliada 395 396 397
I me foi , de fato, um tema para longas discussões. Éa em todas os direções com um conjunto de seções de
permanência, a imobilidade e o "estar no meio do madeira, que podem ser retirados do interior do bloco para 399
f, , caminho", que constituem a questão central, pois, na se transformarem num palco de verdade para espetáculos 398 400
verdade, é essa presença inescapável como ponto focal que de dança e apresentações musicais. As próprias crianças
'18
~
PRAÇA VREDENBURG 1418-422)
Quando se decidiu reorganizar o espaço da praça }
' 19 '11 Vredenburg, em Utrecht, para alojar o feira
'20 422 tradicionalmente realizada ali, foi proposto o plantio de
árvores.
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"Os arquitetos não deviam apenas demonstrar o que é comportamento e que suprime o verdadeiro exercício
possível, deveriam também, e especialmente, indicar pessoal da vontade. Uma vez que jamais
as possibilidades que são inerentes ao proieto e estão conseguiremos saber o que cada pessoa realmente
00 alcance de todos. É da máxima importância desejo paro si, ninguém jornais será capaz de inventar
compreender que há muito o aprender com as reações para outros a morad ia perfeita. Na época em que as
individuais dos moradores às sugestões contidas no pessoas construíam suas próprias casas, elas também
proieto. As moradias ainda são projetados segundo o não eram livres, porque toda sociedade consiste, por
que as administrações, investidores, sociólogos e definição, num padrão básico ao qual seus membros
416 arquitetos pensam que as pessoas querem. E o que são subservientes. Cada um é condenado o ser como
eles pensam não pode ser outra coisa além do ele quer que os outros o vejam - este é o preço que o
418 estereóti po: tais soluções podem ser mais ou menos ind ivíduo tem de pagar à sociedade poro pertencer a
417 419 adequados, mas nunca inteiramente sati sfatórias . São ela, e desse modo ele é ao mesmo tempo possuidor e
interpretações coletivas dos desejos individuais de uma possuído por padrões coletivos de comportamento."
multidão elaboradas por um pequeno grupo. O que
sabemos de fato dos desejos individuais dos pessoas,
e como podemos descobrir quais são esses desejos?
O estudo do comportamento humano, por mais árduo
e completo que seja, não consegue penetrar a pele
grossa do condicionamento que deu origem a este
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lO ~00
Coso poro o
Exposição de
Construção de Berlim
I Mies van der Rohe
'Pia, lihr.' /
te Corbusier
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quando chegar a hora de tomar a decisão.
Moradias Diagoon PIlASTRAS Se você tiver bom olho paro essas coisas, perceberá
Além das colunas, as pilastras, que ocorrem em todas as em toda a parte exemplos de casas com alterações e
construções em várias formas, podem servir a vários acréscimos, fe itos ao longo do tempo pelos próprios
objetivos, dependendo de onde estejom localizadas e do mo rodores, provovelmente sem autorização das
espaço que deixam aberto. Tomemos, por exemplo, uma autoridades ou dos proprietários, e, em gera" muito
loreira, do tipo que interrompe uma das longas poredes em bem sucedidos.
451 '52 tantas casas antigas, e que não se pode ignorar ao É provável que tais acréscimos tenham sido feitos em
mobilior o quorto: na verdade, a pilastra morca o espaço e lugares que ofereciam incentivos nesse sentido, ta is
455 fornece um ponto de partida, já que o espaço dos dois como varandas que "pediam" poro ser cobertas, e
'53 45' lados afeta fortemen te as possibilidades e limitações do porticulamen te em galerias, que podiam ser facilmente
fechadas.
De Drie Hoven,
Lar para Idosos
Centra0! Beheer,
Edifício de Escritórios
459 460
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Ao adotor o princípio de reciprocidade de Forma e uso dizer que para cada situação aplica-se o seguinte: ~6S
usuários um papel maior na configuração de seus quem pode deixar de notar as a renas em minia tura,
ambientes, o objetivo primordial não é estimular maior rudimentares, nos blocos perfurados?)
individualidade, mas sim retomar o equilíbrio entre o Assim como a posição do arquiteto diante da estrutura
que devemos fa zer por eles e o que devemos deixar coletiva é in terpreta tiva - i.e ., a de usuório sua
-I
para que eles façam. posição diante dos usuários de sua arq uitetura é a de
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Oferecer lJincentivos que despertem associações nos tornar seu pro jeto interpretável por eles. Deve ficar
usuários r quer por sua vez, conduzam a ajustamentos claro paro o arquiteto a té onde ele pode ir e onde ele
específicos adequados a situações específicas/ não deve faze r imposições: ele deve criar espaço e
pressupõe - não obstante o des locamento de ênfase - deixar espaço, nas proporções adequadas e com o
um projeto mais elaborado r baseado num programa equilíbrio adequado.
de requisitos mais detalhado e mais su ti l. A razão
para cria r incentivos é e levar o potencial inerente ao
máximo. Em outras palavras: colocar ma is em menos,
ou tirar menos do que se pode tirar mais. Pode-se
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35
,70 m ALOJAMENTO PARA ESTUDANTES WEESPERSTRAAT (470-472( reivindicações iguais sabendo que o retirada é possív.!Í
m "Um parapeito comprido, largo, deve parecer a qualquer momento.
razoavelmente discreto à primeira vista, um lugar onde se Aqui também, as associações despertadas em nós J
possa fazer uma pausa, recostar"se ou sentar-se, apenas pelas imagens que armazenamos em nossa consciênci::
por um momento ou pora uma conversa mais longa - associações coletivas, pode-se dizer - desempenham
conforme o caso. Às vezes serve como um espaço para a um papel decisivo. Basta pensar num casa l de
refeição quando o restaurante está cheio, e foi usado para namorados l para logo imaginá-lo sentado num banco"
o bufê de uma ceia de Natal." 141 com todas as associações concomitantes de vínculos
luturos_" [41
UPara que o contato possa se estabelecer
espontaneamente é indispensável certa informalidade, LA CAPEllE, FRANÇA (473)
certo descompromisso. É a certeza de que podemos IINõo é preciso muito para que as coisas sirvam como umJ
interromper o contato ou nos retirarmos quando espécie de estruturo à qual a vida cotidiana pode ligar-se.
quisermos que nos encoraja a prosseguir. O simples corrimão em que pessoas idosas podem se
O estabelecimento de contato é, de certo modo, como apoiar quando sobem ou descem uma rua íngreme é, pare
o processo de sedução, em que ambos os lados fazem todas as crianças da vizinhança, um desafio para mostrar
sua agilidade_ Serve como um brinquedo de p/ayground e
no verão é sempre usado para construir cabanas e
esconderi jos_ Na Holanda , além disso, as donas de caso
usam o corrimão para tirar a poeira dos tapetes,
Um corrimão de ferro está literalmente 'à mão' para uma
ampla gama de USO" para todo o tipo de situação diária,
comum, e tran,forma a rua num p/ayground.
