Você está na página 1de 2

Teorias éticas, segundo Max Weber (PROF. MS.

ROGER MOKO YABIKU)


Tal como visto, a ética teoriza sobre as condutas morais. Então, vale a pena indagar se existe
somente uma teoria ética. É claro que não. Magistralmente, o sociólogo alemão Max Weber
dividiu as teorias éticas em dois grandes grupos. O primeiro grupo compreende a ética da
convicção, ou deontologia (tratado dos deveres). O segundo, a ética da responsabilidade, ou
teleologia (estudo dos fins). Isso não quer dizer que a convicção exclui totalmente a
responsabilidade e vice-versa.
“Cumpra suas obrigações”, ou “cumpra as prescrições”, apontam as máximas da ética da
convicção. É tudo preto no branco, não existindo tons de cinza. Ou tudo é rigidamente certo, ou
tudo rigidamente errado. Não há questionamentos, pois as verdades já são pré-estabelecidas. A
ética da convicção se desdobra em duas vertentes: a -) a de princípio, de respeito rigoroso às
normas morais e legais, sem tanto se preocupar com consequências, no esquema: “respeite as
normas, haja o que houver”, b-) a de esperança, na qual os ideais religiosos são predominantes,
com o lema “o sonho acima de tudo”.
Apesar de a ética da convicção ser prescritiva, há de se levar em consideração a liberdade
humana. Então, se pode seguir os preceitos morais, ou não. Pode-se adotar outros valores ou
princípios morais, sem deixar de ter a convicção, as certezas, o cumprimento das ordens. Todavia,
pode-se também aceitar as responsabilidades de se desobedecer o cumprimento fiel da norma
moral ou legal, visando a melhor consequência dos atos. Ou, ainda, se pode resolver abandonar a
conduta moral, já que fazer o bem ou o mal é uma escolha. E não destino.
Conforme a ética da responsabilidade, as pessoas são responsáveis por aquilo que fazem. Em vez
de se seguir fielmente normas morais ou legais, os indivíduos fazem uma análise meticulosa de
uma situação, no intuito de avaliar os efeitos previsíveis de uma ação. E também outros fatores
como: resultados positivos para a maior parte das pessoas, ampliar a quantidade de alternativas
de escolha (dos males, o menor).
Na ética da responsabilidade, a decisão decorre das implicações que cada conduta enseja,
obrigando o agente do conhecimento das circunstâncias vigentes. Há análise de riscos, cálculo de
custo benefício, para atingir fins mais valiosos, pois seriam altruístas e imparciais.
Diferentemente da ética da convicção, a ética da responsabilidade não tem como parâmetro de
conduta princípios ou ideais, muito menos crenças existentes anteriormente. Segundo a ética da
responsabilidade, analisam-se situações concretas e seus possíveis impactos. E se escolhe a
decisão que causa maiores benefícios para a coletividade adotada. Legítima é a ação que causa em
bem maior e evita um mal maior.
A ética da responsabilidade divide-se em duas vertentes. A primeira é a ética utilitarista, na qual se
exige o maior bem para o maior número de pessoas, ou seja, levar mais felicidade possível e com
mais qualidade (critério de eficácia) para o maior número de pessoas (critério de quantidade). Já
na segunda, a ética da finalidade se traduz pela bondade dos fins que, eventualmente,
justificariam as ações tomadas, desde que em sintonia com o interesse coletivo. Em miúdos, “faça
o bem custe o que custar, mesmo que desobedeça uma norma moral ou legal”. Quanto às ações,
há o seguinte: a-) nas ações segundo a ética da convicção, há imediata, ou quase imediata,
aplicação de princípios prescritos anteriormente; b-) na ética da responsabilidade, há expectativa
de se alcançar fins (finalidade), ou consequências (utilitarismo).
Em suma: na ética da convicção se faz algo porque é um mandamento e se deve cumprir as
obrigações (na vertente de princípio – respeito às normas, haja o que houver; na de fé – o sonho
antes de tudo); na ética da responsabilidade se faz algo por que é o menor dos males ou gera mais
bem para os outros (na vertente da finalidade – alcança-se os objetivos altruístas custe o que
custar, na vertente utilitarista – o maior bem para mais gente).
A pureza da doutrina, a luta por ideais e a manutenção a qualquer custo dos seus princípios
caracterizam a ética das convicções. A linha que separa os virtuosos dos não-virtuosos é bem
delimitada. Virtuosos são os que seguem os preceitos morais ou legais, e os demais não fazem
parte desse grupo. Há de se tomar cuidado para, por exemplo, não se resvalar no fanatismo seja
religioso (orientado pela fé) ou mesmo de princípios (orientado por partidos, ideologias, etc). E
muitas vezes há perseguição ou violência contra quem pensa diferente.
A ética da responsabilidade analisa o presente para tentar assegurar um futuro, com resultados
presumidos. Não se trata simplesmente de “boas intenções”, mas de poupar males à coletividade.
Ela pretende alcançar metas possíveis de serem cumpridas, com eficácia dos resultados e dos
meios, com posicionamento pragmático e postura altruísta.
Trata a teoria da convicção de uma ética dos deveres, obrigações, de consciência, certezas,
imperativos categóricos, ordens incondicionais, com conforto das respostas prontas e das
verdades absolutas. De certa forma, compreende um idealismo purista, dogmático, lírico,
dedutivo, com características de catecismo ou cartilha.
Por outro lado, a ética da responsabilidade contém propósitos, razões, resultados previsíveis,
análise de circunstâncias e fatores condicionantes, com desafios das soluções relativistas. Faz
paralelo a um realismo pragmático, realista, frio, analítico, calculista, indutivo, pluralista, flexível.
Depende de situações e de condições. É cética e permeada de análises de risco.

* Texto baseado no livro “Ética Empresarial – a gestão da reputação”, de Robert Srour, disponível
em: <http://treeofhopes.blogspot.com.br/2010/08/teorias-eticas-segundo-max-weber.html>.

Você também pode gostar