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Eric Voegelin - Hegel PDF
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ERIC VOEGELIN
2. A ambiguidade da dialéctica
Se a tensão da existência não é uma constante experiencial na
estrutura da consciência, então o que é realmente experimentado? A
resposta surge nas páginas conclusivas da Introdução à Fenomenologia
(pp.69-75). A consciência deve ser concebida no modo sujeito-objecto; é
consciência de algo (etwas). Numa primeira abordagem, o algo
experimentado é a realidade em si (an sich). Numa segunda abordagem,
contudo, quando no processo de conhecimento o algo se revela como
diferente do que se acreditava ser, o Ansich da realidade torna-se num
Ansich para o sujeto experienciante (für es); por detrás do Ansich para a
consciência, aparece uma segunda realidade que é an sich para si mesma.
Agora a consciência tem dois objectos (Gegenstände), o “primeiro Ansich” e
o segundo, “das Für-es-sein dieses Ansich” (p.73). Ao descobrir o “segundo
objecto”, a consciência descobre que a sua própria subjectividade mudou
de um primeiro sujeito, que experimentou o objecto como o primeiro
Ansich, para um segundo sujeito que se experimenta a si próprio como que
em movimento. “Este movimento dialéctico que a consciência executa
sobre si própria, no que se refere ao seu conhecimento e ao seu objecto, na
medida em que emerge do seu novo, e verdadeiro objecto, é propriamente
(eigentlich) o que se chama “experiência” (p.73). Este movimento, avisa
Hegel, não deve ser confundido com o movimento do conhecimento que
progride ao nível da convencionalmente chamada ‘experiência’, na qual a
verdade baseada na observação de uma coisa pode ser externamente
falsificada pela observação conflituosa de outra coisa. O novo objecto não
emerge como um novo objecto externo mas através de “uma conversão da
consciência” (Umkehrung der Bewußtseins) (p.74). A Umkehrung é a “nossa
adição” (unsere Zutat): através da adição, a “sucessão das experiências da
consciência eleva-se ao plano da ciência”; a sucessão não é esse plano da
ciência para a consciência no “primeiro” nível da experiência no modo
sujeito-objecto “que nós contemplamos” (p.74).
3. A deformação da Periagoge
4. A inversão da formação-deformação
5. Linguagem pronominal
Mas o movimento também tem o seu lado cómico; o Deus que foi
declarado morto está suficientemente vivo para manter os seus agentes
funerários nervosamente ocupados durante três séculos, até agora.
Quando interrogado por pensadores eminentes, não parece estar seguro
se é uma substância ou um sujeito (Espinoza/Hegel), ou talvez ambos, ou
se talvez não exista em absoluto, ou se é pessoal ou impessoal, ou se é
consciente ou inconsciente, ou racional ou irracional, se espírito apenas ou
se também matéria (Espinoza) ou se também, apenas e talvez uma ideia
reguladora ( Kant) ou se é ou não idêntico a si mesmo, ou se é identidade
da identidade e da não-identidade (Hegel) ou se é um ser ontológico ou
teológico, ou ambos, ou se é algo de inteiramente diferente (Heidegger). O
que é absoluto neste debate ambíguo acerca do Absoluto é a seriedade
mortífera. Parece que Deus é o único que se pode rir nesta situação.
(a) Sabia que os deuses não estavam a morrer pela primeira vez na história
quando morreram no que chama “idade moderna”. Também nas
civilizações antigas os deuses tinham morrido. Numa variante da theologia
tripartita dos estóicos, nos três capítulos, sobre “Religião Natural”,
“Religião Artística” e “Religião Revelada”, ele lembrou os deuses que
tinham vivido e morrido no passado. Em particular reflectiu na morte dos
deuses olímpicos através da dissolução nas “nuvens” da comédia de
Aristófanes (pp.517-20; veja-se também as notas sobre a komische
Bewußtsein, p.523).
(b) Hegel sabia, ainda, que os deuses, embora morram na história como
vítimas do processo diferenciador da verdade, têm de ser “lembrados”
como deuses vivos porque a sua pluralidade na coexistência e sucessão é a
parousia do além vivo (p.508). No seu próprio caso, embora declarasse
formalmente que Deus mesmo tinha morrido (daß Gott gestorben ist) na
abstracção da Wesen [essência] divina “ em que se compraziam os seus
contemporâneos doutrinários (pp.523, 546) sabia que o Deus morto estava
suficientemente vivo para lhe celebrar uma parousia no sistema da ciência;
na Fenomenologia, a theologia tripartita é seguida por esta parousia no
capítulo conclusivo acerca do “saber absoluto” - e trata-se mesmo de uma
parousia, embora libidinosamente deformada pela especulação auto-
afirmativa de Hegel.
http://pwp.netcabo.pt/netmendo/hegel%20OH%205.htm