Os playgrounds projetados, orientados para um propósito,
que se espalham por toda a cidade são, por enquanto,
indispensáveis como refúgio para as crianças. Mas, como
as próteses, são também um lembrete doloroso de como a
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cidade, que devia em si mesmo ser um playground para
seus cidadãos e suas crianças, foi drasticamente mutilado
neste sentido." 141
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478 CENTRO MUSICAL VREDENBURG 1478·4821 os assentos, melhor. Para oferecer assentos extra , foram
Um saguão de teatro não pode ter assentos demais. Só uma construídas amuradas de alvenaria onde era possível:
m 410 pequena parte do público acha um lugar para se sentar menos confortáveis do que um banco acolchoado, sem
durante os intervalos; assim, quanto mais informais forem dúvida, mas não menos úteis. Outro problema típico
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fOIMA CONVIDATIVA 181
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ESCOLAS ApOLLO (491-493)
"Parapeitos de janela, prateleiras e pranchas numa sala de
aula, todos oferecem oportunidades poro que as crianças
exponham trabalhas manuais, que geralmente não são
apenas frágeis, mas também numerosos_ Este é o tipo de
coisa que torna a criança capaz de se apropriar de um
489 4111
espaço, de se sentir à vontade nele. É por isso que
acrescentamos pranchas e similares onde era possível e m
adequado." [lOJ
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190 li ÇÕE S DE ARQUITETURA
espaçosos, ao contrário da situação usual, em que as demais a ponto de atrapa lharem os movimentos.
pessoas nos andores de baixo, com jardins no frente, têm A maior parte dos arquitetos, quando não são tolhidos
mais espaço à suo disposição do que os moradores dos por reg ras e regulamentos, tende a criar espaços
andores de cima. Metade do área destas varandas é grandes demais em vez de pequenos demais. Tudo é
coberta: em porte por uma proteção de vidro e em parte tão aberto e espaçoso quanto possível, eliminando as
pelo recuo da fachada. Uma vantagem adicional deste objeções usua is e compreens íveis! mas os arquitetos
recuo é que há espaço bastante para uma porta lateral que não compreendem que podem estar desperdiçando 510 511
conduz à cozinha adjacente, o que contribui ainda mais possibilidades com seu gesto grandioso, tornando as
para integrar os espaços do interior e do exterior. coisas mais impossíveis do que possíveis . Quanto 511
A divisória entre as duas varandas adjacentes tem um maiores são as dimensões, maior Q dificuldade de 513
parapeito de 60 centímetros na porte do frente, para que usá-Ias com o máximo de vantagem. Os planejadores
os vizinhos possam se comunicar facilmente, se quiserem.
Articulação
D
componentes do programa podiam ser interpretados como
espaços, ou lugares, de 3 x 3 metros, ou de seus múltiplos.
E, como na prática as coisas não têm essa precisão
numérica, foram levadas em conta as margens necessárias
para absorver excessos nas áreas de circulação_ Se é
único grupo central, ou, inversamente, um espaço possivel dizer que este edifício tem potencial não só para
amplo inarticulado não deixa necessariamente de criar absorver mudanças internas de longo alcance, como
as condições para vários u~os 00 mesmo tempo. também para dar a impressão de que poderia receber
Na verdade, é possível articular um espaço de tal objetivos diferentes, isto se deve à sua articulação_ Assim,
modo que seja adequado tanto para o uso por exemplo, quando uma exposição de arte é montada no
centralizado como para o uso descentralizad o, caso prédio (como âcontece regularmente), o ambiente pode ser
em que podemos adotar tanto o conceito de grande simples e rapidamente transformado num espaço com as
escala como o conceito de pequena escola, qualidades de uma galeria.
dependendo de como queremos interpretar o espaço. Contudo, o sonho de um espaço construido em harmonia
Mas estamos falando simplesmente do princípio: não é com qualquer programa de uso possível não foi
preciso dizer que é a natureza da articulação - o seu integralmente realizado aqui , embora parecesse algo ao
"comprimento de onda", a sua qualidade, isto é, como nosso alcance.
521 o princípio será posto em prá tica - que determ ina o O segredo da articulação de uma variedade de lugares é,
potencial do espaço. na verdade, que este sonho jamais poderá ser plenamente
522 5230b
realizado. Pois o tamanho das unidades espaciais a que
"Devemos articular as coisas para torná-Ias me nores, chamamos lugares está baseado nas necessidades espaciais
524
isto é, não fa:z.ê-Ias ma iores do que o necessário, e do que poderíamos chamar os padrões de interação social.
mais administráveis. E, como a articulação aumen ta a
aplicabilidade, o espaço se expa nde simultaneamente.
Portanto, o que fazemos tem de se tornar menor e
ao mesmo tempo maior; suficientemente pequeno para
que possa ser usado e suficientemente grande para
que ofereça o máximo de uso potencial. A articu lação
conduz, portanto, à "expansão da capacidade" e,
assim, a um rendimento maior do mate ria l disponível.
Necessi ta-se desta maneira de menos material, graças
à sua maior intensidade.
-Todas as coisas deveriam receber dimensões corretas,
e as dimensões corretas são aquelas que as tornam
tão manuseáveis quanto possível. Se decidirmos parar
de fazer coisas do tamanho errado, logo se tornará
claro que quase tudo deve ser feito um pouco menor.
As coisas só devem ser grandes quando forem
compostas de um conjunto de unidades pequenas, pois
dimensões excessivas criam imediatamente distância e
separação, e, ao insistirem em projetar numa escala
demasiado ampla, grandiosa e vazia, os arquitetos se
tornaram produtores em grande esca la de distância e
alienação. A grandeza baseada em multipl icidade
implica complexidade maior, e esta comp lexidade
oumenta o potencial interpretativo graças à maior
diversidade de relações e à interação dos componentes
individuais que juntos formam o todo ." [4]
REFORMA DE RESIDÉNClA
A reforma em pequena escala, sem nada de espetacular, de
uma residência comum, tinha como obietivo ai ustar o andar
térreo a um uso mais diferenciado, para que pudesse
abrigar mais atividades independentes. O plano original de
pavimento seguia o padrão tradicional de cozinha, sala de
iantar e sala de estar; depois de ser aiustado a uma famil ia
518
o edifício, portanto, pode servir como uma estrutura básica com ocupações mais diferenciadas, o andar térreo contém
apenas para obietivas que se adaptem a ele . A gama de pelo menos mais três espaços de trabalho, assim como uma
possibilidades de um edifício é determinada pela densidade mesa extra e cadeiras na cozinha. O espaço adicional dos
519 530
de sua estrutura e da articulação dela derivada. Embora cantos esquecidos foi usado para aumentar o número de
funcione muito bem como um edifício de escritórios, oferece lugares e, deste modo, a capacidade do espaço
um ambiente bastante insatisfatório para uma festa da comunitário como um todo,
lugor empresa com toda a equipe, por exemplo. Deste modo, não
definjtivo chega a surpreender que para tais eventos se use o espaço A "capacidade de lugar" é uma qualidade da parte do
do saguão do edifício ao lado. Este saguão é parte integral pavimento que não é necessária à passagem de um
lugar
do coniunto como um todo e é, portanto, de fácil acesso. lugar poro outro. Um critério decisivo para a
possível qualidade da planta de um pavimento é que o espaço
Pode-se med ir um pavimento de acordo com sua de pavimento dispon ivel seja usado da forma mais
capacidade para criar lugares, obtendo-se deste modo eficiente possível, que não haja mais "espaço" de
uma impressão do potencial do pavimento para circulação do que o estritamente necessá rio, i.e., que o
acomodar atividades mais ou menos separadas. espaço seja organizado de tal modo que se obtenha a
O pavimento tradicional na arquitetura hola ndesa máxima capacidade de lugar. É fácil testar a
compreende dois quartos interligados, sepa rados por capacidade de lugar da pla nta de um pavimento,
armários embutidos com portas corrediças. Ao longo conferindo quais áreas s,ã o essenci ais como zonas de
dos anos, muitas pessoas decidiram remover estes circulação ou quais áreas se rão, com toda
Moradia, Amsterdam
obstáculos para obter um espaço único, amplo. probabilidade, usadas para esse fim, e
subseqüentemente estabelecendo quais áreas
A: original
remanescentes atendem às exigências mín imas de um
"Iu gar". Em seguida, deve-se considera r se as
dimensões dos luga res e o grau de abertura ou de
fechamento realmente correspondem ao ti po de uso
Q" , ,"
que se dará a esses lugares. Avaliando conti nuamente
a planta de um pavimento por meio desse
mapeamento, aumentar a capacidade de lugar de
8: depois do nosso espaça torna-se um procedimento conafural.
reforma
QOO
~
~
Cl ~ O
Residêncio V. Horf:
Giu/iono Da Song%
Perl/ui (à direito)
Micne/ongefo
Bromanle (à direita}
531 532
533 53'
•
SÃO PEDRO, ROMA, DESDE lA52 1531·534) essencialmente a mesma em pri ncípio, mas as medidas •Esta planto foi
prO'l'Ovelmente
Quando examinamos uma dos primeiros plantas atribuídas foram alleradas. Isso criou proporções diferenles, fazendo elaborado em
o Baldassare Peruzzi', anterior à planto de Michelangelo com que o espaço cenlral se lornasse dominanle. Os oulros colaboração com
8romonte. As vários
segundo o qual o igreja acabou sendo construído, ficamos espaços receberam um papel subordinado e suas plantos paro São Pedro
impressionados com a articulação intricado e imaginativa, demarcações foram reduzidas a 101 ponla que se larna foram atribuídas o
arquitetos diferentes, e
ainda que o planto não passe de um diagramo. Vemos uma exlremamenle improvável a idéia de usá· los é impossível dizer
série de espaços que produzem um padrão independentemente do espaço principal. A área principal exatamente quem
projetou determinado
surpreendentemenle rico sem que os linhas gerais se parece absorver o resto l e esse efeito sem dúvida seria planto, como mostram
percam. Parece que eslamos lidando com uma escala aumentado se levássemos em consideração também O corte, 05 informaçõe s de
diversos fontes.
complelamente diferenle daquela da planla de Michelangelo. comparando a altura da planta de Michelangelo com uma Fontes: L Benevolo,
A parle que seríamos iniciolmenle inclinados a chamar outra, imaginária, com a mesma proporção de altura e Storio dello CiIlÓ I
Norberg Schulz,
espaço principal não difere, em suo arliculação e largura da planla de Peruzzi. Meoning in Weslern
proporções, dos espaços siluados junlo a ele. Como Aqui podemos verificar o que uma mudança de articulação Archiledure / Pevsner,
An Outline of European
conseqüência, não se pode realmenle falar em espaço faz ao espaço, como algumas mudanças de medida podem Archilecrure / Von
principal ou em espaços seéundários. Nenhuma parle alterar um espaço a tal ponto que ele perde sua Ravesteyn, -De
doorbroak nocr de SI.
isolado domino qualquer oulra. capacidade de demarcação no que diz respeito o pequenos Pieter te Rome· , in
A planla conslruída de Michelangelo é, na verdade, grupos separados. Forvm, 1952
um saguão de entrada e, por conseguinte, espaços de um grande número de lugares, interligados mas com cer-:
passagem. Os quatro nárteces semicirculares nas grau de separação, bem diferente da situação no auditó' :
extremidades do espaço central também desapareceram O foto de que um grande número de pessoas usa 00
(irão reaparecer em outra planta atribuída a Bramante). mesmo tempo o edifício exige um único e vasto espaço r;_
Em suma, isto significa uma grande perda na capacidade dividido. Éapenas no auditório que se necessita de um
de dema rcação para grupos distintos. Deste modo, vemos espaço único, não dividido, para acomodar muitas pess::
I
I'
I localizadas simetricamente nos quatro contos do volume 5J6
S37
central. Em vez de umas poucas escadas grandes, optamos
mais uma vez por várias escadas pequenas suficientemente 538 S39
juntos. O arranjo dos assentos consiste em compartimentos que envolve o auditório principal como uma película tênue,
semelhantes o balcões intercalados com um grande número usaram-se 00 máximo as possibilidades oferecidas por
de passagens e escadas que seguem o formo do anfiteatro cada local, tais como uma visto paro a praça, paro o
de cimo o baixo; as saídos estão localizados em vários galeria interno ou, por outro lado, completo isolamento.
pontos, através dos quais os vis itantes são naturalmente Nos estágios iniciais do planto, parecia que o espaço em
conduzidos aos loyers em todos os níveis. torno do auditório principal apenas circundaria o auditório
Há um grande número de balcões de bufê nos vários da maneira convencional. Mas, ao longo do processo,
andares, para que as pessoas possam ser servidas sem transformou-se gradualmente nu ma sucessão de unidades
demoro durante os intervalos. Além dos escadas no espaciais com uma grande variedade de qualidades, em
auditório, há ligações entre os diferentes níveis e os loyers que se alternam luz do dia e luz artificial, tetos altos e
fora do auditório, por meio de pores de escadas baixos, ocasionalmente côncavos, 9, ao longo do caminho l
'- ,.
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... .1
j
portanto, não são iguais, e devemos cuidar para que
os lide baixo" tenham Q possibilidade de evitar o olhar
dos que estão "em cima".
\
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.
1932 / LE COR8USIER1553·5581
PAVlllON SUISSE, PARIS,
c desse tipo tenha um número respeitável de metros
O patamar semelhante a uma passagem depois dos seis quadrados adicionais na sacada, não há muito o que fazer
degraus da escada - que faz recuar a escada - fornece um com um espaço tão longo e tão estreito. Se o espaço tivesse
espaço de onde se pode ver por cima do parede do solo de uma forma diferente - mais para um quadrado, por
estar comunitária, e de onde também se pode ser visto. exemplo -, poderia abrigar uma mesa para que várias
Assim, a visão de quem esteio subindo ou descendo a pessoas pudessem fazer uma refeição ao ar livre. O espaço
escada se abre, ao mesmo tempo em que oferece certo quadrado da socada oferece ainda maior isolamento, por
grau de privacidade aos que estão na sala de estar, causa de sua profundidade, e pode também ser
protegendo-os do olhar dos que eslão enlrando pelo hall. parcialmente protegido. Além disso, parte da sala de estar
vem iuntar-se diretamente à fachada exterior, resultando
SACADAS assim num espaço cheio de luz. e do qual se pode ver a rua
As sacadas são freqüentemente construídas ao longo da sem ter de ir à sacada.
largura de um edifício, e esta não é uma má idéia do ponto
de vista do cuslo e do conveniência de construção. Uma
559 desvantagem, porém, é que essas sacadas não podem ser
SSS j5.\ muito largos porque roubam o luz dos andores que ficam
551 158 embaixo. Embora um apartamento desse tipo num prédio
['Unité d'habitatiorl,
Marseill" 1945/
Le Corbusier
5605ó4
561 56J
562
563566
Povillon de /'Esprit
Nouveou,
reconstruído em
B%nho, Itália
567
S68 S70
569 MORADIAS DOCUMENTA URBANA [567·570[
Nesta parte da projeta de moradias, o tema do vão de
escada como "rua vertical" foi combinado com o princípio
do vara nda como cômodo exterior. As varandas bem
espaçosas estão justapostas em cada andar de tal modo
que se projetam alternadamente para a frente e para o
lado, para que o espaço vertical não seja restringido pela
va randa do andar de cima.
Assim estas varondas compreendem uma parte isolada,
semelhante a uma galeria aberta, e também uma parte
mais aberta e extrovertida, semelhante a um te rraço, com
Usando os princípios elementares da .organização um vão livre vertical de dois andares ou aberta. A parte
espaciat é possível introduzir muitas gradações de isolada é protegida de um lado por blocos de vidro opacos.
abertura e isolamento. O grau de isolamen to, como o Este projeto faz com que seja possível sentar'se do lado de
grau de abertura, deve ser cuidadosamente dosado, fora sem ser observado e sem ser obrigado a tomar
para que sejam criadas as condições para uma grande conhecimento dos vizinhos, ou, se for preferível, escolher
variedade de contatos, indo desde Q decisão de uma posição mais lIexposfall, com uma visão das outras
ignorar os que estão à sua vol ta até o deseio de varandas e inteiramente à vista delas também. Assim,
juntar-se a eles f de modo que as pessoas possam, pelo estamos livres para decidir se vamos ficar sozinhos ou
menos em termos espaciais, escolher como querem se conversar com os vizinhos - nem que seja só para pedir
colocar diante dos outros. Também a individualidade emprestado um pouco de açúcar ou fa zer um comentário a
de todos deve naturalmente ser respeitada tanto respeito do tempo.
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t- ---!.....-----.. ,1r-_ "i'
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II -1-í 4 -<" -
579
'Ho.I;I _:_-"i-J) lí-=r T~~p .
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ESCOLA THAU , BARCELONA, 1972-75 / MARTORELL, BOHIGAS & escada. O layout de cada andar é claro à primeira vista;
MACKAY {580-583) hó contato constante entre as pessoas que sobem e descem
"A escada principal desta escola de vórios andares eleva-se os escadas e as que estão paradas (sentadas ou 581
ao longo da fachada, dando acesso aos sucessivos andares debruçado si. Em vez da superposição convencional das 582 583
em diversos pontos do edifício: os entradas não estão unidades espaciais, temos aqui um todo unificado, com a
localizadas uma acima da outra verticalmente. Como O escada servindo como um meio para unir os andares; é
escada se estende por toda o fachada, o espaço acima é uma ilustração de como se pode oferecer suporte espacial
mais alto na base da escada. Como os vórios andares para o que as crianças das várias turmas têm em comum,
abrem-se de frente para as escadas, cada andar tem uma Aqui , ir e vir se torna umo atividade comunitária cotidiana,
vista integral do espaço do lado de fora através do fachada com uma chance razoóvel para que cada um possa
de vidro - e portanto também das pessoas que estão na entrever um amigo de uma turma diferente," 19)
SOCiOlOGIA DO SENTAR
Há muitas situações em que nos enconlramos frenle a frente
com outras pessoas ou de costas para elas - algo que os castas para a janela e de frente para o corredor central; o 589 590
projetistas dos vários meios de transporte público, tais como resultado era um espaço comunitária semelhante a uma 591
trens, bondes e ônibus devem levar em conta. Esta sala de espera, onde se podia ocasionalmente olhar para
proximidade com pessoas que, em sua maior parte, são os outros passageiros sem nenhum embaraço. No entanto, 592 593
completamente desconhecidas pode levar a contalos na maior parte das vezes, o corredor está cheio de
forçados, mas também pode conduzir a encontros mais passageiros em pé que obstruem completamente o visão.
animados, que podem ser muito breves, mas também se A maior capacidade de passageiros foi sem dúvida a razão
tornarem duradouros. A forma de organizar os assentos principal para esse arran jo, que ainda pode ser encontrado
nessas situações não difere essencialmente da maneira nos metrôs de Nova York e Tóquio. Uma vantagem
como um arquiteto lida com a organização de um edifício. adicional é que tanto os passageiros que estão sentados
Antigamente, os bondes tinham bancos dos dois lados de quanto os que estão de pé podem se aproximar quando há
um corredor largo, de modo que todos se sentavam de necessidade de abrir espaço poro outros passageiros: o
°
mais baixo o darem o que se poderia chamar um espetáculo.
projeto do espaço central com dois níveis não sÓ
ocosionou O adoção do idéio do onliteatro, cemo forneceu
ainda um ponto de ligação entre as seis salas de aula,
dispostos em dois grupos de três com o máximo de
visibilidade reciproca . Esta ligação visual une todos os
solos de aula de um modo que não seria possível com uma
divisão rigorosa em andares superpostos.
° espaço do salão funciona mais como uma espécie de
grande sala de aula comunitário, onde os professores
também têm seu próprio lugar (com um canto protegido
-.
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I
FÁBRICA VAN NEllE, ROTTERDAM, 1927-29 / M. BRINKMAN, circular do teto, que lembra a ponte de comando de um • -A caixa de chocolates
no alto do fábrica foi
J. C. VAN DER VlUGT 1603·6091 navio. Mas este ponto mais alto, com sua vista impressionante projetado e desenhado
por mim, muito o
"Um dos mais lúcidos exemplos do Nieuwe Bouwen Icomo das instalações do porto, no horizonte, não se descortino contragosto. Também
foi chamado o Movimento Moderno na Holanda) e apenas para os que estão no comando, mas também para nõo concordei muito
com o parede côncavo
certamente o maior neste país, é a fábrica Van Nelle, em todos os operários da fábrica. O edifício como um todo, do seção de escritórios
originando-se de uma espécie de abordagem racional e - mas Van der Vlugt
Rotlerdam. Suas grandes dimensões iomais são eslavo no comando:
esmagadoras, e o edifício não só mostro o que está aberta, significou uma clara ruptura com o passado e (Corto de Bokemo, 10
ofereceu o vislumbre de um novo mundo, com melhores de iunho de 1964, in
acontecendo lá dentro, como também é proietado para dar J. B. Bokemo, L C. von
aos que trabalham dentro dele o visão mais ampla possível , relações entre as pessoas. O que torna esse edificio tão der Vlug f, Amsterdorn,
196BI
não só do mundo exterior, mos em particular dos espetacular, além do fato de que parece uma grande máquina
companheiros de trabalho. O exterior curvado da seção de transparente, é que ele insere o princípio de relações
escritórios não se deve apenas à via de trânsito ao lado, não-hierarquizadas na organização arquitetônica racional." [7)
nem fo i o layou/ dos volumes do edifício o fator 6(M 605
determinante poro esta solução particular. O que levou Von
der Vlugt a opta r por essa magnífica curva - indo contra os 606 607
convicções de seu colaborador Mart Stam - não pode ser
explicado em termos racionais'. Mas o que ele conseguiu
realizar desta maneira, e este é o assunta com que nos
ocupamos aqui, é que tanto o escritório quanto a fábrica
ficam dentro da visão um do outro.
Esta idéia reaparece nos escadas, que se proietom para tão
longe do edi~c io que podemos ver toda a fachada de cada
patamar. A escada à direito da entrada do seção de
escritórios é notável. Ela salta para fora , por assim dizer,
atravessando a fachada como se o edifício fosse incapaz de
contê-Ia. As escadas nos levam para fora do edifício,
oferecem uma visão da fachada, da área de esportes mais
adiante e do que antes eram pôlderes vazios 00 longe.
O panorama mais amplo de todos pode ser visto da estrutura
-
." .......
-- -~ . ~ -
administração, os trabalhadores, homens e mulheres, todos
comem juntos aqui no mesmo grande sola, que tem paredes
transparentes abrindo-se para o visão sem fim dos prados.
Quando lemos a descrição que Le Corbusier fez do edifício, Juntos, todos juntos.
que ele visitou em 1932, compreendemos que
provavelmente teria sido impossível tornar este sonho i... )Achei fascinante observar os rostos dessas moços do
realidade a não ser na Holanda: fábrica. Cada uma delas tinha uma expressão de vida
interior: alegria ou o seu contrário, um reflexo de suas
o espetáculo da vida moderna paixões ou dificuldades. Mas aqui nõo há proletariado.
Apenas uma hierarquia graduado, cfaramente estabelecido
"A fábrica de tabaco Van Nelle, em Rotterdam, uma e respeitado. Essa atmosfera de uma colméia diligente, bem
criação da época moderna, retirou toda a conotação conduzido, é alcançado mediante um respeito voluntário e
anterior de desespero da palavra 'proletário' . Eeste desvio universal pelo ordem, regularidade, pontualidade, justiça e
do instinto egoísta da propriedade em direção a um gentileza.
sentimento favorável à ação coletiva conduz a um resu/tado
dos mais felizes: o fenômeno da participação pessoal em (... ) Um exemplo do reciprocidade diário: eu cuido do luga,
cada estágio do empreendimento humano. O trabalho em que trabalho; meu trabalho me interesso; assim, os
retém sua materialidade fundamental, mas é iluminado pelo dificuldades que tenho são uma fonte de alegria! Um
círculo virtuoso pelo menos uma vez! Todos estão unidos
espírito. Repito, tudo está nesta frase: uma prova de amor.
numa solidariedade compacto; todos compartilham uma
parcelo maior ou menor de responsabilidade; participação.
Participação. Foi assim que o fábrica Van Nelle foi criado.
O arquiteto teve um ano para formular uma planto
provisória; depois levaram cinco anos desenvolvendo a
formo final. Cinco anos de colaboração: reuniões para
discutir cada problema separadamente. Enão eram só os
diretores e arquitetos e os gerentes que compareciam a
essas reuniões. Os chefes dos vários departamentos
também estavam presentes, assim como um operário ou
funcionário especializado representando cada uma das
funções especializadas exercidos no fábrica. As idéias
podem vir de qualquer lugar. Em termos de produção de
massa, sabe-se a importância vital que um pequeno atalho
pode adquirir. Não há coisas secundários, há apenas
coisas projetados corretamente que funcionam.
Participaçõo!
Posso dizer sinceramente que minha visito a esta fábrica foi
um dos mais belos dias de minha vida. '
(le Corbusier, Lo vi/le rodieuse, 1933, pp. 177-179)
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616 617
618
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fORMA CONVIOAIIVA 23 1
A"im, apenas uma porte relativamente pequeno do
cominho que ligo os dois trechos do porque arborizado é
subterrânea, de modo que o pa"agem através do túnel é
relativizada paro se tornar um pequeno incidente numa
trajetória mais longo. Podemos portanto caminhar através
da carcaça de uma espécie de réptil primordial, feito de
placas de ferro corrugada, com no"os pa"os ecoando nos
PASSAGEM SUBTERRÂNEA PARA PEDESTRES, GENEBRA, SUíÇA, 1981 tábuas de madeiro: temos uma sensação de segredo. Além
/ G. DESCOMBES 1648·652) di"o, no meio do túnel há uma abertura no alto, no meio
Em lancy, perto de Genebra, Georges Descambes projetou da rodovia (algo que mais pa"agens subterrâne05
uma pa"agem subterrâneo poro pedestres ligando 05 du05 deveriam ter). O túnel em si foi reduzido a um mero trecho
seções de um porque cortado por uma rodovia. O ferro de um cominho mais longo, um interlúdio relativamente
°
corrugado que forma túnel propriamente dito é exposto à breve num pa"eio pelo parque. O efeito da ponte é
visão n05 du05 extremidades. Mos há também uma delgado encurtar o túnel pelo simples prolongamento da trave"ia de
6<9 650 651 ponte de aço no túnel, sob a qual corre um riacho. uma área do porque até a outra. E, como freqüentemente
652 °
Esta ponte, muito mais comprido do que túnel , prolonga'se acontece, o cominho mais pitoresco é também a ligação
até certa distância de cada lado do rodovia. mais curta entre dois pontos.
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AlHAMBRA, GRANADA, ESPANHA, SÉCULO XIV(655-6571
Ao conduzir a água sobre os degraus de pedra, onde
forma uma seqüência de pequenas coscatas ao longo do
canal de um degrau a outro, esses lances de escada na
Alhambro assumem uma forma extraordiná ria . A luz
refletida na superfície da corrente, assim como o som,
653 654
CAPElA, RONCHAMP, FRANÇA, 1955 / LE CORBUSIER (653, 654) intensificam o imagem de uma descida em degrous, e é isso
A capela de Notre Dome du Haut em Ronchamp é talvez que faz com que algo tão pedestre como um lance de
geralmente citada como um exemplo do expressionismo de escadas surja de repente como algo especial. Mas não é só
construção pelo mestre da arquitetura expressionista, Le nossa consciência do fenômeno dos degrous que se torna
Corbusier. O telhado tem o forma de uma grande bacia, do mais oguda, é também o fenômeno do ág uo que se
qual a ág ua escorre por uma única bica, a exemplo
daquelas que estamos acostumados a ver nas cated rais,
mas composta de maneira mais orgânica . Demora algum
tempo poro que o águo da chuva represada escorra depois
que o aguaceiro desapareceu por sobre colinas: ela jorra
com uma forço tremendo, mos sua queda é aporada por
pontas em forma de pirâmide antes de cair em outro bacio
de concreto, colocada no chão sob o bico.
O trecho a seguir é de um texto escrito por ocasião da
morte de Le Corbusier, em 27 de agosto de 1965: "Tudo o
que um artista toca com suas mãos muda seu trojeto. Le
Corbusier nunca se preocupou apenas com a fo rma, ele
sempre se preocupou com os meconismos daquilo que
estava diante dele; ele podia alterar o leito de uma corrente
para mudor a direção da água, de modo que a água
tornasse visível aquele novo curso e se transformasse num -::- . . \
curso de água diferente; assim, a água se tornaria mais
claro e mais fiel a si mesma, ao mesmo tempo em que o
direção também se tornaria mais clara e verdadeiro .
Assim, o edifício nos diz algo sobre a água que passa
sobre o telhado, e a água nos diz algo sobre o edifício; e,
deste modo, tanto a água como a superfície coberta pela
águo modelam-se mutuamente, contando-nos algo sobre o
-,'
outro e sobre si mesmas." 121
659
660
661
1-' .
Q:, ,
L-d
4 f
fORMA CONVIOA II VA 237
I. Biombo corrediço sólido
com frente de metal
2. Porta corrediço de aço
com moldura de vidro
3. Trilho de madeira
I
...L __ . __ •
construído com base em princípios inteiramente novos. Era sonho, os componentes arquitetõnicos produzidos 61tOb<
assim que imaginávamos uma arquitetura feita com industrialmente não se assemelham a eles, e não têm a 671 672
componentes estruturais pré-fabricados. O sonho de que sentimento de Chareau, Eames ou Piano. Os interesses da
uma tal riqueza de soluções poderio estar 00 alcance de indústria de construção e os caminhos que ela trilha na 673
todos parecía finalmente estar se tornando verdade. prático não coincidem. A indústria da construção prefere
A técnica com que a casa foi projetada e construída em produzir lixo com obsolescência embutida, ou então se
seus detalhes evoca em nossa mente a perfeição simbólica prostituir com elementos perfeitos de concreto pré-fabricado
de um Ralls Royce, e hoje, mais de cinqüenta anos depois, que se escondem por trás de uma máscara ridícula de
com tudo ainda funcionando suavemente, ainda somas modelagem vagamente classicista: somos capazes de tanta
tomados pela admiração. E isto de fato tampouco chega a coisa - e, portanto, também de vulgaridade. Não, a
"Maison de Verre" permanece um sonho, e o novo mundo
surpreender, pois suas delícias repousam nõo apenas na
da produção industrial ainda não aprendeu a fabricar
beleza de cada solução como tal, mos derivam da
implicação de que seria possível repeti-Ias.
Assim, tudo parece mais a forma de uma técnica do que a
técnica de uma formo . E ainda podemos imaginar que a
tecnologia de nosso época será capaz de produzir uma
arquitetura em que cada elemento dentro do todo
compósito posso ser compreendido pelo que é e por que foi
feito de uma determinada maneira. Mas por que o
desenvolvimento da indústria deu tão pouca atenção 00
potencial dessa técnica 2
Embora existam muitos edifícios com implicações industriais
no âmbito formal e que, desse modo, perpetuam nosso
::<~
Ate/jer Piano
( /10 :_'- :
/ .' >_-i';-~ ~{)I
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244 LIÇÕ ES DE AIQUIIETURA
o edifício é muito mais comprido do que largo, mos o
tratamento dos fachadas compridos e curtos é idêntico: o
mesmo articulação, o mesmo fenestragem e também
as mesmas estantes de livros ao redor, com escadas
colocados diagonalmente em cada canto Ide modo que
nenhum conto imponho uma direção hierárquico 00
espaço). (Você colocaria os escadas nos contos dessa
maneira 2) Esta equivalência de paredes compridas e curtos
é o que torna o biblioteca tão singular do ponto de visto do
espacialidade: o maneiro coma o teto com duplo abóboda
cilíndrico deixa o espaço sem divisão{ intacto, é
verdadeiramente surpreendente.
Mos vamos dar uma olhada poro ver coma labrouste
realizou isto: se os vãos tivessem realmente uma forma
semicircular (como parecem ter), este lour de force espacial
não teri a sido possível, no mínimo porque não haveria
como contornar um canto. Mas, Labrouste usou vãos de um
quarto de círculo, o que lhe deu o possibilidade de criar
uma transição natural e fluente ao estendê-los para
criar um meio-círculo onde era necessári o e ao usar
conexões de âng ulo reto poro encaixar os segmento de um
quarto de círculo aos arcos complementares nos cantos.
Sua aplicação de apenas dois tipos básicos de elementos
em cambinaçães tão engenhosas conduziu o uma ruptura,
deliberadamente ou não; com seu uso liberador de 697
componentes idênticos, ele estava antecipando um indissociáveis. Suo solução não é meramente a resultado do
desenvolvimento que só viria no século seguinte. que ele era capaz de rea lizar, mas também, e de maneiro
698 69'1
Da mesma manei ro que labrousle integrou seus elementos bem mais importante, ele foi capaz de realizar o que havia
poro criar uma espacial idade unificado extraordinário, no pensado em termos de espacialidade. 1121
seu caso a arte de fazer e o fazer da arte são
702 703
coerentemente toda a estrutura. No caso de um arquiteto o plano evidentemente exigia a inclusão de sete salas de
como Duiker, é particularmente interessante examinar as aula - um número que, duas a duas ou três a três, deixa 71lA
idéias subjacentes às suas soluções meticulosas e bem sempre uma das salas numa posição separada, o que
calculadas. Uma tentativa de analisar estes processos de inevitavelmente afeta a simetria do projeto como um todo.
pensamento produz os seguintes resultados. O prédio é composto de camadas, cada uma delas com
duas salas de aula, que podiam conviver com uma sala de
aula exterior, agrupada em torno da escada. A sala de
aula remanescente poderia ocupar assim o andar térreo,
posicionada da mesma maneira que as salas de aulo em
cima, enquanto o espaço do outro lado podia ser usado
como um ginásio de esportes.
Havia uma série de motivos para erguer um pouca a sala
de aula na andar térrea: em primeira lugar, para
compensar a altura extra necessária paro o ginásio e para
que seu telhado não ficasse mais alto do que o primeiro
andar. Um outra motivo era que as crianças na sala de
aula do andar térreo poderiam se distrair facilmente de seu
trabalho quando crianças de outras classes estivessem no
playground ao lado. Esta situação foi bastante melhorada
pela diferença de nível, de modo que as crianças sentadas
do lado de dentro estão num nível mais alto do que as que
estão brincando do lado de faro . Mas quando olhamos
para a entrada há muito mais do que isto. A entrada
efetiva, forma l, está situada sob a pequena parta ria e na
qual se encontra o jardim-de-infância. Quando as crianças
estão no playground, no pátio, elas, em certo sentido,
já estão do lado de dentro, e, portanto, não há necessidade
Ise é que Duiker alguma vez sentiu tal necessidade) de
enfatizar a entrada para a próprio edifício - pois não há
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248 lIÇÓf5 Df ARQUITf1URA
ao fato de que simplesmente não havia aqui nenhuma
razão válida para aba ndonar o princípio óbvio da simetria.
No entanto, esta não era uma regra estrita: onde quer que
o abandono da simetria beneficiasse a organização
funcional, o princípio foi abandonado; em outras palavras,
não foram feitas concessões à custa de requisitos internos
que não se ajustassem automaticamente 1'00 sistema n .
Como conseqüência, surgiu toda uma gama de desvios
incidentais, que iuntos determinam o aspecto geral tonto
quanto o esquema principa l. Um dos inumeráveis exemplos
disto é a seção do meio da fachada oeste: para permiti r
que a área central do hal! se beneficiasse plenamente da
vista, era razoáve l incorporar um compartimento ressaltado
e uma varando a esta seção. Em teoria, havia duas
maneiras de manter uma simetria estrita: dois
compartimentos ressaltados em cada um dos lados de
DE OVERlOOP, lAR PARA IDOSOS (705·7111 uma varanda, ou duas varandas em cada um dos lados de
Este lar para idosos em Almere está situado num terreno um compartimento ressaltado. Mas ambas as soluções se
rema nescente nesta cidade; de um lado limita-se com um chocariam com os requisitos espaciais para o
estacionamento, do outro se expande livremente, sem funcionamento ótimo dos dois elementos, e, além disso, a
nenhum ponto de apoio nos arredores urbanos. Todas as colocação assimétrica fez com que o e;paço ressaltado se
fachadas voltadas para o exterior assumem, portanto, o ligasse muito melhor com a orga nização espacial do centro
papel de frente. Em outras palavras, não há fundos com como um todo. Em vez de proietar duas varandas ou dois
entradas para entregas e outros serviços la entrada de compartimentos ressaltados pequenos demais em nome
entregas da cozinha está localizada na extremidade de apenas da composição geral, cada elemento recebeu o que 7rJ1
uma das alasl. Também não há uma entrada principal lhe era devido. As dimensões da varanda, além disso,
única, parque a entrada para pedestres para o pátio tornaram possível a inclusão de uma proteção de vidro 710 711
interno, onde os moradores com menos mobilidade podem sobre porte do espaço do varanda, de modo que se pode
se aventurar no mundo, não ê mais nem menos importante escolher entre fi car sentado em lugares mais protegidos ou
do que a entrada da outro lado, que pode ser usada por menos protegidas.
carros.
De qualquer direção, a forma principal do edifício é vista • Quando partimos de uma ordem formal, é
como uma composição simétri co, agrupada em torno de importante evitar forçar todos os elementos nesta
uma área central que é mais alto do que o resto e para ordem, porque inevitavelmente os torna remos
onde as diversas alas convergem. O aspecto simétrico do subservientes ao todo, isto é, o valor dado às partes
proieto não se deve ta nto a uma planta preconcebida como será ditado pela ordem que governa o tod o. Só
partindo de cada elemento individual, e fazendo-o
contribuir por 5; próprio para o todo, é que se, pode
obter um ordenamento em que cada componente,
pequeno ou grande, pesado ou leve, tenha seu lugar
apropriado de acordo com o papel específico que
desempenho dentro do todo.
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VllLA ROTONDA, VICENZA, ITÁLIA, 1570 / A. PAlLADIO 1712·722) uma residência, e em sua adequação essencial a muitos
712
A Villa Rotenda de Polladio é universalmente admirada obietivos essa planta elementar representa uma espécie de
pelos arquitetos. A planta simples, lúcida e a pureza da arquétipo. Especialmente notável é o modo cama o layout
713 714
elevação tornam a edifício um exemplo sem paralelo inteiramente simétrico acomoda as quatro loggias idênticas
de arquitetura absoluta e do mundo arquitetônico como um ao longo das quatro fachadas. Nõo há na verdade frente,
"reflexo da perfeição divina". Podemos imaginá·lo fundo ou lados: o edifício é o mesmo de todos os lados -
fac ilmente sendo usado como uma igreia, uma escola ou pelo menos quando é visto do lado de fora .
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250 liÇÕES DE ARQUITETURA ..... • . .
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embora todas as quatro sejam idênticas, cada uma oferece (Andreo Palladio, J Quaftro Libri DeWArchifeftura, Veneza , 1570)
uma experiência completamente diferente. Nõo só a luz do
sol tem um efeito diferente sobre cada lado, mas as vistas Hierarqu ia
são totalmente diversas - do caminho que conduz ao Pessoas ou coisas podem ser diferentes e, ainda assim,
edifício, do jardim, da terra cultivada que pertence à villa e iguais. Quando preferimos uma à outra, isto depende
das colinas mais adiante. Assim, é dentro do contexto da situa ção em que estamos e do va lor que representa
urbano que esta villa manifesta suas qua lidades mais para nós naquele momento. Assim como a importância
características. Do lado de fora pode-se inspecionar a casa depende da situação em que estamos, a situação
em sua totalidade, mas é dentro do edifício que a depende de diversos fatores externos (basta pensar na
diversidade de sensações espaciais pode ser integralmente diferença de importância da água no deserto ou num
experimentada. Inúmeros historiadores da arquitetura país como a Holan da, por exemplo). Quando pe~soas
dedicaram estudos a esta villa; mas o que a própria ou coisas são des ig uais, tendem a ser tratadas
Palladio tem a dizer é bem mais interessante. A principal desigualmente, também . E quando a desigualdade está
preocupaçõo de Palladio era, aparentemente, a magnífica encarnada num sistema de avaliação no qual há uma
vista de todos os lados. Constatamos assim que nõo basta classificação segundo graus de importância, temos
apenas olhar para o edifício do lado de fora , mas sua uma hierarquia. Por equivalência, refiro-me a pessoas
verdadeira qualidade só pode ser apreciada quando ou coisas diferentes a que damos valor igua l e que se
olhamos de dentro para os arredores. Infelizmente, a pode classificar de acordo com um sistema de valor
edifício não está aberto ao público, assim, se dese jarmos sem que isto resulte em desigualdade.
conhecê-lo, temos de ver o filme Don Giovanni, de Joseph
Losey, que foi filmado em sua maior parte dentro e ao o exemplo a seguir de J. Hardy torna este aspecto cla ro:
redor desta villa.
{'Entre os mais honrados cavalheiros de Vicenza, está Se queremos classifica r uma série de livros de aco rdo
Monsenhor Pa% Americo, um eclesiástico, que foi com o valor e começamos fazendo uma pi lha como o
referendário de dois Papas magníficos, Pio IV e Pio V, e livro mais valioso no alto e o me nos valioso em baixo,
que, por seu próprio mérilo, mereceu o lílulo de cidadão então esta pilha representará, essencialmente, uma
romano com lodo suo famílo. Esle covalheiro, depois de ter hierarqu ia. Mas se colocarmos os livros em pé na
viajado durante muilos anos em busca de glória, todos os mesma ordem, sua posição será vista como
seus parentes estando mortos, veio para sua região natal, e equivalen te, embora a class ificação seja a mesma.
para seu prazer retirou·se para uma de suas casas de As diferenças ainda estão lá, mas a ordem é de
campo, situada no alto de uma colina, a menos de um diferença e não de prioridade. Naturalmente, os livros
quarto de milha da cidade, onde construiu de acordo com poderiam ser ordenados segundo outros critérios,
a seguinte invenção: que eu não achei adequado colocar como por autor, tamanho ou data de publicação, mas,
entre as construções das vil las, por causo da proximidade tão logo sejam arrumados em uma pilha, haverá
que tem com a cidade, de tal modo que se pode dizer que inevitavelmente um livro no lugar mais alto e outro no
está na próprio cidade. O lugar é o mais agradável e lugar mais baixo. Uma vez que se introduzam arranjos
delicioso que se pode encontrar, porque está no alto de hie rárquicos, e les tendem a se auto perpetuar.
uma pequena colina, de acesso muito fácil, e é banhado de À primeira vista, poderíamos nos perguntar se a
um lado pelo Bacchiglione, um rio navegável; e do outro hiera rq uia na arquitetura - no que diz respeito aos
eslá rodeado pelos mais agradáveis elevações, que objetos e às exigências inerentes a eles - é algo assi m
parecem um teatro bastante grande, e todas estão tão ruim; mas exigências des iguai s logo dãa origem a
cultivadas, e abundam nos mais excelentes frutos e nos situações desigua is, que podem, por sua vez,
mais finos vinhos; e portanto, e como cada uma de suas contribu ir para a desigualdade entre as pessoas. Isto
partes desfruta belas vistas, algumas limitadas, outras mais tende a acontecer especia lmente quando só podemos
extensas, e outras que vão até o horizonte; há loggias pensa r pelos no ssos próprios padrões pessoais e
construídas em todas as quatro frentes; sob as quais, e somos , portanto, incapazes de relativizá-Ios diante de
também sob o hall, eslão os quartos para a conveniência e situações diferentes. Quando projetamos, faze mos
uso da família. O salão fica no meio, é redondo e recebe amplo uso das cla ss ificações por ordem de importância
sua luz de cima. Os quartos pequenos foram dis tribuídos. das partes componentes, como numa estrutura
Sobre os grandes quartos (cujas abóbadas estão de acordo composta de vigas principais e suportes subsid iários,
com O primeiro método), há um lugar para se andar em ou num sistema viário com artérias principais de
volta do salão, de quinze pés e meio de largura. trânsito e vias menores. Na medida em que tal ordem
724727
725 728
726 n9
Ploce Stoni/os e Ploce de lo Corriere, Noncy, 1751-55/ H. E. Heré Royo! e"seent, 80th, 1767-74/ J. Wood, J. Nosh
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00000000 .
.• a insistência de Hitler em sentar-se a uma mesa sobre uma
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plataforma alta na fim de uma sala comprida e alta, para
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que os visitantes tivessem de atravessar uma distância
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depois do século XVI . .... . ... ..•
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centro que, só pelo tamanho da nova estrutura e pela qualquer forma de atenção. E, assim, este espaço, ao
posição no meio do espaço, se tornou irremediavelmente contrário das grandes mesquitos "sem colunas" de Istambul, 740
uma característica dominante. É notável como a igre ja, com representava o proça público coberta arquetípico.
suas janelas alIas que deixam entrar a luz do sol, reclama
P/anla para São Pedro / B. Peruzzi Planto para São Pedro / Bramante Planlo pora São Pedro I Miche/onge1o
SÃO PEDRO, ROMA 1741-752) aula poderiam ter seu próprio espaço separado nas torres,
A comparação de alguns mOl)lentos da história de São enquanto o espaço em sua totalidade oferece aos grupos a
Pedro nos ajuda a esclarecer muito sobre a postura e as maior oportunidade imaginável para encontrar um lugar
idéias dos arquitetos envolvidos, exatamente porque o com as proporções, intimidade e ligação com os outros,
prédio é um simbolo poderoso de hierarquia. Até mesmo requeridas nesta época particular. Quanto mais chegamos
quando a história é obscura a esse respeito, as próprias perto do centro, mais ele se torna aberto, o que dá mais
plantas, vistas como projeções das consciências dos espaço para a atividade comun itária.
arquitetos, são capazes de contar sua própria história sobre A planta é organizada como uma sucessão de lugares, em
os pontos de vista e os sentimentos das pessoas que as que cada um deles formo um centro em relação com os que
projetaram. estão em volta, mas em que nenhum espaço domina o
Parece-me que a planta de Peruzzi , que estimulou essas outro. Assim , o espaço no meio não tem de ser
741 742 U3
considerações, é difícil de ser superada em riqueza. Como necessariamente o espaço principal, mas também pode ser
planta esquemática não passo de um diagrama, mas como visto como caminho para os centros situados ao seu redor.
arquétipo também poderia servir de base para muitas Esta planta é, portanto, um exemplo perfeito do princípio
outras coisas, bem diferentes talvez de uma igreja. de igualdade expressado na organização espacial. Além
Consideremos, por exemplo, uma escola, onde as salas de disso, suas excepcionais qualidades espaciais fazem com
que cada parte possa ser interpretada separadamente,
embora essa interpretação ven ha a sofrer a influência das
partes ao seu redor, e vice-versa, em virtude da
organização aberta .
Por conseguinte, esta polivalência é, em princípio,
anti-hierárquica: podemos ir mais além e dizer que é um
modelo espacia l de liberdade de opinião e de escolha, em
que várias opiniões podem influenciar-se mutuamente, sem
exercer domínio t em virtude da "transparência" do todo.
Imaginemos o que poderia ter acontecido se essa planta
tivesse sido desenvolvida e construída em vez da igreja que
existe hoje, com seus relacionamentos unilaterais que já
poderiam ter sido detectados no estágio de planejamento.
As proporções, a articulação, a relação do fechamento com
a penetração de espaços, consideradas em si mesmas nas
suas relações recíprocas, a concovidade e a convexidode
das paredes, as direções, as entradas e suas posições, tudo
se combina para formar a organização espacial que
determina se uma planta serve para promover a dominação
ou a igualdade. Deste modo, as relaçães espaciais exercem
influência sobre os relacionamentos entre as pessoas. Outra
diferença igualmente vital entre as plantas de Bramante e
Peruzzi, e a de Michelangelo, pode ser encontrada no
princípio do acesso. A simetria consistente, assim como a
espaço central. Se houver qualquer dúvida de que seu Praça de São Pedro,
situação antes c/e
ob jetivo, ao proceder assim, foi criar condições para que o
1935
~ foco de atenção conduzisse ao centro, a existência de uma
~ único entrado principal é bostonte poro desfazer tal dúvida.
Um lado se tornou de modo inequívoco o fachada , o que
implica um fundo e os lados, e o eixo principal, que
745 7I!
Moderno estenderia mais tarde com seu acréscimo à igreja,
jó se encontro indicado na planta de Michelangelo. Deste 7'6
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partes. A colunata quódrupla, não apenas uma mera
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LE CORRUSIER, FORMAL E INFORMAL arquitetura em que todos esses ingredientes podem ser
Ninguém teve mais êxito em transpor o hiato entre a ordem apreciados, sem que seiam individualmente reconhecíveis,
formal e a vida diária do que Le Corbusier, o arquiteto por Sua cozinha está impregnada de um rico buquê de aromas
excelência do século XX, Sem iamais ter realmente citado de vários lugares e períodos históricos, ricos e pobres,
formas do passado, ele derivou sua linguagem formal nõo urbanos e rurais indiscriminadamente. Sua inspiração veio
só dos monumentos clós!licos que conheceu em suas muitas de todas as partes do mundo, mas particularmente de seu
759
viagens, mas também das casas de fazenda primitivos e ambiente direto - e ele fo í receptivo a muitas coisas
especialmente do que as novas tecnologias tinham a geralmente evitadas pelos arquitetos, Basta olhar com
7W
oferecer, Ele transformou uma mistura de transatlânticos, atenção para um de seus muitos desen hos em perspectiva
aeroplanos, trens, colunas gregas e romanos, abóbadas, lem geral esboçados "arquitetonicamente" por um
paredes de pedra e modestas moradias de barro numa desenhista e depois preenchidos por ele mesmo) para ver
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uma variedade de traças cotidianos que seriam reieitados que ele conseguiu também evitar essa armadi lha. Arquitetos
pela maioria dos arquitetos coma burgueses, que, como ele que iamais tinham visto algo semelhante olharam esse nova
compreendeu muito bem, iriam modela r a realidade da mundo de formas como uma novidade exclusiva, mas,
existência cotidiana tão logo o edifício estivesse concluído. apesar de sua originalidade, os grandes blocos brutos de
Quando Le Corbusier usou o termo /lmáquina de morar/ti concreto que parecem rochos artificiais encontram-se tão
estava se referindo não tanto à perfeição e à automação, integrados no ambiente que parecem fundir-se à paisagem
mas a uma atenção especial a como uma moradia funciona 8, nesse sentido, possuem certa familiaridade com os
e, portanto, como esta deveria ser proietada com isto em habitantes locais.
mente. Pais as estruturas brutas e inacabadas de concreta, tão
Nas últimas obras de Le Carbusier (depois da Segunda diferentes da leveza e da suavidade das estereotipadas
Guerra Mundial( e particularmente nos edifícios que edifícios modernos, não estão assim tão afastadas das
proietou na índia, parece, a princípio, que as pessoas residências tradicionais que a população local constrói para
ocupam uma posição subsidiária como resultado de um si. Épar causa de suas vastas proporções e de sua solidez
deslocamento da ênfase para uma forma escultural sem que os edifícios de Le Corbusier dominam os arredores,
precedentes. Ele decidiu concentrar sua atenção no sede do certamente não por causa de ecos autoritárias da
governo em Chondigarh, a nova capital do Puniob, para a arquitetura! E não há nenh um traço de referência às formas
qual forneceu o plano urbano; a proieto das moradias foi clossicistas, nem, na verdade, a quaisquer outros formas que
deixado para outros. Este novo coniunto administrativa possam despertar associações com o exercício do poder.
devia exprimir a esperança e o otimismo com os quais o Assim, podemos nos aproximar desses edifícios tanta
subcontinente tragicamente empobrecido procurava se montando um iumento quanto dirigindo uma limusine, e as
desenvolver e se tornar um estado novO I moderno - um pessoas parecem as mesmos, esteiam dentro ou fora ,
sonho no qual a arquitetura oferece às pessoas uma saída usando roupas caras ou vestidas com farrapos. Aqui,
para sua triste situação. evidentemente, faz muito pouca diferença quem você é e o
O monumental poder escultórica do forma que Le Corbusier que você representa.
761
faz surgir diante dos nossos olhos é assombroso e
fantástico . Mas não é assim mais para os arquitetos do EDIFíCIO DO PARlAMENTO, CHANDIGARH, íNDIA, 1962/
que para as pessoas daquela cidade? Mais para os que LE CORBUSIER )761 ·762)
estão no poder do que para o eleitorado? Sim e não. O half principal em volta da assembléia é, em particular,
À primeira vista parece que sim, mas o extraordinário é singularmente espaçoso. Grande como uma catedral , cheio
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das mais altas colunas que jamais vimos, este espaço nos RESERVATÓRIO DE ÁGUA, SURKEJ, í" DIA, 1446-51 17631
dá a sensaçôo de que existe há milhares de anos . Poderia Este grande reservatório, com vários similares nos
facilmente ter sido usado como um mercado, ou como um arredores de Ahmedabad, na índia, foi concebido como um
lugar de culto, ou para grandes festividades: podemos ambiente paro o descanso real, mas também como um
imaginar esse espaço como o cenário paro um amplo leque reservatório de água em períodos de seca. Como em todas
de eventos, durante um grande periodo de tempo. as partes da índia, as pessoas afl uem todos os dias para as
Estes últimos projetos de Le Corbusier poderiam ser margens dos rios paro lavar e enxaguar os tecidos
faci lmente mudados, poderíamos até mesmo preenchê-los coloridos e brilhantes com que se vestem. O grande espaço
com o que quiséssemos - nõo que esta fosse a intenção de com degraus assegura acesso permanente à água, seja
Le Corbusier - sem que isto afetasse o identidade dos qual for o seu nível, ao mesmo tempo em que a articulaçôo
edifícios. Isso poderia até ser-lhes favorável algum dia. Eles horizontal fornece a cada um o seu próprio IIcantol/ 9,
conserva rôo sua beleza, quando se tornarem velhos e portanto, um território temporário.
decadentes, como uma paisagem essencialmente habitável.
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